Relaçãopaiefilhoapósaseparação

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 25

Relação pai e filho após a separação

Publicado no Jornal O Povo - Fortaleza

Criar bem um filho. É o que todo pai espera de si mesmo. Mas, nessa tarefa tão
difícil, será que as experiências dos amigos ou parentes funcionam? E os conselhos
dos especialistas? Vale segui-los? Na opinião dos psicólogos e psicoterapeutas, os
pais modernos são mais participativos, menos autoritários e machistas e muito
mais interessados na educação dos filhos. A psicóloga paulista Olga Inês Tessari
fala sobre a relação dos filhos com os pais separados

Como agir com os filhos quando o casamento acaba? Como ficam os encontros
familiares? É possível manter uma relação saudável com as crianças, mesmo os
pais vivendo separados? São questões que estão sempre na ponta da língua diante
de psicólogos e psicoterapeutas. Eles alertam porém que toda separação de pais
acarreta reação dos filhos. É ruim para eles que os pais se separem, mas é muito
melhor a ausência física do pai do que enfrentar conflitos diários entre ele e a mãe.

Educação, relacionamentos após a separação, traumas, relação afetiva dos filhos


com o pai e a mãe separados, como enfrentar a sexualidade são temas abordados
na entrevista que a psicóloga paulista Olga Inês Tessari concedeu ao O POVO, por
telefone. Ela é autora de vários trabalhos sobre esses temas que podem ser
conferidos em seu site na Internet:http://ajudaemocional.tripod.com. A seguir,
confira os trechos da entrevista:

O POVO - Como deve ser trabalhada a separação dos pais? É possível minimizar
nos filhos o trauma da separação?
Olga Inês Tessari - Na verdade, a separação dos pais deve ser uma coisa tratada
em particular, nunca na frente dos filhos. Por que o grande problema é quando os
pais discutem na frente das crianças que ficam querendo tomar o partido de um ou
de outro. Muitas vezes o pai ou a mãe usa a criança de chantagem contra o outro.
Então o ideal seria que o casal resolvesse a separação longe da presença das
crianças. E aí o fato seria comunicado a elas, mantendo um clima de cordialidade.

OP - No caso dos filhos presenciarem uma separação conflituosa dos pais, isso
pode influir na vida futura deles?
OIT -Sim. Numa separação traumática, onde os pais usam as crianças, um contra
o outro, pode haver distúrbios emocionais que influenciarão no desenvolvimento da
criança. O primeiro sintoma de que ela não está bem emocionalmente se percebe
na escola. Ela chora, há crianças que se tornam mais agressivas, brigam com os
outros coleguinhas.

OP - E na escola, qual deve ser o tratamento dado às crianças que estão


enfrentando a separação dos pais?
OIT - O ideal seria que a escola tivesse conhecimento de que os pais estão juntos,
separados ou se estão se separando. Hoje em dia, as escolas tem por hábito saber.
Elas entrevistam o pai e a mãe, para saber como é o relacionamento em casa. Mas,
o ideal seria que a escola tivesse conhecimento e até observasse a criança e, diante
de qualquer problema, encaminhasse esta criança para o psicólogo. O quanto antes
você começar a resolver o problema da criança, melhor.

OP - Nesse caso, a ida ao psicólogo é muito importante?


IOT - Sim. Porque a criança, ainda não tem aquele arcabouço emocional que o
adulto tem. Muitas vezes nem o adulto sabe digerir muito bem uma determinada
situação, imagine uma criança que tem nos pais o seu suporte e, de repente, um
dos dois vai embora. Ela não vai saber lidar com isso e sofre muito.

OP - Mas, não é melhor a criança conviver com os pais separados do que no meio
de uma relação cheia de brigas e discórdias?
OIT - É muito melhor. O filho, mesmo que os pais disfarcem, percebe o clima
quando não está bem. Eu já ouvi uma criança dizer: 'eu não sei porque meu pai e
minha mãe não se separam. Os dois não se dão bem'. As crianças são
capazes de encarar a separação com muito mais naturalidade do que os adultos.

OP - Como os pais devem agir com relação a educação das crianças, no caso de
estarem separados?
OIT - Quanto à educação, os pais estando juntos ou separados, os dois têm de
falar a mesma língua, u seja, concordarem entre si. Então, por exemplo, se o pai
disse não, a mãe, por mais que discorde, na frente da criança ela deve falar: ''papai
disse que não''. Eles não podem discordar entre si diante da criança, porque ela
percebe e começa a jogar com os pais. Um exemplo: o filho vai pedir ao pai para
jogar videogame e ele diz não.A criança então vai pedir à mãe porque sabe que ela
vai dar o videogame pra ele e pronto. A criança é muito inteligente. Ela percebe
muito bem quando pode manipular seus pais a seu favor. Então os pais devem ser
muito coerentes. Mesmo separados, eles devem conversar. O pai, que
normalmente é quem vê menos o filho, deve pedir para ver os cadernos, conversar
com ele, saber se estar tudo bem. Pai e mãe têm de concordar um com o outro. Se
eles discordam de alguma coisa que conversem em separado, longe dos filhos. Na
frente deles os pais nunca podem tirar a autoridade de um e nem de outro.

OP - Ainda existem casos em que a mãe joga a culpa da separação nos filhos?
OIT - Olha, existe. Infelizmente ainda há mulheres que engravidam pra se casarem
ou para manterem seus casamentos. Para elas, quando o casamento chega ao fim,
acaba a necessidade de ter o filho. Porque esse filho era o elo que a ligava ao
marido. Muitas vezes, ela passa a não tratar bem essa criança, passa a desprezá-
la, a achar que ela é a culpada da separação.

OP - E qual deve ser a postura da mãe, mesmo que ela fique com raiva, não queira
a separação?
OIT - Ela não pode é falar mal do pai. Porque uma coisa é o que o marido dela está
fazendo com ela. Outra coisa é o pai dos seus filhos. O melhor é ficar neutra. Não
ficar sondando. Por exemplo, tem mãe que manda as crianças saírem com o
pai quando percebe que ele vai namorar, manda as crianças passarem o fim de
semana com ele. Depois fica perguntando pra onde ele foi, o que falou, o que fez.
Isso não deve ser feito nunca.

OP - E quando o pai fica com a guarda dos filhos. Como é a reação dele? Procura
ajuda de especialista?
OIT - Não necessariamente. Só se ele perceber que não está conseguindo dar
conta do recado, não está conseguindo ter o controle da situação. Se ele não está
conseguindo lidar bem com as crianças, conviver bem com elas. Mas, normalmente,
o pai que assume cuidar das crianças é uma pessoa bem equilibrada, centrada, que
vai educar bem dos filhos.

OP - E o autoritarismo e machismo, ainda são características muito fortes dos pais?

OIT - Isso depende muito do lugar onde a gente está. Depende da cultura, dos
costumes, do ambiente familiar. Mas, em geral, os homens hoje estão menos
machistas do que eram antes. Até porque a mulher teve muitas conquistas. Hoje,
ela trabalha fora, divide as funções domésticas com o marido.
OP - Pode-se fazer um perfil do pai atual?
OIT - O pai atual é mais participativo. Ele leva as crianças pra escola, faz o jantar.
Participa mais no todo. Acompanha o desempenho escolar das crianças e sai pra
passear com elas.

As separações conjugais levam muitos pais a terem reduzido o seu tempo de


permanência com os filhos.

Como superar com o menor trauma possível esta realidade?

Os homens contemporâneos estão tentando redefinir sua identidade.

Nessa busca, aqueles que são pais tentam ansiosamente desempenhar um novo
papel junto à sociedade e aos filhos. A situação fica ainda mais complicada quando
o casal vive separado e os encontros familiares acontecem em horários restritos,
definidos pela fria justiça. Mas muitos pais tem conseguido manter uma relação
saudável com os filhos, mesmo sem conviver com eles.

O tema é complexo e não há receita pronta para o sucesso.

É verdade que a ordem natural do casamento, quando subvertida, sempre acarreta


problemas aos filhos, pois é a visão que as crianças tem sobre o amor conjugal que
define a capacidade delas de amar. Mas muitos casais acreditam que, para o
desenvolvimento das crianças, um casamento ruim pode ser pior do que a ausência
física do pai- diz a psicóloga Olga Inês Tessari.

Foi essa a conclusão a que chegou o engenheiro Gilberto Páscoa Júnior, 44 anos,
pai de Lara Macedo Pascon, de 9 anos. O casamento de Gilberto ia muito mal
quando ele optou pela separação, antes mesmo de Lara completar 6 anos. Hoje,
passados três anos, a menina é alegre e comunicativa e, embora não veja o pai
todos os dias (ele mora em São Paulo e ela em Piracicaba, distante 240 km),
mantém com ele uma relação afetiva sólida, capaz de se manifestar em
permanentes declarações de amor.

Demonstração de amor é a primeira receita, se é que existem receitas, diante de


uma separação conjugal- diz a psicóloga. Ela lembra que o final de um casamento
sempre faz as crianças se sentirem menos amadas. Mas esse sentimento pode ser
minimizado se a relação da criança com seus pais, mesmo antes da separação, era
boa.

O problema se agrava quando as mulheres concebem um filho na tentativa de


preservar um casamento ou quando, inseguras com a ausência do ex-marido,
passam a jogar as crianças contra o pai.

FORMAS DE VINGANÇA
Não se trata de transformar os homens em vítimas, mas Olga lembra que, apesar
das conquistas femininas das últimas décadas, a tendência da maioria quase
absoluta das mulheres, diante de uma separação, é jogar os filhos contra o pai, ou
por mágoa, ou por insegurança, ou por frustração.

O pai representa, simbolicamente, a lei, aquele que impõe limites. Essa função
paterna de proibir pode frustrar, mas é exercida para o benefício de toda a família.
A criança aprende a ouvir o não, conhece limites. Desautorizar o pai é a mais
agressiva forma de vingança de uma mulher contra o ex-marido e a mais
prejudicial postura contra seus filhos alerta a psicóloga.
Como os homens devem reagir diante de uma situação como essa?

Gilberto Pascon Júnior concluiu que a melhor estratégia é não reagir. Diante de
uma recente ação judicial da ex-mulher para reduzir o número de visitas dele para
a filha, o engenheiro optouu por não recorrer. Percebi que situações como essas
estressavam muito Lara. Perdi algumas horas da disponibilidade de convívio com
ela, mas procuro compensar esse tempo com qualidade de relacionamento.
Aproveito ao máximo, com bom humor e prazer, todos os minutos que estou com
minha filha, diz.

Desistir de recorrer pode não ser a melhor escolha.

Mas pior seria insitir na desavença. Para o bem dos filhos, os pais devem tentar
manter uma relação cordial e ser concordantes em atitudes.

Como o pai representa a autoridade, nesses casos as crianças quase que


inevitavelmente ficam sem limites, o que é muito ruim, diz Olga.
Ela destaca uma agravante: a dificuldade do homem em colocar limites no
comportamento dos filhos por se sentir culpado pela separação. As crianças
entendem facilmente tudo que lhes é explicado de forma clara e sincera. O homem,
que em geral é quem sai de casa, deve explicar aos filhos que o final do casamento
não dimimui o seu amor por eles- aconselha a psicóloga.

Desafio Diário
Ser pai distante e demonstrar afetividade é difícil para o homem.

A educação tradicional, até tempos recentes, reprimia manifestações masculinas de


emoção, e os homens contemporâneos têm pago um preço muito alto por isso:
enfartes, úlceras, gastrites, depressão. A contrapartida é verdadeira. Só aceitando
o filho com suas qualidades e imperfeições que esse pai será capaz de ajudá-lo a se
perceber como pessoa e a se sentir amado pelo que é. A projeção nos filhos de
sonhos frustrados cria um peso enorme para a criança ou adolescente.

A função do pai é a de possibilitar ao filho seguir seu caminho. Só assim essa


criança será capaz de buscar os próprios ideais.

É a autonomia, que constrói sua identidade.

A angústia dimimui quando os homens interagem com seus filhos, conversam,


trocam idéias, aprendem com eles, orientam e, às vezes, proíbem. Em suma,
fornecem referenciais. O desafio é diário- observa o empresário Roberto Bruzadin,
60 anos, pai de Roberta El Hage Bruzadin, de 17 anos. Separado da mãe da
adolescente há 10 anos, Roberto diz que procura escutar a filha e sustentar
argumentos quando não concorda com eles. Não tenho respostas para tudo, até
porque acho que minha filha precisa aprender a resolver sozinha alguns problemas,
a encontrar soluções criativas. Ela é quase auto-suficiente e procuro nunca ser
autoritário- diz.

A questão do autoritarismo se manifesta em famílias coesas ou separadas. É tão


comum pais solitários serem permissivos quanto se esconderem por trás do
autoritarismo.

Essas são, em geral, manifestações do medo de que os filhos, ao se tornarem


adultos, questionem situações mal resolvidas e revivam momentos que esse pai
quer esquecer.
Isso é, sem dúvida, o maior dos erros.
Filhos do descasamento

Publicado no Diarioweb
São José do Rio Preto, 13 de fevereiro de 2005

por Renata Fernandes

O estigma de que filhos de pais separados sofrem mais, têm menor rendimento
escolar, mais problemas emocionais e auto-estima mais baixa que os filhos de
casais que permanecem juntos tem caído por terra. Existem situações em que as
crianças sentem-se melhor com a separação dos pais. No momento da separação
há um certo trauma porque nenhum filho quer ver os pais divorciados. Porém, com
o tempo essas crianças ganham experiências e sentimentos valiosos, nem sempre
vivenciados por outras. A psicóloga, terapeuta de família e de casais do Rio de
Janeiro, Maria Cristina Milanez Werner, doutoranda em saúde mental e vice-
presidente da Associação de Terapia do Rio de Janeiro, afirma que muitas crianças
se sentem aliviadas com a separação dos pais. Mas isso não impede que elas
sintam-se frustradas de não terem mais pai e mãe juntos.

"Nos casos em que a situação no lar é insustentável, em que a criança vive no meio
de brigas, discórdias, uso de álcool, drogas, enfim num ambiente caótico e
amedrontador, ela sente alívio quando termina e fica longe de tudo isso", afirma. A
psicóloga acredita que é necessário desmistificar a visão maniqueísta do bem e do
mal absoluto. Ou seja, quando se trata de comportamento nada é 100% bom ou
ruim. "O fato é que toda vez em que há uma separação ocorre a morte da família
original e no imaginário dos pais e das crianças o casamento e a família são para
sempre." O que acontece atualmente, segundo a psicóloga, são separações menos
traumatizantes, mas não sem traumas. Ela diz que antigamente, passava-se uma
idéia de que todos os filhos de pais separados eram infelizes e isso, no seu
entender, não é verdade. "É como no processo de adoção. É inegável que antes da
generosidade, afeto e amor gerado pela pessoa que adota a criança houve uma
rejeição. Uma coisa boa não exclui a presença de algo nefasto, ruim", diz.

Todas as crianças querem ver os pais vivos, juntos e se possível felizes. Quando
isso não ocorre elas criam uma ordem de eliminação, por exemplo: "Bom, já que
eles não estão juntos ainda bem que pelo menos estão vivos e felizes", pensam.
Com a separação dos pais, o primeiro benefício gerado na criança é sair do
ambiente desfavorável de desamor e por vezes hostil e de brigas. Em seguida, vem
a ampliação do convívio com novas pessoas e ambientes, já que os pais retomam
antigas amizades. Além de laços familiares mais amplos. "Da classe média para
cima, por exemplo, os outros familiares, como avôs e tios, costumam se tornar
mais presentes na vida da criança. E na classe social mais popular a rede de apoio
oferecida a essas famílias aumenta", afirma.

Com o divórcio também renascem duas outras famílias monoparentais (chefiadas


por apenas uma pessoa). De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), a cada ano, 200 mil crianças vêem seus pais se separar nas
regiões metropolitanas do Brasil. Nas salas de aula, a paridade de crianças de lares
unidos e separados é bem dividida, o que faz com que as crianças não se sintam
excluídas ou diferentes umas das outras. Contudo, já existem situações em que
filhos de pais que moram juntos sentem-se diferentes. Com 21 anos de
experiência, a psicóloga de São Paulo, Olga Inês Tessari, conta que já recebeu em
seu consultório relatos de crianças que se sentiam mal por terem pai e mãe
casados.
"Não podemos generalizar, mas atualmente a separação já é bem mais freqüente",
diz. Ela afirma que o ideal para a criança é que pai e mãe se relacionem bem,
independente de estarem casados ou não. "Costumo brincar ao dizer que os dois
podem até se matar, desde que longe das criança. Ao mesmo tempo, não precisam
ser falsos, pois os filhos percebem." Olga ressalta que toda e qualquer pessoa
necessita sentir que alguém a ama e a admira, mesmo com todos os defeitos que
ela possa ter e é por isso que a criança deve sentir-se e ser amada pelos pais.

Estado emocional tem mais peso que o civil

ARTE

Um casal com filhos que decide se separar deve tomar alguns cuidados com eles.
Um deles, é deixar claro às crianças que o conflito é entre os parceiros e não com
os filhos. Outro é informá-los que apesar da separação, o amor e a relação de pai e
mãe irá continuar. Para a separação dos pais ser o menos traumática possível para
os filhos é necessário que seja tratada em particular e nunca na frente deles. A
psicóloga Olga Inês Tessari diz que é natural das crianças querer resolver o
problema dos pais ao presenciarem uma discussão. “Elas não sabem qual dos dois
devem apoiar e isso as deixa confusas, além de sentirem-se culpadas, mesmo não
sendo”, afirma. Passado o momento da separação em si, homens e mulheres
devem manter um relacionamento amigável para o bem dos filhos.

Segundo a terapeuta de família e de casais do Rio de Janeiro, Maria Cristina Milanez


Werner, as crianças que apresentam dificuldades emocionais, baixa auto-estima ou
problemas na escola são aquelas que não têm uma estrutura familiar saudável. “O
que produz o desenvolvimento delas não é o estado civil dos pais, mas o estado
emocional deles ou daqueles que as criam”, afirma. Atualmente, os filhos de pais
separados mais ganham do que perdem se analisados os aspectos
comportamentais. Um deles é o amadurecimento precoce que a maioria dessas
crianças desenvolve. Maria Cristina diz que esse amadurecimento ocorre porque a
criança fica exposta a conteúdos que não estaria sujeita se os pais estivessem
casados. Ela não considera esse amadurecimento de todo ruim, pois afirma que
esses filhos aprendem a lidar com diversas situações emocionais e quando adultos
se tornam mais estáveis.

“Na minha opinião, ruim é viver mal. Claro, que o ideal é a criança viver num lar
com dois adultos, sejam eles heterossexuais, homossexuais, juntados ou casados.
A biologia, a sociedade e os costumes pedem isso. Agora, se não é possível viver
bem com o outro, o melhor é ficar sozinho. Muito melhor uma única pessoa sadia
mentalmente, que duas desestruturadas para cuidar de uma criança”, afirma. Já
para Olga, dependerá de que grau e de que modo será esse amadurecimento. Ela
cita como exemplo um casal que se separa quando o filho tem entre 11 e 12 anos
de idade. “Há garotos que tentam assumir o papel do homem da casa, às vezes as
próprias mães os obrigam a isso.

Se esse pré-adolescente começa a trabalhar e ao mesmo tempo tem de estudar


fica sobrecarregado e isso dificulta seu desenvolvimento emocional e escolar. Na
cabecinha desse garoto, ele se tornou mais importante, pois se sente mais macho.
Contudo, estará pulando uma fase importante da vida e certamente em algum
momento, futuramente, a desenvolverá tardia e erroneamente”, afirma. Essas
mesmas dificuldades também ocorrem com as meninas, mas de maneira diferente.
Outro ponto criticado pela psicóloga Olga Inês Tessari diz respeito aos pais que
usam os filhos para fazer chantagem contra o outro. “As crianças, pré-adolescentes
e adolescentes não devem ficar entre os pais, muito menos levar e dar recados. Os
pais, mesmo que separados, devem se tratar cordialmente e de maneira adulta”,
diz.
Para Olga, é importante os pais saberem que é a visão que as crianças têm sobre o
amor conjugal que define a capacidade delas de amar. “Por isso, não é a presença
física de um pai ou mãe que estabelecerá o modo como eles desenvolverão essa
capacidade.” É mais valioso passar meia hora junto do filho com qualidade do que
ficar com ele o dia inteiro sem acrescentar nada. A premissa de que a qualidade é
superior à quantidade é muito adequada para o relacionamento entre pais e filhos.
No dia-a-dia e principalmente numa separação é essencial a demonstração de amor
aos filhos. Porém, as especialistas ressaltam que os extremos são sempre muito
ruins. “Falta ou excesso de amor prejudica o crescimento da criança. Os limites
devem ser impostos mesmo durante a separação”, diz Olga.

Ela comenta que os pais, neste caso os homens, por vezes se sentem culpados por
estarem fora do lar, por exemplo, e tentam compensar essa ausência com
concessões, atenção e presentes, sempre de forma exagerada. “A criança que é
criada sem limites, aquela que tem e pode tudo, sofrerá muito na vida adulta e
provavelmente não irá suportar os limites impostos pelo mundo, pela vida.” Maria
Cristina enfatiza que os pais devem mostrar o significado e o porque a vida de seus
filhos mudou, e dizer-lhes que ela voltará a se reestruturar, possivelmente, para
melhor. Ela diz que os filhos precisam se adaptar às mudanças e essa adaptação
também é muito favorável a eles, porque podem desenvolver resiliência, que é a
capacidade de resistir às dificuldades. “Com o tempo se torna uma pessoa melhor e
capaz de lidar bem com as adversidades da vida”, afirma.

A psicóloga carioca avisa que os filhos de pais unidos também irão desenvolver
suas capacidades em todos os sentidos, principalmente em relação à vida, porém
paulatinamente, de forma mais lenta. Maria Cristina enfatiza que os filhos de pais
separados sofrem no momento da separação e depois ganham uma cancha
(experiência) para a vida extraordinária. As duas psicólogas deixam claro que não
são a favor da separação dos parceiros, a menos que seja necessário. “Dentro de
uma família, a criança sempre se sentirá mais amada e aceita. A família é a célula-
mãe da sociedade, o lugar onde se desenvolvem as estruturas psíquicas, onde a
criança forma a sua identidade e desenvolve o seu emocional”, diz Olga.

Quatro coisas que os pais nunca devem fazer:

:: Falar mal um do outro para o filho


:: Usar os filhos como espiões para saber da vida do outro
:: Fazer chantagens ou usá-los como moeda de troca. Por exemplo: “Você não vai
ver seu filho enquanto não depositar a pensão”
:: Discutir na frente das crianças

Quatro coisas que os pais devem fazer, sempre:

:: Falar e ouvir seus filhos


:: Ter bom senso
:: Impor limites
:: Amar seus filhos, independente da situação em que se encontra o relacionamento
amoroso

Orientar para os novos relacionamentos


Novos relacionamentos surgirão na vida dos pais e os filhos precisam ter
consciência disso. Os pais, portanto, devem explicar-lhes que pai e mãe são para
sempre e que apesar de separados continuarão a amá-los. Maria Cristina Milanez
Werner, terapeuta de família e de casais do Rio de Janeiro, diz que o novo par da
mãe ou do pai precisa estar ciente que não irá substituir qualquer um dos dois. “Ter
a pretensão messiânica de substituir a mãe ou o pai causará sofrimento. Isso
poderá acontecer a menos que um deles, a mãe ou o pai, seja completamente
inoperante e ausente. Pai e mãe sempre terão o espaço deles.”
Já a criança precisa saber e aceitar que adultos precisam de outros adultos para
conviver. No princípio, é possível que os filhos sintam raiva do novo companheiro,
mas precisam saber que o pai e a mãe necessitam refazer suas vidas social e
afetiva, conforme explica Maria Cristina.

Ela afirma que à medida que a convivência entre eles avança, os filhos tendem a se
adaptar e muitas vezes aprender e até amar os novos parceiros dos pais. Um dica
de Maria Cristina às pessoas que namoram ou são casadas com pessoas que já têm
filhos é não deixá-los muito donos da situação. “Os novos parceiros devem ter
muito cuidado para não se meter entre o antigo casal e na vida dos seus filhos, a
menos que sejam solicitados a isso. Mas, ao mesmo tempo não podem permitir que
o filho se sinta todo poderoso e dono da situação. Uma nova namorada do pai
passar para o banco de trás do carro, por exemplo, porque o adolescente é
acostumado a andar desse jeito com a mãe, é um absurdo. O banco da frente é
para adultos”, afirma. A psicóloga Olga Inês Tessari lembra que os filhos também
ganham quando uma nova família se cria. Ela cita que irmãos podem nascer, avô,
avó, tios e demais familiares se duplicam. “Tanto o pai quanto a mãe não devem se
esquecer que o maior papel deles consiste em apoiar, compreender e dialogar
sempre com seus filhos, independente de estarem bem ou não entre si.” (R.F.)

A questão mais anterior e fundamental que vai permear toda a relação pais e filhos
e que será colocada em cheque no momento da separação, é o amor entre pais e
filhos. Parece algo simples, amor entre pais e filhos é visceral, natural,
inquestionável. Contudo a realidade de como as relações se constroem mostra um
outro quadro, muitas vezes evidenciada pela situação da separação do casal.

Pais têm diversas atitudes para com seus filhos que, às vezes, passam por atitudes
amorosas mas que na verdade mostram insegurança, dúvida, ambiguidade,
obrigação. Isso ocorre principalmente porque a sociedade nos educa com fortes
paradigmas que estão arraigados tanto por uma educação socialmente constituída,
quanto pela educação familiar que, por conseguinte, reproduzimos nas nossas
relações pessoais.

O principal paradigma que está sempre presente e que rege as relações é que:
Todo pai/mãe ama seu filho/filha e vice-versa, ou seja, que: Todo filho/filha ama
seu/sua pai/mãe. Parece uma verdade inquestionável. É um amor instituído, quer
queira, quer não.

Ao vir ao mundo a criança já chega com esse dever e os pais, uma vez tendo
escolhido desempenhar essa função social, passam a ter essa mesma obrigação,
mas com um roteiro a seguir: amar, cuidar, educar (ensinar o que é certo, o que se
deve ou não deve fazer) e encaminhar seus filhos na vida, sabendo o que é melhor
para eles.

Esse script parece muito lógico enquanto a priori, mas a vida das pessoas não
acontece tão rigidamente, como receita de bolo, ou como produção em série de
uma fábrica. Quando se trata de pessoas, de relacionamento humano, o que se
apresenta é exatamente o que é mais característico da humanidade, isto é, a
particularidade, o singular, a imprevisibilidade, as infinitas motivações para realizar
uma vida, o desejo.

Considerando a perspectiva acima, o ser humano é um eterno devir, ou seja, vai se


construindo e construindo sua relação com o outro na vivência, na experiência do
cotidiano. Ainda que se faça planos, trace metas, não há garantia de que os planos
ocorram exatamente como teorizados, possivelmente não acontecerão exatamente
como idealizados. Porque a todo momento se está mudando de idéia, se está
mudando de sentimento, tanto em relação a si próprio quanto em relação aos
outros e isto acontece na relação com o outro, já que o ser humano é
especialmente passível de transformação. Então não é possível saber-se pais antes
de sê-lo. Parte-se do zero, pais são tão somente pessoas que tiveram filhos.

A nova função, pais, ocorre em meio a uma mistura de relações e sentimentos.


Cada um traz as suas referências da figura de pai e mãe de sua família de origem,
as suas expectativas de como deseja constituir esse novo papel, da forma como
acha que deve ser, o tipo de educação, as motivações para esse novo passo, o
sentimento envolvido em relação ao cônjuge, etc. Todos esses aspectos se
interrelacionam considerando ainda os paradigmas citados mais acima. Então, a
todo momento os pais são testados entre o que desejam como pais e o que
realmente são.

Quando permanecem referenciados no paradigma, Todo pai/mãe ama seu


filho/filha que, no caso de haver mais filhos, costuma se estender para: Todo
pai/mãe deve amar seus filhos da mesma forma, o conflito entre seguir essas leis e
seguir o que se sente é enorme. Aparece a insegurança, a cobrança, as dúvidas, os
sentimentos ambíguos e, principalmente se houver uma situação penosa como a
separação para incrementar a dificuldade, muitas vezes, os pais confundem amar
seus filhos com atitudes amorosas compensatórias. Essa confusão se torna mais
evidente e mais utilizada com o advento da separação.

É muito comum dificuldades com limite, com a diferença entre o que se pode ou
não deixar os filhos fazerem de suas vidas. A diferença essencial nesse aspecto, em
que os pais imersos em seus conflitos não articulam muitas vezes, é que amar seus
filhos significa deixar que façam o que querem com responsabilidade, ou seja, nem
sempre se pode fazer o que quer, existem limites que precisam ser considerados.
Este comportamento é uma forma de cuidado e atenção imprescindível para a
criança. Assim é possível liberdade com responsabilidade como forma de amar.
Diferentemente de deixar a criança fazer o que quer sem levar em conta a
segurança da criança, ou seja, tanto a integridade física quanto a psíquica, no que
se refere ao mundo que ela irá enfrentar. (aparente liberdade)

Como a criança vê a separação dos pais?

A criança, assim como o adulto, também convive com paradigmas, principalmente


diante de situações novas, desconhecidas e conflitivas como a separação. Abaixo
estão alguns fantasmas que as crianças vivem com a nova situação de sua família
que são de suma importância para os pais entenderem como as crianças imaginam,
pensam e sentem sobre tudo o que está ocorrendo:

"Se papai e mamãe não se amam mais, então podem deixar de me amar a
qualquer momento."

A criança demora a entender que os pais se separaram mas não perderam os pais,
eles deixaram de ser marido e mulher mas não deixaram de ter o sentimento de
amor de pais. Para a criança os papéis: marido, mulher, pai e mãe são
indissociáveis. Então quando acontece a separação, leva algum tempo para a
criança entender que não perdeu seus pais.

Muitas vezes os próprios pais contribuem para que a criança sinta como se
estivesse perdendo um ou outro. Ex: Quando se pergunta para uma criança: Quem
ela escolhe? ( ficar com a mamãe ou com o papai?) De quem ela gosta mais, do
papai ou da mamãe? Cria-se uma situação altamente ansiogênica para a criança.
Esta sente que deve escolher entre um e outro exclusivamente, como se ao
escolher ficar com um, não ficará mais com o outro não só em relação a morar,
mas também quanto a abdicar da relação pai/filho ou mãe/filho, do sentimento, da
intimidade, do amor. É como se fosse algo definitivo.

Para os pais também não é muito diferente, quando a criança fica com um ou com
o outro, o cônjuge que não mora mais na mesma casa, se afasta como se algo
tivesse quebrado. Nesse momento a relação entre o cônjuge que está distante
fisicamente e o filho está a prova, ou seja, será que esse afastamento é somente
circunstancial ou será que a relação estava fragilmente calcada na determinação do
papel social onde o que prevalece é tão somente o paradigma: Todo pai/mãe deve
amar seu filho?

"Se eles brigaram e não querem mais viver juntos, é por minha causa, pois aposto
que discutiram sobre mim."

A criança acha que tudo gira ao seu redor, portanto todas as brigas tem a ver com
ela. Às vezes os pais realmente brigam por causa da criança, isto é, por
divergências na educação, nos cuidados, nas obrigações, mas descuidam quando
discutem na frente da criança. Não que se deva esconder tudo o que acontece, mas
é necessário que se escolha o momento e a forma adequada de passar para a
criança o que está ocorrendo, como um filtro, dando condições, considerando sua
idade, para que ela possa entender e participar do que houve.

"Papai (mamãe) não mora mais aqui, não tem porque vir aqui, não liga mais pra
mim."

A distância física algumas vezes é justificativa para muitos comportamentos dos


pais tanto os que se distanciam quanto aqueles que passam a ser mais presentes
do que quando moravam juntos.

Por todas as desavenças de marido/mulher, por tudo o que a casa lembra daquele
relacionamento, o cônjuge que vai para uma outra casa, tem muitos motivos para
não querer aparecer na antiga casa e, às vezes, mistura os papéis deixando de ir
lá, perdendo a frequência de ver os filhos que também moram naquela casa.
Mesmo quando alguns pais fazem questão de ser presentes, por não habitarem
mais a mesma casa, já imprime uma grande diferença de rotina para as crianças
que sentem com os dias e horas a menos de convivência.

E a separação para os pais?

Para os pais é tão difícil quanto para as crianças, porque a situação da separação,
seja amigável ou não, de qualquer forma implica em perdas para ambos, e
dependendo de como foi sua relação, isto é, o papel que cada um ocupava antes do
rompimento, vai afetar diretamente as relações posteriores. Por exemplo: Se o pai
já não era muito presente, se torna totalmente ausente. Se a mãe já era protetora,
do tipo que resolve tudo, vira super mãe. Se o pai era apegado aos filhos, se torna
pegajoso etc.

É como se colocasse uma "lente de aumento" movida pelas inseguranças, dores,


ressentimentos que a nova situação (separados) lançou cada ex-cônjuge.
Desencadeia uma necessidade de compensar aquilo tudo o que foi perdido. É como
se alguém tivesse morrido e as pessoas ainda estivessem de luto, muito presas a
esse passado, ainda não vislumbram o que ganharam estão apenas olhando para o
que perderam, então tentam compensar a si e aos outros.
Ao se deparar com o fato de que aquela relação morreu e que com ela foi junto
todo um conjunto de trocas, sejam afetivas, financeiras, responsabilidades, e
outras, independente de terem sido agradáveis ou não, cada ex-cônjuge
experiencia uma nova rotina que modifica toda a dinâmica familiar. Com isso, a
vida dos filhos muda inevitavelmente no que diz respeito a esse novo ex-casal. Este
herda a relação com os filhos mais a relação com o ex-cônjuge.

Muitas dúvidas, incertezas, sentimentos, ressentimentos perpassam essa nova


família. Assim como a criança, sente culpa pela separação dos pais, estes também
sentem-se culpados em relação aos filhos por causa da separação. Daí várias
atitudes compensatórias por parte dos pais após o rompimento.

Essa culpa existe porque a vida da criança, bem como a dos adultos, irão sofrer
mudanças às quais se remetem à decisão dos pais se separarem. Como por
exemplo, a privação da convivência diária com o pai ou a mãe que não mora mais
na casa. Aquele que ficou sente-se culpado pela tal falta que o outro fará na vida
da criança. E aquele que foi para uma outra casa sente-se culpado por estar
distante. Este pode até achar-se totalmente dispensável na vida da criança, se
afastando por achar que não tem direito, nem lugar nessa nova forma de viver.
Isso acontece porque a separação, amigável ou não, é vista como um fracasso
familiar do qual os cônjuges são seus algozes resultando em uma visão simplista e
punitiva de que: "Se não sou capaz de manter meu casamento, consequentemente
não tenho competência para exercer o meu papel nessa família."

A consequência dessa visão distorcida é a eliminação dos dois papéis: o de


parceiro(a) e o de pai/mãe. Há uma enorme insegurança quanto a competência de
cada um nesses papéis que se denuncia em situações compensatórias com os
filhos, como por exemplo: no presentear demais os filhos; ao sugerir que a criança
escolha com quem quer ficar e, consequentemente, quer saber quem ela ama
mais; ao proteger o filho ao máximo possível para que ele escolha estar sempre
junto, etc.

Além da insegurança em relação a competência tem também a questão de achar


que seus filhos estão marcados por um desfavorecimento no mundo em relação às
outras crianças que têm seus pais convivendo juntos.

Essa confusão dura algum tempo e vai perdurar ou não dependendo de como essa
nova família vai se estruturar e assumir a nova realidade. Portanto, os ex-cônjuges
são responsáveis pela separação e não culpados dela, como se fosse um erro
irreparável do erro de terem um dia se escolhido.

A responsabilidade da separação e suas consequências não determinam prejuízo


para os filhos mas, a culpa dos pais, esta sim, torna-se um peso para a criança pois
esta percebe e sente a insatisfação e a confusão que seus pais estão imersos e,
assim, a culpa dos filhos acaba por ser alimentada.

Após o período de luto, de confusão, quando a realidade supera os fantasmas, pode


surgir a possibilidade de organização de uma nova família a partir da inserção de
um novo membro - o marido da mãe ou a nova esposa do pai.

Hoje em dia, um número cada vez maior de adultos estão criando


sozinho seus filhos. A maioria desses adultos são mulheres. Algumas
vezes o adulto precisa criar sozinho uma criança por causa da morte do
parceiro, mas em geral isso ocorre em virtude de um divórcio ou
separação. Certos pais, depois da separação, conseguem permanecer
sendo um casal no sentido de serem os pais de seu filho.
Quando isso acontece, a criança é evidentemente favorecida. Se os pais
querem que seus filhos sejam felizes, o vínculo filial deve ser
preservado independentemente dos laços conjugais. A grande confusão
que acaba ocorrendo na cabeça das crianças é quando os adultos
misturam as figuras de marido e mulher com as de pai e mãe. Quanto
menores forem os filhos, tanto mais necessitam de pai e mãe. Quanto
mais dependentes, no sentido de necessitar de cuidados, mais irão
exigir uma figura que supra suas necessidades. Essa figura tanto pode
ser a materna quanto a paterna.

A capacidade que as crianças pequenas têm de diferenciar a realidade


da fantasia é pequena, de modo que estas podem, em sua imaginação,
sentir-se responsáveis pelos eventos a seu redor. Portanto, não é
incomum que elas sintam terem afastado o pai ou a mãe. Se os pais
puderem continuar a ser amigos e a compartilhar a responsabilidade e
o amor pelo filho, este passará a compreender e acreditar que não é
responsável pelo término do relacionamento dos pais.

Tendo em vista, porém, as características da natureza humana, é


comum que a capacidade dos pais divorciados de assumir uma
responsabilidade adulta pela criação do filho diminua, e a criança pode
então se tornar um "joguete" no relacionamento. Crianças pequenas
são muito vulneráveis e precisam ser protegidas das discussões, que
muitas vezes não conseguem compreender, mas cujo impacto
emocional certamente são capazes de sentir.

Portanto o importante é que na separação os pais poupem a criança de


sofrimento. Tentar explicar a razão por que estão se separando pode
apenas confundir ainda mais a criança. O que ela provavelmente
precisa é de um relato, o mais simples e direto possível, das mudanças
que a separação trará. Acordos relativos aos dias de visita são mais
facilmente compreendidos por crianças de sete anos do que por
crianças menores.

Os filhos não devem ser colocados como culpados, responsáveis ou


participantes da separação conjugal. O melhor é transmitir aos filhos
que o casal irá se desfazer, mas que os vínculos de pai e mãe serão
preservados o máximo possível.

FILHOS DE PAIS SEPARADOS


X
O divórcio, lamentavelmente, se tornou uma situação
demasiadamente comum, que é, todavia, mais complicada quando os
pais têm filhos pequenos. Mesmo que a separação transcorra em termos
razoáveis e até amigável, é motivo de estresse tanto para os adultos
como para as crianças.
Durante esta fase difícil, os pais deverão dar prioridade aos
sentimentos e opiniões dos filhos.
Se o divórcio ocorre em uma família onde exista um bebê menor de
dois anos, é recomendável que ele permaneça com sua mãe, que é a
fonte principal de apoio durante esta fase. Depois de nove meses da
separação as crianças começam a experimentar aquela ansiedade típica e
isto pode continuar até depois de passados mais de dois anos.
Mas é possível contornar a situação, se os pais, mesmo separados,
conseguirem manter um bom relacionamento fora do lar, onde os filhos
sejam incluídos em atividades feitas por todos.
A decisão da custódia dos filhos é muito pessoal e varia conforme
cada situação familiar. No entanto, os pais devem colocar de lado suas
diferenças e interesses e pensar no bem-estar das crianças.
Quando uma criança que vive com a mãe começa a visitar seu pai e
se sente à vontade com ele, é um indício de que está preparado para
passar a noite fora de casa. No entanto, se não dorme bem e parece
tenso, não o obrigue. O melhor é aguardar um tempo e tentar novamente
a aproximação mais íntima.
Para os mais crescidos é preciso falar-lhes com sinceridade.
Algumas crianças se sentem responsáveis pela separação de seus pais, e
isso pode afetá-los emocionalmente. Os filhos devem sentir-se com
liberdade para expressar suas emoções, sejam elas positivas ou
negativas.
Mantenha a comunicação sempre aberta para evitar danos
irreparáveis no futuro.
A lição mais importante é demonstrar-lhes que apesar de seus pais
não viverem juntos, continuam unidos no que diz respeito aos interesses
e bem-estar de seus filhos. Que são sensíveis às suas necessidades e não
deixarão de prover-lhes estabilidade. Isto os ajudará a crescer com
confiança e fortalecerá sua auto-estima.

Todo ano, a exemplo dos Estados Unidos da América, milhares de brasileiros


se divorciam. Para estes homens e mulheres, é na maior parte das vezes, a mais
cruel, desgastante e onerosa experiência de suas vidas.
Para as crianças , isso pode ser muito pior.
Imagine que você tem seis anos , e subitamente as únicas pessoas que a
alimentava, dava conforto, abrigo e amor passam a se atracar uma com a outra.
Em sua jovem mente, você conclui que foi a causa por eles estarem brigando, e
isso irá fazer com que você os perca. Quando você se conscientiza disso, conclui
que não haverá mais ninguém para acudir seus gritos quando acordar com
pesadelos, ou o proteger.
Para ficar pior ainda, você, constantemente, se vê sozinho na sua angústia, já
que as duas únicas pessoas que você pode contar com elas e normalmente a
consola são seus dois pais, os quais estão tão envolvidos em suas próprias
preocupações e desolações que nem o percebem.
Isto no mínimo é perturbador.
Para os pais, estes acreditam que depois de ter passado a fase mais ácida do
divórcio, as crianças, voltarão a ter uma vida normal, reflexo do que acreditam
para si próprios, achar que suas vidas suas vidas irão melhorar muito. Mas para
muitas crianças, não é isso que acontece.
O Divórcio marca as crianças e seus sintomas podem ser sentidos
imediatamente, tanto quanto a longo termo. Crianças pequenas, as quais seus pais
estão se divorciando, freqüentemente sofrem de depressão, sono instável, perca de
alto estima, pobre aproveitamento escolar, regressão comportamental, se tornando
vítima de todo o tipo de desordem física e emocional.
Mesmo depois de o divórcio ter terminado, os filhos do divórcio
freqüentemente permanecem com um sentimento de sofreguidão que os
aprisionam até o que o de seus pais terminem.
Em adição, estudos da Universidade de Princeton mostraram que crianças
que vivem longe de um de seus pais são mais propensas a se desligarem do colégio
prematuramente, tornarem-se desinteressadas e ociosas (tanto no trabalho como
na escola), e a ter filhos antes dos 20 anos, se comparada com as crianças que
vivem com ambos os pais.
Enquanto possa parecer, para os pais, que é incorreto demonstrar que está
tudo bem, quando não está, este esforço conjunto, fará com que o vitorioso, com o
tempo, seja a criança.
A aposta é obviamente muito alta.
Aproximadamente 1/3 dos filhos do divórcio perdem contato com um de seus
pais, sendo privado por anos de ser guiada, educada , ensinada , amada e
protegida por ele. Mas mesmo as crianças que convivem com ambos os pais, que
continuam se atormentando, discutindo e brigando não se sentem melhor do que
estas...
E quanto mais tempo demorar o conflito entre os pais, mais sério é o prejuízo
psicológico para a criança. Muitas crianças reagem a este stress, "desligando" seus
sentimentos e reprimindo suas emoções. Estas crianças não foram apenas privadas
de sua alegria e júbilo infantil, mas elas freqüentemente se descobrem
desorientadas, quando adultos.
É importante para os pais , lembrarem-se que estas atitudes agressivas
durante o divórcio podem ter um efeito que cause conquências maléficas de longo
termo sobre as crianças, que eles não imaginavam. A mãe que proíbe sua filha de
ver seu adúltero pai, por exemplo, a está preparando para não confiar em homem
nenhum, desta forma sabotando potencialmente sua vida e intimidade quando do
relacionamento adulto.
Pais precisam se conscientizar que crianças freqüentemente interpretam a
raiva entre seus pais, como sendo também contra elas. Isto porque crianças tomam
conhecimento desde tenra idade que elas são "parte mamãe" e "parte papai".
Quando os pais que estão se divorciando começam a se agredir na presença das
filhos, sua estima em desenvolvimento recebe um grande baque.
Divórcios litigiosos nunca são fáceis para os filhos, estas crises são
freqüentemente difíceis de disfarçar. E a saúde emocional das crianças depois do
divórcio de seus pais depende do comportamento dos mesmos durante o processo
de separação. Durante este processo, é uma boa hora para os pais refletirem no
bem estar das crianças, e se necessário contratar um profissional para ajudar a eles
mesmos e a seus filhos.
Talvez haja até mesmo a necessidade das crianças serem assistidas por um
psicólogo, que poderá detectar mensagens escondidas através dos trabalhos
gráficos e histórias contadas.
Evitar a briga pela guarda dos filhos é uma das mais importantes coisas que
os pais podem fazer para assegurar o bem estar das crianças depois do divórcio.
Mesmo as crianças que não tem seus pais brigando pela sua custódia, mas
continuam brigando entre si, podem também causar mal a elas, as quais devem ser
evitadas o máximo possível.
Ajudar as crianças à não serem prejudicadas começa antes que qualquer
documento para a separação venha a ser preenchido e através de como e quando
os pais irão falar as crianças sobre a decisão que tomaram em romper o
casamento.
As primeiras palavras que as crianças irão ouvir sobre separação deveria ser
de seus próprios pais o quanto antes após a decisão de separação ter sido tomada.
O melhor é não esperar nem mesmo que um dos pais venha a sair de casa.
O ideal , é que ambos os pais estejam presentes quando resolverem contar a
elas. Se as crianças têm praticamente a mesma idade, deve ser contado a elas ao
mesmo tempo. Se há uma grande diferença de idade, é muito conveniente que seja
contado a elas simultaneamente, e então separadamente adaptar a explicação para
cada criança de acordo com o nível de entendimento de cada criança.
Quando se informa as crianças um iminente divórcio, os pais não devem
revelar detalhes como infidelidade conjugal ou depravação sexual, e eles não
devem se culpar um ao outro. Um possível método é apresentar o divórcio como
uma solução para os problemas da família, que tem gerado muitas brigas e
desentendimentos.
Honestidade é o elemento crucial nas informações dadas as crianças para a
separação. Deve ser dito a elas que suas vidas irão mudar e algumas coisas como
conviver com o pai que não está morando a maior parte do tempo , será difícil.
As crianças devem ser encorajadas a falar sobre seus sentimentos , com seus
pais, amigos ou mesmo conselheiros.
O melhor é que os pais não perguntem as crianças para escolher com qual
pai elas gostariam de viver. Se elas tiverem uma opinião formada , é conveniente
deixar que ela exponha naturalmente. Se elas não se pronunciarem, não devem ser
colocadas em uma posição de escolha entre um ou outro pai.
A escolha da custódia da criança pode ser pela conservadora Guarda Única ou
então a Guarda Conjunta. A Conjunta se subdivide em Guarda Compartilhada legal
ou a Guarda Compartilhada Física. Na Guarda Compartilhada os pais participam
efetivamente da criação dos filhos, a diferença é que uma não tem alternância de
casas e a outra sim, mas por períodos de tempo bem pequeno , de apenas 3 a 7
dias.
Embora compartilhar a Guarda da criança tão intimamente possa ser difícil
para os pais que não mais estão casados, essa é a melhor maneira que eles
possuem para mostrar que amam suas crianças.
A maior parte das crianças, de fato, a maior parte dos adultos continuam
sonhando em ter a "família perfeita", com a mamãe e o papai, muitas crianças
felizes e um cachorro, todos vivendo em júbilo debaixo do mesmo teto. Mas a
exemplo da alta taxa percentual de separações nos Estados Unidos da América, no
Brasil não é diferente, o IBGE demonstra que o divórcio sobe como um foguete, e
este sonho hoje se realiza para menos e menos famílias.
O que difere para ambos os pais e filhos são oportunidades. Através do
controle de sua raiva, pais que estão se divorciando podem se aproximar de um
objetivo comum para suas crianças - mantendo e nutrindo um ambiente sadio e
minimizando potencialmente o traumático rótulo de família separada.
A vida moderna jogou homens e mulheres numa mesma luta, e as constituições de
todos os paises cultos dão às mulheres e aos homens, iguais direitos e deveres.
Paralelamente às conquistas que as mulheres têm conseguido em nossa sociedade
em obter igualdade de direitos e oportunidades, os homens têm conquistado cada
vez mais espaços legítimos na família e na educação das crianças.

Surge uma consciência maior por parte do pai da sua função na formação da
personalidade dos filhos, meninos ou meninas e a Psicologia tem mostrado as
diversas limitações no desenvolvimento e mesmo psicopatologias decorrentes da
falta de simetria da presença do pai e da mãe na vida cotidiana dos filhos.

Já não se pensa como até 20 anos atrás que o principal fator constituinte da
personalidade é a relação da mãe com a criança, e que a função do pai é apenas de
proteger, facilitar e prover condições para esta relação, relação da qual ele se sente
excluido, seja por falta de informação ou por conveniência do pai e da mãe.

Desta forma, a situação quase geral de antigamente de as mães irem aos juizes
reclamando atenção e presença dos pais, que abandonavam as crianças com a
separação, tem sido substituida pela situação contrária: um maior número de
homens exigindo mais espaço na vida de seus filhos, sabendo que a sua realização,
como pessoa e como homem, passa necessariamente pela sua realização como pai.
São pais capazes de distinguir que a separação é apenas da esposa e não dos
filhos.

Passou o tempo de a mulher se dedicar só aos filhos e de o homem ser condenado


à rua e à privação da família. Os filhos que hoje em dia criamos devem ter seus
ideais de identificação com suas mães e com seus pais, cidadãos e profissionais
responsáveis, para que quando crescidos possam viver e ter êxito numa sociedade
moderna.
O equilíbrio da presença do pai e da mãe, durante o casamento, tão defendido
teórica e praticamente pelas mães e pela Psicologia, aceito em todas as culturas
modernas, não tem por que não sê-lo também quando os pais se separam,
porquanto a estrutura psicológica dos filhos e suas necessidades permanecem as
mesmas.

As pretensões de qualquer dos ex-cônjuges de preencherem sozinhos as funções de


pai ou de mãe, são indefensáveis psicologicamente, e nascem, quase sempre, do
desejo de ressentimento e retaliação, sem levar em conta a vontade e o direito
essencial dos filhos de terem estas funções complementária e equalitariamente
preenchidas pelos seus naturais genitores.
A Justiça tem tratado a questão dos filhos na separação de casais baseando-se em
geral, em preconceitos e teorias ultrapassadas de uma psicologia antiga, não
levando em conta as novas descobertas das ciências psicológicas e a Psicanálise e
não considerando a evolução da mulher e do homem, nos últimos anos. Advogados
e juízes quase sempre tratam a questão unicamente como uma decisão sobre os
direitos da mãe e do pai sobre o filho. Esquecem de que estão tratando de um
direito certamente ainda mais importante, o direito essencial dos filhos de terem
seus pais na medida dos seus desejos e das suas necessidades emocionais e
afetivas.

O justo desejo de ambos os ex-cônjuges de terem suas vidas afetivas refeitas, e as


exigências de participação de ambos na sociedade e no trabalho, os sobrecarregam
demasiadamente e em especial a mulher. A equânime destribuição de direitos e
deveres e a partilha equalitária na guarda dos filhos, sempre beneficiam ambos os
pais, pois os liberam para iniciarem suas novas relações, novos grupos sociais e
tempo para o trabalho.

A guarda exclusiva por parte da mãe a sobrecarrega demasiadamente e não a


deixa livre para se desenvolver afetiva, profissional e economicamente e tende a
pepetuar a frequente dependência econômica do ex-marido com as decorrentes
consequências nos filhos. Pode deteriorar as relações das crianças com a mãe, que
passa a vê-los como um pêso que limita os seus movimentos e sua privacidade.
Pode também dificultar as relações com o pai que passa a ser visto como um
ausente provedor de dinheiro, que teria condições dar sempre mais, mas não o faz.

Trabalhando como psicanalista há mais de 25 anos e tendo atendido dezenas de


casais separados, as únicas relações que conheço, em que os ex-casados
consequem ter uma relação de respeito e até relativa amizade, são aquelas em que
os pais têm iguais condições de participação e presença com os filhos,
especialmente aquelas em que ambos contribuem, mesmo que em proporções
diferentes, no sustento econômico dos filhos.

Os pais separados, quando bem orientados, podem até aumentar a quantidade e


especialmente a qualidade da relação com os filhos, criando oportunidade para
programas e intimidade nunca antes imaginadas durante o casamento. O
distanciamento físico do pai ou da mãe provocará sempre uma gradativa e
inevitável separação afetiva com suas desastrosas consequências.

O pai que mais comumente é vítima deste afastamento físico e do convívio


cotidiano, acaba constituindo uma nova família, com os filhos de uma nova esposa
e com os filhos gerados com ela, e com eles se realizando.

A preocupação principal de advogados e juízes deve ser a proteção do


desenvolvimento emocional e psicológico da criança e isto nunca pode ser feito com
as fáceis e simplistas soluções tradicionais de "visitas" quinzenais do pai, que são
ainda hoje, paradoxalmente, a forma mais comum de decisão judicial.

A assimetria exagerada de presença psicológica de qualquer um dos genitores traz


sempre dificuldades na evolução da afetividade, mormente no que se refere ao
sadio e prazeiroso desenvolvimento da sexualidade . Uma criança cuidada quase
que exclusivamente pela mãe, tem o risco, em sendo menino, de ter da mãe uma
imagem de uma mulher que dá as normas, a regra da casa, a lei, função
originalmente paterna, e ter do pai, por outro lado, uma lembrança de "pai de fim
de semana", quando não de quinzena, um pai que permite tudo, que não define
normas nem estabelece limites, pelo fato de nunca estar com os filhos, a não ser
em raros dias especiais.

Tudo isto pode trazer dificuldades na constituição do menino, como homem, seja
pela deformação de sua visão do papel da mulher decorrente da vivência com a
mãe excessivamente presente e normativa , seja pela pouca condição de
identificação masculina com o pai, ausente e não normativo.

No caso de ser uma menina, os problemas não seriam menores. De forma


naturalmente diferente, a menina pode identificar-se com uma mãe pouco feminina
e amorosa, e ligar-se com um pai excessivamente permissivo e idealizado. Ambas
as coisas são prejudiciais à constituição da menina como mulher. Estas dificuldades
costumam aparecer com maior frequência na adolescência e no momento de
encontrar companheiros afetivos reais e possíveis, e não homens impossíveis,
sempre ausentes e idealizados, como foi o próprio pai.

Em suma, o convívio íntimo com o pai e com a mãe, de uma maneira


complementar e equitativa, é que produz a condição de identificação normal com
seu próprio sexo e pode preparar os filhos para uma vida afetiva e sexual feliz no
futuro.

Toda criança, menimo ou menina, tem a necessidade e o direito de conhecer seus


pais, necessidade reconhecida pela psicologia e pelo senso comum, direito
garantido por qualquer constituição, de qualquer povo.

Mas conhecer os pais, não é conviver com uma mãe cansada e sobrecarregada de
tarefas domésticas, sem condições de mostrar a seus filhos o seu lado feliz de
mulher, sua maneira esperançosa de ver o mundo e os homens. Os filhos têm o
sonho de conhecer sua mãe como pessoa, como profissional e mulher realizada
afetivamente, e dela se orgulhar.

Toda criança, menino ou menina, tem o direito e a necessidade de conhecer o seu


pai, não um pai condenado a um convívio limitado a visitas como se ele fosse
alguém a ser evitado, acusado de crime chamado separação. Neste suposto crime,
pai e mãe são sempre co-autores e co-responsáveis. Conhecer o pai é partilhar com
ele de seu cotidiano, onde os filhos possam ver e sentir sua visão de mundo, sua
profissão, seu dia-a-dia, sua maneira de ver o amor e a vida.

Na minha experiência, assisti a muitos pais que, ausentes da família quando


casados, não poderiam imaginar que o cuidado doméstico e cotidiano que vieram a
ter com os filhos, os tornassem exímios donos de casa, bons cozinheiros, mais
femininos, mais ternos e mais masculinos.

Sempre existe (se não existisse, os pais não teriam se separado) uma grande
diferença entre os dois ex-casados na maneira de ver o mundo, a educação das
crianças e a vida afetiva. Utilizam-se alguns destas diferenças, para propor uma
assimetria de convivio em detrimento de um dos pais. Não há razão do ponto de
vista psicológico ou mesmo jurídico, para que qualquer um dos genitores,
sobrepondo-se ao outro, tenha o direito sobre a vida interior dos filhos, sua visão
de mundo e sua educação.

Ao contrário, excluidos os devidos casos de evidente doença mental ou distúrbios


sociais graves de um dos genitores, os filhos têm o direito e a necessidade de
conhecer o modo de ser e de viver de cada um de seus pais, mesmo quando
diferentes. A diferença na maneira de educar e viver não é exclusiva de pais
separados. Mesmo os pais quando casados diferem na maneira de educar e nem
porisso a lei ordena o afastamento de um deles. Uma diferença de educar e viver
do pai e da mãe, pode resultar numa maior gama de modelos e maior liberdade de
escolha de estilos de vida e portanto em maior riqueza interior.

Filhos de pais separados idealmente deveriam ter duas casas separadas,


igualmente constituidas, com o mesmo tempo de permanência em cada uma, em
períodos alternados, por quinzena, por mês ou por ano, conforme a conveniência
dos pais e a idade das crianças. Eles devem ter o pai e a mãe igualmente presentes
e responsáveis, com iguais deveres e direitos.

Assim os filhos de pais separados, que são a maioria em nossos dias, e não são
necessariamente os mais emocionalmente conflitados, podem ter condições de
serem, um dia, também pais e mães presentes e responsáveis, conscientes de seus
deveres frente ao estado e à família, com os mesmos direitos e deveres de serem
felizes, que o seu pai e sua mãe se deram.

O que já foi "sim, eu aceito" se transformou em "você não presta, você não vale
nada, seu (sua) ‡ð#¤Ø†Þ!". No lugar de juras de amor, impropérios
impublicáveis. Em franca expansão desde os anos 80, a separação já é o destino de
quase um terço dos casais no ano 2000, em números publicados pela revista Veja
de 13/06/2001.

Para a psicóloga de família Maria Tereza Maldonado, mesmo que a convivência se


torne insustentável e a casa caia, ao menos uma coisa tem de ficar de pé. "É
necessário cuidar para manter uma sociedade parental razoável e preservar o
direito da criança de ter acesso igual ao pai e à mãe", recomenda.

Por manter a sociedade parental, entenda-se: quem deixa de ser marido e mulher
não pode deixar de ser pai e mãe. Enquanto isso não acontece, conforme se vê na
maior parte dos acordos de separação e suas famigeradas "visitas quinzenais", ela
defende que o pai tem que se fazer mais presente na educação dos filhos.

Entre outras coisas, é disso que depende o equilíbrio de mais de 250 mil crianças
que, ainda segundo dados de Veja, estão envolvidos em separações e divórcios no
país. São processos que duram anos, se não décadas, e que podem arrastar os
filhos para dentro do redemoinho, do turbilhão emocional em que os pais se
meteram.

Na entrevista a seguir, Maria Tereza Maldonado conta como tirar os filhos do fogo
cruzado de onde, em geral, saem chamuscados. Ela enumera e comenta as
diversas "áreas de risco" que os pais devem evitar, desde transformar o desamor
em ódio, falar mal do ex-cônjuge até colocar os filhos como espiões ou "moeda
forte" da relação.

Nessa briga de marido e mulher, ela afirma que a escola pode meter sua colher. Ela
não só deve estar sensível aos sintomas que as crianças podem apresentar durante
a crise familiar como deve atentar para o fato de que a família tradicional pode não
mais corresponder à realidade dos alunos. "Por isso, é importante que a escola
possa trabalhar a validade dessas outras organizações familiares", conclui.

O casal chegou à conclusão de que a separação é inevitável. O que eles


podem fazer para proteger os filhos?
Muita coisa. O principal desafio da separação é manter a sociedade parental
funcionando pelo menos razoavelmente bem. Isso quer dizer que os filhos têm
direito de ser amados, protegidos e bem cuidados tanto pelo pai quanto pela mãe.
A separação não é necessariamente traumática para os filhos, mas existem áreas
de risco. É necessário manter uma sociedade parental razoável e preservar o direito
da criança de ter acesso igual ao pai e à mãe. Isso vai de encontro ao que é
tradicionalmente feito nos acordos de separação.

Nesse sentido, a tradição da guarda materna não ajuda para que as


crianças tenham o mesmo contato com pai e mãe...
É. Automaticamente estabelece-se, por exemplo, que os filhos vão ficar com a mãe
e ver o pai a cada 15 dias. Isso é um absurdo! Atualmente, há muitos casais e
advogados de família que já estão trabalhando com o conceito da guarda ou da
convivência compartilhada. As crianças podem até ter um domicílio principal: elas
moram com a mãe, por exemplo, mas vêem o pai com muita freqüência.

Como tornar o pai mais presente depois da separação?


O pai fica muito afastado do cotidiano dos filhos. É preciso um acordo para o pai
participar ativamente do dia-a-dia das crianças. Ele pode levá-los à escola ou para
a casa dele no meio da semana para que também possa supervisionar os deveres
escolares. Quer dizer, tudo para não haver essa divisão que comumente se
estabelece no padrão de visita quinzenal: há o pai encantado que a cada 15 dias
vai passear e comprar coisas e a mãe que cobra que o filho escove os dentes, etc.
O pai fica — eu costumo falar — com a autoridade do controle remoto. Ele tem que
exercer a sua autoridade a distância, e a mãe fica muito sobrecarregada, com a
função de cuidar e também de ser provedora parcial, se estiver no mercado de
trabalho. Esse divórcio emocional é desnecessário e desaconselhável.

A senhora comentou que a separação não necessariamente é traumática.


Muitos pais pensam que, adiando a separação, estão diminuindo o
sofrimento dos filhos pequenos. É correto pensar assim?
Não depende da idade dos filhos exatamente. Depende de como essa função
parental de que lhe falei é exercida. Uma separação pode ser traumática para os
adolescentes e não ser para uma criança pequenininha. É aí que vale a pena falar
das áreas de risco que fazem uma separação ser uma carga muito pesada para as
crianças.

Quais seriam elas?


Em primeiro lugar, um parceiro falar mal do outro. Há o risco de esse desamor
que vai se estabelecendo entre o casal se transformar em ódio, em desejo de
vingança e em retaliação. Quando isso acontece, dificilmente as crianças são
poupadas. Elas entram no meio da linha de fogo. É uma área de risco porque
comumente os pais ficam se depreciando, ficam se acusando reciprocamente diante
dos filhos: "Seu pai não presta! Ele não pagou a pensão. Está gastando com outras
coisas, com outras mulheres!" Ou então: "Sua mãe não presta porque está com
dois namorados, está saindo e não está dando atenção para vocês."

O que isso provoca nas crianças?


Isso gera nas crianças uma sensação de desamparo e de desproteção muito
grande, porque os pais ficam falando mal um do outro. A criança pensa: "Puxa
vida, eu agora estou sem pai nem mãe."
E as demais áreas de risco?
Outra área de risco é colocar a criança como espiã ou mensageira só porque o casal
não se fala, não se vê e se odeia.

Como é ser mensageiro dos pais?


A criança fica cobrando coisas: "Papai, a mamãe diz que não pode comprar um par
de sapatos novos porque você não deu dinheiro." Aí o pai espuma de raiva, não
com a ex-mulher, mas com a criança: "É claro que eu dei dinheiro, mas ela compra
sapato pra ela e não pra vocês." Então, essa criança fica com uma sobrecarga
muito grande. Ela é o receptáculo da raiva da mãe e da raiva do pai. Sobra tudo
pra ela.
Outra área de risco é o conflito de lealdade. É quando os pais que se odeiam
começam a usar a criança como um aliado: "Você não pode gostar da namorada do
seu pai porque ela não presta, foi ela quem tirou ele daqui de dentro, de perto da
gente, você não pode ficar agradando o seu pai porque ele fez uma sujeira muito
grande conosco." Então, a criança que gosta do pai e até acha sua namorada
simpática fica num conflito de lealdade horrível. Se ela diz que está bem, que veio
alegre da casa do pai, que passeou com a namorada, a mãe fica espumando de
raiva e a ataca.

Essa postura de colocar os filhos contra o pai ou a mãe, de pô-los nesse


fogo cruzado, acontece sem que os pais percebam por que sua vida
emocional ficou de pernas para o ar ou realmente é algo consciente,
perverso até?
Eu diria que, na maior parte das situações, os pais têm consciência, mas eles não
conseguem se controlar. É um transbordamento de ódio, de rancor, de mágoa e de
desejo de vingança tão grande que, mesmo quando eles se dizem "eu não deveria
estar fazendo esse mal aos meus filhos", eles acabam fazendo. Na questão do
dinheiro, isso é muito claro. Um dos jogos mais comuns — e que é uma área de
risco seriíssima — é a criança ser usada como moeda forte. Mas, às vezes, os
pais estão tão tumultuados antes, durante e imediatamente depois da separação
que eles ficam com muito pouca possibilidade de perceber o que está acontecendo
com a criança e de saber como tudo isso está repercutindo nela. Então, nessas
situações, é muito importante que haja outras pessoas que possam fazer isso. Eu
acho que a escola, uma professora, uma orientadora pode dar uma ajuda, bem
como alguém da família extensa ou da vizinhança que esteja disponível para
acompanhar o que está acontecendo nos sentimentos dessa criança ou adolescente
nos períodos de turbulência emocional.

Que efeitos essa turbulência emocional dos alunos traz para a escola?
Em linhas gerais, nas grandes mudanças demora-se um tempo para adaptar-se à
nova situação. Claro que isto não é uma lei matemática, mas se considera que, em
torno de um ano, um ano e meio, é o período de ajuste à passagem de uma
organização familiar para outra. E nesse período é muito freqüente que apareçam
mudanças de comportamento e sintomas nas crianças e nos adolescentes em face
da crise familiar.
A diminuição do rendimento escolar é um fator que acontece com muita freqüência;
a queixa de dor: dor de cabeça, de estômago, de joelho, de perna, dor de tudo
(risos); febres sem causas clínicas, mas com razões psicossomáticas; dificuldade de
atenção e concentração em sala de aula; mudança de conduta: a criança fica mais
agitada, irritadiça, agressiva e mais sensível também — ou chora ou explode muito
mais facilmente. Porque, se o pai diz que vai sair de casa, o pensamento da criança
é: "E agora, como é que vai ser sem meu pai?". E a aula de matemática passa
longe.
Tudo isso são mudanças que devem repercutir na escola, no comportamento com
os colegas e com os professores e no próprio rendimento escolar.
E o que significa transformar as crianças em moeda forte de uma relação?
É a mulher que, por exemplo, está insatisfeita com o que o homem lhe dá. Ou,
muitas vezes, é o homem que dá muito menos do que pode porque está com raiva
da mulher. Assim, ele a priva e, conseqüentemente, priva os filhos. Tem mulher
que se sente prejudicada pela separação e quer ser indenizada. Então, entra numa
guerra pelo patrimônio. E, se o homem se recusa, ela sonega a visita aos filhos, diz
que o filho adoeceu, que não está bem ou não quer ir.
A mulher também pode ameaçar os filhos para evitar que saiam com o pai,
principalmente se ele estiver com outra mulher, que vira a vilã da história. Então,
as crianças ficam no meio de um conflito muito pesado e muitas vezes são privadas
de dinheiro ou da visita ao pai por questões de dinheiro.

O que maltrata mais: as brigas ou a separação em si? Em outras palavras,


ver os pais se digladiando é uma dor comparável a ver a família
desestruturada para sempre?
Eu sou terapeuta de família e atendo muitas famílias nessas separações que não
estão se encaminhando bem. Certa vez, uma criança me falou o seguinte: "Eu não
entendo porque meus pais se separaram. Eles me disseram que é porque brigavam
muito. Eles estão separados e continuam brigando do mesmo jeito." Então, a dor
de ver os pais separados soma-se à dor de ver os pais continuarem brigando,
talvez até mais do que quando estavam juntos. Muitas pessoas não conseguem
fazer essa separação emocional. Elas continuam casadas pelo ódio. Muitas vezes é
uma questão que demora décadas! Esse tipo de casal continua casado,
intensamente casado, pelo ódio e pelo desejo de vingança. O sofrimento é causado
principalmente pela dificuldade de resolução emocional da separação, que vai
colocando as crianças dentro dessas áreas de risco e tirando-lhes o direito de ter
uma convivência harmônica com pai e mãe.

A senhora tem comentado características de pais que não conduzem bem


uma separação e não poupam os filhos. E como é essa geração de filhos de
pais separados? É possível dizer que a separação tem forjado algum traço
de personalidade comum em crianças e jovens?
Não, eu não diria que algo possa ser generalizado como um traço comum de filhos
de pais separados. Há várias maneiras de se separar e a separação repercute de
várias maneiras. Uma outra área de risco, comum entre muitos filhos de pais
separados é assumir papéis de adultos antes do tempo.
Vamos dizer: uma mãe está sozinha com seu filho de 10 ou 11 anos. Então, o risco
de ela tomar esse filho como um companheiro que não vai poder deixá-la é maior
do que se ela tiver refeito sua vida com um companheiro adulto. A mesma coisa
acontece com um pai que está sozinho e não consegue recompor sua vida afetiva.
Ele também corre o risco de se grudar nos filhos e ficar girando em torno dessa
paternidade.
Agora, isso também pode acontecer em um casamento ruim. Há pessoas casadas
que moram na mesma casa e estão longe uma da outra emocionalmente. Então, eu
não diria que existe uma característica comum.

Não se percebe nem, por exemplo, uma certa visão negativa do casamento,
como se ele representasse a perda da liberdade ou fosse uma união fadada
ao fracasso? É comum ouvir: "Ah! Isso é coisa de filho de pais
separados"...
Isso, pra mim, é uma visão preconceituosa. Antigamente se pensava assim: lar
estruturado é o lar com pais casados. Lar desestruturado é o lar com pais
separados. Eram sinônimos. Mas em estudos mais aprofundados sobre a família
feitos atualmente, sobre as características e desafios específicos de cada
composição familiar, a conclusão a que se chegou é que existem famílias
estruturadas e desestruturadas em qualquer tipo de organização familiar.
Então, pode haver uma visão negativa do casamento em filhos com pais casados,
que vêem a mãe superinfeliz no casamento e o pai se queixando amargamente.
Eles consideram o casamento um fardo. Os filhos de pais casados podem ter essa
visão. Os filhos de pais separados podem ter passado por toda essa dor de ver a
família mudando de organização e da perda da família de pais casados para a
reconstrução de uma família de pais separados.

Ou seja, a questão central deve ser a reconstrução da família.


Isto é muito importante: uma família de pais separados não deixa de ser uma
família. Muitas vezes se diz assim: "Ah! A família está acabando." Não! O
casamento está acabando, a família não. A separação é uma mudança de
organização familiar, não é o término da família. Antigamente, tinha-se muito essa
visão: acabou o casamento, acabou a família. Hoje em dia, sabemos que não é
assim. A família não acaba, ela passa a ser uma família com outro tipo de
organização.
Há lares monoparentais que funcionam excepcionalmente bem, muito bem mesmo,
com relações harmônicas, de confiança, solidárias e em que as crianças se dão
muito bem nos dois núcleos. E não necessariamente esses filhos vão ter uma visão
ruim do casamento porque os pais se separaram. Pelo contrário, nem por isso
deixam de ter o anseio de se casar, de que vão manter seus casamentos ou até
mesmo de ter esta visão: mesmo que o casamento não dure uma eternidade, ele
vai ter o seu tempo e depois vai haver uma separação e uma reconstrução de vida.

A senhora acaba de comentar que há crianças que se dão bem com os dois
núcleos. Isso porque, nessa reconstrução, muitas vezes os pais separados
se casam com quem já tem filhos, não é?
Na família de "recasamento", existem outras características e outras
complexidades. O que acontece? Muitas crianças de "recasamento" vão ter a
seguinte dimensão: os filhos dele, os filhos dela e, às vezes, os filhos em comum
desse outro casamento. É uma composição familiar com irmãos biológicos e irmãos
de convívio. É como se fosse um outro tipo de família extensa. Antigamente, a
família extensa era o pai, a mãe, os filhos, os tios, os avós, os sobrinhos, aquela
grande família que se reunia, aquele clã familiar. Hoje também se fala que a família
de "recasamento" é uma família extensa porque é composta pelo homem, pela
mulher, pelo ex-marido, pela ex-mulher, pelos filhos de um, de outro, pelos avós
de ambos os lados. São oito avós (risos).
Isso resulta numa complexidade de relacionamentos e numa flexibilidade para se
ajustar a situações diferentes. Na casa do pai, funciona de um jeito. Na casa da
mãe, de outro. Depois que os pais se separam e casam novamente, a família passa
a funcionar de uma terceira ou quarta maneira (risos). Essa dimensão de
ajustamento, de flexibilidade, de capacidade de negociação, de entrar em acordo
também precisa ser bem trabalhada.

A senhora não acha que a escola ainda trabalha muito com o modelo de
família nuclear, que não corresponde à realidade de boa parte dos alunos?
Não corresponde. Por isso é importante que a escola trabalhe a validade dessas
outras organizações familiares. "Vamos fazer o desenho da família?" Aí se desenha
papai, mamãe... Deve-se trabalhar na escola essas outras alternativas de família
nas aulas de arte, ou em qualquer outra, e mostrar que existem vários tipos de
famílias e que cada uma tem as suas características. Existem as de pais casados,
as de pais separados, as de pais que nunca se casaram, existem as famílias de
"recasamento", as famílias adotivas, e é preciso falar de todas elas nas escolas.
Existe um leque de organizações familiares que precisa ser claramente trabalhado
no contexto escolar.
Hoje você tem, no Brasil, uma diminuição da taxa de fecundidade entre as
mulheres adultas e um aumento de fecundidade entre as adolescentes, que não
necessariamente vão se casar, mas vão ter seus filhos. É a família de três
gerações, com avó, mãe e filho, ou quatro gerações, de repente.
E até que ponto essa variedade de organizações familiares que as pessoas
estão buscando é conseqüência do aumento de separações e da incerteza
ou descrença sobre o futuro do casamento?
A separação hoje não tem o mesmo peso e não sofre o mesmo preconceito de 30
ou 40 anos atrás. As crianças eram discriminadas: "Você não pode mais ser amigo
do João porque ele é filho de pais desquitados." Escolas tradicionais ou religiosas
não aceitavam filhos de pais separados como alunos. Então, além da dor, do peso,
da turbulência emocional da separação, as pessoas enfrentavam o preconceito
social. Isso ainda existe, de alguma forma, mas está muito atenuado. A imagem da
separação mudou muito. Existe uma mudança de pensamento sobre o casamento,
sobre formar uma família e até sobre ter ou não filhos. Tradicionalmente, o destino
da mulher era casar e formar uma família. Hoje em dia, muitas mulheres não
querem ter filhos. Avaliam a situação e dizem: "Não estou a fim, quero me dedicar
ao trabalho." Então, claro que mudou a maneira de olhar o casamento. O
casamento não tem que ser para sempre. Ele pode durar um tempo e terminar, e
as pessoas vão reconstruir as suas vidas, casar de novo ou não.
Também mudou a maneira de olhar a família, a maneira de cuidar dos filhos. O
importante hoje é explorar os recursos para formar uma família harmônica que
propicie um bom desenvolvimento emocional, físico e espiritual às crianças em
qualquer uma dessas formas de organização familiar. Para mim, esse é o grande
desafio da família no século XXI.

A senhora comentou que os pais envolvem os filhos em brigas por dinheiro


ou se um deles arrumar um novo parceiro. Nessas novas formas de
organização da família, se os pais separados tentarem educar os filhos
cada um à sua maneira, isso também não vai gerar muitos problemas entre
pais e filhos?
Gera muitos conflitos. Até porque, quando um homem e uma mulher se casam,
eles levam suas histórias individuais: como eles foram como filhos, como foram
criados por seus pais. Depois, eles têm um filho e isso, por si só, já gera uma série
de impasses. Um diz: "Eu acho que criança tem hora pra dormir". O outro
responde: "Eu acho que criança tem que dormir quando tem sono." Essas
diferenças existem inevitavelmente nos casais.
Quando os casais se separam, passa a haver dois lares monoparentais e, muitas
vezes essas diferenças de filosofia educacional se acirram: "Pô, a minha mãe é
careta, eu tenho 13 anos e ela não me deixa tomar cerveja. Na casa do pai é legal,
eu tomo cerveja com ele, com os amigos dele e com meus amigos também." A mãe
fica louca quando escuta uma história dessas. O pai acha que é assim mesmo, que
é normal: "Por que não? Ele é um rapaz de 13 anos."
Ou então ela se casa de novo e o marido deixa o filho de 16 anos dirigir o carro...
Ela acha um absurdo e não deixa o filho dessa mesma idade dirigir o carro. E o
garoto fica enlouquecido porque o marido da mãe deixa o filho dirigir e ela não
(risos). Há uma série de áreas potencialmente conflitivas, sem dúvida alguma.

Digamos que seja um casal como aqueles que a senhora mencionou:


apesar de separados, brigam por décadas como se estivessem casados.
Como eles vão chegar ao consenso sobre a educação dos filhos para
reconstruir a família se eles não sentarem e conversarem?
Às vezes, é tão complicado o entendimento desse ex-casal que precisa existir a
figura do mediador. Pode ser um psicólogo ou um advogado de família que sente
com um e com outro e medie decisões a respeito não só de pensão, divisão de
patrimônio e contato com os filhos, mas onde passar férias, Natal, ano-novo,
aniversário, esses detalhes do cotidiano, e também sobre outras situações, como
montar uma linha básica de medidas e posturas na educação dos filhos para que a
criança não fique sem saber o que fazer. Senão, um diz uma coisa e o outro diz
outra, um diz que pode e o outro diz que não pode.
Como é que a criança se sente nessa situação?
Outra área de risco para as crianças em caso de separação é a sensação de
abandono porque, às vezes, os adultos saem de um casamento insatisfatório com
sede de viver. Então, ficam cobrando um do outro a responsabilidade: "Eu sei que
este fim de semana é meu, mas eu tenho que viajar, então você pode ficar com as
crianças." Às vezes, o ex-casal se entende muito bem nessas circunstâncias, mas
às vezes as crianças sentem que sobram nessa história.
Um menino de 13 anos certa vez me falou: "Eu me sinto como uma bolinha de
pingue-pongue: meu pai me joga para a minha mãe, minha mãe me joga para o
meu pai. A minha conclusão é que nenhum dos dois me quer. Se estivessem
casados, não passariam o fim de semana sem mim, eles me levariam junto. Mas
agora que eles se separaram, ninguém me quer nos fins de semana." Esse garoto
estava vivendo um sentimento de rejeição e de abandono porque os pais estavam
muito voltados para os seus interesses e desejos. Essa possibilidade de negligência
e de que o filho passe a ser encarado como um fardo também constitui uma área
de risco importante.

Separação conjugal: convivência amigável beneficia pais e filhos

Ao invés de ser fonte de conflito, a separação de um casal pode tornar a


convivência entre pais e filhos mais saudável. Para psicóloga, a guarda
compartilhada aparece como alternativa para garantir o convívio com pai e mãe.
Os pais passam a morar em casas separadas. Novos acordos são estabelecidos e a
rotina da família se altera. Mas a separação conjugal em si não é sinônimo de
prejuízo ou dano ao desenvolvimento dos filhos. Quando bem trabalhada, pode ser
superada de forma tranqüila e até trazer ganhos qualitativos para a relação
familiar. É o que defende a psicoterapeuta Anna Karynne Melo, professora do
Departamento de Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor).

‘‘Seria uma tentativa do casal de conviver bem. Isso vai depender de como os pais
colocam a criança nessa nova situação’’, analisa Karynne. Assim, pais separados
podem ser mais saudáveis do que em uma relação desgastada e ruim para ambos.
A psicóloga avalia que a insegurança de um filho por presenciar constantes
situações de conflito ou infelicidade na família é que pode ser prejudicial. A
separação seria a oportunidade da criança conviver em um ambiente mais
favorável a ela.

Mas para que esse processo seja bem sucedido, Karynne considera fundamental
garantir a presença do pai e da mãe, mesmo de forma separada. ‘‘Às vezes, eles
podem estar em casa, mas não estar presentes’’, ressalva. As crianças devem ser
informadas sobre o que significa essa separação, evitando que fantasiem,
dependendo da idade, sobre os possíveis motivos da mudança. As brigas devem ser
evitadas, mas deve ser sinalizado que a relação passa por dificuldades.

‘‘Há uma dissolução da união, mas não do vínculo parental. É importante o filho
perceber isso’’, defende a psicóloga Verônica Salgueiro, professora de psicologia
jurídica da Universidade de Fortaleza (Unifor). De acordo com ela, é preciso
trabalhar com a criança a diferença entre a função de marido e mulher da função
de pai e mãe.

Os possíveis transtornos vão depender da forma como os pais lidam com a


separação. ‘‘Às vezes, uma das partes coloca questões que não são referentes ao
filho, mas ao cônjuge. A criança não pode ficar no meio dessa disputa’’, destaca
Karynne. Verônica acrescenta: ‘‘Algo muito prejudicial é um genitor difamar a
imagem do outro para o filho’’.

Prejuízos para todos quando o filho é obrigado a escolher de quem ele gosta mais.
Mas quando o vínculo com os dois é mantido, os filhos sentem-se seguros e
amados. E mesmo na separação, é preciso que os pais mantenham a possibilidade
de diálogo sobre a educação das crianças e adolescentes.

Karynne observa que por mais que esse processo seja conduzido de forma
consensual e tranqüila, são inevitáveis as alterações no cotidiano. ‘‘Se para os pais
está acontecendo uma mudança, que eles precisam se adaptar, para a criança
também. A criança apresenta diferenças porque está em uma situação diferente’’,
ressalva. Mesmo se os filhos apresentem novos comportamentos, ela considera que
é possível restabelecer uma rotina normal por meio do diálogo.

Nessa busca por mecanismos que garantam à criança o convívio com o pai e a
mãe, a guarda compartilhada é uma alternativa que ganha cada vez mais espaço.
O filho passa a ter duas casas e os dois genitores dividem deveres e
responsabilidades igualmente. Em alguns acordos, a criança pode passar uma
semana com o pai, outra com a mãe.

De acordo com Karynne, pai e mãe devem estar atentos para que o ambiente de
ambas as casas seja reconhecido pela criança como dela. A orientação é montem
um quarto para o filho em cada casa. Manter esse espaço com objetos pessoais,
como roupas e brinquedos, é uma forma da criança ou adolescente ter intimidade
com o local. A criança também precisa cumprir a mesma rotina nas duas casas.
‘‘Não é como se estivesse de férias, onde em uma casa vai se divertir e em outra
cumprir obrigações’’.

Você também pode gostar