Relaçãopaiefilhoapósaseparação
Relaçãopaiefilhoapósaseparação
Relaçãopaiefilhoapósaseparação
Criar bem um filho. É o que todo pai espera de si mesmo. Mas, nessa tarefa tão
difícil, será que as experiências dos amigos ou parentes funcionam? E os conselhos
dos especialistas? Vale segui-los? Na opinião dos psicólogos e psicoterapeutas, os
pais modernos são mais participativos, menos autoritários e machistas e muito
mais interessados na educação dos filhos. A psicóloga paulista Olga Inês Tessari
fala sobre a relação dos filhos com os pais separados
Como agir com os filhos quando o casamento acaba? Como ficam os encontros
familiares? É possível manter uma relação saudável com as crianças, mesmo os
pais vivendo separados? São questões que estão sempre na ponta da língua diante
de psicólogos e psicoterapeutas. Eles alertam porém que toda separação de pais
acarreta reação dos filhos. É ruim para eles que os pais se separem, mas é muito
melhor a ausência física do pai do que enfrentar conflitos diários entre ele e a mãe.
O POVO - Como deve ser trabalhada a separação dos pais? É possível minimizar
nos filhos o trauma da separação?
Olga Inês Tessari - Na verdade, a separação dos pais deve ser uma coisa tratada
em particular, nunca na frente dos filhos. Por que o grande problema é quando os
pais discutem na frente das crianças que ficam querendo tomar o partido de um ou
de outro. Muitas vezes o pai ou a mãe usa a criança de chantagem contra o outro.
Então o ideal seria que o casal resolvesse a separação longe da presença das
crianças. E aí o fato seria comunicado a elas, mantendo um clima de cordialidade.
OP - No caso dos filhos presenciarem uma separação conflituosa dos pais, isso
pode influir na vida futura deles?
OIT -Sim. Numa separação traumática, onde os pais usam as crianças, um contra
o outro, pode haver distúrbios emocionais que influenciarão no desenvolvimento da
criança. O primeiro sintoma de que ela não está bem emocionalmente se percebe
na escola. Ela chora, há crianças que se tornam mais agressivas, brigam com os
outros coleguinhas.
OP - Mas, não é melhor a criança conviver com os pais separados do que no meio
de uma relação cheia de brigas e discórdias?
OIT - É muito melhor. O filho, mesmo que os pais disfarcem, percebe o clima
quando não está bem. Eu já ouvi uma criança dizer: 'eu não sei porque meu pai e
minha mãe não se separam. Os dois não se dão bem'. As crianças são
capazes de encarar a separação com muito mais naturalidade do que os adultos.
OP - Como os pais devem agir com relação a educação das crianças, no caso de
estarem separados?
OIT - Quanto à educação, os pais estando juntos ou separados, os dois têm de
falar a mesma língua, u seja, concordarem entre si. Então, por exemplo, se o pai
disse não, a mãe, por mais que discorde, na frente da criança ela deve falar: ''papai
disse que não''. Eles não podem discordar entre si diante da criança, porque ela
percebe e começa a jogar com os pais. Um exemplo: o filho vai pedir ao pai para
jogar videogame e ele diz não.A criança então vai pedir à mãe porque sabe que ela
vai dar o videogame pra ele e pronto. A criança é muito inteligente. Ela percebe
muito bem quando pode manipular seus pais a seu favor. Então os pais devem ser
muito coerentes. Mesmo separados, eles devem conversar. O pai, que
normalmente é quem vê menos o filho, deve pedir para ver os cadernos, conversar
com ele, saber se estar tudo bem. Pai e mãe têm de concordar um com o outro. Se
eles discordam de alguma coisa que conversem em separado, longe dos filhos. Na
frente deles os pais nunca podem tirar a autoridade de um e nem de outro.
OP - Ainda existem casos em que a mãe joga a culpa da separação nos filhos?
OIT - Olha, existe. Infelizmente ainda há mulheres que engravidam pra se casarem
ou para manterem seus casamentos. Para elas, quando o casamento chega ao fim,
acaba a necessidade de ter o filho. Porque esse filho era o elo que a ligava ao
marido. Muitas vezes, ela passa a não tratar bem essa criança, passa a desprezá-
la, a achar que ela é a culpada da separação.
OP - E qual deve ser a postura da mãe, mesmo que ela fique com raiva, não queira
a separação?
OIT - Ela não pode é falar mal do pai. Porque uma coisa é o que o marido dela está
fazendo com ela. Outra coisa é o pai dos seus filhos. O melhor é ficar neutra. Não
ficar sondando. Por exemplo, tem mãe que manda as crianças saírem com o
pai quando percebe que ele vai namorar, manda as crianças passarem o fim de
semana com ele. Depois fica perguntando pra onde ele foi, o que falou, o que fez.
Isso não deve ser feito nunca.
OP - E quando o pai fica com a guarda dos filhos. Como é a reação dele? Procura
ajuda de especialista?
OIT - Não necessariamente. Só se ele perceber que não está conseguindo dar
conta do recado, não está conseguindo ter o controle da situação. Se ele não está
conseguindo lidar bem com as crianças, conviver bem com elas. Mas, normalmente,
o pai que assume cuidar das crianças é uma pessoa bem equilibrada, centrada, que
vai educar bem dos filhos.
OIT - Isso depende muito do lugar onde a gente está. Depende da cultura, dos
costumes, do ambiente familiar. Mas, em geral, os homens hoje estão menos
machistas do que eram antes. Até porque a mulher teve muitas conquistas. Hoje,
ela trabalha fora, divide as funções domésticas com o marido.
OP - Pode-se fazer um perfil do pai atual?
OIT - O pai atual é mais participativo. Ele leva as crianças pra escola, faz o jantar.
Participa mais no todo. Acompanha o desempenho escolar das crianças e sai pra
passear com elas.
Nessa busca, aqueles que são pais tentam ansiosamente desempenhar um novo
papel junto à sociedade e aos filhos. A situação fica ainda mais complicada quando
o casal vive separado e os encontros familiares acontecem em horários restritos,
definidos pela fria justiça. Mas muitos pais tem conseguido manter uma relação
saudável com os filhos, mesmo sem conviver com eles.
Foi essa a conclusão a que chegou o engenheiro Gilberto Páscoa Júnior, 44 anos,
pai de Lara Macedo Pascon, de 9 anos. O casamento de Gilberto ia muito mal
quando ele optou pela separação, antes mesmo de Lara completar 6 anos. Hoje,
passados três anos, a menina é alegre e comunicativa e, embora não veja o pai
todos os dias (ele mora em São Paulo e ela em Piracicaba, distante 240 km),
mantém com ele uma relação afetiva sólida, capaz de se manifestar em
permanentes declarações de amor.
FORMAS DE VINGANÇA
Não se trata de transformar os homens em vítimas, mas Olga lembra que, apesar
das conquistas femininas das últimas décadas, a tendência da maioria quase
absoluta das mulheres, diante de uma separação, é jogar os filhos contra o pai, ou
por mágoa, ou por insegurança, ou por frustração.
O pai representa, simbolicamente, a lei, aquele que impõe limites. Essa função
paterna de proibir pode frustrar, mas é exercida para o benefício de toda a família.
A criança aprende a ouvir o não, conhece limites. Desautorizar o pai é a mais
agressiva forma de vingança de uma mulher contra o ex-marido e a mais
prejudicial postura contra seus filhos alerta a psicóloga.
Como os homens devem reagir diante de uma situação como essa?
Gilberto Pascon Júnior concluiu que a melhor estratégia é não reagir. Diante de
uma recente ação judicial da ex-mulher para reduzir o número de visitas dele para
a filha, o engenheiro optouu por não recorrer. Percebi que situações como essas
estressavam muito Lara. Perdi algumas horas da disponibilidade de convívio com
ela, mas procuro compensar esse tempo com qualidade de relacionamento.
Aproveito ao máximo, com bom humor e prazer, todos os minutos que estou com
minha filha, diz.
Mas pior seria insitir na desavença. Para o bem dos filhos, os pais devem tentar
manter uma relação cordial e ser concordantes em atitudes.
Desafio Diário
Ser pai distante e demonstrar afetividade é difícil para o homem.
Publicado no Diarioweb
São José do Rio Preto, 13 de fevereiro de 2005
O estigma de que filhos de pais separados sofrem mais, têm menor rendimento
escolar, mais problemas emocionais e auto-estima mais baixa que os filhos de
casais que permanecem juntos tem caído por terra. Existem situações em que as
crianças sentem-se melhor com a separação dos pais. No momento da separação
há um certo trauma porque nenhum filho quer ver os pais divorciados. Porém, com
o tempo essas crianças ganham experiências e sentimentos valiosos, nem sempre
vivenciados por outras. A psicóloga, terapeuta de família e de casais do Rio de
Janeiro, Maria Cristina Milanez Werner, doutoranda em saúde mental e vice-
presidente da Associação de Terapia do Rio de Janeiro, afirma que muitas crianças
se sentem aliviadas com a separação dos pais. Mas isso não impede que elas
sintam-se frustradas de não terem mais pai e mãe juntos.
"Nos casos em que a situação no lar é insustentável, em que a criança vive no meio
de brigas, discórdias, uso de álcool, drogas, enfim num ambiente caótico e
amedrontador, ela sente alívio quando termina e fica longe de tudo isso", afirma. A
psicóloga acredita que é necessário desmistificar a visão maniqueísta do bem e do
mal absoluto. Ou seja, quando se trata de comportamento nada é 100% bom ou
ruim. "O fato é que toda vez em que há uma separação ocorre a morte da família
original e no imaginário dos pais e das crianças o casamento e a família são para
sempre." O que acontece atualmente, segundo a psicóloga, são separações menos
traumatizantes, mas não sem traumas. Ela diz que antigamente, passava-se uma
idéia de que todos os filhos de pais separados eram infelizes e isso, no seu
entender, não é verdade. "É como no processo de adoção. É inegável que antes da
generosidade, afeto e amor gerado pela pessoa que adota a criança houve uma
rejeição. Uma coisa boa não exclui a presença de algo nefasto, ruim", diz.
Todas as crianças querem ver os pais vivos, juntos e se possível felizes. Quando
isso não ocorre elas criam uma ordem de eliminação, por exemplo: "Bom, já que
eles não estão juntos ainda bem que pelo menos estão vivos e felizes", pensam.
Com a separação dos pais, o primeiro benefício gerado na criança é sair do
ambiente desfavorável de desamor e por vezes hostil e de brigas. Em seguida, vem
a ampliação do convívio com novas pessoas e ambientes, já que os pais retomam
antigas amizades. Além de laços familiares mais amplos. "Da classe média para
cima, por exemplo, os outros familiares, como avôs e tios, costumam se tornar
mais presentes na vida da criança. E na classe social mais popular a rede de apoio
oferecida a essas famílias aumenta", afirma.
ARTE
Um casal com filhos que decide se separar deve tomar alguns cuidados com eles.
Um deles, é deixar claro às crianças que o conflito é entre os parceiros e não com
os filhos. Outro é informá-los que apesar da separação, o amor e a relação de pai e
mãe irá continuar. Para a separação dos pais ser o menos traumática possível para
os filhos é necessário que seja tratada em particular e nunca na frente deles. A
psicóloga Olga Inês Tessari diz que é natural das crianças querer resolver o
problema dos pais ao presenciarem uma discussão. “Elas não sabem qual dos dois
devem apoiar e isso as deixa confusas, além de sentirem-se culpadas, mesmo não
sendo”, afirma. Passado o momento da separação em si, homens e mulheres
devem manter um relacionamento amigável para o bem dos filhos.
“Na minha opinião, ruim é viver mal. Claro, que o ideal é a criança viver num lar
com dois adultos, sejam eles heterossexuais, homossexuais, juntados ou casados.
A biologia, a sociedade e os costumes pedem isso. Agora, se não é possível viver
bem com o outro, o melhor é ficar sozinho. Muito melhor uma única pessoa sadia
mentalmente, que duas desestruturadas para cuidar de uma criança”, afirma. Já
para Olga, dependerá de que grau e de que modo será esse amadurecimento. Ela
cita como exemplo um casal que se separa quando o filho tem entre 11 e 12 anos
de idade. “Há garotos que tentam assumir o papel do homem da casa, às vezes as
próprias mães os obrigam a isso.
Ela comenta que os pais, neste caso os homens, por vezes se sentem culpados por
estarem fora do lar, por exemplo, e tentam compensar essa ausência com
concessões, atenção e presentes, sempre de forma exagerada. “A criança que é
criada sem limites, aquela que tem e pode tudo, sofrerá muito na vida adulta e
provavelmente não irá suportar os limites impostos pelo mundo, pela vida.” Maria
Cristina enfatiza que os pais devem mostrar o significado e o porque a vida de seus
filhos mudou, e dizer-lhes que ela voltará a se reestruturar, possivelmente, para
melhor. Ela diz que os filhos precisam se adaptar às mudanças e essa adaptação
também é muito favorável a eles, porque podem desenvolver resiliência, que é a
capacidade de resistir às dificuldades. “Com o tempo se torna uma pessoa melhor e
capaz de lidar bem com as adversidades da vida”, afirma.
A psicóloga carioca avisa que os filhos de pais unidos também irão desenvolver
suas capacidades em todos os sentidos, principalmente em relação à vida, porém
paulatinamente, de forma mais lenta. Maria Cristina enfatiza que os filhos de pais
separados sofrem no momento da separação e depois ganham uma cancha
(experiência) para a vida extraordinária. As duas psicólogas deixam claro que não
são a favor da separação dos parceiros, a menos que seja necessário. “Dentro de
uma família, a criança sempre se sentirá mais amada e aceita. A família é a célula-
mãe da sociedade, o lugar onde se desenvolvem as estruturas psíquicas, onde a
criança forma a sua identidade e desenvolve o seu emocional”, diz Olga.
Ela afirma que à medida que a convivência entre eles avança, os filhos tendem a se
adaptar e muitas vezes aprender e até amar os novos parceiros dos pais. Um dica
de Maria Cristina às pessoas que namoram ou são casadas com pessoas que já têm
filhos é não deixá-los muito donos da situação. “Os novos parceiros devem ter
muito cuidado para não se meter entre o antigo casal e na vida dos seus filhos, a
menos que sejam solicitados a isso. Mas, ao mesmo tempo não podem permitir que
o filho se sinta todo poderoso e dono da situação. Uma nova namorada do pai
passar para o banco de trás do carro, por exemplo, porque o adolescente é
acostumado a andar desse jeito com a mãe, é um absurdo. O banco da frente é
para adultos”, afirma. A psicóloga Olga Inês Tessari lembra que os filhos também
ganham quando uma nova família se cria. Ela cita que irmãos podem nascer, avô,
avó, tios e demais familiares se duplicam. “Tanto o pai quanto a mãe não devem se
esquecer que o maior papel deles consiste em apoiar, compreender e dialogar
sempre com seus filhos, independente de estarem bem ou não entre si.” (R.F.)
A questão mais anterior e fundamental que vai permear toda a relação pais e filhos
e que será colocada em cheque no momento da separação, é o amor entre pais e
filhos. Parece algo simples, amor entre pais e filhos é visceral, natural,
inquestionável. Contudo a realidade de como as relações se constroem mostra um
outro quadro, muitas vezes evidenciada pela situação da separação do casal.
Pais têm diversas atitudes para com seus filhos que, às vezes, passam por atitudes
amorosas mas que na verdade mostram insegurança, dúvida, ambiguidade,
obrigação. Isso ocorre principalmente porque a sociedade nos educa com fortes
paradigmas que estão arraigados tanto por uma educação socialmente constituída,
quanto pela educação familiar que, por conseguinte, reproduzimos nas nossas
relações pessoais.
O principal paradigma que está sempre presente e que rege as relações é que:
Todo pai/mãe ama seu filho/filha e vice-versa, ou seja, que: Todo filho/filha ama
seu/sua pai/mãe. Parece uma verdade inquestionável. É um amor instituído, quer
queira, quer não.
Ao vir ao mundo a criança já chega com esse dever e os pais, uma vez tendo
escolhido desempenhar essa função social, passam a ter essa mesma obrigação,
mas com um roteiro a seguir: amar, cuidar, educar (ensinar o que é certo, o que se
deve ou não deve fazer) e encaminhar seus filhos na vida, sabendo o que é melhor
para eles.
Esse script parece muito lógico enquanto a priori, mas a vida das pessoas não
acontece tão rigidamente, como receita de bolo, ou como produção em série de
uma fábrica. Quando se trata de pessoas, de relacionamento humano, o que se
apresenta é exatamente o que é mais característico da humanidade, isto é, a
particularidade, o singular, a imprevisibilidade, as infinitas motivações para realizar
uma vida, o desejo.
É muito comum dificuldades com limite, com a diferença entre o que se pode ou
não deixar os filhos fazerem de suas vidas. A diferença essencial nesse aspecto, em
que os pais imersos em seus conflitos não articulam muitas vezes, é que amar seus
filhos significa deixar que façam o que querem com responsabilidade, ou seja, nem
sempre se pode fazer o que quer, existem limites que precisam ser considerados.
Este comportamento é uma forma de cuidado e atenção imprescindível para a
criança. Assim é possível liberdade com responsabilidade como forma de amar.
Diferentemente de deixar a criança fazer o que quer sem levar em conta a
segurança da criança, ou seja, tanto a integridade física quanto a psíquica, no que
se refere ao mundo que ela irá enfrentar. (aparente liberdade)
"Se papai e mamãe não se amam mais, então podem deixar de me amar a
qualquer momento."
A criança demora a entender que os pais se separaram mas não perderam os pais,
eles deixaram de ser marido e mulher mas não deixaram de ter o sentimento de
amor de pais. Para a criança os papéis: marido, mulher, pai e mãe são
indissociáveis. Então quando acontece a separação, leva algum tempo para a
criança entender que não perdeu seus pais.
Muitas vezes os próprios pais contribuem para que a criança sinta como se
estivesse perdendo um ou outro. Ex: Quando se pergunta para uma criança: Quem
ela escolhe? ( ficar com a mamãe ou com o papai?) De quem ela gosta mais, do
papai ou da mamãe? Cria-se uma situação altamente ansiogênica para a criança.
Esta sente que deve escolher entre um e outro exclusivamente, como se ao
escolher ficar com um, não ficará mais com o outro não só em relação a morar,
mas também quanto a abdicar da relação pai/filho ou mãe/filho, do sentimento, da
intimidade, do amor. É como se fosse algo definitivo.
Para os pais também não é muito diferente, quando a criança fica com um ou com
o outro, o cônjuge que não mora mais na mesma casa, se afasta como se algo
tivesse quebrado. Nesse momento a relação entre o cônjuge que está distante
fisicamente e o filho está a prova, ou seja, será que esse afastamento é somente
circunstancial ou será que a relação estava fragilmente calcada na determinação do
papel social onde o que prevalece é tão somente o paradigma: Todo pai/mãe deve
amar seu filho?
"Se eles brigaram e não querem mais viver juntos, é por minha causa, pois aposto
que discutiram sobre mim."
A criança acha que tudo gira ao seu redor, portanto todas as brigas tem a ver com
ela. Às vezes os pais realmente brigam por causa da criança, isto é, por
divergências na educação, nos cuidados, nas obrigações, mas descuidam quando
discutem na frente da criança. Não que se deva esconder tudo o que acontece, mas
é necessário que se escolha o momento e a forma adequada de passar para a
criança o que está ocorrendo, como um filtro, dando condições, considerando sua
idade, para que ela possa entender e participar do que houve.
"Papai (mamãe) não mora mais aqui, não tem porque vir aqui, não liga mais pra
mim."
Por todas as desavenças de marido/mulher, por tudo o que a casa lembra daquele
relacionamento, o cônjuge que vai para uma outra casa, tem muitos motivos para
não querer aparecer na antiga casa e, às vezes, mistura os papéis deixando de ir
lá, perdendo a frequência de ver os filhos que também moram naquela casa.
Mesmo quando alguns pais fazem questão de ser presentes, por não habitarem
mais a mesma casa, já imprime uma grande diferença de rotina para as crianças
que sentem com os dias e horas a menos de convivência.
Para os pais é tão difícil quanto para as crianças, porque a situação da separação,
seja amigável ou não, de qualquer forma implica em perdas para ambos, e
dependendo de como foi sua relação, isto é, o papel que cada um ocupava antes do
rompimento, vai afetar diretamente as relações posteriores. Por exemplo: Se o pai
já não era muito presente, se torna totalmente ausente. Se a mãe já era protetora,
do tipo que resolve tudo, vira super mãe. Se o pai era apegado aos filhos, se torna
pegajoso etc.
Essa culpa existe porque a vida da criança, bem como a dos adultos, irão sofrer
mudanças às quais se remetem à decisão dos pais se separarem. Como por
exemplo, a privação da convivência diária com o pai ou a mãe que não mora mais
na casa. Aquele que ficou sente-se culpado pela tal falta que o outro fará na vida
da criança. E aquele que foi para uma outra casa sente-se culpado por estar
distante. Este pode até achar-se totalmente dispensável na vida da criança, se
afastando por achar que não tem direito, nem lugar nessa nova forma de viver.
Isso acontece porque a separação, amigável ou não, é vista como um fracasso
familiar do qual os cônjuges são seus algozes resultando em uma visão simplista e
punitiva de que: "Se não sou capaz de manter meu casamento, consequentemente
não tenho competência para exercer o meu papel nessa família."
Essa confusão dura algum tempo e vai perdurar ou não dependendo de como essa
nova família vai se estruturar e assumir a nova realidade. Portanto, os ex-cônjuges
são responsáveis pela separação e não culpados dela, como se fosse um erro
irreparável do erro de terem um dia se escolhido.
Surge uma consciência maior por parte do pai da sua função na formação da
personalidade dos filhos, meninos ou meninas e a Psicologia tem mostrado as
diversas limitações no desenvolvimento e mesmo psicopatologias decorrentes da
falta de simetria da presença do pai e da mãe na vida cotidiana dos filhos.
Já não se pensa como até 20 anos atrás que o principal fator constituinte da
personalidade é a relação da mãe com a criança, e que a função do pai é apenas de
proteger, facilitar e prover condições para esta relação, relação da qual ele se sente
excluido, seja por falta de informação ou por conveniência do pai e da mãe.
Desta forma, a situação quase geral de antigamente de as mães irem aos juizes
reclamando atenção e presença dos pais, que abandonavam as crianças com a
separação, tem sido substituida pela situação contrária: um maior número de
homens exigindo mais espaço na vida de seus filhos, sabendo que a sua realização,
como pessoa e como homem, passa necessariamente pela sua realização como pai.
São pais capazes de distinguir que a separação é apenas da esposa e não dos
filhos.
Tudo isto pode trazer dificuldades na constituição do menino, como homem, seja
pela deformação de sua visão do papel da mulher decorrente da vivência com a
mãe excessivamente presente e normativa , seja pela pouca condição de
identificação masculina com o pai, ausente e não normativo.
Mas conhecer os pais, não é conviver com uma mãe cansada e sobrecarregada de
tarefas domésticas, sem condições de mostrar a seus filhos o seu lado feliz de
mulher, sua maneira esperançosa de ver o mundo e os homens. Os filhos têm o
sonho de conhecer sua mãe como pessoa, como profissional e mulher realizada
afetivamente, e dela se orgulhar.
Sempre existe (se não existisse, os pais não teriam se separado) uma grande
diferença entre os dois ex-casados na maneira de ver o mundo, a educação das
crianças e a vida afetiva. Utilizam-se alguns destas diferenças, para propor uma
assimetria de convivio em detrimento de um dos pais. Não há razão do ponto de
vista psicológico ou mesmo jurídico, para que qualquer um dos genitores,
sobrepondo-se ao outro, tenha o direito sobre a vida interior dos filhos, sua visão
de mundo e sua educação.
Assim os filhos de pais separados, que são a maioria em nossos dias, e não são
necessariamente os mais emocionalmente conflitados, podem ter condições de
serem, um dia, também pais e mães presentes e responsáveis, conscientes de seus
deveres frente ao estado e à família, com os mesmos direitos e deveres de serem
felizes, que o seu pai e sua mãe se deram.
O que já foi "sim, eu aceito" se transformou em "você não presta, você não vale
nada, seu (sua) ‡ð#¤Ø†Þ!". No lugar de juras de amor, impropérios
impublicáveis. Em franca expansão desde os anos 80, a separação já é o destino de
quase um terço dos casais no ano 2000, em números publicados pela revista Veja
de 13/06/2001.
Por manter a sociedade parental, entenda-se: quem deixa de ser marido e mulher
não pode deixar de ser pai e mãe. Enquanto isso não acontece, conforme se vê na
maior parte dos acordos de separação e suas famigeradas "visitas quinzenais", ela
defende que o pai tem que se fazer mais presente na educação dos filhos.
Entre outras coisas, é disso que depende o equilíbrio de mais de 250 mil crianças
que, ainda segundo dados de Veja, estão envolvidos em separações e divórcios no
país. São processos que duram anos, se não décadas, e que podem arrastar os
filhos para dentro do redemoinho, do turbilhão emocional em que os pais se
meteram.
Na entrevista a seguir, Maria Tereza Maldonado conta como tirar os filhos do fogo
cruzado de onde, em geral, saem chamuscados. Ela enumera e comenta as
diversas "áreas de risco" que os pais devem evitar, desde transformar o desamor
em ódio, falar mal do ex-cônjuge até colocar os filhos como espiões ou "moeda
forte" da relação.
Nessa briga de marido e mulher, ela afirma que a escola pode meter sua colher. Ela
não só deve estar sensível aos sintomas que as crianças podem apresentar durante
a crise familiar como deve atentar para o fato de que a família tradicional pode não
mais corresponder à realidade dos alunos. "Por isso, é importante que a escola
possa trabalhar a validade dessas outras organizações familiares", conclui.
Que efeitos essa turbulência emocional dos alunos traz para a escola?
Em linhas gerais, nas grandes mudanças demora-se um tempo para adaptar-se à
nova situação. Claro que isto não é uma lei matemática, mas se considera que, em
torno de um ano, um ano e meio, é o período de ajuste à passagem de uma
organização familiar para outra. E nesse período é muito freqüente que apareçam
mudanças de comportamento e sintomas nas crianças e nos adolescentes em face
da crise familiar.
A diminuição do rendimento escolar é um fator que acontece com muita freqüência;
a queixa de dor: dor de cabeça, de estômago, de joelho, de perna, dor de tudo
(risos); febres sem causas clínicas, mas com razões psicossomáticas; dificuldade de
atenção e concentração em sala de aula; mudança de conduta: a criança fica mais
agitada, irritadiça, agressiva e mais sensível também — ou chora ou explode muito
mais facilmente. Porque, se o pai diz que vai sair de casa, o pensamento da criança
é: "E agora, como é que vai ser sem meu pai?". E a aula de matemática passa
longe.
Tudo isso são mudanças que devem repercutir na escola, no comportamento com
os colegas e com os professores e no próprio rendimento escolar.
E o que significa transformar as crianças em moeda forte de uma relação?
É a mulher que, por exemplo, está insatisfeita com o que o homem lhe dá. Ou,
muitas vezes, é o homem que dá muito menos do que pode porque está com raiva
da mulher. Assim, ele a priva e, conseqüentemente, priva os filhos. Tem mulher
que se sente prejudicada pela separação e quer ser indenizada. Então, entra numa
guerra pelo patrimônio. E, se o homem se recusa, ela sonega a visita aos filhos, diz
que o filho adoeceu, que não está bem ou não quer ir.
A mulher também pode ameaçar os filhos para evitar que saiam com o pai,
principalmente se ele estiver com outra mulher, que vira a vilã da história. Então,
as crianças ficam no meio de um conflito muito pesado e muitas vezes são privadas
de dinheiro ou da visita ao pai por questões de dinheiro.
Não se percebe nem, por exemplo, uma certa visão negativa do casamento,
como se ele representasse a perda da liberdade ou fosse uma união fadada
ao fracasso? É comum ouvir: "Ah! Isso é coisa de filho de pais
separados"...
Isso, pra mim, é uma visão preconceituosa. Antigamente se pensava assim: lar
estruturado é o lar com pais casados. Lar desestruturado é o lar com pais
separados. Eram sinônimos. Mas em estudos mais aprofundados sobre a família
feitos atualmente, sobre as características e desafios específicos de cada
composição familiar, a conclusão a que se chegou é que existem famílias
estruturadas e desestruturadas em qualquer tipo de organização familiar.
Então, pode haver uma visão negativa do casamento em filhos com pais casados,
que vêem a mãe superinfeliz no casamento e o pai se queixando amargamente.
Eles consideram o casamento um fardo. Os filhos de pais casados podem ter essa
visão. Os filhos de pais separados podem ter passado por toda essa dor de ver a
família mudando de organização e da perda da família de pais casados para a
reconstrução de uma família de pais separados.
A senhora acaba de comentar que há crianças que se dão bem com os dois
núcleos. Isso porque, nessa reconstrução, muitas vezes os pais separados
se casam com quem já tem filhos, não é?
Na família de "recasamento", existem outras características e outras
complexidades. O que acontece? Muitas crianças de "recasamento" vão ter a
seguinte dimensão: os filhos dele, os filhos dela e, às vezes, os filhos em comum
desse outro casamento. É uma composição familiar com irmãos biológicos e irmãos
de convívio. É como se fosse um outro tipo de família extensa. Antigamente, a
família extensa era o pai, a mãe, os filhos, os tios, os avós, os sobrinhos, aquela
grande família que se reunia, aquele clã familiar. Hoje também se fala que a família
de "recasamento" é uma família extensa porque é composta pelo homem, pela
mulher, pelo ex-marido, pela ex-mulher, pelos filhos de um, de outro, pelos avós
de ambos os lados. São oito avós (risos).
Isso resulta numa complexidade de relacionamentos e numa flexibilidade para se
ajustar a situações diferentes. Na casa do pai, funciona de um jeito. Na casa da
mãe, de outro. Depois que os pais se separam e casam novamente, a família passa
a funcionar de uma terceira ou quarta maneira (risos). Essa dimensão de
ajustamento, de flexibilidade, de capacidade de negociação, de entrar em acordo
também precisa ser bem trabalhada.
A senhora não acha que a escola ainda trabalha muito com o modelo de
família nuclear, que não corresponde à realidade de boa parte dos alunos?
Não corresponde. Por isso é importante que a escola trabalhe a validade dessas
outras organizações familiares. "Vamos fazer o desenho da família?" Aí se desenha
papai, mamãe... Deve-se trabalhar na escola essas outras alternativas de família
nas aulas de arte, ou em qualquer outra, e mostrar que existem vários tipos de
famílias e que cada uma tem as suas características. Existem as de pais casados,
as de pais separados, as de pais que nunca se casaram, existem as famílias de
"recasamento", as famílias adotivas, e é preciso falar de todas elas nas escolas.
Existe um leque de organizações familiares que precisa ser claramente trabalhado
no contexto escolar.
Hoje você tem, no Brasil, uma diminuição da taxa de fecundidade entre as
mulheres adultas e um aumento de fecundidade entre as adolescentes, que não
necessariamente vão se casar, mas vão ter seus filhos. É a família de três
gerações, com avó, mãe e filho, ou quatro gerações, de repente.
E até que ponto essa variedade de organizações familiares que as pessoas
estão buscando é conseqüência do aumento de separações e da incerteza
ou descrença sobre o futuro do casamento?
A separação hoje não tem o mesmo peso e não sofre o mesmo preconceito de 30
ou 40 anos atrás. As crianças eram discriminadas: "Você não pode mais ser amigo
do João porque ele é filho de pais desquitados." Escolas tradicionais ou religiosas
não aceitavam filhos de pais separados como alunos. Então, além da dor, do peso,
da turbulência emocional da separação, as pessoas enfrentavam o preconceito
social. Isso ainda existe, de alguma forma, mas está muito atenuado. A imagem da
separação mudou muito. Existe uma mudança de pensamento sobre o casamento,
sobre formar uma família e até sobre ter ou não filhos. Tradicionalmente, o destino
da mulher era casar e formar uma família. Hoje em dia, muitas mulheres não
querem ter filhos. Avaliam a situação e dizem: "Não estou a fim, quero me dedicar
ao trabalho." Então, claro que mudou a maneira de olhar o casamento. O
casamento não tem que ser para sempre. Ele pode durar um tempo e terminar, e
as pessoas vão reconstruir as suas vidas, casar de novo ou não.
Também mudou a maneira de olhar a família, a maneira de cuidar dos filhos. O
importante hoje é explorar os recursos para formar uma família harmônica que
propicie um bom desenvolvimento emocional, físico e espiritual às crianças em
qualquer uma dessas formas de organização familiar. Para mim, esse é o grande
desafio da família no século XXI.
‘‘Seria uma tentativa do casal de conviver bem. Isso vai depender de como os pais
colocam a criança nessa nova situação’’, analisa Karynne. Assim, pais separados
podem ser mais saudáveis do que em uma relação desgastada e ruim para ambos.
A psicóloga avalia que a insegurança de um filho por presenciar constantes
situações de conflito ou infelicidade na família é que pode ser prejudicial. A
separação seria a oportunidade da criança conviver em um ambiente mais
favorável a ela.
Mas para que esse processo seja bem sucedido, Karynne considera fundamental
garantir a presença do pai e da mãe, mesmo de forma separada. ‘‘Às vezes, eles
podem estar em casa, mas não estar presentes’’, ressalva. As crianças devem ser
informadas sobre o que significa essa separação, evitando que fantasiem,
dependendo da idade, sobre os possíveis motivos da mudança. As brigas devem ser
evitadas, mas deve ser sinalizado que a relação passa por dificuldades.
‘‘Há uma dissolução da união, mas não do vínculo parental. É importante o filho
perceber isso’’, defende a psicóloga Verônica Salgueiro, professora de psicologia
jurídica da Universidade de Fortaleza (Unifor). De acordo com ela, é preciso
trabalhar com a criança a diferença entre a função de marido e mulher da função
de pai e mãe.
Prejuízos para todos quando o filho é obrigado a escolher de quem ele gosta mais.
Mas quando o vínculo com os dois é mantido, os filhos sentem-se seguros e
amados. E mesmo na separação, é preciso que os pais mantenham a possibilidade
de diálogo sobre a educação das crianças e adolescentes.
Karynne observa que por mais que esse processo seja conduzido de forma
consensual e tranqüila, são inevitáveis as alterações no cotidiano. ‘‘Se para os pais
está acontecendo uma mudança, que eles precisam se adaptar, para a criança
também. A criança apresenta diferenças porque está em uma situação diferente’’,
ressalva. Mesmo se os filhos apresentem novos comportamentos, ela considera que
é possível restabelecer uma rotina normal por meio do diálogo.
Nessa busca por mecanismos que garantam à criança o convívio com o pai e a
mãe, a guarda compartilhada é uma alternativa que ganha cada vez mais espaço.
O filho passa a ter duas casas e os dois genitores dividem deveres e
responsabilidades igualmente. Em alguns acordos, a criança pode passar uma
semana com o pai, outra com a mãe.
De acordo com Karynne, pai e mãe devem estar atentos para que o ambiente de
ambas as casas seja reconhecido pela criança como dela. A orientação é montem
um quarto para o filho em cada casa. Manter esse espaço com objetos pessoais,
como roupas e brinquedos, é uma forma da criança ou adolescente ter intimidade
com o local. A criança também precisa cumprir a mesma rotina nas duas casas.
‘‘Não é como se estivesse de férias, onde em uma casa vai se divertir e em outra
cumprir obrigações’’.