Dissertação António G. Fortes

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Universidade de Aveiro Departamento de Geociências

2016

António Gonçalves Estudo comparativo de gessos de Loulé, Óbidos e


Fortes Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos
Universidade de Aveiro Departamento de Geociências

2016

António Gonçalves Estudo comparativo de gessos de Loulé, Óbidos e


Fortes Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos


necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Geológica, realizado sob a
orientação científica do Doutor Fernando Joaquim Fernandes Tavares Rocha,
Professor Catedrático do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro.
Dedico este trabalho à memória do meu pai, Gonçalves António dos Santos Fortes
que valorizava muito a Escola e soube muito sabiamente transmitir-me o gosto pela
ciência, à minha mãe, que apesar da sua pouca escolaridade, foi capaz de imensos
sacrifícios para a formação dos filhos e às minhas filhas.
O júri

Presidente Prof. Doutor Jorge Manuel Pessoa Girão Medina


Professor Auxiliar do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro

Vogais Prof. Doutor Eduardo Jorge Marques de Oliveira Ferraz


Professor Adjunto Convidado, da Unidade Departamental de Arqueologia, Conservação e
Restauro e Património do Instituto Politécnico de Tomar

Prof. Doutor Fernando Joaquim Fernandes Tavares Rocha


Professor Catedrático do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro
A concretização desta Dissertação não seria possível sem o apoio e colaboração de
Agradecimentos
diversas pessoas e instituições, a quem gostaria de deixar meu reconhecimento e
agradecimento publicamente:
Em primeiro lugar ao meu orientador, Prof. Fernando Rocha, por me ajudar na
escolha do tema, pela disponibilidade demonstrada na resolução de alguns problemas
e nos ensinamentos dados ao longo de toda a dissertação;
Em seguida, agradecer ao corpo docente e técnico do Departamento de Geociências,
em especial ao diretor do Departamento, Prof. José Francisco Santos, ao diretor do
curso, Prof. Jorge Medina, aos Profs. José Velho, Luís Meneses, Beatriz Agudo e
Maria do Rosário Azevedo, as Engas Denise Terroso, e Cristiana Costa, pela amizade
demonstrada, pelo apoio na realização dos ensaios e auxílio em algumas questões
técnicas;
Agradeço a Universidade Pedagógica de Moçambique (UP-Nampula) pela confiança
depositada em mim ao me conceder a bolsa de estudos para realizar o Mestrado em
Portugal (Aveiro), numa parceria, UP-UA. Extensivos agradecimentos a UA, aos
Departamentos de Relações Internacionais e de Geociências pela forma sábia e
calorosa como nos acolheram nesses dois anos de formação.
Agradeço à CIMPOR Cimentos de Portugal a gentil cedência da amostragem
estudada.
Aos meus amigos e colegas de curso, pela amizade demonstrada ao longo destes
meses, pela ajuda e colaboração nos ensaios de laboratório e todos os momentos
bem passados ao longo da dissertação e da vida académica;
Um agradecimento muito especial para a minha esposa Vânia da Sandra Júlio pelo
encorajamento em vários momentos, por toda a amizade, amor e carinho
demonstrados.
Por último, mas não em último, o maior dos agradecimentos, a minha mãe, Delfina
António e as minhas irmãs, Edite Maria Gonçalves Fortes, Luísa Gonçalves Fortes e
Dagmar Gonçalves Fortes, pelos ensinamentos de vida, apoio incondicional em todas
as horas, a amizade fiel que só elas souberam demonstrar e o carinho dado nas horas
mais difíceis.
Agradeço a todos que de alguma maneira contribuíram para esse trabalho.
Palavras-chaves: Gipsito; Gesso; Estudo comparativo; Cimento; Argamassa; Dermocosmético.

Resumo A presente dissertação tem como principal objetivo a realização de um estudo


comparativo a partir dos gessos de Loulé, de Óbidos e de Soure, através da
caracterização química, mineralógica, física e tecnológica, com vista a definir melhor
enquadramento do seu uso em argamassa, cimento e dermocosméticos.
O gesso é produto resultante da calcinação do gipsito, uma rocha sedimentar rica no
mineral gipsite (CaSO4·2H2O). Trata-se de um material barato e com alto
desempenho, o que justifica as múltiplas aplicações, na construção civil, medicina e
na agricultura, entre outras áreas.
O gipsito de Portugal ocorre em afloramentos das bordaduras do Maçico Antigo ou em
áreas de anticlinais diapíricos em depósitos de pequenas dimensões. Os maiores
depósitos apresentam gipsito pardo (escuro) mas existem algumas quantidades de
gipsito branco, o que condiciona a sua aplicação.
Para a comparação, fizeram-se diversas análises e ensaios, nomeadamente,
granulométricos (Crivagem via húmida), físicos (abrasividade, limite de consistência e
tempos de arrefecimento), químicos e mineralógicos (Fluorescência de Raios X,
Difração de Raios X) e tecnológicos (superfície específica pelo método BET,
plasticidade, análise por texturómetro e absorção de óleo de linhaça). Todos os
ensaios foram realizados de acordo com os procedimentos vigentes no Departamento
de Geociências, no Departamento de Materiais da Universidade de Aveiro e na
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.
O software SPSS Statistic 24 foi usado para correlacionar os dados experimentais.
De acordo com os resultados obtidos, concluiu-se que o gesso de Óbidos apresenta
maior pureza, enquanto que os gessos de Loulé e Soure apresentam Quartzo como
maior impureza o que limita/condiciona o seu uso direto para certas aplicações, como
em dermocosméticos. Todos os gessos estudados podem ser usados em argamassa
e cimento. A absorção de óleo de linhaça e a análise por texturómetro revelaram
resultados mais promissores para novas aplicações dos gessos de Portugal.
Keys-word: Gypsum; Plaster; Comparative study; Cement; Mortar; Dermocosmetic.

Abstract The present dissertation aims the accomplishment of a comparative study of the
plaster cast from Loulé, Obidos and Soure, through chemical, mineralogical, physical
and technological characterization in orde to definy and clarify its framework when
applied in mortar, cement and dermocosmetics.
The plaster cast results from the calcination of gypsium, a sedimentary rock rich in
mineral gypsum (CaSO4·2H2O). It is a low-cost material with a high performance,
which justifies its multiple applications in constructions, medicine, agriculture just to
mention a few but in other areas.
The gypsium of Portugal occurs in ancient massif embroidering outcrops or in diapir
anticlines in reduced dimension in repository or alluvium. The biggest alluviums have
dark gypsium but there is also a few quantity of white gypsum, which aids and
constrains its application.
To accomplish the comparison were made many analyses and trials such as
granulemetrics (in humid screening), physics (abrasity, consistency limit and cooling
times), chemical and mineralogical (x-ray fluorescence and diffraction) and
technological (specific surface through BET method, plasticity, textural analyses and
linseed oil absorption). All the trial were carried out according to the active criterion of
Departmento de Geociências, at Departamento de Materiais in Universidade de Aveiro
and Faculdade de Farmácia in Universidade do Porto.
The SPSS Statistic 24 software was used to correlate the prior results.
According to the achieved results it is concluded that the plaster from Óbidos contains
a high purity whilst the ones from Loule and Soure consist of Quartz with higher level
of impurity which tends to limit their direct usage in certain applications as in
dermocosmetics. By the way every kind of plaster that was set in this research can be
used in cement and mortar. Both linseed oil absorption and textural analyses reveal
promising results for new plaster cast application in Portugal.
Índice

ÍNDICE

ÍNDICE................................................................................................................................................................... xv
Índice de Figuras.............................................................................................................................................. xvii
Índice de Tabelas .............................................................................................................................................. xix
Índice de Fórmulas............................................................................................................................................ xxi
Simbologia ...................................................................................................................................................... xxiii
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ...................................................................................................................... 1
1.1. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA ....................................................................................... 1
1.2. NATUREZA E ÂMBITO DO TRABALHO .............................................................................................. 3
1.3. OBJETIVOS.......................................................................................................................................... 3
1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................................................. 4
2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E GEOLÓGICO .................................................................................. 5
2.1. ENQUADRAMENTO GERAL DE LOULÉ ............................................................................................. 5
2.1.1. Localização da Geográfica............................................................................................................... 5
2.1.2. Enquadramento Geológico Regional ............................................................................................... 6
2.1.3. Enquadramento geológico local ....................................................................................................... 8
2.1.4. Geomorfologia ................................................................................................................................. 9
2.2. ENQUADRAMENTO GERAL DE OBIDOS ........................................................................................ 12
2.2.1. Localização da Geográfica............................................................................................................. 12
2.2.2. Enquadramento Geológico Regional ............................................................................................. 12
2.2.3. Contexto Geológico Local .............................................................................................................. 16
2.2.4. Geomorfologia ............................................................................................................................... 16
2.2.5. Tectónica ....................................................................................................................................... 19
2.3. ENQUADRAMENTO GERAL DE SOURE .......................................................................................... 20
2.3.1. Localização da Geográfica do depósito de Soure.......................................................................... 20
2.3.2. Enquadramento Geológico Regional ............................................................................................. 21
2.3.3. Contexto Geológico Local .............................................................................................................. 23
2.3.4. Geomorfologia ............................................................................................................................... 26
3. CONCEITOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS ............................................................................................ 29
3.1. GIPSITO: A MATÉRIA-PRIMA ........................................................................................................... 29
3.1.1. Mineralogia ......................................................................................................................................... 30
3.1.2. Lavra de gipsito.............................................................................................................................. 32
3.1.2.1. Microestrutura: .......................................................................................................................... 33
3.1.3. Características da rocha gipsito para produção do gesso ............................................................. 34
3.1.4. Processo de produção indústrial do gesso .................................................................................... 35
3.1.5. Calcinação – a desidratação do gipsito ......................................................................................... 36
3.1.6. Depósitos de gipsito no mundo e em Portugal .............................................................................. 38
3.1.7. Características dos gipsitos em Portugal ....................................................................................... 42
3.2. GESSO ............................................................................................................................................... 44
3.2.1. Propriedades químicas e físicas do Gesso .................................................................................... 45
3.2.1.1. Resistência mecânica ............................................................................................................... 45
3.2.1.2. Pega e endurecimento .............................................................................................................. 46
3.2.1.3. Trabalhabilidade ........................................................................................................................ 47
3.2.1.4. Isolamento térmico e resistência ao fogo .................................................................................. 48
3.2.1.5. Porosidade ................................................................................................................................ 49
3.2.1.6. Isolamento acústico................................................................................................................... 50
3.2.1.7. Absorção de água ..................................................................................................................... 50
3.3. USO E APLICAÇÃO DO GESSO ....................................................................................................... 51
3.3.1. Na construção civil ............................................................................................................................. 51
3.3.1.1. Cimento ..................................................................................................................................... 51
3.3.1.2. Argamassa ................................................................................................................................ 52

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xv
Índice

3.3.1.3. Pré-moldados ............................................................................................................................ 52


3.3.1.4. Indústria cerâmica e vidro ......................................................................................................... 53
3.3.1.5. Desvantagens do gesso na construção civil ............................................................................. 53
3.3.2. Na Medicina ................................................................................................................................... 54
3.3.2.1. Dermocosméticos...................................................................................................................... 54
3.3.3. Outras Aplicações do Gesso.......................................................................................................... 56
4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................................... 59
4.1. PREPARAÇÃO DA AMOSTRA .......................................................................................................... 59
4.1.1. Separação granulométrica por peneiro via húmida........................................................................ 61
4.2. ANÁLISES FÍSICAS ........................................................................................................................... 63
4.2.1. Determinação da abrasividade de Einlehner e índice de abrasão ................................................. 63
4.2.2. Determinação do limite de consistência (ou limite de Atterberg) ................................................... 64
4.2.3. Tempo de Arrefecimento................................................................................................................ 67
4.3. ANÁLISES QUÍMICAS E MINERALÓGICAS ..................................................................................... 68
4.3.1. Análise química por espetrometria de fluorescência de raio – X (FRX) ......................................... 68
4.3.2. Análise mineralógica por difração de raios – X (DRX) ................................................................... 70
4.4. ENSAIO TECNOLÓGICO ................................................................................................................... 73
4.4.1. Determinação da superfície especifica pelo método BET.............................................................. 73
4.4.2. Análise texturométrica.................................................................................................................... 75
4.4.3. Determinação da absorção de óleo de linhaça .............................................................................. 76
4.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA..................................................................................................................... 77
4.6. RESUMO DO CAPÍTULO ................................................................................................................... 78
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................................................. 79
5.1. PROPRIEDADES FÍSICAS DAS AMOSTRAS ................................................................................... 79
5.2. SEPARAÇÃO GRANULOMÉTRICA ................................................................................................... 80
5.3. ANÁLISES FÍSICAS ........................................................................................................................... 81
5.3.1. Abrasão e índice de abrasividade .................................................................................................. 81
5.3.2. Índice de consistência .................................................................................................................... 82
5.3.3. Tempo de arrefecimento ................................................................................................................ 84
5.4. ANÁLISE QUÍMICA E MINERALÓGICA ............................................................................................ 86
5.4.1. Análise química por fluorescência dos raios – X............................................................................ 86
5.4.2. Análise mineralógica por difração de raios – X .............................................................................. 91
5.5. ENSAIOS TECNOLÓGICOS .............................................................................................................. 94
5.5.1. Superfície específica pelo método BET ......................................................................................... 94
5.5.2. Absorção de óleo ........................................................................................................................... 95
5.5.3. Análise texturométrica.................................................................................................................... 96
5.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA UNIVARIADA .............................................................................................. 99
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................................................... 105
6.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 105
6.2. CONCLUSÕES ................................................................................................................................. 106
6.3. RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .......................................... 107
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 109
7.1. NORMAS UTILIZADAS .................................................................................................................... 114
7.2. PAGINAS DA INTERNET CONSULTADAS ..................................................................................... 115

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure, para cimento, argamassa e dermocosméticos. xvi
Índice de Figuras

Índice de Figuras

Figura 2. 1. Localização do local de coleta de amostras de gesso de Loulé (imagem de satélite obtida através do
Google Earth) .......................................................................................................................................................... 5
Figura 2. 2. Mapa geológico da região do Algarve. 1-Holocénico; 2-Plistocénico; 3-Pliocénico; 4-Miocénico; 5-
Paleogénico; 6-Cretácico; 7-Jurássico; 8-Jurássico inferior-Triásico superior; 9-Maciço intrusivo de Monchique;
10-Vestefaliano; 11-Namuriano; 12-Viseano; 13-Tournaisiano; 14-Fameniano; 15-filões; 16-falha; 17-Loulé
(adaptado da Carta Geológica de Portugal à escala 1:500 000) ............................................................................. 8
Figura 2. 3. Corte geológico do diápiro de Loulé. Onde: Qa - Plistocénico; J4 e J4 - Kimeridgiano; J3-4 –
Oxfordiano – Kimeridgiano; Jc - Caloviano; Jab - Jurássico inferior – Triásico superior (adaptado da Carta
Geológica de Portugal à escala 1:500 000) ............................................................................................................. 9
Figura 2. 4. Depósitos sedimentares na plataforma continental algarvia (Dias et al. 1980). ................................. 10
Figura 2. 5. Localização das três subdivisões geomorfológicas do Algarve (Adaptado por: Gonçalves 2009). .... 10
Figura 2. 6. Localização do local de coleta de amostras de Óbidos (imagem de satélite obtida através do Google
Earth). .................................................................................................................................................................... 12
Figura 2. 7. Geologia simplificada da Bacia Lusitânica (informação geológica à escala 1:500 000 adaptada do
Atlas do Ambiente, por Lopes 2014)...................................................................................................................... 13
Figura 2. 8. Unidades geomorfológicas identificadas no concelho de Óbidos. Onde a – bordos do val tifónico; b –
relevos do interior do vale tifónico; c- superfície aplanada de Olho Marinho; d – superfiie envolvente degradada
do Bom Sucesso; e – complexo dunar Gronho-Prais d´El Rei; f – Lagoa de Óbidos; g – terraços fluviais
artificializados dos rios Real e Arnóia; h – depressão palustre do Vau (Poça do Vau); i – depósitos de praia e
arribas litorais (Azerêdo et al. 2006). ..................................................................................................................... 17
Figura 2. 9. Modelos explicativos da evolução dos vales tifónicos da Orla Ocidental. Esquema fora de escala,
muito sobreelevados. As altitudes representadas na escala vertical referem-se ao nível de base contemporâneo
da fase evolutiva correspondente. 1 – areias azoicas com pequenos calhaus rolados (Pliocénico terminal, -2/-1,6
Ma?); 2 – sedimentos argilo-arenosos, lignitosos e diatomiticos (Pliocénico superior -3/-2,5 Ma?); 3 – areias
marinhas fossilíferas (Pliocénico superior -3,5/-2,7 Ma?); 4 – formações mesozoicas encaixantes, consistindo
predominantemente em calcários jurássicos; 5 – margas gipsíferas e salíferas dos núcleos diapíricos (Liásico
inferior); 6 – falha de bordo do diápiro com sentido da componente de movimentação segundo a inclinação
indicada pelas setas (Cabral, 1995 citado por Lopes 2014). ................................................................................. 19
Figura 2. 10. Localização do local de coleta de amostras de Soure (imagem de satélite obtida através do Google
Earth). .................................................................................................................................................................... 20
Figura 2. 11. Mapa geológico do depósito de gesso de S. José do Pinheiro (Velho e Campos 2006:1074)......... 24

Figura 3. 1. Cristais de gipsite e a relação entre os eixos num sistema monoclínico. Fonte: (Trovão 2012) ........ 30
Figura 3. 2. Frente de lavra de gesso de Soure. Fonte (Centro de Produção de Loulé 2010). ............................. 32
Figura 3. 3. Microestrutura ou célula cristalina de gipsite. Fonte: Canut (2006: 30) .............................................. 33
Figura 3. 4. Atividades de preparação da matéria-prima para ser submetidas ao processo de calcinação.
Adaptado de Pinheiro (2011: 21). .......................................................................................................................... 35
Figura 3. 5. Curva termogravimétrica do gipsito. Adaptado do Velho (2005: 228). ............................................... 36
Figura 3. 6. Hidratação e desidratação no sistema CaO – SO4 – H2O (Fonte: Pinheiro 2011). ........................... 37
Figura 3. 7. Países produtores de gipsito A produção de 2013 foi de 160 000 000 t (Fonte: DNPM/DIPLAM/AMB;
USGS: Mineral Commodity Summaries – 2014, adaptado de Filho et al. 2014). .................................................. 40
Figura 3. 8. Localização dos principais depósitos de gipsito em Portugal (Adaptado de Moura e Velho 2011). ... 41

Figura 4. 1. Aspeto físico das amostras de gesso estudadas, sendo a) Gesso de Soure, b) Gesso de Loulé e c)
Gesso de Óbidos. .................................................................................................................................................. 60

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xvii
Índice de Figuras

Figura 4. 2. Fluxograma dos ensaios realizados. .................................................................................................. 61


Figura 4. 3. Distribuição dos materiais usados na separação granulométrica por via húmida. Parte da amostra no
agitador mecânico e outra parte num recipiente com um funil e peneiros de malha 63 µm.................................. 62
Figura 4. 4. Abrasivímetro Einheler AT – 1000 (à esquerda) e a malha desgastada (à direita). ........................... 64
Figura 4. 5. Cone penetrómetro utilizado nos ensaios elaborados, no âmbito da presente dissertação. .............. 65
Figura 4. 6. Rolinhos depois de secos. .................................................................................................................. 66
Figura 4. 7. Arranjo experimental usado para medir o tempo de arrefecimento. ................................................... 68
Figura 4. 8. Esquema de um espetrómetro de raios X. Fonte:
http://www.quimicandovzp.com.br/2013/04/espectrometria-de-fluorescencia-de.html, acesso 25/03/2016 .......... 69
Figura 4. 9. Representação esquemática da excitação e emissão de energia num átomo. Fonte:
http://www.quimicandovzp.com.br/2013/04/espectrometria-de-fluorescencia-de.html, acesso 25/03/2016 .......... 69
Figura 4. 10. Aparelho usado no ensaio da fluorescência de Raios X .................................................................. 70
Figura 4. 11. Derivação da lei de Bragg. Onde: θ é o ângulo da radiação incidente com o plano de átomos em
análise, d é a distância entre planos e ABC o percurso extra que a radiação difratada pelo átomo B tem de
percorrer (Silva 2014). ........................................................................................................................................... 72
Figura 4. 12. Aparelho usado no ensaio de difração dos Raios X. ........................................................................ 72
Figura 4. 13. Representação gráfica da equação de Lungmuir do método de BET. ............................................. 74
Figura 4. 14. Aparelhos usados no ensaio de Superfície específica pelo método BET. a) Unidade de tratamento
(gaseificação). b) Unidade de análise. ................................................................................................................... 74
Figura 4. 15. Texturómetro semelhante ao utilizado na análise texturométrica. Fonte:
www.stablemicrosystems.com acesso no dia 11/05/2016. .................................................................................... 76
Figura 4. 16. Arranjo experimental usado na determinação de absorção de óleo de linhaça no gesso. ............... 77

Figura 5. 1. Rendimentos granulométricos das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure............................. 80


Figura 5. 2. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Loulé (GL). 82
Figura 5. 3. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Óbidos. ..... 83
Figura 5. 4. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Soure (GS).
............................................................................................................................................................................... 83
Figura 5. 5. Tempo de arrefecimento dos gessos de Loulé (GL), Óbidos (GO) e Soure (GS). ............................. 85
Figura 5. 6. Difratograma de raio – X da fração < 63 μm da amostra do gesso de Loulé...................................... 91
Figura 5. 7. Difratograma de raio – X da fração total da amostra do gesso de Loulé. ........................................... 91
Figura 5. 8. Difratograma de raio – X da fração < 63 μm da amostra do gesso de Óbidos. .................................. 92
Figura 5. 9. Difratograma de raio – X da fração total da amostra do gesso de Óbidos. ........................................ 92
Figura 5. 10. Difratograma de raio – X da fração < 63 μm da amostra do gesso de Soure. .................................. 93
Figura 5. 11. Difratograma de raio – X da fração total da amostra do gesso de Soure. ........................................ 93
Figura 5. 12. Resultados de absorção de óleo de linhaça. .................................................................................... 96
Figura 5. 13. Variação da adesividade (N.mm) das três amostras de gessos em estudo em função do tempo. .. 97
Figura 5. 14. Variação da Firmeza (N) do gesso de Óbidos – GO em função do tempo de armazenamento. ...... 98
Figura 5. 15. Variação da Firmeza dos gessos de Loulé - GL e de Soure – GS em função do tempo de
armazenamento. .................................................................................................................................................... 98

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xviii
Índice de Tabelas

Índice de Tabelas

Tabela 2. 1. Composição mineralógica média (Velho e Campos 2006:1072) ....................................................... 25

Tabela 3. 1. Composição química e propriedades físicas do gipsito. Adaptado de (Costa 2013: 21). .................. 31
Tabela 3. 2. Influência das impurezas presentes no minério de gipsito nas propriedades do gesso. Fonte:
Pinheiro 2011: 20. .................................................................................................................................................. 34
Tabela 3. 3. Depósitos de sal gema e gesso de Portugal. Adaptado do LNEG (2016: 50). .................................. 42
Tabela 3. 4. Especificações típicas de grau de qualidade de gesso pela British Gypsum Lda (Velho 2005: 232). 53

Tabela 4. 1. Nomeação das amostras. .................................................................................................................. 59


Tabela 4. 2. Quadro resumo dos métodos usados e seus objetivos. .................................................................... 78

Tabela 5. 1. Propriedades físicas e mecânicas das amostras de gesso usadas na presente pesquisa................ 79
Tabela 5. 2. Valor da abrasividade e índice de abrasão das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure. ....... 81
Tabela 5. 3. Limite de plasticidade obtida por fall cone test, limite e índice de plasticidade. Onde: a) O gesso de
Óbidos não apresenta plasticidade suficiente para fazer os rolinhos; ANP amostra não plástica. ........................ 84
Tabela 5. 4. Composição química dos elementos maioritários das frações < 63 µm e total obtidas por FRX
(dados em %). Onde; LOI é a perda de massa ao rubro; * Quantidades abaixo do limite mínimo de deteção do
elemento. ............................................................................................................................................................... 87
Tabela 5. 5. Composição química de elementos minoritários nas frações < 63 µm e total obtidas por FRX. Onde:
* Quantidades abaixo do limite mínimo para o elemento....................................................................................... 89
Tabela 5. 6. Especificações exigidas no gesso para uso em argamassa. Adaptado de Harben (2002: 158). ...... 89
Tabela 5. 7. Especificações típicas exigidas para o gesso utilizado para fins farmacêuticos. Adaptado de Harben
(2002: 158). ........................................................................................................................................................... 90
Tabela 5. 8. Resultados de área superficial e porosidade das amostras de gesso ............................................... 94
Tabela 5. 9. Variação da adesividade e firmeza dos três gessos em estudo em função do tempo. ..................... 97
Tabela 5. 10. Correlações entre os parâmetros físico-químicos estudados. A parte vermelha simboliza a
correlação entre parâmetros químicos e a verde, parâmetros físicos e tecnológicos. Onde: *. A correlação é
significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral). ............................. 101
Tabela 5. 11. Correlações entre a média da composição química da fração total. Onde: *. A correlação é
significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral). ............................. 102

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xix
Índice de Fórmulas

Índice de Fórmulas

Equação 3. 1. Transformação reversível de gipsite em anidrite na presença da água. ........................................ 30


Equação 3. 2. Conversão de sulfato de cálcio hidratado em semi-hidratado. ....................................................... 49
Equação 3. 3. Conversão de sulfato de cálcio semi-hidratado em desidratado. ................................................... 49
Equação 3. 4. Volume de absorção de água. Onde k é o coeficiente de absorção do molde. .............................. 50

Equação 4. 1. Rendimento granulométrico das amostras em percentagem. Onde: pf e pi são os pesos da fração
granulométrica e amostra inicial, respetivamente, seca em gramas (g). ............................................................... 62
Equação 4. 2. Abrasividade de uma amostra. Onde A é a abrasividade (em gramas), e Pi e Pf são os pesos
inicial e final da rede (em gramas), respetivamente. ............................................................................................. 63
Equação 4. 3. Índice de abrasividade (IA). Onde: SA é a superfície de abrasão e igual a 305x10-6 mm2............. 63
Equação 4. 4. Índice de plasticidade (IP). Onde LL e LP são os limites de liquidez e de plasticidade,
respetivamente. ..................................................................................................................................................... 66
Equação 4. 5. Humidade. Onde Pw e Ps são os pesos das amostras húmida e seca, respetivamente. .............. 67
Equação 4. 6. Equação matemática da lei de Bragg. Onde: n – é um nº inteiro, representando os harmónicos de
λ; λ - é o comprimento de onda da radiação incidente; d – é a distância reticular entre os planos sucessivos do
cristal, e; θ - é o ângulo de Bragg ou ângulo ou ângulo de incidência dos raios X com o plano reticular.............. 71
Equação 4. 7. Equação de Langmuir. Onde v é o volume total de gás adsorvido; vm é o volume de gás adsorvido
quando a superfície do sólido está completamente coberta por uma monocamada; c é a constante de BET; p é a
pressão medida no estado de equilíbrio; p0 é a pressão inicial do sistema. .......................................................... 73
Equação 4. 8. Absorção de óleo. Onde V é o volume de óleo necessário, em ml e m é a massa da amostra de
gesso, em g. .......................................................................................................................................................... 77

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xxi
Simbologia

Simbologia

% - Porcentos.
</> – Menor que/maior que.
± - Maios ou menos.
A.C. – Antes de Cristo.
ANCCT - Agencia Nacional para Cultura Científica e Tecnológica
ANP – Amostra não plástica.
AOL – Absorção de óleo de linhaça.
ASTM – American Standards for Testing Materials.
ATD – Análise térmica diferencial.
BET - Brunauer, Emmett e Teller.
CIMPOR – Cimentos de Portugal.
cm – Centímetro.
DRX – Difração de Raios X.
EUA – Estados Unidos da América.
FRX – Fluorescência de Raios X.
G.L./G.O./G.S. – Gesso de Loulé/Gesso de Soure/Gesso de Soure.
g/l – Gramas por litros.
IBM – International Business Machines
IP – Índice de plasticidade.
ISO – International organization for standardization.
Kg/T – quilogramas por tonelada.
Km/km2 – Quilometro/quilómetros quadrados.
LL – Limite de liquidez.
LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
LP – Limite de plasticidade.
m/m2 – Metros/metros quadrados.
MA – Milhões de ano.
mm – milímetro.
N, S, E, W – Norte, Sul, Este e Oeste (do inglês).
NP – Norma Portuguesa.
ºC/m - Graus celsius por minuto
pH – potencial de hidrogénio.
S. – São
S.A. – Sociedade anónima.
SE – Superfície especifica.
SPSS – Statistical Package for Social Sciences.
TA – Tempo de arrefecimento.
TPA – Texture profile analysis.
ZSP – Zona sul portuguesa.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xxiii
Capítulo 1 – Introdução e objetivos

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

Neste capítulo procede-se à apresentação do trabalho, focando-se a justificativa da escolha do


tema e a relevância da sua investigação, os objetivos do trabalho, a natureza e âmbito do trabalho e
por último a estrutura do mesmo.

1.1. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

A escolha do tema deve se ao facto da rocha sedimentar gipsito ocorrer tanto em Moçambique
como em Portugal, com maiores explorações associadas a indústria de cimento e a empresa CIMPOR
estar presente nesses dois países. Apesar do estudo não contemplar gessos de Moçambique, poderá
deixar um desafio para posteriores estudos envolvendo estes em comparação com os resultados da
presente pesquisa que permitirão obter mais informações sobre os processos de formação das bacias
sedimentares gipsíferas, composição mineralógica, propriedades químicas, físicas e reológicas dos
gessos, assim como futuras novas aplicações.

O gipsito tem revelado ser, ao longo de séculos, uma substância cujas propriedades lhe permitem
um vasto leque de utilizações pelo Homem, para além da abundante distribuição na crosta Terrestre, é
fácil de extrair e trabalhar, o que associado ao baixo custo faz com que o gipsito seja uma matéria-
prima bastante utilizada (Campos 2002).

A aplicação do gipsito baseia-se no principio da perda e ganha do teor de água, isto é, durante o
processo de calcinação, o gipsito perde ¾ da sua água de cristalização, formando-se um sulfato de
cálcio semi-hidratado ou “plaster de Paris” (CaSO4.1/2H2O). Após a mistura com água, este composto
pode ser moldado e trabalhado antes de endurecer e adquirir a consistência mecânica característica
estável no estado hidratado (Velho 2005).

Estudos envolvendo gipsitos naturais têm grande importância tanto do ponto de vista técnico como
socio – económico em especial para a indústria de construção civil. Entretanto, no âmbito ambiental
também há uma atenção especial para a questão do aproveitamento dos resíduos gerados pelas
pedreiras e pela reciclagem de resíduos gerados no processo produtivo.

O gesso é um material que apresenta propriedades muito atrativas para a produção de materiais
de construção, tais como: endurecimento rápido, propriedades mecânicas compatíveis com os esforços
atuantes, boa aderência aos substratos, ausência de retração por secagem e excelente acabamento

António Gonçalves Fortes 1


Capítulo 1. Introdução e Objetivos

superficial. Adicionalmente, do ponto de vista ambiental, a calcinação e a desidratação do gipsito


ocorrem a baixas temperaturas, libertando vapor de água para a atmosfera, ao contrário do que
acontece com outros materiais utilizados na construção civil, que libertam enormes quantidade de
dióxido de carbono que são prejudiciais ao meio ambiente. Todavia, a sua utilização é limitada ao uso
interior devido a sua sensibilidade à humidade.

No atual panorama nacional há uma atenção especial, que segundo Velho e Campos (2006: 1074)
“a pesquisa por eventuais zonas de gesso de boa qualidade (gesso branco) é um imperativo nacional
com o objetivo de se reduzir as importações provenientes de Marrocos e de Espanha”. Ainda Barata et
al. (2011: 43) acrescentam que “em Portugal, o gesso branco e de boa qualidade é escasso, sendo
atualmente necessário importa-lo, sobretudo de Espanha”. A partir desses autores, podemos destacar
a relevância de pesquisas de gessos nacionais naturais, como forma de contribuir no seu
conhecimento, realização de estudos de tratamento e/ou beneficiamento com vista a melhorar as
qualidades e consequentemente, reduzir a importação dos países vizinhos.

Em Portugal o gipsito teve origem evaporítica e encontra-se principalmente nas bacias Lusitânica
e do Algarve, sob forma de cristais hialinos, no seio de margas e argilas cinzentas (Loulé e Soure) ou
em massas brancas fibrosas, de aparência sedosa a granular, de aspeto sacaroide (Óbidos). A
empresa CIMPOR – Indústria de Cimento S.A. centra a sua atividade na produção e comercialização
de cimento e cal hidráulica. O fabrico de cimento absorve a maior parte da produção nacional de gipsito
que desde 2000, ronda as 550 000 toneladas anuais distribuídas em quatro centros: Soure, Óbidos,
Souto de Carpalhosa e Loulé (Velho e Campos 2006).

O fornecimento do gesso à indústria do cimento está sujeito a especificações técnicas que incluem
a granulometria do produto, o seu teor de humidade e, em particular, o seu teor em SO3 (maior
possível). Em relação a indústria de dermocosméticos, as especificações requeridas são ainda mais
restritas, caso da pureza (CaSO4.2H2O) > 95%, baixos teores de sais de magnésio solúveis em água
(MgO) < 0,10 % e cloro solúveis em água (Na2O) < 0,06 %, bem como humidade < 10%). Estudos
prévios indicam que o gesso Português apresenta fraca qualidade para desmocosméticos, por isso é
mais aplicado na construção civil (Pacheco e Matias 2010; Velho 2005).

A partir dos dados acima expostos, para a presente pesquisa, partiremos da questão: quais as
características e propriedades dos gessos em estudo (Loulé, Óbidos e Soure) que melhor se adequam
na fabricação do cimento, na argamassa e em produtos dermocosméticos?

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 2
Capítulo 1. Introdução e Objetivos

1.2. NATUREZA E ÂMBITO DO TRABALHO

O presente trabalho com o tema “Estudo comparativo de gessos de Loulé, Óbidos e Soure para
cimento, argamassa e dermocosméticos”, foi elaborado no âmbito da unidade curricular
Dissertação/Projeto/Estágio, do 2° ano do Mestrado em Engenharia Geológica, no percurso Recursos
Geológicos, lecionado no Departamento de Geociências na Universidade de Aveiro.
Para a sua efetivação, fez-se a leitura bibliográfica de zonas potenciais de ocorrência de gipsito
em Portugal, definiu-se os locais de amostragem (Loulé, Óbidos e Soure) e realizou-se estudos de
caracterização física, química, mineralógicas e tecnológica dos gessos, recorrendo a varias técnicas de
laboratório a fim de definir seu enquadramento (no cimento, na argamassa e no dermocosméticos),
como algumas vantagens/desvantagens dos mesmos.
Os trabalhos práticos foram realizados nos Laboratórios de Materiais e de Raios X do
Departamento de Geociências, no Laboratório do Departamento de Engenharia de Materiais e
Cerâmica da Universidade de Aveiro, e no Laboratório da Faculdade de Farmácia na Universidade do
Porto, e esteve sob orientação científica do Prof. Dr. Fernando Joaquim Fernandes Tavares Rocha.

1.3. OBJETIVOS

O trabalho tem como objetivo principal de realizar um estudo comparativo de três gessos
nacionais extraídos nas bacias evaporíticas de Loulé, Óbidos e Soure, a partir da caracterização
(química, mineralógica, física e tecnológica) com vista a trazer uma contribuição ao conhecimento das
potencialidades dos gessos nacionais, para definir seu melhor enquadramento no uso na argamassa,
no cimento e nos cosméticos.

Em função dos objetivos, o trabalho resume-se nas seguintes etapas:


 Elaboração dum estudo e análise bibliográfica de áreas com potencialidades de ocorrência de
gesso em Portugal e enquadramento geológico das mesmas.
 Tratamento das amostras de gesso das pedreiras de Loulé, Óbidos e Soure.
 Realização de estudos de caracterização química e mineralógica (FRX, DRX), análises físicas
(Abrasividade, Plasticidade fall cone test e Tempo de arrefecimento) e ensaios tecnológicos
(BET, Absorção de óleo e Análise por texturómetro) dos três tipos de gesso.
 Descrição das principais aplicações do gesso relacionadas com as suas características
mineralógicas e propriedades químicas e físicas.
 Comparação dos resultados e a partir destes, avaliar o melhor enquadramento dos gessos na
argamassa, no cimento e nos cosméticos.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 3
Capítulo 1. Introdução e Objetivos

1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho encontra-se dividido em seis (6) capítulos.

O capítulo 1, Introdução e objetivos, aborda o tema a ser analisado por meio da justificativa da
escolha do tema e relevância da sua investigação, apresentam-se os objetivos pretendidos, a natureza
e âmbito do trabalho e a organização do mesmo.

O capítulo 2, Enquadramento geográfico e geológico, faz uma descrição dos locais de


amostragem do gesso em estudo nesta pesquisa. Nele estarão incluídos a localização geográfica,
enquadramento geológico regional e local, e a geomorfologia como forma de “trazer” a história
geológica das bacias, facto que ajudará na diferenciação dos tipos de gesso que afloram nas regiões.

O capítulo 3, Conceitos e fundamentos teóricos, faz uma revisão bibliográfica sobre a rocha
gipsito e o gesso, enfatizando as suas características mineralógicas, as propriedades, as aplicações,
como a obtenção e reservas no mundo e especialmente, em Portugal.

No capítulo 4, Materiais e métodos, são apresentadas e descritas a metodologia e os


procedimentos experimentais utilizados para a caracterização das amostras, como a avaliação das
propriedades físicas, químicas e mineralógicas do gesso.

O capítulo 5, Resultados e discussões, traz o resultado da pesquisa em conformidade com a


metodologia usada e descrita no capítulo 4, que compreende a comparação e estudo preliminar que
visa o enquadramento do gesso em função das suas propriedades.

No capítulo 6, Conclusões e recomendações, são apresentadas as principais conclusões dos


experimentos realizados e discutidos no capitulo anterior com vista ao alcance dos objetivos dos
trabalhos descritos no capítulo 1, e sugere os estudos adicionais necessários ou trabalhos futuros para
o preenchimento das lacunas de abrangência dessa pesquisa.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 4
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E GEOLÓGICO

Nesse capítulo faremos análise detalhada sobre a localização geográfica, aspetos relacionados
com a caracterizações geomorfológica e geológica dos nossos locais de amostragem (Loulé, Óbidos e
Soure).

2.1. ENQUADRAMENTO GERAL DE LOULÉ


2.1.1. Localização geográfica

O Algarve situa-se no extremo meridional de Portugal. Tem uma área aproximada de 5 000 km 2, o
que faz com que constitua quase 6% do território continental português. É limitado a oeste e a sul pelo
oceano Atlântico, a norte por Beja (Alentejo) e a este pelo rio Guadiana. O clima é do tipo
mediterrânico, caracterizado por Invernos amenos e chuvosos e Verões quentes e secos.

O Concelho de Loulé (Figura 2.1) ocupa uma faixa da região de algarve entre o oceano Atlântico e
o Alentejo, sendo o mais extenso do distrito de Faro com uma área aproximada de 764 km 2 e o mais
populoso a seguir ao conselho de Faro.

O gesso de Loulé em estudo, foi extraído da pedreira Milhanes localiza‐se na freguesia de Tôr,
concelho de Loulé, distrito de Faro, a qual é propriedade da CIMPOR – Indústria de Cimentos, S.A.

Figura 2. 1. Localização do local de coleta de amostras de gesso de Loulé (imagem de satélite obtida através do
Google Earth)

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 5
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2.1.2. Enquadramento Geológico Regional

A orla sedimentar algarvia, de idade meso‐cenozoica, é formada por uma bacia sedimentar, em
que se depositaram mais de 4 000 m de sedimentos, e estende‐se desde o Cabo de São Vicente até
ao rio Guadiana (~140 km), penetrando irregularmente para o interior entre 3 km a 25 km, sobre
terrenos do Carbonífero da Zona Sul Portuguesa (ZSP). A margem sul da bacia do Algarve resultou de
um conjunto de flexuras de blocos de cratão, de direção E-W mergulhados para o sul, induzidas pela
rotação da placa africana, no sentido dextrogiro, de que resultou um desligamento esquerdo1 ao longo
da fratura Açores – Gibraltar (Galopim de Carvalho 2003; Manuppella 1992).

A Bacia do Algarve formou-se no Triásico (Mesozoico) quando o limite entre as placas Eurasiática
e Africana começou a adquirir características de um limite transtensivo, devido ao movimento
aproximadamente E-W entre as placas Eurasiática e Americana, responsável pela abertura do
Atlântico, e ao movimento NW-SE entre as placas Africana e a Americana que resultou na formação de
bacias de orientação E-W a ENE-WSW, como a Bacia Algarvia (Almeida 1985; Trindade 2007).

Os primeiros sedimentos a depositarem‐se na Bacia do Algarve, em discordância, sobre os xistos e


grauvaques, bastante dobrados e erodidos, do Carbónico datam do Triásico superior e caracterizam‐se
por apresentarem, de um modo geral, uma cor vermelha e níveis margosos com intercalações de
gesso e sal‐gema. Tais características indicam que o clima de então seria quente e que as condições
predominantes de aridez permitiam a formação daqueles minerais evaporíticos (Manuppella 1992).

No início do Jurássico, o processo de fragmentação da Pangeia continuou verificando‐se o


afastamento da América do Norte e da Europa, o que deu origem, mais tarde, à abertura do Atlântico
Norte e à sua ligação com o oceano Tétis (atual Mar Mediterrâneo). Estes acontecimentos conduziram
à formação do conjunto de fraturas de direção E-W, através das quais o magma ascendeu à superfície,
dando origem a escoadas lávicas, filões basálticos, cinzas vulcânicas e piroclastos, que encontramos
em todo território, formando uma estreita banda, quase contínua desde Sagres a Vila Real de Santo
António. Ainda no inicio do Jurássico (Hetangiano) teve lugar a primeira invasão de águas marinhas,
com deposição de evaporitos e dolomitos, que documentam o ambiente lagunar. O nível do mar foi
subindo, com deposição de margas e calcários, desenvolvendo uma plataforma carbonatada que
assumiu, no Jurássico Médio (do Aaleniano ao Batoniano) caraterísticas recifais, com calcários
corálicos, oolíticos e pisolíticos, no setor mais próximos do litoral, e hemipelágicas, com marno-

1
Desligamento refere-se à movimentação relativa e tangencial de dois blocos separados por uma falha (falha desligante ou
transcorrente). Diz-se esquerdo ou direito consoante um observador colocado num dos blocos, virado para o outro, o vê
deslocar-se para a esquerda ou para a direita, respetivamente.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 6
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

calcarios2, nos mais profundos. O Jurássico Superior é regressivo, tendo deixado uma sequencia
carbonatada, por vezes margosa, explorada para o fabrico de cimento, na região de Loulé (Galopim de
Carvalho 2003).

Os movimentos tectónicos ao longo dos blocos separados pelas flexuras, ativos desde o Triásico
superior, originaram maior subsidência nos blocos localizados a Sul das linhas de flexura. Em certos
sectores, o afundamento da bacia provocou a entrada de águas marinhas, as quais, devido ao clima
quente e seco então dominante, precipitaram grandes quantidades de gesso e sal‐gema intercalados
com argilas e outros sedimentos. Mais tarde estas grandes massas evaporíticas, tornaram‐se plásticas
devido à pressão dos sedimentos que se lhes foram sobrepondo e deslocaram‐se por ação de
movimentos tectónicos, ascendendo em direção à superfície nas zonas enfraquecidas pelas fraturas.
Assim, a partir do Jurássico médio começaram a ocorrer movimentos de migração das grandes massas
de sal depositadas no início do Jurássico. Estas estruturas salíferas, designadas por diápiros, são
frequentes no Algarve, tendo, por vezes, bastante importância económica, como é o caso da
exploração de sal‐gema da mina de Loulé (Terrinha 1998).

Na Orla Mesocenozoica Meridional ou Algarvia (parte imersa da bacia, na figura 2.2) distinguem-se
duas diretrizes que testemunham o carater flexural da sua evolução. Uma delas está orientada
sensivelmente WSW-ENE, entre Sagres e Algoz, infletindo para o W-E até Vila Real do Santo António.
A outra linha de flexura, de direção W-E estende-se desde a Albufeira e Luz de Tavira. Entre estas
duas diretrizes predominam as formações do Jurássico Médio e Superior, moderadamente enrugadas,
com anticlinais de vergência apontadas para o sul, por vezes cavalgantes neste mesmo sentido. A
massa evaporítica adjacente (Hetangiano), essencialmente constituída por sal-gema (halite), injetou-se
através de importantes fraturas (Albufeira) ou ascendeu, formando anticlinais diapíricos, como em
Loulé, permitindo a sua exploração mineira em profundidade (Galopim de Carvalho 2003).

O Cenozóico da Bacia de Algarve inicia-se com a formação Carbonatada de Lagos – Portimão,


essencialmente representada por biocalcarenitos de fáceis litoral, muito fossilífero, de dade
compreendida entre o Burdigaliano e o Langhiano. A esta unidade, de fáceis marinhas, sucede-se uma
série siliciclástica, essencialmente arenítica, com intercalações conglomeráticas (areias feldspáticas e
areias areniticas de Olho de Água e Arenitos Calcários com Seixos de Faro), com restos fósseis, de
idade estimada entre o Sarravaliano e o Tortoriano inferior. O Miocénico superior algarvio mantém as
fáceis marinhas, especialmente representadas pelos estongolitos e diatomitos de Mem Martins
2
Elemento marno- é equivalente ao mais usado margo-. Ambos são legítimos. Marca radica o latim marga, com idêntico
significado, e marna é a forma mais usada no seculo XVII.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 7
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

(Tortoniano inferior), e pelos siltes glauconíticos da Campanha de Faro com valores compreendidos
entre 10 e 7 milhões de anos (Antunes et al. 1986 citado por Galopim de Carvalho 2003). Com idade
não definida, entre o Pliocénico e o Pleistocénico, um conjunto arenítico – argiloso, avermelhado a
acastanhado, por vezes com posólitos limoníticos (ás vezes também manganesíferos) e leitos de
seixos rolados, bem desenvolvidos entre Faro e Quarteira.

Figura 2. 2. Mapa geológico da região do Algarve. 1-Holocénico; 2-Plistocénico; 3-Pliocénico; 4-Miocénico; 5-


Paleogénico; 6-Cretácico; 7-Jurássico; 8-Jurássico inferior-Triásico superior; 9-Maciço intrusivo de Monchique;
10-Vestefaliano; 11-Namuriano; 12-Viseano; 13-Tournaisiano; 14-Fameniano; 15-filões; 16-falha; 17-Loulé
(adaptado da Carta Geológica de Portugal à escala 1:500 000)

2.1.3. Enquadramento geológico local

O diapiro de Loulé encontra-se localizado no SW da Península Ibérica, numa Província Geológica


de idade Mesozóica, denominada de Bacia Algarvia. Esta bacia é contemporânea da Bacia Lusitâniana
e formou-se durante a abertura dos oceanos de Tétis e Atlântico, sofrendo inversão. Este fenómeno é
induzido pela colisão das placas Africana e Euroasiática no Cretácico terminal. Ambas as bacias
constituíam ambientes geotectónicos do tipo margens passivas. A evolução dinâmica dos oceanos de
Tétis e Atlântico marcou a atuação duma orogenia - o Ciclo Alpino, até aos dias de hoje (Lopes et al.
1998; Terrinha 1998).

O diapiro de Loulé apresenta uma estrutura em domo (Figura 2.3), com forma elipsoidal e com o
eixo maior do anticlinal orientado WSW‐ENE. Este diapiro está sepultado sob uma espessura de cerca
de 32 m de materiais de idade quaternária, encontrando‐se encaixado em calcários e dolomitos de
idade Jurássica e apresenta um “cap rock” constituído essencialmente por margas gipsíferas. Este “cap
rock” que se encontra nos bordos e no topo do diapiro impede a passagem de água dos aquíferos para

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 8
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

a massa de sal, evitando assim a sua dissolução. A massa de sal é recortada por abundantes filões de
rochas básicas, que são visíveis nas galerias da mina de Loulé (Manuppella 1992; Lopes et al. 1998).

Figura 2. 3. Corte geológico do diápiro de Loulé. Onde: Qa - Plistocénico; J4 e J4 - Kimeridgiano; J3-4 –


Oxfordiano – Kimeridgiano; Jc - Caloviano; Jab - Jurássico inferior – Triásico superior (adaptado da Carta
Geológica de Portugal à escala 1:500 000)

2.1.4. Geomorfologia

O Algarve abrange duas unidades morfoestruturais: a ZSP do Maciço Hespérico, resultado da


estruturação distensiva da bacia e da subsidência devido à fracturação e ao estiramento litosférico,
provavelmente associada à abertura do Atlântico Central e a Orla Meridional ou Algarvia, formada
numa fase pós-rift, provavelmente associada a eventos orogénicos alpinos. Geomorfologicamente, a
ZSP corresponde quase inteiramente à Serra, enquanto a Orla Algarvia compreende o Barrocal e o
Litoral (Trindade 2007).

Os terrenos da plataforma continental submersa algarvia correspondem, grosso modo, ao


prolongamento das unidades referidas em Terra, sendo constituídos por formações progradantes
neogénicas e quaternárias, localmente afetadas por falhas, de orientação preferencial NNE-SSW, e por
diápiros (Magalhães 1999).

A plataforma algarvia está coberta essencialmente por sedimentos areno-siltoargilosos. Como se


pode observar pela figura a seguir (figura 2.4), a maior parte dos sedimentos apresentam mais de 40%
de finos, sendo classificados como lodos e, por isso, sem potencial extrativo (a azul na figura 2.4).
Parte importante é ainda ocupada por areias e cascalhos com fração argilosa compreendida entre 10 e
40% (a branco na Figura 2.4). Contudo, junto à costa, a pequenas profundidades, encontram-se
sedimentos mais grosseiros, nomeadamente areia cascalhenta (a laranja claro na figura 2.4) e
localmente podem assumir características de cascalho arenoso (a laranja mais escuro na figura 2.4)
(Dias et al. 1980; Magalhães 1999).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 9
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

Figura 2. 4. Depósitos sedimentares na plataforma continental algarvia (Dias et al. 1980).

A geomorfologia desta parte da costa algarvia é relativamente uniforme, consistindo numa


sequência de extensos cordões arenosos intercalados com arribas talhadas em formações detríticas
atribuídas ao Plio-Pleistocénico. A diversidade geomorfológica, a natureza litológica e estrutural dos
terrenos, bem como as caraterísticas climáticas e de cobertura vegetal, conduziram à subdivisão da
região do Algarve em 3 unidades geomorfológicas com características próprias, de Norte para Sul
(Figura 2.5): Serra, Barrocal e Litoral (Trindade 2007).

Figura 2. 5. Localização das três subdivisões geomorfológicas do Algarve (Adaptado por: Gonçalves 2009).

A Serra algarvia (ou Alto Algarve) corresponde à zona mais setentrional do Algarve e é o
prolongamento da peneplanície do Baixo Alentejo. Abrange a maior parte da região do Algarve (1813
Km2) e constitui a zona mais elevada (altitude máxima de 900 m). Compreende os dois relevos de
maior expressão do Sul de Portugal: a Serra do Caldeirão, formada por xistos e grauvaques com idade
compreendida entre o Devónico superior e o Carbónico, e a Serra de Monchique, constituída
essencialmente por sienitos nefelínicos do Cretácico superior. A relativa homogeneidade litológica, a

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 10
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

baixa permeabilidade e a dureza dos terrenos, originaram uma rede hidrográfica densa, hierarquizada e
bem encaixada. A rede hidrográfica caracteriza-se por vales profundos de flancos abruptos,
meandrizados em vastas extensões, e interflúvios bem marcados, com vertentes de declive acentuado
e topos arredondados. Os terrenos encontram-se muito dobrados e falhados como resultado de uma
tectónica ativa conferindo-lhes fraca resistência à erosão, o que associado a uma vegetação dispersa
conduz à formação de depósitos de vertente argilosos e muito instáveis (quando saturados pela água
das chuvas) provocando deslizamentos de massa (Trindade 2007).

O Barrocal (ou Algarve Calcário) localiza-se na zona central do Algarve e separa a Serra do Litoral,
constituindo a sub-região com uma expressão mais reduzida (991 Km2) e onde se encontra uma
altitude máxima de 479 m. Esta área assume maior expressão entre Silves e S. Brás de Alportel,
diminuindo para leste e oeste. A Leste de Conceição de Tavira a Serra contacta diretamente com o
Litoral. É constituído por formações carbonatadas de idade mesozoica, cuja base assenta em
discordância angular sobre o soco paleozoico. O relevo é formado por uma série de alinhamentos E-W,
condicionados por vales de fratura ou de erosão diferenciada resultante da heterogeneidade litológica.
Estas características condicionaram a formação de relevos estruturais do tipo “pseudo-mesas” com
topos planos formados pela presença de níveis compactos e resistentes dos calcários e dolomitos do
Sinemuriano. As rochas carbonatadas caracterizam-se por um modelado cársico bastante variado
(lapiás, dolinas, uvalas, vales secos, poljes e grutas) e, por esse motivo, o escoamento subterrâneo no
Barrocal é muito importante, ocorrendo numerosos locais de sumidouros (Trindade 2007).

O Litoral Algarvio (ou Baixo Algarve ou Beira-Mar) com 1032 Km2 de área e 187 m de altitude
máxima, estende-se por cerca de 210 km, desde a Praia de Odeceixe, Aljezur, até à foz do rio
Guadiana, apresentando uma grande diversidade litológica e morfológica. O litoral do Algarve é
geralmente dividido em três sectores: Ocidental, com arribas rochosas do Paleozoico; Meridional
Oeste, corresponde ao Barlavento algarvio com formações essencialmente mesozoicas e cenozoicas,
em geral, de arriba rochosa e com praias nos recôncavos ou na base das escarpas, e; Meridional Este,
que coincide com a região do Sotavento algarvio constituído por arribas arenosas do Pliocénico e
Pleistocénico e por extensas praias de areias holocénicas; ao contrário dos outros sectores, aqui
predominam as costas baixas e arenosas (Figura 2.5).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 11
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2.2. ENQUADRAMENTO GERAL DE OBIDOS


2.2.1. Localização geográfica

Leiria é um distrito localizado na zona centro de Portugal, tem uma área de 3 506 km², tornando-se
o 13.º maior distrito português. Tem 110 freguesias distribuídas pelos seus 16 conselhos e apresenta
como limites, a norte o distrito de Coimbra, a leste os distrito de Castelo Branco e Santarém, a sul com
o distrito de Lisboa e a oeste com o oceano Atlântico. O clima é mediterrânico com influencia oceânica.

O Conselho de Óbidos (Figura 2.6) localiza-se no distrito de Leiria, sub-região do Oeste, com
141,55 km² de área e subdividido em 7 freguesias. O município é limitado a nordeste e leste pelo
município das Caldas da Rainha, a sul pelo Bombarral, a sudoeste pela Lourinhã, a oeste por Peniche
e a noroeste tem costa no oceano Atlântico.

Figura 2. 6. Localização do local de coleta de amostras de Óbidos (imagem de satélite obtida através do Google
Earth).

2.2.2. Enquadramento Geológico Regional

A Bacia Lusitânica (Figura 2.7), localizada na Margem Ocidental Ibérica, é uma bacia sedimentar
distensiva que se desenvolveu durante parte do Mesozoico, apresentando uma dinâmica que se
enquadra no contexto da abertura do Atlântico Norte (Guerreiro 2014; Kullberg 2013).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 12
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

Figura 2. 7. Geologia simplificada da Bacia Lusitânica (informação geológica à escala 1:500 000 adaptada do
Atlas do Ambiente, por Lopes 2014).

A bacia mesozoica ocidental ou Bacia Lusitânica, foi gerada em ambiente tectónico de estiramento
crustal, desde tempos triásicos (rifting sem geração de crosta oceânica) até ao limite Cretácico
Inferior/Superior. Esta evolução sofreu dois passos de maior importância: a abertura do Oceano
Atlântico Norte (verdadeira abertura a partir do Jurássico Superior), com o afastamento da Eurásia do
continente Norte-Americano; e abertura do Tétis, por consequência do movimento relativo entre a
Eurásia e África. A bacia engloba diferentes domínios tectono-sedimentares: Sector Norte (N da falha
da Nazaré); Sector Central (entre as falhas da Nazaré e Arrife – Vale inferior do Tejo); Sector Sul (S da
falha do Arrife). A região de estudo pertence ao Sector Central (Azerêdo et al. 2006; Kullberg 2000).
Esta Bacia apresenta uma forma alongada e uma orientação geral NNE-SSW. As formações que a
constituem apresentam uma espessura variável, com cerca de 5 km na sua parte axial, assentando
sobre as unidades da Zona de Ossa Morena e possivelmente sobre a Zona Sul Portuguesa. A bacia

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 13
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

sedimentar é individualizada: a E pelo Maciço Hespérico através de contacto pela falha Porto-Coimbra-
Tomar; a S pelo ramo desta mesma fratura, com direção NNE, que se estende até ao canhão de
Setúbal; a W por um Horst hercínico, atualmente materializado pelo arquipélago das Berlengas
(Azerêdo et al. 2006; Guerreiro 2014).

Os materiais que preenchem a Bacia Lusitânica provêm do Maciço Antigo, a Este, mas também de
uma antiga área continental, a Oeste, representada atualmente apenas pelas pequenas ilhas das
Berlengas e Farilhões. De uma maneira geral, pode dizer-se que as rochas detríticas mais ou menos
grosseiras predominam na base do Mesozóico, no Cretácico e no Cenozóico. As argilas e margas, com
intercalações gresosas, são frequentes no Jurássico superior. Os calcários mais espessos pertencem
ao Jurássico médio e constituem a ossatura de alguns dos principais relevos desta zona do país
(Azerêdo et al. 2006; Guerreiro 2014; Kullberg 2013).

As repetidas alternâncias de sedimentação grosseira e fina, grande parte de natureza continental, e


as variações laterais de fáceis e espessura, verificadas nas formações geológicas aqui existentes,
poderão ser uma consequência quer das sucessivas oscilações do nível do mar quer das diversas
deformações tectónicas das áreas continentais. Segundo Ribeiro et al. (1979 citado por Azerêdo 2006),
o estilo tectónico na Bacia Lusitânica é caracterizado pela presença de famílias de acidentes de
direções variadas que correspondem, em parte, ao rejogo de fraturas tardi-hercínicas (orientações
NNE-SSW, ENESSW e NW-SE).

A Formação de Dagorda marca o início do ciclo transgressivo Triásico – Jurássico e passa a


unidades calco-dolomíticas, da Formação de Coimbra, já do Sinemuriano. O Jurássico Inferior
corresponde, assim, à invasão gradual da bacia pelo mar, instalando-se ambientes marinhos
progressivamente mais profundos, em regime globalmente transgressivo embora pontuado por fases
regressivas importantes. Durante o fim do Liásico (Jurássico Inferior) início do Dogger (Jurássico
Médio), mais propriamente no Toarciano – Aaleniano, há evidências de acentuada regressão relativa.
Para as diversas formações existentes na bacia e referência a inúmeros trabalhos (Azerêdo et al.
2006).
No Dogger observa-se, de forma generalizada em toda a bacia, a existência de ambientes
marinhos, predominantemente de plataforma carbonatada pouco profunda, mas também de ambiente
oceânico; os terrenos a leste (marginais) da Bacia Lusitânica estariam bastante aplanados. Estas
sequências mostram que existiu sedimentação carbonatada de baixa profundidade sobre terrenos mais
antigos (a leste), hoje expostos, provavelmente com uma extensão maior que a atualmente observada.
Observam-se também variações verticais e horizontais de fácies, que ocorrem de maneira gradual e

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 14
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

que correspondem a diversas formações e põem em evidência as características paleo-deposicionais


muito dinâmicas. Para o topo da sequência em causa, nos finais do Caloviano, há perturbações do
quadro sedimentar a nível bacinal, relacionadas com acentuada regressão de origem tectonoeustática.
Assim, a passagem Dogger (Jurássico Médio) para o Malm (Jurássico Superior) é marcada por uma
descontinuidade de âmbito bacinal, com superfícies de erosão, lacunas estratigráficas e variedade de
fácies sedimentares continentais, salobras e marinhas marginais, correspondendo à Formação de
Cabaços, que não ocorre na região de Óbidos (Azerêdo et al. 2006; Zbyszewski e Almeida 1960).

Depositam-se de novo, após esta fase, sedimentos gradualmente mais marinhos (Formação de
Montejunto), começando a partir do Kimmeridgiano a ocorrer instabilidade tectónica, diapirismo e forte
acarreio terrígeno: geram-se espessas sequências margino-marinhas, salobras e fluviais (Formação de
Alcobaça, Formação de Bombarral), além da manutenção, em certos compartimentos da bacia de
calcários marinhos, incluindo recifais. Esta fase é acompanhada pelo 2º Ciclo Vulcânico Mesozóico
(Azerêdo et al. 2006).

Durante o Cretácico observa-se um período de sedimentação mista, continental e marinha restrita,


a SW da bacia. Na zona em apreço, os sedimentos são continentais, fluviais, com depósitos de
ambiente oxidante ou redutor alternantes, ou fluvio-lacustres. Estes últimos assentam ao longo da falha
de Pragança. Os movimentos verticais são reduzidos, provocando um ligeiro basculamento para oeste
do conjunto Guery et al. (1986, citado por Azerêdo et al. 2006). Nesta fase ocorre o 3º e último Ciclo
Magmático, que gera o Maciço de Sintra, o Complexo Vulcânico de Lisboa, o Complexo sub-vulcânico
de Mafra, etc.
No decorrer do Cenozóico as morfologias finais são criadas, como já foi referido, sob um regime
tectónico regional compressivo que provoca a ascensão de diapiros salinos por toda a região. O
modelado criado é de seguida aplanado, essencialmente depois do Miocénico, com uma transgressão
pliocénica. Esta, segundo Cabral (1993 citado por Lopes 2014), gera a superfície de abrasão marinha
marcada pela zona aplanada que abrange a zona desde o vale até à Serra dos Candeeiros, que seria a
arriba marinha pliocénica. A génese do relevo em vale seria então criada depois de se ter depositado a
cobertura pliocénica, que se generalizava até à arriba, por processos compressivos que provocam o
cavalgamento nos bordos do vale e consequente abatimento da região central, mais plástica.

Por oposição a esta interpretação da evolução cenozóica desta região, existe um modelo que
relaciona a morfologia de vale com eventos erosivos ante-pliocénicos que provocam a erosão em vale,
o qual é preenchido pelos sedimentos margino-marinhos pliocénicos, sendo a posteriori dobrados pela
tectónica compressiva cenozóica (Zbyszewski 1959).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 15
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2.2.3. Contexto Geológico Local

Óbitos localiza-se na Bacia Lusitânica, numa área caracterizada fundamentalmente por terrenos
sedimentares de natureza carbonatada e detrítica, formados a partir do Jurássico inferior, pertencendo
estrutural e estratigraficamente à área normalmente designada por Vale Tifónico das Caldas da Rainha,
embora de facto esta estrutura seja parte duma unidade estrutural maior, que se prolonga desde o
paralelo de Rio Maior até Porto de Mós-Batalha, aproximadamente. Esta região é conhecida desde
tempos remotos (Árabes, Romanos…) pelos seus recursos minerais, tais como as águas termais e
medicinais e também gesso, sal-gema e caulinos, inertes (areias, diatomitos…) e rochas ornamentais
(calcários). Esta variedade de recursos advém da diversidade de eventos tectono-estratigráficos
característicos de todo o Maciço Estremenho, provocando variação lateral e vertical das sequências
estratigráficas, relacionadas diretamente com os diferentes e contínuos eventos tectono-sedimentares
experimentados pela Península Ibérica durante o Meso-Cenozóico (Azerêdo et al. 2006; Lopes 2014).

A região de Óbidos encontra-se num contexto geológico relacionado com a evolução das bacias
meso-cenozoicas portuguesas, inserindo-se na Orla Meso-cenozoica Ocidental, conhecida como Bacia
Lusitaniana, que corresponde a uma depressão alongada com direção NNE-SSW, cuja abertura
coincide com os primeiros estádios da abertura do Atlântico, mostrando de forma mais ou menos clara
a evolução dos ambientes sedimentares neste sector, desde a Era Mesozoica até à Atualidade. Esta
bacia é limitada a leste pela falha Porto-Coimbra-Tomar, que a separa do Maciço Hespérico, e a oeste
por um Horst hercínico, materializado atualmente pelos granitos e rochas metamórficas do arquipélago
das Berlengas. O bordo sul é limitado pela falha da Arrábida, existindo a norte o confinamento com a
Bacia do Porto (Kullberg 2013; Lopes 2014).

2.2.4. Geomorfologia

No concelho de Óbidos individualizam-se várias unidades geomorfológicas, cujas características


são fortemente influenciadas pelo tipo de formações geológicas existentes e pelas estruturas tectónicas
anteriormente referidas. Atendendo às áreas definidas por (Azerêdo et al. 2006: 28) e considerando os
aspetos geológicos e morfológicos observados em campo, individualizam-se as seguintes unidades
(Figura 2.8): vale tifónico das Caldas da Rainha; planalto da Cesareda; plataforma cretácica do Bom
Sucesso; lagoa de Óbidos e Arribas Litorais, e; Relevos jurássicos.

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Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

Figura 2. 8. Unidades geomorfológicas identificadas no concelho de Óbidos. Onde a – bordos do val tifónico; b –
relevos do interior do vale tifónico; c- superfície aplanada de Olho Marinho; d – superfiie envolvente degradada
do Bom Sucesso; e – complexo dunar Gronho-Prais d´El Rei; f – Lagoa de Óbidos; g – terraços fluviais
artificializados dos rios Real e Arnóia; h – depressão palustre do Vau (Poça do Vau); i – depósitos de praia e
arribas litorais (Azerêdo et al. 2006).

Nestas unidades destacam-se os seguintes aspetos geomorfológicos (Lopes 2014: 19):

Vale tifónico das Caldas da Rainha:


 Bordos do vale tifónico – relevo caracterizado por um rebordo em costeira, com assimetria no
pendor dos flancos. O Complexo da Dagorda é visível na base da vertente, identificando-se no
topo os calcários e margas do Jurássico médio e superior;
 Relevos do interior do vale tifónico – afloramentos localizados no interior do vale tifónico,
constituídos por calcários dolomíticos do Complexo da Dagorda, que oferecem maior
resistência à erosão relativamente às margas e argilas salíferas;
 Superfície aplanada de Olho Marinho – área com topografia aplanada localizada na parte
terminal do vale tifónico, que resulta da sedimentação de tufos calcários formados a partir da
exsurgência de água subterrânea do aquífero da Cesareda (nascente do Olho Marinho).

Planalto da Cesareda:
 Superfície de aplanação bem conservada constituída por formações carbonatadas do
Jurássico, com evidências de carsificação. Em algumas zonas do planalto é possível observar
lapas, grutas e galerias, instaladas ao longo de descontinuidades. No limite norte observa-se o
desnível originado pela falha da Serra d’El-Rei.

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Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

Plataforma cretácica do Bom Sucesso:


 Superfície envolvente degradada do Bom Sucesso – superfície de aplanação relativamente
extensa, degradada pelo encaixe da rede de drenagem;
 Complexo dunar Gronho-Praia d’El Rei – formado a partir da sedimentação eólica de areias de
idade plisto-holocénica.

Lagoa de Óbidos e Arribas Litorais:


 Lagoa de Óbidos – laguna costeira pouco profunda constituída a montante por dois braços, o
Braço da Barrosa da margem norte e o Braço do Bom Sucesso na margem sul, entre os quais
desaguam o rio Arnóia e o rio Real, que são responsáveis por grande parte da afluência de
água doce à Lagoa;
 Terraços fluviais artificializados dos rios Real e Arnóia – áreas aplanadas adjacentes às
margens das principais linhas de água afluentes à Lagoa de Óbidos, constituindo antigos
terraços fluviais de inundação marcados atualmente pela atividade humana;
 Depressão palustre do Vau (“Poça do Vau”) – depressão relacionada com o assoreamento de
uma região inundada de baixa profundidade que prolongava a Lagoa de Óbidos para sul;
 Depósitos de praia e Arribas Litorais – sub-unidade dividida em duas áreas, uma a norte da
Lagoa de Óbidos, caracterizada por arribas muito inclinadas e cortadas em arenitos do
Jurássico superior, e outra a sul da Lagoa, formada por arribas que baixam de altitude a sul.

Relevos jurássicos:
 Unidade formada pelo conjunto sedimentar detrítico do Jurássico superior e dividida pelo vale
tifónico, constituindo uma plataforma degradada marcada pela rede de drenagem e a inclinar
ligeiramente para leste na área a este do vale tifónico e para NW na área a oeste do vale.
Individualiza-se ainda a zona de Sobral da Lagoa, que constitui um relevo em costeira de
extensão curta onde afloram as Camadas de Alcobaça, separando duas unidades
anteriormente descritas – a Lagoa de Óbidos e o vale tifónico das Caldas da Rainha.

Relativamente à rede de drenagem, salientam-se as duas principais linhas de água na área de


estudo, o rio Arnóia e o rio Real, que atravessam o vale tifónico e às quais estão associadas as
principais manchas aluvionares existentes no concelho. Estas linhas de água apresentam vales
encaixados com vertentes de inclinações acentuadas na área este do concelho e quando atravessam o
bordo do vale tifónico, observando-se vales amplos quando são atravessadas litologias mais brandas
(Guerreiro 2014).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 18
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2.2.5. Tectónica

A tectónica tem um papel relevante na caracterização geológica do concelho de Óbidos, atendendo


à importância da estrutura diapírica das Caldas da Rainha na região. A génese da estrutura está
relacionada com a ocorrência de falhas profundas que afetam o soco hercínico e com a presença do
complexo evaporítico hetangiano, cuja ascensão deformou e perfurou a cobertura sedimentar.

De acordo com a interpretação atual feita por Cabral (1995 citado por Lopes, 2014), a depressão
morfológica designada como vale tifónico das Caldas da Rainha, de orientação geral NNE-SSW, foi
constituída posteriormente à deposição das areias com lignitos e diatomitos do Pliocénico (Figura 2.9),
tendo estes depósitos sido preservados no interior da depressão devido à elevação de ambos os
bordos. Apesar da importância da estrutura diapírica na área em estudo, refere-se ainda a existência
de várias falhas, nomeadamente:
 Falhas transversais ao vale tifónico;
 Falha da Serra d’El-Rei, que corresponde ao limite N do maciço da Cesareda;
 Falhas paralelas à linha de costa, das quais se destaca nesta área a falha da Esteveira (Lopes
2014: 20).

Figura 2. 9. Modelos explicativos da evolução dos vales tifónicos da Orla Ocidental. Esquema fora de escala,
muito sobreelevados. As altitudes representadas na escala vertical referem-se ao nível de base contemporâneo
da fase evolutiva correspondente. 1 – areias azoicas com pequenos calhaus rolados (Pliocénico terminal, -2/-1,6
Ma?); 2 – sedimentos argilo-arenosos, lignitosos e diatomiticos (Pliocénico superior -3/-2,5 Ma?); 3 – areias
marinhas fossilíferas (Pliocénico superior -3,5/-2,7 Ma?); 4 – formações mesozoicas encaixantes, consistindo
predominantemente em calcários jurássicos; 5 – margas gipsíferas e salíferas dos núcleos diapíricos (Liásico
inferior); 6 – falha de bordo do diápiro com sentido da componente de movimentação segundo a inclinação
indicada pelas setas (Cabral, 1995 citado por Lopes 2014).

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Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2.3. ENQUADRAMENTO GERAL DE SOURE


2.3.1. Localização geográfica

Coimbra situa-se na região centro de Portugal. Tem uma área aproximada de 4 000 km 2, o que
corresponde a 4,31% do território nacional, tornando-se o 12º maior distrito português. É limitado a
norte com os distritos de Aveiro e Viseu, a leste com os distritos da Guarda e Castelo Branco, a sul
com o distrito de Leiria e a oeste com o oceano Atlântico. O distrito é constituído por 17 conselhos e
155 freguesias. O clima de Coimbra, divide-se em duas regiões: uma de clima temperado com inverno
chuvoso e verão seco e quente e outra de clima temperado com inverno chuvoso e verão seco e pouco
quente.
O Concelho de Soure (figura 2.10) pertence ao distrito de Coimbra, com área total de 265,1 km 2,
dividido em doze freguesias e tem por limites, a Norte o Concelho de Montemor-o-Velho; a nordeste, os
Concelhos de Condeixa-a-Nova e a leste Penela; a Sul, os Concelhos de Pombal e Ansião, e a Oeste o
Concelho de Figueira da Foz. É parte integrante do agrupamento de concelhos da sub-região
denominada de Baixo Mondego.

O depósito em estudo, localiza-se no diápiro de Soure, uma estrutura grosseiramente circular,


sendo que à superfície é constituída por calcários dolomíticos do Lias (ANCCT 2012).

Figura 2. 10. Localização do local de coleta de amostras de Soure (imagem de satélite obtida através do Google
Earth).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 20
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2.3.2. Enquadramento Geológico Regional

A Geologia da região de Soure enquadra-se na unidade morfo-estrutural do território designada por


Orla Meso-Cenozóica Ocidental de Portugal, a qual, corresponde a setores emersos da Margem
Continental Oeste da Ibéria representativos do enchimento sedimentar da Bacia Lusitânica, uma das
bacias marginais noroeste-atlânticas ativas após a fracturação da Pangeia e durante as primeiras fases
de rifting do Triássico Superior, Jurássico Superior e Cretácico Inferior (ANCCT 2012).

Não surpreende, por conseguinte, que grande parte das formações sedimentares aflorantes no
concelho sejam de idade mesozoica, repartindo-se por quatro grandes unidades morfoestruturais com
consequente desenvolvimento na paisagem e orografia (Ramos 2008: 41):
 O maciço calcário da Serra do Sicó, situado a Este e em que o substrato de calcários marinhos
do Jurássico aflora extensamente;
 O anticlinal de Cabeça Gorda, com orientação Este-Oeste e representado por unidades
cretácicas e cenozoicas;
 A área diapírica de Soure, em que o Infralias aflora em depressão erosiva, em conjunto com
corpos intrusivos e;
 O setor meridional da região do Baixo Mondego, caracterizado por uma rede de colinas
talhadas pela erosão em formações areno-argilosas do Cretácico, Paleogénico e Miocénico com
disposição tabular a levemente arqueada, acompanhadas por abundantes depósitos de
cobertura cuja génese está relacionada com a evolução plio-plistocénica da região.

As unidades geológicas da Orla Meso-Cenozoica são resultado de uma sedimentação em


depressões individualizadas por barreiras controladas pela subsidência e basculamento de blocos ao
longo de falhas. Na evolução destas depressões, reconheceram-se fases de estruturação, marcadas
por uma alternância de períodos de reativação dos acidentes hercínicos e períodos em que a
subsidência provocou a instalação de dispositivos sedimentares de pequena extensão lateral. A
unidade mais antiga do primeiro grande ciclo sedimentar da Bacia Lusitânica é materializada pelas
Margas de Dagorda, unidade constituída essencialmente por lutitos e margas verdes, castanhas ou
vermelhas, frequentemente gipsíferas e salíferas, com intercalações, mais abundantes para o topo, de
calcário dolomítico, calcário margoso em “plaquetes”. As Margas de Dagorda adquirem especial
importância pelo facto de estarem associadas à atividade diapírica que condicionou a evolução
paleogeográfica da área, em particular nas zonas onde afloram as estruturas diapíricas: diapiros de
Soure, do Lena ou de Porto de Mós, de Leiria – Parceiros-Monte Real, S. Pedro de Moel e Sra. da
Vitória (Ramos 2008; Pena dos Reis et al. 1992).

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Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

Esta unidade ter-se-á gerado durante o primeiro episódio de rifting, o qual ter-se-á verificado no
Liásico inferior, registado pela megassequência C (C1+C2); Hetangiano-Carixiano inferior (Soares e
Duarte 1995). Também Pena dos Reis et al. (1992: 115) considera que “este episódio de rifting se terá
iniciado no Triásico superior, o qual teria precedido o aparecimento do Atlântico Central durante o
Jurássico e a consequente separação das placas americana e africana”.

No Jurássico médio a atividade diapírica ganha uma importância crescente, controlando a evolução
de sectores individualizados, quer por barreiras criadas pela ascensão de massas evaporíticas, quer
pela subsidência e basculamento dos blocos ao longo das falhas. Nesta fase de rifting os depósitos são
dominados por sedimentos clásticos aluviais, que interdigitam lateralmente com depósitos margosos e
evaporíticos (Rocha et al. 1990).

Uma importante descontinuidade, associada a lacuna estratigráfica, afeta o Caloviano superior e


Oxfordiano inferior, o que sugere, segundo Pena dos Reis et al. (1992: 116), “uma significativa descida
do nível do mar, simultânea com uma etapa de elevação térmica que teria antecedido a 2ª fase de
rifting”. Durante este segundo ciclo, fundamental na organização da bacia, as condições ambientais da
sedimentação, em paralelo com a diferenciação no espaço e no tempo da subsidência, conduziram a
uma mais “complexa” variabilidade das fácies. No Oxfordiano médio a sedimentação inicia-se com a
deposição de carbonatos lacustres com influência marinha ( Wright, 1985 citado por Ramos 2008).

Quando a plataforma carbonatada atingiu o máximo da sua extensão, as fácies carbonatadas do


Cenomaniano médio atingiram as regiões de Ourém, Pombal, Soure e Ançã. A linha de costa passava
poucos quilómetros a oriente de Ourém, curvando em direção a Caxarias e seguindo depois para Norte
até às proximidades de Pombal. Para além da área diapírica de Soure, infletia para Nordeste,
passando entre S. João do Campo e a Ribeira de Ançã e entre Ançã e Cantanhede. A progressão do
domínio marinho teve como consequência uma alteração no estilo da sedimentação passando
progressivamente de litótipos arenosos, areno-argilosos e areno-carbonatados, mais abundantes na
base do Cenomaniano médio, a calcários margo-arenosos, por vezes dolomíticos e a margas
arenosas. Estes litótipos, à escala local, organizam-se em sequências positivas, por vezes com
carácter oscilante ( Soares, 1966 citado por Ramos 2008).

Na parte inferior do Cenomaniano superior verificou-se uma generalização da sedimentação


carbonatada, acompanhando um aprofundamento da coluna de água e uma maior abertura da
plataforma carbonatada às influências oceânicas. A sedimentação carbonatada processou-se em meio
sublitoral a sublitoral superior, sujeita a um regime hidrodinâmico moderado e francamente

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 22
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

carbonatada. O topo do Cenomaniano superior foi marcado por variações significativas no estilo da
sedimentação e pela instalação de alguns novos domínios paleogeográficos (Ramos 2008).

A sul do rio Mondego, a sucessão inicia-se por lumachela com fósseis marinhos, a que se seguem
areias finas amareladas e depois série continental com depósitos ligníticos e argilas negras, com
diatomitos na região de Rio Maior (Zbyszewski 1959).

2.3.3. Contexto Geológico Local

A estrutura diapírica de Soure apresenta uma geometria sub-circular, com um raio de cerca de 3,5
km, e constitui o núcleo de um anticlinal alongado segundo NE-SW (figura 2.11), o anticlinal de Cabeça
Gorda. A maioria das unidades encaixantes do núcleo evaporítico está em continuidade estratigráfica e
são constituídas por calcários dolomíticos do Sinemuriano (Formação de Coimbra), exceto no bordo
NE, onde arenitos do Cretácico assentam em discordância sobre o núcleo da estrutura diapírica, bem
como sobre os flancos do anticlinal. A recobrir parcialmente o núcleo encontram-se também formações
areníticas do Paleogénico e Miocénico indiferenciados e do Pliocénico (Fernandes 2009).
Na fronteira entre a estrutura diapírica e o encaixante afloram três intrusões magmáticas, de
constituição dolerítica (figura 2.11). (Rocha et al. 1981), referem a presença de bacias (Figueiró do
Campo a N e outras de menores proporções), associadas à migração da formação evaporítica para o
núcleo dos anticlinais.

Localmente, o gesso aflora em especial em Carvalheira de Baixo e em S. José do Pinheiro se bem


que em Grisonia, no limite N do diápiro, ocorra gesso disperso em margas. Ocorrem também as
margas hetangianas localmente ricas em gesso. No fundo, estas formações constituem o “cap-rock” da
estrutura diapírica que se encontra fortemente condicionada por numeroso cortejo de falhas com
orientações dominantes N-S, NWSE e NE-SW, e que se desenvolve em profundidade ocorrendo sal-
gema a partir dos 100-150 metros (ANCCT 2012; Velho e Campos 2006).

A lavra que foi desenvolvida inicialmente teve como condicionante a presença do jogo de falhas
(figura 2.11). De facto, a ocorrência de uma falha de orientação NW-SE permitiu a abertura de uma
frente de exploração na parte E do depósito. A exploração desenvolveu-se para W, ao longo da falha e
infletiu para S quando se verificou a presença de um importante acidente NS. Estas duas falhas
permitiram a extração de gesso com estrutura em “chevron3” mas a cobertura de areais pliocénicas4

3
A Estrutura Chevron refere-se a dobras onde os ápices são terminados em ângulo, parecendo quebrados, mas os flancos
mantêm a mesma espessura.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 23
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

dificultou a lavra tendo sido estas retiradas. Devido à impossibilidade física de explorar em
profundidade e em superfície, obrigou ao alargamento da área de extração o que deu origem ao
aparecimento de uma extensa formação de gesso negro de qualidade inferior designado por “cascão”.
Para E surgem diversos alinhamentos de gesso microgranular, por vezes com veios de selenite, com
elevada dureza e alinhados numa direção E-W. A zona mais interessante do depósito do ponto de vista
económico localiza-se na parte E-SE, onde aflora uma mancha de gesso microgranular com elevado
grau de pureza (Velho e Campos 2006).

Figura 2. 11. Mapa geológico do depósito de gesso de S. José do Pinheiro (Velho e Campos 2006:1074).

O depósito corresponde a uma fácies de natureza evaporítica constituída na sua totalidade por um
complexo de margas gipsíferas com uma tonalidade cinzento-escura, com reflexos azulados, passando
nalguns pontos a azul-negro e noutros a cinzento acastanhado. Surgem, também, intercalações
irregulares de níveis esbranquiçados de gesso, muitas vezes lenticulares. O gesso apresenta-se sob
diversas formas, quer em massa granulosa, quer fibrosa com brilho sedoso. Localmente, o gesso
apresenta-se na variedade selenite, em veios incolores, transparentes, fornecendo boas superfícies de

4
As areias pliocénicas constituem o material de cobertura sendo indispensável a sua remoção para a extração de gesso.
Estas areias, encontram-se relativamente bem calibradas, são de grão fino e possuem uma cor esbranquiçada. A fração
argilosa não é demasiado significativa, sendo os grãos de areia constituídos essencialmente por quartzo.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 24
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

clivagem. São igualmente comuns os veios, muito sinuosos e finos, de gesso fibroso, na variedade
espato acetinado.

O jazigo apresenta-se profundamente conturbado pelos movimentos tectónicos halocinéticos de tal


modo que se torna praticamente impossível a avaliação de espessuras das bancadas de gesso bem
como a sua atitude. As variedades de gesso presentes evidenciam mais do que um ciclo evaporítico
tendo o depósito sedimentar sido formado numa bacia semi-isolada. A série sedimentar é resultante da
sobreposição de bancadas de espessura variável e com características litológicas distintas devido a
variações da concentração de sais dissolvidos na água bem como do material residual que
periodicamente afluía à bacia. Estas variações explicam a complexa distribuição litológica dos tipos de
gesso (Velho e Campos 2006).

A fração arenosa é constituída essencialmente por moscovite e por quartzo euédrico, hialino. Os
grãos de quartzo apresentam normalmente um diâmetro inferior a 0,5 mm e apresentam-se angulosos.
A ilite constitui o mineral argiloso predominante (tabela 2.1).

Tabela 2. 1. Composição mineralógica média (Velho e Campos 2006:1072)

Fração carbonatada (%) Fração arenosa (%) Fração fina (%) Gesso (%)
71,4 3,2 24,0 1,5
20,5 1,2 10,4 67,9

O acidente tectónico correspondente ao anticlinal diapirico de Soure, cuja expressão morfológica


se traduz numa depressão grosseiramente circular, com cerca de 3 km de diâmetro. O seu núcleo
consiste numa unidade constituída por margas cinzentas e acastanhadas que se intercalam com níveis
de gesso mais ou menos puro, assim como veios deste mineral (Formação de Dagorda ou “Margas de
Dagorda” do Hetangiano – 199 MA). Segundo a interpretação paleogeográfica admitida pela
generalidade dos autores, esta formação regista o desenvolvimento, em fase percursora da abertura do
oceano Atlântico, de vastos meios lagunares distribuídos ao longo de uma estreita faixa marginal à
bordadura do Maciço Antigo e controlada por sistemas distensivos com direção dominante NNE –
SSW. O seu progressivo alargamento conjugado com falhas NW-SE veio permitir a subida dos corpos
evaporiticos ainda durante o Mesozóico, tendo-se desenvolvido estruturas anticlinais diapiricas com
esta direção e formando-se vales tifónicos onde a erosão expôs os núcleos diapíricos (ANCCT 2012).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 25
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

2.3.4. Geomorfologia

As principais características geomorfológicas da região são:

A zona da Serra

A zona enquadrada na Serra é constituída essencialmente por rochas carbonatadas. Constituída por
bancos de calcário margoso, bastante compacto. Calcários oolíticos e pseudooliticos encontram-se na
aldeia Casal Cimeiro. Na zona serrana é visível uma cobertura vegetal essencialmente rasteira e
perfeitamente adaptada a solos pobres. A riqueza florística deve-se sobretudo às comunidades de
orquídeas que se desenvolvem nos substratos calcários, à variedade de ervas aromáticas/medicinais,
às manchas de carvalho português (Degracias) e oliveiras. (ANCCT 2012).

Arenitos do Carrascal

Os Arenitos do Carrascal ou Formação da Figueira da Foz (Aptiano superior a Cenomaniano


médio; 109 MA a 90 MA), afloram entre Casa Velha e a vertente ocidental do Cabeço da Mucata em
discordância sobre formações calcário - margosas do Toarciano-Aaleniano e Kimmeridgiano.
Desenvolvem-se para Norte (Vila Nova de Anços) e para Este (Fatacos e Cavaleiros) em discordância
com o Lias e Dogger. A formação é de natureza detrítica com cerca de 230 m de espessura,
constituída por alternância de termos grosseiros, conglomeráticos ou greso-conglomeráticos e níveis
argilosos avermelhados, onde existe grãos de quartzo em abundância e níveis argilosos. Na aldeia da
Lagoa, é possível observar facilmente a granulometria, apresentando diminuição de calibre dos grãos
da base para o topo da formação (ANCCT 2012).

Na base, assenta em discordância sobre unidades do Jurássico superior e, no topo, surge em


continuidade aparente com a formação atras descrita (zona da serra). As litofácies mais comum,
segundo Callapez e Soares Pinto (2003: 4) consistem em:
 Conglomerados do tipo clast-supported ou matrix-supported em que predominam clastos
arredondados e sub-angulosos de quartzo e quartzo leitoso:
 Arenitos grosseiros e médios, mal calibrados, com clastos de quartzo, feldspato e mica de
coloração esbranquiçada a amarelada;
 Lutitos e argilitos maciços ou laminados, com coloração avermelhada ou esbranquiçada,
contendo ocasionalmente restos vegetais de fetos, de gimnospérmicas e de angiospérmicas.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 26
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

Acidente tectónico de Soure

O acidente tectónico correspondente ao anticlinal diapirico de Soure, cuja expressão morfológica


se traduz numa depressão grosseiramente circular, com cerca de 3 km de diâmetro, e cujo núcleo
consiste numa unidade constituída por margas cinzentas e acastanhadas que se intercalam com níveis
de gesso mais ou menos puro, assim como veios deste mineral (formação de Dagorda ou “Margas de
Dagorda” do Hetangiano – 199 MA). Segundo a interpretação paleogeográfica admitida pela
generalidade dos autores, esta Formação regista o desenvolvimento, em fase percursora da abertura
do oceano Atlântico, de vastos meios lagunares distribuídos ao longo de uma estreita faixa marginal à
bordadura do Maciço Antigo e controlada por sistemas distensivos com direção dominante NNE–SSW.
O seu progressivo alargamento conjugado com falhas NW-SE veio permitir a subida dos corpos
evaporiticos ainda durante o Mesozoico, tendo-se desenvolvido estruturas anticlinais diapíricas com
esta direção e formando se vales tifónicos onde a erosão expos os núcleos diapíricos (ANCCT 2012).

Formação argilo-gresosa e conglomeratica

A formação argilo-gresosa e conglomeratica da Senhora do Bom Sucesso (Oligocénico - Miocénico


Médio – 33 MA) aflora em Casalinhos e Vinha da Rainha. Assenta em descontinuidade sobre as Areias
e Argilas de Taveiro, é de difícil observação e corresponde a um depósito essencialmente arcósico a
subarcósico, médio a muito grosseiro, por vezes conglomerático, imaturo a submaturo e esbranquiçado
a esverdeado com manchas avermelhadas e acastanhadas. Com estrutura geral entrecruzada (ANCCT
2012).

Calcários da Costa D’Arnes

Os “Calcários apinhoados da Costa D’Arnes” ou Formação Carbonatada (do Cenomaniano –


Turoniano - 99 MA) consiste numa sucessão carbonatada, composta por alternância de grés margoso,
margas gresosas e calcários margo-gresosos. Sobrepondo-se calcários margosos, com textura
concrecionada ou apinhoada com cerca de 15-20 metros em Alencarce. Estes calcários apresentam
uma fauna fóssil marinha muito diversificada, gastrópodes, equinídeos, bivales entre outros.
Corresponde a uma transgressão marinha que provocou a submersão de grande parte da orla a Norte
da Nazaré (ANCCT 2012).

Na base, as fáceis dominantes consistem em grés margosos, marga margosa e calcários


margosos com fosseis abundantes de ostreídeo Gyrostrea ouremensis; distinguem-se calcários

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 27
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico

apinhoados com amonoides (Neolobites) e uma fauna bentónica abundantíssima e muito diversificada,
composta por equinídeos (Hemiaster, Heterodiadema etc) gastrópodes (Cimolithium, Harpagodes) e
bivalves (Pycnodonte, Neithea, etc.). As fáceis de calcário margoso apinhoado estendem-se até aos
níveis superiores de formação e intercalam-se com diversos estratos espessos de calcário compacto
de cor creme (Callapez e Soares Pinto 2003).

Areias grés e argilas

As areias grés e argilas (Pliocénico- 5,3 MA a 1,8 MA) é constituído por arenitos argilosos
grosseiros acastanhados ou castanhos avermelhados alternando com camadas finas de seixos com
diferentes graus de rolamento. Junto à vila de Soure as formações arenosas apresentam intercalações
de lignito, carvão que já foi explorado, vestígios dessa atividade existem em Pinheiro e Alencarce
(ANCCT 2012).

Doleritos

Os Doleritos que atravessam os calcários dolomíticos do Sinemuriano que se localiza a NE de


Soure entre Alencarce e Cavaleiros; neste afloramento de Doleritos estes são classificados em três
tipos: de grão grosseiro, esfénicos e com feldspato dominante. Atualmente encontram-se quase
totalmente reduzidos a solo, no entanto ainda se podem encontrar raros blocos visíveis (ANCCT 2012).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 28
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3. CONCEITOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS

No presente capítulo faz-se uma abordagem geológica e química do gipsito, enfatizando as suas
características mineralógicas, a nomenclatura, a obtenção e reservas no mundo e especialmente, em
Portugal. Já o gesso é retratado de forma mais abrangente, envolvendo desde o seu processo de
produção até à sua disposição final, focando as suas propriedades físicas – químicas e seu potencial
uso e aplicações como aditivo em cimento, na argamassa e em dermocosméticos, que é o objeto de
estudo do presente trabalho. Alguns pontos aqui apresentados servirão de pressupostos teóricos do
trabalho e serão objeto de análise critica a partir dos resultados da presente pesquisa.

3.1. GIPSITO: A MATÉRIA-PRIMA

Segundo Galopim de Carvalho (2006: 266) “Entre nós, o termo gesso… nome da rocha evaporítica
(gypsite de ingleses e franceses) para a qual propomos a adoção do termo gipsito, em coerência com
as regras da nomenclatura petrográfica, a semelhança do brasileiro gipsita”.
Gipsite é o termo mais adequados ao mineral no estado natural, enquanto o “gesso” é a
denominação comercial atribuída ao pó do sulfato de cálcio hidratado, isto é, o termo apropriado para
designar o produto calcinado (Villanueva et al, 2006 citado por Lopes 2012)

Em termos de geologia, o gipsito é uma rocha sedimentar de origem química e salina, formada por
precipitação de sais. Esta precipitação ocorre devido às mudanças nas condições físico-químicas do
meio. O gipsito é uma rocha rica em mineral gipsite, formado a partir de reações entre os elementos em
suspensão e os outros materiais externos, como o oxigénio e hidrogénio da água.
Ela tem sua origem, em geral, devido à precipitação do sulfato de cálcio contido em águas
marinhas submetidas à evaporação. As condições necessárias para a formação de evaporitos são
variáveis como, por exemplo, a água do mar que deve conter aproximadamente 3,5% de salinidade. A
quantidade de agua que entra nos lagos de água salgada deve ser menor do que a água que evapora.
Quando a quantidade de água que evapora alcança 80%, a precipitação de evaporito começa a
ocorrer, seguindo uma ordem, onde componentes mais insolúveis como a gipsite precipitam primeiro.
Apos o desaparecimento de 90% da água original outros minerais solúveis como a halite começam a
se formar. A qualidade do gipsito é determinada pelo teor de gipsite presente na rocha. O total de
impurezas varia desde uma proporção muito pequena até o máximo de cerca de 6% (constituído por
SiO2, Al2O3, CaCO3 e MgCO3) (Baltar et al. 2005; Canut 2006; Galopim de Carvalho 2006).

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.1.1. Mineralogia

O mineral gipsite, é quimicamente, um sulfato de cálcio bihidratado, com a fórmula química


CaSO4.2H2O o que implica teoricamente a presença de 32,5% de CaO, 20,9% de H 2O e 46,6% de
SO3. Os minerais de sulfato de cálcio podem ocorrer na natureza nas formas bihidratada (gipsite:
CaSO4.2H2O), desidratada (anidrite: CaSO4) e raramente, semi-hidratado (bassanite: CaSO4.1/2H2O).
O CaSO4 e CaSO4.1/2H2O apenas existem metaestavelmente. Esta ultima, é de difícil identificação e
representa apenas cerca de 1% dos depósitos minerais de sulfato de cálcio (Deer et al. 2014; Olson
2002).
Geologicamente, a gipsite é um mineral que se cristaliza no sistema monoclínico, apresenta habito
prismático, ocorrendo por vezes no habito tabular, por vezes em germinações de ferro de lança ou
caudal de andorinha e, geralmente, é maciço e granular (figura 3.1). Foi, Lavoisier em 1768, o primeiro
a investigar os princípios da tecnologia da gipsite (Galopim de Carvalho 2006).

Figura 3. 1. Cristais de gipsite e a relação entre os eixos num sistema monoclínico. Fonte: (Trovão 2012)

A fórmula química da gipsite, anidrite e bassanite são semelhantes e se diferenciam apenas quanto
à proporção de água de hidratação, que se apresenta com diferentes combinações. Este facto torna a
gipsite e algumas espécies de anidrite (II e III) instáveis, sofrendo modificações em suas composições
de acordo com as diferentes situações de temperatura e pressão a que são submetidas. Com isso, a
gipsite presente na superfície terrestre pode perder água e então tornar-se um material anidro
(equação 3.1). O processo inverso pode acontecer, onde a anidrite encontrada em regiões mais
profundas, aproxima-se da superfície através de fenómenos geológicos como o movimento tectónico e
erosão do solo. Este acontecimento permite o contato do material anidro com a água e então ocorre
uma reidratação, formando uma nova composição, a qual é chamada gipsite secundária, pois esta
apresenta estrutura cristalina diferente da anidrite e da gipsite original (Baltar et al. 2005).

Equação 3. 1. Transformação reversível de gipsite em anidrite na presença da água.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 30
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

O gipsito pode aparecer em diversas variedades, a destacar:


 Selenite – apresenta cristais com clivagem largas, incolores e transparentes, encontrada
muitas vezes, a preencher falhas nas rochas e usada em larga escala como vidro de janela,
transmitindo uma luz semelhante ao luar, donde surgiu a designação (selene, do latim lua).
 Alabastro (de Alabastron, nome de uma cidade egípcia) – variedade muito puro, ocorre sob
forma de rocha maciça, microgranular, rósea ou verde, translucido e idêntica ao mármore,
devido a sua baixa dureza, são usadas em esculturas desde a antiguidade e ocorrem,
geralmente em zonas de grande deposito de gesso.
 Espato acetinado – ocorre sob forma de agregado fibroso translucido, com superfícies exibindo
um brilho nacarado, trata-se dum material com forma de agulha depositadas em fraturas e ao
longo de planos de estratificação (Velho et al. 1998; Deer et al. 2014).

A composição química da gipsite e suas propriedades físicas são demonstradas na tabela 3.1.
CaO

Tabela 3. 1. Composição química e propriedades físicas do gipsito (Costa 2013: 21).

CaO 32.5 %
COMPOSIÇÃO
QUÍMICA SO3 46,6 %

H2O 20,9 %

Classe Sulfatos

Cor Variável, podendo ser incolor, branca, cinza


e outros (dependendo das impurezas)

Brilho Vítreo, nacarado ou sedoso

Dureza 2 Mohs
Propriedades
físicas Densidade 2,3 g/cm3

Hábito Prismático

Clivagem Em quatro direções

Clivagem e tamanho de Variável de acordo com as condições e


cristais ambientes de formação.

Temperatura de desidratação 125 – 180 ºC

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.1.2. Lavra de gipsito

O gipsito é obtido a partir de lavra subterrânea ou a céu aberto, utilizando métodos e equipamentos
convencionais. Um detalhe importante que deve ser considerado é que o gipsito absorve parte da força
do explosivo dificultando o desmonte. Devido a isso, na perfuração, os furos costumam ser
programados com diâmetros entre 50 -100 mm e com pequeno espaçamento a fim de possibilitar uma
distribuição mais densa dos explosivos. É comum o uso de explosivos à base de nitrato de amónio e
óleo combustível na proporção de 1 kg/t de material desmontado. Na lavra do gipsito são empregados
equipamentos como: rompedores hidráulicos, marteletes hidráulicos, vagon drill, tratores de esteira e
pás mecânicas.
No caso das empresas que utilizam a lavra subterrânea, o método empregado é o de câmaras e
pilares. Este método é empregado em diversos países, sendo frequente nos EUA, onde 20% das
reservas de gipsito são lavradas por este método (Baltar et al. 2005).

Em Portugal, a exploração, em geral, é feita a céu aberto (figura 3.2), no entanto, em Figueiró de
Vinhos, era feita por métodos subterrâneos clássicos. A coluna estratigráfica presente, representada
por bancadas de gesso com 2 a 3 m de espessura, situados a cerca de 50 a 60 m de profundidade,
separadas por margas e encimadas por calcários, foi a responsável pelo abandono dos trabalhos
(Velho 2005).

Figura 3. 2. Frente de lavra de gesso de Soure. Fonte (Centro de Produção de Loulé 2010).

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.1.2.1. Microestrutura

O termo microestrutura é utilizado para descrever as características estruturais encontradas nos


materiais. As microestruturas podem ser caracterizadas pelo tipo, proporção e composição das fases
presentes, e pela forma, tamanho, distribuição e orientação dos grãos (Canut 2006).

Uma amostra de um material de mesma composição química pode apresentar uma resistência à
compressão bem superior à outra, mesmo que ambas tenham se submetido, aparentemente, ao
mesmo processamento. Este facto bastante comum na análise dos materiais, quase sempre encontra
explicação ao estudar-se a microestrutura, observando-se, por exemplo, o tamanho e a forma dos
grãos e o volume de poros, características essas acessíveis às técnicas de análise bastante simples.

A microestrutura da gipsite, em seu estado natural, é constituída de cristais geminados de sistema


monoclínico. A célula unitária da gipsite é cúbica de face centrada, composta por 4 moléculas de
, 4 átomos de e 2 moléculas de H2O (Figura 3.2). Estas estão unidas entre si fortemente
por iões de cálcio formando um estrato. Estes estratos, estão por sua vez, devidamente unidos por uma
camada de moléculas de água, cada uma das quais une um ião de cálcio com um oxigénio do seu
mesmo estrato e com um outro oxigénio do estrato vizinho (Canut 2006).

Figura 3. 3. Microestrutura ou célula cristalina de gipsite. Fonte: Canut (2006: 30)

Os cristais de gipsite podem ser definidos de diversas formas, geralmente prismáticos, grossos,
tabulares ou lenticulares, com forte curvatura de faces e arestas (Canut 2006), podem ser encontrados
incolor ou nas cores branca, bege ou amarelo, e são considerados minerais brandos, sendo possível
riscá-los com a unha.

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.1.3. Características da rocha gipsito para produção do gesso

Os gipsitos extraídos em Portugal são geralmente classificados em duas categorias: gipsito branco
e gipsito pardo. O gipsito pardo tem sido consumido principalmente na indústria de cimentos, como
regulador de presa e na agricultura, como adubo e corretivo de solos. O gipsito branco que, depois de
calcinado pode ter diversas aplicações (Zbyszewski e Almeida 1964).

A viabilidade de aplicação de um mineral em escala indústrial, em geral, é determinada pelas


propriedades físicas e químicas da rocha que o contém. Essas propriedades estão relacionadas à
estrutura cristalina, à morfologia e às dimensões dos cristais, e ao teor e à natureza das impurezas
presentes na rocha, e são especificadas pelas indústrias que utilizam o mineral como matéria-prima
para os seus produtos. No caso da mineração em rochas gipsíferas, essas especificações são
inexistentes. A mineração toma como base as especificações existentes para alguns de seus produtos
comercializados. Para a produção do gesso de construção, todas as impurezas são indesejáveis, por
reduzirem o teor de semi-hidratados e anidrites no material, que são responsáveis pelas características
aglomerantes do gesso (Pinheiro 2011).

A presença de certas impurezas em diferentes teores, pode afetar nalgumas propriedades do


material, como: resistência mecânica, consistência, tempo de pega e sua estabilidade (Tabela 3.2.).

Tabela 3. 2. Influência das impurezas presentes no minério de gipsito nas propriedades do gesso. Fonte:
Pinheiro 2011: 20.

MINERAL ESPÉCIES PROPRIEDADE

Insolúveis Siliciosos, calcário, dolomite, Redução da resistência mecânica do material


em água anidrite, argilo-minerais hidratado.
Solúveis em Halite (NaCl) e silvite (KCl) Alteram a temperatura de calcinação, e a consistência
água e tempo de pega das pastas no estado fresco.
Hidratados Sais de sulfatos e Proporcionam instabilidade no produto final, por
montmorilonite poderem absorver água após o endurecimento.

Angeleri, et al (1983 citado por Pinheiro 2011: 19) recomendam que “o teor de impurezas no
minério de gipsito seja, no máximo, de 15%, sendo, nesta composição são aceitáveis os teores
máximos de 0,03% de cloretos alcalinos, de 0,03% sulfatos hidratados de magnésio e sódio (epsomite
e mirabilite) e de 2% de montmorillonite”. Assim, os teores de minerais siliciosos, calcário, dolomite,
anidrite, minerais argilosos, halite, silvite e sais, sempre que possível, devem ser verificados antes que
o minério seja encaminhado ao processo industrial.

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.1.4. Processo de produção industrial do gesso

Em Portugal o gipsito é consumido quer na forma crua (gipsito) ou na forma calcinada (gesso). A
extração e a preparação do minério de gipsito para calcinação envolvem atividades executadas nos
centros de calcinação (Figura 3.4), que têm como objetivos a redução do diâmetro do minério, a
armazenamento do material, a homogeneização e a secagem do material.

Figura 3. 4. Atividades de preparação da matéria-prima para ser submetidas ao processo de calcinação.


Adaptado de Pinheiro (2011: 21).

Após a extração, os blocos de minério de gipsito são fragmentados mecanicamente de forma a


viabilizar seu transporte até o sector de britagem, em geral, localizado junto às minas, onde os blocos
fragmentados são submetidos à britagem, em britadores de mandíbulas, separados em frações
granulométricas por um sistema de esteiras e transportados para as fábricas. Ali, o minério é
armazenado, homogeneizado e passa por uma nova britagem, de forma a ser reduzido a fragmentos
com diâmetros inferiores a 100 mm, tornando possível seu transporte em esteiras, para ser submetido
ao tratamento de moagem. Durante a moagem, o minério é reduzido a dimensões inferiores a 25 mm,
granulometria necessária para que se processe a calcinação do material. O peneiramento é realizado
para garantir a dimensão máxima dos grãos de gipsito. O minério britado, moído e peneirado pode,
ainda, possuir certa humidade, em torno de 10%, que deve ser controlada por um processo de
secagem (John e Cincotto 2007).

O processo de secagem pode não ser efetuada antes ou depois da segunda etapa de britagem.
Assim a etapa de secagem é frequentemente incluída ao processo de tratamento, para que o material
se torne mais secoo nas etapas subsequentes. A secagem é fundamentalmente seguida através de
secadores rotativos e este processo deve ser cuidadosamente controlado de modo que a temperatura
do mineiro não exceda os 49 ºC, visto que, neste ponto se começa a verificar a dissociação da água
combinada (Campos 2002).

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

A lavagem e/ou peneiramento quando o gipsito está húmido ocorre em poucos casos,
particularmente quando se verifica a necessidade de obtenção de uma cor branca. Para o fabrico de
cimento, o gipsito não deve apresentar granulometria superior a 5 cm, enquanto para as aplicações nos
solos agrícolas a granulometria exigida é inferior. A produção nacional destina-se, a esses dois
mercados por serem menos exigentes em termo de qualidade (Campos 2002; John e Cincotto 2007).

3.1.5. Calcinação – a desidratação do gipsito

A calcinação é o termo que a indústria de gesso, refere na desidratação do gipsito, ou seja, à


passagem do gipsito (CaSO4.2H2O) em semi-hidratado (CaSO4.1/2H2O) ou em anidrite (CaSO4), os
quais se distinguem pelas suas formas cristalinas e por reatividades distintas, cuja formação depende
das condições sob as quais o processo de calcinação é desenvolvido (Campos 2002; Pinheiro 2011).

A curva termogravimétrica do gipsito encontra-se representada na figura 3.5. A temperatura de


100 a 200 ºC, a uma taxa de aumento de temperatura de 10 ºC/min., o gipsito transforma-se em semi-
hidratado. No entanto, se o valor da taxa de aumento for mais baixo, é possível a transformação uma
temperatura abaixo dos 100 ºC (Velho 2005).

Figura 3. 5. Curva termogravimétrica do gipsito. Adaptado do Velho (2005: 228).

As diferentes fases de sulfato de cálcio, obtidas em função da temperatura de calcinação são:


hidratado ou gipsite (CaSO4.2H2O), o semi-hidratado ou gesso de Paris (CaSO4.0,5H2O) e a anidrite
(CaSO4). As reações possíveis de hidratação e desidratação do gesso são apresentadas na Figura 3.6.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 36
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

Figura 3. 6. Hidratação e desidratação no sistema CaO – SO4 – H2O (Fonte: Pinheiro 2011).

Os equipamentos utilizados no processo de calcinação do minério de gipsito são fornos indústriais,


para tratamento térmico de pós, os quais, com frequência, são aperfeiçoados pelos fabricantes de
gesso, que desenvolvem seus próprios processos. Segundo (Melo 2012), o processo de calcinação do
gipsito pode ser por:
 Via húmida –ocorre em fornos cujo ambiente se encontra sob pressão de vapor de água
saturado, em autoclaves. O produto obtido é o semi-hidratado α (gesso tipo α), usado em
moldes de precisão e na odontologia, e;
 Via seca –é realizada em fornos sob pressão atmosférica ou com uma fraca pressão de vapor
de água. O produto obtido é o semi-hidratado β (gesso tipo β), usado na construção civil.

Segundo SNIP (1982 citado por Pinheiro 2011: 23), os fornos utilizados no processo de produção
por via seca, podem ser:
 Fornos com aquecimento direto – Os gessos obtidos nesses fornos são constituídos
principalmente de semi-hidratados β, quantidades variáveis de anidrites e pequenas
quantidades de gipsito. As proporções de cada constituinte dependem do tempo de
permanência, da temperatura e do tipo de forno. O material produzido possui grande
reatividade, com início de presa precoce e grande velocidade de endurecimento, e:

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 37
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

 Fornos com aquecimento indireto – O material produzido nos fornos com aquecimento indireto
é constituído, essencialmente, pelo semi-hidratado β com a presença eventual de pequenas
quantidades de anidrites e gipsito. A obtenção do gesso com estas características é possível
devido à não contaminação do material pelos gases de combustão e ao controle do ambiente
mantido sob uma determinada pressão parcial de vapor, que controla a formação de anidrites.

Nos fornos de calcinação ocorrem as reações de transformação do minério de gipsito em gesso,


as quais consistem na desidratação, com perda total ou parcial da água de cristalização, do sulfato de
cálcio bihidratado (CaSO4·2H2O). Dependendo da temperatura a que o material é submetido, pode
ocorrer perda de 1,5 a 2 moléculas de água, resultando, como constituintes do gesso, espécies
químicas distintas de sulfatos de cálcio (John e Cincotto 2007).

Em Portugal, os gessos calcinados produzidos destinam-se, quase exclusivamente, a dois


mercados: a indústria cerâmica, onde é utilizado para o fabrico de moldes e contramoldes, e a indústria
de construção civil, onde é aplicado nos acabamentos de paredes, existindo vários produtos
disponíveis, mas onde se destacam as massas de projetar, as massas especiais de acabamento e o
gesso de estuque (Campos 2002).

3.1.6. Depósitos de gipsito no mundo e em Portugal

A gipsite é o mineral mais comum do grupo dos sulfatos, ocorre em jazidas de origem sedimentar,
associado aos calcários, xistos argilosos, margas e argilas, assim como depósitos evaporíticos, como o
sal-gema. Nos depósitos evaporíticos, resulta da evaporação de águas salinas em meio continental ou
marinho. Em muitas regiões, a gipsite foi dissolvida pelas águas de percolação (a solubilidade aumenta
pela presença de NaCl ou CaCO3) que, na estação seca, são arrastados para a superfície por ação
capilar, onde evaporam e deixam a gipsite depositado sob forma de cristais por vezes em agregados
designados “rosas do deserto”. Também encontram-se grandes depósitos de gipsito em lagos salgados
e nas salinas (Campos 2002; Deer et al. 2014).

Assim sendo, os depósitos de gipsito podem ser classificados como primários e secundários. Os
depósitos primários (ou sedimentares) são formados através da deposição de sais em bacias
profundas, de grandes dimensões ou, em alternativas, em sabkhas ou bacias muito pouco profundas,
junto da costa marítima, em ambiente quente e seco. Como exemplo destes depósitos citam-se os
seguintes: costa do Golfo Pérsico, Canadá, Jamaica e Portugal, entre outros. Quanto aos depósitos de
origem secundária, são depósitos de infiltração, de concreções superficiais, de gipsito e de areias

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 38
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

gipsíferas. Exemplos destes depósitos são os seguintes: Wadi Hoff e Wadi Garrawi, no Egipto;
Coahilla, no México; e Kern Country, nos EUA. Ainda referir que há acumulação de gesso e anidrite
nas zonas apicais dos domos salinos. Este tipo de depósito pode ser pouco espesso e irregular, como
sucede na Alemanha, ou pode apresentar mais de 350 m de espessura em alguns domos salinos e nos
EUA (Harben e Kuzvart 1996; Velho 2011).

As maiores jazidas de gipsito são sedimentares, estando associadas a rochas sedimentares de


Pérmico e do Triássico na Alemanha, na França (bacia de Paris) e na Itália. Existem outras ocorrências
sedimentares na Austrália (região de Salzburgo) e na Polónia (regiões de Wieliczka e de Bochnja) onde
acompanham jazidas de sal-gema. nas jazidas de numerosos estados dos EUA (Nova Iorque, Kansas,
Michigan, Novo México, Colorado, etc.) o gesso ocorre frequentemente associado a anidrite e a
camadas de halite (Velho et al. 1998).

O gipsito pode ser encontrada em regiões vulcânicas, especialmente, onde o calcário sofreu ação
dos vapores de enxofre. Nesse tipo de ocorrência, o gipsito aparece como mineral de ganga 5, nos
veios metálicos, podendo estar associado a diversos minerais, sendo os mais comuns a halite, a
anidrite, a dolomite, a calcite, o enxofre, a pirite e o quartzo (Baltar et al. 2005).

Sendo uma mercadoria de baixo valor unitário, o seu comércio internacional é limitado e a sua
importância ressalta na sua transformação a jusante. O maior produtor e consumidor mundial de gipsito
são os EUA cuja produção em 2007 foi cerca de 22 milhões de toneladas, enquanto outros países
grandes produtores, como o Irão e a Espanha, alcançaram a produção de 13 milhões e 13,2 milhões de
toneladas, respetivamente. Os EUA, a Europa e o Japão constituem 77% deste mercado, sendo a
China um mercado emergente registando uma taxa de crescimento anual superior a 15% no período
2005 – 2008. São importantes as jazidas de Marrocos e da Tunísia, bem como as do Canadá, França,
Japão, Irão, EUA e Península Ibérica. No consumo setorial deste mineral, predomina o segmento de
calcinação do gesso com 59%, seguindo-se a indústria cimenteira com 30%, enquanto a participação
do gesso agrícola representa apenas 11% (Lopes 2012).

França é pais líder na produção de gipsito (e gesso) na Europa, produzindo aproximadamente 5


milhões de toneladas anuais. As principais áreas de produção são as bacias de Paris e de Rhône que
são responsáveis pelo fornecimento de 80% do gipsito francês. Outros produtores de referencia
incluem Alemanha, Reino Unido, Rússia, Itália, Grécia e Jugoslávia (Harben e Kuzvart 1996).

5
Mineral que não possui valor económico.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 39
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

Dados do ano 2013 apresentam os maiores produtores mundiais de gipsito com as seguintes
participações (Figura 3.7.):

Figura 3. 7. Países produtores de gipsito A produção de 2013 foi de 160 000 000 t (Fonte: DNPM/DIPLAM/AMB;
USGS: Mineral Commodity Summaries – 2014, adaptado de Filho et al. 2014).

Em Portugal, conhece-se diversas ocorrências de gipsito no complexo infraliásico, trata-se sempre


de depósitos de pouca monta em que veios gipsíferos e algumas massas gipsíferas, quase puras, se
intercalam em margas gipsíferas. Associado ao sal-gema, no Eocénico, o gipsito de Portugal ocorre
sob forma de agregado de cristais hialinos, no seio de margas e argilas cinzentas (Loulé e Soure), com
os nomes comerciais de “gesso de pardo” e “gesso branco”, ou em massas brancas fibrosas de
aparência sedosa, ou granulares, de aspeto sacaroide, como acontece em Sesimbra (Santana), Óbidos
e Leiria (Galopim de Carvalho 2006; Velho 2011).

As reservas nacionais de gipsito são muito elevadas, apenas se encontram condicionadas por
fatores estruturais e geológicos. As duas maiores explorações de gipsito em Portugal são as do
anticlinal perfurante de Soure e da gesseira de Óbidos (Figura 3.8.), ambas pertencentes a CIMPOR.
Trata-se de depósitos de origem lagunar em que o gipsito forma massas mais ou menos importantes,
intercaladas com margas (tipo de calcário com 35 a 60% de argila) (Velho 2011).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 40
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

Figura 3. 8. Localização dos principais depósitos de gipsito em Portugal (Velho 2011).

A produção nacional de gipsito ronda as 550 000 ton/ano, distribuída por quatro centros produtores:
Loulé, Óbidos, Souto da Carpalhosa e Soure. O fabrico de cimento absorve a maior parte da produção
nacional pois as especificações requeridas para este mercado não são muito exigentes. O centro
produtor mais importante é o de Óbidos, com uma produção acima de 300 000 ton/ano enquanto os de
Loulé e Leiria devem produzir, cada um, cerca de 50 000 ton/ano (Velho e Campos 2006).

Outras ocorrências gipsíferas do eocénico tem sido referenciado em: S. Pedro de Muel, nas arribas
das Pedras Negras, onde foi alvo de pequena exploração, na mina de Azeche (Marinha Grande),
impregnando de substancia betuminosa, em Pataias, Valadas de Frades, Famalicão (Nazaré), são
Martinho do Porto, em Souto, Carpalhosa e Monte real, na região de Pombal (tabela 3.3). Num outro
nível estratigráfico, destaca-se a ocorrência gipsífera do Cenomaniano medio, em Espargal, na região
de Oeiras, a uma profundidade de 40 m (Galopim de Carvalho 2006).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 41
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

Tabela 3. 3. Depósitos de sal gema e gesso de Portugal. Adaptado do LNEG (2016: 50).

SUBSTANCIA ÁREA RECURSO DIMENSÃO OBSERVAÇÃO


Sal gema Várzea da Rainha 21x106 m3 Pequena Dados de LNEG
Sal gema (gesso) Ereira - Pequena
Sal gema (gesso) Ervideira - Pequena
Sal gema (gesso) Monte Real >1000 x106 m3 Grande Em exploração
(Cavernas gás natural)
Sal gema (gesso) S. Pedro de Muel >1000 x106 m3 Grande
Sal gema (gesso) Leiria/Soure - Media
Sal gema (gesso) Caldas de Rainha >1000 x106 m3 Grande
Sal gema (gesso) S. Mamede >1000 x106 m3 Grande
Sal gema (gesso) Rio Maior - Pequena
Sal gema (gesso) Torres Vedras - Pequena
(Matacães)
Sal gema (gesso) Pinhal Novo - Grande
Sal gema Loulé - Media Em exploração
Gesso Milhanes - Pequena Em exploração

3.1.7. Características dos gipsitos em Portugal

Em Portugal conhecem-se várias jazidas de gipsito exploráveis situadas em locais onde o


complexo de margas gipsíferas do Hetangiano surge (sub)aflorante na sequência dos importantes
movimentos tectónicos relacionados com os fenómenos halocinéticos que afetaram as bacias meso-
cenozóicas ocidental e meridional (Campos 2002).

Segundo Zbyszewski e Almeida (1964: 2), a distribuição dessas jazidas está intimamente ligada,
em Portugal continental, com a presença de Infralias (Hetangiano e Triásico superior), cujos
afloramentos pertencem a dois tipos:
 Os afloramentos das bordaduras do Maciço Antigo: constituídos por complexos de margas, de
argilas gipsíferas ou salíferas, de cores variadas, e de calcários margosos e dolomíticos.
 Os afloramentos das áreas anticlinais diapíricas: constituído por uma série gresosa
(gresoconglomerática) ligeiramente mais antiga.

A ocorrência de gipsito em Portugal consistem em depósitos de relativamente poucas dimensões


em que veios e/ou massas de gipsito quase puros se intercalam com margas gipsíferas. Tal facto,

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 42
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

aliado ao baixo custo unitário da substância, contribui para tornar algumas das pequenas explorações
existentes pouco rentáveis, levando a encerramento de diversas mineradoras (Campos 2002).

Quando as condições eram favoráveis, com água relativamente calma e em ambiente redutor,
verificou-se a sedimentação de gipsite em lâminas bem como das argilas gipsíferas, ricas em matéria
orgânica. As variações climáticas desempenharam igualmente um papel importante na forma e no
arranjo dos cristais de gipsite sendo esta sequência característica de condições climáticas áridas e
semiáridas (Velho e Campos 2006).

Caracteristicamente, o gipsito extraído em Portugal é de cor escura (pardo) devido à elevada


quantidade de impurezas associadas, sobretudo de argilas, embora existam algumas quantidades de
gipsito branco, sobretudo na região de Figueiró dos Vinhos. Em Óbidos, também surge alguns gipsitos
brancos no seio de massas de gipsito pardo, embora as quantidades não sejam muito significativas.
Este condicionamento de cor é relevante em termos de qualidade para algumas utilidades económicas
e tem impedido que a indústria extrativa se tenha desenvolvido mais. O gipsito com um grau de
qualidade ligeiramente superior, de cor branca, tem vindo a ser utilizado pela indústria de calcinados
nacional, na produção de massas de projetar e de gesso de estuque. No entanto, as quantidades
envolvidas são relativamente escassas e a tendência dos últimos anos tem caminhando no sentido do
abandono da sua utilização (Campos 2002).

A variedade de gipsito presentes evidenciam mais do que um ciclo evaporítico tendo o deposito
sedimentar sido formado numa bacia semi-isolada. A série sedimentar resultante é resultado da
sobreposição de bancadas de espessura variável e com caraterísticas litológicas distintas devido a
variação de concentração de sais dissolvidos em água bem como material residual que periodicamente
afluía a bacia. Estas variações explicam a complexa distribuição litológica dos tipos de gipsito. O que
representa uma estrutura em Chevron possui uma variação entre granular e microgranular o que revela
uma variação da concentração do meio em iões sulfato e cálcio (Velho e Campos 2006).

No geral, o gipsito, em Portugal debate-se com problemas de falta de qualidade, limitando-se a sua
aplicação como aditivo na indústria do cimento e como corretivo de solos, para além do de melhor
qualidade ser consumido no fabrico de placas de gesso laminado, mas não tem a qualidade exigida no
que diz respeito a aplicações de maior valor acrescentado, isto é, para o fabrico de estuque e para fins
medicinais, assim, tem que se recorrer à importação, em especial de Espanha e de Marrocos. O gipsito
nacional é caracterizado como sendo pardo, em oposição ao denominado gesso branco, que se
destina às fábricas de calcinação e moagem e no fabrico de cimento branco (Velho 2011).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 43
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.2. GESSO

Define-se gesso como sendo um ligante hidrófilo6 aéreo e não hidráulico7, de origem mineral,
obtido da calcinação do gipsito em temperaturas em torno de 150ºC. A designação “gesso” deriva dos
termos latinos “gypsum” e grego “pypsos” que significa plaster. Trata-se de um material de grandes
possibilidades económicas, sendo conhecido e utilizado desde tempos imemoriais pelo Homem.
Abundante e disperso pela crusta terrestre nunca mais deixou de ser utilizado desde os tempos dos
egípcios tendo o seu campo de aplicações vindo a ser aumentado de um modo progressivo. Hoje em
dia o gesso é usado na medicina, na farmacêutica, em papel, na construção civil, na agricultura, entre
outros (Moura et al. 2015; Velho e Campos 2006).

O seu uso mais antigo conhecido foi na Anatólia em torno de 6000 A.C. mais tarde, por volta de
3700 A.C., o gesso foi utilizado nos interiores das grandes pirâmides do Egito. Após 3.500 anos, a
gipsite tornou-se um dos mais importantes minerais para a produção de materiais de construção (Olson
2002).

Os Assírios, Caldeus, Fenícios e Medos também usaram o sulfato de cálcio no estado natural
(gipsito) e calcinado (gesso), do que se encontraram numerosos fragmentos de ornatos, tais como
copos, estatuetas, consolos, etc., nas escavações perto do Nínive (Iraque) e nas Ruinas dos Monarcas
Assírios e Caldaicos.

Na Europa o uso do gesso na construção civil popularizou-se a partir do século XVIII, quando
também passou a ser utilizado como corretivo de solos, pois fornece cálcio às plantas e melhora as
condições químicas nas camadas sub-superficiais. A partir de 1885, o emprego do gesso na
construção civil foi estimulado pela descoberta do processo para retardar o seu tempo de
endurecimento (Baltar et al. 2005).

A existência de jazidas de gipsito no Chipre, Fenícia e Síria foi referida pelo filósofo Teofratos,
discípulo de Platão e Aristóteles, no seu “Tratado sobre a Pedra”, escrito entre os séculos III e IV A.C.
Assim, em 1768 foi publicado o primeiro estudo científico dos fenómenos relacionados com a
preparação de gesso por Lavoisier, pouco depois Van t’Hoff e Le Chatelier apresentaram uma
explicação científica sobre o processo de desidratação do gesso (Villanueva, et al., 2006 citado, por
Lopes 2012).

6
Ligante com afinidade com a água. Quando misturado com a água forma uma pasta que endurece.

7
Os ligantes aéreos ou não hidráulicos endurecem ao ar, originando argamassas não resistentes à água.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 44
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.2.1. Propriedades químicas e físicas do Gesso

Iremos detalhar as propriedades intrínsecas do gesso que viabilizam a sua aplicação como material
na construção civil e dermocosméticos tais como: a aderência, o isolamento térmico e acústico; a pega
e endurecimento; a porosidade, a trabalhabilidade, a absorção de água e a resistência mecânica.

3.2.1.1. Resistência mecânica

As propriedades mecânicas são diretamente proporcionais a relação água/gesso, na medida em


que aumenta a porosidade dos produtos à base de gesso. Assim sendo, a determinação dos traços
adequados e misturas de gesso é de extrema importância e necessária para a obtenção de um produto
final com bom desempenho mecânico. Um outro fator que pode influenciar a resistência é o uso de
aditivos redutores de água, que alteram as forças de atração e repulsão das partículas.

Em termos gerais, a fraca resistência mecânica dos produtos à base de gesso, se comparado com
os materiais cimentícios, e a sensibilidade à humidade fazem com que a utilização desse na construção
se limite ao acabamento de paredes e tetos, bem como na fabricação de artefactos para vedação de
interiores. Uma maneira de melhorar a resistência mecânica do gesso é através da adição de fibras de
polímero nas pastas de gesso (Canut 2006).

A resistência mecânica do gesso é alterada pela:


 Relação água/gesso – a resistência mecânica decresce com o aumento da relação
água/gesso.
 Idade – a resistência aumenta com tempo, alcançando níveis máximos entre os 14 e 28 dias
de idade, dependendo das condições ambientais.
 Condições ambientais de endurecimento – a resistência do gesso é sensível às variações de
humidade, e a presença desta pode reduzir-se em até 50% seu valor.
 Condições de uso do material – a resistência do gesso decresce, devido à capacidade do
material de absorver humidade. Este fator deve ser considerado, dependendo da condição de
uso do material.
 Presença de minerais insolúveis – o calcário, dolomite, anidrite, argilo-minerais desidratados e
minerais siliciosos reduzem a resistência mecânica do gesso (Pinheiro 2011; Trovão 2012).

As pastas de gesso, depois de endurecidas, atingem resistência à tração entre 0,7 e 3,5 MPa e a
compressão entre 5 e 15 MPa. As argamassas com proporção exageradas de areia alcançam
resistência a tração e compressão muito mais reduzidas (Oliveira 2015).

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.2.1.2. Presa e endurecimento

A presa das pastas de gesso é o tempo necessário para a solidificação do material. A forma como
ocorre à adesão inicial depende tanto das características de trabalhabilidade da argamassa, quanto
das características de porosidade, rugosidade da base ou de tratamento prévio que aumente a
superfície de contato entre os materiais (Canut 2006).

Nos trabalhos em superfícies verticais e teto, é comum a prática do uso do gesso, devido à boa
ligação entre este material e os diferentes tipos de substrato, tais como tijolos, pedras naturais e ferro,
exceto em superfície de madeira. No caso de sua aplicação sobre superfícies metálicas, a atenção
especial deve ser dada a proteção dos metais contra a corrosão, pois o pH neutro do gesso associado
a humidade local pode provocar perda de aderência. Nestas situações recomenda-se utilizar metais
submetidos ao processo de proteção contra corrosão, como por exemplo a galvanização.

A pega e o endurecimento das pastas de gesso dependem de alguns fatores, como:


 Temperatura e tempo de calcinação – A calcinação realizada em temperaturas mais elevadas
ou durante tempo mais longo conduz a produção de material de pega mais lenta, porem de
maior resistência. Material supercozido, com predominância de sulfato-anidro solúvel, não dá
pega, é sem valor aglutinante. O gesso de Paris, que é constituído por semi-hidratado puro, dá
pega em poucos minutos; gesso obtido em segunda cozedura, constituído principalmente de
sulfato-anidro solúvel, pode ter pega tal lenta quanto se desejar (Oliveira 2015).
 Presença de impurezas - O teor de impurezas presente no minério de gipsito, como algumas
espécies químicas de sais solúveis, como a halite e silvite, pode alterar a pega do material,
cujos teores devem ser controlados antes que o minério seja encaminhado para o processo de
produção do gesso. Exemplo: o gesso de Paris puro, dá pega tao rapidamente (entre 2 a 5
minutos) que torna virtualmente inútil como material de construção, mas, a presença de
impurezas, diminui muito a velocidade de endurecimento (Oliveira 2015; Trovão 2012).
 Fração dos constituintes – As diferentes frações dos constituintes do gesso alteram a pega do
material, devido às diferentes velocidades de reação. Gesso de elevada finura dão pega mais
rápida e atingem maiores resistências, em razão do aumento da superfície específica
disponível para hidratação (Pinheiro 2011).
 Relação água/gesso – A relação água/gesso é a proporcionalidade da água que fornece a
trabalhabilidade necessária a seu manuseio. Em geral, quanto menor a relação água/gesso,
mais rápida é a pega do material. A quantidade de água, necessária para que a pasta de
gesso adquira uma consistência adequada à sua utilização, depende da superfície específica,

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

da finura, da forma e da distribuição dos grãos de gesso. Isto é, quanto maior a superfície
específica, maior a área de reação, mais rápida a dissolução e menor o período de indução do
material consequentemente, mais rápido o início de pega do material. A quantidade ótima se
aproxima da quantidade teórica da água necessária à hidratação, 18,6% (Oliveira 2015).
 Temperatura da água de amassadura – A temperatura da água de amassadura das pastas de
gesso aumenta a solubilidade do semi-hidratado, modificando o tempo de pega, ou seja, com
a utilização da água de amassadura com temperaturas até 45 ºC os tempos de pega
diminuem, voltando a aumentar para temperaturas superiores a 45 ºC (Pinheiro 2011).
 Aditivos – Os aditivos podem ser usados nas pastas de gesso para modificar seu processo de
hidratação. Em geral, os aditivos modificam as propriedades das superfícies dos cristais,
alterando o processo de nucleação8, o crescimento de cristais e a cinética das reações de
hidratação, proporcionando uma formação diferenciada no tamanho, na morfologia e no
arranjo dos cristais na forma hidratada. Os aditivos aceleradores de pega atuam no
mecanismo de hidratação das pastas de gesso por meio do aumento da solubilidade das
fases anidras e por meio da formação de núcleos de cristalização. Os aditivos redutores de
pega possuem natureza orgânica ou inorgânica (Oliveira 2015; Pinheiro 2011).

A aderência ferro-gesso, embora traduza uma compatibilidade físico-química entre os dois


materiais, tem, infelizmente, o defeito de ser instável, permitindo a corrosão do metal. Não se pode
fazer gesso armado como se faz cimento armado. Todavia, a estabilidade é alcançada quando se faz a
armadura com ferro galvanizado.

3.2.1.3. Trabalhabilidade

A trabalhabilidade de uma pasta é definida como a maior ou menor facilidade do material de ser
empregado para uma determinada finalidade, sem perda de sua homogeneidade. É medida pela
consistência da pasta, ou seja, pelo grau de humidade necessário para garantir uma determinada
plasticidade ao material. Essa consistência é denominada “consistência normal”. A água necessária
para sua obtenção depende do tipo de material e de sua granulometria (Pinheiro 2011).

A trabalhabilidade é considerada uma propriedade empírica comumente difícil de ser expressa,


definida e entendida. Essa propriedade faz do gesso um produto moldável com aplicação milenar em
revestimentos de paredes e tetos, na fabricação de adereços decorativos e de adornos. A
maleabilidade do gesso faz da argamassa deste ligante um bom material para a execução de
8
A nucleação é a etapa em que as moléculas do soluto dispersas no solvente começam a se juntar em aglomerados, em
escala nanométrica.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 47
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

acabamentos em paredes, tetos e também na fabricação de Drywall9; outra importante caraterística é a


sua propriedade de aderência (Ferreira e Cruvinel 2014).

A plasticidade e a consistência são propriedades que efetivamente caracterizam a trabalhabilidade,


sendo que a avaliação dessas propriedades em alguns métodos de ensaio ocorre em simultâneo. A
plasticidade é influenciada pelo teor de ar, pela natureza do aglomerante e pela intensidade de mistura
das argamassas. Já a consistência é a propriedade pela qual a pasta tende a resistir às deformações
que lhe são impostas no estado fresco (Cincotto et al, 1995 citado por Canut 2006: 42).

Nas pastas de gesso, a trabalhabilidade depende de dois fatores: a consistência e os tempos de


pega, que devem ser adequados à finalidade de seu uso. O tempo de pega deve garantir o manuseio
do material, antes que se inicie a pega, e a consistência deve garantir a moldagem e a coesão do
material. A água requerida para garantir a trabalhabilidade necessária à pasta de gesso depende da
superfície específica e da distribuição do tamanho das partículas do gesso (Pinheiro 2011).

3.2.1.4. Isolamento térmico e resistência ao fogo

O isolamento térmico de um local consiste basicamente no equilíbrio da temperatura indispensável


ao bem-estar do ser humano, obtido mediante a utilização de materiais classificados como de baixa
condutividade térmica10, os materiais de construção devem ser criteriosamente selecionados com
intuito de proporcionar conforto térmico ao ambiente construído. A condutividade térmica do gesso
pode variar com a sua densidade, e é aproximadamente igual a 0,46 W/m·°C e se comparado a outros
materiais de construção, pode ser considerado um ótimo isolante térmico. O gesso é o material que
confere aos revestimentos com ele realizado, considerável resistência ao fogo. A água de cristalização
é eliminada pelo calor, reduzindo o material superficial a condição de pó, que não sendo removido, atua
como um isolador que protege a camada interior do gesso (Oliveira 2015; Canut 2006).

A propriedade de bom isolante térmico é evidenciada quando o gesso é utilizado no interior das
habitações, impedindo a formação dos indesejáveis vapores de água que surgem sobre a superfície
das alvenarias, ocasionando a existência de uma “parede fria”. Por outro lado, pode-se dizer que o
gesso é um dos materiais de construção com melhor resistência a deterioração pela ação do fogo. A

9
Drywall (parede seca) é um sistema para forro ou parede constituído por placas de gesso pré-fabricadas, parafusadas em
uma estrutura metálica leve de aço galvanizado, sobre as quais são fixadas as placas de gesso, em uma ou mais camadas,
gerando uma superfície apta a receber o acabamento final.

10
Velocidade com que o calor é conduzido através de uma unidade volumétrica submetida a uma diferença unitária entre as
duas faces, ou seja, a relação entre o fluxo do calor e o gradiente de temperatura

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 48
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

resistência ao fogo na edificação é relacionada à estabilidade e integridade dos elementos que a


constituem quando sujeitas à elevação de temperatura decorrente de sua ação. O bom desempenho do
gesso contra a ação do fogo deve-se, ao fato de tratar-se de um material incombustível, e que,
dispensa as demais verificações de reação ao fogo, sem contar com o fato de apresentar duas reações
endotérmicas de desidratação durante seu processo de queima (Canut 2006).

A reação de desidratação (equação 3.2) ocorre aproximadamente entre 100ºC e 120ºC, quando o
sulfato de cálcio hidratado é convertido em semi-hidratado de sulfato de cálcio. Já a reação de
desidratação (equação 3.3) ocorre quando o semi-hidratado de sulfato de cálcio é convertido para
sulfato de cálcio desidratado.

Equação 3. 2. Conversão de sulfato de cálcio hidratado em semi-hidratado.

Equação 3. 3. Conversão de sulfato de cálcio semi-hidratado em sulfato de cálcio desidratado.

Assim, o calor gerado pela elevação da temperatura durante um incêndio é inicialmente consumido
pela evaporação das moléculas de água, o que retarda o aquecimento e, consequentemente, os danos
à vedação. As particularidades de materiais produzidos na base do gesso se devem ao fato de que
este contém 21% de água de cristalização em seu peso ( Belmiloudi e Meur, 2005 citado por Canut
2006: 41). Verifica se que produtos a base de gesso apresentam excelente resistência ao fogo e pode-
se utilizar na construção civil por proporcionar o equilíbrio da temperatura (isolamento térmico),
trazendo conforto térmico aos ambientes construídos, sem implicar gastos exagerados de energia.

3.2.1.5. Porosidade

A porosidade corresponde aos espaços, geralmente preenchidos por fluidos, entre os graus e
cristais que constituem as rochas. A água utilizada a mais, para alem da necessária para que se dê a
reação de hidratação, fica nos espaços entre os cristais e sai por evaporação durante a secagem dos
moldes. Esta porosidade na forma de poros alongados e interligados pode ser considerada como um
conjunto de tubos capilares muito finos que, por sucção absorvem a água que um molde pode absorver
é função da sua porosidade e esta depende essencialmente da relação água: gesso aumentando pois
com o aumento desta (Figueiredo 1999).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 49
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

Os moldes de gesso possuidores de uma grande porosidade não têm um poder de absorção tão
rápido como os possuidores de menor porosidade, ou seja, com poros mais finos, pois estes a sucção
pelo efeito de capilaridade é mais intensa.

3.2.1.6. Isolamento acústico

O gesso possui a propriedade de absorção de energia acústica, contribuindo, assim, de diversas


maneiras para isolamento acústico dos locais. O desempenho acústico proveniente de elementos
constituídos de gesso depende basicamente de sua capacidade de isolar, absorver ou descontinuar
caminhos para a transmissão do som (pontes acústicas). A dissipação de energia sonora processa-se,
principalmente, pelo atrito gerado pela passagem do ar através dos poros do material absorvente, o
qual deve ser leve, poroso e de baixa densidade (Silva e Silva 2004).

O isolamento relaciona-se também em grande medida com a massa do material. Portanto os


materiais mais indicados para esta finalidade devem ser densos, para resistir à vibração resultante da
incidência das ondas sonoras (Canut 2006).

3.2.1.7. Absorção de água

É fundamental saber qual o volume, Q, de água que um molde é capaz de absorver por unidade de
área da sua superfície, durante um intervalo de tempo, t. Prova-se que:

Equação 3. 4. Volume de absorção de água. Onde k é o coeficiente de absorção do molde.

Esta relação mantém-se no caso de a água ser absorvida a partir de uma babotina, sendo, nesse
caso, menor o coeficiente de absorção, o que sugere que a parede formada junto ao molde atua como
uma resistência à passagem da água.

A velocidade de absorção de água pelos moldes aumenta com a porosidade, o que pode ser
explicado considerando que, embora os poros mais largos tenham um menor efeito capilar, eles
oferecem uma menor resistência ao fluxo de água que os poros mais finos. A velocidade de formação
de parede depende de uma complexa interação entre o molde, a borbotina e a parede entretanto
formada, sendo fundamental o poder de sucção dos moldes, o qual aumenta com a diminuição da
porosidade dos mesmos (Figueiredo 1999).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 50
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.3. USO E APLICAÇÃO DO GESSO

O gesso é um material bastante consumido e aplicado na indústria da construção civil, na


agricultura, na odontologia e sobretudo na medicina. O uso e aplicação requer condições específicas
com relação ao tipo de gipsito, tipo de forno, condições de calcinação e tratamento posterior. A seguir
serão detalhados os principais seguimentos consumidores do gesso:

3.3.1. Na construção civil

O gesso de construção civil é produzido por calcinação do gipsito e muito utilizado devido às suas
propriedades de aderência e maleabilidade que fazem da argamassa deste ligante, um bom material
para a execução de pormenores decorativos em paredes e tetos, assim como fazer o estuque que
reveste as paredes. Contudo, a sua baixa resistência e alta solubilidade (aproximadamente 2,5 g/l) na
presença da água, faz do gesso um mau material para ser utilizado em exteriores que, atualmente, este
aspeto seja melhorado mediante a incorporação de aditivos à base de silicones ou polímeros, e com a
incorporação de fibra de vidro. Para além do baixo coeficiente de condutibilidade térmica possui ainda a
característica de libertar água quando calcinado a quente (Silva e Costa 2013).

O uso do gesso como material de construção vem sendo intensificado, devido principalmente ao
fator socioeconómico, na medida em que é um produto que tem atendido às expectativas dos usuários
e construtores, pois proporciona uma maior velocidade de aplicação e, por consequência, ajusta-se
melhor aos apertados cronogramas de execução das obras, a um preço competitivo.

3.3.1.1. Cimento

A indústria cimenteira é um dos maiores consumidores do gipsito, ela é adicionada ao cimento


Portland na etapa da moagem do clinquer com a função de retardar o tempo de pega instantânea de
3CaO.Al2O3 (aluminato tricálcico) durante a hidratação do cimento. A quantidade de gipsito adicionada
é função do teor de enxofre existente no calcário e no combustível utilizado na calcinação do clínquer.
O gipsito é usado na forma natural, com uma taxa de incorporação da ordem de 3 a 5 % de gipsito ou
de mistura de gipsito e de anidrite, no clínquer durante a moagem do cimento, de modo a regular ou
retardar a velocidade de presa de cimento Portland e também para atuar como auxiliar de moagem do
clínquer (Harben 2002; Velho 2005).

Sem a adição do gipsito, o tempo de pega do cimento seria de poucos minutos, inviabilizando o
uso. Devido a isto, o gipsito é uma adição obrigatória, presente desde os primeiros tipos de cimento
Portland (Ferreira e Cruvinel 2014).

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.3.1.2. Argamassa

O gesso apresenta propriedades atraentes para o uso como revestimento, entre elas, a aderência
em vários tipos de superfícies, o endurecimento rápido que proporciona rapidez na execução dos
serviços, proporcionar um excelente acabamento final nas paredes e tetos de construções,
dispensando o uso de outro material de acabamento e pode se expandir ligeiramente durante a presa,
o que evita problemas relacionados com a contração (Canut 2006).

Ramos (2011: 20) detalha a aplicação do gesso na construção como:


 Para juntar peças de cerâmica nas lareiras devido à sua grande tolerância a altas
temperaturas.
 No fabrico de placas de gesso (pladur e estafe), que serve para cobrir paredes ou tetos.
 Como ganha presa rapidamente, é usado muitas vezes para segurar temporariamente
componentes de construção.
 Funciona na proteção contra o fogo em estruturas metálicas ou de madeira.

Como solução técnica, atualmente usam-se muito misturas de gesso e cal. O aparecimento de
outros tipos de ligantes, mais resistentes e de maior durabilidade, contribuiu para diminuir o uso de
gesso e hoje, é raro encontrá-lo como componente único num ligante de argamassa (Marques 2005).

3.3.1.3. Pré-moldados

A indústria da construção civil, em todo o mundo, encontra-se dedicado à busca e implementação


de estratégias de modernização do setor, em que a racionalização construtiva tem um papel
fundamental. Nesse sentido, as tendências mais notáveis relacionam-se ao emprego de sistemas total
ou parcialmente pré-fabricados, capazes de maximizar o potencial de racionalização embutido nos
processos construtivos. O gesso é usado na produção de artefactos de placas para forro e chapas
acartonadas, as quais têm vastas aplicações na indústria da construção (Canut 2006).

As placas pré-fabricadas também podem agregar características diferenciadas como


hidrofugadas11, reforçadas com fibras de vidro, texturizadas e acústicas. As chapas ou painéis
acartonados são sistemas de vedações compostos por chapas leves em gesso montado sobre cartão
(acartonado), estruturadas por perfis metálicos ou de madeira, fixas ou desmontáveis e geralmente
monolíticas. O papel cartão confere resistência à flexão aos painéis de gesso (Silva e Silva 2004).

11
Resistentes à ação da água.

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.3.1.4. Indústria cerâmica e vidro

No setor cerâmico o gesso é utilizado para três finalidades, relacionadas entre si: na construção de
madres, no fabrico de moldes para a prensagem e contramoldes de pasta e no fabrico de moldes para
o preenchimento com barbotina. Na preparação dos moldes, utiliza-se a mistura ou caldas onde entram
78 a 90 partes de água e 100 partes de plaster. A relação plaster/água controla a porosidade do
estuque, quanto maior for a relação, mais poroso será o estuque e menor será a sua resistência
mecânica. Na indústria do vidro, a função do gesso é como fonte de cálcio e de enxofre, substituindo o
sulfato de sódio.
O gesso para a cerâmica não deve possuir mais de 15% de impurezas, as quais são, em geral,
carbonatos (calcite e dolomite), argilas (ilite e montmorilonite), cloretos (halite e silvite) e outros sulfatos
de cálcio (anidrite), de sódio e de magnésio. Para além disso, o gesso não deve possuir mais de 2% de
minerais argilosos do grupo de montmorilonite e os teores em sais alcalinos solúveis em água devem
ser muitíssimos baixos assim como o teor de anidrite (tabela 3.4) (Campos 2002; Velho 2011).

Tabela 3. 4. Especificações típicas de grau de qualidade de gesso pela British Gypsum Lda (Velho 2005: 232).

Propriedades Gesso Superfino Gesso Moído Gesso Moído Branco


Pureza de sulfato de cálcio (%) 99,0 99,0 95,0
Cor (X refletância 0/45) 89,0 89,0 72,0
Análise > 150 μm 2,5 (máx.) 0,2 (máx.) 4,0 (máx.)
granulométrica 150 a 75 μm 15 – 30 2,0 (máx.) 30 – 40
< 75 μm 70 – 85 98 60 – 70
Absorção de óleo (ml/100 g) 33,0 33,0 33,0
pH 6,8 – 7,5 6,8 – 7,5 6,5 – 8,0
Solubilidade em água (20 ºC g/l) 2,1 2,1 2,1
Dureza (Mohs) 2 2 2
Massa volúmica (´kg/m3) 750 – 900 700 – 800 800 – 950

3.3.1.5. Desvantagens do gesso na construção civil


Segundo Trovão (2012: 39), os revestimentos de gesso apresentam pontos negativos que
requerem cuidados como:
 A deterioração de produtos de cimento Portland pela ação de sulfatos ocorre por processos
destrutivos a partir da formação de etringita tardia dentro dos poros de concretos,
argamassas ou pastas, que ocasionam aumento de volume e tensões, fissurando-os.

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

 São bastante suscetíveis ao desenvolvimento de bolor, principalmente em ambientes pouco


ventilados e húmidos, os quais causam deterioração progressiva ao revestimento, podendo
ocasionar seu descolamento;
 O gesso propicia a corrosão de componentes de aço-carbono comum, sendo necessária a
proteção com pinturas anticorrosivas;
 Não suporta deformação, acarretando em desprendimento de fragmentos e fissuração do
revestimento;
 São difíceis de conservar e apresentam numa certa fragilidade, motivada por diversas causas,
especialmente pela exposição à ação dos agentes atmosféricos.
 O volume de resíduo gerado na etapa de aplicação é em média 45%.

3.3.2. Na Medicina

Utiliza-se o gesso na cirurgia, traumatologia, odontologia, como desinfetante e é também matéria-


prima de muitos medicamentos. Neste sector definem-se dois graus de qualidade do gesso, um de
melhor qualidade (> 99% CaSO4), usado como diluente em pastilhas prensadas e capsulas, e outro de
qualidade inferior (> 94% CaSO4), usado no fabrico de moldes (Canut 2006; Velho 2011).

Ligaduras “embebidas” em gesso, são utilizadas para proteger os membros com ossos partidos.
Também é utilizado na medicina dentária, na execução de moldes das dentaduras dos pacientes para
um melhor conhecimento dos seus dentes e para a execução de aparelhos dentários para a retificação
da dentadura. Nesse caso, o dente utilizado é o alginato, em que o aditivo proporciona uma maior
maleabilidade do molde. Este gesso pode ser usado para tirar o molde a zona do corpo humano mais
complexa e/ou sensível, tendo também a vantagem de ter uma grande definição, nos mais pequenos
detalhes. Alguns críticos opõem-se a esta prática defendendo que o gesso pode constituir um potencial
perigo para a saúde, por potencializar o desenvolvimento de microrganismos (Ramos 2011).
O gesso tem sido usado em odontologia desde 1759 como materiais para construir modelos
diversos como de estudo, antagonista, montagem em articulador, modelos de trabalho inclusão de
próteses totais e parciais, além de troquéis específicos para a construção dos padrões de cera nos
processos de fundição e, ainda usado como um dos constituintes dos revestimentos.

3.3.2.1. Dermocosméticos

A pele é o maior órgão do corpo humano que serve como uma barreira ao ambiente externo. Assim
sendo, fica exposto a diversos fatores que podem ser nocivos a nossa saúde, pelo que requer alguns
cuidados que vão desde a hidratação a cosmética decorativa, passando pela proteção solar. No

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

entanto, estes cuidados não são uma prática recente, uma vez que desde a antiguidade que os
recursos geológicos vêm sendo usados pelo Homem para fins terapêuticos e cosméticos (Lopes 2011).

Um cosmético é qualquer substancia ou preparado destinado a ser usado nas distintas partes
externas do corpo humano (epiderme, cabelo, lábios, dentes, etc.) com os seguintes atributos: limpeza,
ação esfoliante, ação tonificante, desengordurante, adstringente, hidratante, tensora, branqueadora e
sensação de bem-estar. Assim um dermocosmético ou cosmecêutico é uma categoria de produtos
cosméticos, que para além de promover todas as condições supracitadas, também podem ser usados
para tratar ou disfarçar doenças da pele, tais como, a acne12, ictiose, dermatite atópica e rosácea. A
cosmética dermatológica também inclui preparados para proteção dos raios ultravioletas e afeções
cutâneas como o melasma e o fotoenvelhecimento (Silva 2011).

O gesso possui características favoráveis ao uso farmacêutico, como facilidade de compressão e


desagregação. Por isso, é utilizado como diluente em pastilhas prensadas e cápsulas ou na preparação
de moldes. O gesso para uso farmacêutico tem elevado valor comercial, devendo atender às normas e
especificações exigidas para produtos de alimentação e remédios (Baltar et al. 2005).

Quando a água é adicionada ao gesso ele endurece, liberando calor. A aplicação é feita sobre a
pele previamente coberta por creme contendo princípios ativos específicos para a necessidade de cada
cliente. O calor provoca vasodilatação, o que facilita a penetração dos princípios ativos, essa ação é
denominada oclusão. O aquecimento que surge na primeira etapa é seguido de resfriamento local,
promovendo uma ação de sustentação com modelagem. O gesso auxilia na drenagem pelo efeito de
contenção do tecido, após a secagem do gesso sobre a pele.

A Gessoterapia13 é um tratamento de beleza que permite um resultado rápido na eliminação de


celulite, flacidez e gordura localizada. Pelos seus componentes, o gesso auxilia na drenagem de líquido
do corpo, melhorando não só a parte estética como a saúde. Já é uma prática antiga, a novidade está
no gesso com princípios ativos. Funciona da mesma forma que o ortopédico, mas a grande diferença é
que ele contém combinações de substâncias, como centella asiática, lama negra, elastina, argila verde,
cafeína, ginkgo biloba, castanha da índia, cânfora, sementes de uva, entre outros, que em contato
direto com a pele garantem a redução da celulite, flacidez e perda de medidas.

12
Acne é uma doença cutânea mais frequente na adolescência e nos rapazes que corresponde à inflamação da pele
(glândulas sebáceas) causada pela obstrução de poros por gordura

13
http://www.sogab.com.br/bandagensestetica.pdf 17/11/2015

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 55
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

3.3.3. Outras Aplicações do Gesso

Alem das aplicações direcionadas desse trabalho, também podemos destacar as seguintes:

Agricultura

Segundo Raij (2008: 26) “os solos ácidos podem apresentar uma barreira química no subsolo,
ocasionada pela acidez, que impede ou dificulta a ação das raízes”. Há vários anos o gesso tem sido
utilizado como condicionador e melhorador de solos agrícolas, como fonte de cálcio (Ca) e enxofre (S).
O gesso pode ser aplicado em solos ácidos inférteis, solos sódicos e solos argilosos.

Alem de resolver o problema da deficiência do cálcio, o gesso reduz a saturação por alumínio e
fornece enxofre ao solo, permitindo ganhos significativos na produtividade. O aprofundamento radicular
promovido pelo gesso favorece a absorção de água de camadas mais profundas do solo, conferindo às
culturas maior resistência à seca em veranicos14 e safrinhas15. Por outro lado, é utilizado como
fertilizante e como condicionador de solo, melhorando a estrutura do solo e aumentando a
permeabilidade, a aeração, a drenagem, a penetração e a retenção da água no solo. Designado por
landplaster, o gesso é utilizado como fertilizante em culturas específicas, tais como: o amendoim,
legumes, batata e algodão (Velho 2005).

O gesso interage com o solo, dependendo do teor de matéria orgânica e da natureza mineralógica
da fração argilosa. Por ser um sal solúvel, penetra no solo e, em geral, é rapidamente removido da
camada superficial por lixiviação. Em alguns solos, a adsorção de sulfato no subsolo, ao reduzir a
lixiviação do sal, promove aumento da concentração de sulfato e de cálcio em formas trocáveis
também na solução do solo, o que reduz a toxicidade de alumínio para as raízes das plantas. Em
alguns casos ocorre a efetiva redução do alumínio no solo. Por outro lado, em solos que retém pouco
sulfato, os sais decorrentes da aplicação do gesso serão rapidamente removidos do solo pelas águas
de percolação. O gesso tem efeito floculante no solo, reduzindo a dispersão da argila. Este efeito já é
bem conhecido em solos sódicos, mas também se revela em solos ácidos. O gesso pode, também,
influir de forma favorável na condutividade hidráulica de solos (Harben e Kuzvart 1996; Raij 2008).

14
Seca que ocorre em áreas meridionais, com tempo mínimo de 4 dias caracterizada por uma estiagem, acompanhada por
calor intenso, forte insolação e baixa humidade relativa do ar em plena estação fria.

15
É o período compreendido entre o preparo do solo para o plantio até a colheita de determinada cultura.

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

Carga mineral

O gesso pode ser aplicado como carga em inúmeros materiais, devido a sua inércia química e
baixa abrasividade, baixo peso específico, baixa demanda de ligantes e compatibilidade com
pigmentos e outras cargas minerais, alguns graus de qualidade de gesso, com dimensão média das
partículas entre 1,4 e 12 µm, são suficientemente puros para apresentarem um grau de brancura de
97%, índice de refração variando entre 1,52 e 1,58 e um valor de absorção de óleo entre 25 e 26
cm3/100g, o que permite a sua aplicação como carga ou diluente em plástico, tintas, madeiras, têxteis e
alimentos, entre outras (Campos 2002; Velho 2005).

Indústria de papel

O gesso é uma matéria prima de elevado grau de brancura e a sua retenção sobre a fibra
influenciada pelas formas das partículas que tem a versatilidade que apresenta morfologia cubica,
esférica ou acicular, resultado das condições de produção. A principal desvantagem do gesso é a
elevada solubilidade (2 g/l), para alem de ocorrência de elevado número de iões de cálcio poder dar
origem a floculação dos agentes de retenção. O gesso dá origem a uma estrutura aberta e porosa do
papel, o que significa uma elevada absorção de tinta e rápida secagem. O papel com gesso responde
bem a calandragem, permitindo a obtenção de elevado lustro (Campos 2002; Velho 2011).

Na enologia16

O gesso é utilizado na produção de vinho com o efeito de fazer precipitar materiais em suspensão
na mistura. Há evidências do surgimento de sua utilização em vinícolas na Europa, com maior
incidência em sítios arqueológicos datados de aproximadamente 6.500 A.C. Alguns escritos gregos do
filósofo Plínio, descrevem como a população da época utilizava o gesso parcialmente desidratado e um
tipo de cal com o propósito de diminuir a acidez da bebida. O escritor grego Teofrasto é a mais antiga
fonte conhecida a descrever esta prática de vinificação entre os gregos antigos.

16
Extraída no dia 09/12/2015, no sítio: https://www.geocaching.com/seek/cache_details.aspx?wp=GC4825Qetitle=gesso-
gipsita-obidoseguid=c2fd0ffd-057c-43af-b547-8f6adba1b992

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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos

Escultura

O ideal para a moldagem de esculturas é o gesso proveniente de selenites, que é um produto fino
e de grande qualidade aglutinante. Na arquitetura e decoração, o gesso pode ser aplicado como sanca,
moldura borrado, rodapé, rebaixamento de teto e como contorno em volta de batentes de portas e
janelas (Ferreira e Cruvinel 2014).

Ramos (2011: 21) cita dois tipos de gesso recomendados para trabalhos artísticos (moldagem e
modelação) que são os alfa e beta, sendo que:
 Alfa – misturam-se com pouca água na proporção de 280 cm3`por quilo de gesso (1/4 litro de
água por quilograma de gesso). São muito finos e brancos, extremamente densos e muito
pouco absorventes. Permitem acabamentos de grande qualidade, utilizando-se para madres
modelos e moldes para prensagem cerâmica.
 Beta – misturam-se com muita água, na proporção aproximada de 500 cm3 de água por quilo de
gesso. São porosos e friáveis. Usam-se para construir moldes, especialmente para cerâmica
devido a sua capacidade de absorção quando se utilizam borbolinas.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 58
Capítulo 4. Materiais e Métodos

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Para o estudo preliminar do gesso, fez-se a revisão bibliográfica, a qual foi baseada em leitura de
manuais, pesquisa eletrónica via internet, em sites específicos (como a rcaap.pt, ria.ua.pt e OpenAire)
e estudos que utilizam o gesso como elemento constituinte do cimento, na argamassa e
dermocosméticos. Por outro lado, fez-se um levantamento da geologia de Portugal com vista a obter
informações sobre zonas onde ocorrem a rocha sedimentar gipsito e definiu-se os locais de coleta das
amostras, isto é, Loulé (Algarve), Óbidos (Leiria) e Soure (Coimbra), nas regiões sul e centro de
Portugal.
Em seguida fez-se a coleta das amostras nas pedreiras acima referenciadas com vista a realização
de análises e ensaios nos Laboratórios de Materiais e de Raios-X (do Departamento de Geociências),
no Laboratório do Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro e
no laboratório da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. O trabalho laboratorial consistiu na
caracterização físico, químico, mineralógico e tecnológico das três (3) amostras de gesso. Os
procedimentos metodológicos utilizados estão de acordo com os protocolos adotados pelo
Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro.

Para melhor compreensão das amostras, foram nomeadas em função ao local de colheita, de
acordo com a tabela 4.1 (a seguir).

Tabela 4. 1. Designação das amostras.

LOCAL DE NOME OBSERVAÇÃO


COLHEITA
Loulé G. L. Total e < 6 3μm
Óbidos G. O. Total e < 6 3μm
Soure G. S. Total e < 6 3μm

4.1. PREPARAÇÃO DA AMOSTRA

A preparação das amostras envolve técnicas que visam adequá-las aos ensaios e os objetivos
preconizados para os mesmos, de modo a assegurar que elas não sofram alterações entre o processo
de coleta e análise. Assim sendo, a conservação, preparação física e química são fatores muito
importante na análise química, porque podem limitar drasticamente na qualidade analítica dos
resultados.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 59
Capítulo 4. Materiais e Métodos

As amostras estudadas apresentavam as características que podemos observar na figura a seguir


(figura 4.1).

Figura 4. 1. Aspeto físico das amostras de gesso estudadas, sendo a) Gipsito de Soure, b) Gesso de Loulé e c)
Gesso de Óbidos.

Depois de efetuada a coleta das amostras nos locais indicados anteriormente, procedeu-se a
selagem e etiquetagem dos sacos de plástico para posterior envio para o laboratório. Já no laboratório
de Materiais do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, retirou-se parte da amostra
(± 2.5 kg) e a outra guardada em arquivo. A parte retirada foi lavada usando água corrente (da torneira)
com ajuda de uma escova, para retirar a matéria orgânica, poeira e sujidade contidas no exterior das
amostras, posteriormente foram secas à temperatura ambiente sendo depois desagregada por meio de
uma marreta e finalmente moída durante 4 minutos, num moinho de disco vibratório RS 1 (com
capacidade de entrada de granulometria <15 mm e finura final de < 20 µm) com vista a reduzir até
obter a finura de análise, segundo o fluxograma abaixo (figura 4.2).

Em seguida, retirou-se parte da amostra moída (amostra total) para os testes de DRX (2 g), FRX
(10 g) e abrasividade (50 g). Outra parte, entre 500 a 1000 g, foi sujeita a peneiramento por via húmida
ou crivagem, com um peneiro de 63 μm (micra), usando exclusivamente água destilada, e as amostras
foram dispersas mecanicamente e por ultrassons. A secagem processou-se em estufa a temperatura
de ± 60 ºC.

Com a fração < 63 μm realizou-se os testes de DRX (2 g), FRX (10 g), abrasividade (50 g), índice
de consistência ou fall cone test (150 g), analise por texturómetro (50 g) absorção de óleo de linhaça
(10 g), tempo de arrefecimento (20 g) e superfície especifica pelo método BET (3 g).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 60
Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 2. Fluxograma dos ensaios realizados.

4.1.1. Separação granulométrica por peneiro via húmida

Segundo (Lopes 2012) “A análise granulométrica é de importância primordial para uma completa e
precisa caracterização das matérias-primas uma vez que influencia o processo e as propriedades finais
do produto”.
A separação a húmido é aplicada, habitualmente, para amostras de partículas com granulometria
muito fina, onde o peneiramento a seco não funciona de forma eficiente (Carrisso e Coreia, 2014).

Com objetivo de separar na fração granulométrica inferior a 63 µm, recorreu-se ao método de


peneiramento por via húmida (crivagem) que consistiu basicamente em lavar a amostra retirada do
desagregador mecânico e ultrassons, num peneiro ASTM (American Standards for Testing Materials)
de malha de 63 μm, por via húmida (figura 4.3). A fração > 63 µm foi guardada.

O ensaio seguiu o seguinte procedimento experimental:


 Colocou-se 500 g a 1000 g de amostras depois de secas em estufa à temperatura de ± 60 ºC,
em copos polietileno previamente etiquetados;

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 61
Capítulo 4. Materiais e Métodos

 Introduziu-se água destilada e procedeu-se a dispersão no agitador mecânico e ultrassons


durante 5 e 3 minutos, respetivamente;
 Crivaram-se as amostras com ajuda de um funil e do peneiro de malha 63 µm (figura 4.3) de
forma a separar as frações finas (< 63 µm) das frações grossas (> 63 µm), adicionando água
até retirar a maior quantidade possível da fração fina (amostra limpa);
 Repetiu-se os dois últimos passos até obter na fração retida pelo peneiro o máximo da fração
grossa (> 63 µm);
 Colocou-se em copos contendo as respetivas amostras húmidas e devidamente referenciados
em estufa a ± 60 ºC;
 Deixaram-se secar na estufa a ± 60 ºC por várias horas, decantando-se a água e depois
pesaram-se as duas frações obtidas com vista a obter o rendimento granulométrico.

Figura 4. 3. Distribuição dos materiais usados na separação granulométrica por via húmida. Parte da amostra no
agitador mecânico e outra parte num recipiente com um funil e peneiros de malha 63 µm.

O rendimento granulométrico (em percentagem) foi obtido pela razão entre peso da fração final
( ) e a fração inicial ( ) da amostra total usada na separação granulométrica, pode ser determinado
a partir da relação:

Equação 4. 1. Rendimento granulométrico das amostras em percentagem. Onde: pf e pi são os pesos da fração
granulométrica e amostra inicial, respetivamente, seca em gramas (g).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 62
Capítulo 4. Materiais e Métodos

4.2. ANÁLISES FÍSICAS


4.2.1. Determinação da abrasividade de Einlehner e índice de abrasão

A abrasividade corresponde à capacidade que um material possui de arranhar ou desgastar, por


fricção, outro material. Normalmente pode ser descrita através de conteúdos de sílica e quartzo livre,
relacionado com o índice de abrasão (IA). A abrasividade deve ser analisada com a finalidade de se
evitar altos custos de manutenção. A seguir são explicados os limites de abrasividade (Metso Minerals
2005):
 Abrasividade alta: índice de abrasão acima de 0,5;
 Abrasividade média: índice de abrasão de 0,2 a 0,4;
 Abrasividade baixa: índice de abrasão menores que 0,1.

Para realização do teste, usou-se os seguintes passos:


 Pesou-se 50 g de amostra para 400 ml de água destilada;
 Estabilizou-se a solução com desfloculante (hexametafosfato de sódio a 1%);
 Pesou-se a malha seca;
 Agitou-se a solução durante 5 minutos com agitador mecânico e 3 minutos no ultrassom;
 Programou-se o aparelho para 174000 revoluções e montar conforme a figura 4.4. (à
esquerda);
 Retirou-se a malha do aparelho, lavou-se a malha com água destilada, secou-se com ar
comprimido (verificar se está completamente limpa) e colocou-se na estufa a 60 ºC;
 Retirou-se a malha da estufa (figura 4.2. a direita) e voltou-se a pesar a rede seca.

O teste de abrasividade foi realizado em todas amostras (total e fração < 63 μm) recorrendo a um
abrasivímetro Einheler AT – 1000 (figura 4.4. à esquerda) a 1800 rpm, selecionando 174000 revoluções
que correspondem a cerca de 96 min de duração de ensaio.

A abrasividade (A) pode ser determinado a partir da perda do peso da rede (figura 4.3. a direita),
dada por:

Equação 4. 2. Abrasividade de uma amostra. Onde A é a abrasividade (em gramas), e Pi e Pf são os pesos
inicial e final da rede (em gramas), respetivamente.

O índice de abrasividade (IA) é determinado a partir da fórmula:

Equação 4. 3. Índice de abrasividade (IA). Onde: SA é a superfície de abrasão e igual a 305x10-6 mm2.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 63
Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 4. Abrasivímetro Einheler AT – 1000 (à esquerda) e a malha desgastada (à direita).

4.2.2. Determinação do limite de consistência (ou limite de Atterberg)

Quando a humidade é muito elevada, o solo apresenta-se como um fluído denso e diz-se no
estado líquido. À medida que a água evapora, o solo endurece e para um certo h=LL (Limite de
Liquidez), perde a sua capacidade de fluir, porém pode ser moldado facilmente e conservar a sua
forma. O solo encontra-se agora no estado plástico. A continuar a perda de humidade, o estado
plástico desaparecerá gradativamente até que para h=LP (Limite de Plasticidade) o solo se desmancha
ao ser trabalhado. Este é o estado semi-sólido. Continuando a secagem, ocorre a passagem gradual
para o estado sólido. O limite entre os dois estados equivale a um teor de humidade h = LC (Limite de
Contração).
O conhecimento destes limites, permite de uma maneira simples e rápida dar uma ideia bastante
clara do tipo de solo e suas propriedades, principalmente quando se trata de solos finos.
Para os solos em cuja textura exista uma certa percentagem de fração fina, não basta a
granulometria para caracterizá-los, pois as suas propriedades plásticas dependem do teor de
humidade, além da forma das partículas e da sua composição química e mineralógica.

Limite de Liquidez
O limite de liquidez foi determinado pelo método de cone de penetração (estático). Este método
surge como alternativa ao método dinâmico de Casagrande. O ensaio consiste em medir a penetração
vertical de um cone padronizado sob condições especificadas de peso, ângulo e tempo de queda,
numa amostra de solo previamente preparada (Figura 4.5).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 64
Capítulo 4. Materiais e Métodos

O dispositivo (figura 4.5) é essencialmente constituído por um braço de suporte ajustável, uma
régua graduada e um medidor eletrónico que medem a penetração, um botão que aciona a queda do
cone e o respetivo cone, um sistema de nivelamento do equipamento e um painel de controlo do
tempo.
Desde a invenção deste dispositivo, em 1915, foram vários os países (EUA, França, Inglaterra,
Canadá e Brasil) que o desenvolveram e estudaram as possíveis combinações de massa, ângulo do
cone e profundidade de penetração, no sentido de encontrar a mais favorável na determinação do
limite de liquidez.

Figura 4. 5. Cone penetrómetro utilizado nos ensaios elaborados, no âmbito da presente dissertação.

Para a determinação do limite de liquidez foi feita segundo o procedimento:


 Pesou-se 150 g da amostra, adicionou-se água destilada e misturou-se com a espátula até
formar uma massa plástica;
 Encheu-se um copo com 55 mm de diâmetro e 40 mm de profundidade de forma cuidada, para
impedir a formação de bolhas de ar e colocou-se na máquina de Fall Cone Test (figura 4.5). O
excesso de solo foi retirado, originando uma superfície lisa. Com o cone de penetração
bloqueado na posição vertical, baixou-se o conjunto de suporte de modo que a ponta do
equipamento só toque a superfície da amostra. Sabe-se que o cone se encontra na posição
correta, quando a superfície do solo fica marcada apenas com um ligeiro movimento do copo;

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 65
Capítulo 4. Materiais e Métodos

 Libertou-se o cone por um período de 5 ± 1s e registou-se a diferença entre a posição inicial e


a posição final do aparelho, ou seja, o valor da penetração.
 Retirou-se o cone e limpou-se, assim como 2 ± 1 g da amostra penetrado foi recolhido e
pesado, para determinação da humidade, pelo método da secagem em estufa a ± 60 ºC e
voltamos a pesar depois de seca;
 Repetiram-se os três últimos passos, mais três vezes, utilizando-se a mesma amostra, mas
com teores de água crescentes.
 Depois de obter a equação reta Humidade vs Penetração, determinou-se o limite de liquidez no
ponto onde a penetração é igual a 20 mm.

Limite de Plasticidade

A plasticidade de um material traduz a capacidade desse material para ser deformado sem rutura
por ação de uma força e de reter a deformação depois cessar a aplicação da força (Gomes 2002). A
plasticidade é normalmente definida como uma propriedade dos solos, que consiste na maior ou menor
capacidade de serem moldados, quando se lhe junta uma adequada quantidade de água.
Denomina-se índice de plasticidade à diferença entre os limites de liquidez e de plasticidade:

IP = LL – LP.
Equação 4. 4. Índice de plasticidade (IP). Onde LL e LP são os limites de liquidez e de plasticidade,
respetivamente.

Figura 4. 6. Rolinhos depois de secos.

Humidade
Procedeu-se à determinação da humidade (%) a partir do quociente entre os pesos da amostra
seca e da amostra húmida, multiplicado por 100.

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Capítulo 4. Materiais e Métodos

Equação 4. 5. Humidade. Onde Ph e Ps são os pesos das amostras húmida e seca, respetivamente.

Para a determinação do limite de plasticidade foi feita segundo o procedimento:


 Pesou-se 150 g da amostra e misturou-se com água destilada até formar uma pasta moldável;
 Moldou-se a pasta por movimentos regulares dos dedos das mãos sobre uma placa de vidro
fosco colocada em superfície horizontal.
 Rolou-se a amostra e foi progressivamente perdendo a humidade até chegar ao ponto em que
o cilindro com 3 mm de diâmetro e cerca de 10 cm de comprimento (figura 4.6).
 Pesou-se a amostra húmida (Ph), deixou-se a secar na estufa a ± 60 ºC e voltou-se a pesar
depois de seca (Ps).
 O limite de plasticidade da amostra corresponderá a media da humidade determinados nas
quatro provetes, expresso em percentagens.

4.2.3. Tempo de Arrefecimento

O Tempo de Arrefecimento foi calculado com vista a avaliar a velocidade de arefecimento das
amostras. Esta propriedade é importante quando o gesso em estudo poderá ter interesse para
aplicações em balneoterapia (Facão 2009). Os dados foram depois plotados num gráfico em que
colocou-se nas ordenadas a temperatura (oC) e em abcissas o tempo (min). Na avaliação da
velocidade de arrefecimento do gesso utilizou-se para o termómetro digital da marca Dual
Thermometer LT Lutron e modelo TM – 906 A.

Para a determinação deste parâmetro, adoptou-se o procedimento experimental utilizado no


Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, como a seguir se descreve:
 Pesou-se cerca de 20 g de amostra num becker de 100 ml;
 Colocou-se a amostra a secar numa estuda a ± 85 ºC durante 24 h;
 Retirou-se a amostra da estufa e introduziu-se nela um electrodo da temperatura a uma
profundidade de cerca de 1 cm, na amostra, de acordo com a figura a seguir (figura 4.16);
 Registaou-se o diminuição da temperatura dos 60 ºC à 30 ºC em intervalos de 30 segundos;
 Parou-se o ensaio quando se atingiu uma temperatura de 30 ºC.

Nota: Os gessos que demoram mais tempo a arrefecer são consideradas os mais indicadas para
tratamentos de afeções do foro músculo-esquelético (Facão 2009).

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Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 7. Arranjo experimental usado para medir o tempo de arrefecimento.

4.3. ANÁLISES QUÍMICAS E MINERALÓGICAS


4.3.1. Análise química por espetrometria de fluorescência de raio – X (FRX)

A FRX é uma técnica não destrutiva que permite uma análise química de amostras no estado
líquido ou sólido. Esta análise pode ser qualitativa, ou seja, permite a identificação dos elementos
presentes numa amostra, e também quantitativa, permitindo estabelecer a proporção em que cada
elemento se encontra presente. Este é um processo que envolve níveis de energia característicos de
cada elemento, logo a radiação emitida e também característica desse elemento (Lopes 2011).
O princípio teórico da FRX é o efeito da absorção fotoelétrica: todos os elementos químicos
presentes num espécime, são excitados por um feixe policromático de raios X primários com
determinadas energias, emitindo radiações secundárias ou de fluorescência. Estas radiações são
dispersas por cristais analisadores ou dispersores de modo que as radiações secundárias dos
elementos possam ser resolvidas e depois captadas por detetores dos tipos proporcional e cintilações.
Por fim, é necessário estabelecer a correlação das intensidades medidas com os teores dos elementos
químicos presentes.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 68
Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 8. Esquema de um espetrómetro de raios X. Fonte:


http://www.quimicandovzp.com.br/2013/04/espectrometria-de-fluorescencia-de.html, acesso 25/03/2016

Cada elemento químico da Tabela Periódica é caracterizado por um número fixo de protões,
designado por número atómico Z, que conjuntamente com os neutrões formam o núcleo do átomo. Os
eletrões ocupam camadas concêntricas em volta do núcleo e movem-se rapidamente dentro de níveis
específicos de energia (Figura 4.9). Estas camadas são designadas pelas letras K, L, M, N, etc.,
correspondendo a camada K ao 1º nível de energia, a camada L, ao 2º nível de energia, a camada M,
ao 3º nível de energia e assim sucessivamente. A camada K é a mais interna e a menos energética. No
estado neutro, o número de eletrões do átomo é igual ao seu número de protões.

Figura 4. 9. Representação esquemática da excitação e emissão de energia num átomo. Fonte:


http://www.quimicandovzp.com.br/2013/04/espectrometria-de-fluorescencia-de.html, acesso 25/03/2016

Neste estudo, foram realizados dois tipos de análise mineralógica por difração de raios X. A
primeira incidiu na amostra total e teve como finalidade a determinação e quantificação das principais
fases mineralógicas presentes. A segunda foi efetuada na fração < 63 μm, de modo a determinar as
principais fases mineralógicas presentes nesta fração. O FRX foi realizado no laboratório de Raios X,
através do equipamento PANalytical Axios, com comprimento de onda dispersivo, ilustrado na figura a
seguir (figura 4.10).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 69
Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 10. Aparelho usado no ensaio da fluorescência de Raios X

Usou-se esta técnica na análise quantitativa dos elementos químicos maiores: Na 2O, MgO, Al2O3,
SiO2, TiO2, P2O5, SO3, K2O, CaO, TiO2, MnO, Fe2O3, Sr e Cl em percentagem (%) e elementos
menores: Sc, V, Cr, Mn, Co, Ni, Cu, Zn, Ga, Ge, As, Se, Br, Rb, Y, Zr, Nb, Mo, Ag, Cd, Sn, Sb, Te, I,
Cs, Ba, La, Ce, Nd, Sm, Yb, Hf, Ta, W, Ti, Pb, Bi, Th e U, em ppm (parte por milhão), a partir de discos
prensados.

4.3.2. Análise mineralógica por difração de raios – X (DRX)


De entre as várias técnicas que existem para a caracterização de materiais, a de difração de raios
X é a mais indicada na determinação das fases cristalinas dos minerais. Isto e possível porque na
maior parte dos sólidos (cristais), os átomos ordenam-se em planos cristalinos separados entre si por
distâncias da mesma ordem de grandeza dos comprimentos de onda dos raios X. Esta técnica é uma
forma rápida e não destrutível de obter informações precisas e detalhadas em relação à identificação
dos minerais presentes numa amostra ( Albers et al, 2002, citado por Lopes 2011).
O objetivo da DRX foi de fornecer informações sobre a estrutura e composição dos gessos, para
isso, é obtido um difratograma, que possibilita a interpretação das diferentes fases cristalinas do gesso
e consequentemente, uma análise qualitativa do mesmo.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 70
Capítulo 4. Materiais e Métodos

O princípio da técnica de difração, consiste na incidência de raios-X sobre um determinado material


sólido, onde o fotão da radiação incidente colide com os eletrões dos átomos da amostra, tendo sua
trajetória modificada sem perda de energia. Os raios X, pelo facto de possuírem um comprimento de
onda da ordem da magnitude do espancamento atómico nos sólidos, são frequentemente utilizados no
estudo da estrutura cristalina em materiais sólidos.
Em 1934, William Bragg mostrou que a difração dos raios X na matéria cristalina pode ser
comparada a reflexão de feixes incidentes sobre a família de planos reticulares. Dado o infinito
comprimento de onda dessa radiação, os respetivos feixes penetram no interior do cristal e refletem-se
nos respetivos planos reticulares da mesma família. “Para que uma reflexão produza num dado plano
hkl, na notação de Miller, o angulo de incidência da radiação X, a equidistância d(hkl) entre os planos
reticulares da mesma família e o comprimento de onda λ da radiação, é necessário que se verifique a
relação conhecida como lei de Bragg – Equação 4.9 (Pinheiro 2011).

Equação 4. 6. Equação matemática da lei de Bragg. Onde: n – é um nº inteiro, representando os harmónicos de


λ; λ - é o comprimento de onda da radiação incidente; d – é a distância reticular entre os planos sucessivos do
cristal, e; θ - é o ângulo de Bragg ou ângulo ou ângulo de incidência dos raios X com o plano reticular.

Como as distâncias entre planos cristalinos sucessivos e a densidade de átomos ao longo desses
planos são características únicas e específicas de cada espécie mineral, o padrão difractómetro
equivale a uma impressão digital da amostra. Através das posições angulares dos picos (2θ) e das
suas respetivas intensidades torna-se possível proceder à identificação das diferentes fases
mineralógicas (Silva 2014).

As condições necessárias para que uma reflexão tenha lugar são indicadas na figura 4.10 (abaixo).
Ai demostra-se que o ângulo incidente do feixe de raios X θ e d (Å) a equidistância entre planos
reticulares, o feixe refletido no segundo plano a 1, tem em relação ao refletido no primeiro, o atraso
. Em resultado da difração originam-se diagramas que diferem de mineral para
mineral, dependendo as suas características da equidistância dos planos cristalinos do material. Todos
os planos reticulares dos cristais são revelados nos diagramas, no entanto são os planos basais os de
maior interesse para a identificação das espécies minerais argilosas em virtude de se conhecer
rigorosamente o seu espaçamento (Pinheiro 2011).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 71
Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 11. Derivação da lei de Bragg. Onde: θ é o ângulo da radiação incidente com o plano de átomos em
análise, d é a distância entre planos e ABC o percurso extra que a radiação difratada pelo átomo B tem de
percorrer (Silva 2014).

Para cada amostra, foram realizados dois a análise mineralógica por difratometria de raios X. Uma
a partir da fração menor que 63 μm e outra referente a fração total, ambas com objetivo de determinar
e quantificar as principais fases mineralógicas nas frações.

A técnica de DRX foi realizada com um espectrómetro PHILIPS X´Pert (figura 4.112), no
Laboratório de Raios X do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro. A partir desta
técnica foram obtidos picos característicos dos minerais presentes nas amostras.

Figura 4. 12. Aparelho usado no ensaio de difração dos Raios X.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 72
Capítulo 4. Materiais e Métodos

4.4. ENSAIO TECNOLÓGICO


4.4.1. Determinação da superfície especifica pelo método BET

A técnica BET fundamenta-se na adsorção física das moléculas de gás inerte sobre uma superfície
sólida, servindo como base para uma técnica de análise importante para a medição da porosidade e
área superficial específica de um material. A importância da técnica se deve ao fato de que a
porosidade e a área superficial serem parâmetros que afetam a qualidade e o desempenho de muitos
materiais e produtos (Melo 2012).
A superfície específica é definida como a área da superfície externa mais a área da superfície
interna (caso esta exista), das partículas constituintes, por unidade de nassa, expressa em m 2/g. Ela é
influenciada pela densidade, distribuição dimensional do grão e regularidade da (s) superfície (s). A
superfície especifica serve para caraterizar a finura de um material granulado: será tanto maior quanto
mais fino for ele (Oliveira 2015).
A determinação da superfície específica pelo método indireto BET (Stephen Brunauer, Paul
Emmett e Edward Teller, 1938) é mais comum e consiste em passar uma corrente contínua de
Nitrogénio (N2) e Hélio (He) através de uma atmosfera seca que foi arrefecida à temperatura próxima
do ponto de ebulição do Nitrogénio. Uma camada monomolecular de N2 é adsorvida sobre as partículas
de gesso, podendo ser quantificada que é a superfície da molécula de N 2. A temperatura da amostra é
depois aumentada para a temperatura ambiente e o N2 antes adsorvido é libertado sendo o seu volume
medido pela segunda vez.
Normalmente, o gás utilizado é o nitrogênio (N2), gás de área conhecida de aproximadamente 16
Ų. Este é adsorvido pela superfície do material a ser analisado, formando assim, uma monocamada
completa (isoterma de adsorção). A retirada de nitrogênio é realizada através de vácuo (isoterma de
dessorção). Obtém-se, então, a histerese17 de adsorção e dessorção das amostras (Canut 2006).
A equação do método BET para p<<p0, se reduz a (equação 4.10):

Equação 4. 7. Equação de Langmuir. Onde v é o volume total de gás adsorvido; vm é o volume de gás adsorvido
quando a superfície do sólido está completamente coberta por uma monocamada; c é a constante de BET; p é a
pressão medida no estado de equilíbrio; p0 é a pressão inicial do sistema.

A partir da equação 4.10 podemos representar graficamente a relação p/v(p0-p) X p/p0, cuja
interseção com o eixo das ordenadas é 1/vmc e inclinação igual a (c-1)/vmc (figura 4.12). Desta forma

17
A histerese é a tendência de um material ou sistema de conservar suas propriedades na ausência de um estímulo que as
gerou, ou ainda, é a capacidade de preservar uma deformação efetuada por um estímulo.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 73
Capítulo 4. Materiais e Métodos

podemos obter vm e c a partir da plotagem do gráfico, sendo o primeiro o volume de gás requerido para
completar uma camada de adsorção.

.
Figura 4. 13. Representação gráfica da equação de Lungmuir do método de BET.

No caso ideal de uma esfera completamente "polida" a área superficial especifica e igual a área
geométrica da superfície da esfera. A medida que aumenta a rugosidade ou a porosidade naturalmente
aumenta o valor da área superficial especifica. Esta área pode ser determinada por adsorção de azoto
a sua temperatura de ebulição (-196°C) fazendo uso do modelo físico desenvolvido por BET, 1938,
razão pela qual a área especifica obtida desta forma e referida como área BET (Melo 2012).
Para a determinação da superficie especifica, adoptou-se o procedimento experimental utilizado no
Departamento de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro e o equipamento utilizado o
aparelho Micromeritics Gemini M 2380 (figura 4.13) a seguir.

Figura 4. 14. Aparelhos usados no ensaio de Superfície específica pelo método BET. a) Unidade de tratamento
(desgaseificação). b) Unidade de análise.

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Capítulo 4. Materiais e Métodos

4.4.2. Análise por texturómetro

A Organização Internacional de Normalização (ISO 1992) define textura como o conjunto de


propriedades mecânicas, geométricas e de superfície de um produto, detectáveis pelos receptores
mecânicos e tácteis e, eventualmente pelos receptores visuais e auditivos.
A textura é uma propriedade que corresponde as características físicas da amostra em estudo que
são percecionadas pelo tato. Estas características estão relacionadas com a deformação provocada
por uma força e são medidas em forca, distância e tempo (Sherman 1970).
No desenvolvimento de preparações para aplicação cutânea é necessário ter em consideração
certos atributos que contribuem para a aceitação do produto e melhoria da sua eficácia. Esses atributos
incluem as propriedades mecânicas como a adesividade e a firmeza (Krambeck 2009).

As propriedades do gesso que contribuem para a sua textura são divididas em três categorias:
 Mecânicas: relacionadas com a reação do produto a uma pressão, que compreendem a
dureza, dimensão, viscosidade, elasticidade e aderência;
 Geométricas: relacionadas com a dimensão, forma e arranjo das partículas do gesso;
 Superfície: relacionadas com as sensações, tais como as que são produzidas na cavidade
bocal por água e/ou gorduras.

A análise instrumental do perfil de textura (TPA - Texture Profile Analysis) é um dos métodos que
permitem determinar a textura por simulação ou imitação da mordida repetida ou mastigação do
alimento, colocados a uma velocidade e distancia pré-definidos. A sonda retorna depois a sua posição
inicial, acima da superfície da amostra. Assim, durante o teste é realizada uma primeira compressão
seguida por um relaxamento e uma segunda compressão. Deste teste obtém-se um gráfico força
versus tempo, do qual se calculam os parâmetros de textura (Bourne 2002; Guiné et al. 2010).
A firmeza é a força necessária para obter uma dada deformação (expresso em Newton). Enquanto
que a adesividade se refere ao trabalho necessário para vencer as forças de atração entre a superfície
da amostra e as superfícies com as quais este entra em contacto (expresso em N.s) (Sherman 1970).
Os parâmetros de textura obtidos foram introduzidos em texturogramas (curvas força vs tempo)
obtidos para os gessos, apenas se consideraram para análise os parâmetros firmeza (N) e a
adesividade (N.s), por se verificar que foram os atributos que melhor discriminavam as características
dos gessos.
O teste for realizado na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, através do Texture
Analyser TA-XT2iHR da Stable microSystems (figura 4.14) onde usou-se 73% de gesso para 27%
veiculo hidroglicérico (1:2).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 75
Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 15. Texturómetro semelhante ao utilizado na análise texturométrica. Fonte:


www.stablemicrosystems.com acesso no dia 11/05/2016.

4.4.3. Determinação da absorção de óleo de linhaça

O índice de absorção de óleo é a medida da área superficial das partículas e dos espaços vazios
existentes entre as partículas individuais ou os seus agregados e também dos poros existentes nas
partículas. A absorção de óleo (AO) representa a quantidade de óleo necessária para uma determinada
quantidade de pó forme uma pasta e é definida, laboratorialmente, como sendo a quantidade de óleo
de linhaça que é absorvida sob determinadas condições por uma amostra de gesso.
Esta propriedade encontra-se relacionada com a distribuição dimensional de partículas, a tensão
interfaces, a capacidade de humedecimento de pó e a floculação. Geralmente, o índice de absorção de
óleo é tanto maior quanto maior for a superfície especifica, ou seja, quanto menor for a disponibilidade
de espaços vazios menor será a absorção de óleo. Utilizou-se as amostras depois de secas a 60 ˚C,
temperatura que retira apenas a água correspondente à humidade.
Este ensaio seguiu o método da espátula ou norma ISO 787/5-1980 que consiste em:
 Pesou-se uma quantidade apropriada da amostra (10 g) que foi colocada numa placa de vidro
de dimensões mínimas de 300 mm x 400 mm.
 Adicionou-se óleo quatro a cinco gotas de cada vez, com uma bureta de 25 ml de capacidade.
Apos a adição, esfregou-se o conjunto com a espátula e continuou-se a adicionar óleo de
linhaça ao ritmo referido ate que se forme conglomerados de óleo e gesso. A seguir adicionou-
se 1 gota de óleo de cada vez e misturou-se muito bem com a lamina, sendo que, este
método depende da experiencia do operador.
 Cessou-se a adição de óleo quando se formou uma pasta de consistência plástica uniforme
(suave). Esta pasta apenas cobriu sem partir nem fracionar devendo apenas aderir a placa,
como é mostrado na figura a seguir (figura 4.15).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 76
Capítulo 4. Materiais e Métodos

Figura 4. 16. Arranjo experimental usado na determinação de absorção de óleo de linhaça no gesso.

Os resultados são expressos em mililitros de líquido por 100 g de amostra (ml/100g), e também em
percentagem de peso, considerando para efeito a densidade do óleo de linhaça (0.93 g/ml), sendo
dado pela formula 4.11.
ou

Equação 4. 8. Absorção de óleo. Onde V é o volume de óleo necessário, em ml e m é a massa da amostra de


gesso, em g.

4.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA


O programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) é uma ferramenta para
análise de dados utilizando técnicas estatísticas básicas e avançadas. É um software estatístico de fácil
manuseio internacionalmente utilizado há muitas décadas, desde suas versões para computadores de
grande porte. Usou-se o método de coeficiente de correlação linear de Pearson. Este método permitiu
analisar as relações entre os parâmetros físico-químicos analisados.
A análise estatística univariada foi feita com recurso ao software IBM SPSS Statistic 24. Efetuaram-
se comparações de médias através da correlação dos parâmetros quantitativos e representativos das 3
amostras e 22 variáveis que posteriormente iremos separar em químicas e físicas (e tecnológicas).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 77
Capítulo 4. Materiais e Métodos

4.6. RESUMO DO CAPÍTULO

A seguir, faremos o resumo dos métodos experimentais usados no presente trabalho, assim como
os objetivos de cada um dos ensaios realizados.

Tabela 4. 2. Quadro resumo dos métodos usados e seus objetivos.

ENSAIO FRAÇÃO E OBJETIVOS OBSERVAÇÕES


QUANTIDADE
Separação Fração total Separar a fração > e < 63 µm. Peneiramento por via húmida.
granulométrica (500 – 1000 g)
Abrasividade de Fração total e < Quantificar a abrasividade. Abrasivímetro Einlehner AT -
Einlehner 63 µm (2 g) 1000
Limite de Fração < 63 Determinar os limites de Norma ISO/TS 17892-6, 2004
consistência µm (150 g) liquidez e de plasticidade e a (E) Fall cone test.
humidade.
Tempo de Fração < 63 Medir a velocidade de Medido por cronometro e o
arrefecimento µm (20 g) arrefecimento do gesso. Dual Thermometer LT Lutron e
TM – 906 A
FRX Fração total e < Composição química do Realizado no aparelho
63 µm (10 g) gesso. PANalytical Axios”
DRX Fração total e < Identificação das diferentes Realizado no difractómetro
63 µm (2 g) fases mineralógicas. Philips X’Pert
Superfície Fração < 63 Caraterizar a finura de um Realizado no aparelho
especifica pelo µm (10 g) material granulado. Micromeritics Gemini M 2380
método BET
Absorção de Fração < 63 Medir a capacidade de De acordo com a norma ISO
óleo de linhaça µm (3 g) absorção de óleo. 787/5-1980
Análise Fração < 63 Determinar as propriedades Texture Analyser TA-XT2iHR
texturométrica µm (50 g) de textura. Stable microSystems.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 78
Capítulo 5. Resultados e Discussões

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capitulo serão apresentados os resultados referentes a todo processo para caraterização
física, química, mineralógica e tecnológica das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure. Em
seguida faremos correlações entre os parâmetros, usando o software IBM SPSS Statistic 24.

5.1. PROPRIEDADES FÍSICAS DAS AMOSTRAS

As propriedades físicas podem ser divididas em óticas, mecânicas e outras. Fazem parte das
óticas: a cor, o brilho, a risca/traço, a diafanidade/transparência, e a luminescência. A dureza, a
clivagem e a fratura constituem as propriedades mecânicas. Existem outras propriedades como:
densidade, flutuação, cheiro, sabor, propriedades magnéticas, elétricas e radioativas (ANCCT, 2012).
As nossas amostras apresentam as seguintes propriedades (tabela 5.1):

Tabela 5. 1. Propriedades físicas e mecânicas das amostras usadas na presente pesquisa.

GESSO DE: LOULÉ ÓBIDOS SOURE

PROPRIEDADES
Cor da rocha Cinza (e branco) Branco (e cinza) Cinza (e branco)
Cor do pó (granular) Cinzento-claro Branco Cinzento-escuro
Brilho Não metálico ou Vítreo Não metálico ou Vítreo Não metálico ou Vítreo
Traço na porcelana Branco Branco Branco
Luminescência Não apresenta Não apresenta Não apresenta
Transparência Translúcido Translúcido Translúcido
Dureza (Mohr) 2 (riscado pela unha). 2 (riscado pela unha). 2 (riscado pela unha).
Efervescência com HCl Não faz Não faz Não faz
Odor ou cheiro Não tem Não tem Não tem
Sabor Não apresenta Não apresenta Não apresenta

Algumas propriedades físicas do gipsito, como cor, forma e tamanho dos cristais, são variáveis,
influenciados pela presença de impurezas e das condições ambientais da formação, respetivamente.
Assim, esse mineral que possui dureza 2 na escala de Mohs e clivagem em 4 direções, pode ser
encontrado na cor branca, cinza entre outras (Baltar et al. 2005). Assim o gipsito branco (GO) aparenta
apresentar menos impurezas e com baixa dureza relativamente aos outros (GL e GS).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 79
Capítulo 5. Resultados e Discussões

5.2. SEPARAÇÃO GRANULOMÉTRICA

O gipsito é uma rocha sedimentar heterogénea em relação a constituição granulométrica. Segundo


Costa (2013: 64) “A granulometria do gesso é uma caraterística de grande importância, pois ela é uma
das propriedades que mostra a melhor aplicação para o gesso estuado”.

Na separação granulométrica por via húmida, utilizou-se um peneiro ASTM com malha de 63 µm,
foram avaliados os rendimentos das frações < 63 µm e > 63 µm, a partir da percentagem do material
que passa e retido no peneiro de abertura 63 µm e obtemos os resultados apresentados na figura 5.1.
(a seguir).
As amostras estudadas correspondem a gessos com uma percentagem da fração < 63 µm que
varia de 31% e 49%. Na amostra de gesso de Soure, a fração inferior a 63 µm apresenta igual
rendimentos a amostra superior a 63 µm. Enquanto que nas outras amostras (Loulé e Óbidos), a
fração maior que 63 µm apresentam maiores rendimentos que a fração 63 µm, com valores acima do
dobro no gesso de Óbidos.

Figura 5. 1. Rendimentos granulométricos das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure.

A partir dos gráficos (figura 5.1) podemos verificar que ambas amostras possuem menor
percentagem da granulometria fina (< 63 µm), isto é, as amostras de Soure e Loulé apresentam
resultados de granulometria semelhante com graus de finura (49 e 45%, respetivamente) em relação
ao gesso de Óbidos que apresentou um valor baixo (31%), apesar de apresentar menores perdas (≈ 1
%). Assim sendo, podemos considerar todas amostras pouco rentáveis se se pretender a fração fina (<
63 µm). Houve perdas insignificativas de amostras nesse procedimento.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 80
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Em todas as amostras, a fração mais grosseira (> 63 µm) incorpora o gesso (em grandes
quantidades) e alguns clastos de quartzo de dimensão de areias grosseiras observáveis à vista
desarmada.
Esses resultados de classificação granulométrica devem ser encarrados com muita reserva, visto
que, durante o processo de separação, observou-se que as amostras não libertaram todos os grãos de
gesso, formando “falsos graus”, forçosamente com granulometria superior ao real (Alves 2013).
Consequentemente, todos gessos apresentam rendimento granulométrico abaixo das especificações
típicas de graus de qualidade de gesso, segundo a tabela 3.4.

5.3. ANÁLISES FÍSICAS


5.3.1. Abrasão e índice de abrasividade

Os resultados de abrasão e índice de abrasividade das três amostras de gesso em estudo estão na
tabela 5.2 (a seguir).

Tabela 5. 2. Valor da abrasividade e índice de abrasão das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure.

AMOSTRA DE GESSO PESO DA MALHA ABRASÃO, ÍNDICE DE


DE: Inicial (g) Final (g) (g) ABRASIVIDADE

Loulé <63 μm 3.3115 3.3084 0.0031 10.1639


Total 3,3138 3.3089 0.0049 16.0656
Óbidos <63 μm 3.3079 3.3057 0.0022 7.2131
Total 3.3056 3.3013 0.0043 14.0984
Soure <63 μm 3.3045 3.3015 0.003 9.8361
Total 3,3162 3.3108 0.0054 17.7049

A partir dos dados da tabela 5.2, observa-se que o gesso de Óbidos apresenta menores valores de
abrasão e índice de abrasividade, enquanto que o gesso de Soure apresenta maiores índice de
abrasividade nas amostras < 63 µm e total, respetivamente.

O maior valor de índice de abrasividade no GS, que de acordo com a tabela 5.4 e figuras 5.6 a
5.11, poderá ser provado pela elevada concentração em minerais detríticos, como o quartzo, tendo-se
refletido, desta forma, na abrasividade. A fração < 63 µm apresenta níveis consideráveis de
abrasividade porque o quartzo nos gessos deve fino.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 81
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Em todos os casos, as amostras totais ostentam maior poder abrasivo que as < 63 μm (quase o
dobro), o que está relacionado o aumento de teor de gesso e diminuição do teor de quartzo da fração
total para a < 63 μm. Esta elevada abrasão pode limitar o uso do gesso na produção de produtos
farmacêuticos (dermocosméticos).

Até à atualidade não se encontram disponíveis valores normativos para o índice de abrasividade do
gesso para aplicações em estudo no presente trabalho. No entanto, de acordo com (Metso Minerals
2005), podemos classificar os gessos em estudo como não abrasivos, por apresentar valores de
abrasão menores que 0,1. Ainda (Baltar et al. 2005) sublinha que a abrasividade do gesso para
aplicações indústriais deve ser de 0,01 – 0,014 g, valores acima dos obtidos no presente trabalho.
Desta forma, os valores obtidos na tabela 5.2 podem justificar o uso desta amostra e suas
formulações para diversos fins, quer farmacêuticos como cosméticos.

5.3.2. Índice de consistência

Para a fração fina (< 63 µm) realizaram-se ensaios para determinação do limite de liquidez através
do método de fall cone test. Para cada amostra, realizaram-se 4 vezes o ensaio com teor de água
diferente (crescente). Com os valores de humidade (%) e penetração (mm) construiu-se os gráficos a
seguir (Figuras 5.2, 5.3 e 5.4), no qual as ordenadas são as penetrações e as abscissas os
correspondentes a humidade. Em seguida, interpola-se uma reta entre os pontos determinados no
gráfico, cujos valores apresentamos a seguir:

Figura 5. 2. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Loulé (GL).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 82
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Figura 5. 3. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Óbidos.

Figura 5. 4. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Soure (GS).

A partir dos gráficos das figuras 5.2, 5.3 e 5.4, verifica-se uma relação aproximadamente linear
entre a humidade e a penetração do cone. Este facto leva-nos a inferir que o aumento da humidade do
gesso é diretamente proporcional a penetração do cone.

O limite de liquidez é expresso pela humidade correspondente à penetração de 20 mm na amostra.


O índice de plasticidade é o resultado da diferença entre o limite de liquidez e limite de plasticidade. Os
resultados desses três parâmetros são mostrados na tabela abaixo (Tabela 5.3)

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 83
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Tabela 5. 3. Limite de plasticidade obtida por fall cone test, limite e índice de plasticidade. Onde: a) O gesso de
Óbidos não apresenta plasticidade suficiente para fazer os rolinhos; ANP amostra não plástica.

Gesso Limite de liquidez Limite de plasticidade Índice de plasticidade Classificação


Loulé 26,164 21,00153 5,162475 Fracamente plástico
Óbidos 31,628 a) ANP
Soure 28,12 18,90927 9,210728 Medianamente plástico

Do ponto de vista físico, no que respeita a plasticidade, segundo a classificação de Attemberg


(1911), o gesso de Loulé é considerado fracamente plástica, por apresentarem o índice de plasticidade
entre 1< IP < 7, o gesso de Soure é medianamente plástico, porque possuir um índice de plasticidade
entre 7 < IP < 15.

Quanto ao gesso de Óbidos verificamos um maior limite de liquidez e fraquíssima ou inexistência


da plasticidade. Segundo (NP-143, LNEC 1969) “O limite de plasticidade só é aplicável aos solos com
aproximadamente 30% ou mais, em massa, de partículas com dimensões inferiores a 0,05 mm. Os
solos predominantemente arenosos ficam excluídos deste ensaio, pois o mesmo perde o seu
significado”. Este enunciado pode ser sustentado pelo baixo rendimento granulométrico da fração < 63
µm do gesso de Óbidos representado na figura 5.1.

A plasticidade do gesso é um fator que está diretamente ligado a trabalhabilidade e aderência da


pasta que são propriedades muito valorizadas nas argamassas (Canut 2006). A partir dos resultados
da tabela 5.3. podemos afirmar que o gesso de Soure é mais plástico, logo é mais compressivo e o
mais adequado para a aplicação em argamassas.

5.3.3. Tempo de arrefecimento

Os limites máximo e mínimo para determinação dos tempos de arrefecimento podem ser variados,
de acordo com a vários autores. No entanto, no presente trabalho foi adotado o intervalo de 60 ºC a 30
ºC, uma vez que, para que o tratamento seja eficaz, é necessário que o material usado para tratamento
terapêutico conserve uma temperatura superior a 30 ºC (Gomes 2002).
Até ao minuto 7,5 observou-se um comportamento quase linear, inversamente proporcional entre o
tempo e as temperaturas de 60 ºC e 38 ± 1 ºC. Contudo, a partir dessa temperatura, este
comportamento foi alterado, passando o gesso a arrefecer menos, o que originou a tendência a
horizontalizar do gráfico da figura 5.5 até a temperatura de 30 ºC (temperatura mínima).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 84
Capítulo 5. Resultados e Discussões

O ensaio te tempo de arrefecimento foi realizado à 23 ºC de temperatura no Laboratório de


Materiais do Departamento de Geociências, onde tivemos valores representados no gráfico a seguir
(figura 5.5.).

Figura 5. 5. Tempo de arrefecimento dos gessos de Loulé (GL), Óbidos (GO) e Soure (GS).

A diferença no comportamento térmico nos gessos em estudo é mínima, isto é, para mesma
variação da temperatura (de 60 ºC para 30 ºC) os tempos de arrefecimento dos gessos variou de 16,5
minutos (GO) à 21 minutos (GS), com a seguinte sequencia:

GS > GL > GO

Esses resultados demonstram que o gesso de Soure apresenta maior tempo de arrefecimento, o
que torna interessante para revestimentos de paredes, reduzindo o efeito de “parede fria” e a
ocorrência de condensação de água. O baixo coeficiente de condutividade térmica traduz uma maior
capacidade de isolamento térmico e consequentemente, maior resistência ao fogo.

O facto do gesso de Soure apresentar maior quantidades de quartzo (SiO2) levou-nos a inferir que
poderá existir uma relação entre o teor de quartzo e o tempo de arrefecimento das pastas. Ou seja,
quanto maior for o teor de quartzo na pasta de gesso, mais lenta será a velocidade de arrefecimento do
gesso e, portanto, melhor serão as propriedades terapêuticas térmicas.
Esse resultado também pode se justifica pela quantidade de quartzo nas amostras e a diferença de
coeficiente de condutividade térmica do gesso (0,46 W/m·K) e quartzo (1,3 W/m·K).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 85
Capítulo 5. Resultados e Discussões

O gesso quando é usado para fins terapêuticos deve permanecer com uma temperatura agradável
durante a sessão terapêutica pelo menos durante 30 minutos. Assim, o gesso deve manter uma
temperatura que o corpo tolere e não deve arrefecer rapidamente para menos de 36 ºC em menos de
30 minutos, isto porque, se ultrapassa os 36 ºC, baixa para temperatura inferior a do corpo, o que e
bastante desagradável (Facão 2009).
O tempo de arrefecimento até 30 ºC para todas as amostras de gesso é inferior que 30 minutos, o
que indica que as amostras analisadas não são adequadas para serem utilizadas em tratamentos
terapêuticos onde a temperatura (calor) seja um parâmetro importante para o tratamento.

Além dessa análise, há que ressaltar o potencial de perda de calor do gesso de Soure, que entre
as 3 materiais é mais indicada para uso terapêutico. Este resultado está de acordo com a análise
química (item 5.5) e de acordo com as resultados de (Schleier et al. 2014)

5.4. ANÁLISE QUÍMICA E MINERALÓGICA


5.4.1. Análise química por fluorescência dos raios – X

Na tabela 5.4. (a seguir) encontram-se indicados os resultados das análises químicas obtidos por
espectrometria de fluorescência de raios X, dos elementos maiores, na forma de óxidos (exceto o
estrôncio) correspondentes as três amostras e, para cada uma, as duas frações granulométricas (<63
μm e total). A composição mineralógica dos depósitos é muito variável, em especial no que respeita ao
teor em gesso. As duas primeiras análises dizem respeito a amostras (GL e GO) mais ricas em gesso,
visto que possuem teores em SO3 e CaO bastante elevados e próximos aos valores teóricos de
referência (gesso puro).

A composição química das amostras (tabela 5.4) indica a presença de outros elementos para além
de sulfato de cálcio (Na, Al, Mg, Si, Sr, P, K, Ti), mas os teores de óxido sulfúrico (SO3) e óxido de
cálcio (CaO) são os mais predominantes nas amostras, e encontramos teores significativos (> 1%) de
dióxido de silício (SiO2), óxido de alumínio (Al2O3) e óxido de magnésio (MgO) nos gessos de Loulé e
Soure. É importante referir que há maiores teores de óxidos e estrôncio (Sr) nas frações < 63 µm que
nas amostras totais, exceto os teores de SO3 e CaO no gesso de Soure. Maiores teores de SiO2 nos
gessos de Loulé (> 3%) e Soure (> 6%) justificam a presença de quartzo nos resultados de difração de
raios X (figuras 5.6, 5.7, 5.10 e 5.11).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 86
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Tabela 5. 4. Composição química dos elementos maioritários das frações < 63 µm e total obtidas por FRX (%).
Onde; LOI é a perda de massa ao rubro; * Quantidades abaixo do limite mínimo de deteção do elemento.

FRAÇÃO < 63 µm FRAÇÃO TOTAL


GL (%) GO (%) GS (%) GL (%) GO (%) GS (%)
Na2O 0,030 0,019 0,060 0,032 0,017 0,040
MgO 2,153 0,560 1,906 1,366 0,325 1,227
Al2O3 1,768 0,276 4,645 1,216 0,117 2,895
SiO2 4,858 0,683 10,034 3,049 0,269 6,316
P2O5 0,016 0* 0,039 0,013 0* 0,024
SO3 44,282 46,984 36,872 41,901 44,571 39,546
K2O 0,264 0,064 0,793 0,147 0,018 0,504
CaO 32,165 35,206 25,866 29,644 32,729 27,623
TiO2 0,084 0* 0,139 0,049 0* 0,107
MnO 0,010 0* 0,012 0* 0* 0*
Fe2O3 0,559 0,096 1,213 0,274 0,041 0,820
Sr 0,068 0,200 0,097 0,043 0,091 0,078
LOI 13,740 15,870 18,310 22,260 21,810 20,790

Os resultados obtidos caracterizam a presença dominante de SO3 e CaO. O percentual resultante


de compostos presentes, 2 – 19%, pode ser atribuído à presença de impurezas que estão dentro do
limite aceitável de impurezas que, segundo a literatura, não devem ultrapassar 15%, exceto a fração <
63 µm do gesso de Soure.
A análise química teórica do gesso puro é a seguinte: 32,5% CaO, 20,9% H2O e 46,6% SO3. De
acordo com a análise química efetuada (tabela 5.4), os gessos de Óbidos e Loulé estão dotados de
uma pureza mais elevada do que o gesso de Soure, pelo elevado teor de sulfatos (CaSO4). Os valores
apresentados mostram um excesso de SO3, deficit em CaO possivelmente deficit em H2O, confirmadas
pela perda de massa ao rubro (LOI) no gesso de Loulé e com certas duvidas no gesso de Óbidos e
Soure. A presença de quartzo (sílica) e filossilicatos podem ser os responsáveis pelo excesso em SO3
e o teor demasiado baixo de CaO (e possivelmente H2O) associado ainda à evolução geológica do
próprio depósito.

Sabendo que o gesso é composto basicamente por sulfato (SO 3) e óxido de cálcio (CaO), antes de
analisar os contaminantes do gesso dentro dos limites aceitáveis, devemos avaliar sobretudo sua
aplicação. Por exemplo, o teor mínimo de SO3 exigidos atualmente pela indústria de cimento está

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 87
Capítulo 5. Resultados e Discussões

fixado em 35%, enquanto que ter o teor de P2O5 deve ser menor que 0,8%, facto que irá proporcionar
um aumento do tempo de pega dos cimentos, e por consequência aos concretos com ele produzidos
(Pacheco e Matias 2010). Ainda (Harben 2002: 158) refere que “para cimento é necessário gessos com
> 65% de CaSO4 (CaO + SO3)”.
O óxido de ferro (Fe2O3) presente nas amostras de gesso, em quantidades abaixo de 1,213%, não
interfere na qualidade final dos cimentos. Já o óxido de titânio (TiO 2), em baixa concentração (<
0,139%), não afeta diretamente o uso do gesso em cimento; no entanto, a indústria de cimento se
preocupa com a presença desse óxido pois se associado a outros materiais pode afetar negativamente
no endurecimento da pasta de cimento, diminuindo assim a resistência mecânica dos produtos à base
de cimento (Canut 2006).
Pelos resultados apresentados na tabela 5.4, observa-se que os gessos estudados satisfazem os
autores acima citados, isto é, apresentam teores de CaSO4 > 65%, SO3 > 36,872 %, P2O5 < 0,039 %,
Fe2O3 < 1,213% e TiO2 < 0,139% por isso podemos inferir que se encontra dentro dos limites da
indústria de cimento.

Nos gessos de Soure e Loulé encontram-se o óxido de silício (SiO2) em quantidades significativas
(5% em média), que segundo Schleier et al. (2014: 104) “o silício é fundamental nos processos
fisiológicos, e muito importante para a estruturação da pele, unhas e cabelos. Por esse motivo, vem
sendo cada vez mais empregado pela indústria cosmética e farmacêutica”.
Importa agora destacar o potencial dos gessos de Soure (SiO2 > 6,316%) e Loulé (SiO2 > 3,049%)
na indústria dermocosmética. Em relação ao gesso de Óbidos, salientar que o óxido de silício (SiO 2)
encontra-se em quantidades vestigiais (< 1%) o que demonstra certas limitações para essa aplicação.

A tabela 5.5 (a seguir) estão representados os elementos minoritários dos gessos estudados que
apresentam certo interesse na indústria farmacêutica (cosmética) e em argamassas. Referir que as
quantidades de certos elementos foram determinadas a partir dos seus óxidos, apresentados na tabela
acima (tabela 5.4).

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Capítulo 5. Resultados e Discussões

Tabela 5. 5. Composição química de elementos minoritários nas frações < 63 µm e total obtidas por FRX. Onde:
* Quantidades abaixo do limite mínimo para o elemento.

COMPOSIÇÃO FRAÇÃO < 63 µm FRAÇÃO TOTAL


QUÍMICA GL (ppm) GO (ppm) GS (ppm) GL (ppm) GO (ppm) GS (ppm)
As < 4,4* < 4,4* 11,7 < 4,4* < 4,4* 8,1
Se < 0,8* < 0,8* < 0,8* < 0,8* < 0,8* < 0,8*
F 0* 0* 0* 0* 0* 0*
Fe 390,9 67,1 848,4 191,6 28,6 373,5
Pb 6,9 3,4 14,8 4,8 4,5 10,1
Metais pesados 25,6 11,2 32,8 17,1 6,7 35,6
Na 222,2 240 445,5 237,4 126,1 296,7
Cl 0* 80 90 70 70 100
Mg 1298,3 337,7 1149,3 823,7 195,9 739,9
K 219,1 53,1 658,3 122,0 14,9 418,3

Iremos fazer uma comparação dos valores obtidos com os valores teóricos exigidos para uso em
argamassa (tabela 5.6) e em produtos farmacêuticos (tabela 5.7), representado nas tabelas a seguir.

Tabela 5. 6. Especificações exigidas no gesso para uso em argamassa. Adaptado de Harben (2002: 158).

QUANTIDADES
CaSO4.2H2O > 85 % mas os produtores preferem 94-95%
Na 75 - 250 ppm
Mg 50 - 250 ppm
K < 75 ppm
Cl < 100 ppm
Água livre 10 -15 ppm

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 89
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Tabela 5. 7. Especificações típicas exigidas para o gesso utilizado para fins farmacêuticos. Adaptado de Harben
(2002: 158).

QUANTIDADES
CaSO4.2H2O > 96,75 %
As < 3 ppm
Se < 30 ppm
F < 30 ppm
Fe < 100 ppm
Pb < 10 ppm
Metais pesados < 10 ppm

Os dados apresentados nas tabelas 5.5 e 5.6 são relativas às especificações teóricas exigidas para
a argamassa e os resultados práticos obtidos no presente trabalho, respetivamente. Assim, todos
gessos apresentam teores de Cl recomendados, mas o gesso de Soure apresenta valores de Na, K e
Mg acima dos valores de recomendados. O gesso de Loulé apresenta valores de K e Mg acima dos
valores recomendados. Quanto ao gesso de Óbidos, apresenta todos valores dentro das
especificações para uso em argamassa.
Sabendo que a composição química teórica do gesso para argamassa é: CaO > 38%; SO3 > 55% e
água combinada 4,2 – 6,2%. A partir dos resultados da tabela 5.4, observa-se um défice de teores de
CaO (25,866 – 35,206%) e de SO3 (36,872 – 46,984). O gesso de Óbidos apresentou resultados um
pouco abaixo dos valores recomendados. Assim chegamos a conclusão de que o gesso de Óbidos é o
mais indicado para uso em argamassa, enquanto que os gessos de Loulé e Óbidos carecem de
beneficiamento para uso em argamassa.

A partir dos resultados apresentados nas tabelas 5.5 e 5.7 (acima) destacar excesso de As, Pb e o
metal pesados (em maiores quantidades, o Cr), tanto na fração < 63 µm, como na amostra total do
gesso de Soure (GS), em relação aos valores exigidos pela indústria farmacêutica. Enquanto que os
gessos de Loulé (GL) e Óbidos (GO) apresentam valores dentro dos limites exigidos (exceto o Fe e
metais pesados no gesso de Loulé), o que leva a inferir que são mais adequados para produtos
desmocosméticos.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 90
Capítulo 5. Resultados e Discussões

5.4.2. Análise mineralógica por difração de raios – X

Foi feita a análise por DRX das amostras totais e fração < 63 µm com finalidade de identificar com
precisão a presença de diferentes minerais no gesso (figuras 5.8 – 5.13). Pode-se observar através dos
difratogramas que todas as amostras analisadas se caraterizam pela presença de fases cristalinas,
originando assim, picos bem definidos dos minerais presentes.

Gesso de Loulé

Figura 5. 6. Difratograma de raio – X da fração < 63 μm da amostra do gesso de Loulé.

Figura 5. 7. Difratograma de raio – X da fração total da amostra do gesso de Loulé.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 91
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Gesso de Óbidos

Figura 5. 8. Difratograma de raio – X da fração < 63 μm da amostra do gesso de Óbidos.

Figura 5. 9. Difratograma de raio – X da fração total da amostra do gesso de Óbidos.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 92
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Gesso de Soure

Figura 5. 10. Difratograma de raio – X da fração < 63 μm da amostra do gesso de Soure.

Figura 5. 11. Difratograma de raio – X da fração total da amostra do gesso de Soure.

Observando-se os difratogramas é possível identificar as fases cristalinas características de gipsite


(sulfato de cálcio bihidratado) com grande predominância, isso demonstra que as amostras apresentam
valores elevados de pureza e bem cristalizado. A única impureza que se observa é o quartzo, com
quantidades significativas no gesso de Loulé e Soure (maior impureza), quanto ao gesso de Óbidos, o
Quartzo está praticamente ausente, ou seja, pode estar presente em quantidade vestigial e menor na

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 93
Capítulo 5. Resultados e Discussões

amostra total. As duas fases mineralógicas presentes nos gipsitos (gipsite e quartzo) em estudo foram
confirmadas por Figueiredo 1999, Campos 2002 e em Velho e Campos 2006.
Essa impureza é baseada a partir da identificação do seu pico de maior intensidade (d=3,34460),
que não se enquadra a nenhum dos picos apresentados pela gipsite. O Quartzo presente nas amostras
deve ser fino, pois verifica-se um pequeno incremento nas amostras < 63 µm. Segundo Figueiredo
(1999: 55) “esta espécie de quartzo aparecem no gesso como contaminante sendo a sua presença
prejudicial no desempenho em serviço deste material”.

Assim sendo, as amostras com maiores quantidades de quartzo (Soure e Loulé) terão algumas
propriedades e/ou características deslocadas dos limites recomendados para diversas aplicações
típicas como em dermocosméticos
O facto de nenhum dos gessos estudados formar picos referentes aos óxidos presentes
confirmados na análise química por FRX demonstram que esses elementos estão presentes nas
amostras como materiais amorfos, resultado confirmado por (Costa 2013).

5.5. ENSAIOS TECNOLÓGICOS


5.5.1. Superfície específica pelo método BET

Para a determinação da superfície específica, da área superficial dos poros, do volume total de
poros e do diâmetro médio de poros das amostras de gesso, foi utilizada a adsorção e dessorção física
pelo método BET, cujos resultados são apresentados na Tabela 5.8.

Tabela 5. 8. Resultados de área superficial e porosidade das amostras de gesso

GL GO GS
Área de superfície do ponto único em p /p ° = 0,204100266 ( m²/g) 20.6954 16.9095 21.9533
Área superficial (BET) (m²/g) 20.9350 17.0997 22.1746
Área de superfície externa t-Plot (m²/g) 28.0390 21.9764 30.9341
Área superficial de poros cumulativo (adsorção BJH) (m²/g) 23.032 19.197 25.564
Área superficial de poros cumulativo (dessorção BJH) (m²/g) 26.0384 21.6108 28.6557
Volume de poros cumulativo (adsorção BJH) (cm³/g) 0.038250 0.034797 0.041317
Volume de poros cumulativo (dessorção BJH) (cm³/g) 0.039197 0.035780 0.042451
Diâmetro médio de poro (adsorção BJH) (Å) 66.428 72.507 64.649
Diâmetro médio de poro (dessorção BJH) (Å) 60.215 66.227 59.257

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 94
Capítulo 5. Resultados e Discussões

A maior finura da granulometria do gesso de Loulé e Soure (Figura 5.1) possibilitaria a previsão de
uma moderada elevação na área superficial específica de suas partículas em relação ao gesso de
Óbitos. A diferença entre a área medida pode ser atribuída parcialmente ao facto que o gesso de
Óbidos possui quantidades significativa de anidrite, provavelmente de menor área superficial, não se
excluindo mudanças na forma e tamanho dos cristais. A maior área superficial dos gessos de Loulé e
Óbidos é explicada pela finura e pela forma cristalina, confirmados por (Nita et al. 2004).

A partir da tabela 5.8 pode-se observar que a área superficial e volume de poros cumulativo é
maior para o gesso Soure e menor no gesso de Óbidos. Situação inversa observa-se quanto ao
diâmetro médio de poros. A área especifica está intrinsecamente relacionada com a resistência
mecânica de forma inversa, face a isso, podemos dizer que o gesso de Óbidos possui uma maior
resistência e o gesso Soure possuem uma menor resistência mecânica (Melo 2012). Quanto ao gesso
de Loulé, possui valores entre o gesso de Óbidos e Soure, por isso, as propriedades também estão
entre os dois gessos.

A tabela 5.8 fornece outros dados de grande relevância, tais como: área, volume e diâmetro
porosidade. O que pode se observar é que para melhorar o resultado nos ensaios, tanto a porosidade
quanto a densidade devem ser variadas, isto é, a absorção será maior em materiais cuja densidade é
elevada do que materiais com densidades baixas. O mesmo para a porosidade, quanto mais poroso o
material, mais ele irá absorver, uma vez que a onda sonora penetra nos poros. Porém se o material
tem a superfície lisa, ocorre a reflexão e não absorção (Severo Ribeiro 2011). Neste caso, deve-se
levar em conta que os poros reduzem a área da secção reta através da qual a carga é aplicada, e
atuam também como concentradores de tensão.

Assim sendo, quanto maior a superfície específica, maior a área de reação, mais rápida a
dissolução e menor o período de indução do material consequentemente, mais rápido o início de presa
do material (Pinheiro 2011). Em função do ora exposto, implica dizer que o gesso de Óbidos é o mais
indicado para uso na produção de cimento e em argamassas.

5.5.2. Absorção de óleo de linhaça

Os resultados obtidos no ensaio de absorção de óleo de linhaça representados em mililitros por


100 g da amostra de gesso e em percentagem do peso (gramas de óleo por 100 g de gesso),
encontram-se no gráfico 5.5 (a seguir).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 95
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Absorção de óleo
35 32
29,76
30 27
25,11 25
25 23,25

20

15

10

0
Loulé Óbidos Soure

IAO (mg/100g) IAO (% do peso)

Figura 5. 12. Resultados de absorção de óleo de linhaça.

Observando o gráfico 5.5, verifica-se uma diferença entre os valores de absorção de óleo de
linhaça nas três amostras estudadas. O gesso de Óbidos apresenta maiores valores de absorção de
óleo (32 mg/100g), o que indica uma maior pureza do gesso. O valor recomendado internacionalmente
(tabela 3.4) é de 33 mg/100g. Quanto aos gessos de Loulé e Soure apresenta valores de absorção
baixos (27 e 25 mg/100g, respetivamente) o que permite a sua aplicação como carga ou diluente em
plástico, tintas, madeiras, têxteis e alimentos, entre outras (Velho 2005).

O quartzo presente nas amostras é o responsável por retirar aos gessos de Loulé e Soure
propriedades como a de absorção de óleo de linhaça, atributo muito importante em termos de potencial
de aplicações (Moura et al. 2015).
Apesar da presença do quartzo nas amostras, o resultado obtido a partir do ensaio de absorção de
óleo de linhaça para a amostra de gesso de Óbidos é promissor do que os resultados obtidos até hoje,
isto é, são favoráveis e mais próximos aos requisitos para aplicações típicas do gesso, especificamente
na indústria farmacêutica (dermocosméticos).

5.5.3. Análise por texturómetro

A textura foi avaliada a partir dos perfis obtidos por um texturómetro, tendo sido determinado os
parâmetros adesividade e firmeza nas três amostras que foram significativamente diferentes.
A textura das pastas, que inclui a firmeza e adesividade, é geralmente reconhecida como um dos
parâmetros mais importantes na avaliação da qualidade das pastas para preparação dermocosmética.
A elevada qualidade das pastas pode ser definida como resultado de elevada absorção de água, baixa

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 96
Capítulo 5. Resultados e Discussões

perda de sólidos durante a calcinação (ou cozedura) e boa textura, que inclui elevada firmeza e baixa
adesividade (Bruneel et al. 2010).
Os valores da textura (adesividade e firmeza) de máscara de gesso, realizado numa mistura de
73% de gesso e 27% de veículo hidroglicérico (2: 1), estão na tabela a seguir (Tabela 5.9)

Tabela 5. 9. Variação da adesividade e firmeza dos três gessos em estudo em função do tempo.

Fmáx (N) A (-) (N.mm) Fmáx (N) A (-) (N.mm) Fmáx (N) A (-) (N.mm) Variação
4 dias 4 dias 8 dias 8 dias 12 dias 12 dias
GO 0,553 -0,258 14,813 -0,823 33,05 -1,45 32,501
GL 0,315 -0,373 0,532 -0,552 0,611 -0,54 0,296
GS 0,255 -0,338 0,372 -0,414 0,43 -0,51 0,175

Na figura 5.12 estão apresentados os valores relativos ao parâmetro de adesividade obtidos a


partir do método de TPA, realizado na fração < 63 µm num período de 4 à 12 dias, como forma de
obter maior informações sobre a estabilidade das amostras. Verifica-se em todas as amostras, um
“aumento” quase linear na adesividade nas três amostras, com maior declive no GO e grosseiramente
estáveis nos GL e GS.

Figura 5. 13. Variação da adesividade (N.mm) das três amostras de gessos em estudo em função do tempo.

Nas figuras 5.13 e 5.14 estão representadas, graficamente os valores relativos ao parâmetro
firmeza (Força máxima vs tempo). Verifica-se um aumento quase linear do parâmetro firmeza em
função do tempo de armazenamento (4, 8 e 12 dias) nas três amostras, com maior variação no GO,
apesar dos valores do desvio padrão não serem desprezáveis.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 97
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Figura 5. 14. Variação da Firmeza (N) do gesso de Óbidos – GO em função do tempo de armazenamento.

Figura 5. 15. Variação da Firmeza dos gessos de Loulé - GL e de Soure – GS em função do tempo de
armazenamento.

A partir dos resultados podemos afirmar que todas as amostras de gesso têm pouca capacidade de
absorver água ou misturas de água com glicerina.

Analisando a firmeza (Fmáx) verificou-se que no período de 8 dias, o gesso de Óbidos registou um
aumento de 59,7 vezes, este aumento foi mais acentuado entre o 4º e 8º dia. Enquanto que os gessos
de Loulé e Soure, registraram 1,9 e 1,7 vezes, respetivamente.
Para os gessos, a temperatura de calcinação (ou cozedura) constitui um fator importante na
avaliação da firmeza das pastas. (Bruneel et al. 2010) indicam que quanto mais alto ser a temperatura
de calcinação (ou cozedura), contribui para a diminuição da firmeza. Os gessos estudados estavam
hidratados, o que pode justificar os baixos valores de firmeza e pouca capacidade de absorção de agua
ou mistura de água com glicerina.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 98
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Quanto a adesividade (área negativa), verificou-se que no 12º dia, o gesso de Óbidos apresentou
valores de 5,6 vezes maiores que no 4º dia, com aumento quase linear. Enquanto que os gessos de
Loulé e Soure, registraram 1,4 e 1,6 vezes, respetivamente, verificando-se certo equilíbrio entre os 8º e
12º dias, onde no gesso de Loulé registra-se uma ligeira diminuição da adesividade.
Dados da tabela 5.9, mostram certa relação de proporcionalidade entre a adesividade e a firmeza
quanto ao valor absoluto das grandezas, isto é, quando os valores de firmeza aumentavam nas
amostras, “aumentavam” também a adesividade numa outra proporção, no igual período de tempo.

A adesividade e a firmeza são parâmetros relacionados com a aderência das amostras noutras
superfícies e a resistência interna do material, respetivamente. Comparando os resultados dos gráficos
5.12 com os resultados de (Guiné et al. 2010) podemos inferir que os gessos de Soure e Loulé não
apresentam adesividade mensurável, dados que os valores apresentados nos 3 dias de
armazenamento (4º, 8º e 12º dia) são próximos de zero.

Todas as amostras aumentaram significativamente os respetivos valores de firmeza e de


adesividade 12 dias após a preparação devido ao facto de terem apresentado uma notória separação
de fases. Os resultados obtidos, tanto para a firmeza do gesso de Óbidos, quanto para a adesividade,
apresentam valores que enquadram nas faixas aceites para aplicação cutânea, o que servem como
indicador do seu potencial para utilização como máscara de tratamento para peles.

5.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA UNIVARIADA

Foi realizada uma análise de correlação entre todos os parâmetros físico-químicos e tecnológicos
para a amostra < 63 µm (tabela 5.10) e parâmetros químicos na amostra total (tabela 5.11), de modo a
identificar qualquer relação com significado estatístico entre os diversos parâmetros estudados. A
ferramenta estatística utilizada foi o coeficiente de correlação de Pearson, r. No entanto, existem
limitações na utilização da correlação de Pearson, pelo facto da correlação apenas indicar se existe ou
não uma relação linear entre as variáveis em estudo ou de existirem variáveis independentes que
também podem ser variáveis dependentes. Este teste foi utilizado para se poder analisar o que
influencia o quê, porém, a correlação não indica causalidade só covariância.

Na matriz de correlação (Tabela 5.10) pode observar-se que o parâmetro que apresenta o maior
número de relações significativas (r > 0,50, em valor absoluto) são: Abrasividade (Abras), e Superfície
especifica (SE) (com 5 relações significativas estabelecidas) e Índice de plasticidade (IP), Adesividade

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 99
Capítulo 5. Resultados e Discussões

(Adesiv), Firmeza, Absorção de óleo de linhaça (AOL) e tempo de arrefecimento (TA) (com 2 relações
estabelecidas com uma significante).

Quanto aos parâmetros químicos Ca2O, MgO, Al2O3, SO3, K2O, CaO, Fe2O3, TiO2, P2O5 e Cl (com
9 relações estabelecidas com duas ou três significante de nível 0,05 e 0,01, respetivamente), os
parâmetros Sr e SiO2 (com 2 e 6 relações estabelecidas com duas ou três significante de nível 0,05 e
0,01, respetivamente).

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 100
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Tabela 5. 10. Correlações entre os parâmetros físico-químicos estudados. A parte vermelha simboliza a correlação entre parâmetros químicos e a verde, parâmetros físicos e
tecnológicos. Onde: *. A correlação é significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral).

CORRELAÇÕES – FRAÇÃO < 63 µm


Abras IP SE Adesiv Firmeza AOL TA Na2O MgO Al2O3 SiO2 P2O5 SO3 K2O CaO TiO2 MnO Fe2O3 Sr Cl LOI

Abras 1
IP 0,851 1
SE 0,945 0,976 1
Adesiv 0,412 0,829 0,688 1
Firmeza -0,99 -0,901 -0,974 -0,504 1
AOL -0,93 -0,985 -,999* -0,721 0,962 1
TA 0,908 0,993 0,995 0,756 -0,946 -,999* 1
Na2O 0,619 0,939 0,842 0,971 -0,697 -0,866 0,891 1
MgO ,999* 0,828 0,930 0,374 -0,989 -0,912 0,890 0,586 1
Al2O3 0,692 0,968 0,890 0,943 -0,763 -0,910 0,931 0,995 0,661 1
SiO2 0,775 0,991 0,939 0,895 -0,836 -0,954 0,969 0,976 0,748 0,992 1
P2O5 0,812 ,998* 0,959 0,866 -0,868 -0,971 0,982 0,961 0,787 0,983 ,998* 1
SO3 -0,63 -0,945 -0,852 -0,966 0,710 0,875 -0,89 -1,00* -0,600 -0,997 -0,980 -0,966 1
K2O 0,639 0,948 0,856 0,964 -0,715 -0,879 0,902 1,000* 0,606 ,997* 0,981 0,968 -1,00** 1
CaO -0,68 -0,964 -0,883 -0,948 0,753 0,904 -0,93 -0,997 -0,650 -1,00** -0,991 -0,980 0,997 -,998* 1
TiO2 0,858 1,000** 0,979 0,822 -0,906 -0,987 0,994 0,935 0,835 0,965 0,990 0,997 -0,941 0,944 -0,961 1
MnO 0,995 0,899 0,973 0,500 -1,000** -0,961 0,945 0,693 0,990 0,760 0,834 0,866 -0,706 0,712 -0,750 0,904 1
Fe2O3 0,778 0,992 0,941 0,893 -0,839 -0,955 0,970 0,975 0,751 0,992 1,000** ,998* -0,979 0,980 -0,990 0,990 0,836 1
Sr -0,99 -0,780 -0,897 -0,297 0,974 0,876 -0,85 -0,518 -0,997 -0,598 -0,692 -0,735 0,533 -0,54 0,586 -0,788 -0,975 -0,695 1
Cl -0,99 -0,767 -0,888 -0,277 0,970 0,866 -0,84 -0,500 -0,995 -0,581 -0,677 -0,721 0,516 -0,52 0,569 -0,775 -0,971 -0,680 1,000* 1
LOI -0,06 0,474 0,270 0,885 -0,044 -0,315 0,364 0,747 -0,101 0,679 0,584 0,534 -0,735 0,730 -0,690 0,462 0,039 0,581 0,182 0,202 1

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 101
Capítulo 5. Resultados e Discussões

Tabela 5. 11. Correlações entre a média da composição química da fração total. Onde: *. A correlação é significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no
nível 0,01 (bilateral).

CORRELAÇÕES – FRAÇÃO TOTAL


Na2O MgO Al2O3 SiO2 P2O5 SO3 Cl K2O CaO TiO2 Fe2O3 Sr LOl
Na2O 1
MgO 0,89 1
Al2O3 0,957 0,72 1
SiO2 0,976 0,769 ,997* 1
P2O5 0,992 0,826 0,986 1 1
SO3 -0,99 -0,82 -0,99 -1 -1,000** 1
Cl 0,766 0,39 0,92 0,89 0,841 -0,847 1
K2O 0,905 0,613 0,99 0,98 0,952 -0,955 0,967 1
CaO -,999* -0,86 -0,97 -1 -,997* 0,997 -0,8 -0,93 1
TiO2 0,975 0,768 ,997* 1,000** 0,995 -0,996 0,889 0,977 -0,986 1
Fe2O3 0,92 0,641 0,994 0,98 0,962 -0,965 0,957 ,999* -0,94 0,984 1
Sr -0,43 -0,79 -0,14 -0,2 -0,31 0,297 0,256 0 0,375 -0,22 -0,037 1
LOl -0,54 -0,1 -0,76 -0,7 -0,64 0,65 -0,95 -0,85 0,584 -0,71 -0,826 -0,53 1

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 102
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações

Considerando os valores de correlação mais elevados de todos os determinados para todos os


parâmetros físico-químicos, apresentam-se apenas alguns breves comentários aos coeficientes de
correlação superiores a 0,90, em valor absoluto, que na matriz em análise correspondem unicamente a
relações lineares positivas (r > 0,90). Estas relações lineares indicam que os parâmetros
correspondentes variam intimamente, e em simultâneo, na mesma direção (Ferreira 2007).

Na tabela 5.10 (a vermelho), tanto o CaO como o SO3 (elementos maioritários no gesso) estão
fortemente correlacionados entre si, mas apresentam fortes correlações lineares negativas com SiO 2,
P2O3, Ti2O, MnO, Fe2O3, Na2O (somente com o CaO) e Al2O3 (somente com o SO3).
Quanto a matriz da tabela 5.11, tanto o SO3 como o CaO estão fortemente correlacionados entre
si, e o CaO apresenta ainda uma forte correlação linear com o TiO 2. Mas ambos óxidos (SO3 e CaO)
apresentam forte correlações negativas com o MgO, Al2O3, Cl, Fe2O3, SiO2, K2O, MnO, TiO2, K2O e
SiO2. Este último parâmetro (SiO2) apresenta uma correlação perfeitamente negativa (r = -1), isto é, se
SiO2 aumenta, o SO3 e CaO sempre diminuem.

A partir duas matrizes das tabelas 5.10 e 5.11, para os elementos químicos, observa-se que há
forte correlação entre o CaO e SO3, mas os dois óxidos apresentam fortes correlações lineares
negativas com Fe2O3, SiO2, MgO e MnO. Isso indica que o SO3 apresenta afinidades com metais
alcalinos terrosos e seus óxidos (exceto o Mg) e praticamente não se apresenta afinidades com os não
metais, metais alcalinos e metais de transição.
Enquanto o CaO tem afinidades apenas com o SO3 e Sr. Estes resultados justificam os processos
de formação dos gipsitos a partir de diversos sais depositados em meio aquoso e a posterior
evaporação e sobreposição de outros sedimentos (argilas gipsíferas e material orgânico) e traduz a
história geológica do depósito.

A matriz da tabela 5.10 (a verde), evidencia que a abrasividade e os parâmetros índice de


plasticidade, superfície especifica e tempo de arrefecimento apresentam-se bem correlacionados. Em
contrapartida, há uma correlação linear negativa forte entre a abrasividade e os parâmetros absorção
de óleo de linhaça e firmeza (textura). Estes resultados podem-se justificar devido à forte relação que
existe entre a quantidade de quartzo nas amostras e maior abrasividade, maior plasticidade, maior
superfície específica, maior tempo de arrefecimento (todos estes últimos devido à baixa granulometria
do quartzo e à sua associação com filossilicatos), em contrapartida, influencia no baixo índice de
absorção de óleo de linhaça e baixa firmeza.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 103
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações

A matriz de correlação mostra também uma relação estatisticamente significativa entre a superfície
especifica SE e o índice de plasticidade IP (r = 0,976), assim como entre o índice de plasticidade IP e o
tempo de arrefecimento TA (r = 0,993) e entre tempo de arrefecimento TA e a superfície especifica SE
(r = 0,995). Estes resultados podem-se justificar devido à forte relação que estes três parâmetros têm
com o isolamento acústico, a resistência mecânica e a trabalhabilidade, propriedades fundamentais em
argamassas. Também pode-se associar esses três parâmetros a aplicação em mascaras
corporais/faciais e uso terapêutico onde a tempo de arrefecimento é um parâmetro importante.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 104
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Neste capítulo são apresentadas as principais conclusões extraídas desse trabalho, em função da
metodologia usada e dos objetivos que se centrava essencialmente na análise comparativa dos gessos
de Loulé, Soure e Óbidos e enquadramento dos mesmos na argamassa, cimento e em
dermocosméticos. Também se apresentou algumas considerações finais sobre o consumo atual do
gesso em Portugal e as recomendações/sugestões com vista ao melhoramento dos trabalhos futuros.

6.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar estudos com gessos em argamassas, cimento e em dermocosméticos evidenciou-se a


preocupação na divulgação do conhecimento sobre a qualidade do gesso nacional de modo a reduzir a
dependência dos países vizinhos, caso da Espanha e Marrocos, quando se pretende materiais de
maior qualidade (pureza e brancura) para aplicações diversas.
Trata-se duma pesquisa importante, que para além de estudar as aplicações “tradicionais”, optou
também por estudar novas aplicações dos recursos geológicos de Portugal (gessos em particular), com
vista a ampliar o conhecimento sobre as características dos gessos, a valorização do produto nacional
e trazendo novas abordagens para o desenvolvimento da indústria extrativa do gipsito.
É necessário incentivar as empresas ligadas ao ramo de produção e uso/aplicação do gesso para
encontrar formas alternativas para tratamento/beneficiamento do gesso nacional através da correção
de alguns teores padrões exigidos, principalmente o grau de brancura e a pureza, com vista a
responder a atual demanda do mercado nacional, e quiçá internacional. Para além da escolha da
variedade mineralógica adequada, para certas aplicações, há uma necessidade de controlar alguns
parâmetros operacionais no processo de calcinação, tais como: tipo de forno, temperatura de
calcinação, tempo de cozedura, tipo e concentração de aditivos, entre outros.
É importante ressalvar que, no uso do gesso para fins farmacêuticos, terapêuticos e em cosméticos
(dermocosmético) são recomendáveis vários testes, nomeadamente os que foram realizados nesse
trabalho, como outros que deixaremos nas recomendações da presente pesquisa, para que se possa
analisar e tratar, de modo a ser usado para o fim a que se destina.
Com a presente investigação, espera-se ter contribuído para o aprofundamento dos conhecimentos
sobre alguns espetos geológicos e mineralógicos dos gessos de Portugal, principalmente, das bacias
estudadas (Loulé, Óbidos e Soure), assim como apresentou-se de forma detalhada, as especificações
do gesso exigido nas indústrias de cimento, na argamassa e em dermocosméticos.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 105
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações

6.2. CONCLUSÕES

Os resultados demonstraram que os gessos nacionais podem ser usados na argamassa e na


indústria de cimento, e alguns na indústria de cosmético. A partir dos objetivos definidos, pela análise
dos resultados das amostras testadas e as condições das nossas experiências, podemos retirar as
seguintes conclusões:

 Granulometricamente, as amostras são medianamente finas, mas apresentam rendimentos


baixas em relação as especificações típicas de gesso, segundo Velho (2005: 323).
 Relativamente a abrasividade, a fração < 63 µm apresenta menor índice de abrasividade que a
fração total; a abrasividade tende a aumentar com o aumento de detritos do quartzo nas
amostras.
 As amostras em pastas possuem valores baixos do limite de consistência, traduzido pelo baixo
a médio índice de plasticidade, exceto no gesso de Óbidos que é praticamente inelástico.
 A análise mineralógica permitiu constatar que os três gessos estudados possuem composição
mineralógica idêntica, revelando presença de gipsite (CaSO4·2H2O) e quartzo (SiO2), sendo
esta última fase a principal impureza; não tendo sido possível realizar uma análise quantitativa
em cada uma das amostras, mas é possível garantir que os materiais estudados são gesso de
média e alta pureza.
 Quimicamente, as amostras apresentam valores próximos às amostras de referência (teóricos),
no entanto, apresentam elevados teores de SiO2 devido a presença de quartzo, e teores de
MgO e Al2O3 associado a filossilicatos.
 Os resultados obtidos indicam que os teores mínimos e máximos de SO3 dos gessos
estudados, nas frações totais e < 63 µm são respetivamente 36,872% e 46,984 %,
ambos valores superiores ao mínimo exigido atualmente (35%) na indústria de cimento e
em argamassa (Pacheco e Matias 2010); permite-nos concluir que todos os gessos
podem ser usados na indústria de cimento e na argamassa.
 Salientar que somente o gesso de Soure não apresenta propriedades dentro das
especificações exigidas do gesso para produtos dermocosméticos, segundo (Harben
2002).
 Devido a sua elevada área de superfície especifica, os gessos em estudo podem atuar como
agente emulsivo em preparação dermocosmética; quanto maior for a área especifica, maior
será o coeficiente de isolamento acústico, mais lento será o inicio de pega instantânea e uma
baixa resistência mecânica. São propriedades essenciais em cimentos e argamassas.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 106
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações

 As amostras apresentam boa capacidade de absorção de óleo de linhaça, absorção de água


ou mistura de água e glicerina, sendo maior no gesso de Óbidos; os valores da absorção de
óleo de linhaça obtidos são próximos aos valores exigidos nos produtos farmacêutica
(dermocosméticos); a capacidade de absorção de óleo de linhaça tende a diminuir com o
aumento do teor de quartzo.
 As propriedades de textura do gesso variam (aumentam) em função do tempo; gesso de
Óbidos apresenta valores de parâmetros de textura espectável, atendendo que os gessos se
encontravam mais desidratados, e, portanto, com menos quantidades de água.
 Ambas amostras não cumprem os requisitos para fins terapêuticos visto não mantêm a
temperatura de 30 ºC, o tempo necessário para uma sessão de tratamento (30 minutos); mas
o baixo tempo de arrefecimento confere ao gesso excelentes propriedades isolantes (térmico)
e importante para argamassa.
 A presença de maior quantidade de quartzo no gesso de Soure é responsável por maior
superfície especifica, maior abrasividade e baixo poder de absorver óleo de linhaça; no
entanto, esta possui vantagens que dependendo do tipo de utilização pode ser mais vantajoso
o seu uso, nomeadamente, o facto da sua pasta possuir boa plasticidade, maior tempo de
arrefecimento, entre outras.

Em suma, com base nos resultados obtidos, foi comprovado que o gesso de Óbidos (o mais
branco) é o de maior pureza. Destaca-se então que todas as variedades de gesso (ou gipsito)
estudados neste trabalho apresentam características físicas e químicas básicas para diversas
aplicações e são considerados adequados para a uso em argamassas e na indústria de cimento. Mas o
gesso de Óbidos pode ser usado ainda na indústria de dermocosméticos.

6.3. RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Estando consciente que as investigações científicas nunca têm um fim, entende-se que este
trabalho não se encontra finalizado. Neste item pretende-se expor ou apresentar algumas sugestões e
recomendações para trabalhos futuros que são considerados importantes para o enriquecimento do
presente trabalho.

Dentro das sugestões e recomendações para trabalhos futuros no enquadramento de gessos em


função das suas propriedades físico-químicas, reológicas e mineralógicas, pode-se citar:

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 107
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações

 Coleta de maior número de amostras, se possível em sondagem para obter amostras frescas e
do mesmo nível estratigráfico para estudo da variação das propriedades do gesso com a
profundidade.
 Realizar outras caracterizações do gesso, tais como: a densidade, a viscosidade, a cor, a
análise térmica diferencial (ATD), o tempo de pega, a resistência mecânica, a flexão e a
compressão, o coeficiente de dilatação na hidratação, a dureza superficial e ensaios
destrutivos como resistência a corte e tração simples com vista a obter informações gerais
sobre os gessos em estudo.
 Estudar e caracterizar a mistura de dois ou mais gessos e/ou os escombros, com propriedades
mineralógicas diferentes, como forma de obter novas composições à base de gesso que
respondam as propriedades exigidas no mercado e/ou diminuição de escombros nas minas.
 Para futuras pesquisas, a nível de doutorado, pretendemos aprofundar os estudos relativos a
propriedades físicas, químicas, reológicas e mineralógicas do gesso de Moçambique e
Portugal, identificando, dentro de cada tipo, seus enquadramentos em diversas áreas de
aplicação.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 108
Referências Bibliográficas

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G.C.-Gráfica de Coimbra, Lda, pp. 229–233.

Velho, J.L., 2011. Minerais Industriais. In A. Moura & J. L. Velho, eds. Recursos geológicos de Portugal.
Coimbra: Palimage edições.

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aplicações. Lisboa: Lindel - Edições técnicas, Lda, pp. 227–234.

Zbyszewski, G., 1959. Étude structural de l’aire typhonique de Caldas da Rainha, Lisboa: Serviços
Geológicos de Portugal.

Zbyszewski, G. & Almeida, F.M. de, 1960. Carta geológica de portugal na escala 1/50 000: Notícia
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Zbyszewski, G. & Almeida, J.M. da C., 1964. As jazidas de gesso em Portugal. Sapata do Vol. 1, N.o 3,
do Bolentim de Minas, pp.1–6.

7.1. NORMAS UTILIZADAS

ISO 787/5-1980 – Determination of oil absorption value, Part 5, General methods of test for
pigments and extenders.
ISO/TS 17892-6, 2004 (E) – Fall cone test, Part 6, Geotechnical investigation and testing:
Laboratory testing of soil.

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 114
Referências Bibliográficas

LNEC (1969), Norma Portuguesa Definitiva NP-143. “Determinação dos Limites de Consistência”.
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa.

7.2. PAGINAS DA INTERNET CONSULTADAS

Empresa Stable Micro Systems, localizada em www.stablemicrosystems.com. [Accessed May 11,


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Geocaching, disponível em https://www.geocaching.com [Accessed December 09, 2015].
Portal da moda, localizada em http://www.sogab.com.br/bandagensestetica.pdf [Accessed
November 17, 2015].
Química: Muitos métodos e um resultado. Disponível em http://www.quimicandovzp.com.br
[Accessed March 25, 2016].

Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 115

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