Teologia-Aconselhamento-E-Capelania-Crista Ceec 22.04.2019

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TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO
E CAPELANIA CRISTÃ

PROF. ARTUR FERNANDES

C.E.E.C. – CENTRO EVANGÉLICO DE EDUCAÇÃO E CULTURA.


"PR. RAIMUNDO SOARES DE LIMA"
2

Este material reúne parte da obra do Professor Me. Rubem


Almeida Mariano para o Curso de Capelania do CEEC – Centro
Evangélico de Educação e Cultura Pr Raimundo Soares de
Lima.
Outros acréscimos e alterações serão feitos a partir de
publicações de outros autores.
Por compreender que a fonte é a base para a disciplina
buscamos manter a fidelidade do texto do autor em referência.
3

PLANO DE ENSINO
Curso: CAPELANIA

I - Disciplina: TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E


CAPELANIA CRISTÃ

EMENTA
A disciplina visa apresentar informações práticas sobre os
métodos e o processo de aconselhamento na atuação do
Capelão. Destaca o aconselhamento cristão no mundo atual.
Tem o propósito de apresentar a aplicação da Palavra de Deus
como fonte de resposta a todo o dilema humano.

OBJETIVO
Levar o aluno a compreender o aconselhamento pastoral de
forma integral, que olha o ser humano como um todo: corpo,
alma, mente, etc. O eixo dessa matéria repousa não somente
em meras técnicas, mas no mundo do aconselhado e do
aconselhando, a luz da Bíblia Sagrada.

III - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO


Aconselhamento e capelania cristã: marco bíblico-teológico
Diaconia, ministério, aconselhamento e capelania cristã
Cuidado, aconselhamento e capelania cristã
Os fundamentos do aconselhamento e da capelania cristã
aconselhamento e capelania cristã: apontamentos históricos
Fundamentos e teorias em aconselhamento cristão
Os fundamentos da capelania cristã
Teologia e práticas em aconselhamento cristão
Propostas, técnicas e comportamentos em aconselhamento
cristão
Promovendo o diálogo em aconselhamento cristão
O perfil e o papel do conselheiro e do capelão cristão
Perfil e atitudes do conselheiro cristão
Perfil e papel do capelão hospitalar
Temas e procedimentos em aconselhamento e capelania cristã
Aconselhamento de apoio
Aconselhamento em casos de perda pessoal
Aconselhamento em caso de crise matrimonial
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Professor Me. Rubem Almeida


Mariano

TEOLOGIA,
ACONSELHAMENTO E
CAPELANIA CRISTÃ
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APRESENTAÇÃO

Livro: TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


Professor Me. Rubem Almeida Mariano

“Jesus era absolutamente honesto, profundamente compassivo,


altamente sensível e espiritualmente maduro”. Collys, G. R. em
Aconselhamento Cristão.

Os estudos teológicos classicamente estão subdivididos em Teologia Bíblica, Teologia


Sistemática e Teologia Prática. O primeiro volta-se para os fundamentos e os
rudimentos dos textos bíblicos do Antigo testamento (AT) e Novo Testamento (NT);
o segundo aborda as elaborações filosófico-teológicas enquanto sistema de
interpretação e compreensão de doutrinas cristãs sistematicamente construídas,
bem como dialoga com outros saberes como é o caso da Filosofia, Sociologia,
Antropologia, Psicologia dentre outros e, por fim, a Teologia Prática, que tem como
objetivo fundamentar construções teóricas e práticas da ação evangélica. Nesse
particular, em nossos dias, há uma significativa demanda para a Teologia Prática, haja
vista que vivemos tempos de novos paradigmas, por que não dizer, os quais exigem
maior rigor e necessidades de atuação da Teologia.
A disciplina “Teologia, Aconselhamento e Capelania Cristã” é uma disciplina que se
coloca no eixo da Teologia Prática. É importante ressaltar que Teologia Prática,
conforme Silva (2010), designaria a reflexão crítica sobre a ação eclesial. No contexto
da Teologia Prática, todas as ações implicam no agir da Igreja como liturgia, ensino,
diaconia, aconselhamento e Capelania dentre outras. Para Szenmártony (1999),
deve-se compreender a Teologia Prática como uma reflexão teológica sobre o
conjunto das atividades nas quais a Igreja se encarna, tendo presente a natureza da
Igreja e a situação atual desta no mundo.
Os referenciais teóricos utilizados foram de literatura, devidamente sustentados na
visão clássica da Teologia, sem nunca perder o tom crítico; assim como, também, nos
estudos sobre aconselhamento e Capelania. Faz-se necessário sublinhar que as
fontes bibliográficas publicadas sobre Capelania são deveras escassas,
diferentemente das sobre aconselhamento.
A lógica desta disciplina prima pelo diálogo e respeito entre os conhecimentos que
fazem interface com a Teologia Prática, o qual não poderia ser diferente, contudo, foi
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opção respeitar as especificidades dos conhecimentos para a constituição do estudo


desta disciplina, ou seja, referente ao aconselhamento cristão, primou-se em estudá-
lo de forma muito peculiar junto com os conhecimentos de aconselhamento advindo
do universo psicológico. Tal opção não tira em nada o brilho e a riqueza das
elaborações e contribuições da Teologia Prática para a ação evangélica nessa área.
Acredita-se sim que esse procedimento, na verdade, marca de forma indelével o
respeito e o entendimento que os conhecimentos devem realmente exercitar, no
contexto acadêmico, para a melhor compreensão do objeto de estudo em comum
entre esses dois saberes.
Quanto aos objetivos a serem alcançados nesta disciplina, procurou-se atender as
três áreas enfatizadas pela didática, a saber: cognitiva, afetiva e motora. Nesta
sequência e sentido, foram sendo elaborados os estudos tema a tema para que o
aluno ou a aluna, ao final desta disciplina, tenha condições de conhecer e de refletir
sobre os conhecimentos necessários para o exercício da Teologia, em especial, nas
áreas do Aconselhamento e Capelania Cristã.

Por fim, a disciplina “Teologia, Aconselhamento e Capelania Cristã” está divida em 5


unidades: UNIDADE I – Aconselhamento e Capelania Cristã: Marco Bíblico-Teológico;
UNIDADE II – Os Fundamentos do Aconselhamento e da Capelania Cristã; UNIDADE
III – Teologia e Práticas em Aconselhamento Cristão; UNIDADE IV – O Perfil e Papel
do Conselheiro e do Capelão Cristão e UNIDADE V – Temas e Procedimentos em
Aconselhamento e Capelania Cristã.
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SUMÁRIO

UNIDADE I 08

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO 09


DIACONIA, MINISTÉRIO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ 10
CUIDADO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ 11

UNIDADE II 15
FUNDAMENTOS E TEORIAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO 17

UNIDADE III 22
TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO 22
PROPOSTAS, TÉCNICAS E COMPORTAMENTOS EM ACONSELHAMENTO 23
CRISTÃO
PROMOVENDO O DIÁLOGO EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO 28

UNIDADE IV 35
PERFIL E ATITUDES DO CONSELHEIRO CRISTÃO 37

UNIDADE V 42
ACONSELHAMENTO EM CASOS DE PERDA PESSOAL 46
ACONSELHAMENTO EM CASO DE CRISE MATRIMONIAL 48
REFERÊNCIAS 55
8

UNIDADE I

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem
• Ressaltar os fundamentos bíblico-teológicos do Ministério, Cuidado,
Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã.
• Assinalar os aspectos fundamentais do Aconselhamento e da Capelania Cristã.
• Identificar os significados do termo “diaconia”, na Bíblia.
• Conscientizar que o fazer Aconselhamento e Capelania Cristã são atos
próprios do serviço cristão.
• Conhecer os fundamentos bíblico-teológicos da poimênica.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Diaconia, Ministério, Aconselhamento e Capelania Cristã


• Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã
• Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã
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INTRODUÇÃO

“Os ensinos do Senhor são certos e alegram o coração. Os seus


ensinamentos são claros e iluminam a nossa mente”.
Salmo 19: 8

“A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos e luz para


o meu caminho”.
Salmo 119:105

“A Palavra era a fonte da vida e essa vida trouxe a luz para todas
as pessoas”.
Evangelho de João 1: 4

A boa tradição cristã, de corte Protestante, ressalta a Bíblia como uma das fontes
necessárias para o desenvolvimento da Fé Cristã. Nesse sentido, a presente unidade
busca evidenciar os fundamentos para a prática do aconselhamento e da Capelania
cristã que assinalem, por um lado, uma genuína tradição cristã e, por outro, dialogue
com as necessidades de nosso tempo.

Por isso, nos voltamos para os fundamentos bíblicos e teológicos do próprio ministério
cristão em que se destacaram os seguintes temas: diaconia, ministério, poimênica e
cuidado. Nossa fundamentação teórica parte do latino Gattinoni (apud CASTRO,
1973) sobre “As bases do ministério pastoral no Novo Testamento” e do americano
Clinebell (2000) sobre “O aconselhamento pastoral modelo centrado em libertação e
crescimento no universo bíblico” dentre outros. Em ambos os autores citados, bem
como nos outros, temos o objetivo maior de fundamentar biblicamente o
aconselhamento e Capelania cristã, como expressão mesma da ação cristã, ou seja,
do próprio Cristo hoje.

Como se observou na apresentação, os estudos teológicos classicamente estão


subdivididos em Teologia Bíblica, Teologia Sistemática e Teologia Prática. Esta
última, a Teologia Prática, tem como objetivo fundamentar construções teóricas e
práticas da ação evangélica. Nesse particular, em nossos dias, há uma significativa
demanda para a Teologia Prática haja vista as necessidades do nosso tempo, as quais
diferem de outros; há a necessidades de novos paradigmas, por que não dizer os
quais exigem maiores, novas elaborações e ações da Teologia na sua modalidade
prática.

Nesse sentido, nota-se uma demanda significativa para dois ministérios em especial
da igreja hoje: Aconselhamento e Capelania cristã. Eles apontam para as
necessidades individuais, grupais, comunitárias, familiares, conjugais, sociais dentre
outras. Essas necessidades cobram respostas da igreja. Contudo, essas repostas
precisam de fundamentação também Teológica, para que esses ministérios, ações e
vocações da igreja estejam em consonância com a Palavra de Deus e, assim, sejam
eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico e prático.
10

DIACONIA, MINISTÉRIO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

O exercício do aconselhamento e da capelania cristã está na mesma perspectiva do


ministério cristão, uma vez que o ato de servir e o diaconato é o ponto de partida e de
chegada de toda e qualquer ação cristã. Isso pode ser evidenciado quando voltamos
nosso olhar para o universo neotestamentário,o qual ressalta como fundamento
essencial do ministério cristão, o serviço. Portanto, servir se constitui
fundamentalmente no próprio ser e agir do ministério cristão, que tem no ato de cuidar,
uma de suas facetas indeléveis.

Inicialmente, Gattinoni (apud CASTRO, 1973) informa que o sentido etimológico do


termo “diákonos” indica uma tarefa de condutor de camelos no pó (poeira): diá =
através kónos = pó, portanto diácono é um servente, um servidor. Exemplo maior é o
próprio Jesus quando lava os pés dos discípulos (Jo. 13:1-17); o serviço é a definição
própria da missão de Jesus, portanto ele veio para servir, pois é um servo (Lc. 22:27
e Mc. 10:45).

Compreende Gattinoni (apud CASTRO, 1973) que o ministério pastoral não pode
deixar de evidenciar essa atitude serviçal. Tal atitude é imprescindível, conforme Mt.
20:25-28; 25:31-46; 10:24. Nesse perspectivo, tanto o aconselhamento quanto a
capelania devem estar inseridos nessa visão bíblica: servir.

Gattinoni (apud CASTRO, 1973) apresenta outro significado para a palavra diaconia,
a palavra grega “doulos”, no sentido “escravo”, que serve. A ideia fundamental desse
vocábulo é ressaltar o espírito serviçal como sendo inerente ao ministério e a todo e
qualquer cristão (intra e extracomunidade). O próprio Jesus Cristo recebeu esse título
como sendo “O servo por excelência” (Fil. 2:5-11; Atos 3:13,26; 4:27). Esse título é
também conferido aos autores dos livros bíblicos: João 1:1, Atos 16:17, 2Cor. 4:5;
9:19; em II Ti. 2:24, o ministro como sendo servo; todos os cristãos assim o são: servos
(Atos 2:18 e 4:29). Esse significado é designado universalmente e válido a todo o
corpo de Cristo (I Cor. 7:22 e I Pedro 2:16).

Portanto, os cristãos são chamados a servir a Cristo e ao seu Reino (Ro. 7:6; Col.
3:24; I Ts. 1:9; 1:1; 2:20;7;3); nesse sentido, o serviço aos homens é entendido como
servir ao Senhor Jesus Cristo (Ro. 14:18; Gá. 5:13; Ef. 9:9); a ideia de servir dos seres
humanos como parte do serviço a Cristo (I Cor 16:15; II Cor. 6, 8:4; 9:1, 12; Atos 20:28,
34, 35; II Ti. 1:18; Fim. 13) ou ainda, o servir às pessoas como sendo uma ação ao
próprio Cristo (Mat. 25:31-46). Diaconia, nesse sentido, por fim, evoca de forma
categórica que todo e qualquer ministério da Igreja, com destaque para o
aconselhamento e capelania cristã, é um ato de serviço ao próximo no mundo. Uma
ação missionária que nasce do ministério de Jesus Cristo como identidade da Igreja.

Por fim, outro sentido para “diaconia” é uma expressão, conforme Gattinoni (apud
CASTRO, 1973), “Diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da obra de Deus,
no mundo”. Diaconia como ministério de toda a Igreja e de toda a comunidade cristã,
bem como de cada comunidade em particular – Ef. 4:12; Ap. 2:19; I Co.12 e Ro. 12:1-
8; ou seja, toda e qualquer comunidade que se diz cristã tem uma identidade em
comum: ser sinal de Deus por meio do serviço da igreja às pessoas. Essa expressão
coroa e assinala a riqueza dos sentidos para “diaconia” já observados acima.
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Compreende-se, sem dúvida, que os sentidos de “diaconia” abordados até o presente


ressaltam biblicamente o serviço como fundamento para o exercício do ministério
cristão, ou os mais diversos ministérios da igreja, com destaque para o
aconselhamento e a capelania cristã.

CUIDADO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Inicialmente, a palavra que melhor expressa bíblica e teologicamente tanto


aconselhamento quanto capelania é o termo “cuidado”, ou o verbo “cuidar”.

A seguir, vejamos o trabalho realizado por Hoepfner (2008) sobre a análise do termo
“cuidar”, em que o referido autor faz um estudo sobre o termo em seu sentido
etimológico e bíblico; bem como o trabalho de Oliveira (2004).

Para Hoepfner (2008), o termo cuidar provém do latim cura, que assinala uma relação
de amor e amizade, uma atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de
inquietação em relação a alguém ou a algo estimado. Portanto, o sentido aqui deve
ressaltar, conforme observa Hoepfner (2008), uma relação pessoal, existencial, e, por
consequência, estabelecer uma preocupação frente à vida de outra pessoa ou de
algo, como o cuidado com os enfermos ou com o meio ambiente.

Hoepfner (2008), baseado em Boff, faz a seguinte observação sobre o cuidado:


[...]é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um
momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de
ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com
o outro, pois uma atitude perfaz uma fonte, pela qual descendem muitos atos.
(p.14-15)

Nesse sentido ainda, Hoepfner (2008) exemplifica e comenta da seguinte maneira


essa questão:
Quando uma mãe afirma: “Estou cuidando do meu filho adoentado!”,
subentendem- se, nesta afirmação, múltiplos atos. Atos como: estar
preocupado com seu filho; levá- lo ao médico; dar a ele, não apenas
remédios, mas, igualmente carinho; orar com e por ele, enfim, estar próximo
dele por meio de ações diversas que compreendem uma
atitude de cuidado. Nesse sentido, pode-se afirmar que uma atitude de
cuidado abarca o ser humano em sua totalidade de vida. No que tange ao
relacionamento humano, tanto a pessoa que toma uma atitude de cuidar de
alguém, quanto o indivíduo para o qual é dirigida tal atitude, há um contato
não meramente físico, mas também afetivo- emocional, concretizando uma
relação de sujeito para sujeito e não de sujeito para sujeito-objeto, ou seja, o
cuidado possibilita a dignidade, pois abre mão do poder dominador e afirma
uma comunhão entre seres reais. “A relação não é de domínio sobre, mas de
convivência. Não é pura intervenção, mas interação”. Por conseguinte, pode-
se reiterar que só recebemos zelo se cuidarmos de outras pessoas; portanto,
nessa dimensão, apenas nos tornamos pessoa no encontro com outra.
Percebe-se, então, que a categoria cuidado tem conotações que superam as
noções comuns que lhe são aplicadas. (p.15)

Nota-se que o sentido ora ressaltado assinala vigorosamente uma atitude de cuidado
total, não com o que é particular ou pontual, mas sim com o ser humano em sua
integralidade, em suas mais diversas áreas e dimensões: física, afetivo-emocional,
12

social, ecológica, cultural e espiritual.

Outra questão importantíssima ressaltada ainda por Hoepfner (2008) é a relação entre
os seres humanos que deve ser pautada não pelo domínio sobre, mas pela
convivência. Pode-se compreender nessa perspectiva que só recebemos cuidado se
cuidarmos também de outras pessoas; portanto, nessa dimensão ou relação, apenas
nos tornamos pessoa efetivamente quando estamos no encontro com outra, ou seja,
nos relacionamos respeitosamente como iguais.

Diante do exposto, Hoepfner (2008) conclui as seguintes considerações:


Explicitando, o cuidado vê os contornos concretos dos problemas, da
realidade, enxerga e abraça o ser em sua integralidade vital e, portanto, não
se resume a apenas fidelidade, a princípios profissionais e a deveres morais
impostos por uma sociedade deveras injusta. Perceptivelmente esclarecedor
é o vocábulo alemão Sorge, comumente traduzido ao vernáculo pátrio como
“cuidado”, “preocupação”, “aflição”. Se por um lado, a Sorge remete para o
cuidado de si, por alguém ou por algo (Fürsorge), por outro, remete,
igualmente, para uma situação existencial de aflição, ou seja, o de estar
preocupado consigo mesmo, por alguém ou com algo (sich sorgen um). O
termo inglês care, da mesma forma, traz consigo a idéia de um cuidar solícito,
bem como o de um cuidar ansioso e aflito junto a alguém ou a algo. Conclui-
se que, uma atitude de cuidado frente a pessoas, requer envolvimento, pois
“o cuidado é aquela relação que se preocupa e se responsabiliza pelo outro,
que se envolve e se deixa envolver com a vida e o destino do outro, que
mostra solidariedade e compaixão”. Tal atitude é a condição prévia para o
eclodir da amorosidade humana, afinal, quem cuida, ama e, quem ama, cuida
(p.16)

Hoepfner (2008), faz ainda um estudo sobre expressões correlatas ao termo “cuidar”
no Antigo Testamento e Novo Testamento:
O principal correlato do termo cuidar no Antigo Testamento (AT) é o verbete
shãmar. Ao longo do testamento hebraico ele aparece 420 vezes. A ideia
básica da raiz deste termo, conforme o Dicionário Internacional do Antigo
Testamento, é a de “exercer grande poder sobre”, significado que permeia as
várias alterações semânticas sofridas pelo verbo.
Combinado com outros verbos, o sentido expresso é o de “fazer com
cuidado”, “fazer diligentemente”, por exemplo, como aparece em Nm 23.12:
“(...) Porventura, não terei cuidado de falar o que o Senhor pôs na minha
boca”. O verbo pode vir a exprimir também a atenção cuidadosa que se deve
ter com as obrigações contidas em leis e na própria aliança de Deus com o
seu povo, como expresso em Gn 18.19 ou Êx 20.6. Frequentemente, o verbo
ainda é utilizado para designar a necessidade de ser cuidadoso frente às
próprias ações; frente à própria vida (Sl 39.1; Pv 13.3), ou ainda, designar a
atitude de alguém de dar atenção ou reverenciar Deus, outras pessoas ou
ídolos (Os 4.10; Sl 31.6). O verbo shãmar abrange ainda os sentidos de
“preservar”, “armazenar” e “acumular” a ira (Am 1.11), o conhecimento (Ml
2.7), o alimento (Gn 41.35) ou qualquer coisa de valor (Êx 22.7). Um último
desdobramento da raiz exprime a ideia de “tomar conta de” ou “guardar”, ou
seja, envolve manter ou cuidar de um jardim (Gn 2.15), de um rebanho (Gn
30.31) ou de uma casa (2 Sm 15.16).
É nessa ótica que Davi admoesta Joabe a cuidar de Absalão: “Guardai-me o
jovem Absalão” (2 Sm 18.12), ou quando Davi, nos Salmos 34.20; 86.2;
121.3-4 e 7, utiliza o termo para falar do cuidado e da proteção divina.
No que tange ao Novo Testamento, o principal correlato de cuidar é o verbete
grego merimna. Assim como o termo alemão sorge e o inglês care, merimna
pode remeter a dois significados. Num sentido negativo, é traduzido por
“preocupação” ou “ansiedade” do ser humano. É nesse parâmetro que
merimna é empregado no Sermão do Monte (Mt 6.25-34). Jesus, nessa
13

homilia, critica a demasiada preocupação do ser humano em torno de


questões materiais que o afastam de Deus. Paralelamente, a passagem de
Lc 21.34, adverte para as fúteis preocupações concernentes à vida diária. Já
o sentido positivo de merimna, remete ao “ter cuidado de” ou “preocupar-se
com” alguém ou algo. Em 2 Co 11.28, o apóstolo Paulo se vê como aquele
que deve preocupar-se com as igrejas. Já em 1 Co 12.25, a Igreja é vista
como “corpo de Cristo”, no qual todos os membros cuidem e cooperem uns a
favor dos outros. Em 1 Pd 5.7, o ser humano é chamado a lançar toda a sua
ansiedade aos cuidados de Deus.
Outras tantas passagens bíblicas poderiam ser aqui arroladas. Perícopes,
que dependendo do testamento, utilizam os termos shãmar ou merimna, para
expressarem a ampla ideia do cuidado humano ou de Deus por sua criação.
Entretanto, ressalta-se, a partir dessa breve investigação acerca dos
correlatos bíblicos do termo cuidar, que em muitas passagens nas quais os
termos shãmar e merimna são empregados, eles compreendem, ao menos
indiretamente, uma atitude que lida com a própria condição de vida do ser
humano. Atitude esta, profundamente arraigada na fé dos inspirados
escritores bíblicos em Deus. (p.p 17-18)

Ainda nessa direção, Oliveira (2004) afirma, a partir das elaborações teológicas de
Leonardo Boff sobre o cuidado com o ser humano no contexto maior que é o cuidado
com a natureza, o seguinte: “cuidar da alma implica cuidados sentimentos dos sonhos,
dos desejos, das paixões contraditórias, do imaginário, das visões e utopias que
guardamos dentro do coração” (p.17). Tal elaboração aponta o cuidar como um ato
integral da existência humana.

Oliveira (2004), tomando afirmação de Brakemeier, destaca que o cuidado com o ser
humano está justamente na afirmação doutrinaria da Imago Dei, ou seja, que o ser
humano é imagem e semelhança de Deus. Portanto, há uma dignidade no ser humano
que lhe é atribuída, concedida sem merecimento que provém de Deus e que se
manifesta em si mesmo.

Teologicamente, observa Oliveira (2004) que os atos de misericórdia e compaixão


testemunhados por Jesus Cristo, em sua prática, revelam o próprio amor de Deus
dispensado ao ser humano. Enquanto os atos de poder coisificavam o ser humano,
escravizando-o, Jesus testemunhava o amor de Deus que transforma a dor e a
escravidão em amor, saúde e vida, vida em abundância.

Oliveira (2004) assinala que a desesperança e o pessimismo podem ser revestidos


pela ressurreição de Cristo, pois ela apresenta uma nova condição antropológica para
a existência humana; bem como pela cruz que não nega o sofrimento, mas assinala
que todos estão suscetíveis nesta condição humana, pois Jesus também recebeu
cuidados quando de sua morte.

Por fim, o aconselhamento e a capelania cristã também são experiências construídas


e contextualizadas pela riqueza do serviço cristão que se explicita no ato de cuidar do
ser humano numa perspectiva bíblica. E essa tradição bíblica tem como eixo fundante
e articulador
o Cristo da Fé e o Jesus Histórico. No primeiro, se evidencia a celebração da Vida e
no segundo se ressalta as contradições existenciais da Vida. Nessa dinâmica é que
se encontram relacionadas fundamentalmente o aconselhamento e a capelania cristã.
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Considerações Finais

Caro aluno (a), esta nossa primeira unidade nos lançou no universo bíblico-teológico.
Nela visitamos e revisitamos textos clássicos e fundamentais da Fé Cristã que são
imprescindíveis não só para os nossos intentos, como para todo e qualquer objetivo
que queira fundamentar
o testemunho cristão.

Em nosso caso, olhamos firmemente para o campo da Teologia Prática, ou mais


especificamente, para as áreas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. Nesse
sentido, quando estudamos a palavra “diaconia”, vimos como este termo é rico e
diverso, bem como aponta indelevelmente para o ser próprio do Cristianismo: servir
ao mundo. Destacou o nome e o sobrenome dessa essência diaconal: Jesus Cristo,
o servo por excelência. Assim, ficou límpido que o ministério cristão, guarda-chuva
maior que abarca o Aconselhamento e a Capelania Cristã, é um instrumento de
serviço no mundo, quer intra ou extraigreja.

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

1. Como vimos nesta unidade, o termo “diákonos” é muito rico e diverso em sua
significação. Aponte em que sentido Jesus é entendido como exemplo maior enquanto
“diákonos”.

2. O estudo do termo “diákonos”, na perspectiva bíblica que vimos, é essencial


para direcionar o Ministério Cristão, o qual também orienta o aconselhamento e a
capelania cristã. Diante disso, interprete a seguinte afirmação: “Diaconia como um
ministério da Igreja, a serviço da obra de Deus, no mundo”.

3. Fundamentar, bíblica e teologicamente, é indispensável para toda e qualquer


teoria ou prática cristã.

4. A partir da elaboração teológica do cuidado como fundamento para o


aconselhamento e capelania, aponte e argumente o porquê desse tema: “cuidado” é
essencial para o exercício do aconselhamento e da capelania cristã.

5. Nesta unidade foram vistos os termos “Diaconia”, “Ministério Cristão” e “Cuidado”.


Vimos que esses três termos são importantes para uma compreensão bíblico-
teológica do fazer aconselhamento e capelania cristã.
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UNIDADE II

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer as origens históricas do Aconselhamento e Capelania Cristã.
• Assinalar os aspectos fundamentais das teorias em Aconselhamento e em
Capelania Cristã.
• Apontar atitudes em Aconselhamento e Capelania Cristã.
• Identificar os objetivos principais do Aconselhamento e Capelania Cristã.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Aconselhamento e Capelania Cristã: Apontamentos Históricos


• Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão
• Os Fundamentos da Capelania Cristã
• Capelania Hospitalar
16

INTRODUÇÃO

“Assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa precisa


do capelão”.

Jung, G. In: Silva – Capelania Hospitalar e terapia da enfermidade: uma visão


pastoral.

No contexto religioso de corte cristã, são duas as práticas, em especial, o


Aconselhamento e a Capelania, que são marcadas pelo termo “ajuda”. Ambas se
encontram no campo da Teologia Prática, bem como a liturgia, a educação, a pastoral
e o cuidado (diaconia).

Especificamente, como bem ressalta Barrientos (1991), o tema do aconselhamento é


bastante amplo e delicado, enquanto o tema da capelania ainda é pouco conhecido.
Nessa área há questões polêmicas, como a utilização ou não de técnicas e
procedimentos do aconselhamento psicológico para o aconselhamento ou a capelania
cristã. Contudo, este livro tem o objetivo de ser didático, ou seja, ser uma introdução
aos temas do aconselhamento e da capelania para a formação universitária em
Teologia. Não obstante, o leitor atento e interessado deve buscar na literatura
especializada seu aprofundamento. É verdade, até então, que há bem mais material
disponível em aconselhamento do que em capelania.

Diante disso, esta unidade desenvolve estudos nos campos da história e das teorias
puras, bem como das teorias sobre as práticas do Aconselhamento e da Capelania
Cristã. É importante ressaltar que focamos na área Hospitalar em Capelania e, ainda,
que os conceitos, a natureza, os objetivos, o intento, as dimensões, os procedimentos,
as atitudes, os instrumentos e os comportamentos em Aconselhamento e Capelania
Cristã foram observados e abordados à luz de diferentes autores, uns bem conhecidos
e outros menos pelo público especializado

Como é bom estar localizado ou contextualizado. Isso não é diferente quando


estudamos o tema da capelania. Saber nossas origens, e, principalmente, os
fundamentos da nossa forma de pensar, bem como os motivos que estão na base de
uma determinada ação ou atitude é sempre importante. Conforme Gentil, Guia e
Sanna (2011):

Historicamente o termo “capelania” foi criado na França, em 1700 porque, em


tempos de guerra, o rei costumava mandar para os acampamentos militares,
uma relíquia dentro de um oratório, que recebia o nome de “Capela”. Essa
capela ficava sob a responsabilidade do sacerdote, conselheiro dos militares.
Em tempos de paz, a capela voltava para o reino, ainda sob a
responsabilidade do sacerdote, que continuava como líder espiritual do rei, e
assim ficou conhecido por capelão. Com o tempo, o serviço de capelania se
estendeu aos parlamentos, colégios, cemitérios e prisões (p.1).

Silva (2010), ao tratar sobre a conceituação de capelania, observa que o termo aponta
para o cargo, a dignidade e o ofício de capelão. Tal atividade é exercida por um
religioso, católico ou protestante, responsável em prestar assistência religiosa e/ou
realizar culto ou missa nas instituições que serve. É comum ter um local denominado
17

capela em repartições públicas ou privadas, escolas, hospitais, quartéis, presídios,


universidades etc., onde o capelão atende às pessoas e essas podem também
exercitar a sua fé. Observa ainda Silva (2010) que é comum haver instituições que só
têm capelão católico ou protestante, mas há também instituições que comportam as
duas ramificações do cristianismo, bem como fora do país há outras religiões que
também têm exercido essa mesma função.

Silva (2010) destaca em seu texto a importância do papel do capelão enquanto


facilitador. Ele observa que Jung atribuía ao capelão o papel de sujeito facilitador do
encontro do homem com a sua dimensão espiritual; assim como o corpo precisa do
médico, a vida espiritual da pessoa precisa do capelão, compreendia Jung, conforme
Silva (2010).

FUNDAMENTOS E TEORIAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

A compreensão tradicional de aconselhamento cristão pode ser identificada nas


palavras de Cunha (2004) ao tratar sobre o tema citando Mack:
O aconselhamento para ser chamado cristão precisa possuir quatro
características:
1. Ser realizado por um cristão; 2. Ser centrado em Cristo (Cristo não é
um adendo ao aconselhamento, mas é a alma e o coração do
aconselhamento, a solução para os problemas. Isto contrata com o caráter
antropocêntrico das psicologias modernas); 3. Ser alicerçado na Igreja (a
Igreja é meio principal pelo qual Deus traz às pessoas ao seu convívio e as
conforma ao caráter de Cristo); 4. Ser centrado na Escritura Sagrada (a Bíblia
ajuda a compreender os problemas das pessoas e prover solução para os
mesmos)” (p.1).

Contudo, tomemos em termos o conceito advogado por Clinebell (2000), que vê o


aconselhamento, o qual constitui uma dimensão da poimênica, como a “utilização de
uma variedade de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com
seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao crescimento e, assim, a
experimentar a cura de seu quebrantamento” (p.25). Nesse sentido, o
aconselhamento tem função reparadora quanto ao crescimento de uma pessoa.

É importante, inicialmente, nos localizarmos sobre qual modalidade de


aconselhamento nós estamos nos referindo ou tratando aqui. Barrientos (1991)
apresenta quatro tipos de aconselhamento:

1. Aconselhamento popular

É o que ocorre nos relacionamentos diários das pessoas que trocam problemas e
conselhos entre si.

2. Aconselhamento comunitário

Em muitos grupos latino-americanos, especialmente os de cultura indígena, existe


essa prática de aconselhamento em grupo. Se uma pessoa tem dificuldades em seu
lar recorre aos líderes da tribo, então eles, em grupo, escutam e aconselham.
18

3. Aconselhamento pastoral

É uma prática exercida por um pastor junto a sua comunidade. Precisa de preparo
e muita competência para tratar os mais diversos temas, como: problemas
matrimoniais, relacionamentos entre pais e filhos, disputas entre irmãos na fé,
dificuldades econômicas, dificuldades sobre a fé, falta de sentido na vida,
homossexualidade, alcoolismo, vício de drogas, prostituição e problemas emocionais
mais profundos.

4. Aconselhamento profissional

Esse tipo de aconselhamento é exercido por conselheiros, psicólogos e psiquiatras.


Esses são profissionais que o pastor pode e deve trabalhar junto, pois há problemas
mais profundas na comunidade e por isso necessitam de um cuidado maior.

Nossos estudos assinalam o aconselhamento pastoral primeiramente, bem como o


profissional, com destaque para o aconselhamento psicológico. Nossa perspectiva é
o diálogo. Esse diálogo está imbuído pelo respeito e consideração entre os
conhecimentos da Teologia e da Psicologia.

Avançando um pouco mais, Barrientos (1991) apresenta os cinco objetivos do


aconselhamento, e ainda destaca que o mesmo não está indicado somente para os
momentos de crise, mas é também um meio de ajuda, com isso corroborando com a
ideia acima de Clinebell (2000). Vejamos os cinco objetivos:

1. Relatar a situação que está enfrentando.


2. Obter uma visão global do problema, e não reparar apenas em detalhes.
3. Descobrir as causas.
4. Tomar decisões.
5. Amadurecer para que, em situações futuras, possa resolvê-los por si mesmo.

Mannóia (1985) também corrobora ao apresentar os seguintes objetivos:

a) Auxiliar o indivíduo a alcançar o conhecimento e a aceitação de si mesmo.


b) Auxiliar o indivíduo a analisar rumos de ação alternativos.
c) Oferecer oportunidades ao indivíduo de escolher um modo de proceder que
seja viável.
d) Oferecer ao indivíduo uma situação na qual tome iniciativa e aceite se
responsabilizar por ela.

Para Collins (1995), o aconselhamento tem os seguintes objetivos:

a) Estimular o desenvolvimento da personalidade.


b) Enfrentar mais eficazmente os problemas da vida, os conflitos íntimos e as
emoções prejudiciais.
c) Promover encorajamento e orientação para aqueles que perderam alguém
querido ou que estejam sofrendo uma decepção.
d) Assistir as pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e infelicidades.
e) Levar o indivíduo a uma relação pessoal com Jesus Cristo.
19

Collins (1995) ressalta, ainda, os seguintes alvos do aconselhamento:

a) Auto compreensão – compreender a si mesmo é o primeiro passo para a cura.


b) Comunicação – é essencial para a pessoa. Isso envolve a expressão da pessoa
e a capa- cidade de receber mensagens corretas por parte de outras.

c) Aprendizagem e Modificação de comportamento – desenvolver


comportamentos adequa- dos e abandonar os inadequados é essencial para o
aconselhando.
d) Autorrelização – desenvolver uma vida realizada em Cristo, na força do Espírito
Santo, em que nota-se o amadurecimento espiritual do aconselhando.
e) Apoio – o aconselhando em situações de crise pode necessitar de apoio para
enfrentá-las.

Clinebell (2000) observa que o fim último do aconselha- mento é o crescimento


espiritual integral das pessoas. Para isso, o conselheiro deve utilizar os instrumentos
que são próprios ao cristianismo, como:
• A bíblia.
• A oração.
• A visitação.
• A meditação.
• A exortação.
• O perdão.
• A comunhão, dentre outros.

Se assim podemos nos referir, esses instrumentos têm o objetivo de potencializar


esse crescimento espiritual integral à luz da ação do Espírito Santo.

Nessa perspectiva, Clinebell (2000) observa, ainda, seis dimensões da integralidade


da vida de uma pessoa:

1. Avivamento da sua mente.


2. Revitalização de seu corpo.
3. Renovação e enriquecimento de seus relacionamentos íntimos.
4. Aprofundar sua relação com a natureza e a biosfera.
5. Crescimento em relação às instituições significativas em sua vida.
6. Aprofundamento e vitalização de seu relacionamento com Deus.

Castro (1974) faz a seguinte pergunta: qual será a meta da atividade pastoral? Ele
mesmo responde assim “logicamente como todo conselheiro, procura ajudar a
recuperar a saúde plena da personalidade do aconselhando” (p.182). Nessa direção,
Castro (1974) destaca as seguintes questões do aconselhamento:

a) A capacidade de uma pessoa de ter o controle sobre seu próprio destino.


b) Fazer suas próprias escolhas.
c) Ser responsável tanto no desenvolvimento de suas ações como nos resultados
das mes- mas.

É fundamental ressaltar que Castro (1974) assevera que tais questões do


aconselhamento, que se apresentam como objetivos que devem ser tomados dentro
20

da seguinte perspectiva: “vão acompanhados normalmente por uma militância


serviçal, uma atitude vicária em relação com o mundo, com o exemplo de Zaquel” (p.
183), ou seja, servir ao Senhor Jesus Cristo.

Schipani (2004) parte dessa mesma direção quando observa que:

[...] o aconselhamento pastoral é um ofício e uma forma especial do ministério


do cuidado pastoral na Igreja. No aconselhamento pastoral, o emergir
humano é promovido de maneira especial por meio de uma forma distinta de
caminhar com as pessoas, casais e membros de famílias ou pequenos
grupos, no momento em que enfrentam desafios e dificuldades na vida. O
objetivo maior, termos simples, é que vivam sabiamente à luz do Deus (p.97).

Por isso, para Schipani (2004) aconselhamento pastoral deve ser entendido
teologicamente como:
a) Adoção da sabedoria à luz de Deus como a metáfora fundamental que
reconstrói a estrutura teórica e os fundamentos teológicos do aconselhamento
pastoral em solo firme.

b) Integração das perspectivas psicológicas e teológicas à luz da sabedoria de


Deus como o princípio digno para orientar, compreender e realizar um tipo de
aconselhamento pastoral ao mesmo tempo plenamente aconselhador e plenamente
pastoral.
c) A luz de Deus que define a natureza e a orientação de forma do ministério
cristão, de modo que prontamente reconhecemos as dimensões éticas e o contexto
moral do aconselha- mento.
d) A luz de Deus que orienta os aconselhadores pastorais a caminharem com os
outros na esperança de construir uma sociedade de liberdade, justiça, paz, amor e
integridade e os chama, de forma singular, a se tornar em terapeutas para um mundo
melhor.

Schipani (2011) observa ainda que em aconselhamento pastoral é imprescindível que


se tenha claro que cada situação requer formulação de objetivos específicos, bem
como, em cada situação, que se apliquem estratégias próprias. Contudo, há também
de se reconhecer que há muitas ocorrências em comum que apontam para um
propósito geral ou fundamental, o qual,nesse caso, é a sabedoria à luz de Deus.
Portanto, o propósito mais amplo de crescer em sabedoria inclui três aspectos
inseparáveis para se buscar alívio e resolução, advoga Schipani (2011):

1. Crescimento na visão

A experiência do aconselhamento pastoral tem de ser orientada para ajudar o


aconselhando a encontrar novas e melhores formas de conhecer e compreender a
realidade, incluindo as dimensões da sua própria pessoa, o mundo social, as ameaças
do vazio e a realidade da graça do Sagrado.

2. Crescimento em virtude

A experiência do aconselhamento deve convidar o aconselhando a descobrir


maneiras de ser e amar mais satisfatoriamente, com particular ênfase na sua relação
com outras pessoas
21

- especialmente amigos, familiares e colegas de trabalho - com o Espírito de Deus e


consigo mesmo.

3. Crescimento em vocação

A experiência de aconselhamento pastoral procura capacitar o aconselhando a tomar


boas decisões e investir energias novas em relacionamentos interpessoais,
profissionais, nas horas de descanso, lazer, alimentação espiritual, serviço, e
encontrar formas de apoiar essas decisões com integridade. É fundamental encontrar
uma orientação para a vida que seja mais livre e esperançosa, em meio à situação
social que vivemos.

Portanto, Schipani (2011) entende que o propósito geral do aconselhamento pastoral


é ajudar o aconselhando a descobrir como viver uma vida mais íntegra, moral e plena.

Brister (1980), ao tratar da natureza do aconselhamento pastoral, observa que há


muitos problemas, dos mais diversos possíveis, entre as pessoas hoje. Tal realidade
assinala a
necessidade de um melhor preparo por parte de pastores e pastoras, bem como
liderança religiosa como um todo, incluindo entendimento técnico e busca por
resultados efetivos. Deve-se reconhecer que o aconselhamento pastoral não é uma
atividade nova, por mais que tenha ganhado visibilidade atualmente, como nos cursos
de formação teológica e na própria comunidade cristã, ele é muito antigo.

Em seu estudo pela compreensão da natureza do aconselhamento pastoral, Brister


(1980) destaca os seguintes elementos:

a) O aconselhamento pastoral pressupõe um diálogo entre Deus e o ser humano,


na perspectiva da Fé Cristã. Seja em que situação for, Deus sempre se fará presente
nessa relação (Mt. 18:20), por isso em certo sentido, do ponto de vista teológico, a
experiência do aconselhamento deve ser compreendida como uma oração, uma
conversa com Deus na presença de outra pessoa. Que responsabilidade nossa, você
não acha?

b) O aconselhamento pastoral tem como contexto o ambiente cristão e recursos


ou fontes únicas. Ou seja, sempre está relacionado à igreja e ao contexto tipicamente
comunitário. Como, por exemplo, na visão dos membros da comunidade um
conselheiro pastor é um guia espiritual. Ele pode até não usar desse poder, mas tal
realidade é difícil de desvencilhar. Por isso, cabe ao conselheiro possibilitar ajuda
adequada à pessoa, oportunizando para que ela tenha um melhor entendimento da
sua situação e das condições proporcionadas por essa relação de ajuda.

c) O aconselhamento pastoral é distinto das outras modalidades de


aconselhamento profissional, por exemplo, pois ele é um processo de conversação
entre um pastor responsável e um indivíduo preocupado ou grupo íntimo, com a
intenção de permitir que tais indivíduos resolvam as suas preocupações, e assim,
possam atingir uma ação construtiva. Nesse sentido, é fundamental a criação de
vínculos antes mesmo de qualquer utilização de técnica.
22

UNIDADE III

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO


Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem
• Listar procedimentos adequados ao conselheiro em Aconselhamento Cristão.
• Identificar a natureza do Aconselhamento Cristão.
• Conhecer técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão.
• Descrever as técnicas diretivas e não diretivas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Propostas, técnicas e comportamentos em Aconselhamento Cristão


Promovendo o diálogo com o aconselhando
23

INTRODUÇÃO

“Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o ministério do


aconselhamento para ser bem-sucedido nestas atividades. Ser vocacionado não é
uma garantia de que as coisas darão certas. Prova disso é o grande número de
ministérios que dá errado e de igrejas com problemas muitas vezes causados por
pastores. E, da mesma forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as
pessoas. Há algo mais além da chamada e da boa vontade em fazer a obra”.

Coelho Filho, em De perfil e Atributos do conselheiro Bíblico.

Caro aluno, esta unidade tem como objetivo abordar, os procedimentos adequados
do conselheiro, bem como refletir sobre a natureza do Aconselhamento Cristão de
forma introdutória.

Esta unidade também tem a missão de desenvolver as técnicas de intervenção como


forma de lembrar a todos os nossos leitores que a arte de aconselhar hoje necessita
muito mais do que boa vontade, como temos frisado; hoje se faz necessário
conhecimento, ou como diz um amigo, meu pastor e doutor em Psicologia, é
necessário ter tecnologia para aconselhar. Pois quem está do outro lado são pessoas
que vivem em estado de sofrimento ou que precisam de orientações e não podem
continuar sofrendo mais do que estão. Portanto, cabe àqueles que se sentem
chamados cuidar de sua formação, preparando-se de forma adequada para essa
atividade. Esta unidade quer singelamente contribuir nesse processo.

Fundamentalmente serão abordadas técnicas de intervenção em Aconselhamento


Cristão, com destaque para os métodos diretivos e não diretivos.

PROPOSTAS, TÉCNICAS E COMPORTAMENTOS EM ACONSELHAMENTO


CRISTÃO

Quando se pensa na atuação do conselheiro cristão, necessariamente se deve


considerar propostas, técnicas e atitudes em aconselhamento. A seguir, estaremos
expondo algumas delas, as quais não são inéditas, mas procuramos identificar de
maneira básica e fundamental quais devem ser os procedimentos e ações do
conselheiro no contexto pastoral.

Veremos ainda que essas propostas, técnicas e atitudes, guardadas as devidas


proporções, servem também de base para o trabalho da
capelania e suas mais diversas atividades, em especia, quando o capelão atuar na
condição de conselheiro.

É importante observar que há muitos escritos sobre o assunto, especificamente com


teorias e métodos devidamente elaborados. Há também diversos textos sobre o
aconselhamento cristão e o aconselhamento psicológico, que observam seus
24

vínculos, contribuições, limites e críticas, como: Mannóia (1985), Casera (1985),


Collins (1995), Barrientos (1991), Szentmartoni (1999), Clinebell (2000), Schipani
(2004), Sathler-Rosa (2004) e Pereira (2007).

Há certo consenso na literatura acadêmica pesquisada por Szentmartoni (1999),


Collins (1995), Barrientos (1991), Casera (1985), Clinebell (2000), Pereira (2007)
dentre outros, que ao tratarem do tema do aconselhamento cristão observam, de uma
maneira ou de outra, as ideias de Carl Rogers, método não diretivo, principalmente
aqueles relacionados à prática do aconselhamento. Por isso, nessa direção, uma
proposta de aconselhamento passa necessariamente pelo estabelecimento de
vínculos entre o conselheiro e o aconselhando, sem os quais é impossível um bom
desenvolvimento do aconselhamento. Mannóia (1985) coloca como premissa do
aconselhamento cristão as relações pessoais e a centralidade da pessoa no
aconselhamento.

Da mesma forma, Szentmartoni (1999) também o faz, contudo, ressalta ainda as


marcas da natureza do aconselhamento cristão, de onde se pode inferir:

a) Está contextualizada na missão e na evangelização da Igreja.


b) Na ajuda, desempenha um trabalho bíblico-teológico do anúncio cristão.
c) É uma atividade religiosa (conselheiro e aconselhando) onde deve ser
observada a pessoa e seu relacionamento com Deus.
d) Observa os limites da atuação e da atividade do aconselhamento cristão e suas
interfaces com outras atividades de aconselhamento.

É imprescindível que o conselheiro tenha atitudes de empatia, autenticidade e não


seja possessivo, segundo Szentmartoni (1999). Tais atitudes são consideradas, na
literatura especializada, como sendo o ponto fundamental para o sucesso de todo bom
aconselhamento que tem um propósito de ajuda genuína.

Barrientos (1991) lista os seguintes aspectos que o conselheiro deve dar atenção
durante a entrevista de aconselhamento:
• Proporcionar clima de confiança.
• Fazer com que a pessoa se sinta ao nível do conselheiro. Para isto é melhor
usar duas cadeiras ou poltronas, ou uma de frente para a outra em uma mesa.
• Em mente e transmitir à pessoa que é possível enfrentar a situação e até
resolvê-la.
• Escutar com muita atenção. Há pessoas que se sentem aliviadas de sua carga
pelo simples fato de que alguém as escutas com interesse e amor.
• Ir captando, entre os detalhes do relato, os possíveis assuntos ventrais
relacionados.
• Não dar opiniões negativas como: “que mau...” “que horror...”
• Não interromper o relato, a não ser que seja para fazer alguma pergunta
esclarecedora ou que falte para completar o quadro.
• Discernir em silêncio aspectos que a pessoa poderia encobrir e que
correspondem a seu modo de ver o assunto.
• Ao final do relato, ajudar a pessoa a ver o problema como um todo, sem reparar
em detalhes, a menos que seja necessário.
• Levá-la a reconhecer os fatores centrais que entram em jogo.
• Ajudá-la a encontrar as causas. Aqui é necessário dar oportunidade para que
25

a pessoa opine e que ambos dialoguem até que concordem.


• Ajudar a pessoa a fazer um plano ou propor-lhe um alvo realista que tentará
alcançar nos dias seguintes.
• Quando necessário, levar a pessoa a colocar seu problema diante do Senhor
em oração, pedir libertação e dar graças por ela.
• Caso a pessoa não saiba orar, fazer a oração com a pessoa.
• Por fim, fazer uma seleção de textos bíblicos e indicar para a pessoa ler e
meditar sobre eles e relacioná-los aos seus problemas.

Szentmartoni (1999) apresenta as seguintes técnicas de intervenção no


aconselhamento, levando em consideração o princípio da não diretividade:

a) A reformulação – é quando o conselheiro se expressa claramente, verbal ou


não verbal mente ao aconselhando. As principais formas são: a reiteração, a resposta-
eco, as expressões equivalentes e a recapitulação.
b) O reflexo do sentimento – com o objetivo de criar um ambiente de emoção
genuína, onde possa haver o contato sincero da pessoa com sua afetividade. Os
principais sinais são:
pausas, choro, contradições entre expressões verbais e não verbais etc.
c) A reestruturação do campo – intervenção com a finalidade de fazer
reestruturações do campo perceptivo da pessoa, referente a sua pessoa (ego) ou a
imagem de si. A partir dos conceitos da Gestalt, as intervenções devem ser: ressaltar
a “figura” (tema explícito) como é percebida pela pessoa, esclarecer uma posição
entre os vários conteúdos expostos, poder ampliar o significado do que foi dito ou
mudar a ordem de importância dos elementos pela pessoa.

Por fim, Szentmartoni (1999) observa que o conselheiro tem de ter os devidos
cuidados em sua atividade. Deve evitar colocações ou expressões que não
contribuem para o objetivo principal do aconselhamento, que segundo Mannóia
(1985), “é o de facilitar o crescimento da personalidade ao máximo nível de
maturidade” (p.103). São observações que o conselheiro passa ao aconselhando
como sendo as suas conclusões, de forma moralista e sem observar as manifestações
do seu aconselhando. Segundo Szentmartoni (1999), isso denota falta de confiança
nos recursos do outro por parte do conselheiro e impede que o objetivo maior do
aconselhamento seja atingido.

Para desenvolver uma relação adequada no aconselhamento, Clinebell (1976), em


um texto denominado “Os elementos comuns a todo aconselhamento”, trata de dois
itens fundamentais e necessários para o exercício desse, o qual pode ser exercido no
contexto do gabinete pastoral ou de um leito, no hospital: o desenvolvimento de uma
relação terapêutica e a facilita ção da comunicação do aconselhando.

Outro exemplo de procedimento vem de Collins (1995) em seu texto clássico, o


livro: “O aconselhamento Cristão”. Nessa obra, o referido autor apresenta as técnicas
de aconselhamento, que considera como sendo as mais básicas em uma situação de
ajuda; antes de apresentá-las , porém, ele faz a seguinte ressalva: essa relação de
aconselhamento não é necessariamente de ajuda, mas de uma relação de ajuda que
deve ser desenvolvida em um formato profissional. Vejamos as técnicas:

1. Atenção – O conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao


26

aconselhando:
• Contatos visual.
• Postura relaxada, não tensa e interessada.
• Gestos naturais.

2. Ouvir – Isso significa muito mais do que uma recepção passiva da mensagem.
Ouvir envolve:

• Percepção suficiente.
• Evitar expressões verbais e não verbais dissimuladas de desprezo ou juízo
antecipadas.
• Aguardar pacientemente o funcionamento do aconselhando.
• Ouvir não somente o que o aconselhando diz, mas as suas reais necessidades.
• Estar atento à fala e ao comportamento.
• Analisar as reações do aconselhando diante das suas intervenções.
• Sentar-se imóvel.
• Limitar o número de execuções mentais às próprias fantasias.
• Não julgar antecipadamente por meio da manifestação de sentimentos em
relação ao aconselhando.
• Praticar a aceitação da pessoa do aconselhando.

3. Responder – o bom conselheiro é um bom ouvinte, mas também é de sua


competência agir e responder especificamente ao aconselhando. Por isso, compete
ao conselheiro em suas respostas ao aconselhando:

• Orientar ou liderar dialogicamente.


• Refletir conjuntamente de maneira presente.
• Perguntar com o objetivo único de buscar informações úteis.
• Confrontar ideias ou comportamentos que não sejam percebidos.
• Informar de maneira abrangente fatos relevantes.
• Interpretar comportamentos e eventos.
• Apoiar e encorajar sempre.

4. Ensinar – todas essas técnicas acima são verdadeiras formas especializadas


de educação psicológica. Nesse contexto:
• O conselheiro é um educador.
• O aconselhando é aprendiz.
• O aconselhamento é um espaço para a discussão.
• O aconselhamento é um espaço para uma relação sincera e honesta.

Diante dessas propostas com suas respectivas técnicas, é importante que o


conselheiro desenvolva a capacidade de conversar com vista à criação de vínculo
com o aconselhando. A seguir, veremos algumas ideias de Clinebell sobre essa
matéria.

Clinebell (1976) orienta os procedimentos ou atitudes durante a primeira sessão de


aconselhamento:

1. Estabelecer o rapport como base para a relação terapêutica.


2. Escutar de forma disciplinada, bem como refletir sobre os sentimentos do
27

aconselhando.
3. Adquirir uma compreensão aproximada do “marco de referência interna” da
pessoa do aconselhando a partir do seu mundo pessoal.
4. Fazer um primeiro diagnóstico sobre a natureza do problema do aconselhando,
ou seja, como suas relações estão fracassando para satisfazer as suas necessidades
e quais são os recursos e limitações para fazer frente a sua situação.
5. Tendo como base esse primeiro diagnóstico, sugerir uma aproximação para
dar ajuda.
6. Se houver a necessidade um aconselhamento continuado, proceder com a
estruturação dessa relação de ajuda.

Para facilitar a expressão dos sentimentos do aconselhando, Clinebell (1976) faz as


seguintes considerações:

1. Evitar muitas perguntas, mas fazer o mínimo requerido para obter apenas os
dados essenciais.
2. Fazer perguntas sobre seus sentimentos, por exemplo: como se sente quando
é ignorado?
3. Responder a sentimentos de conteúdos intelectuais.
4. Observar os caminhos que levam ao nível emocional da comunicação.
5. Estar particularmente alerta para descobrir sentimentos negativos.
6. Evitar tanto a interpretação prematura de como funciona a pessoa ou suas
formas determinadas de sentir, como dar conselhos prematuros.
28

PROMOVENDO O DIÁLOGO COM O ACONSELHANDO

No aconselhamento, é fundamental ao conselheiro desenvolver a capacidade de


promover o diálogo com o aconselhando. Portanto, saber ouvir e compreender é
imprescindível para o bom exercício desta função. Clinebell (1976), citando Portes
Filho, descreve cinco atitudes que possibilitam diferentes características de respostas
do aconselhando para dar mais sensibilidade no trato com o aconselhando:

1. Evolutiva – uma resposta que indica que o conselheiro tem capacidade de fazer
um juízo de relativa bondade, apropriação, efetividade e correção. Tem condição de
compreender em certa forma o que o aconselhando pode e deve fazer; se há
consequências grandes ou profundas.
2. Interpretativa – uma resposta que indica o intento do conselheiro por ensinar,
por apresentar ou mostrar um significado ao aconselhando. Tem compreendido de
certa forma o que o aconselhando pode ou deve pensar.
3. De apoio – uma resposta que indica que o conselheiro intenta assegurar,
reduzir a intensidade emotiva do aconselhando (acalmá-lo). Possibilita, de certa
forma, ao aconselhando sentir-se fora dessa situação de desequilíbrio.
4. Indagatória – uma resposta que indica que o conselheiro intenta obter mais
informações, insistir na conversação, sobre uma linha determinada. Isso o faz chegar
à conclusão de certa forma que o aconselhando deve ou pode se desenvolver,
beneficiando mais acerca de um ponto determinado.
5. Compreensão – uma resposta que indica que há a intenção do conselheiro em
perguntar ao aconselhando se tem compreendido corretamente o que “disse”, como
“sente” isto, como “impacta” nele, como o “vê”.

Diante disso, temos a firme convicção da importância que é saber ouvir e responder
no aconselhamento, pois fazê-los de forma adequada é uma virtude indelével não só
do conselheiro, mas também do capelão. Tamanha é a importância dessas duas
habilidades que existe muita literatura especializada em psicologia, aconselhamento
e capelania que versa sobre esses assuntos.

A seguir, apresentamos as ideias e a estrutura de um texto em espanhol de autoria


de Faber e Shoot (1976) denominado “Escuchar y responder em la conversación
pastoral”, que trabalha essas habilidades.

Para se desenvolver na área do aconselhamento cristão é imprescindível saber ouvir


e responder ao aconselhando. Faber e Shoot (1976) observam inicialmente que o
conselheiro deve desenvolver uma atitude de aceitação na relação, na mesma direção
de Rogers (apud: FABER; SHOOT, 1976):

A relação conselheiro-aconselhando é um contato no qual a cordialidade de


aceitação e a falta de coerção por parte do conselheiro permite o máximo de
expressão de sentimentos, atitudes e problemas por parte do aconselhando...
nesta experiência única de completa liberdade emocional, dentro de um
marco de referência bem delimitado, o aconselhando está livre para
reconhecer e compreender seus impulsos e padrões de consultas positivas e
negativas como não poderia fazê-lo em nenhuma outra relação (p.199).

Nota-se que a própria relação entre o aconselhando e conselheiro é ponto


importantíssimo no processo terapêutico. Nesse sentido, o método adotado por
29

Rogers (apud FABER; SHOOT, 1976) é o não diretivo, segundo o qual compreende
que o ser humano tem condições e possibilidades para enfrentar e desenvolver sua
vida de forma equilibrada e saudável. Nesse particular, Faber e Shoot (1976)
comentam:

[...] um dos aspectos mais importantes desse método é que o terapeuta deve
ser não diretivo com respeito ao cliente. Somos de opinião de que devemos
estar prevenidos desde o princípio que Rogers usa esta frase como marco de
referencial da relação terapêutica. O que ele chama de não diretivo aponta
aquelas escolas terapêuticas nas quais o terapeuta diagnostica e comunica
interpretações de sintomas. Rogers rechaça uma relação na qual o
aconselhando se transforma em um paciente, e assim se torna um objeto.
Sobre essa base também rechaça uma relação na qual o psicoterapeuta
“moraliza” e “dogmatiza”. O aconselhando deve seguir sendo responsável
pela sua própria vida de maneira que não pode seguir nem um tipo de
perguntas que passam pressionar ou formar, se não é uma maneira de
direcionamento (p.199).

Nessa perspectiva, cabe ao conselheiro acolher a pessoa do aconselhando como um


ser responsável, e não como objeto de sua “sabedoria”, uma vez que o próprio Deus
em Cristo também acolhe a todos os seres humanos. Dessa maneira, o conselheiro
cristão deve, como servo de Deus, também proceder. Contudo, Faber e Shoot (1976)
ressaltam que esta aceitação não é o único elemento dessa relação.

Outra ideia que Faber e Shoot (1976) desenvolvem é a da reflexão dos sentimentos
significativos. Para Rogers, cabe ao conselheiro proporcionar uma relação positiva.
Para isso, ele compreende que a reflexão é fundamental. Tal dinâmica é possível
numa relação não diretiva em que aconselhando, numa relação de aceitação,
desenvolve uma reflexão de significado de seus sentimentos, que tão somente nesse
contexto, ou melhor, justamente, nesse contexto de aceitação faz toda a diferença.
Nessa perspectiva assim entende Rogers:

na experiência terapêutica, um vê as suas próprias atitudes, confusões,


ambivalência, sentimentos e percepções expressadas exatamente pelo
outro; porém livre das próprias complicações emocionais, e, assim se vê a si
mesmo objetivamente o que abre caminho para aceitação do seu eu, de todos
aqueles elementos que agora se percebem
claramente. Assim se avança no caminho da organização e do funcionamento
mais integrado do eu (pp.120-121)

Associada a essas duas ideias está outra: a empatia. Faber e Shoot (1976) observam
que “simpaticamente sintonizados nos sentimentos do nosso interlocutor. Com a ajuda
de uma simpatia saudável projetamos sobre ele, e estamos particularmente
preocupados com os seus sentimentos” (p.121).

Nesse sentido, ouvir e responder em uma relação de aconselhamento cristão deve


passar por uma relação de aceitação, de uma significativa reflexão dos sentimentos e
empatia. Tal ambiente, na compreensão de Rogers, proporciona as condições
terapêuticas para que a pessoa veja suas reais condições e necessidades e possibilita
ainda ao aconselhando seu desenvolvimento e crescimento saudável.

Brister (1980), ao tratar sobre a natureza do aconselhamento pastoral em sua obra “El
cuidado pastoral en la Igreja”, observa que há basicamente dois métodos: um diretivo
30

e outro não diretivo. A seguir, transcrevo o diálogo entre os conselheiros e seus


respectivos aconselhando como ilustração dos dois métodos. Vejamos o primeiro
diretivo e o segundo não diretivo:

1. Aconselhamento diretivo

Sra. P: Olá, pastor. Desde muito tempo as coisas não vão muito bem em minha casa...
(coloca- se muito sentida).

Pastor: Veja bem, estou seguro de que as circunstâncias não são tão mal como
parecem ser, e estou seguro de que podemos vê-las melhor para ajudá-la à luz da
Palavra de Deus.

Sra. P: Pastor, o senhor não sabe como é má a minha situação.

Pastor: Penso que você veio se socorrer em seu pastor, não é isso? Falemos agora
sobre o seu problema abertamente e inicie desde o começo, e diga tudo. OK?

Sra. P: Tenho tanta vontade de conversar com alguém...

2. Aconselhamento não diretivo

Sr. B: É como quando tive o acidente com o caminhão. Tudo de ruim me aconteceu,
mas agora eu me sinto limpo. Quando sofremos nos eximimos de tudo que temos
dentro de nós. Quando perguntaram se a minha perna estava quebrada, eu falei:
“quebrada, quebrada, quebrada”, e assim foi. Disse-lhes que o meu sofrimento tinha
me feito sentir mais perto do céu.

Pastor: Então, você sente que o seu sofrimento teve um propósito?

Sr. B: Na verdade, tenho uma vida muito dura. Eu não sei por que minha esposa age
assim desta forma; logo agora que tenho tanta necessidade... estou só... ninguém se
preocupa com a minha situação ... com algo que eu quero, mas só pensam em si
mesmos. Ela acha que eu sou louco.

Pastor: Por que você acha que ela pensa isso?

Sr. B: Porque estive em um hospital psiquiátrico ... isso foi antes de casarmos...

Segundo Brister (1980), no primeiro o conselheiro demonstra rigidez e controla o rumo


da entrevista em cada momento, apesar de se esforçar por aparentar imparcialidade.
Nota-se que ele não percebe a necessidade da aconselhanda. Contudo, o segundo
conselheiro esforça-se em se aproximar e permanecer com os sentimentos do
aconselhando, o qual expressa uma variedade de sentimentos, mas deles se
destacam o de rechaço e dependência. Portanto, nesse segundo exemplo,
observamos essa condição como sendo imprescindível para a criação de vínculo e
entendimento do caso, pois o próprio aconselhando dá o tom, ou melhor, dá o
significado para os seus sentimentos, bem como os temas que quer tratar; basta ao
conselheiro estar atento.
31

O Perfil do conselheiro no Aconselhamento Cristão


Considerações Iniciais

Segundo os postulados tradicionais, o aconselhamento cristão constitui uma área


especializada do ministério eclesiástico que se ocupa em ajudar os indivíduos,
famílias ou grupos a lidarem com as pressões e crises da vida. O objetivo do
aconselhamento é dar estímulos e orientação às pessoas que estão enfrentando
perdas, decisões difíceis, culpas ou desapontamentos.
O processo de aconselhamento cristão deve, portanto, estimular o desenvolvimento
sadio da personalidade; ajudar as pessoas a enfrentar melhor as dificuldades da vida,
os conflitos interiores e os bloqueios emocionais; auxiliar os indivíduos, famílias e
casais a resolver conflitos gerados por tensões interpessoais, melhorando a qualidade
de seus relacionamentos; e, finalmente, contribuir para a mu- dança dos padrões de
comportamento autodestrutivos ou depressivos já internalizados.
O objetivo final é que os aconselhandos cheguem à cura, aprendam a lidar com
situações semelhantes no futuro e passem a enfrentar os seus problemas de forma
coerente com os ensinamentos bíblicos. O papel do conselheiro cristão, nesse
processo, é, em essência, o de levar as pessoas a terem um relacionamento pessoal
com Jesus Cristo, ajudando-as, assim, a encontrar perdão e a se livrar dos efeitos
incapacitantes do pecado e da culpa.
Todas as técnicas de aconselhamento têm, pelo menos, quatro objetivos principais:
levar a pessoa a crer que é possível obter ajuda; corrigir concepções equivocadas a
respeito do mundo; desenvolver competências para a vida social; e levar os
aconselhandos a reconhecer o seu próprio valor como indivíduos. Para atingir esses
propósitos, os conselheiros aplicam técnicas básicas como ouvir, demonstrar
interesse, tentar compreender e, pelo menos eventualmente, dar orientação.
Muitos dos métodos utilizados por conselheiros cristãos são semelhantes aos
aplicados pelos não cristãos. Os cristãos, porém, não utilizam técnicas que contrariem
os princípios bíblicos, oram durante as sessões de aconselhamento, lêem a Palavra
de Deus e confrontam gentilmente o aconselhando com os princípios bíblicos.

Características essenciais do Conselheiro Cristão.

O cerne de toda forma de assistência genuinamente cristã, seja ela pública ou


particular, é a influência do Espírito Santo. Na verdade, o que torna o aconselhamento
cristão realmente único é justamente a influência e a presença do Espírito Santo. É
ele quem capacita o conselheiro, dando-lhe as características que o tornam mais
eficiente no desempenho de sua tarefa: amor, alegria, paz, longanimidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio. Através da oração, meditação nas Escrituras,
confissão regular dos pecados e renovação diária de seu compromisso com Cristo, o
conselheiro cristão torna-se um instrumento por meio do qual o Espírito Santo pode
confortar, ajudar, ensinar, convencer ou guiar outro ser humano.
Jesus Cristo é o melhor modelo que existe de um “maravilhoso conselheiro”, cuja
personalidade, sabedoria, conhecimento, amor, bondade e compaixão capacitavam-
no a dar assistência efetiva aos necessitados. O conselheiro cristão, antes de mais
nada, precisa ser um imitador do Senhor Jesus; alguém em quem habita o Espírito
Santo; alguém que apresente, manifestamente, características do fruto do espírito;
enfim, alguém que tenha um relacionamento de intimidade com o Deus Todo- -
Poderoso, que o capacite a ouvir e a obedecer as Suas orientações.
Segundo pesquisas recentes, os conselheiros são mais eficientes quando
32

demonstram, pelo histórico de vida, um sólido conhecimento dos problemas humanos.


É fato que, em qualquer atividade humana, o conhecimento teórico sem o domínio da
experiência prática representa um obstáculo ao melhor aproveitamento da atividade,
por maior que seja a motivação e a disposição de acertar.
No caso do aconselhamento cristão não é diferente. O histórico de vida do
conselheiro, com todas as experiências já vivenciadas na área em que está se dando
o aconselhamento, ao lado do estudo detalhado de situações acompanhadas por
outros conselheiros é uma ferramenta importante para uma boa condução do
processo de aconselhamento.
Contudo, é preciso ressalvar que no mundo real, no início do seu ministério, o
conselheiro poderá não ter uma gama tão variada de experiência com os diversos
problemas humanos, bem como é forçoso reconhecer ser impossível a qualquer
conselheiro, por mais experiente que seja, ter um domínio prévio sobre todo o tipo de
situações que terá com que se deparar. Porém, isso não deve inibi-lo no seu mister,
pois o estudo de casos na literatura especializada, mesmo concomitantemente ao
processo de aconselhamento em curso, e a ajuda do Espírito Santo, poderão suprir a
contento essa deficiência, quando não houver a possibilidade/disponibilidade de
transferir o aconselhado para outro conselheiro, que tenha a experiência demandada.
O conselheiro cristão precisa ter como propósito contínuo e fundamental do seu
ministério a busca por sabedoria, vez que ela constitui a ferramenta de excelência,
fundamental para o trabalho de aconselhamento. Não basta ao conselheiro ter um
bom conhecimento das Escrituras e dominar bem as técnicas de aconselhamento.
Para atingir um grau satisfatório de eficiência no aconselhamento cristão, o
conselheiro precisa, acima de tudo, ter sabedoria para: identificar e aplicar
adequadamente os princípios bíblicos no contexto das situações sob exame; formular
as perguntas adequadas; avançar até o ponto desejado de extração de informações
no timing correto; ponderar com eficiência todo o material trabalhado; e confrontar
com delicadeza, quando for o caso, o aconselhado quanto aos padrões inadequados
de comportamento frente aos princípios de Deus.
Frente a essa necessidade e a importância do seu trabalho para ajudar outras vidas
a enfrentarem satisfatoriamente os seus problemas, o conselheiro cristão precisa
estar constantemente aos pés do Senhor para buscar sabedoria, ciente de que Ele a
dá, liberalmente, a todos quanto a buscam com sinceridade, para realizar os Seus
propósitos.
Uma característica que não pode faltar na vida do conselheiro cristão é a humildade,
a consciência das suas próprias limitações. O princípio fundamental da sabedoria é
ter o temor do Senhor, mas existe um outro muito importante que é ter um bom
conhecimento de si mesmo, das próprias fraquezas e vulnerabilidades pessoais e das
áreas de conhecimento que não se domina.
O conselheiro cristão tem de ter muito claro na sua mente que o seu ministério está
focado em conduzir as pessoas a uma vida harmoniosa com Cristo e o próximo, em
meio às dificuldades da lida diária e que, portanto, tem de discernir muito bem as suas
limitações, de forma a não adentrar em áreas onde não está apto a oferecer ajuda.
Isso se dá tanto em relação às áreas onde o próprio conselheiro enfrenta dificuldades
na sua vida pessoal como em relação àquelas que demandam um conhecimento
especializado, muitas vezes da medicina, ou uma experiência substancial que não se
possui.
Outra característica relevante, que precisa integrar a personalidade do conselheiro
cristão é a objetividade. Em nenhuma hipótese o conselheiro deve compartilhar os
seus próprios problemas ou fraquezas pessoais com o aconselhando, vez que o
33

conselheiro está ali para ajudar e não para resolver os seus próprios problemas, além
do enorme potencial que tal atitude teria para induzir insegurança naquele que precisa
ser ajudado, trazendo danos irreparáveis ao processo de aconselhamento.
Da mesma forma, é inegável que o excesso de envolvimento emocional pode fazer
com que o conselheiro perca a dose de objetividade necessária, reduzindo a eficiência
do aconselhamento, o que sugere que o conselheiro deve evitar aconselhar pessoas
com as quais já tenha, previamente, fortes laços afetivos pessoais estabelecidos ou
permitir, descuidadamente, que eles sejam desenvolvidos durante o processo de
aconselhamento, principalmente quando o aconselhando está muito perturba- do,
confuso ou enfrenta um problema semelhante àquele que o próprio conselheiro está
passando.
O conselheiro cristão, como o próprio nome sugere, deve ter muito bem internalizado
que o seu manual essencial de trabalho é a Bíblia. Cristo é a verdade, o caminho e a
vida, e é o Verbo, que é a Palavra e, portanto, o centro de todo o aconselhamento
cristão.
Assim, é que o conselheiro cristão pode até utilizar técnicas variadas de extração de
informações e de condução do processo de aconselhamento, mas os valores
referenciais para o aconselhando, que nortearão todas as possíveis orientações a
serem transmitidas, devem se fundamentar única e exclusivamente nos princípios
bíblicos que tratam do assunto, examinados à luz da sua aplicação à nossa realidade
contextual.
Não é o que o conselheiro cristão pensa ou acha, na sua razão natural, por mais
inteligente e estudioso que seja, que ajudará o aconselhando a resolver os seus
conflitos interpessoais e os seus sentimentos de culpa ou peso pelo pecado ou a
desenvolver um relacionamento saudável com Deus e com o os seus semelhantes,
mas, unicamente, o que a Bíblia revela, iluminada pelo entendimento dado pelo
Espírito Santo.
Ao discorrer sobre os princípios bíblicos aplicáveis à situação de aconselhamento, o
conselheiro cristão deve evitar ao máximo toda e qualquer discussão ou polêmica
doutrinária, com relação àqueles pontos nos quais as diversas denominações
evangélicas possuem discordâncias de interpretação, pois isso pode levar o
aconselhando a uma atitude defensiva e de resistência frente ao conselheiro, caso ele
tenha uma concepção diferente, inviabilizando por completo os resultados almejados
com o aconselhamento.
Cabe ressalvar, entretanto, que se o conselheiro cristão constatar que existe uma
“notória” deturpação de um conceito bíblico por parte do aconselhando, ele não deverá
se furtar a procurar esclarecê-lo, mas deverá proceder com toda a prudência,
sabedoria e gentileza possíveis, de forma a não transparecer nenhum pretenso
estigma de superioridade ou de vaidade pessoal, nefasta ao estabelecimento de uma
empatia com o aconselhando.
Outro fator da maior importância é que o conselheiro cristão tem de ser ético e
respeitar cada indivíduo que recorre à sua ajuda. Ele precisa reconhecer o valor do
aconselhando como pessoa criada à imagem e semelhança de Deus e preciosa aos
Seus olhos, não importando o quanto ele possa estar desfigurado pelo pecado.
A ética indica que o conselheiro cristão tem o dever de tentar ajudar o aconselhando
sem manipular nem se intrometer em sua vida e de guardar sigilo de todas as
informações reveladas em confiança, dentro ou fora do gabinete pastoral. Além disso,
manda a ética que um conselheiro cristão jamais se preste a fornecer qualquer
orientação que ultrapasse os limites da sua habilitação.
Em todas as decisões que envolvem a ética, o conselheiro cristão deve procurar, antes
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de mais nada, honrar a Deus, agir de conformidade com os princípios bíblicos e


respeitar o bem-estar do aconselhando e das demais pessoas que possam estar
envolvidas na situação de aconselhamento, sempre colocando a vida como bem
supremo a ser preservado.
Enfim, já há muitos anos, diversos autores de livros didáticos sobre o tema, vêm
relatando que as técnicas de aconselhamento são mais eficazes quando o indivíduo
que as maneja apresenta as virtudes do Espírito, ou seja, quando ele: transmite
confiança e honestidade; é afetuoso, sensível, manso, paciente e compreensivo;
demonstra saber ouvir e possuir um interesse sincero no problema do interlocutor; e
tem disposição para confrontar as pessoas, mantendo uma atitude de amor.
Assim sendo, o aconselhamento cristão só se torna factível e real quando existe um
compromisso sincero com Cristo e o Espírito Santo está no comando e é o verdadeiro
conselheiro, por trás do ser humano instrumentalizado para esse serviço. Só o Espírito
Santo é capaz: de sondar o íntimo dos corações; revelar as verdadeiras causas dos
problemas; e apontar a melhor orientação para cada caso.
Fonte:
<http://www.icjb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=131:o-perfi l-
do-conse- lheiro-no-aconselhamento-cristao&catid=46:estudos&Itemid=93>. Acesso
em: 02 dez. 2011.
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UNIDADE IV

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO


Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem
• Assinalar as atitudes inadequadas do conselheiro cristão.
• Conhecer o perfil e atributos do conselheiro e capelão cristão.
• Identificar o perfil do conselheiro e capelão cristão.
• Caracterizar o papel do conselheiro e do capelão cristão.
• Conscientizar o conselheiro e o capelão das competências necessárias para o
de- senvolvimento de suas atividades.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Perfil e atitudes do Conselheiro Cristão
• Perfil e papel do Capelão Hospitalar
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INTRODUÇÃO

“São muitas as pessoas à procura de um ouvido que ouça. Elas não o encontram
entre os cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir. Quem não mais ouve a
seu irmão (ou irmã), em breve também não mais ouvirá a Deus [...] quem não
consegue ouvir demorada e pacientemente, estará apenas conversando à toa e nunca
estará realmente falando com os
outros, embora não esteja consciente disso”.

Dietrich Bonhoeffer, em Life Together

Para Clinebell (2000), o ato de aconselhar inicia-se na própria pessoa do conselheiro.


Isso também pode ser aplicado para o âmbito da capelania. Esta unidade que se inicia
tem como grande objetivo abordar o perfil e papel ou atributo do conselheiro e do
capelão cristão.

Contudo, vamos destacar inicialmente algumas atitudes inadequadas dos


conselheiros quanto aos seus procedimentos em aconselhamentos.

Sobre o perfil do conselheiro e do capelão serão estudadas principalmente as


habilidades para o exercício dessa atividade; da mesma forma será abordado o perfil
do capelão.

Também será tratado o papel do conselheiro e do capelão, com destaque para as


competências esperadas de ambos. Serão ressaltadas mais uma vez as práticas,
principalmente a relação do conselheiro e do capelão com os seus respectivos
sujeitos.
37

PERFIL E ATITUDES DO CONSELHEIRO CRISTÃO

Quando lançamos nosso olhar para a realidade humana e suas carências, ficamos
cientes da enorme necessidade do papel do conselheiro cristão no contexto da Igreja
tanto no sentido intraeclesial quanto extraeclesial. Hoje, mais do que nunca, a figura
do conselheiro cristão é necessária e urgente. Contudo, nota-se que ainda há a
produção de literatura destinada ao grande público que continua a construir um perfil
e um papel de conselheiro cristão que não atende às reais necessidades do nosso
momento, como afirma Coelho Filho (2011):

Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o


ministério do aconselhamento para ser bem-sucedido nestas atividades. Ser
vocacionado não é uma garantia de que as coisas darão certo. Prova disso é
o grande número de ministérios que dá errado e de igrejas com problemas
muitas vezes causados por pastores. E, da mesma forma, de conselheiros
que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo mais além da chamada e da
boa vontade em fazer a obra (p.1).

Contudo, antes de avançarmos na direção da apresentação do perfil e papel do


aconselhamento cristão, faz-se necessário ressaltar algumas ações do conselheiro
que demonstram equívocos nesse papel. A seguir, listamos os comportamentos,
nessa área, que revelam inadequação, pautados em (WAGNER apud LINO, 1998):
• Visitar em vez de aconselhar, gerando confusão no momento da atuação de
aconselha- mento pastoral.
• Não possuir tempo disponível, podendo ser entendido pelo aconselhando como
desinteresse de sua parte.
• Rotular em vez de respeitar a diferença é um equívoco que afasta e não
possibilita novos encontros entre conselheiro e aconselhando.
• Condenar em vez de ser imparcial gera uma relação de desconfiança por parte
do aconselhando, pois este se fecha e não fica disponível para a relação de
aconselhamento.
• Querer resolver tudo em um só momento revela a ansiedade da relação entre
conselheiro e aconselhando e, ainda, gera interpretações apressadas e cansaço, pois
é comum delongar encontros.
• Ser diretivo por parte do conselheiro é uma atitude que revela uma concepção
de negação das potencialidades do ser humano, as quais são fundamentais para agir
de forma adequa- da e saudável por si só.
• Envolver-se emocionalmente com o aconselhando é a manifestação mais viva
que o foco da relação terapêutica está equivocado e que se deve buscar ajuda. Cabe
ao conselheiro também cuidar da sua saúde emocional buscando ajuda para si em
um processo de aconselhamento individual onde deve tratar as suas próprias
questões espirituais e emocionais; ou para quem lhe procura para ser ajudado. O
conselheiro deve fazer uma análise honesta e serena quando não reunir as devidas
competências para tratar o caso. Cabe, portanto, ao conselheiro buscar ajuda junto a
outros conselheiros experientes, bem como outros profissionais da área da psicologia
ou da psiquiatria para fazer supervisão ou para encaminhamento do caso atendido.
• Distanciar-se em vez de ter empatia, quando o conselheiro por algum conteúdo
da relação com o aconselhando procede se distanciando quando deveria estar
presente na relação como facilitador.

Não poderíamos deixar de expor uma lista do perfil ou atitudes do conselheiro cristão
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neste texto, contudo é salutar que registremos que há muitos perfis espalhados pelas
literaturas especializadas na atualidade. Não tivemos pretensão de construir ou
advogar determinadas atitudes, mas sim expormos de maneira
básica ou fundamental algumas necessárias para a construção de um perfil de
conselheiro que atenda as nossas necessidades hoje e que, do ponto vista didático,
possibilite abrir discursos e reflexões sobre o trabalho do conselheiro cristão.

Nesse sentido, passo a transcrever um artigo de autoria de Coelho Filho (2011), que
aborda o perfil e os atributos do conselheiro bíblico. Um trabalho expressivo, com um
toque todo especial de sabedoria e com um bom suporte de fundamentação,
informação e reflexão sobre o conselheiro cristão. Ainda é necessário registrar que tal
transcrição sofreu, em alguns momentos, supressão ou acréscimo, contudo que fique
também registrado que toda e qualquer interpretação do texto apresentado abaixo,
resguardado o seu sentido original, é de inteira responsabilidade nossa.

Coelho Filho (2011) inicia seu artigo abordando o perfil do conselheiro cristão, como
segue:
O primeiro deles é empatia. A palavra vem da mesma raiz de “simpatia” e de
“antipatia”. Simpatia é sentir na mesma direção, sentir com. Antipatia é sentir contra.
Sobre empatia, o prefixo grego em nos esclarece: é “sentir dentro”, “sentir como se
fosse a pessoa”. A simpatia pode ser entendida como uma ternura, mas a empatia é
uma profunda compaixão que nos faz colocar-nos no lugar daquela pessoa. O
fundador do cristianismo foi a maior manifestação de empatia que o mundo já viu: “O
Verbo se fez carne” (Jo 1.14). Deus foi empático conosco, na pessoa de Jesus.
Empatia tem a ver com compaixão. O Salvador era profundamente empático, porque
era profundamente compassivo: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas,
porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor” (Mt
9.36). E este é um conselho bíblico para todos os cristãos: “Alegrai-vos com os que
se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12.15). Somos exortados a experimentar
e partilhar os sentimentos dos irmãos. O autor de Hebreus aconselhou a comunidade
cristã nos seguintes termos: “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos
com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo” (Hb 13.3).
O conselheiro cristão deve ter este sentimento bem aguçado. Ele não é juiz nem um
crítico, mas um ajudador. E um ajudador com compaixão.

Não somos profissionais que atendem a pessoa, ouvem-na sem experimentar emoção
alguma (algumas vezes bocejando de indiferença), e depois apenas perguntam: “Sim,
o que você pensa em fazer sobre isso?”. Somos pessoas que amam a Deus, que
amam o povo de Deus e que servem a Deus servindo a seu povo. E mostramos nosso
amor a Deus no amor ao seu povo. Empatia é mais uma postura que adotamos que
um sentimento que experimentamos. É sentir com a pessoa. A frieza ou a indiferença
é mortal no trabalho do conselheiro. Como bem frisou Collins: “É possível ajudar as
pes- soas mesmo sem compreendê-las inteiramente, mas o conselheiro que
consegue transmitir empatia (principalmente no início do processo terapêutico) tem
maiores chances de sucesso”. Ouvi um pastor psicólogo criticar um pastor que chorou
no sepultamento de uma de suas ovelhas, dizendo que ele era um amador e que não
sabia controlar as emoções. O pastor que chorou não se descontrolou, não surtou
nem se mostrou histérico. E merece elogios exatamente porque não foi um
profissional de religião, mas um amador. Benditos sejam os amadores assim!
39

O segundo é respeito. Por vezes a pessoa chega e abre o seu coração, contando-nos
um pecado que julgamos ser escabroso (e às vezes é mesmo). Então ficamos
chocados com a revelação e mostramos à pessoa que não esperávamos aquilo da
parte dela. Ou ela nos ataca ou ataca alguém da igreja. O conselheiro, muitas vezes,
é machucado pelo aconselhando. Qual deve ser a reação numa circunstância dessas?
Kaller, em uma obra sobre aconselhamento cristão, usa esta figura: uma pessoa não
crente se aconselha com o pastor, e lhe diz: “Os membros de sua igreja fazem pior do
que as pessoas que não são crentes”. Ele alista quatro possíveis respostas do
conselheiro, e entre elas duas bem curiosas. O conselheiro poderá dizer: “Você não
sabe nada; pior que você não há nenhum” ou “Os crentes têm suas falhas, mas as
falhas dos não crentes são piores”. Diz Kaller: “Esta reação não facilitará a
continuação da conversa, mas é o início de uma discussão”. Ele mostra duas
respostas que seriam mais viáveis: “Você acha que muitos crentes não vivem de
acordo com suas crenças?” ou “Você acha os não crentes melhores que os crentes?”.

Na primeira resposta viável, o conselheiro circunscreveu a questão a uma opinião


pessoal do aconselhando, e não a deixou como um absoluto. Na segunda, deixou a
porta aberta para o aconselhando continuar a expor sua mágoa. Em nenhum dos dois
casos ele deixou a questão descambar para o bate-boca.

Respeito significa valorizar a pessoa, não a vendo como uma coitadinha ou uma
leprosa moral ou espiritual. É vê-la como sendo uma pessoa, imagem e semelhança
de Deus, valiosa aos olhos do Senhor, que no momento passa por uma crise e veio
lhe pedir ajuda. Não esfregue sal e pimenta nas feridas dela. Respeite seu desabafo,
suas atitudes e sua postura. Isto é diferente de aceitar um comportamento errado. É
respeitar a pessoa que está querendo ajuda como pessoa. Não é um traste.
Lembremos que Paulo recomendou que apoiássemos aqueles que estão fracos.

O terceiro é sigilo. O que um conselheiro ouve deve morrer com ele. Ele não passa
para frente nem mesmo com pessoas interessadas no assunto. Muitas vezes alguém
me procura e depois uma pessoa da família ou do relacionamento com esta pessoa
vem me perguntar o que foi dito. Geralmente me nego, dizendo que o que a pessoa
me contou pertence ao sigilo. Se quiser saber, que meu indagador lhe pergunte.
Lembre-se que comentar o que lhe foi dito em confiança acabará não apenas com
sua atividade, mas com seu caráter. E você terá traído quem confiou em você. Poucas
coisas são tão ruins para um pastor ou para um conselheiro que ser conhecido como
fofoqueiro, como alguém que passa para frente coisas que ouviu em confidência. Há
pastores que contam de púlpito experiências de gabinete. Não citam o nome da
pessoa, mas deixam pistas claras de quem sejam. Isto é muito ruim.

Abrir o coração com alguém é tarefa difícil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e é
doloroso para a pessoa. Já ouvi muitos casos tristes e dolorosos em gabinete, desde
violência sexual que uma criança sofreu por parte de pai até o uso de drogas por
líderes da igreja. Por vezes, o peso era esmagador e eu me sentia deprimido,
querendo um buraco para me enfiar. Mas sabia que não podia partilhar com ninguém.
Um conselheiro deve ser sigiloso. Por isso que deve ser uma pessoa que cuide de
sua vida espiritual e se fortaleça, sempre, com o Grande Conselheiro, Deus. É a vinha
dele que ele deve guardar.

O quarto é sobriedade. O Novo Testamento faz várias referências à sobriedade. Nós


40

é que pouco mencionamos esta virtude cristã. Há líderes que amam holofotes ou são
pouco discretos. Têm grande necessidade de atenção. Jesus exortou a discrição na
vida espiritual, quando deixou recomendações sobre a oração e o jejum. Sobriedade
tem a ver com discrição. Não se faz alarde de que estamos ajudando alguém. O
trabalho do conselheiro é um trabalho de bastidores, que se faz nos bastidores, e não
em público. Como o aconselhamento envolve questões emocionais, e por vezes
delicadas, o conselheiro deve lembrar que a imagem do aconselhando deve ser
poupada. Repreensão pública ou conselhos dados em voz alta prejudicam muito.
Ninguém precisa ouvir a conversa. Por isso, quando atender, fale baixo. Uma das
tarefas do conselheiro é ajudar a pessoa a ser madura e tomar decisões por si,
orientada pelo Espírito Santo. Outra tarefa é levantar a pessoa. Neste sentido, expô-
la em público, como alguém tutelado, é prejudicial. Somos conselheiros e não pais de
criancinhas travessas que devem ser chamadas à atenção.

Há conselheiros que gostam de publicidade para que os demais vejam como ele é
importante ou como está sendo usado por Deus. Remo Machado, psicólogo cristão,
faz esta afirmação, em uma de suas obras: “Caso Deus seja o centro de nossa vida,
ele tem um plano para nossa existência, e se ele nos delegou a posição de
psicoterapeutas, devemos usá-la para enaltecimento do nome de Deus, e não para o
nosso engrandecimento pessoal”. Sobriedade é esta característica assumida de que
somos apenas instrumentos, a glória é de Deus, fazemos o que temos que fazer e
saímos de cena, sem esperar aplausos ou reconhecimento. O conselheiro não faz
alarde do seu trabalho. A vaidade sempre é notada, sempre desgasta o vaidoso e
geralmente cobra um preço muito elevado. E as pessoas que aconselhamos não
devem ser vistas como troféus a exibir.

O quinto é desprendimento. Isso significa que o conselheiro não deve levar vantagem
na tarefa de aconselhar. Por vezes, o conselheiro é profissional, um psicólogo ou outro
tipo de terapeuta. Neste caso, ele cobrará consultas. O levar vantagem, neste
contexto, significa que o conselheiro não usa as informações que recebe, nem antes
nem depois do processo de aconselhamento. Suponhamos que o conselheiro seja o
pastor ou o líder de um trabalho. Um irmão a procura e lhe revela um problema e pede
ajuda. Não será justo o conselheiro divulgar publicamente uma possível incapacidade
da pessoa para o exercício de uma função para a qual ela vier a ser indicada.
Evidentemente que se for um caso grave, como uma pessoa que tenha tendências
pedófilas sendo indicada para cuidar de
crianças, o conselheiro precisará agir. Mas isso exige cautela. A questão principal é
de ordem pessoal: não levar vantagem. Não impugnar a pessoa para um cargo ou
função porque tem outro nome que é seu preferido ou porque o ambiciona etc. Deve
se lembrar também que Cristo pode transformar uma vida e que um pecado que uma
pessoa cometeu no passado não será, necessariamente, cometido outra vez pela
pessoa.

O sexto é capacitação. Já tangenciamos este aspecto anteriormente. Trata-se da


capacitação para o serviço a desempenhar e da capacitação espiritual para poder
desempenhar o serviço. Precisamos ter em mente que nenhum de nós, como líder
cristão, é um produto acabado. No que se presume ser sua última carta, já idoso,
Paulo pede a Timóteo: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa
de Carpo, e os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4.13). Os especialistas
distinguem entre “livros” e “pergaminhos”. O primeiro termo aludiria a obras seculares,
41

e o segundo teria o sentido de livros canônicos, isto é, os escritos sagrados. Ele está
detido na cadeia, e prestes a ser executado, mas ainda quer os livros. O obreiro cristão
em geral e o conselheiro em particular sempre devem querer crescer. Adquirir livros,
ouvir palestras, fazer cursos, tudo isso ajuda muito o conselheiro. Mas o preparo
espiritual nunca pode ser negligenciado. O Pr. Falcão dá como sendo um dos
aspectos mais importantes na vida do conselheiro ao ajudar alguém em crise: “Orar
por si mesmo e colocar-se nas mãos de Deus para prestar uma ajuda afetiva”.
Desempenhamos uma atividade espiritual e nunca podemos nos esquecer disso. A
autoridade espiritual que vem da comunhão com Deus e da submissão à sua Palavra
é sempre notada na vida de quem a tem. E quem a tem não precisa alardear.
Fonte: <http://www.isaltino.com.br/2011/11/o-perfi l-e-atributos-do-conselheiro-
biblico/>. Acesso em: 27 dez. 2011.
42

UNIDADE V

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ


Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio, de perda
pessoal e de crise matrimonial.
• Identificar os procedimentos e metodologias necessários para o desempenho
em Aconselhamento e Capelania Cristã.
• Conscientizar-se dos comportamentos do aconselhando ou paciente em
situação de crise.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Aconselhamento de apoio
• Aconselhamento em casos de perda pessoal
• Aconselhamento em casos de crise matrimonial
43

INTRODUÇÃO

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. Evangelho de


Mateus 5:4

“É ele que nos conforta em toda nossa tribulação, para podermos consolar os
que estiverem em qualquer angustia”. 2 Coríntios 1:4

“Em pleno inverso, dei-me conta, finalmente, de que dentro de mim havia
um verão invencível”. Albert Camus, Actuelles

Hoje, temos um número considerável de literatura cristã que tem dado conta dessa
demanda, lembro aqui alguns clássicos, como “Aconselhamento Cristão” e “Ajudando
uns aos outros pelo Aconselhamento” de Collins; “Aconselhamento Pastoral: modelo
centrado em libertação e crescimento” de Clinebell e um dos textos mais recentes
nessa área, do conhecido argentino psicólogo e pastoralista Schipani, “O caminho de
sabedoria no Aconselhamento Pastoral”.

Diante disso, nesta unidade estaremos apresentando alguns dos temas em


aconselhamento, bem como métodos e técnicas, que podem ser utilizados para o
enfrentamento dessas situações. Aqui fizemos uma opção em trabalhar com as ideias
e casos apresentados pelo conselheiro Clinebell em seu livro “Aconselhamento
Pastoral”. Fizemos uma seleção de alguns temas e procedimentos sugeridos pelo
referido autor, são eles:

a) Aconselhamento de apoio.
b) Aconselhamento em casos de perda pessoal.
c) Aconselhamento em casos de crise matrimonial.

Esperamos que este texto não seja encarado como um receituário, mas como um guia
introdutório teórico-prático para o enfrentamento dos temas abordados aqui.
Ao final de cada tema estudado, tem-se uma sessão denominada “Atividade de
exercício prático de aconselhamento sobre o tema abordado”. O objetivo é bem
simples, caro aluno, possibilitar uma reflexão ou prática para implementar os
conhecimentos estudados. Essas atividades foram todas elaboradas a partir do livro
“Aconselhamento Pastoral” de Clinebell (2000).

ACONSELHAMENTO DE APOIO

Apoio. Essa é uma palavra muito comum no meio cristão. Afinal as pessoas procuram
as igrejas muitas vezes para enfrentar situações que as desestabilizam, pois se
encontram atribuladas quer no âmbito pessoal, conjugal ou grupal. Diante disso, é
fundamental que o conselheiro cristão desenvolva métodos e técnicas que
possibilitem:

a) Estabilidade.
b) Alicerce.
c) Alimento.
44

d) Orientação.

Portanto, cabe ao conselheiro desenvolver naquele que procura ajuda as condições


ou capacidades para enfrentar, manejando de forma adequada, os seus problemas e
os seus relacionamentos mais construtivamente, dentro dos limites que lhes são
impostos pelos recursos de sua personalidade e pelas circunstâncias oferecidas.

No aconselhamento de apoio, o conselheiro faz uso de:

1. Orientação.
2. Informação.
3. Tranquilização.
4. Inspiração.
5. Planejamento.
6. Formulação de respostas e perguntas.
7. Encorajamento ou desencorajamento de certas formas de comportamento, as
quais devem ser observadas de forma cuidadosa e muito atenta.

A seguir, vejamos sete procedimentos sugeridos por Clinebell (2000) para o


aconselhamento de apoio:
1) Satisfazer necessidades de dependências – deve ser uma atitude que
comunique solicitude a uma pessoa atribulada. Há muitas formas de satisfação de
dependência:
a) confortar;
b) sustentar;
c) alimentar (emocional ou fisicamente);
d) inspirar;
e) orientar;
f) proteger;
g) instruir;
h) colocar limites seguros para evitar comportamento prejudicial à própria pessoa
ou a outras.

2) Catarse emocional – compete ao conselheiro realizar a aceitação dos


sentimentos opressivos de uma pessoa, inicialmente. Quando uma pessoa se sente
aceita pode liberar senti- mentos que estão guardados e contidos em seu ser. Sentir
que outra pessoa conhece sua dor interior e se importa com ela dá às pessoas
atribuladas a força que provém do fato de terem suas vidas alicerçadas.

3) Exame objetivo da situação de estresse - quando as pessoas atribuladas são


apoiadas,

podem imprimir objetividade para ver seu problema a partir de uma perspectiva um
tanto mais amplo e explorar alternativas viáveis. Podem tomar decisões mais sábias
a respeito do que podem e devem fazer.

4) Promover as defesas do ego – há situações que podem desestruturar


totalmente a pessoa, por exemplo, um acidente de carro em que essa pessoa foi a
única sobrevivente, mas foi também justamente a culpada pela morte dos
passageiros; no momento do funeral, ela começa explicar que foi o outro motorista e
45

não ela a culpada. Deve-se compreender que esse funcionamento, negando e


projetando, é defensivo e que aos poucos, ao longo do tempo, deve-se trabalhar essa
questão.

5) Mudanças da situação de vida – o conselheiro pode ajudar o aconselhando a


fazer mu- danças ou, se isso não for possível, providenciar para que sejam feitas nas
circunstâncias (físicas, econômicas ou interpessoais) que estão produzindo distúrbios
deliberados em suas vidas.

6) Encorajar ação apropriada – quando as pessoas estão aturdidas ou paralisadas


por sentimentos de ansiedade, derrota, fracasso a autoestima prejudicada por uma
perda trágica, é útil que o conselheiro prescreva alguma atividade que as mantenha
em funcionamento e em contato com outras pessoas; um tipo de “tarefa para casa”.
Por exemplo: leituras relevantes para o problema que a pessoa enfrenta.

7) Usar subsídios religiosos – oração, Bíblia, literatura devocional, a Ceia do


Senhor etc., constituem valiosos recursos de apoio, que são características singulares
do aconselha- mento pastoral.

Por fim, Clinebell (2000) alerta para os perigos do aconselhamento de apoio. Ele faz
uma comparação oportuna quando usa o exemplo do aparelho ortopédico. Ele tem a
funçãode dar um suporte temporário, contudo, existe o perigo desse aparelho se
tornar uma muleta (no sentido negativo), bloqueando o crescimento por meio de uma
dependência persistente. É o que acontece, por exemplo, quando o conselheiro faz
alguma coisa que cabe ao aconselhando fazer. Por isso é fundamental que o
conselheiro esteja atento à pessoa e ao contexto em que está inserida.

Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta
como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por
exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas ou com mais outras
pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas
dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício.
Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de
apoio.
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de
exercício prático de aconselhamento de apoio.

Papel do aconselhando
Você é a Sra. V., uma viúva de 81 anos, acamada em consequências de uma queda
que resultou na fratura de um punho e da clavícula. Você mora com seu filho e a
esposa dele. Sua fé foi seriamente posta a prova por seu acidente. Você não pode
compreender por que Deus parece tão distante. Muitas de suas amigas já morreram
e você se sente extremamente solitária. Você sabe que pode não lhe restar muito
tempo de vida (deite-se para assumir esse papel).
46

Papel do pastor
Você é o pastor da sra. V. e ela é o membro mais velho de sua congregação. Você
tem um sólido relacionamento pastoral com ela. Enquanto ela fala durante a visita,
você percebe a oportunidade de fazer aconselhamento de apoio como parte de seu
ministério poimênico para com ela. Enquanto você fala, fique atento aos sentimentos
dela e faça com que ela saiba que você está consciente, refletindo o que você acha
que ela está dizendo e sentido. Experimente os métodos de apoio descritos neste
capítulo na medida em que sejam pertinentes. Seja sensível à possível presença de
tensão entre os membros da família.
Papel do observador-monitor
Sua função é ajudar a sra. V. e o pastor, aumentar sua consciência do que está
ocorrendo entre eles e sua consciência do tom de sentimentos da relação de
aconselhamento. Sinta-se à vontade para interromper o aconselhamento
ocasionalmente a fim de dar sugestões de como ele poderia tornar-se mais proveitoso.
Seja franco. Como observador você perceberá coisas importantes que eles talvez não
vejam.

ACONSELHAMENTO EM CASOS DE PERDA PESSOAL

A perda pessoal é uma crise humana universal. O pesar está presente: em todas as
mudanças, perdas e transições importantes na vida, não só por ocasião da morte de
uma pessoa amada.

Diante das perdas que são as mais diversas, Clinebell (2000) propõe um esquema de
cinco tarefas nesse processo e o tipo de ajuda que facilita a realização de cada tarefa:

Tarefa de elaboração do pensar Ajuda necessária

1. Experimentar o choque, o entorpecimento, a negação e Ministério de solicitude


e presença; ajuda prática a gradativa aceitação da realidade de perda. e conforto
espiritual.
2. Experimentar, expressar e digerir sentimentos Ministério de apoio e escuta
responsiva para dolorosos, por exemplo, culpa, remorso, apatia, raiva, estimular
catarse plena.
ressentimento, anseio, desespero, ansiedade, vazio, depressão, solidão, pânico,
desorientação, perda da identidade clara, sintomas físicos etc.
3. Aceitação gradativa da perda e remontagem da vida da Ministério de apoio e
escuta responsiva para pessoa sem aquilo que se perdeu, tomando decisões e
estimular catarse plena.
enfrentando a nova realidade desaprendendo antigas maneiras de satisfazer as
próprias necessidades e aprendendo novos modos. Dizer adeus e reinvestir a energia
vital em outros relacionamentos.
4. Situar a perda da pessoa em um contexto mais amplo Ministério de facilitação
do crescimento de sentido e fé; aprender com a perda. espiritual.
5. Dirigir-se a outros que estão experimentando perdas Ministério de capacitação
para entrar em contato semelhantes, para ajuda recíproca. com outros.
47

É importantíssimo ressaltar que há perdas que podem ser difíceis de serem


enfrentadas. A ambivalência é esperada, mas quando a pessoa continua, por
exemplo, a super idealizar o falecido, está usando das defesas da negação e
repressão. É necessário que a pessoa saiba entender os sentimentos reprimidos.
Clinebell (2000) destaca alguns perigos:

a) Retraimento cada vez maior de relacionamentos e atividades normais.


b) Ausência de luto.
c) Estado de luto que não tende a se amenizar.
d) Profunda depressão que não desaparece.
e) Problemas psicossomáticos graves.
f) Desorientação.
g) Alterações na personalidade.
h) Sentimento de culpa.
i) Indignação.
j) Fobias muito fortes e que não tendem a desaparecer.
k) Perda de interesse na vida.
l) Fugas constantes por meio de drogas e álcool.
m) Sentimentos de mortificação interior.

Por fim, é importantíssimo ressaltar que o pesar em si não é doença. Trata-se de um


processo normal de cura; somente quando o pesar passa a ser um processo
patológico é que requer aconselhamento ou psicoterapia especializada.
Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio
Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta
como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por
exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras
pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas
dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício.
Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de
apoio.
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de
exercício prático de aconselhamento de apoio.

Papel do aconselhando

Se você teve uma perda dolorosa em sua vida dirija-se ao pastor, pedindo que o ajude.
Ou procure mergulhar nos sentimentos de alguém que você conhece bem e que está
em pleno processo de digerir uma perda grave. Desempenhe o papel daquela pessoa
buscando a ajuda do pastor.

Ou você é Jane Carone, uma mulher de uns 45 anos, cujo marido Ricardo faleceu
inesperadamente a 2 meses, de ataque cardíaco. Você sente profundamente a perda
e acha quase impossível enfrentar contatos sociais, principalmente na igreja, onde
vocês participavam ativamente como casal. Você se sente muito deprimida e gostaria
de se esconder das pessoas.
48

Papel do pastor

Utilize o que você aprendeu nesta unidade sobre a facilitação do trabalho de pesar,
fazendo aconselhamento com um desses membros. Lembre-se da necessidade que
a pessoa tem de ajuda por meio de tarefas específicas de trabalhar o pesar.

Papel do observador-monitor

Interrompa a sessão periodicamente para fornecer ao pastor feedback sobre sua


eficiência no processo de elaboração do pesar, principalmente no que tange à vazão
de sentimentos inacabados.
ACONSELHAMENTO EM CASOS DE CRISE MATRIMONIAL

Principalmente no contexto religioso, o casamento é tido como uma benção para a


vida amorosa e sexual do homem e da mulher. Contudo, o relacionamento no contexto
conjugal não é tão simples assim, uma vez que quando homem e mulher se unem
produzem uma identidade conjugal própria.

Segundo Clinebell (2000), o homem e a mulher se atraem porque cada um espera


que o relacionamento satisfaça várias necessidades suas. Cada qual traz por dentro
do casamento uma constelação singular de necessidades da personalidade. Essas
necessidades precisam receber o mínimo de satisfações, para que a pessoa seja
capaz de satisfazer as necessidades do parceiro e dos filhos.

Collins (1995) observa que a origem dos problemas, do ponto de vista bíblico, é
justamente quando o casal se afasta dos princípios bíblicos, os quais são
transformados consequentemente em problemas conjugais. Vejamos alguns deles:

a) Comunicação defeituosa – esta é uma das principais causas de discórdia


conjugal. É quando um não consegue ouvir ou responder ao outro. E isso se dá pelas
mensagens verbais e não verbais, em nosso dia a dia. Por exemplo, quando um
marido que dizer “eu te amo”, para ele fazer isso é comprar um presente; mas sua
esposa não o entende, pois quer ouvir literalmente as palavras de sua boca.
b) Atitudes egocêntricas defeituosas – se aproximar de alguém é um risco. Há
uma tendência de não nos abrirmos para as críticas e uma possível rejeição quando
permitimos que outra pessoa nos conheça intimamente, sinta nossa insegurança e
perceba nossas fraquezas. É bem mais fácil fazer críticas ao outro do que aceitar ou
reconhecer as atitudes defensivas e egocêntricas que estão provocando tensão.
c) Tensão interpessoal – quando nos casamos, já temos um repertório de
habilidades sociais desenvolvidas, pois temos duas ou três décadas de vida e já
estamos bem “treinados” em um modo de vida, ou seja, em viver “solteiros”. Quando
nos casamos, temos que interagir e buscar conviver com o outro, e aqui são
fundamentais o entendimento e os processos de síntese para a construção madura
de uma conjugalidade. Quando isso não ocorre e há má vontade por parte de um dos
cônjuges certamente os problemas conjugais vão aparecer. Esses problemas muitas
vezes se configuram nessas áreas: sexo, papéis no relacionamento, religião, valores,
necessidades e dinheiro.
d) Pressões externas – elas acontecem devido a pessoas ou situações, como:
• Sogros e filhos que interferem no relacionamento.
49

• Amigos que fazem exigências sobre o tempo do casal.


• Crises que interrompem os relacionamentos familiares.
• As exigências profissionais.
e) Tédio – à medida que vão se passando os anos, os casais se estabelecem na
rotina, acostumando-se um ao outro e sem perceber, caminham para a autoabsorção,
autossatisfação e autopiedade, desaparecendo o prazer de viver a dois. Isso também
é desestimulante e rotineiro. Os casais começam a buscar em outros lugares
variedades e desafios.

Vejamos, a seguir, os objetivos do aconselhamento de crise matrimonial, conforme


enumerado por Clinebell (2000), para ajudar os casais a aprenderem como fazer com
que seus relacionamentos proporcionem maior satisfação mútua de necessidades,
fomentando melhor seus crescimentos:

1. Reabrir suas linhas de comunicação bloqueadas e aprender habilidades de


comunicação mais efetivas.
2. Interromper a escalada do ciclo autoperturbador de ataque mútuo e retaliação,
desencadeado pela frustração profunda das satisfações mútuas de necessidade.
3. Se conscientizar dos pontos fortes e dos recursos não utilizados em si próprio
e em seu relacionamento, os quais pode usar para efetuar mudanças construtivas em
si próprio e em seu matrimônio.
4. Identificar áreas específicas em que crescimento e/ou mudança precisa
acontecer na conduta de cada um, a fim de interromper sua crise e tornar seu
casamento mais compensador de necessidades recíprocas.
5. Negociar e então executar planos viáveis e justos de mudanças, nos quais cada
pessoa assume a responsabilidade de mudar a sua parte na interação entre os dois.
6. Experimentar o reavivamento da energia para mudança em esperança realista.
Mudança construtiva gera esperança realista, e esperança gera mais mudança. São
três as maneiras que se manifesta essa esperança no aconselhamento:

a) capacidade que o casal demonstra empaticamente de mudar e de crescer;


b) conscientização maior dos pontos fortes e dos seus recursos;
c) mudança de comportamento autolesivo dentro de si próprio e entre os dois.

7. Descobrir, explorar e até certo ponto exorcizar as raízes subconscientes ou


inconscientes de imagens conflitantes do papel a ser desempenhado e de
necessidades neuróticas aprendidas principalmente pelos pais. Lidar com fantasias,
temores e raiva que comprometem o relacionamento. Pode haver necessidade de
aconselhamento individual entre as sessões do casal.

8. Renegociar e revisar aspectos de maior importância na relação matrimonial que


sejam injustos e/ou inviáveis.

Assim como é necessário que o conselheiro disponibilize técnicas e habilidades para


conversar com o aconselhando, também é fundamental que o conselheiro de casal
desenvolva também uma metodologia na primeira sessão para garantir o sucesso no
processo de aconselhamento conjugal. Vejamos os seguintes procedimentos do
conselheiro:

1. Comunicar calor humano, demonstrar solicitude e disposição para ajudar, bem


50

como certificar o casal da validade de sua iniciativa de vir buscar ajuda.


2. Descobrir como cada um está se sentindo por se encontrar ali.
3. Ajudar a motivar o parceiro menos motivado, estabelecendo sintonia com o
mesmo e despertando esperança realista de maior satisfação e menos dor no
casamento.
4. Descobrir a quanto tempo a crise ou os problemas vêm se desenvolvendo.
5. Proporcionar oportunidade comparável para cada pessoa descrever os
problemas do casal.
6. Após expressar a dor e o sofrimento, descobrir o que cada pessoa ainda
aprecia no casamento e no outro; e quais os pontos fortes e os recursos potenciais
que eles têm para fortalecer seu matrimônio pelo aconselhamento.
7. Fazer uma escolha provisória (com base nos pontos 2 e 4) entre tentar
aconselhamento de curto prazo para crise matrimonial ou encaminhar o casal ao
terapeuta conjugal.
8. Caso houver sinais de que o aconselhamento de curto prazo provavelmente
será útil, pedir ao casal que venha a três ou quatro sessões adicionais para poder
decidir sobre o encaminhamento.
9. Ajudar o casal a decidir e comprometer-se com certas tarefas a serem
efetuadas em casa entre as sessões; alguma pequena ação construtiva que
empreenderão no sentido de contribuir para que o quanto antes seu relacionamento
se torne mais satisfatório reciprocamente.
10. Verificar e aceitar, perto do final da sessão, quais sentimentos negativos que
possam ter.
11. Somente use da oração ou de outros recursos religiosos quando for claramente
apropriado para o casal em questão.
12. Após a sessão, reflita sobre o que ficou sabendo e faça planos para tentar
ajudar o casal; entre em contato com um colega aconselhador, caso a situação seja
complicada ou confusa.

O trabalho com casais vai bem além da boa vontade ou de boa intenção. É necessário
ter uma metodologia que contribua para a identificação precisa do que de fato tem
gerado conflitos e problemas ao casal. A falta de comunicação é um dos primeiros
sintomas: deixa de haver ou apresenta muitos ruídos, como se diz na linguística
moderna. Vejamos, a seguir, duas propostas de intervenção em aconselhamento
conjugal, uma elaborada por Clinebell (2000) e outra por Collins (1995).

A primeira proposta metodológica é de Clinebell (2000); ele a desenvolve no subitem


denominado. “O método de relacionamento intencional ou método de matrimônio
intencional”. Esse método tem quatro passos:

Primeiro passo:

Identifiquem e afirmem os pontos fortes do seu relacionamento, contemplando um de


vocês a sentença: “Em você eu aprecio...” tantas vezes quantos puder.

A tarefa de quem ouve é receber esses atributos.

Após ambos ouvirem um ao outro, devem anotar tudo o que ouviram em um caderno
denominado de crescimento.
51

Segundo passo:

Identifiquem a frente de crescimento da sua relação completando um de vocês a


sentença: “De você eu preciso...” tantas vezes quantas quiser. Declarem suas
necessidades/desejos correspondidos ou parcialmente correspondidos em termos de
comportamento da parte de outro.

Depois de um completar a lista, o outro deve repetir o que ouviu, para garantir que as
necessidades foram bem entendidas.

Depois que ambos declararam suas necessidades e verificaram o que um entendeu


do que o outro disse, tirem um tempo para anotar as necessidades de cada um em
seu caderno do crescimento.

Terceiro passo:

Aumentem intencionalmente a satisfação mútua do seu relacionamento e fomentem


assim o seu amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma
necessidade conjugal) a qual vocês corresponderão.

Elaborem um plano concreto e viável, com uma programação cronológica, de


corresponder a essas necessidades.

Anotem também isso em seus cadernos de crescimento.

Quarto passo:

Executem o seu plano de mudança.

Depois escolham outro par de necessidades, elaborando e executando um plano de


supri-las intencionalmente.

Convém repetir o primeiro passo com regularidade ao colaborarem no sentido de fazer


com que seu relacionamento faça mais jus as suas necessidades.

Anotem seu progresso em seus cadernos individuais de crescimento.

Por fim, é importante ressaltar que esse método pode ser aplicado não somente com
casais, mas famílias, amigos, colegas e relacionamentos de equipe de trabalho, por
exemplo. O objetivo é aumentar a satisfação mútua de necessidades e assim reduzir
frustração e conflitos, como afirma Clinebell (2000).

Collins (1995) apresenta os procedimentos de aconselhamento conjugal que tanto o


conselheiro pode utilizar quanto o aconselhando em seu livro “Aconselhamento
Cristão”; esse método tem quatro estágios, denominadas respectivamente: início;
manifestação de problemas básicos; desenvolvimento e aplicação de soluções e
tentativas e final. Vejamos:

Estágio I – Início
52

Conselheiro:
• Atitudes cordiais e de aceitação.
• Mostrar confiança.
• Não fazer críticas.
• Ajudar a vencer os temores iniciais do aconselhando.

Aconselhando:
• Contar suas razões iniciais para a procura de ajuda.
• Vencer seus medos e dúvidas relacionados a esta iniciativa.

Estágio II - Manifestação de problemas básicos

Conselheiro:
• Suscita questões ou faz comentários para estimular mais pensamentos.
• Esclarece tanto as questões como os sentimentos.
• Continua a dar apoio e encorajamento.

Aconselhando:
• Dar mais detalhes por meio da expressão de sentimentos e frustrações.
• Aprender a construir um relacionamento de segurança e confiança com o
conselheiro.

Estágio III - Desenvolvimento e aplicação de soluções e tentativas

Conselheiro:
• Continua a dar apoio.
• Fica alerta quanto a novas informações.
• Encoraja e orienta na consideração de soluções e tentativas, tais como
mudanças de atitu- de, modificação de comportamento, confissão, perdão,
reavaliação das percepções etc.
• Guia e encoraja à medida que as soluções são tentadas, avaliadas e tentadas
novamente.
Aconselhando:
• Aprender a formular.
• Agir com relação a...
• Avaliar soluções.
• Expressar frustrações e temores.
• Experimentar algumas vitórias.

Estágio IV - Final.

Conselheiro:
• Encorajar a agir independente.
• Recapitular o progresso feito no passado.
• Expressar sua disponibilidade ao aconselhando caso necessário.

Aconselhando:
• Manifestar dúvidas e temores pelo término do aconselhamento.
• Reavaliar o progresso.
• Examinar seus recursos espirituais e pessoais.
53

Proposta de exercício prático de aconselhamento de apoio

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta,
como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por
exemplo.

2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras
pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas
dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício.
Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de
apoio.

3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de
exercício prático de aconselhamento de apoio.
Papel dos aconselhandos

Requer duas pessoas. Como casal, vocês estão experimentando doloroso conflito e
frustração em seu relacionamento. Use um relacionamento com o qual um de vocês
dois está bem familiarizado para definir a dinâmica dos papéis. Procurem a ajuda de
seu pastor.

Papel do pastor

Utilize o que você aprendeu ao ler e refletir sobre esta unidade, Para fazer
aconselhamento com este casal. Experimente a adaptação do MRI descrito para
aconselhamento neste caso.

Papel do observador-monitor

Procure dar ao pastor feedback sobre o quanto ele se concentra na interação do casal
como diretriz primordial do aconselhamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta unidade, caro aluno, foi desenvolvida com o objetivo de expor uma teoria da
prática em aconselhamento cristão que pudesse atender tanto o conselheiro quanto o
capelão.
Foram expostos procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio, de perda
pessoal e de crise matrimonial.

Também vimos procedimentos e metodologias necessárias para o desempenho em


Aconselhamento e Capelania Cristã, ou seja, para se ter resultados, é necessário
desenvolver procedimentos que de fato possibilitem uma condição adequada para o
exercício dessas atividades. No caso específico, vimos duas formas de intervenção
para agir em casos de crise
54

matrimonial, uma com Collins (1995) e a outra com Clinebell (2000). A primeira
ressaltou os seguintes estágios: início, manifestação de problemas básicos,
desenvolvimento e aplicação de soluções e tentativas e final. A segunda é um método
denominado relacionamento ou matrimônio intencional, o qual tem como objetivo
provocar o aumento da satisfação mútua de necessidades e assim reduzir frustrações
e conflitos por meio de quatro passos: 1) ouvir e receber esses atributos; 2) neste
passo destacam-se as necessidades/desejos correspondidos ou parcialmente
correspondidos em termos de comportamento do casal; 3) o objetivo neste passo é
aumentar intencionalmente a satisfação mútua do relacionamento e fomentar assim o
amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma necessidade
conjugal), e isso é feito com a elaboração de um plano concreto e viável, com uma
programação cronológica que corresponda a essas necessidades do casal e 4) após
a execução do plano de mudança, deve-se executar outros planos para atender outra
necessidades e assim sucessivamente.

Por fim, observaram-se os comportamentos do aconselhando ou paciente em situação


de crise e como interpretá-los para melhor atuação do conselheiro.
55

REFERÊNCIAS

BARRIENTOS, A. Trabalho Pastoral: Princípios e Alternativas. Campinas: Cristã


Unida, 1991. BARROS, M. Estudo sobre Capelania. (texto não publicado – apostila),
2008.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri:
Sociedade do Brasil, 2000.

BRISTER, C. W. El Cuidado Pastoral en la Iglesia. Rio de Janeiro: Casa Bautista de


Publicaciones, 1980.

CASERE, D. Psicologia e Aconselhamento Pastoral. São Paulo: Paulinas, 1985.

CASTRO, E. Pastores del Pueblo de Dios en America Latina. Buenos Aires: La aurora,
1974.

CLINEBELL, H. J.; SCHLUPP, Walter O.; SANDER, Luís M. Aconselhamento


Pastoral:
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