Baphomet
Baphomet
Baphomet
BAPHOMET E OS TEMPLÁRIOS
por
I∴ Sérgio Bronze
1 Este é o mesmo fogo encontrado nos templos zoroástricos, que nunca pode ser extinto.
2 Neste caso, o Pentagrama estaria com sua ponta superior apontando para baixo. Lúcifer pode ser
representado, também, pela Estrela Sirius em um sentido ainda mais profundo. O Pentagrama
invertido nada mais é do que a descida da Luz Estelar.
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A figura andrógina de Baphomet possui seios femininos e a parte inferior do corpo
velado, retratando os mistérios da procriação, isto é, o poder da força sexual.
Entretanto, a natureza fálica do deus bode é simbolizada pelo caduceu, isto é, a
vara com duas serpentes enroscadas portadas por Hermes. Isto representa que a
energia sexual pode tanto gerar Conhecimento quanto Sabedoria, de acordo com
a sua utilização.3 O manto sobre suas coxas esconde o pênis ereto da figura de
Baphomet. O seu ventre está coberto por escamas, representando a origem
aquática da raça humana durante seu processo evolucionário.
3 Ou seja, tanto fenômenos físicos (uma criança), quanto fenômenos espirituais (criança mágica).
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prazeres.
Ainda, existe um semicírculo que aparece no colo da imagem. Este símbolo nos
remete ao Manipura Chakra hindu, que é a sede da Vontade, tanto humana
quanto divina. Alguns documentos dizem que: “O círculo em verdade deve ser
visto como um arco íris, a fragmentação daquela Luz Superior que aparece no
fogo sobre sua cabeça...”.5 Assim, o círculo representa a Perfeição da Existência:
a Eternidade e os ciclos de Nascimento, Vida, Morte e Eternidade. Como um arco
íris de sete cores, representa a compreensão de uma fração da Verdade e a
busca pelo seu todo.
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nos ajudam a compreender parte desta pergunta, por exemplo: M. Summers, autor
de livros sobre bruxaria e demonologia diz que a palavra derivou do grego
BaphMetis, significando “o batismo da sabedoria” e que se referia a um ritual
secreto conhecido apenas pelo grão-mestre dos templários. 7
Segundo Idries Shah, autor de temas sufis, Baphomet vem da palavra árabe
Abufihamat, que pode ser traduzida como “o Pai da Compreensão” ou “a fonte da
sabedoria e do conhecimento”, sendo um título usado para descrever um mestre
sufi. É bem documentado que os templários foram expostos às crenças do
sufismo e de seitas esotéricas islâmicas, como os ismaelitas, em seu período na
Terra Santa; além da filosofia dualista gnóstica. Muitos dos templários eram
nascidos no Oriente Médio, inclusive o grão-mestre Filipe de Nablus, eleito em
1167 e natural da Síria.
7 Uma questão aqui precisa ser ensinada corretamente: não é porque um personagem era o grão-
mestre que ele devesse ser o mais espiritualizado de todos. O grão-mestre era apenas uma figura
que representava a Ordem em questões profanas e militares, e não em questões espirituais. Até os
dias atuais, em algumas ordens conhecidas, o mestre é apenas uma figura administrativa
subordinada a um Colégio Secreto. Um bom exemplo é a do próprio Jacques de Molay que, sendo
completamente analfabeto, foi incapaz de defender verbalmente a Ordem perante seus algozes.
8 Em verdade, ela foi autorizada a ser conhecida, externamente, pela necessidade urgente de uma
Nova Era.
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Escreveu Levi que, invertendo-se as letras de Baphomet, obteríamos TEM OHP
ABI. Estendendo e traduzindo-se para o latim esse anagrama, obtemos Templi
Omnium Hominum Pacis Abbas, ou “o Pai do Templo da Paz de todos os
homens”. Levi o considerou como uma referência ao templo construído por
Salomão, cujo propósito exotérico era trazer a paz ao mundo – em um período de
extrema violência e incertezas. Ele, Baphomet, é o Pai; o Templo é a Mãe. A Paz
é uma designação para a Morte iniciática.
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Nós compreendemos, pela nossa própria experiência, que na figura de Baphomet
se encontra [oculta] a própria Árvore da Vida cabalística. Ele é o Todo. Assim
sendo, ele é o caminho e a sinalização que nos leva na direção do Nada. Cada
parte de seu corpo representa um estado particular de consciência a ser atingida e
superada. Também sabemos que todas as divindades antropomórficas
representam qualidades divinas no homem, como era a maioria das “divindades”
egípcias. Possivelmente, a imagem de Baphomet tenha sido baseada na imagem
de Set (Sut, Sutek ou Nubti), que era o Senhor do Deserto e da Iniciação, e o seu
título real era: O Maior de Todos. Sendo “O Maior de Todos”, ele englobava
virtudes e defeitos divinos, sendo, portanto, o Todo.
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venerada na religião gnóstica. Além disso, o misterioso gato preto cultuado pelos
templários tem sido identificado, por alguns ocultistas, como uma imagem da
deusa gata egípcia, Bast, ou da deusa leoa, Sekmet.
10 O que mais tarde foi negada, o que o levou à fogueira da Inquisição como herege reincidente.
Com esta carta ele tentou evitar a morte de muitos durante as torturas do interrogatório e na
fogueira.
11 Um pequeno adendum precisa ser feito aqui: se você confessasse uma heresia e se mostrasse
arrependido, o máximo que acontecia era pagar penitência e ser solto. Só eram queimadas
aquelas pessoas que confessavam e depois reviam sua confissão, e confessando outra vez (sob
tortura) era fruto de dupla heresia, o que levava à fogueira. Foi isto o que ocorreu com Jacques de
Molay e seus outros três companheiros.
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Porém, a tradição da qual remonta Baphomet é muito anterior ao culto solar,
Tipheriano, do deus sacrificado, em uma época onde a adoração era a do
Conquistador do Sol e do calor solar, como era Mithras. O Sol radiante é então
apenas a emanação de outro Sol, negro, oculto, invisível. Dentro da tradição
egípcia este Sol era representado por Amen-Ra em um período posterior e por Set
(Shaitan, Satã) em um período anterior: pré-histórico e pré-dinástico. Portanto,
Baphomet é uma representação aprimorada do simbolismo de Set, uma das
primeiras divindades cultuadas pelos homens. Baphomet é também uma
representação de Pan,12 o deus da música, da embriaguez, da alegria e do sexo, e
o único dos deuses pagãos que não foi absorvido pela igreja de Roma – por não
haver nenhum santo católico com as mesmas virtudes – mas que serviu de base
para a formação do Diabo e do pecado.
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Tal culto remonta da época da Suméria, da Tradição Estelar, que foi trazido ao
Egito, pré-histórico, onde o culto a Set caracterizava os cultos religiosos das
[famosas] dinastias negras. É possível compreender o culto graças a Cabala
hebraica, onde visualizamos o culto Estelar na Esfera de Kether, o Sol Oculto que
ilumina a Esfera de Tiphareth, a Esfera Crística, que é o Sol visível. Esta por sua
vez ilumina a Esfera de Yesod, a Lua, onde os ritos são realmente praticados
pelos sumo sacerdotes e onde se localiza o portal [astral] de entrada para os
mundos superiores, extraterrestres.
Aliás, é comum nas gêneses das grandes religiões, os seus Profetas serem frutos
da união de uma besta com uma virgem – o que não é um privilégio do
cristianismo.15 A Besta é sempre a emanação daquela Luz Oculta que fecunda a
virgo intacta.16 Assim sendo, a grande aspiração dos iniciados sempre foi a da
possibilidade de se conseguir encarnar um Deus. A ideia de uma super-raça de
homens – que não é uma ideia original dos eugenistas – não é nova, desde que
se conseguiu identificar pela primeira vez a encarnação de um Deus entre os
homens e isto desde a mais remota antiguidade. Devemos dizer que todo homem
é Deus, mas uma divindade adormecida, inconsciente de sua condição divina; a
15 Os budistas acreditam que Buda tenha sido fruto da união [mágica] de um elefante branco
sagrado e uma virgem.
16 A virgem intocada é apenas uma alusão a uma mulher incorruptível, pura de propósitos,
totalmente dedicada a um trabalho mágico. São mulheres dedicadas e retamente voltadas para a
Grande Obra, a Manifestação de Cristo na Terra.
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ideia então era a de encarnar homens já conscientes de sua Divindade. Diversas
histórias a este respeito podem ser encontradas dentro do hinduísmo e,
extrapoladas, dentro do budismo.
Assim, quando Eliphas Levi desenhou Baphomet como uma “Besta entronizada,
coroada e exaltada”, em toda a sua virilidade e realeza, ele tentava nos mostrar
aquilo que somos e que não exercemos, mas que podemos um dia vir a ser.
Comparar Baphomet com o “Diabo” ou à Besta não é nenhum erro e não deveria
remontar a qualquer tipo de perigo, e nem deveria causar qualquer tipo de medo.
O perigo maior foi o afastamento do homem da verdadeira Tradição iniciática, que
tanto foi perseguida pelos adoradores daquele Sol que acreditavam que morria e
[re-]nascia todos os dias. Pior, criaram a história de um Cristo 17 histórico baseado
em símbolos que muitos deles sequer compreendiam ou podiam aceitar: criaram a
tara pela morte; a obsessão pelo pecado; o medo de uma punição divina; e a
busca por uma salvação desnecessária. Para o verdadeiro iniciado, entretanto, a
busca é o daquele Sol invisível e intocável, que é o nosso “Deus primeiro e único”.
Jesus Cristo, nos primeiros anos do cristianismo, era um conceito, uma ideia de
amor, de tolerância e de paz com as diferenças e com os diferentes. A história do
mundo sempre foi violenta, desde os seus primórdios, e Jesus deveria ser um
símbolo que nos aproximaria por aquilo que temos em comum, a humanidade, e
não nos afastar pelo que temos de diferentes, nossos interesses pessoais. Mas
foram as mentes deturpadas e egoístas de muitos seguidores desta ideia que o
transformaram em um fazedor de milagres, um feiticeiro e em o filho de um deus
pai punitivo e limitado. A institucionalização da ideia (fé) aprofundou ainda mais as
cismas. Devemos nos ver por aquilo que nos une e não por aquilo que nos separa:
como bem diz o lema de nossa Irmandade.
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arcanas ocidentais, como no caso dos “descendentes” dos Templários. O bode
representa Baphomet, que é a união do céu e da terra, simbolizando a capacidade
que aquele animal tem de subir rapidamente da terra ao céu quase que
verticalmente. Ele é um ser com corpo humano, pois o homem é a imagem e a
semelhança de Deus e o único animal da Terra com capacidade de Criar através
do produto do seu Falo (Vontade). O Falo, por sua vez, é representado por um
Caduceu com duas Serpentes, também símbolo da Criação Primordial: do
Conhecimento e da Sabedoria. Elas são também a Serpente Kundalini que sobe
reta pelo Sushuma e se enroscando uma na outra – pelo Ida e Pingala – em sua
ascensão.
Esta Criação Primordial fica bem claro quando estudamos a criação do universo
na tradição egípcia, quando o lótus onde Hoor-paar-kraat (ou, o oculto, Set), a
primeira formação Divina, emerge das Águas Primordiais e se vê cercada por
serpentes “ameaçadoras”. Esta é a mesma serpente – guardada as suas devidas
proporções – que instiga o homem a adquirir o Conhecimento da Árvore do Bem e
do Mal, isto é, o Conhecimento de todas as Artes. É a serpente dos Ciclos dos
Tempos ou Eras (Æons - grego).18
19 O Islã surge na tentativa de trazer de volta um grau de Virilidade perdida, dentro de um conceito
muito esotérico, sobre a sexualidade. É, no entanto, complexo demais tratarmos aqui sobre o Islã e
o seu Profeta, pois a ideia gira ao redor de uma Jihad, a Guerra Santa. Esta Jihad nada mais é do
que uma luta interna contra aquele (o Ego, o verdadeiro infiel) que nos afasta de nossa divindade.
Esta Jihad necessita do culto lunar (feminino) e do domínio sobre os Djins (pequenos demônios do
deserto)...
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e o protestantismo mais tarde, tinha tanto se esforçado em salvar através da
renovação do seu pensamento.20 Entretanto, os Templários teriam sido vistos com
olhos comuns por aqueles povos antigos, livres da perversidade, do sentimento de
culpa e de vergonha.
As acusações que caíram sobre eles não eram nada se compararmos aos
sistemáticos crimes cometidos pela própria igreja de Roma ao longo de toda a sua
história, como as enormes orgias patrocinadas por ela, o incentivo à escravidão
[dos africanos], os assassinatos da Inquisição, as tantas mentiras e traições, o
apoio incontestável aos nazistas na Segunda Guerra, etc. E apesar de sabermos
que as confissões eram retiradas sob pesadas torturas, essas confissões nos
levam a perceber a profunda iniciação que se passava no interior da Ordem do
Templo. Poderíamos tentar dissertar, e o fizemos em parte, sobre cada uma
destas acusações acima, mas não creio que seja o objetivo deste trabalho para o
momento, uma vez que o tornaria ainda mais extenso e sem propósito. Nós não
condenamos e nem absolvemos a igreja de Roma, pois sabemos que o poder só é
20 O movimento rosacruciano do século XVII foi outra tentativa de trazer para os trilhos o
cristianismo descarrilhado.
22 Ver, “O Legado Templário”, Juan G. Atienza, editora Ícone, págs. 289 e 290.
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conquistado através do sangue, que o medo era algo geral e que gera reações
violentas, assim como a ignorância sempre leva à barbárie. Mas também não
podemos fingir que ela, a igreja de Roma, é um foco de espiritualidade, tampouco.
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