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SUMÁRIO

CONCEITO DE LITERATURA…………………………………………………………………………………… 3
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO NA PROVA………………………………………………………………. 6
QUINHENTISMO…………………………………………………………………………………………………..….. 9
O BARROCO……………………………………………………………………………………………………..……… 11
ARCADISMO…………………………………………………………………………………………………………….. 14
ROMANTISMO………………………………………………………………………………………………………….. 18
REALISMO………………………………………………………………………………………………………………… 29
NATURALISMO…………………………………………………………………………………………………..……. 33
PARNASIANISMO………………………………………………………………………………………..………….. 37
SIMBOLISMO………………………………………………………………………………………………………..…. 41
PRÉ-MODERNISMO………………………………………………………………………………………………… 45
MODERNISMO BRASILEIRO………………………………………………………………………………….. 48
LITERATURA CONTEMPORÂNEA…………………………………………………………………………. 81
NEOCONCRETISMO……………………………………………………………………………………………….. 85
MOVIMENTO TRIBALISTA……………………………………………………………………………………… 90
LITERATURA AFRO-BRASILEIRA………………………………………………………………………….. 92

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Competência de área 5 - Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das
linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e
recepção.

H15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando
aspectos do contexto histórico, social e político.

H16 - Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção


do texto literário.

H17 - Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no


patrimônio literário nacional.

Uma tentativa de definição do conceito de literatura

O conceito de literatura é de difícil definição, uma vez que ele tem se transformado ao longo dos tempos.
Por exemplo, nem todos os textos que hoje são considerados literários eram vistos como tal, em outros
tempos. Tendo em vista a sua natureza complexa, arriscar uma definição categórica sobre o que é
literatura parece ser perigoso.
No entanto, é possível identificar elementos constitutivos da literatura que ajudam a compreendê-la
enquanto campo específico de manifestação artística, como também auxiliam na elucidação de seus
vínculos com o contexto histórico, social e cultural no qual ela é produzida. Feitas essas ressalvas, três
aspectos da natureza da literatura apontados pelo crítico literário Antônio Candido (1918-) ajudam a
defini-la: “1) ela é uma construção de objetos autônomos como estrutura e significado; 2) ela é uma forma
de expressão, isto é, manifesta emoções e a visão do mundo dos indivíduos e dos grupos; 3) ela é uma
forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente” (CANDIDO, 2004, p. 176).
Dessa maneira, pode-se também entender a literatura (ou o texto literário) como um objeto que, em sua
materialidade temático-formal, articula uma série de relações (linguísticas, sociais, históricas,
psicológicas etc.) num todo caracterizado sobretudo pela sua natureza estética.
A obra literária pode igualmente ser entendida como uma criação verbal oral ou escrita que possui um
modo de elaboração linguística peculiar, o qual trabalha com procedimentos que destacam, em diferentes
graus, o caráter poético da linguagem.

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1. A literatura como forma de conhecimento e de entretenimento
A literatura é uma forma de conhecimento, uma vez que ela é um processo que nos faz compreender
formas de estar no mundo. De acordo com Antoine Compagnon (2009), a literatura oferece a
oportunidade de preservação e de transmissão das experiências dos outros, de pessoas que se distanciam
do leitor, em termos de espaço e tempo ou de condições de vida. Em decorrência, “ela nos torna sensíveis
ao fato de que os outros são muito diversos e que seus valores se distanciam dos nossos”
(COMPAGNON, 2009, p. 47).
A literatura é uma forma de entretenimento, na medida em que propicia uma experiência estética no ato
de leitura. O leitor pode se entreter não só com histórias empolgantes contadas em livros, mas, se ele tiver
uma formação mínima que lhe permita explorar as potencialidades do texto literário, também com o
caráter lúdico do trabalho de linguagem empregado na obra e com questões diversas que uma
determinada obra problematiza.

2. A literatura como elemento da cultura e como marca de identidade


A cultura é, em suma, um conjunto de elementos, como visões de mundo, comportamentos, hábitos,
crenças, manifestações artísticas, entre muitos outros, de uma comunidade, povo, país ou civilização.
Assim, a literatura é um elemento que integra a cultura, não só por ser uma manifestação artística
produzida em um determinado meio social, mas porque ela também atua no sistema cultural desse meio.
O impacto que grandes obras da Antiguidade Clássica provocaram na cultura ocidental é um exemplo
disso.
A literatura é ainda uma forma de identidade, pois ela tende a exprimir, de modos variados, o seu povo.
Por vezes, exprimir a identidade de um povo é um objetivo claro na produção literária, como no caso dos
escritores brasileiros do Romantismo, os quais buscavam construir a identidade nacional do país por meio
de suas obras. Note-se que a literatura exprime a identidade tanto de nações quanto, num plano mais
particular, de variadas categorias sociais.

3. A literatura como representação estética


A arte estabelece uma relação particular com a realidade. Para discutirmos essa relação, tomemos como
exemplo a obra A traição das imagens (1929), do pintor belga René Magritte (1898-1967). Apresentando
a frase “Ceci n’est pas une pipe” (“Isto não é um cachimbo”) embaixo de uma figura de um cachimbo,
esse quadro chama-nos a atenção, com um certo tom de ironia, para o fato de que a arte não apresenta
objetos do mundo em si mesmos.
De fato, no quadro não está um cachimbo, mas uma representação de um cachimbo. Isso não ocorre
somente na pintura: a literatura também não é reflexo da realidade, ela é um processo de transfiguração
artística da realidade. Isso vale mesmo para textos que pretendem, em princípio, representar a realidade
fielmente. A literatura é, portanto, uma forma de representação estética, uma criação, e não uma forma de
imitar ou explicar a realidade.

A tradição das escolas literárias


A noção de escola literária corresponde a uma reunião de obras de um determinado período histórico com
base em tendências gerais, no que diz respeito a modos de composição literária, temas e expressão de
certos pontos de vista ideológicos.
Ressalte-se que os textos literários dificilmente trazem todas as características da escola literária à qual
eles pertencem. Note-se, ainda, que diferentes escolas literárias podem se constituir simultaneamente, o
que significa que elas não necessariamente se manifestam em uma sucessão cronológica linear.

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Ferramentas de análise
No estudo do texto literário, é importante que se tenha em mente o tipo de análise que se pretende fazer.
Por exemplo, um estudo de uma determinada obra pode privilegiar tanto os seus aspectos formais e
temáticos, quanto a representação de determinados aspectos sociais na obra - observe-se que uma coisa
não exclui a outra. Um possível percurso de leitura crítica do texto literário é identificar os seus
procedimentos de composição, analisá-los e verificar os efeitos de sentido que eles geram, em sua
articulação com os aspectos temáticos do texto, ou seja, sobre aquilo que o texto diz. Isso significa que
não interessa somente o que diz um texto literário mas também como ele diz algo, pois a forma e o
conteúdo da mensagem do texto literário são indissociáveis, o que requer uma atenção especial do leitor.
Ao ler um texto literário, o leitor deve identificar os elementos básicos que o constituem (os quais se
vinculam às características do gênero) e construir uma leitura interpretativa calcada nos efeitos de sentido
da articulação de tais elementos básicos com os procedimentos linguísticos empregados, o tema e as
ideias presentes no texto.
Fonte: Cadernos do Cursinho da Unesp

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INTERPRETAÇÃO DE TEXTO NA PROVA DE LITERATURA

Muitos aspectos irão aparecer na prova de Linguagem do ENEM sobre a produção literária brasileira. O
principal ponto é compreender cada momento literário sempre apoiado no contexto histórico e entender
as relações que existem entre os estilos de época. Partindo das referências literárias modernas e como
estas referências representam as escolas literárias que já se passaram.

Para se dar bem na prova de literatura do ENEM você precisa usar bastante sua habilidade
de interpretação de texto. Muitas questões do ENEM são multidisciplinares, então tenha atenção nos
seguintes pontos para interpretar bem os textos:

o Figuras de linguagem;
o Ficcionalidade, isto é, um texto de ficção;
o Subjetividade do texto;
o Vários significados de uma mesma palavra;
o Atemporalidade do texto;
o Representações denotativas (reais) e conotativas (figurativas);
o Funções da linguagem com destaque para a função metalinguística;
o Procure identificar além da linguagem verbal, a linguagem não verbal que aparece em muitos textos
da prova do ENEM;
o Trechos de músicas populares brasileiras;
o Textos modernos como cordel;
o A relação entre textos literários e outras artes e cultura: textos com pintura, textos de peças de teatro,
textos e artes plásticas, poesia e prosa;
o A relação entre história, filosofia e sociologia expressada através de textos literários.

O que é cobrado em literatura no Enem?


o As questões de literatura cobradas no Enem requerem dos candidatos as seguintes competências e
habilidades:
o Estabelecer relações entre produção literária e processo social;
o Reconhecer as diferentes concepções artísticas bem como os procedimentos de construção e de
recepção de textos literários de variados gêneros;
o Compreender os processos de formação literária e de formação nacional;
o Estabelecer relações entre o polo cosmopolitismo/localismo e a produção literária nacional;
o Reconhecer elementos de continuidade e ruptura entre os diversos momentos da literatura brasileira;
o Perceber as associações entre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário
em seus gêneros (épico/narrativo, lírico e dramático) e formas diversas;
o Saber sobre as peculiaridades da representação literária: natureza, função, organização e estrutura do
texto literário;
o Estabelecer relações entre literatura, outras artes e outros saberes.

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Não deixe de seguir esses passos:

1 – Ter conhecimento de toda a história de Literatura


Um dos pontos essenciais para você que irá se preparar para a prova de Literatura é saber toda a sua
história.
Não adianta estudar um assunto aqui e acolá, pois precisará de embasamento histórico que ocorreu aquele
evento. Por isso, aprenda a história da Literatura como um todo.

2 - Concentre-se em textos mais modernos


Apesar do Enem, utilizar textos antigos, o seu foco é apresentar conforme o momento atual em que você
está vivenciado. Então, provavelmente, você irá se deparar com trechos de jornais, cartoons, canções
populares, poesias, figurinhas, enfim. Esteja familiarizado com esse tipo de formato para não ser pego de
surpresa.

3 - Literatura do século XX é o que predomina na prova


De acordo com vários estudiosos no ramo como os professores de cursinhos, eles concordam que a
Literatura do século XX é a que mais se exige no Enem. O foco é o Modernismo e Pós-Modernismo
tendo os seguintes autores de destaque: Clarice Lispector, Jorge Amado, Oswald de Andrade, Manual
Bandeira, Vinícius de Moraes, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo.
É importante considerar também o Carlos Drummond de Andrade, embora não faça parte dessa época e
sim da geração de 30. Ele é um dos que mais surgem nos enunciados e, por isso, merece destaque para
você estudá-lo! Então, você deve centralizar os seus estudos de Literatura nesse tempo da história, mas
sem deixar os outros para serem estudados. A predominância, no entanto, é do século XX!

4 – Decifre as estrofes atentamente


O Enem exige que o candidato saiba decifrar o que está escondido no enunciado. Ele utilizar recursos
visuais também a fim de que você possa retirar o que ele quer dizer. Por isso, a prosa e poesia é um dos
requisitos indispensáveis para você saber interpretar qualquer questão. Se você souber interpretá-los
estará apto para desvendar a alternativa correta. Então, o grande segredo é o treino constante nos textos
em prosa e poesia.

Claro que é um esforço, não é fácil captar a mensagem de uma poesia lúdica, por exemplo, mas com a
prática você conseguirá obter os melhores resultados.

5 – Escolas literárias relacionam-se com o contexto histórico


Mais uma vez, a dica de que tudo deve ser centralizado no contexto é 100% certa. Você não deverá
estudar a Literatura do passado somente, mas trazê-la para o contexto atual, pois é isso que a prova irá
exigir de você.
Como dito anteriormente, essas escolas literárias são um dos principais assuntos de Literatura mais
cobrados no Enem e que você deve dominar, isto é, saber de capa à capa.
Você não deve estudar a Literatura de forma fragmentada, isolada. É necessário que contextualize-a
dentro da realidade e que conheça também os autores dessa época (esse item é muito importante!).

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6 – Manifestações artísticas nas escolas literárias
É constante o uso de manifestações artísticas nas escolas literárias aparecerem nas questões do Enem.
Lembrando que elas surgem não apenas tratando do fato antigo, de sua época, mas trazendo a realidade
atual (contextualização). Um exemplo a citar desse mecanismo que o Enem usa é abordar as
características do Classicismo. Essa manifestação artística valoriza a busca pela perfeição da sua forma e
a exaltação do belo, beleza.
Mas, será que esse evento ocorria apenas na época do classicismo? Como esse movimento se faz presente
na realidade atual? Será a exaltação da beleza exagerada não está também sendo destaque em nossos dias
atuais?

7 – Fique atento as funções de linguagem


Pode ser que não encontre tantas questões abordando as funções de linguagem, mas certamente em
algumas delas, você irá se deparar. E, ao encontrá-las, precisará de uma boa base de estudo, conhecimento
sobre cada uma para que possa ter condições de assinalar a resposta certa.
Lembrando que há 5 funções da linguagem, a quais são: conativa, metalinguística, fática, emotiva e
referencial. Cada uma se expressa diferente, pois possui as suas particularidades. No entanto, observe que
pode haver mais de 2 funções em um mesmo texto.

8 – Escritores brasileiros
Os autores participantes de cada fase da história da Literatura são bastante presente nos enunciados e
você, sem dúvida, já sabe quem são. No entanto, o seu olhar deve ser maior nos autores brasileiros, pois
são eles que se destacam em maior quantidade nos enunciados.
Estude suas obras, como eles discorrem a produção de seus textos, o que utilizam, que tom deixam
marcados, enfim, tente extrair tudo que puder.
Quanto mais você extrair conhecimento dos escritores brasileiros tanto mais está bem mais preparado na
hora de encontrar uma questão desse perfil.As obras literárias são classificadas de acordo com a época de
sua produção e os elementos que elas apresentam. Assim, em cada período histórico, as obras possuem
características específicas, decorrentes do contexto de produção.

Portanto, as Escolas literárias, ou Estilos de época, são movimentos literários relacionados a


determinado contexto histórico. Desse modo, temos:

o Trovadorismo o Realismo
o Classicismo o Naturalismo
o Quinhentismo o Parnasianismo
o Barroco o Simbolismo
o Arcadismo o Modernismo
o Romantismo o Literatura contemporânea

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QUINHENTISMO (1500 a 1808)
O Quinhentismo ocorreu no século XVI, entre os anos de 1500 a 1601, e tem como marco
histórico-temporal o Brasil colônia (1500 a 1808) e juntamente com o Barroco e com o Arcadismo,
configura esse período colonial brasileiro. Entretanto, ressalta-se que, apesar de a literatura quinhentista
estar associada ao Brasil, tem também uma cosmovisão, ou seja, a visão de mundo e as ambições dos
colonizadores europeus.

1. Breve panorama histórico

o No período das Grandes Navegações, em que Portugal e Espanha, buscar novos mercados, pois a
Itália tinha o monopólio das especiarias indianas na Europa.
o Interesse em novas terras, para explorar matéria-prima, metais preciosos e novos produtos para
comercialização.
o Pedro Álvares Cabral "descobriu" o Brasil, mas não havia a intenção de povoar, apenas intenção de
explorar o país.
o As produções desta escola literária são relatos de viagem e textos descritivos, o objetivo era informar
a corte sobre as características do território encontrado.
o Na Europa, tem-se um grande movimento cultural, advindos de novas descobertas e o
desenvolvimento do comércio, eles viviam um novo momento, o Renascimento. Intensidade de
produção artística e literária, com nomes como Shakespeare, Camões, Leonardo da Vinci e
Michelangelo.
o O rompimento da igreja católica com a Reforma Protestante e a igreja católica reagiu com a
Contrarreforma (catequizar e conquistar novos povos e foi a grande apoiadora das Grandes
Navegações)
o Por esta razão, durante este período também há o desenvolvimento da Literatura Jesuítica, voltada
para catequização dos indígenas, consequência da criação da Companhia de Jesus. A literatura
informativa expõe a conquista material a partir da política das Grandes Navegações (expedições
marítimas dos europeus) em busca de riquezas materiais, como ouro, ferro, prata e madeira. Já a
literatura jesuíta mostra o lado espiritual, o trabalho de catequese e o movimento da Contrarreforma.

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2. Principais características: Literatura informativa
o Exaltação da terra.
o Descrição minuciosa.
o Retrato dos povos indígenas.
o Uso de muitos adjetivos.

Observação: Os textos da literatura quinhentista são históricos, mas não têm características técnicas, pois
indicavam a “Descoberta do Brasil” em 1500, visto que a carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro
documento da literatura no Brasil.

Literatura jesuítica A literatura dos jesuítas ou literatura de catequese foi uma consequência da
Contrarreforma, cuja principal preocupação foi o trabalho de catequese de cunho pedagógico
fundamentado em trechos bíblicos e em cartas que descreviam aos governantes da Europa o seguimento
dos trabalhos na Colônia.

3. Principais autores e produções Pero Vaz de Caminha


o Escrivão da armada de Cabral
o Descreveu toda viagem e descobertas. Ele enviou uma carta ao rei Dom Manuel, considerada a
certidão de nascimento do Brasil, pois foi o primeiro registro escrito no país.
o A carta descritiva da terra, além de expor os rituais, a nudez das índias, a antropofagia (canibalismo)
e o mundo tropical.
o A linguagem desse documento é descritiva e composta pelo uso exagerado de adjetivos, cujo intuito
era expor minuciosamente a terra nova. Padre José de Anchieta
o Grande piahy (supremo pajé branco) produziu a primeira gramática da língua tupi-guarani,
denominada de Arte de Gramática da Língua mais usada na costa do Brasil.
o Objetivo era alfabetizar e ensinar a língua aos nativos.
o Trabalhou a catequese, a ‘desculturalização’ indígena, ou seja, a perda da cultura indígena para a
cultura do homem branco.
o Ele produziu poemas, autos, cartas e sermões sobre a vida de Jesus, utilizando passagens do Velho
Testamento.

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O Barroco ou Seiscentismo (1601/1700) teve como marco inicial a obra de Bento Teixeira, Prosopopeia,
no fim do século XVII e início do século XVIII, na Bahia. O marco final do Barroco foi a fundação da
Arcádia Ultramarina e a publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa.

1. Breve panorama histórico

o Influência da Contrarreforma, que foi a reação da


igreja católica contra a Reforma Protestante, em
que Martin Lutero escreveu as 95 teses contra a
igreja e houve a cisão entre católicos e
protestantes.
o No Brasil, ocorriam alguns conflitos políticos,
pois, após a morte do rei Henrique I, de Portugal,
o rei da Espanha assumiu a corte portuguesa.
o Portugal começou a reajustar sua política
externa, ofendendo os holandeses, que possuíam,
anteriormente, um acordo com Portugal.
o Os holandeses foram os responsáveis pelo
financiamento do ciclo da cana-de-açúcar no
Brasil, além de fazer o refino e a distribuição do
produto na Europa.
o Os holandeses perderam sua participação no
lucrativo negócio açucareiro, eles invadiram
Salvador na tentativa de conquistá-la, mas
falharam. Diante deste contexto de muitos
conflitos, desenvolveu-se o Barroco brasileiro.

2. Principais características
o O passar do tempo.
o Preocupação com a morte.
o Exuberância : Linguagem rebuscada (vocabulário muito culto).
o Uso de dualismo, opostos (céu x inferno, bem x mal, material x espiritual)
o Uso de figuras de linguagem, principalmente antíteses.
o Fugacidade
o Cultismo
o Conseptismo
o Conflito existencial

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3. Temas Frequentes

o Fugacidade da vida e instabilidade das coisas;


o morte, expressão máxima da efemeridade das coisas;
o Concepção do tempo como agente da morte e da dissolução das coisas;
o Castigo, como decorrência do pecado;
o Arrependimento;
o Narração de cenas trágicas;
o Misticismo;
o Apelo à religião

4. Influências
o As produções barrocas eram de difícil interpretação, devido às inúmeras criações com a linguagem.
o O uso de inúmeras figuras de linguagem, que traziam dramatização às obras.
o Influência de duas correntes de pensamento: o cultismo e o conceptismo. O Cultismo (ou
Gongorismo) é o jogo de palavras (palavras difíceis, rebuscadas), já o Conceptismo (ou Quevedismo)
é o jogo de ideias.

5. Principais autores e produções

Gregório de Matos Guerra ou “Boca do Inferno”


o Gregório de Matos Guerra (1636- 1696) é o primeiro poeta brasileiro e o principal nome da literatura
barroca brasileira.
o Poeta baiano conhecido por sua ironia e crítica à Colônia e aos governantes da Bahia.
o Apelidado como “Boca do Inferno”.
o Ele explorou tanto o cultismo quanto o conceptismo.
o A poesia de Gregório de Matos se dividiu em três vertentes: lírica, religiosa e satírica. Poesias lírica e
religiosa:
o O conflito: perdão versus pecado; fé versus razão;z
o O idealismo renascentista;
o A procura pela pureza da fé, mas relacionada à necessidade de viver a vida mundana. Poesia satírica:
o Critica, através de uma postura moralista, o governo português, El-Rei Dom Manuel e o clero.
o Rebaixamento de todas as classes sociais da Bahia do século XVII.
o Sentimento de nativismo, ou seja, a oposição entre a exploração lusitana (que vive ou nasceu em
Portugal) e ao que era brasileiro.

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Padre Antônio Vieira
o Antônio Vieira (1608/1697) nasceu em Lisboa, mas, aos sete anos, mudou-se para a Bahia.
o Ele publicou profecias, sermões e cartas de cunho crítico aos pregadores.
o Escreveu de forma pedagógica a partir do conceptismo (ou quevedismo), segundo os ensinamentos
de retórica dos jesuítas. Uma das mais conhecidas obras de Vieira é o Sermão da Sexagésima ou A
palavra de Deus (1655) foi pregado na Capela Real de Lisboa (1655) e tem como características:
o O resumo a arte de pregar.
o A temática religiosa.
o A centralização da própria forma de fazer sermões.
o A racionalidade e jogos de ideias.
o A escrita em prosa.
o Padre Antônio Vieira possui uma vasta obra literária desde poemas, cartas, sermões e romances.
o Foi responsável pelo desenvolvimento da prosa barroca em Portugal e no Brasil.
o Escreveu em estilo conceptista, cerca de 200 sermões dos quais se destacam:

o Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda (1640)
o Sermão dos Bons Anos (1642)
o Sermão do Mandato (1645)
o Sermão de Santo António aos Peixes (1654)
o Sermão da Quinta Dominga da Quaresma
o Sermão da Sexagésima (1655)
o Sermão do Bom Ladrão (1655)

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ARCADISMO ( 1768 - 1808 )
ARCADISMO BRASILEIRO
O Arcadismo ou Setecentismo (1768/1808) teve seu início no século XVIII, em Minas Gerais, com a
fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação de Obras de Cláudio Manuel da Costa.

Breve panorama histórico


➔ A Europa vivia um momento novo com inúmeros movimentos libertários, como, por exemplo, o
Iluminismo.
➔ Movimento criticava a monarquia absolutista e tinha apoio da burguesia, que possuía interesses
econômicos com essa mudança de regime.
➔ Neste período, muitos estudiosos ganharam destaque, como: John Locke: defendia a liberdade e
condenava o absolutismo. Montesquieu: defendia uma monarquia moderada. Rousseau: defendia
um governo com base democrática, em que o poder emanava do povo. Adam Smith: mais
conhecido como o pai do liberalismo, este estudioso defendia a liberdade econômica e política dos
particulares, sem nenhuma intervenção do Estado.
➔ Ocorreu a Revolução Francesa, que foi um movimento popular, com grandes consequências
históricas e sociais.
➔ Revolta do terceiro estado (burgueses, camponeses, trabalhadores urbanos, entre outros) com os
problemas econômicos e os privilégios do primeiro (bispos e clero) e do segundo (nobreza)
estados.
➔ Surgimento da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que reivindicava a liberdade do
povo francês, definia os direitos dos homens, afirmando que não eram mais súditos do rei.
➔ Neste período, destaca-se a figura de Napoleão Bonaparte, general da Revolução, que se tornou,
posteriormente, imperador da França.
➔ Ápice com a Revolução Industrial, que ocorreu a mudança na forma de produzir, trocando o
trabalho manual, para o trabalho de maquinas, isto é, da manufatura para a maquinofatura.
➔ No Brasil, o foco das produções se torna Minas Gerais, pois, nesse período, há um novo ciclo
econômico: o clico da mineração.
➔ A extração e a exportação do ouro era a principal atividade econômica do Brasil.
➔ A Coroa portuguesa cobrava impostos muito altos e isso fez com que a população se revoltasse.
➔ Formou-se o grupo da Conjuração Mineira, com a figura de Tiradentes como representante e líder
da Inconfidência Mineira.

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Segundo o crítico Alfredo Bosi, houve dois momentos do Arcadismo no Brasil:
a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização da natureza e da
mitologia.
b) ideológico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta
aos abusos da nobreza e do clero.

2. Principais características
o Imitação dos clássicos.
o Ausência de subjetividade- não é externado o sentimento, isso é feito de forma discreta.
o Amor galante, respeitoso.
o Bucolismo – palavra que significa “o homem em harmonia com a natureza”.
o Pastorialismo.
o Uso de pseudônimos (nomes fictícios). Vale ressaltar alguns formalismos latinos que serviram de
inspiração para os poetas árcades:
o Fugere Urbem – fugir da cidade; valorização da vida no campo e a busca pela vida simples;
o Inutilia Truncat – acabar com as inutilidades, ou seja, em contraposição ao rebuscamento e exagero
na literatura barroca;
o Locus Amoenus – destaca o refúgio ameno, ou seja, o ambiente pastoril, ou bucólico, é prazeroso;
o Carpe Diem – gozar e aproveitar o dia sem preocupações.

3. Principais autores e produções


A poesia do Arcadismo brasileiro dividiu-se em três correntes:
o poesia lírico-amorosa: trabalha a relação entre o “eu lírico pastor” e sua amada;
o poesia épica: retrata a aproximação do europeu e o indígena e expõe a história do Brasil;
o poesia satírica: ironiza e critica a realidade política da época.
o Cláudio Manuel da Costa (Glauceste Satúrnio) e Tomás António Gonzaga (Dirceu)

Cláudio Manuel da Costa (1729- 1789) Também conhecido como o "guardador de


rebanhos" Glauceste Satúrnio, seu pseudônimo, Cláudio Manoel da Costa (1729-1789) nasceu na cidade
de Mariana, em Minas Gerais. Autor do livro Obras poéticas (1768), marco inicial do Arcadismo
brasileiro.

o O poema épico Vila Rica (1773) narra a história da atual Ouro Preto desde a sua criação, retrata a
Inconfidência Mineira e a colonização de Minas Gerais.

Características do autor:
o bordou temas Religioso.
o Retratou temas ligados à vida na mineração do ouro..
o Ênfase na cultura clássica (neoclassicismo).
o Presença, em seus poemas, de linguagem clara, racional e repleta de emoção.
o Amor idealizado e valorização da natureza.
o Poesia lírica.

15
o Cultiva a simplicidade, a poesia bucólica e pastoril
o A inquietação amorosa platônica e Nize, sua musa mais frequente.
o O cenário rochoso de Minas é uma constante em seus versos que expressam mortificação interior
causada pelo contraste entre o rústico mineiro e a experiência cultural europeia.

Seus sonetos, de cadência camoniana, se destacam pela perfeição formal, linguística, pelo verso
decassílabo e pela contemplação da vida

Em Obras poéticas, são apresentadas:


o reflexões sobre as contradições da vida e sobre questões morais;
o a poesia é descrita a partir da linguagem simples e pastori;
o a natureza é um refúgio;
o os sonetos são perfeitos na forma e na linguagem;
o a presença da figura de pastoras e o sofrimento amoroso e é trabalhado a partir da poesia lírica.

Tomás António Gonzaga (1744-1810) escreveu a obra Marília de Dirceu (1792), que é um
monólogo, visto que Marília é o tema central e quase sempre um vocativo.
o Ressalta-se a simplicidade versus a materialidade.
o A obra Cartas Chilenas (1789) apresenta poemas satíricos expostos em Vila Rica pouco antes da
Inconfidência Mineira, visto que a linguagem é agressiva.

Principais características do estilo literário:


o Apresentou, em suas poesias, importantes aspectos da Literatura neoclássica.
o Presença de lirismo e subjetivismo em suas obras.
o Presença do modo de vida ideal ligado ao campo (zona rural).
o A mulher amada (no caso Marília) é divinizada.
o Modo de vida ligado ao aproveitamento do “hoje” (carpe diem).
o Presença de sentimentos intensos (amor, ciúmes, paixão, etc.).
o A vida em Vila Rica de sua época é retratada de forma real.

Em Marília de Dirceu (1792), são apresentadas duas partes:


o amorosa - postura patriarcal; namoro.
o sofrimentos - reflexões sobre a justiça; inquietações provocadas pela cadeia; sentimento de Dirceu
(pseudônimo árcade) pela pastora Marília.

Basílio da Gama (Termindo Sipílio) e Santa Rita Durão

Basílio da Gama (1741-1795) conhecido pelo pseudônimo Termindo Sipílio livrou-se do exílio
ao escrever um poema à filha de Marquês de Pombal.
O memorável poema épico, o Uraguai (1769) tem como tema a luta iniciada pelas tropas portuguesas,
auxiliadas pelos espanhóis, contra os índios e jesuítas nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul.

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O poema épico, Uraguai (1769), apresenta as seguintes características:
o a defesa e a exaltação a política de Marquês de Pombal;
o crítica aos jesuítas;
o narrativa em forma de poema com versos decassílabos;
o influência da obra de Luís de Camões

Santa Rita Durão (1722-1784) escreveu o poema épico Caramuru (1781), que descreve o
descobrimento e a conquista da Bahia, por Diogo Álvares Correia, português vítima de um naufrágio no
litoral baiano e viveu entre os Tupinambás.

O poema épico Caramuru (1781) tem como características:


o a exaltação da terra brasileira;
o a valorização da vida mais natural, ou seja, a admiração pela pureza;
o influência da obra camoniana;
o informações sobre os povos indígenas.

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ROMANTISMO
O Romantismo é um estilo de época do século XIX. Ele surgiu no contexto histórico da Revolução
Francesa, iniciada em 1789. Assim, com a ascensão da burguesia, a ideia de liberdade individual tomou
força, o que muito contribuiu para o egocentrismo romântico. Outro fato histórico importante foram as
conquistas napoleônicas, que acabaram despertando, nos países invadidos, um forte sentimento
patriótico.

1. Breve panorama histórico:


o Durante o século XIX a Europa vivia as consequências dos levantes populares que surgiram na
França, consequências da Revolução Francesa. Durante a era napoleônica, os países vizinhos, com
medo dos ideais revolucionários e da queda da monarquia, uniram-se contra a França.
o A principal disputa era entre França e Inglaterra, pois os ingleses eram um empecilho para a
expansão territorial de Napoleão.
o Portugal buscava manter uma postura neutra, mas os franceses pressionavam os portugueses para
cortar as relações diplomáticas com a Inglaterra.
o Com medo das invasões napoleônicas no país, a corte portuguesa decidiu vir ao Brasil em 1808.
o No Brasil, os portugueses se instalaram no Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
o Houve muitas mudanças econômicas neste período, como a abertura dos portos brasileiros e o
desenvolvimento comercial e econômico.
o Houve o aumento dos impostos e muitas interferências administrativas. Portugal também estava
insatisfeito com essa transferência da corte ao Brasil. Diante desses conflitos, declarou-se a
Independência do Brasil em 1822.

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2. Valores:
o Contexto histórico conturbado e pelas inúmeras mudanças sociais.
o Novo sentido de vida. Os novos padrões econômicos, a livre iniciativa e competição, fim dos
privilégios da nobreza.
o As diferenças entre a nobreza e a burguesia passam a ser sutis, o que traz conflitos sociais.
o É importante destacar que neste período surgiu um novo público leitor e uma forma individualista de
pensamento.

3. Influências:
o O mito do bom selvagem de Jean Jacques Rousseau. Acreditava-se que o homem era bom, puro e
inocente em seu estado natural, a sociedade que o corrompia.
o Movimento Sturm und Drang (tempestade e ímpeto), que surgiu na Alemanha, para valorização do
nacional e do popular.
o Publicação do romance O sofrimento do jovem Werther de Goethe, que externava força de uma
paixão. Este livro traduzia tamanho sofrimento do jovem que, impedido de viver um amor, comete
suicídio. Este livro foi proibido durante muitos anos na Europa.

4. Características do Romantismo
o Oposição ao modelo clássico;
o Estrutura do texto em prosa, longo;
o Desenvolvimento de um núcleo central;
o Narrativa ampla refletindo uma sequência de tempo;
o O indivíduo passa a ser o centro das atenções;
o Surgimento de um público consumidor (folhetim);
o Uso de versos livres e versos brancos;
o Exaltação do nacionalismo, da natureza e da pátria;
o Idealização da sociedade, do amor e da mulher;
o Criação de um herói nacional;
o Sentimentalismo e supervalorização das emoções pessoais;
o Subjetivismo e egocentrismo;
o Saudades da infância;
o Fuga da realidade.

4.1. Principais características do Romantismo brasileiro


o Rompimento com a tradição clássica;
o Amor platônico, idealismo;
o Idealização da mulher;
o Subjetivismo e egocentrismo;
o Indianismo (tema do índio);
o Nacionalismo e ufanismo;
o Culto à natureza;
o Sentimentalismo exacerbado;

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o Maior liberdade formal;
o Religiosidade;
o Evasão e escapismo
o Idealização - No Romantismo a visão do real não é tão buscada. Retrata-se um mundo do “como
deveria ser” e não do “como é”. Os cenários e as personagens são desenhados de maneira a
ressaltar estereótipos tidos como ideais. A mulher: retratada como um anjo, frágil, delicada,
bonita. Mundo: é um lugar construído oniricamente, com base no sonho. Natureza: lugar de paz e
tranquilidade, mas que reflete os sentimentos do poeta.

5. Principais autores e produções

Primeira geração .

Poesia romântica Primeira geração – Nacionalista /Indianista

A primeira geração romântica no Brasil, com duração aproximada de 1836 a 1853, é chamada
de indianista ou nacionalista. Portanto, apresenta, como símbolos de nacionalidade, a figura heroica
do índio e o espaço da floresta. As poesias dessa geração também trazem o sofrimento amoroso e a
idealização da mulher.

Características:
o Conhecida como nacionalista ou indianista.
o Saudade da pátria.
o O indígena como herói nacional
o Exaltação da pátria através da natureza.
o Exaltação da liberdade
o Religiosidade
o Sentimentalismo

Autores:
Gonçalves de Magalhães, que marca o início do romantismo com a obra "Suspiros poéticos e
saudades" Gonçalves Dias como principal nome da poesia indianista.

Suspiros Poéticos e Saudades


Obra poética antilusitana, posto que o Brasil passava pelo processo de emancipação política, marcada
pela Independência do país, proclamada em 1822. Dessa forma, em sua obra o autor enfoca o patriotismo,
nacionalismo, o individualismo e o sentimentalismo, mediadas por temas como a idealização da natureza
e da infância, sendo assinalada pelo sentimento de saudade e nostalgia de seu país de origem

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Segunda geração: Mal-do-século .

A metade do século XIX marca uma importante mudança no pensamento artístico nacional: o modelo de
sociedade burguesa já não atende mais aos anseios da juventude, que se desinteressa pela vida
político-social. Apesar do crescente desenvolvimento urbano, a jovem vida acadêmica dos grandes
centros afasta-se dos princípios burgueses consagrados pelo romantismo. Desta forma, o nacionalismo e o
indianismo entram em declínio e o descontentamento com a vida burguesa torna-se evidente, gerando
uma atitude pessimista, entediada, à espera da morte.
O protesto contra o mundo burguês e suas relações sociais, dá origem a uma lírica voltada para a
subjetividade, para o individualismo, baseada na confissão e no transbordamento dos sentimentos
interiores. Essa nova geração, influenciada pelo inglês Byron e pelo francês Musset, prega a rebeldia
moral, a recusa do entediante cotidiano burguês e a busca de novas formas sentimentais.

Características:
o Chamada de mal-do-século ou byroniana, isso se deve às influências do poeta inglês George Byron.
Associados as expressões de tédio, mau humor e melancolia, características ultrarromânticas.
o Estilo de vida boêmio, a maioria desses autores contraiu tuberculose.
o Temáticas associadas a questões como a dúvida, a morte e a fuga para a infância.
o Para esses poetas, viver dói, seus poemas são repletos de sofrimento e tédio.
o Presença constante e até exagerada do sentimentalismo.
o Valorização de imagens e cenas ligadas à noite. Relação com temas fúnebres.
o A mulher, quando retratada, é distante e idealizada pelo poeta.
o Valorização da vida boemia.

Autores: Fagundes Varella, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo foram os autores
da segunda geração romântica na poesia, com destaque para os dois últimos.

Fagundes Varela (1841-1875)

Fagundes Varela foi um poeta brasileiro. Sua poesia apresenta características da segunda e da terceira
geração de poetas românticos do Brasil.
Além de apresentar temas sobre a natureza, a angústia, a solidão, a melancolia e o desengano, apresenta
também temas sociais e políticos. É patrono da cadeira n.º 11 da Academia Brasileira de Letras.

Fagundes Varela é considerado o poeta da natureza, é o autor que melhor a reproduz nos versos da
literatura brasileira. Sua obra é repleta de um lirismo bucólico. Sua obra poética, embora ainda presa a
certas atitudes ultrarromânticas, da segunda geração, como o pessimismo, a solidão e a morte, aponta
novos rumos, que conduzem à geração seguinte.

A poesia de Fagundes Varela além de ser um lamento sentimental ou uma queixa amorosa passa a ser
também um grito de protesto ou de reivindicação social. É considerado o precursor da poesia social e
abolicionista.

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Em 1860 mudou-se para São Paulo, ingressou na Faculdade de Direito no Largo São Francisco e
participou da vida boêmia da cidade.
Em 1863 nasceu seu filho Emiliano, que morreu em dezembro, com apenas três meses de vida. A morte
do filho lhe inspirou seu mais famoso poema "Cântico do Calvário", um dos momentos mais sublime
de sua produção literária:
Em 1865, Fagundes Varela mudou-se para o Recife e ingressou na Faculdade de Direito,
quando presenciou a onda de nacionalismo ali desencadeada. Nesse mesmo ano, com a morte da esposa,
voltou para São Paulo.
Em 1866 retornou para a Faculdade de Direito de São Paulo, mas pouco frequentou as aulas. Nessa
ocasião, Fagundes renunciou aos estudos definitivamente e voltou para a sua casa paterna.
Em 1869 casou-se com sua prima Maria Belisária Lambert. Da união nasceram duas filhas, Lélia e Rute.
Fagundes levava uma vida boemia e era visto muitas vezes embriagado.
Fagundes Varela faleceu precocemente, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, no dia 18 de fevereiro de
1875, com apenas 33 anos.

A obra de Fagundes Varela pode ser separada de acordo com os temas abordados:
o Sofrimento: a dor confere a Fagundes Varela uma notável inspiração poética, como no poema
“Cântico do Calvário”, dedicado ao filho e publicado na obra “Cantos e Fantasias”. Sua alma solitária
é retratada no poema “Tristeza”.
o Natureza: Fagundes Varela destacou-se por suas poesias de cunho lírico associado à natureza,
publicadas obra “Cantos Meridionais”, como no poema "Flor do Maracujá".
o Religiosidade: o espírito religioso de Fagundes Varela quase atinge a contemplação mística como na
obra “Anchieta ou O Evangelho na Selva” na qual se observa a mais pura inspiração bíblica. Nela,
Varela relata a narração feita pelo missionário, aos índios, sobre a vida e a paixão de Cristo. É dele o
poema "A Dança de Salomé".

Álvares de Azevedo (1831-1852)

Foi um poeta, escritor e contista da Segunda Geração Romântica brasileira. Suas poesias retratam o seu
mundo interior. É conhecido como "o poeta da dúvida". Fez parte dos poetas que deixaram em segundo
plano os temas nacionalistas e indianistas usados na Primeira Geração Romântica e deixou-se levar por
um profundo dilema e angústia.

Seus poemas falam constantemente do tédio da vida, das frustrações amorosas e do sentimento de morte.
A figura da mulher aparece em seus versos, ora como um anjo, ora como um ser fatal, mas sempre
inacessível.
Em 1848, com 16 anos, Álvares de Azevedo voltou para São Paulo e iniciou o curso de Direito na
Faculdade do Largo de São Francisco. Toda sua obra poética foi escrita durante os quatro anos que cursou
a faculdade. O sentimento de solidão e tristeza refletidos em seus poemas era de fato a saudade da família
que ficara no Rio de Janeiro.
Em 1852, Álvares de Azevedo adoeceu e abandonou a faculdade um ano antes de completar o curso de
Direito. Vitimado por uma tuberculose e sofrendo com um tumor, Álvares de Azevedo foi operado, mas
não resistiu.

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Álvares de Azevedo faleceu no dia 25 de abril de 1852 com apenas 20 anos de idade. Não concluiu os
estudos nem viu sua obra reunida em livro.

Características:
o Os principais temas abordados em suas obras foram: morte, amor idealizado, mulheres enigmáticas,
fantasias, sonhos, dor, sofrimento e recordações da irmã e da mãe;
o Primeiro poeta a se manifestar eroticamente, apresentando a problemática do sexo, num sentido
paradoxal: o medo de amar impede-o de amar (profundo desejo de amar);
o O amor platonizado e com tendência erótica;
o O reflexo dramático do adolescente;
o Contraste entre o sonhar o amor e a fuga de sua posse;
o A crítica jocosa ao amor romântico;
o A poesia o desespero e da profunda intuição da morte próxima;
o Última frase de Álvares de Azevedo: “Que fatalidade, meu pai”;
o Mágoa profunda – “mal do século”.

Terceira geração – Condoreira: .

A Terceira Geração Romântica no Brasil é o período que corresponde de 1870 a 1880. Conhecida como
"Geração Condoreira", uma vez que esteve marcada pela liberdade e uma visão mais ampla,
características da ave que habita a Cordilheira dos Andes: Condor.
Nesse período, a literatura sofre forte influência do escritor francês Victor-Marie Hugo (1802-1885)
recebendo o nome de "Geração Hugoniana".

Casimiro de Abreu
Casimiro de Abreu (1839-1860) foi um poeta brasileiro, autor da obra Meus Oito Anos, um dos poemas
mais populares da literatura brasileira, que se destacou na Segunda Geração do Romantismo

Desde cedo, Casimiro de Abreu despertou interesse pela literatura e divergia de seu pai, que queria
levar o filho para seguir a carreira de comerciante.

No dia 13 de novembro de 1853, por não se adaptar ao trabalho no comércio do pai, no Rio de janeiro, foi
enviado para Lisboa, a fim de completar a prática comercial. O austero pai achava que lá, ele perderia as
tendências literárias.
Casimiro de Abreu viveu quatro anos em Portugal, onde iniciou sua carreira literária e escreveu a maior
parte de seus poemas.
Em 11 de julho de 1857, Casimiro de Abreu voltou ao Rio de Janeiro. Com a saúde abalada pela
tuberculose, partiu para Indaiaçu, fazenda da família, às margens do rio São João.
Depois de um mês de repouso, Casimiro voltou constrangido ao comércio do pai, que insistia em torná-lo
comerciante.
Em 1859, Casimiro de Abreu publicou seu único livro de poemas, "Primaveras", onde a maior parte das
poesias foi escrita em Lisboa. Suas poesias foram recebidas com entusiasmo, sobretudo pela juventude
feminina.

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No poema, Meus Oito Anos, o poeta expressa na arte o subjetivo desejo de retornar à infância. Sente
saudade do tempo que passou e não volta mais.

Meus Oito Anos


Oh! que saudades que tenho
Da aurora de minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Casimiro de Abreu faleceu com apenas 21 anos de idade, na Fazenda Indaiaçu, no atual município de
Casimiro de Abreu, Rio de Janeiro, no dia 18 de outubro de 1860.
Casimiro de Abreu desenvolveu em sua obra os temas do Romantismo: o amor, a saudade da infância, a
tristeza da vida e a saudade de sua pátria.
Simplicidade e pureza são as tônicas de suas poesias, razão pela qual é considerado "o mais ingênuo de
nossos poetas.

Características:
o Conhecida como “Geração Condoreira”, uma analogia à ave condor, que possui uma visão ampla e
liberdade no voo.
o O metro poético está mais presente do que o conteúdo, - A sonoridade supera a razão;
o O metro é bastante musical.;
o O erotismo aparece disfarçado pela ternura;
o Não é um poeta de pensamento, de voos de ideia;
o Nada tem de filosófico. Apenas é sentimental;
o Sua imaginação não mistifica a realidade;
o Chamado por Antônio Cândido de Poeta Menor
o Temática preferida são a saudade da pátria, do quadro da infância, poema amorosos e líricos, certo
pendor religioso.

Castro Alves (1847-1871)

Castro Alves foi um poeta brasileiro, representante da Terceira Geração Romântica no Brasil. "O Poeta
dos Escravos" expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. É
patrono da cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras.
No período em que viveu (1847-1871), ainda existia a escravidão no Brasil. O jovem baiano, simpático e
gentil, apesar de possuir gosto sofisticado para roupas e de levar uma vida relativamente confortável, foi
capaz de compreender as dificuldades dos negros escravizados. Manifestou toda sua sensibilidade
escrevendo versos de protesto contra a situação a qual os negros eram submetidos. Esse seu estilo
contestador o tornou conhecido como o “Poeta dos Escravos”.
Aos 21 anos de idade, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, o “Navio
Negreiro”. A contragosto, os fazendeiros ouviram-no clamar versos que denunciavam os maus tratos aos
quais os negros eram submetidos. Além da poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu

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versos lírico-amorosos, seguindo o estilo de Vítor Hugo. Pode-se dizer que Castro Alves foi um poeta de
transição entre o Romantismo e o Parnasianismo.
Castro Alves morreu ainda jovem, antes mesmo de terminar o curso de Direito que iniciara, pois, vinha
sofrendo de tuberculose desde os seus 16 anos. Apesar de ter vivido tão pouco, este notável escritor
deixou livros e poemas significativos. É considerado um dos grandes nomes da terceira geração do
Romantismo brasileiro.

Características:
o Eloquência
o Utilização de hipérboles, de antítese;
o Uso de muitas metáforas e comparações grandiosas e diversas figuras de linguagem;
o Sugestão de imagens e do apelo auditivo
o O poeta também faz referência a diversos fatos históricos ocorridos no país, tais como a
Independência da Bahia, a Inconfidência Mineira (presente na peça O Gonzaga ou a Revolução de
Minas);
o Forte apelo que o autor fazia às questões da natureza. Significava a valorização dos sentidos na
captação do que é real, na sua forma pura. apelo à natureza;
o O sensualismo também era muito bem abordado nos enredos que descreviam o amor físico, com forte
insistência aos detalhes mais eróticos.

Navio Negreiro - Características da Obra


O Navio Negreiro um poema épico dramático dividido em seis partes. Nessa obra, Castro Alves relata as
condições dos navios negreiros, os quais traziam escravos africanos para o Brasil.
Sentimento de liberdade, nacionalismo ufanista, denúncia social e busca de uma identidade nacional, são
algumas das principais caraterísticas da poesia abolicionista de Castro Alves. Além de descrever aspectos
do navio de escravos, Castro Alves apresenta também a natureza circundante (o mar, o céu, o luar).
Numa narrativa vibrante e com uma linguagem expressiva, o autor vai aos poucos denunciando as
precárias condições dos escravos. Dessa forma, ele vai tecendo diversas críticas a esse sistema tão
desumano. Para compor essa obra dramática ele utiliza diversas figuras de linguagem: metáforas,
comparações, personificação, anáforas, dentre outras.

Poesia Lírico Amorosa


A poesia lírico-amorosa está associada ao período em que o poeta esteve envolvido com a atriz
portuguesa Eugênia Câmara. Assim, a virgem idealizada dá lugar a uma mulher de carne e osso e
sensualizada. No entanto, o poeta ainda é um jovem inocente e terno em face a sua amada corporificada e
cheia de desejo.
Seus poemas mais famosos dessa fase estão presentes em sua primeira publicação, Espumas
Flutuantes (1870), conjunto de 53 poemas que versam sobre a transitoriedade da vida frente à morte,
sobre o amor no plano espiritual e físico, que apela para o sentimental e para o sensual e sensorial. Além
disso, o romance com a atriz portuguesa acendeu no poeta o desejo de escrever sobre esperança e
desespero.

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Prosa Romântica
A Prosa Romântica surgiu na Alemanha no século XIX, com “Os sofrimentos do jovem Werther”, de
Goethe. Apesar de iniciada na Alemanha, a maior divulgação da prosa romântica partiu da França
(detalhe: a França era o país na Europa que tinha se livrado do Absolutismo, colocando a burguesia no
poder político e econômico, sendo o Romantismo uma arte DA burguesia, feita PELA burguesia e feita
PARA a burguesia, a França foi onde mais obteve sucesso a linguagem romântica).A divulgação das
prosas românticas se dava periodicamente, juntamente com os jornais, nos chamados folhetins. Tais
folhetins podem ser comparados, hoje, às novelas televisivas, por atrair a atenção e a expectativa do
público para a continuação da trama, que era pouco complexa, satisfazendo a vontade do pouco exigente
público leitor. Romance, apesar do nome, não é uma história de amor (pode ser em torno de uma história
de amor, mas nem sempre): romance é uma narrativa (o romance consolidou o gênero narrativo) longa
que apresenta vários personagens envolvidos entre si por uma trama, composta de conflitos.
Considera-se que a publicação do romance “A Moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo, em 1844,
marca o início da prosa romântica brasileira. O livro é considerado o primeiro romance tipicamente
brasileiro, pois traçou um perfil dos hábitos da juventude burguesa carioca.
No entanto, as gerações de poetas românticos dividiram os holofotes com os romancistas, que
produziram quatro tipos de romance. O romance urbano é melodramático e apresenta amor e mulher
idealizados. O espaço da narrativa é o Rio de Janeiro, no qual os personagens reproduzem os costumes,
isto é, o estilo de vida da elite burguesa.
O romance urbano foi o que melhor atendeu às necessidades da burguesia, pois retratava sobre a vida
cotidiana, pondo em discussão os valores morais vividos na época. Com isso, há uma enorme
consolidação e amadurecimento desse gênero no Brasil, principalmente, porque esse influenciará
posteriores movimentos literários que abordam sobre o ambiente urbano.
Obras: A Moreninha, Lucíola, Senhora, Memórias de um Sargento de Milícias.
Principais autores: Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio Almeida e José de Alencar.

Características
o Descrição de costumes da sociedade carioca, suas festas e tradições (jovens idealizados, moçoilas
casadoiras ingênuas e puras);
o Linguagem simples;
o Tramas fáceis;
o Pequenas intrigas de amor e mistério;
o Um final feliz com a vitória do amor.

O romance indianista faz parte do projeto de construção de uma identidade artística brasileira. Dessa
forma, o herói ou heroína é indígena. O cenário para a história de amor e para as aventuras dos
personagens é a floresta brasileira. É realizada uma reconstituição do passado histórico, em que a
miscigenação ocorre de forma harmoniosa entre portugueses e indígenas. Principais obras: Iracema e O
Guarani. Principais autor: José de Alencar.

No romance regionalista, o homem do campo, ignorante e rude, é o herói nacional. Os personagens


reproduzem a fala típica de regiões do Brasil. As características de uma sociedade rural e patriarcal são
apresentadas às leitoras e leitores urbanos. O romancista tem o objetivo de mostrar o Brasil aos
brasileiros. E, assim como no romance urbano, o par romântico precisa vencer um obstáculo para alcançar

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a felicidade amorosa. Entre as principais obras, podemos destacar “Inocência” e “Retirada da Laguna” de
Visconde de Tauany; “O gaúcho”, de José de Alencar e “O Cabeleira”, de Franklin Távora

Principal autores: Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távola e José de Alencar.

Enfim, o romance histórico, assim como os três tipos de romance citados anteriormente, também
apresenta amor e mulher idealizados. Contudo, o que o caracteriza é a presença de fatos e personagens
históricos relacionados à temática principal. Desse modo, realidade e ficção se misturam, já que fatos e
personagens fictícios também fazem parte da obra. Principal autor: José de Alencar.

Características:
o Nacionalismo
o Subjetivismo
o Ufanismo
o Idealização da mulher
o Religiosidade
o Culto à natureza
o Amor platônico
o Idealismo
o Estética nativista
o complicação sentimental ou conflito amoroso envolvendo uma ou várias personagens;
o tensão bem versus mal, numa forma bem maniqueísta de se ver a vida (o maniqueísmo diz que o
mundo é composto de coisas boas e coisas más, sem meio-termo). O mal pode ser representado em
pessoas ou em situações que criem um impedimento ao herói da narrativa;
o personagens lineares (planas) ou idealizadas, que não entram em conflito interno, não apresentam
profundidade psicológica, sendo previsíveis e não alterando seu comportamento ao longo da trama
(o oposto de personagem linear é personagem esférica – não tem nada a ver com seu peso, que é a
personagem que muda seu comportamento durante a trama. Poucos romances românticos
apresentam personagens esféricas).
o triunfo do bem sobre o mal (geralmente um final feliz, podendo ser um final trágico – poucas
ocorrências).

José de Alencar
José de Alencar (José Martiniano de Alencar), advogado, jornalista, político, orador, romancista e
teatrólogo, nasceu em Messejana (atual bairro de Fortaleza), CE, em 1º de maio de 1829, e faleceu no Rio
de Janeiro, RJ, em 12 de dezembro de 1877. É o patrono da cadeira n. 23, por escolha de Machado de
Assis. Foi uma figura multifacetada, exerceu sua profissão de advogado e atuou na política elegendo-se
Deputado Estadual do Ceará (1861). Foi também chefe da Secretaria do Ministério da Justiça (1859) e
Ministro da Justiça (1868-1870).

Joaquim Manuel de Macedo


Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) foi um escritor brasileiro. A Moreninha, sua obra-prima, deu
origem ao romance romântico brasileiro. Foi preceptor dos netos do Imperador Pedro II. É Patrono da
cadeira nº. 20 da Academia Brasileira de Letras.

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Nasceu em Itaboraí, Rio de Janeiro, no dia 24 de junho de 1820. Formou-se em Medicina em 1844, e no
mesmo ano publicou o romance “A Moreninha”, que foi muito apreciado pelo público da época. Em 1849
fundou a “Revista Guanabara”, juntamente com Gonçalves Dias e Porto Alegre.
A obra de Macedo pode ser vista como uma crônica do seu tempo, que retratava com fidelidade a
sociedade brasileira do século XIX. A temática restringe-se aos costumes da classe da pequena burguesia
do império, os saraus familiares, namoros de estudantes, mucamas alcoviteiras, comadres, negociantes e
funcionários públicos, sempre em volta com o amor como problema central de uma sociedade cujos
interesses giravam em torno do casamento.

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REALISMO
Ocorre na segunda metade do século XIX. Sequência do Romantismo.

O realismo foi uma escola estética com expressões em diversos campos da arte, como a literatura, as artes
plásticas e a dramaturgia. Surgiu na segunda metade do século XIX, em oposição à estética do
romantismo. Valorizava a objetividade, o factual e as situações cotidianas.
Como o próprio nome sugere, essa manifestação cultural significou um olhar mais realista e objetivo
sobre a existência e as relações humanas, surgindo como oposição ao romantismo e sua visão idealizada
da vida.

Breve panorama histórico:


➔ Segunda metade desse século, tendo seu início, na França, com a publicação, em 1857, de Madame
Bovary, romance de Gustave Flaubert.
➔ Reflexos e consequências dos eventos passados. A título de exemplo, a própria Revolução Francesa,
que foi o marco para o crescimento da burguesia na sociedade, somada às mudanças que estavam em
desenvolvimento, como a 2ª Revolução Industrial.
➔ A consolidação do sistema capitalista, o êxodo rural (pessoas migrando do campo para os centros
urbanos em busca de melhores condições de vida) e o desenvolvimento de correntes filosóficas e
científicas;
➔ Perspectiva mais racional a respeito da sociedade e do homem, propagadas por estudiosos como
Marx e Engels, Auguste Comte, Darwin, Hippolyte Taine, entre outros.
➔ O fortalecimento da burguesia decorrente da Revolução Francesa e a Revolução Industrial, emergiu
também muitos problemas sociais
➔ Revoltas populares, como o movimento operário. O que explica essas revoltas nada mais é que o
sentimento de fracasso frente aos ideais da própria Revolução Francesa (“liberdade, igualdade e
fraternidade”)

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➔ A frustração do trabalhador que saiu do campo para a cidade em busca de melhorias. Contudo,
deparou-se com um regime precário de serviço e vida, com baixos salários e longas jornadas de
trabalho.
➔ Caráter íntimo entre literatura e história, o escritor realista do século XIX na Europa e,
posteriormente, no Brasil, desenvolveu sua escrita e seu pensamento crítico considerando todos esses
fatos.
➔ o Realismo surgiu em contraposição ao idealismo romântico, estabelecendo uma visão mais crítica e
racional sobre a sociedade e o mundo ao retratar a vida.
➔ Em 1881, Machado de Assis lança o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, marcando o início do
Realismo no Brasil.
➔ O Brasil do fim de século era um país em que as ideias liberais e abolicionistas estavam ganhando
força.
➔ Em 1888, ocorreu a assinatura da Lei Áurea, abolindo a escravatura e, em 1889, a Proclamação da
República do Brasil.
➔ Rompimento, por exemplo, com o “eu” e instaurando um retrato típico e universal da sociedade,
tendo a temática social como objeto de inspiração e constatação.
➔ O período sócio literário tem como um dos valores o engajamento social e político; pois tecia críticas
à sociedade burguesa e instituições sociais.
➔ Momento influenciado por teorias filosóficas e científicas. Em destaque a teoria de Auguste Comte, o
positivismo.
➔ O pensamento positivista, resumidamente, enfatiza a importância do conhecimento científico para um
progresso.
➔ A influência era tanta que, quando foi proclamada a república no Brasil e substituída a bandeira do
império, o país adotou uma bandeira com o lema inspirado no pensamento de Comte, que se mantém
até os dias atuais, sendo este: “Ordem e Progresso”.

Influências:
o Segunda fase da Revolução Industrial;
o Questão Coimbrã;
o Teorias científicas e filosóficas (positivismo, evolucionismo, determinismo, socialismo e etc.);
o O Determinismo, citado acima, faz com que o Realismo e o Naturalismo se misturem, tendo sido, por
muito tempo, consideradas uma mesma Escola Literária no Brasil. Essa característica comum,
entretanto, recebe contornos diferentes nas duas estéticas. O Determinismo realista explica os
comportamentos humanos por meio da observação psicológica enquanto o Determinismo naturalista
por meio da observação patológica e biológica.
o A Guerra do Paraguai, a assinatura da Lei Áurea, a substituição da mão de obra escrava pela
assalariada (principalmente dos imigrantes que chegaram ao Brasil), o ideal republicano e a crise da
monarquia caracterizavam a segunda metade do século XIX.
o Progresso tecnológico e relações sociais, ao considerar a sociedade dividida em classes (trabalhadora
e burguesa) e as mudanças no que diz respeito ao trabalho;
o Princípios abolicionistas e republicanos;
o Escritores como, Honoré Balzac, Eça de Queirós, Gustave Flaubert, entre outros.

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Principais características
o Objetividade (em oposição ao subjetivismo romântico);
o Verossimilhança (correspondência com a realidade);
o Personagens típicos e representativos (comuns e universais);
o Retrato da sociedade;
o Romances psicológicos (ações e reações correspondentes às influências da formação e posição social
das personagens).
o Contraste entre a essência e aparência;
o Linguagem direta;
o Críticas sociais.
o Narrativa lenta;
o Impessoalidade do narrador;

Principal autor e produção:

Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis) é o principal autor do Realismo no


Brasil e um dos mais renomados escritores do mundo, sendo considerado o “pai do realismo brasileiro”.
Sua trajetória na literatura é dividida em dois momentos, como homem de seu tempo, pertencente ao séc.
XIX, ele possui obras com tendências românticas (“fase romântica”) e obras realistas. Segundo estudiosos
da literatura, Machado de Assis adquiriu maturidade literária na sua “fase realista” , que deu início com a
publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro que marca não só começo do Realismo no Brasil,
mas também é considerado um divisor de águas na ficção machadiana.

Características realistas específicas do autor:


o Linguagem concisa.
o Análises psicológicas e dos valores sociais.
o Ironia e humor.
o Pessimismo.
o Digressões (narrativa não-linear).
o Metalinguagem (conversas com o leitor) e intertextualidade (diálogos com outras obras).

Trata-se de uma narrativa de confissão, ou seja, aquela em que o narrador fala de si mesmo como
condição para falar de si mesmo como condição para falar dos outros

Obras:
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) – é o divisor de águas na vida do escritor, representando sua
maturidade literária. Este romance conta com a presença do defunto-autor, narrando em 1ª primeira
pessoa, como o próprio nome sugere, suas memórias póstumas. É uma obra permeada de ironia,
descrições e críticas à burguesia, classe que o Brás Cubas fazia parte e, devido sua morte, conta com
propriedade e distanciamento a hipocrisia e a vida de aparências que orienta a elite da época.

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Dom Casmurro (1899) – é o livro que deu luz a maior polêmica literária brasileira, que é: Capitu traiu ou
não traiu Bentinho? Em resumo, o romance conta, sob a ótica de Bentinho, a história de amor entre
Bentinho e Capitu, o grande problema é que em determinado ponto da trama, Bento Santiago começa a
desenvolver ciúme e desconfianças sobre sua esposa e um suposto envolvimento dela com seu melhor
amigo Escobar. O livro possui uma narrativa tendenciosa em 1ª pessoa, deixando suposições, por isso a
dúvida da traição, além de tecer críticas sobre, principalmente, a instituição social da família e o
casamento, entre outras características.

A cartomante (1884) – é um importante conto machadiano em que o autor, em poucas páginas, aborda a
temática aparência em oposição à essência, ciúmes, fé, ceticismo, entre outros costumes e valores da
pequena burguesia carioca. O texto se inicia com uma intertextualidade, que é uma das características do
escritor, além de apresentar uma narrativa intrigante, com mistérios que permeiam a relação entre um
casal, Vilela e Rita, e o amigo do casal, Camilo. Compõe a coletânea de contos Várias Histórias, de 1896.

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NATURALISMO
O Naturalismo foi um movimento cultural relacionado às artes plásticas, literatura e teatro. Surgiu na
França, na segunda metade do século XIX (principalmente entre 1880 e 1900). Este movimento foi uma
radicalização e extensão do Realismo.

Oposto ao Romantismo, que apresentava uma face sonhadora, com idealizações, subjetivismos e fuga da
realidade, o naturalismo prezou pelo objetivismo científico. Influenciado pelas correntes científicas e
filosóficas que surgiam na Europa como o determinismo, o darwinismo e o cientificismo, para os artistas
naturalistas, tudo estava determinado e possuía uma explicação lógica pautada na ciência.
Através de uma visão imparcial dos fatos, nada era sugerido ou apresentado de maneira subjetiva. O ser
humano passou a ser visto como uma máquina, sem livre arbítrio, e influenciado pelo meio social e físico
em que está inserido.
Assim, surge uma arte de denúncia social, focada nos temas da pobreza, das desigualdades, da disputa de
poder e das patologias sociais.

Breve panorama histórico:


o O contexto histórico do Naturalismo, por ser um desdobramento do Realismo, é o mesmo; no
entanto, com inícios e autores (alguns) diferentes.
o A inauguração do Naturalismo se deu em 1875, com a publicação de O Crime do Padre Amaro, obra
de Eça de Queirós, escritor português. No Brasil, essa ramificação da estética do real tem como
marco a publicação de O Mulato, em 1881, do romancista Aluísio Azevedo.
o Entretanto, quando se fala do cenário desse movimento literário, devese ter em mente a figura de
Émile Zola, importante escritor francês e o precursor da estética naturalista. Em 1867, o autor
publicou o romance Thérèse Raquin que foi considerado o livro inaugural dessa estética no mundo.

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Valores:
➔ O Naturalismo partilha com o Realismo a maioria das características, ao se diferenciar em alguns
pontos específicos, principalmente no que diz respeito aos seus valores.
➔ Assim como o movimento realista, o Naturalismo é uma literatura de engajamento social, entretanto, o
foco já não é tanto na burguesia, e sim na classe menos favorecida, os trabalhadores.
➔ O processo de oposição às ideias românticas persiste e a influência das correntes filosóficas e
científicas é muito presente.
➔ Pode-se entender o Naturalismo como um Realismo radical ou exagerado, sendo um movimento
pautado no cientificismo.
➔ Busca realizar não só um retrato da sociedade, mas também uma análise social. Ao dissecar os grupos
sociais, suas relações e etc., sempre de maneira muito objetiva e descritiva.
➔ Além do Positivismo, de Comte, nessa estética se destacaram o Determinismo ou Método Taine, de
Hippolyte Taine.
➔ A compreensão do homem a partir de três óticas determinantes: o meio; a raça e a história, e o
Evolucionismo, de Charles Darwin, que, em suma, é a teoria da “sobrevivência do mais apto”.
➔ O homem é determinado e moldado de acordo com esses três fatores, dificilmente quebrando limites
ou barreiras, assim, se a personagem é de origem humilde, improvável que ela vá ascender
socialmente, pois seu meio desfavorecido a impede. Contudo, essa mesma personagem ou pessoa
precisa ser apta, possuir a característica de se adaptar ao meio, por mais complexo que este seja, para
sua sobrevivência.
➔ Um outro aspecto que se destaca nessa tendência, no Brasil, especificamente, é a vastidão de
temáticas, isto é, um único livro aborda diversos temas e possui vários enredos.
➔ É comum se deparar com livros abordando a questão do desejo sexual ou da sexualidade, autores
explorando a ideia que o ser humano tem instintos e que, apesar de ser racional, ainda é um animal,
age por impulso; bem como os seguintes temas: preconceito racial, desigualdade social, exploração,
entre outros temas e aspectos negativos da sociedade.

Influências:
o Realismo.
o Émile Zola.
o Liberalismo econômico.
o Oposição ao Romantismo.
o Teorias científicas e filosóficas (positivismo, evolucionismo, determinismo, socialismo, psicanálise e
etc.);

Principais características:
o Linguagem coloquial.
o Objetividade.
o Descrição detalhada.
o Verossimilhança (próximo a realidade).
o Abordagem de aspectos negativos da sociedade, tendo como foco a classe trabalhadora.

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o Zoomorfização (ou animalização) do homem, explorando o lado marcado por instintos e impulsos do
ser humano.
o Determinismo e evolucionismo, sendo o homem produto do meio, da raça e do momento histórico, e
a ideia de o mais apto ser o sobrevivente.
o Cientificismo e incorporação de terminologias científicas.
o Romance de tese (documental).
o Temas degradantes e de patologia social

Principais autores e produções:

Aluísio Azevedo Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo foi um dos


principais nomes do Naturalismo brasileiro, o grande precursor do movimento. Nasceu em 1857, em São
Luís (Maranhão), era de família de origem europeia, sendo filho de um vice-cônsul português a quem ele
seguiu o exemplo, posteriormente, passando em um concurso para cônsul e, nos últimos anos de vida, já
não dedicados à literatura, mas sim para a carreira diplomática, faleceu em Buenos Aires em 1913. Muito
ligado ao mundo das artes, Aluísio Azevedo inicia sua carreira artística como caricaturista e, além de
desenhar, escreveu romances, contos, crônicas, peças de teatro e folhetins.

Obras:
Sua produção literária de maior destaque foi o romance O Cortiço, publicado no ano de 1890, e em suas
obras naturalistas é sempre perceptível a influência de escritores como Zola e Eça de Queirós. Em 1881,
com a publicação da obra O Mulato, Aluísio inaugurou a estética naturalista no Brasil. O Mulato (1881) –
romance que inaugura a estética naturalista, no Brasil, tem como principal temática a denúncia social,
abordando o preconceito racial, entre outros temas. A obra é ambientada no Maranhão e, segundo Alfredo
Bosi, estudioso da literatura, o livro consegue imprimir bem como era o Maranhão da época. Em suma, a
trama do romance gira em torno de uma paixão “proibida”, que é a relação de Raimundo (o mulato) e
Ana Rosa.

O Cortiço (1890) – considerada a principal obra do escritor, com descrições minuciosas, o livro conta,
inicialmente, a trajetória do ambicioso português João Romão, um homem sem escrúpulos capaz de
qualquer coisa para ascender socialmente. Com o passar da narrativa, percebe-se a riqueza de histórias
que acabam se relacionando e denunciando as mazelas sociais, a ambição do homem, a vida de
aparências, as condições precárias dos mais pobres e a influência do meio, da raça e do momento
histórico na vida dos seres humanos (o determinismo).
No romance O Cortiço, Aluísio Azevedo trabalha com o determinismo: o cortiço é o meio responsável
por determinar as ações dos personagens. Além disso, dentro daquela esfera de degradação, seus
moradores lidam com características naturais dos humanos, como o instinto, o primitivismo e
a promiscuidade. Assim, em muitos aspectos, seus personagens são “animalizados”, isto é, são
comparados a animais por causa de seus comportamentos.
Ao final do romance, quando o cortiço pega fogo, João Romão constrói um novo cortiço, no entanto, não
mais destinado às classes pobres da sociedade, mas sim, à nova classe média que começava a aparecer no
Brasil.
O uso desses temas sombrios fez com que os naturalistas fossem frequentemente criticados por serem
muito pessimistas. Dentre as principais características do naturalismo estão o realismo exagerado.

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Raul Pompeia (1863-1895)
Raul D’Ávila Pompeia foi escritor, jornalista e professor. Publicou em 1880 a obra Uma tragédia no
Amazonas, seu primeiro romance. Mas foi com O ateneu, em 1888, que o autor ganha destaque no
realismo.
Pompeia foi um homem de princípios, defensor da abolição da escravatura e das causas republicanas.
Deixava transparecer seus ideais em seus textos realistas, o que acabou por causar grande polêmica.

O Ateneu
Em 1888, Raul Pompéia publicou em folhetins da Gazeta de
Notícias o romance O Ateneu, que traz como subtítulo, Crônica
de Saudade, editado em livro no mesmo ano.
Com uma vida conturbada, Raul de Pompeia comete suicídio
aos 32 anos em 1895.
o Presença de análise psicológica e social dos personagens.
Estas características estão muito presentes na obra “O
Ateneu”.
o Uso de recursos visuais e sonoros nas descrições de
imagens e situações.
o Presença de características do Positivismo em suas obras.
o Presença de características literárias do expressionismo e
do naturalismo.
o Do expressionismo, podemos destacar a agilidade e as
emoções presentes nas frases. Também há a transformação
de personagens em caricaturas, promovendo a deformação
e o exagero.
o Do naturalismo, podemos destacar a animalização (ações
movidas por instinto) das personagens, valorização de
comportamentos sexuais e inclusão de problemas da vida
adulta na vida de adolescentes (presente em “O Ateneu”).

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O Parnasianismo é um movimento literário que surgiu na mesma época do Realismo e do Naturalismo,
no final do século XIX. De influência e tradição clássica, tem origem na França. Seu nome surge
de Parnase Contemporain, antologias publicadas em Paris a partir de 1866. Parnaso é como se chama a
montanha consagrada a Apolo e às musas da poesia na mitologia grega.
Em 1882, Fanfarras, de Teófilo Dias, é a obra que inaugura o parnasianismo brasileiro, movimento
que se prolonga até a Semana de Arte Moderna, em 1922.
De postura anti-romântica, o Parnasianismo é baseado no culto da forma, na impassibilidade e
impessoalidade, na poesia universalista e no racionalismo.
Os autores parnasianos criticavam a simplicidade da linguagem, a valorização da paisagem nacional e o
sentimentalismo. Para eles, essa era uma forma de subjugar os valores da poesia.
A proposta inovadora era de uma poesia de linguagem rebuscada, racional e perfeita do ponto de vista
formal. Acreditavam que, se estivessem apoiados no modelo clássico poderiam contrapor os exageros e a
fantasia típica do movimento literário Romantismo.
Ao Parnasianismo, seguiu-se o Simbolismo, movimento que exalta a realidade subjetiva e que nega a
razão explorada pelos parnasianos.

O contexto social e intelectual


O contexto social e intelectual do século XIX foi marcado por diversos movimentos de renovação
intelectual e social, que visavam a modernização da sociedade. Entre eles, destacam-se o positivismo, o
socialismo, o anarquismo e o existencialismo.
Estes movimentos foram fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, pois apresentaram novas
formas de pensar, que levaram à mudança de mentalidades, à criação de novas instituições e à
reformulação de leis.
O positivismo foi um movimento intelectual que defendia a aplicação de métodos científicos para a
solução de problemas sociais. Esta corrente de pensamento foi fortemente influenciada pelos trabalhos de
Auguste Comte, que defendia a necessidade de uma nova ordem social baseada na ciência.

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O socialismo, por sua vez, defendia a necessidade de uma reforma social que garantisse a igualdade entre
todos os membros da sociedade. O anarquismo, por outro lado, defendia a abolição do Estado e a criação
de uma sociedade baseada na liberdade, na igualdade e na solidariedade.
O existencialismo, por fim, defendia a necessidade de se encontrar um sentido para a existência humana,
a partir da reflexão e do pensamento crítico. Esta corrente de pensamento foi fortemente influenciada
pelos trabalhos de filósofos como Sartre, Camus e Heidegger.
O contexto social e intelectual do século XIX foi marcado por diversos movimentos que levaram à
modernização da sociedade e à mudança de mentalidades. Estes movimentos foram fundamentais para o
desenvolvimento da sociedade, pois apresentaram novas formas de pensar e de agir, que levaram à
criação de novas instituições e à reformulação de leis.

Características
Os parnasianos são esteticamente detalhistas. Ao se preocupar com a forma, valorizam o vocabulário
culto, os sonetos, bem como as rimas raras.
Também de forma marcante, os temas da antiguidade clássica são observados nessa escola literária, cujos
autores são realistas e objetivos e mostram as coisas como elas se apresentam, ou seja, de forma descritiva
e sem lirismo, ou com exaltação de sentimentos muita vaga. Isso porque entendem que a arte já seja bela,
de modo que não precisa ser explicada, pois ela vale por si.
Muitas característica do Parnasianismo encontram-se presentes no Realismo. Observe, no entanto que, no
Parnasianismo foram criadas apenas poesias, não existe prosa parnasiana.

Em resumo, as características do Parnasianismo são:


o Idealização da arte pela arte
o Busca da perfeição formal
o Preferência pelo soneto
o Preferência pela descrição
o Rimas raras
o Vocabulário culto
o Objetivismo
o Racionalismo
o Universalismo
o Apego à tradição clássica
o Gosto pela mitologia greco-romana
o Rejeição do lirismo

Principais obras e autores


A chamada trindade ou tríade parnasiana brasileira é composta pelos três autores mais célebres do
movimento: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.

Olavo Bilac
Olavo Bilac é o poeta mais popular do Parnasianismo, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 16 de dezembro
de 1865. Seguindo a vontade de seu pai, cursou Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Porém, Bilac não tinha interesse por essa área. Logo, não terminou o curso.

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Morreu em 28 de dezembro de 1918, no Rio de Janeiro, deixando certo mistério sobre sua vida íntima. Na
juventude, foi noivo de Amélia de Oliveira (1868-1945), irmã do poeta parnasiano Alberto de Oliveira
(1857-1937). No entanto, por razões misteriosas, a família opôs-se ao casamento, e o romance acabou. Os
principais biógrafos do poeta, no entanto, dizem que a oposição se deveu à vida boemia de Bilac.

Destaca-se pelo devotamento ao culto da palavra e ao estudo da língua portuguesa. Os recursos


estilísticos que mais emprega são: a repetição de palavras, o polissíndeto e o assíndeto (separados ou
conjugados), suas metáforas e comparações são claras.
Um de seus temas preferidos é o amor, associado, geralmente, à noção de pecado, cantado sob o domínio
do sentimentalismo, fugindo às características parnasianas, como se pode observar nos 35 sonetos de Via
Láctea. As estrelas têm presença marcante em seus versos, ora aparecem como confidentes, ora como
testemunhas ou conhecedoras do mistério da vida.
Um poeta parnasiano, crítico e nacionalista, mas, ao mesmo tempo, boêmio e libertário. Um homem
rigoroso e prático, mas que tinha, possivelmente, uma alma romântica. Enfim, um indivíduo complexo,
detentor de uma genialidade que o consagrou como Príncipe dos Poetas.

Estilo literário de Olavo Bilac


Olavo Bilac foi um poeta do parnasianismo brasileiro. No entanto, sua poesia traz marcas de
subjetividade, contrárias ao estilo parnasiano, o qual apresenta as seguintes características:
o Descritivismo
o Antirromantismo
o Objetividade
o Rigor formal
o Alienação social
o Culto à beleza
o Referências greco-latinas
Desse modo, a poesia parnasiana é contrária ao sentimentalismo romântico e apresenta o afastamento
do eu lírico em prol da objetividade, o que leva a uma poesia marcada pela descrição. Em defesa da
beleza estética, os versos simétricos (mesmo número de sílabas poéticas) e as rimas caracterizam uma
forma (estrutura) perfeita. Ainda em prol da beleza, o(a) poeta evita falar de questões sociopolíticas e
prefere fazer referências que remetem o(a) leitor(a) à Antiguidade clássica.

Raimundo Correia
Raimundo Correia (1859-1911) foi um poeta brasileiro, um dos mais destacados poetas do Parnasianismo
- movimento essencialmente poético que reagiu contra os abusos sentimentalistas dos românticos.
Ele nasceu a bordo de um navio, na baía de Mangunça, município de Cururupu, Maranhão, no dia 13 de
maio de 1859. Era filho do desembargador português José da Mota de Azevedo Correia.
Formou-se em Direito, foi um entusiasta pela causa abolicionista e republicana. Foi ardente liberal e
admirador das ideias socialistas.
Raimundo Correia é considerado o mais filósofo dos parnasianos. Procura solução para a problemática
existencial, tentando explicar a vida cheia de angustias e desesperos. Por outro lado, é o poeta da
natureza, exaltando-a através de estímulos sensoriais.
Depois de formado, Raimundo Correia ingressou na magistratura e dedicou-se intensamente à carreira de
juiz de Direito da comarca do Rio de Janeiro. Serviu em São João da Barra em 1883 e em Vassouras entre

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1884 e 1888. Nesse período casou-se e publicou Versos e Versões (1887), apresentando uma poesia
reflexiva, revelando uma visão de mundo que beira ao ceticismo, à descrença e o pessimismo.
Em 1911, com a saúde abalada, viaja para a Europa em busca de tratamento médico, mas não resistiu.
Raimundo Correia faleceu em Paris, França, no dia 13 de setembro de 1911. Seus restos mortais foram
trasladados para o Brasil em 1920, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras.

Características
o antirromantismo;
o linguagem objetiva;
o descritivismo;
o rigor formal;
o alienação social;
o referências greco-latinas;
o distanciamento do eu lírico;
o uso de polissíndeto.

Alberto de Oliveira
Alberto de Oliveira (1857-1937) foi um poeta do Parnasianismo e professor brasileiro, considerado o
mais perfeito dos parnasianos.
Estudou o primário em escola pública na vila Nossa Senhora de Nazaré e cursou Humanidades em
Niterói. Formou-se em Farmácia em 1883 e estudou Medicina até o terceiro ano, onde foi colega de
Olavo Bilac.
Sua poesia é fria e intelectualizada com um gosto acentuado pelo preciosismo formal e linguístico.
Defende a arte pela arte e, em vez de se interessar pela realidade brasileira buscava inspiração nos
modelos clássicos dos poetas barrocos a árcades portugueses.
A poesia de Alberto de Oliveira é descritiva e exalta a natureza e a saudade e até objetos como nos
sonetos: "Vaso Grego”, “Vaso Chinês” e “A Estátua”.
Nos versos de Alberto de Oliveira estão também presentes as matas, as campinas, os rios, as flores e as
árvores do Brasil.
Embora tenha vivido 80 anos e atravessado profundas transformações políticas, econômicas, sociais, além
de literárias, Alberto de Oliveira sempre foi fiel ao Parnasianismo, sendo considerado mestre dessa
estética e o mais perfeito dos parnasianos.
Alberto de Oliveira faleceu em Niterói, Rio de Janeiro, no dia 19 de janeiro de 1937.

Características
o linguagem objetiva;
o perspectiva antirromântica;
o rigor formal;
o valorização da Antiguidade clássica;
o alienação social;
o descritivismo;
o distanciamento do eu lírico;
o uso do polissíndeto.

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SIMBOLISMO
O simbolismo é um movimento artístico que surgiu no século XIX e teve como principais características
o subjetivismo, o espiritualismo, a religiosidade e o misticismo.
A poesia simbolista apresenta teor metafísico, musicalidade, alienação social, rigor formal e caráter
sinestésico.
Em 25 de junho de 1857, Charles Baudelaire publicou o livro de poemas "As flores do mal". Nessa
obra, boa parte das tendências que viriam, posteriormente, a ser consideradas simbolistas estão presentes
e foram profundamente revolucionárias na literatura europeia de então.
Diversos outros escritores começaram a se filiar ao estilo baudelaireano, intitulando-se decadentistas.
Posteriormente, tais decadentistas passaram a ser considerados os primeiros simbolistas da Europa. No
Brasil, o movimento chegou após seu irromper no velho continente e manteve boa parte das
características europeias.
Essa corrente artística, que se manifestou na literatura e na pintura, se aproximou dos ideais românticos
de subjetivismo, idealismo e individualismo. Assim, a objetividade foi posta de lado para dar lugar a uma
nova abordagem mais subjetiva, individual, pessimista e ilógica.
Se por um lado ele apresentou uma ligação com o romantismo, por outro, o simbolismo rejeitou as ideias
dos movimentos anteriores do realismo, do parnasianismo e do naturalismo.
Ele se afastou do rigor estético e do equilíbrio formal do movimento parnasiano, buscando se distanciar
do materialismo extremo e da razão. Dessa forma, explorou temas mais espirituais representando a
realidade de uma forma diferente e mais idealizada.

Contexto histórico
Nas últimas três décadas do século XIX, uma profunda crise econômica assolou a Europa, e o capitalismo
liberal provou constituir-se em cartéis e monopólios, produzindo pobreza e desigualdade social. O ideal
positivista e os progressos científicos alcançados durante todo o século não construíram nações soberanas
e dignas, mas sim acabaram por culminar, no século seguinte, na Primeira Guerra Mundial.

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Nesse ambiente de desilusão com a realidade e, em alguma medida, com a própria racionalidade,
floresceram as flores do mal de Baudelaire e o movimento simbolista.

Características do simbolismo
o Oposição à realidade objetiva
o Transcendência, misticismo e espiritualidade
o Presença de religiosidade
o Valorização do “eu” e da psiquê humana
o Linguagem vaga, imprecisa e sugestiva
o Uso excessivo de figuras de linguagem
o Preferência pelos sonetos
o Retomada de elementos românticos
o Valorização da simbologia, em oposição ao cientificismo
o Oposição ao mecanicismo e a aproximação do universo do sonho.

Simbolismo no Brasil
O simbolismo no Brasil começou em 1893 com a publicação das obras de Cruz e Sousa: Missal (prosa)
e Broquéis (poesia). Esse movimento permanece até o ano de 1910, quando se inicia o Pré-Modernismo.
O momento é de agitação política, pois, com a Proclamação da República em 1889, o país estava
passando por um momento de transição. Há, assim, uma transformação na cena política, com a passagem
do regime monárquico para o regime republicano.
Com a instauração da República da Espada em 1889, alguns conflitos despontaram por conta da crise
política e de disputa de poder.

Os principais autores do Simbolismo no Brasil (1893-1902) são:

Cruz e Sousa (1861-1898)


o Negro, filho de escravos alforriados, nascido em Florianópolis.
o Sua poesia apresenta profundidade filosófica, em busca da essência.
o Seus textos evidenciam uma angústia metafísica marcada pela melancolia.
o O autor tem obsessão pela cor branca, recorrente em suas obras, associada à pureza ideal.
o Sua poesia só foi reconhecida no século XX.
o Principais obras: Broquéis (1893), Missal (1893), Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos sonetos
(1905)
Assim, os poetas simbolistas acreditavam na existência de um mundo ideal, que não pode ser alcançado
por meio da razão, mas dos sentidos. Para eles, a realidade que conhecemos é enganosa, e, por isso,
preocupavam-se mais com o plano das essências, de forma que se entregavam à alienação social.
Nessa perspectiva, a poesia simbolista seria capaz de, por meio de elementos sugestivos, fazer com que
tivéssemos contato com um plano superior. Contudo, apesar de seu caráter místico, ela é antirromântica,
já que não apresenta traços políticos presentes no romantismo, como o nacionalismo (1a fase) e a crítica
social (3a fase).
Os simbolistas valorizavam a estrutura do poema e privilegiavam o rigor formal, isto é, o uso de versos
regulares, também responsáveis pela musicalidade do poema, já que tais poetas acreditavam no poder das

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sensações. Já o uso de reticências dá ao texto um caráter de coisa indefinida, e a maiúscula alegorizante
(palavra com inicial maiúscula) assume um aspecto simbólico, pois tem o poder de nos unir ao plano
ideal.
Além disso, a poesia de Cruz e Sousa possui elementos autorais específicos, como a profundidade
filosófica associada a uma angústia metafísica, a morbidez, e a presença recorrente da cor branca. Além
disso, fugindo um pouco do estilo, o autor, às vezes, tocava em questões sociais, como a pobreza e o
preconceito racial.

Fases da Obra de Cruz e Sousa


Cruz e Sousa transformou em poesia seus dramas e angústias. Sua obra passa por três fases distintas:
Na primeira fase" de sua obra, espelhada por Broquéis, Cruz e Sousa canta o estigma de sua raça e se
deixa seduzir por tudo que sugere brancura.
A segunda fase" da trajetória do poeta manifesta-se com a publicação de Faróis, em 1900. Nela, o poeta
transmite maior profundidade da vida, experimenta toda sorte de tragédia, sofrendo com a loucura da
esposa.
A terceira fase" da poesia de Cruz e Sousa é marcada com sua obra Últimos Sonetos (1905). Nela, o
poeta mostra uma resignação, a sublimação da dor e das misérias humanas.

Características literárias de Cruz e Sousa

→ Forma
o Preferência pelo soneto;
o Composição de outras formas de poema menos rígidas que o soneto.

→ Linguagem
o Subjetiva;
o Vaga e imprecisa, com predominância de sugestões ao invés de nomeações objetivas;
o Predominância de substantivos abstratos;
o Predominância de adjetivos;
o Uso frequente de figuras de linguagem, como metáfora, comparação, aliteração, assonância e
sinestesia.

→ Conteúdo
o Temáticas ligadas ao misticismo e à religiosidade;
o Expressão de estados mentais contemplativos;
o Predominância de um tom pessimista, que expressa a dor existencial do eu lírico;
o Interesse por temáticas ligadas ao mistério, à noite, à morte;
o Predominância de uma visão de mundo antirracionalista e antimaterialista, o que lembra o
romantismo."

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Alphonsus de Guimaraens - (1870-1921)
o Nascido em Ouro Preto.
o Viveu em Mariana, onde escreveu sua obra, ignorada por vários anos.
o Sua poesia é marcada pela religiosidade.
o Apresenta uma linguagem mais suave em relação à de Cruz e Sousa.
o Evidencia o misticismo associado à ideia de morte.
o A temática da morte do ser amado é recorrente em seus textos.
Principais obras: Senhora (1899), Câmara ardente (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902) e
Mendigos (1920).

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) foi um poeta brasileiro, um dos principais representantes do


Movimento Simbolista no Brasil. Aos 17 anos se apaixonou por sua prima Constança, filha do
escritor Bernardo Guimarães, seu tio-avô. Com a morte prematura da prima, em 1888, o poeta
abandonou o curso de Engenharia e se entregou à vida boêmia.. Todos os outros temas que explorou
como religião, natureza e arte, de alguma forma, se relacionam com o mesmo tema da morte.Septenário
das dores de Nossa
Alphonsus de Guimaraens viajou para o Rio de Janeiro, onde conheceu Cruz e Souza, poeta que já
admirava e que junto com Alphonsus, e Augusto dos Anjos se tornariam os principais autores do
Simbolismo no Brasil.
De volta a Minas Gerais, em 1906, Alphonsus foi nomeado promotor de Conceição do Serro, hoje
Conceição do Mato Dentro, ocupando em seguida o cargo de juiz municipal em Mariana. Em 1897,
casou-se com Zenaide de Oliveira, com quem teve 14 filhos. Dividiu seu tempo entre as atividades de juiz
e a produção de sua obra poética.

Como características individuais do poeta, é possível apontar, em sua poesia:


● linguagem simples;
● presença de aliterações;
● prevalência do soneto;
● mulher idealizada;
● amor idealizado;
● melancolia;
● temática da morte;
● religiosidade católica;
● sentimento de solidão;
● seguintes tipos de verso: redondilhas, decassílabos e alexandrinos.

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PRÉ-MODERNISMO ( 1902 - 1922 )
O Pré-Modernismo representa, na literatura brasileira, um período de transição, já que, de um lado, ainda
se faziam fortes as tendências artísticas do realismo, do naturalismo, do simbolismo e do parnasianismo,
movimentos iniciados na segunda metade do século XIX, e, de outro lado, já se faziam presentes
escritores e artistas que apresentavam em suas obras os indícios do que viria a resultar na Semana de Arte
Moderna de 1922.
Em outras palavras, ele reúne um sincretismo estético, com presença de características neo-realistas,
neo-parnasianas e neo-simbolistas.

Breve panorama histórico:

o O pré-modernismo ocorreu durante a República Velha, em um período marcado pela política do


Café-com-leite, em que os presidentes da república eram escolhidos entre os políticos de Minas
Gerais e São Paulo.
o A principal atividade econômica do país era a extração e a comercialização do látex, período que
ficou conhecido como Ciclo da Borracha.
o Os primeiros anos do século XX foram muito conturbados e marcados por inúmeras revoltas, greves
e levantes populares no Brasil. Observe alguns deles:
o O Ciclo do Cangaço: ocorreu no nordeste brasileiro e era um movimento composto por um grupo de
pessoas nômades, que viviam em bandos, armadas com facas, armas e punhais. Este movimento
surgiu devido a insatisfação dos cangaceiros com as condições precárias de vida
o dos nordestinos, enquanto os fazendeiros possuíam inúmeras riquezas. Destaca-se duas figuras
importantes deste movimento: Lampião e Maria Bonita.
o Revolta da Vacina: ocorreu no Rio de Janeiro em 1904, um período em que a cidade estava sofrendo
com inúmeras doenças, como varíola, malária, cólera e a peste bubônica. Então, o governo criou uma
lei que tornava obrigatória a vacinação da população e quem não vacinasse perderia inúmeros
direitos.
o Revolta da Chibata: ocorreu no Rio de Janeiro, em 1910, após uma revolta dos marinheiros, que
sofriam rígidas punições como as chibatadas. O estopim foi quando os marujos assistiram ao castigo
de Marcelino Rodrigues Menezes, que foi açoitado até desmaiar.

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o Greve dos operários: ocorreu em São Paulo, em 1917. Devido aos salários baixos, as longas jornadas
de trabalho e as condições precárias, os operários reivindicavam a redução da jornada de trabalho, a
proibição do trabalho infantil e do trabalho feminino à noite.

Valores:
Diante do contexto histórico conturbado, alguns valores passam a fazer parte das produções desse
período, como as problemáticas sociais. Como nunca antes, os problemas brasileiros passam a ser
abordados, não só os da capital, mas das diversas regiões do país. Assim, há uma tentativa de reinterpretar
e redescobrir o Brasil, um país pobre, doente, ignorado e esquecido. Além disso, há uma clara evidência
dos dois “Brasis”, um rural, por sua vez, esquecido e um litorâneo, refinado e com muitas riquezas.

Principais características:
o Regionalismo.
o Representação dos diversos falares do Brasil.
o Denúncia, protesto, documentação e crítica aos problemas sociais.
o Representação dos marginalizados.
o Novas formas de expressão.
o Sincretismo literário.

Principais autores e produções:

Graça Aranha: Natural de São Luís (MA), João Pereira da Graça Aranha nasceu em 21 de
junho de 1868. Foi romancista, ensaísta e magistrado, um dos fundadores da Academia Brasileira de
Letras e um dos mais influentes e comprometidos escritores no que diz respeito à renovação artística
nacional. Escreveu sobre a imigração, fez uma análise sobre o Brasil e retratou a sua natureza. Foi
durante o exercício da magistratura no interior do estado do Espírito Santo que o autor delineou seu
primeiro romance, intitulado Canaã e lançado em 1902.

Nele o autor retrata uma comunidade de imigrantes alemães em um povoado capixaba, e cujas
personagens têm posturas muito diferentes a respeito da vida. Graça Aranha levanta, por meio das
interações do romance, questões como o colonialismo agressivo e imperialista, o pacifismo,
o evolucionismo e o racismo, sendo precursor de questões importantes do Brasil do século XX. Grande
avesso ao neoparnasianismo, conheceu o grupo modernista e foi um dos grandes patronos da Semana de
Arte Moderna de 1922.

Euclides da Cunha: conhecido como o intérprete do Brasil, fez uma análise antropológica,
científica e filosófica da Guerra de Canudos. Além disso, é um autor com uma linguagem rebuscada e sua
produção tem tom de denúncia, sua produção mais importante é Os sertões.

No período que compreende os anos de 1902 a 1922, várias obras literárias importantes foram publicadas
no Brasil. A primeira delas é Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, na qual o autor busca entender os
motivos que levaram à revolta de Canudos, com base em um olhar jornalístico e científico, em franca
consonância com o naturalismo. Assim, o livro é dividido em três partes:
o A terra: descrição detalhada e científica do sertão nordestino.

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o O homem: apresentação do sertanejo pela visão naturalista, que defendia a influência do meio e
da raça sobre o indivíduo.
o A luta: narração da luta entre as tropas do governo e os seguidores de Antônio Conselheiro.

Monteiro Lobato: possui linguagem culta e retrata o interior de São Paulo através do
personagem Jeca Tatu, um homem caipira que trabalha nas fazendas de Café. Sua obra mais importante
para o período é Urupês.
Em seu livro de contos Urupês (1918), traz a figura do Jeca Tatu, o caipira. Ao contrário do homem do
campo idealizado no romantismo, o caipira de Lobato é cheio de defeitos, incluindo, entre eles, a
preguiça.

Lima Barreto: possui linguagem coloquial, seus personagens são populares do subúrbio do Rio de
Janeiro. Além disso, retrata um nacionalismo ufanista, porém irônico e com bom humor. Sua obra de
destaque é O Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Engajado em uma literatura social, era profundamente avesso à oligarquia republicana, e seu estilo
literário envolvia um hibridismo entre os planos narrativo e crítico. Sua obra mais famosa, publicada
pela primeira vez em 1915, é Triste fim de Policarpo Quaresma, que narra a trajetória de um
protagonista patriota que, entre outros arroubos de nacionalidade exacerbada, aprende tupi e defende que
seja essa a língua oficial brasileira. Policarpo tem uma postura quixotesca e seu triste fim coincide com a
revelação de que a pátria por ele tanto sonhada nunca existira.

Augusto dos Anjos

Por fim, temos o único poeta desse período: Augusto dos Anjos. Sua poesia é tipicamente de transição.
Isso porque não possui idealizações, é realista, e, também, porque apresenta marcas do naturalismo
(vocabulário cientificista), do parnasianismo (rigor formal: metrificação e rimas) e
do simbolismo (referências místicas, entre outras marcas).

Autor de um livro só, chamado Eu (1912), Augusto dos Anjos traz para a literatura brasileira uma poesia
que, muitas vezes, dialoga com o grotesco. Em seu soneto “Versos íntimos”, o eu lírico
mostra-se pessimista em relação à humanidade. Nesse poema, além do realismo (falta de idealização), é
possível perceber a influência parnasiana (decassílabos), simbolista (maiúscula alegorizante
— Ingratidão e Homem) e naturalista (influência do meio: “Mora entre feras, sente inevitável/
Necessidade de também ser fera).

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MODERNISMO BRASILEIRO
O modernismo brasileiro, que surgiu graças à influência da Europa, foi um amplo movimento cultural que
repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX,
sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas.

O Modernismo no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências culturais e artísticas


lançadas no continente europeu no período que antecedeu à Primeira Guerra Mundial. Essas tendências se
denominavam de vanguardas europeias, cujas principais delas foram o Cubismo, o Futurismo, o
Dadaísmo, o Expressionismo e o Surrealismo.
Em seu desenvolvimento geral, de 1922 a 1960, o movimento se manifestou em três fases distintas: “Fase
heroica” (1922 - 1930), “Geração de 30” (1930 - 1945) e “Pós-modernista” ou “Geração de 45” (1945 -
1960).

Primeira geração (1922-1930) - A Fase Heroica.

1. Breve panorama histórico

o Ocorre no período denominado “entre guerras”, posto que a primeira guerra mundial ocorreu de 1914
a 1918 e a segunda de 1939 a 1945.
o Primeira fase da República brasileira, chamado de República Velha (1889-1930). Esse contexto
esteve marcado pelas oligarquias cafeeiras (São Paulo) e as oligarquias do leite (Minas Gerais),
período conhecido como café-com-leite.
o A primeira geração modernista ou primeira fase do modernismo no Brasil é chamada de "fase
heroica" e se estende de 1922 até 1930. Foi um movimento artístico, cultural, político e social bem
amplo.
o Tem seu início com a Semana de Arte Moderna. Esse evento, ocorrido em São Paulo, no Teatro
Municipal durante os dias 11 a 18 de fevereiro de 1922, representou uma ruptura com os padrões

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artísticos tradicionais. Tal evento teria como motivação reagir à crítica feita por Monteiro Lobato à
exposição de Anita Malfatti e foi possível graças ao apoio de Washington Luís, então Governador do
estado de São Paulo.
o Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade,
Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia,
Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre
outros, e como um dos organizadores o intelectual Rubens Borba de Moraes que, entretanto, por estar
doente, dela não participou.

2. Principais características
o Nacionalismo crítico e ufanista.
o Valorização do cotidiano.
o Resgate das raízes culturais brasileiras.
o Críticas à realidade brasileira.
o Renovação da linguagem.
o Oposição ao parnasianismo e ao academicismo.
o Experimentações estéticas.
o Renovações artísticas, principalmente por um conceito estético conhecido como antropofagia.
Conceito este inspirado nos quadros de Tarsila do Amaral e consistia em utilizar estéticas das
vanguardas europeias e “abrasileirá-las”. Esse conceito é estabelecido ao mesmo tempo em que inicia
um movimento com a publicação do Manifesto Antropófago, de José Oswald de Sousa de Andrade,
ou melhor, Oswald de Andrade em 1928.
o Ironia, sarcasmo e irreverência.
o Caráter anárquico e destruidor que visa romper com a tradição.
o Uso de versos livres
o (sem métrica) e brancos (sem rima).

Manifestos e revistas
Revista Klaxon — Mensário de Arte Moderna (1922-1923)
Klaxon foi uma revista mensal de arte moderna que circulou em São Paulo de 15 de maio de 1922 a
janeiro de 1923. Seu nome é derivado do termo usado para designar a buzina externa dos automóveis.
O principal propósito da revista foi servir de divulgação para o movimento modernista, e nela
colaboraram nomes como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia,
Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha, entre
outros artistas e escritores.
Também destacam-se na revista a busca pelo atual; o culto ao progresso; a concepção de que a arte não
deve ser uma cópia da realidade; aproveitamento das lições de uma nova arte em evidência, o cinema.

Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924-1925)


Foi escrito por Oswald de Andrade e publicado inicialmente no Correio da Manhã. Esse manifesto foi
republicado em 1924 como abertura do livro de poesias Pau-Brasil. Apresenta uma proposta de literatura
vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil. Este manifesto dizia que a arte
brasileira deveria ser de "exportação" tal qual o Pau-Brasil.

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Verde-Amarelismo ou Escola da Anta (1926-1929)
Grupo formado por Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo em
resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil, criticando-se o “nacionalismo afrancesado” de Oswald. Sua
proposta era de um nacionalismo primitivista, ufanista, identificado com regimes nacionalistas europeus,
evoluindo para o Integralismo. Idolatria do tupi e a anta é eleita símbolo nacional. Em maio de 1929, o
grupo verde-amarelista publica o manifesto "Nhengaçu Verde-Amarelo — Manifesto do
Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta".

Manifesto Regionalista de 1926


De 1925 a 1930 foi um período marcado pela difusão do Modernismo pelos estados brasileiros. Nesse
sentido, o Centro Regionalista do Nordeste (Recife), presidido por Gilberto Freyre, buscava desenvolver
o sentimento de unidade do Nordeste nos novos moldes modernistas. Propõem trabalhar em favor dos
interesses da região, além de promover conferências, exposições de arte, congressos, etc. Para tanto,
editaram uma revista. Vale ressaltar que o regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos, Alfredo
Pirucha, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Antonio de Queiroz, Lucas Amado e João Cabral,
em 1926. O manifesto é muitas vezes dúbio, pois, ao mesmo tempo que critica o provincianismo à la
paulistocentrismo que atrapalha o regionalismo, acaba gerando um recifilismo pernambucocentrista. Do
mesmo modo critica certas influências do Ocidente Setentrional e ao mesmo tempo vangloria-se de
influências ibéricas, holandesas, etc; ignora que as civilizações nordestinas surgem fundadas por
ocidentais ibéricos, franceses, holandeses, etc e depois volta atrás.

Revista de Antropofagia (1928-1929) É a nova etapa do Pau-Brasil, sendo resposta a Escola da Anta.
Seu nome origina-se da tela Abaporu (O que come) de Tarsila do Amaral. O Movimento antropofágico
foi caracterizado por assimilação (“deglutição”) crítica às vanguardas e culturas europeias, com o fim de
recriá-las, tendo em vista o redescobrimento do Brasil em sua autenticidade primitiva. Contou com duas
fases, sendo a primeira com dez números (1928 – 1929), sob direção de Antônio Alcântara Machado e
gerência de Raul Bopp, e a segunda publicada semanalmente em 25 números no jornal Diário do Rio de
Janeiro em 1929, tendo como secretário Geraldo Ferraz.

Primeira fase da revista


Iniciada pelo polêmico Manifesto Antropofágico de Oswald, conta com Antônio de Alcântara Machado,
Mário de Andrade (com a publicação de um capítulo de Macunaíma em seu 2º número), Carlos
Drummond de Andrade (3º número, publicou a poesia No meio do caminho); além de desenhos de Tarsila
do Amaral, artigos em favor da língua tupi de Plínio Salgado e poesias de Guilherme de Almeida.

Autores do Moderniso 1ª fase

Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, conhecido como Manuel Bandeira, nasceu na cidade do
Recife, Pernambuco, no dia 19 de abril de 1886. Era filho do engenheiro Manuel Carneiro de Souza
Bandeira e de Francelina Ribeiro, abastada família de proprietários rurais, advogados e políticos.
Manuel Bandeira iniciou seus estudos no Recife. Em 1896, com 10 anos, mudou-se com a família para o
Rio de Janeiro, concluindo o curso secundário no Colégio Pedro II. Em 1903 ingressou no curso de

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Arquitetura da Escola Politécnica de São Paulo, mas interrompeu os estudos para tratar de uma
tuberculose.
Em 1917 publicou sua primeira obra, “Cinza das horas”, surgindo a segunda logo depois, “Carnaval” –
época essa em que o poeta começou a manter relacionamento com o grupo de artistas da Semana de Arte
Moderna. Falando em tal evento, é bom que se diga que Bandeira não teve participação, apenas seu
poema “Os sapos” foi lido por Ronald de Carvalho. Em 1920, mudou-se para a Rua do Curvelo em São
Paulo, onde lá viveu treze anos. Faleceu em 1968, na cidade do Rio de Janeiro.
Para a Semana de Arte Moderna de 1922, enviou o poema Os Sapos, que lido por Ronald de Carvalho,
tumultuou o Teatro Municipal, com vaias e gritos.
Em 1924 publicou "Ritmo Dissoluto", obra de transição. A partir de 1925, escreveu crônicas para jornais
quando faz críticas de cinema e música.
Em 1930, Manuel Bandeira publicou "Libertinagem", obra de plena maturidade modernista, com todas as
suas implicações (verso livre, língua coloquial, irreverência, liberdade criadora etc.), e o alargamento da
lírica nacional pela sua capacidade de extrair a poesia das coisas aparentemente banais do cotidiano.
Na obra Libertinagem se destacam os poemas: "O Cacto", "Pneumotórax", "Evocação ao Recife", nos
quais tematiza a infância fazendo uma descrição da cidade do Recife no fim do século XIX, e Vou-me
Embora pra Pasárgada, uma espécie de autobiografia lírica

Temas da obra de Manuel Bandeira


Alma romântica, remodelada pelo existencialismo do séc. XX, sem sentimentalismos e sem idealizações,
seus temas são:
o A paixão pela vida
o O conformismo com a morte
o O amor e o erotismo
o A angústia existencial
o A infância
o As ações mecânicas do cotidiano
o Temas como infância, amor , doença e morte são recorrentes nas suas criações.
o Quanto á morte, ele se mostra indiferente, ou seja, abnega-se de um sofrimento de autopiedade, faz
uso do humor e da crítica para justamente camuflar realidades existenciais.

Fases da obra de Manuel Bandeira

Fase Pós-simbolista
Deixa escapar traços ainda ligados ao espírito decadentista do Simbolismo, como também a musicalidade
formal das horas.

Fase Modernista
Na segunda fase, na qual podemos constatar traços modernistas, o poeta deixou se revelar pela simplicidade
impressa na escola das palavras.
- Traço esse revelado por alguém que capta fatos fugazes, banais do cotidiano.
- Outro aspecto faz referência ao desapego quanto ao formalismo, demarcado pelas criações impregnadas de versos
livres e brancos.

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Mesmo que ligeiramente, um tom voltado para o ideário modernista, no sentido de pontuar os
rebuscamentos linguísticos proferidos pela arte parnasiana e simbolista, sobretudo voltados pela sintaxe
exagerada

3º fase pós- modernista


Pendeu para o culto dos versos tradicionais, ritmados, livres e brancos, além de algumas formas populares
como o rondó – poema constituído apenas de duas rimas e formado por três estrofes, totalizando quinze
versos.

Mário de Andrade
Mário de Andrade (1893-1945) foi um escritor brasileiro. Publicou "Pauliceia Desvairada" o primeiro
livro de poemas da primeira fase do Modernismo. Além de poeta, foi romancista, contista, crítico
literário, professor e pesquisador de manifestações musicais e excelente folclorista.
Em 1917, com a morte do pai, passa a trabalhar como professor de piano. Também atua como crítico de
arte e frequenta as rodas artísticas paulistanas, onde conhece Oswald de Andrade e Anita Malfatti, de
quem se tornou muito próximo e com quem articulou a Semana de Arte Moderna de 1922.
Foi também em 1922 que publicou Pauliceia desvairada, livro considerado marco do modernismo
brasileiro. A partir desse período, tornou-se uma das mais importantes figuras da literatura e da cultura
brasileiras, conciliando uma intensa produção literária com dedicada vida de estudos do folclore
brasileiro, da música e das artes visuais."
"Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1938 e tornou-se diretor do Instituto de Artes do Distrito Federal. De
volta a São Paulo, trabalhou no Serviço do Patrimônio Histórico. Vítima de um ataque cardíaco, faleceu
em São Paulo, em 25 de fevereiro de 1945.

Pauliceia Desvairada é uma obra cosmopolita na linguagem e nos temas. Mario poetiza São Paulo em
suas múltiplas manifestações: o progresso, a transformação da paisagem, os imigrantes e a cidade sempre
envolta em garoa.Nos poemas, Mário realiza ousadas experiências de linguagem: versos livres,
associações de imagens, simultaneidade e linguagem coloquial.

Macunaíma, de todas as obras em prosa, foi Macunaíma (1928), a obra-prima de Mário de Andrade
é provavelmente a mais importante realização da primeira fase do Modernismo. O livro representa não
apenas o resultado das pesquisas e das qualidades do autor como poeta, prosador, músico e folclorista,
mas também a plena realização dos projetos nacionalistas.

Na obra, a lenda indígena, Macunaíma, foi transfigurada e com propriedade chamada de rapsódia por
Mário, que tomou emprestado esse nome da música, por designar composição que envolve uma variedade
de motivos populares e apresenta semelhanças com os romances medievais. A obra foi adaptada para o
cinema em 1969.
Macunaíma é uma das obras mais emblemáticas do movimento modernista, devido ao
seu caráter irônico e antirromântico; pois, ao contrário dos heróis indígenas românticos, o herói (ou
anti-herói) Macunaíma não tem nenhum caráter. Além disso, é adepto da preguiça e gosta de “brincar”
(eufemismo usado por Mário de Andrade para se referir ao ato sexual).
Macunaíma é um índio brasileiro que, como qualquer herói, vive aventuras. A diferença é que o
protagonista não se destaca pela sua valentia, como ocorre com qualquer herói típico, mas pela sua

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esperteza e desonestidade. Assim como o índio romântico representava o povo brasileiro, de forma
idealizada, o índio Macunaíma também cumpre esse papel, mas destituído de qualquer idealização.
Nessa perspectiva, o autor põe em evidência a identidade brasileira, mas a partir de um olhar crítico.
Assim, a cultura brasileira (marcada por referências indígenas e africanas) é colocada em foco. Seres
lendários como o Curupira e Ci (a Mãe do Mato) coexistem com a realidade de um grande centro urbano
e industrial como São Paulo, de maneira que os contrastes de nossa cultura são evidenciados.
Quando criança, a partir de um acontecimento extraordinário, Macunaíma se transforma em “um
príncipe fogoso” e “brinca” com Sofará, a companheira de seu mano Jiguê. Mais tarde, o herói conhece
Ci, a Mãe do Mato, que fica grávida dele. Ao filho, Macunaíma dá o seguinte conselho: “Meu filho,
cresce depressa pra você ir pra São Paulo ganhar muito dinheiro”. Mas o curumim acaba morrendo.
Então, Ci dá uma muiraquitã para o companheiro. Depois, sobe “pro céu por um cipó” e vira uma
estrela.
Mais tarde, Macunaíma perde o amuleto dado por Ci. A pedra vai parar nas mãos de Venceslau Pietro
Pietra ou Piaimã, o gigante comedor de gente. Macunaíma decide ir para São Paulo, em busca da
muiraquitã. Os manos Jiguê e Maanape acompanham o herói e precisam enfrentar o gigante e sua
companheira, Ceiuci. Ao conseguir de volta o amuleto, Macunaíma e os irmãos voltam para a beira do
Uraricoera, onde nasceu Macunaíma.
Mas Vei, a Sol, para se vingar de Macunaíma, que rejeitou uma de suas filhas, torce para ele cair nos
braços da Uiara, sereia de rios e lagos. O herói é seduzido, e a Uiara come partes de seu corpo:
“Quando Macunaíma voltou na praia se percebia que brigara muito lá no fundo. Ficou de bruços um
tempão com a vida dependurada nos respiros fatigados. Estava sangrando com mordidas pelo corpo
todo, sem perna direita, sem os dedões sem os cocos-da-Baía, sem orelhas sem nariz sem nenhum
dos seus tesouros. Afinal pôde se erguer. Quando deu tento das perdas teve ódio de Vei. A galinha
cacarejava deixando um ovo na praia. Macunaíma pegou nele e chimpou-o no carão feliz da Sol. O ovo
esborrachou bem nas bochechas dela que sujou-se de amarelo pra todo o sempre. Entardecia.”
Dessa forma, em meio a situações fantásticas e elementos da cultura africana e indígena, o
romance Macunaíma revela a identidade nacional e lança luz sobre o caráter do povo brasileiro.
Portanto, elementos como o misticismo, a preguiça, o erotismo, a esperteza são usados na construção da
imagem heroica ou anti-heroica desse povo.

Oswald de Andrade
José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em 11 de janeiro de 1890, em uma família de
posses. Foi esse patrimônio familiar que o possibilitou, ainda muito jovem, em 1912, passar uma
temporada na Europa, onde teve contato com a boemia estudantil parisiense e com o futurismo
ítalo-francês.
Formou-se em Direito em 1919, mas passou a atuar como jornalista literário, escrevendo para diversos
jornais, como o Correio Paulistano, o Correio da Manhã, O Estado de São Paulo e o Diário Popular.
Entre 1923 e 1934, produziu intensamente em diversos gêneros literários — manifestos, poemas, peças
teatrais e um ciclo de romances, todos intensamente atrelados à empreitada modernista.
Casou-se com a pintora Tarsila do Amaral em 1926, com quem viajou diversas vezes à Europa, sempre
imerso nos círculos artísticos e intelectuais parisienses. Contudo, a Grande Depressão de 1929 e a
chegada de Vargas ao poder em 1930 levaram Oswald a perder boa parte de seus bens."

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Irônico, provocador e militante político, foi o idealizador dos manifestos modernistas brasileiros, além de
uma das personalidades mais polêmicas de seu tempo. Seu nome está diretamente relacionado com a
organização da Semana de Arte Moderna de 1922, com a reformulação do que se considerava arte e
literatura no Brasil, e com o fortalecimento da intelectualidade nacional.

Oswald de Andrade foi um escritor da primeira fase modernista (1922-1930), a qual apresentou as
seguintes características:
o Inovação estética
o Crítica à tradição literária
o Liberdade formal
o Nacionalismo crítico
o Regionalismo
o Uso da linguagem coloquial
o Elementos sociopolíticos

As obras do autor apresentam também as seguintes peculiaridades:


o Humor
o Fragmentação
o Ironia
o Caráter ideológico
o Metalinguagem
o Prosa com frases curtas
o Sátira da vida burguesa
o Poesia ágil ou sintética
o Presença de neologismos

2ª fase Modernista
Para entender melhor essa fase, sempre é importante incluir no seu método de estudo as informações
sobre contexto histórico. Veja:

o crise de 1929 (Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque);


o crise cafeeira;
o ascensão do nazifacismo;
o sensação de desesperança gerada por duas grandes guerras ocorridas de forma sequencial;
o começo do combate ao comunismo e prelúdio da Guerra Fria;
o revolução constitucionalista de 1932;
o começo dos processos de urbanização no Brasil.

Características: Entender o contexto histórico permite compreender melhor as principais características


da segunda fase do movimento modernista no Brasil:

o temos um contexto de crise no Brasil (crise cafeeira) e no mundo (quebra da bolsa de Nova Iorque), e
isso leva a produção literária a se colocar a serviço da análise crítica da realidade;

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o o quadro social, econômico e político no qual o Brasil e o mundo estavam inseridos no início da
década de 1930 exigia dos artistas uma nova postura diante da realidade, bem como uma nova
posição ideológica e viés crítico;
o reflexões sobre o sentido de existir;
o conflitos sobre uma maior compreensão espiritual em conflito com um sentimento de desilusão sobre
o mundo;
o liberdade formal na produção;
o perspectiva realista;
o influência de elementos da psicanálise freudiana;
o foco no mundo contemporâneo;
o presença do regionalismo romântico na prosa.

Poesia de 30

A Poesia de 30 representa um conjunto de obras poéticas produzidas no Brasil durante a segunda geração
modernista (1930-1945).
Chamada de "Geração de 30", esse período é considerado um dos melhores momentos da poesia
brasileira, marcada por um período de maturidade dos escritores. Nesse momento, os ideais modernos já
estavam consolidados e por isso, é chamada também de "fase de consolidação".
A poesia da 2ª fase modernista percorreu um caminho de amadurecimento. No aspecto formal, o verso
livre foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo tempo, se caracteriza como uma poesia de
questionamento: da existência humana, do sentimento de “estar-no-mundo”, inquietação social, religiosa,
filosófica e amorosa.
A poesia continuou adotando o verso livre, mas resgatou também formas como o soneto ou o madrigal
sem que isso fosse necessariamente um retorno às estéticas do passado, tão questionadas pelos poetas que
ganharam projeção na Semana de Arte Moderna.
A poesia estava em sintonia com as diversas manifestações artísticas e com outras esferas culturais e, por
esse motivo, é possível encontrar influências do Surrealismo e até mesmo da psicanálise, que dilataram o
campo de experimentações poéticas.

Características da poesia moderna

o Liberdade formal;
o Experimentação estética;
o Uso de versos brancos e livres;
o Universalismo;
o Ironia e humor;
o Regionalismo e coloquialismo;
o Rejeição ao academicismo.

Principais poetas da segunda fase modernista:

o Carlos Drummond de Andrade;


o Cecília Meireles;

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o Vinicius de Moraes
o Murilo Mendes

Cecília Meireles
o A escritora Cecília Meireles nasceu em 1901 e faleceu em
1964.
o Além de poetisa, foi professora e fundadora da primeira
biblioteca infantil brasileira.
o Suas poesias apresentam um tom melancólico e reflexões de
caráter existencial.
o Sua obra mais conhecida é o livro Romanceiro da
Inconfidência.

Características da obra de Cecília Meireles


o conflito existencial e espiritual;
o temas contemporâneos;
o elementos sociais e políticos;
o uso de versos regulares, brancos e livres;
o equilíbrio entre inovação e tradição;
o aspecto melancólico;
o evasão;
o uso de sinestesia;
o temáticas de amor, solidão e saudade;
o reflexões sobre religião e morte;
o observações sobre a efemeridade da existência.

Poesia Histórica: A obra máxima de Cecília Meireles foi o poema épico-lírico Romanceiro da
Inconfidência, no qual se encontram os maiores valores de sua poética. Trata-se de uma narrativa rimada,
escrita em homenagem aos heróis que lutaram e morreram pela Pátria: Romanceiro da Inconfidência,
livro mais famoso de Cecília Meireles, foi publicado, pela primeira vez, em 1953. Possui caráter
narrativo, apesar de ser escrito em versos, e tem como principal temática a Inconfidência Mineira. A obra
é dividida em cinco partes e possui 85 romances, escritos em versos regulares (redondilhas e
decassílabos).

O narrador faz reflexões sobre o tempo e sobre a ambição relacionada ao ouro de Minas. Também conta
outras histórias ocorridas no estado, de forma a traçar uma identidade mineira, a partir de suas tradições e
personagens históricos. O principal espaço da narrativa é a cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto.

Poesia Reflexiva: Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que abordou temas
como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito e a natureza. Cecília foi uma escritora
intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir das próprias experiências.

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Uma série de cinco poemas, todos intitulados Motivo da Rosa, da obra “Mar Absoluto”, abordam o tema
da efemeridade do tempo.

Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes (1913-1980) foi um poeta e um dos maiores compositores da música popular
brasileira, além de ter sido um dos fundadores da Bossa Nova - um movimento musical surgido nos anos
50. Foi também dramaturgo e diplomata.
Em 1929, Vinicius iniciou o curso de Direito da Faculdade Nacional do Rio de Janeiro. Em 1933, ano de
sua formatura, publicou seu primeiro livro de poemas, O Caminho
Para a Distância, onde reúne suas poesias. Não exerceu a advocacia.
Trabalhou como representante do Ministério da Educação na censura
cinematográfica, até 1938, quando recebeu uma bolsa de estudos e
seguiu para Londres, onde cursou Literatura Inglesa na Universidade
de Oxford. Trabalhou na BBC londrina até 1939. Em 1940, iniciou, no
jornal “A Manhã”, a carreira jornalística, escrevendo uma coluna como
crítico de cinema.
Vinicius de Moraes foi um poeta que marcou a literatura e a música, e
até hoje é relembrado, inclusive em nomes de avenidas, ruas, perfumes,
etc. Ficou conhecido como “O Poetinha”
Em 1943, Vinicius de Morais é aprovado no concurso para Diplomata. Vai para os Estados Unidos, onde
assume o posto de vice-cônsul em Los Angeles. Serviu sucessivamente em Paris, a partir de 1953, em
Montevidéu a partir de 1959 e novamente em Paris, em 1963.
Vinicius voltou definitivamente ao Brasil em 1964. Em 1968 foi aposentado compulsoriamente pelo Ato
Institucional Número Cinco.
O artista morre em 09 de julho de 1980, vítima de edema pulmonar

Fases da poesia

1ª fase:
A primeira inicia-se em 1933 e abrange os livros O caminho para a distância (1933); Forma e exegese (1935);
Ariana, a mulher (1936). Nesse período encontramos um poeta místico, que escrevia versos longos, de tom
bíblico-romântico, de espiritualidade católica e visionária. O próprio poeta caracterizou esta fase como "o
sentimento do sublime". Na "Advertência" à sua Antologia Poética ele afirmava que "a primeira [fase],
transcendental, frequentemente mística, [era] resultante de sua fase cristã".

2ª fase:
A segunda fase (ou como se costuma dizer: o segundo Vinicius) tem início em Cinco Elegias, de 1943. O novo tom,
a nova linguagem, as novas formas e temas, que vinham desde Novos poemas, de 1933, intensificam-se e
diversificam-se nos livros posteriores - Poemas, sonetos e baladas (1946) e Novos poemas II (1959) -, em que se
mostram tanto as formas clássicas (soneto de tradição camoniana e shakespeariana) quanto a poesia livre (em "A
última elegia", os versos têm forma de serpente). O poeta sente-se à vontade para inventar palavras, muitas vezes
bilíngues, ou praticar a oralidade maliciosa.

Por haver nessa fase uma renúncia à superstição e ao purismo fortemente presentes na primeira, bem como um
direcionamento para uma atitude mais brincalhona e amorosa perante a poesia, essa segunda fase ficou conhecida

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como "O encontro do cotidiano pelo poeta".
Nessa passagem do metafísico para o físico, do espiritual para o sensual, do sublime para o cotidiano, o poeta
retoma sugestões românticas (como lua, cidade, samba). Refugia-se no erotismo: há contemplação do amor,
poemas "sobre a mulher" e adoração panteística da natureza. Compôs também poemas de indignação social, cujos
exemplares são: "Balada dos mortos dos campos de concentração", "O operário em construção" e "A rosa de
Hiroxima".

3ª fase
O terceiro Vinicius é o compositor, letrista e cantor. Autor de mais de trezentas músicas (como atesta seu Livro de
letras, lançado postumamente, em 1991, onde estão mais de 300 letras de músicas de sua autoria), difundidas pelo
mundo com o grande acontecimento cultural e musical que foi a bossa nova. Seus parceiros, como vimos, vão
desde Bach a Toquinho.
Embora a crítica fizesse (faça) tal divisão, colocando de um lado o poeta e de outro o showman, Vinicius nunca
concordou que houvesse diferença entre seus sambas e seus poemas escritos, pois para ele tudo era ig

Características da obra de Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes é um autor da segunda geração do modernismo brasileiro, e suas obras apresentam as
seguintes características:
● angústia existencial;
● conflito espiritual;
● crítica sociopolítica;
● liberdade formal;
● reflexão sobre a contemporaneidade.

No entanto, as obras do poeta apresentam peculiaridades como:


● traços simbolistas;
● temas religiosos;
● elementos do cotidiano;
● temática amorosa;
● uso de antíteses;
● estrutura de soneto.

Murilo Mendes - O poeta cósmico e social


Murilo Monteiro Mendes (nome completo) nasceu na cidade de Juiz de Fora (Minas Gerais), em 13 de
maio de 1901. Faleceu na cidade de Lisboa, aos 74 anos, em 13 de agosto de 1975.
o Sua obra é marcada pelo nacionalismo, principalmente no início de sua carreira literária. Nessa fase, o
coloquialismo e o humor também estão presentes em suas poesias.
o Abordou diversos temas da cultura brasileira, em suas obras.
o Num segundo momento de sua vida como escritor, notamos a
influência do surrealismo. Questões cotidianas, imaginárias e relacionadas
aos sonhos estão presentes em suas poesias. A fusão equilibrada entre
realidade e imaginário é uma das principais características desse momento.
o Mendes também é reconhecido por sua poesia engajada, abordando
questões sociais e políticas.

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o A partir de 1930, Murilo Mendes se converte ao catolicismo e os temas e valores dessa religião passam
a habitar sua obra. A esperança e a visão crítica aparecem nesse contexto.
o Entre 1945 e 1960, mais ou menos, Murilo Mendes assume uma tendência neoclássica no mundo
poético, porém, mantendo a liberdade de criação.
o A partir da década de 1960, o escritor começa a deixar a poesia e caminha em direção à prosa. É uma
fase marcada pela diversidade temática e mistura de formas literárias.

Poesia Religiosa

Murilo Mendes foi um dos principais representantes da poesia religiosa cultivada na Segunda Geração do
Modernismo. Com a publicação de “Tempo e Eternidade” (1935), escrito em parceria com Jorge de Lima,
Murilo Mendes registra a interferência do elemento religiosidade, fruto de sua adesão ao catolicismo, e
apresenta uma poesia onde combina elementos de espiritualidade mística, com aspectos da religiosidade
popular brasileira.

Poesia Surrealista: Murilo Mendes foi considerado como o principal representante da poesia surrealista
no Brasil. A partir da publicação do livro “O Visionário” (1941), evidencia-se na obra de Murilo Mendes
uma poesia surrealista, quando o poeta funde o imaginário e o cotidiano, o onírico e o intra-mundano,
assim como o eterno e o contingente. A poesia “Solidariedade” é parte integrante do livro “Os
Visionários”.

O autor apresenta estas especificidades:


o Marcas do surrealismo.
o Elementos da tradição católica.
o Perspectiva irônica típica da primeira geração modernista.
o Consciência social associada ao aspecto espiritual.

Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. Em 1910,
começou a estudar no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito, em sua cidade natal. Em 1916, iniciou seus
estudos no internato e colégio Arnaldo, em Belo Horizonte. Já em 1918, foi morar em Nova Friburgo, no
estado do Rio de Janeiro, para estudar, como interno, no colégio Anchieta.
Em 1925 casou-se com Dolores Dutra de Morais, com
quem teve dois filhos, Carlos Flávio (em 1927, que
vive apenas meia hora) e Maria Julieta Drummond de
Andrade, nascida em 1928.
Em 1930, dentro das diretrizes da Segunda Geração
Modernista, Drummond publicou seu primeiro
livro intitulado Alguma Poesia, no qual retrata a vida
cotidiana, as paisagens, as lembranças, com certo
pessimismo, deixando transparecer sua ironia e humor.
Drummond abriu o livro com o Poema de Sete Faces,
que mostra sua inquietação e originalidade, que veio a
se tornar um dos seus poemas mais conhecidos.

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Também fazem parte do livro os poemas: No Meio do Caminho, Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, tipo
de poema em que o amor, antes de ser descrito é questionado e revela um sentido oculto, o amor como
desencontro.

Anos 40

Em 1940, Drummond publicou Sentimento do Mundo, quando se coloca solidário com os homens. A
destruição provocada pela Guerra Mundial, o levou a expressar um desejo intenso de reconstruir o
mundo.
Em 1942, ano em que o Brasil entrou na Segunda Guerra, ele publicou o livro José, que inclui o poema
do mesmo nome, mostrando a figura anônima de um personagem que vive em um contexto burocrático.
m 1945, Drummond publicou o livro de poemas A Rosa do Povo que condena a vida mecanizada e
desumana de seus dias e espelha uma carência de um mundo certo pautado na justiça que venha substituir
a falta de solidariedade de seu momento.
A poesia de caráter social assume nova dimensão e seus temas preferidos são: a angústia dos seres
escravos do progresso, o medo, o tédio e a solidão do homem moderno. O livro é ao mesmo tempo um
misto de condenação e exaltação, porque existe a esperança de um mundo melhor

Anos 50 e 60

Com a publicação de Claro Enigma (1951) a criação poética de Drummond segue duas orientações: de
um lado a poesia reflexiva, filosófica e metafísica, na qual aparecem com frequência os temas da morte e
do tempo e, de outro lado, a poesia nominal, com tendências ao Concretismo, em que ressalta a
preocupação com recursos fônicos, visuais e gráficos do texto.
Também fazem parte dessa orientação os livros: Fazendeiro do Ar (1955) e Vida Passada a Limpo.
Em Lição de Coisas (1962), o poeta é tomado pela poesia nominal, muito próxima da filosófica, em cuja
linguagem o verso e a palavra são desintegrados com o uso constante de neologismos, alienações e
rupturas sintáticas que se aproximam do Concretismo, embora o poeta não tenha admitido. Os versos a
seguir mostram essa orientação

Anos 70 e 80

A produção poética de Drummond nas décadas de 70 e 80 dão um amplo destaque ao universo da


memória, quando são representadas por temas universais e temas que nortearam toda sua obra, como a
infância, Itabira, o pai, a família etc. É o que se observa nas obras Menino Antigo, As Impurezas do
Branco, Amor Amores, Corpo, A Paixão Medida e outras.

Características literárias
o Temática contemporânea
o Crise existencial
o Conflito espiritual
o Temática sociopolítica
o Liberdade linguística
o Liberdade formal
o Realismo"

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Fases da poesia de Drummond
1ª FASE - EU MAIOR QUE O MUNDO

Marcada pela poesia irônica.


Esta fase (a fase gauche) tem como características o pessimismo, o isolamento, o individualismo e a
reflexão existencial. Nota-se nesta fase um desencanto em relação ao mundo. Nesta fase, sem se deixar
envolver, o poeta mantém um certo distanciamento do mundo à sua volta, o que lhe possibilita brincar e
soltar a razão, deixando-a entregue a si mesma, maquinando incertezas e certezas, mais afeitas a negar e
anular que a construir. Daí os temas do cotidiano, da família, do isolamento, da monotonia entendiante
das coisas e do viver, expressos numa linguagem coloquial plena de ironia seca, sarcasmo e humor
desencantado, onde sentimento e emoção são refreados.
Obras características dessa fase: Alguma poesia, Brejo das almas obra já considerada de transição para a
fase social.
2ª FASE - EU MENOR QUE O MUNDO

Marcada pela poesia social.


Esta fase, chamada fase social, é marcada pela vontade do poeta de participar e tentar transformar o
mundo, o pessimismo e o isolamento da 1ª fase, é posto de lado. O poeta se solidariza com os problemas
do mundo. Nesta fase, sem se distanciar, deixa-se envolver pela realidade à sua volta e canta a impotência
e a solidão em um mundo mecânico, frio e político; a decepção e a falta de perspectiva diante da
fragmentação causada pela guerra; o sofrimento e a solidariedade do ser humano brasileiro e universal.
Temas estes abordados em tons ora esperançosos, ora desesperançosos, com a mesma ironia, humor e
sobriedade.
Obras características dessa fase: Sentimento do Mundo (1940) José (1942) e Rosa do Povo (1945).

3ª FASE- EU IGUAL AO MUNDO

Nesta fase o poeta questiona a existência humana, reflete sobre a crise do indivíduo e da linguagem.
Utilizando-se de um tom melancólico e descrente, a obra “Claro Enigma”, abrange a metafísica e a
preocupação filosófica.
Nessa fase, a poesia de Drummond segue duas orientações: de um lado, a poesia reflexiva, filosófica e
metafísica - em que, com frequência, aparecem os temas universais de caráter existencial, como vida,
morte, velhice, tempo, amor e os temas sempre presentes, como a família, a infância e a própria
poesia, todos eles seguindo uma linha de pensamento extremamente pessimista. De outro lado, a poesia
nominal, com tendências ao Concretismo, em que o poeta ressalta a preocupação com recursos fônicos,
visuais e gráficos do texto.

Em “Lição de Coisas”, o poeta valoriza os aspectos visuais e sonoros da palavra, uma “poesia objectual”.

Poesia objectual. Representando uma ruptura em relação à fase anterior, o poeta abandona a forma fixa,
utilizando o verso que tem apenas a medida e o impulso determinados pela coisa poética a exprimir. Essa
atitude lúdica, a opção concreto-formalista que o poeta agora realiza é uma radicalização de processos
estruturais que sempre marcaram seu modo de escrever: a preferência pelo prosaico, pelo irônico, pelo

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anti-retórico, pelo antilirismo intencional, acrescido agora de uma exploração dos elementos materiais da
palavra (a letra impressa, o som, a disposição espacial).

4ª FASE – A FASE DA MEMÓRIA

Como o próprio nome já diz, as obras desta fase (década de 70 e 80), são cheias de recordações do poeta.
Os temas infância e família são retomados e aprofundados além dos temas universais já discutidos
anteriormente.
Obras características dessa fase:

Boitempo,
A falta que ama, Menino antigo
Esquecer para lembrar
A paixão medida
Corpo, Amar se aprende amando
Amor natural.

Temas da poesia de Drummond


- O Indivíduo: "um eu todo retorcido". O eu lírico na poesia de Drummond é complicado, torturado,
estilhaçado. Vale ressaltar que o próprio autor já se definia no primeiro poema de seu primeiro livro
(Alguma Poesia) como um gauche, ou seja, alguém desajeitado, deslocado, tímido, posição que marca
presença em toda sua obra.
- A Terra Natal: a relação com o lugar de origem, que o indivíduo deixa para se formar.
- A Família: o indivíduo interroga, sem alegria e sem sentimentalismo, a estranha realidade familiar, a
família que existe nele próprio.
- Os Amigos: "cantar de amigos" (título que parafraseia com as Cantigas de Amigo). Homenagens a
figuras que o poeta admira, próximas ou distantes, de Mário de Andrade a Manuel Bandeira, de Machado
de Assis a Charles Chaplin.
- O Choque Social: o espaço social onde se expressa o indivíduo e as suas limitações face aos outros.
- O Amor: nada romântico ou sentimental, o amor em Drummond é uma amarga forma de conhecimento
dos outros e de si próprio
- A Poesia: o fazer poético aparece como reflexão ao longo da sua poesia.
- Exercícios lúdicos, ou poemas-piada: jogos com palavras, por vezes de aparente inocência naïf.
- A Existência: a questão de estar-no-mundo.

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PROSA DA GERAÇÃO DE 30
A prosa de 1930 é chamada de Neorrealismo pela retomada de alguns aspectos do
Realismo-Naturalismo, contudo, com características particulares preservadas.
O romance de 30, teve como marco inicial a publicação do romance “A Bagaceira” (1928), do escritor
José Américo de Almeida. Para tanto, os escritores dessa geração estavam preocupados em denunciar as
desigualdades e injustiças sociais no país, sobretudo na região do Nordeste, criando uma literatura
ficcional crítica e revolucionária cujo tema era a vida rural, agrária.
A literatura estava voltada para a realidade brasileira como forma de manifestar as então recentes crises
sociais e inquietações da implantação do Estado Novo do governo Vargas e da Primeira Guerra Mundial.
Os romancistas observavam com olhos críticos a realidade brasileira, as relações entre o homem e a
sociedade. Pelo fato de os romancistas deste período adotarem como componente o lado emocional das
personagens, esta fase se diferenciou do Naturalismo, onde este item foi descartado.
O romance de 1930 faz uma retomada do regionalismo romântico; porém, a partir de uma perspectiva
realista, e não mais idealizadora. Nesse neorrealismo, além de rejeitar a idealização romântica, os autores
também deixaram de lado a impessoalidade realista do século XIX. Os romances desse período
resultaram de um engajamento político; portanto, trazem a visão pessoal do autor ou autora sobre a
realidade brasileira.

As obras desse período trazem um enredo dinâmico, além de uma linguagem simples, o que acabou
seduzindo os leitores e propiciando sucesso de vendas para alguns autores. Essas características, contudo,
não são aleatórias. O romance de 1930, dado o seu caráter ideológico, é construído, intencionalmente,
para ser sedutor e de fácil entendimento, de forma a alcançar o maior número de leitores possível.

A produção literária dessa fase pode ser dividida em três tipos de prosa:

• Regionalista: tendência originada no Romantismo e adotada pelos naturalistas e pré-modernistas, na


qual o tema é o regionalismo do nordeste, a miséria, a seca e o descaso dos políticos com esse estado.
Essa propensão tem início com o romance A bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928. Os
principais autores regionalistas são: José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Graciliano
Ramos.

Por ser regionalista, o enredo do romance é construído a partir da valorização do espaço, isto é,
personagem e espaço tornam-se uma coisa só, pois o lugar em que vive o personagem influencia
diretamente o seu comportamento. Nessa perspectiva, há uma retomada do determinismo naturalista;
porém, sem o peso da inevitabilidade do destino. Para a geração de 1930, se o meio é a causa dos
problemas sociais, isso se resolve ao transformar o meio.
• Urbana: tendência na qual a temática é a vida das grandes cidades, o homem da cidade e os problemas
sociais, o homem e a sociedade, o homem e o meio em que vive. O principal autor é Érico Veríssimo, no
início de sua carreira.
• Intimista: tendência influenciada pela teoria psicanalítica de Freud e de outras correntes da psicologia.
Tem como tema o mundo interior. É também chamada de prosa “de sondagem psicológica”. Os principais
autores são: Lúcio Cardoso, Clarice Lispector, Cornélio Pena, Otávio de Faria e Dionélio Machado.

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Características da prosa da segunda geração modernista

o regionalismo ou neorregionalismo;
o realismo ou neorrealismo;
o crítica sociopolítica;
o ausência de idealizações;
o parcialidade da voz narrativa;
o determinismo;
o valorização do espaço narrativo;
o linguagem simples;
o enredos dinâmicos.

Graciliano Ramos
Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo, Alagoas, em 27
de outubro de 1892. Fez apenas os estudos secundários em
Maceió. Após rápida passagem pelo Rio de Janeiro, fixa-se
em Palmeira dos Índios, interior de Alagoas; jornalista e
político, chega a exercer o cargo de prefeito da cidade.
Em 1936, às vésperas da decretação do estado Novo, foi
preso acusado de ser comunista. Permanecendo quase um
ano na cadeia passou por inúmeras humilhações, sendo
posto em liberdade posteriormente. Fixou-se no Rio de
Janeiro e não retornou mais ao Nordeste. Em 1953 foi
vitimado por um câncer, vindo a falecer em consequência
deste.
Graciliano Ramos é hoje considerado por grande parte da
crítica nosso melhor romancista moderno. Além disso, é tido
como o autor que levou ao limite o clima de tensão presente
nas relações homem / meio natural, homem / meio social, tensão essa geradora de um conflito intenso,
capaz de moldar personalidades e de transfigurar o que os homens têm de bom.
Nesse contexto violento, a morte é uma constante; é o final trágico c irreversível, decorrente de
relacionamentos impraticáveis. Assim, encontramos suicídios em Caetés e São Bernardo, um assassinato
em Angústia e as mortes do papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas.
Representando suas obras, destacam-se: Caetés (1933), como marco introdutório; São
Bernardo (1934); Angústia (1936) e Vidas Secas (1938); contos reunidos em Insônia (1947); as memórias
Infância (1945) e Memórias do Cárcere (1953) e, por último, Viagem (1954).

Características literárias de Graciliano Ramos: Graciliano Ramos figura entre um dos


principais expoentes do chamado Segundo Modernismo, ou Modernismo de 30. Marcado pela
consciência pessimista do subdesenvolvimento, os autores desse movimento tinham como horizonte a
compreensão de que os problemas sociais brasileiros eram estruturais. Portanto, desenvolveram uma
literatura que retomava as formas tradicionais do romance realista, cujo projeto ideológico propunha uma
denúncia dos contrastes sociais do Brasil.

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As obras de Graciliano Ramos, de forma geral, são marcadas por um pessimismo profundo em relação ao
homem. Ele cria situações em que as personagens se veem sempre em constantes inquietações quanto às
questões da existência humana. Cada personagem corresponde a um tipo social que de fato existe, e sua
elaboração provém da junção entre a pesquisa da interioridade psicológica humana aliada aos tipos
sociais brasileiros.

Fabiano, protagonista de Vidas secas, é o desvalido por completo; Paulo Honório, de São Bernardo, o
capitalista, o self-made man da periferia; Luis da Silva, em Angústia, é o neto da aristocracia decadente
que se torna funcionário público, extremamente revoltado porque perdeu o mandonismo, seu lugar social.
Para o autor, o homem é fruto de suas relações sociais. A sociedade perfaz o sujeito, e a sociedade
burguesa, fundamentalmente formada pela ideia de competição e busca incessante pelo dinheiro, acaba
gerando um mal social. Não obstante, não há maniqueísmo nas obras de Graciliano Ramos.
Diferentemente de Jorge Amado, também escritor da Geração de 30, Graciliano constrói suas
personagens de modo que esse mal social não se encontra em um indivíduo, já que todos estão marcados,
podres, aprisionados.
Repleta de análises psicológicas e escritas em uma linguagem rigorosa, bastante concisa e sem floreios, a
literatura de Graciliano é realista e engajada, retratando a vida tal como ela é, com base em uma postura
crítica da sociedade. Privilegia os problemas do trabalhador rural, a seca nordestina, a miséria e os
dilemas enfrentados pelo ser humano em sua relação ao meio hostil, cujas condições sociais não oferecem
solução.

Romance São Bernardo: São Bernardo” (1934), uma de suas obras-primas, narra a ascensão de Paulo
Honório, rico proprietário da fazenda São Bernardo. Com o objectivo de ter um herdeiro Paulo Honório
casa-se com Madalena, uma professora de ideias progressistas. Incapaz de entender a forma humanitária
pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. O ciúme e a incompreensão de
Paulo Honório levam-na ao suicídio. Com este personagem, Graciliano Ramos traça o perfil da vida e do
carácter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, em que não há espaço nem
para a amizade, nem para o amor. Trata-se de um romance admirável, não só pela caracterização da
personagem, mas também pelo tratamento dado à problemática da “coisificação” dos indivíduos.

Romance Vidas Secas: O livro “Vidas Secas” mantém uma estrutura descontinua não-linear, como
que reafirmando o isolamento, a instabilidade da família de retirantes. Fabiano, Sinhá Vitória, o menino
mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia. Formado por treze capítulos que sem nexo lógico, o
enredo de “Vidas Secas” organiza-se principalmente pela proximidade, pelo primeiro: Mudanças – a
chegada da família de retirantes a uma velha fazenda abandonada arruinada – e o último, Fuga – a saída
da família, que diante de um novo período de seca, foge para o sul. Além da tortura gerada pela
lembrança do passado e pelo medo do futuro, o romance foca outras faces da opressão que se exerce
sobre os membros da família.

A questão central do romance não está nos acontecimentos, mas nas criaturas que o povoam nas gravuras
de madeira. O narrador vai revelando a sua humanidade embotada, confundida com a paisagem áspera do
sertão, neste romance transcende o regionalismo e seu contexto específico – a seca do Nordeste, a
opressão dos pobres, a condição.

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Romance Memórias do Cárcere

Memórias Do Cárcere: I – Viagens


Entre suas obras autobiográficas, destaca-se “Memórias do Cárcere” (1953), depoimento sobre as
condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas. Num dos seus outros
livros autobiográficos "Infância", refere-se assim a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes
fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em
momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".

Memórias Do Cárcere: II – Pavilhão dos Primários

O crítico António Cândido divide a obra de Graciliano em três categorias:


a) Romances narrados em primeira pessoa (“Caetés”, “São Bernardo” e “Angústia”), nos quais se
evidencia a pesquisa progressiva da alma humana, ao lado do retrato e da análise social.
b) Romance narrado em terceira pessoa (“Vidas Secas”), no qual se enfocam os modos de ser e as
condições de existência, segundo uma visão distanciada da realidade.
c) Autobiografias (“Infância” e “Memórias do Cárcere”), em que o autor se coloca como problema e
como caso humano; nelas transparece uma irresistível necessidade de depor.

Romance Angústia: Angústia, obra do aclamado escritor Graciliano Ramos, foi publicada em 1936,
tendo como principal característica a descrição dos estados de alma dos indivíduos que se questionam o
tempo todo sobre si e o mundo. O protagonista do romance, Luís da Silva, funcionário público e escritor
frustrado, confessa desesperadamente ser autor de um homicídio. O estopim foi o fato da vítima, Julião
Tavares, ter conquistado a mulher que Luís da Silva amava.
A estrutura “desordenada” do texto narrativo escrito em primeira pessoa descreve a mente perturbada do
narrador e personagem Luís da Silva. Utilizando o recurso do monólogo interior, Graciliano Ramos faz
ajustes ao ponto de vista do seu narrador que conjuga o uso da memória pela imaginação. Angústia é um
romance narrado por seu protagonista, funcionário público e escritor diletante Luís da Silva. No início
aparece o seguinte enunciado:
Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões
que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à
realidade e me produzem calafrios. RAMOS, Graciliano. Angústia. RJ/SP: Record, 2005. p. 7.
O enunciado é uma prenunciação do que está por vir nas mais de duzentas páginas seguintes do romance
que abordarão a história de Luís entre sombras e a confissão de que só se aprende a realidade através de
fragmentos.
Luís vive revivendo suas frustrações intelectuais, memórias de infância, desejo pela vizinha Marina e
ódio de Julião Tavares que lhe rouba a mulher amada.

O romance imerge no estado psicológico do narrador-personagem visto como um homem complexo e


atormentado que vira refém do ciúme e do ressentimento até que comete um homicídio. Luís ao saber que
Marina, sua amada, mulher fútil, havia sido seduzida por Julião e abandonada grávida e que o meliante já
estava com outra mulher, começa a imaginar o crime e o realiza estrangulando Julião com uma corda; em
seguida, o pendura num galho de árvore para representar um suicídio.

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Jorge Amado
o Jorge Amado nasceu na cidade de Itabuna (Bahia) em
10 de agosto de 1912.
o Começou a escrever já na fase da adolescência.
o Passou a infância em Ilhéus e mudou-se para
Salvador para cumprir o ensino secundário, onde
permaneceu depois de terminar o colégio.
o Formou-se em Direito, em 1935, pelo Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Porém, como sua paixão era a
escrita, nunca exerceu a profissão de advogado.
o Foi casado por duas vezes. Sua primeira esposa foi
Matilde Garcia Rosa. A segunda foi a Zélia Gattai. As
duas eram escritoras. Com a primeira esposa teve uma
filha (Eulália Dalila Amado) e com a segunda teve dos
filhos (João Jorge e Paloma Jorge).
o Entre os anos de 1941 e 1942, viveu exilado na
Argentina. Passou por outros dois exílios: Em Paris (entre
1948 e 1950) e Praga (entre 1951 e 1952).
o Em 1946, foi eleito deputado federal, no estado de São
Paulo, pelo Partido Comunista Brasileiro.
o Em 1958, publicou o romance Gabriela, Cravo e
Canela.
o Morreu em Salvador (Bahia), no dia 6 de agosto de
2001, quatro dias antes de completar 89 anos de idade.

Características das obras:

o Neorregionalismo: elementos da cultura regional; no caso de Jorge Amado, da cultura baiana.


o Ausência de idealizações: ao contrário do regionalismo romântico, as obras da Geração de 30 não
apresentam caráter idealizador.
o Neorrealismo: as narrativas são realistas, mas, ao contrário do realismo do século XIX, apresentam
parcialidade por parte do narrador.
o Crítica sociopolítica: a obra mostra os problemas sociais e a negligência das autoridades políticas.
o Determinismo: o destino de alguns personagens é determinado pelo meio em que vivem, mas, ao
contrário do determinismo naturalista, no modernismo, o narrador vê solução para o problema, caso
haja uma transformação do meio.
o Valorização do espaço: o meio se torna imprescindível para a construção do personagem.
o Linguagem objetiva: o texto é claro e direto, visando ao entendimento imediato do(a) leitor(a).
o Narrativa envolvente: por possuir uma intenção política, o narrador busca envolver os leitores no
enredo, para que eles não abandonem a leitura.
o A linguagem das obras de Jorge Amado é simples, direta e popular.
o Seus personagens também são oriundos das camadas populares – notadamente os mais pobres.
o O estilo das narrativas possui tons anedóticos, aventureiros e também eróticos;

67
Divisão da obra de Jorge Amado

o Romances da Bahia e proletários - Que retratam a vida das classes oprimidas na urbana Salvador.
São livros de denúncia das desigualdades sociais. Entre eles destaca-se: Capitães da Areia.
o Romances ligados ao ciclo do cacau- Que retratam a exploração dos trabalhadores rurais, pela
economia latifundiária no Nordeste. Segundo o próprio Jorge Amado, foi a luta do cacau que o
tornou romancista.
Entre esses romances destacam-se: Cacau e Terras do Sem Fim.
o Crônicas de costumes- Que partem dos cenários do agreste e da zona cacaueira para uma
reflexão sobre a vida, os amores e os costumes da sociedade. São desse ciclo as
conhecidíssimas figuras femininas de Jorge Amado, como Gabriela, cravo e canela; Dona
Flor e seus dois maridos, Tieta do Agreste e Teresa Batista cansada de guerra.

Raquel de Queiroz

o Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 17 de novembro de 1910;


o Em 1917, mudou-se para Belém do Pará e, em 1919,
retornou para o Ceará, onde fixou residência;
o Em 1930, publicou seu primeiro e principal romance, O
Quinze;
o Em 1937, foi presa pelo governo de Getúlio Vargas;
o Em 1964, apoiou a ditadura militar brasileira;
o Recebeu o prêmio Camões, a maior honraria dada a
escritores de língua portuguesa, em 1993;
o Faleceu em 2003, no Rio de Janeiro, aos 92 anos de idade.
o Rachel de Queiroz escreveu dos 19 aos 92 anos de idade, e
sua produção foi alterando-se com o passar do tempo, de modo
que existem diversas faces dessa escritora, a depender da
época observada.
o No começo de sua carreira, nos romances O Quinze
(1930) e João Miguel (1932), a autora alinha-se a escritores
como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado,
em uma escrita voltada para o regionalismo, denunciando a seca nordestina, a miséria, a desigualdade
e indiferença dos poderosos diante da penúria do povo.
o Em 1937, escreveu Caminho de pedra, romance notadamente com inclinações políticas de esquerda,
escrito enquanto a autora estava presa durante a ditatura de Vargas.
o No romance As três Marias (1939), a autora apresenta um estilo mais intimista, com uma narração
voltada para o psicológico das personagens, tematizando a adolescência feminina.
o Além dos romances, a autora também escreveu peças de teatro, livros infantojuvenis e,
principalmente, dedicou boa parte da vida escrevendo crônicas para jornais.
o Em 1992, Rachel de Queiroz publicou seu último romance, Memorial de Maria Moura, livro que
conta a saga de uma cangaceira nordestina. Dois anos depois da publicação, a obra foi adaptada para
uma série de televisão."

68
Características
Rachel de Queiroz foi uma escritora amplamente ativa durante seu período de vida e escreveu romances,
poemas, crônicas, além de dedicar uma parte de sua carreira ao teatro. Já na segunda fase do Modernismo,
a escritora cearense demonstra um equilíbrio entre a forma e o conteúdo em sua obra e as suas principais
características são: crítica da realidade brasileira, caráter regionalista, linguagem verossimilhante e
próxima do coloquial.
Prosa regionalista: em sua primeira obra, O Quinze, a autora cearense acompanha uma seca de grandes
proporções que atingiu o Nordeste em 1915. Queiroz adentrou, por meio da prosa regionalista, nas
dificuldades do povo nordestino, em especial dos retirantes. Assim como Graciliano Ramos, a escritora
não apenas descreve a vida dura no sertão nordestino, mas apresenta uma crítica às estruturas sociais e ao
abandono estatal da região. Ademais, mergulha no psicológico de suas personagens e procura demonstrar
suas dores e anseios.
Crítica social: a essência dos romances de Rachel de Queiroz é a tensão crítica resultante de uma ficção
oriunda de um processo real. A própria escritora presenciou a grande seca que retrata em seu livro de
estreia. Assim, como romancista, Queiroz não só faz uma análise dos problemas sociais que percebe ao
seu redor, mas os relaciona em sua essência e os transmite para a escrita (ZÉRAFFA, 1974).
A verossimilhança na linguagem: o caráter social de Queiroz também reverbera na estilística de sua
escrita ao utilizar uma linguagem mais próxima do coloquialismo. São utilizados vocábulos do dia a dia
dos falantes, aproximando sua escrita da oralidade do povo que é retratado. Há uma valorização não só do
fato narrado, mas da pluralidade da língua de quem é narrado.
A escrita de Queiroz é, portanto, riquíssima em seu vocabulário popular e na crítica social que é
construída. Além disso, há uma análise psicológica de suas personagens que permite ao leitor adentrar
ainda mais no contexto proposto pela autora.
Romance O Quinze: Publicado em 1930, o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, renovou a ficção
regionalista. Possui cenas e episódios característicos da região, com a procissão de pedir chuva, são traços
descritivos da condição do retirante. O sentido reivindicatório, entretanto não traz soluções prontas,
preferindo apontar os males da região através de observação narrativa.
Em O Quinze, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz, a autora exprime intensa
preocupação social, apoiada, contudo, na análise psicológica das personagens, especialmente o homem
nordestino, sob pressão de forças atávicas que o impelem à aceitação fatalista do destino. Há uma tomada
de posição temática da seca, do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o psicológico se
harmoniza com o social.
A obra apresenta a seca do nordeste e a fome como consequência, não trazendo ou tentando dar uma
lição, mas como imagem da vida. Não se percebe uma total separação entre ricos e pobres, e esta fusão é
feita através da personagem Conceição que pertence realmente aos dois mundos. Evitando assim o perigo
dos romances sociais na divisão entre "bons pobres" e "maus ricos", não condicionando inocentes ou
culpados.

69
JOSÉ LINS DO REGO
o José Lins do Rego Cavalcanti nasceu em 1901, no Estado
da Paraíba.
o Viveu a maior parte de sua vida em Recife, cidade onde se
formou em Direito, mas nunca chegou a exercer a profissão de
advogado de forma intensiva, dedicando-se mais à literatura e
ao jornalismo.
o A partir de 1936, passou a viver na cidade do Rio de
Janeiro.
o José Lins do Rego foi casado e teve filhos. Ele se casou
com Philomena Massei, conhecida como Dona Neném, em
1924. O casal teve três filhos: Maria do Carmo, José Lins do
Rego Filho e Teresinha.
o No ano de 1943, publicou o livro Fogo Morto, considerado
a sua obra-prima; posteriormente
escreveu Euridice, Cangaceiros, alguns ensaios, crônicas e
outras obras.
o Este notável escritor foi eleito membro da Academia
Brasileira de Letras e teve suas obras traduzidas para diferentes idiomas, entre eles, o russo. Antes de
morrer, escreveu um livro de memórias chamado: Meus Verdes Anos.
o Morreu em 1957 na cidade do Rio de Janeiro.
o Em sua segunda fase, José Lins do Rego escreveu romances que tinham como tema a vida rural. Deste
período, fazem parte as seguintes obras: Pureza, Pedra Bonita, Riacho Doce e Água Mãe.

Resumo do livro Fogo morto


O romance Fogo morto é um dos principais livros do autor e conta a história do mestre José Amaro. Ele
mora, com a esposa e a filha, no engenho de Santa Fé, de propriedade do Seu Lula. Essa fazenda já teve
melhores dias, quando seu dono era o capitão Tomás Cabral de Melo.
Morto o capitão, as terras passaram para o seu genro, o Seu Lula, casado com Amélia. No entanto, além
de autoritário, ele é também um incompetente e deixa o engenho entrar em decadência, virar “fogo
morto”. É nessa parte da história que José Amaro é apresentado como um homem triste e frustrado.
Ele não se conforma com o fato de não ter um filho para seguir a sua profissão de seleiro. É também
inconformado com a situação política do local, a qual é responsável, segundo ele, pelo seu lugar de
submissão naquela sociedade. Para ele, só um cangaceiro, o capitão Antônio Silvino, pode dar um jeito na
situação.
Assim, a sua realidade triste fica ainda pior quando é expulso das terras do Seu Lula. Ele, então, tem a
ajuda do capitão Vitorino, seu compadre, que tenta interceder a seu favor com Seu Lula, mas não adianta,
e o mestre se vê desamparado e sozinho.
Além disso, a sua esposa acredita que ele vira lobisomem e, por isso, vai embora de casa. Já a filha,
Marta, é internada em um hospício. No final, quando o capitão Antônio Silvino invade Santa Fé, José
Amaro vai preso por oferecer apoio ao cangaceiro, depois, acaba tendo um fim bastante trágico.

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Desse modo, a obra retrata a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar, no final do século XIX, no
Nordeste brasileiro. Mostra, também, as características geográficas e culturais dessa região. Por meio de
três personagens — Seu Lula, mestre José Amaro e capitão Vitorino —, faz uma reflexão sobre a
submissão, o autoritarismo, a injustiça e a desigualdade social.

Temática da obra de José Lins do Rego: Os romances de José Lins do Rego têm caráter
memorialista, e alguns deles narram a decadência do arcaico sistema de produção de cana-de-açúcar no
Nordeste brasileiro, no final do século XIX e início do XX. Sua narrativa expõe um sistema patriarcal,
caracterizado pelo autoritarismo e pela violência. Assim, a temática principal está centrada no espaço dos
engenhos de cana-de-açúcar e, por extensão, na cultura nordestina.

Nos livros que fazem parte do chamado ciclo da cana-de-açúcar, ficam evidentes as relações de
trabalho abusivas pós-abolição da escravatura, com trabalhadores ainda sob o domínio opressor dos
latifundiários. Desse modo, o engenho de cana-de-açúcar é o meio que determina o caráter e o destino
dos personagens. Esse ciclo começa com o romance Menino de engenho (1932) e termina com o
romance Fogo morto (1943), que completa a narração do ciclo de decadência desse tipo de latifúndio.

Portanto, a questão social, típica do romance de 1930, é evidenciada nas condições precárias de vida
dos trabalhadores rurais, sob regime semiescravista. Basicamente, tais narrativas traçam perfis de
autoritarismo e subordinação, expõem privilégios e injustiças sociais que determinam a dinâmica da vida
no Nordeste do início do século XX, e mostram a transição de um país agrário e conservador para um
Brasil moderno e industrializado.

71
TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA - GERAÇÃO DE 45
LITERATURA PÓS-MODERNA
A terceira fase do modernismo brasileiro ou terceira geração modernista é como ficou conhecido o
período da literatura nacional que vai de 1945 até os anos de 1970. As obras dessa fase são caracterizadas
pelo seu caráter experimental, além da crítica sociopolítica e da metalinguagem. Elas estão inseridas no
contexto da Guerra Fria, conflito que acabou estimulando o consumismo capitalista.

o A terceira fase do modernismo brasileiro durou de 1945 até a década de 1970.


o A poesia da terceira geração é marcada pelo seu caráter estrutural e experimental.
o A prosa pós-moderna possui fragmentação, fluxo de consciência e metalinguagem.
o Os autores da terceira fase modernista viveram no contexto da Guerra Fria após o fim da Segunda
Guerra Mundial, e houve desenvolvimento econômico e aumento do consumo.
o A terceira geração modernista conta com poetas como João Cabral de Melo Neto e Haroldo de
Campos.
o A prosa da terceira fase possui autores como Clarice Lispector e João Guimarães Rosa.
o Obras como Morte e vida severina, A hora da estrela e Grande sertão: veredas são destaques na
produção literária da terceira fase do modernismo brasileiro.

De tal modo, a geração de 45 reuniu artistas preocupados em buscar uma nova expressão literária, por
meio da experimentação e inovações estéticas, temáticas e linguísticas.
A Geração de 45 representou uma arte mais preocupada com a palavra e a forma - no caso de João Cabral
e Guimarães Rosa - ao mesmo tempo que explorava assuntos essencialmente humanos, como na obra de
Clarice.
Tanto a prosa quanto a poesia foram exploradas nesse período, no entanto, de maneira mais intimista,
regionalista e urbana. Além da poesia intimista, merece destaque a prosa urbana, a prosa intimista e a
prosa regionalista.

Características da poesia de 1945

o crítica sociopolítica;
o texto engajado;
o caráter realista;
o linguagem objetiva;
o uso de palavras do cotidiano;
o antissentimentalismo;
o metalinguagem.
o Academicismo;
o Passadismo e retorno ao passado;
o Experimentações artísticas (ficção experimental);
o Realismo fantástico (contos fantásticos);
o Retorno à forma poética (valorização da métrica e da rima);

72
o Influência do Parnasianismo e Simbolismo;
o Regionalismo universal;
o Temática social e humana;

Lembre-se que o Modernismo no Brasil está dividido em três gerações, sendo a prosa o tipo de texto mais
explorado na terceira fase. De tal modo, os tipos de prosa do período são classificados segundo sua
temática:

● Prosa Urbana (Lygia Fagndes Teles)


A principal caraterística da prosa urbana é sua ambientação nos espaços da cidade, em detrimento do
campo e do espaço agrário. Nesse estilo destaca-se a escritora Lygia Fagundes Telles.

● Prosa Regionalista (Guimarães Rosa)


A prosa regionalista absorve, por outro lado, aspectos do campo, da vida agrária, da fala coloquial e
regionalista, por exemplo, na obra de Guimarães Rosa.

● Prosa Intimista (Clarice Lispector)


Por sua vez, a prosa intimista é determinada pela exploração de temas humanos e, portanto, é mais
íntima, psicológica e subjetiva. Esses aspectos são observados nas obras de Clarice Lispector e de
Lygia Fagundes Telles.

Principais autores da geração de 45


Guimarães Rosa
o João Guimarães Rosa nasceu na cidade de Cordisburgo, no estado de
Minas Gerais, em 27 de junho de 1908.
o Formou-se em Medicina no ano de 1930. Mas antes mesmo de
ingressar para a faculdade, já havia começado a escrever alguns de seus
contos.
o Após se formar em Medicina, trabalhou como médico por
aproximadamente dois anos, o que lhe proporcionou o contato direto
com os sertanejos.
o Trabalhou como médico voluntário da Força Pública de Minas Gerais,
durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
o O também poliglota, Guimarães Rosa, deu início a sua carreira de diplo
mata no ano de 1934.
o Em 1956, escreveu sua obra mais conhecida: Grande Sertão: Veredas.
o Em 1961, recebeu o prêmio Machado de Assis, um dos principais
prêmios literários brasileiros, entregue pela Academia Brasileira de Letras.
o Morreu em 19 de novembro de 1967, aos 59 anos, na cidade do Rio de Janeiro, três dias após ter
decidido tomar posse de sua cadeira na Academia Brasileira de Letras.

73
Características

o Regionalismo diferente, no qual a invenção, inclusive linguística, supera de muito os valores locais.
o Grande Sertão Veredas era para ser uma das novelas, ampliou-se até as dimensões atuais.
o Estilo original de criação e da visão do mundo.
o Apesar de o regionalismo ser um tema gasto, conseguiu fazer um livro de valor universal, em que os
elementos pitorescos são mais condutores de um senso profundo dos grandes problemas do homem.
o Deve-se isso à sua capacidade de criar um estilo próprio, baseado na contribuição regional e
remontando-o, graças ao arcaísmo desta a velhas matrizes da língua.
o Fusão do local e universal, de presente e eterno, aproxima a sua obra das grandes experiências
literárias da cultura moderna.
o Lirismo delicado, que é a essência das coisas, não maculadas; rudeza e aridez das relações humanas.
o Primeiro entre nós que conseguiu captar um mundo regional através de um prisma universal.
o A obra de Guimarães Rosa veio concretizar a nova dimensão que o regionalismo estava esperando: a
dimensão do espírito e do mistério das coisas.

Sagarana (primeira obra)

Em 1937, Guimarães Rosa começou a escrever Sagarana, composta de 9 contos que retratam a paisagem
mineira, a vida das fazendas, dos vaqueiros e dos criadores de gado. Com a obra, participou de um
concurso ao Prêmio Humberto de Campos, perdendo o primeiro lugar para Luís Jardim.

Em 1946, depois de refazer a obra, e reduzir de 500 para 300 páginas, publicou Sagarana. O estilo era
absolutamente novo, a paisagem mineira ressurgia viva e colorida, as personagens expressavam o
pitoresco de sua vida regional. Sucesso de crítica e público, seu livro de contos recebeu o Prêmio da
Sociedade Felipe d'Oliveira, esgotando-se, no mesmo ano as duas edições.

Alguns dos contos de Sagarana são obras-primas, como O Burrinho Pedrês, Duelo, Conversa de Bois,
Sarapalha e A Hora e a Vez de Augusto Matraga (mais tarde adaptado para o cinema por Roberto Santos
e Luíz Carlos Barreto).

Grande sertão: veredas


Grande sertão: veredas é o grande romance de Guimarães Rosa. Trata-se do longo relato de Riobaldo, um
ex-jagunço que, já envelhecido e afastado das funções, põe-se em prosa com um visitante, letrado e
urbano, cuja voz não aparece, e que deseja conhecer o sertão mineiro. Narrado em primeira pessoa,
Riobaldo é aquele que conta a sua história e a trajetória dos seus pensamentos, refazendo as lembranças
dos caminhos percorridos e trazendo à luz novas reminiscências.
De maneira não linear, como no fluxo da memória e das conversas ao pé da fogueira, o narrador conta a
história da vingança contra Hermógenes, jagunço traidor, e envereda-se pelo labirinto dos sendeiros que o
levaram à jagunçagem, aos recônditos do sertão, a espaços pouco conhecidos do Brasil.
"As paisagens por onde transitou Riobaldo apontam marcadamente para os lugares geográficos
correspondentes aos estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia. Não obstante, o sertão de Rosa, ao mesmo
tempo, é e não é real. Não é só sertão geográfico, mas projeção da alma: Grande sertão: veredas é a alma
de Riobaldo.
Esse sertão é do tamanho do mundo — ali estão os problemas locais, o coronelismo, o jaguncismo, as
diferenças sociais. A eles acoplam-se os problemas universais. O sertão de Riobaldo é o palco de sua vida
e suas inquietações; todos os episódios que relata são permeados de reflexões sobre o bem e o mal, a

74
guerra e a paz, a alegria e a tristeza, a liberdade e o medo — os paradoxos de que é composta sua própria
história e a história da humanidade.
Como nomear e identificar o bem e o mal no sistema jagunço, em que impera a violência e a luta pelo
poder? Pelas memórias de Riobaldo surgem centenas de personagens e informações, um sem número
labiríntico de falas sertanejas, vozes do povo perante uma estrutura de heranças coloniais que não se
soluciona.
Também central é o tema do amor, encarnado na personagem de Diadorim, que interpola as lembranças
de Riobaldo e que também não se soluciona. Diadorim é colega jagunço de Riobaldo, e em meio a esse
universo viril e estruturalmente machista, a homossexualidade não é tolerável. Assim, ao passo em que
suscita o desejo de Riobaldo, levanta também o incômodo e a não aceitação do personagem com aquilo
que sente.
É o conflito, novamente, entre o bem e o mal, em que Diadorim representa o diabólico, aquilo que
Riobaldo rejeita, e ao mesmo tempo deseja. O desfecho do romance, porém, revela uma inusitada
informação sobre Diadorim, que gera ainda maiores reflexões sobre o que foi e o que não foi vivido."

A linguagem de Guimarães Rosa


A linguagem de Guimarães Rosa não tem uma intenção realista de retratar a língua do sertão mineiro
exatamente como ela é. Sua preocupação é tomar por base a língua regional e recriar a própria língua
portuguesa, a partir de termos em desuso, da criação de neologismos, do emprego de palavras tomadas de
outras línguas e da exploração de novas estruturas sintáticas.
Além disso, sua narrativa faz uso de recursos mais comuns à poesia, como o ritmo, as metáforas, as
imagens, resultando em uma prosa altamente poética, nos limites entre a poesia e a prosa.
ABL e Morte
Em 1963, Guimarães Rosa foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras (ABL), mas
somente tomou posse em 16 de novembro de 1967. Três dias depois da posse, sofreu um infarto.
João Guimarães Rosa morreu no Rio de Janeiro, no dia 19 de novembro de 1967. Aracy morreu em 2011,
aos 102 anos.

Lygia Fagundes Teles

Lygia Fagundes Telles, escritora brasileira, nasceu em 19 de abril


de 1923, em São Paulo, e faleceu em 3 de abril de 2022, aos 98
anos. Publicou seu primeiro livro de contos — Porões e sobrados
— em 1938. Formada em Direito, trabalhou como procuradora do
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, foi presidente da
Cinemateca Brasileira e fez parte da comissão que, em 1977,
entregou ao ministro da Justiça o Manifesto dos intelectuais,
abaixo-assinado contra a censura.
Por sua vasta produção literária é considerada uma das maiores
romancista e contistas da literatura brasileira. Foi uma das mais
destacadas representantes do Movimento Pós-Modernista no
Brasil.
Em 2016, aos 92 anos de idade, Lygia Fagundes Telles tornou-se a
primeira mulher brasileira a ser indicada para receber o prêmio Nobel de Literatura.

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Características da obra de Lygia Fagundes Telles
As obras da escritora Lygia Fagundes Telles pertencem à terceira fase do modernismo brasileiro (ou
pós-modernismo). Portanto, seus relatos apresentam um caráter intimista, de sondagem interior dos
personagens. Dessa forma, os indivíduos da trama estão imersos em conflitos e angústias existenciais.
Consequentemente, o fluxo de consciência é recorrente nas narrativas, o qual coloca em evidência as
incertezas com as quais os personagens precisam lidar. Esse caráter psicológico das obras da autora
permite ao narrador estudar mais profundamente aspectos das relações humanas, em determinado
contexto sociopolítico
A obra de Lygia Fagundes Telles apresenta um universo marcadamente feminino, embora comprometida
em documentar a difícil condição de vida de uma sociedade frágil nos centros urbanos. Retratou uma
literatura engajada, destinada a documentar a história trágica do país, como se lê em “As Meninas”.

Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1920. Entretanto, já em
1922, a autora veio para o Brasil com sua família, que fugia da
Guerra Civil Russa e da perseguição crescente aos judeus na
Europa.
A autora passou boa parte da infância em Recife, capital de
Pernambuco, e sua vida adulta foi predominantemente vivida no
Rio de Janeiro. Lispector também foi jornalista e exerceu funções
diplomáticas.
Em 1944, Clarice publicou seu primeiro romance, Perto do
Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo
da adolescência, que abriu uma nova tendência na literatura
brasileira.
O romance provocou verdadeiro espanto na crítica e no público da
época. Sua narrativa quebra a sequência de começo, meio e fim,
assim como a ordem cronológica, e funde a prosa à poesia.
Enquanto escritora de obras literárias, Clarice Lispector alcançou grande importância como uma das
fundadoras da literatura intimista no Brasil, tornando-se uma das prosadoras mais lidas do país.
Em 1960 trabalhou no "Diário da Noite" com a coluna "Só Para Mulheres" e nesse mesmo ano
lançou Laços de Família, um livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.
Em 1977, Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida, no qual conta a
história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande.
No ano de 1977, vitimada por um câncer, a autora faleceu na cidade carioca, deixando dois filhos e uma
vasta obra que marcaria para sempre a literatura brasileira.

Características
A obra de Clarice Lispector é particularmente interessante, pois, por meio de seus contos e romances
escritos sob uma perspectiva intimista (ou seja, voltada para os sentimentos e impressões das
personagens, que, em geral, eram construídas em primeira pessoa), a autora consegue deslocar o olhar do
leitor para uma perspectiva inusitada, diferente, promovendo uma visão sensível e íntima da existência.

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As narrativas de Lispector costumam retratar situações cotidianas, aparentemente banais, mas que
ganham dimensões muito profundas por intermédio de descrições psicológicas complexas e poéticas,
marcadas, em geral, pela epifania, processo pelo qual a personagem compreende a essência de algo, vive
uma espécie de revelação. Em alguns casos, a obra de Lispector apresenta traços autobiográficos.
Tornou-se conhecida na história da literatura como uma das criadoras do estilo intimista, também
praticado por autoras como Virgínia Woolf, escritora britânica. São características da literatura intimista:
o a descrição psicológica das personagens;
o a discussão de temas subjetivos, abstratos;
o o retrato de vidas cotidianas sob uma ótica pessoal;
o a presença de narradores em primeira pessoa;
o a existência da epifania, espécie de revelação na qual a personagem reconhece alguma verdade sobre
si ou sobre o mundo.
POESIA DE 45

João Cabral de Melo Neto


João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 9
de janeiro de 1920. Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de
Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo era irmão do historiador
Evaldo Cabral de Melo e primo do poeta Manuel Bandeira e do
sociólogo Gilberto Freyre.
Passou sua infância entre os engenhos da família nas cidades de São
Loureço da Mata e Moreno. Estudou no Colégio Marista, no Recife.
Amante da leitura lia tudo o que tinha acesso no colégio e na casa
da avó.
Em 1942, o escritor publicou sua primeira coletânea de
poemas com o livro "Pedra do Sono", neste livro, apresenta uma inclinação para a objetividade embora
predomine aspectos surrealistas.
Em 1945, publicou seu segundo livro - O Engenheiro, (custeado pelo empresário e poeta Augusto
Frederico Schmidt).
A partir de Cão Sem Plumas (1950) João Cabral passa a abordar temas sociais. Os livros O Rio (1954) e
Duas Águas (1956) (onde aparece Morte e Vida Severina) revelam motivos regionais.
Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral, é um auto de Natal do folclore pernambucano.
O primeiro brasileiro a vencer o Prêmio Camões, o autor desenvolveu um estilo próprio, muito
distante das características presentes na poesia de seus contemporâneos da Geração de 45.
Aposentou-se como embaixador em 1990. Em 1992, passou a sofrer de uma cegueira progressiva, que,
aos poucos, impediu-o de ler. Praticamente cego e deprimido, morreu em seu apartamento no Rio de
Janeiro, em 9 de outubro de 1999.

77
Características literárias de João Cabral de Melo Neto

Considerado hermético, antilírico, demasiado racional, João Cabral de Melo Neto distanciou-se da
literatura produzida por seus contemporâneos. Poeta por excelência – com exceção de alguns esparsos
títulos em prosa –, revolucionou os padrões convencionais do lirismo, desenvolvendo um estilo próprio,
em linguagem objetiva e rigorosa.
Sua poesia inicialmente recebeu influências da tendência surrealista, a que se misturou uma ordenação
própria e racional, antissurrealista por definição: às imagens oníricas de Pedra do Sono (1942), seu livro
de estreia, juntou-se o espírito ordenador do autor.
Na contramão da maioria dos autores da Geração de 45, João Cabral rejeitou a sentimentalidade, a
irracionalidade ou o verso subjetivo, adotando uma postura de reflexão crítica (e também autorreflexiva e
autocrítica) e um rigor formal ímpar na literatura brasileira. Sua poesia é um exercício de linguagem,
calcado no intenso trabalho com as palavras e em um permanente estado de tensão.
Em 1950, com a publicação O cão sem plumas, temáticas de cunho social passaram a aparecer em suas
composições. Violência, exclusão e miséria são abordadas exaustiva e profundamente pelo autor, sempre
por uma via objetiva e reflexiva, indagadora da condição humana e do fator desumanizador da lógica
exploratória do dinheiro. A pedra é uma figura de linguagem constantemente explorada em seus versos,
evocando a dureza da realidade crua e esmagadora captada por seus olhos atentos e analíticos.

São características da obra do autor:


o Objetividade;
o Contralirismo e afastamento de temas subjetivos;
o Rigor formal;
o Poesia metalinguística;
o Economia vocabular;
o Evocação imagética;
o Poesia reflexiva e crítica;
o Presença de temáticas sociais.

Morte e Vida Severina


Publicada pela primeira vez em 1955, Morte e Vida Severina, Auto de Natal Pernambucano é a obra mais
conhecida de João Cabral de Melo Neto. Recebeu adaptações para o teatro e para o cinema e foi também
musicada, o que provavelmente ampliou sua divulgação ao grande público. Mais recentemente, recebeu
também uma adaptação para os quadrinhos.
O alcance da obra deve-se também a uma mudança de estilo: em Morte e Vida Severina, o poeta assume
uma linguagem menos hermética (difícil de compreender) – mas não por isso menos lapidada.
Trata-se de um longo poema dramático centrado na vida de Severino, um retirante do Agreste nordestino
que parte em direção ao litoral, topando com a morte a cada parada: os defuntos, coveiros e funerais
multiplicam-se em cada uma das cenas, bem como a fome, a secura da terra, a dureza, o desespero, a falta
de saída e de solução.
Severino é a metáfora dos marginalizados; sua jornada, alegoria da vida do retirante que parte em busca
da própria sobrevivência. A obra é repleta de figuras de linguagem, como a do rio Capibaribe, que
representa o próprio curso da vida do retirante – e conforme seu leito seca, Severino se apavora, temeroso
de que se rompa o fio tênue de sua miserável sobrevivência. Crítica e pedregosa, é uma leitura crua da
situação social brasileira, que ultrapassa os motivos geográficos – pois a vida precária persegue Severino,
embora a caminhada mude a paisagem em redor.

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Estruturado em dezoito cenas (ou “partes” ou “quadros”), a maioria dos versos de Morte e Vida Severina
é escrita em redondilhas maiores (versos de sete sílabas), remetendo à cultura popular e medieval (de
onde o subtítulo “auto”). À linguagem dura e seca, que evoca a paisagem do sertão, unem-se as
aliterações e assonâncias que conduzem grande musicalidade aos versos.

Ariano Suassuna
Ariano Vilar Suassuna nasceu no Palácio da Redenção, na cidade de
Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, em 16
de junho de 1927. Filho de um influente político, João Suassuna, cujo
assassinato foi movido por motivações políticas, Ariano viu sua vida
marcada pelo trágico episódio e, até o final de seus dias, defendeu a
inocência do pai, acusado de ser o mandante do homicídio contra João
Pessoa, então governador da Paraíba.

Em 1942, ingressou na Faculdade de Direito e, enquanto estudava as


leis, escrevia suas primeiras peças para teatro. Pouco advogou e, em
1957, tornou-se professor dos Departamentos de História e de Teoria
da Arte e Expressão Artística da Universidade Federal do Pernambuco, cargo no qual permaneceu durante
31 anos.

Foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo, professor e advogado. Em 1989 foi eleito para a cadeira n.º
32 da Academia Brasileira de Letras. Em 1993 foi eleito para a cadeira n.º 18 da Academia
Pernambucana de Letra e em 2000 ocupou a cadeira n.º 35 da Academia Paraibana de Letras. No dia 23
de julho de 2014, no Real Hospital Português, em Recife, o advogado, professor, teatrólogo e
romancista faleceu aos 87 anos após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Após 16 h de velório e
desfile do caixão em carro aberto, o corpo de Ariano Suassuna foi sepultado no Cemitério Morada da Paz
em Paulista, em Recife.

Características

A produção de Ariano Suassuna, principalmente a teatral, tem como característica a presença do


humor, muitas vezes atrelado à crítica social, e de elementos da cultura popular nordestina.

Ariano Suassuna apropriou-se de estruturas da tradição literária, como os autos religiosos, e


subverteu-lhes a forma, agregando ao tradicional os elementos regionais da cultura nordestina.

Apesar de ter escrito tragédias, como Uma mulher vestida de sol, em que a violência do homem do sertão
é retratada, Suassuna é mais conhecido pelas suas comédias, como O santo e a porca e a famosa Auto da
Compadecida, nas quais imperam a ironia e a crítica a determinados comportamentos humanos.

Movimento Armorial
Lançado em 18 de outubro de 1970, no Recife, o movimento armorial estava ligado à cultura, tinha
Ariano Suassuna como um dos seus principais líderes e procurava estimular as diversas formas de
expressão populares tradicionais. O movimento foi lançado com um concerto chamado Três Séculos de

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Música Nordestina – do Barroco ao Armorial que foi acompanhado por uma exposição de gravura,
pintura e escultura.
Durante esse período Ariano Suassuna esteve envolvido na política tendo sido membro fundador do
Conselho Federal de Cultura (1967 até 1973) e posteriormente Secretário de Cultura do Estado de
Pernambuco durante o Governo Miguel Arraes (1994 a 1998).

A ideia de promover a cultura nacional sob as várias formas - literatura, música, teatro, dança, artes
plásticas - tocava especialmente Ariano Suassuna que sempre foi avesso à internacionalização. É dele a
seguinte crítica: "O Brasil tem uma unidade em sua diversidade. A gente respeita a cultura gaúcha,
nordestina, amazônica. O que é ruim é este achatamento cosmopolita. Você liga a televisão e não
consegue distinguir se um cantor é alemão, brasileiro ou americano, porque todos cantam e se vestem do
mesmo jeito."

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Literatura Contemporânea
A literatura contemporânea é aquela que se vive atualmente, do tempo de agora, por isso recebe esse
nome e não tem uma definição acabada. Esse fenômeno acontece no mundo todo, mas
a contemporaneidade brasileira compreende um conjunto muito diverso de características
agrupadas das escolas literárias anteriores.
Isso revela a sua principal característica: há uma multiplicidade de tendências que irão inovar a poesia
e a prosa.
Embora possa pegar qualquer característica de qualquer escola anterior, há mais semelhanças com
o movimento modernista pelo rompimento com o tradicional.
A diferença é que dentro do movimento modernista observava-se uma pluralidade de subcorrentes com
características bem definidas. Na literatura contemporânea brasileira não há uma delimitação específica,
mas sim uma mistura que varia de autor para autor.
A contemporaneidade não tem mais um sentimento de busca como a modernidade, mas é representação
da crise existencial do homem pós-moderno, sem ter um objetivo final específico.
Características da literatura contemporânea
o Ecletismo: mistura de tendências estéticas
o Possibilidade de mistura da arte erudita com a arte popular
o Prosa histórica, marcada por temas sociais e urbanos
o Poesia do tipo intimista, como a visual, concreta e marginal
o Temas cotidianos que podem retomar o regionalismo
o Engajamento social e marcas da militância
o Experimentalismo
o Técnicas inovadoras nos recursos gráficos, montagens e colagens.
o Podem ter textos em formato reduzido, como minicontos, mini crônicas e poemas frasais
o Intertextualidade e metalinguagem.

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Quais são as tendências contemporâneas?

Como estamos falando em um movimento que vivenciamos, não há como fechar as características todas,
mas apontar e indicar as tendências que devem continuar.
Assim, podemos dizer que nos dias de hoje vemos duas tendências na literatura contemporânea:
Estilos literários chamados de conteporânea tradicional, marcados por autores de
características pós-modernistas reformuladas, com traços do romantismo:

o Regionalista
o Intimista
o Urbano-social
o Memorialista
o Experimentais e metalinguísticos

E os estilos literários chamados de conteporânea alternativa, marcados por autores que querem romper
com o máximo possível, marcados pela ditadura e com destaque para a poesia:

o Concretismo: poesia que não tem forma ou versos definidos. Lido em qualquer direção. poema de
caráter mais visual do que verbal, deu fim ao verso em função do aproveitamento do espaço.
Decompõe, monta e desmonta as palavras, permitindo múltiplas leituras em seus poemas. Seus
principais representantes são: Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.

o Poesia Práxis: Nascida em 1962, a poesia práxis foi um movimento que surgiu a partir da dissidência
de um grupo de poetas que compunham o Concretismo. Sendo assim, a poesia práxis surgiu como uma
ruptura aos moldes do Concretismo, tais como o formalismo e o culto pela forma propriamente dita,
representado pela palavra-objeto que seria a palavra de ordem. A poesia-práxis valoriza a palavra,
tendo-a como enérgica, cheia de energia.

A poesia-práxis está centrada, principalmente, no seu aspecto semântico. Seu criador defendeu a
autonomia da palavra em relação a elementos externos ao poema. Essa independência no que diz respeito
ao contexto é obtida pelas relações interlinguísticas entre os termos do poema, e não extralinguísticas.

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A palavra, no processo de composição, faz um percurso que vai da “univocidade” (um só significado)
para a “multivocidade” (vários significados). Essa multivocidade é obtida por meio do relacionamento
entre as palavras que compõem o poema. Além disso, há um cuidado fonético, ou seja, a preocupação
com a sonoridade do poema-práxis.
A poesia-práxis é resultado de uma dinâmica imanente, que não existe por si só, mas que ganha vida na
leitura ou no consumo. A palavra é considerada em seu aspecto semântico, sintático e pragmático. No
mais, Chamie chamou os versos de “unidades de composição” e viu o poema como uma unidade
geométrica em seu aspecto exterior."

A poesia-práxis é fruto de um movimento literário de pouca amplitude. Assim, Mário Chamie


(1933-2011) foi seu grande representante. Sua obra Lavra lavra, de 1962, é o resultado efetivo de sua
teorização acerca do poema-práxis. Além dela, Chamie foi responsável por fundar a Revista Práxis.

Seus principais representantes: Mário Chamie, Yone G. Fonseca e Arnaldo Saraiva. criaram o poema
código ou semiótico, geralmente visual, como se fosse um poema dadaísta, veja exemplo, abaixo:

"Um gesto e a peneira:


farelo
comido
à mesa comunga,
senhor, a fome
maior
parceira do homem:
na boca sem cuspe
de um seco lacustre.
[...]"

o Poema processo: "O poema processo foi um movimento artístico de vanguarda que ocorreu no Brasil
entre 1967 a 1972, em plena Ditadura Militar. Surgiu em duas capitais do país simultaneamente: Rio
de Janeiro (RJ) e em Natal (RN), se espalhando pelo Brasil.
Foi fundado por diversos poetas dos quais se destacam: Wlademir Dias Pino, Moacy Cirne, Neide de
Sá e Álvaro de Sá.
Esse movimento visava apresentar uma nova forma de fazer poesia a partir de uma nova linguagem.
Com um espírito revolucionário, o grupo de poetas do movimento inovaram os poemas visuais, já
explorados anteriormente pelo movimento concretista.
Note que ele está relacionado com a poesia concreta uma vez que surgiu dela, no entanto, apresentam
diferenças. Assim, enquanto na poesia concreta as palavras eram as principais ferramentas, o poema
processo vem rejeitar seu uso, empregando além delas, símbolos e, portanto, extrapolando os limites
do poema.
A exploração desses signos não verbais no poema processo é mediada por figuras geométricas,
perfurações no papel e gráficos. Assim, o poema processo é um poema semiótico e visual para ser
visto antes de ser lido. Segundo um dos fundadores e expoentes do movimento, Moacy Cirne
(1943-2014):

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“E aqui estamos diante de uma diferença radical em relação à poesia concreta, por exemplo: toda
poesia concreta é acabada, “fechada”, monolítica; já o poema/processo, para ser de fato um
poema/processo, implica trans/formações.”

o Poesia social: saem do padrão da concreta e da lírica, impondo temas de interesse social, como a
Guerra Fria e o Neocapitalismo. Após o golpe militar, ela é considerada um estilo de resistência. O
nome mais conhecido desse tipo de poesia é Ferreira Gullar, que no ano de 1964 sai fora do padrão da
poesia concreta e de forma lírica, impondo o verso com temas de interesse social, principalmente
relacionados à Guerra Fria, Corrida Atômica, Neocapitalismo e mais. Porém, depois do golpe
militar, ela é considerada uma poesia de resistência, tendo grandes nomes, como Thiago de Mello,
Affonso Romano de Sant’Ana, Chico Buarque e muito mais.

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão (...) Ferreira Gullar

Poesia marginal: vai na contramão da cultura do Brasil na


época da ditadura militar, tendo o objetivo de expressar toda a
violência diária sofrida pelos opositores ao sistema. Vai contra o
conservadorismo da sociedade e se alimenta da ironia, sarcasmo,
gírias e humor. Os que trilharam esse último caminho foram
chamados de “poetas marginais” e se empenharam na criação de
revistas e jornais literários, folhetos mimeografados, pôsteres
poéticos, cartazes, caixas de poemas, antologias impressas em
pequenas gráficas. Até uma “chuva de poesia” foi produzida em
dezembro de 1980: partindo do alto do edifício Itália, papéis
impressos tomaram os céus de São Paulo.
Um novo perfil de poeta começou a surgir. Deixando de ser um
produtor cultural solitário, o poeta foi para as ruas, para os bares,
para as portas de cinemas e teatros, onde expunha seu trabalho
em forma de declamações, happenings e shows musicais e
promovia sua venda diretamente ao consumidor. Os grandes
nomes do movimento são Paulo Leminski, Torquato Neto,
Chacal e Ana Cristina Cesar.

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NEOCONCRETISMO
O Neoconcretismo ou Movimento Neoconcreto foi uma corrente das artes (plásticas, escultura,
performances, literatura) que surgiu em fins da década de 50 no Rio de Janeiro, em oposição
ao Movimento Concretista, de São Paulo.
O Neoconcretismo, influenciado pelas ideias da fenomenologia do filósofo francês Merleau- Ponty
(1908-1961), foi considerado como o “divisor de águas” na história das artes visuais no Brasil, sendo seus
precursores o poeta maranhense Ferreira Gullar e a artista plástica mineira Lygia Clark.
Note que o Movimento Neoconcreto (Grupo Frente) surgiu no Rio de Janeiro em prol do subjetivismo da
arte e da criação artística, o qual criticava o racionalismo, objetividade e o dogmatismo geométrico dos
concretistas paulistas (Grupo Ruptura).
Para tanto, essa contradição de ideias foram os elementos propulsores dos ideais dos artistas
neoconcretos, ou seja, propor uma arte mais libertária contra o cientificismo técnico, o exacerbado
racionalismo da “arte pela arte” em que estavam pautados os concretistas ortodoxos de São Paulo.
Em resumo, os concretistas paulistas acreditavam que a forma era o principal elemento da arte, em
detrimento do conteúdo, visto como mais importante pelos artistas neoconcretos.

Características
As principais características do movimento neoconcreto são:
o Oposição ao concretismo, materialismo, cientificismo e positivismo
o Maior subjetividade e expressividade artística
o Liberdade de experimentações e criações artísticas
o Interação do público com a obra
o Abstracionismo e uso de cores e formas geométricas
o Transcendência da arte
o Existencialismo e Humanismo

Ferreira Gullar
Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 10 de setembro de
1930. Cresceu em torno da quitanda que seu pai, comerciante, tinha em
São Luís. Iniciou seus estudos em sua cidade natal.
Com 13 anos passou a se dedicar à poesia. Ingressou na Escola Técnica
São Luís, onde queria aprender uma profissão. Com 18 anos desistiu da
Escola Técnica.
Em 1949, Ferreira Gullar publicou seu primeiro livro de poesias,
intitulado Um Pouco Acima do Chão. Em 1951 mudou-se para o Rio de
Janeiro, onde atuou como revisor de textos da revista O Cruzeiro.
Em 1954, Ferreira Gullar publicou A Luta Corporal, livro que o colocou
entre os vanguardistas que tentavam explodir o verso e a linguagem.
Aproximou-se dos concretistas – Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e
Augusto de Campos.

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Em 1956, depois de participar da primeira exposição de Poesia Concreta, realizada em São Paulo,
organizou e liderou o grupo "Neoconcreto", no qual participaram artistas plásticos, sobretudo Lygia Clark
e Hélio Oiticica.
Em 1959, um Manifesto Neocroncreto selou a dissidência de Gullar em relação ao trio paulista e ele se
lançou na luta política. Converteu-se ao marxismo e militou no Centro Popular de Cultura e foi um dos
fundadores do combativo Teatro Opinião.
No dia seguinte ao golpe de 1964, Gullar filiou-se ao Partido Comunista. Construiu uma expressão
própria, abordando temas de interesse social, como Guerra Fria, corrida atômica, neocapitalismo,
Terceiro Mundo etc.
Em 1969, Ferreira Gullar foi perseguido pela ditadura militar e foi detido junto com intelectuais e
músicos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1971, depois de um tempo na clandestinidade foi para
o exílio, primeiro na União Soviética, depois no Chile de Salvador Allende. Desalojado do Chile pelo
golpe do general Augusto Pinochet, Gullar foi para a Argentina.
Ferreira Gullar faleceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de dezembro de 2016, em consequência do
agravamento de uma pneumonia.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

O autor atravessou diversas fases em sua carreira, no entanto é possível, ainda assim, traçar o seu norte
artístico. O autor tinha como características principais:

o Primórdios do concretismo;
o Exploração das palavras enquanto sentido vocal e gráfico;
o Quebra das concepções líricas;
o Anos mais tarde, o autor adota um lirismo exacerbado em seu texto depois de quebra com o
Concretismo (pós anos de 1950);
o Reflexão da existência humana;
o Existencialismo presente;

O estilo contempla características que variam com as fases vivenciadas pelo poeta: introspecção, lirismo,
subjetividade e realismo caricatural.
o Os temas mais constantes em suas obras são: vida, morte, sexo, infância, experiência no exílio,
questões sociais e políticas.
o Era conhecido por sua disposição para experimentar com forma e linguagem. Ele rompia
frequentemente com estruturas poéticas tradicionais para criar novas formas que refletissem suas
ideias inovadoras.
o Inicialmente, ele se envolveu com o movimento da Poesia Concreta, que focava nos aspectos visuais
da linguagem poética. No entanto, mais tarde, tornou-se uma figura-chave no movimento
Neoconcreto, que buscava incluir emoção e subjetividade no discurso da arte concreta.
o Além da poesia, Gullar escreveu crônicas e ensaios, contribuindo para os debates culturais e
intelectuais de sua época.
o Gullar estava profundamente envolvido em questões sociais e políticas, o que se reflete em sua
poesia. Sua obra aborda frequentemente as lutas e injustiças enfrentadas pelo povo comum.

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Poema Sujo
O Poema sujo foi escrito em 1976, em Buenos Aires, quando Ferreira Gullar estava exilado por motivos
políticos. Antes o poeta já havia estado exilado em Moscou, em Santiago e em Lima. No Brasil, reinava a
ditadura militar desde o golpe de 1964 e o governo tinha autorização para entrar em Buenos Aires para
capturar presos políticos.
Gullar, temendo pelo seu futuro, decidiu escrever o Poema sujo como uma espécie de testemunho final,
uma síntese de todas as suas crenças e de toda a sua poética antes que o calassem definitivamente. O
poema foi escrito ao longo de seis meses durante o ano de 1975 em um apartamento localizado na
Avenida Honório Pueryredon, em Buenos Aires.
Vinícius de Moraes fez uma gravação do poema em voz alta, foi dessa forma que os versos chegaram ao
Brasil. A publicação foi levada a frente pelo editor Ênio Silveira, que lançou o pequeno livro pela editora
Civilização Brasileira.
Com fortes traços autobiográficos, os versos do Poema sujo são uma espécie de desabafo e retomam
desde a infância do poeta vivida em São Luís do Maranhão até os ideais políticos que viria a desenvolver
muito mais tarde.

Paulo Leminski
o O autor brasileiro Paulo Leminski nasceu em 1944 e faleceu em
1989.
o Além de escritor, também foi músico, professor e publicitário.
o O poeta é um dos principais representantes da Geração Mimeógrafo.
o Seus textos são marcados pelo experimentalismo e pela ironia.
o Seu romance mais famoso é o livro experimental Catatau.
o Em 1964 publicou seu primeiro poema na revista “Invenção”,
editada pelos concretistas. Nesse mesmo ano, assumiu o cargo de
professor de História e Redação em cursinhos pré-vestibulares.

Características da obra de Leminski: Leminski é um poeta da Geração Mimeógrafo, associada a


uma poesia marginal, já que seus autores não buscavam o aval de editoras. Esse escritor curitibano sofreu
influências do Modernismo, do Concretismo e da cultura oriental. Seus textos, portanto, possuem as
seguintes características:

o traços concretistas;
o técnica do haicai;
o elementos de multimídia;
o linguagem imagética;
o temática do cotidiano;
o linguagem não linear;
o fragmentação;
o neologismos;
o coloquialismo;

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o caráter humorístico;
o ironia;
o ilogismo;
o experimentalismo;
o aspectos verbivocovisuais."

Ana Cristina Cesar


Ana Cristina Cesar foi uma das principais
representantes da Poesia Marginal, movimento
literário conhecido também como Geração
Mimeógrafo. Formada em Letras pela PUC-Rio,
mestre em Comunicação pela UFRJ e em Teoria e
Prática de Tradução Literária pela Universidade de
Essex, na Inglaterra, Ana também foi poeta, jornalista,
tradutora e crítica literária.
Nasceu no dia 02 de junho de 1952, no Rio de Janeiro,
e foi em meio à geração do mimeógrafo que seu nome
surgiu para a literatura brasileira. Movimento literário
brasileiro das décadas de 1970 e 1980, a Poesia
Marginal floresceu em um conturbado momento
político, enfrentando a censura imposta pela ditadura militar. Ana diferenciou-se de seus contemporâneos
por conta de um senso estético ímpar, além de um vasto repertório intelectual que levou sua poesia para
além das agendas ideológicas.
As principais características de sua poesia são a atração pelo insólito do cotidiano; ênfase na experiência
existencial; valorização do coloquialismo; o discurso construído na primeira pessoa; o culto do instante,
entre outras.
Ana Cristina Cesar cometeu suicídio aos 31 anos no dia 29 de outubro de 1983, no Rio de Janeiro.

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Cacaso
Antônio Carlos Ferreira de Brito, conhecido como Cacaso, foi
escritor, professor, crítico e letrista. Poeta mineiro nascido em
Uberaba, Cacaso foi um dos maiores representantes da poesia
marginal. Sua voz colaborou com o grito de liberdade que o
país almejava diante da repressão causada pela ditadura.
Deixou um grande legado para a literatura brasileira, com
mais de 20 cadernos, alguns em forma de diários, com
poemas, fotos e ilustrações. Dedica-se também à música
popular brasileira, compondo letras para parceiros como Edu
Lobo (1943), Elton Medeiros (1930) e Danilo Caymmi
(1948), entre outros. A poesia de Cacaso ilustra o cenário
cultural que se articula durante a década de 1970 no Brasil,
paralelamente ao panorama de repressão política imposto pelo
regime militar. Identificado à poesia marginal, movimento
que burla a censura dos órgãos reguladores do governo
editando publicações mimeografadas - a alcunha que também
se aplica ao grupo é a de geração mimeógrafo - Cacaso é um
dos seus principais expoentes e também um “teórico” ou
elemento catalizador dessa produção Cacaso morre de enfarte,
em 1987, no Rio de Janeiro

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Movimento Tropicalista
O movimento musical popular chamado Tropicalismo originou-se, ainda na década de 60, nos festivais de
M. P. B. realizados pela TV Record, que projetaram no cenário nacional os jovens Caetano Veloso,
Gilberto Gil, o grupo Os Mutantes e Tom Zé, apoiados em textos de Torquato Neto e Capinam e nos
arranjos do maestro Rogério Duprat.
Com humor, irreverência, atitudes rebeldes e anarquistas, os tropicalistas procuravam combater o
nacionalismo ingênuo que dominava o cenário brasileiro, retomando o ideário e as propostas do
Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade. Dessa forma, propunham a devoração e de deglutição
de todo e qualquer tipo de cultura, desde as guitarras elétricas dos Beatles até a Bossa Nova de João
Gilberto e o "nordestinismo" de Luiz Gonzaga.
Características dos textos:
o Movimento de Contracultura: a Tropicália rompe com a estrutura cultural burguesa e
predominantemente sob influência estrangeira que podemos identificar na Bossa Nova e na Jovem
Guarda. Trata-se de uma resposta aquilo que era considerado conservador e retrógrado, através de
uma nova forma de se produzir música, considerando novos valores, comportamentos e pensamentos.
o Inovação: O movimento sofreu grande influência do movimento hippie que propôs um novo
parâmetro de liberdade comportamental, sexual e espiritual. Dessa forma, além de uma música
inovadora, os artistas do movimento transmitiam um novo modo de comportamento.
o Rebeldia: uma resposta à inconformidade da sociedade perante as condições impostas pela Ditadura
Militar e pela propagação de uma moral conservadora.
o Miscigenação: Com o sucesso de grupos internacionais e festivais, os tropicalistas incrementam ao
samba e à bossa nova outras sonoridades – como a guitarra elétrica advinda da cultura europeia e o
berimbau da capoeira – que representam uma parte da cultura brasileira. A miscigenação se dá pela
apropriação da própria cultura do país acrescentada por tendências de outras culturas que foram
popularizadas pelo mundo.
o Ironia e paródia, humor e fragmentação da realidade; enunciação de flashes cinematográficos
aparentemente desconexos, ruptura com os padrões tradicionais da linguagem (pontuação sintaxe
etc.).
Suas influências foram fundamentais na música, mas repercutiram também na literatura e no teatro. Com
o AI-5, seus representantes foram perseguidos e exilados. A partir daí, a linguagem artística ou se cala, ou
se metaforiza, ou apela para meios não convencionais de divulgação. Estas características estabelecem
uma sonoridade inovadora ao cenário musical do país que, posteriormente, influenciaram o
desenvolvimento da Música Popular Brasileira.
Principais objetivos
o Inovação da estética musical: o principal objetivo dos Tropicalistas era desenvolver uma nova
estética musical considerada por si só revolucionária, já que rompia com os ideais retrógrados e
conservadores propostos até então.
o Libertação e revolução: as músicas somaram, em sua essência, a mensagem de libertação do
conformismo, àquilo que parecia estagnado propondo um pensamento que buscasse a libertação dos
contextos sociais e uma revolução nos conceitos políticos.

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o Crítica política e social: apesar de não ser um objetivo assumidamente declarado pelos artistas que
fizeram parte do movimento, as composições destacam críticas à Ditadura Militar e à moral
conservadora burguesa, fazendo uso do humor e ironia de maneira elaborada esteticamente e crítica.
O Tropicalismo, em sua essência, se demonstrou um movimento de inovação por meio da estética e da
resistência ao contexto em que se desenvolveu.
Principais artistas
Por mais que o movimento tenha durado poucos anos, grandes nomes da música reconhecidos por nós
atualmente estiveram ligados aos intérpretes e compositores. Acompanhe os principais nomes:
● Caetano Veloso
● Gilberto Gil
● Gal Costa
● Maria Bethânia
● Tom Zé
● Os Mutantes
● Torquato Neto
Esses artistas contribuíram com a revolução e a transformação da figura jovem no país. Foram
responsáveis por importantes canções que registraram a miscigenação brasileira nos anos 60.

O fim do tropicalismo
Considera-se que movimento chegou ao fim com a prisão e exílio de seus dois principais nomes: Gilberto
Gil e Caetano Veloso. Ambos foram exilados pelo governo militar brasileiro no Reino Unido, onde
passaram cerca de 12 anos. Caetano era considerado o fundador e Gil, seu principal seguidor e parceiro
no movimento.

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Literatura Afro-brasileira
Quando se fala de autoria negra no Brasil, a autoria feminina protagoniza, visto que hoje a representação
desse fazer literário é feita, majoritariamente, por mulheres. Portanto, hoje, as negras protagonizam a
produção literária de autoria negra no Brasil.

As maiores representantes desse movimento:

Conceição Evaristo: autora, professora e ativista na valorização da cultura negra no Brasil, em seus
livros a escritora gosta de trabalhar as relações de gênero e o racismo, isto é: o que é ser uma mulher
negra no Brasil? Além disso, ela possui como forte marca os cortes temporais, causando o rompimento do
que é passado, futuro e presente; os acontecimentos do texto ultrapassam uma ordem cronológica.
Escreve em prosa e em poesia, tendo em seu acervo romances consagradas como Ponciá Vicêncio e livros
de contos famosos, a título de exemplo, Olhos d'água.
Como autora, o seu percurso se iniciou durante a década de 90 tendo publicado obras dos mais variados
gêneros literários: desde poesia, passando pela ficção e também pelo ensaio.
Algumas das suas obras já foram traduzidas para o francês. Em 2018 venceu o Prêmio de Literatura do
Governo de Minas Gerais. Atualmente dá aulas como professora visitante na Universidade Federal de
Minas Gerais.

Carolina Maria de Jesus: é impossível falar de literatura brasileira sem falar da


grande autora da obra Quarto de despejo. Carolina Maria de Jesus, hoje, é considerada um dos principais
nomes da literatura brasileira, foi descoberta por um jornalista na década de 50 que ficou encantado por
suas narrativas e sua vida.
Narrativas essas de denúncia, o Diário de uma favelada, uma mulher negra, mãe, de pouca escolaridade e
moradora de uma comunidade contando sua história, o seu dia a dia, por meio de uma linguagem simples,
coloquial e, ao mesmo tempo, profunda, denunciando as mazelas sociais do Brasil. Publicou memórias,
contos e poesias.
De forma resumida, o diário de Carolina é uma espécie de literatura-verdade, que relata a cruel e triste
vida na favela. Sua linguagem é ao mesmo tempo simples e rebuscada: simples pela forma que escreveu
algumas palavras, aproximando-se da linguagem oral (como “iducada”) e rebuscada pelas palavras
altamente cultas que utiliza (como “funestas”). Seu diário comove leitores devido a sensibilidade como
conta os acontecimentos durante os anos que morou em Canindé. Percebemos que tudo que é narrado,
Carolina sentiu, viu, vivenciou.
Carolina Maria de Jesus escreveu o diário entre 15 de julho de 1955 à 01 de janeiro de 1960. Não
escreveu todos os dias, às vezes passava cerca de três a dez dias sem escrever. Percebemos, porém, que na
maioria das vezes era porque estava doente e sentia-se fraca.

A publicação de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”

No dia 19 de maio de 1958, Audálio publicou parte do texto, que recebeu vários elogios. Em 1959, a
revista O Cruzeiro também publicou alguns trechos do diário.

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Somente em 1960, foi finalmente publicado o livro autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma
Favelada”, com edição de Audálio Dantas.
Com uma tiragem de dez mil exemplares, só durante a noite de autógrafos foram vendidos 600 livros.

Djamila Ribeiro
Djamila Taís Ribeiro dos Santos é uma filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira. É uma
importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres. pesquisadora e mestra em Filosofia
Política pela Universidade Federal de São Paulo. Tornou-se conhecida no país por seu ativismo na
Internet, atualmente é colunista do jornal Folha de S. Paulo.
Djamila corajosamente denuncia a violência e a desigualdade social - principalmente contra negros e
mulheres - tão características da sociedade brasileira.
O seu livro Pequeno manual antirracista, que trata do racismo estrutural arraigado no Brasil, recebeu o
prêmio Jabuti. A ativista nasceu em Santos, São Paulo, no dia 1 de agosto de 1980.

Djamila traz à tona o racismo estrutural, que é herança dos tempos da escravidão e que condena, até os
dias de hoje, a população negra a um determinado lugar social, com piores índices de desenvolvimento
humano e fora dos espaços de poder.
Foi através da Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos, São Paulo, que Djamila se encontrou como
feminista. Ela trabalhou na Casa no final da adolescência e lá se familiarizou com a luta pelas mulheres.
Para Djamila, precisamos urgentemente repensar o feminismo no contexto brasileiro uma vez que os
números são assustadores no nosso país: a cada cinco minutos uma mulher é agredida e a cada onze uma
mulher é estuprada. Os casos de feminicídio têm ganhado cada vez mais visibilidade demonstrando que a
violência de gênero é uma realidade também contemporânea.
A luta da ativista é pela equiparação e pela equidade das mulheres, por exemplo, no mercado de
trabalho. Trata-se também de uma batalha em nome da justiça social.

Outros escritores

Cuti
Um dos mais destacados intelectuais negros contemporâneos – poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta –
Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, nasceu na cidade de Ourinhos, São Paulo, em 31 de outubro de 1951.
Formou-se em Letras pela USP em 1980. É Mestre e Doutor em Letras pela UNICAMP, tendo defendido
dissertação sobre a obra de Cruz e Sousa, em 1999, e tese sobre Cruz e Sousa e Lima Barreto, em 2005.
Militante da causa negra, é um dos fundadores e mantenedores da série Cadernos Negros, a qual dirigiu
entre 1978 e 1993.

O autor enquadra-se no perfil do intelectual moderno, atuando na criação, na crítica e no trabalho de


agitação político-cultural junto à comunidade. Nesse sentido, ganham importância os questionamentos
que faz aos conceitos de “Literatura afro-brasileira” e “Literatura afrodescendente”, formulados em
palestras e artigos e reunidos no livro Literatura negro-brasileira, publicado em 2010. A militância marca
sensivelmente as reflexões e a escrita do autor.
Acusado de rancor, resta a alternativa de viver acuado em si mesmo, enquanto aprende as regras da vista
grossa e do escamoteamento da expressão. Na pauta do permitido todos devem se esforçar para o sustento
de todas as notas de hipocrisia nas relações raciais.

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A bibliografia do “problema do branco” sobre o negro é imensa. Nela, como não podia deixar de ser, o
negro é o problema. As exceções – sinal dos tempos! – estão aumentando, infelizmente, a regra, idem.
Hoje há um dado considerável na transformação, a presença dos descendentes, mais visíveis, dos
escravos. O texto escrito começa a trazer a marca de uma experiência de vida distinta do estabelecido. A
emoção – inimiga dos pretensos intelectuais neutros – entra em campo, arrastando dores antigas e
desatando silêncios enferrujados. É a poesia do negro brasileiro consciente. (CUTI, 1985, p. 16)

Itamar Vieira Júnior


Nascido em Salvador, em 1979, Itamar Rangel Vieira Júnior é Graduado e Mestre em Geografia pela
Universidade Federal da Bahia. Sua ligação com o estado em que nasceu reflete de forma intensa em seu
interesse acadêmico, como nos demonstra sua monografia intitulada A expansão de Salvador: a produção
do espaço urbano em uma via metropolitana (2005) e sua dissertação de mestrado denominada A
valorização imobiliária empreendida pelo Estado e mercado formal de imóveis em Salvador: analisando a
avenida paralela (2007).
Na mesma instituição de ensino superior, concluiu também sua tese de doutorado, dessa vez na área de
Estudos Étnicos e Africanos, com o nome de Trabalhar é tá na luta: vida, morada e movimento entre o
povo Iuna (2017), pesquisa que se volta sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do
Nordeste brasileiro. Para além da literatura, atua como funcionário do INCRA - órgão federal voltado
para a implantação da reforma agrária.
Estreia na literatura em 2012, com o livro de contos Dias, vencedor do XI Prêmio Projeto de Arte e
Cultura (Bahia).
Seu impactante romance Torto arado (2018) conquistou em Portugal o prestigioso Prêmio LeYa,
concedido por unanimidade pelo modo como representa de forma sólida e realista o universo rural
brasileiro. O enredo enfatiza trabalhadores sem-terra remanescentes do regime escravista, em especial as
personagens femininas duplamente vítimas da violência que impera nos grotões mais afastados, realidade
representada por meio de uma sensível e sofisticada escrita.

Manoel de Barros
Manoel Wenceslau Leite Barros nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, dia 19 de dezembro de 1916. Passou a
infância em sua cidade natal onde seu pai, João Venceslau Barros, tinha uma fazenda no Pantanal. Já na
adolescência, mudou-se para Campo Grande onde estudou num Colégio Interno. Formou-se em Direito
no Rio de Janeiro. Lá se filiou ao partido Comunista e por conta do apoio de Luís Carlos Prestes a Getúlio
Vargas, ficou desiludido com a política abandonando o partido. Embora desde pequeno escrevesse
poemas, foi em 1937 que Manoel publicou sua primeira obra: Poemas concebidos sem pecado.

Chegou a morar em outros países: Bolívia, Peru e Nova York. Nos Estados Unidos, fez um curso de artes
plásticas e de cinema. A partir de 1960 passou a se dedicar a sua fazenda no pantanal, onde criava gado.
Sua consagração como poeta se deu ao longo das décadas de 1980 e 1990. Seu filho João morreu num
acidente de avião em 2008. Em 2013, seu primogênito Pedro foi vítima de um AVC e também faleceu.
Em seus últimos anos de vida passou a residir na região central de Campo Grande. Gostava de invenções
verbais e neologismos como “eu me eremito”. Realizou uma cirurgia de desobstrução do intestino, mas
não resistiu. Manoel de Barros faleceu em Campo Grande, dia 13 de novembro de 2014, aos 97 anos.

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Características da obra de Manoel

o Com uma linguagem simples, coloquial, vanguardista e poética, Manoel de Barros escreveu sobre
temas como o cotidiano e a natureza.
o Muitos de seus poemas receberam um toque de surrealismo, nos quais o universo onírico rege.
Além disso, criou diversos neologismos.
o o uso de vocabulário coloquial-rural e de uma sintaxe que remete diretamente à oralidade;
o Avesso à repetição de formas e ao uso de expressões surradas, ao lugar comum e ao chavão.
o Mutilador da realidade e pesquisador de expressões e significados verbais.
o Temática regionalista indo além do valor documental para fixar-se no mundo mágico das coisas
banais retiradas do cotidiano.
o Inventa a natureza através de sua linguagem, transfigurando o mundo que o cerca.
o Alma e coração abertos a dor universal.
o Tematiza o Pantanal, universalizando-o.
o A natureza é sua maior inspiração, o Pantanal é o de sua poesia.
o Metalinguagem

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