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Maria Teperino Pinho1*, Caroline Macedo Calegario dos Santos1, Bruna Cavalcante Servio1, Lídia
Miranda Brinati2, Luana Vieira Toledo1, Patrícia de Oliveira Salgado1.
RESUMO
Objetivo: Identificar na literatura fatores de risco relacionados à Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM)
em pacientes adultos. Métodos: Revisão da literatura cuja busca ocorreu nas bases de dados Literatura Latino Americana
e do caribe em Ciências da Saúde, U.S. National Library of Medicine e Cumulative Index to Nursing and Allied Health
Literature. Os critérios de inclusão foram artigos publicados entre os anos de 2005 a 2019, nas línguas portuguesa, inglesa
e espanhola, que abordavam os riscos para a PAVM em pacientes adultos críticos. Foram excluídos os artigos que
abordavam sobre terapias medicamentosas, microrganismos, atualizações sobre o tema, consensos de opiniões e
bundles sobre PAVM. Resultados: Os principais fatores de risco associados ao desenvolvimento da PAVM são doenças
respiratórias prévias, traumas, idade, uso prévio e inadequado de antibióticos, exposição ao ventilador mecânico, tempo
prolongado de uso da VM, ausência de higiene oral do paciente, falta de higiene das mãos do profissional e o incorreto
posicionamento no leito. Considerações finais: A equipe multiprofissional tem uma responsabilidade considerável no
controle e prevenção da PAVM, assim, é necessário que todos os profissionais conheçam os fatores de risco associados
e prestem assistência buscando prevenir o desenvolvimento desse problema.
Palavras-chave: Pneumonia associada à ventilação mecânica, Fatores de risco, Unidades de terapia intensiva.
ABSTRACT
Objective: To identify in the literature risk factors related to Pneumonia Associated with Mechanical Ventilation (VAP) in
adult patients. Methods: Literature review that searched the Latin American and Caribbean Health Sciences, U.S. National
Library of Medicine and Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature databases. The inclusion criteria were
articles published between the years 2005 to 2019, in Portuguese, English and Spanish, which addressed the risks for
VAP in critically ill adult patients. Articles that addressed drug therapies, microorganisms, updates on the topic, consensus
of opinions and bundles on VAP were excluded. Results: The main risk factors associated with the development of VAP
are previous respiratory diseases, trauma, age, previous and inappropriate use of antibiotics, exposure to a mechanical
ventilator, prolonged use of MV, lack of oral hygiene for the patient, poor hygiene the hands of the professional and the
incorrect positioning on the bed. Final considerations: The multiprofessional team has a considerable responsibility in
the control and prevention of VAP, thus, it is necessary that all professionals know the associated risk factors and provide
assistance seeking to prevent the development of this problem.
Keywords: Pneumonia ventilador-associated, Risk factors, Intensive care units.
RESUMEN
Objetivo: Identificar en la literatura los factores de riesgo relacionados con la neumonía asociada a la ventilación mecánica
(NAV) en pacientes adultos. Métodos: Revisión de la literatura que buscó en las bases de datos de Ciencias de la Salud
de América Latina y el Caribe, la Biblioteca Nacional de Medicina de EE. Los criterios de inclusión fueron artículos
publicados entre los años 2005 a 2019, en portugués, inglés y español, que abordaban los riesgos de NAV en pacientes
adultos críticamente enfermos. Se excluyeron los artículos que abordaban terapias farmacológicas, microorganismos,
actualizaciones sobre el tema, consenso de opiniones y paquetes sobre VAP. Resultados: Los principales factores de
riesgo asociados al desarrollo de NAV son enfermedades respiratorias previas, trauma, edad, uso previo e inadecuado
de antibióticos, exposición a ventilador mecánico, uso prolongado de VM, falta de higiene bucal del paciente, mala higiene
del manos del profesional y el posicionamiento incorrecto en la cama. Consideraciones finales: El equipo
multiprofesional tiene una responsabilidad considerable en el control y prevención de la NAV, por lo que es necesario que
todos los profesionales conozcan los factores de riesgo asociados y brinden asistencia buscando prevenir el desarrollo
de este problema.
Palabras clave: Neumonía asociada al ventilador, Factores de riesgo, Unidades de cuidados intensivos.
INTRODUÇÃO
Pacientes hospitalizados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são expostos, constantemente, a
procedimentos e seus riscos, mediante a complexidade da unidade. As Infecções Relacionadas à Assistência
à Saúde (IRAS) constituem o evento adverso mais comum no cuidado em saúde em todo mundo, afetando
7% dos pacientes em países desenvolvidos e 10% nos países em desenvolvimento. A infecção das vias
urinárias, do sítio cirúrgico, da corrente sanguínea e a pneumonia os tipos mais frequentes (DUTRA LA, et
al., 2019).
A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM) é a infecção pulmonar que ocorre de 48 a 72
horas após exposição a intubação endotraqueal e instituição da ventilação mecânica. Tem como agente
causador, um microrganismo que não estava presente ou incubado e, sua ocorrência, geralmente, decorre
da aspiração de secreções das vias áreas superiores, do refluxo gastrintestinal e da inoculação de material
exógeno contaminado (SILVA RM, et al., 2011; MOTA EC, et al., 2017). Caracteriza-se por inflamação aguda
ou crônica do parênquima pulmonar, podendo ser de origem bacteriana, fúngica, viral ou de outros processos
que podem acometer o aparelho respiratório (MATOSO LML e CASTRO CHA, 2013).
Em especial, a pneumonia tem seu risco aumentado diretamente nos pacientes em uso da Ventilação
Mecânica (VM) (LEAL GA, et al., 2017). A PAVM é considerada a segunda infecção mais frequente nas UTIs
americanas e a mais frequente na Europa. A notificação da ocorrência da PAVM nas UTI´s brasileiras tornou-
se obrigatória somente a partir do ano de 2017 e um estudo nacional demonstra que essa é uma das mais
incidentes infecções hospitalares, resultando em altos índices de internações prolongadas (NASCIMENTO
TBP, et al., 2017). Dados do Estado de São Paulo, em 2015, indicam que a incidência da PAVM, foi de 9,87
casos por 1.000 dias de uso de ventilador em UTI adulto. Para UTIs de hospital de ensino, com 13,40 casos
por 1.000 ventilador/dia e nas UTIs de hospitais privados 6,56 casos de PAVM foram diagnosticados, sendo
que 41,17% dos pacientes da UTI estavam em uso da ventilação mecânica (ANVISA, 2017).
Muitos fatores estão associados ao risco de desenvolvimento de PAVM, sendo estes modificáveis ou não.
Os fatores de risco modificáveis estão relacionados à microbiota da própria UTI, justificando a importância de
conhecer os agentes patogênicos mais frequentes em cada unidade específica. Entre os não modificáveis,
observa-se a idade, escore de gravidade avaliado após a admissão do paciente e presença de comorbidades
prévias (SANTOS CR, et al., 2018). Apesar da discrição de alguns fatores associados, a compreensão do
agravo ainda é deficiente, uma vez que a coleta de dados relacionada a esse problema em UTIs no Brasil é
pouco precisa, com ausência de padronização dos dados (ANVISA, 2017).
Nota-se que a enfermagem assumiu, desde Florence Nightingale, a importante função na prevenção e
controla das IRAS e no desenvolvimento de práticas de apoio epidemiológicos. Diante disso, é importante
destacar que a prática de enfermagem precisa ser baseada em evidências científicas e sobretudo deve buscar
a redução da incidência de complicações e agravos, como a pneumonia associada à ventilação mecânica
(BATISTA JF, et al., 2013)
Nessa perspectiva, compreendendo a necessidade de padronização das condutas adotadas nas UTI´s e
visando a promoção da assistência de enfermagem de qualidade, buscou-se a resposta para a seguinte
indagação: quais os fatores de risco para o desenvolvimento da Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica
apresentados na literatura? Sendo assim, este trabalho tem por objetivo identificar na literatura quais são os
fatores de risco relacionados à PAVM em pacientes adultos críticos.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão da literatura integrativa realizada seguindo as seguintes etapas: identificação do
tema e seleção da questão/hipótese de pesquisa; seleção dos critérios para inclusão/exclusão dos estudas
na busca literária; definição das informações a serem observadas nos estudos; avaliação dos estudos que
foram incluídos na revisão; análise e interpretação dos resultados (MENDES KDS, et al., 2008).
O levantamento das publicações indexadas foi realizado no período julho a agosto de 2019 nas bases
bibliográficas digitais, através do acesso da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) por meio de publicações
encontradas na Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), U.S. National
Library of Medicine (PUBMED) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Para as
Para a coleta dos dados utilizou-se um instrumento elaborado pelas pesquisadoras contendo: título do
artigo, título do periódico, autores, país em que o estudo foi realizado, idioma, o ano de publicação e os
descritores. Além disso, o instrumento continha informações metodológicas, como os objetivos do estudo, a
fonte/bases de dados, o tipo de estudo e de publicação, o delineamento, amostra, duração do estudo,
resultados, conclusão, recomendações e limitações da pesquisa. Os dados foram extraídos por três
avaliadoras de forma independente. As inconsistências foram resolvidas por uma quarta avaliadora.
RESULTADOS
Dezoito estudos preencheram os critérios de elegibilidade e permaneceram na análise. Os estudos foram
publicados na língua portuguesa (8- 44,44%), inglesa (8- 44,44%) e espanhola (2- 11,11%). Os países de
origem foram: Brasil (9-50%), Estados Unidos (1-5,55%), Alemanha (1-5,55%), Coréia do Sul (1-5,55%),
Turquia (2-11,11%), França (2-11,11%) e Colômbia (2-11,11%) (Quadro 1).
Prevalência e prognóstico dos pacientes com Uso de VM; Intubação; Traqueostomia; Uso de vasopressores; Insuficiência
Determinar prevalência de PAVM em UTI, fatores
PAVM em um hospital universitário. Brasil, respiratória; Pneumonia hospitalar e comunitária prévia a internação na unidade
associados e evolução.
2006. de terapia intensiva.
Risk factors for device-associated infection
related to organisational characteristics of
Avaliar os fatores de risco para DAIs (Infecções
intensive care units: findings from the Korean Unidade de terapia intensiva Cirúrgica.
associadas ao dispositivo) em UTIs.
Nosocomial Infections Surveillance System.
Coreia do Sul, 2010.
Identificar os fatores de risco para terapia antimicrobiana
Treatment of pneumonia associated with
inicial inadequado e determinar seu impacto subsequente Tratamento com antibióticos prévio; Idade; Avaliação dos niveis de APACHE;
mechanical and hospital ventilation: risk factors
nos resultados da PAVM e da pneumonia adquirida no Imudeficiência.
and impact on outcomes. Turquia, 2012.
hospital
Tempo de ventilação mecânica maior que sete dias; Uso da VM; Traqueostomia;
Ventilator-associated pneumonia in an adult Uso de três antibióticos ou mais; Intubação endotraqueal; Tempo de internação
Avaliar características clínicas, etiologia e resistência a
clinical-surgical intensive care unit of a Brazilian na UTI; Exposição prévia a antibióticos; Idade > 60 anos; DPOC; Posicionamento
agentes antimicrobianos e em pacientes com PAVM.
university hospital: incidence, risk factors, no leito; Traumatismo craniano; Coma; Tratamento com esteroides; Tempo de
etiology, and antibiotic resistance. Brasil, 2008. permanência hospitalar; Cânulas endotraqueais; Cateteres intravasculares;
Práticas inadequadas de controle de infecção.
Legenda: PAVM: Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica; UTI: Unidade de Terapia Intensiva. DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; VM: Ventilação Mecânica;
CNG: Cateter Nasogástrico; CNE: Cateter Nasoentérico. Fonte: Pinho MT, et al., 2021.
DISCUSSÃO
Esta revisão permitiu identificar os fatores de risco relacionados à PAVM em pacientes adultos internados
em UTIs. Identificou-se que os principais fatores estão relacionados às condições clínicas, idade, uso de
medicamentos, assistência em saúde e os dispositivos médicos. Dentre as condições clínicas, a presença de
problemas respiratórios, no geral, torna o paciente mais vulnerável para o desenvolvimento de infeções do
trato respiratório, como as pneumonias. Essas condições podem causar inflamação e obstrução das vias
aéreas, impedindo a eliminação efetiva das secreções e propiciando a multiplicação de possíveis
microrganismos presentes, que podem migrar para os pulmões (GUIMARÃES MMQ e ROCCO JR, 2006;
KARAKUZU Z, et al., 2018).
A literatura destaca que a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), por compreender um grupo de
doenças que levam a uma diminuição da taxa de fluxo de ar nos pulmões durante a expiração, prejudicam a
respiração e causam lesões pulmonares irreversíveis Por ser um fator predisponente para o diagnóstico de
atelectasia, a DPOC e sua respectiva gravidade clínica, aumenta a probabilidade do uso de ventilação
mecânica invasiva e por consequência, uma possível colonização pulmonar (KARAKUZU Z, et al., 2018;
GUIMARÃES MMQ e ROCCO JR, 2006).
Diante do exposto, é válido ressaltar que o sistema respiratório é dotado de defesas que auxiliam o
organismo a evitar que patógenos se aloquem em seu interior. A exemplo disso, há o fluxo salivar que auxilia
na limpeza das superfícies das vias aéreas, bem como o próprio mecanismo de tosse, que expulsa as
partículas e os patógenos. Nos pacientes críticos, esses processos de defesa natural ficam comprometidos,
elevando o risco de desenvolver pneumonia por aspiração (BATISTA JF, et al., 2013).
Além dos aspectos respiratórios, outras condições como a desnutrição, imunodeficiência, a gravidade das
doenças de base, fatores microbiológicos, infecção do trato urinário, comorbidades cardíacas,
comprometimento das vias aéreas, colonizações prévias, doenças neurológicas, choque e o risco de
desenvolver trombose e úlcera são condições que podem ser observadas na clínica dos pacientes e que são
fatores prejudiciais para os mecanismos de defesa do hospedeiro e, consequentemente, elevam a
predisposição ao desenvolvimento da PAVM (MOTA EC, et al., 2017; SILVA SG, et al., 2014).
Outra situação encontrada na literatura, associa o diagnóstico de hemorragia digestiva, com o pH gástrico
mais ácido (<4), ao desenvolvimento de PAVM, de modo que a inibição da secreção gástrica com
bloqueadores de receptores de histamina (H2) ou da bomba de prótons e/ou dieta enteral favorecem a
ocorrência da complicação estudada (GUIMARÃES MMQ e ROCCO JR, 2006).
Algumas condições inesperadas também se apresentam como fator de risco para a PAVM, como a
ocorrência de traumas. Embora pacientes que sofreram traumas estejam mais propensos ao risco de
desenvolvimento da pneumonia, a relação entre os agravos não foi diretamente elucidada pelos estudos
(ROCHA LA, et al., 2008; SILVA SG, et al., 2014; MOTA, EC et al., 2017; KARAKUZU Z, et al., 2018). Dentre
os mecanismos de trauma, o traumatismo cranioencefálico (TCE) grave se relaciona com o desenvolvimento
da pneumonia, uma vez que gera lesões cerebrais e essas são causas frequentes de necessidade de VM
prolongada, o que compromete a fisiologia do sistema respiratório e aumenta as complicações associadas à
exposição dos riscos para a PAVM (FAEZ DCS, 2016).
A idade avançada, embora seja um fator intrínseco, também está relacionada com pior prognóstico. Na
literatura esse fator é descrito como um risco não modificável para o desenvolvimento da PAVM. Nos estudos
analisados, verificou-se que os pacientes maiores de 60 anos são mais susceptíveis ao desenvolvimento da
pneumonia, assim como outras complicações clínicas. Essa relação pode ser explicada pelo declínio
fisiológico e diminuição da resposta imunológica dos pacientes decorrentes do processo de envelhecimento.
Além disso, os idosos, comumente, desenvolvem doenças crônicas que os deixam mais vulneráveis,
aumentando o tempo de internação e a exposição aos riscos para o desenvolvimento da pneumonia nos
hospitais (GUIMARÃES MMQ e ROCCO JR, 2006; RODRIGUES PMA, et al., 2009; MOTA EC, et al., 2016;
SILVA SG, et al., 2014; KARAKUZU Z, et al., 2018).
Identificou-se também, que o uso prévio e inadequado de antibióticos (AB) é um fator independente para
desenvolvimento da PAVM. Pacientes que fizeram uso recente e/ou indiscriminado da medicação em questão
têm maior risco de apresentar resistência bacteriana (SELIGMAN R, et al., 2013; MOTA EC, et al., 2017).
Além de antibioticoterapia prévia, outras medicações se associam com o maior risco de desenvolver PAVM,
dentre eles destacam-se sedativos, analgésicos, vasopressores e esteroides (KARAKUZU Z, et al., 2018;
GUIMARÃES MMQ e ROCCO JR, 2006; ROCHA LA, et al., 2008).
Dentre as medicações supracitadas, evidencia-se o uso de altas doses e/ou uso prolongado de sedativos.
Essas medicações comprometem as funções fisiológicas do sistema respiratório do paciente, fazendo com
que este fique dependente do uso do ventilador por maior tempo. Na tentativa de redução de riscos, é
necessário adotar a prática de interrupção diária da sedação, quando possível. Essa estratégia permite
observar, diariamente, a possibilidade de extubação do paciente crítico, buscando reduzir o tempo de
exposição ao ventilador e seus riscos. Entretanto, é importante que a equipe prestadora da assistência avalie
criteriosamente a decisão de extubar o paciente, uma vez que, quando realizada sem critérios, pode resultar
na necessidade de reintubação e na adição de riscos (AMARAL JM e IVO OP, 2016).
Quando os pacientes intubados são submetidos à VM, os mecanismos de defesa do pulmão sofrem
significativas alterações, modificando a fisiologia respiratória. A literatura aponta taxas de pneumonia que
variam entre 9% e 67% entre todos os pacientes submetidos à ventilação mecânica, sendo esse o fator de
risco mais relacionado com o aumento do índice de morbidade e mortalidade por infecções hospitalares
(SILVA SG, et al., 2014; MOTA EC, et al., 2017).
Embora as discussões sobre o tempo de exposição ao ventilador e o aumento dos riscos seja controvérsia,
a literatura aponta que o uso de ventilador mecânico por mais de sete dias é um fator de risco importante para
o aumento da vulnerabilidade das vias aéreas do paciente. A literatura revela que uma estratégia preventiva
para a PAVM é a redução do tempo de exposição à VM, de modo que as instituições implementem protocolos
facilitadores do desmame precoce, além de priorizar, quando possível, o uso da ventilação mecânica não
invasiva para evitar possíveis reintubações e maiores danos para o paciente exposto (ROCHA LA, et al.,
2008).
Outros fatores de risco apontados pela literatura são os relacionados ao uso de dispositivos médicos como
cateter nasogástrico/nasoentérico e a traqueostomia (ROCHA LA, et al., 2008). Os dispositivos estão
diretamente relacionados ao aumento do risco de desenvolvimento de infecção, uma vez que são corpos
estranhos que estão localizados próximos ou no próprio trato respiratório do paciente. Além disso, quanto
mais grave clinicamente, mais dispositivos serão utilizados pelo paciente (SACHETTI A, et al., 2014; MOTA
EC, et al., 2017; RODRIGUES PMA, et al.,2009; SILVA RM, et al., 2011 e GUIMARÃES MMQ e ROCCO JR,
2006).
Por mais que os pacientes internados em UTI se beneficiem de cuidados multiprofissionais intensivos e
altas tecnologias, os mesmos acabam sendo submetidos a um alto número de procedimentos e uso de
dispositivos invasivos, tornando-os mais vulneráveis às infecções e gerando a necessidade de atenção dos
profissionais de saúde em relação aos possiveis eventos assistenciais (MOTA EC, et al., 2017). Diante disso,
percebe-se a importância da utilização de dispositivos disponíveis que permitem a padronização do cuidado,
abordando informações para a redução do desenvolvimento da complicação estudada, como por exemplo, o
uso dos bundles (COELHO D, et al., 2020).
O bundle de ventilação se configura como um conjunto de medidas baseadas em evidências científicas
que auxiliam os profissionais de saúde na identificação de possíveis riscos para o des1envolvimento da PAVM
e que, tais medidas associadas a assistência em saúde segura, contribuem para a prevenção de diversas
complicações que os pacientes em uso de ventilação mecânica possam desenvolver, como por exemplo:
sangramento gastrointestinal induzido por estresse, tromboembolismo venoso e, de fato, a pneumonia
associada à ventilação mecânica (COELHO D, et al., 2020).
Nos cuidados diários ao paciente hospitalizado, a equipe de enfermagem desempenha um importante
papel, atuando na assistência direta, buscando garantir a melhora do quadro clínico e prevenção de agravos.
Assim sendo, é essencial que os profissionais realizem as ações baseadas nas medidas de prevenção da
PAVM e de outras infecções relacionadas à assistência de saúde e ao risco do uso de dispositivos médicos
(IRAS) (PAZ JS, et al., 2019).
Os artigos analisados descrevem que, apesar de a higiene oral ser um cuidado básico e de baixo custo,
muitas vezes é negligenciado pelo profissional. A não execução da correta higienização oral, embora muitas
vezes subestimada, está diretamente relacionada ao desenvolvimento da PAVM. O paciente em uso da VM
fica impossibilitado de mastigar e deglutir, favorecendo a hipossalivação e a formação do biofilme dental, que
é considerado fator para o desenvolvimento de patógenos. Portanto, a ausência e/ou a inadequada realização
da higiene oral e a presença de secreções espessas (constituídas de muco e microrganismos) favorecem a
migração dos patógenos para a região subglótica e, assim, posteriormente para a árvore brônquica. A
migração leva ao acúmulo de muco nos pulmões, desencadeando o processo infeccioso. A higienização
adequada deve ser realizada com a Clorexidina 0,12%, na forma aquosa, uma vez que é um reconhecido
antisséptico, com ação bactericida (SPEZZIA S, 2019).
Outro importante cuidado assistencial é a higienização das mãos do profissional. A baixa adesão a essa
prática se torna um dado preocupante, pois essa é uma das principais medidas para a prevenção e controle
da transmissão de infecções em geral. A higiene, quando realizada de maneira correta, reduz a carga
microbiótica das mãos dos profissionais. Essa prática, quando associada ao correto uso de equipamento de
proteção individual (EPI) contribui para prevenção da PAVM e sobretudo de outros processos infecciosos
(SILVA AAL e GAZZINELI A, 2017; SILVA SG, et al., 2014; BATISTA JF, et al., 2013).
Além dos fatores já citados, o posicionamento do paciente no leito está diretamente correlacionado com a
ocorrência da PAVM. Casualmente, pacientes permanecem posicionados incorretamente nos leitos. Além de
causar desconforto e danos físicos, a posição no leito pode favorecer a translocação de bactérias do trato
gastrointestinal (BATISTA JR, et al., 2013). Portanto, manter a cabeceira elevada entre 30 a 45º, se não
houver contra-indicação, é um cuidado de enfermagem básico. Esse fator de risco se relaciona diretamente
com os pacientes em uso de sonda nasoentérica, devido ao risco de broncoaspiração e, consequentemente,
a ocorrência da pneumonia. Além disso, manter o paciente posicionado corretamente contribui para a
melhoria do volume corrente e ventilatório, minimizando ocorrência de atelectasia (SILVA SG, et al., 2014).
A ventilação mecânica é, muitas vezes, indispensável para o tratamento de pacientes críticos, entretanto,
é o fator de risco para o desenvolvimento da pneumonia associada à ventilação mecânica. A PAVM é
considerada uma patologia de alta letalidade nas UTI´s, devido sua complexidade. Diante disso, é importante
a identificação dos fatores de risco relacionados a este problema, uma vez que esse conhecimento prévio
possibilita que os profissionais, através de suas ações e intervenções, busquem reduzir o desenvolvimento
da pneumonia. O trabalho tem como limitação a potencial heterogeneidade dos estudos selecionados e a
necessidade de atualização constante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa revisão, pode-se observar diversos fatores de riscos relacionados à PAVM, dentre eles, a
idade elevada, presença de doenças respiratórias ou outras doenças de base, fatores relacionados às práticas
assistenciais, como a correta higiene das mãos, realização da higiene oral do paciente, adequado
posicionamento no leito e manuseio de dispositivos médicos. É essencial que a equipe multiprofissional tenha
conhecimento acerca da PAVM e das medidas que minimizem o agravo. Espera-se que a descrição dos
fatores de risco obtidos através dessa revisão de literatura possa auxiliar na tomada de decisões e sensibilizar
os profissionais de saúde acerca da importância de ações para prevenção da PAVM.
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