Baphomet

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Academia de Estudos Herméticos

“Aquilo que afasta os homens é o que nos torna Irmãos.”

BAPHOMET E OS TEMPLÁRIOS
por
I∴ Sérgio Bronze

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

O ocultista francês do século XIX, Alphonse L. Constant, um ex-padre da igreja de


Roma que adotou o pseudônimo [judaico] de Eliphas Levi, ao se envolver na
magia, escreveu extensamente sobre a deidade dos templários. Levi via
Baphomet como uma figura mágica e panteísta representando, simbolicamente, o
Absoluto. Ele foi o primeiro a reproduzir uma ilustração de Baphomet,
aparentemente baseada em uma efígie da deidade encontrada na Commanderie
deSaint BrisleVineux, construção pertencente à Ordem do Templo. Mas sabemos
com certeza, por documentos internos, que ele tinha ligação estreita com uma
organização que cultuava o “ídolo” ainda em seu tempo. A ilustração tem a forma
de uma figura chifruda e barbada, de olhos ferozes, com seios femininos, asas de
corvo ou abutre e patas fendidas. Ela está sentada de pernas cruzadas, em uma
posição semelhante às estátuas do deus cervo, Cernunnos, adorado na Gália
(França) antes da ocupação romana.
Na ilustração de Levi, Baphomet é uma figura com cabeça de bode e
características andróginas, sentado sobre um cubo que se projeta sobre a esfera
terrestre. Um archote queima entre os cornos do bode, representando a
inteligência cósmica, a iluminação espiritual e a Aspiração divina. 1 Na tradição
oculta, Lúcifer — transformado pelo judaísmo e pela Igreja no Diabo — é chamado
de “o que traz a luz”, por conceder aos seus discípulos a iluminação espiritual
através da encarnação no plano físico. De acordo com Levi, a cabeça de
Baphomet combina as características de um cão, um touro e um bode, que
representam as três fontes da tradição pagã dos Mistérios. Elas são: o Egito — o
deus cão Anúbis, guia dos mortos no Outro Mundo; a Índia — o touro sagrado, o
qual pode ser a origem de Mithra; e a Judeia — o bode expiatório, sacrificado no
deserto para limpar os pecados da tribo.

Na testa da figura de Baphomet, marcando o local físico da glândula pineal e do


Ajna Chakra, está o sinal mágico do pentagrama ou a estrela de cinco pontas, que
representa o homem em toda sua beleza Natural. Trata-se também de um símbolo
da estrela vespertina, Vênus, que era associada àIshtar e Astarte. A estrela da
manhã também era um título dado a Lúcifer – o Brilhante Filho da Aurora –
descrevendo a sua descida do céu.2

1 Este é o mesmo fogo encontrado nos templos zoroástricos, que nunca pode ser extinto.

2 Neste caso, o Pentagrama estaria com sua ponta superior apontando para baixo. Lúcifer pode ser
representado, também, pela Estrela Sirius em um sentido ainda mais profundo. O Pentagrama
invertido nada mais é do que a descida da Luz Estelar.

2
A figura andrógina de Baphomet possui seios femininos e a parte inferior do corpo
velado, retratando os mistérios da procriação, isto é, o poder da força sexual.
Entretanto, a natureza fálica do deus bode é simbolizada pelo caduceu, isto é, a
vara com duas serpentes enroscadas portadas por Hermes. Isto representa que a
energia sexual pode tanto gerar Conhecimento quanto Sabedoria, de acordo com
a sua utilização.3 O manto sobre suas coxas esconde o pênis ereto da figura de
Baphomet. O seu ventre está coberto por escamas, representando a origem
aquática da raça humana durante seu processo evolucionário.

A natureza andrógina de Baphomet é enfatizada, também, pelo fato de que um


dos braços é masculino, enquanto o outro é feminino – uma alusão ao Caminho
da Mão Direita e da Mão Esquerda. Uma das mãos aponta para cima (masculina)
e a outra para baixo (feminina), representando o axioma hermético “Assim como é
em cima, é embaixo”. Elas representam também a materialização física de
energias espirituais. As mãos apontam para uma lua crescente preta e outra
branca, significando as fases crescentes e minguantes da lua, uma branca e outra
preta. Estas aludem às imagens de Eva e de Lilith, as energias femininas que são
utilizadas durante os Trabalhos internos mais sagrados. Estas simbolizam a
dualidade da natureza humana e os princípios masculinos e femininos, cuja união
produziu a manifestação do universo e os poderes unidos da luz e das trevas.

Os chifres representam a capacidade de romper as Portas do Céu. É o movimento


de penetração, de fixação, volição... Seu significado mais comum e pobre é o do
Falo. Os chifres é um sinal de realeza, de vitalidade, de orgulho. O rei, o chefe, é o
cornudo, das grandes festas pagãs de ritualística mágica, vinho, danças e

3 Ou seja, tanto fenômenos físicos (uma criança), quanto fenômenos espirituais (criança mágica).

3
prazeres.

As palavras, Solve e Coagula, representam a capacidade de se absorver


conceitos espirituais extremamente profundos e de repassá-los adiante de
maneira simples e clara. Um documento antigo nos revela: “Mais do que dizer que
existe aqui uma dualidade, nossas Palavras mostram uma capacidade sincera em
ensinar uma verdade oculta. Não ocultamos a verdade, mas para que ela possa
ser apreendida é necessário que o [...] tenha ouvidos educados.” 4 Neste trecho,
podemos compreender o motivo da imagem ter também as orelhas baixas:
Humildade. Solver é aprender. Coagular é ensinar.

Ainda, existe um semicírculo que aparece no colo da imagem. Este símbolo nos
remete ao Manipura Chakra hindu, que é a sede da Vontade, tanto humana
quanto divina. Alguns documentos dizem que: “O círculo em verdade deve ser
visto como um arco íris, a fragmentação daquela Luz Superior que aparece no
fogo sobre sua cabeça...”.5 Assim, o círculo representa a Perfeição da Existência:
a Eternidade e os ciclos de Nascimento, Vida, Morte e Eternidade. Como um arco
íris de sete cores, representa a compreensão de uma fração da Verdade e a
busca pelo seu todo.

Quanto ao cubo,6 ou trono ritualístico, nos ateremos ao simbolismo do quadrado e


a sua representação da perfeição. Já a esfera terrestre não necessita maioria
explicações. Assim, temos a perfeição da matéria que necessita de Baphomet
para a sua evolução. Dizer que o ser humano é a maior perfeição das coisas
físicas não seria tolice e nem que existe perfeição no simples fato de se estar
materializado neste mundo. Mais uma vez, temos a Terra como um veículo de
evolução, de alegria e de manifestação espiritual, onde tudo e qualquer coisa
servem para as nossas evoluções.

Mas o que representa a palavra Baphomet? Muitos estudos e alguma imaginação

4 Documento interno da M.T., não publicado externamente.

5 Documento interno da O∴A∴, não publicado externamente.

6 Ver o duplo cubo branco e negro: Deus (branco) e o Homem (negro).

4
nos ajudam a compreender parte desta pergunta, por exemplo: M. Summers, autor
de livros sobre bruxaria e demonologia diz que a palavra derivou do grego
BaphMetis, significando “o batismo da sabedoria” e que se referia a um ritual
secreto conhecido apenas pelo grão-mestre dos templários. 7

Madeline Montalban, ocultista e fundadora da Ordem da Estrela da Manhã, conta-


nos que converteu Baphomet em Bfmaat, palavra derivada do sistema enoquiano.
Segundo ela, o enoquiano era a língua falada no continente perdido de Atlântida e,
ainda que conhecida por iniciados ocultistas desde os primeiros tempos, ela só foi
revelada para o mundo externo pelas pesquisas do astrólogo e mago da era
elisabetana, dr. John Dee.8 Em enoquino, a palavra Baphomet ou Bfmaat pode ser
interpretada como “o Abrigo da Porta”. Ela interpretou, ainda, a figura de
Baphomet como um grifo do signo zodiacal Capricórnio. Esse signo astrológico
simbolizaria as ambições materiais e as aspirações políticas dos templários. É
necessário dizer que em nível exotérico, o emblema caprino de Capricórnio é
conhecido como um símbolo do iniciado que escala a montanha celeste para
alcançar a unidade com o divino.

Segundo Idries Shah, autor de temas sufis, Baphomet vem da palavra árabe
Abufihamat, que pode ser traduzida como “o Pai da Compreensão” ou “a fonte da
sabedoria e do conhecimento”, sendo um título usado para descrever um mestre
sufi. É bem documentado que os templários foram expostos às crenças do
sufismo e de seitas esotéricas islâmicas, como os ismaelitas, em seu período na
Terra Santa; além da filosofia dualista gnóstica. Muitos dos templários eram
nascidos no Oriente Médio, inclusive o grão-mestre Filipe de Nablus, eleito em
1167 e natural da Síria.

7 Uma questão aqui precisa ser ensinada corretamente: não é porque um personagem era o grão-
mestre que ele devesse ser o mais espiritualizado de todos. O grão-mestre era apenas uma figura
que representava a Ordem em questões profanas e militares, e não em questões espirituais. Até os
dias atuais, em algumas ordens conhecidas, o mestre é apenas uma figura administrativa
subordinada a um Colégio Secreto. Um bom exemplo é a do próprio Jacques de Molay que, sendo
completamente analfabeto, foi incapaz de defender verbalmente a Ordem perante seus algozes.

8 Em verdade, ela foi autorizada a ser conhecida, externamente, pela necessidade urgente de uma
Nova Era.

5
Escreveu Levi que, invertendo-se as letras de Baphomet, obteríamos TEM OHP
ABI. Estendendo e traduzindo-se para o latim esse anagrama, obtemos Templi
Omnium Hominum Pacis Abbas, ou “o Pai do Templo da Paz de todos os
homens”. Levi o considerou como uma referência ao templo construído por
Salomão, cujo propósito exotérico era trazer a paz ao mundo – em um período de
extrema violência e incertezas. Ele, Baphomet, é o Pai; o Templo é a Mãe. A Paz
é uma designação para a Morte iniciática.

Para o mago Aleister Crowley, a correta pronúncia iniciática do nome Baphomet é


BAPhOMITR, cuja tradição tinha preservado corretamente com exceção da letra
“r”. Ele disse certa vez em um de seus escritos: “A palavra grega Mitos é a palavra
órfica para sêmen; daí que Baphomet evidentemente significa ‘o Batismo do [pelo]
Espírito Santo’, sendo o Espírito Santo o Falo em sua forma mais sublimada (isto
é, o sêmen)”.9

Assim sendo, Baphomet representa em um conceito esotérico, o axioma: “Nosso


Pai Mithras”. Sendo que Mithras é o intermediário entre o Céu e a Terra no culto
zoroástrico, da mesma maneira que Jesus, o Cristo, deveria ser para a tradição
cristã. Mithras é a representação do Eu Interior, do Anjo Guardião, Aquele que
educa a Terra e que desvela os segredos do Céu. Podemos ver na imagem de
Baphomet o desenho do próprio hexagrama. Mithras ao vencer e ao romper as
entranhas do touro – simbolismo da limitação na matéria – desvela os segredos da
terra para nos fazer contemplar os segredos do céu. Podemos visualizar o mesmo
similar conceito na imagem egípcia de Nut, Shu e Geb.

9 Ver, “Renascer da Magia”, Kenneth Grant, editora Mádras.

6
Nós compreendemos, pela nossa própria experiência, que na figura de Baphomet
se encontra [oculta] a própria Árvore da Vida cabalística. Ele é o Todo. Assim
sendo, ele é o caminho e a sinalização que nos leva na direção do Nada. Cada
parte de seu corpo representa um estado particular de consciência a ser atingida e
superada. Também sabemos que todas as divindades antropomórficas
representam qualidades divinas no homem, como era a maioria das “divindades”
egípcias. Possivelmente, a imagem de Baphomet tenha sido baseada na imagem
de Set (Sut, Sutek ou Nubti), que era o Senhor do Deserto e da Iniciação, e o seu
título real era: O Maior de Todos. Sendo “O Maior de Todos”, ele englobava
virtudes e defeitos divinos, sendo, portanto, o Todo.

Há muitas afirmações de diversos autores acadêmicos e ocultistas no sentido de


que os templários eram adoradores secretos da Grande Deusa – a parte negra
que envolve toda a imagem de Baphomet. Um dos objetos encontrados em uma
casa capitular templária em Paris foi a imagem de prata de uma figura feminina.
Dentro dessa estatueta estavam alguns ossos humanos enrolados em linho
vermelho e branco. Segundo Hugh Schonfield, um especialista nos pergaminhos
do Mar Morto, existira um vínculo entre os templários e os essênios – ou seitas
secretas gnósticas. Ele afirma que o nome Baphomet pode ser traduzido, de
acordo com um código secreto essênio, na palavra Sofia – Sabedoria. Não se
trata apenas da palavra grega para a Sabedoria, mas sendo o nome da deusa

7
venerada na religião gnóstica. Além disso, o misterioso gato preto cultuado pelos
templários tem sido identificado, por alguns ocultistas, como uma imagem da
deusa gata egípcia, Bast, ou da deusa leoa, Sekmet.

Curiosamente, foram os templários aqueles que difundiram no Ocidente o culto à


Virgem. A mulher, símbolo de todos os pecados e da degradação da condição do
homem na terra, começa a ser resgatada. Com certeza, muito disto se deve a
leitura correta e iniciática do Curan, onde todas as mulheres estão cobertas por
um véu que oculta a sua Natureza divina. A cor negra é a total incapacidade de se
mergulhar em todos os mistérios que cerca a Natureza. Por isto, quando
assistimos a Dança dos Sete Véus vislumbramos os sete véus de mistérios...

Os relatos do culto a Baphomet derivam-se, em grande parte, de confissões


extraídas sob tortura, durante as quais vários membros da Ordem morreriam ou
ficariam mutilados pela Inquisição. Entretanto, muitos deles confessaram sem
recurso da tortura, confirmando histórias que os espiões do rei Filipe, infiltrados na
Ordem, haviam obtido. Em 22 de outubro de 1309, Jacques de Molay confessou,
perante uma assembleia de acadêmicos da Universidade de Paris, que as
acusações contra a Ordem eram verdadeiras. Ele endereçou uma carta aberta aos
seus templários instruindo-os, prontamente, a confessarem as más práticas às
quais se entregaram como membros da Ordem. 10 Como resultado dessa carta, um
dos principais membros da Ordem que a confessou foi o Grande Tesoureiro, Hugo
de Pairaud, que revelou ter sido responsável pela iniciação de muitos cavaleiros
na Ordem e de ter visto o deus dos templários, que lhes concedia a riqueza
terrena, tornava-lhes as terras férteis e causava a morte de seus inimigos. 11

10 O que mais tarde foi negada, o que o levou à fogueira da Inquisição como herege reincidente.
Com esta carta ele tentou evitar a morte de muitos durante as torturas do interrogatório e na
fogueira.

11 Um pequeno adendum precisa ser feito aqui: se você confessasse uma heresia e se mostrasse
arrependido, o máximo que acontecia era pagar penitência e ser solto. Só eram queimadas
aquelas pessoas que confessavam e depois reviam sua confissão, e confessando outra vez (sob
tortura) era fruto de dupla heresia, o que levava à fogueira. Foi isto o que ocorreu com Jacques de
Molay e seus outros três companheiros.

8
Porém, a tradição da qual remonta Baphomet é muito anterior ao culto solar,
Tipheriano, do deus sacrificado, em uma época onde a adoração era a do
Conquistador do Sol e do calor solar, como era Mithras. O Sol radiante é então
apenas a emanação de outro Sol, negro, oculto, invisível. Dentro da tradição
egípcia este Sol era representado por Amen-Ra em um período posterior e por Set
(Shaitan, Satã) em um período anterior: pré-histórico e pré-dinástico. Portanto,
Baphomet é uma representação aprimorada do simbolismo de Set, uma das
primeiras divindades cultuadas pelos homens. Baphomet é também uma
representação de Pan,12 o deus da música, da embriaguez, da alegria e do sexo, e
o único dos deuses pagãos que não foi absorvido pela igreja de Roma – por não
haver nenhum santo católico com as mesmas virtudes – mas que serviu de base
para a formação do Diabo e do pecado.

Os Pobres Cavaleiros da Ordem do Templo de Jerusalém preservaram alguns


traços mais visíveis desta antiga adoração. Diz-se que eles prestavam
homenagem a uma antiga e venerável “Cabeça”, que era o símbolo da Cabeça de
Cristo, o “Ungido”, a Cabeça da Divindade Única e Criadora ou que até mantinham
a cabeça física de João Batista, embalsamada. Esta “Cabeça”, na verdade, era o
do Falo ereto.13 Ainda hoje é possível encontrar entre nós algumas imagens
antigas [e não tão antigas assim] do Cristo crucificado com o seu falo ereto.

Os Illuminatis de Adam Weishaupt – os Iluminados da Baviera – tinham como


símbolo de sua Ordem um círculo com um ponto no centro e esta é a visão da
cabeça do Falo visto de frente, que é também o símbolo do Sol. Eles adoravam
externamente aquele símbolo visível, mas o verdadeiro culto era o mesmo dos
Templários iniciados nos mistérios estelares. Infelizmente, o culto praticado pelos
Iluminados é complexo demais para ser exposto com clareza em poucas linhas.

12 Pan quer dizer: [o] Todo.

13 O culto solar fálico ou o sol rosáceo.

9
Tal culto remonta da época da Suméria, da Tradição Estelar, que foi trazido ao
Egito, pré-histórico, onde o culto a Set caracterizava os cultos religiosos das
[famosas] dinastias negras. É possível compreender o culto graças a Cabala
hebraica, onde visualizamos o culto Estelar na Esfera de Kether, o Sol Oculto que
ilumina a Esfera de Tiphareth, a Esfera Crística, que é o Sol visível. Esta por sua
vez ilumina a Esfera de Yesod, a Lua, onde os ritos são realmente praticados
pelos sumo sacerdotes e onde se localiza o portal [astral] de entrada para os
mundos superiores, extraterrestres.

À nível macrocósmico, o nosso sol físico é o “reflexo” da estrela Sirius, da


constelação de Órion, que era no antigo Egito representado por Sut Har (Set-
Hórus). O Espírito Santo é, portanto, a Besta que desce desde Kether, ou de mais
além, até Tiphareth. Para aqueles povos antigos, o nosso Sol teria se desprendido
de Sirius e por isso recebe Emanações deste último. Também, segundo aqueles
povos, a alma humana seria originária daquela Estrela por causa do mesmo
motivo.14

Aliás, é comum nas gêneses das grandes religiões, os seus Profetas serem frutos
da união de uma besta com uma virgem – o que não é um privilégio do
cristianismo.15 A Besta é sempre a emanação daquela Luz Oculta que fecunda a
virgo intacta.16 Assim sendo, a grande aspiração dos iniciados sempre foi a da
possibilidade de se conseguir encarnar um Deus. A ideia de uma super-raça de
homens – que não é uma ideia original dos eugenistas – não é nova, desde que
se conseguiu identificar pela primeira vez a encarnação de um Deus entre os
homens e isto desde a mais remota antiguidade. Devemos dizer que todo homem
é Deus, mas uma divindade adormecida, inconsciente de sua condição divina; a

14 Daí observar o enorme interesse que as estrelas (a astronomia e a astrologia) sempre


despertaram nos homens, desde os tempos mais remotos até os dias atuais.

15 Os budistas acreditam que Buda tenha sido fruto da união [mágica] de um elefante branco
sagrado e uma virgem.

16 A virgem intocada é apenas uma alusão a uma mulher incorruptível, pura de propósitos,
totalmente dedicada a um trabalho mágico. São mulheres dedicadas e retamente voltadas para a
Grande Obra, a Manifestação de Cristo na Terra.

10
ideia então era a de encarnar homens já conscientes de sua Divindade. Diversas
histórias a este respeito podem ser encontradas dentro do hinduísmo e,
extrapoladas, dentro do budismo.

Assim, quando Eliphas Levi desenhou Baphomet como uma “Besta entronizada,
coroada e exaltada”, em toda a sua virilidade e realeza, ele tentava nos mostrar
aquilo que somos e que não exercemos, mas que podemos um dia vir a ser.
Comparar Baphomet com o “Diabo” ou à Besta não é nenhum erro e não deveria
remontar a qualquer tipo de perigo, e nem deveria causar qualquer tipo de medo.
O perigo maior foi o afastamento do homem da verdadeira Tradição iniciática, que
tanto foi perseguida pelos adoradores daquele Sol que acreditavam que morria e
[re-]nascia todos os dias. Pior, criaram a história de um Cristo 17 histórico baseado
em símbolos que muitos deles sequer compreendiam ou podiam aceitar: criaram a
tara pela morte; a obsessão pelo pecado; o medo de uma punição divina; e a
busca por uma salvação desnecessária. Para o verdadeiro iniciado, entretanto, a
busca é o daquele Sol invisível e intocável, que é o nosso “Deus primeiro e único”.

Jesus Cristo, nos primeiros anos do cristianismo, era um conceito, uma ideia de
amor, de tolerância e de paz com as diferenças e com os diferentes. A história do
mundo sempre foi violenta, desde os seus primórdios, e Jesus deveria ser um
símbolo que nos aproximaria por aquilo que temos em comum, a humanidade, e
não nos afastar pelo que temos de diferentes, nossos interesses pessoais. Mas
foram as mentes deturpadas e egoístas de muitos seguidores desta ideia que o
transformaram em um fazedor de milagres, um feiticeiro e em o filho de um deus
pai punitivo e limitado. A institucionalização da ideia (fé) aprofundou ainda mais as
cismas. Devemos nos ver por aquilo que nos une e não por aquilo que nos separa:
como bem diz o lema de nossa Irmandade.

Encontramos o culto de Baphomet, como símbolo externo, em algumas ordens e


seitas orientais, principalmente, entre os tantristas e nas verdadeiras ordens

17 O Cristo (Xrestos) é a fórmula mágica/mística da Esfera de Tiphareth, assim como o nome


iniciático YHWVH (Yeheshuah) é da Esfera de Hod. O Caminho que liga ambas as Esferas é o
Caminho do Diabo, no Tarot. Portanto, o estudo da Santa Cabala é de extrema importância para
uma compreensão parcial do “mistério”.

11
arcanas ocidentais, como no caso dos “descendentes” dos Templários. O bode
representa Baphomet, que é a união do céu e da terra, simbolizando a capacidade
que aquele animal tem de subir rapidamente da terra ao céu quase que
verticalmente. Ele é um ser com corpo humano, pois o homem é a imagem e a
semelhança de Deus e o único animal da Terra com capacidade de Criar através
do produto do seu Falo (Vontade). O Falo, por sua vez, é representado por um
Caduceu com duas Serpentes, também símbolo da Criação Primordial: do
Conhecimento e da Sabedoria. Elas são também a Serpente Kundalini que sobe
reta pelo Sushuma e se enroscando uma na outra – pelo Ida e Pingala – em sua
ascensão.

Não seria Baphomet, então, um simbolismo de nós mesmos? Um grifo de nossa


natureza divina, de toda a Força e de todo o Vigor que habita em cada ser
humano? Não é ele uma lembrança de que por detrás de uma imagem bestial se
esconde um ser Iluminado? Não é ele a lembrança de nossa capacidade de uma
Criação Primordial? Não é a Besta, o próprio Cristo?

Esta Criação Primordial fica bem claro quando estudamos a criação do universo
na tradição egípcia, quando o lótus onde Hoor-paar-kraat (ou, o oculto, Set), a
primeira formação Divina, emerge das Águas Primordiais e se vê cercada por
serpentes “ameaçadoras”. Esta é a mesma serpente – guardada as suas devidas
proporções – que instiga o homem a adquirir o Conhecimento da Árvore do Bem e
do Mal, isto é, o Conhecimento de todas as Artes. É a serpente dos Ciclos dos
Tempos ou Eras (Æons - grego).18

Os Templários talvez fossem realmente culpados de todas as catorze principais


acusações feitas contra eles, a nível iniciático, pela igreja de Roma. Eles tentaram
resgatar o cristianismo das aberrações em que este tinha caído e cujo islamismo, 19
18 Ver “Fundamentos de Magia(k)”, Sérgio Bronze, editora Mádras.

19 O Islã surge na tentativa de trazer de volta um grau de Virilidade perdida, dentro de um conceito
muito esotérico, sobre a sexualidade. É, no entanto, complexo demais tratarmos aqui sobre o Islã e
o seu Profeta, pois a ideia gira ao redor de uma Jihad, a Guerra Santa. Esta Jihad nada mais é do
que uma luta interna contra aquele (o Ego, o verdadeiro infiel) que nos afasta de nossa divindade.
Esta Jihad necessita do culto lunar (feminino) e do domínio sobre os Djins (pequenos demônios do
deserto)...

12
e o protestantismo mais tarde, tinha tanto se esforçado em salvar através da
renovação do seu pensamento.20 Entretanto, os Templários teriam sido vistos com
olhos comuns por aqueles povos antigos, livres da perversidade, do sentimento de
culpa e de vergonha.

As catorze acusações contra os Templários, que resumiam todas as outras tantas,


foram: (1) ao serem admitidos na Ordem, eram obrigados a renegar a religião
oficial; (2) negavam a divindade de Cristo; (3) consideravam Jesus Cristo como
um mero profeta; (4) acreditavam que o mestre templário podia administrar
sacramentos; (5) os escritos da Igreja incluíam erros dogmáticos; (6) ao entrar na
Ordem, eram levados à homossexualidade; (7) juravam porfiar pela expansão e
progresso da Ordem; (8) ao ingressar eram induzidos a não esperar a salvação
em Cristo; (9) cuspir na Cruz ao ingressar na Ordem ou em determinadas festas
(iniciações específicas); (10) adoravam a um gato, ídolo ou simulacro de
Baphomet; (11) vestiam cíngulos passados por tais ídolos; (12) se comportavam
lascivamente com os noviços jovens; 21 (13) ao celebrar a missa, omitiam as
palavras de consagração; (14) tinham como maldade cometer tais crimes. 22

As acusações que caíram sobre eles não eram nada se compararmos aos
sistemáticos crimes cometidos pela própria igreja de Roma ao longo de toda a sua
história, como as enormes orgias patrocinadas por ela, o incentivo à escravidão
[dos africanos], os assassinatos da Inquisição, as tantas mentiras e traições, o
apoio incontestável aos nazistas na Segunda Guerra, etc. E apesar de sabermos
que as confissões eram retiradas sob pesadas torturas, essas confissões nos
levam a perceber a profunda iniciação que se passava no interior da Ordem do
Templo. Poderíamos tentar dissertar, e o fizemos em parte, sobre cada uma
destas acusações acima, mas não creio que seja o objetivo deste trabalho para o
momento, uma vez que o tornaria ainda mais extenso e sem propósito. Nós não
condenamos e nem absolvemos a igreja de Roma, pois sabemos que o poder só é
20 O movimento rosacruciano do século XVII foi outra tentativa de trazer para os trilhos o
cristianismo descarrilhado.

21 Prática muito comum entre os povos antigos.

22 Ver, “O Legado Templário”, Juan G. Atienza, editora Ícone, págs. 289 e 290.

13
conquistado através do sangue, que o medo era algo geral e que gera reações
violentas, assim como a ignorância sempre leva à barbárie. Mas também não
podemos fingir que ela, a igreja de Roma, é um foco de espiritualidade, tampouco.

Os iniciados internos da Ordem do Templo tinham de se colocar como


“criancinhas” diante suas Iniciações e no dia a dia, obedecendo a uma regra
[básica] do “profeta” daquela religião que disse: “Vide a mim as criancinhas, pois é
delas o Reino dos Céus”. Esta condição iniciática, é o total despojamento da
Personalidade e do Ego, e de toda noção de medo e de pecado, e isto é básico
para se começar a estudar a verdadeira Tradição da qual surge Baphomet e os
Templários.

Amor é a lei, amor sob vontade.

14

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