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A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NA

ATUALIDADE E A PSICOLOGIA
DO EDUCADOR*
MARIA LÚCIA DE OLIVEIRA**

Com o intuito de apresentar o tema de forma muito


geral, gostaria de observar que valorizar a psicologia do
emocional, essenciais para a maturidade do sujeito e para a
constituição de sua identidade pessoal.

Considerando os muitos desafios a quem, neste final


de século, se ocupe de desenvolver as novas gerações num
cenário dominado pela tecnologia e pela informação, que
restringem a importância do humano e tornam prescindíveis
as relações interpessoais, parece-nos essencial discutir a

Neste final de milênio, vivemos um período de crise,


que não sabemos se maior ou menor do que outras que t
a transmissão cega de padrões antigos e a ruptura drástica
das tradições, vivendo certa fragmentação - vivemos uma
crise de identidade.

O rompimento da cadeia geracional, o bombardeio de


informações de maneira fragmentada, aleatória e parcial, (dificul
a exacerbação da competitividade, a apatia e a perda ou a
dificuldade de manter ideais, principalmente entre os

*Trabalho apresentado em mesa redonda da "Jornada de Educação:


novos tempos, novos caminhos (?)", FCL/UNESP/CAr., 1998.
** Professora Doutora do Depr de Psicologia da Educação da
5

de Pós-Graduação em "Psicologia e Sociedade" - UNESP - Assis - Área


de Psicologia e Saúde Coletiva.
adolescentes, vêm sendo apontados como características de
nosso tempo pós-moderno.
Frente à rapidez das transformações tecnológicas, à
crescente liberdade, desacompanhada de responsabilidades,
à desvalorização do indivíduo, e do aniquilamento do
descartável e consumista dos vínculos sociais, afirma-se que
caminhamos da conquistada individuação para o ind

Não são poucos os trabalhos que vêm mostrando o


consumismo desenfreado ligando-se a um vazio emocional
que se expressa como obediência à mídia. Nesse contexto, o
uso de drogas e a dificuldade de tolerância à frustração
como sintomas da atualidade. Também o desnorteamento
dos pais e a falta de atenção emocional dedicada aos filhos
parece outra característica da desorientação geral em que
vivemos.

O desafio, hoje, parece a criação de novas subjetividad


investimento em vínculos afetivos, sem o quê, o pensar não
tem sustentação.

Não obstante a divulgação científica a respeito da


vinculação dos aspectos emocionais afetivos à construção
do conhecimento e do auto-conhecimento, parece que esse
vínculo não vem sendo considerado de maneira significa

A tendência atual de nosso mundo é a de incitar a


sabedoria, experiência da tradição, pela constante absorção
de informações também cambiantes.
A informação tornou-se mercadoria valiosa. A
e, nosso mundo, parece construído para valorizar mais os
emblemas do que as substâncias. A vida parece deixar-se
conduzir pela tecnologia da velocidade e pela massividade
de informações.

Se bem adaptada a esses objetivos e características cultur


aptas a elaborar conceitos "de verdade" e de valor, mas sim
a apossarem-se de competência e eficiência a partir de

Nesse contexto, penso que discutir o tema desta mesa


numa perspectiva que considere a o peso do vínculo inter-
subjetivo no processo educacional é chamar a atenção para
a importância do educador e promover uma reflexão sobre
sua condição atual, frente aos desafios da educação de

Levisky (1998) escrevendo sobre o processo de


valores éticos e morais, a tendência à satisfação imediata e
concreta dos desejos resultando numa liberação maior do
princípio do prazer e dos processos primários de pensame

Observa que esses fatores afetam a capacidade de

Nesse cenário social, adverte que se torna necessário


um esforço maior e consciente para equilibrar esse jogo de
forças cuja tendência espontânea parece ser a de caminhar
para o caos dificultando o processo de constituição de identidad

1
O termo papel aqui não tem o mesmo sentido daquele usado por
mente do adolescente e podemos pensar também da ident

Os processos de identificação da criança e do adole


na relação pais/filhos(as), com o último(a) incorporando,de
dos pais, e pela ação direta da cultura sobre os indivíduos
(escola, professores, instituições etc...), - em especial sobre
as crianças e adolescentes, por estarem num momento de
construção das bases de suas identidades. Esse processoes
impostos pela cultura vigente, que facilita ou inibe a
1998 p. 72. Grifos nossos).

Para Sigmund Freud, para quem a educação bem


sonhos infantis e a verdade inconsciente de cada um de nós
na paixão pelo conhecimento, a educação, ao contrário de
fundamentar-se na idéia de desenraizamento de um mal orig
pela tarefa de transformar impulsos em atividades sublimad
ele possa assegurar a permeabilidade entre a realidade
equilíbrio entre prazer individual e necessidades sociais.

A tarefa do educador é complexa, porque não se


como afirma René Kaês.

No trabalho "A paixão de formar", Maria Cecília


Pereira da Silva, investiga em professores bem sucedidos e
satisfeitos com seu ofício, o que seria a paixão de formar. A
partir dos resultados que obteve, não foi possível detectar
regras ou métodos que garantissem a eficiência da pe
fonte criativa baseada em recursos internos do professor. A
autora ressalta que, na possibilidade de poder perder, de
assim, a arte de formar. Mas, observe-se que, a arte de
contradição: envolve posse, dependência e uma relação de
dar e tomar forma, de relação com o outro, de desenvolvim

Para além de métodos e técnicas, a aprendizagem se


faz sempre com um outro, é fruto de relações quepro

A partir das contribuições da teoria psicanalítica s


do processo educacional, impõe-se o reconhecimento de que
a educação escapa à intencionalidade do educador, que
envolve identificações essencialmente inconscientes. Não são
propriamente fruto de ações intencionais, mas dependem das
interrelações e da intersubjetividade. Nesse contexto, faz
interrelações.

Na pesquisa a que nos referimos, a autora descreve o


professor apaixonado como sendo aquele que pode sentir
prazer nas diferenças, que é capaz de conviver,
concomitantemente, com sua paixão e sua razão, sendo, a
paixão, produto de aspectos infantis que se atualizam
conviver com divergência de idéias numa relação de
ser igual ao outro, e sim, para pensar e crescer, como um ser
inacabado que abre mão da própria onipotência; aquele,
si próprio, para ganhá-lo como ser pensante e independente,
capacitado para ocupar o lugar de professor, pai, mãe... de
se inserir na cultura para usufruí-la e transformá-la.

O educador pode ser descrito, então, como aquele que é


capaz de reconhecer a dependência da relação formativa,co
de sábio X ignorante ou de autoridade X submissão, possa
transformar-se numa relação de aceitação, por parte do
educador na construção de sua identidade e individualidade.

Essa parece-nos a essência da condição na qual, o


evidentemente, vincula-se à aceitação, por parte do educador,
de suas limitações e da consciência de suas possibilidades,
base necessária ao caráter construtivo de sua prática educativa.

Contrariando a ideologia dominante que propaga a


filho) lembro que a idéia de assimetria horizontal proposta
por Bernardete Amendola (1998) é muito ilustrativa para
relação de complementaridade entre as partes que a compõem.
Sendo a relação complementar, as diferenças entre as partes
não conferem a nenhuma delas o "status" de melhor ou pior,
de menos ou mais. As partes diz ela, "se precisam" para for-
mar o todo, ou seja, uma se define em função da outra, m
horizontal porque os elementos que compõem a relação são
diferentes mas permanecem no mesmo nível.

Outro aspecto que julgo oportuno abordar é a relação


entre o lugar ocupado pela criança na educação atual e sua
progressiva ascensão social. No trabalho da Associação Psicanalí
uma criança?", analisa-se o ideal educativo que propõe às
crianças um futuro de felicidades e que tem por alicerce a
razão. Discute-se que a exigência imposta às crianças, de
que atinjam a meta não alcançada pelos pais, parece resultar
em fracasso. Os pais desejam que seus filhos sejam e

Observa-se que, na medida em que a criança é vista


como um ideal e colocada no lugar de um ideal, ao fraca
tende a criar o fracasso e a impotência.

Por outro lado, a imersão no espírito de nosso mundo,


tão competitivo, tão individualista, significa que para o
se, por isso, os valores, os vínculos, as relações, as
da civilização.

Observe-se, ainda, que a busca do ideal almejado para


crianças e adolescentes, parece contar menos com o valor da
memória ou da tradição, como matéria prima para transform
não a valorização do processo ou dos meios para atingir
que significa a desvalorização dos modelos identifícatórios
e o não reconhecimento de que, a construção da identidade
de um sujeito, se dá na experiência significativa, nas r
supervalorizada de que a capacitação humana e o desen
mais de ciência do que de arte e sabedoria.

Embora expondo suas vítimas, os tentáculos dessa co

Isolar a importância do educador, no processoedu


advogar em favor da objetividade do processo educacional,
resulta numa concepção simples e equivocada da educação.

Seguindo nessa crítica, Betts (1994), observa que a


saber que superaria e substituiria o suposto saber do pai. A
aspiração da ciência é de acumular um conhecimento total,
sobre o real até se constituir na força mais poderosa do
para a existência, ensinando a maneira boa, saudável e
atingirmos a felicidade. Assistimos a uma interminável prolif

Profissionais de diversas áreas vem observando ainda


que os pais vêm sendo destituídos progressivamente do
restrita quanto à sua competência para educar. É visível em
nosso meio o quanto o saber suposto sobre a infância tran
nutricionistas, técnicos da infância, instrumentalizados de
saberes objetivos sobre a educação.
Jerusalinsky, faz uma interessante advertência a todos
nós quando diz que Pedagogos e Técnicos diversos da
armados de testes, parâmetros estatísticos, sistemas e
metodologias variadas, oferecem um saber objetivo, em
vir a produzir um saber sem desejo, de um saber sem falta.
Expurga-se qualquer saber não positivável e controlável,
afastando-se a sua subjetividade. Dessa forma, a psicologia
do educador tem muita importância, principalmente se
enfatizarmos que "se os afetos e as emoções têm íntima
aprender ocorre num processo relacional, teremos que levar
em consideração toda variada gama de expressões dos
conseqüentemente, na transmissão e na apropriação do conhecim
um produto da intersubjetividade.

Um mundo que promove a ascensão social da criança,


de modo a realizar o ideal do adulto, explora o exacerbamento
da tendência à posse, à desconsideração e à deformação do
outro. Instiga a competição exagerada num cenário de fran
vítimas dessa ilusão. Então, se parece tão necessário, hoje,
redobrarmos a atenção sobre o fato de que o amadurecimento
vivências como um modelo vivo, é porque vivemos numa
sociedade embasada na ilusão de que, formação, é igual a
informação e, ser, é igual a saber e igual a parecer.

Como ser educador, e o que é ser um, numa sociedade


em que a educação corre o risco de ser compreendida como
sinônimo de pedagogia?
Refletir sobre essas questões revela que estamos aptos
a gerar um novo tempo, no qual, formação, signifique uma
busca interminável para o desenvolvimento pessoal e da arte
de educar; da sensibilidade educativa como meio de
e a paixão pelo conhecimento. Para tanto, o educador prec
significações, de vida, distintas do modelos mais
massificados.

O caminho promissor é o da associação do desenvolvim


ao amadurecimento pessoal - profissional e portanto ao
de "fazer saber".

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, S.F.C. de. O lugar da afetividade e do desejo na


ASSIS, M. B. C. de. O trabalho apresentado a SBPSP. Texto

BETTS, J. A. Missão impossível? Sexo, Educação e Ficção


Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1994.
FREUD, Sigmund. Obras Completas Madrid: Biblioteca Nueva,
1973.
JERUSALINSKY, A. Educa-se uma criança? Porto Alegre:
a
LEVISKY, D. L. Adolescência: reflexões psicanalíticas - 2 ed
São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
OLIVEIRA, M. L . de. Por que a Psicanálise na Educação:Fra
Clínica FCL - UNESP - Assis, IX, 1996, 25-35.

SILVA, M. C. P. de. A Paixão de Formar: Da Psicanálise à

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