Aula 02 - Gestão Da Sustentabilidade

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GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE

AULA 2

Prof.ª Aline Maria Biagi


CONVERSA INICIAL

Abordaremos aqui a questão da sustentabilidade e desenvolvimento sustentável já como um

conceito consolidado e vamos discutir sobre as medidas propostas para que seja colocado em

prática pelos diversos atores. O tema se internacionalizou e fez com que muitas nações entrassem

em acordos para a manutenção do ambiente natural. Assim, trataremos da Rio+20 e alguns

desdobramentos dessa conferência, tanto por um viés político de acordos internacionais quanto por
um caráter de gestão voltado a uma sustentabilidade empresarial.

CONTEXTUALIZANDO

Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), o conceito de

desenvolvimento sustentável se consolidou. Porém, ainda estava muito vaga a forma como se

alcançaria esse objetivo. Com o amadurecimento das discussões, muitos outros acordos e tratados

foram assinados e deram forma a metas para que a sustentabilidade se efetivasse. Vamos conhecer

alguns deles a partir de agora.

TEMA 1 – CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS NO BRASIL: ECO 92 E


RIO+20

Dando continuidade às convenções da década de 1970 e 1980, a Conferência das Nações Unidas

sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) aconteceu no Rio de Janeiro em 1992. O objetivo foi

estabelecer uma parceria mundial pela criação de novos níveis de cooperação entre os Estados e os

setores-chave das sociedades a partir de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos

e protejam a integridade do meio ambiente (ONU, 1992; Malheiros; Coutinho; Philippi Jr., 2012).
Nessa conferência, a comunidade internacional se envolveu no debate ambiental, e ao fim dos

debates 182 governos se comprometeram formalmente com a mudança de padrões de

desenvolvimento. Dentre os documentos elaborados estão os 27 princípios que compõem a

“Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento” e adoção da “Agenda 21”, que

constitui o Programa de Ação para o Desenvolvimento Sustentável Global (Dias, 2015).

Um dos compromissos firmados na Rio-92 foi que cada país definisse a própria agenda. Nesse

sentido, o Brasil, por meio da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável (CPDS),

internalizou a Agenda 21 Nacional, com vistas à elaboração de políticas públicas nos diferentes níveis
de governo, cuja ação é considerada fundamental para a construção da sustentabilidade no país.

A Agenda 21 Global surgiu com a intenção de voltar a atenção aos problemas ambientais do

momento e preparar o mundo para os desafios do próximo século. Trouxe um compromisso político

direcionado ao desenvolvimento e à cooperação ambiental, com foco em estabelecer estratégias,

planos, políticas e processos nacionais, o desenvolvimento pelos governos, o apoio de organizações

internacionais, regionais e sub-regionais, da participação pública e de ONGs (CNUMAD, 1992). O

documento é composto de quatro seções: (1) As dimensões sociais e econômicas; (2) A conservação

e gestão dos recursos para o desenvolvimento; (3) Fortalecimento do papel dos grupos principais; e

(4) Meios de implementação (CNUMAD, 1992).

Um dos fundamentos da Agenda 21 Global é que ela se converta em muitos planos nacionais,
representando a individualidade de cada território; dessa forma, milhares de cidades do mundo

criaram a sua Agenda 21 Local. E justamente pelo fato de a Agenda 21 valorizar a participação e

cooperação das autoridades locais – pois possibilita maior pertencimento e engajamento de

diferentes atores na temática –, incentivou-se que as autoridades implementem em cada país “uma

Agenda 21 local tendo como base de ação a construção, operacionalização e manutenção da

infraestrutura econômica, social e ambiental local, estabelecendo políticas ambientais locais e

prestando assistência na implementação de políticas ambientais nacionais” (Dias, 2015, p. 52).

A Agenda 21 Nacional brasileira, elaborada pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento

Sustentável (CPDS) e da Agenda 21 Nacional, foi coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e, na

ocasião, composta por dez membros, com paridade entre a sociedade civil e o governo. Foi dividida

em seis temas centrais: i) agricultura sustentável; ii) cidades sustentáveis; iii) infraestrutura e

integração regional; iv) gestão dos recursos naturais; v) redução das desigualdades sociais; e vi)
ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável (CPDS, 2000). Outro documento iniciado na

Rio-92 (e concluído em 2003) foi a Declaração da Carta da Terra.

Depois da Rio-92, outras conferências foram realizadas visando à renovação do compromisso

político com o desenvolvimento sustentável, à definição de novos prazos, à avaliação do progresso e

das lacunas, até então, além da inclusão de novos temas. Vamos citar aqui a Rio+10 e a Rio+20.

A primeira delas, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), foi realizada

em 2002 em Johanesburgo, África do Sul. Ela reconheceu a necessidade de aumentar o

desenvolvimento em todos os níveis, integrando aspectos econômicos, sociais e ambientais, uma vez

que a interligação destes, e o uso e desenvolvimento de tecnologias voltadas a esse fim, é um modo

de se alcançar o desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões (Malheiros; Coutinho;

Philippi Jr., 2012; ONU, 2002; ONU, 2012).

A segunda delas, Rio+20, foi a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento

Sustentável (CNUDS), realizada no Rio de Janeiro em 2012, 20 anos depois da Rio-92. Ali foram

privilegiados dois temas: “(a) uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a

erradicação da pobreza; e (b) o quadro institucional para desenvolvimento sustentável” (Dias, 2015, p.

112).

A Rio+20 gerou o documento final “O futuro que queremos”, que foi dividido em seis capítulos:

(1) Nossa visão comum; (2) Renovação dos compromissos políticos; (3) Economia verde; (4) Estrutura

institucional; (5) Estrutura de ação; e (6) Meios de implementação. Ele reafirmou compromissos de
conferências anteriores. Outro resultado desse evento foi a proposição de um grupo de trabalho

voltado a elaborar os “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que teriam como meta o ano de

2030 e passariam a vigorar a partir de 2015, em substituição aos ODM” (Dias, 2015, p. 112).

TEMA 2 – PACTO GLOBAL

O Pacto Global é uma iniciativa lançada em 2000 por Kofi Annan, então secretário-geral das

Nações Unidas. Com base em informações coletadas pelo Pacto Global – Rede Brasil, trata-se de uma

chamada para que empresas alinhem suas estratégias e operações aos dez princípios universais nas

áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção e desenvolvam ações que

contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade.


Esses princípios são derivados de documentos como: Declaração Universal dos Direitos

Humanos; Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos

Fundamentais no Trabalho; Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e

Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. As organizações que integram o Pacto Global se

comprometem a seguir esses dez princípios (Quadro 1) em sua rotina.

Quadro 1 – Os dez princípios que compõem o Pacto Global

As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos


1
Direitos internacionalmente
humanos
2 Assegurar-se de sua não participação em violações desses direitos

As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à


3
negociação coletiva

4 A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório


Trabalho

5 A abolição efetiva do trabalho infantil

6 Eliminar a discriminação no emprego

7 As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais

Meio ambiente 8 Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental

9 Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis

Anticorrupção 10 As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina

Fonte: elaborado com base em Pacto Global – Rede Brasil, [s.d.].

Atualmente, o Pacto Global é considerado a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do

mundo, “com mais de 16 mil participantes, entre empresas e organizações, distribuídos em 70 redes

locais, que abrangem 160 países” (Pacto Global – Rede Brasil, [s.d.]). Vale destacar que não se trata de

instrumento regulatório, código de conduta obrigatório ou mesmo um fórum para policiar as

políticas e práticas gerenciais, mas sim uma iniciativa voluntária que proporciona diretrizes visando à

promoção do crescimento sustentável e da cidadania por meio de lideranças corporativas

comprometidas e inovadoras.

No Brasil, o Pacto Global da ONU teve início em 2003 e é a terceira maior rede local do globo,

contando com 1,5 mil membros. Os mais de 40 projetos conduzidos em território nacional se inserem
nos temas: água e saneamento; alimentos e agricultura; energia e clima; direitos humanos e trabalho;

anticorrupção; e engajamento e comunicação. Tais projetos são desenvolvidos por meio das

Plataformas de Ação (Ação pela Água, Ação pelo Agro Sustentável, Ação pelos Direitos Humanos,

Ação pelo Clima, Ação contra a Corrupção, Ação pelos ODS e Ação para Comunicar e Engajar) e dos

programas internacionais. Essas iniciativas contam com o envolvimento de centenas de empresas,

assim como agências da ONU e agências governamentais.

O Pacto Global constitui importante medida para se alcançar o desenvolvimento sustentável, e


quem o integra assume o compromisso de contribuir para que se atinjam os 17 Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A seguir, vamos discutir alguns dos principais compromissos entre nações voltados à melhoria
da questão ambiental, social e econômica no planeta.

TEMA 3 – ACORDO DE PARIS

As mudanças climáticas fazem parte de uma problemática ambiental que coloca a humanidade

diante da questão das fronteiras planetárias, que afeta as interações tanto entre os sistemas naturais
quanto dos seres humanos. Trata-se de problemas complexos com causalidades múltiplas e difusas, o

que dificulta uma atribuição de responsabilidade (por exemplo, poluidor-pagador), e suas


consequências não se limitam a fronteiras nacionais (Souza; Corazza, 2017).

Na busca por uma mitigação dessa problemática ambiental, as Nações Unidas apontam que

medidas devem ser tomadas conjuntamente pelos países. Isso se institucionalizou com a Convenção-
Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC – sigla em inglês para United

Nations Framework Convention for Climate Change), proposta na Rio-92 (Souza; Corazza, 2017).

Nessa perspectiva, e com o objetivo de combater as mudanças climáticas, a UNFCCC promoveu


diversas rodadas internacionais de negociações nas quais os Estados nacionais eram chamados de

“partes” e “deveriam se comprometer com ações voltadas às finalidades de mitigação e de


adaptação, além de negociar os meios tecnológicos e financeiros para o seu alcance” (Souza;

Corazza, 2017, p. 54).

Essas negociações fizeram com que delegados dos Estados nacionais se reunissem nas
Conferências das Partes (COPs) que, desde 1995, ocorrem periodicamente e buscam acordos em
relação a definições de metas globais, o que fazer e como fazer para alcançar esse objetivo, quando e

com quais recursos (Souza; Corazza, 2017).

Em 1997, a Conferência das Partes em Quioto foi um marco nessa relação entre economia e

ambiente natural e demandou maiores estudos sobre a temática. Desse encontro resultou o
Protocolo de Quioto, que definia a necessidade de cortes nas emissões de gases de efeito estufa

(GEE).

Essas negociações se intensificaram, e o relatório elaborado pelo Painel Intergovernamental


sobre Mudanças Climáticas (IPCC – sigla em inglês para Intergovernmental Panel on Climate Change)

e publicado em 2007 confirmava cientificamente

que as ações antrópicas afetam os aumentos das emissões de GEE e as suas concentrações na
atmosfera, como também influencia nas mudanças climáticas do planeta. Além disso, o Relatório
afirma que se os aumentos da temperatura global ultrapassarem de 1,5 a 2,5, o risco de extinção de
espécies de vegetais e animais aumentará aproximadamente de 20 a 30%. (Souza; Corazza, 2017, p.
55)

O Protocolo de Quioto corresponde à ideia de atribuições justas de responsabilidade e de


formas de mitigação e compensação dessas emissões. Muitas dificuldades surgiram nas negociações,

algumas delas eram:

a situação particular da Rússia; a não ratificação do Protocolo de Quito pelos Estados Unidos; a
saída do Canadá das negociações em 2011; e os conflitos envolvidos na necessidade de se
estabelecerem metas obrigatórias de redução de gases de efeito estufa pelos chamados países
emergentes [...].(Souza; Corazza, 2017, p. 64)

Em 2009 houve certa desestabilização devido ao não engajamento de grandes emissores e a não
ratificação do Protocolo por essas partes, além da

determinação dos EUA em desempenhar um papel em sua discussão, questionando a interpretação


europeia do regime e apontando para o estabelecimento de metas determinadas voluntariamente
pelas Partes – as NDCs [sigla em inglês para Nationally Determined Contributions]. Essa nova
abordagem para a ação climática foi consolidada no Acordo de Paris. (Souza; Corazza, 2017, p. 69)

Com foco em um novo acordo, as partes puderam por aproximadamente dois anos decidir e

apresentar suas NDCs para que em 2015 fossem discutidas durante a 21ª Conferência das Partes
(COP-21) da UNFCCC. Durante esse encontro realizado em Paris, selaram-se as negociações sobre

essas novas metas e abordagens e se elaborou o documento chamado Acordo de Paris. Algumas
determinações inseridas incluem:

deter o aumento da temperatura global média do planeta abaixo de 2 ºC acima dos níveis pré-

industriais e empenhar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 ºC acima dos
níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e impactos
da mudança climática;

aumentar a habilidade para adaptação aos impactos adversos das mudanças climáticas e
estimular a resiliência climática e o desenvolvimento com baixas emissões de GEEs, de maneira

que não ameace a produção de alimentos;


tornar os fluxos monetários consistentes com um caminho direcionado à redução das emissões

de GEEs e ao desenvolvimento resiliente do ponto de vista climático (Souza; Corazza, 2017, p.


70).

Mesmo com as diversas divergências entre as partes sobre o Acordo de Paris, o documento

pode ser considerado um sucesso político pela formação de um regime climático internacional, além
do estabelecimento de que em cada contribuição nacional os NDCs devem englobar, entre outros, a

mitigação das mudanças climáticas, a promoção de medidas adaptativas e a geração de


oportunidades de emprego (Souza; Corazza, 2017).

O relatório Global Sustainable Investment Review (2020) destaca que, até o ano de publicação,
195 partes assinavam o documento e, destas, 189 ratificavam o acordo, reiterando que este tem
agido como força motriz de diversas legislações estaduais para limitar as emissões de gases de efeito

estufa e estabelecer metas líquidas de emissão zero.

Mesmo que o Acordo de Paris seja um acordo entre nações, investidores, proprietários de ativos

e gestores de ativos estão cada vez mais interessados em alinhar seus portfólios com a meta dele e
monitorar e limitar as emissões de GEEs ou são obrigados a fazê-lo em alinhamento com as

mudanças na legislação estadual.

Além do Acordo de Paris, outra função voltada a estabelecer metas das Nações Unidas visando
garantir o bem-estar das futuras gerações está contemplada nos Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio (ODM) e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vamos abordar a seguir.

TEMA 4 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO (ODM)

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram elaborados em 2000 durante


encontro na sede das Nações Unidas que reuniu dirigentes de todo o globo para consolidar o acordo

de combate à extrema pobreza e demais problemas da sociedade. Nessa ocasião, 189 nações
firmaram o compromisso que se denominou Oito Objetivos do Milênio, com metas a serem atingidas

até 2015. Em 2010, tais objetivos foram renovados, com expectativa de progresso no cumprimento
do que foi estabelecido a partir da participação social e da definição de atividades práticas (Oliveira;

Cezarino; Liboni, 2019; Dias, 2015). A representação gráfica dos oito objetivos é apresentada na
Figura 1.

Figura 1 – Representação dos oito ODM

Fonte: ODM Brasil, [s.d.].

Dias (2015) aponta que os ODM alcançaram discretos progressos. Podem ser vistas uma

diminuição da pobreza e a melhoria da água potável, porém não se atingiram as metas definidas
para 2015. Outro tema que avançou foi a educação, considerando que vários países já estabelecem o

ensino primário universal. A saúde obteve êxito na diminuição da mortalidade infantil, freando o
avanço de pandemias e melhorando a cobertura de campanhas de vacinação.

O Brasil obteve êxito em algumas dessas metas. Segundo o Relatório Nacional de

Acompanhamento, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2014, e dados
do site do governo federal – ODM Brasil –, o avanço das metas ocorreu graças à participação social e

a uma série de políticas públicas que trouxeram impactos positivos sobre os ODM. A seguir, vamos
indicar os oito objetivos e os resultados do país.

Objetivo 1 (redução da pobreza – acabar com a fome e a pobreza extrema até 2015 à metade

do que era em 1990): foi atingido pelo Brasil em 2002, e em 2008 atingiu-se um quarto da
porcentagem de pobres quando comparado a 1990.
Objetivo 2 (atingir o ensino básico universal: educação básica e de qualidade para todos):
avanços significativos foram observados no que se refere a acesso e rendimento escolar de

crianças e jovens. Em 2009, 95,3% de crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos frequentavam o


ensino fundamental, e no mesmo ano 75% dos jovens que haviam atingido a maioridade

terminaram o ensino fundamental (ODM BRASIL, [s.d.]).


Objetivo 3 (igualdade entre os gêneros e a autonomia das mulheres): em relação à educação, a

meta foi atingida, e meninas e mulheres nesse período foram maioria em todos os níveis de
ensino. Porém, mesmo com melhoras nos indicadores, a desigualdade entre mulheres e
homens ainda ocorre no mercado de trabalho, nos rendimentos e na política, além dos altos

números de violência doméstica.


Objetivo 4 (reduzir a mortalidade na infância): a taxa de mortalidade infantil (menores de 1 ano)

por mil nascidos vivos passou de 29,7, em 2000, para 15,6, em 2010. Vale destacar que foi
menor que a meta prevista para 2015, que era de 15,7 por mil nascidos vivos.

Objetivo 5 (melhorar a saúde materna): o Brasil obteve mais dificuldades e, mesmo com
avanços, não alcançou a meta de reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a razão da

mortalidade materna.
Objetivo 6 (combater a Aids, a malária e outras doenças): houve queda nos números em relação

à epidemia de Aids, ao controle da malária e à tuberculose; programas nacionais de controle


dessas doenças foram necessários.

Objetivo 7 (garantir a sustentabilidade ambiental): na busca pela qualidade de vida e respeito


ao meio ambiente, o país criou em 2004 o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do

Desmatamento na Amazônia Legal, no qual a redução do desmatamento colaborou para se


diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Além disso, a quantidade de Unidades de

Conservação Ambiental e a homologação de terras indígenas contribuem para os números


positivos em relação à biodiversidade. As metas relativas ao abastecimento de água e ao

esgotamento sanitário foram atingidas.


Objetivo 8 (estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento): políticas públicas foram

implementadas no sentido de aumentar a inclusão social, realizando esforços para a eficiência


da gestão municipal.

Mesmo que os ODM não tenham sido atingidos em sua totalidade, “a definição de metas

possibilitou o direcionamento de recursos das nações para questões específicas” (Oliveira; Cezarino;
Liboni, 2019, p. 15). Segundo os autores, isso resultou em benefícios práticos e maior aproximação da
academia à temática, com a elaboração de diversos trabalhos acadêmicos visando “propor melhorias

reais em algum aspecto dos objetivos ou para mensurar impactos e melhorias ocorridos” (Oliveira;
Cezarino; Liboni, 2019, p. 15).

Entretanto, conforme o fim do prazo para o alcance das metas se aproximou, a ONU realizou um

processo de consulta em relação “às prioridades de pessoas, organizações privadas e públicas e


comunidade científica em geral no que diz respeito à construção de novos objetivos e desempenho”

(Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019, p. 15-16). Isso levou à reformulação dos objetivos e metas no
chamado Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – também conhecido como Agenda 2030.

TEMA 5 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

Durante a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em 2015, as
negociações para a elaboração e definições dos novos objetivos e metas foram concluídas, com a

denominação Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes passaram a conduzir as


políticas públicas e as atividades socioparticipativas até 2030 (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019).

Os ODS substituíram os ODM, que estavam vigentes até então. Agora são 17 objetivos, com 169

indicadores:

Objetivo 1 – Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Objetivo 2 –
Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a
agricultura sustentável. Objetivo 3 – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para
todos, em todas as idades. Objetivo 4 – Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade,
e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Objetivo 5 – Alcançar a
igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Objetivo 6 – Assegurar a
disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Objetivo 7 – Assegurar o
acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. Objetivo 8 –
Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e
produtivo e trabalho decente para todos. Objetivo 9 – Construir infraestruturas resilientes,
promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Objetivo 10 – Reduzir a
desigualdade dentro dos países e entre eles. Objetivo 11 – Tornar as cidades e os assentamentos
humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Objetivo 12 – Assegurar padrões de
produção e de consumo sustentáveis. Objetivo 13 – Tomar medidas urgentes para combater a
mudança do clima e seus impactos. Objetivo 14 – Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos
mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15 – Proteger,
recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade. Objetivo 16 – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes,
responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17 – Fortalecer os meios de implementação
e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019,
p. 16-17, com base em Nações Unidas Brasil, [S.d.]).
Figura 2 – Representação dos 17 ODS

Fonte: Brasil UN.

Saiba mais

O canal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no YouTube criou uma

sequência de 17 vídeos abordando sobre cada um dos ODS. Essa é uma boa oportunidade de
conhecê-los melhor. O material está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Fev2M

HAa-qo&list=PLAvMMJyHZEaFnbAHb_0limdkGL5Z_HBIi&index=1&t=0s>. Acesso em: 17 nov.

2022.

O acompanhamento e a avaliação do desenvolvimento e a evolução das metas de cada ODS e

da Agenda 2030 como um todo são fundamentais e têm sido feitos de forma sistemática no nível

global, regional, nacional. Para tal, o Fórum Político de Alto Nível sobre o Desenvolvimento
Sustentável é a instância responsável pela supervisão em nível global dos ODS e recebe o suporte da

Assembleia Geral e do Conselho Econômico e Social da ONU (ODM BRASIL, [s.d.]).

Para que os resultados aconteçam, é necessário um esforço conjunto que envolve países,

empresas, instituições e sociedade civil, procurando assegurar os direitos humanos e enfrentar os

maiores desafios de nosso tempo. Nesse foco, o “privado tem um papel essencial nesse processo

como grande detentor do poder econômico, propulsor de inovações e tecnologias influenciador e


engajador dos mais diversos públicos – governos, fornecedores, colaboradores e consumidores”

(Pacto Global, [s.d.]).


Além dos acordos globais que buscam um equilíbrio planetário e um desenvolvimento

sustentável, legislações e instituições também desempenham papel importante, tema que será
abordado futuramente.

TROCANDO IDEIAS

A partir dos dez princípios que norteiam o Pacto Global, podemos pensar algumas medidas

efetivas para que as empresas avancem nessas metas. Que tal criarmos uma tabela de práticas a

impulsionar esse pacto?

NA PRÁTICA

A partir dos 17 ODS, vamos visitar o site da ONU Brasil – <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>


(acesso em: 17 nov. 2022) – e conhecer as 169 metas. Que tal elaborar o rascunho de um projeto

socioambiental que inclua pelo menos duas delas? Veja um exemplo: uma formação

profissionalizante de mulheres em situação de vulnerabilidade (ODS 5 – igualdade de gênero – e ODS

8 – trabalho decente). Em seguida, podemos conversar com os colegas sobre os trabalhos feitos. No
site do Pacto Global – <https://pactoglobal.org.br/cases> (acesso em: 17 nov. 2022) – você pode

conferir alguns casos e se inspirar para desenvolver sua ideia.

FINALIZANDO

A Rio-92 foi um importante marco em nossa história de união internacional para a preservação

ambiental e resultou em muitos compromissos e esperança em relação ao futuro. A Agenda 21 foi

uma forma de as nações e municípios pensarem como a sustentabilidade melhor se encaixava em


cada território.

Ao longo do tempo, essas metas e compromissos se renovaram, e alguns problemas se

intensificaram. O desenvolvimento econômico demandou medidas a serem aplicadas nas

corporações para um diálogo diferenciado com a realidade empresarial. O agravamento das

questões climáticas levou a medidas mais específicas para diminuição dos GEEs. Assim, o diálogo e a
cooperação se tornaram peças-chaves nesse processo.
Atualmente, os ODS, fruto das primeiras metas e discussões presentes nos ODM, são uma

grande referência na busca pela sustentabilidade global. Sua efetivação com a sociedade é um

processo central que implica a parceria entre todos os atores envolvidos.

REFERÊNCIAS

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21 Global. 1992. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2019. Disponível em:

<http://www.conexaoambiental.pr.gov.br/sites/conexao-

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