Dissertação Final NATÁLIA DE MORAES DUQUE

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

NATÁLIA DE MORAES DUQUE

UBERIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL EM TEMPOS DE CRISE: UMA


OPÇÃO AO DESEMPREGO

NITERÓI, RJ
2023
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

NATÁLIA DE MORAES DUQUE

UBERIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL EM TEMPOS DE CRISE: UMA


OPÇÃO AO DESEMPREGO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação Stricto Sensu em Engenharia de
Produção da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre
em Engenharia de Produção.

Professor Orientador:

Dr. Fernando Toledo Ferraz

Niterói
2023
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela vida, saúde, proteção e fé, que me permitiram concluir
esta etapa em minha vida.

A minha amada mãe, por toda atenção, palavras de incentivo e amor.

Ao meu pai, in memoriam pelo exemplo, amor, orientação e ensinamentos de que o melhor
caminho é a dedicação aos estudos.

A minha irmã Mariana e meu cunhado, por todo incentivo, bons conselhos e auxílio para
superar as dificuldades em todas as áreas da minha vida.

Ao meu orientador Fernando, cuja inteligência, presteza e objetividade foram essenciais para
a realização deste estudo.

A todos os professores que tive em minha vida, pois todos os seus ensinamentos constituem a
minha formação profissional e pessoal.

A todos os motoristas da Uber que fizeram parte deste trabalho e demonstraram interesse e
paciência para participar desta pesquisa.

Muitíssimo obrigada!
RESUMO

Atualmente, novas modalidades de emprego foram criadas, tais como o trabalho intermediado
por aplicativo. Este tipo de emprego favorece a precarização do trabalho, pois geralmente as
empresas de tecnologia não consideram que possuem uma relação de emprego com os
prestadores de serviço. Os trabalhadores são considerados autônomos sendo responsáveis
pelos custos da realização do serviço. Esta modalidade de emprego, denominada como
uberização, vem se propagando cada vez mais, principalmente em momentos de crise
econômica. Muitos trabalhadores por não conseguirem outro emprego, realizam este tipo de
serviço como uma opção ao desemprego. Esta dissertação busca analisar a opinião em relação
às condições de trabalho de 80 motoristas da Uber da região metropolitana do Rio de Janeiro
através de uma survey. A pesquisa também teve duas questões qualitativas: uma foi relativa à
qual melhoria o motorista gostaria em seu trabalho; e a outra foi para verificar qual foi o
maior impacto negativo provocado pela pandemia da Covid-19. Além disso, foram analisadas
quais questões podem estar impactando no estresse e no acidente de trabalho considerando as
respostas dos motoristas do questionário utilizado neste estudo utilizando o método de
regressão linear múltipla.

Palavras-chave: Uberização. Desemprego. Crise.


ABSTRACT

Currently new types of employment have been created, such as work intermediated by
application. This type of employment favors the precariousness of work, as technology
companies generally do not accept that they have an employment relationship with the service
force. Workers are self-employed and are responsible for the costs of carrying out the service.
This type of employment, known as uberization, has been spreading more and more,
especially in times of economic crisis. Many workers, for not being able to find another job,
get this type of service as an option to unemployment. This dissertation analyzes the opinion
regarding the working conditions of 80 Uber drivers from the metropolitan region of Rio de
Janeiro through a survey. The research also had two qualitative questions: one was related to
what improvement the driver would like in his work; and the other was to verify what was the
biggest negative impact caused by the Covid-19 pandemic. In addition, it was raised which
issues may be impacting on stress and accidents at work considering the responses of drivers
in the questionnaire used in this study using the multiple linear regression method.

Keywords: Uberization. Unemployment. Crisis.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Nove Pilares da Indústria 4.0 .................................................................................... 17


Figura 2: Evolução histórica da taxa de desemprego no Brasil ................................................ 29
Figura 3: Evolução do preço médio mensal – Gasolina Comum no Município do Rio de
Janeiro - RJ ............................................................................................................................... 34
Figura 4: Evolução do preço médio mensal – Etanol Hidratado no Município do Rio de
Janeiro - RJ ............................................................................................................................... 35
Figura 5: Evolução do preço médio mensal – GNV no Município do Rio de Janeiro - RJ ..... 35
Figura 6: Quantidade de documentos com “Uberization” no título por ano ............................ 40
Figura 7: Quantidade de documentos por país ......................................................................... 41
Figura 8: Quantidade de documentos por área de estudo ......................................................... 41
Figura 9: Documentos por tipo ................................................................................................. 42
Figura 10: Quantidade de artigos com “Uberization” no título por ano ................................... 42
Figura 11: Quantidade de artigos por país ................................................................................ 43
Figura 12: Quantidade de documentos por área de estudo ....................................................... 43
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Definições de Indústria 4.0 e tecnologias-chave .................................................... 14


Tabela 2 – Síntese Comparativa Uber e professor não efetivo................................................. 25
Tabela 3 – Tempo que trabalha por aplicativo ......................................................................... 48
Tabela 4– Se o motorista se sente cansado e se o trabalho com aplicativo é a sua única fonte
de renda..................................................................................................................................... 49
Tabela 5 – O quanto estressado o motorista se sente ............................................................... 49
Tabela 6 – Trabalha na Uber porque ficou desempregado ....................................................... 50
Tabela 7 – Flexibilidade do horário de trabalho ....................................................................... 50
Tabela 8 – Percepção de ser um empreendedor ....................................................................... 51
Tabela 9 – Responsabilidade dos custos de manutenção do carro ........................................... 51
Tabela 10 – Sistema de avaliação da Uber ............................................................................... 52
Tabela 11 – Resultado da pergunta 1........................................................................................ 53
Tabela 12 – Resultado da pergunta 2........................................................................................ 54
Tabela 13 – Resultado da pergunta 13...................................................................................... 54
Tabela 14 – Resultado da pergunta 3........................................................................................ 55
Tabela 15 – Resultado da pergunta 4........................................................................................ 55
Tabela 16 – Resultado da pergunta 5........................................................................................ 56
Tabela 17 – Resultado da pergunta 6........................................................................................ 56
Tabela 18 - Resultado da pergunta 7 ........................................................................................ 57
Tabela 19 - Resultado da pergunta 8 ........................................................................................ 58
Tabela 20 - Resultado da pergunta 9 ........................................................................................ 58
Tabela 21 – Resultado da pergunta 10...................................................................................... 59
Tabela 22– Resultado da pergunta 11....................................................................................... 59
Tabela 23 - Resultado da pergunta 12 ...................................................................................... 60
Tabela 24 - Resultado da pergunta 14 ...................................................................................... 60
Tabela 25 - Resultado da pergunta 15 ...................................................................................... 61
Tabela 26 - Resultado da pergunta 16 ...................................................................................... 61
Tabela 27 – Resultado da pergunta 17 e 19 .............................................................................. 61
Tabela 28 – Resultado da pergunta 18 e 20 .............................................................................. 62
Tabela 29 – Resultado da pergunta 17 e 21 .............................................................................. 62
Tabela 30 - Resultado da pergunta 22 e 23 .............................................................................. 63
Tabela 31 – Resultado da pergunta 25 e 24 .............................................................................. 63
Tabela 32 – Resultado da pergunta 26...................................................................................... 64
Tabela 33 – Resultado da pergunta 27...................................................................................... 64
Tabela 34 – Resultado da pergunta 28...................................................................................... 64
Tabela 35 – Resultado da pergunta 29...................................................................................... 65
Tabela 36 – Resultado da pergunta 30...................................................................................... 65
Tabela 37 – Resultado da pergunta 31...................................................................................... 66
Tabela 38 – Resultado da pergunta 32...................................................................................... 67
Tabela 39 – Escala utilizada para análise ................................................................................. 68
Tabela 40 – Estatística de regressão da questão 3 - Estresse.................................................... 71
Tabela 41 – Tabela ANOVA da questão 3 - Estresse............................................................... 71
Tabela 42 – Tabela das questões que impactam na questão 3 – Estresse ................................. 71
Tabela 43 - Conclusões obtidas pela regressão da questão 3 - Estresse ................................... 72
Tabela 44 - Estatística de regressão da questão 4 - Acidentes ................................................. 73
Tabela 45 - Tabela ANOVA da questão 4 - Acidentes ............................................................ 73
Tabela 46 - Tabela das questões que impactam na questão 4 – Acidentes .............................. 73
Tabela 47 - Conclusões obtidas pela regressão da questão 4 – Acidentes ............................... 74
Tabela 48 – Melhorias que o motorista gostaria no trabalho ................................................... 75
Tabela 49 – Maior impacto negativo da pandemia no trabalho dos motoristas ....................... 78
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
2 CONTEXTUALIZAÇÃO ...................................................................................... 13
2.1 UBERIZAÇÃO ........................................................................................................ 13
2.1.1 O processo de Uberização.......................................................................................... 14
2.2 UBERIZAÇÃO E INDÚSTRIA 4.0 ........................................................................ 14
2.2.1 A Indústria 4.0 e a atividade laboral .......................................................................... 20
2.3 UBERIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................... 23
2.4 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ...................................................................... 24
2.5 INÍCIO DA UBER NO BRASIL ............................................................................. 26
2.6 O IMPACTO DA PANDEMIA NO AUMENTO DE TRABALHADORES
CADASTRADOS EM APLICATIVOS .................................................................................. 27
2.7 OPÇÃO AO DESEMPREGO .................................................................................. 28
2.8 REQUISITOS PARA TRABALHAR NA UBER ................................................... 30
2.9 O FALSO EMPREENDEDORISMO ...................................................................... 31
2.10 NOVA FORMA DE CONTROLE ........................................................................... 32
2.11 CUSTO DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ......................... 33
2.12 REFORMA TRABALHISTA .................................................................................. 36
2.12.1 Regulamentação do trabalho uberizado: análise do caso do Reino Unido ................ 37
3 METODOLOGIA................................................................................................... 40
3.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 40
3.2 QUESTIONÁRIO E COLETA DE DADOS ........................................................... 44
3.3 ESTATÍSTICA DESCRITIVA PARA ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO
QUESTIONÁRIO. ................................................................................................................... 45
3.4 REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA PARA ANÁLISE DAS VARIÁVEIS:
PERCEPÇÃO DO MOTORISTA SE SENTIR ESTRESSADO E PERCEPÇÃO DO
ENVOLVIMENTO EM ACIDENTES. ................................................................................... 45
3.5 PESQUISA QUALITATIVA ................................................................................... 46
4 ANÁLISE PRELIMINAR DE DADOS................................................................ 48
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 53
5.1 ESTATÍSTICA DESCRITIVA PARA ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO
QUESTIONÁRIO .................................................................................................................... 53
5.2 REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA PARA ANÁLISE ........................................ 67
5.2.1 Escala utilizada para análise das perguntas ............................................................... 67
5.2.2 Regressão para percepção de “sentir estressado” ...................................................... 71
5.2.3 Regressão para envolvimento em acidentes .............................................................. 73
5.3 PESQUISA QUALITATIVA ................................................................................... 74
6 CONCLUSÃO......................................................................................................... 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 84
APÊNDICE .............................................................................................................................. 90
11

1 INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos trazem mudanças velozes para a sociedade e contribuem de


modo favorável no processo de automação e produção do trabalho, mas por outro lado essas
mesmas transformações podem trazer prejuízos consideráveis para determinados grupos
sociais. Para Kaye-Essien (2020) conforme essas tecnologias avançam e o capital continua
seu curso, surgem novos projetos urbanos neoliberais, que promovem a mobilidade urbana
com o uso de tecnologias como: GPS (Sistema de Posicionamento Global), celular e
aplicativos. As tecnologias da informação e comunicação (TIC‟s) trouxeram novos modos de
prestação de serviços e de consumidor.
Filgueiras e Dutra (2021) afirmam que essas novas modalidades de emprego que se
utilizam de plataformas digitais favorecem o processo de uberização e precarização do
trabalho. Schwab (2016) considera que a utilização da tecnologia é fundamental porque
repercute positivamente no avanço da economia, mas alguns empregos desaparecerão e
surgirão novas atividades laborais. Segundo Antunes (2020), nessa era da Quarta Revolução
Industrial, novas modalidades de trabalho surgirão e esse cenário exigirá que as pessoas
estejam mais preparadas, capacitadas, com mais habilidades, aptas para ocuparem novos
cargos de trabalho que serão oferecidos. Porém o mesmo afirma que em contrapartida a
tendência é avultar a informalidade, a precarização e o desemprego.
No tempo presente as organizações das mais diversificadas áreas fazem o uso de
tecnologias e aplicativos por meio de plataformas digitais que buscam prestar serviços à
sociedade de forma rápida e com menos custos unindo serviço-cliente.
Na uberização do trabalho, as plataformas detêm o controle e gerenciam o trabalho
informal, designando o trabalhador que fica à disposição do aplicativo, executando o serviço
somente quando é solicitado, sem garantias e direitos trabalhistas (ABÍLIO, 2020).
Esse tipo de trabalho leva à precarização e ao falso empreendedorismo, pois o
trabalhador tem menos garantias do que em um trabalho formal, e recebe uma baixa
remuneração, que oscila muito, o que gera insegurança e submissão a longas jornadas de
trabalho para obter renda necessária para seu sustento.
Diante dessa realidade a maioria dos trabalhadores “autônomos” não contribui para a
previdência, e caso sofram um acidente ou apresentem alguma enfermidade que impossibilite
seu retorno ao trabalho, eles não têm como gerar renda, o que afeta diretamente sua
sobrevivência e de seus dependentes. Porém, este trabalho tem sido uma opção de emprego
para pessoas que ficaram desempregadas ou com dificuldade de adentrar no mercado de
12

trabalho. Assim como, sendo uma oportunidade de complementar a renda para trabalhadores
que já possuem algum tipo de emprego.
Segundo Giniyatullin (2019) o trabalho por aplicativo tem se difundido em outros
mercados e setores de trabalho, tais como: educação, medicina, serviços financeiros,
bancários e comércio. Para Kaye-Essien (2020) a propagação de empresas que utilizam o
aplicativo para intermediar motoristas e clientes, a precária regulamentação da atividade, as
condições de trabalho com menos direitos dos motoristas por aplicativo ratificam a relevância
do estudo.
Diante disto, foi realizada uma survey com 80 motoristas da região metropolitana do
Rio de Janeiro, durante a prestação do serviço de transporte, para analisar a opinião dos
motoristas em relação às condições de trabalho. Além de serem realizadas duas questões
abertas sobre melhorias desejadas no trabalho, esta pesquisa buscou também averiguar se o
trabalho uberizado é uma opção ao desemprego.
O estudo proposto é estruturado em mais 5 seções, além desta introdução. Na seção 2
são apresentados os conceitos preliminares, incluindo as definições de alguns termos
utilizados na literatura. Na seção 3 a metodologia utilizada é descrita, na seção 4 é
apresentada a análise preliminar dos resultados, na seção 5 os resultados obtidos, na seção 6 a
conclusão do estudo e ao final está o apêndice com o questionário utilizado na pesquisa.
13

2 CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1 UBERIZAÇÃO

A empresa Uber foi fundada em 2010 em São Francisco nos Estados Unidos (sítio
Uber) e chegou ao Brasil em 2014. Segundo Abílio (2020, p.582) o termo uberização deriva
do nome da empresa Uber, pelo fato da mesma ter se expandido mundialmente e seu formato
transparecer claramente o processo de uberização do trabalho. Giniyatullin (2019) diz que
“uberização” deve-se à empresa Uber Technologies (Uber), que criou um aplicativo de
transporte que gera menos custo e possui mais rapidez. Mesmo antes de surgirem as
plataformas e aplicativos, já havia grande difusão de novas modalidades laborais
(FILGUEIRAS; DUTRA, 2021 p.5).
Para Abílio (2021) a uberização é definida como “novo tipo de controle e
gerenciamento do trabalho associado a um processo de informalização, que leva à
consolidação do trabalhador sob demanda”. Este processo vem se desenvolvendo ao longo
dos anos, e foi aumentando em larga escala mundialmente, devido a crises que geram
desemprego nos países em geral e mais recentemente pela pandemia do Coronavírus, que
desempregou um número considerável de trabalhadores, por conta do isolamento e do receio
de contágio, visto a alta propagação do vírus e elevado índice de óbito.
A opção para os consumidores foi o serviço de delivery, que alguns já utilizavam, mas
que praticamente foi absorvido por grande parte da população, onde as encomendas,
alimentos, produtos farmacêuticos, construção, e outros materiais foram entregues nas
residências, o que mesmo pós-pandemia tornou-se um hábito que ao que tudo indica vai
permanecer.
Outro mercado que já existia, mas desenvolveu-se muito na pandemia foi o estudo
online e o trabalho home-office. Sempre houve cursos on-line, mas com a pandemia aumentou
muito e até hoje o que observamos é uma proliferação de cursos online de todas as áreas,
como na saúde, jardinagem, culinária, educação, tecnológica, dentre outras.
Como consequência observou-se o aumento do trabalho informal, onde o trabalhador
busca suprir suas necessidades básicas, pois não tendo mais um emprego formal, com plano
de saúde, salário justo, e outras vantagens que muitas empresas ofereciam, a opção para
muitos foi buscar o trabalho por aplicativo, que dependendo de quantas horas o motorista
trabalha, pode receber uma remuneração que atenda às suas necessidades e de sua família.
14

2.1.1 O processo de Uberização

A uberização está se ampliando para diversos setores, de acordo com Garcias (2021) o
fenômeno da uberização modifica empresas, tais como: as de transporte, Uber, motorista
privado; assim como a profissão de advogado que é transformada em escritórios de
consultoria e advocacia virtuais. Abílio (2020) afirma que a uberização atualmente transpassa
o mundo do trabalho abrangendo as mais variadas profissões, com forte tendência a se
estabelecer no futuro.
O modelo de negócios de uberização traz benefícios como transação por meio de
plataformas digitais, aumento da quantidade de atividade, variedade de produtos e frequência
de pedidos, padrão de comércio online, observação dos concorrentes (GURINA, 2019). A
análise dos concorrentes permite com que a empresa se prepare melhor e tenha um bom
posicionamento no mercado. Segundo Flonneau (2018), até mesmo a Uber está sofrendo com
o processo de uberização em Paris, com a concorrência de empresas mais "disruptiva", a
chamada Taxify, que desenvolveu uma parceria com o grupo chinês Didi.

2.2 UBERIZAÇÃO E INDÚSTRIA 4.0

A Quarta Revolução Industrial, segundo Giniyatullin (2019, p. 817), surgiu primeiro


na Alemanha, que buscou inovar utilizando alta tecnologia, aplicando recursos em Internet,
com objetivo de melhorias no processo de produção industrial, por meio da informatização e
automação. A China, Coreia do Sul, Estados Unidos e outros países aderiram às mudanças
semelhantes a fim de obter maior produtividade e economia.
A inteligência artificial, o uso de big data e a “gestão por algoritmo” já são uma
realidade no mundo do trabalho (DE STEFANO, 2020, p.24).
As definições da indústria 4.0 e as principais tecnologias utilizadas estão descritas na
tabela 1:

Tabela 1 – Definições de Indústria 4.0 e tecnologias-chave


Autores Definições Principais
tecnologias
A Indústria 4.0 é um conceito abrangente que
Culot et descreve uma revolução industrial em curso Mais de 1000
al. (2020, pág. desencadeada por uma nova onda de inovação tecnologias
2–3) tecnológica (…) A Indústria 4.0 é comumente individuais
entendida como um amplo paradigma sociotécnico.
15

Autores Definições Principais


tecnologias
A característica mais marcante da Indústria 4.0 é
que componentes e máquinas comunicam e
Dachs et coordenam suas operações em fábricas e cadeias de
Sistemas ciberfísicos
al. (2019, pág. valor (globais) (Brennan et al., 2015 , Bauernhansl
(CPS)
6) et al., 2014 ; Kagermann et al., 2013 ; Spath et al . .,
2013 ; OCDE, 2017). Um componente principal da
Indústria 4.0 são os sistemas ciber físicos (CPS).
A Indústria 4.0 é orientada para tecnologias digitais
e virtuais e é centrada em serviços (Drath e Horch,
2014). É impulsionado pelo intercâmbio de dados
em tempo real e manufatura flexível, permitindo a Tecnologias digitais e
de Sousa
produção customizada (Li et al., 2017 ; Thoben et virtuais:
Jabbour et
al., 2017). A Indústria 4.0 pode ser compreendida CPS, IoT, poderia
al. (2018 pág.
por meio de seus componentes fundamentais: fabricar, manufatura
18)
sistemas ciber físicos (Drath e Horch, aditiva
2014 ; Schlechtendahl et al., 2015), a IoT,
manufatura em nuvem e manufatura aditiva (Kang
et al., 2016).
IoT; tecnologias de
localização,
A Indústria 4.0 se concentra na digitalização de
interfaces homem-
ponta a ponta de todos os ativos físicos e na
máquina,
integração em ecossistemas digitais com parceiros
autenticação para
da cadeia de valor. Os quatro principais
Relatório da segurança
desenvolvimentos tecnológicos a seguir podem ser
Comissão cibernética,
distinguidos na Indústria 4.0: (1) digitalização e
Europeia impressão 3D/4D,
integração de cadeias de valor verticais e
(2020 p.12) sensores inteligentes,
horizontais; (2) digitalização de ofertas de produtos
big data, realidade
e serviços; (3) digitalização de processos de
aumentada,
negócios e forma de trabalhar, e (4) digitalização de
computação em
modelos de negócios e acesso de clientes.
nuvem, dispositivos
móveis
A Indústria 4.0 pode ser conceituada como um novo
estágio de maturidade industrial das empresas de
Franck et produtos, baseado na conectividade fornecida pela
Conectividade
al. (2019 pág. IoT industrial, onde os produtos e processos das
IoT
343) empresas são interconectados e integrados para
alcançar maior valor tanto para os clientes quanto
para os processos internos das empresas.
A Indústria 4.0 se concentra na integração de várias
tecnologias que permitem que os ecossistemas
Marnewick e Tecnologias
funcionem de maneira inteligente e autônoma,
Marnewick inteligentes
descentralizando fábricas e integrando produtos-
(2019, p. 942) TIC, IoT, CPS
serviços. A Indústria 4.0 surgiu como resultado
direto dos significativos desenvolvimentos
16

Autores Definições Principais


tecnologias
tecnológicos em tecnologia da informação e
comunicação (TIC), sistemas ciberfísicos e IoT.
Ao integrar sistemas ciberfísicos (CPS) na
CPS, fabricação
Muller et fabricação industrial (Lasi et al., 2014), a Indústria
inteligente,
al. (2018, pág. 4.0 visa estabelecer a criação de valor industrial
conectividade entre
2) inteligente, autorregulado e interconectado (Liao et
empresas
al., 2017).
Fábrica inteligente de
A ideia da Indústria 4.0 é sustentada pelo avanço
TIC, IoT, realidade
das tecnologias de informação e comunicação e
aumentada,
Nascimento et armazenamento de dados. (…) A Indústria 4.0 é
manufatura aditiva,
al. (2019, pág. uma estratégia desenhada para construir um sistema
Big Data,
610) de comunicação entre equipamentos de produção e
computação em
produtos através de uma smart factory conectada
nuvem, simulação,
(CSF).
automação industrial
I 4.0 agora é comumente usado para se referir ao
desenvolvimento de “sistemas ciberfísicos (CPS) e
processos de dados dinâmicos que usam grandes CPS e novas
Strange e quantidades de dados para conduzir máquinas tecnologias
Zucchella inteligentes” (Sirkin et al., 2015). Mais industriais digitais
(2017, p. 174) especificamente, a Indústria 4.0 refere-se ao (IoT, Big Data, robôs,
surgimento e difusão de uma série de novas manufatura aditiva)
tecnologias industriais digitais (Rübmann et al.,
2015).
Fonte: (BOOTZ, 2022, p. 3)

Schwab (2016, p. 26-34) afirma que a indústria 4.0 se destaca pela “velocidade,
amplitude e profundidade e a transformação completa de sistemas inteiros”, ou seja, tudo
ocorre com muita rapidez, muitas transformações ocorrem concomitantemente, e sobrevém
uma mudança total de sistemas. Ainda cita três categorias que impelem a Indústria 4.0: física,
biológica e digital. Na categoria física: impressão em 3D, novos materiais, veículos
autônomos, robótica avançada; na biológica destaca-se a genética; na categoria digital: IoT
(Internet das coisas), sensores dentre outros.
A indústria 4.0 está modificando a economia, as indústrias, os trabalhos que existem,
além de criar novos empregos, logo os profissionais devem ser capazes de se adaptar e
aprender novas tecnologias. Segundo Rüßmann et al. (2015) com esta revolução:
17

Sensores, máquinas, peças de trabalho e sistemas de TI serão conectados ao longo


da cadeia de valor além de uma única empresa. Esses sistemas conectados (também
chamados de sistemas ciberfísicos) podem interagir uns com os outros usando
protocolos padrão baseados na Internet e analisar dados para prever falhas,
configurar-se e adaptar-se às mudanças. A Indústria 4.0 possibilitará a coleta e
análise de dados entre máquinas, permitindo processos mais rápidos, mais flexíveis
e mais eficientes para produzir produtos de alta qualidade a custos reduzidos. Isso,
por sua vez, aumentará a produtividade da manufatura, mudará a economia,
promoverá o crescimento industrial e modificará o perfil da força de trabalho –
alterando em última análise a competitividade de empresas e regiões
(RÜßMANN et al., p.4, 2015).

Na Figura 1 estão os nove pilares da Indústria 4.0 pelo BCG (Boston Consulting
Group), que contribuíram com todo avanço tecnológico e mudanças na forma de produzir,
trabalhar, se relacionar, comercializar e aprender.

Figura 1: Nove Pilares da Indústria 4.0

Fonte: (Rüßmann et al., 2015, p.3)

Os nove pilares tecnológicos da Indústria 4.0 são:


Robôs Autônomos: os robôs já eram utilizados para tarefas complexas, mas se
tornaram mais autônomos, interagindo com outros robôs e com humanos (RÜßMANN et al.
2015).
18

Simulação: As simulações 3D têm se ampliado em vários ambientes de trabalho. Por


exemplo, na engenharia, simulações 3D de produtos, materiais e processos de produção já são
utilizadas. Estas simulações auxiliam a retratar o mundo real em um modelo virtual, podendo
auxiliar em processos de aprendizagem, configuração de máquinas, dentre outros
(RÜßMANN et al. 2015).
Integração de Sistemas: Rüßmann et al. (2015) expressa que empresas, fornecedores e
clientes dificilmente estão estreitamente conectados, assim como, as áreas da engenharia,
produção e serviços, e destaca que a indústria 4.0 auxiliará na agregação de dados.
Cibersegurança: Com a Indústria 4.0 as pessoas utilizam mais as tecnologias e estão
conectadas para realização de atividades laborais, compras online, entretenimento, logo
conforme Rüßmann et al. (2015) é necessária a segurança cibernética para proteger programas
e processos industriais contra ameaças virtuais, hackers e garantir a segurança da informação.
Computação na Nuvem: Permite um maior armazenamento e compartilhamento de
dados. Com o uso das tecnologias digitais, os softwares baseados em nuvem estão
aumentando (RÜßMANN et al. 2015).
Manufatura Aditiva: é o uso da impressão 3D, para projetar e fabricar peças
peculiares, com configurações complicadas e economia de materiais. Possibilita a redução dos
custos de produção, sendo utilizada por indústrias, como na produção de aeronaves com
designs que minimizam os custos com titânio (RÜßMANN et al. 2015).
Esta manufatura transforma modelos digitais tridimensionais em mercadorias reais.
Coloca ininterruptas camadas de produto, tais como: plástico, metal, células ou cerâmica
(SESI, 2020).
Realidade Aumentada: oferece serviços, como escolha de peças e instrução de
conserto por aparelhos móveis. No ambiente virtual, os operadores são treinados para
emergências, operar processos e equipamentos e tomar decisão (RÜßMANN et al. 2015).
Big data & Analytics: Segundo Rüßmann et al. (2015), esta tecnologia permite uma
coleta e análise de uma grande quantidade de dados com maior agilidade, auxiliando no
processo de tomada de decisão em tempo real. Na manufatura, estas análises auxiliam na
melhoria da qualidade da produção, economia de energia e melhora o desempenho do
equipamento. Por exemplo: podem ser observadas falhas em uma fase do processo com maior
facilidade, permitindo que estas falhas sejam corrigidas para aumentar a qualidade na
produção.
Internet das Coisas: Os dados e informações dos instrumentos de campo ficam em
rede e são enviados para um controlador central. Este controlador tem uma melhor capacidade
19

de processamento, isto permite que a tomada de decisão seja descentralizada e as decisões


sejam feitas em tempo real (RÜßMANN et al. 2015). Conforme Babar e Arif (2019, p. 4167),
dispositivos inteligentes que têm o potencial de detectar os objetos físicos do mundo real,
coletar os dados e interagir com outras pessoas são referidos como “coisas”. Estes
dispositivos são conectados através da internet, que cria a terminologia de Internet das Coisas
(IoT).
Segundo Kavitha e Ravikumar (2021, p.7417), a internet das coisas permite que coisas
comuns fiquem mais “inteligentes” e tenham um controle automatizado (carros autônomos,
casas e cidades mais inteligentes). Os veículos autônomos tornaram-se realidade com o
advento da Internet das coisas (IoT) e tecnologias de computação em nuvem. Outra aplicação
da internet das coisas é em transporte inteligente onde são utilizados dispositivos e sensores
no controle do sistema de veículo, tendo como exemplo: sistema de navegação de carros,
sistema de monitoramento de velocidade, dentre outros.
Os carros estão mais aprimorados, com o uso de tecnologias IoT (internet das coisas),
sensores são instalados em partes do carro, como: volante e rodas para monitorar motoristas e
atuar nos veículos de forma a prevenir acidentes (SUBHAN, 2022).
Entre as funcionalidades: mede o piscar dos olhos, as mãos ao volante, identifica
direção perigosa, verifica o álcool consumido, usa toques para alertar, solicita que o carro pare
ou dirija pelo piloto automático, só permite a ignição se estiver conforme (SUBHAN, 2022).
O uso da internet das coisas nos veículos permitem maior segurança para os
motoristas, previne acidentes de trânsito, maior praticidade e conforto para passageiros.
A utilização da Big Data também é importante, pois permite extrair informações
valiosas dos dados gerados por vários objetos implantados no ambiente de transporte
inteligente, permitindo que grandes quantidades de dados sejam processadas em tempo real
(BABAR E ARIF, 2019, p. 4168).
Pulletti (2019) menciona que a grande quantidade de dados que a plataforma
tecnológica coleta e analisa por meio dos fundamentos da internet, melhora o seu programa, e
permite desenvolver sistemas para carros que dirigem sozinhos.
Segundo Khan (2016, p.128), a Uber tem realizado estudos com carros sem motoristas
visando aumentar sua lucratividade. Assim, não será mais necessário o serviço dos motoristas
cadastrados.
20

2.2.1 A Indústria 4.0 e a atividade laboral

O estudo realizado em 2020 pelo SESI-PR do Departamento Regional do Paraná sobre


as habilidades técnicas e comportamentais requeridas para o profissional atuar na Indústria
4.0, cujas fábricas demandam profissionais qualificados aponta que eles devem possuir hard
skills que são aprendidas na formação técnica, e as soft skills, que são aptidões
sociocomportamentais.
O aprendizado deve ser constante, porque monitorarão os processos que são inovados;
trabalharão em grupos de trabalho variados e com diferentes dados digitais.
Dentre as 30 habilidades para a indústria 4.0 na literatura, as cinco primeiras
classificações são: (i) Comunicação, (ii) Mentalidade digital, (iii) Gestão, (iv) Resolução de
problemas e (v) Programação (SESI-PR, 2020).
Conforme o estudo do SESI-PR (2020) com base na bibliografia especializada no
assunto identificou-se as 5 habilidades técnicas, sociocomportamentais, e de gestão mais
citadas:

As habilidades nucleares técnicas mais frequentes são: (i) Programação, (ii) Análise
de dados, (iii) Processamento de dados, (iv) Análise da segurança e (v) Manutenção
e reparo. As habilidades nucleares sociocomportamentais mais frequentes são: (i)
Comunicação, (ii) Mentalidade digital, (iii) Resolução de problemas (iv) Trabalho
em equipe e (v) Pensamento crítico. As habilidades nucleares de gestão mais
frequentes são: (i) Gestão; (ii) Gestão de pessoas, (iii) Gestão de projetos, (iv)
Gestão de recursos e (v) Gestão da inovação (SESI-PR, 2020, p.91).

Verifica-se que as habilidades necessárias para o profissional atuar na indústria 4.0 são
muitas e diversificadas, além de ser um profissional que esteja em contínuo aprendizado,
disposto a se adaptar e se desenvolver na área técnica, sociocomportamental e de gestão.
Sendo um colaborador completo que entenda os processos, equipamentos e que saiba
trabalhar em equipe, com relacionamento interpessoal.
Schwab (2016) questiona se no processo de economia no qual o trabalho é realizado
mediante solicitação, se é melhor ter uma plataforma ou o ativo objeto, visto o fornecedor
muitas vezes não ter o bem que comercializa, mas liga o vendedor ao cliente, como Uber,
Airbnb, Alibaba e outros. As plataformas digitais proliferam num ritmo acelerado, e prestam
os mais diversificados tipos de serviços como transporte, domésticos, moradia, compras
dentre outros, sempre com preços mais convidativos, produtos diversos e viabiliza a interação
entre vendedor e cliente, com retorno sobre a opinião do comprador sobre o produto ofertado.
Os profissionais que prestam serviços sem vínculos empregatícios, são colaboradores
autônomos que fazem serviços específicos, também nomeada de economia sob demanda.
21

Provavelmente com as mudanças que a indústria 4.0 traz, pessoas mais qualificadas e
capazes de se adaptarem permanecerão empregadas, tarefas rotineiras serão automatizadas, e
a empresa poderá monitorar as atividades laborais (DE STEFANO, 2020, p.24).
O uso da tecnologia pode permitir a redução de custos para os usuários. Por exemplo,
o uso de inteligência artificial e tecnologia em nuvem na área de saúde poderá cada vez mais
melhorar o diagnóstico médico por aplicativo. Conforme a tecnologia avança, a
recomendação de um plano de tratamento poderá ser feita remotamente, não sendo necessária
uma visita dispendiosa à clínica ou hospital, permitindo que mais pessoas tenham acesso ao
sistema de saúde devido à redução de gastos. Porém, a legislação regulamentar médica pode
atrapalhar esta transformação digital na medicina. E, além disso, o avanço desta ferramenta
pode aumentar o nível de desemprego entre os profissionais de saúde (KHAN, 2016, p.125-
127).
Um outro exemplo de que o avanço tecnológico pode gerar um aumento do
desemprego devido a automatização de processos é o desenvolvimento de carros sem
motoristas.
A tecnologia também permitiu maior flexibilidade ao trabalho, atualmente muitas
tarefas podem ser feitas remotamente. Segundo Nerinckx (2016, p. 247), as novas formas de
emprego permitem uma maior flexibilidade sendo que esta característica nos trabalhos tem
sido mais demandada pelos empregadores, empregados ou ambos. As pessoas ficam
conectadas ao trabalho através de seus celulares ou aparelhos que têm tecnologia para
trabalhar remotamente, sendo que em muitos trabalhos, o empregado decide o horário de
iniciar e finalizar seu trabalho.
A indústria 4.0 modifica as atividades laborais, e diante disso é necessária a
regulamentação das profissões para que o direito a vida, saúde, dignidade da pessoa humana
sejam respeitados, com condições de trabalho que favoreçam a ética, uma sociedade livre,
justa e solidária. Conforme expressa De Stefano (2020, p.25):

A regulação é também fundamental para determinar como a automação e a


introdução de novas tecnologias terão impacto na qualidade dos postos de trabalho
que serão afetados por elas, não se concentrando apenas em sua quantidade. A
legislação laboral e a negociação coletiva devem desempenhar um papel muito mais
central para que esses fenômenos ocorram de uma forma que respeite a dignidade
humana e os direitos fundamentais dos trabalhadores – contudo, esses aspectos ainda
estão pouco estudados no vasto debate sobre a automação e o futuro do trabalho (DE
STEFANO, 2020, p.25).
22

O uso de plataformas digitais está presente nas escolas e é implementado através da


uberização, que propõe o teletrabalho, e exige que o professor lecione com essas tecnologias,
gerando certo desconforto para esses profissionais (PARDO BALDOVÍ, 2020).
Para Gurina (2019) o modelo de uberização empresarial impele que a empresa utilize
tecnologias de informação, crie sua própria plataforma e aplicativo móvel para se relacionar
com os contratados, compradores, vendedores, e amplie seus negócios.
Gurina (2019) acredita que as tecnologias digitais e o modelo de uberização
possibilitam que as empresas utilizem práticas de gestão inovadoras.
Nessa era um dos incentivadores da mudança é a economia compartilhada que de
acordo com Botsman (2011) está organizada em três sistemas: sistemas de serviços de
produtos, mercados de redistribuição e estilos de vida colaborativos. A uberização faz parte
desse sistema de economia compartilhada.
A Uber tem relação com a “economia do compartilhamento” em que as plataformas
digitais intermediam a oferta e a demanda entre consumidores e entre empresas, por meio de
um aplicativo ou site (WENTRUP, 2018).
Entretanto, Godelnik (2014) acredita que a Uber não deveria fazer parte da economia
compartilhada, que é compartilhar bens subutilizados buscando um mundo sustentável e
humanizado, e não apenas maximizar o lucro ignorando valores éticos.
A uberização do policiamento concerne no uso de smartphones e algoritmos para
orientar geograficamente e realizar tarefas de patrulhas policiais, havendo gamificação, que é
a premiação para incentivar a implementação da tecnologia (SANDHU, FUSSEY, 2021).
As empresas tecnológicas que intermediam oferta e demanda são um tipo de regulador
do mercado que definem o valor e a variação do trabalho, possuem ferramentas de avaliação e
controle da produtividade que não possuem regras claras (ABÍLIO, 2021).
As condições e relações de trabalho no Brasil e no mundo estão sendo alteradas por
estas tecnologias que modificam a forma de produção e negociação. Isto dificulta o Direito do
Trabalho e sindicatos a regularem este conjunto de profissões devido às transformações
constantes nas tarefas e a possibilidade de não existirem no futuro (COUTINHO, 2021).
O desempenho no trabalho dos humanos é avaliado por algoritmos através da
inteligência artificial que possui critérios transparentes e negociáveis para evitar a
discriminação (DE STEFANO, 2020, p.51). É o homem que toma a decisão de modificá-los
ou não, sempre divulgando para força de trabalho.
A quarta revolução industrial pode intensificar a desigualdade social, tendo em vista
que a pessoa deve se atualizar continuamente. E, o acesso às novas tecnologias e a
23

treinamentos podem ser um empecilho para algumas pessoas se desenvolverem


profissionalmente.
A carreira volátil e a constante necessidade de adaptação podem causar estresse e
doenças mentais nas pessoas. Harari (2018) acredita que uma parte da população poderá não
contribuir com o seu trabalho, não somente devido à falta de emprego, acesso à educação,
mas também pela falta de saúde mental.

2.3 UBERIZAÇÃO DO TRABALHO

David (2016) e Giniyatullin (2019) relatam que o termo “uberização” tem origem com
a empresa americana Uber que difundiu pelo mundo o uso de carros de passeio, para
transportar passageiros por um preço mais em conta, através do aplicativo que conecta cliente
e motorista mais rápido do que os táxis tradicionais.
O uso da tecnologia viabiliza o relacionamento direto entre cliente e empresa ou
prestador de serviço, reduz os intermediários, facilitando a busca, escolha, solicitação, entrega
e pagamento.
Para Moreira (2021, p.130) a uberização é quando o processo é intermediado por
aplicativos, reduz o ganho e aumenta o tempo de trabalho do trabalhador; sendo que
maximiza o lucro da empresa que administra o aplicativo.
No estudo de caso em Gana, país da África Ocidental, o autor Kaye-Essien (2020) diz
que a uberização no setor de transporte urbano é um modo de governar neoliberal, onde o
Estado deixa de intervir para garantir a perenidade da cidadania, a Uber cria as regras, e os
motoristas se iludem em ser seu próprio chefe.
Coutinho (2021, p. 161) supõe que a origem do assalariado capitalista parece com o
trabalhador digital do século XXI devido a alarmante desigualdade social, exaustiva jornada,
e ao Estado que não regula a atividade sob justificativas neoliberais.
A Uberização para Abílio (2020) é o método onde o profissional sem vínculo não
possui direitos, garantias e proteções adquirindo riscos e custos da atividade.
Para David (2016) é a cooperação entre consumidores (solicitantes do serviço) e
provedores usando uma plataforma de compartilhamento. No setor de transporte a plataforma
localiza um motorista que está próximo ao cliente.
Para Abílio (2019) a uberização do trabalho é definida como uma inovação no modo
de administrar, sistematizar e supervisionar o trabalho, e que se entende como uma ação em
expansão que perpassa mundialmente o universo do trabalho.
24

Segundo Antunes (2020) a uberização é definida como um procedimento onde as


interações laborais são gradativamente imperceptíveis e singularizadas, e se configura como
uma “prestação de serviços” que exclui os vínculos entre empregador e empregado.
Abílio (2020) afirma que a uberização é processo que vem paulatinamente crescendo
no mundo e identifica o trabalhador como trabalhador independente, autogerente, que na
realidade é um autogerente submisso, com perdas das garantias de seus direitos trabalhistas,
designado como trabalhador just-in-time, sob demanda. As organizações se definem como
articuladoras entre cliente e trabalhador, mas na realidade atuam com novas formas de
supervisão e sujeição ao comando algorítmico do trabalho, desconsiderando vínculos
empregatícios.
O termo just-in-time para Abílio (2020) é definido como desvalorização do
trabalhador, que trabalha com uma carga horária extensa, está sempre à disposição do
aplicativo, com redução de custos e riscos para o empregador, visto que os mesmos são
atribuídos ao trabalhador.
Segundo Abílio (2020) o trabalhador é responsável por todos os gastos e riscos, não
tem garantias, é identificado como autônomo, que trabalha por conta própria,
individualmente, e designado como prestador de serviços. A empresa não reconhece as
relações de vínculo com o trabalhador e denomina-o como parceiro, mas sujeita o trabalhador
a um aplicativo, que informa o local, a hora, o cliente e a atividade que será exercida, no caso
transporte, subordinando o trabalhador ao mesmo.
Para Wentrup (2018) a plataforma tecnológica da Uber monitora os motoristas, que
são constantemente avaliados, isto ocasiona certa ansiedade nos trabalhadores, pois podem ser
desconectados caso não cumpram determinadas regras.

2.4 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

Para Filgueiras e Dutra (2021), a uberização arquiteta a precarização do trabalho,


enfatiza sua divisão, representa o capital que limita o combate à exploração, potencializa a
mercadorização do trabalho, e trata a mão-de-obra como descartável.
Wentrup (2018) constatou que a Uber por meio do controle reduz sua desconfiança,
mas que a enganosa autonomia do trabalhador desligar o aplicativo quando deseja, possibilita
que a plataforma digital minimize paulatinamente seu comprometimento com o motorista.
As plataformas digitais desprezam o relacionamento humano, contam com o controle
tecnológico e não com a confiança humana (WENTRUP, 2018).
25

Teodoro (2017) relata que a Uber possui uma tecnologia revolucionária, entretanto
para cumular capital age de forma capitalista cobra uma “taxa de serviço” sobre o valor de
cada corrida, diminuindo ao máximo o ganho dos motoristas.
Para Puletti (2019) a economia de plataforma sob demanda incentiva os motoristas a
serem autônomos, sendo responsáveis pelos custos, no entanto não conhecem as regras do
algoritmo para punição e cobrança das tarifas, assim sendo não possuem direitos trabalhistas.
Verifica-se que o longo período que fica sentado em trânsito, pode causar dores
musculares, estresse, acidentes de trabalho e desentendimentos familiares pela ausência
(PULETTI, 2019).
O trabalho informal contribui com a desregulamentação do mercado, como os
professores não efetivos, que se cadastram nas escolas sem utilizar aplicativo, possuem menos
direitos do que os efetivos e autodefinem a sua carga horária (VENCO, 2019, p.7).
Na Tabela 2 verifica-se a comparação entre o motorista da Uber e o professor não
efetivo, ambos não possuem horário de trabalho definido, logo devem estar disponíveis e são
avaliados constantemente, os motoristas pelos aplicativos e clientes através da pontuação de 0
a 5 estrelas, e os professores pela apreciação do aprendizado dos discentes. O que difere é que
o motorista ainda paga aproximadamente 25% do valor recebido de cada viagem para a
empresa que gerencia o aplicativo, não possuem direitos do trabalho, são profissionais não
certificados.

Tabela 2 – Síntese Comparativa Uber e professor não efetivo

Fonte: (VENCO, 2019, p.8)

Como a concorrência é grande, estes trabalhadores utilizam estratégias para transpor


concorrentes, por exemplo, os motoristas por aplicativo: carro limpo, com balas e
cordialidade, já os professores não efetivos buscam atender a demanda, ensinar qualquer
disciplina, ter domínio da classe (VENCO, 2019, p.7).
26

Para Abílio et. al (2021) o termo gig economy tem sido utilizado para descrever a
participação do trabalho por meio de plataformas na economia brasileira, sendo traduzido por
“economia dos bicos”, expressão essa que descreve de forma problemática uma realidade já
vivenciada pelos trabalhadores da periferia.
A classe trabalhadora da periferia do Brasil já se submetia ao trabalho de bicos, ou
seja, quando tinham demanda de trabalho e efetivamente executavam alguma atividade
laboral estes recebiam, mas não tinham direitos e nem possuíam vínculo empregatício com o
empregador, tais como: faxineira, pedreiro, cabeleireira, entre outros.

2.5 INÍCIO DA UBER NO BRASIL

A empresa americana Uber Technologies (Uber) desenvolveu um aplicativo móvel


para chamar táxi muito mais rápido e barato do que a forma tradicional. Iniciando assim a
economia da partilha, com o crescimento do uso da tecnologia para intermediar a prestação do
serviço foi criado o termo uberização, uma derivação do nome da empresa Uber
(GINIYATULLIN, 2019).
Segundo o site da UberNewsroom, no Brasil, a Uber chegou em 2014, no Rio de
Janeiro e, depois, em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Pelos dados estão em mais de 500
cidades do Brasil, incluindo as capitais e principais regiões metropolitanas. A empresa tem
por objetivo oferecer por meio da plataforma, os serviços de mobilidade e delivery para todos
os usuários. Para os trabalhadores que dirigem ou entregam por meio da plataforma, a Uber é
uma forma de gerar renda, podendo ser ativada de modo fácil e bem flexível. De acordo com
vários estudos, a chegada da Uber criou uma inovação no modelo de gerenciamento
empresarial no Brasil, impactando tanto a mobilidade das cidades quanto o mercado de
trabalho. No Brasil, de acordo com os dados, foram repassados cerca de 68 bilhões de reais
aos parceiros de 2014 a 2020.
De acordo com o relatório publicado pela Public First (2022) sobre o impacto da Uber
no Brasil, a Uber é uma plataforma de tecnologia que intermedia serviços de mobilidade e de
entrega, através de motoristas e entregadores parceiros. No Brasil de 2014 até 2021 a
empresa: intermediou mais de 6,7 bilhões de viagens e entregas, transferiu aproximadamente
76 bilhões de reais aos motoristas e entregadores, pagou 4,9 bilhões em impostos, e possui
mais do que 30 milhões de usuários.
Auxilia na renda e horário flexível para os parceiros, proporciona segurança e
economia de tempo aos usuários, seja para chegar ao transporte público e se movimentar pela
27

cidade durante a noite, evitando a direção após o uso de bebidas alcoólicas, manteve a
economia em movimento durante a pandemia da Covid-19.
Entretanto, a Uber defende a desregulamentação do táxi, e no Brasil existe o Projeto
de Lei PL128/2022 que dispensa o uso do taxímetro para que o preço seja determinado por
aplicativos ou plataformas digitais.
A empresa Uber afirma que gera muitos empregos e que a desregulamentação do táxi
poderia promover mais empregos. Porém, esta geração de emprego pode ser comprometida
com a criação de carros sem motoristas. Este modelo já tem sido testado pela Google, e a
Uber também passou a realizar pesquisas de carros sem motoristas. Com a
desregulamentação, a empresa poderá colocar estes carros nas estradas e aumentar sua
lucratividade (KHAN, 2016, p. 167).

2.6 O IMPACTO DA PANDEMIA NO AUMENTO DE TRABALHADORES


CADASTRADOS EM APLICATIVOS

A pandemia trouxe perdas humanas irreparáveis para inúmeras famílias. De modo


geral a sociedade ainda se deparou com o aumento do desemprego, que já vinha ocorrendo,
mais o aumento dos preços nos materiais de consumo dentre outros, e o isolamento social que
acentuou sobremodo esse quadro, levando muitos trabalhadores a buscar alternativas para
sobreviver através do trabalho informal.
Segundo Antunes (2020, p.20), o Brasil já enfrentava uma fase de crise econômica,
social e política quando a pandemia nos atingiu. Em contrapartida, o discurso empresarial que
se expandia no universo informacional-digital era: platform economy, crowdsourcing, gig
economy, home office, home work, sharing economy, on-demand economy, entre outras
denominações (ANTUNES, 2020, p.19).
As empresas que buscam reduzir os custos e o prazo aderiram ao conceito
crowdsourcing que é a junção de crowd, que significa multidão, e outsourcing, que é
terceirização. Pelo Sebrae (2014), crowdsourcing é o processo de delegar um trabalho,
normalmente realizado por um funcionário da empresa, para um grande e indefinido grupo de
pessoas, através de uma chamada pública pela internet.
Com a pandemia do Coronavírus o que já vinha em crise, só piorou. Com o
isolamento social, sem clientes, vários estabelecimentos comerciais como lojas, restaurantes,
dentre outros, e indústrias fecharam. O transporte diminuiu, e também os trabalhadores
autônomos foram prejudicados. O desemprego aumentou muito e com isso a informalidade
também, assim houve perdas para o trabalhador de direito social e do trabalho. O trabalho
28

home office e o teletrabalho foram ampliados, o ensino a distância, as compras pela internet, o
serviço de delivery.
Nesse contexto, houve um aumento no número de trabalhadores uberizados, em busca
de manter sua sobrevivência.
Pode-se verificar que o trabalho por plataformas está sendo um grande empregador no
Brasil, que as pessoas utilizam devido à facilidade de acesso, para pagarem as contas e
manterem suas famílias.

2.7 OPÇÃO AO DESEMPREGO

Segundo Giniyatullin (2019) verifica-se dificuldades na regulamentação das atividades


relativas aos serviços de transporte face as inovações nas formas de trabalho que se
apresentam nesta área. Por ser uma modalidade de serviço de baixo investimento, o
ridesourcing, ou seja, transporte individual de passageiros por meio de aplicativos favorece o
acesso para muitos indivíduos que buscam uma oportunidade de emprego.
Segundo Abílio (2020) o trabalho uberizado se desenvolveu ao longo dos anos, em
época anterior à empresa Uber. Esta forma de trabalho foi intensificada no período do
enfrentamento à pandemia do Coronavírus no período de 2020/2021, que afetou não somente
o Brasil, mas no geral a toda população mundial.
Observa-se pela Figura 2 que o índice de desemprego no Brasil no período entre 1980
a 1990 era muito baixo, tendo uma média de 5% entre 1981 e 1994. Mas entre 1995 e 2014
houve um considerável aumento na média pontuada em 9,3%. O desemprego se agravou
devido à crise econômica que veio em seguida tendo média de 11,4% entre 2014/2019,
segundo FGV com base em dados do IBGE.
29

Figura 2: Evolução histórica da taxa de desemprego no Brasil

Fonte: (CONCEIÇÃO, 2021)

Com a pandemia, entre fevereiro e julho de 2020 houve uma queda acentuada na
população ocupada, sendo maior entre os trabalhadores informais, as pessoas menos
instruídas foram as mais penalizadas.
Segundo (Kyrou, 2015), o sucesso da Uber se deve não apenas a sua plataforma
tecnológica, mas também ao “senso comum popular” de experiências vivenciadas com
taxistas, como por exemplo, o serviço mal-humorado, a falta de taxista em determinado local
ou horário, dentre outros. A Uber se compromete a fazer qualquer entrega, permitindo assim
ter uma maior disponibilidade ao cliente: entregas para comerciantes (UberRUSH ), refeições
( UberEats ). Outro fato que segundo este autor, representa um sucesso para a Uber é o cliente
já saber o preço antes de terminar a corrida, logo não ficando sujeito a alteração devido a
engarrafamentos imprevistos. Além disso, o UberPop também possibilitou o maior acesso ao
“serviço de táxi” a pessoas com menor renda (KYROU, 2015).
Porém, também é visto que a Uber apresenta condições mais precárias de trabalho, os
trabalhadores não têm seguro saúde, férias pagas, dentre outros benefícios. Apesar das
condições precárias de trabalho, muitas pessoas aderem ao sistema da Uber como uma opção
ao desemprego. Os trabalhadores trocam uma situação pior (desemprego), por uma menos
pior (trabalho precário) (KYROU, 2015).
30

2.8 REQUISITOS PARA TRABALHAR NA UBER

O cadastro em aplicativos para a prestação de serviços é uma das opções mais rápidas
para conseguir um emprego. Os aplicativos geralmente não exigem muita especialização dos
trabalhadores, por exemplo, o site da Uber informa que para se tornar um motorista do
aplicativo são necessários:
1) Cadastrar-se e enviar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação)
2) Enviar seu CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo) e baixar o
aplicativo
3) Também é exigido alguns requisitos para o veículo, sendo que o motorista pode utilizar um
carro alugado
Conforme o trecho abaixo de Abílio (2019), o nível de regulação deste trabalho é
muito inferior se comparado a outros trabalhadores de transporte de passageiros, por exemplo:
taxista

O motorista da Uber, por exemplo, não tem uma identidade profissional como a do
taxista, que passou por certificações públicas que lhe conferem o estatuto de taxista.
O motorista da Uber é um trabalhador amador que aderiu a uma atividade informal,
sem regulamentações, à qual praticamente qualquer um pode aderir; não há licenças
limitadas, não há determinação sobre o tamanho do contingente de trabalhadores. A
qualidade de seu trabalho será certificada pelo mundo das avaliações; seu
reconhecimento profissional, se é que se pode denominá-lo assim, virá
informalmente de seu sucesso em permanecer naquela atividade ao longo do tempo
e de seus ranqueamentos (ABÍLIO, 2019, p. 4).

Segundo Khan (2016, p.128), a questão da regulamentação foi um obstáculo para a


Uber, que tem feito lobby com sucesso para conseguir o relaxamento da legislação de
licenciamento para serviços de táxi. Uma das conquistas da Uber foi a eliminação da taxa da
licença que os taxistas pagam. Este fato é outro questionamento feito pelos taxistas, pois eles
muitas vezes se endividaram para pagar a licença caríssima, e os trabalhadores da Uber não
têm este custo para exercer seu trabalho (KYROU, 2015). Basicamente para exercer o
trabalho na Uber é exigido apenas a carteira de motorista e um carro, mesmo que seja
alugado.
Pode-se observar que devido à menor exigência de requisitos profissionais, os
trabalhos em aplicativos foi uma opção de emprego utilizada durante a crise.
31

2.9 O FALSO EMPREENDEDORISMO

Geralmente o aumento do trabalho autônomo é comemorado por políticos e


economistas neoclássicos. O trabalhador autônomo tem a oportunidade de melhorar seu
capital humano, não possuindo patrões, logo eles podem obter todos os benefícios gerados por
seu trabalho. Além disso, os profissionais possuem maior liberdade podendo decidir como e
quando trabalhar, pois são seus próprios chefes (FLEMING, 2017, p. 691).
Porém, estes benefícios do trabalhador autônomo pode ser ilusório, e na verdade piorar
as condições de trabalho. Em Fleming (2017, p. 692) é relatado o caso de uma empresa aérea
em que 70% dos pilotos eram autônomos. Os empregados estavam reclamando das condições
de trabalho. Uma das reivindicações era que eles só receberiam se trabalhassem, mesmo se
estivessem cansados ou doentes. Esta condição poderia trazer certo risco para os passageiros.
Além disso, também foi mencionada a transferência de custos para o trabalhador, os
empregados eram responsáveis pelos custos de uniformes, hotéis de escala, e outras despesas.
Estes trabalhadores também não tinham direito ao seguro médico ou pensões da empresa
como funcionários normais. Os trabalhadores pretendiam melhorar as condições de trabalho
através de uma petição. Porém, a administração da companhia aérea respondeu de forma
contundente: “qualquer piloto que participar desta chamada petição de segurança será culpado
de má conduta grave e será passível de demissão”. Através deste exemplo, percebe-se que o
trabalho autônomo enfraquece o movimento sindical e piora as condições de trabalho.
Resultando no que o autor chamou de responsabilidade radical, pois o empregado fica
sendo exclusivamente responsável por todos os benefícios e custos relativos ao trabalho
(FLEMING, 2017, p. 691).
Uma propaganda que atrai os motoristas de aplicativo é seja um “empreendedor” e
“seu próprio chefe”, que segundo Abílio (2019) o termo “empreendedorismo passa a ser
autogerenciamento subordinado”, mesmo sendo um trabalhador autônomo, que faz seu
horário, e trabalha com seu próprio carro, o motorista é gerenciado pelo algoritmo de um
aplicativo que indica o cliente e determina o valor da corrida.
Apesar de ser denominado “empreendedor” o motorista é controlado pela plataforma
que gerencia as corridas e o valor que ele vai receber, sendo que o maior lucro é da empresa
proprietária do aplicativo.
Além disso, assume todos os riscos e despesas no seu trabalho Abílio (2019) como
segurança, combustível, desgaste do carro, saúde, acidente, longa jornada de trabalho para
32

obter melhor renda, corre também o risco de ser bloqueado pelo aplicativo se houver alguma
reclamação, ainda que infundada.
O motorista, dependendo do local do usuário, pode recusar a corrida, por motivo de
sua própria segurança e dos usuários, mas se isso for feito frequentemente, ele não receberá
mais chamadas. Ele é subordinado à plataforma, mesmo que o carro seja próprio, que faça seu
horário, que recuse corridas, o aplicativo encontra mais passageiros. Eles afirmam que a Uber
é a que possui mais usuários, sendo melhor para trabalhar, e evitar a ociosidade.
De acordo com Abílio (2019) o falso empreendedorismo é assumir riscos da própria
atividade, transferindo a questão social do desemprego para uma responsabilização da pessoa
por sua sobrevivência em um cenário de precariedade.
A lógica da uberização favorece a desregulamentação e a precariedade do trabalho,
questiona-se a autodefinição da jornada de trabalho e o ganho financeiro para os profissionais
uberizados, que lutam pela sobrevivência (CARVALHO et al., 2021).
Segundo Kaye-Essien (2020) a utopia de ser seu próprio chefe leva os motoristas da
Uber a um ciclo interminável de “escravidão” do trabalho vigente, sem serem amparados pelo
Estado e pelo sindicato.
Kaye-Essien (2020) relata que um dos motoristas acredita que a Uber é quem é o chefe
do negócio, pois é a empresa de transporte por aplicativo que possui maior quantidade de
usuários.
Puletti (2019) conta que um dos motoristas questiona a autonomia e possibilidade de
ascensão social, pois o salário é baixo, é controlado pelo aplicativo, avaliado por clientes e
roda no início da manhã e após as 18h quando a procura é maior.

2.10 NOVA FORMA DE CONTROLE

Novas formas de controle têm surgido com o processo da uberização, sendo que o
aplicativo determina o serviço e o valor a ser pago, conforme pode ser visto no trecho abaixo:

Por meio da definição de gerenciamento algorítmico defende-se aqui que a empresa-


aplicativo em realidade é muito mais do que uma mediadora; a questão é que a
subordinação e o controle sobre o trabalho são mais difíceis de reconhecer e mapear.
Elementos centrais para tal reconhecimento: i) é a empresa que define para o
consumidor o valor do serviço que o trabalhador oferece, assim como quanto o
trabalhador recebe e, não menos importante, ii) a empresa detém total controle sobre
a distribuição do trabalho, assim como sobre a determinação e utilização das regras
que definem essa distribuição (ABÍLIO, 2019, p. 3).

Outra forma de controle é o processo de avaliação em que as melhores corridas são


direcionadas para os trabalhadores que possuem uma melhor avaliação (ABÍLIO, 2019, p. 3).
33

As avaliações realizadas pelos usuários também são dados que alimentam o controle
e o gerenciamento do processo de trabalho. Possibilitam um ranqueamento dos
trabalhadores, elemento que será utilizado como critério automatizado na
distribuição do trabalho e em determinações da remuneração (ABÍLIO, 2019, p. 3).

As plataformas de trabalho da gig economy apenas intermediam a relação prestador-


cliente, sendo que os gastos para realização do trabalho ficam sob a responsabilidade do
prestador. Por exemplo, no caso dos aplicativos de transporte, o trabalhador é o responsável
pela compra ou aluguel de um carro e os custos de combustível. Além dos custos de
manutenção ou seguro, caso seja necessário (SUNDARARAJAN, 2015).
Os algoritmos é que “orientam” o serviço: indicando qual trabalhador irá fazer o
serviço, o local e horário a ser realizado. Além da avaliação do serviço e o pagamento ser
feito tudo através do aplicativo (REICH, 2015).
Outro fato é que estes trabalhadores não têm tanta garantia para o futuro, pois não
sabem o quanto irão receber nos próximos meses em comparação a um emprego formal que o
profissional tem a garantia de um “salário regular”. Outra preocupação desses trabalhadores é
de saber quantas horas terão que trabalhar para conseguir o salário esperado (REICH, 2015).
As pessoas concorrem por emprego pela internet e recebem pelo trabalho executado, e
os trabalhadores não possuem vínculo empregatício, com isso os empregadores reduzem seus
custos com despesas trabalhistas (FLEMING, 2019).
Segundo Fleming (2017, p.703), a política governamental é fundamental para permitir
que os trabalhadores tenham uma organização do trabalho mais justa.

2.11 CUSTO DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE

O avanço da tecnologia pode provocar desemprego, pois os processos são


automatizados e necessitam de menos mão-de-obra para serem realizados. Analisando o caso
da Uber, as empresas de táxi alegam que este aplicativo está ameaçando o emprego dos
taxistas. A Uber se defende falando que está gerando milhares de empregos de motoristas e
que o modelo aplicado por este aplicativo de 80/20 permite que os motoristas recebam mais
que os motoristas de táxi. Porém, contabilizando os gastos que os motoristas têm e
considerando que os motoristas da Uber são considerados trabalhadores independentes, não
recebendo assim benefícios trabalhistas, esta afirmação de uma maior rentabilidade pode ser
meio ilusória. O motorista tem o seu carro desgastado e se o aplicativo diminui o valor das
corridas para buscar mais clientes e diminuir a concorrência, pode comprometer a
34

rentabilidade dos motoristas. Alguns motoristas utilizam como estratégia dirigir apenas em
determinados horários em que as corridas são mais caras (KHAN, 2016, p. 166).
Kaye-Essien (2020) informa que um motorista da cidade de Accra, capital do estado
africano de Gana relatou que dirige o dia inteiro e recebe pouco, devido a comissão da Uber
de 25%, ao custo do combustível, pedágios, seguro e outras despesas.
Segundo Antunes (2020) os motoristas de aplicativo para obterem melhor
remuneração trabalham mais horas para cobrir a totalidade das despesas de custos com a
manutenção do veículo, e ainda aqueles que têm custos com o aluguel de carro.
O preço dos combustíveis também é um dos custos que o motorista tem para a
realização do serviço, que no período de 2020/2021/2022 sofreram variações rápidas para
preços mais altos, conforme pode-se observar nos gráficos abaixo elaborados a partir dos
dados do painel dinâmico da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
do Brasil (ANP).

Figura 3: Evolução do preço médio mensal – Gasolina Comum no Município do Rio de Janeiro - RJ

Fonte: Elaboração própria com dados da ANP


35

Figura 4: Evolução do preço médio mensal – Etanol Hidratado no Município do Rio de Janeiro - RJ

Fonte: Elaboração própria com dados da ANP

Figura 5: Evolução do preço médio mensal – GNV no Município do Rio de Janeiro - RJ

Fonte: Elaboração própria com dados da ANP

Verifica-se as variações nos preços dos combustíveis: na Figura 3 da Gasolina


Comum, na Figura 4 do Etanol Hidratado e na Figura 5 do GNV durante o período de
Julho/2020 a Julho/2022 no munícipio do Rio de Janeiro – RJ. Sendo constatado que o pico
do preço médio dos combustíveis foi atingido em maio de 2022: gasolina comum (7,72 reais),
etanol hidratado (6,43 reais) e GNV (5,26 reais).
O aumento de preços dos combustíveis afetou de modo negativo o trabalho dos
motoristas de aplicativo.
36

2.12 REFORMA TRABALHISTA

Segundo Nerinckx (2016, p. 246) novos modelos de trabalho têm surgido, tais como a
economia colaborativa/plataforma. Este modelo é predominante em trabalhos de delivery,
compartilhamento de carros e apartamentos. Com o aparecimento desta nova forma de
trabalho, também surgiram algumas dúvidas de qual seria os direitos e obrigações
(responsabilidades, proteção de clientes, quadro regulamentar, tratamento fiscal e
previdenciário dos rendimentos derivados, situação de emprego). Além de outros
questionamentos que surgem tais como, qual seria a relação entre cliente-plataforma-
provedor.
Para Oliveira (2020) existe uma concentração de capital com a utilização das
plataformas digitais, ocasionando rígidas reformas trabalhistas e previdenciárias, e
transformando empresas em plataformas e plataformas em vultosas companhias. Estas
mudanças na economia e no trabalho são de proporção mundial.
Moreira (2021, p. 127) critica as relações de trabalho e as reformas trabalhistas feitas
em 2017 e 2019 no Brasil, pois motivaram o desmonte dos sindicatos e a divisão da classe
trabalhadora.
Para Abílio (2020) o trabalhador se torna autogerente subordinado, que conforme
Moreira (2021, p. 128) permuta da espécie trabalho para prestador de serviço, e de emprego
para espécie empreendedor, onde se responsabiliza pelo seu sustento, custos e gastos para
executar o trabalho, sendo submisso aos ideais do capital.
A pesquisa realizada por Da Costa (2021, p.1) comparou índices de desemprego,
informalidade e trabalho formal a partir de janeiro de 2016, época anterior à Reforma
Trabalhista e a fase após a Reforma até fevereiro de 2020, constatando que a modernização e
flexibilização das leis trabalhistas que objetivava atrair empregadores para o Brasil e
aumentar o número de empregos formais, não contribuiu para redução do desemprego, mas
elevou o rol de informalidade, pobreza e pobreza extrema no Brasil.
Oliveira (2020) relata a dificuldade da regulamentação do trabalho dos trabalhadores
por plataformas, tendo em vista as peculiaridades da prestação de serviço, em que não existe
ordenação pessoal, mas a interação por meios tecnológicos e o trabalhador possui a liberdade
de horário de trabalho.

As plataformas digitais de trabalho normalmente se autodefinem como empresas de


tecnologia, fazendo conexões no mercado de trabalho. Propagam, então, a ideia de
que são totalmente inovadoras ou disruptivas, de modo a rejeitar seu enquadramento
jurídico nas normativas pré-existentes. Daí, forjam para si a inaplicabilidade dos
37

marcos regulatórios tradicionais, como os cíveis, tributários e trabalhistas, sob


alegação de que atividade não se encontra regulada e que suas inovações são fortes
que não permitem aplicação analógica com a atuação similar das empresas antigas
(OLIVEIRA, 2020, p. 2623).

Entretanto o autor Oliveira (2020) acredita ser necessária uma regulamentação


trabalhista própria para estes, para que o trabalho não seja apenas uma mercadoria, e os
trabalhadores possuam direitos fundamentais, tais como: salário que garanta a sobrevivência,
limite de horário de trabalho, tempo de descanso, garantia previdenciária.
Esta necessidade de regulamentação dos trabalhadores por plataformas tem sido
discutida em vários países, sendo que em cada local a justiça determina um regramento entre
as partes.
Segundo Zou (2017), tem havido debates em todo o mundo sobre a classificação de
emprego de trabalhadores da “economia compartilhada”, “economia gig” ou “economia sob
demanda”, contemplando proteções trabalhistas.

2.12.1 Regulamentação do trabalho uberizado: análise do caso do Reino Unido

Segundo Nerinckx (2016, p. 247-249), pelo menos duas classificações têm existido
nos países da União Europeia: salaried employment e self-employede, ou seja, trabalhador
assalariado e autônomo. Porém, as definições e critérios para classificar a relação de trabalho
variam de acordo com o país.
Geralmente, os critérios mais comuns para verificar se existe uma relação contratual
de trabalho são: a possibilidade de o empregador determinar onde, como e quando deve ser
feito o trabalho; se o empregador pode sancionar o empregado e se aquele pode controlar o
empregado. No entanto, novos critérios têm surgido devido as novas relações de trabalho, tais
como: liberdade de organização do trabalho, propriedade do negócio, fornecimento de
material, dentre outros. Por exemplo, se as características do trabalho de um trabalhador não
retratam um “link de subordinação”, ele é considerado um profissional autônomo.
Como ocorre na Europa, nos Estados Unidos também existem duas classificações para
os trabalhadores: employees e independent contractors, ou seja, empregados e trabalhadores
autônomos. Os empregados possuem alguns direitos, sendo que a legislação garante uma
maior proteção para estes trabalhadores: ganham um salário mínimo e recebem horas extras,
direito a seguro-desemprego, dentre outros direitos (NERINCKX, 2016, p. 250).
Estas indagações relativas às relações de trabalho têm surgido em vários países do
mundo, sendo que uma das empresas que possui alguns processos sobre esta nova relação de
38

trabalho é a Uber. A Uber é uma empresa que opera em vários países e com esta nova relação
de emprego criada, que existe uma intermediação através de uma plataforma, tem surgido
vários questionamentos. Segundo Reich (2015), em alguns países, a questão dos trabalhadores
serem empregados da Uber ou profissionais autônomos tem sido avaliada pela Justiça do país.
Alguns motoristas reclamaram desta questão no Reino Unido, sendo que o Tribunal
deste país decidiu que a Uber não pode mais classificar os motoristas do Reino Unido como
autônomos, além de ter a obrigação de pagar alguns direitos trabalhistas (OSBOURNE,
2016).
Segundo Osbourne (2016), um dos motoristas que estavam processando a Uber alegou
que ele estava sob tremenda pressão para trabalhar várias horas e aceitar os trabalhos, além de
ter “repercussões”, caso ele cancelasse a corrida. Já a Uber argumentou que o motorista pode
trabalhar o horário e o local que desejar; e que ela é uma empresa de tecnologia, e não uma
firma de transporte.
A Uber recorreu da decisão da Justiça durante 5 anos. A decisão final foi que os
Motoristas são “trabalhadores”, e não “profissionais autônomos”. Com esta decisão judicial, a
empresa foi obrigada a pagar direitos trabalhistas para os motoristas: férias, salário mínimo
garantido e aposentadoria. A empresa aproveitou esta decisão judicial e passou a utilizar
como marketing para atrair os motoristas. A Uber pretende aumentar o número de motoristas
cadastrados devido a este aumento de benefícios dado aos motoristas (SENRA, 2021).

Segundo a empresa, os benefícios aos motoristas são:


- Pagamento no mínimo o equivalente ao salário mínimo para maiores de 25 anos
(quase R$ 70 por hora), após aceitar um pedido de viagem e após descontos feitos
pela empresa;
- Todos os motoristas receberão férias com base em 12,07% de seus ganhos, pagos
quinzenalmente;
- Os motoristas serão automaticamente inscritos em um plano de pensão privada
com contribuições do Uber juntamente com contribuições dos motoristas;
- Manutenção do seguro gratuito em caso de doença ou lesão, bem como
pagamentos de licença-maternidade ou paternidade, que estão em vigor para todos
os motoristas desde 2018;
- Todos os motoristas terão a liberdade de escolher se querem dirigir, quando e onde
(SENRA, 2021).

Estes benefícios foram apenas para motoristas que trabalham no Reino Unido. Apesar
de no Brasil terem processos contra a Uber, ainda não foi reconhecido de maneira
generalizada para os motoristas os benefícios do vínculo empregatício, conforme trecho
abaixo:
39

Questionada se os benefícios anunciados nas ruas de Londres também estarão


disponíveis para motoristas em outros países, como o Brasil, a Uber negou: “Isso é algo único
para o Reino Unido por causa da classificação de „trabalhador‟”.
“O Reino Unido é o único país a ter um terceiro status de „trabalhador‟, que fica entre
um empregado pleno e um trabalhador autônomo (...) Eles não são funcionários e em nenhum
outro lugar do mundo há essa classificação de emprego” (SENRA,2021).
Observa-se que quando a profissão do trabalhador foi regulamentada pela legislação
do Reino Unido e o motorista por aplicativo foi reconhecido como trabalhador, suas
condições de trabalho melhoraram significativamente, fez jus a alguns direitos trabalhistas,
tais como: recebimento de salário mínimo, período de férias, plano de pensão privado para
garantir uma aposentadoria, seguro em caso de doença ou lesão, licença maternidade ou
paternidade, além de escolher quando e onde querem dirigir.
40

3 METODOLOGIA

3.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Para verificar os estudos já realizados com o tema uberização foi realizada uma
pesquisa bibliográfica na base Scopus utilizando como critério de pesquisa publicações com
“uberization” no título, tendo como resultado o total de 30 documentos.
A quantidade de documentos por ano pode ser verificada através da Figura 6Figura 6,
onde observa-se através da linha de tendência que existe um crescimento de pesquisa sobre
este assunto.

Figura 6: Quantidade de documentos com “Uberization” no título por ano

Fonte: Elaboração própria (2022)

Dentre os países que tiveram maior número de publicação deste tema encontra-se o
Brasil, com um total de 6 publicações. Foi encontrado um total de 4 artigos que a base Scopus
não definiu a origem do país, sendo enquadrados na categoria “indefinido”, conforme
observado na Figura 7.
41

Figura 7: Quantidade de documentos por país

Fonte: Elaboração própria (2022)

Em relação às áreas de estudo dos artigos pode-se observar através da Figura 8 que
“Ciências Sociais”, “Negócios, Gestão e Contabilidade” e “Engenharia” são os principais
setores estudados. Já a Figura 9 apresenta os tipos de documentos encontrados.

Figura 8: Quantidade de documentos por área de estudo

Fonte: Elaboração própria (2022)


42

Figura 9: Documentos por tipo

Fonte: Elaboração própria (2022)

Este trabalho foi baseado nos 19 artigos encontrados cujo critério de exclusão é o
título “uberization” e nas suas respectivas referências bibliográficas. Fazendo uma análise
gráfica através das Figuras 10, 11 e 12 com apenas os artigos, pode-se observar que os dados
são semelhantes aos encontrados com todos os documentos. O Brasil continua sendo o país
com maior número de publicações, e de acordo com a Figura 12 “Ciências Sociais” é a área
de estudo mais pesquisada sobre o assunto, possui 13 artigos que representam 48% do total.

Figura 10: Quantidade de artigos com “Uberization” no título por ano

Fonte: Elaboração própria (2022)


43

Figura 11: Quantidade de artigos por país

Fonte: Elaboração própria (2022)

Figura 12: Quantidade de documentos por área de estudo

Fonte: Elaboração própria (2022)

No decorrer do desenvolvimento da dissertação, percebeu-se a necessidade de explorar


temas como a internet das coisas nas plataformas e carros autônomos, Reforma Trabalhista, a
precarização do trabalho, desemprego, a indústria 4.0, entre outros, pesquisando no Google
Acadêmico ordenando por relevância e na base Scopus escolheu-se os artigos cujo resumo
melhor discorria sobre o assunto.
44

A pesquisa foi realizada tendo como base os artigos selecionados e suas respectivas
referências bibliográficas.

3.2 QUESTIONÁRIO E COLETA DE DADOS

A metodologia do trabalho parte de uma pesquisa com a utilização do método survey,


realizada no interior do veículo durante a prestação do serviço de transporte, na qual foi
selecionada uma amostra composta por 80 motoristas da região metropolitana do Rio de
Janeiro.
Como o trabalho uberizado tem se expandido mundialmente e recebido críticas em
relação à precarização do trabalho, através desta survey buscou-se verificar a percepção dos
motoristas quanto às condições de trabalho, o impacto da pandemia em seu emprego e
melhorias que gostaria no trabalho, objetivando responder à questão central da pesquisa: O
trabalho de motorista por aplicativo é uma opção ao desemprego?
Para a realização da coleta de dados, foi utilizado um questionário baseado no artigo
de Moraes et al. (2019), sendo acrescentadas questões a partir da literatura consultada do
assunto. Estas questões foram incluídas com o objetivo de analisar o sentimento do motorista
quanto ao cansaço, estresse, e também do impacto da pandemia do Coronavírus em sua
realidade.
O questionário compreende questões para analisar o perfil do respondente (sexo, faixa
etária, dentre outras) e questões objetivas fechadas. Também foram incluídas duas questões
qualitativas a fim de analisar qual melhoria os motoristas gostariam que fossem inseridas em
seu trabalho e qual foi o maior impacto da pandemia nas suas atividades como motorista de
aplicativo. No questionário também são preenchidas duas questões em relação às condições
em que foi realizada a entrevista: uma relativa ao horário em que a entrevista foi realizada, e a
outra sobre a condição do trânsito no momento da entrevista (muito engarrafado, lento ou sem
retenção).
O questionário utilizado nas entrevistas pode ser verificado no apêndice desta
dissertação. Este foi testado com três motoristas a fim de analisar a clareza das perguntas
utilizadas. O tempo médio da entrevista foi de 20 a 40 minutos, os motoristas se mostraram
interessados em responder e não houve necessidade de ajustes no formulário.
Foram coletadas as informações dos 80 respondentes escolhidos de forma aleatória. Os
dados foram coletados durante a prestação de serviço pela pesquisadora e por pessoa treinada
por ela. Só foram coletados dados de motoristas que, voluntariamente, aceitaram participar da
45

pesquisa. A pesquisa foi realizada no período de outubro de 2021 a julho de 2022 com
motoristas de aplicativo, durante corridas com duração entre 25 a 40 minutos. Neste trabalho
foram utilizadas as respostas do questionário, além dos comentários mencionados pelos
motoristas espontaneamente ao responder o questionário. Assim, foi possível conhecer
diversas realidades vivenciadas pelos motoristas, o que contribuiu muito na pesquisa. Estes
dados foram utilizados para fazer três tipos de análises, que são descritas nos tópicos a seguir.

3.3 ESTATÍSTICA DESCRITIVA PARA ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO


QUESTIONÁRIO.

O questionário é composto por 37 questões. As questões (“33. Qual melhoria você


gostaria no seu trabalho?”) e a (“34. Qual foi o maior impacto negativo da pandemia no seu
trabalho?”) são qualitativas e as outras 35 questões são objetivas. Todas as questões foram
respondidas pelos motoristas, exceto as perguntas 36 e 37, que foram preenchidas pela
entrevistadora, logo após o término da entrevista. Estas duas questões eram relativas ao
horário da entrevista e sobre a condição do trânsito (muito engarrafado, lento ou sem
retenção).
As questões objetivas foram utilizadas para realizar uma análise descritiva da
quantidade e percentual de respondentes que se enquadrava em cada alternativa de resposta.
Na análise também foram incluídos os comentários que os motoristas mencionaram ao
responder as perguntas. Como estes comentários foram feitos espontaneamente, apesar de
alguns justificarem a resposta de uma pergunta, não se pode assumir que esta consideração se
aplique de forma generalizada aos outros respondentes. A pesquisa buscou avaliar os dados
através da análise estatística traçando um paralelo nas relações das respostas obtidas pelo
questionário baseadas na literatura, e eventuais relações entre elas.

3.4 REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA PARA ANÁLISE DAS VARIÁVEIS:


PERCEPÇÃO DO MOTORISTA SE SENTIR ESTRESSADO E PERCEPÇÃO
DO ENVOLVIMENTO EM ACIDENTES.

A regressão linear múltipla é o método em que duas ou mais variáveis


independentes , , ) podem ter relação com uma variável dependente .

Foi realizada esta análise para verificar se as questões do questionário tinham alguma
relação de dependência com as questões 3 e 4.
46

O critério utilizado foi o nível de significância para manter ou retirar uma variável
da análise, sendo “n” o número da questão.
Para definir o modelo de melhor ajuste, utilizou-se cada possível preditor cujo p-valor
fosse menor que α=0,05 acrescentando-se ao modelo. E rejeitando cada questão cujo p-valor
fosse maior ou igual a 0,05.
Foram retirados da análise os questionários 45 e 47, pois os entrevistados não
responderam a idade. Logo, foram considerados 78 questionários para esta análise.
Também não foi considerada a questão 9 pois obteve-se somente 8 respostas. As
questões 33 e 34 também não foram avaliadas na análise de regressão, porque fazem parte da
análise qualitativa.
Para realizar a análise de regressão linear múltipla adotou-se a conversão dos dados
obtidos pelo questionário para a escala numérica, conforme consta na Tabela 39.
Foram realizadas análise de duas variáveis (questão 3 “Quanto estressado você se
sente no seu dia a dia?” e questão 4 “Você se envolveu em algum acidente de trânsito nos
últimos 6 meses?).
Em cada análise a questão era considerada como variável dependente Y, e as outras
questões do questionário como variável independente (X1, X2, X3, ...). A partir dos dados do
questionário convertidos em números foi realizada a análise de regressão linear múltipla.
Através do p-valor, foram verificadas quais variáveis podem estar impactando na
variável adotada como Y. Foi feita a análise dos coeficientes das variáveis que tinham p-valor
menor que α=0,05. Utilizando o sinal do coeficiente da variável obtido com a regressão linear
e baseado no critério de conversão em escala numérica da Tabela 39, foi verificada se a
relação de influência na variável y era positiva ou negativa. Quando o sinal do coeficiente é
positivo, isto quer dizer que quanto maior o valor de x, maior será o valor de y. Já quando o
coeficiente é negativo, temos que quanto maior o valor de x, menor o valor de y.
Com esta análise foi verificada quais variáveis podem estar impactando pela
percepção dos motoristas no estresse do dia a dia e no envolvimento de acidentes.

3.5 PESQUISA QUALITATIVA

Através das duas questões qualitativas do questionário (questão 33 e 34) foi percebida
a melhoria desejada pelos motoristas e o maior impacto negativo da pandemia no trabalho
deles.
47

Buscou-se agrupar as respostas dos motoristas para fazer uma análise quantitativa e
percentual.
48

4 ANÁLISE PRELIMINAR DE DADOS

Primeiramente foi realizada uma análise preliminar com 30 motoristas, tendo os


seguintes resultados abaixo.
Observa-se na Tabela 3, que 16,67% dos motoristas aderiram ao trabalho por
aplicativo há menos de 1 ano, este fato supostamente deve-se ao aumento do desemprego
intensificado pela crise política, econômica e social. Quando são somados os percentuais de
motoristas que utilizam o aplicativo há menos de 3 anos, referente ao período desde 2020, que
foi quando teve início no Brasil a pandemia do novo Coronavírus, a percentagem alcança
50%.
Considera-se o aumento do desemprego e a piora da crise no Brasil pela pandemia
Covid-19 uma hipótese para a grande quantidade de trabalhadores por aplicativos neste
período.

Tabela 3 – Tempo que trabalha por aplicativo


Há quanto tempo trabalha por
Quantidade Percentual
aplicativo (em anos)?
Há menos de 1 ano 5 16,67%

1 2 4 13,33%

2 3 6 20%

3 4 6 20%

4 5 3 10%

5 anos ou mais 6 20%


Fonte: (DUQUE, 2022, p.7)

Na Tabela 4 verifica-se que 66,67% dos motoristas trabalham somente no aplicativo,


não possuindo outra fonte de renda para manter-se. Em relação ao quanto se sentem cansados
na execução do trabalho, o percentual atinge 63,33% de acordo com as respostas dos
entrevistados, possivelmente devido aos motoristas terem o objetivo de alcançar a meta
desejada para melhorar sua remuneração, prolongando sua trajetória diária de trabalho.
Segundo Abílio (2021) o trabalhador que se impõe a atingir metas e se expõe a extensas
jornadas de trabalho tem sua saúde prejudicada e baixo rendimento no trabalho, devido a sua
exaustão.
49

Tabela 4– Se o motorista se sente cansado e se o trabalho com aplicativo é a sua única fonte de renda

Você se sente O trabalho por


aplicativo é sua
cansado no seu Quant. % Quant. %
única fonte de
dia a dia?
renda?
Sim 19 63,33% Sim 20 66,67%

Mais ou menos 7 23,33% Não 10 33,33%

Não 4 13,33%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.7)

Na Tabela 5, em relação a pergunta o quanto os motoristas sentem-se estressados, a


maioria 46,67% dos motoristas não se sentem estressados, 30% se sentem mais ou menos
estressados e 6,67% se sentem muito estressados.
Neste estudo, 2 trabalhadores disseram que se sentem muito estressados e cansados no
dia a dia, foi verificado que um relatou que trabalha 7 dias da semana durante 10 horas e o
outro que fica disponível para atender as chamadas do aplicativo 6 dias da semana de 10 a 12
horas por dia. Constata-se que a análise está de acordo com Abílio (2020) que chama de
trabalhador just-in-time, aquele que não tem garantias sobre a jornada de trabalho e sua
remuneração, assim como Fleming (2017) afirma que o trabalho em demasia e o esgotamento
ocorrem devido à falta de direitos do trabalhador, que só ganha se trabalha e o quanto
trabalha. Sendo assim, o colaborador fica a espera da solicitação de corrida por meio do
aplicativo.

Tabela 5 – O quanto estressado o motorista se sente


O quanto estressado o motorista se sente? Quantidade Percentual
Não me sinto 14 46,67%

Pouco 5 16,67%

Mais ou menos 9 30%

Muito 2 6,67%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.8)

Na Tabela 6 observa-se que 63,33% dos trabalhadores optaram pelo trabalho por
aplicativo por terem ficado desempregados. Devido ao aumento do número de motoristas no
aplicativo e ao alto preço do combustível alguns motoristas disseram que a remuneração não
estava compensando como antes, pois a taxa paga estava muito baixa.
50

Conforme visto na seção 2.11, o preço dos combustíveis teve períodos com grande
aumento do valor, o que possivelmente afetou a remuneração dos motoristas.
A autora Abílio (2019) diz que por exigir menos qualificação, o trabalho por aplicativo
torna-se uma opção de ter uma renda. Amorim (2021) relata que houve o aumento do cadastro
de brasileiros para trabalhar por aplicativo por terem ficado desempregados.

Tabela 6 – Trabalha na Uber porque ficou desempregado


Você está trabalhando na Uber porque ficou
Quantidade Percentual
desempregado?
Não 11 36,67%

Sim 19 63,33%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.8)

Pela Tabela 7, de acordo com a pesquisa realizada, o percentual obtido foi 93,33%,
com os respondentes afirmando que um dos principais motivos pela escolha do aplicativo foi
a flexibilidade de horário. A maioria dos motoristas gosta de fazer seu próprio horário, e da
possibilidade de trabalhar a hora que quiser, porque é mais fácil para resolver questões
pessoais, do que no emprego formal que é mais difícil conseguir se ausentar.
Este dado confirma a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Datafolha de 13 de
agosto a 20 de setembro de 2021, divulgada no site UberNewsroom, que afirma que 87% dos
motoristas optam por trabalhar por aplicativo devido a flexibilidade de horário, sendo um dos
incentivos para trabalhar na plataforma.

Tabela 7 – Flexibilidade do horário de trabalho


Você gosta da possibilidade de trabalhar a
Quantidade Percentual
hora que quiser?
Não 1 3,33%

Sim 28 93,33%

Mais ou menos 1 3,33


Fonte: (DUQUE, 2022, p.9)

Pela Tabela 8 pode-se verificar que 36,67% dos motoristas de aplicativo se veem
como empreendedores, mas mais da metade responderam não se considerar um empreendedor
só por trabalhar na Uber. Entretanto, alguns se consideram empreendedores, por serem mais
independentes, ter seu próprio carro, e trabalhar quando quiser. Em Abílio (2021) enfatiza-se
51

a precariedade deste trabalho, denominado de empreendedorismo de si, em que ocorre a perda


de garantias e direitos do trabalhador sendo substituídos pela luta individual pela própria
sobrevivência.

Tabela 8 – Percepção de ser um empreendedor


Você se considera um empreendedor por
Quantidade Percentual
trabalhar na Uber?
Não 18 60%

Sim 11 36,67%

Mais ou menos 1 3,33%


Fonte: (DUQUE, 2022, p.9)

Na Tabela 9, em relação a quem deveria pagar os custos de manutenção do veículo,


80% dos motoristas disseram que os custos de manutenção deveriam ser divididos com o
aplicativo, porque os custos ficam todos por conta deles, e sua remuneração final fica muito
baixa. Segundo Filgueiras (2021) no processo de colaboração dos parceiros e empresas, quem
sai lucrando é a empresa porque não possui o bem, não arca com os custos e manutenção do
veículo, mas obtém parte do ganho dos trabalhadores, por intermediar o cliente ao prestador
de serviço por meio de aplicativos.
Para Moreira (2021, p.130) os aplicativos intermediam a transação, reduzindo o ganho
e aumentando o tempo de trabalho do colaborador; aumentando o lucro da empresa que
administra o aplicativo. De acordo com Filgueiras (2020) apesar de serem tratados como
empresa o trabalhador não pode utilizar seu carro de trabalho da forma que queira, pois deve
respeitar o regramento do aplicativo.

Tabela 9 – Responsabilidade dos custos de manutenção do carro


Por quem você acha que os custos de manutenção do
Quantidade Percentual
carro deveriam ser pagos?
Dividir com a Uber 24 80,00%

Eu mesmo 5 16,67%

Uber 1 3,33%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.10)

Observa-se na Tabela 10 que em relação à forma de avaliação do motorista ser pelo


passageiro, ficou praticamente meio a meio a opinião dos motoristas, visto que 46,67% acham
52

justo e 46,67% acham injusto. Os motoristas alegaram que realmente pode ter algum
trabalhador que não preste um bom serviço, pois toda classe tem exceção, mas todos os
respondentes relataram que mantinham seu carro limpo, janelas abertas, pois durante a
pandemia não podia ligar o ar condicionado, tratavam bem os passageiros, mas mesmo assim
ao final da corrida eram mal avaliados. Wentrup (2018) afirma que os motoristas podem ser
avaliados pelos passageiros e também avaliá-los, sendo a avaliação um meio de regular o
trabalho, que gera incerteza, pois muitas vezes os motoristas são desconectados do aplicativo
sem nenhuma justificativa.

Tabela 10 – Sistema de avaliação da Uber


Você acha que o sistema de avaliação da
Quantidade Percentual
Uber é justo?
Sim 14 46,67%

Não 14 46,67%

Mais ou menos 2 6,67%


Fonte: (DUQUE, 2022, p.10)
53

5 RESULTADOS

5.1 ESTATÍSTICA DESCRITIVA PARA ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO


QUESTIONÁRIO

Posteriormente aumentou-se a amostra para 80 motoristas, sendo realizada as


perguntas do apêndice 1. Os resultados encontrados estão representados nas tabelas abaixo:

Tabela 11 – Resultado da pergunta 1


Há quanto tempo trabalha por
Quantidade Percentual
aplicativo (em anos)?
Há menos de 1 ano 17 21,25%

1 2 12 15,00%

2 3 11 13,75%

3 4 12 15,00%

4 5 12 15,00%

5 anos ou mais 16 20,00%

Percebe-se pela Tabela 11 que a distribuição por ano é praticamente uniforme, tendo
valores de aproximadamente 15% para a segunda a quinta classe. E para a primeira e a última,
o valor de aproximadamente 20% dos trabalhadores.
Um dos motoristas entrevistados disse:
“Estou na Uber há 5 anos. Antes eu era empregado em uma indústria, em que tinha um
cargo com bom salário. Porém, devido à crise econômica, a firma dispensou vários
funcionários, e como eu tinha um bom desempenho não pensei que também seria dispensado,
mas infelizmente fui demitido. Como havia comprado recente um carro zero, um parente me
sugeriu que entrasse para a Uber como uma oportunidade de emprego mais imediata. Estou
trabalhando até hoje na Uber, não pretendo sair, porque gosto do meu trabalho.”
Já outro motorista falou:
“Eu estou há 1 mês e meio na Uber, porque perdi o meu emprego e ficou difícil pagar
a faculdade. Não pretendo ficar, pois acho o preço do combustível muito alto, não
compensando muito. Pretendo ficar somente até conseguir um emprego melhor.”
Percebe-se pelo relato dos dois motoristas que o trabalho por aplicativo muitas das
vezes é uma opção ao desemprego. No caso do primeiro motorista, aparentemente o mesmo
54

encontra-se satisfeito e não pretende mudar de emprego. Já o segundo, considera esta opção
de emprego apenas temporária, só para suprir as necessidades financeiras imediatas. No caso
deste motorista, o seu relato está conforme ao que Kyrou (2015) afirma, que os trabalhadores
trocam uma situação pior (desemprego), por uma menos pior (trabalho precário).

Tabela 12 – Resultado da pergunta 2


Você se sente cansado no dia a
Quantidade Percentual
dia?
Sim 46 57,50%

Não 17 21,25%

Mais ou menos/às vezes 17 21,25%

Percebe-se na Tabela 12 que a maioria dos entrevistados (57,5%) se sente cansado no


dia a dia. Isto se deve provavelmente devido às longas jornadas de trabalho em que o
motorista fica sujeito para conseguir uma remuneração que ele considera suficiente para as
suas despesas. Segundo Filgueiras e Dutra (2021, p. 5), a uberização das condições de
trabalho tende a provocar condições mais extenuantes para o trabalhador, estes podem ficar
sujeitos a longas jornadas, além de não terem direito a férias. Outro fato, é que o trabalhador
só recebe quando está trabalhando, logo mesmo em condições de cansaço e doença, ele
precisa trabalhar para receber uma remuneração.

Tabela 13 – Resultado da pergunta 13


Você ganha mais do que gasta
Quantidade Percentual
para trabalhar na Uber?
Sim 31 38,75%

Não 10 12,50%

Mais ou menos 39 48,75%

Pela Tabela 13 a maior parte (48,75%) respondeu “mais ou menos” à pergunta “se
ganha mais do que gasta para trabalhar na Uber”. Um dos motoristas comentou: “Já
compensou, mas hoje o lucro é menor, pois existem muitos motoristas, e a taxa paga ao
motorista não aumenta, além do preço do combustível ter aumentado muito alto”.
Muitos motoristas reclamaram do percentual da taxa paga em cada corrida para a
Uber. Eles consideraram este percentual muito alto e falaram que como eles que precisam
arcar com todos os custos, acaba que a “remuneração” pelo serviço fica bem reduzida. Além
55

disso, quando foi feita a pesquisa, outra reclamação recorrente foi o custo com combustível,
que estava muito alto. Outro motorista relatou “aumentou tudo, menos a taxa recebida da
corrida”.

Tabela 14 – Resultado da pergunta 3


Quanto estressado você se sente
Quantidade Percentual
no seu dia?
Não me sinto 37 46,25%

Pouco 7 8,75%

Mais ou menos 25 31,25%

Muito 11 13,75%

Uma das coisas que podem aumentar o estresse do motorista é a condição do trânsito,
conforme pode ser observado pelo relato de um dos respondentes: “Eu me sinto cansado
porque dirijo durante muitas horas. Só paro rapidinho para almoçar. E muitas vezes o trabalho
no trânsito intenso é estressante. Às vezes eu volto para casa antes do horário que planejei”.
Pela Tabela 14 o maior número dos respondentes (46,25%) considera que não se sente
estressado, provavelmente isto se deve, ao fato da pesquisa ter sido realizada no horário da
manhã ou à tarde, em que o trânsito estava menos intenso.

Tabela 15 – Resultado da pergunta 4


Você se envolveu em algum
acidente de trânsito nos últimos 6 Quantidade Percentual
meses?
Sim 12 15,00%

Não 68 85,00%

Mais ou menos 0 0,00%

Pelos dados da Tabela 15 a maioria dos motoristas (85%) informou que não se
envolveu em algum acidente de trânsito nos últimos 6 meses.
Nenhum dos entrevistados informou que se envolveu em acidente grave. Alguns
motoristas que disseram que “sim” informaram que não foram eles que provocaram o
acidente. Por exemplo, um motorista falou que uma moto bateu na traseira do carro.
56

Tabela 16 – Resultado da pergunta 5


Você trabalha com outros
Quantidade Percentual
aplicativos de transporte?
Sim 31 38,75%

Não 49 61,25%

Dos motoristas entrevistados que responderam que trabalhavam com outro aplicativo,
alguns informaram que nestes outros aplicativos demoravam mais para ser solicitados, pois a
Uber tem mais usuários. Eles informaram que apesar da taxa paga à Uber ser maior que nos
outros aplicativos, devido ter uma maior quantidade de usuários, se tornava mais atrativo
trabalhar na Uber.

Tabela 17 – Resultado da pergunta 6


Quantas horas você trabalha por
Quantidade Percentual
dia para o app?(Horas)
0 4 0 0,00%

4 3 3,75%

5 2 2,50%

6 6 7,50%

7 2 2,50%

8 17 21,25%

9 5 6,25%

10 24 30,00%

11 0 0,00%

12 17 21,25%

13 0 0,00%

14 2 2,50%

15 0 0,00%

16 2 2,50%
57

Dos motoristas entrevistados, a maioria informou que cumpre uma meta diária de
rendimento. Quando atingem a meta, geralmente encerram sua jornada de trabalho.
Pela Tabela 17 percebe-se que a maioria trabalha 8 horas (21,25%), 10 horas (30%) ou
12 horas (21,25%). Constatando assim, que 37,5% dos trabalhadores trabalham durante até 8
horas por dia, e que 62,5% dos motoristas labutam durante mais do que 8 horas por dia.
Confirmando o fato dos mesmos estarem submetidos a longas jornadas de trabalho
para obter o ganho necessário para arcar com seus gastos e amparar a família.
(Fleming, 2017) afirma que a tecnologia móvel atrapalha os trabalhadores formais e
informais a definirem a jornada diária de trabalho, normalmente trabalham horas a mais, o
que causa a estafa e queda da produtividade desses profissionais.

Tabela 18 - Resultado da pergunta 7


Quantos dias você
Quantidade Percentual
trabalha na semana?
1 0 0,00%

2 1 1,25%

3 2 2,50%

4 7 8,75%

5 15 18,75%

6 34 42,50%

7 21 26,25%

A maioria dos motoristas informou que trabalha 5, 6 ou 7 dias na semana, sendo que
43% respondeu que trabalham 6 dias na semana e folgam um dia.
Percebe-se que 68,75% dos motoristas trabalham mais do que 5 dias na semana, ou
seja, 6 ou 7 dias e ainda durante um longo período de horas. E de acordo com o autor (Puletti,
2019) isto pode causar estresse, acidentes de trabalho e desentendimentos familiares pela
ausência.
58

Tabela 19 - Resultado da pergunta 8


O trabalho com aplicativo é a sua
Quantidade Percentual
única fonte de renda?
Sim 64 80,00%

Não 16 20,00%

A maioria (80%) respondeu que o trabalho com aplicativo é a sua única fonte de
renda. Isto sugere que o trabalho por aplicativo seja uma opção ao desemprego, tendo em
vista que a maioria não possui outra fonte de renda, trabalha durante longas horas, arca com
os custos do trabalho e não possui direitos trabalhistas.

Tabela 20 - Resultado da pergunta 9


Se não, a outra fonte é com
carteira assinada ou sem carteira
Quantidade Percentual
assinada (autônomo, prestação de
serviço, “bico”, aposentado)?
Sem carteira assinada 9 56,25%

Carteira assinada 4 25,00%

Mais ou menos 0 0,00%

Aposentado 3 18,75%

Os motoristas que possuem outra fonte de rendimento são somente 16, ou seja, 20%
dos motoristas entrevistados, tais como: aposentados, trabalhadores autônomos, bombeiros,
eletricistas, advogados, dentre outros.
Um dos motoristas que também exerce outro serviço como trabalhador autônomo, no
caso eletricista, falou que quando tem algum trabalho de eletricista, ele realiza este serviço.
Porém, quando ele não tem nenhuma demanda, ele trabalha como motorista no aplicativo da
Uber.
Na pesquisa também tinham motoristas que possuíam carteira assinada como é o caso
de um professor e de uma enfermeira que trabalham na Uber no seu horário de folga, como
uma forma de complemento de renda.
59

Tabela 21 – Resultado da pergunta 10


Você se considera um
empreendedor por trabalhar na Quantidade Percentual
Uber?
Não 35 43,75%

Sim 41 51,25%

Mais ou menos 4 5,00%

Em relação à pergunta “Você se considera um empreendedor por trabalhar na Uber?”,


a resposta praticamente ficou dividida, sendo que 43,75% dos motoristas entrevistados
consideram que “não”. Já 51,25%, consideram que “sim”.
Alguns dos motoristas que responderam que “sim”, falaram que se sentem
empreendedores por ter liberdade no horário para realizar o serviço. Por outro lado, alguns
dos que responderam “não”, disseram que não se sentem empreendedor, consideram que
realizam um trabalho para Uber, e isto não faz dele um empreendedor.
Segundo Abílio (2019, p.4), o significado de empreendedorismo tem mudado como a
criação de novas modalidades de emprego. Neste modelo de trabalho por plataforma, o
empregado é considerado “empreendedor” por ter autonomia para realizar o trabalho no
horário que quiser, como pode ser observado a Uber incentiva os trabalhadores a se tornarem
motoristas por aplicativo para serem “seu próprio chefe”. Porém, a autora fala que na verdade,
esta definição é um obscurecimento da informalidade do trabalho e transferência de riscos,
porque os trabalhadores continuam sendo subordinados.

Tabela 22– Resultado da pergunta 11


Você gosta da possibilidade de
Quantidade Percentual
trabalhar a hora que quiser?
Sim 75 93,75%

Não 3 3,75%

Mais ou menos 2 2,50%

A maioria dos motoristas (93,75%) considera que gostam da possibilidade de trabalhar


a hora que quiser. Um dos motoristas relatou que é bom ter flexibilidade, pois é mais fácil
para resolver questões pessoais, que às vezes, em um emprego formal é mais difícil conseguir
se ausentar.
60

Este dado está de acordo com a pesquisa informada no site UberNewsroom e realizada
pelo Instituto de Pesquisa Datafolha de 13 de agosto a 20 de setembro de 2021. Nesta
pesquisa 87% dos motoristas afirmaram que um dos motivos por escolher trabalhar por
aplicativo é o horário flexível.
A flexibilidade do trabalho é um dos atrativos que a Uber utiliza para fazer
propaganda deste tipo de serviço e atrair mais motoristas para sua plataforma.

Tabela 23 - Resultado da pergunta 12


Você se sente controlado pela
Quantidade Percentual
Uber?
Sim 20 25,00%

Não 51 63,75%

Mais ou menos 9 11,25%

A maioria dos motoristas (63,75%) respondeu que não se sente controlado pela Uber.
O que os motoristas geralmente mencionavam é que eles tinham a liberdade de escolher dia e
hora para trabalhar.

Tabela 24 - Resultado da pergunta 14


Você ganha mais na Uber do que
quando trabalhava numa Quantidade Percentual
empresa?
Sim 48 60,00%

Não 24 30,00%

Mais ou menos 2 2,50%

Igual 6 7,50%

A maioria (60%) respondeu que ganha mais na Uber do que quando trabalhava numa
empresa. Já 30% responderam que “não”.
Teve um dos motoristas que respondeu que em uma empresa ele ganhava menos, mas
tinha mais benefícios.
61

Tabela 25 - Resultado da pergunta 15


Você sente prazer de trabalhar
Quantidade Percentual
para a Uber?
Sim 64 80,00%

Não 6 7,50%

Mais ou menos 10 12,50%

A maioria (80%) respondeu que sente prazer de trabalhar para a Uber.

Tabela 26 - Resultado da pergunta 16


Você gosta de se relacionar com
Quantidade Percentual
os clientes?
Sim 78 97,50%

Não 0 0,00%

Mais ou menos 2 2,50%

A maioria (97,5%) respondeu que gosta de se relacionar com os clientes. Teve um dos
motoristas que mencionou que gosta de conversar com os clientes, mas só se o cliente
começar a conversar, pois têm clientes que não gostam.

Tabela 27 – Resultado da pergunta 17 e 19


Você gostaria Você acha que a Uber
de ter carteira deveria pagar os direitos
Quant. Percentual trabalhistas (férias, 13º, Quant. Percentual
assinada com a
assistência médica e
Uber? outros)?
Sim 56 70,00% Sim 56 70,00%

Não 20 25,00% Não 19 23,75%

Mais ou menos 4 5,00% Mais ou menos 5 6,25%

A maioria (70%) respondeu que gostaria de ter carteira assinada com a Uber. Alguns
respondentes informaram que “sim”, pois assim aumentaria seus direitos, teriam mais
vantagens (férias, décimo terceiro, etc).
Já 25% responderam que “não”. Um dos motoristas mencionou que não gostaria, pois
provavelmente aumentaria as obrigações, tais como horário de início e fim do trabalho.
62

Em relação à pergunta “Você acha que a Uber deveria pagar os direitos trabalhistas
(férias, 13º, assistência médica e outros)?”, 70% respondeu que “sim”, isto está de acordo
com os comentários dos motoristas se gostariam de ter carteira assinada pela Uber.

Tabela 28 – Resultado da pergunta 18 e 20


Por quem você acha que Quem você acha que
os custos de manutenção deveria pagar os custos
Quant. % Quant. %
do carro deveriam ser com acidente de
pagos? trabalho? (roubo, etc)?
Eu mesmo 15 18,75% Eu mesmo 22 27,50%

1,25%
UBER 1 1,25% UBER 1

Dividir com a UBER 64 80,00% Dividir com a UBER 39 48,75%

Governo 18 22,50%

A maioria (80%) respondeu que gostaria que os custos de manutenção do carro fossem
divididos com a Uber. E 48,75% consideraram que os custos com acidente de trabalho, roubo,
etc. deveriam ser divididos com a Uber.
Conforme Abílio (2019, p. 2), o trabalhador uberizado não tem garantias e segurança
em relação as suas condições de trabalho. Além de existir a transferência de custos para o
trabalhador, sendo que o mesmo fica responsável por todos os custos para realizar seu
trabalho.

Tabela 29 – Resultado da pergunta 17 e 21


Você gostaria Você considera a falta de
de ter carteira vínculo de trabalho com a
Quant. Percentual empresa positiva, pra não Quant. Percentual
assinada com a
ficar ligado a uma só
Uber? empresa?
Sim 56 70,00% Sim 46 57,50%

Não 20 25,00% Não 30 37,50%

Mais ou menos 4 5,00% Mais ou menos 4 5,00%


63

A maioria (57,5%) respondeu que considera a falta de vínculo de trabalho com a


empresa positiva, para não ficar ligado a uma só empresa. Alguns motoristas informaram que
assim, podem trabalhar em outros lugares para complementar a renda.
Esta afirmação é contraditória com os dados de que 70% dos motoristas gostariam de
ter carteira assinada com a Uber, pois para ter carteira assinada faz-se necessário o vínculo
com a empresa.

Tabela 30 - Resultado da pergunta 22 e 23


Você acha que a Uber Você acha que a
deveria te pagar pelo taxa que a Uber
Quant. Percentual Quant. Percentual
tempo que você fica cobra da corrida é
parado? justa?
Sim 34 42,50% Sim 6 7,50%

Não 43 53,75% Não 72 90,00%

Mais ou menos 3 3,75% Mais ou menos 2 2,50%

Em relação à pergunta se a Uber deveria pagar pelo tempo que o motorista fica parado,
ficou praticamente empatado, sendo que 42,5% responderam que “sim”, 53,75% responderam
que “não”.
Já em relação à pergunta “Você acha que a taxa que a Uber cobra da corrida é justa?”,
a maioria respondeu que “não” (90%). Muitos motoristas reclamaram que o percentual pago à
Uber era muito caro e não consideram justo, pois é o motorista quem arca com todos os
custos.

Tabela 31 – Resultado da pergunta 25 e 24


Você está trabalhando Você está
na Uber porque ficou Quant. Percentual procurando Quant. Percentual
desempregado? outro trabalho?
Sim 49 61,25% Sim 34 42,50%

Não 31 38,75% Não 45 56,25%

Mais ou menos 0 0,00% Mais ou menos 1 1,25%


64

Em relação à pergunta “Você está trabalhando na Uber porque ficou desempregado?”,


61,25% responderam que “sim”. Através das respostas, percebe-se que o trabalho na Uber
pode ser utilizado como uma opção ao desemprego.
Já em relação a pergunta “Você está procurando outro trabalho?”, pode-se dizer que
ficou bem dividido sendo que 56,25% disse que “não” e outros “42,5%” disseram que “sim”.
Muitos motoristas estão à procura de emprego para ter maiores benefícios e melhores
condições de trabalho.

Tabela 32 – Resultado da pergunta 26


Se você tivesse um emprego de
carteira assinada, você ainda Quantidade Percentual
trabalharia na Uber?
Sim 64 80,00%

Não 12 15,00%

Talvez 4 5,00%

A maioria dos motoristas (80%) informou que ainda continuaria trabalhando na Uber,
se tivesse um emprego de carteira assinada, para possuir uma renda extra.

Tabela 33 – Resultado da pergunta 27


Você preferiria trabalhar como
Quantidade Percentual
taxista ao invés da Uber?
Sim 9 11,25%

Não 67 83,75%

Mais ou menos 4 5,00%

A maioria dos motoristas (83,75%) disse que não preferem trabalhar como taxista ao
invés da Uber.

Tabela 34 – Resultado da pergunta 28


Você acha que o sistema de
Quantidade Percentual
avaliação da Uber é justo?
Sim 38 47,50%

Não 34 42,50%
65

Mais ou menos 8 10,00%

A avaliação do motorista pelo passageiro segundo Abílio (2019 p.3) reforça o controle
do aplicativo sobre sua atuação, registrando a qualidade do serviço prestado pelo motorista,
além de incentivá-lo a ser mais produtivo no seu trabalho (ABÍLIO, 2020 p.121). Na
pesquisa, 47,5% acharam justo a avaliação ser feita pelo passageiro, que de acordo com o
atendimento do motorista terá uma boa avaliação ou não.
Em contrapartida, 42,5% disseram que acham injusta a avaliação ser feita pelo
usuário, uma vez que muitos avaliam mal, somente para prejudicá-los: reclamam do ar
condicionado; de parar fora do local, sendo que o local que desejam descer é proibido parar;
que mesmo o carro estando limpo, alegam que está sujo, dentre outros. Outro fato
mencionado é que o aplicativo aceita as reclamações do usuário, mas não ouve o que os
motoristas têm a dizer. Os motoristas temem ser desligados do aplicativo, e relataram que
quando ocorre esta dispensa, não é explicado o motivo, simplesmente eles são desligados do
aplicativo.

Tabela 35 – Resultado da pergunta 29


Você preferiria trabalhar em
cooperativa para ter uma taxa Quantidade Percentual
menor?
Sim 50 62,50%

Não 27 33,75%

Mais ou menos 3 3,75%

A maioria dos motoristas (62,5%) disseram que preferem trabalhar em uma


cooperativa para ter uma taxa menor. Como mencionado anteriormente, uma das reclamações
dos motoristas é do valor percentual da taxa cobrada pela Uber, que eles consideram alta.

Tabela 36 – Resultado da pergunta 30


Você contribui com previdência
Quantidade Percentual
privada ou INSS?
Não contribui 37 46,25%

MEI 19 23,75%

INSS 24 30,00%
66

Verifica-se que as respostas ficaram divididas porque (46,25%) dos motoristas


disseram que não contribuem nem para uma previdência privada nem para o INSS. Como o
trabalhador não faz a contribuição, isto pode gerar um problema no futuro para este
trabalhador, que provavelmente não terá direito à aposentadoria. Além, do fato que no caso de
acidente, doença, o motorista fica com uma maior insegurança financeira.
E que (53,75%) dos motoristas contribuem com MEI ou com o INSS proporcionando
maior segurança pessoal e financeira.

Tabela 37 – Resultado da pergunta 31


Idade? Quantidade Percentual
18 ├ 25 6 7,50%

25 ├ 30 9 11,25%

30 ├ 35 8 10,00%

35 ├ 40 15 18,75%

40 ├ 45 8 10,00%

45 ├ 50 9 11,25%

50 ├ 55 11 13,75%

55 ├ 60 7 8,75%

60 ├ 65 5 6,25%

Não respondeu 2 2,50%

Total 80 100%

Em relação à idade do motorista, a maioria se enquadra entre 35 e 40 anos (18,75%).


As outras classes ficam próximas do valor de 10%. A classe com menor valor é a de 60 a 65
anos (6,25%). Durante a entrevista um motorista falou que era aposentado e trabalhava na
Uber como uma forma de complementar sua renda.
67

Tabela 38 – Resultado da pergunta 32


Escolaridade? Quantidade Percentual
Ensino Fundamental 9 11,25%

Ensino Médio 49 61,25%

Ensino Médio Incompleto 1 1,25%

Ensino Superior 7 8,75%

Ensino Superior Incompleto 11 13,75%

Pós-graduação 2 2,50%

Não respondeu 1 1,25%

Total 80 100,00%

Em relação à escolaridade, a maioria respondeu que possui o ensino médio (61,25%).


A classificação com o segundo maior valor é a “ensino superior incompleto” (13,75%).
Verifica-se que 8,75% possuem Ensino Superior e que 2,50% são pós-graduados,
sugerindo que devido à falta de emprego, de oportunidades no mercado de trabalho e
agravamento da crise onde várias empresas fecharam, estes profissionais encontraram no
trabalho por aplicativo uma opção ao desemprego.

5.2 REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA PARA ANÁLISE

Esta análise foi realizada para verificar se as questões do questionário tinham alguma
relação de dependência com as questões 3 e 4.
O nível de significância foi o critério utilizado para manter ou retirar uma variável
da análise, sendo “n” o número da questão.
Para definir o modelo, utilizou-se cada possível preditor cujo p-valor fosse menor que
α=0,05 acrescentando-se ao modelo. E rejeitando cada questão cujo p-valor fosse maior ou
igual a 0,05.

5.2.1 Escala utilizada para análise das perguntas

Para realizar a análise de regressão linear múltipla adotou-se a conversão dos dados
para a escala numérica conforme a Tabela 39.
68

Tabela 39 – Escala utilizada para análise


QUESTÃO ESCALA

1. Há quanto tempo você trabalha na Uber? Quantidade de anos trabalhados


(em anos)
2. Você se sente cansado no dia a dia? 0 - não
1 - mais ou menos
2 - sim
3. Quanto estressado você se sente no seu dia a 0 - não me sinto
dia? 1 - pouco
2 - mais ou menos
3 - muito
4. Você se envolveu em algum acidente de 0 - não
trânsito nos últimos 6 meses? 1 - sim
5. Você trabalha com outros aplicativos de 0 - não
transporte? 1 - sim
6. Quantas horas você trabalha por dia para o Quantidade de horas trabalhadas
app?
7. Quantos dias você trabalha na semana? Quantidade de dias trabalhados
(1 a 7)
8. O trabalho com aplicativo é a sua única fonte 0 - não
de renda? 1 - sim
9. Se não, a outra fonte é com carteira assinada Questão não avaliada na análise
ou sem carteira assinada (autônomo, prestação de regressão
de serviço, “bico”)?
10. Você se considera um empreendedor por 0 - não
trabalhar na UBER? 1 - mais ou menos
2 - sim
11. Você gosta da possibilidade de trabalhar a 0 - não
hora que quiser? 1 - mais ou menos
2 - sim
12. Você se sente controlado pela Uber? 0 - não
1 - mais ou menos
2 - sim
69

13. Você ganha mais do que gasta para 0 - não


trabalhar na Uber? 1 - mais ou menos
2 - sim
14. Você ganha mais na Uber do que quando 0 - não
trabalhava numa empresa? 1 - mais ou menos ou igual
2 - sim
15. Você sente prazer de trabalhar para a Uber? 0 - não
1 - mais ou menos
2 - sim
16. Você gosta de se relacionar com os 0 - não
clientes? 1 - mais ou menos
2 - sim
17. Você gostaria de ter carteira assinada com a 0 - não
Uber? 1 - mais ou menos
2 - sim
18. Por quem você acha que os custos de 0 - UBER
manutenção do carro deveriam ser pagos? 1 - dividir com a UBER
2 - eu mesmo
19. Você acha que a Uber deveria pagar os 0 - não
direitos trabalhistas (férias, 13º, assistência 1 - mais ou menos
médica e outros) ? 2 - sim
20. Quem você acha que deveria pagar os 0 - UBER ou o governo
custos com acidente de trabalho (roubo, etc) 1 - dividir com a UBER
2 - eu mesmo

21. Você considera a falta de vínculo de 0 - não


trabalho com a empresa positiva, para não ficar 1 - mais ou menos
ligado a uma só empresa? 2 - sim
22. Você acha que a Uber deveria te pagar pelo 0 - não
tempo que você fica parado? 1 - mais ou menos
2 - sim
23. Você acha que a taxa que a Uber cobra da 0 - não
corrida é justa? 1 - mais ou menos
2 - sim
70

24. Você está procurando outro trabalho? 0 - não


1 - mais ou menos
2 - sim
25. Você está trabalhando na Uber porque ficou 0 - não
desempregado? 1 - sim
26. Se você tivesse um emprego de carteira 0 - não
assinada, você ainda trabalharia na Uber? 1 - talvez
2 - sim
27. Você preferiria trabalhar como taxista ao 0 - não
invés da Uber? 1 - mais ou menos
2 - sim
28. Você acha que o sistema de avaliação da 0 - não
Uber é justo? 1 - mais ou menos
2 - sim
29. Você preferiria trabalhar em cooperativa 0 - não
para ter uma taxa menor? 1 - mais ou menos
2 - sim
30.Você contribui com previdência privada ou 0 - não contribui
INSS? 1 - INSS ou MEI
31. Idade: Valor numérico da idade

32. Escolaridade: 0 - não respondeu


1 - ensino fundamental
2 - ensino médio incompleto
3 - ensino médio
4 - ensino superior incompleto
5 - ensino superior
6 - pós-graduação
33. Qual melhoria você gostaria no seu Questão não avaliada na análise
trabalho? de regressão
34. Qual foi o maior impacto negativo da Questão não avaliada na análise
pandemia no seu trabalho? de regressão
35. Sexo: 0 - Feminino
1 - Masculino
71

36. Horário da entrevista 0 - tarde


1 - manhã
37. Condição do trânsito 0 - sem retenção
1 - lento
2 - muito engarrafado

5.2.2 Regressão para percepção de “sentir estressado”

Considerando a questão 3“Quanto estressado você se sente no seu dia a dia?” como
variável dependente Y, e as outras questões do questionário como variável independente (X1,
X2, X3, ...) foi realizada a análise de regressão múltipla e obtidas as tabelas 40 a 42.

Tabela 40 – Estatística de regressão da questão 3 - Estresse


R múltiplo 0,5312
R-Quadrado 0,2822
R-quadrado ajustado 0,2428
Erro padrão 1,0022
Observações 78

Tabela 41 – Tabela ANOVA da questão 3 - Estresse


F de
gl SQ MQ F significação
Regressão 4 28,8259 7,2065 7,1743 0,0001
Resíduo 73 73,3279 1,0045
Total 77 102,1538

Tabela 42 – Tabela das questões que impactam na questão 3 – Estresse

Erro valor- 95% 95% Inferior Superior


Coeficientes padrão Stat t P inferiores superiores 95,0% 95,0%
Inter
seção 1,7442 0,4382 3,9804 0,0002 0,8709 2,6175 0,8709 2,6175
Questão
12 0,6234 0,1410 4,4202 0,0000 0,3423 0,9044 0,3423 0,9044

Questão
22 0,3627 0,1194 3,0373 0,0033 0,1247 0,6006 0,1247 0,6006

Questão
30 -0,4835 0,2375 -2,0362 0,0454 -0,9568 -0,0103 -0,9568 -0,0103
72

Questão
31 -0,0251 0,0102 -2,4731 0,0157 -0,0454 -0,0049 -0,0454 -0,0049

A partir da tabela 42, pode-se concluir que as variáveis “12. Você se sente controlado
pela Uber?”, “22. Você acha que a Uber deveria te pagar pelo tempo que você fica parado?”,
“30. Você contribui com previdência privada ou INSS?” e “31. Idade:” impactam no estresse
do motorista.
Pelo sinal do coeficiente da tabela 42 podemos ter as seguintes conclusões:

Tabela 43 - Conclusões obtidas pela regressão da questão 3 - Estresse


Variável Conclusão

12. Você se sente controlado pela Uber? Quanto mais se sente controlado pela Uber
(2) Sim (0) Não (1 ) Mais ou menos mais estressado.
22. Você acha que a Uber deveria te pagar Quanto mais acha que a Uber deveria
pelo tempo que você fica parado? pagá-lo pelo tempo que fica parado mais
(2) Sim (0) Não (1) Mais ou menos se sente estressado.
30. Você contribui com previdência Quanto mais contribui com a previdência
privada ou INSS? menos se sente estressado.
(1) INSS-MEI (0) não contribui

31. Idade: Quanto menos idade mais se sente


estressado.

Infere-se pela regressão linear múltipla para percepção de estresse que os motoristas
que se consideram em uma condição de injustiça trabalhista e social, ou seja, que se veem
mais controlados pela Uber e que acham que deveriam receber pelo tempo que ele fica
parado, se percebem como mais estressados.
Diversas hipóteses poderiam ser levantadas para uma possível causalidade dos jovens
serem mais estressados, uma delas é que por não possuírem outra oportunidade de emprego
ou até mesmo de primeiro emprego, se submetem a uma condição precária de trabalho,
dirigindo por várias horas ao longo do dia, sem direitos e garantias trabalhistas. Como
hipótese, outro fato pode ser o acúmulo de tarefas, pois conforme um dos respondentes, além
de trabalhar, estuda para buscar uma melhor condição de trabalho no futuro.
Pode-se supor também, que alguns motoristas com maior idade e que são aposentados,
por já terem uma remuneração, conseguem trabalhar menos horas diárias e experienciar o
trabalho na Uber como uma ocupação prazerosa, em que trocam experiências com os
passageiros, e ainda obtêm um ganho extra.
73

Analisando a questão 30 em que foi concluído que os motoristas que contribuem com
a previdência privada são menos estressados uma das hipóteses para justificar esta relação é a
que os motoristas que portam mais direitos se sentem menos estressados, pois adquirem o
direito de se aposentar.
Já os motoristas que se comportam como empreendedores e acreditam que não
precisam de direitos trabalhistas, ou de auxílio do governo, além de se autoresponsabilizarem
pelo seu sustento; e desejarem receber mesmo que não esteja rodando com o carro, mas
simplesmente aguardando o aplicativo designá-lo para uma corrida, se percebem mais
estressados.

5.2.3 Regressão para envolvimento em acidentes

Do mesmo modo, considerando a questão 4 “Você se envolveu em algum acidente de


trânsito nos últimos 6 meses?” como variável dependente Y, e as outras questões do
questionário como variável independente (X1, X2, X3, ...) foram obtidas as tabelas 44 a 46
abaixo.

Tabela 44 - Estatística de regressão da questão 4 - Acidentes


R múltiplo 0,4379
Quadrado de R 0,1917
Quadrado de R ajustado 0,1590
Erro-padrão 0,3330
Observações 78

Tabela 45 - Tabela ANOVA da questão 4 - Acidentes


F de
gl SQ MQ F significação
Regressão 3 1,9467 0,6489 5,8508 0,0012
Residual 74 8,2072 0,1109
Total 77 10,1538

Tabela 46 - Tabela das questões que impactam na questão 4 – Acidentes

Coeficien Erro 95% 95% Inferior Superior


tes padrão Stat t valor-P inferiores superiores 95,0% 95,0%
Intercep
tar 0,2977 0,2032 1,4648 0,1472 -0,1072 0,7026 -0,1072 0,7026

Questão
6 0,0268 0,0164 1,6333 0,1067 -0,0059 0,0595 -0,0059 0,0595
Questão
19 -0,1009 0,0441 -2,2916 0,0248 -0,1887 -0,0132 -0,1887 -0,0132
74

Questão
26 -0,1486 0,0525 -2,8318 0,0060 -0,2532 -0,0441 -0,2532 -0,0441

A partir da tabela 46, pode-se concluir que as variáveis “6. Quantas horas você
trabalha por dia para o app?”, “19. Você acha que a Uber deveria pagar os direitos trabalhistas
(férias, 13º, assistência médica e outros)?” e “26. Se você tivesse um emprego de carteira
assinada, você ainda trabalharia na Uber?” impactam no envolvimento em acidentes do
motorista.
Pelo sinal dos coeficientes da Tabela 46 podemos ter as seguintes conclusões:

Tabela 47 - Conclusões obtidas pela regressão da questão 4 – Acidentes


Variável Conclusão
6. Quantas horas você trabalha por dia para o Quanto mais horas trabalha por dia mais se
app? acidenta.

19. Você acha que a Uber deveria pagar os Quanto mais acredita em direitos menos se
direitos trabalhistas (férias, 13º, assistência acidenta.
médica e outros)? (2) Sim (0) Não (1) Mais
ou menos

26. Se você tivesse um emprego de carteira Quanto mais trabalharia na Uber mesmo tendo
assinada, você ainda trabalharia na Uber? emprego com carteira assinada, menos se
(2)Sim (0)Não (1)Talvez acidenta.

Infere-se pela regressão linear múltipla para envolvimento em acidente que os


motoristas que possuem a ideologia de empreendedorismo de plataforma, ou seja, trabalham
longas horas diárias buscando ganhar mais, que acreditam que a Uber não deveria pagar
direitos trabalhistas, tendo em vista que se consideram empresários de si mesmos, e visam
mais o lucro financeiro do que os direitos se envolvem mais em acidentes de trânsito.
Pela análise da questão 26 em que mesmo o trabalhador possuindo emprego com
carteira assinada, continuaria a trabalhar na Uber, sofreria menos acidentes, sugere que por se
sentirem mais satisfeitos com o trabalho por aplicativo, que é uma oportunidade de ganhar
uma renda extra, estariam mais atentos ao trajeto e condições do trânsito.

5.3 PESQUISA QUALITATIVA

O Brasil enfrentou várias crises econômicas, dentre elas a crise de 2014/2017.


Segundo Da Costa (2021) de acordo com dados da Agência Brasil (2018), o Brasil
apresentava 11,76 milhões de pessoas desempregadas, num cenário pós-crise econômica de
2014. Durante a pesquisa observou-se que alguns respondentes relataram ter ficado
75

desempregado em 2014, buscando o trabalho no aplicativo por motivo de desemprego, em


época anterior à pandemia e outros no período da pandemia do Coronavírus devido ao
fechamento de vários estabelecimentos pela falta de clientes, diante do isolamento imposto
pela situação vivenciada. O Brasil já apresentava um quadro crítico de desemprego, o que foi
agravado com a Pandemia do Coronavírus no início de 2020. O número de desempregados
aumentou, e consequentemente o aplicativo foi um meio de buscar renda para garantir o
sustento, o que elevou a quantidade de motoristas por aplicativo.
Observou-se também que o desemprego afetou todos os níveis de empregados, pois no
trabalho por aplicativo há motoristas que possuem desde o Ensino Fundamental até outros que
possuem Pós Graduação.
Muitos desses motoristas não desejam sair do aplicativo mesmo trabalhando mais
horas, porque acham que o salário compensa. Outros disseram que mesmo se conseguissem
um emprego com carteira assinada com todos os direitos continuariam neste trabalho como
meio de aumentar sua renda e ter uma vida melhor. Apenas uma minoria disse que não
continuaria a trabalhar no aplicativo por achar que é muito explorado. Alguns disseram estar
no aplicativo temporariamente para pagar os estudos e assim futuramente disputar uma vaga
na profissão almejada.
Na pesquisa realizada também foram feitas duas perguntas qualitativas: uma para
verificar quais melhorias os motoristas gostariam no seu trabalho e outra para analisar qual foi
o maior impacto negativo da pandemia no trabalho dos motoristas.
A Tabela 48 informa as melhorias que os 80 motoristas que foram entrevistados
gostariam, alguns disseram que gostariam de algumas melhorias, outros somente uma, e
apenas um motorista disse que não lograria nenhuma melhoria.

Tabela 48 – Melhorias que o motorista gostaria no trabalho


Qual melhoria você gostaria no seu trabalho? Quantidade Percentual
Taxa melhor, que seja mais justa, pois tudo está 60 46,51%
aumentando, aumentar taxa de lucro do
motorista e reduzir o lucro da Uber.

Gostaria de mais segurança para o motorista e 16 12,40%


no geral, pois às vezes o local é perigoso.

Gostariam de ajuda de custo para manutenção do 10 7,75%


carro, para comprar o combustível, assistência
quando ocorre algum acidente ou o automóvel
quebra, e que as despesas de manutenção e
76

operação da atividade fossem divididas.

Mostrar o destino de embarque e de 9 6,98%


desembarque do passageiro.

Redução do preço do combustível 9 6,98%

Melhores informações do passageiro, tais como 4 3,10%


foto e endereço.

Melhoria no sistema de avaliação pelos 4 3,10%


passageiros que eles respeitem as regras do
aplicativo e de trânsito e que não avaliassem mal
os motoristas por exigir que os mesmos
cumpram as normas de distanciamento da
COVID-19, de trânsito e de segurança pessoal.

Que o cliente espere no local que não seja 3 2,33%


proibido estacionar, como ciclovias.

Que a Uber tenha um melhor relacionamento 2 1,55%


com o colaborador e que o aplicativo dê mais
assistência ao motorista.

Aumentar o valor da corrida para os clientes 2 1,55%


para que os motoristas obtenham maior lucro.

Fluxo do trânsito melhor. 2 1,55%

Maior valorização dos motoristas e ter um 2 1,55%


treinamento para melhor atendimento dos
clientes.

Colocar rastreador no carro. 1 0,78%

Estabilidade. 1 0,78%

Que o aplicativo informasse o motivo do 1 0,78%


bloqueio do motorista.

Aumentar o tempo de deslocamento, pois a Uber 1 0,78%


paga pela distância do trajeto e não considera o
tempo que o motorista fica preso no trânsito
devido ao horário de rush, acidente, etc.
77

Ter plano de saúde, e melhores condições de 1 0,78%


trabalho.

Nenhuma 1 0,78%

Verifica-se que a maioria dos trabalhadores aspira receber taxas melhores, desejando
que a taxa cobrada de participação da Uber fosse mais justa, Filgueiras (2020) enfatiza que as
tarifas que os motoristas recebem da Uber modificam de acordo com o horário da corrida,
bairros da região e período do ano, a empresa controla a oferta dos serviços para suprir a
demanda dos clientes.
Muitos motoristas reclamaram que houve um grande aumento dos preços dos produtos
na economia. Entre os motoristas entrevistados 9 deles relataram que gostariam da redução
do preço do combustível, pois este tem um grande impacto na renda dos trabalhadores.
Adicionalmente, 10 dos entrevistados mencionaram que também gostariam que a Uber
auxiliasse nos custos relacionados ao trabalho (manutenção do carro, auxílio quando tivesse
acidente, dentre outros). Em relação ainda à remuneração e benefícios, dois dos motoristas
consideram que deveria ser aumentado o valor da corrida para os clientes para que pudessem
obter um maior lucro, e um dos motoristas informou que gostaria de ter plano de saúde, e
melhores condições de trabalho. Além disso, um dos motoristas informou que gostaria de ter
estabilidade.
A segunda melhoria mais desejada pelos motoristas é a maior segurança para o
trabalho, pois às vezes o local é perigoso e muitos deles se pudessem escolher, não iriam e
cancelariam a corrida. Podemos perceber que outras respostas também são relacionadas à
segurança, por exemplo, 9 dos motoristas responderam que gostariam que o aplicativo
mostrasse o destino de embarque e de desembarque do passageiro e 4 dos motoristas
informaram que também poderiam ser melhoradas as informações do passageiro, tais como
foto e endereço. Um dos motoristas informou que gostaria que fosse colocado um rastreador
no carro.
Alguns dos motoristas relataram que a condição de segurança também é um papel do
governo, pois o mesmo que é responsável pela segurança pública, mantendo as ruas seguras
para não ter assalto e outros tipos de delitos. Outro fato relatado por dois motoristas que
também pode ser relacionado como competência relativa ao governo foi a melhoria do fluxo
do trânsito, pois o governo também é o responsável pela construção e a manutenção das vias
públicas.
78

Em relação às melhorias relativas aos clientes podemos observar as seguintes


respostas: melhoria no sistema de avaliação pelos passageiros que eles respeitem as regras do
aplicativo e de trânsito e que não avaliassem mal os motoristas por exigir que os mesmos
cumpram as normas de distanciamento da COVID-19, de trânsito e de segurança pessoal (4
respostas) e que o cliente espere no local que não seja proibido estacionar, como ciclovias (3
respostas). Os motoristas mencionaram que o estacionamento em local proibido pode gerar
multa prejudicando sua remuneração.
Outras melhorias relacionadas ao aplicativo foram: que a Uber tenha um melhor
relacionamento com o colaborador e que o aplicativo dê mais assistência ao motorista (2
respostas), maior valorização dos motoristas e ter um treinamento para melhor atendimento
dos clientes (2 respostas), que o aplicativo informasse o motivo do bloqueio do motorista (1
resposta) e que fosse aumentado o tempo de deslocamento, pois a Uber paga pela distância do
trajeto e não considera o tempo que o motorista fica preso no trânsito devido ao horário de
rush, acidente, etc (1 resposta).
No que diz respeito à outra pergunta qualitativa avaliada, podemos observar as
respostas na Tabela 49.

Tabela 49 – Maior impacto negativo da pandemia no trabalho dos motoristas


Qual foi o maior impacto negativo da
Quantidade Percentual
pandemia no seu trabalho?
Demanda de clientes caiu muito 35 37,63%

Desemprego 12 12,90%

Ficar sem trabalhar 10 10,75%

Não teve 9 9,68%

Aumento de preços de tudo 5 5,38%

Lock down com tudo fechado 5 5,38%

Menor renda 4 4,30%

Risco de contaminação com a Covid 3 3,23%


79

Usar máscara 2 2,15%

Não poder ir aos lugares 2 2,15%

Ficar sem ar condicionado 1 1,08%

Distanciamento das pessoas 1 1,08%

Ruas desertas, perigosas 1 1,08%

Preço das viagens caiu muito 1 1,08%

Casamentos acabados 1 1,08%

Ter que trabalhar na Uber com carro emprestado 1 1,08%

A maioria dos motoristas informou que o maior impacto da pandemia foi que a
demanda de clientes caiu muito. Muitos deles informaram que ficaram alguns meses parado,
pois devido ao lock down nas cidades, tudo ficava fechado. Dentre os motoristas
entrevistados, cinco consideraram que o lock down também foi um dos principais impactos da
pandemia. E 10 motoristas informaram que o maior impacto foi ficar sem trabalhar.
O segundo impacto mais mencionado foi o “desemprego”. Por exemplo, um dos
motoristas informou que ele tinha um comércio e devido à pandemia as vendas reduziram e
fechou o comércio. Outros motoristas também informaram que perderam seu emprego devido
à pandemia. Além do impacto já mencionado causado pela menor demanda de clientes e o
lock down que fizeram alguns motoristas ficarem sem trabalhar durante alguns meses.
Estes fatores impactaram bastante na renda dos trabalhadores, sendo que 4 deles
informaram que o maior impacto foi a “menor renda”. Outra agravante que a pandemia teve
foi o aumento da inflação, segundo 5 dos motoristas, o maior impacto foi o aumento dos
preços, que aumentou o custo para trabalhar e o custo de vida.
Observou-se que uma das questões que os motoristas consideraram de impacto
negativo ao seu trabalho, diminuindo sua remuneração foi o aumento do preço dos
combustíveis. Os motoristas entrevistados de modo geral responderam que antes do aumento
dos combustíveis seu ganho valia a pena, mas com o aumento excessivo ficou difícil, pois
praticamente estavam quase pagando para trabalhar. Os usuários também foram prejudicados,
80

pois durante esse período dependendo do trajeto, muitos tiveram suas viagens canceladas,
pois não compensavam para os motoristas.
Um dos motoristas informou que o preço das viagens na Uber diminuiu impactando a
renda recebida.
Nove dos motoristas consideraram que não teve impacto ou não sentiu muito os
impactos negativos da pandemia.
Outros motoristas relataram fatores relacionados diretamente à pandemia: usar
máscara (2 respostas); não poder ir aos lugares (2 respostas); distanciamento das pessoas (1
resposta), ruas desertas, perigosas (1 resposta) e casamentos acabados (1 resposta).
81

6 CONCLUSÃO

O estudo buscou analisar a opinião dos motoristas por aplicativo em relação às


condições de trabalho a partir de uma survey conduzida no interior dos veículos, durante a
prestação do serviço de transporte na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Verificou-se
que o número de trabalhadores por aplicativos aumentou, supostamente pelo aumento do
desemprego, acentuado pela crise política, econômica e social no Brasil e pela pandemia do
Coronavírus.
A análise descritiva dos resultados demonstra que vários motoristas optaram pelo
trabalho por aplicativo para não ficarem desempregados, sendo que alguns pretendem
continuar neste trabalho, enquanto outros almejam um emprego melhor. Devido aos menores
requisitos para se trabalhar por aplicativo, este tipo de trabalho se tornou uma opção para o
trabalhador conseguir um emprego de forma mais rápida. Apesar da precariedade do trabalho,
isto é, não existência de vínculo empregatício, sem a garantia de direitos trabalhistas, percebe-
se que o trabalho por aplicativo é uma forma que os motoristas utilizam para conseguir
alguma receita mensal.
A maioria dos entrevistados se sente cansado e tem o aplicativo como única fonte de
renda, trabalhando durante muitos dias na semana por longas horas diárias para adquirir a
renda necessária para pagar seus gastos. E respondeu mais ou menos quando questionado
sobre ganhar mais do que gasta para trabalhar na Uber, constatando-se que arcar com os
custos de operação da atividade e promover o sustento familiar torna-se bastante complicado.
Que grande parte não se sente estressado, hipoteticamente pela survey ter sido
realizada no horário matutino ou vespertino, e com o trânsito sem retenção.
A maior parte também não se envolveu em acidente de trânsito, e preferem trabalhar
no aplicativo da Uber para terem mais clientes e serem solicitados mais rapidamente. Além
de, apenas 20% ter o trabalho por aplicativo como renda complementar. E deste percentual, a
outra fonte de renda da maioria (56,25%) é um trabalho sem carteira assinada.
Em relação ao trabalhador se considerar um empreendedor, averígua-se que 51,25%
acreditam ser um empreendedor por possuírem flexibilidade de horário, entretanto muitos não
se consideram um empreendedor e nem o seu próprio chefe, intitulando a Uber como o chefe
do negócio, tendo em vista esta gerenciar o aplicativo.
Confirmou-se o fato da maioria dos motoristas gostarem da flexibilidade de horário e
isto ser um atrativo para realização deste serviço, além de um dos motivos deles não se
sentirem controlados pela Uber.
82

A maior parte respondeu que continuaria trabalhando na Uber se tivesse outro


emprego de carteira assinada. E a maioria respondeu que não prefere trabalhar como taxista
ao invés da Uber.
Quanto à escolaridade a maioria tinha o ensino médio completo.
A maioria dos respondentes informou que gosta de trabalhar na Uber e gosta de se
relacionar com os clientes, e gostaria de ter carteira assinada com a Uber, e que a mesma
pagasse os direitos trabalhistas (férias, décimo terceiro, dentre outros). Também foi
constatado que a maioria dos motoristas gostaria que o custo de manutenção de carro fosse
dividido com a Uber. E que grande parte dos respondentes também deseja que os custos com
acidente de trabalho sejam divididos com a Uber. Foi constatado que 90% não consideram a
taxa da Uber justa, pois todos os custos do serviço ficam sob a responsabilidade do motorista.
Infere-se que algumas justificativas das respostas dos questionários podem ser
verificadas nas questões qualitativas. Nas respostas de qual melhoria os trabalhadores
gostariam, verifica-se que a maioria dos trabalhadores deseja que a taxa da Uber fosse menor,
para ter uma melhor remuneração, sendo que as questões dos auxílios de custos para
realização do serviço, maiores benefícios de trabalho também foram mencionados. Também
houve relatos dos altos custos para realização do serviço, principalmente do combustível.
Outra questão bem mencionada nas melhorias desejadas pelos motoristas foi
relacionada à questão de segurança: locais perigosos, melhorar as informações do passageiro,
dentre outras. Algumas questões seriam de responsabilidade da Uber, outras do governo.
No que diz respeito à outra questão qualitativa relativa a qual foi o maior impacto
negativo da pandemia percebe-se que as principais respostas são relativas ao desemprego e
diminuição de demanda. A Uber foi uma opção ao desemprego para muitos destes
trabalhadores, que ficaram desempregados durante a pandemia.
Pela análise de regressão verificou-se quais variáveis podem estar impactando no
aumento do estresse pela percepção do motorista: maior controle pela Uber, achar que deveria
ser remunerado pelo tempo parado, menor ou não contribuição para a previdência, além de
quanto mais novo o motorista, mais estressado.
Pela análise da regressão linear foi constatado que uma jornada de trabalho mais longa
pode estar impactando no aumento de acidentes pela percepção do motorista. Também foi
verificado que os motoristas que acreditam mais em direitos, menos se acidentam e que
quanto mais o motorista trabalharia na Uber mesmo tendo emprego com carteira assinada,
menos se acidenta.
83

Conclui-se que o trabalho uberizado pode permitir a obtenção de um emprego mais


rápido, diminuindo o desemprego, porque é uma opção ao desemprego. Porém, as condições
de trabalho são mais precárias, sem direitos trabalhistas, podendo os trabalhadores estar mais
sensíveis a ficarem sem renda em situações de doença.
Como propostas para trabalhos futuros pode-se realizar a pesquisa com um maior
número de motoristas para diminuir a variância da amostra. Além de, realizá-la em outras
regiões e averiguar se os resultados são semelhantes. Assim como, fazer um estudo sobre os
efeitos dos trabalhadores uberizados não contribuírem para a previdência privada e sobre as
estratégias que poderiam minimizar os impactos negativos da Indústria 4.0 no ambiente
laboral dos homens.
84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) ABÍLIO, Ludmila Costhek. Uberização: a era do trabalhador just-in-time? ESTUDOS


AVANÇADOS 34 (98), 2020. doi: 10.1590/s0103-4014.2020.3498.008

(2) ______. Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado.


Psicoperspectivas, v. 18, n. 3, p. 41-51, 2019.

(3) ______. UBERIZAÇÃO E JUVENTUDE PERIFÉRICA: Desigualdades, autogerencia


mento e novas e novas formas de controle do trabalho. Novos estudos CEBRAP, v. 39, p.
579-597, 2020.

(4) ABÍLIO, L. C., AMORIM, H., & GROHMANN, R. (2021). Uberization and platform
work in Brazil: concepts, processes and forms. Sociologias, 23, 26-56

(5) AMORIM, Henrique José Domiciano; MODA, Felipe Bruner. Trabalho por
aplicativo. RTPS-Revista Trabalho, Política e Sociedade, v. 6, n. 10, p. 105-124, 2021.

(6) ANP. Painel Dinâmico de Preços de Combustíveis e Derivados do Petróleo.


10/12/2020. Disponível em: <https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-de-conteudo/paineis-
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90

APÊNDICE

QUESTIONÁRIO SOBRE MOTORISTAS QUE TRABALHAM POR APLICATIVOS

1. Há quanto tempo você trabalha na Uber?

2. Você se sente cansado no dia a dia?


( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos / às vezes

3. Quanto estressado você se sente no seu dia a dia?


( ) não me sinto ( ) pouco ( ) mais ou menos ( ) muito

4. Você se envolveu em algum acidente de trânsito nos últimos 6 meses?


( )Sim ( )Não

5. Você trabalha com outros aplicativos de transporte? ( )Sim ( )Não

6. Quantas horas você trabalha por dia para o app?

7. Quantos dias você trabalha na semana? ( )1,( )2,( )3,( )4,( )5,( )6,( )7

8. O trabalho com aplicativo é a sua única fonte de renda? ( )Sim ( )Não

9. Se não, a outra fonte é com carteira assinada ou é um emprego sem carteira assinada
(trabalho autônomo, prestação de serviço, “bico”)?

( ) carteira assinada ( )emprego sem carteira assinada

10. Você se considera um empreendedor por trabalhar na UBER? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou
menos

11. Você gosta da possibilidade de trabalhar a hora que quiser? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou
menos

12. Você se sente controlado pela Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

13. Você ganha mais do que gasta para trabalhar na Uber?

( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

14. Você ganha mais na Uber do que quando trabalhava numa empresa?

( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

15. Você sente prazer de trabalhar para a Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

16. Você gosta de se relacionar com os clientes? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

17. Você gostaria de ter carteira assinada com a Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
91

18. Por quem você acha que os custos de manutenção do carro deveriam ser pagos? ( )
eu mesmo ( ) a UBER ( ) dividir com a UBER

19. Você acha que a Uber deveria pagar os direitos trabalhistas (férias, 13º, assistência
médica e outros) ? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

20. Quem você acha que deveria pagar os custos com acidente de trabalho (roubo, etc)?
( ) eu mesmo ( ) a UBER ( ) dividir com a UBER ( ) o governo

21. Você considera a falta de vínculo de trabalho com a empresa positiva, pra não ficar ligado
a uma só empresa? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

22. Você acha que a Uber deveria te pagar pelo tempo que você fica parado?
( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
23. Você acha que a taxa que a Uber cobra da corrida é justa? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

24. Você está procurando outro trabalho? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

25. Você está trabalhando na Uber porque ficou desempregado? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou
menos

26. Se você tivesse um emprego de carteira assinada, você ainda trabalharia na Uber?
( )Sim ( )Não ( )Talvez

27. Você preferiria trabalhar como taxista ao invés da Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

28. Você acha que o sistema de avaliação da Uber é justo? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

29. Você preferiria trabalhar em cooperativa para ter uma taxa menor?
( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos

30. Você contribui com previdência privada ou INSS?


( ) previdência privada; ( ) INSS; ( ) não contribui

31. Idade:

32. Escolaridade:

( ) ensino fundamental ( ) ensino médio ( )ensino superior ( )pós-graduação

33. Qual melhoria você gostaria no seu trabalho?


R=

34. Qual foi o maior impacto negativo da pandemia no seu trabalho?


R=
92

______________ ANOTAR APÓS A ENTREVISTA

35. Sexo: ( ) M ( )F

36. HORÁRIO DA ENTREVISTA

37. CONDIÇÃO DO TRÂNSITO ( ) muito engarrafado ( ) lento ( ) sem retenção

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