Fundações Profundas - Unip (TOMO I)

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Fundações Profundas

Autor: Prof. Valério Henrique França


Colaboradores: Prof. Ricardo Scalão Tinoco
Prof. José Carlos Morilla
Professor conteudista: Valério Henrique França

Engenheiro civil pela Escola de Engenharia de Lins (1997), mestre em Engenharia Civil na área de Estruturas
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2004) e doutor na área de Estruturas e Fundações pela
Universidade Estadual Paulista de Campinas (2012).

É professor da Universidade Paulista (UNIP) desde 2011 nos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura nas disciplinas
correlatas à área de estrutura: Resistência dos Materiais, Fundações Profundas, Obras em Terra, Estradas e Aeroportos,
Sistemas Estruturais.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

F814f França, Valério Henrique.

Fundações Profundas / Valério Henrique França – São Paulo:


Editora Sol, 2020.

220 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Fundação. 2. Bloco de estaca. 3. Métodos teóricos. I. Título.

CDU 624.15

W504.39 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Fabrícia Carpinelli
Giovanna Oliveira
Sumário
Fundações Profundas

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 TIPOS DE FUNDAÇÕES.................................................................................................................................... 11
1.1 Fundações: breve histórico................................................................................................................ 11
1.2 Fundações superficiais........................................................................................................................ 12
1.2.1 Sapatas isoladas....................................................................................................................................... 13
1.2.2 Sapatas corridas....................................................................................................................................... 13
1.2.3 Alvenaria de tijolos.................................................................................................................................. 13
1.2.4 Alvenaria de pedras................................................................................................................................. 13
1.2.5 Concreto...................................................................................................................................................... 13
1.2.6 Radier............................................................................................................................................................ 13
2 FUNDAÇÕES PROFUNDAS............................................................................................................................ 14
2.1 Estacas....................................................................................................................................................... 15
2.2 Estacas para cravação......................................................................................................................... 16
2.3 Estacas de madeira............................................................................................................................... 17
2.3.1 Generalidades das estacas de madeira........................................................................................... 17
2.3.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas....................................................................................... 18
2.3.3 Vantagens e desvantagens do uso da estaca de madeira....................................................... 20
2.4 Estacas pré‑moldadas de concreto................................................................................................ 21
2.4.1 Generalidades das estacas pré‑moldadas de concreto............................................................ 21
2.4.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas....................................................................................... 22
2.4.3 Vantagens e desvantagens da estaca pré‑moldada em concreto....................................... 29
2.5 Estacas metálicas................................................................................................................................... 30
2.5.1 Generalidades das estacas metálicas............................................................................................... 30
2.5.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas....................................................................................... 31
2.5.3 Vantagens e desvantagens das estacas metálicas..................................................................... 35
2.6 Estacas moldadas in situ.................................................................................................................... 36
2.7 Estacas Strauss....................................................................................................................................... 37
2.7.1 Generalidades da estaca Strauss....................................................................................................... 37
2.7.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas....................................................................................... 38
2.7.3 Vantagens e desvantagens da estaca Strauss.............................................................................. 43
2.8 Estacas Franki.......................................................................................................................................... 44
2.8.1 Generalidades da estaca Franki.......................................................................................................... 44
2.8.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas....................................................................................... 45
2.8.3 Vantagens e desvantagens da estaca Franki................................................................................ 49
2.9 Estaca broca............................................................................................................................................. 51
2.9.1 Generalidades da estaca broca........................................................................................................... 51
2.9.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas....................................................................................... 53
2.9.3 Vantagens e desvantagens da estaca tipo broca........................................................................ 54
2.10 Estacas raiz............................................................................................................................................ 54
2.10.1 Generalidades da estaca tipo raiz................................................................................................... 54
2.10.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas utilizados na estaca raiz.................................. 55
2.10.3 Vantagens e desvantagens da estaca tipo raiz......................................................................... 59
2.11 Estacas de hélice contínua.............................................................................................................. 60
2.11.1 Generalidades da estaca hélice contínua.................................................................................... 60
2.11.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas utilizados na estaca hélice contínua.......... 61
2.11.3 Vantagens e desvantagens................................................................................................................ 62
3 FUNDAÇÃO TIPO TUBULÃO.......................................................................................................................... 63
3.1 Tubulões a céu aberto......................................................................................................................... 64
3.2 Tubulões a ar comprimido................................................................................................................. 74
3.2.1 Processo executivo – camisa de concreto armado.................................................................... 77
3.2.2 Processo executivo – camisa de aço................................................................................................ 79
4 BLOCO DE CAPEAMENTO PARA ESTACA................................................................................................. 81
4.1 Generalidades......................................................................................................................................... 81
4.2 Dimensionamento das estacas........................................................................................................ 83
4.3 Dimensionamento dos blocos de capeamento......................................................................... 84
4.3.1 Bloco com uma estaca.......................................................................................................................... 84
4.3.2 Bloco com duas estacas........................................................................................................................ 86
4.3.3 Bloco com três estacas.......................................................................................................................... 88
4.3.4 Bloco com quatro estacas.................................................................................................................... 88
4.3.5 Bloco com cinco estacas....................................................................................................................... 93
4.3.6 Bloco com seis estacas.......................................................................................................................... 93
4.3.7 Bloco com sete estacas......................................................................................................................... 94
4.4 Reformulação de blocos de estacas.............................................................................................. 94

Unidade II
5 PROCEDIMENTOS USADOS NO BRASIL PARA CALCULAR A CAPACIDADE DE
CARGA NAS ESTACAS.......................................................................................................................................100
5.1 Provas de carga....................................................................................................................................101
5.1.1 Provas de carga lenta (SML)..............................................................................................................103
5.1.2 Provas de carga rápida (QML)...........................................................................................................103
5.1.3 Carregamento misto.............................................................................................................................104
5.1.4 Ensaio de carregamento cíclico.......................................................................................................104
5.1.5 Provas de carga instrumentada.......................................................................................................104
5.2 Métodos teóricos.................................................................................................................................105
5.3 Métodos semiempíricos....................................................................................................................108
5.4 Método de Aoki‑Velloso...................................................................................................................108
5.5 Método de Décourt‑Quaresma......................................................................................................119
6 PROCEDIMENTOS USADOS NO BRASIL PARA ESTIMAR A CARGA DE RUPTURA.................132
6.1 Generalidades.......................................................................................................................................132
6.2 Estimativa da carga de ruptura (Qr)............................................................................................132
6.2.1 Método de Aoki‑Velloso (1975)...................................................................................................... 134
6.2.2 Método de Décourt e Quaresma (1978), modificado por Décourt (1996).................... 144
6.2.3 Método Milititsky e Alves (1985)................................................................................................... 150
6.2.4 Método de Teixeira (1996).................................................................................................................151
6.2.5 Método de Vorcaro e Velloso (2000)............................................................................................. 152
6.2.6 Método de UFRGS (LOBO, 2005).................................................................................................... 153

Unidade III
7 INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS................................................................................................................158
7.1 Generalidades.......................................................................................................................................158
7.2 Ensaio de penetração padrão (SPT)..............................................................................................160
7.2.1 Equipamentos necessários................................................................................................................ 160
7.2.2 Procedimento do ensaio.................................................................................................................... 166
7.3 Ensaio de penetração padrão (CPT).............................................................................................172
7.3.1 Equipamentos necessários para a realização do ensaio CPT.............................................. 173
7.3.2 Procedimento do ensaio.................................................................................................................... 176
7.4 Ensaio de palheta – VST....................................................................................................................177
7.4.1 Equipamentos necessários para realização do ensaio VST.................................................. 178
7.4.2 Procedimento do ensaio.................................................................................................................... 182
7.5 Ensaio dilatômetro de Marchetti – DMT....................................................................................183
7.6 Ensaio pressiômetro de Ménard‑ PMT........................................................................................186
8 ESTUDO INTERAÇÃO SOLO‑ESTRUTURA...............................................................................................190
8.1 Generalidades.......................................................................................................................................190
8.2 Número de pavimentos....................................................................................................................191
8.3 Processo construtivo..........................................................................................................................191
8.4 Edificações vizinhas............................................................................................................................192
8.5 Forma em planta do edifício...........................................................................................................194
8.6 Rigidez relativa estrutura‑solo......................................................................................................194
APRESENTAÇÃO

Olá, caro aluno!

Bem‑vindo ao espaço de estudo desta disciplina.

As fundações são estruturas relevantes na concepção do projeto, pois são as responsáveis por
transmitir ao terreno toda a carga da edificação. Entretanto, na geotecnia, o termo fundações não
compreende apenas os elementos estruturais, mas também todo o solo que envolve os elementos e
suporta os esforços gerados pela presença da edificação.

O objetivo é fornecer ao aluno conceitos gerais de fundações profundas, abrangendo os


conceitos teóricos, práticos e também os critérios de dimensionamento e os métodos executivos
para a sua implantação.

Para o profissional, se faz necessário o conhecimento da capacidade de carga de cada estaca; por
isso, serão elencados os principais métodos para estimar a capacidade de carga das fundações.

Os tópicos a serem estudados são: principais tipos de fundações; dimensionamento e métodos


construtivos; investigações geotécnicas e estudo/interação solo‑estrutura.

Bom estudo!

INTRODUÇÃO

A escolha do tipo de fundação a ser utilizada é um problema complexo, pois envolve um grande
número de variáveis. De forma geral, as pessoas são levadas a acreditar que apenas o tipo de terreno
influencia nesta escolha, o que é uma inverdade.

Ao elencar apenas essa variável, o engenheiro civil deixa de levar em consideração diversos outros
aspectos, tais como os dados da estrutura projetada, da vizinhança, da execução e os dados econômicos.

Estudaremos aqui, primeiramente, quais são os principais tipos de fundações profundas, assim
como os equipamentos utilizados para sua confecção, métodos construtivos e suas principais
vantagens e desvantagens com o objetivo de nortear a escolha do tipo de fundação para cada obra
e ou terreno.

Na sequência, conheceremos as fundações tubulão a céu aberto e tubulão a ar comprimido,


quando poderemos acompanhar alguns exemplos de dimensionamento e conhecer a particularidade
de cada tipo.

Veremos também quais são os tipos de blocos de capeamento e os métodos para seu
dimensionamento. Serão demonstrados os principais procedimentos utilizados para calcular a
capacidade de carga das estacas, com alguns exemplos de dimensionamentos.
9
Por fim, estudaremos os principais procedimentos utilizados no Brasil para estimar a carga de ruptura
de uma estaca, em que conheceremos as equações clássicas de Décourt‑Quaresma e Aoki‑Velloso dentre
outras. Ainda serão apresentados os vários tipos de ensaios, a fim de investigar o perfil geológico de um
terreno. Também veremos a interação solo‑estrutura, ocasião em que estudaremos os principais efeitos
provocados no solo ao inserirmos determinada carga.

10
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Unidade I
1 TIPOS DE FUNDAÇÕES

Em geral, as fundações são classificadas em superficiais e profundas. De acordo com a


NBR 6122/2010 – Projeto e execução de fundações (ABNT, 2010), as fundações superficiais são aquelas
em que as camadas do subsolo imediatamente abaixo da futura edificação têm a capacidade de suportar
as cargas que lhes serão transmitidas. As fundações denominadas profundas recebem esta classificação
por serem capazes de transmitir a carga oriunda de uma construção a profundidades maiores, seja por
sua ponta ou pela superfície lateral, ou mesmo uma combinação das duas.

1.1 Fundações: breve histórico

Com o objetivo de investigar o histórico evolutivo de fundações em estacas, Kérisiel (1985) realizou um
estudo em que observou que a utilização deste tipo de estaca remonta ao período Neolítico (5000 a.C.) na
possível construção de choupanas, em que se fazia necessária uma noção sobre resistência e estabilidade
dos materiais. As choupanas eram construídas à margem de lagos com a utilização de madeira retirada
das proximidades. Tais construções eram realizadas sobre estacas elevadas (palafitas) e, de acordo com
Nápoles Neto (1998), possibilitaram ideias adicionais sobre a resistência do solo. Segundo Tomlinson
(1994), essas estacas que suportavam as construções pré‑históricas foram descobertas em escavações
realizadas na Suíça, nas margens do lago Lucerna.

De acordo com Nápoles Neto (1998), no século VI a.C., a arquitetura grega em palácios e templos já
utilizava estacas, pois as cargas já se concentravam nas fundações. Eram utilizados blocos superpostos,
apoiados em estacas de madeira, as quais eram cravadas, segundo o pesquisador, por máquinas que
possivelmente também eram utilizadas nas guerras. Essas máquinas, segundo Kérisiel (1985), foram
criadas no início da Idade do Ferro, com o desenvolvimento da técnica de manuseio e forjamento dos
metais, inclusive com a criação de ferramentas para perfuração do solo.

Com o aperfeiçoamento das técnicas construtivas dos gregos, as edificações como palácios e templos
começaram a receber arcos e abóbada, evidenciando o aprimoramento em relação às fundações, pois
elas passaram a receber cargas elevadas. O concreto surge quando à mistura de pozolana com calcário
(ou seja, ao cimento romano), são adicionados pedaços de pedras. Essa combinação foi empregada,
principalmente, em fundações entre os anos de 110 a 125 d.C. (NÁPOLES NETO, 1998).

De acordo com Kérisiel (1985), no início do século XVII, Vauban foi quem primeiro visualizou a
conjunção de ações entre o solo e estrutura, deixando escritos e desenhos. Feld (1948 apud NÁPOLES
NETO, 1998), em suas pesquisas, confirma esse fato, inclusive afirmando que a técnica de Vauban foi
bem estabelecida e lembrando que Lambert, em 1772, baseado na observação e na experimentação, foi
o primeiro a tentar racionalizar o projeto de fundação por sapatas e por estacas.
11
Unidade I

No final do século XVIII, o concreto passou a ter uma grande importância devido a sua utilização na
construção de fundações, atingindo seu ápice com o advento do concreto armado, que teve início na França,
em 1848, e também pela invenção de Nasmyth, em 1845, do cravador de estacas a vapor (TOMLINSON, 1994).

As fundações em estacas passaram a ser mais utilizadas no século XIX, devido ao desenvolvimento
industrial, em que houve a necessidade de utilizar estruturas mais pesadas. Esse tipo de fundação se
destacou, pois oferece uma maior capacidade de carga. No início, foram empregadas estacas escavadas,
mas com o progressivo aumento das cargas das edificações e o desenvolvimento dos bate‑estacas, o uso
das estacas pré‑moldadas foi intensificado.

De acordo com De Jonge (1995), a utilização de fundações offshore teve início em 1960, quando
foi confeccionada uma estaca com 0,9 m de diâmetro e comprimento de 30 m. Esse tipo de estaca foi
amplamente usado no final da década de 1970, na construção de plataformas nas bacias de Curimã e
de Campos (NIYAMA; MORIKAWA, 1982). Na atualidade, esse tipo de estaca atinge diâmetros superiores
a 2 m e comprimentos que podem chegar centenas de metros.

Segundo Bittencourt (2012), um sistema de fundação é composto pelas unidades estruturais e pelo
subsolo, que tanto pode se constituir por solo como por rocha. Os elementos estruturais devem ser
resistentes o bastante para que possam, ao transferir a carga ao solo, resistirem adequadamente aos
esforços solicitantes advindos da ação dos carregamentos externos provenientes da superestrutura. Da
mesma maneira, deve‑se verificar a capacidade de resistência do solo em absorver as cargas atuantes, a
fim de que estas não provoquem rupturas ou apresentem deformações excessivas.

1.2 Fundações superficiais

As fundações superficiais são aquelas que transmitem a sua carga ao terreno pelas tensões distribuídas
na base da fundação e cuja profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é inferior
duas vezes à menor dimensão do elemento da fundação, conforme ilustra a figura a seguir:
P
M

h < 2B
Cota de
assentamento

σMIN
σMAX
B

Figura 1

12
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

De forma equivocada, as pessoas pensam que só deve ser utilizado esse tipo de fundação para
cargas pequenas, ou seja, para pequenas edificações, o que não é verdade. Na realidade, essa fundação
pode suportar cargas elevadas, desde que a camada de solo em sua base apresente características
geomecânicas adequadas, como, por exemplo, uma camada de rocha que se aflora.

A seguir, serão abordados alguns tipos de fundações superficiais, as quais servirão de parâmetro de
comparação para as fundações profundas.

1.2.1 Sapatas isoladas

São executadas em concreto armado, de formato retangular, podendo trabalhar a flexão. São
utilizadas quando o terreno possui capacidade de carga suficiente para, numa pequena área, resistir aos
esforços a que estarão submetidas.

1.2.2 Sapatas corridas

Quando a capacidade de carga do terreno não é suficiente para resistir às cargas através de pontos
isolados (onde estão os pilares), há necessidade de se aumentar a área de contato entre a fundação e o solo.
Isso pode ser realizado com a utilização de fundações sob toda a superfície das paredes. Para essa execução,
podem ser empregados vários tipos de materiais, tais como: alvenarias de tijolos ou de pedras e concreto.

1.2.3 Alvenaria de tijolos

Deve ser utilizada em terrenos secos (áridos) e para pequenas cargas. Após a escavação, executa‑se
um lastro de concreto magro. Faz‑se a elevação da alvenaria, a qual é respaldada por uma cinta de
amarração de concreto armado.

1.2.4 Alvenaria de pedras

É utilizada em terrenos úmidos e, possui maior capacidade de carga que a alvenaria de tijolos.
É importante a verificação do custo de aquisição dos blocos (cabeças de pedra), a fim de viabilizar
economicamente a sua execução. O processo construtivo é idêntico ao de alvenaria de tijolos.

1.2.5 Concreto

Uma outra forma de executar uma fundação superficial é a utilização de alicerce de concreto. Pode ser
de formato regular (paralelepípedo) ou ter a superfície superior inclinada (de acordo com a distribuição das
forças), semelhante à sapata isolada. Devem ser utilizadas formas de madeira para a execução da concretagem.

1.2.6 Radier

É utilizado quando o terreno tem baixíssima capacidade de carga, não havendo possibilidade de
cravação de estacas ou a impossibilidade de escavar grande profundidade para atingir as camadas mais
resistentes do terreno. Consiste de uma placa contínua de concreto armado (laje) com o objetivo de
13
Unidade I

distribuir a carga em toda a superfície de contato com o terreno. A figura a seguir ilustra alguns tipos
de fundações superficiais.

Bloco Sapata

Radier

Figura 2

2 FUNDAÇÕES PROFUNDAS

As fundações profundas, assim como as fundações rasas, têm a função de distribuir as tensões
provenientes da superestrutura no solo. No entanto, o mecanismo de transferência de carga para
fundações profundas ocorre ao longo do elemento estrutural, conforme ilustra a figura a seguir.
Para uma estaca carregada verticalmente por um carga conhecida Q, em um determinado solo com
parâmetros conhecidos, dentre eles coesão, c; ângulo de atrito, φ; e peso específico, γ, em uma dada
profundidade, z, a carga atuante numa secção qualquer corresponderia a uma carga Qz menor que a
aplicada em superfície. Para a profundidade equivalente ao comprimento da estaca Lp, a carga restante
seria a carga de ponta da estaca Qp.
Q
Q

1 1

1 1
z
c, ϕ, γ
Solo:

1 Q 1
z

1 1 Qz

1 1 LP
Fuste da estaca

1 1

1 1

1 1
B ou
diam.
1 1
QP
QP

Figura 3 – Perfil qualitativo de distribuição de carga axial em uma estaca

14
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Os requisitos a serem observados no projeto e execução de fundações são estabelecidos pela


NBR 6122 (ABNT, 2010), que descreve alguns tipos de fundações (estacas) profundas:

• cravadas por percussão;

• cravadas por prensagem;

• escavadas, com injeção;

• tipo broca;

• apiloadas;

• tipo Strauss;

• escavadas;

• tipo Franki;

• mistas;

• hélice contínua.

Observação

A NBR é uma sigla usada para representar a expressão norma técnica.


É um conjunto de normas e regras técnicas relacionadas a documentos,
procedimentos ou processos aplicados a empresas ou determinadas situações.
Uma NBR é criada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Os tipos de estacas mais usuais no Brasil podem ser classificados em duas categorias: as de
deslocamento e as escavadas.

2.1 Estacas

As estacas são peças esbeltas (L [comprimento] >>[diâmetro]) que transferem as cargas dos pilares às
camadas mais profundas do terreno (uma parte por atrito lateral, que se desenvolve ao longo do fuste, e
outra pela resistência de ponta). Podem ser utilizadas de forma isolada ou em grupo (MELO, 2009).

As estacas podem ser classificadas segundo diferentes critérios, como, por exemplo, suas características
físicas; segundo os materiais de fabricação, entre os quais temos o concreto, o aço e a madeira como os mais
comuns; e de acordo com as condições de trabalho ou procedimentos construtivos que separam as estacas
segundo as condições do solo e seu comportamento ao serem executadas (nível de deslocamento), como:
15
Unidade I

a) “de deslocamento”, onde se tem as estacas cravadas em geral,


uma vez que o solo no espaço que a estaca vai ocupar é deslocado
(horizontalmente), e

b) “de substituição”, onde temos as estacas escavadas em geral, uma


vez que o solo é removido para abrir o espaço que será ocupado pela
estaca (VELLOSO; LOPES, 2010, p. 181).

Terzaghi e Peck (1967) classificaram as estacas agrupando‑as em três tipos: as de atrito em solos
granulares muito permeáveis, também chamadas estacas de compactação, pois transferem a maior parte
da carga por atrito lateral; as de atrito em solos finos de baixa permeabilidade, uma vez que transferem
ao solo as cargas aplicadas por atrito lateral, mas não produzem compactação notável do solo; e as de
ponta, que transferem as cargas a uma camada de solo resistente, situada abaixo da ponta da estaca.

Com base na classificação apresentada anteriormente, as estacas podem ser separadas em duas
categorias, como ilustrado no quadro a seguir.

Quadro 1 – Classificação das estacas

Estacas com deslocamento Estacas sem deslocamento


Pré‑moldadas de concreto Escavadas
Metálicas Tipo broca
Madeiras Tipo Strauss
Apiloadas de concreto Barretes
Tipo Franki Estacões
Ômega Hélice contínua
Injetadas

As estacas podem chegar ao canteiro de obras já executadas e, consequentemente, em condições de


cravação ou moldadas in situ.

2.2 Estacas para cravação

Essas estacas têm a característica de possuírem um comprimento predeterminado, sendo cravadas


com auxílio de um bate‑estaca até a apresentação da “nega”. A nega é o comprimento médio, prefixado
em projeto, obtido dos dez últimos golpes do martelo (ou pilão) durante o processo de cravação de uma
estaca. É uma medida dinâmica e indireta da capacidade de carga de uma estaca e tem o objetivo de
verificar a uniformidade do estaqueamento.

Para a obtenção da nega, utiliza‑se a técnica da colagem de uma folha de papel na estaca, sobre
a qual um lápis é movimentado horizontalmente durante o golpe do martelo (figura a seguir). Esse
procedimento permite não só a medição da nega, mas também do repique (deslocamento elástico),
também usado na estimativa de capacidade de carga.

16
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Martelo

Repique
Cepo
Capacete

Nega

Estaca Coxim Fixação


Papel
Régua Lápis
Sentido
Suporte
Papel

Obs.: Mover o lápis lenta e continuamente


ao longo do topo da régua durante
aplicação dos golpes.

Figura 4 – Medição de nega e repique

Existem vários tipos de estacas para cravação; dentre eles, se destacam as de madeira, as pré‑moldadas
de concreto e as metálicas.

Lembrete

A nega é o comprimento médio, prefixado em projeto, obtido dos dez


últimos golpes do martelo (ou pilão) durante o processo de cravação de
uma estaca.

2.3 Estacas de madeira

2.3.1 Generalidades das estacas de madeira

As estacas de madeira são troncos de árvores processados e tratados de modo que tenham o
comprimento desejado ou modulado conforme o projeto.

A utilização de estacas de madeira remonta à pré‑história, com a construção de palafitas utilizando


troncos de árvores para dar sustentação sobre rios e lagos.

17
Unidade I

Elas são empregadas em terrenos permanentemente secos ou úmidos, uma vez que esse material
não suporta as alternativas de umidade e secura, o que provoca a sua deterioração em pouco tempo.

De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), a ponta e o topo da estaca devem ter diâmetros maiores
que 15 e 25 cm, respectivamente.

No Brasil, a espécie de madeira mais utilizada é o eucalipto, principalmente para fundações de


obras provisórias, devido ao seu baixo custo. Para obras definitivas, são utilizadas madeiras de lei, que
são madeiras mais nobres, com maior resistência, tais como a peroba, a aroeira, a maçaranduba, o ipê
entre outras

Essas estacas podem receber, na sua extremidade inferior, uma ponteira de aço para facilitar a
penetração no solo; já na parte superior pode ser utilizado um anel provisório, também de aço, para
evitar que se esfacelem sob as pancadas do martelo (peso). As estacas de madeira devem ser retas,
tolerando‑se uma ligeira curvatura de 1 a 2% do comprimento.

É difícil encontrá‑las no comércio com o comprimento necessário, o que torna necessária a emenda,
a qual se faz de topo ou a meia madeira utilizando chapas metálicas e parafusos. No entanto, sempre
que possível, deve ser evitado tal procedimento, uma vez que essas emendas poderão trazer problemas
durante a cravação.

A figura a seguir ilustra estacas de madeira preparadas para cravação, sendo (a) sem reforço de
ponta e (b) com reforço.
A)

B)

Figura 5 – Estacas de madeira para fundação

2.3.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas

Para cravação das estacas de madeira são utilizados equipamentos que possuem um pilão ou martelo
que golpeia a estaca por queda livre do martelo. Esse processo, por sua vez, provoca grande vibração ao solo
e necessita de um maior espaço no canteiro de obras para seu posicionamento. A figura a seguir mostra o
equipamento para cravação com martelo de queda livre.

18
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Torre Bate‑estaca
10 a 25 m de gravidade

Cabos

Martelo Guincho de
1 a 4 ton movimentação
e carregamento
Guincho de
cravação
Capacete Operador

Estaca Motor
diesel

Estrado de
pranchões

Plataforma
3a6m

Figura 6 – Equipamento para cravação de estaca de madeira

Também pode ser utilizado martelo pneumático, o qual, acoplado a um equipamento hidráulico,
consegue melhor velocidade no processo de cravação e por consequência menor vibração do terreno.

A ligação das estacas com os pilares se dá através dos blocos de fundação, podendo haver mais de
uma estaca para cada bloco.

Observação

Conforme a NBR 6118/2003 – Projeto de estruturas de concreto –


procedimento, item 22.5: “Blocos são estruturas de volume usadas para
transmitir às estacas as cargas de fundação e podem ser consideradas
rígidas ou flexíveis por critério análogo ao definido para as sapatas”
(ABNT, 2003, p. 169).

A figura a seguir ilustra um bloco de ligação de uma estaca.

19
Unidade I

Bloco

NA NA

Estaca Estaca

Corte Concreto Concreto


Tubo Armadura

Figura 7 – Bloco de estaca

Na tabela a seguir são apresentados os valores dos diâmetros das estacas de madeira e suas
respectivas cargas admissíveis.

Tabela 1 – Informações técnicas das estacas de madeira

Diâmetro Carga
(cm) (kN)
20 150
25 200
30 300
35 400
40 500

Observação

Não confundir capacidade de carga admissível com capacidade de carga


da estaca. A primeira é a carga máxima que ela pode sustentar sem a perda
da integridade da peça; já a capacidade de carga da estaca é a somatória
da resistência lateral com a resistência de ponta.

2.3.3 Vantagens e desvantagens do uso da estaca de madeira

Podem‑se destacar as principais vantagens da utilização das estacas de madeira como tipo de fundação:

• A madeira tem durabilidade ilimitada se mantida submersa. Caso haja variações do nível d’água,
essas estacas estarão propensas ao apodrecimento devido à ação de fungos.

20
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

• Custo relativamente pequeno em áreas de reflorestamento.

• Facilidade de manuseio, corte, preparação para cravação e após a cravação.

Esse tipo de estaca também possui algumas desvantagens. No Brasil, quando são empregadas em
obras marítimas, ela sofrem destruição devido ao molusco Teredo navalis e ao crustáceo Cheluria, que
se alimentam da madeira.

• Durabilidade muito pequena quando fica exposta à flutuação do N.A. (nível d’água), com a ação
de cogumelos, cupim e brocas marinhas quando cravadas no mar.

• Comprimento limitado a 12 m.

• Necessidade da colocação de um anel metálico na parte do contato com o martelo (pilão).

• Obtenção de licença dos órgãos responsáveis pela conservação do meio ambiente.

• Grande vibração durante a cravação.

2.4 Estacas pré‑moldadas de concreto

2.4.1 Generalidades das estacas pré‑moldadas de concreto

De acordo com Nápoles (1998), o primeiro registro da utilização de estaca cravada data de 4 a.C.
Heródoto, escritor grego e viajante, registrou as habitações dos Paeonians que viviam em construções
erguidas sobre estacas cravadas no leito de um lago.

No Brasil, segundo Nápoles (1998), uma das primeiras utilizações da estaca pré‑moldada como
fundação data de 1926, na obra do hipódromo da Gávea, no Rio de Janeiro, executada pela construtora
dinamarquesa Christiani Nielsen.

Não é raro deparar‑se com a nomenclatura estaca pré‑fabricada, que tem a mesma denominação
para estaca pré‑moldada, sendo que ambas se referem às estacas não moldadas in situ. Esse tipo
de estaca é uma excelente opção de escolha de fundação, pois o seu processo executivo possui
um severo controle de qualidade tanto na sua fabricação como na sua cravação, podendo o
profissional fazer amostras de seu material durante a confecção e obter resultados laboratoriais de
sua capacidade de carga.

As estacas pré‑moldadas podem ser de concreto armado ou protendido, com várias opções de formas
geométricas da seção transversal, conforme ilustrado na figura a seguir, devendo apresentar resistência
compatível com a necessidade de projeto.

21
Unidade I

Estacas Estacas Estacas Estacas estrela


quadradas circulares hexagonais
maciças maciças maciças

Estacas Estacas Estacas Estacas


quadradas circulares hexagonais octagonais
vazadas vazadas vazadas vazadas

Figura 8 – Tipos de seção transversal

Geralmente, as estacas protendidas são fundidas com concreto com fck maior que 40 MPa e
estruturadas com aço CP RN 150 e R‑175, com bitolas variando entre 5 a 8 mm. As estacas armadas
podem ter seção cheia, maciça ou vazada (com furo central). A geometria irá interferir diretamente na
capacidade de carga da estaca devido à área de atrito entre a estaca e o solo. A armadura das estacas
é semelhante à dos pilares, sendo constituída por aços longitudinais (estacas comuns) e por estribos
convenientemente afastados por uma espiral metálica (estacas cintadas).

As estacas são moldadas horizontalmente, permanecendo por volta de 3 dias nas formas e de 4 a 6
semanas ao ar livre antes do uso. Quando em terreno muito duro, podem receber uma ponteira de aço,
dispensável nos terrenos brandos, pois a simples ponta do concreto apresenta resistência suficiente.
A armadura longitudinal concentra‑se em forma de feixe na ponta da estaca, onde é amarrada ou
soldada. A cabeça é protegida contra o esboroamento, proveniente da percussão, por meio de um
chapéu metálico ou mediante a interposição de uma tábua grossa.

Utiliza‑se a estaca sempre com comprimento maior que o necessário e depois da cravação corta‑se
o excesso, deixando parte da armadura para ancorar no bloco, o qual tem a função de distribuir a carga
do pilar às estacas.

2.4.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas

Os equipamentos utilizados para cravação são muito semelhantes ao da estaca de madeira, podendo
ser utilizado o martelo de queda livre ilustrado na figura a seguir

22
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A) Roldana B)

Peso Cabo de aço

Capacete

Guincho

C) D)

Amortecedores
Cepa
Capacete Coxim ou
almofada

Torre‑guia

Haste telescópica

Figura 9 – Equipamentos utilizados para cravação: (a) bate‑estacas tradicional (sobre rolos),
com martelo de queda Iivre; (b) idem, com martelo automático; (c) equipamento de
cravação com uso de guindaste e martelo automático; (d) detalhe dos acessórios de cravação

Uma das etapas mais importantes que necessita ser sempre realizada é a inspeção dos equipamentos
de cravação. Para movimentar os bate‑estacas, são utilizados rolos metálicos para os equipamentos
mais simples e esteiras para equipamento hidráulicos. Basicamente, tais equipamentos são constituídos
por chassi metálico reforçado ou por máquina hidráulica (semelhante à escavadeira), por sistema de
guinchos e cabos de aço, torre metálica rígida para acoplamento de martelos hidráulicos a diesel ou do
tipo queda livre e motor.

A inspeção concentra‑se na verificação da verticalidade (prumo) da torre, (desvio máximo 1:100) e


se a altura está compatível com o comprimento das estacas. Também deve‑se observar se o capacete,
cepo e suplemento estão em bom estado e compatíveis com a bitola da estaca (ilustrados na figura
a seguir). Por fim, é importante averiguar se o peso do martelo é compatível com o peso das estacas
(relação mínima 1:0,75 e peso mínimo de 2.000 kg).

23
Unidade I

Martelo

Chapas de
“madeirite”

Cinta
metálica Cepo

Chapas
abauladas

Coxim

Capacete

Estaca

Figura 10 – Equipamentos utilizados para cravação

Observação

O nome capacete metálico é dado ao equipamento instalado entre o


martelo e o topo da estaca, tendo a função de absorção e distribuição de
parte das tensões que surgem com o impacto do martelo sobre a cabeça
das estacas.

O cepo é um pedaço de madeira cortado perpendicular ao eixo com a


função de distribuir as tensões de maneira uniformemente distribuída.

Saiba mais

Para conhecer mais sobre o assunto, leia o livro:

HACHICH, W.; FALCONI, F.; ALBUQUERQUE JR., P. Fundações: teoria e


prática. 3. ed. São Paulo: Pini, 2012.

O capítulo 8 traz uma série de equipamentos utilizados para cravação e


suas características.

24
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A cravação se encerra apenas quando se atingem os critérios de parada previamente estabelecidos, tais
como nega para dez golpes, repique ou comprimento mínimo. Caso tenhamos sobra da estaca, a NBR 6122
(ABNT, 2010) orienta que pode haver o seu reaproveitamento desde que seguidos alguns critérios:

• Corte: este deverá ser realizado de modo a manter a ortogonalidade da seção em relação ao seu
eixo longitudinal.

• Comprimento: exige‑se um comprimento mínimo de 2 m.

• Quantidade: só podera ser utilizado um segmento de sobra por estaca.

• Posicionamento: a sobra deve ser sempre o primeiro elemento a ser cravado, a fim de manter a
ortogonalidade da seção em relação ao seu eixo longitudinal.

A figura a seguir ilustra sobras de estacas acima do nível do terreno, lembrando que essas sobras são
por conta do atingimento do máximo de cravação.

Figura 11 – Sobras de estacas

Quanto à manipulação das estacas, é necessário ter cuidados especiais em carregamentos e


descarregamentos das peças, para evitar a sua inutilização. Esse tipo de estaca é especificamente
dimensionado para resistir aos esforços que poderá sofrer devido à ação da estrutura, sejam eles esforços
de tração, compressão, momentos e forças horizontais.

25
Unidade I

L/5 L/5
L

L/3

Figura 12 – Modos de içamento de estacas pré‑moldadas de concreto

Na figura anterior, pudemos observar os modos como deve ser feito o içamento das estacas
pré‑moldadas de concreto. Quanto à estocagem das estacas, esta também segue uma padronização.
Elas devem ser empilhadas em terrenos planos, porém não é indicado que se coloque uma sobre a outra,
em vez disso, devem ser usados dois caibros entre elas, como mostra a figura a seguir.

L/5 L/5
L

Figura 13 – Modo de estocagem das estacas pré‑moldadas de concreto

Caso haja necessidade de alcançar grandes profundidades, as estacas poderão ser emendadas,
desde que resistam às solicitações que possam ocorrer durante o seu manuseio, cravação e utilização.
As emendas devem ser realizadas através de uma solda, unindo os anéis de aço na ponta da estaca.
Admite‑se também a utilização de outros dispositivos que permitam a transferência de esforços de
compressão, flexão e tração.

26
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A NBR 6122 (ABNT, 2010) recomenda que a luva ou anel de emenda só seja usada caso haja uma
única emenda por estaca e que não exista tração ou flexão tanto na cravação quanto na utilização das
estacas. Restringe, além disso, à geometria das luvas, orientando que elas possuam a mesma forma dos
segmentos das estacas que serão unidos.

Caso seja necessário o uso das luvas, estas devem possuir altura total de duas vezes o diâmetro da
estaca com altura mínima de 50 cm. Em relação à espessura da chapa, ela deverá ser superior a 60 avos
do diâmetro da estaca e, no mínimo, ter 5 mm, sempre respeitando a espessura de corrosão. Na figura a
seguir, pode-se verificar o detalhe da emenda utilizando luvas.

Luvas de
encaixe

Figura 14 – Detalhe da emenda utilizando luvas

Nas estacas de concreto, quando a sua armadura não tiver função resistente após a cravação, não
há necessidade de sua penetração no bloco de coroamento. Caso contrário, a armadura deve penetrar
suficientemente no bloco, a fim de transmitir a solicitação correspondente.

Para a demolição das estacas, são usados ponteiros de aço com pouca inclinação para cima em
relação à horizontal da estaca. A inclinação do ponteiro para baixo cria uma situação preferencial à
fissuração e comprometimento da estaca; portanto, deve‑se observar cuidadosamente a posição e a
força empregada. A figura a seguir ilustra as posições para demolição.

27
Unidade I

Má posição

Boa posição
Posição preferível

Figura 15 – Posição do ponteiro para demolição da cabeça da estaca

Com o aço exposto, este deverá ser justaposto à armadura de aço a fim de manter uma firme ancoragem.

Na tabela a seguir, são mostradas algumas características das estacas pré‑moldadas de concreto
quanto às suas dimensões e às cargas de trabalho admissíveis.

Tabela 2 – Informações técnicas das estacas pré‑moldadas de concreto

Dimensão Carga usual Carga máxima


Tipo de estaca Observações
(cm) (tf) (tf)
20 x 20 30 40
Pré‑moldada vibrada de seção quadrada 25 x 25 45 60 Disponíveis até 8 m.
σ =60 a 100 kgf/cm² 30 x 30 60 90 Podem ser emendadas.
35 x 35 90 120
Ø 22 30 40
Disponíveis até 10 m.
Pré‑moldada vibrada de seção circular Ø 29 50 60 Podem ser emendadas.
σ =90 a 110 kgf/cm² Podem ter furo central.
Ø 33 70 80
Ø 20 30 35
Disponíveis até 12 m.
Pré‑moldada protendida de seção circular
σ =100 a 140 kgf/cm²
Ø 25 50 60 Podem ser emendadas.
Podem ter furo central.
Ø 33 80 90
Ø 20 25 35
Ø 26 40 50
Disponíveis até 12 m.
Pré‑moldada centrifugada Ø 33 60 75 Podem ser emendadas.
σ =90 a 110 kgf/cm² Ø 42 90 115 Podem ter furo central (ocas)
e paredes de 6 a 12 cm.
Ø 50 130 170
Ø 60 170 230
σ: tensão de trabalho (depende, naturalmente, da armadura e da qualidade do concreto)

28
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

2.4.3 Vantagens e desvantagens da estaca pré‑moldada em concreto

No Brasil, atualmente, podemos contar com várias empresas que já fabricam as estacas com vários
diâmetros e formas. Os custos dessas estacas (tanto de fabricação como de transporte) eram bem
elevados, mas com a abertura de novas empresas, têm diminuído consideravelmente, tornando atrativa
a utilização desse tipo de estaca.

Pode‑se, então, destacar algumas vantagens da estaca pré‑moldada em concreto:

• Permissão de uma boa fiscalização durante a concretagem. Como o processo, na maioria das
vezes, é realizado em pátio próprio, o controle dos materiais pode ser monitorado, bem como a
vibração e o controle de bolhas, evitando as bicheiras.

• Moldagem de corpos de prova para verificação da resistência à compressão, garantindo, dessa


forma, as resistências necessárias de projeto.

• Moldagem das estacas no local da obra dependendo da quantidade de estacas e do tamanho do


canteiro de obras, o que barateia mais os custos, pois elimina o transporte das peças.

• Possibilidade de emenda de uma peça na outra.

• Confecção com diversas formas geométricas.

• Estacas passíveis de serem cravadas abaixo do nível do lençol freático.

• Ao final do serviço, obra limpa e sem resíduos de escavação e de movimentações de grandes


equipamentos.

• Velocidade de execução rápida se comparada às estacas Franki, raiz, Strauss e tubulões manuais.

• Preço global baixo se comparado às estacas hélice contínua, Franki, raiz, perfil metálico e trilho.

Assim como as outras estacas, a pré‑moldada em concreto apresenta algumas desvantagens, dentre
as quais podem ser citadas:

• Tempo de cura normal do concreto de 21 dias.

• A estaca não ultrapassa camada de solo resistente (N/30 > 15), em que N é o SPT da camada.

• Não é utilizável em solos com matacões.

• A armadura pode ser determinada pelas exigências de içamento e transporte, e não pelas cargas estruturais.

• O transporte dentro da obra.


29
Unidade I

• Durante a cravação, se o contato do martelo com o concreto não for feito com um material
elástico, quebra a cabeça da estaca.

• Grande vibração durante a cravação.

2.5 Estacas metálicas

2.5.1 Generalidades das estacas metálicas

As estacas metálicas são elementos estruturais que são produzidos industrialmente, podendo ser
formados por perfis laminados ou soldados, simples ou múltiplos. Utilizam‑se também tubos de chapa
dobradas ou caneladas, tubos com ou sem costura e trilhos.

Ao contrário das estacas moldadas in loco, que retiram material do solo, as estacas metálicas, ao
serem introduzidas no terreno, deslocam o solo, deformando‑o para a sua circunvizinhança. Com tais
características, também são conhecidas como estacas de deslocamento. Atualmente, essas estacas têm
aplicação muito restrita, sendo usadas nos países onde o aço tem preço menor. Elas são indicadas para
terrenos arenosos e lodosos, bem como para aqueles alternadamente úmidos e secos, em que a madeira
não é aconselhável.

Embora tenham um custo relativamente alto, seu emprego no Brasil tem avançado notavelmente,
tornando‑se viável de vários modos: pela facilidade de cravação, sem choques ou vibrações, ótimo
comportamento quanto à flexão, facilidade na manipulação, transporte, emendas ou cortes. Outra
vantagem da sua utilização é que podem ser cravadas em terrenos mais compactos, não provocando o
deslocamento de outras estacas circunvizinhas, mesmo em locais com grande intensidade de estacas.
Também podem ser associadas a outros tipos diferentes de estacas, possibilitando uma solução
economicamente viável e eficaz.

No Brasil, até 2002, as estacas metálicas eram utilizadas, principalmente, nas estruturas de contenção
(perfis metálicos associados a pranchas de madeira ou pré‑fabricadas de concreto) e nos pilares de
divisa, com o objetivo de eliminar as vigas de equilíbrio. As estacas metálicas sempre foram consideradas
uma solução de alta eficiência nos casos em que se queria reduzir as vibrações decorrentes da cravação
de estacas de deslocamento.

Posteriormente a 2002, a sua utilização teve um aumento significativo, com a introdução dos perfis
estruturais; hoje, as estacas metálicas para fundações profundas já são uma realidade, concorrendo
econômica e tecnicamente com os demais tipos de fundação. Sua utilização evoluiu, principalmente, ao
ser aplicada junto às divisas do terreno quando ocorrem subsolos, servindo, em primeira etapa, como
contenção na fase de escavação e, posteriormente, como fundação de pilares.

Podem ser utilizados perfis metálicos isolados ou soldados em função da resistência que devem
apresentar. De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), para que os perfis sejam aceitos, as estacas de aço
devem ser retilíneas. São consideradas retilíneas aquelas que apresentem flecha máxima de 0,2% do
comprimento de qualquer segmento nela contido.
30
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Nas dimensões externas das estacas metálicas, admitem‑se variações máximas de 5 mm em relação
aos valores nominais de altura e largura. Nas espessuras, a variação não pode ser superior a 0,5 mm em
relação aos valores nominais previstos pelo fabricante.

Normalmente, não ocorre flambagem nas estacas enterradas. As seções que atendem aos limites de
esbeltez para a mesa e para a alma são consideradas estáveis localmente e, portanto, são totalmente
efetivas, sendo o seu dimensionamento comandado pela resistência global do elemento.

Uma das preocupações está voltada ao processo de corrosão, podendo este material enferrujar
quando exposto à umidade. De acordo com Pannoni (2006), as estacas metálicas não precisam de
nenhum tratamento anticorrosivo na maioria das situações. O crescimento do nível de umidade do
solo faz com que a velocidade da corrosão seja controlada pela resistividade elétrica, acidez (pH) e
teor de oxigênio.

Pannoni (2006) ressalta que em situações em que o solo apresenta baixa resistividade elétrica e
baixo pH, a proteção torna‑se obrigatória, podendo ser realizada uma pintura tipo epóxi, galvanização
da estaca ou mesmo aumento da espessura do material.

Observação

A NBR 6122 exige que nas estacas metálicas enterradas seja descontada,
a favor da segurança, uma espessura de 1,5 mm de toda a superfície em
contato com o solo, resultando, dessa forma, em uma área útil menor do
que a teórica do perfil (ABNT, 2010).

Na figura a seguir estão ilustrados os diversos tipos de perfis de estacas metálicas: de chapas soldadas;
laminados associados (duplos); tipo cantoneira; tubo; trilhos associados (duplos); trilhos associados (triplos).

solda

solda

Figura 16 – Tipos de estacas metálicas

2.5.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas

A cravação das estacas pode ser realizada por diversos métodos. O de prensagem é utilizado
em obras em que se faz necessário evitar vibrações; já o de vibração é feito utilizando‑se um
martelo dotado de garra para a fixação da estaca; e, por fim, o método de percussão, que utiliza
pilões de queda livre.

31
Unidade I

As estacas cravadas por prensagem são aquelas em que a própria estaca é introduzida no terreno
através de um macaco hidráulico. Não vibram, e devido ao pequeno porte de seus equipamentos, são
bastante utilizadas em obras de reforço de fundações ou para menores profundidades.

Para cravação por vibração são utilizados equipamentos que podem ser acoplados em escavadeiras
ou suspensos por guindaste. A figura a seguir ilustra o martelo vibratório acoplado a uma escavadeira
com garras na lateral do perfil.

Figura 17 – Martelo vibratório

A cravação se dá pelo princípio de eixos excêntricos, ou seja, que não tem o mesmo centro, com
pesos atuando em direções opostas. Esse movimento anula as forças horizontais e gera forças verticais
que são transmitidas para o perfil como vibração. A vibração aplicada ao terreno o transforma em
estado quase líquido, rompendo o atrito lateral da estaca com o solo, permitindo uma rápida e
eficiente cravação.

Observação

Embora o nome leve a pensar que esse equipamento cause grande


vibrações, ele produz baixíssimo ruído e vibração, podendo ser utilizado em
grandes centros urbanos sem causar danos nas edificações vizinhas.

Para contenção de cortes a serem realizados para a execução, por exemplo, de subsolos ou outros,
são utilizadas estacas metálicas do tipo prancha, por sua rápida execução e confiabilidade. Esse tipo de
perfil pode ser utilizado como contenção provisória ou até mesmo definitiva. A figura a seguir ilustra a
cravação de estacas tipo prancha metálica utilizando martelo vibratório.

32
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 18 – Cravação de estacas metálicas tipo prancha

A forma mais usual de cravação é o método de percussão com o uso de bate‑estaca queda livre.
O equipamento é bem simples, sendo composto por uma torre montada sobre uma plataforma na
qual cabos de aço acionados por um guincho mecânico erguem o martelo utilizado na cravação. Este
guincho é dotado de dois tambores, em que o segundo tambor é responsável pela movimentação e
carregamento das estacas. Esse equipamento se movimenta sobre rolos, pranchas ou esteiras. Existem
também guindastes adaptados com torres para o martelo de queda livre, equipamentos pneumáticos ou
vibratórios, possibilitando a cravação de estacas inclinadas.

Quando a cravação for executada com a utilização do martelo de queda livre, a NBR 6122 (ABNT,
2010, p. 41) recomenda que devem ser observadas as seguintes condições:

• peso do martelo não deverá ser inferior a 10 kN, ou seja, 1.000 kg;

• para as estacas com carga de trabalho variando entre 0,7 MN e


1,3 MN, o peso do martelo não deverá ser inferior a 30 kN;

• para o caso das estacas cuja carga de trabalho seja superior a 1,3 MN,
a escolha do sistema de cravação deve ser previamente analisada.

Para a cravação utilizando o martelo de queda livre, a NBR 6122 (ABNT, 2010) recomenda que o
procedimento siga a seguinte ordem: primeiro, a torre do bate‑estaca deve ser aprumada; em seguida,
ajeita‑se a estaca. É preciso verificar os prumos das faces frontais e laterais.

A folga entre o martelo e o capacete também não deve ser superior a 3 cm em relação às guias do
equipamento. O capacete a ser utilizado deve conter superfície plana e se adequar à seção da estaca,
contendo encaixes que possuam folga inferior a 2 cm.

Na figura a seguir, podemos observar o posicionamento do capacete na estaca metálica.

33
Unidade I

Figura 19 – Posicionamento do capacete na estaca metálica

A norma também recomenda que caso seja necessária a utilização de elemento suplementar,
chamado de prolonga, este não seja maior do que 2,50 m.

Uma das grandes vantagens da estaca metálica é a sua facilidade para alcançar grandes profundidades,
podendo ser facilmente emendada. Essas emendas devem ser dimensionadas para resistir a todos os
esforços que possam ocorrer durante o processo de cravação e utilização da estaca.

Em seu manual, a Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia (Abef)


recomenda que essas emendas sejam realizadas utilizando talas soldadas, mas também podem ser feitas
com soldas de topo de penetração total. A figura a seguir ilustra uma emenda produzida com talas.

b1 d
Vista geral

Solda (eletrodo 7018)


Solda
Solda de topo
(sem chanfro)
l

1) Tala
proveniente
da alma
2) Tala
proveniente
da aba

Figura 20 – Detalhe típico da emenda em estaca metálica com talas e soldas

34
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A NBR 6122 (ABNT, 2010) também recomenda que o comprimento mínimo para aproveitamento
das sobras de outras estacas na cravação por percussão ou vibração seja de, no mínimo, 2 m, devendo
assegurar a ortogonalidade da seção em relação ao eixo longitudinal.

Na tabela a seguir podemos verificar as informações técnicas sobre as estacas metálicas quanto a
sua seção e suas cargas de trabalho.

Tabela 3 – Informações técnicas de estacas de perfis laminados mais comuns

Carga usual Peso


Estacas Dimensão (kN) (kgf/m)
TR 25 200 24,6
TR 32 250 32,0
TR 37 300 37,1
Trilhos usados TR 45 350 44,6
σ ≅ 800 kgf/cm 2
TR 50 40 50,3
(verificar grau de desgaste e alinhamento) 2 TR 32 50 64,0
2 TR 37 600 74,2
3 TR 32 750 96,0
3 TR 37 900 111,3
H 6” 400 37,1
I 8” 300 27,3
Perfis I e H
I 10” 400 37,7
Descontar 1,5 mm para corrosão e aplicar
I 12” 600 60,6
σ = 1.200 kgf/cm2
2 I 10” 800 75,4
2 I 12” 1200 121,2
Observações:
i) σ : Tensão de trabalho
ii) TR XX: Trilho com peso por unidade de comprimento igual a XX kgf/m

2.5.3 Vantagens e desvantagens das estacas metálicas

No Brasil, a utilização de estacas metálicas vem crescendo devido as suas principais vantagens:

• O processo de cravação é fácil e rápido, e o transporte é favorável, pois as peças são leves e
possuem comprimento padrão.

• Alta eficiência de cravação em solos de difícil penetração.

• Menor peso em relação a outros tipos de estacas.

• Redução de perda comparada à estaca pré‑moldada de concreto, que corre o risco de quebrar no
momento da cravação.
35
Unidade I

• Utilização em cortinas ou paredes de perfis pranchados de contenção em edifícios que


contenham subsolos.

• Podem ser cravadas em profundidades inatingíveis por estacas de concreto pré‑moldado.

• Podem ser cravadas sem risco de perda em solos de profundidade inconstante.

• Inexistência de vibração no momento da cravação quando feita por meio de percussão.

• Disponibilidade no mercado.

Mesmo apresentando-se como uma estaca muito versátil, ela exibe algumas desvantagens, as quais
são elencadas a seguir:

• Alto custo quando comparada às estacas pré‑moldadas, estacas Franki e estacas Strauss.

• Atacável por águas agressivas e solos corrosivos (pântanos, pontos alcalinos, solos contaminados).

• A fabricação exige maquinário específico, a distância entre fabricação e destino pode acarretar
custos altos.

• Pode ocorrer o encurvamento do eixo, mesmo quando tomados todos os cuidados necessários
para aprumá‑las ao serem cravadas em solos de baixa resistência.

2.6 Estacas moldadas in situ

As estacas moldadas in situ, como a própria denominação diz, são estacas que são concretadas nos
próprios buracos, escavados desde trados manuais até equipamentos especiais. Podem ser utilizadas
camisas ou invólucros especiais que se recuperam posteriormente ou não.

Por ser uma estaca muito versátil, ou seja, pode ser construída em diversos diâmetros e comprimentos, ela
se adapta a quase todo tipo de solo, pois em seu processo de escavação pode‑se utilizar fluido estabilizante, a
fim de fornecer ao solo adjacente certa estabilidade, dispensando qualquer tipo de camisa para sua execução.

Esses tipos de estacas permitem a escavação a grandes profundidades, com diâmetros variáveis e no
comprimento predeterminado no projeto de fundações.

Existe uma grande variedade de tipos de estacas moldadas no local. Entre elas destacam‑se as:

• Strauss;

• Franki;

• broca;
36
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

• raiz;

• escavadas de grande diâmetro;

• hélice contínua.

2.7 Estacas Strauss

2.7.1 Generalidades da estaca Strauss

Segundo a NBR 6122 (ABNT, 2010, p. 56), estacas Strauss são um “tipo de fundação profunda
executada por perfuração através de balde sonda (piteira), com uso parcial ou total de revestimento
recuperável e posterior concretagem”. Essas estacas foram criadas com a finalidade de substituir as
estacas pré‑moldadas, as quais produzem forte vibração e ruído no processo de cravação.

Nos Estados Unidos e na Europa, a estaca Strauss foi largamente utilizada desde o início do século e
se tornou mais popular no Brasil apenas depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje, há tipos semelhantes,
de criação mais recente, porém atendendo ao mesmo princípio.

Para a sua execução não é exigida nenhuma aparelhagem especial, apenas um pequeno bate‑estacas.
O diâmetro da estaca pode variar entre 25 e 45 cm, o que limita a utilização para alguns tipos de obra,
por não possuir grande capacidade de carga.

De acordo com Abef (2016), os diâmetros nominais só serão atingidos com a utilização dos tubos
de revestimentos corretos e com os equipamentos equivalentes a cada um; ou seja, para uma estaca de
diâmetro nominal de 25 cm, deve‑se utilizar um revestimento de diâmetro externo de 22 cm. Isso se faz
necessário, pois, ao retirar o revestimento, este acaba alargando o furo devido à resistência lateral que
agiu com o solo versus a parede do revestimento.

Para cada diâmetro de revestimento, existe a ferramenta correta de utilização, isto é, existe um
diâmetro correto da sonda e soquete. Essas determinações podem ser observadas na tabela a seguir,
indicada pela Abef (2016).

Tabela 4 – Diâmetro dos revestimentos e das ferramentas da estaca tipo Strauss

Ø nominal da Ø externo do Ø externo da Ø sonda Ø soquete


estaca revestimento coroa
25 22 24 17 15
32 27 29 22 20
38 32 34 27 25
42 35 37 32 30
45 40 42 35 33

Fonte: Abef (2016, p. 137).

37
Unidade I

Como se pode verificar, existe uma folga entre as ferramentas e o tubo de revestimento, a qual é
necessária para que não haja atrito entre eles e também para facilitar as manobras de perfuração.

Por ser um processo muito simples, as estacas Strauss têm bom custo‑benefício; além disso,
podem ser utilizadas em terrenos com difícil acesso ou mesmo acidentado. Atualmente, têm se
tornado uma solução viável para o reforço da fundação, pois a sua implantação é possível até
mesmo dentro das edificações.

2.7.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas

Os equipamentos necessários para a execução são bem simples, sendo um tripé em aço ou uma torre;
guincho, que deverá ser montado sobre chassi reforçado com motor de potência mínima de 13 kW ou
18 CV para cargas entre 1.000 kg e 2.000 kg, motor esse próprio para equipamento de cravação, tendo
que possuir um ou dois tambores que são acionados por meio de correias. A tubulação de revestimento
deverá ser segmentada de 2 m a 2,5 m de tubos padrão schedule, os quais deverão ser emendados por
rosca macho e fêmea.

Observação

Tubo schedule é uma denominação usada para o resultado


arredondando a dezena calculado pela fórmula:

SCH = P/S

Em que temos P sendo a pressão de trabalho do tubo e S é a tensão


(pressão) correspondente a 60% do limite de escoamento do material
a 20 °C.

A seguir, temos a coroa, que é o primeiro seguimento de tubo a ser posicionado na perfuração.
Ele tem a extremidade inferior recortada em formas de dentes que são abertos para fora, isso serve
para que a perfuração no solo fique com diâmetro maior que o do revestimento, auxiliando na
penetração do tubo.

O tubo que tem uma sapata cortante com válvula articulada é chamado de sonda ou piteira. Ele
utiliza esta válvula para permitir somente a entrada do material a ser cortado. A outra extremidade
superior é maciça, a fim de lhe conferir peso suficiente para penetrar no solo. A sua fixação no cabo se
dá através de um olhal giratório que promove na piteira a movimentação circular livre. Para descarga
do material escavado, utilizam‑se as duas janelas longitudinais, abertas no trecho superior da sonda.

Soquete, ou pilão, é uma peça maciça de aço, em forma cilíndrica, com diâmetro inferior ao
tubo de revestimento pesando aproximadamente 300 kg. Ela é utilizada ao iniciar a estaca, fazendo
o pré‑furo pelo qual se inicia a colocação da coroa. Esse equipamento também é utilizado para
apiloamento do concreto.
38
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Seguindo as orientações do Manual de execução de fundações, alguns itens são importantes para
realizar inspeções periódicas. Elas são necessárias para garantir a segurança dos trabalhadores e a
eficiência dos equipamentos. Recomenda‑se inspecionar a coroa observando que seus dentes devem
estar inteiros e abertos para fora, a fim de garantir a escavação do solo com diâmetro superior ao do
tubo de revestimento. Recomenda‑se essa inspeção durante a execução da obra.

Para verificação das roscas, deve‑se observar se elas apresentam folgas excessivas ou trincas, pois podem
ocasionar a quebra ou até mesmo o desacoplamento. Recomenda‑se efetivar esta inspeção a cada término
de obra ou, pelo menos, a cada seis meses. Já para sonda ou piteira, a sapata cortante deve ser verificada
em relação ao desgaste, trincas, empenamento e amassamento. Em relação à borda, é necessário verificar
a válvula e a rosca. Tal inspeção deve ser realizada ao final de cada obra ou, pelo menos, a cada três meses.

O motor deverá ser verificado diariamente; se for elétrico, observa‑se, em especial, o estado das
ligações e do isolamento das chaves de acionamento e proteção; caso seja motor a explosão, verifica‑se
a lubrificação, a água do radiador e o estado das correias.

Por fim, deve-se fazer a inspeção do guincho, o qual deve ter seu funcionamento observado
diariamente, bem como a verificação do estado da embreagem cônica, do sistema de freios das travas
de segurança e alavancas de acionamento. Não se pode esquecer o estado dos cabos de aço, que devem
ser inspecionados durante a execução da obra.

Antes de iniciar o processo de cravação, o engenheiro deve certificar‑se das condições do canteiro,
se a locação de cada estaca está concluída e se tem quantidade de material suficiente para confeccionar
as estacas. Esse cuidado especial vem ao atendimento da NBR 6122 (ABNT, 2010), que recomenda que,
ao abrir o furo, ele deverá ser concretado no mesmo dia.

Inicialmente, para o processo de execução da estaca, deve‑se executar o pré‑furo com utilização
do soquete. Após essa etapa, acopla‑se a coroa e a sonda, iniciando a sua cravação, escavando‑se por
dentro simultaneamente. A seguir, coloca‑se determinada quantidade de água dentro do tubo ao mesmo
tempo em que se retira a lama ali formada através de um peso‑sonda. Cravado o tubo, enrosca‑se um
novo tubo na extremidade do anterior, repetindo‑se o processo. Atingida a profundidade desejada, ele
é imobilizado, lançando‑se concreto no seu interior. Soca‑se com o maço este concreto que se expande
no solo, formando um bulbo. Deve‑se dar maior atenção à concretagem da estaca, sendo essa uma das
etapas mais importantes da operação.

O tubo de revestimento deve ser retirado lentamente e de forma contínua ao mesmo tempo em que o
soquete repousa sobre o concreto. Recomenda‑se fazer movimentos repetidos do tubo de revestimento
para adensamento do concreto, evitando com isso que o concreto seja trazido para cima, o que causaria
o seu engaiolamento ou mesmo o seccionamento da estaca.

Deve‑se elevar o tubo de 20 a 30 cm, lançando‑se novas quantidades de concreto, que são apiloadas
ao mesmo tempo em que se efetua a retirada parcial do tubo, elevando‑o. Dessa maneira, formam-se
diversas protuberâncias, dando origem a uma estaca com saliências em todo o seu comprimento e, por
consequência, um alto coeficiente de atrito. A figura a seguir ilustra a sequência executiva.
39
Unidade I

Roldana

Motor guincho Tripé

Água

Tubo
∅ 20 a 50 cm

Balde sonda Rosca

Perfuração
Eventual armadura
Estaca Strauss – (escavada)
Concreto

Figura 21 – Sequência executiva da estaca Strauss

Esse tipo de estaca requer um certo cuidado na sua execução, especialmente quando for
necessário trabalhar abaixo do lençol freático, com o intuito de se evitar a entrada de água dentro
tubo de revestimento.

As estacas Strauss podem trabalhar à compressão e à tração. Quando submetidas apenas à


compressão, não é necessário o emprego de armadura; mesmo assim, a colocação de ferros de espera
para arranque são recomendados. Na maioria dos casos, são constituídas de quatro barras de aço
CA‑50 com comprimento de 2 m, a fim de proporcionar uma ancoragem entre a estaca e o pilar ou
bloco de ancoragem.

Quando forem armadas, deve‑se observar o espaçamento dos aços longitudinais e estribos, a fim
de que sejam suficientemente espaçados para permitir a expansão do concreto quando for adensado
pelo vibrador.

Para preparo da cabeça das estacas para ancoragem no bloco ou no pilar, é preciso observar algumas
particularidades para a retirada do concreto, a fim de manter a integridade da estaca. A figura a seguir
mostra o arrasamento da estaca.

40
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Má posição

Boa posição
Posição preferível

Figura 22 – Posicionamento para arrasamento da estaca

Pode‑se observar que para o arrasamento da estaca não se recomenda a posição da ferramenta
perpendicular à cabeça, e sim na horizontal ou inclinada; isso se dá pela absorção dos impactos pelo
atrito lateral.

É recomendado ao engenheiro que faça o boletim de controle de execução, no qual devem constar
todas as informações e ocorrências relativas à execução. Esse documento deve ser preenchido diariamente
para a cravação de todas as estacas. O Manual de execução de fundações geotécnicas orienta que sejam
descritos os seguintes dados:

• identificação da obra e data;

• identificação da estaca;

• diâmetro da estaca e capacidade de carga nominal;

• cota do terreno local;

• profundidade perfurada;

• cota de arrasamento da estaca;

• alteração de locação;

• característica da armação da estaca;

• comprimento da armação;

• consumo de concreto;

41
Unidade I

• observações adicionais referente às ocorrências relevantes durante a


execução do serviço;

• nome e assinatura do contratante;

• nome/assinatura do engenheiro supervisor da empresa de


estaqueamento e dependendo de acordo contratual, o ciente do
projetista ou empresa de fundação (ABEF, 2012, p. 147).

Essas informações são necessárias para o acompanhamento e futuras fiscalizações das fundações da
edificação, ou seja, fica registrado todo o histórico da execução da obra de fundação.

Por recomendação da NBR 6122 (ABNT, 2010), pelo menos 1% das estacas e, no mínimo, uma por
obra deve ser exposta abaixo da cota de arrasamento e, se possível, até o nível da água para posterior
verificação da sua integridade e qualidade do fuste.

De acordo com Pereira (2013), que estudou as condições de solo favorável e desfavorável para
implantação das estacas Strauss, as situações e os tipos de solos adequados para execução de estaca
Strauss são:

• Terrenos planos: facilidade para mover o equipamento.

• Solos colapsivos: são aqueles que sofrem significativa redução de


volume quando umedecidos, com ou sem aplicação de carga adicional,
favorecendo a penetração com a piteira.

• Solos de baixa resistência: melhoram a produção diária e colabora


com menos ciclos para cravação.

• Locais confinados: por apresentarem proteção contra as adversidades


do tempo.

• Terrenos acidentados: pela facilidade de deslocar os equipamentos.

O autor também destaca os tipos de solos não adequados para execução da estaca Strauss, que são:

• Solos com lençol freático alto: não considerados adequados devido à


contaminação da água no concreto.

• Areia saturada e argila muito mole: esse tipo de solo tem a tendência
de desmoronar ao retirar‑se a camisa de revestimento, fechando ou
estrangulando o fuste da estaca.

42
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

• Solos de alta resistência: devido à utilização de um equipamento de


baixa complexidade, a sua capacidade de cravação é limitada, não
atravessando solos com maior resistência

• Matacão: são rochas ou pedras dispostas ao longo das camadas


do solo, as quais apresentam características de muita resistência,
impedindo a progressão do equipamento

• Rochas, argilas rijas entre outros solos com alta resistência


(PEREIRA, 2013).

Lembrete

Por ser uma estaca de simples execução, geralmente a mão de obra


utilizada é de baixa qualidade, o que exige do engenheiro civil uma maior
atenção à produção das estacas, principalmente no que tange à segurança
do trabalho. Portanto, lembre‑se de exigir sempre todos os EPIs.

2.7.3 Vantagens e desvantagens da estaca Strauss

As principais vantagens deste tipo de estaca são a baixíssima vibração, podendo ser utilizada
em grandes centros com concentração urbana, uma vez que sua vibração não causa abalos nas
estruturas vizinhas.

A simplicidade e a rusticidade do equipamento torna‑se uma vantagem, pois, além de não necessitar
de mão de obra especializada, utiliza número pequeno de trabalhadores, em média um operador e dois
ajudantes. Também apresenta fácil deslocamento e mobilidade do equipamento, não necessitando de
guindastes, muncks e outros equipamentos de grande porte para transportar e alocar esta ferramenta
na obra.

Outro benefício é a garantia de um diâmetro mínimo, uma vez que se utiliza o revestimento (também
conhecido por “camisa”), tendo‑se a certeza de que o diâmetro mínimo estará garantido.

Deve‑se ressaltar que o processo de concretagem evita a contaminação do concreto com solo; com
isso, tem‑se uma resistência do concreto mais confiável comparada a outros tipos de estacas moldadas
in loco, o que se mostra uma grande utilidade desse tipo de estaca.

Pode‑se considerar uma outra serventia em relação às estacas escavadas: o solo na base da
perfuração, apesar de sofrer alguma redução no confinamento (mais sensível nas areias), pode
ter sua condição natural recomposta, ou até melhorada, em função da compactação usada na
formação da base.

43
Unidade I

Observação

Antes de executar qualquer tipo de fundação, é muito importante


conhecer o perfil do terreno. Para essas informações, se faz necessário
realizar ensaios de sondagens SPT, CPT ou outros.

Como desvantagem, pode‑se apontar a difícil execução abaixo do nível da água, pois, mesmo
utilizando os revestimentos, estes não impedem que a água entre em contato com o concreto ainda
em seu estado fresco, prejudicando de forma significativa a sua resistência. Lembre‑se de que os
revestimentos são retirados no processo de concretagem.

Esse tipo de estaca apresenta capacidade de carga pequena, o que é uma inconveniência em relação
aos outros tipos de estacas. A difícil cravação em solo resistente é a principal desvantagem desse tipo de
estaca, podendo inviabilizar a sua utilização.

Por ser uma estaca que não exige muita mão de obra, a sua produção é relativamente baixa,
chegando, em média, a uma execução de 30 m por dia.

2.8 Estacas Franki

2.8.1 Generalidades da estaca Franki

A estaca tipo Franki leva esse nome devido ao seu idealizador, Edgard Frankignoul, que a introduziu
como fundação há mais de 100 anos na Bélgica. Ele teve a ideia de cravar um tubo metálico no terreno
utilizando golpes do pilão de queda livre numa bucha (tampão) de concreto seco ou seixo rolado
compactado, colocado dentro da extremidade inferior do tubo. Seu processo teve sucesso, e esse método
de execução espalhou‑se pelo mundo, mostrando eficiência e produzindo uma estaca de elevada carga
de trabalho. Frankignoul constituiu uma empresa para explorar as patentes, as quais foram registradas
entre 1909 e 1925.

Esse tipo de estaca chegou pela primeira vez no Brasil em 1935, na execução da fundação da Casa
Publicadora Baptista, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, em meados de 1936, foram executadas as estacas
do portal de entrada do túnel Nove de Julho. A partir de 1960, após ter expirado a licença da patente, o
método Franki entrou para o domínio público.

Para que a execução de uma estaca tipo Franki seja bem realizada, é preciso observar cuidadosamente
os métodos executivos, o uso de equipamentos adequados e a mão de obra especializada e experiente.
Esse tipo de fundação pode ser executado com diversos diâmetros; normalmente, podem ser de 30 a
70 cm, e ela é capaz de alcançar uma profundidade de até 30 m.

As estacas Franki podem ser construídas em qualquer tipo de terreno, inclusive com a presença de
lençol freático. Em solos moles, é importante ter um cuidado especial; nesse caso, é possível adotar

44
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

técnicas para estabilização das paredes da escavação ou utilizar um tubo metálico perdido para auxílio
na concretagem.

Antes de iniciar o processo executivo, é de suma importância que seja realizado o boletim de controle
da execução, registrando‑se, no mínimo, as informações básicas da obra, como:

• data;

• número da estaca;

• diâmetro da estaca;

• cotas de cravação e arrasamento;

• identificação do equipamento utilizado;

• comprimentos cravado, concretado e não concretado;

• nega para dez golpes caindo de altura 1 m;

• nega para um golpe caindo de altura 5 m;

• volume da base;

• comprimento da armação;

• encurtamento da armação;

• consumo de cimento por m3 de concreto;

• controle de prumo.

2.8.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas

Basicamente, os equipamentos utilizados para a execução da estaca são o bate‑estacas, o pilão, o


dumper motorizado e o vibrador elétrico ou a combustão.

O bate‑estacas é constituído por uma torre metálica com altura compatível com a profundidade
prevista para a execução da estaca. Para a movimentação do tubo e dos equipamentos, se faz necessário
um motor com potência mínima de 150 HP. O guincho do bate‑estacas deve ser provido, no mínimo, de
três tambores com capacidades determinadas em função do diâmetro e do comprimento das estacas,
conforme ilustra a tabela a seguir.

45
Unidade I

Tabela 5 – Capacidade dos tambores

Toneladas Dimensão das estacas


4–4e8 Ø 600 mm e comprimento previsto de tubo cravado de até 12 m.
5 – 5 e 10 Ø 600 mm e comprimento previsto de tubo cravado acima de 12 m.

Fonte: Abef (2016, p. 152).

O pilão tem como finalidade a cravação do tubo, a abertura da base e o apiloamento do concreto
do fuste. Ele deve seguir as características dimensionais, geométricas e pesos recomendados conforme
a figura a seguir.
Pilão com
cabeça soldada

Janela

50 mm (2”)
25 mm (1”) 25 mm (1”)

Figura 23 – Detalhes do pilão Franki

A ponta do pilão não pode sofrer afilamento, pois pode causar danos à bucha e também prejudicar
o adensamento do concreto tanto da base como do fuste. Quando isso ocorrer, deve‑se interromper a
utilização do pilão e reencher a ponta.

Bucha é o nome dado à massa constituída por brita e areia seca que é instalada na ponta da estaca
com o objetivo de promover a cravação do tubo e a estanqueidade.

De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), os pilões devem ter pesos e diâmetros mínimos, conforme
indicados na tabela a seguir.

46
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Tabela 6 – Peso e diâmetro dos pilões

Diâmetro da Peso (kN) Diâmetro (m)


estaca (m)
0,30 10 0,18
0,35 15 0,18
0,40 20 0,25
0,45 25 0,28
0,52 28 0,31
0,60 30 0,38
0,70 34 0,43

Fonte: ABNT (2010, p. 59).

O tubo Franki é um elemento metálico de grande resistência, que dará forma e medida ao diâmetro
da estaca a ser executada. Seu comprimento deve ser o suficiente para atender à profundidade prevista
em projeto. Ele deve ser retilíneo e com diâmetro constante.

O processo construtivo consiste em fazer atuar um pesado maço (peso) de um bate‑estaca (1 a 4


toneladas) sobre um tampão de concreto quase seco ou de cascalho e areia (bucha) colocados dentro de
um tubo de aço de grande altura. O atrito desenvolvido entre o tubo e o tampão é suficiente para que,
sob a ação dos golpes do maço, o tubo seja enterrado.

Nesse processo de cravação, por percussão, o solo é comprimido sob sua ponta, o que proporciona
um excesso de vibração nas edificações vizinhas. Atingida a profundidade desejada, imobiliza‑se o tubo e
lança‑se o concreto quase seco no seu interior e volta‑se a percutir até a expulsão do tampão. Socando‑se
com o maço, o concreto espalha‑se na zona não revestida pelo tubo, formando um bulbo. Terminado o
bulbo, passa‑se à execução do fuste. Para isso, coloca‑se previamente a armadura, sendo que o maço
trabalha por dentro dela. Em seguida, lançam‑se novas quantidades de concreto que se apiloam, ao
mesmo tempo em que se efetua a retirada parcial do tubo, elevando‑o de 20 a 30 cm de cada vez. Dessa
maneira, vão se formando diversas saliências, dando origem a uma estaca com irregularidades em todo o
seu comprimento, aumentando o seu atrito com o terreno. A figura a seguir ilustra a sequência executiva.

Geralmente, o diâmetro do tubo varia entre 30 e 60 cm. Devido às saliências, o diâmetro do fuste da
estaca torna‑se superior ao do tubo, podendo alcançar 50 a 80 cm, conforme a natureza das diversas
camadas de terreno atravessadas pela estaca.

Alguns cuidados devem ser tomados durante a execução da estaca, como, por exemplo, a altura
da bucha, pois sua ela influi no resultado da cravação. Buchas com alturas excessivas aumentam a
eficiência da cravação, podendo causar penetração do tubo além do necessário; já buchas reduzidas
têm o efeito contrário. É recomendado utilizar a altura da bucha entre 1,5 e 2 vezes o diâmetro do tubo.

É possível confeccionar na obra o gráfico de cravação a partir da primeira estaca, sendo anotado o
número de golpes necessários para a penetração de cada 50 cm do tubo a uma altura constante de 6 m.
47
Unidade I

As negas do tubo no final da cravação são medidas para alturas de queda do pilão de 1 m (dez golpes )
e 5 m (um golpe), e devem ficar entre 5 mm e 20 mm.

Também na execução da primeira estaca, a base alargada é feita de maneira padronizada, com
o pilão caindo de uma altura de queda de 6 m, anotando‑se o número de golpes necessários para
compactar o concreto de cada caçamba lançada.
Marca no cabo
Caçamba de concreto
hh
Cabo da tração Cabo do pilão
(presos na torre)
Cabo da tração
(presos na torre)

Tubo Franki

Pilão Franki

Bucha de areia
e brita
1

Altura de
Armação segurança
Fuste
Franki

Altura de
Base segurança

3 4 5 6

Figura 24 – Sequência executiva da estaca Franki

48
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Vale ressaltar a importância do acompanhamento dos métodos executivos, pois podemos evitar
acidentes de execução. Podemos citar dois tipos principais de acidentes que danificam as estacas tipo
Franki durante sua execução. O primeiro é o estrangulamento do fuste na concretagem através de solos
muito moles e o dano causado devido à ruptura do fuste durante o apiloamento do concreto, causado
pelo repentino encurtamento da armação. O segundo é a ruptura por tração do concreto ainda sem
cura ou a perda de contato da base com o solo de apoio devido ao levantamento de estaca já cravada,
causada pela cravação de estacas vizinhas.

Por isso, a NBR 6122 (ABNT, 2010) recomenda que, para a execução de uma estaca, todas as demais
estacas circunvizinhas em um círculo igual a cinco vezes o diâmetro da estaca já estejam cravadas e
concretadas ao menos há 12 horas. Também sugere utilizar a metodologia do pré‑furo a fim de eliminar
o risco de levantamento das estaca próximas ou ao menos minimizar os efeitos de vibração.

A norma ainda recomenda que ao menos 1% das estacas ou, no mínimo, uma por obra seja exposta
abaixo da cota de arrasamento ou até o nível d’água, a fim da verificação da integridade da estaca e
qualidade do fuste.

Por serem moldadas na ocasião de cravação com o comprimento desejado, economizam tempo e
dinheiro. Com uma capacidade de 10 a 30 toneladas, possuem melhor estabilidade devido a sua base
alargada, boa verticalidade e superfície do fuste bastante rugosa em contato com o terreno fortemente
comprimido, as estacas Franki se tornam uma boa solução. A tabela a seguir apresenta as cargas de
trabalho e os valores de carga máxima para as estacas em função do diâmetro.

Tabela 7 – Cargas usuais e máximas para estacas tipo Franki

Diâmetro (cm) Tensão (MPa) Carga usual (kN) Carga máxima (kN)
35 600 1000
40 750 1300
6,0 a 10,0
52 1300 2100
60 1700 2800

Fonte: Hachich et al. (2012, p. 224).

A sua execução é onerosa e depende de trabalho especializado (para evitar defeitos). Esse tipo de
fundação somente deve ser feito por empresas especializadas.

2.8.3 Vantagens e desvantagens da estaca Franki

Apesar de ser um tipo de estaca que foi utilizada por muito tempo, ela apresenta as seguintes desvantagens:

• Deve‑se tomar cuidado com o tamanho da bucha que irá ser adotada, pois ela influenciará no
resultado da cravação de forma significativa.

49
Unidade I

• O processo executivo de cravação do tubo fechado pode causar danos e vibrações nas construções
vizinhas, devendo‑se utilizar um método alternativo de cravação com o tubo aberto.

• Pode ocorrer o estrangulamento do fuste (invasão de água e/ou lama) na concretagem devido à
presença de solos muito moles.

• O apiloamento do concreto também pode causar redução no comprimento da armadura. Como


solução, deve‑se aumentar o diâmetro das barras ou o número de barras a serem utilizadas.

• O processo de cravação de uma estaca pode influenciar diretamente nas estacas vizinhas, causando
danos como, por exemplo, a ruptura por tração do concreto, ainda sem cura, e também a perda do
contato da base da estaca com o solo em que está apoiada, causando o levantamento da estaca já
cravada. Esses danos ocasionados poderão afetar a capacidade de carga da estaca já executada e,
em alguns casos, há necessidade de substituir a estaca ou até mesmo exigir a recravação do tubo
sobre a estaca recém‑acidentada.

• Na execução das estacas, deve‑se seguir uma sequência que evite estacas presas (executar a
estaca entre duas que já foram cravadas).

• Não se recomenda a execução dessas estacas em terrenos com matacões.

A seguir, podemos citar também as vantagens obtidas com a utilização das estacas Franki:

• O concreto utilizado nas estacas tipo Franki é de baixo fator água‑cimento (slump zero).

• O concreto utilizado na base é praticamente seco, auxiliando no apiloamento para o alargamento


da base da estaca;

• As cargas admissíveis das estacas poderão ser diminuídas ou aumentadas, variando de acordo
com as condições especiais de projeto. A redução pode alcançar cerca de 15% da carga admissível
usual e o aumento poderá atingir 20%. As cargas podem ser aumentadas quando houver condições
favoráveis do subsolo que permitam a previsão de estacas com comprimentos grandes.

• Têm capacidade para desenvolver elevada carga de trabalho considerando pequenos recalques.

• A cravação do tubo de revestimento com a ponta fechada no solo isola o concreto da água do subsolo,
sendo essa a grande vantagem dessa estaca em relação as que são cravadas com a ponta aberta.

• A base alargada das estacas do tipo Franki oferece maior resistência de ponta quando comparada
aos outros tipos de estaca.

• O apiloamento do concreto para formação do fuste compacta o solo ao redor da estaca,


aumentando o atrito lateral;

50
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

• O comprimento da estaca pode ser ajustado durante a escavação.

• O apiloamento da base alargada compacta os solos arenosos, aumentando o seu diâmetro e,


consequentemente, ampliando a resistência de ponta da estaca.

• Em solos argilosos, o apiloamento da base alargada expele água da argila, a qual é absorvida pelo
concreto seco e assim reforçando e estabilizando seu entorno.

• A execução das estacas do tipo Franki, quando bem aplicadas e executadas, não tem grandes
restrições quanto ao uso, salvo em casos de solos muito moles, em que irá interferir na sua
execução devido à instabilidade do terreno e possível entrada de água.

2.9 Estaca broca

2.9.1 Generalidades da estaca broca

Esta estaca é considerada a mais simples a ser executada. Os equipamentos necessários são tão simples
quanto a sua execução. Atualmente, são denominadas estacas do tipo escavadas sem fluido estabilizante.

A NBR 6122 (ABNT, 2010) define a estaca escavada como sendo um tipo de fundação profunda que
é moldada in loco, executada por perfuração no solo através de um trado espiral, sem necessidade de
revestimento ou de fluido estabilizante, desde que o perfil do subsolo tenha características tais que o
furo se mantenha estável.

Para a execução dessa estaca é utilizado um trado curto acoplado a uma haste. A perfuração, quando
atingida a profundidade de projeto, poderá ter o fundo apiloado, quando for especificado em projeto.

A figura a seguir ilustra as etapas de execução de uma broca manual.

Trado Pilão
manual

NA

1ª fase 2ª fase 3ª fase 4ª fase


escavação apiloamento do concretagem e colocação das
fundo adensamento esperas

Figura 25 – Sequência executiva da estaca broca manual

51
Unidade I

Também podem‑se utilizar equipamentos rotativos para execução da estaca tipo broca. Tais
equipamentos, em sua maioria, são acoplados em caminhões e possuem um trado helicoidal na
extremidade do equipamento rotativo, compondo o sistema de perfuração mecânica. A figura a seguir
ilustra o equipamento acoplado ao caminhão.

Figura 26 – Posicionamento do caminhão para perfuração

Para retirar o solo escavado, o trado helicoidal é sacado do furo e rotacionado no sentido contrário
ao da perfuração. Pode‑se observar na figura a seguir o momento da retirada do solo preso ao trado.
Recomenda‑se a limpeza da obra para que a terra retirada do solo não caia dentro do fuste da estaca.
Caso seja possível, é interessante utilizar soquete manual para compactar o fundo da estaca.

Figura 27 ‑ Retirada do solo preso ao trado

52
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A NBR 6122 (ABNT, 2010) ressalva que a profundidade máxima desse tipo de estaca é limitada ao
nível do lençol freático. Quanto a sua concretagem, é indicado que seja realizada no mesmo dia da
perfuração utilizando um funil de comprimento superior a 1,5 m com a finalidade de orientar o fluxo de
concreto e evitar a sua desagregação.

A referida norma recomenda que: (a) a resistência à compressão do concreto aos 28 dias seja igual
ou maior do que 20 MPa para um consumo de cimento superior a 300 kg/m3; (b) a consistência plástica
esteja entre 8 e 12 cm para estacas não armadas e de 12 a 14 cm para estacas armadas; e (c) o agregado
tenha diâmetro máximo 19 mm (ABNT, 2010).

Conforme a orienta a norma NBR 6122 (ABNT, 2010), pelo menos 1% das estacas e no mínimo uma
por obra deve ser exposta abaixo de sua cota de arrasamento e, quando possível, até o nível d’água com
o objetivo de verificar a integridade e a qualidade do fuste.

Em relação à resistência característica do concreto fck, a norma orienta que seja adotado um fator
redutor de 0,85 para levar em conta a diferença entre os resultados de ensaios rápidos de laboratório e
a resistência sob a ação de cargas de longa duração.

Tratando‑se de estacas escavadas, vale a pena ser observado o alívio de tensões e seus
efeitos. Em seus experimentos, O’Neill (2001) observou que o efeito deste alívio, a partir da face
externa da fundação, é aproximadamente igual a duas ou três vezes o raio do furo para a argila
pré‑adensada (beaumont clay). A partir de medidas de velocidade de onda (Spectral Analysis
of Surface Waves – SASW), foi possível criar uma hipótese de que, por efeito da escavação,
a resistência não drenada poderia ser reduzida à metade do seu valor inicial na interface
fundação‑solo em solo argiloso (O’NEILL, 2001). Reese e O’Neill (1970) relatam que é razoável
reconhecer que a magnitude das tensões cisalhantes que podem se desenvolver ao longo do
fuste de uma estaca escavada pode ser influenciado por vários parâmetros, incluindo o método
de construção (seco ou úmido), composição do solo, geometria base, relação água/cimento do
concreto, tipo de carregamento (curto ou longo prazo) e condições ambientais, resultando em
contração ou expansão da superfície do solo.

2.9.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas

Como citado anteriormente, os equipamentos utilizados para execução das estacas tipo broca são
muito simples. Quando o trabalho é executado manualmente, consiste em:

• Cavadeira manual: executa o pré‑furo, podendo atingir até 1,5 m de profundidade. Em alguns
tipos, pode utilizar adaptadores, alcançando profundidades de até 2,5 m.

• Trado: pode ser executado com rosca helicoidal ou trado cilíndrico conforme a figura a seguir. Esse
equipamento é acoplado a uma haste, podendo atingir a profundidade exigida em projeto.

53
Unidade I

Figura 28 – Tipos de trados manuais (da direita para esquerda):


trado helicoidal, espiral, concha cavadeira e torcido

Quando executado mecanicamente, é usado um trado helicoidal acoplado ao motor com o giro e o
atrito proporciona a escavação da estaca. A utilização deste equipamento facilita muito a execução das
estacas, podendo variar o diâmetro de 0,25 m até 0,90 m, promovendo uma boa produção diária.

2.9.3 Vantagens e desvantagens da estaca tipo broca

Algumas vantagens e desvantagem das estacas tipo broca podem ser citadas quanto aos critérios
de utilização.

As principais vantagens são o baixo custo, não provocar vibrações durante a execução, evitando
danos em estruturas vizinhas, a concretagem no comprimento estritamente necessário e a eliminação
da necessidade de transporte de maquinário pesado. As principais desvantagens são a baixa carga de
trabalho, baixa qualidade executiva, não é executada abaixo do nível de água do solo e comprimentos
de, no máximo, 8 m.

2.10 Estacas raiz

2.10.1 Generalidades da estaca tipo raiz

O surgimento da estaca raiz foi verificado na Itália a partir da década de 1950, onde o professor
Fernando Lizzi efetuou as primeiras patentes com a denominação pali radice. Essa estaca foi criada
para ser usada em contenção de encostas, sendo cravadas com formato reticulado. Com a evolução da
engenharia e suas tecnologias, passaram a ser utilizadas em reforços de fundações e, em seguida, como
fundações convencionais.

Várias empresas começaram a comercializar tipos parecidos com a estaca pali radice, recebendo a
nomenclatura de microestaca devido ao diâmetro utilizado ser de apenas 20 cm.

Com a necessidade de atender maiores cargas, essa estaca foi sofrendo adaptações, chegando a
diâmetros cada vez maiores, atingindo, hoje, até 50 cm.

54
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Devido ao aumento no diâmetro das estacas, e com isso maior capacidade de carga usual, a
compressão, a NBR 6122 substituiu a nomenclatura de “microestacas” ou “estacas escavadas com
injeção” por estaca raiz. Essa nomenclatura foi determinada devido ao seu processo executivo que sobre
pressão “enraíza” a argamassa ao solo.

Atualmente, a estaca raiz é moldada in loco utilizando‑se argamassa, com diâmetro variando de 80
a 500 mm, suporta elevada tensão de trabalho no fuste e é constituída de armação ao longo de todo o
comprimento da estaca.

A NBR 6122 (ABNT, 2010) orienta que a perfuração da estaca raiz deve ser revestida integralmente
ao longo do seu fuste. Este cuidado deve ser tomado para que não haja desbarrancamento da parede
do fuste. Porém, há situações nas quais a perfuração alcança camadas densas de rochas, deixando
de ser necessário o revestimento, pois a própria camada atua como um revestimento natural. Dessa
forma, usa‑se a nomenclatura de revestimento parcial (no solo com revestimento e parte em rocha,
sem revestimento).

Observação

Matacão é uma grande massa de rocha produzida pelo processo de


intemperismo químico que pode ser encontrado de forma aleatória nas
camadas do solo.

A estaca raiz é recomendada onde existe a necessidade de perfurar materiais mais duros, como
terreno com vários perfis diferentes, rochas, pedras abaixo do nível d´água e quando não se admitem
vibrações ou ruídos elevados na execução.

2.10.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas utilizados na estaca raiz

O método executivo desse tipo de estaca consiste em perfuração com uso de rotação ou
roto‑percussão, que pode ser executada na direção vertical ou inclinada, com circulação de água, lama
ou ar comprimido e com uso de ferramentas especiais que podem atravessar qualquer tipo de terreno
(alvenarias, concreto armado, rochas ou matacões). Este método é dividido em quatro etapas, sendo
elas a perfuração, a implantação da armadura, a concretagem (injeção da argamassa) e a aplicação de
ar comprimido.

O equipamento utilizado é bem simples e de certa forma bem compacto. São perfuratrizes hidráulicas,
mecânicas ou até mesmo a ar comprimido que são montadas sobre estruturas metálicas na maioria das
vezes dotadas de esteiras para deslocamento acionadas por motor. A figura a seguir ilustra um modelo
de equipamento com motor a explosão.

55
Unidade I

4000
21600
14870
6000

1200
3160
2670
1650

4200 4425
1100

5500

Figura 29 – Equipamento da estaca tipo raiz

Por ser um equipamento bem compacto, ele viabiliza a utilização da estaca raiz em terrenos com
pequenas dimensões e com proximidades de outras estacas. Outra vantagem é que pode executar as
estacas próximas à divisa.

56
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Posicionado o equipamento no local da estaca, tem início a perfuração, a qual é composta por
segmentos rosqueados em sequência à medida que a perfuração prossegue. A dimensão usual de cada
segmento varia entre 0,8 e 1,20 m.

Para que ocorra a perfuração, é colocada no interior do revestimento uma mangueira que
proporciona a circulação de água por bombas de alta vazão e pressão com a finalidade não apenas
de desagregação do solo no interior do revestimento, mas também a lubrificação e o resfriamento
da ferramenta de perfuração, abertura de espaço para passar o revestimento e remoção de todo solo
desagregado mediante um fluxo altamente turbulento. Essa bombas, na maioria das vezes, são de
multiestágios; o número de estágio varia de três a cinco, proporcionando pressões de 60 a 90 mca e
vazões de 9 a 12 m3/h.

Para que essas bombas trabalhem com segurança, é necessário levar para a obra um reservatório
com dimensões compatíveis com a necessidade de água, bem como com o espaço disponível na obra.
Em média, os reservatórios têm capacidade de reserva de 10 a 20 m3 com o objetivo de não ocorrer
paralização do serviços.

Para injeção da argamassa, são necessárias bombas de injeção. Recomenda‑se a utilização do tipo
duplex, ou seja, dois pistões atuando em paralelo, sendo necessário um motor elétrico com potência que
varia de 5 a 10 cv e com pressão em torno de 0,4 Mpa. Outro equipamento muito utilizado é o conjunto
misturador de argamassa acionado por motor elétrico ou a explosão.

Concluída a perfuração com revestimento total do furo, é colocada a armadura (se necessária),
procedendo‑se, em seguida, à argamassagem do fuste com a correspondente retirada do tubo de
revestimento. Tal ação é executada de baixo para cima, aplicando‑se regularmente uma pressão
controlada e variável em função da natureza do terreno, cujo valor atinge até 0,4 MPa.

O processo de perfuração não provoca vibrações nem qualquer tipo de descompressão do terreno.
Em conjunto com o reduzido tamanho do equipamento, esse tipo de estaqueamento é indicado para
várias situações.

Como as estacas raiz suportam elevadas cargas de tração, isso permite que se façam provas de
carga a compressão sem necessidade do uso de tirantes, utilizando‑se somente estacas vizinhas como
elemento de reação. Porém, essas provas de carga podem mascarar os resultados da utilização da
armadura, triplicando o valor da armação do fuste, repercutindo em custos adicionais.

A figura a seguir mostra o processo executivo da estaca raiz, ilustrando as fases de perfuração,
colocação da armação e injeção da argamassa.

57
Unidade I

Conjunto
Perfuratriz Misturador extrator
Agitador

Bomba de argamassa
Revestimento
Armação interna

Retorno do fluído
de perfuração com
expulsão do material.
a

a) Perfuração com revestimento integral do furo.


b) Colocação da armação interna ao tubo de
revestimento. Argamassa
c) Preenchimento ascensional do furo com
argamassa.
d) Extração do tubo de revestimento e aplicação
de ar comprimido. b c d e
e) Estaca acabada.

Figura 30 – Sequência executiva da estaca tipo raiz

De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), a quantidade de cimento utilizado nas estacas prescreve
um valor de consumo não inferior a 600 kg/m3 e a argamassa utilizada deve apresentar uma resistência
característica maior ou igual a 20 MPa.

Para a execução inicial da estaca raiz, era obrigatória a aplicação de ar comprimido utilizando
pressões da ordem de 0,4 MPa; para isso, utilizava‑se um tampão apropriado, rosqueado no topo do
revestimento, no qual o ar comprimido era aplicado.

O processo foi modernizado, a injeção de ar vem sendo trocada pela injeção da própria bomba de
argamassa (tendo‑se o mesmo efeito), lembrando que a funcionalidade e a eficácia deste procedimento
é maior quanto maior for a fluidez e homogeneidade da argamassa.

A NBR 6122 (ABNT, 2010) também recomenda o preparo adequado da cabeça da estaca para ligação
com o bloco de coroamento em dois casos. Quando a estaca apresenta argamassa abaixo da cota de
arrasamento, ou cujo topo fique abaixo, recomenda‑se a demolição do comprimento e recomposição
até a cota prevista. O material a ser utilizado deve apresentar resistência igual ou superior ao utilizado
na estaca original.

No caso de o topo da estaca estar superior à cota de arrasamento, recomenda‑se fazer a demolição
utilizando ponteiros ou marteletes leves, restringindo o uso de martelete nas estacas com seção maior
a 900 cm2.

58
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

2.10.3 Vantagens e desvantagens da estaca tipo raiz

Por serem estacas muito versáteis, que utilizam equipamentos compactos e com excelentes cargas de
trabalho, podem‑se citar, dentre suas principais utilizações:

• Podem ser executadas em locais de difícil acesso, tais como terrenos de encostas íngremes ou que
não permitam acesso de equipamentos de grande porte.

• São indicadas como fundação para torres de transmissão, visto que estas resistem bem aos
esforços de tração.

• Atuam como reforço nas fundações, pois os equipamentos executam as estacas em locais restritos
e com pé direito reduzido.

• Podem substituir a parede diafragma, resistindo aos empuxos do terreno.

• São fundações de equipamentos industriais, devido às instalações de novos equipamentos ou


acréscimo de equipamentos novos, que exigem uma execução em lugares restritos.

• Se executadas através do bloco das fundações, promovem a estabilização de grandes máquinas


que apresentam vibrações elevadas, modificando a inércia das fundações e eliminando as vibrações
danosas. Quando se fizer necessária a perfuração de rochas, são utilizados bits de vídia.

Podemos apresentar algumas desvantagens da utilização desse tipo de estaca:

• Há necessidade de, no mínimo, cinco operários no canteiro de obras para a execução de uma
estaca, pois alguns equipamentos ainda utilizam o método manual de rosqueamento dos tubos.

• Utiliza‑se uma grande quantidade de água na perfuração de uma estaca (quando a escavação é
feita com água).

• Devem existir tanques com reserva de água no canteiro de obras para que a execução não seja
interrompida.

• O canteiro de obras deve ser uma área mais ampla para comportar os equipamentos, tubos, reservatório
de água e, possivelmente, um destino para o escoamento da lama que sai do furo na escavação.

Sobre as vantagens da utilização das estaca raiz comparada a outros tipos de estacas, destacam‑se:

• Apresentar menor relação custo/carga entre vários tipos de estacas.

• Permitir a realização de provas de carga para manter o controle de qualidade.

59
Unidade I

• Ter um processo de perfuração que não provoca vibrações nem descompressões no terreno
capazes de prejudicar as construções vizinhas.

• Ser indicada para terrenos onde existam rochas e matacões.

• A execução de estaca raiz possibilita o reforço de fundações de obras com vizinhanças sensíveis
às vibrações ou poluição sonora.

2.11 Estacas de hélice contínua

2.11.1 Generalidades da estaca hélice contínua

Historicamente, as estacas de hélice contínua surgiram na década de 1950 no Estados Unidos


e receberam o nome de CFA (continuous flight auger). Nessa época, foi utilizado um equipamento
composto por uma lança treliçada com uma mesa rotativa acoplada que possibilitava a execução de
estacas com diâmetro de 275, 300 e 400 mm, conforme ilustra a figura a seguir.

Mesa de rotação

Lança do guindaste

Guia do
trado

Torre

Motor e bomba Cabina do


hidráulica operador
Trado tipo
hélice contínua

Guindaste
Guia e
limpador
Nivelamento
e locação

Figura 31 – Equipamento montado em guindaste com lança treliçada

60
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Na década de 1970, a estaca de hélice contínua foi utilizada na Alemanha, onde teve grande
repercussão, e seu método executivo foi utilizado em toda a Europa e Japão (PENNA et al., 1999).

Apenas em 1987 esse tipo de estaca chegou ao Brasil utilizando o equipamento montado em
guindastes com as mesmas características e desempenho do ilustrado na figura anterior. Na metade da
década de 90, essa estaca se consolidou no Brasil com a vinda de equipamentos construídos especialmente
para a sua execução, podendo atingir diâmetros de até 1.000 mm e capacidade de perfuração de até 24
m (ANTUNES; TAROZZO, 1996).

O procedimento para execução desse tipo de estaca foi introduzido na NBR 6122, no ano de 1996,
na qual se regulamenta a sua utilização.

2.11.2 Equipamentos, acessórios e ferramentas utilizados na estaca hélice contínua

Seu processo de execução ocorre mediante a introdução de um trado helicoidal contínuo no solo,
em que a injeção de concreto é realizada pela haste do trado simultaneamente a sua retirada.

A execução da estaca hélice contínua consiste de três fases: perfuração, concretagem e colocação
da armação.

A fase de perfuração é feita por meio de um equipamento com mesa rotativa que aplica um torque na
hélice espiral a fim de vencer a resistência do solo a ser escavado. A haste de perfuração é composta por
uma hélice espiral com extremidade inferior dentada para facilitar a penetração no terreno, sendo esta
desenvolvida em torno de um tubo central por onde ocorrerá a injeção do concreto simultaneamente
à extração da hélice. Essa extremidade dentada pode ser substituída por pontas de vídia onde o solo
apresentar maiores resistências.

A perfuração é um processo contínuo, marcando a característica da hélice contínua, que é a de não


permitir alívio de tensões do terreno, tornando possível sua execução tanto em solos coesivos quanto
em solos arenosos e na presença ou não do lençol freático. A entrada de solo no tubo central é impedida
por uma tampa geralmente recuperável.

A produtividade pode variar de 150 a 400 m por dia, dependendo do diâmetro das estacas, das
condições do solo, do torque do equipamento e da profundidade das estacas.

Atingida a profundidade pretendida, tem início a fase de concretagem por bombeamento da


estaca, pela injeção do concreto através do tubo interno à hélice, sendo esta sacada conforme o
preenchimento do concreto.

O concreto normalmente utilizado apresenta resistência característica, fck = 20 MPa,


constituído por areia, pedrisco ou brita 1 e consumo de cimento não inferior a 400 kg/m3, sendo
facultativa a utilização de aditivos. O abatimento ou slump test é mantido entre 190 e 250 mm
segundo a NBR 6122 (ABNT, 2010).

61
Unidade I

A colocação da armadura é feita após a concretagem. Esta armação tem forma de gaiola, sendo
introduzida na estaca com auxílio de um pilão de pequena carga ou vibrador. Ela é constituída por barras
grossas, estribo helicoidal soldado nas barras longitudinais e a sua extremidade inferior é levemente
afunilada, para facilitar e evitar sua deformação durante a introdução do concreto.

No caso de as estacas serem submetidas a esforços de compressão, não se utiliza armação de acordo
com a NBR 6122 (ABNT, 2010), ficando a critério do projetista a armação de ligação com o bloco. Porém,
no caso de as estacas estarem submetidas a esforços de tração ou transversais, faz‑se necessário o uso
de gaiolas longas, utilizando espirais ao invés de estribos para evitar emendas por transpasse.

A armação é centralizada no furo por meio de espaçadores que garantam o recobrimento mínimo.

Na figura a seguir é ilustrado o processo executivo das estacas, mostrando as três fases: perfuração,
concretagem e colocação da armadura.

Concreto
bombeado

Figura 32 – Processo executivo de uma estaca hélice contínua

2.11.3 Vantagens e desvantagens

Como vantagens dessa fundação, temos:

• Os equipamentos permitem atravessar camada de solo com SPT 50.

• Os equipamentos possibilitam a execução de estaca inclinada de 14° até profundidade de 15 m e


de 11° até profundidades entre 16 m e 25.

• Os equipamentos são dotados de instrumentos que monitoram continuamente toda a execução


das estacas.

62
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

• Não há desconfinamento lateral do solo.

• Como o concreto é bombeado sob pressão, ele preenche continuamente o volume escavado,
fornecendo uma maior resistência por atrito lateral da estaca.

• Devido ao monitoramento eletrônico, é permitido um controle contínuo da qualidade de execução


da estaca.

• Permite a execução de cerca de 200 a 300 m de estaca por dia em condições normais de terreno.

Já dentre as desvantagens, podemos mencionar:

• Custo relativamente elevado.

• Número de equipamentos limitado no Brasil.

• Devido à alta produtividade das estacas, é exigida uma central de concreto bem próxima da obra.

• Em função do grande porte dos equipamentos, o terreno deve ser plano para facilitar a movimentação.

• Necessidade de haver uma pá‑carregadeira na obra para a remoção de material retirado da


escavação das estacas.

• Do ponto de vista comercial, é necessária uma certa quantidade de estacas para “cobrir” o
deslocamento dos equipamentos.

3 FUNDAÇÃO TIPO TUBULÃO

Foi dedicada uma atenção maior para este tipo de fundação, para podermos entender melhor as
suas características e propriedades.

Essa fundação é a mais utilizada na região noroeste do estado de São Paulo e em diversos estados.
A fundação tipo tubulão é usada, principalmente, na construção de edifícios de multipavimentos, que
apresentam maiores cargas concentradas em um número menor de pilares. Apesar de ser semelhante
a uma estaca, essa fundação é considerada como direta, pois a sua carga é transmitida ao solo através
de sua base.

Os tubulões são fundações profundas, que podem ser divididas basicamente em dois grupos
diferenciando‑se quanto a sua execução: a céu aberto ou a ar comprimido, ambos com ou sem
revestimento (metálico ou concreto). Diferem das estacas devido ao alargamento da base, que é feito
manualmente pela descida de um operário para concluir a escavação.

A figura a seguir ilustra um esquema básico da geometria de um tubulão.

63
Unidade I

N. T. (Nível do terreno)

C. A.
(Cota de arrasamento)

Ferragem de topo
Fuste

H Base α C. B.
(Cota da base)
20 cm
B) Corte longitudinal
A) Perspectiva

Figura 33 – Detalhe da geometria da ponta de um tubulão

Normalmente, apenas um tubulão já consegue absorver a carga de um pilar. De acordo com


Alonso (2010), a altura da base (H) a ser escavada não deve ser superior a 2 m, somente em
casos excepcionais e devidamente justificados, devendo‑se tomar todos os cuidados para garantir
a estabilidade do solo.

Quando as características dos solos indicarem que ele não é tão resistente, há necessidade de
executar injeções de calda de cimento para conter as paredes da base, evitando desmoronamentos.

3.1 Tubulões a céu aberto

O tubulão a céu aberto é um elemento estrutural de fundação. Basicamente, é concretado um


poço aberto no solo, geralmente dotado de base alargada, executado acima do nível d’água. Pode ser
rebaixado ou, em certos casos, como de solo saturado com possibilidade de bombeamento, receber
cuidados especiais, para que não ocorram riscos de desmoronamento.

Geralmente, são escavados por meio de um trado mecanizado, mas também podem ser escavados
de forma manual. O alargamento da base pode ser circular ou em forma de falsa elipse, como ilustra a
figura a seguir.

64
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

b
B)
B
d

B
H<2m L 2
Base
60º min. 20 cm

A) C)

Figura 34 – Tubulões: (a) em perfil, (b) com base circular, e (c) com base falsa elipse

Pela facilidade de execução e também por não ser necessária a utilização de nenhum equipamento,
ele se torna muito atrativo na escolha dos projetistas para a fundação de vários tipos de obras.

Como não há a necessidade de equipamentos pesados, o custo para execução se torna bem atrativo
em relação aos outros tipos de estacas que necessitam de equipamento elétrico ou à combustão. Em
contrapartida, a sua escavação totalmente manual leva um maior tempo para execução.

Recomenda‑se efetuar todo o fuste do tubulão de forma mecanizada, utilizando, por exemplo, os
equipamentos da estaca tipo broca ou Franki, e usar a parte manual apenas para execução da base. Para
permitir a entrada de operários para execução da base, recomenda‑se que o diâmetro mínimo a ser
adotado seja de, no mínimo, 70 cm.

O Manual de execução de fundações e geotecnia da Abef (Associação Brasileira de Empresas de


Engenharia de Fundações e Geotecnia) recomenda algumas etapas para execução de um tubulão a
céu aberto.

A primeira etapa trata‑se da locação do centro dos tubulões através da utilização de piquetes de
madeira individualizado. Para que não ocorra nenhuma discrepância, a obra deverá estar locada com o
gabarito executado.

Após a locação do centro, a próxima etapa é a marcação do diâmetro, que consiste em amarrar um
fio (linha de pesca ou cordonê) em duas hastes de ferro com a distância igual ao raio do tubulão. Uma
haste é fixada no centro do tubulão e a outra fica livre, podendo girar em torno da primeira, com isso
mantém‑se a mesma distância igual ao longo de todo o diâmetro.

65
Unidade I

Com o diâmetro marcado, tem início a escavação, primeiramente, com a picareta para depois serem
usadas a vanga e a pá.

Para os dois primeiros metros de escavação, o manual recomenda que o operário (poceiro) retire o
solo utilizando a pá, jogando‑o em volta do tubulão, formando um tipo de coroa. Só após ter atingido a
profundidade de 2 m se instala o sarilho na boca do tubulão e prossegue‑se com a escavação, retirando‑se
o solo com o auxílio de um balde.

Ao longo da escavação, deve‑se conferir o prumo e o diâmetro do fuste a fim de manter a verticalidade
do tubulão. Caso ocorram irregularidades, especialmente desalinhamento do fuste e dificuldade de
abertura e concretagem da base, é preciso corrigi-las imediatamente, pois o tubulão não pode ficar
muito tempo aberto, para não sofrer alívio de tensões e perda de resistência do solo.

Atingida a profundidade de projeto, deve‑se iniciar a abertura e o alargamento da base manualmente,


de acordo com as orientações de projeto. A figura a seguir ilustra o operador executando a abertura
da base.

Tubulão com
abertura de base

Fuste

Base

Figura 35 – Execução manual da base do tubulão a céu aberto

Pode ocorrer de a base do tubulão (base de assentamento) se encontrar abaixo do nível


d’água. O manual da Abef recomenda utilizar alguns procedimentos para completa segurança
da execução da base. O primeiro é a execução de um ou mais poços de rebaixamento em pontos
predeterminados utilizando bomba de recalque em cada poço com uma vazão adequada, a fim
de retirar essa água do subsolo.

66
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Outro procedimento que pode ser adotado é a execução de poços profundos de pequenos diâmetros
(150 mm a 200 mm), dotados também de bombas, a fim de rebaixar o lençol freático.

Quando o volume de água não for excessivo, pode‑se utilizar uma bomba submersível no próprio
tubulão que está sendo escavado, tomando os devidos cuidados com as condições de estabilidade da
parede do fuste.

Finalizado o procedimento de abertura e alargamento da base, o engenheiro deve descer no poço


para verificação da qualidade do prumo, da estabilidade das paredes e das dimensões específicas da
base. É importante enfatizar que o engenheiro é a pessoa que possui o conhecimento técnico da obra
para avaliar as condições de execução e autorizar a concretagem.

Vale a pena ressaltar que algumas empresas já adotaram o equipamento que executa a base de
forma mecânica, mantendo as vantagens deste processo, como o baixo custo, e aumentando de forma
significativa a produção. A limpeza ainda continua sendo realizada manualmente.

No caso de atuarem apenas cargas verticais, esse tipo de tubulão não é armado; coloca-se apenas
uma armadura de topo para fazer ligação com o bloco de coroamento.

Caso haja a necessidade de armadura, a NBR 6122 (ABNT, 2010) recomenda muita atenção no
procedimento de inserção no tubulão, a fim de não atingir as paredes, e que o solo seja derrubado para
dentro do tubulão. Caso isso ocorra, o operário deverá descer novamente no poço e efetuar a limpeza,
para não contaminar o concreto.

Quando a armadura atingir a base, ou seja, todo o fuste armado, a NBR 6122 (ABNT, 2010) recomenda
que seja adotado um espaçamento de pelo menos 30x30 cm, de forma a permitir a concretagem
adequada base.

Para a concretagem do tubulão, alguns cuidados devem ser tomados. Ela deve ser feita logo após a
conclusão da escavação. Caso isso não seja possível, deverá ser realizada nova inspeção e a limpeza da
base deve ser refeita com o objetivo de se retirar qualquer solo solto ou eventual camada amolecida pela
exposição ao tempo ou por águas de infiltração (ABNT, 2010).

O concreto utilizado deve apresentar plasticidade suficiente para garantir a sua acomodação em
toda a área da base e deverá ser lançado através de um funil com comprimento mínimo de 1,5 m. A
figura a seguir ilustra, em corte, um tubulão no procedimento de concretagem.

67
Unidade I

A) B) C)

Figura 36 – Representação da concretagem tubulão: (a) escavação (b) concretagem (c) tubulão pronto

Não se faz necessária a vibração do concreto, mas dependendo das dimensões e da taxa de armação,
é preciso que um operário desça e espalhe manualmente o concreto, com o objetivo de evitar o não
preenchimento completo da base.

Para o preparo da cabeça e ligação com o bloco de coroamento, nos tubulões que apresentarem
concreto inadequado ou abaixo da cota de arrasamento, devem‑se fazer a demolição do comprimento
e a sua reposição até a cota de arrasamento de projeto. Para os tubulões que apresentarem o topo
acima da cota de arrasamento, estes devem ser demolidos, e a seção resultante deverá ser plana e
perpendicular ao eixo do tubulão.

Saiba mais

Para saber mais sobre passo a passo da execução dos tubulões, leia o
Grupo C, item C01, Tubulões a céu aberto, da obra a seguir:

ABEF. Manual de execução de fundações geotécnica: práticas


recomendadas. São Paulo: Pini, 2012.

Para cálculo das dimensões da base, alguns pontos devem ser levados em consideração, como, por
exemplo, o diâmetro mínimo do fuste, que deverá ser de, no mínimo, 70 cm conforme já mencionado;
recomenda‑se também que a altura da base seja menor ou igual a 2 m; quanto à projeção da base,
poderá ser circular ou em forma de falsa elipse. No caso de adotar a forma da projeção de falsa elipse,
é recomendado que a relação a/b seja menor ou igual a 2,5.
68
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

∅ D b

X
a
A) B)
Figura 37 – Tipos de base tubulão

Para o cálculo da área da base do tubulão, utiliza‑se a seguinte equação:

P
Ab =
σs

Onde:

Ab = área da base do tubulão.

P = carga do tubulão.

σs = tensão admissível do solo.

Se a base tiver seção circular, o seu diâmetro será dado por:

π D2 P 4P
= ∴ D= 2
4 σs πσs

Caso a base tenha seção de uma falsa elipse, deve‑se ter a seguinte equação:

π b2 P
+ bx =
4 σs

Para o cálculo da área do fuste, utilizam‑se as mesmas equações para o dimensionamento de um


pilar cuja seção de aço seja nula. Portanto, teremos a seguinte equação:

fck
γ fP =
0,85 A f
γc

69
Unidade I

Seguindo as recomendações da NBR 6122 temos:

γf = 1,4

γc = 1,6

Com isso, pode‑se resumir a equação anterior de forma simplificada como sendo:

P
Af =
σc

Para o caso de concreto com fck com valor próximo de 13,5 Mpa, obtém‑se σc com valor aproximado
de 5,0 MPa. Dessa forma, para cálculo do diâmetro do fuste, teremos a equação:

4P
∅ =2
πσc

Para se obter o valor da altura da base H, devemos adotar a inclinação máxima da base com ângulo
de 60º, valor esse adotado para garantir a estabilidade do solo. Alguns autores recomendam ângulos
com valores menores, desde que sejam conhecidas as características do solo na base do tubulão.

Como fator de segurança, recomenda‑se a utilização do ângulo de 60º; com isso, podemos determinar
a altura da base para seção circular pela seguinte equação:

D −∅
=H ° ∴ H 0,866 (D − ∅ )
tg60=
2

Como comentado anteriormente, recomenda‑se que a altura da base H seja menor ou igual a 2 m.
Essa recomendação é devida à estabilidade do solo da base, lembrando que se o alargamento for feito
de modo manual, tem‑se uma maior segurança aos operários que irão realizar os serviços.

Para se obter a altura da base para seção com forma de falsa elipse, utiliza‑se o mesmo conceito
da equação anterior, apenas alterando o diâmetro pelo comprimento total da falsa elipse conforme
a equação:

H = 0,866 (a – ∅)

Com essas equações, podemos dimensionar a base de assentamento do tubulão a céu aberto, mas
ainda surge um dúvida: qual forma da seção devemos usar, a circular ou a falsa elipse?

Se observarmos atentamente a figura anterior, podemos concluir que a de seção circular seria a
melhor escolha por duas razões. Primeiro porque a execução é bem mais simples que a falsa elipse,
promovendo, dessa forma, uma execução mais rápida e melhorando a produção. Segundo porque
70
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

visualmente pode‑se verificar que o volume de concreto para a seção circular é menor que para a seção
de falsa elipse.

Então, podemos concluir que a seção circular é uma ótima opção, mas, em alguns casos, por exemplo,
tubulões próximos à divisa, não é possível a sua execução, implantando‑se, nessas situações, a falsa elipse.

Exemplo de aplicação

Dimensionar a base de assentamento de um tubulão a céu aberto para o pilar isolado a seguir
sabendo‑se que:

Dimensão do pilar: 40 x 40 cm

Carga do pilar: 2.800 kN

Taxa do solo: 0,5 MPa


P1 (40 x 40)
2.800 kN

Figura 38

Resolução:

Tratando‑se de um pilar isolado e afastado da divisa, a melhor escolha da seção da base será de
forma circular. Então temos:

Para calcular o diâmetro da base, utilizaremos a equação:

4P 4 x 2.800
=
D 2 ∴
=D 2 ≅ 2,70 m
πσs π 500

Para dimensionar o diâmetro do fuste, será utilizada a seguinte equação:

4P 4 x 2.800
=∅ 2 ∴
= ∅ 2 ≅ 0,70 m
πσc π x 5.000

71
Unidade I

A altura da base será calculada utilizando a equação:

=H 0,866 (D − ∅=
) ∴ H 0,866 (2,70 − 0,70 ) ≅ 1,70 m

Como a altura da base resultou em um valor menor do que 2 m, adota‑se 1,70 m. Portanto, teremos
a seguinte projeção:

∅ = 70 cm
D = 260 cm
H = 170 cm

Figura 39

Podemos verificar a aplicação de um tubulão para um pilar isolado, no qual optou‑se por utilizar a
seção circular. No exemplo de aplicação a seguir, veremos a utilização da base em falsa elipse.

Exemplo de aplicação

Dimensionar a base de assentamento de um tubulão a céu aberto para o pilar a seguir, sabendo‑se que:

Dimensão do pilar: 30 x 30 cm

Carga do pilar: 1.300 kN

Taxa do solo: 0,6 MPa

0,60 m

Divisa
P1 (30 x 30)
1.300 kN

Figura 40

72
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Resolução:

Primeiramente, verificaremos se é possível adotar a seção circular neste caso; para isso, devemos
calcular o diâmetro da base:

4P 4 x1.300
=
D 2 ∴
=D 2 ≅ 1,70 m
πσs π x 600

Observa‑se que a base não cabe no terreno, pois a distância do centro do pilar à divisa é menor do
que D/2 = 0,85 m. Diante disso, é preciso adotar a forma geométrica de uma falsa elipse para base.

Devemos adotar o valor de b como sendo duas vezes a distância da divisa (2 x 0,60 = 1,20 m).
Deve‑se adotar este valor, pois, ao contrário das sapatas, não é necessário deixar folga de 2,5 cm para a
execução das formas, uma vez que a base do tubulão é concretada diretamente no solo.

Com o valor de b definido, vamos encontrar o valor de x através da equação:

π b2 P π1,202 1.300
+ bx= ∴ + 1,20 x= ∴ x ≅ 0,90 m
4 σs 4 600

Para dimensionar o diâmetro do fuste, será utilizada a seguinte equação:

4P 4 x1.200
=∅ 2 =
∴∅ 2 ≅ 0,60 m
πσc π x 5.000

Como o diâmetro do fuste resultou em um valor menor do que o diâmetro mínimo recomendado,
adota‑se o diâmetro do fuste de 0,70 m.

Fazendo‑se a verificação:

a 2,10
≤ 2,5 ∴ = 1,75 ≤ 2,5 → ok!
b 1,20

Para cálculo da altura da base:

=H 0,866 ( a − ∅=
) ∴ H 0,866 (210 − 70 ) ≅ 125cm < 200 cm → ok!

Portanto, teremos as seguintes dimensões para a falsa elipse:

73
Unidade I

∅ = 70 cm
x = 90 cm
b = 120 cm
H = 125 cm

a x

Figura 41

3.2 Tubulões a ar comprimido

Os tubulões a ar comprimido (ou pneumáticos) são fundações profundas que podem ser escavadas
manualmente ou com auxílio de algum equipamento, mas, ao menos na fase de alargamento da base,
elas são realizadas de forma manual, com a descida do operário. Podem ser executadas com utilização de
revestimento metálico ou de concreto com o objetivo de garantir a estabilidade do terreno e não permitir
o desmoronamento do fuste. Nesse tipo de fundação, as cargas são transmitidas essencialmente pela
ponta diretamente ao terreno através de sua base alargada. Eles são necessários em solos em que haja
água e não seja possível esgotá‑la, devido ao perigo de desmoronamento do fuste durante a escavação.

O primeiro prédio no Brasil a ser executado com esse tipo de fundação foi o Edifício Rhodia, em
São Paulo, na Rua Líbero Badaró. A partir daí, os tubulões a ar comprimido com camisa de concreto
passaram a ser largamente utilizados no país. Porém, hoje em dia, essa fundação é utilizada para obras
de arte e geralmente fora do perímetro urbano, devido à poluição sonora causada na execução.

Nesse tipo de tubulão com revestimento de concreto ou de aço, a pressão máxima empregada é de
340 kPa (3,4 atm); devido a isso, a profundidade de execução é limitada a 34 m de acordo com a NR 15,
Anexo 06, da Portaria 3.214 do Ministério do Trabalho.

Na etapa de execução dos tubulões, vale lembrar que os tempos de compressão e descompressão
prescritos na legislação em vigor devem ser obedecidos. Para pressões superiores a 150 kPa, de acordo com
Norma Regulamentadora 15 – Atividades e Operações Insalubres, os requisitos a seguir deverão ser atendidos:

• disponibilização de equipe de socorro médico presente na obra;

• câmara de descompressão;

74
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

• compressores e reservatórios de ar comprimido de reserva;

• equipamentos para injeção de ar nas camisas de concreto ou aço com o objetivo de atender às
condições de trabalho (BRASIL, 1978).

Na figura a seguir é ilustrado um tubulão a ar comprimido com os equipamentos utilizados na execução.

Cachimbo de ferragem
Campânula

Porta de entrada
Camisa de concreto

Cachimbo de terra
Escoras

Poço primário Camisa de concreto

Concreto vibrado Escoras perdidas


Rodapé

Figura 42 – Esquema geral de um tubulão a ar comprimido

75
Unidade I

Na figura anterior pode‑se notar uma série de equipamentos que devem ser instalados para execução
do tubulão a ar comprimido. A campânula é uma peça metálica, de formato geométrico cilíndrico, que é
acoplada ao fuste com a função de permitir a retenção do ar comprimido com a finalidade de expulsar
a água interna do tubulão, possibilitando o trabalho dos operários.

A fundação profunda é indicada para obras que apresentam cargas elevadas, sendo muito utilizada
em pontes e viadutos. Atualmente, seu emprego tem diminuído de forma expressiva no Brasil, devido ao
seu grande grau de risco, bem como aos custos envolvidos.

A figura a seguir ilustra o posicionamento do operário no tubulão a ar comprimido.

Ar comprimido
p = hw γw Cachimbo
de descarga

Elemento de
Cachimbo de concretagem
concretagem

NA

hw

Figura 43 – Equipamentos do tubulão a ar comprimido

Para a execução, todos os cuidados devem ser tomados, e os equipamentos de proteção individual
devem estar à disposição dos operários.

O que diferencia os tubulões a ar comprimido com camisa de concreto e os que são revestidos
com camisas metálicas é o processo executivo. Os tubulões com camisa de concreto têm todo o
76
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

processo executivo, desde a cravação da camisa até a abertura e concretagem da base e do fuste,
feito manualmente, a céu aberto, com auxílio de operários e um guincho que puxa o balde com o
solo escavado. Essa ação vai sendo realizada até encontrar‑se o nível de água, partir daí utiliza‑se a
compressão do ar.

Os tubulões com camisa metálica são cravados através da utilização de martelos vibratórios
à percussão, sendo utilizado o sistema Benoto e um equipamento semelhante ao clam‑shell para a
remoção de material interno ao tubo. Essa camisa metálica possui a parte inferior dentada, para que seja
facilitada a cravação até que se chegue à profundidade para o alargamento da base.

Outra vantagem dos tubulões com camisa de aço é que estes podem ser considerados armação do
tubulão, por permanecerem totalmente enterrados, apenas descontando 1,5 mm da espessura da chapa
devido à corrosão que poderá ocorrer.

3.2.1 Processo executivo – camisa de concreto armado

Inicialmente, deve‑se preparar a área de trabalho para a execução dos tubulões realizando
a remoção da camada vegetal inicial e todos os obstáculos para a circulação dos operários e
equipamentos. Como esse tipo de fundação é utilizado em terrenos que apresentam lençol freático
aflorante, se faz necessária a execução de um aterro provisório, a fim de oferecer as condições de
suporte para o início dos serviços.

O aterro é executado para promover, na região de sua execução, o trânsito de veículos e equipamentos,
bem como para permitir a escavação dos poços primários.

Os poços primários são escavações preliminares, que consistem em um poço com profundidade
de até 2 m que tem a função de servir de escoramento lateral para as concretagens. Após
escavado o poço primário, instala‑se a forma metálica (ou de madeira) menor que o diâmetro do
fuste, a armação da ferragem em sua volta e é executada a concretagem. Esse trecho do fuste é
denominado câmara de trabalho e seu diâmetro deverá seguir rigorosamente o projeto.

Após instalação da forma, segue‑se para concretagem. No poço primários, monta‑se a armação dos
quatro primeiros metros de forma interna e lança‑se a ferragem e o concreto no espaço resultante entre
a forma interna e externa utilizando vibrador para adensar o concreto. Depois, fixam-se chumbadores
na extremidade superior da camisa de concreto, cuja finalidade é a de acoplar a campânula ao tubulão
no momento de comprimir.

Após o tempo de cura, deve-se desformar e iniciar a escavação, que pode ser a céu aberto, dependendo
do nível da água no interior do tubulão. Ao atingir‑se o lençol d’água, deve‑se paralisar a escavação e
efetuar a montagem da campânula sobre a camisa de concreto.

77
Unidade I

1,80 m
Figura 44 – Tubulão a ar comprimido – instalação do aço e camisa

NA

20 cm d > 70 cm

Tubulão

Armação

Câmara de
“Faca” trabalho

Figura 45 – Tubulão a ar comprimido

Após a montagem da campânula, esta deverá ser pressurizada por meio de ar comprimido,
mantendo‑se a pressão de trabalho equilibrada com a necessidade, ou seja, que não permita a penetração
da água no fuste.

A escavação deverá ser executada em trechos de 1 m de cada vez com o objetivo de assegurar
a verticalidade, escorando‑se a camisa contra o terreno até atingir a profundidade de 4 m
incialmente concretados. Então, retira‑se a campânula para colocação da nova forma, ferragem
e para concretagem. Depois continua-se essa sequência até atingir a cota de assentamento
determinada em projeto.

78
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

É muito importante realizar a inspeção do terreno da base com o objetivo de verificar se a camada de
solo existente é condizente com a de projeto; caso seja, inicia‑se o procedimento para abertura da base.
Caso o terreno não atenda às necessidade de projeto, novo segmento deve ser concretado e cravado
visando atingir camadas mais resistentes do subsolo.

3.2.2 Processo executivo – camisa de aço

O procedimento é muito parecido com a camisa de concreto, diferindo apenas no sistema de cravação
e limpeza do fuste.

Após a limpeza e aterro do terreno, executa‑se a locação dos tubulões e, na sequência, tem início
a cravação das camisas metálicas utilizando‑se o martelo de impacto ou vibratório, ou então pode ser
usada a entubadora.

Após a cravação, inicia‑se o serviço de retirada do material interno da camisa, utilizando‑se a piteira
ou o hammer‑grab, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 46 – Retirada de solo utilizando hammer grab

Terminada a retirada do material, acopla‑se a campânula em um gabarito previamente soldado


no topo da camisa de apoio. Para que não haja perda de pressão, deve‑se utilizar uma vedação do gabarito
com a campânula ajustada através de parafusos, porcas e arruelas, podendo ser utilizada uma junta de
borracha ou látex.

79
Unidade I

O controle executivo deve ser feito da seguinte forma:

• Locação do centro do tubulão.

• Verticalidade da escavação.

• Alargamento da base, posicionamento da armadura (quando houver) e da armadura de ligação


com o bloco de coroamento.

• Dimensões do diâmetro do tubulão na concretagem. Não deixar que o solo se misture com o
concreto e evitar vazios na base alargada.

• Nos tubulões a ar comprimido, verificar a pressão interna para evitar riscos e acidentes com os operários.

Algumas vantagens e desvantagens podem ser citadas quanto à execução dos tubulões.

Desvantagens:

• Perigos devido à necessidade da descida de operários para a escavação da base a ser alargada e
também para inspecionar a verticalidade, o solo de apoio da base, as medidas de fuste e da base.

• Não é indicada a execução de tubulões a céu aberto quando existir nível d’água que não possa ser
esgotado por bombeamento.

• Execução inadequada em solos instáveis às escavações.

• O tempo de alargamento da base e concretagem deve ser menor que 24 horas.

Vantagens:

• Possibilidade de análise do solo escavado.

• Menor custo de mobilização dos equipamentos no caso de execução de tubulões a céu aberto.

• Facilidade em ajustar as dimensões durante a escavação.

• Custos baixos em relação aos equipamentos de bate‑estaca (considerando pequenas obras).

• Produção baixa de ruídos, facilitando sua execução em obras urbanas.

• As escavações podem atravessar terrenos com matacões e pedras, sendo possível penetrar em
vários tipos de rocha.

• Possibilidade de apoiar cada pilar num único tubulão ao invés de utilizar várias estacas, eliminando
a necessidade de bloco de coroamento.

80
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

4 BLOCO DE CAPEAMENTO PARA ESTACA

4.1 Generalidades

O bloco de capeamento é um elemento estrutural que tem a função de distribuir as cargas que vêm
dos pilares das construções para as fundações profundas a fim de corrigir qualquer excentricidade e
poder distribuir de forma uniforme os esforços recebidos.

Para o dimensionamento dos blocos, utiliza‑se a mesma sistemática de cálculo que é usada para as
sapatas, diferenciando‑se dessas apenas pelo fato de se ter cargas concentradas no bloco proveniente
da reação das estacas.

O comportamento estrutural e o dimensionamento dependem da classificação do bloco quanto


à rigidez, utilizando‑se os mesmos critérios das sapatas. Portanto, quanto à rigidez, os blocos são
classificados como flexíveis ou rígidos. Um bloco qualquer é considerado rígido se a sua altura se
enquadrar nas seguintes inequações:

 a − ap 
h>   na direção a
 3 

 b − bp 
h>   na outra direção
 3 

Em que ap e bp são as dimensões do pilar.

Na figura a seguir, podemos observar um corte genérico de um bloco com as indicações de dimensões
do pilar, altura do bloco e comprimento.
Pilar

ap
bp

Figura 47 – Corte de um bloco genérico

81
Unidade I

Para o dimensionamento dos bloco (em planta), devemos levar em consideração a disposição das estacas,
ou seja, sua geometria é determinada conforme o número de estacas e seus diâmetros. De forma geral,
adota‑se o menor espaçamento possível entre elas, isto é, utiliza‑se o espaçamento mínimo igual a 2,5 vezes
o seu diâmetro para as estacas pré‑moldadas e três vezes o diâmetro se as estacas forem moldadas in loco.
Deve‑se observar também uma distância livre mínima entre as faces das estacas e a extremidade do bloco.

Se seguirmos essas orientações, as dimensões dos blocos são minimizadas, resultando, na maioria
das vezes, em blocos rígidos.

Observação

Por razões diversas, o espaçamento entre as estacas pode ser aumentado


de acordo com a necessidade de cada projeto, resultando, dessa forma, em
um bloco flexível.

Não se aplica diretamente a teoria da flexão para se calcular a armadura principal de tração dos
blocos rígidos. A NBR 6118/2014 recomenda a utilização de modelos de biela e tirantes para essa
finalidade, pois eles definem melhor a distribuição dos esforços pelos tirantes (ABNT, 2014).

No método das bielas e tirantes (ALVA, 2007), admite‑se, no interior do bloco, uma treliça espacial
constituída de:

• barras tracionadas, denominadas tirantes, situadas no plano médio das armaduras. Esse plano é
horizontal e se localiza logo acima do plano de arrasamento das estacas;

• barras comprimidas e inclinadas, designadas como bielas. Essas têm suas extremidades de um
lado na intersecção com as estacas e do outro na intersecção com o pilar.

A figura a seguir ilustra o esquema geral do modelo de cálculo no método de bielas e tirantes.

z = h –x –d’ ≅ 0,8h

α
y
0
Rsx Rsx = Ra sen α
Rsy Rsy = Rs cos α

Figura 48 – Funcionamento estrutural básico dos blocos.

A força normal do pilar é transmitida às estacas pelas bielas de compressão. O equilíbrio no topo das
estacas é garantido pela armadura principal de tração.
82
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

O método das bielas também pode ser empregado para blocos submetidos a carregamentos não
centrados, desde que se admita que se trabalhe, nas formulações de equilíbrio de forças, com a estaca
mais carregada (ALVA, 2007, p. 3).

Sabendo‑se que o dimensionamento dos blocos varia com a quantidade de estacas, a seguir
será mostrada a representação gráfica de acordo com o número de estacas e as fórmulas usadas
para o cálculo.

4.2 Dimensionamento das estacas

O número de estacas de um bloco de coroamento (n) é uma função da relação entre a carga P (serviço)
recebida pelo bloco e da carga máxima Pe (de trabalho) para o tipo de estaca escolhida. Portanto, para calcular o
número de estacas necessárias para determinada carga, usaremos a seguinte equação para pilar isolado:

P
n = 1,10 x
Pe

Em que:

n: número de estacas.

P: carga do pilar.

Pe: carga de trabalho da estaca.

1,10: coeficiente que leva em conta o peso próprio da estaca.

Para pilar de divisa:

bo
e =a − − 2,5 cm
2

Em que:

b0: menor dimensão do pilar.

a: distância mínima do centro da estaca à divisa, devido às dimensões dos equipamentos, valores
estes tabelados pelos fabricantes.

l
R1 = P1 x
(l − e )

83
Unidade I

R1
n1 = 1,10 x
Pe

ΔP
ΔP = R1 − P1 ondeR2 = P2 −
2

R2
n2 = 1,10 x
Pe

Para pilares de divisa, pode‑se observar a necessidade de criar uma viga de apoio até o bloco mais
próximo. Com isso, temos uma carga maior calculada em R1 e um alívio ou um decréscimo da carga em R2.

4.3 Dimensionamento dos blocos de capeamento

Conforme descrito anteriormente, pudemos observar que a forma geométrica dos blocos de
capeamento depende praticamente da quantidade de estacas e seus diâmetros. Sendo assim, será
apresentada a representação gráfica de acordo com o número de estacas e também as equações usadas
para o cálculo. Portanto, em uma mesma obra, podemos ter várias geometrias dos blocos.

4.3.1 Bloco com uma estaca

A figura a seguir ilustra o bloco sobre uma estaca e a fórmula para o cálculo da sua geometria em planta.

1,10 x S

1,10 x S

Figura 49 – Representação do bloco com uma estaca

Pode‑se observar os travamentos em quatro direções e o fator de 1,10 multiplicando a letra S, que
no caso representa a geometria do bloco. É atribuído ao S o valor de 2,5 vezes o diâmetro da estaca no
caso de estacas pré‑moldadas e três vezes o diâmetro da estaca no caso de estacas moldadas no local.

84
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Exemplo de aplicação

Dimensionar o bloco de capeamento para o pilar isolado abaixo sabendo‑se que:

Utilizaram‑se estacas pré‑moldadas de concreto

Diâmetro das estacas: 50 cm

Carga de trabalho Pe = PU = 90 tf

Carga do pilar: 65 tf
25

25 P = 65 tf

Figura 50

Resolução:

Definir o número de estacas para o pilar utilizando a seguinte equação:

P 65
=n 1,10 x = → n 1,10=
x 0,79
Pe 90

Com o resultado de 0,79, adota‑se uma estaca.

Para cálculo de S, adota‑se a seguinte equação:

S = 2,5 x Ø (estacas pré‑moldadas)

S= 2,5 x 0,50 = 1,25 m

Portanto, teremos o bloco com as dimensões:

1,10 x 1,25 = 1,38 (adota‑se 1,40 m)

1,10S = 1,40 m

1,10S = 1,40 m

Figura 51

85
Unidade I

4.3.2 Bloco com duas estacas

Para esse tipo de bloco, recomenda‑se o travamento em duas direções perpendiculares ao eixo do
bloco, com a finalidade de estabilizá‑lo.

Para o cálculo da geometria do bloco continua‑se a utilizar a formula do S já conhecida e surge


o dimensionamento da letra C, que é o espaçamento mínimo entre o eixo da estaca até o extremo
do bloco.

Este espaçamento mínimo é definido como sendo metade do diâmetro da estaca acrescido de 15 cm.
Se o multiplicarmos por dois teremos a largura do bloco.

A figura a seguir ilustra as dimensões do bloco e o seu posicionamento.

C
B

Figura 52 – Representação do bloco com duas estacas

Como se pode observar na figura anterior, temos a viga de travamento que deverá ser ancorada ao
blocos próximos. Calculando‑se os valores de S e C, temos as dimensões do bloco.

Exemplo de aplicação

Dimensionar o bloco de capeamento para o pilar isolado a seguir, sabendo‑se que:

Utilizaram‑se estacas Strauss

Diâmetro das estacas: 40 cm.

Carga de trabalho Pe = PU = 70 tf.

Carga do pilar: 125 tf.

86
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

60

40

Figura 53

Resolução:

Definir o número de estacas para o pilar utilizando a seguinte equação:

P 125
=n 1,10 x = → n 1,10 x= 1,96
Pe 70

Com o resultado de 1,96, adotam‑se duas estacas.

Para cálculo de S (distância entre as estacas), adota‑se a seguinte equação:

S = 3,0 x Ø (estacas moldada in loco – Strauss)

S= 3,0 x 0,40 = 1,20 m

Para cálculo do espaçamento entre o centro da estaca à divisa do bloco C:

C = Ø/2 + 15 cm = 40/2 +15 = 35 cm ou 0,35 m

Portanto, teremos o bloco com as dimensões:

Comprimento do bloco: S + 2 x C = 1,20 + 0,70 = 1,90 m

Largura do bloco: 2 x C = 0,70 m


0,35
C

C 0,35
B

1,20
S

Figura 54

87
Unidade I

4.3.3 Bloco com três estacas

Para o bloco com três estacas são possíveis duas geometrias diferentes.

A primeira forma geométrica trata‑se de um retângulo. Esta forma é utilizada para ser usada próximo
às divisas, facilitando a sua execução e posicionamento. Por conter três estacas, não se faz necessário o
travamento com outros blocos, pois sua estabilidade está garantida.

A outra figura se trata de um hexágono que possui melhor robustez e estabilidade, não sendo
necessário qualquer tipo de travamento. É recomendável apenas a utilização da forma retangular
próxima às divisas e a forma hexagonal nos outros tipos de pilares.

S S

1,10 x S ou B

C
C

Figura 55 – Representação do bloco com três estacas

Ao observarmos a figura anterior, podemos notar na forma retangular um método alternativo


para calcular a sua largura. Surge a letra B, que pode ser interpretada como sendo o diâmetro da
estaca mais a distância mínima da parede do bloco, que tem o valor de 15 cm; portanto, para o
cálculo dessa medida, devemos somar ao diâmetro da estaca 30 cm, correspondentes à distância
mínima de 15 cm de cada lado.

4.3.4 Bloco com quatro estacas

O bloco formado por quatro estacas é o mais simples de ser executado, por se tratar de uma forma
geométrica bem convencional: o quadrado.

Além de exibir forma geométrica de fácil execução, apresenta bom desempenho quanto à estabilidade,
promovendo uma ótima distribuição de carga uniformemente para as estacas. A figura a seguir ilustra
as dimensões do bloco e o posicionamento das estacas.

88
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Figura 56 – Representação do bloco com quatro estacas

Assim como nos formatos anteriores, para o cálculo é atribuído ao S o valor de 2,5 vezes o diâmetro
da estaca no caso de estacas pré‑moldadas e três vezes o diâmetro da estaca no caso de estacas
moldadas no local.

Exemplo de aplicação

Dimensionar o bloco de capeamento para esquema a seguir sabendo‑se que:

Utilizaram‑se estacas metálicas.

Diâmetro das estacas: 35 cm

Carga de trabalho: Pe = PU = 55 tf
4,00
Divisa

1,90
V.A. 1,00

P1 = 150 tf P2 = 200 tf
.25
.25

0,025 m

Figura 57

89
Unidade I

Resolução:

Definir o número de estacas para o pilar P1. Como se trata de um pilar na divisa, utiliza‑se a
seguinte equação:

bo
e =a − − 2,5 cm
2

Em que a é a distância mínima para operação dos equipamentos. No caso de estaca metálica,
adota‑se a = 0,40 (tabela do fabricante).

e = 0,40 – 0,25 – 0,025 = 0,25 m

A figura a seguir ilustra a posição em planta e em corte de um modelo típico.

a c

S
P1
P2

1
P1 P2

R1 R2

Figura 58 – Representação típica de pilar na divisa

90
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Agora realizaremos o cálculo do R1 conforme a equação:

l
R1 = P1 x
(l − e )

4
= =
R1 150 x 159,9 t
( 4 − 0,25 )

Para calcular o número de estacas não utilizaremos a carga do pilar, e sim o valor obtido em R1.
Teremos, portanto:

R 159,9
=n 1,10 x 1=→ n 1,10 x = 3,19
Pe 55

Adotam‑se quatro estacas.

Para cálculo de S (distância entre as estacas), adota‑se a seguinte equação:

S = 2,5 x Ø (estacas pré‑moldadas metálicas)

S= 2,5 x 0,35 = 0,875 m

Para cálculo do espaçamento entre o centro da estaca com a divisa do bloco C:

C = Ø/2 + 15 cm = 35/2 +15 = 32,5 cm ou 0,325 m


C

S 3,30

0,75 m

Figura 59

91
Unidade I

Para cálculo do bloco do pilar P2 utilizaremos a equação:

ΔP
R2 = P2 − onde ΔP = R1 − P1
2

Δ
=P 159,9 − 150
= 9,90tf

Portanto temos:

9,90
R2 =200 − =195,05 tf
2

Com isso, pode‑se calcular o número de estacas utilizando a equação:

R2
n2 = 1,10 x
Pe

195,05
=
n2 1,10 x = 3,91 ∴ adotam–se 4 estacas
55

Como o valor do diâmetro das estacas não sofreu variação, os valores de S e C permanecem os mesmos.

Com isso, podemos determinar a dimensão do quadrado como sendo:

L = S + 2xC = 0,875 + 2x0,325 = 1,525 aproximando para 1,55 m.

S
1,55

C
1,55

Figura 60

Com a realização deste exemplo, nota‑se que no caso de pilares na divisa existe um acréscimo de
cargas para P1 e um alívio de cargas para P2.

92
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

4.3.5 Bloco com cinco estacas

Para o dimensionamento do bloco com a quantidade de cinco estacas, deve‑se adotar a forma
geométrica de um quadrado, que apresenta boa qualidade de estabilidade. Porém, para o cálculo das
dimensões do bloco, temos que levar em consideração a distância da estaca central do bloco.

A figura a seguir ilustra as dimensões do bloco e as fórmulas utilizadas para seu cálculo.
S S

1,41 x S
S

1,41 x S S

Figura 61 – Representação do bloco com cinco estacas

Pode‑se observar pela figura a presença da quinta estaca no centro bloco. Para que seja considerada
a distância mínima entre as estacas, utiliza‑se o fator multiplicador de 1,41 no valor obtido pelo S, que
continua com as mesmas características de cálculo citadas anteriormente.

Também pode‑se utilizar a forma trapezoidal, ressaltando que as distâncias mínimas das extremidades
dos blocos devem ser maiores ou iguais a 15 cm.

4.3.6 Bloco com seis estacas

Ao tratarmos de um bloco que utiliza seis estacas, a forma geométrica escolhida é um retângulo.
Essa forma é adotada por apresentar boa estabilidade e distribuição das cargas. A figura a seguir ilustra
a disposição das estacas, bem como as dimensões do bloco.

S S

Figura 62 – Representação do bloco com seis estacas

93
Unidade I

4.3.7 Bloco com sete estacas

Este é o número máximo de estacas que se recomenda para utilizar em apenas um bloco. Caso
exista a necessidade de um número maior de estacas, fazem‑se necessários outros estudos para
compatibilizar a sua utilização.

A forma geométrica utilizada é o hexágono. Os valores para dimensão são os mesmos utilizados nas
formas anteriores. A figura a seguir ilustra a posição das estacas e as dimensões do bloco.

S C

Figura 63 – Representação do bloco com sete estacas

Essas são condições para as dimensões mínimas que um bloco deve ter. Além disso, o valor para S
não pode ser inferior a 60 cm para qualquer um dos tipos de blocos citados anteriormente.

A altura dos blocos de capeamento é calculada quanto à rigidez, e os blocos são classificados como
flexíveis ou rígidos.

4.4 Reformulação de blocos de estacas

O processo de cravação de uma estaca é uma atividade que exige vários cuidados, a fim de não
afetar a capacidade de carga da estaca e, principalmente, causar danos que provoquem o colapso da
estaca, causando a sua quebra.

Vários são os fatores que podem provocar a quebra de uma estaca, como, por exemplo, o uso
irregular do martelo, a presença de um matacão, atingir camadas rígidas, falta de controle da nega.
Caso aconteça a quebra da estaca (e esta não possa ser aproveitada), se faz necessária a reformulação
do bloco. Para executar essa reformulação, algumas recomendações devem ser seguidas.

Quanto ao centro de gravidade, é preciso atentar‑se para que seja realizada a reformulação do bloco
com o intuito de ser mantido o centro de gravidade. Caso não seja atendida essa recomendação, é
preciso recalcular a distribuição de cargas e verificar a carga na estaca mais carregada, a fim de garantir
a estabilidade do bloco e a capacidade máxima de carga da estaca afetada.
94
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quanto ao espaçamento das estacas, este deverá ser mantido a fim de que a cravação de uma estaca
não cause nenhum dano à próxima estaca; portanto, continua sendo atendida a relação 2,5 x ∅ para
estacas pré‑moldadas e 3 x ∅ para estacas moldadas in loco.

Também se recomenda manter uma distância mínima de 1,5 x ∅ entre qualquer estaca não
aproveitada de uma nova que a substituirá, porém sempre acima de 30 cm. Outra recomendação
importante é que na reformulação não devem existir diâmetros diferentes de estacas.

Exemplo de aplicação

Ao iniciar o processo de cravação de uma estaca pré‑moldada em concreto com diâmetro de


30 cm, foi utilizado o martelo com carga superior ao recomendado, causando a quebra da estaca
na profundidade de 4,5 m. A profundidade prevista em projeto é de 9 m, e a quantidade de estacas, 3.
Qual procedimento devemos adotar? A figura ilustra a forma do bloco e o posicionamento da
estaca quebrada.

Figura 64

Resolução:

No caso proposto ocorreu a quebra da primeira estaca de um determinado bloco. Para atender
às recomendações, temos que avaliar primeiramente a possibilidade de permanência do centro de
gravidade. A solução mais simples seria girar o bloco em 180º, ficando então da seguinte forma:

Figura 65

95
Unidade I

Adotando este novo posicionamento, é preciso observar se as demais recomendações serão atendidas:

• diâmetro continua o mesmo: OK!

• espaçamento entre as estacas: Ok!

• distância mínima entre estaca quebrada e nova: OK!

Atendidas todas as recomendações, o procedimento a ser tomado é girar o bloco em 180º e cravar
as três novas estacas.

Resumo

As fundações profundas são utilizadas quando o solo logo abaixo da


construção não suporta as cargas da edificação, sendo necessário buscar
camadas mais profundas para dissipação das cargas.

Pudemos aprender sobre alguns tipos de fundações. Começamos com


os tipos de fundações rasas e suas aplicações. Na sequência, abordamos
as fundações profundas, falando sobre as estacas de deslocamento: sua
utilização, métodos executivos, equipamentos utilizados e as principais
vantagens e desvantagens de cada tipo.

Conhecemos as estacas escavadas e pudemos aprender quais são os


principais tipos utilizados no Brasil, suas características, também o método
executivo e suas principais vantagens e desvantagens.

Vimos as fundações tipo tubulão a céu aberto e a ar comprimido,


entrando em contato com as suas principais características e aplicações. Na
sequência, conhecemos os blocos de coroamento ou blocos de ancoragem
utilizados em estacas para transmissão da carga do pilar para edificação.
Aprendemos também sobre estaqueamento e pudemos efetuar alguns
exemplos de aplicação.

Em seguida, conhecemos os procedimentos usados no Brasil para


calcular a capacidade de cargas nas estacas e acompanhar com os exemplos
de aplicação os métodos de cálculos.

96
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Exercícios

Questão 1. (Eaoear 2012, adaptada) O elemento estrutural responsável por transferir as cargas
da superestrutura para o solo é denominado “fundação”. Esta pode ser rasa ou profunda, de acordo
com a necessidade da obra e do terreno. De acordo com a NBR 6122/2010, indique se é verdadeiro (V)
ou falso (F) o que se afirma a seguir sobre os tipos de fundações. Na sequência, indique a alternativa
com a sequência correta.

( ) Tubulão é um tipo de fundação profunda, escavada no terreno em que, pelo menos na sua etapa
final, há descida de pessoas, que se faz necessária para executar o alargamento de base ou pelo
menos a limpeza do fundo da escavação, uma vez que neste tipo de fundação as cargas são
transmitidas essencialmente pela ponta.

( ) Estaca raiz é um tipo de estaca moldada in loco executada pela cravação, por meio de sucessivos
golpes de um pilão, de um tubo de ponta fechada sobre uma bucha seca de pedra e areia
previamente firmada na extremidade inferior do tubo por atrito. Esta estaca possui base alargada
e é integralmente armada.

( ) Estaca Strauss é um tipo de estaca executada por perfuração do solo com uma sonda ou piteira
e revestimento total com camisa metálica, realizando‑se o lançamento do concreto e retirada
gradativa do revestimento com simultâneo apiloamento do concreto.

( ) Sapata é um elemento de fundação superficial de concreto, dimensionada de modo que as


tensões de tração nela resultantes sejam resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura.

( ) Radier é um elemento de fundação superficial que abrange parte ou todos os pilares de uma
edificação, distribuindo os carregamentos.

A) V – F – V – F – V.

B) V – V – F – F – V.

C) F – F – V – F – F.

D) V – V – F – V – V.

E) V – F – F – F – V.

Resposta correta: alternativa A.

97
Unidade I

Análise da questão

A definição de estaca tubulão está correta.

Segundo a norma 6122/2010, estaca raiz é o elemento de fundação profunda, tipo estaca, armada
e preenchida com argamassa de cimento e areia, moldada in loco, executada através de perfuração
rotativa ou rotopercussiva, revestida integralmente, no trecho em solo, por um conjunto de tubos
metálicos recuperáveis.

A definição de estaca Strauss está correta.

Segundo a norma 6122/2010, sapata é o elemento de fundação superficial de concreto armado,


dimensionado, de modo que as tensões de tração nele produzidas não sejam resistidas pelo concreto,
mas sim pelo emprego da armadura. Pode possuir espessura constante ou variável, sendo sua base em
planta normalmente quadrada, retangular ou trapezoidal.

A definição de estaca radier está correta.

Questão 2. (UFPR 2012, adaptada) Com relação à fundação do tipo radier, é correto afirmar:

A) Exige que as instalações sanitárias sejam feitas após sua execução.

B) É uma peça inteiriça em concreto, de elevada rigidez, que pode evitar grandes recalques.

C) É sempre uma alternativa mais cara do que as sapatas isoladas.

D) A concretagem deve ser feita diretamente sobre o solo nivelado, para garantir uma maior homogeneidade.

E) É recomendada somente para edificações com elevada carga.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a estaca radier impõe a execução de todos os serviços enterrados em sua área
(instalações sanitárias, água fria etc.) antes da concretagem.

B) Alternativa correta.

Justificativa: a estaca radier é uma peça inteiriça de concreto armado que confere alta rigidez à
fundação, o que muitas vezes evita grandes recalques diferenciais.

98
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a estaca radier pode substituir a fundação de sapatas isoladas. O seu uso se torna
econômico quando a área da fundação ultrapassa metade da área de construção.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a concretagem do radier deve ser feita sobre lona plástica assente sobre uma camada
aproximada de 7 cm de brita ou material similar (camada de regularização), que separe o material
concreto do solo. A lona, além de ajudar na impermeabilização, evita que a nata do concreto fresco se
misture com a camada de regularização.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: radiers de concreto armado são elementos de fundação superficial, destinados a suportar
cargas de menores magnitudes. Para edificações com elevada capacidade de carga, são indicadas as
fundações profundas.

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