Dissertação António G. Fortes
Dissertação António G. Fortes
Dissertação António G. Fortes
2016
2016
Abstract The present dissertation aims the accomplishment of a comparative study of the
plaster cast from Loulé, Obidos and Soure, through chemical, mineralogical, physical
and technological characterization in orde to definy and clarify its framework when
applied in mortar, cement and dermocosmetics.
The plaster cast results from the calcination of gypsium, a sedimentary rock rich in
mineral gypsum (CaSO4·2H2O). It is a low-cost material with a high performance,
which justifies its multiple applications in constructions, medicine, agriculture just to
mention a few but in other areas.
The gypsium of Portugal occurs in ancient massif embroidering outcrops or in diapir
anticlines in reduced dimension in repository or alluvium. The biggest alluviums have
dark gypsium but there is also a few quantity of white gypsum, which aids and
constrains its application.
To accomplish the comparison were made many analyses and trials such as
granulemetrics (in humid screening), physics (abrasity, consistency limit and cooling
times), chemical and mineralogical (x-ray fluorescence and diffraction) and
technological (specific surface through BET method, plasticity, textural analyses and
linseed oil absorption). All the trial were carried out according to the active criterion of
Departmento de Geociências, at Departamento de Materiais in Universidade de Aveiro
and Faculdade de Farmácia in Universidade do Porto.
The SPSS Statistic 24 software was used to correlate the prior results.
According to the achieved results it is concluded that the plaster from Óbidos contains
a high purity whilst the ones from Loule and Soure consist of Quartz with higher level
of impurity which tends to limit their direct usage in certain applications as in
dermocosmetics. By the way every kind of plaster that was set in this research can be
used in cement and mortar. Both linseed oil absorption and textural analyses reveal
promising results for new plaster cast application in Portugal.
Índice
ÍNDICE
ÍNDICE................................................................................................................................................................... xv
Índice de Figuras.............................................................................................................................................. xvii
Índice de Tabelas .............................................................................................................................................. xix
Índice de Fórmulas............................................................................................................................................ xxi
Simbologia ...................................................................................................................................................... xxiii
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ...................................................................................................................... 1
1.1. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA ....................................................................................... 1
1.2. NATUREZA E ÂMBITO DO TRABALHO .............................................................................................. 3
1.3. OBJETIVOS.......................................................................................................................................... 3
1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................................................. 4
2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E GEOLÓGICO .................................................................................. 5
2.1. ENQUADRAMENTO GERAL DE LOULÉ ............................................................................................. 5
2.1.1. Localização da Geográfica............................................................................................................... 5
2.1.2. Enquadramento Geológico Regional ............................................................................................... 6
2.1.3. Enquadramento geológico local ....................................................................................................... 8
2.1.4. Geomorfologia ................................................................................................................................. 9
2.2. ENQUADRAMENTO GERAL DE OBIDOS ........................................................................................ 12
2.2.1. Localização da Geográfica............................................................................................................. 12
2.2.2. Enquadramento Geológico Regional ............................................................................................. 12
2.2.3. Contexto Geológico Local .............................................................................................................. 16
2.2.4. Geomorfologia ............................................................................................................................... 16
2.2.5. Tectónica ....................................................................................................................................... 19
2.3. ENQUADRAMENTO GERAL DE SOURE .......................................................................................... 20
2.3.1. Localização da Geográfica do depósito de Soure.......................................................................... 20
2.3.2. Enquadramento Geológico Regional ............................................................................................. 21
2.3.3. Contexto Geológico Local .............................................................................................................. 23
2.3.4. Geomorfologia ............................................................................................................................... 26
3. CONCEITOS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS ............................................................................................ 29
3.1. GIPSITO: A MATÉRIA-PRIMA ........................................................................................................... 29
3.1.1. Mineralogia ......................................................................................................................................... 30
3.1.2. Lavra de gipsito.............................................................................................................................. 32
3.1.2.1. Microestrutura: .......................................................................................................................... 33
3.1.3. Características da rocha gipsito para produção do gesso ............................................................. 34
3.1.4. Processo de produção indústrial do gesso .................................................................................... 35
3.1.5. Calcinação – a desidratação do gipsito ......................................................................................... 36
3.1.6. Depósitos de gipsito no mundo e em Portugal .............................................................................. 38
3.1.7. Características dos gipsitos em Portugal ....................................................................................... 42
3.2. GESSO ............................................................................................................................................... 44
3.2.1. Propriedades químicas e físicas do Gesso .................................................................................... 45
3.2.1.1. Resistência mecânica ............................................................................................................... 45
3.2.1.2. Pega e endurecimento .............................................................................................................. 46
3.2.1.3. Trabalhabilidade ........................................................................................................................ 47
3.2.1.4. Isolamento térmico e resistência ao fogo .................................................................................. 48
3.2.1.5. Porosidade ................................................................................................................................ 49
3.2.1.6. Isolamento acústico................................................................................................................... 50
3.2.1.7. Absorção de água ..................................................................................................................... 50
3.3. USO E APLICAÇÃO DO GESSO ....................................................................................................... 51
3.3.1. Na construção civil ............................................................................................................................. 51
3.3.1.1. Cimento ..................................................................................................................................... 51
3.3.1.2. Argamassa ................................................................................................................................ 52
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xv
Índice
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure, para cimento, argamassa e dermocosméticos. xvi
Índice de Figuras
Índice de Figuras
Figura 2. 1. Localização do local de coleta de amostras de gesso de Loulé (imagem de satélite obtida através do
Google Earth) .......................................................................................................................................................... 5
Figura 2. 2. Mapa geológico da região do Algarve. 1-Holocénico; 2-Plistocénico; 3-Pliocénico; 4-Miocénico; 5-
Paleogénico; 6-Cretácico; 7-Jurássico; 8-Jurássico inferior-Triásico superior; 9-Maciço intrusivo de Monchique;
10-Vestefaliano; 11-Namuriano; 12-Viseano; 13-Tournaisiano; 14-Fameniano; 15-filões; 16-falha; 17-Loulé
(adaptado da Carta Geológica de Portugal à escala 1:500 000) ............................................................................. 8
Figura 2. 3. Corte geológico do diápiro de Loulé. Onde: Qa - Plistocénico; J4 e J4 - Kimeridgiano; J3-4 –
Oxfordiano – Kimeridgiano; Jc - Caloviano; Jab - Jurássico inferior – Triásico superior (adaptado da Carta
Geológica de Portugal à escala 1:500 000) ............................................................................................................. 9
Figura 2. 4. Depósitos sedimentares na plataforma continental algarvia (Dias et al. 1980). ................................. 10
Figura 2. 5. Localização das três subdivisões geomorfológicas do Algarve (Adaptado por: Gonçalves 2009). .... 10
Figura 2. 6. Localização do local de coleta de amostras de Óbidos (imagem de satélite obtida através do Google
Earth). .................................................................................................................................................................... 12
Figura 2. 7. Geologia simplificada da Bacia Lusitânica (informação geológica à escala 1:500 000 adaptada do
Atlas do Ambiente, por Lopes 2014)...................................................................................................................... 13
Figura 2. 8. Unidades geomorfológicas identificadas no concelho de Óbidos. Onde a – bordos do val tifónico; b –
relevos do interior do vale tifónico; c- superfície aplanada de Olho Marinho; d – superfiie envolvente degradada
do Bom Sucesso; e – complexo dunar Gronho-Prais d´El Rei; f – Lagoa de Óbidos; g – terraços fluviais
artificializados dos rios Real e Arnóia; h – depressão palustre do Vau (Poça do Vau); i – depósitos de praia e
arribas litorais (Azerêdo et al. 2006). ..................................................................................................................... 17
Figura 2. 9. Modelos explicativos da evolução dos vales tifónicos da Orla Ocidental. Esquema fora de escala,
muito sobreelevados. As altitudes representadas na escala vertical referem-se ao nível de base contemporâneo
da fase evolutiva correspondente. 1 – areias azoicas com pequenos calhaus rolados (Pliocénico terminal, -2/-1,6
Ma?); 2 – sedimentos argilo-arenosos, lignitosos e diatomiticos (Pliocénico superior -3/-2,5 Ma?); 3 – areias
marinhas fossilíferas (Pliocénico superior -3,5/-2,7 Ma?); 4 – formações mesozoicas encaixantes, consistindo
predominantemente em calcários jurássicos; 5 – margas gipsíferas e salíferas dos núcleos diapíricos (Liásico
inferior); 6 – falha de bordo do diápiro com sentido da componente de movimentação segundo a inclinação
indicada pelas setas (Cabral, 1995 citado por Lopes 2014). ................................................................................. 19
Figura 2. 10. Localização do local de coleta de amostras de Soure (imagem de satélite obtida através do Google
Earth). .................................................................................................................................................................... 20
Figura 2. 11. Mapa geológico do depósito de gesso de S. José do Pinheiro (Velho e Campos 2006:1074)......... 24
Figura 3. 1. Cristais de gipsite e a relação entre os eixos num sistema monoclínico. Fonte: (Trovão 2012) ........ 30
Figura 3. 2. Frente de lavra de gesso de Soure. Fonte (Centro de Produção de Loulé 2010). ............................. 32
Figura 3. 3. Microestrutura ou célula cristalina de gipsite. Fonte: Canut (2006: 30) .............................................. 33
Figura 3. 4. Atividades de preparação da matéria-prima para ser submetidas ao processo de calcinação.
Adaptado de Pinheiro (2011: 21). .......................................................................................................................... 35
Figura 3. 5. Curva termogravimétrica do gipsito. Adaptado do Velho (2005: 228). ............................................... 36
Figura 3. 6. Hidratação e desidratação no sistema CaO – SO4 – H2O (Fonte: Pinheiro 2011). ........................... 37
Figura 3. 7. Países produtores de gipsito A produção de 2013 foi de 160 000 000 t (Fonte: DNPM/DIPLAM/AMB;
USGS: Mineral Commodity Summaries – 2014, adaptado de Filho et al. 2014). .................................................. 40
Figura 3. 8. Localização dos principais depósitos de gipsito em Portugal (Adaptado de Moura e Velho 2011). ... 41
Figura 4. 1. Aspeto físico das amostras de gesso estudadas, sendo a) Gesso de Soure, b) Gesso de Loulé e c)
Gesso de Óbidos. .................................................................................................................................................. 60
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xvii
Índice de Figuras
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xviii
Índice de Tabelas
Índice de Tabelas
Tabela 3. 1. Composição química e propriedades físicas do gipsito. Adaptado de (Costa 2013: 21). .................. 31
Tabela 3. 2. Influência das impurezas presentes no minério de gipsito nas propriedades do gesso. Fonte:
Pinheiro 2011: 20. .................................................................................................................................................. 34
Tabela 3. 3. Depósitos de sal gema e gesso de Portugal. Adaptado do LNEG (2016: 50). .................................. 42
Tabela 3. 4. Especificações típicas de grau de qualidade de gesso pela British Gypsum Lda (Velho 2005: 232). 53
Tabela 5. 1. Propriedades físicas e mecânicas das amostras de gesso usadas na presente pesquisa................ 79
Tabela 5. 2. Valor da abrasividade e índice de abrasão das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure. ....... 81
Tabela 5. 3. Limite de plasticidade obtida por fall cone test, limite e índice de plasticidade. Onde: a) O gesso de
Óbidos não apresenta plasticidade suficiente para fazer os rolinhos; ANP amostra não plástica. ........................ 84
Tabela 5. 4. Composição química dos elementos maioritários das frações < 63 µm e total obtidas por FRX
(dados em %). Onde; LOI é a perda de massa ao rubro; * Quantidades abaixo do limite mínimo de deteção do
elemento. ............................................................................................................................................................... 87
Tabela 5. 5. Composição química de elementos minoritários nas frações < 63 µm e total obtidas por FRX. Onde:
* Quantidades abaixo do limite mínimo para o elemento....................................................................................... 89
Tabela 5. 6. Especificações exigidas no gesso para uso em argamassa. Adaptado de Harben (2002: 158). ...... 89
Tabela 5. 7. Especificações típicas exigidas para o gesso utilizado para fins farmacêuticos. Adaptado de Harben
(2002: 158). ........................................................................................................................................................... 90
Tabela 5. 8. Resultados de área superficial e porosidade das amostras de gesso ............................................... 94
Tabela 5. 9. Variação da adesividade e firmeza dos três gessos em estudo em função do tempo. ..................... 97
Tabela 5. 10. Correlações entre os parâmetros físico-químicos estudados. A parte vermelha simboliza a
correlação entre parâmetros químicos e a verde, parâmetros físicos e tecnológicos. Onde: *. A correlação é
significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral). ............................. 101
Tabela 5. 11. Correlações entre a média da composição química da fração total. Onde: *. A correlação é
significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral). ............................. 102
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xix
Índice de Fórmulas
Índice de Fórmulas
Equação 4. 1. Rendimento granulométrico das amostras em percentagem. Onde: pf e pi são os pesos da fração
granulométrica e amostra inicial, respetivamente, seca em gramas (g). ............................................................... 62
Equação 4. 2. Abrasividade de uma amostra. Onde A é a abrasividade (em gramas), e Pi e Pf são os pesos
inicial e final da rede (em gramas), respetivamente. ............................................................................................. 63
Equação 4. 3. Índice de abrasividade (IA). Onde: SA é a superfície de abrasão e igual a 305x10-6 mm2............. 63
Equação 4. 4. Índice de plasticidade (IP). Onde LL e LP são os limites de liquidez e de plasticidade,
respetivamente. ..................................................................................................................................................... 66
Equação 4. 5. Humidade. Onde Pw e Ps são os pesos das amostras húmida e seca, respetivamente. .............. 67
Equação 4. 6. Equação matemática da lei de Bragg. Onde: n – é um nº inteiro, representando os harmónicos de
λ; λ - é o comprimento de onda da radiação incidente; d – é a distância reticular entre os planos sucessivos do
cristal, e; θ - é o ângulo de Bragg ou ângulo ou ângulo de incidência dos raios X com o plano reticular.............. 71
Equação 4. 7. Equação de Langmuir. Onde v é o volume total de gás adsorvido; vm é o volume de gás adsorvido
quando a superfície do sólido está completamente coberta por uma monocamada; c é a constante de BET; p é a
pressão medida no estado de equilíbrio; p0 é a pressão inicial do sistema. .......................................................... 73
Equação 4. 8. Absorção de óleo. Onde V é o volume de óleo necessário, em ml e m é a massa da amostra de
gesso, em g. .......................................................................................................................................................... 77
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xxi
Simbologia
Simbologia
% - Porcentos.
</> – Menor que/maior que.
± - Maios ou menos.
A.C. – Antes de Cristo.
ANCCT - Agencia Nacional para Cultura Científica e Tecnológica
ANP – Amostra não plástica.
AOL – Absorção de óleo de linhaça.
ASTM – American Standards for Testing Materials.
ATD – Análise térmica diferencial.
BET - Brunauer, Emmett e Teller.
CIMPOR – Cimentos de Portugal.
cm – Centímetro.
DRX – Difração de Raios X.
EUA – Estados Unidos da América.
FRX – Fluorescência de Raios X.
G.L./G.O./G.S. – Gesso de Loulé/Gesso de Soure/Gesso de Soure.
g/l – Gramas por litros.
IBM – International Business Machines
IP – Índice de plasticidade.
ISO – International organization for standardization.
Kg/T – quilogramas por tonelada.
Km/km2 – Quilometro/quilómetros quadrados.
LL – Limite de liquidez.
LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
LP – Limite de plasticidade.
m/m2 – Metros/metros quadrados.
MA – Milhões de ano.
mm – milímetro.
N, S, E, W – Norte, Sul, Este e Oeste (do inglês).
NP – Norma Portuguesa.
ºC/m - Graus celsius por minuto
pH – potencial de hidrogénio.
S. – São
S.A. – Sociedade anónima.
SE – Superfície especifica.
SPSS – Statistical Package for Social Sciences.
TA – Tempo de arrefecimento.
TPA – Texture profile analysis.
ZSP – Zona sul portuguesa.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. xxiii
Capítulo 1 – Introdução e objetivos
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
A escolha do tema deve se ao facto da rocha sedimentar gipsito ocorrer tanto em Moçambique
como em Portugal, com maiores explorações associadas a indústria de cimento e a empresa CIMPOR
estar presente nesses dois países. Apesar do estudo não contemplar gessos de Moçambique, poderá
deixar um desafio para posteriores estudos envolvendo estes em comparação com os resultados da
presente pesquisa que permitirão obter mais informações sobre os processos de formação das bacias
sedimentares gipsíferas, composição mineralógica, propriedades químicas, físicas e reológicas dos
gessos, assim como futuras novas aplicações.
O gipsito tem revelado ser, ao longo de séculos, uma substância cujas propriedades lhe permitem
um vasto leque de utilizações pelo Homem, para além da abundante distribuição na crosta Terrestre, é
fácil de extrair e trabalhar, o que associado ao baixo custo faz com que o gipsito seja uma matéria-
prima bastante utilizada (Campos 2002).
A aplicação do gipsito baseia-se no principio da perda e ganha do teor de água, isto é, durante o
processo de calcinação, o gipsito perde ¾ da sua água de cristalização, formando-se um sulfato de
cálcio semi-hidratado ou “plaster de Paris” (CaSO4.1/2H2O). Após a mistura com água, este composto
pode ser moldado e trabalhado antes de endurecer e adquirir a consistência mecânica característica
estável no estado hidratado (Velho 2005).
Estudos envolvendo gipsitos naturais têm grande importância tanto do ponto de vista técnico como
socio – económico em especial para a indústria de construção civil. Entretanto, no âmbito ambiental
também há uma atenção especial para a questão do aproveitamento dos resíduos gerados pelas
pedreiras e pela reciclagem de resíduos gerados no processo produtivo.
O gesso é um material que apresenta propriedades muito atrativas para a produção de materiais
de construção, tais como: endurecimento rápido, propriedades mecânicas compatíveis com os esforços
atuantes, boa aderência aos substratos, ausência de retração por secagem e excelente acabamento
No atual panorama nacional há uma atenção especial, que segundo Velho e Campos (2006: 1074)
“a pesquisa por eventuais zonas de gesso de boa qualidade (gesso branco) é um imperativo nacional
com o objetivo de se reduzir as importações provenientes de Marrocos e de Espanha”. Ainda Barata et
al. (2011: 43) acrescentam que “em Portugal, o gesso branco e de boa qualidade é escasso, sendo
atualmente necessário importa-lo, sobretudo de Espanha”. A partir desses autores, podemos destacar
a relevância de pesquisas de gessos nacionais naturais, como forma de contribuir no seu
conhecimento, realização de estudos de tratamento e/ou beneficiamento com vista a melhorar as
qualidades e consequentemente, reduzir a importação dos países vizinhos.
Em Portugal o gipsito teve origem evaporítica e encontra-se principalmente nas bacias Lusitânica
e do Algarve, sob forma de cristais hialinos, no seio de margas e argilas cinzentas (Loulé e Soure) ou
em massas brancas fibrosas, de aparência sedosa a granular, de aspeto sacaroide (Óbidos). A
empresa CIMPOR – Indústria de Cimento S.A. centra a sua atividade na produção e comercialização
de cimento e cal hidráulica. O fabrico de cimento absorve a maior parte da produção nacional de gipsito
que desde 2000, ronda as 550 000 toneladas anuais distribuídas em quatro centros: Soure, Óbidos,
Souto de Carpalhosa e Loulé (Velho e Campos 2006).
O fornecimento do gesso à indústria do cimento está sujeito a especificações técnicas que incluem
a granulometria do produto, o seu teor de humidade e, em particular, o seu teor em SO3 (maior
possível). Em relação a indústria de dermocosméticos, as especificações requeridas são ainda mais
restritas, caso da pureza (CaSO4.2H2O) > 95%, baixos teores de sais de magnésio solúveis em água
(MgO) < 0,10 % e cloro solúveis em água (Na2O) < 0,06 %, bem como humidade < 10%). Estudos
prévios indicam que o gesso Português apresenta fraca qualidade para desmocosméticos, por isso é
mais aplicado na construção civil (Pacheco e Matias 2010; Velho 2005).
A partir dos dados acima expostos, para a presente pesquisa, partiremos da questão: quais as
características e propriedades dos gessos em estudo (Loulé, Óbidos e Soure) que melhor se adequam
na fabricação do cimento, na argamassa e em produtos dermocosméticos?
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 2
Capítulo 1. Introdução e Objetivos
O presente trabalho com o tema “Estudo comparativo de gessos de Loulé, Óbidos e Soure para
cimento, argamassa e dermocosméticos”, foi elaborado no âmbito da unidade curricular
Dissertação/Projeto/Estágio, do 2° ano do Mestrado em Engenharia Geológica, no percurso Recursos
Geológicos, lecionado no Departamento de Geociências na Universidade de Aveiro.
Para a sua efetivação, fez-se a leitura bibliográfica de zonas potenciais de ocorrência de gipsito
em Portugal, definiu-se os locais de amostragem (Loulé, Óbidos e Soure) e realizou-se estudos de
caracterização física, química, mineralógicas e tecnológica dos gessos, recorrendo a varias técnicas de
laboratório a fim de definir seu enquadramento (no cimento, na argamassa e no dermocosméticos),
como algumas vantagens/desvantagens dos mesmos.
Os trabalhos práticos foram realizados nos Laboratórios de Materiais e de Raios X do
Departamento de Geociências, no Laboratório do Departamento de Engenharia de Materiais e
Cerâmica da Universidade de Aveiro, e no Laboratório da Faculdade de Farmácia na Universidade do
Porto, e esteve sob orientação científica do Prof. Dr. Fernando Joaquim Fernandes Tavares Rocha.
1.3. OBJETIVOS
O trabalho tem como objetivo principal de realizar um estudo comparativo de três gessos
nacionais extraídos nas bacias evaporíticas de Loulé, Óbidos e Soure, a partir da caracterização
(química, mineralógica, física e tecnológica) com vista a trazer uma contribuição ao conhecimento das
potencialidades dos gessos nacionais, para definir seu melhor enquadramento no uso na argamassa,
no cimento e nos cosméticos.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 3
Capítulo 1. Introdução e Objetivos
O capítulo 1, Introdução e objetivos, aborda o tema a ser analisado por meio da justificativa da
escolha do tema e relevância da sua investigação, apresentam-se os objetivos pretendidos, a natureza
e âmbito do trabalho e a organização do mesmo.
O capítulo 3, Conceitos e fundamentos teóricos, faz uma revisão bibliográfica sobre a rocha
gipsito e o gesso, enfatizando as suas características mineralógicas, as propriedades, as aplicações,
como a obtenção e reservas no mundo e especialmente, em Portugal.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 4
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Nesse capítulo faremos análise detalhada sobre a localização geográfica, aspetos relacionados
com a caracterizações geomorfológica e geológica dos nossos locais de amostragem (Loulé, Óbidos e
Soure).
O Algarve situa-se no extremo meridional de Portugal. Tem uma área aproximada de 5 000 km 2, o
que faz com que constitua quase 6% do território continental português. É limitado a oeste e a sul pelo
oceano Atlântico, a norte por Beja (Alentejo) e a este pelo rio Guadiana. O clima é do tipo
mediterrânico, caracterizado por Invernos amenos e chuvosos e Verões quentes e secos.
O Concelho de Loulé (Figura 2.1) ocupa uma faixa da região de algarve entre o oceano Atlântico e
o Alentejo, sendo o mais extenso do distrito de Faro com uma área aproximada de 764 km 2 e o mais
populoso a seguir ao conselho de Faro.
O gesso de Loulé em estudo, foi extraído da pedreira Milhanes localiza‐se na freguesia de Tôr,
concelho de Loulé, distrito de Faro, a qual é propriedade da CIMPOR – Indústria de Cimentos, S.A.
Figura 2. 1. Localização do local de coleta de amostras de gesso de Loulé (imagem de satélite obtida através do
Google Earth)
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 5
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
A orla sedimentar algarvia, de idade meso‐cenozoica, é formada por uma bacia sedimentar, em
que se depositaram mais de 4 000 m de sedimentos, e estende‐se desde o Cabo de São Vicente até
ao rio Guadiana (~140 km), penetrando irregularmente para o interior entre 3 km a 25 km, sobre
terrenos do Carbonífero da Zona Sul Portuguesa (ZSP). A margem sul da bacia do Algarve resultou de
um conjunto de flexuras de blocos de cratão, de direção E-W mergulhados para o sul, induzidas pela
rotação da placa africana, no sentido dextrogiro, de que resultou um desligamento esquerdo1 ao longo
da fratura Açores – Gibraltar (Galopim de Carvalho 2003; Manuppella 1992).
A Bacia do Algarve formou-se no Triásico (Mesozoico) quando o limite entre as placas Eurasiática
e Africana começou a adquirir características de um limite transtensivo, devido ao movimento
aproximadamente E-W entre as placas Eurasiática e Americana, responsável pela abertura do
Atlântico, e ao movimento NW-SE entre as placas Africana e a Americana que resultou na formação de
bacias de orientação E-W a ENE-WSW, como a Bacia Algarvia (Almeida 1985; Trindade 2007).
1
Desligamento refere-se à movimentação relativa e tangencial de dois blocos separados por uma falha (falha desligante ou
transcorrente). Diz-se esquerdo ou direito consoante um observador colocado num dos blocos, virado para o outro, o vê
deslocar-se para a esquerda ou para a direita, respetivamente.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 6
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
calcarios2, nos mais profundos. O Jurássico Superior é regressivo, tendo deixado uma sequencia
carbonatada, por vezes margosa, explorada para o fabrico de cimento, na região de Loulé (Galopim de
Carvalho 2003).
Os movimentos tectónicos ao longo dos blocos separados pelas flexuras, ativos desde o Triásico
superior, originaram maior subsidência nos blocos localizados a Sul das linhas de flexura. Em certos
sectores, o afundamento da bacia provocou a entrada de águas marinhas, as quais, devido ao clima
quente e seco então dominante, precipitaram grandes quantidades de gesso e sal‐gema intercalados
com argilas e outros sedimentos. Mais tarde estas grandes massas evaporíticas, tornaram‐se plásticas
devido à pressão dos sedimentos que se lhes foram sobrepondo e deslocaram‐se por ação de
movimentos tectónicos, ascendendo em direção à superfície nas zonas enfraquecidas pelas fraturas.
Assim, a partir do Jurássico médio começaram a ocorrer movimentos de migração das grandes massas
de sal depositadas no início do Jurássico. Estas estruturas salíferas, designadas por diápiros, são
frequentes no Algarve, tendo, por vezes, bastante importância económica, como é o caso da
exploração de sal‐gema da mina de Loulé (Terrinha 1998).
Na Orla Mesocenozoica Meridional ou Algarvia (parte imersa da bacia, na figura 2.2) distinguem-se
duas diretrizes que testemunham o carater flexural da sua evolução. Uma delas está orientada
sensivelmente WSW-ENE, entre Sagres e Algoz, infletindo para o W-E até Vila Real do Santo António.
A outra linha de flexura, de direção W-E estende-se desde a Albufeira e Luz de Tavira. Entre estas
duas diretrizes predominam as formações do Jurássico Médio e Superior, moderadamente enrugadas,
com anticlinais de vergência apontadas para o sul, por vezes cavalgantes neste mesmo sentido. A
massa evaporítica adjacente (Hetangiano), essencialmente constituída por sal-gema (halite), injetou-se
através de importantes fraturas (Albufeira) ou ascendeu, formando anticlinais diapíricos, como em
Loulé, permitindo a sua exploração mineira em profundidade (Galopim de Carvalho 2003).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 7
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
(Tortoniano inferior), e pelos siltes glauconíticos da Campanha de Faro com valores compreendidos
entre 10 e 7 milhões de anos (Antunes et al. 1986 citado por Galopim de Carvalho 2003). Com idade
não definida, entre o Pliocénico e o Pleistocénico, um conjunto arenítico – argiloso, avermelhado a
acastanhado, por vezes com posólitos limoníticos (ás vezes também manganesíferos) e leitos de
seixos rolados, bem desenvolvidos entre Faro e Quarteira.
O diapiro de Loulé apresenta uma estrutura em domo (Figura 2.3), com forma elipsoidal e com o
eixo maior do anticlinal orientado WSW‐ENE. Este diapiro está sepultado sob uma espessura de cerca
de 32 m de materiais de idade quaternária, encontrando‐se encaixado em calcários e dolomitos de
idade Jurássica e apresenta um “cap rock” constituído essencialmente por margas gipsíferas. Este “cap
rock” que se encontra nos bordos e no topo do diapiro impede a passagem de água dos aquíferos para
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 8
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
a massa de sal, evitando assim a sua dissolução. A massa de sal é recortada por abundantes filões de
rochas básicas, que são visíveis nas galerias da mina de Loulé (Manuppella 1992; Lopes et al. 1998).
2.1.4. Geomorfologia
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 9
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Figura 2. 5. Localização das três subdivisões geomorfológicas do Algarve (Adaptado por: Gonçalves 2009).
A Serra algarvia (ou Alto Algarve) corresponde à zona mais setentrional do Algarve e é o
prolongamento da peneplanície do Baixo Alentejo. Abrange a maior parte da região do Algarve (1813
Km2) e constitui a zona mais elevada (altitude máxima de 900 m). Compreende os dois relevos de
maior expressão do Sul de Portugal: a Serra do Caldeirão, formada por xistos e grauvaques com idade
compreendida entre o Devónico superior e o Carbónico, e a Serra de Monchique, constituída
essencialmente por sienitos nefelínicos do Cretácico superior. A relativa homogeneidade litológica, a
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 10
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
baixa permeabilidade e a dureza dos terrenos, originaram uma rede hidrográfica densa, hierarquizada e
bem encaixada. A rede hidrográfica caracteriza-se por vales profundos de flancos abruptos,
meandrizados em vastas extensões, e interflúvios bem marcados, com vertentes de declive acentuado
e topos arredondados. Os terrenos encontram-se muito dobrados e falhados como resultado de uma
tectónica ativa conferindo-lhes fraca resistência à erosão, o que associado a uma vegetação dispersa
conduz à formação de depósitos de vertente argilosos e muito instáveis (quando saturados pela água
das chuvas) provocando deslizamentos de massa (Trindade 2007).
O Barrocal (ou Algarve Calcário) localiza-se na zona central do Algarve e separa a Serra do Litoral,
constituindo a sub-região com uma expressão mais reduzida (991 Km2) e onde se encontra uma
altitude máxima de 479 m. Esta área assume maior expressão entre Silves e S. Brás de Alportel,
diminuindo para leste e oeste. A Leste de Conceição de Tavira a Serra contacta diretamente com o
Litoral. É constituído por formações carbonatadas de idade mesozoica, cuja base assenta em
discordância angular sobre o soco paleozoico. O relevo é formado por uma série de alinhamentos E-W,
condicionados por vales de fratura ou de erosão diferenciada resultante da heterogeneidade litológica.
Estas características condicionaram a formação de relevos estruturais do tipo “pseudo-mesas” com
topos planos formados pela presença de níveis compactos e resistentes dos calcários e dolomitos do
Sinemuriano. As rochas carbonatadas caracterizam-se por um modelado cársico bastante variado
(lapiás, dolinas, uvalas, vales secos, poljes e grutas) e, por esse motivo, o escoamento subterrâneo no
Barrocal é muito importante, ocorrendo numerosos locais de sumidouros (Trindade 2007).
O Litoral Algarvio (ou Baixo Algarve ou Beira-Mar) com 1032 Km2 de área e 187 m de altitude
máxima, estende-se por cerca de 210 km, desde a Praia de Odeceixe, Aljezur, até à foz do rio
Guadiana, apresentando uma grande diversidade litológica e morfológica. O litoral do Algarve é
geralmente dividido em três sectores: Ocidental, com arribas rochosas do Paleozoico; Meridional
Oeste, corresponde ao Barlavento algarvio com formações essencialmente mesozoicas e cenozoicas,
em geral, de arriba rochosa e com praias nos recôncavos ou na base das escarpas, e; Meridional Este,
que coincide com a região do Sotavento algarvio constituído por arribas arenosas do Pliocénico e
Pleistocénico e por extensas praias de areias holocénicas; ao contrário dos outros sectores, aqui
predominam as costas baixas e arenosas (Figura 2.5).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 11
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Leiria é um distrito localizado na zona centro de Portugal, tem uma área de 3 506 km², tornando-se
o 13.º maior distrito português. Tem 110 freguesias distribuídas pelos seus 16 conselhos e apresenta
como limites, a norte o distrito de Coimbra, a leste os distrito de Castelo Branco e Santarém, a sul com
o distrito de Lisboa e a oeste com o oceano Atlântico. O clima é mediterrânico com influencia oceânica.
O Conselho de Óbidos (Figura 2.6) localiza-se no distrito de Leiria, sub-região do Oeste, com
141,55 km² de área e subdividido em 7 freguesias. O município é limitado a nordeste e leste pelo
município das Caldas da Rainha, a sul pelo Bombarral, a sudoeste pela Lourinhã, a oeste por Peniche
e a noroeste tem costa no oceano Atlântico.
Figura 2. 6. Localização do local de coleta de amostras de Óbidos (imagem de satélite obtida através do Google
Earth).
A Bacia Lusitânica (Figura 2.7), localizada na Margem Ocidental Ibérica, é uma bacia sedimentar
distensiva que se desenvolveu durante parte do Mesozoico, apresentando uma dinâmica que se
enquadra no contexto da abertura do Atlântico Norte (Guerreiro 2014; Kullberg 2013).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 12
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Figura 2. 7. Geologia simplificada da Bacia Lusitânica (informação geológica à escala 1:500 000 adaptada do
Atlas do Ambiente, por Lopes 2014).
A bacia mesozoica ocidental ou Bacia Lusitânica, foi gerada em ambiente tectónico de estiramento
crustal, desde tempos triásicos (rifting sem geração de crosta oceânica) até ao limite Cretácico
Inferior/Superior. Esta evolução sofreu dois passos de maior importância: a abertura do Oceano
Atlântico Norte (verdadeira abertura a partir do Jurássico Superior), com o afastamento da Eurásia do
continente Norte-Americano; e abertura do Tétis, por consequência do movimento relativo entre a
Eurásia e África. A bacia engloba diferentes domínios tectono-sedimentares: Sector Norte (N da falha
da Nazaré); Sector Central (entre as falhas da Nazaré e Arrife – Vale inferior do Tejo); Sector Sul (S da
falha do Arrife). A região de estudo pertence ao Sector Central (Azerêdo et al. 2006; Kullberg 2000).
Esta Bacia apresenta uma forma alongada e uma orientação geral NNE-SSW. As formações que a
constituem apresentam uma espessura variável, com cerca de 5 km na sua parte axial, assentando
sobre as unidades da Zona de Ossa Morena e possivelmente sobre a Zona Sul Portuguesa. A bacia
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 13
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
sedimentar é individualizada: a E pelo Maciço Hespérico através de contacto pela falha Porto-Coimbra-
Tomar; a S pelo ramo desta mesma fratura, com direção NNE, que se estende até ao canhão de
Setúbal; a W por um Horst hercínico, atualmente materializado pelo arquipélago das Berlengas
(Azerêdo et al. 2006; Guerreiro 2014).
Os materiais que preenchem a Bacia Lusitânica provêm do Maciço Antigo, a Este, mas também de
uma antiga área continental, a Oeste, representada atualmente apenas pelas pequenas ilhas das
Berlengas e Farilhões. De uma maneira geral, pode dizer-se que as rochas detríticas mais ou menos
grosseiras predominam na base do Mesozóico, no Cretácico e no Cenozóico. As argilas e margas, com
intercalações gresosas, são frequentes no Jurássico superior. Os calcários mais espessos pertencem
ao Jurássico médio e constituem a ossatura de alguns dos principais relevos desta zona do país
(Azerêdo et al. 2006; Guerreiro 2014; Kullberg 2013).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 14
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Depositam-se de novo, após esta fase, sedimentos gradualmente mais marinhos (Formação de
Montejunto), começando a partir do Kimmeridgiano a ocorrer instabilidade tectónica, diapirismo e forte
acarreio terrígeno: geram-se espessas sequências margino-marinhas, salobras e fluviais (Formação de
Alcobaça, Formação de Bombarral), além da manutenção, em certos compartimentos da bacia de
calcários marinhos, incluindo recifais. Esta fase é acompanhada pelo 2º Ciclo Vulcânico Mesozóico
(Azerêdo et al. 2006).
Por oposição a esta interpretação da evolução cenozóica desta região, existe um modelo que
relaciona a morfologia de vale com eventos erosivos ante-pliocénicos que provocam a erosão em vale,
o qual é preenchido pelos sedimentos margino-marinhos pliocénicos, sendo a posteriori dobrados pela
tectónica compressiva cenozóica (Zbyszewski 1959).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 15
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Óbitos localiza-se na Bacia Lusitânica, numa área caracterizada fundamentalmente por terrenos
sedimentares de natureza carbonatada e detrítica, formados a partir do Jurássico inferior, pertencendo
estrutural e estratigraficamente à área normalmente designada por Vale Tifónico das Caldas da Rainha,
embora de facto esta estrutura seja parte duma unidade estrutural maior, que se prolonga desde o
paralelo de Rio Maior até Porto de Mós-Batalha, aproximadamente. Esta região é conhecida desde
tempos remotos (Árabes, Romanos…) pelos seus recursos minerais, tais como as águas termais e
medicinais e também gesso, sal-gema e caulinos, inertes (areias, diatomitos…) e rochas ornamentais
(calcários). Esta variedade de recursos advém da diversidade de eventos tectono-estratigráficos
característicos de todo o Maciço Estremenho, provocando variação lateral e vertical das sequências
estratigráficas, relacionadas diretamente com os diferentes e contínuos eventos tectono-sedimentares
experimentados pela Península Ibérica durante o Meso-Cenozóico (Azerêdo et al. 2006; Lopes 2014).
A região de Óbidos encontra-se num contexto geológico relacionado com a evolução das bacias
meso-cenozoicas portuguesas, inserindo-se na Orla Meso-cenozoica Ocidental, conhecida como Bacia
Lusitaniana, que corresponde a uma depressão alongada com direção NNE-SSW, cuja abertura
coincide com os primeiros estádios da abertura do Atlântico, mostrando de forma mais ou menos clara
a evolução dos ambientes sedimentares neste sector, desde a Era Mesozoica até à Atualidade. Esta
bacia é limitada a leste pela falha Porto-Coimbra-Tomar, que a separa do Maciço Hespérico, e a oeste
por um Horst hercínico, materializado atualmente pelos granitos e rochas metamórficas do arquipélago
das Berlengas. O bordo sul é limitado pela falha da Arrábida, existindo a norte o confinamento com a
Bacia do Porto (Kullberg 2013; Lopes 2014).
2.2.4. Geomorfologia
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 16
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Figura 2. 8. Unidades geomorfológicas identificadas no concelho de Óbidos. Onde a – bordos do val tifónico; b –
relevos do interior do vale tifónico; c- superfície aplanada de Olho Marinho; d – superfiie envolvente degradada
do Bom Sucesso; e – complexo dunar Gronho-Prais d´El Rei; f – Lagoa de Óbidos; g – terraços fluviais
artificializados dos rios Real e Arnóia; h – depressão palustre do Vau (Poça do Vau); i – depósitos de praia e
arribas litorais (Azerêdo et al. 2006).
Planalto da Cesareda:
Superfície de aplanação bem conservada constituída por formações carbonatadas do
Jurássico, com evidências de carsificação. Em algumas zonas do planalto é possível observar
lapas, grutas e galerias, instaladas ao longo de descontinuidades. No limite norte observa-se o
desnível originado pela falha da Serra d’El-Rei.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 17
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Relevos jurássicos:
Unidade formada pelo conjunto sedimentar detrítico do Jurássico superior e dividida pelo vale
tifónico, constituindo uma plataforma degradada marcada pela rede de drenagem e a inclinar
ligeiramente para leste na área a este do vale tifónico e para NW na área a oeste do vale.
Individualiza-se ainda a zona de Sobral da Lagoa, que constitui um relevo em costeira de
extensão curta onde afloram as Camadas de Alcobaça, separando duas unidades
anteriormente descritas – a Lagoa de Óbidos e o vale tifónico das Caldas da Rainha.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 18
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
2.2.5. Tectónica
De acordo com a interpretação atual feita por Cabral (1995 citado por Lopes, 2014), a depressão
morfológica designada como vale tifónico das Caldas da Rainha, de orientação geral NNE-SSW, foi
constituída posteriormente à deposição das areias com lignitos e diatomitos do Pliocénico (Figura 2.9),
tendo estes depósitos sido preservados no interior da depressão devido à elevação de ambos os
bordos. Apesar da importância da estrutura diapírica na área em estudo, refere-se ainda a existência
de várias falhas, nomeadamente:
Falhas transversais ao vale tifónico;
Falha da Serra d’El-Rei, que corresponde ao limite N do maciço da Cesareda;
Falhas paralelas à linha de costa, das quais se destaca nesta área a falha da Esteveira (Lopes
2014: 20).
Figura 2. 9. Modelos explicativos da evolução dos vales tifónicos da Orla Ocidental. Esquema fora de escala,
muito sobreelevados. As altitudes representadas na escala vertical referem-se ao nível de base contemporâneo
da fase evolutiva correspondente. 1 – areias azoicas com pequenos calhaus rolados (Pliocénico terminal, -2/-1,6
Ma?); 2 – sedimentos argilo-arenosos, lignitosos e diatomiticos (Pliocénico superior -3/-2,5 Ma?); 3 – areias
marinhas fossilíferas (Pliocénico superior -3,5/-2,7 Ma?); 4 – formações mesozoicas encaixantes, consistindo
predominantemente em calcários jurássicos; 5 – margas gipsíferas e salíferas dos núcleos diapíricos (Liásico
inferior); 6 – falha de bordo do diápiro com sentido da componente de movimentação segundo a inclinação
indicada pelas setas (Cabral, 1995 citado por Lopes 2014).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 19
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Coimbra situa-se na região centro de Portugal. Tem uma área aproximada de 4 000 km 2, o que
corresponde a 4,31% do território nacional, tornando-se o 12º maior distrito português. É limitado a
norte com os distritos de Aveiro e Viseu, a leste com os distritos da Guarda e Castelo Branco, a sul
com o distrito de Leiria e a oeste com o oceano Atlântico. O distrito é constituído por 17 conselhos e
155 freguesias. O clima de Coimbra, divide-se em duas regiões: uma de clima temperado com inverno
chuvoso e verão seco e quente e outra de clima temperado com inverno chuvoso e verão seco e pouco
quente.
O Concelho de Soure (figura 2.10) pertence ao distrito de Coimbra, com área total de 265,1 km 2,
dividido em doze freguesias e tem por limites, a Norte o Concelho de Montemor-o-Velho; a nordeste, os
Concelhos de Condeixa-a-Nova e a leste Penela; a Sul, os Concelhos de Pombal e Ansião, e a Oeste o
Concelho de Figueira da Foz. É parte integrante do agrupamento de concelhos da sub-região
denominada de Baixo Mondego.
Figura 2. 10. Localização do local de coleta de amostras de Soure (imagem de satélite obtida através do Google
Earth).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 20
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Não surpreende, por conseguinte, que grande parte das formações sedimentares aflorantes no
concelho sejam de idade mesozoica, repartindo-se por quatro grandes unidades morfoestruturais com
consequente desenvolvimento na paisagem e orografia (Ramos 2008: 41):
O maciço calcário da Serra do Sicó, situado a Este e em que o substrato de calcários marinhos
do Jurássico aflora extensamente;
O anticlinal de Cabeça Gorda, com orientação Este-Oeste e representado por unidades
cretácicas e cenozoicas;
A área diapírica de Soure, em que o Infralias aflora em depressão erosiva, em conjunto com
corpos intrusivos e;
O setor meridional da região do Baixo Mondego, caracterizado por uma rede de colinas
talhadas pela erosão em formações areno-argilosas do Cretácico, Paleogénico e Miocénico com
disposição tabular a levemente arqueada, acompanhadas por abundantes depósitos de
cobertura cuja génese está relacionada com a evolução plio-plistocénica da região.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 21
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Esta unidade ter-se-á gerado durante o primeiro episódio de rifting, o qual ter-se-á verificado no
Liásico inferior, registado pela megassequência C (C1+C2); Hetangiano-Carixiano inferior (Soares e
Duarte 1995). Também Pena dos Reis et al. (1992: 115) considera que “este episódio de rifting se terá
iniciado no Triásico superior, o qual teria precedido o aparecimento do Atlântico Central durante o
Jurássico e a consequente separação das placas americana e africana”.
No Jurássico médio a atividade diapírica ganha uma importância crescente, controlando a evolução
de sectores individualizados, quer por barreiras criadas pela ascensão de massas evaporíticas, quer
pela subsidência e basculamento dos blocos ao longo das falhas. Nesta fase de rifting os depósitos são
dominados por sedimentos clásticos aluviais, que interdigitam lateralmente com depósitos margosos e
evaporíticos (Rocha et al. 1990).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 22
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
carbonatada. O topo do Cenomaniano superior foi marcado por variações significativas no estilo da
sedimentação e pela instalação de alguns novos domínios paleogeográficos (Ramos 2008).
A sul do rio Mondego, a sucessão inicia-se por lumachela com fósseis marinhos, a que se seguem
areias finas amareladas e depois série continental com depósitos ligníticos e argilas negras, com
diatomitos na região de Rio Maior (Zbyszewski 1959).
A estrutura diapírica de Soure apresenta uma geometria sub-circular, com um raio de cerca de 3,5
km, e constitui o núcleo de um anticlinal alongado segundo NE-SW (figura 2.11), o anticlinal de Cabeça
Gorda. A maioria das unidades encaixantes do núcleo evaporítico está em continuidade estratigráfica e
são constituídas por calcários dolomíticos do Sinemuriano (Formação de Coimbra), exceto no bordo
NE, onde arenitos do Cretácico assentam em discordância sobre o núcleo da estrutura diapírica, bem
como sobre os flancos do anticlinal. A recobrir parcialmente o núcleo encontram-se também formações
areníticas do Paleogénico e Miocénico indiferenciados e do Pliocénico (Fernandes 2009).
Na fronteira entre a estrutura diapírica e o encaixante afloram três intrusões magmáticas, de
constituição dolerítica (figura 2.11). (Rocha et al. 1981), referem a presença de bacias (Figueiró do
Campo a N e outras de menores proporções), associadas à migração da formação evaporítica para o
núcleo dos anticlinais.
A lavra que foi desenvolvida inicialmente teve como condicionante a presença do jogo de falhas
(figura 2.11). De facto, a ocorrência de uma falha de orientação NW-SE permitiu a abertura de uma
frente de exploração na parte E do depósito. A exploração desenvolveu-se para W, ao longo da falha e
infletiu para S quando se verificou a presença de um importante acidente NS. Estas duas falhas
permitiram a extração de gesso com estrutura em “chevron3” mas a cobertura de areais pliocénicas4
3
A Estrutura Chevron refere-se a dobras onde os ápices são terminados em ângulo, parecendo quebrados, mas os flancos
mantêm a mesma espessura.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 23
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
dificultou a lavra tendo sido estas retiradas. Devido à impossibilidade física de explorar em
profundidade e em superfície, obrigou ao alargamento da área de extração o que deu origem ao
aparecimento de uma extensa formação de gesso negro de qualidade inferior designado por “cascão”.
Para E surgem diversos alinhamentos de gesso microgranular, por vezes com veios de selenite, com
elevada dureza e alinhados numa direção E-W. A zona mais interessante do depósito do ponto de vista
económico localiza-se na parte E-SE, onde aflora uma mancha de gesso microgranular com elevado
grau de pureza (Velho e Campos 2006).
Figura 2. 11. Mapa geológico do depósito de gesso de S. José do Pinheiro (Velho e Campos 2006:1074).
O depósito corresponde a uma fácies de natureza evaporítica constituída na sua totalidade por um
complexo de margas gipsíferas com uma tonalidade cinzento-escura, com reflexos azulados, passando
nalguns pontos a azul-negro e noutros a cinzento acastanhado. Surgem, também, intercalações
irregulares de níveis esbranquiçados de gesso, muitas vezes lenticulares. O gesso apresenta-se sob
diversas formas, quer em massa granulosa, quer fibrosa com brilho sedoso. Localmente, o gesso
apresenta-se na variedade selenite, em veios incolores, transparentes, fornecendo boas superfícies de
4
As areias pliocénicas constituem o material de cobertura sendo indispensável a sua remoção para a extração de gesso.
Estas areias, encontram-se relativamente bem calibradas, são de grão fino e possuem uma cor esbranquiçada. A fração
argilosa não é demasiado significativa, sendo os grãos de areia constituídos essencialmente por quartzo.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 24
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
clivagem. São igualmente comuns os veios, muito sinuosos e finos, de gesso fibroso, na variedade
espato acetinado.
A fração arenosa é constituída essencialmente por moscovite e por quartzo euédrico, hialino. Os
grãos de quartzo apresentam normalmente um diâmetro inferior a 0,5 mm e apresentam-se angulosos.
A ilite constitui o mineral argiloso predominante (tabela 2.1).
Fração carbonatada (%) Fração arenosa (%) Fração fina (%) Gesso (%)
71,4 3,2 24,0 1,5
20,5 1,2 10,4 67,9
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 25
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
2.3.4. Geomorfologia
A zona da Serra
A zona enquadrada na Serra é constituída essencialmente por rochas carbonatadas. Constituída por
bancos de calcário margoso, bastante compacto. Calcários oolíticos e pseudooliticos encontram-se na
aldeia Casal Cimeiro. Na zona serrana é visível uma cobertura vegetal essencialmente rasteira e
perfeitamente adaptada a solos pobres. A riqueza florística deve-se sobretudo às comunidades de
orquídeas que se desenvolvem nos substratos calcários, à variedade de ervas aromáticas/medicinais,
às manchas de carvalho português (Degracias) e oliveiras. (ANCCT 2012).
Arenitos do Carrascal
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 26
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 27
Capítulo 2. Enquadramento Geográfico e Geológico
apinhoados com amonoides (Neolobites) e uma fauna bentónica abundantíssima e muito diversificada,
composta por equinídeos (Hemiaster, Heterodiadema etc) gastrópodes (Cimolithium, Harpagodes) e
bivalves (Pycnodonte, Neithea, etc.). As fáceis de calcário margoso apinhoado estendem-se até aos
níveis superiores de formação e intercalam-se com diversos estratos espessos de calcário compacto
de cor creme (Callapez e Soares Pinto 2003).
As areias grés e argilas (Pliocénico- 5,3 MA a 1,8 MA) é constituído por arenitos argilosos
grosseiros acastanhados ou castanhos avermelhados alternando com camadas finas de seixos com
diferentes graus de rolamento. Junto à vila de Soure as formações arenosas apresentam intercalações
de lignito, carvão que já foi explorado, vestígios dessa atividade existem em Pinheiro e Alencarce
(ANCCT 2012).
Doleritos
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 28
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
No presente capítulo faz-se uma abordagem geológica e química do gipsito, enfatizando as suas
características mineralógicas, a nomenclatura, a obtenção e reservas no mundo e especialmente, em
Portugal. Já o gesso é retratado de forma mais abrangente, envolvendo desde o seu processo de
produção até à sua disposição final, focando as suas propriedades físicas – químicas e seu potencial
uso e aplicações como aditivo em cimento, na argamassa e em dermocosméticos, que é o objeto de
estudo do presente trabalho. Alguns pontos aqui apresentados servirão de pressupostos teóricos do
trabalho e serão objeto de análise critica a partir dos resultados da presente pesquisa.
Segundo Galopim de Carvalho (2006: 266) “Entre nós, o termo gesso… nome da rocha evaporítica
(gypsite de ingleses e franceses) para a qual propomos a adoção do termo gipsito, em coerência com
as regras da nomenclatura petrográfica, a semelhança do brasileiro gipsita”.
Gipsite é o termo mais adequados ao mineral no estado natural, enquanto o “gesso” é a
denominação comercial atribuída ao pó do sulfato de cálcio hidratado, isto é, o termo apropriado para
designar o produto calcinado (Villanueva et al, 2006 citado por Lopes 2012)
Em termos de geologia, o gipsito é uma rocha sedimentar de origem química e salina, formada por
precipitação de sais. Esta precipitação ocorre devido às mudanças nas condições físico-químicas do
meio. O gipsito é uma rocha rica em mineral gipsite, formado a partir de reações entre os elementos em
suspensão e os outros materiais externos, como o oxigénio e hidrogénio da água.
Ela tem sua origem, em geral, devido à precipitação do sulfato de cálcio contido em águas
marinhas submetidas à evaporação. As condições necessárias para a formação de evaporitos são
variáveis como, por exemplo, a água do mar que deve conter aproximadamente 3,5% de salinidade. A
quantidade de agua que entra nos lagos de água salgada deve ser menor do que a água que evapora.
Quando a quantidade de água que evapora alcança 80%, a precipitação de evaporito começa a
ocorrer, seguindo uma ordem, onde componentes mais insolúveis como a gipsite precipitam primeiro.
Apos o desaparecimento de 90% da água original outros minerais solúveis como a halite começam a
se formar. A qualidade do gipsito é determinada pelo teor de gipsite presente na rocha. O total de
impurezas varia desde uma proporção muito pequena até o máximo de cerca de 6% (constituído por
SiO2, Al2O3, CaCO3 e MgCO3) (Baltar et al. 2005; Canut 2006; Galopim de Carvalho 2006).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 29
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
3.1.1. Mineralogia
Figura 3. 1. Cristais de gipsite e a relação entre os eixos num sistema monoclínico. Fonte: (Trovão 2012)
A fórmula química da gipsite, anidrite e bassanite são semelhantes e se diferenciam apenas quanto
à proporção de água de hidratação, que se apresenta com diferentes combinações. Este facto torna a
gipsite e algumas espécies de anidrite (II e III) instáveis, sofrendo modificações em suas composições
de acordo com as diferentes situações de temperatura e pressão a que são submetidas. Com isso, a
gipsite presente na superfície terrestre pode perder água e então tornar-se um material anidro
(equação 3.1). O processo inverso pode acontecer, onde a anidrite encontrada em regiões mais
profundas, aproxima-se da superfície através de fenómenos geológicos como o movimento tectónico e
erosão do solo. Este acontecimento permite o contato do material anidro com a água e então ocorre
uma reidratação, formando uma nova composição, a qual é chamada gipsite secundária, pois esta
apresenta estrutura cristalina diferente da anidrite e da gipsite original (Baltar et al. 2005).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 30
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
A composição química da gipsite e suas propriedades físicas são demonstradas na tabela 3.1.
CaO
CaO 32.5 %
COMPOSIÇÃO
QUÍMICA SO3 46,6 %
H2O 20,9 %
Classe Sulfatos
Dureza 2 Mohs
Propriedades
físicas Densidade 2,3 g/cm3
Hábito Prismático
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 31
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
O gipsito é obtido a partir de lavra subterrânea ou a céu aberto, utilizando métodos e equipamentos
convencionais. Um detalhe importante que deve ser considerado é que o gipsito absorve parte da força
do explosivo dificultando o desmonte. Devido a isso, na perfuração, os furos costumam ser
programados com diâmetros entre 50 -100 mm e com pequeno espaçamento a fim de possibilitar uma
distribuição mais densa dos explosivos. É comum o uso de explosivos à base de nitrato de amónio e
óleo combustível na proporção de 1 kg/t de material desmontado. Na lavra do gipsito são empregados
equipamentos como: rompedores hidráulicos, marteletes hidráulicos, vagon drill, tratores de esteira e
pás mecânicas.
No caso das empresas que utilizam a lavra subterrânea, o método empregado é o de câmaras e
pilares. Este método é empregado em diversos países, sendo frequente nos EUA, onde 20% das
reservas de gipsito são lavradas por este método (Baltar et al. 2005).
Em Portugal, a exploração, em geral, é feita a céu aberto (figura 3.2), no entanto, em Figueiró de
Vinhos, era feita por métodos subterrâneos clássicos. A coluna estratigráfica presente, representada
por bancadas de gesso com 2 a 3 m de espessura, situados a cerca de 50 a 60 m de profundidade,
separadas por margas e encimadas por calcários, foi a responsável pelo abandono dos trabalhos
(Velho 2005).
Figura 3. 2. Frente de lavra de gesso de Soure. Fonte (Centro de Produção de Loulé 2010).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 32
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
3.1.2.1. Microestrutura
Uma amostra de um material de mesma composição química pode apresentar uma resistência à
compressão bem superior à outra, mesmo que ambas tenham se submetido, aparentemente, ao
mesmo processamento. Este facto bastante comum na análise dos materiais, quase sempre encontra
explicação ao estudar-se a microestrutura, observando-se, por exemplo, o tamanho e a forma dos
grãos e o volume de poros, características essas acessíveis às técnicas de análise bastante simples.
Os cristais de gipsite podem ser definidos de diversas formas, geralmente prismáticos, grossos,
tabulares ou lenticulares, com forte curvatura de faces e arestas (Canut 2006), podem ser encontrados
incolor ou nas cores branca, bege ou amarelo, e são considerados minerais brandos, sendo possível
riscá-los com a unha.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 33
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Os gipsitos extraídos em Portugal são geralmente classificados em duas categorias: gipsito branco
e gipsito pardo. O gipsito pardo tem sido consumido principalmente na indústria de cimentos, como
regulador de presa e na agricultura, como adubo e corretivo de solos. O gipsito branco que, depois de
calcinado pode ter diversas aplicações (Zbyszewski e Almeida 1964).
Tabela 3. 2. Influência das impurezas presentes no minério de gipsito nas propriedades do gesso. Fonte:
Pinheiro 2011: 20.
Angeleri, et al (1983 citado por Pinheiro 2011: 19) recomendam que “o teor de impurezas no
minério de gipsito seja, no máximo, de 15%, sendo, nesta composição são aceitáveis os teores
máximos de 0,03% de cloretos alcalinos, de 0,03% sulfatos hidratados de magnésio e sódio (epsomite
e mirabilite) e de 2% de montmorillonite”. Assim, os teores de minerais siliciosos, calcário, dolomite,
anidrite, minerais argilosos, halite, silvite e sais, sempre que possível, devem ser verificados antes que
o minério seja encaminhado ao processo industrial.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 34
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Em Portugal o gipsito é consumido quer na forma crua (gipsito) ou na forma calcinada (gesso). A
extração e a preparação do minério de gipsito para calcinação envolvem atividades executadas nos
centros de calcinação (Figura 3.4), que têm como objetivos a redução do diâmetro do minério, a
armazenamento do material, a homogeneização e a secagem do material.
O processo de secagem pode não ser efetuada antes ou depois da segunda etapa de britagem.
Assim a etapa de secagem é frequentemente incluída ao processo de tratamento, para que o material
se torne mais secoo nas etapas subsequentes. A secagem é fundamentalmente seguida através de
secadores rotativos e este processo deve ser cuidadosamente controlado de modo que a temperatura
do mineiro não exceda os 49 ºC, visto que, neste ponto se começa a verificar a dissociação da água
combinada (Campos 2002).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 35
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
A lavagem e/ou peneiramento quando o gipsito está húmido ocorre em poucos casos,
particularmente quando se verifica a necessidade de obtenção de uma cor branca. Para o fabrico de
cimento, o gipsito não deve apresentar granulometria superior a 5 cm, enquanto para as aplicações nos
solos agrícolas a granulometria exigida é inferior. A produção nacional destina-se, a esses dois
mercados por serem menos exigentes em termo de qualidade (Campos 2002; John e Cincotto 2007).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 36
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Figura 3. 6. Hidratação e desidratação no sistema CaO – SO4 – H2O (Fonte: Pinheiro 2011).
Segundo SNIP (1982 citado por Pinheiro 2011: 23), os fornos utilizados no processo de produção
por via seca, podem ser:
Fornos com aquecimento direto – Os gessos obtidos nesses fornos são constituídos
principalmente de semi-hidratados β, quantidades variáveis de anidrites e pequenas
quantidades de gipsito. As proporções de cada constituinte dependem do tempo de
permanência, da temperatura e do tipo de forno. O material produzido possui grande
reatividade, com início de presa precoce e grande velocidade de endurecimento, e:
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 37
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Fornos com aquecimento indireto – O material produzido nos fornos com aquecimento indireto
é constituído, essencialmente, pelo semi-hidratado β com a presença eventual de pequenas
quantidades de anidrites e gipsito. A obtenção do gesso com estas características é possível
devido à não contaminação do material pelos gases de combustão e ao controle do ambiente
mantido sob uma determinada pressão parcial de vapor, que controla a formação de anidrites.
A gipsite é o mineral mais comum do grupo dos sulfatos, ocorre em jazidas de origem sedimentar,
associado aos calcários, xistos argilosos, margas e argilas, assim como depósitos evaporíticos, como o
sal-gema. Nos depósitos evaporíticos, resulta da evaporação de águas salinas em meio continental ou
marinho. Em muitas regiões, a gipsite foi dissolvida pelas águas de percolação (a solubilidade aumenta
pela presença de NaCl ou CaCO3) que, na estação seca, são arrastados para a superfície por ação
capilar, onde evaporam e deixam a gipsite depositado sob forma de cristais por vezes em agregados
designados “rosas do deserto”. Também encontram-se grandes depósitos de gipsito em lagos salgados
e nas salinas (Campos 2002; Deer et al. 2014).
Assim sendo, os depósitos de gipsito podem ser classificados como primários e secundários. Os
depósitos primários (ou sedimentares) são formados através da deposição de sais em bacias
profundas, de grandes dimensões ou, em alternativas, em sabkhas ou bacias muito pouco profundas,
junto da costa marítima, em ambiente quente e seco. Como exemplo destes depósitos citam-se os
seguintes: costa do Golfo Pérsico, Canadá, Jamaica e Portugal, entre outros. Quanto aos depósitos de
origem secundária, são depósitos de infiltração, de concreções superficiais, de gipsito e de areias
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 38
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
gipsíferas. Exemplos destes depósitos são os seguintes: Wadi Hoff e Wadi Garrawi, no Egipto;
Coahilla, no México; e Kern Country, nos EUA. Ainda referir que há acumulação de gesso e anidrite
nas zonas apicais dos domos salinos. Este tipo de depósito pode ser pouco espesso e irregular, como
sucede na Alemanha, ou pode apresentar mais de 350 m de espessura em alguns domos salinos e nos
EUA (Harben e Kuzvart 1996; Velho 2011).
O gipsito pode ser encontrada em regiões vulcânicas, especialmente, onde o calcário sofreu ação
dos vapores de enxofre. Nesse tipo de ocorrência, o gipsito aparece como mineral de ganga 5, nos
veios metálicos, podendo estar associado a diversos minerais, sendo os mais comuns a halite, a
anidrite, a dolomite, a calcite, o enxofre, a pirite e o quartzo (Baltar et al. 2005).
Sendo uma mercadoria de baixo valor unitário, o seu comércio internacional é limitado e a sua
importância ressalta na sua transformação a jusante. O maior produtor e consumidor mundial de gipsito
são os EUA cuja produção em 2007 foi cerca de 22 milhões de toneladas, enquanto outros países
grandes produtores, como o Irão e a Espanha, alcançaram a produção de 13 milhões e 13,2 milhões de
toneladas, respetivamente. Os EUA, a Europa e o Japão constituem 77% deste mercado, sendo a
China um mercado emergente registando uma taxa de crescimento anual superior a 15% no período
2005 – 2008. São importantes as jazidas de Marrocos e da Tunísia, bem como as do Canadá, França,
Japão, Irão, EUA e Península Ibérica. No consumo setorial deste mineral, predomina o segmento de
calcinação do gesso com 59%, seguindo-se a indústria cimenteira com 30%, enquanto a participação
do gesso agrícola representa apenas 11% (Lopes 2012).
5
Mineral que não possui valor económico.
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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Dados do ano 2013 apresentam os maiores produtores mundiais de gipsito com as seguintes
participações (Figura 3.7.):
Figura 3. 7. Países produtores de gipsito A produção de 2013 foi de 160 000 000 t (Fonte: DNPM/DIPLAM/AMB;
USGS: Mineral Commodity Summaries – 2014, adaptado de Filho et al. 2014).
As reservas nacionais de gipsito são muito elevadas, apenas se encontram condicionadas por
fatores estruturais e geológicos. As duas maiores explorações de gipsito em Portugal são as do
anticlinal perfurante de Soure e da gesseira de Óbidos (Figura 3.8.), ambas pertencentes a CIMPOR.
Trata-se de depósitos de origem lagunar em que o gipsito forma massas mais ou menos importantes,
intercaladas com margas (tipo de calcário com 35 a 60% de argila) (Velho 2011).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 40
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
A produção nacional de gipsito ronda as 550 000 ton/ano, distribuída por quatro centros produtores:
Loulé, Óbidos, Souto da Carpalhosa e Soure. O fabrico de cimento absorve a maior parte da produção
nacional pois as especificações requeridas para este mercado não são muito exigentes. O centro
produtor mais importante é o de Óbidos, com uma produção acima de 300 000 ton/ano enquanto os de
Loulé e Leiria devem produzir, cada um, cerca de 50 000 ton/ano (Velho e Campos 2006).
Outras ocorrências gipsíferas do eocénico tem sido referenciado em: S. Pedro de Muel, nas arribas
das Pedras Negras, onde foi alvo de pequena exploração, na mina de Azeche (Marinha Grande),
impregnando de substancia betuminosa, em Pataias, Valadas de Frades, Famalicão (Nazaré), são
Martinho do Porto, em Souto, Carpalhosa e Monte real, na região de Pombal (tabela 3.3). Num outro
nível estratigráfico, destaca-se a ocorrência gipsífera do Cenomaniano medio, em Espargal, na região
de Oeiras, a uma profundidade de 40 m (Galopim de Carvalho 2006).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 41
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Tabela 3. 3. Depósitos de sal gema e gesso de Portugal. Adaptado do LNEG (2016: 50).
Segundo Zbyszewski e Almeida (1964: 2), a distribuição dessas jazidas está intimamente ligada,
em Portugal continental, com a presença de Infralias (Hetangiano e Triásico superior), cujos
afloramentos pertencem a dois tipos:
Os afloramentos das bordaduras do Maciço Antigo: constituídos por complexos de margas, de
argilas gipsíferas ou salíferas, de cores variadas, e de calcários margosos e dolomíticos.
Os afloramentos das áreas anticlinais diapíricas: constituído por uma série gresosa
(gresoconglomerática) ligeiramente mais antiga.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 42
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
aliado ao baixo custo unitário da substância, contribui para tornar algumas das pequenas explorações
existentes pouco rentáveis, levando a encerramento de diversas mineradoras (Campos 2002).
Quando as condições eram favoráveis, com água relativamente calma e em ambiente redutor,
verificou-se a sedimentação de gipsite em lâminas bem como das argilas gipsíferas, ricas em matéria
orgânica. As variações climáticas desempenharam igualmente um papel importante na forma e no
arranjo dos cristais de gipsite sendo esta sequência característica de condições climáticas áridas e
semiáridas (Velho e Campos 2006).
A variedade de gipsito presentes evidenciam mais do que um ciclo evaporítico tendo o deposito
sedimentar sido formado numa bacia semi-isolada. A série sedimentar resultante é resultado da
sobreposição de bancadas de espessura variável e com caraterísticas litológicas distintas devido a
variação de concentração de sais dissolvidos em água bem como material residual que periodicamente
afluía a bacia. Estas variações explicam a complexa distribuição litológica dos tipos de gipsito. O que
representa uma estrutura em Chevron possui uma variação entre granular e microgranular o que revela
uma variação da concentração do meio em iões sulfato e cálcio (Velho e Campos 2006).
No geral, o gipsito, em Portugal debate-se com problemas de falta de qualidade, limitando-se a sua
aplicação como aditivo na indústria do cimento e como corretivo de solos, para além do de melhor
qualidade ser consumido no fabrico de placas de gesso laminado, mas não tem a qualidade exigida no
que diz respeito a aplicações de maior valor acrescentado, isto é, para o fabrico de estuque e para fins
medicinais, assim, tem que se recorrer à importação, em especial de Espanha e de Marrocos. O gipsito
nacional é caracterizado como sendo pardo, em oposição ao denominado gesso branco, que se
destina às fábricas de calcinação e moagem e no fabrico de cimento branco (Velho 2011).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 43
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
3.2. GESSO
Define-se gesso como sendo um ligante hidrófilo6 aéreo e não hidráulico7, de origem mineral,
obtido da calcinação do gipsito em temperaturas em torno de 150ºC. A designação “gesso” deriva dos
termos latinos “gypsum” e grego “pypsos” que significa plaster. Trata-se de um material de grandes
possibilidades económicas, sendo conhecido e utilizado desde tempos imemoriais pelo Homem.
Abundante e disperso pela crusta terrestre nunca mais deixou de ser utilizado desde os tempos dos
egípcios tendo o seu campo de aplicações vindo a ser aumentado de um modo progressivo. Hoje em
dia o gesso é usado na medicina, na farmacêutica, em papel, na construção civil, na agricultura, entre
outros (Moura et al. 2015; Velho e Campos 2006).
O seu uso mais antigo conhecido foi na Anatólia em torno de 6000 A.C. mais tarde, por volta de
3700 A.C., o gesso foi utilizado nos interiores das grandes pirâmides do Egito. Após 3.500 anos, a
gipsite tornou-se um dos mais importantes minerais para a produção de materiais de construção (Olson
2002).
Os Assírios, Caldeus, Fenícios e Medos também usaram o sulfato de cálcio no estado natural
(gipsito) e calcinado (gesso), do que se encontraram numerosos fragmentos de ornatos, tais como
copos, estatuetas, consolos, etc., nas escavações perto do Nínive (Iraque) e nas Ruinas dos Monarcas
Assírios e Caldaicos.
Na Europa o uso do gesso na construção civil popularizou-se a partir do século XVIII, quando
também passou a ser utilizado como corretivo de solos, pois fornece cálcio às plantas e melhora as
condições químicas nas camadas sub-superficiais. A partir de 1885, o emprego do gesso na
construção civil foi estimulado pela descoberta do processo para retardar o seu tempo de
endurecimento (Baltar et al. 2005).
A existência de jazidas de gipsito no Chipre, Fenícia e Síria foi referida pelo filósofo Teofratos,
discípulo de Platão e Aristóteles, no seu “Tratado sobre a Pedra”, escrito entre os séculos III e IV A.C.
Assim, em 1768 foi publicado o primeiro estudo científico dos fenómenos relacionados com a
preparação de gesso por Lavoisier, pouco depois Van t’Hoff e Le Chatelier apresentaram uma
explicação científica sobre o processo de desidratação do gesso (Villanueva, et al., 2006 citado, por
Lopes 2012).
6
Ligante com afinidade com a água. Quando misturado com a água forma uma pasta que endurece.
7
Os ligantes aéreos ou não hidráulicos endurecem ao ar, originando argamassas não resistentes à água.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 44
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Iremos detalhar as propriedades intrínsecas do gesso que viabilizam a sua aplicação como material
na construção civil e dermocosméticos tais como: a aderência, o isolamento térmico e acústico; a pega
e endurecimento; a porosidade, a trabalhabilidade, a absorção de água e a resistência mecânica.
Em termos gerais, a fraca resistência mecânica dos produtos à base de gesso, se comparado com
os materiais cimentícios, e a sensibilidade à humidade fazem com que a utilização desse na construção
se limite ao acabamento de paredes e tetos, bem como na fabricação de artefactos para vedação de
interiores. Uma maneira de melhorar a resistência mecânica do gesso é através da adição de fibras de
polímero nas pastas de gesso (Canut 2006).
As pastas de gesso, depois de endurecidas, atingem resistência à tração entre 0,7 e 3,5 MPa e a
compressão entre 5 e 15 MPa. As argamassas com proporção exageradas de areia alcançam
resistência a tração e compressão muito mais reduzidas (Oliveira 2015).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 45
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
A presa das pastas de gesso é o tempo necessário para a solidificação do material. A forma como
ocorre à adesão inicial depende tanto das características de trabalhabilidade da argamassa, quanto
das características de porosidade, rugosidade da base ou de tratamento prévio que aumente a
superfície de contato entre os materiais (Canut 2006).
Nos trabalhos em superfícies verticais e teto, é comum a prática do uso do gesso, devido à boa
ligação entre este material e os diferentes tipos de substrato, tais como tijolos, pedras naturais e ferro,
exceto em superfície de madeira. No caso de sua aplicação sobre superfícies metálicas, a atenção
especial deve ser dada a proteção dos metais contra a corrosão, pois o pH neutro do gesso associado
a humidade local pode provocar perda de aderência. Nestas situações recomenda-se utilizar metais
submetidos ao processo de proteção contra corrosão, como por exemplo a galvanização.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 46
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
da finura, da forma e da distribuição dos grãos de gesso. Isto é, quanto maior a superfície
específica, maior a área de reação, mais rápida a dissolução e menor o período de indução do
material consequentemente, mais rápido o início de pega do material. A quantidade ótima se
aproxima da quantidade teórica da água necessária à hidratação, 18,6% (Oliveira 2015).
Temperatura da água de amassadura – A temperatura da água de amassadura das pastas de
gesso aumenta a solubilidade do semi-hidratado, modificando o tempo de pega, ou seja, com
a utilização da água de amassadura com temperaturas até 45 ºC os tempos de pega
diminuem, voltando a aumentar para temperaturas superiores a 45 ºC (Pinheiro 2011).
Aditivos – Os aditivos podem ser usados nas pastas de gesso para modificar seu processo de
hidratação. Em geral, os aditivos modificam as propriedades das superfícies dos cristais,
alterando o processo de nucleação8, o crescimento de cristais e a cinética das reações de
hidratação, proporcionando uma formação diferenciada no tamanho, na morfologia e no
arranjo dos cristais na forma hidratada. Os aditivos aceleradores de pega atuam no
mecanismo de hidratação das pastas de gesso por meio do aumento da solubilidade das
fases anidras e por meio da formação de núcleos de cristalização. Os aditivos redutores de
pega possuem natureza orgânica ou inorgânica (Oliveira 2015; Pinheiro 2011).
3.2.1.3. Trabalhabilidade
A trabalhabilidade de uma pasta é definida como a maior ou menor facilidade do material de ser
empregado para uma determinada finalidade, sem perda de sua homogeneidade. É medida pela
consistência da pasta, ou seja, pelo grau de humidade necessário para garantir uma determinada
plasticidade ao material. Essa consistência é denominada “consistência normal”. A água necessária
para sua obtenção depende do tipo de material e de sua granulometria (Pinheiro 2011).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 47
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
A propriedade de bom isolante térmico é evidenciada quando o gesso é utilizado no interior das
habitações, impedindo a formação dos indesejáveis vapores de água que surgem sobre a superfície
das alvenarias, ocasionando a existência de uma “parede fria”. Por outro lado, pode-se dizer que o
gesso é um dos materiais de construção com melhor resistência a deterioração pela ação do fogo. A
9
Drywall (parede seca) é um sistema para forro ou parede constituído por placas de gesso pré-fabricadas, parafusadas em
uma estrutura metálica leve de aço galvanizado, sobre as quais são fixadas as placas de gesso, em uma ou mais camadas,
gerando uma superfície apta a receber o acabamento final.
10
Velocidade com que o calor é conduzido através de uma unidade volumétrica submetida a uma diferença unitária entre as
duas faces, ou seja, a relação entre o fluxo do calor e o gradiente de temperatura
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Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
A reação de desidratação (equação 3.2) ocorre aproximadamente entre 100ºC e 120ºC, quando o
sulfato de cálcio hidratado é convertido em semi-hidratado de sulfato de cálcio. Já a reação de
desidratação (equação 3.3) ocorre quando o semi-hidratado de sulfato de cálcio é convertido para
sulfato de cálcio desidratado.
Assim, o calor gerado pela elevação da temperatura durante um incêndio é inicialmente consumido
pela evaporação das moléculas de água, o que retarda o aquecimento e, consequentemente, os danos
à vedação. As particularidades de materiais produzidos na base do gesso se devem ao fato de que
este contém 21% de água de cristalização em seu peso ( Belmiloudi e Meur, 2005 citado por Canut
2006: 41). Verifica se que produtos a base de gesso apresentam excelente resistência ao fogo e pode-
se utilizar na construção civil por proporcionar o equilíbrio da temperatura (isolamento térmico),
trazendo conforto térmico aos ambientes construídos, sem implicar gastos exagerados de energia.
3.2.1.5. Porosidade
A porosidade corresponde aos espaços, geralmente preenchidos por fluidos, entre os graus e
cristais que constituem as rochas. A água utilizada a mais, para alem da necessária para que se dê a
reação de hidratação, fica nos espaços entre os cristais e sai por evaporação durante a secagem dos
moldes. Esta porosidade na forma de poros alongados e interligados pode ser considerada como um
conjunto de tubos capilares muito finos que, por sucção absorvem a água que um molde pode absorver
é função da sua porosidade e esta depende essencialmente da relação água: gesso aumentando pois
com o aumento desta (Figueiredo 1999).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 49
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Os moldes de gesso possuidores de uma grande porosidade não têm um poder de absorção tão
rápido como os possuidores de menor porosidade, ou seja, com poros mais finos, pois estes a sucção
pelo efeito de capilaridade é mais intensa.
É fundamental saber qual o volume, Q, de água que um molde é capaz de absorver por unidade de
área da sua superfície, durante um intervalo de tempo, t. Prova-se que:
Esta relação mantém-se no caso de a água ser absorvida a partir de uma babotina, sendo, nesse
caso, menor o coeficiente de absorção, o que sugere que a parede formada junto ao molde atua como
uma resistência à passagem da água.
A velocidade de absorção de água pelos moldes aumenta com a porosidade, o que pode ser
explicado considerando que, embora os poros mais largos tenham um menor efeito capilar, eles
oferecem uma menor resistência ao fluxo de água que os poros mais finos. A velocidade de formação
de parede depende de uma complexa interação entre o molde, a borbotina e a parede entretanto
formada, sendo fundamental o poder de sucção dos moldes, o qual aumenta com a diminuição da
porosidade dos mesmos (Figueiredo 1999).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 50
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
O gesso de construção civil é produzido por calcinação do gipsito e muito utilizado devido às suas
propriedades de aderência e maleabilidade que fazem da argamassa deste ligante, um bom material
para a execução de pormenores decorativos em paredes e tetos, assim como fazer o estuque que
reveste as paredes. Contudo, a sua baixa resistência e alta solubilidade (aproximadamente 2,5 g/l) na
presença da água, faz do gesso um mau material para ser utilizado em exteriores que, atualmente, este
aspeto seja melhorado mediante a incorporação de aditivos à base de silicones ou polímeros, e com a
incorporação de fibra de vidro. Para além do baixo coeficiente de condutibilidade térmica possui ainda a
característica de libertar água quando calcinado a quente (Silva e Costa 2013).
O uso do gesso como material de construção vem sendo intensificado, devido principalmente ao
fator socioeconómico, na medida em que é um produto que tem atendido às expectativas dos usuários
e construtores, pois proporciona uma maior velocidade de aplicação e, por consequência, ajusta-se
melhor aos apertados cronogramas de execução das obras, a um preço competitivo.
3.3.1.1. Cimento
Sem a adição do gipsito, o tempo de pega do cimento seria de poucos minutos, inviabilizando o
uso. Devido a isto, o gipsito é uma adição obrigatória, presente desde os primeiros tipos de cimento
Portland (Ferreira e Cruvinel 2014).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 51
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
3.3.1.2. Argamassa
O gesso apresenta propriedades atraentes para o uso como revestimento, entre elas, a aderência
em vários tipos de superfícies, o endurecimento rápido que proporciona rapidez na execução dos
serviços, proporcionar um excelente acabamento final nas paredes e tetos de construções,
dispensando o uso de outro material de acabamento e pode se expandir ligeiramente durante a presa,
o que evita problemas relacionados com a contração (Canut 2006).
Como solução técnica, atualmente usam-se muito misturas de gesso e cal. O aparecimento de
outros tipos de ligantes, mais resistentes e de maior durabilidade, contribuiu para diminuir o uso de
gesso e hoje, é raro encontrá-lo como componente único num ligante de argamassa (Marques 2005).
3.3.1.3. Pré-moldados
11
Resistentes à ação da água.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 52
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
No setor cerâmico o gesso é utilizado para três finalidades, relacionadas entre si: na construção de
madres, no fabrico de moldes para a prensagem e contramoldes de pasta e no fabrico de moldes para
o preenchimento com barbotina. Na preparação dos moldes, utiliza-se a mistura ou caldas onde entram
78 a 90 partes de água e 100 partes de plaster. A relação plaster/água controla a porosidade do
estuque, quanto maior for a relação, mais poroso será o estuque e menor será a sua resistência
mecânica. Na indústria do vidro, a função do gesso é como fonte de cálcio e de enxofre, substituindo o
sulfato de sódio.
O gesso para a cerâmica não deve possuir mais de 15% de impurezas, as quais são, em geral,
carbonatos (calcite e dolomite), argilas (ilite e montmorilonite), cloretos (halite e silvite) e outros sulfatos
de cálcio (anidrite), de sódio e de magnésio. Para além disso, o gesso não deve possuir mais de 2% de
minerais argilosos do grupo de montmorilonite e os teores em sais alcalinos solúveis em água devem
ser muitíssimos baixos assim como o teor de anidrite (tabela 3.4) (Campos 2002; Velho 2011).
Tabela 3. 4. Especificações típicas de grau de qualidade de gesso pela British Gypsum Lda (Velho 2005: 232).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 53
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
3.3.2. Na Medicina
Ligaduras “embebidas” em gesso, são utilizadas para proteger os membros com ossos partidos.
Também é utilizado na medicina dentária, na execução de moldes das dentaduras dos pacientes para
um melhor conhecimento dos seus dentes e para a execução de aparelhos dentários para a retificação
da dentadura. Nesse caso, o dente utilizado é o alginato, em que o aditivo proporciona uma maior
maleabilidade do molde. Este gesso pode ser usado para tirar o molde a zona do corpo humano mais
complexa e/ou sensível, tendo também a vantagem de ter uma grande definição, nos mais pequenos
detalhes. Alguns críticos opõem-se a esta prática defendendo que o gesso pode constituir um potencial
perigo para a saúde, por potencializar o desenvolvimento de microrganismos (Ramos 2011).
O gesso tem sido usado em odontologia desde 1759 como materiais para construir modelos
diversos como de estudo, antagonista, montagem em articulador, modelos de trabalho inclusão de
próteses totais e parciais, além de troquéis específicos para a construção dos padrões de cera nos
processos de fundição e, ainda usado como um dos constituintes dos revestimentos.
3.3.2.1. Dermocosméticos
A pele é o maior órgão do corpo humano que serve como uma barreira ao ambiente externo. Assim
sendo, fica exposto a diversos fatores que podem ser nocivos a nossa saúde, pelo que requer alguns
cuidados que vão desde a hidratação a cosmética decorativa, passando pela proteção solar. No
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 54
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
entanto, estes cuidados não são uma prática recente, uma vez que desde a antiguidade que os
recursos geológicos vêm sendo usados pelo Homem para fins terapêuticos e cosméticos (Lopes 2011).
Um cosmético é qualquer substancia ou preparado destinado a ser usado nas distintas partes
externas do corpo humano (epiderme, cabelo, lábios, dentes, etc.) com os seguintes atributos: limpeza,
ação esfoliante, ação tonificante, desengordurante, adstringente, hidratante, tensora, branqueadora e
sensação de bem-estar. Assim um dermocosmético ou cosmecêutico é uma categoria de produtos
cosméticos, que para além de promover todas as condições supracitadas, também podem ser usados
para tratar ou disfarçar doenças da pele, tais como, a acne12, ictiose, dermatite atópica e rosácea. A
cosmética dermatológica também inclui preparados para proteção dos raios ultravioletas e afeções
cutâneas como o melasma e o fotoenvelhecimento (Silva 2011).
Quando a água é adicionada ao gesso ele endurece, liberando calor. A aplicação é feita sobre a
pele previamente coberta por creme contendo princípios ativos específicos para a necessidade de cada
cliente. O calor provoca vasodilatação, o que facilita a penetração dos princípios ativos, essa ação é
denominada oclusão. O aquecimento que surge na primeira etapa é seguido de resfriamento local,
promovendo uma ação de sustentação com modelagem. O gesso auxilia na drenagem pelo efeito de
contenção do tecido, após a secagem do gesso sobre a pele.
12
Acne é uma doença cutânea mais frequente na adolescência e nos rapazes que corresponde à inflamação da pele
(glândulas sebáceas) causada pela obstrução de poros por gordura
13
http://www.sogab.com.br/bandagensestetica.pdf 17/11/2015
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 55
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Alem das aplicações direcionadas desse trabalho, também podemos destacar as seguintes:
Agricultura
Segundo Raij (2008: 26) “os solos ácidos podem apresentar uma barreira química no subsolo,
ocasionada pela acidez, que impede ou dificulta a ação das raízes”. Há vários anos o gesso tem sido
utilizado como condicionador e melhorador de solos agrícolas, como fonte de cálcio (Ca) e enxofre (S).
O gesso pode ser aplicado em solos ácidos inférteis, solos sódicos e solos argilosos.
Alem de resolver o problema da deficiência do cálcio, o gesso reduz a saturação por alumínio e
fornece enxofre ao solo, permitindo ganhos significativos na produtividade. O aprofundamento radicular
promovido pelo gesso favorece a absorção de água de camadas mais profundas do solo, conferindo às
culturas maior resistência à seca em veranicos14 e safrinhas15. Por outro lado, é utilizado como
fertilizante e como condicionador de solo, melhorando a estrutura do solo e aumentando a
permeabilidade, a aeração, a drenagem, a penetração e a retenção da água no solo. Designado por
landplaster, o gesso é utilizado como fertilizante em culturas específicas, tais como: o amendoim,
legumes, batata e algodão (Velho 2005).
O gesso interage com o solo, dependendo do teor de matéria orgânica e da natureza mineralógica
da fração argilosa. Por ser um sal solúvel, penetra no solo e, em geral, é rapidamente removido da
camada superficial por lixiviação. Em alguns solos, a adsorção de sulfato no subsolo, ao reduzir a
lixiviação do sal, promove aumento da concentração de sulfato e de cálcio em formas trocáveis
também na solução do solo, o que reduz a toxicidade de alumínio para as raízes das plantas. Em
alguns casos ocorre a efetiva redução do alumínio no solo. Por outro lado, em solos que retém pouco
sulfato, os sais decorrentes da aplicação do gesso serão rapidamente removidos do solo pelas águas
de percolação. O gesso tem efeito floculante no solo, reduzindo a dispersão da argila. Este efeito já é
bem conhecido em solos sódicos, mas também se revela em solos ácidos. O gesso pode, também,
influir de forma favorável na condutividade hidráulica de solos (Harben e Kuzvart 1996; Raij 2008).
14
Seca que ocorre em áreas meridionais, com tempo mínimo de 4 dias caracterizada por uma estiagem, acompanhada por
calor intenso, forte insolação e baixa humidade relativa do ar em plena estação fria.
15
É o período compreendido entre o preparo do solo para o plantio até a colheita de determinada cultura.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 56
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Carga mineral
O gesso pode ser aplicado como carga em inúmeros materiais, devido a sua inércia química e
baixa abrasividade, baixo peso específico, baixa demanda de ligantes e compatibilidade com
pigmentos e outras cargas minerais, alguns graus de qualidade de gesso, com dimensão média das
partículas entre 1,4 e 12 µm, são suficientemente puros para apresentarem um grau de brancura de
97%, índice de refração variando entre 1,52 e 1,58 e um valor de absorção de óleo entre 25 e 26
cm3/100g, o que permite a sua aplicação como carga ou diluente em plástico, tintas, madeiras, têxteis e
alimentos, entre outras (Campos 2002; Velho 2005).
Indústria de papel
O gesso é uma matéria prima de elevado grau de brancura e a sua retenção sobre a fibra
influenciada pelas formas das partículas que tem a versatilidade que apresenta morfologia cubica,
esférica ou acicular, resultado das condições de produção. A principal desvantagem do gesso é a
elevada solubilidade (2 g/l), para alem de ocorrência de elevado número de iões de cálcio poder dar
origem a floculação dos agentes de retenção. O gesso dá origem a uma estrutura aberta e porosa do
papel, o que significa uma elevada absorção de tinta e rápida secagem. O papel com gesso responde
bem a calandragem, permitindo a obtenção de elevado lustro (Campos 2002; Velho 2011).
Na enologia16
O gesso é utilizado na produção de vinho com o efeito de fazer precipitar materiais em suspensão
na mistura. Há evidências do surgimento de sua utilização em vinícolas na Europa, com maior
incidência em sítios arqueológicos datados de aproximadamente 6.500 A.C. Alguns escritos gregos do
filósofo Plínio, descrevem como a população da época utilizava o gesso parcialmente desidratado e um
tipo de cal com o propósito de diminuir a acidez da bebida. O escritor grego Teofrasto é a mais antiga
fonte conhecida a descrever esta prática de vinificação entre os gregos antigos.
16
Extraída no dia 09/12/2015, no sítio: https://www.geocaching.com/seek/cache_details.aspx?wp=GC4825Qetitle=gesso-
gipsita-obidoseguid=c2fd0ffd-057c-43af-b547-8f6adba1b992
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 57
Capítulo 3. Conceitos e Fundamentos Teóricos
Escultura
O ideal para a moldagem de esculturas é o gesso proveniente de selenites, que é um produto fino
e de grande qualidade aglutinante. Na arquitetura e decoração, o gesso pode ser aplicado como sanca,
moldura borrado, rodapé, rebaixamento de teto e como contorno em volta de batentes de portas e
janelas (Ferreira e Cruvinel 2014).
Ramos (2011: 21) cita dois tipos de gesso recomendados para trabalhos artísticos (moldagem e
modelação) que são os alfa e beta, sendo que:
Alfa – misturam-se com pouca água na proporção de 280 cm3`por quilo de gesso (1/4 litro de
água por quilograma de gesso). São muito finos e brancos, extremamente densos e muito
pouco absorventes. Permitem acabamentos de grande qualidade, utilizando-se para madres
modelos e moldes para prensagem cerâmica.
Beta – misturam-se com muita água, na proporção aproximada de 500 cm3 de água por quilo de
gesso. São porosos e friáveis. Usam-se para construir moldes, especialmente para cerâmica
devido a sua capacidade de absorção quando se utilizam borbolinas.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 58
Capítulo 4. Materiais e Métodos
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Para o estudo preliminar do gesso, fez-se a revisão bibliográfica, a qual foi baseada em leitura de
manuais, pesquisa eletrónica via internet, em sites específicos (como a rcaap.pt, ria.ua.pt e OpenAire)
e estudos que utilizam o gesso como elemento constituinte do cimento, na argamassa e
dermocosméticos. Por outro lado, fez-se um levantamento da geologia de Portugal com vista a obter
informações sobre zonas onde ocorrem a rocha sedimentar gipsito e definiu-se os locais de coleta das
amostras, isto é, Loulé (Algarve), Óbidos (Leiria) e Soure (Coimbra), nas regiões sul e centro de
Portugal.
Em seguida fez-se a coleta das amostras nas pedreiras acima referenciadas com vista a realização
de análises e ensaios nos Laboratórios de Materiais e de Raios-X (do Departamento de Geociências),
no Laboratório do Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro e
no laboratório da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. O trabalho laboratorial consistiu na
caracterização físico, químico, mineralógico e tecnológico das três (3) amostras de gesso. Os
procedimentos metodológicos utilizados estão de acordo com os protocolos adotados pelo
Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro.
Para melhor compreensão das amostras, foram nomeadas em função ao local de colheita, de
acordo com a tabela 4.1 (a seguir).
A preparação das amostras envolve técnicas que visam adequá-las aos ensaios e os objetivos
preconizados para os mesmos, de modo a assegurar que elas não sofram alterações entre o processo
de coleta e análise. Assim sendo, a conservação, preparação física e química são fatores muito
importante na análise química, porque podem limitar drasticamente na qualidade analítica dos
resultados.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 59
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Figura 4. 1. Aspeto físico das amostras de gesso estudadas, sendo a) Gipsito de Soure, b) Gesso de Loulé e c)
Gesso de Óbidos.
Depois de efetuada a coleta das amostras nos locais indicados anteriormente, procedeu-se a
selagem e etiquetagem dos sacos de plástico para posterior envio para o laboratório. Já no laboratório
de Materiais do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, retirou-se parte da amostra
(± 2.5 kg) e a outra guardada em arquivo. A parte retirada foi lavada usando água corrente (da torneira)
com ajuda de uma escova, para retirar a matéria orgânica, poeira e sujidade contidas no exterior das
amostras, posteriormente foram secas à temperatura ambiente sendo depois desagregada por meio de
uma marreta e finalmente moída durante 4 minutos, num moinho de disco vibratório RS 1 (com
capacidade de entrada de granulometria <15 mm e finura final de < 20 µm) com vista a reduzir até
obter a finura de análise, segundo o fluxograma abaixo (figura 4.2).
Em seguida, retirou-se parte da amostra moída (amostra total) para os testes de DRX (2 g), FRX
(10 g) e abrasividade (50 g). Outra parte, entre 500 a 1000 g, foi sujeita a peneiramento por via húmida
ou crivagem, com um peneiro de 63 μm (micra), usando exclusivamente água destilada, e as amostras
foram dispersas mecanicamente e por ultrassons. A secagem processou-se em estufa a temperatura
de ± 60 ºC.
Com a fração < 63 μm realizou-se os testes de DRX (2 g), FRX (10 g), abrasividade (50 g), índice
de consistência ou fall cone test (150 g), analise por texturómetro (50 g) absorção de óleo de linhaça
(10 g), tempo de arrefecimento (20 g) e superfície especifica pelo método BET (3 g).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 60
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Segundo (Lopes 2012) “A análise granulométrica é de importância primordial para uma completa e
precisa caracterização das matérias-primas uma vez que influencia o processo e as propriedades finais
do produto”.
A separação a húmido é aplicada, habitualmente, para amostras de partículas com granulometria
muito fina, onde o peneiramento a seco não funciona de forma eficiente (Carrisso e Coreia, 2014).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 61
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Figura 4. 3. Distribuição dos materiais usados na separação granulométrica por via húmida. Parte da amostra no
agitador mecânico e outra parte num recipiente com um funil e peneiros de malha 63 µm.
O rendimento granulométrico (em percentagem) foi obtido pela razão entre peso da fração final
( ) e a fração inicial ( ) da amostra total usada na separação granulométrica, pode ser determinado
a partir da relação:
Equação 4. 1. Rendimento granulométrico das amostras em percentagem. Onde: pf e pi são os pesos da fração
granulométrica e amostra inicial, respetivamente, seca em gramas (g).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 62
Capítulo 4. Materiais e Métodos
O teste de abrasividade foi realizado em todas amostras (total e fração < 63 μm) recorrendo a um
abrasivímetro Einheler AT – 1000 (figura 4.4. à esquerda) a 1800 rpm, selecionando 174000 revoluções
que correspondem a cerca de 96 min de duração de ensaio.
A abrasividade (A) pode ser determinado a partir da perda do peso da rede (figura 4.3. a direita),
dada por:
Equação 4. 2. Abrasividade de uma amostra. Onde A é a abrasividade (em gramas), e Pi e Pf são os pesos
inicial e final da rede (em gramas), respetivamente.
Equação 4. 3. Índice de abrasividade (IA). Onde: SA é a superfície de abrasão e igual a 305x10-6 mm2.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 63
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Quando a humidade é muito elevada, o solo apresenta-se como um fluído denso e diz-se no
estado líquido. À medida que a água evapora, o solo endurece e para um certo h=LL (Limite de
Liquidez), perde a sua capacidade de fluir, porém pode ser moldado facilmente e conservar a sua
forma. O solo encontra-se agora no estado plástico. A continuar a perda de humidade, o estado
plástico desaparecerá gradativamente até que para h=LP (Limite de Plasticidade) o solo se desmancha
ao ser trabalhado. Este é o estado semi-sólido. Continuando a secagem, ocorre a passagem gradual
para o estado sólido. O limite entre os dois estados equivale a um teor de humidade h = LC (Limite de
Contração).
O conhecimento destes limites, permite de uma maneira simples e rápida dar uma ideia bastante
clara do tipo de solo e suas propriedades, principalmente quando se trata de solos finos.
Para os solos em cuja textura exista uma certa percentagem de fração fina, não basta a
granulometria para caracterizá-los, pois as suas propriedades plásticas dependem do teor de
humidade, além da forma das partículas e da sua composição química e mineralógica.
Limite de Liquidez
O limite de liquidez foi determinado pelo método de cone de penetração (estático). Este método
surge como alternativa ao método dinâmico de Casagrande. O ensaio consiste em medir a penetração
vertical de um cone padronizado sob condições especificadas de peso, ângulo e tempo de queda,
numa amostra de solo previamente preparada (Figura 4.5).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 64
Capítulo 4. Materiais e Métodos
O dispositivo (figura 4.5) é essencialmente constituído por um braço de suporte ajustável, uma
régua graduada e um medidor eletrónico que medem a penetração, um botão que aciona a queda do
cone e o respetivo cone, um sistema de nivelamento do equipamento e um painel de controlo do
tempo.
Desde a invenção deste dispositivo, em 1915, foram vários os países (EUA, França, Inglaterra,
Canadá e Brasil) que o desenvolveram e estudaram as possíveis combinações de massa, ângulo do
cone e profundidade de penetração, no sentido de encontrar a mais favorável na determinação do
limite de liquidez.
Figura 4. 5. Cone penetrómetro utilizado nos ensaios elaborados, no âmbito da presente dissertação.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 65
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Limite de Plasticidade
A plasticidade de um material traduz a capacidade desse material para ser deformado sem rutura
por ação de uma força e de reter a deformação depois cessar a aplicação da força (Gomes 2002). A
plasticidade é normalmente definida como uma propriedade dos solos, que consiste na maior ou menor
capacidade de serem moldados, quando se lhe junta uma adequada quantidade de água.
Denomina-se índice de plasticidade à diferença entre os limites de liquidez e de plasticidade:
IP = LL – LP.
Equação 4. 4. Índice de plasticidade (IP). Onde LL e LP são os limites de liquidez e de plasticidade,
respetivamente.
Humidade
Procedeu-se à determinação da humidade (%) a partir do quociente entre os pesos da amostra
seca e da amostra húmida, multiplicado por 100.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 66
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Equação 4. 5. Humidade. Onde Ph e Ps são os pesos das amostras húmida e seca, respetivamente.
O Tempo de Arrefecimento foi calculado com vista a avaliar a velocidade de arefecimento das
amostras. Esta propriedade é importante quando o gesso em estudo poderá ter interesse para
aplicações em balneoterapia (Facão 2009). Os dados foram depois plotados num gráfico em que
colocou-se nas ordenadas a temperatura (oC) e em abcissas o tempo (min). Na avaliação da
velocidade de arrefecimento do gesso utilizou-se para o termómetro digital da marca Dual
Thermometer LT Lutron e modelo TM – 906 A.
Nota: Os gessos que demoram mais tempo a arrefecer são consideradas os mais indicadas para
tratamentos de afeções do foro músculo-esquelético (Facão 2009).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 67
Capítulo 4. Materiais e Métodos
A FRX é uma técnica não destrutiva que permite uma análise química de amostras no estado
líquido ou sólido. Esta análise pode ser qualitativa, ou seja, permite a identificação dos elementos
presentes numa amostra, e também quantitativa, permitindo estabelecer a proporção em que cada
elemento se encontra presente. Este é um processo que envolve níveis de energia característicos de
cada elemento, logo a radiação emitida e também característica desse elemento (Lopes 2011).
O princípio teórico da FRX é o efeito da absorção fotoelétrica: todos os elementos químicos
presentes num espécime, são excitados por um feixe policromático de raios X primários com
determinadas energias, emitindo radiações secundárias ou de fluorescência. Estas radiações são
dispersas por cristais analisadores ou dispersores de modo que as radiações secundárias dos
elementos possam ser resolvidas e depois captadas por detetores dos tipos proporcional e cintilações.
Por fim, é necessário estabelecer a correlação das intensidades medidas com os teores dos elementos
químicos presentes.
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Capítulo 4. Materiais e Métodos
Cada elemento químico da Tabela Periódica é caracterizado por um número fixo de protões,
designado por número atómico Z, que conjuntamente com os neutrões formam o núcleo do átomo. Os
eletrões ocupam camadas concêntricas em volta do núcleo e movem-se rapidamente dentro de níveis
específicos de energia (Figura 4.9). Estas camadas são designadas pelas letras K, L, M, N, etc.,
correspondendo a camada K ao 1º nível de energia, a camada L, ao 2º nível de energia, a camada M,
ao 3º nível de energia e assim sucessivamente. A camada K é a mais interna e a menos energética. No
estado neutro, o número de eletrões do átomo é igual ao seu número de protões.
Neste estudo, foram realizados dois tipos de análise mineralógica por difração de raios X. A
primeira incidiu na amostra total e teve como finalidade a determinação e quantificação das principais
fases mineralógicas presentes. A segunda foi efetuada na fração < 63 μm, de modo a determinar as
principais fases mineralógicas presentes nesta fração. O FRX foi realizado no laboratório de Raios X,
através do equipamento PANalytical Axios, com comprimento de onda dispersivo, ilustrado na figura a
seguir (figura 4.10).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 69
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Usou-se esta técnica na análise quantitativa dos elementos químicos maiores: Na 2O, MgO, Al2O3,
SiO2, TiO2, P2O5, SO3, K2O, CaO, TiO2, MnO, Fe2O3, Sr e Cl em percentagem (%) e elementos
menores: Sc, V, Cr, Mn, Co, Ni, Cu, Zn, Ga, Ge, As, Se, Br, Rb, Y, Zr, Nb, Mo, Ag, Cd, Sn, Sb, Te, I,
Cs, Ba, La, Ce, Nd, Sm, Yb, Hf, Ta, W, Ti, Pb, Bi, Th e U, em ppm (parte por milhão), a partir de discos
prensados.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 70
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Como as distâncias entre planos cristalinos sucessivos e a densidade de átomos ao longo desses
planos são características únicas e específicas de cada espécie mineral, o padrão difractómetro
equivale a uma impressão digital da amostra. Através das posições angulares dos picos (2θ) e das
suas respetivas intensidades torna-se possível proceder à identificação das diferentes fases
mineralógicas (Silva 2014).
As condições necessárias para que uma reflexão tenha lugar são indicadas na figura 4.10 (abaixo).
Ai demostra-se que o ângulo incidente do feixe de raios X θ e d (Å) a equidistância entre planos
reticulares, o feixe refletido no segundo plano a 1, tem em relação ao refletido no primeiro, o atraso
. Em resultado da difração originam-se diagramas que diferem de mineral para
mineral, dependendo as suas características da equidistância dos planos cristalinos do material. Todos
os planos reticulares dos cristais são revelados nos diagramas, no entanto são os planos basais os de
maior interesse para a identificação das espécies minerais argilosas em virtude de se conhecer
rigorosamente o seu espaçamento (Pinheiro 2011).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 71
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Figura 4. 11. Derivação da lei de Bragg. Onde: θ é o ângulo da radiação incidente com o plano de átomos em
análise, d é a distância entre planos e ABC o percurso extra que a radiação difratada pelo átomo B tem de
percorrer (Silva 2014).
Para cada amostra, foram realizados dois a análise mineralógica por difratometria de raios X. Uma
a partir da fração menor que 63 μm e outra referente a fração total, ambas com objetivo de determinar
e quantificar as principais fases mineralógicas nas frações.
A técnica de DRX foi realizada com um espectrómetro PHILIPS X´Pert (figura 4.112), no
Laboratório de Raios X do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro. A partir desta
técnica foram obtidos picos característicos dos minerais presentes nas amostras.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 72
Capítulo 4. Materiais e Métodos
A técnica BET fundamenta-se na adsorção física das moléculas de gás inerte sobre uma superfície
sólida, servindo como base para uma técnica de análise importante para a medição da porosidade e
área superficial específica de um material. A importância da técnica se deve ao fato de que a
porosidade e a área superficial serem parâmetros que afetam a qualidade e o desempenho de muitos
materiais e produtos (Melo 2012).
A superfície específica é definida como a área da superfície externa mais a área da superfície
interna (caso esta exista), das partículas constituintes, por unidade de nassa, expressa em m 2/g. Ela é
influenciada pela densidade, distribuição dimensional do grão e regularidade da (s) superfície (s). A
superfície especifica serve para caraterizar a finura de um material granulado: será tanto maior quanto
mais fino for ele (Oliveira 2015).
A determinação da superfície específica pelo método indireto BET (Stephen Brunauer, Paul
Emmett e Edward Teller, 1938) é mais comum e consiste em passar uma corrente contínua de
Nitrogénio (N2) e Hélio (He) através de uma atmosfera seca que foi arrefecida à temperatura próxima
do ponto de ebulição do Nitrogénio. Uma camada monomolecular de N2 é adsorvida sobre as partículas
de gesso, podendo ser quantificada que é a superfície da molécula de N 2. A temperatura da amostra é
depois aumentada para a temperatura ambiente e o N2 antes adsorvido é libertado sendo o seu volume
medido pela segunda vez.
Normalmente, o gás utilizado é o nitrogênio (N2), gás de área conhecida de aproximadamente 16
Ų. Este é adsorvido pela superfície do material a ser analisado, formando assim, uma monocamada
completa (isoterma de adsorção). A retirada de nitrogênio é realizada através de vácuo (isoterma de
dessorção). Obtém-se, então, a histerese17 de adsorção e dessorção das amostras (Canut 2006).
A equação do método BET para p<<p0, se reduz a (equação 4.10):
Equação 4. 7. Equação de Langmuir. Onde v é o volume total de gás adsorvido; vm é o volume de gás adsorvido
quando a superfície do sólido está completamente coberta por uma monocamada; c é a constante de BET; p é a
pressão medida no estado de equilíbrio; p0 é a pressão inicial do sistema.
A partir da equação 4.10 podemos representar graficamente a relação p/v(p0-p) X p/p0, cuja
interseção com o eixo das ordenadas é 1/vmc e inclinação igual a (c-1)/vmc (figura 4.12). Desta forma
17
A histerese é a tendência de um material ou sistema de conservar suas propriedades na ausência de um estímulo que as
gerou, ou ainda, é a capacidade de preservar uma deformação efetuada por um estímulo.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 73
Capítulo 4. Materiais e Métodos
podemos obter vm e c a partir da plotagem do gráfico, sendo o primeiro o volume de gás requerido para
completar uma camada de adsorção.
.
Figura 4. 13. Representação gráfica da equação de Lungmuir do método de BET.
No caso ideal de uma esfera completamente "polida" a área superficial especifica e igual a área
geométrica da superfície da esfera. A medida que aumenta a rugosidade ou a porosidade naturalmente
aumenta o valor da área superficial especifica. Esta área pode ser determinada por adsorção de azoto
a sua temperatura de ebulição (-196°C) fazendo uso do modelo físico desenvolvido por BET, 1938,
razão pela qual a área especifica obtida desta forma e referida como área BET (Melo 2012).
Para a determinação da superficie especifica, adoptou-se o procedimento experimental utilizado no
Departamento de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro e o equipamento utilizado o
aparelho Micromeritics Gemini M 2380 (figura 4.13) a seguir.
Figura 4. 14. Aparelhos usados no ensaio de Superfície específica pelo método BET. a) Unidade de tratamento
(desgaseificação). b) Unidade de análise.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 74
Capítulo 4. Materiais e Métodos
As propriedades do gesso que contribuem para a sua textura são divididas em três categorias:
Mecânicas: relacionadas com a reação do produto a uma pressão, que compreendem a
dureza, dimensão, viscosidade, elasticidade e aderência;
Geométricas: relacionadas com a dimensão, forma e arranjo das partículas do gesso;
Superfície: relacionadas com as sensações, tais como as que são produzidas na cavidade
bocal por água e/ou gorduras.
A análise instrumental do perfil de textura (TPA - Texture Profile Analysis) é um dos métodos que
permitem determinar a textura por simulação ou imitação da mordida repetida ou mastigação do
alimento, colocados a uma velocidade e distancia pré-definidos. A sonda retorna depois a sua posição
inicial, acima da superfície da amostra. Assim, durante o teste é realizada uma primeira compressão
seguida por um relaxamento e uma segunda compressão. Deste teste obtém-se um gráfico força
versus tempo, do qual se calculam os parâmetros de textura (Bourne 2002; Guiné et al. 2010).
A firmeza é a força necessária para obter uma dada deformação (expresso em Newton). Enquanto
que a adesividade se refere ao trabalho necessário para vencer as forças de atração entre a superfície
da amostra e as superfícies com as quais este entra em contacto (expresso em N.s) (Sherman 1970).
Os parâmetros de textura obtidos foram introduzidos em texturogramas (curvas força vs tempo)
obtidos para os gessos, apenas se consideraram para análise os parâmetros firmeza (N) e a
adesividade (N.s), por se verificar que foram os atributos que melhor discriminavam as características
dos gessos.
O teste for realizado na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, através do Texture
Analyser TA-XT2iHR da Stable microSystems (figura 4.14) onde usou-se 73% de gesso para 27%
veiculo hidroglicérico (1:2).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 75
Capítulo 4. Materiais e Métodos
O índice de absorção de óleo é a medida da área superficial das partículas e dos espaços vazios
existentes entre as partículas individuais ou os seus agregados e também dos poros existentes nas
partículas. A absorção de óleo (AO) representa a quantidade de óleo necessária para uma determinada
quantidade de pó forme uma pasta e é definida, laboratorialmente, como sendo a quantidade de óleo
de linhaça que é absorvida sob determinadas condições por uma amostra de gesso.
Esta propriedade encontra-se relacionada com a distribuição dimensional de partículas, a tensão
interfaces, a capacidade de humedecimento de pó e a floculação. Geralmente, o índice de absorção de
óleo é tanto maior quanto maior for a superfície especifica, ou seja, quanto menor for a disponibilidade
de espaços vazios menor será a absorção de óleo. Utilizou-se as amostras depois de secas a 60 ˚C,
temperatura que retira apenas a água correspondente à humidade.
Este ensaio seguiu o método da espátula ou norma ISO 787/5-1980 que consiste em:
Pesou-se uma quantidade apropriada da amostra (10 g) que foi colocada numa placa de vidro
de dimensões mínimas de 300 mm x 400 mm.
Adicionou-se óleo quatro a cinco gotas de cada vez, com uma bureta de 25 ml de capacidade.
Apos a adição, esfregou-se o conjunto com a espátula e continuou-se a adicionar óleo de
linhaça ao ritmo referido ate que se forme conglomerados de óleo e gesso. A seguir adicionou-
se 1 gota de óleo de cada vez e misturou-se muito bem com a lamina, sendo que, este
método depende da experiencia do operador.
Cessou-se a adição de óleo quando se formou uma pasta de consistência plástica uniforme
(suave). Esta pasta apenas cobriu sem partir nem fracionar devendo apenas aderir a placa,
como é mostrado na figura a seguir (figura 4.15).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 76
Capítulo 4. Materiais e Métodos
Figura 4. 16. Arranjo experimental usado na determinação de absorção de óleo de linhaça no gesso.
Os resultados são expressos em mililitros de líquido por 100 g de amostra (ml/100g), e também em
percentagem de peso, considerando para efeito a densidade do óleo de linhaça (0.93 g/ml), sendo
dado pela formula 4.11.
ou
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 77
Capítulo 4. Materiais e Métodos
A seguir, faremos o resumo dos métodos experimentais usados no presente trabalho, assim como
os objetivos de cada um dos ensaios realizados.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 78
Capítulo 5. Resultados e Discussões
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capitulo serão apresentados os resultados referentes a todo processo para caraterização
física, química, mineralógica e tecnológica das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure. Em
seguida faremos correlações entre os parâmetros, usando o software IBM SPSS Statistic 24.
As propriedades físicas podem ser divididas em óticas, mecânicas e outras. Fazem parte das
óticas: a cor, o brilho, a risca/traço, a diafanidade/transparência, e a luminescência. A dureza, a
clivagem e a fratura constituem as propriedades mecânicas. Existem outras propriedades como:
densidade, flutuação, cheiro, sabor, propriedades magnéticas, elétricas e radioativas (ANCCT, 2012).
As nossas amostras apresentam as seguintes propriedades (tabela 5.1):
PROPRIEDADES
Cor da rocha Cinza (e branco) Branco (e cinza) Cinza (e branco)
Cor do pó (granular) Cinzento-claro Branco Cinzento-escuro
Brilho Não metálico ou Vítreo Não metálico ou Vítreo Não metálico ou Vítreo
Traço na porcelana Branco Branco Branco
Luminescência Não apresenta Não apresenta Não apresenta
Transparência Translúcido Translúcido Translúcido
Dureza (Mohr) 2 (riscado pela unha). 2 (riscado pela unha). 2 (riscado pela unha).
Efervescência com HCl Não faz Não faz Não faz
Odor ou cheiro Não tem Não tem Não tem
Sabor Não apresenta Não apresenta Não apresenta
Algumas propriedades físicas do gipsito, como cor, forma e tamanho dos cristais, são variáveis,
influenciados pela presença de impurezas e das condições ambientais da formação, respetivamente.
Assim, esse mineral que possui dureza 2 na escala de Mohs e clivagem em 4 direções, pode ser
encontrado na cor branca, cinza entre outras (Baltar et al. 2005). Assim o gipsito branco (GO) aparenta
apresentar menos impurezas e com baixa dureza relativamente aos outros (GL e GS).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 79
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Na separação granulométrica por via húmida, utilizou-se um peneiro ASTM com malha de 63 µm,
foram avaliados os rendimentos das frações < 63 µm e > 63 µm, a partir da percentagem do material
que passa e retido no peneiro de abertura 63 µm e obtemos os resultados apresentados na figura 5.1.
(a seguir).
As amostras estudadas correspondem a gessos com uma percentagem da fração < 63 µm que
varia de 31% e 49%. Na amostra de gesso de Soure, a fração inferior a 63 µm apresenta igual
rendimentos a amostra superior a 63 µm. Enquanto que nas outras amostras (Loulé e Óbidos), a
fração maior que 63 µm apresentam maiores rendimentos que a fração 63 µm, com valores acima do
dobro no gesso de Óbidos.
A partir dos gráficos (figura 5.1) podemos verificar que ambas amostras possuem menor
percentagem da granulometria fina (< 63 µm), isto é, as amostras de Soure e Loulé apresentam
resultados de granulometria semelhante com graus de finura (49 e 45%, respetivamente) em relação
ao gesso de Óbidos que apresentou um valor baixo (31%), apesar de apresentar menores perdas (≈ 1
%). Assim sendo, podemos considerar todas amostras pouco rentáveis se se pretender a fração fina (<
63 µm). Houve perdas insignificativas de amostras nesse procedimento.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 80
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Em todas as amostras, a fração mais grosseira (> 63 µm) incorpora o gesso (em grandes
quantidades) e alguns clastos de quartzo de dimensão de areias grosseiras observáveis à vista
desarmada.
Esses resultados de classificação granulométrica devem ser encarrados com muita reserva, visto
que, durante o processo de separação, observou-se que as amostras não libertaram todos os grãos de
gesso, formando “falsos graus”, forçosamente com granulometria superior ao real (Alves 2013).
Consequentemente, todos gessos apresentam rendimento granulométrico abaixo das especificações
típicas de graus de qualidade de gesso, segundo a tabela 3.4.
Os resultados de abrasão e índice de abrasividade das três amostras de gesso em estudo estão na
tabela 5.2 (a seguir).
Tabela 5. 2. Valor da abrasividade e índice de abrasão das amostras de gesso de Loulé, Óbidos e Soure.
A partir dos dados da tabela 5.2, observa-se que o gesso de Óbidos apresenta menores valores de
abrasão e índice de abrasividade, enquanto que o gesso de Soure apresenta maiores índice de
abrasividade nas amostras < 63 µm e total, respetivamente.
O maior valor de índice de abrasividade no GS, que de acordo com a tabela 5.4 e figuras 5.6 a
5.11, poderá ser provado pela elevada concentração em minerais detríticos, como o quartzo, tendo-se
refletido, desta forma, na abrasividade. A fração < 63 µm apresenta níveis consideráveis de
abrasividade porque o quartzo nos gessos deve fino.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 81
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Em todos os casos, as amostras totais ostentam maior poder abrasivo que as < 63 μm (quase o
dobro), o que está relacionado o aumento de teor de gesso e diminuição do teor de quartzo da fração
total para a < 63 μm. Esta elevada abrasão pode limitar o uso do gesso na produção de produtos
farmacêuticos (dermocosméticos).
Até à atualidade não se encontram disponíveis valores normativos para o índice de abrasividade do
gesso para aplicações em estudo no presente trabalho. No entanto, de acordo com (Metso Minerals
2005), podemos classificar os gessos em estudo como não abrasivos, por apresentar valores de
abrasão menores que 0,1. Ainda (Baltar et al. 2005) sublinha que a abrasividade do gesso para
aplicações indústriais deve ser de 0,01 – 0,014 g, valores acima dos obtidos no presente trabalho.
Desta forma, os valores obtidos na tabela 5.2 podem justificar o uso desta amostra e suas
formulações para diversos fins, quer farmacêuticos como cosméticos.
Para a fração fina (< 63 µm) realizaram-se ensaios para determinação do limite de liquidez através
do método de fall cone test. Para cada amostra, realizaram-se 4 vezes o ensaio com teor de água
diferente (crescente). Com os valores de humidade (%) e penetração (mm) construiu-se os gráficos a
seguir (Figuras 5.2, 5.3 e 5.4), no qual as ordenadas são as penetrações e as abscissas os
correspondentes a humidade. Em seguida, interpola-se uma reta entre os pontos determinados no
gráfico, cujos valores apresentamos a seguir:
Figura 5. 2. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Loulé (GL).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 82
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Figura 5. 3. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Óbidos.
Figura 5. 4. Relação entre a humidade vs penetração obtido no cone de penetração pera gesso de Soure (GS).
A partir dos gráficos das figuras 5.2, 5.3 e 5.4, verifica-se uma relação aproximadamente linear
entre a humidade e a penetração do cone. Este facto leva-nos a inferir que o aumento da humidade do
gesso é diretamente proporcional a penetração do cone.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 83
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Tabela 5. 3. Limite de plasticidade obtida por fall cone test, limite e índice de plasticidade. Onde: a) O gesso de
Óbidos não apresenta plasticidade suficiente para fazer os rolinhos; ANP amostra não plástica.
Os limites máximo e mínimo para determinação dos tempos de arrefecimento podem ser variados,
de acordo com a vários autores. No entanto, no presente trabalho foi adotado o intervalo de 60 ºC a 30
ºC, uma vez que, para que o tratamento seja eficaz, é necessário que o material usado para tratamento
terapêutico conserve uma temperatura superior a 30 ºC (Gomes 2002).
Até ao minuto 7,5 observou-se um comportamento quase linear, inversamente proporcional entre o
tempo e as temperaturas de 60 ºC e 38 ± 1 ºC. Contudo, a partir dessa temperatura, este
comportamento foi alterado, passando o gesso a arrefecer menos, o que originou a tendência a
horizontalizar do gráfico da figura 5.5 até a temperatura de 30 ºC (temperatura mínima).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 84
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Figura 5. 5. Tempo de arrefecimento dos gessos de Loulé (GL), Óbidos (GO) e Soure (GS).
A diferença no comportamento térmico nos gessos em estudo é mínima, isto é, para mesma
variação da temperatura (de 60 ºC para 30 ºC) os tempos de arrefecimento dos gessos variou de 16,5
minutos (GO) à 21 minutos (GS), com a seguinte sequencia:
GS > GL > GO
Esses resultados demonstram que o gesso de Soure apresenta maior tempo de arrefecimento, o
que torna interessante para revestimentos de paredes, reduzindo o efeito de “parede fria” e a
ocorrência de condensação de água. O baixo coeficiente de condutividade térmica traduz uma maior
capacidade de isolamento térmico e consequentemente, maior resistência ao fogo.
O facto do gesso de Soure apresentar maior quantidades de quartzo (SiO2) levou-nos a inferir que
poderá existir uma relação entre o teor de quartzo e o tempo de arrefecimento das pastas. Ou seja,
quanto maior for o teor de quartzo na pasta de gesso, mais lenta será a velocidade de arrefecimento do
gesso e, portanto, melhor serão as propriedades terapêuticas térmicas.
Esse resultado também pode se justifica pela quantidade de quartzo nas amostras e a diferença de
coeficiente de condutividade térmica do gesso (0,46 W/m·K) e quartzo (1,3 W/m·K).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 85
Capítulo 5. Resultados e Discussões
O gesso quando é usado para fins terapêuticos deve permanecer com uma temperatura agradável
durante a sessão terapêutica pelo menos durante 30 minutos. Assim, o gesso deve manter uma
temperatura que o corpo tolere e não deve arrefecer rapidamente para menos de 36 ºC em menos de
30 minutos, isto porque, se ultrapassa os 36 ºC, baixa para temperatura inferior a do corpo, o que e
bastante desagradável (Facão 2009).
O tempo de arrefecimento até 30 ºC para todas as amostras de gesso é inferior que 30 minutos, o
que indica que as amostras analisadas não são adequadas para serem utilizadas em tratamentos
terapêuticos onde a temperatura (calor) seja um parâmetro importante para o tratamento.
Além dessa análise, há que ressaltar o potencial de perda de calor do gesso de Soure, que entre
as 3 materiais é mais indicada para uso terapêutico. Este resultado está de acordo com a análise
química (item 5.5) e de acordo com as resultados de (Schleier et al. 2014)
Na tabela 5.4. (a seguir) encontram-se indicados os resultados das análises químicas obtidos por
espectrometria de fluorescência de raios X, dos elementos maiores, na forma de óxidos (exceto o
estrôncio) correspondentes as três amostras e, para cada uma, as duas frações granulométricas (<63
μm e total). A composição mineralógica dos depósitos é muito variável, em especial no que respeita ao
teor em gesso. As duas primeiras análises dizem respeito a amostras (GL e GO) mais ricas em gesso,
visto que possuem teores em SO3 e CaO bastante elevados e próximos aos valores teóricos de
referência (gesso puro).
A composição química das amostras (tabela 5.4) indica a presença de outros elementos para além
de sulfato de cálcio (Na, Al, Mg, Si, Sr, P, K, Ti), mas os teores de óxido sulfúrico (SO3) e óxido de
cálcio (CaO) são os mais predominantes nas amostras, e encontramos teores significativos (> 1%) de
dióxido de silício (SiO2), óxido de alumínio (Al2O3) e óxido de magnésio (MgO) nos gessos de Loulé e
Soure. É importante referir que há maiores teores de óxidos e estrôncio (Sr) nas frações < 63 µm que
nas amostras totais, exceto os teores de SO3 e CaO no gesso de Soure. Maiores teores de SiO2 nos
gessos de Loulé (> 3%) e Soure (> 6%) justificam a presença de quartzo nos resultados de difração de
raios X (figuras 5.6, 5.7, 5.10 e 5.11).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 86
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Tabela 5. 4. Composição química dos elementos maioritários das frações < 63 µm e total obtidas por FRX (%).
Onde; LOI é a perda de massa ao rubro; * Quantidades abaixo do limite mínimo de deteção do elemento.
Sabendo que o gesso é composto basicamente por sulfato (SO 3) e óxido de cálcio (CaO), antes de
analisar os contaminantes do gesso dentro dos limites aceitáveis, devemos avaliar sobretudo sua
aplicação. Por exemplo, o teor mínimo de SO3 exigidos atualmente pela indústria de cimento está
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 87
Capítulo 5. Resultados e Discussões
fixado em 35%, enquanto que ter o teor de P2O5 deve ser menor que 0,8%, facto que irá proporcionar
um aumento do tempo de pega dos cimentos, e por consequência aos concretos com ele produzidos
(Pacheco e Matias 2010). Ainda (Harben 2002: 158) refere que “para cimento é necessário gessos com
> 65% de CaSO4 (CaO + SO3)”.
O óxido de ferro (Fe2O3) presente nas amostras de gesso, em quantidades abaixo de 1,213%, não
interfere na qualidade final dos cimentos. Já o óxido de titânio (TiO 2), em baixa concentração (<
0,139%), não afeta diretamente o uso do gesso em cimento; no entanto, a indústria de cimento se
preocupa com a presença desse óxido pois se associado a outros materiais pode afetar negativamente
no endurecimento da pasta de cimento, diminuindo assim a resistência mecânica dos produtos à base
de cimento (Canut 2006).
Pelos resultados apresentados na tabela 5.4, observa-se que os gessos estudados satisfazem os
autores acima citados, isto é, apresentam teores de CaSO4 > 65%, SO3 > 36,872 %, P2O5 < 0,039 %,
Fe2O3 < 1,213% e TiO2 < 0,139% por isso podemos inferir que se encontra dentro dos limites da
indústria de cimento.
Nos gessos de Soure e Loulé encontram-se o óxido de silício (SiO2) em quantidades significativas
(5% em média), que segundo Schleier et al. (2014: 104) “o silício é fundamental nos processos
fisiológicos, e muito importante para a estruturação da pele, unhas e cabelos. Por esse motivo, vem
sendo cada vez mais empregado pela indústria cosmética e farmacêutica”.
Importa agora destacar o potencial dos gessos de Soure (SiO2 > 6,316%) e Loulé (SiO2 > 3,049%)
na indústria dermocosmética. Em relação ao gesso de Óbidos, salientar que o óxido de silício (SiO 2)
encontra-se em quantidades vestigiais (< 1%) o que demonstra certas limitações para essa aplicação.
A tabela 5.5 (a seguir) estão representados os elementos minoritários dos gessos estudados que
apresentam certo interesse na indústria farmacêutica (cosmética) e em argamassas. Referir que as
quantidades de certos elementos foram determinadas a partir dos seus óxidos, apresentados na tabela
acima (tabela 5.4).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 88
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Tabela 5. 5. Composição química de elementos minoritários nas frações < 63 µm e total obtidas por FRX. Onde:
* Quantidades abaixo do limite mínimo para o elemento.
Iremos fazer uma comparação dos valores obtidos com os valores teóricos exigidos para uso em
argamassa (tabela 5.6) e em produtos farmacêuticos (tabela 5.7), representado nas tabelas a seguir.
Tabela 5. 6. Especificações exigidas no gesso para uso em argamassa. Adaptado de Harben (2002: 158).
QUANTIDADES
CaSO4.2H2O > 85 % mas os produtores preferem 94-95%
Na 75 - 250 ppm
Mg 50 - 250 ppm
K < 75 ppm
Cl < 100 ppm
Água livre 10 -15 ppm
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 89
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Tabela 5. 7. Especificações típicas exigidas para o gesso utilizado para fins farmacêuticos. Adaptado de Harben
(2002: 158).
QUANTIDADES
CaSO4.2H2O > 96,75 %
As < 3 ppm
Se < 30 ppm
F < 30 ppm
Fe < 100 ppm
Pb < 10 ppm
Metais pesados < 10 ppm
Os dados apresentados nas tabelas 5.5 e 5.6 são relativas às especificações teóricas exigidas para
a argamassa e os resultados práticos obtidos no presente trabalho, respetivamente. Assim, todos
gessos apresentam teores de Cl recomendados, mas o gesso de Soure apresenta valores de Na, K e
Mg acima dos valores de recomendados. O gesso de Loulé apresenta valores de K e Mg acima dos
valores recomendados. Quanto ao gesso de Óbidos, apresenta todos valores dentro das
especificações para uso em argamassa.
Sabendo que a composição química teórica do gesso para argamassa é: CaO > 38%; SO3 > 55% e
água combinada 4,2 – 6,2%. A partir dos resultados da tabela 5.4, observa-se um défice de teores de
CaO (25,866 – 35,206%) e de SO3 (36,872 – 46,984). O gesso de Óbidos apresentou resultados um
pouco abaixo dos valores recomendados. Assim chegamos a conclusão de que o gesso de Óbidos é o
mais indicado para uso em argamassa, enquanto que os gessos de Loulé e Óbidos carecem de
beneficiamento para uso em argamassa.
A partir dos resultados apresentados nas tabelas 5.5 e 5.7 (acima) destacar excesso de As, Pb e o
metal pesados (em maiores quantidades, o Cr), tanto na fração < 63 µm, como na amostra total do
gesso de Soure (GS), em relação aos valores exigidos pela indústria farmacêutica. Enquanto que os
gessos de Loulé (GL) e Óbidos (GO) apresentam valores dentro dos limites exigidos (exceto o Fe e
metais pesados no gesso de Loulé), o que leva a inferir que são mais adequados para produtos
desmocosméticos.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 90
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Foi feita a análise por DRX das amostras totais e fração < 63 µm com finalidade de identificar com
precisão a presença de diferentes minerais no gesso (figuras 5.8 – 5.13). Pode-se observar através dos
difratogramas que todas as amostras analisadas se caraterizam pela presença de fases cristalinas,
originando assim, picos bem definidos dos minerais presentes.
Gesso de Loulé
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 91
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Gesso de Óbidos
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 92
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Gesso de Soure
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 93
Capítulo 5. Resultados e Discussões
amostra total. As duas fases mineralógicas presentes nos gipsitos (gipsite e quartzo) em estudo foram
confirmadas por Figueiredo 1999, Campos 2002 e em Velho e Campos 2006.
Essa impureza é baseada a partir da identificação do seu pico de maior intensidade (d=3,34460),
que não se enquadra a nenhum dos picos apresentados pela gipsite. O Quartzo presente nas amostras
deve ser fino, pois verifica-se um pequeno incremento nas amostras < 63 µm. Segundo Figueiredo
(1999: 55) “esta espécie de quartzo aparecem no gesso como contaminante sendo a sua presença
prejudicial no desempenho em serviço deste material”.
Assim sendo, as amostras com maiores quantidades de quartzo (Soure e Loulé) terão algumas
propriedades e/ou características deslocadas dos limites recomendados para diversas aplicações
típicas como em dermocosméticos
O facto de nenhum dos gessos estudados formar picos referentes aos óxidos presentes
confirmados na análise química por FRX demonstram que esses elementos estão presentes nas
amostras como materiais amorfos, resultado confirmado por (Costa 2013).
Para a determinação da superfície específica, da área superficial dos poros, do volume total de
poros e do diâmetro médio de poros das amostras de gesso, foi utilizada a adsorção e dessorção física
pelo método BET, cujos resultados são apresentados na Tabela 5.8.
GL GO GS
Área de superfície do ponto único em p /p ° = 0,204100266 ( m²/g) 20.6954 16.9095 21.9533
Área superficial (BET) (m²/g) 20.9350 17.0997 22.1746
Área de superfície externa t-Plot (m²/g) 28.0390 21.9764 30.9341
Área superficial de poros cumulativo (adsorção BJH) (m²/g) 23.032 19.197 25.564
Área superficial de poros cumulativo (dessorção BJH) (m²/g) 26.0384 21.6108 28.6557
Volume de poros cumulativo (adsorção BJH) (cm³/g) 0.038250 0.034797 0.041317
Volume de poros cumulativo (dessorção BJH) (cm³/g) 0.039197 0.035780 0.042451
Diâmetro médio de poro (adsorção BJH) (Å) 66.428 72.507 64.649
Diâmetro médio de poro (dessorção BJH) (Å) 60.215 66.227 59.257
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Capítulo 5. Resultados e Discussões
A maior finura da granulometria do gesso de Loulé e Soure (Figura 5.1) possibilitaria a previsão de
uma moderada elevação na área superficial específica de suas partículas em relação ao gesso de
Óbitos. A diferença entre a área medida pode ser atribuída parcialmente ao facto que o gesso de
Óbidos possui quantidades significativa de anidrite, provavelmente de menor área superficial, não se
excluindo mudanças na forma e tamanho dos cristais. A maior área superficial dos gessos de Loulé e
Óbidos é explicada pela finura e pela forma cristalina, confirmados por (Nita et al. 2004).
A partir da tabela 5.8 pode-se observar que a área superficial e volume de poros cumulativo é
maior para o gesso Soure e menor no gesso de Óbidos. Situação inversa observa-se quanto ao
diâmetro médio de poros. A área especifica está intrinsecamente relacionada com a resistência
mecânica de forma inversa, face a isso, podemos dizer que o gesso de Óbidos possui uma maior
resistência e o gesso Soure possuem uma menor resistência mecânica (Melo 2012). Quanto ao gesso
de Loulé, possui valores entre o gesso de Óbidos e Soure, por isso, as propriedades também estão
entre os dois gessos.
A tabela 5.8 fornece outros dados de grande relevância, tais como: área, volume e diâmetro
porosidade. O que pode se observar é que para melhorar o resultado nos ensaios, tanto a porosidade
quanto a densidade devem ser variadas, isto é, a absorção será maior em materiais cuja densidade é
elevada do que materiais com densidades baixas. O mesmo para a porosidade, quanto mais poroso o
material, mais ele irá absorver, uma vez que a onda sonora penetra nos poros. Porém se o material
tem a superfície lisa, ocorre a reflexão e não absorção (Severo Ribeiro 2011). Neste caso, deve-se
levar em conta que os poros reduzem a área da secção reta através da qual a carga é aplicada, e
atuam também como concentradores de tensão.
Assim sendo, quanto maior a superfície específica, maior a área de reação, mais rápida a
dissolução e menor o período de indução do material consequentemente, mais rápido o início de presa
do material (Pinheiro 2011). Em função do ora exposto, implica dizer que o gesso de Óbidos é o mais
indicado para uso na produção de cimento e em argamassas.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 95
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Absorção de óleo
35 32
29,76
30 27
25,11 25
25 23,25
20
15
10
0
Loulé Óbidos Soure
Observando o gráfico 5.5, verifica-se uma diferença entre os valores de absorção de óleo de
linhaça nas três amostras estudadas. O gesso de Óbidos apresenta maiores valores de absorção de
óleo (32 mg/100g), o que indica uma maior pureza do gesso. O valor recomendado internacionalmente
(tabela 3.4) é de 33 mg/100g. Quanto aos gessos de Loulé e Soure apresenta valores de absorção
baixos (27 e 25 mg/100g, respetivamente) o que permite a sua aplicação como carga ou diluente em
plástico, tintas, madeiras, têxteis e alimentos, entre outras (Velho 2005).
O quartzo presente nas amostras é o responsável por retirar aos gessos de Loulé e Soure
propriedades como a de absorção de óleo de linhaça, atributo muito importante em termos de potencial
de aplicações (Moura et al. 2015).
Apesar da presença do quartzo nas amostras, o resultado obtido a partir do ensaio de absorção de
óleo de linhaça para a amostra de gesso de Óbidos é promissor do que os resultados obtidos até hoje,
isto é, são favoráveis e mais próximos aos requisitos para aplicações típicas do gesso, especificamente
na indústria farmacêutica (dermocosméticos).
A textura foi avaliada a partir dos perfis obtidos por um texturómetro, tendo sido determinado os
parâmetros adesividade e firmeza nas três amostras que foram significativamente diferentes.
A textura das pastas, que inclui a firmeza e adesividade, é geralmente reconhecida como um dos
parâmetros mais importantes na avaliação da qualidade das pastas para preparação dermocosmética.
A elevada qualidade das pastas pode ser definida como resultado de elevada absorção de água, baixa
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Capítulo 5. Resultados e Discussões
perda de sólidos durante a calcinação (ou cozedura) e boa textura, que inclui elevada firmeza e baixa
adesividade (Bruneel et al. 2010).
Os valores da textura (adesividade e firmeza) de máscara de gesso, realizado numa mistura de
73% de gesso e 27% de veículo hidroglicérico (2: 1), estão na tabela a seguir (Tabela 5.9)
Tabela 5. 9. Variação da adesividade e firmeza dos três gessos em estudo em função do tempo.
Fmáx (N) A (-) (N.mm) Fmáx (N) A (-) (N.mm) Fmáx (N) A (-) (N.mm) Variação
4 dias 4 dias 8 dias 8 dias 12 dias 12 dias
GO 0,553 -0,258 14,813 -0,823 33,05 -1,45 32,501
GL 0,315 -0,373 0,532 -0,552 0,611 -0,54 0,296
GS 0,255 -0,338 0,372 -0,414 0,43 -0,51 0,175
Figura 5. 13. Variação da adesividade (N.mm) das três amostras de gessos em estudo em função do tempo.
Nas figuras 5.13 e 5.14 estão representadas, graficamente os valores relativos ao parâmetro
firmeza (Força máxima vs tempo). Verifica-se um aumento quase linear do parâmetro firmeza em
função do tempo de armazenamento (4, 8 e 12 dias) nas três amostras, com maior variação no GO,
apesar dos valores do desvio padrão não serem desprezáveis.
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Capítulo 5. Resultados e Discussões
Figura 5. 14. Variação da Firmeza (N) do gesso de Óbidos – GO em função do tempo de armazenamento.
Figura 5. 15. Variação da Firmeza dos gessos de Loulé - GL e de Soure – GS em função do tempo de
armazenamento.
A partir dos resultados podemos afirmar que todas as amostras de gesso têm pouca capacidade de
absorver água ou misturas de água com glicerina.
Analisando a firmeza (Fmáx) verificou-se que no período de 8 dias, o gesso de Óbidos registou um
aumento de 59,7 vezes, este aumento foi mais acentuado entre o 4º e 8º dia. Enquanto que os gessos
de Loulé e Soure, registraram 1,9 e 1,7 vezes, respetivamente.
Para os gessos, a temperatura de calcinação (ou cozedura) constitui um fator importante na
avaliação da firmeza das pastas. (Bruneel et al. 2010) indicam que quanto mais alto ser a temperatura
de calcinação (ou cozedura), contribui para a diminuição da firmeza. Os gessos estudados estavam
hidratados, o que pode justificar os baixos valores de firmeza e pouca capacidade de absorção de agua
ou mistura de água com glicerina.
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Capítulo 5. Resultados e Discussões
Quanto a adesividade (área negativa), verificou-se que no 12º dia, o gesso de Óbidos apresentou
valores de 5,6 vezes maiores que no 4º dia, com aumento quase linear. Enquanto que os gessos de
Loulé e Soure, registraram 1,4 e 1,6 vezes, respetivamente, verificando-se certo equilíbrio entre os 8º e
12º dias, onde no gesso de Loulé registra-se uma ligeira diminuição da adesividade.
Dados da tabela 5.9, mostram certa relação de proporcionalidade entre a adesividade e a firmeza
quanto ao valor absoluto das grandezas, isto é, quando os valores de firmeza aumentavam nas
amostras, “aumentavam” também a adesividade numa outra proporção, no igual período de tempo.
A adesividade e a firmeza são parâmetros relacionados com a aderência das amostras noutras
superfícies e a resistência interna do material, respetivamente. Comparando os resultados dos gráficos
5.12 com os resultados de (Guiné et al. 2010) podemos inferir que os gessos de Soure e Loulé não
apresentam adesividade mensurável, dados que os valores apresentados nos 3 dias de
armazenamento (4º, 8º e 12º dia) são próximos de zero.
Foi realizada uma análise de correlação entre todos os parâmetros físico-químicos e tecnológicos
para a amostra < 63 µm (tabela 5.10) e parâmetros químicos na amostra total (tabela 5.11), de modo a
identificar qualquer relação com significado estatístico entre os diversos parâmetros estudados. A
ferramenta estatística utilizada foi o coeficiente de correlação de Pearson, r. No entanto, existem
limitações na utilização da correlação de Pearson, pelo facto da correlação apenas indicar se existe ou
não uma relação linear entre as variáveis em estudo ou de existirem variáveis independentes que
também podem ser variáveis dependentes. Este teste foi utilizado para se poder analisar o que
influencia o quê, porém, a correlação não indica causalidade só covariância.
Na matriz de correlação (Tabela 5.10) pode observar-se que o parâmetro que apresenta o maior
número de relações significativas (r > 0,50, em valor absoluto) são: Abrasividade (Abras), e Superfície
especifica (SE) (com 5 relações significativas estabelecidas) e Índice de plasticidade (IP), Adesividade
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Capítulo 5. Resultados e Discussões
(Adesiv), Firmeza, Absorção de óleo de linhaça (AOL) e tempo de arrefecimento (TA) (com 2 relações
estabelecidas com uma significante).
Quanto aos parâmetros químicos Ca2O, MgO, Al2O3, SO3, K2O, CaO, Fe2O3, TiO2, P2O5 e Cl (com
9 relações estabelecidas com duas ou três significante de nível 0,05 e 0,01, respetivamente), os
parâmetros Sr e SiO2 (com 2 e 6 relações estabelecidas com duas ou três significante de nível 0,05 e
0,01, respetivamente).
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Capítulo 5. Resultados e Discussões
Tabela 5. 10. Correlações entre os parâmetros físico-químicos estudados. A parte vermelha simboliza a correlação entre parâmetros químicos e a verde, parâmetros físicos e
tecnológicos. Onde: *. A correlação é significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral).
Abras 1
IP 0,851 1
SE 0,945 0,976 1
Adesiv 0,412 0,829 0,688 1
Firmeza -0,99 -0,901 -0,974 -0,504 1
AOL -0,93 -0,985 -,999* -0,721 0,962 1
TA 0,908 0,993 0,995 0,756 -0,946 -,999* 1
Na2O 0,619 0,939 0,842 0,971 -0,697 -0,866 0,891 1
MgO ,999* 0,828 0,930 0,374 -0,989 -0,912 0,890 0,586 1
Al2O3 0,692 0,968 0,890 0,943 -0,763 -0,910 0,931 0,995 0,661 1
SiO2 0,775 0,991 0,939 0,895 -0,836 -0,954 0,969 0,976 0,748 0,992 1
P2O5 0,812 ,998* 0,959 0,866 -0,868 -0,971 0,982 0,961 0,787 0,983 ,998* 1
SO3 -0,63 -0,945 -0,852 -0,966 0,710 0,875 -0,89 -1,00* -0,600 -0,997 -0,980 -0,966 1
K2O 0,639 0,948 0,856 0,964 -0,715 -0,879 0,902 1,000* 0,606 ,997* 0,981 0,968 -1,00** 1
CaO -0,68 -0,964 -0,883 -0,948 0,753 0,904 -0,93 -0,997 -0,650 -1,00** -0,991 -0,980 0,997 -,998* 1
TiO2 0,858 1,000** 0,979 0,822 -0,906 -0,987 0,994 0,935 0,835 0,965 0,990 0,997 -0,941 0,944 -0,961 1
MnO 0,995 0,899 0,973 0,500 -1,000** -0,961 0,945 0,693 0,990 0,760 0,834 0,866 -0,706 0,712 -0,750 0,904 1
Fe2O3 0,778 0,992 0,941 0,893 -0,839 -0,955 0,970 0,975 0,751 0,992 1,000** ,998* -0,979 0,980 -0,990 0,990 0,836 1
Sr -0,99 -0,780 -0,897 -0,297 0,974 0,876 -0,85 -0,518 -0,997 -0,598 -0,692 -0,735 0,533 -0,54 0,586 -0,788 -0,975 -0,695 1
Cl -0,99 -0,767 -0,888 -0,277 0,970 0,866 -0,84 -0,500 -0,995 -0,581 -0,677 -0,721 0,516 -0,52 0,569 -0,775 -0,971 -0,680 1,000* 1
LOI -0,06 0,474 0,270 0,885 -0,044 -0,315 0,364 0,747 -0,101 0,679 0,584 0,534 -0,735 0,730 -0,690 0,462 0,039 0,581 0,182 0,202 1
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 101
Capítulo 5. Resultados e Discussões
Tabela 5. 11. Correlações entre a média da composição química da fração total. Onde: *. A correlação é significativa no nível 0,05 (bilateral); **. A correlação é significativa no
nível 0,01 (bilateral).
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 102
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações
Na tabela 5.10 (a vermelho), tanto o CaO como o SO3 (elementos maioritários no gesso) estão
fortemente correlacionados entre si, mas apresentam fortes correlações lineares negativas com SiO 2,
P2O3, Ti2O, MnO, Fe2O3, Na2O (somente com o CaO) e Al2O3 (somente com o SO3).
Quanto a matriz da tabela 5.11, tanto o SO3 como o CaO estão fortemente correlacionados entre
si, e o CaO apresenta ainda uma forte correlação linear com o TiO 2. Mas ambos óxidos (SO3 e CaO)
apresentam forte correlações negativas com o MgO, Al2O3, Cl, Fe2O3, SiO2, K2O, MnO, TiO2, K2O e
SiO2. Este último parâmetro (SiO2) apresenta uma correlação perfeitamente negativa (r = -1), isto é, se
SiO2 aumenta, o SO3 e CaO sempre diminuem.
A partir duas matrizes das tabelas 5.10 e 5.11, para os elementos químicos, observa-se que há
forte correlação entre o CaO e SO3, mas os dois óxidos apresentam fortes correlações lineares
negativas com Fe2O3, SiO2, MgO e MnO. Isso indica que o SO3 apresenta afinidades com metais
alcalinos terrosos e seus óxidos (exceto o Mg) e praticamente não se apresenta afinidades com os não
metais, metais alcalinos e metais de transição.
Enquanto o CaO tem afinidades apenas com o SO3 e Sr. Estes resultados justificam os processos
de formação dos gipsitos a partir de diversos sais depositados em meio aquoso e a posterior
evaporação e sobreposição de outros sedimentos (argilas gipsíferas e material orgânico) e traduz a
história geológica do depósito.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 103
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações
A matriz de correlação mostra também uma relação estatisticamente significativa entre a superfície
especifica SE e o índice de plasticidade IP (r = 0,976), assim como entre o índice de plasticidade IP e o
tempo de arrefecimento TA (r = 0,993) e entre tempo de arrefecimento TA e a superfície especifica SE
(r = 0,995). Estes resultados podem-se justificar devido à forte relação que estes três parâmetros têm
com o isolamento acústico, a resistência mecânica e a trabalhabilidade, propriedades fundamentais em
argamassas. Também pode-se associar esses três parâmetros a aplicação em mascaras
corporais/faciais e uso terapêutico onde a tempo de arrefecimento é um parâmetro importante.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 104
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Neste capítulo são apresentadas as principais conclusões extraídas desse trabalho, em função da
metodologia usada e dos objetivos que se centrava essencialmente na análise comparativa dos gessos
de Loulé, Soure e Óbidos e enquadramento dos mesmos na argamassa, cimento e em
dermocosméticos. Também se apresentou algumas considerações finais sobre o consumo atual do
gesso em Portugal e as recomendações/sugestões com vista ao melhoramento dos trabalhos futuros.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 105
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações
6.2. CONCLUSÕES
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 106
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações
Em suma, com base nos resultados obtidos, foi comprovado que o gesso de Óbidos (o mais
branco) é o de maior pureza. Destaca-se então que todas as variedades de gesso (ou gipsito)
estudados neste trabalho apresentam características físicas e químicas básicas para diversas
aplicações e são considerados adequados para a uso em argamassas e na indústria de cimento. Mas o
gesso de Óbidos pode ser usado ainda na indústria de dermocosméticos.
Estando consciente que as investigações científicas nunca têm um fim, entende-se que este
trabalho não se encontra finalizado. Neste item pretende-se expor ou apresentar algumas sugestões e
recomendações para trabalhos futuros que são considerados importantes para o enriquecimento do
presente trabalho.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 107
Capítulo 6. Conclusões e Recomendações
Coleta de maior número de amostras, se possível em sondagem para obter amostras frescas e
do mesmo nível estratigráfico para estudo da variação das propriedades do gesso com a
profundidade.
Realizar outras caracterizações do gesso, tais como: a densidade, a viscosidade, a cor, a
análise térmica diferencial (ATD), o tempo de pega, a resistência mecânica, a flexão e a
compressão, o coeficiente de dilatação na hidratação, a dureza superficial e ensaios
destrutivos como resistência a corte e tração simples com vista a obter informações gerais
sobre os gessos em estudo.
Estudar e caracterizar a mistura de dois ou mais gessos e/ou os escombros, com propriedades
mineralógicas diferentes, como forma de obter novas composições à base de gesso que
respondam as propriedades exigidas no mercado e/ou diminuição de escombros nas minas.
Para futuras pesquisas, a nível de doutorado, pretendemos aprofundar os estudos relativos a
propriedades físicas, químicas, reológicas e mineralógicas do gesso de Moçambique e
Portugal, identificando, dentro de cada tipo, seus enquadramentos em diversas áreas de
aplicação.
Estudo Comparativo de Gessos de Loulé, Óbidos e Soure para cimento, argamassa e dermocosméticos. 108
Referências Bibliográficas
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