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Direito Romano

Critérios utilizados para a periodização do Direito Romano

 Critério Político – as fases do Direito Romano são tantas quantos períodos da história
política de Roma

 Época monárquica (735 a.C. – 510 a.C.)


 Época republicana (510 a.C. – 27 a.C.)
 Época imperial (27 a.C. – 284)
 Época absolutista (284 – 565)

Crítica: nem sempre e nem só as transformações políticas de Roma influem na evolução do Iús
Rumanum.

 Critério Normativo – há tantas épocas do direito romano quantos os modos de formação


das normas jurídicas

 Direito Romano Consuetudinário - costume


 Direito Romano Legítimo - lei
 Direito Romano Jurisprudencial – jurista
 Direito Romano Constitucional – vontade do rei

Crítica: não indica de forma direta a evolução do direito privado em Roma.

 Critério Jurídico – atende à própria vida do Direito Romano e às manifestações dessa vida

1- Externo

 D.R. nacional
 D.R. universal
 D.R. Oriental ou helénico

2- Interno - atende ao próprio valor do DR, à perfeição jurídica das suas


instituições, examinando atentamente como esse direito nasce, cresce, atinge o
apogeu e se codifica. Procura conhecer a essência do DR e não apenas as
propriedades deste.

O critério jurídico interno é fundamental, sendo que só este nos pode dar uma visão propriamente
jurídica do Direito Romano. Temos então quatro épocas históricas do DR:

 Arcaica (753 a.C. – 130 a.C.) – Formação


 Clássica (130 a.C. – 230) – Apogeu
 Pós-clássica (230 – 530) – Decadência
 Justinianeia (530 – 565) – Compilação

1- Época Arcaica

Inicia-se com a formação de Roma (por volta de 753 a.C.) e tem término com a lex Aebutia de
formulis (130 a.C.).

 É um período da formação e do estado rudimentar das instituições jurídicas romanas;


 Existia uma deficiente documentação, em que o jurídico, o religioso e o moral se
encontravam misturados;
 Até 242 a.C. o DR foi aplicado apenas no ius próprio dos civies. A partir de 242 a.C. (com a
criação do pretor peregrino), passou também a regulamentar as relações entre cidadãos
romanos e peregrini.

Marcos importantes:

 Lei das XII tábuas


 Criação do pretor urbano
 Criação do pretor peregrino

2- Época Clássica
Época de verdadeiro apogeu e culminação do ordenamento jurídico romano. Vê o seu término a
230 com a substituição do processo das fórmulas pela cognitio extra ordinem. Subdivide-se em 3
etapas:

 Época pré-clássica – desenvolvimento crescente da jurisprudência;


 Época clássica central – esplendor da jurisprudência (perfeição e sábia estilização da
casuística, bem como na criação de novas actiones que integram e modernizam o iús
civile;
 Época clássica tardia – inicio da decadência da jurisprudência (falta do génio criador,
voltando-se para o direito público);

3- Época pós-clássica
O génio criador, intuitivo, subtil dos juristas anteriores já não existe. Há apenas uma
reelaboração dos textos anteriores, adaptando-se às novas realidades. Existem duas etapas:

 1º etapa - de 230 a 395

 Existe uma confusão de terminologia, conceitos e instituições. A escola (que


substituiu a jurisprudência) dedica-se agora à elaboração de glosas, glosemas e
resumos de textos;
 Esta etapa termina com a divisão definitiva por parte do Imperador Teodósio do
Império Romano em duas partes – Ocidente e Oriente – pelos seus filhos Honório
e Arcádio.

 2º etapa - de 395 a 530

Após a divisão do Império Romano:

 O Ocidente seguiu pela vulgarização do DR – simplificação de conceitos;


confusão de noções clássicas; predomínio do aspeto prático sem atenção
pelas categorias lógicas; desordem na exposição das matérias;
 O Oriente houve uma reação antivulgarista – Através da tentativa de valorar
e imitar o clássico, e de reagir contra as suas deturpações, procurou-se
defender o classicismo. A helenização também desempenhou um papel
fundamental, sendo que a filosofia e os direitos gregos tiveram grande
influência.

4- Época Justinianeia
Surgiu a 530, quando Justiniano ordenou a elaboração do Digesto, e terminou a 565, com o
falecimento de Justiniano. Justiniano teve por base o direito Romano clássico (Classicismo) e a
Helenização, tendo como intenção estabelecer a unidade na diversidade. O Corpus Iuris Civillis
atualizou o DR e transmitiu o seu conhecimento às gerações seguintes.
Direito Privado Romano vs. Outros direitos

 Desinteresse pela codificação;


 Prioridade de ação sobre o direito – preocupação fundamental com a resolução dos casos
práticos;
 Simplicidade das soluções e ausência de sistema;
 Diferenciação de conceitos;
 Força da tradição;
 Ponderação e coordenação de liberdade e autoridade – relação necessária entre
autoridade e liberdade;
 Reconhecimento de valores que os jurisconsultos romanos introduziram no campo do
direito, conferindo-lhe uma dimensão ética e humana (fides, officium, humanitas e
amicitia).

Iuris praecepta
O Iuris praecepta refere-se aos princípios fundamentais do direito que são:

 Honeste vivere – não abusar do seu direito


 Alterum non laedere – não prejudicar ninguém
 Suum cuique tribuere – atribuir a cada um o que é seu

Direito civil, direito pretório e direito honorário

 Direito Civil (iús civile) é o direito específico dos cidadãos romanos e das civiras
romanas. Direito formalista e rígido.
 Direito pretório (iús praetorium) é criado pelo pretor urbano, na função de
interpretar, integrar e corrigir o direito civil.
 Direito Honorário (iús honorarium) é constituído por todo o iús não civile. É criado
por certos magistrados: o pretor, o edís curúis e os governantes das províncias.
Pretor urbano
Em 367 a.C. foi criada a magistratura do praetor urbanus, a que foram atribuídos os poderes:

 Imperium – poder de soberania;


 Potestas – poder de representar o populus romanus;
 Iurisdictio – poder de administrar a justiça;

Com base nestes poderes:

 Concedia e denegava actiones;


 Coagia as partes a assumirem determinadas obrigações;
 Outorgava a posse de bens em litígio;
 Ignorava os efeitos jurídicos de um acto, restituindo o estado primitivo;
 Concedia protecção processual a determinadas situações de facto;
 Criou o iús praetorium – protegia casos não previstos no direito civil;

A jurisprudência, através da interpretativo, foi fundamental para atenuar a rigidez e a


inflexibilidade do iús civile.

Então, o Iús Civile tem:

 Fontes – costume; lei; plebiscito; atividade dos jurisconsultos; etc;


 Conteúdo rígido, formalista e inflexível;
 Quanto ao modo de operar, rege por si mesmo;

O Iús praetorium tem:

 Poder jurisdicional do pretor (urbano) refletido no seu edictium;


 Conteúdo elástico, sem grandes formalidades, amplo e flexível;
 O Iús só surge com a criação da respetiva actio;

Pretor peregrino
Em 242 a.C. foi criada uma magistratura complementar: praetor peregrinus. Este pretor peregrino
tinha a função de administrar a justiça entre cidadãos e peregrinos e entre peregrinos (entre si).

Devido à expansão de Roma, houve a necessidade de se aplicar a romanos e a estrangeiros


(peregrinos) as normas do iús civile romanorum. Surgiu então o direito das gentes (iús gentium)
que disciplina as relações entre romanos e estrangeiros e entre os estrangeiros entre si mesmos.
Por o direito das gentes se fundar na razão natural, assim como o direito natural, começou a
existir uma junção de conceito. Contudo, o direito natural recebeu, por parte de Justiniano, uma
base teológica. Esta visão levou à separação daqueles direitos. (Ex: na época clássica o direito
natural e o direito das gentes consideravam escravos os filhos de uma escrava. A partir dessa
época, por força do princípio de que todos os homens nascem livres, a escravatura foi afastada do
direto natural e restringida no direito das gentes.

A distinção entre ius gentium e ius civile perdeu importância quando, em 212, Caracala estendeu a
cidadania romana a todos os habitantes do império romano.

Direito Comum e Direito Singular


 Direito Comum: conjunto de normas jurídicas que têm carácter geral (aplicam-se a uma
série ilimitada de casos abstratamente fixados).
 Direito Singular: o direito que, por virtude duma particular ratio, se afasta do iús
commune, aplicando-se a uma categoria especial de pessoas ou coisas.

Direito Novo
 As constituições imperiais tornaram-se fonte predominante e única do direito romano,
com a absorção crescente das funções dos magistrados pelos Imperadores;
 Com elas surgiram normas jurídicas que se designaram direito novo, em oposição ao
direito antigo;
 No séc. IV, direito baseado nas constituições imperiais (leges) por contraposição ao direito
anterior (ius vetus);
 Contudo, nem sempre estamos perante um ordenamento jurídico novo, oposto ao direito
civil e ao honorário, porque muitas constituições imperiais limitaram-se a interpretar o
direito civil.

Direito objetivo e Direito Subjetivo

Direito Objetivo
Conjunto de normas jurídicas que disciplinam a conduta humana na sua vivência em sociedade.
Ex: direito civil; direito honorário; direito das gentes;
Direito Subjetivo
Poder ou faculdade, reconhecida a uma pessoa pela ordem jurídica, de exigir a outra um
comportamento positivo (facere) ou negativo (non facere) – direito subjetivo próprio
(corresponde a uma obrigação de coloboração; ou de invadir a esfera jurídica alheia, impondo-lhe
irresistivelmente determinados efeitos jurídicos – direito potestativo (corresponde a uma sujeição.

Organização Política de Roma

O direito romano está intimamente ligado ao poder político de Roma: a sua vigência atingiu
grandeza quando o Império conheceu o auge; a sua decadência coincide com a profunda crise que
o abalou.

Roma primitiva
Era constituída pelo Rei, pelo Senado e pelos comícios das Cúrias:

 Rei – Monarca vitalício, designado pelo seu antecessor ou pelo interrex (chefe de gens).
Dirige a civitas e cumpre funções religiosas, militares e judiciais.

 Senado – Órgão cuja composição e atribuições são incertas. Além de ser um órgão de
consulta do rei, confirmava os acordos celebrados e nomeava o interrex.

 Comício das cúrias – assembleias do populus romanus nas quais as trinta cúrias se
reúnem. Cada cidadão só votava na sua cúria e a maioria dos votos, recolhidos pelo chefe,
constituía o sentido de voto dessa cúria.
República
Foi instituída a 510 a.C. pelos patrícios e pelos plebeus (centúrias).

Os patrícios foram a classe mais elevada dos cidadãos romanos. Detinham magistraturas, cargos
sacerdotais e auxiliavam o rei no governo da cidade. Reuniam-se em comícios, onde votavam as
leis rogadas.

Os plebeus constituíam uma classe menos elevada. Dedicava-se aos trabalhos agrícolas, ao
pequeno comércio e ao artesanato. Estavam, portanto, afastados das funções governativas e
reuniam-se em concílios, onde votavam os plebiscitos. Reagiram contra a desigualdade a que
eram sujeitos, e mais tarde foram equiparados aos patrícios.

A República era constituída por 3 órgãos:

a) Magistratura – encargo de governar e distribuir-se por vários magistrados com competências


específicas:

a) Censores – administram os bens públicos, fazem a lista dos senadores,


organizam o recenseamento dos cidadãos romanos e tutelam a
moralidade romana. (2 censores por 5 anos)
b) Cônsules – desempenham as funções dos antigos reis. Gozam do poder de
soberania que lhes permite comandar o exército, convocar o Senado e as
assembleias populares e administrar a justiça. (2 cônsules por 1 ano)
c) Pretores – Desempenham praticamente as mesmas funções que os
cônsules de quem dependem como colegas menores. Administram a
justiça entre cidadãos romanos (pretor urbano) e entre estrangeiros e
romanos e estrangeiros (pretor peregrino).
d) Edís curúis – fiscalizam os mercados e a limpeza da cidade, ocupam-se das
vias e dos edifícios públicos, vigiam o trânsito, etc.
e) Questores – administram a justiça criminal, cobram multas e ocupam-se
dos confiscos e do governo da tesouraria estatal.

Em situações de crise grave, estas magistraturas eram suspensas e nomeava-se um Ditador (que
exerce, com total independência e irresponsabilidade, todos os poderes durante 6 meses).

 Os magistrados são investidos de potestas (poder de representar o populus romanus).


 Os cônsules, os pretores e o ditador gozam também de imperium (poder de soberania a
que nenhum cidadão pode subtrair-se) – poder supremo.
 Detêm também iurisdictio os pretores e os edis curúis – poder de administrar a justiça de
forma normal e corrente nos processos das ações da lei e das fórmulas.
 Alguns magistrados têm o poder de Cognitio – intervirem em atos não diretamente
processuais, fora do poder iurisdictio.
O pretor detinha três poderes: potestas; imperium e iuridictio. Estes poderes estão sujeitos a
várias limitações:

 Temporalidade (1 ano)
 Colegialidade (outros magistrados podem vetar as decisões deste)
 Pluralidade (poder repartido por várias magistraturas)
 Provocatio ad populum (direito do cidadão de apelar sobre uma pena ou castigo)
 Responsabilidade
 Hierarquia

b) Assembleias populares:

a) Comícios das cúrias


b) Comícios das centúrias
c) Comícios das tribos
d) Concílios da plebe

c) Senado – assembleia dos homens considerados mais representativos por virtude da sua
riqueza e autoridade. Desempenhavam funções políticas de elevada importância.

Principado

É a nova forma de organização política (instaurada por Octávio a 27 a.C.). Emerge a figura do
príncipe, que vai assimilando e substituindo as funções das magistraturas republicanas. Assinala-
se, no principado, o embrião da futura monarquia.

Dominado
Organização política que lançou as bases de uma nova constituição marcada pela absoluta
concentração do poder. O imperador é considerado dominus et deus e o seu poder, que assenta
numa investidura divina, exerce-se sobre um Estado patrimonial. A nova constituição foi
consolidada por Constantino.
Fontes do Ius Civile
a. Exsistendi - são os órgãos que produzem as normas jurídica. Assim, o populus, os
comitia, os concilia plebis, o senado, alguns magistrados, o imperador e os
jurisconsultos;
b. Manifestandi - são os modos de formação das normas jurídicas. Assim, o costume
(mores maiorum, consuetudo), a lei rogada (lex rogata), o plebiscito (plebiscitum),
o senatusconsulto (senatusconsultum), o edicto (edictum), a constituição imperial
(constitutivo) e as respostas dos jurisconsultos (responsa);
c. Cognoscendi - são os textos que contêm as normas jurídicas. Assim, o Corpus Iuris
Civilis, as Institutiones de GAIUS, as Sententiae de PAULUS, etc.

1) Costume
Durante os primeiros três séculos, o Direito Romano (sobretudo privado) é constituído
por costumes. No quadro das fontes da época clássica, e referido que na falta de
leges, os mores constituíam a principal fonte do direito.

Usus – hábito de agir sem qualquer obrigação (não é, por isso, um verdadeiro
costume)

Mores maiorum – tradição de uma comprovada moralidade que a interpretativo


jurisprudencial desenvolveu e adaptou às novas exigências da vida.

Consuetudo – prática constante observada durante largo tempo pela gerenalidade do


populus romanus com a força obrigatória da lei.

Na época clássica, os jurisconsultos romanos colocavam o costume e a lei num mesmo


plano. Contudo, na época pós-clássica, Constantino determinou que a autoridade do
costume não deve prevalecer sobre a lei.

2) Lei
A lei (lex) é uma declaração solene com valor normativo, feita pelo populus romanus
que, reunido nos comícios, aprova a proposta que o magistrado apresenta e o Senado
confirma. A lex pode ser:

Rogata: é proposta pelo magistrado à assembleia comicial a que preside. Depois de


aprovada, deve ser referenciada pelo Senado que lhe confere auctoritas patrum (ex:
lei das XII Tábuas)

Data: é dada por um magistrado no uso de faculdades delegadas pelos comícios e


contem normas de carácter administrativo.
Leges rogata
Constituição:

1- Praespriptio – prefácio
2- Rogatio – texto da lex (parte dispositiva)
3- Sanctio – parte final, onde são fixados os termos que asseguram a sua eficácia
(sansões)

Natureza de sanctio:

1- Perfeitas (leges perfectae) – declaram inválidos os actos contrários às suas


disposições;
2- Menos que perfeita (leges minus quam perfectae) – não declaram inválidos os
actos contrários, mas aplicam multas aos transgressores;
3- Imperfeitas (imperfectae) – não estabelecem nenhuma sanção.

A partir de 438, Teodósio II acabaria por sancionar com a nulidade todos os atos que
contrariassem a lei.

Fases do processo de formação das ͞leges rogatae͟


1. Promulgatio – os projectos de leges a propor à votação dos comitia
eram feitos pelos magistrados que tinham a faculdade de convocar os
comícios. O texto do projecto devia ser afixado, num lugar público, para
que o povo lesse e tomasse o devido conhecimento. Esta fixação, que
devia durar, pelo menos, três semanas, chamava-se promulgatio.
2. Conciones – eram reuniões tidas na praça pública, sem carácter oficial
nem jurídico, para se discutir o projecto da lex. Chamavam-se conciones
porque ninguém podia falar sem que a pessoa que presidia concedesse
a palavra.
3. Rogatio – convocados os comícios e reunidos em assembleia, o
magistrado que presidia lia ou mandava ler por um arauto o texto do
projecto da lex . Acabada a leitura, pedia a sua aprovação. Este pedido
era a rogatio.
4. Votação
5. Aprovação pelo senado – depois de votada favoravelmente pelos
comícios, a lei precisava de ser referendada pelo senado (auctoritas
patrum).
6. Afixação – depois de concedida a aprovação do senado, o projecto
transformava-se em lex. Eram afixadas no Forum.
3) Plebiscito
Deliberação da plebe que, reunida em assembleia (concilium plebis), aprova uma
proposta do seu tribuno (tribunus plebis).

No início não tinha carácter vinculativo. Posteriormente (449 a.c.), passou a ter força
vinculativa entre plebeus. No ano de 287 a.c., a força vinculativa estendeu-se aos
patrícios (ficando equiparado às leis rogadas).

4) Senatusconsulo
Disposição normativa do Senado que se tornou vinculativa no Principado (27 a.C.)

Até aqui, a decisão do Senado constituía um simples parecer dado a quem


consultava: senatus consultum. Certos magistrados, para resolver certas questões,
eram obrigados a consultar o senado, mas não a seguir a sua opinião.

Desde o início do Principado, tornaram-se fonte imediata de direito, porque o poder


legislativo deslocou-se dos comícios para o Senado, embora este se limitasse, na sua
colaboração com o príncipe, a acolher as suas propostas; por isso, os jurisconsultos
romanos falam, por vezes, de oratio do Imperador. Os senatusconsultos deixam de ser
a expressão da vontade autónoma e independente do Senado para se converterem
numa expressão da vontade do príncipe.

5) Constituição Imperial
A constituição Imperial (constitutivo) é uma lei em que se manifesta a vontade do
Imperador. Teve início no Principado e o seu termo no Dominado (onde era a única
fonte de direito).

Modalidades de constituições imperiais


a) Edicto (edictum) – disposição de carácter geral (exemplo: edicto de
Caracala, que concedeu em 212 a cidadania a todos os habitantes do
Império)
b) Decreto (decretum) – sentença do Imperador nos processos da congnitio
extra ordinem. O imperador presidia um tribunal (especial), em que
funcionava como magistrado e juiz (organizava o processo, apreciando as
provas e proferindo a sentença)
c) Rescrito (rescriptum) – resposta a consulta jurídica dirigida por
magistrados, funcionários ou particulares (preces);
d) Mandato (mandatum) – ordem ou instrução do Imperador em matéria
administrativa, sobretudo aos governadores das províncias.
6) Jurisprudência
A jurisprudência é a ciência do direito. Foi a grande fonte do direito e desempenhou as
seguintes funções:

Respondere – resolução de casos práticos, através de pareceres (responsa) dados a


particulares ou a magistrados. É a função mais importante. Era nos responsa (pareceres)
que se concretizava a Ciência do Direito.

Cavere – aconselhamento dos particulares dos particulares na realização dos seus


negócios jurídicos. (ex: documentos escritos a redigir, cláusulas a atender).

Agere- aconselhamento dos particulares em matéria processual (ex: que palavras a usar,
quais os prazos a apresentar provas).

Atingiu o seu esplendor na época clássica dominada por duas escolas famosas
(Proculeiana e Sabiniana). A partir do séc. IV entrou em decadência.

7) Compilações
A partir do séc. III, tornou-se necessária a elaboração de coletâneas de textos jurídicos
para afastar a incerteza a que, em grande parte, conduziu o esgotamento da
jurisprudência. Foram elaboradas compilações de:

a) direitos (iura)

 Sentenças de Paulo
 Epítome de Gaio
 Livro de regras de Ulpiano

b) leis (leges)

 Código Gregoriano
 Código Hermogeniano
 Código Teodosiano

c) direitos e de leis (compilações mistas)


 Fragmenta Vaticana
 Colatio legum mosaicarum et romanarum
8) Corpus Iuris Civilis (1583)
Compilação de direitos (iura) e de leis (leges) que Justiniano, Imperador do Oriente, mandou
elaborar. Compreende as seguintes partes:

Instituições (Institutiones): constituem um manual elementar de direito romano destinado a


estudantes que iniciam o estudo do Direito. Divide as matérias em 3 grupos: pessoas, coisas e
ações. Compreende 4 livros, que se dividem em títulos e estes em parágrafos.

Digesto (Digesta ou Pandectae): é uma compilação de fragmentos extraídos de obras dos


principais jurisconsultos clássicos. Compreende 50 livros que se dividem em títulos, e estes em
fragmentos e em parágrafos.

Código (Codex): é uma compilação de leis desde Adriano até Justiniano. É composto por 12 livros
que se dividem em títulos e estes em leis cronologicamente ordenadas.

Novelas (Novellae): são as constituições imperiais promulgadas depois do Código. Não dispomos
de uma compilação oficial, mas de três coletâneas privadas:

 Epítome das Novelas de Juliano


 Autêntico
 Coletânea Grega

Relação Jurídica
Personalidade jurídica – possibilidade de ser sujeito de direitos e obrigações.

Trata-se de um conceito estritamente qualitativo, que constitui o fundamento e a pré-condição de


todo o direito. O direito romano nem todos os homens gozavam de personalidade jurídica: era
necessário ser livre e havia homens que, não o sendo, eram considerados res e, portanto,
suscetíveis de serem objetos de negócios jurídicos. Além de pessoas físicas, também a
organizações humanas foi reconhecido personalidade jurídica.

Capacidade jurídica (gozo de direitos) - aptidão para ser titular de um círculo, com mais ou menos
restrições, de relações jurídicas. Conceito quantitativo.

Defesa dos direitos


No direito romano da época clássica as actiones (acções) são, em regra, anteriores aos iura
(direitos). Nos primeiros tempos, havia um sistema de autodefesa e autotutela (recurso à força
para obter a satisfação que o direito violado devia proporcionar). Contudo, a tutela privada era
injusta porque os mais fracos perdem perante a maior força do agressor. Daí que, desde cedo,
houve a preocupação em fixar limites ao livre exercício da vingança privada. (exemplo: leis das XII
tábuas)

Acção (actio)
Instrumento jurídico que permite a uma pessoa obter a tutela de um direito subjetivo
previamente reconhecido pelo ordenamento jurídico ou de uma situação de facto que o
magistrado prometeu proteger no seu edictum.

Ações civies

 Outorgadas pelo ius civille

Ações honorárias

 Concedidas pelos magistrados


o Ações do pretor (actiones praetoriae)
o Ações edilícias (actiones aediliciae) ex: ação redibitória que responsabiliza o
vendedor pelos vícios ou defeitos da coisa vendida; ação estimatória que concede
ao comprador a possibilidade de exigir a diminuição do preço;

Ação real

 Protege os direitos sobre coisas, faculdades que derivam de relações familiares e direitos
acessórios. Afirmação categórica e absoluta de um direito, podendo ser intendada contra
qualquer pessoa que o lese.
Ex: Ação de reivindicação: permite ao proprietário recuperar a posse da coisa que lhe
pertence;
Ex: Ação negatória: permite ao proprietário contestar
Ex: Ação confessória: permite reconhecer
Ex: Ação de petição de herança: permite ao herdeiro reclamar os bens hereditários

Ação pessoal

 Afirma-se uma obrigação assumida pelo demando e, por isso, permite apenas obrigar, por
contrato ou delito, a dar (dare); a fazer (facere), a não fazer (no facere) ou a prestar
(praestare).

Ações mistas

 São reais porque podem ser intentadas contra pessoas inicialmente indeterminadas; e
pessoais, enquanto deduzem uma obrigação ao demando.
Ex: Ação de partilha de herança
Ex: Divisão de coisa comum

Ação reipersecutória

 Reivindica-se uma coisa.


Ação penal

 Reclama-se uma pena;


 São intransmissíveis: só podem ser intentadas por quem sofreu o delito e contra o seu
autor
São noxais: quando o ato ilícito e praticado por escravos ou pessoa sujeita à potestas do
paterfamilias, este tem a faculdade de se desobrigar, entregando o autor do delito ao
demandante;
São cumulativas: se o ato ilícito for cometido por várias pessoas, cada uma é obrigada a
reparar o agravo cometido. Se um pagar, os outros não ficam desobrigados.

Ação mista

 Perseguem o valor da coisa e estabelecem uma indemnização do dano sofrido que excede
aquele valor;

Ação de boa fé

 Tutela um contrato de boa fé e permite ao juiz a apreciação, na determinação do


conteúdo da obrigação, das circunstancias concretas que se verificam e considerar o que
exigem, a cada uma das partes, a lealdade, a honorabilidade, a fidelidade à palavra.

Ação de direito estrito

 Protege contratos de direito estrito, ou seja, contratos que geram obrigações com um
conteúdo bem determinado, cujo cumprimento importa observar rigorosamente. O juiz
deve observar o que foi acordado sem considerar alguma circunstância que possa ter
influenciado o conteúdo da obrigação (ex: mútuo)

Ação direta

 É uma actio in personam que surge de um contrato

Ação contrária

 É também uma acção pessoal, outorgada contra uma das partes por obrigações que não
surgem inicialmente, mas podem eventualmente surgir mais tarde.
Processo civil
É dividido por dois períodos: Ordo iudiciorum privatorum e Cognitio extra ordinem.

Sistema Ordo iudiciorum privatorum

Vigente na época arcaica e clássica. A administração da justiça não é totalmente assumida pelo
Estado (este limitava-se a afastar a vingança privada). Os cidadãos submetem os seus litígios ao
conhecimento do magistrado (in iure). Este limita-se a declarar se o demandante tem direito a
ordenar um juiz privado. Se o tiver, o juiz privado está incumbido de emitir uma opinião sobre o
litígio e profere a sentença (apud iudicem). Esta sentença pode decorrer das ações da lei (legis
actiones) – até 130 a.C.) e do processo das fórmulas (agere per formulas).

Sistema Cognitio extra ordinem (a partir de 230)

Surge no princípio do Principado e acabou na época pós-clássica por substituir definitivamente o


sistema anterior. A administração da justiça passa a tarefa exclusiva do Estado e às partes só
pertence a iniciativa da instauração dos processos. Desapareceram as duas fases anteriores,
cabendo ao novo magistrado o desempenho de funções anteriormente atribuídas a um
magistrado e a um juiz privado.

Processo das fórmulas – primeiro sistema


Fórmula: ordem que, por escrito, o pretor dirige ao juiz para condenar ou absolver o demandado
se provarem ou não determinado facto.

Cognitio extra ordinem – segundo sistema


É um processo romano que, inicialmente, decorria junto do magistrado que, em situações
excecionais, conhecia a situação litigiosa, fazia a prova dos factos e decidia através de um
decretum.

Posteriormente, este processo difunde-se quando o imperador protege juridicamente algumas


instituições que antes só possuíam sanção moral e consagrou-se a possibilidade de qualquer
cidadão apelar ao imperador em relação a sentenças proferidas no processo das fórmulas.
Proteção jurídica extraprocessual

Stipulatio Praetoria
 Contrato solene, oral, formal e abstrato (stipulatio) imposto pelo pretor com base na sua
cognitio;
 Produz uma obrigação para o devedor e uma actio ex stipulatu para o credor;
 Visa proteger um interesse digno de tutela ou reparar um possível prejuízo futuro.

Restitutio in Integrum
 Expediente utilizado pelo magistrado titular do poder de imperium que declara não
reconhecer os efeitos a um facto ou acto jurídico válido e eficaz segundo o direito civil, por
motivos de equidade;
 Requisitos:
o Existência de um dano
o Existência de uma causa justificativa
o Inexistência de meios jurídicos que permitam reparar o prejuízo jurídico
 O edictum do preto apresenta as seguintes causa:
o Idade (ob aetatem): menores de 25 anos em relação a atos lesivos;
o Ausência (ob absentiam): é concedida a quem sofreu um prejuízo por se
encontrar ausente por motivos justificados;
o Erro (ob errorem): concedida contra quem tenha cometido um erro essencial em
matéria negocial ou processual;
o Coação (ob metum): beneficia quem tenha praticado um ato jurídico por ter sido
gravemente ameaçado;
o Dolo (ob dolum): é concedida a quem realizou um ato jurídico em consequência
deum engano que viciou a sua vontade;
o Fraude a credores (ob fraudem creditotum): beneficia os credores prejudicados
por atos que o devedor praticou com a intenção de fraudulentamente criar ou
aumentar a sua insolvência.

Missio in possessionem
 Expediente em que um magistrado investido de imperium (normalmente o pretor)
autoriza uma pessoa a apoderar-se dos bens de outra.
 Em regra, funciona como meio coativo provisório concedido em casos muito diferentes;
 Pode conter a faculdade de vender os bens a que se refere ou limitar-se a conceder ao
interessado a custódia, a simples administração ou posse dos bens.
Interdictum
 Ordem sumária de carácter administrativo que um magistrado investido de imperium
dirige a uma pessoa para fazer ou não determinada coisa.
 Se for cumprido, o litígio fica resolvido. Se não, quem o solicitou ver-se-á na necessidade
de intentar um processo ordinário onde deve provar a desobediência e procurar que seja
cumprido.
o Proibitórios: proíbem determinado comportamento;
o Restitutórios; ordenam que uma coisa seja restituída a determinada pessoa;
o Exibitórios: ordenam que uma pessoa ou coisa seja exibida ou apresentada a uma
pessoa.

Direito das obrigações


Obrigação – consiste no vínculo jurídico mediante o qual o devedor fica adstrito a um certo
comportamento (prestação) para com o credor.

Objeto da obrigação:

 Dare: constituir ou transferir um direito real;


 Facere: realizar uma atividade que não se traduza num dare. Pode consistir
também numa abstenção (non facere);
 Praestare: identifica-se com dare e facere, mas designa especialmente a assunção
de garantia de uma obrigação;

1- O comportamento (a que é obrigado) do sujeito passivo deve ser possível física e
juridicamente
2- Objeto tem de ser lícito (não contrariar nem a lei, nem a moral);
3- Determinado ou determinável;
4- Deve ter carácter patrimonial: proporcionar um benefício económico ao credor;

Contratos
Diferencia-se dos pactos (pactum), pois o pactum é entendido como um acordo não formal do
qual não nascem obrigações nem ações.

Os contratos são um acordo de duas ou mais pessoas dirigido à produção de efeitos jurídicos. É
uma convenção da qual nascem obrigações e os correspondentes direitos de crédito. Estes
contratos são constituídos pelos seguintes elementos:

a) Causa: é o fim que o direito civil reconhece como social e economicamente digno de
proteção;
b) Conventio (ou consensus): é o acordo das partes, cujas vontades convergem para o fim
que constitui a causa fixada pelo direito civil ao contrato utilizado.

Contratos unilaterais, bilaterais e bilaterais imperfeitos


 Os contratos unilaterais caracterizam-se pelo facto de só uma das partes se obrigar a fazer
uma prestação;
 Nos contratos bilaterais, cada uma das partes obriga-se, em relação à outra, a realizar a
sua prestação; aplica-se a estes o princípio de quem não satisfaz a sua prestação, não
poder exigir que a outra parte satisfaça a sua (exceptio non adimpleti contractus)
 São bilaterais imperfeitos os contratos em que a obrigação de umas das partes não surge
inicialmente, mas pode surgir durante a sua vigência.

Contratos de boa fé – São contratos protegidos por ações de boa fé (actiones bonae fidei).
Portanto, o juiz deve apreciar todas as circunstâncias que tenham ocorrido e considerar tudo o
que é exigível entre pessoas justas e leais. (compra e venda, locação, sociedade, depósito, etc.)

Contratos de direito estrito – contratos tutelados por ações de direito estrito (actiones stricti iuris)
e, portanto, o juiz deve observar rigorosamente o que foi acordado sem atender a qualquer
circunstância que tenha influenciado o conteúdo da obrigação. (ex: stipulatio e mútuo)

Contratos onerosos – criam, para ambas as partes, obrigações que se equivalem ou equilibram: à
perda patrimonial que uma sofre na realização da sua prestação, corresponde a perda patrimonial
da outra. (ex: compra e venda ou locação)

Contratos gratuitos – só criam para uma das partes uma perda patrimonial em benefício da outra.
(Ex: doação, depósito, mútuo)

Contratos reais
Mútuo (mutuum)
 Contrato unilateral, contrato de direito estrito, em que uma pessoa (mutuário) recebe de
outra (mutuante) a propriedade de determinada pecunia ou de outras coisas fungíveis. O
mutuante obriga-se a restituir igual quantidade do mesmo género e qualidade.
 Contrato gratuito, por isso, não produz juros; o mutuário não deve restituir mais do que
recebeu. (a eventual obrigação de pagar juros não resulta do mútuo, mas de outra relação
inicialmente criada por um contrato formal (stipulatio usurarum)
 Até à época justinianeia, o limite máximo de taxas de juro era de 12% ano. A partir daí é
6%.
 Datio rei (transferência da propriedade) e conventio (acordo das partes)
 Actio certae creditae pecuniae – se o mútuo consistisse em dinheiro
 Condictio certae rei – se o objeto do mutum fosse outra coisa fungível
Depósito
 Contrato bilateral imperfeito e de boa fé
 Uma pessoa (depositante) entrega (traditio – neste caso transferência da mera detenção)
uma coisa móvel para que a guarde e restitua num determinado prazo ou quando o
depositante pedir
 Contrato gratuito
 Datio rei e conventio
 O depositário tem a simples detenção da coisa, não a pode usar sob pena de cometer um
furto de uso (furtum usus)
 Deve restituí-la nas mesmas condições em que a recebeu
 Se se apropriar da coisa incorre num furtum nec manifestum, punível com uma ação na
qual será condenado no dobro do seu valor
 Depositante está protegido pela actio depositi, Depositário está protegido pela actio
depositi contrária (permite-lhe ser indemnizado dos gastos feitos e dos danos que lhe
causou)
 Depositário está protegido pelo direito de retenção (ius retentionis) que permite-lhe não
restituir a res enquanto não for reembolsado

Comodato
 Contrato bilateral imperfeito e de boa fé
 Uma pessoa (comodante) entrega (traditio – neste caso transferência da mera detenção)
uma coisa móvel ou imóvel para que a use nos termos acordados no contrato e a restitua
num determinado prazo ou quando o depositante pedir.
 Contrato gratuito
 Deve restituí-la nas mesmas condições em que a recebeu
 Depositante está protegido pela actio comodati, Depositário está protegido pela actio
comodati contrária (permite-lhe ser indemnizado dos gastos feitos e dos danos que lhe
causou)
 Depositário está protegido pelo direito de retenção (ius retentionis) que permite-lhe não
restituir a res enquanto não for reembolsado

Penhor
Contratos consensuais
Compra e venda (emptio-venditio)
Contrato em que uma pessoa (vendedor) se obriga a transferir a outra pessoa (comprador) a posse
livre e pacífica de uma determinada res, obrigando-se o comprador a transferir a propriedade de
uma determinada pecúnia (pretium).

É um contrato consensual (sendo que a sua perfeição está unicamente dependente do acordo das
partes), bilateral perfeito (sendo que surgem obrigações para ambas as partes aquando da
celebração do contrato), de boa fé (sendo que as partes devem adotar uma postura de uma
pessoa justa leal) e oneroso (sendo que existe perda de património para ambas as partes).

As componente que compõe o contrato são: conventio (acordo em que o vendedor se obriga a
transferir a posse livre e pacífica da res e o comprador a pagar o pretium estipulado), res e
pretium (preço paga pelo comprador pela res – deve ser em pecunia e deve ser certo).

O vendedor obriga-se a:

o Transferir a posse livre e pacífica da res ao comprador;


o Responder pelos vícios ocultos que a res possa ter;
Se os vícios se manifestassem após a celebração do contrato de compra e venda, o comprador
poderia recorrer ao edil curul (no caso de animais ou escravos) ou ao pretor (nos outros casos) para
que estes lhe concedessem uma das duas actiones aedicilae:
Actio Redhibitoria – Originava a resolução do contrato de compra e venda e condenava o
vendedor ao pagamento do dobro do pretium ou à restituição do pretium com juros. O
comprador deveria restituir a res. Deveria ser intentada no prazo de 6 meses a partir da
celebração do contrato (ou a partir da declaração, caso tenha sido em altura distinta) caso
o vendedor tivesse feito uma declaração dando conta dos vícios; ou no prazo de 2 meses a
partir da manifestação dos defeitos, caso o vendedor não houvesse feito qualquer
declaração.
Actio aestimatoria – O comprador obtinha a descida do pretium proporcionalmente ao
valor menor que a res tinha com o defeito. Deveria ser intentada no prazo de um ano útil a
partir do momento da celebração do contrato (ou da declaração caso tivesse sido feita em
data diferente) se o vendedor houvesse feito uma declaração dando conta dos vícios da
res; ou no prazo de 6 meses a partir da manifestação dos defeitos da res, caso o vendedor
não tivesse feito qualquer declaração.
o Responder por evicção;
Na época época clássica e Justineaneia o contrato de compra e venda (emptio-venditio) só produzia
efeitos obrigacionais. Posto isto, para haver a transferência da propriedade da res (a menos que o
comprador se torne proprietário por usocapião (usocapio) (tem de estar na posse da mesma por um
ano)), é necessário celebrar um contrato formal: se for uma res mancipi, será através de um
mancipatio ou de uma in iure cessio; se for uma res nec mancipi, será através de uma iusta causa
(contrato de compra e venda) e da traditio;
Concluindo, se a propriedade da res fosse reconhecida a um terceiro, o vendedor respondia por
evicção. Se o vendedor recusasse participar na defesa do comprador ou não conseguisse provar que
a propriedade lhe pertencia, o comprador poderia recorrer ao pretor para que este lhe concedesse
uma actio auctoritatis que condenaria o vendedor no pagamento do dobro do pretium.
o Cuidar da res até à entrega da mesma;

Já o comprador obriga-se a:

o Receber a res por parte do vendedor;


o Ressarcir o vendedor por eventuais despesas com a manutenção da res até à sua
entrega;
o De responder pelo risco;
o De transmitir a propriedade do pretium ao vendedor;

O comprador estava protegido pela actio empti e o vendedor pela acrtio venditi.

Locação (locatio-conductio)

Contrato em que uma pessoa (locador) proporciona a outra pessoa (locatário) o gozo temporário
de uma coisa (locação de coisa/locatio-conductio rerum), a prestar um serviço (locação de
trabalho/locatio-conductio operarum) ou a realizar uma obra (locação de obra/locatio-conductio
operarum), mediante o pagamento de uma merces.
É um contrato consensual (a sua perfeição depende unicamente do acordo entre as partes),
bilateral imperfeito (inicialmente, só são geradas obrigação para o locatário, mas poderão ser
geradas posteriormente obrigações para o locador), oneroso e de boa fé.
As componentes essenciais são:
 Consensus – acordo entre as partes
 Objeto – objeto, trabalho ou obra em causa. Pode ser uma locação de coisa
(locatio-conductio rerum), locação de trabalho (locatio-conductio operarum) e
uma locação de obra (locatio-conductio operis)
 Merces – Pecúnia que o locatário terá de pagar
 Tempo – prazo de duração da locação
O locador está protegido pela actio locati, enquanto o locatário pela actio conducti.

Locação de coisa

o O locador deve fazer as reparações necessárias e indemnizar o locatário pelos gastos em


reparações necessárias. O locador responde pelo risco.
o O locatário deve pagar a merces, restituir a coisa no termo da locação e indemnizar o locador
pelos danos causados.

Sociedade (societas)
Contrato em que duas ou mais pessoas se obrigam reciprocamente a pôr em comum uma coisa
e/ou trabalho com o objetivo de obtenção de uma determinada finalidade patrimonial comum. É
um contrato consensual (a sua perfeição depende unicamente do acordo entre as partes), bilateral
perfeito (sendo que gera obrigações para todas as partes envolvidas), de boa fé (as partes devem
adoptar uma postura de pessoas justas e leais).
É constituído:
 Consensus – acordo entre as partes em por algo em comum;
 Objeto – Objeto que as partes acordaram em pôr em comum; aqui, podem
diferenciar-se a societa rerum, societa operarum e societa mixtae.
 Finalidade – É um fim que os socii pretendem alcançar com a sociedade. Deve ser
uma finalidade lícita e susceptível de gerar vantagens patrimoniais a todos os
sócios (referência ao pacto leonino).
Os sócios, por si só (individualmente), obrigam-se: a avançar com a res e/ou operarum a que se
comprometeram (a pô-la em comum); a responder pelos vícios ocultos da res; a responder por
evicção;
Já a sociedade obriga-se a: reembolsar o socio por gastos em função da sociedade; indemnizar o
socio por possíveis danos causados; a responder pelo risco.
Se o socio, isoladamente, fizer um acordo com o terceiro, esse mesmo sócio responder
isoladamente por tal acordo; se for feito pela sociedade, a sociedade responde pelo acordo.
 Cada sócio está protegido pela actio pro socio.

Mandato (mandatum)
Contrato em que uma pessoa (mandante) encarrega outra pessoa (mandatário) de realizar uma
determinada atividade gratuitamente, obrigando-se o mandatário a realizá-la nos modos
acordados (e, se não, de acordo com a natureza da atividade).

É constituído pelo consensus, pelo objeto e pela finalidade.

É um contrato consensual, bilateral imperfeito, gratuito e de boa-fé (as partes devem adotar a
postura de uma pessoa justa e leal).

O mandatário obriga-se a:

 Realizar a atividade nos termos acordados. Se nada foi acordado no contrato,


deve agir segundo a natureza da atividade;
 Dar conta dos gastos tidos com a execução da atividade.

Por ser um acordo bilateral imperfeito, poderão surgir obrigações para o mandante. O
mandante obriga-se a:

 Indemnizar o mandatário pelos danos possíveis que a atividade cause;


 Ressarcir o mandatário pelos gastos tidos no exercício da atividade;

O mandante está protegido pela actio mandati e o mandatário pela actio mandanti contrária.
Caso 4

a)

Pelo facto de Ambrosius transferir a quantia de 5000 sestércios a Isauricus, comprometendo-


se o último a restituir esta mesma quantia, depreende-se que estamos na presença de um
contrato mutuo (mutuum).

O contrato mutuum é um contrato em que uma pessoa (mutuante, neste caso Ambrosius)
transfere para outra pessoa (mutuário, neste caso Isauricus) a propriedade de uma pecúnia. O
mutuário obriga-se a restituir a pecúnia em igual quantidade, do mesmo género e qualidade
no prazo estabelecido. É um contrato real (por depender da entrega de uma pecúnia),
unilateral (por só gerar obrigações para uma das partes), de direito estrito e gratuito.

Através do datio rei (transferência da propriedade da pecúnia) e da conventio (acordo entre as


partes) pode identificar-se o contrato mutuo. Este contrato não prossupõe a existência de
juros. Os mesmos são definidos através de um contrato formal e estabelecidos através de uma
stipulatio usurarum. Tendo em conta que o problema se refere à época clássica (28 a.c.), os
mesmos não levantam nenhum tipo de problema sendo que o limite nesta época era de 12%
(depois da época justinianeia fixou-se o limite em 6%), e os juros em causa no problema são de
9%.

Se, a 5 de janeiro de 26 a.C., Isauricus ainda não tivesse pago qualquer quantia a Ambrosius,
Ambrosius poderia recorrer ao pretor para que o mesmo lhe concedesse uma actio certae
creditae pecuniae contra Isauricus. Podia também recorrer ao pretor para que este lhe
concedesse uma actio autónoma que garantisse o pagamento dos juros.

Caso 5

a)

Sendo que Albinus entregou o seu escravo Britanicus ao seu vizinho Duronius para que este o
guardasse durante a sua ausência, podemos concluir que estamos perante um depósito.

Depósito é um contrato em que uma pessoa (depositante) entrega (traditio, neste caso a mera
detenção) a outra pessoa (depositário) uma coisa móvel para que o depositário a guarde até
ao prazo estabelecido ou até o depositante a pedir de volta. O depositário obriga-se a guardar
e restituir a res nas condições iguais ao ato da sua entrega.

É um contrato real (por depender da transferência da detenção da res), bilateral imperfeito


(por inicialmente só gerar obrigações para o depositário, mas poderem ser geradas obrigações
posteriores para o depositante), de boa fé e gratuito (por só haver perda de património para
uma das partes).

Se no seu regresso, Albinus constatasse que Duronius tinha, num ataque de fúria, morto
Britanicus, poderia solicitar ao pretor uma actio depositi contra Duronius.
b)

Como referido anteriormente, o depósito é um contrato bilateral imperfeito. Isto significa,


pois, que poderão ser geradas obrigações também para o depositante, apesar de inicialmente
só serem geradas para o depositário. E uma das obrigações que poderão ser geradas é
exatamente a de indemnizar o depositário por possíveis gastos ou danos com a res. Ora, se
Duronius tivesse tido o dispêndio de 2000 sestércios para tratamento médico do escravo que
havia sofrido uma queda acidental, cabia, pois, a Albinus indemnizar Duronius. Se não o fizesse
espontaneamente, Duronius podia solicitar ao pretor uma actio depositi contrário contra
Albinus. Tinha também o direito de retenção (ius retentionis) da res enquanto não fosse
indemnizado.

Caso 6

a)

Sendo que Rufus entregou uma moradia a Poetelius para que este a habitasse até ao final do
inverno, conclui-se que estamos perante um comodato.

Comodato é um contrato em que uma pessoa (comodante) entrega (traditio, neste caso mera
detenção) a outra pessoa (comodário) uma coisa móvel ou imóvel para que este a use, nos
termos acordados em contrato, por um prazo definido ou até o comodante a pedir de volta. O
comodário obriga-se a restituir a res nas mesmas condições em que lhe foi entregue e a usá-la
nas condições acordadas.

O comodato é um contrato real (por depender da transferência da propriedade da res),


bilateral imperfeito (por, inicialmente, só gerar obrigações para o comodário, mas poder gerar
posteriormente obrigações para o comodante), de boa fé e gratuito.

Ora, Poetelius, ao usar a casa como uma forja, não cumpre com a sua obrigação de usar a res
nos termos acordados em contrato. Incorre, pois, num furto de uso (furtum usus). Poetelius
não cumpre também a obrigação de não degradação da res (como é notado em enunciado).

Rufus podia, pois, recorrer ao pretor para que este lhe concedesse uma actio comodati contra
Poetelius.

b)

Se, aquando da entrega da res, a mesma se encontrasse num estado de grande degradação ,
e daqui resultasse uma queda de uma trave que havia deixado Pallas, escravo de Poetelius,
hemiplégico, Poetelius tinha o direito de ser indemnizado. Por ser um contrato bilateral
imperfeito, como referido anteriormente, poderão ser geradas obrigações, posteriormente,
também para o comodante. E uma delas é exatamente a indemnização por possíveis gastos
com a res ou dano. Se Rufus não indemnizasse, de livre vontade, Poetelius pelo dano causado,
este poderia recorrer ao pretor para que lhe fosse concedida uma actio comodati contrária
contra Rufus. Enquanto não fosse indemnizado, Poetelius poderia ainda usar do seu direito de
retenção da res (ius retentionis).
Caso 7

Pode-se, pelo enunciado, concluir-se que o contrato em causa é um contrato de compra e


venda (emptio-venditi). A emptio-venditi é um contrato em que o vendedor (Quintilianus) se
obriga a transferir para o comprador (Vinicius) a posse livre e pacífica de determinada res
(quadriga), enquanto o comprador se obriga a transferir para o vendedor uma a propriedade
de uma determinada pecúnia (3000 sestércios). Temos pois os três elementos essenciais da
emptio-venditi: res (neste caso a quadriga), o pretium (neste caso, 3000 sestércios) e a
conventio (acordo entre as partes).

É um contrato consensual (a sua perfeição depende unicamente do acordo entre as partes);


um contrato bilateral perfeito (por gerar obrigações para as duas partes); oneroso e de boa fé.

Sendo que Quintilianus se comprometeu a transferir a posse livre e pacífica da quadriga e


cumpriu com a sua obrigação, restava que Vinicius cumprisse com a sua obrigação de
transferir a propriedade de 3000 sestércios (pretium). Sendo que Vinicius não compriu a
obrigação, restava a Quintilianus recorrer ao pretor para que este lhe concede uma actio
venditi contra Vinicius.

Caso 8

Pode, pelo enunciado, concluir-se que o contrato em causa é uma compra e venda (emptio-
venditi). Uma emptio-venditi é um contrato em que o vendedor (Cornelius) se obriga a
transferir para o comprador (Decius) a posse livre e pacifica de determinada res (caválo árabe),
enquanto o comprador se obriga a transferir a propriedade de determinada pecúnia (2200
sestércios) ao vendedor, que são o pretium.

Identificam-se, pois, os três elementos constituintes de uma emptio-venditi: a conventio


(acordo entre as partes); a res (neste caso, o caválo árabe); e o pretium (2200 sestércios).

É um contrato consensual (sendo que a sua perfeição depende unicamente do acordo das
partes), bilateral perfeito (sendo que gera obrigações para ambas as partes aquando do inicio
do contrato), de boa fé e oneroso (gera a perda de património para ambas as partes).

Na época clássica (130 a.C. – 230) era de facto possível haver a venda de determinada res que
não era propriedade do vendedor. O contrato emptio-venditi tinha, pois, efeitos unicamente
obrigacionais, sendo que a transferência da propriedade da res teria de ser feita por
celebração de negócios formais. Neste caso, sendo uma res mancipi, poderia sê-lo feito
através de um mancipatio ou através de uma in iure cessio (sendo que Decius não se havia
tornado proprietário da res por usucapião (usucapio) (só se tinham passados 6 meses dos 12
exigidos).

Sendo que Cornelius não cumpriu com a sua obrigação de transferir a posse pacífica da res,
sendo que a propriedade da res foi reconhecida a um terceiro, este terá de responder por
evicção.

Decius pode, portanto, recorrer ao pretor para que este lhe conceda uma actio auctoritatis
contra Cornelius (que, ao responder por evicção, e não recusando defender Decius, terá de
pagar o dobro do pretium da res). Decius pode ainda recorrer ao pretor para que este lhe
conceda uma actio empti contra Cornelius.

Caso 9

Pode-se concluir-se pelo enunciado que está em causa uma compra e venda (emptio-venditio).

A emptio-venditio é um contrato em que o vendedor (neste caso, Honoratus) se obriga a


transferir ao comprador (neste caso, Florianus) a posse livre e pacífica de uma determinada res
(neste caso, o escravo Germanicus), obrigando-se o comprador a transferir a propriedade de
uma determinada pecúnia (neste caso, 1500 sestércios) que são o chamado pretium.

Ora, os três elementos constituintes de uma emptio-venditio estão presentes: res (escravo
Germanicus), pretium (1500 sestércios) e a conventio (acordo entre as partes)

O contrato emptio-venditio é um contrato consensual (a sua perfeição depende unicamente


do acordo entre as partes), bilaterial perfeito (sendo que são geradas obrigações para ambas
as partes), de boa fé (as partes devem adotar uma postura de um homem leal) e oneroso
(existe perda de património para ambas as partes).

Uma das obrigações do vendedor é responder pelos vícios ocultos da coisa vendida. Se os
defeitos da res se manifestam depois da compra e venda, o comprador (Florianus) deveria
recorrer ao edi curul (e não ao pretor, como fez) sendo que a res se trata de um animal. O edil
curul conceder-lhe-ia uma das duas actiones aedicilae seguintes: uma actio redhibitoria
(permite a resolução do contrato), que obriga o vendedor ao pagamento do dobro do preço
(pretium) da res (neste caso, seria de 3000 sestércios) ou à restituição do pretium com juros. O
prazo para intentar esta ação era de 2 meses a partir do momento em que os vícios se
manifestaram, sendo que não houve uma declaração por parte do vendedor dando conta dos
mesmos vícios; ou uma actio aestimatoria, que permite ao comprador obter a diminuição do
preço proporcionalmente ao menor valor da res possuidora do vicio oculto. O prazo para
intentar a ação era 6 meses a partir do momento em que os defeitos se manifestaram (tendo
também em conta que não houve, por parte do vendedor, uma declaração dando conta dos
vícios da res).

Caso 10

Pode, pelo enunciado, concluir-se que o contrato em causa é um contrato de compra e venda
(emptio-venditi). A emptio-venditi é um contrato em que o vendedor (Ingenvinus) se obriga a
transferir para o comprador (Natalinus) a posse livre e pacífica de determinada res (taça),
enquanto o comprador se obriga a transferir para o vendedor uma a propriedade de uma
determinada pecúnia (200 sestércios). Temos, pois, os três elementos essenciais da emptio-
venditi: res (neste caso a taça de vidro), o pretium (neste caso, 200 sestércios) e a conventio
(acordo entre as partes).

É um contrato consensual (a sua perfeição depende unicamente do acordo entre as partes);


um contrato bilateral perfeito (por gerar obrigações para as duas partes); oneroso e de boa fé.
Uma das obrigações do comprador é o de responder pelo risco. Ora, pelo facto da res se ter
danificado por força furtuita ou de força maior (um forte abalo sísmico causou a queda da
taça), cabe ao comprador cumprir a sua obrigação de pagamento do pretium.

Posto isto, conclui-se que Ingenvinus tem razão ao exigir o pagamento do pretium. Assim, o
pretor concedia ao vendedor a actio venditi.

Caso 11

a)

Pode, pelo enunciado, concluir-se que estamos na presença de uma locação (locatio
conductio)

Uma locatio-conductio é um contrato em que uma pessoa (locador) se obriga perante outra
pessoa (locatário) a proporcionar-lhe o uso temporário de uma coisa (locação de coisa (locatio-
conductio rei)), a prestar-lhe um serviço (locação de trabalho (locatio-conductio operarum)) ou
a realizar uma obra (locação de obra (locatio-conductio operis)), mediante o pagamento de
uma merces.

É um contrato consensual (sendo que a sua perfeição está unicamente depende do acordo
entre as partes), de boa fé, oneroso e bilateral perfeito.

Registam-se, de facto, as quatro componentes de uma locatio-conductio: consensus, objeto


(apartamento), merces (400 sestércios) e prazo (1 ano).

Se, fortuitamente ou por força maior (chuvas), o apartamento sofresse fortes infiltrações pelo
teto, o locador era obrigado a cobrir os gastos que o locatário havia tido com as reparações. Se
tal não acontecesse, o locatário poderia recorrer ao pretor para este lhe conceder uma actio
conducti contra o locador, de forma a que este lhe pagasse os 1000 sestércios utilizados na
reparação do apartamento.

b)

Se, como o enunciado dá conta, Teophilus utiliza-se o imóvel para realizar festas, festas essas
que causavam a degradação do apartamento, este mesmo não cumpria a sua obrigação de
utilização do objeto nos modos acordados e teria de proceder à reparação dos danos
causados. O locador poderia recorrer ao pretor para que este lhe concedesse uma actio locati
contra Theophilus.

Caso 12

Podemos, através do enunciado, concluir que estamos perante uma sociedade (societa)

Societa é um contrato em que duas ou mais pessoas (socii) se obrigam reciprocamente a pôr
coisas e/ou trabalho e comum de forma a atingirem uma finalidade patrimonial comum.

É um contrato consensual, bilateral e de boa fé.


Podemos, de facto, identificar os três constituintes da societa: consensus (acordo entre as
partes em pôr determinadas coisas e/ou trabalho em comum), objeto (coisas que acordam pôr
em comum; aqui pode distinguir-se a societa rerum, societa operarum e societa operis) e
finalidade (que deve ser lícita e susceptível de proporcionar vantagens patrimoniais a todos os
socii – não são permitidas as societas leoninas).

Os lucros e as perdas devem ser igualmente distribuídos por toda a socii, a não ser que seja
acordado no contrato uma distribuição diferente. E é esse exatamente o caso neste problema.
Então, conclui-se que Petronius nada tem a fazer que não a responder por metade das perdas
geradas.

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