Cirurgia - ATLS
Cirurgia - ATLS
Cirurgia - ATLS
Objetivos:
● Compreender a avaliação e manejo inicial a vítima de trauma com foco nos passos A e B (CAP 1)
● Discutir o manejo da via aérea e ventilação na vítima de trauma (CAP 2)
● Avaliar as causas e tipos de choque na vítima de trauma (CAP 3)
● Discutir o trauma torácico e suas nuance (CAP 4)
TRIAGEM
População Especial
Crianças, gestantes, idosos , obesos e atletas podem apresentar respostas
fisiológicas e anatômicas diferentes do esperado.
Crianças apresentam poucos sinais de hipovolemia. Pacientes idosos geralmente
apresentam doenças crônicas e uso contínuo de pacientes que alteram as respostas
fisiológicas ao trauma. Pacientes obesos apresentam alterações anatômicas e fisiológicas
que diminuem a resposta ao trauma e dificultam a intubação e a realização de exames
descritos acima. A reposição volêmica rápida nesses pacientes pode exacerbar suas
comorbidades. Atletas podem não manifestar os sinais precoce de choque, como taquipneia
e taquicardia. Podem apresentar PA sistólica e diastólica normalmente mais baixa.
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO SIMULTÂNEA
Airway
A prioridade em A é a limpeza, aspiração e desobstrução das vias aéreas, abertura e
administração de oxigênio. Busca se há obstrução das vias aéreas por corpos estranhos,
fratura da face, mandíbula, traqueal ou laríngea. Limpeza do sangue e secreções.
Se o paciente está com rebaixamento do nível de consciência ou Glasgow <= 8,
estabelecer via aérea definitiva por meio de tubo traqueal com balonete insuflado e fixado.
Se o paciente está inconsciente e não tem reflexo de deglutição, apresenta queda de
base da língua, deve-se colocar cânula orofaríngea (Guedel) temporariamente.
Respostas motoras desordenadas também sugerem via aérea definitiva. Pacientes
em que a intubação for contra-indicada ou não puder ser realizada, deve-se estabelecer
uma via aérea cirurgicamente.
Considera-se sempre que há fratura/lesão da coluna cervical, portanto deve-se evitar
movimentação, a ausência de alteração neurológica não exclui lesão da coluna vertebral.
Faz-se a restrição dos movimentos cervicais manualmente até a colocação do colar cervical.
Respiração e Ventilação
A respiração e ventilação depende da função do tórax, pulmões e diafragma.
Deve-se avaliar a distensão das veias jugulares, posição da traqueia e expansibilidade
torácica e realizar ausculta pulmonar. A percussão torácica é lenta e muitas vezes imprecisa
devido ambiente ruidoso, evitar fazer.
As principais lesões que prejudicam a ventilação em curto prazo são pneumotórax
hipertensivo, hemotórax massivo, pneumotórax aberto e lesões traqueal ou brônquica. A
descompressão do pneumotórax hipertensivo deve ocorrer de imediato (toracocentese).
Um pneumotórax simples pode evoluir para hipertensivo se for feita intubação e
ventilação com pressão positiva antes da descompressão.
Todo paciente deve receber oxigênio suplementar, se não for intubado, por meio de
máscara com reservatório, com monitorização com oxímetro.
A frequência respiratória, capnografia e gasometria arterial monitoram o processo
respiratório. A ventilação pode ser acompanhada pelos níveis de CO2 ao final da expiração
medido por colorimetria, capnometria ou capnografia.
A capnografia é útil para assegurar que a intubação não está no esôfago, porém não
confirma o posicionamento correto na traqueia. Também informa sobre a condição
ácido-base sanguínea, baixo pH e excesso de bases indicam choque.
O fluxo de CO2 relaciona-se com o débito cardíaco, predizendo o retorno da
circulação espontânea (RCE) durante a RCP.
Se houver fratura do esterno ou disjunção costocondral haverá dor a pressão.
Contusões e hematomas sugerem lesões ocultas. A ausculta pulmonar com diminuição do
murmúrio vesicular na parte ântero-superior identifica pneumotórax e nas bases posteriores
hemotórax. Pneumotórax hipertensivo geralmente apresenta distensão das veias do
pescoço.
MEDIDAS AUXILIARES
Monitorização Eletrocardiográfica
Arritmias podem indicar trauma cardíaco contuso. AESP pode indicar tamponamento
cardíaco, pneumotórax hipertensivo e/ou hipovolemia profunda. Hipotermia extrema também
pode provocar arritmia. Bradicardia, condução aberrante ou extra-sístoles e batimentos
prematuros, suspeita-se de hipóxia ou hipoperfusão.
Exames Radiológicos
Feita somente se não comprometer a agilidade da reanimação do paciente.
Radiografias de tórax, pélvicas e ântero-posteriores (AP) são as mais úteis. Rx pode
mostrar fraturas pélvicas com necessidade de transfusão precoce. Pode ser feita em
pacientes grávidas. Radiografia ou e-FAST confirma pneumotórax e hemotórax.
Alargamento do mediastino sugere ruptura de aorta.
FAST, e-FAST e LPD detectam sangue intra-abdominal, pneumotórax e hemotórax.
No entanto, dependem da habilidade do médico, e o LPD é dificultado e grávidas, obesos e
laparotomia prévia. Gás intraluminal e obesidade comprometem o FAST. Sangue
intra-abdominal com alterações hemodinâmicas indica necessidade de intervenção cirúrgica.
Se não houver alterações hemodinâmicas, requer a avaliação de um cirurgião. Não atrasar a
transferência do paciente, sendo realizados somente exames que auxiliam na reanimação,
estabilização e garantam a transferência segura do paciente.
A - AIRWAY - VIAS AÉREAS
Reconhecimento
A medida inicial é conversar com o doente, uma resposta verbal clara indica
desobstrução e fluxo cerebral adequado, isto é, sem comprometimento das vias aéreas e/ou
ventilação.
AULA: Durante o A não se estabelece a ECG, desse modo para tratar queda de base
de língua inicialmente trata-se com cânula de Guedel, caso não funcione está indicada IOT.
O oxigênio suplementar deve ser ofertado para TODOS traumatizados, para manter
a oxigenação e prevenir hipercarbia.
Se há nível de consciência alterado geralmente é necessário via aérea definitiva, ou
seja, tubo locado na traqueia com balonete insuflado abaixo das cordas vocais e conectado
a fonte de oxigênio.
Pacientes com TCE, rebaixamento grave por álcool/drogas ou lesão torácica
precisam de intubação endotraqueal, para auxiliar a ventilação e prevenir aspiração.
Se há queimaduras faciais com potencial para aspiração/inalação cabe intubação
precoce. A presença de conteúdo gástrico na orofaringe representa risco iminente de
aspiração, sendo recomendado aspiração imediata e/ou rotação em bloco do paciente para
decúbito lateral.
Trauma Maxilofacial
Traumas no terço médio fraturam a naso e orofaringe. Fraturas da mandíbula podem
perder o suporte da via aérea e levar a obstrução em posição supina.
Paciente que não fica na posição dorsal dificulta a aspiração. Anestesia causando
sedação e relaxamento muscular, pode ter as vias obstruídas por perda do tônus.
Trauma Cervical
Ferimentos penetrantes no pescoço podem lesar vasos causando deslocamento das
vias aéreas ou obstrução. Se impedir intubação endotraqueal, é necessário via cirúrgica.
Hemorragia maciça também exige via cirúrgica.
Trauma contuso ou penetrante pode causar rotura da laringe ou traqueia, com
obstrução ou sangramento maciço, necessitando via definitiva. A intubação endotraqueal
deve ser feita cuidadosamente, de preferência com visualização direta, uma via cirúrgica
está indicada mesmo em obstruções parciais.
Trauma de Laringe
Tríade: rouquidão, enfisema subcutâneo e fratura palpável
A intubação deve ser tentada, se disponível guiada por fibroscópio, caso insucesso
está indicada traqueostomia de emergência com reparo da lesão. Apesar de não ser a
escolha, a cricotireoidostomia pode ser feita.
Lesões penetrantes exigem tratamento imediato, geralmente acometem também
esôfago, carótida, jugular, com extensa lesão ou edema.
Respiração ruidosa significa obstrução parcial, e ausência de sons respiratórios
obstrução total da via aérea. Em pacientes com rebaixamento do nível de consciência, o
esforço respiratório pode ser o único sinal de obstrução ou lesão.
TC auxilia no diagnóstico de lesões na laringe.
Sinais Objetivos de Obstrução
Pacientes agitados sugerem hipóxia e obnubilados sugerem hipercarbia. Doentes
abusivos e agressivos podem estar em hipoxemia, não presumir intoxicação.
Cianose é um sintoma tardio de hipoxemia. A oximetria de pulso detecta hipóxia
antes da cianose.
Retrações e uso de músculos acessórios indicam comprometimento da via aérea
Respiração ruidosa indica obstrução. Roncos, gorgolejos e estertores relacionam-se
com obstrução parcial da laringe ou faringe. Rouquidão (disfonia) implica obstrução
funcional da laringe.
B - BREATHING - VENTILAÇÃO
Reconhecimento
A ventilação pode estar comprometida por obstrução, alteração da dinâmica
respiratória ou depressão do SNC.
Trauma torácico direto com fratura dos arcos costais causa respiração rápida
superficial e hipoxemia. Idosos e pacientes com disfunção prévia têm risco aumentado
nessa situação. Crianças podem ter trauma torácico sem fratura.
Lesão cerebral pode causar padrões respiratórios anormais. Lesão cervical pode
causar paresia ou paralisia dos músculos respiratórios, quanto mais proximal a lesão maior
a probabilidade de comprometimento respiratório.
Lesões abaixo de C3 mantêm função diafragmática, mas perdem os músculos
intercostais e abdominais, apresentando padrão de “respiração abdominal ou diafragmática”,
isto é, empurrar o abdome na inspiração enquanto o tórax inferior é puxado. Resulta em
respirações rápidas e superficiais, podendo levar à atelectasia e ventilação inadequada.
Respiração paradoxal é sinal de tórax instável, e geralmente varia da lesão de 2
lesões no mesmo arco costal em 2 arcos consecutivos, disjunção costocondral, ou fraturas
distintas em 3 arcos não consecutivos
O alto fluxo de oxigênio deve ser ofertado antes e após as medidas de controle da
via aérea.
Na aspiração de pacientes com fratura da placa crivosa, deve-se cuidar para não
passar a sonda para o interior da caixa craniana.
A retirada do capacete deve ser feita por duas pessoas. Um segura o pescoço e
outro retira o capacete por cima, com cautela. Caso o paciente tenha trauma cervical
diagnosticado, é necessário usar um cortador de capacete.
figura 2-3
O fluxograma acima aplica-se APENAS para pacientes com insuficiência respiratória aguda
ou apneia, com potencial lesão de coluna cervical.
Cânula Nasofaríngea
É inserida na narina e deve passar suavemente para a orofaringe posterior. Deve
estar bem lubrificada e inserida na narina que parece desobstruída. Se houver resistência,
tentar na outra. Não deve ser realizada em suspeita ou potencial fratura da placa cribiforme.
ML e MLI
Utilizadas em vias aéreas difíceis ou falha
na intubação endotraqueal ou ventilação com
bolsa-válvula máscara. Não fornece via definitiva.
A MLI permite a intubação através dela. Quando
o paciente chega com um destes dispositivos
deve planejar-se via definitiva.
Prefere-se dispositivos sem insuflação do
balonete como a supraglótica i-gel.
TL e TLI
Via aérea extra glótica similar a ML para a
ventilação. O TLI permite a intubação através
dele. Não é uma via definitiva e não necessita de
visualização direta.
TEM
Utilizado quando uma via aérea definitiva
não é possível, um dos tubos fica no esófago e
outro na traqueia. A via esofágica é ocluída com
um balão e a outra é usada para ventilação. Pode
ser usado um detector de CO2. Assim como os
outros, também precisa ser substituído por uma
via definitiva.
VIA AÉREA DEFINITIVA
Requer tubo na traqueia com balonete insuflado abaixo das cordas vocais e
conectado a dispositivo de oxigênio. Pode ser de três tipos: tubo orotraqueal, tubo
nasotraqueal e via cirúrgica.
AULA PRÁTICA:
Utiliza-se o laringoscópio posicionado na base da língua, progredindo lentamente
conforme se visualiza a epiglote, em seguida a traqueia (evitando hiperextensão),
recomenda-se a IOT utilizando fio guia por dentro do tubo. Introduz-se o tubo de lateral da
boca para medial até a traquéia. Então, ausculta-se os ápices e bases e epigástrio durante a
ventilação para assegurar o posicionamento correto. Caso haja intubação seletiva (foi para
um pulmão específico, geralmente o direito por ser mais vertical), pode-se regredir
lentamente o tubo. Por fim, fixa-se o tubo com fixador ou esparadrapo (ao redor do tubo e
preso nas extremidades laterais da boca, duas vezes).
● Balonete muito insuflado causa isquemia da traquéia e pouco insuflado não a veda.
Se o paciente for movimentado, realizar ausculta pulmonar bilateral e avaliação do
CO2 exalado para confirmar que continua certo.
Se a intubação não for bem sucedida ou a fenda glótica for difícil de visualizar,
prepara-se para abordagem de via aérea difícil.
Idealmente com uma máscara facial com reservatório com taxa de fluxo de pelo
menos 10 L/min com acompanhamento da saturação pela oximetria de pulso.
Uma saturação de O2 >= 95% é forte indicativo de oxigenação arterial adequada
(PaO2 > 70 mmHg ou 9,3 KPa). Apesar da oximetria de pulso não medir a PaO2, há uma
aproximação conforme a tabela abaixo:
TRATAMENTO DA VENTILAÇÃO
AVALIAÇÃO INICIAL
Reconhecimento do choque
Os principais sintomas são taquicardia e vasoconstrição periférica, e são os sinais
mais precoces. A alteração da PA pode ser tardia devido ao sistema compensatório. Avaliar
a FC, qualidade do pulso, FR e pressão de pulso (diferença entre PA sys e dya). A avaliação
do pulso deve ser feita nos pulsos centrais (carotídeo e femoral)
- Pulso rápido e fino é sinal de hipovolemia
Todo paciente com pele fria e taquicardia e/ou hipotensão com taquicardia está em
choque até que se prove o contrário. Idosos podem não apresentar taquicardia devido a
baixa resposta às catecolaminas endógenas ou uso de medicamentos (ex. betabloqueador).
Os índices de hematócrito e hemoglobina demoram a alterar, portanto não são
confiáveis para definir estado de choque.
Tamponamento cardíaco
Comum em perfuração torácica, mas também em contusão. Geralmente,
caracterizado por taquicardia, turgência jugular, abafamento de bulhas cardíacas,
hipotensão e resposta insuficiente.
Pode ser simulado por pneumotórax hipertensivo, já que ambos causam turgência
jugular e desvio da traquéia, no entanto o tamponamento cardiogênico não apresenta
ausência de murmúrio vesicular e timpanismo pulmonar.
FAST detecta derrame pericárdico, sinal sugestivo de tamponamento.
É melhor tratado com toracotomia, a pericardiocentese é apenas temporária.
Pneumotórax Hipertensivo
Ocorre por um mecanismo de válvula que permite a entrada de ar no espaço pleural,
sem saída. Causando colapso do pulmão e desvio do mediastino. Causa choque por
redução do retorno venoso e débito cardíaco.
Em pacientes com respiração espontânea há taquipneia e “fome de ar”, na
respiração mecânica há instabilidade hemodinâmica.
É sugerido por insuficiência respiratória aguda, enfisema subcutâneo, ausência de
murmúrio vesicular, timpanismo à percussão e desvio da traquéia.
Inicialmente deve-se realizar toracocentese, com posterior inserção de dreno.
Choque Neurogênico
Lesões intracranianas causam choque APENAS se acometeram o tronco cerebral.
Lesões na medula cervical ou torácica alta podem levar a hipotensão por perda do tônus
simpático, agravando a hipovolemia. Hipovolemia piora o efeito da denervação simpática.
Classicamente apresenta hipotensão sem taquicardia e sem vasoconstrição cutânea.
Choque Séptico
Incomum, ocorre quando o atendimento demora horas. Geralmente em ferimentos
penetrantes no abdome por contaminação peritoneal por conteúdo entérico.
Na fase precoce, pode apresentar volume normal, pele aquecida, PA sys e de pulso
normais, mas tardiamente assemelha-se ao choque hipovolêmico.
CHOQUE HEMORRÁGICO
Definição de Hemorragia
Perda aguda de volume sanguíneo. O volume de sangue equivale a 7% do peso
corporal (8 a 9% para crianças), em obesos utiliza-se o peso ideal.
Classificação Fisiológica
Exame Físico
Via Aérea e Respiração
Seguir protocolo AB e manter saturação maior ou igual a 95%
Disfunção Neurológica
Necessário para avaliar o grau de perfusão cerebral. Deve ser repetido após a
perfusão e oxigenação serem restaurados.
Exposição
Despir o paciente e prevenir hipotermia.
Sondagem Vesical
Avaliação de hematúria e monitorização do débito urinário (perfusão renal). Sangue
no meato uretral ou equimose perineal podem indicar lesão de uretra contraindicando
sondagem transuretral.
Acesso Vascular
Inserção de dois cateteres calibrosos periféricos (jelco 14). Utilizar fluidos aquecidos
e, se hemorragia maciça e hipotensão severa, bombas de infusão rápida.
Locais para inserção preferíveis são as veias do antebraço ou antecubitais. Se não
for possível considerar acesso intraósseo provisório. Se não for possível veias periféricas,
está indicada cateterização de acesso venoso central (veias femorais, jugular ou subclávia).
Radiografia de tórax deve ser feita após cateterismo em jugular ou subclávia para
confirmar posição do cateter e avaliar complicações (pneumo e hemotórax).
Após a obtenção dos acessos, deve-se coletar amostras para testes de tipagem
sanguínea, toxicológicos e teste de gravidez. Também para a gasometria arterial.
Acesso feito com técnica não estéril, deve ser substituído quando possível.
Rápida
Retorno da estabilidade hemodinâmica rápida, pode reduzir a velocidade de infusão.
Transitória
Respondem à reposição em bolus inicial, porém reincidem durante a fase de
manutenção indicando reposição inadequada ou sangramento ativo. Necessitam de controle
cirúrgico ou angiográfico da hemorragia. Possível iniciar protocolo de transfusão maciça
Mínima ou Ausente
Indica a necessidade de intervenção cirúrgica imediata para controle de hemorragia
e início do protocolo de transfusão maciça (PTM).
Raramente, pode ser não hemorrágico: pneumotórax hipertensivo, traumatismo
cardíaco ou tamponamento cardíaco. USG miocárdica é útil na identificação da causa.
REPOSIÇÃO DE SANGUE
Autotransfusão
Em caso de hemotórax maciço podem ser utilizados dispositivos nos tubos de
drenagem que fazem a coleta estéril, anticoagulação (com citrato de sódio) e transfusão do
sangue drenado. Ainda pode ser necessário infusão de plasma e plaquetas.
Transfusão Maciça
Transfusão maior que 10 U de concentrado de hemácias nas primeiras 24h ou mais
de 4 U na primeira hora. Se houver transfusão maciça, deve-se fazer 1CH:1PL:1PLAQ
(proporção igual de concentrado de hemácias, fatores de coagulação e plaquetas).
A administração precoce de sangue pode aumentar a sobrevida em relação ao uso
excessivo de cristalóides, sendo chamada de “reanimação balanceada/hemostática/de
controle de danos”. Ainda não há escores/classificações que definem quando está indicada.
Mas segundo o ATLS, em pacientes com resposta mínima e em casos transitórios.
Coagulopatia
Geralmente devido ao esgotamento dos fatores de coagulação. A diluição pela
reposição volêmica e alterações fisiológicas pela hipotermia pioram a resposta coagulatória.
TP, TTPa e contagem de plaquetas são valiosos na primeira hora.
Tromboelastografia (TEG) e Tromboelastometria Rotacional (ROTEM) são úteis para
identificar deficiência em fatores da coagulação e hemoderivados para a correção.
Ácido tranexâmico pode ser utilizado em traumas graves dentro das primeiras 3
horas de trauma. Sendo a primeira dose de 1g infundida em 10 minutos e a segunda dose
de 1g durante 8h. Se aplicado na cena do trauma, deve-se realizar a segunda dose de 1g
em 8h no ambiente hospitalar.
Em pacientes vítimas de TCE grave, administrar sangue precoce aumenta sobrevida.
Se não houver necessidade de transfusão maciça, deve guiar-se pelos exames. Vale
ressaltar que muitos anticoagulantes e antiagregantes atuais não são detectáveis.
Reposição de Cálcio
Geralmente, não é necessária. Se for, guiar-se pela dosagem de cálcio ionizado.
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA
Lesão Traqueobrônquica
Geralmente ocorrem no limite de 1 polegada (2,54cm) da carina. Alta taxa de
mortalidade. A intubação pode piorar o quadro, lembrar do pneumotórax hipertensivo. Nesse
tipo de lesão está indicada a abordagem cirúrgica imediata.
Geralmente, apresentam hemoptise, pneumotórax hipertensivo, enfisema
subcutâneo cervical e/ou cianose.
A expansão incompleta e uma fístula de alto débito após drenagem sugerem lesão
traqueobrônica, podendo precisar de mais de um tubo torácico. Broncoscopia confirma o
diagnóstico.
PROBLEMA DA RESPIRAÇÃO - B
Realização do exame físico do aparelho respiratório, tórax e pescoço, podendo abrir
temporariamente o colar cervical (mantendo imobilização manual) para avaliação.
Aumento da FR e respirações superficiais sugerem hipóxia ou lesão torácica.
Cianose é um sinal tardio de insuficiência respiratória, mas sua ausência não confirma via
aérea pérvia nem boa oxigenação tecidual.
As principais lesões são: pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto (ferida
torácica aspirativa) e hemotórax maciço.
Pneumotórax Hipertensivo
Mecanismo de válvula unidirecional com acúmulo de ar no espaço pleural,
colapsando o pulmão e deslocando o mediastino oposto à lesão, o que diminui o retorno
venoso e comprime o pulmão contralateral. Consequentemente, evolui para choque
obstrutivo por diminuição do retorno venoso e queda do débito cardíaco. Óbito por choque
cardíaco extra-cardíaco (obstrutivo), diminuição da pré carga por desvio do mediastino.
Sua principal causa é a ventilação com pressão positiva em pacientes com lesão
pleural. Além dos mecanismos de válvula, lesão iatrogênica no acesso venoso central, ou
lesões penetrantes ou contusas, também pode ocorrer devido a um curativo oclusivo
incorreto e lesões com grande desvio da coluna torácica.
Diagnóstico clínico (não necessita imagens):
● Dor torácica
● Taquipneia e sensação de “fome de ar”
● Desconforto respiratório
● Taquicardia
● Hipotensão
● Ausência unilateral de murmúrio vesicular
● Hipertimpanismo
● Desvio da traqueia para o lado contrário da lesão
● Elevação do hemitórax sem movimento respiratório e assimetria
● Distensão das veias do pescoço (turgência jugular)
● Cianose (tardia)
Há baixa saturação na oximetria de pulso e o FAST também faz diagnóstico.
O tratamento deve ser imediato com descompressão por punção. Se houver falha,
considerar toracotomia digital.
Trata-se com punção no quinto espaço intercostal ligeiramente anterior à linha
medioaxilar com cateter sobre uma agulha de pelo menos 8 cm. Depois, é obrigatório a
drenagem torácica em selo d’água.
Hemotórax Maciço
Hemotórax com volume maior que 1,5L ou mais que 1/3 do volume total.
Geralmente devido a ferimentos penetrantes, mas também por contusão. Trata-se com
reanimação volêmica e drenagem do tórax (n° 28 a 32 French, anterior à linha axilar média
ao nível do mamilo) simultaneamente. Causa hipotensão e choque. Também causa
problemas circulatórios. Óbito por choque hipovolêmico.
● Aula (Siade): hemorragia maior ou igual a 200mL/h na próxima 1 hora
também define hemotórax maciço. Indicação de toracotomia
PROBLEMAS DA CIRCULAÇÃO - C
As principais causas são: hemotórax maciço, tamponamento cardíaco e parada
cardíaca por trauma.
No ECG, identifica-se AESP nos casos de tamponamento cardíaco, hipovolemia
profunda ou pneumotórax hipertensivo. Outras causas de AESP: hipovolemia, hipoxia, íon
hidrogênio (acidose), hipocalemia/hipercalemia, hipoglicemia, hipotermia, toxinas,
tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo e trombose (coronária ou pulmonar).
Em um trauma contuso com ruptura dos átrios ou ventrículos a única manifestação
pode ser a AESP. Traumas fechados de tórax estão propensos a disfunção miocárdica
(aumentada por hipóxia e acidose).
Hemotórax Maciço
Há colapso das veias do pescoço à grave hipovolemia, mas há distensão quando
houver pneumotórax hipertensivo associado. Raramente, pode deslocar as veias cervicais.
É diagnosticado por sinais de choque, macicez a percussão e ausência de
murmúrios vesiculares.
Faz-se reposição volêmica e drenagem simultaneamente, por toracostomia com
dispositivo em selo d'água. O sangue deve ser coletado em um dispositivo de
autotransfusão. Drenagem anterior a linha médio axilar ao nível do mamilo com dreno de 28
a 32 French. O cálculo para reposição de fluidos é o volume perdido imediatamente à
drenagem somado com o volume drenado a seguir.
A necessidade persistente de transfusões sanguíneas indica toracotomia. Se o
volume imediato for aproximadamente 1,5L ou continuar sangrando é provável toracotomia
de urgência. Ferimentos penetrantes na parede anterior entre os mamilos ou posteriores e
mediais às escápulas geralmente necessitam de toracotomia. A decisão se baseia no estado
do doente e não no fluxo drenado (200 mL/h por 2 a 4h) ou coloração do sangue.
Tamponamento Cardíaco
Compressão do coração por acúmulo de líquidos no saco pericárdico. Causando
redução do débito cardíaco por menor fluxo de entrada no coração. Tríade de Beck: sons
cardíacos abafados, hipotensão e hipertensão venosa (turgência jugular). O sinal de
Kussmaul (aumento da pressão venosa à inspiração espontânea) denota pressão venosa
paradoxal. Geralmente, devido a traumas penetrantes, mas também contusões. O
pneumotórax hipertensivo esquerdo pode imitar tamponamento cardíaco.
Confirmado pelo FAST, mas também por ecocardiografia e/ou janela pericárdica.
Quando identificado deve ser tratado com toracotomia ou esternotomia de urgências, se não
for possível, realizar pericardiocentese descompressiva (medida temporária). A
administração de volume melhora temporariamente (aumento do débito cardíaco)
Para realização da pericardiocentese descompressiva subxifoide é ideal cateter de
tubo grande ou técnica de Seldinger para inserção de um cateter flexível para aspirar o
sangue pericárdico. É recomendado guiar-se por USG. Medida de urgência caso não seja
possível a cirurgia.
Parada Circulatória Traumática
Traumatizados inconscientes e sem pulso, incluindo AESP, fibrilação ventricular e
assistolia. As causas podem ser, hipóxia grave, pneumotórax hipertensivo, hipovolemia
profunda, tamponamento ou herniação cardíacos e contusão miocárdica. Considera-se que
o evento cardíaco precede ao trauma.
Monitorização com ECG ou ecocardiograma precoce.
Inicie a RCP fechada simultânea ao ABC. Garanta IOT (sem uso de drogas). Execute
ventilação mecânica com 100% de O2. Realize toracotomia digital ou drenagem bilateral
para excluir pneumotórax hipertensivo. Reposição volêmica por veias de grande calibre ou
intraósseo. Administre epinefrina (1mg) e avalie se o ritmo é chocável ou não.
● Chocáveis: Fibrilação Ventricular (FV) e Taquicardia Ventricular (TV)
● Não chocáveis: AESP e Assistolia
Se não retorno da circulação espontânea (RCE) realizar toracotomia de reanimação.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
Pneumotórax Simples
Decorrente de trauma penetrante ou contuso, sendo a laceração pulmonar a causa
mais comum após contusão.
Ao exame físico o MV está diminuído e há hipertimpanismo. Na radiografia de tórax
AP em expiração auxilia no diagnóstico. Diferentemente do hipertensivo, o pneumotórax
simples não causa instabilidade hemodinâmica nem comprometimento das estruturas
mediastinais.
Após a inserção de dreno no quarto ou quinto espaço intercostal anteriormente a
linha média axilar e adaptação ao sistema de selo d’água, é necessário novo Rx para
confirmar a re-expansão pulmonar.
Os traumatizados com risco de pneumotórax não devem receber anestesia geral ou
ventilação com pressão positiva até terem o tórax drenado. A drenagem também deve
ocorrer antes do transporte aéreo, mesmo em cabine pressurizada.
Pneumotórax assintomático pode ser tratado conforme avaliação.
Hemotórax
Menor que 1,5L ou 1/3 do sangue total. A causa mais comum é laceração pulmonar
ou ruptura de vaso intercostal ou da artéria mamária. Também pode ser por lesão da coluna.
Geralmente não precisa de tratamento cirúrgico.
Identificado no RX em decúbito dorsal por uma área de opacidade homogênea. Se
visível, deve ser tratado com dreno grosso de 28 a 32 French.
A exploração cirúrgica (toracotomia) deve ser considerada sangramento maior que
1,5L ou maior que 200 mL/h durante 2 a 4h ou na necessidade de transfusão contínua de
sangue. A toracotomia depende do estado hemodinâmico do paciente.
OUTRAS LESÕES TORÁCICAS
Enfisema de Subcutâneo
Devido a lesão de via aérea, pulmonar ou explosão. Não necessita de tratamento. Se
precisar de ventilação com pressão positiva, fazer drenagem no mesmo lado do enfisema
pela possibilidade de pneumotórax hipertensivo.
MECANISMOS DE TRAUMA
Trauma Contuso
Impacto direto causando compressão ou esmagamento de vísceras ou estrutura
óssea da pelve. Podem causar ruptura destes com hemorragia secundária e contaminação
pelo conteúdo intestinal e, consequentemente, peritonite.
Cisalhamento define-se por lesão de esmagamento quando um dispositivo de
seguranças de restrição não é usado adequadamente. Acidentes por desaceleração são os
quais há movimento diferente das porções fixas e móveis do corpo.
Em vítimas de trauma fechado os órgãos mais acometidos são: baço (40-55%),
fígado (35-45%) e intestino delgado (5-10%). Há incidência de 15% de hematomas nas
vítimas de trauma submetidas a laparotomia.
Dispositivos de segurança previnem ferimentos mais graves, mas causam padrões
de lesão específicos. O acionamento de air bag não impede lesão abdominal.
Trauma Penetrante
Corte e laceração dos tecidos por armas brancas ou projéteis de baixa velocidade.
Projéteis de alta velocidade, como armas de fogo, têm aumento do dano causado ao redor
do seu trajeto e cavitação temporária, e também se enquadram como trauma por explosão.
Ferimentos por armas brancas geralmente acometem o fígado (40%), intestino
delgado (30%), diafragma (20%) e cólon (15%).
Trauma por Explosão
Pacientes próximos à fonte de explosão podem apresentar lesões nos tímpanos,
pulmões e lesões de vísceras ocas pela onda de pressão da explosão. Podem ter
apresentação clínica tardia.
Armas de fogo acometem mais intestino delgado (50%), cólon (40%), fígado (30%) e
estruturas vasculares abdominais (25%). O dano está relacionado ao tipo de arma e
munição, formato do cano e distância entre arma e vítima.
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
Avaliação da Pelve
Hipotensão inexplicada pode ser o único sinal. A instabilidade do anel pélvico deve
ser considerada nos pacientes com fratura pélvica, hipotensão e sem fontes de
sangramento, sendo prioridade a colocação de dispositivo que feche o anel pélvico.
Sinais sugestivos de fratura pélvica são evidência de ruptura de uretra (hematoma
em escroto ou sangue no meato uretral), discrepância entre o comprimento dos membros ou
deformidade rotacional da perna sem fratura óbvia. A manipulação da pelve é prejudicial,
pois pode desalojar o coágulo formado, causando hemorragia. Palpação cuidadosa do anel
pélvico pode ajudar a identificar fraturas, no entanto manobras de distração não são
indicadas pois podem piorar o sangramento.
Hemipelve instável gira cranialmente (por forças musculares) e rotaciona
externamente (por gravidade), isso faz com que possa acomodar grandes volumes
sanguíneos, portanto é importante o uso de cintas pélvicas precocemente, apoiadas no
trocanteres maiores, e não nas cristas ilíacas, para conter o sangramento.
Anormalidades neurológicas distais ou feridas abertas no flanco, períneo, vagina ou
reto podem indicar ferida aberta no anel pélvico. Radiografia em AP da pelve é útil.
Sondagem Gástrica
A sondagem gástrica no início do processo de reanimação tem como objetivo aliviar
possível dilatação gástrica aguda e descomprimir o estômago antes de LPD. Também
podem diminuir a incidência de aspirações nesses casos. Em pacientes acordados com
reflexo do vômito, pode provocar êmese.
Sangue na SNG sugere sangramento esofágico ou no TGI superior, após exclusão
de sangramentos naso ou orofaríngeos. Em fraturas de face graves e suspeita de fratura de
base de crânio a sondagem deve ser feita pela boca, para que não penetre a placa crivosa.
Pacientes pediátricos têm alta incidência de distensão gástrica após trauma, a SNG
reduz o risco de aspiração e alivia o possível estímulo vagal, decorrente da dilatação, que
pode causar bradicardia.
Sondagem Vesical
Sondagem vesical alivia retenções, identifica sangramentos e monitora o débito
urinário como índice de perfusão tissular. Bexiga cheia facilita o FAST, então se este estiver
indicado, pode-se retardar o cateterismo vesical.
Hematúria macroscópica é sinal de trauma geniturinário, incluindo rins, ureteres e
bexiga. Ausência de hematúria não exclui lesões no TGU.
Em caso de incapacidade de micção espontânea, presença de fratura pélvica
instável, sangue no meato uretral, hematoma escrotal ou equimose perineal é mandatório
uretrografia retrógrada para garantir a integridade da uretra antes de sonda vesical.
Detecção de lesão pode necessitar de inserção de sonda suprapúbica.
Outros Estudos
A rápida exclusão de sangramento intra-abdominal ou pélvico pode ser feita por
FAST e LPD. Radiografia AP pélvica pode ser útil para estabelecer a origem da perda de
sangue em pacientes instáveis hemodinamicamente e/ou com dor pélvica. Realização
destes exames é contraindicada caso haja indicação de laparotomia ou caso atrasem a
transferência do paciente. As seguintes alterações requerem avaliação para excluir lesão
intra-abdominal:
● Sensório rebaixado
● Sensibilidade alterada
● Lesões em estruturas adjacentes (ex. arcos costais inferiores, pelve e lombar)
● Exame físico não confiável
● Sinal do cinto de segurança com suspeita de lesão intestinal
● Perda prolongada de contato com o paciente (ex. anestesia para tratamento de
lesões extra-abdominais ou exames de imagem demorados.
A maioria das lesões por arma de fogo são tratadas por laparotomia exploradora. A
incidência de lesões intraperitoneais significativas é cerca de 98% quando há penetração.
Na avaliação de ferimentos toracoabdominais sem indicação para laparotomia mas com
possíveis lesões de diafragma e estruturas superiores pode ser por toracoscopia,
laparoscopia, LPD e TC.
INDICAÇÕES DE LAPAROTOMIA
● Trauma abdominal fechado, com hipotensão, com FAST positivo ou evidência clínica
de sangramento intraperitoneal, ou sem outra fonte de hemorragia
● Hipotensão com ferida abdominal penetrante
● Hemorragias do estômago, reto ou trato geniturinário em traumas penetrantes
● Ferimentos por projéteis de arma de fogo que transfixar a cavidade peritoneal
● Evisceração
● Peritonite
● Pneumoperitônio, ar retroperitoneal ou ruptura do diafragma
● Trauma abdominal fechado ou penetrante com aspiração de conteúdo
gastrointestinal, fibras vegetais ou bile no LPD, ou aspiração de 10mL ou mais de
sangue em pacientes hemodinamicamente instáveis
● TC com contraste que demonstre ruptura do TGI, lesão intraperitoneal da bexiga,
lesão de pedículo renal ou lesão parenquimatosa visceral severa após traumatismo
fechado ou penetrante
AVALIAÇÃO DE OUTRAS LESÕES ESPECÍFICAS
Lesões do Diafragma
Geralmente a cúpula esquerda é mais lacerada e as lesões têm de 5 a 10 cm. As
anormalidades radiográficas incluem elevação ou borramento do hemidiafragma, hemotórax,
sombra gasosa ou SNG posicionada acima da linha da hemicúpula diafragmática. Suspeitar
em qualquer lesão toracoabdominal, confirmada por laparotomia, toracoscopia ou
laparoscopia.
Lesões Duodenais
Geralmente em colisões automobilísticas frontais sem cinto de segurança e golpe
direto no abdome (ex. guidão de bicicleta). Suspeita-se quando há aspirado gástrico
hemorrágico ou ar retroperitoneal em Rx ou TC. Em pacientes com alto risco é indicado Rx
seriado, TC duplo contraste ou laparotomia de urgência.
Lesões Pancreáticas
Lesões epigástricas diretas. A amilase normal não exclui lesão pancreática, bem
como a amilase pode se elevar sem lesão do pâncreas. TC com contraste não detecta
lesões nas primeiras 8h. Em caso de imagens inconclusivas e haja suspeita de lesão a
exploração cirúrgica é recomendada.
Lesões Genitourinárias
Traumas no dorso e/ou flancos que causam contusões, hematomas ou equimoses
sugerem lesão renal e exigem avaliação por TC ou urografia excretora. Hematúria macro e
microscópica em pacientes em choque aumentam a chance de lesão renal. TC com
contraste pode ver lesão renal contusa que pode ser tratada sem cirurgia. Em caso de
desaceleração pode haver trombose da artéria renal e ruptura do pedículo renal, podendo
não haver hematúria, sendo identificadas por TC ou arteriografia.
Fratura pélvica anterior geralmente está presente em pacientes com lesão de uretra,
que podem ser acima (posterior) ou abaixo (anterior) do diafragma urogenital. A lesão de
uretra posterior está relacionada ao trauma multissistêmico e fraturas pélvicas, enquanto a
anterior de trauma a cavaleiro e pode ser isolada.
Gravidade da Lesão
Avaliada pela Escala de Coma de Glasgow. Caso haja assimetria (direita/esquerda
ou superior/inferior) utiliza-se a melhor resposta motora no cálculo, mas deve-se anotar as
respostas efetivas em ambos os lados.
● Grave: menor ou igual a 8
● Moderado: entre 9 a 12
● Leve: 13 a 15
Morfologia
Fraturas de Crânio
Na calota ou base do crânio. Lineares ou estreladas e expostas ou fechadas. Sinais
clínicos: olhos de guaxinim, sinal de Battle, oto/rinorreia e disfunção do VII e VIII nervos
cranianos (paralisia facial e perda da audição).
Lesões Intracranianas
Difusas: TC normal ou leves isquemias ou hemorragias pontilhadas em todos os
hemisférios (desaceleração brusca)
Focais: hematomas epi/subdurais e/ou intracerebrais e/ou contusões.
● Epidurais: biconvexo ou lenticular, geralmente rompimento da artéria
meníngea média. Intervalo lúcido entre o momento da lesão e a
deterioração neurológica
● Subdurais: 30%. Dilaceração de vasos superficiais pequenos ou vasos
em ponte do córtex cerebral. Mais grave por ter lesão parenquimatosa
● Contusões e Hematomas Intracerebrais: 20-30. Podem evoluir para
hematoma intracerebral ou contusão coalescente com efeito de
massa, exigindo cirurgia imediata.
TRATAMENTO TCE LEVE
TCE leve: Glasgow 13 a 15 após reanimação. Paciente pode referir desorientação,
amnésia ou perda momentânea de consciência (confundível com intoxicação). Nunca
atribuir alteração do estado mental a fatores de confusão até exclusão de lesão cerebral. A
TC é método preferível, mas não deve retardar a transferência do paciente.
TC deve ser realizada em todos os pacientes com suspeita de lesão cerebral com
suspeita clínica de fratura exposta do crânio, qualquer sinal de fratura de base de crânio ou
mais que dois episódios de vômitos ou idade maior que 65 anos.
Após alta, o paciente deve retornar se tiver cefaleia, declínio no estado mental ou
déficits neurológicos focais. Deve ser dado um protocolo de instruções para o paciente.
TRATAMENTO TCE MODERADO
TCE Moderado: Glasgow 9 a 12. Capazes de responder a comandos simples,
confusos, sonolentos ou déficit neurológico focal (ex. hemiparesia). Necessitam de
hospitalização para observação e reavaliação de 12 a 24h. Recomendada TC de controle
em 24h se TC inicial for anormal ou houver deterioração do estado neurológico.
LÍQUIDOS INTRAVENOSOS
Administrados conforme necessidade, hipovolemia é prejudicial. É recomendado
solução salina isotônica ou Ringer lactato. Evitar líquidos hipotônicos. Soluções glicosadas
podem causar hiperglicemia prejudicial. Monitorar níveis séricos de sódio, hipernatremia
pode causar edema cerebral.
CORREÇÃO DA ANTICOAGULAÇÃO
Em pacientes recebendo anticoagulação ou terapia antiplaquetária, após obtenção
da razão normalizada internacional (INR) fazer TC quando indicado, geralmente é
necessária rápida normalização da anticoagulação.
HIPERVENTILAÇÃO
A hiperventilação reduz a PaCO2, produzindo vasoconstrição cerebral, podendo
causar isquemia cerebral se PaCO2 < 30 mmHg. A hipercarbia, PaCO2 > 45 mmHg, causa
vasodilatação cerebral e consequentemente aumentará a PIC.
Hiperventilação profilática (pCO2 < 25 mmHg) não é recomendada.
A hiperventilação pode ser feita cuidadosamente para tratar déficit neurológico agudo
ou para reduzir a PIC em pacientes com piora com hematoma intracraniano em expansão
até a realização da craniotomia.
MANITOL
Reduz PIC elevada, 0,25 a 1g/Kg. Utiliza-se solução de 20% (20g de manitol para
100 mL). Não deve ser utilizado em hipotensos, pois não abaixa a PIC em hipovolemia, além
de ser diurético osmótico potente.
É indicado em deterioração neurológica aguda normovolêmica (pupila dilatada,
hemiparesia ou perda de consciência). Administrar 1g/Kg em bolus (5 min) enquanto é
encaminhado para TC ou cirurgia.
Monitorar PIC, a menos que haja herniação, manter Sosm < 320 mOsm, manter
normovolemia, utilizar bolus.
BARBITÚRICOS
Reduz PIC refratária, mas não devem ser usados se houver hipovolemia ou
hipotensão. Produzem hipotensão e têm meia vida longa, logo não utilizar durante a
reanimação.
ANTICONVULSIVANTES
Fatores que indicam alta incidência de epilepsia tardia são convulsões durante a
primeira semana, hematoma intracraniano e fratura com afundamento do crânio. Podem ser
usados agudamente, porém reduzem a recuperação do cérebro. Geralmente, usa-se
fenitoína (Hidantal) e fosfenitoína na fase aguda.
Usa-se dose de ataque de 1g de fenitoína IV em tempo até 50 mg/min, e
manutenção de 100 mg/8h, com dose titulada. Diazepam ou lorazepam são associados em
convulsões prolongadas (30 a 60 min) até parar.
O controle de convulsões contínuas pode exigir anestesia geral, pois convulsões
prolongadas causam lesão cerebral.
Não deve utilizar-se anticonvulsivantes para prevenir crises pós-traumáticas tardias
(após 7 dias da lesão).
TRATAMENTO CIRÚRGICO DO TCE
Choque Neurogênico
Choque neurogênico resulta da perda do tônus vasomotor e da inervação simpática
para o coração (lesão de T6 ou acima leva a comprometimento das vias simpáticas
descendentes). Perda do tônus vasomotor causa vasodilatação visceral e periférica e
consequentemente hipotensão, a perda da inervação simpática cardíaca leva a bradicardia e
incapacidade de causar taquicardia frente à hipovolemia. É sempre importante descartar
outras fontes de sangramento.
O choque neurogênico não é tratado com reposição volêmica, se realizada
agressivamente pode levar a sobrecarga líquida e edema pulmonar. Deve-se considerar
vasopressores após reposição volêmica moderada e atropina para tratar a bradicardia.
Choque Medular
Choque Medular refere-se à perda de tônus muscular e à perda de reflexos
imediatamente após trauma na medula espinhal. Após um período ocorre espasticidade.
SÍNDROMES MEDULARES
Síndrome Central
Lesão por hiperextensão com estenose do canal cervical pré-existente, com ou sem
fratura ou luxação. Perda de força desproporcional maior nos MMSS em relação aos MMII.
Comum em idosos em queda da própria altura.
Síndrome Anterior
Lesão das vias motoras e sensitivas anteriores. Paraplegia e perda bilateral de dor e
temperatura, com preservação das sensações da coluna dorsal (vibração e pressão
profunda). Geralmente após isquemia da medula.
Síndrome de Brown-Séquard
Hemissecção da medula, em geral por trauma penetrante. Perda ipsilateral motora
(trato corticoespinhal) e da sensação de posição (coluna dorsal), com perda contralateral de
dor e sensação de temperatura um a dois níveis abaixo da lesão (trato espinotalâmico).
FRATURAS LOMBARES
Por acometer a cauda equina há menor chance de déficit neurológico completo.
LESÕES PENETRANTES
Se a medula for atingida há déficit neurológico completo.
AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA
Nunca remover o colar cervical até que sejam feitas as avaliações neurológicas e da
coluna cervical (incluindo palpação durante movimento voluntário). Não se deve forçar o
pescoço do paciente, os movimentos devem ser voluntários.
Radiografias que mostram osso occipital a T1, incluindo lateral, AP e transoral para a
identificação do odontóide. Se disponível pode ser feita a MDCT (TC multidetector)
CONDUTA GERAL
Se suspeita-se de lesão de coluna, o paciente deve ser imobilizado desde acima até
abaixo da lesão da coluna até que seja excluída. Isto é feito colocando o paciente em
decúbito dorsal sem girar e dobrar a coluna vertebral em superfície firme com colar cervical
adequado. As tentativas de alinhar a coluna vertebral para imobilização em prancha longa
não são recomendadas se causarem dor.
Caso não seja identificada hemorragia ativa e a hipotensão persistir, deve
considerar-se como choque neurogênico. Pacientes hemorrágicos têm taquicardia enquanto
no choque neurogênico há bradicardia. Assim, está indicado o uso de vasopressores
(Fenilefrina, dopamina ou norepinefrina). A administração excessiva de líquidos pode levar a
edema pulmonar. Deve-se passar SVD para monitoramento da diurese e prevenir distensão.
Não há indicações de uso de corticosteróides nas lesões de medula espinhal.