Silva - Nazario - Lima 2016 - (A) Uma Revisão Conceitual Sobre A Madeira Plástica

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UMA REVISÃO CONCEITUAL SOBRE A MADEIRA PLÁSTICA

Vitor Crescencio da Silva1


Gabriel Fernando Nazário2
Fernando Parra dos Anjos Lima3

RESUMO: Este artigo apresenta uma revisão conceitual sobre a madeira plástica.
Atualmente a principal discussão está ligada a quantidade de lixo gerado pela
sociedade, e este artigo propõe analisar de forma empírica uma solução para este
problema, através da reciclagem do lixo, em especial, o lixo plástico. A reciclagem
pode ser compreendida como o agente de transformação social, econômica e
tecnológica. O trabalho foi fundamentado através de uma revisão conceitual, de
modo a estudar e compreender os processos, características e impactos que
podem ser gerados através da produção de madeira plástica. Assim, através deste
estudo, pretende-se ampliar o conhecimento e rever os conceitos de
sustentabilidade, obtendo todo o suporte para desenvolver madeira plástica como
uma solução promissora e eficaz no reaproveitamento de rejeitos descartados.

Palavras-chave: Revisão Conceitual. Madeira Plástica. Sustentabilidade. Eco


Compósito. Reciclagem.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, verifica-se que a demanda por produtos que sejam


sustentáveis e cativantes tem aumentado. Isso implica em duas questões, de um
lado já notamos positivamente uma tímida transição da sociedade impulsionada pelo
consumismo para uma sociedade que respeita e aprecia os aspectos de
ecoeficência e aparência, por outro, o aumento da oferta de produtos no mercado
sem uma preocupação mínima com os seus processos fabris, pode nos levar aos
mesmos ciclos de produção e consumo que gera desperdício de recursos e
degradação ambiental.

1
Discente do 6º semestre do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Toledo, UniToledo,
Araçatuba. [email protected].
2
Discente do 6º semestre do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Toledo, UniToledo,
Araçatuba. [email protected].
3
Docente dos cursos de Engenharias, e Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Toledo,
UniToledo, Araçatuba. Mestre em Engenharia Elétrica, Mestre em Engenharia Mecânica e Doutor em
Engenharia Elétrica, todos, pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, UNESP,
Campus Ilha Solteira. [email protected]. Orientador do trabalho.
Então, uma crescente atenção científica e tecnológica vem sendo dada
aos estudos e a utilização de novos materiais, especialmente os ecológicos, nos
mais diversos segmentos da indústria (MANZINI, 2008).
Um material ecológico se caracteriza por um impacto ambiental mínimo
e um rendimento máximo para a tarefa requerida pelo design. Estes são muito fáceis
de reintroduzir nos ciclos naturais. Os materiais da biosfera reciclam-se na natureza
e os da tecnosfera, reciclam-se nos processos elaborados pelo homem. A partir
disso se tem algumas classificações de materiais em potencial, são os materiais que
sejam renováveis ou com matéria-prima abundante, os com baixa energia
incorporada, com alta porcentagem de reciclados, com zero ou baixa emissões de
poluentes em sua fabricação, com certificação ambiental ou de procedência e
materiais orgânicos.
Resíduos antes tidos como lixo, geralmente destinados a
compostagem já estão sendo reutilizados em novos processos dando origem a
novos materiais como é o caso dos laminados de bambu e pupunha e compósitos
de fibra de banana, coco, milho e outros.
Os materiais compósitos têm se destacado, visto que oferecem
atributos físicos–mecânicos não alcançados por outros materiais e são
economicamente mais viáveis. É certo que as fibras sintéticas apresentam
propriedades elevadas como durabilidade e resistência, porém ainda revelam custo
elevado e necessitam de tecnologias especiais para sua produção (MANZINI, 2002)
A partir disso, observa-se o surgimento de uma nova geração de
compósitos ecologicamente corretos, os chamados biocompósitos ou eco-
compósitos. Melhor dizendo, eles são formados por fibras naturais e polímeros
sintetizados por fontes renováveis com alto potencial para serem novos materiais
biodegradáveis, compostáveis ou recicláveis (MANZINI, 2005).
Uma das grandes vantagens de produzir esse tipo de material é que as
fibras naturais utilizadas estão disponíveis em grandes quantidades por todo o
mundo e trata-se de um recurso renovável, além de alguns estudos demonstrarem
que as mesmas já apresentam excelentes propriedades mecânicas e ainda
desempenham outras funções, como isolante térmico e acústico (MANZINI, 2008).
Os resíduos plásticos constituem um importante fator na questão do
lixo sólido como um todo e representam um desafio à sustentabilidade ambiental.
Uma alternativa para este desafio é a produção da madeira plástica ou eco-
compósito. A madeira plástica é a composição de resíduos descartáveis da atividade
madeireira (serragem por exemplo), com o polietileno de baixa densidade que
funciona como aglutinante, dando liga à composição.
Observa-se que a madeira plástica se diferencia das chapas de fibras e
aglomerado. Pois estas últimas, geralmente utilizam aglutinantes e adesivos
extremamente tóxicos e poluentes. Além disso, o processo de moldagem é feito sob
alta temperatura e pressão que resulta em alto consumo de energia durante a
produção. O eco-compósito apresenta algumas vantagens, tais como:
impermeabilidade, durabilidade, resistência a microrganismos, aceita processos
tradicionais da marcenaria, é reciclável e pode ser utilizada para diversos fins similar
a madeira comum. Outra importante vantagem é que o processo produtivo desse
produto possibilita percorrer um caminho inverso, de retorno ao campo, preservando
o meio ambiente e evitando desmatamento.
Neste sentido, este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão
conceitual sobre o desenvolvimento de um eco-compósito do tipo madeira plástica,
de modo que o leitor possa obter todo o conhecimento necessário para a partir deste
estudo, entender e compreender os processos e impactos gerados na produção de
madeira plástica, e em trabalhos futuros desenvolver novos materiais.
Vale destacar, que este estudo é puramente teórico, onde a
contribuição principal é a revisão conceitual apresentada, facilitando a obtenção de
conhecimento por parte dos leitores.

2 PROBLEMÁTICA E ARGUMENTAÇÃO

Entre as diversas preocupações que atingem a população mundial,


destacam-se os problemas ambientais, tal assunto despertou a atenção da ONU
(Organização das Nações Unidas), a elaborar um programa conhecido como ODS
(Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) na última conferência da Rio+20, que
possui em sua execução uma agenda contendo 17 objetivos e 169 metas.
Dentre os ODS aprovados nesta conferência, podem-se destacar os
itens a seguir:
 Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável;
 Melhorar progressivamente, até 2030, a eficiência dos recursos
globais no consumo e na produção, e empenhar-se para dissociar o
crescimento econômico da degradação ambiental;
 Assegurar padrões de consumo e produção sustentável;
 Até 2030, alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos
recursos naturais;
 Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio
da prevenção, redução, reciclagem e reuso;
 Incentivar as empresas, a adotar práticas sustentáveis e a integrar
informações de sustentabilidade em seu ciclo de relatórios;
 Promover práticas de compras públicas sustentáveis, de acordo
com as políticas e prioridades nacionais;
 Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham
informação relevante e conscientização para o desenvolvimento
sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza;
 Apoiar países em desenvolvimento a fortalecer suas capacidades
científicas e tecnológicas para mudar para padrões mais
sustentáveis de produção e consumo;
 Proteger, recuperar e promover o uso sustentável às florestas;
 Até 2020, assegurar a conservação, recuperação e uso sustentável
de ecossistemas terrestres e de água doce interiores e seus
serviços, em especial florestas, zonas úmidas, montanhas e terras
áridas, em conformidade com as obrigações decorrentes dos
acordos internacionais;
 Até 2020, promover a implementação da gestão sustentável de
todos os tipos de florestas, deter o desmatamento, restaurar
florestas degradadas e aumentar substancialmente o florestamento
e o reflorestamento globalmente.

Conforme observado nos itens citados anteriormente, existe uma


preocupação mundial em preservar o meio ambiente, proteger e recuperar a
sustentabilidade e principalmente atuar em conscientização e implantação de ações
para reutilização de resíduos descartados (lixo).
No Brasil, segundo o IBGE (2014), a geração de lixo no ano da
pesquisa atingiu a montante de 78,6 milhões de toneladas, fator que representa um
crescimento de 2,9% do ano anterior. A preocupação consiste em comparar a taxa
de crescimento populacional, que foi de 0,9%, com o índice referente ao aumento do
consumo destes resíduos no mesmo período. Infelizmente além da geração de lixo,
no Brasil, cerca de 7 milhões de tonelada deixaram de ser coletadas no ano de
2014, valor equivalente a quase 10% do total. Esses rejeitos tiveram destinos
impróprios como rios, córregos e terrenos baldios.
Vale ressaltar que grande parte dos, aproximadamente 90% dos lixos
que foram coletados, podem não ter sido tratados corretamente, fator presente
atualmente em nossa sociedade, onde infelizmente, produtos deixam de ser
reciclados e acabam sendo destinados para lixões ou aterros controlados (que não
têm tratamento de gases e chorume), contribuindo a prejudicar o meio ambiente.
Os produtos de propriedades poliméricas, merecem destaque no
cenário apresentado, afinal possuem propriedades que levam muitos anos a serem
consumidos pelo meio-ambiente. Segundo uma pesquisa realizada pela UNICAMP,
a unidade de copo plástico leva cerca de 200 a 450 anos até ser degradado. A
reciclagem de produtos deste tipo, para (SPINACÉ; PAOLI, 2005), possui diversos
aspectos associados, bem como os sócios econômicos e ambientais, ressaltando
que ao promover a reutilização de plásticos, irá se contribuir para economizar
energia, proteger fontes esgotáveis de matéria prima, reduzir custos com o
tratamento do resíduo, a economia com a recuperação de áreas impactadas pelo
mau acondicionamento dos entulhos, o aumento da vida útil dos aterros sanitários, a
redução de gastos com a limpeza e a saúde pública e a geração de emprego e
renda.
Além dos impasses citados anteriormente, o desmatamento que ocorre
em solo brasileiro é catastrófico, promove o desequilíbrio em todo o ecossistema
além da economia e a sociedade. Motivado de diversas formas, as que mais se
sobressaem são: o avanço da pecuária, vendas ilegais de terras públicas, além da
exploração de recursos naturais causadas pelo consumismo exacerbado, podendo
assim, citar o extrativismo da madeira de forma legal e ilegal.
Considerada o “pulmão do mundo”, a Floresta Amazônica é o local
mais visado por extrativistas, com base em uma pesquisa apresentada por
GREENPEACE (2016), por volta da década de 70, nem 1% de toda a extensão
amazônica havia sido desflorestada, após 40 anos, o equivalente aos territórios do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo foram
desmatados, totalizando 18% da selva amazonense.

3 HISTÓRIA DA MADEIRA PLÁSTICA E O CENÁRIO ATUAL

Segundo Pinto (2016) foi na Europa, por volta da década de setenta,


que surgiu a ideia de madeira plástica, utilizando o que se considerava lixo, e
desembarcou em solo brasileiro por volta do ano de 1990. Através do dossiê técnico
sobre a madeira plástica escrito por Oliveira et al., (2013), pode-se observar que no
Brasil, o pioneiro a realizar as primeiras pesquisas sobre o tema, foi o Instituto de
Macromoléculas Professora Eloísa Mano (IMA), durante a década de 90, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Este instituto realizou pesquisas
nas áreas de propriedades físicas e mecânicas das madeiras plásticas, possuindo,
inclusive uma marca registrada, o IMAWOOD® (HERMAIS, 2004).
Observa-se que Hiling (2006), define de modo geral a madeira plástica
como sendo um composto plástico que possui reforço de resíduos provenientes da
própria indústria madeireira, como por exemplo a serragem. A ideia é fielmente
complementada por Amaral (2009), que afirma que pode ser viável a utilização de
cerca de 40% de fibras vegetais, variando em diversos tipos como fibra de coco,
bagaço de cana, bambu, borra de café, sabugo de milho, sisal, cascas de arroz e
demais infinidades, o que confere ao produto o selo de ecologicamente correto, pois
não possui substâncias tóxicas encontradas na madeira tratada.
No panorama nacional, poucos dados bibliográficos são encontrados e
sua exatidão é incerta, contudo é evidente que a técnica não é muito difundida entre
as indústrias, fazendo que com a madeira natural ainda tenha maior saída no
comercio. No entanto, Trigueiro e Bocardi (2012) apresentam informações que
mostram o caminho de sucesso do produto no Brasil, ou seja, o novo material
permite evitar a derrubada de árvores.
Completamente diferente da situação brasileira, o panorama
internacional é extremamente contundente e favorável a utilização da madeira
plástica, sendo este um item que desempenha uma função importantíssima no
mercado de construção civil.
Perdigão (2010), em uma entrevista realizada com Jorge Comba,
empresário, resulta que a política sustentável no exterior se encontra avançada, de
modo que empresários chineses já estão indo rumo ao Japão desaterrar antigos
aterros sanitários, buscando a matéria prima necessária. Além da realização de
feiras de reciclagem que busca chamar a atenção de novos empreendedores.
Nos Estados Unidos, a madeira plástica existe há cerca de 20 anos
sendo a preferência dentre os consumidores. Não deixando a desejar em qualidade,
35% das varandas e pátios dos Estados Unidos são produzidos pelo compósito e
conquistou o mercado americano porque requer menos manutenção, resiste a mofo,
não apodrece e o desgaste com sol, maresia, umidade é menor (TRIGUEIRO;
BOCARDI, 2012).
Vale destacar que no cenário atual, em apenas uma fábrica brasileira,
foram produzidas cerca de 200 toneladas de madeira plástica em um mês, evitando
o corte de 180 mil árvores em seis anos de produção, o equivalente a 400 campos
de futebol cobertos de florestas. Diante disso, indaga-se: o Brasil precisa mesmo
desmatar para produzir madeira?

4 MATERIAIS E MÉTODOS PARA PRODUÇÃO DA MADEIRA PLÁSTICA

Nesta seção apresentam-se os materiais e métodos para produzir a


madeira plástica.

4.1 Matéria Prima

A produção da madeira plástica possui como principal ingrediente para


sua concepção, o plástico, que segundo a ABIPLAST (2016) tem seu nome
originário do grego “plastikos” que significa capaz de ser moldado, possui origem
natural ou sintética, e pode ser obtido através dos derivados de petróleo e/ou fontes
renováveis.
Os materiais são divididos em duas grandes categorias, os
termoplásticos e os termofixos, onde a principal diferença é que os termoplásticos
são aqueles que podem ser moldados várias vezes por ação de temperatura e
pressão, por isso são recicláveis, já os termofixos sofrem reações químicas em sua
moldagem as quais impedem uma nova fusão, portanto não são recicláveis. Sendo
assim os materiais utilizados na produção de Madeira Plásticas são os que possuem
características termoplásticas.
A identificação das resinas termoplásticas tornou-se muito mais
simples devido a um código universal. No rótulo do produto ou no próprio corpo da
peça existe impresso um número que representa a qual polímero reciclável pertence
o objeto. A Figura 1, ilustra as identificações de cada tipo de plástico.

Figura 1. Simbologia dos tipos de plásticos.

em que: PET (Poli Tereftalato de etileno), PEAD (Polietileno de Alta Densidade),


PVC (Poli Cloreto de Vinila), PEBD (Polietileno de Baixa Densidade), PP
(Polipropileno), PS (Poliestireno) e Outros plásticos diferentes dos anteriores.

4.2 Leis e Bases Legais no Brasil

O ato de reciclar mostra aos cidadãos que é possível preservar a


natureza de forma simples e concreta, começando pela atitude da coleta seletiva nas
próprias residências separando seus lixos, e adquirindo hábitos como não jogar os
despejos em vias públicas, cursos d'água, encostas e bueiros, diminuindo a poluição
ambiental e facilitando escoamento das águas das chuvas.
A justiça brasileira se fez presente ao elaborar a Lei 12305/10, de 2 de
agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos dispondo sobre
seus princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes.
Ao tratar sobre a reciclagem, podemos evidenciar o art. 3º, inciso XIV
que cita: “Reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve
a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à
transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os
padrões estabelecidos pelos órgãos competentes”.
Outro artigo importante a ser mencionado é o art. 6°, que destaca os
princípios dos incisos IV, VII e VIII, a respeito do desenvolvimento sustentável
levando em conta o ciclo de vida dos produtos, e reconhecendo o resíduo sólido
reutilizável e reciclável como um produto de grande valor social, gerador de trabalho
e renda e semeador de cidadania, respectivamente, podendo ser considerado
também como um bem econômico.
Dentre muitos, podemos concluir o apoio sustentável edificado pela
norma, através do art. 8º, que menciona alguns mecanismos que auxiliarão o
cumprimento desta, salientando os incisos III, IV, VI e VIII, apresentados a seguir:
 a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras
ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
 o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis
e recicláveis;
 a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado
para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos,
processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização,
tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada
de rejeitos;
 a educação ambiental.

Teoricamente a Lei 12305/10 causaria fantástico efeito no início de


uma nação sustentável, contudo o Jornal o Globo, vinculou a mídia nacional, a fala
da ministra do meio ambiente Izabella Teixeira, que se manifestou dizendo que o
país deixa de ganhar anualmente, cerca de R$ 8 bilhões, por não explorar todos os
itens recicláveis, mostrando que a responsabilidade começa dentro das próprias
residências ao separar o lixo consumido em categorias que facilitem o trabalho dos
catadores.
Infelizmente, o cenário em países mais desenvolvidos na “política
verde” não iguala a realidade brasileira, podendo citar como exemplo, a França e
Alemanha, onde não é o governo o encarregado pelo lixo, mas sim, os próprios
fabricantes de embalagens que viabilizam o destino dos detritos. O consumidor
desempenha papel muito eficaz na reciclagem do país, afinal quando o mesmo vai
comprar um produto novo, por exemplo, é necessário entregar o despejo para ser
reciclado, como por exemplo, na aquisição de uma nova bateria.

4.3 A Reciclagem no Brasil

A reciclagem tem como o intuito promover o retorno dos descartes ao


ciclo de produção, tornando-os matéria prima novamente, sendo essa de extrema
importância a diversos setores, como bem social, ambiental e econômico. O
processo de reciclagem gera empregos a sociedade, movimentando assim a
economia do país e poupando a natureza da extração inesgotável de recursos,
evitando a poluição do ar, da água e do solo, que ocorrem quando o lixo é
incinerado ou armazenado em aterros.
Diversos tipos de reciclagens são praticados no mundo, as mesmas
foram normatizadas pela Sociedade Americana de Ensaios de Matérias (ASTM), e
se dividem em quatro categorias e três processos para se reciclar. As categorias
são: Reciclagem primária, reciclagem secundária, reciclagem terciária e reciclagem
quaternária, que se encaixam nos três processos da seguinte forma:
 Processo Mecânico - Reciclagem primária e Reciclagem
secundária;
 Processo Químico - Reciclagem terciária;
 Processo Energético - Reciclagem quaternária.

No Brasil, a reciclagem mecânica é a mais difundida, portanto as


reciclagens primária e secundária, são praticamente as únicas praticadas em
território nacional. Nestas, o resíduo deve ser processado com o objetivo de possuir
um produto final semelhante ao polímero original, a categoria do polímero será o
diferencial do produto final. O conceito básico deste tipo de reciclagem resume-se
em análise da qualidade, tipo e rigidez dos plásticos.

4.4 Processo de Produção da Madeira Plástica

O processo de reciclagem mecânico, é semelhante ao processo que


deve ser realizado para produção da madeira plástica, que contem processos como:
Coleta e separação, Moagem e segunda lavagem, Extrusão, Resfriamento e
moldagem. A Figura 2 ilustra o fluxograma do processo de fabricação mais
tradicional adotado para obtenção da madeira plástica, e os principais processos são
especificados nos tópicos a seguir.

Figura 2. Fluxograma de etapas da produção de madeira plástica.

4.4.1 Coleta e Separação

A coleta é o primeiro passo a ser realizado na produção de madeira


plástica, onde é do lixo que se retira a matéria-prima utilizada, onde a princípio pode-
se utilizar qualquer tipo de plástico, contudo os mais utilizados são polietileno de
baixa densidade (PEBD) e polietileno de alta densidade (PEAD).
A separação é necessária devido ao fato de existir dois tipos de perfil
de madeira plástica, os perfis de cores claras que utilizam o plástico branco e os
perfis de cores escuras que utilizam o plástico colorido. A estrutura de coleta seletiva
é muito importante, pois realiza-se a seleção dos plásticos em meios aos resíduos
gerados na coleta e ainda ocorre a eliminação de possíveis itens contaminantes.
Tais procedimentos, são possíveis de realizar-se no próprio local da reciclagem, em
usinas de triagem ou em ponto de geração (AMARAL, 2009).

4.4.2 Moagem e Segunda Lavagem

O processo de moagem, vem afim de moer os plásticos e transformá-


los em grânulos, facilitando a homogeneidade na fundição. Já a segunda lavagem
se faz necessário, caso possua alguma impureza dentre os grãos, caso contrário, é
desprezível.

4.4.3 Extrusão

Reprocessar o plástico se define como a terceira etapa do processo,


onde os grânulos são levados a extrusora, que se trata de uma máquina
responsável pela fundição e homogeneização dos plásticos. É no processo de
fundição que geralmente adicionam-se os pigmentos e as cargas, que também
podem ser adicionados diretamente junto aos grânulos. O equipamento varia as
faixas de temperatura ao longo de seu trabalho, afinal a mesma se adéqua ao tipo
de plástico em processamento (OLIVEIRA et al., 2013).

4.4.4 Resfriamento e Moldagem

Após o processo realizado pela extrusora, o produto passa a ganhar


forma na etapa de resfriamento e moldagem. O material do processo de extrusão em
alta temperatura passa por um sistema que realiza sua refrigeração imediata
fazendo com que ela ganhe firmeza. Logo após, a linha de produção deve possuir
um “puxador”, para retirar a madeira do tanque de resfriamento, resultando na
madeira plástica. Posteriormente, de acordo com a necessidade da fábrica, a
madeira ganha a forma deseja e passa a compor as mais diversas aplicações
(AMARAL, 2009).

5 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES

Neste capítulo apresentam-se algumas aplicações da madeira plástica


e algumas considerações a respeito das vantagens e desvantagens.

5.1 Aplicações

A Figura 3 a seguir ilustra algumas aplicações da madeira plástica.

Figura 3. Exemplos de aplicações da madeira plástica.


Com um vasto campo de aplicação, a madeira plástica substitui a
madeira convencional em praticamente todas as utilidades com êxito, além de
agregar valores que infelizmente o produto natural não possui. A mesma é muito
utilizada na fabricação de móveis, como bancos de jardim e cadeiras, além de decks
para piscinas, piers, revestimentos internos e externos, mobiliários para uso interno
e externo, cercas, pilares, brinquedos infantis, pallets para logística industrial e
transporte de mercadorias, bancadas industriais, carrocerias, vasos, pergolados,
canzil de animais, guarda-corpos dentre outros (ECOWOOD, 2016).

5.2 Vantagens e Desvantagens

Dentre inúmeras vantagens da produção de madeira plástica, a mesma


possui inúmeros prestígios que podem mudar o panorama atual de sua aplicação,
bem como relata a empresa Rewood (2016) sobre os aspectos benéficos da
reciclagem ao meio ambiente, afinal, a cada 25m² de madeira plástica produzida,
cerca de 600 kg de plásticos são reciclados, evitando assim, a derrubada 1 árvore
de porte médio. O prejuízo ambiental ainda é maior quando MÁXIMO (2007) afirma
que as derrubadas de árvores são responsáveis por gerar cerca de 75% das
emissões de gás carbônicos no Brasil.
Ao contrário da madeira comum que é vulnerável a inúmeras situações
e climas, o compósito possui larga vantagem nestes quesitos, afinal, é
completamente resistente a pragas, fungos e cupins, principais causadores do
enfraquecimento da madeira. Muito conhecida também por poder ser exposta ao
meio ambiente sem nenhuma restrição a intempéries, como por exemplo, por ser
impermeável (OLIVEIRA et al., 2013).
O poder de customização do eco-compósito é outro atrativo, afinal
pode-se optar pela cor que estampará o produto, utilizando apenas pigmentos no
processo de extrusão, e sua textura, é muito semelhante a madeira comum, contudo
não solta farpas.
A versatilidade existente nesse material é equivalente as utilidades
básicas da madeira natural, bem como na possibilidade de utilizar equipamentos
usados na marcenaria e de reparos comuns como pregos e brocas, onde o produto
agrega valor ao não exibir fissuras em sua penetração, devido ser bem compacto e
não apresentar orientações de fibras como da madeira convencional (OHARA,
2011).
Em valores, quando comparada a madeira comum, a madeira plástica
apresenta ligeira desvantagem, no entanto, quando leva-se em conta os reparos
necessários ao produto natural, manutenção e durabilidade, em pouco tempo, a
madeira sustentável pode ultrapassar o capital investido.
Com relação a durabilidade, as madeiras disponíveis no mercado
possuem certificado de garantia pelo período de 10 anos, no entanto, estima-se que
a durabilidade passa dos 100 anos, enquanto a durabilidade do produto natural é
limitada. As vantagens continuam quando o assunto é limpeza, onde não são
necessários produtos químicos, mas apenas, água e sabão.
Os aspectos sociais e econômicos devem ser evidenciados por
também serem grandes favorecidos desta política verde, através de geração de
empregos, tanto na parte de coleta seletiva quanto na abertura de novas fábricas,
gerando assim, capacitação e oportunidades de emprego as pessoas, além disso,
com a remuneração salarial a economia passa a contar com uma população
economicamente ativa, gerando desenvolvimento ao país.
O meio ambiente é o maior favorecido de todos, contudo, os benefícios
que ele promove a sociedade é fantástico, afinal com a produção da madeira
plástica há a evidente diminuição de lixos sólidos tornando-os recicláveis, evita o
desmatamento de inúmeras árvores, o despejo em aterros sanitários que ocasionam
a contaminação do lençol freático, e através dessas atitudes é que problemas de
saúde passam a ser evitados, além disso, problemas trazidos pelo processo
urbanístico em grandes cidades, como a falta de espaço para a instalação de aterros
sanitários podem ser solucionados.
Infelizmente, o valor inicial do produto no mercado ainda é um fator que
desanima muitos investidores, por ser equivalente ao preço da madeira nobre,
podendo ser visto como uma desvantagem a expansão do produto pela sociedade,
no entanto, no trabalho de (OHARA, 2011) destaca-se que com o aumento da
produção, o investimento em incentivos fiscais através de projetos de leis, e o
aumento da coleta seletiva que é crucial, o valor de mercado tende a diminuir
tornando-se equivalente ao preço da madeira comum.
Em suma, apesar de alguns aspectos desfavoráveis à produção de
madeira plástica, observa-se que soluções viáveis foram apresentadas e os mesmos
tornam-se pouco perceptíveis quando comparados aos inúmeros coeficientes
profícuos ao desenvolvimento sustentável.

6 CONCLUSÕES

O presente artigo, possui como escopo ampliar a visão da sociedade


para assuntos sustentáveis através da revisão teórica, neste caso, em especial
sobre a madeira plástica, informando os impactos ambientais, bem como todo o
processo de produção e a discussão, visando agregar conhecimento sobre as
vantagens e desvantagens do produto, possibilitando assim, realizar uma avaliação
da melhor escolha a ser tomada, e ampliar os conceitos aprendidos na prática, em
trabalhos futuros através deste estudo.
Desta forma, pode-se destacar que este novo tipo de material é
muito importante para preservação do meio ambiente e uma solução para
reutilização de materiais descartados. Assim, a partir deste estudo teórico e
conceitual, fica claro e evidente que os novos eco-materiais como a madeira
plástica, são de fácil produção, com muitas vantagens para o meio ambiente, e uma
grande contribuição com a sociedade.

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