Curso Saude Mental
Curso Saude Mental
Curso Saude Mental
Descrição da imagem: A imagem apresenta os níveis de organização divididos em: molecular (nível um), celular (nível dois), individual (nível três), grupo social (nível quatro), sociedade (nível cinco) e global (nível
seis). No nível quatro, há o processo de produção da doença. Já no nível cinco, há o problema de saúde.
O conceito de saúde e o modelo de atenção se expandem para uma atenção que precisa ser
pensada para além da doença, indo além dos modos de transmissão e fatores de risco, sendo
preciso englobar as necessidades e os determinantes que envolvem as condições de vida e
de trabalho dos sujeitos-alvo da atenção.
Há questionamentos que se tornam pertinentes para a reflexão: “em que medida são
retomados os diagnósticos realizados no momento inicial do cadastramento?” e ainda, “Ao
privilegiar as fichas de acompanhamento de determinadas morbidades não estaríamos
reproduzindo o modelo biomédico?” (Batistela, s/d).
O modelo biomédico de medicina tem sido, desde meados do século XIX, o modelo
predominante, usado por médicos no diagnóstico de doenças. De acordo com o modelo
biomédico, a saúde constitui a liberdade de doença, dor, ou defeito, o que torna a condição
humana normal “saudável”. O foco do modelo sobre os processos físicos, tais como a
patologia, a bioquímica e a fisiologia de uma doença, não leva em conta o papel dos fatores
sociais ou subjetividade do indivíduo. O modelo também ignora o fato de que o diagnóstico
do tratamento do paciente é um resultado de negociação entre médico e paciente.
Confira o quadro abaixo com mais informações sobre o que é saúde mental:
2. Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida.
Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza;
coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer seus
limites e buscar ajuda, quando necessário.
Referências:
Para Bock (2008, p. 346), o critério de avaliação é o próprio indivíduo e o seu mal-estar
psicológico:
“Esse indivíduo que sofre pode estar perfeitamente adaptado, continuar respondendo a todas
as expectativas sociais e cumprir todas as suas responsabilidades”.
Por outro lado, o critério de adequação social não pode ser usado como critério exclusivo
para avaliação do estado mental. A doença mental deve ser considerada como multicausal e
produto da interação das condições sociais e da trajetória específica de cada indivíduo
(Bock, 2008).
Para Canguilherm citado por Zeferino (s/d), diz que o conceito de normal e patológico deve
ser olhado diante de duas dimensões, apresentadas no quadro a seguir:
Como meio de entender melhor essa relação entre saúde e doença, partimos agora para a
compreensão de como o termo “saúde” é entendido, em perspectiva mundial. Para isso,
recorremos à Organização Mundial da Saúde (OMS) e aos conceitos abrangidos por essa
instituição.
Referências:
BOCK, Ana Bahia: FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Aria de Lourdes Trassi. Psicologias:
uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.
ZEFERINO, Maria Terezinha; SPRICIGO, Jonas Salomão; CARDOSO, Lucilene;
SCHERER, Zeyne Alves Pires; GRIGOLO, Tânia Maris; RODRIGUES,
Jeferson. Fundamentos históricos e conceituais da saúde mental e atenção
psicossocial. Módulo V. Santa Catarina: UFSC, S/D.
Quanto ao termo “saúde”, a OMS considera ser a saúde caracterizada pelo completo bem-
estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença, sendo esses aspectos
suficientes para avaliar se uma pessoa apresenta-se saudável.
Em contrapartida, alguns autores contradizem esse conceito apresentado pela OMS. Esses
afirmam que o completo estado de bem-estar representa uma utopia (Segre; Ferraz, 1997).
No caso específico da Psiquiatria, entendemos que o estado de saúde mental é
compreendido a partir da perspectiva de uma constituição histórica do entendimento entre o
que é tido como noção de “doença mental”. Essa perspectiva será mais bem entendida
quando nos reportarmos aos estudos de Michel Foucault sobre a loucura.
Normalidade como ausência de doença: seria aquele indivíduo que não apresenta
sintomas de nenhum transtorno mental definido;
Normalidade ideal: estabelece-se, arbitrariamente, uma norma do que seria ideal,
ou saudável, e espera-se que o indivíduo se adapte a tal idealização, dependendo dos
critérios socioculturais e ideológicos;
Normalidade estatística: é identificada uma norma e frequência, com dados
estatísticos da população geral;
Normalidade como bem-estar: parte do conceito da OMS de saúde, sendo
criticado por ser muito amplo e impreciso;
Normalidade como processo: consideram-se os aspectos dinâmicos e
psicossociais, portanto todo o contexto de vida do paciente e não apenas os sintomas
(Dalgalarrondo, 2000);
Normalidade subjetiva: é dada maior ênfase na percepção subjetiva do indivíduo,
em relação ao seu estado de saúde e às suas vivências. O ponto negativo desse
critério é que às vezes a pessoa se julga muito bem e pode apresentar um transtorno
mental grave;
Normalidade como liberdade: alguns autores propõem que adoecer mentalmente é
perder a liberdade sobre o mundo e sobre a vida. “A doença mental é
constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades existenciais”;
Normalidade operacional: “Define-se a priori o que é normal e patológico e
busca-se trabalhar operacionalmente com tais conceitos, aceitando-se as
consequências de tal definição previa” (Dalgalarrondo, 2000, p. 26).
Diante desses critérios de normalidade e de doença, percebe-se que elas são variáveis em
função dos fenômenos específicos da própria doença mental, da cultura. É preciso, portanto,
atentar para o fato de que o trabalho com saúde mental exige do profissional uma postura
permanentemente crítica e reflexiva (Dalgalarrondo, 2000).
Referências:
Descrição da imagem: No centro da imagem, há um barco com pessoas, comida e vinho. Uma árvore ocupa o lugar das velas no mastro do barco. Algumas pessoas estão tentando pegar com a boca um pedaço de pão.
Já outras pessoas estão nuas na água.
Na Era Clássica, nos séculos XVII e XVIII, definia-se a loucura não a partir de critérios
médicos; a igreja, a justiça e a família que atribuíam ao indivíduo tal designação de
transgressão e moralidade. Já no final do século XVII, foi criado, em Paris, o Hospital
Geral, que era uma instituição assistencial e não médica, não havendo tratamento, o que deu
início à “grande internação”. As pessoas eram internadas a partir de 4 categorias: “os
devassos (doentes venéreos), os feiticeiros (profanadores), os libertinos e os loucos”. Os
loucos não eram vistos como doentes, faziam parte de um conjunto de segregados da
sociedade, e a exclusão era baseada na inadequação que tinham à vida social. Nessa época,
havia uma busca em se construir um conhecimento com respaldo médico sobre a loucura,
mas a medicina da época e o seu método classificatório não conseguiam ampliar o olhar
para a complexidade das manifestações da loucura (Bock et al., 2001).
A partir da segunda metade do século XVIII, a loucura passa a ser situada como algo que
ocorria no interior do próprio homem, como se o homem houvesse perdido sua própria
natureza e se tornado alienado. No início do século XIX, a chamada Era Moderna, foi
criada a primeira instituição exclusiva para a reclusão dos loucos, o asilo. As terapêuticas
dos asilos eram “a religião, o medo, a culpa, o trabalho, a vigilância, o julgamento” (Bock et
al., 2001, p. 349). Nessa época, dá-se o início da medicalização, com o médico assumindo o
papel de autoridade máxima. “A cura da doença mental – o novo estatuto da loucura –
ocorreria a partir de uma liberdade vigiada e no isolamento. Estava preparado o caminho
para o surgimento da Psiquiatria” (Bock et al., 2001, p. 349).
Para a Psiquiatria Clássica, a doença mental era igual à doença cerebral. A doença mental
era vista como um distúrbio orgânico de origem endógena, isto é, de dentro do indivíduo.
Buscava-se a origem do sintoma no orgânico e para isso localizava-se cada área cerebral,
buscando identificar cada função sensorial afetada no cérebro e, a partir disso, eram
ministradas medicações e também produtos químicos, eletrochoques, choques insulínicos e,
em casos mais graves, internava-se o paciente para administrar medicação controlada e
intensiva (Bock et al., 2001).
Neurose — “os sintomas (distúrbios do comportamento, das ideias ou dos sentimentos) são
a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do
indivíduo”. As neuroses podem ser subdivididas em
Neurose obsessiva: esse tipo de conflito psíquico leva a comportamentos compulsivos (por
exemplo, lavar a mão com frequência não usual); ter ideias obsedantes, por exemplo, de que
alguém pode estar perseguindo-o e, ao mesmo tempo, ocorre uma luta contra esses
pensamentos, além de dúvidas quanto ao que faz ou fez.
Todas as formas de manifestação da neurose têm sua origem na vida infantil, mesmo
quando se manifestam mais tarde, desencadeadas por vivências, situações conflitivas, etc.
Nos dois últimos tipos apresentados, a neurose está associada a conflitos infantis de ordem
sexual.
Paranoia: É uma psicose que se caracteriza por um delírio mais ou menos sistematizado,
articulado sobre um ou vários temas. Não existe deterioração da capacidade intelectual.
Aqui, incluem-se os delírios de perseguição, de grandeza.
Referência:
BOCK, Ana Bahia: FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Aria de Lourdes Trassi. Psicologias:
uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.