Trabalho em Condição Análoga À de Escravo
Trabalho em Condição Análoga À de Escravo
Trabalho em Condição Análoga À de Escravo
1. Introdução
Contudo, existe um grande abismo entre o estatuído no texto constitucional e o que efetivamente
ocorre na prática. Um bom exemplo é o elevado número de trabalhadores encontrados laborando em
condições análogas à de escravo, em vários seguimentos produtivos, com destaque especial para o
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
meio rural.
No que tange às medidas adotadas internamente pelo Brasil na luta contra o trabalho em condição
análoga à de escravo, destacamos a criação de órgãos administrativos com atribuições específicas,
ligadas à fiscalização do trabalho, no âmbito do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), bem
como a criação, na Câmara dos Deputados, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) – a
"CPI do Trabalho Escravo" –, constituída com a finalidade de apurar e investigar inúmeras denúncias
da prática do crime de redução à condição análoga à de escravo.
Nesta toada, também analisamos o tipo penal do referido crime de redução à condição análoga à de
escravo, constante do art. 149 do CP (LGL\1940\2), enfatizando, inclusive, a mudança de redação
ocorrida em seu texto, o que o tornou muito mais claro quanto às condutas criminosas nele
enquadráveis.
Para completar o exame dos principais dispositivos normativos brasileiros de combate a estas
práticas, tratamos da proposta de alteração no texto do art. 243 da CF/1988 (LGL\1988\3), por meio
da PEC 57-A/1999, atualmente em trâmite no Senado Federal. Embora a Proposta de Emenda à
Constituição em tela não seja, propriamente, um dispositivo normativo de que dispõe o Brasil para a
repressão dos que se beneficiam do trabalho forçado alheio, até porque, para assim se caracterizar,
ela ainda precisará convolar-se em norma constitucional, partimos, aqui, do pressuposto de que sua
aprovação importaria em um significativo incremento na luta contra o trabalho análogo ao de
escravo, tendo em vista a penalidade que, por meio dela, ingressaria no ordenamento jurídico, de
perdimento das terras em que se praticasse aquela forma de trabalho, da mesma maneira como já
se prevê com relação às terras utilizadas para cultivo ilegal de plantas psicotrópicas.
Por derradeiro, ainda aferimos, no presente ensaio, a estreita correlação que, em nossa opinião,
existe entre a flexibilização trabalhista de fato desregulatória e o trabalho em condição análoga à de
escravo. Tudo com o objetivo de firmarmos posicionamento crítico diante do fenômeno da
flexibilização como prática de desregulamentação, operada todos os dias e por todos os setores da
economia, com o objetivo egoísta de precarizar, ou mesmo, de aniquilar por completo os direitos dos
trabalhadores.
Passados mais de 100 anos da abolição da escravatura, com a assinatura da Lei Áurea pela
Princesa Isabel em 1888, o Brasil, em que pese atualmente ser destaque no meio internacional pelo
combate a essa prática, ainda consta na lista dos países que se utilizam de mão de obra escrava.1
O Prof. Márcio Túlio Viana afirma que "mais do que simples anomalia, o fenômeno do trabalho
escravo aponta para todo um corpo doente",2 sinalizando que o trabalho realizado nessas condições
não é um problema isolado de determinado segmento social, seja produtivo ou econômico, mas sim
de toda a sociedade.
Mesmo se utilizando de um modelo com práticas e mecanismos diferentes dos empregados até o
século XIX,3 infelizmente, esse fenômeno ainda é recorrente não só no Brasil, como no mundo todo.
Sobre as diferenças entre a exploração praticada tempos atrás e a que acontece nos dias de hoje no
País, importante a lição de José Cláudio Monteiro de Brito Filho:
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
"Não é na prática da escravidão legalizada no Brasil, então, que se deve buscar elementos para
caracterizar o trabalho escravo atual, mas na antiguidade, quando era crime reduzir um homem livre
à condição semelhante à de escravo.
Isso porque é preciso de uma vez por todas compreender que, embora ambas as práticas sejam
completamente reprováveis, a escravidão legalizada no Brasil, primeiro dos indígenas e dos negros
e, depois somente dos negros, porque consentida pelo Direito, dirigia-se a pessoas humanas, mas
que não eram livres, sendo consideradas como bens, o que é distinto do momento atual, em que o
Direito reprova a conduta, que é projetada, ao arrepio do ordenamento jurídico, contra seres
humanos livres, à semelhança do plágio, na Roma Antiga."4
Como se vê, a conduta de outrora, ainda que igualmente reprovável, era autorizada pelo
ordenamento jurídico vigente à época. Hoje, no entanto, o ordenamento jurídico não mais se
coaduna com tal conduta.
Cite-se, a título de exemplo, a Convenção 29 da OIT, de 1930, ratificada pelo Brasil por meio do Dec.
41.721/1957, também conhecida como a "Convenção sobre o Trabalho Forçado ou Obrigatório".
Em seu art. 2.º, a Convenção define o trabalho forçado ou obrigatório como sendo "todo o trabalho
ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma pena qualquer e para a qual não se tenha
oferecido voluntariamente". Por meio do conceito explicitado, é possível perceber dois elementos
principais para a caracterização jurídica do trabalho forçado ou obrigatório, tais como o fato do
trabalho ser executado involuntariamente e sob ameaça de uma pena qualquer.
Outro exemplo é a Convenção 105 da OIT, de 1957, ratificada pelo Brasil por meio do Dec.
58.822/1965, também conhecida como a "Convenção sobre a Abolição do Trabalho Forçado".
Ensina Débora Maria Neves que referida Convenção "dispõe, de forma semelhante ao previsto na
Convenção 29, que os países deverão adotar medidas para assegurar a imediata e completa
abolição do trabalho forçado ou obrigatório, e dele não fazer uso".5
Cumpre destacar que referida Convenção, reconhece como sendo trabalho forçado o praticado em
cinco casos específicos/circunstâncias: (1) como forma de coerção ou educação política, castigo por
expressar determinadas opiniões políticas; (2) para fins de desenvolvimento econômico; (3) como
meio de disciplina no trabalho; (4) como castigo, por haver participado de greve; e (5) como forma de
discriminação racial, social, nacional ou religiosa.
Interessante notar que, no que concerne às citadas Convenções, a OIT não se utiliza da terminologia
"trabalho escravo", preferindo valer-se das expressões "trabalho forçado ou obrigatório",6 para não
haver qualquer conexão com a escravidão negra ou indígena praticada até o século XIX, que
possuía outras formas maléficas de coisificar o homem, associadas ao momento histórico em que
esse fenômeno ocorreu. Nesse sentido, Palo Neto:
"Preocupada com uma interpretação suficientemente abrangente, a OIT não utiliza o termo trabalho
escravo para que não se confunda com as condições de exploração havidas até o século 19.
Destaca-se que no conceito de trabalhos forçados utilizados pela OIT, estão incluídas várias formas
de exploração do homem (...)."7
Além da OIT, outros órgãos internacionais também se preocupam com a luta contra o trabalho
análogo ao de escravo. Destacamos, aqui, a Organização das Nações Unidas, que, em 1926, editou
sua "Convenção sobre a Escravatura", emendada por seu Protocolo Adicional de 1953, bem como a
"Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura", em 1956. Todos os citados instrumentos
foram ratificados pelo Brasil por meio do Dec. 58.563/1966.
Dita Convenção das Nações Unidas "define a escravidão como 'o estado ou condição de um
indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, os atributos do direito de propriedade’".8
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Sua Convenção Suplementar ainda "dispõe sobre a definição da servidão por dívida, uma das
formas atuais de escravização dos trabalhadores, e veda o tráfico internacional de escravos".9
Podemos citar, por fim, dentre os instrumentos internacionais de maior repercussão no combate ao
trabalho realizado em condição análoga à de escravo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos
que, em seu art. 4.º, proíbe qualquer tipo de escravidão.
Mesmo tendo ratificado todos aqueles instrumentos internacionais,10 apenas recentemente, por volta
do ano de 1995, é que o Brasil, efetivamente, deu início ao combate ao trabalho análogo ao de
escravo, já que, até então, suas ações no sentido de evitar o trabalho executado em tais condições
se davam de forma desorganizada e pontual.11
Foi precisamente neste ano de 1995 que o Brasil reconheceu publicamente a existência de trabalho
escravo dentro do seu território e passou a tomar providências mais efetivas ao seu combate. Tudo
em razão de uma denúncia junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, aduzida em
22.02.1994, pela Comissão Pastoral da Terra e por algumas organizações não governamentais,
tendo em vista a omissão do Estado brasileiro em cumprir com suas obrigações de proteção aos
direitos humanos, de proteção judicial e de segurança no trabalho. É o que nos relatam Laís Abramo
e Luiz Machado:
"Em setembro de 1989, José Pereira, com 17 anos, e um companheiro de trabalho, apelidado de
'Paraná’, tentaram escapar de pistoleiros que impediam a saída de trabalhadores rurais da Fazenda
Espírito Santo, cidade de Sapucaia, sul do Pará, Brasil. Na fazenda, eles e outros 60 trabalhadores
haviam sido forçados a trabalhar sem remuneração e em condições desumanas e ilegais. Após a
fuga, foram emboscados por funcionários da propriedade que, com tiros de fuzil, mataram 'Paraná’ e
acertaram a mão e o rosto de José Pereira. Caído de bruços e fingindo-se de morto, ele e o corpo do
companheiro foram enrolados em uma lona, jogados atrás de uma caminhonete e abandonados na
Rodovia PA-150, a vinte quilômetros da cena do crime. Na fazenda mais próxima, José Pereira pediu
ajuda e foi encaminhado a um hospital."12
Durante o período em que ficou hospitalizado, José Pereira denunciou à Polícia Federal as
condições de trabalho por ele vivenciadas na Fazenda Espírito Santo, de onde a Polícia regatou 60
outros trabalhadores que realizavam trabalho em condição análoga à de escravo.
"Por se tratar de um caso exemplar de omissão do Estado Brasileiro em cumprir com suas
obrigações de proteção aos direitos humanos, de proteção judicial e de segurança no trabalho, a
Comissão Pastoral da Terra (CPT), bem como as organizações não governamentais Center for
Justice and International Law (CEJIL – Centro pela Justiça e o Direito Internacional) e Human Rights
Watch apresentaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da
Organização dos Estados Americanos (OEA) em 22.02.1994 (...).
Em 1995 o governo brasileiro reconheceu oficialmente a existência, em seu território, dessa grave
violação dos direitos humanos e dos direitos fundamentais do trabalho. Esse foi um passo
fundamental para o início da constituição de mecanismos institucionais, políticas e programas que
começassem a enfrentar efetivamente a questão."13
A partir de então, as principais ações na esfera nacional foram a criação, no âmbito do Ministério do
Trabalho e Emprego, do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) e do Grupo Executivo de
Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf), no mesmo ano de 1995. Posteriormente, em 2003, o
Gertraf foi substituído pela Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) e,
em março daquele ano, foi instituído o Primeiro Plano Nacional que continha 76 metas para o
combate a essa repudiável prática de trabalho.
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Desde a criação da "lista suja", atitudes importantes vêm sendo tomadas contra os empregadores
que nela constam. Dentre elas citamos o afastamento de empresas, dos produtos e serviços
fornecidos por aqueles que foram autuados pela fiscalização do Ministério do Trabalho, a restrição
da concessão de créditos por bancos estatais e privados a pessoas físicas e jurídicas cujos nomes
constem do Cadastro de Empregadores Infratores e o engajamento de parte do setor privado em
torno de um pacto empresarial – o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo –, por meio
do qual firma-se o compromisso de cortar relações econômicas com escravagistas.14
Finalmente, em 2008, ainda no âmbito do Ministério do Trabalho, foi lançado o Segundo Plano
Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, após avalição do primeiro Plano pela Conatrae.15
Dentre as medidas implementadas pelo Brasil para a erradicação do trabalho escravo, destacamos,
também, a criação, em 09.02.2012, na Câmara dos Deputados, da Comissão Parlamentar de
Inquérito destinada a investigar a exploração do trabalho escravo ou análogo ao de escravo, em
atividades rurais e urbanas em todo o território nacional – a "CPI do Trabalho Escravo". Durante o
seu funcionamento, inúmeros depoimentos foram colhidos com a finalidade de esclarecer denúncias
sobre a ocorrência de trabalho análogo ao de escravo em diversos setores da economia brasileira.
Outras tantas audiências públicas foram realizadas com vistas a ouvir várias autoridades de
organismos governamentais e não governamentais, além de estudiosos, convidados a esclarecer
dúvidas a respeito desde tipo de trabalho.
Em razão da complexidade do seu objeto, que exigiu a criação de muitas frentes de atuação, tendo
em vista a necessidade de efetivação de diversas diligências e frisando a relevância do mapeamento
da exploração do trabalho escravo no País, a CPI foi prorrogada por duas vezes, tendo o seu término
ocorrido em 16.03.2013. Infelizmente, porém, o fim dos trabalhos conduzidos pela "CPI do Trabalho
Escravo" se deu por mero decurso de prazo, sem que a iniciativa pudesse alcançar resultados mais
concretos.16
No Brasil, desde 07.12.1940, já contávamos com o tipo penal do trabalho análogo ao de escravo.
Assim dispunha o Código Penal (LGL\1940\2) brasileiro, em seu art. 149, sobre o crime de redução a
condição análoga à de escravo: "Reduzir alguém a condição análoga à de escravo: Pena – reclusão,
de 2 (dois) a 8 (oito) anos".
Tanta vagueza e imprecisão no que tange à conduta de "reduzir alguém a condição análoga à de
escravo" corroborava com a não subsunção de qualquer fato ao tipo penal, de modo que vários
senhores de terras, que eram apanhados com trabalhadores em suas fazendas, laborando em
condição análoga à de escravo, não eram sequer punidos devido à imprecisão e atecnia do
dispositivo legal em comento.
Assim, no compasso do combate a este tipo de trabalho, que vinha sendo realizado pelo Estado e
pelas organizações não governamentais, desde o caso José Pereira, foi publicada, em 11.12.2003, a
Lei 10.803, que alterou o art. 149 do CP (LGL\1940\2), indicando especificamente as hipóteses em
que se configura o crime contra a liberdade individual e dignidade da pessoa humana, reduzindo
alguém à condição análoga à de escravo. Esta é a sua atual redação:
"Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados
ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo,
por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no
local de trabalho;
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Dessa forma, cada modo de trabalho acima mencionado, passou a configurar o trabalho em
condição análoga à de escravo, isoladamente considerado, diferenciando do que ocorria
anteriormente, em que era necessário observar o conjunto de atos descritos no tipo para se
configurar o referido crime.
Assim, pela nova redação do art. 149, teremos o ilícito penal caracterizado em trabalho escravo
típico toda vez que realizado nas seguintes condições: (1) trabalho forçado ou em (2) jornada
exaustiva; (3) trabalho em condições degradantes; e (4) trabalho com restrição de locomoção, em
razão de dívida contraída. Teremos, ainda, o trabalho escravo por equiparação, que se caracterizará
quando houver retenção no local de trabalho: (1) por cerceamento do uso de qualquer meio de
transporte; (2) por manutenção de vigilância ostensiva; ou (3) por retenção de documentos ou
objetos de uso pessoal do trabalhador.
Desta forma, onde for encontrado o trabalho realizado em qualquer uma das condições acima, o
mesmo será caracterizado como trabalho em condição análoga à de escravo, cabendo-lhe aplicação
das penas descritas no art. 149 do CP (LGL\1940\2). Definitivamente, em razão da alteração
legislativa operada, não há mais como se desvencilhar da punição contida no referido dispositivo, ao
argumento de imprecisão ou não possibilidade de subsunção ao tipo.
Nesse mesmo sentido, os comentários de Guilherme de Souza Nucci a respeito do novo tipo penal:
"Antes da modificação introduzida pela Lei 10.803/2003, a previsão do art. 149 era apenas a
seguinte: 'reduzir alguém a condição análoga à de escravo’, o que exigia a utilização, nem sempre
recomendável, da analogia – embora nesse caso fosse opção do próprio legislador. Assim, reduzir
uma pessoa à condição semelhante à de um escravo evidenciava um tipo específico de seqüestro [
sic] ou cárcere privado, (...) associado à imposição de maus tratos ou à prática da violência. (...) E na
atual redação do tipo penal do art. 149 não mais se exige, em todas as suas formas, a união de tipos
penais como seqüestro [sic] ou cárcere privado com maus tratos, bastando que se siga a orientação
descritiva do preceito primário. Destarte, para reduzir uma pessoa a condição análoga à de escravo
pode bastar submetê-la a trabalhados [sic] forçados ou jornadas exaustivas, bem como a condições
degradantes de trabalho. (...) em suma, as situações descritas no art. 149 são alternativas e não
cumulativas. Certamente a redação do tipo melhorou, pois trouxe mais segurança ao juiz,
pautando-se pelo princípio da taxatividade."17 -18
Hodiernamente, a principal modalidade de conduta típica, ocorrida nas áreas rurais brasileiras, tem
sido o uso do endividamento como forma de manter os trabalhadores nas propriedades, imobilizando
seu deslocamento nas propriedades até a quitação de suas dívidas, que são sempre contraídas de
forma fraudulenta,19 bem como as dívidas contraídas pelo fornecimento de transporte, alimentação e
ferramentas de trabalho, retenção de documentos de identidade, carteiras de trabalho e utilização de
ameaças físicas e castigos por parte de guardas armados.20
Corrobora com a afirmação o relato dos aliciados serem obrigados a viver sem condições de higiene,
sujeitos a intempéries e, em alguns casos, cercados por jagunços armados.21
Apesar de todos os progressos alcançados, existe outro instrumento que traria significativa melhoria
no combate ao trabalho análogo ao de escravo, mas que encontra barreiras impostas por uma única
bancada no Congresso – a chamada "Bancada Ruralista". Trata-se da Proposta de Emenda à
Constituição 57-A/1999 – intitulada de "PEC do Trabalho Escravo" – em trâmite no Congresso
Nacional há mais de 14 anos, propondo uma nova redação para o art. 243 da CF/1988 (LGL\1988\3),
por meio da qual passa a estabelecer a pena de perdimento da propriedade imóvel onde for
encontrada a exploração de trabalho escravo, com a reversão da área a fundo especial com
destinação específica.
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Após pouco mais de dois anos de tramitação no Senado, a PEC foi unanimemente aprovada25 e
enviada à Câmara dos Deputados, em 01.11.2001, onde recebeu a numeração 438/2001. Lá, antes
de ser novamente aprovada, a proposta ficou estagnada, pendente de aprovação por exatos 10
anos, 6 meses e 25 dias, apesar do parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça e dos
inúmeros requerimentos, por parte de diversos Deputados Federais, ao longo de 4 legislaturas
diferentes, para inclusão de sua votação na Ordem do Dia.
Quando do primeiro turno de votação na Câmara dos Deputados, em 11.08.2004, a PEC restou
aprovada por 326 votos, sendo contrários apenas 10 votos, tendo-se registrado 8 abstenções.
Necessário apontar, ainda, que a aprovação em primeiro turno se deu com o acréscimo de algumas
alterações no texto da PEC. Tais alterações foram procedidas pela Comissão Especial de forma a
abranger não somente as glebas (propriedades rurais), mas também as propriedades urbanas que
explorassem trabalho análogo ao de escravo, destinando-as a programas de habitação popular. No
que pertine à redação do parágrafo único do art. 243 da CF/1988 (LGL\1988\3), também houve
alterações na proposta, para que os valores econômicos apreendidos em decorrência da exploração
de trabalho escravo fossem confiscados e revertidos, não em benefício dos colonos que sofreram
exploração, mas para um fundo especial com destinação específica, a ser regulamentado por
legislação ordinária posterior.26 -27
Já quando da votação em segundo turno, realizada quase oito anos depois, em 22.05.2012, estando
presentes 414 Deputados e 98 ausentes, a aprovação se deu por 360 votos, sendo contrários 29
votos, registrando-se na oportunidade 25 abstenções.
Em razão de ter sofrido emendas, quando do primeiro turno de votação na Câmara, o texto da PEC
teve de retornar ao Senado, em 25.05.2012, para que as alterações pudessem ser analisadas pelos
parlamentares da Casa de origem. Com isso, para que se convole em norma constitucional, a PEC
do Trabalho Escravo, agora sob a numeração 57-A/1999, ainda precisa ser votada no Senado
Federal em dois turnos.28
Apesar da maciça aprovação da PEC em ambos os turnos de votação na Câmara dos Deputados,
não podemos deixar de considerar o tempo excessivo que entremeou esses dois momentos.
Acreditamos que a atuação da "Bancada Ruralista"29 presente no Congresso Nacional, defensora
dos interesses dos proprietários rurais, tenha tido uma relevante participação nessa demora.
Dizemos isto em razão de dois episódios específicos ocorridos na tramitação da "PEC do Trabalho
Escravo" na Câmara dos Deputados.
O primeiro deles se deu ainda na votação em primeiro turno. Até aquela oportunidade, a proposta
vinha sofrendo severos ataques, principalmente dos então Deputados Ronaldo Caiado (PFL-GO) e
Kátia Abreu (PFL-TO), que atuavam tentando obstruir as votações e atacando os representantes das
entidades que lutavam pela aprovação da PEC. Diante desse quadro, acredita-se, a PEC só foi
aprovada em razão da comoção pública gerada pelo homicídio30 de três auditores fiscais e um
motorista do Ministério do Trabalho e Emprego durante uma fiscalização de rotina em fazendas da
região de Unaí-MG, onde haviam aplicado multas trabalhistas.31
O outro episódio ocorreu quando da votação em segundo turno. Referida votação estava pautada
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
para o dia 08.05.2012, contudo, uma manobra da "Bancada Ruralista", que esvaziou o plenário da
Câmara no momento da votação da PEC, levou à transferência da deliberação do projeto para o dia
seguinte. E, novamente obstruída a sua votação no dia 09.05.2012, por igual manobra da "Bancada
Ruralista", somente em 22 de maio do mesmo ano, alcançou-se a votação e, consequentemente, a
aprovação da PEC.
E, perceba-se, que a aprovação da PEC em segundo turno pela Câmara dos Deputados mais de
duas semanas depois da data originalmente prevista, não pôs fim à questão. Isto porque, pasme-se
o leitor, referida votação somente foi desembargada por força de nova manobra ruralista, eis que
firmado o compromisso de que, durante o período dedicado à nova apreciação da matéria pelo
Senado, as Casas Legislativas empreenderiam esforços para regulamentar tanto a forma como se
dará a expropriação das propriedades onde se pratica o trabalho análogo ao de escravo, como o
próprio conceito do que venha a ser esse tipo de trabalho.
Ora, com o devido respeito ao posicionamento da "Bancada Ruralista", em nosso entendimento, não
há que se falar em regulamentação da PEC – caso aprovada – por meio de legislação
infraconstitucional, para melhor esclarecimento do conceito de trabalho análogo ao de escravo, até
porque o Código Penal (LGL\1940\2), em seu art. 149, já apresenta, em redação de clareza solar, o
conceito acima referido. Como já dissemos, de acordo com o dispositivo em tela, o trabalho análogo
ao de escravo é tipificado penalmente diante de quatro condutas específicas: sujeição da vítima a
trabalhos forçados; jornada exaustiva; condições degradantes de trabalho; e restrição, por qualquer
meio, da locomoção da vítima em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
Por sua vez, quanto à alegada necessidade de regulamentação do processo expropriatório, de fato,
a uma primeira vista, tendemos a concordar que o ideal seria o estabelecimento de um rito
procedimental específico para a consecução de tal medida, mesmo porque, a Administração Pública
não poderá praticar o ato expropriatório senão por meio de competente processo judicial. Entretanto,
firmando os olhos mais detidamente sobre a questão, devemos concluir que a ausência temporária
de lei estabelecendo esse rito procedimental específico não serve de óbice à aplicação da regra do
novel art. 243 da CF/1988 (LGL\1988\3), caso aprovada a PEC em questão.
Não podemos perder de vista que, atualmente, a Lei 8.257, de 26.11.1991, já dispõe sobre a regra
procedimental para a expropriação de glebas rurais onde se verifique a existência de culturais ilegais
de plantas psicotrópicas, regulamentando, portanto, o texto do atual art. 243 do Texto Constitucional.
Desta feita, uma vez ampliado o rol constitucional de permissão à ação expropriatória estatal – objeto
da "PEC do Trabalho Escravo" –, nada impediria que a norma legal atualmente existente, por força
de uma interpretação lógico-sistêmica, seja também aplicada ao caso. E, ainda que diverso seja o
entendimento doutrinário-jurisprudencial, ou seja, de que a Lei 8.257/1991 não poderia ser, de plano,
aplicada para o estabelecimento de rito procedimental para a expropriação de imóveis onde se
verifique a ocorrência de trabalho análogo ao de escravo por ausência de previsão expressa,
devemos recorrer à teoria do processo para demonstrar a possibilidade de aplicação imediata da
alteração constitucional.
Isso porque, nos termos do art. 271 do CPC (LGL\1973\5), o procedimento comum, em sua forma
ordinária ou sumária, deve ser aplicado a todas as demandas para as quais o próprio CPC
(LGL\1973\5) ou mesmo lei especial não tenham previsto fórmula procedimental distinta. Ora, nesse
contexto, uma vez aprovada a PEC, resta-nos duas alternativas: aplicar à expropriação em tela a
regra especial da Lei 8.257/1991 – pelos fundamentos expostos anteriormente –, ou, em último caso,
aplicar, por exclusão, o rito comum, in casu, o ordinário do CPC (LGL\1973\5), nos termos do citado
art. 271 deste Codex.
A única coisa que sequer ventilamos, mais uma vez solicitando vênia à "Bancada Ruralista", é a
impossibilidade de processamento da demanda expropriatória enquanto não aprovada lei específica,
criando o rito procedimental próprio ou, o que seria até mais fácil, ampliando o espectro de
abrangência da Lei 8.251/1991.
Segundo Oscar Ermida Uriarte, a flexibilização trabalhista pode ser classificada segundo 4 critérios:
em razão dos sujeitos que a promovem, pelo objeto nela contido, pelo conteúdo da ação flexibilizante
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
Dados os restritos escopos do presente trabalho, nos interessa mais de perto o último dos critérios
enfatizados: o da forma da flexibilização praticada. Segundo a forma por que é praticada, a
flexibilização pode ser classificada em flexibilização de direito e flexibilização de fato. É a este tipo
específico – o da flexibilização de fato – que nos referiremos no presente item.
Mais precisamente, nos ateremos à flexibilização de fato do tipo desregulatória,34 definida como
sendo a "eliminação, diminuição, afrouxamento (...) da proteção trabalhista clássica, com a finalidade
– real ou pretensa – de aumentar o investimento, o emprego ou a competitividade da empresa".35
Nesta modalidade de flexibilização, a desregulamentação, mesmo a que se dá unicamente de fato,
"serve ao propósito de operar o desmonte do estuário justrabalhista em favor do capital, para que (...)
o trabalho se ajuste às medidas exigidas pelo (...) mercado".36 -37
A flexibilização de fato desregulatória, ou, dito de outro modo, a flexibilização como prática de
desregulamentação, é a que, neste sentido, é operada todos os dias diante de nossos olhos quando
empregadores, atuando ao arrepio das leis trabalhistas, restam por privar seus empregados de um
amplo rol de direitos a que fariam jus caso obedecido todo o ordenamento justrabalhista, não apenas
no momento da contratação, como ao longo de toda a relação laboral firmada.
Todos os dias vemos direitos sendo flexibilizados, curvando-se ao poderio econômico sob o triste e,
não menos falacioso, argumento de que é preciso flexibilizar para manter a economia ativa e em
crescimento, conservando-se em consequência, os níveis de empregabilidade. No entanto, o que os
responsáveis pela prática flexibilizatória esquecem, ou não querem propositalmente revelar, é que,
para a manutenção de um empregado regularmente contratado, o que mais onera os empregadores
não são os direitos trabalhistas, mas sim os altos encargos/impostos pagos ao Estado.38
Mais grave ainda que o simples desrespeito à legislação quanto aos direitos básicos garantidos ao
trabalhador é a ação de empregadores que, ofendendo as premissas da dignidade e liberdade
humanas, submetem seus empregados a situações de trabalho análogo ao de escravo. Esta é, sem
dúvida, a forma mais vil de coisificação do homem e da sua força de trabalho.39 Afinal, reduzir um
trabalhador a condição análoga à de escravo é mais do que flexibilizar o Direito do Trabalho.
Trata-se de crime, tipificado pelo Código Penal (LGL\1940\2) brasileiro, não podendo, por esta razão,
ser enquadrado, em hipótese alguma, como mera irregularidade trabalhista.
Essa distinção é importante! É óbvio que nem todas as práticas de flexibilização desregulatória
levarão à redução do trabalhador à condição análoga a de escravo, mas somente aquelas mais
graves, que importarem verdadeira subsunção às figuras típicas previstas no art. 149 do CP
(LGL\1940\2), isto é, implicando sujeição do trabalhador a trabalhos forçados, a jornada exaustiva, a
condições degradantes de trabalho e a restrição, por qualquer meio, de sua locomoção. Em outras
palavras, somente quando, no caso concreto, ocorrer uma – ou mais de uma – das situações acima
descritas, estaremos diante de um caso de redução do trabalhador a condição análoga à de escravo,
a justificar, inclusive, além das sanções previstas no ordenamento penal, a expropriação do imóvel
do empregador no qual tais práticas se realizavam.
Por este motivo, acreditamos que, acaso aprovada, a "PEC do Trabalho Escravo" será o principal
instrumento de combate ao trabalho análogo ao de escravo no Brasil. Mais até que a simples
aplicação da punição criminal prevista no art. 149 do CP (LGL\1940\2)! Isso porque, como a pena
prevista para o crime é relativamente baixa, permite-se ao autor do crime beneficiar-se com a
conversão da prisão em pena restritiva de direitos, salvo se estipulada acima dos 4 anos ou se o
crime tiver sido praticado com grave ameaça à pessoa (arts. 43 e 44 do CP (LGL\1940\2)).40 E, ainda
que no caso concreto, o empregador condenado não faça jus à dita pena restritiva de direitos,
devendo receber, isto sim, a privativa de liberdade, como a pena máxima não ultrapassa os 8 anos,
provavelmente cumpri-la-á nos regimes aberto ou, quando muito, semiaberto (art. 33, § 2.º, do CP
(LGL\1940\2)).41 Dessa forma, a sanção penal poderá não alcançar o efeito punitivo e,
principalmente, preventivo geral que a PEC, caso aprovada, certamente alcançará.
Cumpre observar, ainda, o fato de que, mesmo condenado e em cumprimento de pena privativa de
liberdade, ao proprietário da fazenda onde foram encontradas pessoas laborando em condição
análoga à de escravo, a aplicação da penalidade criminal não teria o condão de acabar com este tipo
de trabalho naquela propriedade. Isto porque, mesmo preso, o proprietário ainda poderia emitir
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
ordens para continuidade do trabalho naquelas condições. O que, por outro lado, não ocorreria caso
a fazenda fosse-lhe tomada. Por certo, com o perdimento da terra, ao menos naquela propriedade,
tal crime não mais ocorreria!
Porém, até que o que propõe a PEC possa se tornar realidade, ainda são necessárias muitas outras
ações por parte da sociedade – e mesmo por parte do Estado, por que não dizer? – para que se
reverta o quadro das flexibilizações desregulatórias praticadas e para que essa triste página da
história brasileira tenha um fim.
Por parte da sociedade, é necessária uma efetiva mudança sociocultural nas práticas empresariais, o
que passaria pelo simples rechaço à concepção de que a obtenção de lucro depende,
invariavelmente, da destituição dos mais básicos direitos de sobrevivência do trabalhador. A
compreensão, por parte do empresariado nacional, da falácia inerente a este que tem se mostrado
um verdadeiro dogma do neoliberalismo atual seria o primeiro passo para elevar o ser humano
trabalhador à mesma centralidade com que é concebido pelo ordenamento jurídico, ou seja, tendo
em vista, antes de tudo, a sua dignidade enquanto pessoa humana.42
Só assim, com o fim das práticas flexibilizatórias com vistas à desregulamentação de direitos
trabalhistas, terá fim, também, a exploração do trabalho humano. A própria opinião pública mudaria
quanto à existência de trabalho análogo ao de escravo no país. O que, por conseguinte, pressionaria
os parlamentares à aprovação do texto final da "PEC do Trabalho Escravo" – até mesmo a despeito
de todo o lobby praticado em sentido contrário – de modo a que inseri-la, na qualidade de efetiva
Emenda Constitucional, no ordenamento jurídico pátrio.
7. Conclusão
Outrora, o dono da terra pagava para comprar o escravo e ainda tinha que garantir sua subsistência.
Hoje, o homem livre, aliciado por gatos,43 sai a "custo zero" para o proprietário da terra, pois o
trabalhador explorado, além de ter que pagar pela comida que come, pela cama em que dorme, pelo
transporte até chegar à fazenda, pelas ferramentas para o trabalho e por tudo o mais que necessita,
não recebe o salário combinado.
Além de conduta reprovável pelo ordenamento jurídico atual, o trabalho análogo ao de escravo
constitui prática repudiável, sobretudo, por se manter a custa de ameaças, terror psicológico,
coerção física, punições e assassinatos, fazendo com que o trabalho escravo seja interligado a
outros tipos de crimes, como tráfico de pessoas, homicídio, lesão corporal, dentre outros.
A "lista suja", criada pelo Ministério do Trabalho, tem sido uma grande aliada no combate ao trabalho
em condição análoga à de escravo, assim como o boicote à compra de produtos fabricados,
sabidamente, com mão de obra escrava. Certamente, porém, o combate a esta forma de exploração
humana ganharia maior fôlego com a pena de perdimento das terras onde fossem encontrados
trabalhadores em condição análoga à de escravos, prevista na "PEC do Trabalho Escravo", em tudo
somada à sanção criminal já prevista no art. 149 do CP (LGL\1940\2) brasileiro.
Porque existe uma correlação direta e imediata entre as práticas de trabalho realizado em condição
análoga à de escravo na contemporaneidade e as de flexibilização desregulatória. Somente quando
todos se posicionarem criticamente em relação a esta modalidade flexibilizatória, será possível o
expurgo de todas as formas de trabalho escravo na atualidade.
8. Referências bibliográficas
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1 Palo Neto, Vito. Conceito jurídico e combate ao trabalho escravo contemporâneo. São Paulo: Ed.
LTr, 2008, p. 12.
2 Viana, Márcio Túlio. Trabalho escravo e "lista suja": um modo original de se remover a mancha.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3.ª Região, vol. 44, n. 74, p. 189.
3 Como se sabe, na época assinalada, explorava-se a mão de obra escrava negra, sendo que, no
início da colonização do Brasil pelos portugueses, também foi utilizada a mão de obra indígena como
escrava.
4 Brito Filho, José Cláudio Monteiro de. Caracterização jurídica do trabalho escravo por equiparação:
análise do art. 149, § 1.º, do Código Penal brasileiro. [S.l.], 2012. No prelo. p. 4.
5 Neves, Débora Maria Ribeiro. Trabalho escravo e aliciamento. São Paulo: Ed. LTr, 2012. p. 19.
6 Ainda que pareça repetitivo ao leitor, por razões estritamente técnicas, preferimos utilizar a
terminologia "trabalho em condição análoga à de escravo", ou, simplesmente, "trabalho análogo ao
de escravo", a lançar mão de qualquer outra terminologia, mesmo as adotadas pelas Convenções
Internacionais acima citadas.
8 Neves, Débora Maria Ribeiro. Trabalho escravo e aliciamento. São Paulo: Ed. LTr, 2012. p. 20.
9 Idem, p. 21.
10 Especificamente no que diz respeito às citadas Convenções Internacionais da OIT, como são
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
consideradas fundamentais pela própria OIT, o Brasil nem precisaria tê-las ratificado para que
fossem observadas no plano interno. Afinal, todos os Estados-membros da OIT têm o dever de
cumprir as Convenções ditas fundamentais, independente de sua aceitação formal.
11 Sobre o histórico das principais ações de combate ao trabalho análogo ao de escravo no Brasil,
conferir o documento elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, intitulado "Trabalho Escravo
no Brasil em Retrospectiva: referências para estudos e pesquisas" (Brasil. Ministério do Trabalho e
Emprego. Trabalho escravo no Brasil em retrospectiva: referências para estudos e pesquisas.
Disponível em:
[http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A350AC882013543FDF74540AB/retrospec_trab_escravo.pdf].
Acesso em: 26.01.2013).
12 Abramo, Laís; Machado, Luiz. In: Nochi, Andrea Saint Pastous; Velloso, Gabriel Napoleão; Fava,
Marcos Neves (coords.). Trabalho escravo contemporâneo – O desafio de superar a negação. 2. ed.
São Paulo: Ed. LTr, 2011. p. 69.
13 Idem, ibidem.
14 Para exemplificar o papel fundamental desempenhado pela "lista suja" na luta contra o trabalho
forçado ou obrigatório, cite-se o caso da famosa marca Zara, noticiado em 16.08.2011, em que, em
uma operação de fiscalização nas oficinas subcontratadas pelo fabricante de roupas da citada
marca, foram encontradas 15 pessoas, incluindo uma adolescente de 14 anos, trabalhando em
condição análoga à de escravo em plena capital paulista (Pyl, Bianca; Hashizume, Maurício. Roupas
da Zara são fabricadas com mão de obra escrava. Repórter Brasil. São Paulo, 16.08.2011.
Disponível em:
[http://reporterbrasil.org.br/2011/08/roupas-da-zara-sao-fabricadas-com-mao-de-obra-escrava/].
Acesso em: 21.09.2012).
Posteriormente, a Zara Brasil foi suspensa pelo Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho
Escravo, que reúne empresas comprometidas em agir contra a exploração do trabalho humano, a
exemplo de empresas como Pão de Açúcar e Carrefour, que deixaram de adquirir produtos de
frigoríficos que compravam carne de fazendas incluídas na "lista suja" (Hashizume, Maurício. Zara
Brasil é suspensa de pacto por afrontar "lista suja". Repórter Brasil. São Paulo, 22.08.2012.
Disponível em:
[reporterbrasil.org.br/2012/08/zara-brasil-e-suspensa-de-pacto-por-afrontar-quot-lista-suja-quot/].
Acesso em: 29.01.2013).
16 Brasil. Câmara dos Deputados. Atividade legislativa. Comissões. CPI – Trabalho escravo.
Disponível em:
[www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/parlamentar-de-inquerito/54a-legislatura/
Acesso em: 18.11.2013.
17 Nucci, Guilherme de Souza.Código Penal (LGL\1940\2) comentado. 8. ed. rev., atual e ampl. São
Paulo: Ed. RT, 2008. p. 676-677.
18 Ainda com relação ao tipo penal constante no art. 149 do CP (LGL\1940\2), interessante ressaltar
a existência de duas propostas de lei em tramitação na Câmara dos Deputados, com vistas a alterar
novamente o seu texto. Uma destas propostas consiste no PL 4.717/2012, apresentado, em
05.06.2012, pelo Deputado Federal Arnaldo Jordy (PPS/PA), para majorar a pena de reclusão
cominada ao crime de redução a condição análoga à de escravo, de 2 a 8 anos, para 3 a 15 anos,
mantendo-se a previsão do acréscimo de multa, além da pena correspondente à violência. O outro é
o PL 5.209/2013, apresentado, em 21.03.2013, pelo Deputado Major Fábio (DEM/PB), buscando
estabelecer a vedação ao aproveitamento de incentivos fiscais como efeito da condenação por crime
de redução a condição análoga à de escravo (Brasil, Câmara dos Deputados. Atividade Legislativa.
Resultado da pesquisa Projeto de Lei e outras proposições. Disponível em:
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
[www.camara.leg.br/sileg/Prop_lista.asp?Pagina=1eamp;formulario=formPesquisaPorAssuntoeamp;Ass1=trabalhoeam
Acesso em: 18.11.2013).
19 Palo Neto, Vito. Conceito jurídico e combate ao trabalho escravo contemporâneo. São Paulo: Ed.
LTr, 2008. p. 47.
20 Idem, p. 56.
21 Romero, Adriana Mourão; Sprandel, Márcia Anita. Trabalho escravo – Algumas reflexões. Revista
CEJ 22/123.
22 Conforme veremos, incialmente, quando foi apresentada ao Senado, em 1999, a PEC recebeu a
numeração 57/1999. Quando passou à Câmara, em 2001, foi renumerada como PEC 438/2001.
Tendo sido aprovada com alteração em sua redação, a PEC voltou a tramitar no Senado, em 2012,
onde, finalmente, recebeu a numeração 57-A/1999.
23 Note-se que a atual redação do art. 243 da CF/1988 (LGL\1988\3) sequer faz menção ao trabalho
escravo, determinando a expropriação de glebas onde forem localizadas, tão somente, culturas
ilegais de plantas psicotrópicas, bem como a expropriação e confisco de bens de valor econômico
apreendidos em decorrência, apenas, do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (Brasil,
Senado Federal. Quadro comparativo da Proposta de Emenda à Constituição n. 57, de 1999 (n. 438,
de 2001, na Câmara dos Deputados). Disponível em:
[www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=110796eamp;tp=1]. Acesso em: 18.11.2013).
24 Antes dela, a PEC 232/1995 já tinha sido proposta na Câmara dos Deputados, na tentativa de
alterar a redação do mesmo art. 243 da CF/1988 (LGL\1988\3). Posteriormente, quando da votação
em primeiro turno da PEC 438/2001 na Câmara, decidiu-se por apensar a ela a outra proposição
(Fonseca, Mariana Martins de Castilho. Pela efetividade do trabalho decente no campo: uma análise
de mecanismos alternativos para o combate ao trabalho em condição análoga à de escravo.
Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte, Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais, 2011. p. 181).
27 Com as emendas que recebeu na Câmara, assim ficou a proposta de redação do art. 243 da
CF/1988 (LGL\1988\3): "Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde
forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo serão
expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer
indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que
couber, o disposto no art. 5.º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e
reverterá a fundo especial com a destinação específica, na forma da lei."
28 Até o momento de fechamento do presente estudo, a proposta, que tinha passado pela Comissão
de Constituição, Justiça e Cidadania, com parecer favorável à sua aprovação, ainda aguarda
apreciação em primeiro turno pelo plenário do Senado Federal (Brasil, Senado Federal. Portal
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Trabalho em condição análoga à de escravo: até quando?
29 De composição pluripartidária e reunindo mais de 200 congressistas, dita "Bancada Ruralista", ou,
em outros termos, a Frente Parlamentar da Agropecuária – denominação por que ficou conhecida a
partir de 2008 – tem sido considerada, nos últimos tempos, a mais influente nas discussões,
articulações e negociações políticas no âmbito do Poder Legislativo, sempre defendendo interesses
ligados ao agronegócio (Frente Parlamentar da Agropecuária. História da Frente Parlamentar da
Agropecuária – FPA. Disponível em: [www.fpagropecuaria.com.br/fpa]. Acesso em: 02.05.2013).
32 Uriarte, Oscar Ermida apud Álvares da Silva, Antônio. Flexibilização das relações de trabalho.
São Paulo: Ed. LTr, 2002. p. 65.
33 Em razão dos sujeitos que a promovem, a flexibilização pode ser classificada em: (a) flexibilização
autônoma, se realizada pelos sindicatos, por meio de negociação coletiva, ou (b) flexibilização
heterônoma, se produzida por meio da lei. De acordo com objeto nela contido, a flexibilização pode
ser promovida: (a) no âmbito do Direito Coletivo do Trabalho, seja por meio da convenção coletiva,
da greve, do dissídio coletivo ou da cogestão; (b) no do Processo do Trabalho, através da
simplificação de normas na solução dos conflitos; ou (c) no do Direito Público do Trabalho, pela
participação da elaboração das normas. Já quanto ao conteúdo da ação flexibilizante, a flexibilização
pode ser classificada em: (a) total; ou (b) parcial (Uriarte, Oscar Ermida apud Álvares da Silva,
Antônio, op. cit., p. 65).
34 Nos valemos, aqui, de outra classificação, esta proposta por Jean-Claude Javillier, que leva em
consideração a finalidade com que a flexibilização é feita. Segundo tal critério, podem ser
visualizadas três formas de flexibilidade: uma de proteção, outra de adaptação e outra de
desregulamentação (Javillier, Jean-Claude apud Gonçalves, Antônio Fabrício de Matos.
Flexibilização trabalhista. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. p. 116).
35 Idem, p. 114.
38 Também neste sentido vide Zanluca, Júlio César. Governo onera salário em até mais de 82%.
Disponível em: [www.normaslegais.com.br/trab/trabalhista201006.htm]. Acesso em: 26.01.2013.
39 Também neste sentido vide Neves, Débora Maria Ribeiro, op. cit., p. 20.
III – (vetado);
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
(...)."
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8, poderá, desde o
princípio, cumpri-la em regime semi-aberto [sic];
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 anos, poderá, desde o início,
cumpri-la em regime aberto (...)."
42 Maurício Godinho Delgado evidencia, por argumentos científicos, que o crescimento da economia
também pode ser impulsionado pelo setor produtivo do capitalismo moderno e que, para tanto, as
metas atinentes à busca do pleno emprego e à centralidade do trabalho e do emprego devem voltar
a figurar como objetivos primordiais do Estado contemporâneo, num claro demonstrativo de que a
retomada do crescimento econômico é possível sem desregulamentação de direitos trabalhistas,
mas com a iniciativa de geração de empregos (Delgado, Maurício Godinho. Capitalismo, trabalho e
emprego. Entre o paradigma da destruição e os caminhos da reconstrução. São Paulo: Ed. LTr,
2005).
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