Metodologias de Ensino para A Constituição Da Maquete Como Instrumento de Compreensão Do Espaço Urbano.

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METODOLOGIAS DE ENSINO PARA A CONSTITUIÇÃO DA MAQUETE

COMO INSTRUMENTO DE COMPREENSÃO DO ESPAÇO URBANO.

Raquel Moraes Vitor


Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
[email protected]

RESUMO
Este artigo apresenta a evolução e os resultados de uma atividade proposta aos alunos do curso
de Arquitetura e Urbanismo, dentro da disciplina Elementos de Composição Tridimensional (ECT)
nos semestres 2014.2 e 2015.2. A disciplina de Elementos de Composição Tridimensional introduz
aos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo a importância da composição de modelos
tridimensionais para compreensão de formas e espaços concebidos na elaboração de projetos
arquitetônicos e Urbanísticos.
A proposta é fazer um comparativo entre diferentes metodologias de ensino voltadas para o
mesmo exercício e mostrar como os alunos responderam às diferentes formatações elaboradas. A
evolução das metodologias demonstra como o papel do docente é fundamental para a
aprendizagem significativa e desenvolvimento de competências.
Palavras-chave: Metodologia.Evolução.Aprendizagem.Competências.

INTRODUÇÃO

Os objetivos da disciplina de ECT incluem o conhecimento de materiais e técnicas, porém


é necessário esclarecer que construir maquetes não é a competência principal a ser
desenvolvida. A maquete é um instrumento de aprendizagem sobre as soluções plásticas
e formais inseridas nos projetos. A metodologia adotada está intrinsecamente relacionada
a essa compreensão, pois o processo de construção das maquetes deve promover
planejamento e pesquisa.
ECT está situada no segundo semestre do curso, seu pré-requisito é a disciplina de
Desenho à Mão Livre na qual o aluno aprende a desenhar respeitando escalas e
proporções. A sua ementa soma às habilidades de desenho a capacidade de materializar
os espaços representados em duas dimensões.
Todos os exercícios demandam a construção de maquetes utilizando materiais diversos
disponíveis no laboratório ou adquiridos pelos alunos.
O presente artigo tem como objetivos principais:
 Apresentar como os exercícios adotados favoreceram a aplicação de metodologias
ativas para incentivar o desenvolvimento do aluno no sentido de agregar mais
conhecimento através de pesquisa e execução dos projetos.
 Comparar propostas diferentes e mostrar como aconteceu sua evolução diante dos
resultados obtidos.
 Apontar métodos que promoveram a discussão e participação mais ativa; aulas
dinâmicas que incentivaram a comunicação entre os colegas para resolver
problemas propostos e ajudaram no desprendimento de alunos mais tímidos que
interagiam pouco.
Estudos desenvolvidos apontam a existência de diversos perfis de alunos de acordo com
suas características emocionais, ou seja, o desafio das práticas aplicadas em ECT é
desenvolver novas competências e promover o autoconhecimento. Existem alunos que se
destacam na pesquisa e outros no processo de criação e representação.
A passividade não requer ação, sem interação não há aprendizagem. Essa mentalidade é
bastante ultrapassada, precisamos gerar movimento para que os alunos descubram a
informação; isso se dá através de debates, pesquisas, apresentações, análises críticas;
ou seja, ações que provocam, despertam e inquietam. Considero fundamental propor
metodologias ativas nas quais o aluno também é responsável por sua aprendizagem;
existem atividades que promovem a pesquisa e incentivam a participação do aluno.
O modo de ensinar interfere na aprendizagem de um modo bem objetivo: quando o
professor não deixa claro o objetivo de sua aula, o aluno fica disperso e não se envolve.
Nosso grande desafio é conseguir alcançar a todos, buscando metodologias democráticas
pois alguns gostam mais de falar, outros de fazer prova e alguns trabalham melhor em
equipe. Acredito que versatilidade, paciência, liderança, além de bastante conhecimento,
são fundamentais para desempenharmos um excelente trabalho.
Abordando essa temática de forma prática, escolhi demonstrar dois exercícios distintos
aplicados na disciplina de ECT com duas turmas diferentes em semestres diferentes.
Pretendo demonstrar a evolução da proposta de acordo com a resposta dos alunos ao
exercício aplicado.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

A disciplina de Elementos de Composição Tridimensional engloba três unidades onde os


principais objetivos são desenvolver o senso crítico sobre as composições arquitetônicas
através de atividades práticas ligadas ao projeto; entender os princípios de composição
plástica dentro da realidade das ações de projeto e realizar pequenos projetos utilizando
os recursos do desenho de croqui, das projeções ortográficas e a confecção de maquetes
físicas.
Os exercícios descritos estão situados na unidade dois que determina a modelagem de
objetos arquitetônicos e de ambientes urbanos, na qual o aluno deve fazer a leitura e
interpretação do espaço arquitetônico e urbanístico.
O exercício 01 denominado “Composição de Praça” foi aplicado na Turma A (noite) do
semestre 2014.2 e consistiu no desenvolvimento da maquete de uma praça por duas
equipes, uma com quatro e outra com cinco alunos pois a turma possuía nove alunos no
total. A área da praça existe na cidade de Fortaleza e o projeto foi desenvolvido pela
prefeitura, a composição da maquete seria um concurso fictício para eleger a melhor
maquete. O projeto impresso da praça foi entregue aos alunos em uma determinada
escala para consultarem as dimensões de todos os equipamentos citados. O
conhecimento das alturas de alguns elementos exigiu a pesquisa em livros ou internet.
O espaço continha um campo de futebol, quadra poliesportiva, playground, bancos, pista
de skate canteiros e arborização. Os tipos de revestimentos, materiais e vegetação
deveriam ser definidos pelas equipes. O processo criativo se limitou à escolha de
materiais e acabamentos.
A maior nota foi baseada em critérios como organização, limpeza, beleza e precisão nas
alturas e dimensões dos elementos existentes. Uma das principais condições foi a
execução da atividade em sala de aula.

Figura 1- Planta baixa da Praça proposta

O exercício 02 denominado “Objetos que dão ideia de escala” foi aplicado na Turma B
(manhã) do semestre 2015.1 e consistiu na aplicação do conhecimento sobre a paisagem
urbana, sua representação e composição em diferentes escalas.
A proposta foi desenvolver nas escalas de 1/250, 1/100, 1/50 e 1/25 os seguintes
elementos: meio de transporte terrestre (carro, ônibus, bicicleta e motocicleta), pessoas,
vegetação (árvore de médio ou grande porte no mínimo) e mobiliário urbano (poste,
banco, parada de ônibus, etc.). Existe uma justificativa pela escolha desses itens,
primeiramente por comporem a paisagem urbana e também por envolverem um contexto
que exige bastante pesquisa por parte dos alunos.
A inserção do meio de transporte fez com que as equipes pesquisassem larguras de vias,
ciclovias e sinalizações horizontais (faixas de pedestres) medindo no próprio campus da
Unifor, consultando na internet ou conferindo nas leis que determinam esse
dimensionamento.

Figura 2- Dimensionamento das Vias

A representação da escala humana, com a construção da figura humana, teve o papel de


mostrar a nossa relação com todos esses elementos, principalmente o mobiliário urbano
que deveria ser dimensionado para atender às necessidades de abrigo e conforto.
A presença da vegetação é fundamental para o crescimento sustentável das cidades, por
isso o exercício incentivou a reflexão sobre as tipologias a serem aplicadas e suas
compatibilidades com o espaço adotado, por exemplo: qual o espaço ideal para um
coqueiro ou uma árvore de grande porte? Quais são suas dimensões?

Figura 3- Representação da vegetação e escala humana


O tipo de mobiliário urbano adotado também requer um estudo sobre dimensionamento e
distribuição na paisagem urbana, os alunos também executaram a medição de bancos,
placas e lixeiras situados no Campus da Universidade.
Dentro do processo de execução das maquetes meu papel foi promover efetivamente a
aprendizagem dos alunos, orientei todo o processo e me preocupei com a eficácia dos
métodos propostos. Acredito que não basta dar conteúdo, fazer prova e dar uma nota;
deve existir um acompanhamento do progresso dos alunos. Percebi que o papel do
professor não pode ser o mesmo de 30 anos atrás, novas metodologias devem ser
aplicadas para que os alunos sejam profissionais aptos a enfrentarem o mercado de
trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho de Composição da praça revelou o esforço dos alunos para terminar a


construção da maquete, uma das equipes foi mais caprichosa na representação dos itens
propostos, porém ambas não desenvolveram com criatividade porque a proposta foi
carente nesse aspecto.
As duas equipes tiveram integrantes que participaram menos que outros, seja por
desorganização ou falta de interesse. O resultado final foi satisfatório, mas não alcancei
meus objetivos com relação à aprendizagem significativa e crescimento dos alunos.

Figura 4- Composição de Praça, Turma A (equipe 01)


Figura 5- Composição de Praça, Turma A (equipe 02)

O exercício objetos que dão ideia de escala veio para obter melhores resultados em
relação ao da composição da praça. A proposta mais complexa foi executada por equipes
de 3 ou 4 integrantes, não foi permitido mais integrantes para que todos da equipe se
envolvessem.
O comprometimento das equipes foi consideravelmente maior, a primeira iniciativa dos
alunos foi criar um contexto para agregar todos os elementos propostos, ou seja, a
necessidade de criar um projeto instigou a criatividade de todos e os resultados ficaram
excelentes.
Além do processo criativo pertinente à execução da atividade, dados técnicos também
precisaram ser pesquisados como a dimensão de veículos, vias, calçadas e vegetação. O
trabalho foi dividido entre os integrantes e naturalmente alguns revelaram mais
habilidades para pesquisar e outros para criar. A execução foi desenvolvida por todos e as
ideias originais apresentaram novos materiais para a disciplina.

Figura 6- Objetos que dão ideia de escala TURMA B (equipe 01)


Figura 7- Objetos que dão ideia de escala TURMA B (equipe 02)

Para coibir as faltas por motivos banais deixei claro que a participação do aluno também
seria avaliada, ou seja, houve uma nota para a equipe e outra individual. Considero
inadequado alunos que participam pouco ficarem com notas boas através do esforço dos
outros. As condições explicadas desde o início da atividade e o controle das presenças
através da planilha abaixo foram fundamentais para a assiduidade da turma.

Figura 8-Planilha de controle da participação individual


A aprendizagem significativa está relacionada com a nossa postura em sala de aula com
relação ao modo como vamos passar um conteúdo; reconhecer as dificuldades e buscar
inovação é muito importante para alcançá-la. Tudo pode ser questionado e modificado,
mas para isso devemos explorar nossas próprias capacidades e conhecer nossas crenças
com o objetivo de transpor barreiras criadas por nós mesmos.
Por isso os jovens chegam a universidade e encaram algumas disciplinas com resistência
e desdém; o nosso papel como orientadores é combater essa visão oferecendo a
oportunidade aos alunos de visualizarem a aplicabilidade do conteúdo, seja na vida
profissional ou dentro da universidade; muitas disciplinas são base para outras que serão
muito importantes fora da universidade. Devemos esclarecer essa necessidade ao longo
das atividades desenvolvidas. Os alunos que realizaram o segundo exercício
consideraram a atividade muito importante para aprenderem a se organizar em equipes.
Particularmente, fui uma aluna que não fazia somente o que gostava, eu procurava abrir a
mente para novos conhecimentos; alguns agradavam e outros não. Não é diferente com
os meus alunos, na disciplina de Elementos de Composição Tridimensional eles ficam
bastante envolvidos na construção das maquetes, mas não gostam de representar os
projetos em duas dimensões, por isso falo sempre que o arquiteto não constrói a casa
sem um projeto e que eles precisam assimilar esse processo que é essencial para sua
formação.
A aprendizagem do aluno é nossa responsabilidade também, por isso é importante
esclarecer o porquê daquele conteúdo e o que se espera do aluno depois que ele
aprendeu a matéria. Esse é só um exemplo entre vários a respeito de como a nossa
postura influencia a aprendizagem, seja com novos métodos ou clareza na comunicação.
O nosso foco no preparo dos conteúdos deve ser promover o comprometimento do aluno
com a sua aprendizagem, mostrando que ele será avaliado; e que todos os conteúdos
são importantes para seu futuro profissional; porque se o aluno não perceber a
necessidade desse compromisso ele dedica sua atenção às redes sociais, WhatsApp, etc.

CONCLUSÃO

Estar satisfeito significa parar de aprender, de evoluir e crescer seja no aspecto pessoal
ou profissional. A insatisfação positiva nos motiva a buscar novas metodologias, rever os
processos de ensino e se adequar às mudanças que acontecem constantemente.
Considero importante reformular as aulas a cada semestre e promover uma autoanálise
sobre a eficiência dos métodos utilizados; para isso é fundamental estudar e pesquisar
como se nunca houvesse um contentamento pleno com o nosso próprio trabalho. Essa
sensação é justamente a insatisfação positiva; um motor que nos impulsiona para o
ensino com excelência.
Roegiers e De Ketele (2004) apresentam o seguinte exemplo para a compreensão do
conceito de competência:

Um professor será considerado competente para dar uma aula se, para além dos
diferentes saberes, consegue mobilizar um grande número de capacidades, tais
como: analisar (uma situação); antecipar (reações); expressar-se claramente;
aprofundar, caso necessário, alguns conteúdos; comunicar aos colegas o que está
fazendo; questionar-se sobre o que faz; avaliar a qualidade de seu trabalho...
(p.44).

O primeiro exercício não surtiu o efeito esperado na aprendizagem dos alunos, por isso fui
buscar uma proposta que promovesse um maior desenvolvimento e agregasse mais
informações aos alunos dentro do processo de construção das maquetes.
Os tempos são outros e aplicar somente o método “conteudista” não vai ajudar o aluno a
ser ativo, questionador, transformador, sociável; enfim, mesclar teoria e prática e fazer
atividades mais dinâmicas é bastante válido. Os alunos de hoje não se interessam mais
pelo conteúdo ao seu alcance, eles querem sim participar ativamente. A prova disso é a
falta de interesse pelas aulas exclusivamente teóricas.
Mudanças de paradigma assustam, mas são necessárias e requerem um envolvimento
maior na busca por novas formas de ensinar e desenvolver competências nos educandos.
Para superar isso devemos estudar, pesquisar e descobrir quais experiências têm dado
certo para aderirmos também. Construir o conhecimento dá trabalho, mas é nosso dever
promover o crescimento de nossos alunos.

REFERÊNCIAS

GIL, A. C. Didática do ensino superior. 7. reimpr. São Paulo: Atlas, 2012.


MASETTO, M.T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo:
Summus, 2003.
ROEGIERS, X.; DE KETELE, J.M. Uma pedagogia da integração: Competências e
aquisições no ensino. Trad. Carolina Huang. 2. ed., Porto Alegre: Artmed, 2004.
PERRONE, Rafael A. C. e VARGAS, Heliana Comin. Fundamentos de Projeto: Arquitetura
e Urbanismo. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
ANATASIOU, L. G. C; ALVES, L. P. Processos de ensinagem na universidade:
Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 10.ed. Joinville, SC: UNIVILLE,
2012.
AUSUBEL, David P. Aquisição e retenção de conhecimentos: Uma expectativa cognitiva.
Lisboa: Plátano, 2003.
ROCHA, Paulo Mendes da. Maquetes de Papel. Cosac Naify, São Paulo, 2007.

Referências das Imagens


Figura 1. Arquivo cedido pela Secretaria de Infraestrutura de Fortaleza (SEINF). Ano:
2006.
Figura 2. Trabalho desenvolvido pelos alunos na disciplina de ECT. Autor: Raquel Moraes
Vitor. Ano:2015
Figura 3. Trabalho desenvolvido pelos alunos na disciplina de ECT. Autor: Raquel Moraes
Vitor. Ano:2015
Figura 4. Trabalho desenvolvido pelos alunos na disciplina de ECT. Autor: Raquel Moraes
Vitor. Ano:2014
Figura 5. Trabalho desenvolvido pelos alunos na disciplina de ECT. Autor: Raquel Moraes
Vitor. Ano:2014
Figura 6. Trabalho desenvolvido pelos alunos na disciplina de ECT. Autor: Raquel Moraes
Vitor. Ano:2015
Figura 7. Trabalho desenvolvido pelos alunos na disciplina de ECT. Autor: Raquel Moraes
Vitor. Ano:2015
Figura 8. Planilha de controle de participação dos alunos. Autor: Raquel Moraes Vitor.
Ano: 2015

AGRADECIMENTOS

Aos alunos e seu empenho no desenvolvimento dos trabalhos, sem os quais não seria
possível relatar as experiências mencionadas nesse artigo.

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