O Papel Da Vitima No Processo Penal
O Papel Da Vitima No Processo Penal
O Papel Da Vitima No Processo Penal
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Sumário
Introdução ........................................................................................................ 3
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NOSSA HISTÓRIA
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Introdução
As vítimas de infrações penais têm sido, desde a Idade Média – quando tiveram
a sua atuação neutralizada pela ação do Estado moderno –, relegadas às margens
do processo penal.
É, porém, nos casos de ação penal pública incondicionada, que nos ateremos,
realizando uma análise a respeito da figura do assistente da acusação, instituto
processual penal que, em que pese altamente controvertido entre a doutrina e a
jurisprudência pátrias, tem tomado corpo e ganhado força com o passar dos anos –
acompanhando a tendência mundial de revalorização da vítima –, fixando-se como
importante ferramenta de intervenção supletiva do ofendido ao lado do representante
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estatal titular da ação penal pública, na busca pela correta aplicação da lei penal, e
auxiliando a acusação na seara penal para garantir os reflexos da sentença penal em
sede civil.
Conceito de vítima
Ofendido ou vítima é a pessoa – física ou jurídica – que suporta os danos
decorrentes da infração penal; é o sujeito passivo da infração penal; também
considerado sujeito passivo mediato, tendo em vista que o Estado é, sempre, o sujeito
passivo genérico e imediato.
Para atuar em juízo, o ofendido precisa ter capacidade processual, que adquire
aos 18 anos e desde que não seja mentalmente enfermo ou retardado, conforme
disposto nos arts. 33 e 34, do CPP; caso contrário, o direito será exercido por seu
representante legal ou curador especial.
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Vitimologia: antecedentes históricos, atualidade e
perspectivas
De acordo com Jaume Sole Riera , foi a partir de 1973, quando aconteceu, em
Jerusalém, o primeiro Simpósio Internacional de Vitimologia, que começaram a
aparecer as primeiras investigações científicas sobre o tema, de forma autônoma, isto
é, um tratamento particularizado do assunto, em direção a uma melhor atenção à
vítima no processo penal. Seria, em verdade, uma fase de ‘redescobrimento’, como
analisa Ana Sofia S. Oliveira, porquanto a vítima já tivera maior atenção na
Antiguidade, antes de entrar em período de longo esquecimento.
Fauzi Hassan Choukr assevera que essa Resolução evidencia que, para além
da necessária proteção, a vítima também deve assumir deveres na nova ordem
processual, com maior poder de interferência no destino da ação ou da investigação
preparatória.
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Assim é que, ao impacto de graves ocorrências criminais, com ampla
repercussão na mídia em virtude da condição social das vítimas, o legislador editou
leis mais severas, de que são exemplos, no Brasil, dentre outras, as Leis 8.072/90 e
8.930/94, a primeira instituindo a Lei dos Crimes Hediondos e a segunda ampliando-
lhe o rol, na linha preconizada pelo chamado movimento da Lei e da Ordem, mas que
não repercutiram em favor das vítimas, porque não consideram outros reflexos
decorrentes do crime, como, por exemplo, no que respeita ao aspecto de reparação
do dano.
É importante lembrar que o Direito Penal prevê várias medidas que revelam
preocupação com a vítima, consistentes em estimular a indenização como forma de
obtenção de benefícios legais, tais como o sursis (CP, art. 78 § 2º), o livramento
condicional (CP, art. 83, IV), a reabilitação criminal (CP, art. 94, III) ou a diminuição
da pena (CP, art. 16).
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Público dará assistência aos herdeiros e dependentes carentes de pessoas
vitimizadas por crime doloso, sem prejuízo da responsabilidade civil do autor do
delito”, cuja redação teria sido influenciada pelo movimento vitimológico.
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De outro lado, sob a inspiração do Programa Nacional, o Governo do Estado
de São Paulo promoveu a elaboração do Programa Estadual de Direitos Humanos
(PEDH), com a participação de centenas de entidades da sociedade civil e aprovado
pelo Decreto n. 42.209, de 15 de setembro de 1997. Esse mesmo texto criou uma
Comissão formada por representantes da sociedade civil e do Governo com a
atribuição de acompanhar e incentivar a implementação do Programa.
Histórico do assistente
O assistente da acusação, ou ainda, assistente do Ministério Público, é uma
figura processual de há muito debatida na vida jurídica e acadêmica do nosso País,
uma vez que dela participa desde antes da promulgação do Código de Processo
Penal brasileiro.
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interesses como assistente do promotor de justiça, intervindo antes, ou até depois da
sentença, como o disposto no art. 7º daquele Caderno processual.
Não é, contudo, o que entende Scarance Fernandes (1995, p.132), que se volta
ao Código Penal de 1890 para afirmar que o assistente foi ali recepcionado, diante da
referência expressa feita pelo legislador no sentido de autorizar a participação do
ofendido nos processos iniciados por denúncia, ou por ato ex officio para auxiliar a
acusação (art. 408 do Código Penal), mas sem fazer constar no que consistiria tal
auxílio.
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Finaliza o autor dizendo que o Código de Processo Penal do Rio Grande do
Sul não falava em assistente como auxiliar da acusação, referindo-se à possibilidade
do ofendido intervir “para defender o seu direito como assistente”.
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cuja atividade subordinam a sua intervenção no processo, salvas as exceções da lei”.
Auxiliam, portanto, no exercício da pretensão punitiva (Santos, 1998, p. 158).
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No Paraguai, a legislação processual penal estabelece, além de todos os
direitos concedidos à vítima previstos no art. 68 do Diploma processual penal,
regramento específico para oportunizar a atuação do ofendido no processo. Para isso,
estipula, em seu art. 69, a figura do querellante adhesivo, o qual possui relativa
independência do órgão ministerial e não tem a sua existência vinculada à obtenção
da reparação civil. Contudo, a lei é clara em não permitir que as entidades do setor
público ocupem essa posição, pois é o Ministério Público o legitimado a representar
os interesses do Estado.
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Assim, apesar da crítica de Lozzi (2008, p. 130):
O autor refere que, apesar de ser lógico que se deixe a cargo do Ministério
Público o tema de demonstrar a responsabilidade do acusado, em um sistema
processualpenalístico – no qual o julgado penal exercita uma eficácia vinculante no
juízo civil ou administrativo –, é inevitável que se preveja a inserção da ação civil no
processo penal, pois, do contrário, o titular do direito de ressarcimento poderia ver
frustrada a sua pretensão no juízo cível, em face de uma decisão da esfera penal da
qual não lhe foi concedida a oportunidade de participar.
Por fim, na Alemanha, permite-se que a vítima adira à acusação pública, como
explica Scarance Fernandes (1995, p. 128):
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que supõe tenha o Ministério Público, ainda que se tratasse
deste tipo de delito, decidido promover a ação pública (§§37 e
377); quem é pai, filho, irmão ou cônjuge de alguém morto em
decorrência de uma conduta punível e, por último, quem
mediante uma “instância” penal pediu ao Ministério Público a
promoção da ação pública e, diante de sua negativa, utilizou
com êxito do remédio do §172, conseguindo uma resolução
jurisdicional que obrigou o Ministério Público a promover a ação
penal”. Atua o ofendido como auxiliar da acusação, mas, quanto
ao recurso e à revisão criminal, tem poder autônomo de
impugnação ou proposição, vindo aqui a se constituir substituto
processual (§ 395 e § 401).
Natureza jurídica
A natureza jurídica da figura sob análise é, e sempre foi, controvertida na
doutrina brasileira.
Fátima Zyiade (1993, p. 23), identifica quatro correntes que divergem em sua
definição: a primeira considera o instituto da assistência como “parte civil”, apoiando-
se nos ensinamentos de Joaquim Canutto Mendes de Almeida, que adota posição
isolada no sentido de equiparar a posição do assistente com aquela do ofendido-
apelante, do ofendido-querelante na ação penal privada e do ofendido propositor da
ação penal subsidiária, com o que todos esses institutos deveriam estar reunidos sob
a denominação de “parte civil”, uma vez que buscam, de forma exclusiva, os efeitos
civis resultantes da ação penal.
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principal. Relembra, ainda, que não existe parte civil no processo penal brasileiro,
como se vê da exposição de motivos do Código de Processo Penal – item VI.
Não obstante, Capez (2006, p. 185), é um dos que rechaça tal definição, ao
considerar que, no processo penal, há as partes necessárias (para a existência
processo) e as contingentes (autorizadas pela lei a participarem do processo, mas
que, contudo, não são necessárias para que este exista e se desenvolva
validamente). É nesse ponto, segundo sua doutrina, que se situa o assistente da
acusação.
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Por fim, o último entendimento doutrinário que se vislumbra, no que tange à
natureza jurídica da figura do assistente da acusação, é o que mais se difunde na
doutrina brasileira. Leciona-se que tal instituto funciona como “parte adesiva” à
acusação, em uma intervenção de natureza litisconsorcial de natureza contingente,
uma vez que não se mostra imprescindível à existência do processo e à sua validade,
mas que nele atua por força de um reconhecido direito de intervenção (Patente, 2002,
p. 18).
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próprio ofendido, seu representante legal – em caso de incapacidade – ou, sendo ele
morto ou ausente, aqueles parentes enumerados no art. 31 do Código de Processo
Penal.
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9.099/95), como dispõem os arts. 60 e 61 daquela Lei, nada mais justo do que o
assistente poder atuar nas outras hipóteses atendidas pela Lei nº 9.099/95, quais
sejam, as dos delitos com pena máxima cominada em abstrato não superior a 2 (dois)
anos. Pois, ainda que a lei não faça expressa referência a respeito da participação do
assistente do Ministério Público, seu art. 92 manda aplicar, subsidiariamente (não
havendo incompatibilidades), as disposições do Código de Processo Penal, com o
que se verifica a possibilidade da presença do assistente nos feitos sujeitos ao rito do
JECRIM (Hamilton, 2003, p. 226).
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REFERÊNCIAS
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
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CÓDIGO Procesal Penal de Paraguay. Disponível em: . Último acesso em: 10
out. 2010.
FARIA, Bento de. Código de processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Record,
1960. v. II.
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
JESUS, Damásio E. Código de processo penal anotado. 23. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
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LOPES Jr., Aury. Direito Processual penal e sua conformidade constitucional.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. V. II.
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de processo penal. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2009.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. 21. ed. São Paulo: Atlas,
2004.
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ROSA, Inocêncio Borges da. Processo penal brasileiro. Porto Alegre: Livraria
do Globo, 1942. V. II.
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