Equipe e Trabalho Terapêutico Aula 3

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 34

Equipe e trabalho

terapêutico

Profa. Giuliana Elisa dos Santos


CONTEÚDOS AULA:

• Apoio matricial;
• Diálogo da equipe na clínica ampliada;
• Equipe de referência;
• Projetos terapêuticos;
• Saúde da família e visita familiar
O que é Apoio matricial?

• É um arranjo organizacional que tem por objetivo fornecer suporte


técnico especializado às equipes de saúde da atenção básica. Ele
propõe romper com o modelo médico-centrado, caracterizando-se
como um instrumento de gestão do cuidado destinado a qualificar a
intervenção em sujeitos e coletivos.

https://www.youtube.com/watch?v=4I4AIDRTPno
https://www.youtube.com/watch?v=ky0Ttj-yv0U
O que é Apoio matricial?
• Desta forma, o AM estimula a produção de espaços que promovem,
no interior das UBS, discussões e práticas clínicas que trazem novos
sentidos para a intervenção em saúde, atualizando modos de cuidar e
que rompem com a lógica de encaminhamentos para as
especialidades, ou seja, criam outras possibilidades de atenção que
vão além dos CAPS e/ou internações, diversificando e ampliando as
alternativas de acolhimento às necessidades dos usuários com
transtornos mentais (Pena, 2009).
Apoio Matricial E Equipe de Referência
Apoio matricial: dimensão conceitual

• O conceito de AM (apoio matricial) e de ER (equipe de referência)


vem se desenvolvendo desde o final da década de 1980. Entre os
anos de 1990 a 1998, a reorganização dos arranjos dos processos de
trabalho com base na metodologia do AM e das ER (Bezerra, 2008).
Apoio matricial: dimensão conceitual
• Atualmente, alguns programas do Ministério da Saúde, tais como: o
Humaniza-SUS, Saúde Mental, e Atenção Básica/Saúde da Família,
incorporaram a perspectiva de implementação desses novos arranjos
organizacionais (AM e ER), pois suas diretrizes favorecem a criação de
um modelo de atendimento mais singularizado, potencializando o
trabalho interdisciplinar e o sistema de referenciamento. Tais
arranjos surgiram como forma de superar a racionalidade gerencial
tradicionalmente verticalizada, compartimentalizada e produtora de
processo de trabalho fragmentado e alienante para o trabalhador,
produzindo novas formas de abordagem para a gestão da clínica
(Brasil, 2009)
Apoio matricial
• Entende-se como suporte realizado por profissionais e diversas áreas
especializadas dado a uma equipe interdisciplinar com o intuito de ampliar o
campo de atuação e qualificar suas ações. (FIGUEIREDO apud SILVA; LIMA;
ROBERTO; BARFKNECHT; VARGAS; KRANEN e NOVELLI, 2010).
• Logo, “apoio matricial é um novo modo de produzir saúde em que duas ou mais
equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de
intervenção pedagógico-terapêutica” (Ministério da Saúde, 2011, p. 13).
• O apoio matricial, formulado por Gastão Wagner em 1999, tem possibilitado, no
Brasil, um cuidado colaborativo entre a saúde mental e a atenção primária
(Ministério da Saúde, 2011 p. 13), e essa relação amplia a possibilidade de realizar
a clínica ampliada e a integração e diálogo entre diferentes especialidades e
profissões (CAMPOS e DOMITTI apud Ministério da Saúde, 2011).
Apoio matricial e dificuldades
• Entretanto, os sistemas de saúde, tradicionalmente, se organizam de
forma hierárquica, havendo uma transferência de responsabilidades
ao encaminhar um caso de um serviço para o outro. Deste modo,
torna-se precária, difusa e, em alguns momentos, inexistente a
comunicação entre os serviços, que quando ocorre é através de
informes escritos (encaminhamento, parecer, formulário de contra
referência, etc.) e não oferecem uma boa resolução para os casos.
Contudo, esse novo modelo integrador – o modelo matricial – busca
transformar essa lógica tradicional, tecnicista, burocratizada e pouco
dinâmica através de atividades que propiciam a integração dos
profissionais e de seus saberes.
O funcionamento do apoio matricial na
perspectiva dos profissionais
• A ideia de que “cada serviço tem um jeito de fazer o AM ou de
funcionar com AM” pode nos ajudar a reafirmar como são relevantes
e valiosos os processos de singularização relacionados a esta
ferramenta. A singularidade que se constrói em cada unidade, em
cada encontro, não é definida por um modelo preestabelecido.
• Ex. Na minha unidade a gente tem um apoiador matricial em cada
mini-equipe e o matriciamento é feito por este profissional de acordo
com os Centros de Saúde que estão dentro do território e da região
da qual ele é o responsável por fazer este trabalho.”
Modos de operacionalizar o AM
• Três modos de operacionalizar o AM neste cenário:
• a) apoio matricial definido pela territorialidade da equipe de
referência;
• b) pelo perfil profissional dos profissionais da equipe que passam a
ser referência para o AM; ou
• c) pela competência e/ou vinculação que o profissional tem com a
problemática trazida naquela determinada demanda especifica.
Todos esses modos de funcionamento preservam os objetivos
principais do AM e têm em comum a particularidade do
matriciamento, que se define a partir da singularidade do caso a ser
atendido, da região e do próprio matriciador.
A dimensão pedagógica do apoio matricial:
um espaço de ensino–aprendizagem
• Embora a interdisciplinaridade não seja uma novidade conceitual nas
redes de saúde, sabemos que a multiplicidade de saberes presente
em uma equipe de saúde não garante que o usuário da UBS tenha,
naquele serviço, um espaço em que seu sofrimento seja escutado
para além do sintoma, nem que haverá trocas efetivas ou espaços de
formação entre os profissionais (Pena, 2009). Ao estabelecer, como
um de seus objetivos, o oferecimento de retaguarda especializada a
equipe e profissionais, o AM potencializa os espaços de troca de
experiência e a educação permanente em saúde. Esse
compartilhamento de saberes permite a equipe ampliar seus
conhecimentos, sua capacidade de atendimento, além de propiciar
uma aproximação entre a equipe e desta com os usuários.
A dimensão pedagógica do apoio matricial:
um espaço de ensino–aprendizagem
• Ex; “O apoio matricial é um encontro entre um profissional de nível
universitário que sai do CAPS, geralmente uma vez a cada duas
semanas e vai para o Centro de Saúde, onde se faz uma reunião.
Assim, se possibilita uma troca de conhecimentos ou a discussão, às
vezes de algum paciente, tanto para encaminhá-lo do Centro Saúde
para o CAPS ou do CAPS para o CS, ou para uma intervenção de
alguém que está na comunidade e que não está sendo atendido.”
A dimensão pedagógica do apoio matricial:
um espaço de ensino–aprendizagem

• O apoio matricial tem a função de compartilhar conhecimento e


co-construir possibilidades de intervenção, e não de ditar, sozinho, as
regras do jogo.
• Neste sentido, quando nos referimos ao termo apoio,
compreendemos que o mesmo apresenta duas dimensões: a de
suporte assistencial e a técnico-pedagógica.
• A dimensão assistencial relaciona-se à ação clínica que se dá
diretamente com os usuários do serviço.
A dimensão pedagógica do apoio matricial:
um espaço de ensino–aprendizagem
• Já, a dimensão técnico-pedagógica demanda uma ação de apoio
educativo com e para a equipe, pois é “O momento de maior
disponibilidade de uma equipe para aprender determinado tema, é
exatamente quando tem um caso sob sua responsabilidade e recebe
o apoio de um expert no tema de apoio educativo com e para a
equipe” (Cunha, Campos, 2010, p.41). Além disso, o AM viabiliza a
responsabilização compartilhada dos casos individuais e coletivos e,
ao configurar-se deste modo, abre um espaço de discussão e diálogo
sobre o vivido. Esta abertura possibilita: a reorientação de condutas,
a construção de projetos terapêuticos, a revisão de papéis e funções
e, consequentemente, a constituição de um trabalho com vistas à
interdisciplinaridade.
Na Prática:

• Os limites entre o que seria conhecimento nuclear e conhecimento


comum são bastante tênues e variáveis de acordo com as
necessidades de cada equipe vinculada (BRASIL, 2010). Por exemplo,
uma equipe que lidasse com grande número de idosos portadores de
doenças crônicas não transmissíveis possivelmente necessitaria de
maior suporte de um nutricionista para o cuidado direcionado ao
manejo dietético nessas condições; por outro lado, ao realizar apoio a
outra equipe inserida em um contexto importante de vulnerabilidade
social com violação do direito humano à alimentação adequada, esse
mesmo nutricionista precisaria oferecer conhecimentos diferentes
para serem utilizados por essa equipe.
Apoio matricial: espaço de relações e de
produção de subjetividade
• É também relevante compreendermos que o trabalho em equipe se
caracteriza a partir de “uma rede de relações entre pessoas, rede de
relações de poderes, saberes, afetos, interesses e desejos, onde é
possível identificar processos grupais” (Fortuna et al., 2005, p.264). O
entendimento de todas essas dimensões que abarcam a subjetividade
dos sujeitos (seus conflitos, desejos, suas relações e vínculos com os
demais membros da equipe, bem como o próprio trabalho) em muito
pode contribuir com a construção de uma prática de saúde voltada
para a integralidade da atenção.
Apoio Matricial E Equipe de Referência
• No que concerne ao seu propósito, a equipe de referência deve se
responsabilizar efetivamente pelos usuários, tendo-os como centro do seu
processo de trabalho. Sabe-se que o usuário, muitas vezes, não é visto
“totalmente” pelos serviços de saúde, mas como uma “parte”; porém, não
há quem “junte as partes” (STARFIELD, 2002) analisadas pelos distintos
profissionais. Dessa forma, a equipe de referência deve superar essa
tendência.
• Sendo a equipe de referência a responsável pela condução dos casos –
individuais ou coletivos, clínicos ou sanitários – apresentados pela
população descrita, tal responsabilidade deve incluir o acionamento da
rede complementar quando necessário. Essa rede pode ser constituída de
inúmeras formas, inclusive contar com trabalhadores que realizam Apoio
Matricial.
Apoio Matricial E Equipe de Referência
• Em resumo, a equipe de referência é um modo de organização do
trabalho em saúde que busca redefinir o poder de gestão e de
condução de casos, geralmente fragmentado entre especialidades e
profissões de saúde, concentrando-o em uma equipe interdisciplinar
(CUNHA, 2004).
• O Apoio Matricial em saúde, por sua vez, trata-se de uma
metodologia de gestão de trabalho complementar à definição de
equipes de referência, inscrita na lógica das unidades de produção,
como “coletivos organizados em torno de um objeto comum de
trabalho” (CAMPOS, 2003).
Apoio Matricial E Equipe de Referência
Apoio Matricial E Equipe de Referência
Apoio Matricial E Equipe de Referência

• Com o trabalho organizado com a lógica do Apoio Matricial, não há


transferência, ao contrário, o usuário não é mais referenciado ou
encaminhado para um serviço especializado, mas sim compartilhado,
sendo a responsabilidade pela condução do caso da equipe de
referência (CAMPOS, 1999).
Quais os instrumentos do processo de
Matriciamento?

• Entre os instrumentos do processo do matriciamento estão:


elaboração de PTS, interconsulta (a interconsulta consiste na presença
de um profissional de saúde em uma unidade ou serviço médico geral
atendendo à solicitação de um médico em relação ao atendimento de
um paciente) , consulta conjunta, visita domiciliar conjunta, grupos,
educação permanente, abordagem familiar, entre outros.
Projetos terapêuticos

• O PTS é entendido como “um conjunto de propostas de condutas


terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo,
resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar”
(BRASIL, 2010, p. 39)*.

https://www.youtube.com/watch?v=dcC7Uh_zc0I
Projetos terapêuticos
• Em geral, o PTS consiste em quatro movimentos (CUNHA, 2009):
1) levantamento das hipóteses de problemas;
2) definição de metas sobre os problemas. Para tanto, a equipe deve
trabalhar as propostas de curto, médio e longo prazo que serão negociadas
com os envolvidos. A negociação deverá ser feita, preferencialmente, pelo
membro da equipe que tiver melhor vínculo com os envolvidos. Na Atenção
Básica pode ser qualquer membro da equipe, independentemente da
formação;
3) divisão de responsabilidades; e
4) reavaliação, que é o momento destinado para avaliar a evolução e se
fazerem as alterações necessárias do projeto inicial.
Projetos terapêuticos
• DIAGNÓSTICO: Avaliação/problematização dos aspectos orgânicos,
psicológicos e sociais, buscando facilitar uma conclusão, ainda que
provisória, a respeito dos riscos e vulnerabilidades do usuário. Além
de entender como operam os desejos e os interesses, assim como o
trabalho, a cultura, a família e a rede social. Uma atenção especial
deve estar voltada para as potencialidades, as vitalidades do sujeito.
• Definição de metas: Sobre os problemas, a equipe trabalha as
propostas de curto, médio e longo prazo que serão negociadas com o
sujeito “doente” e as pessoas envolvidas.
Projetos terapêuticos
• Divisão de responsabilidades: É importante definir as tarefas de cada
um com clareza. Escolher um profissional de referência, que na
Atenção Básica pode ser qualquer membro da equipe de Saúde da
Família independente da formação, é uma estratégia para favorecer a
continuidade e articulação entre formulação, ações e reavaliações.
• Reavaliação: Momento em que discutira a evolução e se farão as
devidas correções dos rumos tomados.
Projetos terapêuticos
Projeto terapêutico:
Estudo de Caso
Saúde da família e visita familiar.
Saúde da família e visita familiar.
Referências:
• UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Processo de Trabalho
na Atenção Básica: As ferramentas tecnológicas do trabalho do NASF.
Especialização Multiprofissional de Saúde Básica. Acessado: 11 de
setembro, 2020. Disponível em:
https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/35093/mod_resource
/content/1/un5/top2_4.html.
• BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de
Apoio à Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. (Série
A. Normas e Manuais Técnicos. Caderno de Atenção Básica, 27)
Saiba Mais:

• Acesse este artigo: CAMPOS, G.W.S.; DOMITTI, A.C. Apoio Matricial e


equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho
interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, v. 23, n.2, p. 399-407,
fev. 2007.

Você também pode gostar