Alegações de Recurso Francisco 11

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AOS

COLENDOS DESEMBARGADORES DA
CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL
DA RELAÇÃO DE LUANDA.
= LUANDA =

PROCESSO Nº 722/23 – A

3ª Secção da Sala dos Crimes Comuns.

Francisco António Pedro, arguido, condenado, ora recorrente, com


os demais elementos identificativos constantes nos autos, ciente
por lei da admissibilidade do recurso, com subida imediata nos
próprios autos e com efeito suspensivo, vem, em conformidade,
apresentar as respectivas

- ALEGAÇÕES DE RECURSO –

Que o faz nos termos e fundamentos seguintes:

EM PENITÊNCIA

Inclinamo-nos perante o Colendo Juiz Desembargador da Câmara


Criminal do Tribunal da Relação de Luanda a quem a apreciação do
presente recurso for distribuída e que assim se constituirá em
Relator do processo, para humildemente rogar a sua mais profunda
paciência na atenção que deve ser prestada as presentes
alegações, pois elas não serão extensas, mas assim o impõe a
necessidade de se demonstrar ponto a ponto as inverdades
contidas no acórdão recorrido. Em vós, Colendos, recorremos em
busca de justiça, para que prevaleça a verdade. Em antecipado, a
nossa gratidão para a atenção que se requer.

“VENI VERITAS IN LUCEM, VEL NOM QUAERITAS”.

QUESTÃO PRÉVIA

Colendo Juízes Desembargadores,

O réu Francisco António Pedro aqui recorrente, apresentará a sua


versão dos factos, mas requer desde já a apreciação em sede de
QUESTÕES PRÉVIAS as seguintes questões:

Conforme refere o arto. 200 do Código Penal, em relação ao crime


imputado ao recorrente (arto. 194 – Abuso sexual de menor
dependente), os procedimentos criminais são dependentes de
queixa, sendo titulares do direito de queixa conforme dita o
arto. 124 do Código Penal, o ofendido, e caso esse morra sem ter
apresentado a queixa ou renunciado a ela, será sucessivamente o
cônjuge sobrevivo ou pessoa com que o ofendido vivesse em
condições análogas as dos cônjuges, os descendentes e
ascendentes, os irmãos e seus descendentes.

De facto, a tia não tem e nem tinha legitimidade para apresentar


a queixa, sendo a ofendida maior de 16 anos de idade.

Relativamente arto. 194 – Abuso sexual de menor dependente,


imputado também ao recorrente, o mesmo refere que "Quem praticar
ou levar a praticar actos sexuais com menor de 18 anos que tiver
à sua guarda para assistir ou educar",

Colendos Desembargadores

É necessário tomar em atenção jurídica a expressão ter à sua


guarda versos ter a seu cargo (conforme espelha o legislador no
seu arto. 200 n.o 2 alínea b) do Código Penal), pois a guarda é
referente a um responsável legal, neste caso os pais ou outro
alguém atribuído essa qualidade pelo tribunal.

Relativamente ao crime de Interrupção de gravidez arto. 154 n.o 1


do Código Penal, ninguém viu ela a tomar algum medicamento, ela
não falou que tomou alguma substancia susceptível de provocar
aborto, nem que alguém a deu ou a obrigou a tomar. O Exame
refere que de facto houve aborto, mas não refere as causas. As
mesmas podem ser causas naturais ou interrompidas, e mais, mesmo
que hipoteticamente a mesma tenha tomado alguma coisa
susceptível de provocar o aborto, nada ficou provado que tal
aborto foi interrompido por acto ou causas humanas.

EGRÉGIOS DESEMBARGADORES

I. OBJECTO E FUNDAMENTAÇÃO DO RECURSO

A razão da interposição do presente recurso decorre do facto que


o recorrente não se conformar com a decisão proferida no Douto
Acórdão proferido em 28 de Maio de 2024, o qual condenou o mesmo
a uma pena de 7 anos de prisão pelas praticas dos crimes de
Abuso sexual de menor dependente arto. 194 e Interrupção de
gravidez arto. 154 n.o 1 ambos do Código Penal.

Cujo Despacho

Violou flagrantemente o princípio do dispositivo, do


contraditório, da igualdade, do acesso ao direito e tutela
jurisdicional efectiva, da legalidade dos trâmites processuais,
da imediação, da legalidade, do ónus da prova, bem como ofendeu
direitos, liberdades e garantias fundamentais
constitucionalmente tutelados e de um julgamento justo e
conforme com a Constituição e a lei (artigos 6.º, 23.º, 72.º,
174.º, 175.º e 177.º, todos da Constituição da República de
Angola). Conferir
A consequência cominada pelo desrespeito da Constituição e da
lei, é a nulidade do referido Despacho ou a revogação total do
mesmo, declarando-o sem efeito, ou seja, inexistência jurídica,

Motivo pelo qual não pode o ora recorrente conformar-se com a


Douta Decisão proferida pelo Tribunal “a quo”.

As questões que justificaram a decisão recorrida, por um lado,


questões procedimentais ou adjectivas e, por outro, questões
materiais ou substantivas, ou seja, questões que não foram
devidamente fundamentadas tanto é que há factos e documentos que
contrariam em número e grau a decisão proferida.

COLENDOS DESEMBARGADORES

MATERIA DE FACTO

Da leitura atenta ao douto acórdão e sentença dos autos,


necessariamente não reflete na totalidade o que efetivamente se
provou, em relação aos crimes de que o arguido foi condenado.

Conforme ficou declarado e provado no relatório final de


instrução preparatória, o Arguido ora recorrente, manteve uma
relação amorosa com a menor Domingas Contreiras, de 16 anos de
idade, resultando de uma gravidez e também de um aborto. Folhas
35 e verso

A mesma é sobrinha da esposa do arguido, e durante algum tempo


foi seduzindo o mesmo, chegando a fazer vários vídeos nua no
telemóvel do mesmo, acabando não resistido a sedução. Facto em
que o ora recorrente se arrepende profundamente e causador do
mesmo se entregar a policia e ter cumprido 8 meses de prisão
preventiva de crimes não existente.

Assunto esse que apenas deveria ser resolvido pelo arguido e a


esposa, mas que o instrutor processual aproveitou o momento
frágil do casal para fazer a participação, atribuindo a
qualidade de participante a esposa do recorrente. Folha 2 e
verso.

Embora assim tenha acontecido, não depreciamos nos autos o


exercício de direito de queixa por crime semipúblico, uma vez
que nada consta nos autos, e mais, mesmo que tivesse havido
queixa, a mulher do recorrente não lhe é atribuída legitimidade
para fazer a queixa.

Colendos Desembargadores,

De facto, a suposta ofendida vivia a cargo do recorrente e sua


esposa, mas a mãe da mesma vivia duas ruas próximas a do
recorrente, e essa sim tinha a guarda da ofendida.

No que concerne a interrupção da gravidez

Conforme nos é apresentado,

Embora ambos tiveram conversado na possibilidade de fazer


aborto, o recorrente não viu a Jovem a tomar alguma coisa
susceptível de provocar aborto, embora deduza que a mesma tenha
tomado comprimidos.

A suposta ofendida também não disse que tomou comprimido, embora


tivera dito que o recorrente é quem a mandou tirar a mesma
gravidez.

10º

Então

Se o recorrente a mandou? Deduz-se que o mesmo nada fez e todo


suposto procedimento de interrupção da gravidez ficou por conta
da suposta ofendida.

11º

Mas salienta-se que,

Toda questão relacionada a interrupção provocada da gravidez é


baseada em juízos dedutivos e não juízos de certeza.

12º

De facto, houve aborto.

13º

Mas o mesmo pode ter ocorrido por causas naturais.

14º
Mesmo que a suposta ofendida tivera tomado algum comprimido
susceptível de provocar um aborto, o exame medico legista não
aponta a causa. Folha 33.

15º

Colendos Desembargadores,

O Douto Acórdão proferido pelo Tribunal “a quo” fixou


indevidamente e sem provas documentais ou testemunhais e sem base
sustentável quesitos provados, que provocaram erradamente as
convicções da decisão e consequente condenação:
16º

Quesito nº 12: não sabemos de onde foi tirada tais afirmações,


uma vez que o Sr. Mabiala Giatonga foi retirado do processo por
se verificar que o mesmo não teve nenhuma conexão com o aborto.
Folha 39 (Despacho de abstenção).

Quesito nº 13, 14 e 15: não conseguimos saber de onde é que o


Meritíssimo Juiz da Causa foi buscar nos autos o momento ʺtomar
comprimidoʺ, uma vez que a Jovem nada falou que tomou
comprimido, ninguém a viu a tomar ou a deu comprimido, o aborto
pode ter ocorrido por causas naturais ou interrupção provocada,
mas não ficou nada provado e mais o Sr. Mabiala Giatonga não tem
nenhuma conexão com o aborto e apenas teve contacto com a mesma
uma só vez.

Quesito nº 16: não sabemos em que parte dos autos o Meritíssimo


Juiz da causa encontrou tal quesito.

MATERIA DE DIREITO

17º

Conforme já foi espelhado em sede de questões previas, a tia da


suposta ofendida e esposa do recorrente, não tinha legitimidade
para fazer a queixa.

18º

Ressalta ainda o arto. 50 no. 1 do Código de Processo Penal, que


o Ministério Publico só poderia promover tal queixa, depois da
mesma ser efectuada pela pessoa com legitimidade para se
queixar, sendo que no n.o 3 do mesmo artigo apresenta quem são
as pessoas que podem fazer a queixa. Sem descorar art o. 124 do
Código Penal.

19º

Provado tais factos,


Não pode prevalecer a vontade de quem não tem legitimidade e os
erros processuais em detrimento do arguido, que, por
conseguinte, pede a sua absolvição.

20o

Relativamente aos crimes que o recorrente foi condenado.

21o

O arto. 194 – Abuso sexual de menor dependente, não pode ser


imputado ao recorrente, uma vez que não estão preenchidos os
elementos subjectivos do tipo.

22o

"Quem praticar ou levar a praticar actos sexuais com menor de 18


anos que tiver à sua guarda para assistir ou educar", aqui esta
mais que provado que embora o recorrente e sua esposa tia da
suposta ofendida tivesse a mesma a seu cargo, não têm nenhuma
decisão judicial que lhe atribuía tutela ou guarda sobre a
mesma.

23o

A "guarda" é atribuída aos pais de forma natural e com a morte


dos mesmos, aos ascendentes e colaterais sucessivamente. A um
terceiro a mesma também pode ser atribuída, mas mediante a um
pedido e consequente decisão judicial. Neste caso a pessoa passa
a ter as mesmas obrigações dos pais, como alimentar, educar,
etc., podendo viajar com a mesma sem autorização dos pais. Facto
que não é atribuído ao recorrente.

24o

O arto. 17 n.o 1 do Codigo Penal frisa que a imputabilidade penal


adquire-se aos 16 anos de idade.

25o

Tendo a suposta ofendida na altura 16 anos de idade, o


relacionamento consensual, a mesma não estar a guarda do
recorrente, não ter havido agressão ou abuso sexual, não há
crime e deste modo pede a sua absolvição da instancia.

26o

Relativamente ao crime de Interrupção de gravidez arto. 154 n.o 1


do Código Penal, esta mais que provado que o recorrente não
praticou nenhum acto voluntario susceptível de provocar aborto.

27o
Analisando criteriosamente o arto. 154 do Código Penal
verificamos de forma clara que o recorrente não exerceu alguma
conduta que preencham o elemento subjectivos do tipo legal.

28o

E mais

Não esta provado se o aborto ocorreu de forma espontânea ou foi


interrompida.

29º

O direito diz-nos que o Juiz deve focar a sua convicção em


Juízos de certeza, e não Juízo de probabilidade, e que em caso
de dúvida pesa o “In Dubio Pro Réu”.

30º

Colendos Desembargadores,

Dando atenção as convicções e argumentos do Meritíssimo Juiz,


verificamos que o mesmo se funda em questões não abordadas e
factos que não foram discutidos e não provados.

31o

Na terceira (3a) pagina da Douta Sentença, o mesmo vem afirmar


que o Sr. Mabiala Giatonga é que deu comprimidos a suposta
ofendida para provocar aborto. E que passando algum tempo os
mesmos voltaram ao encontro do Sr. Mabiala Giatonga por causa de
sangramento e esse realizou um procedimento de limpeza de
organismo. Se assim for, qual a conduta do recorrente
relacionada com o acto criminal?

32o

De facto, são demais a deduções conclusivas aplicadas na decisão


do Meritíssimo Juiz da Causa, sem base nem fundamentos e
principalmente, sem prova, que devem desde já serem afastadas do
processo e deste modo absolver o arguido da instância.

CONCLUSÃO

Desde logo, as contradições levantadas sobre factos essenciais,


e quando sobre esses mesmos factos não se consolide um
conhecimento assente na verdade material, que transmita a
certeza jurídica que se requer para lá de quaisquer dúvidas, não
pode conduzir a formulação de uma convicção e Juízo puro e
certos.
salvo melhor entendimento, o Tribunal “a quo” andou muito mal e de
modo inexplicável, na medida em que, não analisou com cuidado os
factos apresentados nos autos, fez varias deduções que foram a
base da sua decisão.

Não se observou um julgamento justo, e a falha de cautela


apresentada, colide com os mais amplos princípios fundamentais
aplicados na nossa Constituição e na Carta Fundamental dos
Direitos do Homem. A decisão baseou-se em erros de analise
grosseiros, que por falta de sensibilidade irá voltar a causar
danos irreversíveis na esfera jurídica do recorrente e seus
familiares.

O recorrente, ora arguido chegou a ficar 8 meses em prisão


preventiva e esta mais que provado que não praticou nenhum dos
crimes que erradamente lhe foi aplicado. Nada lhe deve ser
imputado e consequente deve ser absolvido.

PEDIDO

NESTES TERMOS, E ATENTO AOS FUNDAMENTOS APRESENTADOS, REQUER A


REVOGAÇÃO DO DOUTO ACÓRDÃO PROFERIDO PELO TRIBUNAL A QUO, E
CONSEQUENTEMENTE APELAR A CONCRETIZAÇÃO DA ESPERADA E PRETENDIDA
JUSTIÇA, ABSOLVENDO O ARGUIDO DOS CRIMES QUE LHE FOI IMPUTADO.

Luanda, aos 17 de junho de 2024.

O ADVOGADO

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