José Renato de Freitas
José Renato de Freitas
José Renato de Freitas
"Dissertação de Mestrado
apresentada ao Centro de Ciência e
Tecnologia, da Universidade Estadual do
Norte Fluminense, como parte das
exigências para obtenção de título de
Mestre em Engenharia Civil".
ii
Influência da Substituição Parcial de Cimento Portland por
Cinzas do Bagaço de Cana-de-açúcar nos Tempos de Início e
Fim de Pega e no Calor de Hidratação de Produtos Cimentícios.
"Dissertação de Mestrado
apresentada ao Centro de Ciência e
Tecnologia, da Universidade Estadual do
Norte Fluminense, como parte das
exigências para obtenção de título de
Mestre em Engenharia Civil".
Comissão Examinadora:
iii
AGRADECIMENTOS
iv
Enfim, aos amigos, aos parentes e a todas as pessoas que, de alguma
forma, ajudaram-me nesta empreitada, deixo, aqui, o meu agradecimento
sincero.
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
Keywords: sugar cane bagasse ash, setting times, hydration, cement pastes,
velocity variation ultrasonic test, isothermal calorimetry test.
vii
ÍNDICE
Agradecimentos .............................................................................. iv
Resumo ........................................................................................... vi
Índice............................................................................................. viii
1. Introdução ..................................................................................1
1.1. Objetivos .................................................................................. 3
viii
3.1.4. Agregados .......................................................................... 33
4. Resultados ............................................................................... 51
4.1. Caracterização das cinzas do bagaço de cana-de-açúcar ..... 51
ix
LISTA DE FIGURAS
x
Figura 3.15 - Aparato utilizado nos ensaios de variação de velocidade
ultrassônica. ..................................................................................................... 42
Figura 3.16 - Caixa acrílica cúbica e transdutores. .......................................... 43
Figura 3.17 - Validação do equipamento de medição da velocidade de
ultrassom. ......................................................................................................... 44
Figura 3.18 - Réplicas da variação da velocidade ultrassônica da pasta de
referência. ........................................................................................................ 44
Figura 3.19 - Representação esquemática da evolução típica da velocidade
ultrassônica (LEE et al., 2004). ........................................................................ 45
Figura 3.20 - Medidor de ar aprisionado do LECIV/UENF. .............................. 49
Figura 3.21 - Calorímetro de condução isotérmico do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de São Paulo (IPT). .................................................................... 50
Figura 4.1 - Granulometria das diferentes cinzas do bagaço de cana-de-açúcar.
......................................................................................................................... 53
Figura 4.2 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-1. ................................... 54
Figura 4.3 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-2. ................................... 54
Figura 4.4 - Difratograma de raios X das cinza CBCA-3. ................................. 55
Figura 4.5 - Difratograma de raios X das cinza CBCA-4. ................................. 55
Figura 4.6 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-5. ................................... 56
Figura 4.7 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-6. ................................... 56
Figura 4.8 - Valores de índice de atividade pozolânica das cinzas do bagaço da
cana-de-açúcar. A linha tracejada indica o valor mínimo de índice estipulado na
NBR 12653 (1992). .......................................................................................... 58
Figura 4.9 - Compacidade das argamassas utilizadas nos ensaios de IAP. .... 58
Figura 4.10 - Espectros de infravermelho da sacarose, CBCA-1, CBCA-2 e
CBCA-5. ........................................................................................................... 59
Figura 4.11 - Valores de tempos de início de pega das pastas de consistência
normal. ............................................................................................................. 61
Figura 4.12 - Variações de tempo de fim de pega das pastas de consistência
normal. ............................................................................................................. 61
Figura 4.13 - Correlação entre os valores de perda ao fogo das cinzas e os
tempos de início e fim de pega das pastas com 10% das respectivas cinzas. 62
xi
Figura 4.14 - Correlação entre os valores de perda ao fogo das cinzas e os
tempos de início e fim de pega das pastas com 20% das respectivas cinzas. 62
Figura 4.15 - Correlação entre os valores de perda ao fogo das cinzas e os
tempos de início e fim de pega das pastas com 30% das respectivas cinzas. 63
Figura 4.16 - Variação de velocidade ultrassônica para pastas com substituição
de 10% da massa de cimento. ......................................................................... 64
Figura 4.17 - Variação de velocidade ultrassônica para pastas com substituição
de 20% da massa de cimento. ......................................................................... 65
Figura 4.18 - Variação de velocidade ultrassônica para pastas com substituição
de 30% da massa de cimento. ......................................................................... 66
Figura 4.19 - Correlação entre os tempos de início e fim de pega dos ensaios
de Vicat e os tempos tA e tB dos ensaios de variação de velocidade ultrassônica
das pastas com 10% das respectivas cinzas. .................................................. 67
Figura 4.20 - Correlação entre os tempos de início e fim de pega dos ensaios
de Vicat e os tempos tA e tB dos ensaios de variação de velocidade ultrassônica
das pastas com 30% das respectivas cinzas. .................................................. 68
Figura 4.21 - Variação de velocidade ultrassônica dos concretos C-REF, C-
CBCA-1 20%, C-CBCA-2 20% e C-CBCA-3 20%. ........................................... 69
Figura 4.22 - Correlação entre parâmetros tA e tB de pastas e concretos. ....... 71
Figura 4.23 - Teor de ar aprisionado para misturas em concreto com
substituição de 20% do teor de cimento por volume equivalente de cinzas. .... 72
Figura 4.24 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas
com teores de 10% de cinzas - base sólidos. .................................................. 73
Figura 4.25 - Calor acumulado até 72 horas da pasta de referência e das
pastas com teores de 10% de cinzas - base sólidos. ....................................... 74
Figura 4.26 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas
com teores de 30% de cinzas - base sólidos. .................................................. 75
Figura 4.27 - Calor acumulado até 72 horas da pasta de referência e das
pastas com teores de 30% de cinzas - base sólidos. ....................................... 76
Figura 4.28 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas
P-CBCA-1 10%, P-CBCA-1 30% - base cimento. ............................................ 77
Figura 4.29 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e da pasta P-
CBCA-2 10%, P-CBCA-2 30% - base cimento. ................................................ 78
xii
Figura 4.30 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas
P-CBCA-5 10% e P-CBCA-5 30% - base cimento. .......................................... 79
Figura 4.31 - Calor acumulado das pastas CBCA-1 10% e 30% - base cimento.
......................................................................................................................... 80
Figura 4.32 - Calor acumulado das pastas CBCA-2 10% e 30%.- base cimento.
......................................................................................................................... 80
Figura 4.33 - Calor acumulado das pastas CBCA-5 10% e 30% - base cimento.
......................................................................................................................... 81
Figura 4.34 - Fluxo de calor e tempos de início e fim de pega (Vicat) da pasta
de referência e das pastas com teores de 10% de cinzas - base sólidos. ....... 82
Figura 4.35 - Fluxo de calor e tempos de início e fim de pega (Vicat) da pasta
de referência e das pastas com teores de 30% de cinzas - base sólidos. ....... 82
Figura 4.36 - Fluxo de calor e tempos tA e tB (Ultrassom) da pasta de referência
e das pastas com teores de 10% de cinzas - base sólidos. ............................. 83
Figura 4.37 - Fluxo de calor e tempos tA e tB (Ultrassom) da pasta de referência
e das pastas com teores de 30%de cinzas - base sólidos. .............................. 84
xiii
LISTA DE TABELAS
xiv
Tabela 4.4 - Parâmetros tA, tB e α obtidos nos ensaios de ultrassom de
concretos. ......................................................................................................... 70
Tabela 4.5 - Intervalos de liberação de calor.................................................... 73
xv
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
xvi
1.INTRODUÇÃO
2
pega, ao risco de segregação, à retração plástica, à exsudação e à elevação
de temperatura devido à hidratação do cimento. As operações de lançamento,
adensamento, acabamento, cura e desforma são dependentes dessas
propriedades, principalmente com relação aos tempos de início e fim de pega
do composto cimentício empregado. Enquanto o tempo de início de pega
define o limite de manuseio de um produto cimentício, o tempo de fim de pega
indica o início do desenvolvimento de resistência mecânica. Assim, torna-se
necessária uma investigação mais precisa desses parâmetros quando novos
materiais cimentícios suplementares são empregados.
A partir da segunda metade da década de 90, inúmeras pesquisas no
meio científico foram realizadas, abordando o uso de cinzas do bagaço de
cana-de-açúcar como material suplementar em produtos cimentícios.
Destacam-se publicações científicas pioneiras: os trabalhos de Freitas et al.
(1996), Martirena Hernández et al. (1998) e Mesa Valenciano (1999). Embora,
nesse caso, já tenha sido feita uma grande quantidade de pesquisas,
objetivando analisar o comportamento do concreto com adição de cinzas do
bagaço, hoje, ainda, há poucos estudos específicos para avaliar a substituição
parcial do cimento por cinzas do bagaço de cana-de-açúcar em produtos
cimentícios no estado fresco.
1.1. Objetivos
3
Avaliar a influência da atividade pozolânica e da composição
química das cinzas do bagaço nos tempos de início e fim de
pega e no calor de hidratação.
1.2. Justificativas
4
2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
5
reagir com o C3A, forma a etringita (sulfoaluminato de cálcio) que se deposita
nas superfícies das partículas de C3A que, ainda, não reagiram e impede a
rápida hidratação do aluminato tricálcio (GARTNER e GAIDS, 1989; MEHTA e
MONTEIRO, 2008).
As características da hidratação do silicato tricálcio (C3S) são muito
abordadas por pesquisadores porque o C3S impuro, conhecido como alita,
constitui cerca de 50 a 70% da massa do cimento. Além disso, a alita tende a
dominar o período de hidratação inicial porque é a fase do cimento Portland
que mais contribui com a formação do gel de silicato de cálcio hidratado (C-S-
H), principal produto da hidratação (BULLARD et al., 2011).
A composição dos cimentos influencia, de forma efetiva, o calor de
hidratação. Cimentos com altos teores de C3S e C3A nas suas composições,
normalmente, apresentam alta liberação de calor durante a hidratação. Efeito
contrário é obtido com o uso de cimentos compostos com altos teores de C 2S.
Da mesma forma, cimentos com altos teores de C2S têm endurecimento mais
lento comparados com cimentos com altos teores de C3A e C3S (MEHTA e
MONTEIRO, 2008). A Tabela 2.1 mostra que cada composto do cimento tem
um específico calor de hidratação (WALLER, 1998).
hidratação do C 3 S
hidratação do C 3 A
Tempo (h)
8
mostra o esgotamento do sulfato de cálcio e a reação da etringita com C 3A
adicional e C2 (A,F) formando monossulfoaluminato de cálcio (BULLARD et al.,
2011).
É importante ressaltar que estes conceitos foram utilizados para
análise dos ensaios de variação da velocidade do som e calorimetria realizados
neste estudo.
9
tamanho e volume de vazios (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Além dos
benefícios técnicos, a utilização de aditivos minerais contribui para a
minimização do impacto ambiental, através da preservação dos recursos
naturais não renováveis, bem como da redução da emissão de CO2 e do
consumo energético durante a produção do clínquer nas indústrias cimenteiras
(CORDEIRO, 2006).
Alguns tipos de aditivos minerais são constituídos de sílica e alumina
amorfas em sua constituição. Essa característica pode promover as reações
pozolânicas do aditivo mineral. Nesse caso, o hidróxido de cálcio produzido na
hidratação do cimento reage com compostos químicos do aditivo mineral,
formando novos produtos hidratados. Isso confere ao produto cimentício uma
estrutura mais resistente química e mecanicamente, pois o hidróxido de cálcio
pouco contribui para a resistência da pasta de cimento e é, dentre os produtos
da hidratação, o primeiro a ser solubilizado e lixiviado pela água (NEVILLE,
1997).
10
Figura 2.2 - Morfologia típica da cinza da casca de arroz (a), que apresenta partículas
com elevada microporosidade (b) – Cordeiro (2006).
11
Tabela 2.2 - Exigências químicas e físicas para materiais pozolânicos conforme a NBR
12653 (1992).
Exigências químicas Classe de material pozolânico
Propriedades N C E
SiO2 + Al2O3 + Fe2O3, % min. 70 70 50
SO3, % máx. 4,0 5,0 5,0
Teor de umidade, % máx. 3,0 3,0 3,0
Perda ao fogo, % máx. 10,0 6,0 6,0
Álcalis disponíveis em Na2O, % máx. 1,5 1,55 1,55
Exigências físicas Classe de material pozolânico
Propriedades N C E
Material retido na peneira 45 µm, % máx. 34 34 34
Índice de atividade pozolânica:
- com cimento aos 28 dias, em relação
ao controle, % min. 75 75 75
- com a cal aos 7 dias, em MPa 6,0 6,0 6,0
- água requerida, % máx. 115 110 110
12
do comportamento da transição do estado de suspensão para sólido poroso de
uma mistura, com definições de tempos de início e fim de pega, e abordagem
dos conceitos de enrijecimento e endurecimento. Em seguida, são
apresentadas pesquisas referentes a materiais cimentícios com substituição
parcial de cimento por aditivos minerais e os efeitos dessas substituições nas
propriedades no estado fresco.
.
2.3.1. Passagem do estado fluído para estado sólido
13
matematicamente. Porém, o tempo de fim de pega é determinado
empiricamente, sendo considerado o tempo correspondente à velocidade de
1500 m/s.
15
Tabela 2.3 - Tempos de início de fim de pega para concretos de referência e com
cinza volante (KHOKHAR et al., 2009).
Referência Cinza volante
Temperatura (˚C) 20 10 20 10 20 10
Aditivo 0% 30% 50%
Início de pega (h)
4,2 6,0 6,93 8,45 8,58 10,46
(Ultrassom)
Início de pega (h)
4,84 - 6,18 - 7,4 -
(Kelly Bryant)
Fim de pega (h)
7,45 10,08 12,6 12,86 15,16 16,55
(Ultrassom)
17
tinham CBCA com teor de SiO2 igual a 63% e valor de perda ao fogo de 6,9%.
Os tempos de início e fim de pega cresceram com o aumento dos teores de
cinza. Os motivos para retardamento do endurecimento dos materiais
cimentícios foram creditados pelos autores à maior quantidade de água
utilizada nas misturas com adição de cinzas em comparação com uma pasta
de referência.
Ganesan et al.(2007) utilizaram uma CBCA coletada na Índia e um
cimento fabricado conforme norma IS 8112 (1995) daquele país. A cinza
coletada apresentou 11,2% de teor de carbono e, após requeima a 605˚C,
durante uma hora, esse valor foi reduzido para 4,9%. Após moagem das
cinzas, foram obtidos tamanhos de partículas inferiores a 5,4 µm. Resultados
de ensaios de consistência normal indicaram maior quantidade de água
requerida para as misturas com cinzas do que a mistura de referência.
Também ocorreu um aumento nos valores de tempos de início e fim de pega
das misturas com CBCA. Valores de 79 min e 184 min para tempos de início de
pega foram medidos para a mistura de referência e a mistura com 20% de
substituição de cimento por cinza, respectivamente. Para o tempo de fim de
pega, a pasta de referência atingiu o valor de 300 min e a pasta com 20% de
substituição 402 min. Entretanto, todos os valores de tempos de pega obtidos
ficaram dentro dos limites estabelecidos pela norma IS 8112 (1995). Após a
realização de ensaios de resistência à compressão, absorção de água,
permeabilidade e resistência aos íons cloreto os resultados indicaram que, para
misturas com até 20% de substituição, não ocorreu nenhum efeito adverso nas
propriedades do concreto. Nesse caso, efeitos desejáveis foram alcançados,
tais como desenvolvimento de alta resistência inicial, redução na
permeabilidade da água e apreciável resistência aos íons cloreto.
Cordeiro (2006) investigou concretos com cinza ultrafina do bagaço
(tamanho médio de partículas inferior a 10 μm). Duas classes de concretos
foram dosadas com relação à resistência à compressão aos 28 dias: concreto
de resistência convencional (25 MPa) e concreto de alto desempenho (60
MPa). Para ambas as classes de resistência, parte do cimento foi substituída
por cinzas ultrafinas nos teores de 10%, 15% e 20%. A influência da
substituição do cimento por cinza residual do bagaço nas características dos
18
concretos no estado fresco foi avaliada por ensaios de abatimento do tronco de
cone e em reômetro BTRHEOM. Verificou-se que o modelo de Bingham
mostrou-se adequado para descrever a reologia dos concretos convencionais
estudados por Cordeiro (2006). Os valores de abatimento mantiveram-se na
faixa estabelecida para o concreto de referência e a viscosidade plástica
também não apresentou modificações consideráveis. Os valores de tensão de
escoamento apresentaram decréscimo em razão do emprego da cinza residual,
em comparação à mistura de referência. Para os concretos de alto
desempenho com cinza ultrafina do bagaço, concluiu-se que a consideração
dos concretos no estado fresco como fluídos de Bingham também se revelou
adequada. A viscosidade plástica não foi expressivamente alterada. Entretanto,
a tensão de escoamento foi menor nos concretos com cinza ultrafina, o que
também indicou o efeito positivo do aditivo na reologia do concreto. A
substituição de cimento Portland por cinza ultrafina do bagaço proporcionou
aumento de valor de abatimento do tronco de cone para os concretos com
cinza ultrafina do bagaço.
Cordeiro et al. (2008) avaliaram o aumento da atividade pozolânica da
cinza do bagaço da cana-de-açúcar em função da redução do tamanho das
partículas. O estudo também fez um comparativo entre o comportamento de
argamassas com cinza do bagaço de cana-de-açúcar (MSCBA-T) e com um
material inerte (MCQ-T), quartzo, com a mesma granulometria. Assim,
verificou-se, isoladamente, o efeito fíler e o efeito da atividade pozolânica,
como mostra a Figura 2.4, sendo MPC a argamassa de referência. Os
resultados indicaram que a CBCA pode ser classificada como um material
pozolânico, mas a sua reatividade depende, significativamente, do tamanho e
finura de suas partículas.
19
Portland e método de Chapelle modificado). Os resultados sugeriram que a
CBCA possui propriedades adequadas para ser utilizada como pozolana.
Especificamente, uma cinza produzida com queima controlada a 600°C em
forno resistivo, e cominuída em moinho planetário, apresentou atividade
pozolânica adequada com vistas aos requisitos propostos na NBR 12653
(1992). A elevada atividade pozolânica da cinza do bagaço pode ser atribuída à
presença de sílica amorfa, ao reduzido tamanho de partículas, à elevada
superfície específica e à reduzida perda ao fogo.
50
Resistência à compressão (MPa)
40
Efeito de MPC
30 diluição
MSCBA-T
Efeito
pozolânico
MCQ-T
20
10
0 7 14 21 28 35 42 49
Tempo de cura (dias)
Figura 2.4 -Variação dos valores de resistência à compressão aos 28 dias (adaptado
de CORDEIRO et al., 2008).
20
resistência à compressão das amostras dos concretos. Com relação à
permeabilidade, quanto maior foi o teor de cinza empregado nos concretos,
menor foi a permeabilidade à água. A Tabela 2.5 apresenta os valores obtidos
de permeabilidade na pesquisa, onde se pode observar que os valores de
permeabilidade à água decresceram com o aumento do teor de CBCA nas
amostras. Esse efeito foi ainda maior nos ensaios realizados aos 90 dias.
Constatou-se, ainda, que os valores de temperatura máximas dos concretos
com 10, 20, e 30% de teor de cinzas foram menores de 13, 23 e 33%,
respectivamente, em comparação com os valores do concreto de referência.
Os resultados indicaram que CBCA pode ser utilizada como material
pozolânico em concretos com um aumento da resistência, menor evolução do
calor de hidratação e permeabilidade à água reduzida em relação ao concreto
de referência.
22
Tabela 2.7 - Composição química das cinzas da 1ª e 2ª coletas e suas requeimas
(PÁDUA, 2012).
Cinza do Cinza Cinza do Cinza
exaustor Requeima exaustor Requeima
Compostos
1ª coleta 1ª coleta 2ª coleta 2ª coleta
(%) (%) (%) (%)
SiO2 61,53 45,09 17,02 27,85
Al2O3 17,37 11,59 6,77 12,27
Fe2O3 10,57 37,22 13,41 11,10
CaO 2,92 2,32 11,76 5,78
SO3 0,45 0,0 7,0 8,09
K2O 2,63 1,11 33 21,97
SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 89,47 93,9 37,2 51,22
Perda ao fogo 20 10 50 30
23
3.PROGRAMA EXPERIMENTAL
24
Ensaios de calor de
Obtenção e moagem das cinzas
hidratação de pastas com
do bagaço
CBCA-1, CBCA-2 e CBCA-5
Ensaios de variação da
velocidade ultrassônica de
Caracterização dos materiais
pastas e concretos com
CBCA-1, CBCA-2 e CBCA-5
25
3.1.1. Cinzas do bagaço da cana-de-açúcar
26
Figura 3.3 - Retirada da cinza do bagaço durante uma operação de limpeza na Usina
Coagro (BARROSO, 2011).
27
cinzas selecionadas para este estudo. Uma nova cinza, denominada de CBCA-
3, foi obtida pela mistura em partes mássicas iguais da CBCA-1 e CBCA-2.
(a) (b)
Figura 3.4 - Moinho de bolas (Sonnex) do Laboratório de Estruturas do LECIV/UENF
(a) e detalhe dos corpos moedores de aço (b).
28
Figura 3.5 - Caldeira da Usina Santa Cruz.
29
Figura 3.6 - Caldeiras da Usina Agrovale – Juazeiro / BA.
a) b) c)
d) e) f)
Figura 3.7 – Coloração das cinzas CBCA-1 (a), CBCA-2(b), CBCA-3 (c), CBCA-4 (d),
CBCA-5 (e) e CBCA-6 (f).
30
3.1.2. Cimentos Portland
SiO2 15,5
Al2O3 4,5
Fe2O3 2,3
CaO 71,1
K2O 0,6
TiO2 0,4
SO3 3,4
Perda ao fogo 2,1
31
Tabela 3.2 - Características físicas e mecânicas do Cimento Portland de alta
resistência inicial (BARROSO, 2011).
Característica Valor
SiO2 20,9
Al2O3 4,2
Fe2O3 5,3
CaO 63,5
K2O 0,4
SO3 2,4
Perda ao fogo 1,1
32
3.1.3. Água
3.1.4. Agregados
33
100
80 Agregado graúdo
40
20
0
0,1 1 10 100
Abertura da peneira (mm)
34
3.2. Métodos de ensaios
35
2004), onde o objetivo é obter uma pasta compactada ao máximo através da
adição progressiva de água em um misturador até alcançar o estado capilar,
com formação de uma pasta homogênea e ausência de umidade na cuba do
equipamento.
A difração de raios X foi adotada para investigar a presença de material
amorfo e identificar as fases cristalinas nas cinzas do bagaço coletadas e
produzidas neste trabalho. Os ensaios foram realizados pelo método do pó, em
difratômetro Bruker D8 Focus do Laboratório de Estruturas da COPPE/UFRJ
com tubo de Cu-Kα (40 kV/40mA), coleta entre 10˚ e 60˚ (2θ), velocidade do
goniômetro de 0,03˚/passo e tempo de contagem de 1 s por passo.
O índice de atividade pozolânica foi calculado pela relação entre as
resistências médias à compressão, aos 28 dias, de corpos de prova de
argamassa com cinza e de argamassa composta apenas por cimento, areia e
água (NBR 5752, 1992). Relações mássicas entre areia-cimento e água-
cimento equivalentes a 3,00 e 0,52, respectivamente, foram empregadas em
todas as argamassas. Ao final do período de cura das argamassas, os corpos
de prova (quatro por mistura) foram submetidos à ruptura em prensa servo-
controlada Shimadzu UH-1000kNI do Laboratório de Estruturas da
COPPE/UFRJ, com velocidade de ensaio de 0,3mm/min.
Ensaios de espectroscopia vibracional de absorção no infravermelho
foram realizados para investigar a presença de sacarose nas cinzas estudadas,
utilizando-se o Espectrômetro Infravermelho de Transformada de Fourier
(FTIR), IRAffinity-1 Shimadzu (Figura 3.9) do Laboratório de Química da UENF,
operando na região 4000 a 400 cm -1, com resolução de 4cm-2. As amostras
foram analisadas, utilizando-se a técnica de pastilhas KBr. Essa técnica
consiste em preparar uma mistura com 0,5 a 1 mg com brometo de potássio,
um sal puro. A mistura foi triturada e prensada com o objetivo de formar uma
pastilha translúcida. O brometo de potássio (KBr) não absorve radiação
infravermelha, portanto as linhas espectrais obtidas serão, apenas, do material
ensaiado. A sacarose utilizada como padrão no ensaio de espectroscopia no
infravermelho foi fabricada pela Usina Coagro (Figura 3.10), que é a unidade
industrial de onde foi coletada a CBCA-1.
36
Figura 3.9 - Espectrômetro IRAffinity-1 com acessório ATR do Laboratório de Química
da UENF utilizado para os ensaios de espectroscopia no infravermelho.
37
minutos e colocadas em repouso por um período de 1 hora. A seguir, os
eletrodos foram mergulhados em cada suspensão homogeneizada e as leituras
de pH foram realizadas. Os ensaios foram realizados à temperatura ambiente
de 29˚C.
38
Figura 3.12 - Penetração da sonda Tetmajer durante o ensaio de consistência normal.
39
Figura 3.13 - Penetração da agulha de Vicat durante o ensaio de pega.
40
Tabela 3.5 - Composição das pastas de consistência normal segundo a NBR NM 43
(2003).
Consumo de Relação água-
Consumo de
PASTAS Cimento 3
material
3
CBCA (kg/m )
(kg/m ) cimentício
PV-REF 1360 0,42
PV-CBCA-1 10% 1441 107 0,32
PV-CBCA-1 20% 1344 224 0,30
PV-CBCA-1 30% 1143 326 0,33
PV-CBCA-2 10% 1435 117 0,32
PV-CBCA-2 20% 1313 242 0,31
PV-CBCA-2 30% 1114 352 0,34
PV-CBCA-3 10% 1461 114 0,31
PV-CBCA-3 20% 1318 231 0,31
PV-CBCA-3 30% 1171 352 0,31
PV-CBCA-4 10% 1428 133 0,32
PV-CBCA-4 20% 1260 264 0,33
PV-CBCA-4 30% 1129 406 0,32
PV-CBCA-5 10% 1431 127 0,32
PV-CBCA-5 20% 1266 253 0,33
PV-CBCA-5 30% 1119 383 0,33
PV-CBCA-6 10% 1452 132 0,31
PV-CBCA-6 20% 1263 259 0,33
PV-CBCA-6 30% 1115 392 0,33
41
medidor de pulso ultrassônico portátil “Pundit Lab”, Proceq do LECIV/UENF,
ilustrado na Figura 3.14, para o monitoramento das pastas desde a adição de
água até a fase inicial de endurecimento.
42
Figura 3.16 - Caixa acrílica cúbica e transdutores.
43
Figura 3.17 - Validação do equipamento de medição da velocidade de ultrassom.
3000
2500
Velocidade (m/s)
2000
P-REF-1
1500 P-REF-2
P-REF-3
1000
500
0
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Tempo (h)
44
Os resultados obtidos nos ensaios de velocidade ultrassônica estão de
acordo com as diferentes fases da teoria da hidratação do cimento, com a
transição de uma suspensão viscosa em material sólido poroso. Lee et al.
(2004) sugerem um modelo esquemático, indicado na Figura 3.19, para
representar a evolução típica da velocidade ultrassônica em argamassas e
concretos nas fases iniciais de hidratação. O modelo foi dividido em três fases.
Na Fase 1, o pulso ultrassônico propaga-se através de uma solução aquosa
viscosa onde são formados os primeiros hidratos. No momento em que a
formação de produtos hidratados é suficiente para a elevação da velocidade
ultrassônica, inicia-se a Fase 2. A propagação das ondas de ultrassom
aumenta com a transição de meio líquido para sólido e, na Fase 2, a
velocidade ultrassônica atinge valores próximos do máximo quando as
partículas de cimento estão mais unidas. Na Fase 3, há um desenvolvimento
lento da velocidade ultrassônica com a redução da taxa de hidratação,
restando uma quantidade menor de cimento a ser hidratada. Neste estudo, foi
adotado um modelo idêntico para determinação dos tempos de início e fim de
pega. Na Figura 3.19, os pontos de transição das fases, denominados A e B,
são determinados através do cruzamento de três linhas retas tangentes à
curva. Os pontos A e B obtidos representam as mudanças na microestrutura
das misturas e correspondem aos tempos tA e tB respectivamente.
B
Velocidade (m/s)
tA tB Tempo (min)
45
O parâmetro α avaliado nas curvas de variação de velocidade
ultrassônica foi obtido pela Equação 3. O parâmetro α indica o maior ganho de
velocidade ultrassônica entre os tempos tA e tB, ou seja, quanto maior o ângulo
α mais rapidamente ocorre a hidratação da pasta ou concreto.
46
Tabela 3.6 - Dosagens das pastas para ensaios de ultrassom.
Consumo de Relação água-
Consumo de Relação água-
PASTAS cimento 3
material
3
CBCA (kg/m ) cimento
(kg/m ) cimentício
P-REF 1306 0,45 0,45
P-CBCA-1 10% 1199 89 0,48 0,45
P-CBCA-1 20% 1088 181 0,52 0,45
P-CBCA-1 30% 972 277 0,58 0,45
P-CBCA-2 10% 1194 98 0,49 0,45
P-CBCA-2 20% 1079 199 0,53 0,45
P-CBCA-2 30% 959 303 0,59 0,45
P-CBCA-5 10% 1190 106 0,49 0,45
P-CBCA-5 20% 1071 214 0,54 0,45
P-CBCA-5 30% 948 324 0,60 0,45
47
Tabela 3.7 - Composição dos concretos.
Material (kg/m3) C-REF C-CBCA1 20% C-CBCA2 20% C-CBCA5 20%
Cimento 387,4 309,9 309,9 309,9
Cinza - 51,57 57,07 61,84
Água 229,3 229,4 229,3 229,3
Agregado miúdo 779,2 779,3 779,2 779,2
Agregado graúdo 893,7 893,8 893,7 893,7
Superplastificante 0,30 0,18 0,30 0,30
49
estudadas foram as adotadas nos ensaios de variação de velocidade
ultrassônica, sendo a pasta de referência denominada P-REF e as pastas com
cinza designadas de P-CBCA-X Y%, onde X indica o tipo de cinza (X = 1, 2 ou
5) e Y indica o teor de cinza utilizado (Y = 10, ou 30%) como pode ser
observado na Tabela 3.8.
.
Tabela 3.8 - Dosagens das pastas para ensaios de calorimetria.
Consumo de Relação água-
Consumo de Relação água-
PASTAS cimento 3
material
3
CBCA (kg/m ) cimento
(kg/m ) cimentício
P-REF 1306 0,45 0,45
P-CBCA-1 10% 1199 89 0,48 0,45
P-CBCA-1 30% 972 277 0,58 0,45
P-CBCA-2 10% 1104 98 0,49 0,45
P-CBCA-2 30% 959 303 0,59 0,45
P-CBCA-5 10% 1190 106 0,49 0,45
P-CBCA-5 30% 948 324 0,60 0,45
50
4.RESULTADOS
51
Tabela 4.1 - Composição química (percentual em massa), perda ao fogo das
diferentes cinzas do bagaço de cana-de-açúcar.
Composto CBCA-1 CBCA-2 CBCA-3 CBCA-4 CBCA-5 CBCA-6
SiO2 53,3 69,6 61,4 75,0 78,3 72,4
Al2O3 13,9 15,7 14,8 11,9 8,6 1,5
Fe2O3 4,4 5,7 5,1 3,9 3,6 3,8
CaO 1,5 1,3 1,4 1,0 2,2 6,2
K2O 2,4 2,2 2,3 3,3 3,5 11,3
SO3 1,6 1,6 1,6 1,9 - 2,3
P2O5 1,3 0,9 1,1 0,6 1,1 0,8
TiO2 0,8 0,9 0,8 0,5 0,5 0,2
Perda ao fogo 20,9 2,1 11,5 1,9 0,4 1,3
pH 5,7 7,1 6,3 10,3 9,5 12,2
52
100
80
Volume (%)
60
CBCA-1
CBCA-2
40
CBCA-3
CBCA-4
20 CBCA-5
CBCA-6
0
0,1 1 10 100 1000
Tamanho de partícula (µm)
2100 ▪
1750 ▪ quartzo
1400
Intensidade
1050
700
350 ▪
▪ ▪ ▪ ▪ ▪
0
5 20 35 50 65
Ângulo 2θ ( )
Figura 4.2 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-1.
2100
1750 ▪ quartzo
1400
Intensidade
▪
1050
700
350 ▪
▪
▪ ▪ ▪ ▪
0
5 20 35 50 65
Ângulo 2θ ( )
Figura 4.3 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-2.
54
2100
1750 ▪ quartzo
▪
1400
Intensidade
1050
700
350 ▪
▪ ▪ ▪ ▪
0
5 20 35 50 65
Ângulo 2θ ( )
2100 ▪
1750 ▪ quartzo
1400
Intensidade
1050
700
▪
350
▪
▪ ▪ ▪ ▪
0
5 20 35 50 65
Ângulo 2θ ( )
Figura 4.5 - Difratograma de raios X das cinza CBCA-4.
55
2100 ▪
1750 ▪ quartzo
▫ cristobalita
1400
Intensidade
1050
700
▪
350 ▪
▫ ▪ ▪ ▪
▪ ▪
0
5 20 35 50 65
Ângulo 2θ ( )
Figura 4.6 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-5.
2100
1750 ▪ quartzo
▫ cristobalita
1400
Intensidade
▪
1050
700
350 ▪
▫ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪
0
5 20 35 50 65
Ângulo 2θ ( )
Figura 4.7 - Difratograma de raios X da cinza CBCA-6.
56
4.1.4. Atividade pozolânica e compacidade das argamassas
57
100
95
94
80 77
72
70
70
60
50
CBCA-1 CBCA-2 CBCA-3 CBCA-4 CBCA-5 CBCA-6
Figura 4.8 - Valores de índice de atividade pozolânica das cinzas do bagaço da cana-
de-açúcar. A linha tracejada indica o valor mínimo de índice estipulado na NBR 12653
(1992).
0,7000
0,6900
Compacidade
0,6700 0,6684
0,6600
0,6500
A-REF A-CBCA-1 A-CBCA-2 A-CBCA-3 A-CBCA-4 A-CBCA-5 A-CBCA-6
58
4.1.5. Presença de sacarose por espectroscopia no infravermelho
100
CBCA-1
50
0-100
CBCA-2
Transmitância (%)
50
0-100
CBCA-5
50
0-100
50
Sacarose
0
4000 3000 2000 1000 0
Número de ondas (cm -1)
60
12
9,7
10
Tempo de início de pega (h)
8
6,9
6,0
5,7
6
4,8
4,5
4
3,0 2,9 2,9 3,0
2,7 2,5
2,4 2,3 2,3 2,3 2,3 2,4
2,2
0
PV-REF 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30%
Figura 4.11 - Valores de tempos de início de pega das pastas de consistência normal.
18
15,4
14,5
15
Tempo de fim de pega (h)
12
9,4
8,8 8,9
9
6,1
6
4,2 4,2 4,4
4,1 4,0
3,8 3,8 3,6 3,6
3,2 3,4 3,5 3,3
3
0
PV-REF 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30% 10% 20% 30%
Figura 4.12 - Variações de tempo de fim de pega das pastas de consistência normal.
25
20
y = 4,32x - 8,61
R² = 99%
Início de pega
tempo (h)
15
Fim de pega
10
y = 2,93x - 6,96
5 R² = 94%
0
0 4 8 12 16
Perda ao f ogo (%)
Figura 4.13 - Correlação entre os valores de perda ao fogo das cinzas e os tempos de
início e fim de pega das pastas com 10% das respectivas cinzas.
25
20 y = 4,17x - 9,93
R² = 94% Início de pega
Tempo (h)
15 Fim de pega
10
5
y = 1,707x - 4,8875
R² = 98%
0
0 4 8 12 16
Perda ao f ogo (%)
Figura 4.14 - Correlação entre os valores de perda ao fogo das cinzas e os tempos de
início e fim de pega das pastas com 20% das respectivas cinzas.
62
25
20
y = 2,74x - 4,83
R² = 94%
Início de pega
Tempo (h)
15
Fim de pega
10
5 y = 1,86x - 5,82
R² = 98%
0
0 4 8 12 16
Perda ao f ogo (%)
Figura 4.15 - Correlação entre os valores de perda ao fogo das cinzas e os tempos de
início e fim de pega das pastas com 30% das respectivas cinzas.
63
o tempo tA da pasta de referência. As outras misturas apresentaram valor
médio de tA próximo ao observado para a referência como mostra a Tabela 4.3.
3500
3000
2500
Velocidade (m/s)
P-REF
2000 P-CBCA-1 10%
P-CBCA-2 10%
1500
P-CBCA-5 10%
1000
500
0
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Tempo (h)
Tabela 4.3 - Parâmetros tA, tB e α obtidos a partir dos ensaios de ultrassom de pastas.
Pastas Parâmetro tA(h) Parâmetro tB (h) α (˚)
P-REF 2,4 12,5 69,0
P-CBCA-1 10% 8,5 21,7 66,1
P-CBCA-2 10% 2,6 13,0 70,3
P-CBCA-5 10% 2,7 12,8 69,2
P-CBCA-1 20% 19,7 29,7 54,9
P-CBCA-2 20% 3,0 14,5 68,7
P-CBCA-5 20% 3,0 13,3 71,7
P-CBCA-1 30% 29,2 37,3 58,2
P-CBCA-2 30% 2,8 15,8 62,4
P-CBCA-5 30% 3,2 16,2 64,3
3500
3000
2500
Velocidade (m/s)
2000 P-REF
P-CBCA-1 20%
1500
P-CBCA-2 20%
P-CBCA-5 20%
1000
500
0
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Tempo (h)
3500
3000
2500
Velocidade (m/s)
2000
P-REF
P-CBCA-1 30%
1500
P-CBCA-2 30%
1000 P-CBCA-5 30%
500
0
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Tempo (h)
25
20 y = 1,5483x + 6,8949
R² = 96%
10
5 y = 1,3434x - 0,8785
R² = 97%
0
0 3 6 9 12 15
Tempo de pega (h)
Figura 4.19 - Correlação entre os tempos de início e fim de pega dos ensaios de Vicat
e os tempos tA e tB dos ensaios de variação de velocidade ultrassônica das pastas com
10% das respectivas cinzas.
67
40
y = 2,1458x + 6,1267
35 R² = 0,97%
30
Parâmetros t A e t B (h)
25
20
Tempo de início de pega
15 Tempo de fim de pega
10
y = 3,6877x - 6,7335
5 R² = 99%
0
0 3 6 9 12 15
Tempo de pega (h)
Figura 4.20 - Correlação entre os tempos de início e fim de pega dos ensaios de Vicat
e os tempos tA e tB dos ensaios de variação de velocidade ultrassônica das pastas com
30% das respectivas cinzas.
68
4500
4000
3500
3000
Velocidade (m/s)
2500
C-REF
2000
C-CBCA-1 20%
1500 C-CBCA-2 20%
C-CBCA-5 20%
1000
500
0
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Tempo (h)
70
35
y = 1,1801x - 2,3528
30 R² = 96,7%
15 ta (h)
tb (h)
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35
t A, t B (pasta)
71
6,0
5,0
4,5
2,9
3,0
2,0
1,0
0,0
C-REF C-CBCA1 C-CBCA2 C-CBCA5
10
Referência
P-CBCA-1 (10%)
8
P-CBCA-2 (10%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-5 (10%)
6
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.24 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas com
teores de 10% de cinzas - base sólidos.
73
O calor acumulado das misturas com substituição de 10% da massa de
cimento por volume equivalente de cinzas está apresentado na Figura 4.25. No
período de aceleração, a cinza CBCA-1 10% atingiu o menor valor de calor
liberado, comparando-se com as outras cinzas e a pasta de referência. A partir
do período de pós-aceleração, os valores de calor acumulado da mistura P-
CBCA-1 10% se equipararam aos valores das outras pastas e, após 72 horas,
atingiram 278,0 J/g. As pastas referência, P-CBCA-2 10% e P-CBCA-5 10%
alcançaram, respectivamente, 294,8 J/g, 287,0 J/g e 283,8 J/g.
350
300
Calor acumulado (J/g)
250
200
150
Referência
100 P-CBCA-1 (10%)
P-CBCA-2 (10%)
50 P-CBCA-5 (10%)
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.25 - Calor acumulado até 72 horas da pasta de referência e das pastas com
teores de 10% de cinzas - base sólidos.
10
Referência
P-CBCA-1 (30%)
8
P-CBCA-2 (30%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-5 (30%)
6
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.26 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas com
teores de 30% de cinzas - base sólidos.
75
O calor acumulado das misturas com substituição de 30% de cimento
por volume equivalente de cinzas está apresentado na Figura 4.27. Durante o
período de aceleração, para a cinza CBCA-1, também foram obtidos valores
menores de calor acumulado, comparando-se com as outras cinzas e a pasta
de referência. Os valores das pastas P-CBCA-2 30% e P-CBCA-5 30% se
mantiveram abaixo dos valores medidos para a pasta de referência, mas com
uma diferença ainda maior, comparando-se com os valores das CBCAs 10%.
Os valores de calor acumulado das pastas com cinzas CBCA-2 30% e CBCA-5
30% menores do que os da pasta de referência estão de acordo com o
esperado. Mehta e Monteiro (2008) mostraram que o aumento dos teores de
pozolana no cimento faz a hidratação ocorrer de maneira mais lenta e reduz o
calor de hidratação. Hoppe Filho (2008) utilizou uma pasta com 50% de cinza
volante e observou uma redução de 40% do calor liberado acumulado em
relação à pasta de cimento puro. Os ensaios de calorimetria isotérmica
realizados por Tydlitát et al. (2012) em pastas com substituição de 20, 40 e
60% de cimento Portland por cerâmica fina, em massa, mostraram que ocorre
uma diminuição do calor de hidratação dessas pastas, comparando-se com
uma pasta sem adição. A pasta com 60% de material cerâmico diminui o valor
do calor de hidratação à metade do valor obtido para a pasta de referência.
350
300
Calor acumulado (J/g)
250
200
150
Referência
100 P-CBCA-1 (30%)
P-CBCA-2 (30%)
50 P-CBCA-5 (30%)
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.27 - Calor acumulado até 72 horas da pasta de referência e das pastas com
teores de 30% de cinzas - base sólidos.
76
Como pode ser observado na Figura 4.28, onde estão apresentadas as
curvas de fluxo de calor em base cimento, o pico do estágio de aceleração é
menor para as misturas com CBCA-1. Neste caso, houve uma menor formação
de hidratos nessas misturas em relação à referência até as primeiras 72 horas,
pois o fluxo de calor foi menor, indicando o efeito da pozolana no retardo.
10
Referência
8 P-CBCA-1 (10%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-1 (30%)
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.28 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas P-CBCA-
1 10%, P-CBCA-1 30% - base cimento.
10
Referência
8 P-CBCA-2 (10%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-2 (30%)
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.29 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e da pasta P-CBCA-2
10%, P-CBCA-2 30% - base cimento.
78
10
Referência
8 P-CBCA-5 (10%)
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.30 - Fluxo de calor até 72 horas da pasta de referência e das pastas P-CBCA-
5 10% e P-CBCA-5 30% - base cimento.
79
350
300
200
150
Referência
100 P-CBCA-1 (10%)
P-CBCA-1 (30%)
50
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.31 - Calor acumulado das pastas CBCA-1 10% e 30% - base cimento.
400
350
300
Calor acumulado (J/g)
250
200
150 Referência
50 P-CBCA-2 (30%)
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.32 - Calor acumulado das pastas CBCA-2 10% e 30%.- base cimento.
80
A cinza CBCA-5 tem um comportamento similar ao da cinza CBCA-2
com liberação de mais calor do que a referência, Figura 4.33. Mas,
diferentemente da cinza CBCA-2, o motivo para tal efeito está associado à
composição de sílica da cinza, também indicada na Tabela 4.1.
400
350
300
Calor acumulado (J/g)
250
200
150 Referência
50 P-CBCA-5 (30%)
0
0 20 40 60 80
Tempo (h)
Figura 4.33 - Calor acumulado das pastas CBCA-5 10% e 30% - base cimento.
81
10
Referência
P-CBCA-1 (10%)
8
P-CBCA-2 (10%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-5 (10%)
6
0
0 2 4 6 8 10 12
Tempo (h)
Figura 4.34 - Fluxo de calor e tempos de início e fim de pega (Vicat) da pasta de
referência e das pastas com teores de 10% de cinzas - base sólidos.
10
Referência
P-CBCA-1 (30%)
8
P-CBCA-2 (30%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-5 (30%)
6
0
0 5 10 15 20
Tempo (h)
Figura 4.35 - Fluxo de calor e tempos de início e fim de pega (Vicat) da pasta de
referência e das pastas com teores de 30% de cinzas - base sólidos.
82
Neste caso, os tempos tA ficaram localizados no estágio de aceleração da
hidratação das misturas, enquanto os tempos tB ficaram localizados na pós-
aceleração. A pasta CBCA-1 30% também, nesta análise, teve comportamento
discrepante das demais.
10
Referência
P-CBCA-1 (10%)
8
P-CBCA-2 (10%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-5 (10%)
6
0
0 5 10 15 20 25
Tempo (h)
83
10
Referência
P-CBCA-1 (30%)
8
P-CBCA-2 (30%)
Fluxo de calor (W/kg)
P-CBCA-5 (30%)
6
0
0 10 20 30 40
Tempo (h)
84
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. Conclusões
85
Os ensaios de calorimetria isotérmica mostraram que a utilização de
cinzas pozolânicas com diferentes teores de carbono resultou em alterações
significativas nas taxas de liberação de calor e na cinética de hidratação. Neste
caso, verificou-se redução da velocidade para a cinza com baixa reatividade
(CBCA-1) e aumento do calor de hidratação para cinzas com alta reatividade
(CBCA-2 e CBCA-5).
86
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
87
BULLARD, J. W.,JENNINGS, H. M., LIVINGSTON, R. A., NONAT, A.,
SCHERER, G. W., SCHWEITZER, J. S., SCRIVINER, K. L., THOMAS, J.
J., 2011, “Mechanisms of cement hydration”. Cement and Concrete
Research, v.41, pp. 1208-1223.
DE LARRARD, F., HU, C., SEDRAN, T., SZITKAR, J. C., JOLY, M., CLAUX, F.,
DERKX, F., 1997, “New rheometer for soft-to-fluid fresh concrete”, ACI
Materials Journal, v. 94, n. 3, pp. 234 243.
88
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de
Pesquisa de Solos On-line. Disponível na Internet:
http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Manual+de+Metodos.
Consultado em 04 de fevereiro de 2013.
HOPPE FILHO, J., 2008, “Sistema cimento, cinza volante e cal hidratada:
mecanismo de hidratação, microestrutura e carbonatação de concreto”.
Tese de Doutorado, Escola Politécnica/USP/, São Paulo, Brasil, 316.p.
89
LASKAR, A. I., TALUKDAR, S., 2007, “Rheological behavior of high
performance concrete with mineral admixtures and their blending”.
Construction and Building Materials, v. 22, pp.2345–2354.
LEE, H. K., LEE, K. M., KIM, Y.H., BAE, D. B., 2004, “Ultrassonic in-situ
monitoring of setting process of high-performance concrete’, Cement
Concrete Research, v. 34, pp. 631-640.
NEVILLE, A. M., 1997, Propriedades do concreto, São Paulo: Editora PINI, 828
p.
90
PÁDUA, P. G. L., 2012, “Desempenho de compósitos cimentícios fabricados
com cimentos aditivados com cinzas de cana-de-açúcar in natura
beneficiadas”, UFMG, MG.
ROBEYST, N., GROSSE, C.U.; DE BELIE, N., 2009, “Measuring the change in
ultrasonic p-wave energy transmitted in fresh mortar with additives to
monitor the setting”” – Cement and Concrete Research, v. 39, pp.868 - 875.
SINGH, N. B., SINGH, V. D., RAI, S., 2000, “Hydration of bagasse ash-blended
Portland cement”, Cement and Concrete Research, v. 30, n. 9, pp. 1485-
1488.
TRTNIK, G., TURK, G., KAVCIC, F., BOSILJKOV, V. B., 2008, “Possibilities of
using the ultrasonic wave transmission method to estimate initial setting
time of cement paste ”, Cement and Concrete Research, v. 38, pp. 1336 -
1342.
YOUNG, J. F., MINDESS, S., GRAY, R. J., BENTUR, A., 1998, The science
and technology of civil engineering materials, New Jersey: Prentice Hall,
384 p.
91