Habilidades Sociais16

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REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN 1984 - 8153)

O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS COMO RECURSO DE


PROMOÇÃO À SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
THE DEVELOPMENT OF SOCIAL SKILLS AS A RESOURCE TO PROMOTE HEALTH AND
QUALITY OF LIFE

Adriano Luís Alves WATANABE1


Joice COLERE2
Pollyana Sobenko MARTINS2
RESUMO

Introdução: A concepção de saúde vem sofrendo grandes transformações ao longo dos anos, não
representando somente a ausência de doença, mas estando diretamente associada ao conceito de
qualidade de vida. Uma forma de promover saúde é através do desenvolvimento de habilidades
sociais. Por meio destas podem emergir relações interpessoais saudáveis, enquanto a falta delas pode causar
prejuízos relevantes à saúde e qualidade de vida; Objetivo: Verificar, através da literatura, evidências de uma
possível correlação entre o desenvolvimento de habilidades sociais e a promoção de qualidade de vida e
saúde. Materiais e Métodos: Foram selecionados 8 artigos em língua portuguesa que apresentavam pesquisas
aplicadas, publicados no portal Scielo - Scientific Electronic Library Online - entre 2005 e 2020;
Conclusão: A análise dos artigos selecionados demonstra a correlação entre aspectos de saúde e habilidades
sociais nas populações avaliadas. Quando esta é positiva, a autoestima, participação, qualidade de vida e até
mesmo a saúde dos participantes pode ser considerada eficiente, enquanto a falta deles os coloca em risco de
depressão, maus comportamentos, drogadição, entre outros. Fato que corrobora com o objetivo do presente
artigo, além, demonstra a importância de mais estudos e intervenções, visando a melhora das habilidades
sociais na população permitindo a aquisição de uma melhor qualidade de vida e saúde em geral.

PALAVRAS-CHAVE: Habilidades Sociais; Qualidade de vida; Saúde

ABSTRACT

Introduction: The concept of health has undergone major changes over the years, not only
representing the absence of disease, and being directly associated with the conception of quality of
life. One way to promote health is through the development of social skills. Through these, healthy
interpersonal relationships can emerge, while the lack of them can cause significant damage to health
and quality of life; Objective: To verify, through the literature, evidence of a possible correlation
between the development of social skills and the promotion of quality of life and health, Materials
and Methods: 8 articles were selected in Portuguese that presented applied research, published in the
Scielo - Scientific Electronic Library Online - portal between 2005 and 2020, were selected;
Conclusion: The analysis of the selected articles demonstrates the correlation between health aspects
and social skills in the populations evaluated. A positive correlation suggests superior self-esteem,
membership, quality of life and overall health of the participants, while the lack of them increases the

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risk for depression, bad behaviors, drug addiction, among others. Therefore, corroborating with the
objective of this article, that demonstrates the importance of more studies and interventions, aiming
to improve social skills in the population allowing the acquisition of a better quality of life and overall
health.
KEYWORDS: social skills, quality of life, health

1
Mestre em Psicologia, Professor na Faculdade Herrero
23
Estudantes de Psicologia pelo Centro Universitário Campos de Andrade
e-mail de contato ([email protected]

1. INTRODUÇÃO

Durante as últimas décadas, o conceito de saúde vem sendo amplamente discutido, e, em


consequência do debate, sofrendo transformações. Um dos motivos do debate se deve ao grau de
complexidade presente neste conceito. Soma-se a isso que a ideia de saúde foi conceituada a partir de
diversas visões de mundo, numa construção social e histórica 1.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS)2, a saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade. Já a saúde
mental é vista como um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades,
pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para
sua comunidade3.
Dentro desta perspectiva faz-se necessário pensar a saúde levando em consideração as várias
dimensões, tais como: biológica, comportamental, social, ambiental, política e econômica. Além
disso, não somente quando a enfermidade aparece, mas durante todo o processo de desenvolvimento
do indivíduo, no sentido não só de tratar ou prevenir doenças, mas sim de promover a saúde em todos
os seus aspectos. Nesse contexto, com o intuito de romper com práticas predominantemente
curativistas, várias discussões vêm tomando espaço em torno da promoção da saúde1, 4.
A promoção à saúde pode ser entendida primeiramente como direito humano fundamental,
que tem por objetivo possibilitar o aumento do controle sobre a própria saúde e seus determinantes.
Envolvendo a necessidade da melhoria das condições de vida da população e para o reconhecimento
do direito de cidadania e de participação popular, uma vez que a saúde de todos os povos é essencial
para conseguir a paz e a segurança1, 5-7.

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Posto isso, pode-se observar que estratégias de promoção à saúde também envolvem um
cenário multifacetado de aspectos que contribuem para a qualidade de vida e saúde global. Nesta
acepção, emergem as habilidades sociais como potenciais promotoras de saúde.
A socialização é algo necessário para a subsistência do ser humano desde o nascimento, pois
sem esta interação não teríamos chance de sobreviver. Os principais recursos utilizados no decorrer
da vida para as interações sociais são aprendidos, e, portanto, precisam de um ambiente que propicie
a internalização destes mecanismos.
Tais recursos podem ser chamado de habilidades sociais e quando desenvolvidos de maneira
satisfatória, contribuem decisivamente para o desenvolvimento de relações interpessoais saudáveis e,
por consequência, exercem influência considerável na qualidade de vida e saúde mental dos
indivíduos. No entanto, é comum que, durante o processo de aprendizagem, ocorram falhas,
resultando em déficits importantes de habilidades sociais8, levando a problemas de competência
social que podem acarretar em dificuldades nas relações interpessoais e gerando prejuízos em diversas
áreas da vida dos indivíduos8- 10.
No que tange os relacionamentos sociais, olhar para os conceitos de habilidades sociais e de
competência social é fundamental. Estes dois conceitos estão relacionados, mas não são sinônimos.
Cada um deles possui sua especificidade e precisa ser entendido separadamente como em termos da
relação entre eles10.
Não existe consenso na literatura sobre a definição de habilidades sociais. Neste sentido
Bolsoni-Silva e Carrera, 2010 9 dizem que classificar as habilidades sociais (HS) em categorias não
é o mesmo que as definir e corroboram com a afirmativa dizendo que determinar HS não constitui
tarefa simples.
Pode-se compreender as habilidades sociais como um conjunto de diferentes classes de
comportamentos sociais ou repertorio social de uma pessoa. Qual permite a adequada expressão de
seus sentimentos, desejos, atitudes, opiniões ou seus direitos, em diversos ambientes e situações, seja
no âmbito social, familiar e profissional, de forma adaptativa e assertiva. Contribuindo assim para a
competência social, favorecendo um relacionamento saudável e produtivo com as demais pessoas e
diminuindo a probabilidade do surgimento de dificuldades futuras11, 12.
O conceito de competência social é bastante amplo e refere-se a efetividade do desempenho
do indivíduo em uma interação social, ou seja, dos resultados da interação para o indivíduo e para o
seu grupo social. Supondo, por princípio a coerência entre o pensar, o sentir e o agir, além de ter um

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sentido avaliativo, e essa avaliação deve ocorrer tanto sobre o desempenho como sobre os resultados
do desempenho10, 13.
Del Prette, 201710 aponta alguns critérios para competência social, que parecem colaborar
para a promoção da saúde dos indivíduos e de seus grupos. Indica que para atingir os objetivos da
interação social faz-se necessário respeitar o que ele coloca como regra áurea, que é fazer ao outro o
que gostaria que ele lhe fizesse, ou seja, recomenda uma interação permeada pela empatia.
Além disso, inclui que a competência social melhora ou amplia o autoconceito e a autoestima
dos envolvidos, mantem ou melhora a qualidade da relação social, equilibra as trocas entre os
interlocutores e mantem ou amplia os direitos humanos interpessoais10.
Na perspectiva de a qualidade de vida estar relacionada com a saúde física e mental, olhar
para os relacionamentos interpessoais como um fator importante de promoção da saúde faz-se
necessário. Pois um bom repertório de habilidades sociais ilustra a qualidade das relações
interpessoais, o que contribui para a saúde, satisfação pessoal, realização profissional e qualidade de
vida14, 15.
Este estudo tem como objetivo principal encontrar na literatura evidencias que apontem que o
desenvolvimento de habilidades sociais seja uma estratégia eficaz de promoção a saúde e qualidade
de vida, assim como também se propõe a apresentar um breve histórico do conceito de saúde e saúde
mental, bem como sua evolução até os dias atuais, conceituar as habilidades sociais e competência
social e por fim mostrar a importância da qualidade nas relações sociais na atual concepção saúde e
qualidade de vida.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os artigos para esta revisão de literatura foram pesquisados em setembro de 2020. Para o
levantamento inicial utilizou-se a base de dados Scielo - Scientific Electronic Library Online - com
os indicadores “habilidades sociais e saúde” que apresentou 175 artigos e “habilidades sociais e
promoção a saúde” que apresentou 33 artigos como resultado da busca.
Conforme descrito no fluxograma abaixo, optou-se em incluir na pesquisa apenas os artigos
científicos publicados nos últimos 15 anos, ou seja, de 2005 até 2020 e que atendessem aos critérios
de serem publicados em periódicos nacionais e em língua portuguesa. Com estes filtros foram
selecionados 82 artigos. Optou-se em utilizar apenas as pesquisas aplicadas, não sendo incluídas no

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estudo as revisões de literatura, meta-analises e estudos de caso, e foram excluídos os artigos


repetidos, com isso chegou-se ao universo de 41 artigos.

Habilidades sociais e saúde Artigos em português Leitura dos resumos


175 artigos Periódicos nacionais indicando relação
Entre 2005 e 2020 com os objetivos do
Habilidades sociais e Pesquisas aplicadas estudo
Promoção a saúde 41 artigos 8 artigos selecionados
33 artigos

Fluxograma 1 – Método para inclusão/exclusão de artigo

Com esta pré-seleção estes pesquisadores realizaram a leitura dos resumos buscando
identificar aqueles que mais se aproximavam dos objetivos deste estudo e pela concordância destes.
Foram selecionados 8 artigos que atendiam aos critérios propostos e indicavam em seus resumos ter
mais relação com os objetivos deste trabalho.

3. RESULTADOS
Os estudos selecionados estão descritos no quadro abaixo a partir do título, autoria, objetivos
métodos e resultados pertinentes a este estudo, em ordem cronológica crescente a partir do ano de
publicação.
Tabela 1 – Informações da amostra de artigos selecionados
Ano Titulo Autores Objetivos Método Resultados
2007 Qualidade de Carneiro Comparar as Pesquisa quantitativa Idosos do asilo
vida, apoio RS, Falcone relações entre correlacional apresentaram um
social e E, Clark C, habilidades sociais, utilizando o IHS-Del- menor repertório de
depressão em Del Prette Z, apoio social, Prette (Z. A. P. Del habilidades sociais,
idosos: relação Del Prette A. qualidade de vida e Prette & A. Del uma menor rede de
com habilidades depressão em idosos Prette, 2001), o apoio social e uma
sociais. WHOQOL-

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de três diferentes ABREVIADO (Fleck pior qualidade de


grupos sociais. et al., 2000) e a vida.
Medida de Apoio
Social (Chor et al.,
2001),
2007 Intervenção em Bolsoni- Descrever um Delineamento em que O modelo de
grupo para pais: Silva AT procedimento em cada participante é intervenção, mais
descrição de grupo utilizado com seu próprio controle. suscinto e efetivo na
procedimento. mães/cuidadoras de O procedimento comparação com os
pré-escolares com contou com 14 anteriores. Discutem-
problemas encontros e se os resultados
externalizantes preocupou-se em quanto à ampliação
ampliar práticas dos repertórios de
educativas positivas, clientes e crianças,
reduzir práticas bem como as suas
negativas, reduzir implicações para as
problemas de políticas públicas.
comportamentos e
ampliar habilidades
sociais das crianças.
2013 Habilidades Feitosa FB. O objetivo do Pesquisa de As habilidades
sociais e presente estudo foi levantamento com sociais de
sofrimento explorar correlações obtenção de uma "Conversação e
psicológico. entre habilidades ampla amostra para desenvoltura social"
sociais e posterior análise foram as que mais se
neuroticismo. estatística descritiva e correlacionaram com
inferencial. Os a escala total de
instrumentos neuroticismo sendo a
utilizados foram o subescala
IHS-Del-Prette (Z. A. "Depressão" a que
P. Del Prette & A. Del mais se correlacionou
Prette, 2001) e Escala com a escala total de
Fatorial de repertório social
Neuroticismo (EFN) Concluiu-se que
Hutz & Nunes, 2001) déficits de
habilidades sociais
tendem a estar

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acompanhados de
estados de sofrimento
psicológico.
2014 Habilidades Pinto FNFR, Investigar Estudo descritivo de As cuidadoras que
sociais e Barham EJ. habilidades sociais e correlação. Foram relataram usar
estratégias de estratégias de entrevistadas 20 determinadas
enfrentamento enfrentamento de cuidadoras familiares habilidades sociais e
de estresse: estresse em de idosas de alta estratégias de
relação com cuidadoras de dependência, que enfrentamento de
indicadores de idosos e verificar se responderam a um estresse com maior
bem-estar elas se Inventário de frequência se
psicológico em correlacionam com Habilidades Sociais, a percebiam como
cuidadores de medidas de uma Escala de tendo menos conflitos
idosos de alta percepção de bem- Estratégias de com a idosa de quem
dependência estar psicológico. Enfrentamento de cuidavam e com
Estresse, a uma menor nível de
Escala de Sobrecarga sobrecarga em alguns
e a uma Escala da fatores.
Qualidade da Relação
Diádica.
2014 Habilidades Sá LGC, Del Investigar relações Pesquisa Os resultados apoiam
Sociais como Prette ZAP. entre habilidades correlacional que se a hipótese de que
Preditoras do sociais e utilizou o Inventário déficits no repertório
Envolvimento envolvimento com de Habilidades Soci- geral de habilidades
com Álcool e álcool, ais (IHS-Del Prette), sociais não são
Outras Drogas crack, maconha e de Del Prette e Del necessariamente uma
nicotina Prette (2001) e o característica do
Alcohol, Smoking abuso ou dependência
and Substance de álcool e outras
Involvement drogas, mas que
Screening Test classes e contextos
(ASSIST), na versão específicos podem
em português e Teste predizer o
de Triagem do envolvimento com as
Envolvimento com substâncias.
Álcool, Ci-

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garro e Outras
Substâncias.
2016 O Impacto das Bolsoni- Comparar as Estudo quantitativo Constatou-se
Habilidades Silva AT, habilidades sociais e comparativo levando diferenças
Sociais para a Loureiro as percepções de em conta dados significativas em
Depressão em SR. consequências nas demográficos sexo, comunicação, afeto,
Estudantes interações de trabalho e idade. Os expressar sentimentos
Universitário universitários com instrumentos negativos, lidar com
depressão em utilizados foram críticas e falar em
relação a um grupo Questionário de público. O grupo com
não clínico. Avaliação de depressão relatou
Habilidades Sociais e mais consequências e
Contextos para sentimentos negativos
Universitários – nas interações sociais.
QHC-Universitários,
Inventário de
Habilidades Sociais-
IHS-Del–Prette (Del
Prette & Del Prette,
2001), Inventário de
Depressão de Beck
(BDI) e Entrevista
Clínica Estruturada
para o DSM-IV
(SCID-I – versão
clínica – Del-Ben et
al., 2001).
2018 Psicologia Campos JR, Comparar uma Estudo comparativo Houve rebaixamento
Clínica e Cultura Del Prette amostra geral de de uma amostra geral do escore global, das
Relações entre ZAP, Del adolescentes obtida de adolescentes em habilidades sociais de
depressão, Pretter A. por conveniência, relação à mesma empatia e
habilidades em relação à mesma amostra, porém, sem autocontrole, na
sociais, sexo e amostra, porém, os participantes com amostra feminina.
nível sem participantes indicadores de Não houve diferença
socioeconômico com indicadores depressão. Utilizou-se estatisticamente
em grandes depressão, visando o Inventário de significativa quanto
verificar o impacto Habilidades Sociais

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amostras de desse controle sobre de Adolescentes e ao nível


adolescentes os escores de Inventário de socioeconômico.
habilidades sociais e Depressão Infantil
a influência do sexo (Children
e do NSE sobre os Depression’s
resultados Inventory [CDI]) e
Critério Brasil
(CCEB, Associação
Brasileira de
Empresas de
Pesquisa)
2019 Avaliação de Zazula R, O objetivo do A intervenção Foi identificado
uma intervenção Appenzeller, presente estudo foi psicoeducacional foi aumento significativo
psicoeducacional S avaliar uma realizada em uma nos escores médios
para o intervenção disciplina obrigatória totais em relação a
desenvolvimento psicoeducacional do primeiro período, habilidades sociais,
de habilidades focada no com acadêmicos do comunicação e
sociais e desenvolvimento de Brasil e de outros vivências
comunicação em habilidades sociais países da América acadêmicas. O estudo
ingressantes de em acadêmicos Latina. A intervenção demonstrou a
medicina em ingressantes do foi realizada durante importância de
uma curso de medicina sete sessões com intervenções curtas e
universidade em uma instituição frequência quinzenal, precoces como meio
bilíngue. de ensino superior cujos objetivos de desenvolver
bilíngue. envolveram o habilidades sociais e
conhecimento teórico de comunicação.
sobre a comunicação
e o relacionamento
interpessoal no
contexto profissional
e acadêmico, padrões
de relacionamento
interpessoal, trabalho.
em equipe e resolução
de conflitos
interpessoais.

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4. DISCUSSÃO

Analisando as práticas educativas na perspectiva das habilidades sociais, há evidencias de que


intervenções com pais, com a finalidade de promover habilidades sociais educativas são
imprescindíveis à prevenção e à redução de problemas de comportamento em crianças, de forma a
evitar dificuldades escolares e de socialização e também prevenir a delinquência juvenil. Por
consequência as habilidades sociais educativas são um fator que tem influência direta não só para a
criança que é sujeitada à estas práticas, mas na qualidade de vida de toda a família16.
Em um estudo comparativo sobre habilidades sociais, o apoio social, a qualidade de vida e a
depressão de idosos provenientes de contextos familiares e de asilos17., confirmou as relações
existentes entre habilidades sociais, apoio social e qualidade de vida na terceira idade. Os idosos que
conviviam com sua família e não estavam institucionalizados apresentaram níveis significativamente
mais elevados de habilidades sociais, de apoio social e de qualidade de vida em comparação com os
que os que viviam em asilo, os quais, por sua vez, apresentaram níveis significativamente mais
elevados de depressão. Os autores ainda destacam que os resultados encontrados fortalecem os
estudos que sugerem que as habilidades sociais são um componente importante para a qualidade de
vida e a saúde dos idosos. Assim como, da mesma maneira, as deficiências em habilidades sociais
indicam ser um fator de risco para a baixa qualidade de vida e para a depressão em indivíduos da
terceira idade.
Estudando cuidadores de idosos, constatou-se que quanto mais as cuidadoras relatavam
expressar sentimentos positivos, menos afirmavam existir conflitos na relação com as idosas. Além
disso, o estudo apontou também que quanto maior a percepção de autocontrole por parte da
profissional, menor impacto percebido pela mesma nos relacionamentos com outras pessoas após
assumirem essa função. Outro fator que diminuía os conflitos entre essas profissionais e os idosos era
o comportamento das cuidadoras de solicitar mudança de conduta8.
Os comportamentos, por parte dos profissionais, de solicitar ajuda auxiliavam a ter uma menor
percepção de conflitos e percepção mais positiva de autoeficácia. Bem como as que relatavam
recusarem-se a atender pedidos abusivos tinham percepção mais positiva em relação a pessoa
cuidada. Nesta mesma linha, porém analisando de uma outra perspectiva18, profissionais sem
habilidades sociais tendem a apresentar elevadas frequências de conflitos interpessoais e negligência
na realização de tarefas.

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Estes resultados corroboram com o estudo de Feitosa, 201319, que avaliando estudantes
universitários, encontrou correlação negativa entre habilidades sociais de conversação e problemas
relacionados à autoconfiança e autoestima, ou seja, quanto mais desenvolvidas as habilidades sociais
de conversação menores os problemas relacionados a autoconfiança e autoestima. Neste mesmo
estudo o autor aponta que as habilidades sociais de conversação e desenvoltura social foram as que
mais se correlacionaram inversamente com o neuroticismo e, principalmente, com a vulnerabilidade
social. Na amostra deste estudo, quanto menor foi a vulnerabilidade social, mais elaborado foi o
repertório social da amostra.
Ainda neste mesmo artigo19, o autor diz que analisando os dados encontrados por ele de uma
outra perspectiva, pessoas que apresentaram mais medo de críticas e insegurança, baixa autoestima,
mais dificuldades de tomar decisões e ainda medo do afastamento dos outros (vulnerabilidade)
tenderam a ter mais dificuldades na conversação. Por fim, aponta, que diante do resultado de sua
pesquisa, um estado geral de sofrimento emocional nas pessoas com baixa autoestima e tendência
social evitativa, vendo a promoção de habilidades sociais junto a essas pessoas como recurso para
aumentar sua qualidade de vida19.
Estudando uma amostra de 128 universitários20, sendo 64 com depressão em relação a um
grupo não clínico também de 64 estudantes, para verificar o valor preditivo das habilidades sociais
em quadros depressivos, os pesquisadores identificaram que a frequência e a qualidade de habilidades
sociais dos universitários diferenciaram os grupos com e sem depressão. Desde comportamentos, que
aparentemente, envolviam menos complexidade, como conversar e expressar afeto, a
comportamentos que exigiam maior assertividade, como no caso de expressar sentimentos negativos,
opiniões e lidar com críticas de maneira geral. Nesse sentido, o grupo clínico apresentou maiores
médias em comportamento não habilidoso, consequência negativa e sentimento negativo. Já o grupo
não clínico teve maiores médias em comportamento habilidoso, consequência positiva e sentimentos
positivos, além de o grupo não clínico ter interações em maior número de situações na comparação
com o clínico. Os resultados obtidos neste estudo confirmaram a associação de déficits em habilidades
sociais e depressão.
Em outro estudo21 que comparou uma amostra geral de 642 adolescentes em relação à mesma
amostra, porém, sem os participantes com indicadores de depressão (539 adolescentes), buscando
verificar o impacto desse controle no que se refere as habilidades sociais, o sexo e o nível
socioeconômico. As autoras, ao analisarem, separadamente, a amostra feminina que continha

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respondentes com indicadores de depressão, indicaram que as participantes apresentaram escores de


habilidades sociais mais baixos, em particular, os escores de empatia e autocontrole.
Estudando relações entre habilidades sociais e envolvimento com álcool, crack, maconha e
nicotina22, em uma amostra composta por 47 pessoas admitidas em tratamento ambulatorial por abuso
ou dependência dessas drogas, encontraram-se evidências da existência de relação entre habilidades
sociais e envolvimento com álcool e outras drogas. Os resultados indicaram que todas as correlações
significativas entre habilidades sociais e envolvimento com álcool foram negativas, permitindo supor
que, quanto maior repertório de determinadas habilidades sociais, menor envolvimento com álcool
havia nesta amostra. Com isso, concluíram que uma maneira (certamente não a única) de reduzir o
envolvimento com álcool seria promover determinadas habilidades sociais especificamente
associadas a esses envolvimentos. Assim como, a realização de intervenções em dependentes
químicos, planejadas para incluir o ensino de comportamentos socialmente habilidosos, permitem
esperar maiores probabilidades de sucesso22.
Os estudos selecionados são em sua maioria produzidos na última década, sendo apenas 2
deles produzidos antes do ano de 2010. Quando se trata de avaliação de habilidades sociais, 6 artigos
fazem uso do Inventário de Habilidades Sociais (IHS)23 para avaliar o nível de habilidades sociais
dos participantes.
Além disso, apresentam a relação entre habilidades sociais e aspectos ligados à saúde.
Também mostram que uma forma de promoção a saúde pode ser o desenvolvimento de habilidades
sociais nas populações estudadas.
Por mais que se utilizem de metodologias e populações distintas os resultados dos artigos
analisados apontam para uma correlação entre habilidades sociais mais desenvolvidas e melhores
resultados nas relações parentais, desempenho no trabalho, menos sintomas depressivos melhor
desempenho nas relações interpessoais no trabalho, dentre outros benefícios que têm influência direta
na saúde e qualidade de vida dos indivíduos. Todos os estudos, em alguma medida, indicaram que as
habilidades sociais mais desenvolvidas podem ser um fator de promoção e proteção a saúde e
qualidade de vida.
Em sua maioria os estudos se utilizam do Inventario de Habilidades Sociais23 como
instrumento de avaliação das habilidades sociais, indicando ser o principal instrumento utilizado para
este fim.

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Por fim, as pesquisas mostram também que as relações interpessoais tem uma relação direta
com a saúde e qualidade de vida, corroborando com o conceito de saúde utilizado pela OMS2.

5. CONCLUSÃO

Com base nas pesquisas utilizadas neste estudo, é possível afirmar que o desenvolvimento das
habilidades sociais pode ser um importante meio de promoção à saúde e qualidade de vida da
população, independente do contexto aplicado.
Novos estudos, com objetivos específicos de avaliar o desenvolvimento de habilidades sociais
e a melhora na competência social como um recurso na promoção à saúde e qualidade de vida da
população em geral, podem impulsionar a utilização deste tipo de intervenção para a promoção da
saúde e facilitar a sua utilização em políticas públicas de saúde para todos os públicos.

6. REFERÊNCIAS
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