Linguística Textual e Ensino

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Linguística Textual

Linguística Textual e Ensino

Prof.ª Dr.ª Wéllem A. de Freitas Semczuk


Unidade de Ensino: 04
Competência da Unidade: Conhecer os principais aspectos que envolvem
o ensino da leitura e da escrita, bem como o ensino dos gêneros
textuais/discursivos.
Resumo: Inicialmente, abordaremos aspectos que envolvem o ensino da
leitura, tendo em vista os processos e estratégias importantes para o
desenvolvimento dessa habilidade. Em seguida, nos debruçaremos sob o
ensino da escrita, abordando as estratégias de escritas, bem como questões
relacionadas ao planejamento textual. Por fim, estudaremos a relação
gêneros textuais/discursivos e ensino.
Palavras-chave: Ensino da leitura; ensino da escrita;
gêneros textuais
Título da Teleaula: Linguística Textual e Ensino
Teleaula nº: 04
Contextualização
 Quais as contribuições da Linguística textual para as
questões que permeiam o ensino?
 Como trabalhar com a aprendizagem da leitura?
 Quais são as estratégias de leitura?
 Qual a importância da escrita e da produção textual?
 Quais as contribuições dos gêneros textuais ao ensino
de línguas?
Ensino de Leitura:
processo
Processo de Leitura
Como podemos ensinar os alunos a compreenderem É preciso ativar certos
os textos diversos e quais mecanismos estão conhecimentos
envolvidos nesse processo? armazenados na
memória do
 Texto: lugar próprio de interação e da leitor/ouvinte.
constituição dos interlocutores;
 O sentido de um texto é construído na interação
texto-sujeitos;
 A materialidade dos elementos linguísticos da
superfície textual não é suficiente para dar conta
da compreensão de um texto.
Processo de Leitura
 Os conhecimentos armazenados na memória só podem ser recuperados por
meio das estratégias sociocognitivas ativas no processo da leitura.

Conhecimentos Conhecimentos
Leitura
linguísticos de Mundo

A leitura deve ser compreendida em dois momentos distintos:


(1) construção do significado (atividade cognitiva);
(2) integração dos conhecimentos (estratégias metacognitivas).
Leitor ativo
 Reconstrói o sentido do texto em sua
Participante de
interpretação, a partir de esquemas mentais e dos
uma interação
conhecimentos de mundo;
tríade “leitor-
 O leitor/ouvinte desenha o seu percurso de texto-autor”.
leitura e faz previsões sobre o conteúdo e sobre o
tema do texto.
 Ativa os conhecimentos extratextuais
armazenados na memória e integra-os com os
conhecimentos presentes no texto, estabelecendo
um elo entre o texto e o mundo.
Conhecimento do Leitor - Organizado em sua memória
em esquemas:
1. O leitor guarda no cérebro lembranças de um determinado significado.
2. Essas lembranças se relacionam com todas as outras informações
presentes no cérebro do leitor.
3. A relação das lembranças com as informações constrói um modelo de
mundo organizado e consistente, que é sempre resultado da experiência do
sujeito.
4. No processo de leitura, o leitor se depara com novas
informações e reatualiza suas lembranças para um
determinado significado, construindo novas relações
e recategorizando seu modelo de mundo.
Ensino de Leitura:
estratégias
Leitura
 É transformadora para o sujeito; ele vai construindo
seus modelos lógicos de categorização do mundo ao
ler e também os reatualiza a cada nova leitura.

É importante que o leitor aprenda a usar o


seu conhecimento prévio e a compará-lo
com as novas informações apresentadas
pelo texto.
Estratégias de leitura
 Esquemas mentais: uso do conhecimento prévio do leitor, comparando-o
às novas informações apresentadas pelo texto.
 Inferência: tem como função estabelecer a comunicação entre o leitor e o
texto, pois ao ativar os conhecimentos prévios ou relacioná-los com os
conhecimentos extratextuais e os elementos linguísticos próprios do texto
(intratextuais), faz com que o leitor reconstrua o significado.

 Resumo: importante para a identificação do tema.


Conhecimento prévio
 O leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao
longo de sua vida.
 De acordo com Koch (2002), a memória age em três fases, que são:
estocagem, retenção e reativação.

Conhecimento Conhecimento Conhecimento


linguístico textual de mundo
Como ensinar o aluno a ler?
 A leitura pressupõe a apreensão de sentidos, a O professor deve
compreensão do todo, não apenas dos elementos ajudar os alunos a
linguísticos superficiais, mas de todo o contexto melhorarem o nível
que sustenta o processo de construção do texto. de conhecimento
linguístico.
 Tipos de estratégia de leitura que auxiliam
na compreensão do texto:

• Predição • Representação visual do


• Pensamento em voz texto
alta • Resumo
• Estrutura do texto • Questionamento
Ensino da Produção
Textual: estratégias
Estratégias de Escrita
 A escrita é uma atividade que exige estratégias específicas por parte do
produtor, tais como:

a) ativação de conhecimentos sobre a situação


comunicativa;
b) seleção, organização e desenvolvimento das ideias
que garantam a continuidade do tema e sua
progressão;
c) balanceamento entre informações implícitas e
explícitas, considerando o compartilhamento de
informações com o leitor.
a) Ativação de conhecimentos sobre a situação
comunicativa
 requer um conhecimento prévio do autor sobre o contexto situacional
em que o texto se insere;
 Antes da escrita: análise de qual é o contexto da situação
comunicativa (quem será o leitor? Quando ele lerá? Em que contexto ele
vai ler o texto? Em que suporte o texto será disponibilizado? Sob a forma
de qual gênero?)
 Em seguida: planejamento do texto.

Uma receita de bolo requer uma linguagem e um


formato diferente de um bilhete ou de uma bula de
remédio ou de um artigo científico.
b) Seleção, organização e desenvolvimento das ideias

 Após delimitar o contexto de situação de comunicação em que o texto


está inserido, é preciso pensar sobre quais ideias serão expostas, de
que forma e em que ordem.
 Nessa etapa, seleciona-se as ideias e argumentos que sustentam cada
uma delas.
 Organizam-se as ideias centrais e os argumentos que as sustentam:
• colocar todos em forma de tópicos;
• elencar em ordem de aparição no texto.
 As ideias expostas precisam ter uma relação clara com o
tema do texto.
c) Balanceamento entre informações implícitas e
explícitas
 Mecanismo de “vela” e “revela” do texto. É comum que os textos tenham
informações implícitas e, por outro lado, muitas outras informações estão
ali explícitas e textualmente “reveladas” ao leitor.
 O equilíbrio entre ambas as informações, a implícita e a explicita, é
necessário para que o leitor possa compreender o texto.

Alto grau de Dificuldade na


informações compreensão do
implícitas texto
Texto
O texto enquanto processo é a própria escrita, que compreende a fase do
planejamento, da revisão e da reescrita. O texto como produto é o conjunto
de elementos linguísticos resultante desse processo.

 Processo - se inicia no planejamento;


 Textualização - diz respeito às operações realizadas
com os elementos linguísticos;
 Revisão - quando o autor faz uma análise crítica do
texto produzido e identifica alterações necessárias.
 Reescrita - quando realiza as alterações
identificadas no passo anterior.
Situação-problema
Situação-Problema
Andrea, professora do 7º ano, após algum tempo de acompanhamento da
turma, percebeu que muitos dos seus alunos ainda tinham dificuldades para
compreender a estrutura interna do texto e a relação entre o texto e o
contexto. Além disso, a professora percebeu que, no ato de leitura, os alunos
apenas decodificavam as palavras e não liam efetivamente o texto, não
compreendiam o seu sentido.

O que você considera que Andrea possa fazer para


melhorar o desempenho dos alunos do 7º ano?
Resolvendo a Situação-Problema

A professora Andrea pode usar algumas


estratégias:
1. Trabalhar a pré-leitura, levando os alunos a
identificarem o gênero, o suporte em que o texto está
veiculado, as imagens, títulos, subtítulos, legendas, o
autor, a data de publicação, o contexto sócio-histórico;
2. Fazer questionamentos, instigando os alunos a
refletirem sobre o que acabaram de ler e checar se
tais informações condizem ou não com as predições
feitas lá na fase de pré-leitura;
Resolvendo a Situação-Problema
3. Colocar as informações mais relevantes sobre o texto
no quadro (características dos personagens, tema,
ideias centrais de cada parágrafo etc.) em forma de
esquema ou de tópicos;
4. Após a leitura do texto, discutir com os alunos as
ideias que sustentam aquele tema e pedir para que
eles falem sobre o texto, seja respondendo a um
questionário, seja de forma mais indireta e oral;
Resolvendo a Situação-Problema

5. Por fim, a professora pode reler com toda a classe as


partes que alguns dos alunos não compreenderam e ir
acrescentando novas informações, o que também fará
com que os alunos as relacionem com todo o
conhecimento linguístico, textual e de mundo que já
tenham.
Atividade de
interação
Atividade de interação 1
• Sobre leitura.

Fonte: Shutterstock

Como adquirir o hábito da leitura?


Ensino da Produção
Textual: coerência e
coesão
Texto Texto

 Evento comunicativo que envolve


variados aspectos linguísticos,
culturais, sociais e cognitivos [...]
ele é tanto do âmbito linguístico
quanto um processo de ordem Coesão Coerência
sociocultural.
 Coesão e coerência:
Estão intimamente ligadas (interdependência).

Na produção textual, é importante que o autor fique


atento ao tema proposto, não se desviando dele.
Para que um texto seja coerente, é preciso planejá-lo
Antes de começar a colocar as palavras no papel, é
O texto deve
preciso realizar algumas perguntas, tais como:
estar adequado
à situação
 Qual o propósito do meu texto? Para que ele serve?
comunicativa.
 Qual o assunto? Sobre o que eu vou escrever?
 Qual a estrutura do meu texto? Que partes o
compõem?
 Quem vai ler o meu texto?
 Que vocabulário devo usar?

 Adequar o seu texto ao grau de informatividade


que o contexto requer.
O professor deve:
 Motivar os alunos a compreenderem o texto como um processo;
 Ensiná-los a planejar, organizando as ideias em uma ordem que seja
coerente.
 Ensiná-los que para escrever também é preciso ler.

A leitura e a escrita são práticas que se relacionam e


complementam a formação de um leitor competente, o
objetivo maior da escola, pois a leitura e a escrita são
os maiores instrumentos para a construção do
conhecimento.
Gêneros Textuais/
Discursivos e Tipos
Textuais
Gêneros e tipos textuais
Gêneros
textuais/discursivos Tipos textuais

Textos materializados que Designa uma espécie de


encontramos em nossa vida construção teórica definida
diária e que apresentam pela natureza linguística de
características sócio- sua composição (aspectos
comunicativas definidas por lexicais, sintáticos, tempos
conteúdos, propriedades verbais, relações lógicas).
funcionais, estilo e
composição característica.
Gêneros
textuais/discursivos Tipos textuais

Remete à estrutura, ao
São construídos na funcionamento da
interação comunicativa. constituição estrutural do
texto.

Um determinado gênero Faz parte da estrutura


discursivo pode ter em sua interna da configuração do
configuração vários tipos texto.
textuais.
Gênero notícia
 Objetivo: transmitir informações
sobre fatos, tanto de fatos
passados quanto de fatos
futuros;
 Características: clareza e
objetividade na forma de
transmitir as informações;
(Disponível em: t.ly/etIV. Acesso
em: 08 fev. 2023)

 Procura responder às
seguintes perguntas: O quê?
Quem? Quando? Onde? Como?
Por quê?
 Estrutura: formada pelo Lead e
pelo corpo.
Gêneros textuais/discursivos
 Deve manter a coerência no uso de elementos
próprios ao gênero (uma carta, por exemplo, deve ser
do começo ao fim organizada de acordo com as
características desse gênero: estrutura, elementos,
linguagem, formato);
 Cada gênero requer, portanto, o uso de determinados
elementos e a exclusão de outros;
 Escolhas lexicais, sintáticas, de registro linguístico:
fazem parte da organização do enunciado e são
determinadas pelo gênero.
O trabalho com
gêneros textuais/
discursivos
Na cultura contemporânea
 A proficiência na comunicação é uma das
habilidades mais valorizadas pelo mercado de
trabalho: capacidade de produzir e compreender
textos, dos mais diversos gêneros discursivos.

 Aulas de Línguas: devem desenvolver a capacidade


de comunicação – oral e escrita – dos alunos,
expondo-os aos mais variados gêneros.
Quais gêneros trabalhar em sala de aula?
 Pereira et al. (2006, p. 29) sugere “partir dos gêneros textuais mais
familiares, para depois explorar outros, possibilitando aos alunos uma
inserção cada vez maior na sociedade”;
 Tais como: bilhetes, regras de jogos, receitas, gêneros do universo virtual
(posts de redes sociais, blogs, vídeos do YouTube, podcast, fanfiction, e-
mails), notícias, entre vários outros.

Deve ser o objeto de


TEXTO estudo principal no ensino
de língua.
O professor deve:
 Identificar as características principais dos textos e fazer as escolhas e
ajustes necessários para cada nível de conhecimento do ano em que atua;
 Selecionar textos de diversos gêneros discursivos, considerando as
intenções e as finalidades dos atos comunicativos.

Gêneros Textuais/Discursivos: são os textos


criados na e pela sociedade, ao longo de sua
história, em atendimento às necessidades de
comunicação que vão surgindo.
Caracterização e circulação
 Cada gênero apresenta características específicas
sobre sua produção, recepção e circulação, e são
essas propriedades que diferenciam um gênero do
outro;
 Embora o gênero determine a estrutura, a sua
função é a de permitir a circulação e a usabilidade do
texto;
 Por estarem relacionados ao uso é que os gêneros
discursivos mudam constantemente; eles surgem e
se modificam na cultura em que estão inseridos.
Resolução de
exercício
Enade 2011 – questão 24
Atividade de
interação
Atividade de interação 2
• Sobre gêneros textuais/discursivos.

Fonte: Shutterstock

Qual a importância do ensino ter como objeto o


texto?
Revisão final
Revisão final
• Contribuições da Linguística textual;
• Ensino de Leitura;
• Ensino da Produção Textual;
• O trabalho com Gêneros Textuais/Discursivos.
Referências
BONINI, A. O conceito de gênero textual/discursivo: teorias versus fenômeno. In:
CRISTÓVÃO, V. L. L.; NASCIMENTO, E. L. (Org.). Gêneros textuais: teoria e prática.
Londrina: Moriá, 2004.
KLEIMAN, Â. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 14. ed. Campinas: Pontes
Editores, 2011.
KOCH, I. V. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.
______. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: BEZERRA, M. A.; DIONÍSIO,
A. P.; MACHADO, A. R. (Orgs.). Gêneros textuais e ensino. 3. ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2005.
PEREIRA, C.C. et. al. Gêneros textuais e modos de organização do discurso: uma
proposta para a sala de aula. In: PAULIUKONIS, M.A.L. e SANTOS, L.W. (Orgs.).
Estratégias de Leitura – Texto e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.
ROJO, R.; CORDEIRO, G. S. Apresentação: gêneros orais e escritos como objetos
de ensino: modos de pensar, modo de fazer. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J.
Gêneros orais e escritos na escola.Tradução de Roxane Rojo e Glaís Sales
Cordeiro. Campinas: Mercado das Letras, 2004. p. 7-18.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

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