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OUTUBRO DE 2015- ISSN 1807-5908

Política Pública para Produção de Biodiesel a partir da Coleta


Seletiva do Óleo Residual de Fritura: Estudo de Caso do
Programa de Reaproveitamento de Óleo Comestível do Estado do
Rio de Janeiro.

Marcela Santos Benassuly


Mestre em Administração pela Universidade Federal Fluminense
[email protected]

Aurélio Lamare Soares Murta


Doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense
[email protected]

RESUMO

Este artigo traz uma análise crítica do Programa de Aproveitamento do Óleo de Comestível
do Estado do Rio de Janeiro (PROVE), através do método de Estudo de Caso. O objetivo é
apontar, os aspectos positivos, as possíveis dificuldades e desafios do programa com relação
ao planejamento elaborado na fase de formulação da política e o que foi colocado em prática
por aqueles que a implementaram. O trabalho estabelece comparação entre o projeto piloto
elaborado e divulgado em março de 2007 e o programa que está sendo operacionalizado
atualmente, resultando em um parecer analítico da situação presente dos objetivos destacados
em sua formulação: os focos social, energético e ambiental. Com este, conclui-se que o
programa perde o foco energético e não se torna pioneiro na produção de biodiesel a partir do
óleo residual de fritura, mas consegue manter, de maneira modesta, os focos ambiental e
social. O artigo reforça a possibilidade e necessidade de utilizar o óleo residual de fritura
como matéria-prima na produção do biodiesel por ser uma fonte de energia barata e
abundante, ainda desperdiçada, que provoca vasto prejuízo ambiental.

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Palavras-chave: Óleo residual de fritura, Biodiesel, Políticas públicas, Coleta seletiva e


Desenvolvimento sustentável.
ABSTRACT

This article is a critical analysis of Utilization Program Edible Oil the State of Rio de Janeiro
(PROVE), through the Case Study Method. The aim is to highlight the positive aspects, the
possible difficulties and challenges of the program in relation to the planning prepared in the
policy formulation stage and what was put into practice by those who implemented. This work
establishes comparison of the pilot project developed and released in March 2007 and the
program currently being operated, resulting in an analytical opinion of the present situation
of posted goals in their formulation: the social focus, focus energy and environmental focus.
With this, it is concluded that the program loses focus energy and therefore does not become
a pioneer in the production of biodiesel from waste oil frying, but can keep, modestly,
environmental focus and social focus. The study reinforces the possibility and need to use the
residual oil frying as raw material in the production of biodiesel to be a source of cheap and
abundant energy, still missed, causing extensive environmental damage.

KEYWORDS: Waste frying oil, Biodiesel, Public policy, Selective collection and sustainable
development

1. INTRODUÇÃO

Atualmente no Estado do Rio de Janeiro são descartados anualmente cerca de 5,7

milhões de litros de óleo residual de fritura (ORF). Este cenário não é diferente no restante do

país e tão menos em âmbito mundial, com diferença, porém, no descarte destes mesmos

resíduos. Literalmente, um grande de volume energético é desperdiçado e descartado de

maneira inadequada em nossas águas, mares, rios e lençóis freáticos de forma em geral.

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Através destas circunstâncias foi desenvolvido o Programa de Aproveitamento de

Óleos Comestíveis do Estado do Rio de Janeiro – PROVE. Como uma iniciativa público-

privada, o programa busca reunir uma série de fatores que possibilitem a redução da poluição

de rios e lagoas e contribuir para a diminuição da poluição atmosférica já que o insumo

recolhido será destinado para a fabricação de biocombustível. Além dos ganhos de ordem

ecológica e social, serem imensuráveis no longo prazo é uma solução lucrativa, tornando-se

sustentável nos aspectos ambiental e econômico.

Tratar do assunto da coleta seletiva do óleo residual de fritura - ORF significa abordar

temas como a Política Nacional de Resíduos Sólidos e sua gestão, a poluição atmosférica e a

produção de biodiesel em território nacional e no mundo. Além disto, faz-se necessário

abordar o conceito e as etapas de elaboração das políticas públicas, que se tornam a principal

ferramenta de aplicação para um desenvolvimento sustentável.

2. SOBRE BIODIESEL E QUESTÕES TANGENTES

2.1. Aquecimento Global

A ação antrópica no planeta foi capaz de produzir 54% das emissões de CO2 entre as

datas de 1973 a 2002. Durante o ano de 2002 constatou-se que 41,8% do total de emissões de

CO2 eram provenientes do petróleo. Devido a esta realidade, o setor de transportes tem sido

um dos maiores responsáveis pelo aumento das taxas de emissão e deve ter um crescimento

de aproximadamente 2% entre os anos de 2001 a 2025 (MURTA, 2008).

Na tentativa de minimizar este processo uma das medidas foi o tratado complementar

à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, conhecido como

Protocolo de Quioto. Criado em 1997, o tratado buscou definir metas de redução das emissões
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de gases poluentes para os países desenvolvidos, ou Partes do Anexo I, cujos são os maiores

responsáveis históricos para a atual mudança climática. O primeiro período de compromisso

para a redução ficou compreendido entre 2008 e 2012, onde a emissão deveria reduzir pelo

menos 5% dos níveis de 1990. Na data de 23 de agosto de 2002, o Brasil ratificou o

documento que teve aprovação interna por meio do Decreto Legislativo nº 144 de 2002

(MMA, 2014).

Os gases decorrentes da queima de combustíveis fósseis são um dos principais

responsáveis pelo aumento do efeito estufa, aumentando o bloqueio habitual. Dos problemas

climáticos causados, podemos citar o aumento da temperatura média do planeta com

decorrência de ondas de calor em diversas regiões; perdas para agricultura; derretimento de

geleiras com aumento do nível do mar e inundações costeiras; alteração na proporção de

chuvas com significativo aumento do volume, provocando enchentes e alagamentos em

algumas regiões e seca em outras; maior incidência de ciclones e furacões; além da extinção

de diversas espécies da fauna e flora devido à nova realidade climática. (RIBEIRO et al apud

MURTA, 2008). Desta maneira, faz-se necessário entender conceitos e demais cenários

relacionados ao biodiesel para melhor compreensão dos benefícios socioambientais tangentes

ao assunto.

2.2. Biodiesel

Atualmente chama-se de biocombustível o combustível que deriva de biomassa

renovável capaz de substituir parcialmente ou totalmente um combustível de origem fóssil. É

utilizado em motores à combustão interna com ignição por compressão ou para geração de

energia. O combustível renovável deriva, de maneira geral, de óleos vegetais como girassol,

babaçu, palma, pinhão manso, mamona e soja, sendo o último o mais utilizado no Brasil. É
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produzido através de um processo químico chamado transesterificação gerando dois produtos:

éster (biodiesel) e glicerina (utilizado na fabricação de sabão). Por se tratar de um produto não

tóxico, biodegradável e com baixas emissões de enxofre e aromáticos, este vem sendo

considerado um combustível ecologicamente correto.

Para identificar a concentração do Biodiesel na mistura, convencionou-se a

nomenclatura BXX, onde XX é o volume em porcentagem do combustível vegetal misturado

ao combustível fóssil. Desta maneira teremos o B2 com 2% de biodiesel em 98% de diesel, e

seguindo a mesma lógica o B5, B30 e B100 representando o biodiesel puro. Segundo a

Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis (ANP), o biodiesel ou B100 é um composto

de alquilésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou gorduras

animais (Regulamento Técnico nº 4/2004, parte integrante nº42) (ANP, 2015).

2.2.1. Cenário do Biodiesel

A primeira patente mundial de biocombustível, mais especificamente do biodiesel, é

brasileira e foi desenvolvida pelo Professor Doutor Expedito Parente, em 1980, através da

Universidade Federal do Ceará, número de PI- 8007957 e requerida ao Instituto Nacional de

Propriedade Intelectual (INPI), porém tais estudos não tiveram a evolução esperada

(MURTA, 2008).

O Brasil, em particular, apresenta um potencial singular na produção dos

biocombustíveis devido suas dimensões continentais, clima e densidade populacional, permite

tanto a produção a partir da agricultura quanto à produção a partir da logística reversa do óleo

de fritura utilizado em residências e estabelecimentos comerciais. A utilização do

biocombustível é ampla, podendo gerar energia desde transportes de carga, veículos de

passageiros, máquinas e equipamentos até a produção de energia elétrica (MURTA, 2008).


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O Bloco Europeu já vivencia um estágio mais maduro na produção do biodiesel. A

Alemanha há muitos anos lidera o grupo como maior produtor, não apenas do bloco

econômico, mas representa a maior potência de produção do biocombustível em questão. No

ano de 2011 o bloco europeu produziu mais de 8,6 milhões de toneladas, sendo a produção

alemã responsável por 2,8 milhões de toneladas desta produção. A colza é a matéria-prima

mais utilizada, devido a sua característica de produção ser mais bem adaptada no hemisfério

norte (EBB, 2015).

O mercado de biodiesel nos EUA também se encontra em ampla expansão. Os

incentivos do governo norte americano garantem a redução de impostos para que a produção

possa ser compensadora. Este alto preço faz com que a utilização nos EUA seja em misturas

de biodiesel tipo B2 e B20. A matéria-prima usada na produção norte americana é a soja com

uma média de rendimento de 19% do óleo bruto (IADB, 2007). O país apresenta uma

produção de 2,9 bilhões de litros apenas no primeiro semestre de 2014, demonstrando ser um

grande produtor do combustível vegetal (Biodieselbr.com).

O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), lançado em dezembro

de 2004, busca uma maneira sustentável de produzir combustível sob os aspectos técnico,

social e econômico. As especificações do biodiesel são determinadas pela ANP que controla

e regula todas as atividades de produção e comercialização de combustíveis.

A obrigatoriedade da adição de um percentual mínimo de biodiesel ao óleo diesel

comum nacionalmente comercializado foi determinado pela Lei de n°. 11.097, de 13 de

janeiro de 2005 e atrelada ao PNPB. Esta foi estabelecida em 2% e entrou em vigor a partir de

janeiro de 2008. Em janeiro do ano de 2013 o aditivo B5 passa a ser obrigatório. O último

aumento foi de 7% (B7), tomando o caráter de mistura, foi realizado no ano de 2014 e passa a
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ser obrigatória a partir do dia 1º de novembro de 2014. Até o ano de 2020 este aumento pode

chegar a 10% (B10) (Biodiesel.com).

O número de usinas autorizadas a produção do biocombustível tem reduzido, já tendo

alcançado o número de 70 plantas distribuídas pelo território nacional entre os meses de julho

e setembro de 2013. No Brasil atualmente estão autorizadas a funcionar 59 usinas de biodiesel

(ANP, 2015).

Gráfico 1

Evolução do número de plantas autorizadas- 2013/2015


80
60
40
20
0
jul/14
abr/14
mar/14

ago/14
nov/13

jan/14

mai/14
jun/14

nov/14

jan/15

mar/15
set/13
out/13

fev/14

set/14
out/14

fev/15
dez/13

dez/14

Fonte ANP, 2014. Elaboração própria.

Dentre as matérias-primas cultiváveis temos a colza, a soja, a palma, o girassol, o

amendoim, o algodão, a mamona, o pinhão manso, e o nabo forrageiro; tratando das matérias-

primas extrativas para a obtenção do óleo temos o pequi, a macaúba, o buriti, o babaçu e a

castanha do Pará (EMBRAPA, 2007). A maior parte da produção é feita com óleo de soja

virgem, chegando a representar 80 % da matéria-prima utilizada, como especificado no

Gráfico 2 (ANP, 2015).

Gráfico 2

Porcentagem da utilização do Óleo de Soja na produção de Biodiesel

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85,00%
80,00%
75,00%
70,00%
65,00%

Fonte ANP, 2015. Elaboração própria.

A ANP tem divulgado desde agosto de 2013 os valores referentes ao volume de

produção do biodiesel brasileiro. Neste último ano a produção variou, aproximadamente,

entre 237 a 347 milhões de litros, construindo uma média próxima de 283 milhões de litros

produzidos por mês, como ilustrado no Gráfico 3.

Gráfico 3

Produção Mensal de Biodiesel – Brasil


400.000
Em '000 litros

300.000
200.000
100.000
0

Fonte ANP, 2015. Elaboração própria.

O artigo irá pontuar alguns dos benefícios decorrentes a utilização do biodiesel, após a

exposição, apresenta-se o ORF como uma opção de matéria-prima que pode minimizar custos

e trazer maiores vantagens socioambientais.

2.2.2. Vantagens do uso do biodiesel

Dentro dos aspectos que mais se destacam para o uso do biodiesel ou qualquer outro

biocombustível estão os inúmeros ganhos ambientais frente a insustentável produção e

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utilização de combustíveis fósseis. A substituição gradativa, porém efetiva do combustível

fóssil por um combustível vegetal, por si só já se torna uma grande vantagem.

O cultivo das oleaginosas promove sequestro do CO2 emitido por motores de

automóveis, ajudando na diminuição de um dos Gases do Efeito Estufa (GEE) devido à

realização da fotossíntese pelas plantas. Além destes aspectos, o biodiesel apresenta

comprovadamente emissões baixas de um dos gases mais poluentes da nossa atmosfera que é

o SOx. Segundo Denini, 1 tonelada de biodiesel seriam menos 2,5 toneladas de emissão de

CO2. O biodiesel de canola, em pesquisas europeias, quando comparado ao combustível fóssil

reduz em até 60% as emissões de GEE (NAE, 2005 apud MURTA;RIBEIRO).

Os benefícios econômicos advindos do mercado de biocombustíveis provocam

movimentação nas economias de todo o mundo. América do norte, Brasil, Argentina, França,

Alemanha, Indonésia, Malásia, China, dentre outros, inúmeros são os países que estão tendo

os seus PIBs acrescidos dos valores que o setor é capaz de gerar. Por se tratar de um

combustível renovável, possibilita constante reabertura de novos ciclos de plantio. Reduz a

dependência em combustíveis fósseis diminuindo o gasto com importação, que segundo a

Petrobrás, apenas em 2004 chegou a US$ 2,4 bilhões só do petróleo para fabricação de óleo

diesel, o diesel importado chegou a US$ 830 milhões (MURTA; RIBEIRO). Além de tais

dados, após implementação do B5 foram gerados aproximadamente 382 mil empregos diretos

e indiretos decorrentes da mistura proposta (EMBRAPA, 2007).

Os ganhos também ocorrem na área da saúde. A Organização Mundial de Saúde

estima que aproximadamente 2 milhões das mortes prematuras no mundo a cada ano devem–

se a poluição ambiental. Com a diminuição da poluição advinda de emissão dos gases

poluentes, é estimado o declínio dos casos de mortes prematuras e a diminuição das doenças
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respiratórias, um número de 12.945 a menos de internações hospitalares por doenças

respiratórias foram registradas com a entrada do B5, projetando este número, poderia chegar a

77.672 casos a menos de internações hospitalares caso o B20 entre em vigor (Aprobio, 2013).

2.2.3. Biodiesel a partir do Óleo Residual de Fritura (ORF)

Especialistas já vêm apontando o óleo residual de fritura como a matéria-prima mais

adequada na produção de biodiesel nos conglomerados urbanos, pois o custo com transporte

deste insumo reduz significativamente (UNICAMP, 2005)1. Segundo Mittlebach e Trithart

(1988 apud CASTELLANELLI, 2008), o biodiesel produzido da transesterificação de óleos

de fritura apresentou características muito próximas aos biocombustíveis produzidos a partir

do óleo vegetal virgem.

A tendência é que, com o aumento da utilização do biodiesel em misturas com o diesel

comum, a matéria-prima ganhe aumento em seu valor de mercado. Para contornar esta

situação, a empresa Cesbra Química S/A realizou um projeto na tentativa de produzir um

biocombustível de boa qualidade com menor custo de produção. Para isso, utilizaram uma

mistura de 60% óleo residual de fritura e 40% de óleo virgem, pois não há volume suficiente

para que se produza um combustível 100% à base de óleo residual de fritura. O resultado foi

uma produção de um biocombustível cujo custo foi aproximadamente 30% menor. Caso fosse

possível a utilização apenas do óleo residual de fritura, este valor seria ainda mais baixo,

chegando a 60% na redução de seu valor (PENEDO, 2008).

Além das vantagens de custo de produção, a utilização de uma coleta seletiva

adequada pode evitar diversos problemas urbanos, sociais e ambientais. Os resíduos de óleo

que não são devidamente coletados são despejados em ralos, bueiros e vasos sanitários, indo

para o sistema de esgoto, causando danos de obstrução em canos e encarecimento do processo


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de tratamento nas Estações, quando existentes. O óleo quando despejado nas águas ocasiona

a diminuição da concentração do oxigênio, colocando em risco a biodiversidade (peixes,

algas, entre outros) de nossos recursos hídricos (IPA, 2004).

No Brasil estima-se que o valor residual do consumo interno de óleos e gorduras

aproxima-se de 1,2 milhões de toneladas por ano. Apenas este valor incrementaria o aumento

da mistura do diesel comercializado em até 4% de biodiesel, sem qualquer necessidade de

outras fontes de matéria-prima. Da quantidade mencionada é previsto que 60% dos resíduos

seja de origem domiciliar, esta característica pulverizada dificulta uma organização logística

eficiente do recolhimento. Em janeiro de 2014, o ORF estava sendo comercializado por até

R$ 1,00 (Biodieselbr.com)2.

Segundo a ANP (2015), apenas 0,63% do biodiesel produzido no território nacional no

mês de fevereiro deste ano foi proveniente do Óleo Residual de Fritura. Em outubro de 2014,

1,11% do biodiesel foi produzido com a mesma matéria-prima, como ilustrado no Gráfico 4.

No sudeste, o uso do óleo de cozinha representou, também no mês de fevereiro, apenas 0,80%

da produção da região (ANP, 2015).

Gráfico 4

Variação da Porcentagem de utilização do ORF na produção de Biodiesel nacional


1,50%

1,00%

0,50%

0,00%

Fonte ANP, 2014. Elaboração própria.

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O ganho pode ser percebido diante da economia percebida no setor de saneamento

básico, devido à diminuição de entupimentos e transbordamentos pode chegar ao valor de R$

500 mil por ano, como vislumbra a gerente de educação hidrossanitária Zélia de Souza da

Caesb3. No estado do Rio de Janeiro o recolhimento deste óleo, quando descartado da maneira

adequada, é realizado através de cooperativas de catadores de lixo, que recebem o apoio da

Secretária de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro (SEA-RJ) através do programa de

política pública “PROVE”.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS

O termo Políticas Públicas refere-se a um conjunto de diretrizes e princípios que são

dirigidos através da ação do poder público, que estabelecem regras e procedimentos para

mediar às relações entre o poder publico e a sociedade. Estas políticas envolvem a aplicação

de recursos públicos na orientação de processos sistematizados, formulados e explicitados em

documentos (leis, programas, linhas de financiamento).

As políticas representam o exercício do poder político, traduzido em seu processo de

elaboração e implantação, e sobre seus resultados. Segundo Teixeira (2002, p.2), realizar uma

política pública compreende definir quem decide o quê, quando, com que consequências e

para quem. Portanto, após a formulação, as políticas públicas ganham um desdobramento em

programas, projetos, bases de dados ou sistema de informação e pesquisa, necessitando

normalmente, da aprovação legislativa. A partir da implementação, estas ficam submetidas à

uma estrutura de avaliação e acompanhamento (SOUZA, 2006, p. 26).

3.1. Etapas de formação e desenvolvimento

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As políticas públicas buscam ser um agente regulador diante das relações de

desigualdade socioeconômicas, constituindo fundos públicos destinados aos investimentos

estratégicos em desenvolvimento e programas sociais. Segundo Viana (1996) a formação e

desenvolvimento das políticas públicas envolvem quatro fases:

1) Construção da agenda- Etapa relevante devido à natureza do relacionamento

entre o meio social e a dinâmica governamental. Confere estabilidade estrutural à sociedade

da mesma maneira que o voto busca garantir a estabilidade conjuntural. Participantes ativos

encontram-se nesta fase: os atores governamentais e os atores não-governamentais.

2) Formulação de política- Momento no qual se estabelece um diálogo entre a

intenção e a ação, tornando-se um processo contínuo de reflexão. A massa de dados ganha a

perspectiva de informações relevantes fazendo com que valores, princípios, ideias e

ideologias sejam articulados junto às informações factuais durante a elaboração do

conhecimento sobre ação orientada. O conhecimento empírico e normativo é convertido em

ação pública, no momento da execução da ação.

3) Implementação de políticas - é fortemente influenciada pela quantidade de mudança

envolvida e pela extensão do consenso sobre os objetivos e as metas da política, duas

características tidas como gerais no processo decisório. Com isso sucede-se uma inversão da

proporcionalidade existente na relação entre as variáveis em questão: consenso e mudança. A

amplitude do consenso sobre as metas e os objetivos é dimensionada pela participação dos

implementadores durante a etapa de formulação. A disponibilidade daqueles que irão

implementar a política esta sujeito a: a) Compreensão da política; b) Resposta (aceitação,

neutralidade, rejeição); e c) Intensidade da resposta.

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4) Avaliação de políticas.- A fase de avaliação, segundo Rolando Franco e Ernesto

Cohen (apud MEDINA, 1987) compreende a investigação avaliativa e a avaliação em si. A

avaliação em si pode abranger dois tipos de estudos: a avaliação de processos e a de impacto.

A primeira busca avaliar a determinação pública para a etapa de implementação da política; a

segunda avalia o impacto dos resultados da política após implementada. Os estudos de

avaliação são visualizados melhor a partir de uma composição que vislumbre ações que

acontecem no momento atual e uma ação prestes a acontecer: Situação atual ↔

Política/programa/projeto ↔ Situação nova (VIANA, 1996).

É possível notar a dicotomia existente entre a administração e a política devido

à separação entre as fases da formulação e da implementação. Por esta razão, faz-se

necessário uma exímia interação entre o trabalho dos formuladores, implementadores e

público-alvo. Para os autores Hoppe, Van de Graaf e Van Dijk, os problemas da relação

formulação-implementação caracterizam-se na desconexão entre os estágios do conhecimento

de formuladores, implementadores e público-alvo. Os estudos citados tiveram sucesso quanto

à identificação dos aspectos externos que influenciam as políticas, não obtendo o mesmo

sucesso no que se trata dos aspectos internos que remetem à ação governamental. Segue

modelo proposto para otimizar este processo:

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OUTUBRO Quadro
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Modelo de Hoppe, Van de Graaf e Van Dijk

Política
Problemas/Insumos

Formulação

Adoção
Meio Meio
Área de Estrutura de
intervenção implementação
da política da política

Política
Resultados

Fonte: Adaptado de Viana, 1996

3.2. Políticas Públicas para o desenvolvimento sustentável

A busca pelo desenvolvimento sustentável tem demonstrado a grande inabilidade da

economia moderna em superar o que Cavalcanti em 1988 chamou de “bloqueio da pobreza”

(1999) e fazer consideração à realidade social da “finitude, entropia e” (DALY; COBB,

1994). Outro princípio que se pode mencionar estabelece relação com a escala do sistema

econômico, o qual deve ser entendido como um subsistema do ecossistema que é uma

entidade não crescente, o que impõe a existência de uma escala de fluxos relacionados aos

recursos naturais disponíveis a serem considerados diante a expansão econômica. As políticas

acabam por funcionar como uma intervenção para contrabalancear a maneira com a qual é o

capital natural é utilizado pelo mercado (CAVALCANTI, 1999).

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Cavalcanti define como política de governo orientada a sustentabilidade a orientação a

estas ações políticas sendo motivadas pela aceitação das limitações dos recursos naturais,

sobretudo a matéria e a energia, já que sem estas a atividade humana não é capaz de ser

realizada. É necessário encontrar uma dinâmica que permita que o nível do produto social

seja garantido na mesma proporção que a qualidade de vida e do meio ambiente, sendo

essencial haver uma reformulação política que coloque o fator ambiental como um item de

restrição para sua preservação em futuro distante e a qual a integridade não deve ser

corrompida.

3.3. Políticas Públicas para Educação Ambiental e PNRS

O enfrentamento da crise civilizatória vem contando com a estratégia de educação

ambiental através das políticas públicas. O meio ambiente enquanto política pública no Brasil

ocorre após a conferência de Estocolmo em 1972. A conferência teria sido uma iniciativa das

Nações Unidas para influenciar a discussão do tema dentro das agendas de governo. O

resultado, no Brasil, foi a criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA). A

educação ambiental preocupa-se com a transformação de um paradigma que significará tratar

tanto de uma revolução científica quanto política (SORRENTINO et al., 2005). Estas

mudanças têm como finalidade desenvolver espaços sociais para a melhoria da qualidade de

vida dos indivíduos e dos demais seres vivos que habitam o planeta.

Para tanto há a necessidade de se assumir responsabilidades individuais e coletivas

diante das circunstâncias socioambiental, exigindo, além disto, uma maior autonomia diante

das participações em debates sobre a definição de políticas públicas. Uma cultura ecológica

precisa ser consolidada que assegure a simbiose entre natureza e sociedade de maneira

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indissociável, abrangendo as decisões governamentais e sociedade civil (CARVALHO,

2004). Com a PNRS reafirma-se a necessidade da educação ambiental.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), define noções conceituais sobre

como gerir de forma integrada o recolhimento de resíduos sólidos, com dimensões política,

econômicas, ambiental, cultural e social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável.

(Brasil, 2010). Sua abrangência se estende em três pontos fundamentais para a efetividade da

gestão integrada destes resíduos, reforçando o aspecto da modernidade. Estes seriam a

logística reversa4, a responsabilidade compartilhada5 e o controle social6, que tem suas

definições facilitadas pela Lei n. 12.305/2010, art. 3º.

Para a implantação destas políticas será necessário ampla participação social através

de um processo de educação ambiental mais efetivo a fim da adesão da população aos

procedimentos e métodos previstos no plano de gestão de resíduos sólidos, em especial para

fins de coleta seletiva do lixo domiciliar (LUZZI et al., 2012).

4. ESTUDO DE CASO: O PROGRAMA DE POLÍTICA PÚBLICA - PROVE

4.1. PROVE: Programa de Reaproveitamento de Óleo Comestível do Rio de Janeiro

Fruto de uma iniciativa do governo do Estado do Rio de Janeiro junto à Secretaria do

Estado do Ambiente (SEA) e a iniciativa privada, tem como objetivos estratégicos a) a

redução da poluição de rios e lagoas , b) a minimização nos custo do tratamento de esgoto

fornecido pela CEDAE e c) contribuir com a viabilidade da produção de biodiesel a partir do

óleo residual de fritura.

O programa busca focar nos objetivos de desenvolvimento social, energético e

ambiental, detalhados a seguir: i) Foco Social- Geração de trabalho e renda, através da


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inserção das cooperativas de catadores na cadeia produtiva do biodiesel; ii) Foco

Energético- Produção pioneira e diferenciada de biodiesel no Estado, utilizando óleos

residuais como matéria-prima gerando contribuição para o Programa Brasileiro de

produção de Biodiesel;e iii) Foco Ambiental- redução da poluição de rios e baía de

Guanabara; redução da emissão de CO2 (menos diesel do petróleo); redução dos custos para

tratamento de esgotos; além do incremento da consciência ambiental da população e espírito

de cidadania (PROVE, 2007, p.4).

O programa revela também um expressivo potencial do volume estimado de óleo

estimando-se uma aquisição per capita de 6,283 litros por ano (IBGE apud PROVE, 2007,

p.23), e aproximando a população para um número de 6.094.183 de habitantes, chega-se ao

volume de aproximadamente 38,3 milhões de litros/ano. Mesmo diante do cenário de 50% de

perda do óleo utilizado, o programa prevê um potencial de 19 milhões de litros ao ano do óleo

em situação de descarte. Deste número, o aproveitamento esperado é de 17,2%, representando

3,3 milhões de litros/ano, sendo 2,98 milhões advindos da população geral (PROVE, 2007).

A gestão corporativa do programa está a cargo da Secretaria de Estado do Ambiente

(SEA). O trabalho irá acontecer através do apoio ao trabalho das cooperativas, estas

representadas pela Federação das Cooperativas de Catadores de Material Reciclado

(FEBRACOM) e a Incubadora tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), em articulação

através de um Conselho Gestor que irá se responsabilizar pela triagem do óleo residual gerado

pelas coletas do óleo gerado de casas comerciais e grandes produtores até Manguinhos

(PROVE, 2007).

4.1.1. Aspectos positivos

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O programa de Reaproveitamento de Óleos Vegetais do Estado do Rio de Janeiro,

conseguiu evitar que cerca de 15 milhões de litros de óleos fossem descartados de maneira

inadequada desde sua criação pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA/RJ) desde 2008

(SEA/RJ, 2015). Segundo informações disponibilizadas no site do Governo do Estado 7 e

também do atual coordenador do PROVE, são 45 as cooperativas abrangentes mobilizando

aproximadamente 400 trabalhadores de vários municípios fluminenses. O recolhimento do

óleo conta com, 6 vans e 2 kombis que são disponibilizadas às cooperativas sob a

administração da SEA/RJ.

Sua infraestrutura consiste em uma sala situada no centro do Rio de Janeiro, no prédio

onde funciona o instituto. Existe também a parceria do PROVE com as concessionárias de

energia elétrica Ampla8 e Light9. Estas empresas mantêm alguns postos de coleta e oferecem

descontos na conta de luz ao receberem o óleo. Os moradores e comerciantes da Rocinha e do

Santa Marta tem participado deste projeto, o qual teve o nome de LightRecicla.

Outras duas novas ações para impulsionar o programa foram criadas no final do ano de

2013. Estas foram o PROVE nas Escolas e a inclusão do programa na Lei do ICMS Verde,

aprovada sob o decreto nº 44.543, dia 27 de dezembro. A inclusão proporciona aos

municípios que avançarem no recolhimento do óleo residual de fritura receberão maior

repasse do tributo citado. O PROVE nas Escolas teve seu lançamento realizado no Colégio

Estadual Brigadeiro Schorcht, na Taquara, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio e será

expandido inicialmente para dez unidades escolares que atuarão como centro de informações

sobre a reciclagem e a produção de fontes alternativas de energia, além de se estabelecerem

enquanto eco pontos (SEA/RJ, 2014).

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O trabalho do PROVE também está sendo divulgado por sites e youtube, maiores

esclarecimentos podem ser obtidos através de email e telefone. O programa também já teve

divulgação feita durante o carnaval, através das equipe de apoio de uma escola de samba que

utilizou a logo nas camisas durante o desfile. Outra surpresa foi o interesse de um batalhão da

Polícia Militar, por iniciativa dos próprios militares, foi inaugurado um ecoponto no Quartel

General da Polícia Militar situado no Centro do Rio de Janeiro10.

Segundo o Diretor da Cooperativa Popular Amigos do Meio Ambiente (COPAMA), a

contribuição com o transporte para o recolhimento do óleo tem sido o maior benefício que o

PROVE proporciona ao trabalho das cooperativas. Além de contribuírem com o fornecimento

de certificados, o que proporciona maior legitimidade e confiança ao trabalho das

cooperativas (BENASSULY, 2014).

4.1.2. Dificuldades e desafios

O coordenador relata algumas dificuldades, declara os condomínios como sendo o

ponto de maior fragilidade, “o calcanhar de aquiles” e que as cooperativas ainda não

conseguiam dar conta desta demanda. Outro desafio seria trabalhar a integração entre as

cooperativas e a dificuldade em criar o hábito da credibilidade e pontualidade do

recolhimento.

O programa não possui um armazenamento e não é capaz de fazer a tancagem do óleo

recolhido, sendo levado diretamente às fábricas de sabão. Desta maneira, não foi possível

desenvolver um controle de qualidade e processo de limpeza. Algumas cooperativas possuem

o “kit de limpeza” para a filtragem do óleo, porém são subutilizados. Falta de sensibilidade

com relação a empreendimento e negócios por parte dos cooperados que, por razões

socioestruturais dispõe de baixa escolaridade (BENASSULY, 2014).


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Devido a excessivos e engessados tramites burocráticos, comum a setores públicos,

falta agilidade nos processos, atrasando o desenvolvimento do programa. O coordenador

expressa que existe "falta de visibilidade". Questiona a questão da Parceria Público Privada e

mesmo cita exemplos de outros programas com maior sucesso nesta área. Deveria haver

maior integração entre os setores a fim de viabilizar um maior investimento de capital em

divulgação e propaganda. A questão também é mencionada pelo Diretor Presidente da

COPAMA em Maria da Graça (BENASSULY, 2014).

No que tange à parceria com a refinaria de Manguinhos, o coordenador alega que

ainda não conseguem coletar óleo o suficiente para uma possível produção, salienta que a

situação ideal configurar-se-ia como, o que ele chamou, de hipercooperativismo. Além disto,

a refinaria de Manguinhos esta fora de operação desde o inicio de 2013, como mostra a

repostagem do dia 03 de setembro de 2013, no site de notícias Brasil Econômico, por Nicola

Pamplona e Renata Batista11. Hoje a refinaria não estabelece qualquer relação com o PROVE

(BENASSULY, 2014).

Todas as informações explicitadas serviram para traçar o atual panorama da política

pública em questão. Desta maneira, o trabalho segue com a análise do PROVE identificando

seus aspectos, os agentes envolvidos e seus resultados parciais.

4.1.3. Panorama atual do programa

No capítulo que se refere a políticas públicas é enfatizado a necessidade do diálogo

entre intenções e ações no processo de formação de políticas, a fim de se estabelecer a

reflexão contínua para os gestores da política e promover ação para seu meio externo. Esta

etapa discrimina quais seriam as desconexões entre o que foi formulado, implementado e sua

interação com o público alvo. Com este conteúdo foi possível criar um modelo esquemático
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para melhor visualização das entradas (os objetivos) e saídas (resultados) da política pública,

para melhor visualização do que foi realizado. Remontando o esquema sugerido no Quadro 1,

presente no item 3.1.2, obtém o funcionamento atual do programa:

Quadro 2

Ambiental: despoluição da Social: Energética: programa pioneiro


bacia hidrográfica e Geração de de produção de energia limpa
diminuição da poluição trabalho e
atmosférica renda

Coleta do Óleo Residual de Fritura

Projeto Piloto
PROVE 2007
Cooperativas de
Adesão da
Catadores
Coordenação população
Capital Privado
PROVE

Municípios do
Estado do SEA/RJ
Rio de Janeiro

Aumento do nº de Cooperativas
Discreta diminuição da poluição da bacia
hidrográfica
Criação do ICMS Verde
Fonte: Vianna, 1996. Elaboração própria.

Os objetivos do programa convergem na ação da Coleta do Óleo Residual de Fritura,

primeiramente idealizado no Projeto Piloto elaborado em 2007 e executado pela Coordenação

do PROVE. O papel desta coordenação atualmente é promover a Adesão da população, além

do apoio logístico às cooperativas também promove o relacionamento destas com o setor


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privado e a população, que neste caso, seriam os pequenos produtores do óleo residual de

fritura. Seguem as análises finais a respeito desta política.

5. CONCLUSÕES

O projeto inicial do programa consistia em desenvolver a coleta seletiva do óleo

residual de fritura através de cooperativas de catadores e inserir estes na cadeia produtiva do

biodiesel. Esta iniciativa contribuiria para o desenvolvimento do trabalho solidário, gerando

renda e inclusão social, os benefícios ambientais com a diminuição da poluição das águas,

evitando o despejo inadequado do óleo; e a diminuição da poluição atmosférica, já que a

reciclagem do óleo se produziria o combustível vegetal que apresenta menores taxas de

emissão dos gases poluentes durante sua queima.

A política pública previa a realização de uma PPP (Parceria Público Privada), onde a

principal participação privada seria a refiaria de Manguinhos como comprador do óleo para

produzir o biodiesel. A refinaria hoje passa por grandes dificuldades e encontrasse inativa,

inviabilizando este aspecto do projeto. Além disto, não há a infraestrutura necessária, e nem

as técnicas necessárias para a filtragem do óleo. Os “kits” de filtragens ficam subutilizados e

não existe uma “visão de negócio” presente nos cooperados.

O projeto perde ambientalmente no que diz respeito à poluição atmosférica, sem

alcançar o objetivo descrito como redução da emissão de CO2 (menos diesel do petróleo)

(PROVE, 2007 p.4). O programa falha também diante do seu foco energético pelas mesmas

razões. Deixa de ter uma produção pioneira e diferenciada de biodiesel no Estado, utilizando

óleos residuais como matéria-prima (PROVE, 2007, p.4) e perde o benefício de prestar

contribuição para o Programa Brasileiro de Produção de Biodiesel (PROVE, 2007, p.4).

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O setor poderia estar recebendo maior alavancagem com a venda do óleo para o setor

de Energia que a princípio, consegue movimentar e disponibilizar maiores recursos

financeiros e estruturais, proporcionando ganho em escala. Atualmente os principais

compradores do óleo são as fábricas de sabão.

O programa conseguiu atingir, mesmo que minimamente, os objetivos e benefícios

destacados pelo foco ambiental. Com um número aproximado em 15 milhões de litros de óleo

recolhidos desde 2008, pode-se entender que este mesmo volume deixou de ser descartados

inadequadamente e causar poluição. Sendo assim pode-se afirmar que o programa tem

alcançado a meta da redução da poluição de rios e baía de Guanabara, com isso atinge

também a redução dos custos para tratamento de esgoto (PROVE, 2007, p.4).

A política pública prossegue ampliando este processo de educação ambiental para as

escolas estaduais, junto ao programa parceiro Elos de Cidadania. Em breve estas escolas se

tornarão eco pontos, educando e esclarecendo a população a respeito da forma mais adequada

de descarte do óleo e garantindo o incremento da consciência ambiental da população e

espírito de cidadania (PROVE, 2007 p.4).

No foco social o programa obtém resultado pleno. O objetivo inicial era a geração de

trabalho e renda, porém através da inserção das cooperativas de catadores da cadeia

produtiva do biodiesel (PROVE, 2007, p.4), o que não ocorre. O PROVE começou com 15

cooperativas, hoje trabalha com 45. Embora as dificuldades este número é uma amostra que o

programa vem conseguindo desenvolver, mesmo que devagar, seus objetivos sociais.

Os resultados atingidos estão distante do que foi almejado em seu projeto piloto.

Existe baixa adesão da população e falha grave na comunicação, não é possível encontrar os

endereços dos eco pontos da cidade carioca no site da SEA/RJ. Tal fato dificulta o acesso da
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população à informação, criando barreiras para o desenvolvimento de uma consciência

ambiental e do espírito de cidadania pretendidos pela política. O Quadro 3, no item 4.1.3,

resumiu e ilustrou a situação atual do programa, que teve resultados muito discretos diante do

que foi previsto em seu projeto inicial.

Sendo assim, a análise crítica deste estudo de caso contribui para documentar a

situação atual do programa PROVE e seus aspectos positivos, sendo este a inserção das

cooperativas de catadores na coleta do ORF, e um projeto embrionário de educação

ambiental, que pode nortear futuros estudos. Reforça, sobre tudo, a necessidade de existirem

recorrentes avaliações para melhoria das políticas públicas, apontando as dificuldades da

aplicação efetiva do programa como foi idealizado, bem como os desafios a serem

enfrentados para a produção de energia a partir de um insumo com grandes vantagens

financeiras e socioambientais.

1
Disponível em:< http://www.comciencia..br/noticias/2005/04/biodiesel.htm >. Acesso em: 01 de set. de 2014
2
Disponível em: < http://www.biodieselbr.com/plantas/oleo-fritura-usado.htm >. Acesso em: 29 de ago. de 2014.
3
Disponível em:< http://www.biodieselbr.com/noticias/materia-prima/ogr/video-setor-biodiesel-estuda-formas-
diversificar-materias-primas-310314.htm>. Acesso em: 29 de ago. de 2014.
4
Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por conjunto de ações, procedimentos e
meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente
adequada.
5
Conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos
sólidos, para reduzir os impactos causados á saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida
dos produtos, nos termos desta Lei
6
Conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação nos processos
de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos.
7
Disponível em: <http://www.rj.gov.br/web/sea/exibeconteudo?article-id=180508>. Acesso em: 21 de abr.2015.
8
Disponível em <https://www.ampla.com/ampla-e-a-sociedade/programas-e-projetos/consci%C3%AAncia-
ampla/consci%C3%AAncia-ecoampla/coleta-de-%C3%B3leo.aspx>. Acesso em: 05 de jul. 2014.
9
Disponível em: < http://www.light.com.br/grupo-light/Sustentabilidade/desenvolvimento-da-area-de-
concessao_light-recicla.aspx>. Acesso em: 05 de jul. 2014.
10
Acesso em: <http://www.youtube.com/watch?v=p4v3vymYuq8>. Acesso em: 10 dez. 2013.
11
Disponível em: <http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/crise-na-refinaria-de-manguinhos-chega-ao-
stf_135486.html >. Acesso em : 04 dez. 2013.

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