Histórica Da Educação Especial

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Instituto de Formação de Professores de Chibututuine

Departamento de Ciências de Educação

Perspetiva Histórica da Educação Especial

É significativo e relevante considerar a perspetiva histórica da Educação Especial, de uma


forma sucinta, uma vez que é desta que surge o conceito de necessidades educativas
especiais. De um modo geral é importante dar a conhecer como se tem processado ao longo
dos tempos o apoio a pessoas com algum tipo de deficiência, incapacidade. Esta abordagem
histórica divide-se em três épocas distintas. A primeira época é considerada como a pré-
história da Educação Especial; a segunda é aquela em que surge a educação especial
entendida como o cuidado com a assistência, e por vezes também com a educação, que é
prestada a um certo tipo de pessoas e caracterizada por decorrer em situações e ambientes
separados da educação regular; por fim, e, a mais recente, aquela em que nos encontramos,
com tendências que nos levam a pressupor uma nova abordagem do conceito e da prática
da Educação Especial de uma forma predominantemente integrativa.

1. ANTECEDENTES

A Educação Especial inicia o seu percurso nos finais do século XVIII, época
maioritariamente marcada pela ignorância, rejeição e mesmo abandono do indivíduo
portador de diferença ou deficiência. Nas sociedades antigas era normal o infanticídio
quando se observavam anormalidades nas crianças, sendo Esparta o exemplo mais
conhecido, povo que praticava o abandono dos nados “imperfeitos” como método de
seleção.

Na Idade Média, a igreja condenou o infanticídio, mas, por outro lado, alimentou a ideia de
atribuir a causas sobrenaturais as anormalidades ou enfermidades de que padeciam as
pessoas. Considerou estas pessoas como estando possuídas pelo demónio e por outros
espíritos maléficos e submetia-as a práticas de exorcismo e mesmo à morte.

Durante os séculos XVII e XVIII, os deficientes mentais eram internados em orfanatos,


manicómios, prisões e outros tipos de instituições estatais, onde permaneciam junto de

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delinquentes, velhos, pobres e enfermos sem direito a qualquer tipo de cuidado ou
tratamento mais adequado.

Surgem em meados do século XVI, as primeiras experiências positivas com o Frade Pedro
Ponce de León (1509-1584) dentro de um grupo de 12 crianças surdas e que alcançou

um êxito apreciável. Este Frade é reconhecido como o percursor dos ensaios para surdos e
criador do método oral.

Valentín Hauy, criou em Paris um instituto para crianças cegas. Entre os seus alunos
encontrava-se Louis Braille, (1806-1852), que viria a criar mais tarde o famoso sistema de
leitura e escrita que ficou conhecido com o seu nome. Este sistema Braille é utilizado
actualmente pelas crianças cegas permitindo-lhes superar as dificuldades na leitura e na
escrita, proporcionando-lhes desta forma uma oportunidade de educação igual às outras
crianças.

2. A ERA DAS INSTITUIÇÕES

A Era das Instituições surge nos finais do século XVIII, princípios do século XIX,
iniciando-se o período da institucionalização especializada de pessoas deficientes, podendo-
se considerar como o aparecimento da Educação Especial.

É a partir desta data que a sociedade em geral toma consciência da necessidade de auxiliar
este tipo de pessoas, embora seja este auxílio de carácter mais assistencial do que
propriamente educativo.

Para a sociedade, o indivíduo “não normal” era considerado um perigo e, portanto, era
necessário proteger a pessoa “normal”. Por outro lado, consideravam prioritário
“proteger” o deficiente da sociedade, uma vez que esta lhe poderia trazer prejuízos. O
resultado final deste tipo de atitude traduz-se numa discriminação comportamental: separa-
se o deficiente, discriminando-o, segregando-o.

Para tranquilizar a sociedade, são abertas escolas fora das povoações, argumentando-se que
o campo proporcionaria uma vida mais saudável e feliz, fomentando a ideia de que se

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estaria assim a proporcionar cuidado e assistência a quem precisava, protegendo o
deficiente da sociedade sem que esta tivesse de suportar o contacto mútuo. Este método de
institucionalização permanece até meados do século XX.

Ao longo do século XIX foram criadas escolas especiais para cegos e surdos, e no final do
século, surge o atendimento a deficientes mentais em instituições criadas especificamente.

Para este efeito, nomeadamente, os hospitais psiquiátricos e os sanatórios. Durante a era das
instituições surgem algumas figuras principais da história da Educação Especial, tais como:

Philippe Pinel (1745-1826), que empreendeu o tratamento médico dos “atrasados


mentais” e escreveu os primeiros conceitos sobre essa especialidade.
Seguin (1812-1880) dedicou-se ao estudo e elaboração de um método para a educação
das “crianças idiotas” que denominou método fisiológico. Foi o primeiro autor da
Educação Especial que referenciou nos seus trabalhos a possibilidade de aplicação
desses mesmos métodos no ensino regular. Vê no trabalho deste autor, o nascimento da
Educação Especial no sentido moderno, sendo ultrapassado o terreno exclusivamente
médico e assistencial até então vigente.

Através do desenvolvimento científico e técnico hoje é, possível dispor de métodos fiáveis


de avaliação e diagnóstico (Galton, Binet) e tratamento (médico, psicológico e educativo).
Alguns defensores de uma pedagogia nova como Montessori ou Decroly, trabalham em
educação especial e rapidamente pressentem a necessidade de construir uma pedagogia
terapêutica.

3. ÉPOCA ACTUAL

O século XX surge com o início da obrigatoriedade e expansão da escolarização básica,


verificando-se que muitos alunos, principalmente aqueles que apresentavam certas
deficiências, tinham dificuldades acrescidas para acompanhar o ritmo normal dos de mais
alunos e conseguir que o seu rendimento fosse igual ao das outras crianças da mesma idade.
Em consequência cria-se deste modo a divisão do trabalho da educação e surge uma nova
pedagogia, diferente, uma educação especial institucionalizada, baseada nos níveis de

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capacidade intelectual e diagnosticada em termos de quociente intelectual(QI). Binet criou
um método ou instrumento para poder retirar da escola regular os mais fracos e os mais
atrasados.

Neste período, surgem as classes especiais e as crianças são rotuladas segundo diferentes
categorias. Multiplicam-se as escolas especiais e diferenciam-se em função das diferentes
etiologias: cegos, surdos, deficientes mentais, paralisias cerebrais, espinhas bífidas,
dificuldades de aprendizagem, entre outras. Os centros especiais e especializados são
separados dos regulares, possuem programas próprios, pessoal técnico e especializado e
constituem um subsistema de Educação Especial diferenciado, dentro do sistema educativo
regular.

A rejeição por parte das associações de país deste tipo de escolas segregadas, recebe o
apoio administrativo na Dinamarca, que inclui na sua legislação o conceito de
“normalização”, entendido como “a possibilidade de o deficiente mental desenvolver um
tipo de vida tão normal quanto possível”.

Em fase posterior, o conceito de normalização alarga-se pela Europa e América do Norte.


Em resultado da expansão do conceito no meio educativo, dá-se lugar a uma substituição
das práticas de segregação por práticas e experiências integradoras. Percorre-se desta forma
o caminho para a desinstitucionalização, procurando integrar os portadores de deficiência
no mesmo espaço escolar e laboral à semelhança dos restantes indivíduos considerados
normais.

Em anos recentes e na ótica da normalização do sistema foi considerado que as escolas


especiais, apesar de exclusivamente dedicadas aos problemas dos indivíduos com
deficiência, proporcionassem às crianças um ambiente muito restrito, sendo prejudicial do
ponto de vista educativo, uma vez que favorece a segregação e a discriminação.

O modelo de escolas especiais apresenta alguns aspetos positivos que, ao mesmo tempo se
traduzem em muitos inconvenientes. Para a maior parte dos autores que refletem sobre esta
problemática são enunciados mais aspetos negativos do que positivos neste modelo, sendo
estes a favor do ensino integrado.

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As tendências actuais em Educação Especial deixam cair por terra a educação
institucionalizada e apostam numa educação integrada, na qual o aluno com necessidades
educativas especiais possa desenvolver o seu percurso educativo, num ambiente o menos
restrito e o mais normal possível.

O princípio da normalização, segundo uma perspetiva pedagógica, implica a


individualização, de modo a que o seu processo educativo se ajuste e se direcione ao ritmo
de aprendizagem, às necessidades e especificidades de cada um. Para levar a cabo a
integração escolar é necessário ter em conta a necessidade de partição dos serviços, ou seja,
os alunos com Necessidades Educativas Especiais deverão receber o apoio de que
necessitam dentro do seu meio natural e cabe aos serviços organizarem-se para melhor
darem resposta às suas necessidades. Contudo, e ainda que no princípio de um caminho que
se adivinha longo, a escassez de recursos ou a falta de adaptação atempada destes mesmos
serviços, revela-se já uma fonte de discórdia.

4- INCLUSÃO

A inclusão significa a oportunidade de indivíduos com uma deficiência participarem


cabalmente em todas as actividades laborais, de consumo, de diversão, comunitárias e
domésticas que caracterizam a sociedade quotidiana. A oportunidade de participar, é
bastante diferente do acto de tornar possíveis padrões de vida e condições de vida
quotidiana. A oportunidade de participar implica um claro envolvimento activo e uma
escolha, ao contrário da aceitação passiva de um padrão ou condição que foi tornado
acessível à pessoa.

É precisamente dentro desta perspetiva que se deu, nos anos setenta o início da integração
escolar em Portugal. Reconheceu-se que os alunos com Necessidades Educativas Especiais,
o ensono passa a estar orientado para aluno, que é visto como um todo, tendo em conta três
níveis de desenvolvimento: académico, socio emocional e pessoal. É importante ainda
referir que a escola inclusiva não se resume exclusivamente ao contexto escolar, mas
também aos ambientes naturais da comunidade onde a criança e a família vivem e dos quias
provêm as suas rotinas.

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A escola inclusiva é uma escola que não pode estar de costas voltadas para o que se passa
na sua comunidade educativa, que possui cota parte no sucesso e insucesso de cada um dos
seus alunos, que tem de os incluir e é responsável pela criação das condições necessárias à
viabilização do processo de aprendizagem individual.

Cabe à escola, enquanto ambiente de aprendizagem, criar condições e disponibilizar os


recursos necessários para que cada um dos ambientes em que decorrem as aprendizagens
sejam espaços estimulantes. A escola inclusiva tem de ser de todos e para todos, numa
perspetiva de partilha, de interação, de cooperação e de responsabilização mútua de cada
um em relação à comunidade e da comunidade em relação a cada um. A escola inclusiva
tem de se questionar sobre o seu papel e as suas funções, sobre o desempenho de cada um
dos seus intervenientes e tem de procurar o percurso adequado, o mesmo será dizer
procurar o seu próprio caminho como forma de resposta para as suas próprias questões.

Uma escola dita inclusiva deve ser capaz de olhar para a diferença de cada um como uma
mais-valia e utilizar essa diferença para enriquecimento do grupo e de cada um em
particular. Todos são diferentes e deve-se contar com essa diferença para criar ambientes
organizados e estimulantes dos processos de aprendizagem. Cada um deve partilhar,
cooperar e ser responsável na medida das suas possibilidades, capacidades e competências
próprias.

A diversidade é um desafio, uma mais-valia para os educadores, uma vez que lhes permite
tirar partido do enorme recurso que têm à sua mão, neste caso, os seus alunos. Assumindo a
diferença, esta pode ser um factor de equilíbrio pessoal e social.

“As crianças deficientes têm oportunidades de aprenderem comportamentos sociais e


escolares apropriados a partir da observação e da modelagem de crianças não deficientes.
As crianças que não sofrem de deficiência também beneficiam porque deparam desde logo
com os pontos fortes e os contributos potenciais, bem como limitações dos seus colegas
deficientes. O ambiente escolar e a sociedade em geral enriquecem-se”.

Necessidades Educativas Especiais, com problemáticas ligeiras e moderadas conseguiriam


alcançar o sucesso escolar nas classes regulares. Aparece deste modo o apelo para que

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fossem criadas condições que permitissem responder às necessidades educativas dos alunos
com Necessidades Educativas Especiais nas escolas do ensino regular da respetiva área de
residência. Surge então o Movimento Iniciativa da Educação Regular que pretendia
encontrar formas de responder às necessidades do maior número de alunos com
Necessidades Educativas Especiais na classe regular, propondo a adaptação das classes com
vista a facilitar as aprendizagens dos alunos com Necessidades Educativas Especiais nesse
tipo de ambiente mais integrador. Este movimento deu lugar ao movimento da inclusão,
que visava a adequação do currículo às necessidades educativas dos alunos.

Os alunos com Necessidades Educativas Especiais passam assim a ter direito a frequentar
as classes ditas regulares, possibilitando-lhes o acesso ao currículo geral através de um
conjunto de apoios apropriados às suas características e necessidades educativas especiais,
sociais e emocionais. Surgem assim, as primeiras escolas inclusivas.

O conceito de inclusão, que ultrapassa a integração, é mais tarde consignado na Declaração


de Salamanca (1994): “Existe o consenso de que as crianças e jovens com Necessidades
Educativas Especiais devem ser incluídas nas estruturas educativas designadas à maioria
das crianças. O desafio a esta escola inclusiva é o de ser capaz de desenvolver uma
pedagogia centrada na criança, susceptível de as educar a todas com sucesso, incluindo as
que apresentam graves incapacidades”.

Defende-se a inclusão mesmo daqueles com Necessidade Educativa Especiais severas,


independentemente dos seus níveis académicos e sociais. De acordo com a Declaração de
Salamanca, as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às
escolas regulares que se devem adequar, através duma pedagogia centrada na criança, capaz
de ir ao encontro das suas necessidades. As escolas regulares, seguindo esta orientação
inclusiva, constituem meios mais capazes, para combater as atitudes discriminatórias,
procurando criar comunidades abertas e solidárias, constituindo uma sociedade inclusiva e
almejando a educação para todos.

“as escolas devem desempenhar um papel mais activo, ajudando a compreender e a


aceitar os direitos das pessoas com deficiências, a afastar medos, mitos e concepções

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erradas e apoiando os esforços de toda a comunidade”.

Além de que proporcionam uma educação adequada à maioria das crianças e promovem a
eficiência, numa óptima relação custo – qualidade, de todo o sistema educativo.

Correia (2005:11) defende que a inclusão é “a inserção total do aluno com Necessidades
Educativas Especiais, em termos físicos sociais e académicos nas escolas regulares, onde,
por direito, deve receber todos os serviços adequados às suas necessidades”.

É importante ainda referir que a escola inclusiva não se resume exclusivamente ao contexto
escolar, mas também aos ambientes naturais da comunidade onde a criança e a família
vivem e dos quais provêm as suas rotinas.

A escola inclusiva é uma escola de qualidade para todos, que sabe criar respostas
adequadas às necessidades dos seus alunos, gerando e gerindo os meios e recursos
disponíveis. Ainda que não seja talvez a escola do futuro, é a escola que cada um é capaz de
criar hoje, dando-lhe a sua disponibilidade temporal e o seu conhecimento. A escola
inclusiva está em todos nós e cada um poderá cooperar para uma escola mais justa, mais
humana em que cada indivíduo tem um espaço próprio, embora comum, e um tempo que é
o seu, para dela usufruir e partilhar.

Assim, a escola e todos os elementos que dela fazem parte têm de romper com os
pressupostos tradicionais, ou seja, têm de encontrar estratégias que visem modificar a
situação em que se encontram com o intuito de se tornar uma escola aberta a todas as
diferenças. Não podemos esquecer que “a cultura da diversidade é um processo de
aprendizagem permanente”

A escola só será a grande promotora do indivíduo, o local de mudanças de mentalidades e


de um maior equilíbrio individual e social, se todos quiserem e se estiverem
verdadeiramente empenhados nessa construção.

5. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

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Bibliografia

1. Almeida, M. S. R (2005) Caminhos para a inclusão humana. Porto: Edições Asa.


2. Ainscow, M & Wang, M (1997) Caminho para as Escolas Inclusivas. Lisboa IIª
Edição.
3. Ainscow, M (1997) Educação para todos, torna-la uma realidade.

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