Dissertação Final NATÁLIA DE MORAES DUQUE
Dissertação Final NATÁLIA DE MORAES DUQUE
Dissertação Final NATÁLIA DE MORAES DUQUE
ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
NITERÓI, RJ
2023
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Professor Orientador:
Niterói
2023
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela vida, saúde, proteção e fé, que me permitiram concluir
esta etapa em minha vida.
Ao meu pai, in memoriam pelo exemplo, amor, orientação e ensinamentos de que o melhor
caminho é a dedicação aos estudos.
A minha irmã Mariana e meu cunhado, por todo incentivo, bons conselhos e auxílio para
superar as dificuldades em todas as áreas da minha vida.
Ao meu orientador Fernando, cuja inteligência, presteza e objetividade foram essenciais para
a realização deste estudo.
A todos os professores que tive em minha vida, pois todos os seus ensinamentos constituem a
minha formação profissional e pessoal.
A todos os motoristas da Uber que fizeram parte deste trabalho e demonstraram interesse e
paciência para participar desta pesquisa.
Muitíssimo obrigada!
RESUMO
Atualmente, novas modalidades de emprego foram criadas, tais como o trabalho intermediado
por aplicativo. Este tipo de emprego favorece a precarização do trabalho, pois geralmente as
empresas de tecnologia não consideram que possuem uma relação de emprego com os
prestadores de serviço. Os trabalhadores são considerados autônomos sendo responsáveis
pelos custos da realização do serviço. Esta modalidade de emprego, denominada como
uberização, vem se propagando cada vez mais, principalmente em momentos de crise
econômica. Muitos trabalhadores por não conseguirem outro emprego, realizam este tipo de
serviço como uma opção ao desemprego. Esta dissertação busca analisar a opinião em relação
às condições de trabalho de 80 motoristas da Uber da região metropolitana do Rio de Janeiro
através de uma survey. A pesquisa também teve duas questões qualitativas: uma foi relativa à
qual melhoria o motorista gostaria em seu trabalho; e a outra foi para verificar qual foi o
maior impacto negativo provocado pela pandemia da Covid-19. Além disso, foram analisadas
quais questões podem estar impactando no estresse e no acidente de trabalho considerando as
respostas dos motoristas do questionário utilizado neste estudo utilizando o método de
regressão linear múltipla.
Currently new types of employment have been created, such as work intermediated by
application. This type of employment favors the precariousness of work, as technology
companies generally do not accept that they have an employment relationship with the service
force. Workers are self-employed and are responsible for the costs of carrying out the service.
This type of employment, known as uberization, has been spreading more and more,
especially in times of economic crisis. Many workers, for not being able to find another job,
get this type of service as an option to unemployment. This dissertation analyzes the opinion
regarding the working conditions of 80 Uber drivers from the metropolitan region of Rio de
Janeiro through a survey. The research also had two qualitative questions: one was related to
what improvement the driver would like in his work; and the other was to verify what was the
biggest negative impact caused by the Covid-19 pandemic. In addition, it was raised which
issues may be impacting on stress and accidents at work considering the responses of drivers
in the questionnaire used in this study using the multiple linear regression method.
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
2 CONTEXTUALIZAÇÃO ...................................................................................... 13
2.1 UBERIZAÇÃO ........................................................................................................ 13
2.1.1 O processo de Uberização.......................................................................................... 14
2.2 UBERIZAÇÃO E INDÚSTRIA 4.0 ........................................................................ 14
2.2.1 A Indústria 4.0 e a atividade laboral .......................................................................... 20
2.3 UBERIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................... 23
2.4 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ...................................................................... 24
2.5 INÍCIO DA UBER NO BRASIL ............................................................................. 26
2.6 O IMPACTO DA PANDEMIA NO AUMENTO DE TRABALHADORES
CADASTRADOS EM APLICATIVOS .................................................................................. 27
2.7 OPÇÃO AO DESEMPREGO .................................................................................. 28
2.8 REQUISITOS PARA TRABALHAR NA UBER ................................................... 30
2.9 O FALSO EMPREENDEDORISMO ...................................................................... 31
2.10 NOVA FORMA DE CONTROLE ........................................................................... 32
2.11 CUSTO DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ......................... 33
2.12 REFORMA TRABALHISTA .................................................................................. 36
2.12.1 Regulamentação do trabalho uberizado: análise do caso do Reino Unido ................ 37
3 METODOLOGIA................................................................................................... 40
3.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 40
3.2 QUESTIONÁRIO E COLETA DE DADOS ........................................................... 44
3.3 ESTATÍSTICA DESCRITIVA PARA ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO
QUESTIONÁRIO. ................................................................................................................... 45
3.4 REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA PARA ANÁLISE DAS VARIÁVEIS:
PERCEPÇÃO DO MOTORISTA SE SENTIR ESTRESSADO E PERCEPÇÃO DO
ENVOLVIMENTO EM ACIDENTES. ................................................................................... 45
3.5 PESQUISA QUALITATIVA ................................................................................... 46
4 ANÁLISE PRELIMINAR DE DADOS................................................................ 48
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 53
5.1 ESTATÍSTICA DESCRITIVA PARA ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO
QUESTIONÁRIO .................................................................................................................... 53
5.2 REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA PARA ANÁLISE ........................................ 67
5.2.1 Escala utilizada para análise das perguntas ............................................................... 67
5.2.2 Regressão para percepção de “sentir estressado” ...................................................... 71
5.2.3 Regressão para envolvimento em acidentes .............................................................. 73
5.3 PESQUISA QUALITATIVA ................................................................................... 74
6 CONCLUSÃO......................................................................................................... 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 84
APÊNDICE .............................................................................................................................. 90
11
1 INTRODUÇÃO
trabalho. Assim como, sendo uma oportunidade de complementar a renda para trabalhadores
que já possuem algum tipo de emprego.
Segundo Giniyatullin (2019) o trabalho por aplicativo tem se difundido em outros
mercados e setores de trabalho, tais como: educação, medicina, serviços financeiros,
bancários e comércio. Para Kaye-Essien (2020) a propagação de empresas que utilizam o
aplicativo para intermediar motoristas e clientes, a precária regulamentação da atividade, as
condições de trabalho com menos direitos dos motoristas por aplicativo ratificam a relevância
do estudo.
Diante disto, foi realizada uma survey com 80 motoristas da região metropolitana do
Rio de Janeiro, durante a prestação do serviço de transporte, para analisar a opinião dos
motoristas em relação às condições de trabalho. Além de serem realizadas duas questões
abertas sobre melhorias desejadas no trabalho, esta pesquisa buscou também averiguar se o
trabalho uberizado é uma opção ao desemprego.
O estudo proposto é estruturado em mais 5 seções, além desta introdução. Na seção 2
são apresentados os conceitos preliminares, incluindo as definições de alguns termos
utilizados na literatura. Na seção 3 a metodologia utilizada é descrita, na seção 4 é
apresentada a análise preliminar dos resultados, na seção 5 os resultados obtidos, na seção 6 a
conclusão do estudo e ao final está o apêndice com o questionário utilizado na pesquisa.
13
2 CONTEXTUALIZAÇÃO
2.1 UBERIZAÇÃO
A empresa Uber foi fundada em 2010 em São Francisco nos Estados Unidos (sítio
Uber) e chegou ao Brasil em 2014. Segundo Abílio (2020, p.582) o termo uberização deriva
do nome da empresa Uber, pelo fato da mesma ter se expandido mundialmente e seu formato
transparecer claramente o processo de uberização do trabalho. Giniyatullin (2019) diz que
“uberização” deve-se à empresa Uber Technologies (Uber), que criou um aplicativo de
transporte que gera menos custo e possui mais rapidez. Mesmo antes de surgirem as
plataformas e aplicativos, já havia grande difusão de novas modalidades laborais
(FILGUEIRAS; DUTRA, 2021 p.5).
Para Abílio (2021) a uberização é definida como “novo tipo de controle e
gerenciamento do trabalho associado a um processo de informalização, que leva à
consolidação do trabalhador sob demanda”. Este processo vem se desenvolvendo ao longo
dos anos, e foi aumentando em larga escala mundialmente, devido a crises que geram
desemprego nos países em geral e mais recentemente pela pandemia do Coronavírus, que
desempregou um número considerável de trabalhadores, por conta do isolamento e do receio
de contágio, visto a alta propagação do vírus e elevado índice de óbito.
A opção para os consumidores foi o serviço de delivery, que alguns já utilizavam, mas
que praticamente foi absorvido por grande parte da população, onde as encomendas,
alimentos, produtos farmacêuticos, construção, e outros materiais foram entregues nas
residências, o que mesmo pós-pandemia tornou-se um hábito que ao que tudo indica vai
permanecer.
Outro mercado que já existia, mas desenvolveu-se muito na pandemia foi o estudo
online e o trabalho home-office. Sempre houve cursos on-line, mas com a pandemia aumentou
muito e até hoje o que observamos é uma proliferação de cursos online de todas as áreas,
como na saúde, jardinagem, culinária, educação, tecnológica, dentre outras.
Como consequência observou-se o aumento do trabalho informal, onde o trabalhador
busca suprir suas necessidades básicas, pois não tendo mais um emprego formal, com plano
de saúde, salário justo, e outras vantagens que muitas empresas ofereciam, a opção para
muitos foi buscar o trabalho por aplicativo, que dependendo de quantas horas o motorista
trabalha, pode receber uma remuneração que atenda às suas necessidades e de sua família.
14
A uberização está se ampliando para diversos setores, de acordo com Garcias (2021) o
fenômeno da uberização modifica empresas, tais como: as de transporte, Uber, motorista
privado; assim como a profissão de advogado que é transformada em escritórios de
consultoria e advocacia virtuais. Abílio (2020) afirma que a uberização atualmente transpassa
o mundo do trabalho abrangendo as mais variadas profissões, com forte tendência a se
estabelecer no futuro.
O modelo de negócios de uberização traz benefícios como transação por meio de
plataformas digitais, aumento da quantidade de atividade, variedade de produtos e frequência
de pedidos, padrão de comércio online, observação dos concorrentes (GURINA, 2019). A
análise dos concorrentes permite com que a empresa se prepare melhor e tenha um bom
posicionamento no mercado. Segundo Flonneau (2018), até mesmo a Uber está sofrendo com
o processo de uberização em Paris, com a concorrência de empresas mais "disruptiva", a
chamada Taxify, que desenvolveu uma parceria com o grupo chinês Didi.
Schwab (2016, p. 26-34) afirma que a indústria 4.0 se destaca pela “velocidade,
amplitude e profundidade e a transformação completa de sistemas inteiros”, ou seja, tudo
ocorre com muita rapidez, muitas transformações ocorrem concomitantemente, e sobrevém
uma mudança total de sistemas. Ainda cita três categorias que impelem a Indústria 4.0: física,
biológica e digital. Na categoria física: impressão em 3D, novos materiais, veículos
autônomos, robótica avançada; na biológica destaca-se a genética; na categoria digital: IoT
(Internet das coisas), sensores dentre outros.
A indústria 4.0 está modificando a economia, as indústrias, os trabalhos que existem,
além de criar novos empregos, logo os profissionais devem ser capazes de se adaptar e
aprender novas tecnologias. Segundo Rüßmann et al. (2015) com esta revolução:
17
Na Figura 1 estão os nove pilares da Indústria 4.0 pelo BCG (Boston Consulting
Group), que contribuíram com todo avanço tecnológico e mudanças na forma de produzir,
trabalhar, se relacionar, comercializar e aprender.
As habilidades nucleares técnicas mais frequentes são: (i) Programação, (ii) Análise
de dados, (iii) Processamento de dados, (iv) Análise da segurança e (v) Manutenção
e reparo. As habilidades nucleares sociocomportamentais mais frequentes são: (i)
Comunicação, (ii) Mentalidade digital, (iii) Resolução de problemas (iv) Trabalho
em equipe e (v) Pensamento crítico. As habilidades nucleares de gestão mais
frequentes são: (i) Gestão; (ii) Gestão de pessoas, (iii) Gestão de projetos, (iv)
Gestão de recursos e (v) Gestão da inovação (SESI-PR, 2020, p.91).
Verifica-se que as habilidades necessárias para o profissional atuar na indústria 4.0 são
muitas e diversificadas, além de ser um profissional que esteja em contínuo aprendizado,
disposto a se adaptar e se desenvolver na área técnica, sociocomportamental e de gestão.
Sendo um colaborador completo que entenda os processos, equipamentos e que saiba
trabalhar em equipe, com relacionamento interpessoal.
Schwab (2016) questiona se no processo de economia no qual o trabalho é realizado
mediante solicitação, se é melhor ter uma plataforma ou o ativo objeto, visto o fornecedor
muitas vezes não ter o bem que comercializa, mas liga o vendedor ao cliente, como Uber,
Airbnb, Alibaba e outros. As plataformas digitais proliferam num ritmo acelerado, e prestam
os mais diversificados tipos de serviços como transporte, domésticos, moradia, compras
dentre outros, sempre com preços mais convidativos, produtos diversos e viabiliza a interação
entre vendedor e cliente, com retorno sobre a opinião do comprador sobre o produto ofertado.
Os profissionais que prestam serviços sem vínculos empregatícios, são colaboradores
autônomos que fazem serviços específicos, também nomeada de economia sob demanda.
21
Provavelmente com as mudanças que a indústria 4.0 traz, pessoas mais qualificadas e
capazes de se adaptarem permanecerão empregadas, tarefas rotineiras serão automatizadas, e
a empresa poderá monitorar as atividades laborais (DE STEFANO, 2020, p.24).
O uso da tecnologia pode permitir a redução de custos para os usuários. Por exemplo,
o uso de inteligência artificial e tecnologia em nuvem na área de saúde poderá cada vez mais
melhorar o diagnóstico médico por aplicativo. Conforme a tecnologia avança, a
recomendação de um plano de tratamento poderá ser feita remotamente, não sendo necessária
uma visita dispendiosa à clínica ou hospital, permitindo que mais pessoas tenham acesso ao
sistema de saúde devido à redução de gastos. Porém, a legislação regulamentar médica pode
atrapalhar esta transformação digital na medicina. E, além disso, o avanço desta ferramenta
pode aumentar o nível de desemprego entre os profissionais de saúde (KHAN, 2016, p.125-
127).
Um outro exemplo de que o avanço tecnológico pode gerar um aumento do
desemprego devido a automatização de processos é o desenvolvimento de carros sem
motoristas.
A tecnologia também permitiu maior flexibilidade ao trabalho, atualmente muitas
tarefas podem ser feitas remotamente. Segundo Nerinckx (2016, p. 247), as novas formas de
emprego permitem uma maior flexibilidade sendo que esta característica nos trabalhos tem
sido mais demandada pelos empregadores, empregados ou ambos. As pessoas ficam
conectadas ao trabalho através de seus celulares ou aparelhos que têm tecnologia para
trabalhar remotamente, sendo que em muitos trabalhos, o empregado decide o horário de
iniciar e finalizar seu trabalho.
A indústria 4.0 modifica as atividades laborais, e diante disso é necessária a
regulamentação das profissões para que o direito a vida, saúde, dignidade da pessoa humana
sejam respeitados, com condições de trabalho que favoreçam a ética, uma sociedade livre,
justa e solidária. Conforme expressa De Stefano (2020, p.25):
David (2016) e Giniyatullin (2019) relatam que o termo “uberização” tem origem com
a empresa americana Uber que difundiu pelo mundo o uso de carros de passeio, para
transportar passageiros por um preço mais em conta, através do aplicativo que conecta cliente
e motorista mais rápido do que os táxis tradicionais.
O uso da tecnologia viabiliza o relacionamento direto entre cliente e empresa ou
prestador de serviço, reduz os intermediários, facilitando a busca, escolha, solicitação, entrega
e pagamento.
Para Moreira (2021, p.130) a uberização é quando o processo é intermediado por
aplicativos, reduz o ganho e aumenta o tempo de trabalho do trabalhador; sendo que
maximiza o lucro da empresa que administra o aplicativo.
No estudo de caso em Gana, país da África Ocidental, o autor Kaye-Essien (2020) diz
que a uberização no setor de transporte urbano é um modo de governar neoliberal, onde o
Estado deixa de intervir para garantir a perenidade da cidadania, a Uber cria as regras, e os
motoristas se iludem em ser seu próprio chefe.
Coutinho (2021, p. 161) supõe que a origem do assalariado capitalista parece com o
trabalhador digital do século XXI devido a alarmante desigualdade social, exaustiva jornada,
e ao Estado que não regula a atividade sob justificativas neoliberais.
A Uberização para Abílio (2020) é o método onde o profissional sem vínculo não
possui direitos, garantias e proteções adquirindo riscos e custos da atividade.
Para David (2016) é a cooperação entre consumidores (solicitantes do serviço) e
provedores usando uma plataforma de compartilhamento. No setor de transporte a plataforma
localiza um motorista que está próximo ao cliente.
Para Abílio (2019) a uberização do trabalho é definida como uma inovação no modo
de administrar, sistematizar e supervisionar o trabalho, e que se entende como uma ação em
expansão que perpassa mundialmente o universo do trabalho.
24
Teodoro (2017) relata que a Uber possui uma tecnologia revolucionária, entretanto
para cumular capital age de forma capitalista cobra uma “taxa de serviço” sobre o valor de
cada corrida, diminuindo ao máximo o ganho dos motoristas.
Para Puletti (2019) a economia de plataforma sob demanda incentiva os motoristas a
serem autônomos, sendo responsáveis pelos custos, no entanto não conhecem as regras do
algoritmo para punição e cobrança das tarifas, assim sendo não possuem direitos trabalhistas.
Verifica-se que o longo período que fica sentado em trânsito, pode causar dores
musculares, estresse, acidentes de trabalho e desentendimentos familiares pela ausência
(PULETTI, 2019).
O trabalho informal contribui com a desregulamentação do mercado, como os
professores não efetivos, que se cadastram nas escolas sem utilizar aplicativo, possuem menos
direitos do que os efetivos e autodefinem a sua carga horária (VENCO, 2019, p.7).
Na Tabela 2 verifica-se a comparação entre o motorista da Uber e o professor não
efetivo, ambos não possuem horário de trabalho definido, logo devem estar disponíveis e são
avaliados constantemente, os motoristas pelos aplicativos e clientes através da pontuação de 0
a 5 estrelas, e os professores pela apreciação do aprendizado dos discentes. O que difere é que
o motorista ainda paga aproximadamente 25% do valor recebido de cada viagem para a
empresa que gerencia o aplicativo, não possuem direitos do trabalho, são profissionais não
certificados.
Para Abílio et. al (2021) o termo gig economy tem sido utilizado para descrever a
participação do trabalho por meio de plataformas na economia brasileira, sendo traduzido por
“economia dos bicos”, expressão essa que descreve de forma problemática uma realidade já
vivenciada pelos trabalhadores da periferia.
A classe trabalhadora da periferia do Brasil já se submetia ao trabalho de bicos, ou
seja, quando tinham demanda de trabalho e efetivamente executavam alguma atividade
laboral estes recebiam, mas não tinham direitos e nem possuíam vínculo empregatício com o
empregador, tais como: faxineira, pedreiro, cabeleireira, entre outros.
cidade durante a noite, evitando a direção após o uso de bebidas alcoólicas, manteve a
economia em movimento durante a pandemia da Covid-19.
Entretanto, a Uber defende a desregulamentação do táxi, e no Brasil existe o Projeto
de Lei PL128/2022 que dispensa o uso do taxímetro para que o preço seja determinado por
aplicativos ou plataformas digitais.
A empresa Uber afirma que gera muitos empregos e que a desregulamentação do táxi
poderia promover mais empregos. Porém, esta geração de emprego pode ser comprometida
com a criação de carros sem motoristas. Este modelo já tem sido testado pela Google, e a
Uber também passou a realizar pesquisas de carros sem motoristas. Com a
desregulamentação, a empresa poderá colocar estes carros nas estradas e aumentar sua
lucratividade (KHAN, 2016, p. 167).
home office e o teletrabalho foram ampliados, o ensino a distância, as compras pela internet, o
serviço de delivery.
Nesse contexto, houve um aumento no número de trabalhadores uberizados, em busca
de manter sua sobrevivência.
Pode-se verificar que o trabalho por plataformas está sendo um grande empregador no
Brasil, que as pessoas utilizam devido à facilidade de acesso, para pagarem as contas e
manterem suas famílias.
Com a pandemia, entre fevereiro e julho de 2020 houve uma queda acentuada na
população ocupada, sendo maior entre os trabalhadores informais, as pessoas menos
instruídas foram as mais penalizadas.
Segundo (Kyrou, 2015), o sucesso da Uber se deve não apenas a sua plataforma
tecnológica, mas também ao “senso comum popular” de experiências vivenciadas com
taxistas, como por exemplo, o serviço mal-humorado, a falta de taxista em determinado local
ou horário, dentre outros. A Uber se compromete a fazer qualquer entrega, permitindo assim
ter uma maior disponibilidade ao cliente: entregas para comerciantes (UberRUSH ), refeições
( UberEats ). Outro fato que segundo este autor, representa um sucesso para a Uber é o cliente
já saber o preço antes de terminar a corrida, logo não ficando sujeito a alteração devido a
engarrafamentos imprevistos. Além disso, o UberPop também possibilitou o maior acesso ao
“serviço de táxi” a pessoas com menor renda (KYROU, 2015).
Porém, também é visto que a Uber apresenta condições mais precárias de trabalho, os
trabalhadores não têm seguro saúde, férias pagas, dentre outros benefícios. Apesar das
condições precárias de trabalho, muitas pessoas aderem ao sistema da Uber como uma opção
ao desemprego. Os trabalhadores trocam uma situação pior (desemprego), por uma menos
pior (trabalho precário) (KYROU, 2015).
30
O cadastro em aplicativos para a prestação de serviços é uma das opções mais rápidas
para conseguir um emprego. Os aplicativos geralmente não exigem muita especialização dos
trabalhadores, por exemplo, o site da Uber informa que para se tornar um motorista do
aplicativo são necessários:
1) Cadastrar-se e enviar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação)
2) Enviar seu CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo) e baixar o
aplicativo
3) Também é exigido alguns requisitos para o veículo, sendo que o motorista pode utilizar um
carro alugado
Conforme o trecho abaixo de Abílio (2019), o nível de regulação deste trabalho é
muito inferior se comparado a outros trabalhadores de transporte de passageiros, por exemplo:
taxista
O motorista da Uber, por exemplo, não tem uma identidade profissional como a do
taxista, que passou por certificações públicas que lhe conferem o estatuto de taxista.
O motorista da Uber é um trabalhador amador que aderiu a uma atividade informal,
sem regulamentações, à qual praticamente qualquer um pode aderir; não há licenças
limitadas, não há determinação sobre o tamanho do contingente de trabalhadores. A
qualidade de seu trabalho será certificada pelo mundo das avaliações; seu
reconhecimento profissional, se é que se pode denominá-lo assim, virá
informalmente de seu sucesso em permanecer naquela atividade ao longo do tempo
e de seus ranqueamentos (ABÍLIO, 2019, p. 4).
obter melhor renda, corre também o risco de ser bloqueado pelo aplicativo se houver alguma
reclamação, ainda que infundada.
O motorista, dependendo do local do usuário, pode recusar a corrida, por motivo de
sua própria segurança e dos usuários, mas se isso for feito frequentemente, ele não receberá
mais chamadas. Ele é subordinado à plataforma, mesmo que o carro seja próprio, que faça seu
horário, que recuse corridas, o aplicativo encontra mais passageiros. Eles afirmam que a Uber
é a que possui mais usuários, sendo melhor para trabalhar, e evitar a ociosidade.
De acordo com Abílio (2019) o falso empreendedorismo é assumir riscos da própria
atividade, transferindo a questão social do desemprego para uma responsabilização da pessoa
por sua sobrevivência em um cenário de precariedade.
A lógica da uberização favorece a desregulamentação e a precariedade do trabalho,
questiona-se a autodefinição da jornada de trabalho e o ganho financeiro para os profissionais
uberizados, que lutam pela sobrevivência (CARVALHO et al., 2021).
Segundo Kaye-Essien (2020) a utopia de ser seu próprio chefe leva os motoristas da
Uber a um ciclo interminável de “escravidão” do trabalho vigente, sem serem amparados pelo
Estado e pelo sindicato.
Kaye-Essien (2020) relata que um dos motoristas acredita que a Uber é quem é o chefe
do negócio, pois é a empresa de transporte por aplicativo que possui maior quantidade de
usuários.
Puletti (2019) conta que um dos motoristas questiona a autonomia e possibilidade de
ascensão social, pois o salário é baixo, é controlado pelo aplicativo, avaliado por clientes e
roda no início da manhã e após as 18h quando a procura é maior.
Novas formas de controle têm surgido com o processo da uberização, sendo que o
aplicativo determina o serviço e o valor a ser pago, conforme pode ser visto no trecho abaixo:
As avaliações realizadas pelos usuários também são dados que alimentam o controle
e o gerenciamento do processo de trabalho. Possibilitam um ranqueamento dos
trabalhadores, elemento que será utilizado como critério automatizado na
distribuição do trabalho e em determinações da remuneração (ABÍLIO, 2019, p. 3).
rentabilidade dos motoristas. Alguns motoristas utilizam como estratégia dirigir apenas em
determinados horários em que as corridas são mais caras (KHAN, 2016, p. 166).
Kaye-Essien (2020) informa que um motorista da cidade de Accra, capital do estado
africano de Gana relatou que dirige o dia inteiro e recebe pouco, devido a comissão da Uber
de 25%, ao custo do combustível, pedágios, seguro e outras despesas.
Segundo Antunes (2020) os motoristas de aplicativo para obterem melhor
remuneração trabalham mais horas para cobrir a totalidade das despesas de custos com a
manutenção do veículo, e ainda aqueles que têm custos com o aluguel de carro.
O preço dos combustíveis também é um dos custos que o motorista tem para a
realização do serviço, que no período de 2020/2021/2022 sofreram variações rápidas para
preços mais altos, conforme pode-se observar nos gráficos abaixo elaborados a partir dos
dados do painel dinâmico da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
do Brasil (ANP).
Figura 3: Evolução do preço médio mensal – Gasolina Comum no Município do Rio de Janeiro - RJ
Figura 4: Evolução do preço médio mensal – Etanol Hidratado no Município do Rio de Janeiro - RJ
Segundo Nerinckx (2016, p. 246) novos modelos de trabalho têm surgido, tais como a
economia colaborativa/plataforma. Este modelo é predominante em trabalhos de delivery,
compartilhamento de carros e apartamentos. Com o aparecimento desta nova forma de
trabalho, também surgiram algumas dúvidas de qual seria os direitos e obrigações
(responsabilidades, proteção de clientes, quadro regulamentar, tratamento fiscal e
previdenciário dos rendimentos derivados, situação de emprego). Além de outros
questionamentos que surgem tais como, qual seria a relação entre cliente-plataforma-
provedor.
Para Oliveira (2020) existe uma concentração de capital com a utilização das
plataformas digitais, ocasionando rígidas reformas trabalhistas e previdenciárias, e
transformando empresas em plataformas e plataformas em vultosas companhias. Estas
mudanças na economia e no trabalho são de proporção mundial.
Moreira (2021, p. 127) critica as relações de trabalho e as reformas trabalhistas feitas
em 2017 e 2019 no Brasil, pois motivaram o desmonte dos sindicatos e a divisão da classe
trabalhadora.
Para Abílio (2020) o trabalhador se torna autogerente subordinado, que conforme
Moreira (2021, p. 128) permuta da espécie trabalho para prestador de serviço, e de emprego
para espécie empreendedor, onde se responsabiliza pelo seu sustento, custos e gastos para
executar o trabalho, sendo submisso aos ideais do capital.
A pesquisa realizada por Da Costa (2021, p.1) comparou índices de desemprego,
informalidade e trabalho formal a partir de janeiro de 2016, época anterior à Reforma
Trabalhista e a fase após a Reforma até fevereiro de 2020, constatando que a modernização e
flexibilização das leis trabalhistas que objetivava atrair empregadores para o Brasil e
aumentar o número de empregos formais, não contribuiu para redução do desemprego, mas
elevou o rol de informalidade, pobreza e pobreza extrema no Brasil.
Oliveira (2020) relata a dificuldade da regulamentação do trabalho dos trabalhadores
por plataformas, tendo em vista as peculiaridades da prestação de serviço, em que não existe
ordenação pessoal, mas a interação por meios tecnológicos e o trabalhador possui a liberdade
de horário de trabalho.
Segundo Nerinckx (2016, p. 247-249), pelo menos duas classificações têm existido
nos países da União Europeia: salaried employment e self-employede, ou seja, trabalhador
assalariado e autônomo. Porém, as definições e critérios para classificar a relação de trabalho
variam de acordo com o país.
Geralmente, os critérios mais comuns para verificar se existe uma relação contratual
de trabalho são: a possibilidade de o empregador determinar onde, como e quando deve ser
feito o trabalho; se o empregador pode sancionar o empregado e se aquele pode controlar o
empregado. No entanto, novos critérios têm surgido devido as novas relações de trabalho, tais
como: liberdade de organização do trabalho, propriedade do negócio, fornecimento de
material, dentre outros. Por exemplo, se as características do trabalho de um trabalhador não
retratam um “link de subordinação”, ele é considerado um profissional autônomo.
Como ocorre na Europa, nos Estados Unidos também existem duas classificações para
os trabalhadores: employees e independent contractors, ou seja, empregados e trabalhadores
autônomos. Os empregados possuem alguns direitos, sendo que a legislação garante uma
maior proteção para estes trabalhadores: ganham um salário mínimo e recebem horas extras,
direito a seguro-desemprego, dentre outros direitos (NERINCKX, 2016, p. 250).
Estas indagações relativas às relações de trabalho têm surgido em vários países do
mundo, sendo que uma das empresas que possui alguns processos sobre esta nova relação de
38
trabalho é a Uber. A Uber é uma empresa que opera em vários países e com esta nova relação
de emprego criada, que existe uma intermediação através de uma plataforma, tem surgido
vários questionamentos. Segundo Reich (2015), em alguns países, a questão dos trabalhadores
serem empregados da Uber ou profissionais autônomos tem sido avaliada pela Justiça do país.
Alguns motoristas reclamaram desta questão no Reino Unido, sendo que o Tribunal
deste país decidiu que a Uber não pode mais classificar os motoristas do Reino Unido como
autônomos, além de ter a obrigação de pagar alguns direitos trabalhistas (OSBOURNE,
2016).
Segundo Osbourne (2016), um dos motoristas que estavam processando a Uber alegou
que ele estava sob tremenda pressão para trabalhar várias horas e aceitar os trabalhos, além de
ter “repercussões”, caso ele cancelasse a corrida. Já a Uber argumentou que o motorista pode
trabalhar o horário e o local que desejar; e que ela é uma empresa de tecnologia, e não uma
firma de transporte.
A Uber recorreu da decisão da Justiça durante 5 anos. A decisão final foi que os
Motoristas são “trabalhadores”, e não “profissionais autônomos”. Com esta decisão judicial, a
empresa foi obrigada a pagar direitos trabalhistas para os motoristas: férias, salário mínimo
garantido e aposentadoria. A empresa aproveitou esta decisão judicial e passou a utilizar
como marketing para atrair os motoristas. A Uber pretende aumentar o número de motoristas
cadastrados devido a este aumento de benefícios dado aos motoristas (SENRA, 2021).
Estes benefícios foram apenas para motoristas que trabalham no Reino Unido. Apesar
de no Brasil terem processos contra a Uber, ainda não foi reconhecido de maneira
generalizada para os motoristas os benefícios do vínculo empregatício, conforme trecho
abaixo:
39
3 METODOLOGIA
Para verificar os estudos já realizados com o tema uberização foi realizada uma
pesquisa bibliográfica na base Scopus utilizando como critério de pesquisa publicações com
“uberization” no título, tendo como resultado o total de 30 documentos.
A quantidade de documentos por ano pode ser verificada através da Figura 6Figura 6,
onde observa-se através da linha de tendência que existe um crescimento de pesquisa sobre
este assunto.
Dentre os países que tiveram maior número de publicação deste tema encontra-se o
Brasil, com um total de 6 publicações. Foi encontrado um total de 4 artigos que a base Scopus
não definiu a origem do país, sendo enquadrados na categoria “indefinido”, conforme
observado na Figura 7.
41
Em relação às áreas de estudo dos artigos pode-se observar através da Figura 8 que
“Ciências Sociais”, “Negócios, Gestão e Contabilidade” e “Engenharia” são os principais
setores estudados. Já a Figura 9 apresenta os tipos de documentos encontrados.
Este trabalho foi baseado nos 19 artigos encontrados cujo critério de exclusão é o
título “uberization” e nas suas respectivas referências bibliográficas. Fazendo uma análise
gráfica através das Figuras 10, 11 e 12 com apenas os artigos, pode-se observar que os dados
são semelhantes aos encontrados com todos os documentos. O Brasil continua sendo o país
com maior número de publicações, e de acordo com a Figura 12 “Ciências Sociais” é a área
de estudo mais pesquisada sobre o assunto, possui 13 artigos que representam 48% do total.
A pesquisa foi realizada tendo como base os artigos selecionados e suas respectivas
referências bibliográficas.
pesquisa. A pesquisa foi realizada no período de outubro de 2021 a julho de 2022 com
motoristas de aplicativo, durante corridas com duração entre 25 a 40 minutos. Neste trabalho
foram utilizadas as respostas do questionário, além dos comentários mencionados pelos
motoristas espontaneamente ao responder o questionário. Assim, foi possível conhecer
diversas realidades vivenciadas pelos motoristas, o que contribuiu muito na pesquisa. Estes
dados foram utilizados para fazer três tipos de análises, que são descritas nos tópicos a seguir.
Foi realizada esta análise para verificar se as questões do questionário tinham alguma
relação de dependência com as questões 3 e 4.
46
O critério utilizado foi o nível de significância para manter ou retirar uma variável
da análise, sendo “n” o número da questão.
Para definir o modelo de melhor ajuste, utilizou-se cada possível preditor cujo p-valor
fosse menor que α=0,05 acrescentando-se ao modelo. E rejeitando cada questão cujo p-valor
fosse maior ou igual a 0,05.
Foram retirados da análise os questionários 45 e 47, pois os entrevistados não
responderam a idade. Logo, foram considerados 78 questionários para esta análise.
Também não foi considerada a questão 9 pois obteve-se somente 8 respostas. As
questões 33 e 34 também não foram avaliadas na análise de regressão, porque fazem parte da
análise qualitativa.
Para realizar a análise de regressão linear múltipla adotou-se a conversão dos dados
obtidos pelo questionário para a escala numérica, conforme consta na Tabela 39.
Foram realizadas análise de duas variáveis (questão 3 “Quanto estressado você se
sente no seu dia a dia?” e questão 4 “Você se envolveu em algum acidente de trânsito nos
últimos 6 meses?).
Em cada análise a questão era considerada como variável dependente Y, e as outras
questões do questionário como variável independente (X1, X2, X3, ...). A partir dos dados do
questionário convertidos em números foi realizada a análise de regressão linear múltipla.
Através do p-valor, foram verificadas quais variáveis podem estar impactando na
variável adotada como Y. Foi feita a análise dos coeficientes das variáveis que tinham p-valor
menor que α=0,05. Utilizando o sinal do coeficiente da variável obtido com a regressão linear
e baseado no critério de conversão em escala numérica da Tabela 39, foi verificada se a
relação de influência na variável y era positiva ou negativa. Quando o sinal do coeficiente é
positivo, isto quer dizer que quanto maior o valor de x, maior será o valor de y. Já quando o
coeficiente é negativo, temos que quanto maior o valor de x, menor o valor de y.
Com esta análise foi verificada quais variáveis podem estar impactando pela
percepção dos motoristas no estresse do dia a dia e no envolvimento de acidentes.
Através das duas questões qualitativas do questionário (questão 33 e 34) foi percebida
a melhoria desejada pelos motoristas e o maior impacto negativo da pandemia no trabalho
deles.
47
Buscou-se agrupar as respostas dos motoristas para fazer uma análise quantitativa e
percentual.
48
1 2 4 13,33%
2 3 6 20%
3 4 6 20%
4 5 3 10%
Tabela 4– Se o motorista se sente cansado e se o trabalho com aplicativo é a sua única fonte de renda
Não 4 13,33%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.7)
Pouco 5 16,67%
Muito 2 6,67%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.8)
Na Tabela 6 observa-se que 63,33% dos trabalhadores optaram pelo trabalho por
aplicativo por terem ficado desempregados. Devido ao aumento do número de motoristas no
aplicativo e ao alto preço do combustível alguns motoristas disseram que a remuneração não
estava compensando como antes, pois a taxa paga estava muito baixa.
50
Conforme visto na seção 2.11, o preço dos combustíveis teve períodos com grande
aumento do valor, o que possivelmente afetou a remuneração dos motoristas.
A autora Abílio (2019) diz que por exigir menos qualificação, o trabalho por aplicativo
torna-se uma opção de ter uma renda. Amorim (2021) relata que houve o aumento do cadastro
de brasileiros para trabalhar por aplicativo por terem ficado desempregados.
Sim 19 63,33%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.8)
Pela Tabela 7, de acordo com a pesquisa realizada, o percentual obtido foi 93,33%,
com os respondentes afirmando que um dos principais motivos pela escolha do aplicativo foi
a flexibilidade de horário. A maioria dos motoristas gosta de fazer seu próprio horário, e da
possibilidade de trabalhar a hora que quiser, porque é mais fácil para resolver questões
pessoais, do que no emprego formal que é mais difícil conseguir se ausentar.
Este dado confirma a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Datafolha de 13 de
agosto a 20 de setembro de 2021, divulgada no site UberNewsroom, que afirma que 87% dos
motoristas optam por trabalhar por aplicativo devido a flexibilidade de horário, sendo um dos
incentivos para trabalhar na plataforma.
Sim 28 93,33%
Pela Tabela 8 pode-se verificar que 36,67% dos motoristas de aplicativo se veem
como empreendedores, mas mais da metade responderam não se considerar um empreendedor
só por trabalhar na Uber. Entretanto, alguns se consideram empreendedores, por serem mais
independentes, ter seu próprio carro, e trabalhar quando quiser. Em Abílio (2021) enfatiza-se
51
Sim 11 36,67%
Eu mesmo 5 16,67%
Uber 1 3,33%
Fonte: (DUQUE, 2022, p.10)
justo e 46,67% acham injusto. Os motoristas alegaram que realmente pode ter algum
trabalhador que não preste um bom serviço, pois toda classe tem exceção, mas todos os
respondentes relataram que mantinham seu carro limpo, janelas abertas, pois durante a
pandemia não podia ligar o ar condicionado, tratavam bem os passageiros, mas mesmo assim
ao final da corrida eram mal avaliados. Wentrup (2018) afirma que os motoristas podem ser
avaliados pelos passageiros e também avaliá-los, sendo a avaliação um meio de regular o
trabalho, que gera incerteza, pois muitas vezes os motoristas são desconectados do aplicativo
sem nenhuma justificativa.
Não 14 46,67%
5 RESULTADOS
1 2 12 15,00%
2 3 11 13,75%
3 4 12 15,00%
4 5 12 15,00%
Percebe-se pela Tabela 11 que a distribuição por ano é praticamente uniforme, tendo
valores de aproximadamente 15% para a segunda a quinta classe. E para a primeira e a última,
o valor de aproximadamente 20% dos trabalhadores.
Um dos motoristas entrevistados disse:
“Estou na Uber há 5 anos. Antes eu era empregado em uma indústria, em que tinha um
cargo com bom salário. Porém, devido à crise econômica, a firma dispensou vários
funcionários, e como eu tinha um bom desempenho não pensei que também seria dispensado,
mas infelizmente fui demitido. Como havia comprado recente um carro zero, um parente me
sugeriu que entrasse para a Uber como uma oportunidade de emprego mais imediata. Estou
trabalhando até hoje na Uber, não pretendo sair, porque gosto do meu trabalho.”
Já outro motorista falou:
“Eu estou há 1 mês e meio na Uber, porque perdi o meu emprego e ficou difícil pagar
a faculdade. Não pretendo ficar, pois acho o preço do combustível muito alto, não
compensando muito. Pretendo ficar somente até conseguir um emprego melhor.”
Percebe-se pelo relato dos dois motoristas que o trabalho por aplicativo muitas das
vezes é uma opção ao desemprego. No caso do primeiro motorista, aparentemente o mesmo
54
encontra-se satisfeito e não pretende mudar de emprego. Já o segundo, considera esta opção
de emprego apenas temporária, só para suprir as necessidades financeiras imediatas. No caso
deste motorista, o seu relato está conforme ao que Kyrou (2015) afirma, que os trabalhadores
trocam uma situação pior (desemprego), por uma menos pior (trabalho precário).
Não 17 21,25%
Não 10 12,50%
Pela Tabela 13 a maior parte (48,75%) respondeu “mais ou menos” à pergunta “se
ganha mais do que gasta para trabalhar na Uber”. Um dos motoristas comentou: “Já
compensou, mas hoje o lucro é menor, pois existem muitos motoristas, e a taxa paga ao
motorista não aumenta, além do preço do combustível ter aumentado muito alto”.
Muitos motoristas reclamaram do percentual da taxa paga em cada corrida para a
Uber. Eles consideraram este percentual muito alto e falaram que como eles que precisam
arcar com todos os custos, acaba que a “remuneração” pelo serviço fica bem reduzida. Além
55
disso, quando foi feita a pesquisa, outra reclamação recorrente foi o custo com combustível,
que estava muito alto. Outro motorista relatou “aumentou tudo, menos a taxa recebida da
corrida”.
Pouco 7 8,75%
Muito 11 13,75%
Uma das coisas que podem aumentar o estresse do motorista é a condição do trânsito,
conforme pode ser observado pelo relato de um dos respondentes: “Eu me sinto cansado
porque dirijo durante muitas horas. Só paro rapidinho para almoçar. E muitas vezes o trabalho
no trânsito intenso é estressante. Às vezes eu volto para casa antes do horário que planejei”.
Pela Tabela 14 o maior número dos respondentes (46,25%) considera que não se sente
estressado, provavelmente isto se deve, ao fato da pesquisa ter sido realizada no horário da
manhã ou à tarde, em que o trânsito estava menos intenso.
Não 68 85,00%
Pelos dados da Tabela 15 a maioria dos motoristas (85%) informou que não se
envolveu em algum acidente de trânsito nos últimos 6 meses.
Nenhum dos entrevistados informou que se envolveu em acidente grave. Alguns
motoristas que disseram que “sim” informaram que não foram eles que provocaram o
acidente. Por exemplo, um motorista falou que uma moto bateu na traseira do carro.
56
Não 49 61,25%
Dos motoristas entrevistados que responderam que trabalhavam com outro aplicativo,
alguns informaram que nestes outros aplicativos demoravam mais para ser solicitados, pois a
Uber tem mais usuários. Eles informaram que apesar da taxa paga à Uber ser maior que nos
outros aplicativos, devido ter uma maior quantidade de usuários, se tornava mais atrativo
trabalhar na Uber.
4 3 3,75%
5 2 2,50%
6 6 7,50%
7 2 2,50%
8 17 21,25%
9 5 6,25%
10 24 30,00%
11 0 0,00%
12 17 21,25%
13 0 0,00%
14 2 2,50%
15 0 0,00%
16 2 2,50%
57
Dos motoristas entrevistados, a maioria informou que cumpre uma meta diária de
rendimento. Quando atingem a meta, geralmente encerram sua jornada de trabalho.
Pela Tabela 17 percebe-se que a maioria trabalha 8 horas (21,25%), 10 horas (30%) ou
12 horas (21,25%). Constatando assim, que 37,5% dos trabalhadores trabalham durante até 8
horas por dia, e que 62,5% dos motoristas labutam durante mais do que 8 horas por dia.
Confirmando o fato dos mesmos estarem submetidos a longas jornadas de trabalho
para obter o ganho necessário para arcar com seus gastos e amparar a família.
(Fleming, 2017) afirma que a tecnologia móvel atrapalha os trabalhadores formais e
informais a definirem a jornada diária de trabalho, normalmente trabalham horas a mais, o
que causa a estafa e queda da produtividade desses profissionais.
2 1 1,25%
3 2 2,50%
4 7 8,75%
5 15 18,75%
6 34 42,50%
7 21 26,25%
A maioria dos motoristas informou que trabalha 5, 6 ou 7 dias na semana, sendo que
43% respondeu que trabalham 6 dias na semana e folgam um dia.
Percebe-se que 68,75% dos motoristas trabalham mais do que 5 dias na semana, ou
seja, 6 ou 7 dias e ainda durante um longo período de horas. E de acordo com o autor (Puletti,
2019) isto pode causar estresse, acidentes de trabalho e desentendimentos familiares pela
ausência.
58
Não 16 20,00%
A maioria (80%) respondeu que o trabalho com aplicativo é a sua única fonte de
renda. Isto sugere que o trabalho por aplicativo seja uma opção ao desemprego, tendo em
vista que a maioria não possui outra fonte de renda, trabalha durante longas horas, arca com
os custos do trabalho e não possui direitos trabalhistas.
Aposentado 3 18,75%
Os motoristas que possuem outra fonte de rendimento são somente 16, ou seja, 20%
dos motoristas entrevistados, tais como: aposentados, trabalhadores autônomos, bombeiros,
eletricistas, advogados, dentre outros.
Um dos motoristas que também exerce outro serviço como trabalhador autônomo, no
caso eletricista, falou que quando tem algum trabalho de eletricista, ele realiza este serviço.
Porém, quando ele não tem nenhuma demanda, ele trabalha como motorista no aplicativo da
Uber.
Na pesquisa também tinham motoristas que possuíam carteira assinada como é o caso
de um professor e de uma enfermeira que trabalham na Uber no seu horário de folga, como
uma forma de complemento de renda.
59
Sim 41 51,25%
Não 3 3,75%
Este dado está de acordo com a pesquisa informada no site UberNewsroom e realizada
pelo Instituto de Pesquisa Datafolha de 13 de agosto a 20 de setembro de 2021. Nesta
pesquisa 87% dos motoristas afirmaram que um dos motivos por escolher trabalhar por
aplicativo é o horário flexível.
A flexibilidade do trabalho é um dos atrativos que a Uber utiliza para fazer
propaganda deste tipo de serviço e atrair mais motoristas para sua plataforma.
Não 51 63,75%
A maioria dos motoristas (63,75%) respondeu que não se sente controlado pela Uber.
O que os motoristas geralmente mencionavam é que eles tinham a liberdade de escolher dia e
hora para trabalhar.
Não 24 30,00%
Igual 6 7,50%
A maioria (60%) respondeu que ganha mais na Uber do que quando trabalhava numa
empresa. Já 30% responderam que “não”.
Teve um dos motoristas que respondeu que em uma empresa ele ganhava menos, mas
tinha mais benefícios.
61
Não 6 7,50%
Não 0 0,00%
A maioria (97,5%) respondeu que gosta de se relacionar com os clientes. Teve um dos
motoristas que mencionou que gosta de conversar com os clientes, mas só se o cliente
começar a conversar, pois têm clientes que não gostam.
A maioria (70%) respondeu que gostaria de ter carteira assinada com a Uber. Alguns
respondentes informaram que “sim”, pois assim aumentaria seus direitos, teriam mais
vantagens (férias, décimo terceiro, etc).
Já 25% responderam que “não”. Um dos motoristas mencionou que não gostaria, pois
provavelmente aumentaria as obrigações, tais como horário de início e fim do trabalho.
62
Em relação à pergunta “Você acha que a Uber deveria pagar os direitos trabalhistas
(férias, 13º, assistência médica e outros)?”, 70% respondeu que “sim”, isto está de acordo
com os comentários dos motoristas se gostariam de ter carteira assinada pela Uber.
1,25%
UBER 1 1,25% UBER 1
Governo 18 22,50%
A maioria (80%) respondeu que gostaria que os custos de manutenção do carro fossem
divididos com a Uber. E 48,75% consideraram que os custos com acidente de trabalho, roubo,
etc. deveriam ser divididos com a Uber.
Conforme Abílio (2019, p. 2), o trabalhador uberizado não tem garantias e segurança
em relação as suas condições de trabalho. Além de existir a transferência de custos para o
trabalhador, sendo que o mesmo fica responsável por todos os custos para realizar seu
trabalho.
Em relação à pergunta se a Uber deveria pagar pelo tempo que o motorista fica parado,
ficou praticamente empatado, sendo que 42,5% responderam que “sim”, 53,75% responderam
que “não”.
Já em relação à pergunta “Você acha que a taxa que a Uber cobra da corrida é justa?”,
a maioria respondeu que “não” (90%). Muitos motoristas reclamaram que o percentual pago à
Uber era muito caro e não consideram justo, pois é o motorista quem arca com todos os
custos.
Não 12 15,00%
Talvez 4 5,00%
A maioria dos motoristas (80%) informou que ainda continuaria trabalhando na Uber,
se tivesse um emprego de carteira assinada, para possuir uma renda extra.
Não 67 83,75%
A maioria dos motoristas (83,75%) disse que não preferem trabalhar como taxista ao
invés da Uber.
Não 34 42,50%
65
A avaliação do motorista pelo passageiro segundo Abílio (2019 p.3) reforça o controle
do aplicativo sobre sua atuação, registrando a qualidade do serviço prestado pelo motorista,
além de incentivá-lo a ser mais produtivo no seu trabalho (ABÍLIO, 2020 p.121). Na
pesquisa, 47,5% acharam justo a avaliação ser feita pelo passageiro, que de acordo com o
atendimento do motorista terá uma boa avaliação ou não.
Em contrapartida, 42,5% disseram que acham injusta a avaliação ser feita pelo
usuário, uma vez que muitos avaliam mal, somente para prejudicá-los: reclamam do ar
condicionado; de parar fora do local, sendo que o local que desejam descer é proibido parar;
que mesmo o carro estando limpo, alegam que está sujo, dentre outros. Outro fato
mencionado é que o aplicativo aceita as reclamações do usuário, mas não ouve o que os
motoristas têm a dizer. Os motoristas temem ser desligados do aplicativo, e relataram que
quando ocorre esta dispensa, não é explicado o motivo, simplesmente eles são desligados do
aplicativo.
Não 27 33,75%
MEI 19 23,75%
INSS 24 30,00%
66
25 ├ 30 9 11,25%
30 ├ 35 8 10,00%
35 ├ 40 15 18,75%
40 ├ 45 8 10,00%
45 ├ 50 9 11,25%
50 ├ 55 11 13,75%
55 ├ 60 7 8,75%
60 ├ 65 5 6,25%
Total 80 100%
Pós-graduação 2 2,50%
Total 80 100,00%
Esta análise foi realizada para verificar se as questões do questionário tinham alguma
relação de dependência com as questões 3 e 4.
O nível de significância foi o critério utilizado para manter ou retirar uma variável
da análise, sendo “n” o número da questão.
Para definir o modelo, utilizou-se cada possível preditor cujo p-valor fosse menor que
α=0,05 acrescentando-se ao modelo. E rejeitando cada questão cujo p-valor fosse maior ou
igual a 0,05.
Para realizar a análise de regressão linear múltipla adotou-se a conversão dos dados
para a escala numérica conforme a Tabela 39.
68
Considerando a questão 3“Quanto estressado você se sente no seu dia a dia?” como
variável dependente Y, e as outras questões do questionário como variável independente (X1,
X2, X3, ...) foi realizada a análise de regressão múltipla e obtidas as tabelas 40 a 42.
Questão
22 0,3627 0,1194 3,0373 0,0033 0,1247 0,6006 0,1247 0,6006
Questão
30 -0,4835 0,2375 -2,0362 0,0454 -0,9568 -0,0103 -0,9568 -0,0103
72
Questão
31 -0,0251 0,0102 -2,4731 0,0157 -0,0454 -0,0049 -0,0454 -0,0049
A partir da tabela 42, pode-se concluir que as variáveis “12. Você se sente controlado
pela Uber?”, “22. Você acha que a Uber deveria te pagar pelo tempo que você fica parado?”,
“30. Você contribui com previdência privada ou INSS?” e “31. Idade:” impactam no estresse
do motorista.
Pelo sinal do coeficiente da tabela 42 podemos ter as seguintes conclusões:
12. Você se sente controlado pela Uber? Quanto mais se sente controlado pela Uber
(2) Sim (0) Não (1 ) Mais ou menos mais estressado.
22. Você acha que a Uber deveria te pagar Quanto mais acha que a Uber deveria
pelo tempo que você fica parado? pagá-lo pelo tempo que fica parado mais
(2) Sim (0) Não (1) Mais ou menos se sente estressado.
30. Você contribui com previdência Quanto mais contribui com a previdência
privada ou INSS? menos se sente estressado.
(1) INSS-MEI (0) não contribui
Infere-se pela regressão linear múltipla para percepção de estresse que os motoristas
que se consideram em uma condição de injustiça trabalhista e social, ou seja, que se veem
mais controlados pela Uber e que acham que deveriam receber pelo tempo que ele fica
parado, se percebem como mais estressados.
Diversas hipóteses poderiam ser levantadas para uma possível causalidade dos jovens
serem mais estressados, uma delas é que por não possuírem outra oportunidade de emprego
ou até mesmo de primeiro emprego, se submetem a uma condição precária de trabalho,
dirigindo por várias horas ao longo do dia, sem direitos e garantias trabalhistas. Como
hipótese, outro fato pode ser o acúmulo de tarefas, pois conforme um dos respondentes, além
de trabalhar, estuda para buscar uma melhor condição de trabalho no futuro.
Pode-se supor também, que alguns motoristas com maior idade e que são aposentados,
por já terem uma remuneração, conseguem trabalhar menos horas diárias e experienciar o
trabalho na Uber como uma ocupação prazerosa, em que trocam experiências com os
passageiros, e ainda obtêm um ganho extra.
73
Analisando a questão 30 em que foi concluído que os motoristas que contribuem com
a previdência privada são menos estressados uma das hipóteses para justificar esta relação é a
que os motoristas que portam mais direitos se sentem menos estressados, pois adquirem o
direito de se aposentar.
Já os motoristas que se comportam como empreendedores e acreditam que não
precisam de direitos trabalhistas, ou de auxílio do governo, além de se autoresponsabilizarem
pelo seu sustento; e desejarem receber mesmo que não esteja rodando com o carro, mas
simplesmente aguardando o aplicativo designá-lo para uma corrida, se percebem mais
estressados.
Questão
6 0,0268 0,0164 1,6333 0,1067 -0,0059 0,0595 -0,0059 0,0595
Questão
19 -0,1009 0,0441 -2,2916 0,0248 -0,1887 -0,0132 -0,1887 -0,0132
74
Questão
26 -0,1486 0,0525 -2,8318 0,0060 -0,2532 -0,0441 -0,2532 -0,0441
A partir da tabela 46, pode-se concluir que as variáveis “6. Quantas horas você
trabalha por dia para o app?”, “19. Você acha que a Uber deveria pagar os direitos trabalhistas
(férias, 13º, assistência médica e outros)?” e “26. Se você tivesse um emprego de carteira
assinada, você ainda trabalharia na Uber?” impactam no envolvimento em acidentes do
motorista.
Pelo sinal dos coeficientes da Tabela 46 podemos ter as seguintes conclusões:
19. Você acha que a Uber deveria pagar os Quanto mais acredita em direitos menos se
direitos trabalhistas (férias, 13º, assistência acidenta.
médica e outros)? (2) Sim (0) Não (1) Mais
ou menos
26. Se você tivesse um emprego de carteira Quanto mais trabalharia na Uber mesmo tendo
assinada, você ainda trabalharia na Uber? emprego com carteira assinada, menos se
(2)Sim (0)Não (1)Talvez acidenta.
Estabilidade. 1 0,78%
Nenhuma 1 0,78%
Verifica-se que a maioria dos trabalhadores aspira receber taxas melhores, desejando
que a taxa cobrada de participação da Uber fosse mais justa, Filgueiras (2020) enfatiza que as
tarifas que os motoristas recebem da Uber modificam de acordo com o horário da corrida,
bairros da região e período do ano, a empresa controla a oferta dos serviços para suprir a
demanda dos clientes.
Muitos motoristas reclamaram que houve um grande aumento dos preços dos produtos
na economia. Entre os motoristas entrevistados 9 deles relataram que gostariam da redução
do preço do combustível, pois este tem um grande impacto na renda dos trabalhadores.
Adicionalmente, 10 dos entrevistados mencionaram que também gostariam que a Uber
auxiliasse nos custos relacionados ao trabalho (manutenção do carro, auxílio quando tivesse
acidente, dentre outros). Em relação ainda à remuneração e benefícios, dois dos motoristas
consideram que deveria ser aumentado o valor da corrida para os clientes para que pudessem
obter um maior lucro, e um dos motoristas informou que gostaria de ter plano de saúde, e
melhores condições de trabalho. Além disso, um dos motoristas informou que gostaria de ter
estabilidade.
A segunda melhoria mais desejada pelos motoristas é a maior segurança para o
trabalho, pois às vezes o local é perigoso e muitos deles se pudessem escolher, não iriam e
cancelariam a corrida. Podemos perceber que outras respostas também são relacionadas à
segurança, por exemplo, 9 dos motoristas responderam que gostariam que o aplicativo
mostrasse o destino de embarque e de desembarque do passageiro e 4 dos motoristas
informaram que também poderiam ser melhoradas as informações do passageiro, tais como
foto e endereço. Um dos motoristas informou que gostaria que fosse colocado um rastreador
no carro.
Alguns dos motoristas relataram que a condição de segurança também é um papel do
governo, pois o mesmo que é responsável pela segurança pública, mantendo as ruas seguras
para não ter assalto e outros tipos de delitos. Outro fato relatado por dois motoristas que
também pode ser relacionado como competência relativa ao governo foi a melhoria do fluxo
do trânsito, pois o governo também é o responsável pela construção e a manutenção das vias
públicas.
78
Desemprego 12 12,90%
A maioria dos motoristas informou que o maior impacto da pandemia foi que a
demanda de clientes caiu muito. Muitos deles informaram que ficaram alguns meses parado,
pois devido ao lock down nas cidades, tudo ficava fechado. Dentre os motoristas
entrevistados, cinco consideraram que o lock down também foi um dos principais impactos da
pandemia. E 10 motoristas informaram que o maior impacto foi ficar sem trabalhar.
O segundo impacto mais mencionado foi o “desemprego”. Por exemplo, um dos
motoristas informou que ele tinha um comércio e devido à pandemia as vendas reduziram e
fechou o comércio. Outros motoristas também informaram que perderam seu emprego devido
à pandemia. Além do impacto já mencionado causado pela menor demanda de clientes e o
lock down que fizeram alguns motoristas ficarem sem trabalhar durante alguns meses.
Estes fatores impactaram bastante na renda dos trabalhadores, sendo que 4 deles
informaram que o maior impacto foi a “menor renda”. Outra agravante que a pandemia teve
foi o aumento da inflação, segundo 5 dos motoristas, o maior impacto foi o aumento dos
preços, que aumentou o custo para trabalhar e o custo de vida.
Observou-se que uma das questões que os motoristas consideraram de impacto
negativo ao seu trabalho, diminuindo sua remuneração foi o aumento do preço dos
combustíveis. Os motoristas entrevistados de modo geral responderam que antes do aumento
dos combustíveis seu ganho valia a pena, mas com o aumento excessivo ficou difícil, pois
praticamente estavam quase pagando para trabalhar. Os usuários também foram prejudicados,
80
pois durante esse período dependendo do trajeto, muitos tiveram suas viagens canceladas,
pois não compensavam para os motoristas.
Um dos motoristas informou que o preço das viagens na Uber diminuiu impactando a
renda recebida.
Nove dos motoristas consideraram que não teve impacto ou não sentiu muito os
impactos negativos da pandemia.
Outros motoristas relataram fatores relacionados diretamente à pandemia: usar
máscara (2 respostas); não poder ir aos lugares (2 respostas); distanciamento das pessoas (1
resposta), ruas desertas, perigosas (1 resposta) e casamentos acabados (1 resposta).
81
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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90
APÊNDICE
7. Quantos dias você trabalha na semana? ( )1,( )2,( )3,( )4,( )5,( )6,( )7
9. Se não, a outra fonte é com carteira assinada ou é um emprego sem carteira assinada
(trabalho autônomo, prestação de serviço, “bico”)?
10. Você se considera um empreendedor por trabalhar na UBER? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou
menos
11. Você gosta da possibilidade de trabalhar a hora que quiser? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou
menos
12. Você se sente controlado pela Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
14. Você ganha mais na Uber do que quando trabalhava numa empresa?
15. Você sente prazer de trabalhar para a Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
16. Você gosta de se relacionar com os clientes? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
17. Você gostaria de ter carteira assinada com a Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
91
18. Por quem você acha que os custos de manutenção do carro deveriam ser pagos? ( )
eu mesmo ( ) a UBER ( ) dividir com a UBER
19. Você acha que a Uber deveria pagar os direitos trabalhistas (férias, 13º, assistência
médica e outros) ? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
20. Quem você acha que deveria pagar os custos com acidente de trabalho (roubo, etc)?
( ) eu mesmo ( ) a UBER ( ) dividir com a UBER ( ) o governo
21. Você considera a falta de vínculo de trabalho com a empresa positiva, pra não ficar ligado
a uma só empresa? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
22. Você acha que a Uber deveria te pagar pelo tempo que você fica parado?
( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
23. Você acha que a taxa que a Uber cobra da corrida é justa? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
24. Você está procurando outro trabalho? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
25. Você está trabalhando na Uber porque ficou desempregado? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou
menos
26. Se você tivesse um emprego de carteira assinada, você ainda trabalharia na Uber?
( )Sim ( )Não ( )Talvez
27. Você preferiria trabalhar como taxista ao invés da Uber? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
28. Você acha que o sistema de avaliação da Uber é justo? ( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
29. Você preferiria trabalhar em cooperativa para ter uma taxa menor?
( )Sim ( )Não ( )Mais ou menos
31. Idade:
32. Escolaridade:
35. Sexo: ( ) M ( )F