Aulas T - 2ºteste
Aulas T - 2ºteste
Aulas T - 2ºteste
Disciplina procedimental
Para efeitos de aplicação do CPA, relevam apenas os regulamentos externos
O procedimento de emissão de regulamentos está previsto nos artigos 97º e ss.
CPA. Compreende 3 fases:
1. Fase preparatória:
Iniciativa para a emanação do regulamento: parte sempre da
administração e nunca dos particulares, ou seja, os regulamentos
são de iniciativa oficiosa
Publicação do início do procedimento
Elaboração de um projeto de regulamento (artigo 99º): esboço
do regulamento
Audiência dos interessados (artigo 100º CPA)
2. Fase de aprovação do regulamento
3. Fase de publicação do regulamento em DR (artigo 139º CPA)
Relações entre regulamentos externos: critérios:
Hierarquia (artigo 138º/3 CPA)
Competência e especialidade (artigo 138º/1 CPA)
Regime da invalidade dos regulamentos
O regime da invalidade está previsto no artigo 144º CPA. Nos termos do artigo
144º/1, a invalidade pode ser invocada por qualquer interessado, a todo o
tempo (esta é a regra). O artigo 144º/2 é a exceção
Para saber se um regulamento é inválido temos de aplicar o artigo 143º/1/2
Exercícios
Regulamento não refere lei habilitante: situação de inconstitucionalidade
porque viola o artigo 112º/7 CRP. O regulamento é inválido e por essa
invalidade consubstanciar uma inconstitucionalidade aplica-se o artigo
144º/1/2/1ª parte
No procedimento, não houve lugar a audiência dos interessados: pode ter como
consequência:
Assemelha-se à consulta pública: artigo 144º/2/2ª parte
Não se assemelha: artigo 144º/2
Foi preterida a consulta pública legalmente devida: ilegalidade que pode ser
invocada a todo o tempo (artigo 144/2/2ª parte)
Governo emanou regulamento por portaria, mas que nos termos legais tinha de
ser feito mediante a forma de resolução de conselho de ministros: ilegalidade
formal, mas que não é inconstitucional: aplica-se o artigo 144/2/1ª parte
O regulamento da unidade orgânica está em desconformidade com os estatutos
da universidade: artigo 144º/2/1ª parte (não há inconstitucionalidade)
Procedimento administrativo
O procedimento é uma garantia de proteção, ou seja, permite que o particular
seja ouvido quando se relaciona com a AP
Geralmente o procedimento termina com a emissão de um ato administrativo,
regulamento, contrato ou então com o silêncio da AP (artigo 129º CPA)
O procedimento administrativo está definido no artigo 1º CPA como a sucessão
ordenada de atos e formalidades, tendentes à formação e manifestação da
vontade da Administração Pública e à sua execução
Da subalternização do procedimento perante o ato final à legitimação da atuação
administrativa pelo procedimento
A ideia da «legitimação pelo procedimento» (N. LUHMANN) corresponde às
modernas exigências da filosofia política e das ciências de Direito Público. A
ideia da legitimação pelo procedimento vai ao encontro dos valores do Estado
de Direito
De facto, no moderno Estado de Direito, a legitimação das decisões públicas
surge pelo procedimento que assim acresce à legitimidade democrática,
decorrente do voto democrático, e ao acerto das decisões, decorrente da
legalidade e do seu mérito
Na verdade, no Estado de Direito, as decisões públicas não são resultado de
uma qualquer verdade revelada, nem brotam da cabeça de nenhum déspota
iluminado. Antes são resultado de um procedimento em que a manifestação da
vontade estadual é construída mediante a intervenção de múltiplos sujeitos.
Neste sentido, o procedimento não vale apenas como realidade formal ou
simples esquema organizativo de tomada de decisões. Vale como realidade
material que, ao potenciar a participação dos indivíduos e das instituições e ao
fazer chegar através de si o conhecimento sobre todos os interesses públicos e
privados, permite a tomada das decisões mais corretas e mais eficazes, em
resultado da intervenção dos respetivos destinatários
Em suma, do ponto de vista jurídico o procedimento traduz o modo de
conceber a atuação das autoridades públicas e espelha (e projeta-se nos)
valores do Estado de Direito
Qualquer função estadual pressupõe um mecanismo destinado à regulação da
tomada de decisões que é o procedimento. Há diversos tipos de procedimentos
públicos destinados à prática de atos legislativos, administrativos e judiciais que
correspondem ao modo normal do exercício da função legislativa,
administrativa e jurisdicional
E, quanto ao domínio da atividade administrativa, o direito administrativo
contemporâneo só pode conceber, como refere GIANNINI que «o procedimento
administrativo formalizado seja o modo geral de desenvolvimento das
atividades públicas»
O procedimento administrativo como forma da atividade administrativa de
satisfação dos interesses públicos é o procedimento típico de quem exerce a
função administrativa, sendo certo que, ultrapassada a conceção que o via
como sucedâneo perante o judicial. Ele assume-se com autonomia perante os
demais procedimentos jurídico-públicos
Mais do que no domínio da atuação técnica, é sobretudo do quadro da
atividade jurídica da AP que se pode falar dos deveres de procedimentalização
emergentes da CRP:
Para estabelecer regras que densifiquem, executem ou desenvolvam
atos legislativos, através dos quais a AP pode dar exequibilidade
àqueles, ou, de forma independente, emitir normas gerais e abstratas
para sujeitar os cidadãos a determinados comportamentos ou para lhes
reconhecer direitos ou benefícios: procedimento para a emissão do
regulamento administrativo
Para fazer uma aplicação do direito a casos concretos, praticando atos
administrativos
Para escolher de entre várias, a proposta de um concorrente, o
adjudicatário, que irá realizar obras ou prestar serviços: procedimento
pré-contratual relativo a contratos Públicos (e/ou administrativos)
Deveres de procedimentalização que decorrem da CRP para o legislador, que os
deve conceber: a CRP de 1976 veio consagrar um direito fundamental de
participação dos cidadãos na formação das decisões que lhes disserem respeito,
tendo imposto uma obrigação ao legislador de emitir uma lei reguladora do
procedimento (artigo 267º/5). Desta forma, a CRP adota um modelo
procedimental de atuação administrativa, enquanto instrumento de realização
do Estado de Direito, impondo à AP o dever de não apenas prosseguir o
interesse público, mas de respeitar os direitos dos indivíduos, mediante um
procedimento decisório aberto à sua participação. Assim, a realização da
exigência constitucional:
Fez-se através da publicação do CPA (em 1991)
Faz-se através da previsão de múltiplos procedimentos administrativos
formalizados
Em 2015, com o reforço desses procedimentos previstos no CPA
Constantemente com a previsão de novos procedimentos, alguns
compostos (no quadro da EU) e multinível (de enorme complexidade)
Recentemente, por força da transição digital, com a desmaterialização
de procedimentos (alguns totalmente digitalizados, tramitados através
de App’s em dispositivos móveis)
Tipos de procedimento administrativo
Procedimento administrativo de 1º nível para emissão de decisão
administrativa individual e concreta (ato administrativo)
Procedimento comum, previsto no CPA
Procedimentos especiais, previstos em legislação avulsa
Procedimento de execução coercitiva (de atos administrativos emitidos)
Procedimentos revisivos (ou de 2º nível), para anulação ou revogação
A pedido dos particulares
Ex ofício
Vantagens do procedimento administrativo
Vantagem para a AP: eficiência na ação administrativa
Vantagem para os particulares: proteção
Objetivos do procedimento administrativo
Procedimento administrativo como fator de racionalidade e de eficiência
administrativas
Procedimento administrativo como espaço de contradição
Procedimento administrativo na vertente garantística
Procedimento administrativo como instrumento de compensação da proteção
jurisdicional
Procedimento administrativo como fator da racionalidade e eficiência da atuação da
administração
Através do procedimento, pretende-se que a Administração procure obter uma
decisão exata, adequada e eficiente, tendo em conta todos os interesses
envolvidos. Deseja-se, assim, assegurar uma atenta avaliação dos factos,
ponderação dos interesses envolvidos e racionalização das escolhas. Na
realidade nenhuma decisão é «one shot», nem nenhuma decisão se esgota
num único ato. Existindo procedimento há método decisório, logo há eficiência
do agir administrativo e tomada de decisão mais correta e eficaz
Procedimento administrativo como espaço de contradição
Ao abrir-se o procedimento administrativo à participação dos particulares
através do direito à informação e à participação nas decisões, possibilita-se um
confronto de opiniões (da AP e dos interessados) e consideração por
conhecimentos técnicos e científicos diversos. Uma contradição que pode
contribuir para uma decisão ponderada (ponderação de todos os interesses em
jogo) e devidamente discutida e, também por isso, aberta. Tendo em conta as
novas tarefas administrativas, este é um valor indiscutível. A Administração
moderna atua cada vez mais em domínios novos, em que se movem interesses
públicos e privados complexos, e se exigem conhecimentos técnicos e
científicos, como são os referentes à tomada de decisão numa sociedade de
risco (ao quadrado) – A prevenção de danos para a saúde pública ou para o
ambiente: as licenças; as decisões de precaução. Como que se pressupõe para a
AP prestadora: – Que promove infraestruturas: como a construção de pontes,
aeroportos, centrais nucleares
Só o procedimento permite:
A audiência dos interessados (ou dos afetados) e a ponderação dos
interesses diferenciados e antagónicos, nos procedimentos de massa
A elaboração de juízos de prognose
A opção consciente de alternativas de solução
O faseamento dos momentos decisórios (desdobrando-se em tantas
fases quanto as necessárias, com emissão de pareceres obrigatórios,
com emissão de decisões provisórias, intercalares, pré-decisões)
Procedimento administrativo na vertente garantistica
O procedimento está sujeito a normas jurídicas que garantem direitos àqueles
que nele intervêm, sendo certo que se destacam, desde logo, o direito a que o
procedimento decorra dentro de certas regras, que se esperam claras e
adequadas
O procedimento tem malha jurídica apertada:
Normas que disciplinam:
Marcha do procedimento
Iter ou fases
Intituos ou figuras internas
Prazos:
Prazo regra
Contagem de prazos
Atos endoprocedimentais:
Notificações
Medidas cautelares
E assim é porque o procedimento se rege desde logo por princípios:
Princípio da Colaboração da AP com os particulares
Princípio da participação dos particulares na formação das decisões que
lhes dizem respeito
Princípio da decisão
Princípio da celeridade
Princípio da desmaterialização
E assim é porque os interessados têm posições jurídicas favoráveis no
procedimento, ainda que também preveja deveres ou obrigações e ónus. O
procedimento integra momentos de exercício de direitos a prestações
procedimentais. Por exemplo: os interessados têm o direito à informação
procedimental (artigo 268º/1 CRP)
O procedimento garante aos particulares que a AP observou as regras
adequadas para tomar uma decisão administrativa, sendo certo que também
garante que a decisão não surge de modo precipitado. O procedimento
consagra direitos dos particulares a prestações jurídicas procedimentais (direito
à informação, direito à audiência, "direito" à fundamentação, etc.)
Procedimento administrativo como instrumento de compensação da proteção
jurisdicional
Já que é um instrumento importante da própria proteção dos interesses e
posições jurídico-administrativas dos particulares, uma vez que através dele não
só podem assegurar melhor os seus direitos e interesses legítimos, como
assegurar uma proteção que, em sede jurisdicional, muitas vezes não é possível
ou não é devidamente assegurada. Aliás, é ele mesmo momento de
composição antecipada de interesses públicos e privados e, não obstante não
ser menor a responsabilidade da AP pela decisão final do procedimento, a
verdade é que sai diminuído o «carácter dramático das escolhas»
Sendo menor o caos no momento da escolha, também é maior a aceitação da
escolha. Existindo a primeira fase de proteção jurídica dos direitos dos
particulares através do procedimento, o particular dispensa o recurso aos
tribunais traduzindo uma forma de proteção preventiva dos particulares, os
tribunais surgem apenas num quadro de proteção eventual e a posteriori
O inter procedimental: a marcha do procedimento declaratório de 1º nível
Começa com uma iniciativa (do particular ou da própria administração)
Desenvolve-se através de uma instrução destinada a recolher elementos para
tomar a melhor decisão
Envolve a participação direta do interessado
E termina, em regra, exatamente com a decisão/contrato
Por vezes, depois da decisão é preciso praticar novos atos instrumentais de
execução
Fase preparatória
Integra apenas os atos jurídicos que estão diretamente relacionados com o ato
principal e que não produzem efeitos externos senão através deles. Esta fase
inclui os seguintes momentos:
Subfase da iniciativa: pode ser desencadeada:
Pelo interessado, sendo como tal qualificado quem tenha
legitimidade para iniciar o procedimento, por meio de
requerimento, o qual deve preencher certos requisitos e deve
ser apresentado no serviço dos órgãos a que se dirige o pedido,
salvo casos particulares. A apresentação de requerimento é
objeto de registo, que menciona o respetivo nº de ordem, a data,
o objeto de requerimento, o nº de documentos juntos e o nome
do requerente. Os interessados têm direito a um recibo
comprovativo da entrega do requerimento
Por um órgão administrativo
Subfase da instrução: esta fase destina-se a procurar averiguar todos os
factos cujo conhecimento seja conveniente para a decisão e a carrear
para os processos elementos probatórios pertinentes para a tomada da
decisão. Vinga o princípio do inquisitório, sem prejuízo de o ónus da
prova caber ao interessado. A instrução inclui:
Diligências probatórias: prestação de informações, junção de
documentos e apresentação de coisas, a sujeição a inspeções, a
produção antecipada de prova, a realização de exames, vistorias
e avaliações por peritos
Diligências consultivas: inclui a emissão de pareceres. Quanto
aos pareceres:
O parecer é uma modalidade de atos instrumentais,
pertencente à categoria das avaliações = apreciação de
carácter jurídico ou relativo à conveniência administrativa
ou técnica, emitida por um órgão consultivo, a propósito
de um ato em preparação ou de realização eventual
Tanto podem ser facultativos como obrigatórios; e os
obrigatórios tanto podem ser vinculativos como não
vinculativos
Na falta de disposição legal, a regra é esta: os pareceres
são obrigatórios, mas não vinculantes pelo que devem
ser solicitados, sob pena de se produzir um vício no ato
final por preterição de uma formalidade essencial do
procedimento, geradora de uma invalidade
Subfase da audiência dos interessados: está consagrada na CRP e no
CPA. Revela-se como trâmite destinado à efetivação do direito
fundamental de participação dos interessados na formação da decisão
administrativa. A fase da audiência dos interessados é uma importante
decorrência do princípio da colaboração da AP com os particulares: que
menciona que os órgãos da AP devem assegurar a participação dos
interessados na formação das decisões que lhes disserem respeito,
designadamente através da respetiva audiência. Aliás, esta fase decorre
desde logo do próprio artigo 267º/5 CRP: administração participativa ou
dialógica. Como se apontou uma das manifestações mais importantes
do direito genericamente previsto no artigo 8º CPA traduz-se no direito
à audiência prévia dos particulares relativamente à tomada de qualquer
decisão administrativa que lhes diga respeito: artigo 121º a 125º CPA:
este direito concretizar-se-á numa audiência prévia dos interessados,
colocada após a instrução e antes da decisão final. A regra da audiência
obrigatória está prevista sempre que a decisão da AP é em sentido
desfavorável aos interessados esta audiência deve existir
obrigatoriamente. Há casos em que a audiência prévia é configurada
como não sendo obrigatória ou necessária (artigo 124º):
Quando a decisão é urgente
Quando seja razoavelmente de prever que a audiência prévia
possa comprometer a execução ou a utilidade da decisão
Quando nos procedimentos em massa o n.º de interessados seja
de tal forma elevado que a audiência seja impraticável, devendo
existir uma consulta pública
Se os interessados já se tiverem pronunciado no procedimento
sobre as questões que importam à decisão e sobre as provas
produzidas
Se os elementos constantes do procedimento conduzirem a uma
decisão inteiramente favorável aos interessados
Fora destes casos, a audiência é legalmente obrigatória, sendo a sua
omissão geradora de um vício que atingirá o ato final do procedimento
(vício de forma, por preterição de uma formalidade essencial (vício de
procedimento)
Fase constitutiva
Fase em que se produz o ato principal do procedimento. Aliás, o CPA determina
que o procedimento se extingue pela tomada da decisão final, que é
normalmente uma decisão expressa, ou, contudo… pode ser acordo: o contrato
a par no ato na equação final (artigo 127º CPA). E também podem existir outras
causas de extinção do procedimento, tal como:
A desistência e renúncia: artigo 131º
Deserção: artigo 132º
A impossibilidade ou inutilidade superveniente
A falta de pagamento de taxas e despesas: artigo 133º
E há ainda o silêncio da Administração: incumprimento do dever decidir;
omissão ilegal de pronúncia. Nem sempre o procedimento administrativo
termina com a emissão de ato expresso. Há situações em que o silêncio da
administração tem relevância jurídica desde que se verifiquem certos
pressupostos:
Dever legal de decisão (artigo 13º)
Requerimento dirigido ao órgão competente
Decurso de um prazo (60 dias, salvo prazo diferente previsto em
legislação especial, artigo 128º)
Assim, o silêncio pode ter relevância (artigos 129º e 130º CPA)
Por regra, negativa, nos termos do CPA. Nestes casos, o particular tem
direito a recorrer à própria AP ou aos tribunais para solicitar a
condenação à prática de ato legalmente devido (artigos 37º/1/b), 66º/1
CPTA e 67º/1/a) CPTA
Excecionalmente positiva, quando em causa se verifique uma situação
em que o exercício de um direito por um particular depende de
autorização ou aprovação administrativas: ato tácito (artigo 130º CPA)
Fase integrativa da eficácia
Com o encerramento da fase constitutiva, o ato a que tende o procedimento
está perfeito. Acontece, porém, que muitas vezes apesar de se ter preenchido o
tipo legal não se desencadeiam imediatamente os efeitos que a ordem jurídica
lhe assinala. Nestes casos, o ato é potencialmente produtor de consequências,
mas elas estão comprimidas ou estão em estado latente. Torna-se, pois,
necessária uma terceira fase que integra atos que, não podendo acrescentar
nada ao ato principal, vão, todavia, conferir-lhe força que os liberte da
compressão
Fase complementar
Inclui atos posteriores à tomada de decisão:
Registos /arquivamento
Sujeição a controlos internos ou aprovação tutelar
Visto do tribunal de contas
Publicação no DR ou em outros instrumentos
Notificação aos destinatários
Regime sobre os procedimentos administrativos
O regime comum que se aplica a todos os procedimentos é também o regime
que se aplica para a emissão de normas
Iniciativa e direção do procedimento e instrução: artigos 53º e 55º
Princípio da adequação procedimental (artigo 56º): quem dirige o
procedimento tem possibilidade para adequar o procedimento à luz de
circunstâncias que considere importantes
Princípio do inquisitório (artigo 58º): pressupõe o dever de atuar de boa-fé no
procedimento
O procedimento deve garantir uma igualdade de partes
Relação jurídica procedimental ampla/alargada (artigo 65º):
Órgãos: artigo 65/1/a)
Interessados no procedimento: artigo 68º
Garantias de imparcialidade: artigos 69º e 76º
Direito à informação procedimental (artigos 82º a 85º): está previsto no artigo
268º CRP e é análogo a DLG. Pode ser estendido a outros particulares que não
tenham um interesse direto no procedimento (artigo 85º)
Regime sobre prazos:
Prazo geral: artigo 86º
Contagem: artigo 87º
Medidas provisórias: artigo 89º
Notificações: artigo 110º ss.
Pareceres (artigos 91º e 92º): o parecer é uma avaliação qualificada
Extinção do procedimento: artigos 93º a 96º
Regime para a emissão de regulamento (artigos 97º a 101º):
Publicação do início do procedimento: artigo 98º
Projeto de regulamento: artigo 99º
Participação procedimental: artigos 100º e 101º
Publicação do regulamento: artigo 139º
Regime para a emissão de ato:
Iniciativa: artigo 102º
Instrução: artigos 115º a 120º
Factos sujeitos a prova: artigo 115º
Prova e meios de prova: artigo 116º ss.
Solicitação de provas, forma de apresentação e falta de
prestação: artigos 117º, 118º e 119º
Audiência prévia: artigos 121º a 124º
Direito de ser ouvido no procedimento antes de ser tomada a
decisão final
Forma e formalidades
Dispensa (artigo 124º): designadamente quando os elementos
constantes do procedimento conduzirem a uma decisão
inteiramente favorável aos interessados
Decisão (ato ou contrato)
Relatório final e proposta de decisão: artigo 126º
Decisão final: artigo 127º
Tipos: salvo se outra coisa resultar da lei ou da natureza
das relações a estabelecer, o procedimento pode
terminar pela prática de um ato ou pela celebração de
um contrato
Prazo para a decisão: artigo 128º
Incumprimento do dever de decidir: artigo 129º
Exceção – ato tácito: artigo 130º
Ato administrativo
Nos termos do artigo 148º CPA, consideram-se atos administrativos as decisões
que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos
jurídicos externos numa situação individual e concreta
Tipos de atos: multiplicidade de categorias:
Demolição de oba
Licenciamento de atividade
Declaração de utilidade pública de uma expropriação ou de uma
requisição de um imóvel
Recusa do estatuto de refugiado
Pena de suspensão de atividade, na sequência de processo disciplinar
Proibição de venda de medicamento
Dispensa
Entre todas as formas de atividade administrativa há que distinguir aquela que
é sujeita a regras de direito administrativo, é traduzida na prática de atos
jurídicos e que pressupõe autoridade, produzindo efeitos individualizados, num
caso concreto
Transformação em curso: atualmente, o ato administrativo sobrevive ainda que
necessariamente transformado, pois é caro ao sistema de administração
executiva e das tarefas que aí desempenha:
Autoridade: instrumento privilegiado para exercício de poder
Garantia dos cidadãos por força da estabilização da vontade
manifestada pelo ato (autorização ou ato atributivo de vantagem ao seu
destinatário)
Emissão de ato: Regra? hoje claramente percebe-se que está a par do
contrato administrativo: artigo 127º CPA
Novos contornos que o ato ganha e se acentuam neste CPA:
Autoridade: decisão de autoridade unilateral
Constitutiva diretamente de efeitos jurídicos
Resultado de um determinado procedimento (onde se exercem direitos
a prestações procedimentais)
Goza de uma especial força jurídica (obrigatória, executiva, podendo
também ser executória (ainda que, como veremos, cfr. artigo 176º CPA)
Goza de estabilidade (veja-se a figura do caso decidido… ainda que… cfr.
artigo 168º/1 CPA)
O ato administrativo distingue-se do regulamento administrativo que nos
termos do artigo 135º corresponde a normas jurídicas gerais e abstratas que,
no exercício de poderes jurídico administrativos, visem produzir efeitos jurídicos
externos
O ato administrativo inclui:
Atos destacáveis que embora inseridos no procedimento produzem
efeitos externos:
Atos prévios
Atos parciais
Atos de trâmite excludentes
Medidas provisórias
Ato tácito (de deferimento, nos termos do artigo 130º)
O conceito de ato administrativo engloba as decisões da administração às quais
a lei reconhece força jurídica para a definição unilateral (favorável ou não) e
estável da esfera jurídica dos particulares, sendo certo que se impõe enfatizar o
traço de carácter externo da vontade que se projeta na esfera dos cidadãos e
lhes permite reagir (administrativa ou judicialmente)
O ato administrativo, de acordo com o artigo 148º CPA, é uma decisão emitida
ao abrigo da autoridade competente que produz efeitos jurídicos concretos na
esfera jurídica de alguém
Figuras que não são ato administrativo (carecem de caráter decisório):
Atos instrumentais: atos preparatórios (pareceres) ou posteriores à
prática do ato, produtores de eficácia (atos de comunicação, como
sejam as notificações)
Atos de pura execução: emissão de alvará ou emissão de diploma
Atos sem imperatividade:
Informações, recomendações, avisos, marcações de prazo,
declarações de caducidade
Ato meramente confirmativo
Ato expresso de indeferimento
A comunicação prévia (artigo 134º CPTA)
Classificações de atos:
Atos constitutivos de direitos
Atos negativos
Atos precários
Atos provisórios
Promessas administrativas
Pré-decisões: atos que, precedendo o ato final de um procedimento,
decidem perentória e vinculativamente, sobre a existência de condições
ou requisitos que depende a prática do ato
Ato prévio: embora decida sobre um aspeto particular da
decisão final, não constitui por si efeitos na espera do
destinatário: informação prévia favorável e aprovação de
projetos de arquitetura
Ato parcial: decisões constitutivas de efeitos externos
antecipados no que respeita a uma parte ou a um aspeto da
decisão final global: licença parcial para construção de estrutura
Atos desfavoráveis:
Ablatórios
Impositivos (ordens ou comandos que impõem obrigações de
fazer, de dar ou suportar e proibições)
Indeferimentos
Atos favoráveis
Concessões e Autorizações em sentido amplo
Elementos estruturais do ato administrativo
Elementos estruturais do ato administrativo:
Subjetivos: relativos aos sujeitos
Objetivos: relativos ao conteúdo e ao objeto
Formais: relativos à forma e às formalidades
Funcionais: relativos ao fim e aos motivos
Requisitos de validade: são as exigências que a lei faz relativamente a cada um
dos elementos do ato administrativo
Elementos e requisitos subjetivos de validade
Dizem respeito ao autor do ato e ao destinatário. O autor tem de estar
legitimado, ser titular de atribuições e de competência. O destinatário deve ser
identificado e idóneo, no sentido de a lei o considerar como suporte legítimo
dos efeitos que o ato vai produzir. O ato deve inscrever-se no âmbito das
atribuições da entidade a que pertence o órgão que o emite, deve decorrer do
exercício de uma competência e pressupõe que o órgão que o emite está
concretamente legitimado para o exercício da competência, não podendo
sofrer de impedimento. Tratando-se de um órgão colegial, deve estar
regularmente constituído e convocado. Se os requisitos subjetivos de validade
não forem respeitados, o ato padecerá de vícios
Vícios que são sancionados com nulidade:
Usurpação de poderes: é um vício grave que consiste na prática
por órgãos da AP de um ato incluído nas atribuições do poder
legislativo ou do poder judicial, violando o princípio da
separação de poderes
Incompetência absoluta: é um vício grave que consiste no facto
de um órgão de uma pessoa coletiva (ou de um Ministério)
praticar um ato que é da atribuição de outro órgão de outra
pessoa coletiva ou de outro Ministério
Deliberações tomadas tumultuosamente ou com inobservância
de quórum, ou da maioria legalmente exigida
Vícios que são sancionados com anulabilidade:
Incompetência relativa
Falta de legitimação, por existir impedimento do titular do
órgão: artigo 76º CPA
Elementos e requisitos objetivos de validade
Dizem respeito ao conteúdo (ou objeto imediato) e ao objeto (mediato) do ato.
Ambos têm de ser material e juridicamente possíveis, inteligíveis e legais, no
sentido de compatíveis com o bloco de legalidade. Se os requisitos objetivos de
validade não forem respeitados, o ato padecerá de vícios:
Vícios que são sancionados com nulidade:
Atos cujo objeto ou conteúdo seja impossível, ininteligível ou
constitua crime
Atos que ofendam o conteúdo essencial de um direito
fundamental
Atos que ofendam caso julgado
Atos que criem obrigações pecuniárias não previstas na lei
Conteúdo: conteúdo é a transformação jurídica que o ato visa produzir, sendo
o comando ou a disposição jurídica p.p. dita (ou substância da conduta
voluntária em que o ato consiste). O conteúdo desdobra-se em conteúdo
principal, que integra a decisão tomada (exemplos: nomear; punir), e conteúdo
acessório, que inclui as cláusulas acessórias (de termo, condição, modo e
reserva) e os fundamentos da decisão
Requisitos de validade do conteúdo:
O conteúdo do ato tem de respeitar o bloco de juridicidade (artigo
266º/2 CRP)
As cláusulas acessórias dos atos não podem ser contrárias à lei e ao fim
a que o ato se destina, devendo ter relação direta com o conteúdo
principal e respeitar os princípios jurídicos, designadamente o da
proporcionalidade (artigo 149º CPA)
O conteúdo de determinados atos deve necessariamente incluir a sua
fundamentação (artigos 268º/3 CRP e 152º CPA)
Objeto: o objeto (mediato) traduz a realidade exterior (o quid) sobre que o ato
incide. Ele pode corresponder a uma coisa, pessoa ou um ato primário. Tem de
ser possível (possibilidade física e jurídica) e determinado (identificado ou
identificável)
Cláusulas acessórias do ato: estão previstas no artigo 149º CPA e podem ser
apostas a um ato administrativo, mediante decisão fundamentada,
determinando uma qualificação acessória face ao conteúdo principal do ato
Termo: determina que os efeitos do ato se iniciem ou se extingam a
partir de um certo acontecimento ou evento futuro e determinado
(ainda que se desconheça a data) ou a partir de uma data ou um
período de tempo preciso, revelando-se, pois, como termo inicial ou
termo final
Condição:
Condição resolutiva: a eficácia do ato fica dependente da
verificação de um acontecimento futuro e incerto
Condição suspensiva: o ato só produz efeitos a partir da
verificação do evento futuro e incerto
Modo: sendo um encargo ou obrigação que surge aposta no ato que
cria vantagens para os particulares, introduz alteração da posição
relativa entre a AP e os particulares, nunca interferindo com a eficácia
do ato
Reserva (de revogação ou de modo): constitui o direito que a
Administração mantém de revogar um ato ou introduzir um encargo
Fundamentação: os fundamentos do ato também aparecem no conteúdo
secundário do ato, ao lado do conteúdo principal. Não há, contudo, uma
exigência absoluta de fundamentação de todos os atos. Há uma exigência
formal do dever de fundamentação: está consagrada no artigo 268º/3 CRP, em
relação a atos que afetem direitos e interesses legalmente protegidos, e no
artigo 152º e ss. CPA. A fundamentação deve ser expressa e sucinta a expor os
fundamentos de facto e de direito da decisão e deve ser clara, suficiente e
congruente. Se assim não for, tem-se a fundamentação como ausente: o ato é
anulável. Para além dos casos previstos em lei, o dever de fundamentação
existe nos casos previstos no artigo 152º/1 CPA
Assim, o agente administrativo está obrigado a apor ao ato administrativo uma
declaração na qual demonstre a verificação em concreto dos pressupostos
abstratamente definidos na lei: é a justificação e este é um elemento da
fundamentação. E deve dar conta da motivação, sendo certo que isto implica
que explique quais foram os interesses preponderantes para a tomada de
decisão
Em suma, a fundamentação traduz-se na declaração contida no ato
administrativo por intermédio da qual o seu autor expõe os fundamentos de
facto e de direito da sua decisão (como dispõe o artigo 152º CPA)
Requisitos da fundamentação (artigo 153º/1)
A fundamentação deve ser expressa e sucinta a expor os fundamentos
de facto e de direito da decisão (nº 1) e deve ser clara, suficiente e
congruente (nº 2). Se assim não for, tem-se a fundamentação como
ausente (artigo 153º/2)
A fundamentação pode consistir em mera declaração de concordância
com os fundamentos de anteriores pareceres, informações ou
propostas, que constituem, neste caso, parte integrante do respetivo
ato (nº 1)
É possível a fundamentação de atos orais (artigo 154º)
Elementos e requisitos formais de validade
Falamos da forma e das formalidades do ato. Todo o ato tem uma forma pela
qual se exterioriza ou se manifesta a vontade: a forma escrita (artigo 150º CPA)
e todo o ato obedece a formalidades. Estas são os trâmites que a lei manda
observar com vista a garantir a correta formação da decisão administrativa,
bem como o respeito pelos direitos e interesses dos particulares
Requisitos quanto à forma:
A regra supletiva para os atos praticados por órgãos singulares é a da
forma escrita simples (artigo 150º/1 CPA), a menos que outra forma seja
imposta por a lei, pela natureza e circunstâncias do caso
E a regra supletiva para os atos praticados pelos órgãos colegiais é a da
forma oral, a menos que a lei expressamente exija outra, sem prejuízo
da sua redução a ata (artigo 150º/2 CPA)
Requisitos relativos às formalidades:
Os atos devem observar todas as formalidades essenciais que lhes sejam
anteriores ou concomitantes
As formalidades anteriores coincidem com as formalidades
procedimentais:
A audiência prévia dos interessados (artigos 121º e 124 a
contrario)
Os pareceres obrigatórios (artigo 92º/5 e 6)
Vícios de procedimento e de forma: sanção anulabilidade/nulidade:
Atos nulos:
Os que careçam em absoluto de forma legal
Atos praticados sem procedimento
Atos anuláveis:
Os demais que padeçam de vícios procedimentais ou formais:
Não realização de audiência prévia
Não solicitação de parecer obrigatório
Elementos e requisitos funcionais de legalidade do ato
Falamos do fim ou dos motivos do ato e ambos
Requisitos quanto ao fim: por força do princípio da prossecução do interesse
público e do princípio da legalidade, os atos administrativos devem prosseguir o
fim de interesse público, sendo que o fim prosseguido por um ato
administrativo tem que ser aquele definido por lei. Exige-se, pois, uma
coincidência entre o fim real e o fim legal. Se houver desvio de poder para fins
de interesse privado, a consequência será a nulidade e se houver desvio de
poder para fins públicos distintos, a consequência será a anulabilidade
Vícios do ato ou ilegalidades
Os vícios são as formas específicas que a ilegalidade do ato pode revestir por os
requisitos de validade dos mesmos não terem sido seguidos. Aos vícios
corresponde um desvalor jurídico, uma invalidade que pode ser de dois tipos:
Nulidade: são nulos os atos para os quais a lei comine expressamente
essa forma de invalidade: artigo 161º/1 CPA, e, designadamente, os
elencados no nº 2 desse preceito. A nulidade é mais grave e severa do
que a anulabilidade. O regime da nulidade está previsto no artigo 162º
CPA:
Total improdutividade jurídica
Não vinculatividade e inexecutoriedade
Irrelevância do decurso do tempo
Insanabilidade
Desnecessidade de declaração jurisdicional ou administrativa
Possibilidade geral de conhecimento
Possibilidade de conhecimento oficioso
Irrevogabilidade
Possibilidade de juridificação dos efeitos putativos
Anulabilidade: todos os outros que padeçam de vícios (ofendam
princípios ou outras normas jurídicas aplicáveis) para os quais não deva
corresponder a nulidade: artigo 163º CPA. O efeito anulatório pode ser
afastado pela Administração ou pelo juiz. O regime da anulabilidade está
previsto no artigo 163º CPA:
Produção de efeitos jurídicos
Vinculatividade e executoriedade
Consolidação por decurso do tempo
Sanabilidade
Necessidade de anulação jurisdicional ou anulação
administrativa
Carácter retroativo da anulação
Carácter restrito da competência para o seu conhecimento
Necessidade de alegação perante os tribunais
Anulação administrativa oficiosa ou a pedido do particular
As impugnações administrativas no CPA após a reforma de 2015: o fim das
impugnações necessárias sem efeito suspensivo
Introdução: solução que visa solucionar um conjunto de escolhos do modelo
tradicional das garantias impugnatórias
Acolhimento no CPA de uma corrente que procede à harmonização da
leitura da lei substantiva com a processual (e da lei ordinária com a CRP)
Identificação de um regime regra quanto à natureza, fundamentos e
efeitos das impugnações administrativas
Identificação do universo (fechado) das impugnações necessárias
(prevista em legislação especial)
Determinação uniforme dos efeitos das impugnações necessárias em
relação à eficácia do ato revisitado
Situação tradicional e 1.º problema resolvido: harmonização entre CPA e CPTA
(de 2002/2003):
Antes da revisão de 2015 do CPA, havia incertezas:
Dada a alteração introduzida no CPTA em 2002
Incertezas que redundam em perdas de tutela
Ponto anterior da situação: 2 correntes distintas:
A par de uma mais generosa, mas menos consensual
Há outra mais restritiva, mas que tem a chancela do TC e
da jurisprudência maioritária dos tribunais
administrativos
Após a revisão da CRP de 1989, passou-se a entender que o legislador do CPTA
de 2002 veio apagar finalmente o requisito da definitividade vertical,
eliminando para sempre a necessidade de prévia interposição de uma
impugnação administrativa perante uma decisão que provenha de órgãos
subalternos. Dado o teor dos artigos 51º e 59º/4 e 5 CPTA ⎯ que permite a
impugnabilidade de atos que sejam suscetíveis de produzir efeitos externos
lesivos independentemente de quem os emita
A posição mais generosa, com o respaldo Constitucional (alterado em 1989), do
artigo 268º/4) concebe que a legislação contenciosa veio afastar a necessidade
de prévia interposição de uma garantia administrativa, independentemente da
lei substantiva em que ela esteja consagrada, sendo certo que tal vale tanto
para as disposições do CPA que regulam o recurso hierárquico necessário, como
vale em relação a qualquer lei avulsa que consagre, ou venha a consagrar, a
obrigatoriedade de recurso hierárquico ou outra garantia administrativa
A leitura mais restritiva, mas claramente dominante (e que acabou por ditar a
solução que foi introduzida no CPA em 2015) considera que o CPTA constitui
uma revogação da regra geral da exigência de recurso hierárquico necessário
subjacente ao regime constante do CPA. Mas isso não implica a revogação de
eventuais regras especiais que consagrem tal exigência, já que estas só podem
desaparecer mediante disposição expressa que determine que todas elas se
consideram extintas, nem afasta a possibilidade de estabelecimento futuro de
similares exigências em lei especial. Até porque o TC e o STA têm mantido o
entendimento da não inconstitucionalidade dessas normas, pois consideram
que o legislador ordinário pode estipular normas com função meramente
ordenadora do processo, podendo condicionar os termos em que é possível
recorrer aos tribunais, estabelecendo pressupostos processuais específicos,
desde que tal conjunto de condicionamentos não restrinja de forma ilegítima e
irrazoável o acesso aos tribunais. De um modo ou de outro, o facto é que,
repare-se, existe uma multiplicidade de disposições especiais que acolhem
procedimentos de revisão necessária ou obrigatória prévia à impugnação
judicial:
O Estatuto do Ministério Público (prevê a reclamação necessária, nos
termos do artigo 29º/5)
O Anterior Regulamento de Disciplina da GNR (Lei 145/99, de 01.09),
impunha a impugnação necessária para o Ministro da Administração
Interna do ato punitivo emitido pelo Comandante-Geral da GNR. Sendo
certo que o mesmo regulamento não atribuía efeito suspensivo àquela
impugnação necessária. Entendeu-se que, ao não ser possível obter o
efeito suspensivo através da impugnação necessária do ato punitivo do
Comandante-Geral para o Ministro da AI, aquele ato seria
imediatamente lesivo e, por isso, deveria considerar-se judicialmente
impugnável
Hoje é diferente: artigo 120.º e 124.º da Lei n.º 145/99, de 1 de setembro, com
as alterações introduzidas pela Lei n.º 66/2014 de 28 de agosto
Recurso da decisão do Comandante –Geral: das decisões do
Comandante-Geral que apliquem a pena de suspensão agravada cabe
recurso hierárquico facultativo para o Ministro da Administração
Interna, a interpor no prazo de 15 dias, a contar da data da respetiva
notificação
Efeitos do recurso:
A interposição de recurso hierárquico suspende a decisão
recorrida
Excetua-se do disposto no número anterior a decisão de
aplicação das penas de repreensão escrita e de repreensão
escrita agravada
O que há de novo no CPA
A existência de impugnações administrativas facultativas e necessárias
Um critério de distinção claro entre elas: conforme o acesso aos meios
contenciosos dependa da sua utilização prévia ou não
As impugnações administrativas têm carácter facultativo, salvo se a lei as
denominar como necessárias
As impugnações administrativas necessárias de atos administrativos suspendem
os respetivos efeitos
As facultativas suspendem apenas, em princípio, a contagem dos prazos para a
propositura da AA nos tribunais administrativos
Aspetos pontuais do regime preambular do DL 4/2015, 07.01
Visa concretizar um propósito de clarificação de incerteza. Apresenta um
critério de distinção claro entre as impugnações facultativas e necessárias:
conforme a sua previsão legal a determine como obrigatória e procura
determinar o universo das impugnações necessárias. Também visa uniformizar
regimes especiais. Sendo certo que, para clarificar as situações atuais de
incerteza, o diploma dispõe o seguinte: as impugnações administrativas
previstas em legislação especial posterior à entrada em vigor do CPA de 2015 só
são necessárias quando a lei as denomine expressamente como tais. As
impugnações administrativas existentes à data da entrada em vigor do CPA só
são necessárias quando previstas em lei que utilize uma das seguintes
expressões:
A impugnação administrativa em causa é «necessária»
Do ato em causa «existe sempre» reclamação ou recurso
A utilização de impugnação administrativa «suspende» ou «tem efeito
suspensivo» dos efeitos do ato impugnado
Sendo certo ainda que, para clarificar as situações atuais de incerteza, se
percebe o seguinte: não são necessárias as impugnações administrativas: não
previstas em lei; previstas em lei que se limite a prever que elas existem ou
podem ser utilizadas, sem associar à sua utilização o efeito de suspender a
eficácia do ato impugnado. E, finalmente, sendo certo que, para uniformizar os
múltiplos regimes especiais e as várias soluções dadas pelos tribunais (que
reduzem perda de tutela) o artigo 3º do diploma preambular dispõe o seguinte:
O prazo mínimo para a utilização das impugnações administrativas
necessárias é de dez dias, passando a ser esse o prazo a observar
quando seja previsto prazo inferior na legislação existente à data da
entrada em vigor do CPA
As impugnações administrativas necessárias previstas em legislação
existente à data da entrada em vigor do presente diploma têm sempre
efeito suspensivo da eficácia do ato impugnado. Revogando todas as
normas avulsas incompatíveis com estas soluções
As impugnações administrativas são: a reclamação e o recurso hierárquico em
sentido próprio e outros recursos revisivos, idênticos ao recurso hierárquico em
sentido impróprio e ao recurso tutelar). São por regra de natureza facultativa.
Os facultativos suspendem a contagem de prazo para a propositura da AA nos
tribunais administrativos. Não têm, em regra, efeito paralisador da eficácia do
ato impugnado, mas podem produzir tal efeito. Assim, esse efeito pode:
Decorrer de disposição legal
Da vontade do autor do ato impugnado, oficiosamente ou a pedido do
interessado, quando se considere que a sua execução imediata causa
prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação ao destinatário
A pedido dos interessados, sem prejuízo da suspensão da eficácia que
possa ser decretada pelos tribunais administrativos
Outras alterações pontuais
Tratamento sistemático do tema
Regime geral:
Um regime principiológico: artigo 184º
Normas sobre natureza e fundamentos (artigo 185º), legitimidade
(artigo 186º), prazos e contagem (artigos 187º e 188º) e efeitos (artigos
189º e 190º)
Objeto da impugnação: faz sentido albergar neste domínio tanto os atos
expressos (de conteúdo positivo e negativo) como o silêncio da entidade a quo,
prevendo-se neste caso a possibilidade de se solicitar a condenação de
entidade ad quem à prática de ato devido, salvo no caso de o subalterno deter
competência exclusiva sobre a matéria, podendo neste caso ser solicitada a
intimação do órgão recorrido para que pratique tal ato
Reclamação
Noção: artigo 191º/1
Regime geral: artigos 191º/2 e 3
Procedimento: artigo 192º
Recurso hierárquico
Noção: artigo 193º/1
Regime geral: artigo 193º/1 e 2
Procedimento:
Interposição: artigo 194º
Tramitação: artigo 195º
Decisão: artigo 197º/1: atenção ao poder (limitado) do superior
hierárquico para revogar, modificar ou substituir o ato praticado pelo
subalterno ao abrigo de competência exclusiva
Prazo: artigo 198º
Outros recursos administrativos revisivos especiais (artigo 199º)
Tipos: artigo 199º/1:
Alínea a)
Alínea b)
Alínea c) = recurso tutelar
Artigo 199º/2 (?)
Pressupostos do recurso Tutelar: regime: artigo 199º/3 e 4
Algumas conclusões em relação ao CPA
Mais do que reforçar o seu papel de ADR (i.e. as impugnações administrativas
enquanto mecanismos que podem ser oferecidos aos particulares como
alternativa credível à via jurisdicional), há um reforço no sentido de
salvaguardar que a utilização desses mecanismos não é obstáculo ao direito de
acesso aos tribunais e à tutela efetiva, realçando-se a preocupação de
clarificação de incertezas e de uniformização de regimes especiais
Responsabilidade civil do Estado e demais entidades públicas
Decreto-lei nº 67/2007: regime jurídico da responsabilidade civil
extracontratual do Estado e demais entidades públicas:
Responsabilidade pelo exercício da função administrativa (artigos 1º, 4º,
5º e 7º): ao exercício da função administrativa correspondem as ações
ou omissões adotadas no exercício de prerrogativas de poder público ou
reguladas por disposições ou princípios de direito administrativo
Entidades públicas
Titulares de órgãos e funcionários e agentes públicos (e
trabalhadores ao serviço das entidades públicas abrangidas). A
culpa leve isenta-os de responsabilização
Pessoas coletivas de direito privado (e seus agentes) por ações
ou omissões que adotem no exercício de prerrogativas de poder
público ou que sejam reguladas pelo direito administrativo
Responsabilidade civil por danos decorrentes do exercício da função
jurisdicional (artigos 12º, 13º e 14º):
Responsabilidade por danos ilicitamente causados pela
administração da justiça, incluindo a violação do direito a uma
decisão em prazo razoável: aplicam-se as regras sobre
responsabilidade pelo exercício da função administrativa
Responsabilidade por erro judiciário:
Decisões jurisdicionais manifestamente inconstitucionais,
ilegais
Decisões erradas por errada interpretação ou aplicação
do direito internacional (maxime, europeu)
Decisões que injustificadas por erro grosseiro na
apreciação dos respetivos pressupostos de facto
Responsabilidade do Estado-juiz: os magistrados judiciais e o MP
não podem ser responsabilizados diretamente. Quando haja
culpa grave ou dolo, o Estado goza de direito de regresso contra
eles. A decisão de exercer direito de regresso cabe ao órgão
competente para o exercício do poder disciplinar, a título
oficiosos ou por iniciativa do Ministro da Justiça
Responsabilidade pelo exercício da função político-legislativa (artigo
15º):
O Estado-legislador (e as regiões autónomas) são responsáveis
pelos danos anormais causados aos direitos ou interesses
legalmente protegidos dos cidadãos por atos que no exercício da
função político-legislativa pratiquem em desconformidade com a
CRP, o direito internacional, o direito comunitário ou ato
legislativo de valor reforçado. E responde ainda pelos danos
anormais que resultem da omissão de providências legislativas
necessárias para tornar exequíveis normas constitucionais
Dimensões de responsabilização administrativa
Responsabilidade civil administrativa delitual (artigos 7º a 9º) (que pressupõe
ilicitude e culpa)
Responsabilidade civil pelo risco (artigo 11º): pressupõe a produção de danos
decorrentes de atividades, coisas ou serviços administrativos especialmente
perigosos
Responsabilidade por facto lícito (artigo 16º): pressupõe o dever de indemnizar
os particulares a quem imponham encargos ou causem danos especiais e
anormais, por razões de interesse público. Os danos ou encargos especiais e
anormais estão previstos no artigo 2º
Responsabilidade civil administrativa delitual
Cinco pressupostos de responsabilização:
1. Facto voluntário: facto humano, dominável pela vontade que incluir
quer ações, quer omissões juridicamente relevantes
2. Ilicitude (artigo 9º): sinónimo de antijuridicidade que implique a
violação de direitos subjetivos ou a violação de normas destinadas a
proteger interesses
3. Culpa (artigos 10º e 7º/4): consiste na preterição da diligência pela qual
a lei exigia que o autor do facto danoso tivesse pautado a sua conduta.
Modalidades de culpa:
Dolo
Negligência:
Negligência grave e negligência leve (artigo 10º/1):
conforme a diligência empregue tenha sido
manifestamente inferior (ou não) àquela a que o titular
do órgão ou agente se encontrava obrigado em razão do
cargo por si ocupado. Esta distinção é da maior
importância, já que para a responsabilização da pessoa
coletiva pública basta existir culpa leve e para a
responsabilização dos titulares dos órgãos e agentes é
necessária a culpa grave
Como se aprecia a culpa: diligência e aptidão que seja razoável exigir em
função das circunstâncias de cada caso, de um titular de órgão ou
agente zeloso e cumpridor (artigo 10º/1)
Culpa do serviço (artigo 7º/4): haverá funcionamento anormal do
serviço, quando, atendendo às circunstâncias e aos padrões médios de
resultado fosse razoavelmente exigível ao serviço uma conduta
adequada a evitar os danos produzidos
Prova de culpa e presunções de culpa: por regra, a culpa tem de ser
demonstrada pelo lesado. Contudo, por vezes, a lei acolhe presunções
de culpa: prática de atos jurídicos ilícitos (artigo 10º/2) e caso de
violação de deveres de vigilância (artigo 10º/3)
4. Dano ou prejuízos:
Emergentes e lucros cessantes
Patrimoniais e morais
O artigo 3º/3 estabelece o dever de reconstituir a situação que existiria
se não se tivesse verificado o evento, sendo certo que a reparação só é
em dinheiro quando não seja possível a reconstituição natural, ou esta
não a repare integralmente ou seja excessivamente onerosa
5. Nexo de causalidade: tem de existir uma relação entre facto e dano, em
termos que se possa afirmar que, em condições normais, este não
existiria sem aquele
Sujeitos do dever de indemnizar:
Pessoas coletivas: respondem quando:
Há pelo menos culpa leve na prática ou omissão de ato danoso
Há culpa grave ou dolo na prática ou omissão de atos danosos
dos seus órgãos ou agentes (artigos 7º/1 e 8º/1 e 2 – direito de
regresso)
Há um mau funcionamento do serviço
Titulares de órgãos e agentes administrativos: respondem pelos
prejuízos resultantes de atos ilícitos praticados com dolo ou negligência
grave (artigo 8º/1). Daqui resulta a irresponsabilidade dos titulares de
órgãos ou agentes pelos seus atos praticados com negligência leve
(acolhimento da solução tradicional)
Solidariedade e dever de regresso:
Solidariedade entre as pessoas coletivas e os titulares dos seus órgãos e
agentes: o que significa que o lesado pode exigir individualmente de
cada responsável, ou simultaneamente a todos eles, a satisfação da
totalidade da indemnização
Dever de regresso: verdadeiro dever jurídico. Sempre que a pessoa
coletiva pública satisfaça uma indemnização com fundamento em
responsabilidade delitual deve exigir o montante da indemnização
suportada (artigo 8º/3). Órgãos competentes para promover as
diligências necessárias para a sua efetivação. Detentores dos poderes de
direção, superintendência e tutela