Arouca Destino Turístico Sustentável - Artemis

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Almeida, J., Duque.A.S. & Pato, M.L. (2022). AROUCA, DESTINO TURÍSTICO
SUSTENTÁVEL: EXEMPLO DE INOVAÇÃO E BOAS PRÁTICAS. In Jorge José
Martins Rodrigues & Maria Amélia Marques, Ciências Socialmente Aplicáveis:
Integrando Saberes e Abrindo Caminhos VOL VI (pp. 84-96). Editora Artemis

AROUCA, DESTINO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL:

EXEMPLO DE INOVAÇÃO E BOAS PRÁTICAS

AROUCA, SUSTAINABLE TOURISM DESTINATION:

EXAMPLE OF INNOVATION AND GOOD PRACTICES

Joana Almeida1; Ana Sofia Duque2; Maria Lúcia Pato3

1
Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu (ESTGV);
[email protected]

2
Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu (ESTGV), Professora Adjunta,
CISeD; Politécnico de Viseu (IPV), Viseu, Portugal; [email protected]

3
Escola Superior Agrária (ESAV) e CERNAS-IPV Centro de Investigação,
Instituto Politécnico de Viseu(IPV), Viseu, Portugal; [email protected]

1
RESUMO

O turismo sustentável é aquele que tem em conta os impactos económicos, sociais e


ambientais, atuais e futuros da atividade e o equilíbrio entre estes três pilares. Para
alcançar a sustentabilidade do destino, particularmente rural, as questões relativas à
inovação são essenciais. Assim, o presente artigo visa discutir os aspetos referentes à
sustentabilidade e inovação, num destino turístico rural – Arouca (Portugal). A escolha
deste destino como exemplo de boas práticas sustentáveis, deve-se ao facto de fazer
parte do Top 100 da Green Destinations, em dois anos consecutivos (2020-2021). A
metodologia assenta da revisão de literatura e na consulta on-line de documentos sobre
o destino turístico Arouca. Os resultados mostram que graças a medidas que
entrelaçam a sustentabilidade e a inovação, o destino Arouca tem ganho uma
notoriedade e projeção mundial, integrando um Geoparque Mundial da UNESCO –
Arouca Geoparque. Para tal muito contribuem os recursos turísticos ambientais,
culturais e construídos, com destaque para a maior ponte pedonal suspensa do mundo.
Palavras-chave: Arouca, Turismo Sustentável, Sustentabilidade; Inovação

ABSTRACT

Sustainable tourism is one that fears the economic, social and environmental, current
and future impacts of activities and the balance between these three pillars. To achieve
the sustainability of the destination, particularly rural, the questions related to innovation
are essential. Yet, this article aims to discuss the aspects related to sustainability and
innovation, in a rural tourist destination – Arouca (Portugal). The choice of this
destination as an example of good sustainable practices is due to the fact that it has
been part of the Top 100 by Green Destinations, for two consecutive years (2020-2021).
The methodology is based on the literature review and on-line documents on the Arouca
tourist destination. The results show that thanks to measures that intertwine
sustainability and innovation, the Arouca destination has gained worldwide notoriety and
projection, integrating a UNESCO World Geopark – Arouca Geopark. To this, are
essential the environmental, cultural and built tourism resources, with emphasis on the
world's largest suspended pedestrian bridge.
Keywords: Arouca, Sustainable Tourism, Sustainability; Innovation

2
1. INTRODUÇÃO

O turismo é uma das indústrias que mais cresce em todo o mundo (Gross, 2018)
e o seu desenvolvimento ocorre num ambiente dinâmico e competitivo. Com a
expansão da oferta e da procura turística, os gestores turísticos são
confrontados com a questão sobre como agir apropriadamente (Zervas et al.,
2017). Os atuais desafios no turismo requerem estratégias e planos de ação
específicos (Von & Lohmann, 2014), a fim de utilizar de forma sustentável os
recursos turísticos (Zervas et al., 2017). Paralelamente o papel da inovação, a
“arte de fazer coisas novas é essencial no contexto rural (Madanaguli, et al,
2022), tanto mais que possuem recursos humanos e financeiros geral escassos
(Pato & Kastenholz, 2017). Aliás a sustentabilidade é um processo de inovação.
Quando vemos a inovação como uma nova forma de fazer algo, ao implementar
ações sustentáveis no core business, o empreendedor está reconstruindo
processos fazendo as coisas de uma forma diferente para alcançar o bem-estar
social, ambiental ou econômico da sociedade.

Assim partindo de um estudo de caso num dos concelhos periféricos rural de


Portugal este este artigo tem como principal objetivo explorar as medidas de
sustentabilidade e inovação, no destino turístico de Arouca.

O artigo está estruturado em 5 seções para além da introdução, Assim na seção


2 é feita a apresentação da revisão de literatura, na seção 3 a metodologia do
estudo de caso e a apresentação do concelho, apresentando-se na seção 4 os
resultados. Finalmente á luz destes resultados, as conclusões do estudos,
limitações e linhas para pistas futuras são apresentadas.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Turismo Sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável ganhou relevância após a


publicação do Relatório Brundtlant em 1987, que definiu desenvolvimento
sustentável como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades das
gerações presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras”
(United Nations (UN), 1987, p. 24).

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Vários autores sugerem definições para o conceito de desenvolvimento
sustentável. Bartelmus (1994, p. 73), define-o como “o conjunto de programas
de desenvolvimento que vão ao encontro dos objetivos de satisfação das
necessidades humanas sem violar a capacidade de regeneração dos recursos
naturais a longo prazo, nem os padrões de qualidade ambiental e de equidade
social”.

É no entanto, a partir da década de noventa, que o conceito de sustentabilidade


ganhou maior relevância , sendo destacado em diversos setores, em especial
no turismo (Candiotto, 2009). Não obstante outros documentos importantes
nesta matéria, é em 2015 que a ONU apresenta a Agenda 2030, constituída
pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ver Figura 1.

Figura 1 - Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Fonte: https://unric.org/pt/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/

Para a Organização Mundial de Turismo, o turismo sustentável é "o que tem


inteiramente em atenção os seus impactos económicos, sociais e ambientais,
atuais e futuros" (UNWTO, 2021a). O Turismo contribui para a Agenda 2030, e
relaciona-se com os 17 ODS mencionados (UNWTO, 2021b). No entanto, no
contexto rural em estudo está em nosso entender mais relacionado com os
objetivos 1, 2, 4, 5, 10, 11, 15 e 17:

4
1. Zero pobreza: o turismo proporciona rendimento através da criação de
emprego a nível local;

2. Zero fome: o turismo pode estimular a agricultura sustentável promovendo


a produção e fornecimentos para hotéis;

4. Educação de Qualidade: o turismo tem potencial para promover a


inclusão;

5. Igualdade de género: o turismo pode capacitar as mulheres,


nomeadamente através da oferta de emprego direto e geração de rendimentos;

10. Reduzir as desigualdades: o turismo pode ser uma ferramenta poderosa para
o desenvolvimento da comunidade e reduzir as desigualdades se envolver as
populações locais e todos os principais intervenientes no seu desenvolvimento;

11. Cidades e comunidades sustentáveis: o turismo pode avançar com


infraestruturas e acessibilidades urbanas, promover a regeneração e preservar
o património cultural e natural, bens de que depende o turismo;

15. Vida na terra: a biodiversidade e o património natural são muitas vezes as


principais razões pelas quais os turistas visitam um destino;

17. Parcerias para os objetivos: devido à sua natureza intersectorial, o turismo


tem a capacidade de fortalecer as parcerias privadas/públicas.

Com efeito, o turismo contribui positivamente para o desenvolvimento regional e,


por sua vez, para melhorar as economias locais (Alam & Paramat, 2016). De
acordo com Pato (2012) estes impactos podem ser observados num destino rural
em três níveis diferentes, particularmente a:

 Nível económico: contributo para o bem-estar económico da comunidade


local, e beneficiando proprietários, trabalhadores e comunidades;
 Nível sociocultural: estímulo do interesse da comunidade local pelas
atividades de lazer e cultura e revitalização destas;
 Nível ambiental: estímulo à conservação e proteção das zonas naturais e
do património construído.

5
O desenvolvimento do turismo sustentável requer a participação de todas as
partes interessadas, bem como uma forte liderança política para garantir uma
ampla participação de todos os stakeholders (UNWTO, 2021a). Esta
participação pressupõe o envolvimento da comunidade local, dos representantes
da indústria do turismo, dos decisores políticos (por exemplo, governo local),
administradores (como a organização de gestão de destinos) e peritos externos
(consultores) (Eckert & Pechlaner, 2019).

2.2 Turismo e Inovação

A publicação seminal de Schumpeter (1934), refere a inovação como sendo uma


dimensão crítica da mudança económica e de destruição criativa. Na sua
publicação a inovação é vista como a entrada de novos produtos, novos
processos de produção, abertura de novos mercados e utilização de novas
matérias primas. Embora a inovação possa atualmente ser perspetivada de
diferentes formas, foi o trabalho do autor mencionado que está na base das
definições atuais de inovação.

No que refere ao conceito de inovação e sustentabilidade, existem diversos


conceitos relacionados com este cruzamento, como é o caso do termo eco
inovação, inovação ambiental, inovação verde e inovação sustentável
(Triantafillidou, 2018). O termo eco inovação centra-se no eco design e nos
rótulos ecológicos, enquanto a inovação ambiental tenta reduzir os danos
ambientais. A inovação verde diz respeito a produtos e processos amigos do
ambiente. Por fim, a inovação sustentável refere-se às inovações que vão ao
encontro dos três pilares da sustentabilidade (Triantafillidou, 2018).

O conceito de inovação abrange várias formas de inovação que podem ser


aplicadas na indústria do turismo, sendo através de produtos, processos,
serviços e mudanças tecnológicas (Braga & Ratten, 2019). A inovação leva a
"melhorias de desempenho, permitindo reduzir os custos de mão de obra,
melhorar a qualidade do serviço ou a flexibilidade organizacional" (Mattsson &
Orfila-Sintes, 2014, p. 389). Também permite às empresas hoteleiras maximizar
a competitividade e a transformar as mudanças ambientais em oportunidades
(Nicolau & Santa-María, 2013).

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A inovação apresenta uma tendência crescente na indústria do turismo devido à
sua natureza multifacetada que requer o envolvimento de stakeholders,
entidades e sistemas (Ratten, 2017). Com efeito a colaboração acrescenta valor
às empresas através da recolha de informação, baseada no conhecimento, na
prática, na experiência, nas capacidades dos stakeholders, na coprodução de
serviços de turismo integrados e na melhoria da atratividade dos pacotes
turísticos e dos destinos turísticos (Wang & Fesenmaier, 2007). A colaboração
garante a qualificação dos recursos humanos que é um fator fundamental para
a inovação para as empresas de turismo (Gokovali & Avci, 2012). Sendo que, o
conhecimento dos colaboradores está ligado aos produtos e serviços de uma
empresa, assim, a capacidade de apresentar novos produtos depende do seu
capital humano (Lopez-Fernandez et al., 2011).

3. METODOLOGIA & APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO

3.1 Metodologia

A principal metodologia utilizada foi a revisão de literatura acerca dos conceitos


de sustentabilidade e inovação e análise documental. Para esse efeito,
realizaram-se inicialmente pesquisas em motores de busca especializados e
também em repositórios académicos. Após a escolha do território (Arouca), foi
necessário desenvolver a pesquisa no sentido de perceber como é que os
conceitos de sustentabilidade e inovação se aplicam e refletem nesse mesmo
destino. Para tal, foi feita uma análise a fontes secundárias, tais como dados
apresentados no website oficial da Câmara Municipal de Arouca, bem como do
Arouca Geoparque.

3.2 Apresentação do estudo de caso Arouca

Arouca é um concelho que pertence ao distrito de Aveiro, tem um total de 328


km² de território e uma população residente de 22359 habitantes (INE, 2012).
Todo o concelho de Arouca está classificado como Geoparque Mundial da
UNESCO, desde 2009, integrando desde novembro de 2015, o Programa de
Geociências e Geoparques Mundiais da UNESCO (Duarte, s.d.a.).

Em Arouca são visíveis os esforços e projetos criados no âmbito da


sustentabilidade, que a região tem vindo a desenvolver nos últimos anos e, que

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foram comprovadas através da integração no Top 100 dos Destinos Mundiais
Sustentáveis, da Green Destinations, nas edições de 2020 e 2021.

A imagem do destino, que Arouca tem vindo a trabalhar e que transmite para
Portugal e para o mundo está assente nos emblemáticos Passadiços do Paiva
(um trilho pedestre linear, na margem do rio Paiva, ao longo de 8,5 km) e mais
recentemente, inaugurada em 2021, a ponte 516 Arouca (a maior ponte pedonal
suspensa do mundo).

No que diz respeito à oferta turística, Arouca tem como principais produtos
turísticos o turismo de natureza, o turismo cultural e o turismo gastronómico.

Arouca é um destino de natureza único e metade do seu território está


classificado como Rede Natura 2000 (ver a “mancha verde” presente no mapa
da Figura 2).

Figura 2- Arouca Rede Natura 2000

Fonte: Duarte, s.d.b.

No seu património natural destacam-se as águas limpas do Rio Paiva, a beleza


de fauna e flora da Serra da Freita e da Serra de Montemuro, mas também a
Frecha da Mizarela, as Praias Fluviais e as estações de biodiversidade. Existem

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diversos percursos pedestres devidamente delineados, bem como, as rotas dos
geossítios que são promovidas pela Associação Geopark Arouca (Arouca
Geopark, 2021a). Existem ainda diversas atividades de lazer, que se podem
realizar no Rio Paiva tais como, rafting, canyoning e canoagem. E ainda,
atividade a realizar na Serra da Freita, como caminhadas, paintball, orientação,
BTT, escalada e slide.

Quanto ao património cultural, na sua dimensão material, destacam-se o


Mosteiro de Santa Maria de Arouca, o Museu de Arte Sacra, o Museu Municipal
de Arouca e ainda, os Centros Interpretativos, como o Centro de Interpretação
Geológica de Canelas e a Casa das Pedras Parideiras. Também se pode visitar
a Destilaria Eduardo de Noronha Dias e aldeias tradicionais. Quanto ao
artesanato, a confeção do artesanato utiliza principalmente o vime, a madeira, a
lousa e o linho que posteriormente são transformados pelos artesãos locais, que
preservam saberes antigos (Arouca Geopark, 2021a).

Na componente imaterial do património, o destaque vai para a gastronomia e


vinhos, com a carne arouquesa, os medalhões de vitela e o cabrito assado em
forno a lenha, acompanhado por um vinho verde desta região. Dispõe ainda de
enchidos, da broa de milho caseira, de compotas, licores e mel. Quanto à doçaria
existem os doces conventuais e regionais, tais como as castanhas doces, as
roscas de amêndoa, as morcelas doces, os charutos, o pão de São Bernardo e
o doce “pedras parideiras” que foi inspirado no fenómeno geológico que ocorre
neste território (Arouca Geopark, 2021b).

4. RESULTADOS

4.1 Sustentabilidade e inovação em Arouca


A abordagem para o desenvolvimento territorial de Arouca assenta no turismo
sustentável e nos seus três princípios: ambiental, social e económico. Uma vez
que o território do município coincide com o território ocupado pelo geoparque,
na definição da estratégia turística para o território é impossível de dissociar
deste elemento.

De acordo com Duarte (s.d.a), a visão adotada pelo território é a de tornar-se


num destino turístico de excelência e de referência, nacional e internacional

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conjugando o património geológico com a cultura, a gastronomia e o património
natural” (Duarte, s.d.a, p. 10).

As prioridades são o crescimento inteligente, sustentável e inclusivo. O Arouca


Geopark, tem como objetivo geral o “desenvolvimento da área classificada de
forma sustentável, qualificando e valorizando o património geológico, natural e
cultural; privilegiando a atuação a nível do ambiente, da educação e do
Geoturismo; contribuindo para o envolvimento e para a melhoria da qualidade
de vida dos seus residentes” (AGA, 2019, p. 3).

O combate ao turismo de massas é um fator fundamental para o sucesso de um


destino sustentável, especialmente para um destino turístico onde predomina a
natureza. O visitante de Arouca valoriza o património, uma oferta bem
organizada e uma visita de qualidade. Estes são os requisitos que se pretende
cumprir e transmitir, enquanto destino sustentável, de forma a promover a
fidelização dos visitantes. A sazonalidade é também um fator que afeta o Arouca
Geopark, sendo que, para o combater é realizado um Programa Anual de Rotas
de Geossítios Interpretadas, que inclui visitas e realização de eventos em época
baixa, bem como, a diferenciação de preços entre época alta e baixa (Duarte,
s.d.c.).

O Arouca Geopark integra duas normas internacionais de certificação: a Carta


Europeia para o Turismo Sustentável, da qual faz parte desde 2013, e a Carta
da Rede Europeia e Global de Geoparques (Good Travel Guide, 2020). Deste
modo, e pelo esforço na implementação de boas práticas, com vista à
sustentabilidade, o destino turístico de Arouca, integrou a 6 de outubro de 2020,
o Top 100 dos Destinos Mundiais Sustentáveis de 2020. O Top 100 dos Destinos
Mundiais Sustentáveis, é um prémio que pretende partilhar as boas práticas de
gestão de destinos, legitimando o trabalho desenvolvido, no sentido de tornar os
destinos turísticos mais sustentáveis, responsáveis e atrativos do ponto de vista
da experiência do visitante. É um certificado de qualidade que veio identificar o
esforço de tornar Arouca num destino mais atrativo, responsável e sustentável
(Câmara Municipal de Arouca, 2020).

Em termos de distinções e prémios atribuídos ao concelho de Arouca, para além


dos já referidos anteriormente – Top 100 Destinos Mais Sustentáveis (2020 e

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2021), contabilizam-se os seguintes: a Rota dos Geossítios e os Passadiços do
Paiva venceram o Prémio Geoconservação, em 2017, promovido pela
Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico; e os
Passadiços do Paiva já venceram quatro vezes os World Travel Awards (entre
2016 e 2019), na categoria de Melhor Projeto de Desenvolvimento Turístico da
Europa, e ainda, o prémio de Melhor Atração Turística de Aventura da Europa e
o Prémio Atração Turística líder do mundo, em 2018 e 2019.

4.2 Os efeitos a nível económico, sociocultural e ambiental

A nível económico, a criação da Rota dos Geossítios e os Passadiços dos Paiva


permitiram a criação de cerca de 20 postos de trabalho diretos e inúmeros
empregos indiretos, fornecidos pelos estabelecimentos hoteleiros, restauração e
empresas de animação turística.

Outro projeto diz respeito ao Arouca Agrícola, um projeto promovido pelo


município e pela Associação Geoparque Arouca, que tem como objetivo
estimular e valorizar a produção agrícola, cooperando para a melhoria das
práticas agrícolas na região, de modo a estimular a produção biológica, e apoiar
na sua venda (Arouca Geopark, 2020a), através do incentivo à compra de
Cabazes Arouca Agrícola (AGA, 2019). Atualmente, o Arouca Agrícola abrange
65 produtores locais e segundo o Plano de Atividades para o desenvolvimento
deste projeto prevê a introdução de produtos certificados BIO, escoando estes
produtos internamente (escolas, lares), bem como a dinamização de
experiências gastronómicas através de eventos (AGA, 2019).

Por seu turno, Projeto “Geofood” lançado em 2016, visa a sustentabilidade


alimentar e agrícola, integrando a alimentação saudável, o turismo de Natureza,
a saúde e bem-estar e sabores locais, aproximando o consumidor com a cultura
e produtos locais. Presentemente, o território de Arouca integra a Rede
Internacional GEOfood, onde para dinamizar este projeto são realizadas visitas
turísticas a produtores com os Itinerários Geofood, promovidos menus Geofood
no restaurante pedagógico da Escola Secundária de Arouca e nos seis
restaurantes aderentes e, ainda serão criados novos Itinerários Geofood. Este
projeto foi premiado em 2017 e 2018, a nível nacional, pelo Food Nutrition
Awards (AGA, 2019).

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A nível sociocultural, destaca-se a procura constante pela valorização dos
recursos endógenos, como a natureza e a cultura. Desta forma, Arouca tem
apostado na geoeducação, com ações de formação para professores, de centros
de interpretação e atividades educativas; na geoconservação e no geoturismo,
com a dinamização da Rota dos Geossítios, sendo que o envolvimento da
comunidade e de todos os parceiros tem sido fundamental (Arouca Geopark,
2017).

Ainda a nível sociocultural, é de salientar a existência de um grupo designado


de Semente de Futuro, que é composto essencialmente por aposentados, que
desenvolvem atividades artesanais, que permitem elaborar produtos como
compotas, chás, adereços em lã, entre outros, visando a sustentabilidade do
projeto social. Os produtos agrícolas estão aliás certificados em Modo de
Produção Biológica (Arouca Geopark, 2020b).

A nível ambiental, o geoparque é considerado como laboratório ao ar livre, onde


decorrem ações educativas, oferecendo um enorme contributo para a utilização
sustentável do planeta. O território de Arouca possui condições privilegiadas
para desempenhar o papel de promotor da educação para o desenvolvimento
sustentável, devido ao seu infinito conjunto de atividades a desenvolver neste
local (Arouca Geopark, 2020c).

A Associação do Geoparque Arouca em parceria com a Associação Florestal do


Entre Douro e Vouga e o Gabinete Técnico Florestal Municipal, tem aliás
preparado ações que contribuem para uma floresta sustentável. Deste modo, é
promovida a florestação com espécies autóctones, bem como, esta parceria
resulta na troca de boas práticas na área da gestão florestal sustentável.

As Estações da Biodiversidade (EBIO) podem ser encontradas em diversos


pontos de Arouca, contêm informação sobre algumas espécies existentes neste
território. É importante divulgar e conhecer a biodiversidade, as suas ameaças e
a necessidade da sua conservação, para o desempenho de uma cidadania
consciente e esclarecida face às problemáticas ambientais atuais (Arouca
Geopark, 2018).

O projeto dos Passadiços do Paiva, já referido anteriormente, requeru um


trabalho exigente no que respeita à sua arquitetura, de forma a respeitar as áreas

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envolventes. Como forma de combater o turismo de massas, os Passadiços do
Paiva desenvolveram um sistema que permite a gestão do limite diário de
entradas, que contribua para um turismo responsável (Duarte, s.d.c.). Para além
disso, Arouca promove a observação dos ecossistemas junto ao rio Paiva,
permite a educação e consciencialização da necessidade de preservar os
ecossistemas, para alertar as gerações mais novas para o desenvolvimento
sustentável através de visitas na natureza orientadas por biólogos (Arouca
Geopark, 2017).

No município é ainda possível encontrar alguns alojamentos ecológicos, tais


como a Quinta do Pomar, que é uma unidade de agroturismo, construída em
plena natureza, onde o objetivo foi incorporar as casas na natureza e fazer uma
estrutura sustentável e com respeito pelos materiais da região (cortiça, madeira
e aço). Neste alojamento são utilizadas energias renováveis e são preservados
todos os espaços verdes (Quinta do Pomar, 2021). As paredes e tetos exteriores
foram decorados com espécies autóctones da região. Nesta quinta não são
utilizados fertilizantes e pesticidas e, os frutos servidos no pequeno-almoço vêm
do pomar da quinta, e estão à disposição dos hóspedes que queiram confecionar
as suas refeições (Evasões, 2019).

6. CONCLUSÕES

Considera-se que o destino de Arouca apresenta resultados positivos no âmbito


da sustentabilidade e grandes oportunidades de inovação. Este é um destino
que está classificado como Geoparque Mundial da UNESCO, visto que dispõe
de património geológico e paisagens de valor internacional, que são dirigidas em
conformidade com a proteção, conservação, educação e desenvolvimento
sustentável, envolvendo as comunidades locais. A classificação deste território
mostra a importância que todos os envolvidos neste processo colocam na gestão
das suas paisagens geológicas. Deste modo, e pelo esforço na implementação
de boas práticas, com vista à sustentabilidade, Arouca, já conta com várias
distinções nacionais e internacionais, que servem de reconhecimento das suas
boas-práticas e de motivação para projetos futuros.

13
A nível económico, Arouca tem contribuído para a criação de oportunidades de
emprego na comunidade, com o desenvolvimento de empresas turísticas, bem
como pelos cursos de formação que têm permitindo aumentar a qualidade de
vida da comunidade local. A nível sociocultural, destaca-se a procura constante
pela valorização dos recursos endógenos, tanto naturais como culturais. A nível
ambiental, têm sido promovidas iniciativas que preservam a fauna e flora únicas,
presentes neste território assim como a salvaguarda e valorização dos
ecossistemas.

A limitação deste estudo prende-se essencialmente com o facto de não ter


incorporado fontes de informação primária. Daí que ara investigações futuras
seria importante conseguir obter informações junto de stakeholders locais, bem
como uma investigação sobre como Arouca desenvolve os 17 objetivos do
desenvolvimento sustentável no seu território.

AGRADECIMENTOS e FINANCIAMENTO

Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação


para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto Refª UIDB/00681/2020.
Agradecemos adicionalmente ao Centro de Investigação CERNAS e ao Instituto
Politécnico de Viseu pelo apoio concedido.

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