18454-Texto Do Artigo-73218-1-10-20210424

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PRINCÍPIOS DA ÉTICA AMBIENTAL

E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Milene Tonetto
Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo: O principal objetivo deste artigo é investigar quais princípios da ética do clima (a saber, os
princípios poluidor-pagador, beneficiário-pagador, capacidade para pagar, igualdade de emissões per
capita; princípios híbridos: princípio poluidor-pagador sensível à pobreza e capacidade para pagar
sensível historicamente) podem ser usados na defesa de um modelo justo a ser desenvolvido para
distribuir os deveres de mitigação das emissões, reparação e adaptação às mudanças climáticas. O
artigo defende que um modelo justo de distribuição deverá reconhecer a contribuição histórica das
emissões de gases de efeito estufa (GEE) para as mudanças climáticas, os beneficiários atuais das
emissões de GEE, a capacidade de pagar os encargos e não impedir o desenvolvimento daqueles que
pouco se beneficiaram com as emissões passadas.
Palavras-chave: Ética ambiental, mudanças climáticas, justiça global, direitos humanos.

Abstract: The main aim of this paper is to investigate which principles of climate ethics (namely, the
polluter pays, beneficiary pays, ability to pay, equal emissions per capita; hybrid principles: poverty
sensitive polluter pays principle and ability to pay historically sensitive) can be used to defend a fair
model to be developed to distribute the duties of mitigating emissions, repairing and adapting to climate
change. The article argues that a fair distribution model should recognize the historic contribution of
greenhouse gas (GHG) emissions to climate change, the current beneficiaries of GHG emissions, the
ability to pay charges and not hinder the development of those who have benefited little from past
emissions.
Keywords: Environmental ethics, climate change, global justice, human rights.

Considerações iniciais

As mudanças climáticas de origem antropogênica representam um


dos principais desafios éticos que a humanidade enfrenta atualmente. O Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2014) e vários estudos
publicados em revistas acadêmicas defendem a necessidade de se chegar a um
consenso científico sobre os efeitos que já estão ocorrendo. Dentre eles, pode-
se destacar: os padrões de precipitações estão alterados (IPCC, 2014); as
geleiras e as camadas de gelo estão derretendo mais rapidamente (IPCC, 2014);
aumento na temperatura média global da superfície da Terra (NASA, 2019); a
acidificação dos oceanos (NOAA, 2015a); os níveis do mar estão aumentando

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e as inundações costeiras estão mais frequentes, severas e persistentes (KOPP


et all, 2016).
Os efeitos das mudanças climáticas não afetam apenas o tempo, o
clima e os sistemas ecológicos, mas podem causar danos diretamente aos seres
humanos e seus meios de subsistência. À medida que o nível do mar sobe, as
terras costeiras são inundadas e as ilhas baixas poderão ficar totalmente
submersas. A mudança nos padrões de chuvas pode tornar a agricultura mais
difícil em muitas áreas; as tempestades de maior intensidade, o aumento das
inundações e as ondas de calor mais frequentes colocam as pessoas em todo o
mundo em risco. Os principais riscos para a saúde humana incluem: aumento
da desnutrição e consequentes distúrbios, com implicações no crescimento e
desenvolvimento infantil; aumento de mortes, doenças e lesões devido a ondas
de calor, inundações, tempestades, incêndios e secas; aumento da frequência de
doenças cardiorrespiratórias devido a maiores concentrações de ozônio no
nível do solo; distribuição espacial alterada de alguns vetores de doenças
infecciosas (IPCC, 2007 b).
Pode-se afirmar, seguindo Caney (2015, p. 373), que as discussões
filosóficas sobre a ética do clima têm diferenciado duas questões principais
sobre responsabilidades e distribuição equitativa, a saber:

1) quais princípios devem orientar uma distribuição equitativa da


capacidade de emitir gases de efeito estufa?
2) Quem deve assumir os encargos das mudanças climáticas? Ou seja,
quem deve pagar pela mitigação, adaptação e compensação
necessárias?

A vinculação entre essas questões leva ao problema central a ser


investigado nesse artigo, a saber, as mudanças climáticas têm efeitos nocivos
que aumentam os problemas relacionados às desigualdades econômicas e
justiça social, pois trazem consequências negativas principalmente aos mais
desfavorecidos. Dados do relatório As desigualdades extremas das emissões de
carbono, da Oxfam (2015), mostram que a metade da população mais pobre do
mundo será a mais ameaçada pelas tempestades, secas e outros eventos
catastróficos provocados pela mudança do clima. Todavia, ela é a responsável
por apenas 10% das emissões de carbono. Os 10% dos países mais ricos
produzem metade das emissões mundiais (OXFAM, 2015, p. 01).
A busca pela redução de custos na produção industrial tem levado os
países ricos a terceirizar essa emissão de GEE para os países emergentes.
Países como China e Índia estão queimando combustíveis para produzir bens

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para consumidores norte-americanos, europeus e outras economias e não


apenas para seu consumo interno. Diante disso, pode-se questionar: essa
terceirização de produção deveria diminuir a responsabilidade dos países ricos
em relação aos impactos ambientais de seus hábitos de consumo? Ou
poderíamos coagir indivíduos e comunidades para limitar suas emissões
mesmo que isso requeira uma redução nos padrões de vida dos países ricos e
impeça os países pobres de se desenvolverem? Medidas forçadas de controle
populacional seriam permitidas (por exemplo, a aplicação de multas para quem
se reproduzir ou a indução de esterilizações)? Como um modelo justo pode ser
desenvolvido para reconhecer os beneficiários atuais e históricos e não impedir
o desenvolvimento daqueles que pouco se beneficiaram? O ponto principal a
ser defendido pelos princípios da ética do clima é como garantir que aqueles
que já são injustiçados por não ter bens sociais, econômicos e culturais
suficientes não sejam ainda mais prejudicados com as mudanças climáticas.
Além disso, o interesse dos países pobres de se desenvolverem não pode ser
desconsiderado por políticas de redução das emissões.
O artigo irá defender que um modelo justo de distribuição deverá
reconhecer a contribuição histórica das emissões para as mudanças climáticas,
os beneficiários atuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE), a
capacidade de pagar os encargos e não impedir o desenvolvimento sustentável
daqueles que pouco se beneficiaram com as emissões.

1. Princípios da ética do clima

Para enfrentar as mudanças climáticas, as discussões éticas sobre o


assunto tem defendido que devemos assumir os encargos da mudança
climática global. Mas, afinal, o que isso significa? Quais são os deveres e as
responsabilidades que devem ser assumidas?
De acordo com Caney (2010), podemos distinguir entre pelo menos
três tipos diferentes de deveres. Primeiro, pode-se dizer que há o dever de
reduzir as atividades que causam as mudanças climáticas. Conforme o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), esse dever exige que
as pessoas se envolvam em ações de “mitigação”. As obrigações incluiriam,
por exemplo, um dever de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE),
principalmente, as emissões de dióxido de carbono. Na prática, isso exigiria
que as pessoas adotassem políticas como reduzir as viagens aéreas, usar menos
os automóveis, usar menos eletricidade, criar e proteger sumidouros de
carbono etc. Este tipo de obrigação pode ser chamado de “dever de
mitigação” (CANEY, 2010, p. 204).

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O segundo tipo de dever é o de destinar recursos para proteger as


pessoas dos efeitos nocivos das mudanças climáticas. Para empregar o uso do
IPCC, este dever implica facilitar e apoiar a “adaptação” às mudanças
climáticas e possibilitar que as pessoas vivam diante dessas mudanças. Por isso,
pode ser chamado de “dever de adaptação”. Esse dever exige fazer
investimentos nas seguintes atividades: construção de infraestruturas (p. ex.,
muros) para proteger populações costeiras e que serão prejudicados com o
aumento do nível do mar e tempestades; subsidiar as pessoas a se afastarem
dos assentamentos costeiros ameaçados; usar recursos para prevenir doenças
infecciosas; apoiar sistemas de irrigação em áreas propensas a secas; enviar
ajuda externa às vítimas de desnutrição; e assim por diante (CANEY, 2010).
Terceiro, há também os deveres de compensação, a saber, compensar
aqueles que foram prejudicados (2014, p.380). Um ponto importante que deve ser
destacado é que os custos de adaptação às mudanças climáticas são maiores do que
os custos de mitigar as emissões. Todavia, apesar de um apoio maior ser dado às
ações de mitigação, também é amplamente reconhecido que ações de adaptação
são necessárias. A emissão de gases de efeito (GEE) estufa vem ocorrendo desde a
Revolução Industrial e mesmo que os níveis de emissões fossem drasticamente
reduzidos ainda teríamos aumento da temperatura e dos níveis do mar.
Pode parecer óbvio que os seres humanos existentes devem assumir
essas principais responsabilidades, pois são os únicos agentes que podem agir
agora para mitigar as emissões ou adotar políticas que gerenciem a adaptação
dos impactos que não são mais evitáveis. No entanto, há diferentes entidades
que podem assumir as responsabilidades da justiça perante as mudanças
climáticas. De acordo com Caney, essas entidades podem ser países
individuais, organizações supranacionais, corporações nacionais e
multinacionais, instituições internacionais e nacionais e, de modo mais
abstrato, a atual geração como um todo (2005, p.754).
Tendo em vista os deveres acima mencionados, o Acordo de Paris
(ONU, 2015) defende, em seu Artigo 2o, o seguinte princípio:

2. O presente Acordo será implementado para refletir a igualdade e o princípio


das responsabilidades comuns porém diferenciadas e respectivas capacidades, à
luz das diferentes circunstâncias nacionais. (ONU, 2015, Art. 2).

Como pode ser constatado, o Acordo considera o princípio das


responsabilidades comuns porém diferenciadas (PRCPD). Os filósofos que
trabalham com as mudanças climáticas geralmente têm apoiado o PRCPD
devido a três argumentos principais: 1) historicamente, os países

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industrializados contribuíram mais para a mudança do clima e, em uma base


per capita, continuam a contribuir mais; 2) os países industrializados têm a
maior capacidade de pagar pela mitigação e adaptação ao clima; 3) as nações
industrializadas beneficiaram-se mais com as emissões de GEE, enquanto as
nações menos desenvolvidas estão e continuarão a suportar grande parte dos
impactos climáticos (SHUE, 2001, p. 457). Todavia, permanece a dificuldade
para responder as seguintes questões: como podemos diferenciar as
responsabilidades perante as mudanças climáticas? Como estabelecer uma
distribuição equitativa? A seguir, serão analisados alguns princípios da ética do
clima para responder a essas questões.

2. Princípios para distribuir as emissões de GEE

Para se cumprir em parte o dever de mitigação, o volume total de


emissões de GEE precisa ser reduzido. Por isso, é necessário também um
princípio para especificar a distribuição justa das emissões de GEE. Henry
Shue defende o conceito de emissões de subsistência (SHUE, 2014). Outros
eticistas defenderam a posição de que deve haver emissões per capita iguais
(SINGER, 2011); além disso, há aqueles que defendem que a igualdade de
encargos não deve impedir o direito ao desenvolvimento (MOELLENDORF,
2009a). A seguir, esses princípios serão discutidos.

a) Igualdade de encargos

Darrel Moellendorf apresenta o princípio da igualdade de encargos do


seguinte modo: “Cada estado é obrigado a reduzir suas emissões a uma parcela
do ônus das reduções totais de emissões que é igual ao ônus de todos os
outros estados” (2009a, p. 118) 1 . De acordo com o autor, esse princípio da
igualdade pode ser problemático na ética do clima e levar à injustiças. Ele não
é satisfatório para levar em consideração o pano de fundo de certas injustiças,
pois requer que todos dividam os encargos, inclusive os países não
desenvolvidos. “Quando nos é solicitado para se assumir o ônus de um
encargo e se guiar pela idéia de igualdade parece plausível assumir que os
encargos serão igualados se todas as outras coisas entre as partes forem iguais”
(MOELLENDORF, 2009a, p.119). Para ele, o princípio não respeita o direito
desses países se desenvolverem porque requer que assumam custos que podem

1 Uma versão desse princípio é defendida por Martino Traxler (2002) como sendo a atribuição mais justa

dos encargos de redução das emissões de CO 2 . Traxler argumenta que um tratado deve igualar os
encargos de redução de emissões em vez da quantidade ou porcentagem de reduções nos estados.

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parar o desenvolvimento para manter altos padrões de vida nos países


desenvolvidos. Desse modo, Moellendorf argumenta que “um princípio que
não permite o aumento das emissões nos países subdesenvolvidos é
incompatível com o direito de desenvolvimento” (2009a, p. 122 ).
O princípio da igualdade de encargos requer que todos os países,
mesmo os em desenvolvimento, compartilhem uma parte do ônus de reduzir
as emissões de CO 2 . Moellendorf argumenta que uma proposta de reduzir as
emissões em 50% nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento
resultaria, por exemplo, em atrasar ou mesmo reverter a eletrificação rural,
porque a geração de eletricidade em grande parte do mundo subdesenvolvido
depende do uso de instalações de carvão. “Em 2000, em Bangladesh, uma
média de 0,22 Mt 2 de CO 2 por pessoa foi emitida, comparada a mais de 20 Mt
nos EUA. Se Bangladesh reduzisse pela metade suas emissões totais, suas
emissões de CO 2 per capita seriam de apenas 0,11 Mt, uma quantia que, dada a
capacidade tecnológica atual, asseguraria seu persistente subdesenvolvimento”
(MOELLENDORF, 2009, 117). Henry Shue oferece uma razão moral
convincente para rejeitar uma proposta desse tipo. De acordo com ele,

[a]s pessoas que vivem em pobreza extrema não devem ser obrigadas a restringir
suas emissões, permanecendo assim na pobreza, a fim de que aqueles que vivem
no luxo não precisem restringir suas emissões (...). Qualquer estratégia de
manter a riqueza para algumas pessoas, mantendo outras pessoas em ou abaixo
da subsistência é (...) evidentemente injusto (SHUE, 2014, p. 50).

Para Shue, é injusto exigir que países muito pobres assumam custos
que reduziriam o progresso e desenvolvimento para manter estilos de vida
mais privilegiados nos países desenvolvidos. A redução das emissões podem
dizer respeito a medidas diferentes de acordo com cada sociedade. As reduções
dos países ricos podem ser significantes, mas elas podem estar relacionadas a
hábitos luxuosos enquanto que as reduções dos países pobres podem significar
perdas de bens essenciais ameaçando o direito de se desenvolver.

b) Partes iguais ou igualdade de cotas de emissão per capita

Um outro princípio que se baseia na equidade é o de igualdade de


cotas de emissão. Ele tem sido discutido com relação a políticas futuras e tem
como pressuposto modelos que atribuem cotas per capita.

2 “Mt” representa milhões de toneladas métricas.

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De acordo com Peter Singer, o princípio das partes iguais tem o


grande mérito da simplicidade. É um princípio que “não leva em conta o
passado e dá a todos uma cota igual da atmosfera a partir de agora” (2011, p.
224). Muitas nações em desenvolvimento estão usando muito menos do que a
sua cota per capita igual, mas mesmo que abram mão do direito de fazer uma
reivindicação contra as nações industrializadas com base na responsabilidade
histórica, ainda assim serão beneficiadas no sistema de cotas iguais.
Para tornar isso mais claro, Singer explica o que as cotas iguais
significam na prática. Suponha que pretendamos estabilizar as emissões de
gases de efeito estufa em um nível que nos impeça exceder 450 ppm de
dióxido de carbono. “É controverso quanto carbono poderíamos emitir por
pessoa permanecendo abaixo desse nível, mas um número plausível é duas
toneladas de dióxido de carbono por pessoa ao ano” (SINGER, 2011, p. 224).
Pode-se comparar as emissões reais per capita de alguns países com essa
estimativa de duas toneladas de dióxido de carbono por pessoa que poderiam
ser emitidas a cada ano. Segundo Singer, em 2010, os Estados Unidos, Canadá
e Austrália produziram cerca de vinte toneladas de dióxido de carbono por
pessoa ao ano, enquanto a Alemanha produziu onze toneladas, a China cerca
de quatro, a Índia pouco mais de uma tonelada e o Sri Lanka apenas dois
terços de uma tonelada. “Isso significa que o Sri Lanka poderia triplicar suas
emissões e a Índia poderia quase dobrar enquanto ainda permanecesse dentro
de suas cotas per capita. A China precisaria reduzir pela metade suas emissões
atuais, a Alemanha teria de reduzi-las em mais de 80% e, mais dramaticamente,
os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália teriam de reduzir suas emissões
para apenas um décimo dos níveis atuais” (2011, p. 225). Uma questão que
surge aqui é saber se os países ricos conseguiriam adotar esse princípio de
cotas iguais per capita. Não é possível que países industrializados como a
Alemanha e os Estados Unidos façam reduções tão drásticas a curto prazo e
sem consequências econômicas devastadoras. Singer apresenta dois fatores
atenuantes a serem considerados antes de julgar esse princípio como sendo
não realista. “O primeiro é que tornar as cotas de emissões de GEE
comercializáveis facilitaria a transição para uma economia com emissões
baixas” (2011, p. 225). O mercado de emissões funciona com base no
princípio econômico de que, se você puder comprar algo mais barato do que
você mesmo pode produzir, é melhor comprá-lo do que produzi-lo. “Nesse
caso, o que se compra é uma cota transferível para produção de gases de efeito
estufa, alocados com base em uma cota igualitária per capita” (2011, p. 225). O
mercado internacional de carbono implicará que os cortes nas emissões de
carbono serão feitos ao menor custo possível, causando o menor dano

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possível à economia global. O segundo fator considerado é que “um esquema


de mercado de carbono dá aos países com poucas emissões de gases de efeito
estufa - em geral, países pobres - um incentivo para manter baixas suas
emissões, de modo que tenham mais cotas de emissões para vender aos países
ricos que ultrapassam sua cota” (2011, p. 225). Singer chega a considerar que
um comércio internacional de emissões poderia contribuir para resolver o
problema da pobreza, pois envolveria a transferência de recursos de países
ricos para os pobres, não como altruísmo, mas como pagamento por uma
mercadoria valiosa. Como pode ser visto, Singer parece defender as emissões
per capita iguais a partir de argumentos utilitaristas.
Para Moellendorf, o princípio da igualdade de cotas apresenta uma
vantagem em relação ao de encargos iguais, a saber, ele autoriza algum espaço
de crescimento dos países mais pobres que ainda podem usar sua cota inteira
de emissões, enquanto requer uma grande redução para os mais ricos. Para
exemplificar, Moellendorf afirma que a partir desse modelo, usando números
do 4o Relatório de Avalição do IPCC, se tomarmos o período de 2000 a 2050,
o país de Bangladesh estaria autorizado a emitir 4,5 vezes a mais das emissões
realizadas em 2000. Então, o direito ao desenvolvimento de alguma forma
seria considerado (2009a, p. 126). Além disso, esse princípio autoriza emissões
e trocas entre aqueles países que emitem menos do que suas metas. Isso
permite que os estados mais ricos comprem cotas de emissões adicionais, algo
mais eficiente e menos difícil do que exigir que eles cortem suas emissões.
Desse modo, os estados pobres podem se beneficiar tornando seu baixo índice
de emissões uma fonte de rendimentos.
Há, todavia, críticas em relação ao princípio de igualdade de cotas per
capita. Caney (2011) apresenta três objeções: primeiro, ele questiona “por que
esse bem específico (emissão de gases de efeito estufa) deve ter um princípio
próprio para regulá-lo e por que esse princípio deveria ser igualitário?” (2011,
p. 90). Por que não colocá-lo no pacote geral de todos os bens a serem
distribuídos e, em seguida, ter uma regra distributiva aplicável a todos os bens
nele contido? O problema destacado é o de reservar tratamento especial
apenas para um bem ou recurso. Em segundo lugar, Caney argumenta que o
princípio de igualdade de cotas per capita, enquanto uma explicação da justiça,
concentra-se exclusivamente na distribuição de recursos e, ao fazê-lo, fetichiza
o recurso distribuído. Desse modo, ele é vulnerável à objeção de Amartya Sen
(1980) de que o recursivismo é acusado de fetichismo. Recursos como riqueza e
renda são meios para um fim ou conjunto de fins. “É, portanto, errado focar a
preocupação sobre os meios como se eles fossem o que, em última análise,
importa. (...) A justiça deveria (...) estar preocupada com o que as pessoas são

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capazes de fazer e se elas são realmente capazes de atingir determinados


objetivos” (2011, p. 94). As permissões de emissão de dióxido de carbono são
importantes apenas na medida em que possibilitam fazer certas atividades, por
exemplo, viajar ou se aquecer. Em si mesmas não tem valor e, portanto, se
fossem substituídas por outra fonte de energia que obtivesse os mesmos
resultados pelo mesmo preço, não haveria exigência legítima. A terceira crítica
aponta que conceder direitos de emissão iguais é injusto quando algumas
pessoas precisam de mais direitos de emissão do que outras. Assim, o princípio
de igualdade de cotas per capita é defeituoso porque é insensível às diferentes
necessidades e vulnerabilidades das pessoas (2011, p. 95). Essas objeções
apresentam sérios desafios para a posição de cotas de emissões iguais e serão
consideradas na formulação de outros princípios.

2. Princípios para distribuição dos custos de combate das mudanças


climáticas

a) Princípio poluidor-pagador (PPP)

Algumas reflexões sobre a justiça global e sobre o artigo 3o da


Convenção-Quadro de “responsabilidades comuns porém diferenciadas”
levaram a conclusão de que um tratado internacional moralmente aceitável
deveria distribuir as responsabilidades dos estados de acordo com sua
contribuição histórica para a mudança do clima. Essa posição faz apelo a um
princípio utilizado na ética ambiental, a saber, o PPP. Basicamente, o princípio
defende que quem polui deve pagar de maneira proporcional à sua
contribuição para a poluição causada.
Henry Shue defende uma versão desse princípio e considera-o como
o princípio primeiro da justiça climática:

Quando uma parte tomou no passado uma vantagem injusta de outros,


impondo-lhes custos sem o seu consentimento, aqueles que foram
unilateralmente colocados em desvantagem têm o direito de exigir que, no
futuro, a parte ofensora assuma encargos que são, pelo menos, desiguais na
extensão da vantagem injusta anteriormente tomada, a fim de restaurar a
igualdade (SHUE, 2014, p. 183)

Como pode ser visto, este é um princípio que leva em consideração


as contribuições históricas para o problema e aloca responsabilidades de
acordo com elas. Sendo assim, aqueles que contribuem para as mudanças

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climáticas com o uso excessivo de quantidades de combustíveis fósseis, com o


desmatando etc. devem destinar recursos que permitam às vítimas se
adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas.
O PPP faz parte de um conjunto de princípios mais amplos para
guiar o desenvolvimento sustentável já estabelecido na Declaração do Rio de
1992 e também no protocolo de Quioto. Assim, o princípio é usado para
defender que as sociedades industrializadas afluentes devem arcar com o maior
ônus para lidar com as mudanças climáticas 3 . Todavia, alguns comentadores
argumentam (CANEY, 2010b) que o princípio por si só não é suficiente e
pode enfrentar uma série de dificuldades.
Em primeiro lugar, há o problema da incerteza e das gerações
passadas (CANEY, 2014; MEYER, 2013; POSNER & WEISBACH, 2010).
Estimar os efeitos ruins da mudança do clima pode ser difícil em termos
científicos. Dada essa constatação, pode-se considerar ainda mais difícil
estabelecer quem causou esse ou aquele dano com precisão suficiente para se
exigir reparações. O problema surge porque os seres humanos têm contribuído
para a mudança do clima há mais de cento e cinquenta anos. Desde a
Revolução Industrial, membros de sociedades européias e norte-americanas
vêm emitindo quantidades cada vez maiores de GEE. Muitos destes, no
entanto, fazem parte de gerações passadas e estão mortos. Isto coloca um
problema simples, mas difícil para o PPP: quem deve pagar quando o poluidor
não está mais vivo? Uma possível resposta defende que “os membros dos
países industrializados deveriam pagar pelas emissões das gerações anteriores,
alegando que todos eles herdaram benefícios que resultam do uso excessivo da
atmosfera terrestre e que, se desfrutam dos benefícios, devem cobrir alguns
dos custos” (CANEY, 2014, p. 381). Parece, portanto, que o PPP não pode
responder completamente à questão de quem deve lidar com as mudanças
climáticas e deverá ser complementado por outras considerações, a saber, o
benefício recebido. Na próxima seção, o princípio beneficiário-pagador será
analisado.
Em segundo lugar, há o problema da “ignorância descupável”
(CANEY, 2014, p. 380; 2010b, p. 208; MEYER, 2013; POSNER &
WEISBACH, 2010): os poluidores podem ser responsabilizados pelos efeitos

3 De acordo com Caney, “essa abordagem foi examinada por vários países em desenvolvimento,

principalmente o Brasil. Em uma proposta que submeteu às deliberações da Convenção-Quadro das


Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), argumentou que os países que emitiram mais
gases de efeito estufa deveriam ter maior responsabilidade no combate às mudanças climáticas.
Posteriormente, essa proposta foi encaminhada ao Subsidiary Body for Scientific and Technological
Advice (SBSTA) e parece improvável que ela entre em vigor”. (2010b, p. 205-6)

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nocivos antes de se ter conhecimento de que suas emissões de carbono


causariam a mudança do clima (apenas ocorrido por volta dos anos 90)?
Alguns comentadores consideram que tornar os poluidores responsáveis pelos
efeitos nocivos quando podem alegar desconhecimento parece ser injusto e
isso pode reduzir o apelo a equidade, o ponto forte do princípio. Caney
argumenta que há algumas circunstâncias nas quais é apropriado
responsabilizar as pessoas, mesmo que elas não tivessem conhecimento dos
efeitos de suas ações. Por exemplo, em algumas situações as pessoas
involuntariamente causam danos mas também se beneficiam da atividade
prejudicial. Em tais circunstâncias, não parece ser injusto puní-las pelas ações
danosas. “É verdade que não se pode esperar que elas conheçam as
conseqüências de sua ação. No entanto, uma vez que se beneficiaram, pode-se
atribuir responsabilidades sem deixá-las, por exemplo, piores do que antes da
ação prejudicial” (CANEY, 2014, p. 381; 2010b, p. 210).
Uma terceira objeção afirma que exigir que as pessoas paguem de
acordo com suas emissões seria injusto para aqueles que vivem com um
padrão de vida muito baixo. Não é razoável fazer com que os pobres paguem
por suas emissões quando elas são necessárias para alcançar um padrão de vida
mínimo, pois isso pode colocá-los abaixo desse nível mínimo. Como será visto
a seguir, Caney (2010b, p. 206) argumenta que essa objeção é de considerável
importância prática e, por isso, defende que o PPP deve ser complementado por
um princípio adicional.

b) Beneficiário-pagador

O argumento básico para a defesa desse princípio é o seguinte: as


atividades de emissões de GEE das gerações passadas beneficiaram os países
desenvolvidos. Qualquer agente deve apoiar, por uma questão de justiça,
práticas que gerenciem os efeitos negativos das atividades das quais se
beneficiam. Por isso, os países que mais se beneficiaram das atividades de
emissão de GEE no passado são os que mais devem assumir a
responsabilidade pela justiça climática. Diferentemente do PPP que coloca a
responsabilidade da poluição diretamente naqueles que causaram ou estão
causando danos ambientais, o princípio beneficiário-pagador sustenta que
aqueles que mais se beneficiaram com o desenvolvimento das mudanças
climáticas são responsáveis pelos custos de adaptação e de prevenção de
danos. Mas essa responsabilidade diz respeito ao pagamento dos custos e não
significa que aqueles que se beneficiaram com a poluição necessariamente
causaram a poluição. Portanto, aqueles que se beneficiaram com projetos que

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aumentaram o aquecimento global e exploraram o meio ambiente são


responsáveis pelos custos financeiros para fazer as adaptações ou reparar
aqueles que foram prejudicados por esses projetos. Assim, por exemplo, se um
país desenvolvido está se beneficiando atualmente com a implementação de
enormes usinas elétricas construídas pelos seus ancestrais que nada sabiam
sobre o aquecimento global e suas consequências, esse país ainda deve
reparações as pessoas afetadas pela poluição liberada (WIDDOWS, 2011, p.
245). Isso se deve não pelo motivo de ser responsável por isso ter acontecido e
por não parar essa atividade, mas simplesmente pelo ganho que o país
desenvolvido teve enquanto outros não tiveram.
Uma das críticas apresentadas ao princípio beneficiário-pagador está
relacionada com o problema das gerações passadas discutido na seção anterior,
a saber, que os principais emissores responsáveis pela mudança do clima fazem
parte de gerações passadas e não podem assumir encargos ou deveres de
reparação. Isto coloca novamente a questão analisada, a saber: quem deve
pagar quando o poluidor não está mais vivo? Para responder essa questão,
alguns comentadores, por exemplo, Shue (2014) e Neumayer (2000), chamam
atenção para o princípio beneficiário-pagador. Shue defende que os habitantes
atuais de um país não estão completamente desconectados dos habitantes
anteriores e, assim, podem assumir a responsabilidade pelas ações de seus
ancestrais. Eles desfrutam dos benefícios das políticas adotadas pelas gerações
anteriores: “as gerações atuais são beneficiadas e as futuras gerações
provavelmente continuarão sendo beneficiadas pela atividade industrial
anterior” (SHUE, 2014, p. 186). Uma posição semelhante é apresentada por
Neumayer (2000). De acordo com ele, “os atuais países desenvolvidos aceitam
prontamente os benefícios das emissões passadas na forma de seu alto padrão
de vida e, portanto, não devem deixar de ser responsabilizados pelos efeitos
colaterais prejudiciais pelos quais seus padrões de vida foram alcançados”
(2000, p. 11). Segundo Caney, a proposta feita por Neumayer “de que as
economias industrializadas do primeiro mundo deveriam pagar, parece injusta,
pois não faz com que os reais poluidores paguem. [Essa] conclusão, portanto,
não é apoiada pelo PPP: na verdade, ele viola o PPP” (2005, p. 756). Este é o
principal ponto criticado por Caney: “o princípio beneficiário-pagador não é
uma revisão da abordagem do PPP, mas um abandono do mesmo” (2005, p.
757). Tal princípio pode justificar a imposição de um encargo a alguém que
não causou o dano ambiental mas que, no entanto, se beneficiou com ele. Para
Caney, a distribuição dos encargos para enfrentar as mudanças climáticas deve
refletir tanto a capacidade de pagar quanto a contribuição para o problema.

46
Dissertatio [52] 35-57 |2020

Outra crítica realizada ao princípio beneficiário-pagador (PAGE, 2008;


CANEY, 2005) está relacionada ao problema da não-identidade desenvolvido por
Derek Parfit. Parfit (1984, p. 351-77) argumenta que a compreensão ética de nosso
relacionamento com as futuras gerações é complexa pelo fato de que muitas das
políticas que adotamos hoje influenciarão quem serão as pessoas futuras. Segue-se
daí que as políticas que as pessoas adotam em determinado momento afetam quem
nascerá no futuro. Para esclarecer esse ponto, considere o exemplo apresentado
por Caney: suponha que construamos fábricas que não têm efeitos nocivos
imediatos, mas que liberam vapores venenosos daqui há 300 anos. O ponto
problemático é o seguinte:

as políticas adotadas agora levaram ao nascimento de pessoas diferentes das que


teriam nascido se essas medidas não tivessem sido adotadas. As gerações
futuras, cujas vidas são ameaçadas pela fumaça venenosa, não teriam nascido se
não fosse pela construção da fábrica. Portanto, elas não podem dizer que foram
prejudicadas (...) (CANEY, 2005, p. 757).

A ação de construir a fábrica, segundo Parfit, é ruim, mas não deixou


ninguém pior do que se não tivesse sido realizada essa construção. Esse
argumento pode ser utilizado contra o princípio beneficiário-pagador. O
princípio afirma que as políticas de industrialização beneficiaram pessoas que
estão vivas atualmente. Mas da mesma forma que a construção da fábrica não
prejudicou as pessoas futuras, a industrialização não melhorou o padrão de
vida das pessoas atualmente existentes. “Não podemos dizer às pessoas: ‘Você
deve arcar com a mudança climática porque sem industrialização você estaria
muito pior do que está atualmente.’ Não podemos porque sem industrialização
o ‘você’ ao qual a sentença anterior se refere não existiria” (2005, p. 758). Por
esta razão, segundo Caney, o princípio beneficiário-pagador é incapaz de
mostrar por que os membros dos países industrializados devem pagar pelas
ações das gerações anteriores.

c) Capacidade para pagar

O princípio da capacidade de pagamento atribui responsabilidades


aos agentes não examinando quem causou o problema no passado, mas
considerando quem é mais capaz de arcar com o custo do combate ao problema
(SHUE 2014, p. 60; CANEY, 2010b). Aqueles que defendem esse princípio
afirmam que não se deve discutir sobre as injustiças históricas e sobre como
atribuir a culpa se aqueles que são identificados não podem ou relutam em pagar.

47
Milene Tonetto

Ao invés de rastrear difíceis redes causais de injustiça, devemos ser pragmáticos e


considerar apenas quem pode financiar as mudanças necessárias. O princípio
sugere que os custos das mudanças climáticas devem ser assumidos pelos ricos e
de maneira proporcional à sua riqueza.
Mas algumas objeções podem ser levantadas. Primeiro, por que o fato
de um país ter recursos para financiar ações de mitigação e adaptação torna isso
sua responsabilidade? A objeção se baseia na seguinte suposição: é errado
assumir o ônus de um problema que não é de sua responsabilidade. Isso parece
ser injusto e, portanto, o princípio da capacidade para pagar carece de um apelo
intuitivo de justiça, tal como possui o PPP. Para Caney, esta crítica não é
plausível (2010b, p. 214). Seja qual for o cenário das mudanças climáticas daqui
para frente, alguém sempre irá assumir um fardo que não é seu. Por exemplo,
considere as seguintes opções. “Podemos dizer que os favorecidos devem pagar
(opção 1) ou que os pobres devem pagar (opção 2). Em ambos os casos, no
entanto, alguém assumiria um ônus de um problema que não é de sua
responsabilidade. Poderíamos então defender (a opção 3) que nada deve ser
feito” (2010b, p. 214). Mas isso também iria impor um ônus para alguém que
não contribuiu para a mudança do clima, pois neste caso as vítimas serão as
gerações futuras 4 e elas terão que assumir um problema que não causaram. Além
disso, se o mais rico não pagar e se nada for feito, quem sofrerá as maiores
consequências serão as populações mais pobres e mais vulneráveis. Se
pudéssemos fazer uma escolha entre o sofrimento dos que já são desfavorecidos
(que frequentemente já ficam abaixo de um padrão mínimo de vida aceitável) ou
o sofrimento dos privilegiados (de um modo que não afeta sua capacidade de
sobrevivência ou que os deixe abaixo de um padrão mínimo) seria injusto
escolher que os desfavorecidos sofram mais consequências. Portanto, todas as
opções disponíveis vão contra a crítica apresentada. Por conseguinte, essa
objeção não pode ser utilizada para invalidar a abordagem de capacidade de
pagar. Há, todavia, algumas observações que são levadas em consideração por
Caney para modificar o princípio da capacidade para contribuir, por exemplo, a
de que seria contraintuitivo ignorar a contribuição histórica de um país para a
mudança do clima e a falta de capacidade para pagar. Dadas essas observações,

4 Lukas Meyer (2013) argumenta que as pessoas que vivem atualmente precisam respeitar os direitos

básicos das pessoas futuras como uma questão de justiça intergeracional. Bjørn Lomborg (2001)
defende que não devemos nos preocupar com as gerações futuras porque elas serão mais ricas do que
nós. Nesta lógica, os sacrifícios feitos pelas gerações presentes para beneficiar as gerações futuras são
vistos como uma transferência de riqueza daqueles que são menos favorecidos para aqueles que estão
em melhor situação.

48
Dissertatio [52] 35-57 |2020

Caney defende uma abordagem que baseia em princípios híbridos que serão
apresentados a seguir.

d) Princípios híbridos: princípio poluidor-pagador sensível à pobreza


(PPPSP) e capacidade para pagar sensível historicamente (PCPSH)

Caney argumenta que a distribuição dos encargos para enfrentar as


mudanças climáticas deve refletir tanto a capacidade de pagar quanto a
contribuição para o problema. Sua posição leva em consideração a ideia de que
todas as pessoas têm o direito de não sofrer impactos climáticos que destroem
seus interesses básicos. A partir disso, Caney defende que “as pessoas têm o
direito humano de não sofrer as desvantagens geradas pelas mudanças
climáticas globais” (CANEY, 2005, p. 768). Todas as pessoas têm encargos
associados à proteção desse direito. Todavia, os que vivem em países
desenvolvidos têm os deveres mais urgentes, pois refletem sua riqueza e estilos
de vida com intensas emissões de carbono (2005, p. 769).
Para Caney, o ponto principal da sua posição é que ela reconhece que
o PPP precisa ser suplementado e isso é feito atribuindo-se deveres aos mais
favorecidos, algo que está de acordo com a abordagem da capacidade para
pagar (2005, p. 769). Dado, então, o forte apelo à justiça, Caney considera o
PPP como sendo um princípio para financiar as ações de mitigação e
adaptação à mudança do clima. Mas, como foi visto, não o considera suficiente
devido as dificuldades de endereçar a poluição causada pelas gerações
anteriores. Assim, para ele, o PPP pode ser usado somente para lidar com uma
parte dos efeitos da mudança do clima. Haverá sempre algumas causas que não
poderão ser traçadas nem seguidas. Ele considera que alguns países em
desenvolvimento que, atualmente, são poluentes, por exemplo, China e Índia,
não têm condições de fazer reparações das suas emissões. Esses países devem
ser parcialmente isentados pelo PPP porque a exigência de reparação irá
perpetuar e aumentar a pobreza deles (2010b, p. 2012). Os deveres para lidar
com a mudança do clima não devem levar as pessoas a ficar abaixo de um
padrão mínimo de vida aceitável. Estes pontos não pretendem estabelecer que
o princípio do poluidor-pagador seja abandonado ao determinar os deveres de
prevenção e adaptação. Eles apontam maneiras pelas quais o PPP deve ser
complementado. Caney afirma que eles estabelecem que precisamos de um
princípio de justiça para lidar com o que poderíamos chamar de “questões
restantes”, a saber, as mudanças climáticas prejudiciais que derivam “(a) das
emissões das gerações anteriores, (b) não são induzidas pelo homem e (c) das
emissões (legítimas) dos desfavorecidos” (2010b, p. 2013).

49
Milene Tonetto

O PPP pode ser um princípio para lidar com a mudança do clima,


mas deve ser qualificado para não forçar as pessoas a pagar por emissões
necessárias para a sobrevivência ou não levá-las a ficar abaixo de um nível
mínimo de vida aceitável. Desse modo, Caney formula uma versão qualificada
do princípio, a saber, o PPPSP:

Princípio 1: As pessoas devem arcar com o ônus das mudanças climáticas que
elas causaram, desde que isso não as empurre para baixo de um padrão de vida
decente (2010b, p. 218).

Dado que o PPP não pode cobrir todos os aspectos do problema,


pois temos as “questões restantes” (a saber, as mudanças climáticas não
antropogênica, as emissões dos pobres e as emissões das gerações passadas),
Caney alia esse princípio ao PCPSH:

Princípio 2: Os deveres para assumir as “questões restantes” devem ser


assumidos pelos ricos, mas devemos distinguir entre dois grupos - (i) aqueles
cuja riqueza foi produzida de forma injusta, e (ii) aqueles cuja riqueza não surgiu
de maneira injusta - e atribuir uma responsabilidade maior a (i) do que a (ii)”
(2010b, p. 2018).

A posição defendida por Caney é híbrida, pois combina os dois


princípios separadamente. Assim, ele justifica que há um dever por parte dos que
têm capacidade para pagar, mesmo quando não contribuíram com o dano. Caney
cita argumentos similares aos que Peter Singer usa para defender o dever de ajuda.
Ele quer defender não apenas deveres negativos, mas positivos daqueles com
capacidade para pagar. O dever de pagar/investir em medidas de mitigação e
adaptação devem existir até o ponto que em que esses deveres não serão tão
exigentes. Por isso, ele faz a distinção entre os países que ficaram ricos
injustamente (por exemplo, os que se beneficiaram com a escravidão) e aqueles que
alçaram suas riquezas justamente. Ambos os grupos têm deveres de pagar. Todavia
aqueles que ficaram ricos injustamente, tem uma maior responsabilidade.

3. Aplicando os princípios híbridos: mitigação, adaptação e políticas de


emissão

Algumas aplicações podem ser realizadas a partir da posição híbrida.


Primeiro, frequentemente, considera-se que os países são os únicos
responsáveis pelos deveres de prevenção e adaptação. Isso porque grande

50
Dissertatio [52] 35-57 |2020

parte do combate às mudanças climáticas é exigido através de tratados


internacionais como o Protocolo de Quioto, A Convenção-Quadro da
UNFCCC, Acordo de Paris de 2015 etc. Uma das consequências da posição
híbrida é que os deveres não recaem apenas sobre Estados, mas também em
outros tipos de agentes. A “lógica do PPPSP é que todos os agentes
(suficientemente afluentes) que são responsáveis por altas emissões estão sob a
obrigação de reduzir suas emissões (e/ou gastar dinheiro em adaptação)”
(CANEY, 2010b, p. 219). Muitos agentes, além dos governos nacionais,
desempenham um papel causal, a saber, indivíduos, empresas e autoridades
políticas. Em segundo lugar, embora a posição híbrida defenda que os mais
favorecidos têm uma responsabilidade de liderança maior, o argumento
também aloca deveres aos menos favorecidos. De acordo com Caney, se os
menos favorecidos podem se desenvolver de maneira que não usem altos
níveis de combustão de combustíveis fósseis, e podem fazê-lo sem grandes
custos para si mesmos, então, seria errado eles seguirem com uma política de
emissões elevadas (2010b, p. 220). Terceiro, poder-se-ia pensar que a posição
híbrida justifica uma política de acordo com a qual as gerações futuras devem
pagar pela mudança climática, pois elas serão mais ricas do que as gerações
atuais e, portanto, mais capazes de pagar. Isso, levaria a uma política de não
impedir no momento atual as mudanças climáticas e no futuro adaptar-se às
mudanças ocorridas. Caney não defende essa implicação e há, pelo menos,
duas razões para isso. “Primeiro, embora as pessoas no futuro possam ter mais
riqueza, os custos também serão muito maiores” (2010b, p. 220). Teremos um
custo menor se evitarmos que o problema surja do que permitir que ele surja e,
posteriormente, procurarmos nos adaptar a ele. “Em segundo lugar, se a
mitigação não acontecer agora, haverá mudanças climáticas perigosas às quais
as pessoas não conseguirão se adaptar”. Uma falha nas ações de mitigação,
portanto, inevitavelmente resultaria em prejuízo para algumas pessoas futuras e
“seria errado conscientemente permitir que um erro ocorresse com a intenção
de compensar aqueles injustiçados posteriormente” (2010b, p. 220). As
pessoas não devem ser prejudicadas em primeiro lugar. Por isso, mitigar agora
é não apenas mais barato, mas também necessário se quisermos respeitar os
interesses fundamentais das pessoas.
Os princípios híbridos também podem ser aplicados aos diferentes
tipos de políticas propostas para reduzir as emissões de GEE, tais como, as
cotas de carbono, os impostos sobre carbono, iniciativas limpas de
desenvolvimento, programas de adaptação etc. Mas, para isso, é necessário um
conjunto de medidas para 1) impedir as pessoas fazerem emissões excessivas,
2) garantir que aqueles que emitiram mais do que deveriam reduzam suas

51
Milene Tonetto

emissões e apoiem a adaptação, e 3) assegurar que os mais favorecidos


assumam as “questões restantes” (acima explicitadas). Por exemplo, pode-se
tomar a política de cotas de emissões. Como visto anteriormente, aqueles que
defendem um sistema de cotas de emissões sustentam que todos devem ter o
mesmo direito per capita de emitir dióxido de carbono. Mas, de acordo com
Caney, a aplicação dos princípios híbridos discordaria dessa posição de várias
maneiras:

Primeiro, seguindo o PPP defende-se que os que no passado próximo emitiram


quantidades excessivas de dióxido de carbono deveriam emitir menos agora.
Segundo, os argumentos acima afirmam que os menos favorecidos têm uma
reivindicação mais forte de emitir dióxido de carbono do que os favorecidos.
Terceiro, [...] os mais favorecidos devem arcar com o custo das emissões das
gerações passadas e dos desfavorecidos, caso em que se conclui que os
privilegiados não deveriam ter o mesmo direito de emitir dióxido de carbono
(201b, p. 220).

A partir dessas medidas, a posição defendida por Caney justificaria


um sistema de cotas de emissões e comércio de carbono.
Os princípios acima apresentados podem ser implementados por um
sistema de impostos sobre o carbono. Em primeiro lugar, esse sistema pode
ser utilizado tanto para desencorajar as pessoas a excederem sua parte quanto
para garantir que aqueles que excedem a sua cota justa paguem em
compensação” (2010b, p. 221) fazendo assim com que o poluidor pague.
“Segundo, pode-se garantir que os impostos sobre o carbono isentem os muito
pobres”. Em virtude de ambos aspectos, os impostos sobre carbono podem
efetuar o que é exigido pelo PPPSP. “Em terceiro lugar, (...) os impostos sobre
carbono podem produzir um “duplo dividendo”. Assim, além de desencorajar
altas emissões, eles podem gerar fundos (...) que podem ser gastos na
adaptação” (p. 221). A partir do PCPSH, um sistema de tributação progressiva
poderia ser implementado em países com um histórico extenso de
industrialização para assegurar que os mais favorecidos paguem por aspectos
não levados em conta pelo PPP.
Um programa bem-sucedido de combate à mudança climática deve
encontrar maneiras que os países pobres possam se desenvolver e atender suas
necessidades legítimas sem prejudicar a atmosfera da Terra. De acordo com
Caney, “para alcançar tal desenvolvimento sustentável, deve haver esquemas
financeiros que estimulem a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias
limpas e que também assegurem que essas tecnologias limpas sejam

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Dissertatio [52] 35-57 |2020

transferidas dos países ricos para os pobres” (2011b, p. 221). Como pode ser
visto, isso requer financiamento dos países mais ricos algo que também pode
ser justificado pelos princípios híbridos. Para finalizar, pode-se defender que
os princípios híbridos também podem determinar quem deve financiar as
ações de adaptação. Como foi observado anteriormente, é amplamente
reconhecido que as populações mais pobres do mundo serão as mais
vulneráveis aos perigos da mudança do clima e, portanto, sua capacidade
adaptativa precisa ser desenvolvida. Aplicando os princípios híbridos, fica claro
que os mais pobres não devem arcar com esses custos. “O PPPSP os isentaria
(seja por causa de sua pobreza e/ou porque suas emissões são muito baixas) e,
uma vez que estão em desvantagem, também seriam isentos pelo componente
da habilidade de pagar” (2010b, p.222). Caney sugere a necessidade de haver
um fundo de adaptação global financiado por aqueles que emitiram
quantidades excessivas de GEE e pelos mais favorecidos do mundo. Isso
permite que essa posição mantenha o senso de justiça do PPP e do princípio
de capacidade para pagar e, assim, satisfazer as preocupações de equidade.
Tendo apresentado a posição baseada nos princípios híbridos,
podemos agora compará-la com o PRCPD apresentado pela maioria dos
documentos internacionais que tratam das mudanças climáticas. Pode-se
verificar que um ponto de semelhança entre as abordagens é que elas
conseguem incluir elementos de consideração histórica para averiguar a
contribuição do problema e a sensibilidade pela condição de pobreza para
determinar o que eles são capazes de fazer.
Além dessas semelhanças, há algumas diferenças. Em primeiro lugar,
o PRCPD refere-se às responsabilidades dos Estados. A abordagem dos
princípios híbridos, todavia, não restringe deveres apenas aos Estados, mas
também aos indivíduos, empresas e autoridades políticas. Uma segunda
diferença é que o PRCPD tende a ser interpretado de tal maneira que os
Estados que se beneficiaram com a industrialização são responsabilizados pelas
decisões das gerações anteriores. Essa posição de acordo com os princípios
híbridos deve levar em conta as responsabilidades históricas, a capacidade de
pagar e se a riqueza foi produzida de forma injusta. Outra diferença é que o
PRCPD, ao contrário da abordagem híbrida, não leva em conta o que foi
chamada de ignorância desculpável. À luz dessas diferenças e semelhanças,
pode-se sustentar que a abordagem híbrida revela-se uma maneira de defender
os valores gerais afirmados pelo princípio de PRCPD afirmadas em
documentos jurídicos internacionais.

53
Milene Tonetto

Considerações finais

Como foi visto, temos fortes razões para enfrentar as mudanças


climáticas tanto em termos de mitigação de seus efeitos quanto para financiar
tecnologias e defesas de adaptação. Para isso, os princípios que deverão
orientar a ética do clima para priorizar um modelo justo a ser desenvolvido
reconhecendo beneficiários atuais e históricos (que devem pagar pelo dano
realizado) e não impedir de maneira não razoável o desenvolvimento daqueles
que se beneficiaram pouco com as emissões. Isto é, pode-se pensar em
combater as mudanças do clima priorizando o desenvolvimento sustentável,
considerando os direitos humanos invioláveis e, ao mesmo tempo, defender
que os países mais pobres se desenvolvam com a preocupação de apresentar e
seguir medidas sustentáveis.

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Recebido: 04/2020
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