Conquistando Minha Vizinha (Universo Houston Livro 1)

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Capítulo 01

Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 32
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
Copyright © 2024 Jenniffer Alves
Capa: Jenniffer Alves
Leitora Crítica: Carolini Araújo
Diagramação: Jenniffer Alves
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra através de
qualquer meio — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei no 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Todos os direitos reservados.
Edição Digital | Criado no Brasil.
Uma obra de Jenniffer Alves

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos


são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Você já deve estar familiarizado com o famoso clichê entre vizinhos, repleto de barulhos,
gemidos, gritos, todas as noites, todos os dias. Cansei de ler livros nessa pegada, onde a mocinha
escuta o vizinho bombado, gostosão, bad boy, fodendo com outra garota.
Agora, inverta os papéis: um nerd antissocial que usa óculos, reserva do time de futebol, e
tem uma vizinha deslumbrante com cabelos loiros como o sol, olhos azuis como um oceano,
corpo desejável, e que não faz ideia de sua existência. Ele a quer, mas é tímido demais para
tomar alguma atitude.
Bom, esse sou eu!
Rhavi Clark, ao seu dispor.
Para as fãs do clichê invertido que não temem um toque de ousadia,
Esse Nerd aqui é como um livro de bolso: compacto, surpreendente e com algumas páginas bem quentes! Preparem-se
para uma história que vai muito além das expectativas.

Com todo o meu charme literário,


Rhavi Clark.
Cubro com força meu rosto com o travesseiro, sem acreditar que ela trouxe mais um
homem para fodê-la e acabar com minha noite de sono, logo no dia em que estou destruído.
Porra, tenho que me levantar às seis da manhã!
Você já deve conhecer o famoso clichê entre vizinhos com barulhos, gemidos, gritos, todas
as noites, todos os dias. Já cansei de ler livros nessa vibe, sempre a mocinha ouvindo o vizinho
bombado, gostosão, badboy, fodendo com outra garota.
Agora inverta os papéis, um nerd antissocial que se dedica aos estudos, usa óculos de grau,
reserva do time de futebol da universidade, ama um jogo de computador e tem uma vizinha
gostosa com cabelos loiros como o sol, olhos azuis, feito um oceano, corpo desejável e que não
faz ideia da sua existência, mas ele a quer, só que é tímido demais para tomar alguma atitude.
Bom, esse sou eu!
Rhavi Clark, ao seu dispor.
Sabe qual a pior parte?
É que minha vizinha é minha colega de classe, popular e que não faz ideia de que a quero.
Ok! Ok!
Você esperava o quê? Minha vida é um clichê invertido, caramba!
Respiro fundo, dispensando todos os desejos por ela nesse momento, querendo espancar
aquela porta e gritar para que pare de gritar dessa forma.
— Isso... Isso... Ahhh...
Gemo de raiva, porque sem uma boa noite de sono eu me torno um nada, mesmo carregado
de cafeína. Afasto o travesseiro do meu rosto, encaro o teto mesmo no escuro e fico escutando as
estocadas, gemidos, sussurros e muitas outras coisas que... melhor manter na privacidade.
Suspiro, tentando levar minha imaginação para outro lugar.
Cacete, tinha tantos outros clichês para viver, tinha que ser logo esse?
Não vou ser hipócrita, no começo eu aproveitei e sem vergonha na cara, me masturbei e
gozei ouvindo seus gemidos, imaginando-me dentro dela, mas porra, tudo o que sinto agora é
raiva e nada de tesão.
Inspiro fundo, acalmando minha raiva, porque quanto mais me estressar, mais nervoso eu
vou ficar e é o pontapé para o meu corpo ficar completamente empolado.
Okay, sou esquisito, não precisa contorcer seu rosto de repulsa, e é por isso que sou tão
invisível quanto o ácaro no travesseiro. Você não o vê, mas ele está lá.
E sabe qual é o pior de todas as esquisitices?
Sou virgem... tão virgem que nunca nem vi uma boceta ao vivo... mentira, eu já vi sim,
mas foi por engano quando entrei no vestiário e flagrei o capitão do time recebendo um boquete
daquelas com a garota nua de costas para mim, mas saí tão rápido quanto entrei.
Não ria, pelo amor de Deus, foi constrangedor!
Em pleno século XXI, ainda existe um cara de 22 anos, virgem...
Solto uma risada de desespero, nem todos têm facilidade em interagir com garotas, tá
legal?
— Ah, Meu Deus, Kevin... Ohhhhh....
Bufo e estico meu braço, apanho o copo de plástico em cima da cabeceira e rumo na
parede com a esperança de que vão entender que estão incomodando, mas o que acontece é o
contrário, os sons dos gemidos aumentam, assim como as estocadas.
Esfrego meu rosto, levanto-me e pego meu travesseiro com a fronha cheia de cachorrinhos.
— Okay, vou arrumar outro canto para dormir.
Ando até a sala sem ligar a luz e meto o dedinho na quina do sofá. Ranjo os dentes,
amaldiçoando minhas futuras gerações e me encolho, literalmente vendo as estrelas piscar em
minha visão enquanto o ar dos meus pulmões fica preso.
Merda, como é que uma pancadinha dessa pode parecer a dor de um parto?
Certo que nunca pari ninguém, então é uma comparação meio besta, mas faz sentido.
Um calor sobe por meu corpo e finalmente chego na porta, abrindo-a e a batendo com
força para que Leanne Kinsley possa pelo menos ouvir que existe mais alguém nesse prédio.
Olho para os lados em busca de algum morador que possa ter se incomodado, mas pelo
visto, só eu consigo ouvir toda a transa da garota.
Por que só eu, porra?
Ajeito meus óculos andando pelo corredor pouco iluminado, não faz sentido nenhum
manter as luzes acesas quando são duas da manhã e viro à esquerda, parando no apartamento 3B.
Bato na porta, vendo que seu tapete está virado para cima, o que significa que está sozinha.
Busco por meu celular no bolso do pijama, lembrando de que ele não tem bolso e que não
o trouxe. Bato outra vez, um minuto depois, a porta se abre, revelando uma garota miúda,
cabelos de um preto azulado que bate na cintura e com uma carranca do tamanho do mundo,
prestes a matar quem a acordou a essa hora da madrugada.
— Oi!
Alana Moore fixa seus olhos castanhos nos meus, um arrepio percorre meu corpo, pois
quando está com raiva parece um Pinscher, sem tamanho, mas que acha que destrói tudo.
Lanço um sorriso sem graça.
— De novo, Pet? — indaga, sua fisionomia mudando de raiva para pena.
— Tenho prova amanhã. — Faço uma cara de choro.
— Você tem que parar de ser bundão e tornar o cara que ela fode toda noite.
— Fácil né, senhorita experiente?
Alana arqueia uma sobrancelha, contorcendo os lábios carnudos e delineados.
— Posso dormir com você? — peço, fazendo a melhor cara de cachorrinho abandonado
debaixo de um temporal.
— Sem conchinha.
— Eu fico com o sofá.
Ela inspira fundo e dá um passo para o lado, abrindo espaço para eu entrar. Abraço mais
forte o travesseiro, já imaginando a dor nas costas depois de dormir em um sofá minúsculo.
— Vou dormir, tchau!
Alana caminha até o quarto, trajada com seu pijama de shortinho com estampa de emoji e
meia rosa cheia de borboletas. Mesmo no calor, ela nunca dorme sem meias.
Olho para o sofá.
— Você está com raiva de mim, Pet? — pergunto, vendo-a parar e segurar o batente da
porta do seu quarto.
— Por que essa pergunta?
Ela me olha sobre o ombro. Pigarreio.
— Bom, você não me chamou para dormir na sua cama.
— Está calooooor!
Reviro os olhos e coloco meu travesseiro no sofá.
— Boa noite, Pet!
— Boa noite!
Ouço o barulho das molas da sua cama, ajeito-me no sofá minúsculo para meus 1,85m e
fico encarando o teto. Silêncio, era tudo que precisava.
Os minutos se passam, viro de lado, fito a tv e depois de meia hora sem conseguir pregar
os olhos, levanto-me com o travesseiro nos braços e pé por pé, entro no quarto de Alana.
Ela está deitada de lado e não abre os olhos quando ajeito meu travesseiro no outro lado da
sua cama, deito-me devagar e inspiro aliviado.
— Conchinha? — sussurro, sabendo que ela está acordada.
Ela respira fundo e me olha por sobre o ombro.
— Você precisa de uma namorada, Rhavi.
— E você também, Alana.
Ela chega para trás, encostando as costas no meu peito e passo o meu braço por sua
cintura, encaixando-a.
— Um dia vai ser você naquele quarto, fodendo aquela garota.
— Ah, seus sonhos são belos.
— Para! — Alana dá um tapa na minha mão. — Você é bonito, sabia?
— Jura? — Reviro os olhos.
— Só precisamos pensar em como fazer ela te notar.
— Leanne nunca vai me notar, Pet. — Fecho os olhos, permitindo o sono vir. — Não sou o
cara que ela gosta de foder todas as noites.
— Mas é o cara para ser o namorado dela.
Sorrio, deslizando meu outro braço por debaixo de sua cabeça.
— Ela não vai me enxergar — afirmo.
— Ela vai! — Sua mão segura a minha. — O amor às vezes precisa de uma ajuda.
— No meu caso, um empurrão serviria.
Alana fica calada por um momento, batucando as pontas dos dedos sobre a palma da minha
mão.
— O que foi?
— Nada — diz, se aconchegando. — Boa noite, Pet.
— Até amanhã!
Ela para de batucar os dedos na minha mão, parecendo que finalmente decidiu dormir.
Inalo seu perfume de pêssego, relaxando meu corpo com seu calor me cobrindo.
Alana se tornou minha melhor amiga quando ainda estávamos no fundamental, depois de
ter apanhado de alguns caras por ser simplesmente "esquisito". Mas eu não ligava para isso, e ela
também não. Desde que minha mãe morreu quando eu tinha 17 anos, nas noites de insônia e
pesadelos, ia para sua cama para dormirmos de conchinha.
Aperto-a mais um pouco, sabendo que quando ela arrumar um namorado, esse momento
vai acabar. Por isso, enquanto eu puder, vou sempre recorrer à minha melhor amiga.
— Acorda!
Sinto algo colidir no meu rosto, me arrancando de um sono pesado. Sobressalto de susto,
viro de lado e de repente estou levitando no ar antes de cair no chão. Meus ossos das costas
rangem diante do impacto, resmungo, atordoado, sem saber onde estou e quem sou.
— Está tudo bem aí embaixo? — Alana pergunta, sua voz doce entoando distante.
— Arch! — Esfrego meu rosto. — O que foi isso?
— Você caiu da cama. — Ela solta uma risada. — São seis e meia.
Aperto os olhos tentando enxergá-la, confuso.
— O quê?
— Aqui — Alana debruça na cama —, seus óculos.
— Obrigado — sussurro, pegando-o e colocando no rosto.
Prendo meus olhos em seu rosto já maquiado, seus lábios estão rosados e seus cílios com
bastante rímel. Além de achar sua boca linda e o nariz que é empinado, são os cílios que chamam
atenção para seus olhos grandes com um brilho que nunca deixarei que se apague.
— Bom dia! — ela diz sorrindo, pousando o queixo na palma da mão enquanto seus
cabelos caem em cascata pelos ombros.
— Oi! — indago, piscando. — Quantas horas são?
— Seis e cinquenta da manhã — responde com plenitude.
Franzo a testa, puxando em minha memória os meus horários e impulsiono o corpo para
cima de uma vez, batendo o joelho na madeira da cama assim que fico de pé.
— Caralho! — Esfrego o local, pulando de uma perna só. — Por que você não me
acordou?
— Estou tentando há vinte minutos.
Paro e olho para ela, já vestida com roupas brancas.
— Sério?
— Agiliza, Rhavi! — ordena com tranquilidade, como se não tivesse prova de anatomia
também.
— Dez minutos é o suficiente — digo, pegando meu travesseiro. — Espera-me lá fora.
— Corre.
Saio do seu apartamento e corro para o meu. Troco de roupa o mais rápido que consigo,
escolhendo um moletom mais largo da cor azul enquanto escovo os dentes. Depois de estar
apresentável de um modo desleixado, borrifo meu perfume de sempre, apanho minha mochila,
paro por um segundo para ver se peguei tudo o que precisava e abro a porta.
— Okay... — murmuro, saindo logo em seguida, mas com a sensação que esqueci de algo.
Quando dá dez minutos cronometrados — pelas contas da minha cabeça —, já estou
parado à frente de Alana, que segura dois copos de café gelado.
Seus olhos descem por meu corpo, anui a cabeça e suspira.
— Ainda bem que te acordei 50 minutos antes — balbucia, estalando a língua em
reprovação.
— O quê?
— Como vai entrar no laboratório com moletom, Rhavi?
Leva um segundo para eu associar o que ela acabou de dizer.
Merda!
Sem perder tempo, giro os calcanhares e corro para dentro, troco o moletom pelas roupas
brancas, jogo o jaleco que tinha esquecido dentro da mochila e saio.
— Você sempre faz isso — resmungo, arfando pelo esforço de subir e descer as escadas.
— Ainda bem, né? — Ela me entrega o copo de café. — Se abaixe.
Faço o que ela pede, levando o canudo até a boca. Alana começa a ajeitar meus cabelos
rebeldes, tentando deixá-los menos bagunçados.
Não deu nem tempo de me arrumar direito.
— Bom, dá para o gasto — fala, batendo no meu ombro.
Engulo o café e pegamos o caminho para a Universidade de Houston. O apartamento
residencial em que moramos, fica a uns dez minutos do campus da saúde, onde está localizada a
área dos cursos de enfermagem, fisioterapia, medicina e farmácia.
— Temos que terminar aquele trabalho de bioquímica — Alana relembra, enlaçando seu
braço direito no meu.
— Hoje?
— Você pode?
Contorço meus lábios.
— Hoje não vai dar, tenho treino.
Apesar de ser o reserva do Running Back do time de futebol da universidade, de vez em
quando, os treinos são em conjunto com os titulares, muitas das vezes, cansativo e deixa meus
músculos doloridos, ainda mais quando tenho que estudar depois de chegar em casa.
Às vezes fico um pouco chateado por não ser visto, sei que preciso de uma oportunidade
para mostrar que sou bom, mas é que as oportunidades que eu tive, caguei nelas, por isso que
durante os jogos fico na porra do banco.
Meu pai, o famoso Sullivan Clark, ex-jogador da NFL não está satisfeito com minha
colocação, ele me quer no campo, vendo seu filho jogar pela primeira vez como um titular.
— Você volta tarde então — Alana me arranca do devaneio.
— É...
Dou mais um gole no café.
— E amanhã? — Pergunto.
— Treino das cheerleaders para o jogo da semana que vem — diz, me cutucando. — Vou
te ver jogar.
— Não, você vai me ver no banco — retruco, lançando um olhar divertido em sua direção.
— Vai estar no campo ou na Avenida Houston?
— No campo dessa vez.
Sorrio, gosto de vê-la dançando durante o jogo.
— Ah! — Ela me empurra. — Sabe quem vai estar no campo também?
— Não.
— Advinha, Pet.
— Abby Joy? — Chuto sua “melhor amiga”.
Não me simpatizo com a amizade das duas, pode até chamar de ciúmes, mas é que Abby é
vida louca, gosta de beber e ir para festa, não que Alana não goste também é que... ela extrapola
demais.
Mas quem eu sou para proibir Alana de ter amigas ou de sair?
Sou seu melhor amigo, claro, mas não seu dono.
— Leanne Kinsley — revela.
O café desce rasgando pela garganta e tusso com o nome da minha vizinha sendo citado.
— Ela vai estar lá? No dia do jogo?
— Fiquei sabendo minutos atrás que ela passou nos testes, faz parte da equipe Cougar
Dolls agora.
Fico encarando Alana que sorri abertamente como se estivesse ganhado na loteria. Não sei
se fico feliz ou triste, porque sou apenas um reserva, que diferença isso vai fazer? E tem os
rapazes da minha equipe, terei muito mais concorrentes.
Leanne não vai me enxergar, nunca!
— Para com isso, Rhavi — Alana para de andar. — E esse brilho de derrota no olhar?
— Hum... — Aperto os lábios, evitando encará-la. — Ela nunca se interessará por um
reserva.
Alana inspira fundo, fitando-me por mais alguns segundos antes de retornarmos a
caminhada.
— Você tem que confiar em si mesmo, Pet — ela resmunga.
Não retruco, porque não fará diferença sendo que Alana está certa.
Preciso confiar em mim, mas... de alguma forma, prefiro me manter dentro da minha bola
de plástico transparente que criei para me proteger de qualquer decepção, seja ela amorosa ou
não.
— Bem, além de sua vizinha, agora ela pode ser minha amiga — Alana solta meu braço e
bate as mãos. — Isso!
— Isso o quê?
Ela revira os olhos.
— Eu serei amiga da garota e consequentemente serei um elo entre você e ela, Rhavi —
conta, acendendo uma luz em minha mente.
— Entendi — balbucio, meu coração batendo um pouco mais animado com essa
possibilidade.
Viramos a esquina e avisto o edifício enorme com aparência grego romano e janelas
esculpidas com sulcos rasos combinando com as fileiras das colunas. Alguns alunos se
encontram sentados na grama, esperando o horário das aulas, outros vestidos de branco com
jaleco pendurado no braço correm para dentro do edifício, e ao longe vejo Aidan Lockwood,
meu melhor amigo.
Ele me nota, agita a mão, ajeita os óculos e me aguarda na entrada com a mochila nas
costas. Tão estranho quanto eu, a única diferença é que estuda medicina e eu farmácia.
— Não entendo por que ambos ficam se escondendo debaixo desses moletons, óculos e
cabelo bagunçado — Alana comenta, estalando a língua. — Vocês são gostosos pra cacete e nem
se dão conta disso.
Abro a boca para retrucar, mas ela sai correndo assim que vê Liza Hackett — nossa colega
de classe e parte do nosso grupo estudantil —, apontar do outro lado do edifício.
— Você não está com uma cara muito boa — Aidan comenta, arqueando uma sobrancelha.
Jogo o copo de café vazio no lixo, dando um longo suspiro.
— Adivinha.
— A vizinha gostosa fodendo com algum cara que tenho certeza de que não deve nem
lembrar do seu nome no dia seguinte — fala, deslizando os óculos para cima com a ponta do
dedo.
— Só essa semana foram três.
— Pena que é bundão demais para ser o quarto. — Aidan ri.
— Olha, é que... — suspiro. — É complicado.
— Foder com uma garota?
— Chegar em uma garota — corrijo, receoso.
— Minha opinião é que você deveria ser rápido antes que ela seja tomada por um dos seus
companheiros de time. — Aidan provoca, jogando uma piscadela e seguindo o caminho diferente
do meu para o setor de Medicina.
Alana e Liza se juntam comigo logo em seguida.
— Oi, Clark.
— Hackett — retribuo o cumprimento, bagunçando seus cabelos cacheados.
Seguimos para o laboratório de anatomia enquanto presto atenção na conversa de ambas
sobre as coreografias das animadoras, sem me envolver.
Assim que chegamos, colo a bunda no meu lugar de sempre para aguardar o professor e
com o celular em mãos, verifico minhas próximas aulas, que inclui química e cálculo.
Respiro fundo, às vezes me pergunto por que escolhi estudar farmácia entre tantos cursos
mais fáceis. Não é que seja ruim e que não goste, é apenas complexo e cansativo ter que conciliar
tudo com o futebol.
Aproveito e envio mensagem de bom dia para o meu pai, dizendo que está tudo bem com
os treinos. Ele responde segundos depois confirmando sua vinda para o primeiro jogo da
temporada.
Pena que Sullivan Clark não vai me ver no campo.
— Olha para a porta — Alana sussurra ao meu lado.
Ergo meus olhos e congelo ao mesmo tempo em que meu coração bate ao ver Leanne
entrar no laboratório.
Seu corpo está sendo abraçado pelas roupas brancas e justas, seus cabelos loiros presos em
um coque bagunçado realçando seu rosto marcante. Sinto meu celular escorregar da minha mão,
tudo parece ter ficado em câmera lenta e só consigo ouvir as batidas do meu próprio coração.
Leanne é linda... Não, linda não, é perfeita!
Qualquer cara gostaria de passar pelo menos uma noite na sua cama. Meu pau reage com a
lembrança dos seus gemidos, das estocadas e da sua voz pedindo para ir com mais força na noite
passada.
— Limpa a baba, Rhavi! — Alana diz, mas estou petrificado demais para reagir.
Engulo em seco quando Leanne vira em nossa direção. Meu sangue gela e minhas
bochechas esquentam.
Porra, não posso ficar vermelho, seria aparente demais.
Ela sorri para sua amiga que está atrás dela, cada passo que dá para mais perto, meu
coração erra uma batida. Seus olhos azuis se fixam em Alana.
— Olá, Alana! — Leanne cumprimenta minha amiga, sua voz delicada me arrepiando.
— Oi, bom te ver aqui.
— Mudei de grade — ela responde de modo básico, se dirigindo para o fundo da sala.
Engulo em seco.
Leanne só tinha duas matérias conosco, agora serão todas?
Remexo no banco, evitando olhar para trás, já basta ter ficado encarando a garota.
— Você está da cor de um tomate — Alana comenta, segurando a risada.
Limpo a garganta, me recompondo e percebendo que minhas mãos estão trêmulas. Guardo
o celular na mochila e tomo uma respiração profunda, acalmando meus batimentos.
— Bom dia, pessoal! — O professor Zejan adentra na sala. — Preparados para a prova? —
pergunta e todos nós reclamamos. — Vamos lá, tenho certeza de que estão prontos.
Ele nos olha com um sorriso gentil. Ajeito meus óculos e lanço um olhar para Alana que
me observa com os lábios apertados, evitando rir.
— Não fala nada — ordeno, ignorando-a.
— Clark! — o treinador Haley grita e em seguida apita. — Seu cotovelo está baixo,
parceiro!
Inclino para frente com as mãos nos joelhos, arfando, observando-o se aproximar. Ele dá
um tapa no capacete na minha cabeça e toma a bola da mão do preparador.
— Olha nos meus olhos, garoto! — Haley ordena. — Você está desatento hoje.
— Desculpe, senhor.
— Vamos lá! — ele dá um tapa em meu ombro e se posiciona ao meu lado. — Quando a
bola estiver vindo por aqui, Clark — Haley faz o movimento direcionando a bola na boca do
meu estômago —, esse cotovelo tem que ficar alto — ele eleva meu cotovelo direito. — Quando
sentir a pressão dela na boca do seu estômago, fecha o braço.
— Certo, treinador!
Posiciono-me e me preparo.
— Levanta o cotovelo, entrego a bola a você, faz o catch e dá um sprint de seis jardins, ok?
— Assinto. — 1, 2, 3, vai!
Haley me faz repetir o passe cinco vezes até ficar satisfeito com meu desempenho. A bola
acerta forte meu estômago e no mesmo instante disparo no campo, forçando meus músculos.
— Sean, quero que treine o Sack — Haley grita e me encara quando retorno. — Faça uma
pausa de dez minutos e se prepare para treinar sua defensiva, quero ver como está.
— Sim, senhor.
Ele se afasta, assoprando o apito para Connor Hastins, o quarterback do time. Retiro o
capacete e caminho na direção da caixa de gelo com as garrafas de água.
Um dos auxiliares me entrega uma garrafinha enquanto coloco meu capacete no chão.
Abro-a, giro o corpo e olho pelo campo, assistindo todos treinarem bloqueios, tackes e
velocidade no campo.
Os treinos dessa semana foram puxados. Algumas vezes acreditei que teria um ataque
cardíaco tamanho esforço, tirando o fato que ao jogar contra os titulares, Ben quase me quebrou
ao cometer uma falta três dias atrás no campo, pensei que nunca mais iria voltar a respirar.
O cara é um monstro de 1,93m de altura, forte pra cacete. Já o Sean, running back titular,
ficava me observando de forma predatória. Sua rivalidade é algo pessoal que prefiro não
comentar.
Suor escorre por minha testa e tomo outro gole de água, o sol do Texas parece fritar meus
miolos. Com os olhos de volta ao campo, observo Sean e Connor executarem saltos horizontais,
sentindo vontade de fazer parte do time titular, mas com receio de falhar como das poucas vezes
em que tive oportunidade de jogar.
Sou alto, ágil, veloz e forte, mesmo aparentando poucos músculos por causa da minha
genética, tenho tudo o que um quarterback precisa, menos a confiança, que nem sei para onde ela
foi.
Por favor, se você a encontrar andando por aí, traga-a para mim, okay?
Olho para o treinador e lembro do meu pai, que atualmente é o treinador do Dallas
Cawboys, o melhor time do Texas, para o meu azar.
Tendo um pai tão famoso, o que se espera do seu filho? Que seja tão bom quanto.
O medo de falhar é muito maior diante dessa realidade, apesar que meu pai não é exigente
ou rigoroso, querendo me transformar no jogador que ele era antes, no entanto, quero mostrar ao
senhor Clark que herdei o sangue de um campeão. Quero que ele me veja no campo do início ao
fim... Quero que todos me vejam e digam: “Olhem, aquele é o filho do Sullivan Clark.”
Bom, quem sabe um dia isso aconteça.
Solto uma risada do nada ao recordar da vez em que joguei e que meu pai estava presente,
quase tive as bolas esmagadas mesmo com o protetor. Não sei o que aconteceu, mas fui retirado
do campo em cima de uma maca e tive que colocar gelo no pau por uma semana, tendo que
caminhar com as pernas abertas.
Merda, tive que ir ao médico também. Imagine a derrota!
Que vergonha!
Alana pegou no meu pé por um mês, fazendo graça com esse episódio trágico na minha
carreira, desde então não voltei para o campo.
Ah, e os caras me chacota até hoje, depois daquele dia me apelidaram de bolas amassadas.
Reviro os olhos com raiva, só espero um dia poder mostrar a eles do que sou capaz... se eu for
capaz, não é?
Ouço assovios e olho para eles, escutando piadinhas das quais desaprovo, e percebo o
motivo da mudança de comportamento. As cheerleaders adentram no campo, vestindo leggings,
top vermelho com as iniciais UH, tênis e agitando os pompons brancos na direção dos jogadores.
Elas os sacodem rindo e os caras parecem cachorros no cio, consigo enxergar a baba
pingando no chão. As meninas param na outra extremidade do campo, e instantaneamente meus
olhos procuram por Alana, encontrando-a ao lado de Abby e Maddy, suas “amigas”.
Seus cabelos negros brilham em uma trança raiz. Alana fica tão engraçada ao lado dessas
garotas que são maiores que ela. Minha melhor amiga parece um Pinscher em meio aos
Rottweilers.
Solto uma risada. Jesus, se eu disser isso, ela nunca mais fala comigo, e como se estivesse
sentindo que eu a observo, Alana vira para trás e me flagra encarando-a.
— Oi! — Ela movimenta apenas a boca ao me cumprimentar.
Retribuo.
Alana sorri, diz algo para as meninas e vem em minha direção. Olho para o treinador
focado em uma conversa calorosa com Connor.
Faltam cinco minutos, então aperto o passo de encontro a ela com a garrafinha na mão.
— Treinando muito? — pergunta, agitando o pompom no meu rosto quando paro diante de
si.
Afasto essa coisa com o antebraço. Ela sempre faz isso, só para me irritar.
— Hoje o treinador judiou de mim.
— Tadinho do meu Pet. — Alana faz um bico de dó. — Agradeça que não é o seu pai.
Estremeço só de imaginar. Senhor Sullivan faz os seus jogadores chegarem ao extremo do
limite.
— Estou satisfeito com Haley.
Alana umedece os lábios e me fita com um sorriso malicioso.
— Que sorriso é esse? — Indago, franzindo a testa.
Ela joga a trança para trás do ombro direito, dando um beijinho nele, triunfante.
— Consegui um encontro hoje à noite — conta. — Estava de olho nele há um ano.
Suspiro, nada surpreso com essa novidade que soltou. Alana sempre sai com caras
diferentes, não dá nem tempo de esfriar e já aparece com outro. Ainda bem que não saio com ela,
senão já teria enlouquecido indo para essas festas barulhentas.
— Poxa, Pet, fica feliz por mim — ela resmunga me puxando do devaneio.
Forço um sorriso.
— Uau, que grande novidade. — Ralho, fazendo-a revirar os olhos. — Quem é o sortudo
da vez?
— Conan Fox, do time de basquete — fala, fitando o pompom.
— O que esse cara tem de interessante? — pergunto, levando o bico da garrafa à boca e
tomando um pouco de água.
— Dizem que ele tem um pau grande e grosso. — Cuspo toda a água em seu rosto,
molhando-a.
Alana ri, cambaleando para trás.
— Que merda, Alana Moore! — repreendo-a, querendo de fato dar-lhe um tapa.
— Um dia você vai chegar em mim e dizer: “Fodi com tal garota e a boceta dela era
bastante apertada!” — Imita minha voz, gargalhando de mim.
Um calor sobe pelo meu pescoço e se instala nas minhas bochechas, dizendo que estou
vermelho de vergonha com o quanto ela está sendo debochada.
— Tia Margaret esqueceu de lavar sua boca com sabão, tenho certeza — resmungo.
Alana ri mais um pouco, limpando a água que cuspi do seu rosto.
— Perdoe-me, Pet, não me aguentei.
— Há-há, engraçadinha!
Fecho a cara e esfrego a mão pelo pescoço, percorrendo meus olhos pelo seu corpo
modelado pela dança e academia. Estico a mão e cutuco o piercing no seu umbigo, uma estrela
com glitter rosa.
— Quem te deu?
— Gostou?
— É bonitinho. — Abaixo a mão e afasto meus cabelos da testa suada.
— Meu irmão — responde, cutucando o piercing. — Ah, minha mãe enviou mensagem e
disse que é para a gente passar o domingo com ela.
— Legal!
— Você vai?
— Vou.
— Beleza, vou confirmar.
Tia Margaret é quase uma mãe para mim, sempre que vou lá, ela me empanturra de
comida.
— Você vai para casa esse sábado? — ela pergunta e assinto. — E você está triste por que
seu pai vai vir no jogo e não irá vê-lo jogar? — Cutuco outra vez seu piercing, retraído.
— Não queria decepcioná-lo.
— Você já é o orgulho dele, Pet, mesmo sendo um reserva — diz, segurando meu pulso e
afastando minha mão da estrela.
— Voltando ao seu encontro, como que aconteceu esse pedido?
Alana abre um sorriso lindo que eu acompanho.
— Já estava de olho nele há algum tempinho, então tomei coragem e o chamei para sair.
— Só isso?
— Não precisa ser complicado, Rhavi — diz, jogando o pompom em mim, dou um passo
para o lado e desvio dele, vendo-o cair na grama.
— Não foi por causa do pau dele? — indago, rindo.
— Não, seu bobo! Só brincando com você.
— E ele aceitou de primeira?
— Por que ele iria recusar? — Alana passa por mim, abaixa e pega o pompom. — É só
uma foda, nada mais.
Enrugo o nariz, ela faz soar tão natural como a luz do dia.
— Usa camisinha, okay?
Ouço sua risada.
— Sabe, Rhavi, você tem que cair em si que sexo não é errado. — Ela me olha. — Você
precisa deixar de ser virgem
— Como?
— Fodendo com alguma garota. — Alana revira os olhos.
Trinco os dentes, lembrando das palavras da minha mãe de quando dizia que não existe
nada mais lindo do que perder a virgindade com alguém especial, só que nunca encontrei esse
alguém.
— Rhavi?
— Hum?
— Não olha para trás, mas Leanne acabou de chegar e está olhando em nossa direção.
— O quê? — Olho para trás de uma vez, perdendo o ar ao encontrar com os olhos da
minha vizinha preso em nós.
Ela acena para Alana que retribui. Tento sugar o ar, mas acabo me engasgando com a
saliva.
— Eu disse para você não olhar, caramba!
Como se fosse possível controlar a curiosidade.
Tusso várias vezes, ficando vermelho de novo.
— Se controla, ela está te olhando.
Dou as costas para a minha vizinha, desesperado por ar e tentando controlar a tosse. Alana
começa a rir.
— Meninas vamos começar? — Sua treinadora grita.
— Preciso ir agora — Alana diz.
Inspiro fundo com mais calma.
— Tá!
— Sua sorte é que ela é bem legal e estou me tornando sua amiga, ou seja, preparando seu
terreno — informa, jogando uma piscadela. — Tchau! Depois conto se Conan tem pau grande.
— Não quero saber.
— Quer sim! — grita enquanto corre na direção da sua equipe.
Ao chegar, ela abraça Leanne que ri do seu jeito animado. Então, de repente, Alana aponta
em minha direção, meu coração sobe na garganta e desvio meu olhar no instante em que minha
vizinha se vira para me encarar.
Okay... eu sou um cagão!
— Clark, seus minutos acabaram! — O treinador berra.
— Estou indo, senhor! — sussurro voltando para pegar meu capacete, deixo a garrafinha
vazia no chão e corro na sua direção.
Meia hora depois o time reserva está formado para jogar contra o titular, e nas próximas
duas horas, evito a todo custo olhar para o grupo das cheerleaders.
Caminho pelas escadas do Centro Estudantil, um espaço voltado para os estudantes, que
abriga cinema, salas de jogos, salas de estudos e diversas outras opções. Funciona como um
shopping onde nos reunimos para compartilhar momentos, proporcionando uma pausa na rotina
de estudos.
Desvio das pessoas que ocupam os degraus, rindo e conversando. Já que Alana está em um
encontro, decido aceitar o convite do Aidan e da Liza para jogarmos boliche, mesmo relutante
em participar.
É bastante provável que eu perca para eles, já que meus amigos são excelentes quando se
trata de strikes. Sigo em direção à sala de boliche, passando pela sala de sinuca, onde reconheço
dois dos jogadores titulares do meu time. Eles me veem e levantam a mão em cumprimento
breve, ao qual apenas aceno com a cabeça, continuando meu caminho.
— Nosso RB chegou! — Liza se levanta do banco assim que entro na sala 06 de boliche, já
com os tênis apropriados que haviam sido reservados.
— Estou feliz por ter mudado de ideia — comenta Aidan, dando um gole em sua cerveja
enquanto permanece sentado.
— Apesar do cansaço, preciso espairecer a mente — digo, tirando uma latinha de Coca-
Cola do balde de gelo.
— Quando os jogos retornarem, mal terá tempo para nós, né? — Liza indaga, rodando a
sua cerveja.
— Sempre arranjo tempo para vocês — respondo, acomodando-me no banco.
Ela afasta os cachos do rosto e me encara, sorrindo. Liza Hackett é encantadora, doce e
delicada, com um coração inocente, mas ao mesmo tempo perspicaz quando se trata de conseguir
o que quer.
Nos tornamos amigos no primeiro dia de aula, como se já nos conhecêssemos há décadas,
e surpreendentemente, Alana nunca demonstrou ciúmes da nossa amizade, que é genuína.
— Estarei presente em todos os jogos, pode apostar. — Liza levanta sua cerveja.
Essa garota vive para os estudos, e seu único momento de lazer fora do alojamento é
quando planejamos algo para fazer; do contrário, ela raramente sai de seu quarto.
— Para ver o Rhavi ou outro jogador? — Aidan pergunta, olhando por cima dos óculos
para ela.
Liza o encara com a testa franzida, e logo seus ombros caem, indicando derrota.
— Sério? — faço um som de desaprovação com a língua. — Ele é um verdadeiro galinha.
— Eu sei disso — ela murmura, desviando o olhar para a pista de boliche. — Mas não é
por causa dele que assistirei aos jogos, você sabe. — Liza se endireita. — Connor Hastins nunca
vai me notar, assim como sua vizinha não vai te notar, Clark.
Faço uma careta, sentindo um aperto no peito.
— Liza está certa — Aidan acrescenta. — Viu o tamanho daquele cara?
— Ele a esmagaria — murmuro, relutante, porque assim como Alana, Liza é pequena.
— Qual é? — Ela se levanta, dá um passo para trás e aponta para si mesma. — Se Deus
fez, é porque cabe, né?
Solto uma risada, balançando a cabeça. Aidan gargalha, bagunçando seus cabelos e a
puxando de volta para seu peito. Liza se afasta.
— Cada um tem seu encaixe, Hackett — diz Aidan entre risadas. — Ou você quer colocar
Nova York dentro de Houston?
Dou mais uma risada, vendo as bochechas de Liza corarem de vergonha.
— Olha só vocês dois, hein! — ela nos repreende, sentando-se no banco. — Se um dia isso
acontecer, vou provar que cabe, okay?
— Okay — concordo, dando um gole no refrigerante.
— Onde está Alana? — pergunta Aidan, mudando de assunto.
Dou de ombros e olho para a latinha.
— Está em um encontro — revelo com um suspiro. — E, provavelmente, vai para alguma
festa depois.
— Essa aproveita a vida universitária — comenta Liza.
— Você deveria sair com ela, Liza — sugere Aidan, cutucando-a.
— O quê? — ela aponta para o próprio peito. — Ir nessas festas? Com Alana? — Liza
solta uma risada seca. — Não, obrigada.
— Ela apronta, não é?
Liza me encara por um segundo, abrindo um sorriso tranquilo.
— Moore é a Moore — diz, dando de ombros.
Fico chateado com suas palavras, mesmo que não tenha sido uma afirmação, sei que Alana
é capaz de fazer loucuras nessas festas.
Decido afastar esse sentimento do meu peito. Ela tem sua vida, eu tenho a minha, cada um
escolhe o caminho que vai seguir. Estarei lá caso Alana precise, mas não posso agir como um
pai.
— Bom — bato a latinha na mesa —, o que acham de perder para mim?
— Perder para você? — Liza estala os dedos. — É mole que vou deixar isso acontecer.
— Uma rodada de Sfot Bowling? — Aidan propõe, bebendo toda sua cerveja de uma vez.
— O que acham?
— Que vão perder bonito para Rhavi Clark — digo, dobrando a manga do moletom.
Aidan faz o mesmo, Liza ri, esfregando as mãos no tecido do seu vestido amarelo com
estampa de flores, e pega uma bola.
— Desculpe, rapazes — ela pisca para nós dois —, porque quando Liza Hackett está na
pista, ninguém vence — fala, jogando a bola e fazendo um striker.
— Certo. — Aidan esfrega as mãos. — Temos uma grande concorrente, Clark, não
podemos fazer feio, parceiro.
— Prepare-se para perder, Liza! — Meu amigo estende o punho, e eu bato no dele com o
meu. — Vamos jogar!
E durante duas horas, continuamos jogando e conversando, rindo e nos divertindo com
jogadas erradas, escorregões ao lançar a bola na pista e comentários sobre as fofocas que Liza
nos trouxe.
Estar com amigos não tem preço, encerrar um dia exaustivo entre risadas é impagável. A
única ressalva é a ausência de Alana, pois tenho certeza de que se ela estivesse aqui, teria sido
ainda melhor.
Ela faz muita falta! Mas se ela estiver feliz, essa ausência é compensada.

Enxugo o suor que escorre pelo rosto com a toalha e me posiciono na máquina leg press
45º, estabilizando tanto a lombar quanto a região torácica na cadeira. Coloco os dois pés e
aguardo o personal ajustar o peso.
— Vamos de 250 kg, hoje? — Marc me olha com um sorrisinho de lado.
— Se quiser me ver morrer, pode ser — resmungo.
Ele ri, adicionando o peso.
— Você consegue, Clark.
Arqueio uma sobrancelha, fitando o rosto do meu personal. O cara é um monstro, o
tamanho dos seus braços é surreal, e tenho certeza de que se ele me der um soco, eu me
desmonto por inteiro.
Não que o peso que tenha colocado seja impossível para mim. Meu único objetivo é
manter-me leve para correr pelo campo, praticando mais o cárdio, e a musculação serve apenas
para manter a força. O problema mesmo é que gosto de reclamar, ou melhor, fazer drama.
Marc me olha, sua pele negra reluz o suor que brota na sua testa pelo esforço de carregar
esses pesos.
— Tenho muita vontade de me vingar de você — murmuro, inspirando fundo, porque ele
sim, pega pesado no cárdio.
— Sei que tem. — Ele ri. — Vamos lá! Pronto?
— Não!
— Então vai assim mesmo. Quero dez repetições sem parar em quatro seções.
— Okay...
Destravo a máquina, desço o peso e a subo, controlando a respiração. Na quarta repetição,
sinto os músculos da minha perna reclamarem e começar a queimar. Faço uma careta quando o
peso começa a ficar insuportável.
— Não sobe o joelho inteiro, Rhavi — Marc orienta. — Sobe, não estica o joelho
totalmente e volta, não queremos uma lesão no início dos jogos.
Fecho os olhos, querendo gritar, e quando termino as seções, sinto os músculos pulsarem.
— Ótimo! — Ele bate em minha coxa. — Quero você no supino daqui um minuto.
— Sim, senhor! — falo, revirando os olhos.
Marc estala a língua e vai auxiliar Connor, que está no supino, só que com peso muito
maior do que costumo treinar. Desço as pernas trêmulas, pousando-as no chão, inclino para
pegar minha garrafa de água e dou um gole, acalmando a respiração.
— Fui tão mal na prova de anatomia. — Ergo a cabeça ao ouvir a voz da Alana. — Acabei
de conferir minha nota no portal. — Ela para diante de mim. — Você viu a sua?
— Olá, Pet — cumprimento com um sorriso.
— Oi! — Alana retribui, trocando a garrafinha que segura para a mão esquerda. — Diga
qual foi sua nota.
Seu olhar curioso me diverte.
— Quer saber de verdade? — indago, dando um gole na minha água.
Alana coloca a mão direita em sua cintura exposta. Ela está vestindo um top e uma saia na
cor vermelha, com detalhes em branco; o uniforme das animadoras de torcida da universidade, e
provavelmente vai treinar com a equipe, fazer fotos ou até mesmo vídeos para o TikTok.
— Rhavi?
— Se você adivinhar, eu te dou um chocolate de morango que ganhei ontem da Liza. —
Olho para ela.
Alana enruga o nariz.
— É aquele com embalagem cor-de-rosa? — Fico encarando seus olhos castanhos
brilharem.
— Sim — digo, lentamente.
— Então... — Ela coça a cabeça.
— Você não fez isso, Alana!
Sua risada sem graça me dá uma pitada de raiva.
— Desculpa, não resisti.
— Qual é...
— Perdão, Pet! — Alana faz um bico de culpada, mas é só fingimento mesmo, porque ela
não sente um pingo de remorso por ter roubado meu chocolate dentro da minha geladeira.
— E agora? Como vou saber se é gostoso ou não? — indago, chateado.
— Era gostoso... — ela abana a mão. — Gostoso não, era delicioso!
Fito-a com olhos estreitos, não achando graça nenhuma. Não é a primeira vez que ela
rouba meus chocolates. Na verdade, tenho que esconder todos dela, porque ela não pode nem
sentir o cheiro desse doce que já está com ele dentro da boca.
— Vou te dar outro. — Garante, segurando a risada.
— Foi a mãe da Liza que fez e pelo que estou sabendo, você ganhou três dela — rebato. —
E eu só ganhei um.
Ficamos encarando um ao outro por alguns segundos, solto um suspiro e desmancho a cara
de bunda que estava fazendo. Poxa, nem sei a última vez que comi um chocolate por causa da
dieta restrita que tenho que seguir, e quando recebo essa chance, ele é roubado.
Que legal!
— Vou esconder todos os meus doces de agora em diante.
— Não vai, não.
— Vou sim!
— Eu encontro, você sabe! — Lanço um olhar mortal e Alana ri.
— Fechei a prova — conto, voltando ao assunto principal.
— O quê? — Ela arregala os olhos. — Aquela prova estava muito difícil, como conseguiu
decorar aqueles trinta músculos e nervos?
Dou de ombros, tranquilo recordando da prova prática de anatomia em que tínhamos que
enumerar cada parte marcada com um alfinete, tendo apenas um minuto para responder.
— Estudei.
— Eu estudei pra caramba e não acertei nem metade daquela porcaria — resmunga,
fitando-me com perplexidade. — Vou ter que rebolar para tirar uma nota maior na próxima.
— Posso te ajudar.
Alana sorri.
— Claro que vai me ajudar — diz, balançando a garrafinha.
— Agora me conta — estico as pernas para alongá-las —, como foi seu encontro?
Ela chupa os dentes, olha para os lados e volta a me encarar.
— Foi... interessante.
— Interessante? — Ergo as sobrancelhas.
Alana coça a cabeça e abre os braços como se estivesse mostrando o tamanho de alguma
coisa, então vai diminuindo com a mão até chegar em uns 10 centímetros e fica em silêncio por
alguns segundos antes de me encarar nos olhos.
Um riso sobe por minha garganta ao constatar qual era sua intenção com esse gesto.
— Acho que fui com muita gula no pote — alega.
Jogo a cabeça para trás e gargalho, sem acreditar no que acabou de falar.
— Olha, não era tudo aquilo que estavam falando não!
— Então... era pequeno? — Volto a encará-la, controlando minha risada.
Sua expressão é uma mistura de decepção e diversão.
— Hum... assim, eu esperava mais. — Ela ri.
— Meu Deus, Pet!
— O quê? — indaga. — Não tenho culpa se essas mulheres mentem e...
— Não quero saber dos detalhes — corto-a. — O que quero saber é se você se divertiu.
— Apesar da surpresa, foi legal. — Ela sorri com sinceridade.
— Que bom.
— E o que você fez ontem à noite? — pergunta, dando um gole na sua água.
— Encontrei com Aidan e Liza para jogarmos boliche — respondo, alongando a
panturrilha. — Ela nos fez passar vergonha.
— Liza é ótima no boliche — comenta. — Estou surpresa por você ter saído da toca e não
ter ficado jogando no computador, assistindo anime ou lendo algum dos seus livros.
— Uma certa pessoa uma vez me disse que eu precisava socializar de vez em quando.
— Essa pessoa está certa. — Rio do seu jeito. — Fiquei sabendo que vai ter uma festa no
domingo à noite na República do Connor — comenta, fitando-me com segundas intenções.
— E? — estico o braço esquerdo e o alongo.
— E que só irá quem tiver convite, não fui convidada. — Ela faz um bico, aquele brilho
travesso retornando aos seus olhos.
— Não!
— Qual é, Pet? — Ela bate o pé e umedece os lábios. — Você é da equipe dele, tenho
certeza que se comentar sobre a festa, imediatamente fará ele te convidar.
— Não somos amigos — respondo, alongando o outro braço. — Foram poucas palavras
trocadas nesses quatro anos que estou na equipe, e quando conversamos é sobre estratégias de
jogo.
— Aposto que você deve ser um ratinho se escondendo de todos para não ser notado — ela
diz em um tom de repreensão. — Rhavi Clark, você tem que ter amigos, conhecer pessoas...
Cara, eles são da sua equipe, quase uma família.
— Penso diferente — retruco, incomodado. — Estou ali para jogar, fazer meu papel, nada
mais que isso.
— Rhavi... Jesus! — Alana esfrega o rosto e suspira, deixando os ombros caírem. — Tudo
bem, vou conseguir esse convite.
Sorrio de lado.
— Nunca duvidei de você, Pet.
— Desmancha esse sorrisinho, Clark — ela aponta o dedo indicador em minha direção,
parecendo estar com raiva. — Você tem que parar de agir dessa forma, um nerd recluso não se
encaixa mais no século XXI.
— Desculpa te informar, senhorita Moore, que esse sou eu — aponto para o meu peito.
— Por pouco tempo, Rhavi, por pouco tempo... — Ela cruza os braços e fica me encarando
por mais alguns segundos. — Pet, você tem que sair de dentro dessa bolha que criou, tem
pessoas legais por aí esperando por você.
— Estou bem tendo só você e meu pai — murmuro, sentando-me no banco.
Um nó se aloja na minha garganta quando a imagem da minha mãe vem à mente, da dor de
não a ter mais aqui e de como perdi meu chão. Ela era tudo para mim, era ela quem me acolhia
quando ficava triste por sofrer com os valentões do colégio.
— E a Leanne? — indaga, arrancando-me da dor. — Como você vai conquistar sua
vizinha se está preso dentro de uma bolha que não permite que ninguém se aproxime?
Comprimo meus lábios.
— Você gosta dela, Rhavi? — sua pergunta faz com que meu coração bata mais forte. —
Porque não é o que parece.
— Claro que gosto dela — respondo, desconfortável. — Gosto muito... acho! — Pisco,
sem coragem de encarar Alana.
— Então você precisa lutar por ela — diz. — Essa festa é o início.
Ergo a cabeça e a encaro.
— O quê?
— Leanne foi convidada pelo Ryder Ford, ou seja, ela vai estar naquela festa e se você me
ajudar a descolar o convite, farei de tudo para ela te enxergar.
Esfrego meu pulso, desviando do olhar intenso que Alana joga em minha direção, sentindo
minhas bochechas queimarem.
— E aí? — ela chuta meu tênis. — Qual vai ser?
Fecho as mãos em punho, sentindo-as suarem só de me imaginar no meio daquela festa ou
conversando com Leanne... Jesus, e se acontecer algo constrangedor? E se eu passar vergonha?
Não... Não... Nem pensar!
— Vou ficar na casa do meu pai — digo, balançando a cabeça. — Segunda não vai ter
aula, só treino à tarde, então passarei mais um tempo com ele.
— Para de fugir, Rhavi!
— Não estou fugindo, mas... posso tentar arrumar o ingresso para você. — Olho para
Alana.
— Jura?
— Posso tentar — repito, esfregando as mãos. — Não quer dizer que conseguirei.
— Bom, é o começo — diz, animada. — Vai falar com Connor agora?
Engulo em seco e volto meu olhar para trás, procurando Connor pela academia. O encontro
sentado na escada que leva ao andar de cima, onde ocorrem as aulas de dança. Entre risadas com
seus amigos, ele parece distraído após concluir seu treino. Desvio meu olhar, percorrendo
novamente a academia, captando o som dos aparelhos e da música country em uma fusão
eletrônica.
— Depois — comento, sem coragem suficiente para outra coisa.
— Vai agora — ela ordena.
— Preciso concluir meu treino, Marc já está me lançando olhares desaprovadores —
rebato, encarando-a. — Prometo que vou falar com ele.
Alana ergue uma sobrancelha, cheia de dúvidas, pois eu vou, sim, enrolá-la. Passada a
festa, inventarei qualquer desculpa justificando por que não conversei com Connor.
— Tudo bem, Rhavi! — Alana descruza os braços e sorri para mim. — Te conheço o
suficiente para saber que você não vai abordar o Connor.
Permaneço em silêncio, um tanto decepcionado comigo mesmo por isso.
— Eu vou falar...
— Não será necessário — ela afirma, lançando-me uma piscadela antes de se afastar.
— Alana, o que você... — Calo-me ao perceber que ela está se dirigindo a Connor.
Ela evita se envolver com os rapazes do time por dois motivos: um porque já namorou um
deles e dois, por minha causa. Alana passa por Sean, que corre na esteira; seus olhos de águia se
fixam nela e meu coração acelera.
Ele diz algo a ela, fazendo-a parar e encará-lo. Não compreendo o que é dito pelo barulho
ambiente, mas é algo que chama a atenção de minha amiga.
Sean diminui a velocidade da esteira até parar. Ele enxuga o rosto enquanto continua a
falar com Alana, que concorda com a cabeça, mas demonstra insatisfação por ele tê-la
interrompido.
Cerro os punhos, não gostando dessa interação, e como se percebesse minha preocupação,
Alana me lança um olhar tranquilo. Sean, por sua vez, me encara com uma expressão que indica
que está louco para me pegar na porrada.
Lembra-se de quando mencionei que ele tinha algo pessoal que nos tornou inimigos? Bem,
o nome desse algo é Alana Moore, sua ex-namorada e minha melhor amiga.
Tudo começou no segundo ano da faculdade quando ele se interessou por ela. Eles
namoraram por seis meses, o que foi o relacionamento mais duradouro de Alana.
Ela estava feliz com ele, Sean até era agradável durante esse período, mas algo aconteceu
no quinto mês, ou foi quando percebi que o relacionamento não era mais saudável.
Sean passou a me olhar com desagrado. Alana alegou que estavam brigando demais, sem
fornecer detalhes, então percebi que eu poderia ser o problema. A confirmação veio ao escutar
uma das piores discussões do casal atrás da porta. Ela encerrou o namoro e nunca mais quis saber
de Sean.
Nunca descobri os verdadeiros motivos do término; Alana nunca quis me contar.
— Vamos continuar, parceiro! — Marc bate em meu ombro, me surpreendendo.
Olho para o meu personal, que ajusta os pesos na barra de ferro.
— Claro — digo, pigarreando.
— Vinte repetições em quatro sessões, com intervalo de um minuto, a última até a falha —
ele me olha divertido. — Vai ter fôlego para esse desafio?
— Se eu não tiver, a gente dá um jeito — brinco, arrancando uma risada dele.
Volto a direcionar meu olhar para Alana. Ela troca palavras com Sean e se distancia dele,
dirigindo-se a Connor, que a recebe com um sorriso enorme que me faz torcer o rosto.
Com uma respiração profunda, deito-me no banco e concentro-me no meu treino, contando
com a orientação de Marc. Alana sempre consegue o que quer, só preciso encontrar uma
desculpa para declinar do convite dela para essa maldita festa.
Dez minutos mais tarde, com meus braços trêmulos e músculos doloridos, volto meu olhar
para Connor. Alana ainda está lá com ele, rindo de alguma piada feita pelos outros caras. Ela
pega o celular, digita algo, e segundos depois o meu apita.
Retiro do bolso do short, desbloqueio a tela e abro o SMS recém-chegado.
PET: Olha que legal, fui
convidada!!! Se prepara, temos um compromisso
no domingo à noite, sem não como resposta.

EU: Sem chances!

PET:

Travo o celular e o devolvo ao bolso, ignorando Alana, que tenho certeza que me encara
com as sobrancelhas franzidas, claramente insatisfeita com minha resposta. Agora, o desafio é
encontrar uma maneira de escapar dessa festa em que Leanne estará presente.
É uma oportunidade de me aproximar da minha vizinha? Sim, é óbvio, mas... preferiria que
não fosse em uma festa.
No sábado de manhã, estaciono a caminhonete em frente à minha casa, sentindo a nostalgia
apertar meu peito. Apesar de meu pai ter dinheiro, ele nunca foi um cara que ostentou riqueza,
sempre optou pelo mais simples. E foi em um jogo de futebol que conheceu minha mãe; uma
escritora de romances.
Recosto no banco, deixando minhas mãos repousarem sobre o colo enquanto encaro a casa
de dois andares na cor branca com um jardim tão lindo que dá inveja em qualquer vizinho.
Minha mãe, Jane Lynch, era a esposa, mãe e mulher perfeita, de um coração tão grande
que não cabia no peito. Amava tudo que era bonito: jardins, pintura, decoração, livros e animes...
tudo o que você imaginar, ela gostava.
Herdei esse lado nerd dela, porque a parte de garanhão e pegador do meu pai nunca esteve
no meu sangue.
— Estou de volta, mamãe — sussurro com um nó na garganta.
A dor da perda nunca fica mais fácil, a gente aprende a lidar com ela, e mesmo tendo se
passado cinco anos desde o último dia em que a vi, é como se tudo tivesse acontecido há poucos
dias.
Meu pai nunca quis se mudar daqui, onde estão presentes as lembranças dos seus melhores
momentos; o lugar onde construíram uma família dos sonhos. O jardim se manteve intacto, mais
lindo que quando mamãe estava viva.
O primeiro ano foi o mais difícil, mas decidimos seguir em frente, ela ficaria feliz que
fizéssemos isso. Dois anos atrás, meu pai arrumou uma namorada seis anos mais velha que eu e
estão felizes, hoje, morando juntos.
Abro a porta da caminhonete e desço, determinado a não ficar melancólico como todas as
vezes em que volto para casa. Pego a bolsa no banco do passageiro, já ouvindo o Pingo —
cachorrinho da minha madrasta — latir em desespero.
A história do nome dele é bem engraçadinha e meio sem sentido. Lauren soube que a
cadela da sua amiga estava parindo, então me carregou para que eu ajudasse a escolher um
bichinho para lhe fazer companhia enquanto meu pai trabalhava.
Fui com ela, chegando lá, havia três filhotinhos de Pinscher na cor preta, na verdade,
pareciam manchas de tinta de tão pequeninos que eram. Quando peguei um em específico na
palma da mão, Lauren percebeu uma pinta no seu pescoço, como se tivesse caído um pingo de
tinta marrom, então foi aí que ela decidiu que o chamaria de “Pingo”.
Meio sem graça, né?
Mas no dia foi bem divertido.
Envolvo a maçaneta, rodo-a e abro a porta, inspirando o cheiro de menta ao adentrar em
casa. Um cheiro tão familiar que me envolve como se ela estivesse dizendo: “bem-vindo de
volta, Clark!”
Fecho a porta e quando viro para frente, um estalo alto me faz sobressaltar e uma lufada de
fumaça de pó da cor vermelha me cobre por inteiro. Fico paralisado, meu coração batendo
acelerado por causa do susto, ouço risadas e quando a fumaça abaixa, outro estalo soa alto.
— Qual é? — resmungo, tirando os óculos todo coberto por essa poeira vermelha e
confetes.
— Bem-vindo, Clark! — meu pai grita entre risadas e ouço o bastão de fumaça cair no
chão ao ser jogado.
— Estamos felizes por seu retorno, baby — Lauren diz à minha frente com o bastão de
confetes. Seus olhos castanhos brilham de alegria ao me verem sujo de pó. Estico meus lábios e
começo a rir e eles acompanham.
— Olha o que fizeram com minha jaqueta — resmungo, deixando a bolsa no chão. —
Comprei ontem na loja da universidade.
— Nada que uma boa lavada não resolva — meu pai diz, puxando-me para seus braços
fortes e musculosos. — Saudades do meu filhote.
— Oi, pai! — Retribuo o abraço.
Lauren pega meus óculos da minha mão.
— Como você está? — Meu pai me afasta e envolve meu rosto com suas mãos.
Eu sou alto, mas não tenho os dois metros de altura que esse homem tem, muito menos a
genética de criar músculos, ou da sua pele morena, ou dos seus olhos cor de folha seca. Sou a
cópia da minha mãe, e para não dizer que não tenho nada do meu pai, herdei um pouco do seu
tamanho e a pinta no canto do meu olho direito.
— Estou bem, pai — respondo, voltando a abraçá-lo.
— Meu filhotinho nos meus braços de novo é tudo o que mais desejei.
Sorrio, sendo acolhido, matando a saudade de ter ficado duas semanas e meia sem vê-lo.
— Aqui, baby! — Lauren devolve meus óculos e os coloco no rosto, vendo-a mais
nitidamente.
Ela sorri, percorrendo a mão pelos cabelos cor-de-rosa. Nunca julguei meu pai por ter
escolhido uma mulher bem mais jovem que ele, e se ela o faz feliz, eu a aceito como todo o meu
coração.
Afasto do meu pai e retiro minha jaqueta.
— Comprei uma para você, Lauren — digo a ela, indo até minha bolsa, abro e tiro de
dentro uma jaqueta vermelha com detalhes em branco e as iniciais UH da Universidade de
Houston.
— Ah, meu Deus! — ela comemora, tirando-a da embalagem e vestindo-a. — O que acha,
amor?
— Ficou perfeita — meu pai elogia, olhando-a com admiração.
— Obrigada, Rhavi! — Ela agradece, dando-me um beijo no topo da cabeça.
— Por nada! — Pigarreio, fechando minha bolsa de novo. — Então, onde está o Pingo?
— Deixei-o no sol para secar — Lauren responde. — Dei um banho naquele vermezinho,
porque o bonitinho rolou em alguma coisa muito fedorenta que não sei onde encontrou.
Rio, ele é terrível.
— Filhote — meu pai me chama —, leve suas coisas para cima que estou preparando um
churrasco do jeito que você gosta.
— Opa! — digo, já me erguendo. — Por isso que amo voltar para casa, sou sempre
mimado.
— Enquanto você se acomoda, vamos dar um jeito nessa bagunça — Lauren diz, estalando
a língua. — Ideia do seu pai, baby.
Um riso escapa da minha garganta ao olhar para a sujeira, tanto a porta quanto a parede e o
chão estão cobertos por poeira vermelha misturada com confetes.
Agarro minha bolsa, bato na barriga trincada do meu pai e subo correndo as escadas na
direção do meu quarto; meu refúgio. Abro a porta e sinto-me entrando em um novo mundo,
aquele que me tira da realidade em que vivemos.
Deixo a bolsa sobre a cama e percorro meus olhos pelos pôsteres de cinema do Homem
Aranha, Dr. Estranho... Cara eu amo esse personagem. Fito o pôster do Homem de Ferro, esse é
outro que me tem como fã de carteirinha.
À minha esquerda se encontra a estante de livros e de mangás. Sobre as prateleiras há
funkos pop de todos os personagens do Harry Potter e do Jiraiya do anime Naruto.
Na estante atrás de mim, há mais livros de romances, só que esses eram da coleção da
minha mãe, muitos deles ela não teve a oportunidade de ler, e aqueles que leu, está registrado nas
suas anotações e pensamentos. Jane era uma leitora que amava conversar durante a leitura, mas
com os personagens, cada final de capítulo ela narrava seus sentimentos através das folhas
amareladas.
Seguro a emoção, matando a saudade dos meus Action-figure dos meus personagens
preferidos, como do Kira do Death Note, Hatake Kakashi, do Dragon Ball...
Você deve estar se perguntando para que tudo isso? Bom... sou um colecionador nato,
okay? E os meus preferidos mesmo estão no meu apartamento, jamais teria coragem de
abandoná-los.
— Ah, olha só para você — digo ao me aproximar do nicho de vidro com o mapa do
maroto entreaberto dentro. — E aí, amigão!
Sorrio abertamente, porque não foi nada fácil conseguir essa peça, e ao seu lado está o
suporte de varinhas de uma versão menor do Harry Potter.
— Estou mesmo em casa.
Respiro fundo. Meu pai manteve meu quarto intocável, tenho certeza de que nem Lauren
teve coragem de entrar aqui com tantas coisas de valor; não em relação ao dinheiro, mas
sentimental.
Apanho uma toalha de dentro do meu guarda-roupa, passo pelos colares de encontro a esse
universo que vivi ao longo da minha vida — alguns com minha mãe e outros sozinho — e entro
no banheiro para tirar toda essa sujeira. Ao me despir, meu celular apita desesperado.
Reviro os olhos ao tirá-lo do bolso, pois a pessoa do outro lado deve estar morrendo, só
pode. Vinte mensagens não lidas em menos de um minuto.
PET: Eiiiiiii!!!! Eiiiiii!!!!
Oieeeeeeeeeee
Cadê você?????? Hein???????
Não vai me responder, não???
Você chegou bem??? Está tudo bem????

Aquele diabinho do Pingo arrancou seu pau com uma mordida???? Bem que se eu cuspir, é capaz dele se afogar
kaskaskas Coitadinho... é tão pequenininho!!!!

EU: Oi!! Aconteceu alguma coisa, Alana??

PET: Sim, você não me respondeu!! Você chegou bem?

EU: Cheguei bem sim, e já fui recepcionado com fumaça vermelha e confetes.

PET: kaskaskas seu pai é o melhor!!! Ele sempre faz isso.

EU: Não ria!!! Estou todo sujo!

PET: Tome um belo banho que isso resolve!

EU: O que você está fazendo?

PET: Conversando com você!

EU:

PET: Estou descansando com as meninas e adivinha quem está ao meu lado???

EU:

PET: A Leanneeeeeeeee

EU:

PET: Ela me perguntou sobre você!

EU: O QUÊ?????

PET: Ela perguntou quem era o cara que sempre anda comigo, então falei um pouquinho de você. Fiz aquele teatro te
vangloriando. Obrigada e de nada!

EU: O que mais?

PET: Ficou curiosa, óbvio! Disse que se você for em alguma festa é para eu lhe apresentar a ela.

EU: NÃO!!

PET: Siiiiiim!!!

EU: Pena que não vou a nenhuma festa!

PET: Mas é claro que você vai!

EU: Não irei!

PET: Para de ser bundão, Rhavi!

EU: Seja qual festa queira ir, não vou!


PET: Vai nem que seja amarrado! E olha que faço isso. Lembra de quando te carreguei para ir ao baile do colégio?

Faço uma pausa com um sorriso gigante ao me recordar desse dia. Alana recusou todos os
convites dos garotos apenas para ir comigo. No dia, eu amarelei, tranquei a porta para não ir, mas
ela deu um jeito de subir pela janela, agarrou meus cabelos e obrigou-me a ir naquele maldito
baile.
Sim, acredite, ela fez isso.
EU: Você se enrolou naquele vestido e caiu na frente de todo mundo.

PET: hahahahaha Mijei na roupa de tanto rir no meio daquele salão. Droga! Que vergonha. Ainda bem que nunca mais vi
aquelas pessoas.

EU: Mijona!

PET: Cala boca! Chegou bem então?

EU: Sim, meu pai vai fazer churrasco.

PET: Só porque não estou aí. Merda!

EU: Pois é...

PET: Se cuide, Pet, preciso voltar. Até amanhã!

EU: Até mais.

PET: Eu te amo!

EU: Também, mijona.

PET: Sua bunda!

Travo o celular e jogo-o no monte de roupa com um suspiro, sentindo-me bem por ter
conversado com ela. Segundos depois, mergulho no jato de água gelada do chuveiro, livrando-
me de todo o pó, renovando minhas forças para depois desse final de semana, retornar à minha
rotina intensa.

Na manhã seguinte, deitado na cama com os fones de ouvido, escutando Hans Zimmer ao
mesmo tempo em que leio o livro "Tempestades do Sul" da Brittainy C. Cherry, aguardo o
horário de ir à casa da Alana, que é a um quarteirão de distância da minha.
Ela provavelmente já deve ter chegado e está sendo paparicada pelos pais e pelo irmão
mais novo de doze anos. Pouso o livro em meu peito, pego o celular assim que a música acaba e
envio uma mensagem para ela.
EU: Você já está em casa?

Aproveito e entro no Instagram para navegar um pouco, porque se você quer saber o que
os universitários estão fazendo, é só ir ao perfil de cada um que irá descobrir. Sério, eles gostam
de mostrar toda sua vida regada de diversão.
Clico para ver os stories da Alana que é o primeiro a aparecer para mim. Há 13 horas, ela
postou sobre o treino com as meninas da sua equipe, fotos e até mesmo um pequeno vídeo
mostrando um pouco da coreografia que estava ensaiando. Curto todos e respondo,
principalmente quando chega o de hoje, duas horas atrás, um boomerang de um bolo de
chocolate.
Vou no seu feed, e quando meus olhos batem na sua última publicação, trinta minutos
atrás, meu coração acelera. É uma foto dela junto com Leanne, vestidas com as roupas de
animadoras de torcida com a legenda:
“O destino sempre coloca pessoas especiais em nosso caminho.”
Leanne sorri para a câmera, seus cabelos loiros brilhando com a luz do sol; na verdade, ela
parece o próprio sol. Clico na foto, vendo a marcação do seu perfil. Inspiro fundo e clico no seu
arroba, entrando direto no seu Instagram.
Certo, estou stalkeando a garota, mas... nossa, ela é perfeita. Fico vendo suas fotos por uns
bons cinco minutos, admirando-a, desejando-a. Um calor sobe pelo meu pescoço ao encarar sua
foto de biquíni na praia, seu corpo delineado...
— Jesus, estou fazendo errado — murmuro, levando o punho na boca e mordendo,
querendo tocar seu corpo como nunca toquei corpo algum.
Minha imaginação começa a ganhar vida, pisco, afastando esses pensamentos pecaminosos
para longe, ao mesmo tempo em que quero que eles se tornem realidade.
Saio do seu perfil quando uma parte em específico do meu corpo começa a acordar. Posso
até ser virgem, mas sou homem, tá legal? Essa foto dela é tentadora e é difícil não pensar
besteira. Não me julgue!
Abaixo o celular, fitando o teto. Cara, por que não herdei a safadeza do meu pai? Ele era o
maior garanhão quando era solteiro, sem contar as histórias das suas fodas que já me detalhou
em formas de dicas.
Sério, por que as pessoas têm a mania de me contar sobre suas transas? Será que pensam
que isso vai ajudar na minha primeira vez ou por que acham que não sinto vontade de comer
alguma garota?
Bufo, voltando a focar na leitura, pois através dela posso supor o que se passa na mente
dessas mulheres e... bom... aprendo coisas interessantes que talvez futuramente possa colocar em
prática.
Meu celular apita com a chegada de uma notificação. Pauso a leitura e pego o aparelho,
vendo o nome da Alana.
PET: Estou no mercado com minha mãe. A lindona me carregou para fazer compras.

EU: Quer que eu vá para te socorrer?

PET: Mesmo?

EU: Sem chances kaskaskas

PET: Bundão!

Ouço o barulho de unhas colidir contra o piso de madeira e olho para a porta, vendo Pingo
entrar que nem um foguete no meu quarto.
— Ei, parceiro! — Deixo tanto o celular quanto o livro no canto da cama e me inclino para
pegar o mini cachorro.
Pingo anda sob meu peito em direção ao meu pescoço, todo elétrico enquanto recebe
carinho. Rio e faço cócegas no seu corpinho, revirando os olhos quando se deita para virar de
barriga para cima, para acariciá-lo nessa região.
— Fico feliz todas as vezes que venho e te vejo — falo, beijando sua cabecinha. — Porque
o risco de ser pisoteado é demais ou até mesmo de se afogar em algum cuspe.
Ele se vira de novo e começa a me lamber, choramingando de animação.
— Para, estou sendo atacado por um animal feroz — brinco, fingindo estar sendo atacado.
Pingo começa a latir. — Nãoooooooo!
— O que está acontecendo aqui? — Lauren pergunta, interrompendo nossa luta.
Pingo se afasta e pula da cama para o chão de uma vez.
— Meu Deus! — digo, assustado. — Esse cachorro vai quebrar essas varetas que se chama
de pernas.
Ele fica pulando na perna da sua dona.
— Você precisa ver como ele desce essas escadas — fala, resmungando por suas unhas a
arranharem. — Vim devolver o livro que peguei da sua estante para ler.
Ela estende o livro da Lorraine Heath, um romance de época que ganhei da Alana, ano
passado.
— Você gostou?
— É bom — Lauren responde, adentrando no quarto e indo até a prateleira. — Mas não
sou muito fã de romance de época.
— Gosta é de putaria? Hein?
Ela me lança um olhar divertido por sobre o ombro.
— Shiiu!
Sorrio, observando-a estudar a estante em busca de uma nova leitura. Seu cabelo rosa está
preso em um coque bagunçado, expondo a tatuagem de uma aliança em seu pescoço.
— Alguma dica?
— Gosta de fantasia?
— Gosto.
— Harry Potter?
— Próxima dica.
— Chronos da Rysa Walker é muito bom. The girl from Every Where do Heidi Heilig é
bacana também.
— Esse do Heidi é sobre?
— Acho que é alguma coisa com piratas — respondo. — É uma utopia.
— Você já leu?
— Não — digo, rindo.
Lauren me olha sorrindo, entende que a estante de um leitor tem mais livros não lidos do
que lidos.
— Vou ler o primeiro então.
— Boa leitura! — Assisto-a apanhar o livro. — Depois me conta o que achou.
— Pode deixar — diz, se abaixando para pegar o Pingo. — Ah, fiz o pudim que me pediu
— conta, me olhando.
— Obrigado.
— Por nada, baby — ela sai do meu quarto, carregando um livro meu.
Sem querer voltar a leitura de antes, decido reassistir o anime Inu x Boku SS pela sexta
vez, é divertido e o protagonista é o cara mais cadelinha que já vi, tem até as orelhas de um.
Assim que dá a hora, me arrumo e desço, encontrando Lauren deitada no sofá com os olhos
cheios de lágrimas.
— O que foi? — pergunto, prendendo meus olhos no livro em que segura, reconhecendo-o
e sentindo um aperto no peito.
— Eu odeio sua mãe — ela murmura, enxugando as lágrimas. — Sério, se ela estivesse
viva, eu iria caçar essa mulher.
Comprimo meus lábios.
— Você está chorando por esse babaca? — comento, indo na cozinha para pegar uma
garrafinha de água.
Quando li pela primeira vez “O Último Adeus” escrito por minha mãe, eu fiquei que nem a
Lauren, chorei de soluçar, mas depois, me odiei por ter feito isso.
O cara a quem minha madrasta chora é o maior psicopata que já encontrei na literatura. Ele
engana todo mundo, faz todos se apaixonarem por ele para no fim, ser o culpado de tudo.
Minha mãe era meio psicopata na hora de escrever livros, para ser bem sincero com você,
nunca consegui entender sua mente maluca.
— O quê? — Lauren franze a testa. — Você está falando do Zach Ertz?
— Não sei, é dele que estava falando? — Faço-me de sonso ao perceber que joguei um
certo spoiler.
— Você não fez isso, Rhavi!
— Fiz o quê? — Pigarreio, abrindo a geladeira e tirando a travessa de pudim dentro dela.
— Não acredito que você jogou um spoiler na minha cara.
— Não joguei!
— Você disse que eu estava chorando por um babaca.
— Eu disse? — Olho para ela com um olhar de inocente.
— Merda! — Lauren xinga, se ajeitando no sofá. — Não saio daqui até descobrir a
verdade.
— Boa sorte! — digo, abrindo a porta. — Onde papai foi?
— Foi encontrar com seus jogadores, disse que estará de volta no fim da tarde para assistir
ao jogo de beisebol com você.
— Ah, sim!
Lauren desgruda os olhos do livro para me olhar.
— Tudo bem?
— Sim, sim — digo, suspirando. — Precisava da ajuda dele para me livrar de uma
situação.
Ela fecha o livro para me dar uma maior atenção.
— Eu posso te ajudar, se quiser — oferece.
— Depois conto, caso precise. — Lanço um sorrisinho sem graça em sua direção.
— Para se livrar de alguma festa que Alana quer te carregar, certo? — arrisca, acertando
precisamente no gol.
Mordo meu lábio inferior.
— Talvez.
— Por que você não vai dessa vez? — indaga. — Sair um pouco pode te fazer bem. Você é
jovem, precisa aproveitar.
— Prefiro ficar em casa — respondo, trocando a travessa de uma mão para a outra.
Lauren me olha por mais alguns segundos.
— Se precisar de ajuda, é só gritar, baby.
— Obrigado! — digo, agradecido. — Preciso ir, volto mais tarde.
— Até logo! — Ela se despede me lançando um sorriso carinhoso.
Saio de casa, sendo recepcionado pelo sol escaldante do Texas e caminho na direção da
casa de Alana, tentando encontrar uma desculpa para convencê-la da minha recusa, só que
quando penso que posso finalmente conhecer Leanne, a vontade de arriscar ir à festa cresce em
meu peito, durando pouco mais de um segundo.
Será que devo ir ou é melhor ficar em casa enfurnado em um jogo de computador?
Bato à porta, minutos depois ela é aberta pela mãe de Alana, Margaret Moore, uma mulher
baixa, cabelos negros e olhos castanhos como os da filha.
Seu sorriso se alarga ao me encarar, no instante seguinte ela está me abraçando forte, como
se não me visse há anos.
— Jesus, como você cresceu, Rhavi! — diz, dando um beijo estalado na minha bochecha.
— Acho que são os resultados dos treinos. — Lhe entrego a travessa de pudim. — Lauren
que fez.
— Aquela garota tem o dom para cozinhar — Margaret elogia. — Entre, menino, a casa é
sua, sabe disso.
Entro, percorrendo com o olhar a decoração em crochê que tanto sou apaixonado. Tia
Margaret já tentou me ensinar crochê algumas vezes, mas nunca consegui aprender.
— Kevin e Phelps estão no quintal preparando a churrasqueira — diz, pondo a travessa no
balcão. — ALANA, RHAVI CHEGOU! — ela grita. — Como está indo as coisas na
universidade?
— Bem — respondo, esfregando as mãos pela calça.
— E Alana? — ela indaga, arqueando uma sobrancelha, porque sabe que sua filha não é
quietinha.
— Mais responsável do que eu — digo meia verdade.
Margaret ri.
— Mais que você é impossível, querido! — Ela pega um pano de prato. — Em todo caso,
estou muito mais tranquila por você estar cuidando dela e sendo meus olhos.
Pigarreio, esfregando meu pescoço, tentando disfarçar meu deboche. É impossível segurar
Alana, ainda mais gostando tanto de ir em festas e beber.
— Ela está indo muito bem — falo, umedecendo os lábios. — Estudando muito e se
dedicando. — Minto na maior cara de pau.
Margaret estreita os olhos, me analisando. Disfarço ao pegar uma almofada.
— Essa fronha de crochê é nova? — Mudo de assunto.
— Aprendi vendo um vídeo no YouTube — responde, temperando a carne para fazer os
hambúrgueres. — Posso te ensinar mais tarde, o que acha?
— Perfeito — confirmo, já imaginando a paciência que terei para ao menos tentar
aprender. — Vai ser divertido.
Devolvo a almofada e me aproximo da bancada.
— Como está seu pai? — tia Margaret pergunta. — E como anda o casamento com a
Lauren?
Inclino para assisti-la preparar a carne. Além de ser a mãe de Alana, é minha amiga e a
enxergo como minha mãe também. Nunca esquecerei do dia em que me abraçou forte quando
minha mãe morreu, afirmando que nunca me deixaria sozinho.
— Ele está feliz — respondo, pegando uma uva da cesta de frutas. — Lauren faz bem para
ele.
— Que bom! — Margaret diz, enxugando as mãos. — Sempre a vejo correndo de manhã.
— Lauren é bem matinal. — Apoio o cotovelo na bancada e coloco o queixo na palma da
mão. — Meu pai reviveu depois que a conheceu e ela respeita muito minha mãe.
— Isso é muito bom! — Tia Margaret sorri para mim. — Estou muito feliz por vocês
terem seguido em frente.
Sorrio, mastigando outra uva.
— O que a Alana está fazendo?
— Ah, querido, aquela ali quando começa a dançar, esquece do mundo. Não entendo por
que não optou pelo curso de dança.
— Talvez por que queira fazer disso um hobby? — suponho.
Margaret me encara por um segundo, assentindo.
— Pode ser... — Ela pega uma vasilha para cozinhar as verduras. — Vai lá arrancar aquela
menina do seu mundo particular.
Solto uma risada, concordando com um aceno.
— Certo — digo, pegando mais duas uvas.
Subo as escadas de dois em dois degraus, adentro no corredor dos quartos e paro em frente
ao seu, na terceira porta à esquerda. Ouço barulhos de pés colidindo contra o piso de madeira,
empurro de leve a porta entreaberta e a vejo dançando em frente ao grande espelho com os fones
cor-de-rosa, vestindo um short marrom combinando com uma regata vermelha.
Alana move seu quadril, em seguida joga seus cabelos de uma forma sensual em sincronia
com a música que está ouvindo. Escoro no batente da porta, coloco as duas uvas na boca e
escorrego as mãos para dentro do bolso da calça, observando-a inerte em seu mundinho.
Alana dança tão leve e contente que acredito que esteja viajando em outra era. Seus
movimentos me conduzem a sorrir, e quando seus olhos se prendem nos meus pelo espelho ao
me notar, ela solta um grito, levando a mão ao coração.
— Puta merda, Rhavi! — exclama, tirando os fones. — Que susto, cara!
Sorrio, divertido.
— Estava bonita dançando. — Entro em seu quarto decorado de preto e branco.
Alana inspira fundo, se acalmando e se jogando na cama.
— Desculpa, me empolguei — fala, se apoiando nos cotovelos com a respiração acelerada.
— Quero sua ajuda.
Arqueio uma sobrancelha e começo a catar suas roupas espalhadas no chão. Alana é um
tanto desorganizada, e quando quer encontrar alguma peça de roupa, ela tira tudo do guarda-
roupa, levando uma vida para organizar tudo de novo.
— Dependendo, posso ajudar.
— A festa é hoje e não encontrei uma roupa bacana para vestir — choraminga, virando de
lado para me observar arrumar sua bagunça.
— Qualquer uma vai ficar bonita em você.
— Essa camisa é nova — ela comenta, fitando a estampa do personagem L do anime
Death Note.
— Meu pai que comprou para mim.
— Apesar de eu ter gostado, você não pode ir com esse tipo de roupa para a festa.
Estagno com uma calcinha na mão absorvendo o que acabou de declarar.
— Por quê? — pergunto com a testa franzida.
— É brega, Rhavi! — diz. — E nada atraente.
Respiro fundo, pegando outra calcinha e dobro-as para colocar na gaveta escancarada com
várias peças íntimas bagunçadas.
— Bom saber disso. — Ergo uma calcinha preta que é só o fio. — Como consegue usar
isso?
Olho para ela que dá de ombros.
— Usando.
Faço uma careta, imaginando o quanto isso deve incomodar.
— Alana?
— Hum?
— Acho que você que deveria estar arrumando essa desordem, não eu!
— Quem mandou você arrumar? — Lanço lhe um olhar de desaprovação.
Ela sorri inocentemente.
— Como que vai ser essa festa? — pergunto, fechando a gaveta das suas calcinhas agora
organizada e abro a parte onde fica seus vestidos.
— Não faço ideia. Nunca fui em uma festa que eles organizaram — diz, mexendo no seu
celular. — Sean nunca me levou para elas, parecia que tinha medo de me apresentar para os seus
amigos.
— Com toda razão. — Balbucio, concordando em partes com seu ex.
Connor, Ryder e Tayler são os maiores pegadores de Houston que conheço. Acredito que
noventa por cento das garotas já tenham passado pelas suas camas.
Então sim, entendo os motivos de Sean ter preservado sua namorada naquela época.
— O que você falou para Connor ter te convidado? — pergunto, curioso.
— Nada. — Ela me lança um olhar convencido. — Apenas comentei que fiquei sabendo
sobre a festa. Trocamos nossos números de telefone e ele me enviou o convite.
— Hum... — murmuro, desconfiado, percorrendo a mão pelos seus vestidos, tentando
escolher o ideal para a festa.
— Hum o quê?
— Nada — tiro um da cor vinho colado no cabide e mostro a ela. — Que tal esse?
— Usei ele duas festas atrás — dispensa.
Devolvo-o e tiro um da cor azul marinho com brilho.
— Esse é perfeito — digo. — Você fica linda nele.
Esse vestido é o meu favorito, gosto de vê-la dentro dele, mas diante da sua careta, sei que
não é o ideal.
Inspiro fundo e o devolvo.
— Falam que as festas deles são as melhores.
— Sério?
— Hum-rum!
Tiro um vestido curto da cor preta com mangas e deito-me de costas ao seu lado, fitando o
teto cheio de estrelas, que à noite ficam neon.
— Connor me enviou uma mensagem hoje — Alana comenta, jogando seu celular no
travesseiro. — Foi meio que... com segundas intenções.
— O que ele disse?
— Perguntou se eu ia na festa coisa e tal. — Ela inspira. — Não queria dar a entender que
estou interessada.
— E você está? — pergunto com o cenho franzido.
— Ele é bonito, mas... é amigo do Sean.
— Você está interessada nele? — repito, contorcendo os lábios.
— Bem... seria ruim se eu ficasse com ele? — pergunta, me olhando.
Não devolvo o olhar e reflito sobre o que acabou de me perguntar.
— Levando em conta que ele é amigo do seu ex-namorado, um galinha, pega todas as
mulheres que passam na sua frente, e que é o protagonista da fanfic da Liza, então sim, é
bastante ruim.
— Ah, meu Deus! — exclama. — Tinha me esquecido da Liza.
Viro a cabeça de lado, vendo-a cobrir o rosto com as mãos.
— Pois é...
— Sou uma péssima amiga — comenta, chateada. — A Liza quase não fala dele para mim,
além dos capítulos da sua fanfic.
— Porque deve ter medo de você se interessar por ele — Alana me olha, confusa.
— O que tem a ver?
— Quando se fala demais de uma pessoa, o interesse e curiosidade aumentam. — Dou de
ombros. — Talvez ela tenha receio de você se interessar por ele por causa da sua insegurança.
Connor é o tipo de cara que não olha para garotas como a Liza, mas para você sim.
— Não sou esse tipo de pessoa que fura o olho da amiga.
— Sei que não — digo, mordendo meu lábio. — Não é legal ficar com ele, mas você é
livre para fazer suas próprias escolhas.
Alana meneia a cabeça, inspirando fundo.
— A fanfic dela é muito boa.
— Demais! — exclamo, animado. — Eu li o último capítulo que ela postou no Wattpad,
esse tema de namoro de mentira é bacana.
— Uma escritora nascendo através de uma fanfic.
— Só que Connor não pode nem sonhar que é protagonista de uma história — comento.
— Ainda mais ao ser narrado com um pau maior do que o normal.
Gargalho ao lembrar das descrições que a personagem faz do Quarterback.
— É bem esquisito.
Nosso riso morre aos poucos e ficamos em silêncio por um momento.
— Qual foi o vestido que escolheu? — ela me pergunta.
Jogo o vestido em cima dela.
— Vista esse, é perfeito para a ocasião — sorrio de leve. — Talvez faça frio à noite, mas o
que isso importa? Piranha não sente frio.
Encolho-me quando ela me lasca um tapa.
— Rhavi Clark! — ela grita assim que me levanto e saio do seu quarto. — Repete o que
você disse!
— Não disse nada! — Desço as escadas, apressado, rindo.
Alana pula em minhas costas, passando o braço em volta do meu pescoço.
— Certo! Certo! Retiro o que disse! — digo, jogando-a no sofá e fazendo cócegas em sua
barriga. — Você não é piranha!
— Ótimo — diz, se encolhendo de tanto rindo. — Na próxima vez, as consequências serão
piores.
— Sim, senhora Moore.
Afasto-me e caminho rumo à saída que leva para o quintal.
— Ei, Clark! — Kevin grita, olho na sua direção do outro lado do quintal, ele ergue o
braço e com impulso, joga a bola para mim.
Agarro-a com precisão, rindo dele quando salta feliz por eu ter pegado.
— Cara, você é foda! — grita, se inclinando para frente.
— Pega essa, Moore! — digo, jogando a bola de volta, mas é tão rápida, que escorrega da
sua mão e acerta sua testa. — Merda!
Ouço risadas enquanto me aproximo do garoto caído no chão.
— Qual é, Clark?
— Foi mal, parceiro — estendo a mão para ajudá-lo a se levantar.
Kevin ri, aceita minha mão e se levanta, esfregando sua testa.
— Não sou jogador, sabia?
— Esqueci desse detalhe — falo, indo na direção do seu pai.
— Como vai, garoto? — O pai de Alana, Phelps Moore, um homem mais baixo que eu e
com uma barriga saliente, me abraça, batendo forte no meu ombro.
— Estou bem, senhor — digo, retribuindo o abraço.
— Que bom, porque já comprei o ingresso para o seu próximo jogo — diz, retirando o
boné da cabeça apenas para virá-lo para trás.
— Sério? — indago, sem graça.
— Claro! — Ele começa a colocar os hambúrgueres na churrasqueira. — Vou estar ao lado
do seu pai.
— Que bom! — Forço um sorriso.
— E eu vou animar a torcida — Alana se intromete na conversa, entregando-me um copo
de suco de laranja.
— Rumo às Nacionais — Phelps ergue sua garrafa de cerveja.
— Go, go, go — digo, batendo meu copo na sua garrafa em um brinde animado.
Assim como a maioria dos moradores da cidade de Houston, ele respira futebol, tão fã
quanto eu e tão fanático como meu pai.
— Ei, Rhavi! — Kevin bate nas minhas costas. — Adivinha para onde entrei?
Ergo a sobrancelha.
— Não faço ideia.
— Ele esqueceu sua bola de cristal na casa dele, Kevin — tia Margaret fala, colocando a
travessa de pão na mesa de jardim próxima à churrasqueira.
O garoto revira os olhos.
— No time do colégio — revela, olhando-me com admiração. — Quero ser tão bom
quanto você.
Fico encarando-o, sorrindo.
— Sério?!
— Claro! — ele confirma.
Não quero quebrar seu encanto com meu pessimismo, foram poucas as vezes que ele me
viu jogar, quando me assistiu, foi com o time do meu pai.
Levo a mão em sua cabeça, bagunçando seus cabelos.
— Amanhã de manhã meu pai tem treino com os caras do Dallas Cawboys, o que acha de
irmos?
Seus olhos arregalam de entusiasmo.
— Maneiro — diz, jogando a bola para cima e pegando-a de volta.
— Sei que não me convidou, mas quero ir também — Alana cutuca minha cintura.
— Não, senhora. — Sua mãe a cutuca de volta. — Temos um compromisso amanhã antes
de voltar para a universidade.
— Sério? — Ela olha para Margaret. — Não estou sabendo disso.
— Agora sabe.
Todos nós rimos dela, que revira os olhos.
— Fica para o próximo, Pet! — digo, recebendo um olhar de pedido de socorro, que
ignoro, claro.
Ela odeia esses programas com sua mãe, e eu daria tudo para ter esses momentos com a
minha mais uma vez. Alana fica me encarando e parece ter entendido o que se passa na minha
mente nesse segundo, porque ela olha para sua mãe, sorrindo enquanto maneia a cabeça.
— Certo, fica para a próxima — fala, pegando um hambúrguer, oferecendo-o para sua
mãe.
Durante as próximas horas, ficamos conversando, comendo e jogando um pouco de bola.
Sinto-me parte da família Moore, como se eu fizesse parte.
Despeço-me de todos quando chega a hora de ir embora, agradecido pela aula de crochê ter
ficado para a próxima vez. Alana anda comigo pela calçada, inerte em pensamentos. Ela não
tocou no assunto sobre a festa, o que me deixa um tanto encucado.
— O que foi? — pergunto, empurrando-a com meus ombros.
— Estava aqui pensando.
— Sobre?
— Em como vou te ajudar a conquistar Leanne — diz, me olhando. — Listei algumas
ideias, mas preciso que vá à festa para eu ter noção de como vou trabalhar em vocês dois. —
Fico calado, fitando meus pés enquanto caminho. — Se a quer, Rhavi, vai ter que ir à festa.
— E se eu não for? — Coço meus olhos.
— Não existe essa opção — rebate. — Falei para Leanne que você vai comigo, então
esteja pronto — diz, parando de caminhar quando chegamos na esquina da minha casa.
— Sério? — Olho para ela com um frio no pé da barriga.
— Sim — ela balança a cabeça. — Passa na minha casa às oito, okay?
Abro a boca para retrucar, para insistir que é uma má ideia, mas ela me silencia quando seu
rosto assume uma expressão de fúria.
— Tudo bem! — concordo, ainda indeciso.
— Chega de fugir, Pet, chegou a hora de lutar por aquilo que quer.
Respiro fundo, balanço os braços e assinto, concordando.
— Oito horas então.
— Até mais tarde, Pet — Alana se despede, virando e correndo de volta para a sua casa.
Solto o ar pela boca, incapaz de negar diante de seus argumentos. Volto para casa, receoso
de ir à festa, pois a insegurança que sinto é uma espécie de âncora que, de certa forma, me
mantém seguro, mas ao mesmo tempo me prende a um único lugar; na bolha que eu mesmo
criei.
— Você vai perder essa porra! — meu pai grita para o jogador rodando o taco, sendo
focado pela câmera.
Inclino-me para pegar meu terceiro e último pedaço de pizza. Os olhos do arremessador se
fixam no seu adversário, ele ajeita o boné e se posiciona para fazer a jogada que garantirá a
vitória.
Bearkats estão em desvantagem, precisando a todo custo fazer com que o arremessador do
Houston Astros erre. A tensão é sentida, meu pai paralisa com a pizza na boca e o olhar preso na
TV, acho que até prendeu a respiração.
André Rienzo do Bearkats — considerado o melhor Arremessador Nacional da temporada
passada — arremessa a bola, que vai direto dentro da base, sendo agarrada com precisão pelo
receptor e meu pai vai à loucura com a vitória.
Ele enfia o pedaço inteiro dentro da boca, batendo no meu ombro em comemoração,
eufórico com o fim do jogo. O beisebol não é visto por nós como um simples esporte, mas como
um estilo de vida, assim como o futebol, porque em um segundo absolutamente tudo pode
mudar.
— Caralho! — Ele xinga, dando um gole na sua cerveja, — Que jogo!
Finalizo o restante da minha pizza e engulo, concordando com a cabeça. Fico imaginando
se fosse a classificatória para as Nacionais, com toda certeza meu pai teria tido um ataque
cardíaco.
— O próximo jogo é quando? — pergunto, bebendo um gole da minha água.
Meu pai se senta, recosta no sofá e pousa as longas pernas em cima da mesa de centro,
assistindo à comemoração dos torcedores sendo transmitida no estádio da Universidade.
— Daqui duas semanas — responde, dando um gole na cerveja e seus olhos se encontram
com os meus. — O que acha de assistirmos na arquibancada?
— Pode ser — confirmo, animado.
Ouço a porta ser aberta e Lauren logo aparece com Pingo nos braços. Ela nos olha com um
sorriso.
— Bearkats venceu? — pergunta, colocando o projeto de cachorro no chão.
— Alguma dúvida de que não ganharia? — Meu pai retruca, ajudando Pingo a subir no
sofá para o seu colo.
Lauren coloca a bolsa sobre a mesa, retira os sapatos e enruga o nariz.
— Guardou um pedaço de pizza para mim, Sullivan? — pergunta, parecendo cansada
depois de ter ido em cima da hora atender uma cliente que ligou desesperada para ela, dizendo
que a maquiadora que contratou tinha a deixado na mão.
Meu pai me olha, joga uma piscadela e faz uma expressão de choque.
— Ah, porra! — exclama, descendo as pernas e tirando a tampa da caixa da pizza vazia. —
Sinto muito, algodão-doce, comemos tudo e não sobrou nada.
O rosto de Lauren se contorce, seus olhos se entristecem e ela assente, forçando um
sorriso. Ela é louca por pizza.
— Tudo bem! — diz, pigarreando. — Acabei me enrolando.
Lauren tenta disfarçar sua decepção por ter sido esquecida, cutuco meu pai que reprime
uma risada e reviro os olhos para ele.
— Ei, Lauren — chamo-a, levantando-me do sofá. — No micro-ondas, guardamos para
você antes mesmo de começarmos a comer.
Ela olha para meu pai.
— Você não cansa de ser engraçadinho, não é Clark? — Ela o repreende.
Meu pai solta uma risada e se levanta para ir em sua direção. Lauren faz uma careta,
esquivando-se do seu abraço.
— Uma brincadeira, baby — ele justifica, meloso. — Lógico que nunca esqueceria de
você... não do meu algodão-doce.
— Sei... finjo que acredito — ela resmunga, rindo dele beijando seu rosto por inteiro.
Aproveito a interação dos dois e subo para o meu quarto para me arrumar. O barulho de
notificação me faz parar com a camisa branca do universo da Marvel na mão.
Apanho o celular em cima da cômoda, sento-me na beira da cama e sorrio ao ver que é o
grupo: “E aí, parceiro?”
LIZA: Ñ consigo acreditar que Rhavi vai em uma festa!!!!!!

AIDAN: Quando ele me contou também não acreditei.

LIZA: Isso tem cheiro de chantagem da Alana. Aposto que ela fez alguma coisa para ele aceitar. Alana, venha aqui!

PET: A chantagem tem nome e endereço.

LIZA: Ahhhhh, está explicado!

AIDAN: Você ainda tinha dúvidas?

EU: Estou no grupo!

LIZA: Oi, querido, agora faz sentido o porquê vai à festa kaskaskaskas

AIDAN: Ele vai sair correndo uma hora depois. Uma aposta?

PET: Ele não vai fugir!

LIZA: 20 dólares de que ele ficará no máximo uma hora nesta festa.

EU:
PET: 50 dólares de que ele vai ficar até o final.

AIDAN: 70 dólares de que ele vai se achar um fracassado no meio de todo mundo e vai embora aborrecido kaskaskas

LIZA: Cara...

PET: Ahhhhhhh, mas eu vou ganhar alguns dólares essa noite.

EU: Olá, tudo bem? Estou lendo tudo o que falam, beleza?

Respiro fundo, aborrecido por ter sido ignorado duas vezes. Permaneço lendo as
mensagens da discussão dos três, que formulam teorias sobre o que ocorrerá como se eu fosse
uma atração a ser observada com direito a balde de pipoca.
Termino de me arrumar, ignorando as notificações que chegam, pois não vão dar a mínima
se eu tentar me intrometer, e finalizo ao colocar os óculos.
Abro o grupo, revirando os olhos ao ler o que estavam falando, e então digito.
EU: Olha, não é bacana apostar dinheiro em uma pessoa. Estou indo para essa festa apenas por causa da Leanne, e vocês
dois também deveriam ir!

PET: Concordo, mas eles não estão preparados para ouvir isso!

AIDAN: Agradeço o convite, mas vou passar desta vez.

PET: O futuro médico não se mistura com a gentalha kaskaskaskas.

AIDAN:

LIZA: Você assistia Chaves?

PET: Claro, é legal. Você não curte?

LIZA: Amo kaskaskas.

EU: Alana era viciada!

AIDAN: Boa festa, parceiro!

LIZA: Depois conta tudo, quero saber dos detalhes.

EU: Até logo!

AIDAN: Tchau.

LIZA:

PET:

EU:

Deslizo o celular para dentro do bolso da minha calça jeans, assim como minha carteira,
soltando um longo suspiro. Ao jogar um moletom sobre a camisa, resmungo, porque não tem
outro jeito de evitar.
— Ei, pai! Estou saindo — informo, descendo as escadas em direção à cozinha.
Ele desvia os olhos do armário aberto onde guarda os copos, troca um olhar com Lauren e
finalmente me encara, como se eu tivesse três cabeças.
— Vai ao cinema ou algo assim com a Alana? — indaga, franzindo a testa. — Pensei que
tinha dito que iria ficar jogando... — ele faz uma pausa para lembrar o nome. — Aquele
chamado League of Legends.
Na verdade, esse era meu plano de domingo antes da Alana estragá-lo.
— Não — nego, passando a mão nos cabelos. — Na real, vou em uma festa com ela.
Meu pai congela com um copo no ar, a caminho do armário.
— Você? — ele me olha — Indo em uma festa?
— Sim — confirmo, vendo-o colocar o copo na beirada.
— É... — Meu pai lança um olhar para Lauren, como se buscasse confirmação do que
acabou de ouvir, mas o copo mal colocado acaba caindo no chão, assustando-nos.
— Merda! — Xinga, se agachando para catar os cacos de vidro. — Devo estar bêbado...
— Não está, querido — Lauren ri.
Meu pai me olha como se estivesse me vendo pela primeira vez.
— Preciso ir — digo, me afastando. — Até mais.
— Devo te esperar, filhote? — ele grita quando chego perto da porta.
— Não — grito de volta.
— Se precisar...
— Eu ligo — completo, revirando os olhos com seu jeito protetor.
— Boa festa, Rhavi! — Lauren berra.
Agradeço e fecho a porta atrás de mim, inspirando o ar fresco da noite. Entro na minha
caminhonete, dou ré, engato a marcha e dirijo até a porta da casa de Alana, enviando uma
mensagem logo em seguida.
Estou na sua porta.
Durante o tempo em que a espero, ligo o som e seleciono a faixa do John Legend. Batuco
os dedos no volante enquanto a música "Conversation in the Dark" começa a tocar. Fico inerte na
canção até notar Alana sair pela porta em um vestido preto colado de mangas compridas que
realça suas curvas; a bota até os joelhos nos dá a impressão de que ela é um pouco maior.
Ela ajeita seus cabelos lisos com as pontas onduladas que batem no meio da cintura, a
deixando ainda mais bonita. Fico admirando-a, tendo a certeza de que será impossível não ser
notada pelos caras daquela festa.
Alana ergue a cabeça, seus lábios vermelhos se esticam em um sorriso que ilumina todo
esse quarteirão. Retribuo, acompanhando-a com meu olhar até que esteja dentro do carro, sendo
preenchido pelo seu cheiro de pêssego.
— Oi — ela diz, esquadrinhando-me.
Dou partida no carro, temendo que ela fale algo sobre meu estilo, mas ela fica em silêncio.
— Você não vai falar nada? — indaga quando coloco o veículo em movimento.
— Falar o quê?
— Rhavi Clark! — Alana me repreende, cruzando os braços após colocar o cinto de
segurança.
— Você está perfeita! — elogio, lançando um olhar divertido em sua direção. — Tão linda
que tenho certeza de que vai ofuscar todas as outras garotas daquela festa.
— Até a Leanne?
— Até mesmo a Leanne — afirmo, jogando a ela uma piscadela.
Alana passa o dedo indicador no contorno de sua boca, sorrindo como se estivesse ganhado
a coroa da rainha.
— Você está muito bonito também — ela diz, batendo de leve em meu braço.
— Obrigado — agradeço com um tom de deboche na voz, porque estou longe de estar
bonito da forma como ela diz.
— O quê? — indaga.
Tiro os olhos da estrada, fito-a por um instante, mas não rebato, apenas dou de ombros.
Não tenho roupas que sejam atraentes, são mais largas e todas com estampas das coisas que mais
gosto, então... para mulheres com gostos que nem Alana, nunca vão olhar duas vezes para mim,
muito menos me considerar bonito.
— Nada.
Ela fica me olhando por um momento até que o barulho do seu celular quebra esse contato.
Alana olha para ele e sorri enquanto digita em resposta.
— Quem é? — pergunto.
— Não vou te contar.
— Sério?!
— Seríssimo! — Ela trava o celular e me olha.
— É um cara, não é? — Chuto, arqueando uma sobrancelha.
— Talvez...
— Qual é, Pet? — Resmungo, tirando uma risada sua.
— Estava conversando sacanagem. — Conta, se remexendo no banco e ajeitando o vestido
curto.
— Hã? — Viro a rua para entrar na autoestrada.
— Isso mesmo — confirma. — Estava conversando sacanagem.
Lanço um olhar rápido em sua direção, meneando a cabeça.
— Não está enviando nudes, né?
— Se eu tiver?
— Jesus, Pet, é perigoso! — falo, franzindo o cenho. — Esses caras são confiáveis? Vai
que um deles espalha por aí a foto da sua perseguida! — Estalo a língua, sentindo seu olhar sobre
mim.
— Perseguida? — Ela gargalha. — O que isso significa, Rhavi?
Pigarreio, sentindo minhas bochechas começarem a esquentar.
— Você sabe do que estou me referindo.
— Por que está chamando-a de perseguida?
— Porque ela persegue todo mundo — respondo, rindo. — Não pode ver um pau que já
está indo atrás. — Encolho quando ela me lasca um tapa.
— Você me faz parecer uma safada — resmunga, rindo.
— Quem sou eu para julgar, não é verdade?
— Um dia você vai ter que ser ousado nas mensagens e enviar nudes. — Pontua, estalando
a língua.
— Jamais.
— Nunca diga dessa água não beberei, Rhavi — retruca, apertando meu braço. — E outra,
mensagens quentes, até mesmo nudes, atiçam o interesse do parceiro, então pense nisso quando
estiver flertando com Leanne.
Contorço meus lábios, desgostoso. Não precisa chegar a esse ponto para chamar a atenção
da pessoa que tem interesse, certo?
Bem que... se o nudes vier depois da transa, não fará muita diferença, porque já terá visto
até mesmo o avesso da pessoa; todas as partes escondidas pelas roupas e... enfim, continua sendo
errado.
Solto uma risada interna, estou parecendo aquelas meninas criadas em igreja com regras
rigorosas. Apesar de que antes da mamãe morrer, eu vivia na igreja com ela. Sou que nem essas
mulheres com conceitos particulares sobre sexo.
Quadrado que nem uma porta.
— Ah! — Alana grita, me assustando. — Eu amo essa música!
Ela se inclina, aumenta o som quase no último volume e me olha, balançando de um lado
para o outro enquanto estala os dedos. Quando Anne Marie começa a cantar a música
"FRIENDS", ela a acompanha.
— ...Você diz que me ama, eu digo que você é louco, não somos nada além de amigos... —
canta, apontando o dedo em meu peito e me encarando.
Balanço a cabeça, sorrindo, pisando no acelerador.
— Vamos, Rhavi, seja meu parceiro — ela me incentiva.
Reviro os olhos e começo a cantar junto com ela. Durante todo o trajeto, cantamos três
vezes essa música como se fôssemos os protagonistas dessa história, passando para outras,
variando entre o estilo rock, romântica e country. Fazemos uma boa dupla, por isso sempre
arrasamos quando vamos no Karaokê, junto com Aidan e Liza.
Minhas bochechas começam a doer de tanto que sorrio, soltando gargalhadas dela
cantando, e nosso show só acaba quando chego em nosso destino.
— Aqui estamos! — Minhas mãos começam a suar.
Busco por uma vaga na rua, estacionando ao lado de um Jipe. Inspiro fundo, criando
coragem e expulsando a vontade de dar o fora daqui.
— Está pronto? — Alana pergunta, desafivelando o cinto.
— Acho melhor eu voltar — falo, me arrependendo por ter vindo.
Esfrego meus lábios, sentindo um nervosismo surreal de insegurança, porque esse não é
meu lugar, não é onde me sinto confortável e... droga, não tenho nenhum amigo dentro dessa
República.
— Você está pronto, Rhavi Clark? — ela repete a pergunta.
Fecho os olhos e inspiro fundo.
— Irá adiantar se eu disser que não?
— De fato, não vai adiantar. — Ela se inclina na minha direção. — Venha aqui!
Abaixo um pouco, suas mãos vão direto em meus cabelos, bagunçando-os um pouco,
deixando de um modo mais desajeitado e despojado.
— Por que não veio com as lentes de contato?
— Estavam incomodando meus olhos. — Minto, olhando em seus olhos enquanto ela
ajeita meus óculos com cuidado.
— Você está gato de qualquer forma. — Afirma, ajeitando meu moletom.
— Mentirosa!
Ela para e encontra meus olhos.
— Não estou mentindo, acredite! — Alana sorri. — Vamos lá, está na hora de pintar sua
bunda de branco e correr com o antílope.
Rio, abrindo a porta da caminhonete e descendo com o coração batendo mais forte. Alana
está certa, já que estou aqui, é hora de parar de reclamar e enfrentar esse desafio.
— Está pronto? — ela pergunta de novo, parando diante de mim e estendendo a mão.
Respiro fundo, seguro sua mão e olho na direção da casa, sendo capaz de ouvir o abafar da
música, das conversas e gritos vindo de lá de dentro.
Volto a encarar Alana.
— Estou pronto!
A República Ford é uma casa de dois andares nos arredores da Universidade. Nunca tinha
vindo aqui, mas já ouvi algumas fofocas sobre o que acontece nessas festas, até porque, Connor é
um dos moradores do lugar.
Alana olha para mim, solta da minha mão e sobe as escadas da varanda, parando em frente
à porta com uma tranca eletrônica que precisa de senha para ser aberta.
— O convite é a senha? — pergunto, fechando e abrindo as mãos suadas de nervosismo,
ouvindo o estrondo da música sendo abafada pelas paredes.
— Legal, né?
Ela digita a senha e abre a porta, revelando um corredor curto e além dele, um mar de
pessoas.
— Vamos, Pet! — Alana me puxa para dentro, fechando a porta atrás de nós.
Ao entrar, uma lufada de ar com aromas distintos me recepciona, as batidas da música
colidem em meus ouvidos, e tudo dentro de mim parece vibrar. Encolho-me, não acostumado
com esse tipo de confusão de barulhos.
Alana segura minha mão com mais força, incentivando-me a segui-la. Meus olhos vagam
pela sala cheia de pessoas que seguram copos descartáveis vermelhos; outros com garrafas de
cerveja, e um rapaz passa na nossa frente com uma garrafa de tequila.
Os móveis foram arrumados de forma que os convidados conseguissem se locomover com
facilidade. O rapaz da tequila se aproxima da sua turma, sentados no sofá. Eles gritam com
animação e estendem os copos, prontos para se embriagarem.
Olho para frente, a tempo de evitar trombar com duas garotas vestidas com roupas que
realçam seus bustos, o tecido modela seus corpos que deixam pouco para a imaginação.
Pigarreio, achando-as atraentes, mas ao mesmo tempo envergonhado de analisá-las dessa forma.
A música muda para uma mistura de country com eletrônica, um grupo de garotas gritam,
indo para o meio da sala, dançando no ritmo das batidas. Duas delas usam short bem curto,
cropped, chapéu de caubói e claro, botas no estilo raiz dos texanos.
Alana balança os quadris, virando para mim com um sorriso largo, avaliando minha
reação. Os jogos de luzes são ativados, deixando a sala com a aparência de uma discoteca. Em
um canto, reconheço três jogadores do meu time, bebendo e conversando entre si, com garotas ao
seu redor. Avalio os rostos de algumas pessoas não tão desconhecidas assim.
Fico um pouco assustado e apreensivo, apesar de serem familiares, não tenho nenhum
amigo além de Alana nessa festa, o que me deixa bastante deslocado.
— Leanne vai chegar um pouco mais tarde — Alana grita perto do meu ouvido.
Olho para ela e assinto, pedindo em silêncio para ir embora.
— Fica tranquilo — diz, soltando minha mão. — Enquanto ela não chega, podemos beber,
conversar com alguém, dançar... — ela faz um gesto no ritmo da música. — Desmancha essa
cara de assustado, assim fica difícil se enturmar.
— Só preciso me acostumar — minha voz sai trêmula.

Cambaleio para o lado quando alguém esbarra em meu ombro, olho para a garota que vira
para mim, abanando a mão.
— Desculpa — ela se vira para frente e se mistura entre as pessoas.
— Ah! — Alana exclama.
— O que foi? — Fito-a, vendo-a encarar um ponto à frente.
Sigo seu olhar, parando em um grupo de três meninas sentadas em um carpete no chão,
bebendo e conversando em meio às almofadas.
— Aquela ruiva no meio é a Kimberly — informa, revirando os olhos. — Discutimos
ontem.
Arqueio uma sobrancelha.
— Por quê?
— Ela é uma vadia — Alana me encara. — Se eu bater nela você me protege?
— Eu? — solto uma risada. — Nunca!
— Como assim?
— Cada um lida com suas merdas — brinco, dando de ombros. — Tem que sair da briga
sozinha, já que se enfiou nela por conta própria.
— Ah, Rhavi... por que sou sua amiga mesmo? — indaga, estreitando os olhos.
— Porque sou especial — jogo uma piscadela, fazendo-a revirar os olhos outra vez.
— Ei, Alana?
Viro para trás, encontrando duas garotas. Uma delas é a Abby Joy, cabelos tingidos de
vermelho e algumas sardas pelo rosto, seu sobrenome deveria ser “problema”.
— Oi, meninas! — Alana as cumprimenta. — Chegaram agora?
— Tem pouco tempo que estamos aqui.
A outra garota com cabelos enrolados me lança um olhar rápido e passa a mão pelo
pescoço, sua pele negra fazendo um contraste perfeito com o vestido rosado.
— Este é Rhavi Clark, meu acompanhante da noite. — Alana diz, batendo em meu peito.
Ambas me encaram, percorrendo os olhos pelo meu corpo e dando um sorriso forçado. É
visível que não sou atraente para elas, muito menos faço seu tipo.
— Olá! — digo, dando um sorriso sem graça.
— E aí, vamos dançar? — Abby a chama, me ignorando. — Joshua já está aqui.
— Ele trouxe um amigo — a outra completa.
Olho para Alana, franzindo levemente o cenho.
— Meninas, vou só pegar uma bebida e volto — diz, dispensando-as e me puxando na
direção oposta.
— Quem é Joshua?
— Ninguém.
— Se não fosse ninguém, não tinham citado nomes, Pet — resmungo, já ciente que deve
ser algum cara que pretende ficar.
— Não vou ficar segurando vela para você e Leanne, por isso preciso ter meus esquemas.
— Ela entra na cozinha, soltando minha mão.
— Você não dá ponto sem nó, né?
Alana apenas ri, indo na direção de alguns baldes cheios de bebidas espalhados pela
bancada da grande cozinha de inox. Ela retira uma garrafa de tequila de dentro, pega um copo
vermelho, despeja um pouco da bebida dentro dele e pega uma garrafa de cerveja.
— Quer? — Oferece, dando-me um sorriso arteiro.
— Não. — Recuso, colocando as mãos dentro dos bolsos e assistindo-a virar o copo de
tequila, fazer uma careta e dar uma golada na cerveja. — Arch!
— Não deveria misturar assim — murmuro, olhando ao redor.
Algumas pessoas conversam dentro da cozinha com tranquilidade, até porque, o som aqui
é um pouco mais baixo. Um cara ri alto, acompanhado dos seus amigos.
— Amo isso — ela fala, chamando minha atenção.
Alana olha na direção da pista de dança, suas íris brilham de animação e desejo, querendo
estar lá no meio de corpos que se movimentam conforme a música toca.
— Vai dançar — incentivo-a. — Foi por isso que veio na festa, para se divertir.
— Daqui a pouco eu vou — diz hesitante, encarando-me.
— Eu vou ficar bem! — Tranquilizo-a. — Avistei um colega da aula de química, vou falar
com ele.
— Certeza?
— Sim.
— Certo! — Ela meneia a cabeça. — Eu vou, mas estou de olho em você.
— E eu em você.
Alana fica me olhando por mais alguns segundos, depois para a pista, retornando para mim
de novo.
— Vai, você gosta dessa música. — Pouso a mão no meio das suas costas e a empurro na
direção da pista de dança.
— Eu te amo!
— Eu também, Pet. — Sorrio. — Por isso quero ver você se divertindo.
Ela balança a cabeça, ainda duvidosa, mas acaba cedendo e indo para a pista, ergue a
garrafa no alto ao se misturar entre as pessoas.
Suas amigas se juntam a ela, rindo e conversando enquanto dançam. Alana balança os
quadris, joga os cabelos e entra no ritmo da música, imergindo na extasia da festa.
— Sua namorada? — Uma voz me puxa de volta.
Viro, procurando a dona da voz calma, encontrando com uma garota encostada no armário
segurando um copo vermelho. Ela me analisa com seus olhos acinzentados, seus cabelos negros
caem em ondas pelo seu ombro.
Olho para os lados, incerto de que falou comigo. Retorno meu olhar para ela, encontrando-
a, ainda me fitando com um sorriso discreto nos lábios pintados de vinho.
— Hum... Olá! — Pigarreio, levando a mão direita ao pescoço e esfregando a nuca.
— Oi!
— Ela é minha amiga.
A garota leva o copo à boca, suas unhas pintadas de preto brilham com a luz. Ela veste
uma camisa azul e uma jaqueta por cima, calça jeans e botas, realçando seu corpo curvilíneo.
— Ela parece ser... elétrica — comenta, seus olhos descendo por meu corpo, analisando-
me.
Abaixo a mão e a seco no tecido da calça.
— Alana é... foguenta. — Solto, me arrependendo imediatamente. — Quero dizer, ela é
bastante animada.
— Entendi — a garota ri. — É fã de Harry Potter, hum? — Ela movimenta o queixo na
direção da estampa do Lord Voldemort em meu moletom.
— Ah... um pouco. — Ajeito os óculos, meu coração batendo mais forte e com as
bochechas pegando fogo.
— Gosto dos filmes.
— Os livros são melhores... — Minha voz morre ao vê-la arqueando as sobrancelhas.
— Um leitor então... — afirma, meneando a cabeça. — Gosto de ler também, mas sou fã
dos hot e eróticos. Já leu alguns?
Fico encarando-a, será que é legal eu dizer que também gosto desse gênero? Não... melhor
não.
— Gosto dos... clássicos — digo, vendo-a fazer careta.
— Está perdendo muita coisa — ela diz. — Eróticos nos ensinam muitas coisas, deveria
ler, se quiser... posso te recomendar alguns.
Abro a boca, sentindo um calor no rosto intensificar.
— Pode ser. — Limpo a garganta, sem graça.
— Você é novo por aqui? — ela pergunta, mudando de assunto.
— Não.
— Nunca te vi.
— Não gosto de festas — falo, balançando para frente e para trás nos calcanhares, evitando
olhar em seu rosto. — Talvez seja por isso.
— Também não gosto, prefiro ficar no meu quarto estudando, montando meus projetos,
assistindo filmes... sabe como é.
— Estudante de...
— Arquitetura — informa. — Você tem cara de ser de medicina.
— Ah, não! — Dispenso com uma mão. — Sou de farmácia.
Ela balança a cabeça e estica a mão.
— A propósito, me chamo Briella Callahan.
Dou um passo à frente e envolvo a minha na sua.
— Rhavi Clark, muito prazer. — Ela solta minha mão e pega uma garrafa de cerveja.
— Quer beber comigo? — convida, dando-me uma olhada que não sei decifrar.
— Eu... não bebo — revelo.
— Jura?
— Quando ingiro álcool meu corpo formiga, acho que é algum tipo de alergia, e eu estou
dirigindo. — Trinco os dentes, me achando um idiota por ter contado isso.
— Nunca ouvi dizer sobre esse tipo de alergia — comenta, despejando a bebida dentro do
copo.
— Ela existe — murmuro. — Mas no meu caso talvez seja falta de costume.
— Não costumo beber também, mas hoje abri uma exceção — conta, voltando à sua
posição encostada no armário.
Fico tentado em perguntar o porquê, mas me calo.
— É bom se distrair de vez em quando. — Subo os óculos, vendo um casal entrar na
cozinha.
— Mais tarde, quando entrarmos na cozinha outra vez ou subir as escadas para ir ao
banheiro, vamos encontrar alguns casais fodendo — Briella diz. — É bastante atrativo.
Volto meu olhar para ela, meio perdido. Briella ri.
— Sério?
Ela confirma com um movimento de cabeça.
— Sabe, você não me parece estranho. — Ela me analisa por um momento. — Já nos
esbarramos por aí ou coisa e tal?
— Acredito que não. — Coço a cabeça.
— Ei, Callahan, flertando com meu jogador? — Antes mesmo de ter alguma reação,
Connor segura meu ombro e dá um soco de leve na boca do meu estômago.
Encolho-me com sua investida, ajeitando os óculos que escorre pelo nariz. Fico estático,
surpreso, porque Connor nunca fez isso comigo, apenas com os outros caras que têm contato.
— E aí, Clark? — Olho para ele que é um centímetro maior que eu. — Gostou da minha
namorada?
Arregalo os olhos, mas ele não tem namorada ou... tem? Ele não estava interessado em
Alana?
Merda... será que fiz merda?
— Eu não... desculpa eu só...
— Cala boca, Connor! — Briella o repreende, fazendo-o gargalhar da minha cara. — Ele
não é meu namorado e nunca será, é apenas o irmão da minha melhor amiga.
Olho para Briella que revira os olhos. Solto um pouco do ar que estava segurando, aliviado
por não ter cometido esse erro.
— Então você é do time de futebol? — Ela pergunta. — Por isso que tive a sensação de
que é conhecido, mas não me recordo de você nos jogos.
— Hm... — pigarreio, desvencilhando de Connor. — Sou o reserva do Running Back.
— Ah...
— Preciso ir... — digo, sem coragem de olhá-la depois de ter revelado minha posição nada
atrativa.
— Ele é as bolas amassadas que te contei naquele dia — Connor dispara, fazendo meu
rosto pegar fogo.
— Eu assisti esse jogo — Briella comenta, me olhando. — Pensei que...
— Preciso encontrar com minha amiga — corto-a, desejando desaparecer. — Foi um
prazer — digo, retirando-me.
— Ei, Clark. — Connor segura meu ombro e olho em seus olhos esverdeados. — Sua
bebida. — Ele coloca uma cerveja em minha mão. — É bom tê-lo aqui! — diz, batendo em meu
ombro com força.
— Obrigado! — Balanço a cabeça e saio de perto.
— Ele não pode beber, sabia? — Briella diz em um tom de reprovação.
— Eu sei disso — Connor responde. — Por que estava flertando com ele?
— Não estava flertando com ele.
— O cara nem percebeu que você estava dando mole — Connor ri.
Franzo a testa, confuso.
— E daí?
— Ele é bem esquisito e não faz seu tipo — Connor afirma.
— Quem é você mesmo? — Briella retruca.
Respiro fundo, ignorando a conversa por trás das minhas costas.
Ela não estava flertando comigo ou... estava? Fico com isso na cabeça enquanto procuro
por Alana.
Meus olhos vagam pelas pessoas, tentando detectá-la, não a encontrando dentro da casa.
Olho para as escadas, indeciso se a procuro no andar de cima ou não, mas pensando bem, é
melhor ir para fora, não estou a fim de ver nem ouvir caras fodendo garotas no corredor.
Aperto a garrafa que estou segurando, sentindo-me deslocado como um gato em meio a
uma matilha de cachorros. Por toda a extensão do pátio, lâmpadas iluminam o deck e velas
boiam na superfície da piscina. Alguns rapazes estão em frente a uma churrasqueira, outros
dançam com as meninas.
É bonito aqui fora rodeado por árvores, a música também está mais baixa e quando meus
olhos retornam para a pista de dança, noto Alana dançando com um cara que nunca vi antes.
Ela dança sua própria dança sem se importar com nada e com ninguém, criando sua própria
aventura. Provavelmente o cara é aquele que as meninas disseram que tinha vindo.
As mãos dele seguram sua cintura, se inclina e sussurra algo em seu ouvido, fazendo-a rir.
Reviro os olhos e levo a mão na cintura enquanto seguro a cerveja na outra, assistindo sua dança.
Alana rebola com um jogar de cabelo, mas para de uma vez ao encontrar com meu olhar
afiado, se sobressaltando com um copo na mão. Cruzo os braços, inclino a cabeça um pouco para
o lado e estreito os olhos.
— O quê? — diz, movendo apenas a boca. — O que foi? — ela olha para os lados,
colocando uma mexa do cabelo atrás da orelha.
Fico encarando-a por um momento.
— Afasta! — movo a boca, brincando com ela e gesticulando com as mãos. — Afasta
desse cara!
Alana pisca, olha para ele por sobre o ombro, e retorna a encarar meus olhos com um
sorriso travesso.
— Alana! — rosno, baixinho.
Ela apenas revira os olhos, vira de frente para o cara e desliza a mão por seu peito,
quebrando nosso contato visual por um instante.
— Vem cá, Alana! — chamo-a, segurando o sorriso para me manter sério.
— Não vou! — Sussurra de volta, jogando os cabelos.
Ela bem que poderia ao menos apresentar o indivíduo... poxa!
— Alana, agora!
— Não! — Nega, rindo, dispensando-me com a mão e quebrando nosso olhar ao focar nele
que segura sua cintura.
Ela me olha de novo.
— Vem! — peço em um choramingo.
— Não!
Espremo os lábios, cruzo os braços e balanço a cabeça freneticamente, sentindo-me
abandonado... largado em um lugar que não consigo gostar.
— Tá bom! Tá bom! — sussurro.
Alana me manda um beijo, debochada, rindo e volta a prestar atenção no seu ficante.
Desvio o olhar, perdido, sem saber o que fazer agora.
Deslizo meus olhos pelo lugar e, de soslaio, observo Alana se divertindo novamente. Não
faço ideia com quem conversar ou como me descontrair.
— Oi! — Congelo ao ouvir sua voz, que parece como uma melodia, silenciando todos os
barulhos ao redor.
Meu coração dispara e lentamente viro para trás, encontrando com seus olhos azuis. Ela é
linda, encantadora... como uma sereia dos contos mitológicos, me chamando para entrar cada vez
mais no fundo do mar.
Seus olhos brilham quando ela sorri.
Oh meu Deus! Ela está sorrindo para mim?
Olho para os lados, e uma sensação de incredulidade toma conta de mim. Não pode ser
real. Não é possível que Leanne Kinsley, minha vizinha, esteja ali, parada diante de mim, me
encarando.
Volto a encontrar com seu olhar, hipnotizado, tenho certeza de que estou delirando.
— Rhavi, certo? — Sua voz dança em meus ouvidos, causando um arrepio que nem sei por
quê.
Pisco várias vezes, recuperando o controle dos meus sentidos. Achei que nunca teria a
oportunidade de falar com ela, agora não sei o que dizer.
— Alana me falou sobre você — Leanne prossegue, sorrindo para mim sem quebrar nosso
contato visual. — Quando disse que viria na festa, fiquei curiosa. Ela sempre fala do melhor
amigo.
Abro a boca para responder, só que não sai nada.
Porra!
O que eu digo? O que eu faço? Como ajo?
Socorro... eu... eu... não sei o que fazer!
— Você é tímido, né? — Leanne indaga, seu sorriso vacilando.
Droga, estou deixando-a sem graça.
— É... — Pigarreio. — Eu não... — a garrafa de cerveja escorrega da minha mão, tento
pegá-la e quando está prestes a cair no chão, Leanne agarra o gargalo.
— Peguei! — diz, rindo. — Essa foi por pouco.
Olho para ela, seus cabelos loiros moldam seu rosto pincelado, digno de ser admirado.
Então, de repente, meus olhos descem pelo seu corpo coberto por um vestido colado e curto da
cor branca, realçando suas curvas. Meu coração entoa em meus ouvidos e quando a encaro de
novo, meu rosto pega fogo.
— Céus, perdão! — peço, sem graça por ter esquadrinhado que nem um pervertido.
— Pelo quê? — ela parece confusa.
— Pela... Pela forma que acabei de te olhar — limpo a garganta. — Desculpe, é que você
está gostosa... não, merda, quero dizer, bonita... você está muito bonita, era isso que eu queria ter
dito — calo-me, mordendo a língua.
Leanne sorri.
— O vestido é curto e chama atenção — ela justifica, tentando me acalmar. — Você estava
bebendo?
— Eu? — Leanne ergue a garrafa de cerveja. — Ah, é... eu estava — minto, forçando um
sorriso. — Mas esquentou e ficou ruim. — Limpo a garganta, esfregando as palmas das mãos na
calça.
— Podemos pegar outra e resolver o problema — diz, inclinando a cabeça para o lado. —
O que acha?
Umedeço os lábios sem acreditar que está me convidando para beber com ela.
— O que acho? — repito, gaguejando.
— Se quiser, claro!
Oh, meu Deus!
— É...
— Podíamos fazer companhia um para o outro — sugere, balançando a garrafa. — Você
está... com alguém?
— Eu?
— Sim, você! — Leanne ri.
— Ah, é... estou sozinho. — Tropeço nas palavras, percebendo que ela aguarda minha
resposta. — Claro, podemos beber juntos. Eu adoraria beber com você.
Leanne meneia a cabeça, mordiscando os lábios carnudos e tão beijáveis.
— Venha, vamos pegar uma cerveja — ela se vira e sai andando na direção da caixa de
isopor onde estão as bebidas.
Meus olhos vão na direção de Alana, e a encontro me observando. Ela sorri abertamente,
ergue o polegar da mão direita em sinal de positivo e em seguida gesticula para que eu vá atrás
da minha vizinha.
— Você vem? — Leanne pergunta, chamando minha atenção.
Ela está parada um pouco à frente, me encarando.
— Ah, sim! — Vou até ela. — Sou Rhavi Clark.
— Leanne Kinsley. — Ela para em frente à caixa, se inclina e tira duas cervejas. — Tem
certeza de que quer beber?
Fito seus olhos, sem saber o que dizer. Será que se eu revelar que não bebo vou parecer um
cara sem graça? Todo mundo da festa está bebendo.
— Sabe... — Leanne se inclina na caixa, devolve as cervejas e pega duas latas de
refrigerante —, melhor entupirmos nossas bundas de açúcar do que de álcool. O que acha?
— Melhor — falo, aliviado.
— Você é do time de futebol, né? — Ela abre a latinha com facilidade, mesmo com as
unhas grandes e pintadas de rosa.
— Sim.
— Te vi conversando com Alana um dia desses — comenta —, mas nunca te vi nos
jogos... talvez tenha...
— É que sou o reserva do Running Back — justifico, abaixando a cabeça. — Fico no...
banco.
— Ah, mas te observei nos treinos — fala.
Ergo a cabeça, encarando-a.
— Você viu?
Ela assente.
— Você é rápido, por que não perceberam isso ainda? — Leanne estala a língua. — Sou
apaixonada por futebol, meu pai também foi um Running Back, mas acabou se aposentando cedo
por causa de uma lesão, e minha mãe é jogadora de futebol do Houston Dash.
— Sério? — Sorrio, surpreso.
— Sim — ela ri. — Aquela mulher é mais macha do que qualquer cara dessa festa.
— Ela ainda joga?
— Sim — Leanne confirma. — Mas será sua última temporada, assim que completar 38
anos, que é no fim desse ano, ela dirá adeus ao que ama.
— Deve ser um sentimento ruim — digo, pensando no meu pai.
— Ah, deve ser sim. — Leanne suspira. — Ela nunca parou de correr atrás dos seus
sonhos, mesmo me tendo aos 16 anos.
Fico encarando-a, admirado por finalmente conhecê-la e por estar me contando sobre sua
vida.
— Daqui a três dias ela vai jogar contra San Diego Wave — diz, dando um gole no seu
refrigerante. — Quer... vir assistir? O jogo vai ser aqui em Houston e Alana poderia ir também.
O que acha?
Sinto a latinha escorregar da minha mão enquanto permaneço estático. Ela está me
convidando para sair? Um encontro?
Não... não, não é um encontro, porque inclui Alana ou... por que ficou sem graça? Seguro a
latinha com força, impedindo que caia.
— Claro... — Pisco, engolindo em seco. — Vai ser legal.
Leanne sorri, feliz por eu ter aceitado. Ela sabe ser tão bonita e não quero acordar desse
sonho; quero apenas mais cinco minutos ao seu lado sem estragar o momento.
Seus olhos se fixam nos meus, e qual seria a sua resposta se eu dissesse que a quero há
muito tempo?
— Estou com muita fome — diz, levando a mão ao estômago e se inclinando para frente,
soltando uma risada.
— Os caras estão fazendo hambúrguer — aponto por cima do ombro. — Quer... ir comer?
— Nossa, vamos, senão é bem capaz de eu te comer — dispara, me olhando. — Desculpe.
— Pelo quê?
— Foi uma frase de duplo sentido — fala, passando por mim.
Abro e fecho a boca, confuso, sem entender o que ela quis dizer com frase de duplo
sentido. Viro e a sigo para perto da churrasqueira.
— Capricha, Ryder! — ela pede para o cara mexendo nas carnes, e bate de leve em seu
braço forte e coberto com tatuagens.
— Como sempre faço, princesa. — Ele joga uma piscadela em sua direção e me olha. — E
aí, parceiro! Vai um hambúrguer?
— Rhavi está comigo — Leanne explica.
— Ah! — Ryder sorri para mim. — Eu nunca te vi nas minhas festas. É novo aqui?
Deslizo uma das mãos para dentro dos bolsos, encolhendo os ombros.
— Primeira vez.
— Espero que esteja gostando. — Ryder oferece a mão. — Sou Ryder Ford.
— Rhavi Clark. — Aperto sua mão, notando que seu sobrenome é o mesmo da república,
ou seja, o dono dela.
— Ele é jogador de futebol da universidade — Leanne conta, pegando dois pães.
— Como Connor nunca me falou de você? — ele indaga com a testa franzida e dou de
ombros.
— Porque sou o reserva.
— Que nada! — ele dispensa com a mão. — É porque ele é um cuzão mesmo.
— Você fez o teste anos atrás, não foi? — Leanne pergunta para ele enquanto coloca os
molhos.
— Sim, mas não passei — Ryder enruga o nariz.
— É um jogador? — indago, acuado.
— Sou nada, parceiro! — ele me lança um olhar divertido. — O único esporte que pratico
é o da vagabundagem, se é que me entende.
Sorrio, meneando a cabeça.
— Ou seja, é um puto. — Leanne retruca, estalando a língua. — Agora vou comer e vê se
não queima as carnes, Ford.
— Sim, senhora. — Ryder pisca um olho e me olha. — Foi bom te conhecer, Clark.
Ofereço apenas um aceno de cabeça e sigo Leanne, que escolhe uma mesa um pouco mais
afastada para nos sentarmos.
— Esse é o seu. — Ela arrasta o prato em minha direção depois que agarra o seu
hambúrguer. — Fiquei muitas horas sem comer, contando os minutos para preencher a barriga
vazia.
— Por quê? — Coloco a latinha de refrigerante em cima da mesa.
— Estava fazendo aquele maldito trabalho de histologia, nem consegui pensar em comida.
— Ela dá uma mordida.
Fico olhando-a fechar os olhos e gemer por estar gostoso. Remexo na cadeira, tiro o pão de
cima da carne e cogito se conto ou não sobre a dieta rigorosa que me impede de comer certos
alimentos, ainda mais que hoje já bati minha cota na casa de Alana.
— Está muito bom! — Ela diz, chamando minha atenção para seu rosto. — Deveria comer.
— Incentiva, apontando para o meu prato.
Encaro-a, no canto da sua boca tem molho e meu coração dispara outra vez, querendo
limpar... por que é algo romântico a se fazer, certo?
Calor sobe pelo meu pescoço com essa possibilidade, mas... se eu fizer e ela não gostar?
Achar ofensivo?
— Clark, está tudo bem? — Leanne pergunta, mas não consigo me mover, estou tão
envergonhado.
— Rhavi? — Sua mão toca a minha e eu sobressalto, piscando. — Por que está me
olhando assim? Minha boca... ah, droga, deve estar com molho — diz, pegando um guardanapo e
limpando o canto da sua boca.
— É... me desculpa, eu não queria... — Esbarro a mão na latinha com força, derrubando-a
e fazendo com que espirre refrigerante por todo o seu vestido.
Leanne se levanta de uma vez, os braços esticados e olhando para a sua roupa.
— Oh, meu Deus! — exclama.
— Merda! — Xingo, batendo na borda do prato e a carne voa, colidindo no vestido dela e
escorrega até cair no chão, deixando um rastro de molho de mostarda no tecido.
Levanto-me, e todo atrapalhado, pego alguns guardanapos para tentar amenizar a situação.
— Deus, me perdoe! — sussurro, esfregando-os nela, mas só piorando a situação.
Cara, eu quero morrer!
— Arch! — Ela choraminga.
— Me desculpe. Me desculpe. — Digo apressado.
Leanne respira fundo e ergue a cabeça lentamente. Congelo, preso em seu olhar, com medo
dela me xingar pela merda que fiz. Meu coração bate tão desesperado que prendo a respiração,
esperando ser linchado, mas a única coisa que recebo é um sorriso.
— Tudo bem! — diz, segurando meus pulsos.
— Desculpe, eu não... não foi de propósito.
— Sei que não, gatinho. — Ela solta meus pulsos e dá um passo para trás.
— Eu estraguei seu vestido — choramingo, ajeitando os óculos que começam a embaçar.
— É apenas um vestido — Leanne afirma, apontando as mãos para ele. — É só lavar e, se
não limpar, é só comprar outro. Está tudo bem!
— Eu posso comprar outro para você....
— Rhavi? — ela me chama. Levo as mãos à cabeça em desespero e a encaro. — Foi um
acidente.
— Mas...
— Fica tranquilo! — Leanne inspira fundo, prendendo os cabelos. — Só irei ao banheiro
me limpar, okay?
Abaixo as mãos e umedeço os lábios.
— Se quiser, posso te dar meu mo...
— Espere aqui, já volto — ela me corta, passando por mim, parecendo atordoada.
Assisto-a sumir no meio das pessoas, desejando nesse momento desaparecer para sempre.
Um nó se aloja na garganta, retiro os óculos e limpo minha testa, colocando-os de volta.
— Que bosta foi essa? — Assusto com a voz de Alana, vendo-a parada à minha frente.
— Eu... eu... — as palavras se engasgam na garganta.
— Vai atrás dela, Rhavi!
— Leanne pediu para eu esperar aqui. — Retruco, constrangido.
Alana revira os olhos.
— Vai logo, caramba! — Ela me empurra na direção em que Leanne foi. — Não pensa
demais, apenas vai ajudar a garota a se limpar.
Engulo em seco, dou uma olhada na minha amiga que gesticula com a mão e assinto,
seguindo os passos de Leanne.
Entro na casa, vou na cozinha e pergunto para um cara aleatório onde fica o banheiro. Ele
indica o andar de cima e vou na direção das escadas, desviando de duas meninas bêbadas. Passo
por um casal se beijando como se o mundo tivesse apenas algumas horas antes de ser destruído
pelos alienígenas e viro no corredor, parando de uma vez.
No fim do corredor, diante da porta do banheiro, está Leanne de frente para um cara alto e
forte; não faço ideia de quem ele possa ser, mas sabe prendê-la no olhar.
Ele diz algo para a minha vizinha, que ri e aponta para o seu corpo, em específico para seu
vestido manchado. O cara meneia a cabeça e retira a jaqueta, jogando por cima dos seus ombros.
Leanne inclina a cabeça para o lado, piscando lento, hipnotizada. Prendo o ar ao vê-lo se
inclinar e sussurrar algo em seu ouvido, as mãos da garota se apoiam em seu peito, concordando
com o que ele diz.
Recuo um passo, atordoado. Ela aponta na minha direção com o braço, dialogando com
ele, que assente, prestando atenção no que ela diz. Meu coração dispara com uma mistura de
tristeza e decepção.
O cara meneia a cabeça, percorre uma mão por seus cabelos e se vira em minha direção,
encontrando com meu olhar. Ficamos encarando um ao outro por alguns segundos, ele diz algo e
vejo Leanne me notar.
— Rhavi?
— Desculpe interromper — peço, pigarreando e dando as costas.
Raiva invade minhas veias, não por ela estar com outro homem, mas por eu ser tão idiota
ao ponto de destruir a única oportunidade que tive para tentar dar uma boa impressão.
Desço as escadas o mais rápido que consigo, querendo desaparecer desse lugar. Assim que
pulo o último degrau, avisto Alana vindo ao meu encontro.
— Estou indo embora! — aviso, passando por ela sem parar.
Desvio das pessoas que dançam, a maioria bêbada demais para sequer se manter em pé.
Quase perto da porta, esbarro em um ombro, mas ignoro e sigo em frente.
— Ei, babaca, olha por onde anda.
Abro a porta e saio, o ar fresco alivia o calor que estava fazendo dentro dessa casa.
— Rhavi? — Alana grita quando desço as escadas da varanda.
Enfio a mão trêmula dentro do bolso e tiro a chave do carro.
— Espera, Rhavi!
Não paro, quero me mandar logo daqui e esquecer que vim nessa merda de festa.
Sério? Eu estava esperando o quê? Um milagre?
— Que porcaria! — Alana resmunga e sinto-a segurar meu braço na tentativa de me parar.
— Me deixa! — digo, desvencilhando e seguindo adiante.
— Rhavi... arch! — De repente Alana para à minha frente, travo os pés de uma vez para
não colidir contra ela e suas mãos batem com força em meu peito. — Que porra está acontecendo
com você?
Cambaleio para trás, engolindo o nó na garganta. Não respondo, apenas fico olhando para
os lados, meu peito subindo e descendo com a minha respiração acelerada.
— Você achou que isso daria certo? — Solto, dando uma risadinha. — Sou muito idiota
mesmo!
— O que aconteceu? — pergunta, sua voz ficando mais mansa.
Dou de ombros.
— Esse não é meu lugar, Moore. — Respondo, passando a mão por meus cabelos. —
Essas pessoas não são da minha turma, não dá para misturar, entende?
— Não, eu não entendo — ela retruca e segura meu rosto, fazendo com que eu a encare. —
O que houve, Pet?
Engulo o nó no meio da garganta e encaro seus olhos preocupados.
— Leanne estava com outro cara... — Minha voz sai em um sussurro. — Eu estraguei todo
o vestido dela, Pet.
Alana fecha os olhos por um segundo, apertando os lábios.
— Você não sabe quem pode ser aquele cara.
— Ele deu sua jaqueta para ela — digo, segurando seus pulsos e afastando suas mãos do
meu rosto. — Quem sou eu para achar que ela teria interesse por mim? Sou apenas um idiota
patético que sujou seu vestido.
— Foi um acidente!
— Que poderia ser evitado se eu não fosse um pateta!
— Para de se autossabotar, Rhavi! — Alana balança a cabeça. — Para!
Umedeço os lábios e pisco para aliviar a ardência dos meus olhos.
— Nunca vou ser como esses caras, Alana, sempre serei aquele sentado no banco... aquele
lembrado por ser o reserva — falo com a voz embargada. — Ela nunca vai me querer!
— Não diga isso.
— Não tente me introduzir a esse mundo, isso só vai me machucar.
— Rhavi...
Meneio a cabeça e passo por ela, esbarrando de leve em seu ombro. Abro a porta do carro,
parando por um momento.
— Se quiser que eu te busque, me ligue, estarei no apartamento — solto o ar pela boca. —
Divirta-se, Pet, não se preocupe comigo, eu vou ficar bem.
Entro no carro sentindo meus olhos queimarem, engato a marcha e parto para longe desse
lugar com o orgulho ferido e o coração machucado.
Assim que chego em casa, a única coisa que faço é me despir, vestir a calça do pijama e
me jogar debaixo das cobertas na tentativa de recuperar minha dignidade.
Os minutos se passam, fico encarando o teto, relembrando tudo o que fiz naquela festa. Eu
agi feito um idiota o tempo inteiro, meu Deus, eu derrubei refrigerante e carne em Leanne.
Cubro meu rosto e grito, debatendo as pernas. O que eu faço para perder essa timidez
estúpida? Pior é que nem deixei a garota me apresentar aquele cara, vai que era um amigo ou
irmão?
Ah, céus, não me julgue por ser assim, okay?
Depois de mais alguns minutos, pego no sono, aliviando o aperto no peito. Acordo ao
sentir meu colchão se afundar, em seguida minhas cobertas se movem e ouço um inspirar
profundo.
Abro os olhos, sonolento, vendo os ponteiros fluorescentes indicando que são 1h30 da
manhã no relógio sobre a mesa de cabeceira ao meu lado. Ajeito as cobertas e fecho os olhos de
novo, sabendo que é Alana deitada na minha cama.
Um momento depois, sinto um braço escorrer por debaixo do meu pescoço. Viro-me e a
abraço, encaixando a cabeça na curva do seu pescoço. Alana nos cobre, beija o topo da minha
cabeça e me abraça forte.
Seu peito começa a tremer, e eu fico parado, estalando a língua quando ela começa a rir.
Não abro os olhos, nem mesmo rio, mas sinto-me um pouco chateado.
— Para de rir!
— Desculpa — sussurra, pigarreando.
Aconchego na cama, sentindo sua mão deslizar para frente e para trás sobre meu ombro.
— Você tem que agir com calma diante de algo que o deixa desconfortável — ela diz,
quebrando a quietude. — Não tenha medo de sair da sua zona de conforto, Rhavi, porque quando
sair dessa bolha de proteção que criou, estará propenso a sofrer decepções, a errar e até mesmo a
encontrar pessoas desagradáveis, mas não significa que vai ser sempre assim. — Alana faz uma
pausa. — Você precisa ser forte para aguentar, porque isso é viver, Pet.
Fico calado e começo a fazer círculos nas suas costas.
— A carne voou na garota... — murmuro. — Deixou um rastro no tecido.
Alana cai na gargalhada.
— Eu assisti a confusão toda — fala. — Foi um acidente, seu bobo!
— Leanne não vai nem querer olhar na minha cara depois disso.
— Claro que não, você estragou o vestido dela. — Alana confirma, brincando.
— Obrigado por isso, ajudou muito.
Alana começa a acariciar meus cabelos.
— Vamos consertar essa primeira impressão, okay?
Assinto, esticando as pernas e tocando em seus pés gelados.
— Eu conheci outra garota — revelo.
— Sério?
Balanço a cabeça, confirmando.
— Ela se chama Briella Callahan.
— Ah, eu sei quem é! — Alana faz cafuné em mim. — Ela é amiga da Heloísa, uma das
meninas da minha equipe. Ela é muito legal, apesar de nunca termos conversado.
— Eu menti.
— Como assim? — Ela sobe os pés gelados em minha perna, afasto-a deles.
— Falei que gostava de leitura clássica.
— Jesus! — Alana ri. — Afastou a garota, Rhavi.
Concordo com ela e conto os detalhes.
— Ela estava flertando? — pergunto, ainda incerto.
— Não faço ideia, mas fez uma amiga que aprovo, no entanto.
— Preciso de sua aprovação agora?
— Lógico, Pet! — Alana respira fundo.
— Tá certo.
Ficamos em silêncio, ouvindo apenas o barulho sutil do ponteiro do meu relógio. Alana
batuca os dedos em minhas costas, parecendo pensativa. Ajeito a cabeça no travesseiro, sem
conseguir ver seu rosto pela escuridão do meu quarto.
— No que você está pensando? — pergunto encolhendo as pernas.
— Em como ajudar você a conquistar aquela garota, na verdade, já tenho uma lista, que
antes não fazia ideia de como começar, mas que agora eu sei qual será o primeiro passo.
— Devo me preocupar?
— Hum.... — Ela faz uma pausa. — Um pouquinho.
— Só... — solto o ar pelo nariz, mas não finalizo.
— Termina de falar.
— Deixa pra lá! — dispenso, afastando de novo meus pés dos seus cubos de gelo. — Eu
confio em você.
— Amanhã é um novo dia — diz. — Então erga a cabeça e esteja pronto para ir atrás do
que quer.
— Certo. — Inspiro fundo e estremeço com seus pés tocando na minha pele. — Para!
— Parar com o quê?
— Seus pés estão gelados, Alana. — Brigo, chutando-os.
— E os seus estão quentinhos.
— Sai fora! — resmungo, continuando a evitar que me toque com eles, porque agora está
fazendo de propósito. — Mas que droga...
— Preciso de calor para derreter o gelo.
— Vai no fogão e liga o fogo — retruco, lutando para não ser tocado.
— Vem cá... vem cá... — Ela cantarola, rindo.
— Você é muito chata — murmuro, virando para o outro lado com a batalha perdida. —
Tem meias no meu guarda-roupa.
— Sua pele é mais quentinha — diz, entrelaçando nossos pés. — Boa noite, Pet.
— Noite, cubo de gelo.
Alana chega perto e joga o braço por cima da minha cintura, como se fosse impossível
dormir longe de mim. Seu pé gelado não esquenta nem com reza, só com meias mesmo.
Inspiro fundo, me levantando, e mesmo no escuro, procuro por alguma meia, retorno com
elas nas mãos, calço os pés de Alana em meio aos seus protestos e volto a me deitar, feliz por
não ter um cubo de gelo me tocando.
Na manhã seguinte, acordo bem cedo para correr, espairecer a mente e seguir em frente.
Assim que retorno para o apartamento, encontro Alana babando no meu travesseiro vestindo uma
camisa minha.
Tomo um banho, como meus cereais com leite enquanto estudo e me arrumo, vestindo
roupas leves. Volto para o quarto, Alana continua do mesmo jeito: em coma.
Cubro suas pernas nuas, mas antes calço a meia no seu pé esquerdo, que de algum jeito,
durante suas reviradas, acabou saindo.
Nem na hora de dormir essa garota fica quieta!
Sento-me na beira da cama e calço os tênis, ouvindo-a gemer.
— Não! Não! Não! — ela reclama, choramingando.
— Sim. Sim. Sim — retruco. — Você tem treino daqui duas horas.
Ela choraminga de novo.
— Vontade de te bater com esse seu bom humor a essa hora da manhã — murmura, as
palavras saindo enroladas.
— Vou me encontrar com meu pai, mas estarei aqui na hora do treino.
— Vai e me deixa dormir — resmunga, se virando de costas para mim na cama e cobrindo
a cabeça com as cobertas.
— Não vou te acordar!
— Obrigada.
Solto uma risada, levanto e seguro sua cabeça sob as cobertas.
— Acordaaaaa! — Balanço-a.
— Ahhhh! — Ela debate as pernas. — Vai logo, Rhavi, e me deixa em paz.
— Até logo!
— Eu te amo, Pet.
— Eu também — digo, pegando minha bolsa e saindo para me encontrar com meu pai e
seus jogadores.
— Oi! — Cumprimento Liza ao me sentar na cadeira à sua frente no dia seguinte. —
Quando sai capítulo novo?
Ela sorri, seus cabelos enrolados amarrados em um rabo de cavalo e alguns fios caem
soltos, deixando-os com aparência mais despojados.
Liza ajeita os óculos, adquirindo um ar pensativo.
— Estou acabando de escrever, acho que... — Ela coça a cabeça e estala os dedos. — Até
quarta está no ar.
— Estou no aguardo — sorrio para ela, tirando meu iPad da mochila.
— Como foi a festa?
Lanço um olhar estreito em sua direção, percebendo sua tentativa falha de segurar o riso.
— Eu sei que Alana já saiu fofocando.
Liza assente e solta uma risada.
— Qual é, Rhavi, empacou sua foda.
— Há-há-há, continua rindo de mim — retruco, balanço a cabeça de um lado para o outro.
— E onde está a lindona? — Liza engole a risada.
— Aprontando por aí, certeza! — Respondo, abrindo a aba de anotações do iPad, porque
sei que na aula de hoje terá muitas informações e preciso anotar até a respiração do professor.
— Falando nela... — Liza diz quando Alana entra na sala ao lado de dois dos nossos
colegas, rindo e conversando cheia de animação. — Ela nunca está de mau humor.
— É porque você nunca a viu acordando.
Alana se aproxima, joga a bolsa em cima da mesa e olha de mim para Liza. Seus olhos têm
um brilho diferente e sei que é algo que está aprontando.
— Mas que caras são essas? — ela pergunta.
— Estava esperando você soltar alguma coisa — Liza responde.
Alana estala a língua e se senta.
— Viram que LarPers anunciou o dia do evento? — ela olha para mim e Liza.
— Eu vi e isso significa que passarei longe do Lynn Eusan Park.
— Pensei que gostassem desse lance de eventos de Live Action com essas armas estranhas
— comenta.
— A gente gosta — digo, revirando os olhos —, o que não gostamos é de passar vergonha.
Liza confirma com um murmurar. Alana balança a cabeça, se preparando para o início da
aula.
— Amanhã na biblioteca para terminar o maldito trabalho de histologia daquela
professora, okay? — Alana me olha com testa franzida e assinto.
— Sim.
Reviso as anotações da aula passada para refrescar minha memória, mas sou interrompido
por várias cotoveladas.
Olho para Alana, que encara a porta.
— Ela chegou! — avisa, fazendo meu coração disparar.
Deslizo meu olhar na direção em que aponta e prendo o ar. Leanne entra na sala vestindo
uma calça jeans, jaqueta do mesmo tecido e uma regata rosa, mostrando um pouco da barriga.
Tento esconder a vergonha da festa, torcendo para que ela passe direto ou... bem que
gostaria que ela conversasse comigo, mas... arch, eu destruí seu vestido.
Leanne entrega algo para uma menina, confere seu celular e olha para Alana que a
cumprimenta, em seguida, seus olhos deslizam e se prendem em mim.
Desvio imediatamente ao abaixar a cabeça e tento prestar atenção nas malditas anotações.
Minha amiga ao lado solta uma risadinha, chuta meu pé e me cutuca de novo.
— Para! — peço, baixinho.
— Olha para frente.
— Estou ocupad...
— Oi! — Leanne saúda, parando em frente à nossa mesa.
Congelo, meu coração entoando em meus ouvidos.
— Olá de novo, Lea! — Alana a recepciona. — Espero que tenha feito o trabalho de
Biologia.
— Ah, sim, enviei agora pouco — conta.
Sinto seus olhos sobre mim. Trinco os dentes, envergonhado demais.
— Eu ainda não enviei — Alana confessa.
Ergo a cabeça de uma vez e olho para ela.
— O quê? — indago.
Alana sorri ao me encarar.
— Acho que não percebeu a Leanne — ela aponta para a garota.
Meu Deus, quero matar essa garota!
Pigarreio, disfarçando e olho para o rosto da minha vizinha. As írises azuis me encaram.
— Olá, tudo... bem? — encolho as mãos.
Leanne abre um sorriso contido.
— Você sumiu da festa — diz, apertando os lábios. — Não deu nem tempo de te
apresentar meu irmão.
Pisco, estático.
— Irmão? — Alana indaga. — Não sabia que tinha um irmão.
— Ele é do time de beisebol, não anda muito com a nossa turma. — Ela volta a me olhar.
— Está tudo bem?
Abro a boca, procurando uma desculpa.
— Rhavi tem... hum... — Alana olha para mim. — Ele tem alergia a álcool, na festa ele
tomou alguns goles e... bem, teve que ir ao trono... sabe como é! — Ela faz um gesto com a mão.
Meu rosto começa a pegar fogo, chuto com força o pé de Alana, ouvindo Liza rir atrás da
gente.
— Por que não me falou? — Leanne pergunta, franzindo a testa e segurando uma risada.
— É... não deu tempo — respondo, odiando minha amiga nesse momento. — Não tenho
seu número... também.
— Isso se resolve rápido — diz, pegando a caneta do iPad, se inclina e anota seu telefone.
— Me envie alguma mensagem depois para eu salvar seu número. — Ela me devolve e pisca um
olho.
Fico boquiaberto, meneando a cabeça lentamente.
— E... o vestido? — pergunto, limpando a garganta.
— Levei para a lavanderia, não ficará manchado, não se preocupe.
Balanço a cabeça, aliviado, porque pelo menos a única coisa que ficará manchado é meu
orgulho.
— Isso é bom.
— O convite continua de pé?
Fito seus olhos, lembrando do jogo da sua mãe.
— Claro, será ótimo — sorrio.
— Olá, parceiros! — A voz de Matt, nosso professor, nos interrompe. — Vão se sentando
que hoje temos alguns assuntos interessantes a discutir.
— Preciso ir. — Leanne se despede. — Até mais!
— Até — acompanho-a com meus olhos até se sentar em seu lugar habitual, mais no fundo
da sala.
— Sério? — Alana indaga, incrédula.
— O quê? — Franzo a testa ao encontrar com seus olhos castanhos me avaliando.
— Por que você está tão preocupado com o vestido da garota?
— O que tem? — Dou de ombros, confuso com sua repreensão.
— E o vestido? — Alana me imita, revirando os olhos. — Por Deus, Rhavi!
— Foi a única coisa que lembrei de dizer — justifico, fazendo um bico.
Alana ri e eu também.
— Quero saber desse do convite, você não me contou.
— Eu esqueci.
— Esqueceu!? — Ela me dá um beliscão.
— Sim, assim como você esqueceu de enviar nosso trabalho. — Belisco de volta.
— Ai! — Alana resmunga. — Falando nisso, vou enviar agora.
Estalo a língua, assistindo-a pegar o celular e olho de soslaio na direção de Leanne, feliz
por não ter me repugnado por ontem.
— Meu cérebro está fritando. — Alana reclama ao sair da última aula do dia.
Devo concordar com ela, foram tantas informações que acho que o meu está quase fritando
também, e o pior é que daqui uma hora tenho treino.
— E eu? — Liza leva a mão à cabeça, parecendo exausta. — Sério, saí da sala mais burra
que entrei.
Rio das duas, o drama aqui é constante.
— Se você se acha burra, eu nem sei o que é pior que burrice — Alana inspira. — Quero
ajuda dos dois para estudar. Biologia e farmacologia são mais difíceis do que estava imaginando.
— Se você for uma aluna disciplinada, ajudo com toda certeza — rebato, ajeitando a
mochila e os óculos.
Alana resmunga, engatando uma conversa com Liza de um filme de romance que
assistiram. Entro no meio, porque também assisti e não gostei, mas quando digo minha opinião,
quase sou espancado por essas duas malucas.
Sério, elas não aceitam opinião diferente das delas.
— Preciso ir — Liza diz, se despedindo. — Vou me encontrar com a vovó agora.
— Mande um beijo nosso para ela — Alana acena para Liza, que assente e caminha pelo
corredor na direção da saída.
Eu e Alana pegamos o caminho da esquerda, que leva para a biblioteca com a intenção
dela devolver os livros que pegou semana passada. Enquanto caminhamos, conto sobre o convite
de Leanne, ela fica entusiasmada, fazendo perguntas e pedindo detalhes.
Ao sair do prédio, vou parando lentamente quando avisto Leanne encostada em uma
coluna enquanto conversa com um cara. Reconheço-o sendo do time de basquete da
universidade, até porque está vestido com a jaqueta da Houston Man’n.
Eles estão envolvidos em uma conversa que julgo estar interessante. Leanne sorri
parecendo sem graça, coloca seu cabelo loiro atrás da orelha e assente, o cara se inclina e
sussurra algo que a faz empurrá-lo para se afastar de modo descontraído.
Ele tem toda uma técnica de como seduzi-la; é alto, magro, negro e é bem popular entre as
meninas. Alana já me falou sobre ele, só não recordo seu nome.
Queria ser como ele, sem medo de chegar em uma garota para seduzi-la ou como Alana,
livre para fazer aquilo que deseja fazer sem vergonha e arrependimentos.
Sou apenas o cara que se esconde nas roupas largas com estampas esquisitas aos olhos das
pessoas e envergonhado demais para sequer se aproximar ao ponto de quase beijá-la.
E se você acha que tenho alguma chance de conquistá-la, bom, fico feliz por ter
esperanças, porque eu não tenho essa convicção.
Supera, não sou como eles!
— O encontro que marcaram é depois de amanhã? — Alana pergunta, sua voz saindo um
pouco baixa.
— Sim.
— Temos tempo — diz, segurando meu braço e fazendo-me encará-la. — Vou devolver os
livros, me espere na lanchonete.
Assinto, suspirando.
— O que está passando na sua cabeça? — indago quando seu olhar fica um pouco mais
sério.
— Te conto quando te reencontrar — ela fala, olhando na direção de Leanne. — Até logo!
Anuo a cabeça e quando vou olhar de novo na direção da minha vizinha, Alana puxa meu
braço.
— Não olha! — ela pede. — Vai, Rhavi, porque hoje será o último dia em que você se
diminui.
Franzo a testa cheio de perguntas, mas obedeço, indo rumo à lanchonete para comer algo
que tampe o buraco do meu estômago.
A praça de alimentação está lotada de alunos, o barulho de conversas e risadas preenchem
o lugar. Peço dois sanduíches naturais acompanhados com um suco de laranja. Ao virar na
direção da mesa vazia que vi, quase trombo em Briella.
— Opa! — ela branda divertida.
Seus olhos se encontram com os meus, o sorriso emoldura seu rosto ao me reconhecer e
retribuo, um pouco acuado.
— Olha se não é o leitor de clássicos — saúda, sarcástica.
— E a leitora de eróticos — retruco, tirando uma risada dela.
— Vou te convencer a ler um dia desses, inclusive, da próxima vez que eu te ver, vou
trazer um livro dos bons. — Ela arqueia uma sobrancelha. — O que acha?
— Adoraria. — Sorrio, abaixando a cabeça. — Está visitando o campus?
— Tenho uma amiga que cursa Enfermagem — diz, apontando para a mesa do outro lado.
— Enfermagem é legal.
— Nem tanto — retruca, rindo.
Briella joga os cabelos negros para trás dos ombros e bate a ponta da bota no chão.
— Bom — pigarreio —, preciso... me sentar e comer, daqui a pouco tenho treino.
— Beleza! — Briella balança a cabeça e coloca uma barrinha de cereal na minha bandeja.
— Para você ficar energizado.
Rio, agradecendo.
— Isso vai ajudar — agradeço, vendo-a se afastar e ir na direção da sua amiga.
Sigo até a mesa que escolhi, sento-me, coloco os fones de ouvido, e enquanto como meu
sanduíche, assisto ao anime Tokyo Ghoul pelo celular. Fico imerso nas cenas, em todo o
universo criado e enredo fantástico. Ken Kaneki é o melhor personagem de todo anime — claro
por ser o protagonista —, mas ele me envolve pra caramba.
Ergo os olhos da tela do celular, avistando Alana caminhar ao meu encontro, focada em
digitar no seu celular. Pauso o episódio e a espero.
— Merda! — Ela resmunga ao se sentar ao meu lado.
— O que foi? — Dou uma mordida no sanduíche.
— Passei do limite do meu cartão que minha mãe estipulou — Alana se inclina e pega seu
sanduíche, fazendo uma cara de choro. — É o diabo que está abalando minhas economias,
certeza!
— O que ele comprou no seu cartão? — pergunto, olhando-a. — Calcinhas... blusinhas?
Alana revira os olhos, mas não diz nada. Ela morde seu sanduíche pensativa e eu finalizo o
meu.
— Alô, tio? — Alana fala, viro a cabeça e noto o celular no seu ouvido.
Ela sorri, pega meu suco e dá um gole enquanto assente.
— Com quem você está na linha? — pergunto, querendo saber.
Alana apenas sacode a mão para que não atrapalhe sua ligação.
— Estou bem e o senhor? — Ela espera a resposta. — Então, estou ligando para pedir o
cartão de crédito do senhor, preciso comprar algumas roupas para deixar seu filho bem gato para
um encontro — congelo, encarando-a. — E quero comprar algumas blusinhas também — diz
rindo, lançando um olhar travesso.
Sério que ela está ligando para o meu pai? Meu pai?
Afinal, por que estou surpreso? Essa não é a primeira vez e meu pai nunca negou nada a
ela, nem estipula limites para você ter ideia.
— Seríssimo, tio! — Alana morde seu sanduíche, mal mastiga e engole. — Olha, pode
parecer surreal, ainda mais vindo do bundão do Rhavi, mas é verdade, e eu estou sendo a
responsável por isso... sabe, ainda bem que ele me tem, tio, imagina só, o bichinho iria morrer
virgem!
Ela me olha com um bico de um tamanho, que desejo fazer com que Alana engula ele.
— Ahhhhh! — Suas sobrancelhas se elevam. — Ela é muito gata, tio, nossa... pelo menos
ele tem bom gosto para mulheres, acho que puxou o pai garanhão — diz, gargalhando em
seguida. — Imagina, virgem e com muito mal gosto, neeeeeeeeem, morreria sem nunca conhecer
uma pepeka — Alana gargalha de novo.
Minhas bochechas começam a queimar, ela conversa como se eu não estivesse ao seu lado,
ainda mais com meu pai... porra!
Levo a mão à boca, esquadrinhando o lugar preenchido de conversas frenéticas e
animadas.
— Vai dar tudo certo, tio, não se preocupe, e se nosso baby se machucar, estaremos aqui
para curar as feridinhas do seu coração — fala, me fitando com carinho. — Tá bom... hurum...
hum... acho... — ela balança a cabeça. — Obrigada, tio, vou pegar hoje quando o Rhavi estiver
no treino, porque isso evitará que ele me impeça. — Alana ri, depois ri mais um pouco. —
Também te amo, tio, pode deixar que vou dizer, até logo. Beijo!
Ela finaliza a ligação, inspira fundo e dá uma mordida no seu sanduíche, agindo como se
nada estivesse acontecido.
— Seu pai falou que te ama. — Alana me olha por cima da borda do copo. — E que
podemos gastar o quanto quisermos no seu cartão black — ela enfatiza a última palavra.
— Sério? — Sustento seu olhar, sentindo meu rosto corar.
Alana solta uma risada, assentindo.
— Não posso gastar nada no meu cartão, então...
— Poderia ter pedido o meu.
— Ah, mas o seu não é black e eu queria conversar com ele. — Alana abana uma mão. —
Me deixe!
— Queria era fofocar, isso sim!
— Também — confirma, dando de ombros. — Quem te deu? — pergunta ao notar a barra
de cereal.
— Como sabe que ganhei? — Arqueio as sobrancelhas.
— Porque você não gosta desse cereal.
Reviro os olhos.
— Briella — digo, abrindo a embalagem e partindo ao meio.
— Fez uma bela amizade, hein. — Ela sorri, aceitando a metade que lhe entrego.
— Viu, não sou tão esquisito assim.
— Você é! — Alana afirma, enfiando a metade na boca.
— Obrigado.
— Pelo quê? — pergunta, franzindo a testa.
— Por ter confirmado que sou esquisito — resmungo.
Ela gargalha baixinho, finalizando seu lanche.
— Não marca nada para amanhã depois do nosso trabalho, preciso de você nesse tempo
livre.
Analiso-a, tentando ler suas intenções no tempo em que mastigo o cereal ruim e engulo
com dificuldade.
— Para comprar blusinhas?
— Calcinhas também.
Solto uma risada, ela é surreal, meu Deus!
Meu celular apita e confiro as mensagens de um grupo de leitura do qual faço parte.
Envolvo-me na conversa, comentando sobre o que achei da leitura, discordando de alguns
leitores e concordando com outros.
— Rhavi?
— Hum?
— Olha para mim. — Faço o que pede, assustado com o quão perto ela está de mim.
— Hum... está pertinho demais — murmuro.
Seus olhos castanhos cravam nos meus.
— Você está disposto a fazer tudo para conquistar sua vizinha, Rhavi Clark?
Por um instante estranho seu tom de voz sério, sua indagação atingindo meu coração. Junto
as sobrancelhas, enxergando um brilho determinado em seus belos olhos e a confiança que exala
faz com que eu confirme com um aceno de cabeça.
— Ótimo, porque ela está a alguns metros de distância de nós e preciso despertar algo nela.
Meus batimentos começam a acelerar e quando vou virar a cabeça para vê-la, Alana me
impede.
— Não olha, finge que não a percebeu.
— Como assim? — Começo a ficar nervoso com o jeito que Alana está me fitando e as
palavras que está dizendo.
Estou realmente confuso!
Ela umedece os lábios, olha para os lados e depois para mim de novo.
— Leanne é uma mulher livre, isso estamos cientes. Ela é aquela garota que sentiu
interesse, vai investir, por isso de tantos homens no seu apartamento, porém, você tem que ser
diferente, porque você é diferente! — , desliza os olhos para trás de mim por um segundo. — E
como desperta o interesse de uma mulher?
Penso um pouco e balanço a cabeça.
— Não sei.
— Competitividade.
— Como assim? — pergunto, curioso.
— Quando decidi te ajudar, meu primeiro passo foi falar de você para ela, frisar o quanto é
interessante. Contei sobre suas qualidades e o quanto era genial, naquele instante você parou de
ser invisível. — Ela faz uma pausa para recuperar o fôlego. — Diante disso, Leanne decidiu
investigar, porque se uma mulher fala demais de um homem, é claro que ela vai se interessar,
certo?
— Eu devo concordar com você? — pergunto, dando um sorriso sem graça.
— Deve.
— Sim, concordo.
Ela maneia a cabeça, satisfeita.
— Bom, isso fez com que Leanne chegasse em você na festa, ou seja, ela quer ter certeza
de que eu realmente estava certa. — Alana umedece os lábios, dá um gole no suco e retorna ao
seu discurso. — Só que aconteceu aquele fatídico acidente, no entanto, ela manteve o convite do
tal encontro que você vai me levar para eu ficar de vela, vou amar isso! — Ela solta uma risada.
— Aonde você quer chegar com isso?
— Que ela precisa ver que tem uma concorrência no caminho dela — conta, estalando os
dedos. — Leanne tem que notar que tem outra interessada em você.
— Mas... como vou fazer isso?
— Simples. — Alana inspira fundo. — Vamos despertar ciúmes nela.
Ela estala o dedo outra vez, como se tivesse encontrado um pote de ouro. Contorço os
lábios, depois faço um bico e sorrio, achando uma ideia nada original.
— E com quem vou despertar ciúmes na garota?
— Eu!
O sorriso morre em meus lábios, poderia até gargalhar e dizer que é uma coisa idiota se
não fosse sua expressão séria.
— Oi? — Bufo uma risada sem humor.
— Ela me perguntou o que você era meu, eu disse que era apenas um amigo, mas... poderia
estar mentindo, entende? — Alana olha para os lados. — E se ela pensar que te quero além da
amizade? Isso vai fazer com que ela invista em você. Deu para entender?
Pisco, atordoado.
Não entendi foi porra nenhuma!
— Não — respondo.
— Não importa se entendeu ou não, essa é sua oportunidade — ela ergue o dedo indicador
e faz um círculo. — A praça de alimentação está lotada de mulheres, não só os olhos dela vão se
voltar para você, mas os de todas. E quando você se tornar aquele gato, vai chover boceta no seu
colo.
— Não quero ser pegador, Pet — digo. — Sabe... quero ser o cara de uma garota só.
— Eu sei, Pet, mas precisa fazer isso para conquistar a Leanne, entende?
Inspiro fundo e assinto, entendendo que tenho que mudar para me tornar o cara que a
Leanne quer.
— Agora preciso que faça uma coisa — Alana diz, olhando além de mim. — Toque-me,
Rhavi, como se estivesse de fato me seduzindo.
— O que-ê? — gaguejo.
Encaro-a com espanto, lembrando que ela disse que seria a garota que despertaria o ciúme
em Leanne, só que... não posso tocá-la assim dessa forma. Ela é minha amiga!
— É de mentirinha — Alana afirma, se inclinando para mais perto. — Se você não fizer
isso, vou roubar os dois chocolates que encontrei na sua geladeira, e quando for o seu dia de
comer doce, não terá mais eles.
Abro a boca, chocado.
— Você não pode me chantagear com meus próprios chocolates.
— Você decide.
Trinco os dentes.
Porcaria, vou ter que arrumar outro lugar para deixar meus doces.
— Tudo bem — murmuro. — É por Leanne e meus chocolates.
Alana estala a língua.
— O que eu faço? — indago, nervoso e com as mãos trêmulas.
Alana comprime os lábios para evitar rir.
— Você está da cor de um tomate.
— Culpa sua.
— Respira fundo, adquira um semblante de interesse ao me encarar e coloca meu cabelo
atrás da orelha — orienta, baixinho.
Engulo em seco, sentindo que isso não vai dar certo. Alana se inclina e segura a gola do
meu moletom, seus olhos travados nos meus.
— Eu não sei...
— Apenas segue o fluxo.
Inspiro fundo, meneando a cabeça e levo a mão na direção do seu rosto, pego uma mecha
solta, aquela que sempre cai em seus olhos, enrolo em meu dedo e solto o ar.
— Espero que isso dê certo — murmuro, colocando-o atrás da sua orelha e descendo o
dedo na linha do seu queixo, delicadamente, sem pressa. — Estou indo bem?
— Sim — Alana sussurra. — Por que escolheu a Leanne?
Dou de ombros, acariciando seu nariz.
— Hum... tudo começou quando a vi pela primeira vez na biblioteca, ela estava à minha
frente na fila de devolução de livros e segurava três de economia. — Esboço um sorriso com essa
lembrança. — Ela estava resmungando por estar com dificuldade com as fórmulas, eu estava
ouvindo-a conversar, então fiz um barulho sutil de uma risada e Leanne olhou para trás. Seus
olhos azuis se fixaram nos meus e me fizeram lembrar da beleza do mar. Eles me encantaram,
era como se estivessem cintilando o mundo.
Faço uma pausa, recordando daquele breve contato visual, do meu coração acelerando e do
ar que segurei, tão preso naquele momento, mas fui idiota demais e abaixei o olhar por causa da
timidez.
— Depois daquele dia, comecei a observá-la — continuo, fitando os olhos escuros de
Alana que presta atenção em cada palavra dita. — Observava a forma como mexia suavemente
seus cabelos, o jeito que passava os dedos por todo o comprimento dos seus fios loiros que
brilham como raios do sol. Um dia... senti seu perfume, e ele ficou gravado em minha memória,
da sua voz delicada com uma pitada de sarcasmo.
— Pior que ela é um pouco sarcástica mesmo — Alana comenta, rindo.
Meneio a cabeça, concordando.
— Leanne sempre enruga o nariz quando não entende algo ou quando algo não a agrada,
ela junta as sobrancelhas, fazendo um vinco entre elas.
— Sério?
— Repara.
— Vou fazer isso.
— Foram pequenas coisinhas que me fizeram escolhê-la, não por ser linda, cobiçada e
desejada pela maioria dos caras, mas pelo que realmente ela é dentro de si. — Aponto para meu
coração. — Leanne é uma garota incrível, atenciosa, gentil e não liga para as opiniões dos outros.
Ela é o que é, entende?
— Quando teve a certeza disso?
Reflito por um instante e sorrio.
— Quando ela ajudou uma senhorinha a procurar sua neta pelo campus. — Dou de
ombros. — Pode ser algo bobo, mas foi tudo o que eu precisava ver. Naquele dia ela faltou a aula
apenas para ajudar a velhinha. Depois disso tive a certeza de que a queria e muita coisa mudou.
Por culpa dela eu desligava as luzes e ficava na cama escutando-a ouvir músicas, conversar com
suas amigas no viva-voz ou assistir novelas... ela ama novela coreana — sorrio. — Ela sempre
chora, porque ouço seus soluços. Só que, infelizmente, ouvia suas aventuras com caras
diferentes, e quando eu dormia, sempre pensava em um futuro com ela.
— Isso é... muito lindo — Alana murmura.
— Os olhos daquela garota me fisgaram, Pet, me fizeram de refém... e eu sei que não a
conheço, é difícil explicar, mas meu coração sorri quando penso nela, no quanto a desejo... talvez
tenha sido amor à primeira vista. — Dou de ombros.
— Amor à primeira vista é uma expressão tão clichê. — Ela solta uma risada.
— Amor entre vizinhos também — retruco, suspirando. — O que eu faço agora

?
— Se inclina e conversa no meu ouvido.
Respiro fundo, e relutante faço o que diz.
— Precisamos fazer com que esse clichê aconteça — Alana retoma o assunto.
— Você acha que... foi amor à primeira vista?
Alana umedece os lábios, pensativa.
— Na verdade, Pet, todo amor é à primeira vista, só que às vezes a gente demora um curto
tempo para perceber.
— Você acha que ela vai gostar de mim? — pergunto, inseguro.
— Ela vai te amar sem rótulos, por isso deixa rolar, não atropele as coisas, que no fim tudo
vai acontecer naturalmente, porque você é o cara que todas desejam, Pet.
— Não exagera.
— Não estou! — Ela bate a ponta do dedo no meu nariz.
— Ela está nos olhando?
— Sim — Alana confirma, olhando de soslaio para o lado. — Leanne não para de nos
encarar. Viu, está dando certo.
Assinto, inspirando seu perfume de pêssego.
— Por que fazer isso?
— Porque as pessoas desejam aquilo que não podem ter — responde, pousando a mão em
meu ombro, sua respiração faz cócegas em minha orelha.
— Posso parar agora? — pergunto com um certo desespero. — Tenho treino.
Alana ri, segura meu rosto e beija minha bochecha.
— Vai lá, Pet, mas não olha para trás — ela solta meu rosto e me afasto, inspirando
aliviado.
Encaro-a por mais alguns segundos, Alana pisca um olho e sorri inocentemente. Ainda não
confio nessa ideia, mas espero que tenha dado muito certo, porque eu não quero repetir isso...
não com minha melhor amiga.
O treinador reuniu todos para analisarmos as jogadas playbook[1] do nosso adversário
UTSA Roadrunners, e durante um bom tempo estudamos suas táticas, pontos fracos; tanto da
defesa quanto do ataque. Destrinchamos cada combinação de rotas feitas por eles através de
alguns vídeos separados exclusivamente para isso.
Depois de uma hora nessa função, o treinador focou no nosso time titular, conceituando
combinações de rotas, jogadas aéreas e terrestres, de forma que possa ser usada nos dois lados do
campo ou então usar rotas como isca, para abrir espaço para que as jogadas funcionem.
E o princípio para todo esquema que monta em um quadro branco, é facilitar a vida dos
recebedores para que acertem os passes e que todo ataque possa interceptar a defesa adversária.
Remexo na cadeira, prestando atenção em cada detalhe, anotando e desenhando as rotas
que é dita, exibida e combinada no meu iPad.
Após finalizar um outro desenho, do qual gostei, usando os pontos fortes do time
adversário, o treinador vira para frente e encara todos antes de dar sua explicação.
— Nessa jogada irá ter um recebedor externo executando uma shallow cruzando o campo,
enquanto o recebedor interno ao lado dele executa uma rota de dig — ele faz a rota no quadro de
cores diferentes simulando o campo. — Com essas duas rotas indo na mesma direção, cria uma
leitura high/low para Connor.
Connor ergue a mão, pedindo voz. O treinador dá um sinal de positivo com a cabeça.
— Essas duas rotas consistem também de uma rota drag do recebedor externo e uma rota
dig do recebedor interno? — pergunta.
— Sim — o treinador confirma. — Com essas rotas o objetivo é conquistar jardas após a
recepção.
— É uma excelente forma de executar blitz — Tayler comenta.
— Exatamente — o treinador aponta para o quadro. — Connor vai ter duas opções, uma
em cada profundidade para fazer o passe... — ele continua sua explicação, fechando todos os
pontos em abertos, montando e criando para que tudo esteja da forma mais perfeita possível.
Assim que o treino tático é finalizado, o treinador nos envia para o campo fechado para
iniciar os treinamentos de agilidade, velocidade, força e de coordenação motora com os
aparelhos dispostos no campo sintético.
Os barulhos dos equipamentos, da colisão entre capacetes e de pegadas de bola reverberam
pelo local, cada jogador dando o melhor de si enquanto o treinador nos observa com olhos de
águia.
— Vamos, Rhavi! — o preparador físico grita enquanto faço o circuito na escada elevada o
mais rápido que consigo, finalizando e indo de zigue-zague na tentativa de fazer a finta bem
certa, chegando na zona entre os quatro pylons.
Connor joga a bola, pulo, agarro-a firme e corro, desviando das traves que estão em pé,
esbarrando em uma delas. Repito esse circuito junto com os outros recebedores umas sete vezes.
Depois de finalizado, retiro o capacete, pego uma garrafinha de água e dou um gole com os
olhos presos no treinamento da linha de defesa, que agarram uma máquina que simula outros
jogadores.
— Esses caras estão cada dia mais fortes — Tayler comenta, sentando-se em seu capacete.
— Vão botar fogo no campo — digo.
Tayler ajeita sua luva, concordando.
— Mas a defesa dos Roadrunners é espetacular. — Ele bate a chuteira no gramado. — Se
não tomarmos cuidado, poderemos ter muito trabalho.
— Claro que vamos conseguir — Connor se intromete ao parar ao nosso lado. — Não
duvidem disso, pode não ser fácil, mas não vai ser difícil.
— Claro, você pode até estar certo, mas... — Tayler deixa morrer a frase.
— Complicado... — Connor balbucia, coçando sua barba rala.
Encaro ambos, percebendo que há uma conversa interna entre eles, a qual não consegui
decifrar, mas sinto que tem alguma coisa a ver com os jogadores, porque o time não é feito de
um, e sim de um conjunto; conexão, lealdade e união.
Volto a analisar os caras da DL, que para estarem nessa posição da linha de defesa, além
do físico, tem que ter atributos mentais para adivinhar e destrinchar as jogadas dos adversários.
Respiro fundo uma última vez, dou um gole na água e quando o apito do preparador físico
estronda, retorno ao treino junto com os outros recebedores.
Connor joga a bola enquanto tentamos pegá-la cada um na sua vez, ao mesmo tempo em
que somos agarrados por um dos jogadores da defesa, com objetivo de executar o passe, fugir
das garras do adversário e conquistar jardas mesmo que estejamos marcados.
— Atenção! Atenção! — O treinador sopra o apito e grita até que todos estejam prestando
atenção nele. — Todos para fora, quero o time titular em uma simulação de jogo real.
— Vamos nessa! — Tayler sai caminhando rumo ao vestiário para colocar os
equipamentos.
Quando há jogo assim, os reservas sempre ficam com o uniforme vermelho, sendo
denominados o time vermelho contra os brancos, que são os titulares.
Minutos depois, todos vão para o campo e o sol nos recepciona com fervor. Connor, o
quarterback, e Ben, que assume a liderança da defesa como Defensive End (LE), aguardam todos
se ajustarem no campo.
Haley para no meio do campo para dar uma pequena orientação; relembrando de algumas
jogadas que ele quer que Connor execute.
Com meu iPad para fazer minhas anotações acompanhadas de observações que sempre
faço, olho no campo quando os jogadores se reúnem em volta do huddle.
Connor grita instruções em códigos, elevando o nível de adrenalina dos seus
companheiros, porque agora, com o treinador observando, tudo é muito real e nenhum dos lados
querem perder, mesmo sendo reservas.
Ao decorrer do tempo, noto que algo não está certo, uma falta de sincronia entre Connor e
Sean que é difícil de ignorar; assim como certas interceptações brutas de Ben, que fazem com
que o RB fique atordoado.
O jogo começa a ficar no auge da intensidade, as emoções estão à flor da pele e a
competição é feroz, uma jogada acirrada se desenrola entre Sean e Ben. Ambos determinados a
conquistar a vantagem.
Sean avança pelo campo, driblando defensores com suas habilidades ágeis. Ele está focado
na busca pelos corredores e pela zona de classificação. Ben, por outro lado, está em uma missão
para impedir seu avanço e defender o território de sua equipe com firmeza.
No momento em que o Sean se aproxima de Ben, ocorre um choque colisivo. Os capacetes
se chocam com força, gerando um som metálico que ecoa pelo estádio.
Sean e Ben se empurram.
— Você não passa de um estorvo na minha trajetória para o touchdown! — Sean branda
com raiva. — Vou passar por cima de você como se fosse nada.
Ben ergue as mãos.
— Pelo menos alguém aqui está habituado a ser atropelado, não é mesmo?
Sean o empurra com mais força.
— Pelo menos eu não sou um fracassado que só sabe fazer cera.
Os ânimos estão mesmo inflamados.
— Ei, chega disso, pessoal! — Tayler grita. — Não é assim que devemos treinar! Calma
aí!
Ele se coloca entre o Sean e Ben, usando sua presença para criar uma barreira física.
— Você acha que isso faz de você algum tipo de herói, hein? — Ben diz. — Pegando a
bola só porque ninguém consegue te segurar!
Sean dá um sorriso provocador.
— Talvez se você tivesse alguma noção de como segurar a bola, não estaríamos nessa
situação.
Sean tenta avançar, mas Tayler o para.
— Pelo menos eu não sou o que precisa de uma plaquinha para se lembrar das jogadas.
— Chega! — Tayler grita, empurrando o peito de Ben e o tira de perto de Sean. — Nós
somos uma equipe, lembra? Essa rivalidade não vai nos levar a lugar nenhum.
— Olha só! — O treinador grita. — Parece que temos alguns jogadores praticando para um
próximo campeonato de boxe. Que tal concentrar essa energia no próximo jogo? — Ele apita e
ergue as mãos. — Lá é onde as brigas realmente contam.
— Se liga, parceiro! — Sean rosna em um tom de ameaça.
Ben apenas solta uma risada.
Não faço ideia do que os levaram a ter essa rivalidade, porque treinos assim já acontece
várias vezes e nunca brigaram, só que Ben realmente pega muito pesado... muito pesado mesmo,
até acho que ele levou o termo “defesa implacável” pouco longe demais.
Espero que ele não pense em começar uma carreira de lutador de MMA antes de me
formar e encontrar um outro time para jogar, por isso preciso me certificar de que minhas
corridas sejam bem precisas para me manter longe dele, ou vou acabar que nem um purê de
batata; todo amassado.
Isso não quer dizer que sou um cagão, tá?
Só preciso preservar minha vida.
Volto minha atenção para o jogo, e vejo que Connor e Sean se movem como peças de um
quebra-cabeça que não se encaixam perfeitamente.
Os passes de Connor parece não encontrar com o de Sean no momento certo. O RB, em
um momento, parece hesitante, perdendo oportunidades de avançar com a bola.
— Qual o problema do MacCallister? — Jerry pergunta.
— Deve estar de TPM — Reymond responde.
Franzo a testa, preocupado com o que estou vendo, porque se no treino está assim, imagine
se fosse em um jogo real!
Estaríamos perdendo!
Nota 0.
— Você acredita que estou pensando em começar a treinar no horário das nacionais? —
Jerry diz para Raymond.
— Ah, cara! Não fala besteira.
— Ei, Clark? — Ele aponta com o queixo na direção do campo. — Você já pensou que
talvez eu devesse dar um adeus amigável as nacionais?
— O quê? — Fico surpreso com sua pergunta. — Claro que não!
— Bem, se o nosso QB e o RB continuarem jogando bosta, acho que nosso time não
passará para as nacionais, sabe?
— Ah! — aperto os lábios. — Eles podem ter apenas tido um dia ruim. Acontece!
— Um dia ruim? — Jerry solta uma risada. — Parece que estão tendo um daqueles dias em
que até a bola parece escapar deles de propósito!
— Eles são bons... muito bons — afirmo, meneando a cabeça. — Já nos ajudaram a vencer
muitos jogos. Não dá para dizer o contrário disso. É apenas um treino!
— Verdade, verdade. Mas hoje? — Jerry bufa. — Parece que estão jogando o “passa a
batata quente” com a bola e ninguém quer pegá-la.
Não posso tirar a razão de Jerry, porque está mesmo parecendo que estão jogando “passa a
bola quente”. Não dá para acreditar que Connor e Sean não estão levando isso a sério.
Está difícil de assistir.
Eu sei que sou um mero reserva, mas ver a bola sendo lançada de um lado para o outro
desse jeito é doloroso.
— Clark? — Reymond chuta de leve minha chuteira. — Talvez você possa ser o herói do
dia e entrar lá para salvar a situação vergonhosa.
Eu herói?
Poderia dizer que talvez devesse mesmo ser o herói e dar uma mãozinha, ou melhor, uma
mão fria, para acalmar essa bola quente, só que sou eu, Rhavi Clark, as bolas amassadas, seria
mais uma piada dentro desse campo.
Mesmo assim, tento ao máximo me esforçar para estar preparado para entrar, mas droga,
parece que eles nunca me dão uma oportunidade, e quando dão, uma diarreia vem e cago todo
em mim.
Só que ver Sean jogando ruim assim...
Ei, quem sou eu para julgar Sean?
Eu ainda estou aqui, observando sentado no banco frio.
— Talvez... — murmuro em resposta.
Eles começam a rir, provavelmente da minha cara.
— Porra! — Jerry estala a língua. — Queria que você mostrasse a eles o verdadeiro
significado de “tocar o céu com as mãos” ou melhor “como é ter as bolas amassadas com
sucesso”.
Raymond ri.
— Seria mais divertido do que assistir esse jogo.
— Seria mesmo! — Jerry concorda.
Ra-Ra-Ra! Que engraçadinhos eles são, né?
— Eles vão melhorar — digo, ignorando a piadinha.
Porém, um medo começa a correr pelas minhas veias com a possibilidade de eu ser
chamado para entrar no lugar de Sean nesse treino.
Merda!
E se eu for mesmo chamado e fazer as mesmas bobagens? Será que isso é contagioso?
— Realmente, parece que o nosso QB e o RB não estão levando o treino a sério. —
Raymond se aborrece com mais um erro, que dessa vez foi cometido pelo Connor.
Entendo que todos têm dias ruins, mas isso é além de qualquer coisa que eu possa
imaginar.
Por que eles estão jogando tão mal?
— Com certeza — Jerry balbucia. — Não tem como não rir vendo esse desastre.
Suspiro, decepcionado.
Estou aqui, me esforçando nos treinos, esperando pela minha chance, e tudo que vejo é um
festival de erros. É frustrante, para dizer o mínimo. Não quero ser negativo, mas corre um grande
risco de eu fazer a mesma merda.
Na minha cabeça, eu não deixaria a bola escapar assim.
Volto a observar com atenção quando Connor se prepara para lançar a bola em um passe
crucial para a end zone. Sean parece estar em uma posição perfeita para receber o passe e marcar
um touchdown. Meu coração dispara, imaginando o momento em que a bola cruzará a linha.
No entanto, à medida que a bola é lançada, minha expressão muda de esperança para
choque ao testemunhar o passe indo na direção certa, mas Sean não consegue fazer a recepção. A
bola passa pelas suas mãos, escapando de seu alcance.
Recosto no banco, incapaz de acreditar no que acabei de ver.
Connor tira o capacete da cabeça, frustrado.
— Que porra foi essa? — Ele grita para Sean. — Você tinha tudo para pegar essa bola.
Sean retira o capacete. Suor escorre pelo seu rosto e sua respiração está ofegante, mas seus
olhos estão fulminantes quando o encara sem dizer nada enquanto caminha para fora do campo.
— Era um touchdown certeiro, McCallister. Tudo estava alinhado, a jogada perfeita... e
então a bola simplesmente escorregou pelas suas mãos. — Connor vai atrás dele. — Isso é mais
do que um erro. É uma oportunidade perdida que pode fazer a diferença no jogo real.
— E daí?
Connor trinca os dentes.
— Cara, que merda está acontecendo? — pergunta, irritado.
Sean pega uma garrafinha de água.
— Por que estaria acontecendo alguma coisa? — Titubeia, dando um gole.
— Nós não estamos nos conectando como deveríamos — Connor fala, passando as mãos
pelos cabelos.
— Talvez o problema seja você.
— Precisamos resolver isso — a voz Connor oscila no fio da contenção, como se estivesse
à beira de ser liberada de um controle firme a qualquer momento. — Nossa sintonia é crucial
para o sucesso da nossa ofensiva, sem ela estamos fadados a derrota.
Sean assente, concordando.
— Você está certo.
— É sério, cara! — Eles se encaram. — Tenta alinhar nossos movimentos, deixa o que for
para fora do campo. Não fode com a minha paciência! — Com um gesto de frustração, Connor
dá as costas e sai bufando de raiva, deixando um rastro de tensão no ar.
Um sorriso sarcástico brinca nos lábios de Sean enquanto ignora as palavras de Connor,
tomando o restante da água com um gesto casual.
O treinador conversa com sua equipe técnica, e de repente, seu apito irrompe.
— Ei, garotos, já que nosso RB estava praticando a arte do passe livre para os adversários.
Afinal, eles também merecem a bola, não é mesmo? — Haley dá uma pausa, ouvindo a risada de
alguns jogadores. — Acho que é hora de dar uma chance ao nosso talentoso RB reserva. Quem
sabe ele pode nos ensinar a arte de segurar uma bola. Não é mesmo? — O treinador aponta para
o campo. — Vamos, não quero mais perder tempo!
Os titulares se juntam no campo. Jerry dá um tapinha no meu ombro.
— O que ainda está fazendo aqui?
Olho para ele.
— Hum?
— Poh, cara! — Ele ri. — Você foi chamado.
— Eu?
— Clark? — Haley berra. — O que faz com a bunda no banco?
Meus olhos se arregalam por um momento, e uma mistura de emoções passa por meu
rosto. Engulo em seco, sentindo a adrenalina começar a correr em minhas veias.
Porra, fui chamado para entrar em campo com os titulares?
Sério? É real?
Viro-me na direção de Sean, notando seu olhar de raiva fitando o chão, insatisfeito por
terem o trocado.
— Vamos, bolas amassadas! — Tanner grita.
Troco olhares com alguns de meus colegas, vendo sorrisos de apoio e encorajamento.
Levanto-me do banco, ajusto o capacete e esfrego meu peito, tentando acalmar o coração
acelerado.
Enquanto caminho em direção ao campo, sinto um misto de ansiedade e vontade de
mostrar que mereço ser além de um reserva.
— Não me deixe decepcionado, Clark! — O treinador grita.
— Sim, senhor!
Respiro fundo, nervoso.
— Ei, pessoal, juntem-se aqui. Vamos conversar antes do jogo. — Connor reúne todos os
jogadores em círculo.
Quando todos estão juntos, Connor olha para cada um de nós.
— Beleza, agora é pra valer. Nesse segundo tempo não há margem para erros. É hora de
confiar e mostrar ao treinador que somos os titulares certos.
— Com certeza, QB — David DeCastro, o Tackles, diz.
— Vamos começar com a jogada de corrida — Connor instrui. — Vou entregar a bola ao
RB, e quero que todos os bloqueadores abram espaço para ele avançar. Se fizermos isso,
podemos ganhar boas jardas no campo.
— Vamos arrasar com essa jogada! — Tanner declara, animado.
— E para as jogadas de passe, lembrem-se da nossa sincronia — Connor continua. —
Recebedores, cortem suas rotas com precisão e estejam prontos para receber o passe. Proteção da
linha, vocês são a chave para me dar tempo para tomar decisões.
— Vamos manter a proteção forte — Tayler afirma.
— Vamos recomeçar de novo, pessoal! — Connor diz. —Agora, coloquem as mãos no
centro e gritem " COUGARS!”
Colocamos as mãos no centro e gritamos.
— COUGARS!
— QUEM SOMOS?
— SOMOS OS COUGARS!
Connor sorri.
— Vamos lá!
Todos saem do círculo, motivados e prontos para recomeçar o jogo.
— Mantenha seus cortes precisos e esteja pronto para mudar de direção a qualquer
momento. — Connor segura minha cabeça.
Será que estou à altura deles?
Bem, vou tentar de tudo para não cometer nenhum erro e decepcionar minha equipe de
novo.
— Vou dar o meu melhor — digo, ajeitando as luvas.
— Confio em você.
— Valeu!
Ele puxa levemente o meu capacete pela grade frontal, fazendo com que fique mais
próximo dos seus olhos.
— Concentre-se no seu jogo e mostre a todos o que você é capaz de fazer.
— Não vou deixar que Ben amasse minhas bolas.
Connor ri.
— É assim que se fala, RB! — Ele puxa levemente o capacete pela grade de novo.
Respiro fundo e olho para o campo, visualizando as jogadas em minha mente. Uma mistura
de emoção e nervosismo circula em minhas veias, mas também uma confiança crescente.
Ok, cérebro, lembre-se de não ficar pensando no pior, precisamos dar um show aqui.
Espero que meus passes não pareçam selfies mal tiradas, porque seria mais um motivo para me
caçoarem.
Nossa... estou nervoso!
Tipo, pra caramba!
Beleza, beleza, beleza.
Vou aproveitar meus 15 minutos de fama nos titulares e torcer para não tropeçar e pôr tudo
a perder. Ajusto o capacete, aperto as luvas e me preparo para entrar em ação, tentando manter o
foco.
Connor me olha, sinalizando com dois dedos. Assinto e coloco o protetor bucal.
O apito soa pelo campo, recebo a bola e começo a avançar, pronto para superar a defesa
adversária. No entanto, Ben surge com uma explosão de velocidade, determinado a me quebrar.
Porra! Porra!
Com um movimento surpreendente que tira todas as minhas chances de fuga, Ben
mergulha na minha direção. O impacto é brutal, e a bola é arrancada das minhas mãos enquanto
sou derrubado com força no chão. Os caras ficam em silêncio por um momento, surpresos com a
intensidade da jogada.
— Arrebentou, Benjamin! — Nossos adversários comemoram.
Ai, ai, ai, acho que vou precisar de um bloco de gelo do tamanho de um iceberg para essa
pancada.
Quem diria que o Ben seria tão amigável assim na nossa primeira troca de
“cumprimentos”, né? Pelo menos agora tenho um novo tópico para a próxima reunião: “Como
não ser interceptado por um monstro defensivo 101”.
Droga!
Fala sério, não posso deixar essa dor me desviar. Preciso me concentrar, superar isso e
voltar para o jogo.
E olha que foi apenas a primeira jogada.
— Ei, RB! Essa interceptação não é o fim do mundo! — O treinador grita. — Levanta
dessa grama e mostre a eles do que você é feito!
Connor me ajuda a levantar.
— Temos muito jogo pela frente, Clark — diz, batendo em meu ombro. — Vamos lá!
Assinto, voltando para meu lugar e me preparando de novo, varrendo a defesa com meus
olhos, parando por alguns segundos em Ben, o monstro 101.
Ok, essa interceptação foi um lembrete de que o jogo não é um passeio no parque. Preciso
me concentrar mais, ler a defesa com cuidado e segurar a bola como se fosse o meu novo melhor
amigo.
Vamos lá, Rhavi Clark, é hora de mostrar que você não vai se render tão facilmente.
Eu e Connor trocamos olhares rápidos, como se estivéssemos tentando ler a mente um do
outro. A defesa adversária nos observa com atenção, querendo antecipar o que está por vir.
Quando o snap é feito, Connor atrasa a bola enquanto corro, tentando me livrar dos
marcadores, e quando consigo, Connor arremessa a bola. Eu salto no ar e apanho ela com uma
destreza incrível.
Com a bola em mãos, corro pelo campo, desviando-me dos defensores, avançando jardas e
mais jardas. No entanto, Ben consegue me agarrar, embora não antes de termos avançado
consideravelmente pelo campo. Nossos colegas comemoram.
Connor sorri e dá um tapa em meu capacete.
— Grande trabalho, Clark! — Diz. — Essa jogada foi como música para os nossos
ouvidos.
O tempo passa, o jogo fica mais fervoroso. Cada passo que dou é uma fusão de emoção,
enquanto avançamos pelas jardas com habilidade inabalável. A sintonia entre mim e Connor é
palpável, nossas jogadas orquestradas parecem ser guiadas por um entendimento mútuo
profundo.
Meus cortes precisos se combinam com os lançamentos certos do QB, resultando em
jogadas que ecoam pela torcida que se formou entre nossos colegas.
Apoio as mãos nos joelhos, arfando, o cansaço começa a pesar e meu corpo dói com os
espancamentos dos defensores. Eu quero mais do que nunca aquele tão desejado touchdown para
finalizar com chave de ouro.
Só preciso me concentrar. Sei que posso fazer isso.
Vou correr mais rápido, driblar mais astutamente e deixar a defesa na poeira. Um
touchdown seria a cereja no topo do bolo.
Vamos lá, Clark, vamos fazer isso acontecer!
A bola é colocada em jogo, Connor a entrega em minhas mãos. Com uma explosão de
velocidade, começo a avançar pelo campo, driblando um defensor após o outro, mostrando
habilidade em escapar dos tackles.
Conforme me aproximo da linha de touchdown, a defesa adversária tenta bloquear meu
caminho, mas não permito ser intimidado.
Sou Rhavi Clark, porra!
Faço um corte brusco, deixando os defensores sem chance enquanto acelero em direção à
end zone. Sinto que estou em outro ritmo, correndo com força e mais força, meu coração parece
estar prestes a sair pela garganta.
Quando fico poucos metros da linha de touchdown, faço um último movimento, saltando
sobre um zagueiro e estendo a bola em direção à end zone.
O juiz levanta os braços, sinalizando que é um touchdown válido.
Porra! Consegui!
Sim! Toquei a bola no chão da end zone e sinto como se estivesse tocando o céu. Isso foi
mais do que um touchdown; foi a prova de que ninguém deve duvidar do Rhavi Clark em campo.
Caralho!
Fiz um touchdown!
Minha equipe irrompe gritos de comemoração. Sorrio de satisfação, feliz por ter provado a
mim mesmo e aos outros que tenho o que é preciso para brilhar no campo, não apenas esquentar
o banco.
O apito do treinador soa.
— Ótimo trabalho hoje, garotos. Esses treinos nos mostraram que somos mais fortes
quando vencemos juntos, independentemente de ser titular ou reserva. Lembrem-se, o sucesso de
um reflete o sucesso de todos. Continuem focados, mantenham essa energia e levem isso para o
campo no próximo treino. Estou orgulhoso do esforço que vi aqui hoje. Agora, descansem e se
preparam para brilhar quando a contagem regressiva chegar ao zero. Vamos nessa!
Retiro o capacete, exausto!
— Arrasou, Clark! — Connor bate em meu ombro. — E aquela sincronia entre nós... Foi
algo demais.
Caminho para fora do campo.
— É... — Sorrio.
— Estou ansioso para o que está por vir — ele comenta, um sorriso se espalhando em seus
lábios.
— Olha só quem está se destacando no campo hoje, o grande RB Reserva! — Sean diz
com a voz sarcástica. — Acho que alguém aqui finalmente conseguiu seu momento de fama,
hein? Afinal, ser reserva é um trabalho em tempo integral, certo?
Olho para Sean, sentado com os braços apoiados nos joelhos, fitando-me com uma
expressão fria. Mantenho a postura, ignorando seu comentário, mantendo meu olhar no chão, o
qual esconde qualquer sinal de perturbação.
— É engraçado como algumas pessoas têm uma habilidade incrível de falar besteiras no
momento errado, não é? — Connor rebate.
Sean dá um sorriso de deboche.
— É que alguns parecem ter esquecido do seu lugar — diz, me encarando.
— Não importa se somos titulares ou reservas, quando entramos em campo, todos nós
somos uma equipe — falo.
— É mesmo?
Connor dá um passo em sua direção, mas muda de ideia quando faço um gesto discreto,
dizendo para deixar para lá. Seus lábios se apertam em uma linha fina.
— Não vale a pena! — murmuro para que apenas Connor escute.
Esse comentário não vai me derrubar. Sei do meu valor e sei que dei o meu melhor. Hoje,
tive a chance de mostrar que posso estar no mesmo nível que os titulares, mesmo que tenha sido
apenas um treino.
A sincronia que construí com o QB foi incrível. Vou continuar a me esforçando,
trabalhando duro e agarrando todas as oportunidades que surgirem.
— Ainda vou arrebentar a cara desse idiota! — Connor resmunga antes de sumir pelo
vestiário.
No final das contas, o que importa é o progresso que estou fazendo e não será Sean
McCallister que estragará isso.
Coloco a alça da bolsa no ombro direito e saio do vestiário. Os treinos de hoje me
destruíram; no entanto, jogar ao lado de Connor tem seu lado positivo. Não fazia ideia de que
temos uma conexão durante as partidas. Uma pena, de verdade, não ser o titular.
Ajeito o capuz na cabeça enquanto caminho na direção do estacionamento, louco para me
deitar na cama e apenas existir. Porém, ao notar Alana encostada na caminhonete, lembro que ir
embora está fora de cogitação.
Ela balança a cabeça para frente e para trás, ao mesmo tempo em que move o pé esquerdo,
inerte na música que ouve em seus fones cor de rosa. Quando paro diante dela, sua cabeça ergue
e seus olhos se fixam nos meus; em seguida, ela abre um sorriso.
— Olá, Pet — cumprimento, colocando as mãos nos bolsos do moletom.
Alana tira os fones de ouvido.
— Pensei que iria morar nesse estádio — comenta, olhando para o céu alaranjado com
riscos rosa dando início à noite.
— Desculpe não ter comparecido na biblioteca. Não pude sair do treino, e hoje... treinei
como titular — digo, assistindo-a abrir a boca, entusiasmada.
— Jesus! Sério?!
Dou de ombros.
— Bom, foi só no treino, não quer dizer que vou jogar, mas é um começo, não é? —
Encaro-a, assistindo seus olhos brilharem mais que as próprias estrelas que começam a aparecer
no céu.
— E como foi? Acabou com eles?
Contorço os lábios e meneio a cabeça.
— Eu acho que... eu e Connor tivemos uma conexão bacana. Acabamos vencendo.
— Então você arrasou — Alana fecha as mãos em punho e estremece, rindo. — Googs
House! Googs, googs, Clark!
Ela balança os pompons imaginários e pula em meus braços, enlaçando meu pescoço.
Solto uma risada e a seguro, tirando-a do chão e faço cócegas em sua cintura.
— Nunca desista de sonhar — diz em meu ouvido —, porque tenho certeza que seu dia de
jogar como titular vai se realizar. — Alana me dá um beijo na bochecha assim que a devolvo de
volta para o chão.
— Obrigado!
— Sobre o trabalho de histologia, não se preocupe — ela abana a mão e me lança um olhar
de alívio —, Aidan me ajudou a terminar e estamos livres para fazermos compras no shopping.
Rio, andando até a porta traseira.
— Aidan é bom, não é?
— Muito! — Alana confirma, entrando na caminhonete enquanto jogo a bolsa no banco de
trás. — Não é à toa que ele faz medicina.
— Sim. — Sento-me no banco do motorista, dou um tapa no volante e olho para ela. —
Shopping então?
Alana me olha, assentindo.
— Vamos às compras.
Inspiro fundo, ligo o motor, engato a marcha e saio do estacionamento, querendo ir direto
para casa. Olho para Alana, vendo-a focada no celular, digitando freneticamente e com um
sorrisinho de canto de boca enquanto dirijo.
Junto as sobrancelhas sem dizer nada, mas a curiosidade começa a me corroer.
Com quem ela tanto conversa?
Pego o caminho rumo ao shopping, batucando os dedos no volante e lançando vez ou
outra, olhares na direção do seu celular.
Alana solta uma risadinha e quando alguns barulhos de notificações soam, inclino para o
lado na tentativa de espiar quem é que está roubando sua atenção.
— O que é isso, Rhavi? — Alana me repreende e esconde a tela do celular sobre o peito.
Bufo, voltando a focar na direção.
— Nada!
— Oh, meu Deus, Clark! — Dou de ombros. — Para de ser curioso, meu Deus do céu!
— Queria ver quem é que está te mandando esse monte de mensagem — justifico,
estalando a língua. — Deve estar muito interessante essa conversa.
— E o que tem?
— Você poderia me dizer, sabe!
Alana me olha por mais alguns segundos e estala a língua.
— Jesus, você é curioso, hein?!
— Eu deixo você ver o meu, nem senha eu tenho, na verdade, isso é porque você me
proibiu de colocar e a última vez que coloquei senha no celular, levei um travesseiro na cara —
resmungo, parando no sinal fechado. — Então, por que não posso ver as suas?
— Porque é confidencial.
— E por que é confidencial? — arqueio uma sobrancelha. — Você está escondendo o que
de mim?
Alana solta uma risada incrédula.
— Não estou escondendo nada, é apenas algo particular.
— E as minhas conversas não podem ser? Porque se eu disser que é confidencial, você me
ataca! — Solto um suspiro, chateado. — Você é uma amiga muito tóxica!
Alana abre a boca, chocada.
— Eu, tóxica? — confirmo com um aceno.
— Sim, você pode tudo, menos eu!
— Rhavi do céu! Caraaaa! — Ela estala a língua. — Deixa de ser assim, você chegou antes
da mensagem!
— Só quero saber quem é!
— Meu Deus, não sou curiosa assim não.
— Não? — Solto uma risada seca. — Olha a hipocrisia!
— Ok, sou um pouquinho, mas é minha privacidade, então se puder me dar licença, eu
agradeceria — retruca, estalando a língua negativamente.
Respiro fundo, meneando a cabeça e evitando olhar para o lado. Ficamos em silêncio por
um tempo, ela volta a fixar sua atenção no maldito celular, deixando-me um pouco irritado.
— Sério, quem é?
— Minha bunda! — rebate, dando uma risada.
— Vai, continua assim.
— Anda logo, nos leve para o shopping e para de ser curioso.
Resmungo mais um pouco, mas Alana não cede e nem me conta com quem conversa.
Decido ignorar, mesmo que isso seja quase impossível.
Alguns minutos depois, encaixo o carro na vaga do estacionamento e desligo o motor,
muito chateado com ela.
— Okay! — Ela joga o celular dentro da bolsa e retira um cartão preto, sacudindo-o na
frente dos meus olhos. — Preparado para um banho de loja?
— Só quero ver no que isso vai dar — resmungo, descendo do carro e caminhando rumo à
entrada.
Alana anda na minha frente, saltitando feliz como se nada no mundo a abalasse. Sua
alegria diária é contagiante e irritante, às vezes.
— Primeiro vamos escolher roupas do seu tamanho — ela diz, me olhando por sobre o
ombro —, aquelas que vão realçar esse corpo perfeito que tem debaixo dessas roupas largas que
usa. — Alana me puxa quando paro em frente a uma livraria.
Os livros me chamam pelo nome, deixam-me hipnotizado, mas infelizmente isso é
interrompido... destruído por uma certa garota que me puxa, arrancando-me do melhor lugar do
mundo.
Respiro fundo, seguindo Alana e desviando das pessoas com um bico do tamanho de um
carro, que, logicamente, é ignorado.
— Depois podemos comprar livros? — pergunto, emburrado ao subir o degrau da escada
rolante.
— Se você se comportar, abro essa exceção — diz, segurando minha mão, parecendo estar
com receio de soltar e me perder no meio desse lugar.
Caminhamos por quase meia hora, conversando e escolhendo em qual loja iremos comprar.
Depois de um tempo, Alana me olha com uma careta e aperta o copo de café gelado que segura.
— O que foi? — pergunto, assistindo-a se contorcer.
Ela olha para os lados.
— A maldita calcinha entrou no meio da minha bunda e está me machucando — sussurra
em meu ouvido.
Engasgo com o café, depois começo a rir.
— Meu Deus, Alana!
— Vou andar na sua frente, tenta me esconder enquanto a tiro.
— Não é mais fácil ir ao banheiro? — questiono, chegando perto das suas costas e olhando
para os lados.
Merda! Não tem uma vez que saio com Alana que ela não inventa algo constrangedor.
— Está machucando meu... cu — choraminga. — Não dá tempo!
— Céus! — murmuro, engolindo a risada. — Não entendo por que fica usando esses fios
— falo, dando um gole no meu café.
— Não estou usando a de fio, seu bobo. — Alana se contorce um pouco. — Se estivesse
usando, não estaria entrando no meio da bunda e me machucando, porque ela já estaria
encaixada no meio dela, entende? — Ela me olha, quase revirando os olhos de tédio.
— Anda logo.
Ela se certifica de que não tem ninguém olhando, então faz um movimento para tirar a
calcinha do lugar errado, em seguida ajeita o short jeans que está usando e solta um suspiro de
alívio.
— Pronto? — indago.
Alana assente e volta a andar.
— Tudo no seu devido lugar — diz com plenitude, levando o canudo à boca e dando um
longo gole. — Adivinha quem me perguntou sobre você hoje?
— Espera! — Enfio a mão dentro do bolso. — Ah, merda! Esqueci minha bola de cristal,
você me empresta a sua?
Alana revira os olhos.
— Você sempre faz isso.
— Diz logo.
— Leanne, né, sonso! — Ela empurra meu ombro com o seu. — Eu disse que aquela
encenação de ontem daria certo.
Meu coração salta ao ouvir seu nome.
— O que ela perguntou?
— Nada demais, meio que quis investigar o território — conta, balançando o copo quase
vazio, os cubos de gelo tilintando um contra o outro. — Disse que gostou de conversar com você
na festa e que está ansiosa para amanhã. — Alana me encara. — Mulheres amam uma
competição.
— Mas ela...
— Ali! — Alana me interrompe ao apontar para uma loja masculina. — Preparado?
Inspiro fundo e assinto.
— Preparadíssimo.
— Então, vamos lá!
Alana segura meu pulso e me puxa para dentro da loja, jogando fora nossos copos.
Andamos pelos corredores de roupas, discutindo qual seria a melhor escolha, e quando pego
algumas com uma numeração maior ou com estampas, ela me dá um tapa no ombro,
repreendendo-me.
Entre resmungos, deixo-a escolher sozinha e paro de dar meus palpites, já que não são do
seu interesse.
— O que está pegando? — indago, assistindo-a tirar calças de moletom de cores diferentes
do cabide.
— Pegando algumas calças para você experimentar.
Fito-a, confuso.
— Mas... não era para comprar roupas que me deixassem atraente? — questiono. — Calça
de moletom eu já uso!
Alana apenas me lança um olhar e solta uma risadinha sem replicar. Ela pega a cesta de
compras, me entrega e joga todas as roupas que escolheu dentro.
Camisas lisas, variando de pretas, vermelhas e brancas; algumas cavadas, jaquetas de
couro e muito mais. Dez minutos depois, estou apenas existindo na sua frente, sem poder
questionar nada.
Ao finalizar, caminhamos na direção do vestiário, ela coloca as cestas no chão e me olha
animada.
— Experimente todas para eu ver — diz, sentando-se em um sofá para esperar o show
começar.
Olho para a cesta, tantas roupas... que de repente sinto uma preguiça. Raramente
experimento quando vou comprar alguma peça, apenas pego o número que geralmente visto e
levo para casa sem saber se irá ficar boa ou não, caso fique ruim, uso assim mesmo ou troco.
É tão mais prático e simples, então por que dificultar?
Deslizo meu olhar para seu rosto de novo, prestes a questionar. Alana me encara,
esperando, depois de um segundo respira fundo, se levanta, escolhe um par de roupas e joga em
meu peito.
— Primeiro experimente essas — diz, me empurrando para dentro e fecha porta. — Dois
minutos, Rhavi.
Inspiro entediado, já que não há outra opção, o jeito é obedecer.
Dispo-me e visto a camisa branca, a calça de moletom cinza e calço um tênis também da
cor branca, ficando incomodado por estarem justas demais. Porém, ao olhar no espelho de corpo
inteiro, descubro os motivos dela ter escolhido esse modelo.
A calça de moletom cinza tem um corte colado ao corpo com as barras apertadas e um
formato skinny, que marca até minha alma.
Sinto meu rosto esquentar, nunca que vou usar essa merda!
Cara, meu... pau está marcado!
Não só meu pau, mas meu saco também, giro e... caramba, minha bunda... não, de jeito
nenhum vou usar isso, nem morto!
— Mas que diabos! — balbucio, encarando-me e buscando encontrar alguma desculpa
para convencê-la de que não deu certo.
— E aí, já vestiu? — ela pergunta do lado de fora.
Trinco os dentes, ajeitando a calça e analisando a blusa que abraça meu peito, deixando-o
um pouco mais aparente e a manga está bastante justa.
— Alana, ficou apertado — digo, fazendo uma careta.
— Sai para eu ver!
— Não! — recuso, tocando meu pênis para ver se consigo dar uma escondida, puxo a barra
da camisa, mas... parece que só fica pior!
— Rhavi, sai, deixe-me ver!
— Ficou apertado; pegue um número maior, por favor.
— Não me obrigue a arrombar essa porta, Rhavi Clark! — ameaça.
Solto um suspiro envergonhado, imaginando apenas o olhar dela sobre mim. Conheço
Alana Moore o suficiente para saber que ela fará o que disse caso eu não saia daqui.
— Tudo bem — concordo.
— Ótimo, agora saia daí!
Respiro fundo e, com as mãos trêmulas, abro a porta do provador, encontrando seu olhar.
Engulo em seco, dou um passo à frente e aponto para mim.
— Eu acho que... — começo a dizer, mas paro.
Seus olhos percorrem meu corpo lentamente, analisando cada pedaço, até pousar onde não
deveriam, ou seja, no meu pau.
— Pelo amor de Deus, Rhavi! — Alana cobre a boca com as mãos, tentando conter o riso.
— O que é isso?
Umedeço os lábios e engulo em seco novamente.
— O que é o quê?
— Isso tudo. — Ela retira uma mão da boca e aponta na direção das minhas pernas,
segurando o riso. — Caramba, de onde isso veio?
Bufando, abaixo o olhar e ao me deparar com a evidência do meu pau, percebo que ela se
refere ao tamanho. Cubro-me com as mãos, encolhendo as pernas, querendo me esconder em um
buraco.
Alana não aguenta e começa a rir, deixando-me ainda mais constrangido. Ela se curva,
rindo toda vez que me olha.
— Por favor, para! — peço, com a voz falhando e o rosto queimando.
— Desculpa! — Ela tenta conter o riso, respira fundo e enxuga as lágrimas que escorrem
pelo rosto. — É que... é grande, sacou?
— Vou descartar essa calça, estou parecendo um... argh! — Mudo o peso das pernas.
Alana se encolhe, segurando a barriga, provavelmente com dor de tanto rir, e desliza do
sofá, rindo de mim.
Acho que sou a piada mais sem graça do mundo!
— Pet, isso é apelação! — choramingo.
— Não — Alana abana a mão, contendo o riso. — Não é, ficou ótima, é só que... olha
essas coxas, esse abdômen sob essa camisa... ficou perfeita, só não esperava pelo tamanho dos
seus... documentos.
Reviro os olhos, irritado com sua risada.
— Vou experimentar a outra — balbucio, querendo esquecer este momento.
Viro-me e inclino-me para pegar outro par de roupas.
— Rhaviiiii!!! — Alana canta. — Misericórdia!
— O que foi agora? — Olho para trás, vendo-a arregalar os olhos e inclinar a cabeça para o
lado.
— Que bunda é essa?
Fico surpreso, solto as roupas que segurava, fazendo-a gargalhar até escorregar do sofá e
cair no chão, como se estivesse derretendo.
— Pare com isso!
Alana enterra o rosto nas roupas, seus ombros tremendo de tanto rir. Respiro fundo e volto
ao provador, tirando essas malditas calças com tanta raiva que quase as rasgo.
— Você vai me pagar, Alana! — digo, vestindo uma calça preta do mesmo estilo,
mantendo a camisa branca e jogando uma jaqueta de couro por cima.
— Qual é? — ela responde do lado de fora. — Você está gostoso, vai deixar todas as
garotas babando.
— Gostoso ou patético? — questiono. — Porque só vejo você rindo.
— Gostoso — ela confirma. — Rhavi, esqueça aqueles modelos super largos que você usa,
fica cheio de sobras e não valoriza sua beleza.
— Eu gosto de ser discreto — titubeio, saindo para fora novamente.
Alana volta a me analisar minuciosamente, esboçando um sorriso satisfeito com o visual.
— Você pode ser discreto sendo atraente.
— Tenho que usar uma calça que faz meu pau brilhar, como luzes de Natal para ser
atraente? — retruco, cruzando os braços.
— Não — ela inclina a cabeça para o lado, me observando.
— Gostou? — pergunto, atraindo seu olhar para mim.
— Aquelas garotas vão cair matando para cima de você — diz, meneando a cabeça. —
Está uma delícia, Rhavi Clark.
— Para com isso!
— Estou sendo sincera — ela joga mais um par de roupas em meus braços. — Leanne que
se cuide ou vai perder seu posto rapidinho.
— Por quê?
— Porque tem muitas garotas interessantes na universidade, Rhavi, se antes você era
invisível, agora vai ser um ímã chamando por todas elas... não só pelas luzes de Natal entre suas
pernas torneadas — fala, soltando outra risada.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, retornando para o provador.
— Não sei se terei coragem de vesti-las... para ser bem sincero — confesso, tirando as
roupas.
— Você vai, Rhavi — Alana mexe no trinco da porta. — Sabe, você tem que entender que
essa mudança é como uma superação e acreditar que vai dar certo — ela faz uma pausa. — Não
abaixe a cabeça, enfrente essa vida, não desista por medo ou insegurança e voe, Pet.
Fico em silêncio, sentindo um aperto no peito e uma onda de emoção me consumir.
— Não se resume a essa mudança só por causa de uma garota, mas por você — Alana
continua. — Rhavi, você é o cara que todas as mulheres sonham em ter como namorado, e quem
o tiver, terá ganhado aquele tesouro no fim do arco-íris.
— Não sou tão especial assim.
— É o que você acha? — ela indaga. Não respondo. — Lembra quando eu te salvei
daqueles valentões?
— Como esquecer? — Olho para a porta como se pudesse vê-la do outro lado.
— Veja seus desafios como se fossem aqueles idiotas, chegou a hora de enfrentá-los,
mesmo que eu esteja ao seu lado, chegou a hora de lutar sozinho, Rhavi.
Engulo em seco.
— Você... você acha que... consigo?
— Não só consegue, como vai superar todas as expectativas — ela fala. — Rhavi, vou
estar na arquibancada assistindo você conquistar todos os seus sonhos e enfrentar todos os seus
medos, mas agora, estou te vendo no banco, então levante dessa porcaria, vá para o campo e
jogue como nunca jogou antes.
Sorrio de lado, engolindo o nó que se formou na garganta. Sobressalto quando a porta se
abre de repente. Nossos olhos se encontram.
— Então, por que ainda está parado e não... — Alana se cala, descendo o olhar pelo meu
corpo, minha pele arrepia e minha respiração fica presa quando ela olha para minha cueca. —
Por Deus, Rhavi! — exclama, chocada.
— O quê?
Ela volta a me encarar, incrédula.
— Que droga de cueca é essa? — indaga, apontando para ela.
Baixo a cabeça e olho para o tecido com estampa do Baby Yoda, sem entender qual o
problema.
— O que tem?
— Droga, Rhavi! — Alana quase grita. — Imagine você tirando a roupa para transar com
Leanne e de repente ela vê essa coisa horrível que está usando. — Ela bufa. — Uma cueca com
estampa do Baby Yoda, sério?
— Mas...
— Ela vai rir ou... Jesus! Isso é broxante e é veneno para meus olhos. — Alana cobre o
rosto com as mãos, depois olha entre os dedos. — Argh, que terror!
— Não é tão ruim...
— Não? É horrível! — ela diz entre dentes, depois abaixa as mãos e balança a cabeça. —
Vamos comprar umas cuecas boxers de homem, Rhavi Clark, de h-o-m-e-m! — dizendo isso, ela
fecha a porta.
Respiro fundo, olhando para a cueca pelo espelho, questionando se Alana está certa ou se
está exagerando, mas em todo caso... é melhor evitar mesmo esse tipo de estampa, mesmo que eu
ache bonitinha.
— Anda, quero ver as outras roupas — Alana interrompe meus pensamentos.
E durante quase uma hora, experimento todas as roupas que ela escolheu, me sentindo
como um manequim em suas mãos, obrigado a desfilar como se estivesse em um desfile de
moda.
Apesar das minhas inseguranças e de não ter gostado muito das escolhas dela, acabo me
entregando ao momento e me divertindo como há muito tempo não fazia.
Depois de uma eternidade, saímos da loja carregados de sacolas e famintos.
— Venha! — ela me puxa para dentro de uma ótica quase chegando à praça de
alimentação.
— Para quê? — resmungo. — Quero comer primeiro.
— Depois, antes temos de escolher uma armação que realce o seu rosto — diz, colocando
as sacolas no cantinho da loja. — A que você usa já está batida.
Ela vai até a vendedora e começa a escolher as armações, enquanto eu fico apenas
observando, sentado na poltrona.
Alana se senta ao meu lado, olha para a mesa quando a vendedora coloca as armações para
experimentar e pega uma quadrada na cor vinho.
Retiro meus óculos, colocando os da sua escolha e olhando-me pelo espelho. Nós dois
fazemos caretas, descartando a primeira opção.
Coloco outra armação e viro-me para ela.
— Gostei dessa — brinco.
— Não, você não gostou — retruca, tirando a armação do meu rosto e colocando outra. —
Agora essa... — Alana fica me encarando sem desviar, seus olhos castanhos brilhando conforme
me analisa.
— Ficou bonita? — pergunto, piscando.
— Um bad boy de óculos é tudo para mim — murmura, ajustando-o no meu rosto.
— Você acha que Leanne vai gostar dessa mudança? — pergunto. — Não acha que seria
melhor eu usar lentes de contato em vez de óculos?
Alana para por um momento, fica calada por alguns segundos e depois balança a cabeça.
— Óculos não te deixa menos atraente — alega, segurando meu rosto. — As pessoas se
apegaram à ideia de que óculos é feio, que para ser bonito tem que ficar sem, mas esquecem que
isso faz parte dessas pessoas e é tão bonito quanto.
— Então...
— Vai continuar usando seus óculos — diz —, e não só acho que Leanne vai gostar desse
novo Rhavi, mas tenho certeza disso!
Sorrio, apertando os lábios.
— E se ela não gostar, é porque é uma idiota — completa.
— Obrigado — murmuro, colocando minhas mãos sobre as suas que estão no meu rosto.
— Pelo quê, Pet?
— Por ser minha amiga e... por me fazer feliz.
Alana me encara, seus olhos cintilando enquanto permanecem fixos nos meus.
— É para isso que amigos servem — diz, afastando as mãos do meu rosto. —
Principalmente para evitar que o amigo use cuecas do Baby Yoda.
Solto uma risada.
— Você nunca mais vai esquecer disso, não é?
— Jamais! — Alana balança a cabeça. — Ainda mais agora que tenho algo para te
chantagear.
— Droga! — resmungo.
Alana ri e se levanta.
— Moça, já fizemos nossa escolha, vamos ficar com esta.
Inspiro e expiro, nervoso, querendo cancelar esse encontro. Tenho medo de cometer um
erro, de dizer algo constrangedor e... e se eu estragar tudo de novo?
Fecho os olhos, tentando controlar as batidas descompassadas do meu coração, tentando
manter a calma. A ansiedade percorre meu corpo, a inquietude do meu coração me deixa
inseguro e eu só consigo imaginar um final trágico.
O que devo perguntar a ela? Até onde devo ir? Será que devo beijá-la? Não, acho que não!
E se ela não gostar de mim? Droga!
Inspiro fundo, sentindo um frio na barriga... ou seria o início de uma dor de barriga?
Não! Não! É só nervosismo mesmo!
Choramingo ao abrir os olhos e me encaro no espelho.
— Vai dar certo, cara! — murmuro para mim mesmo, tomo coragem e saio do quarto.
Alana está me esperando, sentada no sofá com o celular na mão. Assim que me nota, ergue
a cabeça e me olha de cima a baixo, dando um sorriso largo.
Fico sem jeito com a forma como me olha e passo a mão pelo cabelo recém cortado.
— Uau! — Minha amiga leva a mão à boca. — Caramba! Por que você é tão bonito assim?
Enxugo o suor das minhas mãos no tecido da calça jeans escura, depois ajeito a jaqueta de
couro que ainda não me acostumei a usar e dou de ombros, sem saber o que dizer.
— Aprovado, então?
— Leanne vai ficar deslumbrada — Alana diz, apontando para o sofá em frente a ela. —
Sente-se, Rhavi, quero te dar algumas dicas.
Faço o que ela pede, ajeito os óculos no rosto e deixo os braços repousarem sobre os
joelhos.
— Vou te dar algumas dicas para garantir que esse momento entre vocês dois seja perfeito,
okay?
— Pode falar — digo, balançando a perna esquerda.
— Primeiro: pelo amor de Deus, não pergunte sobre o passado dela, especialmente sobre
ex-namorados, caso ela tenha algum. Não sabemos nada sobre a vida dela, e pode ser que ela
tenha tido experiências ruins ou ainda mantenha sentimentos por alguém do passado — Alana
tira um papel de dentro da sua calça jeans justa com um rasgo nos joelhos e o abre. — Seu
objetivo é tirar o batom da boca dela até o final da noite e não enxugar suas lágrimas, ouviu?
— Certo, sem perguntas sobre o passado.
Alana lê um pouco e depois volta a me olhar.
— Não fique calado, puxe assuntos que gerem boas conversas, demonstre interesse no que
ela fala.
Durante dez minutos que parecem uma eternidade, Alana me dá uma lista de informações
que me deixa tonto. Quando termina, ela respira fundo para recuperar o fôlego e guarda o papel
dentro da bolsa.
— Alguma pergunta? — ela pergunta.
— Hum... acho que... não.
— Só não complique o que é simples — diz, levantando-se e estendendo a mão. — Seja
você mesmo, Rhavi.
Encaro seus olhos confiantes, desejando ter a mesma segurança que ela transmite. Seguro
sua mão e, com sua ajuda, levanto-me.
— Ok! — murmuro, pegando a chave da caminhonete e conferindo o celular. — Ela estará
nos esperando no estádio.
— Então vamos — Alana me apressa. — Ah, uma dica superimportante.
— Qual é? — Abro a porta.
— Seja sempre pontual — continua enquanto caminhamos em direção ao estacionamento
do prédio. — Imprevistos podem acontecer, então avise sempre antes, mas atrasos
desnecessários, jamais!
— Certo, sempre pontual — repito, entrando no carro. — Ei, mas eu sempre sou pontual.
— Às vezes. — Ela discorda.
— Como assim, às vezes? — Olho para ela antes de sair do estacionamento, rumo ao NRG
Stadium.
— Você nem sempre é pontual, pelo menos não comigo.
— Com você — retruco, baixinho.
— Ah, então você só se atrasa porque sou eu que estou te esperando? — questiona, e posso
sentir seu olhar cravado em mim.
— Exatamente!
— Hum... é bom saber disso...
Olho para ela, sorrindo de sua expressão chateada.
— Não fique com raiva quando digo a verdade — digo.
Alana vira a cabeça, levanta as sobrancelhas delineadas e umedece os lábios rosados,
pronta para dizer algo, mas acaba se calando.
— Deixa para lá — murmura.
— Pode falar.
— Ah, não! — Ela balança a mão. — Certos pensamentos devem ficar privados, entende?
— Não entendo.
— Vai ficar sem entender.
— Coloca o cinto — peço, ligando o rádio.
— Esqueci — resmunga, dando um longo suspiro depois de afivelá-lo.
Durante o trajeto, mesmo mantendo uma conversa tranquila com Alana, minha mente
continua inquieta. Penso em quais palavras usar, o que evitar e o que não fazer. Tenho que ficar
longe de copos ou garrafas cheias de líquido, não quero molhá-la de novo.
Avisto o estádio NRG logo à frente, meu coração começa a acelerar à medida que nos
aproximamos. O lugar está lotado de torcedores e há muitos carros, o que dificulta encontrar uma
vaga para estacionar.
Após cinco minutos, finalmente encontramos uma vaga. Desligo o motor e permaneço em
silêncio, observando as pessoas animadas para o jogo, todas vestindo acessórios de seu time. O
céu está quase escuro, tingido de alaranjado.
Luto contra o nervosismo, minha respiração se intensifica a cada segundo, fecho os olhos e
respiro fundo para tentar controlar esses sentimentos.
— Fique tranquilo, Pet — Alana diz, abrindo a porta da caminhonete. — Vai dar tudo
certo.
Concordo com a cabeça, verifico se tenho tudo o que preciso e saio do carro, observando o
local iluminado pelas luzes.
— Você se lembra quando viemos assistir ao jogo dos Estados Unidos contra a Alemanha?
— relembro, caminhando na direção do ponto de encontro.
— Lembro de você caindo da arquibancada e derrubando o pote de pipoca na cabeça de
um torcedor alemão — diz, rindo.
Comprimo os lábios, recordando daquele dia em que quase apanhei do cara. Para piorar,
estávamos perdendo e eu estava vestindo a camisa dos Estados Unidos, então o torcedor achou
que fiz de propósito.
— Você só lembra disso?
— Como esquecer? — ela retruca, acenando animadamente para a mascote do time
Houston Dash. — Ah, que fofo!
A raposa laranja retribui, dando pulinhos, e Alana imita, acenando novamente, rindo com
tanta alegria que me vejo sorrindo também.
— Depois você tira uma foto — sugiro, sabendo que ela adora mascotes.
— Olha lá a sua amada! — Alana aponta para frente.
Sigo na direção em que ela aponta e a vejo, olhando para os lados, inquieta, parecendo
ansiosa enquanto remexe as mãos.
Assim que ela nos nota, um sorriso se abre, ofuscando todo o resto do lugar. Ao encarar
seus lindos olhos azuis, sinto como se estivesse olhando de dentro de um diamante.
Leanne gruda os olhos em mim, os segundos parecem congelar enquanto ela percorre meu
corpo, causando um pequeno impacto em meu ser.
Será que ela gostou do jeito que me vesti para ela?
— Olá! — Leanne diz assim que paramos diante dela, seus cabelos louros se movendo
com o toque suave do vento.
— Chegamos atrasados? — Alana pergunta, animada.
— Não, estão super adiantados — responde, me lançando um olhar alegre. — Oi, Clark!
— Oi! — murmuro, esfregando a nuca.
Leanne me olha por mais alguns segundos antes de voltar a encarar Alana.
— Os ingressos estão comigo — ela nos mostra.
Alana pega o dela e Leanne entrega o meu, me encarando demoradamente. Antes, eu
desviaria desse seu olhar por vergonha, mas hoje... agora, não consigo. A cada segundo, quero
mergulhar no mar dos seus olhos.
— Temos que comprar cachorro-quente, pipoca, refrigerante e essas coisinhas para torcer
pela sua mãe, Lea! — Alana nos puxa de volta para a realidade. — Vamos! Vamos!
Observo Alana caminhar saltitante na direção da bilheteria, e então volto a olhar para
Leanne, que sorri, apontando para a minha amiga.
— Acho que tem uma pessoa muito ansiosa entre nós.
Abro um sorriso.
— Você não viu nada.
O silêncio se prolonga por alguns segundos.
— Você... hum... está diferente — ela comenta, me estudando.
Minhas bochechas esquentam.
— Cortei o cabelo — digo, passando a mão por ele.
— Ah! — ela solta uma risadinha. — Vamos?
— Sim. Sim.
Leanne morde o lábio inferior, encolhe os ombros e estala a língua, andando na direção da
entrada. Sigo-a com o coração acelerado.
Assim que entramos, Leanne aponta para as cadeiras onde ficaremos. O estádio é gigante e
está enchendo aos poucos; em alguns minutos, estará lotado. Percorro meu olhar pelas
arquibancadas misturadas de laranja e branco, com um lado azul e preto da torcida adversária.
Sempre me sinto estranho estando nesse lado do campo, pois geralmente estou no banco, mas
ainda assim, consigo sentir a energia dos torcedores.
— Vou comprar as pipocas — Alana se inclina e nos olha. — Algum pedido em especial?
Nego com a cabeça e Leanne pede um cachorro-quente no palito. Alana se levanta, passa
por nós e desaparece entre as pessoas.
Contorço as mãos, nervoso por ter sido deixado sozinho com ela. Sinto seu ombro roçar no
meu quando Leanne se remexe na cadeira. Prendo o ar imediatamente e viro a cabeça,
encontrando seu olhar.
— Eu nem te perguntei se gostava desse futebol — ela diz, reticente.
Expiro lentamente, piscando na tentativa de controlar meu nervosismo.
— É... hum... sim — gaguejo, umedecendo os lábios. — Gosto de todos os esportes, para
ser sincero.
— Eu nunca trouxe ninguém para assistir aos jogos da minha mãe, vocês são os primeiros
— confessa, afastando um fio de cabelo dos seus olhos.
— Como não? — indago, confuso.
— Eu acho algo muito... íntimo — diz, dando de ombros e olhando para o campo vazio.
— Fiquei... — pigarreio. — Fiquei muito feliz por ter me convidado... de verdade.
Leanne me olha e oferece um sorriso muito lindo que faz meu coração errar uma batida. O
vento sopra, trazendo o cheiro do seu perfume adocicado. Inalo, perdendo meu olhar no seu de
novo.
— Devo... me sentir especial por ter me convidado? — pergunto, odiando ter falado isso.
Céus, que cara idiota eu sou!
Leanne meneia a cabeça, sorrindo.
— Não se sinta convencido por isso, tá? — brinca, empurrando de leve o meu ombro com
o seu.
Solto uma risada, quebrando o contato visual que se estendeu.
— Uma das coisas que mais amo quando estou no campo é o fervor da torcida — digo,
olhando em volta. — É algo surreal.
— Minha mãe diz que a vibração deles eleva sua determinação — comenta, mexendo na
manga da sua camisa laranja do time. — É uma carga para ela, por isso, quando perde, sente
como se estivessem os decepcionados, e de fato ficam.
— Eles querem emoção — reflito. — Mas nunca querem perder, mesmo que isso traga
ensinamentos na bagagem.
— Quais?
Mordo o lábio inferior, pensando em quando meu time foi derrotado ano passado pelos
caras de Nova Iorque.
— Hum... que não importa o quanto você é bom, sempre haverá um melhor que você.
Encaro Leanne, que adquire um ar pensativo diante das minhas palavras. Quando ela me
olha, pronta para dizer algo, a arquibancada vai à loucura; aplaudindo, gritando e assobiando.
Olho para o campo, ao mesmo tempo em que as jogadoras entram para iniciar o
aquecimento.
— Aquela é minha mãe — ela aponta para uma mulher loira. — Número 7.
— Atacante?
— Sim — Leanne confirma com um tom de orgulho na voz delicada. — Sofre muita
marcação, mas quando pega a bola, faz um estrago.
— Estou ansioso — digo, sorrindo.
Leanne empurra meu ombro com diversão de novo.
— Não vai me achar uma esquisita se eu começar a gritar feito uma louca? — pergunta.
— Por que eu acharia isso?
— Bom... — Ela coça a cabeça. — Porque sou um pouco... fervorosa — diz, rindo um
pouco envergonhada.
Mal sabe ela que Alana é pior que tudo nessa vida.
— Não se preocupe — empurro de leve seu ombro, igual ela fez com o meu. — Prometo
não a julgar.
— Agora estou mais tranquila. — Ri baixinho. — Aquele é meu pai — Leanne aponta para
um homem careca e alto, agachado enquanto mexe dentro da sua bolsa na área técnica. — Ele é
o preparador físico das jogadoras e da minha mãe, claro!
— Ah... — Fico surpreso por ele fazer parte da equipe. — Muito legal!
— Né? — Ela sorri. — Meus pais são unha e carne.
Olho para ela, fazendo as contas em minha cabeça, porque se a mãe a teve com 16 anos,
eles estão juntos há... 22 anos? Correto?
— Eles sempre ficaram juntos? Digo... — pigarreio, percebendo que estou cometendo um
erro. — Sempre unidos?
Leanne percebe meu nervosismo e sorri, transmitindo uma tranquilidade que me acalma.
Acabei de quebrar uma das regras da Alana, a qual dizia para não perguntar sobre a relação dos
pais da garota, mas... porra, estou curioso, me dê um desconto!
— Nem sempre — Leanne diz, voltando a olhar para o campo de futebol. — Quando
minha mãe descobriu a gravidez, ficou um pouco perdida, mas em nenhum momento teve
intenção de interromper. Ambos conversaram e decidiram se casar, quando completei um ano de
idade, eles optaram pelo divórcio.
Mordo minha língua de tanto que sou estúpido.
— Uma fase difícil para vocês... suponho — comento, odiando-me por ter prolongado essa
conversa e jurando não contar essa gafe para Alana, senão ela vai me esfolar vivo.
— Até que não foi. — Leanne rouba meu olhar para ela quando solta essas palavras. —
Ambos entenderam que não estava dando certo, que eram novos demais para seguir em um
relacionamento sério. — Ela suspira. — Minha mãe queria focar na sua carreira, enquanto meu
pai queria aproveitar a vida. Ambos tinham objetivos diferentes naquela época.
— Eles estavam com... 18 anos, certo? — indago, recebendo um menear de cabeça.
Leanne desvia o olhar.
— Novos demais, não é?
— Um pouquinho...
— Bom, mesmo divorciada e com uma filha, ela nunca parou de correr atrás dos seus
sonhos. — Leanne solta uma risada, balançando a cabeça de um lado para o outro. — Às vezes
mamãe me levava nos treinos e nas aulas quando não tinha ninguém para cuidar de mim, mas
nunca reclamou ou se arrependeu.
— Uma grande mulher... — comento, fitando a jogadora número 7 chutar a bola.
— Bem diferente do meu pai.
— Ele fez merda, né? — Tiro um sorriso dos seus lábios.
— Sim. — Leanne me olha, estalando a língua. — Ele engravidou outra mulher.
— Ih! — Enrugo o nariz. — Seu irmão então...
— É só filho do meu pai — revela. — Sua mãe não o quis, para ser bem sincera, a mulher
alegou que um filho destruiria seus planos, meu pai impediu que cometesse o aborto e quando o
bebê nasceu, a mulher entregou para ele e foi viver sua vida.
— Seu pai... o criou sozinho?
— Teve ajuda da minha avó e da minha mãe, mas sim, criou o garoto sozinho — Leanne
inspira fundo, com um ar de tristeza misturado com orgulho.
— E como é a sua relação com seu irmão?
Leanne revira os olhos, tirando uma risada minha.
— Drake é insuportável — alega —, mas é meu irmão, normal.
Balanço a cabeça, apesar de não saber como é ter um irmão.
— Deve ser muito protetor com você — comento, sem saber ao certo o que dizer.
— Que nada. — Ela dispensa com um gesto de mão. — Drake é muito desapegado de
tudo... acho que deve ser pelo fato de ter sido abandonado pela mãe. — Leanne diz, fico um
pouco assustado pela forma natural que tem de se abrir e contar sobre sua família com um cara
que mal conhece.
Ela se remexe e cruza as mãos no colo, sinto como se essa conversa a deixasse
desconfortável, então tento encontrar um modo de trocar de assunto.
— Seus pais... — Começo, mas paro, não posso perguntar sobre eles de novo.
Pergunte outra coisa, Rhavi, babaca!
— Estão juntos de novo — ela completa, sorrindo para mim. — Sete anos atrás, ambos
tiveram uma recaída, dormiram juntos, negaram até a morte que se amavam e quando não
conseguiram mais evitar a atração, voltaram.
— Uau... — murmuro.
Leanne ri.
— Eles nunca ficaram longe um do outro, mesmo tendo um elo os prendendo — diz, se
referindo à filha. — Meu pai sempre se certificou de estar presente, sempre colocando eu e
Drake em primeiro lugar, mesmo meu irmão sendo um pouco complicado.
— Deve ter muito orgulho dele.
— Sabe... — Leanne me fita, seus olhos azuis com um brilho diferente, contagiante. —
Meus pais são tudo na minha vida e... meu pai é um exemplo de homem que desejo ter na minha
vida, mas ultimamente... — Ela inspira fundo, umedecendo os lábios. — Quero encontrar
alguém que me olhe como se eu fosse o centro do seu mundo, assim como meu pai olha para
minha mãe — diz, sem desviar o olhar.
Fico congelado, perdido, sem saber associar o que acabou de contar. Perco-me no
momento, meu coração entoando em meus ouvidos. Leanne se inclina para frente, chegando
mais perto a cada segundo, seus olhos ficando de um azul mais intenso.
Caramba! Ela vai me beijar?
Sinto minhas mãos tremerem, engulo em seco sem conseguir me mexer, piscando
pesadamente... ela está perto... tão perto que consigo sentir sua respiração tocar meu rosto e uma
explosão de sensações me invade.
— Eu...
— Ei, gente! — Alana nos interrompe.
Leanne se afasta abruptamente, solto a respiração que prendia e sinto uma gota de suor
escorrer pelas minhas costas.
— Uma ajudinha aqui! — Alana grita.
— O que é isso? — Leanne indaga, indo ajudar a garota que mal consegue andar com tanta
coisa que segura.
Aproveito a interação das duas para recuperar minha respiração e tento fazer com que meu
rosto pare de pegar fogo.
— Eu achei uma orelhinha de raposa, não resisti — Alana fala.
Viro o rosto, olhando-a atentamente, engolindo a risada ao vê-la com uma tiara de orelhas
na cabeça, pintura de pelinhos nas bochechas e uma camisa do time Houston Dash.
— Deixa-me te ajudar. — Leanne retira os dois potes de pipoca das mãos dela. — Como
conseguiu carregar isso tudo?
— Um senhor muito gentil me ajudou — Alana aponta para o cara negro, com idade para
ser meu avô, e acena para ele. — Obrigada!
— De nada, querida!
Alana sorri e me olha.
— Trouxe orelhinhas para os dois — diz, pondo as coisas em cima da cadeira. — Aqui,
amiga, seu cachorro-quente no palito.
— Ah! — Leanne agradece, pegando o potinho.
— Gosta de culinária coreana?
— Depende — ela responde, voltando a se sentar.
— Trouxe bala e sticks de cola para você, Rhavi! — Alana estende o pacotinho. — Ele
ama sticks, Lea, principalmente quando está assistindo animes — fala, naturalmente.
Leanne me olha, sorrindo, surpresa com o que minha amiga acabou de revelar. Ajeito os
óculos, desviando do seu olhar e dou de ombros.
— Aqui as orelhinhas — grita, entusiasmada.
— Não vou usar isso, Alana! — Afasto sua mão estendida.
— Rhav... — Ela começa a insistir, mas para quando Leanne pega a tiara, coloca a amarela
nela e vira para mim.
— Vamos nos divertir — Leanne diz para mim.
— Eu não...
— A raposa é um símbolo de espírito de independência, esperteza e boa sorte para as
jogadoras, e não há mal em usar as orelhinhas, se olhar ao redor, vai ver que a maioria está
usando — insiste, chegando perto de mim. — Aqui!
Ela coloca a maldita tiara na minha cabeça, tirando todas as minhas forças para lutar contra
essa bizarrice, mas o seu sorriso... cara...
Eu vou matar Alana!
— Pronto! — Leanne se afasta, satisfeita com o resultado, minha bochecha queima e
quando olho para Alana, raiva queima minhas veias.
A garota está reprimindo a risada!
— Estamos caracterizados — Alana diz, engasgando-se com a risada que tenta disfarçar.
— Agora podemos dizer que somos torcedores raiz.
Leanne me olha, tirando o seu cachorro-quente de dentro do potinho, e sorri, fitando as
orelhas de raposa.
— Estou ridículo — murmuro para ela, que meneia a cabeça.
— Nós estamos — ela sussurra, dando uma mordida na sua comida.
Enfio a mão dentro do pote de pipoca em meu colo, encho a minha boca e recosto na
cadeira, arrastando meu olhar até Alana, do outro lado de Leanne.
Quando percebe que estou encarando-a, ela se vira para mim, vermelha de tanto que segura
a risada. Disfarçadamente, aproveitando que Leanne está prestando atenção no campo, passo o
dedo pelo pescoço, demonstrando o que farei com o dela. Alana funga, se engasga, e depois diz
algo para Leanne, voltando a me olhar.
— Vai nada! — Mexe a boca e aponta para as orelhas. — Fofo!
Trinco os dentes, odiando-a nesse exato momento.
Minutos depois, inicia a apresentação de abertura do jogo, uma cantora local canta umas
duas músicas country, e quando os times entram, o hino dos Estados Unidos toca.
— Vamos vencer de 3 x 0 — Alana diz, colocando um dólar no colo de Leanne.
— 2 x 1 — Leanne coloca mais duas de um dólar e ambas olham para mim.
— O quê? — indago, mastigando a pipoca.
— Sua aposta — Alana explica.
— Ah! — Enfio a mão de dentro da calça e tiro de lá cinco dólares. — 1 x 0... — digo,
arrependido por ter apostado tão baixo, afinal, é a mãe da Leanne que está jogando.
— Você vai perder cinco dólares — ela fala, sem se abalar, e pega o dinheiro, colocando
dentro de um copo plástico que arrumaram não sei onde.
Coloco mais pipoca na boca, dando de ombros e voltando a prestar atenção no campo,
onde as jogadoras começam a se preparar.
— Leanne — a chamo, estendendo o pote de pipoca. — É para nós... dois... — murmuro,
querendo dizer outra coisa.
— Obrigada! — Ela sorri, pegando um pouco de pipoca.
Quebro nosso olhar e desvio meus olhos para o campo assim que a juíza apita, iniciando o
jogo. Fico preso em cada lance, chocado com o quanto elas correm e são agressivas.
Alana e Leanne comentam a partida, rindo, e xingam quando o time adversário comete
falta. Alana achou uma amiga que chega a ser mais histérica que ela quando está assistindo a um
jogo.
Eu me entrego ao momento, comentando, questionando, vibrando e rindo. Ambas fazem a
arquibancada se animar, e quando o time adversário perde um pênalti, elas berram de alegria.
O primeiro tempo voa, sem nem nos darmos conta. Levanto-me e digo que vou buscar algo
para bebermos. Elas continuam conversando, mas sinto o olhar de Leanne sobre mim o tempo
inteiro, enquanto pego o caminho que leva para fora da arquibancada, olhando por cima do
ombro.
Leanne está assentindo para Alana, mas um segundo depois seus olhos vêm na minha
direção, com toda certeza, sua mente está em outro lugar enquanto Alana tagarela.
Respiro fundo, desviando o olhar, e sigo rumo ao meu objetivo. Assim que tenho o que
quero nas mãos, retorno para a arquibancada.
— Trouxe Coca-Cola e cachorro-quente — digo, entregando a elas as coisas. — Desculpe,
Leanne, não tinha o de palito que gosta.
— Esse está ótimo — agradece. — Você prestou atenção nesse detalhe? — pergunta,
afastando o saquinho do pão e dando uma mordida.
— Ah, é... pensei.
— Então acertou — ela diz, me olhando, tentando abrir a latinha de refrigerante.
— Deixe-me fazer isso pra você — digo, pego a latinha e paro de uma vez. — Vamos
esperar alguns minutinhos para não ter perigo de o refrigerante espirrar.
Leanne ri, assentindo.
— Prevenção é a melhor opção.
Rio também, concordando.
Depois de alguns minutos, abro seu refrigerante. A noite já caiu sobre nós, as luzes
iluminando todo o estádio e as jogadoras retornam para o campo com o placar ainda empatado.
— VOCÊS VÃO PERDER! — Algum torcedor San Diego Wave grita.
— SUA BUNDA! — Alana grita de volta, fazendo Leanne tampar sua boca para evitar
uma briga.
Agradeço por isso, porque Alana é muito competitiva e leva tudo ao extremo. O jogo
retoma, a torcida está ainda mais fervorosa, pois nenhuma das duas torcidas quer sair perdendo
ou no empate.
Os minutos passam, há várias tentativas de gol, estou ficando desanimado e achando que
não vai sair nada hoje, mas então, Rayka Kinsley, toma a bola e a chuta em cheio, acertando no
fundo da tela do gol.
— GOOOOL!!! — Todos se levantam das suas cadeiras, gritando enlouquecidos, a
arquibancada estremecendo com os ânimos elevados.
Jogo pipoca para cima, comemorando, então, de repente, Leanne pula em meus braços.
Seguro-a firme, paralisando no lugar com sua iniciativa.
Ela ergue a cabeça e me encara, afastando os cabelos que se soltaram do rosto. Sua
respiração está falhando por conta da emoção. Tudo ao redor começa a desaparecer aos poucos.
Engulo em seco, apertando de leve sua cintura. Sua pele macia sob o tecido da blusa
queima minhas mãos, e nesse instante acredito ser um sonho do qual não quero acordar. A garota
que admirei de longe todos esses anos, aquela que sonhava todas as noites, está em meus braços
e eu não sei o que fazer!
Alguém pigarreia atrás de nós. Como se algo tivesse dado um clique na minha cabeça,
solto Leanne e me afasto, sem graça e cheio de vergonha.
— Estamos vencendo — Leanne diz, parecendo sem graça também.
— Sim — respondo, limpando a garganta.
Voltamos a nos sentar. Alana me lança um olhar cheio de malícia, eu apenas desvio e
assisto ao jogo. No final, tudo se resumiu a 1 x 0, e claro, ganhei os oito dólares da aposta.
Respiro aliviado ao chegar no estacionamento sem nenhum incidente causado por mim.
Alana anda na frente com um enorme algodão doce.
— Me diverti muito hoje — Leanne comenta, roçando seu braço no meu.
— Espero ter causado uma boa impressão, melhor do que da primeira vez — digo,
mordendo o lábio.
Leanne ri.
— Dessa vez, minhas roupas estão saindo intactas.
Coloco as mãos dentro dos bolsos e paro poucos metros longe do meu carro. Olho para ela,
que retribui o olhar.
— Bom... acho que... é hora de eu voltar — balbucio, apontando para Alana já dentro do
carro, com a cara enfurnada no celular.
— Vocês dois são... — Leanne olha para cima por um instante. — Diferentes.
— Alana é muito chata — digo. — Sou mais legal que ela e aquela garota gosta de fazer as
pessoas passarem vergonha, então esteja preparada para isso. — Minhas palavras saem
atropeladas.
— São amigos há muito tempo? — sonda, inclinando a cabeça um pouco para o lado.
— Sim, há mais de dez anos, se não me engano. — Passo a mão pelo queixo, fazendo as
contas na minha cabeça.
— Como irmãos, então?
Congelo, fitando-a. Suas palavras caem como um peso dentro do meu estômago. Apesar de
eu e Alana sempre estarmos juntos e termos certa intimidade, nunca a vi como minha irmã,
muito menos com malícia.
Ela é... apenas minha melhor amiga!
— Sim — minto, deslizando a palma da mão sobre o tecido da calça. — Somos como
irmãos.
Leanne me analisa, depois solta uma risadinha estranha que não consigo identificar.
— Então tá bom — ela diz, dando um passo para trás. — Fico muito contente pelo
caminho estar livre. Bom, agora preciso ir encontrar com meus pais.
Pisco, confuso com suas palavras.
— Certo. — Sorrio, tendo certeza de que escutei errado. — Até mais!
— Até! — Leanne abana a mão e se vira, começando a se afastar.
Suspiro, com medo de ter feito alguma cagada. Sobressalto de susto quando Alana bate em
meu ombro, parecendo furiosa.
— O que é? — indago, franzindo a testa.
— Você a chamou para sair?
— Eu... hum... — Pisco mais rápido, ajeitando os óculos enquanto nego com a cabeça.
— Para de ser lerdo, Rhavi! — Alana me dá um tapa no braço. — Corre até ela agora e
chama a garota para sair.
— Para onde?
— Qualquer lugar, caramba! — Ela me empurra, e faço o que me disse.
— Ei, Kinsley! — grito, mesmo sentindo meu rosto pegar fogo.
Ela para de andar e se vira para mim, dando um sorriso quando me aproximo, arfando de
nervosismo.
— É... hum... — Coço a cabeça, percebendo que estou com a maldita tiara de orelhinhas.
— Queria... é... — Arranco a tiara da minha cabeça, cerrando os dentes por não conseguir
formular uma frase.
— Sim.
— Hum?
Ela ri, chegando um pouco mais perto, o suficiente para ouvir as batidas aceleradas do meu
coração ecoando pelo estacionamento.
— Eu aceito sair com você. — Leanne coloca a mão sobre meu peito, arrepiando-me. —
Vai ser divertido te conhecer melhor. — Ela fica nas pontas dos pés e beija minha bochecha. —
Amanhã às oito.
Leanne se afasta, sorri e gira, retomando seu caminho. A delicadeza de seus lábios
continua presente na minha pele, quente e úmida.
Solto a respiração, sem acreditar no que acabou de acontecer. Viro para trás, encontro o
olhar de Alana, segundos se passam enquanto nós nos encaramos e eu abro um sorriso, fazendo
sinal de ok.
Ela comemora com um saltinho e retribui o sorriso, porque no final, essa aproximação foi
tudo graças à minha melhor amiga, que se tornou meu cupido.
Na manhã seguinte, chego à praça de alimentação ansioso por comprar meu café gelado e
um sanduíche natural, pois acordei um pouco atrasado, tendo tempo apenas para correr alguns
poucos quilômetros.
Tiro o dinheiro da carteira e olho para o lado, uma garota de cabelos curtos e vermelhos me
encara, cutuca sua amiga e desvia o olhar. Ignoro, dando um passo à frente quando a fila anda.
Aproveito para enviar uma mensagem de bom dia para o meu pai, pois hoje será corrido e
tenho certeza de que não vou conseguir falar com ele.
Novamente, aquela sensação de estar sendo observado me incomoda. Ergo a cabeça a
tempo de ver uma menina negra da minha turma se aproximar. Dou um passo para trás,
esbarrando em um cara, apenas para dar passagem para ela, que sorri para mim.
— Bom dia — diz, passando e se afastando.
Acompanho-a com meu olhar, confuso, sem entender por que me deu bom dia, sendo que
nunca nem olhou na minha cara.
— Próximo! — A atendente grita.
Balanço a cabeça e caminho até ela, que me lança um olhar estranho. Faço meu pedido,
recebendo a resposta do meu pai. Aproveito também e envio uma mensagem para Aidan, que
agora que entrou na semana de prova, mal tem tempo para respirar.
— Seu pedido — a moça fala, pousando a bandeja na bancada.
— Obrigado! — Guardo o celular no bolso, dou um passo à frente e quando seguro as
bordas da bandeja, congelo ao sentir seu olhar sobre mim.
Ergo a cabeça, encontrando seus olhos.
— Você vem sempre aqui? — ela pergunta, batucando as unhas em cima do dinheiro.
Estranho sua pergunta, porque é ela que sempre me atende. Seus olhos cor de mel me
analisam, aguardando minha resposta. Ela é muito bonita por sinal, percebi isso assim que a vi
pela primeira vez ano passado.
— Hum... sempre — respondo, pigarreando.
— Ah... — Ela sorri com a intenção de prolongar a conversa, mas destruo isso ao pegar
minha bandeja e caminhar na direção da mesa em que Alana está sentada.
Estou com uma sensação muito esquisita desde que pisei para fora do meu apartamento,
encontrando olhares direcionados a mim e sorrisinhos... coisa que nunca aconteceu.
— Tem alguma coisa de estranho comigo — digo, pondo a bandeja em cima da mesa com
um pouco de brutalidade.
Alana, que antes estava concentrada em um livro com o canudo do café gelado na boca,
ergue a cabeça com um sobressalto e me encara. Porém, ao invés de me responder, minha amiga
parece congelar.
Seus olhos descem pelo meu corpo lentamente. Ela não se move, um brilho diferente
aparece em seu olhar. Coloco a mochila no chão, encostando-a na mesa, irritado.
— Alana? — chamo, mas ela não se mexe, seu olhar está fixo... porra, ela está encarando
meu pau? — Droga, Alana!
Ela pisca, pigarreia e se remexe, voltando a me olhar nos olhos, aquele brilho de antes
desaparecendo.
— O que foi? — pergunto.
Alana morde o canudo e cruza as pernas cobertas pela calça jeans.
— Hum? — murmura, confusa.
— Onde você está?
— Aqui — responde, sugando com força o café, se remexendo novamente.
— Alana?
— O que foi, Pet? — pergunta, rindo, voltando ao normal. — Não tem nada de estranho —
ela responde e aponta para mim.
— Tem certeza? — Arrasto a cadeira e me sento, colocando o canudo no meu copo de
café.
Alana olha em volta, seu sorriso se alargando.
— Não tem nada estranho, apenas um garoto gostoso chamando a atenção das garotas
solteiras desse lugar.
Mordo meu sanduíche e olho em volta também, percebendo que muitas garotas estão me
lançando olhares.
Não foi uma boa ideia ter vestido essa camisa preta com a jaqueta do time por cima, calça
de moletom cinza e um tênis branco que Alana escolheu para vir para aula. Deveria ter escolhido
as de sempre...
Ué, aquela garota do outro lado, de cabelos loiros, sorriu para mim?
— Você acha que é isso? — indago, incerto, desviando o olhar e fitando Alana.
— Confia — responde, puxando meu braço e levando meu sanduíche na direção de sua
boca.
— Ei, ei, ei! — Luto para evitar que faça o que pretende fazer, mas é em vão. Alana morde
meu sanduíche natural, dando um longo suspiro em seguida. — Odeio quando você faz isso.
Ela ri, mastigando.
— A sua comida é sempre mais gostosa que a minha.
— Engraçadinha.
Respiro fundo e começo a balançar minha perna esquerda sentindo uma bolha de ar dentro
do meu estômago. Estico a mão e fecho o livro que Alana estava lendo para saber qual é.
— Cora Reilly? — Leio o nome da autora e fixo meus olhos no cara com uma jaqueta e
cigarro na boca na capa em tons de preto.
— Twisted Cravings está sendo uma leitura maravilhosa, esse boy é tudo na minha vida —
diz, suspirando. — Supera você em todos os sentidos.
— Ah, é? — arqueio uma sobrancelha.
— Hum-rum!
Meneio a cabeça, não me surpreendendo em nada, porque Cora é sua autora preferida,
acho que ela já leu tudo o que a mulher escreveu. Eu li apenas dois livros dela.
— Alana? — Volto a abrir o livro, para deixar onde ela parou e largo o sanduíche de lado.
— O quê?
Inspiro fundo e me viro, ficando de frente para ela com uma ansiedade me consumindo a
cada minuto que se passa.
— Não sei que lugar levar Leanne hoje à noite — confesso, nervoso. — Me ajuda!
Alana finaliza seu café, enquanto me analisa atentamente. Aguardo, agoniado, até ela
inspirar e chegar mais perto.
— Leve-a para jantar, Pet, mulheres amam isso — sugere. — Algum restaurante bacana,
mas não muito formal.
Aperto os lábios, buscando em minha mente um lugar que talvez ela goste.
— Acha que é uma boa ideia?
— Você a observa há três anos, Pet, tenho certeza que sabe até o que ela gosta de comer —
Alana fala, me olhando e vendo a confusão de sentimentos em meus olhos.
— Ela... hum... gosta muito de tacos — digo, balançando de leve a cabeça. — Eu a vi
comendo várias vezes.
— Então ela curte comida mexicana.
— E coreana — completo, sorrindo.
Alana retribui o sorriso.
— Ah! — Ela estala o dedo perto da sua cabeça. — Lembra daquele restaurante que seu
pai comentou aquele dia?
— Qual?
— Aquele que ele leva a Lauren.
Franzo um pouco as sobrancelhas, mas não consigo me lembrar.
— Não sei qual.
— É perfeito para levá-la. — Alana olha na tela do celular. — Vamos, a aula já vai
começar, depois liga para o seu pai e pede a localização.
— Certo. — Levanto-me, pegando a mochila e meu café.
— Você não vai terminar de comer seu sanduíche? — Alana pergunta, encarando-me com
uma sobrancelha arqueada, eu apenas nego com a cabeça.
— Pode pegar — digo, rindo dela.
— Que pecado desperdiçar comida, Rhavi Clark!
— Não estou desperdiçando já que está devorando-o — retruco, andando ao seu lado.
— Hoje amanheci com uma fome de leão — comenta. — Será que vou ter que andar
armada agora?
Tropeço no degrau da escada que leva para as salas de aula e olho para ela.
— Como?
— Rhavi! — Alana tira o copo da minha mão e dá um gole. — Você está no centro das
atenções agora, despertou o interesse das mulheres e elas vão cair em cima de você.
Respiro fundo, pegando meu café da sua mão e dando um passo para o lado para ter tempo
de evitar que o pegue de novo.
— Bom... o que eu queria aparentemente estou conseguindo — comento com um sorriso
bobo no rosto.
Alana balança a cabeça, parecendo um pouco distante.
— O que foi, Pet? — Aproximo-me dela, roço minha mão na sua e tiro sua mochila do seu
ombro, colocando no meu outro.
— Só estou cansada hoje — diz, me lançando um sorriso tranquilo. — Ontem fui dormir
tarde assistindo Netflix.
— Ah... aquela novela da Betty em Nova York?
— Sim. — Ela me olha. — Pet, eu estou viciada, não consigo parar de assistir, aquelas
piranhas humilham a bichinha só porque ela se veste mal.
— Mas ela é feia — falo, soltando uma risada.
— E por isso precisa dessa humilhação? — Alana estreita os olhos.
— Não.
— Pois bem — ela ergue o punho e aperta os lábios, um gesto de determinação —, quero
ver a Betty voltando lindona e pisando em todo mundo.
— É o que vai acontecer, certo?
Alana meneia a cabeça e se estica para pegar meu café, ergo o braço para cima, tirando-o
do seu alcance. Ela luta por alguns segundos, desistindo em seguida.
— Betty me lembra você.
— De mim?
— Sim. — Alana me olha, percorre os olhos pelo meu corpo e depois fixa em meu rosto.
— Rhavi, o feio!
— O quê?
Ela solta uma gargalhada.
— Tenho uma história perfeita para fanfic da Liza — Alana para, ergue as mãos e foca em
algo. — Rhavi, o feio. Um garoto esquisito, feio, invisível que depois de um banho de loja ficou
irreconhecível, se tornando, Rhavi, o gostoso.
— Jesus Cristo! — Balanço a cabeça, voltando a andar e fingindo que não ouvi isso.
— Qual é? — Alana ri atrás de mim. — Ficou legal!
— Acho melhor você parar de assistir essa novela, está afetando seu cérebro.
— Tenho certeza de que você seria um protagonista melhor que o Armando — diz,
segurando meu braço. — Porque até agora o cara só faz merda e às vezes é bem chato, mesmo
assim gosto dele.
— Hum... — murmuro, dando um gole no meu café. — Você nem assistiu aos episódios
de Tokyo Ghoul que tínhamos combinado, não é?
Alana dá um pulo, me assustando, e arranca o copo da minha mão.
— Estou te dizendo que essa novela está sugando minha alma — fala, dando um longo
gole no meu café. — Por que você deixa o gelo derreter?
— Fica mais gostoso.
— Mais aguado, você quer dizer.
— Não sei por que está exigindo, sendo que é meu. — Tomo meu copo de volta, ela
resmunga baixinho.
Assim que entramos na sala em que será a primeira aula, sinto olhares sobre mim, os quais
fazem com que eu abaixe a cabeça, incomodado com essa atenção repentina.
Acomodo-me na cadeira, olho para trás, Liza ainda não chegou e envio uma mensagem
para ela, perguntando por que está atrasada.
— Liza não vem hoje — Alana responde. — Está com a avó.
— Está tudo bem?
— Sim — ela diz, mostrando uma foto da Liza com sua avó. — Foram fazer uma visita
para uma amiga e lá ficaram.
Rio, Liza odeia quando a avó dela faz isso.
— Lembro bem de quando ela inventou de irmos para a praia — comento.
— Foi épico aquele dia. — Alana guarda o celular na mochila e prende os cabelos em um
coque. — Ainda rio da sua tentativa de tirá-la da água.
Reviro os olhos.
— Nem me fale, aquela velhinha ia se afogar. — Rio. — Mas no fim, quem se afogou fui
eu.
— Sim. — Ela solta uma risada. — Coitado do Aidan te tirando de lá.
— Coitado de mim, que fui salvar uma senhorinha e acabei me afogando no processo —
resmungo.
— Olha quem chegou — Alana aponta para frente com o queixo, e meu coração dispara de
imediato.
Leanne entra, segurando o fichário que usa para fazer anotações e me olha, dando um
sorriso largo. Ela vem em nossa direção, trajada em um vestido rodado azul, que realça seus
olhos.
— Dia — cumprimenta. — Queria perguntar se fizeram aquela atividade de Biologia,
estou com um pouco de dificuldade.
— Rhavi fez — Alana se apressa em dizer.
Engulo o nervosismo e balanço a cabeça.
— Se... se quiser, posso te ajudar — ofereço, esfregando a nuca.
Leanne meneia a cabeça, fitando-me.
— Podemos marcar — diz, enfiando a mão na sua bolsa, tira de lá um chocolate e põe
sobre a mesa. — Eu trouxe para vo...
Ela se cala quando a mão de Alana cobre o chocolate, imediatamente, coloco a minha sob a
sua e balanço a cabeça, repreendendo-a.
— Tenho certeza de que Leanne trouxe para mim — rosno.
Alana enruga o nariz, puxa a mão, mas eu impeço. Ela não vai roubar meu chocolate... de
jeito nenhum.
— Nem sabe se é para você.
— Por acaso deixou ela terminar de falar? — questiono.
Tento afastar sua mão.
— Lea, tenho certeza de que você trouxe para mim — Alana diz, olhando para ela. —
Você nunca me trairia por causa de um pau, não é?
Leanne solta uma risada diante do drama.
— Nunca! — ela diz. — Mas...
— Viu, Clark! — Alana puxa a mão.
— Não seja assim.
— Assim como?
— Feia!
Alana abre a boca, chocada e ouço uma risada da Leanne, assistindo toda essa cena
patética, onde só sairá um vencedor.
— Você me chamou de feia, Rhavi Clark?
— Sim, eu chamei.
— Posso fazer alguma coisa para evitar esse confronto? — Leanne intervém, pondo a sua
mão delicada sobre a minha, disparando ainda mais meu coração.
— Pode — digo, sustentando seu olhar.
— Não! — Alana fala e puxa a mão.
— Alana, a feia, uma ótima história para Liza — falo, olhando para minha amiga com
muita raiva.
— Rhavi, tira a mão! — ordena.
Respiro fundo e a deixo ganhar a batalha. Afasto minha mão da de Alana, mas viro a
palma para cima e seguro a de Leanne. Sinto a textura da sua pele, a delicadeza do seu toque e o
calor que irradia dos seus poros.
— Tudo bem — falo, um tanto chateado, e encaro Leanne. — Desculpe por esse momento
inconveniente.
— Ah... — Ela ri, acariciando minha pele gelada. — Nem todas as batalhas conseguimos
vencer.
Solto uma risada, olhando de relance para Alana, devorando o chocolate que era para ter
sido meu.
— Ela é estranha — comento, recebendo uma cotovelada na costela.
— Eu tenho mais um — Leanne diz, atraindo minha atenção de volta para ela. — Mais
tarde te entrego quando estivermos sozinhos.
Umedeço os lábios, assentindo, fitando-a como se fosse um diamante lapidado.
— Certo. — Sorrio de lado, deslizando minha mão para longe da dela.
— No entanto. — Ela segura minha mão —, quero algo em troca.
Ergo as sobrancelhas, surpreso com suas palavras.
— Se eu puder... te dar... tudo bem.
Leanne me lança um sorriso perspicaz e um olhar do qual espalha um frio no pé da minha
barriga.
— Até mais tarde. — Ela solta minha mão e olha para trás, quando o professor entra. —
Tchau, Rhavi!
— Tchau! — Fico observando-a ir para o seu lugar.
— Vocês têm química, não posso negar — Alana comenta.
— E você é uma ladra de chocolate — retruco, dando um beliscão em sua cintura.
Ela apenas dá de ombros, agindo como se não tivesse feito nada.
Sorrio discretamente, extasiado com o modo em que Leanne mexe comigo, de sua
capacidade de me fazer pensar que ela pode ser minha depois de tanto tempo a desejando de
longe.
Hoje é o último treino antes da temporada. Se vencermos todos os jogos, conseguiremos ir
para as nacionais. Meus ânimos estão exaltados, deixando-me inquieto e ansioso, pois quero ir
para as nacionais e trazer o prêmio para casa, mesmo estando no banco, assistindo enquanto
desejo estar no campo.
O treino se iniciou com o planejamento e objetivos de um cronograma baseado no
campeonato, diferenciado e visando exclusivamente os adversários. A primeira parte foi uma
reunião com toda a equipe de comissão técnica. Depois, foi montada toda uma estrutura de treino
específico para conseguir cumprir os objetivos impostos que nos levarão à vitória. Logo após,
fomos liberados para o treino em campo.
Balanço os braços, olhando em volta. As arquibancadas hoje, vazias, amanhã estarão
entupidas de torcedores fanáticos, loucos por um belo jogo. Só de imaginar todo aquele fervor,
meus pelos arrepiam, não consigo descrever como é a sensação desse momento.
O apito é soado, chamando nossa atenção. O fisioterapeuta gesticula para iniciarmos a
preparação para o treino físico. Connor retira o fone de ouvido, assim como Ben. Poucos minutos
depois, focamos em aquecer nossos corpos com sequências de exercícios como agachamento,
alongamento, polichinelos... muitos outros que fazem meu coração quase sair pela garganta.
No segundo momento, o coordenador de defesa e ataque monta jogadas, explicando quais
são os estímulos que cada jogador precisa ter para reagir e o que precisa observar no adversário.
Depois disso, vem o treino mais específico, onde a responsabilidade de cada coordenador é
detalhar as técnicas necessárias para executar as jogadas que estão planejadas para o jogo de
amanhã.
— Pausa de dez minutos! — grita o coordenador de defesa, caminhando em direção ao
treinador.
Retiro o capacete, precisando de um pouco de ar e descanso. O treino de tackle não é muito
legal, especialmente quando um cara de 140 quilos te agarra e derruba para poder fazer a
interceptação da jogada.
Sento-me no banco, inclino um pouco para frente e dou um gole na minha água, encarando
o céu azul com o sol escaldante.
— E aí, parceiro! — Connor se senta ao meu lado, dando um tapa no meu ombro.
— E aí!
— Esses treinos nos arrebentam — resmunga, movimentando os ombros.
Assim como eu tive que treinar a fuga da defesa, ele também teve que driblar os
adversários que têm como objetivo atrapalhar sua jogada.
De fato, ficamos destruídos, mas é necessário, pois no campo nossos adversários vêm para
nos deixar em pedaços... vêm para instaurar o caos.
— Você é foda pra caramba no campo, mas precisa segurar a bola com mais precisão. Ela
ainda fica um pouco instável em suas mãos quando o Kickoff Returner te ataca — Connor diz,
me olhando com a testa coberta de suor. — Ela escorrega da sua mão.
— É... venho praticando, ainda cometo esse erro.
— Uma dica. — Ele dá um gole em sua água e volta a me encarar com seus olhos
esverdeados em sintonia com sua pele negra. — Segure a bola como se sua vida dependesse dela.
— Na verdade, nossa vida depende dela, não é? — brinco, arrancando uma risada dele.
— Nossa vida depende da porra desse jogo. — Connor fica em silêncio por um momento.
— Vou dar uma festa amanhã depois do jogo, é algo mais para os íntimos, queria que estivesse
lá.
Olho para ele, surpreso pelo convite, questionando se ele realmente me convidou ou se há
outra intenção por trás disso.
— Não acho legal você se envolver com ela — comento, a surpresa sendo substituída pela
desconfiança.
Connor franze o cenho, parecendo confuso, mas logo vejo o brilho de entendimento em
seus olhos.
— Certo... — Ele meneia a cabeça lentamente, me estudando. — Por... quais motivos?
Você?
Estalo a língua e aponto com o queixo para frente.
— Ele.
Connor segue meu olhar, fixando-se em Sean, parado do outro lado enquanto se alonga;
vez ou outra, ele direciona um olhar em minha direção, como se tivesse algo para me dizer.
— Fiz alguma coisa contra ele? — pergunto, olhando para a garrafinha de água.
Mesmo quando ele namorava com a Alana, mal trocávamos palavras, era mais
cumprimentos, como se eu fosse tão insignificante para nem sequer fazer um esforço para ser
amigável.
— Além de ter transado com sua ex quando eles namoravam? — Connor fala, sua voz
grossa atingindo-me como um soco no estômago.
— O quê?
— Foi o que ele disse para todos.
— Eu não fiz isso — encaro Connor, chocado.
— Sério? — Ele arqueia uma sobrancelha. — Até pensei que vocês eram namorados.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, dando uma risada seca, sem intenção de dar
explicação e muito menos uma justificativa.
— Então o caminho está livre? — Connor indaga. — Tipo, já que vocês não são
namorados nem nada do tipo, talvez...
— Cai fora, Connor! — brado, ficando com raiva. — Aliás, você gosta de ler fanfic?
— Ler o quê?
Ele me encara com uma expressão que indica que ele não faz ideia do que estou dizendo.
Sinto vontade de rir, apesar de ele ser fera no jogo, estrategista e muito inteligente, quando sai do
campo, seu cérebro é consumido por apenas uma coisa: garotas.
— Livros — esclareço.
— Ah... — Connor continua me encarando. — Cara, você é bizarro!
Solto uma risada e ele também.
— Só fiz uma pergunta.
— Eu não faço ideia da última vez que li algo do tipo além do material do curso — fala. —
Talvez um dia eu pare de me envolver com qualquer garota que se senta no meu colo e vire um
intelectual igual a você.
— Faz bem — olho para ele —, pensar com o cérebro ao invés do pau vai te dar um rumo
melhor na vida.
Connor solta uma risada.
— Não é tão fácil como parece, okay?
— Okay... — murmuro, porque eu realmente não faço ideia do que é isso.
— As garotas caem em cima, sério, é difícil resistir — comenta. — Mas... sabe... —
Connor solta um suspiro. — Queria ter controle do meu pau e às vezes dizer não, se é que me
entende.
— Cara, que merda! — digo, rindo.
— Não me julgue.
— Julgo sim!
— Sinto-me um pouco...
— Cansado? Exausto? Puto? — Volto a rir.
Sério que ele está se abrindo e falando sobre isso?
— Desvalorizado — completa, me olhando enquanto gargalho.
— Como assim, Connor? — Encaro-o, besta com suas palavras. — Você se envolve com
as garotas porque quer. Acho que são elas que se sentem desvalorizadas.
— Que nada — ele dispensa minhas palavras com um gesto de mão —, elas querem se
foder com o Quarterback... querem apenas um título e o futuro jogador da NFL, não querem se
envolver comigo. — Connor estala a língua. — Consegue me entender?
— Cuidado com o golpe da barriga.
— Jesus Cristo! — Ele finge se arrepiar. — Não duvido disso, ainda mais sabendo quem
são meus pais.
— Você precisa encontrar uma mulher certa, sei lá. — Dou de ombros. — Tente encontrar
uma garota bacana, não Marias chuteiras.
— Onde eu encontro uma garota assim? — indaga. — A que estou de olho aparentemente
tem um protetor.
Lanço um olhar de repreensão em sua direção. Ele ergue as mãos, murmurando desculpas e
rindo de mim.
— Está procurando no lugar errado, cara — digo, voltando a observar os jogadores
conversando uns com os outros no campo.
Connor solta um suspiro, mantendo-se em silêncio.
— Explica aí o que é esse tal de fanfic — pergunta, quebrando o silêncio.
Olho para ele por um instante, dou uma risadinha, pego meu capacete e me levanto.
— Quando decidir pensar com o cérebro e não com o pau, eu te explico — respondo, indo
de volta para o campo sem esperar por uma resposta sua.
O coordenador de jogadas sopra o apito, nos direcionando para dois circuitos estreitos, um
ao lado do outro, para executar as jogadas dos RB e FB.
Os caras do time ficam na lateral para assistir. Seguro a bola e me posiciono na linha. Na
minha frente está Logan Compton, o Left Tackle para segurar a defesa oposta com o intuito de
liberar espaço para corrermos e executar a jogada terrestre.
Concentro-me, repassando o trajeto curto na mente, conforme fui instruído; o apito do
coordenador estoura em meus ouvidos, o impacto dos capacetes do Left Tackle e do Linebacker
é entoado no mesmo instante em que Logan encaixa na cintura de Tevin.
Corro, esquivando-me pela lateral esquerda, mas sou agarrado pelo tornozelo e derrubado,
sendo imobilizado por Tevin logo em seguida.
— Te peguei, Clark! — ele diz, levantando-se com os punhos para cima em sinal de
vitória.
Os outros caras vibram e batem palmas. Volto para a fila para repetir a mesma jogada,
recebendo alguns tapas no meu capacete.
— Se prepare, Sean — o coordenador aponta para ele.
— Vamos lá, monstro, mostra o que sabe! — um dos caras grita, incentivando.
Sean se posiciona com a bola colada ao corpo, e o apito é soado. O left tackle avança
contra os linebackers, e Sean corre, conseguindo ultrapassar a defesa. No entanto, apesar de ele
ter conseguido, o crédito vai para Devin Booker, que conseguiu segurar o linebacker para que
Sean conseguisse finalizar a jogada e quem sabe marcar um touchdown.
Assim que chega minha vez de novo, Ben Simons, o left guard, se posiciona, dando um
sinal de positivo para mim e dizendo que irá abrir espaço para que eu corra. Os treinos, por mais
simples que sejam, são levados muito a sério, como se estivéssemos no campo contra um
possível adversário ou em uma disputa. Cada finalização e passe executado com perfeição é
comemorado.
Posiciono, agarro a bola, inspiro fundo e meus olhos analisam os dois lados que tenho que
passar. Estabilizo os pés e quando o apito é soado, corro. Ben derruba o adversário, mas não o
suficiente para impedir que me agarre pelas penas. Então, ao invés de ir pelas laterais, salto por
cima deles. As mãos do linebacker roçam em meu tornozelo, mas não consegue me interceptar e
pouso no chão, finalizando a jogada.
— É touchdown, Clark! — Tayler grita, todos vibram e o coordenador sopra o apito três
vezes, vindo em minha direção e me elogiando, assim como os outros jogadores.
— Você voou, cara! — Ben bate em meu capacete e agarra meu pescoço, fazendo-me rir.
Depois de uma série desse treino, onde tanto o treinador quanto o coordenador apontaram
alguns erros, os quais devemos evitar, o apito é soado, finalizando o dia de hoje.
O treinador nos chama para uma breve reunião no meio do campo. Retiro o capacete,
morto de cansado. Junto-me com os caras parados ao redor de Haley.
— Hoje foi nosso último treino antes do jogo, e se estamos aqui agora, é devido ao nosso
esforço, dedicação e determinação. — Seus olhos varrem cada rosto dos seus jogadores. —
Nossos adversários são bons, mas podemos ser melhores. Vamos lutar para entrar nas nacionais e
trazer o prêmio para casa, esse é o nosso objetivo, então vão para casa, descansem, durmam bem,
relaxem, porque amanhã nosso sossego acaba.
O treinador coloca a mão no centro.
— Quem somos? — ele grita e todos nós colocamos as mãos sob a sua.
— COUGARS! — gritamos em resposta.
— Quem somos, porra?
— COUGARS!
— Mais uma vez — ele berra. — QUEM SOMOS?
— SOMOS OS COUGARS! — Balançamos as mãos e jogamos para cima, vibrando e
cheios de entusiasmo.
— Estão liberados, rapazes — Haley nos dispensa.
Bagunço os cabelos, caminhando de volta para o vestiário. Alguns caras passam por mim,
apertam meus ombros e comentam sobre as jogadas.
— O que fará agora? — Tanner bate em meu ombro, andando ao meu lado.
— Hum... tenho um compromisso.
— Cara, você é muito ocupado — reclama, rindo. — Ei, Connor, a bonequinha tem
compromisso.
Reviro os olhos pelo apelido dado.
— Cala a boca, Tanner! — Tayler, o WR, o repreende de longe.
— Qual é, cara? — Tanner coloca a mão na minha nuca. — Estamos combinando de
beber, relaxar e pegar algumas garotas, a turma toda vai.
— Eu tenho um compromisso — recuso, esquivando-me dele e adentrando o vestiário.
— Ele fugiu, seu babaca — afirma Connor; mesmo à distância, ouço suas risadas.
— Você é um idiota, parceiro — comenta Tayler.
— Qual é... — Resmunga Tanner.
Durante meia hora, ouço as conversas dos rapazes enquanto tomam banho e se preparam
para ir embora. Noventa por cento da conversa envolve mulheres, um assunto que não me
desperta o mínimo interesse.
Assim que termino, saio do vestiário e agradeço por meus músculos estarem relaxados
após um banho quente. O ar fresco do início da noite me recebe enquanto caminho em direção à
minha caminhonete, quando ouço passos apressados vindo atrás de mim.
Volto-me e me deparo com os olhos escuros de Benjamin Simons. Ele acena com a cabeça
ao parar ao meu lado.
— Te observei bastante hoje — comenta, cobrindo a cabeça com o capuz de seu moletom.
— Nunca tinha parado para te analisar até o treino anterior, quando jogamos lado a lado.
Mantenho-me em silêncio, diminuindo o ritmo dos passos.
— Você é bem reservado, não é? — sugere ele.
— Acho que sim — respondo, fitando meus tênis.
— Por isso que os caras te acham estranho — conclui, fazendo uma pausa. — Seu pai é o
Sullivan, treinador do Dallas Cowboys?
— Sim, é ele.
— Bacana — murmura. — Bom, até amanhã, Clark.
— Até — respondo, destravando a caminhonete enquanto o vejo parar em frente a um jipe
cinza escuro.
Entro no carro e dirijo até meu prédio, voltando a ficar ansioso porque, daqui a duas horas,
tenho um encontro. Pensar nisso me causa um nó no estômago.
Estaciono o veículo na vaga, tiro o celular do bolso e ligo para meu pai, que atende no
terceiro toque.
— Olá, filhote. Tudo bem?
— Oi, pai! — Uma saudade me atinge. — Estou bem, acabei de chegar do treino.
— Amanhã estarei aí, só não sei se consigo te ver antes do jogo.
— Tudo bem!
— Mas fique tranquilo, você vai fazer sucesso.
Só se for no banco. — Respondo mentalmente.
— Estou tranquilo. — Inspiro fundo. — Pai, onde fica aquele restaurante bacana onde o
senhor leva a Lauren?
— Levo-a em muitos restaurantes, filhote.
— Hum... é que...
— Tem um encontro? — Sua voz sai animada.
— É, eu tenho — confesso. — Por isso precisava de um lugar, não muito formal, mas com
um toque romântico para levá-la.
Meu pai fica calado por um segundo. Ouço um sussurro, que creio ser de Lauren, seguido
de um suspirar.
— Eu... conheço a garota? — pergunta.
— Não — respondo, franzindo um pouco o cenho. — Ela é da minha turma, estamos nos
conhecendo.
— Hum... pensei que fosse a A...
— Cala a boca, Sullivan! — interrompe Lauren. — Me dê aqui! — Ouço um resmungar
do meu pai. — Olá, baby!
— Olá, Lauren! Tudo bem?
— Estou ótima — ela diz, sua voz delicada entoando em meu ouvido. — Leva essa garota
sortuda no restaurante Love in Houston. É um lugar lindo, privado e bem romântico.
— Precisa de reserva antecipada?
— Se precisar, seu pai resolve, nós conhecemos o dono — diz entusiasmada. — Estou feliz
por estar levando uma garota para sair.
— Posso conversar com meu filhote agora? — meu pai a interrompe.
— Claro! — Lauren fala, depois sussurra algo que não consigo ouvir.
— Ei, filhote, vou entrar em contato com esse meu amigo e em seguida te envio a
localização, okay?
— Obrigado, pai!
— Por nada! — Ele faz uma pausa. — Posso te dar algumas dicas que vão fazê-la ficar
na sua?
Rio, meneando a cabeça.
— Por favor.
— Primeiro, seja cavalheiro e abra a porta do carro para a garota, mostre que nesse
mundo cheio de caras babacas existe um príncipe.
— Certo, abrir a porta do carro — repito. — Anotado.
— A elogie, mas seja sutil e elogie os cabelos dela. Não entendo por que mulheres têm
fascinação por esse elogio, mas elas gostam quando reparamos nos cabelos e sempre funciona.
— Certo. — Gargalho baixinho, escutando as outras dicas.
— E por fim — ele faz uma pausa e suspira —, não tenha medo de ser quem você é, filho,
porque você é um tesouro. Okay?
— Obrigado, pai!
— Por nada, depois me conta como foi e se deu certo.
— Tá bom!
— Te amo, filhote!
— Eu também, pai — finalizo a ligação com um suspiro.
Pego a bolsa de treino no banco do passageiro e saio do carro, dirigindo-me ao meu
apartamento. Assim que chego no meu corredor, ouço vozes. Meu coração aperta ao reconhecer
uma delas, e a outra desperta um alerta em mim.
No instante em que meus olhos se prendem nas duas pessoas logo à frente, um soco no
estômago é dado. Leanne está encostada na parede ao lado da minha porta com os braços
cruzados e um sorriso modelado no rosto, seus olhos presos no cara diante de si, que conversa
um pouco sussurrado.
Olho para trás, querendo dar meia volta, mas quando retorno minha visão na direção deles,
Leanne vira o rosto e me encara. Ela pisca, os segundos se passam e o sorriso no seu rosto
desaparece.
— Rhavi? — balbucia meu nome.
Encaro o cara, reconhecendo-o. É o Ryder, vestido com uma camisa de manga longa preta,
cabelos um pouco desgrenhados e um olhar surpreso direcionado a mim.
Lembro-me dele, de quando fui à sua festa e de como ambos conversaram. O problema é
ele estar aqui, com ela... com a garota que vou levar para sair.
— E aí, parceiro! — Ele cumprimenta. Não digo nada, e ele volta a olhar para Leanne. —
Estou indo, obrigado por... aquele lance.
— Tudo bem. — Ela sorri para ele, que passa por mim, roçando o ombro no meu.
Solto a respiração que havia prendido sem nem perceber e volto a encarar Leanne, que me
estuda com atenção.
— Oi! — diz, desencostando da parede. — Você está bem?
— Hum... estou. — Engulo em seco, tirando as chaves do bolso do meu short com as mãos
trêmulas. — Não queria ter atrapalhado.
— Não atrapalhou, Ryder estava de saída.
Balanço a cabeça, dando um passo à frente, sentindo-me estranho, perguntando se ela
dormiu com ele.
— Você veio... me ver? — pergunta, arrastando o pé esquerdo descalço no chão.
— Eu? — indago, piscando e caindo em mim de que ela não sabe que somos vizinhos. —
É que... hum... não é isso...
Ela esboça um sorriso sutil diante da minha confusão.
— Nosso encontro é daqui duas horas e você está bastante adiantado, então acho que terá
que... — Seus olhos descem pelo meu corpo, analisando-me e percebendo que não estou
arrumado para a ocasião.
Puxo a gola da regata e ajeito a mochila nos ombros, notando seu olhar ficar confuso.
— Não... é que... que... — Engulo em seco, seus olhos se voltam para mim, e aponto para a
porta ao seu lado. — Somos vizinhos.
Leanne pisca, seus cílios longos quase beijam suas bochechas.
— Vizinhos? — indaga, perplexa.
Apenas balanço a cabeça, confirmando.
— Como assim? — Ela esfrega o pescoço, olhando de mim para a porta. — Como nunca
percebi isso? Aliás, sempre me perguntei quem era meu vizinho, se é que era homem.
— É que... — pigarreio —, é que nossos horários nunca bateram, e como saio cedo e só
volto à noite, nunca nos esbarramos até... então.
Leanne prende seus cabelos loiros e morde seu lábio inferior. Acompanho seu movimento,
engolindo em seco, perguntando-me como é sentir seus lábios carnudos e delineados nos meus.
— Isso é... muito legal — ela diz, puxando-me do devaneio. — Não posso acreditar que
somos vizinhos e estávamos tão pertinho assim um do outro.
Sorrio de lado, apertando a alça da mochila.
— Pois é...
— Faz muito tempo?
— Hum... tem três anos que moro aqui — conto, vendo sua expressão de choque.
— E eu um ano... isso é um absurdo! — Fala, colocando as mãos na cintura. — Que erro...
eu deveria ter pedido açúcar ou sal.
Solto uma risada, acalmando as batidas do meu coração.
— Você realmente perdeu a oportunidade — comento.
Leanne estala a língua.
— Ainda irei vir pedir um pouquinho de açúcar, que nem nos filmes. — O olhar que me
direciona me deixa um pouco envergonhado.
— Acho que posso doar um pouquinho.
Ela solta uma risada contagiante.
— Vamos, abra a porta — diz, batendo de leve nela.
— O quê?
— Quero ver como é a casa do meu vizinho.
Fico congelado, minha mente uma bagunça.
— Eu... não... não... acho... que... — Coço a cabeça, desesperado. Não tive tempo de
arrumar a casa e tirei tudo da estante... droga.
— Que indelicadeza a minha — fala, seu sorriso desaparecendo aos poucos. — Estou
forçando, isso não é legal. Desculpe!
— Não é isso — me apresso. — Está bagunçada, minha semana foi tumultuada e... pouco
tempo tive.
— Não seja por isso — ela aponta para trás. — Se entrar na minha casa, vai ver um monte
de roupa amontoada num cantinho.
— Você é do time dos bagunceiros?
— Não, sou do time dos sem tempo. — Ela solta uma risada. — Prometo não reparar, só
quero conhecer o seu cantinho da bagunça.
Umedeço os lábios, sustentando seu olhar.
— Promete que não vai me julgar?
— Juro, juradinho! — diz, dando um beijo no dedo mindinho.
Sorrio, achando fofo o que acabou de fazer, e dou um passo à frente, encaixando a chave
na fechadura.
— Bem-vinda à minha casa, Leanne — digo, empurrando a porta e dando passagem a ela.
— Que cheiro bom — murmura no instante em que coloca os pés em casa, inalando o
aroma de talco que o umidificador espalha pelos cômodos.
Fecho a porta atrás de mim, ligo as luzes e caminho para perto da mesa, colocando a
mochila no chão e congelando no instante que algo vem em minha mente.
Cacete!
Minha respiração fica acelerada conforme as batidas do meu coração se intensifica. Viro
lentamente, encontrando Leanne perto do sofá, onde está uma série completa de um mangá
hentai que consegui na internet. Ela se inclina e pega o primeiro volume.
Cacete mil vezes!
— Ah, isso aqui é gib...
Arregalo os olhos quando ela folheia o maldito hentai, um sorriso esboça em seu rosto.
— Não... não é o que tinha pensado — murmura.
Apreço-me para tentar tirar a merda da sua mão, dou um passo à frente, mas a alça da
mochila se enrosca no meu tornozelo, e caio no chão em um baque forte.
Solto um gemido e xingo mentalmente, o desespero me consumindo por inteiro.
— Jesus, Rhavi! — Leanne exclama. — Você está bem?
Coloco as palmas das mãos no chão e me impulsiono para cima, ficando de pé e indo em
sua direção.
— Isso... isso... isso não é meu! — digo, tirando o hentai da sua mão e tentando pegar os
outros que estão sobre o sofá. — São... droga... isso não deveria estar aqui.
Meu rosto está pegando fogo e ao olhar para Leanne, paraliso, vendo-a segurar uma risada.
— Isso é bem... — ela pigarreia, apontando para os mangás e desviando o olhar.
— Alana que gosta de ler essas coisas meio que... que pornográficas — disparo a falar. —
Ela encontrou na internet uma coleção rara, comprou e colocou meu endereço, não tive tempo de
entregar para ela.
— Ah, é?
— Sim... sim... — solto uma risada nervosa. — Não é como se eu gostasse disso, sabe...
é... bem ousado, apesar de ter historinhas bem bacanas... tipo, não gosto de coisas eróticas ou
hots nem nada do tipo, então não iria comprar algo assim... nunquinha, entende? — Minhas
palavras saem atropeladas.
Leanne morde a unha do polegar, olhando de mim para os hentais.
— Então são da Alana?
— Sim, todos eles — digo, balançando a cabeça. — Ela é viciada em...
— Putaria? — completa, se engasgando com a risada que quer soltar.
— Não é putaria, são hots e têm uma história bem... quer dizer... sim, sim. Ela gosta disso,
alega que é uma experiência adquirida — gaguejo. — Eu não li... nenhum deles — completo,
baixinho.
Leanne meneia a cabeça, seus olhos brilhando de diversão.
— Você caiu — comenta. — Se machucou?
— Eu... hum... — Olho para onde está a maldita mochila e uma cadeira caída. — Estou
acostumado a cair. — Solto uma risada sem graça. — Vivo sendo derrubado.
— Mas não estava fugindo do seu adversário — diz, baixinho, apontando para os mangás
em minhas mãos. — Ficou com vergonha?
— Eu? — Rio, como se tivesse sido engraçado. — Não, não! É que... Alana não gosta que
saibam que ela lê hentai.
— Ahhhh...
— Não diga a ela que eu deixei você ver isso aqui — digo, limpando a garganta.
— Tudo bem! — Leanne dá um passo para trás com os pés descalços. — Não vi nada.
Meu rosto volta a pegar fogo.
— Sério, ela me mata se souber.
— Gostei da sua estante — aponta para ela com um olhar curioso. — Lê romances?
— São da Alana os de romance — digo. — Os de terror, suspense e clássicos são todos
meus — minto na cara mais lavada e vermelha de toda minha vida.
Leanne sorri e aponta para fora.
— Certo — murmura. — Vou indo, porque tenho um encontro com um certo rapaz que
não lê hentai — comenta com sarcasmo, divertida.
Porra, ela não acreditou em mim!
— Te pego às oito.
Ela meneia a cabeça e anda até a porta.
— Leanne? — chamo-a, fazendo-me olhar por sobre o ombro.
— Sim?
— Não são meus.
— Tudo bem se for — responde, pigarreando.
— Não sou um pervertido.
Ela solta uma gargalhada, se controlando em seguida.
— São da Alana, ela que é uma pervertida — brinca.
— Sim — balbucio.
Leanne se despede e fecha a porta. Jogo todos os mangás que peguei no sofá, entrelaço os
dedos nos cabelos e solto um grito engasgado, querendo desaparecer de tanta vergonha.
Que merda!
— Por que eu fui deixar vocês aqui, droga? — choramingo, querendo de verdade me
afogar no vaso do banheiro.
Encostado no carro, aguardo Leanne descer do prédio. Meu coração parece estar prestes a
sair pela boca, mas tento a todo custo mantê-lo controlado. Ajeito a manga da jaqueta, afrouxo
um pouco o relógio no pulso e dou uma verificada nos meus cabelos para ter algo com que
ocupar enquanto a espera se prolonga.
Ouço um cumprimento e ergo a cabeça, vendo Leanne caminhar em direção à saída. Fico
paralisado, ela está linda em um vestido branco com a saia rodada e uma sandália de salto cheia
de pedras.
Leanne coloca uma mecha dos cabelos loiros atrás da orelha, ao mesmo tempo em que
troca algumas palavras com o porteiro. Seus cabelos estão cheios de ondas que caem em cascatas
por suas costas com um brilho espetacular.
Ela sorri para o porteiro que destranca o portão, se despede com um aceno e olha para
frente, finalmente me vendo. Leanne caminha até mim, e tenho a sensação que tudo se
transformou em câmera lenta, menos as batidas do meu coração.
— Oi! — diz, parando diante de mim.
Fixo meu olhar nos seus olhos e nada é mais lindo do que eles, nem mesmo o azul do mar.
O vento sopra, bagunçando seus cabelos soltos e trazendo o perfume suave de flor de jasmim.
— Rhavi? — ela me chama com um sorriso mais largo.
— Ah... hum... Oi! — gaguejo, quebrando nosso contato visual por um instante. Tomo esse
breve segundo para inspirar fundo e voltar a encará-la. — Você... você... está... é... — Pigarreio,
nervoso, as palavras engasgando-se em minha garganta. — Eu quero dizer que... hã... não... não,
hum...
Merda!
— Que estou linda? — Leanne tenta completar, olhando-me com um pouco de diversão.
— Não! — Minha voz sai mais alto que o normal. — Quero dizer que você... está... —
Fecho os olhos com força, odiando-me por estar uma confusão. Ao voltar a abri-los, noto ela
aguardando com calma o que tenho a dizer. — Essa noite... você está mais brilhante que um
diamante.
Céus, que brega!
Leanne fica me encarando por um momento e logo depois seu sorriso se ilumina.
— Uau... é... — Ela umedece os lábios pintados de rosa. — Obrigada por isso.
Coço a cabeça, olhando para os lados em busca de uma desculpa.
— Queria ter sido menos cafona, minha intenção era... ter sido diferente.
— Na verdade, estou bem cansada de tanto ouvir “nossa como você está linda” ou “você é
a garota mais linda que já vi em toda minha vida”. — Ela revira os olhos. — Ser comparada com
um diamante, sim, era o que mais precisava ter ouvido no momento. Obrigada.
Aperto meus lábios, orgulhoso por tê-la feito se sentir assim.
— É uma pedra muito valiosa — digo, baixinho, abrindo a porta da caminhonete. — Nem
todos têm o privilégio de ter uma.
Leanne fica me encarando, paralisada, como se estivesse vendo alguma coisa estranha.
Olho para os lados, então percebo que ela está me encarando.
— Tudo... bem? — pergunto, preocupado. — Falei besteira?
Ela pisca algumas vezes, balança uma mão e volta a sorrir.
— Você abriu a porta do carro — comenta, dando um passo à frente.
— Sim — replico, sorrindo de lado e estendo a mão para ajudá-la a subir. — Algum
problema?
— Nenhum — responde, pousando a sua mão sobre a minha. — Sabe, imaginei qualquer
tipo de carro que teria, mas nunca uma Dodge Ram preta.
Fecho a minha mão em torno da sua, sendo arrebatado por seu calor.
— Não me diga que me imaginou com um Mini Cooper — brinco, ajudando-a a se sentar
no banco. — Nada contra, aliás.
— Ele é muito fofo — diz, sorrindo sem soltar minha mão.
— Já que você diz, devo concordar meio que discordando. — Solto sua mão, fecho a porta
e contorno a caminhonete, entrando logo em seguida. — Mas sejamos honestos, a Dodge é muito
mais bonita — falo, ligando o motor.
— É... não tem comparação.
— Gosto mais de você agora.
Leanne solta uma gargalhada, aquecendo meu coração com o timbre da sua voz
preenchendo o interior da caminhonete.
— Ótimo, um pontinho a mais para mim.
— E qual é o seu? — pergunto, dando partida e saindo rumo ao restaurante.
— Te dou um beijo se adivinhar.
Meu peito dá um salto, olho para ela vendo que está falando sério. Sinto minhas bochechas
esquentarem, mas ignoro.
— Certo... — Aperto o volante. — Só me dê alguns segundos, porque não posso perder
esse beijo.
— Vai lá, cinco segundos, senhor Clark.
— Calma, não funciono sob pressão — falo rindo. — Ok...
— 5... 4... — Leanne começa a contar. — 3...
Olho para ela mais uma vez, tentando adivinhar. Seus olhos vêm de encontro aos meus,
brilhando sobre a luz dos postes da rua.
— Fala sério! — exclamo, virando para frente.
— Não posso mentir.
— Um Mini Cooper? — indago, chocado.
— Cor-de-rosa — completa, orgulhosa.
— Para com isso, Leanne! — exclamo. — Estamos falando sério.
— Está com preconceito com meu Cooper rosa, Clark? — Leanne franze a testa, fingindo
seriedade.
— Não! Jamais! — Olho para ela por alguns segundos e solto outra risada.
É meu bebê.
— Um lindo bebê, por sinal — comento, esticando a mão e ligando o rádio. — Algum
pedido em especial?
— Kane Brown — pede.
Procuro pela playlist dele e seleciono assim que a encontro, mantendo o volume baixo para
que não atrapalhe nossa conversa. A primeira música que toca é "Heaven", fazendo-me lembrar
que ele é seu cantor favorito e que muitas vezes passou o dia ouvindo-o até eu querer destruir sua
caixa de som.
— Seu quarto também é rosa com aqueles edredons cor-de-rosa e com uma luz de neon
escrito “Princess”? — vagueio, imaginando-a dentro do seu carro de princesa e me perguntando
por que nunca o vi na garagem do prédio.
— É... sabe... — Ela solta uma risada. — Você adivinhou.
— Não é tão difícil, visto que tem um carro de princesa.
— Gosto de me sentir da realeza — brinca, fingindo ter uma coroa no topo da sua cabeça.
— Mas você é uma princesa. — Solto sem pensar, atraindo seu olhar. — Hum... —
Pigarreio. — Quero dizer, para ser uma princesa não precisa ter um título... na verdade, nem toda
princesa... usa coroa.
Que porra foi essa que acabei de falar?
Ela fica me encarando com um sorriso lindo nos lábios. Limpo a garganta e fixo meu olhar
na estrada, envergonhado demais para fitá-la de novo.
Cara... sou muito brega, pelo amor de Deus!
— Rhavi?
— Sim?
Leanne suspira.
— Sobre mais cedo... não aconteceu nada entre mim e Ryder — ela explica. — Nós somos
amigos e ele queria alguns conselhos de... mulher.
— Você não precisa me dar explicação, Leanne — digo, apertando o volante, não quero
que ela se sinta desconfortável.
— Não quero que pense algo de errado sobre mim.
— Eu jamais pensaria isso — disparo, atropelando as palavras e virando-me para ela. — A
não ser que me faça dirigir seu Cooper cor-de-rosa.
Leanne ri e suspiro por ter quebrado o clima ruim que ficou com essa conversa.
— Não fazia ideia que você era divertido.
— Eu sou bem legal. — Viro uma rua e sigo pela avenida.
— Para onde está me levando, hein?
— Na verdade, estou te sequestrando — replico, brincando.
— Oh! — Leanne leva a mão ao peito. — Devo pedir socorro?
— Ninguém vai te ouvir. — Sorrio. — É surpresa!
Olho para ela e lanço uma piscadela, fazendo-a abaixar a cabeça e desviar do meu olhar.
— Você sempre morou em Houston? — ela pergunta.
Batuco meus dedos no volante.
— Morava em Dallas, mas prefiro ficar aqui.
— Por quê?
— Por causa da Alana.
— Ah...
— E você? — indago, curioso.
— Já morei em várias outras cidades por causa do trabalho da minha mãe, mas Houston foi
o lugar que mais gostei.
— Aqui é incrível, principalmente o litoral.
— Nem fala, sou apaixonada — diz com a voz animada. — Entretanto, faz muito tempo
que não vou à praia, um pecado capital.
Sorrio.
— Bom... se aceitar... — Pigarreio. — Podemos marcar um dia para ir. O que você acha?
— Mesmo?
— Estou precisando ouvir o som das ondas — digo, dando de ombros.
— Do cheiro do mar... — Completa, suspirando.
— Só não posso me afogar.
— Você não sabe nadar? — Leanne pergunta, surpresa.
— Sei, mas não adiantou muito, porque da última vez fui dar uma de salva-vidas de uma
senhorinha e tive que ser salvo. — Solto uma risada quando ela gargalha. — Não é brincadeira.
— Prometo me certificar de que não irá se afogar.
— Obrigado! — agradeço, virando a caminhonete na esquina e encontrando uma vaga no
acostamento da rua estreita e lotada de carros.
Leanne desafivela o cinto assim que desligo o motor, se inclina um pouco para frente e
analisa o lugar, parecendo confusa.
— Não vejo nada.
— É aí que a magia se encontra. — Abro a porta e saio, contornando para abrir a sua. —
Venha, você vai amar.
Leanne segura minha mão, ajudo-a a descer e fecho a porta sem soltar sua mão,
aproveitando o máximo do seu calor, desejando ir para o outro lado do mundo com ela.
— Sua mão está gelada — constato, fitando seus olhos.
— Estou nervosa — confessa, sustentando meu olhar. — Faz muito tempo que alguém não
me leva para sair.
— Vou fazer valer a pena — afirmo, incentivando-a a andar ao meu lado. — Meu pai que
me indicou esse restaurante.
— Então ele sabe que você tem um encontro?
— Deu até dicas. — Rio, colocando a outra mão no bolso da calça enquanto caminhamos
pela calçada. — Ele é bem... chavequeiro.
— Estou ansiosa.
— Ele tem bom gosto, juro — afirmo, parando em frente a uma casa grande com uma
fachada neon vermelha com branco escrito “Love in Houston”. — Aqui estamos, princesa.
Leanne aperta minha mão e me olha. Com um sinal de cabeça, peço para ir em frente, ela
assente, solta minha mão e abre a porta. Assim que passamos por um pequeno corredor
iluminado, o verdadeiro lugar vem à tona como um passe de mágica, revelando a beleza e o
romantismo do lugar.
Leanne dá um passo para trás, encostando as costas no meu peito enquanto encara o
restaurante com a expressão de fascínio. Ela leva as mãos à boca e eu seguro seus ombros,
inclinando um pouco para sussurrar em seu ouvido.
— O que achou, Leanne?
Sinto-a estremecer.
— Meu Deus! É... perfeito — diz, balançando a cabeça.
Ergo meus olhos e sob o céu noturno, lâmpadas percorrem o espaço como se fossem
estrelas em um varal de luzes. O estilo rústico nos leva para a era do faroeste ao ar livre. Mesas
com bancos de madeira estão estendidas pelo espaço e na lateral esquerda, encontra-se uma
árvore em harmonia com o palco para shows ao vivo.
A música toca baixinho, se misturando entre conversas e vozes dos clientes presentes.
— Estou sem palavras — ela balbucia, se virando para mim e me encarando nos olhos. —
É o lugar mais lindo que alguém já me levou.
— Primeira meta, concluída — digo, soltando seus ombros e colocando as no bolso, um
pouco sem graça.
— Muito lindo, Rhavi.
— Sim... — Volto a encará-la. — Muito lindo...
Fico olhando em seus olhos, mais tempo que o normal, vendo algo único dentro deles.
Desvio e levo a mão à nuca, esfregando o local.
— Mais tarde terá música ao vivo — conto. — Vai gostar.
— Já amei.
— Vamos nos sentar. — Pego sua mão e a levo para a mesa perto do palco.
Leanne entrelaça seus dedos nos meus, soltando-me apenas quando se senta no banco do
outro lado da mesa, ainda analisando o lugar.
— Aqui tem tacos deliciosos — comento, atraindo seu olhar.
— Mentira.
— Chili também — falo, rindo quando espalma a mão sobre a mesa.
— Certo, hoje estou com a intenção de engordar três quilos, então se prepare para me ver
comer muito e não aceito julgamentos.
— Não te julgarei. — Ergo as mãos.
Um dos garçons se aproxima para recolher nossos pedidos, e nos entrega o cardápio. Eu e
Leanne discutimos o que iremos pedir e, com a escolha feita, o garçom se afasta.
— Por que o futebol? — ela pergunta, pousando os braços sobre a mesa. — Sei que é um
esporte que faz parte da nossa cultura, mas acredito que cada um tem suas motivações para fazer
tal escolha, queria saber da sua.
O garçom retorna trazendo meu suco de laranja e um drink de morango para Leanne, se
afastando logo em seguida. Reflito sobre sua pergunta, dou um gole na minha bebida e dou de
ombros.
— Futebol faz parte do que sou — respondo, fazendo uma pausa. — Eu fui concebido em
um campo de futebol. — Sinto minhas bochechas esquentarem.
Leanne para o copo no meio do caminho para sua boca e eu solto uma risada.
— Sério?
— Pelas contas dos meus pais, sim. — Dou outro gole no suco. — Aconteceu depois de
um treino do meu pai. Minha mãe amava assistir e geralmente eles jogavam sempre um contra o
outro, o famoso pique-pega, então... teve aquele clima e... rolou.
— E você nasceu.
— É, eu nasci.
Nós rimos juntos, eu envergonhado por ter contado essa aventura dos dois.
— Quando eu nasci, ele estava jogando — continuo. — Enquanto minha mãe estava em
trabalho de parto, obrigou que um enfermeiro colocasse a transmissão para ela ouvir. A notícia
chegou até ele e no instante em que nasci, ele fez um touchdown em nossa homenagem.
— Nossa... que lindo! — ela comenta. — Então seu pai é um jogador?
— Sim, o último time em que jogou antes de se aposentar foi o Houston Texas — conto.
— O famoso quarterback Sullivan Clark.
— Ele é seu pai? — indaga, chocada.
Confirmo com um aceno de cabeça.
— O próprio, hoje treinador do Dallas Cowboys — conto. — Ele foi considerado o melhor
quarterback da NFL por quatro temporadas seguidas. Ele era fera no que fazia.
— Jesus! Como não notei que era filho dele?
Dou de ombros, coçando a cabeça.
— Não sou parecido com ele, apenas a pinta no olho. — Solto uma risada. — Você
também não sabia que eu era seu vizinho.
Leanne enruga o nariz, dando um gole na sua bebida, concordando com um movimento de
cabeça.
— Sou uma pessoa péssima.
— Só um pouquinho — concordo em brincadeira.
— Meu pai era muito fã do seu pai, não perdia um jogo do famoso Sullivan Clark — diz,
inspirando fundo. — Se eu contar que estou estudando com o filho do seu ídolo, bem capaz de
dar um ataque cardíaco.
— É melhor não dizer. — Sorrio. — Vamos manter a saúde intacta do seu pai.
Leanne ri.
— Concordo.
— Meu velho fez história, mas sempre gostei da posição do RB, desde pirralho.
— Por quê?
— Gosto de correr e ser desafiado — revelo, estalando a língua.
— Coitado dos seus adversários que comem grama.
— Eu gosto disso, sabe.
Leanne fica me olhando por alguns segundos. Rodo o copo, olhando para um casal pouco
distante de nossas mesas com seus dois filhos comendo uma travessa de sorvete.
— Então o futebol está no seu sangue.
— Exatamente.
— Você vai seguir carreira? — pergunta, levando minha atenção de volta para ela. — Tem
algum clube em mente?
— Bom... — Tamborilo as pontas dos dedos no vidro do copo. — Quero muito cair nas
mãos da NFL, mas para isso preciso jogar.
— Sempre foi reserva no Houston?
— Na verdade, desde que comecei a jogar quando criança.
— Sério?
Assinto, reticente em contar.
— No ensino médio, entrei para o time da escola para ser reserva e quando fiz o teste para
Houston, também entrei como reserva, nunca fui titular. — Dou de ombros. — Nas vezes que
tive a oportunidade de jogar como titular, não me saí bem e quando fui convocado para fazer
parte durante a temporada dos jogos da escola... — minha mãe morreu, completo mentalmente.
— Não pude comparecer. É muito azar, eu sei.
— Não acho — ela discorda. — Só não te deram a atenção certa para ver o talento sentado
no banco. — Leanne estica a mão e vira a palma para cima. — E quando te virem no campo
como um furacão, tenho certeza que seu nome nunca mais será esquecido.
Fico encarando-a por um tempo, depois solto o copo e pouso minha mão em cima da sua,
sentindo novamente o seu calor espalhar pelo meu corpo.
— Você acha?
— Tenho certeza — confirma com um olhar confiante. — Caso o futebol não der mais
para você, qual seria seu plano B?
— Não tenho plano B, trabalho e foco apenas no plano A, que é ser um jogador
profissional. — Assinto. — E por que escolheu farmácia como opção?
Contorço os lábios, pensativo.
— O irmão e melhor amigo do meu pai é farmacêutico, na verdade, ele tem uma linha de
farmácias espalhadas por Houston — conto. — Quando as férias de verão chegavam, eu e Alana
íamos trabalhar com ele, às vezes nos fazia acompanhar sua esposa manipular os medicamentos
ou nos deixava no balcão atendendo os clientes.
— Por isso farmácia.
— Eu gosto de manipular medicamentos — confesso, dando um gole no suco e
acariciando seu pulso com as pontas dos dedos. — E você? Por que farmácia?
Leanne sorri, retribuindo a carícia na minha mão.
— Não fazia ideia do que queria fazer, então fiz aulas experimentais de vários cursos, mas
apenas farmácia tive uma certa afinidade e decidi investir — conta. — Não é algo tão
significativo ou bonito como as suas motivações, mas... eu e ela temos uma amizade sólida.
— Você se vê trabalhando como farmacêutica no futuro? — indago, prendendo o ar ao
sentir um arrepio percorrer minha coluna quando arranha com delicadeza a palma da minha mão
com suas unhas longas.
— Hum... mais ou menos — diz, pensativa. — Quero ir para a área de pesquisa.
— Que legal!
— Acho muito interessante. — Ela abre um sorriso, contando um pouco de como os
farmacêuticos são essenciais na criação de medicamentos para cura de doenças.
Ela se cala quando o garçom para na nossa mesa com nossos pedidos. Afasto minha mão
da sua, sentindo falta do seu calor e espero que tudo esteja disposto na mesa para encará-la.
— Parece estar uma delícia — comenta, fitando-me com olhos brilhando como as estrelas.
O garçom vai embora, nos deixando sozinhos de novo.
— Quem fará a honra da primeira mordida?
— Nós dois — ela diz, inalando o cheiro das comidas. — Nossa, que fome que estou.
— Espero que goste.
Leanne me olha por sobre os cílios grandes e sorri de lado.
— Estou amando — murmura, sustentando meu olhar.
Pigarreio, abaixo o olhar e estudo a travessa de tacos, depois para o chili, arroz branco e
uma porção de churrasco muito bem temperado que faz minha boca salivar.
— Está com um cheiro muito bom — comento, aceitando o prato que estende.
— Por isso que uma cratera foi aberta nesse instante no meio do meu estômago — fala,
tirando uma risada minha pelo seu modo divertido.
Leanne se serve, em seguida pede meu prato, devolvendo-o cheio.
— Preparada? — indago, pegando o taco na mão com o auxílio do guardanapo.
Ela prende seus cabelos em um coque bagunçado, se remexe no banco, pega o seu e me
olha, assentindo.
— Nasci pronta.
Balanço a cabeça e juntos levamos o taco à boca, dando uma mordida generosa. Fecho os
olhos, sentindo um misto de sabores surreais que me carrega para outra dimensão.
— Nossa! — Leanne exclama.
Abro os olhos, vendo-a mastigando como se estivesse descobrindo as sete maravilhas do
mundo. Ela dá outra mordida, gemendo e levando a mão à testa.
— Isso aqui é...
— Maravilhoso — completo, mordendo mais uma vez.
— Sério, existem outras formas de obter um orgasmo múltiplo e esse é um deles. — Ela
solta.
A massa do taco fica presa na minha garganta assim que ouço suas palavras e começo a
tossir em desespero, sentindo meu rosto pegar fogo.
— Deus! — Leanne salta do seu lugar e corre para o meu lado, estende o copo de suco
para ajudar a me desengasgar. — Desculpa por ter usado essas palavras na mesa — pede,
esfregando minhas costas.
Arfo, tentando controlar a tosse. Dou um gole no suco, inspirando fundo e piscando para
dissipar as lágrimas que acumularam em meus olhos.
— Tudo bem... — sussurro, ainda engasgado.
— Fui muito indelicada — diz, sentando-se ao meu lado.
Inspiro fundo, mais calmo, sentindo minha garganta um pouco dolorida pelo esforço.
— Não! — Balanço a cabeça, bebendo mais um pouco do meu suco. — Foi minha culpa,
eu que não mastiguei direito — viro-me para ela, encontrando-a tão perto que meu coração dá
um salto.
A ficha ainda não caiu, parece um sonho estarmos nesse lugar, juntos, conversando e nos
divertindo. Fixo meus olhos nos dela, de repente, percebo um brilho que não tinha visto, como se
acabasse de acontecer uma explosão de estrelas das mais lindas em um universo único.
Meu olhar desce para sua boca farta, lábios como duas pétalas sedosas, cheios de doçura,
pedindo ao mundo que os beije de forma singela. Eles se curvam em um sorriso leve e perfeito,
afetando meu coração mais uma vez.
Ergo meu olhar, encontrando o dela mais uma vez, tão envolventes que me transportam
para um mar de encanto. Leanne se inclina um pouco para frente, mantendo nosso contato visual,
e eu fico paralisado, sem reação. Então, uma nota musical estoura, me assustando e tirando-me
do efeito que estava vivenciando.
Pisco, desviando o olhar e esbarro no prato, derrubando-o no meu colo junto com toda a
comida que estava dentro dele.
— Merda! — Amaldiçoo, tentando consertar a situação, mas acabo esbarrando no copo de
suco também, mas por sorte, Leanne é mais rápida e consegue evitar sua queda.
— Eu te ajudo — diz, pegando o prato do meu colo.
— Sou tão desastrado — resmungo, limpando minhas roupas e dando um suspiro em
derrota.
Ao fundo, a voz do cantor reverbera, dando-nos boa noite e recebendo aplausos dos
clientes.
— Todo mundo é! — Leanne fala, pegando minhas mãos e chamando minha atenção. —
Fica calmo, Rhavi.
Olho para ela, perguntando se a deixei envergonhada por isso.
— É... que... Argh! — Trinco os dentes.
— Suas mãos estão geladas — Leanne comenta, entrelaçando nossos dedos, chegando um
pouco mais perto de mim. — Por que está nervoso?
Desvio meu olhar das nossas mãos, fixando-me em seus olhos gentis. Leanne arqueia uma
sobrancelha enquanto aguarda minha resposta. Observo seus cabelos soltos do coque,
espalhando-se por seus ombros, enquanto o vento traz alguns fios para o seu rosto.
Respiro fundo mais uma vez, soltando uma das mãos dela e afastando os cabelos que
caíram sobre seu rosto, delicadamente os colocando atrás de sua orelha, vendo-a inclinar a
cabeça levemente para o lado.
Decido então abandonar as inibições e ser verdadeiro.
— É... hã... — suspiro. — É porque eu gosto de você — confesso, assistindo um sorriso se
abrir em seu lindo rosto.
— Eu também gosto de você, Rhavi.
— Gosta? — indago, surpreso, enrolando uma mecha dos seus cabelos macios em torno do
meu dedo indicador.
— Como não gostar? — ela leva sua mão para cima e toca meus cabelos. — Você é gentil,
carinhoso, cuidadoso... hum... tem um coração e olhar tão puros que é impossível não ficar
fascinada, me trata como se eu fosse uma peça preciosa. — Sua mão escorrega até a minha que
está acariciando seus fios e segura meu pulso. — Então como não gostar de um cara que saiu de
um conto de fadas?
Enrubesço, encarando-a e absorvendo suas palavras.
— Você quer mais tacos? — pergunto, sem saber mais o que dizer.
Leanne dá uma risada, soltando minhas mãos e se inclinando na mesa, arrastando as
travessas na nossa direção.
— Que pergunta, senhor Clark!
— Falei que não ia te julgar essa noite — digo, pegando um dos tacos e dando uma
mordida.
— Certo, porque tem muita comida para gente se encher até não conseguir mais respirar —
Leanne empurra meu ombro, fazendo-me derrubar um pouco do recheio.
Ela ri, me contagiando com o som da sua risada.
— Para de me distrair.
— É você aí que está tirando meus minutos de aproveitar esse chili delicioso. — Leanne
coloca uma colherada dentro da boca, erguendo o polegar em sinal de positivo.
A música acaba nos envolvendo, Leanne engata em uma conversa sobre nossa comida,
cantando no ritmo da canção e dizendo mais sobre ela, dos seus gostos e aventuras das quais me
tiraram muitas risadas.
É tão lindo ver seu sorriso, sua voz me carregando para seu próprio mundo de sabores e
cores, uma chama capaz de incendiar meu coração.
Leanne me olha nos fundos dos meus olhos sem dizer nada, como se estivesse me
agradecendo em silêncio, porque juntos, nesse momento, estamos criando uma história com
capítulos sendo preenchidos por memórias e sensações.
— Se você quiser... — Limpo a garganta, criando coragem. — Se quiser viver um conto de
fadas, estou disposto a ser seu príncipe, Leanne.
Aperto meus lábios, me arrependendo de imediato do que acabei de dizer, mas na minha
mente pareceu fazer todo sentido. Ela me encara, seus olhos cintilando, só que nenhuma palavra
sai da sua boca, apenas um menear de cabeça e um sorriso contido, porque às vezes, um brilho
no olhar é a única resposta que importa.
— Está nervoso para o jogo de amanhã? — Leanne pergunta enquanto andamos na direção
da piscina do nosso prédio.
— Sim — respondo, contorcendo os lábios. — É o retorno dos jogos, a pressão para
vencer acaba sendo um pouco maior, até mesmo para os reservas.
— Depois as regionais?
— Se vencermos, teremos apenas duas semanas para nos preparar. — Balanço nossa mão
entrelaçada, avistando a piscina iluminada de azul.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Você tem irmãos? — ela pergunta, tirando as sandálias assim que paramos na beira da
piscina.
— Sou filho único, por enquanto — conto, tirando os coturnos, meias e dobrando a calça
um pouco para cima.
— Como assim “por enquanto”? — Ela se senta na beira da piscina, colocando os pés
dentro da água, chiando com o contato. — Ugh! Está bem gelada.
Sento-me ao seu lado e faço o mesmo, resmungando ao concordar com ela. Balanço os pés,
ouvindo o barulho da água.
— Meu pai e minha madrasta estão tentando ter um bebê — conto, hesitante. — Ela tem
problemas para engravidar, então acredito que a qualquer momento um pirralho ou pirralha
entrará na minha vida e nunca mais me dará descanso.
Leanne ri.
— Ter irmãos é maravilhoso, você nunca mais estará sozinho, mas é um pé no saco quando
querem. — Ela bate o pé na água de leve, respingando em nossas roupas.
— Eles estão bem animados, até pediram minha autorização em um jantar. — Reviro os
olhos.
— Sério? — indaga e concordo com um aceno. — Você tem uma relação boa com sua
madrasta?
— Ela é... uma irmã mais velha para mim, vamos se dizer assim — falo, analisando nossa
relação.
Leanne balança a cabeça, tirando o pé de dentro da água e botando-o de volta.
— Posso te fazer uma pergunta? — inquire com um tom receoso na voz. — Tudo bem se
não quiser responder.
Olho para ela, concordando com um aceno de cabeça. Leanne murmura um espera, pega
sua bolsa, tira algo de dentro dela e estende o punho fechado para mim.
— O que é isso?
— Seu chocolate. — Ela abre a mão, revelando um 5star com caramelo.
— Uhuu! — comemoro, pegando-o. — Obrigado, não é todos os dias que eu posso comer
chocolate.
Abro a embalagem, dou uma mordida e suspiro com a sensação de explosão de sabor.
— E quando você pode?
— Alana sempre rouba meus chocolates, mesmo eu os escondendo dela, a garota sempre
os encontra — conto, mordendo mais um pedaço.
— Hum.
Estendo o que sobrou para Leanne, que aceita e coloca dentro da boca, saboreando o doce
enquanto fita a piscina.
— Qual era sua pergunta? — indago, chateado por ter acabado o chocolate.
— Como consegue se manter tão centrado na dieta? — Leanne me olha com curiosidade.
— Eu tento manter uma alimentação saudável, mas pelo menos uma ou duas vezes na semana eu
a furo.
Sorrio diante do seu bico.
— Minha mãe sempre manteve uma alimentação controlada por causa do meu pai —
revelo, minha voz saindo um pouco fraca. — Como ele tinha que seguir uma dieta rigorosa por
ser um jogador, nós começamos a seguir também de modo a incentivá-lo, então nasci com esse
tipo de educação. Por isso que uma batata frita ou um chocolate nunca é mais forte que minha
determinação.
— É... uma batata frita me vence em dois segundos — diz, rindo.
— Tenho que manter meu peso também, preciso ser leve para poder correr mais rápido
pelo campo. — Retiro meus pés de dentro da água por alguns segundos.
— Sua mãe parece ser uma mulher muito maravilhosa por ter te criado tão bem —
comenta, batucando seus dedos na minha mão estendida no chão.
— Sim.
Leanne pigarreia.
— Você falou do seu pai e da sua madrasta, mas pouco falou de sua mãe — sonda, fitando
a piscina. — Ela mora em Houston?
Abaixo a cabeça, uma dor no peito começa a me sufocar, acontece sempre quando alguém
pergunta sobre ela.
— Minha mãe é... falecida — balbucio, engolindo o nó na garganta.
— Céus... sinto muito, Rhavi — ela diz, apertando minha mão.
Retribuo o aperto, tentando esconder minha tristeza e o buraco que nunca foi preenchido
com sua perda.
— A gente está tentando seguir em frente, era isso o que ela queria que fizéssemos.
— Faz muito tempo que ela se foi?
— Cinco anos — conto, piscando. — Foi de repente, sabe!
Leanne fica em silêncio por um tempo.
— O que... aconteceu? — pergunta, chegando mais perto de mim e roçando os ombros nos
meus.
— Ela tinha insuficiência cardíaca crônica, uma incapacidade contínua do coração de
bombear sangue o suficiente pelo corpo — falo, recordando daquela noite. — Mamãe se
cuidava, cumpria ao pé da letra as instruções dos médicos, mas um dia... seu coração
simplesmente parou de bater e nós a perdemos.
Limpo a garganta quando sinto o início das lágrimas, queria poder falar sobre ela sem
sentir vontade de chorar, mas é impossível diante tamanha saudade.
— Você já fez alguma loucura na sua vida? — Leanne pergunta, quebrando a melancolia.
— Não — solto uma risadinha. — Nunca fui de fazer loucuras, não tenho histórias
interessantes de aventura para contar.
— Mas isso pode ser resolvido.
— Tenho momentos desastrosos que ac... — Calo-me ao olhar para o lado e ver Leanne
em pé, segurando a barra do seu vestido. — O que você está fazendo?
— Vamos entrar na piscina — Leanne aponta para ela.
— O quê?! — Estremeço, negando com a cabeça. — Ah, não, não, é loucura! Está muito
gelada e se ficarmos gripados?
Ela revira os olhos, ri um pouco e puxa seu vestido para cima, ficando apenas com sutiã e
calcinha de renda da cor branca, fazendo um contraste perfeito com sua pele.
Meus olhos percorrem cada parte do seu corpo, o ar escapando de meus pulmões em
suspiros entrecortados enquanto as batidas do meu coração ecoam em meus ouvidos. Não
consigo reagir, estou paralisado, incrédulo, sem saber se é um devaneio erótico da minha mente
ou se é realidade.
— Vamos preencher seu caderninho de loucuras — diz, ajeitando a calcinha sem nenhum
pudor. — O que acha, Rhavi?
Cacete! Puta merda!
Ela... ela... está realmente sem roupas diante de mim? Sinto meu pau pulsar durante o
tempo em que assisto sua mão mover a borda da calcinha.
Ela não vai tirar, né? Porque se ficar sem essa porra desse tecido, não sei o que vai
acontecer.... talvez eu morra do coração... sim, é isso que acontecerá caso fizer isso.
Céus, imagina eu indo para o hospital desmaiado porque vi a garota que gosto nua?
— Rhavi?
Pisco, engolindo com dificuldade.
— Ah... é... hã... acho gostosa... não, não... quero dizer, você é muito linda... puta merda!
— Desvio meu olhar, inspirando e expirando. — Sim, podemos... acho, fazer essa loucura... Meu
Deus!
Ouço sua risada, viro para ela de novo, vendo-a dar um passo para trás e correr na direção
da piscina. Leanne mergulha, emergindo segundos depois.
— Uou!!! Está muitoooooo gelada! — grita, afastando os cabelos molhados do rosto.
Encaro-a boiando na água e me olhando. Leanne nada para perto de mim com um olhar
predatório e cheio de desafio.
— Vou ter que te esquentar depois de sair daí? — pergunto, me encolhendo quando ela
joga água em mim.
— Provavelmente — concorda, imergindo e emergindo de novo. — Vem, Rhavi! Sozinha
não tem graça.
Aperto meus lábios, debatendo essa possibilidade, logo me levanto e crio coragem de fazer
companhia para ela dentro desse cubo de gelo.
— Tudo bem — murmuro, tirando a jaqueta e a camisa. — Se eu me afogar, você me
salva?
— Não vou deixar você se afundar.
Desabotoo a calça e antes de tirá-la, paraliso, tentando lembrar de qual cueca eu vesti. Leva
um segundo para ter certeza de que estou com uma preta e não com qualquer uma com estampa
do Baby Yoda ou do Doutor Estranho.
Ufa!
— Vou ter que ir aí te buscar? — Leanne indaga, se aproximando que nem uma sereia
pronta para me enfeitiçar.
— Não precisa — resmungo, tirando a calça e evitando encarar seus olhos por pura
vergonha.
Chego perto da piscina, olho para água e prendo a respiração, pulando de uma vez. A água
entra em contato com meu corpo, congelando meu sangue e tirando o ar dos meus pulmões.
— Uhu!!! — chio ao emergir. — Não está boa!
Leanne ri, jogando água em meu rosto. Fecho os olhos para evitar que caia na minha lente
e me afundo, ficando um tempinho até o ar faltar e emerjo, limpando a água antes de voltar a
abrir os olhos.
Encontro Leanne me encarando, sua boca dentro da água, fazendo bolhas com o nariz.
Seus olhos brilham em combinação com a luz que nos iluminam. Afundo-me, deixando apenas a
cabeça de fora, querendo dizer tantas coisas, mas sem saber quais palavras usar.
— Será que é pedir muito para que essa noite dure para sempre? — indaga, passando as
mãos pelos cabelos.
— Cinderela teve só até meia-noite — respondo, soprando a água.
Leanne contorce os lábios, parecendo decepcionada.
— Rhavi, destruidor de desejos.
— O quê? — Solto uma risada.
— Poderia me dar uma esperança de que talvez a noite dure mais — resmunga.
— Ah, é... bom, sinto muito por quebrar seus desejos.
— Preciso de uma fada madrinha — ela gira. — Por favor, alguma disponível?
— Acho que não, viu?
— Arch! — murmura, jogando um pouco de água em mim. — Eu acreditava em fadas do
dente, Papai Noel...
— Mas papai Noel existe, não da forma que criaram, mas ele é inspirado no São Nicolau,
que era bondoso com as crianças — digo.
— E os presentes debaixo da cama? As cartinhas... nossa, escrevia todo Natal. Quando fiz
quinze anos, parei de ganhar presentes e fui ignorada pelo velhinho. — Leanne faz uma careta.
— Como se explica isso?
— Simples — pigarreio. — Eram seus pais colocando os presentes debaixo da sua cama e
lendo suas cartinhas.
Ela me encara, fazendo uma expressão chocada, e começo a rir.
— Poxa, obrigada por ter destruído minha infância, ok?
Jogo água nela, que se encolhe e ri.
— Eu gosto do Natal — confesso, mergulhando e emergindo.
— Você sempre passa com sua família?
— Sempre, é uma regra da minha mãe, passar o Natal juntos. — Sorrio. — Então é minha
família com a da Alana, todo ano.
— Ah... — Leanne fica me olhando.
— Você gosta?
— Minha família não é tão apegada a essa data comemorativa — ela dá de ombros. —
Tem ano que minha mãe viaja a trabalho, meu irmão é um pouco desapegado também, então às
vezes passo sozinha, me entupindo de sorvete e assistindo filmes natalinos. É até legal.

Vejo um respingo de tristeza em seu olhar, querendo tirá-lo de dentro dela.


— Talvez... se quiser... pode passar com a gente esse ano — convido-a.
— Seria legal. — Leanne sorri. — Ainda faltam... — Ela tira as mãos de dentro da água e
começa a contar nos dedos. — Cinco meses... ih, ainda tem algumas léguas de distância.
— Deixo aqui o convite.
— Obrigada — murmura, inspirando fundo. — Você está com frio? — pergunta, dando
pulinhos.
— Não, e você?
— Ainda não. — Ri, virando de barriga para cima para boiar. — Olha o quanto as estrelas
brilham no céu.
— Mais que você? — indago, olhando para cima e abaixando um pouco mais até a água
tocar meus lábios. — Impossível!
— Rhavi?
— Hum?
— Muitas vezes procurei pelo homem perfeito em caras errados — diz, atraindo meu
olhar. — Pensei que talvez... não existisse um cara ideal para mim, aquele que me chamasse de
diamante em vez de gostosa ou que abrisse a porta do carro para eu entrar. — Leanne suspira,
movendo as mãos na superfície da água. — Pensei que tinha alguma coisa de errado comigo, até
você aparecer.
Fico calado, encarando-a com o coração acelerado.
— Sei que posso estar sendo idiota e indo rápido demais, só que... parece que já te conheço
há um tempão. — Ela solta uma risada. — É muito estranho essa sensação.
— Que sensação? — pergunto, engolindo em seco.
— A de ter encontrado o cara dos meus sonhos — Leanne se aproxima. — Quando disse
que queria ser meu príncipe, estava falando a verdade?
— Sim... hã... estava.
Ela chega mais perto, a água fazendo ondas com o movimento do seu corpo.
— Então sim, quero que me faça viver um conto de fadas.
Inspiro pela boca, abalado com suas palavras, no entanto, a água invade minha garganta,
me afogando. Tusso, ficando de pé e dando soquinhos no meio do peito.
— Estou acreditando que sou um perigo perto de você — Leanne diz, rindo. — Não quero
te matar, sabe!
— A água... entrou pelo buraco errado. — Tusso, inalando o ar com olhos apertados.
— Está melhor? — pergunta, pousando a mão no meu peito. — Posso fazer uma
respiração boca a boca para te ajudar.
Abaixo o olhar, prendendo-o em sua mão me tocando. Ela está gelada, espalhando arrepios
por minha espinha. Ergo os olhos, navegando pela sua barriga, seios fartos e arredondados com
as auréolas enrijecidas pelo frio sob o sutiã que está quase transparente.
— Eu não... acho que... hum... estou vomitando... não, não, quero dizer, estou me
engasgando. — Corrijo, fitando seus lábios cheios de gotículas de água.
— Você acredita em destino, Rhavi? — Sua voz sai em um tom tão sensual que meu
sangue pulsa em minhas veias.
Meus olhos se prendem nos dela, dou um passo para trás, ela me segue, e eu encosto na
mureta, minha respiração saindo mais forte.
— Sim... destino, acredito.
— Acho que você é meu destino — diz, seus olhos descendo para os meus lábios.
Gotículas de água caem dos seus cílios que quase beijam suas bochechas. Leanne se
aproxima, erguendo os olhos de volta para os meus.
— E... se eu te beijar agora? — indaga, suas mãos descendo por minha barriga, a outra
mão desliza pelo meu braço e meu rosto começa a queimar.
— M-me-e beija-ar? — gaguejo, meu coração pulando no peito.
Mordo com força o lábio ao sentir suas unhas roçarem a borda da minha cueca sem desviar
o olhar, por nenhum segundo sequer.
— Sim — confirma, seus dedos sobem mais uma vez, contornando o v do meu abdome. —
Você não quer?
Pisco, engolindo em seco, sem conseguir ter uma reação, mas então me lembro que ela não
faz ideia de que sou... virgem.
— Rhavi? — sussurra meu nome, seus seios tocando em mim e tirando um gemido da
minha garganta.
Prendo meus olhos em seus lábios, a cada segundo que passa eles se aproximam mais de
mim. Quero muito saboreá-los, mas e se... e se ela não gostar? Dizer que não sei beijar? E se... se
ela rir de mim e me achar um idiota por nunca ter ficado com nenhuma garota?
Porra, faz tantos anos que não beijo... não quero cometer o mesmo erro, ser alvo de chacota
dela e... merda, merda, merda, nem sei como é transar.
— Leanne... eu... — Minha voz sai engasgada, medo me consumindo e me cegando.
Ela teve vários caras, dos quais a fizeram uma mulher na cama, eu... eu... Afasto-me dela,
viro de costas e saio da piscina.
— Rhavi, o que foi? — pergunta, preocupada.
— Me perdoe! Desculpe, é que... que esqueci que tenho... arch, deixei o gás aberto, não...
não... — Começo a me vestir, atordoado. — Preciso ligar para meu pai, é algo urgente, eu... eu...
preciso ir.
— Hey?
Pego meus coturnos, balançando a cabeça.
— Preciso ir, Leanne — digo, virando-me para ela, mas sem olhar em seus olhos. —
Desculpa por isso e por ter feito alguma coisa errada. Foi tudo maravilhoso, mas preciso ir...
perdão. — Saio apressado, errando o caminho e voltando para seguir o certo.
— Rhavi, espera! — ela grita, parecendo magoada.
Ignorando-a, adentro no prédio, optando pelas escadas.
Porra! Porra! Porra! Sou tão idiota!
— Um pateta, Rhavi! — repreendo-me, pulando os degraus em dois em dois. — Você é
um medíocre de um pateta!
Quando chego ao meu andar, estou quase sem fôlego e, em vez de ir para o meu
apartamento, vou direto para o de Alana. Bato na porta com desespero, querendo morrer por ter
abandonado Leanne daquela forma.
A porta é aberta abruptamente, e sem olhar para o rosto dela, adentro, soltando meus
sapatos e começando a andar de um lado para o outro, com as mãos na cabeça e os olhos cheios
de lágrimas.
— Eu sou muito idiota... idiota... idiota... — repito várias vezes.
— Jesus, Rhavi! O que aconteceu? — A voz de Alana me deixa completamente
vulnerável, fazendo meus olhos queimarem.
— Sou muito idiota... muito... muito...
— Para! — Ela tenta me tocar, mas eu me esquivo, incapaz de ficar parado. — Rhavi, sou
eu, Alana... sua Pet, ok?
Finalmente, olho para ela. Seus olhos escuros me fitam com preocupação; parece estar
pálida. Sinto meu corpo começar a formigar, meu coração parece que vai explodir de decepção.
Abaixo as mãos, ainda andando de um lado para o outro, minha visão embaçada, mas de
alguma forma consigo enxergar Alana, parada no meio da sala.
— Sou um idiota... — Choramingo, coçando meus braços.
— Conta para mim o que aconteceu — pede, com calma, sua voz saindo macia como seda.
Uma lágrima cai dos meus olhos... porra, estou chorando? Não... não... não é choro... é
nervosismo, acho!
— Ela tentou me beijar... — sussurro, minha voz saindo embargada.
— Quem? Quem tentou te beijar?
— Leanne — ralho com dificuldade. — Ela... ela...
— Merda, aquela garota falou alguma coisa que te machucou? — Alana percorre a mão na
boca, franzindo a testa. — Eu esfolo a cara dela se...
— Não, não, é que... Arch! — Bato o pé no chão. — Leanne é... é... tudo, mas... ela tentou
me beijar e eu fugi! — conto, erguendo os braços e deixando-os caírem ao lado do meu corpo,
tão derrotado que nem sei mais o que fazer.
— Você o quê?
— FUGI!! — grito, fitando seus olhos. — Eu não consegui beijá-la, entendeu? Eu
simplesmente fugi como se ela tivesse se transformado em um zumbi que nem The Walking
Dead.
— Fala sério, Pet!
— Estávamos na piscina, ela só... só de lingerie... tinha todo um clima, mas eu estraguei
tudo! Porra! — grito, socando a almofada do sofá sem parar.
— Minha almofada não tem culpa de você ter amarelado — Alana a puxa do meu alcance.
Paro com a respiração acelerada, olhando para os lados.
— Não amarelei! — Puxo a almofada da sua mão, devolvo para o sofá e volto a socá-la. —
Eu-não-amarelei! — Soco e soco, aliviando a decepção.
— Tem como ficar calmo?
— Não! — choramingo. — Deixei-a na piscina, sozinha... deve estar me xingando no
momento.
— Por que você não a beijou, caramba? — sua pergunta me faz parar de socar a coitada da
almofada.
Viro a cabeça lentamente, encarando Alana com os braços cruzados.
— Eu... eu... — Arfo, tirando os cabelos molhados da testa. — Não sei como beijar uma
mulher.
Alana fica parada, sua boca abre e fecha.
— Como não?
Engulo em seco, pegando a almofada nas mãos.
— Hã...
— E aquela menina... — Alana estala os dedos perto da cabeça, tentando se lembrar. —
Dayane... isso, e a Dayane?
Abaixo a cabeça enquanto aperto a almofada.
— Tinha 16 anos, Pet, e... — Pigarreio. — Ela... ela... disse que... hum... eu beijava muito
mal, era esquisito e que tinha vergonha de dizer que saiu comigo — falo com a voz falhando. —
Dayane contou para todos do meu time que eu... que eu era um banana com gosto podre na boca,
então eu... nunca mais tive coragem de beijar ninguém... e... doeu, entende?
Fico encarando seus pés cobertos por um par de meias brancas com estampa do Death
Note que te dei de presente de aniversário ano passado, sem ânimo de encarar seus olhos.
— QUE VADIA! — Alana grita, me assustando. — Por que você não me disse nada,
Rhavi?
— Pra quê? — indago, minha voz saindo alterada. — Para rir de mim igual aqueles
babacas?
— Você acha que eu iria rir de você, Rhavi? — Alana aponta para o seu peito. — Me
responda, porra! — Sobressalto com seu berro.
— Não grita comigo! — retribuo com o mesmo tom. — Não, você não ia, mas fiquei com
tanta vergonha que não quis contar para ninguém. — Arfo. — Como posso beijar Leanne se
beijo mal? Se ela rir de mim, hum?
— Rhavi...
— Não... eu não quero mais fazer isso! — ralho, enfiando o rosto na almofada e soltando
um grito.
— Meu Deus, para com isso!
— Não! Não! — falo, afastando o rosto quando começo a sentir falta de ar. — Chega, não
quero mais levar essa conquista para frente, estava tudo bem até eu inventar isso.
— Vai desistir, então?
— Vou! — Rosno, chateado.
— É só um beijo, Rhavi, não tem segredo...
— Só beijei uma mulher em toda minha vida — retruco, bravo e alterado. — E sou virgem,
caramba! Virgem, muito virgem, ALANA! — grito, jogando a almofada para longe. — Como
vou beijar aquela garota sem nenhuma...
Minhas palavras morrem no instante em que suas mãos envolvem meu rosto e me puxam
para frente, colando sua boca na minha.
Fico paralisado, olhos abertos fitando suas pálpebras fechadas, espantado com seus lábios
ardendo nos meus feito fogo, como se chamas estivessem me tocando, mas não são chamas ou
fogo, e sim, os lábios da minha melhor amiga colados nos meus como se fossem um só.
Meu corpo e minha mente se mantêm congelados, enquanto sinto uma frieza incômoda no
fundo da minha barriga, como se tivesse várias formigas andando dentro dela em busca de uma
saída.
Isso não deveria estar acontecendo, em hipótese alguma. Somos melhores amigos, como...
como Alana pode estar me beijando?
Suas mãos em meu rosto afrouxam e ela descola sua boca da minha. Assisto-a abrir os
olhos lentamente, e quando encontram os meus, mergulho na imensidão do castanho que sempre
me mostra o caminho de casa; o lugar onde sou amado e acolhido quando o mundo quer tanto me
machucar.
Alana sempre esteve ao meu lado nos meus piores momentos, segurou minha mão quando
achei que meu mundo tinha acabado ao assistir o caixão ser lacrado. Foi ela... ela que me
devolveu a vontade de viver de novo, acreditando sempre nas minhas melhores versões.
Ela é essencial para a minha vida; sem Alana perco o rumo de casa, e o que acabou de
fazer não se adequa ao que temos.
— Agora você beijou duas garotas. — Sua voz sai sussurrada.
Alana desce sua mão pelo meu pescoço. Ela está tão perto que nossa respiração se mistura.
Meu pulso lateja até se tornar tudo o que consigo ouvir.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum.
Meus olhos descem para a sua boca, e uma onda de calor se espalha pelo meu corpo,
alojando-se no meu peito. Ela não deveria ter feito isso.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum.
Eu não deveria permitir isso. Não vou, mas... caramba!
— Respira! — Sua voz invade minha cabeça. — Rhavi?
Sua boca se move, minha visão fica embaçada. Pisco, movo as mãos e seguro sua cintura,
sentindo a maciez do tecido.
— Ei, Pet?
Por que não a escuto? Por que estou tão fixo em sua boca?
Sem pensar, inclino-me e capturo sua boca com a minha, puxando seu corpo ao encontro
do meu. Dessa vez, fecho os olhos, entrando na porta errada que acabou de ser aberta.
Sinto sua língua pedindo por algo, então abro a boca, prendendo o ar sem concordar com o
que está acontecendo, mas sem forças para evitar.
Estou beijando Alana e ela... ela está retribuindo?
Suas mãos percorrem meu pescoço com calma, não tenho fôlego para afastá-la, não
quando sua língua viaja dos meus dentes ao céu da minha boca de um jeito suave.
Não sei o que meus lábios devem fazer, como se mover, se devo virar a cabeça ou mexer a
língua, apenas fico parado, esperando talvez um milagre.
Depois dos primeiros segundos, toda aquela vontade de um beijo perfeito se resume em
lábios rígidos, língua dura e um pedaço de árvore que se diz homem.
Alana conduz o beijo, seus lábios deslizando nos meus. Seu gosto de café gelado com
caramelo me faz afogar, seu toque me prende no lugar. Em instantes, tudo vem à tona, de repente
encontro minha consciência e a afasto de uma vez.
— O que... O que está... — Balanço a cabeça sem conseguir olhar em seu rosto, viro de
costas, buscando por ar, sem conseguir raciocinar direito.
— Só precisa melhorar um pouquinho — ela diz. — Talvez...
Alana se cala quando viro e a encaro, confuso. Ela sorri ao esfregar os lábios.
— Você me beijou! — aponto para o meu peito.
— E você retribuiu. — Ela dá de ombros, agindo como se fosse normal o que acabou de
acontecer.
— Você não... Meu Deus, você não pode fazer isso!
— Por quê? — pergunta, desviando do meu olhar e fitando a TV.
— Por quê? — fico chocado. — Somos amigos... não, somos melhores amigos e não nos
beijamos.
— Uma regra, é?
— Não é uma regra, é a realidade. — Esfrego o rosto. — Amigos se beijam, então?
Seus olhos vêm até mim com um brilho diferente.
— Às vezes...
— Oi? — Bufo uma risada. — Você está... drogada?
Alana revira os olhos. Observo-a atentamente, notando algo diferente nela, e começo a
procurar pela sala, olhando debaixo dos vasos de flores, pelas bordas do sofá, e indo para a
cozinha.
— O que está fazendo? — ela pergunta, vindo atrás de mim.
— Não posso acreditar que começou a usar drogas.
— Está louco?
— Não, mas você certamente está. — Abro as portas do armário. — Onde escondeu,
Alana?
— Pet! — Ela suspira. — Não estou drogada.
— Não acredito!
— Olha pra mim.
— Não.
— Rhavi, olha para mim!
Vou para o seu quarto, apressado, e começo a fuçar dentro do seu guarda-roupa que está
uma zona.
— Para com isso, Clark! — ela fala com mais firmeza.
— Vou encontrar, e juro por Deus, Alana Moore, que vou te internar em uma clínica —
digo, arfando. — Jamais vou permitir que acabe com sua vida...
Paro de falar ao sentir sua mão segurar meu pulso. Congelo, encarando seus dedos.
— Não estou usando drogas.
— Você é minha melhor amiga.
— Mas não a sua irmã — rebate, virando-me para encará-la. — Não somos irmãos, Pet.
Pisco, sem querer encontrar seus olhos. Os meus queimam com a mistura de medo.
— Você está chorando, Rhavi? — indaga, sua mão tocando meu rosto.
Viro de lado, recusando seu toque.
— Não, não estou chorando — digo, fungando. — Estou com muita raiva, sabe como fico
quando estou com raiva.
Ouço uma risada engasgada e olho para ela.
— Para de rir — repreendo-a. — Isso não é brincadeira!
— Desculpa! — diz, limpando a garganta.
— Sou uma piada para você, não é? — Minha voz sai firme. — Claro que sou, agora é a
segunda garota que já beijei em minha vida, sou virgem e chorão... claro que vai rir, até eu riria
da minha estupidez.
O sorrisinho que estava no seu rosto desaparece, e Alana me encara com seriedade.
— Cuidado com o que diz.
— Cuidado? — Solto uma risada. — Vai fazer o quê?
— Pet...
— Quanto mais eu tento ser um homem normal, mais humilhação me submeto a encaixar
no padrão da sociedade — desabafo. — Sou virgem, não sei beijar, e daí? Mas não sou
ignorante... Porcaria, sei fazer... essas coisas, tá legal?
— Ah, é? — Ela arqueia uma sobrancelha.
— Sim — confirmo. — Li muitos hentais e... sou leitor de eróticos, então para alguma
coisa isso serve, não é?
Alana ronca, apertando os lábios e engolindo sua gargalhada, tentando se manter séria.
— Só... só preciso treinar, entende?
Ela balança a cabeça.
— Sim, entendo...
— Você não está me levando a sério.
— Certo, então sabe como fazer uma garota gozar usando apenas os dedos? — Ela solta.
Fico encarando-a, minhas bochechas começam a esquentar.
— Bom... — Coço a nuca. — Acho!
— Você acha?
— É...
— E como vai ter certeza de que sabe fazer isso? — pergunta, cruzando os braços.
— Hum... não... sei! — Estalo a língua, contrariado.
Alana fica calada por alguns segundos, me analisando e esperando que eu diga algo.
— Você não tem aquelas bonecas... não, né?
Olho para ela, chocado.
— O quê!? Não! — Contorço meu rosto. — Que pergunta!
— Pois bem, como vai ter certeza de que é bom na coisa, já que é leitor de hentais e
eróticos?
Solto o ar pela boca, meus lábios estremecendo. Analiso seu quarto sem saber o que dizer.
— Eu...
— Você não sabe, eu sei, Rhavi — diz. — Talvez realmente saiba levar uma garota à
loucura, porém, o que te faz bom na coisa é a prática, entender o que realmente uma mulher
gosta, e é impossível saber apenas lendo, por isso, você precisa de experiência.
Encaro seu rosto sereno, delicado e lindo.
— Como vou fazer isso se fugi de uma agora há pouco?
Alana solta o ar pela boca, dá um passo à frente e aponta para seu peito.
— Não! — Dispenso de imediato, rindo de nervoso.
— Sou sua melhor opção — reforça, sem nenhuma expressão de brincadeira.
— Acho que realmente está drogada.
Ela meneia a cabeça.
— Já transei com vários desde os meus 16 anos, Rhavi — conta, percorrendo a língua nos
lábios. — Já tive transas horríveis, outras boas. Dormi com caras que só queriam gozar. Por isso
sou a solução dos seus problemas.
— De jeito nenhum.
— Rhavi?
— Hum?
Ficamos encarando um ao outro, os segundos passando nesse meio tempo.
— Você quer realmente a Leanne?
— Claro! — confirmo sem nem pensar.
— Você vai contar a ela que é virgem ou que não sabe beijar? — indaga tocando na minha
ferida.
Abaixo a cabeça.
— Ela... ela é tão experiente quanto você — murmuro, balançando a cabeça. — E se ela se
frustrar comigo?
Ergo a cabeça, encontrando com seu olhar me estudando.
— É só dizer que sim — fala, confiante. — Que te ensino a ser o melhor cara na cama.
Acho um absurdo sua proposta. Tão absurda que...
— Não posso estragar nossa amizade com essa brincadeira, Alana.
— Amigos são para isso — diz. — Estou aqui para te proteger do mundo, Pet, para te
ensinar o que não sabe e te dar a confiança que necessita para conquistar o que deseja.
— Pet...
— Ou vai perder a Leanne. — Alana dá de ombros, sentando-se na beira da cama.
Suas palavras rasgam meu coração.
— Tem certeza que isso vai dar certo? — pergunto, ponderando sua proposta.
— O que poderia dar de errado?
— Tudo?
Ela me encara e estende a mão.
— Vai aceitar ou não?
Mordo a ponta da minha língua.
— Vou ter que te tocar? — Alana assente. — Te beijar e... transar com você?
— Cada um escolhe como perder a virgindade, e nada melhor do que fazer isso com sua
melhor amiga. — Ela balança a mão. — Vamos, antes que eu desista da ideia.
Dou um passo à frente, erguendo minha mão e fazendo um bico.
— Tem certeza de que isso vai dar certo? — repito para ter certeza.
— Absoluta!
— Promete?
Ela sorri, me encorajando.
— Você nunca mais vai fugir de nenhuma garota, eu juro — afirma e encaixo minha mão
na sua.
— Se eu fizer alguma coisa errada, promete que não vai rir?
— Por isso que me escolheu, para errar sem medo e aprender tudo o que precisa para
conquistar sua vizinha.
Respiro fundo e fecho minha mão em torno da sua, tomando a decisão mais idiota de toda
minha vida.
— Vamos lá.
Alana sorri, selando nosso acordo que pode dar certo, mas que tem tudo para dar errado.
Finalmente, o grande dia chegou, marcando o início da temporada de 2022 e trazendo
consigo uma pressão absurda sobre os titulares, cujo objetivo é nos conduzir à vitória.
Solto minha bolsa perto do armário, enquanto os rapazes conversam animados e se
preparam. Vejo Connor sentado no banco, com os braços apoiados nas pernas, os olhos fixos nas
mãos entrelaçadas, balançando a cabeça ao som da música que ouve nos fones de ouvido - um
ritual para se acalmar.
— Oi, parceiro! — Ben me cumprimenta, passando por mim.
— Olá! — Retribuo, abrindo meu armário. Na parte interna da porta, vejo fotos da minha
família e da Alana.
Respiro fundo, apanho a caneta vermelha que sempre deixo ali e desenho um coração na
palma da minha mão direita. Sinto um aperto no peito ao lembrar que era minha mãe quem
costumava desenhar isso, dizendo ser de boa sorte. Assim que termino, meu celular toca.
Abaixo, tirando-o de dentro da bolsa e atendo.
— Oi, pai.
— Olá, filhote! — Sua voz ressoa do outro lado da linha. — O grande dia chegou, hein!?
— É...
— Estarei na arquibancada.
— E eu no banco — digo, sorrindo de leve.
Meu pai fica calado por um momento.
— Não importa, você ainda é Rhavi Clark, filho de Sullivan Clark — fala com a voz forte
e segura. — Então arrasa, mesmo estando na porra do banco.
— Vou tentar.
Papai inspira fundo.
— Olha, filhotinho, não importa se está no banco ou no campo, sempre terei orgulho de
você, okay?
— Obrigado, pai.
De relance, vejo Sean chegar junto com Tanner, fazendo barulho ao cumprimentar os
caras. Desvio meu olhar e fixo na foto da minha mãe, que sorri comigo em seu colo.
— Se não for hoje, pode ser no próximo — meu pai continua. — Se não for no próximo,
está tudo bem. O importante é você dar o seu melhor.
— Meu melhor... — repito em um murmuro.
— Você é e sempre será meu campeão.
Sorrio, esfregando meu peito.
— Eu te amo, pai!
— Sou seu fã, parceiro — diz, orgulhoso. — E tenho certeza que sua mãe te olha de onde
quer que esteja. Então, entra naquele campo com a cabeça erguida e mostre quem é Rhavi Clark.
— O foguete que ninguém segura.
Meu pai ri.
— Exatamente! — Ele inspira. — Eu te amo, filhote!
— No camarote?
— Perto de você — confirma, finalizando a ligação.
Sorrio, soltando o ar pela boca e abaixando o celular.
— Okay... — balbucio, travando a tela, mas o barulho de notificação me chama atenção.
Abro as mensagens e tanto Aidan quanto Liza me desejam boa sorte. Respondo,
agradecido, recebendo em seguida uma foto dos dois na arquibancada, vestidos com a camisa
número 23 do time; a minha numeração.
— Ei, Clark! — Connor bagunça meus cabelos. — Vamos, cara, está muito lento — diz,
tirando o celular da minha mão e colocando dentro do armário.
Olho para o seu rosto, o sorriso disfarçando seu nervosismo.
— Só quero ver se vai conseguir completar os passes — provoco, tirando uma risada sua.
— Olha só, me desafiando, é? — indaga, puxando-me para o centro do vestiário. — Ei,
pessoal! — ele grita.
Tento me desvencilhar, mas o cara não me solta, e o seu braço em volta do meu pescoço
fica mais firme.
— Poderia me soltar, né? — digo, vendo Ben e Tayler rindo de mim, sem nem sequer me
ajudar.
— Atenção aqui, seus putos! — Connor grita.
Por que é que ele está me segurando?
Tento outra vez me desvencilhar, mas é em vão, então fico parado, parecendo um cobertor
que uma criança segura. Ele ri, esfregando meus cabelos.
Todos os jogadores se aproximam e formam um círculo ao seu redor. Connor finalmente
me solta, dou alguns passos para trás, parando ao lado de Taylor, e deixo o capitão no centro de
todos nós.
— Chegou o grande dia. — Connor olha no rosto de cada um. — Nós nos preparamos pra
cacete! Não foi fácil, nos machucamos, suamos, ficamos exaustos e achamos que não íamos
conseguir, mas se estamos aqui hoje é porque merecemos esse lugar. — Ele faz uma pausa. —
Esqueçam o mundo lá fora, esqueçam seus problemas. Ao entrar naquele campo, quero ver os
Cougars com sangue nos olhos, mostrando que não temos medo e que estamos aqui para vencer.
— Connor ergue o punho para cima. — Quem somos, porra?
— COUGARS!
— Não ouvi. Quem somos?
— OS COUGARS! — gritamos em uníssono.
— Nada disso estaria acontecendo sem a ajuda do cara lá de cima. — Ele aponta para o
céu. — Foda-se a insegurança, vamos voltar para casa com a vitória em mãos. Por isso, peço ao
Senhor para nos guiar, abençoar e nos dar sabedoria para executar as melhores jogadas, porque
nascemos para isso, para jogar!
— Somos os COUGARS, PORRA! — Taylor berra.
Connor ri, balançando o braço estendido.
— Vamos lá, seus monstros! — ele grita. — Vamos colocar fogo naquele campo e mostrar
quem somos!
Batemos palmas, eufóricos, nos espalhando para terminarmos de nos arrumar. Visto meus
equipamentos, enrolando esparadrapos nos meus dedos para imobilizar as articulações e os
ossos, o que ajudará na sustentação dos meus movimentos e aumentará a precisão ao agarrar a
bola, caso tenha que jogar. Amarro a chuteira, inspiro fundo e levanto-me, pronto para assistir ao
jogo no banco dos reservas.
O treinador chega, cumprimentando cada um de nós, parando na frente da porta.
— É isso, rapazes, chegou o momento. — Ele faz uma pausa, nos olhando atentamente. —
Não tenham pensamentos negativos, mantenham-se confiantes. Foram dias de trabalho duro, e
ser confiante não é se achar melhor que o outro, mas é saber que será competente apesar das
adversidades. Nada é impossível para um coração confiante! — O treinador bate palmas. —
Arrasem, garotos!
Enquanto caminho pelo corredor que leva ao campo, ouço o fervor da torcida enlouquecida
pela banda da universidade e, provavelmente, pelas cheerleaders.
Vou direto para meu banco, sendo cumprimentado pela equipe técnica.
— Trouxe seu iPad, Clark! — o assistente diz, estendendo-o.
Coloco o capacete no chão, pegando o aparelho e agradecendo-lhe ao mesmo tempo em
que ergo a cabeça, ficando sem ar.
As arquibancadas estão lotadas de torcedores de Houston, e do outro lado, do time
adversário. Prendo meus olhos no telão enquanto a banda para de tocar e as Cougar Dolls se
posicionam.
Elas estão vestidas de preto, com calças leggings e tênis, enquanto as que ficam atrás usam
vermelho. A música "T.N.T" dos AC/DC estronda, as meninas agitam seus pompons, mostrando
o que sabem fazer de melhor: dançar.
Levanto-me, sorrindo ao assisti-las; a sincronia delas e a energia me arrepiam. Elas
dançam não apenas por fazer mais uma apresentação, mas com a alma e o divertimento.
Avisto Alana, meu sorriso se alarga, assisto-a jogar os cabelos, sem errar nenhum passo.
Logo vejo Leanne e as garotas de vermelho montando uma pirâmide, fazendo aqueles saltos
loucos que são capazes de fazer.
Assim que terminam, elas apontam na nossa direção. A plateia vai à loucura, a banda
começa a tocar e os Cougars entram ao som dos fogos de artifício, com Connor carregando a
bandeira dos EUA e Tayler a da Universidade de Houston. Em seguida, os UTSA Roadrunners,
nossos adversários, entram.
O hino nacional toca, a moeda é lançada, os Roadrunners ganham o chute. Os especialistas
entram no campo, Sean como retornador.
Eles se preparam, o treinador ajusta seu fone, os árbitros conversam entre si, se espalhando
em suas posições pelo campo assim que termina a reunião, distribuindo informações.
O apito estoura, levantando os torcedores, e o kicker chuta a bola, todos avançando pelo
campo, jogador colidindo contra jogador, capacetes contra capacetes, e cada um tentando
interceptar o avanço do outro. Sean agarra a bola e corre pelo campo, fazendo um bom retorno e
nos dando uma boa posição.
Os especialistas saem do campo e o ataque entra. Rodo a caneta do iPad entre meus dedos,
pronto para fazer minhas anotações ao longo do jogo.
Tayler troca de posição duas vezes antes de se fixar na certa. Connor bate palmas, o apito
soa, o center passa a bola para o quarterback, que dá dois passos para trás e entrega para Sean.
Sean recebe a bola e corre, dribla a defesa, passa pelo bloqueio, avança e é interceptado pelo
linebacker, conseguindo 14 jardas.
Durante os dois quartos do tempo, o time se mantém no domínio, perdendo a posse de bola
apenas duas vezes. Nossa defesa é espetacular contra o ataque do adversário, não dando nenhum
descanso.
No entanto, percebo alguns erros cometidos por nossa equipe. Um deles é a falta de
conexão entre Connor e Sean, que muitas vezes perdem algumas jogadas, cometendo uma falta
um tanto imbecil.
O desempenho vai caindo, o que é notado pela torcida, irritando inclusive o treinador.
Assim que o primeiro tempo acaba, permaneço no banco, acenando para meu pai e Lauren na
arquibancada, enquanto assisto à apresentação das Cougar Dolls no intervalo.
O segundo tempo começa com nossa defesa contra o ataque dos Roadrunners. Analiso a
formação deles, percebendo que voltaram com mais garra do que no primeiro tempo.
Olho para o placar, 15 x 12, pelo menos estamos ganhando.
— O que achou deles? — Connor pergunta para mim, sentado ao meu lado.
— Sobre o ataque ou a defesa? — Olho para ele, que aperta os lábios.
— A defesa.
— A defesa deles vai vir com tudo, pois já sabem como nosso ataque funciona.
Provavelmente irão marcar os pontos onde somos mais fracos — respondo.
Connor fica encarando o telão, prestando atenção tanto no jogo quanto em minhas
palavras.
— Percebi que estava anotando alguma coisa. — Ele me olha e aponta para meu iPad. —
O que era?
Dou de ombros.
— Ficar no banco só assistindo é entediante — digo, mostrando minha última anotação,
que se resume em desenhos desgrenhados e riscos que só eu entendo. — Então, estudo as
jogadas.
— Sério?
— Sim.
— O que me diz antes de entrar no campo? — Connor pergunta, me encarando
atentamente.
Pigarreio e começo a explicar com a caneta.
— A defesa deles é muito bem estruturada para neutralizar as jogadas terrestres, por isso
não estamos conseguindo avançar muito. Eles estão conseguindo ler nossas jogadas. — Aponto
para os pontos que representam o QB, RB e o WR. — Tente um Fake Pump com Sean e Tayler,
pois o RB estará mais marcado do que o Wide Receiver, que terá mais liberdade para se mover
pelo campo. Engane o adversário, arremesse a bola para Tayler em uma jogada aérea. Se tiverem
uma boa sincronização, poderão concluir a jogada com um touchdown — finalizo.
Connor fica me encarando, depois ergue os olhos para alguém que está do meu outro lado.
Sigo seu olhar e encontro o treinador, nos analisando com os braços cruzados. Ele me encara e
depois balança a cabeça.
Connor se levanta, coloca o capacete e corre para o campo quando a posse de bola volta
para nós. O treinador não diz nada, apenas segue para frente ao mesmo tempo que mantém um
contato direto com Connor.
A primeira jogada que fazemos é terrestre, ganhando apenas duas jardas. Pouso o cotovelo
no joelho e apoio o queixo na palma da mão, um tanto entediado, percorrendo os olhos pela
arquibancada, observando a plateia fervorosa. O locutor chama minha atenção ao narrar a jogada
de Connor.
Volto meu olhar para o telão e vejo que, do jeito que expliquei a ele, os passes e as
posições são executados com precisão. Tayler corre pelo campo, os jogadores da defesa indo
atrás deles, mas sendo interceptados pelos nossos, que impedem o avanço. Levanto-me quando o
WR entra na endzone e é touchdown.
Os torcedores vão à loucura, assim como todos da equipe, pela jogada linda que acabou de
acontecer, afastando os Roadrunners da vitória. Sorrio, orgulhoso, porque nunca uma estratégia
minha saiu do papel. Olho para o treinador, que está de costas para mim, mas ergue o polegar,
como se estivesse me dizendo: "bom trabalho, garoto!"
Os minutos seguem, cada vez mais difícil avançar as jardas, optando por manter a posição
e não perder a posse da bola, o que parece não estar se adequando a Sean.
Connor faz a jogada para o RB, Sean pula, pega a bola, porém, acaba soltando-a, não
completando a recepção. Ben não perde tempo, mergulha e protege a bola, evitando que o
adversário a recupere.

— Que drop de merda! — Britt Kern, o defensive tackle, comenta, contrariado.


— Isso poderia ter nos dado um grande prejuízo.
— Se não a derrota — completa.
A torcida se irrita com isso. Connor tenta outra jogada. O apito soa, o center joga a bola
para ele, que executa o fake com Sean, levando a defesa ao erro e opta por arremessar para
Tanner, que agarra a bola com precisão, avançando 8 jardas e nos colocando quase na endzone.
A tensão aumenta, mesmo que estejamos vencendo por pouco mais de três pontos, nesses
minutos tudo pode mudar. Levanto-me do meu lugar, ansioso demais para ficar sentado, e chego
perto da linha lateral.
— Rhavi, venha aqui! — O técnico me grita. Corro até ele, que me mostra alguns rabiscos
que fez. — Acha que uma jogada terrestre ao furar a barreira funcionária?
— Não, senhor! — respondo, elevando meu olhar para a equipe formada em huddle no
campo. — A defesa vai interceptar qualquer corredor, por isso, sugiro uma jogada na lateral
usando o Center... — explico rapidamente toda a jogada.
Haley pede um tempo e passa a informação para Connor. Meu coração palpita enquanto o
quarterback se posiciona. O apito soa e tudo se torna um borrão.
Connor recua alguns passos e arremessa a bola em direção à endzone. Tanner consegue se
livrar da marcação a tempo de agarrar a bola e fazer o touchdown, nos levando à primeira vitória
do campeonato.
A arquibancada vai à loucura, assim como nós na área técnica, pois o primeiro desafio foi
concluído com muito suor. Agora é se preparar para o próximo.
— Ótimo trabalho, parceiro! — Britt enlaça meu pescoço em comemoração.
Sorrio, agradecido e verdadeiramente orgulhoso, pois hoje pude finalmente mostrar uma
parte estratégica que permaneceu oculta por anos, sem ter tido a oportunidade de demonstrar que,
mesmo no banco, posso contribuir para levar nosso time à vitória.
Durante trinta minutos intermináveis, tivemos que suportar um verdadeiro sermão do
treinador, especialmente Sean, cujos erros foram expostos sem piedade.
Assim que ele termina, nos deixa no vestiário com os ouvidos zumbindo devido aos seus
gritos, prometendo não facilitar nossa vida nos próximos treinos.
— Que comida de rabo foi essa? — Ben, ao meu lado, pergunta.
— Doeu, né? — Connor indaga, rindo. — Senti queimar enquanto entrava pelo meu rabo.
— Agora só quero relaxar — Tayler diz, deitando-se no banco. — Estou destruído, preciso
de uma boa distração para aliviar todo esse estresse.
Connor cruza os braços, encarando-o.
— Desde que não seja minha irmã.
Tayler esboça um sorriso.
— Você sabe que é ela, idiota.
Connor pega a toalha da minha mão, enrola-a como um chicote e a arremessa na barriga de
Tayler, fazendo um estalo.
— Uau! — comento, vendo a marca avermelhada em sua pele.
Tayler se contorce, vira-se e cai no chão.
— Maldito!
— Já quebrei seu nariz uma vez, não me faça repetir — Connor avisa, devolvendo-me a
toalha.
Tayler o encara com seriedade, mas logo solta uma risada.
— Babaca — murmura, levantando-se e indo em direção ao seu armário. — Você vai
pagar por isso, Connor!
— Fique longe dela ou arranco seu pau e faço você engolir — ameaça Connor, antes de se
afastar.
Faço uma careta, um tanto confuso, e olho para Ben, que dá de ombros.
— Você vai se acostumar com esses dois. — Ele garante. — Hoje estão mais amigáveis.
— Sério? — Visto a jaqueta do time por cima da camisa preta.
— Tem dias que são piores.
Meneio a cabeça, arrastando meu olhar para Connor parado em frente a Sean, tendo uma
conversa nada agradável, dado o olhar de raiva do running back.
Pego minha bolsa, coloco a alça no ombro e pego o celular para verificar as notificações.
— Ei, seus desocupados! — Connor grita. — Festa na casa de veraneio do Tayler, quero
todos lá para celebrarmos nossa vitória!
Os caras comemoram com gritos e assobios, pois festa para eles é quase uma obrigação.
Discretamente, começo a me afastar em direção à saída, mas alguém agarra minha bolsa e olho
para trás.
— Para onde você pensa que vai, Clark? — Connor pergunta, arqueando uma sobrancelha.
— Hum... embora? — Meus olhos vão dele para os outros caras que assistem nossa
interação.
— Você ouviu a palavra festa?
— E daí? — Puxo minha bolsa das suas mãos.
Ouço algumas risadas e um calor sobe pelo meu pescoço.
— O cara é uma bonequinha, claro que não vai em festas — Tanner debocha, instigando os
outros a rirem. — Filhinho de papai!
— Deixa o nerd em paz, Connor — Sean desdenha, se levantando do banco e me
encarando. — Ele não gosta de se misturar com a gente e não gostamos de cuzões duas caras.
Connor franze a testa, sua expressão se fechando. Ele me olha por mais alguns instantes e
aponta para mim.
— Ei, galera, Rhavi vai para a festa! — Connor grita em comemoração.
— Eu vou?
— Quem quiser carona até Sylvan Beach, Clark está oferecendo — Ben fala por cima das
vozes no vestiário.
— Espera! — Olho para ele, um cara alto e cheio de músculos que me encara com um
sorriso no rosto. — Não vou à festa.
Seus olhos escuros brilham em desafio, como se estivesse entrando em uma briga muito
interessante. Limpo a garganta, ele ajeita o boné para trás e estala a língua.
— Estou indo com você — diz, pegando sua bolsa. — Meu carro está na oficina.
Franzo as sobrancelhas diante da sua mentira.
— Mas... — aponto para fora. — Vi você chegar em seu carro, Ben.
Ele me lança um sorrisinho de lado, percorrendo a mão pelo braço esquerdo coberto por
tatuagens.
— Você viu, é? — Ben bate nas costas de Connor. — Cheguei de carro, capitão?
— Você tem carro? — Connor arqueia uma sobrancelha, os dois me fazendo de idiota.
— Certo, estou enganado então — murmuro, chateado.
Eles riem, Ben passa o braço em meus ombros e dá dois tapas na boca do meu estômago.
— Vamos festejar, Clark!
— Tenho compromisso. — Tento sair de perto, mas seus braços pesam como chumbo.
— Claro que tem — diz, puxando-me para fora. — Compromisso com os caras do seu
time.
— Hum.
— Estamos indo! — Ben grita. — Espero vocês lá, levem garotas e bebidas, cuzões.
— Você nem bebe — digo, conseguindo tirar seu braço dos meus ombros e sigo nosso
caminho.
— Cala boca, Clark! — Ben me empurra com o punho. — Eles não precisam saber disso.
Solto uma risada, ajeitando minha bolsa nos ombros.
— Eles sabem disso — retruco.
Ben fica calado durante o caminho até minha caminhonete. Assim que nos acomodamos,
pego meu celular e envio uma mensagem para Alana, comunicando minha ida à festa, recebendo
uma resposta segundos depois, dizendo que ela e as meninas da sua equipe também vão estar lá.
Não sei se fico feliz ou apavorado com essa notícia, porque isso significa ter que conversar
pessoalmente tanto com ela quanto com Leanne.
Merda, eu fugi que nem um desesperado ontem e ainda fiz a porra de um acordo. Sério,
minha vida é só desastre!
— Tudo bem, cara?
Olho para Ben, me observando.
— Estava respondendo algumas pessoas.
— Namorada? — Arrisca, erguendo o canto da boca.
— Não tenho namorada — respondo, ligando o carro.
— E o que me diz sobre os boatos?
— Não faço ideia de que boatos são esses, e se tiver de fato algum, é mentira — falo,
saindo do estacionamento. — A casa de veraneio é perto daqui?
— Uns vinte minutos — ele responde, se inclinando e ativando o GPS. — Só seguir pela
via I-45 S.
— Beleza.
Pego a estrada, ligando o som e colocando a playlist de country pop para nos fazer
companhia.
— Cara, estou procurando um apartamento nas redondezas da universidade, mas está
difícil — Ben comenta. — Conhece algum que está para alugar?
Busco em minha memória algum lugar que tenha visto, porém, no meu prédio pelo menos,
estão todos ocupados.
— Posso ficar de olho.
— Valeu! — agradece, tirando o boné. — No alojamento é foda levar garotas para lá, é
bastante restrito.
Batuco os dedos no volante, parando no sinal fechado.
— Quer um apartamento para...
— Isso mesmo — ele confirma minha linha de raciocínio. — Tenho que aproveitar
enquanto o bonitão aqui não se cansa.
Olho para Ben, que aponta para baixo e sigo o olhar, fazendo uma careta e desviando.
— Merda! — esbravejo.
— Qual é? Aposto que deve comer as garotas na surdina.
Limpo a garganta, arrancando e virando na avenida.
— Bom... hum... sim... como muitas. — Solto uma risada nervosa. — É que não gosto de
ficar contando, entende?
— Claro que entendo — diz, arrastado. — Tem que guardar o tesouro.
— Isso.
Sinto seus olhos presos em mim, mas ignoro, ele não precisa saber que menti.
— Você mente mal, Clark!
— Quê?
— Posso falar mal de uma pessoa?
Viro a cabeça, vendo-o rir e colocar o boné de novo.
— De quem?
— Sean, óbvio! — Ele me olha. — Olha, cara, sei que estamos nos conhecendo, mas quero
que saiba uma coisa sobre mim. — Sua expressão fica séria.
— Claro, manda.
Ben umedece os lábios, pigarreia e dá dois tapas na sua coxa.
— Gosto de falar mal dos outros e de ouvir fofocas — conta, fazendo uma careta.
Fico encarando-o por mais alguns segundos, depois desvio e fito a estrada, soltando uma
risada em seguida.
— O quê?
— É sério! — Ben confirma, rindo. — Sou que nem Connor, a gente ama ouvir fofoca sem
nos envolver e depois comentamos.
— Fofoqueiros, então?
— Não, mano! — Ele estala a língua. — Não fazemos intrigas, só escutamos a fofoca.
Somos bastante informados, se é que me entende!
Gargalho, imaginando dois brutamontes comentando sobre algo que ouviram. Por essa, de
verdade, não esperava.
— E Tayler?
— Ele é pau solto — conta. — Quando menos espera está dentro de alguma garota.
— Jesus!
— É... não somos as melhores companhias.
— Não sou influenciável.
— Pelo menos um com a cabeça no lugar para nos colocar na linha. — Ele tira o celular do
bolso. — Falando nisso, deixa eu fuçar no Twitter, os caras do Roadrunners devem estar
metendo o pau na gente.
— Ou não, já que perderam.
Ben solta uma risada.
— Inocente você, Clark! — Ele vira a tela do celular para mim.

— O que é isso? — Franzo o cenho, lendo o post detonando Sean.


— O capitão dos Roadrunners postou, o que não discordo. — Ben estala a língua. — Sean
foi uma merda no jogo de hoje, perdemos muitas jogadas espetaculares e isso começou a me
irritar.
— É... eu vi.
— Desempenho de bosta — resmunga.
Entro na via I-45 S, rumo à casa de veraneio perto de Houston Yacht Club, 26,9 milhas de
distância... merda, por que fui me meter nessa?
— Mas os caras do Roadrunners são bons — comento, lembrando do ataque e da defesa
deles.
— Nós somos melhores — Ben afirma, emendando uma conversa sobre o jogo.
Assim que chego na casa de Tayler, que é uma mansão, noto que a festa já está em pleno
vapor.
— Eles já estão aqui? — pergunto, franzindo o cenho, pois se não me engano, fui um dos
primeiros a pegar a estrada.
— Pegamos o caminho mais longo — Ben esclarece, abrindo a porta. — Via TX-225 E é
mais rápido e a festa está rolando desde ontem.
Arqueio uma sobrancelha. Ben apenas dá de ombros, descendo antes mesmo de eu desligar
o motor. Respiro fundo, saindo do carro e guardando a chave no bolso.
Sigo Ben, observando-o cumprimentar algumas pessoas que estão do lado de fora. Olho ao
redor, a praia ao fundo fazendo um contraste lindo com o céu alaranjado, dando início à noite
calorosa do Texas.
— E aí, garotas!
Ele vai até um grupo de meninas vestidas com shorts curtos e botas. Elas o cumprimentam
com sorrisinhos, dizendo que o assistiram através da TV.
Ben joga um charme, provavelmente já deve ter transado com pelo menos duas do grupo.
— Quais? — pergunto quando ele retorna.
— Todas — diz, batendo em minhas costas.
Subo as escadas da varanda e me deparo com um casal se entregando ao maior amasso, o
rapaz com a mão entre as pernas da garota, sem se importar com quem está observando.
Certo... festas são meio... esquisitas.
Ben abre a porta e passo por ela, sendo recebido por várias pessoas. Caminho entre elas,
aspirando o forte odor de bebida, cigarro e suor que permeia o ambiente.
Alguns olhares de garotas são direcionados para mim, acompanhados de sorrisos
sugestivos. Passo pela porta que dá para os fundos da mansão, evitando olhar para o segundo
andar, onde o casal transando na escada poderia estar à vista, e avisto os caras do meu time em
volta de Connor, que segura uma garrafa de tequila.
Nos aproximamos, logo à frente, na areia, estão montadas várias fogueiras com troncos em
volta delas.
— Hey! — Connor aponta para nós dois. — Chegaram!
Todos comemoram, ele dá um gole no bico da garrafa. Ben estala a língua, descontente.
— Quero agradecer a todos por estarem aqui — Connor diz, animado. — Mas quero dizer
que estou oficialmente trancando meu pau no baú! — grita, fazendo todos rirem. — É sério, seus
arrombados!
— Você aposentando seu pau? — Tanner debocha.
Sinto uma mão apertar meu ombro e olho para o lado, encontrando Ryder.
— E aí, cara! — Ele me cumprimenta, colocando as mãos nos bolsos. — Inusitado vê-lo
aqui.
— Fui obrigado a vir — sussurro, apontando para Ben do meu outro lado. — Tive que
trazê-lo.
Ryder ri.
— Vencemos mais um jogo — Connor continua. — E o próximo será mais difícil, quero
focar na nossa vitória e carreira, por isso, sem garotas! — Ele dá outro gole na tequila. — Conto
com a ajuda de vocês.
— O que está havendo com Connor? — Ben pergunta.
— Não faço ideia — Ryder responde, estalando a língua negativamente. — Ele já chegou
tomando metade de uma garrafa de tequila.
— Levou um fora, aposto — Ben afirma.
— Ele se sente desvalorizado — digo, pigarreando.
— O quê? — Ryder ri, me encarando.
— Foi o que ele me disse.
— Merda!
— Acho bom frear ele, Ryder! — Ben alerta, dando um passo à frente. — Pode dar ruim.
— Vamos lá!
Eles avançam, passando pelos caras até chegar em Connor, que já está bêbado. Todos
dispersam ao redor do capitão, e os sigo quando o levam para a fogueira, sentando-o em um
tronco.
— Opa! — Connor diz, caindo para trás e tirando risadas de Ben e Ryder.
— Que merda, cara! — Tayler o repreende, sentando-se ao meu lado. — Como ele ficou
bêbado tão rápido?
Connor se senta, fitando a fogueira.
— Ele chegou e entornou uma garrafa de tequila inteira de uma só vez — Ryder explica,
nos entregando uma garrafa de cerveja. — Como não ficaria?
Ele se senta do outro lado da fogueira. Rodo a garrafa na minha mão sem a intenção de
beber. Eles começam a conversar, Connor fica em silêncio, se entupindo de tequila.
— Sabe qual a pior parte de ser popular? — ele pergunta, sua língua se enrolando. — É
que todos querem ficar perto de você por causa da fama, arrancar uma casquinha, no entanto...
— Connor vira a garrafa para baixo, despejando a bebida na areia. — Essas pessoas só querem te
usar, só que esquecem que temos um coração.
— Está na deprê — Ryder murmura, estalando a língua e bebericando sua cerveja.
— Certeza — Ben concorda.
— Quem foi a sortuda que te deu um pé na bunda, amigo? — Tayler pergunta com
sarcasmo.
Connor apenas o encara, pelo menos tenta, já que está tão bêbado que mal consegue
manter a cabeça erguida.
— Eu me sinto usado! — diz, apontando para seu peito e tirando uma risada de todos. —
Não sei por que está rindo, Ryder, já que é outro que vive chorando pelos cantos por uma boceta
que te odeia.
O sorriso do Ryder desaparece, adquirindo uma expressão séria.
— E você, Ben? — Connor aponta para ele. — Sua vida é uma desgraça, cara!
— Acho bom você ficar caladinho, Connor! — Tayler diz, atraindo seu olhar.
— Olha aí! — Connor ri. — O cara que levou um pé na bunda da minha irmã. Queria
namorar com ela, mas descobriu que ela só quer curtição... se sentiu usado, foi? Ela só queria seu
pau, cuzão.
Levo a garrafa à boca e dou um gole, resmungando em seguida e quase jogando o líquido
fora. Esqueci que essa porra é cerveja.
Os caras ficam em silêncio, ouvindo o crepitar do fogo e os olhos de Connor se prendem
nos meus. Fico apreensivo, esperando-o jogar suas merdas.
— O mais sensato daqui é você, Clark! — fala, agitando a mão. — O filho que todo pai
deseja ter. — Ele faz uma pausa. — Não bebe, não arruma confusão, tem as melhores notas e
blá, blá, blá... — Connor arrota, dando ânsia de vômito. — E sem garotas para dar dor de cabeça,
certo?
Seus olhos aguardam minha resposta.
— Bom... hum... acho que... não é bem assim... — digo, soltando uma risada nervosa e
observando os caras me encararem com interesse.
— Ah! — Connor começa a soluçar. — Entendo...
— O que você entende? — Ben pergunta, curioso.
— Tem alguma coisa aí que não sei? — Tayler indaga, me estudando.
— A vida de vocês estão fo-di-da! — Connor grita, jogando a garrafa vazia na fogueira. —
Porra!
Eles ficam em silêncio, olhando para o quarterback que toma a garrafa de cerveja do
Ryder.
— Você é um saco bêbado — Ben resmunga. — Puta merda!
Connor apenas ri, se fechando para dentro de si. Os caras engatam uma conversa sobre a
última festa, partindo para garotas e logo estão falando de jogo de novo.
Fico observando-os, vez ou outra encarando Connor, calado, enquanto olha para o fogo
perdido em pensamentos.
— Fanfic é uma história narrada por fãs — digo a ele, que ergue a cabeça ao ouvir minha
voz. — No Wattpad você encontra muitas, inclusive de jogadores de futebol.
Ele sorri de lado.
— Cara... será que escrevem sobre mim?
— Talvez. — Dou de ombros, vendo-o finalizar sua cerveja.
— Ler um livro deve ser melhor do que viver a vida real.
— Absolutamente melhor — confirmo.
Connor suspira, meneando a cabeça.
— Tenho preguiça de ler — ele conta, rindo. — Quando abro um livro só vejo um monte
de palavras, aquilo bagunça minha mente.
— Então está lendo errado — falo.
Connor pousa o queixo na palma da mão ao apoiar o cotovelo no joelho.
— Administração é um saco — ele resmunga. — Talvez mude o curso para literatura.
— Ué? — Solto uma risada.
— Sei lá, vai que aprendo a gostar da coisa.
— Você está bem confuso.
— Estou flutuando... — fala, fechando os olhos e rindo. — Cara, queria apenas comer uma
garota, acordar ao seu lado e tomar o café da manhã... — Ele tomba para frente, Ryder o segura,
evitando que caia. — Okay... acho que estou bêbado...
— Acha, é? — indago, rindo dele.
— Eu posso chorar?
— Ah, pelo amor de Deus, não! — Tayler resmunga.
— Deixa o cara chorar, idiota — Ben o repreende. — Chorar faz bem.
— Vai, Connor, pode chorar, amigo! — Ryder bate em seus ombros, se divertindo.
— Ele está bem mal — comento.
Connor gargalha.
— Vocês vão tudo se foder! — resmunga. — Mas sabe, amo cada um de vocês. — Ele nos
olha. — Tayler, Ryder, Ben... agora Clark... sério, pegaria todos vocês.
— Que porcaria é essa, Connor? — Tayler se indigna.
— O quê? Vocês são gostosos pra cacete! — Ele se inclina na direção de Ryder, fazendo
um bico como se fosse beijá-lo.
— Que porra! — Ryder bate em sua testa.
Connor soluça e tomba para trás, sendo segurado de novo.
— Quero fazer sexo com vocês... — murmura, esfregando os lábios. — Ah... não, não...
aposentei meu pau... sem garotas!
— Eu vou procurar alguém para me divertir — Ben se levanta. — Essa conversa ficou
esquisita.
— Sente-se aí, arrombado! — Connor ordena.
Ben revira os olhos e volta a se sentar.
— Deixa o cara. — Ryder ri.
— É... me deixem...
Aperto meus lábios, escondendo a risada, porque Connor está muito engraçado. Ouço uma
movimentação e olho na direção da casa. O vento frio sopra em meu rosto, a garrafa escorrega da
minha mão e meu coração para na garganta.
Pouco distante, vejo Alana e Leanne chegarem juntas, rindo com as outras meninas, ambas
com cerveja na mão. Minha pulsação acelera ao relembrar dos episódios de ontem, já que não
estou mais preocupado com a porra do jogo.
Engulo em seco, porque a garota trajada com um vestido branco colado, realçando seu
lindo corpo, tentou me beijar ontem na piscina, e a outra, ao seu lado, vestida com calça jeans,
top vermelho e cabelos lisos caindo como seda nas costas, me beijou.
Porra, não sei o que fazer diante dessas duas, e a única coisa que vem dentro de mim, é um
instinto absurdo de fuga.
— Preciso ir ao banheiro — anuncio de repente, levantando-me abruptamente e saindo às
pressas, tropeçando no caminho e quase caindo no processo.
— Está fugindo de quem, Clark? — Ben pergunta, rindo quando tropeço de novo.
— Ah, bom... estou fodido... digo, apertado... porra, preciso ir, de verdade! — Olho para
ele, disfarçando meu desespero e arrasto o olhar para as garotas, que ainda não me viram.
— Espera... — Ben segue meu olhar, mas não espero por uma conclusão, apenas fujo que
nem um idiota.
Não sei para onde estou indo, apenas caminho pela areia com as mãos nos bolsos,
resmungando por ser um covarde que nem ao menos consegue enfrentar seus problemas, porque
fugir é mais fácil.
Chuto uma pedra, murmurando, enquanto ouço a música e as conversas ao fundo, junto
com o barulho da água e das leves ondas batendo na costa. Ergo a cabeça, observando a lua
surgir no horizonte com sua beleza estonteante.
Deslizo meu olhar para frente e paro de repente. Sentada na beira da água, está uma garota
mexendo no celular. Vou me aproximando, pigarreando para chamar sua atenção e quando ela
vira o rosto, reconheço-a.
— Clark? — Briella me encara com surpresa, descendo o olhar pelo meu corpo. — Não,
com certeza não é o Clark.
Sorrio, sentando-me ao seu lado.
— Sou a alucinação dos seus sonhos.
— Ah, meu Deus... não quero acordar desse sonho — brinca, empurrando meu ombro com
o seu.
— O que está fazendo aqui sozinha?
Briella suspira, mostrando a tela do celular.
— Estava vendo as fotos do jogo e tentando encontrar o meu Nerd nelas — conta,
parecendo contrariada.
— Posso? — pergunto, apontando para o celular.
— Claro! — Ela me entrega.
— Você não o viu por que ele estava sentado no banco — digo, passando as fotos.
— Uma pena.
— Está vendo essa foto? — Mostro a ela uma imagem dos caras em roda. — Consegue
sentir a energia fluindo, o coro da torcida, as vozes dos jogadores repassando a estratégia das
próximas jogadas?
— Consigo — confirma, seu olhar fixo na imagem.
— Está vendo o quarterback? Capitão do time? — Aponto para as costas de Connor. — O
cara mais popular, mais bonito, a promessa da NFL. Não sou eu. Eu sou o running back. Na
verdade, eu sou o jogador reserva do running back.
Ela bufa uma risada e dou zoom na foto.
— Eu sou aquele lá atrás, Rhavi Clark, você me veria se não tivesse um cara na minha
frente — resmungo, encarando seus olhos.
Briella solta uma risada, tira o celular da minha mão e chega perto para tentar ver melhor.
— Esses idiotas escondendo seu brilho.
— Para você ver o quanto sou sortudo. — Sorrio. — Assistiu ao jogo?
— Desde o começo — diz, guardando o aparelho no bolso da sua jaqueta. — Pensei que
iríamos perder.
— Ah, mas não íamos mesmo.
— Confiante, é? — Dou de ombros, encarando a lua.
— Você não me respondeu por que está aqui sozinha.
Briella chupa os dentes e suspira.
— Precisava ficar sozinha um pouco — conta, mergulhando os pés descalços na areia. —
O problema de gostar de ficar sozinha é que a bateria da socialização acaba muito rápido.
— Entendo. — Pouso os braços nos joelhos.
— E o que faz aqui sozinho? — ela pergunta. — Não tem medo de ser assediado?
Olho para ela com a testa franzida.
— Assediado?
— Bem... olha só pra você! — Briella estala a língua. — Porra, não quer ir para algum
quarto dar uma rapidinha, não?
Fico encarando-a, confuso. Ela gargalha, desviando o olhar.
— Estava te chamando para transar, Rhavi.
Minhas bochechas começam a queimar, pigarreio, envergonhado.
— Se quiser... hum... podemos ir. O que acha?
Sinto os olhos de Briella sobre mim.
— Sério? — Ela começa a se levantar.
— Não — respondo, rindo e vendo sua decepção ao se sentar de novo.
— Não brinca comigo, Clark!
Estico a mão e dou um peteleco no seu nariz. Ela resmunga, afastando minha mão.
— Desculpa.
— Desculpado só porque é um cara muito legal, além de gostoso, claro.
Sorrio, voltando a encarar a lua.
— Rhavi? — Olho para trás ao escutar a voz de Alana.
Ela para alguns metros de distância, encarando Briella.
— Oi! — Cumprimenta a garota ao meu lado.
— E aí, lindinha!
Franzo o cenho quando seus olhos se voltam para mim. Alana cruza os braços, como se
estivesse se abraçando.
— Leanne está te procurando — ela fala, sua voz saindo falhada —, e eu quero ir embora.
Sinto um alerta acertar meu peito. Levanto-me apressado e me aproximo dela.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, tocando em seus braços, percebendo que estão
gelados.
Ela olha de mim para Briella, depois para mim de novo.
— Quero ir pra casa.
— Certo. — Assinto, afastando os cabelos de seus ombros. — Vamos, vou te levar.
Olho para Briella, que sorri e me lança um piscadela.
— Depois a gente se vê — ela se despede.
— Até mais — digo, voltando minha atenção a Alana. — Está com frio?
Ela nega com a cabeça, mesmo assim, tiro minha jaqueta e a jogo em seus ombros. Alana a
veste, sussurrando um obrigado.
— O que aconteceu? — pergunto novamente, passando o braço por seus ombros e
trazendo-a para perto.
— Nada, só estou cansada — responde, não me convencendo.
Ajudo-a a subir na caminhonete e entro logo em seguida, ligando o motor para nos tirar
dessa festa. Alana recosta a cabeça no encosto, fitando o lado de fora com a mente distante.
— Alana? — chamo quando adentro na avenida.
— Hum?
Estico minha mão e a pouso em sua perna, beliscando o tecido da sua calça. Viro a cabeça,
capturando seus olhos tristes.
— Você sabe que vou te proteger desse mundo para sempre, certo?
Ela sorri, colocando sua mão por cima da minha. Viro-a e entrelaço nossos dedos enquanto
dirijo com a outra mão.
— Sabe que coloco fogo nesse mundo se alguém te fizer mal, não sabe? — Alana diz,
apertando os lábios.
— É... lembro bem de quando se meteu em uma briga com dois moleques o dobro do seu
tamanho depois de me encurralarem em um beco perto da escola.
Alana ri ao se lembrar desse dia.
— Meu pai me deixou de castigo por um mês.
— E o meu sem videogame por dois.
Rimos, a imagem dela batendo a bandeja na cabeça daqueles dois no refeitório repassa em
minha mente.
— Afinal, por que seu pai te colocou de castigo? — pergunta, franzindo a testa.
— Porque eu deixei você se meter em confusão — rio, estalando a língua.
— Ah... — Ela balança a cabeça. — É verdade.
— Meus castigos sempre foram por causa de você.
Ela gargalha, batendo em minha mão.
— Mentiroso.
Lanço um olhar estreito.
— Fala sério!
— Bem... — Alana coça a cabeça. — Você era sempre o motivo de eu entrar em confusão.
— Agora sou o culpado?
— Sempre foi — ela leva minha mão à boca, depositando um beijo no dorso dela. — Te
amo, Pet.
Desvencilho nossa mão e acaricio seu rosto, colocando seu cabelo atrás da orelha.
— Eu também te amo, enjoada!
Alana ri, revirando os olhos.
— Conchinha? — pergunta, voltando a segurar minha mão.
Encaro a estrada, fazendo um bico, pensando... cogitando e levando um tapa no braço.
— Conchinha — confirmo, apertando sua mão.
Ao chegarmos no meu apartamento, Alana rapidamente troca de roupa, deslizando em uma
das minhas camisas e se deitando na cama em silêncio.
Após me arrumar e sair do banheiro, deslizo debaixo das cobertas, imerso em seu calor
reconfortante. O som da sua risada preenche o ambiente enquanto a envolvo em meus braços,
sentindo suas costas se aconchegarem contra o meu peito.
— Se algum filho da puta tiver feito algo contra você, quebro a cara dele — aviso,
beijando a curva do seu pescoço.
— Pode ter sido uma mulher — fala, acomodando a cabeça no meu braço.
— Mando Lauren resolver isso por mim.
Alana ri.
— Ela faria sem nem pensar — comenta.
— Meu pai que o diga — murmuro, porque minha madrasta é um tanto... barraqueira no
quesito proteção.
— Estou bem, Pet! — diz, levando minha mão ao seu peito e abraço-a com força. — Foi
um dia cansativo.
— Durma, seu Pet está aqui para te proteger — sussurro, depositando um beijo no topo da
sua cabeça.
Em minutos, Alana pega no sono, sua respiração saindo tranquila. Levanto-me um pouco
para olhar em seu rosto através da pouca luz que ilumina o quarto, tentando descobrir o que a fez
ficar triste.
Volto a me deitar, fecho os olhos e suspiro, porque independente do que aconteça, ela
sempre estará protegida em meus braços.
No dia seguinte, deitados na cama com as pernas encostadas na parede, devorando gomas
fini de dentadura, decidimos faltar à aula, mesmo cientes de que isso poderá nos prejudicar no
futuro. No entanto, optamos por jogar um "foda-se" para as consequências.
— Um dia vai ter que conversar com ela, Pet — Alana diz, colocando duas dentaduras na
boca e balançando os pés, com as unhas pintadas de amarelo.
— Tenho mesmo que fazer isso? — pergunto, mastigando a goma.
— Para de ser bundão.
— E o que eu diria?
— Sei lá! — Alana ergue uma dentadura e aperta. — Diz que teve uma urgência intestinal
e que, se demorasse mais um pouco, iria acabar fazendo o número dois na piscina inteira.
Engasgo com a goma, ouvindo sua risada.
— Há-há! Que engraçado — resmungo, colocando três gomas na boca de uma vez.
— Pode dar certo.
— Daria certo com você?
— Não — confessa, batendo o pé no meu. — Seja honesto com ela.
— E dizer que fugi porque fiquei nervoso demais com a possibilidade dela me beijar?
— Não. — Alana coloca uma goma na minha boca e mordo de leve seu dedo. — Fala que
não está pronto, que quer ir devagar.
— Isso vai rolar?
— Os homens vivem dizendo isso para as mulheres quando querem um relacionamento,
por isso fujo dos caras com quem durmo para não ter perigo de ouvir esse discurso — ela revela,
rindo e me olhando.
— E... será que ela quer um relacionamento comigo?
Viro a cabeça, encontrando seus olhos castanhos me estudando.
— Lógico, está na cara — ela diz, mordendo uma dentadura de goma. — Seja verdadeiro,
abra seu coração e seja honesto.
Respiro fundo, desviando do seu olhar e fitando o teto.
— Não sei não...
— Não é mentira se você disser isso.
Contorço os lábios, pensativo. Levo outra goma à boca, um pouco envergonhado com o
que vou perguntar.
— Alana?
— Hum?
— Então... é... bem... — Solto uma risada nervosa. — Sobre me ensinar aquelas coisas...
como... como vamos fazer para rolar? Tipo, precisa de um clima para beijar ou algo parecido?
— Depende — diz, observando a dentadura. — Existe todo um clima dependendo da
situação, em outros você mesmo pode criar.
— Como? — pergunto, engolindo a goma que estava mastigando.
Alana desce as pernas da parede e coloca o rosto na minha frente. Nosso olhar se cruza e
de repente, seus lábios colam nos meus.
Fico parado por alguns segundos, não conseguindo reagir de imediato, porque ainda é
complicado aceitar que é minha melhor amiga me beijando e me ensinando o que não sei fazer.
Solto o saquinho de gomas, afastando seus cabelos que caem em meu rosto, e ela retira sua
boca da minha, ficando a centímetros de distância, nossas respirações se misturando, meu
coração acelerando.
— Não precisa de uma situação para beijar uma garota, Rhavi, se sente vontade, apenas
puxe e a beije.
Seus olhos fixam nos meus, seu hálito doce invade meus sentidos e um arrepio percorre o
meu ventre. Sorrio de lado, enrolando seus cabelos em minha mão, puxo-a para mim e capturo
seus lábios.
Sua língua toca o céu da minha boca, tento mover a minha em uma dança desajeitada,
mesmo sentindo algo estranho por ser Alana. Tento explorar sua boca, sentindo o seu sabor ao
sorver sua saliva; sugando o néctar dos seus lábios.
Okay... está sendo um beijo de merda, ainda é tudo muito rígido, afinal, é minha melhor
amiga aqui. Afasto nossas bocas, inspirando fundo com os olhos fechados, preciso de calma, ser
carinhoso e cuidadoso... Certo... certo... mais uma vez!
Alana inspira para falar, mas volto a tocar sua boca macia, tentando deixar a minha menos
dura e a língua mais solta. Com cuidado, devagar, pego o ritmo do beijo, sentindo seu peso sob
meu peito.
Aperto seus cabelos, movendo a língua na sua, um calor me envolve, um calafrio percorre
minha espinha e uma vontade absurda de querer mais do que isso explode dentro de mim, ao
mesmo tempo em que algo me diz que isso é totalmente errado.
Afundo os dedos na sua cintura, aprofundando o beijo que começa a se tornar mais intenso
e forte, seus lábios quentes me envolvendo, nossa respiração ficando mais acelerada conforme
me solto, melhoro e... me entrego.
Sim... isso aqui... esse movimento da nossa boca sincronizada, da sua língua e das suas
mãos navegando pelos meus cabelos... é bom... Cacete... beijar é delicioso e não quero parar.
Ei, mundo, foda-se você, só quero ficar aqui, nesse encaixe perfeito e esquecer até mesmo
meu próprio nome... aliás, quem é Rhavi Clark?
Merda! Merda! Merda!
Não deveria estar gostando de beijá-la dessa maneira, dos seus lábios se esfregando nos
meus... do seu cheiro... porra, somos amigos, tudo entre nós é inocente, sem maldade, agora...
agora... um calor envolve meu coração e a única coisa que desejo é nunca mais parar.
Alana tenta se desvencilhar, mas evito que se afaste, porque quero mais... quero morrer
beijando seus lábios. Ela bate em meus ombros, descolo nossa boca e a vejo inspirando em busca
de ar.
— Calma aí, Rhavi! — diz, rindo e encostando sua testa na minha, respirando com
dificuldade.
— O quê? — pergunto, depositando um selinho em seus lábios suaves, adorando o seu
calor me abraçando. — Foi ruim?
Ela nega com a cabeça.
— Só me deixa respirar um pouquinho — fala, mordendo meu lábio inferior.
Meus lábios se alargam em um sorriso prepotente.
— Beijei bem, então! — afirmo, orgulhoso.
— Não, calma! — Alana ergue a cabeça e arqueia uma sobrancelha. — Precisa melhorar,
ainda está muito... rígido.
Faço uma careta, ajeitando seus cabelos na minha mão para ficarem firmes e não me
atrapalharem. Fico observando-a, seus olhos estão brilhando, lábios vermelhos e inchados,
reparo nela alguma coisa diferente que não sei detectar, talvez seja coisa da minha cabeça, mas
Alana é linda e meu coração começa a bater mais acelerado do que antes, minha boca querendo
desesperadamente a sua.
Porra, que errado isso!
— Já respirou? — pergunto, chegando perto, mas ela coloca a mão sobre minha boca.
Resmungo e fito seus olhos divertidos.
— Ainda não.
Aguardo os minutos se passarem, ficando impaciente. Lentamente, Alana retira a mão e
olha para os meus lábios, depois para os meus olhos.
— Pronta? Quero mais beijo — reclamo, descendo as pernas da parede.
— Só toma cuidado para não me matar de falta de ar — alerta, roçando os lábios nos meus.
— Prometo — sussurro. — Podemos treinar o dia todo? — pergunto, assistindo seu
sorriso.
— Até a boca ficar dolorida.
— Oba!
Volto a colar minha boca na dela, adorando o deslizar dos seus lábios nos meus, de
maneira que fica cada vez melhor. Minha pulsação acelera e meu corpo arrepia quando roço os
dentes na sua língua. E pretendo sim, ficar aqui com Alana o dia todo, ignorando os alertas que
pulsam em meu coração, beijando até não conseguir mais mover a boca, focando minha energia
nessa prática até eu ficar bom.
Por muito tempo, me fiz acreditar ser capaz de sobreviver sem precisar beijar... mudei de
ideia, okay? Então pode ter certeza de que nunca mais quero parar de beijar Alana, aproveitarei
cada segundo e hoje, irei esquecer que o mundo existe.
Chego na aula de farmacologia com o coração gelado e nervoso por ter que encontrar
Leanne. Avisto Liza sentada no seu lugar de sempre, focada no celular. Vou até ela, que ergue a
cabeça ao me notar, dando-me um sorriso de felicidade.
— Aí está você! — Ela abre os braços e mergulho neles, abraçando a garota pequenina,
que parece uma boneca de tão frágil, mas que é tão forte quanto um jogador de futebol.
— Oi! — digo, me afastando e alisando suas tranças antes de me sentar no lugar. — Como
você está? Sobreviveu sem mim ontem na aula?
Deixo minha mochila no chão, ao lado da mesa, e encaro seus olhos cor de mel. Liza ajeita
seus óculos, faz um bico e deita a cabeça na mesa.
— Quase morri — resmunga. — Vocês andam muito ocupados. — Ela ergue as mãos e faz
um cafuné na minha cabeça. — Aidan mal consegue respirar por causa das provas residência.
Você com os jogos e Alana com sua equipe... estou sozinha.
— Ohn! — Inclino e apoio a bochecha no topo da sua cabeça. — Minha Liza está largada
à míngua.
— Pra você ver.
— Vi que escreveu mais um capítulo — digo, balançando sua trança. — Vou ler mais tarde
e não fica triste, se quiser, te levo no treino de hoje.
— O quê? — Ela ergue a cabeça, travando seus olhos nos meus. — Connor vai estar lá, eu
morro, entende?
Solto uma risada, ajeitando a gola alta da blusa.
— Estamos bem próximos agora.
— Por Deus, me deixe sonhar com o irreal — resmunga. — Não quero que minha ilusão
do cara mais gostoso e incrível dos campos seja destruída.
— Ele não é um babaca.
— Mas é galinha. Só deixa do jeito que está. — Liza franze a testa e estica a mão,
afastando a gola da camisa. — Hum... empolou?
Faço uma careta.
— É... esses dias foram... complicados — respondo.
Ela ajeita a gola para esconder a vermelhidão da minha pele.
— Tadinho do meu Rhavizinho... — Liza estica o lábio inferior e eu faço uma cara de
choro.
Logo rimos dessa palhaçada e me ajeito na cadeira.
— Que bosta! — digo. — Me sinto um bebê nas mãos de vocês.
— É porque você é nosso neném, Rhavi.
— Sei...
— Até Aidan sabe disso — fala, ajeitando meus cabelos.
— Vou falar de você para o Connor.
— Não! — Ela bate no meu ombro com força. — Não brinca comigo.
Rio, virando para frente e subindo meus óculos que escorrega do rosto.
— Vou ficar caladinho, então.
— Acho bom!
Solto uma risada baixa, inclino e tiro o iPad da minha mochila, mas congelo ao sentir
alguém parando diante da minha mesa. Engulo em seco, meu coração entoando em meus
ouvidos, não tenho mais como fugir e, lentamente, ergo a cabeça, fixando os olhos nos azuis
intensos de Leanne.
Ela está me encarando com olhos estreitos, sua expressão está séria e aperto os lábios,
minhas mãos começando a tremer. Fugi por dois dias, agora não tenho mais para onde ir.
— Até quando iria se esconder de mim? — pergunta, inclinando a cabeça para o lado, me
avaliando. — Não vai mais fugir, Clark!
— Eu... hum... não... — Paro de falar quando ela contorna minha mesa e se senta ao meu
lado, seu perfume me abraçando.
— Precisamos conversar — exige, apoiando o cotovelo na mesa e pousando o queixo no
punho, seus cabelos loiros caindo para o lado, se espalhando como ondas.
— Claro! — Meneio a cabeça, minhas orelhas queimando. — Só que... é... hã... vou estar
ocupado e...
— Vamos almoçar juntos. — Ela me corta. — Sei o horário do seu treino e que antes você
tem que comer, então depois da aula, vamos ter uma boa conversa e vai me explicar os motivos
de ter corrido de mim daquela maneira, e não, não aceito desculpas. — Leanne faz uma pausa
para recuperar o fôlego. — Não gosto de nada mal resolvido, Rhavi, se tem alguma coisa
acontecendo, quero que seja claro e verdadeiro, okay?
Engulo em seco, confirmando com um aceno de cabeça.
— Okay!
Leanne me prende no seu olhar e chega mais perto.
— Sei que aconteceu alguma coisa para ter saído correndo, fiquei muito triste. Não vou
mentir para você, e dizer que está tudo bem, Clark, porque não está. — Sua voz sai tristonha. —
Gostei de como a gente fica juntos, do seu jeitinho de me tratar, de conversar, então, por favor,
seja verdadeiro comigo e vamos conversar.
Abaixo o olhar, sentindo uma pontada de arrependimento por ter agido feito um idiota,
mesmo tendo meus motivos para isso. Arrasto minha mão e toco seus dedos em seu colo.
— Desculpe.
— Não precisa pedir desculpas — fala, retribuindo o toque. — Apenas seja sincero
comigo, se eu tiver feito alguma coisa errada, fala, que posso tentar corrigir.
Ergo meu olhar, prendendo no seu.
— Você não fez nada de errado, eu apenas... — Sobressalto de susto quando algo bate
forte na mesa.
Olho para o lado e percebo Alana parada diante de nós, segurando um copo de café gelado
na mão. Seu olhar vai de mim para Leanne e de volta para mim, sem expressão alguma.
— Bom dia, Alana! — Leanne a cumprimenta, tentando animá-la.
— Dia! — Alana retribui, mas sem demonstrar entusiasmo.
Franzo o cenho, perplexo com seu comportamento. Deslizo o olhar para suas mãos que
seguram os cafés, e percebo que a mão que segura o meu café aperta o copo, dobrando-o de leve.
— Esse é meu lugar — Alana diz, lembrando Leanne.
Estendo minha mão para pegar meu café, mas ela não o solta. Toco sua mão, e finalmente
Alana libera o copo.
Respiro fundo, aliviado por evitar que o copo quebrasse.
— Estávamos conversando... — Interrompo minha frase quando ela me lança um olhar frio
e depois o direciona para Leanne.
— Alana, será que eu posso me sentar aqui hoje? — Leanne pergunta a ela. — Preciso
ficar de olho nesse garotão aqui, para me certificar de que não irá fugir de mim. Temos algumas
coisas para resolver.
Alana encara Leanne por alguns segundos, percebo quando ela tensiona o maxilar e me
olha, um brilho estranho percorrendo seu olhar.
— Claro! Tudo bem! — Alana diz, com os lábios trêmulos. — Pode ficar aí! — Ela coloca
seu copo na mesa de Leanne. — Fica com esse café também... ah! — Alana me olha por um
momento. — O que mais você vai querer? Meu lugar, meu café e o Rhavi... ah, tem a Liza,
conhece ela? Quer ficar com ela?
Sinto um clima pesado enquanto Leanne sustenta o olhar de Alana, ficando séria, o que me
faz perceber que minha amiga não gostou da ideia de ela estar ao meu lado.
— Desculpa — Leanne pede, fazendo menção de se levantar. — Não quero que pense
errado sobre mim.
Alana coloca a mão em seu ombro e começa a rir de repente.
— Para com isso, estava só brincando — fala, estalando a língua. — Sério, acho que
preciso fazer um teste para entrar no teatro. Sou uma boa atriz, confessem!
Ficamos encarando-a. Alana ri mais um pouco e pega o café que tinha supostamente dado
para Leanne.
— E esse é meu café! — diz, jogando uma piscadela para mim. — Pode ficar tranquila,
Leanne, e concordo com você em relação a ficar de olho nesse humano ao seu lado, ele tem
tendência a fugir dos seus problemas.
— Ah! — Leanne se remexe, um pouco desconfortável. — Obrigada!
— Vou me sentar ali atrás. — Alana dá um passo para trás. — Mais tarde a gente se vê.
— Certo — Leanne diz, observando-a se afastar.
Lanço um olhar para Liza, que sutilmente, balança a cabeça de um lado para o outro.
— Rhavi? — Leanne me chama.
— Sim? — Olho para ela.
— Acho que ela não gostou de eu ter pego seu lugar — comenta, um pouco sem graça.
— Alana estava só brincando — minto, porque sei que não estava. — Ela adora fazer isso
com a gente.
— Percebi — murmura.
Leanne recosta e leva o polegar à boca, mordendo a unha enquanto fita o professor entrar
na sala.
— Tem certeza? — pergunta para mim.
— Absoluta!
Ela respira fundo, balançando a cabeça, relutante se acredita ou não, mas acaba dando de
ombros e sorrindo para mim.
— Vou ficar do seu ladinho a aula toda — diz, batucando as unhas no dorso da minha mão.
— Vai ser interessante. — Forço um sorriso e ligo o iPad para acompanhar a aula.
Após o professor iniciar a aula sobre antibióticos, permito-me olhar para trás e encontro
Alana nos fundos, sentada sozinha com a expressão fechada. Nossos olhares se encontram por
alguns segundos até que ela desvie o seu e comece a escrever algo em seu caderno, embora o
descontentamento de estar longe de mim seja evidente.
Meu coração aperta ao vê-la tão distante. Desvio o olhar e me concentro em Leanne ao
meu lado, tentando prestar atenção nas palavras do professor.
Por que não estou feliz por ela estar ao meu lado, sendo que a desejei por tantos anos?
Os minutos parecem que não passam, os ponteiros do relógio não se movem e o aperto no
meu coração só intensifica a cada segundo.
Quando a aula termina, parece que retomo a capacidade de respirar, no entanto, Alana é a
primeira a sair da sala e Liza corre atrás dela.
Sei perfeitamente que ela não gostou de ter Leanne ao meu lado, de ter ficado longe de
mim. Nem mesmo quando estudávamos no colegial, ela se sentava longe. Hoje, foi como se um
muro tivesse sido construído entre nós.
Leanne percebe o clima estranho. Tento disfarçar, mas ela não é idiota para ser enganada
por Alana dessa forma.
— Vou pegar nosso almoço — Leanne diz, assim que escolhemos uma mesa mais afastada
no refeitório. — O que vai querer?
Sento-me e aperto os lábios.
— Um sanduíche natural e suco de laranja.
Leanne sorri, assentindo, e se afasta para pegar nosso almoço.
Respiro fundo, relaxando na cadeira.
— Oi, Rhavi!
Olho para o lado. Duas garotas estão indo para a saída, mas uma delas tem o olhar preso
em mim. Ela sorri e dá um tchauzinho. Estranho, mas retribuo o gesto por educação. A outra
garota a cutuca e ambas andam apressadas, cochichando.
— Ué! — sussurro, rindo.
Inclino-me para trás, balançando a cadeira enquanto arrasto meu olhar na direção de
Leanne. No entanto, meus olhos se desviam e se prendem em Alana, que entra no refeitório ao
lado de Liza.
Meu campo de visão, de repente, se resume somente a ela. De tantas pessoas nesse lugar,
tenho a inexplicável necessidade de encará-la como se fosse única nesse mundo.
Observo-a conversar com Liza, seus lábios — aqueles que passei o dia de ontem beijando
— se movendo. Não faço ideia do que estão conversando; não faço nem questão. Quero apenas
senti-los de novo.
Alana coloca uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, assentindo para algo que Liza diz.
Seus lábios se alargam em um sorriso ofuscante que faz meu coração saltar de uma forma
diferente.
Nunca tinha percebido antes como o sorriso dela tem o poder de parar as pessoas ao seu
redor, fazendo com que todos parem e observem por um momento, admirando o quão
deslumbrante ela é.
Elas param em uma fila, mas eu continuo focado nela, incapaz de desviar meu olhar. De
repente, tudo ao meu redor parece insignificante, e meus olhos começam a percorrer seu corpo.
Um arrepio percorre minha espinha, e meu coração começa a bater mais rápido do que o normal.
Que sensação estranha é essa?
Pigarreio e pisco, tentando afastar meus pensamentos, mas não consigo evitar de notar
como a blusa justa que ela está usando realça seus seios, tornando-os mais volumosos, bonitos
e... atrativos. O coração do seu pingente está posicionado bem no meio deles, e eles se movem
suavemente conforme ela respira.
Sinto o calor se alojar no pé da minha barriga enquanto desço mais o olhar. Uma parte da
sua barriga está à mostra, lisa e reta, com um piercing de coração pendurado no seu umbigo, o
que faz meus dedos coçarem de vontade de acariciar o local.
Engulo a saliva na minha boca ao observar a saia apertada nos seus quadris e suas coxas
definidas à mostra, o que me faz desejar apertá-las. Não de um modo carinhoso, sem maldade,
mas de uma maneira que eu possa me encaixar entre elas...
Porra, meu peito está queimando à medida que minha mente começa a imaginar o que não
deveria. No entanto, não a freio e permito que ela me leve para algo proibido.
De repente, imagino-me levantando do meu lugar e indo até ela, segurando seu quadril,
virando-a para mim e tirando cada peça da sua roupa, sentindo o cheiro e a maciez da sua pele,
beijando-a de um modo que nunca fiz antes. Os lábios explorando seu pescoço, meus dedos
conhecendo cada pedaço do seu corpo, escutando sua respiração em meu ouvido, suas mãos em
meus cabelos
Ergo os olhos, passando pela sua barriga novamente, sentindo meu sangue bombear com
força, e a consciência retorna com um baque quando nossos olhos se encontram. O sangue que
antes estava fervilhando congela, como se um balde de água fria tivesse sido jogado em minha
cabeça.
Alana arqueia uma sobrancelha, e eu fico paralisado, minha respiração acelerada, tentando
assimilar o que acabou de acontecer.
Espera! Calma! Porra!
Pisco várias vezes, limpando minha mente dessas imagens pecaminosas que me imaginei
com ela... com Alana... Porra! Com a minha melhor amiga.
Que diabos está acontecendo comigo?
Prendo a respiração ao notar que... caralho, estou excitado?
Eu estou excitado no refeitório com essas pessoas em volta?
O barulho das conversas retorna, assim como o tilintar dos talheres, risadas, arrastar de
cadeiras e... meu pau está duro!
Sacanagem isso... porra que amigo é esse que se imagina tocando de forma depravada sua
melhor amiga, e ainda fica de pau duro no meio de tanta gente?
Mova-se, Clark, as pessoas vão notar que está com uma protuberância bem visível entre
as pernas, idiota!
Cacete!
Alana entorta a cabeça e dá um passo à frente, mas um cara alto e forte coloca a mão em
seu ombro, chamando sua atenção. Ela desvia o olhar para encará-lo, piscando enquanto ele se
inclina e sussurra algo em seu ouvido.
Sinto meu rosto endurecer, a excitação desaparece e meu sangue esquenta vendo essa
interação de merda.
Quem é esse cara? E por que diabos ela está sorrindo para ele?
Esqueço de tudo o que acabou de acontecer, foco no rosto do idiota, que parece satisfeito
com a resposta da Alana, e uma raiva começa a borbulhar.
Trinco os dentes, analisando-o e vendo sua mão no meio das costas dela, seus dedos
acariciando sua pele exposta.
Se eu for lá e quebrar um por um dos seus dedos, isso seria errado?
Espera! Não! Seria sim!
Inspiro fundo, franzindo mais a testa.
Por que estou com raiva? Por que quero quebrar a cara desse idiota e desmanchar esse
sorrisinho de safado?
Merda, o que está acontecendo comigo?
— Rhavi? — Uma mão pousa em meu ombro e eu me assusto.
A cadeira se desequilibra, meus pés saem do chão e sinto meu corpo indo para trás.
— Ah, não, não, não, ahhh! — Tento voltar para frente, mas em instantes minhas costas
colidem no chão duro junto com a cadeira.
O ar some dos meus pulmões por alguns instantes devido ao impacto, solto um gemido, e a
vergonha me consome por inteiro quando percebo os olhares sobre mim após a minha bela
queda.
— Merda! — Choramingo, arrastando meu olhar para Leanne, com as mãos sobre a boca e
olhar arregalado.
Isso não aconteceu comigo, certo? Eu não caí da cadeira, não imaginei coisas erradas e não
fiquei excitado, certo?
Porra!
Levo a mão ao rosto, querendo morrer nesse instante.
— Meu Deus! — Leanne se move. — Você está bem?
Apresso-me, viro de lado e me levanto, erguendo a cadeira.
— Estou... — murmuro, arrumando meus óculos tortos. — Estou bem, foi só uma
quedinha! — Solto uma risada sem graça, me sentando novamente e esfregando as costas.
— Rhavi...
— Não ria! — peço, apoiando o cotovelo na mesa e escondendo o rosto com a mão,
tamanho é o constrangimento.
— Hum... certo... é... hã... — Leanne pigarreia, arrastando sua cadeira.
Ouço algumas risadas baixinhas e, disfarçadamente, levo meu olhar a Alana, encontrando-
a agachada com o rosto escondido nos braços e pelos cabelos. Seus ombros tremem sem parar e
sei que está rindo do que acabou de ver.
— Você está bem? — Leanne pergunta, colocando a mão em meus joelhos.
— Bem... na verdade não! — Olho para ela, vermelho que nem um tomate. — Acabei de
cair da cadeira na frente de todo mundo.
Leanne abre a boca, fecha-a novamente e morde o lábio, seus olhos cheios de lágrimas.
— Se você rir, eu me enfio debaixo dessa mesa — aviso, desejando mesmo fazer isso.
— Não vou rir — ela dá um gole no seu leite. — Aqui seu sanduíche e suco.
— Obrigado.
Os minutos se passam, sinto olhares sobre mim e sei que as pessoas estão disfarçando a
vontade de rir, mas ignoro enquanto almoço em silêncio.
— Rhavi!
— Sim?
Ouço um suspiro profundo, ela toca meu braço, um gesto para que eu me vire para ela.
Faço o que pede, deixando minha comida de lado e a fito nos olhos.
— O que aconteceu? — pergunta, chegando mais perto da cadeira, ficando séria. —
Preciso que volte para a noite do nosso encontro e explique por que saiu daquele jeito.
Solto a respiração, arrastando uma das minhas mãos e pousando-a em seu joelho, fazendo
círculos no tecido da sua calça jeans, buscando as palavras certas.
— Leanne...
Aperto os lábios, estico a outra mão e coloco seu cabelo atrás da orelha de modo carinhoso,
escolhendo seguir os conselhos da Alana.
— Desculpe — digo, umedecendo os lábios. — Fui um idiota saindo daquele jeito e te
deixando sozinha.
— Não foi um idiota, só... não entendi. — Ela balança os ombros, soltando um longo
suspiro.
— Olha... é que... hã... como vou te dizer isso...
— Você não me quer, certo?
— O quê? — Encaro-a, surpreso. — Não! Não é isso, claro que quero... meu Deus, como
eu a quero!
Ela abre um sorriso, abaixando a cabeça um pouco envergonhada.
— Pensei que iria me dar um fora.
— Nunca — digo, firme, atraindo seu olhar de novo. — Você sempre esteve diante dos
meus olhos, acha que iria deixar você escapar assim, tão de repente?
Leanne entorta a cabeça para o lado, seus olhos brilhando ao me encarar atentamente.
— Então, por que fugiu?
Aperto meus lábios, enrolando uma mecha do seu cabelo na ponta do meu dedo.
— Porque naquele momento não sabia como me expressar ou o que dizer. — Engulo em
seco. — Gosto de você, Leanne, mas não quero ser apenas mais um cara na sua vida. Quero mais
que isso... mais que uma transa de uma noite, entende?
Fico encarando seus olhos, mostrando a ela que estou sendo verdadeiro. Leanne fica em
silêncio e eu continuo.
— Sou um cara de uma garota só! — digo, soltando o ar pela boca para me acalmar. —
Por isso que desejo que as coisas entre nós, sejam devagar, sem pressa. Quero te conhecer
melhor, mostrar a você que não sou como esses caras que usam garotas para satisfazer suas
vontades. Quero algo além da pegação, por isso que saí daquele jeito, porque não soube escolher
essas palavras que estou usando agora.
— Rhavi...
— Tá, eu sei que estou sendo ridículo, mas essa é a verdade, Leanne. — Fito seus olhos
cintilantes.
Ela fica estagnada, me encarando, os segundos passam e quando acho que irá rir de mim,
seus olhos desviam dos meus.
— Nossa! — Leanne solta uma risada sem graça, pega seu leite e dá um gole. — Eu... é...
hã... — Ela ri mais um pouco, se remexendo na cadeira. — Acho que estou apaixonada!
— O quê? — Rio também, atraindo seu olhar, notando um rubor em suas bochechas.
— Não estava esperando por isso e... cara! — Ela esfrega seu rosto e se inclina para perto
de mim. — Estou realmente acreditando que você saiu de dentro de um livro de contos de fadas.
Um príncipe perdido, talvez?
Solto uma risada, varrendo seu cabelo do ombro com os dedos e jogando-os para trás.
— Estou falando sério.
— Eu sei.
— Perdoe-me por esse vacilo?
— Mais que perdoado. — Ela inspira fundo. — Seus pontos só estão aumentando, e
quando chegar no topo...
— O que vai acontecer?
Ela prende meu olhar com o seu.
— Você vai entrar em meu coração e nunca mais vai sair de lá.
Fico calado, absorvendo suas palavras e uma sensação estranha percorre minhas veias.
Deveria ter amado o que acabou de dizer, mas por que... por que me sinto esquisito?
Pigarreio, abaixando a cabeça sem dar uma resposta, sem graça demais para pensar direito.
— Quero te fazer um convite — diz, me trazendo de volta para ela.
— Qual?
— Você quer ir para o festival Frontier Fiesta comigo? — pergunta, sorrindo. — É daqui a
seis dias, mas já estou ansiosa, porque gosto muito desse festival e... — Ela começa a falar sobre
ele, mas minha atenção se desliga quando meu olhar se arrasta para além dela ao sentir seus
olhos sobre mim.
Alana está sentada a quatro mesas de distância com Liza e outra garota ao seu lado,
conversando, mas sua atenção está em mim.
Ela sustenta meus olhos, como se quisesse dizer alguma coisa, depois se move para as
costas de Leanne, contorcendo os lábios e voltando a me encarar.
Sua expressão me deixa um pouco incomodado e não entendo por que me encara dessa
forma intensa, descontente. Engulo em seco, querendo perguntar o que está acontecendo, se ela
está bem e o que está lhe afligindo.
— Rhavi?
Abaixo meu olhar, encontrando Leanne me observando. Sorrio, disfarçando minha
distração sem saber o que disse.
— Você... quer ir?
Ah, ela estava falando do festival!
— Beleza, vamos! — Assinto. — Vai ser legal.
— Muito! — Ela se anima, dando uma olhada para trás e voltando a me fitar.
Leanne abre a boca para dizer algo, mas se cala ao sentir minhas mãos em sua perna.
— Desculpa, princesa, mas preciso ir agora para o treino — digo, pegando minha mochila.
— Ah, sim! Claro! — Ela balança a cabeça. — Posso te ligar mais tarde? — pergunta
quando me levanto e ajeito a mochila nos ombros.
— Vou esperar — confirmo, andando para trás, louco para respirar. — Tchau.
— Até! — Ela balança a mão.
Sorrio de leve, olhando rapidamente para onde Alana está me observando. Viro de costas e
saio apressado, querendo um tempo sozinho para entender o que está acontecendo comigo.

Suor escorre pelo meu rosto, o cansaço faz com que meus movimentos diminuam e deixo a
bola passar por entre meus dedos na saída line quando Connor arremessa.
Saio andando em direção ao início da escada de agilidade, arfando e pedindo por um pouco
de descanso. Haley não estava brincando quando disse que pegaria pesado nos treinos antes do
próximo jogo.
Respiro fundo, me posicionando na escada, enxugando a testa molhada e desejando por um
clima menos quente. A buzina do preparador soa, saio da posição, colocando dois pés dentro da
escada e um fora, o mais rápido que consigo, fazendo uma parada no final para a segunda parte
do circuito.
Corro em zigue-zague, fazendo uma parada brusca a cada cone disposto no caminho com
distância de 7 jardas, abaixo o corpo o máximo que consigo para buscar estabilidade e quando
chego no último cone, coloco os pés juntos e estico para pegar a bola que Connor arremessa,
conseguindo agarrá-la com precisão.
A buzina soa novamente, repito o mesmo exercício três vezes antes de me dirigir até o
banco, tirar as luvas e levar a garrafinha de água à boca, bebendo de uma vez todo o líquido.
Enxugo meu rosto com a toalha, assistindo ao treino de Ben, que consiste em interceptar um
boneco de espuma mecânico.
Decidido a aproveitar os vinte minutos que me foram concedidos, pego meu celular, abro o
aplicativo do Wattpad e busco pelo último capítulo que Liza postou da fanfic. Começo a leitura.
O capítulo se inicia de forma tranquila e envolvente. Liza tem a capacidade de nos
transportar para dentro da história, envolvendo-nos com suas palavras e cenários.
No entanto, quando chego na metade dela, começa a ousadia que só Liza é capaz de
escrever. Jesus, se Connor descobrir que seu personagem é bem-dotado, com certeza se gabará
pelo resto da vida.
Não que eu saiba o tamanho do seu pênis, mas caramba, a imaginação da Liza...
Coloco a toalha sobre a boca para abafar a gargalhada. Merda, depois desse capítulo nunca
mais vou olhar para Connor da mesma forma.
— O que está vendo nesse celular que está tão vidrado?
Sobressalto, deixando o aparelho escorregar e cair no gramado ao ouvir sua voz. Pego-o de
volta, saindo da página o mais rápido que consigo e ergo a cabeça, encontrando Connor com o
olhar sério.
— Hum?
— Deixa-me ver isso — pede, apontando para o meu celular.
— Ver o quê? — indago, guardando o celular.
— O vídeo.
Volto a encará-lo, confuso. Sua pele negra brilha pelo suor que escorre e seus olhos
amarelados por causa do sol estão fixos nos meus, sem nenhuma diversão.
— Do que você está falando?
— Mano, sério! — resmunga, colocando as mãos na cintura. — Te vi rindo que nem um
idiota, está até vermelho. Quero ver!
— Ver o quê, cara?
— A porra do vídeo!
Ficamos nos encarando por vários segundos.
— Não é um vídeo? — pergunta.
— Não!
— O que era?
Será que conto que estava lendo uma cena hot em que ele é o protagonista? Não, melhor
não!
— Anime, quer assistir?
Connor contorce os lábios, estalando a língua.
— Então não viu o vídeo?
— Cara, me explica essa porra direito — exijo, irritado.
Ele coça a cabeça, olha para os lados e suspira.
— Você foi embora cedo daquela festa, por quê?
— Alana não estava bem.
Connor arqueia uma sobrancelha.
— Ah!
Aguardo sua resposta, fitando-o.
— É que... hã... — ele se inclina e pega uma bola, provavelmente para manter as mãos
ocupadas. — Os caras disseram que naquele dia eu corri nu pela casa, tiveram que ir atrás de
mim e me trancaram no quarto.
— O quê? — Solto uma risada.
— Pois então, estão dizendo que está rolando um vídeo, mas até agora ninguém o viu.
Sabe a merda que vai virar a minha vida se isso vir a público?
— Você estava bem mal, tentou até beijar o Ryder.
— Eu? — grita, surpreso.
— Disse que queria fazer sexo com todos, porque somos gostosos — provoco, vendo seus
olhos arregalados.
— Não fiz isso!
— Fez!
— Pare de mentir, Clark! — Ele joga a bola, acertando meu estômago. — Vocês são tudo
uns cuzões!
Ele sai de perto entre resmungos.
— Hey, Connor, bundinha torneada, hein! — Tanner grita do outro lado do campo, tirando
risada dos outros caras.
— Vão se foder! — Connor grita de volta, mostrando o dedo do meio, irritado com a
brincadeira de mal gosto.
— Por que não treina a boca e a língua, Tanner? — Ben retruca, tirando o capacete. —
Está precisando manter a boca fechada.
— Ele não precisa, Ben — Tayler se intromete. — A língua dele está bem malhada para
vomitar tantas merdas.
— Uma hora fica sem ela — Ben alerta, em um tom de ameaça.
— Olha só o tom, Ben! — Sean adverte, brincando com a bola, lançando-a para o alto e
apanhando-a. — Ficaria muito chateado se precisasse te ensinar como cuidar da sua própria vida.
— É mesmo? — Ben solta uma risada. — Estou realmente precisando que faça isso para
eu te mostrar onde é o seu lugar.
Os dois se encaram, o clima esquenta e há uma tensão entre eles. Tayler coloca as mãos
sobre o peito largo de Ben, empurrando-o para trás.
— Tudo bem! Tudo bem! — Britt Kern intervém, entrando no meio, as mãos erguidas. —
Não estou a fim de separar briga, então vamos voltar aos treinos, precisamos nos preparar para as
regionais.
— Abre os olhos, Sean! — Ben diz, colocando o capacete de volta e se afastando.
— Cuidado por onde anda, Simons — Sean retruca.
Eles se encaram novamente, mas a buzina do treinador os faz seguir seus caminhos.
Respiro fundo, questionando o que levou a essa situação, considerando que meses atrás
eles eram tão amigos.
Ouço o som de notificação do meu celular, inclino-me e pego-o novamente, franzindo a
testa ao ler a mensagem de Alana.
PET: KASKASKASKASKASKASKASKASKASKASK
ASKASKASKASKASKASKASKASKASKASKASKAS
KASKASKASKASKASKASKASKASKASKASKASKAS

Perplexo, fico encarando a mensagem, sem compreender por que ela me enviou apenas
isso.
EU: Alana, o que isso significa?

PET: Que não consigo parar de rir! Kaskaskaskaskaskaskaskaskaskas

EU: Rir do quê?

PET: Do seu tombo! Kaskaskaskaskaskaskaskaskaskas. MEU DEUS! Kaskaskaskas

EU: Sério?

PET: Você caiu na frente de todo mundo! Kaskaskaskaskas. Tipo, câmera lenta!
Solto a respiração, ficando envergonhado de novo.
EU: Haha!

PET: Você caiu... droga! Não queria ter visto! Kaskaskaskaskas. Agora não consigo sair do banheiro porque estou rindo
tanto que tenho medo de fazer xixi na roupa.

EU: Caí porque eu quis!

PET: kaskaskaskaskaskaskaskaskaskas

EU: Para com isso!

PET: Não dá!

EU: Isso não é legal!

PET: Suas pernas ficaram para cima... kaskaskas. Estou passando mal!

EU: Como eu te odeio nesse momento.

PET: A cara das pessoas vendo... kaskaskas. Desculpa, Pet, mas não consigo parar de rir!

EU: Tenho um jeito infalível de fazer você parar.

PET: Como?

EU: Colocando minha língua dentro da sua.

Alana não responde imediatamente após minhas palavras, mas vejo que está digitando e
aguardo pela resposta.
PET: Ok... por isso não estava esperando.

EU: Viu? Consegui!

PET: Pelo contrário, agora estou excitada imaginando não só sua língua dentro da minha boca, mas em outras partes.

Congelo ao ler suas palavras, meu sangue correndo gelado.


PET: Vou te dar um aviso, Rhavi, posso?

EU: Pode!

PET: Nunca diga isso a uma garota se de fato não for fazer.

EU: Quem disse que não vou fazer?

Um sorriso serpenteia pelos meus lábios, apreciando essa provocação.


PET: Rhavi... olha...

EU: Vou ficar até mais tarde no treino, porque tenho uma reunião com a Haley, então te espero aqui.

PET: O quê?

EU: Vou te mostrar que não estou brincando.

PET: Vai me beijar?

EU: Você inteira.

Bloqueio o celular e o guardo dentro da bolsa sem esperar pela resposta dela. Solto o ar,
ignorando o alerta e saboreando a sensação do proibido.
Sentado no banco do vestiário, aguardo a chegada de Alana, um tanto ansioso. A reunião
com Haley foi tranquila, cheia de elogios em relação ao meu desempenho e às jogadas
desenhadas. Aproveitei também para mostrar outras jogadas, o que despertou ainda mais
interesse nele.
Respiro fundo, olhando ao redor do lugar vazio, conseguindo ouvir apenas minha
respiração forte e o gotejar dos chuveiros. Deslizo meus olhos para a tela do celular; o relógio
marca 20h e não há nenhuma notificação.
Levanto-me, minhas mãos suando e o coração batendo acelerado. Essa sensação de que
parece ter um monte de formiguinhas dentro da barriga é bastante incômoda ao mesmo tempo
que é... sei lá, não sei explicar, é um misto de ansiedade e nervosismo.
Sabe quando você está prestes a apresentar um trabalho da faculdade, mas está inseguro e
com medo de falar besteira diante de tantos olhos prestando atenção em você? Pois então, a
sensação que estou sentindo agora é basicamente parecida com essa.
Ouço um ranger de porta, logo passos ecoam pelo vestiário e sorrio, reconhecendo o estalar
de língua que Alana sempre faz quando entra em algum lugar vazio. Giro os calcanhares e ando
para o lado contrário.
— Rhavi? — Alana me chama, aproximando-se de onde estou.
Encosto-me no armário, secando as palmas das mãos na calça de moletom e inspiro fundo.
— Ei, Pet? — ela chama de novo. — Você está aqui?
Alana batuca as unhas no armário de metal, fazendo um barulho sutil para indicar que
chegou, caso eu não tenha ouvido.
— Rhavi? Está tomando banho? — indaga, sua voz vacilando. — Alguém?
Fecho os olhos com força, buscando coragem dentro de mim e ignoro minhas
inseguranças. Conto até cinco, giro o corpo, saio do corredor dos armários e vejo Alana parada
diante do banco onde estão minhas coisas, de costas para mim. Enlaço sua cintura, puxando-a
para trás.
Ela solta um grito assustado, se debate e colo suas costas no meu peito, segurando-a firme
e aproximo minha boca do seu ouvido.
— Sou eu! — sussurro.
Alana para de se debater, sinto sua respiração acelerada e a pressiono mais em meu peito.
— Rhavi?
— Você demorou — digo, arrastando-a para a parte mais escura.
— O que está fazendo, Pet? — indaga, batendo em minhas mãos.
Seguro sua cintura e a viro, encostando-a no armário. Com uma sensação quente na
barriga, colo meus lábios nos seus, mergulhando minha língua dentro da sua boca, reivindicando
seu sabor delicioso de café.
Alana retribui o beijo com o mesmo vigor, nossas línguas se encontrando como magia.
Suas mãos sobem por meus braços até chegar em meus cabelos, agarrando-os no instante em que
posiciono minha perna direita entre as suas, impedindo que se mova.
Afasto nossos lábios, dando a ela tempo para respirar.
— Oi! — sussurro um pouco sem fôlego.
Ela me olha nos olhos, sua boca inchada pela intensidade em que a beijei.
— Você me assustou.
Sorrio, meu olhar percorrendo seu corpo coberto pela roupa de cheerleader, que consiste
em um top e saia vermelha com detalhes em branco. Observo-a, meu coração bombeando sangue
com mais força, querendo tirar cada peça que veste.
Meus olhos se encontram com os dela de novo. Engulo em seco.
— Queria testar uma coisa — digo, afundando a mão na sua pele macia e quente. —
Posso?
Alana me olha, vendo um rubor se espalhar em minhas bochechas. Um sorriso brota em
seus lábios e suas mãos escorregam, acariciando meu maxilar.
— Que brilho diferente é esse em seus olhos? — pergunta, alisando meu pescoço.
Umedeço os lábios, meu coração batendo acelerado, e aproximo o rosto do dela, sua
respiração se misturando com a minha.
— Está expressando o que desejo fazer com você — sussurro, beijando-a nos lábios
suavemente. — Posso te mostrar? — Depois mordo seu lábio inferior enquanto sua boca se abre,
recebendo minha língua.
Quanto mais aprofundo o beijo, mais sinto meu corpo vivo. Isso não deveria acontecer
dessa forma intensa com ela. Meu desejo não deveria estar tão palpável, e Alana não deveria
permanecer nos meus pensamentos mais íntimos.
Isso é errado... tão errado quanto prazeroso.
Com a mão esquerda, passo as pontas dos dedos delicadamente pelo seu umbigo, sentindo
o frio do piercing e da sua pele se contrair ao meu toque. Subo pela sua barriga, rastejando os
dedos até seus seios.
Desligo nossas bocas, roçando nossos lábios.
— Sim?
Alana arfa quando contorno seu seio sob o tecido, subindo por sua clavícula,
acompanhando o movimento do seu peito ao respirar mais rápido.
Desço os dedos entre seus seios, circulando o pingente de coração.
— Alana?
— Hum... — balbucia, mantendo os olhos fechados. — Pode... sim... — Ela suspira. —
Mostre-me!
Ela abre os olhos, encontrando com os meus.
— Vou te chupar — digo, descendo a mão e encontrando a borda da sua saia. — Eu posso?
Alana pisca, abrindo a boca, surpresa. Sorrio de lado, brincando com o cós da saia,
querendo subi-la.
— O-o quê?
— Quero te chupar — repito, lutando contra a estranheza de usar essas palavras. — Sentir
seu sabor, Alana.
— Rhavi...
— Você não quer?
Ela me encara por um momento, enquanto meus dedos começam a explorar sua coxa
interna, subindo e subindo. Alana fecha os olhos, engolindo em seco.
— Merda! Sim, quero.
Roço meus lábios nos dela, mordendo-os e lambendo-os devagar, sem pressa. Dúvidas e
receios começam a tomar conta da minha mente.
Não é certo estar sozinho no vestiário com ela, a beijando desse jeito, pensando de forma
depravada como seria minha melhor amiga nua, debaixo de mim, suada e gemendo.
Não, isso não é certo, mas... também não é errado, ou é?
— Rhavi?
— Hum?
— Para de pensar — ela fala, puxando minha cabeça para frente e mergulhando com fúria
sua língua na minha boca. O beijo fica mais quente, rápido e forte, nossa saliva se misturando.
Um gemido sobe pela minha garganta e a agarro pela bunda, sentindo o tecido do seu
uniforme sendo esmagado sob minhas mãos.
Puxo-a para cima, pressionando suas costas contra o armário enquanto Alana envolve suas
pernas ao redor da minha cintura, travando os tornozelos.
Algo dentro de mim parece explodir, não consigo pensar em mais nada além de beijá-la,
experimentá-la e explorar cada parte do seu corpo.
Não estou consciente, não estou raciocinando direito, nem sei distinguir o que é certo ou
errado, pouco me importa, porque no momento só quero minha língua colada na sua boceta.
— Quero conhecer seu sabor — sussurro entre seus lábios.
Desencosto suas costas do armário e a levo para o banco perto de nós. Abaixo, sentando-a
na ponta dele, levando a boca ao seu ouvido.
— Você vai gostar disso.
— Do quê? — pergunta, fincando as unhas na minha nuca quando minhas mãos sobem
pelo seu quadril, erguendo a saia até chegar na sua calcinha.
— Da minha língua te explorando — respondo, fazendo-a descruzar as pernas.
Ergo um pouco a cabeça, observo sua expressão e começo a rolar sua calcinha para baixo,
passando o tecido pelos seus joelhos, depois pelos seus pés, livrando-me sem desprender meus
olhos dos dela.
— Abra as pernas, Alana — peço, dando-lhe um sorriso antes de me ajoelhar diante dela.
— Rhavi... — ela entoa, relutante, mas obedece.
Desço meus olhos, observando-a colocar uma perna de cada lado no banco, se expondo
para mim. Engulo em seco, voltando a fitá-la com a boca cheia de saliva e uma fome me
consome.
— Avise se estiver ruim — peço, subindo minhas mãos pelas suas pernas, e com dois
dedos, esfrego sua boceta levemente.
Alana fecha os olhos, mordendo o lábio inferior conforme a acaricio. Meu olhar retorna
para sua carne quente, admirando sua pele lisa.
— É linda... — minha voz sai trêmula.
— Bom... — ela segura a borda do banco.
Meus dedos continuam acariciando sua boceta. Abro seus lábios externos e introduzo o
dedo indicador dentro dela. Seu calor fervente me recebe, fazendo com que meu pau pulse dentro
das minhas calças.
— Oh... — ela geme.
Retiro o dedo, lentamente, sentindo suas paredes. Acrescento mais um e empurro para
dentro um pouco mais fundo. Alana ofega, jogando a cabeça para trás.
— Está... gostoso? — pergunto, começando a bombear em um ritmo mais constante.
— Mm... sim... — ela remexe seu quadril.
Alana abre os olhos e me encara, prazer irradia em seus poros. Sinto-me queimando,
excitado, então movo a cabeça na direção da sua boceta.
— Oh! — ofega, surpresa.
Ela abre um pouco mais as pernas, inspiro seu cheiro, retiro os dedos de dentro dela e traço
com a língua sua umidade rosada.
— Porra, Rhavi! — Alana grunhe.
Seguro seus quadris, puxando-a para frente e empurro a língua para dentro dela, afastando
seus grandes lábios para circular seu clitóris.
Seu cheiro divino me invade.
Chupo-a com vontade, saboreando-a com luxúria, sem pudor algum. Nunca senti algo tão
delicioso como agora, sua boceta se contraindo contra minha boca é enlouquecedor.
— Porra... Ahhh...
Movo a língua, lambendo a repartição e roçando seu clitóris com os dentes, sentindo-a
estremecer. Não quero parar por nada nesse mundo, é como se eu tivesse acabado de me tornar
um viciado em drogas, cada segundo quero mais dessa sensação.
— Você tem um gosto muito delicioso, Alana — digo, soprando seus lábios, metendo a
língua na sua entrada.
— Ohh, Rhavi! — Ronrona, agarrando meus cabelos. — Merda... isso... ah...
Seus gemidos fazem com que meu pau doa, minhas bolas parecem que vão explodir a
qualquer momento e seu som só intensifica a necessidade de possuí-la por inteira.
Lambo devagar seu ponto inchado, enroscando meu indicador esquerdo na sua entrada e,
devagar, penetro-a outra vez. Alana estremece, acrescento outro dedo, suas costas se curvam no
banco e sua boceta aperta meus dedos.
— Delícia, Alana — murmuro, lambendo seu clitóris.
— Ohhhh! — geme, abrindo mais as pernas e apertando meus cabelos em um comando
silencioso para eu continuar.
Chupo suas dobras, feliz por estar conseguindo lhe proporcionar um prazer que nunca tinha
dado a ninguém, além dos meus sonhos.
Movo os dedos para fora e para dentro, contorcendo-os dentro dela de modo que a faça
gemer mais alto. Fecho os olhos, controlando meus batimentos, o tesão alucinante que irradia das
minhas veias, do meu pau que não para de pulsar, molhado dentro da cueca.
— Alana... goza pra mim... — peço, chupando sua boceta, querendo descobrir esse sabor
único que é só dela.
Movo os dedos com fervor, alternando com a língua, fascinado pelo som da sua voz, pelo
seu corpo sucumbindo ao prazer.
— Isso... mais fundo... — pede, sua voz preenche o vestiário e me arrepia.
Penetro mais fundo, como pediu, e Alana ofega entre gemidos.
— Assim?
— Mm... — Ela arqueia as costas. — Porra...
Alana enterra os dedos nos meus cabelos, perdida no êxtase, e me incentiva a continuar.
— Gostoso... é muito gostoso sugar você — digo, lambendo seus lábios grandes, depois
seu clitóris inchado.
— Ahh... Rhavi!
Ela começa a se contorcer, roço os dentes na sua carne, meus dedos trabalhando dentro
dela com veemência, um vai e vem, extasiante.
— Quero experimentar seu gozo, Alana — digo. — Deve ser delicioso.
Retiro os dedos de dentro dela, sugando-a, e os penetro outra vez, pegando-a de surpresa.
— Ah, céus! — Ela chia, seu corpo estremecendo com violência e um suspiro alto entoa.
— Isso, amor... — balbucio, feliz por tê-la feito se libertar.
Alana encharca meus dedos com seu gozo. Sinto os músculos da sua coxa estremecerem,
retiro os dedos e lambo toda a sua buceta, fascinado com o sabor doce que escorre dela.
— Céus... — murmura.
Sorrio contra sua pele, acariciando-a com a língua, sem conseguir me afastar. Corro as
mãos pelas suas coxas, movendo meu corpo sobre o dela.
— Foi a melhor coisa que fiz em toda minha vida — conto, olhando em seus olhos, que se
abrem preguiçosamente até se fixarem nos meus.
Inclino e colo minha boca na sua, beijando-a com ardor, pressionando meu quadril contra o
dela, meu pau quase rasgando o tecido da minha calça. Aperto sua coxa, afundando as pontas dos
dedos em sua pele, minha respiração ficando mais ofegante.
Desfaço o beijo, encosto a testa suada na sua e permaneço parado, acalmando meus
sentidos.
— Gostou? — pergunto, roçando meus lábios nos seus.
Suas mãos enlaçam meu pescoço.
— Puta merda, Rhavi!
— O quê? — indago, rindo.
— Onde aprendeu a fazer isso?
Espero um pouco antes de responder.
— Nos livros e nos hentais, Alana.
— Uau! — Ela ri. — Tenho que agradecer a cada autora por ter te ensinado direitinho.
— Mandei bem?
— Nossa... — Ela beija meus lábios levemente. — Fui ao céu e ainda estou lá.
Mordo seu lábio inferior, pressionando meu pau contra sua boceta encharcada. Suas pernas
prendem ao redor da minha cintura e a beijo molhado.
— Agradeça as laranjas também — falo, entre o beijo.
— Oi?
— Elas me ensinaram a chupar gostoso uma boceta.
Alana começa a rir. Abaixo a cabeça, depositando selinhos em seu pescoço, sentindo seu
corpo se mover por causa das suas risadas.
— Obrigada, laranjas, pelo belo trabalho.
— Elas mandaram dizer por nada.
— Meu Deus, Rhavi!
Ela ri um pouco mais. Ergo a cabeça e encaro seus olhos, tirando os cabelos da sua testa.
— Foi lindo te ver gozar, sabia?
Alana sorri, acariciando minha testa, contornando as pontas dos dedos pelos meus traços.
— Você arrasou, cara!
— Eu sei.
— Sua língua... — ela suspira, fechando os olhos por alguns segundos. — Que língua...
— Posso de novo?
— O quê?
— Quero te chupar de novo — falo, abrindo um sorriso safado.
Alana ergue as sobrancelhas sem dizer nada.
— Rhavi... — Ela solta uma risada. — Puta merda, calma aí! — Suas mãos espalmam em
meu peito, me empurrando para cima.
— Quero mais.
— Não! — Ela se senta. — Não me recuperei ainda, mal sinto minhas pernas.
Inclino, roçando os lábios em seu pescoço e sussurro em seu ouvido com a voz rouca.
— Quem falou que eu quero que se recupere? — volto a fitar seus olhos.
Alana fica congelada, me encarando, um turbilhão de sentimentos passa pelos seus olhos,
dos quais não sei identificar.
— Meu Deus!
Sorrio e com a mão, inclino seu queixo para cima para olhá-la nos olhos por vários
segundos antes de beijar sua boca mais uma vez.
— Pizza? — sussurro, mordendo seu lábio inferior.
— Mm... sim... pizza seria bom — fala, inebriada enquanto minha língua brinca com a sua.
Meu pau vibra, querendo de repente, sentir sua boca nele, mas afasto essa ideia e desfaço o
beijo.
— Vamos para casa — digo, saindo de perto dela e pegando sua calcinha. — Da próxima
vez que eu te chamar para me ver no vestiário, venha... sem ela.
Estendo o tecido na ponta do meu dedo, meus olhos percorrendo seu corpo e fixando em
sua boceta.
— Tem certeza de que não quer ser chupada de novo, Alana?
Ela solta uma risada, arrancando a calcinha da minha mão.
— Quem é você e o que fez com o meu Rhavi? — indaga, vestindo o tecido e descendo a
saia.
Coço a cabeça, virando de costas e ajeitando meu pau.
— Não faço ideia de quem é ele.
— Traga-o de volta.
Olho para trás, encontrando com seu olhar enquanto pego minhas coisas.
— Essa minha versão é melhor, confessa.
Ela desce os olhos e fixa o olhar na protuberância no meio das minhas pernas. Alana
arqueia uma sobrancelha.
— Estou duro, okay?
— Okay...
— Não vou esquecer da sua boceta linda tão cedo — resmungo, colocando a alça da bolsa
no meu ombro e pegando meu celular, vendo uma ligação perdida do meu pai, seguida de
mensagem.
— Rhavi?
— Sim? — Olho para ela.
— Para de ficar dizendo isso, ou senão vou ficar excitada de novo — avisa, percorrendo a
língua pelos seus lábios.
— É isso o que eu quero! — Avanço em sua direção, ela sai correndo, mas não é tão
rápida.
Agarro seu braço, puxo-a para mim e capturo sua boca, enfiando a língua dentro dela em
um beijo desesperado, cheio de desejo e tesão. Ela retribui na mesma proporção, desvencilhando
segundos depois com os lábios inchados.
— Não te conheço — diz, abraçando minha cintura.
— Conhece sim. — Passo meu braço pelos seus ombros. — Sou seu Pet. — Beijo o topo
da sua cabeça.
— Conchinha?
— De jeito nenhum — recuso, andando na direção da saída com ela.
— Recusando dormir comigo, Rhavi?
— Pelo menos nas próximas duas semanas. — Abaixo meu olhar, encontrando com os
seus. — Estou de pau duro, preciso resolver isso no banho.
Ela gargalha.
— Certo, sem conchinha pelas próximas duas semanas.
— Exato.
— Eu te amo, Pet! — diz, me abraçando forte.
Trago-a para mais perto, seu calor me envolvendo.
— Eu também te amo mais que tudo nessa vida, Pet.
Alana me encara, seus olhos cintilando emoção dentro deles.
— De novo? — pergunto.
— Puta merda, Rhavi! — Ela bate em meu peito, saindo do meu braço e caminhando na
frente.
Solto uma risada, vendo-a fugir de mim, feliz porque eu sei que da minha vida, Alana
Moore nunca vai sair.
A brisa toca gentilmente meu rosto, trazendo calmaria. O vento balança as folhas das
árvores, produzindo um som de quietude e paz. Suspiro, ajeitando minha cabeça em seu colo, seu
perfume sendo espalhado pelo vento e seus dedos começam a mexer em meus cabelos, um
cafuné que me faz querer ficar aqui pelo resto da vida.
Abro os olhos, encontrando com os seus castanhos que brilham como o sol iluminando a
escuridão. Alana desce o dedo, traçando meu nariz, sobrancelhas e testa, voltando para os meus
cabelos. Ela sorri, um sorriso lindo que me encanta, e eu retribuo.
A imagem de ontem no vestiário me vem à mente, do seu sabor, do som dos seus gemidos.
Alana estreita os olhos, parecendo estar na mesma linha de raciocínio. Ela solta uma risada sem
graça, vira o rosto e cobre meus olhos com a mão.
— Gostaria de entender a conversa silenciosa de vocês — Liza resmunga, me puxando
para a realidade. — Como conseguem?
— O quê? — Alana pergunta.
— Conversar sem dizer nada.
Afasto a mão da Alana dos meus olhos e viro para ela, sentada com as pernas cruzadas
enquanto tira o violão de dentro do hard bag[2].
— Ah... é que...
— As almas desses dois estão conectadas, Liza, por isso. — Aidan diz, aparecendo de
repente. — Cheguei!
Ele dá um beijo no topo da cabeça de Liza, depois na bochecha da Alana e me olha por trás
dos óculos redondos.
— Você não. — Fala, fazendo uma careta.
— Qual é? — resmungo. — Tem que me cumprimentar também.
— Sai fora! — Aidan ri, se sentando sobre o gramado ao lado de Liza. — Queria ter
trazido a guitarra, mas não consegui.
Observo-o colocar a mochila no chão junto com o hard bag do violão.
— Vamos ter um show ao vivo dos dois de novo, hein? — pergunto, atraindo os olhos
azuis de Aidan.
— Particular ainda — diz, jogando uma piscadela. — Um privilégio único. — Ele percorre
a mão pelos seus cabelos lisos.
Percebo olheiras abaixo dos seus olhos e um semblante de cansado, quase à beira da
exaustão. Aidan aperta os lábios, percorre a mão pela calça branca e solta um suspiro. Aposto
que veio direto de alguma aula.
— Preciso de música para aliviar minha mente.
— Qual foi a última vez que dormiu direito, cara? — Alana indaga.
Seguro sua mão quando a pousa em meu peito, a outra se mantém em meus cabelos.
— Acho que... — Aidan retira o violão vermelho do hard bag, ajeita-o em sua perna e
pensa. — Para ser bem sincero, não faço ideia. — Ele faz uma careta, nos olhando.
— Você não vai se formar caso adoeça — Liza o repreende. — Tem que descansar. Por
Deus!
— Está parecendo um zumbi — reforço.
— Acho que seu cérebro vai explodir um dia. — Alana ergue as mãos e simula uma
explosão. — BUUM! Adeus Aidan!
Levo o punho na direção da minha boca e simulo um microfone.
— Aidan Lockwood faleceu nessa sexta-feira, devido a uma explosão do seu próprio
cérebro — narro, com a voz dramática. — Por causa do excesso de estudos e de informações, seu
cérebro não foi capaz de suportar a pressão. — Solto um suspiro teatral. — Rhavi Clark deixa
aqui suas condolências aos seus familiares e amigos — finalizo, virando o rosto em sua direção.
Aidan revira os olhos e caímos na gargalhada.
— É sério, cara! — Alana faz um bico. — Como será nossa vida sem nosso Aidan?
— Vocês são tão dramáticos. — Ele estala a língua, nos encarando com descrença
simulada.
Liza funga, chamando nossa atenção e finge estar chorando.
— E Liza nunca superou a perda do seu amigo. — Ela limpa as lágrimas de mentira. —
Mas depois de dois dias, ela já estava supeeeeer de boa.
— Sério? — Aidan ajeita seus óculos, a encarando. — Acho que está tendo uma
contradição na sua fala.
Rimos do seu jeito brincalhão.
— Tenho que superar você um dia.
— Do nunca foi para dois dias?
— Bem... — ela lança um olhar inocente na sua direção. — Acho que o amor não era tão
grande assim.
Aidan faz um “o” com a boca, nos encarando com incredulidade.
— É cara... a gente supera muito rápido — falo, rindo.
— Obrigada por me amarem — resmunga.
— Por nada, lindo! — Liza diz, jogando um beijo em sua direção, mas ele abana a mão,
arremessando o beijo para longe e rindo da expressão magoada da Liza.
— Fiquem tranquilos, estou de boa — Aidan assegura, dedilhando as cordas do violão. —
Vou pegar dois dias livres, poderei descansar.
— Quando é que você descansa mesmo? — pergunto. — Aposto cem dólares que vou te
encontrar trancafiado dentro daquela biblioteca.
Aidan contorce os lábios, dando um longo suspiro.
— Por isso que eu não escolhi medicina — Liza confessa, dando uma batidinha no violão.
— Estudante de medicina não tem vida.
— Nem saúde, né? — completo.
— Mas uma coisa ele tem tempo de sobra, não é, gatão? — Alana indaga, olhando para ele
de um jeito malicioso.
Encaro Aidan, vendo-o dar um sorrisinho.
— Ah... onde foi dessa vez? — pergunto, curioso.
— Na biblioteca, Rhavi, acredita? — Liza responde, rindo.
— Ah! Por isso que você não sai de lá... — Falo, descobrindo um dos seus segredos. —
Explicado.
— Ele não perde tempo — Alana fala, fazendo-o rir.
— A agenda dele sempre tem essa hora livre — digo, estalando a língua. — Entendam, é
tudo agendado.
— Cala boca! — ele branda.
— Batizou o hospital da universidade inteiro, agora a biblioteca — Alana rebate, estalando
a língua. — Onde mais, Aidan?
— Por que você quer saber, Alana? — indago, olhando-a com olhos estreitos.
— Para passarmos longe, Rhavi — Liza responde por ela.
Ambas riem.
— Está rolando fofoca? — Aidan pergunta, nos encarando com um brilho de preocupação.
— Temos uma boa informante. — Alana troca um olhar com a Liza. — Fica tranquilo, não
é nada de tão comprometedor.
— Hum... — Aidan as encara, desconfiado. — Em todo caso, fiquem quietinhas.
Solto uma risada, vendo-as fazerem uma careta.
— Não contem dos esquemas dele, garotas.
— Um esquema muito bem traçado, né? — Liza murmura.
— Rhavi está certo — Aidan fala. — Nosso segredo.
Ele joga uma piscadela para elas. Alana finge ter sido acertada no coração, nos fazendo
gargalhar.
— Hey, quando é que estará livre para sairmos como nos velhos tempos? — pergunto,
mudando de assunto.
— Tenho que ver na agenda — diz, rindo.
Reviro os olhos.
— Tem o festival, podíamos ir — Liza propõe. — Ano passado foi muito legal, até hoje rio
do Rhavi vomitando depois da montanha-russa.
— Haha! — Enrugo o nariz.
— O que acha, Aidan? — Liza repete a pergunta.
Ele faz uma cara decepcionada, depois olha para ela, balançando a cabeça de um lado para
outro.
— Desculpa, gatinha, mas minha aula prática caiu no dia.
— Ah.... mas que... — Ela suspira, derrotada. — Eu odeio seu curso, ele roubou nosso
amigo... porra!
— Nós vamos, Liza! — Relembro-a.
Ela me olha, depois para Alana, em seguida solta um suspiro.
— Você vai com Leanne e Alana com suas amigas... — Suspira de novo, contorcendo os
lábios. — Acho que vou ficar em casa.
— Não vai mesmo — Alana fala. — Vai comigo, lindinha.
— Não me leve a mal, Alana, mas... não gosto das meninas que você anda — conta,
fazendo um bico.
Balanço a cabeça concordando com Liza.
— Sério, Liza? — Alana adquire uma expressão chateada.
— Vou ficar com meus personagens.
— Ou seria... Connor? — Alana provoca.
As bochechas de Liza coram, nós rimos e Aidan a puxa para seu peito.
— Vou tentar tirar algumas horinhas e a gente vai, pode ser? — Ele olha para seus olhos.
— Não vou criar expectativas — diz, voltando para sua posição. — Porque se eu criar, vou
me decepcionar.
— Só que esqueceu de um detalhe.
— Qual? — Ela olha para ele.
— Não mudo a palavra — fala, firme. — Então vou fazer o possível para tirar um tempo
para ir com você, não vai ser muito, mas vai dar para pelo menos, comermos algodão-doce.
Liza fica olhando para ele, depois nos encara com um brilho de vitória no rosto moreno.
— Viu? — ela aponta para Aidan. — Sempre consigo o que quero.
— Ah, estava jogando comigo? — Ele a afasta, estalando a língua. — Coitado de quem
cair nessas suas garrinhas.
— O mundo é daqueles que lutam para conquistá-lo — fala, batucando nas cordas do
violão. — E dos espertos também.
— Agora não posso nem mudar minha palavra.
— Não sei como você ainda cai no drama dessas duas — repreendo-o.
— Olha só... — Aidan franze a testa. — Quem é a cadelinha da Alana?
— Rhavi Clark! — respondo, orgulhoso.
Todos riem e eu apenas dou de ombros, porque é a verdade.
— Eu o adestrei bem, não foi? — Alana pergunta, acariciando meu rosto. — Meu
Rhavizinho! — diz, com voz mansa e faço um bico.
— Sou todo seu!
— Que merda isso! — Aidan ri.
— Uma bosta! — Liza fala, gargalhando.
— Vamos, quero música por favor — peço, pigarreando.
— Qual vocês querem? — Liza pergunta.
Alana encosta a cabeça no tronco da árvore, pensando.
— "I Am the Moon" do The White Buffalo — responde.
— Boa! — Liza sorri.
Eles se olham, Aidan dá um aceno de cabeça e Liza começa a dedilhar as notas da música
no violão, logo ele a acompanha.
A voz de Aidan entoa baixa e rouca, seus dedos se movendo nas cordas, nos envolvendo
com a música de um poeta que conta uma história de amor de duas pessoas que se olham, mas a
distância os impede de estarem juntos.
Lua e Sol, enquanto um ilumina a terra, o outro brilha no céu noturno, uma perseguição
que os fazem se desejarem, mas por um momento, se tornam entrelaçados antes de darem um
adeus.
Quando a voz de Liza aparece, um arrepio percorre meus braços. Doce, delicada e forte,
cheia de paixão e quando chega no refrão, Aidan se junta a ela. Uma dupla que se entregam à
arte e ao romance das palavras rimadas.
Deslizo meu olhar para cima, vendo Alana com atenção focada nos dois, o vento soprando
em seus cabelos, sua mente inerte na história, na canção entoada por duas vozes com vidas
diferentes.
Ela abaixa seu olhar, encontrando com o meu e assim permanece. Um sorriso brota em seu
rosto ao acariciar meu maxilar, seu toque me leva para a primeira vez em que nos falamos. Alana
entrou de repente em minha vida, de uma hora para outra, já não estava mais sozinho.
— "You are the sun, I am the moon..." — canto, movendo apenas os lábios, porque assim
como essa música, ela é meu sol enquanto me sinto a lua, perseguindo-a e quando fiquei no
escuro, bloqueado pelo mundo, Alana me iluminou.
Meu coração vibra, pigarreio e desvio meu olhar quando sinto algo estranho percorrer meu
corpo. Aidan e Liza finalizam, sorrindo.
Bato palmas, elogiando os dois.
— Estão querendo seguir a profissão errada — constato, virando de lado.
Liza contorce os lábios, ponderando a ideia. Um sorriso brota em seus lábios, as covinhas
aparecendo.
— Somos demais juntos, Aidan, talvez tenhamos um futuro no mundo da música.
— Posso ser a empresária — Alana diz, animada. — É sério, imagina vocês superfamosos,
fazendo turnê pelo mundo inteiro.
— O que seus pais diriam, Aidan? — pergunto a ele, que balança para frente e para trás.
— "Filho meu cantor?" — ele responde, erguendo as mãos como se estivesse segurando
uma plaquinha. — "Aidan Lockwood é nosso filho!"
— Sério? — Liza pergunta.
— Claro, minha mãe é fanática pelos BTS — Aidan revira os olhos. — Imagina tendo um
filho astro do country, rock... sei lá mais o quê!
— E seu pai? — Alana pergunta.
— Teria que trabalhar ao lado dele — fala, rindo.
— Céus, como amo seus pais — digo, lembrando da vez em que fizemos uma festa
particular na casa deles, pareciam mais jovens que nós naquela noite.
— Então, podemos pensar nessa opção — Aidan confirma para Liza.
— Minha avó seria a baterista — Liza acrescenta.
— Ela toca? — indago, surpreso.
— Não, mas é ótima em bater panelas na cabeça da gente.
Gargalhamos, relembrando daquele dia.
— Lembro até hoje do galo que ficou na minha cabeça — Aidan resmunga, esfregando o
local.
— Por que ela te bateu com a frigideira? — Alana pergunta.
— Estava vendo o TikTok, apareceu uma modelo de biquíni, ela achou que estava
assistindo pornô e me bateu, do nada.
Gargalho, visualizando a cena dele correndo da velhinha com uma frigideira na mão.
— Eu vi tudo — digo. — Ela ainda veio atrás de mim.
— Viu só! — Alana adverte. — Ficam vendo mulheres peladas, isso que dá.
Rimos por alguns minutos.
— Minha avó é louca, mas bastante lúcida.
— É... sabemos bem — murmuro.
— Amo ela, cara! — Alana diz, rindo.
De repente, nossos celulares começam a apitar freneticamente com a chegada de
notificações.
— O que é isso? — Liza pergunta, pegando o seu dentro da bolsa.
Todos nós fazemos o mesmo. O Twitter e o grupo do time estão fervilhando. Fico sem
entender, mas quando abro as mensagens, um link é jogado e ao clicar, levanto-me, chocado.
— Puta merda! — xingo, assistindo ao vídeo.
— Fodeu! — Aidan exclama, pasmo.
Arregalo os olhos, assistindo a um vídeo de Connor nu em cima de uma mesa segurando
uma garrafa de tequila, e ao redor, alguns caras tentando tirá-lo de lá.
Outro vídeo é jogado, as hashtags explodem, ganhando posição, fotos e mais fotos
estouram, obtendo uma proporção desenfreada dele nu e bêbado.
— Olha só! — Ergo os olhos, observando Liza balançar a cabeça de um lado para o outro.
— Esse é o Connor?
— Ele mesmo como veio ao mundo — Alana responde.
— Hum... — Liza ergue as sobrancelhas e vira a tela do celular em nossa direção.
— Céus! — Alana gargalha.
Estreito os olhos e ao perceber que é um close no pênis de Connor, engasgo e desvio o
olhar.
— Argh! — resmungo. — Não quero ver isso não!
— Puta merda, nem eu! — Aidan afasta o celular dos seus olhos.
— Sabe... — Liza volta a analisar a foto. — É do jeitinho que imaginei... as ruguinhas...
Ah, uma pinta aqui nas suas bolas...
— Jesus, tira esse telefone das mãos dela! — grito, inclinando para frente e tentando tirá-
lo.
— Eu pego! — Aidan tenta, mas Liza se levanta.
— Deixa eu ver isso aqui — Alana fala, mas antes que ela tente dar zoom, arranco seu
celular da sua mão. — Hey!
— Não, senhora!
— Espera! — Liza grita.
— O quê? — Aidan indaga.
Liza solta uma risadinha, ergue o olhar e nos encara.
— É grande!
Levanto ao mesmo tempo que Aidan e corremos atrás dela. Liza grita quando enlaço sua
cintura e ele consegue tirar o celular das mãos dela.
— Porra, mas vocês dois, hein! — resmunga quando a coloco no chão.
— Sem detalhes... por Deus, isso é demais! — Aidan fala, colocando as mãos na cintura.
— Pelo menos vai pegar a fama de bem-dotado — Alana comenta, dando de ombros e
abaixando a cabeça. — Deixa eu ver direito isso aí! — Ela estende a mão.
— Não! — Coloco seu celular no meu bolso e inspiro fundo, olhando ao redor do campo,
vendo a repercussão nos rostos das pessoas que estão ao redor.
— Cara, ele está ferrado! — Alana fala, estalando a língua.
— É... — Liza balança as mãos ao lado do corpo.
Rio dela, parece que está nas nuvens por causa disso, mas depois suspira, nos olhando.
— Isso vai sujar sua imagem, não vai? — pergunta, olhando especificamente para mim.
— Sim.
— Bom, agora não parece ser engraçado.
— Pois é...
Percorro as mãos pelos meus cabelos, já prevendo o inferno que será o treino de hoje. Será
que era esse o vídeo ao qual Connor estava se referindo?
Se for, a sua imagem acaba de ser manchada e o erro é todo dele.
Ajeito a alça da mala sobre o ombro direito assim que desço da caminhonete, e observo o
sol encoberto por uma nuvem escura e pesada, sugerindo que pode chover nos próximos dias.
Guardo a chave do carro no bolso externo e pego o celular quando começa a tocar, atendendo a
ligação.
— Oi, pai.
— Oi, filhote — sua voz soa diferente. — Como você está?
— Estou bem! — Franzo a testa, diminuindo o passo. — E você?
Ele faz uma pausa breve.
— Fomos ao obstetra hoje.
— Como foi? — pergunto, animado, parando no corredor que leva ao vestiário. —
Conseguiram?
Encosto na parede, minha animação desaparecendo conforme o silêncio do meu pai se
prolonga.
— Não?
— Não dessa vez, filhote — ele diz com a voz trêmula. — Fico... destroçado vendo o
sofrimento dela, o quanto ela deseja ter um bebê e eu não posso fazer nada.
Abaixo a cabeça, compartilhando um pouco de sua dor.
— Como ela está?
— Está dormindo agora, mas... — papai suspira. — Optei pela adoção, mas ela quer
tentar mais uma vez, desde que o médico nos deu esperança, porém...
— O senhor teme mais sofrimento — completo.
— Não quero vê-la se despedaçar — ele diz, pigarreando. — Mas ainda há chances.
— Vai dar tudo certo, pai.
Ele faz uma pausa, ouço um tilintar de copos.
— Como está aquela pimentinha? — pergunta, referindo-se a Alana. — Ela me ligou
ontem, toda frenética, falando sobre coisas aleatórias. — Ele ri, estalando a língua. — Sério,
amo aquela garota!
Eu sorrio ao imaginar ela trocando risadas tolas com ele, discutindo assuntos ainda mais
triviais.
— Alana é a Alana, pai.
— Ansioso para o próximo jogo?
— Um pouco — falo, mudando o peso da perna.
— E como vai com aquela garota com quem está saindo... — ele faz uma pausa. —
Leanne?
Aperto os lábios, confirmando com um aceno de cabeça, mesmo que ele não possa ver.
— Sim, Leanne. — Solto um suspiro longo. — Estamos nos conhecendo, indo devagar.
— É isso aí, filhote, se essa garota vale a pena, tem que conquistá-la todos os dias.
— O senhor vai gostar dela.
— É bonita?
— Muito...
Sorrio, lembrando do brilho de seus olhos castanhos, do calor de seu corpo, do som de sua
risada. Ela não é apenas bonita, é linda até quando está brava.
Seu cheiro doce, com sabor de café gelado, não sai da minha cabeça; está gravado como
uma tatuagem na pele. Alana é louca por café gelado, preferencialmente com caramelo, e se não
o toma nas primeiras horas do dia, fica irritada o tempo todo. Por isso, certifico-me de que isso
nunca aconteça.
É... sorrio um pouco mais. Ela é linda em todas as proporções.
— Rhavi? — Meu pai me puxa do devaneio.
Pisco, atordoado, com o coração batendo forte no peito.
Calma aí!
Espera.
Ele estava falando de Leanne, não de Alana?
Então por que... Porcaria!
Pigarreio, aturdido.
— Hum... é... Ela é sua fã, pai — digo, recuperando a consciência.
Sinto como se minha alma estivesse saindo do meu corpo e voltando em questão de
segundos, enquanto um calafrio percorre minhas veias.
— Uma que gosta de futebol? — Ele estala a língua. — Bela escolha, hum?
— Pois é — murmuro, ainda espantado.
— Vamos marcar um jantar? — propõe. — Será um prazer conhecer a garota que roubou
o coração do meu filhote.
— Você está ciente de que não sou mais um filhote, né? — indago, esfregando o pé no
chão. — Tenho 22 anos.
— Continua sendo um — rebate, sem margem para discussão. — Rhavi?
Aperto os lábios com a mudança no tom de sua voz, e com meu coração ainda batendo
acelerado, respondo.
— Sim?
— Fiquei sabendo das notícias sobre o Connor, até assisti ao vídeo, as fotos não param de
ser compartilhadas, não sei se isso é bom para a imagem do garoto diante tantos olhos nessas
regionais.
Inspiro, concordando com meu pai, porque para ter chegado até ele, deve estar ganhando
uma proporção absurda.
— Uma situação chata que ele se colocou.
— Connor é seu amigo? — pergunta, hesitante.
— Bem... não sei...
Papai estala a língua.
— Sei que estão na faculdade, querem festejar, pegar garotas e... fazer coisas que todo
jovem faz. Já fiz muitas coisas... digamos... erradas, cometi muitos erros ao longo da minha
juventude, mas se ele quer ser um jogador renomado, sua imagem deve ser zelada.
— É, eu sei.
— Coloque juízo na cabeça desse garoto, dê um puxão de orelha se for preciso, mas não o
deixe se perder nas coisas erradas tendo um futuro brilhante pela frente.
Ergo as sobrancelhas, balançando a cabeça e concordando com ele.
— Vou tentar, pai! — falo. — É que não somos próximos.
— Ah! — Papai estala a língua. — Enfim, não precisa ser amigo para dar conselhos,
apenas o ajude.
— Pode deixar.
— Ele vai estar na merda... — papai fala, dando uma risada. — Desculpa, mas aquela
porra de vídeo me fez rir.
— Não deveria estar rindo depois de ter me dado um sermão, senhor Sullivan! —
repreendo-o.
— “O quarterback mais bem-dotado da temporada! É isso, sem sexo!” — Papai solta uma
gargalhada, repetindo uma das falas de Connor. — Merda, não deveria estar fazendo isso.
— Não mesmo — concordo, segurando minha própria risada.
— Os meus jogadores estão usando-o como meme, está demais — fala, pigarreando. —
Não sei nem o que fazer.
Rio, maneando a cabeça.
— Ele está ferrado.
— Não é bonito, mas é engraçado. — Papai tosse, para disfarçar a risada. — Preciso ir,
filhote, tenho reunião com meus garotos.
— Tudo bem, pai.
— Te amo.
— Eu também, tchau! — finalizo a ligação com um suspiro.
Guardo o celular no bolso da calça, ergo a cabeça e vejo Connor se aproximar. Ele me
olha, balança a cabeça de um lado para o outro e suspira.
— Cara, estou com vergonha — confessa, ao se aproximar.
— Do seu nude exposto para o mundo inteiro ver?
— Não pelo nude, mas pela situação.
— É... estava bem encolhido — brinco.
Connor me encara, sério. Ergo as mãos, pedindo calma.
— Foi mal.
— Você não, Clark! — resmunga. — Meu orgulho está no ralo, nem sei o que fazer.
— Se acalma, uma hora vão esquecer disso.
Connor me fita com esperança.
— Sério?
— Não! — digo, sendo sincero. — Para falar a verdade, você se tornou figurinha e meme,
então sempre vão lembrar de você.
— Porra!
Ele fica calado por alguns segundos.
— Meu pai mandou um sermão para você, quer ouvir o que ele disse?
— Sullivan Clark? — ele ergue as sobrancelhas. — Merda! Esqueço que você é filho
dele... porra! Porra! Porra! Ele viu? — Assinto. — Merda, quais as minhas chances de entrar no
time dele depois dessa merda?
Dou de ombros, sem realmente saber.
— Tem um ano até as inscrições para o Draft — digo, tranquilizando-o. — Vai conseguir
limpar sua imagem.
Connor fica calado, olhando para baixo, depois para trás, gira os calcanhares e começa a
andar em direção ao estacionamento.
— Para onde está indo? — pergunto, fazendo-o parar e me encarar.
— Estou indo para casa, me trancar no quarto, fingir que desapareci e me entupir de doces
— conta, deixando os braços caírem ao lado do corpo.
Sustento seu olhar.
— Você não pode. — Ben aparece, colocando o braço nos ombros de Connor. — Vai ter
que aguentar as risadinhas.
— Merda! — Connor fecha os olhos com força.
— Falei para você não beber, idiota. — Tayler aparece no corredor.
Ele tira os óculos escuros e estala a língua, negativamente.
— Por que bebeu daquele jeito? — pergunto, andando na direção do vestiário junto com os
caras.
— Coração partido, Clark!
— Irresponsabilidade também — Tayler completa.
— Meu pai... — Connor joga a cabeça para trás. — Porra! Se amanhã eu aparecer, é
porque não fui morto por ele, okay?
Os caras riem, apenas concordo com a cabeça quando me olha.
— Prometo fazer um belo velório em homenagem ao melhor quarterback de Houston.
Connor sorri, agradecido.
— Obrigado, Clark.
— Por nada!
Ao entrarmos no vestiário, os caras do time o recebem entre assobios e piadinhas, mesmo
que alguns tenham visto pessoalmente, não perdem a chance de zoar com o capitão.
Connor ignora, mantendo-se calado.
— Não é todos os dias que vemos nudes do capitão, certo? — Tanner provoca, instigando
os caras.
— Estava com frio, Connor? — Reymond indaga, levando o pessoal à risada.
— Bundinha torneada... hum... agora entendemos... — Tanner fala.
Connor abre seu armário e olha para ele.
— Entende o quê?
— Porque está solteiro até hoje — Tanner ri.
O capitão apenas meneia a cabeça, voltando ao que estava fazendo.
— Tanner? — Ben o chama. — Alguém já te falou o quanto suas piadas são uma bosta?
Ele se senta, encarando Tanner sem diversão no olhar.
— Vai tomar as dores do capitão? — Tanner pergunta.
Ben se inclina para frente, pousando os braços nos joelhos.
— Se for para quebrar seus dentes... talvez...
— Okay, seus cuzões! — Tayler se intromete. — Vamos nos trocar que temos treino, e
Tanner? — Ele o encara. — Quero ver se está corajoso no campo.
— Jogamos do mesmo lado — Tanner ri, relembrando-o porque na sua visão não poderá
fazer nada.
Tayler concorda com um aceno e lança um olhar para Britt, jogador da defesa, que retribui
com um aceno. Ele sim, pode dar um jeito em Tanner no campo.
— Pensei que fosse mais dotado, Connor — Jerry comenta. Tanner ri. — É só ilusão!
— Cala boca, porra! — Connor rosna.
— Hastins! — Haley grita, nos assustando.
Connor fecha os olhos, trinca os dentes e vira para o treinador.
— Sim, treinador.
— Para a minha sala agora! — ordena, tão sério que cessa toda a diversão no vestiário. —
Seu pai está na linha.
— Meu pai?
— Não, Hastins, meu pai! — Haley responde, virando de costas e saindo.
Connor xinga baixinho, seguindo o treinador, recebendo palavras de apoio regadas de
piadas. Ben e Tayler estalam a língua, indicando pelo gesto que o capitão está ainda mais
enrolado nessa merda.
— Ele vai querer esquartejar o Connor — Tayler sussurra para Ben.
— O pior não é o nude vazado, mas o velho.
Olho na direção para onde foram, lembrando que seu pai é um magnata, dono de uma das
maiores empresas de engenharia e arquitetura do Texas, que está expandindo para outros estados,
e é um dos patrocinadores do time.
— Quais as chances de o Connor sair dessa ileso? — pergunto, me referindo à reunião com
o pai.
Ben e Tayler se entreolham, depois me encaram.
— Nenhuma — ambos respondem.
Sento-me no banco e começo a me preparar. Assim que ficamos prontos, o coordenador de
ataque nos manda para o campo.
No instante em que meus pés tocam o gramado, algo me puxa para o outro lado, meu
coração salta quando avisto as cheerleaders se alongando para o ensaio.
Meus olhos param em Alana, sentada ao lado de uma garota negra com as pontas do cabelo
cor-de-rosa bem florescente. Ela ri de algo que Alana fala. Diminuo os passos, meu foco
exclusivamente nela, que se levanta, estica as costas e pega os pompons vermelhos com branco,
sacudindo no rosto da garota.
Por que ela fica colocando aquela coisa na cara das pessoas?
Alana ri, dando saltinhos com o tênis branco, a saia ondulando seus quadris, me
carregando para o dia em que a subi até sua cintura.
Porra, por que ela não sai da minha cabeça?
Tudo bem, ela sempre esteve dentro dela, porém, agora, as imagens só são de mim a
chupando, do gosto dos seus beijos e... são só putaria que domina minha mente quando se trata
de Alana.
Estou me sentindo um pervertido!
De repente, Leanne aparece no meu campo de visão, vestindo a mesma roupa, seus cabelos
presos, expondo mais o seu rosto delicado. Ela se aproxima da Alana, rindo de algum assunto
que não faço ideia. Leanne assente e se afasta, indo para o grupo de quatro garotas ao redor da
treinadora.
Volto minha atenção para Alana, que desfaz o sorriso que estava do rosto, encarando
fixamente as costas de Leanne, com uma expressão ilegível.
Paro de uma vez, franzindo a testa com uma sensação estranha me acometendo. A garota
ao seu lado a cutuca e Alana volta a sorrir, como se nada tivesse acontecido.
— Porra, o que foi aquilo? — pergunto, atordoado.
— O quê? — Ben indaga.
Olho para ele, percebendo que falei em voz alta. O jogador me encara, esperando minha
resposta, e mesmo que eu cogitasse contar, seria uma longa história, talvez nem entenderia.
— Nada — respondo, sério.
— Tem certeza? — Seus olhos vão em direção às meninas, depois retornam para mim. —
Aconteceu alguma coisa?
— Hum... — Coço a cabeça. — Vamos treinar.
Ele maneia a cabeça, me analisando mais um pouco antes de se juntar aos jogadores ao
redor do coordenador.
— Rapazes do ataque — John nos encara com seus olhos escuros —, nosso próximo
adversário tem uma defesa quase impenetrável, ou seja, jogadas terrestres podem ser um pouco
mais complicadas e a marcação em cima do running back e full back são sempre sucedidas. —
Ele olha para Sean, que se mantém calado desde que chegou. — Running, dessa vez você terá
que fazer uma ótima leitura no campo, precisará descobrir as fraquezas da defesa, rapidez pode
ser um ponto forte, mas aqui, nesse jogo, teremos que ser estratégicos...
John prossegue, desenhando algumas jogadas e nos dando informações sobre o time
adversário. Quando termina, nos leva para o jogo, tanto os reservas quanto os titulares,
executando os passes.
Sento-me no banco depois de três horas em movimento, com poucos intervalos. Jogo a
água inteira de uma garrafinha no meu rosto e pescoço, livrando-me do suor e secando com a
toalha. Pego outra para matar minha sede.
Deixo a toalha pendurada no pescoço e assisto ao treino da defesa, que agora domina o
campo. Solto um suspiro, dando mais um gole na água, meus olhos buscando pelas cheerleaders.
Congelo quando meus olhos são cobertos por mãos delicadas. Solto a garrafinha que
segurava e tateio o dorso, sentindo sua pele e seu pulso.
— Ei, sou péssimo em adivinhação, sabia? — digo, sorrindo.
Ela não fala nada.
— Certo... okay... sei de um jeito de te descobrir. — Giro de uma vez, seguro a cintura de
Alana e a puxo para o meu colo.
Ela solta um grito surpreso junto com uma risada. Quando cai em meu colo e meus olhos
se prendem nos seus, meu mundo estagna, meu coração parece parar de bombear sangue e minha
visão fica turva.
Não são olhos castanhos que me encaram, e sim azuis... um azul tão brilhante como o céu
limpo em dia de verão.
Engulo em seco, soltando a respiração que prendia, sem saber o que pensar, dizer ou agir.
É como se meu cérebro estivesse com pane no sistema.
Pisco, enlouquecido para que tudo se encaixe de novo.
— Le-Leanne? — Minha voz sai fraca, minhas mãos começam a tremer e uma queimação
toma conta do meu rosto.
— Oi!
— Porra, me desculpa... eu... eu... — Faço menção de tirá-la, mas Leanne se ajeita e enlaça
meu pescoço com seus braços, sustentando meu olhar.
— Tudo bem, eu me desequilibrei e caí no lugar onde queria estar — afirma, balançando
as pernas.
Engulo em seco, atordoado, e afasto minhas mãos, não querendo que ela pense coisas
erradas sobre mim.
— Não acho que... hã... — Desvio meu olhar do dela. — Porra, as pessoas estão olhando
e... e... estou suado.
— Qual o problema? — pergunta, atraindo meu olhar para ela. — Não me importo.
Solto o ar pela boca, disfarçando o nervosismo.
— Se você quiser... — diz, afastando as mãos do meu pescoço, e vai se levantando com
uma expressão desanimada.
Seguro sua cintura, enquanto pouso a outra mão sobre seus joelhos, mantendo-a em meu
colo. Tento disfarçar o tremor das mãos e o nervosismo na voz.
— Tudo bem, pode ficar.
Ela sorri para mim, tão perto que só agora sinto o seu perfume.
— Tem certeza?
O sorriso em seus lábios delineados e carnudos vacila. Trato de retribuir o sorriso, não
quero que fique sem graça, não quando desejei tanto por isso.
— Fui pego de surpresa.
— Achou que era quem? — pergunta, me analisando.
Alana.
— Ninguém, foi instinto — minto, tentando contornar a situação em que me meti. —
Como você está? — pergunto, mantendo a voz firme.
— Estou bem — fala, acariciando meu maxilar com carinho.
Seu toque espalha um arrepio, e meu coração vai se acalmando a cada segundo.
— Queria ter te convidado para almoçar, mas... hã...
— Alana saiu te carregando — completo. — Eu vi, queria ter feito o mesmo, mas fiquei...
sem graça de me intrometer.
Leanne ajeita a toalha em volta do meu pescoço, depois me olha nos olhos. Movo minha
mão em torno do seu joelho, sentindo o calor da sua pele me envolver.
— É que toda sexta-feira, nós nos reunimos para almoçar com Aidan — explico. — É uma
regra de nós quatro.
— Aidan? — ela indaga, erguendo as sobrancelhas. — Esse eu não conheço.
— Ele é nosso melhor amigo e estudante de medicina — respondo, agradecido por minha
respiração ter voltado ao normal. — Nossa rotina é um pouco pesada, nossos horários não estão
batendo nesse período, então sempre mantemos nosso encontro uma vez por semana, sem
quebrar.
— Ah! — Ela acaricia meus cabelos molhados.
— Sexta que vem, posso lhe apresentar para ele — sugiro, atraindo seu olhar para o meu.
Leanne sorri.
— Adoraria — confirma, ajeitando minha sobrancelha. — Vocês se conheceram na
universidade?
— Não — respondo, alisando suas costas. — Conheci Aidan no jogo de RPG, éramos
parceiros, mas não sabíamos da vida um do outro. Com o tempo, fomos criando intimidade, até
que eu disse que ia para Houston, ele acabou revelando que estava no segundo ano de medicina
aqui.
— E se conheceram pessoalmente? — Assinto. — E a Liza?
— Foi no primeiro dia de aula — falo, sorrindo. — Alana disse que precisávamos de mais
uma pessoa para andar com a gente que fosse do nosso nível de inteligência, no meu caso,
porque ela é bem preguiçosa no quesito estudo.
Leanne fica me encarando.
— Aí a Liza entrou?
— Sim, demos certo — falo, brincando com a barra da sua saia. — Somos parecidos.
— Em que sentido? — pergunta, enxugando uma gota de suor que escorre pela minha
testa.
— Hum... somos nerds, estudiosos, gostamos das mesmas coisas... é isso!
Ela meneia a cabeça, olhando para minha mão repousada na sua perna.
— Você tem amigos muito legais — comenta, voltando a me encarar.
Vejo algo atravessar seu olhar.
— Você não? — pergunto, afastando um fio de cabelo que se solta com o vento e gruda
nos seus cílios.
— Bem... — Leanne umedece os lábios. — Não tenho amigos como você tem, que
dividem tudo. Sempre fui um pouco retraída nesse sentido, porque não tive experiências legais,
então considero minha família meus melhores amigos.
— Você sempre está rodeada de garotas — comento, estranhando.
— São colegas, gosto de andar com todo mundo, mas quando se fala de amigos, tirando
minha família, não tenho... É que... as melhores amigas que tive sempre... me traíram, por isso
sou assim, colega de todo mundo até certo ponto.
Fico encarando-a, vendo verdade em seu olhar e um pouco de mágoa.
— Podemos ser melhores amigos também — proponho, apertando-a. — Sou bom nisso.
Leanne ri, balançando um pouco mais a perna enquanto me encara.
— Não, Rhavi, não quero ser sua amiga.
— Por quê? — indago, confuso.
Ela chega um pouco mais perto, quase tocando nossos narizes. Meu coração salta de novo
com sua aproximação repentina.
— Melhores amigos não se beijam, não se tocam e não transam, então como posso ser sua
amiga, se eu quero fazer tudo isso com você, hum? — Meu sangue gela. — Entende? Quero
fazer muitas coisas sujas com você... coisas que amigos não fazem... talvez... possamos ser algo a
mais...
Prendo a respiração, suas palavras me atingindo em cheio.
— Leanne...
— Rhavi, o que acha de... — Ela se cala quando Connor xinga alto um dos caras.
— Vai continuar ou vou ter que quebrar sua cara? — ele indaga, seu rosto quase colado
com o do Tanner.
— Ficou estressadinho?
— Ei-ei-ei! — Tayler se intromete, ficando no meio entre eles. — Os ânimos estão
alterados e isso não é legal!
— Abre seu olho, babaca! — Connor avisa, se afastando.
Fico confuso, uma sensação ruim caindo como uma pedra no meu estômago. Meus olhos
vagueiam pelo campo, parando em Sean, que me encara fixamente, raiva estampada no rosto,
como se estivesse prestes a cometer um assassinato.
Ele balança a cabeça de um lado para outro e depois olha para o lado. Sigo seu olhar, meu
sangue volta a gelar. Alana está me encarando, suas mãos em punho ao lado do corpo. Quando
nossos olhares se encontram, ela desvia, virando de costas.
Arrasto meus olhos de volta para Sean, que se vira para mim, dando uma risada e jogando
a bola pelo campo.
— O que foi? — Leanne pergunta.
Olho em seus olhos, uma confusão acontecendo dentro de mim, sem entender por que, e de
repente, estar com Leanne se tornou tão errado.
— Preciso voltar para o treino, princesa.
— Ah, sim! — Ela desce do meu colo.
Levanto-me, pego o capacete e as luvas.
— Mais tarde a gente conversa — digo, levando a mão à sua nuca e deposito um beijo no
topo da sua cabeça.
— Vou voltar para lá também — fala, apontando para sua equipe.
— Tchau! — despeço-me, caminhando de volta para o campo com meu coração entoando
em meu ouvido e uma sensação de náusea bagunçando meu estômago.
Dou mais uma olhada na direção de Alana; ela diz algo para a treinadora, que confirma
com um aceno de cabeça.
— Ei, Clark! — Connor me grita. — Chega aqui!
Calço as luvas, indo em sua direção, mas sem desgrudar os olhos de Alana, assistindo-a
pegar suas coisas e ir embora sem olhar para trás.
Melhores amigos não se beijam, não se tocam e não transam...
Minha cabeça ferve com as palavras de Leanne, a culpa me corrói de uma maneira
insuportável. Queria que ela estivesse errada, mas não está.
Recosto na caminhonete e dou um soco de leve na lataria, querendo ignorar essas palavras
que berram na minha consciência. Entretanto, tendo em vista a sua vivência, tenho certeza de que
ela me julgaria por ser virgem. Além disso, não quero que Leanne tenha uma experiência ruim
comigo.
Quero ser o cara que ela não vá trocar por ser ruim na cama ou algo do tipo. Também não
quero passar vergonha. O que está rolando entre mim e Alana é apenas um acordo. Ela está me
ensinando o que não sei.
Amigos fazem isso, não fazem?
Porra, claro que não fazem.
Quem eu quero enganar?
Olho no relógio em meu pulso, aguardando a dona enrolada que deveria ter descido há
quinze minutos. Inclusive, recusou três vezes meu convite para ir ao cinema assistir Taxi Driver,
nosso filme favorito que entrou em cartaz na sessão dos antigos. Sei que ela está com raiva de
mim e quero saber o porquê.
Apesar de desconfiar dos motivos, é horrível vê-la me evitando como se eu fosse uma
assombração.
Ouço passos, ergo a cabeça e a vejo caminhar em minha direção, vestida com uma blusa
rosa, saia jeans e coturnos que a deixam simplesmente linda. Alana me lança um olhar de raiva
que é como se eu tivesse acabado de colocar carvão em brasa em suas mãos.
Ela para diante de mim, cruza os braços e desvia o olhar, contorcendo os lábios como se
estivesse arranjando um jeito de controlar o que sente por mim no momento.
— Oi! — digo, cauteloso.
Ela arrasta o olhar de volta para mim, soltando um longo suspiro.
— Oi! — Retribui, dando um passo à frente. — Vamos, não quero me atrasar. — Alana
abre a porta do passageiro.
— Ei, podemos conversar? — Toco seu braço, impedindo que entre. — Você está estranha
comigo, por quê?
Ela pigarreia e vira o rosto para mim, trincando os dentes.
— Não estou estranha.
— Jura?
— Estou com TPM, estressada e meus hormônios parecem fogos de artifício.
Estreito meus olhos diante da sua mentira.
— Você não fica estressada quando está na TPM, pelo contrário, fica toda chorosa e
manhosa, então não me engane e fale o que está rolando.
Alana solta o ar pela boca, umedece os lábios e fixa seu olhar no pneu da Dodge.
— Se abre para mim... — peço e vejo um brilho de malícia em seu olhar. — O coração...
abra o coração, não as pernas ou o que tenha imaginado. — Sorrio de leve.
Alana arqueia uma sobrancelha sem dizer nada. Ela pigarreia segundos depois, escondendo
o sorriso que ameaça surgir.
— Me conta — suplico.
Alana inspira fundo, decidida a falar.
— Gostou da Leanne em seu colo? — indaga, sua voz saindo afiada. — Para quem não
conseguia nem ficar perto dela ou segurar sua mão, está se saindo super bem.
Analiso sua expressão, ela olha para o lado, mas não me encara, evita a todo custo um
contato visual. Um sorriso ameaça aparecer em meus lábios.
— Está com ciúmes.
— Não estou.
— Está sim!
Ela revira os olhos.
— Agora todos sabem que está rolando algo entre os dois. — Alana continua. — Você já
sabe beijar, então por que se resguardar, não é?
Seus olhos finalmente se prendem nos meus.
— Ela caiu no meu colo...
— E assim ficaram por vários minutos, certo? — Ela coloca uma mecha do cabelo solto
atrás da orelha. — Estavam se divertindo pelo que vi.
— Isso não deveria acontecer? — pergunto, hesitante. — Estamos trabalhando para que eu
a conquiste, isso é um avanço e você deveria ficar feliz, já que tudo indica que Leanne está na
minha.
Alana contorce os lábios, desviando do meu olhar.
— Deveria... — Ela suspira.
— Por que não está feliz?
Seus olhos voltam para os meus, e por alguns segundos, ficamos nos encarando sem dizer
uma palavra. Meu coração acelera, desejando uma resposta diferente, uma que faça meu mundo
virar de cabeça para baixo.
"Diga que é porque estava com ela e não com você..." penso, esperando em silêncio.
— Porque você não é como esses homens que exibe que está pegando uma garota popular
e desejada por todos. — Alana responde, umedecendo os lábios. — Quem sai mal falada é ela,
não você, que ganha a fama de pegador.
— Estávamos apenas conversando — defendo-me.
— Agora o campus inteiro sabe do envolvimento dos dois.
— Estamos nos conhecendo ainda.
— Mas eles não sabem dessa verdade, Rhavi — retruca, descontente.
Abaixo meu olhar, me sentindo um pouco culpado, no entanto, outro sentimento me
acomete.
— Tenho outra conclusão além da sua — falo, por fim.
— Qual?
Ergo a cabeça e a encaro, esboçando um sorriso de lado.
— Que tudo o que acabou de dizer desde que chegou foram apenas desculpas para
esconder seu ciúme.
Alana ergue as sobrancelhas e solta uma risada sem humor.
— Ciúme?
— Sim, está até roxa.
— Por que eu estaria com ciúme de você, Rhavi?
Arqueio uma sobrancelha.
— Porque somos amigos — digo, dando de ombros. — Não é difícil de te ler, conheço
você há dez anos.
Ela coça a cabeça, tentando disfarçar o que está óbvio.
— Não sou ciumenta, sabe disso.
— Não? — Agora é minha vez de soltar uma risada. — Quem você quer enganar? Porque
eu, você não consegue.
— Rhavi... — Alana suspira. — Não estou com ciúmes, okay?
— Admita — murmuro, chegando mais perto. — Diga que sente ciúmes do seu Pet.
Alana me olha com um brilho diferente no olhar.
— Vamos nos atrasar — diz, subindo na caminhonete e se acomodando no banco. — Anda
logo!
Respiro fundo, fechando a porta e contornando o carro. Quando me sento, levo as mãos ao
volante, mas sem a intenção de ligar o motor, não até resolvermos esse mal-entendido.
Lembro perfeitamente quando ficou sem conversar comigo por uma semana só porque fiz
amizade com um garoto novo no colégio. Ele era legal, gostava de futebol e de jogos de RPG, fui
até na sua casa uma vez, mas Alana se sentiu trocada.
Foram longos dias de muita luta para fazer com que voltasse a conversar comigo, mesmo
assim, decidi não ficar tão próximo do garoto, que logo se juntou com outros e me ignorou até o
último dia de aula.
Sempre desconfiei de que alguma coisa tinha acontecido, dias depois descobri que Alana o
encurralou no corredor e deu uma boa bronca no garoto, dizendo que ele só queria minha
amizade porque eu era filho de um jogador famoso, o que não era mentira.
Enfim, essa é Alana, que sempre sentiu ciúmes de mim, que por milagre do destino, não
implicou com Aidan e nem com a Liza. Agora me sinto como se tivesse voltado no tempo,
porque ela está como naquela época.
Permaneço em silêncio, alisando o couro do volante, pois sei que quando está contrariada,
seu orgulho se sobressai demais para admitir o que sente.
Alana consegue ser frio e calor ao mesmo tempo.
— Você está com ciúme — consto, meu olhar preso no carro estacionando à minha frente.
Alana inspira fundo.
— Sim, estou! — admite.
— Por quê? — pergunto, pousando os braços no colo. — Por que estou conseguindo
conquistar minha vizinha? Não era isso o que você queria? Por que disso agora? Hein?
Ela pigarreia, remexendo no banco.
— Desculpa, tá? — Sua voz sai com raiva. — Desculpa por estar agindo dessa forma,
não... foi isso que imaginei.
— Como você imaginou?
— Não sei! — diz, bufando. — Só me desculpa, okay?
— Não há por que se desculpar — murmuro, chateado.
Volto a alisar o volante, fitando-o.
— É que... — sua voz sai embargada e olho para ela. — Sempre foi só nós dois contra o
mundo, sinto como se... estivesse perdendo meu lugar.
Alana olha para suas mãos em seu colo, fuçando na barra da saia.
— Sabe que isso nunca vai acontecer, certo?
Ela balança a cabeça de um lado para o outro, ainda sem me olhar.
— Sejamos realistas, Rhavi — balbucia —, porque sabemos que isso vai acontecer.
— Alana.
— Rhavi, você acha que Leanne vai gostar de saber que dormimos juntos quase todos os
dias? — Finalmente ela me encara, seus olhos brilhando na pouca luz que ilumina o interior da
caminhonete.
— Ainda não estamos juntos, Alana.
Ela fecha os olhos por um instante.
— Mas vão ficar e eu vou perder meu lugar — murmura com a voz trêmula. — Não gostei
de vê-la em seu colo. Pronto, falei, está feliz?
Alana me encara. Balanço a cabeça de um lado para o outro, dizendo em silêncio que não
estou nada feliz com sua resposta e palavras que não consigo aceitar.
— Um dia, Pet, você vai ter que ir com outra e... vou ficar para trás.
— Do que está falando?
— Vai chegar um momento em que nós teremos que fazer uma escolha. — Seus olhos
estremecem e um nó se aloja no meio da minha garganta.
— Que tipo de escolha? — Arrisco perguntar.
Alana dá de ombros, desviando do meu olhar.
— A que definirá o futuro que iremos seguir.
— Para de falar essas besteiras, Moore! — repreendo-a.
Nós ficamos em silêncio por um longo momento. Tento ignorar tudo o que acabou de
dizer, não vou aceitar nada disso, não mesmo.
— Odiei vê-la em seu colo — repete a confissão.
— Eu sei.
O silêncio retorna, ouço um barulho e olho em sua direção. Alana se levanta do banco e
vem em minha direção. Meu coração amolece e a seguro pela cintura, trazendo-a para o meu
colo, embalando-a como se fosse um bebê.
Ela envolve os braços em volta do meu pescoço e enterro o rosto na curva do seu ombro,
abraçando-a forte, como se minha vida dependesse do calor do seu corpo que me envolve para
sobreviver.
— Ei... — sussurro, ouvindo-a fungar. — Nunca vou te deixar, Pet, acredita em mim. —
Beijo seu pescoço, depois o ombro.
Alana permanece calada, seu rosto continua enterrado em meu pescoço.
— Olha para mim — peço.
Ela nega com a cabeça.
— Pet... — Murmuro, empurrando-a para trás. — Deixe-me falar uma coisa — Alana
resiste. — É importante.
Com um suspiro trêmulo, ela se afasta um pouco e me encara, seus olhos cheios de
lágrimas não derramadas.
— Você fica feia chorando, para com isso! — repreendo-a, tirando uma risada sua.
— Fico nada.
Afundo meu rosto nos seus cabelos, inalando seu cheiro.
— Hum... comeu pêssego foi?
Alana ri, assentindo.
— Dois antes de vir.
Solto um suspiro, voltando a fitar seus olhos e levo uma mão ao seu rosto, acariciando sua
bochecha e nariz.
— Alana, eu nunca vou deixar você — digo, capturando uma lágrima que cai do seu olho
esquerdo. — Mesmo que isso exija um pouco mais de esforço e sacrifício. Você não vai me
perder, entendeu?
— Promete?
— Um dia te prometi que seria Rhavi Clark e Alana Moore contra o mundo, lembra? —
Ela assente. — Estou aqui, não estou?
— Sim — responde, fungando.
— Estou cumprindo essa promessa.
— Mas...
— Esqueça o “mas”, Pet. — Seguro seu queixo e inclino, depositando um beijo na ponta
do seu nariz. — Você é minha metade. Sem Alana, Rhavi Clark não é nada, e quem chegar, vai
ter que entender isso.
— Alana não é nada sem Rhavi Clark! — diz, sorrindo.
— Exatamente.
— Te amo, tá? — murmura, fazendo beicinho.
Sorrio e com as duas mãos, seguro seu rosto.
— Você é muito chata! — Deposito um beijo na sua bochecha. — Marrenta e orgulhosa.
— Beijo seus olhos. — Ciumenta pra cacete... — Beijo sua testa, depois o canto da sua boca. —
Eu a amo do jeitinho que é.
— Mesmo feia quando choro? — indaga rindo.
— É... tenho que aceitar essa parte, né? — ela bate em meu ombro e a abraço forte,
colando seu corpo no meu. — Você é linda até mesmo chorando — admito em seu ouvido.
Alana desfaz o abraço e me encara.
— Estamos atrasados — alega, saindo do meu colo e voltando para o banco. — Quero
muito rever o Robert e ouvir aquela voz magnífica.
— Ah, é? — indago, ligando o motor do carro. — Então coloque o cinto.
Ela resmunga, me obedecendo.
— Hoje é seu dia de comer besteira?
— É sim! — confirmo, tirando a caminhonete da garagem.
— Ótimo! — diz animada.
Assim que saio do prédio e entro na avenida, pouso a mão em seu joelho, sentindo o calor
da sua pele. Alana coloca sua mão por cima da minha e entrelaça nossos dedos.
— Sobre o que conversaram? — pergunta, baixinho, se referindo a Leanne.
Estalo a língua, dirigindo com apenas uma mão.
— Falei sobre Aidan e a convidei para almoçarmos juntos na próxima vez.
— Hum.
— Fiz errado?
— Não... fez certo — murmura, suspirando.
— Alana?
— O quê?
Batuco os dedos contra o volante, meu olhar fixo na estrada.
— Ultimamente estou sentindo que as coisas estão muito estranhas — conto, confuso.
— Como assim? — pergunta e dou de ombros. — Sobre Leanne?
Penso por um instante e olho para Alana.
— Não — nego, voltando a encarar a estrada. — Sobre... tudo.
— Explica melhor, Pet.
— Não sei explicar o que está confuso — digo, descruzando nossa mão e parando no sinal
fechado. — Deve ser insegurança minha, coisa boba.
Alana estica a mão e começa a passar as unhas de leve na minha nuca, espalhando alguns
arrepios por meu corpo com esse gesto.
— Você deve estar cansado, esta semana foi puxada, muita pressão por causa dos jogos,
estudos e Leanne, precisa relaxar.
Aperto meus lábios, concordando.
— Deve ser.
— Estou aqui para você — assegura, subindo a mão até meus cabelos —, pronta para
encher seu saco.
Pego sua mão e a beijo enquanto piso no acelerador.
— Gosto disso.
— Estamos juntos para o que der e vier.
Olho para Alana, sorrindo.
— Menos quando me faz passar vergonha.
Ela ri.
— Ah, isso é legal! — fala, fitando o lado de fora. — Vamos aproveitar, okay? Estamos
esperando esse filme há seis meses.
— Não é para dormir — aviso.
— Por que eu dormiria?
— Porque você sempre dorme! — Lanço um olhar de tédio em sua direção. — Sério, odeio
quando você dorme.
— Eu não durmo — nega.
— Dorme sim!
— É que a poltrona é gostosa e tão confortável — conta, recostando a cabeça no encosto.
— Vou te acordar se dormir.
— Como? — Sinto seu olhar sobre mim.
Sorrio de lado, sem dizer absolutamente nada, porque o que vem em minha mente...
— Rhavi?
— Hum?
— O que está pensando? — Olho para ela, fingindo inocência.
— Nada, estou prestando atenção na estrada.
Alana estreita os olhos, mas aceita minha mentira.

Quinze minutos depois, paro a caminhonete na vaga do estacionamento do cinema,


animado para assistir ao filme. Alana demonstra a mesma animação e quando paramos em frente
à bilheteria, descobrimos que Ghost - Do outro lado da vida vai entrar em cartaz semana que
vem.
— Temos que vir.
— Para chorar que nem dois condenados? — indago, pagando os ingressos e indo na
direção do Snack bar. — Passo a vez.
— Qual é... — Alana resmunga, se inclinando sobre o balcão. — Melhor do que Titanic.
— Não mesmo.
Ela revira os olhos e faz nosso pedido para a garçonete. Escolho pipoca de manteiga e suco
de laranja. Alana opta pela pipoca de queijo, Coca-Cola, batata frita e dois Snickers.
Seguro os dois baldes grandes cheios de pipoca enquanto Alana pega as outras coisas, me
seguindo até a sala 03.
— Está vazio... — digo assim que adentro, meus olhos vagam pelas poltronas, para o telão
logo à frente e as paredes vermelhas iluminadas pela luz amarela.
— Quem é que gosta de assistir filme de 1976 no cinema? — Alana indaga, passando por
mim.
— Nós — respondo em um sussurro, seguindo-a.
Ela para no meio da sala, olha em volta e me encara.
— É porque somos dois esquisitos que gostam de filmes antigos — fala, apontando para a
direita. — Aqui é um bom lugar.
— É sim! — concordo, descendo o degrau e sentando-me com cuidado em uma das
poltronas.
Alana se senta à minha esquerda, coloca as bebidas no porta-copo e pega seu balde de
pipoca, relaxando no lugar com um longo suspiro.
— Eu amo um cinema! — diz, enchendo a boca de pipoca.
— O que mais você ama?
— Hum... — ela estica as pernas, refletindo. — Amo batata frita, pêssego, café gelado,
filmes antigos, livros com mafiosos possessivos, quanto mais tóxicos e quebrados, mais têm meu
coração... Ah, amo muitas coisas.
— Ainda não consigo aceitar essa sua paixão por esses caras literários tóxicos.
Ela me olha, engolindo a pipoca que mastigava.
— É a redenção que os torna instigantes e magníficos — conta, suspirando.
— Okay... — murmuro, enchendo minha boca de pipoca para não confessar que também
gosto desses personagens tóxicos e quebrados.
— Rhavi?
— Hum? — Olho para ela com a boca cheia.
Alana ri.
— Os seus livros preferidos são de personagens...
— Românticos — completo, apressado. — Fofos e bem água com açúcar.
Ela arqueia a sobrancelha esquerda.
— Sei... — balbucia, estreitando os olhos. — Vou fingir que acreditei para não destruir seu
ego.
— Não posso dizer que gosto desses caras possessivos, sabe?
— Por quê?
— Bom... — dou de ombros. — Você já leu as cenas hot? Puts, só faltam revirar a
mocinha do avesso.
Alana solta uma gargalhada.
— Ah, Rhavi!
— É sério!
— É verdade, quanto mais bruto, melhor.
Engulo a pipoca, dou um gole no suco e a encaro. Alana franze a testa, virando a cabeça
em minha direção ao perceber que estou olhando-a demais.
— O que foi?
— Quanto mais bruto melhor, é?
Ela umedece os lábios, suas bochechas começam a corar. Raramente a pego com vergonha,
quase nunca, na realidade, mas agora... esse assunto me instigou.
— Então você gosta desse tipo de sexo? — pergunto, inclinando para frente.
Alana enruga o nariz.
— Sua mente está muito fértil ultimamente, não?
Dou de ombros, aproximando meu rosto do dela.
— Conheço alguns livros com cenas... que podíamos reproduzir — sugiro com malícia. —
Uma experiência interessante para uma garota que gosta de sexo bruto.
Alana prende seu olhar doce e astucioso no meu, o sorriso que esboça esconde a timidez
que está sentindo diante das minhas palavras.
— Já te falei para não dizer coisas do tipo que não pretende realizar.
— Quem disse que não quero isso? — pergunto, inclinando a cabeça um pouco para o
lado. — Estou te fazendo um convite do qual não aceito recusa.
— Você tem duas personalidades que estou descobrindo agora — diz, levantando dois
dedos.
— Quais são elas?
— Rhavi meigo, inocente, tímido — conta, abaixando um dedo. — A outra é um Rhavi...
digamos... bem safado.
Alana ri e esboço um sorriso torto.
— Você é a culpada por ter aberto a porta da minha safadeza que estava trancada dentro de
mim — alego, pousando a mão em seu joelho, começando a fazer círculos em sua pele sem
desprender meu olhar do dela.
— Se eu não te conhecesse, juraria que estaria mentindo sobre sua virgindade — murmura,
fixando os olhos na minha mão que sobe para cima, parando na sua coxa.
— Sempre me perguntei como seria reproduzir essas cenas — continuo, atraindo seu olhar.
— Você nunca quis tentar? Fazer igual?
Seus olhos descem para minha boca, permanecendo por alguns segundos antes de olhar
para o telão.
— Tipo... algemas? Chicotes?
Estreio os olhos, concordando quando me encara.
— Não existe só algemas ou chicotes... — pondero, umedecendo os lábios e brincando
com a borda da sua saia.
— Não estou acostumada com essa sua versão, Rhavi — confessa, pigarreando. — Só que
quando eu provocar você, vai se arrepender legal de ter me dito essas coisas.
— Sério? — Arqueio uma sobrancelha.
Alana chega um pouco mais perto, nossa respiração se misturando. Inclino para frente com
a intenção de capturar seus lábios, doido para sentir o sabor do seu beijo de novo, mas ela se
afasta.
— Tenho certeza de que vai ficar louco quando sentir minha boca no seu pau, te
chupando... sugando a cabeça dele... — diz com a voz sussurrada de um jeito sedutor.
Encaro seus olhos brilhantes, surpreso com suas palavras, ao mesmo tempo que meu
coração bate mais forte e meu pau pulsa com os pensamentos insanos que reproduzem em minha
cabeça.
— O que foi? — ela pergunta, roçando os lábios nos meus. — Ah, esqueci que nunca foi
chupado, certo? Juro que vai gostar, sou boa com a língua...
Engulo em seco, meu rosto começa a esquentar e me afasto, recostando na poltrona.
Remexo, desconfortável, ouvindo-a rir.
— Puta merda! — praguejo, sem saber como agir.
— Viu só, gosta de provocar, mas nem sabe agir quando é afetado.
— Ha-ha! — resmungo, sem graça.
— Você não quer?
Viro a cabeça e a olho.
— Quero o quê?
Alana percorre a língua pelos lábios, dá um gole no seu refrigerante e me encara.
— Minha língua no seu pau.
Abro a boca, fechando-a em seguida ao ver um casal entrar na sala. Eles escolhem ficar do
outro lado, bem afastados de nós.
— Come sua pipoca — digo, gesticulando com a mão. — O filme vai começar — informo,
fitando o telão e discretamente, ajeito meu pênis, que decidiu dar o ar da sua graça.
Alana resmunga, colocando um monte de pipoca dentro da boca, me lançando um olhar
divertido e cheio de intenções.
As luzes vão se apagando, o telão é ligado e começam a reproduzir os trailers dos novos
filmes, o primeiro é do Doutor Estranho 2, que ainda não tive a oportunidade de assistir, visto
que é um dos meus personagens favoritos da Marvel.
Após alguns minutos, relaxo, envolvido nas cenas dos filmes, comentando com Alana e
claro, marcando para assistirmos todos.
Finalmente o filme se inicia. Uma emoção percorre minhas veias, o som da música
estronda em meus ouvidos e o táxi surge em meio à fumaça.
— Ah, Meu Deus! — Alana suspira. — Por que sinto vontade de chorar? — indaga,
mastigando a pipoca.
— É nossa primeira vez, por isso — respondo.
Não é nossa primeira vez nem aqui, nem na China. Se for contabilizar, essa é a décima
primeira vez, ou seja, nossa primeira vez. Rio baixinho, duas das vezes foram pela Netflix, as
outras no cinema.
— Táxi Driver — digo ao mesmo tempo em que o locutor apresenta o nome do filme,
tirando uma risada divertida da Alana.
— Estou arrepiada, okay? — fala, balançando as pernas. — Olha os olhos desse homem.
— Olhar de: vou foder com todo mundo dessa cidade.
— Se ele quiser — Alana limpa a garganta —, pode me foder no outro sentido — diz,
suspirando.
O telefone toca de dentro do filme, apenas meneio a cabeça, tentando ignorar suas palavras
e o crush que ela tem pelo ator.
— Que engraçadinha você — resmungo, enchendo a boca de pipoca.
Alana apenas ri, batendo a mão no meu peito quando Travis Bickle para em frente a um
cara com óculos.
— É nossa fala agora — diz, sentando-se ereta e olha para mim. — Por que você quer ser
taxista? — pergunta, dublando a fala entre os dois.
— Sofro de insônia — respondo ao mesmo tempo que Travis.
— Vá ver filmes pornôs.
— Já tentei.
A gente se encara, imitando a expressão dos personagens.
— O que faz então?
— Passo as noites viajando. Metrô, ônibus... — digo, dando de ombros. — Sendo assim, é
melhor ser pago.
— Pode trabalhar à noite? No Bronx? Harlem?
— Tanto faz.
— Em feriados? — ela pergunta, segurando o riso.
— Tanto faz.
— Mostre a carteira. — Entrego-lhe uma pipoca. Alana analisa, imitando o cara do filme e
prossegue: — Prontuário?
— Limpo. Como minha consciência.
— Está querendo me gozar? — Ela me lança um olhar afiado. — Já tenho problemas com
muitos caras assim.
Sorrio. Alana continua apontando o dedo para mim.
— Se vai me gozar, pode cair fora — diz, erguendo as sobrancelhas de forma engraçada.
— Não tive a intenção.
Gargalhamos, voltando a assistir, porque se continuarmos, é bem provável que iremos
narrar o filme inteiro.
— Nossa, olha a sujeira dessa cidade — comenta, quando Travis sai da empresa de táxis e
caminha pela calçada.
— Né! — concordo, rindo dela.
Ficamos em silêncio, assistindo enquanto comemos pipoca.
— Sério, ele é tão bom na cantada, ainda mais quando diz que ela não é feliz — Alana
comenta.
— Betsy é linda... — sussurro, fascinado pela atriz loira e de olhos azuis radiantes,
inclusive, Travis elogia seus olhos.
— Você a acha mais bonita que eu? — Alana pergunta, chamando minha atenção.
— O quê? — Olho para ela, que encara o telão.
— Você prefere a Betsy ou eu? — repete.
Franzo a testa.
— Como assim, Alana?
— Bem, você disse que Betsy é linda, então você a acha mais bonita que eu? — pergunta,
me encarando. — Só isso, me responde.
— Ela é... você é mais bonita — falo, pigarreando.
— O que ia dizer primeiro? — Ela arqueia a sobrancelha.
Suspiro.
— Ia dizer que Betsy tem uma beleza diferente dos anos 70.
— Ah, então ela é mais bonita.
— Não disse isso.
— Você prefere as loiras, né?
— Como? — Alana dá de ombros, colocando mais pipoca dentro da boca.
— Leanne e Betsy são loiras de olhos azuis, o que indica sua preferência.
— Sim, não... Arch!
— Não estou implicando que você tem uma preferência específica por loiras.
Fico um tanto desconfortável com a direção da conversa.
— E você sabe muito bem que não é o caso.
— Entendi — ela murmura, parecendo mais séria. — Agora entendi tudo.
— O quê? — Indago, confuso com a mudança repentina de tom.
— Dos motivos de não me querer.
— O quê? — Encaro-a, atordoado. — Claro que quero você.
— Então prefere morenas? — Ela esboça um sorrisinho.
Fico calado, hesitante em responder, percebendo como minhas palavras podem ser
interpretadas de maneira errada.
— Ah, Alana!
— Loira ou morena? — insiste, mordendo o lábio inferior.
— Gosto das duas.
— Não, é uma ou outra.
Inspiro fundo, contorcendo os lábios.
— Gosto das ruivas.
— Ah, então prefere as ruivas às morenas?
— Porra, Alana! — repreendo-a, desconfortável com a conversa sobre preferências físicas.
— Para de paranoia.
— Só queria saber.
Resmungo, voltando para o filme. Segundos depois, rio do Travis no desastre de conquistar
Betsy, às vezes até me compadeço com ele... poxa, temos algo em comum.
— Ele é bem bravo — Alana comenta.
— Levou um pé na bunda — emendo, rindo.
Quando o filme chega na metade, noto as pernas da Alana balançando enquanto devora as
batatinhas fritas. Finalizo meu suco, pegando o chocolate que ela me entrega.
Abro a embalagem, olhando-a de soslaio.
— O que foi? — pergunto.
Alana solta um suspiro audível.
— Não quero mais assistir esse filme — resmunga.
Dou uma mordida no chocolate, mastigo e ao engolir, pergunto:
— Quer ir embora?
— Não. — Ela me olha. — Quero fazer uma coisa que... não sai da minha cabeça.
— O que é?
Alana sorri, se inclinando na poltrona para ficar mais perto do meu rosto.
— Hum... — ela umedece os lábios. — Sempre tive um fetiche por cinema — declara, se
levantando e parando à minha frente.
— O que você está fazendo? — indago, engolindo o chocolate que estava na boca.
Alana se inclina sobre mim com as mãos em cada braço da poltrona. Meu coração salta,
seu rosto é iluminado apenas pela pouca luz do filme, o que não é muita, pois noventa por cento
se passa à noite.
— Você já pensou em... transar dentro de um cinema? — pergunta, sentando-se em meu
colo com uma perna de cada lado.
Prendo a respiração, sem conseguir reagir.
— Alana...
Fecho os olhos quando se acomoda e suas mãos seguram meu pescoço. Engulo em seco,
sentindo-a sob meu pau, que começa a dar sinal de vida.
— Você não quer colocar uma aventura na sua lista?
Abro os olhos, encontrando com seu olhar que cintila malícia.
— Alguém pode nos ver — murmuro, soltando o chocolate. — Tem pessoas aqui e o
lanterninha.
Ela morde o lábio. Trinco o maxilar, evitando tocá-la para não perder a cabeça.
— Acha que aquele casal está assistindo ao filme?
Meus olhos se arrastam até eles, consigo ver apenas a silhueta.
— Sim.
— Claro que não, aposto que... — ela se cala. — Punheta ou... — Alana ergue uma mão.
— Sério... no escuro do cinema, dá para fazer muitas coisas, Rhavi, ainda mais tão vazio como
está.
Engulo em seco com a minha respiração ficando mais rápida.
— É... está me convencendo — sussurro, encarando seus lábios.
— Rhavi? — Fixo meus olhos nos seus. — Apenas me beija.
Sorrio, levando as mãos à sua cintura, esquecendo rapidinho do meu medo.
— Não precisa pedir duas vezes — falo, entrelaçando os dedos em seus cabelos, cheio de
desejo e a puxo para mim, capturando seus lábios doces, sentindo um fogo me consumir.
Alana abre os lábios e empurro minha língua em sua boca quente, envolvendo-a com força
com meu outro braço. A emoção, aquele calor no meio do peito que sinto toda vez que a beijo,
retorna em um misto de adrenalina.
A intensidade que nossas bocas se movem numa perfeita combinação de fome e luxúria faz
meu pau pulsar sob sua virilha. Não consigo disfarçar, não quando está sentada em cima dele.
Solto seus cabelos, deslizo as mãos por baixo da sua blusa e seguro firme sua cintura,
afundando os dedos em sua pele ao ouvir um gemido escapulir da sua garganta.
Aprofundo mais o beijo, o ar começa a faltar, pouco me importo com isso, estou tão
envolvido e sedento que esqueço por alguns minutos que estamos nos agarrando em um cinema.
Alana move seu corpo um pouco para frente e para trás, esfregando-se em mim.
— Porra! — Chio, entre o beijo.
Ela sorri, afastando seus lábios dos meus.
— Não gosta? — indaga em meu ouvido, remexendo o quadril com mais força.
Ranjo os dentes, fechando os olhos e descendo a boca pelo seu pescoço.
— Sim... isso é bom! — respondo, arfando e perdendo o controle do membro que cresce a
cada investida dela.
— Alana...
— Hum? — murmura, segurando meus pulsos e levando minhas mãos até sua bunda. —
Ninguém está vendo.
Engulo a saliva que acumulou em minha boca, voltando a beijá-la com fervor enquanto
aperto suas nádegas, fazendo-a esfregar de novo em mim.
— Não é cer... droga! — Esqueço o que ia titubear ao subir sua saia e sentir sua pele macia
como seda.
Alana mordisca meus lábios, minhas mãos navegam por seu traseiro até perceber que sua
calcinha é apenas um maldito fio.
Gemo, apertando sua bunda, querendo desesperadamente tirar esse pequeno pedaço de
pano e me enterrar dentro dela. Puxo a alça, lambendo seus lábios e descendo as pontas dos
dedos por entre sua bunda até chegar em sua boceta sob a calcinha.
Afasto nossas bocas e seus olhos se prendem nos meus.
— Você quer o mesmo tratamento que te dei naquele vestiário, Alana? — pergunto com a
voz baixa e rouca, esfregando as pontas dos dedos em sua entrada.
Ela sorri de lado, se remexendo. Afasto a calcinha para o lado, ouvindo seu arfar quando
posiciono dois dedos na sua carne úmida.
— Quer? — indago.
Alana me encara, abre a boca para falar, mas geme de surpresa quando penetro os dois
dedos na sua boceta. Ela revira os olhos, jogando a cabeça para frente.
— Ohh...
— Você não me respondeu... — retiro os dedos, seguro sua cintura com o outro braço
mantendo-a parada e empurro para dentro de novo.
— Rhavi... — murmura entre os dentes, me lançando um olhar ousado. — Dessa vez será
eu que te farei revirar os olhos — diz, descendo as pernas e puxando meus dedos para fora dela.
— Achou que só você poderia brincar?
— O quê... — calo-me, vendo-a se ajoelhar diante de mim.
— Vou brincar com você... não... — Suas mãos começam a subir por minhas coxas,
passam pela virilha e param no cinto da minha calça. — Na verdade, irei brincar com seu pau.
— Alana! — exclamo, assustado quando desafivela o cinto, desabotoa a calça e segura o
zíper.
— Você não... quer? — diz, descendo-o lentamente.
Um desespero começa a me abater, várias cenas em que somos pegos percorrem minha
cabeça.
Não... ela não pode estar pensando em fazer isso... Droga, nunca recebi um boquete na
minha vida, nem sei como vou reagir.
Se eu gritar de tesão? Todo mundo vai ouvir, droga!
Merda, se eu gozar dentro da sua boca quando sua língua tocar minha glande?
Não, de jeito nenhum posso me submeter a isso... mesmo querendo desesperadamente por
isso.
— Não é uma boa ideia... — sussurro, agarrando seu pulso e inclino para frente. — Você é
louca em querer... Droga...
Alana me estuda por um momento, pousa as duas mãos nas minhas coxas e se eleva para
ficar perto do meu rosto. Meu coração entoa tão alto que o sinto na garganta.
— Não precisa ficar apavorado, é apenas um boquete — fala, tranquila, beijando a ponta
do meu nariz. — Está assim por que nunca recebeu?
Fico calado, fechando os olhos ao sentir sua mão esfregar meu pau por sob a calça.
— Não sei se é uma boa experiência... para você... Oh! — Ranjo os dentes quando aperta
meu membro duro.
— Você tem um pênis digno de ser beijado, admirado e chupado — murmura entre o beijo
calmo que me dá na boca. — Deveria estar orgulhoso por estar querendo te experimentar.
Ela percorre a língua em meus lábios.
— Não sei como... e se... eu gozar em sua boca? — digo, mordendo seu lábio inferior. —
Acho que é melhor não...
— Não tem problema — Alana me corta.
— Posso gozar dentro da sua boca então? — pergunto, espantado, afastando um pouco
para olhar em seus olhos.
Alana me analisa, vendo minha insegurança de principiante.
— Se não estiver pronto, podemos esquecer essa história de boquete — sugere, segurando
meu rosto com as mãos. — Para ser bom, tem que estar confortável. Se não estiver, tudo bem.
Encosto minha testa na sua e entrelaço uma das mãos nos cabelos de sua nuca, beijando
sua boca, apaixonado por seu sabor.
— Tudo bem... — cedo, levando a boca ao seu ouvido. — Quero que me foda com sua
boca e língua, okay? — indago, achando estranho essas palavras que acabei de dizer, mas pelo
estremecer do corpo de Alana, sei que gostou.
— Você nunca vai esquecer dessa noite, Rhavi Clark! — diz, enfiando a língua dentro da
minha boca.
Seu beijo atrevido e molhado me desvaira, causando um calafrio no meu ventre. Sua mão
abre o zíper, ergo o quadril e Alana desce um pouco minha calça.
— Apenas relaxe e curta o momento — balbucia ao desfazer o beijo.
Ela se ajeita entre minhas pernas. No seu olhar, encontro um convite malicioso, do qual
demoro alguns segundos para aceitar.
— Faça um bom trabalho, garota! — confirmo, segurando sua cabeça, tentando soar
confiante e não inseguro como estou.
Respiro fundo, olhando ao redor. Não tem como alguém ver que Alana estará com meu
pau dentro de sua boca em poucos segundos tão encoberta pela escuridão...
Não, é impossível desconfiarem, nem mesmo o filme é suficiente para...
— Rhavi?
Abaixo meu olhar, encontrando com o seu, que de alguma forma incrível, me passa a
confiança que preciso para relaxar.
— O que está esperando? — indago, engolindo em seco e sorrindo de lado.
Suas mãos seguram a borda da minha cueca, prendo a respiração e com um puxão para
baixo, meu pênis salta para fora; ereto, grosso e longo.
Os olhos de Alana se prendem nele, o admirando pela primeira vez. Por um breve instante,
a ideia da minha melhor amiga estar prestes a me chupar, se torna uma má ideia, mas quando ela
se abaixa e envolve meu pau em sua mão, tudo o que estava pensando desaparece.
— É... lindo... — elogia.
Sorrio, gostando desse elogio e empurro de leve sua cabeça na minha direção. Pulso de
expectativa, porém, ao sentir seus lábios tocarem a ponta macia e redonda faz meu mundo girar.
— Ohh... — chio, fechando os olhos com força.
— Relaxa... — sussurra, assoprando-o, em seguida, desliza os lábios sobre a coroa do meu
pau, causando repuxões de um prazer que nunca havia sentido antes.
— Puta... merda! — balbucio, meus músculos se contraindo.
Sua boca quente e úmida começa a causar uma baderna no meu cérebro, um vírus
destruindo tudo o que sempre tentei manter organizado e escondido.
Não consigo falar, nem ao menos respirar, sinto apenas o prazer enlouquecedor ser
liberado em minhas veias de maneira descontrolada.
O som do filme abafa meu gemido, que tento manter baixo, só que está sendo impossível
quando ela usa a ponta da língua para lamber a cabeça e o frênulo, me deixando louco.
Alana tira o pau da sua boca, fazendo contato com meus olhos, observando todos os sinais
de que estou excitado.
— Como isso está? — pergunta, voltando a colocá-lo dentro da boca.
Fico mais duro, calor me inunda e fecho os olhos, apertando as mãos em seus cabelos.
— Gostoso... — ofego.
Trinco os dentes, controlando o tesão. Alana começa a usar a parte debaixo da sua língua
para lamber a base do meu pau até a ponta, depois para baixo.
— Uuh... — chio, abrindo os olhos e assistindo-a colocar todo o comprimento na boca até
a garganta... parte dele. — Merda! — praguejo, porque isso é a visão dos meus sonhos.
Seu rosto expressa uma satisfação impagável... Porra... Caralho... Isso... isso...
— Arch! — levo a outra mão em seus cabelos e reviro os olhos ao sentir seus lábios
puxarem meu prepúcio para expor completamente a cabeça.
Estou tão excitado que não consigo parar nem para respirar. Meu pau pulsa dentro da sua
boca quente, embriagado pelo trabalho que está fazendo em me deixar tão sem reação.
O calor úmido de sua boca ao meu redor, movendo-se para cima e para baixo em meu
comprimento tão ereto, é surreal quanto irreal.
Ela desliza meu pau para fora, soprando e sugando de forma que penso que não vou
aguentar nem mais um segundo.
— Estou... ficando excitada... — revela, falando em uma altura que apenas eu consigo
ouvir.
— Está molhada? — indago, recostando na poltrona e escorregando mais para frente para
que o coloque mais fundo dentro da boca, mesmo sendo um pouco grande para ela.
— Muito... encharcada... — Geme, segurando meu pau com firmeza.
Solto seus cabelos e levo um punho à boca, mordendo-o para não fazer barulho quando
Alana passa a mão por todo meu pau, voltando a abocanhá-lo com vontade.
— Cacete! — choramingo, com a outra mão segurando sua cabeça que move para frente e
para trás.
Meu pau lateja, dói de tesão. Sua sucção fica mais intensa, depois acaricia devagar, em um
vai e vem que me alerta de que essa brincadeira está perto de acabar.
Sinto as veias do pênis inchar. Deito a cabeça no encosto, mordendo minha mão em punho.
Cada parte do meu corpo formiga, e parece que vou explodir a qualquer momento.
É loucura... porra, é a loucura mais deliciosa de toda minha vida. A sensação da adrenalina,
do perigo correndo em minhas veias... os pelos das minhas pernas se arrepiam.
— Alana... — gemo, sentindo meu corpo esquentar e meu pau endurecer ainda mais.
— Seu gosto... ah, é único e... puta merda, delicioso.
— Oh... merda! — Pulso com sua língua na glande.
Rosno, erguendo a cabeça a encontrando com seu olhar.
— Não vou aguentar... — aviso em um sussurro que nem eu ouço devido às batidas
frenéticas do meu coração em meu ouvido.
Alana sorri com meu pau na boca, fechando os olhos, assentindo e gemendo.
Puta que pariu!
— Ohh... — Jogo a cabeça para trás, relaxando e me entregando de vez.
Ela desliza a cabeça do meu pau até a garganta e o sinto encostar em seu fundo. Contorço
os dedos dos pés, meus ouvidos zunindo.
— Isso é gostoso, pra caralho.... Ohh... — Arquejo, então sinto tudo desmoronar, a vontade
de gozar vem com força, arrepiando cada parte do meu corpo.
Inclino para frente de uma vez, afasto Alana que solta meu pau da boca e o envolvo com
minha mão, estremecendo de uma maneira que é como estar caindo de um precipício.
— Rhavi...
— Porra! — chio, me libertando.
Abaixo a cabeça, meu pau sofre espasmos contra minha mão que o envolve e meu gozo
vem em seguida, encharcando minha mão com o líquido quente e pegajoso.
— Caralho, Alana! — rosno, sentindo suas mãos em meus ombros e encosto a testa na
curva do seu pescoço.
Cubro a mão com a outra, temendo que vaze e fico quieto por vários segundos, acalmando
meus batimentos.
— Rhavi... — Alana me chama.
Ergo a cabeça, embriagado e tonto. Seus olhos me analisam, depois um sorriso de
satisfação molda seu lindo rosto.
— Gozei na mão, Alana! — Consigo falar, mas minha voz sai falhada. — Porra, na mão!
Ela morde o lábio inferior.
— Tenho alguns lencinhos... — diz, engolindo a risada.
— Não aguentei... estava delicioso demais... — confesso, vendo-a se afastar, mexer em sua
bolsa e retornar com alguns lencinhos umedecidos.
— Aqui! — Ela coloca dois em cima da minha mão. — Sempre carrego comigo, ajuda a
sempre me manter limpa.
— Ah, é? — murmuro, zonzo, limpando-me o melhor que consigo.
— Claro, preciso cuidar da minha amiga.
Sorrio, passando o lenço sobre o membro ainda ereto.
— Merda... isso foi loucura e acho que gemi alto.
Olho para Alana, que me observa.
— Ninguém se importa — diz, pousando a mão em meus joelhos e dando-me um beijo
carinhoso na boca.
— Você me deixou louco, sabia?
— Eu vi!
— Obrigado por ter... porra, nem sei o que dizer! — Seguro seu queixo e roço meus lábios
no seus. — Sua boca é ainda mais gostosa em volta do meu pau... Você é magnífica!
— Eu disse que era boa nisso. — Gaba-se, contornando os braços em meu pescoço.
— Como aprendeu a chupar gostoso desse jeito? — pergunto, mordiscando seu lábio
superior. — Treinou com a banana?
Alana solta uma risada.
— Claro que não!
— Como, então? — insisto, curioso.
Nossos olhos se encontram.
— Em vários paus com tamanhos diferentes — diz, dando de ombros.
Desfaço o sorriso que estava nos lábios.
— Sério?
— O quê? — indaga, inocentemente.
— Deveria ter dito que foi com uma banana, Alana.
— Por que eu iria mentir?
— Porque não quero te imaginar chupando outros paus além do meu — resmungo, fitando-
a com... ciúme!
Ela ri, estalando a língua.
— Tive anos de prática, e banana é fruta, não pau.
— E laranja não é uma boceta — retruco. — Mesmo assim fiz um lindo trabalho.
Alana aperta os lábios, concordando com um aceno de cabeça.
— Às vezes omitir certos detalhes é melhor — resmungo.
— Está chateado? — Ela me estuda.
— Estou.
— Quer que eu te chupe de novo? — pergunta, tirando um sorriso safado meu.
— Quero.
— Deixa eu... — Um barulho de latinha sendo aberta nos chama atenção.
Meu coração dá um solavanco, porque tinha esquecido que estava na porra de uma sala de
cinema recebendo um belo boquete.
— Não — nego, pigarreando. — Sente-se aí, fique quietinha e vamos terminar de assistir
esse filme — digo, lutando contra meu desejo. — Estamos na reta final.
— Tem certeza? — pergunta com as sobrancelhas erguidas enquanto percorre o polegar
nos lábios.
— Merda! — chio, guardando meu membro dentro da cueca. — Não tenho certeza de
nada, só é o que deve ser feito.
Ela ri.
— Okay...
Inspiro fundo, acalmando meu coração, e me levanto, recolhendo os lenços.
— Vou ao banheiro me limpar melhor... — estalo a língua. — Você me paga por isso.
Ela sorri. Inclino e colo minha boca na sua, beijando-a brevemente.
— Já volto.
— Estarei aqui, te esperando.
Assinto, seguindo para fora da sala com uma sensação relaxante, ao mesmo tempo em que
tento manter a expressão neutra, fingindo para as pessoas que passam por mim que nada
aconteceu dentro do escuro desse cinema.
— Qual você escolhe? — pergunto, virando na esquina de um bairro de classe média.
Manobro o volante com uma mão enquanto com a outra seguro o sorvete de casquinha que
compramos em uma sorveteria depois que saímos do cinema.
Movo o carro lentamente, observando as casas; algumas cobertas pela escuridão e outras
com um ou dois cômodos com luzes ligadas.
— Aquela — Alana aponta para uma casa de dois andares na cor azul claro com dois
carros estacionados em frente à garagem.
Paro em frente à casa, rente à calçada, fitando a residência mal iluminada pela luz dos
postes. Provavelmente estão todos dormindo, visto que já são 23h.
Desligo o motor, recosto no banco e lambo o sorvete de chocolate que começa a derreter.
— Você começa — digo, desafivelando o cinto de segurança para ficar mais confortável.
Alana faz o mesmo, se ajeita no banco e coloca as pernas em cima das minhas. Sorrio,
vendo-a chupar seu sorvete de caramelo, pensando em uma bela história, assim como fazíamos
quando estávamos no ensino médio.
Parar em frente a qualquer casa, imaginar uma vida e contar uma história sobre como são,
é uma coisa nossa... um momento só nosso.
Coloco a mão em cima do seu joelho, seu calor envolvendo minha palma ao mesmo tempo
em que a acaricio.
— Tenho uma — diz, lambendo a casquinha quando uma gota de sorvete pinga. — Eu
imagino uma família com três crianças. Uma bem pequena e dois mais velhos. — Ela me olha.
— Sabe quando o casal decide ter dois filhos com pouca idade de diferença, aí anos depois, a
mulher descobre que está grávida?
— Sim. — Meneio a cabeça e chupo o sorvete. — Aí o mais velho tem treze, o outro tem
onze e o mais novo uns... seis anos. — Levo meus olhos para a direção da casa e prossigo: — Ele
pega todos os brinquedos dos mais velhos e rouba toda atenção que pode do pai.
Sorrio, imaginando essa família.
— Mesmo assim, é super amado pelos irmãos mais velhos, que pela luva de beisebol
pequenininha que está ali na escada, certamente eles já estão ensinando passes para o pequeno.
Arrasto meu olhar para a escada, claro que não tem uma luva ali, porém, na minha
imaginação, ela se encontra no cantinho daquele segundo degrau.
— E a mãe surta porque eles certamente vão quebrar uma janela.
Alana ri, e uma lembrança de nós dois nos escondendo da minha mãe por termos quebrado
a janela do seu quarto com a bola de futebol que essa garota arremessou, invade minha cabeça.
— Sim! — Ela ri mais um pouco. — Mas o marido diz: “Relaxa, você trabalhou o dia
todo, bebe uma taça de vinho e descansa que eu cuido do menor infrator!”
Solto uma gargalhada, balançando a cabeça.
— Ah, então temos um marido amoroso, uma mãe que trabalha fora, mas os filhos são o
coração fora do peito, que tem o marido ideal e filhos que os estressam, mas amam os pequenos
e é uma casa certamente barulhenta e bagunçada? — olho para Alana.
— Sim, é isso! — confirma, fitando a casa e suspirando.
— É um ótimo lar para crescer.
— Com certeza.
Seus olhos se arrastam e encontram com os meus. Ficamos por longos segundos encarando
um ao outro, imaginando essa vida inteira, a vida que... gostaria de ter com el...
Sorrio, abaixando o olhar e impedindo que meus pensamentos ultrapassem os três pontos.
Alana remexe as pernas. Levo o sorvete à boca e volto a encarar a casa.
— Você se lembra daquela vez que a mulher achou que estávamos transando em frente à
sua casa? — Alana pergunta, rindo.
— Meu Deus! — Jogo a cabeça para trás, rindo também. — Ela veio com um balde de
água.
— Sim! — Alana estala a língua. — Pior foi você tentando se explicar.
— Não queria que ela pensasse algo errado de nós — justifico, estalando a língua. — Não
deu nem tempo de fechar a janela antes dela jogar água em mim.
Alana começa a rir com intensidade, recordando desse dia. Acho que nessa época tínhamos
uns dezesseis anos, e foi quando comprei um fusca velho por seiscentos dólares.
— Aquela porcaria de janela estava enferrujada — alega. — Céus, como aquele monte de
lata andava?
Dou de ombros, lambendo meu sorvete.
— Foi ideia sua comprar um para dizer que tínhamos um igual ao do filme “Herbie, meu
fusca turbinado”.
— A cara dos seus pais quando chegamos com ele na sua casa, com número 53 pintado,
não há dinheiro que pague.
Voltamos a rir, porque naquele dia, meu pai quase teve um ataque do coração quando
dissemos que tínhamos um Herbie, inclusive, nos proibiu de andar com aquela coisa velha.
Entretanto, eu e Alana ignoramos, andando para cima e para baixo com nosso fusca que de
turbinado, não tinha nada.
— E a vez que ele parou de funcionar no meio da estrada e tivemos que empurrar o filho
da mãe por vários quilômetros? — recordo, meneando a cabeça, porque aquele dia foi terrível.
Alana se contorce de tanto rir.
— Você resmungando, dizendo que tínhamos que ter ouvido seu pai.
— Sim! — Reviro os olhos. — Nunca vou perdoá-lo por ter se desfeito do nosso fusca.
— Nem eu! — afirma. — Acho que tinha dedo da sua mãe nessa tramoia.
— Você acha? — Olho para Alana e arqueio uma sobrancelha. — Tenho certeza, a mulher
ainda nos ajudou a espalhar os panfletos de “procura-se um fusca com número 53, oferecemos
recompensa”. — Chupo os dentes. — Ela foi cúmplice.
Fazemos uma pausa, silêncio pesa o interior do carro.
— O telefone nunca tocou — Alana murmura, fazendo beicinho.
— Nosso Herbie nunca mais voltou para casa... — resmungo, chateado.
Só descobrimos o que tinha acontecido com nosso fusca anos depois, quando o senhor
Sullivan Clark soltou, sem querer, que tinha vendido Herbie para um ferro-velho ao contar essa
história para Lauren, que riu tanto, que pensei que teria que levá-la ao hospital.
— Tenho foto nossa com ele até hoje — Alana conta, sorrindo.
— Eu sei! — Reviro os olhos. — Está emoldurada na parede do seu quarto.
— Sinto saudades daquela nossa época — comenta, tristonha.
Olho-a com atenção, levando o sorvete à boca. Alana gira o seu, fitando-o.
— Os anos passam rápido demais — falo, sentindo essa mesma saudade. — Nós já
fizemos tantas coisas...
— Aprendemos a andar de skate... Merda, lembra daquela vez em que paramos em uma
rua com uma ladeira? — indaga, erguendo os olhos. — Éramos muito loucos!
— Tenho a cicatriz da queda até hoje — resmungo.
Naquele dia, perdi completamente o controle do skate e saí rolando pelo asfalto até o fim
da rua.
— Você era uma geleia mole. Puta que pariu!
— Ha-ha-ha! — Faço uma careta. — Você era o terror dos meus pais.
Alana recosta a cabeça contra o vidro da janela, me encarando com olhos brilhando de
diversão.
— Tio Sullivan nos proibiu de sairmos por um mês — relembra, sua voz saindo indignada.
— Disse que eu queria te levar para o outro lado da vida.
Gargalho, recordando dessa discussão dos dois.
— Claro, toda vez que eu saía com você, voltava machucado.
— Geleia mole.
— Atentada.
— Eu era a Dora Aventureira — diz, encostando o sorvete nos lábios.
— Era imprudente — corrijo.
— Mas a gente se divertia.
— Você me manipulava para fazer coisas erradas e eu quebrava a cara, porque era o único
que me fodia! — reclamo, assistindo-a arregalar os olhos.
— Rhavi...
— O que é? — ergo o queixo. — Estou mentindo?
Alana estreita os olhos.
— Você costumava me obedecer direitinho — ela retruca, balançando as pernas em meu
colo.
— Claro, eu era sua cadelinha — suspiro.
— Era?
Eu olho para o rosto dela por um momento, revirando os olhos antes de voltar minha
atenção para o sorvete.
— Ainda sou — murmuro, saboreando a casquinha.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, desfrutando do sorvete, relembrando o passado
e contemplando a casa tranquila ao nosso lado, repleta de histórias para contar.
— Você já beijou com sabor de sorvete? — pergunto, minha mente indo para outro rumo.
— Não — Alana responde. — E você?
— Algumas vezes — minto, ouvindo-a rir. — É muito bom!
— É?
Viro o rosto em sua direção, encarando seus olhos.
— Quer que eu te mostre? — Lanço um sorriso torto.
Alana sustenta meu olhar, então desce as pernas do meu colo, tira os coturnos e vem em
minha direção, sentando-se em meu colo com uma perna de cada lado.
Mordo meu lábio inferior, aguardando-a se ajeitar, e sem esperar por mais nenhum
segundo, ela traz sua boca na direção da minha.
Com a mão livre, entrelaço os dedos nos cabelos da nuca dela e fecho os olhos,
mergulhando minha língua dentro de sua boca. O sabor de caramelo e chocolate do sorvete se
mistura em nossa saliva, o gelado tornando o beijo ainda mais delicioso.
Nossas línguas se encontram, o que era frio, se torna quente. Tem algo em seu beijo que
não sei lidar. Há algo em seu beijo que me enlouquece, tenho uma vontade avassaladora de
nunca mais parar. Adoro sentir seu corpo contra o meu, alimentando o desejo de explorar cada
centímetro de sua pele até querer remover suas roupas.
Solto seus cabelos, sentindo seu quadril se mover em meu colo. Minha mão desliza por
suas costas, apertando com firmeza sua coxa conforme meu pau pulsa entre suas pernas.
Ela interrompe o beijo para recuperar o fôlego, nossas respirações vertiginosas refletindo a
intensidade da excitação que corre em nossas veias.
Escorrego os lábios por seu pescoço, mordendo-o de leve e sinto o sorvete escorrer por
minha mão, derretendo na mesma proporção que me derreto por Alana.
— Você tem que parar com isso — diz, baixinho.
— Com o quê?
— De ficar me beijando.
Sorrio contra seu pescoço e espalmo minha mão em sua bunda, incentivando-a a continuar
se movimentando em meu colo.
— Por quê? — beijo seu queixo com vontade de subir até sua boca, o que de fato faço.
Mordisco seu lábio inferior.
— Porque estou gostando dessa brincadeira de treinar você — confessa, inspirando fundo.
— Não quero parar.
Minha língua se encontra com a sua em um movimento tão sedutor que um gemido escapa
da minha garganta.
— Te beijar é... intensamente saboroso — murmuro, puxando seu lábio. — Estou bom na
coisa...
Alana sorri, estalando a língua enquanto arranha de leve minha nuca com as unhas.
— Ah, não! — ela nega. — Não mesmo.
Abro os olhos e a fito.
— Como assim? — subo sua saia.
— Você ainda não está beijando tão bem como acha que está — alega, dando de ombros.
Sorrio de lado, alisando sua calcinha.
— O que preciso para beijar melhor? — pergunto, vendo-a arfar quando puxo sua calcinha
e começo a brincar com o tecido.
— Me beijar até a boca doer — responde, lambendo os lábios.
— Você é meu cardápio com gosto de chocolate.
— O que pretende fazer?
— Te comer inteira — colo nossos lábios e invado sua boca de novo com minha língua.
Alana intensifica o beijo e minha mão aperta sua bunda, os dedos deslizando entre suas
nádegas. Sinto meu pau pressionar sua boceta e perco-me em um oceano de tesão que me
envolve por completo. Meu corpo parece estar fora de controle, é uma sensação louca.
De repente, sinto algo escorrer pelo meu braço e desfaço o beijo para olhar para minha
mão. O sorvete está derretendo mais do que antes e começa a pingar na caminhonete.
— Acho melhor terminarmos nosso sorvete — sugiro, recostando a cabeça no encosto e a
encarando.
Alana ri, meneando a cabeça.
— Verdade — concorda ao inclinar para trás e recostar no volante. — Senão vai derreter.
Meus olhos descem até entre suas pernas. Sua saia está na sua cintura, expondo-a de
maneira enlouquecedora, instigando-me a remover sua calcinha e mergulhar minha língua em
sua boceta lisinha.
— Só não fica remexendo no meu colo — peço, voltando a fitar seus olhos maliciosos.
Seu olhar gruda na protuberância entre minhas pernas e um sorriso molda seu rosto.
— Por quê? — pergunta com uma falsa inocência.
— Coisas estranhas podem acontecer.
Ela ri. Levo a língua em minha mão e lambo o sorvete derretido sem desgrudar meus olhos
do dela, fazendo com que imagine as coisas depravadas que dançam em minha mente no
momento.
— E o que seria essa coisa estranha? — indaga, colocando a língua para fora também para
lamber seu sorvete de forma provocativa.
Meu pau dá um solavanco ao recordar que um momento atrás, essa língua deliciosa que
saboreia esse sorvete, estava nele.
— Hum... — Engulo em seco, assistindo-a chupar a merda do sorvete como estava
chupando meu pau naquele cinema. — Tem uma parte de mim que tem vida própria.
Alana gargalha.
— Quer que eu te mostre? — pergunto, imaginando como seria sua boca gelada em volta
do meu pau.
— Prometo ficar quietinha enquanto finalizamos nosso sorvete — diz, mordendo a
casquinha.
— Não era essa a resposta que eu queria ouvir... — murmuro, observando-a percorrer a
língua pelo comprimento da casquinha, onde escorre o sorvete derretido.
Sinto um calor me consumir, meu pau começa a latejar lentamente e, sem poder me conter,
escorrego a mão por sua perna até chegar na boceta por baixo da calcinha. Aliso-a com os dedos,
envolto pela volúpia. Alana fecha os olhos sem parar de chupar o sorvete, movendo a língua de
forma sedutora.
Porra! Isso é demais!
Afasto a calcinha para sentir seu calor. Ela inclina a cabeça para trás. Sorrio e começo a
acariciar seu clitóris.
— Acho que não está dando certo — digo.
Sua boceta começa a ficar molhada, seu sorvete é como meu membro na sua boca.
— Hum? — balbucia.
— Você está brincando com a minha mente... — Esfrego sua entrada.
— Quem? — Alana se engasga com um gemido.
— Com meu pênis — respondo e penetro dois dedos dentro dela de uma vez.
— Ohhh... — ofega. — Rhavi...
— Já acabou com seu sorvete? — pergunto, atraindo seu olhar.
Alana ri, vendo-me chupar o meu enquanto meus dedos brincam com ela, saindo e
entrando na sua carne, se movendo em busca do ponto que a levará às nuvens.
— Ainda não! — responde, voltando a lamber, chupar e engolir o sorvete.
— Anda logo — apresso, trincando o dente ao sentir sua boceta apertar meus dedos.
— Você já acabou? — pergunta, ofegante, se remexendo em meu colo.
— Não!
— Então anda logo que quero te beijar.
Prendo meus olhos em sua boca vermelha e gelada.
— Quero essa boca em outro lugar... — sussurro, tirando os dedos de dentro dela e seguro
sua nuca, trazendo-a para mim.
— Em que lugar? — sussurra a pergunta.
Roço nossos lábios.
— No meu pau — digo, rindo da sua gargalhada.
— Uma combinação perfeita... — cantarola, esfregando a casquinha em meus lábios antes
de me beijar com vontade.
Retribuo, já descontrolado, porém, um barulho de porta chama nossa atenção. Desfazemos
o beijo e olhamos para o lado. Uma luz se acende do lado de fora da casa, e em seguida a porta é
aberta.
— Droga! — praguejo, segurando sua cintura e ajudando-a a se sentar no banco do
passageiro. — Vamos embora.
Ela ri sem parar quando ligo o motor da caminhonete e arranco sem ligar os faróis.
— Será que chamaram a polícia? — ela pergunta.
— Acho que não — presumo, virando a esquina. — Em todo caso, vamos nos mandar
daqui.
Finalizo o que sobrou do meu sorvete, ligo os faróis e entro na avenida, sentindo-me mais
calmo.
— Você é louca.
— E você adora essa loucura.
Olho para ela e estendo a mão. Alana pousa a sua sob a minha e entrelaça nossos dedos.
— Amo você mais do que tudo nessa vida — respondo, beijando o dorso da sua mão e
seguindo direto para casa.
Vinte minutos depois, andando ao seu lado pelo corredor com as mãos dentro dos bolsos,
reflito sobre tudo o que aconteceu nessa noite.
— Foi muito divertido — diz ela, soltando um suspiro.
Concordo com um aceno de cabeça.
— Eu que o diga — sorrio.
Alana para em frente à sua porta, coloca a chave na fechadura e a abre, virando-se para me
encarar. Recosto no batente, fitando seus olhos castanhos cintilarem conforme os segundos se
prolongam.
— Seus olhos estão ficando vermelhos — aponta, franzindo levemente as sobrancelhas. —
Está muito cansado?
— Um pouco — admito.
Ela comprime os lábios.
— Você está desde cedo com essas lentes de contato — conclui, encostando-se na porta.
— Meu dia foi corrido, não consegui ficar sem elas.
— Está te incomodando? — pergunta preocupada.
Levo as mãos aos meus olhos, esfregando-os de leve, e assinto com a cabeça.
— Um pouco.
— Assim que chegar no seu apartamento, tire-as e aplique o colírio, tá?
— Sim, senhora Moore.
Alana balança a cabeça, sem quebrar nosso contato visual.
— Quer dormir comigo? — propõe, apertando os lábios e mexendo na chave pendurada na
porta.
Pondero seu convite, chegando à conclusão que de modo algum posso dividir a mesma
cama ou o mesmo cômodo que ela essa noite.
— Sua proposta é tentadora — sorrio —, mas terei que recusar.
— Por quê?
Abaixo meu olhar, passando o pé pelo tapete da sua porta que está escrito “Lar é onde o
bumbum descansa” com as silhuetas do Timão, Pumba e do Simba acima da frase.
Existe uma coisa que nunca contei, é tipo um código nosso, que quando esse tapete está
virado do avesso, é porque Alana está com um cara dentro do seu apartamento.
É difícil de acontecer, porque ela quase nunca traz caras para seu apartamento. Acho que
das vezes em que ficou mais virado, foi na época em que estava namorando o Sean. Depois que
se separaram, nunca mais o vi virado.
Quando percebia que ela estava com alguém, eu ia embora para não incomodá-la. No
entanto, relembrar isso agora me trouxe um sentimento estranho, do qual não gostei. O
pensamento de que um dia outros caras estiveram dentro da sua casa além de mim me deixou
desconfortável.
Solto um suspiro longo, chutando esses pensamentos para longe e respondo sua pergunta.
— Para manter minhas mãos e boca longe de você. — Minha voz sai firme, e sustento meu
olhar nos seus, que me analisam.
Um sorriso brota dos seus lábios carnudos, inchados pelos beijos que trocamos.
— Não quero que elas fiquem longe de mim. — Sua resposta é um convite ousado,
claramente expresso em seu olhar.
— Droga, Alana! — solto, sentindo-me tentado pela proposta.
— Está bem, então — ela resmunga, fazendo beicinho.
— Vou indo — digo, sem me mover.
— Descansa. — Ela se acomoda contra a porta, parecendo relutante em me deixar partir.
— Você também — sorrio, encarando-a. — Obrigado por hoje.
Alana dá de ombros, parecendo indiferente.
— Tchau! — ela sussurra.
Obrigando meu corpo a se mover, desencosto do batente e dou um passo para trás,
forçando meu cérebro a entender que preciso ir para minha casa, mesmo que meu coração insista
em ficar. É uma batalha entre o racional e o irracional.
— Tchau! — murmuro, virando-me para caminhar em direção ao meu apartamento.
Fecho os olhos com força, paro no fim do corredor, jogando o foda-se para o mundo, e me
viro novamente, encontrando Alana exatamente como a deixei.
— Quer assistir Stranger Things comigo? — proponho, ignorando meu cérebro e seguindo
o desejo do meu coração, que se alegra com seu sorriso.
— A quarta temporada?
— Ainda não comecei porque quero ver com você, assim como fizemos com as outras três
— explico, dando de ombros. — Topa?
O sorriso de Alana se alarga.
— Maratona?
— A noite toda.
— Pizza?
— De calabresa.
— Só se for agora — ela concorda, trancando a porta e vindo em minha direção.
Estendo a mão, pedindo a dela, e a levo para minha casa.
Inclino-me para pegar a última fatia de pizza restante sem desviar os olhos da TV,
assistindo à conversa entre Will e Mike sobre Eleven ter mentido para ele. A cena me incomoda,
especialmente depois de testemunhar uma situação humilhante pela qual ela passou.
Meu coração aperta ao ver Eleven chorar em um cômodo escuro, sozinha. Mordo a pizza,
sentindo um nó na garganta de pena por ela.
— Essas garotas são horríveis — Alana rosna, expressando sua indignação.
Concordo com a cabeça e paro de mastigar quando o olhar de Eleven muda.
— Isso vai dar merda — digo com a boca cheia.
— O que ela vai fazer?
— Não faço ideia.
Alana desce as pernas do sofá quando Eleven se aproxima de Ângela.
— Ela está mesmo pedindo para a outra pedir desculpas? — indaga, indignada.
— Não custa tentar.
— Claro, você é igual a ela, inocentes.
Dou uma olhada em Alana, que revira os olhos. Volto a prestar atenção na cena, mordendo
outro pedaço da pizza, balançando a cabeça enquanto o grupinho caçoa da garota.
Quanto mais Ângela abre a boca, mais raiva sinto.
— Olha só! — Alana exclama quando Eleven pega um par de patins das mãos de um
garoto e caminha em direção a Ângela com um olhar assassino.
— Fodeu.
A garota simplesmente ergue os patins e os arremessa no rosto de Ângela, que cai no chão
com o impacto.
— Meu Deus! — Alana murmura, chocada.
— Uau! — chio, sorrindo apesar da tensão da cena.
Engulo em seco, prestando atenção nas imagens do passado que piscam na tela,
assombrando Eleven enquanto Ângela chora desesperada com o rosto ensanguentado.
— Ela acertou Ângela com os patins? — Alana pergunta, incrédula.
— É claro, veja só o que fizeram com ela — respondo, estalando a língua. — Humilharam,
jogaram milk shake e ela ainda está sem seus poderes; era óbvio que ela ia explodir em algum
momento.
— É chocante ver Eleven chegando ao limite.
— Foi intenso, especialmente depois de mencionarem o Hopper. — Digo, colocando o
resto da pizza na boca.
— Bem-feito, ela deveria ter quebrado o nariz daquela loira oxigenada.
Solto uma risada, voltando a prestar atenção na série enquanto os outros garotos entram em
uma casa no meio da noite atrás de Eddie.
Alana dá um pulo quando Eddie aparece de repente e agarra o pescoço de Steve. Rio do
susto dela, levando um cutucão na cintura com seu pé. Seguro-o, prendendo-o em meu braço e
começando a fazer cócegas.
Ela ri, se encolhendo e puxando a perna.
— Para, Pet! — ela implora, se contorcendo.
Solto seu pé.
— Eddie está esquisitão — comento.
— Claro, depois de tudo o que viu.
— Pois é... — Franzo os lábios.
Conforme os minutos vão passando, assistimos Chrissy morrer enquanto Fredd é
perseguido por Vecna. Alana fica desesperada com a situação. Ficamos assistindo fascinados à
atuação de Vecna na TV, perturbados pela cena. Ao final do episódio, ambos estamos abalados e
sem palavras.
— Não sei nem o que dizer — ela afirma, levantando as mãos. — Sério, foi demais!
— Incrível! — concordo, pegando o copo de suco de laranja na mesinha de centro. —
Próximo? — pergunto para ela com o controle na mão.
— Não, calma! — Alana salta do sofá e ajeita minha camisa que está usando. — Vou ali
pegar uma coisinha.
Dou um gole no meu suco, arqueando uma sobrancelha e observo o sorriso escapar pelos
lábios dela.
— Que coisinha, Alana?
Ela me lança um olhar inocente.
— Já volto — diz, dirigindo-se à cozinha.
— Cuidado com o que vai aprontar.
— Nossa, quanta desconfiança! — reclama. — Só vou pegar um suco.
Pauso o episódio para esperá-la.
— Você acha que não te conheço?
— Olha só! — sua voz ressoa animada.
Leva alguns segundos para eu me lembrar do que ela encontrou.
— NÃO! — grito, levantando-me abruptamente do sofá, deixando o controle cair no chão
e corro para a cozinha.
Quando chego lá, Alana está inclinada com metade do corpo dentro da geladeira.
Merda! Ela acabou de encontrar o chocolate que eu havia escondido, essa ladra!
Não paro de andar e, ao me aproximar dela, enlaço sua cintura com os braços, puxando-a
para trás e a retiro de dentro da geladeira.
Alana solta um grito surpreso, começando a se contorcer na esperança de se livrar dos
meus braços. Eu continuo firme, tentando evitar que ela coma meu doce.
— Não vou deixar — rosno, vendo meu chocolate em sua mão.
— Me solta, Rhavi! — Ela bate em meus braços.
— Solta meu chocolate, Alana! — exijo.
Suas pernas se agitam no ar, seu corpo tenta escorregar pelos meus braços, mas eu não a
solto, não até que ela devolva o que é meu.
— Eu o encontrei — diz, arfando pelo esforço de se libertar. — Então tecnicamente se
torna meu, já que o que é achado não é roubado.
— É mesmo? — Fico indignado. — Estava na minha geladeira, escondido de você.
— Tenho certeza de que está guardado há dias.
— Não importa.
— Importa sim... ah! — Ela começa a gargalhar quando faço cócegas.
— Devolve, Alana!
— Nunca!
— É meu!
Balanço-a de um lado para o outro, ela ri, achando graça onde não tem. Por mais que eu
tente esconder minhas coisas dela, Alana sempre as encontra. Certo que dessa vez dei bobeira,
não escondi direito, mesmo assim, é meu e estava na minha geladeira.
Qual é!
Essa garota faz isso desde a época do ensino médio. Teve uma vez que escondi uma caixa
de chocolate que ganhei da minha mãe debaixo do meu colchão, e dias depois, quando fui comer,
só encontrei a embalagem, porque Alana Moore havia comido todos sem me pedir.
Porra, eu chorei o dia inteiro e só parei quando minha mãe me deu outra, que por sinal, tive
que dividir com ela.
— Odeio quando faz isso — rosno.
— E eu odeio quando esconde doces por mais de um mês — retruca.
— Só posso comer ele daqui a sete dias — rebato. — Não fode!
Solto sua cintura e tento tirar meu bombom de sua mão cerrada.
— Deveria ter escondido melhor... Não! — ela grita, quase deixando o chocolate escapar.
Nossas mãos entram em uma guerra intensa, o pobre do bombom meio amargo com
recheio de morango sendo esmagado.
— Escondi para que você não pegasse.
— Que ótimo esconderijo, hein? — rebate, cheia de sarcasmo.
— Por que eu tenho que esconder meu chocolate na minha geladeira, Alana? — indago,
bravo, tentando abrir sua mão.
Ela fica calada por alguns segundos, resistindo, sem argumentos.
— Por sua causa, antecipei meu dia, então não sacaneia — peço, minha respiração saindo
acelerada.
— Amo chocolate, sabia? — diz com os dedos brancos de tanto persistir.
Desisto de abrir sua mão e seguro sua cintura, colando seu corpo no meu. Alana arfa e
prendo meus olhos no seu pescoço, sentindo um calor diferente começar a percorrer cada
centímetro das minhas veias.
Fecho os olhos, inalando seu perfume e abaixo a cabeça, roçando o nariz pela curva do seu
pescoço até chegar em seu ouvido.
— Não é para comer — sussurro com a voz rouca.
Alana se encolhe e a noto estremecer.
— E se eu comer? — pergunta, hesitante.
Engulo a saliva que acumulou na boca ao sentir sua bunda encostar ainda mais nas minhas
pernas.
— Ficarei uma semana sem conversar com você. — Ameaço, firme, trincando os dentes
antes de depositar um beijo em seu pescoço.
Alana inspira.
— Isso é impossível.
— Você sabe que não é.
— Quando foi que você ficou uma semana sem conversar comigo?
Sorrio de lado, deslizando minha mão esquerda até sua barriga para mantê-la pressionada
contra meu corpo.
— Naquele dia em que você pegou a caixa de chocolate que minha mãe me deu.
— Mentira.
— Você não se lembra, Alana? — murmuro em seu ouvido.
Ela fica em silêncio por um momento, tentando recordar daquele dia.
— Lembro de você na porta da minha casa, chorando feito um bebê — relembra.
Sorrio, abrindo os olhos e usando a outra mão para afastar seus cabelos do ombro direito.
— Fiquei sem falar com você por uma semana.
— Não me lembro disso.
— Admite.
— Engraçado, você foi quem me ofereceu outra caixa de chocolate no dia seguinte,
dizendo que era para comermos juntos.
— Uma semana depois.
— Foi no dia seguinte.
— Alana... — aperto os dedos em sua barriga, agarrando o tecido de sua camisa.
— Você tem memória de peixe, Rhavi?
Umedeço os lábios.
— Só me devolve — peço.
Alana assente.
— Tá... — murmura.
Respiro aliviado ao perceber que não perdi meu doce, mas de repente, Alana escorrega dos
meus braços e foge.
— Porra!
Seus olhos encontram os meus do outro lado da mesa. Quando um sorriso travesso surge
em seus lábios, sei que ela nunca mais vai me devolver o chocolate.
— Não faz isso! — ordeno, trincando os dentes enquanto ela lentamente abre a
embalagem.
— O que vai fazer, Clark? — Provoca.
— Te odeio, Moore! — Rosno, correndo atrás dela.
Alana solta um grito misturado com risos e foge.
— Adeus, chocolatinho!
Paro, vendo-a se virar para mim e jogar o saquinho sobre a mesa, mostrando o bombom
sendo segurado por dois dedos.
— Mmm! — geme antes de jogá-lo na boca.
Um nó se forma em minha garganta ao perceber que perdi essa batalha. Fúria me domina,
junto com um calor que sobe pelo meu pescoço.
— Você vai pagar caro, sua Pinscher! — Grito, indo atrás dela.
Alana solta outro grito e foge, mas consigo agarrá-la pelo pulso antes que ela escape.
— Calma, compro outo... aaaah!
Puxo-a na minha direção com força, seu corpo colide contra o meu e eu a seguro,
encarando-a com raiva.
— Desculpa — ela murmura com a boca cheia.
— Não deveria ter feito isso — rosno entre os dentes.
Alana para de mastigar, engole com dificuldade e olha para mim, percebendo minha
irritação.
— O que você vai fazer? — Pergunta cautelosa.
Penso por três segundos, meus olhos descendo para seus lábios enquanto sua língua os
percorre.
Meu coração começa a bater mais rápido, o calor aumenta e logo perco a noção do que
estava acontecendo antes dela estar na minha frente, com essa boca cheia de chocolate.
— Vou te beijar até não conseguir mais sentir o sabor dele na sua saliva — sussurro e
nossos lábios se encontram.
Alana abre a boca, e minha língua explora, encontrando o sabor que mistura notas de
chocolate e morango. Minha mão se espalma em suas costas, e a outra se perde em seus cabelos.
No instante em que nossos lábios se unem, todas as minhas inquietações desvanecem. Não
consigo lembrar de um tempo em que nossas bocas não ficaram entrelaçadas. O beijo não é
suave nem dócil; é arrebatador, profundo, desafiador, ultrapassando os limites que talvez não
devam ser cruzados.
É um turbilhão envolvente de línguas ávidas, em dimensões monumentais, liberando um
desejo reprimido por algo proibido e moralmente questionável, que me arrebata dos alicerces e
incendeia minha alma.
Minha mão começa a vagar pelo seu corpo, ao passo que saboreio seus lábios. Alana se
curva ao meu toque, minha mente se aquece e meu coração acelera.
— Alana... — recuo o suficiente para recuperarmos o fôlego.
Ela roça os lábios nos meus, deslizando as mãos pelo meu pescoço e seguindo pelos meus
ombros.
— Não pare — sussurra em um tom suplicante.
Engulo em seco perante seu pedido, que desperta um ardor irresistível em mim.
— Não podemos... — meus olhos se abrem, encontrando os seus.
— Está desconfortável? — ela indaga, deslizando suas mãos pelo meu pescoço.
A intensidade em seu olhar desperta sensações elétricas, deixando-me vulnerável. Procuro
uma explicação lógica para as emoções que me dominam neste momento.
— Pelo contrário — murmuro, tentando encontrar palavras que possam descrever a
profundidade de seus olhos castanhos que me encaram.
— Então... por que parou? — Alana fita minha boca, e eu a dela.
— Porque você sabe que isso é um erro.
Ela retorna seu olhar para mim, e a expressão que encontro em seus olhos após minhas
palavras faz meu coração acelerar de maneira extraordinária.
— Mas talvez esse erro seja uma mera ilusão, ou quem sabe... podemos ignorá-lo — ela
sussurra. — Basta observar seus olhos para perceber que deseja cometer esse deslize tanto
quanto eu, Rhavi.
Por um instante, hesito diante de sua perspicácia antes de me inclinar para a frente.
— No fim das contas, o verdadeiro erro seria não ter sua boca junto à minha.
Nossos lábios se encontram, desencadeando uma enxurrada de luxúria que percorre meu
corpo. Parece que Alana experimenta sensações semelhantes, afundando os dedos em meus
cabelos e colando ainda mais seu corpo contra o meu.
Deixo para trás qualquer noção do que somos um para o outro, das restrições que devemos
seguir e dos limites que devemos respeitar. Resta apenas nós dois, em uma sensação de queda
livre.
Isso é... indescritível!
Suas mãos se deslocam, deslizando sobre minha camisa, explorando os músculos tensos do
meu corpo que se contraem sob seu toque. Meus dedos se entrelaçam em seus cabelos soltos na
nuca, puxando-a para mais perto.
Meu desejo se manifesta, intensificando uma ânsia que transcende o simples contato físico.
Agarro sua cintura com firmeza e a elevo, assentando-a gentilmente sobre a mesa.
Alana enlaça meus quadris com suas pernas, provocando sensações borbulhantes em meu
estômago. Uma corrente de ansiedade suave se espalha e minha mão desliza pela extensão de sua
perna, desde o tornozelo até a parte superior da coxa, apreciando sua pele, sem interromper o
beijo em uma sincronia perfeita.
A outra mão se move para sua nuca, dedos entrelaçados em seus cabelos. Solto um suspiro
quando ela, de forma sedutora, brinca com minha língua. Com um gesto firme, puxo seus
cabelos, expondo seu pescoço.
Ouço sua respiração acelerada e meus lábios traçam sua pele, deixando uma trilha à
medida que beijo seu pescoço de cima a baixo.
— Você faz isso tão bem — ela arfa, cravando as unhas em meus ombros.
Um sorriso ilumina meu rosto quando volto a tomar seus lábios. O beijo é um equilíbrio
perfeito entre suavidade e intensidade, e mergulho em um pensamento de que talvez isso não
devesse acontecer, mas que é tão glorioso que posso afirmar com todos os meus sentidos que
este é o único lugar onde desejo estar.
Não consigo discernir qual de nós está guiando essa insanidade, mas é a única maneira de
alcançar um território onde palavras não têm poder, onde as mãos não podem chegar.
Desejo envolvê-la em êxtase, fazer com que sua pele se arrepie ao som da minha voz.
Quero sentir meu corpo arder por ela, ansiando por sua presença em todos os lugares.
Alana puxa meu lábio inferior com os dentes em um gesto instigante. Sorrio, com a
respiração ofegante, e deslizo minha mão sob a barra de sua camisa, encontrando o seio direito
protegido pelo sutiã.
— Rhavi... — ela murmura meu nome, acompanhando o fôlego entrecortado, fazendo com
que meu desejo se intensifique.
Pressiono os quadris contra sua entrada, explorando sua boca com minha língua enquanto
acaricio seu mamilo. Uma chama ardente ganha vida em meu ventre e cresce à medida que
percebo a resposta apaixonada de Alana.
Que Deus me perdoe... porque o que desejo fazer com minha melhor amiga transcende os
limites convencionais e divinos, mas, droga, ela é irresistível!
Anseio por mais... muito mais, mas essa avidez é ao mesmo tempo aterradora e
emocionante. Uma parte racional em mim grita para parar, para não ser impulsivo ou tolo. No
entanto, estou seguindo o caminho da imprudência, ignorando as consequências.
Ca.ce.te!
As malditas consequências.
— Alana... — Vacilo, traçando meus lábios pelo seu pescoço mais uma vez, dividido entre
prosseguir ou interromper para evitar futuros problemas.
Porém, meus pensamentos racionais são interrompidos quando seus dedos se entrelaçam
em meus cabelos, guiando-me inexoravelmente onde meus lábios pertencem: Sua boca.
Nos beijamos de forma intensa e sensual, demonstrando uma conexão que se manifesta
através dos aromas exalados por nossos corpos e da textura de seus lábios sobre os meus... e da
minha pele...
Céus!
Meus pensamentos morais retornam com clareza. Afasto-me, embora meu corpo grite para
continuar. No entanto, antes de prosseguir, preciso ter certeza... a certeza de que ela também quer
isso.
— Espere... — solicito, segurando seu rosto.
Alana tenta me ignorar, puxando-me de volta para seus lábios. Não resisto e correspondo
ao beijo delicioso, quebrando nosso contato mais uma vez.
— Estamos seguindo por um caminho sem retorno, Alana — declaro com a voz rouca,
fixando meus olhos nos seus, buscando coerência. — Isso pode mudar muitas coisas.
Ela pondera minhas palavras por um momento e, em seguida, balança a cabeça.
— Quem se importa? — ela questiona, arranhando minha nuca com suas unhas.
— Eu me importo — respondo, mantendo meus olhos fixos em sua boca.
— Você não quer isso? — pergunta, roçando seus lábios nos meus.
— Desejo mais do que a minha própria vida — sussurro, sentindo-a sorrir quando nossos
lábios se tocam. — Estou tendo a sensação de que estamos indo longe demais.
— Sinto o mesmo que você — ela murmura com a voz rouca. — Mas será que é errado?
— Alana mordisca meu maxilar. — É errado eu desejar que meu melhor amigo transe comigo?
Engulo em seco e fecho os olhos quando me beija delicadamente.
— Sim... droga, isso é errado — resmungo. — Com você... é errado! — Meu peito arde, e
seguro seus cabelos com mais firmeza. — Melhores amigos não se envolvem assim, mas...
— Mas?
— Eu quero estar com você dessa forma — confesso. — Quero fazer sexo com você...
Maldição! É isso o que eu desejo, Alana.
Ela sorri e desliza a boca até minha orelha.
— Nada mudará entre nós depois que fizermos sexo — assegura.
— Você promete? — Afasto-me para encarar seus olhos.
— Eu prometo.
Tento convencer a mim mesmo de que ela está certa, de que nada mudará, mas... caramba,
o medo de avançar me assombra, o receio de não a satisfazer como mulher, devido à minha
inexperiência, me atormenta. Contudo, ao mesmo tempo, anseio por tudo o que envolve estar
com ela.
Desejo me perder, viver e entregar-me por completo à vastidão de seus olhos que agora me
observam com intensidade.
— Deixe de lado essa timidez comigo — ela pede.
Sinto meu peito se apertar enquanto seguro sua coxa. Nossos olhares se fixam, os segundos
se estendem, e busco internamente uma maneira de expressar o sentimento que me impulsiona a
seguir adiante, apesar de todas as incertezas.
Foda-se! Foda-se todo o resto!
— Eu te quero, Alana — declaro, beijando o canto de sua boca. — Quero que minha
primeira vez seja com você — meus lábios traçam a curva de sua mandíbula.
Ela suspira, fechando os olhos.
— Eu também te quero, Rhavi... — ela murmura, perdendo-se nas carícias de meus lábios.
— Quero ser sua primeira.
Deixo todas as preocupações de lado quando um arrepio de prazer percorre minha espinha,
e minhas mãos começam a ficar úmidas.
Deus, quanto isso vai nos custar?
— Rhavi...
Pisco, abandonando meus pensamentos racionais e me perco nela de novo. Alana desliza
sua boca pela minha garganta, como se o tempo não fosse uma preocupação, como se tivéssemos
toda a eternidade à nossa disposição.
— Beije-me, Rhavi, como se eu fosse a única garota que importa na sua vida — exige,
segurando meu queixo e trazendo meu rosto para perto do dela.
Meu coração dispara.
Neste momento, somos os únicos habitantes de um mundo que se torna insignificante.
— Você é a única que tem o meu coração — falo antes de unir nossos lábios.
O beijo é longo, profundo, e está repleto de faíscas efervescentes que fazem cócegas em
meu peito. Deixo escapar um gemido necessitado em sua boca.
Ela sorri contra meus lábios, e minhas mãos seguram firme sua cintura sob a camisa.
— O que houve? — pergunto, afastando-me para encará-la. Não relaxo o aperto firme em
sua cintura. Não posso imaginar minhas mãos em outro lugar senão nela.
— Nada — ela suspira. — Estou apenas contente por... isto estar acontecendo.
Céus!
Recuso-me a pensar no futuro. Na multiplicidade de amanhãs que nos aguardam. Pela
primeira vez em minha vida, desejo que o amanhã não chegue.
Que o mundo se dane.
E espero que você não me julgue por isso.
Com minha mão pressionada contra sua nuca, roço a ponta dos nossos narizes.
— Também estou feliz... — mordo seu lábio inferior. — Posso tirar sua roupa? —
pergunto, fechando os olhos. — Posso beijar cada centímetro do seu corpo como ninguém jamais
fez? — abro os olhos e me encontro com os seus. — Posso ser aquele que permanecerá para
sempre em sua memória?
Alana engole em seco.
— Sim.
Um sorriso escapa de meus lábios. Ela retribui.
— Não vou mais deixar que meus lábios fiquem longe dos seus — declaro, determinado a
aproveitar este momento de total entrega, que se assemelha a uma emocionante queda livre.
Respire, só respire, Rhavi, e deixe todo o receio ir embora. Depois lide com as merdas que
virão.
Sinto as mãos trêmulas, suadas, e quando avanço contra seus lábios, um arrepio perpassa
por cada célula do meu corpo. Alana geme entre os beijos, e sem controle, meu pau vibra.
Estremeço.
O tesão torna-se insuportável.
Seguro a borda de sua camisa com ambas as mãos, descolando nossas bocas, puxando-a
para cima. Passo pela sua cabeça e suspiro ao estudá-la apenas de sutiã e calcinha de renda preta.
Um segundo depois, nossas línguas se encontram e lutam, buscando submissão um do outro.
Cada toque meu tem pressa, ansiedade, expectativa sendo superada, marcando o nosso
momento de conexão entre dois mundos dentro de um. Devoro sua boca, grato pela sensação de
um fogo lascivo que destrói tudo pelo caminho.
Experimento a curva de sua boca cheia de saliva quente, ainda com o gosto do chocolate.
O sabor de Alana é único, viciante. Sua língua vem de encontro com a minha e esqueço que ela é
minha amiga.
Caralho.
Ela é tão gostosa.
Deliciosa.
Coloco a palma da mão em seu peito, na direção de seu coração, e sinto seus batimentos
contra minha palma. Beijo-a até que fique sem fôlego e implore por ar.
— Seu coração está batendo rápido — sussurro, colando a testa na sua.
— Por você — diz, ofegante. — Ele está batendo por você... porque ele quer você.
Sob meus dedos, sinto-o bater mais rápido, em ritmo cada vez mais desesperado.
— Além dos meus batimentos — murmura, empurrando para frente meu quadril com os
calcanhares — estou molhada... muito molhada por você.
Agora é minha vez de ter meu coração batendo descompassado.
— Porra, Alana! — grunho, afundando meus dedos em sua coxa. — Não vou mais me
conter.
Reivindico sua boca novamente, provocando gemidos com a paixão ardente de nossas
línguas entrelaçadas. O som dos seus gemidos me dilacera de uma maneira única, um poder que
somente ela detém sobre mim.
Deslizo entre suas coxas. Meus desejos transcendem os limites aceitáveis e desafiam nossa
amizade, mas eu não me importo.
Foda-se!
Desejo tê-la... desejo me envolver nela... desejo que se entregue sobre a superfície da mesa
diante de mim.
Alana arranca minha camisa, nossos corpos ficam colados, absorvendo o calor mútuo
enquanto a levanto com firmeza e a prendo contra a parede. Minha sanidade se esvai ao
pressionar meu pau sob o tecido da calça de moletom, no calor de sua boceta escondida sob a
calcinha.
— Está molhada? — pergunto entre sua boca. — Diz para mim que está completamente
molhada e pronta para mim.
Deslizo uma mão entre os fios de sua nuca, prendendo-a com intensidade.
— Estou escorrendo — responde.
Intensifico o beijo, tornando-o avassalador, repleto de um desejo voraz. Os sons sensuais
de nossos lábios e línguas tornam-se um frenesi que quebra o silêncio do apartamento,
misturados aos nossos gemidos. Sinto que seu corpo implora por mais.
Ainda assim, hesito, minha confiança vacila. Para ser sincero, estou com medo... Caramba,
ela é Alana Moore, minha melhor amiga, e estou prestes a cruzar uma fronteira.
Por mais arrebatador que seja meu desejo, não quero que ela pense que estou apenas
usando-a para adquirir experiência. Quero que ela entenda que... eu a quero de verdade, não
apenas para tirar minha virgindade.
— Você tem certeza de que... posso seguir em frente? — indago, meus dedos traçando
com carinho seu rosto, meus olhos presos aos dela com uma intensidade ardente.
— Rhavi, eu te desejo mais do que qualquer coisa, mais do que palavras possam expressar.
— Ela sorri com um fogo nos olhos. — Não tenha medo. Avance, porque eu desejo sentir cada
centímetro de você como nunca.
Sorrio de lado.
— Tá bom... — Inclino-me, meus olhos fixos nos dela em busca de qualquer dúvida. — Eu
também quero cada centímetro de você... — E então, meus lábios se encontram com os seus num
beijo que começa suave, quase como uma promessa, mas logo se torna arrebatador, uma fusão de
desejo e paixão que incendeia o espaço entre nós.
Cada toque de nossos lábios é um mergulho profundo na conexão de nossas almas, uma
entrega que ultrapassa qualquer medo. Alana envolve sua língua com a minha, arrancando um
grunhido involuntário da minha garganta.
Nossa cumplicidade sempre foi eletrizante, mas neste momento... meu Deus, nenhuma
palavra no universo seria capaz de definir o que estou sentindo agora.
Uma coisa é certa, eu a farei delirar como nunca.
Bem, na verdade, nunca transei com ninguém para dizer que irei fazê-la delirar, mas isso
não é relevante neste momento. Sua saliva escorre para minha boca, suas mãos deslizam para
minha nuca, seu corpo se move junto ao meu, e sua língua dança em perfeita sintonia com a
minha.
Meu toque a faz arrepiar, e ela treme quando deslizo minha mão por dentro de sua
calcinha, começando a acariciar seu clitóris.
— Você quer que eu te leve ao limite, Alana? — A masturbo, sentindo o tecido molhado
com sua umidade. — Como nos romances que lemos?
Ela sorri, e eu afasto um fio de cabelo que caiu sobre sua bochecha. Suas pernas apertam
ao redor dos meus quadris, e mantenho-a firme contra a parede.
— Romances? — Ela geme a palavra com os olhos fechados, e meus dedos começam a
trabalhar.
Minha boca se aproxima de sua orelha, depositando um beijo antes de lamber o lóbulo.
— Os romances são como manuais... sem erros, entende? Então me diga, Alana, você quer
que eu te foda?
Afasto sua calcinha, sentindo o calor de sua pele. Seus dedos entrelaçam meus cabelos.
— Ah... — Suas pernas se contraem. — Sim... quero...
Sua umidade aumenta e inunda meus dedos.
— Mas primeiro, preciso provar de novo o seu gosto em minha boca — confesso,
deslizando minha língua por seu maxilar antes de mordiscá-lo, forçando-a a inclinar a cabeça
para trás à medida que dois dos meus dedos encontram sua entrada, mergulhando no ardor de sua
carne.
— Hmmm... — Alana geme e contorna meu pescoço com os braços.
Exploro suas dobras com dedos ávidos, minha boca traça um caminho ao longo de seu
pescoço, e meus dentes se aprofundam na curva, chupando, lambendo, deixando uma trilha de
saliva quente.
Estou me afogando em um mar de desejo, uma onda que me inunda ao vê-la tão entregue
em meus braços. Com os olhos abertos, encaro-a, observando cada nuance de prazer que se
desdobra em seu rosto; cada expressão sendo gravada em minha memória.
Um gemido escapa de seus lábios quando introduzo outro dedo, acariciando-a com uma
destreza que a deixa em frangalhos de desejo. Fico hipnotizado, assistindo-a desmoronar,
maravilhado, porque ela é a única que sempre enxergou o melhor de mim.
Com as bochechas coradas, Alana também me encara.
Um... dois... três...
Três segundos em que me perco em seu olhar, vendo-a devorada pelo desejo abrasador.
Cada centímetro do meu corpo pulsa em resposta, enlouquecido, uma tempestade de luxúria que
me mantém refém dela.
— O que foi? — ela pergunta.
— 132 meses, 528 semanas, 4.015 dias, 96.630 horas, 5.781.600 minutos e 346.896.000
segundos desde que você entrou em minha vida.
— Onze anos... — seus olhos ficam turvos.
— Desde que nos tornamos amigos, você ocupou não só meu coração, mas minha mente
— roço minha boca na sua. — Onze anos vivendo momentos únicos e agora...
— Gozaremos juntos — completa e sorrio sobre sua boca.
— Você sendo minha primeira.
— Sempre.
Beijo-a com uma delicadeza inicial, um toque suave que logo incendeia minha voracidade.
Nossos lábios se encontram e, sem pressa, o beijo adquire um sabor doce que desperta uma fome
incontrolável. Nossas línguas dançam num jogo de desejo, e ela se entrega a mim com muito
fervor.
Sem romper o beijo, meus braços envolvem sua cintura, seus seios esmagando contra o
meu peito, como se a gravidade nos puxasse um para o outro. Alana, tão pequena e perfeita, se
ajusta de forma impecável em meus braços, eu a carrego para o quarto. Com cuidado, a coloco
sobre a cama, encaixando-me entre suas pernas, nossa língua continua a explorar o território um
do outro.
Suas unhas arranham minhas costas, trilhando um caminho quente até meu pescoço. A
mistura dos nossos sabores e o arrepio causado pela sua respiração rápida me incendeia por
dentro. Meus lábios seguem um percurso sedentário por seu pescoço, ansiando por sentir cada
pedaço dela.
Afasto a alça de seu sutiã com beijos ardentes, minha boca traça um caminho pela
clavícula e pelos ombros, repetindo o ritual no outro lado antes de retirar sua peça íntima,
liberando seus seios.
Minha respiração está pesada, ou escassa, não sei dizer, e quando minha língua faz um
percurso atrevido ao redor de seu mamilo, Alana arqueja em um gemido, meu tesão atinge um
nível insuportável. Com firmeza, minhas mãos agarram sua cintura, impulsionando-a para cima,
posicionando seus seios irresistíveis na altura da minha boca, onde eles alcançam.
Grunho ao percorrer a ponta da língua em torno da aréola, envolvendo-a com um toque
ardente.
— Rhavi... — Alana afunda os dedos em meus cabelos, puxando-os. — Ohhh — ela solta
um gemido choroso quando minha boca envolve seu seio, sugando-o com uma fome insaciável.
Ela está à minha mercê, e eu a lambuzo com minha saliva, passando para o outro seio e
explorando a curva de seu peito. Meus lábios apertam com determinação, deixando sua pele
vermelha com cada sucção.
Suas unhas cravam em minhas costas, arrancando de mim um resmungo de dor, mas seu
gemido...
— Seu gemido é uma sinfonia deliciosa — digo ao traçar minha língua por sua costela,
subindo para cercar com minha boca primeiro o mamilo esquerdo, depois o direito. Minha mão
se aventura pelo vale entre suas pernas, acariciando seus lábios generosos por cima do tecido
rendado.
Um calor incendiário corre pelas minhas veias, e a ponta dos meus dedos desliza com um
toque provocante ao longo de sua boceta, minha boca permanece em seu mamilo.
— Rhavi... — ela sussurra meu nome.
O som de seu chamado ressoa em mim como uma batida estrondosa de uma corneta, e eu
não posso esperar mais. Com dedos impacientes, agarro à renda de sua calcinha, revelando
parcialmente o seu grande lábio direito. Meus dedos encontram o mesmo caminho que
percorreram naquela primeira vez no vestiário, e tambores vibram em meu estômago.
O frio na barriga se estende até o meu ventre. Alana suspira, e, movido pela urgência,
retiro sua calcinha, deixando-a nua... completamente nua para mim. Observo-a com atenção, os
fogos do meu desejo se espalham como lava de um vulcão em erupção.
— Abra as pernas, Alana — peço em um tom carregado de tesão.
— Quero sua boca nela — diz, obedecendo. Sua boceta se abre como uma rosa, totalmente
exposta. Meu olhar se fixa em seu rosto, apreciando o estado em que ela se encontra enquanto
acaricio-a com meus dedos, como um poeta explorando cada verso de sua obra de arte.
— Já te falei o quanto é linda? — Meu indicador contorna seus grandes lábios, o toque é
um pouco impaciente ao deslizar pela abertura.
— Algumas vezes — responde, erguendo os quadris.
— É só para reforçar esse fato — olho para ela.
— Me chupe, Rhavi! — pede, mordiscando o lábio inferior. — Agora!
Ajoelho no meio das suas pernas e abaixo o rosto contra sua boceta.
— Eu queria mesmo te chupar — coloco a língua para fora e a meto entre seus grandes
lábios, resvalando a ponta pelo seu clitóris.
— Oh, sim... — Alana arfa alto com minha língua na sua carne quente.
— Gostoso?
— Hmm... muito... — Alana joga a cabeça para trás contra o colchão quando a chupo com
certa violência, porque sei que gosta assim.
Ergo sua perna direita, apoiando-a sobre meu ombro, a sola fica contra minhas costas,
minha língua mete fundo, ela se contorce enquanto me lambuzo da forma mais faminta que um
homem possa lambuzar.
— Isso, Rhavi... Ohhh... desse jeito...
Ergo meus olhos e a vejo estender os braços para baixo, em cada lado do seu corpo,
cravando os dedos no lençol sobre a cama, incapaz de conter o gemido.
— Não para... — pede.
Roço a língua na sua boceta, a sucção fazendo seu clitóris inchar e círculo seu ponto,
tirando todas as suas forças em puro prazer.
— Ahhh.... — Retorce. — Merda... Rhavi... — chia meu nome junto com uma respiração
ofegante que só piora minha situação e me faz ficar ainda mais doido.
Porra! Estou prestes a gozar só de ouvi-la gemer desse jeito. Meu pau pulsa, desesperado,
pingando.
— Gostosa — assopro contra sua pele depois de mordiscar seus grandes lábios. —
Deliciosa...
Minha língua percorre a trilha da sua pele, lambuzando sua boceta de alto a baixo com um
fervor avassalador. Cada centímetro dela é uma sinfonia, e minha boca anseia por explorar cada
detalhe.
Movo-me com um desejo enlouquecido em sua direção, passando pelo monte pubiano
como se fosse uma encosta íngreme e sedutora, contornando a língua ao redor de seu umbigo e
do piercing, deslizando pela cintura e o centro de seus seios, subindo pelo pescoço até finalmente
alcançar seus lábios.
Nosso beijo é uma explosão de intensidade, um furacão de sensações que me consome
como nunca. Sem pressa, sem medo, tenho-a nos meus braços e a exploro como um cartógrafo
apaixonado, mapeando cada vale e montanha do seu corpo sem temer o implacável avanço do
tempo quando estou com ela.
— Rhavi... — ela sussurra meu nome em meio ao beijo. — Você... ah... — um sorriso
sensual dança em seus lábios, suas mãos deslizam por minhas costas suadas.
— Ah, o quê? — minha voz sai áspera em resposta, mordendo seus lábios inferiores com
fome.
— As calças... — ela arfa, e eu paro de beijá-la, olhando seus olhos faiscantes. — Por que
ainda está com essas calças?
— Não sei.
Alana solta uma risada, mordiscando meus lábios.
— Não fica parado — diz, chupando minha língua. — Pelo amor de Deus, tira essas
malditas calças e me fode.
Engulo em seco, um nó de nervosismo formando em minha garganta. Olho para Alana,
seus olhos ardem com desejo e expectativa, sem perceber o turbilhão de emoções que agitam
meu interior.
Tinha deletado a insegurança, mas ela está aqui de volta, dizendo: “oi, estou de volta!”
Droga! Droga!
Nunca fiz isso antes, a ideia de ser virgem me deixa ansioso e incerto. Uma coisa é eu ser
habilidoso com a boca, até porque treinei pra caramba, mas... transar... isso não posso garantir
que serei bom...
Caralho, estou me sentindo tão tolo.
Tá! Okay! Não deve ser tão difícil assim... é entrar, sair, segurar o gozo, fazê-la se
contorcer e gozar... tipo nos livros... sim... isso, pense nos livros...
Porra!
Queria estar tão confiante de que mandarei bem, mas a realidade da situação está
começando a pesar sobre meus ombros.
Não pensa demais, Rhavi! Não pensa...
Espera. Calma. Respira.
Essa é a hora, o momento pelo qual esperei, mesmo me sentindo à beira de um precipício,
prestes a mergulhar no desconhecido, preciso pelo menos fazer bonito.
Olho nos olhos de Alana, vendo uma mistura de expectativa, desejo e compreensão em seu
olhar. Então, como um soco na boca do meu estômago, me dou conta de que não permitirei que
minhas inseguranças me dominem nessa hora crucial.
Com um suspiro profundo, decido reagir. Acaricio o rosto de Alana com ternura e, com um
sorriso confiante, digo:
— Alana... é... hã... posso não ter experiência em transar com garotas, mas prometo que
vou aprender e fazer isso com você. Quero que essa seja uma experiência incrível para nós dois,
e... bem, não ria de mim caso eu... hum... dure... pouquinho....
Alana solta uma risada diante minha sinceridade.
— Rhavi... — Ela toca meu rosto com um sorriso travesso.
— É sério, não ria de mim caso... bom... talvez eu dure o mesmo tempo que um cometa
cruzando o céu... — reflito por um instante. — Apenas um breve lampejo, mas prometo que,
quando brilhar, será inesquecível.
Alana sorri, apreciando meu toque de humor, que na verdade é muito nervosismo.
— Isso não importa, Rhavi — diz, trançando meu maxilar com a ponta dos dedos. — E,
você sabe, até os cometas deixam um rastro deslumbrante no céu durante sua passagem rápida.
Pisco e brinco:
— Isso é verdade. Então estou prestes a ser o cometa mais brilhante da sua vida.
Alana ri, mas depois me olha com seriedade.
— Se você durar "pouquinho", não tem problema, só quero ver esse cometa em ação.
Abro um sorriso safado.
— Podemos aprimorar depois, certo?
— Quantas vezes quiser.
— Gostei disso.
— Agora você pode, por favor, liberar seu cometa?
Solto uma risada.
— Só se for agora! — Beijo-a com fervor.
Minhas mãos voltam a explorar seu corpo, guiadas pelo desejo mútuo. Estou determinado
a fazer com que esse momento seja especial, mesmo sendo minha primeira vez.
Sei que será uma passagem rápida; mete, tira, goza em segundos, mas... ei, posso ser uma
passagem celestial, mesmo que dure apenas alguns minutos no nosso universo.
Com um sorriso travesso nos lábios, descubro que talvez posso ser chamado de "Cometa
Rhavi" a partir de agora, deixando minha marca luminosa onde quer que passe.
Não ria, ficou legal!
Foco, Rhavi... Foco, cara!
— As calças, Rhavi! As calças! — Alana implora.
Levanto-me entre suas coxas, de pé, meu volume proeminente marcando minha calça de
moletom, se destaca. Meu coração martela no peito, acelerado pela forma como ela me encara,
sem pudor algum, um tesão ardente refletido em seus olhos.
— Quer meu pau dentro de você, Alana? — murmuro, uma onda de desejo percorrendo
todo o meu ser.
Um sorriso sensual brinca em seus lábios, enquanto se ergue e se apoia nos braços,
exalando confiança.
— Quero... — Alana morde o lábio inferior com luxúria. — Quero cada centímetro de
você dentro de mim.
Engulo em seco, colocando minha mão sobre a ereção latejante.
— Sua boca... — a minha voz sai quase em sussurro. — Quero sentir sua boca nele.
Seus olhos caem para o volume, o elástico do moletom revelando o começo da minha
cueca branca.
— Não está usando o Baby Yoda — ela observa com um brilho travesso nos olhos.
Dou uma risada.
— Tive uma professora incrível.
Alana se acomoda na beira da cama. Não me movo, e quando suas mãos encontram meu
abdômen, um suspiro escapa de meus lábios.
Com os dedos, ela segue as veias pulsantes da cueca que serpenteiam pelo meu ventre, não
tão proeminentes quanto aquelas do meu braço, mas igualmente fascinantes.
Ela segura o cós da calça junto com o da cueca e desce, revelando a visão que tanto almeja
estampada em seus olhos famintos.
— Divino... — Seus olhos se prendem aos meus. — Você é tão delicioso que parece uma
obra de arte, Rhavi.
Levo meu polegar até seus lábios, acariciando-os.
— Mostre-me mais uma vez o que essa boquinha safada é capaz de fazer.
Com minha ereção exposta, Alana se inclina e traça um percurso pelo meu abdômen,
explorando com a língua, circulando meu umbigo, descendo e subindo pelos músculos bem
definidos até chegar ao meu peito. Suas mãos deslizam pelas minhas costas, chegando até minha
cintura, e eu respiro fundo, afundando os dedos em seus cabelos.
— Ah... — solto um gemido quando sua mão envolve minha ereção.
Com o olhar baixo, observo sua mão percorrendo a extensão do meu pau. Seus dedos
delicados se enroscam na circunferência rígida e circulam a cabeça inchada e rosada, arrancando
gemidos de prazer dos meus lábios.
Uma gota brilhante de pré-sêmen se forma, cintilando à luz. Meu corpo pulsa na palma da
sua mão, as veias se destacam, a glande brilha, umedecida pelo líquido que escorre.
— Ohhhhh... — solto um grunhido quando Alana move o polegar sobre minha pele
sensível.
— Estou ansiosa para provar seu sabor mais uma vez... — ela murmura, acariciando a
glande e espalhando seu líquido.
— E eu por essa boca... Ohhh... — Ela puxa com firmeza a pele para baixo, fazendo-me
estremecer de prazer. — Incrível... — meu corpo treme, meu abdômen se contrai, e um sorriso
malicioso toma conta de seus lábios.
Aperto ainda mais seus cabelos ao fechar os olhos com ela movendo a mão. Alana me
masturba, para cima e para baixo, desafiando-me a conter os gemidos que ameaçam escapar com
intensidade.
— Delícia, Alana, mas quero sua boquinha... — um gemido contido quer escapar, mas
mantenho o controle.
Minha respiração fica entrecortada, cada toque seu arrepia minha pele, e quando sua boca
envolve meu membro, não consigo mais segurar, solto um grunhido alto de prazer.
Alana faz um boquete com fome, sua luxúria transbordando em cada sucção e chupada na
glande, me levando ao ápice do prazer enquanto sinto seus lábios quentes envolvendo meu pau
com maestria.
— Caralho! — exclamo, fechando os olhos com força, lutando contra o orgasmo. —
Alana...
Ouço o som erótico de sua sucção, e isso me leva ao limite...
Porra!
Abro os olhos, vendo-a me chupar, lamber e sugar com avidez.
— Alana, eu... — ela interrompe e retira meu membro de sua boca, olhando-me com
desejo ardente em seus olhos famintos.
— Camisinha... — ela ofega, sua voz carregada de segurança. — Camisinha, onde estão?
— pergunta, lambendo seus lábios de forma provocante. — Quero sentir você dentro de mim.
— Camisinha... sim... camisinha... — murmuro, controlando o formigamento que percorre
meu membro pulsante.
— Diz que elas estão aqui.
— Tenho uma gaveta recheada delas — esboço um sorriso.
Afasto-me por um momento, inclinando-me para abrir a gaveta da mesa de cabeceira. Ela
se revela cheia de preservativos.
Com mãos trêmulas, agarro uma e fecho a gaveta, voltando-me para Alana, que me encara
com um olhar ardiloso.
— Não me olhe desse jeito, meu pai sempre traz um monte quando me visita.
— Não estou olhando desse jeito, só estou surpresa com a quantidade que você tem.
Abro o pacote com os dentes.
— Isso é tão constrangedor — sinto meu nervosismo aumentar.
— Mas, de qualquer forma, é bom saber que você está bem preparado para qualquer
situação — Alana pega o preservativo das minhas mãos trêmulas e desliza com destreza pelo
meu membro. — Agora quero sentir você dentro de mim... profundamente.
— Eu também...
Com o coração batendo forte, inclino-me sobre ela, seu corpo cedendo à medida que o meu
o cobre. Nossas bocas permanecem unidas, mas ao tentar posicionar minha mão ao seu lado
sobre a cama, encontro um vazio, e meu equilíbrio se desfaz, levando-me a uma queda iminente.
Minhas costas colidem com o chão e o corpo de Alana cai sobre o meu com um impacto
surdo.
— Céus! — exclamo, segurando-a firmemente em meus braços.
Ela esconde o rosto no meu pescoço, estremecendo com uma risada.
Aguardo que ela se acalme, ergo a sua cabeça, afasto os fios de cabelo que caem sobre o
seu rosto e observo seus olhos cheios de diversão.
— Você se machucou? — pergunto, preocupado.
— Não.
— Peço desculpas, quase consegui entrar... e, nervoso, apoiei-me no lugar errado — solto
uma risada.
— Pare de rir — ela pede.
— Não consigo — a tensão nervosa é palpável.
Então, no meio das minhas risadas, Alana leva a boca até a lateral do meu pescoço,
percorrendo minha pele com sua língua quente, deixando um rastro de saliva até chegar ao meu
maxilar.
Meu riso se transforma em um gemido. Sua intimidade sobre o meu abdômen faz meu
membro pulsar e o calor dela me arrepia.
Alana se curva em minha direção, e minha respiração fica suspensa, como se o mundo
inteiro estivesse contido naquele momento. Meus olhos se fecham, entregando-me à sensação
que se aproxima.
Minhas mãos afundam em seus cabelos, e eu me inclino em direção a ela, buscando a
doçura do seu toque. Nossos lábios se encontram em um beijo que, mesmo suave, carrega a
promessa de um desejo incandescente, uma chama que queima com uma delicada hesitação.
Minhas mãos deslizam do seu rosto para sua cintura, nosso beijo se aprofunda, puxo-a para
mais perto, até que nossos corpos contêm um contra o outro. Um suspiro incontrolável escapa
dos meus lábios quando ela se afasta por um breve momento, mas em seu olhar, vejo uma
determinação feroz.
Ela me beija novamente, e minhas mãos traçam seu corpo, deslizando da cintura para seus
quadris, trazendo-a com força contra mim. Engulo em seco quando sinto sua intimidade roçar na
ponta do meu pau rígido, um calor cresce entre minhas pernas.
Minha mão viaja para cima, em direção aos seus seios, o polegar acariciando seu mamilo
eriçado. Um gemido foge dos meus lábios, alto e incontrolável, quando ela rebola contra a
firmeza que anseia por ela.
O desejo se intensifica a cada segundo, minha boca traça um caminho pela sua mandíbula,
minha outra mão desliza para a parte inferior de suas costas.
Sinto um frio na barriga, e meu coração bate descompassado, porque sei que estamos
finalmente prestes a cruzar uma fronteira irreversível.
Alana pressiona sua boceta contra meu pau. Solto um grunhido involuntário quando ela se
move, e meus lábios deixam um rastro de beijos ardentes pela linha da sua mandíbula, seguindo
até seu pescoço.
Meus dentes roçam sua mandíbula, e então desço para chupar o lóbulo de sua orelha,
enquanto brinca com meu pau.
— Alana... — murmuro seu nome, engasgando quando meu pau quase entra dentro dela e
um arrepio percorre minha espinha.
Nunca experimentei algo assim, algo tão... transcendente. Sua excitação é evidente, e mal
consigo controlar minha própria respiração. Nunca fui tão longe com ninguém, nada nunca foi
tão bom.
Mais. Eu quero mais!
Ela está tão molhada, tão pronta. Com as duas mãos, agarro seus quadris, sem deixá-la
escapar, e com um movimento ágil, rolo para cima dela, nossos corpos se encaixando
perfeitamente. Quando posiciono meu pau na sua entrada, fecho os olhos por um segundo para
tentar acalmar meu coração que retumba descontrolado.
— Preciso estar no controle — digo, pressionando-a contra o chão.
— Ah, é?
Meus dedos traçam um caminho ao longo de sua mandíbula, descendo pelo pescoço com
um toque suave. Seus olhos se fecham, e minha mãos continuam a explorar cada centímetro do
seu corpo.
— Você é gostosa demais e acabaria comigo em um segundo, então preciso... bem, tentar
estar no controle.
Alana morde o lábio ao sentir meu pau encaixadinho na sua boceta. Inclino-me sobre ela, a
firmeza de seu seio cabendo em minha mão. Ela solta um gemido, e o desejo dentro de mim se
avoluma como um vulcão prestes a entrar em erupção.
— Não acredito que isso está acontecendo... — murmuro.
Alana sorri.
— Pode ficar melhor.
Meus dedos acariciam seu mamilo, e ela arqueia as costas. Então, minha boca se encontra
com a dela em um beijo ardente. Pressiono a ponta do meu membro na sua entrada, já
escorregadia, e vou deslizando para dentro.
Olho em seus olhos.
— Posso entrar? — minha voz é rouca.
Ela responde, a voz cheia de luxúria.
— Você não precisa de permissão.
Nesse momento, o desejo me domina por completo. Se ela dissesse não, eu imploraria pelo
seu sim.
Meu coração bate descompassado, a respiração ofega, a antecipação queima dentro de mim
que mal consigo me conter.
Os olhos de Alana encontram os meus quando a ponta do meu membro penetra em seu
interior com um estalo.
— Ohh...
— Estou entrando — digo, observando uma gota de suor deslizar por sua garganta.
— Está aberta, Rhavi — ela grunhe.
— Porque eu a abri — sorrio, empurrando um pouco mais, engasgando com quão apertada
Alana é.
Prendo a respiração quando meu membro duro avança cada vez mais para dentro dela,
esticando sua boceta. E quando penso que não posso ir mais fundo, continuo, a ponta alcançando
o fundo de seu ser.
— Caramba! — estremeço, perdendo o controle, e minha boca enche-se de saliva.
Não consigo respirar.
É tão intenso... tão apertado...
Porra, já sinto vontade de gozar!
Calma... não goze agora, Rhavi, você acabou de entrar, porra!
Vamos, cara! Você consegue se segurar.
Um... Dois... Três...
A tempestade furiosa dentro de mim rugi.
— Arch... — rosno, fechando os olhos, tentando inspirar e expirar.
Não posso gozar... não vou gozar...
Preciso me acalmar, droga!
Observo entre nós e percebo que estou completamente dentro dela... dentro da sua boceta.
Prendo a respiração. Inferno, ela é baixa e pequena, ter toda esta exuberância dentro dela...
é loucura.
— Posso me mover? — pergunto, sentindo minha pelve tocar na dela. — Não me moverei
até que esteja pronta — murmuro.
Ela não é virgem que nem eu, porra!
Como sou estupido... acho que ela que deveria perguntar: Consegue se mover?
Certamente eu responderia: Só se for para gozar.
Okay! Foco! Foco!
Mas como... como consegui me encaixar tão profundo assim nela?
— Mova-se, Rhavi! — Alana chia, com um pouco de diversão na voz.
Meu pau lateja dentro dela, e tento relaxar meu corpo.
Droga, é tão apertado.
Imagine essa sensação sem a porra da camisinha?
Deve ser ainda melhor... não, não, não, camisinha, sempre camisinhas... merda... meus
pensamentos...
Nosso olhar se cruza, e deixo escapar um gemido trêmulo.
A garota que está debaixo de mim é minha melhor amiga... Eu estou dentro dela... dentro
de Alana...
Mordo o lábio e balanço a cabeça, afastando todos esses pensamentos caóticos.
— Se concentre, Rhavi!
— Calma! — murmuro. — Está difícil o negócio aqui...
— Só mete sem pensar.
— Estou... hum... controlando... tudo... inferno, estou à beira do orgasmo... calma!
— Tá... — ela segura a risada, e começa acariciar meus cabelos, aguardando com
paciência o meu momento.
Depois de alguns minutos, digo:
— Acho que agora estou bem.
— Pode se mover?
— Acho que sim... — Muito lentamente, recuo até que apenas a ponta do meu pau
permaneça dentro dela. — Você parece tão vazia, oca, sem meu pau dentro de você.
— Talvez incompleta — responde, engolindo com dificuldade.
— Eu a completo, então?
— Sim, Rhavi! Caralho, mete logo, cara!
— Que impaciente... — Empurro meu quadril para a frente, e quando meu membro colide
novamente com sua intimidade, gememos em uníssono. — Porra! É bom... muito bom...
— Você pode ir rápido, se quiser.
— Quero gozar.... — Inspiro fundo e controlo o ritmo da próxima estocada.
Estou nervoso, talvez pensar em algo horripilante me ajude a controlar o gozo, mas o quê?
Se a única coisa que ocupa minha mente é que estou fodendo minha melhor amiga, e é
absolutamente maravilhoso, caramba!
— Sua boceta é tão apertada — sussurro em seu ouvido, mantendo a investida lenta e
constante. — Transar com você é incrível.
— Ohhhh! Porra!
Resvalo e enfio, estremecendo.
— Estou te machucando?
Alana ri, abrindo mais as pernas.
— Você é grande, Rhavi, muito, e isso é maravilhoso — ela se move no chão, e apoio meu
peso no braço ao lado de sua cabeça.
— Isso é maravilhoso ou incrível?
— É incrível... — ela desliza as mãos pelas minhas costas e agarra minha nádega, guiando-
me para dentro dela. — Agora, continue, caramba!
— Então vou continuar...
— Jesus, Rhavi, pare de falar.
Começo a rir.
— Estou nervoso, estou tentando me distrair, você sabe, para durar mais.
Alana me encara com olhos ardentes.
— Apenas... Ah... — ela revira os olhos quando eu mergulho em seu corpo repetidamente.
— Isso, cacete!
Chio quando ela dá um tapa em minha nádega, minha pele queima. O atrito entre meu pau
e sua boceta está me enlouquecendo. Quanto mais nós nos entregamos, mais selvagem e rude me
torno.
Baixo minha cabeça, mordo seu ombro de leve e movo meu corpo com investidas longas
que me fazem gemer a cada colisão de nossos corpos.
— Foda-se— grunho, penetrando fundo dentro dela com toda a minha força. — Está
gostando assim, Alana? De sentir meu pau metendo em você?
— Oh, sim! — ela finca as unhas em minhas costas.
Levanto a cabeça e chupo seu lábio.
— Você gosta quando seu melhor amigo te fode com intensidade?
— Sim!
— Safada — mergulho com ainda mais vigor e mordo seu lábio para conter meus próprios
gemidos.
Estou perto... inferno, tão perto...
Aumento o ritmo, ciente de que não aguentarei muito mais, mesmo assim, continuo
penetrando profundo, mais e mais fundo.
— Alana... eu...
— Vai, Rhavi, continue!
Ranjo os dentes, cada impulso agita nossos corpos e me leva a um redemoinho de êxtase.
Ela envolve suas pernas ao meu redor e o prazer cresce, arrancando gemidos de ambos.
— Eu... vou gozar — murmuro, nossos olhos se encontrando.
Não agora... não quando está bom... fecho os olhos com força.
Não goza, cara!
Vamos, cadê a resistência?
— Oh, céus! — ela geme enquanto continuo a me mover. — Seu pau me preenche tão
gostoso.
No momento em que ela pronuncia essas palavras, meu orgasmo me atinge como um
furacão, envolvendo todo o meu corpo e me inundando com ondas de prazer que eu não sabia
serem possíveis.
Nãããããããããão!
Droga!
Jatos e mais jatos...
— Ohhh... — meu corpo treme enquanto gozo, solto um gemido alto e frustrado, sentindo
explosão após explosão de calor saindo do meu pau, preenchendo a camisinha com espermas.
Não acredito, mano!
Eu gozei tão rápido... tão rápido...
Merda!
Segundos se passam e permaneço quieto, ofegante e suado.
Que decepcionante, Rhavi Clark!
Que decepção!
Desabo sobre ela, sem forças para quebrar o silêncio. Suas mãos acariciam minhas costas,
e permaneço imóvel, com meu membro murcho ainda dentro de Alana
— Tudo bem? — Alana pergunta.
Não! Na verdade, não sei nem o que dizer.
O que se fala depois do sexo?
Eu te amo, algo do tipo?
— Mandei bem? — Ergo-me nos cotovelos para conseguir fitá-la.
Que pergunta estranha de se fazer, sendo que não durei nada. Só que acabei de transar com
minha melhor amiga... porra, fizemos sexo!
EU-NÃO-SOU-MAIS-VIRGEM!
É isso mesmo?
Não sou mais um neném?
Não é certo pensar que fodi minha amiga, mas... também não é errado, certo?
Vai, diga-me que não foi errado, por favor!
Mas espera... calma... ela... hum... não gozou, ou gozou e nem vi?
— Na medida do possível — responde, abrindo um sorriso.
Na medida do possível?
Como assim? Isso parece uma forma mais gentil de dizer que mandei mal.
— Eu não te fiz gozar.
— Isso não é relevante agora.
— Para mim é! — resmungo. — Foi rápido, não foi?
— Um pouquinho — responde.
Faço uma careta.
Viu, só! Mandei mal de verdade.
Droga!
— Desculpe por isso — balbucio.
— Pelo quê? — seus dedos brincam com meus cabelos.
— Por não ter feito você gozar — engulo em seco, sentindo as pontas dos seus dedos
escorrerem até meus ombros. — Sei que é um pouco decepcionante.
A frustração começa a tomar conta de mim, pois, além de ter gozado rápido, não a satisfiz.
— Você não é mais virgem — diz, quebrando meus pensamentos.
Pisco, ainda sem acreditar nisso.
Olha a evolução, não sou mais virgem! Está feliz? Porque eu estou muito por ter batizado
meu pau e por ter compartilhado esse momento intenso com minha melhor amiga.
Sinto-me bem. Sinto-me incrivelmente bem, mesmo que carinha aqui embaixo não tenha
sido tão resistente como deveria.
Nossos olhares se encontraram.
— Você não gozou.
Alana solta uma risadinha.
— Não, Rhavi, não gozei — ela se inclina e toca meus lábios com os seus. — É normal
sentir-se assim na sua primeira vez ou gozar rápido.
— Hum... — fito seus olhos. — Sabe, ainda estou dentro de você e... bem, acho que gosto
de estar dentro de você. É gostoso.
— Você acha?
— Você gosta? — Começo a me afastar, mas paro quando suas mãos envolvem meu rosto.
— Espere — murmura. — Fique apenas mais um pouco — pede, suas mãos descendo para
o meu pescoço.
Concordo, porque está muito bom. Seu sorriso suave se transforma em um leve deboche.
— Você pode tentar novamente.
— Posso?
— Afinal, você precisa me levar ao orgasmo.
Deixo escapar um suspiro lento.
— Então, podemos transar muitas vezes até eu conseguir?
Essa pergunta do século faz meu pau começar a endurecer de novo. Detalhe, endurecer
dentro dela, porque ainda não o tirei.
— Acho que isso depende de você.
— Sério?
Ela ri.
— Sim
— Se eu fosse você, eu pensaria direitinho, porque se eu continuar, não posso garantir que
vou me comportar.
— Não estamos nos comportando de qualquer forma.
— Quero dizer... hum... que vou te comer de novo e de novo, te fazer gozar múltiplas
vezes — sussurro, meus olhos cintilando com malícia. — Repetidas vezes. De novo. De novo. E
de novo.
Procuro seus olhos, ansiando que ela perceba minha seriedade. Dentro dela, meu pau se
intensifica, pulsando e ganhando firmeza, e meu sorriso se amplia.
— Seria melhor trocar a camisinha primeiro.
— Ah, é verdade!
Alana ri, e finalmente puxo meu pau para fora, saindo dentro dela.
— Eu vou trocar, só um segundo.
Levanto-me do chão e vou até o banheiro descartar a camisinha e me limpar. Quando
retorno, o quarto está iluminado apenas pela suave luz da lua que filtra pelas cortinas, e encontro
Alana sentada na beira da cama, com a camisinha entre os dedos, me encarando sem pudor.
— Posso te contar um segredo? — Um sorriso suave molda seus lábios.
— Você nunca teve segredos comigo.
— Ah, tenho sim! — diz, fitando a camisinha, depois retornando os olhos para mim. —
Tem algumas coisas que não te conto.
— Por quê?
— Bem, são segredos particulares.
Franzo a testa.
— Qual é esse segredo, então?
Alana inclina a cabeça para o lado.
Observo sua expressão, e quando fala, sua voz sai baixa, cuidadosa.
— É uma espécie de fantasia que sempre tive.
— Que tipo de fantasia? — aproximo. — Você quer um sexo sádico ou algo assim?
— Algo assim.
Abro um sorriso, e meu pau pulsa com o que podemos fazer em relação a isso.
— Tá falando sério?
— Não estou.
— Poh, Alana! — envolvo meu pau ereto na mão.
— Rhavi... — ela umedece os lábios ao encarar minha dureza.
Ah... essa boquinha no meu pau...
— Que fantasia é essa, Alana? — pergunto, atraindo seu olhar para os meus de novo.
— Transar com meu melhor amigo.
— Quê? — rio, soltando meu pau e vendo que está falando sério. — Não brinca.
— Não estou.
— O que você quer dizer com isso?
Ela não espera nem um segundo para me atingir com sua revelação.
— Já pensei em fazer sexo com você. Várias vezes, tantas vezes que perdi a conta.
A admissão me assusta.
— Desde quando?
— Desde sempre — dá de ombros. — Já me masturbei pensando... em você.
Minha mente fica uma bagunça.
— Não faz sentido.
— Faz todo sentido.
— Não, não faz! — olho para os lados. — Sempre fomos melhores amigos... tipo... hã...
proibido, entende? Tudo sempre foi inocente, Alana — volto a encará-la.
— Por que está tão surpreso? — pergunta. — Nunca pensou em transar comigo?
— Não! — exclamo, chocado.
Nunca... em hipótese alguma tive pensamentos com Alana que beira a depravação antes...
bem, de beijá-la na primeira vez, e nem nunca gozei pensando nela... espera!
Alana masturbou pensando em mim?
— Você é lindo. É único... — ela continua. — É especial. É você. E é meu melhor amigo.
Eu te amo. E... não sei, acho que foi porque sempre tive curiosidade em como você seria na
cama, transando com alguma garota ou... transando comigo. Sou sexualmente ativa, e você um
fruto proibido. Esse tipo de coisa.
Fico estático por alguns segundos, absorvendo tudo o que está dizendo.
— Quer dizer que quando dormíamos juntos...
— Sim, morria de tesão. Você não?
— Não. Claro que não! — bufo uma risada nervosa. — Que ideia.
Alana sorri para mim.
— Pena que não transamos no ensino médio.
— Por quê?
— Bem, todas aquelas vezes que estávamos sozinhos em casa, dormindo de conchinha e
não fizemos nada... — Ela estala a língua. — Quanto desperdício!
— Alana... — engulo em seco, encarando-a.
— Podemos aproveitar agora.
Porra! No fundo, bem lá no fundo, gosto dessa confissão, de saber que sempre fui sua
fantasia.
— Então... sempre fantasiou comigo te comendo, é? — Movo-me lentamente, meu coração
acelerando a cada passo.
Tínhamos feito sexo, que sentido faz ficar chocado com isso agora?
Já estamos na merda mesmo... por que não me lambuzar?
Aconteceu, e foi incrível. Não arrasei, mas posso tentar de novo, afinal, sou Rhavi Clark!
Porém, temos tanto a perder...
Porra! Foda-se a merda desse mundo.
Paro diante dela, a poucos centímetros de distância. Meus olhos se encontram com os dela,
e traço com o polegar seus lábios, fazendo um gesto lento.
— Estou tendo uma fantasia agora, da qual vou realizar.
— O que ela envolve? — Alana pergunta.
Meu coração bate forte, em meus lábios um sorriso safado.
— Envolve nós dois explorando cada canto desse quarto.
— O que mais? — Alana abre a boca e fecha os lábios em torno do meu polegar,
chupando-o.
Trinco os dentes. Inclino ainda mais perto, nossas bocas quase se tocando.
— Bem, algumas coisas são mostradas do que apenas faladas. — E então, num movimento
ousado, capturo seus lábios em um beijo ardente.
Alana geme quando roço os dentes em sua língua. Deslizo as mãos pelos seus cabelos,
aprofundando mais o beijo molhado e cheio de urgência.
Agora que não sou mais virgem, estou determinando a mostrar a ela todo fogo guardado
que arde em minhas veias. Espero que Alana aguente, porque foi a responsável por libertar o
animal insaciável que habitava dentro de mim.
Meus lábios se movem do dela para o queixo, traçando um caminho até seu pescoço, onde
deposito beijos delicados, fazendo-a suspirar de prazer.
Nossos olhos voltam a se encontrar, meu pau pulsa e fica ainda mais endurecido. Não
quero pensar em mais nada, a não ser em entrar em sua bocetinha deliciosa, sentir sua carne se
esticando para mim até estar completamente ingurgitada.
— Diga-me o que você quer, Alana?
Seus olhos brilham de desejo.
— Eu quero que você me foda, Rhavi.
— A noite toda?
— A noite toda.
Deitados lado a lado na cama, nossos dedos brincam delicadamente um com o outro,
traçando círculos e desenhando padrões invisíveis na pele. A luz suave do dia invade o quarto,
iluminando nossos rostos.
A tensão entre nós parece ter adquirido vida própria, como se estivesse fazendo
alongamentos matinais, e não posso deixar de reviver a noite anterior, que foi uma verdadeira
obra-prima de maravilhosidade.
— Posso te fazer uma pergunta? — quebro o silêncio.
— Sim — ela entrelaça nossos dedos, para depois soltá-los.
— Hum... o que você conversa com outros caras depois de uma noite como essa? — Viro o
rosto para encará-la.
Alana sorri de leve, apoiando a cabeça em uma das mãos.
— Eu não sei — diz. — Geralmente, eu vou embora. Não costumo acordar na cama de
outro cara, quando é na minha, peço para ir embora logo depois.
Arqueio uma sobrancelha, curioso e surpreso.
— E por que isso?
Ela dá de ombros.
— Acho que sou a rainha da escapada — fala, voltando a deitar a cabeça no travesseiro. —
Não quero que entendam que vão ter algo a mais comigo.
Fico calado por um segundo, e não consigo evitar a brincadeira que surge em minha mente.
— Então, você é como o Running Back do romance, fazendo uma corrida para o
touchdown e desaparecendo antes que possam te marcar?
Alana ri, pegando a brincadeira e entrando no jogo.
— Tipo isso. Desvio das defesas e saio pela lateral antes que possam me pegar.
— Você deve ter uma ótima habilidade de escapar dos tackles, hein? — falo, rindo junto
com ela.
— Essa é uma estratégia muito eficaz, acredite em mim.
Observo nossos dedos voltarem a brincar. Sinto uma leveza em meio a todas as emoções
intensas que estou experimentando. É legal estar com ela e saber que pode ser honesta comigo,
mesmo quando a conversa toca em áreas sensíveis, mas tenho outra pergunta que martela em
minha mente, e não consigo mais evitá-la.
— Alana?
— Hum?
— Por que você terminou com o Sean? — minha voz sai um pouco rouca, temendo a
resposta.
Alana suspira, fitando nossas mãos antes de voltar a me encarar.
— Queríamos coisas diferentes.
— Que tipo de coisas diferentes?
Ela hesita por um instante, parecendo escolher suas palavras com cuidado.
— Sean queria um relacionamento mais sério, eu queria aproveitar minha vida na
universidade. Gosto de ir para festas, sair com as garotas, me divertir sem estar aprisionada a
ninguém. Ele nunca concordou com isso, então começamos a discutir com muito mais
frequência.
Isso é verdade, Alana sempre foi esse tipo de garota, não aquela que sai para fazer o
errado, mas a que gosta de ser livre, aproveitar cada segundo da sua vida.
Nunca me importei, porque sei que ela sempre volta para meus braços. Não será uma festa
ou amigas que tirará Alana de mim, mas... Sean nunca pensou assim.
— Não teve outro motivo?
— Não éramos compatíveis. Havia muita pressão e expectativa da parte dele, e eu não
queria mais forçar algo que não estava dando certo.
— Não foi por minha causa?
Um nó se forma em minha garganta ao lembrar das vezes em que os peguei discutindo,
meu nome sempre era citado. Eu nunca quis ser o motivo do relacionamento de Alana acabar, e
me sinto mal por isso.
Alana me encara, e eu fito o teto.
— Eu não queria causar problemas, Alana — murmuro. — Você sabe disso, certo?
— Rhavi? — ela diz, com urgência, virando meu rosto com a mão para que eu possa
encará-la. Seus olhos castanhos, profundos e intensos, perfuram os meus. — Você nunca foi a
causa do meu término, Pet. Sean e eu estávamos enfrentando dificuldades há muito tempo. Não
dava mais para continuar. — Seus dedos traçam linhas suaves na minha pele. — E outra coisa,
nada, absolutamente nada, pode ou vai afastar você de mim. Você é minha metade.
Olho nos olhos de Alana, e uma sensação quente e gostosa, mas ao mesmo tempo fria e
desconhecida, percorre meu corpo. — Você é a minha metade também.
Ela sorri.
— Eu sei.
Pigarreio para continuar as perguntas.
— Por que você nunca mais namorou alguém? — O tom da minha voz carrega uma pitada
de curiosidade.
Alana fita meus olhos por alguns segundos antes de responder, seus dedos parando por um
momento antes de continuar a dança invisível.
— Porque nenhum outro cara era como você — ela confessa, sua voz quase um sussurro.
Fico surpreso com a resposta, e meu coração acelera.
— Comigo? O que você quer dizer com isso? — Não consigo deixar de sentir uma emoção
borbulhando dentro de mim.
Felicidade talvez?
Alana abre um sorriso que ilumina seu rosto.
— Quero dizer que nenhum outro cara teve a capacidade de me fazer sentir tão à vontade,
de me fazer rir como você faz — ela dá de ombros. — Nenhum outro cara entende cada nuance
do meu ser como você.
Engulo em seco, sentindo uma mistura de alegria e hesitação.
Você ouviu bem? Eu entendi certo?
Deveria ficar feliz pra caramba depois dessas palavras, só que...
Respiro fundo.
— Eu não sei o que dizer — admito, minha voz um sussurro também.
Alana se aproxima um pouco mais, nossos rostos agora estão a centímetros de distância.
— Você não precisa dizer nada — ela murmura. — Só precisa estar aqui, comigo.
Meu coração se aquece.
— Estar aqui com você é tudo o que eu mais desejo todos os dias.
E então, a puxo gentilmente para um beijo, uma intensidade ecoa os sentimentos que
florescem dentro de mim. Desfaço o beijo.
— Ele não gosta de mim — constato.
Alana me olha.
— Quem?
— Sean.
— Sério?
— Ele está louco para me socar.
— Por que você acha isso?
— Bem... — reflito por um momento. — Sean já não gostava de mim quando estavam
juntos, e depois que terminaram, ele deixou bem claro que não me suporta.
Alana estala a língua.
— Não se preocupe com isso.
— Ele quer me dar um socão.
— Tem medo? — Alana arqueia as sobrancelhas, abrindo um sorriso.
— Não é medo — pigarreio. — É só... hum... muita tensão entre nós, além disso, nunca fui
de brigar, você sabe.
— Verdade, você sempre foi um bananão.
— Valeu! — Solto uma risada, sabendo que não sou o tipo de cara que se envolve em
brigas, prefiro resolver as coisas de maneira civilizada. — E você é a única que eu permitiria
fazer cócegas em mim.
Um sorriso ilumina o rosto de Alana, e em um instante, seus dedos começam a dançar em
cócegas pelo meu corpo, arrancando risadas incontroláveis de mim.
— Vou te ensinar a não ser tão bananão.
Seus dedos mergulham na minha cintura, e ela se ergue, montando em cima de mim.
— Tudo bem, tudo bem! Eu estava só brincando! — exclamo entre gargalhadas, tentando
me proteger das cócegas.
— Você vai parar de ser tão banana, Clark?
Rindo, seguro os braços dela e, num movimento instintivo, a viro, colocando-a sob meu
domínio e mudando o jogo.
— Agora é minha vez.
— Nãããããão! — ela se contorce.
Ataco, vendo-a rir de tantas cócegas.
— Pare, pare!
— Se eu parar, significa que eu ganhei?
Alana se encolhe, seus olhos lacrimejam de tanto rir, e tenta segurar meus pulsos a todo
custo.
— Sim. Sim. — Ela debate as pernas. — Rhavi Clark não é mais um bananão.
— Repete.
Ela gargalha.
— Rhavi Clark não é um ba-na-não.
Continuo o ataque de cócegas.
— O que eu ganho se eu parar?
— O que você quer? — pergunta, com a respiração rápida e entrecortada pelo riso.
— Eu quero você.
No instante em que essas palavras saem, minhas mãos, que antes dançavam em cócegas
por seu corpo, se detêm, e me inclino lentamente como quem vai desvendar um segredo
perigoso.
Os olhos de Alana, como estrelas no céu e incontáveis como os grãos de areia à beira-mar,
mergulham nos meus, e o mundo ao nosso redor se dissipa mais uma vez, deixando apenas o
nosso espaço.
Sua respiração, um sussurro suave, se mistura à minha, criando uma sinfonia única. Nossas
bocas se aproximam com uma inevitável atração magnética, como se fôssemos dois planetas
destinados a se encontrar no vasto universo. O toque dos nossos lábios é suave como uma brisa
de primavera, mas carrega o fogo de mil sóis.
Cada beijo é como uma poesia escrita no silêncio dos sentimentos profundos e não ditos.
Sinto a maciez dos seus lábios, a doçura que me encanta desde o primeiro dia em que os provei.
Ela é minha melhor amiga, minha confidente, meu refúgio nas tempestades da vida. E
agora, nesse momento, parece que meu amor por ela está indo além da amizade.
Começo a não me importar com isso à medida que a beijo, e meus dedos deslizam para
dentro de sua camisa, explorando sua barriga e apreciando o calor que irradia de sua pele.
Gosto de estar com ela, de me entregar dessa forma que para muitos é loucura, e até para
mim, sendo bem sincero, mas, caramba, nós nos encaixamos tão bem como um running back
avançando com precisão para o touchdown da sua carreira.
Nosso beijo se torna incandescente, ardente, onde o calor parece fundir nossas almas.
Minhas mãos deslizam habilmente por seu corpo, traçando com destreza as curvas que o
adornam.
Sabe a insegurança que estava sentindo? Parece ter se dissipado completamente, pois agora
não há espaço para medo ou pensamentos tumultuados. Tudo o que desejo é aproveitar cada
instante ao seu lado, como se o tempo se comprimisse, concedendo-me apenas uma hora de vida.
Minha boca traça um caminho incendiário ao longo de seu maxilar, saboreando sua pele,
até alcançar seu ouvido, onde beijo delicadamente o lóbulo. Sinto sua respiração ganhar
velocidade, tornando-se um suspiro entrecortado à medida que minha voracidade aumenta.
Suas unhas, como garras afiadas, riscam minha pele, descendo pelo meu corpo até se
aventurarem sob o tecido da minha cueca, onde apertam e puxam meus quadris na sua direção.
Pressiono meu pau contra sua boceta, revelando que estou pronto e duro, pois é isso que
Alana desencadeia em mim, um tesão ardente que queima tudo o que vê pela frente.
— Parece que estou querendo muito tirar sua roupa — murmuro, minha voz transmitindo
meu desejo. — Elas estão me atrapalhando.
— Sério? — ela responde com sarcasmo.
Sorrio contra sua pele, meus lábios buscando seu pescoço.
— Não quero parecer indecente.
Alana solta uma risada, me apertando com firmeza.
— Você não é indecente, Clark.
— É porque você não está lendo meus pensamentos mais sujos, Moore — digo, fixando
meu olhar nos dela. — Não imagina as coisas que quero fazer com você.
Ela morde levemente os lábios inferiores.
— Em vez de pensar, por que não me mostra, Clark?
Apoio o braço esquerdo próximo ao seu rosto, olhando-a.
Se ela soubesse... Porra, se ela soubesse que seu melhor amigo anseia por ela de todas as
formas, em todas as intensidades, em todas as posições concebíveis neste mundo, ela não teria
pedido. Mas já que pediu...
Não serei tolo o suficiente para ignorar o seu desejo, sou esperto demais para isso. O que
faço a seguir é pura audácia.
Puxo-a para perto, sentando-a enquanto deslizo sua camisa por sua cabeça, revelando seu
corpo diante de mim, uma visão de perfeição, beleza deslumbrante.
Neste momento, vou me entregar, sem barreiras, sem inseguranças, tornando-nos um só,
transcendendo as fronteiras da razão.
Volto a beijá-la, deitando-a lentamente, nossas línguas se entrelaçando em uma dança
sensual. Minha mão desliza pela sua barriga, descendo até o monte pubiano e, por fim,
encontrando sua boceta.
Alana solta um suspiro profundo ao sentir meu dedo pressionar seu ponto sensível,
gemendo suavemente enquanto meu dedo se move para dentro dela. Ela se contorce sob meu
toque, e minha boca inicia uma jornada fervente pelo seu corpo, percorrendo seu pescoço, seios e
estômago, deixando um rastro molhado pelo caminho.
Minhas mãos continuam sua exploração, deslizando para levantar suas pernas,
proporcionando-me um acesso privilegiado à sua boceta. Ergo seus quadris e minha respiração
acaricia seu clitóris.
— Você e sua boca mágica — ela diz quando minha língua traça um caminho ao longo de
sua coxa.
Sorrio contra sua pele, afasto suas pernas, aproximo-me de sua boceta, alinhando-me com
perfeição, e então...
— Ahhh, Rhavi!
Ataco sua carne com paixão, passando a língua sobre seu clitóris, depois sugando-o com
avidez, meus dedos afastando as dobras úmidas para um acesso ainda mais profundo. Em
resposta, ela arqueia os quadris em êxtase, seus gemidos ecoando no quarto enquanto a devoro
com minha boca.
— Rhavi...
Paro por um momento, olhando-a nos olhos com um sorriso safado. Suas íris castanhas
brilham com desejo, suplicando por mais.
Antes que ela tenha a chance de dizer qualquer coisa, mudo de posição, meu corpo sobre o
dela, a ponta do meu pau pulsante e firme como uma rocha bem perto de sua entrada.
Alana prende a respiração, seus lábios entreabertos em antecipação, e então, quando estou
à beira do abismo, eu paro, provocando-a com a promessa do êxtase iminente.
— Não me provoque... — ela sussurra com um lamento, sua voz trazendo uma mistura de
desejo e anseio.
Deslizo meu braço direito por baixo de suas costas, segurando-a com firmeza, minha outra
mão toca seu rosto e traço com o polegar o contorno dos seus lábios.
— Não estou provocando.
— Não é o que parece.
— Não é isso — digo, soltando uma risada leve e esticando o braço para pegar a camisinha
ali ao alcance. — Estávamos esquecendo dessa lindinha aqui.
Alana abre a boca, sua expressão denunciando que ela também havia esquecido esse
detalhe importante.
— E não dá para te comer usando cueca.
Ela solta uma risada, que ecoa em meu coração como uma sinfonia celestial.
Caramba! Alana é tão linda sorrindo... ainda mais nos meus braços, desprovida de qualquer
vestígio de roupa, entregando-se a mim. É a personificação da minha mais lasciva fantasia.
— Você me faz perder a razão, garoto — sussurra, rindo quando me afasto apenas o
suficiente para remover a cueca e vestir a camisinha.
Quando meu pau está envolto em proteção, retomo nosso beijo com um desejo voraz.
Nossas línguas entram em um duelo ardente, enquanto meus quadris avançam com determinação
inabalável.
Alana emite um gemido profundo, suas unhas voltando a cravar em minha pele quando a
cabeça do meu pau toca sua entrada antes de avançar com uma urgência devastadora.
— Ohhh! — grunho em uníssono com ela.
Meu membro a preenche por completo, reivindicando o espaço que me pertence como um
direito divino. Sinto-me ligado à sua alma, não apenas roubando sua respiração, mas também sua
razão.
— Alana... — gemo, fechando os olhos com força. — Caralho!
Seguro sua coxa, movendo-me dentro e fora dela de maneira tão intensa que todo o meu
ser se arrepia de prazer. Meus dedos afundam na carne de sua pele a cada retirada e metida.
— Ohhh... — ela murmura, mordendo meu lábio inferior em um gemido ardente.
Reviro os olhos, completamente dominado pelo êxtase. Vou mais fundo, mergulhando nela
com uma luxúria desenfreada.
— Rhavi... — ela geme meu nome a cada estocada poderosa.
Minha pelve choca-se com a dela, nos impulsionando para a frente em um ritmo voraz.
Gotas de suor começam a escorrer pelo meu corpo, e nossos gemidos se entrelaçam em uma
melodia eloquente.
Deslizo e meto, Alana agarra minha bunda, cravando as unhas com desejo, incitando-me a
continuar. A dor inicial se transforma em um prazer cru e visceral.
Sua boceta me envolve, suas paredes internas começam a pulsar, me apertando... Caramba,
é uma intensidade de prazer que nos consome, e eu perco a noção de tudo, as ondas extasiantes
me envolvem.
— Alana... — grunho. — Não quero gozar agora... porra!
Ela solta um gemido quando seguro sua perna com mais força, enterrando-me mais
profundo nela.
— Rhavi... não pare.
— Eu não vou! — sussurro em seu pescoço, minha língua traçando um caminho pelo seu
corpo enquanto continuo investindo com fúria.
— Continue...
— Sim, meu amor...
— Ohhh... — ela revira os olhos em delírio.
Desejo me entregar a ela de forma tão completa que não reste mais nada do que fui como
Rhavi Clark. Quero desaparecer em êxtase.
— Quer que eu continue te fodendo assim, Alana? — ela assente com um gemido que ecoa
como melodia. — Dessa forma? — Entro com intensidade.
— Estou prestes... Rhavi... Ohh!
Fecho os olhos, concentrando-me nas estocadas. Estou envolto em uma névoa de luxúria,
embriagado pelo prazer, e não consigo ser nada menos que selvagem agora.
Deslizo com uma fúria desmedida, minha mão traça um caminho pela lateral de seu corpo,
apertando seu mamilo esquerdo antes de deslizar a palma de volta para sua coxa. Alana
estremece e solta gemidos que perfuram o ar.
Continuo a nos unir de forma avassaladora. Cara, estou literalmente a possuindo como se o
tempo fosse efêmero, como se apenas dez minutos restassem no meu relógio de vida.
Neste momento, eu poderia morrer, e morreria com um sorriso nos lábios, porque, quando
me afundo nela, completando-a com meu pau e entregando-me, sinto a experiência mais sublime
deste mundo.
Interrompo a estocada no auge, sento-me, e a trago para meu colo. Meu pau se aprofunda
na sua boceta até o talo, e enterro a cabeça em seu ombro, contendo a vontade de liberar o gozo.
Quando me sinto mais controlado, ergo o olhar, afastando os cabelos do rosto de Alana,
que estão grudados em sua pele suada, e a encaro. Seus lábios estão entreabertos, um tom rosado
e pequenas gotas de suor dançam sobre eles.
Ela está deslumbrante, simplesmente espetacular, droga!
Sou o homem mais sortudo na RedZone.
— Assim, desse jeito, não tenho certeza se serei capaz de me controlar — sussurro, a voz
carregada de tesão.
Alana sorri, seus dedos acariciando o meu rosto coberto de suor.
— Você está mais resistente — murmura, descendo os dedos pelo meu pescoço, traçando
um caminho que parece elétrico. — Está indo muito bem.
Minhas mãos exploram suas costas com determinação, enquanto pulso dentro dela, o ritmo
do meu coração acelerando.
— Rebola para mim, Alana — rogo, enterrando minha mão em sua nuca, puxando-a
suavemente e revelando o contorno de seu pescoço. — Rebola bem gostoso.
Ela sorri... caramba, esse sorriso...
Eu poderia gozar apenas com um sorriso dela, porque, agora, Alana é minha.
Exclusivamente minha.
Suas unhas se cravam em meus ombros, arranhando minha pele ao começar a se mover.
Minha mão envolve sua nuca, roubando seus lábios em um beijo apaixonado enquanto ela
cavalga com fervor. Um gemido escapa de meus lábios, minha outra mão encontra seu quadril e
aperto-o, mordo seu lábio, faminto.
— Alana... — minha voz vacila quando sinto sua boceta apertando meu pau.
Porra, porra, porra!
— Rhavi... hmmm... — ela joga a cabeça para trás, e minha língua segue o contorno
sedutor de seu pescoço. — Estou prestes a gozar...
Ergo a cabeça para encarar seu rosto contorcido pelo prazer, seu corpo se movendo em um
ritmo hipnotizante, me enlouquecendo.
— Estou quase lá — ela geme, fechando os olhos.
— Cacete... oh! — minha voz escapa, enquanto reviro os olhos. Meus braços envolvem
sua cintura e a deito de costas, retirando-me e depois metendo profundo dentro dela, ouvindo-a
balbuciar palavras incoerentes enquanto a tomo com vigor.
— Rhavi... Ohhh... — ela arqueia as costas.
— Goze, Alana... — agarro seus quadris, movendo-me com intensidade, meu corpo
pressionando o dela, a união carnal se tornando uma expressão avassaladora de nosso desejo.
— Rhavi... meu... caramba... — sinto-a desmoronar em meus braços, absorvendo seu
aroma, sintonizado com os sons de nossa paixão entrelaçada.
— Não posso mais segurar... — fecho os olhos e me entrego, experimentando um orgasmo
tão selvagem e arrebatador, como se estivesse fora da minha realidade.
— Ohhh... Merda! — ela chia com meu pau inchando dentro dela e pulsando.
Perco a noção do tempo e do espaço, tornando-me um turbilhão de prazer, de sensações
sublimes, de desejos que ardem e sentimentos que se entrelaçam.
— Caramba... — meu clímax parece infinito, e sou tomado por espasmos interiores. Meu
corpo todo pulsa, a adrenalina continua a fluir em minhas veias, e meu coração não desacelera.
Aproximo meu rosto do dela, me perdendo em seu olhar. Meus batimentos cardíacos são
uma sinfonia desordenada, todos por causa da Alana, e sua intimidade, agora em êxtase, se ajusta
à minha.
Encosto nossas testas e movo os quadris, retirando-me dela com suavidade, antes de beijá-
la. Tudo começou e terminou em nossos corpos unidos pelo suor. Mãos, línguas, aromas,
prazer... caramba, meu lugar é aqui, e sempre será. De uma forma estranha, encontrar-me em
seus braços é como encontrar meu lar. No calor dela, encontro refúgio nos dias frios também.
— Foi extraordinário — sussurro, rompendo o beijo e desabando ao seu lado na cama.
Estou extenuado... completamente exausto... mas há algo... algo...
Respiro fundo, fechando os olhos por um instante, sentindo algo novo em meu coração,
algo que não sei explicar. É como se eu tivesse acabado de desbloquear uma fase em um jogo
que tanto lutei para conquistar.
— Você está bem? — pergunto em voz baixa quando ela permanece em silêncio, nossa
respiração em perfeita sintonia, nossos peitos subindo e descendo.
— Estou.
— Eu mandei bem, não acha? — uma pitada de incerteza na minha voz, enquanto espero
ansioso por sua resposta.
— Mandou muito bem, Rhavi. — Ela sorri, um sorriso que irradia satisfação. — Você
sempre me surpreende.
— É porque sou foda pra caralho.
Alana ri, voltando a ficar em silêncio. Por um tempo que parece eterno, nossos olhos
permanecem fixos no teto, nossas mãos se entrelaçam, dançando uma com a outra sobre lençol
macio.
— Acho que exagerei — quebro o silêncio com uma voz hesitante.
— Por que acha isso?
— Bem... fui bastante intenso... caramba, você chegou lá — viro-me para encará-la,
buscando seus olhos.
Alana ri, girando a cabeça para me olhar. Seus olhos estão nublados, assim como os meus,
e percebo que ela está tão exausta quanto eu.
— Você conseguiu seu primeiro towchidow comigo.
Um sorriso genuíno se espalha pelo meu rosto.
— Estou feliz por isso — digo, afastando uma mecha de cabelo do rosto dela.
— Eu também estou.
Alana inspira fundo, suas pálpebras pesando.
— Você parece cansada.
— Um pouco — ela admite.
Inclino-me e deposito um beijo suave em seus lábios.
— Que tal um banho comigo? — pergunto, meu tom é puramente inocente. — Só um
banho, nada mais. Prometo.
Ela sorri, concordando com um gesto de cabeça.
— Sim.
Com cuidado, levanto-a em meus braços. Alana envolve os seus em volta do meu pescoço
e a levo para o banheiro. Chegando lá, a coloco gentilmente no chão e ligo o chuveiro.
A água morna escorre sobre nossos corpos, criando um clima reconfortante. Enquanto a
água desliza por nossas peles, conversamos sobre diversos assuntos, rindo das memórias que
compartilhamos e das histórias engraçadas que lembramos.
Alana me faz rir com suas maluquices da adolescência, e em meio a risadas, me pego
pensando em como ela sempre teve esse poder de iluminar meu dia.
De repente, tenho uma ideia legal. Pego o frasco de shampoo e começo a derramar uma
pequena quantidade em minha mão. Com um olhar travesso, aproximo-me dela e começo a
espalhar o shampoo em seus cabelos, massageando delicadamente seu couro cabeludo.
Ela fecha os olhos, aproveitando o carinho.
— Você sabe que isso significa guerra, certo? — ela diz com um sorriso.
— Claro que sei! — respondo com um brilho nos olhos.
Ela pega o frasco de shampoo e começa a fazer o mesmo comigo, e logo estamos nos
divertindo, espalhando espuma por nossos cabelos e fazendo caretas engraçadas.
O vapor sobe ao nosso redor.
— Qual o motivo que te faz gostar de mim?
Ela para por um instante, com o shampoo na mão, e me olha nos olhos.
— Deixe-me pensar...
— Nossa.
Ela ri.
— São tantos motivos que é difícil escolher apenas um — Alana se ergue na ponta dos pés
e massageia meus cabelos. — Mas o que mais me cativa é a forma como você me faz sentir
especial. Quando estou ao seu lado, sinto que sou a pessoa mais importante do mundo. — Ela
espuma o shampoo. — Você me faz rir, me apoia e me entende como ninguém mais. Sua
sinceridade, seu carinho e sua forma de cuidar de mim são simplesmente incríveis. — Alana dá
de ombros. — E, claro, não posso esquecer desse jeito carinhoso com que você me chama de
“pet”. Tudo em você me faz gostar ainda mais de você a cada dia que passa.
— Sou incrível mesmo.
Ela dá um tapa em meu ombro.
— E quais os seus motivos?
— Que difícil.
— Há, há, há.
Sorrio, derramando shampoo na minha mão, depois na sua cabeça, e começo a massagear,
fazendo muita espuma.
— Você é única para mim, não tem muito o que falar, acho que não existe palavras que
descrevem o que sinto por você.
— Tenta.
Faço uma bola de espuma sobre sua cabeça.
— Hum... Sua amizade para mim é como olhar para o infinito e ver que tudo nele é sem
fim. Você é simplesmente incrível, as sensações que você me traz são inúmeras, a felicidade que
me traz é eterna — faço uma pausa. — Sabe, Alana, há um mundo no meu coração onde você é a
única população, esse mundo é somente seu.
— Meu?
— Totalmente seu — sorrio, descendo meus olhos para encontrar com os seus. — Acho
que respondi sua pergunta.
— Respondeu — ela pisga, sua voz saindo um pouco engasgada.
— Eu te amo para sempre.
— Vai ser sempre eu e você.
— Rhavi Clark e Alana Moore — balbucio. — É sério, é bonito.
Ela ri, e eu a abraço sob o chuveiro, nossos corpos nus se colando.
— Obrigado — digo.
— Pelo que, Pet?
— Por tudo, acho.
— Ah, pensei que era por eu ter tirado a sua virgindade.
— Também.
Desfaço do abraço, encaro-a pertinho por alguns segundos, sentindo sua respiração se
misturar com a minha e meus lábios se encontram com os dela em um beijo suave. Uma onda de
calor começa a percorrer meu corpo.
Estamos tão à vontade um com o outro, como se tudo entre nós fosse simples e certo.
Eu ficaria horas admirando o seu sorriso, o seu jeito, as suas manias, ficaria horas ouvindo
sua voz me chamando de "pet", ficaria horas em silêncio ao seu lado só curtindo a sua
companhia e a calmaria que ela me traz.
Alana desfaz o beijo, percorrendo as mãos pelo seu rosto.
— Rhavi, precisamos terminar o banho.
— Tem certeza?
Ela mergulha no chuveiro, enxaguando os cabelos.
— Claro.
— Tudo bem — balbucio, um pouco decepcionado.
Porra, estou duro de novo, cacete!
Será que vou ficar sempre assim? Apontado para o infinito e além?
Rio internamente.
Eu sei. Eu sei que sou engraçado.
Mas... ah, queria de novo!
Vou tentar pensar em algo bem feio para me ajudar a murchar, porque meu pau tem vida
própria, cara! Ele não cansa.
— Rhavi?
— Hum?
— O que está pensando?
Alana está me encarando com a sobrancelha arqueada.
— Nada! — solto uma risada. — É que estou excitado, o meu amigo aqui, tem bateria
infinita.
Os olhos dela escorrem até meu pau, vendo a ereção.
— Você bem que poderia me ajudar.
— Rhavi, por Deus! — ela gargalha, puxando-me para dentro do chuveiro e abrindo até o
jato gelado substituir o quente. — Isso vai ajudar.
— Não vai, não!
— Cala boca e se concentra.
— Com você perto, é difícil.
— Vou sair.
— Não! — viro de costas. — Pronto!
Alana ri. Segundos depois sinto as pontas dos seus dedos navegar minhas costas.
— Não está ajudando.
— Aqui, passa o condicionador — diz, despejando o conteúdo na palma da minha mão.
Quando termino, desligo o chuveiro, e apanho a toalha que Alana me entrega, envolvendo-
a em volta da cintura.
Acho que a água gelada ajudou um pouco, só um pouco.
— Está mais frio? — ela pergunta, vestida em um roupão branco, com uma toalha
envolvendo seus cabelos.
— Pouco — respondo, dando um sorriso safado.
Alana me ignora ao olhar para seus cremes sobre a pia, aqueles que sempre deixa aqui.
— Que tal um tratamento facial? — sugere com um sorriso. — Acho que sua pele vai
agradecer por isso, ainda mais depois de tantos treinos debaixo do sol.
— Faz tempo que você não cuida de mim.
— Não seja por isso.
Alana começa a detalhar a utilidade de cada item pela milésima vez. Eu a abraço pela
cintura, a ergo e acomodo sobre a pia. Em seguida, começa a aplicar máscara de argila em meu
rosto.
Começo a recordar de uma das suas travessuras que fez na época da escola. Não posso
deixar de rir com a lembrança.
— Lembra daquele dia em que jogamos ovos no telhado da escola? — digo com um
sorriso.
Alana ri, manipulando a argila de tal maneira que parece que estou prestes a me
transformar em uma obra de arte intrigante.
— Ah, como eu poderia esquecer disso? — responde. — Foi uma das minhas melhores
ideias, Rhavi.
— E a cara do diretor quando descobriu? — continuo, rindo ainda mais. — Parecia que ele
ia explodir de raiva!
Jogamos ovos no telhado da escola porque, na época, Alana estava entediada e queria fazer
algo divertido. Além disso, alguns colegas mais babacas a desafiaram a fazer isso. Só descobri
que era uma aposta real quando estávamos sentados na sala do diretor, recebendo bronca.
Alana termina de aplicar a argila no meu rosto e se inclina para me dar um beijo rápido.
—Você lembra do que disse ao diretor? — pergunto, estreitando os olhos.
— Disse que queríamos aplicar a teoria da gravidade na prática, e qual lugar melhor do que
o telhado da escola? — ela dá de ombros. — O problema é que nossos ovos não estudaram o
suficiente para passar no teste.
Solto uma gargalhada.
— Essa desculpa não nos livrou de um mês de detenção.
— Não — ela ri. — Nem do castigo de nossos pais.
Olho-me para o espelho enquanto a argila seca.
— Você sempre causava confusão e me levava junto.
— Você ia porque queria.
— Eu era facilmente manipulado por você.
— Que mentira, Pet.
Dou de ombros, fingindo inocência.
— Mas, olhando para trás, acho que fizemos algumas escolhas bem engraçadas — digo,
por fim.
Ela ri de novo, cutucando com o dedo a argila úmida do meu rosto.
— Nem vem, você nem protestava.
— Ainda bem que sobrevivemos a todas suas tramoias.
— Agora somos adultos responsáveis.
— Pelo menos eu na maior parte do tempo sou — arqueio uma sobrancelha. — Você eu já
não sei.
Alana solta uma risadinha.
— Sou responsável, cara.
Fico encarando-a.
— Sabe, estou parecendo aquelas obras humana com essa argila no rosto — comento,
tentando fazer caretas engraçadas que fazem Alana rir.
— Uma obra de arte muito charmosa, devo dizer. — Ela me olha com um sorriso lindo nos
lábios.
— Acho que só falta você agora — falo, pegando um pouco de argila e me aproximando
dela.
Ela me lança um olhar desconfiado.
— Rhavi, você promete não aprontar nada, certo?
— Prometo, prometo! — Respondo com as mãos para o alto. — Só vou aplicar isso com o
máximo de cuidado.
Observo Alana enquanto passo a argila em seu rosto. Nossos olhos se encontram e, por um
breve momento, sinto aquele sentimento diferente de novo, é algo intenso, inegável,
inexplicável.
Não consigo resistir à atração que cresce dentro de mim e, com cuidado, inclino-me para
beijá-la. Nossos lábios se encontram em um beijo carregado de eletricidade, uma faísca que me
incendeia. Sinto a suavidade de sua pele contra a minha, o calor de seu rosto próximo ao meu.
Minhas mãos, antes aplicando a argila, agora acariciam suas bochechas, meus dedos
traçando um caminho sutil por sua nuca.
Perdemos a noção do tempo, imersos nesse beijo que parece durar uma eternidade. Cada
respiração, cada batida de coração, está em sintonia, dançando uma melodia que é só nossa.
Nossos lábios se separam lentamente, relutantes em se afastar um do outro. Volto a beijá-
la, perdendo-me nessa sensação que só ela é capaz de me causar.
Quero me perder de novo, de novo, de novo...
Porra, quero me perder nela para sempre.
— Rhavi... — Alana sussurra meu nome, sua voz carregada de desejo.
Afasto para encontrar seus olhos, eles brilham como estrelas em uma noite clara.
— Parei! — murmuro em resposta, incapaz de conter o sorriso que se forma em meus
lábios. — Não estou duro. Eu juro!
Mentira!
— Você é insaciável, cara!
— Culpa sua!
Nossas mãos se entrelaçam, como se sempre tivessem pertencido uma à outra. É um gesto
simples, mas cheio de significado.
— Estou com muita fome.
— Vamos pedir comida.
— Pizza?
Balanço a cabeça.
— Nããããão, por Deus!
— Por quê? — Alana protesta.
Respiro fundo, achando-a tão engraçada com essa argila no rosto.
— Noite passada comemos o quê?
— Pizza.
— E você quer de novo.
— Sim?
— Já acabou a minha cota, Pet, agora só daqui um mês.
Alana faz uma careta.
— Salada, então?
— Uma salada cairia bem.
Alana assente, e nossos lábios voltam a se encontrar em um beijo quente, que dura apenas
alguns segundos.
— Certo, então vamos lavar nossos rostos, senão... hum... sabe... meu amigão aqui já está
prontinho.
— Jesus! — ela dá um tapa no meu ombro, rindo e descendo da pia. — Não consigo
entender.
— O quê? — abraço-a por trás e deposito um beijo em seu pescoço.
— Como você se recupera tão rápido.
— Também não sei.
Um tempo depois, eu e Alana nos sentamos no sofá após nossa sessão de spa caseiro.
Estou usando apenas uma calça de moletom, enquanto Alana usa minha camisa que cobre sua
calcinha, seus cabelos estão úmidos e meus olhos descem por seu corpo.
— Para de me olhar assim — diz, pegando seu celular.
— Parei! — pigarreio, desviando meu olhar.
Porra, é mais forte do que eu!
O jogo “Bloodborne” carrega na tela da TV, e Alana relaxa no sofá, folheando seu celular,
quando de repente solta uma gargalhada.
— Rhavi, escuta só isso! — Ela exclama, mostrando o tweet em seu celular, de uma garota
chamada Jenkins.
"A rivalidade entre gatos e cachorros é só aperitivo perto da rivalidade entre mim e a balança. #vidaFitnes"
Rio junto com ela, achando uma piada muito sem graça, mas rindo por causa da risada de
Alana.
— Ah, essa garota e suas lutas épicas contra a balança. — Alana comenta, fazendo um
gesto dramático com as mãos. — Acho que até a balança pede arrego.
— Deve ser uma batalha mais intensa que os chefes em Bloodborne — brinco.
Alana finge indignação.
— Ei, Bloodborne é coisa séria! Até mesmo os monstros podem se assustar com o peso do
rival.
À medida que meu personagem enfrenta um chefe formidável e a batalha se torna cada vez
mais intensa, Alana não conseguia conter suas reclamações engraçadas ao me assistir.
— Esse monstro parece uma mistura entre um pesadelo e um espantalho bêbado! — Ela
diz, estalando a língua. — Ah, é muito feio!
Balanço a cabeça concordando, tentando manter a concentração na luta. Meu personagem
está quase sem vida, e eu preciso encontrar uma maneira de derrotar meu inimigo.
— É verdade! E olha só, ele parece ter pego umas aulas de dança macabra também. —
Respondo, desviando dos ataques do monstro.
A luta prossegue, e Alana continua a fazer seus comentários.
— Você deveria tentar dançar também! Talvez isso confunda o monstro. — Ela sugere,
provocando uma risada minha enquanto tento coordenar os movimentos do personagem na tela.
Um minuto depois, fico totalmente imerso no mundo de Bloodborne. Minhas mãos suam
segurando o controle, e meus olhos estão fixos na tv, onde meu personagem luta bravamente
contra um monstro.
Cada movimento é calculado, cada ataque preciso.
Alana solta um grito, me assustando, seus olhos estão presos na tela do celular, seu rosto se
contrai, e lê em voz alta.
"TCU está prestes a vencer mais uma vez! Vocês nem sabem como jogar, Houston.
#TCUdomina #Amadores"
Ela revira os olhos e bufa.
— Olha só o nível desses babacas. Não conseguem ganhar de forma justa, então recorrem
a tweets provocativos.
— É, algumas rivalidades podem ser bem chatas. Mas sabe o que dizem: "Os cães ladram,
a caravana passa." Então deixa isso pra lá, Pet.
Ela estreita os olhos.
— Você está certo.
Alana, com um sorriso travesso no rosto, digita no celular.
Oh, queridos do TCU, parece que vocês esqueceram suas aulas de humildade em algum lugar. Se precisarem de dicas de
como ganhar com aula, é só pedir. #VamosGanharComEstilo #GoCoogs
Ela olha para mim, rindo, enquanto espera para ver como os torcedores do TCU vão
retorquir.
— Você gosta de uma briga, hein!
— Lógico.
Volto a focar no jogo, no entanto, com apenas alguns golpes de derrotar o monstro, cometo
um erro crucial. Esquivo de um ataque, mas não rápido o suficiente.
O monstro me atinge com um golpe certo, e o meu personagem cai no chão, derrotado.
Porra! Já tem dias que tento passar desse filho da puta.
Solto um suspiro frustrado e jogo o controle no sofá.
— Ah, não acredito! Estava tão perto! — exclamo passando a mão pelos cabelos
desgrenhados. — A maior mentira, é alguém dizer que o jogo acalma. Caralho!
Alana ri e se inclina para beijar minha bochecha.
— Foi por pouco, Pet. Você quase conseguiu. — Ela tenta me confortar.
Olho para ela, com um sorriso no rosto.
— Pelo menos tenho a melhor recompensa aqui comigo. — Inclino-me na sua direção e
toco seus lábios com os meus, beijando-a devagar.
A campainha toca.
— Droga! — resmungo, querendo ignorar essa porra.
Alana empurra meu rosto para longe dela.
— Nossa comida.
— Você foi salva.
— Ufa!
— Da próxima não terá essa sorte — digo, levantando-me.
Descalço, vou até a porta, louco para preencher o buraco que se instaurou no meu
estômago. Agora estou me questionando por que não podemos viver apenas de sexo, sabe?
Imagina só:
Estou faminto – sexo. Estou sedento – sexo também. Caramba, será que é pedir demais?
Por favor, diga que não é!
Assim que abro a porta, uma sensação estranha percorre minha espinha, e toda a realidade
que eu havia ignorado retorna como um soco no rosto. Em minha frente, está a garota loira que
tanto habita meus sonhos. Seus olhos azuis rastreiam meu corpo, subindo e prendendo-se aos
meus.
Ela se encosta no batente da porta, ergue um pequeno frasco de vidro e lança um sorriso
sedutor que faz meu coração acelerar, enquanto o chão parece ceder sob meus pés.
— Será que você poderia me emprestar um pouco de açúcar... — sua língua percorre seus
lábios, e seus olhos fazem o trajeto por meu corpo novamente. — Ou talvez sal...
— Leanne?
Meu coração salta como uma bola de ping-pong em um torneio emocionante onde
desesperadamente almejo vencer para não ser eliminado da competição. Não consigo discernir
qual das duas situações é pior: o fato de ter me aprisionado em um mundo onde apenas Alana e
eu existimos, ou a realidade pedindo um pouquinho de açúcar.
Ei, qual é a realidade e qual é o sonho aqui?
Estou me sentindo como se estivesse dentro daquela série "De Férias com Meu Ex" que
ninguém admite que gosta, mas que todo mundo acaba maratonando no sofá.
Claro, eu não tenho nenhuma ex aqui, mas, caramba, a sensação é a mesma daqueles caras
que entram em situações complicadas e inesperadas com a garota do passado. Só que no meu
caso, parece que estou vivendo meu próprio episódio desse programa maluco.
Porcaria, o que faço?
Leanne permanece diante de mim, foi tantas vezes que esperei por isso que perdi as contas.
Sonhei com ela batendo à minha porta, adentrando minha casa, não apenas como minha vizinha,
mas como algo a mais.
Aqui está ela, seu sorriso lindo fazendo meu chão desaparecer, e eu, imóvel e caótico
demais para articular uma resposta, tentando me reajustar.
— Oi — sua voz invade minha mente.
Minhas mãos começam a suar, e abro e fecho a boca sem conseguir formular as palavras.
Reage. Reage. Reage, cara!
Com um esforço hercúleo, consigo formular apenas uma palavra para responder:
— Oi!
— Surpreso, né? — Ela se aproxima, afastando a distância entre nós.
Meu coração martela como um tambor em um ritual ancestral, mas pelo menos começo a
soltar algumas palavras coerentes.
— É... hã... um pouco.
Leanne sorri, os olhos azuis cintilando.
— Espero que eu seja uma surpresa agradável. — Seu tom de voz é calmo, e sinto meu
pulso acelerar ainda mais.
Ela está tão perto que posso sentir seu perfume adocicado.
— Claro, uma... uma surpresa muito agradável — gaguejo, lutando para não parecer um
bobo.
Só que estou agindo como um bobo.
Leanne ergue uma sobrancelha, divertida com meu nervosismo.
— Ótimo. Então, sobre o açúcar... — Ela abre o pote de vidro que está segurando e me
entrega, seus dedos roçando levemente os meus.
O toque é eletrizante, e uma corrente percorre meu corpo.
— Ah, sim, sim, eu posso te emprestar açúcar ou sal.
Percorro a outra mão pelos cabelos úmidos, indeciso entre convidá-la a entrar ou
simplesmente pegar o açúcar, mas então a voz de Alana corta o silêncio e gela meu sangue.
— Rhavi, olha esse twitter sem noção...
Ela ergue o rosto do celular e seus olhos se arregalam, deparando-se com Leanne parada na
porta. O sorriso que estava em seu rosto desaparece à medida que a compreensão a invade.
Meu coração aperta.
— Ah, oi, Leanne! — Alana tenta disfarçar o desconforto em sua voz.
Volto meu olhar para Leanne, e seus olhos percorrem a camisa que Alana está vestindo, na
verdade, a minha camisa, antes de voltar a me encarar. Há algo em seu olhar que não consigo
decifrar, é algo estranho.
— Olá — ela responde, com um sorriso hesitante. — Desculpa, não queria atrapalhar, é
que...
Antes que ela possa terminar sua frase, Alana solta uma risada, tentando dissipar a tensão.
— Atrapalhando? — Alana diz, agitando uma mão. — Só vim pegar um... hã... — Ela olha
para minha estante de livros com um brilho travesso nos olhos. — Meus hentais. Não me julgue,
gosto de coisas quentes.
Um momento de silêncio paira entre nós, enquanto Leanne e eu trocamos um olhar.
— Ah! — exclama Leanne.
— Mas estou indo embora — continua Alana, como se nada de anormal estivesse
acontecendo.
— Está? — Leanne arqueia uma sobrancelha.
— Rhavi, você vai deixar a garota cozinhando na sua porta? — Alana se vira para mim,
impaciente.
Eu pisco, tentando processar tudo o que está acontecendo. A realidade parece ter saído dos
trilhos.
— Hum... claro... não, quero dizer... — Inspiro fundo, tentando me acalmar. — Gostaria de
entrar? — pergunto, notando um sorriso divertido dançar em seus lábios. — Você precisa de
açúcar ou sal. Sei lá... — Solto uma risada, tentando aliviar a tensão.
— Adoraria — ela aceita o convite e passa pela porta, embora pareça um pouco contida.
Alana me observa, morde o lábio inferior e, quando estou prestes a fechar a porta, ela solta
um grito.
— Não! — congelo no lugar. — Espera!
Leanne a encara, confusa.
— O que foi?
Alana aperta os lábios, parecendo ansiosa.
— Vou embora. Não fecha a porta — ela pede, dirigindo-se a minha vizinha. — Leanne,
você pode separar aqueles hentais para mim enquanto vou... hum... fazer xixi?
Leanne franze a testa, lançando-me um olhar interrogativo. Eu dou de ombros, tão
intrigado quanto ela.
— Claro.
— Já volto, não fecha a porta — Alana me encara por um instante.
— Por quê? — questiono, confuso.
— Apenas não fecha a porta — ela me pede novamente antes de se virar e correr em
direção ao meu quarto.
Leanne fica parada, encarando o rumo por onde Alana sumiu.
— Então, não eram mesmo seus — ela comenta, pegando os hentais na prateleira.
— Eu te disse.
Que mentira, cara!
Ela pega os livros, mas seu olhar vai percorrendo a prateleira, enquanto meus olhos a
traçam de alto a baixo. Leanne veste um vestido azul claro que abraça sua cintura e delineia seus
quadris.
Seus cabelos caem em ondas delicadas por suas costas, tão radiantes quanto o sol da
manhã. Eles são perfeitos, lindos, que me fazem desejar correr meus dedos por entre seus fios,
apreciando a suavidade e me perdendo no aroma que eles exalam.
— Observando todos esses livros, a maioria deles romances — Leanne começa, sua voz
rompendo o silêncio —, sinto como se eu já tivesse te conhecido em algumas histórias que eu li,
e agora te encontrei na vida real. — Leanne se vira na minha direção, fixando seu olhar em mim.
O sorriso que ela dá é como um raio de sol atravessando uma janela esquecida, iluminando
o cômodo com seu calor.
— Essa é uma maneira... hã... legal de me comparar — respondo, meu coração palpitando.
— Às vezes, as histórias nos levam a lugares e pessoas que nem imaginamos — murmuro,
encostando na parede com a porta aberta. — Como se cada página escrita fosse um passo em
direção a um destino interessante...
Que brega!
Pigarreio, fitando meus pés descalços.
— E, de repente, você se depara com um personagem que muda o rumo da sua história de
uma forma que jamais previu — Leanne continua.
Ergo a cabeça e a encaro, vendo-a sorrir, um sorriso que me estremece.
— Heh... e em meio a todas essas histórias — falo pausadamente —, tenhamos criado a
nossa própria narrativa, com uma trama especial, confusa, estranha, confusa de novo, esquisita,
estranha outra vez e confusa de várias formas.
Ela ri.
— Várias confusões — Leanne completa.
— Aham.
Observo-a com a sensação de estar na primeira página, mas já estou muito adiante no livro.
O problema é que parece que minha vizinha acabou de entrar nesse capítulo meio sem ser
convidada.
É como se alguém estivesse rabiscando e reescrevendo a história, colocando Alana, tirando
Leanne, e depois, meio sem graça, voltando a incluir Leanne.
Ei, escritora, será que dá pra não bagunçar tanto as coisas? Estou precisando de um pouco
de clareza aqui!
— Voltei! — Alana reaparece, e quando olho na sua direção, uma camisa atinge meu rosto,
fazendo-me dar um pulo de susto.
— O que é isso? — resmungo, agarrando a camisa branca antes que ela caia no chão.
Encaro Alana, que estreita os olhos, e só então percebo que estava o tempo todo sem
camisa.
Ah, foi por isso que Leanne não parava de me encarar... estou nu!
Bom, não exatamente nu, mas você me entende, certo?
— Obrigada, Lea! — Alana pega os hentais das mãos da garota, depois se aproxima de
mim. — Não fica sem camisa — ela sussurra, quase inaudível.
— Por quê?
— Não a tire... — Alana olha para minha vizinha, acena um tchau com a mão e volta a me
encarar. — Chama-a para almoçar. É sua chance.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, e meu coração começa a apertar, porque não
quero que Alana vá embora, mas... droga!
Visto a camisa, com o pote ainda na mão.
— Tudo bem! — murmuro, com um nó na garganta.
— Se divirta, okay?
— Okay!
— Tenta não ficar tão nervoso quando... quando ela tentar avançar — Alana engole em
seco, como se fosse difícil demais dizer essas palavras.
— Vou tentar — murmuro, sentindo uma tristeza que não consigo evitar. — Se ela quiser
me beijar?
Alana morde o lábio com força.
— Para, vai se machucar! — digo, cutucando seu braço.
Ela solta o lábio e suspira.
— Você a beija de volta.
Oh! De jeito nenhum!
Porra!
Não posso beijá-la de volta, não... não estou pronto e... Leanne não é Alana.
— Vai com calma — Alana prossegue, vendo meu desconforto —, ela vai entender.
Meneio a cabeça, afinal, estou treinando para isso.
— Beleza.
Ficamos nos olhando por mais um tempo.
— Tchau, Pet! — sua voz sai um pouco engasgada, e tudo o que quero fazer é puxá-la para
os meus braços.
— Tchau!
Alana sai, nos deixando sozinhos. Sinto um buraco enorme se abrir entre meu peito.
Okay! Okay! Okay!
Não sei bem o que fazer agora, se fecho a porta ou se saio correndo que nem um
maratonista com uma tocha na mão.
Respiro fundo, tentando não me sentir inseguro.
— Eu consigo... eu consigo... — sussurro, fechando a porta.
Minhas mãos soam como se tivesse passado óleo nelas. Olho para Leanne, encostada na
estante de livros, me observando. Caminho na direção da cozinha em silêncio, coloco o pote
sobre a bancada e encho-o de açúcar.
— Aqui está! — pigarreio, acalmando as batidas do meu coração. — Só não vou misturar
com o sal, porque isso definitivamente não vai ficar legal.
Leanne se aproxima do outro lado.
— Obrigada, Rhavi!
Arrasto o pote, então sinto os dedos dela tocando os meus. São delicados, quentes, macios,
e meu coração começa a dançar como se estivesse em um baile de formatura.
— Você... hum... — engulo em seco, prendendo meus olhos nos dela, que são azuis como
o céu em um dia de verão. — Pedi meu almoço, ele está a caminho. Gostaria de comer comigo?
Ela tenta conter um sorriso, mas não consegue evitar que seus lábios carnudos e rosados se
estiquem.
Eles são bonitos... será que são tão macios como os de Alana?
Porra, o que estou pensando?
Limpo a garganta, recolhendo a mão e desviando o olhar.
— Não costumo recusar comida — ela diz com um tom de humor na voz.
— Eu sabia que você não recusaria.
— Você me conhece tão bem...
— Um pouquinho — volto a encará-la, mas... parece que... não sei explicar.
Estou feliz por tê-la aqui comigo. Muito feliz, mas, na verdade, algo parece estar fora do
lugar, meu coração está doendo, e eu não sei por quê.
Abaixo a cabeça, fito a pedra do balcão, pensando no que devo falar, e então me afasto
quando alguém bate na porta.
Ufa! Terei tempo para pensar melhor.
— Deve ser a salada — digo.
— Você pediu uma salada?
Olho para ela com um sorriso.
— Queria um McDonald?
— Com batata frita.
Solto uma risada.
— Você vai gostar, prometo.
Leanne faz uma careta divertida.
Me aproximo da porta e a abro para receber a entrega da salada. Agradeço ao entregador,
dou uma gorjeta e volto para a cozinha.
— Aqui está a nossa refeição saudável — digo, abrindo a embalagem da salada Caesar e
pego uma travessa.
— Parece apetitosa.
— E é!
— Não veio batata frita?
— Não — estalo a língua. — Mas veio molho.
— Serve.
Começo a montar a salada, colocando uma porção generosa de alface romana, croutons
crocantes e queijo parmesão ralado.
Leanne assiste enquanto adiciono pedaços de frango grelhado por cima. A salada vai
tomando forma com suas cores e texturas bem convidativas.
— Você pediu duas para o almoço? — Leanne pergunta.
Paro por um momento, meus olhos encontrando os dela, e coço a nuca.
— Ah... — começo, procurando as palavras certas. — É que... hum... sou grande e
costumo comer um pouco mais para bater as calorias do dia.
Leanne meneia a cabeça, parecendo acreditar na minha mentira.
— Gosta mesmo de salada? — pergunta. — Tipo, tem pessoas que comem por ser
saudável, mesmo não gostando, outras porque gostam.
— Sou do time que gosta.
— De que jeito que gosta?
— Sempre peço a Caesar, é a minha preferida, mas a maioria das vezes eu mesmo que
faço.
— Você sabe cozinhar?
— Hum, sim. — Sorrio. — Sou ótimo na cozinha.
— Gosto de homens que cozinham. Mas a única coisa que sei fazer bem é um macarrão
instantâneo. — Ela inclina um pouco a cabeça.
Rio da sua sinceridade.
— Macarrão instantâneo, hein?
— Acho que tenho um diploma em "Master Chef Instantâneo", se isso fosse uma coisa
real.
Não consigo evitar rir quando ela rouba um pedaço de frango.
— Isso é sério? — pergunto, assistindo mastigar. — Você não pode me dizer que nunca
tentou fazer outra coisa na cozinha.
Ela levanta as sobrancelhas, fingindo inocência.
— Bem, eu já fiz algumas tentativas, mas vamos apenas dizer que o resultado não foi
exatamente comestível. Macarrão instantâneo é minha especialidade.
Seguro a borda do balcão com uma ideia em mente.
— Acho que temos uma missão importante a cumprir então — digo, fitando seus olhos.
Leanne me encara, curiosa.
— Que missão?
— A missão de me mostrar como você prepara seu macarrão instantâneo — respondo,
sorrindo.
Leanne ergue as sobrancelhas, parecendo empolgada com a ideia.
— Você quer comer meu macarrão ou outra coisa? — ela arqueia uma sobrancelha.
Abro e fecho a boca.
— Macarrão, Kinsley! — digo, limpando a garganta e esfregando os cabelos.
Ela ri.
— Vamos ter que ir ao mercado...
— Tenho dois aqui, de carne — falo, abrindo o armário e pegando-os. — Sempre deixo
dois aqui por precaução... — completo, evitando mencionar o motivo específico, pois não posso
contar que sempre compro por causa de Alana e que ela sempre come quando está de TPM.
— Precaução? — Leanne questiona e eu coloco os macarrões no balcão.
— Às vezes, chego em casa muito cansado e não há comida pronta, então ele me salva —
explico. — Nem sempre posso comer, mas sei que quando precisar, ele vai suprir.
Ela olha para os macarrões e depois para mim.
— Está disposta a aceitar a missão? — pergunto com um sorriso brincalhão.
— Aceito a missão. — Leanne circunda o balcão, pega os macarrões e me encara com um
sorriso divertido. — A escolha de sabor é perfeita — ela segura o pacote como se fosse um
troféu.
Pego uma panela, organizando tudo o que é necessário para ela, e observo-a seguir as
instruções da embalagem.
Enquanto a água ferve e a massa cozinha, acomodo-me no banco, apoiando os antebraços
no balcão.
— Você acha que posso adicionar um pouco de tempero aqui? — ela pergunta, segurando
um frasco de temperos.
— Claro! Fique à vontade para acrescentar o que quiser, chef. — Dou uma piscadela.
Três minutos depois – tão rápido quanto eu gozando na primeira vez – o macarrão está
pronto e ela dá um toque extra de sabor, adicionando ervas. Quando termina, serve nos pratos, ao
lado da salada Caesar que já estava pronta.
— E aí, o que acha do resultado? — pergunta, levantando seu prato com orgulho.
Dou uma olhada na sua criação e sorrio.
— Acho que posso chamar de "Master Chef Instantâneo Gourmet".
Ela solta uma risada.
— Obrigada por me ajudar a aprimorar minhas habilidades culinárias, Rhavi.
— Por nada, Princesa.
Leanne e eu nos sentamos à mesa, prontos para provar sua criação. Ela me observa com
um olhar esperançoso enquanto pego um garfo cheio de macarrão e o levo à boca.
— O que você acha? — ela pergunta, ansiosa.
Mordo o macarrão e fico em silêncio por um momento, fazendo uma pausa dramática.
Então, finalmente, dou um grande sorriso.
— Uau, isso é... interessante! — digo, com um tom exagerado de surpresa.
Sério, ficou muito bom, um verdadeiro upgrade para o mundo dos macarrões instantâneos!
O toque das ervas deu uma extravagância no tempero, mas ainda assim, continua o bom e velho
macarrão de sempre.
Leanne dá um leve toque no meu braço.
— Sério?
— Você pode cozinhar para mim todos os dias agora? — Pergunto, fitando-a.
— Não ficou ruim, né? — Ela parece insegura.
— De jeito nenhum! — Exclamo com entusiasmo. — Na verdade, é o macarrão
instantâneo mais... peculiar que já experimentei. Cheio de personalidade!
Ela solta um suspiro de alívio.
— Você realmente acha isso?
— Não acredita em mim?
— Não.
Estreito os olhos, levanto-me e vou até a geladeira, pego duas latas de Coca-Cola zero,
volto à mesa e aceno com a cabeça.
— Sim, é definitivamente... saboroso.
Leanne sorri, se convencendo de que é verdade.
Abro a lata para ela, e começamos a comer o macarrão junto com a salada. Enquanto
saboreamos a refeição, ela compartilha histórias engraçadas sobre suas tentativas anteriores na
cozinha, incluindo um desastre com panquecas que resultou em uma verdadeira batalha de
farinha em sua cozinha.
— Eu disse que não sou boa na cozinha — ela ri, mexendo no macarrão com o garfo —,
mas pelo menos sempre tento.
Dou uma mordida no macarrão e concordo com a cabeça.
— É isso que importa, certo? — Empurro o ombro dela com o meu. — A diversão está na
tentativa, não importa o resultado.
Ela concorda com um aceno de cabeça.
— E você... já fez alguma tentativa culinária recente que saiu do seu controle?
Dou um gole na Coca antes de responder.
— Bem, deixe-me pensar... — Faço uma pausa dramática. — Dois meses atrás, fiz um
"sanduíche de geladeira". É um clássico!
— Sanduíche de geladeira? — Ela pergunta, confusa. — O que é isso?
— É uma obra-prima da culinária preguiçosa, digamos assim — mastigo algumas folhas
antes de continuar. — Você pega todos os restos aleatórios que encontra na geladeira, tipo,
sobras de pizza, queijo, presunto, qualquer coisa comestível, e coloca entre duas fatias de pão.
Leanne enruga o nariz, um tanto divertida.
— Você basicamente faz um sanduíche com sobras aleatórias?
— Sim! — Respondo, com um toque de orgulho na voz. — A mágica está em não saber o
que você vai encontrar lá dentro. É uma aventura culinária a cada mordida.
Ela solta uma risada, balançando a cabeça.
— Isso é... inovador, com certeza. E você sobreviveu às suas aventuras de sanduíche de
geladeira?
Dou de ombros, sorrindo.
— Até agora, sim. Acho que tenho sorte.
— Você é um verdadeiro chef, Rhavi.
Nossos olhares se encontram, e por um momento, a conversa fica em silêncio, e ela
começa a sorrir.
— O que foi?
— Nada — ela responde com uma risadinha. — Qual foi a melhor parte do seu dia de
hoje? — pergunta, seus olhos fixos na salada.
Transar com Alana...
Mastigo um pedaço de frango.
— Sei lá! — dou de ombros. — Acho que foi... quando bateu na minha porta.
Ei, não é mentira, tá?
De fato, a presença dela me deixou feliz, mas...
Sinto seus olhos sobre mim e, ao virar a cabeça para encontrá-los, percebo que ela está me
estudando, ou me admirando.
Não estou nu, mas me sinto como se estivesse.
— E o seu? — pergunto, tentando não ficar nervoso com o jeito que me encara.
— Quando você aceitou me dar açúcar.
Sorrio, desviando o olhar e remexendo no que resta do macarrão em meu prato.
— Na próxima vez te ensino a fazer um macarrão de verdade — digo, voltando a encará-
la.
— Esse não é de verdade?
— Não foi o que quis dizer.
Ela ri.
— Vou adorar aprender uma nova receita — Leanne balança a cabeça.
Quando terminamos de comer, ficamos olhando para os pratos vazios na mesa, ambos
satisfeitos.
— Isso estava delicioso — elogia, empurrando o prato vazio para o lado.
— Fico feliz que tenha gostado.
Com um sorriso, começo a recolher os pratos e talheres sujos e os levo até a pia. Leanne se
junta a mim.
— Eu posso te ajudar com isso — ela oferece.
— Não precisa, é só uma pequena pilha de louça. Eu faço isso rapidinho.
Ela estala a língua e pega o pano de prato.
— Não vou apenas ficar assistindo, vou secar tudo para você.
Não discuto, ao passo que a água corre na pia, mantemos um silêncio agradável. Após
alguns minutos, Leanne seca um prato e me lança um olhar divertido.
— O que acha de compartilhar um segredo?
Arqueio uma sobrancelha, surpreso com a sugestão.
— Um segredo? Que tipo de segredo?
Ela dá de ombros, mantendo o sorriso no rosto.
— Qualquer segredo. Pode ser algo engraçado, embaraçoso, algo que ninguém mais saiba.
Apenas algo para te conhecer um pouco melhor.
Penso por um momento, tentando escolher algo apropriado para compartilhar.
— Bem, aqui vai um segredo... — começo, sorrindo. — Quando eu era criança, tinha um
coelho de pelúcia chamado Sr. Saltitante. Eu o levava para todos os lugares, ele era meu melhor
amigo. Eu costumava conversar com ele como se fosse uma pessoa de verdade.
Leanne ri, achando a história adorável.
— Isso é tão fofo! E o que aconteceu com ele?
Terminei de lavar outro prato e o entreguei para Leanne secar.
— Eu o mantive até a adolescência, na verdade. Mas aí conheci a Alana, obviamente, fui
parando de conversar com ele. Só que ela tinha um certo ciúme dele, e um dia colocou fogo no
Sr. Saltitante.
Faço um bico, chateado.
— Ela não fez isso, ou fez?
— Fez.
— Que garota má — ela faz uma expressão triste.
— Ela assassinou o Sr. Saltitante, dizendo que eu não precisava mais dele, que agora eu a
tinha e era o suficiente.
— Me parece muito com um relacionamento abusivo.
— Às vezes acho que é — digo, estalando a língua. — Alana é um pouco possessiva.
— Você sofreu muito com a morte dele?
— Ah, sim — concordo, dando uma olhada nela. — Sempre é difícil perder as pessoas que
a gente ama.
— Principalmente nosso ursinho.
Começamos a rir.
— Eu não perdoava — Leanne diz um tempo depois, secando a panela.
— Sou bobo.
— É inocente.
— Nem tanto — falo, cutucando-a com meu cotovelo.
— Uuuh! — ela solta uma risada. — Agora que sei do pobre Sr. Saltitante, é justo que eu
também compartilhe algo.
Sorrio, curioso para ouvir o segredo dela.
— Qual é o seu segredo, Leanne?
Ela olha ao redor, como se quisesse ter certeza de que estamos sozinhos na cozinha, e
depois se inclina na minha direção, sussurrando como se estivesse compartilhando um segredo
de Estado.
— Eu tenho um talento secreto que poucas pessoas conhecem.
— Ah, é? — arqueio uma sobrancelha.
— Eu... sou incrivelmente boa em imitar vozes.
Inclino a cabeça, intrigado.
— Imitar vozes? Sério?
Ela assente com entusiasmo.
— Sim! — Leanne balança a cabeça. — Posso imitar a voz de celebridades, personagens
de desenhos animados, basicamente qualquer pessoa ou coisa. É meu pequeno truque secreto. Às
vezes, faço isso para me divertir ou até mesmo para assustar meu irmão e meus pais quando eles
menos esperam.
Começo a rir, imaginando quão divertido deve ser ouvir Leanne imitar vozes diferentes.
— Isso é incrível! Você poderia me mostrar?
Ela hesita por um momento e depois sorri.
— Talvez um dia, quando você menos esperar, vou te surpreender com uma imitação. Por
enquanto, meu talento continuará sendo meu segredo especial.
— Você é muito sem graça — brinco.
Ter um talento secreto de imitação de vozes não é algo que eu esperaria vindo dela, mas
isso só a torna mais interessante e única aos meus olhos.
Quando terminamos, ela me olha e pergunto:
— E agora, o que você quer fazer?
Leanne pensa por um momento e então sugere:
— Vi que tem uma caixa de UNO na sua prateleira de livros. Que tal jogarmos uma
partida?
A ideia me agrada, e concordo.
— Parece ótimo! Vou buscar o jogo.
Vou até a estante e pego o UNO. Quando retorno à cozinha, convido-a a ir para a sala.
Deito-me no chão, usando um travesseiro como apoio para a cabeça, e Leanne se acomoda à
minha frente, recostando-se no sofá.
Porra, estou tão cansado... estava louco para poder me deitar.
Solto um suspiro.
Fazer sexo sem descanso desgasta a gente, né?
— Preparada para uma partida acirrada, Kinsley? — indago, afastando esses pensamentos
para focar na minha vizinha.
— Estou pronta para te mostrar que sou boa nisso e em muitas outras coisas.
Dou uma rápida olhada no seu rosto, percebendo um toque de malícia em seu olhar
enquanto ela embaralha as cartas.
— Que tal um desafio? — Leanne sugere.
— Valendo o quê?
— Um beijo.
Engulo em seco, encarando-a.
Caramba, ela está falando sério?
Meu coração começa a acelerar como se estivesse prestes a sair pela minha garganta só
com essa ideia de beijá-la.
— Está falando sério? — pergunto, incerto.
— Só estou brincando — diz, entregando minhas cartas.
Respiro aliviado, não que eu considere isso ruim, apenas... não estou pronto ainda, acho
que preciso treinar muito mais com Alana.
— Pensei que iria sugerir tirar uma peça de roupa a cada partida perdida ou algo assim —
digo, hesitante.
— Você toparia?
— Não.
Leanne ri, colocando o baralho entre nós.
— Vou começar com um 7 azul — ela coloca a carta sobre o chão.
— Não vou deixar você ganhar de mim! — Lanço-lhe um piscar de olhos acompanhado de
um sorriso. — 7 Vermelho!
Leanne fica me olhando por alguns segundos, antes de abaixar o olhar e conferir suas
cartas.
— Não tenho vermelho.
— Pega aí no monte.
Ela faz uma careta.
— Só estamos começando.
À medida que o jogo progride, trocamos risadas, provocamos um ao outro e fazemos
comentários sobre as jogadas.
Leanne coloca uma carta especial, e me encara.
— Eu escolho a cor verde.
Finjo preocupação.
— Oh, isso é perigoso, Leanne — estalo a língua. — Você precisa escolher com sabedoria.
Leanne coloca a carta verde na pilha, e sorri com malicia.
— Espero ter escolhido com sabedoria. Agora é sua vez, Clark.
Olho para minhas cartas, tentando encontrar a melhor estratégia, e coloco uma carta verde
— Aqui está. Uma verde para você.
Leanne olha para a carta.
— Hmm, uma escolha segura. — Ela coloca uma carta amarela na pilha. — Agora é
amarelo.
— Amarelo não tenho — pego umas cinco até encontrar uma carta especial. — Carta
Inversão! Agora, pega +4 cartinhas aí.
— Ah, não! — resmunga.
A partida continua com Leanne tentando blefar e adivinhar as minhas cartas.
— Voltando ao desafio — ela diz, encolhendo as pernas. — Você toparia revelar coisas
que eu não saiba sobre você a cada jogada, e eu faço o mesmo.
Pego cinco cartas do monte até conseguir uma verde.
— Quem começa? — pergunto, ajeitando-as como um leque na minha mão.
— Você.
— Certo! — coloco a verde sobre a sua carta. — Hum... sou daqueles caras que pensam
demais se você não for clara com o que diz para mim.
Leanne sorri, me lançando um olhar divertido.
— Ah, então vou ter cuidado com minhas palavras para não te confundir — diz com um
toque de malícia na voz.
— Obrigado.
— Mas é divertido quando você deixa sua imaginação correr solta, não é?
— Às vezes — respondo, vendo-a colocar a amarela sobre a minha azul. — Sua vez.
Ela recosta no sofá, pensativa.
— Ainda estou aprendendo a me colocar em primeiro lugar depois de ter aceitado muitas
coisas ruins.
— Que tipo de coisas ruins?
Observo-a com atenção, notando uma sombra de tristeza em seu olhar. Leanne hesita por
um momento, como se estivesse decidindo o quanto compartilhar.
— Relacionamentos tóxicos, principalmente — ela responde, escolhendo as palavras com
cuidado. — Eu costumava me perder nos problemas dos outros, colocando-os antes de mim
mesma. Eles sugavam minha energia e me deixavam exausta. Só recentemente percebi que
preciso ser mais seletiva com quem deixo entrar na minha vida.
Balanço a cabeça, concordando com suas palavras.
— É um passo importante reconhecer isso e tomar o controle da sua própria felicidade —
falo, inspirando fundo. — Não é egoísmo, é autocuidado. Você merece estar bem e cercada de
pessoas que te valorizam.
Leanne sorri.
— É por isso que estou aproveitando esses momentos com você, Rhavi.
— Eu sou um cara legal!
Leanne coloca uma carta especial e me faz pegar +3 no monte.
— Está com você.
Penso por um instante.
— Quando gritam comigo, eu me seguro para não chorar.
— O quê?
— Sou um cara sensível.
Leanne começa a rir, sua risada é contagiante, e não consigo deixar de sorrir também.
— Todos têm seu lado sensível — ela se inclina, passa as mãos em meus cabelos e eu
aproveito seu toque, depois volta a recostar no sofá. — Não é algo de que você deva se
envergonhar.
— Não vou ter mais vergonha.
Ela faz sua jogada, ficando com apenas três cartas e eu permaneço com 10.
Ah, mano!
Estou perdendo no UNO!
Que humilhação!
— Um abraço demorado cura muita coisa em mim — diz com um tom mais baixo, me
pegando de surpresa.
Olho para ela, vendo-a fitar suas cartas. Sua declaração paira no ar por um momento,
enchendo o espaço entre nós com uma sensação de vulnerabilidade.
— É incrível como algo tão simples como um abraço pode ter um impacto tão profundo —
respondo, com uma sinceridade calorosa. — Às vezes, as coisas que mais precisamos são as mais
subestimadas.
Leanne assente, sua expressão suavizando à medida que ela continua a jogar suas cartas.
— Fico dias pensando em qualquer crítica que fazem sobre mim, mas não consigo aderir
elogios — confesso.
Os olhos de Leanne encontram os meus.
— Acho que muitos de nós têm essa tendência, Rhavi — ela responde, sua voz saindo
suave. — É mais fácil focar nas críticas porque, de alguma forma, elas parecem mais reais, mais
impactantes. Os elogios podem parecer efêmeros, pois não merecêssemos acreditar neles.
Assinto, sentindo-me compreendido por Leanne de uma alguma maneira.
— Mas a verdade é que todos merecemos ouvir palavras gentis e elogios sinceros de vez
em quando — Leanne continua. — Às vezes, precisamos lembrar a nós mesmos que somos
dignos de amor, mesmo que seja difícil acreditar nisso.
Olho para as cartas espalhadas entre nós, refletindo sobre o que disse.
— A minha versão apaixonada é a mais ingênua de todas. — Ela diz um momento depois.
— Por quê?
Leanne deixa escapar um pequeno suspiro. Seus olhos encontram os meus, e ela parece
escolher cuidadosamente suas palavras.
— Porque a versão apaixonada de mim é a mais vulnerável — ela conta, suspirando. — É
aquela que acredita nas pessoas, que coloca os sentimentos dos outros antes dos meus, que fica
com o coração partido quando algo dá errado.
Aperto os lábios, sentindo um leve desconforto no peito, como se... como se... estivesse
prestes a cometer um erro com ela, mas não estou, de forma alguma.
Não sou um babaca, apenas desejo que ela tenha... bem, a melhor experiência que já teve
com outro cara, então, para alcançar isso, preciso me preparar.
Certo?
— Acredito que apesar de tudo isso — digo, engolindo em seco —, é também a versão de
você que é capaz de criar memórias incríveis e momentos que ficam para sempre.
Ela concorda com um menear de cabeça, e há um breve momento de silêncio antes de ela
soltar uma pergunta que me pega desprevenido, como se a bola estivesse acertado as minhas no
snap do quarterback.
— E a sua versão apaixonada? — Leanne pergunta, curiosa.
Fico em silêncio, tentando encontrar minha versão apaixonada, lembrando do jeito que fico
perto dela, incapaz de pensar ou agir como um cara normal, me tornando nervoso e bobo.
Acho que essa é minha versão, mas então lembro de Alana, de como me sinto em casa nos
seus braços, da forma que ela me faz sentir confiante, como se fosse o ar que meus pulmões
precisam para me manter vivo.
Só que essa não é uma versão apaixonada, é apenas uma versão de que somos melhores
amigos.
Bem... agora estou me sentindo confuso.
— Minha versão apaixonada e insegura, boba, mas... acredito que seja uma versão
protetora.
Leanne concorda com um sutil aceno de cabeça, exibindo um leve sorriso que me deixa
curioso sobre o que está pensando. Em seguida, ela joga uma carta no monte, alterando a cor do
jogo.
— Sou muito intensa, porém não gosto de demonstrar isso a ninguém.
— Por quê?
Ela solta um suspiro, como se estivesse ponderando a pergunta antes de dar sua resposta.
— Acho que, às vezes, a intensidade assusta as pessoas. Não quero parecer sufocante ou
excessivamente emocional. Além disso, é uma maneira de me proteger, sabe? Se eu não me abrir
totalmente, não posso me machucar tanto.
Fixo meu olhar nela.
— Entendo — murmuro —, mas nem sempre é ruim ser intensa. Às vezes, é isso que nos
faz sentir vivos, mesmo que seja assustador.
Ela sorri, concordando comigo.
— Eu não sei amar pouco — confessa.
— Você não precisa amar pouco.
— Você acha? — Ela olha nos meus olhos com um brilho de cristal.
— Acho. Às vezes, a intensidade faz com que as coisas valham a pena.
Nossos olhares continuam conectados, então ela abre um sorriso.
— Você me ensinou como uma garota deve ser tratada — revela.
Meu coração começa a bater um pouco mais rápido. Há algo na maneira como ela me olha
que me faz questionar as atitudes dos outros caras em relação a como tratar uma garota.
— Acho que toda garota merece ser tratada assim, especialmente por alguém que está
disposto a ser tudo o que ela precisa — respondo, com um sorriso.
— Você está disposto a ser tudo para alguma garota, Clark?
Congelo, droga, o que eu digo?
Tipo... sim... porra!
Faria qualquer coisa por Alana.
— Hum... eu...
— Que bom que te encontrei — ela me corta, sem deixar com que eu termine a frase.
Fico calado por um momento, sua pergunta ainda martelando dentro de mim, porque... dou
o meu melhor para ser tudo para Alana, mas para Leanne...
Sim, eu faria tudo por ela... acho...
Respiro fundo.
— Acho que o universo decidiu que precisávamos de mais caos na vida — comento, com
um tom divertido na voz.
— Acho que é isso o que preciso na minha vida, Rhavi — ela fala, estalando a língua. —
Um pouco de caos.
Leanne dá um sorriso, e me lança um olhar.
— UNO! — cantarola, triunfante. — Parece que ganhei.
— Você realmente é boa nisso, Kinsley.
— Espero que você não fique muito triste por ter perdido.
— Não, não fiquei. Afinal, eu deixei você ganhar.
— Ah, é?
— Sim.
Ela fica em silêncio, me encarando enquanto levanto e junto as cartas espalhadas.
Perdi feio, sinto-me humilhado no jogo.
Embaralho as cartas, e então, de repente, minhas mãos param ao sentir seus olhos fixos em
mim, com o poder de fazer meu coração dançar samba, como se fosse um batuque que só ela
pudesse reger.
Será que eu deveria procurar um cardiologista para ter certeza de que meu coração aguenta
toda essa emoção?
— O que foi? — pergunto, sorrindo.
Ela mantém o olhar fixo em mim um pouco mais, e a maneira como seus olhos me
estudam é como um poema sendo escrito nas estrelas.
— Estou apenas te admirando.
— Por quê?
Ela dá de ombros.
— Porque você é tudo aquilo que qualquer garota sonharia em ter. — Leanne suspira. — A
garota que tiver seu coração, vai ser a garota mais sortuda desse universo.
Fico sem reação, sem saber o que dizer.
— Estou ficando famoso ultimamente.
— Ah, é?
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Sim — meneio a cabeça. — Recebo várias mensagens de garotas me convidando para
sair, não sei como pegaram meu número, mas acho que estou sendo bastante disputado.
— Vou ficar com ciúmes.
— Estou brincando.
— Está mesmo?
Dou um meio sorriso.
— Não.
Leanne solta uma risada.
— Vou ficar esperta a partir de agora, Clark!
— Tá bom! — volto a me deitar no chão. — Bem, acho que quero uma revanche no UNO
— comento, tentando mudar de assunto.
Ela ri, e o som é como música para os meus ouvidos.
— Se você estiver disposto...
— Você acha que consegue lidar com Rhavi Clark jogando de verdade?
Ela arqueia uma sobrancelha, desafiadora.
— Só tem um jeito de descobrirmos.
Com um sorriso, pego o baralho de UNO e começo a nos entregar as cartas.
— Prepare-se para perder, Leanne — sorrio.
Empurro a pesada porta do vestiário do time com um suspiro ansioso. Hoje é o último
treino antes do jogo, e a tensão está à flor da pele, porque a vitória nos colocará a um passo mais
perto das Nacionais, mas para chegarmos lá, temos que mostrar um bom desempenho nos
Playoffs da Divisão.
Vou admitir algo, talvez até tenha dito isso alguma vez, mas não quero estar sentado no
banco. Meu desejo real é estar lá no campo, executando First Down, marcando touchdowns,
celebrando cada ponto e sentindo a exaustão de um jogo intenso, no qual todos se esforçam ao
máximo para interceptar e deter as jogadas.
Há duas coisas que fazem meu coração bater mais rápido do que o normal: uma delas é
Alana e a outra é o futebol.
Alana é minha ancora, aquela que me impede de afundar, e o futebol é minha paixão
eterna, uma chama que nunca se apaga. Essas duas coisas me fazem sentir vivo, dando sentido a
cada momento, mesmo quando estou no banco, esperando minha chance.
É aí que encontro minha motivação, para um dia entrar no campo e mostrar a todos do que
sou capaz de ficar, não apenas para mim, mas também para meu pai, que sempre acreditou em
mim e no meu amor pelo futebol.
A visão que se desenrola quando entro no vestiário, não é nada fora do comum. Os caras
estão reunidos, conversando e brincando de forma descontraída, como se estivessem em uma
festa de confraternização.
Não importa as circunstâncias, eles não admitem limites, especialmente porque a filosofia
deles é viver ao máximo, aproveitar cada segundo.
Connor ocupa um lugar no banco junto com Zack e Raymond, contando alguma história
engraçada que os fazem gargalhar. Ben, está ajoelhado no chão, desafiando os outros a uma
competição de braço de ferro.
Já Tayler, está fazendo truques de malabarismos com duas bolas de futebol, mostrando sua
habilidade de domínio de um bom Wide Receiver.
— E aí, Clark! — Connor grita. — Beleza?
— E aí, galera! — saúdo, recebendo algumas tapinhas nos ombros à medida que me
aproximo do meu armário. — Parece que estou perdendo toda a diversão aqui — digo ao ver
Jerry dedilhar seu violão.
Ele se vira para mim, e sorri.
— Você chegou na hora certa! Estamos apenas aliviando um pouco a tensão antes do
treino.
— Porra, temos o TCU pela frente amanhã. — Tayler joga a bola no rumo de Connor, que
a agarra com precisão. — Os caras vão estar com sangue nos olhos.
— O “Time dos Cuzões Unidos”? — Connor caçoa, estalando a língua. — Vai ser mais
fácil do que pensamos.
— Acredito que sim, porque assisti alguns jogos deles e parece que a defesa está bem
desorganizada ultimamente — Tayler diz, trocando de roupa.
Ben se aproxima.
— Eu assisti algumas das jogadas também, e acho que podemos explorar as lacunas na
linha defensiva. Eles têm tido problemas com a pressão constante — ele afirma, recostando no
armário.
— E no ataque deles, algumas falhas bem grotescas. — Tayler acrescenta. — Parece que
têm dificuldade em lidar com blitzes e marcações apertadas. Acho que podemos tirar proveito
disso.
— No último jogo com a Georgia — Corey Luciano, o Kiker, se aproxima —, Griffin Kell
fez um field Goal de 55 jardas. Ele tem um alcance incrível nos chutes de longa distância.
— Ele é consistente mesmo com pressão — Ben reflete. — Mas a preocupação deve ser o
92. Esse cara é um monstro quando se trata de pressionar o quarterback.
— O Benson Boone, você diz? — Connor indaga, sua voz saindo um pouco hesitante.
Ben assente.
— Ele está mais rápido e forte. Não dá pra subestimar a capacidade dele de escapar da
nossa linha ofensiva.
— Ah... — Connor me lança um olhar rápido, depois pigarreia. — Vou tomar cuidado.
— Você tem algum problema com ele, Connor? — pergunto, diante de sua hesitação.
— Nenhum.
— Vai ter que soltar a bola rápido — Ben cruza os braços, fitando Connor. — Não
queremos turnovers.
— Acho... que se jogarmos com inteligência — digo, colocando minha mochila no chão
—, e evitar erros bobos, podemos controlar o ritmo do jogo. — Concluo, apesar de que jamais
devemos subestimar nossos adversários, mesmo que tenhamos os vencido três vezes nos últimos
tempos.
— Clark tem razão — Connor pega seu celular e digita algo. — Vamos repassar as
jogadas, porque essa vitória vai fazer com que subamos um pouco mais nos Playoffs.
— Ei! — Jerry grita, chamando atenção de todos. — Tenho uma música para esse
momento.
Connor ergue os olhos do celular e me cutuca com o cotovelo, apontando com o queixo na
direção do Jerry.
— Olha a merda que vai sair.
Solto uma risada.
— O cara é artista — brinco, guardando minhas coisas.
Jerry começa a dedilhar algumas notas suaves. Aos poucos, a melodia começa a ganhar
forma, e ele começa a cantar, improvisando uma canção:
"Oh, eles vêm com suas táticas e planos,
O TCU, os 'Cuzões Unidos' na nossa frente de novo.
Eles pensam que são invencíveis, mas não são,
Amanhã à noite, mostraremos o que sabemos."

Os outros jogadores no vestiário começam a prestar atenção, rindo das palavras de Jerry e
acompanhando com palmas ritmadas.
Esse cara não é normal.
Jerry continua:
"Com suas estratégias complicadas e truques,
Eles acham que nos intimidarão com seus looks mostrando o umbigo.
Mas somos unidos, somos fortes e não cuzões,
E juntos, vamos mostrar que somos valentões."

Os risos e as palmas se intensificam enquanto Jerry continua com um sorriso travesso.


"Então, TCU, tragam suas bundas aqui e mostre o seu melhor,
Nós vamos jogar com coragem e com fervor.
Mas quando o apito final soar,
Espero que vocês saibam quem é que vai ganhar!"

O vestiário explode em aplausos e risadas quando Jerry conclui sua canção.


— Você é foda, cara! — Connor assobia entre as gargalhadas.
Eu rio tanto que chego a me curvar. Esses rapazes não têm nenhum freio.
— Alguém filmou? — Jerry pergunta, guardando o violão. — Quero ver a cara deles com
o meu desafio.
— Eu filmei — Raymond agita o celular.
— Eu te amo, cara!
Ainda sorrindo, abro o armário e removo a camiseta.
— Uuuh! — Connor chia. — Brigou com um gato, Clark?
Olho para ele, confuso, e os outros começam a assobiar. Arrasto meu olhar em direção ao
espelho e, ao olhar por cima do ombro, percebo uma série de arranhões profundos e
avermelhados em minha pele.
— Mas o que é isso... — calo-me ao recordar de Alana.
Cacete!
Enquanto transava com ela, suas unhas não paravam de me arranhar, quanto mais intenso
eu a fodia, mais fundo suas unhas fincavam.
Ah, por isso que ela falou para não tirar a camisa, não porque estava nu, mas porque estava
todo arranhado.
Entendi agora.
— Esse gato é feroz, hein! — Connor zoa.
— Ou seria uma gatinha? — Tayler entra na brincadeira.
— Miau! — Ben imita com uma voz fina.
Eles explodem em gargalhadas.
— Ah, mano! — Meu rosto começa a esquentar. — Não é nada disso! Fico todo empolado,
coça pra cacete e... bem, foi isso!
Ben ri, erguendo o queixo para Connor.
— O cara está vermelho.
— Acho que foi uma luta intensa com o sofá da casa dele ou na cama. — Connor comenta.
— Poh, Clark! — Olho para Raymond. — E eu pensando que você não pegava ninguém
— ele ri.
— Cala boca! — Connor joga uma toalha no cara. — Clark é daqueles que come quieto,
mas come bem.
— A gatinha é realmente feroz — Tayler suspira. — Nós entendemos, Clark! Nós
entendemos.
Ignoro as brincadeiras, voltando a examinar com mais atenção os arranhões, lembrando
que durante o banho dessa manhã, havia sentido uma ligeira ardência, mas nada alarmante o
suficiente para chamar minha atenção. Afinal, eu estou acostumado a cair no campo
constantemente durante os treinos, então presumi que fosse apenas mais um machucado
resultado das práticas árduas.
Abro um sorriso discreto, recordando das mãos de Alana em meu corpo, do seu suor e do
som dos seus gemidos.
É sério, isso aqui, essas marcas, são como troféus... meu troféu, e cada arranhão faz parte
do nosso pequeno universo. É constrangedor ser pego assim? É! Mas pouco me importo, até
porque, tudo para esses caras é zoação. Vou nem tentar me justificar, porque sei que nenhum
deles acreditará na minha desculpa, então deixo que pensem no que quiserem.
— É uma gatinha Persa, hein, Clark? — Tayler pergunta, ajeitando sua calça.
— Miau! — Ben imita outra vez.
Eles riem, ficando em silêncio por alguns segundos, esperando minha resposta que não
obtêm enquanto se arrumam.
— Eu queria uma namorada — Connor solta, do nada.
Todos congelam e o encara.
— O que é? — ele dá de ombros.
— Uma namorada? — Ben exclama, se engasgando.
Connor se senta no banco, se inclina e apoia os braços sobre os joelhos, seus olhos
percorrendo cada um de nós.
— Qual o problema de eu querer uma namorada?
— Não tem problema nenhum, mas com um pau que entra em qualquer buraco, é difícil
acreditar — Tayler diz, engolindo a risada. — Seu pau nunca soube o que é exclusividade,
sempre está em uma boceta diferente. Uma namorada significa que vai comer somente ela, nada
além dela. E... bem, você e namorada não é uma conjugação convincente.
Connor fica sério.
— Fiz voto de castidade, okay?
Ficamos o encarando, sem acreditar.
Voto de castidade? Connor Hastins? O cara mais pegador do time fez um voto de
castidade?
Fala sério!
— Okay! — A voz de Ben sai arrastada. — Não esperava por isso... — ele ri.
Tayler ronca, mantendo a risada sob controle.
— Esclareça minha dúvida — ele junta as mãos. — Você impôs abstinência total de
contatos amorosos?
Connor balança a cabeça.
— Sim, por quê?
Ben e Tayler se entreolham, depois voltam a encarar Connor como se tivesse nascido
vários pênis em torno de sua testa, transformando em uma imagem bizarra e muito engraçada.
— Você ainda pergunta por quê? — Tayler indaga, rindo. — O cara tá pirado!
— Não estou pirado.
— Prove o contrário, irmão!
Connor inspira fundo.
— Decidi que essa seria a melhor maneira de encontrar uma garota que goste de mim de
verdade.
— Você estava drogado quando pensou nessa ideia? — Ben, já vestido com o uniforme,
amarra a chuteira.
— Não uso drogas, cara!
— Estava bêbado então.
— Não bebo mais.
— Okay! — Ben me olha por um segundo, depois se volta para Connor. — Começou a
seguir o exemplo do Clark?
Tayler ri, dando um tapa em meu ombro ao passar por mim e ir para seu armário.
— Não posso negar que é um bom exemplo — ele fala, tirando sua calça jeans para vestir
do treino. — Só que o problema é que Clark é... hum... — Tayler franze a testa, me estudando.
— É o Clark!
Enrugo meu nariz, sem entender o que estão querendo dizer com isso.
— Escutem — Connor ergue os braços, deixando-os caírem sobre seu colo em seguida —,
essa foi a única maneira que encontrei. Todas só querem ser fodidas pelo quarterback, o
prodígio, o filho do magnata mais importante de Houston, o patrocinador do time e de vários
outros, mas não querem foder o Connor Hastins. — Ele nos encara. — Droga, eu sou um cara
bacana!
Ficamos em silêncio, absorvendo as palavras de Connor.
— A última vez que disse que ficaria sem fazer sexo, durou o quê? — Tayler vira para
Ben, buscando a resposta.
— 48 horas.
Connor suspira.
— Estou falando sério!
— Nós também — eles falam em uníssono.
Os olhos aflitos de Connor encontram com os meus.
— O que acha, Clark!
— Hum... sobre?
Ele revira os olhos.
— Sobre ter uma namorada, cara!
— Ah! — solto uma risada. — Então... hum... eu acho...
— Você já namorou alguma vez?
— Não.
— Você é virgem?
— Sim... — a palavra escapole, mas espera... — Não mais — completo, meneando a
cabeça.
Eles ficam me encarando. Minhas bochechas esquentam.
Porra, por que estou com vergonha?
Nunca conversei sobre sexo com amigos além de Alana, porque... bem, nunca tive amigos
além dela, então é um assunto que me deixa desconfortável pra caralho.
— Todo mundo já foi virgem um dia, não é? — digo, esfregando a nuca, e eles balançam a
cabeça. — Hum... meu concelho é que... bem, você não deveria se perder por um rostinho bonito
que dá moral para qualquer cara.
Ben aponta o dedo indicador em minha direção.
— Isso mesmo — ele gira o dedo e aponta para Connor. — Você não consegue resistir a
um sorriso, quem dirá sexo.
— Vocês me subestimam demais.
— Connor — Tayler se aproxima dele e segura seu ombro. — Um dia, quando aparecer
com uma garota... digamos, descente, aí sim, vou tentar acreditar em você, caso contrário, tenho
certeza que esse papo de castidade não vai durar mais que 48 horas, ainda mais depois do jogo de
amanhã. Então, irmão, para não haver frustrações futuras, desencana dessa ideia um tanto... sem
noção.
A expressão que Connor adquire é de raiva. Ele balança os ombros, fazendo com que
Tayler se afaste dele.
— Parabéns, vocês são os melhores amigos que um cara poderia ter — com essas palavras,
ele se levanta e se afasta.
— Ficou magoado — Ben caçoa. — O cara tá pirado, não é a primeira vez que ele vem
com esse papo.
— Se ele, pelo menos, cumprisse com o que fala, talvez eu acreditasse nele — Tayler diz,
pegando sua luva. — Concorda comigo, Clark? — Seus olhos se fixam em mim enquanto mudo
de roupa.
Connor não está errado em querer uma namorada, todo homem deseja ter uma
companheira para toda vida, só acho que ele está procurando nos lugares errado, talvez se
Connor olhar para o lado... tipo, se tornar um leitor do Wattpad, possa encontrar uma admiradora
secreta que escreve sobre ele.
Quando termino de me arrumar, levo um susto ao notar que Tayler está esperando por
minha resposta.
— Ah, hum... sei lá! — dou de ombros, fechando meu armário. — Acho que uma
namorada é a vontade de todos.
— Não a minha — Ben se defende. — Mulher é só para encher a cabeça da gente com
baboseira, é como dar uma arma carregada apontada para o seu coração e confiar nela para não
puxar o gatilho — Ben pega seu capacete. — Sabe qual o problema no final? — Nego com a
cabeça. — É que muitas delas puxam o gatilho.
— Quem quebrou seu coração, Benjamin Simons? — Tayler pergunta com humor.
— A mesma que você namorou.
— Vai se foder! — Tayler aponta o dedo do meio.
Olho entre eles, tentando captar o que aconteceu aqui.
— Como assim? — indago, curioso, pegando meu capacete e os seguindo para fora do
vestiário, rumo ao gramado.
— Digamos que ela decidiu namorar nós dois sem nos comunicar — Tayler responde,
virando no corredor.
— Que merda, cara!
— Uma droga — ele ri, se virando para Ben. — Pena que o grandão não quis formar um
trisal.
Ben fecha a cara.
— Não divido a mesma mulher — responde.
Tayler apenas ri, deixando o assunto morrer.
No momento em que ponho os pés no gramado, o sol me recepciona com intensidade,
criando uma tarde quente e ensolarada. Ben passa por mim, correndo para se juntar com os
outros, minutos depois, estamos todos nos alongando para começarmos.
— Pessoal, atenção aqui! — O preparador físico assopra o apito. — Quero dez voltas em
torno do campo para aquecermos, sem pausas.
Nos aninhamos ao redor do campo, com os olhos focados na pista que temos pela frente. O
preparador levanta a mão, e, com um gesto, dá início à corrida.
Meus pés batem no chão, o som da minha respiração começa a ficar mais pesada com a
segunda volta. O preparador grita, encorajando a equipe.
— Ei, cara! — Connor se posiciona ao meu lado. — Acha que... hum... estou sendo tosco
com essa ideia de... castidade? — pergunta, com a respiração pesada.
— Um pouco radical, eu diria — respondo.
Enquanto corremos, olho para o campo, onde em breve enfrentaremos nossos adversários,
realizaremos jogadas estratégicas e nos esforçaremos ao máximo.
— Estou me sentindo muito solitário — Connor continua, um tempo depois. — É patético,
mas queria uma garota legal, estou quase acreditando que o amor para mim é impossível.
Olho para ele, vendo seu rosto coberto pelo suor.
— Uma vez li sobre uma lenda que faz todo sentido — digo, controlando a respiração,
meus batimentos cardíacos se elevam na sexta volta.
— Que lenda é essa?
— A lenda diz — suor escorre por meu rosto — que o sol e a lua sempre foram
apaixonados um pelo outro, mas nunca podiam ficar juntos, pois a lua só nascia ao pôr do sol —
diminuo a velocidade, afastando dos demais. — Sendo assim, Deus com a sua bondade infinita,
criou o Eclipse como prova de que não existe no mundo um amor impossível.
Connor fica calado, provavelmente absorvendo minhas palavras.
— Você é um anjo, Clark! — ele solta.
Dou uma risada.
— Anjo?
— Sim — ele esbarra no meu ombro.
— Que nada! — empurro-o, tirando uma risada dele. — O que quero dizer é que, essa
garota que tanto espera, um dia vai chegar. Pode não ser hoje, nem amanhã, mas nesse meio
tempo, se prepare e abra os olhos, quando menos esperar...
— Estarei namorando.
— É!
A corrida prossegue.
— Desculpe por não ter sido legal com você em algum momento — diz, me pegando de
surpresa.
Fico calado, porque sim, ele não foi legal comigo em vários momentos, muitas delas
comprou a zoação dos outros, mas isso é passado, não me importo com isso e Connor é legal.
— De boa.
— Gosto de você, Clark!
Sorrio e olho para ele.
— Não se sente mais desvalorizado?
Os raios do sol refletem nos meus olhos, me levando a apertá-los.
— Porra! — ele ri, mantendo o ritmo da corrida. — Desvalorizado. Solitário. Abandonado.
Um cão sem dono.
Gargalho, completando a última volta, um pouco cansado, mas revigorado. A corrida
sempre fortalece meu espírito, me dando um gás.
Assim que finalizamos, nos reunimos no centro do campo, prontos para começar o treino
real. O técnico Haley se posiciona no meio, e sua voz sai grave e confiante.
— Amanhã é o grande dia — ele diz, olhando para cada um de nós. — O que nos trouxe
até aqui foi paixão, comprometimento e trabalho duro. Vamos enfrentar o desafio com orgulho,
união e determinação. Nossos oponentes não têm o que temos: nossa força como equipe. Cada
treino nos levará mais perto da vitória. Acreditem em si mesmos, em nós como equipe e na
grandeza que podemos alcançar — Haley levanta uma mão. — Estamos prontos para fazer
história, por que somos?
— COUGARS! — gritamos e colocamos as mãos no centro.
— QUEM SOMOS?
— SOMOS OS COUGARS!
— Vamos lá! — Haley nos dispensa.
Corro para pegar meu capacete e quando retorno para parte do campo, o pregador dos RB
já está a minha espera.
— Clark, nessa primeira etapa quero focar em suas habilidades de recepção — Johnson diz
com a voz forte. — Quero que seja capaz de pegar a bola em qualquer situação.
Aceno com a cabeça, colocando o capacete e me concentrando. Posiciono-me, enquanto
um dos assistentes segura uma bola.
— Vamos começar! — ele grita. — Esteja preparado para qualquer lançamento.
Dois segundos depois, o assistente lança a bola em alta velocidade em minha direção, e
rapidamente estendo os braços, minhas mãos ágeis capturam a bola de forma impecável. Johnson
começa a variar os lançamentos, enviando a bola de maneiras desafiadoras. Às vezes, é um passe
alto que preciso saltar para pegar, outras vezes, um passe baixo que exige um mergulho.
Continuo a me mover com agilidade, capturando cada passe com confiança, enquanto
meus reflexos são testados ao máximo. Em seguida, os defensores se aproximam e se posicionam
para atrapalhar minhas recepções. Com movimentos ágeis e habilidade de evasão, efetuo as
recepções, tentando me livrar de todos.
Johnson elogia minha performance e propõe uma simulação de jogo, onde meu objetivo é
encontrar o espaço certo para avançar com a bola. Analiso a formação defensiva e driblo
habilmente entre os defensores, usando minha visão periférica para identificar espaços abertos.
Avanço com agilidade, mas sou parado por um dos defensores, Ben, que agarra minhas pernas,
parando a jogada.
— Foi ótimo, Clark! — diz quando me levanto.
Aceno com a cabeça, recebendo tapas nos ombros dos defensores.
— Clark e MacCallister?
— Sim, senhor! — Grito, aceitando uma garrafa de água de um assistente.
— Tragam seus traseiros aqui.
Corro até o técnico parado na lateral do canto, tiro o capacete, e segundos depois, Sean
para ao meu lado. Haley dá uma olhada na prancheta com as jogadas anotadas.
— Senhor? — Sean coloca as mãos na cintura, arfando.
Haley ergue seu olhar e nos encara.
— Vamos simular um jogo, testar algumas novas jogadas, quero você na 1ª e 2ª descida, e
Clark, na 3ª e 4ª. Se conseguirem pontos, continuam.
Meu coração dispara.
— Sim, senhor! — Sean diz, mas sua voz sai um pouco estranha.
Haley me encara.
— Você decorou todas as jogadas?
— Sim.
Ele estende o papel.
— Revise as jogadas contra TCU, quero que execute elas.
Aceno com a cabeça, prendendo a respiração por alguns segundos.
— Claro! — respondo.
Minha função vai muito além de simplesmente correr com a bola, preciso estar em
sincronia com todas as jogadas, entender todos os códigos e saber quando há mudanças segundos
antes do Snap.
Só que o tom do técnico... bem, soou um pouco estranho.
Você não achou?
Deve ser coisa da minha cabeça.... sim, deve ser isso!
— Daqui a 20 minutos começamos. — Ele fita Sean. — Quero que treine um pouco mais
as capturas e as infiltrações.
— Sim, senhor.
Haley balança a cabeça e se afasta de nós. Sean apenas me lança um olhar e passa por
mim, esbarrando em meu ombro.
Respiro fundo, andando até o banco, coloco o capacete no chão e começo a ler as jogadas,
repetindo-as baixinho, decorando cada uma.
— Oi!
Ergo a cabeça ao ouvir uma voz feminina; minha atenção é imediatamente atraída para a
jovem de cabelos ruivos, cujos olhos esverdeados brilham sob a luz do sol. Sua beleza é simples
e delicada. Meus olhos descem até sua camiseta da equipe médica do time.
Deve ser uma estagiária, talvez uma estudante de medicina interessada em seguir uma
carreira esportiva.
— Oi! — cumprimento de volta.
Quando retorno meu olhar para ela, seus lábios se esticam, formando um sorriso que faz os
cantos de seus olhos se enrugarem.
Ela pigarreia.
— Você é o Clark?
— Hum... sou eu!
Ela estende a mão e abre o punho, expondo um bombom com embalagem vermelha.
— Você aceita um chocolate?
Ah, deve uma amostra grátis ou algo do tipo.
— Hã, aceito! — digo, esticando a mão e pegando o chocolate. — Obrigado.
Ela sorri, ficando corada.
— Você é muito lindo, sabia?
Congelo, fitando-a, meu coração começa a acelerar, e sinto meu rosto esquentar.
Não é uma amostra grátis?
Porra... ela continua parada, me encarando.
Não sei o que dizer, então apenas agradeço.
— Obrigado.
Ela desvia o olhar por um segundo.
— Qual é o seu Instagram? — pergunta.
Olho para os lados, mas ninguém está prestando atenção, a não ser duas garotas do outro
lado do time, que se encolhem de tanto rir.
— Rhavi Clark — digo, sem graça.
Ela meneia a cabeça.
— Então, tá bom... — sorri para mim. — Vou te procurar lá depois, mas... você é muito
lindo, de verdade. — Ela pisca um olho e sai, me deixando totalmente sem reação.
Espera... ela acabou de dar em cima de mim?
Olho para o bombom, depois para ela que se junta às duas garotas de antes.
Porra, o que acabou de acontecer?
— Obrigado pelo chocolate — murmuro, começando a rir.
Meu Deus, que doideira!
— Clark! — Connor me grita. — Arraste sua bunda até aqui!
Deixo o bombom em um cantinho, escondido, pego meu capacete e retorno para os treinos,
ainda rindo do que aconteceu.
O sol vai se pondo sobre o campo de futebol, pintando o céu com tons de laranja e rosa.
Estou exausto após esse treino. Certo que não foi tão intenso por causa do jogo de amanhã,
mesmo assim, cansa.
Começo a me dirigir ao vestiário, conversando e rindo pelo caminho, tentando não ficar
ansioso antes da hora.
— Não sabia que você era fã de Toy Story — comento quando Connor anda ao meu lado.
— Sou muito fã — ele sorri. — Para o infinito... e além!
Sorrio, lembrando dos seus códigos.
— Ei, o que vão fazer agora? — Tayler pergunta, pulando nas costas de Connor.
— Vou para casa, cara! — ele responde, dando um soco no estômago de Tayler. — Preciso
estar inteiro amanhã. Foco!
— É isso aí.
No vestiário, o clima é tranquilo. Os jogadores trocam de uniforme e compartilham
comentários engraçados do treino. Alguns começam a cantar uma canção de vitória improvisada,
e outros se preparam para um banho merecido.
Pego minhas coisas, tiro o uniforme e entro no chuveiro, a água quente me livra do suor
pelo meu corpo. Despejo shampoo na palma da mão e em seguida, começo a esfregar os cabelos
ao mesmo tempo em que volto a prestar atenção nas conversas.
Connor, imitando o treinador, diz:
— E então, ele disse: Meninos, se vocês não começarem a se mover mais rápido, vão
parecer lesmas no campo!
Eles caem na gargalhada.
Ben grita do chuveiro:
— Isso me lembra da vez em que ele disse que nossos tackles eram mais lentos que um
caracol com dor de barriga! — Ben esfrega o shampoo nos cabelos, e soltamos risadas.
Tayler se enxuga com a toalha após sair do chuveiro.
— Ei, gente, vamos lá, quem acha que consegue fazer um touchdown em um jogo
enquanto carrega um saco de batatas nas costas? Porque é assim que me sinto depois desse
treino!
Outra rodada de risadas se segue.
No chuveiro, Connor de repente começa a fazer malabarismos com um sabonete e acaba
escorregando, por pouco não cai.
Ele nos encara com olhos arregalados e com a mão no rumo do coração.
— Acho que acabo de criar um esporte. Sabonete no chão! — Ele ergue o sabonete, e
todos riem dele.
— Ei, companheiro! — digo, erguendo o dedo. — Você acaba de ganhar uma penalidade
por falta de controle de sabonete! Cinco jardas para trás!
Eles continuam rindo enquanto Connor faz uma dramatização exagerada de receber a
penalidade. Enquanto isso, Tayler improvisa uma "entrevista" com um rolo de papel higiênico,
como se fosse um microfone, e começa a entrevistar Ben.
— Aqui estamos no vestiário, após um treino épico. Vamos ouvir dos jogadores como eles
se sentem... Benjamin, como você se sente depois de ter enfrentado o “sabonete no chão”?
Ben fica sério, amarrando a toalha em volta da sua cintura, fingindo estar sério.
— Bem, eu treinei duro para isso, e acho que mostramos ao mundo que o banho é um
esporte sério.
Tayler, com o rolo de papel higiênico em mãos, vira para Connor.
— E agora, temos aqui o jogador que protagonizou o momento escorregadio. Como você
se sentiu durante aquela jogada?
Connor coloca a mão sobre o peito.
— Foi uma jogada escorregadia, com muitos deslizes e reviravoltas. Definitivamente um
desafio, mas estou feliz por não ter sofrido uma lesão grave na brincadeira.
Todos riem. Tayler faz uma reverência dramática, antes de se virar para mim assim que
saio do chuveiro com a toalha também em volta da minha cintura.
— E aqui está o nosso prodígio, o cara mais inteligente do time. — Ele ri, se recupera e
aponta o rolo de papel na minha direção. — Rhavi Clark, o que podemos aprender com o
sabonete no chão?
Seguro seu pulso e me inclino.
— Determinação, foco e a importância de usar chinelos antiderrapantes no vestiário.
Eles riem alto.
— E com isso encerramos nossa cobertura exclusiva do Sabonetegate. — Tayler olha em
volta. — Obrigado a todos os nossos jogadores por tornarem esse momento épico e hilário. Até a
próxima, pessoal!
Rindo, caminho até meu armário, tirando a bolsa lá de dentro. Meu celular apita, procuro
entre minhas coisas, não acho. Coloco a bolsa no chão, abro-a e o encontro.
Vejo que é uma notificação de Alana, que diz:
Escolhendo minhas novas lingeries vermelhas.

Curioso, abro a mensagem e vejo a foto. Meus olhos se arregalam ao ver minha amiga com
uma lingerie vermelha deslumbrante. O tempo parece parar por um momento, e fico
completamente impactado com a imagem.
Ela está linda.
Levanto de uma vez e bato a cabeça na ponta do armário. Solto um gemido doloroso,
colocando a mão no local, recuando alguns passos em desequilíbrio. Com a visão turva, tropeço
e caio, esbarrando no banco próximo, que tomba comigo para trás.
Minhas costas colidem contra o chão, meu celular, que estava seguro na minha mão antes
do incidente, escorrega e começa a deslizar pelo piso.
Que caralho!
Em um instante de desespero, me arrasto pelo chão e estico o braço para pegar o celular
antes que um dos caras no vestiário possa pegar. Meu coração bate forte, e consigo agarrar o
celular a tempo.
— Que merda foi essa, Clark? — Raymond pergunta, rindo.
— Cara... — levanto-me, tentando disfarçar. — Arrebentei a cabeça no armário.
Ouço outras risadas, mas ignoro, digitando de volta.
EU: Uau, não estava esperando por essa surpresa no meu celular. Acho que agora vou ter que reavaliar as minhas
prioridades hoje à noite.

A resposta dela vem logo em seguida.


PET: Surpresa é o que torna uma vida emocionante, não é??

EU: Onde você está?

PET: No shopping.

EU: Estou indo aí!

Visto-me em tempo recorde, pois neste instante, ela é a única que anseio ver, a única que é
capaz de mexer com o meu ser de todas as maneiras possíveis.
O shopping está agitado nessa tarde de terça, com pessoas indo e vindo carregando sacolas
de compras. Acho que deve estar tendo alguma ,, vou até ficar de olho para ver se encontro
alguma também.
Sério, eu gosto de promoção, se for de livros então...
Entro no shopping, sendo recepcionado pelo ar gelado do lugar. Tiro o celular do bolso e
envio uma mensagem para Alana:
EU: Oi, cheguei ao shopping! Onde está você?

Enquanto espero a resposta, olho ao redor e lembro da última vez em que estive aqui,
quando Alana simplesmente trocou todo meu guarda-roupa... ah, inclusive, não fui à livraria
naquele dia.
Nota mental: comprar livros antes de ir embora.
Não posso me esquecer disso, porque você entende que para um leitor, é lei entrar na
livraria mesmo sem levar nenhum exemplar.
As lojas estão brilhantes e cheias de produtos chamativos, estou um pouco ansioso para
encontrar Alana, sei lá... só de pensar nisso, meu coração começa palpitar de forma esquisita.
Por que estou nervoso?
Ah, olha só... Crocs do filme Carros com luzes piscantes.
Solto uma risada, torcendo para que Alana não tenha visto, senão vai querer levar e... bem,
desculpe amantes de Crocs, sou do time que acha feio pra cacete, mas para vocês os Crocs são
como a pizza - mesmo quando são de sabores estranhos, ainda são boas!
Entendo que há gosto peculiares nessa vida...
Assusto quando meu celular vibra no bolso da calça de moletom. Tiro e leio a mensagem
que recebi:
PET: Estou na loja de roupas, no segundo andar. Procure pela Nordstrom.

Começo a caminhar em direção à escada rolante que leva para o segundo andar. Conforme
subo, meu coração volta a bater mais forte, minhas mãos soam e começo a sentir uma coisa
estranha no pé da minha barriga.
Estou parecendo aquele cara indo para o primeiro encontro, mesmo não sendo um
encontro, mas... estou confuso, desculpe.
Observo algumas pessoas passando por mim rindo, outras discutindo suas compras, casais
de mãos dadas... deve ser legal ter uma namorada, compreendo os motivos de Connor querer ter
uma.
Quando chego ao segundo andar, sigo na direção da Nordstrom. Passo pela porta de vidro,
entrando na loja espaçosa e bem-iluminada. O som suave de música ambiente preenche o ar.
Envio outra mensagem: Estou aqui!
Olho em volta em busca de uma certa garota de cabelos escuros, porém, levando em conta
sua altura, bem provável que não a encontre tão facilmente, teria que colocar um balão amarrado
no cós da sua calça para localizá-la em qualquer lugar.
Não conta isso para Alana, pelo amor de Deus, senão ela vira um Pinscher raivoso.
Caminho pelos corredores, passando por fileiras de roupas, vitrines repletas de sapatos e
acessórios brilhantes. A equipe de vendas nota minha presença, e eu me distraio com o celular.

EU: Alana, não estou te encontrando.

Sinto um ligeiro formigamento enquanto aguardo sua resposta. Poucos segundos depois, o
celular vibra com sua mensagem.
PET: Estou no provador 12.

Sigo as plaquinhas que indicam o caminho para o setor. Ao chegar lá, vejo um corredor de
portas de provadores unissex numeradas. Procuro o número da porta que Alana mencionou na
sua mensagem e, finalmente, encontro a porta 12.
Bato suavemente.
— Pet, sou eu!
Segundos depois, a porta se abre e Alana emerge com um sorriso travesso, seus lábios
brilhando devido o gloss. Sua franja está de volta, emoldurando seu rosto com um novo corte de
cabelo, mais repicado, que não alterou o comprimento, mas parece ter adicionado mais volume.
Ela ficou tão linda.
— Que bom que você chegou. Estava prestes a experimentar esta blusa. O que você acha?
— Alana pergunta com uma voz aveludada, fazendo com que eu abaixe o olhar para a peça de
roupa, mas...
Espera aí...
Ela não está com roupa... caralho!
Meu coração quase salta do peito e, de repente, prendo a respiração. Alana apoia a mão no
batente da porta, a outra repousa em sua cintura, destacando a lingerie vinho rendada que
contrasta com o tom suave de sua pele.
Meus olhos percorrem sua barriga, notando o piercing cintilando em seu umbigo, e quando
minha atenção se fixa em sua calcinha, tão pequena, bem pequena, de... de... fio, sinto como se
meu cérebro fosse entrar em curto-circuito nesse exato momento.
Porra... porra... porra...
O que pensar? Será que ainda tenho algum neurônio funcionando, ou todos foram
queimados pelo choque da imagem de Alana, quase nua, no provador da loja?
Engulo com dificuldade, minha boca vai ficando seca conforme meu olhar retorna para seu
rosto e encontro com seus olhos, faiscando com um brilho astuto.
— Gostou? — repete a pergunta.
O que ela está fazendo é sério ou um sonho erótico meu?
— Não precisa ficar mudo, Rhavi, só quero mesmo a sua opinião, apesar de que sei que
você iria escolher essa peça.
Pisco, devagar, organizando meus pensamentos eufóricos, como se estivesse com um
monte de tackles me arrebentando para capturar a bola, quase me fazendo desmaiar.
Não desmaiar literalmente, porque... porra, desmaiar após ver minha melhor amiga
seminua, a qual eu... hã... já transei, é estranho, mas me entenda, essa visão deslumbrante que se
desenrola na minha frente é demais para qualquer um.
Sério, não sei se ela está me convidando para invadir esse provador ou quer mesmo apenas
minha opinião em relação a lingerie.
Será que posso ficar com a parte de invadir o provador?
— Rhavi?
— Hum?
— Respira.
Solto o ar.
A encarada que Alana me dá balança até minha alma. Meus olhos descem para seu pescoço
e depois para seus seios ávidos, imponentes, lindos...
Então meu pau endurece... cacete!
— Você... — engulo em seco. — Literalmente essa seria minha escolha — digo,
atrapalhado, percorrendo a mão pelos cabelos, e dando uma olhada no corredor vazio. — Mas...
— Mas?
Inspiro fundo, voltando a encará-la.
— Por que estou achando que isso é um tipo de provocação?
Ela sorri, dando de ombros.
— Talvez seja.
— Eu posso levar isso muito a sério.
Ficamos nos encarando por alguns milésimos de segundos.
— O que acha sobre... hum... transar em público?
Meu coração dispara.
— Uma loucura... porra... é doideira! — digo, mas abro um pequeno sorriso. — Foder no
provador de uma loja é proibido.
Alana desce a mão, encosta o ombro no batente e começa a ajeitar a borda da calcinha.
Porcaria!
Sinto meu sangue ferver, vendo-a ajeitando o tecido. O desejo cresce em mim como um
incêndio incontrolável, e a ideia de proibição só torna tudo ainda mais excitante.
Olho fixamente para Alana, um turbilhão de pensamentos indecentes e sensações ardentes
percorrem minha mente.
— Proibido, Rhavi? Desde quando deixamos as regras nos impedirem? — Alana me fita,
seus lábios curvando-se em um sorriso malicioso.
Meus sentidos ficam à flor da pele e meu desejo acende, olho no fundo dos olhos de Alana
enquanto ela me provoca.
Pigarreio, recuando um passo, embora eu queira avançar.
— Pet, isso não dá certo — balanço a cabeça ao passo que esfrego meu rosto para ter
certeza de que não caí no treino, bati a cabeça e estou em coma vivendo um sonho. — Podemos
ser presos por atentado ao pudor, sabia? E eu não quero que isso aconteça.
Alana concorda com um gesto de cabeça.
— Tudo bem.
— Vou te esperar lá fora... — digo, apontando para a loja, prendendo a respiração quando
ela dá um passo à frente.
— Tem certeza?
— Porra, Pet! — exclamo, resistindo à tentação. — Não tenho certeza nem se estou vivo.
Ela solta uma risada, dando mais um passo em minha direção. O desejo paira no ar, intenso
como um fogo queimando sob a superfície, e estou à beira de uma decisão perigosa.
— Está cheiroso — a voz de Alana sai suave, em seu olhar, um desafio. — Você precisa
experimentar essa aventura.
— Preciso, é?
— Vai recusar?
Não, não quero recusar, mas... alguém diz a ela que isso é crime e que pode resultar em
várias consequências?
Droga, por que não consigo evitar de sentir que estou perdendo uma oportunidade única?
Quem em sã consciência recusaria esse convite?
Bem, eu, seu melhor amigo, Rhavi Clark!
E isso não é sobre recusar uma foda, e sim, preservar sua imagem caso algo pior aconteça.
Quando abro a boca com um discurso bem convincente a ser jorrado, o som de vozes
masculinas invade o corredor dos provadores, e me deixa apreensivo. Minha mente começa a
disparar em pânico, imaginando Alana seminua sendo vista por caras estranhos.
De jeito nenhum. Nenhum cara vai vê-la assim, e um senso de urgência toma conta de
mim.
Sem pensar duas vezes, avanço rápido, empurro Alana para dentro do provador e fecho a
porta com força. Eu a encaro, minhas mãos envolvem sua cintura, a minha respiração começa a
ficar ofegante, então cedo ao desejo avassalador.
Inclino-me e a beijo com uma intensidade que diz mais do que mil palavras. Toda a minha
estatura física subjuga a dela, mas é o fogo que nos faz iguais, que nos funde em um abraço
ardente, onde as diferenças de altura são insignificantes.
Pressiono suas costas contra a parede. O mundo exterior desvanece à medida que nós nos
entregamos um ao outro, desafiando todas as regras quebradas. A luxúria queima em nossas
veias, selando nosso segredo.
Sinto-me enlouquecido com o calor de sua pele, sua suavidade, seu aroma e o sabor de
pêssego de seu gloss. Um gemido escapa de minha garganta, e eu a seguro com firmeza entre
minhas mãos fortes e grandes.
Alana agarra meus cabelos, nossas línguas dançam juntas, nossa saliva se mistura como
mel e iogurte, transformando o que era amargo em doce, uma sensação deliciosa.
Deslizo minhas mãos para baixo, ultrapassando seus quadris e aperto suas nádegas com
vontade. Alana emite um gemido rouco, abafado pelo beijo voraz. Eu a levanto, suas costas
deslizam pela parede, meus quadris abrem caminho entre suas pernas, e me encaixo entre elas,
fazendo-a circundar suas pernas ao redor da minha cintura.
Interrompo o beijo para recobrarmos o fôlego, roçando meus lábios por sua mandíbula,
queixo, descendo pelo pescoço e passando a língua pelo vale de seus seios.
— Você não pode me provocar desse jeito — digo, arrastando a voz.
— Por quê?
Ergo a cabeça para encará-la, tão perto que nossas respirações duelam.
— Porque não sei se conseguirei resistir, e muito menos parar.
Alana arranha levemente minha nuca, disparando arrepios por todo o meu corpo. Meu
desejo cresce, e eu aperto sua bunda e trinco os dentes ao vê-la mordiscar o lábio inferior.
— Então... — ela roça seus lábios nos meus, fecho os olhos, me controlando. — Então, por
que você ainda resiste, Rhavi?
A provocação de Alana faz com que eu solte um suspiro profundo, uma mistura de desejo
e rendição. Abro os olhos e a encaro por alguns segundos.
— Você tem toda a razão — digo, com a voz rouca. — Porra, você não faz ideia de quanto
te desejo.
— E você não faz ideia de quanto já me tem.
Ouço risadas altas e olho para a porta.
E se alguém nos ouvir? E se alguém me viu entrar aqui?
Volto-me para Alana, em meus braços, e... dane-se!
— Só tente não gemer muito alto, senão as pessoas vão nos ouvir — rosno, mandando tudo
para o inferno.
Volto a devorar sua boca; segundos depois, meus lábios vão descendo, mais... mais para
baixo. Minha boca toca o tecido do seu sutiã, seu peito sobe e desce rápido conforme sua
respiração acelera.
Olho para o lado e a vejo nos meus braços através do espelho. Seu corpo se encaixando
perfeitamente no meu, me viro para encará-la, uma obsessão ardente nos olhos. Um sorriso
malicioso toma conta do meu rosto antes de morder seu mamilo, deixando-o encharcado.
— Você fez uma boa escolha — murmuro com o bico entre os dentes —, mas você fica
mais linda sem nenhuma peça de roupa.
Ela suspira, fecha os olhos e geme baixinho. Um líquido escorre pelo meu pau, me
lambuzando enquanto, em seus seios, os encharco com minha saliva.
Prenso-a com mais vigor, mostrando que estou duro pra caramba, e invado seu sutiã,
devorando sua carne macia. Alana crava as unhas em meus ombros, o tecido da minha camisa
me protegendo de um possível hematoma, mas meus músculos se retraem mesmo assim.
Esfrego-me entre suas pernas, mamando, sugando seu seio, a língua acariciando seu
mamilo.
— Rhavi, estou... molhada...
Ah, cara!
Isso é demais...
Deixo escapar um gemido que mais parece um lamento. Retiro uma das minhas mãos de
sua bunda e a deslizo entre suas coxas, pressionando-a contra sua intimidade.
— Aqui?
— Sim...
Abandono o contato com seu seio e tomo sua boca, inundando-me com o calor de sua
virilha sob minha mão. A outra permanece firme em sua nádega, apertando.
Desloco o tecido de sua calcinha para o lado e encontro seu clitóris. Alana suspira de
prazer à medida que começo o acariciar, circulando o botão, intensificando as sensações, fazendo
ondas de excitação percorrerem seu corpo.
— Rhavi... — ela arfa, inclinando a cabeça para trás e batendo na parede.
— Você vai nos meter em problemas — digo, soltando uma risada.
— Quero ficar com você mais uma vez.
Céus, como a desejo!
— Tem certeza de que quer que eu a coma aqui, Alana?
— Tenho — ela ofega, enterrando as mãos em meus cabelos.
— Então, saiba que vou ser muito melhor agora.
Agarro seu lábio inferior e o puxo. Alana revira os olhos e a beijo, mergulhando minha
língua em sua boca num ritmo frenético.
— Alana? — murmuro contra seus lábios.
— O quê?
— Vou foder você contra esta parede — lambo seu queixo, introduzindo o dedo indicador
em sua boceta.
— Ohhh!
Adiciono um segundo dedo, movendo-os em seu interior com carinho. Seus gemidos
tornam-se incoerentes. Mordo seu maxilar, retornando à sua boca para roubar seu ar, misturando
nossas salivas.
— Você está escorrendo, meu amor. — Meus dedos habilidosos exploram as profundezas
de sua boceta e acariciam seu clitóris.
Meus dedos a estimulam com firmeza e cadência. Volto a encarar o espelho, observando-a
se contorcer de prazer em meus braços, sua boca entreaberta ansiando por ar. Envolvo sua
cintura com o outro braço, mantendo-a firme contra a parede.
É uma visão que me leva à loucura.
— É assim que você gosta? — pergunto, movendo meus dedos dentro dela, explorando
cada centímetro de sua carne.
— Eu... — ela geme. — Me masturbei pensando em você hoje — confessa.
Hesito por um breve instante, seus olhos encontram os meus através do espelho, e ela
morde meu lábio com voracidade antes de traçar a língua por meu queixo.
— Pensando em mim?
— Foi inevitável.
Respiro fundo, fechando os olhos quando sua língua desce por meu pescoço.
— E foi gostoso?
— Foi delicioso.
Fico sem palavras por um instante.
— Você só pode estar brincando comigo — rosno, encostando minha testa na dela e
retirando meu dedo de seu interior.
— Não estou — murmura, puxando meu lábio com os dentes.
— Você chegou ao orgasmo? — indago, meus dedos percorrendo toda sua boceta, com o
polegar pressiono seu clitóris, traçando círculos sobre ele.
— Sim.
— Caramba!
Essa confissão simplesmente mexe com meus nervos. Destrói qualquer resistência que eu
ainda pudesse ter. Tremo, meu corpo incendia, meu ventre se contrai e perco o controle. Retomo
o beijo, a torturando com carícias na parte interna de sua boceta, cada centímetro dela sendo
devorado por minha mão.
— Eu não vou me segurar.
— Rha-vi... ohhh! — ela aperta os braços em volta do meu pescoço, suas pernas mais
firmes em torno da minha cintura.
Sinto-a pulsar contra minha mão. Exerço um pouco mais de força, aumentando o ritmo dos
dedos contra toda ela, que estava em dimensões épicas. Posso sentir o inchaço, a maneira como
se derrama.
Quero meu pau dentro dela, agora!
Tiro os dedos, ouvindo seu choramingo, abaixo a calça de moletom junto com a cueca,
esponto meu pau ereto, melado, pingando para fora.
— Quero que goze comigo dentro de você — digo, afastando a calcinha para o lado e
posicionando meu pau na sua entrada.
Alana me encara, abre a boca, mas antes de falar qualquer coisa, empurro meu quadril e
resvalo para dentro da sua boceta e penetro fundo.
— Ohhh, merda! — ela solta um gemido alto.
Para abafar o som, cubro sua boca com a minha, beijando-a com força, usando a língua.
Depois de um beijo longo, olho nos seus olhos.
— Shhh — murmuro, passando o dedo em seus lábios. — Vão nos ouvir.
Resvalo o pau para fora e invisto, lento, com pressão, abrindo-a de uma maneira
arrebatadora. Alana revira os olhos, e pressiono minha boca na sua, sentindo o calor da sua
boceta... porra... molhadinha... está molhadinha... pulso.
— Ohh — rosno baixinho, totalmente dentro dela, implorando por mais espaço inexistente.
— Porra!
Respiro fundo, minha mão espalma sua coxa e afundo o dedo na carne de sua pele, tirando
meu pau e empurrando de volta.
— Me fode, Rhavi! — Alana encosta a testa na minha outra vez.
— Claro, amor! — estoco uma vez, um tanto de vagar, para me controlar.
Droga... é lisinha... quente pra caralho... molhada... ohhhh!
Perco a compostura, empurro mais a minha virilha, querendo ir mais fundo, como se fosse
possível, e aumento o ritmo em um vaivém enlouquecedor.
Meu coração bate acelerado com o êxtase intenso nos tornando sensações inebriantes. Meu
pau queima, meu peito arde, minhas mãos soam, meus olhos reviram. Tudo é uma corrente de
puro tesão.
— Hmm... merda, Rhavi! — Alana joga a cabeça para trás.
Solto uma risada, ficando doido, e quando vai gemer outra vez, cubro seus lábios com a
mão.
— Shhhh...
Ela revira os olhos, embolsando um sorriso tão lindo que... cacete!
Contra a parede, no apertado provador da loja, com murmúrios distantes de outras pessoas,
nos chocamos, esfregando nossos corpos, gemidos abafados se fundindo, sem nos importarmos
com julgamentos alheios.
Bem... talvez eu me preocupe um pouco.
Retiro a mão de sua boca e a beijo. Nossas línguas se entrelaçam como nossos corpos. Eu
me entrego a essa insanidade, meus arquejos em sintonia. O suor escorre pelas minhas costas, e
tudo o que desejo é estar nu, sentindo o calor do seu corpo contra o meu.
— Alana... — estoco, aprofundando a penetração.
— Não pare... merda, não pare! — ela pede gemendo contra a minha boca.
Eu realmente não quero parar! Na verdade, quero muito mais, desejo continuar até que
Rhavi Clark desapareça deste mundo.
Meu pau entra e sai. Estamos em apuros se alguém bater nessa maldita porta. Sinto meu
ápice se aproximando... ouço vozes, risadas, aumento o ritmo, mais forte, mais rápido, mais
profundo.
Acho que estamos fazendo barulho, e que se dane!
Retiro meu pau completamente e o empurro com violência. Estoco com uma fome
avassaladora, quase me perdendo.
— Ala... na... eu... — fecho os olhos com força. — Eu vou gozar!
Quando faço um movimento final, explodo dentro dela, gemendo alto e liberando todo o
meu gozo. Enterro o rosto entre seu pescoço e ombro, pressionando-a contra a parede.
— Ohhh... — ela treme, entregando-se também.
Mergulho em um oceano de sensações. Somos só eu e Alana. Apenas nossas emoções, e eu
só sei sentir.
Pulso até que não reste nada.
Só vazio... zumbidos... as batidas de um coração que não sabe viver sem ela, pulmões que
lutam por ar... ar que só ela é capaz de proporcionar.
Fico em silêncio por longos segundos, sentindo Alana acariciar minha nuca.
— Você está bem? — sua voz é como uma sinfonia que acalma minha alma.
Ergo a cabeça e a beijo, de forma pausada e suave.
Porra, quero continuar...
— Eu posso fazer isso o dia inteiro — declaro, emulando a fala icônica do Capitão
América.
Alana ri.
— Bem, Capitão, acho que poderíamos tentar... se estiver preparado para salvar o mundo
da fadiga, é claro!
Olho nos olhos de Alana com um brilho divertido.
— Vamos salvar o mundo então, mas preciso só de alguns minutinhos... no momento eu
não tenho forças.
Ela gargalha.
— Eu espero você se recuperar.
Sorrio, afastando a franja de sua testa soada.
— Você é louca — afirmo, roçando os lábios nos seus.
Alana ri, abraçando-me.
— Sim, por você.
Envolvo meus braços em sua cintura, fecho os olhos e aproveito o momento, sentindo sua
respiração na minha pele.
— Eu te amo... — ela sussurra.
Suspiro, apertando-a um pouco mais, com cuidado para não a sufocar.
— Eu também! — Afasto-me, tomo seu rosto em minhas mãos e deposito vários beijos
rápidos em seus lábios. — Amo muito!
— Eu sei — ela responde, sorrindo.
Fixo meus olhos nos dela.
— Posso te confessar uma coisa?
— Sim.
— Você tem um sorriso lindo.
Alana aperta os lábios, envergonhada, com o que, eu não sei.
— Obrigada! — ela acaricia meus cabelos. — Também quero confessar uma coisa.
— O quê?
— Esse sorriso só existe quando estou com você.
Uma emoção toma conta do meu coração. Esse sentimento é diferente de tudo o que já
experimentei. Um calor estranho sobe pela minha barriga, e sorrio com safadeza.
— Posso te confessar mais algumas coisas?
— Pode.
— Ainda estou dentro de você.
Alana solta uma risada e me dá um tapa brincalhão no ombro.
— Acho que é melhor sairmos daqui.
— Você acha? — Com cuidado, retiro-me dela e devolvo-a ao chão. — Eu tenho certeza.
Alana segue para o canto do provador, onde estão suas roupas. De costas para mim, seu
corpo é uma tentação irresistível.
— Queria tanto entender como é que vocês mulheres conseguem usar calcinha de fio —
comento, erguendo minhas calças e apoiando-me na parede do provador.
Alana veste uma calça legging antes de me encarar.
— Conseguindo — dá de ombros, vestindo um top azul. — Não tem segredo.
— Não incomoda?
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Às vezes.
— Às vezes?
Alana solta uma risada e calça o tênis.
— Tipo, quando está pequena demais, apertada demais ou quando é uma calcinha ruim, aí
sim, incomoda.
— Ah! — Meneio a cabeça. — Não consigo nem imaginar um pedacinho de pano enfiado
na minha bunda o dia todo.
— A gente se acostuma.
— Sério que dá para se acostumar?
— Se quiser testar, comprei algumas e acho que uma é de um tamanho maior — ela diz,
apontando para as sacolas de compras.
— Sai fora! — desencosto da parede e vou até as sacolas, pegando-as. — Só fiz uma
pergunta, tenho certeza de que muitos caras por aí têm essa curiosidade.
— Humrum.
Olho para ela, vendo-a reprimir uma risada.
— Alana!
— Quando quiser, só me falar — provoca com um sorriso travesso.
Fico encarando-a, incrédulo.
— Ficaria lindo — ela conclui, abrindo a porta do provador.
Imagina só, eu, Rhavi Clark, andando por aí com calcinha de fio... Apenas balanço a
cabeça e saio do provador.
— Engraçadinha.
Para nossa sorte, o corredor está vazio, e saímos sem nenhum problema.
— Preciso pagar por essas roupas — diz, erguendo algumas em seus braços. — Ficaram
muito bonitas.
— Tenho certeza que sim.
— Depois vamos em outra loja.
— Certo.
Paramos atrás de cinco pessoas na fila do caixa.
— Você não vai perguntar para qual loja iremos?
Dou de ombros, abaixando o olhar para fitá-la.
— Você é a única pessoa que eu iria junto, mesmo sem saber para onde estou indo.
Alana sorri.
— Que bom, porque vamos naquela loja experimentar calcinhas de fio que vão ficar lindas
em você — diz, sua voz saindo mais alta do que o normal.
Meu rosto esquenta. Uma mulher na fila olha para trás, diretamente para mim.
— Para, Alana!
— Não precisa ter vergonha, Pet! — ela continua. — Hoje em dia é normal homens
usarem calcinhas.
— Meu Deus! — empurro-a levemente.
Alana gargalha. Estou tão envergonhado que minha vontade é cuspir no chão e me afogar
no próprio cuspe. É muita humilhação querer morrer afogado no próprio cuspe.
Ah, olhe ali, duas mulheres olhando para mim com risadinhas contidas.
Respiro fundo, controlando a ardência no meu rosto. Quando nossa vez chega, retiro meu
cartão da carteira e o entrego à moça para efetuar o pagamento.
Sabe a Alana? Minha melhor amiga? A baixinha Pinscher? Bem, ela ficou olhando para
suas unhas, sem fazer menção de pegar o próprio cartão.
Sem discutir, pago por tudo.
— Cadê a sua independência? — pergunto ao sair da loja.
Alana saltita com suas novas roupas.
— Não tenho, e enquanto você puder pagar para mim, serei dependente de você.
Caminhamos pelo shopping, e em um determinado momento, entrelaço sua mão na minha.
— É aqui! — diz, parando de repente.
Olho para a loja de Crocs, aquela mesma loja que passei mais cedo. Alana, com um sorriso
radiante no rosto, me puxa em direção à vitrine.
— Chegou uma coleção nova com personagens da Disney.
— Quais personagens?
— Do filme Carros — ela puxa minha mão. — Vamos experimentar?
Lanço um olhar cético em direção à vitrine.
— Crocs? Sério?
— Sim, sério! — Alana segura meu pulso. — Vamos, por favor? Eles têm o do Reboque
Mate e do Relâmpago McQueen!
— Não estou a fim — recuso, dando um passo para trás.
— Vamos, Rhavi.
Fico encarando-a por alguns segundos.
— Você nunca vai comigo na livraria — contraio meus lábios. — Sempre falo que quero
ir, mas nem dá bola.
Alana suspira.
— Ok! — ela ergue as mãos. — Eu sei que estou errada por nunca fazer o que gostaria,
mas juro, eu vou mudar isso. — Seu polegar aponta para a loja. — Se entrar comigo aqui, vamos
passar na livraria e comprar um montão de livros.
— Promete?
— Prometo.
Estreito os olhos, parece que ela está falando a verdade.
— Jura?
— Juro! — ela dá um beijo na palma da mão e ergue para cima. — Vamos ou não?
— Tudo bem, vamos lá.
— Yahhh!
— Mas eu só vou experimentar por diversão.
— Não tem problema.
Alana sai me puxando até entrarmos na loja. Ela se dirige à prateleira onde estão os Crocs
com tema de Carros da Disney. Ela pega um par do Reboque e outro do Relâmpago.
— Pet, olha! — Alana me mostra, empolgada. — São lindos!
— Muito... feinhos — faço uma careta.
Ela me ignora.
— Preste atenção — Alana pega o pé esquerdo da Crocs do Reboque, depois o direito do
Relâmpago e com um feixe, engata o Relâmpago na traseira do Reboque, e sai puxando. — Isso
aqui é tudo na minha vida!
Fico assistindo-a se divertir. Até que ficou interessante essa ideia das Crocs, e olhando
bem, ficou legal todo o design.
— Você experimenta o Reboque, e eu fico com o McQueen. — Ela me entrega o par.
— Por que o Mate?
— Você não gosta dele?
Reflito por um instante, analisando a Crocs.
— Ele parece mais com você do que comigo.
— Por quê? — Alana junta as sobrancelhas.
— Hum... você é sincera, o que te torna uma pessoa que todos gostariam de ter como
amiga. É fácil se relacionar com você. — Dou de ombros. — Sua singularidade e honestidade a
tornam adorável. Bem, você tem um senso de humor peculiar, é até chato às vezes, porque andar
com você é sinônimo de passar vergonha. Mas você é leal, companheira e me apoia
incondicionalmente, então você deveria escolher ele.
Alana fica me encarando por longos segundos.
— É... hum... — ela pisca e analisa a Crocs do Relâmpago. — Acho que você está certo.
— Sempre estou.
Alana revira os olhos.
— Aqui — ela estende o par do Relâmpago. — Vai ficar lindo em você, porque Rhavi
Clark é a velocidade.
— Eu sou a velocidade.
Rimos e nos sentamos nos pufes espalhados pela loja.
— Só não prometo usá-los por aí.
— Só coloca nos pés, cara!
— Tá!
— Ahh! — ela estremece, tirando seus tênis. — Estou ansiosa.
— Eu quase não percebi — resmungo.
Leva apenas alguns segundos para pormos as Crocs nos pés.
— Oh, ficou tão lindo! — ela elogia, observando pelo espelho.
— Que fofo — rio, porque ficou muito engraçado nela. — Alana?
— Hã? — ela me olha.
— Isso aqui é legal! — bato os pés no chão e ativo as luzes da Crocs do Relâmpago.
Alana arregala os olhos e solta um grito.
— Não acredito!
Gargalho.
— Sabia que iria gostar — digo, vendo-a pegar um par do mesmo para ela.
— Quero fazer isso junto com você.
Ela calça o par do Relâmpago, caminha até onde estou sentado e vira de costas,
encaixando-se entre minhas pernas e estremece entusiasmada.
— No três ativamos as luzes.
— Beleza.
Pouso as mãos em sua coxa, dando um leve aperto.
— Um... dois... três... já!
Batemos os pés, e as luzes da Crocs se acendem. Alana fica maravilhada, rindo e dando
pulinhos.
— Isso é o máximo!
— É sim.
Contorno os braços ao redor do seu quadril, fazendo-a se sentar em meu colo e beijo seu
pescoço.
— Rhavi?
— O quê?
Encaro seus olhos e sinto uma felicidade me invadir, porque quando passamos um tempo
juntos, é o melhor momento, se tornando meu dia favorito.
E se você me perguntar quantas vezes Alana esteve em minha mente, eu diria uma.
Sabe por quê?
Porque desde que ela chegou na minha vida, nunca mais saiu dela.
— Eu sabia — ela diz, acariciando meu rosto. — Eu sabia que tinha feito uma boa escolha.
— A do seu melhor amigo? — pergunto, com um sorriso.
— Sim, a do meu melhor amigo. — Ela sorri e me beija.
Retribuo, deslizando minha mão até sua nuca, nossas línguas se encontram, e uma
sensação de formigamento percorre meu estômago, como se dezenas de formigas estivessem
andando em busca do seu alimento.
O beijo dura pouco, mas eu queria que durasse muito mais.
Alana afasta da minha boca e me encara nos olhos.
Faço uma careta de insatisfação, vendo-a rir.
— Sabe, Pet, acho que estou ficando viciado nisso — digo, entrelaçando nossas mãos.
Ela arqueia uma sobrancelha, curiosa.
— Nisso o quê?
— Em ficar te beijando.
Ela finge pensar por um momento, depois solta uma risadinha e aperta os lábios.
— Será que existe um programa de recuperação para viciados em beijos?
— Tipo Beijadores Anônimos?
— Tipo isso.
Alana ri e eu a surpreendo com um novo beijo. Nossos lábios se encontram em uma carícia
suave. O beijo nos envolve em um casulo, e por um breve instante, o mundo ao nosso redor
desaparece. Somos apenas nós, dois jovens apaixonados em uma loja de Crocs fazendo coisas de
casal.
Quando nos separamos, Alana me encara com um brilho nos olhos.
— Acho que não existe programa de recuperação para viciados em beijos, Pet — diz.
— Que pena.
— Vai ter que arrumar outra solução.
— Não vou! — nego com a cabeça. — Estou destinado a ser um viciado feliz. E a culpa é
toda sua, Moore.
Ela ri, se levanta.
— Eu alimento seu vício, não se preocupe.
— Obrigado.
Ela põe as mãos em seu estômago.
— Estou com muita fome — diz, se encolhendo.
— Vamos comer.
Alana estende a mão.
— O quê?
— Seu cartão.
Faço um bico.
— Pensei que eu tinha ganhado um par de Crocs de presente.
— É presente.
— Ah, é? — arqueio uma sobrancelha.
— Sim, presente que você mesmo vai pagar — Alana balança os dedinhos de sua mão,
suas unhas estão pintadas de rosa com adesivos de coração.
— Tenho certeza de que sua poupança deve estar bem cheia — ponho o cartão em sua
mão.
— Preciso garantir meu futuro.
— Usando meus cartões?
— E poupando meu dinheiro — ela sai, rindo.
Maneio a cabeça, vendo-a caminhar até o caixa, e apanho as sacolas cheias de blusinhas
novas da Alana. Assim que saímos da loja com as Crocs de luzes nos pés, seguimos para a praça
de alimentação.
— Vou querer um Yakisoba.
— Boa escolha.
Escolhemos uma mesa, coloco tudo no chão ao nosso lado, e aguardo Alana fazer nosso
pedido. Quando olho para minha melhor amiga, na fila, digitando no celular, percebo que aquele
acordo que fizemos despertou algo além da minha compreensão.
Cada sorriso, cada olhar e cada momento que passo com ela, parece significar tudo para
mim, ao ponto de não querer mais nada. É como se nossas almas tivessem um mundo só delas,
uma linguagem silenciada que só nós compreendemos.
É estranho... eu sei... tem alguma coisa errada.
Percebendo que estou a observando, Alana se vira para mim e abre um sorriso que irradia
como um raio de sol em um dia de chuva, é a chama que me aquece.
Meu coração dispara.
Respiro fundo... lentamente, e um medo transcende.
Meu coração começa a bater não como antes, mas com batidas inquietas de incertezas,
porque tenho medo de estar confundindo as coisas, de estar fazendo algo que estrague tudo.
Desvio o olhar e esfrego meu rosto, deixando de pensar nisso, deve ser porque estou
cansado.
Minutos depois, Alana retorna com nosso Yakisoba.
— Está tudo bem? — pergunta, colocando a caixinha na minha frente.
— Cansado. — Pego os hashis, o aroma delicioso enche o ar, e ofereço um sorriso a Alana
Ela me imita, segurando os hashis de maneira um pouco atrapalhada, mas determinada.
— Vamos lá, tente não parecer tão desajeitada quanto parece, Pet — brinco, pegando um
pouco de yakisoba e segurando-o diante dos meus lábios.
Alana ri e, com uma expressão decidida, pega alguns macarrões com seus próprios hashis.
Após uma ou duas tentativas, ela finalmente consegue pegar uma porção e leva-a à boca,
saboreando a explosão de sabores.
Faço o mesmo e, enquanto mastigo, nossos olhares se encontram. Um momento silencioso
passa entre nós à medida que desfrutamos da refeição.
— Pet, eu estava lembrando... — começo, minha voz sai baixa.
— O que está lembrando? — Alana pergunta, um brilho curioso nos olhos.
Sorrio, deixando os hashis de lado por um momento e pego a garrafinha de água sobre a
mesa.
— Do dia em que você descoloriu seus cabelos e ficou laranja.
Ela quase se engasga com o macarrão, cobre a boca com a mão e começa a rir.
— Ficou horrível! — Alana dá um gole na sua Coca-Cola zero.
— Um pouco — remexo os macarrões grossos, misturados com legumes frescos e pedaços
suculentos de carne, sendo cobertos por um molho delicioso. — Por que fez aquilo?
— Queria mudar.
— E mudou.
— Quase perdi os meus cabelos.
— Ah, eu lembro! — rio, enchendo a boca. — Não faça isso de novo, seus cabelos estão
lindos agora.
— Não vou! — ela se atrapalha com os hashis, resmungando baixinho, sem desistir.
Mastigo, prendendo meu olhar em um ponto específico do shopping.
— O que foi?
— Ali — digo.
Alana olha na direção do meu olhar, sua boca cheia de macarrão. Ela para de mastigar, me
encara, e olha para o outro lado de novo.
— O que você está olhando? — pergunta com a boca cheia.
Sorrio de lado.
— Ali! — ela franze a testa, retorna seu olhar e sem que ela perceba, coloco o chocolate
que ganhei mais cedo na mesa. — Aqui embaixo.
— Rhavi... — Alana vira o rosto e encontra o chocolate.
Ela engole o macarrão com esforço, seus olhos brilham e ela sorri, enterrando o rosto em
meu peito.
— Você estava olhando na direção errada — digo, pousando o braço nas costas da sua
cadeira.
— Não estava.
— Ganhei hoje mais cedo.
— De quem? — indaga, pegando-o e lendo o sabor.
— Ah, não sei dizer.
— Como assim?
Dou de ombros quando me encara.
— Uma garota disse que eu era muito bonito e me deu.
O sorriso dela vai sumindo aos poucos.
— Uma garota? — Alana arqueia uma sobrancelha. — Que não conhece?
Confirmo com um aceno de cabeça.
— Sim.
— Ah! — ela fica séria.
— Era muito bonita.
Alana umedece os lábios.
— Pegou o telefone dela?
— Não peguei — faço uma careta. — Deveria ter pegado?
Ela fica me encarando, tensa.
Acho... que ela vai me bater!
— Não sei, deveria?
Abro um sorriso e volto a comer meu Yakisoba.
— Me diz você.
Ouço um resmungo.
— Vou jogar fora! — ela faz menção de se levantar, mas sou rápido e seguro seu pulso.
— Por quê?
— Vai que está envenenado? — Alana morde seu lábio inferior até ficar branco. — Ou...
— Ou?
Ela joga o chocolate sobre a mesa.
— Enfeitiçado.
Solto uma risada e recosto na cadeira, balançando-a com os dois apoios de trás.
— Rhavi Clark já está enfeitiçado.
— Por quem?
— Por você! — digo, fitando-a.
Alana relaxa.
— Você quer comer o chocolate?
— Quero comer você — respondo, dando um sorrisinho de lado.
— Estou falando sério.
— Eu também. — Ficamos nos encarando. — Me dá um beijo? — peço.
Alana suspira, resiste, mas cede.
— Não vou jogar fora — diz, se inclinando. — Mas você não vai comer.
— Por quê?
Seu rosto fica pertinho do meu, meus olhos caem para seus lábios, depois retornam para
seus olhos.
— Por que não.
Ela me dá um selinho.
— Outro.
Alana ri e me dá mais um selinho, depois outro, mais outro e outro.
— Você não tem jeito — murmura.
Enfio meus dedos em seus cabelos e puxo seu rosto, beijando-a com vontade.
— Rhavi... — ela ri entre meu beijo.
— Okay... parei! — afasto dela, soltando seus cabelos.
— Vamos terminar de comer — diz, me dando um último selinho, suas bochechas
corando. — Tem gente nos encarando.
Ela tem razão.
— Vou me controlar.
— Vai mesmo?
— Tô zoando! — Rio e voltamos a comer.
Por que com ela tudo é tão... natural? Divertido? Viciante?
— Meu Deus, Rhavi! — ela ofega, e sua voz soa como um grito.
De repente, sinto um tapa tão forte no meu peito que engasgo com o macarrão.
— Puta merda! — exclamo.
Enquanto tusso, a encaro com surpresa. Seus olhos arregalados estão fixos em mim.
O que diabos está acontecendo?
Sua expressão me assusta ainda mais, e a tosse se intensifica. Ela me entrega a garrafinha
de água, e eu dou um gole, tentando recuperar o ar.
— O que foi isso? — pergunto, minha voz soando irregular.
Tusso mais um pouco, engolindo com dificuldade o resto de comida na minha boca.
— O que foi isso? O que foi isso? — Alana solta uma risada, olha ao redor perplexa,
depois volta o olhar para mim. — O que foi isso? Meu Deus!
Ficamos nos encarando, ela realmente está me assustando. O que eu fiz de errado? Reviro
minha memória em busca de algo que poderia ter causado isso, mas não encontro nada.
— Rhavi, vou te matar — ela rosna, e seu rosto fica vermelho.
O Pinscher interior está assumindo o controle, e esse é o momento em que eu deveria fugir.
Olho ao redor em busca de uma saída, traçando uma rota de fuga, mas por que sinto que fiz algo
errado sem motivo?
— Por que você quer me matar? — pergunto, sentindo a tensão no ar.
O olhar que Alana me lança parece uma bomba-relógio prestes a explodir.
— Rhavi... caramba! — ela cobre o rosto com as mãos e esfrega freneticamente. — Pense,
Rhavi! Pense!
Mais uma vez, examino minha memória em busca de algo que poderia ter causado essa
reação. Será que tem algo a ver com a garota do chocolate? Não, acho que não.
Meus olhos percorrem a praça de alimentação, e então paro de repente.
Porra!
Meus olhos voltam para Alana lentamente, meu coração batendo forte.
Eu vou morrer.
— Ah! — solto uma risada nervosa.
Alana está séria.
— Ah? — ela franze a testa. — Tipo, "ah"?
— Tipo isso — engulo em seco.
E então, tão de repente como uma tempestade de granizo, ela começa a me bater.
— Seu idiota!
Eu me encolho, me protegendo e cheio de vergonha, porque estamos chamando a atenção.
Bem, ela não está realmente me espancando, mas para os outros parece que estamos brigando,
como adolescentes idiotas batendo um no outro.
Ei, alguém chama a polícia?
Eu me afasto dela ao me levantar e me sento do outro lado da mesa.
— Não seja tão agressiva — digo, segurando seus pulsos.
— Como você pode fazer isso, Rhavi? — ela estremece, tenta puxar os braços, mas eu a
seguro com firmeza.
— Você acha que eu pensei? — arqueio uma sobrancelha.
— Deveria ter pensado.
— Mas não pensei.
— Droga! — ela bufa.
— Eu disse que você nos colocaria em problemas — um sorriso se abre nos meus lábios,
mas morre quando ela me encara. — Pelo menos você... hum... colocou aquela coisa dias atrás...
qual é o nome?
— DIU.
— Esse nome — pigarreio. — Não lembrei de usar camisinha, isso em nenhum momento
passou por minha cabeça. Você não pode me culpar.
— Não é sobre isso — diz, claramente incomodada, ficando em silêncio.
— Ei! — puxo-a para mim, seus olhos se fixam nos meus. — Desculpe por ter sido
imprudente, droga, sou homem, e você, hum... estava gostosa, querendo que eu a... hum...
transasse com você... eu perdi totalmente a noção porque eu também queria aquilo.
Ela fecha os olhos por um instante.
— Eu também não lembrei — confessa, apertando os lábios.
— Eu não deveria ter apanhado desse jeito.
— Sim, deveria.
— Por quê?
Alana suspira.
— Você não é mais virgem, agora é sexualmente ativo e... — Ela trava as palavras, como
se fosse difícil dizê-las. — Você não pode vacilar desse jeito quando... ficar com outras garotas.
— Eu não vou ficar com outras garotas.
Ela me ignora.
— Você pode ser pai, arruinar a sua vida, contrair alguma doença... meu Deus, Rhavi!
— Eu não vou ficar com outra garota — repito, com firmeza.
Alana me encara.
— Rhavi, sua sorte é que errou comigo, não pode acontecer de novo.
— Com você?
— Com outra garota.
Sinto uma fisgada no peito, como se uma farpa estivesse perfurando minha pele.
Isso dói.
— Não quero ficar com outra garota.
— Para, Pet! — ela puxa seus pulsos e se recosta na cadeira, seus olhos parecendo
distantes.
— Bem... agora posso dizer que... hum... literalmente não sou mais virgem. — Alana me
olha, sem entender. — É que com a camisinha, é como se eu tivesse debaixo do chuveiro com
uma sacola na cabeça. Não é tão legal.
— É seguro.
— Mas não é legal! — escondo meu sorriso. — Tipo, “estou molhadinha”, mas estou com
a porcaria da camisinha... como vou sentir que está molhada se tenho uma coisa me bloqueando?
— Rhavi!
— Tá, parei!
— Isso não justifica não usar camisinha.
— Estou só dizendo — dou de ombros.
— Você está parecendo aqueles caras que fazem a cabeça da garota para não usar
camisinha.
Fecho a cara.
— Não pode dizer que sou esse tipo de cara, eu sou homem, camisinha é fundamental, por
causa da segurança e tal, mas...
— Para, não termina.
— É gostoso sem... e posso afirmar que é muito mais gostoso... tá, parei! — recosto na
cadeira. — Espero que... hum... tenha gostado, pelo menos.
Alana suspira.
— Gostei, droga, amei! — ela suspira. — Foi a primeira vez sem camisinha também.
Não consigo resistir e sorrio.
— Eu sei.
Ela estreita os olhos, porque sempre me contava tudo, não em detalhes, mas se não tinha
camisinha, ela saía correndo.
— Você é um idiota, Rhavi.
— Não sou, não.
Sua cabeça balança de um lado para o outro.
— Você quer ir à livraria? — pergunta, mordendo a unha, seus olhos vagando pelo lugar.
— Quero você peladinha em cima de mim.
Ela se inclina sobre a mesa e prende seu olhar no meu.
— Preste atenção no que vou dizer — Alana fica séria. — Sem camisinha, sem sexo. Seja
comigo ou com qualquer outra garota. Nada de sexo sem proteção, a não ser que queira ser pai
antes da hora ou uma doença, só faz quando for casado, aí é outra história, fora disso, jamais faça
sexo sem camisinha. Escutou, Rhavi Clark?
Respiro fundo, fitando-a.
— Sem camisinha, sem sexo.
— Isso mesmo.
Ficamos em silêncio, e meus dedos começam a acariciar suavemente a palma de suas
mãos.
— Podemos ir escolher alguns livros agora? — pergunto.
Alana suspira e, em seu suspiro, há a sensação de alívio.
— Tudo bem.
E então, nossas mãos se entrelaçam.
— Me desculpe... — murmuro, procurando as palavras certas para explicar minha
imprudência.
— Me desculpe também, deveria ter lembrado.
— Estamos seguros, relaxa! — tento tranquilizá-la.
— Se não estivesse?
— Daríamos um jeito.
Ela levanta uma sobrancelha, esperando por uma resposta mais concreta.
— Que jeito? — sua voz soa incerta.
— Casaríamos — digo, a simplicidade da resposta contrastando com a complexidade do
assunto.
— Não fala besteira.
Uma risada escapa dos meus lábios, e eu a puxo para ficar de pé.
— Não é besteira, é uma solução.
Enquanto recolho nossas sacolas, percebo que Alana ficou em silêncio, seus olhos brilham
com uma intensidade que me deixa intrigado.
— O que foi? — pergunto.
— Nada.
Olho para ela, curioso.
— Pode falar.
Ela sorri, e esse sorriso tem o poder de me enfeitiçar.
— Você mandou bem.
— Ah... — dou de ombros, modestamente. — Você sabe, não brinco no serviço.
Ela me empurra de leve, e seu toque me aquece.
— Convencido.
— Só falei verdades.
— Vamos logo comprar seus livros.
ESTAMOS PERDENDO.
Queria dizer o contrário, mas o placar não está a nosso favor, a defesa do TCU está se
saindo muito bem, conseguindo uma conversão de 31% na terceira descida contra nossa defesa.
Meus olhos permanecem no campo, o estádio está tenso à medida que o jogo prossegue.
Sei que estou aqui como reserva, mas nada consegue silenciar a voz dentro de mim que sugere
que eu poderia fazer a diferença, talvez consiga marcar de alguma forma e mudar esse placar.
Olho para Connor, que se prepara para a terceira descida, ele grita os comandos. Quando
lança a bola, esta voa pelo ar em direção a Sean, que está lutando contra o camisa 87. No
entanto, para nosso desespero, o defensor salta e intercepta a bola no alto.
Oh merda, merda, merda!
Sinto uma frustração percorrer como ondas elétricas por minhas veias, e o pensamento de
que eu poderia estar no campo ajudando me atormenta.
O time de ataque se retira, e a equipe de defesa entra no campo. Connor, cheio de raiva,
arranca o capacete e o joga com força no chão.
— PORRA! — ele grita, sentando-se e recebendo um tablet para revisar sua última jogada.
Meus olhos percorrem o rosto de cada jogador, todos expressando frustração, desânimo e
surpresa. Tínhamos acreditado que seria uma vitória fácil, mas ninguém estava preparado para a
agressividade demonstrada pelo time da TCU.
Sean sentado no banco, escuta atentamente o coordenador ofensivo, que relata seus erros,
os dropes, a falta de conexão, um desempenho de merda.
Respiro fundo, voltando minha atenção ao jogo no instante em que a bola é snapada, e o
quarterback adversário se prepara para fazer o lançamento. Nossa defesa age de forma
coordenada, com Ben aplicando pressão e forçando o quarterback um passe rápido. Nossos
defensive backs de fundo estão alertas, prontos para aproveitar qualquer oportunidade de
interceptação.
Blake Cashman assume uma posição estratégica, acompanhando de perto os movimentos
do receptor adversário. Neste momento crucial, o quarterback direciona a bola na sua direção.
Acredito que sua mente começa a trabalhar em alta velocidade, calculando o timing do salto e a
trajetória da bola. Ele salta no momento perfeito, esticando o braço e fazendo a interceptação.
— Isso, cara! — dou um soco no ar.
A multidão delira, assim como todos nós, com essa jogada espetacular, e uma onda de
euforia nos envolve.
A posse de bola agora é nossa, eles apenas a devolveram.
— É o nosso momento, pessoal! — grita Connor. — Vamos manter o foco, uma jogada de
cada vez. — Ele retorna ao campo.
— Ei, Clark? — Johnson chama. — Vamos aquecer!
Assinto e me dirijo à lateral do campo. Manter-me aquecido durante o jogo é fundamental,
pois, caso algo aconteça com Sean – o que é muito difícil se tratando dele – preciso estar pronto
para substituí-lo.
Enquanto o jogo se desenrola no campo, foco nos meus movimentos com a orientação do
Johnson, realizando exercícios de aquecimento, preparando para entrar em ação a qualquer
momento.
Momento esse que nunca chega.
Sério, quero jogar! É pedir muito?
Só quero entrar no campo.
Depois de alongar meus músculos, Johnson repassou algumas jogadas. Aperto a garrafinha
e jogo água dentro da boca, ouvindo-o atentamente, nada fora do normal.
Assim que ele me libera, volto a observar o jogo. Avançamos 30 jardas, pontuando para
nos manter na posse da bola. E sem perceber, começo a estudar a defesa adversária, procurando
brechas e estratégias para superá-la.
A bola é snapada, Connor recua alguns passos, seus olhos explorando o campo em busca
de seus recebedores que estão muito marcados, mas está demorando demais, cara!
— O que você vai fazer, Connor? — sussurro apreensivo, vendo o número 56 e o 68
quebrar o bloqueio e ele decide por um passe longo.
Tayler luta contra seu marcador, mas não consegue pegar a bola. A conexão não se
concretiza, e a torcida lamenta. Nenhum ponto é marcado, e temos apenas mais três tentativas
para ganhar jardas e aproximar o Kicker o mais perto possível da zona de pontuação.
Eles se reúnem no huddle para planejar a próxima jogada, eles se posicionam na linha de
scrimmage segundos depois.
— Vamos, lá! Faz a jogada terrestre, cortando pelo meio que tem uma falha. Pelos meus
cálculos, conseguiria umas dez jardas... escolha essa Connor. — Penso em voz alta, soltando um
suspiro.
Connor dá um grito e o center lhe entrega a bola, o som do capacete contra capacete
ressoa. Connor recua alguns passos, tentando escapar da pressão, mas é rapidamente alcançado
pelos defensores e derrubado atrás da linha de scrimmage, resultando em uma considerável perda
de jardas.
— Porra! — leva as mãos à cabeça.
Connor foi sacado! Porra!
O time adversário comemora.
Porcaria!
Agora enfrentaremos uma terceira descida com um longo caminho a percorrer até a zona
de pontuação, tipo, como se fossemos daqui de Houston a pé até a fronteira do México.
— TEMPO! TEMPO! — Haley faz um sinal para o árbitro, pedindo um tempo.
O treinador olha para o cronômetro, tendo a necessidade de um tempo para estruturar
jogadas, acalmar os jogadores e repassar estratégias.
Enquanto os jogadores se reúnem ao redor do treinador, Connor retira o capacete para
ouvir Haley,
— As jogadas terrestres não estão indo como esperávamos. A defesa deles está
antecipando nossos movimentos. — Haley pausa por um momento, insatisfeito com o resultado.
— Acho que precisamos de jogadas aéreas e apostas nas corridas com bola mais profunda —
continua. — Podemos surpreendê-los e ganhar mais jardas.
Todos ouvem atentamente as palavras do treinador, e ele começa a traçar um novo plano
com a equipe.
— Vão, vão! Foco na jogada! — Haley grita quando o tempo acaba, dando tapas nos
ombros e capacete dos jogadores.
— Pessoal, vamos lá! — Britt grita.
Respiro fundo e olho para o placar.
UH 15 x 26 TCU
Uma muralha de preocupação me abala ao encarar nossa desvantagem no jogo. Aquela
sensação de urgência toma conta de mim outra vez. Anseio por entrar em campo, mas, preciso
confiar nos meus companheiros.
Vamos virar, sei que vamos!
— Clark! — Haley se aproxima de mim e, de repente, com um olhar resoluto, começa a
traçar uma jogada rápida de corrida, sua voz soando urgente. — Fui claro?
— Sim, senhor — minha voz vacila, mas permaneço parado, absorvendo tudo o que disse,
sem entender por que está me dirigindo isso em vez do Sean.
— Clark, escute, vamos executar uma corrida rápida na próxima jogada — seus olhos se
fixam nos meus. — Estou contando com você, meu rapaz. Entre em campo agora.
— Entrar no campo? — Pisco. — Tipo, jogar?
Haley fica me encarando, e eu a ele. Acho que ele se confundiu; não sou o Sean. Será que
devo dizer isso a ele?
"Senhor, acho que se confundiu. Não sou o McCallister!"
— Seu capacete! — Johnson joga no meu peito e o agarro. — O camisa 25, é o seu
oponente. Ele vai te marcar de perto. Ele é rápido e forte, mas você é mais. Precisamos que você
o vença, e ganhe jardas. Beleza?
— Hum, acho que — engulo seco — posso superá-lo.
— É isso aí, Clark! — Ele bate em meu ombro tão forte que eu cambaleio.
Será que é porque minhas pernas estão bambas?
Não sei dizer, e nem me movo também.
Você também não acha esquisito? Tipo, sou o Clark, reserva, que só fica no banco, mas
não há nenhum jogador machucado no campo, então por que diabos estão fazendo isso?
Acho, apenas acho, não, não, tenho certeza de que estão me confundindo.
Isso dói, cara!
Abro a boca para retrucar, mas quando Haley me encara com a testa franzida, meu coração
quase sai pela garganta, e engulo as palavras.
— Quero que dê o melhor de si nas corridas, okay?
Hm, corrida? Correr que nem o Relâmpago McQueen?
Eu sou a velocidade... sorrio lembrando de Alana.
— Qual o problema, Clark?
— Hum, nenhum, senhor, mas...
— Estou te colocando em ação.
Fico estático por um momento, incapaz de acreditar no que acabei de ouvir. Meus olhos
encontram os do treinador, e a realidade da situação começa a se encaixar.
Estou substituindo Sean... Porra, estou dentro!
— Vai! — Haley se afasta, falando algo no microfone de seus fones.
Coloco o capacete, ajeito as luvas nas minhas mãos trêmulas e corro em direção ao campo
com o coração acelerado.
Okay, vamos lá, é a minha chance!
Sei que também não está acreditando que estou entrando no campo, mas estou dentro,
caralho!
Com passos confiantes, pelo menos, soando confiantes, adentro no campo, meu número 23
escolhido pela minha mãe brilha nas costas da camisa, com o sobrenome que herdei do meu pai.
Inspiro e expiro, recebendo tapas no ombro e palavras de incentivo dos meus
companheiros enquanto passo por eles em direção ao huddle.
Sinto uma mistura de emoção e determinação invadir meu ser. Talvez essa seja minha
oportunidade de fazer a diferença, de mostrar meu valor e deixar minha marca.
Connor confere sua pulseira, escolhendo o melhor movimento.
— Beleza! — ele nos encara. — Abacaxi torna a bola maluca na esquerda e endzone.
Batemos palmas, porque são apenas segundos que ele tem para nos dizer a jogada a ser
executada. Desfazemos do huddle, cada um se posicionando no seu lugar na linha de scrimmage.
Aloco um pouco atrás de Connor com as mãos nos joelhos, fecho os olhos por um instante,
bloqueando tudo ao meu redor, focando na próxima jogada, acalmando meu coração.
Rhavi Clark está em campo, acredite!
Respire, Clark, apenas respire, porra!
Não é um treino, é um jogo. Estamos no segundo tempo, no segundo período, 2ª descida
para dez.
É a minha chance!
— PREPARAR... — Connor grita, Tayler corre, trocando de posição. — ABACAXI! 92!
92! PREPARAR, VAI! — O center faz o snap.
Corro em disparada para a esquerda, dou um leve giro de tronco e recebo a bola,
agarrando-a com agilidade. Desvio dos defensores e corro mais alguns centímetros, mas sou
agarrado pela cintura, parando a jogada.
O estádio irrompe em aplausos e gritos de celebração diante do passe completo.
— Bora, bora, bora! — Britt estende a mão para mim, e dou um leve toque, juntando
novamente no huddle.
Connor gira o dedo.
— Gelatina de morango escorre pelo campo até se desfazer — ele nos encara. — Beleza?
— Beleza! — dizemos em uníssono, batemos palmas e desfazemos o círculo.
Posiciono ao lado de Connor, pousando as mãos nos joelhos e vagando meus olhos pela
defesa, tentando encontrar uma passagem, alguma falha, até meu olhar se encontrar com o
camisa 25.
— PREPARAR — Connor grita, faço um movimento, trocando de posição de esquerda
para a direita, parando um pouco mais na lateral.
O camisa 25 faz o mesmo movimento.
Okay... Okay... estou sendo seguido.
— Morango! Morango! — Connor grita, batendo palma. — 89, 89, 89. — A contagem
regressiva do relógio se aproxima do zero, e a tensão no ar é palpável. — PREPARAR...
Antes que a bola seja snapada, um movimento abrupto atrai minha atenção: um dos
defensores avançou prematuramente, cometendo uma falta antes mesmo do início da jogada.
— HEY! HEY! — Tanner berra, apontando para a defesa. — Avanço! Avanço!
Panos amarelos é arremessado no campo e o apito do árbitro corta o ar, indicando a
infração.
Connor me lança um olhar seguido de um sorriso por ter induzido a falta. Tiro o protetor
bucal e me aproximo dele enquanto a discussão sobre a falta se desenrola entre os árbitros.
— Estão ansiosos — digo em um tom de sarcasmo.
— Para perder — Connor completa, dando um tapa no meu capacete. — Bem-vindo ao
campo, Clark!
— Valeu!
Depois de uma discussão rápida, o árbitro avisa via microfone qual é a punição.
— Falta! Avanço da defesa antes do snap. Cinco jardas a favor do ataque.
Comemoramos, dando tapas uns nos outros, enquanto nos juntamos no huddle.
— Vamos lá, pessoal, mantenham o foco! — Connor diz. — Projeto foguete com queijo
cheddar, e direita profunda. Okay?
— Okay!
O huddle se dissolve e me posiciono estrategicamente, pronto para seguir o código do
Quarterback. Meus olhos varrem a defesa, coloco o protetor bucal e me inclino, pousando as
mãos nos joelhos.
A defesa tem uma falha no meio, essa jogada posso ir tanto para a direita quanto pelo
centro em disparada.
Beleza... Belezaaaa...
Eu consigo!
— PREPARAR... — Connor berra, bate palma uma vez. — PREPARAR... 1, 2, 3,
LANÇAMENTO! — O snap é feito e a bola é jogada em meus braços.
Agarro-a em meu peito, e como foguetes, os jogadores se dispersam em direções diferentes
abrindo um corredor. Corro por entre ele, ouvindo a colisão de corpos e capacetes, sinto mãos
tentando me agarrar, mas como um queijo cheddar, escorrego entre eles e avanço, ágil e rápido
pelo campo.
— VAMOS! VAMOS! VAMOS! — alguém berra, mas não paro.
Finto dois tackles, mas quando avanço mais duas jardas, sinto a colisão na lateral do meu
corpo.
— Uh! — exclamo, sendo derrubado no campo e virando de barriga para baixo para
proteger a bola.
Sinto o peso dos corpos sobre mim, as mãos tentando socar a bola, o arbitro apita e então
ouço a vibração da torcida. Os pesos vão se dissipando, e quando não há ninguém sobre mim,
levanto-me com a ajuda de Britt.
— É isso aí, Clark! — ele bate em meu ombro, e os outros no meu capacete.
O jogo desenrola, avançamos com determinação, conquistamos preciosos pontos, porém,
enfrentamos também uma marcação brutal que testa nossa resistência. Enquanto a defesa volta
para o campo, nos reunimos para traçar estratégias, revisitar jogadas e analisar as falhas do nosso
ataque para corrigi-las.
Em vários momentos, questiono a realidade do que está acontecendo, se realmente estou
aqui, jogando. Meus olhos se cruzam com os de Sean, sentado no banco, expressando seu
descontentamento.
Não desejo sentir essa pontada de desconforto, mas é inevitável. Estou ocupando o lugar
dele, e, ao mesmo tempo, esse é também o meu lugar. Respiro fundo enquanto nosso time
retorna ao gramado, lanço um olhar para o treinador em busca de confirmação.
Haley assente com determinação.
Continuo no jogo.
O segundo período é todo meu, essa é minha oportunidade de brilhar. Coloco o capacete e
adentro o campo, cada jogada é um avanço, cada pancada, uma sensação visceral de estar
verdadeiramente vivo. A cada passe interrompido, minha determinação cresce.
O rugido da torcida ecoa em meus ouvidos, e, em muitos momentos, meus olhos buscam
Alana. Não a encontro, mas tenho certeza de que ela está lá, me observando, vibrando e
incentivando nossos torcedores com o coração pulsante de emoção.
Prendo meus olhos no placar.
UH 19 x 26 TCU
Estamos perto, precisamos marcar, sei que consigo... posso fazer isso.
Suor escorre pelo meu rosto, pouso as mãos nos joelhos, e Connor grita. Faço um leve
movimento, como se estivesse prestes a me mover, mas permaneço quieto. O snap é feito, e
corro na direção do cara 87, ajudando a derrubá-lo. Sinto uma breve pancada.
— OOO! — Agarro outro, ignorando a dor, impedindo que ele alcance Connor, mas a bola
é arremessada. — AU! — Chio ao sentir um empurrão nas costas.
— Ei, ele moveu! — O 87 grita para o juiz quando a jogada termina, apontando para mim.
— Quem?
— Você!
— Não.
— Você moveu!
— Você está me vendo mover?
— Você fez totalmente — afirma dando de costas.
Viro para Connor e Tayler.
— Eu cem por cento fiz.
Eles gargalham. À medida que me aproximo da linha de scrimmage, o juiz se alinha aos
meus passos.
— Você se moveu na primeira jogada do scrimmage?
— Eu? — Olho para ele.
— Sim, você.
Engulo em seco, travando meu capacete.
— Juro que espirrei.
— Espirrou?
— Sim, só um pouquinho! — umedeço os lábios. — Eu juro que foi um espirro.
O juiz solta uma risada, se afastando, e eu sigo em frente com uma mistura de alívio, grato
por minha artimanha ter sido aceita com bom humor pelo árbitro.
Ufa!
Fico ao lado direito de Connor, e Tayler se posiciona do outro lado.
Connor aponta para mim.
— Beleza, você vai para a esquerda, eu vou para a direita — ele olha para Tayler —, e
você vai reto. Não importa o que aconteça. Beleza?
— Beleza! — concordamos em uníssono, pousando as nossas mãos nos joelhos, nos
preparando.
— Não importa o que aconteça, galera! — Ele grita. — Não importa o que aconteça!
O snap é feito, disparo pela lateral, ninguém me para, apenas meu marcador, que para na
minha frente. Faço um movimento para a esquerda, apenas para enganá-lo, giro na linha de 40 a
tempo de ver Connor arremessar a bola profundamente em minha direção.
Calculo, aguardo e salto o mais alto que consigo, e com apenas uma mão, capturo a bola e
a trago para meu peito. Meu marcador de antes mergulha, passando por baixo dos meus pés.
Aterrisso no chão com apenas o pé esquerdo, giro, dando um toque com a mão no chão
para me equilibrar, e corro com a bola encaixada no braço. Ouço a torcida ficar frenética. Não
olho para trás, não paro, continuo passando por cada jarda, visualizando a linha da endzone.
Meu coração bate forte cada vez que me aproximo, então estico a bola, fazendo com que
ela passe pela linha final antes do meu corpo. Então, escuto do locutor: OH, meu Deus!
Touchdownnn!!
Ergo os braços sem parar de correr, viro na direção do campo, uma emoção acumulando na
garganta. Os caras do meu time correm em minha direção.
— WAA HAA HOOO! — Grito, sendo agarrado por eles, que comemoram a nossa virada,
uma jogada que levou segundos e trouxe uma felicidade que não cabe nesse estádio.
— Sim! Sim, foi você! — Tayler bate várias vezes em meu peito. — Bom trabalho! Bom
trabalho, Clark! — depois bate em meu capacete. — Você arrasou! Ahhhh! Ahhhh! — ele sai
gritando.
— YEAHHH! WOOOO! — comemoro com eles.
— Cougars vencem, querido! — Britt tira o capacete, apontando para um dos meus
marcadores. — Oh-ho, Ooo-hoo!
Saio do círculo e corro na direção de Connor.
— Ah-hah! Ah-haaaa! — pulo em seus braços.
— VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COMIGO? O QUE FOI AQUILO? O QUE FOI
AQUILO? — Connor bate no meu capacete — É ISSO PORRA! É SOBRE ISSO! YAHHH!
— EU MARQUEI?! EU MARQUEI?! — digo, dando alguns passos para trás.
— SIM, PORRA! VOCÊ É O CARA!
— AHHH! — Corro de costa para onde está o nosso time. — Cougars vencem! Ah-hah!
Retorna para onde o time está reunido, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias.
Fiz bonito, não fiz?
Ao chegar ao banco, sou recebido pelos tapas animados dos meus companheiros de equipe.
Johnson, sorri para mim e dá um tapa no capacete.
— Incrível, Clark! Isso foi espetacular!
— Apenas fiz o meu trabalho — digo, retirando o capacete e aceitando uma garrafinha de
água que me entregam.
Os outros jogadores me parabenizam, alguns dando tapinhas nas costas, outros
verbalmente. O treinador, Haley, se aproxima com um sorriso de aprovação.
— Ótimo trabalho, Clark! Essa foi uma jogada fenomenal.
— Obrigado, senhor.
Sento-me no banco, e com a toalha, enxugo o suor do rosto e dou um gole na água. A
torcida comemora, e olho para o telão, assistindo o replay do chute de Corey para o field goal,
nos garantindo um ponto extra.
UH 25 X 29 TCU
Estamos tão perto de ultrapassá-los, só precisamos de mais um lindo touchdown para
tomar a liderança. Quando voltamos para o campo, os minutos correm, entre passes completos,
outros incompletos, faltas e avanços, dou tudo de mim para fazermos virar esse placar.
Connor chama a jogada, e com agilidade de um felino, começo a correr em direção à zona
de recepção. No momento certo, Connor lança a bola com precisão, e salto para recebê-la no
auge de sua trajetória. Seguro a respiração enquanto pairo no ar, meus olhos fixos na bola
girando em minha direção.
Entretanto, antes que pudesse completar a recepção, um tackle se lança contra mim em um
esforço desesperado para interromper a jogada. O impacto é brutal, seu capacete colide contra o
meu. O som do choque reverbera, e impulsionado pelo ímpeto do ataque, perco o equilíbrio e
caio no chão.
— O! — gemo, protegendo a bola.
Minhas vistas dá uma breve escurecida, retornando rapidamente, fico deitado, sentindo a
dor resultante da colisão.
Ouço o apito do juiz, ele se aproxima, afastando todos em minha volta e toca no meu
ombro.
— Tudo bem?
— Sim — digo, deixando a bola de lado e Britt me ajuda a levantar.
O camisa 99 se aproxima do Juiz.
— Foi legal! — ele grita. — Foi uma jogada legal!
O juiz ignora, caminha para o meio do campo.
— Falta da defesa por contato ilegal! Quinze jardas de penalidade e uma decida
automática.
A torcida vibra, recupero o fôlego e ajeito meu capacete.
— Ele é muito delicado, parece uma flor, porra! — O 99 fala, me olhando, indignado com
a falta. — Volta para seu viveiro, 23!
— Cala boca, cuzão! — Tanner faz menção de ir na direção dele, mas Tayler o segura.
— Vai se foder!
Junto no huddle, apesar da dor, minha determinação só aumenta.
— Post twist vermelho cruzado com azul — Connor diz em disparada. — Okay?
— OKAY! — batemos palmas e corremos para nossa posição.
O relógio marca os últimos minutos do quarto período. Concentro-me na jogada, pois
precisamos marcar, e eu preciso fazer um touchdown.
Vamos, Clark! Se concentre!
Eu consigo! Eu consigo!
— PREPARAR... — Connor grita. — Esquerda. Esquerda. — Tayler troca de lado. —
PREPARAR, VAI!
Recebo a bola e, com uma explosão de velocidade, começo a cortar pelo campo. Os
defensores tentam desesperadamente me marcar, mas com destreza escorrego dos tackles.
Ao me aproximar da endzone, a linha que separa o campo da glória, dois marcadores
adversários me alcançam. Um deles, com uma tenacidade descomunal, agarra a grade do meu
capacete, tentando parar minha corrida.
Instintivamente, começo a lutar contra ele, meus músculos tensos esforçam para superar a
resistência. No entanto, o cara não cede, mantendo sua firmeza e forçando meu capacete.
Porra!
Esse cara tá de brincadeira? Não está?!
Parece que estou sendo atacado por um pitbull, que de vez de ir na bola, está atacando o
meu rosto.
Cacete!
Um segundo defensor se aproxima com velocidade, aplicando uma gravata impiedosa em
mim. O impacto é brutal igualmente, mas mesmo com o pescoço envolto pelos braços do
marcador, não desisto.
Tento dar alguns passos à frente mesmo sob a pressão esmagadora dos defensores,
desequilibro e só quando caio no chão, o apito do juiz corta o ar, ecoando pelo estádio.
Tá de gozação!
— Te pegamos, porra! Te pegamos!
— Gostou do chão, flozinha? — O 99 diz, comemorando. — Sente o chão, porra!
Levando com ajuda de um dos meus companheiros, ignorando esses caras.
Florzinha? Pareço uma florzinha?
Ah, por favor!
Apenas dou uma encarada neles, sem comprar essa briga.
O Juiz marca a falta e a penalidade por ter agarrado meu capacete. Com a respiração
ofegante, me junto no huddle.
Esfrego as mãos nas coxas, essa é a última descida, temos apenas um minuto. Connor, faz
o snap, gira e me entrega a bola, agarro com firmeza.
Corto pelo meio campo, esquivando-me dos defensores, mas, logo sou engolido por cinco
crocodilos. O tackle é duro e sinto o choque, pelo menos consegui ganhar algumas jardas antes
de ser derrubado.
— Bora! Bora! Bora! — Connor grita. — McDonalds! McDonalds!
Quarenta segundos nos separam da vitória ou derrota.
Porra, quarenta segundos e eu não consegui sair do lugar.
Preciso me concentrar, eu consigo... Rhavi Clark consegue!
Certo?
Meu coração bate forte, este é o momento crucial. Preciso marcar um touchdown para virar
o jogo. A pressão é tão palpável que sinto nos meus ossos.
Connor grita o comando, o snap é feito, e eu irrompo pelo campo, esquivando-me dos
defensores com cada fibra do meu ser. A endzone está à vista e adentro nela, meu coração
acelera.
O passe é lançado, preciso e veloz, a bola faz uma trajetória perfeita em minha direção.
Antecipo-me, posiciono as mãos e sinto o impacto da bola, mas então... ela quica, escapando de
meu domínio.
Uma fração de segundo que pareceu uma eternidade. A bola veio como um raio e escapa
por entre meus dedos.
Não, não, não, não, nãããããão!
Porra, nãããããão!
Atrás de mim, meu adversário, que havia se mantido na sombra, aproveitou o meu
momento de drope. Com agilidade, ele interceptou a bola, despedaçando meu sonho de virar o
jogo.
Cacete, nãão!
Caio de costas no gramado, a frustração pesando em cada parte de meu ser.
O apito final soa, marcando o fim do jogo.
— ... E os Cougars perdem a partida. Vitória do TCU! — O locutor anuncia.
Não acredito! Não acredito!
É sério? Eu errei o passe na endzone?
A derrota começa a me comer vivo, e a oportunidade de uma virada escapa como areia por
entre meus dedos.
Não, cara! Não!
Permaneço deitado, olhando para o céu noturno, algumas gotas finas de chuva começam a
embaçar minha visão e a decepção se manifesta. Não há mais tempo de reverter a situação,
perdemos, e a dolorosa realidade de uma chance perdida me espanca.
Ergo-me apenas para ficar agachado, com a cabeça abaixada, encarando minhas mãos que
foram inúteis ao não terem segurado a bola. A raiva por não ter conseguido fazer um passe que
poderia ter sido a jogada da minha carreira começa a martirizar minha mente, e o lamento pela
oportunidade que se esvaiu permanece como uma sombra sobre o campo.
Eu tinha uma chance, um sonho, e esperdicei tudo por um erro que jamais deveria ter
cometido.
Eu não segurei a bola... ela estava tão perfeita, tão... tão... tão certa... Meus olhos começam
a queimar, meus ouvidos querendo ser tampados para não ouvir a comemoração que poderia
estar sendo a nossa.
— Ei! Ei! Ei! — Connor se ajoelha diante de mim e coloca as mãos no meu capacete. —
Não abaixa a cabeça! Não abaixa a cabeça!
Fecho os olhos, está doendo... doendo tanto...
— Ei, Clark, olha para mim, cara! — Ele me faz erguer a cabeça e encarar seus olhos
esverdeados. — Não abaixe sua cabeça para nada, cara, só se for para orar, do contrário,
mantenha-a erguida com foco nos seus sonhos. Beleza?
— Eu errei... eu errei... — minha voz sai engasgada. Eu nunca mais vou jogar... é sério,
quem vai pôr um perdedor no campo? Ninguém!
Connor suspira.
— Tudo bem! — ele olha para trás, depois volta a me encarar. — Estamos dentro ainda, na
luta, e vamos continuar. — Connor umedece os lábios. — Foi apenas uma derrota, Clark, na
próxima faremos mais que isso.
— Ei, levante-se! — Ben aparece, segura meu braço e me faz levantar. — Você
arrebentou, só que não deu para gente, cara! — ele bate nas minhas costas.
Atravessamos o gramado na direção do vestiário, cumprimentando alguns oponentes que
nos parabenizam. A nossa torcida está um pouco quieta, mas ainda fervorosa. Quero apenas me
esconder, ir embora e esquecer que isso aconteceu.
— Ei, Clark! — O cara 25 para diante de mim e estica a mão. — Mandou bem!
Seguro sua mão e dou um abraço de ombro.
— Valeu, cara.
— Até a próxima! — ele se afasta. — Espero jogar com você de novo.
— Eu também. — Retiro meu capacete, sentindo as gotas da chuva beijar minha pele.
Quando estou prestes a adentrar no corredor, ouço meu nome ser chamado. Olho para trás,
encontrando o 99 me encarando.
— Parece que você não puxou seu pai, afinal! — ele diz, abrindo um sorriso.
Suas palavras acertam meu estômago, e uma facada doeria menos do que elas.
— Por isso que ele é um reserva, cara — seu colega bate em seu ombro, dando gargalhada.
— E vai continuar sendo um.
— Qual é a sua? — Jarry aparece do nada e o empurra. — Pirou foi, seu cuzão?
Fico congelado, ainda ouvindo suas palavras. Não, não sou como meu pai, porque...
porque... isso me atinge?
Meu pai foi um vencedor, ganhou títulos e mais títulos, e eu... bom, nada! Ele tem razão,
de alguma forma.
— Seu técnico tem que fazer melhores escolhas de quem põe no campo — O 99 continua.
Ben avança contra ele, e em segundos, tudo vira uma bagunça, eu apenas dou as costas,
deixando tudo para trás, sem ânimo para mais nada.
Caminho em direção ao vestiário, a chuva engrossando e me molhando. Cada passo parece
uma contagem regressiva para o momento em que posso me trancar na solidão do banho e tentar
lavar a sensação de derrota que me envolve.
Enquanto adentro o vestiário, os murmúrios da equipe preenchem o ar, mas eu permaneço
em meu próprio silêncio. Tiro a camisa suada, sentindo o peso da noite sobre meus ombros.
Jarry se aproxima minutos depois da briga ter sido separada, tentando levantar meu ânimo
com palavras de encorajamento, mas elas parecem distantes, perdidas em meio ao eco das
palavras cruéis do 99.
A água do chuveiro escorre pelo meu corpo, misturando-se com a chuva que ainda reside
em meu cabelo. Deixo que o calor da água dissolva a tensão, mas a sensação de fracasso persiste.
Olho para o espelho embaçado, fitando meu próprio reflexo, e questionando cada movimento,
cada decisão.
— Como você está, Clark? — Britt pergunta.
— Bem.
— Você arrebentou nas jogadas, aquela captura com apenas uma mão foi louca demais.
— Valeu!
Evito contato visual ao me sentar e começar calçar meu tênis, mas sinto o olhar de Connor.
— Atenção aqui! — Haley grita e sobe em um dos bancos, encarando cada um de nós. —
Nós perdemos, tudo bem, pessoal, tudo bem! — Seus olhos se prendem em mim por mais alguns
segundos. — Não se abatam, eles apenas jogaram melhores que nós hoje, isso não desmerece o
trabalho que tivemos. Tudo bem, foi a nossa primeira derrota na temporada, não é nada demais.
— Ele faz uma pausa. — Podemos virar, e vamos virar!
Os caras vibram, e jogo a tolha sobre minha cabeça.
— Ei, não estamos com zero! — O técnico continua. — Eu sei o quanto todos nós
queríamos essa vitória. Eu sei o que vocês fizeram no campo, então vamos nos preparar para a
próxima semana.
Connor ergue o braço esquerdo e fecha a mão em punho.
— Eu acho que é seguro dizer que aprendemos nossa lição, de que precisamos ser
melhores — ele nos encara. — Perdemos, tudo bem, daqui em diante é um jogo de cada vez.
Vamos com tudo na próxima semana e ficar na mesa. — Connor agita o braço. — UM, DOIS,
TRÊS, UM, DOIS, TRÊS! — Todos urram em uníssono.
Passo a toalha pelos cabelos, ansiando voltar para casa e... enfrentar a dor que me
consome. Parece que a derrota se instalou, decidida a soar incessantemente em meu coração, sem
data de partida.

Ao sair do vestiário, a atmosfera do estádio mudou. A torcida está dispersa, mas as


palavras do 99 continuam reverberando em minha mente. Não sou como meu pai, e talvez isso
signifique mais do que uma simples diferença no campo.
Sinto a pressão das expectativas, do legado que eu deveria carregar. O estádio está mais
silencioso agora, e a chuva se resumiu em uma garoa persistente. Ao me aproximar da saída,
avisto Alana, meu coração bate mais apertado, como se precisasse dela nesse momento, e ao seu
lado, Leanne, que sorri ouvindo Alana conversar.
— Vai continuar? — Ouço a voz de Sean, e viro-me para trás.
Ele está parado, sua bolsa pendurada no ombro direito, seus olhos fitando as duas garotas.
— O quê?
Sean me encara.
— Jogando com as duas.
Franjo a testa.
Do que ele está dizendo?
— Hum, eu não entendi.
Sean esboça um sorriso amargo.
— Nunca duvidei da sua falta de caráter, mas... poh, cara! Comer as duas e se fingir de
santo para todo mundo, faz com que eu queira me matar. — Ele se afasta, caminhando na direção
da saída.
Respiro fundo, meu estômago revira e encaro Alana, que me observa de longe.
Quero tanto me aninhar em seu colo, como um filhotinho que acabou de ser retirado de sua
mãe, e tudo o que ele mais quer, é o calor daquele que prometeu um lar.
Ela é... meu lar!
Enquanto me aproximo, noto um sorriso se abrir em seus lábios brilhosos, depois olho para
Leanne, pousando sua mochila perto de suas pernas.
— Ei, você fez sucesso no campo! — Leanne é a primeira a me elogiar.
— Oi! — digo para elas, enfiando as mãos no bolso da jaqueta. — Hm, não tenho certeza
disso— respondo, tentando forçar um sorriso.
— Está tudo bem? — Alana pergunta, me fitando, sabendo que não está... não está nada
bem.
— Sim... — meneio a cabeça.
Elas se entreolham. Alana cruza os braços e os esfrega com as mãos.
— O que pretende fazer agora? — Leanne pergunta. — O que acha de fazermos alguma
coisa?
Quero ir para casa.
Fico encarando seus olhos azuis, que desviam quando seu celular na mão, apita.
Alana pigarreia, olho para ela e a vejo esfregar os braços. Ela dá um leve gesto com a
cabeça na direção da minha jaqueta, deixando implicitamente que está interessada em vesti-la.
Leanne, concentrada em digitar algo no celular, não percebe o gesto. Então, tiro a jaqueta e
a coloco sobre os ombros de Alana. Ela fica surpresa e me olha, estática.
— O que está fazendo? — ela sussurra.
— Você está com frio.
— Não, cara... não... — Alana balança a cabeça.
— O que foi?
Ficamos nos encarando, quando estou prestes a repetir a pergunta, ela lança um olhar para
Leanne, parada, nos assistindo. Ela também está com os braços cruzados, seus pelos eriçados.
Espera...
Olho para Alana e depois para Leanne, que apenas me lança um sorriso que não consigo
decifrar.
Porra!
— Está, hum, frio, né? — digo, passando as mãos nos cabelos. — Quando chegarmos em
casa, vou fazer um chá para nós, está bem?
— Seria ótimo.
Contorno meu braço em seus ombros e a trago na direção do meu corpo para esquentá-la.
Leanne abraça minha cintura, e deposito um beijo no topo da sua cabeça.
— Vamos? — pergunto, fitando Alana.
Ela coloca os braços dentro da jaqueta, e dá uma olhada para trás. Sigo na direção em que
olhou, então vejo um cara encostado em um carro, nos observando.
— Vão vocês dois, tenho um... bom, vou com outra pessoa.
Sinto meu corpo inteiro enrijecer.
Como assim? Ouvi direito?
— Com quem?
— Com Elijah — ela aponta na direção dele. — Combinamos de ir ao cinema.
Meu coração parece rachar, como um copo de vidro trincando aos poucos.
— Cinema? — minha voz sai pesada. — Fazer o quê lá?
Alana revira os olhos, dando uma risada.
— O que fazemos no cinema, Pet?
Sexo... oral?
Calma, ela fez isso apenas comigo, não quer dizer que fará com outro ou... porra...
— Alana... — eu preciso de você...
Sinto frio, meu corpo dói, e tudo o que mais quero é Alana.
— Desculpe, Pet! — ela olha para Leanne, depois para mim. — Já estava marcado.
— Tudo bem — murmuro, com um nó na garganta.
Ficamos nos encarando por mais alguns segundos, antes dela erguer a mão e acenar.
— Tchauzinho! — ela dá as costas e caminha na direção daquele cara, que abre um sorriso
quando Alana para diante dele.
Ele está sorrindo demais para ela, não gostei disso. Os dentes dele nem são brancos, são
amarelos. Tensiono o maxilar ao vê-la rindo doe algo que ele falou.
Porra... isso dói. Merda!
— Ele é legal! — ouço a voz de Leanne.
Legal é meu pau.
— É? — Olho para ela, que está encarando os dois.
— Nãããão — Os olhos de Leanne se arrastam até os meus. — Não quanto você.
Solto o ar.
— Vamos nessa! — digo, não querendo olhar para o rumo de Alana.
Ao chegar perto da minha caminhonete, abro a porta para Leanne e a ajudo a entrar.
— Ela não deveria fazer isso — murmuro, afivelando o cinto de Leanne.
— Não deveria o quê?
— Sair com qualquer um — digo, fechando a porta e contornando para assumir a direção.
A chuva parece ter se intensificado, mas a tempestade em meu peito é muito mais
devastadora. Sinto-me abandonado nessa fria noite depois de uma vergonhosa derrota.
Enquanto dirijo pela estrada molhada em silêncio, o interior do carro é iluminado apenas
pelo suave brilho dos postes da rua. O som do motor se mescla ao clima desconfortável que paira
entre mim e Leanne.
Não é que ela esteja me fazendo sentir desconfortável; é a situação em si que causa esse
mal-estar, uma mistura de vergonha com incapacidade. Minha mente está em total caos, focada
na oportunidade que deixei escapar, o que me impede de manter uma conversa.
Se eu tivesse segurado aquela bola... se não tivesse deixado ela escapar... Olho para fora da
janela, as luzes da cidade piscam enquanto as ruas se estendem diante de mim. Meu coração
aperta, um nó se forma em minha garganta, e solto um suspiro angustiado.
— Você está muito quieto — Leanne diz, quebrando o silêncio. — Está tudo bem?
Não.
— Sim.
— Quer conversar?
— Não... quero dizer... sim, sim, podemos conversar.
Suspiro e passo a mão pelos cabelos.
Na verdade, não quero conversar; só queria... sumir. Não estou sendo dramático, mas,
caramba, está doendo.
— Perdão, Leanne — digo, por fim. — É que eu ainda não consigo acreditar que perdemos
o jogo. Entende?
— Sim.
O silêncio pesa no carro e a ouço suspirar.
— Quer ouvir uma história? — pergunta.
— Adoraria.
Ela se inclina e ajusta o ar, tornando-o um pouco mais quente.
— Minha mãe já enfrentou jogos difíceis ao longo da sua carreira, mas houve um em que a
derrota a atingiu profundamente. — Dou uma rápida olhada nela, que recosta no banco. —
Naquela época, ela ainda era uma jogadora amadora, e aquele jogo era a porta de entrada para o
time profissional. Ela investiu não apenas seu esforço, mas um pouco mais do que isso. Mamãe
treinou incansavelmente, dedicando-se de corpo e alma. No entanto, quando o dia decisivo
chegou, o time adversário se revelou muito superior ao dela.
Paro no sinal fechado.
— E?
— Ela enfrentou muita marcação e mal conseguiu tocar na bola.
— Mas ela ganhou?
— Naquela tarde, ela perdeu.
Encaro-a a tempo de vê-la dar de ombros.
— Mamãe ficou devastada, é claro, acreditando que havia desperdiçado a oportunidade dos
seus sonhos. Porém, alguns dias depois, o resultado saiu, e para sua surpresa, ela conquistou a
vaga.
— Ela não jogou mal, então... — murmuro, avançando quando o sinal abre.
— Você também não jogou mal. — Diz, e sinto seus olhos pousados em mim. — Não dá
para carregar um time inteiro nas mãos, você entrou no campo e fez a sua parte. A plateia ia à
loucura quando avançava com a bola.
— Sério?
— Seríssimo.
Olho para as minhas mãos no volante, e mesmo que essas palavras tentem me animar,
sinceramente, não estão fazendo muita diferença.
— Você jogou pra caramba.
Mas perdi.
— Obrigado.
Voltamos a ficar em silêncio por um tempo, e quando viro na rua que leva para o nosso
bairro, sinto um aperto no peito de novo. Além de perder o jogo, Alana saiu com outro cara...
sério, justo quando eu só queria estar dormindo de conchinha com ela?
— O festival é depois de amanhã. Está tudo certo para irmos?
O que eles estão fazendo agora? Beijando? Se pegando? Será que ela está pelo menos
pensando em mim?
Um calafrio percorre todo o meu corpo, e sinto um nó se formando no estômago, um gosto
amargo na boca ao pensar em outras mãos além das minhas a tocando.
Respiro fundo, aperto os dentes, realmente querendo ir até o cinema buscá-la, mas sei que
esses sentimentos são só egoísmo puro e... caramba, estou com um monte de ciúmes.
— Rhavi?
Pisco algumas vezes e olho pra Leanne.
— Hein?
— Tudo certo com o festival? — ela pergunta, me encarando.
— Ah, sim, sim... — paro em frente ao prédio, desligo o carro e dou um suspiro. —
Entregue, Princesa.
— Você não vai entrar?
Olho para o prédio, depois para os olhos dela me analisando.
— Preciso... dar uma volta.
Leanne maneia a cabeça, oferecendo um sorriso fraco.
— Não vá muito longe, você precisa descansar.
Inclino a cabeça e estendo o braço, virando a palma da mão para cima, convidando-a a
colocar a dela sobre a minha. Quando ela o faz, fecho os dedos ao redor, sentindo seu calor.
— Obrigado por ter torcido por mim.
— Você merece toda torcida do mundo — ela diz.
Levanto os olhos e encontro os seus, conduzo a mão dela até minha boca e deposito um
beijo leve no dorso.
— Te pego na sexta às 19h.
— Tá bom! — ela sorri, e eu solto sua mão para que ela possa desafivelar o cinto. — Boa
noite, Clark.
— Boa noite, Kinsley.
Ela sai do carro e segue em direção à portaria. Quando Leanne desaparece de vista, solto o
ar, meus ombros caem e encosto a cabeça no encosto do banco, fechando os olhos.
Estou me sentindo péssimo, tipo aquele monte de coco que os pombos deixam de presente
em cima do seu carro. Primeiro, perco um jogo que era importante para a minha carreira, e
depois, vejo a Alana ir embora com outro cara, e ainda por cima para o cinema...
Solto um suspiro longo. Sei lá quantas vezes já suspirei nos últimos minutos, mas meu
coração está apertado, sabe? Estou sentindo como se tivesse uma bolha de ar em volta dele,
como se não estivesse conseguindo bater direito.
Permaneço quieto, escutando meu celular tocando.
Espera aí... Abro os olhos, pensando que pode ser a Alana me ligando para pedir para
buscá-la porque o cara é um idiota. Mas quando pego o celular que está ali no banco de trás
dentro da bolsa, não é a Alana, é meu pai.
Encosto-me de novo, segurando a vontade de chorar. Não vou conseguir falar com ele
agora... deve estar meio envergonhado de mim, sei lá. Talvez, se eu ligar de volta mais tarde...
Respiro fundo e atendo.
— Oi, Pai!
— Como você está?
Percorro a ponta dos dedos no volante.
— Estou bem.
— Mesmo?
— Eu... perdi o jogo, Pai — confesso e olho para fora. — Droga... deixei a minha única
chance escapar.
Senhor Sullivan fica em silêncio por alguns segundos.
— Você deu o seu melhor.
— Mas não foi suficiente... — minha voz morre.
Pisco para afastar a ardência dos meus olhos.
— Sabe, filho, já perdi muitos jogos e já joguei tão mal a ponto de ser substituído no
segundo tempo — ele conta, mantendo a voz firme. — Nem por isso desisti ou pensei que não
conseguiria jogar de novo, apenas tentei ver o lado bom de tudo aquilo que estava acontecendo.
— Não vejo o lado bom da minha derrota, pai... tudo parece estar prestes a desmoronar,
entende? E não digo isso só em relação ao jogo, mas tudo. Estou me sentindo uma bagunça, nem
tudo é o mesmo de antes, nem tudo está como deveria estar...
— Às vezes, as coisas precisam desmoronar para algo melhor surgir no lugar.
Mordo o interior das bochechas e dou um soco de leve no volante.
— Quais as chances de eu conseguir jogar de novo? — indago, ficando com raiva de mim.
— Parece que todos os meus esforços não valem a pena.
Ele fica calado, ouço um barulho ao fundo, depois silêncio total e sua voz ressoa em minha
mente, mas dessa vez com um tom de voz de um mentor e treinador.
— Ganhar não é tudo, Clark, porque às vezes perder o que você está habituado serve para
te lembrar do que você realmente merece — diz com firmeza. — Obviamente que você não
merece estar no banco, mas para isso, precisa estar preparado, e perder faz parte desse
preparo. — Ele faz uma pausa, e aproveito para me acalmar um pouco. — Eu sei que é difícil
perder, mas você nunca verá o propósito da tempestade até ver o crescimento que ela te
proporciona.
— Estou com... medo de não conseguir outra chance, pai!
— Sua situação atual não é seu destino.
— Mas...
— Filho... — ele inspira fundo. — Apenas continue trabalhando em si mesmo e buscando
sua melhor versão, mesmo nos momentos difíceis.
Fecho os olhos e assinto.
— Obrigado, pai!
— Sabe, pela minha experiência eu descobri que Deus testa você. Ele testa você para ver
o quanto você consegue aguentar antes de te dar a vitória.
— Foi um teste então? — contorço os lábios, pensativo.
— Deus quer ver o quanto você pode suportar, o quanto você pode lidar com as vitórias e
derrotas. Você diz que ama jogar, que quer ser um titular, então Ele diz “vou te mostrar como é
ser um campeão”, e ser um campeão também significa perder. — Papai estala a língua. — Você
apenas precisa aceitar o bom e o ruim da carreira que escolheu. Isso é ter maturidade. Então na
sexta, melhore. No sábado, melhore. Faça o seu trabalho com consistência, foco e
determinação, você vai chegar lá, mas como eu disse, a vitória chega somente para aqueles que
estão preparados mentalmente para ela.
Deixo o silêncio se instalar por um momento, absorvendo cada palavra que meu pai disse.
Meu coração, embora ainda pesado, começa a bater mais aliviado, como se uma agulha de
esperança tivesse perfurado a bolha de ar em volta dele.
— Ser um campeão também significa perder — digo, baixinho, e essas palavras ecoam
como um lembrete de que as derrotas não são o fim do mundo.
— Onde você está? — Meu pai pergunta. — Já está em casa?
— Estou dentro do carro sem saber para onde ir.
— Alana está com você?
Solto um suspiro.
— Está em um encontro.
— Um encontro? — a voz do meu pai sai um pouco mais alta. — Com outro cara?
— É... com outro cara. — Minha voz sai um tanto indignada.
— Pensei que... bem, chego amanhã na cidade e quero te ver.
— O senhor... assistiu ao jogo?
— Claro que assisti — diz, animado. — Jogou como um verdadeiro Clark.
Sorrio, sem jeito.
— Eu dropei no final...
— Aquela bola estava alta demais.
— Ela clicou nos meus dedos.
— Eu já perdi muitos touchdown.
Suspiro de novo.
— Pai?
— Hum?
— Obrigado por me incentivar.
— Eu tenho muito orgulho de você, filho.
— Mesmo eu perdendo aquele touchdown?
— O próximo você dedica a mim para compensar.
Solto uma risada.
— Vai ter que entrar na fila.
— A fila é tão longa assim?
— Bem, tem o da minha mãe, os da Alana, da Lauren... depois o seu.
— Certo, fiquei por último.
Sorrio.
— Te amo, pai!
— Eu também te amo, filhote.
— Tchau!
— Se cuide.
— Tá, vou me cuidar — finalizo a ligação.
Fico quieto por um momento e, em seguida, abro o aplicativo de mensagem. Clico no
nome de Alana e começo a digitar: "Espero que esteja curtindo o encontro...". Apago, fico olhando para a
tela, e tento de novo: "Estou pensando em você, espero que esteja se divertindo...". Droga, apago de novo.
Queria pedir para ela voltar, mas não posso impedir que se divirta ou conheça outras
pessoas. Caramba, estou me sentindo tão sozinho...
Decido não enviar nada. Não quero estragar o encontro dela. Se ela estiver feliz, eu ficarei
feliz também. Dou partida no carro e dirijo para o estacionamento do prédio.

Chego em casa e a exaustão do jogo começa a se manifestar em cada músculo do meu


corpo. A solidão fica mais palpável à medida que tranco a porta atrás de mim. Caminho
lentamente até o quarto, sentindo a dor se intensificar a cada passo.
Ao chegar no meu quarto, jogo a bolsa de lado e tiro as roupas, encarando-me no espelho.
Há um roxo dolorido bem na minha costela, e ao tocá-lo, sinto uma pontada de dor. O cotovelo
também está bem ralado.
— Estou todo machucado — balbucio, pegando uma pomada. — E não tem ninguém aqui
para cuidar de mim.
Passo a pomada nos hematomas, chiando de dor quando meu cotovelo arde mais que
pimenta na boca.
Entre a luz suave, procuro dentro da caixa de remédios por um analgésico para me ajudar a
sobreviver com essa dor.
Sério, você não quer vir cuidar de mim não? Porque aparentemente ninguém liga. Era para
Alana estar aqui, mas ela preferiu sair com outro cara... outro cara, tem lógica isso?
Reviro os olhos e vou para a cozinha com o remédio na mão. Pego um copo de água,
coloco o comprimido na boca e dou um gole. Em seguida, abro a geladeira, encho meu copo com
leite e o coloco no micro-ondas para esquentar.
Espero o leite ficar pronto e desbloqueio a tela do celular, começando a digitar: “Oi, tudo
bem? Estou meio pra baixo...”. Hesito por um instante e apago a mensagem.
Volto para meu quarto com meu leite quentinho. Sento-me na cama com as costas apoiadas
na cabeceira e abro o Instagram.
Deslizo pelo feed, passando por fotos e reels, quando me deparo com uma postagem de
Connor. A imagem o mostra no campo vestido com o uniforme e segurando o capacete pela
grade com o olhar determinado, mesmo após a derrota da partida.
A legenda diz: "Nem sempre vencemos, mas sempre aprendemos. A verdadeira superação está nas derrotas que nos
fazem mais fortes. Seguimos juntos, Cougars!"
Observo a foto por um momento, assoprando o leite que ficou muito quente. Decido curtir
a postagem. Em seguida, comento: "Vamos mais forte na próxima!".
Continuo deslizando pelo feed, assoprando e dando uma bicadinha no leite, resmungando
por queimar de leve meus lábios.
Por que deixei esquentar por tantos minutos?
De repente, me deparo com uma foto minha celebrando o touchdown postado por Briella.
Abro um sorriso enquanto leio a legenda: "Rhavi mostrando toda sua habilidade no campo! Grande jogada, amigo!
A vitória está no próximo lance!"
— A vitória está no próximo lance... — repito em voz alta, soltando uma risadinha
esquisita.
Rapidamente, curto a foto e comento: "Valeu, Briella! É tão bom ter uma torcedora incrível como você.
Vamos com tudo na próxima partida!"
Volto a rolar o feed e uma notificação surge, informando que Alana postou uma nova foto.
Levo o copo à boca e clico na postagem, sentindo um soco no estômago, pois a foto mostra
Alana sorrindo ao lado de um cara que não conheço.
A legenda diz: "Noite de cinema com um novo amigo! #AmizadeQueValeAPena".
— Que diabos é isso? — Me ergo abruptamente e dou um gole no leite, mas cuspo
imediatamente. — Quente. Quente. Quente. Porra! — Levanto-me, coloco o copo na mesinha e
pego a toalha para enxugar minhas pernas.
Minha língua pulsa e adquire uma textura estranha; volto a me sentar e pego o celular,
indignado.
Ela realmente postou essa foto com essa legenda ridícula, não foi?
Eu me recuso a acreditar!
Pisco várias vezes, atualizo o feed para verificar se é uma alucinação, mas a maldita foto
continua lá. Meu coração palpita rápido e sinto um calor subir pelas minhas veias.
— Ela só pode estar de brincadeira — murmuro, fazendo uma careta. — Um novo amigo?
— ergo as sobrancelhas e solto uma risada cínica. — Ela arrumou um novo amigo, olha só
pessoal, que lindo!
Com as mãos trêmulas, começo a digitar uma mensagem, deixando claro minha
indignação: “Ótimo, fui substituído por um idiota...”. Não, balanço a cabeça, apago e escrevo outra: "Legal
ver que você fez um novo amigo tão rápido...". Contudo, antes de enviar, pondero sobre minhas palavras.
Seria melhor não enviar essa, né?
Beleza, vou tentar outra abordagem, uma mais leve: "Cinema, hein? Acho que perdi a sessão...". Só
que essa mensagem parece carregar um tom de ciúmes que prefiro evitar e preservar minha vida.
Novamente, apago.
Respiro fundo, acalmando meus nervos e opto por uma abordagem mais sutil e menos
carregada de emoção. Digito apenas dois emojis: . Talvez um sorriso e um polegar para
cima possam expressar minha indignação.
Suspiro, encarando a tela por alguns segundos antes de apertar o botão de enviar. Mesmo
que a pontada de ciúmes persista, escolho largar o celular e ir dormir.
Desligo as luzes, entro debaixo das cobertas, deixo meus óculos na cabeceira e fico
encarando a janela. Lá fora, a noite se assemelha a um céu estrelado, adornado pelas luzes da
cidade, mas minha visão não permite que eu veja com clareza; está tudo embaçado.
Suspiro uma, duas, três vezes e encaro o teto.
— Um novo amigo... — balbucio e viro de lado, a cama geme. — Um novo amigo é meu
pau, fiel e faz bem o seu trabalho, tenho certeza que deixaria qualquer uma feliz. — Fecho os
olhos, forçando o sono a vir. — Um novo amigo... que coisa idiota.
O som distante de batidas na porta e vozes animadas penetra meu sono. Murmúrios ecoam
em meu subconsciente, mas eu resisto, afundando-me ainda mais no conforto do travesseiro.
Está tão gostoso aqui... macio, quentinho... ouço meu celular vibrar várias vezes, resisto
também. Meu sono é mais importante agora, preciso revigorar minhas energias...
Sobressalto de susto quando sou arrancado do meu sono com o toque da campainha.
Choramingo, debatendo as pernas, mas me arrependo de imediato quando meus músculos
gritam, como se estivessem sendo rasgados.
— Fala sério! — Com um gemido, esfrego os olhos e alcanço meus óculos na cabeceira,
minha visão embaçada logo clareia enquanto me esforço para me sentar na beira da cama
Ouço meu nome ser chamada do lado de fora, me levanto com a mente ainda em névoa do
sono e saio do quarto. Ao passar pela sala, escuto as vozes aumentarem de volume. Resmungo
baixinho, sentindo cada músculo reclamar da movimentação. Chego à porta e a abro, deparando-
me com Aidan, Liza e Alana, todos carregando sacolas.
— Ei, dorminhoco! — exclama Alana, entrando. — Estávamos quase chamando a polícia.
— Que horas são? — pergunto, franzindo a testa.
— Tarde demais para um preguiçoso como você! — rebate Aidan, empurrando-me para
sair do caminho
Percorro a mãos pelos cabelos desgrenhados, confuso.
— O que está acontecendo? — inquiro, ajeitando os óculos.
— Dia de cinema! — anuncia Liza, exibindo um sorriso contagiante.
Ao olhar melhor para eles reunidos em volta da mesa, noto que trouxeram petiscos,
bebidas e até mesmo algumas guloseimas.
— Não fiquei sabendo disso — digo, minha voz saindo grogue.
— Agora está — Liza responde, dando um sorriso meigo.
Meus amigos decidiram comemorar o quê? Minha derrota?
— Que horas são, hein? — pergunto, bocejando e fechando a porta.
— Meio-dia — Liza fala.
— O quê? — olho no relógio de parede.
Porra, eu entrei em coma?
— Vocês nem avisaram que vinham — murmuro, sonolento, coçando a barriga nua. —
Acordei agora, nem tomei café e acho que não tem nada de comer na geladeira. Não fui ao
mercado.
— Fica de boa — Alana diz, lançando-me uma piscadela.
— Senhor Sullivan vai vir aqui hoje? — Liza pergunta, seus olhos brilhando.
— Aham.
— Vou ficar aqui até ele chegar — diz, animada.
Aidan concorda com um murmúrio.
Encontro-me com os olhos de Alana, que me encaram. Ela está com um copo na mão e, de
repente, seus olhos descem pelo meu corpo, fazendo-me sentir um arrepio na nuca. Pigarreio, e
ela apenas dá um sorrisinho antes de desviar o olhar.
— Acho que a gente deveria arrumar as coisas — Alana diz para Aidan.
— Aqui estão os hamburgueres de picanha.
Pego a travessa com os hambúrgueres e caminho até a cozinha, passando pela Alana.
Coloco a travessa dentro da geladeira e aproveito para encher um copo com água. Bebo em um
gole só, encarando-a sobre a borda, e então coço a barriga.
Ah, é mesmo, estou só de short de dormir... ah, que se dane!
— Bom, ajeitem as coisas aí que vou tomar um banho — digo, largando o copo na pia.
— Não demora muito — Liza pede, tirando algumas coisas de dentro da sacola, depois
percorre as mãos pelas duas tranças que fez em seu cabelo.
Retorno para o quarto, apanho a toalha e mergulho no chuveiro, deixando a água levar
embora meu sono. Assim que saio, travo na porta ao notar Alana sentada na cama, fitando seus
tênis.
Respiro fundo, esfrego a toalha em meus cabelos e caminho em direção à cômoda para
escolher uma roupa, sentindo seus olhos em mim.
— Não vai falar comigo? — pergunta.
Fico vasculhando na gaveta das minhas cuecas, tentando encontrar alguma... ah, só para
esclarecer, caso você aí esteja com pensamentos pecaminosos de que eu deva estar sem roupa,
estou com a toalha em volta da cintura, supercomportado.
— Fez um novo amigo, hein! — minha voz sai um tanto amargurada.
Alana pigarreia, e sinto um desconforto no estômago.
— Mais ou menos.
Viro-me para ela, que sorri como se nada estivesse acontecendo.
— Você me trocou! — afirmo, magoado. — Preferiu ir com ele em vez de ficar comigo.
— Foi apenas um lance — ela dá de ombros.
— Um lance, é? — resmungo, voltando a mexer na gaveta. — Claro, porque todo lance
termina com uma foto no Instagram e um “novo amigo” como legenda.
Ouço sua risada e isso me deixa com raiva.
— Para de rir — peço, virando-me e encarando seus olhos. — Isso não tem graça!
— Não estou rindo.
— Está sim! — Cruzo os braços e encosto na cômoda, encarando-a com seriedade.
— Qual o problema de eu sair com outro cara?
— Nenhum! — Trinco os dentes, dou de ombros e desvio o olhar. — Só não pode ficar aí,
cortando para todos os lados sem nem saber se o cara é legal. E outra, aposto que ele só queria te
comer.
Alana fica em silêncio por vários segundos, minha respiração está forte, assim como as
batidas do meu coração.
— Por que você se importa, Rhavi?
Olho para ela, abro e fecho a boca, depois solto um suspiro.
— Porque você é importante para mim — digo, engolindo em seco. — E você é minha
melhor amiga, poxa!
— É só por que sou sua melhor amiga?
Cerro o maxilar.
— Teria outro motivo?
— Diga você.
Ficamos nos encarando, solto o ar pela boca, mas não digo nada.
— Você nunca se importou com meus encontros antes — fala, olhando para suas unhas.
Merda!
— É porque você não era mi... — Calo-me, evitando dizer a frase mais clichê de todo o
universo, principalmente no contexto literário.
— Vamos, Rhavi, desembucha.
— Desembuchar?
— Céus, Rhavi, fala logo o que tem que dizer e pensa menos, porra!
— Por que você está com raiva? — pergunto, apontando o dedo indicador na direção do
meu peito. — Sendo que eu que deveria estar com raiva porque a senhorita me abandonou para
ficar com aquele idiota que nem sequer conhece, nem sabe quais as intenções que ele tem.
— E, daí?
— E, daí? — bufo, indignado. — Tá de brincadeira?
Alana suspira e cruza os braços.
— Rhavi, não entenda errado. Eu não preciso de um salvador, e muito menos de alguém
para me proteger.
Reviro os olhos, frustrado pela sua falta de compreensão.
— Não estou tentando ser o herói aqui, Moore. Só não quero ver você se machucando.
Ela solta uma risada cínica.
— Machucando? Sério? Até parece que não me conhece.
— Isso não tem nada a ver com o fato de eu te conhecer! — explodo. — Tem a ver com o
fato de que... merda, Alana, eu me importo muito com você desde que éramos crianças.
O silêncio se instala novamente, mas dessa vez é mais pesado, como se as palavras
tivessem um peso maior do que imaginávamos.
— Rhavi, o que está acontecendo aqui? — Alana pergunta, agora com um tom mais suave.
Respiro fundo, tentando controlar a confusão dos meus sentimentos.
— Eu... não sei. Só sei que ver você com aquele cara mexeu comigo.
Ela franze a testa, processando minhas palavras.
— Por quê?
— Porque, droga, Alana, eu... — começo a dizer, mas paro.
— Você o quê? — ela insiste.
— Nada, esquece.
— Fala!
— Não é nada.
— Porra, Rhavi, eu preciso entender o que está acontecendo aqui. Você nunca foi assim,
nunca se importou com quem eu saio.
Eu sempre me importei, só nunca falei.
Olho nos olhos dela, vendo a confusão e a preocupação refletidas ali.
— Acho melhor a gente descer.
— Não me deixa com raiva, Clark! — Ela se levanta, afastando a franja da testa. — Eu
quero entender por que você se importa, sendo que nunca se importou antes. Quantas vezes eu
saí, transei e passei a noite com outros caras e você nunca deu a mínima para isso. — Ela
gesticula, elevando a tensão. — Então abre a porra da boca!
Dou um soco no ar e solto:
— Porque aquele desgraçado estava com a garota que eu quero! — Minha voz sai um
pouco mais alta. — As mãos daquele babaca estavam no seu corpo, no corpo que minhas mãos
tocaram. — Bufo, colocando a toalha em minha cabeça, não a da cintura. — Ele estava querendo
te beijar... beijar a boca que eu beijei... Droga! Não posso suportar ver isso, tá legal?
Alana fica me encarando, congelada diante da minha declaração.
— E eu devo suportar? — sua voz sai baixa. — Devo suportar ver você escolher outra
garota?
Meu coração congela, talvez até tenha parado de bater por um segundo ao ouvir suas
palavras. Abro e fecho a boca sem saber o que dizer.
— A diferença é que...
— Não tem diferença alguma — corta.
— Eu jamais escolheria outra, sabe disso.
— Sei sim, e eu também jamais escolheria outro — ela suspira. — Mas, assim como você,
quero encontrar um cara que goste de mim de verdade.
— Eu gosto de você de verdade.
Alana revira os olhos.
— Quero um namorado, Pet!
Fico encarando-a, e sinto uma vontade absurda de esfregar o peito.
— Para que um namorado se você tem a mim? Seu melhor amigo? — Pergunto.
Não consigo entender por que ela quer isso. Eu sou melhor que um namorado, sou o
melhor amigo dela. Você pode, pelo amor de Deus, dizer isso para ela, porque tudo o que estou
vendo é a vontade enorme dela de me abandonar.
Alana não responde, apenas fica me encarando.
— Você tem a Leanne agora — murmura, e suas palavras doem em mim. — Estou ficando
de fora. — Abro a boca para retrucar. — Não adianta dizer o contrário.
Meus olhos começam a queimar. Tento disfarçar o choque que levei e engulo o nó na
garganta. Se ficar com Leanne significa perder a Alana, eu prefiro...
— Vai continuar assim? — pergunta, irritada.
— Assim como?
— Chato, com ciúmes, quando na verdade temos apenas uma amizade — diz, por fim. —
Você nunca ficou assim antes.
Engulo com dificuldade.
— E você vai continuar assim?
— Assim como?
— Achando que estou só brincando com a nossa amizade e o que rolou entre a gente —
pego uma cueca e fecho com força a gaveta. — É, talvez eu tenha ciúmes sim! Quer saber? —
Tiro a toalha da cabeça e a fito nos olhos. — Se desse, eu até transformava nossa amizade em
namoro, porque não aguento ver você se ferrando com uns caras que não dão a mínima pra você.
Preferiria ficar na minha, mesmo que isso signifique engolir o sentimento aqui dentro, do que te
ver sofrendo por causa de uns caras que não sabem dar valor a uma pessoa tão incrível como
você. — Caminho até o banheiro.
— Rhavi?
— Não quero mais conversar — faço menção de bater a porta, mas paro de uma vez,
porque da última vez que fiz isso, Alana ficou tão pistola que passei dois meses com medo dela
se vingar. — Eu não ia bater a porta — ela inclina a cabeça. — Só ia fechar... ou quer me ver
pelado?
— Não é uma má ideia.
Fico encarando-a por vários segundos.
— Não rolou nada entre nós — ela ergue os braços, derrotada. — Não nos beijamos, e ele
também não me tocou. Apenas assistimos ao filme, ele me deixou em casa e pronto.
— Jura?
— Juro!
Umedeço os lábios, respiro fundo e cedo.
— Me desculpe — peço.
Alana estala a língua.
— Me desculpe também.
Esfrego meu pescoço, ficando arrependido.
— Alana, eu não quis ser chato. Só... foi difícil ver você com outro cara, mesmo que fosse
só um filme. — Confesso, sem coragem de encará-la. — Eu só senti algo aqui dentro que não
consigo explicar direito — aponto na direção do meu peito. — Fiquei com medo.
— Medo de quê?
— De te perder... — minha voz vacila.
— Você não vai me perder, Pet!
— Tá bom — balanço a cabeça, tentando acreditar nisso. — Você pelo menos, hum,
poderia ter escolhido um cara mais bonito.
Ela solta uma risada, fazendo-me sorrir.
— Seus padrões são altos é?
Encosto no batente da porta, cruzo os braços e a encaro.
— O cara tem que ser pelo menos mais bonito, gostoso e inteligente que eu.
Alana arqueia uma sobrancelha.
— Gostoso, é?
— Você sabe, eu arraso corações.
— Meu Deus! — ela cobre a boca com a mão e ri. — De onde surgiu essa autoestima
elevada?
— Sei, lá!
— Vá colocar uma roupa descente, Sr. Gostoso, nossos amigos estão nos esperando.
Concordo com um aceno de cabeça, vendo-a caminhar até a porta do quarto.
— Alana?
— Hum? — ela para e me olha.
— É... hm... eu... realmente não gostei de ver você com ele.
— Eu sei.
— Mas entendo que... quer namorar e tal...
— Te espero lá embaixo — ela me corta e dá um sorriso antes de sair do quarto, fechando
a porta atrás de si.
Dou uma respirada profunda, penso sobre toda essa conversa, arranco a toalha da cintura e
coloco uma bermuda e uma camiseta do Percy Jackson, refletindo sobre o quanto eu peguei
pesado.
Será que exagerei mesmo?
Talvez só tenha sido um pouco intenso, mas em nenhum momento eu menti.

Ouço risadas, gritos animados e conversas ao caminhar até a sala. O cenário que encontro é
os três sentados no sofá, tensos e focados na tela da TV, onde Aidan com o controle na mão, joga
Fatal Frame, um jogo de terror, enquanto as meninas assistem.
— Jogar de noite ninguém quer, né? — digo, ajeitando meus óculos.
Eles viram a cabeça, depois retornam sua atenção para a TV.
— Olha quem fala — Aidan retruca. — O cara que soltou um grito e caiu da cadeira na
última vez que jogou de madrugada.
Ainda por cima, mal consegui dormir, e quando dormi tive vários pesadelos.
— Eu não estava esperando por aquele espírito.
— Aham — ele continua fixado na TV.
— Vira naquele corredor à direita, Aidan — Alana diz, abanando a mão. — Acho que eu
vi um espírito indo para lá. Tipo, só o vulto.
— Beleza.
— Não quer jogar, Rhavi? — Liza pergunta, esticando as pernas que antes estavam
encolhidas.
— Não, não, não... eu, hm, prefiro assistir de longe, beeeem de longe.
Eles riem.
— Tudo bem — Aidan me dá uma olhada rápida —, mas vai acabar perdendo a diversão
de encarar os espíritos com a gente.
Uma música tensa toca alto, meu coração já fica apreensivo porque ela só toca quando está
perto de um espírito ou fantasmas... qualquer coisa morta.
Credo! Esse jogo é bizarro!
— A diversão de encarar um espírito? Não, obrigado! Eu prefiro ficar com a pipoca e
assistir vocês levando susto.
De repente, a sala se enche de gritos das meninas e risada tensa de Aidan quando um
espírito aparece e ele tenta fotografá-lo.
— Nossa, isso me assustou pra caramba! — Alana exclama com a mão no peito.
— Quase deixei o controle cair — Aidan diz, recostando e rindo. — Essa porra vibrou, me
dando um susto do caralho.
Liza dá tapinhas nos ombros de Aidan.
— Acho que devemos usar a câmera ali, naquela saída de ar, para capturar aquele espírito
da criança — ela fala, tensa.
— Aqui?
— Isso.
— Acho que não tem nada aí — Alana aperta os olhos.
Escoro na parede observando-os jogar, pensando no quanto esse jogo é superesquisito. Se
eles fossem reais, no caso, se eu fosse essa personagem que caça esses fantasmas, estaria em boa
forma, preparado para correr do que lutar.
Quem é que luta contra espírito/fantasma pelo amor de Deus?
— Ei, que tal mudarmos para algo mais leve? — percorro os dedos pelos cabelos. —
Mario Kart, talvez?
Os três viram a cabeça, bem câmera lenta, e ficam me encarando como se eu fosse o
fantasma do jogo.
— O quê? — ergo o queixo. — O que foi?
— Para de ser cagão, Clark! — Aidan ralha, rindo.
— Não estou sendo cagão.
— Está sim! — os três dizem em uníssono.
Reviro os olhos.
— Vou fazer algo para comer — faço uma careta quando eles retornam sua atenção para o
jogo.
Eles vêm na minha casa e dão mais atenção ao jogo do que de mim. Está vendo como
tenho melhores amigos ótimos?
— Acho que não tem nada aqui, baby! — Aidan afirma para Liza.
— Acho que está no andar de cima — Alana diz, pensativa. — Ou no andar de baixo?
— Vamos ver no andar de baixo...
Ao entrar na cozinha, pego o que preciso e começo a preparar sanduíches de atum. Espalho
a mistura sobre o pão quando Liza aparece.
— O que está fazendo? — ela pergunta, abrindo a geladeira e pegando uma cerveja.
— Sanduíches de atum — respondo. — Você quer?
— Claro.
— Você gosta?
— Amo.
Ela recosta na pia, dá um gole na cerveja e fica me observando.
— E a propósito, como está indo seu livro? — Pergunto, entregando-lhe seu sanduíche,
depois encosto na bancada com o meu na mão.
Liza dá uma mordida, ergue o polegar para cima indicando que ficou bom e sorri, fazendo
suas covinhas aparecerem em suas bochechas. Elas são tipo o emoji na vida real, deixando mais
fofo e alegre. É impossível não sorrir junto quando elas dão o ar da graça. Um toque especial que
faz seu sorriso ser único.
— Está indo bem, obrigada por perguntar.
— Comecei a ler o último capítulo que você soltou, mas estava muito cansado, acabei
dormindo. Estou muito animado, ao extremo, para ver o desenrolar da história. — Mordo o
sanduíche, lembrando da vibe gostosa do casal e dos diálogos.
Liza sorri, mas não é tão brilhante como das outras vezes.
— O que foi? — pergunto.
Ela suspira, bebe um pouco da sua cerveja e suspira de novo.
— Sabe, eu queria estar com a mesma animação que você está para ler — fala, tristonha.
— Acho que estou com um bloqueio terrível. Parece que as palavras simplesmente não fluem
como antes.
Mastigo e engulo.
— Eu acho que você precisa de inspiração.
— Preciso, é?
Assinto.
— Só precisa lembrar do que te deixa feliz — digo, e a vejo refletir.
— Você acha?
— Acho!
Ela abre um sorriso travesso.
— Ó, que sorriso é esse?
— Normal — diz, disfarçando.
— Seus pensamentos às vezes me assustam.
— Você nem sabe o que estou pensando.
— Ainda bem — rimos.
Ela encara sua cerveja, depois dá de ombros.
— Acho que é a pressão das provas, o fato de que tenho que manter minha bolsa e a
ansiedade de continuar a história de maneira interessante está me deixando sobrecarregada.
— Aproveita esse ressesso das aulas e tente espairecer, fazer algo diferente e divertido.
— É mesmo... — ela inspira. — Às vezes, parece que tudo que escrevo não é bom o
suficiente.
— Você é incrível, Liza. Sei que vai superar esse bloqueio. O importante é continuar
escrevendo, mesmo que seja só para você mesma.
Liza sorri.
— Obrigada por animar.
Sorrio de volta.
— Por nada.
Voltamos a comer, e ela começa a me contar sobre algumas técnicas de escrita que ela
adotou, mas que nenhum está dando muito certo. Depois, revelou que a parte do romance está
sendo a mais difícil.
— Você tem notícias do Connor? — Liza pergunta, me pegando de surpresa.
Engulo o sanduíche.
— Connor Hastins?
— Quem mais seria? — ela dá um sorriso.
— Sei lá! — mordo a metade do meu segundo sanduíche.
— Você acha que ele ficou muito mal também depois da derrota? — pergunta, dando um
gole na cerveja e me encarando.
Abaixo o sanduíche.
— Eu não sei — respondo. — Não falei com ele desde ontem.
— Hum! — Ela aperta os lábios. — O que acha de enviar uma mensagem?
Estudo seu rosto, vendo um brilho bem sutil de malícia.
— Bem, não é uma má ideia. — Largo o sanduíche no prato, esfrego as mãos para me
livrar dos farelos e tiro meu celular do bolso. — O que escrevo?
Ela vem até mim e recosta na bancada ao meu lado, olhando para a tela do aparelho.
— Nudes o animaria — diz, baixinho.
— O quê? — tusso. — Nudes meu?
Liza ri.
— Por Deus, Rhavi! — vejo-a revirar os olhos. — Meu! Nudes meu!
Fico encarando-a por alguns segundos, antes de pigarrear e balançar a cabeça.
— Negativo — digito no celular. — Sem nudes! — clico para enviar.

Eu: Oi!

— Apenas um "oi"? — Liza me encara, incrédula.


Dou de ombros.
— Só para verificar se ele está online.
Ela estala a língua. Segundos depois, meu celular vibra.

Connor: E aí, Clark!

— Uh, ele respondeu — Liza abre um sorrisão.

Eu: Ei , Como você está? Aquele jogo foi punk, né?


Connor: Foi osso, mano. Mas c'est la vie. Às vezes a vida dá uns tackle surpresa.
Eu: Haha, verdade! Você curte Emerson, Lake & Palmer?
Connor: Estava ouvindo "C'est La Vie" antes de você mandar “oi”.
Eu: Sério?
Connor: Mano, essa música é incrível! "C'est La Vie" é um hino!

— Pergunta a ele como descobriu essa música — Liza toca meu braço, focada na conversa.

Eu: Como você conheceu?


Connor: Ah, sempre curti os clássicos. A letra é daquelas que fazem a gente refletir, né?

— Fala que essa melodia é ideal para os altos e baixos da vida.


— Gosta dessa música?
— Nunca escutei — responde, batucando na tela do celular.
Balanço a cabeça e volto a digitar.

Eu: Totalmente! E essa melodia é perfeita para os altos e baixos da vida.


Connor: A música é tipo um mantra pós-jogo, sabe? "C'est La Vie", mesmo quando perdemos, a vida continua.
Eu: Concordo demais! Vamos fazer nosso próprio "C'est La Vie" nos jogos. A próxima vitória vai ser épica!
Connor: Assino embaixo, Clark! E se precisar de mais sons clássicos, tamo junto!
Eu: Combinado! Ei, se precisar desabafar, tamo aqui!
Connor: Valeu, Clark! Vocês são a melhor equipe que alguém poderia pedir. Já já a gente tá de volta no topo!
Eu: Com certeza, Connor! Vamos mostrar para eles que somos feitos de comebacks épicos!
Connor: Assino embaixo, mano! Vamos nessa!

Bloqueio o celular e volto meu olhar para Liza, que esboça um meio sorriso.
— Satisfeita?
— Longe disso! — Responde de maneira sugestiva, fitando-me.
Encaro-a, notando um brilho revelador em seus olhos, deixando claro o quanto ela
alimenta ideias românticas com Connor, ou melhor, algo mais... sorrio e balanço a cabeça.
— Liza. Liza.
— O que foi?
— Meu Deuuuus, você está tão caidinha por ele que chega a ser irritante.
— Olha quem fala. — Ela me dá um empurrão.
— Como assim?
— Nada.
Puxo suavemente uma das suas tranças, fazendo-a rir.
— Agora, conta.
Ela se afasta para o centro da cozinha com o celular na mão, coloca a música do Connor no
YouTube e começa a cantar.
— Ooooh c'est la vie! Oooh c'est la vie! Quem sabe, quem se importa comigo? — Ela para,
me olha e: — C'est la vie!
Gargalho, e nesse exato momento, Alana e Aidan começam a se juntar, curiosos com a
serenata de Liza.
— O que está rolando aqui? Karaokê de última hora? — Aidan pergunta, rindo e
observando Liza dançar.
— Mais ou menos — respondo.
— Estão sentindo a música? — Liza pergunta, convidando Alana para se juntar. — Quem
mais se junta?
Alana pega uma colher como microfone.
— "C'est la vie, sempre parece saber para onde está indo!" — Alana canta.
Eu e Aidan começamos a pegar qualquer coisa que sirva como microfone, e em poucos
minutos, a cozinha se transforma numa festa karaokê improvisada. Todos cantando, rindo e
curtindo o momento ao som de "C'est La Vie".

A brisa noturna sopra suavemente enquanto estamos sentados na sacada do apartamento,


observando o céu estrelado. As luzes da cidade piscam abaixo, criando um cenário acolhedor
para a nossa conversa.
— ... mas nada vai superar aquela viagem que fizemos no verão retrasado — Alana diz,
rindo.
— Aquela em que o GPS nos levou para aquele desvio bizarro, e ficamos perdidos por
horas? — Aidan pergunta.
— Essa mesma.
Liza retorna com quatro longnecks geladas.
— Ei, Clark, quer uma? — ela pergunta, sorrindo.
— Quero.
Liza me encara por um momento, e eu dou de ombros.
— Olha só, a evolução. Rhavi Clark aceitou cerveja! — ela me entrega uma, depois se
acomoda na cadeira, pegando alguns amendoins em cima da mesa.
— Só uma não vai me matar ou vai?
Eles riem e abrimos as garrafas.
— Toda vez que me lembro dessa viagem — Liza fala, fingindo estar estrangulando
alguém —, me dá vontade de matar o Rhavi.
— Cara, eu não tive culpa! — defendo-me. — O celular ficou sem sinal, a nossa sorte é
que eu tinha um mapa.
— Super desatualizado — Alana completa, e todos riem.
— Pelo menos nos ajudou — dou um gole, fazendo uma leve careta com o gosto amargo
da cerveja.
— E nos levou para aquela lanchonete estranha — Aidan estala a língua. — Juro, pensei
que iria morrer naquele dia.
— Tipo filme de terror? — pergunto, rindo.
— Exatamente.
— Aquele garçom era mesmo parecido com um personagem de filme de terror — Liza
estremece. — Não esboçou um mísero sorriso.
— A comida era tão esquisita — Alana faz uma careta de nojo. — E aquela pizza? O que
tinha nela?
— Pedaços crocantes de cérebro com molho de sangue talhado — digo, encolhendo-me
quando ambas jogam amendoim em mim.
Rio, vendo-as fazerem menção de vômito.
— Que nojo, Rhavi! — Liza coloca a língua para fora, retorcendo o rosto.
— Puta que pariu! — Alana dá um gole em sua bebida.
— O que diabos tinha naquela sobremesa também? — Aidan indaga, inclinando-se para
apanhar um nacho coberto com queijo derretido.
— Pernas de barata com geleia de goiaba — respondo com um sorriso. — Hm, gostoso!
— Credo, Pet!
— Você para, Rhavi! — Liza ordena.
Solto uma risada, observando-as revirarem os olhos.
— Mas foi legal — digo, relembrando o quanto nos divertimos naquele dia.
— Nunca vou esquecer da cara do garçom quando pagamos a conta e saímos de lá rindo —
Liza suspira.
— Deve ter nos considerado tão estranhos quanto achamos aquele lugar.
— Sem dúvidas.
— Temos que fazer outra viagem — digo, animado. — Acho que estamos precisando
disso.
— Eu super topo — Liza ergue a mão.
— Quero! — Alana ergue também, então encaramos Aidan.
Seus olhos estão fixos na garrafa de cerveja, mexendo no rótulo, sua mente tão distante.
— Ei, onde você está? — Cutuco seu tênis com meu pé.
Ele ergue os olhos, percebendo que estamos o encarando.
— Hum? — Aidan nos olha perdido.
— Está no mundo da lua? — Pergunto.
Ele pigarreia.
— Só... estou cansado.
Observo seu rosto; a cada dia, sua expressão parece mais abatida do que o normal.
— E o encontro da semana passada, cara? — indago, curioso. — Conta pra gente, rolou
alguma coisa?
— Jantaram, ficaram, marcaram outro encontro? — Liza pergunta também.
Ele sorri, ajeitando os óculos e balançando a cabeça.
— Não rolou muita coisa.
— O que aconteceu? — Alana pergunta.
— Vocês sabem, ela ficou um pouco, hm, assustada.
As meninas abrem a boca com um "ahhh".
— Você é meio psicopata — digo, fazendo um som com a língua.
Aidan dá de ombros.
— Isso me ajuda a relaxar — conta, esfregando a testa. — Minha mente fica focada e não
pensa em mais nada.
— Essa rotina louca que você tem de estudo, aula, academia, e sei lá mais o quê, acaba
com qualquer um. — Alana resmunga. — Como você dá conta de tudo?
— Eu não dou! — Ele tira o rótulo da cerveja.
Ficamos o encarando por alguns segundos, vendo sua expressão abatida.
— Você realmente precisa relaxar, cara! — digo.
— Ou talvez precise de uma namorada — Alana solta. — Está muito solitário; talvez uma
garota legal te ajude a pegar mais leve.
Aidan esboça um sorriso, encarando-a.
— Sabe como é, estou solteiro, mas nunca sozinho.
— Oooh, esse cara é muito safado — brinco.
Rimos, e cada um pega uma asa de frango frita, coberta com molho de pimenta buffalo.
— Falando em relaxar — Liza lambe os dedos cheios de molho —, como vai ser amanhã
no festival? Vamos todos juntos?
— Tenho que buscar a Leanne — conto.
— Oh, é verdade! — Alana se inclina. — Ela é o seu encontro. — Ela sorri, mas seus
olhos não acompanham.
E eu não curto esse olhar.
— Bom, não é bem um encontro de verdade — respondo, me sentindo culpado. — Somos
amigos agora, e ela me chamou, hm, faz um tempão. Já estava marcado.
— Não é um encontro? — Liza estala a língua.
— Não é.
— Claro que é um encontro — Alana afirma.
Olho para ela e percebo sua mandíbula meio tensa.
— Ela parece ser legal, pelo que vocês falam — Aidan comenta.
— Leanne é muito gente boa — Alana confirma.
— Rhavi finalmente conquistou sua vizinha — Liza brinca.
Meu coração acelera quando Alana me encara.
— É... — Olho para minha cerveja, mexendo no gargalo.
— Leanne vai se importar de ficar com a gente? — Liza pergunta, cautelosa.
— Ela tá de boa com isso. — Levo a cerveja à boca. — Ela quer se divertir com vocês.
— Leanne tem poucos amigos — Alana diz —, e vocês dois combinam.
Levanto a cabeça e a encaro.
— Quem?
— Vocês dois.
Fico sem palavras de repente.
— Mas, hum, não é nada sério.
— Ainda.
Engulo em seco, sentindo meu coração disparar. Alguém acelera um carro lá embaixo,
então faço careta ao dar um gole na cerveja.
— Bom, eu acho que é muito cedo... — tento dizer.
— Você realmente vai dizer que está cedo demais para ter um relacionamento com ela? —
Alana afasta a franja antes de continuar. — Acho que está na hora de você dar um passo adiante,
Rhavi. Não dá para fazer a garota ficar na sua sem nenhuma expectativa.
Aidan pigarreia, e vejo ele e Liza trocarem olhares.
— Que expectativa?
— De que vão ficar ou não juntos.
— Alana...
— Por que não tenta? — O sorriso dela é meio sem calor. — Qual o problema em ver onde
isso vai dar?
A ideia de namorar Leanne começa a ficar meio assustadora.
— Deveria mesmo? — indago, encarando-a. — Deveria mesmo pedir ela em namoro?
É fácil para ela me ver com outra? Mas sinto que se eu fizer isso, Alana vai ficar destruída.
— Não parece uma má ideia.
Faço uma careta como se algo estivesse cheirando muito mal.
Você acha que ela está é com ciúmes? Por isso que ela está dizendo essas coisas absurdas?
Porque é a única explicação.
— É... talvez eu peça Leanne em namoro amanhã. — Olho para ela, me perguntando por
que minha voz saiu tão distante e trêmula.
— Fala sério, Pet — diz ela. — Claro que você deveria fazer isso.
— Droga. — Foi a única coisa que consegui sussurrar antes de ouvir barulho de chaves.
— Será que é o seu pai? — Aidan pergunta.
— Sim, é ele — respondo com meu olhar fixo na mesa.
Meu pai é o único, além da Alana, que tem as chaves do meu apartamento.
— Ei, Aidan, vamos lá! — Liza diz, querendo nos deixar sozinhos.
Tomo um gole da cerveja e brinco com o líquido na boca antes de engolir.
— Está tudo bem mesmo com a gente? — pergunto para Alana, sem encará-la.
— Por que não estaria?
Arrasto meu olhar até encontrar os dela. Ela sorri, se levantando.
— Vou lá ver o seu pai — diz, erguendo os braços e amarrando os cabelos em um rabo de
cavalo. — Você não vem?
Trinco o maxilar.
— Daqui a pouco.
— Beleza então — ela caminha e entra em casa.
O que significa que não está nada bem, que tudo está uma merda e eu precisava ficar
sozinho.
Sim, para fugir dessa situação que está me deixando maluco. Quero sumir, não quero falar
com ninguém, nem mesmo com você.
A noite do "Frontie Fiesta" finalmente chegou, e estou mais nervoso do que um esquilo em
uma plantação de nozes, tentando decidir se uma jaqueta ou um suéter seriam adequados para o
momento.
Olho para o relógio e percebo que faltam trinta minutos para buscá-la, o que só faz com
que minha ansiedade aumente, até sinto uma dor de barriga.
Começo a trocar de roupa freneticamente, jogando camisas e suéteres para o alto como se
estivesse participando de um jogo de basquete com meu armário.
— Só não posso parecer uma mistura de fashionista com um aspirante a super-herói, certo?
— digo, tentando arrumar a bagunça.
Ah, foda-se!
Decido que uma camisa branca e jaqueta são a escolha certa, mas o dilema não termina aí.
Fico parado na frente do espelho, dividido entre usar óculos ou lentes de contato.
— Óculos dão um ar intelectual, né? — Suspiro. — Mas lentes de contato são mais
descoladas, certo? — Bufo. — Okay, talvez eu devesse usar os dois e criar uma tendência. Ou
talvez não.
Foda-se, vou de óculos mesmo, e aí de você achar o contrário, porque vou ficar gato do
mesmo jeito.
— Miaaau! — começo a rir.
Quando penso que está tudo resolvido, ao voltar a me encarar no espelho, sinto que estou
prestes a ter um colapso capilar. Meu cabelo, que parecia normal segundos atrás, agora se torna
uma batalha entre mim e o frizz rebelde.
— Drogaaaa!
Pego um pente e começo a domar a fera capilar, mas quanto mais eu tento, mais estranho
ele fica.
— Por que não posso ter um cabelo que concorde em ficar no lugar? — murmuro,
resignado.
Assim que termino a batalha épica contra meu cabelo, fico pronto, ou, pelo menos, espero
estar. A campainha toca, e meu coração começa a bater mais rápido, como se já soubesse quem
está do outro lado da porta. Abro-a com expectativa, e a visão que se desdobra à minha frente me
deixa sem palavras.
— Oi!
Diante de mim está ela, Alana, vestida como se tivesse acabado de sair dos meus sonhos.
Uma blusa vermelha colada destaca cada curva, mangas bufantes acrescenta um toque de
ousadia. A saia preta mais curta, com uma fenda tentadora na lateral da perna direita, me faz
desejar roçar os meus dedos, e a meia-calça complementa o visual, enquanto as botas completam
o conjunto de forma impecável.
— Nossa... — murmuro, prendendo meu olhar em sua gargantilha que realça
delicadamente a curva graciosa do pescoço, e seus cabelos soltos estendem em ondas sobre os
ombros. — Uau!
— Gostou?
Fixo meu olhar em seus olhos, engolindo em seco. A maquiagem sutil destaca seus olhos
castanhos e realça os lábios de uma maneira que me faz questionar se devemos ir ou se a puxo
para dentro do meu quarto.
— Rhavi?
Fico encarando-a, perdido na imensidão dos detalhes que a torna mais do que
extraordinária. E é nesse momento, que percebo que a nossa amizade é apenas a superfície do
que eu realmente sinto.
Meu coração bate tão forte que eu posso jurar que ela consegue ouvir.
Alana sorri, notando minha expressão atônita.
— Estou tão linda assim que ficou mudo?
— Você está incrível!
Ela ri e eu fico preso no encanto da sua risada.
— Você também está... uau!
Sorrio, passando a palma da mão pela calça jeans.
— Estou mesmo?
— Você está ótimo, relaxa.
— Não tenho tanta certeza.
— Você está um nerd descolado com óculos — Ela faz um barulho com a língua. — É o
sonho de qualquer garota.
— Quero ser apenas o seu sonho.
Seu sorriso vacila ao ouvir minhas palavras.
— Hum... — ela aponta o polegar para trás. — Aidan já está lá fora me esperando, então...
— Alana?
— Hum?
— É... hã... bem... — mordo meu lábio e suspiro. — Devo ir nesse encontro? — pergunto,
sério.
Alana me olha confusa, abaixa o olhar por um instante e volta a me encarar, esboçando um
sorriso.
Diz que não, Pet, por favor!
— Você parecia tão ansioso — ela diz, apertando os lábios. — O que mudou?
Tudo!
— Algumas coisas... — tento explicar.
— Ela vai ficar chateada se você desmarcar — Alana continua. — E... você gosta dela e
ela gosta de você, então não há motivo para desmarcar.
Mas há!
— Além disso — ela aponta o dedo indicador na minha direção, sustentando meu olhar. —
Nunca desmarque com uma garota tão em cima da hora assim.
Não vejo problema em desmarcar qualquer compromisso para ficar com ela, para ser
exclusivo dela.
— Então está tudo bem para você se... eu for? — pergunto, esperando a resposta certa.
— Claro.
Resposta errada.
— Tem certeza, Moore?
— Você está agindo de forma estranha — ela diz, forçando um sorriso. — É por causa da
Leanne, não é?
O silêncio se estende por um momento entre nós. Procuro nos seus olhos alguma indicação
da resposta certa, mas ela desvia o olhar, concentrando-se em algum ponto indefinido à minha
esquerda.
— Rhavi, acho que você realmente deveria ir a esse encontro. — Diz, mas sua voz soa
hesitante.
Meu coração afunda um pouco. Isso não é o que eu quero ouvir. Quero que Alana me
convença a desistir do encontro e ficar com ela, mas a realidade parece ter outros planos.
— Por quê? — Pergunto, tentando entender.
Ela suspira, os olhos encontrando os meus mais uma vez.
— Pet, te ajudei a conquistar sua vizinha, e ela tem sentimentos por você. Não seria justo
ignorar isso. E, bem, eu não quero ser o motivo para que você se arrependa ou perca uma
oportunidade.
Será que... depois de tudo o que vivemos, ela vai me deixar ir, com outra garota?
— Alana, eu não quero ir porque acabei me apa... — Tento falar, mas as palavras ficam
trancadas quando seu celular começa a tocar.
Ela tira da bolsa preta e atende.
— Oi, estou descendo! — finaliza a ligação. — Era o Aidan.
— Ah.
— A gente se encontra lá?
Confirmo com um aceno.
— Então vá logo buscar Leanne, antes que ela ache que você desistiu dela.
Dou outro aceno.
— Tchau! — Alana se vira e sai caminhado na direção do elevador.
Suspiro, percebendo que, no final das contas, somos apenas melhores amigos, e mesmo
com a aprovação de Alana, uma sensação de desconforto ainda persiste. A ideia de encontrar
Leanne agora parece uma incerteza, da qual não quero mais embarcar.
Decido não perder mais tempo e me encaminho para fora com uma pontada de nervosismo
que se mistura com a ansiedade.
Será que fiz a escolha certa?

O festival já está a todo vapor, e consigo sentir o entusiasmo no ar enquanto tentamos


encontrar um espaço no estacionamento lotado.
— Você acha que vai ter uma vaga, ou deveríamos ter trazido um mapa do tesouro para
encontrar um lugar para estacionar? — brinco, olhando para a garota ao meu lado.
Leanne ri, observando as pessoas conversando animadas, algumas com algodão-doce
gigante.
Hum, quero um daquele!
— Talvez devêssemos investir em um helicóptero para o próximo festival. Parece mais
fácil.
Concordo com um sorriso, e contorno uma fila interminável de carros. Passo por uma cena
hilária de alguém tentando encaixar um carro em um espaço apertado demais, e a Leanne solta
uma gargalhada.
— 50 dólares de que ele não consegue entrar naquela vaga — digo.
— Ah, ele consegue! — Leanne sorri. — Aposto 100 dólares de que ele consegue.
— Que confiante.
O tempo passa, e as manobras parecem mais um número de circo do que uma simples
tentativa de estacionar.
— Vai perder 100 dólares.
— Eu vou ganhar 50.
Mas, para surpresa de todos, incluindo eu mesmo, o carro se encaixa na vaga.
— Você deveria considerar apostar na loteria com essa sorte toda — sugiro, rindo.
— Ou talvez eu deva desconsiderar o dinheiro e pedir outra coisa.
— Que outra coisa? — pergunto, olhando para ela.
— Preciso pensar.
— Você quer tantas coisas assim que precisa pensar?
— Acredite, sou a pessoa mais indecisa nesse mundo.
— Nem quero imaginar você dentro de um mercado.
Leanne ri, e consigo avistar uma luz no fim do túnel de carros. Uma vaga milagrosa se
abriu à nossa frente. Manobro a caminhonete habilmente para ocupá-la antes que alguém mais
possa reivindicá-la.
— Consegui! Acho que mereço uma medalha por essa conquista — brinco, desligando o
carro.
— Aqui a sua medalha, campeão! — ela finge estar segurando uma, inclino-me um pouco
para frente e ela a coloca em meu pescoço. — Meus parabéns!
— Estou muito feliz por essa conquista — finjo estar emocionado.
Leanne ri, concordando.
— Aqui os seus cinquenta dólares — digo, tirando a carteira do bolso e lhe entregando o
dinheiro.
— Valeu! — ela faz um barulho com a boca e o guarda dentro da bolsa. — Prometo gastar
com sabedoria.
— Ou com comida? — Ela ri, e murmura um sim. — Pronta para se divertir, Kinsley?
— Prontíssima!
Desço, sentindo o vento fresco sobrar o meu rosto e me aproximo da porta do passageiro
para abri-la. Um sorriso ansioso ilumina seu rosto. Ela está graciosa como sempre, vestindo uma
saia rosa abaixo dos joelhos e uma regata de alcinha branca.
— Obrigado, cavalheiro. — Ela aceita minha mão para descer do carro.
— Estou apenas cumprindo meu papel, Princesa. — Digo, fechando a porta do carro.
— Gosto quando você me chama assim — Leanne diz, e caminhamos lado a lado em
direção ao portão do festival. — Faz-me sentir especial.
— Você é especial — dou de ombros, enfiando as mãos nos bolsos da calça e olho para
ela.
— Você também é especial, Clark.
— Eu sei.
— Convencido — Leanne me encara e ri. — Sabe, além de criar personagens perfeitos nos
livros, tive a certeza de que sua mãe fez questão de trazer um deles para a realidade.
— Você... hum... leu os livros dela? — pergunto, encarando-a.
Leanne afasta seus cabelos lisos do ombro e assente com um brilho nos olhos.
— Li dois até agora.
Meu coração se comove com a revelação, e por um momento, fico sem palavras, perdido
na ideia de que ela está explorando o mundo que minha mãe criou.
— Tipo: "Uau, ela está lendo os livros da minha mãe". — Brinco, tentando não parecer um
idiota, e ela ri.
Música animada e divertida preenche o ar assim que passamos do portão de entrada.
— Deve ter sido incrível ter uma mãe que criava mundos mágicos.
— Ela costuma dizer que escrevia para dar às pessoas uma pausa na realidade — digo,
olhando para o chão.
— Você consegue imaginar como seria viver em um desses mundos? — Leanne pergunta,
as luzes coloridas dos brinquedos e as risadas ao nosso redor criam uma atmosfera tão divertida.
— Eu não, tem muitos vilões nos livros dela.
— Pensando por esse lado...
— Eu passaria a vida desconfiando até de mim mesmo — gracejo, arrancando risadas dela.
— No entanto, sendo bem sincero, acredito que o mundo real tem sua própria dose de magia.
— A questão é que, por vezes, essa magia não reside tanto no mundo real em si, mas sim
na companhia de quem está ao nosso lado.
— Verdade... — concordo, arrastando meu olhar para as luzes cintilantes acima de nós.
— Rhavi?
— Hã? — prendo meus olhos nos dela.
— Estou feliz por estar aqui com você.
Uma brisa suave trás até mim um aroma de comida. Poderia dizer que também estou, mas
dentro de mim, um sentimento desconfortável começa a se instalar. Parece quase errado estar
aqui ao seu lado.
— Eu também — digo a meia verdade.
Observo seu sorriso irradiante e ouço sua risada contagiante quando para em uma barraca
com maquetes engraçadas. As miniaturas representam cenas divertidas do cotidiano, e por um
momento, a leveza do ambiente parece quase contagiar minha própria inquietação.
Leanne se inclina para frente, examinando uma maquete que retrata uma cena de um
piquenique caótico. Pequenas figuras caricatas estão em meio a um alvoroço de comida voando.
— Acho que o carinha aqui tentou fazer um churrasco — digo, apontando para a miniatura
—, mas acabou virando um malabarista involuntário com as salsichas.
— E o cachorro ali roubando as almôndegas, é tipo o herói não reconhecido da cena. —
Leanne comenta, rindo. — Adorei, ficou perfeita! — Elogia olhando para o rapaz, criador da
maquete.
Em seguida, voltamos a caminhar, e ela conversa sem parar, parando em algumas barracas
que chama sua atenção. Tento me perder na descontração do momento, rindo junto com ela, mas
a sensação estranha continua a crescer.
— Oh meu Deus, olha só isso! — ela para em frente a uma barraca onde um grupo de
filhotes de cachorro brincam dentro de um cercadinho.
— Parece que encontramos a seção mais fofa do festival.
Ela se aproxima da barraca, e um dos filhotinhos, ao avistá-la, se aproxima com um olhar
curioso. Leanne se ajoelha para cumprimentá-lo, e o pequeno rabo começa a abanar.
— Oi, coisinha fofa! Quem é o mais lindo? É você! — ela conversa com a voz doce.
O filhotinho preto responde com um choro, e os outros coleguinhas se juntam, formando
um espetáculo irresistível de fofura. Eu me aproximo, e um dos filhotes decide que minha mão é
o brinquedo perfeito.
— Como resistir a essas patinhas e olhos brilhantes? — pergunto. — Alana estaria dentro
desse cercado se ela visse isso.
— Ela gosta de animais?
— Moore diz que os animais são a figura mais próxima do amor de Deus, os seres mais
puros do universo.
— Por que não dá um de presente para ela? — Leanne me olha, sem se importar que um
dos doguinhos está mordendo seu dedo.
— Já pensei, mas... ela diz que só quer um quando formar sua família.
— Isso quer dizer...
— Quando ela se casar — meneio a cabeça, desviando o olhar e fazendo carinho nos
filhotinhos.
— Hum.
O responsável pela barraca se aproxima, sorrindo ao ver a nossa empolgação.
— E aí, estão pensando em adotar um desses amiguinhos fofos?
Ela sorri e se levanta.
— Oh, não! — diz. — Queria muito, mas não tenho muito tempo para me dedicar a eles.
O cara sorri, balança a cabeça em compreensão e nos entrega um cartão.
— Se estiverem interessados em adotar um futuramente essa é a nossa Ong “Patas do
Amor".
Nos afastamos da barraca. Olho para o céu noturno salpicado de estrelas, sentindo um nó
se formar no meu estômago.
— Você quer comer algodão-doce? — Pergunto.
— Você sabia que algodão-doce é imitação da nuvem?
— O quê? — franzo a testa. — Pensei que era do algodão.
— Vou te contar uma história — ela sorri.
— Eu gosto de historinhas.
Leanne faz um breve suspense.
— Sabe por que o algodão-doce é tão fofo e macio?
— Por que é feito de açúcar?
— Quase acertou, mas não é! — ela nega, me dando um olhar brincalhão. — Ele é fofo
porque é feito por pequenos unicórnios invisíveis que tecem fios de açúcar no ar.
Fico encarando-a, segurando uma gargalhada.
— Nãããããããão.
— Siiiiiiiiiiiim.
— Unicórnios açucarados?
Leanne assente, olhando para uma barraca de bijuterias.
— Os duendes vendo do que eles eram capazes, se cansaram de fazer fios de algodão e
decidiram experimentar com o açúcar também.
— A evolução dos duendes? — indago, sorrindo.
— Os unicórnios ficaram revoltados, começaram a protestar contra os duendes e pararam
de fazer os fios de açúcar.
— Eles fizeram greve por muito tempo? — pergunto.
— Sim, e só voltariam a fazer os fios açucarados quando conseguissem que os duendes
voltassem para o de algodão — Leanne conta.
Rio ainda mais, sem acreditar que ela está me contando isso de forma tão séria.
— É uma conspiração do sindicato dos duendes?
— Exatamente, queriam abolir os unicórnios e ficar com todo o negócio.
— Eles conseguiram pelo visto.
— Sim, conseguiram.
— E os unicórnios?
— Nunca mais foram vistos.
— Que final triste.
— Aprendi com sua mãe — ela me olha, e solto uma gargalhada.
Paramos em frente à máquina de algodão-doce. Leanne escolhe o cor-de-rosa maior do que
o seu rosto, e eu, o verde.
— Eu me surpreenderia se não tivesse escolhido o rosa — digo.
— Ah, para! — ela ri, enchendo a boca.
— Ah, saquei qual é a sua! — paro de uma vez, encarando-a sério.
Leanne para também, me olhando um tanto confusa.
— O que é?
— Você é a princesa perdida dos unicórnios.
Ela abre e fecha a boca, olha para os lados e chega perto de mim.
— Não conta para ninguém — sussurra.
— Não vou contar — sussurro de volta.
Rimos e retomamos nossa caminhada.
— Como está se sentindo pós-jogo? — ela pergunta.
Suspiro, ainda sentindo a derrota e me martirizando por ter deixado aquela bola escapar.
— Estou... bem.
— Posso confiar?
— Não é lá muito divertido perder, mas foi meu primeiro jogo, não tenho tanta experiência
em ser um titular, então estou bem — troco o algodão-doce para a outra mão.
— Fiquei preocupada — conta, e sinto seus olhos em mim. — Te ver triste daquele jeito
me doeu.
— Desculpe, foi inevitável.
— Eu sei — Leanne faz uma pausa. — Sabe, como estamos saindo e nos conhecendo
melhor, você pode se abrir comigo quando quiser.
— Posso é?
— Eu gosto de você, Rhavi! — revela. — Na verdade eu gosto muito.
— Em que... hm, sentido? — engulo em seco.
Leanne arranca um pedaço de algodão-doce com os dedos, leva à boca e para de andar, se
colocando à minha frente para me encarar.
— Depende do que está disposto a me dar — diz, e meu coração aperta. — Eu posso ter o
seu coração?
Ele já tem dona.
— Leanne... — aperto os dentes, buscando uma forma de contar a ela que estou
apaixonado por Alana... merda, como é que se dá um fora em alguém?
— Pode falar — incentiva, dando um meio sorriso.
— Kinsley, a verdade é que... hã... queria te dizer que... — solto o ar pela boca, tentando
reorganizar as palavras ao mesmo tempo que tento acalmar as batidas nervosas do meu coração.
— Eu disse que precisava de um tempo para te conhecer melhor, que não queria ser apenas mais
um cara na sua vida, bem, a verdade é que, nesse meio tempo...
— Ei, Clark! — Alguém me chama, e olho para o lado avistando Ben caminhando em
nossa direção. O cara é grande, e as tatuagens no seu pescoço parecem ganhar vida com as luzes
das barracas.
— Ah, oi, Simons!
Inspiro fundo, porra, ele me atrapalhou.
— Bom te ver por aqui — fala, surpreso. — Pensei que estaria com a cara nos livros.
— Ah! — solto uma risada. — Vim trazer essa moça para se divertir — digo, apontando
para Leanne. — Vocês já conhecem, certo?
Os olhos de Ben a esquadrinham, depois ele abre a boca com um "ah" e enfia as mãos no
bolso da sua calça.
— Já nos esbarramos por aí e a conheço pelo que falam.
— O que falam de mim? — ela pergunta, arqueando uma sobrancelha.
— Muitas coisas — Ben solta uma risadinha, olhando para os lados.
Leanne fecha a cara.
— Que muitas coisas?
Ele volta a encará-la, depois olha para seu algodão-doce gigante.
— Você é uma cheerleader — ele balança a cabeça. — E namorada do Rhavi, as pessoas
comentam.
Ela não é minha namorada!
— Bem, não chegamos nessa parte de namorados... — Ela pigarreia.
— Pensei que já estavam namorando há um tempão.
— Você pensou demais.
Ben dá um meio sorriso, a encarando.
— Bom, vou nessa! — diz, dando um tapa em meu ombro — Mais tarde, se você quiser,
Clark, nos encontre, vai ser bom tomar uma cerveja com você.
— Beleza.
Quando ele desaparece no meio da multidão, olho para Leanne.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês?
Ela franze a testa e nega com a cabeça.
— Não — responde, mas o tom de sua voz não me convence muito.
— Está tudo bem mesmo?
Leanne come o resto do seu algodão-doce.
— Nós nos esbarramos em uma festa dias atrás, meio que nos desentendemos, porque ele
tem um ego tão grande, que parece aqueles galos dominantes, mas não se passa de um frango
despenado — ela dá de ombros. — Podemos nos esquecer dele?
— Claro.
Leanne sorri, roubando um pedaço do meu algodão-doce.
— O que estava querendo me dizer antes de sermos interrompidos?
Suspiro, decidindo deixar essa conversa para mais tarde. Preciso usar as palavras certas
para não a magoar.
— Que tal irmos na roda gigante antes de encontrar com meus amigos?
— Uma boa ideia.
— Vamos lá, então! — seguro sua mão e a conduzo em direção à roda gigante.
Depois da roda gigante, prometo que darei um desfecho a tudo isso e revelarei a Alana
meus sentimentos que florescem em meu coração há tanto tempo. Na verdade, sempre estive,
irremediavelmente, apaixonado por ela.
Saímos da roda gigante com Leanne rindo tanto de mim, que tenho certeza de que posso
ouvir sua risada a quilômetros de distância.
— Sério, Rhavi? — indaga, entre a risada.
— Para! — resmungo, parando de andar porque minhas pernas estão meio bambas, o que
está dificultando minha locomoção. — Não ria!
Parece que cada vez que peço mais ela ri.
— Não consigo esquecer sua cara lá em cima — ela diz, controlando o riso. — Acho que
nunca vi alguém tão nervoso em uma roda gigante antes.
Rolo os olhos, tentando manter minha dignidade.
— Não sei do que você está falando. Eu estava apenas... apreciando a vista, sabe?
— A vista da sua cara branca de medo?
— Para a minha defesa, senhorita Kinsley, eu me assustei quando ela balançou —
resmungo, levando a mão no rumo do coração.
— Aquele grito que você soltou, foi tãããão romântico! — ela suspira de um jeito
sarcástico.
— Ah, obrigado! Estou pensando em fazer um álbum só com meus melhores gritos
românticos. Acho que tenho potencial para ganhar um Grammy! — meu rosto começa a
esquentar.
Que humilhação, cara. Que humilhação.
— Olha, se você lançar esse álbum, eu com certeza serei a primeira da fila para comprar
ingressos para o show.
— Engraçadinha você, hein! — resmungo, me recuperando daquela maldita roda gigante.
Voltamos a caminhar em direção à barraca de tiro, onde meus amigos estão nos esperando.
Enquanto andamos, continuo na tentativa de salvar minha reputação.
— O vento bagunçou todo o meu cabelo! — resmungo.
Leanne ri, ajeitando a jaqueta que eu lhe emprestei no topo da roda gigante, quando uma
brisa gelada a fez estremecer de frio.
— Você é perfeito, sabia?
— Eu, perfeito? — olho para ela.
Leanne assente e me encara, esboçando um sorriso alegre que realça seus olhos azuis. Eu
queria que aqueles olhos castanhos estivessem me encarando agora, desse jeito, mas...
— Não sou perfeito — retruco, pigarreando. — Posso listar algumas coisas que me tornam
imperfeito.
— Diga-me.
— Hmm... — levanto os dedos enquanto enumero minhas "falhas". — Primeiro, meu
talento para derrubar coisas. Já perdi as contas de quantos copos foram vítimas das minhas mãos
desastradas.
— Meu vestido pode atestar isso — ela murmura, contendo um sorriso.
— Devo a você um vestido — abaixo um dedo. — Segundo, minha habilidade em
confundir datas importantes. Aniversários, compromissos... uma vez esqueci o aniversário da
Alana, só lembrei um mês depois. Fiquei congelado de medo na hora, pensando: Puts, estou
ferrado! Tentei consertar, mas não deu certo.
— Ela não comentou ou algo assim?
— Nadinha... — faço um som com os dentes. — Pelo menos, acho que não.
— O que aconteceu?
— Ela ficou um mês sem falar comigo quando eu lembrei.
— Meu Deus! — Leanne ri. — Sério?
— Sim — balanço a cabeça. — Agora tem um post-it na porta do meu guarda-roupa,
avisos na agenda e no celular, para que eu nunca mais esqueça.
— Acontece.
— E ela entende? — resmungo, e mais um dedo se ergue. — Terceiro, minha incrível
capacidade de tropeçar em nada. Não importa onde esteja, sempre consigo a proeza de cair na
frente de todo mundo.
— Você caindo da cadeira naquele dia foi muito engraçado — ela relembra, soltando uma
risada.
— Há há, viu só! — faço um bico. — Só passo vergonha.
— Céus, Rhavi!
O terceiro dedo se une aos outros, e eu rio dela rindo de mim.
— Sabe, eu tenho dificuldade em ser sério quando é necessário. Parece que meu coração
quer pular fora do peito. Começo a gaguejar, as palavras se embaralham, é meio ridículo, eu sei,
mas me sinto totalmente sem jeito. Por isso, às vezes, prefiro manter o silêncio em algumas
situações.
— Reparei nisso.
Levanto o último dedo.
— Além disso, sou péssimo em brigas. E sempre vou evitar conflitos porque sei que
acabarei perdendo. Portanto, não me coloque em uma situação de briga para te defender, porque
vou apanhar — respiro fundo. — Enfim, é assim que me vejo: um desastre ambulante, mas pelo
menos sou engraçado.
Leanne balança a cabeça.
— No final das contas, é isso que o torna perfeito e mais autêntico — ela declara com
seriedade.
— Bobagem! — Dou-lhe um leve empurrão, mas o que era "leve" a faz desequilibrar um
pouco, e eu a seguro pelo braço. — Ops!
Leanne começa a rir, se encolhendo.
— Precisava me empurrar assim? — pergunta, gargalhando.
— Foi sem querer — rio. — Sou forte, né?
— Nem um pouquinho — diz, respirando fundo e se recuperando. — Sério, você é a
melhor pessoa desse planeta.
— Oh, muito obrigado.
— Seu ego inflou?
— Está na medida certa agora.
Após alguns minutos, alcançamos a barraca de tiro. A música animada e as luzes coloridas
criam uma atmosfera alegre ao nosso redor. Avisto Aidan, Liza e Alana na fila, todos focados na
mira.
— Ei, pessoal! — grito, chamando a atenção deles.
Aidan se vira primeiro, esboçando um sorriso largo no rosto, e Liza acena entusiasmada.
Alana, por outro lado, parece desapontada ao me ver acompanhado com Leanne.
— Aidan, essa é Leanne — pouso minha mão nas costas dela quando se posiciona ao meu
lado. — Leanne, esse é Aidan Lockwood. Liza e Alana você já conhece.
Leanne sorri, cumprimentando todos, e trocam algumas palavras animadas. Contudo, não
consigo ignorar o olhar de Alana sobre Leanne, que está usando minha jaqueta. Seus olhos
brilham de maneira estranha, e uma sensação ruim se instala no meu peito.
Instintivamente, afasto-me um pouco de Leanne e ajeito meus óculos. Alana desvia o olhar
da garota ao meu lado, pisca para mim e esboça um sorriso... um sorriso forçado.
— ... Eu quero ver suas habilidades de tiro — Aidan brinca com Leanne, puxando-me de
volta.
— Disse que meu irmão fazia aula de tiro, não que eu era boa — ela o responde.
Eles riem.
— Ah, vamos lá! — Liza incentiva. — Eu também não sou boa, mas quero aquele ursinho
ali — diz, apontando para um porquinho cor-de-rosa. — Você tem que pegar ele para mim.
— Oh, que fofo! — Leanne se aproxima dela. — Posso tentar.
— É isso aí, garota!
— Posso conseguir todos os ursos que quiserem — Aidan se gaba. — Sou muito bom!
— Mentira, Lockwood! — Liza dá um tapa no seu ombro. — Estamos aqui há trinta
minutos tentando conseguir um urso. Alana até desistiu do dela.
Eles caminham até as armas.
— Okay, Kinsley, nos mostre o quanto é boa! — Liza encoraja.
Olho para Alana, que voltou a observar Leanne, parecendo perdida em pensamentos.
Aproximo-me devagarinho dela e roço meus dedos nos seus, chamando sua atenção.
— Qual urso você quer? — pergunto.
Alana abaixa a cabeça, olha para nossos dedos e segundos depois, me encara. Sinto,
novamente, aquela dor cortante, não no peito, mas na minha alma. Seus olhos estão... tristes?
Vazios? Por minha causa? É isso, hum?
— Não quero.
— Liza disse que você queria — franzo a testa. — Posso conseguir o maior de todos.
Ela se afasta um pouco de mim, olhando na direção deles. Respiro fundo e vejo Leanne nos
encarando. Ela dá um sorriso, seus olhos caindo sobre Alana, depois se fixando em mim.
— Errei todas — ela diz. — Por que você não tenta, Rhavi? — pergunta.
— Ah! — pigarreio. — Não sou bom.
— Ele é sim — Alana me corta, sinalizando com a cabeça para eu ir.
Respiro fundo, caminho até Leanne e pego a arma.
— Qual você quer?
— Aquele — diz, apontando para um unicórnio.
— Beleza... — poderia fazer uma piada, mas... sem ânimo é foda.
Ajusto a mira, tentando me concentrar no unicórnio colorido à frente. O festival ao redor
parece um borrão enquanto minha mente tenta se libertar da estranha tensão no ar.
— Vai lá, Pet, consiga o unicórnio para ela! — Alana incentiva, mas algo em seu tom de
voz parece distante.
Aperto o gatilho, e o som do disparo se mistura aos risos e gritos ao redor. Para minha
surpresa, ou não – porque eu sou muito bom – o unicórnio é atingido em cheio, ficando
pendurado na parede da barraca.
— Uau, Clark! Isso foi incrível! — Leanne comemora, animada.
Sinto um leve rubor subir ao meu rosto. Olho para Alana por um instante, tentando decifrar
o que se passa em seus olhos.
— Você acertou em cheio! — diz Leanne, sorrindo para mim e pegando seu urso.
— Ainda bem que alguém aqui tem habilidades de tiro — brinco, empurrando Aidan.
— Como competir com um jogador de Paintball? — ele desliza as mãos para os bolsos.
— Então você joga Paintball? — Leanne encaixa o unicórnio de pelúcia debaixo do braço.
— Meu pai me ensinou desde moleque — conto. — É uma coisa de pai e filho.
— Que legal! — ela sorri. — Podíamos marcar um dia para todos irmos, e eu poderia
chamar meu irmão.
— Seu irmão é solteiro? — Liza pergunta, dando um sorriso inocente... bem, de inocente
ali não tem nada.
— E é bonito — Leanne confirma.
Liza abre mais um sorriso. Aidan revira os olhos, dando uma cutucada na sua cintura antes
de dar um peteleco em sua testa.
— Você é um monstrinho — diz, virando-se para Leanne. — Podemos marcar um dia,
seria legal.
— Se o Lockwood concordou, é porque o fim do mundo está próximo — brinco.
— Por quê? — Leanne pergunta.
— Aidan é sempre ocupado, precisa estar com a agenda livre para nos dar atenção — Liza
fala com um tom de mágoa.
— Ah... — ela arrasta o olhar para Alana, que desde então se mantém quieta. — Você
toparia, Lana?
— Sim, vai ser legal — diz, apenas.
— Bom, daqui a pouco tem o show de talentos — Aidan fala, animado. — O que acham de
irmos assistir e beber alguma coisa?
— Ótima ideia — Liza e Leanne concordam.
Volto a olhar para Alana, que sorri ao balançar a cabeça, mas sua mente ainda está
distante, e vejo uma sombra passageira cruzar seu rosto.
Respiro fundo, passo os olhos pelos brindes e retorno minha atenção a Alana.
— Qual urso você quer, Pet? — indago com o coração doendo.
— Eu não qu...
— Por favor... — minha voz sai meio embargada. — Posso conseguir um para você.
Alana respira fundo e se aproxima.
— Aquele — ela aponta para um marrom escuro... porra, ele é do meu tamanho. — Você
consegue?
Engulo em seco, porque a mira é tão... mais tão miúda. Mas sou Rhavi Clark, afinal, né?
Eu consigo!
— É muito difícil, mas não impossível.
Inspiro fundo, determinado e me posiciono, mirando o alvo.
Vamos lá, Clark!
Espero um segundo e aperto o gatilho, no entanto, a mira é muito traiçoeira, porque minha
primeira tentativa é frustrante. O urso permanece intocado.
— Vai, Pet, você consegue! — incentiva Alana, ao meu lado.
Respiro fundo, concentrando-me e faço minha segunda tentativa. O disparo soa, mas o urso
permanece inabalável.
Merda!
Preciso conseguir esse urso para deixá-la mais feliz... droga!
Okay, eu consigo! Confie em mim, esse urso vai ser dela ou não me chamo Rhavi Clark.
— Tudo bem se você não conseguir, é só um urso — diz, e posso sentir o seu perfume.
— Eu consigo, Moore!
Respiro fundo e aperto o gatilho, mas... porra, erro!
Trinco os dentes de raiva, porque agora é questão de honra.
Não vou desistir!
Concentro-me e meu dedo afunda no gatilho. O barulho do disparo ecoa na barraca, e, para
minha surpresa, o urso gigante finalmente cede.
— Você conseguiu! — Alana bate palma.
— Sim, eu consegui! — digo, comemorando e ela dá um pulo e me abraça.
— Eu sabia que iria conseguir.
Envolvo meus braços ao redor da sua cintura, afundando meu rosto na suavidade do seu
pescoço, inalando seu cheiro. O tempo parece parar por alguns instantes, até que Alana, um tanto
desconfortável, dá dois toques no meu ombro.
Desfaço o abraço, limpo a garganta e encaro seus olhos, percebendo a sua expressão sem
jeito.
— Uau! — ouço a voz de Leanne, meu sangue gela e a encaro. — Você arrasou, Clark!
Abro e fecho a boca.
Eu me esqueci dela... isso é normal?
— Parabéns! Você mereceu esse urso incrível! — Diz o atendente da barraca, com um
sorriso caloroso.
— Obrigado.
Ele me entrega o urso gigante. Seguro-o, sentindo o peso e a maciez do presente que
consegui conquistar após várias tentativas. Então viro-me para Alana, vendo seus olhos
brilhando de alegria.
Moore ama um urso gigante.
— Para você, Pet!
— O nome dele vai ser... Denis.
— Por que Denis?
Ela dá de ombros, acariciando a cabeça dele.
— Sei lá! — Alana me olha. — Tem cara de Denis.
Assinto, olhando-a mais um pouco antes de pousá-lo no chão.
— Vou pegar o porquinho para Liza — falo, dando o dinheiro para o atendente.
Após alguns minutos, entrego o porquinho para Liza, que fica feliz pra caramba, e
seguimos nosso caminho. Agora estou encarregado de carregar esse enorme urso que
praticamente obstrui minha visão. Esbarro em algumas pessoas, tropeço, mas mantenho-me
firme.
Leanne caminha ao meu lado enquanto os outros seguem à frente.
— Ouvi vocês se chamando de “Pet” — ela pergunta, jogando pipoca cor-de-rosa dentro
da boca. — É um apelido?
— É sim.
— Por que "animal de estimação"?
Jogo o urso um pouco mais para cima quando começa a escorregar para baixo, e seu braço
atinge em cheio o rosto de uma garota que passa na hora.
— Ei!
— Perdão! — digo, ajeitando o braço do Denis para ficar preso nas Minhas axilas. — Foi
sem querer.
Ela revira os olhos e se afasta.
Nossa, ela não precisava ficar tão nervosa, né?
— Quando nos conhecemos, Alana disse que eu parecia um gatinho assustado — conto —,
então começamos a nos chamar de Pet, porque todo mundo ama um animalzinho de estimação.
— Então...
— Somos o Pet um do outro.
— Que fofo...
— Não acha ridículo?
— Eu acho lindo — ela sorri, fazendo carinho na cabeça gigante do Denis. — Nunca
ninguém me deu um apelido.
— E o Lea? Vem de onde?
— Do meu nome — Leanne ri. — Estou me referindo a algo exclusivo, sabe?
Balanço a cabeça, começando a suar.
— Tipo... coisa de namorados?
— Quase isso.
— Só que eu e Alana... hum, não somos... bem, você sabe, namorados.
Ainda.
— Mas são melhores amigos.
Fico calado por um instante, evitando bater o urso em um grupo de caras que não conheço.
— Posso te dar um, se você quiser.
— Eu gosto de Lea.
— Tá bom então, Lea!
Ao chegarmos na praça de alimentação, faço uma manobra com o urso e o jogo nos
ombros para poder passar entre as mesas. Assim que encontramos uma vazia, próximo ao palco,
coloco o Denis sentado na cadeira ao meu lado.
Solto o ar pela boca, cansado e com os braços doloridos.
— Tudo bem? — Alana pergunta ao me ver alongar os braços.
— Denis precisa fazer dieta, está muito pesado.
Ela ri, se inclina e começa a fazer carinho nele.
— Oh, não liga para esse bobo, você está lindão!
Pronto, fui trocado por um urso de pelúcia também!
Argh, cara!

A praça pulsa com luzes vibrantes, ao passo que nós conversamos, cada um segurando uma
bebida diferente na mão.
— Vocês dois deveriam ter se inscrito no show de talentos — digo para Liza e Aidan.
— É mesmo! — Alana concorda, jogando batata frita com queijo na boca. — São
talentosos demais para não participarem.
Liza balança a cabeça, dando um gole na sua cerveja.
— Eu desmaiaria lá no palco — diz, quase se engasgando. — Imagina só, que vergonha!
Aidan estala a língua.
— Não me dou muito bem com tanta atenção.
— Mas outros tipos de atenções você gosta, não é? — minhas palavras saem sugestivas.
Alana e Liza gargalham.
— Cala boca, Clark!
— Puto safado! — resmungo. — Não vem com essa de que não gosta de atenção, Liza até
entendo, mas você? — solto um riso em forma de bufo.
— Será que quero compreender essa conversa? — Lea questiona, divertida. Alana e Liza
trocam olhares.
— Melhor não, amiga — Alana aconselha.
— Há coisas que é melhor não ouvir — Liza emite um som de reprovação. — Porém, se
quiser, depois conto.
— Sei que isso não é da minha conta, mas tem algumas coisas que queria que fossem, tipo,
quem tá pegando quem? — Lea diz, passando as mãos nos cabelos e pega sua cerveja.
— Nossa, sim! — Liza concorda. — Eu também odeio quando vejo duas pessoas que eu
sei que estão se pegando e eles fingem que não.
Congelo.
— Exato! — Leanne estala a língua. — Conheço duas pessoas que eu tenho certeza no
fundo do meu coração que estão se pegando, aí pergunto para eles e eles falam: "Você está
louca? Nunca que pegaria fulano!" — Ela junta as mãos. — E eu: "Meus amores, eu sei que
vocês estão se pegando sim."
Engasgo e tento me controlar. Aidan me lança um olhar com um sorriso de canto.
— O que vai mudar na nossa vida? — Liza pergunta.
— Nada, mas a gente quer saber! — Leanne ri, me encarando ao perceber que estou
engasgado. — Tudo bem?
Assinto.
— Quem são... — Alana pergunta, pigarreando — essas pessoas.
Leanne dá de ombros.
— Agora você fala, garota! — Liza finge que vai acertar um soco nela.
— Ryder e a Briella — revela.
Suspiro, aliviado. Imagina só, se ela descobrir que eu e a Alana estamos nos pegando da
melhor forma possível, de todos os sentidos antes de terminar tudo?
Cara, senti minha alma sair do corpo.
— Eles estão ficando? — Alana indaga, incrédula.
— Negam até a morte, mas todo mundo está vendo que tem um lance ali — Leanne fala,
dando outro gole na sua cerveja.
— Eles se odeiam — Alana consta.
— O amor e o ódio andam lado a lado, amiga — Liza diz.
— Sim, mas não é só eles que estão escondendo — Lea continua.
— Não? — Alana coça as orelhas.
— Conheço outro casal que não percebem que gostam um do outro — diz.
Há um breve momento de silêncio, sinto olhos caírem sobre mim e fico ainda mais
nervoso.
Que merda é essa?
— Hmm, quem? — pergunto, com medo... medo real.
Leanne me olha, meu sangue começa a pulsar.
— Tayler e a irmã do Connor — conta, mas ela não desvia o olhar.
Será que ela... droga!
Preciso de ar.
Preciso respirar.
Preciso sair daqui.
— Você q-quer uma maçã do... amor? — pergunto, nervoso. — Tipo, para adoçar sua vida
ou algo assim?
— Adoraria — Leanne sorri.
Droga, ela está me olhando estranho.
— Vou lá, então!
— Certo.
— Hm... alguém mais quer? — pergunto, desviando o olhar e notando Aidan e Liza me
encarando como se... porra, eles sabem, não sabem?
— Queremos — Alana confirma, e tento não olhar para ela, porque vai dar na cara.
— Tá... — limpo a garganta e aponto o polegar na direção contrária. — Vou lá!
— Beleza! — Aidan balbucia.
Levanto-me sem jeito, tropeçando na perna da cadeira e saio de lá voando.
— Se Connor ficar sabendo... — Alana fala, mas sua voz está estranha.
— Ele mata Tayler.
— Mas ele já não entrou em briga com Tayler por causa da irmã?
— Várias vezes.
— Conta essa história direito — Liza pede cheia de interesse. — Connor é tão protetor
assim?...
As vozes ficam distantes, e a única coisa que consigo ouvir são as batidas do meu coração.
Que conversa esquisita foi aquela? Você pode me explicar? Por que todo mundo estava me
encarando? E aquele sorrisinho do Aidan direcionado a mim?
Merda, preciso resolver isso logo, está ficando muito sufocante essa situação.
Caminho pelos corredores com as mãos nos bolsos da calça, meus pensamentos turvos pela
conversa anterior, e a barraca colorida de maçãs do amor captura minha atenção.
Inspiro fundo e me aproximo da barraca, notando uma garota parada, fitando o espetinho
de morango com chocolate e confetes. Ela está trajada de preto, com uma jaqueta jeans que dá
uma quebrada na cor escura.
Ela não me nota, parece absorta, então escolho uma maçã vermelha brilhante,
cuidadosamente mergulhada em um caramelo espesso e decorada com flocos de chocolate, e a
coloco na frente de seus olhos.
Briella se assusta e me encara.
— Uma maçã para adoçar seu coração — sorrio.
— E um nerd de óculos super sexy para esquentar minha cama?
Abro a boca, depois fecho, dando uma risada.
— Meu Deus, Briella!
— Eu sei, estou desesperada — diz, pegando sua maçã. — Muito obrigada.
Ela dá uma mordida na maçã do amor, e imediatamente, a doçura invade seu paladar.
Briella geme, dando um longo suspiro antes de voltar a me encarar.
— Está boa?
— Muito — concorda. — Às vezes, uma maçã do amor é tudo que a gente precisa — fala,
seus olhos brilhando.
— Eu gosto muito — digo, pegando uma para mim. — Ano passado comi cinco.
— Não foi uma escolha sábia — Briella ri.
— Não mesmo, porque depois daquela noite, fiquei o dia inteiro sentado no trono.
Ela tomba a cabeça para trás e gargalha.
— Um rei precisa estar no seu trono, afinal.
— Isso é verdade — dou uma mordida.
— Como você está?
— Bem. — Digo, mas não a convence.
— Mesmo?
— Mesmo.
Minha língua coça de vontade de perguntar sobre ela e o Ryder, mas não é da minha conta.
— Posso te fazer uma pergunta? — minha voz vacila.
Briella me encara e franze um pouco as sobrancelhas.
— Claro.
— É que... hum... — aperto o palitinho que sustenta a maçã e abaixo o olhar. — É que
tipo, estou saindo com uma garota, mas sabe como é, não tá rolando e tal. Ela é muito legal, legal
pra caramba, só que eu que dei a iniciativa a chamando para sair, mas aconteceram outras coisas
e meus sentimentos mudaram. Eu realmente queria contar para ela, porém, não sei como dar um
fora em uma garota. — Suspiro, olhando para Briella. — Gosto de outra pessoa.
— Ah... — Briella me encara por alguns segundos, absorvendo minhas palavras. — Você
quer dispensar ela porque gosta de outra garota?
Assinto, sem dizer nada, sentindo meu coração acelerado.
— Entendi.
— O que eu faço? — fito seus coturnos. — Na verdade, o que eu digo?
— É só falar a verdade.
— Que não quero mais ficar com ela porque gosto de outra? — pergunto, dando um
chutinho nos seus sapatos. Briella revida.
— Sim.
Ergo meus olhos.
— Mas isso a magoaria.
— Sim, mas é a verdade. Mulheres gostam de homens que são sinceros e diretos.
A observação de Briella me faz hesitar por um momento. Ela não está errada.
— É melhor ser honesto agora do que prolongar algo que não vai dar certo, Clark. —
Briella diz, com um tom reconfortante. — Ela merece saber a verdade.
Transfiro o peso da perna para a outra.
— Eu deveria mesmo falar logo, né?
Briella acena com a cabeça.
— Sim, sempre. As pessoas podem lidar melhor com a verdade quando ela é entregue com
respeito.
Respiro fundo e tiro o celular do bolso quando ele apita.
Aidan: Ei, estamos indo na cabine de tirar foto.
Digito um “estou indo!” e guardo o celular no bolso.
— Obrigada, Bri.
— Por nada! — ela sorri.
— Vou lá resolver esse assunto.
— Qualquer coisa — Briella leva as mãos ao ouvido simulando um telefone — me ligue.
— Ligo sim.
— Tchau, Clark!
Assim que chego no local, avisto Aidan, Leanne, Liza e Alana rindo e examinando as fotos
recém-tiradas na cabine fotográfica com luzes de LED piscantes e uma cortina vermelha
vibrante. Aproximo-me, curioso para ver o resultado da sessão.
— Ei, cara! — Aidan me olha. — Já estávamos nos perguntando onde você tinha se
metido.
— Ué, cadê as maçãs? — Liza pergunta.
Olho para minhas mãos vazias.
— Ah, hum... — dou uma risadinha e esfrego a nuca. — Esqueci.
— Como assim? — Liza indaga, confusa. — Você saiu para comprar e voltou sem?
— Encontrei com uma amiga no caminho — conto. — Acabei entretido na conversa.
— Amiga? — Alana arqueia uma sobrancelha. — Que amiga?
— Minha nova amiga — sorrio, dando o troco.
Alana apenas rola os olhos.
— Como ficaram as fotos? — pergunto para Leanne, e pego as fotos reveladas na sua mão.
— Sensacionais! — responde, animada. — Você devia ter vindo antes.
Fico analisando as fotos por alguns segundos, vendo-os fazendo caretas.
— Foi mal! — devolvo-as.
— Estamos indo para os brinquedos — Alana diz, mantendo seu urso encostado nela. —
Quero andar no kamikaze.
— Calma! — Leanne entrega as fotos para Liza. — Quero tirar algumas fotos com Clark.
— Ela agarra meu braço e me puxa em direção à cabine.
— Comigo?
— Siiim!
Lanço um olhar rápido para Alana, que dá de ombros, antes de entrar na cabine apertada
com Leanne.
— Okay, vamos fazer uma sessão divertida para eu guardar de recordação.
— Certo — sento-me, desconfortável.
Leanne escolhe os filtros e efeitos especiais para as fotografias.
— Prontinho — ela se senta ao meu lado no centro da cabine e começamos a posar para as
fotos, fazendo caretas, gestos engraçados e poses normais.
Juro que tento me divertir, mas não estou no clima, uma sensação esmagadora recai sobre
meu estômago.
Okay, vou falar agora, dane-se!
Viro meu rosto na sua direção, só que ela já estava me encarando. Seus olhos ficam fixos
nos meus, segundos se passam e os vejo caírem em meus lábios.
Oh, não!
Leanne começa a se aproximar, ficando mais perto, cada vez mais perto até que nossa
respiração se mistura e ouço o clique da câmera. Cerro o maxilar, meu coração fica angustiado
sabendo que o que ela está querendo fazer é errado.
Cara, está tudo errado!
— Leanne...
— Quero te beijar.
Quando seus lábios estão prestes a selar os meus com um beijo, viro o rosto, fazendo com
que o beijo acabe atingindo minha bochecha.
Ouço outro clique da câmera antes do silêncio pairar sobre a cabine, e a atmosfera
descontraída se transforma em algo estranho. Com cuidado, seguro os ombros dela e a afasto um
pouco para criar um espaço entre nós. Seus olhos encontram os meus quando seguro seu rosto,
afastando delicadamente seus cabelos loiros.
— Kinsley, precisamos conversar.
Ela aguarda por minha explicação.
— Eu... Eu não posso mais ficar com você.
Leanne não parece muito surpresa com o que acabei de falar, o que me deixa confuso.
— Me desculpe por... hum... — tento falar, mas nada sai.
— Eu era o que você queria? — ela pergunta um momento depois e só consigo assentir.
— Você era.
Leanne fica me olhando no fundo dos olhos... tão profundo como o amor que sinto por
Alana.
— Não sou mais?
Penso por um instante o quanto minha resposta pode magoá-la, mas não existe outra
maneira de amenizar a verdade, por mais dura que seja.
— Não — engulo em seco. — Não é mais.
Ela abaixa a cabeça, umedece os lábios e volta a me encarar com um sorriso fraco.
— Eu nunca quis te magoar — digo, pondo uma mexa do seu cabelo atrás da orelha —,
muito pelo contrário, quis muito que desse certo entre a gente. Porra, você é maravilhosa,
incrível, espetacular, mas...
Vejo seus olhos brilharem.
— Mas nunca cheguei em seu coração.
— Sinto... muito — sussurro, com a voz falhando.
— Tudo bem, Clark. Entendo.
— Você... — pigarreio. — Você entende?
— Eu já sabia que você não seria meu, mesmo querendo ter esperanças.
— Pelo menos podemos ser amigos? — pergunto, torcendo para que sim, porque apesar de
eu ser apaixonado por outra pessoa, tudo começou através dela, então nada mais justo do que a
ter como minha amiga.
— Eu adoraria ser sua amiga.
— Posso te dar um abraço?
Ela sorri e assente.
— Um abraço seria perfeito.
Envolvo-a em um abraço apertado, sentindo seu cheiro. Leanne desce e sobe as mãos em
minhas costas, acariciando-me.
— Me desculpe, de verdade — falo, triste pela situação.
Desfaço o abraço e a encaro.
— É ela, não é?
Respiro fundo, assentindo.
— Sempre foi ela.
— Eu sabia — Leanne consta, sorrindo, e um clique da última foto nos desperta. — Acho
melhor sairmos, o pessoal deve estar impaciente com a nossa demora.
— É, vamos nessa — solto uma risada nervosa, e me levanto junto com ela.
Quando saímos da cabine - o que pareceu ter passado uma eternidade - o festival parece
estar muito mais animado. No entanto, noto que algo está fora do lugar quando percebo que só
tem a Liza nos esperando e segurando o urso Denis com uma expressão séria.
— Ei, onde está todo mundo? — pergunto, olhando ao redor.
Liza maneia a cabeça de um lado para o outro, jogando o urso em meu peito. Seguro-o
desajeitado, confuso.
— Você vacilou, Clark! — ela diz em um tom incriminatório.
— O quê? — ajeito os óculos, tentando entender. — O que está acontecendo?
— Estou indo embora também — Liza começa a andar.
— Liza? — ela me ignora e some entre as pessoas.
Troco um olhar com Leanne antes de tirar meu celular do bolso quando apita.
Aidan: Clark, tive que vir embora, estava ficando muito tarde e precisava estudar. Depois nos falamos. Abraço!
Porra, eles se drogaram no tempo em que estava dentro da cabine?
Vejo Leanne se agachar e pegar algumas fotos reveladas do chão. Ela solta um suspiro, se
aproxima de mim e me entrega.
— O que é isso? — indago.
— Sua explicação.
Guardo o celular e, quando me deparo com as fotos, meu coração tropeça e cai de cara no
chão. As imagens sugerem que eu e Leanne estávamos nos beijando, justo quando eu recusei seu
beijo.
— Isso... isso não aconteceu! — Protesto, ficando desesperado.
— Para ela, o beijo aconteceu.
Fico estático, um turbilhão de pensamentos invade minha mente. Então foi por isso que
Alana foi embora? Por que achou que eu tinha beijado Leanne?
— O que eu faço? — murmuro para mim mesmo, mas Leanne escuta.
— Você sabe o que tem que fazer.
Ergo meu olhar.
— Tudo bem se eu for? — pergunto.
— Vá atrás da garota que você quer, Clark — diz com um sorriso. — Vou me encontrar
com alguns amigos. Não se preocupe comigo.
A confusão se transforma em determinação quando olho para as fotos e depois para
Leanne. Sem dizer mais nada, saio correndo atrás de Alana, carregando o urso gigante de
maneira desajeitada. O som de meus passos se mistura com as risadas das pessoas do festival.
Esbarro em algumas, mas não paro de correr e nem peço desculpas. Dane-se se estou sendo
mal-educado, preciso apenas chegar no estacionamento.
Assim que alcanço meu carro, jogo o urso na carroceria, entro e dou partida, catando pneu
e assustando algumas garotas que dão gritinhos nada a ver.
O percurso até o prédio foi carregado de aflição e tentativas de ligar para Alana, só que a
porra do celular dela está desligado. Ou descarregou ou colocou no modo avião para não receber
minhas ligações.
Entro na garagem, estacionando meu carro de qualquer jeito, desço e saio correndo em
direção ao elevador.
— Ah, o urso! — exclamo, voltando para pegá-lo.
Subo na roda da caminhonete, inclino-me e capturo o Denis, jogando-o sobre meus
ombros, e retomo à corrida.
— Cara, você está muito pesado — resmungo, esperando com impaciência o elevador e
apertando o botão sem parar. — Sério, regime urgente!
Assim que as portas se abrem, deparo-me com quatro pessoas lá dentro. Desço o Denis,
sorrio para elas e vou entrando.
— Desculpe, galera, só um momento... — Olho para o urso como se ele fosse meu melhor
amigo e, na verdade, nesse momento, ele é.
As pessoas dentro do elevador fazem caretas descontentes, e eu me espremo entre elas,
segurando o urso que parece ter decidido tirar uma soneca nos meus ombros.
Pressiono o botão do meu andar, meu coração batendo em desacordo com a música
instrumental suave do ambiente, enquanto o elevador sobe devagar. À minha volta, as pessoas
parecem demonstrar ainda mais irritação com a minha presença. Tento ignorar, então aperto o
botão de novo.
Finalmente, as portas se abrem, saio desajeitado, e a mão do urso vai direto contra o rosto
de uma senhora, como se Denis tivesse acabado de dar um tapa de propósito nela.
— Meu Deus, me desculpe! — digo e saio apressado. — Seu indecente, por que bateu na
velha? — murmuro.
Segundos depois, paro em frente à porta do apartamento de Alana, fecho os olhos por um
segundo para respirar fundo, e quando abro os olhos, congelo com a mão no ar antes de bater.
O tapete... sabe o tapetinho de entrada dela? Está... está... virado!
Não! Não! Não!
Diz para mim que estou bêbado ou sonhando, por favor, mas não me diz que o tapetinho
está virado!
Meu mundo começa a desabar sob meus pés, consigo até ouvir meu coração rachando e se
quebrando em mil pedacinhos.
Se o tapete está virado, é porque... ela está com um cara dentro do seu apartamento. Esse
sempre foi um sinal, desde que nos mudamos. Se o tapete está virado, ela está com outra pessoa.
Porra, não!
Meus olhos se enchem de lágrimas e as lentes dos meus óculos começam a embaçar. Sinto
uma mistura tumultuada de emoções tomando conta do meu peito, uma dor tão intensa que
parece sufocar minha existência.
Ela pensou que eu estava beijando Leanne, e, com isso, decidiu seguir em frente... não!
Droga!
Ergo a cabeça quando as lágrimas começam a correr como uma torrente, porque neste
momento sinto-me uma bosta sendo arrastada para o esgoto.
Ah não... ah, não! O que eu fiz?
Encosto as costas na porta, e vou deslizando até o chão, trazendo o urso para perto de mim
e o abraçando enquanto choro como um bebê por ter perdido a única garota que vou amar até o
meu último dia.
Já experimentei dias em que a simples ideia de acordar era desanimadora, mas houve dois
dias em que ansiei por nunca ter existido. O primeiro foi durante o funeral da minha mãe. A dor
de abrir os olhos e aceitar que ela nunca mais estaria ao meu lado é indescritível, algo que
nenhuma frase de efeito ou palavra no dicionário pode descrever.
O segundo dia foi ontem ao descobrir que Alana estava com outro cara em seu
apartamento, depois de acreditar erroneamente que eu tinha beijado Leanne. Parece que, além de
dilacerar meu coração, minha alma também está sofrendo.
Como isso é possível? Por que tenho que estragar tudo? Por que sou tão lerdo?
Não quero que isso seja real, mas, infelizmente, depois de perder minha mãe, perder Alana
está se tornando uma forma de autodestruição.
Ela já teve outros relacionamentos, e eu nunca dei importância... Na realidade, eu me
importava sim, mas subestimava a verdadeira dimensão do que sentia por ela. Era mais
suportável vê-la com outra pessoa estando próxima de mim do que distante.
Com Sean foi mais complicado, porque ele meio que nos afastava. Agora, entendo o que
Sean sentia, porque não estou suportando a lembrança da minha garota com outro cara.
Não sinto mais raiva de Sean, e espero que você também não sinta. Ele estava certo o
tempo todo, não que eu esteja o defendendo, mas, caramba, como sou tolo!
Entro no vestiário, quase vazio como de costume, sempre sou o primeiro a chegar e o
primeiro a sair. Mas hoje, ouço risadas e murmúrios vindos de um canto. Decido dar uma
espiadinha na conversa, então deixo minha bolsa no banco e me aproximo sorrateiramente do
corredor de onde as vozes de Connor, Tayler e Ben estão ecoando.
— ... Não sei, cara, mas pareceu sério — diz Connor, levando o canudinho do seu leite
fermentado à boca.
— Sério que tipo? — pergunta Tayler, fazendo uma bola com seu chiclete.
— Preciso descobrir — Connor estala a língua baixinho. — Mas é de cair o cu da bunda.
— Nunca que imaginaria que eles estão se comendo — diz Ben, cruzando os braços e
encostando no armário. — Não depois de serem tão cuzões um com o outro.
De quem eles estão falando?
— Não faz sentido isso — Tayler franze a testa.
Connor balança a cabeça.
— Também acho, mas a Manu disse que a amiga de sua amiga os pegou fodendo dentro do
banheiro — conta.
Eles ficam em silêncio por um momento e a curiosidade nasce que nem rato dentro de
mim, então, sem nem pensar muito, pergunto, os pegando de surpresa.
— Quem estava fodendo no banheiro?
Connor solta um grito e quase deixa cair o potinho do seu leite fermentado.
— Caralho, Clark! — exclama, encarando-me com espanto.
Ben e Tayler riem.
— Foi mal, cara! — ergo as mãos, esboçando um sorriso. — Fiquei curioso.
Connor me encara com a testa franzida, seu rosto voltando à cor original.
— O que aconteceu com seus olhos? — pergunta, se aproximando.
— Meus olhos?
— Parece que uma abelha te ferroou.
— Ah! — toco, vendo a textura um pouco inchada.
— Você chorou, Clark? — Tayler indaga com um tom divertido na voz.
A noite toda!
— Por que eu choraria? — solto uma risada forçada. — Acho que está irritado, fiquei
mexendo no celular até tarde.
— Assistindo pornô? — Connor indaga, desconfiado.
— Não assisto pornô.
— Qual é, Clark! — ele revira os olhos. — Todo mundo assiste pornô.
Livros hots se encaixa em pornô?
— Na verdade, fiquei lendo pelo celular até tarde.
— Lendo pornô? — Connor balança as sobrancelhas.
— Que isso, cara? — Ben dá um tapa na cabeça dele.
Connor esfrega o local, e Tayler começa a rir.
— O cara quer ter certeza de que pornô é normal, sabe, já que virou senhor castidade.
— Mano, você para! — Connor o fuzila com os olhos.
— Ou o quê? — Tayler ergue o queixo.
— Vou contar para todo mundo que você chupa seu próprio pau!
Arch! Eu ouvi isso?
Ben e Tayler gargalham. Fico encarando os três me perguntando se eu voltei para o
colegial, tipo, para a 5ª série.
— Como é possível o cara ser assim? — Tayler enxuga as lágrimas que escorrem.
— Ele ainda não evoluiu — Ben responde, e Connor me encara.
— Está vendo isso, Clark? — ele aponta para os dois. — São tudo uns cuzões.
Sorrio, esfregando um dos meus olhos, porque a maldita lente está incomodando e
embaçando por eu ter secado o líquido do meu corpo de tanto chorar.
— Tenta gelo, cara! — sugere Ben, me olhando. — Desincha rapidinho.
— Valeu! — recuo alguns passos.
— Clark?
— Ahm? — fito Connor, que aponta para ele e os outros.
— Se precisar desabafar ou quiser algum conselho, estamos aqui, beleza?
— Valeu, cara!
Nossas cabeças viram quando ouvimos passos se aproximando. O técnico Haley surge no
nosso campo de visão.
— Bom dia, garotos! — cumprimenta, sério.
— Bom dia! — nossas vozes saem em uníssono.
Os olhos de Haley caem sobre mim, e meu coração bate mais rápido. O técnico se
aproxima, encarando-me por alguns segundos antes de inspirar fundo e soltar o ar pela boca.
— Clark, posso falar com você um momento? — diz com seriedade, indicando com um
gesto para que o siga até seu escritório.
Dou uma olhada nos caras; eles dão de ombros sem entender.
— Depois nos conta o que era — Connor pede, desviando do empurrão que iria levar de
Ben.
— Para de ser fofoqueiro, cara.
— Cala boca!
A tensão toma conta de mim enquanto caminho em direção ao escritório.
O que isso significa? O técnico não costuma chamar os jogadores para conversas
particulares antes do treino.
Droga, minhas mãos começam a suar.
Ao entrar no escritório, Haley fecha a porta atrás de mim, e me sento, nervoso, diante da
sua mesa.
— Como está, Clark? E seu pai?
— Estamos bem, senhor. Obrigado por perguntar.
Ele assente e liga seu computador.
— Gostaria de analisar suas jogadas no último jogo junto com você.
Engulo em seco.
— Ah, sim!
Haley começa a falar sobre meu desempenho, mostrando alguns edits, mas também vai
destacando áreas que precisam de aprimoramento.
— Você tem um grande potencial, e acredito que você deve aproveitar...
Traduzindo: estou fora, meu desempenho foi uma droga, e posso esquecer meu sonho de
ser titular. Vou sempre ser o reserva, por mais que eu tente, meu potencial serve apenas para ser
um reserva qualquer.
Sério, quando é que as coisas vão começar a dar certo na minha vida?
Odeio saber que tem gente que acha que minha vida é perfeitinha só porque tenho um pai
famoso, porra!
— E acredito que podemos aproveitar isso a nosso favor... — diz Haley, enquanto mostra
as minhas jogadas na tela, mas nem presto atenção, do que isso vai adiantar? — A partir de hoje,
você será o titular do time. Sua dedicação e habilidade não passaram despercebidas, e acredito
que é hora de você assumir um papel mais proeminente no campo.
Viu só?
O que mais pode acontecer? Alana parar de falar comigo? Você parar de falar comigo?
Onde eu errei?
Sempre andei na linha, olha só o que minha santidade me levou. Apaixonei por minha
melhor amiga quando estava saindo com outra, ferrando com tudo!
Reserva é o mínimo do que mereço por ter magoado Alana.
— Rhavi?
Pisco, querendo encerrar o assunto por ter um nó na minha garganta.
— Desculpe, senhor, prometo que vou melhorar e ser um bom reserva para quando
precisar de mim estarei pronto.
Sinto o peso dos olhos de Haley sobre mim.
— Acho que você não me entendeu, Clark!
— Não? — encontro com seu olhar.
Ele recosta na cadeira, observando-me atentamente.
— Repito, a partir de hoje, você é o titular do time.
Suas palavras ecoam em meus ouvidos, e percebo um som semelhante ao toque de um
sino.
— T-titular? — minha voz sai sussurrada.
Não consigo me mover.
— Parabéns, Rhavi Clark!
Não! Não! Não!
Isso é mentira, não é?
Tipo, titular? Sério?
— Estou colocando minha confiança em você, Clark! — Haley continua. — Nunca fiquei
sem te observar, mas precisava que desse mais de si. Só que quando te assisti naquele campo,
jogando com o coração, não tive mais nenhuma dúvida. Esse lugar é seu, e não me faça
arrepender por ter dado essa chance.
Pisco, tentando acalmar meu coração, mas estou tão estático.
— O-Obrigado, senhor, não irá se arrepender.
— Sei que não! — Haley sorri. — Pode ir, você tem um dia cheio hoje.
— Tá, e obrigado... muito obrigado!
Levanto-me com as pernas bambas, incrédulo, caminhando em direção à porta. Quando a
abro, vejo os três indivíduos correndo para longe do corredor. Provavelmente estavam escutando
a conversa, mas quando me notam sair da sala e fechar a porta atrás de mim, param e me
encaram.
— Clark, está tudo bem? — Tayler diz, se aproximando rápido. — Cara, você está mais
pálido que um cadáver.
Fito seu rosto, depois o de Connor com a testa franzida e por último Ben, abrindo uma
garrafa de água para me dar.
— S-sou titular... — Falo num sussurro.
— O quê? — Tayler aproxima o rosto do meu. — Não ouvi.
Engulo em seco, respiro fundo e conto.
— Não sou mais um reserva — digo, fazendo-os congelar. — Sou o novo Running Back
titular de Houston.
Eles ficam me encarando, surpresos, mas então, correm em minha direção, me abraçando e
comemorando.
— Você é foda, cara! — Connor diz, contornando o braço no meu pescoço. — Ah, seu
filho da puta!
— Ei! — resmungo, tentando me soltar. — Eu sei que sou foda.
Connor me solta, e rio de entusiasmo.
— Bem-vindo aos titulares, cara! — Ben ergue a mão, e a minha encaixa na sua. Ele me
puxa para um meio abraço, dando-me batidas no ombro.
— Você merece, amigo! — Tayler diz, me abraçando.
— Vou dar o meu melhor — falo com a voz sufocada.
— Nós sabemos, Clark! Nós sabemos!
Está na hora de mostrar o meu verdadeiro lugar. Como Running Back reserva, vou entrar
em campo e deixar claro que mereço estar entre os titulares. Porque sou Rhavi Clark, e ninguém
nunca mais vai esquecer esse nome.

A noite caiu sobre a cidade, pintando o céu com tons alaranjados antes de se entregar à
escuridão. Connor, Tayler, Ben e eu caminhamos descontraídos pela Plaza Fountain, onde a luz
suave dos postes destaca a imponente fonte no centro da Universidade.
Eles conversam, riem enquanto nos aproximamos da fonte. Eu, por outro lado, fico aéreo,
sem muito ânimo, mas Connor insistiu, dizendo que tínhamos que comemorar, então topei.
— Eu amo esse lugar, mano! — exclama Connor, tirando os tênis, subindo a barra da calça
e se sentando na borda, mergulhando os pés na água. — Porra, está gelada, mas está boa.
Fazemos o mesmo, e quando meus pés entram na água cintilante sob a luz noturna, solto
um suspiro longo e angustiado.
— E então, cara, como está se sentindo? Ansioso? — Ben pergunta, empurrando meu
ombro.
Solto uma risada.
— Um pouco, mas estou animado. Só espero não fazer feio.
— Você vai arrasar, cara! — Connor bate no meu ombro.
Tayler geme.
— Acho que comi hamburguer demais — resmunga, esfregando a mão na barriga.
— Você parecia um monstro esfomeado — Ben comenta, abrindo a sacola e distribuindo
latas de cerveja. — Comprei energético para você, Clark! — ele estende a latinha.
Olho para a lata, nego com a cabeça e me inclino, puxando uma cerveja do saco.
— Prefiro a cerveja — digo, abro-a com destreza e dou um longo gole, fitando a fonte.
O som suave da água preenche o lugar vazio, tornando-se uma trilha sonora que faz meu
coração doer.
— Está tudo bem? — Ben pergunta para mim.
Viro-me para eles, notando que me encaram, estáticos.
— Estou bem. Por quê?
— É que... hm... — Connor coça a orelha. — Você disse que tem alergia a álcool.
— Ah.
— Você não coça mais? — Tayler indaga, franzindo a testa.
— Um pouco — digo, encarando a latinha, sentindo uma gota fria de água respingar em
meu rosto. — Mas preciso disso.
Eles ficam em silêncio por um minuto e de repente, Connor levanta a lata.
— Quero fazer um brinde ao Clark pela titularidade, estou feliz por sua conquista, você
mereceu e que isso seja apenas o começo para o verdadeiro sucesso.
Tayler levanta sua lata em resposta.
— Pela titularidade e pela amizade!
Ben e eu seguimos o exemplo, brindando e celebrando a noite que se desenha diante de
nós.
— Valeu — digo, emocionado.
— C'est la vie, pessoal! — exclama Connor, dando um gole na cerveja.
Ficamos calados, aproveitando a brisa noturna, nossa respiração se misturando ao
murmúrio da água da fonte.
— Já transei aqui — Tayler quebra a quietude. — Debaixo daquela árvore — aponta na
direção.
— Com quem? — Connor pergunta, estalando a língua.
— Com sua irmã.
— Para de ser otário! — Connor brada, e Tayler não diz mais nada. — Você está falando
sério?
— Estou!
Connor respira fundo, ignorando e fingindo que não ouviu.
— Você é um pau no cu.
— Só se for no seu!
Ben faz um barulho com a língua.
— Vocês dois parecem duas crianças — ele resmunga. — Tayler, não sei por que fica
dizendo essas coisas sendo que toda vez leva um pé na bunda da garota.
Tayler revira os olhos.
— Eu sou louco por ela. O que posso fazer?
— Desistir? — Connor responde.
— Desistir não é uma opção.
— Dalila tá nem fodendo pra você — Ben diz. — Enquanto ela se diverte pegando outros
caras, você fica aí, como um pinguim em um buffet de peixes frescos.
— Vocês estão falando da minha irmã — Connor resmunga, fazendo uma careta. — Não
adianta, cara, quanto mais chute na bunda a gente leva, mais apaixonados ficamos. Sabe para que
isso serve?
— Para quê? — pergunto.
— Para ter o coração quebrado, amigo. Só para isso. — Ele amassa a lata e pega outra.
Ben olha nos olhos de Tayler, com um semblante sério
— Às vezes, precisamos ser honestos conosco mesmos — fala, agitando a cerveja. — Se
percebe que ela não está na mesma sintonia, cai fora.
Tayler balança a cabeça, parecendo um pouco chateado
— É complicado...
— Você que complica, piolho de cu! — Connor diz, estalando a língua. — Falando sério,
esquece Dalila.
Tayler suspira, parecendo refletir.
— Não vale a pena ficar preso a alguém que não te valoriza da mesma forma. Amar
alguém que não está na mesma página só prolonga o sofrimento. — Connor termina, abrindo um
pacotinho de amendoim.
Voltamos a ficar em um silêncio reconfortante, e ouço o barulho de latinha sendo aberta.
— Como é ficar bêbado? — pergunto, sentindo os olhares dos caras em mim.
— Depende — Connor responde. — Cada um age de forma diferente. Tipo, alguns ficam
chorão, outros agressivos, tem uns que se tornam uns cuzões...
— Você por exemplo quer pegar todo mundo — Ben interrompe Connor.
Tayler solta uma risada.
— Caralho, lembra do dia em que o Hastins quase foi atropelado porque ele simplesmente
quis beijar o cara?
— Eu? — Connor aponta o dedo no peito, parecendo surpreso. — Não lembro disso.
— Eu lembro — Ben ri. — Paramos na delegacia e tudo mais.
Sorrio, meneando a cabeça.
— Meu pai quase me matou naquele dia — Connor bufa, dando um gole na sua cerveja. —
Então, Clark, ficar bêbado é meio louco, a gente começa a sentir tudo ficando leve, as risadas
ficam mais altas. Na última vez que fiquei muito bêbado, juro que vi um esquilo abrindo a porta
do meu quarto.
Franzo a testa.
— Bêbado ou drogado? — pergunto, rindo e levando a latinha à boca.
— Acho que drogado — Ben responde.
— Não uso drogas. Mas nesse dia tomei Rum, quando segui o bicho, entrei tipo em um
escritório que tinha um slogan: "Contabilidade mais rápida que uma noz!" — Connor começa a
rir, e os outros o encaram incrédulos.
— Cara, você precisa de ajuda — Tayler balbucia em um tom de reprovação.
Ben gargalha, contudo, em um movimento surpresa, Connor se levanta e empurra Ben na
direção da piscina.
— Oh, seu... — Ben segura meu braço para se equilibrar, mas acaba me puxando para
dentro da água também.
Fico em choque e me debatendo com o quão gelada está.
— Vocês são uns idiotas! — exclamo, rindo.
Tayler, não perdendo a oportunidade, decide pular na água com roupa. O que era para ser
um brinde tranquilo se transforma em uma guerra improvisada na Plaza Fountain.
Risadas, gritos e respingos preenchem o ar enquanto nos divertimos como se fôssemos
crianças. A água da fonte se torna um palco para nossa batalha.
— Hastins, você está pedindo para se afogar! — alerto, tentando desviar de um ataque de
água vindo dele.
— Vale tudo na guerra, Clark! — Ele responde, afundando Tayler.
A brincadeira continua, com Connor fazendo uma imitação hilária de um golfinho e Tayler
tentando uma versão subaquática de uma dança clássica.
— Esses caras são loucos, não são? — Ben diz, rindo.
— Loucos, mas são os melhores.
Ben concorda, e voltamos para a diversão na água. Meu coração continua doendo, no
entanto, de alguma forma, eles me fazem sentir bem melhor.
— Ei, lembram quando o Clark era chamado de bolas amassadas? — Tayler relembra.
Connor e Ben fazem uma careta.
— Fala sério, fomos uns cuzões com Clark! — Connor admite. — Mas pensem pelo lado
positivo.
— E qual é? — pergunto.
— Suas bolas desamassaram — ele solta, gargalhando, e os outros acompanham.
— Ainda bem! — digo, rindo e jogando água nele.
— Ei! O que estão fazendo aí? Vocês não podem entrar aí! — O guarda grita, avançando
em nossa direção. — Saiam daí!
— Ih, ferrou! — Tayler diz.
— Que merda! — Ben esbraveja.
Nadamos até a borda e saímos da piscina da fonte.
— Vamos, peguem nossas coisas! Rápido! — Connor sussurra ao passo que reunimos
nossos pertences espalhados pela beira da fonte.
— Vamos! Vamos! Vamos! — Ben exorta, então começamos uma corrida contra o tempo,
e a adrenalina pulsa em minhas veias.
— Connor, você pegou tudo? — pergunto, observando o guarda correr atrás da gente.
— Voltem aqui, seus delinquentes!
— Merda! — Connor corre mais rápido, abandonando a gente.
Corremos em direção à saída da universidade, escapando como ninjas. O guarda nos
persegue, gritando para que paremos, só que estamos determinados a não sermos capturados.
— Rápido! — Connor grita lá na frente.
Porra, o cara nos deixou para trás!
As luzes da Plaza Fountain piscam enquanto corremos, e o som de nossos passos se
misturam ao ruído das nossas roupas encharcadas. As risadas de minutos atrás foram substituídas
por respirações ofegantes.
— Não podemos ser pegos, seus idiotas, continuem correndo! — Connor berra, liderando o
grupo em uma fuga desesperada.
A cada passo, a distância entre nós e o guarda aumenta, mas não diminuímos o ritmo até
finalmente alcançarmos os portões e, sem olhar para trás, atravessamos a entrada, parando perto
dos nossos carros.
A sensação de alívio se mistura ao riso nervoso que escapa de nossos lábios. A Plaza
Fountain ficou para trás, e estamos livres do guarda.
— Essa foi por pouco! — digo, entre risos.
Leva alguns minutos para recuperarmos o fôlego.
— Que legal! — Connor fala e, segundos depois, estamos gargalhando.
— Você ia nos abandonar, Hastins? — Tayler arfa.
— Lógico!
Gargalho, controlando a respiração.
— Ei, Clark! — Ben respira fundo, abre a porta do carro de Connor, tira uma jaqueta de lá
de dentro e estende para mim. — Um presente para você.
Pego a jaqueta, surpreso.
— Para mim?
— Pela titularidade — responde Connor, tirando a camiseta e a torcendo.
Meus olhos estudam cada detalhe vibrante de vermelho e preto da jaqueta, ostentando com
orgulho o emblema da Puma nas costas, dizendo: "Sem Rugidos, Só Triunfo! Juntos, somos os Cougars!"
— Obrigado! — Digo, com um nó na garganta. — Bom, vou nessa! — Despeço-me,
tirando as chaves do bolso da calça molhada. — Valeu, de verdade.
— Até amanhã, Clark.
— Até.
Eles embarcam no carro e partem primeiro.
Inspiro fundo, tiro minha camisa e a torço ao máximo, repetindo o processo com a calça.
Quando não estão mais pingando, visto tudo novamente, adicionando a jaqueta por cima.
Dirijo por vários minutos, sem pressa de chegar em casa, porque estou com medo de
encontrar aquele maldito tapete virado e... porra, ela nem me mandou mensagem.
E você acha que eu mandei? Não, eu também não mandei.
Desfiro um soco leve no volante ao entrar na garagem do prédio.
— Tudo bem, é isso... somos amigos, apenas amigos... — murmuro, adentrando no
elevador e apertando o número do meu andar.
Amigos, somos apenas melhores amigos...
Respiro fundo, fixando meu olhar nos pés. Contudo, quando as portas do elevador se
abrem e ergo a cabeça, deparo-me com Alana em um vestido azul que a deixa deslumbrante,
esperando para descer.
Meu coração acelera quando nossos olhares se encontram, nenhuma palavra é dita, ao
mesmo tempo em que tudo o que eu mais quero é dizer o que está entalado há algum tempo na
garganta, mas a lembrança da noite anterior parece um anzol perfurando minha alma.
Droga, estou tão magoado e decepcionado comigo mesmo.
Enfio as mãos nos bolsos.
— Entra — digo, travando o elevador.
Assim que ela entra, eu saio, parando de frente para ela, do lado de fora. Faço menção de
dizer algo, mas paro. Alana parece fazer o mesmo ao abrir a boca, só que ela a fecha e seus olhos
recaem nas minhas roupas molhadas e na jaqueta nova. Quando seus olhos retornam para os
meus, sinto a necessidade de explicar.
— Hã... sou titular agora — respondo, passando as mãos pelos meus cabelos molhados.
Alana arregala os olhos, dá um passo à frente, mas para de uma vez, recuando e esboçando
um sorriso fraco.
Quero muito um abraço dela; no entanto, meu corpo permanece imóvel como gesso.
— Nossa, titular... Leanne... você conseguiu tudo o que queria. — Sua voz sai trêmula e
incisiva.
Doeu... cara como essas palavras doem.
Pisco, desvio o olhar e maneio a cabeça.
— Talvez nem tudo — digo quase inaudível, tirando as chaves da porta do bolso.
Alana toca na franja e aperta o botão, destravando o elevador, quando as portas se fecham,
uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Tiro os óculos por um momento, meu rosto exasperado reflete a dificuldade em me
concentrar nos estudos. Tudo o que consigo pensar é Alana dentro daquele elevador e naquele
maldito tapete.
Ela literalmente me deu um fora e seguiu em frente, mas eu não, cara... eu não. Algo
quebrou entre nós, algo que juramos que jamais permitiríamos que acontecesse, no entanto,
aconteceu.
Para onde ela foi? Uma festa? Cinema? Balanço a cabeça e respiro fundo; preciso estudar.
Consulto o relógio no MacBook, são dez para meia-noite.
Será que ela chegou bem em casa?
Droga! Arranco os fones, jogo a caneta longe e pego meu celular. Digito e envio.
Eu: Você chegou bem em casa?
Levanto os óculos com uma mão e coço os olhos com a outra antes de ajustá-los. Digito
outra mensagem.
Eu: Sei que é tarde, mas precisamos conversar.
Um minuto depois, envio mais uma.
Eu: É sério! Você está dormindo?
Deixo o celular de lado ao me levantar e caminho até a cozinha, sentindo o chão gelado
sob meus pés descalços.
Alana deve estar se divertindo enquanto eu asso meus neurônios na tentativa de colocar em
dia as matérias, como aqueles frangos na máquina. Encho o copo de água e dou um gole.
Será que... hum... deveria ligar para confirmar se ela chegou bem em casa? E se ela estiver
dormindo?
Retorno para o quarto com o copo na mão e um comprimido para dor de cabeça na outra.
Paro em frente à escrivaninha, jogo o remédio dentro da boca e bebo a água, com os olhos fixos
no celular.
Ela não respondeu minhas mensagens, eu realmente preciso ligar e dane-se se está
dormindo, preciso ouvir sua voz.
De repente, meu celular começa a tocar. Franzo a testa vendo que o número é
desconhecido, e um calafrio percorre meu corpo.
Atendo no terceiro toque, tenso, pois ligação tarde da noite é sinônimo de preocupação.
— Alô? — minha voz sai irregular.
— Clark? — é uma voz feminina, e há muito barulho ao fundo. — Rhavi Clark?
— Sou eu! Quem é? — Coloco o copo perto do livro aberto, cheio de anotações de
lapiseira e post-its.
— Katherine Handerson, amiga de Alana.
Aflição belisca meu peito.
— O que aconteceu com ela? Ela ainda não voltou para casa? Onde ela está? — minha voz
sai atrapalhada e urgente.
— Ela está muito bêbada. Tentei levá-la para casa, mas Alana disse que quer continuar na
festa — Katherine parece inquieta. — Então lembrei de você.
— Me passe a localização — peço, calçando o tênis.
— Te enviei.
Pego a blusa de moletom e agarro as chaves do carro.
— Não tire os olhos dela até eu chegar, por favor!
— Não vou.
— Obrigado.
Saio de casa quase voando e quando o elevador demora, opto por descer as escadas
vestindo a blusa, ponderando sobre os motivos de ela ter bebido dessa forma.
Em poucos minutos, pego a estrada. Pela localização que a garota, cujo nome nem lembro
mais, enviou, fica a uns bons trinta minutos de distância.
Sigo as instruções do GPS, piso fundo no acelerador, e ao chegar no bairro de classe
média, diminuo a velocidade para tentar encontrar, entre tantas casas iguais, a que tem Alana.
Meus olhos vagueiam, o GPS dá umas falhas e recebe xingamentos da minha boca. Então,
meu celular começa a tocar, me dando um susto.
Atendo.
— Oi?
— Você passou direto — a voz da garota me faz pisar no freio.
Olho pelo retrovisor e avisto ela acenando duas casas atrás. Finalizo a chamada, engato a
ré e estaciono de forma irregular.
Foda-se!
Desço, colocando o capuz na cabeça, e encaro a garota ruiva que me aguarda.
— Cadê ela? — pergunto sem rodeios, sem sequer cumprimentá-la.
— Perto da piscina — responde, seguindo-me. — Você estava demorando, então vim aqui
fora para ter certeza de que não errou o caminho.
— Obrigado — murmuro, subindo os degraus em direção à porta.
Ao entrar, franzo a testa diante do barulho alto e pulsante da festa, com a certeza de que a
polícia aparecerá a qualquer momento. Percorro o corredor, mapeando a sala em busca do rosto
de Alana.
Meus olhos encontram Connor, sorrindo para uma garota que sorri de volta, jogando
charme. Seu olhar se prende em mim ao notar minha presença.
— Clark? — exclama, surpreso.
Localizo a porta que leva aos fundos e sigo em frente, ignorando-o e qualquer um que
chame pelo meu nome, ajustando meus óculos com um leve toque.
— Clark? — alguém toca meu ombro, faço um gesto, indicando para me soltar.
— Agora não, cara!
Atravesso a porta, congelando ao observar o local iluminado por várias lâmpadas. Algumas
pessoas estão dentro da piscina, outras dançam.
Esse lugar... sério, não é para mim!
Avanço, varrendo o olhar entre rostos desconhecidos, tentando encontrar o dela. A cada
segundo que passa sem sucesso, sinto o desespero corroendo cada pedaço de mim.
— Não, eu não quero ir!
Giro ao reconhecer sua voz, encontrando-a na pista de dança, mas não sozinha. Sean
segura seu braço, fala algo e a puxa. Alana está tão bêbada que mal consegue se manter em pé.
Uma onda de ira aquece minhas veias ao ver suas mãos nela. Sem pensar, avanço,
passando pelas pessoas e esbarrando em algumas.
Meu coração bate tão acelerado que tudo ao meu redor se torna um borrão. Quando Sean a
puxa novamente, fico fora de mim e o empurro para longe de Alana.
— Cai fora! — minha voz corta a música.
Sean recua, encarando-me chocado, mas não dou mais atenção a ele.
Foda-se esse cara.
— Ei! — digo, acalmando minha voz e segurando Alana, que cambaleia. — Estou aqui.
— Pet? — ela me lança um olhar vidrado e desfocado.
— Sim, sou eu! — aceno com a cabeça, afastando seus cabelos do rosto.
— Oh, estou sonhando... você.... — Alana fala arrastado, lutando para manter o equilíbrio.
— Você veio com Leanne?
Sua pergunta faz meu estômago apertar.
— Vim te buscar.
Ela balança a cabeça.
— Nah... nah... quero beber, dançar... é... nãoo quero ir para casa... não, de... argh... —
soluça e começa a rir.
Respiro fundo, passando o braço pelo seu ombro, mas um empurrão me faz afastar dela.
Trinco os dentes e encaro Sean.
— Estou de saco cheio de você, Clark!
Eu também, idiota!
Balanço a cabeça, avançando em direção a Alana, só que suas palavras me detêm.
— Você é um merda, cara! — ele esbraveja. — Essa pinta de santo nunca me enganou.
Sempre soube que é um falso de merda, mas convenhamos, você só é visto por causa do seu pai.
Se não fosse por ele, Rhavi Clark não seria nada, viveria o resto da vida como um reserva de
merda.
Fecho os punhos, recusando-me a cair na provocação. Sean está buscando confusão, e eu
só quero levar minha garota para casa.
— Você não é ninguém, Clark! — ele cospe.
Ignoro-o novamente, seguro Alana e começo a caminhar. As pessoas estão ao redor,
assistindo ao espetáculo de ofensas, até a música parou de tocar.
— Pet... não quero ir... — ela murmura, sua voz saindo trêmula.
— Temos que ir.
— Primeiro minha garota, depois minha posição no time, o que mais você quer?
Respiro fundo... bem fundo mesmo, e meus ombros ficam tensos ao recordar da sua
expressão de mais cedo, quando recebeu a notícia. Sean quis vir para cima de mim, mas se
segurou por causa do Haley, no entanto, me encarou o treino inteiro como se estivesse prestes a
cometer um assassinato.
Sério, juro para você, fiquei com medo.
Continuo a andar com Alana.
— Qual é? — ouço sua risada fria atrás de mim. — Não vai me responder?
— Não vale a pena te responder — digo sem olhá-lo.
Sou empurrado tão bruscamente que perco o equilíbrio, e Alana acaba caindo de joelhos no
chão. Ela geme de dor, e eu perco a noção de tudo, cego de ódio, raiva, fúria. No momento
seguinte, avanço contra Sean e desfiro um soco tão forte que ele cambaleia vários passos para
trás, sendo segurado por Tanner.
Ele leva as mãos ao nariz que começa a sangrar, atônito com o que acabou de acontecer.
Lentamente, me olha, perplexidade percorrendo sua expressão.
Agito a mão, sentindo uma fisgada de dor, e ajeito os óculos tortos.
— Nunca mais chegue perto dela — rosno.
— Ou? — ele mexe os braços para se livrar de Tanner e dá alguns passos à frente.
— Eu te mato, Sean! — chio, entre os dentes. — Porra, eu juro que te mato!
Nunca, em toda a minha vida, senti tamanho ódio ao ponto de ameaçar alguém como
agora. Cada palavra que saiu da minha boca foi verdadeira. Se eu o vê-lo perto de Alana outra
vez, juro por tudo que é mais sagrado nesse mundo, eu perco meu controle.
Sustento seu olhar; ele faz uma careta e avança pronto para revidar o soco. De repente,
Connor entra no meio.
— Vamos parar... — se cala ao levar um soco; em seguida, tudo se transforma em um caos
generalizado.
Bem e Tayler se juntam, avançando contra Sean. Tanner e outros que nem sei quem são
entram na briga também.
Dou as costas, encontrando a garota com cabelos ruivos segurando Alana que tem a cabeça
apoiada em seu ombro. Meu coração aperta, e logo estou com ela em meus braços, carregando-a
para fora dessa confusão.
A sua amiga abre a porta da caminhonete, e coloco Alana no banco do carona.
— Obrigado por ter me ligado — agradeço sem tirar os olhos de Alana, que acordou.
— Por nada.
Respiro fundo, fecho a porta e entro na caminhonete, percebendo que minhas mãos estão
trêmulas.
Olho para o lado ao ouvir seu gemido.
— Por que você bebeu tanto assim? — questiono, inclinando-me e puxando seu cinto. — É
perigoso.
— Partiram meu coração... — sua voz trêmula atravessa meus ouvidos ao afivelar o cinto.
— Ele... ele não... não deveria ter feito isso...
— Quem é? — pergunto, estudando seu rosto, vendo uma tristeza tão profunda que,
sinceramente, sinto vontade de morrer.
— Eu fiz de tudo... dei de tudo... pensei... pensei... talvez se eu... argh, ele me quebrou
tanto...
Recosto no banco, passando a mão pela minha boca e fitando o volante, mantendo-me
lúcido e me controlando para não descer do carro e confrontar esse idiota.
— Quem é? — repito com a voz falha. — Só preciso do maldito nome... — Calo-me
quando viro o rosto e a encontro dormindo.
Aperto o volante, ligo o motor e arranco, afastando desse lugar. Ao virar a esquina, duas
viaturas passam por mim em direção à casa.
Será que esse cara era aquele que estava com ela no apartamento? Será que foi esse
desgraçado que a machucou?
Inalo, sentindo o cheiro de álcool que emana dela. Trinta e cinco minutos depois, estou
abrindo a porta do meu apartamento com Alana no meu colo, levando-a direto para a cama.
Ela está sonolenta, mal consegue manter os olhos abertos.
— Você vai passar tão mal amanhã... — murmuro, tirando suas roupas e a vestindo com
minha camisa e meias. — Não consigo entender por que foi tão imprudente em beber por causa
de um idiota.
Com um lenço umedecido, retiro sua maquiagem e a cubro com as cobertas, sentando-me
na beira da cama.
— Argh, meu estômago! — resmunga, se mexendo e virando de lado.
Seus olhos se abrem e se fixam nos meus.
— Oi... — sussurro. — Como você se sente? — pergunto, acariciando seus cabelos.
Ela hesita por um momento.
— Quebrada.
— Por quem? — minha mão aperta a sua. — Quem te quebrou, Alana?
Ela respira fundo, me encara por um segundo e fecha os olhos.
— Você... — uma lágrima pinga no travesseiro antes dela se entregar ao sono.

Você... você quebrou o coração da Alana, Clark!


Foi você, só você!
Agradeço ao atendente da farmácia ao receber os remédios que sei que Alana vai precisar
ao acordar com ressaca. Dou um gole no meu café, feliz por ele estar bem quente nessa manhã
congelante.
Bom, eu sei que fui meio lerdo o tempo todo, perdendo oportunidades preciosas para falar
sobre meus sentimentos, mas é complicado colocar tudo para fora da maneira certa. É confuso.
Por isso não fique com raiva de mim, por favor, só que... caramba, me apaixonei pela
minha melhor amiga e o que mais temia era que nossa amizade fosse abalada, o que obviamente
acabou acontecendo.
Só me dá um desconto, tá?
Dou outro gole, resmungando por ter queimado a língua, e encaro meu prédio. Quando saí,
uns vinte minutos atrás, Alana ainda estava dormindo, então há uma grande chance de pegá-la
acordada e finalmente esclarecer tudo; até tenho um discurso pronto.
Meu celular apita, tiro-o do bolso ao entrar no prédio. Congelo quando vejo que é uma
mensagem da Alana, meu coração agita como um passarinho dentro da gaiola.
Pet: Precisamos conversar.
Inspiro fundo, ajeitando o celular na mão para digitar, só que outra mensagem chega.
Pet: Não podemos deixar as coisas ficarem assim, Pet. Não somos desse jeito, tão infantis. Prometemos que nada nos
afastaria e que tudo se resolveria com conversa.
Eu: Concordo.
Pet: Espero você no meu apartamento.
Aperto o botão do elevador, tentando me acalmar, bebo meu café e leio a outra mensagem
que chega.
Pet: Ah, e estou sem roupa, se não chegar aqui em três minutos, pode esquecer...
Cuspo todo o café, engasgando-me.
Esquecer o quê, pelo amor de Deus?
Olho para o elevador e, sem pensar, corro para as escadas.
Foda-se, tenho três minutos!
Ela está sem roupa, cara... sem roupa! Como assim?
Meu coração dispara e corro pelas escadas do prédio, segurando firme o copo do meu café
em uma mão e uma sacola de remédios na outra. Meus passos apressados ecoam nos degraus. Ao
chegar no andar, paro bruscamente em frente ao apartamento de Alana, arfando pela corrida.
Será que levei três minutos? Acho que foi menos, porque sou mais rápido que o Barry
Allen, o Flash.
Bato na porta com um toque apressado. Alana a abre com uma expressão fechada, ou pelo
menos tentando. Não consigo conter o ar de urgência e, entre respirações ofegantes, solto:
— Você disse sem roupa? — Meus olhos descem pelo seu corpo, mas... — Você está com
roupa — aponto, decepcionado, voltando a encontrar com seus olhos.
Segundos se arrastam, e permanecemos em silêncio, cada um encarando o outro.
— Precisamos conversar — ela diz.
— Sim, conversar.
Ela mexe na franja, e eu aperto o copo do café, sentindo a tensão no ar.
— Fala você primeiro — pede.
— Não, fala você! — devolvo, meu café parece prestes a escapar das bordas do copo.
Alana aperta os lábios, e quando penso que ela não vai dizer nada, resolvo jogar a verdade
logo. No entanto, ao mesmo tempo em que minhas palavras saem, as dela também vêm de
supetão.
— Não fiquei com Leanne.
— Não trouxe nenhum cara para casa.
Ficamos nos encarando, uma mistura de alívio e confusão pairando entre nós.
— Não tinha ninguém na sua casa naquele dia?
— Você não ficou com a Leanne?
A perplexidade cresce enquanto nossas palavras se misturam, criando um emaranhado de
revelações. Solto uma risada e ela também.
— Eu falo primeiro — digo, inspirando fundo. — Me perdoa por ser tão lento quanto uma
lesma na pista de corrida. Eu deveria ter te contado há muito tempo, desde que entendi o que se
passava dentro do meu coração.
— Contar o quê? — ela dá um passo à frente.
— Estou apaixonado por você, Alana Moore! — revelo, e é como se um peso tivesse sido
retirado de cima da minha alma. — Estou perdidamente apaixonado por você, ou melhor, acho
que sempre fui desde o primeiro dia em que te vi, desde aquele dia em que me defendeu daqueles
idiotas. Acredito que esse sentimento sempre esteve adormecido, porque eu não suportaria te
perder, e ser rejeitado... droga, eu poderia viver na rua, como um mendigo, mas não consigo
viver sem você. Poderia dizer que prefiro viver sem o ar que respiro do que sem você, mas
tecnicamente, não dá para viver sem ar, eu morreria em questão de minutos. Então, prefiro
morrer esfaqueado em mil pedacinhos, bem pequenos, para pagar por todo sofrimento que te
causei do que viver sem você. Você é o coração que bate dentro de mim, Moore!
Tento recuperar o fôlego. Alana me encara, os olhos cheios de emoção. A tensão no ar é
quase palpável enquanto aguardo a sua resposta.
Finalmente, ela quebra o silêncio.
— Rhavi, eu... — ela hesita por um momento, olhando nos meus olhos.
Meu coração parece congelar por um instante, mas antes que a insegurança se instale,
Alana sorri, um sorriso que ilumina todo meu coração.
— Sua lerdeza chegou, se acumulou e ficou, hein? Ainda bem que ela deixou você pensar
um pouquinho — solta como um desabafo. — Eu sempre fui louca por você, desde sempre, seu
bobo! — Ela se aproxima, colocando as mãos no meu rosto. — Mas quando te beijei pela
primeira vez, meu objetivo era fazer você se apaixonar por mim, ou melhor, meu objetivo era
pegar você para mim.
— Por que você virou o tapetinho?
Ela hesita e inspira.
— Quando vi aquelas fotos... pensei que tinha te perdido, só que ao mesmo tempo, tive que
colocar na minha cabeça que você estava feliz com ela, que finalmente conquistou sua vizinha,
mesmo que me doesse, a dor se espalhando como câncer, tinha que te mostrar que também segui
em frente e... que estava tudo bem.
— Não estava tudo bem.
— Eu sei... — ela sussurra.
— Ela ia me beijar, mas virei o rosto e... falei que tinha uma outra garota. — Encosto
minha testa na sua. — No final, Alana, eu realmente conquistei minha vizinha — digo,
capturando seus olhos com os meus.
— Conquistou é?
— A vizinha que eu sempre quis é você — sorrio de lado. — Líder de torcida, popular,
desejada por todos, cabelos escuros e olhos castanhos... porra, você é minha vizinha!
Ela abre um sorriso enorme.
— Agora que você percebeu isso?
— Foi.
Alana ri, e sinto uma emoção tão grande me consumir que tenho dificuldade até de
respirar, e um sorriso nervoso escapa dos meus lábios.
— Eu também estou apaixonada por você, Clark.
E ali, no corredor do apartamento, a tensão dá lugar a um misto de felicidade quando seus
lábios se encontram com os meus. O café esfria nas minhas mãos, mas o calor do momento
aquece meu coração conforme a beijo de volta.
— Namora comigo? — peço entre o beijo, empurrando-a para dentro. — Seja minha
namorada — fecho a porta com os pés. — Seja minha noiva — solto o copo e a sacola. Alana
contorna os braços em volta do meu pescoço. — Seja minha esposa — seguro sua cintura e a
ergo, fazendo-a contornar as pernas em volta da minha cintura. — Continue sendo minha melhor
amiga — prenso-a contra a parede.
Seus olhos se encontram com os meus de forma febril, como na primeira vez em que me
beijou.
— Responda — imploro, minha voz quase incontrolável.
— Aceito ser sua melhor amiga, namorada, noiva e esposa... — ela murmura, entrelaçando
os dedos em meus cabelos. — Eu quero ser tudo para você.
Um sorriso banhado de felicidade se forma em meu rosto. As borboletas no meu estômago
dançam ao reconhecer a sensação de estar profundamente apaixonado por ela, uma emoção que
sempre experimentei, mas só agora reconheço.
— Eu te amo, Alana Moore, como minha mulher — declaro.
Ela arfa, com a boca próxima à minha, à medida que eu a levo em direção ao sofá.
— Pet... — Ela sorri com malícia. — Isso significa que... nós vamos...
— Ficar juntos como um casal? Parar apenas quando não pudermos mais aguentar,
embriagados pelo êxtase do orgasmo? — Deito-a sobre o sofá. — Somos namorados agora!
— Namorado... — ela balbucia e solta uma risada. — Caramba!
— O quê? — rio de volta.
— Levando em conta as outras vezes em que transamos, você vai me deixar exausta.
— Só que agora é diferente.
— Diferente como?
— Você é minha noiva.
— Noiva?
— Esposa — digo e voltamos a rir feito dois idiotas. — O que é? — indago, deitando a
testa em seu ombro, gargalhando. — Você é louca, é?
Alana tenta conter a risada, pigarreia e fita meus olhos com os seus marejados.
— Estou feliz por... sabe, por estarmos bem — ela diz, e capturo uma lágrima que escorre
por sua bochecha de tanto que ela riu. — Pensei que nunca iria acontecer.
— Mas aconteceu.
— Sou sua noiva.
— Você é — deposito um beijo rápido em sua boca. — Você acha que está sonhando?
— Sim.
— Por quê?
— Porque eu pensei que esperaria 84 anos para você cair na real.
Fico olhando para ela, com dúvida explícita.
— Essa velha realmente existiu?
— Mas é claro, eu estava lá. — Ela diz.
Estreito os olhos.
— Como assim?
— Eu era o navio.
— Meu Deus, Alana! — Começo a rir. — Pensei que ela fosse de verdade.
— Não, Rhavi! — Ela cobre o rosto. — Nãoooo!
— Para! — Rio, minhas bochechas ficando mais quentes.
— Só você mesmo, cara! — Alana afasta as mãos do rosto e me encara. — Como pode ser
assim?
— Assim como?
Ela percorre os dedos na extensão do meu nariz.
— Tão perfeito.
— Não sei te dizer — murmuro —, mas talvez esse seja meu charme.
— Certeza.
— Por isso que conquistei todo mundo.
— Ficou convencido, hein!
— Ah, sou Rhavi Clark, afinal! — Deposito um selinho nos seus lábios.
Alana volta a rir, mas a silencio com um beijo sedento de desejo, pressionando meu pau
duro contra sua entrada e esmagando seus seios com o meu peito.
— Vamos transar o dia todo e te dou dois segundos para recusar.
— Eu...
— Pronto, acabou o tempo — a beijo com força, excitado para caramba.
Alana retribui o beijo, e eu arranco sua blusa, passando-a por cima da sua cabeça,
revelando seus mamilos duros e eriçados.
— Repita que é minha namorada.
Ela ri, arrepiada, e tira minha blusa. Nossas peles se encontram, calor se mistura, e eu
mordo seu lábio inferior.
— Diga, Moore.
— Eu sou sua namorada.
Meus dedos deslizam pelo vale de seus seios, barriga, e tocam o piercing em seu umbigo.
Meus olhos se fixam nos dela, estou incrédulo ainda com o andar dessa história. É surreal.
— Fui tão lerdo por não perceber que você era a garota certa para mim desde sempre. —
Confesso, baixinho. — Não fui corajoso o suficiente e, sim, tentei ignorar esse sentimento por
medo de te perder, mas ao mesmo tempo, é como a trama de um livro: se o casal se declara logo
no começo, não há história.
Alana esboça um sorriso e arfa, soltando um gemido quando meus dedos começam a
desabotoar sua calça.
— Você precisava conhecer outras garotas...
— Não, Moore, sou um cara de uma garota só, ou seja, sou o seu cara. — Mordisco seu
lábio, sentindo a calcinha fina entre meus dedos. — Acho que estou querendo tirar sua calça.
— Você acha? — ela arqueia a sobrancelha, mas logo solta um gemido com o avanço dos
meus dedos.
Ao captar o agudo som que escapa dela, deslizo sua calça para baixo, juntamente com a
calcinha, soltando-a habilmente de seu quadril e arremessando as peças para longe.
Olho para baixo, contemplando sua boceta nua e suavemente depilada, revelando um
clitóris inchado. Com destreza, acaricio, provocando uma reação que a faz curvar-se para frente.
Parece tão sensível entre as pernas que um singelo toque parece ser mais do que ela pode
suportar.
— Rhavi... — Alana murmura, segurando o lábio inferior com os dentes.
— Você já está toda molhada — a carícia se aprofunda e mergulho meus dedos em seus
fluídos, assistindo seu rosto se contorcer de prazer.
Ela me deixa louco, muito louco!
Seu aroma... droga, levanto-me e a trago para cima, sendo envolvido por suas coxas
macias, que me apertam com vigor enquanto a conduzo em direção ao quarto. Ambos nos
debatemos para respirar, sufocados pelo beijo que nos priva do ar.
Ao passar pela porta, sento-me na borda da cama e ergo seu queixo, a fazendo olhar dentro
dos meus olhos antes de beijá-la novamente. Com sua ajuda, livro-me da calça, expondo meu
pau excitado. Sem delongas, Alana monta sobre mim; sua boceta está tão ardente que não há
tempo para respirar.
— Oh, porra... — grunho, enrolando seus cabelos entre meus dedos. — Que delícia,
amor...
Ela entreabre os lábios e começa a rebolar, meu pau vai abrindo caminho, ganhando espaço
e se aprofundando em seu interior. Cada vez mais inchado, as veias pulsantes, e Alana continua a
se mover, e... céus... ohh...
— Rhavi... — ela geme meu nome quando entro até o fundo.
— Porra, Alana... me fode gostoso, vai! — rosno, puxando seu lábio inferior com os
dentes.
— Assim? — ela movimenta seu quadril em um vai e vem.
— Isso — aperto seus cabelos, nossa respiração fica descompassada, o aroma que emana
dela vai me enlouquecendo.
Nós dois gememos, o som que escapa da minha garganta sai como um grunhido
animalesco mais do que qualquer outra coisa.
Solto seus cabelos e agarro suas nádegas, fazendo-a ir mais rápido, mais fundo, mais
intenso. Nossos gemidos aumentam, Alana joga a cabeça para trás, cravando as unhas nos meus
ombros e rebola... droga... estou explodindo de tesão...
— Isso, gostosa, mais fundo... — percorro o vale entre seus seios com a língua e chupo seu
mamilo, mordiscando com um pouco de força, ouvindo-a soltar um gritinho de prazer.
— Ahn... Rhavi... — Alana geme, e sinto suas paredes se contraírem.
Reviro os olhos, rosnando, e percorro com a língua seu pescoço até chegar em seu ouvido.
— Esteja ciente de que, a partir de hoje, sua boceta será muito bem cuidada por mim, pelo
meu pau e... pela minha boca — chupo o lóbulo.
— Você vai acabar comigo, isso sim — ela fala de forma chorosa, fixando os olhos
embevecidos de tesão.
— Um pouco... talvez.
Ela sorri e geme, fechando os olhos quando toco seu ponto sensível.
— Ohh...
Agarro sua bunda e a abro, buscando estar mais fundo... muito mais fundo. Capturo seus
lábios, nossas línguas se entrelaçam de forma fervorosa.
Busco mais espaço dentro de sua boceta apertada, tão quente quanto um forno de 300
graus, ou mais, sei lá! Poderia dizer quente como um inferno, mas nunca estive no inferno,
então... é isso... droga, minha linha de raciocínio se perde totalmente com o som de seus
gemidos.
Seguro firme sua nuca, tentando me controlar, pois não é possível que, com apenas
algumas reboladas, eu me encontre a um passo de gozar. Pensei que estivesse mais resistente,
mas pelo jeito não.
— Alana... — grunho e ela mergulha a língua em minha boca, me beijando e me fodendo
gostoso. — Se não... maneirar, eu não vou durar! — digo entre o beijo, e ela sorri.
— Ah, é?
— Sim, droga! — gemo, deslizando as mãos por suas costas. — Ohh...
— Goza para mim, amor — sua voz sai tão sexy que, sim, poderia gozar, mas resisto, pois,
vou fazê-la gozar primeiro.
— Negativo — então a giro, deitando-a de costas e estoco uma vez após a outra. Mal saio e
já a penetro de novo.
Não há como, no mundo, viver sem essa garota. E quanto mais enlouquecemos, mais suor
e tesão escorrem entre nós.
— Hummm... — ela geme. — Rhavi... — ela se contorce. — Céus... — ela arfa.
Seguro firme sua coxa e encosto minha testa na dela, nossas respirações ofegantes se
misturando, à medida que afundo meus dedos em sua carne, indo cada vez mais rápido. Incapaz
de manter a língua e o pau longe dela.
Alana atinge o ápice primeiro, e seu gemido aumenta minha necessidade, porque agora não
estamos mais conectados apenas como amigos com benefícios, mas sim como namorados e algo
mais no futuro.
— Alana... — gemo alto quando alcanço o clímax. — Droga! — grunho entre dentes,
segurando o ar e pulsando dentro dela.
Segundos se passam, estamos em volto de um delicioso frenesi e minha mente se desliga
por um instante. Alana parece sem forças ao afastar meus cabelos da minha testa. Beijo-a com
cuidado, roçando meus lábios nos seus, um beijo após o outro.
— Isso foi... legal — murmura, sem fôlego.
— Legal?
— Sim, legal.
— Não incrível ou bom pra caramba, mas só legal? — rosno, fazendo uma careta divertida.
Alana abre um sorriso e, ainda dentro dela, estremeço.
— Você precisa ser um bom namorado para deixar de ser legal.
— Isso é quase um desafio.
— Será que é? — seu olhar astuto me estuda.
— Estou dentro de você ainda — consto, arqueando uma sobrancelha.
Ela ri. Afasto alguns fios grudados em sua bochecha e a beijo devagar.
— Eu te amo, Rhavi Clark! — ela murmura. — Nunca senti nada igual por outro homem
como sinto por você.
— E nem vai, Moore, porque, de alguma forma ou de outra, eu serei o seu último. —
Afirmo com convicção.
Voltamos a nos beijar, selando a nossa promessa e alterando o desfecho da minha história.
O que no início era uma trama simples entre vizinhos se transformou em um verdadeiro friends
to lovers.
Sei lá, sempre gostei desse gênero, mas vivê-lo... ah, é realmente mágico!
Okay. Okay! Okay!
Estou tão nervoso que nem um recém-formado indo para sua primeira entrevista de
emprego. Até com dor de barriga estou. É o dia do jogo, o ônibus do time já está parado nos
esperando para nos levar para Austen daqui 1h, e meu coração está batendo que nem pipoca
sendo estourada.
Socorro!
Encosto a testa no volante, tentando me acalmar. Não posso vacilar, tenho que fazer
diferente e o nervosismo não vai resolver porcaria nenhuma. Respiro fundo, afastando minha
testa do volante quando meu celular começa a tocar. Tiro-o do bolso e atendo assim que leio o
nome do meu pai.
— Oi, pai!
— Ela conseguiu! — ele grita, eufórico. — Lauren conseguiu, filhote!
Ajeito minhas costas, absorvendo essa notícia.
— Isso quer dizer que...
— Lauren está grávida.
— Grávida? — Repito, mal conseguindo acreditar no que estou ouvindo. Uma enxurrada
de emoções inunda meu peito.
— Sim, filhote! — A voz do meu pai é radiante do outro lado da linha. — Você vai ter um
irmão!
Um sorriso começa a se abrir em meus lábios, e logo estou batendo no volante,
comemorando.
— E o senhor vai ser pai!
— Pela segunda vez! Estou muito nervoso — ele solta uma risada.
— Tenho certeza que o senhor vai ser um ótimo pai.
— E você um maravilhoso irmão.
O sorriso em meu rosto se alarga ainda mais ao ouvir essas palavras. Ele sempre foi meu
modelo de paternidade, e saber que em breve ele terá a experiência de ser pai novamente enche
meu coração de alegria.
— Vou dar o meu melhor! — Minha voz transborda de emoção.
— Tenho certeza de que você será o melhor irmão que alguém poderia ter.
— Isso é tão incrível! — Estou prestes a ser um irmão mais velho, alguém em quem meu
pai e meu irmão podem confiar e se apoiar.
— A nossa família aumentou, filhote. — A voz do meu pai soa cheia de emoção.
Agora, mais do que nunca, sinto-me determinado a ser o melhor irmão para meu
irmãozinho. Essa nova responsabilidade me enche de uma energia renovada.
— Obrigado por me ligar, pai. — Digo, minha voz embargada pela emoção. — Estou tão
feliz por você e pela Lauren. E mal posso esperar para ver nosso novo membro da família.
— Nós também mal podemos esperar para tê-lo aqui conosco. — Meu pai responde. — Te
amo, filhote.
— Também te amo, pai.
— Estamos saindo da cidade agora, acredito que chegaremos a tempo de o jogo começar.
Balanço a cabeça, olhando para fora do carro, vendo alguns jogadores chegarem.
— Pai, hum... — coço a cabeça. — Eu e a Alana... estamos namorando.
— Namorando? — indaga, surpreso, então sussurra algo do outro lado da linha, bem
provável que esteja contando para Lauren. — Você e a Alana?
— É... tipo, aconteceu... — limpo a garganta. — Não é que aconteceu assim do nada, só
descobri que a amava agora, não, espera... quero dizer, eu sempre a amei, mas, hum, é
complicado explicar.
De repente, ouço risadas e ambos começam a comemorar do outro lado da linha.
— Já sabíamos, filhote, que vocês se amavam há muito tempo — conta, tão feliz que até
me assusto. — Só que você foi mais lerdo em perceber isso.
— Como assim?
— Alana sempre deu os sinais de que era louca por você — revela, soltando uma risada.
— Ela era tão na sua, que era até irritante, e o pior de tudo, era ver as trocas de olhares e não
poder falar nada, porque isso é algo que só vocês poderiam resolver.
Abro e fecho a boca.
— Ah...
— Não vou mentir, fiquei bem decepcionado quando me disse que estava saindo com
outra garota, porque eu via que você era louco por Alana também e não estava enxergando isso.
— Ele suspira do outro lado da linha. — Mas que bom que estão juntos agora.
— Eu sou maluco por aquela garota.
— Eu sei.
— Eu venderia meus órgãos por ela.
Meu pai gargalha.
— Aposto que ela faria o mesmo que você.
Sorrio, meu coração tão... tão... cheio, tipo quando você está tão feliz que mal consegue
respirar.
— Preciso ir, pai! — digo, voltando a ficar ansioso. — Tenho vários touchdowns para
marcar.
— Vai lá, filhote! — ele inspira fundo. — Daqui a pouco estamos aí.
— Tchau! — Desligo o telefone, sentindo-me renovado e pronto para viver meu sonho,
porque hoje é um dia importante, minha estreia, o primeiro jogo de muitos, e estou determinado
a vencer.
Entro no vestiário, imerso nas vozes e risadas animadas que preenchem o ambiente.
Cumprimento a todos com apertos de mãos e meio abraços, mas ao me deparar com Connor, Ben
e Tayler, sinto uma breve paralisia.
Observo o rosto dos três, tenso diante das expressões carregadas de raiva direcionadas a
mim.
— O-o que aconteceu? — pergunto, tentando parecer desentendido para suavizar a
situação.
Dou um passo à frente, examinando com cuidado os hematomas e detalhes das contusões e
arranhões. Connor exibe um olho roxo, Ben ostenta um corte no lábio, e em relação a Tayler...
será que ele quebrou o nariz?
— Tudo bem com vocês? — minha voz sai trêmula.
Lembranças do meu passado ressurgem, aquele medo intenso que senti quando os
valentões tentaram me bater. Agora, estou revivendo o mesmo temor daquele dia.
Connor, de maneira lenta e calculada, aponta para seu rosto. Os nós de seus dedos também
estão machucados... a briga foi realmente feia.
— Era para estar no seu rosto — rosna. — Eu te defendi e me ferrei!
Arrisco um sorriso nervoso.
— Foi... mal?
— Foi mal? — Tayler ri, sem humor. — Olhem o rosto do Clark!
— Pele de um bebê — Ben comenta, estalando a língua.
— Eu não tive culpa... — eles avançam, e eu saio correndo.
Desvio habilmente dos três brutamontes que querem me bater porque os deixei no meio de
uma briga que causei.
Caramba, vou morrer!
Adeus, pessoal! Adeus, mundo! Adeus, Rhavi Clark!
Por favor, avise a Alana que a amo, tá?
— Clark, volta aqui! — Tayler grita.
Os outros caras nos observam, rindo.
— Jarry, segura o Clark! — Ben ordena ao pular o banco.
— Qual é! — reclamo, empurrando Raymond em direção a Connor.
— O que está acontecendo? — Jarry pergunta, confuso. — Briga, é?
— Segura esse idiota aí! — Connor grita, pulando o banco e agarrando minha blusa, antes
de aplicar um estrangulamento em meu pescoço. — Te peguei!
Tento me libertar, mas o cara é forte pra caramba!
— O que vão fazer? — pergunto, e Connor me solta assim que Ben segura um dos meus
braços e Tayler o outro, imobilizando-me.
— Não queria chegar a isso, Clark — Connor diz, avançando como se fosse o líder de uma
gangue. Talvez seja mesmo. — Mas você não me deixou escolha. Olha para o meu lindo rosto,
passei o dia com um bife para ver se desinchava.
— Vocês que se intrometeram... — calo-me quando ele desfere um soco na boca do
estômago, retirando o ar de meus pulmões.
No entanto, o soco não foi tão potente assim.
— Nem doeu... — murmuro, tossindo.
— Sua vez, Ben — Connor substitui Ben.
— O quê? — Olho para o cara tatuado na minha frente. — Ah, para, cara! Vai me bater
tamb... — as palavras morrem quando sinto seu soco no meu estômago, também não tão forte,
mas doloroso. — Argh!
Ouço assobios e risadas dos caras.
— Vou ficar dias sem beijar, seu imbecil! — Ben rosna, assumindo a posição de Tayler,
que me encara com um sorriso sinistro.
Se os outros dois socos não doeram, esse com certeza vai doer.
— Vocês vão me matar mesmo? — pergunto, desesperado, ganhando tempo. — Daqui a
pouco temos jogo e... espera, espera! — grito quando Tayler se prepara para me socar.
Cara, ele vai desintegrar minhas tripas.
— Vamos conversar — peço.
— Sem conversa — Tayler move o braço e...
— Eu e Alana estamos namorando — confesso em alto e bom tom.
Todos congelam, como se o mundo realmente tivesse parado. Os olhares de todo o time
estão fixos em mim, surpresos.
— Como é que é? — Tayler indaga, franzindo a testa.
— Eu e Alana estamos namorando — repito.
Segundos depois, ouço um "ahhhh" em uníssono, e então Tayler me soca tão forte que caio
de joelhos, espalmando as mãos no chão e buscando ar.
— Não é novidade nenhuma — Tayler diz.
— O quê? — pergunto entre tosses.
Connor me ajuda a levantar, e eu seguro minha barriga, fazendo uma careta de dor.
— Já sabíamos que vocês tinham um rolo, porra, só um idiota que não saberia.
Então sou o idiota.
— Ah! — Ben segura meu ombro. — Os socos foram porque apanhamos. Da próxima vez
que arrumar briga e abandonar seus amigos, a gente te desmonta.
Engulo em seco.
— Tá bom.
— Parabéns pelo namoro — ele me dá um abraço, seguido de um tapa na cabeça. —
Cuzão!
Fecho os olhos e respiro fundo, ignorando o tapa na cabeça.
— Ei, seus idiotas, temos um jogo para vencer! — Connor sobe no banco. — Hoje é nossa
vitória, e vamos mostrar quem somos ao entrar naquele campo. Quem somos?
— OS COUGARS!
— QUEM SOMOS, CARALHO?
— OS COUGARS!
Cerca de meia hora depois, encontramo-nos a bordo do ônibus a caminho da Universidade
de Austen para o jogo das 15h. Meu olhar vagueia pelas paisagens que desfilam do lado de fora,
meu coração pulsa de ansiedade. No entanto, ao recobrar o foco, encaro Sean, sentado a três
fileiras de distância, imerso em seus fones de ouvido e um livro.
Quanto ao rosto dele? Bem, parece estar ainda pior do que o dos outros caras.
— Okay, Clark! — murmuro, fechando os olhos e inspirando fundo antes de me levantar.
— Você precisa resolver isso.
Caminho pelo corredor e toco no ombro de Tanner, que me encara surpreso, exibindo um
corte na sobrancelha.
— Preciso de alguns minutos — peço.
Ele estreita os olhos, meneia a cabeça e se levanta, cedendo seu lugar. Sento-me ao lado de
Sean, que nem sequer me olha.
— Podemos conversar? — pergunto, vendo-o fechar o livro e me encarar com raiva.
Engulo em seco, mordendo o interior da bochecha e estralando os dedos.
— Foi mal, hum, pelo soco.
— Mereci.
— E muito.
Sean afasta os fones e os coloca no pescoço, desviando o olhar.
— Soube da novidade — sua voz sai amargurada. — Meus parabéns.
Abro e fecho a boca. Um "obrigado" não seria a palavra certa a dizer agora.
— Cara...
— Tudo bem! — ele me corta, segurando com mais força o livro. — Competir com você
foi um erro.
— Nunca existiu competição.
— Na minha cabeça, sim — ele tensiona o maxilar. — Queria ser melhor do que você era
para ela, mas Alana... nunca se entregou por inteira. Por mais que eu tentasse, em certos
momentos, sua mente se afastava.
Fico calado e atônito, fitando minhas mãos.
— Não vou me desculpar por isso.
Sean bufa.
— Eu sempre soube.
— Do quê?
— Que um dia ficariam juntos — Sean conta, abaixando a cabeça. — Errei em persistir em
um relacionamento quando a outra pessoa gostava de outro. Sentia tanto ódio, porque por mais
que eu tentasse, eu não era você! Eu a amo, cara, de verdade... você não faz ideia da dor que é
amar alguém que tem dono.
Passo a língua pelos lábios, sentindo um desconforto com a palavra "dono", pois parece
mais sobre posse do que amor.
— Mas vou seguir em frente — ele continua e quando o encaro, vejo seu olhar
determinado. — Se ela está feliz, é o que importa.
— Vou fazê-la feliz.
— Ela sempre foi — retruca. — Alana nunca foi tão feliz comigo quanto é com você.
Porra, sentia tanta inveja de você, ao ponto de querer te matar.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Você ainda quer me matar?
— Quero.
Esboço um sorriso, mas então ele me encara e meu sorriso morre.
— O que ela é para você? — pergunta sério, sustentando meu olhar.
— Um pedaço de mim que eu não saberia viver sem — respondo, meneando a cabeça.
Sean volta a observar o lado de fora através da janela sem dizer mais nada.
— Tudo bem com a gente? — indago, hesitante.
— Não.
— Mas vai ficar?
— Não.
Sean volta a abrir seu livro e retoma a leitura, encerrando o assunto.
— Bom jogo, cara! — ele murmura assim que levanto para retornar para o meu lugar.
— Obrigado.

Meu coração pulsa descompassado dentro do peito quando piso no gramado do estádio,
meus pés encontram a grama verde e macia. É a minha estreia como titular, e a magnitude do
momento me envolve como uma onda poderosa.
Olho para a multidão, rostos em êxtase voltados para mim das arquibancadas. O telão
gigante exibe imagens da minha jornada até aqui, destacando não apenas minhas conquistas
individuais, mas também os momentos especiais do meu pai, Sullivan Clark, o lendário ex-
quarterback, treinador do Dallas Cowboys e que está aqui para ver o seu filho jogar.
Uma onda de gratidão e determinação inunda meu ser ao ouvir a voz do narrador ecoando
pelos alto-falantes anunciar o meu nome.
Respiro fundo, tentando controlar as emoções que ameaçam transbordar. Então, com um
novo impulso, começo a correr em direção à lateral do campo ao avistar Alana, seus pompons
tremulando no ar. Seu rosto está iluminado por um sorriso radiante, seus olhos brilhando com
orgulho e apoio.
Nossos olhares se encontram e um calor reconfortante se espalha pelo meu peito. Estendo a
mão, e nossos dedos se unem em um toque rápido, um gesto que transcende mil palavras.
— Alana não é nada sem Rhavi Clark.
— Sem Alana, Rhavi Clark não é nada.
— Arrasa, Pet.
— Vou dar o meu melhor — respondo, sentindo uma onda de determinação se misturar
com a gratidão pela sua presença ao meu lado.
Com um último sorriso, ela se afasta e eu me volto para o campo. A emoção espalha dentro
de mim, e sei que estou pronto para isso. Com o apoio da minha família, dos meus amigos e de
toda a torcida, estou preparado para enfrentar qualquer desafio que se apresente.
É a minha hora de brilhar.
Após o breve encontro com Alana, ajoelho-me no centro do campo. Fecho os olhos,
bloqueando todo o ruído ao meu redor, concentrando-me apenas na minha respiração. Uma
oração silenciosa escapa dos meus lábios, peço força, coragem e sabedoria para enfrentar o
desafio que está por vir. Peço pela segurança dos meus companheiros de equipe e pelo sucesso
do nosso esforço conjunto.
Ao abrir os olhos, sinto uma nova onda de determinação pulsando em minhas veias. Ergo-
me e sigo em direção ao huddle, onde meus companheiros de equipe já estão reunidos, seus
rostos sérios, mas confiantes. Cada um de nós sabe o que está em jogo.
— Está pronto? — Connor pergunta, ajustando seu capacete.
— Estou pronto.
Junto-me a eles no huddle, cercado pela energia palpável dos meus colegas. Olho para cada
um deles, vendo a perseverança em seus olhos. E então, com a jogada sendo decidida pelo
Connor, nós nos conectamos em um nível mais profundo, compartilhando um entendimento
mútuo e uma confiança inabalável.
O apito ecoa pelo estádio, cortando o ar com sua agudez. Instantaneamente, a tensão no ar
atinge seu ponto máximo. É hora de mostrar ao mundo do que somos capazes. Nós nos
separamos do huddle, prontos para enfrentar os nossos adversários.
Posiciono-me, meus músculos tensos, os sentidos em alerta. Meu coração bate forte no
peito, uma mistura de antecipação e emoção. Quando Connor chama a jogada, tudo se
transforma em um borrão de movimento, o som de gritos e o impacto de corpos colidindo
preenchem o ar.
É hora de jogar.
Após vários minutos, o jogo ficas em pleno vigor, cada momento uma batalha intensa entre
as duas equipes. A pressão é palpável, mas mantenho-me focado e determinado em vencer.
Uma jogada perfeita se desenrola diante dos meus olhos, e eu me vejo correndo em direção
à end zone, o caminho claro à minha frente. O coração bate com força no peito, eu avanço,
cruzando a linha final com a bola segura em minhas mãos.
É um touchdown. Meu primeiro touchdown como titular.
Mas não é apenas mais um touchdown. Enquanto ergo a bola em comemoração, os olhos
marejados de lágrimas, o dedico à minha mãe. Cada jarda que eu corri, cada passo que eu dei, foi
em sua memória. E agora, nesse instante de triunfo, sinto sua presença ao meu lado, como se ela
estivesse sorrindo para mim lá de cima.
Ajoelho-me no gramado, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e sussurro palavras de
amor e saudade para ela. Mesmo na vitória, sua ausência é uma dor que nunca desaparecerá por
completo.
Mas o jogo continua, e tenho mais pessoas para homenagear. Pouco tempo depois, outra
oportunidade surge, e eu cruzo a end zone novamente, a bola erguida no ar em uma
comemoração fervorosa. Desta vez, dedico o touchdown à minha namorada e melhor amiga,
Alana, cujo apoio inabalável sempre foi a minha fonte de força.
Simulo duas orelhinhas com as mãos, um gesto que só nós dois entendemos, pois somos
como pets um do outro, inseparáveis e leais até o fim.
O tempo passa, e mais uma vez me vejo correndo em direção à glória, o terceiro
touchdown já à vista. Agora é para meu pai, que sempre acreditou em mim e me guiou ao longo
do caminho. Com o último passe completo, cruzo a end zone, erguendo a bola em homenagem a
ele, meu herói e mentor, e ao meu irmãozinho, a quem amarei como parte de mim.
O jogo se aproxima do fim, estamos exaustos, e quando o apito final ecoa pelo estádio, nós
somos os vencedores. Uma onda de emoção me inunda quando me junto aos meus companheiros
de equipe no centro do campo, o suor misturado com lágrimas de alegria em meu rosto.
Essa vitória não é apenas minha; é nossa. Na verdade, essa vitória é para você do outro
lado, que está lendo minha história toda confusa.
Obrigado... de verdade, porque ter chegado até aqui comigo.
Após a emocionante vitória, o campo ficou repleto de pessoas, uma mistura de jogadores,
torcedores e equipe de apoio. Corro através dessa multidão, meu coração ainda pulsando com a
emoção do jogo. Meus olhos procuram por ela, por Alana.
Por fim, a vejo, parada do outro lado do campo, em seu rosto, um sorriso lindo, irradiando
meu caminho. Eu corro em sua direção, sentindo uma urgência em tê-la, e quando me vê, abre os
braços para mim. A cada passo em sua direção, meu coração acelera, e com apenas uma mão, a
ergo do chão. Ela me enlaça, abraçando e beijando meu rosto.
— Eu venci, Pet! Eu venci! — digo, o rosto mergulhado em seu pescoço, inalando o seu
perfume.
— Estou tão orgulhosa de você — sua voz está carregada de emoção.
Solto o capacete que segurava com a outra mão e mergulho os dedos nos cabelos de sua
nuca. Nossos olhos se encontram e, num instante, nossos lábios se unem em um beijo
apaixonado.
— Eu te amo, Pet.
Ela abre um sorriso que transcende as palavras.
— Que tanto?
— Até as batidas do meu coração se tornarem apenas uma linha.
Volto a beijá-la. E nos braços um do outro, sob os holofotes do estádio, nos perdemos na
mais pura alegria.
E aqui estou eu, o cara Nerd, que pensava estar apaixonado por sua vizinha, mas que
percebeu que era apenas uma idealização que criou em sua mente, talvez para esconder quem
verdadeiramente amava por medo.
O cara que era um reserva inseguro, mas que foi ganhando espaço e conquistando não
apenas o seu lugar na equipe, mas também o seu coração.
Sei que pode ser difícil para você ouvir o que tenho para dizer agora, mas preciso me
despedir. No entanto, pense por um lado positivo: estou partindo como um titular, apaixonado
por minha melhor amiga, e não mais virgem.
Obrigado por ter feito parte da minha história, e espero que este meu clichê invertido tenha
aquecido o seu coração, e que eu seja sempre lembrado como Rhavi Clark, e não por bolas
amassadas.
Ah, e para não te deixar ir embora assim, sem nada nas mãos, o que acha de dar uma
espiadinha no meu futuro?
Sim?
Então te encontro daqui a três anos.
Tchau!
— Não estou acreditando — Alana diz, ainda incrédula.
— Nem eu.
— Dallas Cowboys?
— Sullivan Clark meu técnico?
Nos encaramos e as palavras saem juntas.
— Estou em apuros.
— Você está em apuros.
Gargalhamos, uma felicidade sem tamanho nos sufocando. Chupo meu sorvete,
manobrando a caminhonete com uma mão e adentro na rua de um condomínio arborizado.
— Certo — ela cruza as pernas sobre o banco, dando uma mordida na casquinha do seu
sorvete. — Qual vou escolher... hum... aquela...
— Hoje será eu que vou escolher — digo, virando em outra rua e avistando a casa. Grande,
de dois andares, um jardim na frente.
— Da última vez foi você que escolheu.
— Foi, é?
Sinto os olhos de Alana sobre mim, depois um estalar de língua.
— Já que escolheu a casa, você começa.
Estaciono a caminhonete, respiro fundo, trocando o sorvete de mão, e começo.
— Deixe-me pensar... — faço uma pausa. — Eu imagino uma família, não, na verdade, eu
imagino um casal de jovens acabando de chegar.
— Recém-casados?
Lambo o sorvete que escorre pelo meu braço sem desgrudar meus olhos da casa.
— Não, ainda estão namorando.
— Qual a história deles?
Sorrio de lado.
— Eles eram desde pequenos inseparáveis, compartilhando risadas, aventuras e até mesmo
algumas travessuras. Ele, um garoto tímido e sensível, sempre admirou a coragem e a
determinação dela, que era destemida e corajosa.
— Hum... você era tímido também e um bebê chorão — fala, mordendo a casquinha e
fazendo barulho no interior do carro.
— Posso continuar?
— Claro.
Solto uma risada, evitando olhar para ela por causa do nervosismo.
— Quando crianças, ele era sempre perseguido por alguns garotos maus do colégio. Mas
sempre que isso acontecia, lá estava ela para protegê-lo, com seu jeito firme e decidido, ela
enfrentava qualquer um para mantê-lo seguro.
— Conheço um carinha igual a ele — Alana diz, descontraída, não percebendo nada de
diferente.
Apenas sorrio e continuo.
— À medida que cresciam, os laços entre eles se fortaleciam ainda mais. Eles
compartilhavam segredos, sonhos e esperanças para o futuro. Quando finalmente chegou o
momento de irem para a universidade, ambos estavam animados para viver as experiências que a
vida universitária traria.
— Ih, só falta ele ter feito merda.
— Nem sempre é o cara.
— Mas sempre um cara — ela rebate, me lançando um olhar.
Reviro os olhos e volto a fitar a casa.
— Na universidade, eles experimentaram novas aventuras, conheceram pessoas diferentes
e exploraram novos horizontes. Mas, mesmo com tantas mudanças ao seu redor, uma coisa
permaneceu constante: o amor que sentiam um pelo outro.
— Uhu, sempre foram apaixonados — cantarola. — Gosto disso!
Chupo meu sorvete por um tempinho antes de prosseguir, observando Alana fazer o
mesmo e lutar para que o derretido não caia no banco do carro.
— Em resumo, depois de um acordo que fizeram, eles perceberam que o que tinham era
mais do que uma amizade, era um amor puro e verdadeiro, que os unia de uma maneira única e
especial.
— Que lindo!
Balanço a cabeça, finalizando meu sorvete.
— Eles vivem o amor verdadeiro e ele decidiu dar esse passo importante para suas vidas.
— Então ele comprou a casa para formarem sua família — Alana completa, em um tom
sonhador.
— Na verdade — pigarreio, e tiro de dentro do bolso da minha calça um molho de chaves
— eu comprei a casa para formarmos a nossa família.
— Uh? — Alana me encara, estática, o sorvete encostado nos seus lábios.
— Essa história é nossa. Essa casa é nossa.
Ela não se move, parece que sua mente está tendo uma pane, seu sorvete começa a
escorrer por seu braço, e quando abro a mão, revelando as chaves, ela o solta.
— Mentira — sua voz sai sussurrada.
— Por que seria uma mentira?
Alana olha para as chaves, depois para o meu rosto.
— Vai lá — digo, destravando as portas da caminhonete. — É a sua casa e acho que você
vai gostar do que tem lá dentro.
Leva apenas um segundo para ela pegar as chaves da minha mão e descer do carro cheia de
curiosidade. Seu rosto reflete uma mistura de incredulidade e emoção enquanto observa a sua
nova casa. Eu a sigo de perto, ansioso para ver sua reação à surpresa que preparei com tanto
cuidado.
Quando ela sobe os degraus da varanda, surge um nó na minha garganta. Ao abrir a porta e
entrar, seus olhos se arregalam com a cena diante dela. A casa está iluminada por velas, o chão
forrado de rosas vermelhas, formando um caminho até o centro da sala. Lá, em meio ao mar de
pétalas, um coração desenhado contém um cachorro e um gato, os filhotinhos que imaginamos
ter juntos. Em seus pescoços, duas alianças reluzentes.
E é nesse momento que eu tomo uma respiração profunda, a emoção transbordando em
meu peito. Ajoelho-me diante dela, pegando-a de surpresa.
— Alana Moore — minha voz sai trêmula —, desde o momento em que nos conhecemos,
eu sabia que você era a única para mim... bem, eu não sabia no primeiro momento porque sou
meio lerdo, só descobri depois, mas enfim... — solto uma risada, porra, estou nervoso. — O que
eu quero dizer é que você me completa de uma maneira que eu nunca soube que precisava. Você
é minha melhor amiga, minha companheira, meu amor.
Tiro de dentro do bolso da jaqueta uma caixinha com o anel de noivado, abro e revelo a
deslumbrante jóia dentro.
Ela leva as mãos à boca, os segundos parecem se estender enquanto espero por sua
resposta, meu coração bate tão alto que mal consigo ouvir minha própria voz.
— Alana Moore, você aceita se casar com seu pet e construir uma família juntos, aqui
nesta casa?
Ela olha para mim, seus olhos brilhando com lágrimas de felicidade, e um sorriso radiante
se forma em seus lábios quando ela abaixa as mãos.
— Sim, sim, mil vezes sim! — Alana responde, a voz embargada pela emoção. Ela se
ajoelha à minha frente, seus braços me envolvendo em um abraço apertado. — Eu te amo tanto,
Pet!
As palavras dela inundam meu coração de alegria, ao lado dela, sinto-me pleno e realizado
por ter a mulher dos meus sonhos aceitando ser minha esposa. E entre velas e pétalas de rosas,
consolidamos nosso compromisso com um beijo caloroso, repleto de promessas.
— Vamos ter cinco filhos? — sussurro entre seus lábios.
— Jesus, não!
— Quatro?
— Três — ela diz. — Vamos ter três e um já está aqui — Alana se afasta e coloca a mão
sobre a barriga. — Estou grávida, Rhavi.
— Grávida? — Repito, mal conseguindo acreditar no que estou ouvindo.
Olho para ela, depois para sua barriga, depois para ela de novo, estático... espera... eu...
eu... vou ser... pai? A ficha começa a cair, inundando-me como uma enxurrada de emoções em
meu peito.
— Sim! — A voz dela soa radiante. — Você vai ser pai!
As palavras ecoam em minha mente. Ser pai... algo que sempre imaginei, mas que agora se
torna uma realidade palpável, tangível.
Um turbilhão de pensamentos invade minha mente, desde preocupações sobre como serei
como pai até o incrível sentimento de amor e responsabilidade que já começa a florescer em meu
peito.
— Parabéns! — Ela continua, sua voz embargada. — Tenho certeza de que você será um
ótimo pai.
Meus lábios se curvam em um sorriso, um misto de alegria, nervosismo e gratidão. A
notícia parece ter me dado uma nova vida e sem pestanejar, voo nela, a agarrando pela cintura, a
erguendo do chão e a rodando, feliz pra caramba!
Alana solta um gritinho, enlaça os braços em torno do meu pescoço e começa a beijar meu
rosto.
— Você vai ser mãe!
— E você vai ser pai!
Coloco-a de volta no chão, seguro seu rosto e deposito um beijo na sua testa.
— Prometo ser um ótimo pai — desço para sua boca, nossos lábios colando em um beijo
demorado. — Um ótimo marido — ajoelho no chão, seguro sua cintura e beijo sua barriga —
prometo amá-los mais que a minha própria vida.
Uma onda de ternura aquece meu coração ao pensar que daqui vários meses estarei com
ele nos meus braços. Um pequeno ser humano, que vou amar incondicionalmente.
E aqui, nessa casa que agora é nosso lar, começamos a planejar os próximos capítulos de
nossa história juntos, sabendo que, com amor e dedicação, podemos enfrentar qualquer desafio
que a vida nos trouxer.
Mas agora, vamos retroceder três anos, porque tem outro personagem ansioso para soltar o
verbo e contar sua história muito divertida! Prepare-se para mais um clichê invertido que você
jamais viu, cheio de surpresas e muitas risadas!
Connor Hastins

De repente, sinto um empurrão e copos cheios de cerveja caem em mim, me encharcando.


— PORRA! — grunho, paralisado com os braços afastados encarando o estrago na minha
camiseta.
Caralho, ela foi uma fortuna!
— Sinto muito! — o garçom se desespera.
Respiro fundo.
— Tudo bem, cara! — digo, segurando seu ombro com um aperto amigável. — Também
fui o culpado.
— Eu posso...
Saio de perto, indo na direção do balcão e pego vários guardanapos na tentativa de
amenizar o estrago.
Estou puto, não pelo garçom, mas pelo meu desespero em fugir de uma garota que insistiu
em me perseguir.
Fala sério, o combinado era transarmos por diversão, mas agora ela não quer largar o osso,
parece aqueles cães babões... argh!
Esfrego a camisa sem parar. Estou parecendo aquelas pessoas com TOC, achando que
estou infestado de germes... se bem que... se contar as garotas que só querem transar comigo
porque sou o quarterback e filho de um magnata da arquitetura, sim, elas se encaixam em
germes.
Socorro, preciso me livrar desses germes com bocetas.
De relance, vejo Emily caminhando em minha direção. Sua pele negra reluz, e um sorriso
safado molda seus lábios que já conheço bem e eram ótimos chupando meu pau.
Sinto uma vontade quase dramática de morrer só de imaginar ela tentando se aproximar de
novo. Cansado de repetir que nós dois não rola mais, começo a buscar uma solução para esse
problema que parece não ter fim.
Sério, se eu cuspir aqui, consigo morrer afogado?
Cara, que vontade de enfiar o dedo no cu e rasgar, porque não faço ideia de quando essa
garota se tornou insuportável. Volto minha atenção para minha camisa, tentando pensar em algo.
Não sou tão burro assim, tem que haver uma solução.
Pensa, Connor! Pensa!
Olho casualmente para o lado, observando o bar, e é quando meu olhar é capturado por
uma presença discreta e, ao mesmo tempo, extraordinária. Uma garota, vestida com uma simples
calça jeans e um suéter rosa claro, se destaca pela sua beleza singular.
Seus cabelos longos estão trançados com cuidado, destacando-se contra sua pele morena
clara. Ela usa óculos, adicionando um toque nerd à sua aparência inofensiva.
Em meio a uma multidão de garotas extravagantes, sua presença parece passar
despercebida, mas algo nela chama minha atenção, e quando nossos olhares se encontram, algo
estranho agita dentro de mim.
Seus olhos, escondidos por trás dos óculos, emanam uma inteligência que eu não tenho. Há
algo intrigante na forma como ela me observa, como se eu fizesse parte do seu mundo.
Em um ambiente onde tantas buscam chamar a atenção, essa garota nerd aparece para
salvar minha vida. Provavelmente é daquelas que tem como único objetivo tirar boas notas na
faculdade, manter a bolsa de estudos e se afastar de jogadores de futebol, sem querer ter seu
coração partido.
Ela é perfeita para mim, na medida certa, no tamanho certo.
— Você pode me ajudar? — pergunto.
Ela pisca, estreita os olhos e inclina a cabeça.
— Claro — sua voz suave, flui sobre a música, e tenho a impressão de que ela é aquelas
garotas meigas, tipo, Rhavi Clark!
— Você pode fingir ser minha namorada?
Vejo uma faísca de surpresa dançar em seus olhos castanhos, seus lábios brilham por causa
do gloss e meu coração dispara.
É uma idiotice, eu sei, mas isso vai manter essas caçadoras de pau longe de mim.
— Agora?
— Por seis meses.
Ela parece ponderar antes de falar.
— Por quais motivos?
— Afastar todas as garotas de mim.
— E me escolheu para isso?
— Você é perfeita.
— Por quê?
— Porque é uma nerd que não vai se apaixonar por mim — digo, pigarreando.
Ela me encara com mais atenção, e sinto como aqueles frangos na máquina sendo
observados por um gatinho branco e fofo.
— Posso te ajudar com isso.
Fácil assim? Tipo, nada de "você é um idiota e se acha que vou aceitar ser sua namorada de
mentirinha, está muito enganado".
— Tem certeza? — indago, entrando em desespero quando Emily se aproxima.
— Sou Liza Hackett — ela estende a mão. — Sua mais nova namorada.
Meu coração acelera, porra, acelera de verdade.
— Sou Connor Hastins — envolvo sua mão pequenina com a minha. — Seu mais novo
namorado.
Liza abre um sorriso que nem o Gato de Cheshire e um calafrio percorre minha espinha.
Ela dá um passo à frente sem soltar minha mão, e fica nas pontas dos pés. Sua boca centímetros
da minha, nossa respiração se misturando, seu perfume adocicado invadindo minhas narinas.
— Vai ser muito divertido, Hastins — ela me beija, pegando-me de surpresa.
Fico congelado, vendo de canto de olho, Emily congelar no lugar com uma expressão
chocada, mas quando Liza se afasta, tenho a certeza de que cometi um dos piores erros da minha
vida ou o melhor. Só sei que esse foi o pontapé inicial para começar a ser seduzido pela nerd.
Ei, esse agradecimento deveria estar sendo escrito pela autora deste livro, mas como a
história é minha, do Rhavi Clark, decidi eu mesmo agradecer.
Meu primeiro agradecimento vai para essa autora incrível que me deu vida. Em um dia, no
terminal de ônibus após várias horas na faculdade, tudo o que ela queria era voltar para casa, mas
então sussurrei em seu ouvido, porque não aguentava mais ser virgem... não, na verdade, não
aguentava mais ouvir Leanne fodendo outros caras. Enfim, ela me deu ouvidos, abriu as portas
para mim e começou a escrever minha jornada.
Porém, infelizmente, problemas pessoais fizeram com que ela decidisse dar uma pausa em
mim. O pior dia da minha vida foi quando ela decretou que não iria mais escrever. Tipo, não
escreveria não só a minha história, mas também a de muitos outros personagens que estavam à
sua espera. Foi um grande baque para todos.
Acredita que ouvi até mesmo personagens bolando planos para sequestrá-la, mas isso só no
mundo dos seus personagens. Foi um ano incansável de espera por ela. Então, em agosto de
2023, ela retornou, não comigo, mas com uns garotos aí que se envolvem com corrida
clandestina. Como sou especial, ela os deixou de lado por um tempo e voltou para mim.
Meu outro agradecimento vai para a sua beta, Carol... minha maravilhosa Carol. Essa aí é
exigente, fez a autora reescrever várias vezes alguns capítulos que ficaram desconexos, mas que
foi responsável por vários surtos épicos e por sempre estar pronta a aconselhar e levantar o ato
astral da autora. Elas duas são uma dupla impecável.
E não posso deixar de agradecer a Deus por tê-la feito enxergar que o seu lugar é
escrevendo sobre nós, porque a fila de personagens não para de crescer. Também quero
agradecer a todos os leitores do Wattpad que conversaram comigo durante os anos que passei por
lá, e a você por ter finalizado a minha história. Espero que tenha me amado.
Bom, agora eu realmente me despeço de todos, e se você quiser me encontrar, estarei
presente na sua releitura ou nas outras histórias das séries. Te vejo no livro do Connor.
Um beijo do seu Pet,
Rhavi Clark!
[1]
Um playbook significa um livro de jogadas, uma descrição da estratégia em tarefas, passos para a realização de um
objetivo e analise de jogadas de outras equipes.
[2]
Capa para guardar o violão.

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