Cópia de Raspa Integral de Mandioca

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A Raspa Integral de Mandioca é constituída pela raiz da mandioca integral, ou seja, polpa e

casca, que é picada e seca ao sol e posteriormente moída. É um alimento essencialmente


energético devido aos altos conteúdos de amido e baixos níveis de proteína. Ela é rica em
aminoácidos como lisina, porém, deficiente em metionina, triptofano e cistina. A raspa
integral de mandioca é uma ótima alternativa como fonte energética na alimentação animal,
podendo substituir em grande parte das rações o milho ou o sorgo.

Nutriente Teor (na MN) Teor (na MS)


H2O (%) 12,3 ——
MS (%) 87,7 100

PB (%) 2,64 3,01


EE (%) 0,52 0,6

FB (%) 4,21 4,8


MM (%) 3,44 3,92
ENN (%) 76,9 87,68

FDN (%) 13,2 15,05


FDA (%) 5,73 6,53
NDT (%) 11,46 13,08

Cálcio 0,21 0,24

Fósforo 0,08 0,09

Sódio 0,02 0,022

Adaptado de Rostagno et al. (2017)

Obs: NDT (%) = %PB + %FB + %MM + (%EE × 2,25)

A Raspa Integral de Mandioca possui os seguintes fatores antinutricionais:

➢ Glicosídeos cianogênicos

A mandioca contém glicosídeos cianogênicos (linamarina, lotoaustralina) que sob hidrólise


ácida no trato digestivo ou sob ação de enzimas endógenas, liberadas durante a colheita ou
no processamento industrial, produzem o composto HCN (ácido cianídrico), cuja ingestão ou
mesmo inalação resulta em efeitos neurológicos crônicos, inibição da captação do lodo pela
tireóide e mesmo morte (Teles 1987). O ácido cianídrico altamente tóxico é liberado por
hidrólise pela enzima linamarase (presente na casca da raiz) e por ação de enzimas
glicosídicas da microflora intestinal, fígado e outros tecidos. A ação tóxica se processa
através de inibição enzimática (citocromo oxidase) durante a respiração celular nos tecidos.
Embora reversível, esta reação quando na presença de altas doses de HCN pode ocasionar a
elevação da presenca de lactato no cérebro causando degeneração celular.O HCN é
transformado no fígado pela enzima rhodanase a tiocianato e então excretado na urina. Em
geral,os teores de ácido cianídrico encontrados nas folhas são bem superiores àqueles
observados nas raizes e não há correlação entre os teores de HCN das raízes e das folhas
(Motta et al., 1995). Portanto,um dos fatores que limitam a utilização da parte aérea da
mandioca é o alto teor de ácido cianídrico, superior ao das raizes, (Carvalho & Kato,1987).
Existem vários métodos para eliminar totalmente ou parcialmente o conteúdo de HCN da
mandioca. A desidratação natural, por ação dos raios solares, é o sistema mais seguro para a
destruição do HCN livre, que se volatiliza facilmente com a temperatura do sol e sob ação do
vento.

➢ Tanino

Pode ser responsável pela baixa digestibilidade da proteína da folha da mandioca,o que
limitaria sua utilização para os monogástricos pela redução do valor biológico da proteina.

Fatores limitantes

➢ Fonte deficitária de pigmentos carotenóides

Na alimentação de aves ao substituir parcialmente ou integralmente a utilização do milho se


observa uma acentuada descoloração das canelas dos frangos de corte alimentados,
diminuição sensível na cor da gema com o aumento do nível de substituição e redução na
pigmentação das pernas à medida que se aumentava o nível de raspa de mandioca na ração.

➢ Baixo conteúdo de proteína

Estudos envolvendo a utilização com animais da Raspa Integral de Mandioca

➢ Aves e Suínos

Em monogástricos a obtenção da raspa de mandioca deve ser rigorosamente observada,


pois, um mau processamento da raiz pode ocultar altos teores de HCN que no caso dos
monogástricos, não sofrerão nenhuma degradação ruminal, são absorvidos em excesso no
intestino afetando rapidamente estes animais.
Buitrago (1990) afirmou que dietas para suínos, a partir de 15 dias de idade, podem conter
até 40% de raspa de mandioca e esse percentual pode ser aumentado nas fases de
crescimento e terminação tendo cuidado de acrescentar fonte de metionina e cistina para
minorar os efeitos do HCN.
Utilizando frangos de corte, Fonseca et al. (2000) obtiveram valor de 3.307 kcal/kg de EMA
para a raspa integral de mandioca. Considerando que a energia metabolizável representa
aproximadamente 95% do valor da energia digestível. Em experimento com frangos de corte
alimentados com rações contendo raspa integral de mandioca em níveis de até 40%,
Resende et al. (1984) não verificaram diferenças significativas no ganho de peso, no
consumo de ração e na conversão alimentar das aves. A substituição total do milho por
raspa integral de mandioca em uma dieta para frangos de corte durante os primeiros 21 dias
de idade não comprometeu o desempenho das aves (Coelho et al., 1987). Na fase de
terminação (22 a 42 dias de idade), os melhores resultados para o ganho de peso foram
obtidos com o nível de 75% e os de conversão alimentar de 50%. Já para galinhas poedeiras
até 40% como fonte energética, pois, a raspa é pobre em pigmentos como carotenóides e
xantofilas (colorir a pele do frango e gema do ovo) e baixo teor de ácidos graxos em
essencial o linoléico (sua deficiência provoca diminuição da produção e tamanho de ovos
como também morte embrionária).

➢ Ruminantes

A transformação de macromoléculas em substâncias simples, para a absorção no trato


gastrintestinal, ocorre, principalmente, no rúmen, através dos microrganismos, como
observaram AROEIRA et al. (1996), que analisaram a degradabilidade “in situ”, em
ruminantes, de onze alimentos: milho verde (planta inteira), silagem de milho, feno de
alfafa, farelo de alfafa, alfafa murcha, feno de coast cross, torta de algodão, fubá de milho,
farelo de soja, farelo de trigo e raspa de mandioca. A degradabilidade efetiva da matéria
seca da raspa de mandioca foi de 90,4%, considerando a taxa de passagem de 5% por hora.
Já ZEOULA et al. (1997), avaliando degradabilidade in situ do milho, sorgo, raspa de
mandioca, farelo de trigo e triticale, observaram que a raspa de mandioca apresentou
degradabilidade efetiva do amido para taxa de passagem de 5%/h de 79,1%, maior que a
observada para o amido do milho e sorgo, que foram iguais a 57,8 e 67,6%,
respectivamente.
CARVALHO et al. (1997), trabalhando com novilhos Nelore e níveis de inclusão de raspa de
mandioca no concentrado em rações isoprotéicas (12%) e volumoso de feno de capim
elefante, observaram que os níveis de inclusão provocaram um efeito quadrático na
digestibilidade aparente, ocorrendo a melhor digestibilidade da MS (69,7%) com o nível de
42,0% e digestibilidade da MO (66,1%), com o nível 40,5%; já para PB, a melhor
digestibilidade foi de 67,7% com o nível de 32,5% de inclusão de raspa de mandioca.
ARAÚJO et al. (1997), utilizando 40 bezerros mestiços (Holandês x Zebu), para avaliar o
efeito de níveis de volumosos (10; 25; 40; 55 e 90%), observaram que a digestibilidade
aparente da MS e MO decresceram linearmente, enquanto que, a da FDN, aumentou
linearmente, com aumento do nível de volumoso da ração.
FERREIRA et al. (1989), avaliando o desempenho de 100 animais da raça Nelore e mestiços
das raças Holandês x Zebu, usando cinco fontes energéticas diferentes (milho, sorgo, raspa
de mandioca, milho + sorgo-1:1 e milho + raspa de mandioca(1:1), concluíram que o
desempenho dos animais alimentados com raspa de mandioca ou com raspa de mandioca +
milho foi semelhante ao obtido com milho e milho + sorgo, porém obtiveram desempenho
superior ao alcançado pelos animais que tinham como fonte energética apenas o sorgo.
ZINN e DePETERS (1991) substituíram milho floculado a vapor por raspa de mandioca, na
proporção de 0, 15 e 30% da matéria seca total da ração, em bovinos mestiços confinados, e
concluíram que a raspa de mandioca pode participar em até 30% da ração, sem alterar o
consumo de matéria seca.
O efeito da substituição do milho e do sorgo pela raspa de mandioca no concentrado para
bezerros durante a fase de aleitamento foi estudade por Mello et al. (1981). Esta utilização
em misturas iniciais para bezerros não afetou o ganho de peso, quando a dieta liquida era o
leite integral. Quando foi oferecido leite desnatado a utilização da raspa no concentrado
inicial proporcionou menor ganho de peso do que a utilização do milho (0,38 x 0,52
kg/bezerro/dia).
DE BEM (1996) ressalta a importância da utilização de até 30% do farelo de raiz
de mandioca (raspa de mandioca) em rações de bovinos. Afirma ainda que, devido ao alto
teor de amido da raiz da mandioca, esta se torna interessante para confecção de rações
extrusadas.

➢ Ovinos confinados

A inclusão de raspa integral de mandioca em dietas para terminação de ovinos em


confinamento, utilizando-se como ingrediente volumoso o feno da parte aérea desta
euforbiácea, não compromete o consumo de nutrientes, o ganho de peso e a conversão
alimentar, com redução no consumo de parede celular (FDN) e favorecimento à maior
digestibilidade da MS, PB e complexo lignocelulose (FDA).
Valores inferiores para DMS e DMO foram obtidos por Holzer et al. (1997), utilizando raspa
de mandioca para bovinos, 68,6 e 73,6%, respectivamente. Verifica-se que a proporção
volumoso:concentrado é mais baixa neste trabalho para todas as dietas, com possível
impacto sobre a digestibilidade.
A DMO e a DFDN apresentaram valores próximos aos obtidos por Zeoula et al. (2003),
quando da substituição do milho pela farinha de varredura de mandioca para ovinos, com
médias para DMO e DFDN, 71,2 e 53,9%, respectivamente.
Quando da estimativa do NDT pela equação derivada do NRC (1975), NDT = 1,02 x MOD,
para teor médio de 94,8% de MO nas dietas e correspondente DMO média de 79,26%,
estima-se matéria orgânica digestível (MOD) de 75,14% e NDT igual a 76,64%, valor superior
ao valor médio calculado pela fórmula de Weiss et al. (1992), 66,30%, o que pode ser
atribuído à acurácia dos métodos analíticos adotados atualmente para determinação dos
constituintes bromatológicos e ao efeito associativo dos alimentos nas dietas.
O aumento na DPB com a inclusão de RIM pode ser atribuído ao aumento proporcional do
farelo de soja, uma fonte proteica com elevada degradabilidade ruminal, no entanto, o custo
das dietas formuladas com incremento da proporção deste ingrediente deve ser
considerado. Caldas Neto et al. (2000) obtiveram DPB de 73,0 e 74,0%, respectivamente,
para dietas contendo casca ou raspa de mandioca fornecidas a novilhos com consumo
restrito a 2% do PV, valores próximos aos obtidos neste trabalho a partir da inclusão de 45%
de RIM às dietas.
O consumo de MS, MO e proteína digestíveis não foi influenciado (p > 0,05) pela inclusão de
RIM em até 48% da ração, com médias, 877,92; 934,68 e 138,91 g dia-1, respectivamente.
Houve efeito decrescente (Ŷ = 191,33-1,37X; R2 = 0,25; p < 0,05) da inclusão de RIM sobre o
consumo de FDN digestível (CFDNd). Este comportamento é justificado pelo maior teor de
FDN da ração- controle que o das dietas com RIM, e está de acordo com o obtido por Caldas
Neto et al. (2000) ao incluir raspa de mandioca e farinha de varredura para novilhos, bem
como, por Jorge et al. (2002a), ao substituírem até 100% do milho em grão pela farinha de
varredura em dietas para bezerros, e por Zeoula et al. (2003), ao incluir até 100% de farinha
de varredura em substituição ao milho em grão, com redução no CFDNd das dietas. É
considerável a redução na proporção de feno de parte aérea da mandioca à medida que se
adicionou raspa integral de mandioca nas dietas, com impacto sobre os teores de FDN.

➢ Coelhos

Dois experimentos foram conduzidos com o objetivo de avaliar a utilização da raspa integral
de mandioca (RIM) para coelhos em crescimento. No ensaio de digestibilidade, foram
utilizados 22 coelhos com 50 dias de idade, distribuídos em delineamento inteiramente
casualizado com dois tratamentos e 11 repetições. Foram utilizadas duas rações, uma ração-
referência e uma teste, na qual a RIM substituiu 25% da MS da ração-referência. Os teores
digestíveis de MS, PB, FDN, FDA, energia e amido (% MS) foram, respectivamente, de 83,84;
1,89; 8,34 e 3,31%; 3.447 kcal/kg e 55,35%. No ensaio de desempenho, foram utilizados 180
coelhos no período de 35 a 70 dias de idade. Os coelhos foram distribuídos em
delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos (0, 20, 40, 60, 80 e 100% de
RIM em substituição à energia digestível do milho) e 15 repetições de dois animais por
unidade experimental. No período de 35 a 50 dias de idade, houve efeito quadrático do
fornecimento de RIM na dieta sobre a conversão alimentar. No período de 35 a 70 dias de
idade, houve também efeito quadrático sobre o PV aos 70 dias, o ganho de peso diário, a
conversão alimentar e o custo de ração/kg de ganho de PV. Efeito quadrático também foi
observado para o peso da carcaça. Nos períodos de 35 a 50 e de 35 a 70 dias de idade, a
conversão alimentar dos animais alimentados com as dietas com 20 e 100% de substituição
do milho pela raspa de mandioca foi melhor em comparação à dos demais animais. A raspa
integral de mandioca pode ser incorporada a rações para coelhos em crescimento em até
27,32% em substituição a 100% da energia digestível do milho.

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