Curso Saude Mental

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1.

1 Conceito de Saúde e Saúde Mental


Condições de conclusão
Concluído
Os conceitos de saúde-doença, normal e patológico estão sendo muito questionados
enquanto instrumentos para a compreensão dos “fenômenos do sofrimento humano e da
capacidade de expressarem a realidade dos problemas vivenciados, pois uma situação será a
forma como responderemos por ela” (Zeferino et al., s/d).

O processo saúde-doença, reconhecido a partir da posição do observador, aparece como


alteração celular, sofrimento ou problema de saúde. No nível individual, a expressão do
processo pode ser, simultaneamente, alteração fisiopatológica, sofrimento e representação
(mediada por valores culturais). No nível coletivo, o processo saúde-doença possui uma
expressão populacional (demográfica, ecológica), cultural (conjunto de regras) e espacial
(organização e disposição). Nas sociedades, esse mesmo processo aparece como problemas
de saúde pública, na interface com o Estado, entre particular e público e entre o individual e
o coletivo. Estará, assim, sempre na interseção de duas lógicas: a da reprodução da vida e a
da lógica da produção econômica.
Fonte: Sabroza, apud Batistela

Figura 1 - Níveis de organização e processos saúde-doença


Fonte: Sabroza apud Batistela.

Descrição da imagem: A imagem apresenta os níveis de organização divididos em: molecular (nível um), celular (nível dois), individual (nível três), grupo social (nível quatro), sociedade (nível cinco) e global (nível
seis). No nível quatro, há o processo de produção da doença. Já no nível cinco, há o problema de saúde.
O conceito de saúde e o modelo de atenção se expandem para uma atenção que precisa ser
pensada para além da doença, indo além dos modos de transmissão e fatores de risco, sendo
preciso englobar as necessidades e os determinantes que envolvem as condições de vida e
de trabalho dos sujeitos-alvo da atenção.

Para que isso se operacionalize, é preciso mobilizar as equipes de saúde, compostas de


todos os níveis, e trabalhadores de outros setores, incorporando tecnologias médicas e
sanitárias, bem como conhecimentos e instrumentos fundamentais, tais como os conteúdos
de outros campos disciplinares, quais sejam: a educação, a comunicação, a geografia, o
planejamento estratégico situacional, etc., além de formas de organização do trabalho em
saúde. É preciso compreender como as complexas relações entre o homem e o seu
espaço/território se dão. “É fundamental para a identificação de suas características
históricas, econômicas, culturais, epidemiológicas e sociais, bem como de seus problemas
(vulnerabilidades) e potencialidades” (Batistela, s/d).

Diante do novo conceito de saúde, faz-se necessário o domínio de conceitos e de


instrumentos advindos de outros campos de conhecimento para a realização do diagnóstico
das condições de vida e da situação de saúde da população, principalmente por parte do
agente comunitário de saúde. É preciso definir com clareza um referencial crítico de
abordagem dos fenômenos a serem analisados para que não sejam feitos diagnósticos
superficiais que gerem imobilismo, devendo ser a saúde, portanto, vista de forma que
envolva a globalidade do sujeito, a partir de seus múltiplos aspectos, ou seja, é necessário
“partir de uma perspectiva transdisciplinar, totalizante”. É importante entender que “a saúde
é um constructo que possui as marcas de seu tempo. Reflete a conjuntura econômica, social
e cultural de uma época e lugar”. E ainda compreender e “reconhecer sua historicidade
significa compreender que sua definição e o estabelecimento de práticas dependem do grau
de conhecimento disponível em cada sociedade” (Batistela, s/d).

Há questionamentos que se tornam pertinentes para a reflexão: “em que medida são
retomados os diagnósticos realizados no momento inicial do cadastramento?” e ainda, “Ao
privilegiar as fichas de acompanhamento de determinadas morbidades não estaríamos
reproduzindo o modelo biomédico?” (Batistela, s/d).

A saúde mental é definida de diferentes formas. Os conceitos abrangem vários itens, e a


saúde mental é considerada como algo mais que ausência de perturbações.

O modelo biomédico de medicina tem sido, desde meados do século XIX, o modelo
predominante, usado por médicos no diagnóstico de doenças. De acordo com o modelo
biomédico, a saúde constitui a liberdade de doença, dor, ou defeito, o que torna a condição
humana normal “saudável”. O foco do modelo sobre os processos físicos, tais como a
patologia, a bioquímica e a fisiologia de uma doença, não leva em conta o papel dos fatores
sociais ou subjetividade do indivíduo. O modelo também ignora o fato de que o diagnóstico
do tratamento do paciente é um resultado de negociação entre médico e paciente.

Confira o quadro abaixo com mais informações sobre o que é saúde mental:

1. Saúde Mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou


vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro
de um amplo espectro de variações sem, contudo, perder o valor do real e do precioso. É ser
capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar
viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro.

2. Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida.
Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza;
coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer seus
limites e buscar ajuda, quando necessário.

3. Os seguintes itens foram identificados como critérios de saúde mental:

 Atitudes positivas em relação a si próprio;


 Crescimento, desenvolvimento e auto realização;
 Integração e resposta emocional;
 Autonomia e autodeterminação;
 Percepção apurada da realidade;
 Domínio ambiental e competência social.

Fonte: http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1059 21/10/2014

Referências:

BATISTELA, Carlos. Abordagens Contemporâneas do Conceito de


Saúde. http://www.epsjv.fiocruz.br/pdtsp/index.php?
livro_id=6&area_id=4&autor_id=&capitulo_id=14&arquivo=ver_conteudo_2# Acesso
20/10/2014.
ZEFERINO, Maria Terezinha; SPRICIGO, Jonas Salomão; CARDOSO, Lucilene;
SCHERER, Zeyne Alves Pires; GRIGOLO, Tânia Maris; RODRIGUES,
Jeferson. Fundamentos históricos e conceituais da saúde mental e atenção
psicossocial. Módulo V. Santa Catarina: UFSC, S/D.

Este material foi baseado em:


ARAÚJO, Maircon Rasley Gonçalves. Promoção da Saúde Mental. Montes Claros/Rede
e-Tec Brasil, 2014.

1.1.1 O normal e o patológico


Condições de conclusão
Concluído
Discutir sobre o que é e o que não é “normal”, quanto às questões relativas à mente e ao
comportamento humano, pode parecer uma questão fácil, mas isso não é nada simples.
Quem nunca teve a sensação de que iria enlouquecer? Saber, então, qual o grau de
normalidade de um comportamento humano, realmente, não é tão simples assim. Em
determinados momentos, o estado de sanidade mental e a loucura são divididos por uma
linha muito tênue.

Para Bock (2008, p. 346), o critério de avaliação é o próprio indivíduo e o seu mal-estar
psicológico:
“Esse indivíduo que sofre pode estar perfeitamente adaptado, continuar respondendo a todas
as expectativas sociais e cumprir todas as suas responsabilidades”.

Por outro lado, o critério de adequação social não pode ser usado como critério exclusivo
para avaliação do estado mental. A doença mental deve ser considerada como multicausal e
produto da interação das condições sociais e da trajetória específica de cada indivíduo
(Bock, 2008).

Para Canguilherm citado por Zeferino (s/d), diz que o conceito de normal e patológico deve
ser olhado diante de duas dimensões, apresentadas no quadro a seguir:

O normal e o patológico possuem dimensões qualitativas e subjetivas que se expressam, de


forma singular, em cada sujeito. Assim, a relação que cada pessoa estabelece com seu
estado e seus sintomas é fundamental na avaliação do processo saúde-doença. Este, por sua
vez, não pode ser reduzido a uma classificação objetiva de sinais e sintomas que configuram
um quadro patológico pré-determinado.

Como meio de entender melhor essa relação entre saúde e doença, partimos agora para a
compreensão de como o termo “saúde” é entendido, em perspectiva mundial. Para isso,
recorremos à Organização Mundial da Saúde (OMS) e aos conceitos abrangidos por essa
instituição.

Referências:

BOCK, Ana Bahia: FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Aria de Lourdes Trassi. Psicologias:
uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.
ZEFERINO, Maria Terezinha; SPRICIGO, Jonas Salomão; CARDOSO, Lucilene;
SCHERER, Zeyne Alves Pires; GRIGOLO, Tânia Maris; RODRIGUES,
Jeferson. Fundamentos históricos e conceituais da saúde mental e atenção
psicossocial. Módulo V. Santa Catarina: UFSC, S/D.

Este material foi baseado em:


ARAÚJO, Maircon Rasley Gonçalves. Promoção da Saúde Mental. Montes Claros/Rede
e-Tec Brasil, 2014.

1.1.2 Organização Mundial da Saúde


Condições de conclusão
Concluído
A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um órgão especializado que funciona
subordinado à Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de melhorar o
estado de bem-estar físico, mental e social de todos os povos através de parâmetros dos
mais altos padrões possíveis.
O Brasil teve participação significativa, desde a sua fundação, no período pós guerras, no
século XIX, até os dias atuais, nas ações orientadas pela OMS, entendendo-as como muito
relevantes.

Quanto ao termo “saúde”, a OMS considera ser a saúde caracterizada pelo completo bem-
estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença, sendo esses aspectos
suficientes para avaliar se uma pessoa apresenta-se saudável.

Em contrapartida, alguns autores contradizem esse conceito apresentado pela OMS. Esses
afirmam que o completo estado de bem-estar representa uma utopia (Segre; Ferraz, 1997).
No caso específico da Psiquiatria, entendemos que o estado de saúde mental é
compreendido a partir da perspectiva de uma constituição histórica do entendimento entre o
que é tido como noção de “doença mental”. Essa perspectiva será mais bem entendida
quando nos reportarmos aos estudos de Michel Foucault sobre a loucura.

A OMS proporciona a cooperação técnica a seus membros, na luta contra as doenças e em


favor do saneamento, da saúde familiar, da capacitação de trabalhadores na área de saúde,
do fortalecimento dos serviços médicos, da formulação de políticas de medicamentos e
pesquisa biomédica. A AIDS também tem sido uma prioridade da OMS, que é uma das
Agências da ONU a compor o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS
(UNAIDS), criado para combater e pesquisar essa que é a maior epidemia do momento.

Fonte: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%-C3%BAde/o-que-e-a-oms.html. Acesso em: 24 de set. 2014

Existem critérios na avaliação de normalidade e anormalidade, e a adoção de um depende


da adoção do outro. Os critérios são:

 Normalidade como ausência de doença: seria aquele indivíduo que não apresenta
sintomas de nenhum transtorno mental definido;
 Normalidade ideal: estabelece-se, arbitrariamente, uma norma do que seria ideal,
ou saudável, e espera-se que o indivíduo se adapte a tal idealização, dependendo dos
critérios socioculturais e ideológicos;
 Normalidade estatística: é identificada uma norma e frequência, com dados
estatísticos da população geral;
 Normalidade como bem-estar: parte do conceito da OMS de saúde, sendo
criticado por ser muito amplo e impreciso;
 Normalidade como processo: consideram-se os aspectos dinâmicos e
psicossociais, portanto todo o contexto de vida do paciente e não apenas os sintomas
(Dalgalarrondo, 2000);
 Normalidade subjetiva: é dada maior ênfase na percepção subjetiva do indivíduo,
em relação ao seu estado de saúde e às suas vivências. O ponto negativo desse
critério é que às vezes a pessoa se julga muito bem e pode apresentar um transtorno
mental grave;
 Normalidade como liberdade: alguns autores propõem que adoecer mentalmente é
perder a liberdade sobre o mundo e sobre a vida. “A doença mental é
constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades existenciais”;
 Normalidade operacional: “Define-se a priori o que é normal e patológico e
busca-se trabalhar operacionalmente com tais conceitos, aceitando-se as
consequências de tal definição previa” (Dalgalarrondo, 2000, p. 26).
Diante desses critérios de normalidade e de doença, percebe-se que elas são variáveis em
função dos fenômenos específicos da própria doença mental, da cultura. É preciso, portanto,
atentar para o fato de que o trabalho com saúde mental exige do profissional uma postura
permanentemente crítica e reflexiva (Dalgalarrondo, 2000).

Referências:

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.


Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
SEGRE, Marco; FERRAZ, Flávio Carvalho. O conceito de saúde. Revista de Saúde
Pública, São Paulo, v.31 no. 5, Oct. 1997

Este material foi baseado em:


ARAÚJO, Maircon Rasley Gonçalves. Promoção da Saúde Mental. Montes Claros/Rede
e-Tec Brasil, 2014.

1.1.3 História da loucura (Foucault)


Condições de conclusão
Marcar como feito
Michel Foucault realizou pesquisas em que procurou contextualizar o conceito de doença
mental, usando como fonte arquivos de prisões, hospitais e hospícios. Ele inicia os estudos a
partir do histórico, na época do Renascimento, no século XVI, no período em que os
“loucos” viviam como “errantes” e, soltos, eram expulsos das cidades e entregues aos
peregrinos e navegantes. Eles eram vistos como “tendo um saber esotérico sobre os homens
e o mundo, um saber cósmico que revela verdades secretas” (Bock et al., 2001, p. 348). As
pessoas achavam que eles tinham um saber “esotérico” e a loucura tinha um significado de
“ignorância, ilusão, desregramento de conduta, desvio moral, pois o louco toma o erro como
verdade, a mentira como realidade”, oposta à razão, que era tida como a instância da
verdade e moralidade (Bock et al., 2001, p. 348).

Na Idade Média e Renascimento, os loucos eram tratados como os demais doentes e


recebiam tratamentos como sangrias, purgações, ventosas e banhos (Bock et al., 2001).
Uma das imagens mais expressivas dessa época é a “Nave dos Loucos”, figura abaixo, que
retrata os loucos sendo escorraçados da cidade.
Figura 1 - Navio dos Loucos ou A Nave dos Loucos

Descrição da imagem: No centro da imagem, há um barco com pessoas, comida e vinho. Uma árvore ocupa o lugar das velas no mastro do barco. Algumas pessoas estão tentando pegar com a boca um pedaço de pão.
Já outras pessoas estão nuas na água.
Na Era Clássica, nos séculos XVII e XVIII, definia-se a loucura não a partir de critérios
médicos; a igreja, a justiça e a família que atribuíam ao indivíduo tal designação de
transgressão e moralidade. Já no final do século XVII, foi criado, em Paris, o Hospital
Geral, que era uma instituição assistencial e não médica, não havendo tratamento, o que deu
início à “grande internação”. As pessoas eram internadas a partir de 4 categorias: “os
devassos (doentes venéreos), os feiticeiros (profanadores), os libertinos e os loucos”. Os
loucos não eram vistos como doentes, faziam parte de um conjunto de segregados da
sociedade, e a exclusão era baseada na inadequação que tinham à vida social. Nessa época,
havia uma busca em se construir um conhecimento com respaldo médico sobre a loucura,
mas a medicina da época e o seu método classificatório não conseguiam ampliar o olhar
para a complexidade das manifestações da loucura (Bock et al., 2001).

A partir da segunda metade do século XVIII, a loucura passa a ser situada como algo que
ocorria no interior do próprio homem, como se o homem houvesse perdido sua própria
natureza e se tornado alienado. No início do século XIX, a chamada Era Moderna, foi
criada a primeira instituição exclusiva para a reclusão dos loucos, o asilo. As terapêuticas
dos asilos eram “a religião, o medo, a culpa, o trabalho, a vigilância, o julgamento” (Bock et
al., 2001, p. 349). Nessa época, dá-se o início da medicalização, com o médico assumindo o
papel de autoridade máxima. “A cura da doença mental – o novo estatuto da loucura –
ocorreria a partir de uma liberdade vigiada e no isolamento. Estava preparado o caminho
para o surgimento da Psiquiatria” (Bock et al., 2001, p. 349).

Para a Psiquiatria Clássica, a doença mental era igual à doença cerebral. A doença mental
era vista como um distúrbio orgânico de origem endógena, isto é, de dentro do indivíduo.
Buscava-se a origem do sintoma no orgânico e para isso localizava-se cada área cerebral,
buscando identificar cada função sensorial afetada no cérebro e, a partir disso, eram
ministradas medicações e também produtos químicos, eletrochoques, choques insulínicos e,
em casos mais graves, internava-se o paciente para administrar medicação controlada e
intensiva (Bock et al., 2001).

A psicanálise distingue o que é normal do anormal a partir da avaliação do grau, e não da


natureza, ou seja, considera que os indivíduos “normais” e “anormais” possuem as mesmas
estruturas da personalidade e de conteúdos, mas, ao serem “ativadas” essas estruturas, elas
se tornam responsáveis pelos distúrbios. Freud citado por Bock (2001) nomeou as estruturas
da personalidade de neuróticas e psicóticas, usando a terminologia da Psiquiatria Clássica
do século XIX, e, assim, classificou os quadros clínicos da seguinte forma:

Neurose — “os sintomas (distúrbios do comportamento, das ideias ou dos sentimentos) são
a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do
indivíduo”. As neuroses podem ser subdivididas em

Neurose obsessiva: esse tipo de conflito psíquico leva a comportamentos compulsivos (por
exemplo, lavar a mão com frequência não usual); ter ideias obsedantes, por exemplo, de que
alguém pode estar perseguindo-o e, ao mesmo tempo, ocorre uma luta contra esses
pensamentos, além de dúvidas quanto ao que faz ou fez.

Neurose fóbica ou histeria de angústia: a angústia é fixada, de modo mais ou menos


estável, num objeto exterior, isto é, o sintoma central é a fobia, o medo. Medo de altura,
medo de animais, medo de ficar sozinho, etc.

Neurose histérica ou histeria de conversão: o conflito psíquico simboliza-se nos sintomas


corporais de modo ocasional, isto é, como crises. Por exemplo, crise de choro com
teatralidade, ou sintomas que se apresentam de modo duradouro, como a paralisia de um
membro, a úlcera, etc.

Todas as formas de manifestação da neurose têm sua origem na vida infantil, mesmo
quando se manifestam mais tarde, desencadeadas por vivências, situações conflitivas, etc.
Nos dois últimos tipos apresentados, a neurose está associada a conflitos infantis de ordem
sexual.

A esses tipos de neurose, deve-se acrescentar a neurose traumática, em que os sintomas –


pensar obsessivamente no acontecimento traumatizante, ter perturbações do sono, etc. –
aparecem após um choque emotivo do indivíduo, ligado a uma experiência em que ele
correu risco de vida. Mas, mesmo nesse caso, existiria, segundo Freud, uma predisposição,
isto é, o traumatismo desencadeou uma estrutura neurótica preexistente.

Fonte: (Bock et al., 2001, p. 351 e 352)

Ainda sobre os quadros clínicos, confira mais informações abaixo:


Psicose é o termo usado até meados do século XIX para se referir, de modo geral, à doença
mental. Para a Psicanálise, refere-se a uma perturbação intensa do indivíduo, na relação
com a realidade. Na psicose, acontece uma ruptura entre o ego e a realidade, ficando o ego
sob domínio do id, isto é, dos impulsos. Posteriormente, na evolução da doença, o ego
reconstrói a realidade de acordo com os desejos do id. As psicoses subdividem-se em:

Paranoia: É uma psicose que se caracteriza por um delírio mais ou menos sistematizado,
articulado sobre um ou vários temas. Não existe deterioração da capacidade intelectual.
Aqui, incluem-se os delírios de perseguição, de grandeza.

Esquizofrenia: Caracteriza-se por afastamento da realidade: o indivíduo entra num


processo de centramento em si mesmo, no seu mundo interior, ficando, progressivamente,
entregue às próprias fantasias. Manifesta incoerência ou desagregação do pensamento, das
ações e da afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados. A característica
fundamental da esquizofrenia é ser um quadro progressivo, que leva a uma deterioração
intelectual e afetiva.

Mania e melancolia ou psicose maníaco-depressiva: Caracteriza-se pela oscilação entre o


estado de extrema euforia (mania) e estados depressivos (melancolia). Na depressão, o
indivíduo pode negar-se ao contato com o outro, não se preocupa com cuidados pessoais
(higiene, apresentação pessoal) e pode até mesmo, em casos mais graves, buscar o suicídio.

Fonte: Bock et al., 2001, p. 351 e 352

Já a abordagem psicológica entende os sintomas da doença mental como uma


desorganização da personalidade do indivíduo. “A doença instala-se na personalidade e leva
a uma alteração de sua estrutura ou a um desvio progressivo em seu desenvolvimento”
(Bock et al, 2001). Assim, a doença mental é entendida a partir do grau de perturbação da
personalidade, ou seja, será avaliado o grau de perturbação da personalidade a partir de um
grau de desvio do que é considerado como um padrão ou como uma personalidade normal.
Dessa forma, a psicose é considerada como distúrbio da personalidade total, que envolve o
aspecto afetivo, da percepção de si, do pensamento e do mundo. Já as neuroses, referem-se
a distúrbios de partes da personalidade em que a capacidade de pensamento e de estabelecer
relações afetivas do indivíduo permanece íntegra, mas a sua relação com o mundo encontra-
se alterada (Bock et al., 2001).

Referência:

BOCK, Ana Bahia: FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Aria de Lourdes Trassi. Psicologias:
uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.

Este material foi baseado em:


ARAÚJO, Maircon Rasley Gonçalves. Promoção da Saúde Mental. Montes Claros/Rede
e-Tec Brasil, 2014.

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