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ISSN 0717-9553
DOI: 10.29393/CE28-25MGGD60025
RESUMO
Objetivo: Analisar os modelos de gestão em enfermagem dos hospitais universitários do Brasil, Portugal e
Espanha. Material e Método: Pesquisa de abordagem qualitativa, de cunho compreensivista e exploratório,
desenvolvida com 39 enfermeiros, em três diferentes hospitais, no período de setembro de 2019 a fevereiro
de 2020. Adotou-se como método a análise temática proposta por Minayo. Resultados: Foram evidenciadas
duas categorias: Quando o modelo de gestão em enfermagem promove desencontros, com destaque para a
centralização e fragmentação do trabalho; intensificação e flexibilização da jornada de trabalho; desmotivação no
processo de trabalho; e frágil incentivo para formação e qualificação. E a segunda categoria quando o modelo de
gestão em enfermagem proporciona encontros, sendo enfatizados o trabalho em equipe, a educação permanente
enquanto ferramenta de gestão e as iniciativas de gestão participativa e compartilhada. Conclusão: Possivelmente,
este estudo favorecerá discussões futuras sobre os encontros e desencontros da gestão em enfermagem em
*Dr. em Ciências com ênfases em Enfermagem, Pós-doutor, Escola de Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
Brasil, ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0595-0780 Email: [email protected]
**Doutoranda em Enfermagem e Saúde, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde, Universidade Federal da Bahia,
Feira de Santana, Brasil, ORCID: http://orcid.org/0000-0003-1815-8650 Email: [email protected] Autor da correspon-
dência
***Enfermeira, Mestranda em Enfermagem e Saúde, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde, Universidade Federal
da Bahia, Feira de Santana, Brasil, ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8607-1392 Email: [email protected]
****Enfermeira, Mestranda de Pós-Graduação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, ORCID: http://orcid.org/0000-
0003-2292-8726 Email: [email protected]
*****Doutora em Enfermagem, Escola de Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, ORCID: http://orcid.org/0000-0001-
6245-302X Email: [email protected]
******Dr. em Enfermagem, Pós-doutor, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil, ORCID: http://
orcid.org/0000-0002-2311-6204 Email: [email protected]
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seus diversos espaços de formação e atuação, no sentido de contribuir para consolidação da enfermagem na
participação da gestão. Consequentemente, poderá impulsionar melhorias na área e a valorização profissional
do enfermeiro gestor.
ABSTRACT
Objective: To analyze the nursing management models of university hospitals in Brazil, Portugal and Spain.
Material and Method: Qualitative research with a comprehensive and exploratory approach, developed with
39 nurses in three different hospitals from September 2019 to February 2020. The thematic analysis proposed
by Minayo was adopted as a method. Results: Two categories were identified: when the nursing management
model promotes disagreements, with emphasis on the centralization and fragmentation of work; intensification
and flexibility of the workday; work demotivation; and lack of incentive for training and qualification. And the
second category when the nursing management model promotes agreements emphasizing teamwork, continuing
education as a management tool, as well as participatory and shared management initiatives. Conclusion: This
study will probably favor future discussions on agreements and disagreements regarding nursing management
in its various training and working settings, thus contributing to the consolidation of the nursing profession in
management participation. Moreover, it can also help promote improvements in nursing management and the
professional recognition of the nurse manager.
RESUMEN
Objetivo: Analizar los modelos de gestión de enfermería de hospitales universitarios de Brasil, Portugal y
España. Material y Método: Investigación de tipo cualitativo, con enfoque integral y exploratorio, desarrollada
con 39 enfermeros en tres hospitales diferentes, entre septiembre 2019 a febrero 2020. Se adoptó como método
el análisis temático propuesto por Minayo. Resultados: Se evidenciaron dos categorías: cuando el modelo de
gestión de enfermería promueve desacuerdos, con énfasis en la centralización y fragmentación del trabajo,
intensificación y flexibilización de la jornada laboral, desmotivación en el proceso de trabajo y débil incentivo
para la formación y la calificación; y la segunda categoría, cuando el modelo de gestión de enfermería prevé
encuentros, enfatizando el trabajo en equipo, la educación continua como herramienta de gestión y las iniciativas
de gestión participativa y compartida. Conclusión: Este estudio favorecerá probablemente futuras discusiones
sobre los encuentros y desencuentros de la gestión de enfermería en sus diversos espacios de formación y
actuación, contribuyendo de esta manera a la consolidación de la enfermería en la participación de la gestión.
En consecuencia, podrá impulsar mejoras en el área y la valorización profesional del enfermero gestor.
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MODELOS DE GESTÃO EM ENFERMAGEM: UM DISPOSITIVO DE (DES)ENCONTROS.../ Da Silva, G., Silva, I., Lima, J., Veiga, K., Teixeira, G., De Almeida, D.
quia, ou pelo modelo burocrático de Max Weber, profissional diante dos modelos de gestão vigentes
centrado na estrutura, no comando do poder, na nos serviços de saúde. Isso se torna particularmente
racionalidade e na departamentalização das orga- importante no caso das organizações escolhidas para
nizações. este estudo, por serem referências como hospitais-
Nas organizações atuais, os modelos de gestão escola e prestarem, além da assistência, contribuição
estão cada vez mais integrativos e flexíveis às ca- ao ensino e à pesquisa.
racterísticas organizacionais. Esses modelos valo- Diante do exposto, este estudo analisou os
rizam a democratização, a constituição de su- modelos de gestão em enfermagem de hospitais
jeitos, a participação de usuários nas tomadas de universitários do Brasil, Portugal e Espanha. Discutir
decisão, a reforma nas estruturas organizacionais e compreender essa temática contribui para desvelar
com gestão de poder e a descentralização das as nuances do conhecimento da enfermagem acerca
responsabilidades visando aumentar a eficiência, da prática gerencial que a envolve, assim como para
eficácia e efetividade(2-3). ampliar a literatura científica sobre a gestão dos
Assim, o profissional de saúde, em especial serviços de saúde. Nesse sentido, serão resgatadas as
o enfermeiro, precisa desenvolver competências contribuições de profissionais para aperfeiçoamento
imprescindíveis para sua prática profissional que dos atuais modelos de gestão e para a qualidade do
atendam às necessidades do seu ambiente laboral. cuidado ofertado ao usuário.
Ou seja, deve desenvolver habilidades que vão além
da repetição ou execução de uma tarefa, bem como
refletir com criticidade sobre gestão e as habilidades MATERIAL E MÉTODO
necessárias ao alcance dos objetivos propostos(4).
Em sua práxis, o processo de trabalho em Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualita-
enfermagem organiza-se nas dimensões assistir/ tiva, de cunho compreensivista e exploratório,
cuidar, administrar/gerenciar, pesquisar, ensinar desenvolvida em três hospitais universitários,
e participar politicamente, coexistindo simul- com características similares, no Brasil, Espanha e
taneamente em uma composição heterogênea e Portugal. O contato com esses hospitais se deu em
hierarquizada de seus agentes.(2) Embora a dimensão decorrência de acordos de cooperação já existentes
do assistir seja o cerne das atividades da enfermagem, entre as universidades. A pesquisa foi realizada
o administrar/gerenciar tem assumido cada vez nessas organizações por serem cenários de formação,
mais importância na prática laboral do enfermeiro e assistência, pesquisa.
se expressado por um conjunto de ações diretas ou Participaram da investigação 39 enfermeiros
indiretas que resultam em melhores condições da (oito brasileiros, nove espanhóis e 13 portugueses),
assistência e de trabalho para sua equipe(5, 6). conforme os seguintes critérios de inclusão: enfer-
Historicamente, os enfermeiros têm exercido meiros que exerciam gestão assistencial, supervisão
importante papel como articuladores e gerentes e direção e que atuavam nos serviços há mais de
dos hospitais, apesar da pouca formação na área dois anos. Foram excluídos os enfermeiros afastados
administrativa. A carreira administrativa tem sido das atividades profissionais no período da coleta de
considerada, por muitos, uma via de ascensão nas dados e aqueles que não retornaram o contato após
organizações de saúde quando há crescimento três tentativas. Quatro enfermeiros se recusaram a
pessoal, profissional, reconhecimento e satisfação participar do estudo.
no exercício desta função(5, 7). Os participantes foram escolhidos por meio da
Nessa perspectiva, como ocorre em qualquer amostragem não probabilística, snowball sampling,
outro papel da gestão em saúde, é evidente que que utiliza cadeias de referências e aplica os critérios
o enfermeiro também vivencia desafios quando de saturação a fim de definir o tamanho da amostra.
no desempenho da gerência. Tais desafios podem Houve também o encerramento das entrevistas
ser contornados mediante conhecimentos que o quando não havia mais contato e/ou os dados se
permitam ter melhor desempenho na função. repetiam.
Considera-se importante resgatar, por meio A coleta de dados ocorreu em três momentos
da memória individual e coletiva de enfermeiros interdependentes, no período de setembro de
gestores, as potencialidades e os desafios deste 2019 a fevereiro de 2020, por meio de entrevistas
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logo às 7h30 estou cá [...] (ENT 5 PORTUGAL). organizações, sobretudo em áreas especializadas:
[...] temos uma fragilidade ainda, os serviços mais
3. Desmotivação no processo de trabalho: Foram específicos, por exemplo, a anatomia patológica, a
observados diferentes contextos de desmotivação radiologia, central de materiais de esterilização... eles
no processo de trabalho, que perpassam pelo não ainda não recebem treinamentos específicos até pela
reconhecimento da potencialidade da enfermagem dificuldade dos facilitadores [...] (ENT 3 BRASIL).
na gestão, como mencionado na fala a seguir:
[...] luto muito pra que a enfermeira ocupe cargos B) Quando o modelo de gestão em enfermagem
gerenciais, defendo isso, agora, eu também luto pra proporciona encontros
que enfermeiras apoiem outras enfermeiras, porque, 1. Trabalho em equipe: Os enfermeiros de Por-
não, nem cabe aí, mas é apenas um desabafo mesmo, tugal identificaram-se como o elo da equipe
mas assim, era muito comum eu receber enfermeiras multiprofissional, além de reconhecerem alguns
que diziam “eu quero falar com o médico”, eu dizia, avanços dos cuidados em saúde como resultantes
“mas sou eu, quem tá aqui pra resolver as questões de desse trabalho em equipe. Já os enfermeiros
enfermagem sou eu, sou eu”, “mas eu prefiro falar com espanhóis destacaram o papel das supervisoras no
o doutor”, mas eu dizia, “também eu sou doutora” trabalho com a equipe multidisciplinar:
não é. E isso desqualifica a enfermagem [...] (ENT 1 […] creo que la supervisora existe para trabajar con el
BRASIL). equipo multidisciplinar, pero sí es cierto que tenemos
mucho por hacer […] (ENT 1 ESPANHA).
A falta do reconhecimento por parte dos profis-
sionais que integram um centro hospitalar como É assim, o enfermeiro é o bocadinho o elo da cadeia
uma equipe, com interesses e habilidades que de toda a ligação, fase, digamos, a ligação de todos
convergem, favorece o surgimento de um cenário profissionais de saúde [...] (ENT 4 PORTUGAL).
de conflitos e de divergências, que coopera para o
esgotamento físico e mental desses profissionais. O 2. Educação permanente enquanto ferramenta
relato abaixo evidencia essa situação: de gestão: No que se refere à Educação Permanente,
Outra e isso não me parece do ponto de vista da gestão de evidenciou-se um movimento constante de ino-
enfermagem de ser uma coisa que se possa viver porque vações tecnológicas em convergência para essa
somos todos enfermeiros e, ainda por cima, estamos categoria nos três países, como é possível observar
todos no mesmo centro hospitalar, portanto, incomoda nos seguintes fragmentos:
um bocadinho esta divergência e falta de convergência Então neste momento na equipa a minha preocupação
para as coisas [...] (ENT 11 PORTUGAL). em termos formativos foi criar peritos quase em todas
as áreas (ENT 10 PORTUGAL).
4. Falta de incentivo na formação e qualificação:
Realizar tarefas de gestão, ainda que em um Si ves que pueden mejorar, qué puedes hacer para
ambiente hospitalar, ao qual os enfermeiros já estão mejorar con programas de entrenamiento y estimu-
habituados, requer conhecimentos específicos da lación, eso es lo único que puedo hacer con ellos […]
área de gestão. Dessa forma, faz-se imprescindível (ENT 6 ESPANHA).
incentivar e promover a formação e a capacitação
dos enfermeiros que exercem esses cargos. No [...]eu sempre vejo aqui um assunto, ou uma situação
entanto, essa ainda não é uma prática comum, que a gente vê que precisa fazer uma intervenção, a
conforme narrou um participante: própria equipe faz, a gente faz um treinamento em
Para trabajar en la pediatría tiene una formación lócus, acho isso super importante e é superprodutivo
específica para pediatría. Para la gestión no. Para [...] (ENT 6 BRASIL).
la gestión no dan formación si quieres lo haces tú
voluntariamente de tu tiempo libre, pero para la 3. Iniciativas de gestão participativa e com-
gestión no (ENT 5 ESPANHA). partilhada: Enfermeiros dos três países afirmaram
que a gestão de enfermagem é desenvolvida por
Nas falas, emergiram também dificuldades rela- meio do diálogo, da escuta e da partilha. No
cionadas à oferta de educação permanente nas desenvolvimento do diálogo e da escuta sensí-
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vel, os gestores procuram desenvolver estratégias gestão das organizações onde estão inseridos.
para atender às necessidades levantadas pelos As organizações hospitalares ainda carregam o
profissionais. Ainda segundo eles, a gestão deve peso de modelos tradicionais da administração na
ter como foco as relações interpessoais da equipe e estruturação dos seus serviços. É possível reconhecer
conhecer suas potencialidades: características de teorias tradicionais como as
[…] puedes gestionar de forma diferenciada cada de Taylor e Fayol, com ênfase no “como fazer”,
sitio tiene su equipo, porque yo todo el tiempo digo marcada pela fragmentação dos saberes e tarefas;
que la gestión es el primer enfoque necesario en las em normas e rotinas rigidamente padronizadas; na
relaciones interpersonales, tienes que saber cuál es la centralização do poder; na comunicação vertical;
potencialidad que sus equipos tienen […] (ENT 5 na necessidade de controle e comando; e na pouca
ESPANHA). implicação dos profissionas com os objetivos globais
da organização(13).
[...] Essa gerência nova eu percebo que existe muito Outro desencontro apontado foi a intensificação
mais escuta, existe muito mais diálogo, existe muito do trabalho caracterizada por fatores que envolvem
mais a questão de ouvir, de ouvir e buscar atender, na a precarização do trabalho, o subdimensionamento
medida do possível, às necessidades [...] (E8 BRASIL). de pessoal e o consequente aumento da carga de
[...] minha forma de estar na gestão é ter muita trabalho. Tal característica também foi evidenciada
proximidade e muita transparência, muita clareza nos relatos de duplicidade da jornada de trabalho,
nas nossas finidades, digamos assim, no sentido de não equipes de trabalho interdependentes, além da
esconder as coisas, partilhar, desenvolver em conjunto submissão a uma série de mecanismos de gestão
[...] (ENT 4 PORTUGAL). pautados na pressão psicológica voltada para o
aumento da produtividade(14).
Os enfermeiros reconheceram as jornadas de
DISCUSSÃO trabalho extensas e as novas formas de trabalho
que avançam sobre o espaço doméstico. Essa
Analisando a trajetória das organizações no Brasil intensificação e flexibilização do trabalho aparecem
e no mundo é possível identificar várias fases na necessidade de dar continuidade às tarefas
de desenvolvimento, bem como mudanças nos do serviço no ambiente doméstico, diminuindo
modelos de gestão dessas organizações, no intuito drasticamente a fronteira entre atividade laboral e
de dar respostas às necessidades apresentadas pela espaço da vida privada.
sociedade em cada contexto econômico, político, Na enfermagem, a intensificação do trabalho
histórico e social. assume um caráter relevante no contexto de vida
As organizações hospitalares, enquanto in- desses profissionais uma vez que a baixa remuneração
tegrantes do setor de serviços, vêm sofrendo e a desvalorização profissional impulsionam a
influência das teorias administrativas oriundas manutenção de mais de um vínculo profissional.
do setor industrial, as quais, por sua vez, foram Assim, as jornadas de trabalho tornam-se exaustivas
adaptadas ao setor saúde. Desse modo, a evolução e a intensificação e flexibilização do trabalho nas
dos modelos de gestão na saúde acompanha a diferentes organizações se acumulam(15).
evolução dos modelos de gestão na indústria e A pressão gerencial que se estabelece sobre os
a necessidade de adequação das organizações às enfermeiros para que deem respostas imediatas
mudanças do mercado consumidor, em busca de a todas as demandas impostas e a exigência
mais produtividade e qualidade dos produtos. pela flexibilidade geram nesses trabalhadores a
O modelo de gestão adotado pode, então, revelar sensação de que o trabalho desempenhado nunca é
encontros e desencontros dos modelos de gestão em satisfatório. Além disso, a precarização do trabalho
enfermagem no campo hospitalar que impactam contribui para a fragilidade na motivação e no
diretamente no cuidado prestado ao usuário. desempenho, conduzindo o trabalhador ao estresse
Os enfermeiros entrevistados neste estudo recon- ocupacional com desenvolvimento de dano físico e
heceram a centralização do poder e a fragmentação mental. É preciso destacar o cenário da pandemia da
do processo de trabalho, características da era clássica COVID-19, que revelou aumento na precarização
da administração, como fragilidades do modelo de dos cenários de trabalho dos enfermeiros, em âmbito
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MODELOS DE GESTÃO EM ENFERMAGEM: UM DISPOSITIVO DE (DES)ENCONTROS.../ Da Silva, G., Silva, I., Lima, J., Veiga, K., Teixeira, G., De Almeida, D.
internacional. Nesse sentido, estressores gerados saberes é fundamental, dado que o trabalho em
pela precarização como a sobrecarga de trabalho, saúde é essencialmente coletivo e desempenhado
jornada extenuante, mudanças constantes de setor, por diferentes profissionais.
baixa remuneração e desvalorização profissional, Nesse sentido, modelos de gestão que estimulem
hierarquia centrada no modelo biomédico, o trabalho em equipe, que se configura na relação
falta de companheirismo da classe profissional e recíproca das intervenções técnicas e das interações
elevada carga psíquica propiciam a desmotivação dos múltiplos agentes envolvidos através de práticas
profissional(16-18). dialógicas, favorecem as ações de saúde integradas.
A frágil valorização do trabalho dos enfermeiros De outro modo, quanto menos dialógicas forem
aparece como um fator de desmotivação no as relações de trabalho, mais fragmentada será a
trabalho, caracterizada pela ausência de motivação dinâmica das equipes de atenção à saúde(22).
intrínseca ou extrínseca na realização das atividades. Os enfermeiros assumem papel de destaque na
A motivação no trabalho pode, além de conduzir construção desses espaços dialógicos, pois perma-
os trabalhadores a buscarem satisfação pessoal, necem 24 h nos serviços, gerenciando o cuidado
influenciar diretamente a atitude das pessoas em em enfermagem. Assim, acabam se estabelecendo
relação às tarefas que lhes são solicitadas e favorecer como elo entre os diversos profissionais. Para
o alcance dos objetivos da organização(17, 18). tanto, habilidades e competências gerenciais são
A atual configuração do cenário laboral da imprescindíveis aos enfermeiros para melhor
enfermagem marcado pela precarização, inten- desempenho das suas funções, que não são apenas
sificação, flexibilização e pouca valorização do assistenciais. Assim, eles precisam fortalecer seus
trabalho, sobretudo no ambiente hospitalar, assim conhecimentos em ferramentas de comunicação,
como, as mudanças organizacionais, impulsionam tomada de decisão, planejamento e gerenciamento.
a exaustão e esgotamento físico e mental desses Ainda, os enfermeiros deste estudo citaram falta
trabalhadores, acentuando quadros de estresse e de incentivo à formação e qualificação em processos
desmotivação(19). Ademais, nota-se impacto direto educativos relacionados à gestão. Segundo eles, há
tanto sobre a qualidade de vida do trabalhador uma preocupação com os processos assistenciais,
quanto sobre a qualidade da assistência prestada(17). com ênfase nos saberes técnicos especializados, mas
Por outro lado, os enfermeiros também perce- não há o mesmo estímulo para a capacitação dos
beram iniciativas de modelos de gestão participativa enfermeiros que ocupam cargos na gestão, como
e compartilhada, caracterizados por espaços de diá- se as habilidades e competências requeridas para
logo, escuta, partilha e fortalecimento das relações a gestão fossem inerentes a esses profissionais. Ao
interpessoais. Modelos de gestão participativos mesmo tempo, evidenciou a Educação Permanente
caracterizam-se pelo foco nos trabalhos em em Saúde (EPS) enquanto ferramenta de gestão nos
equipe, com formação de grupos que garantem a locais estudados.
partilha do poder, por meio de análises, decisões Nesse contexto, a estratégia da educação
e avaliações construídas coletivamente. Desse permanente se torna potente para apontar estra-
modo, oportunidades são criadas e oferecidas aos tégias de aperfeiçoamento da gestão e propor
trabalhadores, conferindo-lhes maior respon- melhor direcionamento e entendimento sobre o
sabilidade e autonomia nos processos decisórios, processo de trabalho. Do mesmo modo, permite
nos resultados, no seu desenvolvimento pessoal e o fortalecimento de práticas de enfermagem
profissional e, consequentemente, beneficiam o baseada em conhecimentos científicos de forma
cuidado prestado ao usuário(20). articulada com os métodos, técnicas e ferramentas
Para Beserra e Macedo(21), é necessário valorizar de supervisão para se embasar, com excelência, no
os colaboradores e as relações interpessoais saudáveis, exercício das suas funções(5).
de modo a direcionar o processo de trabalho para As estratégias de educação dentro dos serviços
um bom desempenho dos profissionais e das de saúde, também tem sido uma estratégia na
instituições, e alterar o clima organizacional para implementação da prática baseada em evidências
otimização dos resultados. Isso torna a organização (PBE). Por isso é importante que enfermeiros
mais segura, confiável e produtiva. Na saúde, esse gestores com suporte organizacional, fomente a
espaço de diálogo, escuta e compartilhamento de PBE dentro das organizações que atuam, no intuito
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