Dissertation Final Paginas 2015 Novo Pra Caralho
Dissertation Final Paginas 2015 Novo Pra Caralho
Dissertation Final Paginas 2015 Novo Pra Caralho
Seus ambientes preferidos são lugares com vegetação natural aberta como
campos, charcos e pântanos, sendo que suas características anatômicas lhe conferem
habilidade de forragear em ambientes de capim alto, predominantes em seu hábitat
(Dietz, 1984). A distribuição atual do lobo-guará está concentrada no Brasil central,
Paraguai e planícies da Bolívia oriental (Dietz, 1985; Rumiz & Sainz, 2002). Em áreas
marginais de sua ocorrência, como o norte e nordeste da Argentina, Uruguai e extremo
sul do Brasil, densidades parecem ser menores ou pelo menos há poucas registros da
ocorrência da espécie (Beccaceci, 1991; Rumiz & Sainz, 2002; Indrusiak & Eizirik,
2003; Queirolo et al., 2011; Rodden et al., 2004) (Figura 2). Houve uma recente
expansão na ocorrência do lobo-guará na porção leste e sudeste do Brasil associado com
o desmatamento da Mata Atlântica e a conversão de hábitats em pastagens pra criação
de gado (Queirolo et. al, 2011). Como no passado, os lobos-guará continuam ocorrendo
em grande parte do Brasil central onde sua ocorrência é limitada ao norte e noroeste
pela Floresta Amazônica e ao nordeste pela árida Caatinga (Queirolo et. al, 2011).
Segundo Dietz (1984), são monógamos facultativos onde o macho e a fêmea que
formam o casal apresentam suas áreas de vida completamente sobrepostas. São
caçadores estritamente solitários, ainda que com indivíduos do mesmo do grupo, evitam
uns aos outros ao caçar durante a noite (Melo et al., 2006). As fêmeas do lobo-guará são
monoéstricas, com um período de gestação de 60 a 65 dias e uma ninhada que pode
variar entre um e cinco filhotes, com uma média de dois (Fletchall et al., 1995) . O
acasalamento ocorre desde o final de abril até princípios de junho e os nascimentos
começam em junho e vão até agosto, podendo registrar-se filhotes até o mês de outubro
(Carvalho, 1976; Garcia, 1983; Kleiman, 1972; Roeben, 1975). Durante a época
reprodutiva o casal partilha a mesma área de vida (Dietz, 1984; Melo et al., 2006;
Rodrigues, 2002) e esta possui média que varia de 25,23 km² a 80,18 km² (Azevedo,
1
2008; Carvalho & Vasconcellos, 1995; Dietz, 1984; Jácomo et al., 2009; Mantovanni,
2001; Melo et al., 2006; Rodrigues, 2002; Silveira, 1999). A área ocupada por um casal
pode ser tanto exclusiva, com nenhuma ou pouca sobreposição entre áreas de casais
vizinhos (Dietz, 1984), como poder ter grandes sobreposições com casais vizinhos
(Rodrigues, 2002).
2
relacionado à exigência destes por grandes áreas de vida e por possuírem, em sua
maioria, populações com baixas densidades e com baixas taxas reprodutivas (Leite &
Oliveira, 1998; Noss et al., 1996).
De acordo com dados da IUCN, o lobo-guará se encontra na categoria de quase
ameaçado (Near Threatened), sendo definida como um táxon que não se encaixa nas
categorias de criticamente ameaçado, em perigo ou vulnerável agora, mas que está
próximo de alguma dessas categorias ou que possa se encaixar nelas em um futuro
próximo (IUCN, 2012). No Brasil, de acordo com dados do ICMBio (2014), o lobo-
guará se encontra na categoria vulnerável.
3
LITERATURA CITADA
DIETZ, J. M. 1984. Ecology and social organization of the maned wolf (Chrysocyon
brachyurus). Smithsonian Contributions to Zoology, 392: 51p.
FLETCHALL, N. B.; RODDEN, M.; TAYLOR, S. 1995. Husbandry Manual for the
Maned Wolf Chrysocyon brachyurus. Maned Wolf SSP Husbandry Manual.
4
KLEIMAN, D. G. 1972. Social behavior of the Maned wolf (Chrysocyon brachyururs)
and Bush dog (Speothos venaticus): a study in contrast. Journal of Mammalogy, 53(4):
791-806.
INDRUSIAK, C. & EIZIRIK, E. 2003 Carnívoros. In Livro vermelho da fauna
ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul (eds FONTANA, C. S.; BENCKE, G. A.;
REIS, R. E.), pp. 507–533. Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, Brasil.
ICMBio 2014. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Disponível
em: < http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-
especies/572-lobo-guara.html >. Acesso em: 09 dez 2014.
IUCN 2012. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2010.4.
<www.iucnredlist.org>. Acesso em: 25 de ago. de 2012.
JUAREZ, K. M.; MARINHO-FILHO, J. 2002. Diet, habitat use, and home ranges of
sympatric canids in Central Brazil, Journal of Mammalogy 83:925-933.
5
MOTTA-JUNIOR, J. C. 1997. Ecologia alimentar do lobo-guará, Chrysocyon
brachyurus (Mammalia: Canidae), Pp. 197-209 in XV Encontro Anual de Etologia.
Anais de Etologia, São Carlos, SP.
OLIVEIRA, P. S.; MARQUIS, R. J. 2002. The cerrados of Brazil: ecology and natural
history of a Neotropical Savanna. P. S. Oliveira & R. J. Marquis, eds. Columbia
University Press, New York.
ROEBEN, P. 1975. Studbooks for the Maned wolf, Bush dog and Spectacled
bear.(Chrysocyon brachiurus, Speothos venaticus and Tremarctos ornatus).
International Zoo Yearbook, 15: 287-300.
RUMIZ, D.; SAINZ, L.A. 2002. Estimación del hábitat útil y la abundancia potencial
del lobo de crin o borochi (Chrysocyon brachyurus) en Huanchaca, Santa Cruz—
Bolivia. Revista Boliviana de Ecología, 11, 3–16.
SANTOS, E.F.; SETZ, E.Z.F.; GOBBI, N. 2003. Diet of the maned wolf (Chrysocyon
brachyurus) and its role in seed dispersal on a cattle ranch in Brazil. J. Zool. 260, 203–
208.
7
Figura 1. Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Fonte: Instituto para a Conservação dos
Carnívoros Neotropicais
8
CAPÍTULO I
9
RESUMO
Colares de rádio telemetria têm sido usados para estudar a biologia de animais
silvestres desde 1959, permitindo a pesquisadores obterem preciosas informações sobre
a ecologia e o comportamento de populações silvestres. Para melhor entendermos a
distribuição espacial dos lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) no Parque Nacional da
Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, os métodos de telemetria VHF e telemetria
GPS foram utilizados para verificar se áreas antes não amostradas pela tecnologia VHF
podem ser amostradas por colar GPS. O uso da telemetria GPS apresentou média de
localizações por mês 20 vezes maior em relação à telemetria VHF, com a precisão das
localizações de 93%. Variações nas áreas de vida foram observadas devido ao número
de localizações e a como elas estavam distribuídas, afetando o comportamento do fator
de suavização do método de estimativa de área de vida kernel adaptativo. A telemetria
GPS conseguiu registrar movimentos perdidos pela telemetria VHF. Como a precisão
das localizações obtidas por telemetria GPS é alta, estudos de utilização de habitat são
mais acurados, podendo-se analisar que tipo de ambiente o animal utiliza, o que não é
tão bem definido pela telemetria VHF, uma vez que um maior erro nas localizações gera
dúvida se o animal está em um habitat ou em outro.
10
ABSTRACT
Radio telemetry collars have been used to study the biology of wild animals
since 1959, allowing researchers to obtain valuable information about the ecology and
behavior of wild populations. To better understand the spatial distribution of maned
wolves (Chrysocyon brachyurus) in the Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas
Gerais, Brazil, methods of VHF telemetry and GPS telemetry was used to check if areas
not previously sampled by VHF technology can be sampled by GPS collar. The use of
GPS telemetry locations had an average per month of 20 times more than compared to
VHF telemetry, with the accuracy of the locations of 93%. Variations in the home range
areas were observed due to the number of locations and how they were distributed,
affecting the behavior of the smoothing factor of the estimation method of adaptive
kernel home range estimator. The GPS telemetry managed to record movements lost by
VHF telemetry. As the accuracy of locations obtained by GPS telemetry is high, studies
of habitat utilization are more accurate and can be analyzed what kind of environment
the animal used, which is not as well defined by telemetry VHF, since a higher error in
locations generates doubt whether the animal is in a habitat or another.
11
INTRODUÇÃO
Colares de rádio telemetria têm sido usados para estudar a biologia de animais
silvestres desde 1959 (Le Munyan et al., 1959), permitindo a pesquisadores obter
preciosas informações sobre a ecologia e o comportamento de populações silvestres,
sem estarem obrigatoriamente em contato com os indivíduos estudados (Jacob &
Rudran, 2006). À medida que a tecnologia avançou e os preços se tornaram mais
acessíveis, a telemetria VHF (Very High Frequency) se tornou uma ferramenta
amplamente utilizada (Whyckoff et al., 2007).
A radiotelemetria é um sistema eletrônico que consiste basicamente de um
transmissor acoplável ao animal estudado, que emite sinais de rádio captados por um
receptor através de uma antena, faz-se possível, mesmo a distância, localizar,
acompanhar o deslocamento, monitorar sinais vitais e fisiológicos e padrões de
atividade do indivíduo ou grupo marcado (Jacob & Rudran, 2006). Podem-se buscar
ainda padrões de movimentação, territorialidade e utilização de recursos, bem como
avaliar parâmetros demográficos tais como densidade, sobrevivência e dispersão (Jacob
& Rudran, 2006). No entanto a radiotelemetria necessita de várias horas de esforço para
localizar os animais, e o método de triangulação para estimar a localização espacial dos
animais com colares pode resultar em ampla margem de erro (Samuel & Fuller, 1994;
Saltz, 1994). Além disso, um elevado esforço amostral, gastos com logística de trabalho
(profissionais, combustível, manutenção de automóveis, dentre outros) e até mesmo
monitoramento aéreo é necessário.
Limitações no número e precisão das localizações são outros problemas
associados à telemetria VHF (Millspaugh & Marzluff, 2001; Fuller et al., 2005). Em
espécies que possuem uma atividade constante e se deslocam por grandes distâncias, o
processo de triangulação para localizar o animal, além de ser complicado, é
relativamente impreciso (Samuel & Fuller, 1994; Theuerkauf & Jedrzejewski, 2002).
Telemetria VHF também apresenta dificuldades em longas distâncias entre o animal e o
observador, e em relevos acidentados, onde as ondas de rádio podem ser refletidas por
penhascos e montanhas (Garrott et al., 1986; Haller et al., 2001), o que aumenta a
imprecisão da localização. Também áreas com vegetação densa podem dificultar a
propagação de ondas de rádio, o que pode obrigar ao pesquisador a optar por
monitoramento aéreo (Crawshaw, 1995).
12
Em 1994, os colares GPS (Global Positioning System) foram colocados com
sucesso em alces (Alces alces) e seu uso de hábitat foi monitorado com uma frequência
de amostragem de localização e numa escala de detalhe anteriormente inatingível
(Rempel et al., 1995; Rodgers et al., 1995). Hoje, o sistema de colares GPS possui
potencial para coletar uma ampla amostragem de localizações que pode ser obtida
durante o dia e durante a noite, sobre qualquer circunstância de condições climáticas e
condições de terreno (Zweifel-Schielly & Suter, 2007; Kochanny et al., 2009),
permitindo que os pesquisadores possam monitorar tanto o comportamento do animal
quanto suas interações com o ambiente (Handcock, 2009). O erro das localizações da
tecnologia VHF era por volta de 100 metros, com a utilização de colares GPS esse erro
passou a ser de aproximadamente três metros, melhorando consideravelmente a
aplicação do colar GPS para escala fina de investigação sobre uso de habitat da vida
selvagem (Adrados et al., 2002 apud Wyckoff et al., 2007)
A utilização da telemetria GPS mostrou ser um método superior para o estudo de
seleção de hábitat de onça-parda (Puma concolor coryi) no sul da Florida, Estados
Unidos (Land et al., 2008), pois colares GPS podem ser programados para coletar dados
durante o dia e durante a noite. O surgimento da tecnologia de colares GPS ajudou
também a melhorar estudos para determinar as taxas de predação por onças-pardas
(Ruth et al., 2010).
Entretanto a tecnologia GPS não é a panacéia para todos os problemas
associados com a condução de estudos de telemetria. Os equipamentos de telemetria
GPS são consideravelmente mais caros que os equipamentos de telemetria VHF, logo os
pesquisadores esperam um aumento proporcional na quantidade e precisão dos dados.
Infelizmente, as reclamações mais comuns dessa tecnologia GPS vão desde problemas
com baterias que acabaram rapidamente a problemas de hardware, como exemplo o
funcionamento da programação do mecanismo drop off dos colares. A tecnologia de
colar GPS tem melhorado nos últimos 15 anos, promovendo colares menores, mais
baratos e mais precisos para a realização de pesquisas da vida selvagem (Whycoff et al.,
2007).
Lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) vêm sendo monitorados na região do
Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, desde 2004. Inicialmente foram utilizados
colares VHF e a partir de 2007 passou-se a usar colares GPS. Tendo em vista a falta de
estudos referentes à comparação dessas duas tecnologias, o objetivo deste trabalho foi:
1) numa amostragem de 4 lobos-guará, para o mesmo animal, verificar a variação das
13
áreas de vida de acordo com o método empregado, uma vez que áreas antes não
amostradas pela tecnologia VHF, devido à acessibilidade da área, esforço amostral,
logística e precisão dos dados, podem ser amostradas por colar GPS.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
14
Nas áreas vizinhas ao PNSC, onde está localizado um grande número de
propriedades rurais, o contato entre os moradores e a vida selvagem é intenso, uma vez
que as espécies ocorrentes na região transitam entre o limite do parque e sua zona de
amortecimento. Um estudo realizado por Corral (2007) na região do PNSC mostra que
mesmo existindo a predação de animais domésticos, existe uma grande tolerância a
esses ataques que são vistos como um fato normal, consequência da ocupação humana
das áreas que sempre existiam fauna silvestre (Corral, 2007). Porém já foram relatados
casos de abates de lobos-guará em represália à predação de galinhas.
Figura 1.1. Localização do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil.
Fonte: MMA – IBAMA, 2004. Fonte: Google Earth, 2012.
15
Capturas e Monitoramento
16
Figura 1.2. Lobo-guará capturado em armadilha Box no Parque Nacional da Serra da
Canastra
a b
c d
17
Figura 1.4. Lobo-guará aparelhado com Colar GPS.
18
+
Área de Vida
19
combinação das funções (Kernels) de cada localização, obtém-se uma estimativa
(semelhante a um relevo) da real função de densidade da distribuição equivalente à
média de todos os Kernels que nele se sobrepõem (Jacob & Rudran, 2006; Nascimento,
2008), ou seja, descreve a quantidade de tempo que um animal passa em qualquer lugar
no espaço (Van Winkle, 1975). Para este estimador foi utilizada a função Least-Square
Cross-Validation (LSCV) para determinar o melhor valor do fator de suavização H
(Smoothing factor). Esse processo examina vários valores para o H e seleciona o valor
mínimo para o erro estimado, ou seja, a diferença entre a função da verdadeira
densidade conhecida e a densidade do Kernel estimada (Blundell, 2001; Ferguson et al.,
1999; Seaman & Powell, 1996). Foi considerada como área de vida a que compreendeu
95% dos pontos e como área nuclear a que compreendeu 50% dos pontos.
Sobreposição
RESULTADOS
Capturas e Monitoramento
Área de Vida
20
e nove utilizando áreas dentro e fora do PNSC, sendo desses 23 lobos, quatro deles
foram monitorados com telemetria VHF e posteriormente com telemetria GPS.
A área de vida e área nuclear foram calculadas para dez animais amostrados com
GPS e 17 com VHF (Tabela 1.1). O número máximo de localizações obtidas para um
indivíduo pelo método de VHF foi 182 em 30 meses de monitoramento, e o número
mínimo foi 28 em 27 meses de monitoramento. O número máximo de localizações
obtida para um indivíduo pelo método de GPS foi 7.315 localizações em 25 meses de
monitoramento, e o número mínimo foi de 48 em 1 mês de monitoramento.
Dentre os indivíduos monitorados com os dois métodos, o lobo CBF4, que foi
monitorado com telemetria VHF e posteriormente com telemetria GPS, possuiu valor
próximo de área de vida estimada pelo método de estimativa de densidade Kernel, e a
média de localizações por mês foi 85 vezes maior com a telemetria GPS. O lobo CBF8
possuiu sua estimativa de área de vida com GPS maior em relação à estimativa com
telemetria VHF, e a média de localizações por mês foi 73 vezes maior com a telemetria
GPS. Uma média de localizações por mês 23 vezes maior com telemetria GPS foi
obtida para o lobo CBM5, porém sua área de vida calculada a partir das localizações por
GPS foi bem menor em relação ao monitoramento com telemetria VHF. Para o lobo
CBM7 o cálculo de sua área de vida foi maior com a telemetria GPS em relação à
telemetria VHF, e a média de localizações por mês foi 280 vezes maior pela telemetria
GPS.
21
Tabela 1.1. Localizações e estimativa de área de vida (Kernel 95%) dos lobos-guará da região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil,
segundo o método utilizado para monitoramento de 2004 a 2012.
VHF GPS
Indivíduo # Tempo de Área de Área Indivíduo # Tempo Área de Área
localizações estudo vida nuclear localizações de estudo vida nuclear
(meses) (meses)
CBM1 80 8 0,29 km² 0,01 km² - - - - -
CBM2 182 35 5,83 km² 0,06 km² CBM8 1.452 12 26,87 km² 1,30 km²
CBM3 56 22 6,24 km² 0,05 km² CBM9 2.066 11 28,82 km² 1,54 km²
CBM4 42 9 14,92 km² 1,38 km² CBM10 497 4 24,96 km² 0,98 km²
CBM5 101 21 12,98 km² 2,07 km² CBM5 563 5 0,70 km² 0,014 km²
CBM6 29 12 32,84 km² 1,18 km² CBF11 2.852 17 37,96 km² 3,30 km²
CBM7 28 27 14,58 km² 0,63 km² CBM7 7.315 25 137,16 12,58 km²
km²
CBF1 96 33 57,97 km² 5,67 km² CBF12 619 3 11,73 km² 0,70 km²
CBF2 61 12 7,94 km² 0,64 km² CBF13 48 1 8,64 km² 0,69 km²
CBF3 32 18 47,71 km² 2,40 km² - - - - -
CBF4 128 30 17,70 km² 2,64 km² CBF4 4.357 12 19,31 km² 1,93 km²
CBF5 72 22 143,42 18,75 km² - - - - -
km²
CBF6 42 21 23,44 km² 3,25 km² - - - - -
CBF7 45 21 9,09 km² 0,22 km² - - - - -
CBF8 65 20 12,23 km² 0,32 km² CBF8 2.371 10 66,3 km² 3,54 km²
CBF9 70 17 5,23 km² 0,06 km² - - - -
CBF10 28 21 2,25 km² 0,03 km² - - - -
Total 1.157 349 414,66 39,36 km² Total 22.140 100 362,45 26,68 km²
km² km²
Média 68,06 20,5 24,39 km² 2,31 km² Média 2.214 10 36,24 km² 2,67 km²
*Os dados em negritos correspondem a lobos-guará amostrados tanto por colar GPS quanto por colar VHF.
22
Tabela 1.2. Localizações e estimativa de área de vida (MPC 95%) dos lobos-guará da região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil,
segundo o método utilizado para monitoramento de 2004 a 2012.
VHF GPS
Indivíduo # Tempo de Área de Área Indivíduo # Tempo Área de Área
localizações estudo vida nuclear localizações de estudo vida nuclear
(meses) (meses)
CBM1 80 8 5,92 km² 0,86 km² - - - - -
CBM2 182 35 87,04 km² 22,12 km² CBM8 1.452 12 35,10 km² 12,12 km²
CBM3 56 22 26,21 km² 2,14 km² CBM9 2.066 11 31,03 km² 14,21 km²
CBM4 42 9 21,46 km² 3,04 km² CBM10 497 4 33,32 km² 15,10 km²
CBM5 101 21 22,16 km² 2,60 km² CBM5 563 5 32,26 km² 13,34 km²
CBM6 29 12 36,51 km² 7,90 km² CBF11 2.852 17 36,58 km² 16,35 km²
CBM7 28 27 68,61 km² 3,61 km² CBM7 7.315 25 98,51 km² 44,12 km²
CBF1 96 33 56,15 km² 16,78 km² CBF12 619 3 29,91 km² 12,20 km²
CBF2 61 12 35,88 km² 1,97 km² CBF13 48 1 48,01 km² 24,40 km²
CBF3 32 18 62,15 km² 21,00 km² - - - - -
CBF4 128 30 20,11 km² 4,06 km² CBF4 4.357 12 31,61 km² 11,82 km²
CBF5 72 22 86,95 km² 26,53 km² - - - - -
CBF6 42 21 40,71 km² 3,92 km² - - - - -
CBF7 45 21 60,26 km² 15,87 km² - - - - -
CBF8 65 20 96,37 km² 22,49 km² CBF8 2.371 10 84,05 km² 30,78 km²
CBF9 70 17 58,85 km² 8,26 km² - - - -
CBF10 28 21 33,02 km² 7,17 km² - - - -
Total 1.157 349 821,9 km² 170,32 km² Total 22.140 100 460,38 194,44
km² km²
Média 68,06 20,5 48,35 km² 10,02 km² Média 2.214 10 46,04 km² 19,44 km²
*Os dados em negritos correspondem a lobos-guará amostrados tanto por colar GPS quanto por colar VHF.
23
Sobreposição
Tabela 1.3. Porcentagem de sobreposição das áreas de vida e áreas nucleares entre telemetria
VHF e GPS dos lobos-guará na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais,
Brasil.
VHF GPS
Indivíduo Porcentagem de Porcentagem de Indivíduo Porcentagem de Porcentagem de
sobreposição – sobreposição – sobreposição – sobreposição –
Área total Área nuclear Área total Área nuclear
CBM5 97,39% 100% CBM5 53,58% 19,46%
CBM7 58,30% - CBM7 40,60% -
CBF4 100% 100% CBF4 46,19% 84,23%
CBF8 58,56% 34,9% CBF8 77,74% 25,5%
24
Figura 1.6. Sobreposição de áreas de vida do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) CBM5 na
região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, monitorados com
telemetria GPS e VHF, estimados pelo método do mínimo polígono convexo com 95% das
localizações.
25
Figura 1.7. Sobreposição de áreas de vida do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) CBF8 na
região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, monitorados com
telemetria GPS e VHF, estimados pelo método do mínimo polígono convexo com 95% das
localizações.
26
Figura 1.8. Sobreposição de áreas de vida do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) CBF4 na
região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, monitorados com
telemetria GPS e VHF, estimados pelo método do mínimo polígono convexo com 95% das
localizações.
27
Figura 1.9. Sobreposição de áreas de vida do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) CBM7 na
região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, monitorados com
telemetria GPS e VHF, estimados pelo método do mínimo polígono convexo com 95% das
localizações.
28
DISCUSSÃO
Dos quatro lobos monitorados com colar VHF e também com colar GPS
(CBM5, CBM7, CBF4 e CBF8), foi obtida uma média de 3,3 localizações por mês com
a utilização da telemetria VHF, enquanto com a utilização de colar GPS a média de
localizações por lobo foi de 280,9 localizações por mês. As áreas de vida dos lobos
CBM5, CBM7 e CBF8 não obtiveram resultados próximos pelo método de estimativa
de densidade Kernel. Para o lobo CBM5 o valor da área de vida foi bem menor para a
telemetria GPS, pois a maioria das localizações estava agrupada em poucas áreas,
fazendo que o valor da estimativa da área de vida tenha sido inferior à da telemetria
VHF. Tal comportamento se assemelha com o comportamento seminômade apresentado
por alguns carnívoros como é também o caso do cachorro-do-mato-vinagre (Speothos
venaticus), ficando por dois meses em uma área, movendo-se para outra, ficando por
outros 1-2 meses, e voltando para a área anterior, ou para uma outra área adjacente
(Lima et al., 2012). Para o lobo CBF8 o valor da área de vida da telemetria GPS foi bem
maior em relação à telemetria VHF, pois as localizações obtidas pela telemetria VHF
estavam mais espalhadas no mapa fazendo com que o estimador suavize mais as
isolinhas e acabe subestimando o valor da área de vida. O lobo CBM7 apresentou valor
de área de vida maior obtido pela telemetria GPS, e também maior número de
localizações (7.315 para telemetria GPS e 28 para a telemetria VHF). Por possuir menor
número de localizações e as mesmas estarem mais espaçadas no mapa em relação à
telemetria GPS, o valor calculado da área de vida para o lobo CBM7 foi menor em
relação aos valores obtidos por telemetria GPS.
29
sensitividade dos estimares de densidade Kernel adaptativo para o número de
localizações e na escolha do dos parâmetros de suavização (Fieberg, 2007).
Uma baixa precisão na obtenção das localizações foi obtida nos trabalhos
apresentados por Land et al. (2008), com onça-parda (Puma concolor coryi) com apenas
56,5%, visto que o desempenho do colar GPS em determinada área de estudo indicam
que o tipo de hábitat pode afetar o sucesso na aquisição de localizações.
30
O método de telemetria VHF foi utilizado por Dietz (1984) no PNSC, com 8
lobos monitorados, obtendo-se 878 localizações. O relevo de topografia acentuada do
PNSC restringiu as caminhadas noturnas, e dificultou o acesso a determinadas áreas
para fazer a triangulação do sinal (Dietz, 1984), o que também foi verdadeiro na coleta
de localizações por telemetria VHF no presente estudo. As dificuldades encontradas
com relevo e logística durante seu estudo em Minnesota fez com que Kochanny et. al.,
2009, também analisasse apenas dados de VHF obtidos entre 7 e 18 horas.
31
formas semelhantes das áreas de vida possam ser obtidas com telemetria GPS e VHF,
mas também de sua justaposição na paisagem, o que daria confiança para compreender
a distribuição espacial dos animais estudados quando determinado por um método ou
outro. Como a precisão das localizações obtidas por telemetria GPS é alta, estudos de
utilização de habitat são mais acurados, podendo-se analisar de maneira mais fiel e
precisa como o animal utiliza o ambiente, o que não é tão bem definido pela telemetria
VHF, uma vez que um menor número e maior erro nas localizações geram dúvida se o
animal está em um habitat ou em outro.
32
LITERATURA CITADA
ADRADOS, C.; GIRARD, I.; GENDNER, J.; JANEAU. G. 2002. Global positioning
system (GPS) location accuracy improvement due to selective availability removal.
C.B. Biologies. 323:165-170.
DIETZ, J. M. 1984. Ecology and social organization of the Maned Wolf (Chrysocyon
brachyurus), Smithsonian Contributions to Zoology 392:1-51.
FIEBERG, J. 2007. Kernel density estimators of home range use: smoothing and the
autocorrelation red herring. Ecology 88:1059–1066.
HALLER, R.; FILLI, F.; IMFELD, S. 2001. Evaluation of GPS technology for tracking
mountain ungulates: VHF transmitter or GPS-collars? In: SIBBALD, A. M.;
33
GORDON, I. J. (Eds.); Tracking animals with GPS. Proceedings of the conference
‗‗Tracking animals with GPS‘‘.
LAND, E. D.; SHINDLE, D. B.; KAWULA, R. J.; BENSON, J. F.; LOTZ, M. A.;
ONORATO, D.P. 2008. Florida Panther Habitat Selection Analysis of Concurrent GPS
and VHF Telemetry Data. Journal of Wildlife Management, 72(3):633-639.
LUDWIG, G. Área de vida e uso do espaço por Alouatta caraya (Humboldt, 1812) em
ilha e continente do Alto Rio Paraná. 2006. 88f. Dissertação (Mestrado). Universidade
Federal do Paraná.
34
MMA-IBAMA – Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Renováveis, 2005. Plano de Manejo: Parque Nacional da Serra da
Canastra. Ministério do Meio Ambiente, Brasil.
35
THEUERKAUF, J.; JEDRZEJEWSKI, W. 2002. Accuracy of radiotelemetry to
estimate wolf activity and locations. J. Wildl. Mgmt. 66, 859–864.
VAN WINKLE, W. 1975. Comparisons of several probalistic home-range models.
Journal of Wildlife Management 39:118-123.
36
CAPÍTULO II
37
RESUMO
Estudos sobre o tamanho, a forma e a estrutura das áreas de vida das espécies
vêm respondendo a um grande número de questões acerca da ecologia desses animais.
Constituem, também, importantes ferramentas na conservação das espécies, fornecendo
subsídios para a criação ou manutenção de reservas e de seu manejo. O objetivo do
presente trabalho foi estimar os tamanhos e descrever como a época do ano, a época
reprodutiva e a utilização do espaço afetam as áreas de vida e áreas nucleares de lobos-
guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra,
Minas Gerais, Brasil, com o uso da telemetria GPS. O tamanho médio da área de vida
dos lobos-guará estimado pelo método estimador de densidade kernel adaptativo, foi de
36,24 ± 39,82 km², e as áreas de vida variaram de 137,16 km² a 0,7 km² (n=10). A
média da área de vida dos machos foi de 43,7 ± 53,48 km² (n=5) e a das fêmeas foi de
28,79 ± 23,86 km² (n=5), não havendo diferença significativa. Não houve diferença
significativa nas áreas de vida entre estações reprodutivas, e um dos fatores que podem
ter influenciado este resultado foi o registro indireto de prenhes de apenas uma fêmea de
lobo-guará no presente estudo, por meio da visualização de uma toca. Outro fator que
poderia ter contribuído para que não houvesse diferença entre as estações reprodutivas
foi o elevado desvio padrão dos valores de área de vida, principalmente na estação
reprodutiva, e o baixo número amostral (n=6). Não houve diferença significativa nas
áreas de vida entre as estações climáticas, pois não há diferença quanto à dieta nas
estações seca e chuvosa, evidenciando que o lobo-guará é uma espécie com tendências a
uma dieta especialista independentemente da estação climática, indicando que a
disponibilidade alimentar pode não ser um fator determinante nos tamanhos de área de
vida da espécie. O comportamento em geral dos lobos-guará que habitam áreas
antropizadas parece ser distinto do de lobos que vivem em áreas naturais. Os indivíduos
que residem nos limites do Parque apresentaram áreas de vida relativamente maiores
quando comparados aos animais que vivem exclusivamente fora dos limites do Parque,
mas não houve diferença significativa entre os tratamentos, estando os últimos
possivelmente mais sujeitos a alteração dos hábitos comportamentais em resposta às
pressões antrópicas.
38
ABSTRACT
Studies on the size, shape and structure of species home range have responded to
a number of questions about the ecology of these animals. They are also important tools
for the conservation of species, supporting the creation or maintenance of reserves and
their management. The aim of this study was to estimate the sizes and describe how the
climate season, breeding season and use of space affects the home range and core areas
of maned wolves (Chrysocyon brachyurus) in the region of the National Park of Serra
da Canastra, Minas Gerais, Brazil using the GPS telemetry. The average size of the
home range of maned wolves estimated by adaptive kernel density estimator, was 36.24
± 39.82 km², and the home ranges ranged from 137.16 km² and 0.7 km² (n = 10). The
average home range of males was 43.7 ± 53.48 km ² (n = 5) and females was 28.79 ±
23.86 km² (n = 5), with no significant difference. There was no significant difference in
the home ranges between breeding seasons, and one of the factors that may have
influenced this result was the record of indirect pregnant in only one female maned wolf
in the present study, by viewing a den. Another factor that could have contributed that
there was no difference between breeding seasons, was the high standard deviation of
the home range, especially in the breeding season, and the low sample size (n = 6).
There was no significant difference in the home range between climate seasons, because
there is no difference in the diet in dry and rainy seasons, showing that the maned wolf
is a specie with a tendency to a specialist diet independently of the climate season,
indicating that the food availability may not be a determining factor in the size of the
home range of the species. The general behavior of maned wolves that inhabit disturbed
areas appears to be distinct from wolves that live in natural areas. Individuals residing in
the Park‘s boundaries had relatively larger home ranges when compared to animals that
live exclusively outside of Park boundaries, but there was no significant difference
between treatments, being these outliving individuals possibly more subject to change
behavioral habits in response to anthropogenic pressures.
39
INTRODUÇÃO
O termo área de uso, ou área de vida, ou home range, foi definido originalmente
por Burt (1943) como sendo a área percorrida por um indivíduo em suas atividades
normais de busca de alimento, acasalamento e cuidado com filhotes. Saídas ocasionais
dessa área talvez de natureza exploratória, não devem ser consideradas como parte da
área da área de uso. Embora seja utilizado até hoje, esse conceito de área de uso deixa
margens para controvérsias quanto ao que seriam ―atividades normais‖ e ―saídas
ocasionais‖ (Jacob & Rudran, 2006).
A maioria dos mamíferos carnívoros é solitária e exibem um sistema social de
territorialidade intrasexual, sendo os machos detentores de áreas maiores que acabam
englobando a área de várias fêmeas (Sandell, 1989). Contrastando isto, a maioria das
espécies de canídeos exibe sistema de territorialidade grupal, com a composição do
grupo que vai desde casais exclusivos, encontrados principalmente entre as espécies
menores, a estruturas sociais complexas exibidas por grandes canídeos com o lobo
cinzento (Canis lups) ou cão selvagem africano (Lycaon pictus) (Moehlman, 1989;
Geffen et al.,1996). O tamanho das áreas de vida, os diversos aspectos do seu uso, e a
movimentação dos indivíduos no espaço, são fortemente influenciados pelo padrão de
distribuição dos recursos, principalmente pela disponibilidade e a qualidade dos
recursos alimentares (Broomhall et al., 2003; MacDonald,1983; Mizutani & Jewell,
1998). Outros fatores também contribuem, como a maturidade sexual, o status social
(Boydston et al., 2003; Logan & Sweanor, 2001), o acesso às fêmeas (Mizutani &
Jewell, 1998), e o acesso a locais potenciais de abrigo e reprodução (Chamberlain et al.,
2003; Ewer, 1998).
40
1995), evitando encontros agonísticos (Kleiman, 1972). Os territórios são marcados por
locais específicos de defecação como estradas (Fletchall et al., 1995), afloramentos
rochosos e cupinzeiros (Dietz, 1984).
Durante a época reprodutiva o casal partilha a mesma área de vida (Dietz, 1984;
Melo et al., 2006; Rodrigues, 2002). E esta possui média que varia de 25,23 km² a 80,18
km² (Azevedo, 2008; Dietz, 1984; Carvalho e Vasconcellos, 1995; Jácomo et al., 2009;
Mantovanni, 2001; Rodrigues, 2002; Silveira, 1999). A área ocupada por um casal pode
ser tanto exclusiva, com nenhuma ou pouca sobreposição entre áreas de casais vizinhos
(Dietz, 1984), como pode ter grandes sobreposições com casais vizinhos (Rodrigues,
2002).
41
Tendo em vista a falta de estudos referentes ao assunto e sabendo da importância
do conhecimento de como o lobo-guará utiliza a paisagem para sua conservação, os
objetivos deste trabalho foram: 1) verificar a variação da área de vida entre machos e
fêmeas, pois são animais que compartilham a mesma área; 2) determinar se existe ou
não diferença nas áreas de vida das fêmeas entre época reprodutiva e não reprodutiva,
devido à gestação e ao período de cuidado com a prole; 3) verificar se há diferença nas
áreas de vida dos machos entre época reprodutiva e não reprodutiva; 4) avaliar se existe
variação na área de vida total entre as estações climáticas; 5) analisar se a área nuclear
varia durante época reprodutiva, entre machos e fêmeas, e estações climáticas; 6)
verificar se há variação das áreas de vida e áreas nucleares entre os lobos que utilizam
áreas tanto dentro quanto fora dos limites do PNSC e dos lobos que se encontram fora
das demarcações do PNSC.
MATERIAL E MÉTODOS
Capturas e Monitoramento
42
para redução de estímulos visuais e sonoros. Os dados obtidos de cada animal e
referentes à manipulação foram cadastrados em uma ficha de identificação própria.
Área de Vida
43
distribuição equivalente à média de todos os Kernels que nele se sobrepõem (Jacob &
Rudran, 2006; Nascimento, 2008).
RESULTADOS
Dos 10 animais amostrados foram calculadas suas respectivas áreas de vida total
e nuclear, pelo método Kernel e pelo método MPC, sendo a área de vida representada
por 95% das localizações e a área nuclear representada por 50% das localizações
(Tabela 2.1). As localizações dos lobos-guará foram plotadas na figura 2.1 para melhor
visualização.
44
Tabela 2.1. Áreas de vida dos lobos-guará equipados com colar GPS no PNSC e seu entorno
estimadas pelos métodos Kernel e MPC.
45
Figura 2.1. Localizações dos lobos-guará equipados com colar GPS no PNSC e seu entorno.
Fonte: ArcGis 9
Não houve diferença significativa entre os valores de área vida total dos lobos,
estimados pelos métodos Kernel e MPC para todos os indivíduos e para machos. Entre
46
as fêmeas, o valor de p foi marginalmente significativo, sendo a área de vida estimada
pelo método do MPC maior, pois muitas localizações estavam aglomeradas em
determinados locais, e espaçadas em algumas lobas, e o MPC não é sensível a esse tipo
de comportamento das localizações (Tabela 2.2).
Tabela 2.2. Comparação dos valores estimados de áreas de vida dos lobos-guará (Chrysocyon
brachyurus) estimados pelos métodos de Kernel e MPC entre machos, fêmeas e sem distinção
de sexo, na região Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil.
O tamanho médio das áreas nucleares dos lobos-guará do PNSC e seu entorno,
calculadas pelo método Kernel, foi de 2,65 ± 3,66 km², variando de 0,014 a 12,58 km²
(n=10). A área de vida nuclear para os machos (n=5) foi de 3, 28 ± 5,23 km², e para as
fêmeas (n=5) foi de 2,03 ± 1,36 km², não havendo diferença significativa entre machos
47
e fêmeas (t = 0,517; g.l. = 8; p = 0,629). Houve diferença significativa entre os valores
de área nuclear dos lobos estimados pelos métodos Kernel e MPC para machos e
fêmeas (t = -4,716; g.l. = 18; p = 0,0006), para machos (t = -2,523; g.l. = 8; p = 0,035), e
para as fêmeas (t = -4,563; g.l. = 8; p = 0,009), sendo em todos eles a área nuclear maior
pelo método do MPC.
O tamanho médio da área de vida dos lobos que utilizam áreas dentro e fora do
PNSC (DF), estimado pelo método de Kernel foi de 46,42 ± 56, 75 km² (n=5). O
tamanho médio da área de vida dos lobos que utilizam exclusivamente áreas fora do
PNSC (F) foi de 26,07 ± 9,43 km² (n=5). Ao comparar o local de utilização das áreas de
vida (exclusivamente fora, e áreas dentro e fora do PNSC) não houve diferença
significativa entre os tratamentos (t = 0,791; g.l. = 8; p = 0,471). Utilizando o método
do MPC, o tamanho médio da área de vida dos lobos que utilizam áreas dentro e fora do
PNSC foi de 58,89 ± 30,72 km² (n=5). O tamanho médio da área de vida dos lobos que
utilizam exclusivamente áreas fora do PNSC foi de 33,19 ± 2,76 km² (n=5), sendo que
não houve diferença significativa entre o tipo de utilização das áreas de vida pelo
método do MPC (t = 1,863; g.l. = 8; p = 0,134). Ao analisar o tipo de utilização da área
do PNSC e seu entorno a partir da área de vida nuclear, com o método de Kernel, o
tamanho médio da área nuclear dos lobos que utilizam áreas dentro e fora do PNSC foi
de 3,75 ± 5,11 km² (n=5), e dos lobos que utilizam as áreas exclusivamente fora do
PNSC foi de 1,56 ± 1,02 km² (n=5). Ao comparar o local de utilização das áreas de vida
nuclear (exclusivamente fora, e áreas dentro e fora do PNSC), não houve diferença
significativa entre os tratamentos (t = 0,937; g.l. = 8; p = 0,398).
48
DISCUSSÃO
49
Os valores médios de tamanho de área de vida encontrados por Dietz (1984)
pelo método do MPC (28,77 km², n=3 casais) no PNSC se assemelham aos valores
encontrados para os lobos que vivem fora dos limites do PNSC (33,19 km², n=5). Nas
áreas fora dos limites do PNSC, a disponibilidade alimentar pode se assemelhar à da
época de criação do parque, ou seja, com menor variedade de itens vegetais (Amboni,
2007), e possivelmente rica em lobeiras (Solanum lycocarpum), uma vez que a grande
quantidade de gado consumindo e disseminando o fruto da lobeira, agiam como
facilitador na dispersão e no estabelecimento dessa planta (Queirolo & Motta-Junior,
2000). Desde o trabalho realizado por Dietz (1984) no PNSC até os dias atuais,
provavelmente muita mudança ocorreu com o manejo e a paisagem do parque, como a
mudança na disponibilidade de frutos do cerrado dentro parque, uma vez com a
posterior retirada dos fazendeiros e construção de cercas delimitando o parque no inicio
da década de 80, as condições de sobrevivência da lobeira diminuíram e aumentaram as
de outros frutos, que antes eram inibidas pelas queimadas constantes e pelo forrageio do
gado (Queirolo & Motta-Junior, 2000). Rodrigues (2002) sugere que o tamanho da área
de vida dos lobos pode aumentar com o aumento da quantidade de alimento disponível.
Quanto maior a heterogeneidade maior seria a área de vida, principalmente se esses
recursos estejam disponíveis em manchas de hábitat heterogêneas, fazendo com que os
indivíduos percorram uma maior área, e consequentemente obtenha maior área de vida.
Por ser considerado um animal oportunista, alimentando-se conforme a
disponibilidade de alimentos no ambiente (Motta-Junior et al., 1996; Motta-Junior,
2000; Bueno et al., 2002), o lobo-guará, com o crescente processo de fragmentação,
pode passar a usar mais frequentemente áreas antropizadas, permitindo a sobrevivência
da espécie em áreas do entorno do PNSC. Durante a estação chuvosa há maior
disponibilidade de frutos e consequentemente o lobo-guará ingere maiores quantidades
de frutos, e na estação seca a disponibilidade de pequenos mamíferos é maior e
consequentemente o lobo-guará ingere mais itens animais na estação seca (Amboni,
2007; Dietz, 1984; Queirolo, 2001). Sendo assim, não há diferença quanto à dieta nas
estações seca e chuvosa, evidenciando que o lobo-guará é uma espécie com tendências a
uma dieta especialista independentemente da estação climática, mostrando um padrão
clássico daquelas espécies que consomem poucos itens com altas freqüências e muitos
com frequências baixas. Mesmo com a sazonalidade marcante de disponibilidade de
itens alimentares, não foi encontrada diferença nos tamanhos da área de vida dos lobos-
guará entre as estações seca e chuvosa, indicando que a disponibilidade alimentar pode
50
não ser um fator determinante nos tamanhos de área de vida da espécie. Mesmo com a
variação sazonal dos itens alimentares, os mesmos parecem estar disponíveis em
quantidades suficientes e assim, talvez seja vantajoso para o lobo-guará permanecer
numa mesma área central de atividade, mesmo que isso signifique mais tempo
forrageando, do que gastar mais energia defendendo e explorando diferentes áreas.
O tamanho da área de vida de casais reprodutivos pode estar mais intimamente
relacionado às necessidades de sobrevivência não só dos indivíduos, mas também dos
filhotes, do que relacionado somente à disponibilidade de alimento no ambiente ou
número de fêmeas disponíveis. Por serem animais monógamos facultativos onde o
macho e a fêmea que formam o casal apresentam suas áreas de vida sobrepostas, a
participação do macho no cuidado com a prole é comumente observada (Carvalho &
Vasconcelos, 1995; Dietz, 1984; Melo et al., 2006; Rodrigues, 2002).
Com relação à área de vida na estação reprodutiva e não reprodutiva, não houve
diferença significativa. Era de se esperar que a área de vida das fêmeas fosse menor na
estação reprodutiva, pois corresponde ao período de gestação e nascimento dos filhotes,
uma vez que as mesmas permanecerão usando áreas mais próximas de suas tocas em
decorrência da manutenção da prole. Um dos fatores que pode ter influenciado este
resultado foi o registro indireto de prenhes de apenas uma fêmea de lobo-guará no
presente estudo, por meio da visualização de uma toca. A área de vida fêmea é
drasticamente reduzida após o nascimento dos filhotes e volta a crescer gradativamente
com o passar do tempo (Melo et al., 2006). Outro fator que poderia ter contribuído para
que não houvesse diferença entre os tratamentos foi o elevado desvio padrão dos valores
de área de vida, principalmente na estação reprodutiva, e o baixo número amostral
(n=6).
O comportamento do lobo-guará em áreas antropizadas é distinto ao de áreas
naturais, sendo que os indivíduos de áreas antropizadas possuem áreas de vida
significativamente menores (Azevedo, 2008). Os lobos-guará, por ocorrerem em áreas
de diferentes graus de interferência humana, possuem alta flexibilidade ambiental,
considerando um baixo risco para a espécie. As áreas de vida dos lobos-guará de borda
e de animais que utilizam áreas completamente fora do Parque do Nacional da Serra da
Canastra, não apresentaram diferença significativa. Em paisagens agrícolas, predadores
generalistas com área de vida englobando várias manchas de habitat, muitas vezes
precisam viajar entre os fragmentos durante movimentos normais de forrageamento.
Manchas de habitat (stepping stones) e a disponibilidade de corredores podem facilitar a
51
circulação entre as manchas de forrageio (ou servir como manchas de forrageamento
elas mesmas). Assim, a fragmentação pode influenciar o tamanho da área de vida, tanto
aumentando a área à medida que animal precisa se descolar em busca de recursos,
quanto diminuindo, impedindo que o animal se desloque de um fragmento a outro. A
taxa de movimento entre tipos de habitats em uma área de vida também pode ser
influenciada pela fragmentação (Gehring & Swihart, 2004).
Dentre os táxons de carnívoros ameaçados, o lobo-guará está bem representado
em Unidades de Conservação (UC) (Rodrigues & Oliveira, 2006). Porém, mesmo com
os dados apresentados neste trabalho referentes aos lobos-guará que utilizaram áreas
completamente antropizadas, com plantações, estradas e pastos, e possuírem certa
permeabilidade à matriz, nossos resultados sugerem que é de fundamental importância a
manutenção de áreas naturais protegidas e de áreas do entorno das UC‘s, dando maior
enfoque no manejo de paisagens com a finalidade de manter viável a população de
lobos-guará e a função ecológica que essa espécie realiza.
52
Tabela 2.3. Tamanhos de áreas de vida do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) adultos
comparados para 8 estudos. N, número de indivíduos amostrados; 1, Área de vida estimada para
o casal; * Área de vida calculada pelo método do MPC 95%; ** Área de vida calculada pelo
método do MPC 100%; *** Área de vida calculada pelo método estimador de densidade Kernel
95%; **** Método de cálculo de área de vida não especificado.
53
Tabela 2.4. Comparação do tamanho da área de vida de machos e fêmeas de lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) na região Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil,
entre as estações reprodutiva e não reprodutiva, e entre as estações seca e chuvosa, estimada
pelo método de estimativa de densidade Kernel 95%. N, número amostral.
Tabela 2.5. Comparação do tamanho da área de vida nuclear de machos e fêmeas de lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) na região Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil,
entre as estações reprodutiva e não reprodutiva, e entre as estações seca e chuvosa, estimada
pelo método de estimativa de densidade Kernel 50%. N, número amostral.
54
Tabela 2.6. Comparação do tamanho da área de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus)
na região Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre machos e fêmeas
durante as estações reprodutiva e não reprodutiva, estimada pelo método de estimativa de
densidade Kernel 95%. N, número amostral.
55
Tabela 2.9. Comparação do tamanho da área de vida nuclear de lobos-guará (Chrysocyon
brachyurus) na região Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre
machos e fêmeas durante as estações seca e chuvosa, estimada pelo método de estimativa de
densidade Kernel 50%. N, número amostral.
56
LITERATURA CITADA
BROOMHALL, L. S.; MILLS, M. G. L.; TOIT, J. T. D. 2003. Home range and habitat
use by cheetahs (Ancinonys jubatus) in the Kruger National Park. Journal of Zoology
261:119-128.
DAMUTH, J. 1981. Home ranges, home range overlap, and species energy use among
herbivorous mammals. Biological Journal of the Linnean Society, 15, 185-193.
DIETZ, J. M. 1984. Ecology and social organization of the Maned Wolf (Chrysocyon
brachyurus), Smithsonian Contributions to Zoology 392:1-51.
57
DIGBY, L. J. 2007. Determining home range ―volumes‖ in primates: why are we using
two-dimensional measures for species that live in a three-dimensional world? American
Journal of Physical Anthropology. Durham University, Carolina do Norte.
FLETCHALL, N. B.; RODDEN, M.; TAYLOR, S. 1995. Husbandry Manual for the
Maned Wolf Chrysocyon brachyurus. Maned Wolf SSP Husbandry Manual.
HEMSON, G.; JOHNSON, P.; SOUTH, A.; KENWARD, R.; RIPLEY, R.;
MACDONALD, D. 2005. Are Kernels the mustard? Data from global positioning
system (GPS) collars suggests problems for Kernel home range analyses with least-
squares-cross-validation. Journal of Animal Ecology. 74, 455-463.
JUAREZ, K. M.; MARINHO-FILHO, J. 2002. Diet, habitat use, and home ranges of
sympatric canids in Central Brazil, Journal of Mammalogy 83:925-933.
58
LUDWIG, G. Área de vida e uso do espaço por Alouatta caraya (Humboldt, 1812) em
ilha e continente do Alto Rio Paraná. 2006. 88f. Dissertação (Mestrado). Universidade
Federal do Paraná.
59
QUEIROLO, D.; MOTTA-JUNIOR, J. C. 2000. Possível influencia das mudanças de
paisagem no Parque Nacional da Serra da Canastra - MG na dieta do lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus), Pp. 706-714 in Congresso Brasileiro de Unidades de
Conservação. Anais do II Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, Campo
Grande, MG.
SANDELL, M. 1989. The mating tactics and spacing patterns of solitary carnivores. Pp.
164–182 in Carnivore behavior, ecology, and evolution (J. L. Gittleman, ed.). Cornell
University Press, Ithaca, New York.
SHELDON, J. W. 1992. Wild Dogs: The Natural History of the Nondomestic Canidae.
Academic Press, Inc., San Diego, CA, pp. 69-75.
60
SILVEIRA, L. 1999. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque
Nacional das Emas, Goiás. 125f. Tese de mestrado, Universidade Federal de Goiás,
Goiania.
TUFTO, J.; ANDERSEN, R.; LINNELL, J. 1996. Habitat Use and Ecological Correlates
of Home Range Size in a Small Cervid: The Roe Deer. The Journal of Animal Ecology
65:715-724.
ZEJDA, J.; BAUEROVA, Z. 1985. Home ranges of field roe deer. Acta scientiarum
naturalium Academiae scientiarum Bohemicae Brno, 19, 1-43.
61
CAPÍTULO III
62
RESUMO
63
ABSTRACT
The use of space and grouping patterns have been very important to identify
social and mating systems, and overlapping of individual home ranges can give us
indirect information about evidence of social interactions. The present study aims to
study the overlapping home ranges of maned wolves (Chrysocyon brachyurus) from
National Park Serra da Canastra, Minas Gerais, Brazil. We analyzed the home range
overlap between animals with GPS telemetry and calculated using the MPC 95% to
home range area and the MPC 50% for nuclear area. It was observed that the
overlapping home range area and nuclear area was always higher among reproductive
couples than among couples of the same sex and between male and female non
reproductive couples. There was no significant difference in the percentage of overlap
between male-male, female-female and male-female, both home range area and for
nuclear area, whether in breeding season or not breeding season. The tolerance between
animals of both sexes may be related either to the high availability of resources in the
area or to the heterogeneous distribution of the same, suggesting that the social structure
of monogamous behavior is advantageous, shaping the spatial organization of the home
range areas of maned wolves. The overlapping home range of wolves that are residents
in the Park was significantly higher compared to wolves residing exclusively outside the
Park. In areas outside the boundaries of the Park, where human disturbance is a
remarkable feature, the availability of resources tends to be lower, spread over the
remaining areas of natural vegetation and therefore the competition between these
individuals is greater, and the overlapping home ranges becomes less and less tolerated.
64
INTRODUÇÃO
Territorialidade foi definida por Burt (1943) como qualquer área defendida,
sendo uma característica importante do comportamento e da organização espacial das
populações animais (Logan & Sweanor, 2001; Mizutani &. Jewell, 1998). Este conceito
geralmente implica em domínio social sobre uma área geográfica específica,
espacialmente estável, com limites definidos (Brown & Orians, 1970; Kaufmann, 1983)
comumente presente no comportamento de muitas espécies, dentre elas a maioria das
espécies da Ordem Carnivora (Logan & Sweanor, 2001).
65
redução de mobilidade, e o subsequente aumento na sobreposição de áreas de uso
individual que pode ocorrer em resposta a altas densidades populacionais (Ferron &
Ouellet, 1989; Nielsen & Woolf, 2001; Dahle & Swenson, 2003; Steury & Murray,
2003; Linders et. al, 2004; Schradin & Pillay, 2005; Viggers & Hearn, 2005 ), visto que
uma redução na sobreposição pode ocorrer em espécies territorialistas que defendem
suas áreas de uso contra possíveis intrusos (Brown & Orians, 1970; Maher & Lott,
1995). Ao contrário, sobreposição de área de uso em algumas espécies é maior entre
indivíduos proximamente aparentados (Albon et al., 1992; Ratnayeke et. al., 2002), e
uma proximidade espacial entre machos e fêmeas pode aumentar durante a época
reprodutiva (Fisher & Lara, 1999; Shier & Randall, 2004), indicando que a atração
social pode também influenciar na sobreposição de áreas de uso (Chaverri et al., 2007).
Abundância de recursos tem sido documentada como tendo um efeito significante na
sobreposição de áreas de uso (Carpenter & MacMillen, 1976; Ewald & Carpenter, 1978;
Gass, 1979; Frost & Frost, 1980; Carpenter, 1987; Armstrong, 1991; Maher & Lott,
2000), podendo influenciar o tamanho da área de vida, aumentando a área à medida que
animal precisa se descolar em busca de recursos, conseqüentemente podendo haver
sobreposição com áreas pertencentes a outros indivíduos.
66
MATERIAL E MÉTODOS
Capturas e Monitoramento
67
lobos foi de uma localização a cada 3h, totalizando oito localizações por dia de cada
animal.
Análise de Sobreposição
Para comparar a sobreposição das áreas de vida dos lobos-guará entre os pares
(macho-macho, fêmea-fêmea, macho-fêmea, casal reprodutivo), e entre as estações
reprodutiva e não reprodutiva, foram realizadas análises de variância (ANOVA).
Primeiramente foram testados os pressupostos de homogeneidade das variâncias e
normalidade dos dados pelo teste de Levene. Os dados que não atingiram esses
pressupostos foram logaritmizados para atenderem os pressupostos. O teste post hoc de
Tukey HSD foi realizado para testar a significância das varáveis independentes entre
elas. Para as análises comparando as estações reprodutiva e não reprodutiva foi
utilizado o teste t. Foi determinado como casal reprodutivo os casais que possuíssem
mais de 80% de sobreposição total.
68
Posteriormente foi analisado se existia diferença significativa entre as distâncias dos
lobos para a época reprodutiva e não reprodutiva, apenas para os lobos que possuíam
sobreposição temporal (n=1 casal). O cálculo de distância média diária foi realizado
através da somatória das distâncias dividida pelo número de dias do mês.
RESULTADOS
Análise de Sobreposição
Foi possível observar que a sobreposição de área de vida sempre foi maior entre
casais reprodutivos (82,2 a 96,4%) do que indivíduos do mesmo sexo e macho e fêmea
de casais distintos (F 3,19 = 119,5; p < 0,001), e também para área nuclear (F 3,15 = 137,6;
p < 0,001), que variou de 65,7 a 100%. Os indivíduos de sexos diferentes, mas não
formando um casal, apresentaram sobreposição que variou de 3,8 a 34,8% para área de
vida, e 0 – 4,8% para área nuclear. Para indivíduos do mesmo sexo, as sobreposições
variaram de 8,1 – 24,8% para os machos, e de 8,2 – 25,3% para as fêmeas (Tabela 3.1).
Na sobreposição de área nuclear, para indivíduos do mesmo sexo, as sobreposições
variam de 4,5 – 15% para os machos, e 0 – 5% para as fêmeas (Tabela 3.2). Para a
estação reprodutiva, a sobreposição de casais também foi maior tanto para área de vida
(F 3,15 = 56,8; p < 0,001) quanto para área nuclear (F 3,10 = 89,6; p < 0,001), sendo o
mesmo acontecendo para a estação não reprodutiva tanto para área de vida (F 3,7 = 44,1;
p < 0,001), quanto para área nuclear (F 3,7 = 66,2; p < 0,001). Para indivíduos do mesmo
sexo, os machos apresentaram menor sobreposição de área de vida em relação às fêmeas
(6,5 – 18,7% e 8,9 – 21,8%). Não houve sobreposição de área nuclear entre fêmeas na
estação reprodutiva e para os machos as sobreposições foram de 2,6 – 7,5%. Para área
de vida na estação não reprodutiva, as fêmeas obtiveram a menor e a maior
sobreposição (7,2 – 20,1%), e as sobreposições dos machos foram de 10,8 – 11%. Na
estação não reprodutiva não houve sobreposição de área nuclear para os machos, e as
fêmeas tiveram sobreposição de 3,7 – 10,2%. Não houve diferença significativa para a
porcentagem de sobreposição entre macho-macho, fêmea-fêmea e macho-fêmea, tanto
para área de vida quanto para área nuclear, seja na estação reprodutiva ou não
reprodutiva (Tabela 3.3). Analisados também pelo teste ad hoc de Tukey, os valores de
sobreposição do casal reprodutivo foram significativamente maiores em relação aos
69
demais pares (p < 0,01), e não houve diferença significativa entre os pares macho-
macho, fêmea-fêmea e macho-fêmea (p > 0,05).
Gráfico 1.1. Porcentagem de sobreposição entre áreas de vida dos lobos-guará (Chrysocyon
brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil.
70
Gráfico 1.2. Porcentagem de sobreposição entre áreas nucleares dos lobos-guará (Chrysocyon
brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil.
71
Houve diferença significativa na sobreposição de área de vida entre os lobos de
acordo com sua localização, sendo os valores de sobreposição de área de vida
significativamente maiores para os lobos que possuem área de vida dentro e fora do
PNSC, em relação aos que possuem áreas exclusivamente fora do Parque (t = 2,77; g.l.
= 19; p = 0,015). Os valores de sobreposição da área nuclear também foram
significativamente maiores para lobos que possuem área de vida dentro e fora do PNSC
do que para os que possuem áreas apenas fora do Parque (t = 6,95; g.l. = 15; p < 0,001)
(Tabela 3.4).
. Análise de Distância
DISCUSSÃO
72
dos comportamentos mais importantes que afetam a organização de populações animais
(Mizutani & Jewell, 1998).
73
podem ser importantes fatores na organização espacial de machos. Porém, nos lobos-
guará não se segue esse padrão, pois os machos ajudam no cuidado com a prole.
74
reprodutiva e não reprodutiva, tanto para área de vida tanto para área nuclear. Porém
existe a necessidade de monitorar por mais tempo, um elevado número de animais, para
poder obter resultados mais robustos referente a distância média que existe entre casais
reprodutivos para corroborar com os valores de sobreposição.
75
Tabela 3.1. Matriz de porcentagem de sobreposição entre áreas de vida dos lobos-guará
(Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais,
Brasil.
MPC 95%
CBM7 CBM5 CBM8 CBF11 CBF13 CBF8 CBM9 CBF12 CBF4 CBM10
CBM7 x 8,1 - - - 82,2 - - 11,2 -
CBM5 24,8 x 0 - - 9,9 - - 90 -
CBM8 - 0 x - - - 0 - 0 -
CBF11 - - - x - - 10,9 8,2 - 87,4
CBF13 - - - - x - - - - -
CBF8 96,4 3,8 - - - x - - 9,5 -
CBM9 - - 0 12,9 - - x - - 9,7
CBF12 - - 10 - - - x - 10
CBF4 34,8 91,8 0 - - 25,3 - - x -
CBM10 - - - 96,1 - - 9 9,7 - x
* Os valores zerados representa animais vizinhos que não possuem área de vida sobreposta
estimada pelo método do MPC 95%
Tabela 3.2. Matriz de porcentagem de sobreposição entre áreas nucleares dos lobos-guará
(Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais,
Brasil
MPC 50%
CBM7 CBM5 CBM8 CBF11 CBF13 CBF8 CBM9 CBF12 CBF4 CBM10
CBM7 x 4,5 - - - 65,7 - - 3,8 -
CBM5 15 x 0 - - 6,7 - - 90,2 -
CBM8 - 0 x - - - 0 - 0 -
CBF11 - - - x - - 0 0 - 79,7
CBF13 - - - - x - - - - -
CBF8 90,1 2,9 - - - x - - 1,9 -
CBM9 - - 0 0 - - x - - 0
CBF12 - - 0 - - - x - 0
CBF4 14,1 100 0 - - 25,3 - - x -
CBM10 - - - 86,1 - - 0 0 - x
* Os valores zerados representa animais vizinhos que não possuem área nuclear sobreposta
estimada pelo método do MPC 50%
76
Tabela 3.3. Comparação do tamanho da porcentagem de sobreposição de área de vida e nuclear
dos lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região Parque Nacional da Serra da Canastra,
Minas Gerais, Brasil, durante as estações reprodutiva e não reprodutiva, estimada pelo método
Mínimo Polígono Convexo 95%. R, estação reprodutiva; NR, estação não reprodutiva; N,
número amostral.
77
Tabela 3.5. Análise de variância do tamanho da porcentagem de sobreposição de área de vida e
nuclear de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região Parque Nacional da Serra da
Canastra, Minas Gerais, Brasil, durante as estações reprodutiva e não reprodutiva, estimada pelo
método Mínimo Polígono Convexo 95%. R, estação reprodutiva; NR, estação não reprodutiva;
T, área de vida; N, área nuclear.
78
LITERATURA CITADA
DAHLE, B.; SWENSON, J. E. 2003. Home ranges in adult Scandinavian brown bears
(Ursus arctos): effect of mass, sex, reproductive category, population density and habitat
type. Journal of Zoology, 260, 329-335.
EMLEN, S. T.; ORING, L. W. 1977. Ecology, sexual selection, and the evolution of
mating systems. Science, 197, 215-223.
79
FERRON, J.; OUELLET, J.-P. 1989. Temporal and intersexual variations in the use of
space with regard to social organization in the woodchuck (Marmota monax). Canadian
Journal of Zoology, 67, 1642-1649.
FISHER, D. O.; LARA, M. C. 1999. Effects of body size and home range on access to
mates and paternity in male bridlednailtail wallabies. Animal Behaviour, 58, 121-130.
POWELL, R. A. 2000. Animal home ranges and territories and home range estimators
in Research techniques in animal ecology: controversies and consequences (BOITANI,
L.; FULLER, T. K.). Columbia University Press, New York.
81
SANDELL, M. 1989. The mating tactics and spacing patterns of solitary carnivores. Pp.
164–182 in Carnivore behavior, ecology, and evolution (J. L. Gittleman, ed.). Cornell
University Press, Ithaca, New York.
SCHRADIN, C.; PILLAY, N. 2005. Intraspecific variation in the spatial and social
organization of the African striped mouse. Journal of Mammalogy, 86, 99-107.
VIGGERS, K. L.; HEARN, J. P. 2005. The kangaroo conundrum: home range studies
and implications for land management. Journal of Applied Ecology, 42, 99-107.
82