O Livro Dos Mortos Uma Autobiografia Hipnagógica 1st Edition Lourenço Mutarelli Full Chapter Free

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O livro dos mortos uma autobiografia

hipnagógica 1st Edition Lourenço


Mutarelli
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“Hipnagógico: 1 que provoca o sono; hipnótico, sonífero; 2 referente ou associado ao
entorpecimento que precede o sono.” Dicionário Houaiss.
Sumário
Capa
Folha de rosto
Sumário
Dedicatória
Sugestão de leitura
Livro I
1 O encolhedor de cabeças
2 Ele me fez rir em inúmeras cabeças
3 A rainha e o lobo
4 A festa de Momo
5 O destino de tudo é ruir
6 O espelho d’água
7 O livro dos mortos
Livro II
1 Até que a morte nos separe
Apêndice
Caderno de imagens
Notas
Sobre o autor
Créditos
Ao médico Adriano Mendes Caixeta e equipe.

Por todos nós.


Sugestão de leitura. As notas são um complemento importante deste livro. Formam quase

um livro à parte. Não visam explicar nada e tampouco contextualizar coisa alguma.

Servem quase como ilustrações. São uma forma de dividir o que de mais marcante li em

minha vida. E são, principalmente, uma forma de eu me dar mais. Elas contêm um tanto

das intervenções que costumo fazer durante as aulas em oficinas de escrita, desenho,

caderno de recortes e narrativa gráfica que têm sido meu ganha-pão nessa última década.

Gosto muito das notas, mas elas podem mudar o ritmo da leitura. Gosto também porque

elas mostram a forma como ordeno meus pensamentos e a maneira como construo

minhas alegorias e metáforas. Portanto, sugiro que o leitor escolha se quer ou não ler as

notas. Espero que desfrutem.


LIVRO I

Lá estava sua mãe no umbral da porta, com uma vela na mão.

Sua sombra escorria rumo ao teto, longa, estendida. E as vigas do

teto a devolviam aos pedaços, despedaçada.

1
Juan Rulfo
1
O encolhedor
de cabeças
I

Lourenço, fica com a gente.


Eu preciso dormir. O sono traga Pompeu, com força.
Não dorme, fica com a gente.
Ele parece normal. É outro quem diz isso.
Está falando normalmente. Ele insiste.
Eu preciso dormir. Pompeu implora.
Não durma!
Só um pouquinho. Implora.
Não, Lourenço! Fica com a gente. Você não pode dormir.

II

Ele se sentou no sofá


e ficou olhando o velho quadro na parede.
Ela voltou
trazendo um copo vagabundo
cheio de uísque.
Era dezembro
28
fazia calor
ele suava
e o suor escorria e empapava a camisa.
A ex-namorada deitou no seu colo.
E ele começou a acariciar seus cabelos
enquanto bebia
com sede.
E o toque era pra ele tão
agradável.
Era como se ele brincasse
com água.
Levemente morna.
Pois seu cabelo era liso
bem liso e fino
fazendo alguns delicados
cachos.
Era igual em cor e textura
ao cabelo dos anjos.
Igual os anjos
impressos
na velha lata de caramelos importados
que a sua avó guardava
sobre a penteadeira.
E ele bebia no copo
de requeijão.
E não dizia nada
apenas seguia com o cafuné
e admirava
impressionado
o tamanho
daquela cabeça
enorme.
III

Ele ensaia um pouco antes de apertar o interfone.


Oi? Aquela voz.
Sou eu. Ele diz com dificuldade.
Abriu?
Abriu.
Sobe os dois lances de escada com o coração batendo forte.
Fazia tempo que não voltava.
Temos o costume de chamar qualquer lugar onde moramos, ou tenhamos
morado, de casa.2
Pompeu já morou em muitos lugares, mas só ali se sentiu em casa. Ele
se sentiu assim, ali. Por um único dia. Um dia que nunca mais se repetiria.
Sarah abre a porta.
Ele queria ficar olhando pra ela por horas, mas logo baixou a cabeça.
Entra tomado de tristeza. Ela sempre o deixa triste.
Pompeu sente as orelhas quentes. O nariz ressecado.
Dá poucos passos e fica parado no meio da sala.
Senta.
Aqui?
É. Senta. Vou pegar algo pra gente beber.
Eu trouxe. Se quiser. Pompeu aponta para a sua mochila.
Eu tenho. Comprei.
Pompeu senta onde sempre sentava naquele sofá.
Próximo à porta de vidro que dá para a pequena varanda.
Ele olha para fora. Depois a segue com o olhar.
Aqueles cabelos.
Cabelo de anjo.
Olha seu corpo enquanto ela entra na cozinha.
Ele aproveita a deixa e retira de um pequeno bolso da carteira os
trezentos e cinquenta reais, devidamente separados, e coloca sob o abajur
que está a seu lado numa pequena mesa.
Sempre pagou dessa forma.
Nunca entregava o dinheiro diretamente a ela.
Achava mais delicado.
Mais delicado consigo mesmo.
Então ele olha para o quadro na parede.
Pompeu foi uma criança muito solitária. Um menino pequeno. Baixinho.
De aparência frágil. Havia algo em seu olhar que incomodava as pessoas.
Irritava. Pompeu sempre se sentia cansado. As pessoas talvez
interpretassem esse cansaço como desprezo ou arrogância.
Só agora ele se dá conta disso. Nesse momento. Em casa.
Depois de tanto tempo fora.
Ela volta trazendo a garrafa.
Você está bonito.
Ele ri. Ele odeia ouvir isso.
Ela põe a garrafa e os copos no chão e volta correndo para a cozinha.
Sarah veste aquele casaco de lã. Branco. Está quente, mas ela sempre
tem frio.
Volta trazendo gelo em outro copo.
Coloca duas pedras em cada e despeja o Cavalo Branco.
A garrafa está na metade.
Tim-tim.
Ela ri feito criança.
Olha fixo em seus olhos e se acomoda bem perto dele.
Você está diferente.
Eu queria estar. Diferente.
Mas está.
Juro que queria. Queria não ser eu. Queria não ser este.
Vou pôr uma música. O que você quer ouvir?
Qualquer coisa. Quer dizer, que não seja jazz.
Sarah ri. Sabe que ele detesta jazz. Fica irritado.
Quer começar?
Aqui?
É, eu tô sozinha hoje.
Pompeu imaginou que iriam para o quarto.
Então ela se acomoda na outra extremidade do sofá e deita a cabeça em
seu colo.
Pompeu dá um comprido gole.
Nossa, Pompeu! Você está quente. Tá com febre?
Eu me sinto com febre.
Então, com cuidado e medo, ele começa a acariciar seus cabelos.
Água morna.
[duplo]Nesses últimos tempos em que esteve longe, Pompeu costumava
aquecer um pouco de água no fogão. Punha a água morna numa pequena
bacia de alumínio que sua avó usava para fazer as unhas. Então, levava
para a sala e mergulhava a mão enquanto assistia televisão.
Fazia pequenos e delicados movimentos com as mãos e sentia como se
estivesse acariciando os cabelos de Sarah.

Ele não queria voltar pra casa.


Não queria se sentir tão miserável e pequeno.
Posso pôr um filme?
Claro. Pompeu responde. A voz sai baixa. Engasgada.
Ela aciona o YouTube na tv e digita “Aladdin”.3
Aparecem várias opções.
Ela escolhe Aladdin Disney desenho completo.
A tv está sem som. Ouvem a música.
Ela sempre começava com esse disco quando se encontravam.
Era um som meio espacial.
Sarah acreditava que Pompeu gostasse.
Me conta um segredo?
Ela sempre pede isso.
Um dia eu te conto um segredo que vai mudar tudo. Toda a forma como
você vê a vida.
Você sempre fala isso. Me conta agora.
Um dia. Um dia eu conto.
Pompeu continuava acariciando os cabelos de anjo.

Quando ele era pequeno, pequeno e sozinho, gostava de entrar no quarto


de sua avó e se sentar à penteadeira.
Ele gostava de examinar cada detalhe das coisas que a sua avó guardava
lá.
Mas havia algo que realmente o encantava.
A penteadeira era um móvel de madeira pintado de branco. Um móvel
simples que só tinha as pernas, duas gavetas e um grande espelho oval.
O espelho tinha manchas ocre, amareladas. Quase douradas, que
sugeriam formas.
Formas que para ele pareciam sombrias.
Era isso que ele via quando se olhava no espelho. Manchas.
Na verdade, quando ele era criança, tudo lhe parecia sombrio.
Mas, entre os poucos pertences que sua avó guardava ali, tinha a velha
lata enferrujada de caramelos franceses. Nela a avó guardava as poucas
joias que possuía.
O que o fascinava e entretinha não eram as joias, mas a imagem
estampada na tampa da lata. O desenho, emoldurado numa forma ogival,
representava uma jovem seminua sentada sobre um pequeno tronco de
árvore coberto por um tecido que caía sinuoso sugerindo formas em seu
panejamento. Naturalmente sombrias. Outro pedaço de pano, vindo do
ombro, cruzava o peito da moça e caía sobre o ventre. Feito uma faixa de
miss. Era um tecido quase mágico de tão transparente. A jovem penteava os
cabelos enquanto dois pequenos anjos, um em cada lado da imagem,
seguravam espelhos para que ela pudesse se enfeitar. O anjo à direita voava
à altura do rosto da moça. Podíamos ver o reflexo do rosto dela nesse
espelho. O outro anjo estava no chão. No canto esquerdo da pintura. De
costas pra nós. Não podíamos ver seu rosto nem o que seu espelho
refletia.4 A forma como o cabelo dos anjos foi pintado, a finura e a leveza da
sua representação o encantavam.
No fundo havia algumas árvores em perspectiva. E uma montanha
rochosa. A moldura elíptica era representada por um padrão floral.
Vegetações. Flores, galhos e pequenos frutos.
Embaixo, numa faixa, estava escrito:

Diana
Caramels hachés5
Ele segura o choro enquanto acaricia aqueles cabelos de anjo.
Tão finos, macios, leves e mornos.
Feito água.
Feito a água que aquecia para simular o que fazia agora.
E então, repleto da mais amarga tristeza, ele contempla
aquela cabeça
enorme.

Agora eu serei outro.

IV

Pompeu caminha abatido.


Por ter esfriado bruscamente, Sarah lhe devolveu a camisa que havia
roubado.
Sente cansaço ao pensar em todo o caminho que precisa fazer.
Começa a ver pelo chão uma trilha que parece sangue.
Sente uma presença.
Olha para trás e um homem muito pequeno o observa.
Pompeu fica surpreso com seu tamanho.
Não é um anão.6
Apesar de muito pequeno ele tem os membros proporcionais.
Tá lembrado de mim? O homenzinho lhe pergunta.
Um calafrio percorre a espinha de Pompeu.
Desculpe. Acho que não o conheço.
Da próxima vez vai lembrar.
Claro, da próxima vez eu já o terei visto.
Muitas vezes não nos lembramos.
Dizem que os mergulhadores, depois de um tempo submersos, não
distinguem se a superfície está acima ou abaixo. Pompeu não sabe por que
disse tal coisa.
Quem te disse isso?
Eu não lembro.
O baixinho estende a mão.
Pompeu lhe entrega vinte reais.

Pompeu toma fôlego para abrir a porta.


Como se fosse mergulhar fundo.
Procura não fazer barulho.
Vai para a cozinha e acende a luz.
Enche um copo de água e joga uma Aspirina.
Senta num banquinho e acende um cigarro.
Alguém grita lá fora.
Pompeu não consegue entender o que esse alguém grita.7
É a voz de um homem.
Um homem furioso.

VI

Pompeu se anuncia.
Pode subir.
Ele sempre sente um frio na espinha quando passa pelo saguão desse
prédio velho.
Aperta o 8.
Toca no 82.
Mauro demora a abrir.
Quando abre, nem olha em seu rosto.
Logo dá as costas e diz:
Entra.
Ele está com os dentes.
Tudo bem?
Mauro não responde.
Dois gatos passam correndo.
Assustados.
Os dois parecem ser o mesmo gato. Desdobrado.
Quer um café?
Seria ótimo. Saí e nem… tive tempo.
Vou fazer.
Pompeu senta no sofá encardido.
Há uma camada de pó, gordura e pelo de gato que reveste tudo naquele
cômodo.
Essa camada reveste absolutamente tudo.
Não apenas se acumula sobre os móveis.
Cobre e reveste também os incontáveis quadros nas paredes.
A enorme pilha de lps.
A coluna de livros que escapa da estante.
O boneco do palhaço em tamanho natural.
O cavalo branco de um velho carrossel.
O teto.
Mauro pigarreia alto na cozinha.
Parece engasgado.
Tudo bem aí?
Esse pigarro maldito.
Pompeu vai até a porta da cozinha.
Mauro olha a cafeteira italiana que está no fogo.
Ao lado da cafeteira há uma imensa panela de alumínio que ocupa duas
bocas do fogão.
Já deu a hora do cigarro, mas vou esperar o café. Mauro diz enquanto
continua pigarreando alto.
De repente levanta os olhos.
Incomodado.
Espera lá na sala. Ele pede.
Claro. Pompeu assente sem graça.
Volta ao sofá.
Olha para o quadro que sempre rouba sua atenção.
Uma paisagem marinha.8
O apartamento é mal iluminado.
As lâmpadas são incandescentes. Amareladas.
Mauro volta trazendo a cafeteira e duas xícaras.
Você toma sem açúcar? Nunca lembro.
Pode ser sem.
Mauro dá um gole e acende um cigarro.
Não vai fumar?
Vou, vou, sim.
E então?
Eu a vi.
Viu? Onde foi?
Ela estava trabalhando no computador. Num café.
Onde?
Ela estava numa mesa. Num canto.
Não, onde fica o café?
Na rua Cotoxó, 110, na Pompeia.
Você viu no que ela trabalhava?
Não. O computador… ela estava num canto perto da parede… não dava
pra ver a tela.
Que tipo de computador ela usa?
Um laptop.
pc?

Não, Mac. Um desses fininhos. Pro alguma coisa. Air, se não me engano.
Droga. Achei que ela usasse pc.
Pois é.
Ela estava bonita?
Ela estava linda. Tão linda. Alta.
Alta? Muito alta?
Acho que mais de um metro e oitenta.
E os cabelos?
Escuros. Os olhos claros. Tão linda. Ela parece tão segura. Elegante. Tem
algo tão doce e… não sei como dizer. Mas parece que ela está dançando,
sabe?
Dançando?
É. Não dançando. Mas ela se move de uma maneira… seus movimentos
são tão… bonitos.
Como ela estava vestida?
Uma calça prateada. Muito sensual. Uma dessas calças, não sei como
chama. E uma camiseta cinza com umas listras horizontais bem fininhas.
Ela estava tomando café?
Sim.
Você tomou café?
Tomei. Dois.
Era bom?
Era bom.
Ela comeu algo?
Não. Quer dizer, só o biscoitinho que acompanhava o café.
E as mãos? Como eram suas mãos dessa vez?
Puxa vida. Suas mãos eram tão lindas. E a forma como se moviam, sabe?
Essa coisa da dança que eu falei. Tudo nela, tudo naquele corpo, dança.
Muito suavemente. Mas dança.
Eu quase posso ver.
Tão linda.

E você? Me fala um pouco de você.


Tudo bem. Vamos levando, como se diz.
Tem visto sua garota?
Nós terminamos, faz tempo. Não te falei?
Falou. E não a viu mais?
Eu fui lá ontem.
Não consegue ficar longe dela, não é?
Claro que consigo.
Então por que foi?
Eu não vou mais voltar lá. Tudo aquilo me faz mal. Foi a última vez. Fui
me despedir. Não tem mais volta.
Mauro sorri incrédulo.
Pompeu ouve uma tosse que vem de um dos quartos.
Mauro apanha a carteira na primeira gaveta da direita que fica no móvel
em forma de arca. Conta o dinheiro. Entrega oitenta reais a Pompeu.
A arca é repleta de porta-retratos. Todos vazios, exceto um.

VII
Me fala do circo.
Pompeu está lavando louça.
Eu falei das crianças?
Falou.
Elas pareciam crianças.
Mas não foi assim que o espetáculo começou. Da outra vez você não
contou dessa forma.
Não, não estou falando do espetáculo. Essas crianças estavam sentadas
na primeira fila.
Você me disse que começava com uma mulher muito sexy.
É. É verdade. Quando começou, teve isso.
Conta de novo.
Ela usava uma roupa tipo de fanfarra. Um collant cor de prata, uma
saiinha muito curta e botas brancas que iam até os joelhos. Usava também
um chapéu meio cilíndrico, com uma espécie de cordão que ligava uma
coisa circular a outra. Eram três linhas dessas. Na frente do chapéu. Deve
ter um nome esse tipo de chapéu, mas eu desconheço.
Barretina.
Sério?
É, esse é o nome. E os cordões que o enfeitam chamam francaletes.
E o arranjo com plumas que vai em cima? Como chama?
Isso eu não lembro.
No peito tinha também essas cordas. Barretina, sei lá.
Mas você disse que ela era muito provocante. Que te excitou.
Ela era muito provocante mesmo.
Te excitou?
É que o vestido era bem curto. E o jeito como ela se movimentava, sabe?
Tinha uma coisa erótica na forma como ela se movia. E seu olhar. Seu olhar
era terrível. E ela carregava um bastão em cada mão. A forma como o
segurava e às vezes passava no rosto… era… você sabe, fálico.
Báculo.
Isso.
E você ficou excitado?
Ah… eu não fiquei excitado. Acho que nunca disse pra você que aquilo me
excitou. O que aconteceu é que eu fiquei, como posso dizer? Fascinado?
Aquela mulher roubava toda a minha atenção. Era como se eu estivesse
hipnotizado, eu não conseguia desviar o olhar.
Ficou de pau duro?
Que coisa chata isso. Mesmo que tivesse ficado excitado, eu também sou
um corpo, caramba!
Eu só não entendo por que você não diz logo que ficou de pau duro?
Assume.
A cafeteira começa a fazer barulho. Pompeu desliga o fogo.
E a mulher das flechas?
Pompeu apanha duas xícaras no armário.
Põe três colheres de açúcar numa delas.
Serve o café.
A mulher das flechas foi bacana. Pompeu fala sem vontade.
O que foi mesmo que disseram? Quais eram as palavras?
Tenho que ver. Eu anotei. Não lembro de cabeça.
Lê pra mim.
Está no meu caderno. Vamos tomar o café e eu procuro. Você ouve um
choro?
Choro?
Só um minuto. Pompeu leva o dedo aos lábios pedindo silêncio. Tá
ouvindo?
Não. Não ouço nada.
Uma mulher. Agora parou. Vinha de longe.
Eu ouço os pássaros.
Fazia tempo que não ouvia esses pássaros. Eles têm um canto triste.
Lê as palavras pra mim.
Vou pegar a nota. Escrevi num dos cadernos.
Pompeu atravessa a cozinha em direção à área de serviço. No fundo há
um pequeno quarto fechado por uma pesada grade de ferro. Ele destranca
e entra. O cômodo é pequeno e mal iluminado. Pega alguns cadernos num
móvel de madeira e começa a folhear. Os cadernos são numerados. Não
são datados. Pompeu usa um código para situar os registros no tempo. Na
penúltima página do volume xxx encontra o que procura. Volta à cozinha.
Enche novamente sua xícara de café. E lê.
Espírito, excessos, amor, falsa profecia, rei, rainha, transformação,
consolidação, realizações, matéria, pai e mãe.
E a cada palavra ele lançava uma flecha? É isso?
Isso. O arqueiro proferia a palavra e lançava a flecha.
Numa moça de biquíni.
Isso mesmo.
Pouco machista, não?
Eram outros tempos. E, na verdade, a mulher representava uma deidade.
E qual divindade ela representava, você sabe?
Semíramis,9 eu suponho. Na segunda vez que assisti o espetáculo, as
palavras não foram as mesmas. Instinto, cura, amor, eternidade, chama
vital, feminino, a mente, criação, masculino, união, matéria escura e chama
vital.10

Você sabe que eu não estou aqui, não é mesmo?


A tristeza curva o corpo de Pompeu.
Sabe, não sabe?
Sei.
E sabe o porquê, não é?
Sei.
Diz.
Pompeu cobre o rosto.
Diz. Eu quero que se ouça dizendo por que não estou aqui.
Mas eu já sei.
Mas quero que ouça. Ouça em voz alta.
Porque você foi embora.
E por que eu fui embora?
Você me deixou. Acabou. Você nunca me perdoou. Nunca perdoou
minhas fraquezas.
O mundo não admite fraquezas.

VIII

Pompeu para em frente ao prédio.


Olha para a janela do segundo andar.
As luzes estão acesas.
Um vulto se projeta na cortina.
Pompeu bebe uísque numa garrafa de bolso niquelada.
Há vida lá dentro.
Outra vida talvez.
Sente uma presença a seu lado.
Um homem muito pequeno está parado bem próximo a ele.
No fim das contas, o que importa é que a comida seja boa. Não é
mesmo? Diz o homenzinho.
O senhor me assustou.
Assustei?
Pompeu olha sério para o homenzinho.
Desculpe, será que você podia me deixar sozinho, por favor? Pede
Pompeu.
Mais?
Sério mesmo. Eu quero ficar sozinho com meus pensamentos. Por favor.
Tá certo. Só vou dizer uma coisa e me vou, pode ser?
Se você simplesmente fosse, sem dizer nada, ia me deixar mais contente.
O homenzinho apanha a carteira e entrega vinte e cinco reais a Pompeu.
Quando Pompeu pega as cédulas, o homenzinho as segura firme e diz:
Há o que olha para ela, o que olha para ele, e aquele que inscreve. Dito isso,
ele solta as notas e vai. Então, Pompeu percebe que alguém o observa da
janela que observava.

IX

Aperta o 8.
Toca no 82.
Mauro demora a abrir.
Quer um café?
Quero, sim.
Vou fazer. Espera lá na sala.
Pompeu olha o quadro com a paisagem marinha.
O apartamento é mal iluminado.
Você toma sem açúcar? Nunca lembro.
Pode ser sem.
Mauro volta trazendo a cafeteira e duas xícaras.
Você gosta desse quadro, né?
Na verdade, eu tenho medo dele.
Medo? Mauro ri. Como assim?
Eu já te falei que me perdi na praia quando era pequeno?
Não.
Foi horrível.
Me conta.
Acho que meu irmão nem tinha nascido. Então, eu devia ter menos de
quatro anos. Foi isso. Eu estava brincando no mar11 e, sem que me desse
conta, a maré me levou. Não muito longe. Me deslocou alguns metros à
direita. Mas eu não sabia que isso acontecia. Quando saí da água, segui em
linha reta. Na direção de onde estavam meus pais. Segui a mesma reta, o
mesmo caminho que fiz quando entrei no mar. Realmente não podia
imaginar que a maré havia me arrastado do ponto em que havia entrado.
Corri na direção dos meus pais e eles não estavam lá. Eram outros que
ocupavam aquele espaço. Eu fiquei tão desesperado.
Posso imaginar.
Tudo mudou nessa hora. Tudo. E aí eu comecei a chorar. Eu chorava e
andava procurando por eles. Dessa forma fui me distanciando cada vez
mais. Alguns adultos se aproximavam para tentar me ajudar, mas eu tinha
medo deles. Sentia um medo profundo. Era tanto medo que distorcia tudo.
Sentia como se eles quisessem se passar por meus pais. Como se
quisessem me enganar. Senti que, ao sair do mar, eu havia entrado num
outro mundo. Foi horrível. Naquele dia alguma coisa mudou em mim. Pra
sempre.
E aí? Como você os encontrou?
Eu andei e andei e de repente avistei uma estátua de Netuno.
Ah! Então foi na Cidade Ocian.
Acho que sim. Era uma estátua tão sombria. Ameaçadora.
Você devia estar aterrorizado.
Foi pior do que isso. Aconteceu uma coisa, sabe? Uma coisa na minha
cabeça.
Você era muito pequeno.
Alguma coisa aconteceu naquele dia.
O quê? O que aconteceu?
Eu não sei dizer. Algo com a realidade. Como se a realidade tivesse se
rompido.
Nossa! Você está pálido. Quer um pouco de água com açúcar?
Pompeu sorri. Há séculos não me ofereciam água com açúcar. Minha avó
fazia isso. Me dava um copo de água com açúcar quando eu estava
nervoso.
Sou um cara antigo. Mauro ri.
Eu nunca mais fui o mesmo.
É como dizem, ninguém é o mesmo quando sai de um rio.12
Comecei a desconfiar que eu era outro. Que me desdobrei. Eu não era o
mesmo. O mundo não era o mesmo. Era como se eu tivesse me duplicado,
me desdobrado. E só um de mim encontrou a família.
E qual deles é você?
Não sei dizer. Honestamente não sei. Minha mãe contava depois para
todos que via um menino perdido chorando e pensava: Que mãe
desnaturada. Perdeu o filho e nem se dá conta. Ela falava exatamente
assim. Mãe desnaturada. E ela contava isso rindo. Como se fosse uma
piada. Quando, enfim, ela percebeu que era eu, correu em minha direção e
me deu uns tapas. Disse para que eu nunca mais fizesse aquilo. Entende?
Eu me perdi por desconhecer as leis do mar e ainda apanhei por isso.
Você sabe que pode não ser nenhum desses dois, não é?
Como assim?
Talvez você não seja nem o que se perdeu nem o que encontrou a
família. Porque tudo se divide em três. Talvez você seja o outro.
Que seria?
Eu não sei.
Eles terminam o café e fumam.

Mauro traz o copo de água com açúcar.


Me diz, você a viu?
Eu a vi.
Viu? Onde foi?
No Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1000.
E o que ela fazia lá?
Trabalhava. No computador. Numa das mesas do café.
Você viu no que ela trabalhava?
Consegui ver.
E o que era? O que ela fazia?
Escrevia nomes.
Nomes?
Nomes próprios.
Nomes próprios?
Isso. Consegui ler alguns.
Você lembra?
Lembro. Eu anotei.
Então fala logo.
Pompeu folheia o caderno.
Moacyr, Bennet, Thiago, Mauro, Suzana, Beatriz.
Só nomes?
Vários nomes.
E só isso? Ela não os adjetivava nem nada?
Não. Só escrevia nomes próprios.
Será que ela está grávida?
Acredito que não.
Isso parece coisa de quem está escolhendo nome.
Não sei por que ela fazia isso, mas não me pareceu grávida.
E ela estava bonita?
Estava linda. Tão linda. Alta.
Alta? Muito alta?
Acho que mais de dois metros.
Caramba!
Alta, alta.
E os cabelos?
Escuros. Os olhos claros. Tão linda. Tem algo tão doce e… não sei como
dizer. Mas parece que ela está sempre dançando, sabe?
Dançando?
É. Não dançando. Mas ela se move de uma maneira, seus movimentos
são tão bonitos.
Como ela estava vestida?
Uma saia preta ou azul sobre uma meia-calça igualmente preta ou azul. E
uma camiseta leve. Estampada.
E você leu mesmo Mauro entre os nomes que ela escrevia?
Moacyr, Bennet, Thiago, Mauro, Suzana, Beatriz.
E você?
Eu?
Como você está vestido agora?
Assim.
Mauro o observa.
Essa camisa é nova?
Não e sim. Pompeu veste a camisa que recuperou.
O que está calçando?
Uma bota. Aquela clara.
Fala mais sobre ela.
Uma hora ela recebeu uma mensagem no celular e deu um sorriso tão
lindo.
Você viu quem mandou a mensagem?
Não. Não dava pra ver. Mas ela sorriu tão gostoso.
E o que ela calçava?
Um tênis.
De que cor?
Eu diria que era da família dos vermelhos.
Ela estava tomando café?
Sim.
Você tomou café?
Tomei.
Era bom?
Era bonzinho.
Ela comeu algo?
Não. Só tomou café.
Fala mais.
É bom olhar para ela. A gente se esquece de tudo.
De tão bonita?
É. Claro que há algo que transcende a beleza. Ela não liga, sabe?
Não liga?
É, não se vale de sua beleza. Não é vaidosa.
E você já começou a trabalhar com a figura que te indiquei?
Começo amanhã cedo. Como é mesmo o nome dele? Tenho uma
dificuldade imensa em guardar nomes.
Mauro. É uma figura. Um sujeito muito culto, sabe? Eu o conheci numa
festa. Uma festa na casa de uma grande amiga. O sujeito é uma
enciclopédia. E é muito divertido.
Mauro apanha a carteira na primeira gaveta da direita que fica no móvel
em forma de arca. Conta o dinheiro. Entrega duzentos reais a Pompeu.
A arca é repleta de porta-retratos. Todos vazios, exceto um.

O homem está sentado todo torto numa imensa poltrona de couro preto.
Fuma um enorme charuto.
Há um generoso copo de uísque na mesinha.
Ao lado do copo, uma caixa laqueada.
Porque são sempre três, você me entende?
A frase traz Pompeu de volta.
Estava tão longe que era como se não existisse.
Ao ouvir a frase, num átimo, ele foi obrigado a montar toda a sua vida.
Para mostrar que estava ali e atento, ele repete a frase.
De alguma forma, apesar de nem existir por um tempo, ele a apreendeu.
Eram três. Ele diz ao homem torto na poltrona.
Foi o que eu disse.
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PLATE CCCCLIX.

L A S I O P E TA L U M Q U E R C I F O L I U M .
Oak-leaved Lasiopetalum.
CLASS V. ORDER I.

P E N TA N D R I A M O N O G Y N I A . F i v e C h i v e s . O n e P o i n t a l .
ESSENTIAL GENERIC CHARACTER.
Calyx triphyllum, tomentosum, persistens. Corolla monopetala,
lanuginosa, 5-fida. Filamenta 5, germinis basi affixa. Germen superum.
Capsula 3-locularis, 3-valvis.
Empalement 3-leaved, downy, and remaining. Blossom one-leafed,
woolly, and five-cleft. Threads 5, fixed to the base of the seed-bud. Seed-bud
above. Capsule 3-celled, 3-valved.
SPECIFIC CHARACTER.
Lasiopetalum quercifolium, ternatum: foliis duobus ad basin minoribus;
supra viridibus, subtus nervosis, ferrugineis, stellatim setis tectis: racemis
floriferis longis, foliis oppositis: corollis purpureis. Rami et ramuli,
pedunculi, &c. setis stellatim tecti, ferruginei. Caulis humilis.
Woolly flower with oak-shaped leaves, by threes; two at the base are
smallest; green on their upper surface, veined beneath, of a rusty iron colour,
and beset with hairy star-like specks. Flower-branches long, and opposite to
the leaves. Blossoms purple. The small and larger branches, footstalks, &c.
are beset with star-like specks, and of a rusty colour. Stem low.
REFERENCE TO THE PLATE.
1. The empalement.
2. Seed-bud, chives, and pointal.
3. A chive magnified.
4. The same shown from the outer side.
5. Seed-bud and pointal.
Throughout almost all the plants as yet introduced from New South Wales,
there is a strong marked leading feature that proclaims them of Botany Bay
extraction, either in the upright strictness of their habit, a hard harsh
character in the foliage, or a rough and rusty exterior. Of the last description
is our present figure; but it is nevertheless a very handsome plant, and the
only addition (to this otherwise solitary genus) as yet in cultivation with us.
Labillardiere, in his Description of New South Wales, has given a figure of a
plant under the title of Lasiopetalum triphyllum, very much resembling our
quercifolium—probably a variety of it—or, if intended to represent the same
plant, there must be a considerable inaccuracy in the delineation. Our figure
was taken from a plant at the nursery of Messrs. Colville.
PLATE CCCCLX.

LACHENALIA SESSILIFLORA.
Sessile-flowered Lachenalia.
CLASS VI. ORDER I.

HEXANDRIA MONOGYNIA. Six Chives. One Pointal.


ESSENTIAL GENERIC CHARACTER.
Corolla 6-petala, infera; petalis 3 interioribus longioribus: stamina
erecta: capsula sub-ovata, trialata: semina globosa.
Blossom 6-petaled beneath; the three inner petals the longest: chives
erect: capsule nearly egg-shaped, three-winged: seeds globular.
SPECIFIC CHARACTER.
Lachenalia sessiliflora: foliis geminis, lanceolatis: scapo erecto, semi-
pedali: floribus prope apices confertis, purpureis: petalis exterioribus
cuneatis: interioribus duplo longioribus, angustis, truncatis.
Lachenalia with sessile flowers: leaves by pairs: stem upright, half a
foot high: flowers grow crowded together near the top, and are of a purple
colour: the outer petals are wedge-shaped: the inner ones twice the length,
narrow, and appearing cut off at the end.
REFERENCE TO THE PLATE.
1. A flower spread open.
2. The inside of the same.
3. Seed-bud and pointal, summit magnified.
This Lachenalia is perfectly new, an attraction that may counterbalance its
want of speciosity. From the total absence of footstalks to the flowers we
have derived its unoccupied specific title. Professor Jacquin has figured
many handsome species of this genus not yet introduced to this country, and
amongst the number two equally sessile with our plant, but in no other
particular resembling it. From a drawing made for the collection of G.
Hibbert, esq. in 1803 our figure was taken; since which period we have not
seen any vestige of the plant, and therefore imagine that, like many other
Cape bulbs, it is lost to us for the present: but it probably may soon reappear
amongst the frequent importations we are in the constant habit of receiving
from that inexhaustible botanic mine.
PLATE CCCCLXI.

PROTEA TERETIFOLIA.
Cylindric-leaved Protea.
CLASS IV. ORDER I.

TETRANDRIA MONOGYNIA. Four Chives. One Pointal.


ESSENTIAL GENERIC CHARACTER.
Corolla 4-fida, seu 4-petala. Antheræ lineares, petalis infra apices
insertæ. Calyx proprius, nullus. Sem. solitaria.
Blossom four-cleft, or of four petals. Tips linear, inserted into the petals
below the points. Cup proper, none. Seeds solitary.
SPECIFIC CHARACTER.
Protea teretifolia, foliis obtusis: junioribus adscendentibus, senioribus
patentibus: floribus luteis, capitatis, terminalibus, foliis circumsessis: post
florescentiam conus formatur.
Protea with cylindrical leaves blunt-ended: the younger ascending, and
the older ones spreading: flowers yellow, headed, terminal, and surrounded
by the leaves: and after flowering a cone is formed.
REFERENCE TO THE PLATE.
1. A flower.
2. A chive magnified.
3. Seed-bud and pointal.
4. Flower-branch of a small variety.
This little Protea is more desirable, by way of contrast to those splendid
imbricated species, than for any beauty it possesses, and exhibits powerfully
the great diversity of character annexed to this numerous genus. Attached to
the dissections is part of the branch of a minor variety, and which is by some
considered as specifically distinct: and were extension our object, it certainly
might be made a separate species, from the difference of its character after
flowering, the larger one forming a cone the size of an egg; which the lesser
one does not. It also differs in the manner of its growth; but only in the dried
specimens which we have seen that have been collected from old plants at
the Cape; and in them the small variety forms its branches after the manner
of a corymbus, and the plant has thence received the appellation of
corymbosa. But had we given a separate figure of it, we could not (without
making an awkward apology) have adopted a specific title whose
characteristic appearance it might never acquire in this climate, and which
our figure would not have possessed. By placing it amongst the variations
these objections are obviated, and the appearance of repetition avoided: a
desirable object in a genus so extended as Protea; and we shall take every
opportunity of abbreviating as much as possible the number of slight
varieties, particularly when their attractions are not considerable. Our
drawing was made from plants in the Hibbertian collection.
PLATE CCCCLXII.

MALUS JAPONICA.
Scarlet-flowering Japan Apple.
CLASS XII. ORDER V.

I C O S A N D R I A P E N TA G Y N I A . Tw e n t y C h i v e s . F i v e
Pointals.
GENERIC CHARACTER.
Calyx. Perianthium monophyllum, concavum, quinquefidum, persistens.
Corolla. Petala quinque, subrotunda, concava.
Stamina. Filamenta viginti, subulata, corollâ breviora, calyci inserta.
Antheræ simplices.
Pistillum. Germen inferum. Styli 5. Filum longitudine staminum.
Stigmata simplicia.
Pericarpium. Pomum subrotundum, umbilicatum, carnosum,
membranaceum: loculis quinquelocularibus.
Semina. Nonnulla oblonga, obtusa, basi acuminata, hinc convexa, inde
plana.
Empalement. Cup one leaf, hollow, five-parted, and remaining.
Blossom. Five petals, nearly round, and hollow.
Chives. Twenty, awl-shaped, and shorter than the blossom, and inserted
into the cup. Tips simple.
Pointals. Seed-bud beneath. Shafts 5. Thread the length of the stamens.
Summit simple.
Seed-vessel. An apple nearly round, navelled, fleshy, skinny: partitions
five loculaments.
Seeds. Some oblong, obtuse, pointed at the base, convex on the side, and
then flat.
SPECIFIC CHARACTER.
Malus japonica, foliis alternis, lanceolatis et spathulatis, glabris, et
lucidis: marginibus serrulatis, suffruticibus, et interdum arborescentibus.
Rami et ramuli alterni, recti, ad basin nodosi, colore schisti: floribus
fasciculatis, plerumque quaternis, læte coccineis: petalis concavis, quinque
vel decem. Floret in Martio et Aprili.
Japan Apple, with alternate leaves lance-and spathula-shaped, smooth,
and shining: with finely sawed margins, shrubbyish, and sometimes growing
to a tree. The small and large branches are alternate and straight out, knotty
at the base, and of a slaty colour. Flowers grow in bunches mostly of four
together, of a bright scarlet colour. The petals are concave, and from five to
ten in number. Flowers in March and April.
REFERENCE TO THE PLATE.
1. A petal.
2. The empalement, chives, and pointals.
3. The same spread open, one tip magnified.
4. Seed-bud and pointals, summit magnified.
This handsome fruit-tree will doubtless soon become an object of general
cultivation in this country, from the brilliance and duration of its fine scarlet
blossoms. It is perfectly hardy, but flowers with most freedom in the shelter
of the green-house. The fruit is about the size and shape of a walnut. Why or
wherefore Pyrus is the generic title adopted for Apple we were at first at a
loss to conjecture, but upon investigation find it built on the egotism too
inseparable from human nature, and must confess ourselves very sorry to be
under the necessity of placing the defect to its original source; the celebrated
Linnæus, who it appears altered it from Malus (the genus of Tournefort) to
Pyrus, for no other reason but that his own system (unquestionably the best
in almost every other particular) might not bear any resemblance to that of
Tournefort. Jussieu in the Introduction to his Genera Plantarum, commenting
on this very subject, concludes with this most excellent remark: “Such is the
love of undivided praise!” We have therefore returned the genus back to its
old standard, not through any desire to alter, but absolute necessity;
regarding the absurdity of its nomination under the generic title of Pyrus as
already too long retained; for whilst the tree is known by its fruit, that fruit
should certainly be called by its name.
For the introduction of this fine plant we are indebted to the Hon. C.
Greville, in whose conservatory at Paddington it first flowered, and from
whence our figure was taken.
PLATE CCCCLXIII.

P Æ O N I A PA PAV E R A C E A .
Poppy-like Pæony.
CLASS XIII. ORDER VI.

P O L YA N D R I A H E X A G Y N I A . M a n y C h i v e s . S i x P o i n t a l s .
ESSENTIAL GENERIC CHARACTER.
Calyx 5-phyllus. Petala 5. Styli 0. Capsulæ polyspermæ.
Cup 5-leaved. Petals 5. Pointal none. Capsules many-seeded.
SPECIFIC CHARACTER.
Pæonia caule suffruticoso ramoso: folia alternatim bipinnata, subtus
glauca: petiolis longis, canaliculatis, amplexicaulibus: floribus semi-
duplicibus, albis, ad basin eleganter purpureo radiatis: capsula orbiculata,
continens sex loculamenta, in quibus singulis sunt duo semina.
Pæony with a shrubby stem branching beneath: leaves alternately two-
winged, and glaucous beneath, with long footstalks, channelled, and
embracing the stem. Flowers semi-double, white, but elegantly radiated at
the base with a purple colour: capsule orbicular, containing six cells, with
two seeds in each.
REFERENCE TO THE PLATE.
1. The seed-vessel.
2. The same cut transversely.
For this beautiful species of Pæonia we are indebted to Lady Hume, in
whose select collection at Wormley-bury, Herts, it flowered for the first time
in this country. When we figured the fine purple variety, we little thought of
having so soon to compare it with a rival of such magnitude, and of equal
beauty. The bright radiated purple at the base is a great relief to the
surrounding whiteness of the petals, that would otherwise stand in much
greater need of the assistance of art for a strength of shadow, that would
unavoidably injure their delicacy. The more we become acquainted with this
attractive genus, the greater latitude of growth we find attached to it, which
appears to defy all systematic rule, varying in some species from Digynia, or
two pointals, up to six or more. The present one differs more than all the
rest, having six pointals and seed-buds attached together, and enshrined
within a globular exterior, resembling a Poppy, and from whence we have
drawn its specific title; for, as a distinct species it may certainly be
considered with great propriety; and most likely the distinction will by some
be thought of sufficient consequence to license a generic division: but in a
genus so mutable, were the alteration still greater, whilst it could be
recognised as a Pæony, we should regret to meet it under any other title.
PLATE CCCCLXIV.

D I O S M A O VATA .
Oval-leaved Diosma.
CLASS V. ORDER I.

P E N TA N D R I A M O N O G Y N I A . F i v e C h i v e s . O n e P o i n t a l .
ESSENTIAL GENERIC CHARACTER.
Corolla 5-petala. Nectaria 5 supra germen. Caps. 3. s. 5, coalitæ.
Semina tecta.
Blossom. Five petals. Five nectaries above the seed-bud. Seed-vessels 3
or 5, joined together. Seeds covered.
SPECIFIC CHARACTER.
Diosma ovata, foliis alternis, oppositis, odoris, supra glabris, infra
punctatis, patentibus: floribus plerumque duobus, axillaribus, in medio
ramulorum, albis. Caulis erectus: ramis simplicibus.
Diosma with oval leaves, alternate, opposite, and full of scent, smooth
above, dotted beneath, and spreading. Flowers grow mostly two together
from the axillæ of the leaves, about the middle of the branches, and are
white. Stem upright. Branches simple.
REFERENCE TO THE PLATE.
1. The empalement.
2. Seed-buds, honey-cups, chives, and pointal.
3. A petal.
4. A chive magnified.
5. Seed-bud and pointal.
Among the scented foliage characteristic of so many of the Diosmas the
present species is by far the most powerful, and is the plant called Buku, so
much used by the Hottentots, at the Cape of Good Hope, by way of perfume.
They mix it with grease, and anoint themselves with it so profusely that a
stranger can scarcely endure the effluvia of it. The D. serrata also possesses a
similar scent, and is most likely used occasionally for the same purpose by
the natives. Its scent, when rubbed, remains a long time, and by some is
thought very pleasant, by others as disagreeable: a difference of opinion in
general attending all very strong perfumes. The foliage has a very neat
appearance, and the clear white flowers give it a lively aspect. Like several
others of the genus, it blooms in winter and spring. Our figure was made
from the Clapham collection.
PLATE CCCCLXV.

P R O T E A D I VA R I C ATA .
Straddling-leaved Protea.
CLASS IV. ORDER I.

TETRANDRIA MONOGYNIA. Four Chives. One Pointal.


ESSENTIAL GENERIC CHARACTER.
Corolla 4-fida, seu 4-petala. Antheræ lineares, petalis infra apices
insertæ. Calyx proprius, nullus. Sem. solitaria.
Blossom four-cleft, or of four petals. Tips linear, inserted into the petals
below the points. Cup proper, none. Seeds solitary.
SPECIFIC CHARACTER.
Protea divaricata, foliis multifidis, longis, linearibus, teretibus,
patentibus: floribus glomeratis, luteis.
Protea with straddling leaves, many-cleft, long, linear, round, and
spreading. Flowers grow in close round heads of a yellow colour.
REFERENCE TO THE PLATE.
1. A flower.
2. A chive magnified.
3. Seed-bud and pointal.
This very distinct species of Protea we have not seen in any other collection
than that of G. Hibbert, esq. nor is it as yet amongst the numerous fine dried
specimens in the herbarium of A. B. Lambert, esq. and certainly may be
considered at present as a rare plant. From the firm luxuriance of the foliage,
and woody character of its stem, we should be inclined to regard it as a plant
not difficult to preserve; and considering the abundance of its leaves, the
flowers are comparatively few: and very likely this circumstance may best
account for its present scarcity; for, amongst the various beauties of this
extensive tribe, numerous flowers, or speciosity of appearance, are the best
recommendations to particular attention.

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