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POLÍTICAS

PÚBLICAS DE
ALIMENTAÇÃO
E NUTRIÇÃO

Andrei Valerio Paiva


O65p Ordonez, Ana Manuela.
Políticas públicas de alimentação e nutrição [recurso
eletrônico] / Ana Manuela Ordonez, Andrei Valerio Paiva.
– 2. ed. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.

Editado como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-029-0

1. Saúde pública. 2. Nutrição – Políticas públicas. 3.


Alimentação – Assistência em saúde. I. Paiva, Andrei
Valerio. II. Título.
CDU 614:612.39

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Humanização da assistência
em saúde no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Analisar a política nacional de humanização (PNH).
„„ Reconhecer os princípios e diretrizes da PNH.
„„ Identificar a importância da humanização na constituição dos ser-
viços de saúde.

Introdução
Neste texto, você estudará a temática de Humanização da Assistência
em Saúde a partir, principalmente, da política nacional de humaniza-
ção, lançada em 2003 pelo Ministério da Saúde e republicada 10 anos
depois. Assim, você aprenderá os princípios e as diretrizes da política,
além da aplicação na prática e da importância da humanização na
atenção e gestão dos serviços.

Política nacional de humanização (PNH)


A humanização é hoje um tema frequente nos serviços públicos de saúde, nos
textos oficiais e nas publicações da área da saúde coletiva. O termo “huma-
nização” rememora movimentos de recuperação de valores humanos esque-
cidos em tempos de frouxidão ética. Em nosso horizonte histórico, a humani-
zação desponta no momento em que a sociedade pós-moderna passa por uma
revisão de valores e atitudes.
Os princípios da PNH são totalmente de inspiração humanista: univer-
salidade, integralidade, equidade e participação social. Levados às últimas
consequências, definem a humanização em qualquer concepção, em qualquer
instância de atenção ou gestão. Esse caráter faz do SUS, hoje, o principal sis-
tema de inclusão social deste país.
A humanização da atenção no SUS envolve que você compreenda que o
trabalho em saúde deve transformar as necessidades humanas e fortalecer a
vida. Acolher e garantir o acesso, estabelecer atenção e cuidado integral, com

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equidade. Humanizar é compreender a necessidade do dissenso e do conflito


para que a produção do mundo e dos seus valores seja coletiva e pública.
O desenvolvimento das ações propostas pela Política de Humanização da As-
sistência à Saúde (PHAS) tem como princípios fundamentais o respeito às espe-
cificidades de cada instituição, estimula a cooperação entre as mesmas pela troca
de experiências produzidas, que visam a qualificação do serviço público de saúde.
Anos depois de sua criação, o SUS é o sistema idealizado para os anseios
de saúde do povo brasileiro, mas é também o sistema de saúde público que
apresenta as contradições e heterogeneidades que caracterizam nossa socie-
dade: serviços modernos e de ponta tecnológica ao lado de serviços sucate-
ados nos quais estão presentes a cronificação do modo obsoleto de operar o
serviço público, a burocratização e os fenômenos que caracterizam situações
de violência institucional.
No ano 2000, o Ministério da Saúde, sensível às manifestações setoriais
e às diversas iniciativas locais de humanização das práticas de saúde, criou
o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH).
Esse programa estimulava a disseminação das ideias da humanização, os diag-
nósticos situacionais e a promoção de ações humanizadoras de acordo com as
realidades locais. Inovador e bem construído por um grupo de psicanalistas, o
programa tinha forte ênfase na transformação das relações interpessoais pelo
aprofundamento da compreensão dos fenômenos no campo das subjetividades.
Em 2003, o Ministério da Saúde revisou o PNHAH e lançou a política
nacional de humanização (PNH) que mudou o patamar de alcance da huma-
nização dos hospitais para toda a rede SUS e definiu uma política cujo foco
passou a ser principalmente os processos de gestão e de trabalho. A PNH é
um conjunto de diretrizes transversais que norteiam toda atividade institucional
que envolva usuários ou profissionais da saúde, em qualquer instância de efetu-
ação. Nessa vertente, a humanização focaliza os processos de trabalho e os mo-
delos de gestão e planejamento, interferindo na vida institucional. O resultado
esperado é a valorização das pessoas em todas as práticas de atenção e gestão,
a integração, o compromisso e a responsabilidade de todos com o bem comum.
Várias ações e indicadores de validação e monitoramento foram desen-
volvidos pelo Ministério da Saúde para estimular e acompanhar os processos
de humanização não só nos hospitais, mas nos três níveis de atenção à saúde
no SUS. A estratégia de criação e fortalecimento dos Grupos de Trabalho de
Humanização nas instituições (grupos formados por pessoas ligadas ao tema
e aos gestores dos serviços de saúde, com o papel de implementar a PNH em
sua unidade) mostrou-se exitosa em vários locais, acumulando muitos bons

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Humanização da assistência em saúde no Brasil 109

exemplos de trabalho na área. Entretanto, a humanização só se torna reali-


dade em uma instituição quando seus gestores fazem dela mais que retórica,
um modelo de fazer gestão. Boas intenções e programas limitados a ações
circunstanciais não sustentam a humanização como processo transformador.
Os instrumentos que de fato asseguram esse processo são a informação, a
educação permanente e a gestão participativa.

Os Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) são espaços coletivos organizados, par-


ticipativos e democráticos, que se destinam a instaurar uma política institucional de
resgate da humanização na assistência à saúde, em benefício dos usuários e dos pro-
fissionais de saúde? Esses grupos devem ter uma participação equitativa de represen-
tantes das diferentes categorias profissionais, campos disciplinares e graus hierárquicos
da instituição: representantes da direção/gestão, da chefia dos setores e serviços, dos
médicos, técnicos (assistentes sociais, psicólogos, agentes da enfermagem, encar-
regados técnico-administrativos) e pessoal de apoio (segurança, limpeza, cozinha).
Atribuições: liderar o processo de humanização; traçar estratégias de comunicação/
integração entre setores; avaliar projetos em desenvolvimento ou a serem desenvol-
vidos de acordo com os parâmetros de humanização propostos; promover fluxo de
propostas e deliberações; apoiar e divulgar as iniciativas de humanização em desen-
volvimento; estimular a participação da comunidade e de entidades da sociedade civil
nas ações de humanização dos serviços; promover a interação com o gestor municipal
(agenda de ações); estabelecer os padrões de atendimento ao usuário; coordenar o vo-
luntariado; e participar dos encontros de humanização. Fonte: Rio Grande do Sul (2005).

Pensar a humanização significa menos o que fazer e mais como fazer.


Embora importantes, as ações ditas humanizadoras não necessariamente de-
terminam um caráter humanizado ao serviço como um todo. São os princípios
conceituais que definem a humanização como a base para toda e qualquer
atividade. O grande desafio é criar uma nova cultura institucional na qual se
façam presentes os valores da humanização.
Humanizar a assistência à saúde é dar voz não só ao usuário como também
ao profissional de saúde, de forma que ambos participem de uma rede de
diálogo. O compromisso com a pessoa que sofre pode ter as mais diversas
motivações, assim como o compromisso com e entre os cuidadores. Cabe a
essa rede promover as ações, campanhas, programas e políticas assistenciais,
tendo como base fundamentalmente a ética, o respeito, o reconhecimento

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mútuo, a solidariedade e responsabilidade. Partindo dessa perspectiva, a Po-


lítica de Humanização da assistência à Saúde aponta diferentes parâmetros
para a humanização da assistência hospitalar em três grandes áreas: acolhi-
mento e atendimento dos usuários; trabalho dos profissionais; e lógicas de
gestão e gerência. Esses parâmetros podem servir para o trabalho de análise,
reflexão e elaboração de ações, campanhas, programas e políticas assisten-
ciais que orientem um plano de humanização.
A expectativa da PHAS é criar uma nova cultura de humanização, que
valoriza as ações humanizadas já desenvolvidas, criando uma filosofia orga-
nizacional que promova a conjugação cotidiana do verbo humanizar.
Uma cultura de humanização necessita tempo para ser construída, impõe
a participação de todos os atores do sistema, determina a ruptura de para-
digmas. Humanizar é verbo pessoal e intransferível, pois ninguém pode ser
humano em nosso lugar. E é multiplicável, pois é contagiante.

A Política de Humanização da Assistência à Saúde envolve uma série de dimensões


organizacionais, institucionais, profissionais e pessoais? Uma delas é a incorporação
consistente do trabalho voluntário. Como expressão de solidariedade e participação
cidadã, o voluntariado é uma das formas mais efetivas de aliança da instituição com
uma comunidade que incorpora e assume sua parcela de responsabilidade pela mu-
dança na cultura de atendimento à saúde. Não pode, portanto, reduzir-se a impulsos
de generosidade desorganizada ou substituir vínculos formais de trabalho em quadros
sociais de desemprego. Quando é desenvolvido de forma organizada, com critérios
e objetivos bem claros, o trabalho voluntário é uma fonte significativa de recursos e
competências qualificadas. Afinal, ele conta com a participação direta da comunidade
e pode responder com mais visibilidade e credibilidade às necessidades e expectativas
dos usuários. Integrada em um processo de humanização, a ação voluntária implica
uma tomada de consciência de si mesmo e uma transformação pessoal inseparáveis
de uma mudança na compreensão do mundo e de uma transformação mais ampla da
sociedade. Fonte: Rio Grande do Sul (2005).

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Humanização da assistência em saúde no Brasil 111

Princípios e diretrizes da humanização


Hoje, várias sondagens conceituais, manifestações ideológicas, construções
teóricas e técnicas e programas temáticos fazem da humanização um insti-
gante campo de inovação da produção teórica e prática na área da saúde. Sob
vários olhares, a humanização pode ser compreendida como:

„„ princípio de conduta de base humanista e ética;


„„ movimento contra a violência institucional na área da saúde;
„„ política pública para a atenção e gestão no SUS;
„„ metodologia auxiliar para a gestão participativa;
„„ tecnologia do cuidado na assistência à saúde.

A humanização, fundamentada no respeito e valorização da pessoa hu-


mana, constitui um processo que visa à transformação da cultura institucional
por meio da construção coletiva de compromissos éticos e de métodos para as
ações de atenção à saúde e de gestão dos serviços. Esse conceito amplo abriga
as diversas visões da humanização já citadas, na forma de abordagens comple-
mentares que permitem a realização dos propósitos para os quais aponta sua
definição. A humanização busca a compreensão dos problemas e a obtenção de
soluções compartilhadas. Participação, autonomia, responsabilidade e atitude
solidária caracterizam esse modo de fazer saúde, cuja essência é a aliança da
competência técnica e tecnológica com a competência ética e relacional.
Dessa forma, destacamos os princípios norteadores da política de huma-
nização:

„„ valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção


e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos de todos os
cidadãos, independentemente de gênero, etnia, raça e orientação sexual;
„„ fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a
transversalidade e a grupalidade;
„„ apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com
a produção de saúde e com a produção de sujeitos;
„„ construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos impli-
cados na rede do SUS;
„„ corresponsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e atenção;
„„ fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as
instâncias gestoras do SUS;

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„„ compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização


dos profissionais de saúde, estimulando processos de educação permanente.

Com a implementação da política nacional de humanização (PNH), traba-


lhamos para consolidar quatro marcas específicas:

„„ serão reduzidas as filas e o tempo de espera com ampliação do acesso e


atendimento acolhedor e resolutivo baseados em critérios de risco;
„„ todo usuário do SUS saberá quem são os profissionais que cuidam de sua
saúde e os serviços de saúde se responsabilizarão por sua referência territorial;
„„ as unidades de saúde garantirão as informações ao usuário, o acompa-
nhamento de pessoas de sua rede social (de livre escolha) e os direitos do
código dos usuários do SUS;
„„ as unidades de saúde garantirão gestão participativa aos seus trabalha-
dores e usuários assim como educação permanente aos trabalhadores.

A implementação da PNH pressupõe vários eixos de ação que objetivam a


institucionalização, difusão dessa estratégia e, principalmente, a apropriação
de seus resultados pela sociedade.

„„ No eixo das instituições do SUS, pretende-se que a PNH faça parte do


Plano Nacional, dos Planos Estaduais e Municipais dos vários governos,
sendo pactuada na agenda de saúde (agenda de compromissos) pelos ges-
tores e pelo Conselho de Saúde correspondente.
„„ No eixo da gestão do trabalho, propõe-se a promoção de ações que as-
segurem a participação dos trabalhadores nos processos de discussão e
decisão, fortalecendo e valorizando os trabalhadores, sua motivação, o
autodesenvolvimento e o crescimento profissional.
„„ No eixo do financiamento, propõe-se a integração de recursos vinculados
a programas específicos de humanização e outros recursos de subsídio à
atenção, unificando-os e repassando-os fundo a fundo mediante o com-
promisso dos gestores com a PNH.
„„ No eixo da atenção, propõe-se uma política incentivadora do protago-
nismo dos sujeitos e da ampliação da atenção integral à saúde, promo-
vendo a intersetorialidade.
„„ No eixo da educação permanente, indica-se que a PNH componha o conteúdo
profissionalizante na graduação, pós-graduação e extensão em saúde, vincu-
lando-a aos Polos de Educação Permanente e às instituições de formação.
„„ No eixo da informação/comunicação, indica-se por meio de ação de mídia
e discurso social amplo a inclusão da PNH no debate da saúde.

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Humanização da assistência em saúde no Brasil 113

„„ No eixo da gestão da PNH, indica-se o acompanhamento e avaliação sis-


temáticos das ações realizadas, estimulando a pesquisa relacionada às ne-
cessidades do SUS na perspectiva da humanização.

Para finalizar, destacamos as Diretrizes Gerais para a Implementação da


PNH:

„„ Ampliar o diálogo entre os profissionais, entre profissionais e população,


entre profissionais e administração, promovendo a gestão participativa.
„„ Implantar, estimular e fortalecer Grupos de Trabalho de Humanização
com plano de trabalho definido.
„„ Estimular práticas resolutivas, racionalizar e adequar o uso de medica-
mentos, eliminando ações intervencionistas desnecessárias.
„„ Reforçar o conceito de clínica ampliada: compromisso com o sujeito e seu
coletivo, estímulo a diferentes práticas terapêuticas e corresponsabilidade
de gestores, trabalhadores e usuários no processo de produção de saúde.
„„ Sensibilizar as equipes de saúde ao problema da violência intrafamiliar
(criança, mulher e idoso) e à questão dos preconceitos (sexual, racial, reli-
gioso e outros) na hora da recepção e dos encaminhamentos.
„„ Adequar os serviços ao ambiente e à cultura local, respeitando a privaci-
dade e promovendo a ambiência acolhedora e confortável.
„„ Viabilizar participação dos trabalhadores nas unidades de saúde através
de colegiados gestores.

Humanização em gestão e serviços de saúde


Com a PNH, a humanização alcança os processos de gestão e organização
do trabalho nos serviços de saúde, e a gestão participativa desponta como
modelo eleito para a realização dessa política. Quando você fala em gestão
participativa ou cogestão, está se referindo ao modo de administrar que não
se limita à linha superior de comando e inclui o pensar e o fazer coletivos.
As estratégias para a gestão participativa nos serviços de saúde devem ser
estudadas caso a caso, partindo do conhecimento das realidades institucionais
específicas, mas algumas ações que a propiciam em qualquer contexto são:

„„ a criação de espaços de discussão para a contextualização de impasses,


sofrimentos, angústias e desgastes a que se submetem os profissionais de
saúde no dia a dia pela natureza de seu trabalho;

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„„ o pensar e decidir coletivamente sobre a organização do trabalho, envolvendo


gestores, usuários e trabalhadores em grupos com diversas formações;
„„ a criação de equipes transdisciplinares efetivas que sustentem a diversi-
dade dos vários discursos presentes na instituição, promovendo o aprovei-
tamento da inteligência coletiva.

De modo mais específico, a gestão participativa se dá por meio da criação


de instâncias de participação nas quais você precisa considerar e estabelecer
consensos entre desejos e interesses diversos, como, por exemplo:

„„ o conselho gestor de saúde, que aglutina gestores, trabalhadores e usuários


para decidir os rumos institucionais;
„„ a ouvidoria, que faz a mediação entre usuários e instituição para a solução
de problemas particulares;
„„ as equipes de referência, que se compõem de profissionais que juntos
acompanham pacientes comuns ao grupo;
„„ os grupos de trabalho de humanização, que fazem a escuta institucional e
criam dispositivos comunicacionais; e
„„ as visitas abertas, que propiciam as parcerias com familiares para o cui-
dado de seus parentes.

Particularmente importantes são as estratégias, metodologias e ferra-


mentas que se destinam ao desenvolvimento do profissional da área da saúde.
Acreditamos que a possibilidade de promover atendimentos verdadeiramente
humanizados requer, necessariamente, a educação dos profissionais da saúde
dentro dos princípios da humanização e o desenvolvimento de ações institu-
cionais que visem ao cuidado e à atenção às situações de sofrimento e estresse
decorrentes do próprio trabalho e ambiente em que se dão as práticas de saúde.
Nessa direção, a Educação Permanente é uma estratégia para o exercício da
gestão participativa que visa à transformação das práticas de formação, de
atenção e de gestão na área da saúde.
Com base na aprendizagem significativa, a educação permanente cons-
trói os saberes a partir das experiências das pessoas. Nas rodas de conversa,
oficinas e reuniões, você discute os problemas, propõe soluções gerenciais,
mudanças na organização do trabalho e define ações educativas de acordo
com as necessidades observadas. Dessa maneira, você transforma a gestão
participativa no caminho para a humanização dos serviços. Entretanto, como
há poucos gestores com formação técnica para essa metodologia, ainda são
raras as experiências dessa forma inovadora de fazer gestão de pessoas.

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Humanização da assistência em saúde no Brasil 115

O tecnicismo da prática atual descartou os aspectos humanísticos no cui-


dado à saúde. Estudos mostram que os recursos tecnológicos, a visão centrada
nos aspectos biológicos da doença e a organização do trabalho médico para o
atendimento de massa ampliaram o acesso da população aos bens e serviços de
saúde, mas, em compensação, criaram um abismo entre o médico e o paciente.
A tecnologia, que é determinante para aumentar a sobrevida humana e para a
diminuição drástica do sofrimento e dos males que acometem a saúde, tornou-
-se um intermediário que afasta os profissionais do contato mais próximo e
mais demorado com o paciente. A tecnologia agiliza o atendimento e aumenta a
produtividade contada em números, mas também fascina e captura o interesse
dos profissionais da saúde, particularmente dos médicos. Os pacientes passam,
então, à condição de objetos de estudo e manipulação na construção do saber
e da prática “científica”. E os profissionais, à condição de peças e engrenagens
que fazem funcionar a máquina institucional. O tecnicismo deixa de lado vivên-
cias importantes para a realização do cuidado à saúde.
Já no modelo psicossocial você agrega saberes de teorias compreensivas
sobre o vínculo capazes de desvendar atitudes e emoções que facilitam ou
impedem o bom diagnóstico e a aliança terapêutica. Por exemplo, a psica-
nálise ensina que, ao adoecer, a pessoa vive um processo que chamamos de
regressão narcísica, que, em graus variáveis de acordo com a história pessoal,
a personalidade e a gravidade de sua doença, a torna mais frágil, mais sensível
e mais dependente daquele que lhe presta cuidados. É como se o paciente,
inconscientemente, voltasse aos tempos em que era cuidado pela mãe e dela
dependia para sobreviver.
As mudanças sociais e culturais que atravessaram os tempos transfor-
maram a face da medicina e das práticas de saúde, chegando ao contexto
aqui discutido e às implicações para o surgimento da humanização na saúde.
Começando por ações isoladas, pontuais, amadoras, a humanização foi de-
senvolvendo conceitos e tecnologias para sua aplicação tanto no campo das
relações profissionais-pacientes, quanto no campo da gestão, chegando à
forma de política pública na saúde. Entretanto, a falta de compreensão mais
profunda da dimensão psicossocial que envolve os processos saúde-doença, a
falta de compromisso com o resultado do trabalho, a falta de decisões compar-
tilhadas com pacientes, de projetos assistenciais discutidos em equipe multi-
disciplinar, e mesmo de gestão participativa nos serviços de saúde, tornam a
humanização do cuidado um projeto ideal ainda bem distante da realidade dos
serviços de saúde.

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116 Políticas públicas de alimentação e nutrição

1. Assinale a alternativa CORRETA. A 3. Um dos princípios da política na-


política nacional de humanização cional de humanização é a transver-
(PNH) foi criada em 2003 e é definida salidade. Tal princípio trata-se de:
como: a) Reflexões e práticas que per-
a) Conjunto de métodos para tornar meiam todos os programas do
o atendimento mais humano. sistema, que propiciam a melhor
b) Estratégias humanizadas de da comunicação entre pessoas do
assistir a população. grupo e demais grupos.
c) Estratégias para aproximar os b) Cogestão dos serviços (usuá-
princípios dos SUS da realidade rios, trabalhadores e gestores),
dos serviços de saúde. levando a gestão a interferir
d) Uma releitura dos princípios do diretamente na atenção.
SUS. c) Empoderamento das pessoas
e) Estratégias para colocar em envolvidas na implementação das
prática os princípios dos SUS à mudanças.
realidade dos serviços de saúde. d) Participação das três esferas de
2. Uma das diretrizes da política nacional governo nas decisões do SUS.
de atenção básica é a ambiência. e) Momento de reconhecer as neces-
Assinale a alternativa INCORRETA. sidades do usuário, classificando o
a) A ambiência é o tratamento dado risco e qualificando o acesso.
à estrutura física dos serviços de 4. Os serviços devem estar em conso-
saúde, de modo a serem am- nância com a PNH. Além de prin-
bientes saudáveis e confortáveis. cípios e diretrizes, algumas marcas
b) Ambiência é o modo como é efetivam a humanização do sistema.
organizado o serviço quanto aos Assinale a alternativa INCORRETA
ambientes, exclusivamente as salas sobre as marcas da PNH.
de procedimento e os consultórios. a) Redução de tempo de espera e
c) Faz parte da ambiência que os es- das filas.
paços mantenham a privacidade b) O usuário do SUS poderá ter livre
dos usuários. acesso a todas as reuniões da
d) A ambiência é uma diretriz da unidade.
PNH que prevê que os serviços de c) Atendimento acolhedor com
saúde sejam também espaços de acesso ampliado e qualificado,
“estar”, ou seja, pontos referenciais baseado em classificação de risco.
para encontros reflexivos. d) Todo usuário do sistema saberá
e) Nesta diretriz, faz parte a dife- quem é a equipe que lhe assiste
renciação de espaços de espera e os serviços de referência da sua
para atendimentos especiais e região/unidade.
movimentação de usuários e e) Os usuários e trabalhadores terão
profissionais. participação ativa nas decisões de

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Humanização da assistência em saúde no Brasil 117

planejamento e gestão. de planejamento da unidade e é


5. Pedro é fisioterapeuta do Núcleo responsável pela ginástica laboral
de Apoio à Saúde da Família da UBS da equipe. Qual diretriz da PNH você
Jardim das Camélias. Durante o ano, pode identificar nessas ações?
ele participou de dois cursos de qua- a) Cogestão e gestão participativa.
lificação, sendo um sobre prevenção b) Clínica ampliada e compartilhada.
e enfrentamento das violências e o c) Ambiência.
outro sobre grupos educativos. Além d) Valorização do trabalhador.
disso, sempre participa das reuniões e) Acolhimento.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional


de Humanização. Humaniza SUS: política nacional de humanização: documento base
para gestores e trabalhadores do SUS. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Saúde. Manual da humanização. Porto Alegre, 2005.
Disponível em: <http://www.humanizasaude.rs.gov.br/site/artigos/manual/>. Acesso
em: 24 jun. 2016.

RIOS, I. C. Humanização: a essência da ação técnica e ética nas práticas de saúde. Revista
Brasileira de Educação Médica, São Paulo, v. 33, n. 2, p. 253-261, 2009.

Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão de Trabalho e da Educação na Saú-
de. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. A educação permanente entra na
roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. 2.
ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2005. (Série C. Projetos, programas e relatórios)
(Educação na Saúde).

REIS, A. O. A.; MARAZINA, I.; GALLO, P. R. A humanização na saúde como instância liber-
tadora. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 3, p. 36-43, set./dez. 2004.

RIOS, I. C. et al. A integração das disciplinas de humanidades médicas na Faculdade de


Medicina da USP – um caminho para o ensino. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio
de Janeiro, v. 32, n. 1, p. 112-121, jan./mar. 2008.

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