Instinto Assassino - Jennifer Lynn Barnes
Instinto Assassino - Jennifer Lynn Barnes
Instinto Assassino - Jennifer Lynn Barnes
Converted by convertEPub
©Kim Haynes Photography
Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Você
Capítulo 6
Capítulo 7
Você
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Você
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Você
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Você
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Você
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Você
Capítulo 39
Capítulo 40
Você
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Você
Capítulo 44
Você
Capítulo 45
Capítulo 46
Agradecimentos
Créditos
Para a “agente especial” Elizabeth Harding.
tanto que o fbi não tinha como justificar a mão de obra necessária para
Mas…
Não dava para suspender a busca por uma criança assim. Não dava
rosto está lutando contra isso, como se a torneira de choro pudesse ser
É
— É só mandar, Colorado, e te ofereço solidariamente uma distração
muito necessária.
protegido do fbi.
Bem, tecnicamente, foi Sloane quem hackeou o pen drive, mas deu
na mesma.
autopreservação.
Duas vezes.
Que o telefone toque, pensei. Que seja Briggs ligando pra me dizer
como seria ser ela, querer o que ela queria, fazer o que ela tinha feito.
Pareceu bem padrão aos meus olhos, mas, para Lia, as mentiras eram
tão gritantes quanto alguém cantando desafinado para outra pessoa com
ouvido absoluto.
quando disse essas palavras, ele estava mentindo. Havia uma pessoa que
conseguia entender o que tinha acontecido, uma pessoa que não achava
isso significasse que havia uma chance, por menor que fosse, de o
homem tê-la deixado viva: um claro lembrete de que ele era maior,
— Dean?
cabelo loiro que vivia caindo em seu rosto. Uma covinha que eu nunca
sofá, e ali estava eu, encaixada entre eles, sentindo o calor do corpo dos
Nós três nos viramos e vimos Lia na porta. Estava vestida de preto
debochada.
— Admite, Lia — disse Michael. — Você está tão feliz quanto nós.
não ia falar disso… e não ia deixar que Lia fosse por esse caminho.
Lia. Por um momento, achei que ele pudesse dizer alguma coisa para ela
na ponta, como se nada tivesse acontecido. Lia fez uma cara feia, e
— Uma garotinha vai pra casa — disse ela. — Por nossa causa.
você não terminar a frase, vai ter uma xícara de café fresquinho no seu
futuro.
dela.
Sem dizer nada, Michael, Lia e eu nos viramos para olhar para Dean.
a ela o mesmo tratamento que tinha dado a Lia. Quando Dean jogou
confusão. Mackenzie McBride não vai virar estatística. Não vai ser
esquecida.
Uma leve friagem se espalhou pelo quintal quando o sol se pôs, mas nós
acompanhar a música.
juntar a nós. Logo ficou aparente que a versão dela de dançar envolvia
Pula.
apoio.
— Não — disse Dean secamente. — De jeito nenhum. — Estava
perna só.
dele, ainda dançando. Ele arqueou uma sobrancelha para ela, mas não a
Ao meu lado, Sloane olhou para Lia, e então para Michael e Dean.
estava se exibindo por minha causa… nem por Michael. Ela estava
dançando de forma tão íntima com ele só para arrancar uma reação de
Dean.
Michael gosta de irritar o Dean. Isso nem precisava ser dito. Lia vive
mão pelo braço de Lia. Sloane tinha razão. Nós estávamos a um gesto
— Você não está feliz comigo — disse Michael quando voltei a ficar
dele em mim.
melhor que conseguia para não pensar nisso, para não me permitir sentir
nada por nenhum deles, porque assim que eu começasse a sentir alguma
coisa, qualquer coisa, Michael saberia. Eu tinha passado a vida toda sem
me relacionar com ninguém. Eu não precisava disso, não da forma como
ainda não tinha percebido que podia. Não só de Michael e Dean, mas de
Talvez nunca.
— Absoluta.
me dei conta, eu estava dançando com Sloane e Lia estava de novo com
relação a isso.
mentiras, deduzi que havia uma chance muito boa de Michael estar
blefando.
O único problema era que agora eu não tinha ideia se Lia estava
blefando.
crescido em Las Vegas. Ela contava cartas desde que tinha aprendido a
contar. Ficava de fora por volta de um terço das rodadas, mas ganhava
de desafio.
ideia. Talvez ele não esteja blefando. Eu duvidava que Michael desafiaria
Oreo.
nível”.
ainda, portanto…
fichas.
— O quê?
uma faca lentamente pelo tronco dele em uma linha irregular que ia da
Flush.
Lia bufou.
ordens. Era alta e magra, mas nada nela parecia fraco. O cabelo
um tom mais claro do que o terno. As roupas eram caras; ela as usava
— Cassie. — Senti o calor dele pela blusa. Ouvi quando disse meu
Um tiro. Dois. Michael cai. Locke… ela está segurando uma arma…
fui eu que levei um tiro. Não era meu trauma. Eu era o motivo para
mentiras.
com uma agente do fbi que fazia bico de assassina em série. Ela era uma
das suas supervisoras, uma presença constante nesta casa por anos, e
fatos.
ser Cassandra Hobbes. Não tinha imaginado que era do tipo que joga
strip pôquer. E não, você não ganha crédito por ser a única pessoa nesta
dele e jogou a de Lia para ela. Michael não pareceu muito incomodado
peito.
preenchê-la.
o fbi mandaria alguém para substituir ela. — Lia passou os olhos pela
demais, e me perguntei quais eram as questões que ela tinha com o pai.
acidental.
— Eu fui.
sua voz. Ela e Dean se conheciam, isso estava claro, tanto pela
declaração anterior dele quanto pela forma como a feição da agente se
Instinto materno? Isso não encaixava com o jeito como ela estava
vestida, com a postura ereta, com o jeito como falava sobre nós, e não
conosco. Minha primeira impressão da agente Sterling foi que ela era
Mas o jeito como ela olhou para Dean, mesmo tendo sido só por um
segundo…
modo hiperprofissional.
turma, Cassandra?
minha atenção. Isso me fez perceber duas coisas. Primeiro, com base na
escondido sob a fachada séria. Em algum momento, ela teria dito essas
E segundo…
imagem como um todo, para entender com que tipo de pessoa estamos
casa, o que significa que sabe exatamente o quanto acaba com a gente
não ter visto Locke pelo que ela era ou como lidaríamos com você
masoquista do que sádica, então estou supondo que só queria ver como
reagiríamos.
arma.
Academia do fbi. Fiz mais tempo de campo durante meu tempo no fbi
do que você vai ter na vida toda, e passei os últimos cinco anos no
adolescente.
debaixo de alguns metros de gelo, eu não conseguia ver o que era essa
coisa.
avaliação que vou fazer deste programa. Então sugiro que arrumem a
bagunça, vão para a cama e tenham uma boa noite de sono. — Ela jogou
tempo: o que aconteceu com a minha mãe quando eu tinha doze anos; as
mulheres que a agente Locke tinha matado no verão; o brilho nos olhos
presente de Locke para mim, parte do jogo doentio que ela fazia,
perfilando-a, como tinha feito em tantas outras noites como aquela. Você
O verdadeiro nome de Locke era Lacey Hobbes. Ela era irmã mais
Minha mãe. Virei o batom na mão e olhei para ele no escuro. Por mais
tinha perdido.
nem de nenhuma outra cor, era de esmalte incolor. Para que usar esmalte
Por quê? Voltei para as pistas que tinha dado sobre seu passado. Ela era
algum momento antes de sair, ela tinha conhecido Dean. Ele não
poderia ter mais de doze anos quando você o conheceu. Isso disparou
interagido com Dean tanto tempo atrás era se ela fosse parte da equipe
aquilo oficial. Dean tinha sido levado para uma casa velha na cidade
Sterling. Você era da equipe dele. Talvez fosse até parceira dele. Quando
Você não está aqui só como favor para o seu pai, falei silenciosamente
para a agente Sterling. Você conhece Briggs. Não gostava de Locke. E,
doze anos?
quando falei que estava bem. Quanto mais café ingeria, menor era a
com mais veemência contra a xícara de café número dois. Mas, naquela
dando de cara com os presentes na árvore, Sloane sorriu para mim e fez
o que eu pedi.
Você
O nervosismo foi inevitável na primeira vez em que você a
até metade das costas. Você perguntou qual era o nome dela.
Mas nada disso importa agora. Nem o nome dela. Nem a árvore.
— Ela vai resistir se você deixar — sussurra uma voz dentro da sua
cabeça.
garganta está seca. Está tudo pronto. Já está há algum tempo. — Eu vou
amarrá-la.
É assim que precisa ser feito. É o que aguarda essa garota. Ela não
deveria ter estacionado tão longe do prédio do homem. Não deveria ter
Não deveria.
Não deveria.
Não deveria.
Você está esperando por ela no carro quando ela entra. Está tudo
Ela te vê.
Você pula para a frente. Ela abre a boca para gritar, mas você
as cordas.
Começou.
Capítulo 6
Dormi até meio-dia e acordei com a sensação de que não tinha
cozinha. Ele estava com um lápis nº2 apontado na mão e completou uma
Sterling?
estava incomodado pelo fato de uma agente do fbi ter aparecido meio
isso? — perguntei.
não.
entendi que não devia haver nada que Judd pudesse fazer. O que eu não
entendia era por que Judd não parecia querer fazer nada. Ela estava ali
objetiva… nem justa. Eu estava julgando Sterling com base mais no que
achava que ela faria do que em qualquer coisa que ela já tivesse feito. No
na mente. Locke nunca dormiu aqui. Briggs não dorme. Você não faz as
fbi por qualquer outra coisa além de seu título ou sobrenome. Por que
estranho, ele quase me lembrou da minha avó italiana raiz, que achava
que eu estava em um programa patrocinado pelo governo para
atrapalhasse.
conseguia passar cinco minutos na cozinha sem Lia entrar para pegar
— Um o quê?
aquele tom calmo demais que eu imaginava que a tornava muito boa em
informada de que você teria aulas aqui. Algumas pessoas podem estar
— Você tem sorte de ter uma família que pode questionar seus
estudos um dia — continuou ela. — Nem todo mundo nesta casa tem
essa sorte, mas vocês todos vão receber a educação que foi prometida.
estudaram aqui por anos. Se Judd tiver feito o trabalho dele direitinho,
Sloane.
criminosa.
apelido.
que ser.
outra direção.
— Ronnie.
tenha avisado.
Sterling.
acabou de fechar o segundo caso de arquivo morto este mês — disse ele.
— Um sequestro de criança.
programa e que uma delas levou um tiro, então claramente isso vai ser
resolvido.
Duas crianças, Michael e Dean. Abri a boca para retrucar que nós
— Cassie, por que você não vai ver o que os outros estão fazendo?
Seria a mesma coisa ele dizer “por que você não vai brincar lá
de ver que o único realmente fazendo o simulado era Dean. Lia estava
— Bom dia, flor do dia — disse ela. — Eu não sou o Michael, mas,
com base na expressão no seu rosto, estou supondo que você passou um
tempo com a adorável agente Sterling. — Lia sorriu para mim. — Ela
não é incrível?
O sinistro na Lia era que ela podia fazer qualquer coisa parecer
genuína. Ela não gostava do fbi em geral, e era do tipo que desprezava
regras só por princípio, mas mesmo sabendo que o entusiasmo dela era
que ela tem a dizer — continuou Lia, o tom de voz honesto. — Eu acho
que talvez ela seja minha alma gêmea.
— Mas se alguém disser pra ele que eu falei isso, vou ser obrigada a
— Sterling fazia parte da equipe que pegou seu pai, não é? — falei,
ignorado Lia. Mas ele acabou botando o lápis de lado. Ele arqueou os
cara de poucas palavras, mas naquele dia ele tinha mais cinco para nós.
apoio não são incomuns, embora constituam uma minoria das uniões
— Se o fbi não tem uma política oficial pra namoro, duvido que
convencer a Receita Federal a fazer vista grossa. — Ela fez uma pausa.
— O homem que fez o fbi me tirar das ruas e me dizer que a outra
Era a primeira vez que eu ouvia Lia falar do passado dela antes do
Lia, o que me disse que ela estava contando a verdade e ele queria
Era fácil esquecer, quando ele dizia a palavra unsub, que seu pai
nunca tinha sido um Elemento Desconhecido para ele. Dean tinha vivido
cabeça quente e seguia seus instintos, mesmo quando não era a coisa
certa a fazer.
passado por grandes mudanças nos últimos cinco anos, mas, mesmo
assim, era difícil ver a conexão entre a mulher de pavio curto e movida
de equipes que poderiam pegar esse caso. Por que designar para Briggs?
de Sterling estar na cola dele. Agora que eu sabia que eles tinham sido
arquivo morto este mês, vão ter que terminar esses simulados antes de
eu voltar.
a verdade. Mas também sei que a grana do fbi não vai deixar que você
trouxeram aqui pra fazer simulado. Nos trouxeram aqui porque somos
chantagear pra entrar neste programa pra deixar você cortar minhas
controle de raiva e um pai que o tinha trocado com o fbi por imunidade
E havia eu.
mesmo dormindo.
bem. Com toda a falação sobre pontos fracos, Sterling parecia precisar
ouvir isso.
que os outros.
cena de crime agorinha mesmo, e algum idiota achou que seria boa ideia
Ela fazia aquilo, tudo aquilo, para manter a antiga Veronica Sterling,
Algum idiota achou que seria boa ideia falar com a imprensa.
Briggs não nos contaria nada sobre um caso atual. O programa dos
Briggs para uma nova missão, nós não precisaríamos contar com ele
começarem.
— Lia, vou te dar mil dólares pra você nunca mais se referir a
Mas você só pode botar a mão no seu fundo de investimentos com vinte
— Notícia urgente.
apareceu na tela. Ela estava na frente de uma construção com uma torre
onde hoje os 6.800 alunos que formam o corpo discente viram um dos
gramado do reitor.
Larry Vernon, hoje cedo. A polícia está investigando todas as pistas, mas
uma fonte dentro do corpo policial parece ter dito que um homem, o
homens por trás das lendas dos crimes mais horrendos já cometidos”.
filmagem fosse feita. Aqui é Mara Vincent para o Channel Nine News.
Nenhum de nós afastou o olhar. Para Lia e Michael, pode ter sido
Era o corpo.
Essa não é uma língua que as pessoas deviam querer falar. Dean era
quem tinha me dito isso, mas, ao meu lado, eu sentia os olhos dele
O cadáver tinha cabelo loiro comprido. Quem tinha feito o vídeo não
foi interrompida.
Sloane fechou o notebook. A sala ficou em silêncio.
ver se ele concordava, mas ele estava parado, olhando para a tela da
previsão do tempo.
— Dean? — falei.
— Ei. — Lia foi para perto dele num segundo. — Ei, Dean. — Ela
não tocou nele, mas ficou ao seu lado. A expressão no rosto dela era
Estiquei a mão para tocar na nuca dele. Ele tinha feito o mesmo comigo,
assassinos.
Assim que minha mão fez contato, ele se encolheu. O braço foi
pulso. Os cílios dele não eram pretos. Eram castanhos, mais claros do
que os olhos. E estes estavam me encarando agora, redondos e escuros.
— Cassie?
tocara um momento antes, mas não estava mais doendo. Meu coração
— Você está?
que saísse dali. Quando ele respondeu, vi o que era: penitência. Ele se
obrigaria a dizer mais do que estava à vontade para dizer para se punir
Para me compensar.
— Já estive melhor. — Dean poderia ter parado aí, mas não parou.
Sterling terem sido chamados é por eles terem sido os agentes originais
Eu lembrava como era andar por uma cena do crime sabendo que
no mudo. — E eu tenho quase certeza de que foi isso que fizeram com
essa garota.
Você
O gramado do reitor foi um belo toque. Você poderia
verem.
jogo… o jogo é longo. Na próxima vez, sua ansiedade não vai ser tanta.
Na próxima vez, você não vai ter nada para provar. Na próxima vez,
frente do carro, a corda preta em volta do pescoço sem vida. Dean não
de tanto esforço que está fazendo para guardar isso só pra si.
assassinato da minha mãe, e agora tem uma pessoa por aí imitando o pai
do Dean?
ser exatamente melhores amigas, mas ela também não costumava me ver
como inimiga.
— Lia…
que entende? Você não faz ideia do que ele está passando. Nenhuma.
— Está com raiva da situação e do fato do Dean ter ido pra algum lugar
Por mais gente que venha pra esta casa, pra Lia, eles sempre vão ser uma
Solitário.
muros, afastar outras pessoas. Mas eu nunca o tinha visto afastar Lia
antes. Ela era como da família. E, desta vez, ele a tinha deixado de
fora… conosco.
ao fato de que talvez agora não fosse a hora para uma conversa sobre os
sentimentos que Dean poderia ter por mim. Michael, sempre um mestre
discernível quando ela continuou. — Lia sabe que Dean gosta de Cassie.
Acho que não se importa. Na maior parte do tempo, imagino que ela
Dean. Isso não significava que ela gostava do fato de que quando ele
conseguido desarmá-lo. Lia não ficava feliz com isso. Ela era a pessoa
com quem ele deveria contar, não eu. Aí eu fui lá e piorei a situação
— Eu não estava tentando dizer que sei exatamente o que ele sente.
parece ser um golpe horrendo do destino nós termos sido trazidos pra cá
loiro platinado do rosto com a mão. — Nós não estamos lidando com
tentando segurar alguma coisa que não estava ali. — Está tudo
— Ser Natural não significa só nascer com uma aptidão incrível pra
alguma coisa. Você precisa aprimorá-la. Sua vida toda precisa aprimorá-
la. — A voz de Sloane ficou mais suave. — Vocês sabiam que já fizeram
que Sloane ler artigos sobre detecção de mentiras era o jeito dela de
inerente. Sloane era melhor com objetos. Com números. Com fatos.
detectar mentiras.
dizendo que o talento por si só não bastava. Nós não tínhamos nascido
capaz de mentir sem esforço, do tipo que sabia quando alguém estava
vezes em uma cidade nova a cada semana. Eu não tinha tido lar. Nem
amigos. Entrar na mente das pessoas, entendê-las, mesmo que elas nem
gostava de falar da vida dele em casa. Ele tinha me dito uma vez que o
Michael.
ele se sabia o que o pai estava fazendo com aquelas mulheres, a resposta
precisam ficar sozinhas. Quando Dean estiver preparado pra falar, ele vai
falar.
sabia o quê.
— Não sei.
Capítulo 9
Fui parar na biblioteca. Prateleiras de uma parede à outra e do
teto ao chão guardavam mais livros do que eu poderia ler em duas vidas.
última vez que eu tinha tentado ler a entrevista 28, parei quando me dei
Redding: Você está fazendo as perguntas erradas, meu filho. Não é quem elas são, é o que
elas são.
Briggs: Foi por isso que você as amarrou com lacres? Porque elas eram suas?
Redding: Você quer que eu diga que eu as amarrei pra elas ficarem. Seus psicólogos
abandonaram. Sobre a minha mãe e a mãe do meu filho. Mas você já pensou que talvez
eu goste da aparência da pele de uma mulher quando ela luta contra o aperto do
plástico? Talvez eu gostasse de ver linhas brancas aparecerem nos pulsos e tornozelos,
ver as mãos e os pés ficarem dormentes. Talvez o jeito como os músculos se contraíam
e algumas dessas mulheres lutavam até sangrar enquanto eu ficava sentado olhando…
Briggs: E marcá-las? Você vai me dizer que não era uma marca de propriedade? Que ser
nunca gostavam de mim. Os professores diziam que eu era emburrado. O meu avô me
criou, e ele sempre me mandava não olhar pra ele assim, não olhar pra minha avó
assim. Tinha alguma coisa errada em mim. Eu tive que aprender a disfarçar, mas meu
filho? Dean? Ele nasceu sorrindo. Só de olhar para ele as pessoas sorriam também.
Redding: Eu o fiz. Ele era meu, e se ele tinha o poder de encantar, de deixar as pessoas à
vontade, eu tinha.
Briggs: Seu filho te ensinou como se misturar, como se fazer gostar, como se fazer confiar.
Redding: Por que você não pergunta pra sua esposa? Uma coisinha linda ela, não é? Mas a
— Boa leitura?
— Lia.
de Lia, mas ela não parecia tão furiosa comigo como antes.
desculpas, sabendo que podia irritá-la. — Você tem razão. Eu não sei o
que Dean está passando. A situação com Locke e comigo… não foi a
mesma coisa.
fixou o olhar no fichário no meu colo, e a voz ficou seca. — Mas sempre
— Meu Deus, Cassie. Eu falei que isso não tinha a ver com você.
Eu não sabia bem o que pensar. Lia se esforçava para ser difícil de
Dean.
— Ele não ia querer que você lesse isso. — Ela falou com
poderia…
Suas intenções são sempre tão boas. Você sempre só quer ajudar. Mas,
no fim das contas, não ajuda. Alguém se machuca, e esse alguém nunca
é você.
— Que fofo você acreditar nisso, mas é claro que vai. — Ela
deslizou pela parede até estar sentada no chão. — Briggs me fez ouvir
ver com o pai dele. Mas eu era como você. Achava que poderia ajudar,
mas não ajudou, Cassie. — Cada vez que ela dizia ajudar, parecia mais
Ele te faz pensar que está mentindo quando está contando a verdade, e
vai dizer coisas que não podem ser verdade… — Lia balançou a cabeça,
coisa que Redding tem a dizer vai mexer com a sua cabeça, Cassie, e
Ela tinha razão. Dean não ia querer que eu lesse aquilo. O pai dele o
tinha descrito como um garotinho que tinha nascido sorrindo, que era
levantada.
Principalmente comigo.
Eu sabia que não devia mentir para Lia. Havia algo dentro de mim, a
que queria respostas, que precisava encontrar sentido nas coisas… nas
minha mãe, como o que Daniel Redding tinha feito com aquelas
mulheres.
inferior antes de seguir em frente. — Isso não quer dizer que ele esteja
certo.
Na minha primeira semana no programa, Dean tinha tentado me
começara a procurar a ajuda dele nos casos, não havia mais nada para
arruinar.
Lia estendeu a mão e tirou o fichário do meu colo. Ela fez um ruído
debochado.
escolher passar a noite com Michael de novo, você vai saber, porque, na
manhã seguinte, você vai estar invisível, e Michael só vai ter olhos pra
Ela pode fazer isso? Fiquei lá olhando para onde ela estava. Acabei
saindo do transe e disse para mim mesma que ela tinha razão, que eu
não precisava saber os detalhes do pai do Dean para apoiá-lo agora, mas,
pensar nas partes da entrevista que não tinha tido oportunidade de ler.
desaparecendo por horas seguidas. Talvez, quando ele chegou lá, isso
o garoto de doze anos cujo pai tinha sido preso por assassinatos em
série.
Ter empatia com Dean: os sentimentos dele pelo pai, o que olhar
para o cadáver daquela garota deve ter causado nele… eu não conseguia
o de Locke nas minhas. Talvez Lia tivesse razão. Talvez eu não pudesse
direção da garagem. Parei antes da porta. Dava para ouvir o som abafado
Ele não te quer aqui, lembrei a mim mesma. Mas, ao mesmo tempo,
não conseguia deixar de pensar que talvez se isolar de nós tivesse menos
a ver com o que Dean queria e mais com o que ele não se permitiria
querer. Havia uma chance, uma chance boa, de que Dean não precisasse
ficar sozinho, e sim de que ele achasse que ficar sozinho era o que
merecia.
me viu.
estava ficando mais rápido e, a cada soco, ele botava mais força nos
controlado. Punição, liberação. Ele recebia de bom grado a dor nos nós
Dei alguns passos para perto, mas fiquei fora do alcance dele. Desta
vez, não cometi o erro de tentar tocar nele. Os olhos estavam grudados
no saco, sem enxergar. Eu não sabia quem ele estava atacando, o pai ou a
— Eu te beijei.
Não sei o que deu em mim para dizer aquilo, mas eu tinha que dizer
um jogo.
Dean não respondeu. Percebi nessa hora que aquilo não tinha
realmente a ver comigo. Ele não estava me vendo. Tinha a ver com uma
Cassie de faz de conta e idealizada que ele tinha criado na cabeça, algo
com que se atormentar. Uma garota que merecia coisas. Uma garota que
opinar na questão.
Locke quem me deu. Eu digo pra mim mesma que guardo como
lembrete, mas não é tão simples. — Ele não respondeu, então continuei.
— Locke achou que eu podia ser como ela. — Esse era o ponto do
joguinho dela. — Ela queria tanto, Dean. Eu sei que ela era um monstro.
segundo, esqueço. E nesse segundo, antes de lembrar o que ela fez, sinto
parar de pensar que eu devia ter percebido. Eu devia ter percebido que
ela era a última conexão com a minha mãe. Devia ter percebido que ela
não era o que parecia. Devia ter percebido e não percebi, e pessoas se
Ele limpou as mãos na calça jeans, e eu ouvi o que ele não estava
dizendo.
— Suas mãos estão sangrando — falei, a voz tão rouca quanto a dele
— Não, eu… — Dean olhou para baixo, viu os nós dos dedos
Essa certeza me fez agir. Um minuto depois, eu estava de volta com uma
— Senta — falei.
Como Dean não se mexeu, olhei de cara feia para ele e repeti a
paterna. Quem ousava discutir com a Nonna fazia isso por sua própria
conta e risco.
— Mão — falei.
— Cassie…
direita. Nenhum de nós disse nada. Eu nem olhei para ele. Mantive os
comprimento do polegar.
que me surpreendi.
Eu não quero fazer isso. Queria que tudo ficasse igual. Era capaz de
como prova. Ao lado do bronzeado dele, minha pele era quase pálida. —
Não tem marca nenhuma. Não tem hematoma. Nada. Eu estou ótima.
— Eu sei.
Na noite anterior, quando a chegada da agente Sterling me deixou em
parafuso, foi ele quem rompeu o domínio que esse outro lugar teve
Eu não respondi.
— Não foi culpa sua, Cassie. Você não tinha como saber. — À
movimento de seu pomo de Adão. Ele abriu a boca e falou. — Meu pai
me fazia olhar.
O que ele tinha acabado de me contar era bem maior do que qualquer
coisa que eu poderia ter contado. Ele estava se afogando, e eu não sabia
como tirá-lo dali. Nós dois ficamos sentados em silêncio, ele no banco,
eu no chão. Eu queria tocar nele, mas não toquei. Queria dizer para ele
que tudo ficaria bem, mas não disse. Só visualizei a garota que tínhamos
visto no noticiário.
A garota morta.
Dean podia socar um saco de areia até a pele dos dedos se desgastar
toda. Nós podíamos trocar confissões que ninguém nunca deveria ter que
fazer. Mas nada disso podia mudar o fato de que Dean não teria uma boa
não.
Capítulo 11
Na manhã seguinte, depois de rolar de um lado para o outro
do Dean?
Abri a boca para dizer para Sloane que ela estava invadindo o meu
olhos.
o corpo da garota lá sem ser visto — disse Sloane, o que era e não era
praticamente vê-la esperando que eu surtasse com ela, que dissesse que
estava lidando com a situação com Dean errado. Ela sabia que era
errado.
teoria.
Quando Dean ficava chateado, ele ia para a garagem. Quando Sloane
estava chateada, ela ia para o porão. Eu não sabia se ela tinha outro jeito
de encarar as coisas.
pessoa que deveria estar dando sermão sobre dar espaço ao Dean.
portas umas semanas atrás pra uma simulação que eu estava fazendo. O
capô era cinco centímetros mais longo, e a inclinação não era íngreme o
suficiente, mas nada que uma marreta bem manuseada não pudesse
ajustar.
cenários internos, então fui para a cena de parque ao lado. A grama tem
Era fácil esquecer, às vezes, que o dom de Sloane ia bem além dos
do carro.
Como resultado, eu estava olhando para uma réplica quase exata do
frente, mas agora eu conseguia andar em volta para ter uma visão de 360
Você lutou, né? Lutou tanto que as cordas cortaram seus braços.
outra passava pelo teto solar e estava presa em alguma coisa dentro do
carro.
carro.
universidade — falei.
em volta da casa. Tem uma estrada diretamente a oeste que faz uma
curva, mas, se você não virar, sai dela e desce uma inclinação em
direção à floresta.
Supondo que ele a matou no carro, ele pode tê-la amarrado na floresta…
espaço. Ela tinha trocado o terninho cinza por um preto e a camisa rosa
por uma cinza-prateada bem clara, um tom quase idêntico aos olhos
dela. O cabelo estava preso em uma trança embutida e o rosto estava
rígido, como se ela tivesse prendido a trança de um jeito tão firme que a
Ela parou a uma curta distância da cena de crime que Sloane tinha
montado.
mas eu que não ia jogar minha colega aos leões. Me coloquei entre
sob circunstância nenhuma contar o que Dean tinha dito sobre o pai.
a agente Sterling.
— Dean nos contou que esse caso se parece muito com os do pai
pessoa que vazou aquele vídeo. Ver isso… era a última coisa de que o
Dean precisava. Mas sabe qual é a penúltima coisa de que ele precisa?
Alguém recriando aquela cena no porão dele. Você não aprendeu nada
no verão?
Essa pergunta foi direcionada a mim. O tom dela não foi zangado
Dean, usando ele pra resolver casos, Briggs quase foi demitido. Deveria
ter feito ele ser demitido. Mas meu pai e Briggs conseguiram chegar a
ativos. A vida de vocês não era pra estar em jogo. — A agente Sterling
fez uma pausa, a expressão nos olhos dela presa entre a raiva e a traição.
vocês de que vão deixar isso pra lá. Nada de modelar, perfilar, hackear.
que Sloane não estava dizendo: que construir aquele modelo era a única
coisa que ela podia fazer por Dean. Também era o jeito dela de lidar
dúvida na minha mente de que ela queria que eu ouvisse aquilo como
também.
e ridículo.
no coração, como se tivesse levado um tiro. Foi um gesto que teria sido
impressionado, claramente.
Eu dei de ombros.
sorriu.
Senti o ar sumir dos meus pulmões. Ele não tinha como saber o
deixei o cabelo cair no rosto, mas era tarde demais. Michael já tinha
rosto.
— Cassie…
— Eu estou bem.
Locke era sádica. Parte do prazer que ela tinha ao matar era imaginar
Mas, às vezes, saber que você era capaz de fazer uma coisa era quase tão
— Ei. — Michael virou o rosto para dar uma boa olhada no meu. —
Houve uma época em que ele teria tirado o cabelo do meu rosto e
ter tentado.
— Então ela não vai pular no seu pescoço assim que descobrir que
apesar de Michael não ter pedido explicação. — Não queria que ele
ficasse sozinho.
vi um vislumbre de alguma coisa nos olhos dele, percebi que ele tinha
escolhido não esconder de mim. Ele gostava que eu fosse do tipo que se
Michael fez uma imitação boa de alguém que não ligava para a
resposta àquela pergunta. Ele talvez até conseguisse enganar outro leitor
momento.
— Ele não está bem — falei. — Só vai ficar bem quando Briggs e
talvez ajudasse, mas isso não vai rolar. Sterling não vai permitir.
irritada com alguém foi quando o Briggs designou agentes pra vigiarem
cada movimento seu. Mas você não gostou da Sterling desde o momento
rosto.
— Ela não gosta do programa — falei, só para fazer com que ele
eu não sou fã de regras. Ela tem medo de passar mais do que alguns
segundos olhando para Dean, mas não tem medo dele. Ela até gosta da
Lia, apesar da Lia não gostar de regras tanto quanto eu. E Sloane a faz
lembrar de alguém.
durante o jogo de pôquer. Ele via muito do que Sterling estava tentando
esconder. Mas por que ela estava escondendo… essa era a pergunta para
mim.
Olhei para Judd, parado no batente da porta. Ele era fuzileiro, não
— Quase terminando.
assunto.
no rosto de Judd.
— Eu tenho escolha?
ao meu lado. Ele olhou enquanto Michael saía. Alguma coisa na forma
falando do fbi.
Podia estar planejando a próxima morte agora. Era fácil nos deixar
— E o diretor?
Judd me encarou.
encerrando a discussão. Ele apoiou as palmas das mãos nos joelhos, deu
impulso e se levantou. — Acho que seria bom você ficar longe do porão.
rispidamente.
Durante todo o tempo que estava ali, Judd nunca falou para nenhum
de nós o que tínhamos que fazer. Isso tinha a marca da agente Sterling
do começo ao fim.
no que eu estava pensando. — Se você permitir, tem muita coisa que ela
poderia te ensinar.
quites.
Judd me encarou.
Por muito tempo depois que ele saiu, eu pensei nas palavras que mal
ouvi. Ele tinha dito que Sterling era uma boa agente. Que Briggs era um
última coisa.
voz familiar.
Mas não viram. Ninguém te viu. Você está acima das outras pessoas.
Você que fez. Acabou. Mas não parece suficiente. Você não se sente
suficiente.
Capaz o suficiente.
Forte o suficiente.
Inteligente o suficiente.
Respeitável.
noticiário, não sobre ela. Ela não era nada. Ninguém. Você a tornou
especial.
Mas a voz te pede para esperar. Pede para que você seja paciente. O
do pesadelo, mas sabia que tinha tido um. Meu coração estava
Meus dedos foram até o batom Rosa Vermelha por vontade própria.
— Você não está bem, Dean. Não é pra ficar bem com isso. Eu não
para recuar. Prestei atenção em passos, mas não houve nenhum. Parecia
— Dean…
— Você saiu do fbi. Acho que nós dois sabemos por quê.
com raiva. Precisava provar que não estava com medo e uma pessoa
acabou morrendo por isso. Porque eu não pude seguir as regras. Porque
garoto que você viu uma vez quando prendeu o pai dele.
pra lá.
— Eu fiz uma promessa pra você uma vez. — A voz de Dean estava
Sterling rispidamente. — Nós temos pistas boas. Não posso dizer quais,
mas posso jurar que temos. É imitação, Dean. Como pintar seguindo os
números. Só isso. Daniel Redding está preso. Vai ficar preso pelo resto
— Por que você precisa saber? — Desta vez, a voz dela ficou tão alta
— Eu só preciso.
Silêncio. Nenhum dos dois falou nada por pelo menos um minuto. O
sabia que era mais particular do que qualquer coisa que Dean tinha me
contado.
Mas eu não conseguia me mexer. Não conseguia nem lembrar como
se fazia isso.
— O nome dela era Gloria. — Quem falou isso foi Dean, não
Sterling, então não tive certeza de quem era ela naquela resposta. — Ele
me apresentou a ela. Fez com que ela dissesse o meu nome. Perguntou
se ela gostaria de ser minha mãe. Eu tinha nove anos. Falei que não
queria uma nova mãe. E ele olhou para Gloria e disse: “Que pena”.
passinho silencioso.
Na minha cama, fechei os olhos e tentei não pensar no que tinha ouvido,
Eu fracassei.
Tinham uma história. Para de pensar nisso, falei para mim mesma. Não
faz isso. Eu não conseguia parar, da mesma forma como Sloane não
Dean fez uma promessa para você uma vez, agente Sterling, e, seja
Redding. Você gosta de Dean. Michael disse que você tem medo até de
olhar para ele, mas obviamente você não culpa o Dean pelo que o pai
dele fez.
Você sabe que o Dean descobriu o que o pai estava fazendo, não
segredo que eu tinha tanta certeza de que ele não havia contado para
ninguém… ela também sabia. Isso tornava mais difícil manter meu
Você acha que pode protegê-lo. Acha que, se ele não souber o que
está acontecendo, não vai ser afetado. Era por isso que você não queria
com Dean, por que ela não via que era o não saber que o mataria? Não
Ele se culparia por aquela garota assim como se culpava por todas as
outras.
talvez na do pai dele, pelo menos uma das vítimas de Redding tinha
morrido porque não seria uma mãe substituta adequada para Dean.
rosto, que estava úmida. Quando meus olhos se ajustaram à luz, levei um
terceiro disparo.
além do copo de gelo que tinha na mão esquerda, ela estava com uma
Meus olhos foram da peça de roupa na mão da Lia para a roupa que
ela estava usando: calça preta de couro e um top frente única prateado
— Veste isto.
— Por quê?
duas vezes nas últimas 48 horas — você não pode ir a uma festa de
crime.
— Essa é uma ideia bem ruim — falei para Lia. — Judd nos
crime no porão.
mataria.
certas ruivas aqui presentes, eu sou especialista em não ser pega. Coloca
o vestido, Cassie.
— Que vestido?
camiseta.
— Este vestido.
— Não existe universo em que isso seja longo o suficiente pra ser
considerado um vestido.
pernas.
Lia, mas ela deu um passo à frente, invadiu meu espaço e me empurrou
na bancada do banheiro.
bem se o fbi fizer besteira com esse caso. Aí me diz que você tem cem
por cento de certeza de que não vamos encontrar alguma coisa que eles
que nós não tínhamos… mas ninguém tinha intuições como as nossas.
Era esse o ponto do programa. Era esse o motivo de Judd ter medo de
conseguissem parar.
diretor acabar com o programa, ela estava mentindo. Posso garantir que
isso está fora do alcance dela. No máximo, ela poderia enviar um de nós
pra casa, e eu apostaria muito dinheiro que o diretor não deixaria que ela
mandasse você pra casa, porque você é uma alternativa boa e positiva ao
deu um passo para trás, me dando espaço para respirar. — Você diz que
se importa com Dean — disse ela, a voz baixa. — Você diz que quer
ajudar. Isso vai ajudar. Eu mentiria pra você sobre muitas coisas, Cassie,
mas ajudar Dean não é uma delas. Eu não faria isso por você, por
Eu coloquei o vestido.
a barra.
Lia puxou meu rosto e passou base antes de exibir um gloss labial
Era em momentos assim que eu desejava que Lia não fosse uma
mentirosa compulsiva.
pessoa que ele tinha sido na época, o filho rebelde de uma família rica
prolongado.
voando ao vento. Ela tinha aberto a janela e não dava sinal de querer
pensando?
Por mais que eu tentasse não perfilar os dois, eu ficava pensando que
era Lia quem tinha chamado Michael para participar daquela saída
Porque ele devia isso a ela. Porque, por mais que Michael gostasse de
meu cérebro, e Michael viu meu olhar pelo retrovisor. Ele tinha me dito
olhou para ela, que fez um gesto com a ponta da unha roxa. — Pega a
mim.
palavras da frase. Michael apertou o volante de leve. Lia queria que ele
soubesse que eu estava fazendo aquilo por Dean. Queria que ele se
Era a cara dela botar lenha na fogueira e sair. Por mais que
que me levou a fazer aquilo por Dean. Do mesmo jeito que eu tinha
passado o trajeto inteiro me perguntando por que Michael tinha dito sim
para Lia.
— Isso não é uma boa ideia — falei enquanto Lia andava na direção
do mercadinho.
não pude ver o rosto dele, mas era bem fácil imaginar o brilho profano
em seus olhos.
Não respondi.
— Agora é sua vez de dizer alguma coisa sobre como essa camisa
valoriza meus olhos. — Michael falou tão sério que não pude deixar de
abrir um sorriso.
um sorrisinho debochado.
um jeito que deixou bem claro que ela seria ótima para tentar passar por
alguma irritação.
que pareciam estar sofrendo mais com o assassinato que tinha abalado o
chateados por outros motivos, incluindo, mas não só, paixonites não
interessante a dizer.
Lia tinha dançado com pelo menos metade dos garotos presentes e
lado. Tinha quase 1,80 metro e estava todo de preto. Havia uma pelugem
não que estava pensando que havia quarenta por cento de chance de ele
Pessoas jovens, bonitas, pessoas que têm a vida toda pela frente. A única
fazê-lo falar; seria fazer com que dissesse alguma coisa útil.
Aquele cara não era um dos alunos que Michael tinha identificado,
mas eu soube antes de ele responder que a resposta seria sim. Ele não
— De qual matéria?
professor Fogle. Eu fiz ano passado. Agora, sou monitor. Fogle está
encontrado.
perseguido.
— Não — falei, sem conseguir não pensar no esforço que Dean tinha
feito só para descobrir o nome dela. — Acho que podemos dizer que ela
personalidades.
conferir.
pernas. A roupa que Lia tinha escolhido para mim deixava bem pouco
arqueou as sobrancelhas. Não assenti para informar a ele que tinha uma
pra todo mundo. — A maioria das pessoas teria parado ali. Geoffrey,
notebook no projetor.
planejando o tempo todo levar uma garota até ali para se exibir. Eu me
sentei, ainda alerta, mas menos cautelosa. Geoffrey não era nosso unsub.
validação da morte.
Locke.
— Geoffrey.
— Bryce.
Geoffrey suspirou.
gostava muito dele. Michael deve tê-la tirado do grupo no momento que
Ela passou o braço pela cintura de Michael. Vê-la tocar nele foi mil
eu estava.
— Duvido que você fosse querer que o professor Fogle soubesse que
Geoffrey.
— Legal.
expulsar Michael.
de Geoffrey mudou quando ele andou pelo palco e foi passando de slide
em slide.
Corpo.
Após corpo.
Após corpo.
do jeito deles mil vezes por dia. Quando a tragédia acontece, quando
alguém faz uma coisa tão horrível que não conseguimos compreender,
nós fingimos que a pessoa não é humana. Como se não houvesse algo
tinha sido ele quem havia escrito o discurso. Voltei minha atenção para o
homem que tinha feito isso. Deu para perceber, ao ouvir Geoffrey repetir
as palavras dele, que o professor Fogle era uma figura imponente. Com
base no tamanho daquela sala, a matéria dele era popular. Ele era um
com monstros tinha que lutar contra se tornar um monstro. “Se você
olhar por muito tempo para o abismo, o abismo vai olhar para você.” —
Geoffrey parou em um slide que incluía dezenas de fotos, não de corpos,
tipo de monstro que caçávamos poderia ser qualquer um. Seu vizinho.
Sua tia.
fez uma pausa para causar impacto. — Ted Bundy. Jeffrey Dahmer.
Esses nomes significam alguma coisa para nós. Neste semestre, vamos
— E quando diz eu, ele quer dizer o professor — ouvi Bryce fingir
sua prisão. Mais três vítimas que batiam com o modus operandi dele
estava rasgada e, embaixo, dava para ver cortes; alguns longos e fundos,
alguns superficiais, alguns curtos. Mas o que chamou minha atenção foi
marcada em formato de R.
Era isso que o pai de Dean tinha feito com aquelas mulheres. Era
nele. Ele não sabia o que estava falando. Aquilo eram só fotos para ele.
Ele não sabia como era quando um ente querido desaparecia, como era
marcada, sabe.
— Você disse que ela fazia essa matéria. Que você a conhecia. —
Minha voz soou seca. O fato de Geoffrey conseguir falar com tanta
assassinato.
Geoffrey me encarou.
Mas Emerson era. Ela era legal com todo mundo. Um dos caras do
nosso grupo, você tinha que ver como ele é. Ele é tipo um tatu-bola.
Você pode dizer qualquer coisa pra ele que se encolhe em uma bola
garoto do grupo, é aquele tipo de cara. Sabe aquele tipo irritante, que se
você não sabe quem é no seu grupo tem uma boa chance de o chato ser
um sorriso.
Bryce não conseguiu usar o tom distanciado de Geoffrey. Ela estava
abalada pelo que tinha acontecido com Emerson. Não era fingimento
e dei uma pra cada aluno da turma. Ela foi a única que não apareceu.
Bryce deu de ombros. Obviamente, ela não sofreria por ele. Michael
se virou para a porta e olhou para mim ao passar. Lia, gesticulou com a
boca.
visto, ele achou que eu estava no papo. Garota morta. Aula bizarra.
acompanhada.
Michael mostrou o celular. Havia uma imagem torta de Lia com dois
— “Heron Hall, terraço.” — Fiz uma pausa. — O que ela está fazendo
queria acreditar que Lia não sairia da festa sozinha com alguém que ela
só amigos de Emerson.
enviado uma foto dos garotos com quem estava conversando, para o caso
Lia imitava muito bem alguém que sabia se cuidar… mas ela sabia
Dean não a teria deixado, pensei, sem conseguir me segurar. Era por
isso que ele era a única pessoa no mundo por quem ela pisaria em fogo,
tanto para si mesmo quanto para mim. — Ou veria como insulto pessoal.
Lia era uma das nossas. Ela tinha que estar bem. Por favor, esteja
proibida a entrada.
Ouvi Lia rindo antes de vê-la. Era um som leve, quase um tilintar,
terraço.
noite enluarada. Meus olhos procuraram Lia. Quando vi que ela estava
estendia aos seus pontos de encontro. Não só uma torre, não só uma
torre trancada, mas o terraço de uma torre trancada. De lá, dava para ver
Do outro lado do terraço, Lia nos viu. Havia duas pessoas com ela,
ambas homens.
pensar que Sadie era o nome verdadeiro de Lia. Nenhum de nós sabia
feições bonitas de um jeito clássico. Havia uma boa chance de ele estar
flexionando o peitoral.
Derek deu uma cotovelada no garoto da direita, com tanta força que
macio era o melhor adjetivo para descrevê-lo. Ele era pequeno e gordo, e
parecia ter sido feito de argila fresca. A pele tinha espinhas e ele levou
bola…
quisera dizer quando o descreveu como “aquele tipo de cara”. Ele devia
Clark, que ficou vermelho. Derek assentiu para mim por cima da cabeça
— Foi o que eu falei. — Derek levantou uma das palmas das mãos
isso. Derek enrijeceu. Clark não pareceu se mover. Ao meu lado, dava
pelo jeito como falava da Emerson, parecia que ele nem ligava.
Derek voltou a atenção para Michael. O que quer que tenha visto lá,
Olhei para Lia. Ela assentiu de leve; Derek estava falando a verdade.
— Que tal foi ele? — Derek riu baixinho. — Ele mandou ver e depois
mandou ver.
Eu entendo. Não é pra falar mal dos mortos. — Derek se virou de costas
— Isso tudo foi melhor do que eu esperava — disse Lia, por fim. —
vitória.
atirador de elite militar. Eu sou sorrateira, mas não faço mágica. Vamos
fazer aquilo.
boca. — Conta, Michael. O que você achou do monitor, que era uma
pista tão promissora que a Cassie saiu da festa com ele, com você atrás?
deixado para trás. Ela cuspiu as palavras como se não se importasse nem
um pouco.
Você acha mesmo que eu devia ter deixado que ela fosse sozinha?
— Estou surpresa, só isso. — Lia deu de ombros de forma
exagerada. — Seguir Cassie deu tão certo pra você da última vez.
Eu merecia aquilo. Por tê-la deixado na festa, por não ter nem
— Mas não, você saiu não com um, mas dois estranhos…
fechados.
semana antes. Lia tinha certeza de que era capaz de lidar com os Dereks
respondendo.
— Ele não ficou feliz quando eu apareci. Ficou menos feliz ainda de
me ver com Bryce. Percebi uma onda de culpa quando ele a viu, seguida
minha.
Fiz uma pausa para avaliar minhas impressões dele. — Ele me escolheu
porque eu pareço nova. Esperava que eu babasse em cada palavra
daquela aula, que ficasse com um pouco de medo dele, mas também
professor como?
pensamento. — Isso é parte do que o atrai para essa área de estudo. Está
— Eu teria que ver o sujeito pra dizer qualquer coisa sobre ele —
presente para fazer isso. — Mas posso dizer que o monitor gostou um
Ele queria ver uma expressão de horror no rosto da Cassie e, quando não
talvez estivesse certo. Talvez o professor seja nosso cara. O tempo todo
— Derek? — palpitei.
o meu. — Quando Clark disse que Emerson “não era assim”, ele estava
saber, Clark sabia que ela estava dançando na horizontal com o professor
Sinistro.
Fúria.
Não só raiva, mas fúria. Por Derek, por falar mal de uma garota de
quem Clark gostava? Pela gente, por fazer as perguntas? Pelo professor?
Por Emerson?
— E Dean? — perguntei.
— Nós não vamos contar para Dean. — A voz de Lia soou baixa,
resolvido. Não precisa saber o que vamos fazer pra que isso aconteça.
Dean não entenderia por que nos arriscaríamos por ele, porque, lá no
fundo, ele acreditava que não merecia ser salvo. Ele teria levado uma
bala por qualquer um de nós, mas não gostaria que arriscássemos nada
por ele.
Dean, depois para o livro de novo. — Sério? A agente Sterling quer que
motivo.
Mas aquela apostila? Bryce, Derek e Clark deviam ter lido uma
lendo, caindo em um ritmo regular, até que minha voz virou o único som
na cozinha.
ler outro capítulo, você vai acabar só mexendo a boca, como se fosse
mímica, no final.
— Por que eu tenho a sensação de que tem uma história aí? — Dean
Eu senti um calafrio.
caráter.
cabelo ainda caía no rosto, mas quase não havia tensão visível nos
acham?
também estava gostando de irritar Dean. E, pensei, ele não quer deixar
Dean olhou para Michael, que pareceu achar graça da situação toda.
escandalizada.
Dean estava ali havia cinco anos, e aquele livro tinha o básico da
perfilagem.
Me ensina.
pela expressão no rosto de Michael que não fui a única que achou aquela
Dean fez uma pausa. Forcei o olhar para a frente e desejei que Dean
não pensasse demais sobre por que ouvir algumas palavras sobre
mim e Michael.
longo momento. — As pessoas não gostam deles, mas também não têm
os dois.
— E qual é a diferença entre um assassino desorganizado e um
escutando.
Um silêncio mortal.
Dean nunca tinha admitido antes que éramos iguais. Ele nunca tinha
— É mesmo?
precisava ver a expressão no meu rosto, a que dizia que Dean tinha
coisa que podiam dizer era que tipo de assassino alguém como Clark
Pensei em Geoffrey com G, que tinha dado uma aula sobre modus
tantas outras? — A voz de Dean ficou seca quando ele fez a pergunta, e
sentem remorso.
impulso.
Tudo que Dean disse fez sentido para mim: um sentido incrível e
Eu assenti.
— Ótima.
— Dean? — falei. Minha voz estava baixa, mas cortou o ar. Eu ainda
Dean assentiu.
É
— Troféus os ajudam a reviver as mortes. É como eles saciam o
Encaixava.
em Dean quando ele falava do pai. Essa era a segunda vez que ele se
abria para mim, olho por olho. — Ele dizia que, quando criança, as
pessoas sabiam que havia algo de errado com ele, mas, desde que
que quer que ele quisesse falar com Dean, era só trabalho.
— Ela pode ficar — disse Dean para Briggs. As palavras dele caíram
na cozinha como um trovão. Pelo tempo que eu conhecia Dean, ele vivia
— Fica — disse ele. Dean me quer aqui. Ele se virou para Briggs. —
condição.
— Você não precisa fazer nada que não queira — disse a agente
Sterling.
emoção que não consegui identificar: não era exatamente ódio nem
medo. — Meu pai não quer contar nada pra vocês. A única pessoa com
morto, a pessoa morre. Ele é tudo que você quer ser. Poderoso. Seguro
Daniel Redding não é seu herói. É seu deus. E se você continuar por
prisão de segurança máxima que abrigava o pai de Dean foi fugaz. Dean
posição diretamente atrás dela, não dava para ver nada além de seu
mão no assento entre nós, a palma para cima. Ele afastou o olhar da
janela e olhou não para mim, mas para a minha mão. Colocou a mão
acontecimento.
desligou o motor.
— Os guardas vão vir para me deixar entrar com Dean. — Ele olhou
para Sterling, depois para mim. — Vocês duas ficam no carro. Quanto
Briggs não estava feliz de eu estar ali, mas não tinha tentado me
A porta dos fundos da prisão se abriu. Havia dois guardas lá. Eram
Eu afastei o olhar.
— Algumas pessoas sempre vão olhar para Dean e ver o pai dele —
queridinho dos guardas aqui. Ele tem um gosto por jogos mentais e uma
teve que dizer para eles que Dean era filho do Redding. Teria sido
— Foi ideia dele. — Sterling repuxou os lábios. Ela não estava feliz
com aquilo.
que o fbi precisa agora é mais notícias ruins. O diretor precisa que esse
chegar nem a cem metros do pai de novo. — Ela olhou pela janela.
— Você não pode ficar no carro — disse ele. — Aqui é uma área de
segurança.
Ela tinha o jeito de alguém que tinha passado a vida em uma série de
— disse ele, empurrando a culpa para o superior. — Você vai ter que
tirar o carro.
— Tudo bem.
Ele levantou a mão e fez sinal para eu abrir a porta. Olhei para a agente.
Dean.
retirar o carro.
cuido disso.
O guarda nos levou por um corredor. A agente Sterling pegou o
celular.
A pessoa para quem Sterling estava ligando não atendeu. Ela voltou a
sobrenome.
confidencial. E ninguém precisa saber que o fbi veio aqui ver o detento.
aquele gostava da dele. Webber não gostava de ser lembrado que Sterling
era do fbi. Ele não gostava dela. Não gostava de ser tratado como
inferior.
ponto de gerar um arrepio na minha espinha. — Por que você não falou
antes?
Os olhos de Dean.
O pai de Dean não era um homem grande, mas, sentado ali, com um
em casamento?
livro.
— Então ele veio aqui. — Dean não se deixava afetar pelo teatro do
professor? Medo de ele não acertar a sua parte quando contar a nossa
história?
ele.
encontrá-lo.
— Céus, Dean. O homem não está nos meus contatos de
do filho.
quero saber de você, Dean. O que essas mãos têm feito nos últimos
o corpo dele.
Dean é só uma coisa pra você, pensei. Não passa de mãos e olhos,
Catoctin ou Shenandoah.
— Vamos lá, Dean, deve haver alguma coisa sobre a qual valha a
— Você é meu filho mais do que já foi da vadia da sua mãe. Eu estou
O rosto de Redding estava perto do de Dean agora, tão perto que devia
estar sentindo o hálito dele a cada palavra. — Você sabe. Você teme.
olhar de raiva com toda força na direção dele. — Mais uma palavra,
Olhei para Dean. Briggs tinha colocado uma das mãos no peito dele
Dean deu um solavanco para trás e soltou o pai. Olhou para o espelho, e
Agora.
A última coisa que ouvi antes de sair foi a voz de Dean, vazia e dura.
— Te trazer aqui. Trazer Dean aqui. Ficar naquela sala, ver aquilo.
Tudo.
Quando Sterling disse tudo, tive a sensação de que ela não estava só
caso. Ela estava falando da vida que Dean estava vivendo. Do programa
que mandaram Dean fazer aqui com o pai… não é a mesma coisa.
psique de Dean.
O programa não era aquilo. O que nós fazíamos não era aquilo.
Dean. O nosso Dean. — Ele não só sorriu. Ele sorriu com alegria. Sabia
— Dean nunca teria uma infância normal. — Eu não sabia por que
achava tão importante fazer com que ela entendesse isso. — Tem coisas
das quais não se volta. Normal não é uma opção para nenhum de nós. —
chamando por ele. Você não gosta de apelidos. Eles te deixam mais
— Você vai ter que aprender a parar de fazer isso — disse ela.
— A maioria das pessoas não gosta de ser perfilada. Tem coisas que
é melhor não serem ditas. — Ela fez uma pausa. — Aonde você foi
ontem à noite?
Eu banquei a tonta.
— Como assim?
Ela ameaçou o programa quando a única coisa que Sloane tinha feito
foi usar as cenas de crime do porão. Se ela soubesse o que Lia, Michael
e eu tínhamos feito na noite anterior, não dava para saber o que ela faria.
Não sei nem por que aceitou esse trabalho. Você tem problema com o
— Meu problema com você — disse ela — é que você não faz o que
não entende.
estar tendo aquela conversa, mas não havia saída. Não podia sair do
Briggs avisou para pararem, vocês não tiveram intenção de fazer isso. A
foi sua culpa, Cassie, mas, pelo resto da vida, você vai se perguntar se
foi. Isso vai te manter acordada até tarde. Vai te assombrar. Nunca vai
embora. Eu sei que às vezes você se pergunta se eu olho pra você e vejo
sua tia, mas não é isso. Dean não é o pai dele. Eu não sou o meu. Se eu
achasse que você era como a mulher que se chamava Lacey Locke, nós
perguntei. — Você diz que eu não sei trabalhar dentro do sistema, mas
não me diga que os outros sabem. Lia? Michael? Até Sloane. Você não
eles aprenderam cedo na vida a trancar as emoções assim. Eles não estão
com fatos, não emoções. Mas você? Você nunca vai conseguir parar de
vítimas. Faria o necessário para salvar uma vida que fosse, do jeito que
— Estou feliz que você esteja aqui ao lado de Dean hoje, Cassie. Ele
sério a ideia de fazer o que nós fazemos, o que eu faço, as emoções são
um luxo que você não pode se dar. Culpa, raiva, empatia, estar disposta
a fazer qualquer coisa para salvar uma vida… isso é a receita para
Parte de mim queria contar, mas o segredo não era só meu. Também
— Você está tomando uma decisão ruim aqui, Cassie. — Não falei
nada, e ela semicerrou os olhos. — Só me diz uma coisa. Tem algo que
eu deveria saber?
estava incomodando.
escuta, e escuta bem: quando eu mandei que vocês ficassem longe desse
caso, eu estava falando sério. Na próxima vez que derem um passo para
com base apenas no fato de que ela tinha prendido o pai dele. Mas se ela
raciocínio tão de perto que foi sinistro. — Sou sobrevivente, e Dean foi o
responder sobre Redding, meu passado e a marca no meu peito. Isso está
claro? — A voz de Sterling soou tão firme, tão objetiva, que não pude
como uma ordem desesperada e feroz. — Nem diz pra ele que viu a
marca.
— Não vou. Não vou perguntar. Não vou perguntar nada. — Tive
mas não me olhou. Me obriguei a não levar a mão até ele. Tentei manter
completos.
— Várias.
Sterling.
vida, então, não, Ronnie, eu não acho que nosso unsub esteja nessa lista,
porque não acho que isso vá fazer sentido. Não vai ser fácil. Nós não
— Não deixa que ele te afete — disse ela baixinho. Briggs relaxou
um pouco sob seu toque. — Se você permitir que ele entre, se permitir
aqui. Ele prometeu que falaria. Bom, ele falou, e agora nós não temos
como saber o quanto do que ele disse foi verdade e o quanto é ele nos
Não deveria ter sido eu atrás daquele vidro, pensei. Deveria ter sido
estavam cintilando, duros como diamantes, quando ela falou com Dean.
tanta raiva.
Você acha que eu não sei como foi pra você lá dentro? Acha que eu não
sei o que ele disse, o que você está pensando? Estou te dizendo, Dean.
três caíram num silêncio tenso. Botei a mão no banco, com a palma para
movê-la. Eu me sentia deslocada e inútil. Tinha ido com eles por Dean,
mas não precisava ser perfiladora para saber que ele não me queria ali
agora. Com uma única conversa, o pai tinha enfiado uma barreira entre
sendo construída entre mim e Dean era vítima desse golpe: tinha
você respira.
descobre.
pegou.
mas era a única dos três que estava se mantendo firme depois da visita.
olhos, o rosto todo rígido. — Claro que não foi só você. Você não
mentiria pra mim se fosse. Estou supondo que Lia esteja envolvida.
Sloane? Townsend?
Eu não respondi.
Emerson.
Era. E quer você acredite ou não, Dean, as informações que você tirou
do seu pai hoje, por mais insignificantes que pareçam, vão nos ajudar a
fazer nosso trabalho. — Ela fez uma pausa. — Vocês dois. Chega de
fora do carro.
disposto a correr riscos calculados, como levar Dean para ver o pai, mas
— Sim…?
esse caso está fazendo com Dean não é justo. Trazê-lo aqui para falar
com o pai, isso não foi justo da minha parte. Mas eu não tive escolha.
Dean não teve escolha, mas você tem. Você pode escolher confiar em
mim. Pode escolher não dar pra agente Sterling mais munição contra o
míope e irresponsável em quem não se pode confiar que vai seguir regras
pensamento.
— Eu não vou perguntar aonde você foi — disse ele, cada palavra
descuido, apesar de ter certeza de que foi. Vou te perguntar uma vez só,
Eu engoli em seco.
turma.
Capítulo 22
Quando Briggs parou na frente da casa, o silêncio no
carro estava me corroendo. Dean não tinha dito uma palavra desde que
parte era que eu sabia que ele estava sentado ali pensando no dia que
nós dois passamos juntos e no erro que tinha sido ele acreditar ainda por
— Dean…
direção da casa, mas comecei a andar mais devagar quando vi uma pilha
sido generosidade. Tinha três rodas, nada de tinta e uma área enferrujada
aberto. Não consegui ver quem estava olhando o motor, mas vi a calça
Michael?
cada dia para me deixar na dúvida. Mas aquele Michael, usando uma
Ele se levantou e passou a mão pela testa. Viu que eu estava olhando
Não você também, pensei. Eu não saberia lidar com Michael com
feliz.
olhou.
porta, até que Michael me alcançou. Ele botou a mão no meu ombro.
está bem?
— Estou.
músculo contraído e me virou para olhar para ele. — O que Dean fez?
Com dois dedos embaixo do meu queixo, Michael ergueu meu rosto
para o dele.
— Alguma coisa ele fez para você estar com essa cara.
eu nos movemos.
Cinco minutos depois, estávamos reunidos na sala: Michael, Lia,
— Tudo bem — disse Lia, a voz sedosa. — Não, nós nunca tivemos
Nada que Briggs pudesse ter dito causaria um impacto maior em Lia.
habilidades, mas tudo bem deixar aquele filho da puta brincar com a
cabeça do Dean em troca de qualquer migalha de informação em que
— Não, Dean. Não chega, não. — A voz dela estava suave até ela se
virar de novo para Briggs. — Você precisa me deixar ver a fita da sua
entrevista com Redding. Nem tenta me dizer que não gravou. Você grava
todas as conversas que tem com o sujeito. A pergunta não é se ele está
mentindo, é sobre o que ele está mentindo, e nós dois sabemos que eu
Ele sustentou o olhar dela, e percebi que ele não estava só recusando
seu pedido. Briggs estava dizendo para ela que nós não estávamos
ajudando com a situação, que tudo que tínhamos feito até ali foi fazer
mal a Dean.
Talvez ele tivesse razão, mas eu não podia deixar de pensar que Lia
tempo havia que ele estava ali. — Vocês dois, saiam daqui — disse ele
para Briggs e Sterling. — Eu posso ser velho, mas ainda sou capaz de
que deu a Briggs — disse Dean. O fato de ele estar falando sobre mim e
não comigo magoou mais do que deveria.
— Bom, eu quero saber por que você achou que estar na mesma sala
que o seu pai era qualquer outra coisa além da pior ideia do mundo —
retorquiu Lia.
— Ou queria que você achasse que ele sabia de alguma coisa. Você
não deveria ter ido. E, se tinha que ir, devia ter me levado junto.
Lia deu as costas para ele, mas antes disso percebi que ela não estava
só com raiva. Estava magoada. Dean tinha ido ver o pai pela primeira
você. Você cuida de mim. Ele é difícil de ler, mas não é impossível,
— Você não pode ajudar — disse Dean para ela. Ele voltou o
— Claro que sei — disse Lia. — A ideia foi minha! E o risco era
nosso, Dean.
fez?
viramos para olhá-la. Ela estava estranhamente calada desde que Briggs
ficou fora por duas horas, quarenta e três minutos e dezessete segundos.
— Sloane! — falei.
cabeça chamá-la.
— Não vai ter uma próxima! — explodiu Dean. Ele respirou fundo
só pela farra.
Michael.
não estivesse lá, Cassie teria saído sozinha com um veterano que tem
— Michael! — falei.
Fogle.
ajudar.
não contar para Dean era para que ele não se sentisse responsável por
Ele saiu. Quando Lia tentou ir atrás, ele disse alguma coisa para ela,
a voz tão baixa que não consegui entender as palavras. Ela ficou pálida,
porta.
lembrar da expressão em seu rosto quando falou que tínhamos saído sem
ela.
ali.
Dean estava furioso. Michael tinha saído não se sabia para onde.
— Você está bem e eu estou bem. A lógica parece querer dizer que
— Estou acostumada.
firme. Ela ergueu o olhar do chão, mas não se virou para me encarar. —
Faço a coisa errada. Eu sei disso… mas números pares são melhores do
que ímpares, e, se eu estivesse lá, a Lia não teria tido que ir sozinha. —
chamado. — Ela se virou para me olhar, por fim. — Tem só uma chance
perguntei.
— O que quer dizer que o Judd não sabe que você está brincando
— Vou ter que apelar para o meu direito de permanecer calado agora
— disse Michael.
Dean.
— Michael — falei, minha voz tão suave que ele não teria como
sempre acontecia quando sabia que meu rosto estava me entregando. Por
que ele não podia ser um garoto normal, que não conseguia dar uma
olhada em mim e saber exatamente quais emoções borbulhavam na
minha barriga?
do que você. Você olha pra Redding e vê todas as formas como vocês
são parecidos. Eu olho pra ele e vejo uma pessoa com tanta raiva e com
tanto medo dessa raiva que não tem espaço pra mais nada. Nem mais
ninguém.
dele.
não se permitia expressar isso, por que lutava com unhas e dentes para
não usar força física. Ele não podia correr o risco de virar o interruptor e
Mas eu nunca tinha pensado no efeito que estar perto de uma pessoa
Ele me olhou.
Eu dei de ombros.
— Você cresceu em uma casa onde tudo parecia perfeito, com todas
porque seu pai era difícil de entender e você precisava ser capaz de saber
Evitar apanhar.
braços, os olhos nos meus. — Só que ele não falou de um jeito tão legal.
pela minha cabeça que Dean pudesse ter feito alguma coisa com Michael
seca de repente.
primeiro da fila da infância ferrada, né? É quem tem carta branca para
— Me conta — falei.
Cassie, mas nem sempre eu reajo bem a isso. — Uma rispidez surgiu na
—, você faz com que batam. Pelo menos assim você está preparado. Pelo
Era fácil ver agora como devia ter sido quando Michael foi recrutado
para entrar no programa. Ele não ficou feliz de ir para lá, mas ao menos
nunca escondeu o fato de que tinha um passado com ela. Eu estava tão
concentrada na imagem que ele estava pintando para mim que mal
percebi. — Acredite quando eu digo que isso não tinha nada a ver com o
inteira com uma pessoa desconhecida que nenhum dos dois tinha motivo
para confiar.
— Então você disse alguma coisa pra deixar Dean perto do limite.
fracos das pessoas. E o de Michael era o pai dele. A ideia de que Dean
estômago.
que a maioria das pessoas reservava para falar sobre o clima. Ele deu um
entendo, sabe.
— Entende o quê?
uma coisa e entendo que você precisa estar junto. Você é assim, Cassie.
Você cuida das pessoas. Precisa ajudar. Acredite quando digo que estou
tentando recuar e deixar que faça o que precisa ser feito. Mas não é fácil.
tenho muita prática em ser uma pessoa decente. Não é algo que eu faça
bem.
os sons da noite. Fiquei uns minutos olhando para ele. O carro da agente
Sterling acabou embicando em frente à casa. Estava ficando tão escuro
mas assim que ela atravessou o gramado Michael inclinou a cabeça para
— Ela não está feliz — disse ele. — Andar brusco, sem gingado no
— O que foi?
ele disse. Mas agora eu só conseguia pensar que Redding tinha, com
grande custo para Dean, finalmente dado ao fbi uma pista de onde o
mesmo que por um momento, que o professor era o assassino, não teria
desconfiasse, com base nas cartas que tinha recebido, que encontrá-lo
lembraria a Briggs, a Sterling e a todos no fbi que eles não eram tão
— Previsto o quê?
problemas. Foi rápido e limpo, uma única bala na nuca. E se não houve
nada de artístico nisso, não houve método, pelo menos você demonstrou
Isso faz você sentir que tem poder, e faz você questionar, só por um
Procurá-las. Matá-las.
Primeiro de Sterling.
Depois do diretor.
De Briggs.
As 24h anteriores não tinham sido gentis com Sterling nem Briggs.
Briggs parecia ter dormido com a roupa que estava usando. Ao lado
abotoada até o alto. O paletó do terno também. Como ela era o tipo de
o conheci, ele me lembrou um avô. Hoje, não havia nada nele que
— Nos mandaram ficar longe desse caso sob risco de morte. — Lia
odiava o fato de Dean não estar nem olhando para ela. — Devo entender
Lia permitiu que seu olhar se deslocasse até Briggs quando disse
motivo para ela ter se vestido para a batalha de manhã. O que quer que o
diretor fosse nos pedir para fazer, a filha dele tinha argumentado contra.
que dar algo de útil para vocês fazerem pode deixar vocês longe de
problemas.
Entendi com essa fala que o diretor sabia sobre nossa ida à Colonial.
vão para cenas de crime. — O olhar dele se deslocou para Lia. — Vocês
não vão analisar nenhuma das nossas entrevistas com Daniel Redding.
momento, achei que ela daria meia-volta e iria embora, mas não fez isso.
deu a entender que ela estava prestes a surtar. Quanto mais perto ela
da turma. O que isso não nos diz é quem eles são, de que são capazes. É
olhos de vocês podem pegar alguma coisa que a equipe do Briggs não
todo o país não fazem todos os dias. — O diretor não estava nos olhando
quando falou essas palavras. Estava olhando para a filha. — Vocês são
expressão dela, mas Michael deve ter visto alguma coisa. — Não aceitou
ideia como gostaria de estar. — Ele abriu o sorriso mais puro que tinha.
perfil prevê que ele deve ser um aluno mais velho; talvez não tenha
etária. Deve ser de uma família trabalhadora e pode morar com os pais e
dela tinha determinado 23 anos como idade mais jovem. Briggs tinha
em que o unsub entrou na puberdade. Talvez a mãe dele tenha saído com
menos dezoito anos. Esse unsub fica à vontade com armas de fogo. Ele
não tem namorada nem esposa. É provável que dirija uma picape ou um
suv de cor escura, e, se tiver cachorro, creio que seja de raça grande,
como pastor-alemão.
caso era como tentar nadar com um bloco de concreto preso em cada
Percebi tardiamente que nenhum deles tinha dito que o professor estava
morto. Essa era uma informação que nós não deveríamos saber. Era um
palpite.
— Vocês acham que nós não vamos encontrar nada. — Ela pontuou
— Interessante.
porque é isso que meu pai faz: ele espalha migalhas de verdade e as
tudo.
alunos da turma, vai haver sinais. Se houver sinais, vocês cinco vão
encontrar.
Cada hora que nós passávamos revirando redes sociais era uma hora
que a equipe de Briggs estava livre para caçar outras pistas. Foi por isso
nós vamos ver. Seja como for, não é ele quem está decidindo as coisas.
É você.
no que Judd tinha dito sobre ultrapassar limites. Vocês eram a favor de
professor.
todos os dias. Não tem pai presente. Pode ter tido um padrasto em
contavam.
câmera por cima ou afastava o olhar? Que tipo de roupa usava? Onde as
pessoa de baixo para cima… o que teria sido mais útil se eu fosse a
Tudo bem, falei para mim mesma depois de minha visão ter ficado
Faça o que você sempre faz. Pegue um punhado de detalhes e siga para
o panorama geral.
Sterling achava que o unsub era jovem, mas não adolescente. Por
quê? Ele tinha escolhido uma aluna do segundo ano como primeira
começaria com uma presa fácil, uma garota risonha e sorridente que não
era nada imponente fisicamente. Ele devia ter uns dois anos a mais do
deu a entender que ela tinha vinte anos, isso explicava o limite inferior
admira. Quer ser como ele. Deixei esse pensamento ecoar por um
momento. Mas você também correu o risco de ser pego para exibir sua
vítima em um local muito público, uma coisa que Daniel Redding não
teria feito. Você levou a corda preta para enforcá-la, mas o relato do
ataque tinha sido planejado, claro, mas também havia algo de impulsivo.
imprensa?
nunca teve. Porque as pessoas na sua vida que a têm fazem com que
você se sinta fraco. Você não se sentiu fraco quando matou Emerson.
Mas, depois, você se ressentiu dele por falar demais e não agir. Por não
Emerson.
conheciam para reduzir as chances de o crime ser rastreado até eles. Mas
um estranho.
— Ei, Sloane?
se nosso unsub estava fixado na Emerson, essa pode não ser a única
dois alunos.
dois alunos.
me entregou duas.
Bryce.
juntas.
professor. Estava com raiva. E nós estávamos olhando para uma foto dele
Ela era legal com você. Você a achava perfeita. E se você descobriu que
sala.
— Talvez.
não foi morta por impulso. O unsub não perdeu o controle emocional.
Ainda assim…
segundo para me dar conta que era o meu toque. Fui pegar meu celular,
mas Lia foi mais rápida. Ela o agarrou e o segurou fora do meu alcance.
— Me dá, Lia.
Fingindo não ouvir, ela virou o telefone para eu poder ver o nome de
quem estava ligando. monitor geoff apareceu na tela. Mas que… Ele
tinha me dado seu número. Eu salvei nos meus contatos, mas não tinha
Ela sorriu para o que ele disse em resposta, botou o celular no viva-
— Deve ser tão difícil pra você — disse Lia, apoiando os pés na
pegar.
— Acho que vou ter que assumir a turma agora que Fogle se foi —
acrescentou Geoffrey. — Não sei o que vai acontecer com o livro dele,
Redding.
Da sua turma?
Ela era tão boa em mudar a direção da conversa que Geoffrey nem
saberia.
Minha primeira reação a essas palavras foi que era claro que ele
talento?
verbal em Geoffrey.
turma e isso me incomodou. Talvez ele fosse mais do tipo que planeja,
Ele não comentou sobre o que tinha ouvido. Não ameaçou contar a
O fbi não tinha nos dado o arquivo de Geoffrey, mas foi um vacilo da
parte deles. Ele não era aluno da turma, mas era aluno da
Vinte minutos depois, eu tinha descoberto tudo que havia para se saber
cometido antes o erro de supor que um unsub era homem. Por mais que
meus instintos estivessem me dizendo uma coisa desta vez, eu não podia
— O professor Fogle disse uma vez que marcava a aula dele para as
por outro lado, foi feito com algum smartphone. Com resolução de pelo
Michael, se juntando a nós —, mas eu percebo que está. Ele acha que
largando um pássaro morto aos pés do dono, jamais teria começado essa
— A narração estava certa — disse ela, por fim. — Tem 307 alunos
naquela sala de aula fazendo a prova. Inclusive seu suspeito — disse ela,
terceira fileira. Clark. Ele estava a dois lugares de Bryce, uma fileira
atrás de Derek.
da hora da morte.
telefone junto à orelha com o ombro e usou as mãos livres para soltar o
autópsia confidencial.
estivesse falando com uma criança muito pequena e muito lenta — nós
estamos aqui vendo um vídeo que foi feito às 7h34 daquela manhã. Se
álibi.
telefone.
de metade de período.
O fbi rastreou o vídeo até nosso bom amigo monitor Geoff, que
— Eu falei pra Briggs que ele devia ter me deixado ver a entrevista
maquiavélico…
gaveta. Ofereci uma para ela. Depois de um bom tempo, ela a aceitou.
— Você vai dividir o sorvete — falei para ela. Ela girou a colher
eu estou tão frustrada quanto você. Tudo que nós fizemos, tudo que
tentamos fazer, foi por nada. O unsub não faz parte da turma. Não
lado sombrio, nem Clark ter alguma coisa com Emerson e muita raiva
acumulada. Nada disso importa, porque nenhum dos dois matou ela.
A única coisa que o fbi nos permitiu fazer foi uma caçada inútil,
— Lia…
pessoa que me pedir pra dividir alguma coisa vai ter uma morte lenta e
dolorosa.
Primeiro achei que Lia estivesse me levando para o quarto dela, mas
quando ela fechou a porta depois que entramos, percebi que ali não era o
destino. Ela abriu a janela e, com um último olhar malicioso por cima
em frente ao quarto dela, mas mantive uma das mãos na lateral da casa
por garantia. Segui na direção do canto onde vi Lia virar. Quando virei,
segui na direção dela e me sentei. Sem dizer nada, Lia virou o pote de
— Tem muitas coisas que a gente devia ter feito. — Lia se sentou
teria ficado ali a noite toda, dois andares acima do solo, os pés roçando a
beirada. Lia era uma pessoa que detestava ficar confinada. Odiava ficar
— Dean vai superar. — Falei isso em vez das outras coisas em que
como ela provavelmente tinha aprendido a mentir. — Ele não pode ficar
tentando ajudar.
derramar. — Dean não fica com raiva. Ele não se permite. Se nós
fôssemos falar com ele agora, ele não ficaria com raiva de nós. Não
ficaria nada. É isso que ele faz. Ele se fecha, fecha as pessoas e tudo
dizer que ele sabia exatamente o efeito de se fechar para ela. Ele sabia
deles era a única coisa que a impedia de se sentir presa o tempo todo. O
fizessem com ela, não a abalava, porque não afetava a garota real.
— Quando eu vim pra cá, éramos só Dean, Judd e eu. — Lia largou
sabia por que ela estava me contando aquilo, mas, pela primeira vez,
soube por instinto que tudo que ela estava falando era verdade. — Eu
estava preparada pra odiar ele. Sou boa em odiar pessoas, mas Dean
nunca forçou a barra. Nunca me fez uma única pergunta que eu não
quisesse responder. Uma noite, depois de eu estar aqui por uns dois
Lia.
dele, mas ele não estava de brincadeira. Eu fugi. Ele foi atrás. Nós
ficamos três dias fora. Eu já tinha morado nas ruas, mas ele, não. Ele
via vigiando. Dean nunca me olhou do jeito que a maioria dos caras me
olha. Estava cuidando de mim, não me olhando. — Ela fez uma pausa.
voltarmos, ele me contou sobre o pai, como tinha vindo parar aqui e
sobre Briggs. Dean é a única pessoa que eu conheço que nunca mentiu
pra mim.
profunda que veio em seguida, percebi que ela tinha reconhecido minhas
Contar para Lia não pareceu traição a Dean. Ela era a família dele.
Tinha se aberto para mim de um jeito que não se abria para as pessoas, e
isso me disse o quanto ela precisava saber que ele não estava se fechando
para ela só porque ela tinha feito besteira. A vida de Dean era um campo
minado agora.
— Sterling tem uma marca aqui. — Ergui as pontas dos dedos até o
Eu assenti.
Redding tinha a dizer foi o que fez Dean se fechar. Foi como se tivessem
drenado a alma do corpo dele. Aí a agente Sterling contou que nós
não falei o que nós fizemos. Eu nem contei pra ela que você estava junto.
de nos usar, como deveria, o fbi, com toda sua sabedoria gloriosa, nos
deixa trancados aqui, onde não podemos fazer nada pra solucionar o
caso nem ajudar Dean. — Lia enrolou uma mecha grossa de cabelo
Sterling tinha passado na casa mais cedo, por tempo suficiente para
pegar os arquivos dos alunos, e foi embora. Eu tinha suposto que ela
tinha ido se encontrar com Briggs, mas ele não estava com ela agora.
— Será que ele voltou pra ver a gente? — perguntei, baixando a voz,
Lia colocou a mão sobre a minha boca e me puxou para trás, para
firme.
Locke, eu não fui a única fazendo perguntas. — Ela fez uma pausa para
— O tom dele não mudou. — O fbi estaria falando com o garoto sobre o
— Eu aceitei vir aqui e avaliar esse programa porque você disse que
encerrando.
sabendo que ela achava que o programa era um erro, e agora eu sabia.
garoto de chegar ao limite. Você acha que ele ia ficar melhor num lar de
acolhimento? Ou você quer que eu mande Lia Zhang de volta pras ruas?
Ela acabaria sendo pega de novo, e, desta vez, eu te garanto que acabaria
minhas recomendações.
ficar aqui e me dizer como esse programa é errado, mas, por dentro,
quer pegar esse assassino tanto quanto eu. Você pode fazer o que quiser
pra não usar os Naturais pra isso e, mais cedo ou mais tarde, vai
esquecer todos os seus princípios. Vai ser você quem vai me dizer que
Eu esperava que Sterling dissesse que ele estava errado. Ela não
disse.
aqui não sou eu. Nem você. Nem o Bureau. A questão são os cinco
única proteção são regras que você cria e rompe repetidamente. Foi você
quem deixou Cassie Hobbes trabalhar no caso da Locke. Foi você quem
insistiu pra levarmos Dean pra falar com Redding. Você faz as regras e
aborrecida por causa das mensagens que acha que eu estou enviando.
Cinco anos depois e você ainda está chateada de eu ter ficado do lado do
— Ex-marido.
— Mas você voltou — disse o diretor. — Não por mim. Você voltou
pelo garoto. O que o Redding fez com você, o que aconteceu com
Scarlett no caso Nightshade… tudo está misturado na sua cabeça. Você
meu lado, toda a tensão derreteu do corpo de Lia. Ela pareceu relaxada.
Simpática até. Para ela, isso significava que era quase certo que queria
sangue.
Algumas pessoas sempre vão olhar pra Dean e ver o pai, pensei
— Não vou mais falar sobre isso com você, Veronica. — O humor
— Claro que eu quero pegar esse cara antes que mais alguém se
— Interceptou?
— Veronica…
— Agora, acho que prefiro agente. Você queria alguém para afetar
Daniel Redding. Não precisa de Dean pra isso. Fui eu quem escapei,
diretor. Você sabe o que isso significa pra um homem como Redding.
— Eu sei que não quero você chegando nem perto dele. — Pela
brevemente.
estarem longe.
melhor pra gente. Não totalmente verdade, mas era verdade. Fofo, né?
dele observando exatamente o que eu tinha dito para ela: normal não era
mais opção para nenhum de nós. Pelo menos eu tinha para onde voltar.
Dean não tinha. Lia não tinha. O pai de Michael era abusivo. Havia uma
cabeça dela o fato de dizer que fazia a coisa errada 86,5% do tempo.
Minha mãe estava morta, meu pai mal se envolvia com a minha vida.
no significado disso. — Não quer ver ele como pessoa. O garoto é uma
Foi ela quem seguiu seus passos. De todos os seus filhos, ela é a
mais parecida com você. Ela era seu legado, mas aí foi embora.
que exatamente ele acha que Dean ajudou o pai a fazer está no ar, mas
não foi conjectura que eu ouvi na voz dele. Pra ele, a culpa de Dean é
um fato.
— Dean tinha doze anos quando o pai foi preso! — A objeção saltou
calmamente. — Eu sei que ele acha que devia ter encontrado um jeito de
pôr fim a tudo, que se ele tivesse feito as coisas de um jeito diferente, ele
professor Fogle, Redding estava matando havia cinco anos antes de ser
Ele tinha me dito uma vez que não sabia sobre o pai no começo. Mas
depois…
— Pode ser que ela esteja começando a perceber que não pode
proteger Dean disso — falei. — Ela só pode interferir e cuidar pra que
janela do quarto. Ela andou na ponta dos pés, como se o telhado fosse
ou morte.
pequena excursão.
agente Sterling até ali e nos comentários do diretor sobre Dean que não
Lia virou na curva da casa. Eu não conseguia mais vê-la, mas não
diretor, e o jeito como ele tratava a agente Sterling não era só com
começou a procurar Dean para ter ajuda nos casos. A agente Sterling
Lia ter deixado a janela aberta, voltei para o quarto dela e desci a escada
correndo.
Pela primeira vez, não dei de cara com ninguém. Quando saí pela
alcançá-lo.
— Dean!
Ele me ignorou e continuou andando.
íamos pra festa. Nós achamos que podíamos descobrir alguma coisa que
algo em que seu pai quer que você acredite, porque ele não quer que
você seja próximo de ninguém. Sempre quis você só pra ele, e cada vez
que você nos afasta, está dando pra ele exatamente o que ele quer.
Dean continuou sem se virar, então dei três passos, até estar na
capuz para trás. Ele não se mexeu. Botei as mãos uma de cada lado do
Da mesma forma que Michael tinha inclinado meu rosto para o dele.
saber que eu não tinha medo dele, que ele não estava sozinho.
encontraram os meus.
daquelas coisas. Eu não sei nem se pensou nelas antes de saírem da sua
boca.
Ele tinha razão. Agora que eu tinha falado, eu via que era verdade: o
entrevista com Briggs. Ele queria que Dean se culpasse por cada mulher
Isso é um erro.
Isso é certo.
E eu também não.
volta quando eu sou útil. A agente Sterling tentou passar pano para o
Ele pensa que você deve isso a ele, pensei, sentindo a pulsação de
Dean pular na garganta sob meu toque. Ele pensa que está fazendo um
parado na calçada, os dedos indo dos meus punhos para os meus dedos,
atenção.
— Você vai pra casa — falei. Eu sabia que era verdade bem antes de
ele confirmar.
— Broken Springs não é minha casa há muito tempo. — Dean deu
Eu não contei para ele que todo mundo, de Briggs a Judd, o mataria
— Que horas vão ser quando você chegar lá? E, falando nisso, como
— Espera — falei para ele. — Espera até de manhã. Sterling vai sair
com Briggs. Eu posso ir com você, ou Lia pode ir. Tem um assassino por
Eu tinha pedido desculpas por ter entrado no caso com ele. Ela não
tinha. Eu conhecia Lia bem o bastante para saber que não faria isso.
— Pega leve — falei. — O que quer que você diga, está sendo difícil
pra ela.
— Eu sou o único que ela escuta. Sou quem se importa se ela sai com
Você acha que qualquer coisa que digam vai impedir que ela faça de
novo?
escuta. Você é a única em quem ela confia. Ela não pode perder isso.
Nem você.
— Tudo bem — disse Dean. — Vou esperar até de manhã pra ir até
deixar que fosse sozinho. Se ele não quisesse me levar ou levá-la junto,
reprimir. Odeia que Dean saiba como foi a infância dele. Odeia a ideia
de Dean comigo.
do corpo dele ao lado do meu. Não queria esticar a mão para pegar a
dele.
ferrugem fosse um esporte olímpico. Ele vai destruir esse carro, pensei.
— Você acordou.
cama dela.
— Acordei.
— Michael — falei.
forma como o cérebro dela trabalhava, ela teria tido mais sorte lendo
hieróglifos.
— Você e Dean?
sei bem qual é o plano, mas estou me preparando pra descobrir. — Fiz
Sloane vestiu uma blusa. Ficou quieta por vários segundos. Quando
— Me considere incluída.
entender as palavras.
tocou no chão.
— Mais tarde — disse Lia para Sloane. Ela esticou a mão e deu um
Palavra de escoteira.
toda a diversão.
de uma vez.
— Ele precisa de uma carona — disse Lia, para que Dean não
perguntar, mas Michael só ficou olhando para ele por vários segundos e
assentiu.
— Combinado.
distração.
Eu não sabia por que ela estava tão empenhada para que eu os
meio que garantia que o que sairia de sua boca a seguir ofenderia, sim
você a verdade sobre a nossa última aventura tão rapidamente que chega
alegria.
Por um momento, pensei que Dean protestaria, mas ele apenas disse:
— Eu nasci pronto.
desconfortável.
segundo para entender que era uma risada. A ameaça era muito a cara de
pela sugestão.
— Sobre o caso — esclareci. — Nós devíamos falar sobre o caso. O
visitantes que a agente Sterling me mostrou, ela visitou meu pai com
parte dela.
Não pedi para Dean elaborar qual era o motivo. Michael também
não.
aquela mulher. Não se importava com pessoas, ponto. Ele era insensível.
era o que ele sentia por Dean, e isso era mais narcisismo do que
qualquer outra coisa. Dean merecia ser amado só porque era dele.
motorista.
Abri a boca para dizer que ele não ia a lugar nenhum sozinho, mas
ameaçadora.
Passou pela minha cabeça que Michael não tinha aceitado levar Dean
até lá por mim, nem por Lia. Apesar de tudo que tinha me contado sobre
— Eu que falo com ela — disse Dean. — A ideia é que ela fique tão
A princípio, o plano parecia simples, mas sorte não era uma palavra
que eu teria usado com nenhuma das pessoas naquele carro. Esse
vista, eu diria que ele tinha a nossa idade, mas, quando ele chegou mais
perto, percebi que era pelo menos alguns anos mais velho. O sotaque
dele era parecido com o de Dean, mas mais forte. Ele nos deu um
para ele.
disse Dean. Não houve nada de agressivo na forma como ele falou, mas
É
— É melhor vocês irem — disse o filho de Trina. A voz dele soou
baixa, grave e calma, mesmo as palavras dele não sendo. — Minha mãe
vendendo?
A mulher sorriu para ele, e lembrei do que Daniel Redding tinha dito
sobre Dean ser o tipo de criança que as pessoas adoravam assim que
viam.
Christopher, ajeita essa postura. Você não está vendo que temos visita?
ele não estava curvado para a frente. Voltei minha atenção para a mãe
usando.
— disse ela para nós. — Ele tem um monte de amigos, mas nunca traz
nenhum em casa.
conhecer.
outro”.
Meu cabelo era um pouco mais longo e um pouco mais denso do que
Se seu filho não tivesse dito nada, você teria nos convidado, pensei.
e…
escrutínio dela.
— Você tem os olhos dele. — Trina nos levou até a sala. Ela se
sentou de frente para Dean. Ela não tirava os olhos dele, como se
ele fosse comida. — Já o resto… Bem, Daniel sempre disse que você
tinha muito da sua mãe. — Trina fez uma pausa, os lábios repuxados. —
Não posso dizer que a conheci. Ela não passou a infância aqui, sabe.
Daniel fez faculdade. Sempre tão inteligente. Ele voltou com ela. E havia
você, claro.
vontade.
explicação em seguida. — Ele era alguns anos mais novo do que eu…
coisas forem bem na apelação, aqui pode vir a ser a casa dele.
mosca.
brilhante precisa de válvulas de escape. Não se pode esperar que ele viva
Mas ela matou Emerson Cole? Matou o professor? Era por isso que
que ir.
tropecei, tentando olhar nos olhos de Christopher, saber o que ele estava
O peito dela subiu e desceu com agitação. Não, não agitação, percebi.
Ao ver a expressão nos olhos de Dean, o jeito como ele tinha se movido,
gasta e surrada.
tom casual —, é Dean quem vai ter que tentar me tirar de cima de você.
Michael me falou uma vez que quando ele perdia a cabeça, ele perdia
de cima dele.
— Vocês não deviam ter vindo aqui. Isso é doentio. Vocês são todos
depois, ele saiu da sala e da casa batendo os pés. A porta da frente bateu.
pai dele foi embora e, bem… — Trina suspirou. — Uma mãe solo faz o
que pode.
não estão juntos, pensei. Ele está te usando. Com que objetivo eu não
tinha certeza.
seria alimentada. Dean estava fazendo uma visita. Aquilo não era um
pensei. Com base nas minhas interações com Briggs e Sterling (e com o
próprio Dean), eu tinha quase certeza de que a apelação dele era tão
enquanto seguia minha deixa. — Sabe aquela garota que foi morta na
sabem que eu sou o apoio do seu pai. Acham que podem me virar contra
ele.
vocês têm é real. — Engoli a culpa que senti por brincar com as ilusões
— Esse caso não tem nada a ver com Daniel. Nada. O fbi adoraria
tão descuidada. E pensar que tem outra pessoa por aí… — Ela balançou
isso, sim.
disso.
Nosso unsub era homem, estava na casa dos vinte anos e era
demonstrou.
— É difícil dizer — disse Trina, a voz assumindo o tom que ela tinha
Ele nunca deixava ninguém dirigir o carro dele, e Dean era a última
pessoa para quem ele abriria exceção. Dean devia estar pensando a
momento. — Poderia ter vindo pra cima de mim. Poderia ter ido pra
estrada, e de repente percebi que Michael não tinha deixado Dean dirigir
por impulso. Aquela era a cidade onde Dean tinha passado a infância.
Era o passado dele, um lugar aonde ele nunca teria escolhido ir se não
encostou.
— E aí, Dean? Nós vamos voltar pra casa ou vamos pegar um
desvio?
não tivesse planejado aquilo. Como se não tivesse visto algo no rosto de
Dean a caminho da cidade que o tivesse feito querer deixar Dean dirigir
na hora de ir embora.
lembranças ruins que destroem uma pessoa assim, Cassie. São as boas.
— Você deu a chave pra ele porque ele precisava ir até lá ou porque
houve uma época em que ele jogou o seu passado na sua cara?
machucaria.
não tinha nada a ver comigo. Michael tinha planejado aquilo para ajudar
surpresa.
minha direção. — Você quer que eu te diga o que você sente. Eu quero
que você saiba.
perto dos meus que eu achei que a qualquer minuto ele pudesse acabar
Mas, desta vez, ouvi uma coisa escondida na voz dele. Uma coisa
mas agora estava suja e gasta pelo tempo. A lateral da casa atrás dela era
contraste de cor com tudo ao redor. Segui o olhar de Dean para uma área
estivesse falando sobre o clima, e não sobre o local onde o pai dele tinha
mr.
novo.
nunca tinha feito. Daniel Redding tinha dito para Briggs que a esposa
tinha ido embora… mas eu não tinha me tocado do fato de que ela não
Ele a trouxe pra essa cidadezinha, cortou todo o contato com a família
dela. — Ele engoliu em seco. — Um dia, eu voltei pra casa e ela tinha
ido embora.
— Você já pensou…
esperando que eles me contassem que ela não tinha ido embora. Que ela
ainda estava ali, debaixo da terra. — Ele voltou a andar, mais devagar
viva e sabiam onde ela estava, como Dean tinha ido parar em lares de
acolhimento? Por que o diretor tinha alegado que, se não fosse aquele
Ele parou aí: onze palavras que explicavam uma coisa que eu nem
conseguia imaginar.
Você também era filho dela, pensei. Como uma pessoa podia olhar
as boas.
mas, se foi esse o motivo de ele ter ido ali, eu podia ouvir. Eu me
forçaria a ouvir.
não disse nada por vários segundos. — Aí, uma vez, quando minha filha
tinha uns dez anos, ela e a melhor amiga meteram na cabeça que iam
Judd.
que o mais velho tinha. — Eles só foram comigo pra eu não ir sozinho.
daqueles olhares que só alguém com filhos sabia fazer, o que, vindo dos
desculpa melhor nos próximos cinco segundos, meu filho, porque você
vai precisar.
água abaixo. Sterling nos levou para a sala de Briggs. Ela fez um gesto
para o sofá.
— Sentem.
— Michael! — repreendi.
motivos para a localização dele ser relevante para aquela discussão, para
o que tínhamos feito. Ele estava nos procurando por aí? Em reunião com
assassino em série fez uma visita à mãe dele esta tarde, e o sr. Simms
acredita que o garoto talvez seja violento. — Ela fez uma pausa. — O
eu não esperava.
caso, e por isso foi ele quem recebeu a denúncia. Ele ainda está lá,
como um sim.
— Chave.
maliciosamente.
Michael tirou a chave do bolso e jogou para ela. Ela se voltou para
Dean.
agora, você não está sozinho — disse ela para Dean rispidamente. Ela
indicou Michael. — Vocês dois vão dividir quarto. Se você não estiver
com Michael, vai ter que estar com outra pessoa. Agora que se meteu no
radar da polícia, se e quando nosso unsub atacar de novo, pode ser que
Dean. Ele era uma pessoa solitária por natureza e, depois dos eventos do
— Vocês estão dispensados. — A voz dela estava seca. Nós três nos
fora!
mim.
Abri a boca, mas desisti de falar. Não havia nada que ela não
soubesse?
pra ver.
— Dean precisava voltar lá, não tinha a ver com o pai. — Fiz uma
pausa para deixar que isso fosse absorvido. — Essa visita não teve nada
— Alguém falou com ela? — Tudo que pensei foi que minha mãe
Dean não tinha só ido embora. Tinha tido a chance de recuperá-lo, mas
pode ser um alvo — continuei. Havia motivos para falar com Marie que
não tinham nada a ver com querer enfiar bom senso nela… ou, no
alvo.
assassino. Ela não tinha informações relevantes sobre o caso e pediu que
— Não.
relacionamento dela com Dean, eu apostava que ela tinha feito a ligação
do mesmo jeito que eu faria: odiando Marie pelo que causou, mas meio
certa, ela poderia resolver tudo. Sterling nunca quis acreditar que o
programa dos Naturais fosse a melhor opção para Dean, mas agora eu
uma pessoa pequena, mas não tem o tipo de presença que se esperaria de
alguém do tamanho dele. Se mexe devagar, fala devagar, não por não ser
casa. Se eu fosse tentar adivinhar, diria que ele faz todas as tarefas
externas. A grama estava alta. Esse talvez seja o jeito dele de atingir a
mãe, apesar de fazer o que ela manda em todo o resto. Ele resiste, mas
mencionou que ele tem muitos amigos, e não vi nada que me fizesse
pergunta. — Talvez ache que ela precisa dele. Talvez queira a aprovação
dela. Talvez ela use culpa pra que ele fique. Não sei. Mas sei que,
quando ele surtou, foi do nada, e ele não foi pra cima de Michael nem de
imóvel.
— Você disse que o unsub ficava à vontade com armas de fogo, mas
era o alvo fácil naquela sala e foi pra cima de mim que ele veio.
briga e achou que eu fosse a única dos três que não reagiria com um
soco.
mulheres.
linha teve para dizer, não foi uma notícia boa. Ela parecia uma mola
— Cadáver.
Essa palavra devia ter sido dita para encerrar a conversa, mas eu tive
que perguntar.
— Nosso unsub?
— Sterling passou a mão pelo cabelo. — Então, sim, é agora que eu digo
dela.
apelação.
perguntei.
Foi nessa hora que eu lembrei. Na próxima vez que derem um passo
para fora de Quantico sem a minha permissão, vou mandar botar uma
protesto.
acrescentado, por menor que fosse, fez meu corpo todo parecer pesado.
Saber que eu não podia sair, saber que não podia fazer nada… eu odiei
Sterling se empertigou.
Simms com perfeição na sua mente. Na verdade, agora que está feito,
Pele queimando tem o mesmo cheiro, quer seja viçosa ou não, quer
Trina Simms sempre foi estridente, iludida, exigente. Ela não está
como ela. Tínhamos revirado os perfis de rede social dos alunos só para
não tínhamos nos dado conta de que o assassino estava de olho nela.
tá. Tão boa que não tinha percebido que Locke era uma assassina. Tão
Nada que fizemos nesse caso tinha sido como deveria ser, e agora eu
— Se bem que esse tom exato de plástico preto destaca a cor dos seus
olhos.
— Cala a boca.
chance de ser presa. Na verdade, você talvez seja a única de nós que não
— São dois pesos e duas medidas, você não acha? Os meninos saem
escondido e…
— Chega — falei para Lia. — Ficar falando disso não vai mudar
Alguém ainda tinha que contar a Dean o que havia acontecido com
Trina Simms.
— Nós fomos ver Trina e agora ela está morta. — Dean resumiu toda a
foi precisa. Com base nas nossas interações com Sterling e Briggs nos
últimos dias, estou supondo que eles não têm muitas provas físicas.
mente se organizar.
que ele procurasse alguém que realmente conhece Redding pra ser a
professor.
Briggs e Sterling não terem dito nada sobre como ele tinha morrido,
Algumas coisas você faz porque você quer, pensei, e outras coisas
faculdade gostavam dela. Trina tinha quarenta e tantos anos, era morena,
neurótica e, com base na reação dela ao receber visita, não tinha uma
vida muito social, exceto por duas pessoas: meu pai e o filho dela.
escolhi.
fechados — eu tenha escolhido uma garota que não quis dormir comigo,
depois uma que estava dormindo com o homem que eu estou emulando.
ele teria matado Trina Simms ele mesmo. Ele a teria cortado e enforcado
Dean abriu os olhos. Por alguns segundos, não tive certeza se ele
estava nos vendo. Eu não tinha ideia do que ele estava pensando, mas
sabia que algo tinha mudado: o clima no ambiente, a expressão no rosto
dele.
— Dean? — falei.
— Briggs.
outro.
Dean o cortou. — Eu sei que você está em uma cena de crime. É por
isso que estou ligando. Preciso que você procure uma coisa. Não sei bem
gritando ordens.
cabeça. — Não. Eu estou bem. Só pensei uma coisa. Não é nada. Tenho
tentando não dizer mais nada. Mas fracassou. — Você pode olhar nos
bolsos dela?
Briggs respondeu. O corpo de Dean ficou tenso. Não havia mais energia
a mesma. — Eu não acho que nosso unsub seja um imitador. — Ele fez
uma pausa e se obrigou a dar uma explicação. — Eu acho que meu pai
tem um parceiro.
Capítulo 36
Briggs e Sterling chegaram à casa tarde naquela noite.
primeiro para comer e depois para esperar. Por volta da meia-noite, Judd
primeira. Ele arrastou o saco de provas até a beira da mesa, mas não o
pelo plástico. — Achei que nosso sujeito podia ter mirado em Trina
Simms porque, se meu pai não estivesse na prisão, ele mesmo a teria
matado. Fazia sentido o unsub acreditar que matar Trina era um passo
eu.
Eu não sabia por que isso fazia diferença, por que nossa visita tinha
levado Dean de pensar que era uma imitação a pensar que o pai dele
estava envolvido, mas ele explicou para nós, com termos brutais e
inflexíveis.
filho ainda criança. Eu falei que não queria uma nova mãe. E ele olhou
com meu pai, ele sabia onde procurar o professor. — Dean deu de
toda a verdade. É isso que ele faz. Ele trabalha com tecnicalidades e
Dean não se virou para olhar para Lia, mas, por baixo da mesa, vi a
mão dele encontrar brevemente a dela. Ela segurou a dele e apertou com
disse Dean. — Sabia que ele estava nos manipulando, mas devia pelo
imagem do todo distante. — Como você sabia que haveria alguma coisa
lá?
Ele ia querer mandar uma mensagem. De que Dean era dele. De que
Dean sempre tinha sido dele. Ele não era da mãe. Não pertencia ao fbi.
Não pertencia nem a si mesmo. Essa era a mensagem que Daniel
o tempo todo. — É pra nós também, Briggs e eu. Ele quer que a gente
saiba que estamos jogando o jogo dele. — Ela repuxou os lábios, algo
entre uma careta e um sorriso duro. — Quer que a gente saiba que ele
está ganhando.
suprimentos que o unsub levou para a cena. Mas havia coisas que não
unsubs.
executar.
entre 23 e 28 anos, mas ela tinha chegado àqueles números com base na
equação mudava as coisas. Ainda era uma aposta segura que nosso
devia ser certa. Mas se era esse o papel que Redding desempenhava para
uma forma desesperada, louca, que eu pegasse a faca. Ela queria que eu
fosse como ela. Queria que eu fosse dela. Pelo menos, ela me via como
uma pessoa. Para Daniel Redding, Dean era um objeto. Uma criação
com calma, como sempre fazia quando aquela parte do meu cérebro
significado dessas palavras ficou claro para Dean. Ele tinha dezessete
anos.
Ele poderia ter me dito que esse não era o nosso unsub. Mas não fez
como Daniel Redding não têm parceiros. Não acham que existe alguém
aprendiz.
Capítulo 37
Na manhã seguinte, o agente Briggs levou um dvd para Lia.
— Você não precisa fazer isso — disse ela. — O diretor aprovou seu
como ela estava de pé, a expressão no rosto dela. — Você odeia estar
dele foi casual, mas os olhos estavam cintilando com a mesma emoção
que eu tinha visto quando ele tirou Dean de cima de Christopher Simms.
gostava.
— Lia, Michael e Cassie, vocês vão pra sala de mídia, pra passar o
eficiente. — Redding acha que tem vantagem aqui. Isso muda hoje.
— Se você topar — disse ela, a voz mais baixa do que quando falou
nada ou fazer qualquer coisa que fosse menos do que tudo que ela
pudesse para botar fim naquilo teria a feito sentir ainda pior. Sterling não
estava maquiada. A blusa não estava para dentro da calça. Havia uma
colocou no aparelho o dvd que Briggs tinha dado a ela e se sentou entre
nós, uma perna dobrada até o peito e a outra esticada. A agente Sterling
É
— É um descuido da parte deles — opinou Redding. As mãos dele
Algo na forma como ele disse registros me fez pensar que ele estava
Briggs.
Redding fingiu surpresa, mas a vibração de prazer no tom dele era real.
recebidas por um homem como eu? Por que você ia querer saber que
mulheres me escrevem pra dizer que me amam, que todos os dias o meu
impossível de ignorar.
ameaças. Acho que nós dois sabemos que à menor oportunidade você
de ainda não ter feito isso significa que você não pode. — Redding se
você se cansa das coisas que não consegue fazer? Você não consegue
puder me dar alguma coisa, eu não tenho motivo pra ficar. — Briggs se
dois sabemos que você não faz meu tipo. Agora, a deleitável agente
nos eventos.
entender o que tinha acontecido. Aquela entrevista tinha sido feita logo
para apostar uma boa quantia que Briggs tinha mostrado a Redding uma
de vê-la de novo.
Os olhos dele ainda estavam fixos na pasta. Ele queria ver a foto.
Queria estudá-la.
pra você.
Você o manteve longe de mim por cinco anos. Que motivo eu poderia ter
pra te ajudar?
querer te ver.
seja mentirosa…”
menino muito, muito travesso. Vou te dar tudo que você quer saber…
momento depois por uma cena sinistramente similar, só que, desta vez,
estômago.
semicerrados.
— Não me diga que você já perdeu o gosto pela vida, Dean. O garoto
assistir. Foi mais difícil na segunda vez: Dean tentando fazer o pai
— Eu quero saber sobre você, Dean. O que essas mãos têm feito nos
aparecesse. Sabia que Dean iria se você se recusasse a falar com outra
— Eu não sei o que você quer que eu diga. — Na tela, a voz de Dean
isso que você quer ouvir? Que essas mãos, esses olhos… não são nada?
Redding. Ele olhava para Dean e a única coisa que via era a si mesmo:
rei de espadas.
Redding queria a imortalidade. Queria poder. Mas, mais do que
Por que agora?, pensei. Por que ele está fazendo isso tudo agora?
Ele tinha ficado naquela prisão por cinco anos. Tinha levado tanto tempo
para encontrar alguém para fazer o que ele queria do lado de fora ou
camisa de Dean. O prisioneiro o puxou para perto e disse a Dean que ele
em que a raiva que Michael tinha me dito que estava sempre presente
pedra, mas havia algo selvagem em seus olhos quando ele agarrou o pai
permitiram.
coisa que eu tinha visto. Briggs esperou um momento para ter certeza de
que Dean tinha terminado antes de recuar… mas reparei desta vez que
isso.
Dean fez mais duas ou três perguntas, mas seu pai não tinha mais
sugar todo o oxigênio da sala. — Ou ele ainda acha que fui eu quem
passei a faca lentamente pelos ombros e coxas dela, que fui eu quem fiz
para a porta, agora ele o estava empurrando; qualquer coisa para tirar
— Conta para o seu amigo agente o que você fez, Dean. Conta que
foi ao celeiro onde eu estava com Veronica Sterling presa pelas mãos e
pelos pés. Conta que quando eu fui cortá-la… que você pegou a faca da
minha mão não pra salvá-la, mas pra você mesmo fazer. Conta que você
a fez sangrar. Conta que ela gritou quando você queimou um R na pele
dela. Conta que você me pediu por ela. — Redding fechou os olhos e
— Guarda!
Dean para ele, a voz ecoando, cercada de paredes de metal —, não vai
entrevistas.
que ele tivesse pra dizer, não foi verdade. Ele queria saber tudo sobre o
que significa que não as tinha ainda. Seja quem for o protegido dele,
querido mestre.
verdade?
— Tudo.
têm um álibi.
mentir. Mentirosos são como mágicos: enquanto você olha pra assistente
o fato de que Redding alega que foi Dean quem torturou a agente
Sterling.
as pernas na lateral do sofá e percebi que, como eu, ele estava evitando o
elefante branco. — Ele não sente medo nunca. Consegue sentir prazer,
filho negou a relação deles. Tinha feito tudo que podia para fazer Dean
pensar que eles eram iguais, para separá-lo de todo mundo, começando
— Ele sabia. — A agente Sterling falou pela primeira vez desde que
tínhamos começado a ver os vídeos. Sem explicar melhor, ela foi até
surpreso por seu querido marido… perdão, ex-marido, ter permitido que
— E seu pai? Não, ele também não sabe, né? Então me diz, sra. Sterling,
Redding reagiu.
relacionamento especial.
marca… a marca não vai sumir, vai? Você vai ter uma das minhas
iniciais estampada na pele pelo resto da vida. Você ainda sente o cheiro
Redding se abriram.
pela letra no peito. Pela primeira vez, ela estava com controle firme da
entrevista. Ele deveria ter visto a dureza na expressão dela, mas não viu.
— Essa não é sua inicial — disse ela, baixando a voz para um pouco
estava ouvindo. Sabíamos que você voltaria pra verificar o trabalho dele,
e a única forma de você acreditar que ele não tinha outros motivos era se
mandei que ele fizesse. Implorei, fiz com que prometesse, e ele fez…
mesmo fazendo mal a ele, mesmo o assombrando desde então, ele fez. E
deu certo.
— Não.
era seu filho, que não havia nada da mãe nele. Se ferrou. — Sterling
cobertura.
— Ele me avisou pra ficar longe de você. Eu não ouvi. Não entendi,
e quando voltei sem reforço, quando você pulou em mim… ele estava
vendo. Ele tinha um plano e executou esse plano a todo custo. — Ela
sorriu. — Você deveria sentir orgulho. Ele é tão brilhante quanto você, é
corrente o segurou.
palavras não pareceram vazias… nem um pouco. — Você não tem ideia
recuperar a voz.
Lia sabia disso… da mesma forma que Dean sabia, da mesma forma
— Se você diz — disse Lia. — Vou ver como a Sloane está indo. —
Ela não queria falar sobre sobrevivência, e guardei isso para futura
pesquisas geográficas.
Sloane ergueu o rosto dos mapas, mas seus olhos não focaram em
Lia.
professor Fogle. Trina Simms. O chalé de Fogle fica a três horas de carro
sobreposição é mínima.
focal.
embaixo: sozinha, sem conseguir fazer diferença, por mais que fizesse as
contas.
— Vem — falei, passando o braço pelo dela e fazendo com que ela
— Nada além do óbvio: ele está dançando uma valsa longa e lenta
em torno da verdade.
Era normal um unsub não deixar provas nas duas primeiras cenas de
— Isso significa que vocês dois não arrancaram nada daquele velho
gênio?
Essa era a primeira vez que via Michael não se referir a Daniel
Redding como pai de Dean ou pelo nome. Era uma gentileza sutil vinda
recusou a nos ver. Nós forçamos um encontro, mas ele não falou nada.
— Redding disse que não estava com vontade de falar hoje. Disse
isolamento total, sem visitas, sem ligações, sem cartas, sem contato com
outros prisioneiros. Mas não temos ideia de que instruções ele já passou
para o parceiro.
Esse era o estilo de Redding, se recusar a falar até ter algo de que se
que o filho o tinha traído. Ele ia querer puni-lo por isso, quase tanto
quanto queria punir Sterling por ter a pachorra não só de viver, mas de
O filho dele.
deixando alguma coisa de fora. Redding não teria deixado o filho sair
daquela sala sem fazer alguma coisa para restabelecer seu poder… para
— Dean…
— Eu falei não.
mais difícil desse trabalho não é estar disposto a se colocar em risco: sua
Dean se virou para a cozinha. Achei que ele sairia andando, mas não
fez isso. Ele ficou parado, as costas viradas para nós enquanto o agente
— Ele disse que, se quiséssemos falar com ele cedo e não tarde
ele disse. — Dean se virou de volta. Tentou olhar para Michael, Sterling,
Fracassou.
Não vai acontecer de novo. Você vai cuidar disso. Não vai haver
balança uma vez pelo ar, como um bastão de beisebol. Você imagina o
Não.
Não é assim que se faz. Não é isso que você vai fazer em cinco…
arrepende.
Você joga o ferrete no chão e pega os lacres. Emerson Cole foi uma
passando pela filha, passando por todos nós até parar na frente de Dean.
havia ninguém.
descobrisse que você tinha usado ele para obter informações do pai,
tinha nos contado sobre o pedido de Redding. — Tem que ser eu.
Era eu quem tinha ido com Dean para Broken Springs. Se o unsub
tinha conseguido contar isso para Redding, era eu quem ele queria.
para ele. — Se eu não quero Cassie em uma sala com ele, o que te faz
dela.
na tradução.
ao silêncio.
mandar alguém? Nós não conseguimos tirar nada dele, nem vamos
conseguir. Ele vai fazer joguinhos conosco e outra pessoa vai morrer.
quer.
retorquiu Dean.
só ganhar esse jogo. Ele quer ganhar de um jeito que nos assombre… e
isso quer dizer que, se ele achar que tem vantagem, vai nos contar
alguma coisa. Vai haver pistas, porque ele vai querer que eu fique
acordada à noite daqui a cinco anos me perguntando por que eu não vi.
— Você não vai precisar ver — interrompeu Michael. Ele olhou para
para a agente Sterling, a voz dura. — Não era isso que você queria? Que
agente Sterling soou intensa. — Mas eu não posso, Dean. Não posso
apagar as coisas que aconteceram com vocês. Não posso fazer vocês,
Tentei tratar vocês como adolescentes, mas não funciona. Então, sim, eu
ajudar a impedir que aquele homem tire a vida de mais alguém, eu não
vou lutar com vocês. — Ela olhou para o pai. — Estou cansada de lutar
com vocês.
reconheci como o agente Vance, foi buscar o pai de Dean com os oficiais
meu lado.
Eles ficaram de pé, ao lado do meu ombro como dois agentes do
garota.
Havia uma qualidade musical na voz dele que não havia ficado clara
nas gravações.
um sorriso sutil.
— Sabe, eu acho que você acredita nisso. — Ele fez uma pausa. —
O dna debaixo das unhas de Trina Simms, pensei. Não havia como
Redding saber sobre isso… mas eu estava ciente de que havia duas
responder?
verdade.
Isso nós veríamos. Ou melhor, Lia veria por trás do espelho falso.
comando. Ele que me achasse uma garota comum, não uma adversária.
— Vamos de aprendiz.
É
— É.
— É.
— Tem.
Ele sorriu.
— Tem.
— É.
— É.
torcendo para que Lia conseguisse nos dizer quais respostas de cada par
para ele e não ver Locke e o jeito como ela tinha se fixado em mim.
— Gosto. — Mantive minha resposta curta. — Por que você quis que
eu viesse aqui?
virar.
Não era exatamente verdade, mas deixei que Redding pensasse que
— Pode fazer.
— Eu não escolho.
Ele estava mentindo. Tinha que estar. A única conexão entre Trina
Simms e Emerson Cole era que as duas tinham ligação com Redding.
— Uma coisa que você não sabe — refletiu Redding. — Tudo bem.
Vamos tentar isto: você nunca vai encontrar o homem que matou sua
mãe.
seca como um algodão. Minha mãe? O que ele sabia sobre a minha mãe?
— Ah, mas nós estávamos tendo uma conversinha tão boa — disse
Ele queria que eu acreditasse que ele tinha ouvido alguma fofoca de
prisão sobre o que tinha acontecido com a minha mãe. Isso significava
que ele sabia quem eu era… ou pelo menos sabia o suficiente sobre mim
— Me conta alguma coisa que eu não sei sobre esse caso — falei.
pessoas vão morrer. O agente Briggs vai receber a ligação sobre uma
Redding desviou o olhar do meu rosto para Briggs. — Porque você não é
você é fraco.
Nós acabamos aqui, pensei, mas não falei em voz alta. Em fila
lado dela, um pouco atrás de Lia, que ainda estava olhando para Redding
Uma mão tocou meu ombro, e eu me virei. Michael não disse nada,
Não consegui afastar o rosto do dele. Não falei que estava bem nem
que ela ignoraria minhas instruções. Desejei que não fizesse isso. Ela
estava mentindo?
— Nada? — repeti.
— Nada. Eu nem sei como ele faz isso. — Ela ficou de pé de novo,
deveria ter facilitado as coisas, mas eu juraria que cada resposta era
— Ei. — Dean segurou seu braço quando ela passou por ele. — Não
é culpa sua.
afastando de qualquer jeito a franja loira platinada dos olhos com a mão.
Lia balançou a cabeça com tanta força que o rabo de cavalo sacudiu.
Meu Deus.
nos fazer pensar que ele está brincando quando, na verdade, está nos
não deixava prova nenhuma enquanto Trina Simms tinha sido morta
qualquer momento.
balançou a cabeça.
em palavras.
contasse que outra pessoa estava morta. Ficava me lembrando dos rostos
Briggs voltou para a sala. Ele devia ter desligado, mas ainda se
agarrava ao telefone.
— Na Universidade Colonial.
Minha mente foi direto para as pessoas que tínhamos conhecido lá,
tom neutro.
colega de quarto que encontrou o corpo, o nome dele era Gary Clarkson.
A respiração entalou na minha garganta. Lia se apoiou no espelho.
Clark.
Briggs e Sterling não nos levaram para a cena do crime. Eles nos
Redding até os menores detalhes. Ele estava confiante, não frenético. Ele
se divertiu.
visitá-la.
Trina Simms…
Sloane discordou.
única coisa que conseguiram até agora foi tirar uma amostra do dna da
nossa vítima.
o paletó e o dobrou sobre o braço. Era uma ação controlada, que não
de colocar em palavras.
unsub.
Você
Você ainda vê a expressão daquele puxa-saco gorducho e
como você teria feito. O prazer que teria tido ao ouvi-la gritar.
você não se apressou. Você foi paciente. Explicou para ele que conhecia
Você tinha mostrado para aquela imitação fraca, para aquela cópia
da cópia, o que era paciência de verdade. A única pena foi que você
gritando.
o inferno.
Você é forte.
fazer direito.
Mas, agora, você está começando a ver: você poderia ser muito
mais.
— Ainda não — você sussurra. Tem mais uma pessoa que tem que ir
O que tiver que ser, será… mesmo que você precise dar uma
ajudinha.
Capítulo 41
Se desse para acreditar nas provas, Clark era um
mesmo assim.
encaixou. Não era agressivo, mas também não era o tipo de pessoa perto
Simms?
Foi por isso que você o matou, pensei, dirigindo as palavras ao nosso
unsub restante. Vocês dois estavam fazendo o mesmo jogo, mas ele fez
besteira. Ele acabaria sendo descoberto. Talvez fizesse com que você
conheciam?
— Ele ia querer mantê-los o mais separados possível. — Dean não
Quanto menos interação eles têm um com o outro, mais controle ele tem
Não era suficiente perfilar Clark ou nosso unsub. No fim das contas,
cada uma, passo a passo, pensando o tempo todo que eu estava deixando
Você mandou Clark atrás de Trina, pensei. Quem você mandou atrás
de Emerson?
Uma pergunta.
duvidava que ele tivesse esquecido alguma palavra que o pai dele disse
— Eles escolhem.
devesse ter esperado. Ele e Lia tinham conhecido Clark, e foi ele quem
Ela não era assim, dissera Clark quando surgiu o assunto de que
Emerson dormia com o professor… mas ele não tinha acreditado no que
disse. E isso significava que ele acreditava que Emerson era assim. Que
ela era indigna e merecedora de desprezo. Que ela merecia ser
degradada.
Clark era obcecado por Emerson. Ele a amava e a odiava, e ela tinha
aparecido morta. O único motivo para ele não ter sido um suspeito
alvo um do outro.
subir a escada. Não podia descer. Não podia fazer nada além de ficar
que, quando o telefone tocasse, fosse para nos contar que eles tinham
apreendido o suspeito, não para nos informar que tínhamos uma quinta
vítima.
uma hora em que o álibi de Clark era inquestionável. Essa pessoa tinha
jeito nada direto, pelo homem por quem ela se julgava apaixonada?
Christopher como aprendiz. O pai de Dean devia ter usado Trina para
chegar ao filho dela. Era quase certo que tinha dito para Clark só matar
embalagem de plástico.
Você nunca vai encontrar o homem que matou sua mãe. As palavras
Olhei para Dean por cima do ombro. Ele estava no alto da escada.
acima, ele desceu até chegar ao meu e se sentou ao meu lado. A escada
era larga o suficiente para ainda haver espaço entre nós, mas não muito.
Ele sabe, pensei. Ele sabe que era da Locke e sabe por que eu
guardei.
e expiração.
— Não consigo decidir se meu pai elaborou essa coisa toda só pra eu
que queria ser o único aprendiz de Redding. Seu único herdeiro. Seu
único filho.
— Seu pai não quer você morto — falei. Para Redding, isso seria um
dos unsubs tivesse ido mais longe, se um deles tivesse vindo aqui me
com Dean matando os outros. Redding via Dean como uma extensão de
si. Claro que ele achava que Dean ganharia; e, se não ganhasse, bom,
talvez Daniel Redding acreditasse que ele merecia morrer. Por ser fraco.
Por favor, que ele tenha sido encontrado a tempo. Por favor, que ele
subitamente seca. Ele ficou sentado, tão imóvel quanto eu, ao meu lado.
Eu não sabia por que estava dizendo isso agora, mas eu precisava. A
seco.
Mas não sei se consigo… não sei se é suficiente. — Ele fechou minha
alguma coisa importar tanto que perdê-la poderia levá-lo ao seu limite?
Mas nós não fomos, e, desta vez, tínhamos vencido. Aquela faca de
caça não cortaria a pele de mais nenhuma garota. As mãos dela não
seriam presas nas costas. Ela não sentiria o metal quente derretendo sua
pele.
poder impedir alguma outra garotinha de ter que entrar em uma sala
Você nunca vai encontrar o homem que matou sua mãe. Como
Redding podia saber disso? Ele não podia. Ainda assim, eu não
conversam. Como o pai de Dean sabia que eu tinha uma mãe morta?
— Não pensa em uma coisa que faz você se sentir pequena e com
— Você está atrás de mim — falei sem me virar. — Como pode ler
Nunca.
Fiquei paralisada.
— Eu sei — disse ele. — Sei que você gosta dele. Sei que sente
atração por ele. Sei que quando ele sofre, você sofre. Sei que ele nunca
olha pra você do jeito que olha pra Lia, que você não é uma irmã pra
ele. Sei que ele te quer. Ele está doidinho por você. Mas também sei que
quero te querer.
Michael não era o tipo de pessoa que se permitia querer coisas. Não
Esperava se decepcionar.
— Eu estou aqui, Cassie. Sei o que sinto e sei que, quando você
dedos de leve pela minha nuca. — Eu sei que você sente medo.
carro.
Michael dando um passo para trás e tentando ser um cara legal. Por
mim.
antiga casa.
Michael tinha razão. Eu estava com medo. Com medo das minhas
Mas Michael estava ali, me dizendo o que ele sentia. Estava abrindo
A decisão foi minha, mas ele estava tão perto, e, aos poucos, as minhas
Até o rosto.
lembrando das palavras dele, a única pessoa em quem você vai estar
pulo de meio metro no ar, e Michael quase perdeu o equilíbrio por causa
som da música.
quanto uma pessoa poderia enquanto gritava para ser ouvida em meio ao
110 decibéis?
aos berros. — Aposto que essa música está a 103 decibéis. E meio.
ser alcançada por uma porrada para me segurar por uma das mãos e
Sloane pela outra. — Nós pegamos o vilão. — Ela puxou nós duas para
não acham?
Capítulo 43
Acordei suando frio no meio da noite. Eu devia ter esperado os
volta.
estão mudando.
Dean, mas, além disso tudo, por minha causa. Sloane tinha me
Mas agora…
voz da agente Sterling ecoou nos meus ouvidos. É você que sente as
deixado passar o vilão escondido a olhos vistos. Mas nós não tínhamos
deixado passar nada naquele caso. Christopher Simms era o vilão. Ele
vítima que Christopher tinha em vista? Redding sabia que tinha alguém
Eu não escolho.
resolvida.
Não havia como escapar dessa pergunta. Talvez não fosse nada, mas
saí da cama e do quarto. A casa estava silenciosa, exceto pelo som dos
dormindo.
dela pelo fato de ela ter aberto a porta com uma arma em mãos. — Não
do sofá-cama. Com o cabelo solto, parecia mais jovem. — Por que você
deveria ter sido mais incômodo do que era, mas tanta coisa tinha
— Não — falei. — Quer dizer, sim, eu adoraria que você tirasse esse
treco, mas não é por isso que eu estou acordada. É por causa da garota, a
planejando sequestrar.
agora para saber que a mente dela pensaria nisso, assim como a minha.
perguntei quantas noites ela tinha passado como aquela, sem conseguir
dormir.
Christopher?
seleção de vítimas. A mãe dele estava morta. Ele tinha matado Emerson.
Talvez tenha sido isso. Talvez agora que Clark está morto, Christopher
tenha começado a trabalhar por conta própria… mas Redding sabia que
alguém ia morrer em breve além de Clark. Foi planejado. E se foi parte
do plano…
fazendo sentido.
recebeu a ligação?
coração batendo em um ritmo brutal. O jeito como ela fala significa que
é alguém que a gente conhece. Quando me dei conta disso, uma súplica
Ela não estava dizendo nada, porque ele não estava ouvindo.
longe.
vigente.
ao menos uma chance, talvez uma boa, de Christopher Simms ter sido
Mas tudo bem botar a sua?, tive vontade de perguntar, mas não falei
pra cama.
depois de tudo que tinha nos mandado fazer, o primeiro instinto dela
ainda era de me proteger. Ela arriscaria a própria vida, mas não a minha.
puxou até eu ficar na ponta dos pés. Meu corpo foi puxado para junto do
segundo depois, percebi que eu estava com uma arma apontada para a
ordenado.
apertou a arma na minha têmpora com mais força. Meu corpo todo doía.
dele.
— Me leva. Foi pra isso que você veio aqui. Fui eu quem escapei de
Redding. Pra provar que você é melhor do que os outros aprendizes dele,
matá-los não é o suficiente. Você quer provar que é melhor do que ele.
Inspirei ar, meus pulmões ardiam, ofegando para respirar uma vez,
depois duas.
— Faz ela desmaiar. Deixa ela aqui. Ela não era parte do plano. Do
tremendo. Ela estava fazendo uma jogada perigosa. Uma palavra errada
desmaiar. — Ela não pode te identificar. Quando ela acordar, você vai
estar longe e eu vou ser sua. Você não vai me perder como Redding
perdeu. Vai levar o tempo que precisar. Vai fazer do seu jeito, mas você
não vai ser encontrado. Eu não vou ser encontrada se você seguir o
plano.
medos e desejos dele, mas eu também ouvi o que ela estava dizendo, e o
que havia algo errado. Um jeito de garantir que ele pudesse encontrá-la.
— Olha pra cá, Cassie. Olha pra cá. — Ouvi o desespero na voz da
mera existência de Dean, que tinha problema com agentes do fbi do sexo
para o homem não ter deixado que a gente ficasse no carro; como
estava rouca, quase inaudível. — Você trabalha na prisão. Sabe que ele
pediu por mim. Deve ter sido você quem passou a mensagem.
preto.
Você
A arma estala no crânio dela com um ruído horrendo.
Você não entra em pânico.
bonita do fbi. Ela te olhou com desprezo quando visitou Redding. Ousou
Ela deve rir de garotos rejeitados pela Academia do fbi, mais ainda
Seu coração está disparado nos ouvidos. Sua respiração está vindo
do Niágara.
A agente do fbi pega a garota. Você enfia a arma dela no bolso. Elas
são suas. Você vai levar as duas. E é nessa hora que você sabe.
Você não vai enforcá-las. Não vai marcá-las. Não vai cortá-las.
Você está com Aquela Que Escapou. Está com a garota do filho
inútil dele. Desta vez, você pensa, nós vamos fazer do meu jeito.
— Você acordou.
pele pareciam apertados, mas eu não sentia nada além da dor dilacerante
— Ele bateu com a arma em você e te fez desmaiar. Como está sua
cabeça?
possível.
alguns segundos. — Ele não me bateu tão bem. Eu fingi que estava
inconsciente quando ele nos trouxe aqui. Até onde sei, nós estamos em
Umedeci os lábios.
estava imobilizada da mesma forma que eu: as mãos nas costas, presa a
eu saber que você também não vai conseguir. Por que, Cassie? — A voz
dela falhou, mas ela não parou de falar. — Por que você não pôde fazer
o que eu mandei? Por que fez com que ele te trouxesse junto?
A raiva foi sumindo da voz dela de uma frase para a seguinte até só
meus.
de texto — falei. — Não vai demorar pra ele perceber que você também
sumiu. Ele vai puxar os dados da minha tornozeleira. Vai nos encontrar.
Quanto tempo havia que estávamos ali? Por que Briggs já não tinha
suficiente.
A tornozeleira tinha que disparar. Tinha que levar Briggs até nós.
Nunca tinha passado pela minha cabeça que ela podia ter mentido
para mim. Eu sabia que estava correndo um risco, mas achei que era de
A tornozeleira tinha que disparar. Tinha que levar Briggs até nós.
as únicas palavras que meus lábios formariam, a única coisa que restava
— Como?
Percebi pela expressão nos olhos de Sterling que ela estava
morar na nossa casa e nos passar esse caso, por me deixar entrar quando
Por não ativar a tornozeleira. Por me deixar acreditar que ela tinha
feito isso.
estudo. — Fiz uma pausa. — Se bem que, se ele nos enfiou no porta-
malas, isso parece sugerir que ele não dirige uma picape nem um suv.
guardar energia porque, quando ele voltar, eu vou tentar distraí-lo e você
vai correr.
estava dizendo podia acontecer. — Quando ele estiver distraído, você sai
Eu assenti, apesar de saber que ele tinha uma arma, de saber que eu
saber tão bem quanto eu que uma distração não seria suficiente.
Não havia nada para ele além de nós e a certeza de que ambas
Meu Deus.
mais de dez mulheres que Daniel Redding tinha matado antes de ser
capturado.
espremer a vida de mim. Gostou de me bater com a arma? Você vai nos
— Cassie.
porque eu não estaria aqui, eu não trocaria a minha vida pelas vidas que
ajudei a salvar. Mas porque, se eu fosse normal, não estaria sentada aqui
entrando na mente dele, vendo-o como ele nos vê, sabendo como isso
vai terminar.
Você escapa, porque é uma sobrevivente. Porque outra pessoa achou que
poderia pensar.
— Eu nem lembro, mas ela sempre tinha uma resposta. Sempre tinha
novas, ela trabalhava no laboratório do fbi. Ela sempre era melhor com
fatos do que com pessoas. A maioria dos alunos de segundo ano não
gosta de uma colega que vive colocando a vida deles em perigo teórico.
— Mas você gostava — falei. Sterling assentiu. — O nome dela era
Scarlett, não era? Era filha de Judd. Sua melhor amiga. Não sei o que ela
circunstâncias.
— Ela morreu. — Falei para que Sterling não precisasse, mas ela
— Ela morreu.
e Sterling.
Elas são suas. Desta vez você vai fazer do seu jeito.
parece estar muito bem. Ela vai ser a primeira a cair. O rosto dela já
está cheio de hematomas. Você fez isso. Você. O rosto da agente do fbi
está marcado com linhas óbvias de lágrimas. Você apoia o rifle de lado,
Ela recua, mas não tem como lutar contra você. Nenhuma das duas
tem como.
olhos delas. — Vocês vão correr. Vou até dar a vocês dois minutos de
vantagem.
— Eu. — A agente do fbi é quem fala. Ela não percebe que não
Você é o caçador.
Ela é a presa.
punhos. A lâmina pairou sobre meu braço por um momento. Ele passou
a ponta de leve sobre uma veia, mas não apertou com força para cortar.
quis ir primeiro, quis ganhar tempo para mim… mas para quê? Essa era
suficiente…
que lutar.
direção da porta.
nome. — Você foi enterrada viva em um caixão de vidro com uma cobra
precisaria da cobertura.
Eu precisava de um plano.
latejando.
Eu corri.
Corri o mais rápido que pude, para as árvores mais fechadas que
mais do que cinco. Abri caminho pela vegetação até meus pulmões
começarem a arder. Olhei para trás. Não dava para vê-lo pela floresta, o
eu voltei. Saí da trilha que eu tinha feito na primeira vez, pisando leve e
Por favor, não me veja. Por favor, não me veja. Por favor, não me
veja.
Eu não tinha muito tempo até ele perceber o erro. Eu não tinha para
terreno perdido.
Você não está com raiva. Não de verdade. Esse é o jogo. Você sabe
que vai me encontrar. Sabe que eu não vou escapar. Não deve ter para
onde escapar.
Eu só conseguia segurar com uma das mãos, mas usei o outro braço,
Subi o mais alto que pude até os galhos ficarem finos demais para
me firmar.
Por favor, não me veja. Por favor, não me veja. Por favor, não me
veja.
Por favor, não me veja. Por favor, não me veja. Por favor, não me
veja.
ele olharia para cima. Só tive tempo para um pensamento, para uma
súplica silenciosa.
Não erra.
Arremessei a pedra na direção dele com tanta força que eu quase caí
Eu não errei.
A pedra o acertou acima do olho. Ele caiu, mas não ficou no chão, e
vivo, senti a adrenalina que tinha me levado até ali evaporar. Não haveria
gatilho.
Pensei na agente Sterling no chalé. Ele iria atrás dela em seguida
Não.
A arma disparou. O tiro passou longe, e eu caí nele com os pés. Nós
rifle, mas eu estava perto demais para ele apontar para mim.
Três segundos.
Foi esse o tempo que levou para ele ganhar vantagem, me prender no
metro do meu corpo. Parou sobre minha barriga por alguns segundos,
Eu fechei os olhos.
sem aviso. Só mais tarde meu cérebro registrou o som de tiro, a agitação
— Cassie. Cassie.
Eu abri os olhos.
— Briggs.
— Estou falando com ela. Ela está bem. — Ele voltou a atenção para
parava de repetir que Veronica ficou tentando dizer a ele que havia algo
de errado no caso.
— Sua tornozeleira.
— Ela não tinha ativado mesmo, mas como estava numa onda de
remotamente.
Nós?
falei pra você esperar no chalé — reiterou ele para Dean, com irritação
na voz.
Mas ele não me impediu de dar três passos na direção de Dean, nem
tocando, confirmando que eu estava bem, que estava ali, que era real.
As mãos dele foram dos meus ombros para o meu rosto. A direita
pelas minhas feridas, foi para o meu cabelo e sustentou minha cabeça
para mim, como se ele achasse que meu pescoço não era capaz de dar
conta.
emoções que eu não conseguia identificar. Eu sabia que ele devia estar
cima da árvore. — Fiz um gesto vago com uma das mãos. Dean me
subir de leve.
Ele estava com medo, como eu. Mas sentia, e eu sentia, e ele estava
ali. Eu tinha passado tanto tempo tentando não escolher, tentando não
fato viver.
beijo, a dor no meu rosto passando, levada com o resto do mundo, até
que só havia aquele momento… o que eu não achava que fosse viver
para ver.
Capítulo 46
Passei a noite no hospital. Eu tinha uma concussão,
mim.
Eu estava viva.
Briggs. Estávamos indo para o carro quando me dei conta de que ele
Uma semana antes, eu teria ficado feliz de me ver livre dela, mas
agora…
Ele era o tipo de pessoa que odiava admitir incerteza. — Depois que
Redding a capturou, depois que Dean a ajudou a fugir, ela lutou pra
Isso foi antes. Agora era diferente. Eu achava que a agente Sterling
que eu não tinha ouvido? Por que tinha feito o louco me levar também?
Tudo que ela queria naqueles últimos momentos era acreditar que eu
entender que a agente Sterling não era a única que carregava aquela
culpa. — Você não tinha que ter ido a campo. Nenhum de vocês tinha
Simms teria matado aquela garota. Se eu não tivesse ido com a agente
Sterling, ela estaria morta. Por mais que o que eu tivesse passado
Ele não tinha levado Dean para aquela cena do crime. Não tinha
luvas.
Você me trouxe aqui pra olhar isso, pensei, voltando para o modo
Porque não era para processar provas. Era por mim e pelo que eu
mesma forma que Dean sempre teria perguntas sobre o pai, mas aquele
unsub, o homem que tinha tentado acabar com a minha vida, não
precisava ser uma figura mítica, mais um fantasma a assombrar meus
sonhos.
em frente, tanto quanto uma pessoa pode seguir em frente depois de algo
assim.
Levei horas para olhar tudo. Havia uma foto de Emerson Cole
Seis meses antes, você foi transferido para o bloco de Redding. Ficou
especial.
Briggs e encontrar Dean. O guarda tinha provado seu valor nas duas
diário: um artigo que Webber tinha dado para Daniel Redding ler e
Era um artigo sobre a agente especial do fbi Lacey Locke. Uma loba
Você era aprendiz dele. Ele era seu mestre. E se havia outros
competindo pelo seu papel, bem, você cuidaria deles com o tempo.
Você não acha esquisito?, o que eu tinha perguntado parecia ter sido
pai de Dean?
ele entendia Locke — o que a movia, o que a motivava, o que ela queria
—, se ele mandou que Webber vigiasse Dean, se ele sabia quem eu era e
desafio.
era; como tinha feito as conexões que deve ter feito para entender o que
minha mãe, se é que sabia alguma coisa. Mas o diário de Webber não
concentrada em Redding.
como seria se tivesse sido ele a matar Trina Simms. Ele tinha
fazer direito. Os dias de Christopher estavam contados assim que ele foi
capturado.
E aí sobrou um.
está bem?
lembranças não tinham sido apagadas. Nunca seriam. Mas por minutos,
Quando voltamos para casa, estava quase escuro. Lia, Dean e Sloane
Cada vez que ele dava um golpe, cada vez que estilhaçava um pedaço
Ele sabia.
Desde que Dean voltou para casa, desde que Michael bateu os olhos
tivessem ido da minha mente para a dele. Ele me observou como tinha
feito no dia em que nos conhecemos, antes de eu saber o que ele era
capaz de fazer.
importasse.
no meu coração. — Se ele se der bem, pode ser que acabe se soltando.
impedir que batam em você, você faz com que batam. Isso não impediu
— Cassie.
alguma coisa, mas não consegui identificar o que era. Olhei para trás,
— O quê?
qual fosse a reflexão que ela estivesse fazendo, sejam quais fossem as
cinco anos antes. E me perguntei que relação ela tinha com a mulher na
Nos dias bons, eu dizia para mim mesma que era verdade, que cada vez
forte. Nos dias ruins, desconfiava que sempre seria quebrada, que partes
de mim nunca ficariam boas… e que eram essas partes que me tornavam
boa no trabalho.
Eram essas partes que tornavam aquela casa e as pessoas nela o meu
lar.
dormindo no seu peito. Pensei no jogo que Sterling fazia com Scarlett
tempo ele tinha ficado ali e repassei a pergunta na mente. Ele tinha visto
a agente Sterling crescer. Quando ela saiu do fbi e deu as costas para
— Eu não vou a lugar nenhum — disse Sterling para ele. Ela andou
Um porta-retratos.
dentes da frente.
que ele não estava falando só sobre o momento entre Sterling e Judd, e
expectativa.
que eram só os dois, mas logo ficou claro que eles estavam esperando
outra pessoa.
saiu do carro. Estava usando um terno caro e uma gravata vermelha. Ele
um plano maior.
A agente Sterling está vindo morar aqui. Me agarrei a esse fato. Isso
tinha que significar que o chefe do pai dela não tinha ido detonar o
conosco.
Inteligência fez uma pausa. — Ela também acredita que não dá pra
confiar em vocês pra se cuidarem, e que não dá para contar que nenhum
Olhei para a agente Sterling. Isso não era só uma acusação contra o
programa, era uma acusação contra o que ela tinha nos deixado fazer.
casos reais? Antes de eu ir para lá, ser treinada para perfilar pessoas
poderia ser suficiente, mas não era mais, não agora. Eu precisava que o
que eu passei significasse alguma coisa, precisava de um propósito.
Precisava ajudar.
fazer.
homem que tinha ido decidir nosso futuro. Vindo de alguém que se
uma pergunta.
— Entendido.
Quando o assunto for o que cai ou não dentro do escopo deste programa,
— Entendido.
Protocolos novos. E não vão ficar só no papel. Não vai haver mais
severa, mas Michael devia ter visto alguma coisa que eu não vi, pois ele
mim.
vida que mantêm a minha sanidade quando a escrita vira loucura: minha
Rose Brock pelas férias de escrita, por Rose Fest e pela aventura! Este
livro foi revisado na Cornualha, onde Sarah Rees Brennan, Maureen
esperar para que vocês vejam o que vem aí para Cassie e os outros.
Confira nossos lançamentos, dicas de leituras e novidades
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Copyright © 2014 by Jennifer Lynn Barnes
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida —
em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. — nem
B241i
Instinto assassino / Jennifer Lynn Barnes ; tradução Regiane Winarski. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Alt, 2024.
(Os naturais ; 2)
1. Romance americano. 2. Ficção policial. I. Winarski, Regiane. II. Título. III. Série.
CDU: 82-312.4(73)
Direitos de edição em língua portuguesa para o Brasil adquiridos por Editora Globo S.A.
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