Psicologias Uma Introdução Ao Estudo de Psicologia, Ana Merces-77-112

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A evolução da psicologia

Toda e qualquer produção humana – uma cadeira,


uma religião, um computador, uma obra de arte, uma
teoria científica – tem por trás de si a contribuição de
inúmeros seres humanos, que, em um tempo
anterior ao presente, fizeram indagações, realizaram
descobertas, inventaram técnicas e desenvolveram
ideias, isto é, por trás de qualquer produção material
ou espiritual, existe história.
PSICOLOGIA TAMBÉM TEM HISTÓRIA
Compreender em profundidade algo que compõe o nosso mundo
significa recuperar sua história. O passado e o futuro sempre estão
no presente, como base constitutiva e como projeto. Por exemplo,
todos nós temos uma história pessoal e nos tornamos pouco
compreensíveis se não recorremos a ela e à nossa perspectiva de
futuro para entender quem somos e por que somos de determinada
forma.
Essa história pode ser mais ou menos longa para os diferentes
aspectos da produção humana. No caso da Psicologia, como
ciência, a história tem por volta de 140 anos apenas, se
considerarmos o ano de 1879 em que Wilhelm Wundt (1832-1920)
instalou o Laboratório de Psicologia Experimental, em Leipzig,
Alemanha, fato que estabeleceu o marco da criação da Psicologia
no mundo ocidental.
Mas queremos reconhecer aqui que nada surge por mágica ou
genialidade, pois tudo é fruto de um processo histórico. Na história
da Psicologia, duas vertentes de história são importantes. Uma
vertente é quando retomamos a história grega, em um período
anterior à era cristã; a outra é quando retomamos o
desenvolvimento da modernidade que é, efetivamente, a
responsável pelo surgimento da Psicologia como ciência. Por
antiguidade, vamos primeiro aos gregos.

Por trás de qualquer produção


material ou espiritual, existe
história.

A psyché dos gregos


Não havia Psicologia na Grécia Antiga. Assim, estamos apenas
reconhecendo, com essa volta aos gregos, que a preocupação com
a alma e a razão humanas já existia entre os gregos antes da era
cristã.
A história do pensamento humano tem um momento áureo na
Antiguidade, entre os gregos, particularmente no período de 700
a.C. até a dominação romana, às vésperas da era cristã.
Os gregos foram o povo mais evoluído nessa época. Uma
produção minimamente planejada e bem-sucedida permitiu a
construção das primeiras cidades-Estados (pólis). A manutenção
dessas cidades implicava a necessidade de mais riquezas, as quais
alimentavam também o poderio dos cidadãos – membros da classe
dominante na Grécia Antiga). Assim, iniciaram a conquista de novos
territórios – Mediterrâneo, Ásia Menor, chegando quase até a China
– que geraram riquezas na forma de escravos para trabalhar nas
cidades e na forma de tributos pagos pelos territórios conquistados.
As riquezas geraram crescimento, e esse crescimento exigia
soluções práticas para a arquitetura, para a agricultura e para a
organização social. Isso explica os avanços na Física, na
Geometria, na teoria política, inclusive com a criação do conceito de
democracia.
Tais avanços permitiram que o cidadão se ocupasse das coisas do
espírito, como a Filosofia e a Arte. Alguns homens, como Platão e
Aristóteles, dedicaram-se a compreender esse espírito
empreendedor do conquistador grego, ou seja, a Filosofia começou
a especular em torno do homem e da sua interioridade.
É entre os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de
sistematizar um pensamento sobre o espírito humano, ou seja, a
interioridade humana. O próprio termo psicologia vem do grego
psyché, que significa alma, e de logos, que significa razão. A alma,
ou o espírito, era concebida como a parte imaterial do ser humano e
abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a
irracionalidade, o desejo, a sensação e a percepção.
Os filósofos pré-socráticos – assim chamados por antecederem o
filósofo grego Sócrates – preocupavam-se em definir a relação do
homem com o mundo por meio da percepção. Discutiam se o
mundo existe porque o homem o vê ou se o homem vê um mundo
que já existe. Havia uma oposição entre os idealistas – para os
quais a ideia forma o mundo –, e os materialistas – para os quais a
matéria que forma o mundo já é dada para a percepção.

Psicologia
Termo que designa o estudo da alma. Hoje, não se concebe mais
o mundo psíquico como sinônimo de alma, e sim sobre os
registros simbólicos e emocionados que vamos construindo a
partir de nossas vivências no mundo material e social.

Mas é com Sócrates (469-399 a.C.) que as ideias sobre o mundo


psicológico ganharam certa consistência. Sua principal preocupação
era com o limite que separa o ser humano dos animais. Dessa
forma, ele postulava que a principal característica humana era a
razão. A razão permitia ao ser humano sobrepor-se aos instintos,
que seriam a base da irracionalidade. Ao definir a razão como
peculiaridade humana ou como essência humana, Sócrates abre um
caminho para a teorização sobre a consciência, naquele momento,
no campo da Filosofia.
O passo seguinte foi dado pelo filósofo Platão (427-347 a.C.),
discípulo de Sócrates, que procurou definir um “lugar” para a razão
em nosso próprio corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça,
onde se encontra a alma humana. A medula seria, portanto, o
elemento de ligação da alma com o corpo. Esse elemento de
ligação era necessário porque Platão concebia a alma separada do
corpo. Quando alguém morria, a matéria (o corpo) desaparecia, mas
a alma ficava livre para ocupar outro corpo.
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, foi um dos mais
importantes pensadores da história da Filosofia. Sua contribuição foi
inovadora ao postular que alma e corpo não podem ser dissociados.
Para Aristóteles, a psyché seria o princípio ativo da vida. Tudo
aquilo que cresce, reproduz e se alimenta possui a sua psyché ou
alma. Dessa forma, os vegetais, os animais e o ser humano teriam
alma. Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela
função de alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e
a alma sensitiva, que tem a função de percepção e movimento. E o
ser humano teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que
tem a função pensante.
Esse filósofo chegou a estudar as diferenças entre a razão, a
percepção e as sensações. Esse estudo está sistematizado no De
Anima, que pode ser considerado o primeiro tratado das ideias
psicológicas.
Portanto, há mais de 2.300 anos antes do advento da Psicologia
Científica, os gregos já haviam formulado duas “teorias”: a platônica,
que postulava a imortalidade da alma e a concebia separada do
corpo, e a aristotélica, que afirmava a mortalidade da alma e sua
relação de pertencimento ao corpo.

O mundo psicológico no Império


Romano e na Idade Média
Às vésperas da era cristã, surge um novo império que dominaria a
Grécia, parte da Europa e do Oriente Médio: o Império Romano.
Uma das principais características desse período é o aparecimento
e o desenvolvimento do cristianismo – uma força religiosa que se
torna a força política dominante. Nesse período, não há nenhuma
referência de estudo ou especulação sobre algum aspecto do
humano. Mesmo com as invasões bárbaras, por volta de 400 d.C.,
que levam à desorganização econômica e ao esfacelamento dos
territórios romanos, o cristianismo sobreviveu e até se fortaleceu,
tornando-se a religião principal da Idade Média, período que então
se iniciava.
As ideias sobre o mundo psicológico, nesse período, estão
relacionadas de perto ao conhecimento religioso, já que, ao lado do
poder econômico e político, a Igreja Católica também monopolizava
o saber.
Santo Agostinho, inspirado em Platão, também fazia uma cisão
entre alma e corpo. Entretanto, para ele, a alma não era somente a
sede da razão, mas a prova de uma manifestação divina no homem.
A alma era considerada imortal por ser o elemento que liga o
homem a Deus. E, sendo a alma também a sede do pensamento, a
Igreja passa a se preocupar também com sua compreensão.
São Tomás de Aquino viveu em um período em que se
prenunciava a ruptura da Igreja Católica e o aparecimento do
protestantismo – uma época que preparava a transição do
feudalismo para o capitalismo. Havia uma crise econômica e social
que levava ao questionamento da Igreja e dos conhecimentos
produzidos por ela.
© Album/akg-images/Fotoarena
Mapa do Império Romano na Idade Média.

©Thinkstock/Photos.com
Nesse sentido, dois grandes filósofos representam esse período: Santo
Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274).

Dessa forma, era preciso encontrar novas justificativas para a


relação entre Deus e o homem. São Tomás de Aquino buscou em
Aristóteles a distinção entre essência e existência, considerando
que o ser humano, em sua essência, busca a perfeição por meio de
sua existência. Porém, São Tomás de Aquino vai além e introduz o
ponto de vista religioso, ao contrário de Aristóteles, afirmando que
somente Deus seria capaz de reunir a essência e a existência, em
termos de igualdade. Portanto, a busca de perfeição pelo homem
seria a busca de Deus. Estavam lançados os argumentos racionais
para justificar os dogmas da Igreja.

Feudalismo é o sistema político


e social dominante na Europa
durante a Idade Média.

O mundo psicológico no Renascimento


Pouco mais de 200 anos após a morte de São Tomás de Aquino,
segunda metade do século XV, teve início uma época de
transformações radicais no mundo europeu. É o Renascimento ou
Renascença. Se os valores greco-romanos foram abandonados
durante a Idade Média, agora, na Idade Moderna, eles são
resgatados e o nível de reflexão sobre o mundo e o homem, sem
influência da religião, ganha destaque.
Este movimento não começou do dia para a noite. Depois da
diminuição de invasões bárbaras e das guerras, as pessoas durante
a Idade Média estabeleceram-se em feudos e, ao longo dos anos,
foram se constituindo em comunidade, promovendo o surgimento
das atividades comerciais e da vida urbana. A estruturação da Igreja
provocou a organização de escolas e universidades monásticas e
1
catedráticas. O saber começava a ser organizado.
O comércio impulsionou o mercantilismo, que levou à descoberta
de novas terras (a América, o caminho para as Índias, a rota do
Pacífico), e isso propiciou a acumulação de riquezas pelas nações
em formação, como França, Itália, Espanha e Inglaterra. Na
transição para o capitalismo, começou a emergir uma nova forma de
organização econômica e social e um processo de valorização do
homem.
As transformações ocorrem em todos os setores da produção
humana, mais precisamente nas artes e nas ciências, pois o estudo
e a reflexão voltam-se para a Natureza e Humanidade. Nas artes,
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por volta de 1300, Dante escreve a Divina comédia; entre 1475 e
1478, Leonardo da Vinci pinta o quadro Anunciação; em 1484,
Botticelli pinta o Nascimento de Vênus; em 1501, Michelangelo
3
esculpe o Davi; e, em 1513, Maquiavel escreve O príncipe – obra
clássica da política.
As ciências também conheceram um grande avanço. Em 1543,
Copérnico causou uma revolução no conhecimento humano ao
mostrar que a Terra não é o centro do universo. Em 1610, Galileu
estudou a queda dos corpos, realizando as primeiras experiências
da Física moderna. Esse avanço na produção de conhecimentos
propiciou o início da sistematização do conhecimento científico –
começaram a se estabelecer métodos e regras básicas para a
construção do conhecimento científico.

Durante a Idade Média, tem-se


o início do estabelecimento de
métodos e regras para a
construção do conhecimento
científico.
Nesse período, René Descartes (1596-1659), um dos filósofos que
mais contribuiu para o avanço da ciência, postulou a separação
entre mente (alma, espírito) e corpo, afirmando que o ser humano
possui uma substância material e uma substância pensante, e que o
corpo, desprovido do espírito, é apenas uma máquina. Esse
dualismo mente-corpo tornou possível o estudo do corpo humano
morto, o que era impensável nos séculos anteriores (o corpo era
considerado sagrado pela Igreja, por ser a sede da alma).
Consequentemente, despertou-se o avanço da Anatomia e da
Fisiologia, o que contribuiria em muito para o progresso da própria
Psicologia.
A ORIGEM DA PSICOLOGIA
CIENTÍFICA
Para falarmos da Psicologia como ciência, ou seja, como
conhecimento sistematizado, objetivo, fruto de pesquisas e com
referência clara no mundo empírico, temos de considerar duas
características do mundo moderno: primeiro, a crença na ciência
como forma de conhecer o mundo e dar respostas e soluções para
problemas da vida humana; segundo, a experiência da subjetividade
pessoal, isto é, a certeza de que em nós se registra um conjunto de
experiências vividas que são absolutamente individuais, particulares
e privadas. É a crença na existência da chamada intimidade pessoal
ou na existência de um eu que é responsável por saber e dar
sentido, organizar nossas vivências. É o que veremos a seguir.

A crença na ciência
Como se sabe, na sociedade feudal, com modo de produção voltado
para a subsistência, a terra era a principal fonte de produção. A
relação entre o senhor e o servo era típica de uma economia
fechada, na qual uma hierarquia rígida estava estabelecida; não
havia mobilidade social; uma sociedade estável com uma visão de
um universo estático – um mundo natural organizado e hierárquico,
no qual a verdade era sempre decorrente de revelações e dos
dogmas religiosos. O lugar social do homem era definido a partir do
nascimento. A razão estava submetida à fé como garantia de
centralização do poder. A autoridade era o critério de verdade. Esse
mundo altamente controlado pelo clero e o universo finito refletiam e
justificavam a hierarquia social inquestionável do feudo.

©Album/akg/North Wind Picture Archives/Album/Fotoarena


A imagem retrata o modo de produção feudal na Idade Média.

©Thinkstock/Konoplytska
Dominar a natureza, construir fábricas: o capitalismo moveu o mundo para
produzir mercadorias e necessidades.

Para uma melhor compreensão, retomemos algumas


características das sociedades feudal e capitalista emergente,
sendo esta responsável por mudanças que marcariam a história da
humanidade.
O capitalismo pôs esse mundo feudal em movimento, com o
aumento da necessidade de abastecer mercados e produzir cada
vez mais. Novas matérias-primas na Natureza foram pesquisadas;
novas necessidades criadas; estímulo ao trabalho diversificado
(sapateiros, comerciantes, artesãos) que, por sua vez, tornavam-se
consumidores das mercadorias produzidas; início do
questionamento sobre as hierarquias para derrubar a nobreza e o
clero de seus lugares há tantos séculos estabilizados.
O universo também foi posto em movimento. O Sol tornou-se o
centro do universo e esta mudança reorganizou muita coisa. O ser
humano, por sua vez, deixou de ser o centro do universo
(antropocentrismo) e passou a ser concebido como um ser livre,
capaz de construir seu futuro. O servo, liberto de seu vínculo com a
terra, pôde escolher seu trabalho e seu lugar social. Nessa nova
condição, o capitalismo tornou todos os homens consumidores em
potencial das mercadorias produzidas.
O conhecimento tornou-se independente da fé. Os dogmas da
Igreja foram questionados. O mundo se moveu. A racionalidade
humana apareceu, então, como a grande possibilidade de
construção do conhecimento.
A burguesia disputou o poder e surgiu como nova classe social e
econômica, defendendo a emancipação do ser humano. Era preciso
superar a ideia de universo estável para poder transformá-lo. Era
preciso questionar a Natureza como algo intocável para viabilizar a
sua exploração em busca de mais matérias-primas.
Estavam dadas as condições materiais para o desenvolvimento da
ciência moderna. As ideias dominantes fermentaram essa
construção: o conhecimento como fruto da razão; a possibilidade de
desvendar a Natureza e suas leis pela observação rigorosa e
objetiva. Foi preciso desenvolver um método rigoroso que
possibilitasse a observação para a descoberta dessas leis. Havia a
necessidade de os homens construírem novas formas de produzir
conhecimento – que não fossem mais estabelecidos pelos dogmas
religiosos e/ou pela autoridade eclesial. Dessa forma, o
conhecimento científico mostrou-se necessário e possível.
O crescimento dessa nova ordem econômica – o capitalismo –
trouxe consigo o processo de industrialização, para o qual a ciência
deveria dar respostas e soluções práticas no campo da técnica.
Houve, então, um impulso muito grande para o desenvolvimento da
ciência, como um sustentáculo da nova ordem econômica e social, e
dos problemas colocados por ela.
Nesse período, surgiram teóricos/pensadores como Hegel (1770-
1831), que demonstrou a importância da História para a
compreensão do ser humano, e Darwin, que enterrou o
antropocentrismo com sua tese evolucionista. A ciência avança e se
torna um referencial para a visão de mundo. A partir dessa época, a
noção de verdade passa, necessariamente, a contar com o aval da
ciência. A própria Filosofia adaptou-se aos novos tempos, com o
surgimento do Positivismo de Augusto Comte, que postulou a
necessidade de maior rigor científico na construção dos
conhecimentos nas ciências humanas e propôs o método da ciência
natural, a Física, como modelo de construção de conhecimento.
Em meados do século XIX, os problemas e temas psicológicos, até
então estudados exclusivamente pelos filósofos, passaram a ser
investigados também pela Fisiologia e pela Neurofisiologia em
particular. Os avanços nessas áreas levaram à formulação de
teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que o
pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram
produtos desse sistema.
É preciso lembrar que esse mundo capitalista trouxe consigo a
máquina. Ah! A máquina! Que criação fantástica! E foi tão fantástica
que passou a determinar a forma de ver o mundo. O mundo como
uma máquina; o mundo como um relógio. Todo o universo passou a
ser pensado como uma máquina, isto é, podemos conhecer o seu
funcionamento, a sua regularidade, o que nos possibilita o
conhecimento de suas leis. Essa forma de pensar atingiu também
as ciências humanas. Para conhecer o psiquismo humano, era
necessário também compreender os mecanismos e o
funcionamento da máquina de pensar do ser humano – seu cérebro.
Assim, a Psicologia começou a trilhar os caminhos da Fisiologia, da
Neuroanatomia e da Neurofisiologia.
©Shutterstock/Everett-Art

A neurofisiologia procura decifrar a máquina de pensar do ser humano. Imagem


da arte Aquele que entende (1934) de Paul Klee.

Algumas descobertas foram extremamente relevantes para a


Psicologia. Por exemplo, por volta de 1846, a Neurologia descobre
que a doença mental é fruto da ação direta ou indireta de diversos
fatores sobre as células cerebrais.
A Neuroanatomia descobriu que a atividade motora nem sempre
está ligada à consciência por não estar necessariamente na
dependência dos centros cerebrais superiores. Por exemplo,
quando alguém encosta a mão em uma chapa quente, primeiro
afasta-a da chapa para depois perceber que se queimou, a esse
fenômeno chama-se reflexo. O que chega à medula espinhal, antes
de chegar aos centros cerebrais superiores e recebe uma ordem
para a resposta, que é afastar a mão, chama-se estímulo.
O caminho natural que os fisiologistas da época seguiram, quando
passaram a se interessar pelo fenômeno psicológico enquanto
estudo científico, era a Psicofísica. Estudaram, por exemplo, a
fisiologia do olho e a percepção das cores. As cores eram
estudadas como fenômeno da Física, e a percepção, como
fenômeno da Psicologia.
Por volta de 1860, temos a formulação de uma importante lei no
campo da Psicofísica. É a Lei de Fechner-Weber que estabelece a
relação entre estímulo e sensação, permitindo a sua mensuração.
Segundo Fechner e Weber, a diferença que sentimos ao aumentar a
intensidade de iluminação de uma lâmpada de 100 para 110 watts
será a mesma sentida quando aumentamos a intensidade de
iluminação de 1.000 para 1.100 watts, isto é, a percepção aumenta
em progressão aritmética, enquanto o estímulo varia em progressão
geométrica.
Essa lei teve muita importância na história da Psicologia porque
instaurou a possibilidade de medida do fenômeno psicológico, o que
até então era considerado impossível. Dessa forma, os fenômenos
psicológicos vão adquirindo status de científicos, porque, para a
concepção de ciência da época, o que não era mensurável não era
passível de estudo científico.
©Thinkstock/iStock/Geogif
Na Universidade de Leipzig (Alemanha), Wundt demonstrou que as reações do
corpo correspondem a fenômenos mentais.

Outra contribuição muito importante nesses primórdios da


Psicologia Científica é a de Wilhelm Wundt (1832-1926). Wundt cria
na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o primeiro laboratório
para realizar experimentos na área de Psicofisiologia. Por esse fato
e por sua extensa produção teórica na área, ele é considerado o pai
da Psicologia Moderna ou Científica.
Wundt desenvolve a concepção do paralelismo psicofísico,
segundo a qual aos fenômenos mentais correspondem fenômenos
orgânicos. Por exemplo, uma estimulação física, como uma picada
de agulha na pele de um indivíduo, teria uma correspondência em
sua mente. Para explorar a mente ou consciência do indivíduo,
Wundt cria um método que denomina introspeccionismo. Nesse
método, o experimentador pergunta ao sujeito, especialmente
treinado para a auto-observação, os caminhos percorridos no seu
interior por uma estimulação sensorial como a picada da agulha, por
exemplo.

A experiência da subjetividade
Nem sempre e nem todos os grupos sociais sentem e pensam a sua
existência da mesma maneira.
Se observarmos com cuidado as construções do período feudal e
mesmo do início do Renascimento, verificamos que a vida privada
não tinha o lugar de importância que tem hoje. Os quartos não eram
em espaço reservado das construções. Para chegar a uma sala de
música, atravessavam-se aposentos de dormir. Hoje, nossas
construções separam a área privada (quartos, banheiro) da área
social (sala e lavabo). O romance e o drama surgem no século XVIII
e vão valorizando a experiência pessoal. Surgem as biografias.
Esse movimento está fundamentado nas necessidades e no
desenvolvimento das formas de produção capitalista que se
desenvolvem ocupando o lugar das formas medievais. Os humanos
passam a ser tomados cada vez mais como indivíduos, isolados e
livres. O capitalismo impôs a forma de pensar cada humano como
consumidor e produtor individual, livre para vender sua força de
trabalho. Passam a ser vistos como sujeitos, ativos, capazes de
escolher a trajetória de sua vida, de construir uma identidade para si
e de viver, pensar e sentir sua experiência como subjetividade
individualizada.
Hoje, isso tudo pode nos parecer óbvio, pois nos sentimos e
pensamos assim: somos UM e não nos confundimos com ninguém.
Sabemos de nossas vidas e sabemos muito bem quem somos: um
sujeito único. Mas estamos aqui afirmando, acompanhados pelos
4
estudos de Figueiredo (2007; 2008), que nem sempre foi assim. E,
mais ainda, que hoje em algum lugar do planeta alguém pode não
se sentir assim. O sentimento e a ideia de eu é algo da
modernidade!
Além das formas capitalistas que incentivaram e fomentaram essa
forma de ser, há uma experiência importante vivida que, com
certeza, fortaleceu a criação das formas capitalistas. No “(...)
Renascimento teria surgido uma experiência de perda de
referências. A falência do mundo medieval e a abertura do ocidente
ao restante do mundo teriam lançado o homem europeu numa
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condição de desamparo”.
Vale relembrar que no tempo medieval a verdade era uma só. A
influência da Igreja Católica, na Europa, era forte e autoritária o
suficiente para que os humanos não tivessem dúvidas sobre o que
deveriam pensar e como deveriam agir e sentir. Quem pensou
diferente morreu queimado ou enforcado! O Sol girava em torno da
Terra, que era o centro do Universo. Os humanos nasceram de
Adão e Eva. A hierarquia social também era fixa: servos, nobres e
clero. Quem nascia em um desses estratos, nele morreria. Corpo
era inviolável e não se pensava em explorar a natureza em busca
de recursos materiais.
SAIBA
QUE...

A noção e o sentimento de eu são construções modernas. As


pessoas passaram a ser identificadas pelos seus nomes e menos
pelos sobrenomes ou pelo local de onde provinham; em roupas
de cama começaram a aparecer bordados com as iniciais dos
nomes; biografias começam a ser valorizadas e aos poucos esse
sentimento vai se fortalecendo e com ele vai surgindo a
privacidade e a intimidade – banheiros e quartos passam a ser
espaços íntimos; surgem os diários em que segredos estão
relatados. A Psicologia é também uma construção decorrente
desses novos tempos.

O capitalismo colocou o mundo medieval em movimento.


Questionou a hierarquia social fixa, até para poder se impor como
forma dominante de produção da vida, incentivando as pessoas a
trabalharem e se esforçarem para mudar de lugar social. Estava
garantida a mobilidade social (pelo menos prometida!). As verdades
não eram somente as da Igreja Católica; havia agora novos
pensamentos religiosos e logo a burguesia inventaria a ciência para
dizer verdades que fragilizassem a verdade católica. O corpo e a
natureza podiam ser explorados, pois estavam dessacralizados.
Os órgãos dos sentidos ganharam destaque como forma de captar o
mundo. A produção se diversificou e muitas coisas começaram a
surgir como mercadorias. Ideias, mercadorias, lugares sociais,
verdades... tudo se multiplicou e o homem passou a ter de escolher.
Nesse processo, a ideia e a vivência de uma “vida interior” ou vida
psíquica foram se fortalecendo.
Todo o movimento de duvidar traz a evidência de que, ao menos
enquanto um ser que pensa (e duvida), eu existo. Esta é minha única
certeza: eu ainda não sei se os outros existem e mesmo se meu
próprio corpo existe. A evidência primeira é a de um “eu” e ele será a
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partir de agora o fundamento de todo o conhecimento.

Vocês devem estar reconhecendo, não? Aí estavam as ideias de


Descartes, que pode ser tomado como inaugurador da
modernidade. “Penso, logo existo.” Mas vejam que interessante, nas
ideias de Descartes estão presentes: a valorização da razão
(racionalismo como característica da modernidade); a ideia do ser
singular que tem a experiência da razão (individualismo); e a ideia
de que a representação do mundo é algo interno ao indivíduo
(experiência subjetiva).
Tudo ia bem, mas essa experiência subjetiva entra em crise. O
sujeito que conhece pode não conhecer tudo. O que podemos
conhecer? O que consigo pensar e o que consigo ser com isso? O
destino humano estava agora nas mãos dos próprios humanos.
Cada um buscando garantir sua verdade não poderia deixar de
produzir conflitos. A promessa e a crença da liberdade para pensar
o que quiser também não se realizaram dessa maneira, e os
humanos, sócios em um conjunto social, começaram a produzir
formas de pressão e controle para garantir a manutenção e a
continuidade da sociedade. Essa situação social fará com que a
ideia de “mundo interior” entre em crise.

Dessacralizados
que perderam o caráter sagrado.

Assim, os humanos passavam a ter necessidade de construir uma


ciência que estudasse e produzisse visibilidade para a experiência
subjetiva. Surge assim a Psicologia.
A Psicologia é produto das dúvidas do homem moderno, esse
humano que se valorizou enquanto indivíduo e que se constituiu
como sujeito capaz de se responsabilizar e escolher seu destino.
A Filosofia que até então tinha algo a dizer sobre essas
experiências e a Fisiologia que podia estudar cientificamente as
sensações, fonte da subjetividade humana, se reúnem como
pensamentos para fundar, no final do século XIX, a Psicologia.
VOLTANDO A WUNDT
O berço da Psicologia Científica foi a Alemanha do final do século
XIX. Wundt, Weber e Fechner trabalharam juntos na Universidade
de Leipzig. Seguiram para a Alemanha muitos estudiosos dessa
nova ciência, como o inglês Edward B. Titchener e o americano
William James.
Seu status de ciência é obtido à medida que se “liberta” da
Filosofia, que marcou sua história até aqui, e atrai novos estudiosos
e pesquisadores, que, sob os novos padrões de produção de
conhecimento, passam a:
■ definirseu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a
consciência);
■ delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de

conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia;


■ formular métodos de estudo desse objeto;

■ formular teorias como um corpo consistente de conhecimentos na


área.
Essas teorias devem obedecer aos critérios básicos da
metodologia científica, isto é, deve-se buscar a neutralidade do
conhecimento científico, os dados devem ser passíveis de
comprovação, e o conhecimento deve ser cumulativo e servir de
ponto de partida para outros experimentos e pesquisas na área.
Embora a Psicologia Científica tenha nascido na Alemanha, é nos
Estados Unidos que ela encontra campo para um rápido
crescimento, resultado do grande avanço econômico que colocou
este país na vanguarda do sistema capitalista. Nos Estados Unidos,
surgem as primeiras abordagens ou escolas de Psicologia, as quais
deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente.
Essas abordagens são: o Funcionalismo, de William James (1842-
1910); o Estruturalismo, de Edward Titchener (1867-1927); e o
Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949).

O Funcionalismo
O Funcionalismo é considerado a primeira sistematização
genuinamente americana de conhecimentos em Psicologia. Uma
sociedade que exigia o pragmatismo para seu desenvolvimento
econômico acaba por exigir dos cientistas americanos o mesmo
espírito. Desse modo, para a escola funcionalista de W. James,
importa responder “o que fazem os homens” e “por que o fazem”.
Para responder a isso, James elegeu a consciência como o centro
de suas preocupações e buscou a compreensão de seu
funcionamento, na medida em que o homem usa a consciência
para adaptar-se ao meio.

“O que fazem os homens” e


“por que o fazem”?

O Estruturalismo
O Estruturalismo está preocupado com a compreensão do mesmo
fenômeno que o Funcionalismo: a consciência. Mas, diferentemente
de W. James, Titchener estudou seus aspectos estruturais, isto é, os
estados elementares da consciência como estruturas do sistema
nervoso central. Essa escola foi inaugurada por Wundt, mas foi
Titchener, seu seguidor, quem usou o termo Estruturalismo pela
primeira vez, no sentido de diferenciá-la do Funcionalismo. O
método de observação de Titchener, assim como o de Wundt, é o
introspeccionismo, e os conhecimentos psicológicos produzidos são
eminentemente experimentais, isto é, produzidos a partir do
laboratório.

O Associacionismo
O principal representante do Associacionismo é Edward L.
Thorndike, importante por ter sido o formulador de uma primeira
teoria de aprendizagem na Psicologia. Sua produção de
conhecimentos pautava-se por uma visão de utilidade desse
conhecimento, muito mais do que por questões filosóficas que
perpassam a Psicologia.
O termo Associacionismo origina-se da concepção de que a
aprendizagem se dá por um processo de associação de ideias – das
mais simples às mais complexas. Assim, para aprender um
conteúdo complexo, a pessoa precisaria primeiro aprender as ideias
mais simples, que estariam associadas àquele conteúdo.
Thorndike formulou a Lei do Efeito, que seria de grande utilidade
para a Psicologia Comportamentalista. De acordo com essa lei, todo
comportamento de um organismo vivo (um homem, um pombo, um
rato etc.) tende a se repetir se nós recompensarmos (efeito) o
organismo assim que ele emitir o comportamento. Por outro lado, o
comportamento tenderá a não acontecer se o organismo for
castigado (efeito) após a sua ocorrência. E, pela Lei do Efeito, o
organismo associará essas situações com outras semelhantes. Por
exemplo, se ao apertarmos um dos botões do rádio formos
“premiados” com música, em outras oportunidades apertaremos o
mesmo botão, bem como generalizaremos essa aprendizagem para
outros aparelhos, como gravadores, players digitais etc.
MÉTODO OBJETIVO E CIENTÍFICO
Os pioneiros da Psicologia, sem dúvida, procuraram, dentro das
possibilidades, atingir critérios científicos e formular teorias. Mas
aqui cabe um importante esclarecimento.
A concepção de ciência moderna se deparou com uma grande
questão: Como produzir conhecimento sobre o ser humano se o
próprio cientista é também seu objeto de estudo? Como garantir que
a Psicologia pudesse ser um conhecimento objetivo sobre a
subjetividade?
Essa questão foi resolvida com o método. Um método objetivo e
empírico que levasse à sistematização cuidadosa do que se
observou garantiria a possibilidade de replicação e, portanto, de
verificação. Com sucessivas verificações, poderíamos chegar à
verdade científica. É exatamente essa experiência que produzirá
uma cisão no mundo, colocando de um lado a subjetividade (objeto
da Psicologia) e de outro a objetividade (conhecimento a partir de
método científico).
Hoje, nós ainda pensamos o mundo assim dividido. Quando
alguém lhe diz: “acho que...” você pode responder: “Isso é a sua
versão, a sua impressão”, ou seja, é subjetivo. Mas se alguém lhe
mostra resultados e dados de pesquisa para provar algo, você dirá:
“Sim, é muito objetivo” e pode ser tomado como verdade coletiva.
Objetividade e subjetividade passaram a estar em campos
separados, e essa dicotomia permaneceu na ciência e na
Psicologia por todo o século XX, adentrando o XXI. Mas é no próprio
século XX que surgiram também as tentativas de superar a
dicotomia que caracterizou a ciência e o pensamento moderno, com
o uso de um novo método científico: o materialismo histórico e
dialético.
A aprendizagem se dá por um
processo de associação de
ideias, das mais simples às
mais complexas.
Esse método uniu subjetividade e objetividade em um mesmo
processo, entendendo a realidade como em permanente
movimento, na qual sujeito e mundo estão em relação e são
transformados por essa relação. Caracterizado pelos pressupostos
materialistas (de que a realidade existe independentemente de
nossas ideias e da razão humana e que existem leis na realidade
que podem ser conhecidas), pela concepção dialética (a contradição
e sua constante superação são a base do movimento de
transformação constante da realidade) e pela concepção histórica (o
mundo se constrói em seu movimento e podemos conhecê-lo
quando o estudamos em seu processo de transformação), o método
se contrapunha ao positivismo e ao empiricismo e inaugurava novas
possibilidades de compreensão da subjetividade. A subjetividade
que só pode ser compreendida como movimento constante do ser
humano em sua relação com o mundo material e social.
Com essas possibilidades dadas pela história da sociedade e do
ser humano moderno é que a Psicologia vai se desenvolver,
construindo teorias que, quando baseadas no pensamento
dicotômico, vão escolher este ou aquele aspecto, ou seja, vamos
encontrar teorias que vão privilegiar a objetividade humana – aquilo
que no ser humano é empírico e pode ser objetivamente conhecido
– ou a subjetividade humana – entendendo que são experiências e
dinâmicas internas ao ser humano que devem ser conhecidas pela
Psicologia ou, até mesmo, que o mundo deve ser lido a partir da
percepção que o homem tem dele.
Outras teorias vão conviver com essas e vão procurar estudar o
ser humano na sua relação permanente e constitutiva com o mundo.
Objetividade e subjetividade vão aparecer, então, nessas teorias
como diferentes âmbitos de um mesmo processo – de
transformação do mundo pelos humanos, em que eles se
transformam ao transformar o mundo.
São diversas as psicologias, mas, sem dúvida, todas elas se
unificam como formas de dar visibilidade a uma experiência
subjetiva.

A realidade é um permanente
movimento, na qual sujeito e
mundo estão em relação e são
transformados por essa
relação.
TEXTO COMPLEMENTAR
7
A história das ideias é sempre social
Uma história das ideias, sem mais nada, é abstração que reforça a
concepção de que a Ciência é neutra, de que os conceitos que a
integram nada devem à realidade histórico-social em que foram
geradas e/ou aplicadas. Segundo correntes historiográficas mais
recentes e mais férteis, a história das ideias é sempre social. O
que existe é uma história social das ideias, imprescindível à reflexão
sobre o presente de uma ciência e de uma profissão. História é
unidade de passado, presente e futuro. Para entendermos o
presente, é preciso ir em busca de sua constituição histórica. Para
pensar o seu futuro é preciso conhecer seu passado e seu presente,
sobretudo em busca da identificação dos problemas que terão de
ser enfrentados. Impossível pensar o futuro da Psicologia sem
conhecer sua instituição num lugar e num tempo social e
politicamente determinados. E quando falo em “política” não estou
obviamente me referindo a doutrinas político-partidárias, mas à
dimensão das relações de poder em vigor em sociedades concretas,
das quais as teorias e as práticas fazem parte, seja para reafirmar
essas relações, seja para contestá-las. Por tudo isso, quem se
dedica à historiografia da Psicologia não pode declarar-se culpado
por se voltar para o passado da profissão e, assim, descuidar de
seu presente. Estudamos o passado não por interesse inútil e
recriminável pelo que já foi, mas para entendermos o presente.
Historiadores precisam ter clareza a respeito dos motivos pelos
quais se dedicam à escrita da História.
A história das Ciências Humanas, em geral, e da Psicologia, em
particular, não se dá acima da história política, social e econômica
do lugar em que são produzidas, como se nada tivesse a ver com
ela. Não é também uma história que se escreve sobre o pano de
fundo da história do país. A História da Psicologia do Brasil é
parte integrante da história brasileira, é um de seus elementos
constitutivos, está implicada nos rumos por ela tomados, é
determinada por ela e um de seus determinantes.
ATIVIDADES
1. Construamuma linha do tempo e coloquem nela os principais
marcos da Psicologia. Tragam para esse exercício seu
conhecimento sobre gregos, romanos, Idade Média,
Renascimento e Idade Moderna.
2. Discutam o surgimento da Psicologia como fruto da
modernidade. Por que o homem da Idade Média não poderia ter
criado a Psicologia?
3. O texto de Maria Helena Patto afirma com ênfase a relação
entre o desenvolvimento de uma sociedade e o
desenvolvimento das ideias que se apresentam e circulam
naquele coletivo social. As ideias de uma ciência refletem as
relações de poder e os principais aspectos de uma sociedade.
4. Considerando essas ideias, sugerimos que um grupo assista
ao filme Giordano Bruno e outro assista Galileu Galilei. Depois,
discutam quem foram e o que pensaram esses homens. O que
aconteceu com eles? Comparem suas ideias com o que
pensamos hoje sobre o mundo.
5. Psicologias ou Psicologia? Debatam essa questão a partir do
que foi apresentado no texto.

PARA SABER MAIS


Bibliografia
BÁSICA
Psicologia: uma (nova) introdução (2011), de Luis Figueiredo e
Pedro Santi, é um livro básico que traz uma abordagem histórica
do mundo psicológico, fato que não deve ser visto por nós como
algo natural e universal.
A psicologia no Brasil (2014), de Mitsuko Antunes, nos
apresenta a história da Psicologia no Brasil desde o período
colonial, quando surgem as primeiras ideias psicológicas e seu
desenvolvimento nos principais campos: saúde, educação e
trabalho.
Raízes da psicologia (2014), de Izabel Freire, é um livro de fácil
leitura, mas completo em termos de história da Psicologia. As
influências filosóficas e as teorias no campo da Psicologia
científica estão lá.
Dicionário biográfico da psicologia no Brasil (2001), organizado
por Regina Campos é uma excelente fonte de pesquisa histórica
sobre autores da Psicologia brasileira.
AVANÇADA
Introdução à história da psicologia contemporânea (1980), de
Antonio Penna, é um clássico da História da Psicologia, publicado
em 1978, que nos oferece uma excelente história da Psicologia
contemporânea.
História da psicologia: a exigência de uma leitura crítica (2003),
8
de Sandra Sanchez e Edna Kanhale, apresenta a história da
Psicologia em uma perspectiva que entende a Psicologia como
uma ciência que nem sempre existiu e que surgiu depois que foi
“inventado” o mundo psicológico para produzir uma compreensão
sobre ele.
A invenção do psicológico: quatro séculos de subjetivação 1500-
1900 (2007), de Luiz C. Figueiredo, é uma excelente leitura sobre
a história da Psicologia a partir da invenção do psicológico.
Outros recursos
■ Pequenos livros sobre a vida e a obra de vários pioneiros na
Psicologia brasileira estão na coleção Pioneiros da Psicologia
Brasileira, editada pelo Conselho Federal de Psicologia e pela
editora Imago.
■O Conselho Federal de Psicologia possui uma série em vídeos,
coordenada por Ana Maria Jacó Vilela e Marcos Ribeiro
Ferreira, sobre pioneiros da Psicologia brasileira. São vários
nomes de importância que, ao contarem suas vidas, contam a
história da Psicologia no Brasil.
■ O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo possui uma

série em vídeos: Projeto Diálogos, em que são entrevistadas


pessoas históricas importantes para a Psicologia, contando suas
histórias e a história da Psicologia.
■ O Conselho Regional de São Paulo possui em seu site um

espaço de memória da Psicologia, disponível em:


<http://www.crpsp.org.br/>. Nesse espaço, cabe conferir
também a linha do tempo da Psicologia em:
<http://www.crpsp.org.br/linha> e o quadro com os pioneiros.
■ O site do Conselho Federal de Psicologia também é excelente

fonte de dados históricos da Psicologia. Disponível em:


<http://www.pol.org.br>.

1
GONÇALVES, Rainer. Texto da idade média. História do mundo, UOL.
Disponível em: <http://historiadomundo.uol.com.br/idade-media/texto-idade-
media.htm>. Acesso em: 21 jan. 2018.
2
ALIGHIERI, Dante. Divina comédia. 2.ed. São Paulo: Editora 34, 2017.
3
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Petrópolis: Vozes, 2011.
4
FIGUEIREDO, Luis C. M. A invenção do psicológico: quatro séculos de
subjetivação 1500-1900. São Paulo: Escuta, 2007. FIGUEIREDO, Luis C. M.;
SANTI, Pedro L. R. Psicologia: uma (nova) introdução. 3. ed. São Paulo: Educ,
2011.
5
FIGUEIREDO; SANTI, 2011, p. 4.
6
FIGUEIREDO; SANTI, 2011, p. 6.
7
PATTO, Maria Helena S. O que a história pode dizer sobre a profissão do
psicólogo: a relação Psicologia-Educação. In: BOCK, Ana Mercês Bahia (Org.).
Psicologia e o compromisso social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
8
BOCK, Ana Mercês Bahia (Org.) A perspectiva sócio-histórica na formação em
psicologia. Petrópolis: Vozes, 2003.

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