Ensaio Filosofico - Fundamentos Éticos e Políticos Dos Direitos Humanos Universais

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Fundamento Ético e Político de Direitos Humanos Universais

Heloysa Silva nº7 10ºB

- Introdução ao tema:

A importância desse tema é o facto de o termo direitos humanos assumir um papel central
em diversas lutas políticas relacionadas, por exemplo, com a pobreza, as minorias
étnicas, religiosas ou linguísticas, o véu islâmico, o casamento dos homossexuais, o
aborto, a eutanásia, os limites à liberdade de expressão e à liberdade religiosa, a
igualdade entre homens e mulheres, a violência contra mulheres e crianças, os limites da
investigação ou experimentação científica, a utilização de novas tecnologias, a crise do
Estado Providência, os imigrantes, o assédio sexual e moral, a ajuda ao desenvolvimento,
eleições livres e periódicas, os povos autóctones.
Antes de mais, constata-se que, apesar do termo “direitos humanos” fazer parte da nossa
linguagem diária e dos direitos humanos serem defendidos apaixonadamente pela
esmagadora maioria das pessoas que nos rodeiam, na realidade, a causa dos direitos
humanos é enormemente complexa tanto ao nível teórico, como prático.
Os direitos humanos se aplicam a todos os homens e servem para proteger a pessoa de
tudo que possa negar sua condição humana. Com isso, eles aparecem como um
instrumento de proteção do sujeito contra todo tipo de violência. Pretende-se, com isso,
afirmar que eles têm, pelo menos teoricamente, um valor universal, ou seja, devem ser
reconhecidos e respeitados por todos os homens, em todos os tempos e sociedades.
Quando falamos em fundamento dos direitos humanos, estamos nos referindo à sua
natureza ou ainda à sua razão de ser. Mas qual a razão de ser desses direitos? Uma
resposta possível seria: eles existem para zelar, proteger ou promover a humanidade que
há em todos nós, fazendo com que o ser humano não seja reduzido a uma coisa, a um
objeto qualquer do mundo. O fundamento pode também ser concebido como fonte ou
origem de algo. Nesse sentido, a ideia de fundamento serve também para justificar a
importância, o valor e a necessidade desses direitos. Ainda que não se possa afirmar a
existência de um fundamento absoluto que possa garantir a efetivação dos direitos
humanos já que a noção do que vem a ser dignidade pode mudar no tempo e no espaço
é possível considerar que haverá sempre uma ideia, um valor ou um princípio que servirá
para definir a natureza própria do homem. Uma vez que o fundamento é, como vimos,
aquilo que representa a causa ou razão de ser de um fato, situação ou fenómeno, pode-
se considerar o fundamento dos direitos humanos como a essência que torna humano o
nosso ser.
É certo que o problema do fundamento dos direitos humanos não parece ser algo
prioritário nas discussões e estudos elaborados sobre o tema. Alguns autores consideram
até mesmo impossível que a definição de um fundamento único seja capaz de nos fazer
superar os desafios representados pela diversidade de culturas, hábitos, costumes,
convenções e comportamentos próprios às inúmeras sociedades. Além do que, a
determinação de apenas um fundamento seria incapaz de refletir as múltiplas noções do
que vem a ser o homem, sua natureza e constituição. Nesse caso, teríamos que
reconhecer que cada cultura poderia definir, a partir de seus próprios valores ou hábitos,
aquilo que melhor pode definir a essência do homem.
O fundamento dos direitos humanos está baseado na ideia de dignidade. A dignidade é a
qualidade que define a essência da pessoa humana, ou ainda é o valor que confere
humanidade ao sujeito. ser humano pelo simples fato de ele ser humano. Cada homem
traz consigo a forma inteira da condição humana, afirmava o filósofo francês Montaigne
(2000), ao se referir a esse elemento que nos define em nossa condição própria de ser. A
ideia de dignidade deve, pois, garantir a liberdade e a autonomia do sujeito. Tal noção nos
permite afirmar que todo ser humano tem um valor primordial, independentemente de sua
vida particular ou de sua posição social. Eis por que o homem deve ser considerado como
um fim em si mesmo, jamais como um meio ou instrumento para a realização de algo
(Kant, 1980). O homem é um ser cuja existência constitui um valor absoluto, ou seja, nada
do que existe no mundo lhe é superior ou equivalente.

Fundamento Político:

Talvez seja correto considerar que a grande questão que nos desafia não é de caráter
filosófico, histórico ou jurídico, mas sim político.
os direitos humanos universais são fundamentais para estabelecer sociedades justas e
democráticas. Eles servem como um conjunto de princípios que limitam o poder do
Estado, protegem os cidadãos contra abusos de autoridade e promovem a participação
igualitária na vida política e social. Além disso, os direitos humanos universais são
frequentemente consagrados em constituições e tratados internacionais, o que reflete o
reconhecimento global da importância desses direitos.
O problema político se revela do seguinte modo: como evitar que os direitos humanos
sejam violados, negados, ignorados. Ora, os direitos humanos somente adquirem
existência efetiva quando são vivenciados. Eis por que precisamos criar os meios que
tornem possível a sua realização. Afinal, quando falamos na necessidade de que esses
direitos sejam praticados, isso já supõe que os mesmos têm uma causa ou razão de ser.
Mas será que o problema referente à fundamentação dos direitos humanos está mesmo
resolvido? Trata-se de uma questão com a qual nós não deveríamos mais nos preocupar?
A resposta é: nem o problema foi resolvido, nem essa questão deixou de ter importância,
como indicam as múltiplas conceções do tema ao longo do tempo. No transcorrer da
história do pensamento, muitas foram as tentativas de justificar a existência dos direitos
humanos e de fundamentá-los. Uma delas já se anuncia no século XVII com a ideia de
que o homem naturalmente tem direito à vida e à igualdade de oportunidades (Locke,
1978). Este preceito é seguido pela noção de que todos os homens nascem livres e iguais
(Rousseau, 1985) ou ainda pela afirmação de que os indivíduos possuem direitos inatos e
indispensáveis à preservação de sua existência. Os homens teriam, assim, direitos
decorrentes de sua própria natureza.

Fundamento Ético:

Assim, dentro da ética, é imprescindível a consideração pelo próximo, não podendo ser
aceitável a subalternização de interesses. Neste contexto, na minha opinião, cada
cidadão deve ter em atenção a moralidade das suas ações e como estas podem ter
graves consequências para a universalização ideal dos direitos humanos. Apesar de não
ter uma opinião estanque sobre onde reside a moralidade das ações, penso que
reaproveitando tanto a teoria de Immanuel Kant como a de Stuart Mill se tornará possível
agir corretamente dentro de uma sociedade ética. Segundo a teoria de Kant, o
cumprimento do dever é única e exclusivamente o que fundamenta o valor moral da ação.
Para avaliar a moralidade das ações de um indivíduo é necessário ter em conta as suas
intenções e os motivos que o levaram à prática da ação (sendo este necessariamente o
cumprimento do dever), (“Uma intenção boa reside na vontade consciente e boa de um
agente que sabe o que deve fazer”). Assim, Kant sustenta a sua tese a partir do
imperativo categórico -lei moral fundamental que apresenta a forma como devemos agir.
Do imperativo categórico advém duas fórmulas: fórmula da lei universal e da humanidade.
A primeira trata da universalização dos princípios pelos quais agimos, ou seja, antes de
agir submetermo-nos à questão “Quererei que a minha ação se torne numa lei
universal?”, interrogando se esta é correta ao ponto de se tornar global. Já a segunda
fórmula deixa assente a necessidade de respeitar o próximo. Deste modo, Kant formula
este princípio sob a forma de “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como um fim em
si e nunca simplesmente como um meio”. Ou seja, devemos agir respeitando sempre o
outro, a sua dignidade intrínseca e nunca o tratando como meio mas como fim. De acordo
com Stuart Mill, a moralidade das ações reside nas consequências que resultam destas e
não na intenção do sujeito. O filósofo utilitarista baseia a sua tese na maximização da
felicidade, isto é, a ação é boa se dela decorrerem consequências positivas que
promovam a felicidade geral. Segundo esta teoria, o ser humano tem um sentimento
natural que o leva a cooperar com os outros, e sempre que age é sob um espírito
imparcial que não sobrepõe os seus interesses ao bem comum. Assim, de acordo com
Stuart Mill, o agente age corretamente se o seu ato promover maior felicidade para o
maior número de pessoas. 5 Marta Orvalho nº9 Após uma explicitação breve das éticas,
creio que nem todas as condições definidas pelos filósofos para uma boa ação são úteis
para a construção de uma sociedade ética, por serem extremamente exigentes e
irrealistas. Em vez disso proponho o estabelecimento intermédio das teorias, na medida
em que unimos a intenção do agente com as consequências da ação e a preocupação
com o bem-geral. Penso que o agente assumiria uma posição racional e inteligente se
agisse com boa intenção, mas, em concomitância, ciente das consequências do seu ato e
pensando não só no benefício pessoal como no geral.
Para ilustrar, imagine-se uma situação em que um cidadão tem um amigo no hospital
internado, e por isso, vai visitá-lo. Se o sujeito agisse respeitando a teoria de Kant, este
iria apenas visitá-lo por puro cumprimento do dever (o dever de ajudar o próximo). O
indivíduo poderia não ter qualquer interesse em visitar o amigo, no entanto, visitá-lo-ia por
respeito ao dever. Isto demonstra a rigidez da teoria, que exclui os sentimentos na tomada
da ação. A ideia de que as ações movidas por inclinações exteriores são ilegítimas, é, na
minha opinião, algo dispensável na avaliação da moralidade, isto é, poderá haver ações
moralmente legítimas provocadas por sentimentos/emoções.

Interseção entre Ética, Política e Direitos Humanos:

Formulado o problema “Será possível universalizar os direitos humanos de forma a que


sejam devidamente respeitados?”, torna-se percetível os diferentes obstáculos a esta
internacionalização. Desde perspetivas de pessoas singulares a conflitos interestatais,
vejo solução na criação de uma sociedade justa e ética a nível mundial, que respeite
juízos morais objetivos, e, consequentemente, os direitos humanos. É também importante
fixar que este trabalho está baseado em teorias filosóficas, ou seja, as soluções
apresentadas podem apresentar um carácter discutível e de pouco provável execução. De
qualquer modo, acredito que agindo moralmente (com boas intenções, consciente das
consequências e pensando no bem comum), tendo juízos morais objetivos e universais e
sociedades parceiras sem conflitos seria possível a universalização ideal das liberdades e
direitos fundamentais.
No entanto, apesar do consenso geral sobre a importância dos direitos humanos
universais, há desafios significativos na sua implementação e proteção. Questões como a
relatividade cultural, a desigualdade económica e a falta de aplicação efetiva das leis
muitas vezes colocam em xeque a eficácia dos direitos humanos. Além disso, conflitos
políticos e interesses nacionais podem minar os esforços para garantir o respeito
universal aos direitos humanos.
Em suma, o fundamento ético e político dos direitos humanos universais é essencial para
promover uma sociedade justa e igualitária. No entanto, a realização plena desses direitos
requer um compromisso contínuo com a promoção da justiça, da igualdade e do respeito
à dignidade humana em todas as esferas da vida social e política.

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