Mestre Do Principe Alessandra Hazard

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CRÉDITOS

TÍTULO ORIGINAL Prince’s Master

© 2020 Alessandra

Mestre do Príncipe (Calluvias's Royalty Livro 4; Séries Mestres Livro 1) (Português)

Edição Eliot Grayson

Hazard, Alessandra

ASIN: B089YN1KWD

Essa é uma história de ficção. Nomes, personagens e eventos são produtos da imaginação do autor.

Esse livro contém conteúdo explicito.

Todos os créditos a autora e sua obra original.

https://www.alessandrahazard.com/
PRÓLOGO

— É muito cedo, seu idiota! Ainda não podemos matar os pirralhos!

Mais tarde, o Príncipe Warrehn ficaria grato por ter decidido


responder ao som da natureza por trás daquele arbusto e não ter seguido por
outro.

Mas isso seria mais tarde.

Agora o garoto estava paralisado, sem ousar respirar enquanto seus


próprios guarda-costas discutiam sobre o melhor momento para matar
Warrehn e seu irmãozinho.

Um dos guarda-costas insistia que eles deveriam fazer isso agora,


enquanto estavam perto das montanhas Kavalchi e os comunicadores não
funcionavam. Outro guarda-costas argumentou que esperar até escurecer
seria melhor.

Mas foi quando o terceiro falou que o sangue de Warrehn esfriou. —


Quanto mais cedo o fizermos, mais cedo Vossa Excelência nos pagará.

Vossa Excelência.

Havia várias pessoas a quem o título se referia, mas não era difícil
adivinhar de quem o guarda-costas estava falando: tia Dalatteya. Warrehn
não queria acreditar, mas—

Mas sua tia tinha muito a ganhar se algo acontecesse com ele e Eri:
o próprio filho herdaria o trono.

Tentando reprimir seu choque, raiva e traição — agora não era a


hora — Warrehn se afastou cuidadosamente dos arbustos, em direção à
aeronave com defeito onde deixara seu irmão mais novo. Distante, ele se
perguntou se a aeronave estava realmente com defeito. Era bastante
conveniente que o transporte parasse no meio do nada, forçando seus
guarda-costas a fazer um pouso de emergência na Floresta Revialli. Mas,
mesmo que a aeronave estivesse em condições de funcionamento, não lhe
seria útil. Só poderia ser usado por um piloto certificado; seu sistema
antirroubo nunca permitiria que uma criança de dez anos pilotasse, príncipe
herdeiro ou não.

— Vamos jogar um jogo, Eri —, sussurrou Warrehn, levantando o


irmão de três anos da aeronave. — Você precisa ficar muito quieto, está
bem? Vamos correr e não deixar que eles nos peguem.

Eri sorriu, seus olhos violeta arregalados de excitação, e permitiu


que Warrehn o colocasse em seus braços sem fazer barulho. Graças a Deus
por essa pequena misericórdia.

Olhando para trás cautelosamente em direção aos arbustos, Warrehn


abraçou seu irmão bebezinho perto do peito e correu.

Ele nunca foi tão rápido em sua vida.

Ele não sabia quanto tempo ele estivera correndo. Ele nem percebeu
quando o chão da floresta começou a se inclinar para cima ao se aproximar
da montanha. Seus pulmões doíam, suas costelas doíam e a criança em seus
braços parecia ficar mais pesada a cada momento. Galhos afiados
arranhavam seu rosto e seus braços, rasgando a pele e deixando contusões,
raízes de árvores retorcidas o faziam tropeçar, e seus olhos ardiam de suor e
lágrimas de raiva, mas Warrehn continuava correndo. Às vezes, ele pensava
que podia ouvir sons de perseguição no fundo. As folhas farfalharam e os
galhos estalaram, mas isso poderia vir dos animais. Warrehn só podia
esperar.

Mas em pouco tempo, Eri começou a reclamar e depois estava


chorando.

— Shhh. Por favor, por favor, não chore — Warrehn sussurrou com
voz rouca, o desespero arranhando seu peito como um animal preso. Os
sons dos perseguidores pareciam mais próximos agora, mas não tinha como
se esconder, porque Eri não parava de chorar.

Foi quando ele ouviu: um som vindo de outra direção. Parecia... um


carro aéreo?

Warrehn correu em direção ao som.

E lá estava, um pequeno carro aéreo passando logo acima da


clareira.

Warrehn acenou freneticamente, tentando atrair a atenção do piloto.


Por um momento, ele pensou que o que estava fazendo era em vão, mas
então o carro voltou e começou a aterrissar na clareira.

Foi o momento mais longo da vida de Warrehn. A parte agridoce era


que ele sabia que, mesmo que o carro aterrisse antes que seus guarda-costas
os alcançassem, não o salvaria. Esse modelo de carro aéreo foi projetado
para uma pessoa; não haveria lugar para uma criança alta de dez anos.
Mesmo que ele conseguisse convencer o piloto a emprestar o carro, ele não
seria capaz de pilotar: ele não tinha licença e o carro não permitiria pilotá-lo
sem uma.

Mas o piloto poderia levar Eri. Pelo menos seu irmão escaparia. Ele
ficaria vivo. Warrehn odiava o pensamento de confiar seu irmão a um
estranho, mas era sua única chance. A única chance deles. Sem a criança
chorando nos braços, Warrehn teria uma chance melhor de despistar seus
perseguidores na floresta, e então ele poderia voltar para Eri.

Ele correu em direção ao carro aéreo antes mesmo de pousar


completamente. Quando a porta se abriu, Warrehn beijou a criança que
chorava na testa, sussurrando: — Voltarei para você —, antes de empurrar
Eri para os braços do piloto — um jovem. — Ele é o Príncipe Eruadarhd da
Quinta Casa Real. Existem pessoas perseguindo-o. Pegue-o e esconda-o até
eu voltar.

Eri ficou quieto nos braços do estranho, olhando-o com curiosidade.


— Espere —, disse o estranho, mas naquele momento havia o som
de galhos quebrando, terrivelmente perto.

— Vai! — Warrehn gritou, fechando a porta do carro. — Eles estão


armados!

Felizmente, o piloto pareceu levá-lo a sério e o carro decolou.


Warrehn não esperou que ele desaparecesse. Ele voltou para a floresta no
momento em que seus perseguidores invadiram a clareira. Tiros de blaster
choveram ao redor dele. Warrehn correu, com os olhos ardendo e o peito
apertado de raiva e perda. Só agora ele percebeu que não tinha ideia de
quem era pessoa a que tinha entregado Eri. Tudo o que ele conseguia
recordar do estranho eram sobrancelhas escuras e olhos azuis. Ele não tinha
ideia de onde encontrar seu irmão.

Eu voltarei para você, ele jurou. Eu te encontrarei.

Se ele sobreviver primeiro.

***

Castien Idhron não gostava de crianças. Elas eram escandalosas,


desagradáveis e choronas: qualidades as quais ele não tinha paciência. Ele
queria devolver a criança ao garoto que o empurrara com tanta força nos
braços de Castien, mas o garoto já havia desaparecido na floresta. Ele
considerou pousar o carro, mas o som dos tiros rapidamente o fez mudar de
ideia.

Além disso, se o que o garoto alegara for verdade e a criança


realmente fosse um príncipe de uma das casas reais de Calluvian, recusar-se
a prestar assistência seria mais um problema, já que todos os membros da
Ordem P'gni do Alto Hronthar deveriam estar sempre dispostos a ajudar.
Com os lábios retorcidos, Castien colocou o carro no piloto
automático e finalmente estudou a criança em seu colo. Ele teve que admitir
que a criança em questão era extraordinariamente adorável para um
monstrinho. Bochechas gordinhas, cabelos com mechas douradas e enormes
olhos violetas que observavam Castien com igual curiosidade.

No momento, a criança estava quieta, mas Castien sabia por


experiência própria que era improvável que isso durasse. Quando Castien
era um iniciante sênior, passara muito tempo ensinando os filhos da Ordem,
de onde vinha sua antipatia por monstrinhos.

— Qual é o seu nome, criança? — ele disse, forçando sua voz a soar
agradável e paciente. Infelizmente, ele não era exatamente legal por
natureza e paciência era algo que ele ainda estava aprendendo. Nenhuma
quantidade de meditação e exercícios mentais poderia purgar
completamente a inquietação e a agressão na adolescência. Mestre Kato, o
Alto Adepto da Ordem, disse que era normal um garoto de dezessete anos
lutar contra o controle de sua agressão, mas Castien não precisava da
garantia do velho Alto Adepto para saber que seus colegas eram muito
menos disciplinados do que ele. Sua falta de controle ainda não o agradava.
Ser como seus colegas não era suficiente; ele sempre se esforçou para ser o
melhor.

Porque ele era. Ele era o mais jovem especialista certificado que a
Ordem já havia produzido, o mais jovem Mestre Acólito, e as expectativas
para ele eram maiores do que para os outros. Castien não se importava. Ele
sempre foi perfeccionista, ambicioso e motivado, e os objetivos que ele
estabeleceu para si mesmo eram bem maiores.

— Eu sou Eri —, respondeu o bebê, chupando o polegar.

Eri. Príncipe Eruadarhd da Quinta Casa Real.

Franzindo a testa, Castien estendeu a mão para o seu multi-


dispositivo. O carro estava muito perto das Grandes Montanhas e não havia
sinal para a Internet Global aqui, mas Castien tinha um pequeno backup de
registros reais compilados pela Ordem.
Quando ele desligou o dispositivo, algum tempo depois, olhou
pensativo para a criança no colo. Ele realmente não acreditava que a criança
era um príncipe, mas tudo dizia que sim. A criança realmente parecia ser o
Príncipe Eruadarhd, o filho de três anos do recém-falecido Rei e Rainha-
Consorte do Quinto Grande Clã. O garoto que lhe entregara a criança era o
príncipe herdeiro Warrehn, seu irmão mais velho. Castien ficou um pouco
irritado por não o reconhecer imediatamente, mas em sua defesa, tudo
aconteceu tão rápido e ele não deu uma boa olhada no garoto. Sem
mencionar que ele tinha pouco interesse pelas crianças reais. O Alto
Hronthar sempre se destacara das doze casas reais de Calluvia. A Ordem
responde ao Conselho em certa medida, mas oficialmente, a Ordem foi
proibida de se intrometer na política. Oficialmente.

Castien olhou para a criança enquanto considerava e descartava


diferentes opções. Não foi difícil imaginar quem se beneficiaria do
assassinato de dois príncipes órfãos. No momento, ele não ganhava nada ao
entregar a criança ao Quinto Palácio Real, nos braços de sua tia. Se o irmão
mais velho da criança não sobrevivesse, o Príncipe Eruadarhd estaria em
perigo maior ainda — e mais importante, devolver prematuramente o
principezinho seria apenas uma oportunidade desperdiçada.

— Você vai precisar de um novo nome, pequeno. — Ele murmurou.


Ninguém na Ordem precisava saber quem era esse garoto. Tudo o que eles
precisavam saber era que o menino órfão havia sido dado a Castien por seus
parentes, o que era verdade. Castien duvidava que alguém o questionasse ou
até se interessasse pela criança. Eles recebiam dezenas de crianças órfãs e
abandonadas todos os meses, para treinar desde a primeira infância. Castien
também era um, afinal.

— Eu sou Eri —, o garoto disse com uma careta confusa. — Não


quero um novo nome!

Castien suspirou. Parecia que a criança era teimosa e bastante


inteligente para a sua idade.

— Tudo bem —, ele admitiu. — Você será Eridan, então. — Ele se


encaixava no apelido, mas era diferente o suficiente do nome real do garoto
para não levantar suspeitas. Se não houvesse outros filhos com esse nome
na Ordem, o menino seria capaz de manter o nome quando fosse nomeado.

Uma voz no fundo de sua mente, uma voz que parecia muito com a
voz do seu antigo mestre, sussurrou: Um dia sua ambição será sua queda,
Castien.

Ele ignorou, resolveu meditar quando voltou a Hronthar. Se ele


estava imaginando vozes de homens mortos, claramente a meditação estava
em ordem.

— Qual é o seu nome? — O garoto “Eridan” disse, olhando-o com


seus curiosos olhos violeta.

Castien o estudou. O garoto estava se comportando de maneira


suspeita para uma criança de três anos que havia sido deixada com um
estranho. Bem demais. Possivelmente…

Ele derrubou os escudos mentais e tocou timidamente a mente do


garoto. Uma presença brilhante e curiosa se ascendeu. Era forte para um
garoto tão pequeno, a mente de Eridan era destreinada, mas
promissoramente poderosa — e muito compatível com a dele.

Castien a contemplou por um momento, franzindo a testa, porque a


compatibilidade mental tinha suas desvantagens. Mas ele estava confiante
em seu autocontrole. Ele estava confiante de que não permitiria que algum
pirralho real o comprometesse emocionalmente. Além disso, ele não tinha
paciência para as crianças. Passariam décadas até que o principezinho lhe
fosse útil. Muita coisa poderia mudar durante esse tempo.

Por enquanto, ele entregaria a criança ao salão dos iniciantes e


deixaria o superintendente cuidar de sua educação até que ele tivesse idade
suficiente.

Decisão tomada, Castien olhou para a criança e disse: — Você pode


me chamar de Mestre.
CAPÍTULO 1
Primeiras Impressões

A lembrança mais antiga que Eridan tinha sobre o Salão dos


Iniciantes era a de uma noite extraordinariamente fria.

Ele estava tremendo, seu pequeno corpo enrolado em uma bola


apertada para preservar o calor. Ele estava com muito frio. E tão assustado.

Ele ouvia outras crianças no quarto. Algumas roncavam baixinho,


outras choravam. Mas elas não o fizeram se sentir menos sozinho. Elas não
o deixaram menos assustado. Eri queria ir para casa. Ele queria sua cama
macia e quente. Ele queria o seu... alguém. Ele não conseguia se lembrar de
quem queria ver, mas sabia que algo estava errado.

Tudo estava errado.

Ele não pertencia a esse lugar.

Ele tentou contar isso para a mulher alta e de rosto severo que
cuidava das crianças nesse lugar estranho e miserável, mas ela o ignorou.

Eri demorou um pouco para perceber que o superintendente o


ignorava porque suas palavras não eram diferentes das de outras crianças: a
maioria costumava ter casas e famílias antes de terminar neste lugar por um
motivo ou outro. É claro que o superintendente não se preocuparia com as
de Eri. Ele não era diferente de centenas de outras crianças sob seus
cuidados.

Por alguma razão, o pensamento era... estranho, como se ele fosse


outra coisa.
Alguém importante.

***

Eridan levara vários anos para perceber que era tratado de forma
diferente das outras crianças.

O superintendente parecia prestar atenção extra aos estudos de Eri,


observando-o com seu olhar atento e observador e anotando seu
desempenho em sala de aula. Iniciantes seniores, que serviam como
professores para as crianças, pareciam prestar-lhe atenção extra também,
estudando-o estranhamente.

Eridan tinha sete anos quando finalmente descobriu o porquê.

— Vocês têm sete anos de idade —, disse o iniciante Berunn,


olhando para a classe com uma expressão altiva e entediada. — Vocês agora
são oficialmente iniciantes juniores. Isso significa que os Mestres podem
falar com você agora. No entanto, vocês não devem esperar por isso.
Mesmo que isso aconteça, vocês não devem pensar que isso significa
necessariamente alguma coisa. Geralmente, na sua idade, os Mestres tomam
nota de iniciantes promissores e acompanham seu progresso se encontrarem
alguém de interesse. Provavelmente levará muitos anos, provavelmente
mais de uma década, antes que vocês sejam escolhidos por um mestre. —
Berunn fez uma pausa. — Se vocês forem escolhidos.

Um sentimento de desconforto varreu o grupo.


Eridan se contorceu, tentando apertar seus escudos rudimentares
contra as emoções de seus companheiros de idade. Ele sempre foi muito
sensível às emoções de outras pessoas, e as desagradáveis o afetavam
particularmente.

Enquanto isso, o iniciante Berunn continuou. — Eu sei agora que


todos pensam que isso não poderá acontecer com vocês, mas a verdade é
que o número de mestres é superior a noventa por um. — Ele se inclinou
para frente, seus lábios se curvando em algo cruel. — A verdade é que
muitos de vocês não serão escolhidos por um mestre. Você nunca será um
aprendiz de um mestre, o que significa que nunca será um mestre. Muitos
de vocês acabarão no departamento de manutenção da Ordem, servindo aos
Mestres e seus aprendizes; portanto, a menos que você queira ajudar nessa
parte, deve começar a se inscrever agora. Vocês não são mais crianças.
Vocês são iniciantes juniores da Ordem. Todos vocês estarão competindo
entre si pela honra de serem escolhidos por um mestre.

— Você tem um mestre?

Quando Berunn olhou para ele, Eridan percebeu que ele havia dito
isso. Ele corou.

Os olhos de Berunn se estreitaram. — Ainda não —, ele disse


uniformemente, dando a Eridan um olhar duro. — Mas fui abordado por
vários mestres e espero ser escolhido nos próximos meses.

Apesar de seu tom confiante e entediado, Eridan podia sentir que o


garoto mais velho estava longe de estar confiante. O iniciante Berunn
estava realmente se sentindo... ansioso.

Eridan inclinou a cabeça para o lado. — Quando um iniciante é


velho demais para ser escolhido?

A mandíbula de Berunn se apertou um pouco. — Vinte e um anos


padrão são a idade de corte. Se um iniciante não for escolhido nessa idade,
ele será transferido para o departamento de manutenção da Ordem.
Eridan baixou o olhar, percebendo que sua pergunta provavelmente
havia sido tomada como uma zombaria. Berunn definitivamente não
poderia ter muito menos de vinte anos.

Ele tossiu um pouco, sem saber como tornar a situação menos


embaraçosa. Ele não queria que o iniciante mais velho o odiasse.

— Qual é a idade mais precoce em que podemos ser escolhidos por


um mestre? —ele disse suavemente, olhando novamente.

Ele esperava que a pergunta neutra relaxasse Berunn, mas, em vez


disso, uma emoção forte, algo zangado e amargo, saiu do garoto mais velho
enquanto olhava para Eridan. — Você deve ter cuidado, iniciante Eridan. Se
regozijar não convém a um membro da Ordem.

Eridan franziu a testa em confusão. — O que? — Ele disse — O que


você quer dizer?

Os lábios de Berunn se torceram em algo feio. — Só porque o


Mestre Idhron já o reivindicou preliminarmente, não faz de você melhor do
que nós, Eridan. Você ainda é um iniciante júnior. Ele pode mudar de ideia
ainda.

Eridan olhou para ele, perplexo. O que?

Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a turma explodiu
com gritos, raiva de outras crianças, confusão, e ciúme, rapidamente
dominando os sentidos de Eridan. Ele choramingou, fechando os olhos e
tentando proteger sua mente do ataque, mas era inútil. Sua cabeça começou
a girar, náusea subindo para sua garganta, e a próxima coisa que ele
percebeu era que tudo estava escuro.

***
Quando Eridan abriu os olhos, ele estava na enfermaria, e havia um
mestre desconhecido sentado na cadeira ao seu lado.

O olhar do homem estava no datapad na mão, então Eridan


aproveitou a oportunidade para estudá-lo. Cabelos lisos e claros presos para
trás, um rosto esculpido com uma mandíbula afinada, um nariz reto e
sobrancelhas muito mais escuras que seus cabelos. A barba por fazer em
seu rosto também era muito escura.

Ele era muito jovem para um mestre, Eridan observou com alguma
surpresa. O homem deve ter entre vinte e poucos anos. Eridan nunca
imaginaria que um jovem tão novo pudesse ser um Mestre, mas as pesadas
vestes negras com as insígnias da Ordem que o homem usava indicavam
claramente sua posição. Somente Mestres poderiam usá-los. Ele nem era
um Mestre Acólito — ele usaria túnicas cinza, se esse fosse o caso. Ele era
um mestre de patente completa.

Eridan olhou para ele fascinado. Ele não tinha visto tantos adultos
além do superintendente. Os iniciantes seniores que ensinavam crianças de
sua idade eram pouco mais velhos que as próprias crianças. Eridan sabia
que, à medida que crescesse, suas aulas seriam ministradas pelo Mestre
Acólitos, mas isso ainda não havia acontecido.

— Você deve aprender a proteger sua mente —, disse o homem,


erguendo o olhar para ele.

Seus olhos eram de um azul profundo.

Eridan deu de ombros, olhando-o com curiosidade. — Eu tenho sete


anos. Aprenderemos blindagem aos oito.

O Mestre lançou-lhe um olhar inexpressivo. — Correção: iniciantes


medíocres aprenderão blindagem aos oito anos de idade. Você deve se
esforçar mais se quiser ser melhor do que apenas medíocre.

Eridan abriu a boca e depois fechou, incerto. — Quem é Você? Por


que você está aqui?
O homem lançou-lhe um olhar que era realmente ilegível, mas
Eridan podia sentir um pico de irritação saindo dele. — Sou Castien Idhron.
Eu não estaria aqui se você não tivesse acabado na enfermaria.

O coração de Eridan deu um pulo. — Você é meu mestre?

Os lábios do mestre Idhron afinaram um pouco. — Ainda não. Mas


eu o reivindiquei preliminarmente, então sou eu quem os curandeiros
entram em contato se algo acontecer com você, então tente não desmaiar
novamente. Meu tempo é valioso. Não tenho tempo nem paciência para
mimar crianças.

O coração de Eridan afundou. Quando ele imaginara ser escolhido


como aprendiz de um mestre, ele sempre imaginara que seu mestre era
alguém... gentil e caloroso, o oposto desse jovem de olhos frios.

— Por que você me escolheu, então? — Ele disse, tentando não


parecer petulante e magoado, e provavelmente falhando, a julgar pelo olhar
semicerrado de Idhron.

O homem levou um momento para responder.

— Você parece promissor —, disse ele finalmente. — Se você se


aplicar, será um bom especialista em mente um dia. Se você se aplicar, algo
que eu não sei se é capaz.

E com isso, Mestre Idhron levantou-se e saiu da sala.

Eridan olhou para as costas do homem que se retirava,


aborrecimento, raiva e esperança nascendo dentro do seu peito.

Mas acima de tudo, havia determinação. Determinação de ser


melhor, de ser o melhor.

Ele mostraria a ele.


CAPÍTULO 2
Indesejável

Onze anos depois

— Concentração, determinação, vontade: esses são os fatores-chave


para o domínio da telecinesia —, disse o mestre Acólito Ferev. — Nem
todos vocês serão bem sucedidos nas minhas aulas. De fato, a maioria de
vocês não terá sucesso. A maioria dos telepatas não tem talento para esse
campo. Manipular objetos físicos é uma das habilidades mais difíceis de
dominar para um adepto da mente. De fato, se você não possui alguma
aptidão natural para isso, a telecinesia não é algo que se pode aprender
simplesmente estudando.

Eridan deixou a voz do instrutor desaparecer no fundo enquanto


olhava, com grande apreensão, olhando para a pedra sobre a mesa que ele
compartilhava com o iniciante Xhen. Ele tentou ignorar o sorriso maroto no
rosto do outro garoto.

— Você parece assustado, Eridan. Mas, novamente, eu também


estaria se eu fosse tão patético quanto você.

Eridan apertou a mandíbula e não disse nada. Xhen era um


tremendo imbecil que amava demais o som de sua própria voz. Ignorá-lo
seria a melhor resposta.

Mas ele está certo, não é?

Eridan tentou afastar o pensamento, mas não conseguiu. Nos


últimos onze anos, ele tentou se sair bem em seus estudos, se esforçou
tanto, mas se destacou entre seus colegas pelas razões erradas: ele era muito
emocional, temperamental, indisciplinado demais. Enquanto eles aprendiam
a blindagem, ele ainda era suscetível às fortes emoções de outras pessoas.
Ele também era péssimo em meditar e clarear a mente, a principal razão
pela qual ele era dolorosamente medíocre em todos os assuntos que haviam
aprendido no Salão dos Iniciantes até agora.

Ele sabia que era uma decepção. Todos os seus instrutores haviam
insinuado isso inúmeras vezes. Mesmo quando eles não diziam nada,
Eridan muitas vezes captava suas emoções e pensamentos em geral.

Potencial desperdiçado.

Não adianta ser um telepata da Classe 5 se você não puder ser


disciplinado o suficiente para realmente se aplicar.

Todos eles estavam errados. Eridan se esforçou. O problema era que


não funcionava. Sua telepatia era muito irregular, difícil de controlar e
propensa a refletir seu estado emocional e não seus pensamentos racionais.
Eridan sabia que o problema decorria de sua incapacidade de meditar
adequadamente e ordenar sua mente. Foi um dos primeiros postulados que
eles aprenderam como iniciantes: uma mente calma e ordenada era um
requisito para dominar as artes mentais. Mas havia muita confusão na
cabeça de Eridan. Por mais que tentasse, ele não conseguia se livrar disso,
por isso permanecera dolorosamente medíocre em todas as suas aulas, se
não pior.

Eridan não tinha motivos para pensar que a telecinesia seria


diferente.

— Não basta imaginar agarrar aquela pedra na sua frente —,


continuou o mestre Ferev. — A telecinesia não funciona assim. Você deve
ser capaz de sentir, sentir o ar ao seu redor, da mesma maneira que foi
ensinado a esticar seus sentidos para sentir outras pessoas. Você deve ser
capaz de sentir isso. É um objeto inanimado, sim, mas ainda é possível
senti-lo — e manipulá-lo, se você tiver aptidão para isso. Agora comecem.

Houve um murmúrio de descontentamento.


Ao contrário de seus colegas, Eridan não se incomodou com as
instruções vagas. Ele sempre se dava melhor quando podia dar um jeito.
Regras e instruções rigorosas eram tão sufocantes.

Ele cautelosamente esticou os sentidos e estremeceu, tentando


bloquear as emoções de seus colegas de classe.

— Você parece constipado. Não se machuque.

Eridan rangeu os dentes, determinado a ignorar Xhen. Foda-se esse


idiota.

— Ouvi o Mestre Idhron falar com o iniciante Daylinne ontem. Ele


provavelmente vai abandonar você por ela. Não me espanta. Ela não é um
fracasso.

Eridan olhou furioso para a rocha, as mãos fechando os punhos.


Ignore-o, ignore-o, ignore-o.

— Você está sendo ciumento —, Eridan disse, com um sorriso que


provavelmente parecia um pouco selvagem. — Não me irrite.

Xhen sorriu. — Eu atingi um nervo? Espere, é verdade que ele não


vem vê-lo há anos? Sério mesmo? Ele riu.

E a visão de Eridan ficou vermelha.

A próxima coisa que ele viu foi que Xhen estava sufocado, com os
olhos esbugalhados enquanto tentava respirar, as mãos agarrando
loucamente sua própria garganta.

— Iniciante Eridan!

A voz do mestre Ferev era como um balde de água fria.

Eridan se encolheu e olhou em volta, registrando os olhares de seus


colegas de classe.
Ele olhou para Xhen, que estava respirando avidamente agora que
não estava mais sufocando.

Ele... ele fez isso? Xhen sufocou? Somente com sua vontade?

Com crescente apreensão, Eridan ergueu o olhar para o mestre


Ferev.

O instrutor estava olhando para ele. Seu rosto estava vazio, mas suas
emoções deslizavam através das rachaduras em seus escudos. Espanto,
confusão e... apreensão.

Eridan engoliu em seco.

— Classe, vocês devem retornar à sua tarefa enquanto eu estiver


fora —, disse Mestre Ferev, finalmente, ainda olhando para Eridan. —
Eridan, venha comigo.

Sentindo um nó no estômago, Eridan seguiu o instrutor para fora da


sala de aula.

Eles caminharam em silêncio, Eridan alguns passos atrás do homem,


como era apropriado. Ele estava com os olhos fixos nas vestes cinzentas do
mestre Ferev, com a mente acelerada enquanto tentava descobrir o que
acabara de acontecer e para onde o mestre Ferev o estava levando.

Eles já haviam deixado o prédio da escola e estavam caminhando


em direção aos distritos internos de Hronthar.

Eridan franziu a testa, confuso e curioso também. Em todos os seus


anos de vida em Hronthar, ele nunca esteve nos Distritos Internos. Os
iniciantes e as crianças menores viviam e estudavam no Distrito Exterior da
cidade, ou Distrito O, como eles chamavam. Imediatamente após o Distrito
O, havia o maior distrito, o Distrito Um, onde estava localizado o
departamento de serviço da Ordem. Os outros quatro distritos eram para
membros reais da Alta Ordem Hronthar: Mestres, Mestres Acólitos e seus
aprendizes. Os aprendizes moravam no Distrito Dois, com os Mestres nos
distritos mais centrais. O Distrito Cinco, ou simplesmente High Hronthar,
era o castelo localizado na colina no centro da cidade, habitada apenas pelo
Alto Adepto da Ordem.

Eridan olhou para as costas de Mestre Ferev, imaginando se deveria


perguntar para onde estavam indo.

Uma explosão de ventania fez Eridan tremer e cruzar os braços


sobre o peito, tentando afastar o frio que vinha das montanhas ao redor.
Embora o clima de Calluvia seja artificialmente controlado e mantido
quente o ano todo, não parecia assim, não aqui. Eridan havia deixado
Hronthar apenas algumas vezes durante a sua vida, e toda vez ficava
espantado com o calor do resto do planeta.

Era bonito aqui em cima, no entanto. Hronthar estava localizado em


um vale das montanhas cercado por montanhas e florestas. A paisagem era
de tirar o fôlego. O sol que se filtrava pelas árvores antigas fez Eridan sorrir
um pouco.

— Eu não estaria sorrindo se fosse você, Eridan —, disse Mestre


Ferev.

Eridan voltou seu olhar para ele. — Como assim, Mestre?

Mestre Ferev suspirou. Ele era um homem com cerca de trinta anos
— muito jovem para um Mestre Acólito —, por isso não era tão
intimidador quanto a maioria dos Mestres.

— O que você acha que acabou de fazer com seu companheiro


iniciante? — Mestre Ferev disse.

Eridan franziu a testa. — Eu acho que fiz alguma forma de


telecinese, certo?

Mestre Ferev riu.

Eridan olhou para ele. — Eu disse algo divertido? — Ele disse com
uma voz confusa.
— Você sabia que apenas um por cento dos telepatas pode fazer
qualquer forma de telecinesia? — Mestre Ferev disse, sem olhar para ele.

Eles estavam passando pelo Distrito Dois, e Eridan olhou em volta,


curioso. Havia todo tipo de casas e prédios de apartamentos aqui, variando
em tamanho e luxuosidade. Eridan se perguntou como os aprendizes eram
designados para suas acomodações. O boato dizia que dependia de quão
alto era o seu mestre, mas alguns alegavam que tudo dependia de quanto o
mestre realmente gostava de seu aprendiz.

— E? — Eridan disse, sem saber para onde Mestre Ferev estava


indo com isso.

— Desse pequeno número de telepatas capazes de telecinesia,


apenas uma fração pode afetar o objeto por mais de alguns instantes.
Manter a pressão como você fez com seu colega de classe é… — Mestre
Ferev balançou a cabeça. — É algo inédito, mesmo para um telepata de
classe 5 como você.

Eridan franziu a testa, sem entender. — Eu pensei que era bem


conhecido o fato de que telepatas de alto nível poderiam machucar
fisicamente uma pessoa?

O Mestre Ferev entrou na câmara t, gesticulando para Eridan segui-


lo. — Você está confundindo duas coisas diferentes, mas não é meu dever
explicar isso para você. E, francamente, não estou qualificado para lidar
com isso. Distrito Quatro — Ele disse ao computador e o transporte
começou a se mover.

Eridan olhou em volta, curioso. As poucas vezes em que ele usou


câmaras-T aconteceram durante suas excursões ao continente de Calluvia.
Segundo eles, as câmaras-t de Hronthar eram um pouco diferentes. As
câmaras-t normais não podiam funcionar em Hronthar, porque os depósitos
de korviu nas montanhas causavam distúrbios magnéticos demais para
receber uma câmara de teletransporte de outras partes de Calluvia. As
câmaras-t de Hronthar tinham modificações especiais que lhes permitiam
saltar entre os endereços locais da cidade, mas também não podiam se
teletransportar para o continente de Calluvia.
Hronthar era efetivamente um mundo autônomo dentro de Calluvia.
Não que o resto do planeta tenha alguma ideia da existência da cidade. No
que diz respeito aos calluvianos, o Alto Hronthar era uma pequena ordem
de monges que habitavam um mosteiro no meio de um deserto, o que,
tecnicamente, era verdade, Eridan supunha. O antigo mosteiro no deserto de
Araal, no sopé das montanhas Kavalchi, fazia parte do Alto Hronthar,
apenas uma parte muito pequena que os estrangeiros podiam ver. Uma
entrada. A ponta de um iceberg gigante. Outros calluvianos não tinham
ideia de que o principal assentamento da Ordem estava localizado no alto
da região intransitável das montanhas Kavalchi. Os depósitos de korviu
impediam que os satélites varressem a região e descobrissem a cidade.

— Você tem certeza de que devemos estar aqui? Eridan disse


quando eles chegaram. Ele saiu da câmara e olhou em volta, curioso. Ele
nunca esteve no Distrito Quatro: o distrito dos Mestres. A atmosfera aqui
era completamente diferente dos distritos externos. Os prédios eram
espaçados e a maioria era grande o suficiente para ser chamado de mansão.
Bem acima do distrito, Eridan podia ver os pináculos de High Hronthar,
embora as nuvens obscurecessem a vista do castelo.

— Devemos? — Mestre Ferev disse. — Definitivamente não. Mas


seu Mestre mora aqui.

Eridan se encolheu. — Você está me levando para o mestre Idhron?


— Ele acrescentou tardiamente: — E ele não é meu mestre.

Ferev continuou andando, como se não o tivesse ouvido.

Carrancudo, Eridan o seguiu com relutância. — Ele não é meu


mestre —, ele repetiu. — Eu não o vejo há anos.

— Ele pode não ter reivindicado você ainda, mas ele tem uma
reivindicação preliminar sobre você —, disse Ferev. — A menos que ele
cancele, ele pode muito bem ser seu mestre.

Eridan apertou os lábios. — Não posso mudar isso? Talvez eu não


queira ser seu aprendiz.
A cabeça de Ferev virou em sua direção. Ele olhou para Eridan,
incrédulo. — Não seja ridículo, Eridan. Castien é um dos melhores adeptos
da Ordem — alguns dizem que ele já é o melhor, apesar da idade. A maioria
dos iniciantes daria a mão direita para ser seu aprendiz.

— Então eles são idiotas —, disse Eridan com um escárnio. — O


que há de tão especial nele, afinal? As pessoas sempre falam sobre ele
como se ele fosse o próximo Alto Adepto, mas ninguém nunca diz por que
ele é tão especial e ótimo — além de pertencer à linhagem Idhron. — A
linhagem Idhron era uma das mais antigas da Ordem e famosa por produzir
grandes Mestres.

Mestre Ferev balançou a cabeça um pouco. — Você percebe que eu


não posso fofocar com você sobre o meu superior, certo?

Eridan revirou os olhos. — Para quem eu diria? Mestre Idhron?

— Independentemente disso — murmurou Ferev, irradiando


desconforto.

— Oh, vamos lá. Não é como se ele fosse o Alto Adepto. Ele não
tem a mesma idade que você?

Ferev assentiu com força. — Nós éramos da mesma classe de


iniciantes, na verdade.

— Sério? — Eridan disse, olhando para ele com interesse. — Então


por que você está com tanto medo de falar sobre ele?

Ferev olhou para ele. — Você está se confundindo, Eridan. E eu não


tenho medo. Não lhe ocorreu que não quero fofocar sobre Castien porque o
conheço o suficiente para não fazer isso?

Eridan considerou isso. Ele ainda não conseguia se imaginar


intimidado por um de seus colegas de classe. — Você também é um mestre
—, ele disse com uma careta.
— Mestre Acólito —, Ferev o corrigiu. — Não importa se temos a
mesma idade. Idhron ainda é meu superior. Se você não fosse tão
ridiculamente ingênuo, saberia que a idade não é o que garante respeito na
Ordem. Existem mestres de nível completo que tem duas vezes a minha
idade que tratam Castien com tanta consideração quanto qualquer iniciante
humilde.

A testa de Eridan enrugou. — Mas por quê? Isso era o que ele não
entendia. Como poderia um homem com pouco mais de trinta anos ter tanto
respeito e apreensão na Ordem?

A princípio, ele pensou que Ferev não responderia.

Mas finalmente ele respondeu, ainda olhando para a frente. —


Castien sempre foi diferente do resto de nós. Cada um de nós o odiava — e
queria ser ele, porque ele era perfeito em todas as aulas. Não fazia sentido,
porque ele não era o telepata mais naturalmente talentoso do nosso ano: ele
era apenas a classe 3.

A boca de Eridan se abriu. — Mestre Idhron é apenas classe 3?


Muito mais fraco que eu?

Ferev sorriu. — Ele era da classe 3 quando tínhamos sete anos de


idade. Ele era da classe 4 quando tínhamos onze anos. Ele era da classe 5
quando tínhamos dezesseis anos. A última vez que ouvi falar, ele ainda era
da classe 6.

Eridan olhou para ele, intrigado. — Mas isso não é, não é possível!

— Aparentemente é. Castien encontrou uma maneira de aumentar


sua força telepática — para fazer o que sempre foi considerado impossível
— e ele obviamente não compartilha como ele fez isso. É compreensível
que a maioria das pessoas desconfie dele. Se ele pode fazer isso, quem sabe
do que ele é realmente capaz.

— É por isso que existem todos os tipos de rumores malucos sobre


ele —, disse Eridan, franzindo a testa. — Eu pensei que eram besteiras.
— A maioria deles provavelmente é —, disse Ferev. — Mas, neste
momento, ninguém pode ter certeza.

Ele finalmente parou em frente aos altos portões de uma mansão


pitoresca.

— Por favor, diga seu nome e o assunto —, disse uma voz feminina
agradável, sem dúvida uma IA.

— Mestre Acólito Ferev. Estou aqui para discutir sobre o iniciante


pré-escolhido pelo o Mestre Idhron.

— Mestre Castien está em High Hronthar —, disse a AI.

Os lábios de Ferev afinaram. Eridan sentiu uma pontada de


frustração e relutância saindo dele.

— Devemos voltar para a aula, então —, Eridan sugeriu, se


animando. Ele não entendeu por que Mestre Ferev estava tão decidido a
entregá-lo a Idhron de qualquer maneira.

Ferev lançou-lhe um olhar cético. — Não fique tão satisfeito,


Eridan. Se ele não estiver em casa, isso significa que teremos que ir a High
Hronthar. Um incidente como esse deve ser relatado ao seu mestre...

— Ele não é meu mestre.

— ...ou para a Organização.

A boca de Eridan se abriu. — A Organização? — ele sussurrou,


piscando. — Eh. Deixa pra lá, vamos procurar o Mestre Idhron.

Ferev bufou, voltando para a câmara-t. — Não se preocupe, você


verá seu mestre de qualquer maneira. Ele faz parte da Organização, afinal.

Eridan fez uma careta e seguiu com relutância o instrutor. — Sim, e


isso é tão estranho. Quem se torna parte da Organização aos trinta anos? É
ridículo!
— Não é da minha conta discutir sobre os meus superiores — disse
Ferev, mas Eridan ainda podia sentir uma onda de ciúmes misturada com
admiração vindo dele.

Pobre homem. Deve ter sido difícil para ele se curvar ao ex-colega
de classe. Idhron, sendo um mestre de categoria completa, deve ter doído
um pouco, mas ele também ser tornar membro da Organização deve ter sido
incrivelmente difícil de engolir.

A Organização era o corpo governante da ordem. Consistia em vinte


e dois mestres seniores, sendo o vigésimo terceiro membro o Alto Adepto.
Havia rumores de que os membros da Organização tinham um grau de
influência diferente, mas obviamente os humildes iniciantes não estavam a
par dos detalhes. Tudo o que todos sabiam era que a Organização consistia
nos mestres mais poderosos da Ordem, embora não estivesse muito claro se
— poderoso — significava ser poderoso telepaticamente ou politicamente.
Talvez ambos.

Eridan ainda estava pensando sobre isso quando a câmara-t chegou


à ala pública de High Hronthar. Tanto quanto Eridan sabia, essa ala de High
Hronthar era a única seção dos antigos visitantes do castelo que era
permitida a entrada. A maior parte do castelo era para uso pessoal do Alto
Adepto.

Seus passos ecoaram nos grandes e vazios corredores.

Eridan podia sentir o nervosismo de Ferev. Estranho, ele parecia


mais nervoso do que Eridan.

— Por que está tão quieto aqui? — Eridan disse, quebrando o


silêncio. Parecia uma tumba. Um túmulo enorme e luxuoso, mas um
túmulo, no entanto. — Onde está todo mundo?

— Provavelmente está sendo realizada uma sessão da Organização


—, disse Ferev. — E o atual Alto Adepto usa apenas robôs e IA para a
manutenção do castelo.

— Ainda podemos ir embora —, disse Eridan, esperançoso.


Ferev lançou-lhe um olhar azedo. — Se eu não relatar o que
aconteceu para a Organização, alguém o fará mais cedo ou mais tarde. E
então eles se perguntarão por que eu não relatei sobre isso. Espere por mim
aqui. — E com isso, Ferev desapareceu atrás das enormes portas duplas.

Suspirando, Eridan sentou-se em uma das cadeiras incrivelmente


desconfortáveis e esperou.

Ele não precisou esperar muito.

— Iniciante Eridan, eles estão esperando por você —, disse a voz de


uma IA.

Certo.

Eridan se levantou, limpou as palmas das mãos suadas nas calças e


entrou.

Atrás das portas duplas, havia uma grande sala circular decorada em
cromo e preto. Vinte e dois assentos idênticos estavam espalhados
uniformemente pela sala, com um assento maior colocado de forma mais
alta, um nível acima dos outros. Havia um velho sentado ali, seu rosto
gentil e enrugado instantaneamente reconhecível: o Alto Adepto Kato.

Eridan rapidamente desviou o olhar. Rigorosamente, ele não tinha


permissão para olhar para nenhum membro da Organização, a menos que
fosse diretamente abordado. Ele caminhou até o meio do círculo e curvou-
se profundamente, com o olhar servil, como havia sido ensinado — embora
nunca esperasse estar diante da Organização tão cedo.

— Mestres —, ele murmurou, imaginando onde Ferev estava.


Parecia que ele havia dado o relatório e saído pela outra porta.

— À vontade, iniciante Eridan.

Eridan se endireitou, mas manteve o olhar servil.

— Seu instrutor nos contou coisas preocupantes, Eridan —, disse o


Alto Adepto Kato, de maneira nada cruel. — Ele disse que você quase
estrangulou um colega até a morte, com apenas um pensamento.

Eridan apertou os lábios, mas se forçou a ficar calado. Não tinha


sido uma pergunta. Ele não conseguiu falar até ser perguntado diretamente.

— Há quanto tempo você esconde essa habilidade? — Disse uma


voz fria que Eridan reconheceu instantaneamente, apesar de não a ter
ouvido há anos.

A cabeça de Eridan se virou na direção da voz. Uma parte dele, a


parte que não estava ocupada olhando para Castien Idhron, foi surpreendida
pelo atrevimento de Idhron. Ele falou sem a permissão do Alto Adepto
interrompendo o questionamento de Kato.

E, no entanto, o mestre Kato não o repreendeu.

— Não escondi nada —, respondeu Eridan, erguendo o queixo. —


Mestre —, ele acrescentou como uma reflexão tardia.

A julgar pelo ligeiro estreitamento dos olhos de Idhron, ele não


desconsiderou a resposta.

— Você quer dizer que não sabia que possuía esse poder? — Disse
Kato.

Eridan desviou o olhar do de Idhron e respondeu: — Eu não sabia


que poderia fazer isso.

Houve um murmúrio entre os mestres.

— Isso é claramente uma mentira —, disse Mestre Tethru. — E


estou surpreso por você não ter percebido os talentos questionáveis de seu
aprendiz, Castien. Que negligência a sua.

Um silêncio tenso e estranho caiu sobre a sala.

Eridan olhou entre Mestre Tethru e Mestre Idhron.


Os olhos deste último estavam fixos em Mestre Tethru com uma
expressão cética. — O garoto ainda não é meu aprendiz e talvez nunca seja
—, disse ele de maneira uniforme. — E eu tenho assuntos mais importantes
que exigem minha atenção do que estar interessado em garotinhos.

As mãos de Eridan se fecharam em punhos. Mas, apesar de sua


raiva, ele podia sentir um significado subjacente nas palavras de Idhron.
Elas não foram faladas descuidadamente.

Os lábios de Tethru se estreitaram e ele lançou um olhar a Idhron,


sua aura telepática fervilhando de ódio.

Eridan piscou. Espere, Idhron estava realmente sugerindo...?

— Castien ainda não é responsável pelo garoto —, interrompeu o


Alto Adepto Kato, quebrando a tensão. — Suas críticas são injustificadas,
Tethru.

Outra mestra, uma senhora idosa real, cujo nome Eridan havia
esquecido, falou. — Talvez elas sejam, Alto Adepto —, disse ela. — Mas já
está na hora de Castien assumir a responsabilidade pelo garoto,
especialmente se ele estiver demonstrando talentos tão interessantes.

Eridan suprimiu uma careta. Não que ele esperasse que a


Organização pedisse sua opinião, mas ele não desejava ser responsabilidade
de Idhron quando o bastardo não tivera poupado um pensamento sobre ele
em onze anos — e a julgar pela faísca de irritação que ele podia sentir de
Idhron, isso não mudara.

— Não podemos forçar um mestre a escolher um aprendiz antes que


ele se sinta pronto —, disse o alto adepto Kato, franzindo a testa levemente.

A Mestra olhou de Eridan para Idhron. — Verdade —, ela admitiu.


— Mas talvez Castien deva falar sua opinião sobre a reivindicação
preliminar sobre o garoto. Outro mestre pode escolher o garoto e dar a ele a
orientação que ele claramente precisa.
O coração de Eridan pulou. Embora ele não quisesse ser aprendiz de
Idhron, se Idhron realmente cancelasse sua reivindicação preliminar sobre
ele... Eridan já podia ouvir os comentários alegres e exultantes que outros
iniciantes fariam. O simples pensamento fez o seu estômago revirar.

— De fato — disse Mestre Tethru, dando a Eridan um longo olhar


que deixou Eridan mais do que um pouco desconfortável. Os escudos de
Tethru estavam impecáveis agora, então Eridan não podia sentir suas
emoções, mas as insinuações anteriores de Idhron eram difíceis de esquecer.

— O que você diz, Castien? — O Alto Adepto disse.

A expressão de Idhron era impassível. Ele nem olhou para Eridan,


como se não merecesse sua atenção. — Se é seu desejo que o garoto seja
reivindicado, é claro que sim, Mestre —, disse ele, dirigindo-se ao Alto
Adepto. O respeito de seu tom contradiz a frieza de seu olhar.

Ele é uma cobra com duas caras, Eridan percebeu, olhando para
Idhron com uma mistura de fascínio e nojo. Um mentiroso excelente.

Mestre Kato sorriu para Idhron. — Bom Castien. Eu não tinha


dúvidas de que você não me decepcionaria. Você nunca me decepciona.

Idhron inclinou a cabeça de uma maneira que provavelmente


deveria ser respeitosa, mas parecia mais uma negação altiva.

Eridan o observou com curiosidade. Idhron havia mudado durante


esse tempo. Foram-se os últimos vestígios do jovem adulto Idhron; ele era
um adulto agora, um homem em todos os sentidos da palavra. Seus ombros
eram claramente mais largos sob as vestes negras. Se ele fosse um homem
mais baixo, Idhron seria chamado de atarracado, mas sua altura
impressionante tornava seus músculos menos visíveis. Suas características
faciais estavam muito mais definidas também.

Naquele momento, Idhron virou a cabeça e olhou diretamente para


ele. — Muito bem. Vou colocar o garoto em um estágio por um ano. Se ele
impressionar, eu o aceitarei como meu aprendiz.
Eridan estava tão ocupado olhando para Idhron — ele odiava ser
chamado de — garoto — e odiava quando falavam sobre ele como se ele
não estivesse na sala — que levou um momento para registrar o que Idhron
acabara de dizer.

Espere o quê?

Um estágio probatório?

Eridan corou com total humilhação. Estágios assim eram


considerados um insulto. Eles eram incrivelmente raros. Normalmente, ou o
Mestre contratava ou não contratava, não se exigia nenhum período de
estágio probatório.

Eridan achava que não poderia odiar mais esse idiota, mas Idhron
estava claramente provando que ele estava errado.

— Não foi isso que eu quis dizer —, disse a Mestra, franzindo a


testa para Idhron. — Um garoto tão poderoso precisa de um mestre,
Castien. Se você não quer ser um, deixe alguém reivindicá-lo.

A expressão inescrutável de Idhron não mudou. — Se eu não o


reivindicar em um ano, alguém poderá fazer isso então, mestra Amara.

A Mestra — aparentemente Amara — olhou para ele. — Você sabe


tão bem quanto eu que nenhum mestre reivindicará alguém que falhou
como aprendiz de outro mestre.

— Isso não é problema meu. —, disse Idhron.

Eridan respirou fundo. Ele não sufocaria Idhron na frente da


Organização. Ele não iria sufocar Idhron. Talvez se ele repetisse isso
bastante vezes, ele acreditasse.

Ele olhou para o alto adepto Kato, esperando que ele interferisse,
que proibisse Idhron de fazê-lo servir como aprendiz de um estágio, mas o
velho ficou calado. A maioria dos outros Mestres estava com o olhar
abatido. Parece que todos os rumores sobre Idhron ter uma imensa
influência sobre a Organização eram verdadeiros.

— Está decidido, então —, disse o Alto Adepto Kato, finalmente. —


Você está dispensado da sessão de hoje, Castien. Tenho certeza que você
estará ocupado com o seu novo aluno.

Um músculo pulsou na mandíbula de Idhron. Ele deu um aceno


brusco e saiu da sala.

Depois de um momento, Eridan o seguiu.


CAPÍTULO 3
Negociações

— Você poderia ter recusado se não me queria como seu aprendiz


—, disse Eridan enquanto alcançava Idhron.

Idhron continuou andando. Ele nem olhou para ele.

Eridan rangeu os dentes, seu temperamento incendiando.

— Já se passou vários anos —, disse Idhron, olhando para a frente.


— Você ainda não aprendeu escudos mentais?

Eridan olhou para ele, um rubor quente de vergonha se espalhando


por seu rosto. — Eu aprendi. —, disse ele, levantando o queixo.

— Você aprendeu. — Idhron disse categoricamente. — Você está


projetando suas emoções com tanta força que estão testando até meus
escudos, e meus escudos são perfeitos.

— Claro que sim. — Eridan murmurou baixinho, revirando os olhos.

Eles caminharam em silêncio por um tempo.

Quando eles entraram na câmara-t, Idhron disse ao computador seu


destino e finalmente disse: — Não me lembro de ter dito que não queria
você como meu aprendiz.

Eridan fez uma careta, olhando para as botas. — Você não precisava
dizer isso. Ações falam mais alto que as palavras. Você me ignorou por
onze anos.
Ele sentiu uma pontada de irritação saindo de Idhron quando eles
deixaram a câmara-t. — Não tem nada a ver com você. Eu sou um homem
ocupado. Eu não tenho tempo para crianças.

Eridan corou. — Eu tenho dezoito anos. Eu não sou uma criança!

Idhron finalmente se virou para ele e lançou um olhar aguçado.

Eridan olhou para ele, com o rosto quente. Tudo bem, talvez ele não
estivesse sendo exatamente maduro agora, mas ainda assim, seu argumento
ainda era válido.

— Não estou falando da sua idade —, disse Idhron. — A idade não


se equipara à maturidade. Eu tinha dezessete anos quando me tornei um
Mestre Acólito.

Eridan tentou esconder seu espanto. Um Mestre Acólito aos


dezessete? Que ótima maneira de fazer alguém se sentir inadequado.

— Não estou dizendo isso para fazer você se sentir inadequado.


Estou lhe dizendo isso para mostrar que você poderia ter conseguido muito
mais mesmo com a sua idade, em vez de ser uma criança emocional e
temperamental.

Eridan olhou para ele desconfiado. — Você está lendo minha


mente?

— Quase não preciso disso —, disse Idhron, parando o tempo


suficiente para permitir que o scanner de segurança fizesse seu trabalho. Os
portões se abriram e ele gesticulou para que Eridan o seguisse para dentro.
— Todas as suas emoções estão escritas em seu rosto, o que só prova meu
ponto de vista.

Eridan franziu a testa. Distraído, ele registrou o espaçoso jardim da


frente da bela mansão, mas sua atenção estava inteiramente no homem
andando um pouco à sua frente.
— Então você realmente não me odeia? — Ele se viu dizendo, sua
voz mais aguda do que ele gostaria.

A expressão de Idhron ficou bastante rígida. Ele abriu a porta da


frente.

Eridan o seguiu até a casa, para a grande sala de estar.

Idhron virou-se para Eridan com uma leve carranca no rosto.

— Nãosei de onde você tirou a ideia de que eu te odeio. Primeiro de


tudo, eu não te conheço o suficiente para te odiar. Segundo, se eu te odiasse,
não teria escolhido você dentre centenas de iniciantes. Eu escolhi você
porque você mostrou algo promissor quando era criança. Mas seu progresso
não foi tão bom quanto eu esperava. É por isso que estou fazendo você
servir como aprendiz. — Ele olhou Eridan nos olhos, seu olhar severo, mas
não cruel. — Não estou fazendo pouco caso, Eridan. Quero ajudá-lo a
melhorar, mas sou um homem ocupado e não posso me comprometer com
um aprendiz que pode não ser o meu.

Olhando para baixo, Eridan mordeu o lábio inferior. Isso parecia...


razoável. Seria possível que ele estivesse errado sobre Idhron e ele fosse
realmente um bom mestre?

Mas, assim como ele pensava, sabia que estava errado. Era bom
demais para ser verdade, considerando o que ele havia observado de
Castien Idhron.

Eridan levantou o olhar e disse: — Você está mentindo.

— Perdão? — Idhron disse.

Eridan cruzou os braços sobre o peito e olhou para o homem. —


Você pode desistir desse ato gentil. Não estou acreditando. Eu sempre sei
quando as pessoas mentem para mim. — Isso era mentira, mas havia
telepatas que tinham esse dom, e como Idhron saberia que Eridan não era
um deles?
Idhron olhou para ele por um momento antes que algo mudasse em
sua expressão, qualquer vestígio de bondade desaparecendo de seu rosto. —
Vai ser assim então? — ele disse, olhando Eridan com uma estranha
intensidade nova. Ele parecia de alguma forma ter se tornado maior e mais
alto.

Os pelos da nuca de Eridan se arrepiaram. De repente, ele sentiu


como se estivesse em uma sala com um predador, perigoso e imprevisível.

— Sim —, disse ele, afastando o desejo de fugir desta sala, deste


homem, tanto quanto possível.

Os olhos azuis de Idhron pareciam brilhar. Pela primeira vez desde


que o conheceu, Eridan sentiu que realmente havia se tornado algo
interessante para Idhron. — Você também é um mentiroso —, disse Idhron,
caminhando. Ele agarrou o queixo de Eridan e levantou-o para fazê-lo olhar
nos olhos dele. — Você não possui esse talento.

Eridan estremeceu, o estômago em nós. — Talvez não, mas eu posso


sufocá-lo se você tentar fazer algo comigo.

Idhron sorriu. Era um sorriso que parecia não ter nenhum tipo de
emoção além de diversão fria. — Você é promissor, afinal —, disse ele,
soltando o queixo de Eridan. — Sente-se.

Era impossível não obedecer a essa voz.

Eridan sentou-se no sofá, um pouco agradecido por isso, porque


seus joelhos estavam tremendo.

Ele olhou para este homem imponente, que olhou para ele com uma
expressão ilegível.

O silêncio se estendeu.

— Muito bem —, disse Idhron finalmente. — Irei ser franco com


você.

Eridan deu-lhe um olhar cético, mas não falou nada.


— Eu realmente não “odeio você” —, disse Idhron. — Eu não
odeio ninguém. O ódio é uma emoção. E as emoções são desnecessárias, e
eu erradiquei a maioria delas.

Eridan olhou para ele.

Ele estava falando sério? Ele realmente não sente emoções? Por
que? Como isso era possível?

Mestre Idhron foi até a janela. — Seus instrutores não lhe ensinaram
que as emoções interferem no seu controle sobre sua telepatia?

Eridan assentiu, franzindo a testa. — Sim, mas nenhum dos meus


instrutores sugeriram que erradicar emoções era algo que deveria ser feito.

— Para eles, isso não é necessário. —, disse Idhron, olhando para


fora. — A maioria dos mestres não pensam que as emoções são um grande
peso. Eles estão errados.

— Mas como você pode saber disso?

Idhron se afastou da janela e encontrou seu olhar. — O fato de eu


ser um telepata da classe 7 é prova suficiente.

Distante, Eridan sabia que estava boquiaberto.

Classe 7?

Idhron era da Classe 7?

— Você é Sete? — Ele expirou. — Mas como... ninguém disse que


você era sete.

— Não é algo que eu anuncio —, disse Idhron, dando de ombros. —


Mas o Alto Adepto e a Organização estão cientes disso.

Eridan lambeu os lábios e se inclinou para frente. — Você pode


realmente matar pessoas com sua mente? — ele sussurrou, seu coração
batendo mais rápido. A porra de um sete, merda. Não havia telepatas da
Classe 7 no planeta, até onde as pessoas sabiam.

O olhar que Idhron lançou a ele era extremamente impressionado.


— Mesmo que eu pudesse, dificilmente diria isso para você iniciante. E isso
não vem ao caso.

Certo. Qual era o objetivo?

Eridan se forçou a parar de se fixar no fato alucinante de que estava


em uma sala com um Sete e rebobinou a conversa em sua cabeça. —
Espere, você quer dizer que você é um sete porque não possui emoções?
Como isso está relacionado?

Mestre Idhron olhou para ele por um momento antes de dizer: — O


que estou prestes a lhe dizer não pode sair desta sala.

Era uma declaração, mas Eridan assentiu de qualquer maneira,


olhando para Idhron com curiosidade.

— Todo telepata tem uma área do cérebro dedicada à telepatia —,


disse Idhron.

Eridan assentiu, feliz por saber o que Idhron estava falando. — Sim,
o atheus.

— De fato — disse Idhron, e pela primeira vez desde que Eridan o


conheceu, havia algo como uma aprovação fraca em seu olhar.

Eridan fez uma careta, irritado consigo mesmo por se sentir um


pouco satisfeito.

— O tamanho do atheus determina a força da telepatia —, disse


Idhron. — É por isso que os telepatas de nível superior são tão raros: é
extremamente raro alguém nascer com um atheus grande o suficiente. Mas
o que não se sabe é que é possível fortalecer sua telepatia. Assim como
qualquer músculo, o atheus pode ser expandido treinando-o.
Eridan franziu a testa. — Mas isso não faz sentido. Se fosse
verdade, todos se tornariam um telepata de alto nível.

— Não, porque a maioria das pessoas não tem disciplina e não


deseja sacrificar o que vê como essencial. — Os lábios de Idhron se
curvaram em um sorriso irônico. — Eles valorizam muito suas emoções.

Eridan ficou intrigado. — Mas por que você tem que sacrificar suas
emoções?

Idhron lançou lhe um olhar surpreendentemente paciente. — A


capacidade do cérebro não é ilimitada. Se não nascermos telepatas de alto
nível, aumentar o tamanho do seu atheus tem um preço. Só pode ser
aumentada às custas de outra parte do cérebro. Sacrificar a capacidade de
sentir emoções e sentimentos inúteis faz mais sentido.

Eridan olhou para esse homem de olhos frios e percebeu com um


tipo fascino e horror que Idhron realmente não entendeu que a capacidade
de sentir era o que fazia dele um ser sensível. Ele se perguntou se houve
algum tempo que Idhron entendia que estava perdendo algo essencial na
busca de mais poder. Se houve, claramente não era mais o caso. O homem à
sua frente era agora um sociopata, incapaz de entender ou sentir emoções
profundas. Era ao mesmo tempo perturbador e fascinante.

— Você espera que eu desista de emoções também? — Eridan disse


com uma risada. — Porque eu posso lhe dizer agora que isso não será uma
possibilidade.

Idhron o estudou. — Não é algo que espero de você, mas espero que
faça um esforço honesto para aprender. Se você aprender, bom. Se não, não
importa. Você é um telepata da classe 5. É bom o suficiente.

Eridan sorriu ironicamente. Ele não pôde deixar de pensar que


Idhron simplesmente não queria que ele se tornasse tão poderoso quanto
ele.

Idhron o encarou com um olhar severo, voltando para ele. — O que


irei exigir de você é trabalho duro e lealdade. Você fará tudo o que eu digo,
sem exceções.

— Se você queria obediência cega, escolheu o iniciante errado —,


disse Eridan com um sorriso. — Eu nunca fui tão bom em seguir as regras.

Idhron estreitou os olhos. — Então você irá aprender —, disse ele


friamente. — Ou eu o deixarei de lado, e Mestre nenhum escolherá um
rejeitado.

Eridan olhou para ele, seu bom humor desaparecendo. Ele sentiu
aquela sensação repugnante no estômago novamente, as bordas de sua visão
ficando vermelhas quando sua mão se fechou em punho. Ele sabia o que
estava prestes a acontecer, mas desta vez deixou. Ele imaginou sufocar a
vida daquele idiota, imaginou a vida desaparecendo de seus olhos sem
emoção—

E, no entanto, nada aconteceu.

O olhar de Idhron ficou positivamente gelado. Ele disse


suavemente: — Lição um: nunca mexa com a vida de alguém se você não
puder fazê-lo perfeitamente, sem ser pego.

Eridan engoliu em seco e olhou para baixo.

— Lição dois. — Idhron agarrou o queixo de Eridan com força e


levantou o rosto para encontrar seus olhos. — Suas ações foram
extremamente tolas e patéticas, já que você sabe que sou um telepata mais
forte do que você. O que você esperava conseguir com essa tentativa
patética de me atacar?

— Você me deixou com raiva.

— Deixei —, disse Idhron, parecendo imperturbável. — E foi um


teste. Um que você falhou.

Eridan molhou os lábios secos. — O que você quer dizer?

Idhron manteve o olhar. — Se livrar de suas emoções pode não ser


um requisito, mas isso não significa que não esperarei que você aprenda a
controlá-las. Sua raiva é um peso. Não posso ensiná-lo a controlar esse dom
curioso que você possui, mas posso ensiná-lo a controlar sua raiva, para que
suas emoções não o controlem. Emoções descontroladas podem ser uma
grande fraqueza, Eridan. Meu aprendiz deve ser mais esperto que isso. Se
você se zangar com alguém mais poderoso do que você — socialmente,
politicamente ou telepaticamente — a reação correta seria fingir
subserviência e esperar até você se tornar poderoso o suficiente para
destruí-la.

Arrepios correram pela espinha de Eridan. Havia algo na maneira


como Idhron disse isso...

Uma risada nervosa borbulhou em seu peito. — Então eu deveria ter


absorvido o que você fez e planejado a sua morte pelas costas depois? É
isso que você está dizendo?

Idhron inclinou a cabeça. — Essencialmente. Você aprenderá que,


para sobreviver ao clima social de High Hronthar, será necessário —
absorver —, Eridan. Sempre foi assim.

Eridan olhou para ele com ceticismo. Ele não conseguia imaginar
esse homem altivo e frio agindo de forma subserviente.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Idhron disse: — Sim, eu


também agi assim. E ainda faço isso, até certo ponto, com a Organização e
o Alto Adepto.

Eridan bufou, lembrando-se da reunião da Organização que assistira.


— Se você estava sendo subserviente, não enganou ninguém, mestre.

Os lábios de Idhron se contraíram. — Neste momento, não preciso


que eles comprem a mentira, Eridan. Eles estão felizes o suficiente que eu
ainda esteja disposto a manter a aparência deles me controlando.

— Mas por quê?

— Você aprenderá que usar o medo das pessoas é sempre um ato de


equilíbrio. Você não pode deixá-los com muito medo ou eles se unirão
contra você para derrubá-lo. Eu posso ser um telepata da classe 7, mas sou
apenas um homem. Assim, eu não conseguirei me proteger se outros vinte e
dois membros da Organização decidirem que sou muito perigoso. Daí o ato
de equilíbrio.

As sobrancelhas de Eridan se uniram. — Você está sendo muito


sincero —, disse ele, desconfiado. — Tenho certeza que você não confia em
mim, então por que você está sendo tão aberto?

Ele sentiu algo como diversão fria saindo de Idhron.

— Fico feliz que você seja inteligente o suficiente para perceber isso
—, disse Idhron, seus dedos soltando o queixo de Eridan e deslizando ao
longo de sua mandíbula até que finalmente se estabeleceram logo abaixo da
orelha esquerda, quase tocando o ponto telepático de Eridan.

Eridan estremeceu, seu corpo tenso enquanto observava Idhron


cautelosamente.

— Você entende que eu não posso confiar em você sem garantias


adicionais —, disse Idhron. — Portanto, terei que criar um vínculo entre
nós.

— O que? — Eridan sussurrou, seus olhos se arregalando. Embora


um vínculo telepático entre um mestre e um aprendiz não fosse algo
incomum, era inédito formar um vínculo com um iniciante que o mestre
ainda não havia reivindicado. Se Idhron realmente o deixasse de lado,
jamais outro Mestre o escolheria. Ele realmente seria considerado algo
usado e descartável. Eridan sempre achou que era injusto que Mestres só
quisessem aprendizes com núcleos telepáticos intocados, mas era o que era.

— Você não pode fazer isso —, disse Eridan, seu coração batendo
mais rápido. — Ainda não sou seu aprendiz.

— A menos que você queira que eu apague sua memória sobre essa
conversa, você irá me permitir isso —, disse Idhron, observando-o com
uma expressão estranha. — A escolha é sua, Eridan.
Eridan olhou para ele, sabendo que não era uma escolha. Embora ele
estivesse apreensivo em permitir que esse homem entrasse em sua mente, a
outra opção era ainda pior. Ele não queria que suas memórias fossem
mexidas, especialmente por um telepata da classe 7. Um vínculo parecia um
mal menor.

— Tudo bem —, ele disse com relutância.

Idhron pressionou o polegar contra seu ponto telepático, e Eridan


estremeceu novamente, algo nele tremendo, precisando. — O que é isso? —
ele disse, olhando desconfiado para o mestre.

— Nossas mentes são muito compatíveis —, disse Idhron com


desagrado. — É lamentável, mas não há nada que possamos fazer sobre
isso.

Eridan estava confuso. — A compatibilidade mental não é boa para


o vínculo?

A presença telepática de Idhron ficou bastante azeda. — Geralmente


sim. Mas uma maior compatibilidade mental também significa uma maior
transferência emocional. Não erradiquei minhas emoções para agora estar
sujeita às suas.

— Não é como se você não sentisse emoções —, disse Eridan,


zombando. — Eu posso sentir quando você fica irritado, por exemplo.

Idhron olhou para ele sem rodeios. — Sua sensibilidade às emoções


de outras pessoas é extraordinariamente alta. E não é como se eu não
sentisse emoções. Minha capacidade para eles é simplesmente muito
limitada, e as emoções que sinto são muito passageiras e superficiais, como
um leve aborrecimento. Não sou capaz de sentir emoções fortes e
duradouras que distraem pessoas como você. Agora fique quieto. — O
olhar de Idhron ficou um pouco desfocado. — Eu vou estabelecer o vínculo
agora. Não resista.

Eridan fez o possível para derrubar seus escudos mentais e relaxar,


mas ele ainda engasgou ao sentir Idhron deslizar dentro de sua mente.
Parecia... estranho. Invasivo e intenso, mas estranhamente bom também.
Ele tremeu quando a presença mental de Idhron tocou seu núcleo telepático
pulsante e se enrolou em torno dele. Oh, isso parecia absurdamente
agradável. Eridan podia sentir um fio de ouro começando a se formar em
torno de seu núcleo, conectando suas mentes: o vínculo. Ninguém disse a
Eridan que os vínculos eram tão bons.

— Porque eles nem sempre são —, a voz de Idhron disse em sua


cabeça, assustando-o. — Meu vínculo de treinamento com meu ex-mestre
não era assim. Não éramos tão compatíveis.

Eridan podia sentir que não considerava uma falha, em oposição ao


vínculo entre eles, que era claramente imperfeito, na opinião de Idhron.

Eridan revirou os olhos. Por alguma razão estranha, ele se sentiu


muito mais relaxado na presença de Castien Idhron, agora que ele o tinha
em mente.

— É o vínculo —, Idhron informou, sem ser tentado. — Isso


provoca uma falsa sensação de facilidade e intimidade. Eu aconselho você a
não confiar nesse sentimento.

— Sim, nosso vínculo é horrível e nojento — eu entendo —, disse


Eridan. — É uma pena que você tenha que viver com isso.

— Não seja atrevido comigo, Eridan —, disse Idhron antes de sair


de sua mente.

Eridan engoliu sua decepção, a sensação de facilidade e


proximidade desaparecendo.

Ele abriu os olhos e ficou momentaneamente desorientado, olhando


para o exterior gelado e fechado de Idhron. Não que Idhron possa ser
quente em um ambiente mental, mas ele definitivamente também não
sentira a frieza. Ele parecia mais... acessível quando eles se comunicavam
mentalmente. O homem que Eridan estava olhando não parecia nem um
pouco acessível.
— Está feito —, disse Idhron. Ele franziu a testa. — Como seu
aprendizado é probatório, você ainda não pode ter uma residência no
Distrito Dois. Eles são apenas para aprendizes registrados. Mas você
também não pode ficar no distrito externo. É muito longe e buscar você
constantemente se tornaria muito cansativo — Os lábios dele afinaram. —
Você terá que morar aqui por enquanto.

Eridan piscou. — Aqui? Você quer que eu viva com você?

— Mestre —, afirmou Idhron, estreitando os olhos.

— O que? — Eridan disse, confuso.

— Você sempre vai me chamar de Mestre agora. Já tive o suficiente


de sua insolência. E para responder sua pergunta, sim. Você ficará aqui.
Existem quartos o suficiente em minha casa para que sua presença não seja
muito incômoda.

— Estou começando a me perguntar por que você quer um aprendiz


—, disse Eridan com uma risada sem humor. — Se eu não for nada além de
um inconveniente para você.

Idhron lançou-lhe um longo olhar que Eridan não conseguiu ler. —


Eu não sou um homem irracional, Eridan —, disse ele finalmente. — Prove
seu valor para mim e você não será um inconveniente. — Ele olhou no seu
relógio. — Eu irei para a Colônia Deniz do Primeiro Grande Clã em menos
de uma hora. Estarei fora por três ou quatro dias. Sinta-se em casa enquanto
eu estiver fora.

— Você quer dizer... você quer dizer que eu posso escolher o quarto
que eu quiser?

Idhron fez uma pausa e olhou para ele.

Eridan de repente se sentiu terrivelmente transparente. Bem, ele


provavelmente era, considerando que o outro homem era um telepata da
Classe 7 que tinha acesso direto à mente de Eridan.
— Você pode escolher qualquer quarto, menos o meu —, disse
Idhron depois de um momento. Seu olhar varreu as roupas de Eridan. — E
peça ao meu criado que peça roupas novas para você. As vestes dos
iniciantes não são mais adequadas para você. Embora você ainda não possa
usar roupas de aprendiz, você precisará de um novo conjunto de roupas em
cores neutras. Meu aprendiz não pode parecer surrado.

Eridan corou, sentindo-se um pouco humilhado. Embora ele


cuidasse muito de suas roupas, não havia como esconder que eram roupas
de diversos outros iniciantes que as usaram antes dele.

— Tudo bem, mestre —, disse ele, engolindo seu orgulho. Foi


difícil. Seu orgulho sempre fora uma de suas maiores falhas. Eridan nem
sabia por que era tão orgulhoso. Às vezes, ele pensava que sua família
biológica poderia ter sido nobre, apesar de obviamente não conseguir
confirmar. As informações sobre as famílias de nascimento dos iniciantes
geralmente não eram incluídas em seus registros, e Eridan só sabia que ele
tinha três anos quando foi trazido para Hronthar. Ele não se lembrava de
quase nada de sua vida antes da Ordem e do pouco que ele conseguia
lembrar, ele não confiava, porque fazia pouco sentido.

Quando o silêncio se prolongou e Idhron ainda estava ali, olhando


para ele com expectativa, Eridan fez uma careta, percebendo o que o
homem estava esperando.

— Você ainda não é oficialmente meu mestre —, ele resmungou,


fazendo beicinho.

O olhar que Idhron lançou a ele foi intransigente. — Não exigirei


isso toda vez que nos estivermos juntos, mas você deve se acostumar a
dirigir-se a mim assim enquanto estivermos em público. Eu não tolero
desrespeito, e isso seria considerado um sinal de desrespeito por outros se
você não se comportar como um bom aprendiz.

Suspirando, Eridan deu os poucos passos que os separavam, caiu de


joelhos e inclinou a cabeça. — Mestre. Que você faça uma viagem segura.
Ele não levantou os olhos, esperando a reação de Idhron. A etiqueta
do High Hronthar era — desnecessariamente, na opinião de Eridan —
complicada. Alguns mestres eram mais indulgentes, mas os mestres de
linhagens tradicionais e antigas, como Idhron, usualmente seguiam os
velhos costumes. Havia várias maneiras do Mestre responder a uma
despedida tradicional, dependendo da relação entre mestre e aprendiz e
quanto o mestre valorizava seu aprendiz.

Ele se encolheu um pouco por dentro, esperando que Idhron o


fizesse beijar a bainha de seu manto preto, ou pior, suas botas — costumes
que eram considerados ultrapassados e desnecessariamente degradantes
pelos padrões modernos de High Hronthar, mas ainda amplamente
aceitáveis, especialmente se o mestre e o aprendiz não tiver o melhor
relacionamento.

Mas, para seu alívio, Idhron ofereceu seu anel.

Eridan roçou os lábios contra a pedra preta e olhou para cima.

Olhos azuis o observavam com uma expressão fixa e ilegível.

Algo apertou o estômago de Eridan.

— Obrigado, Eridan —, disse seu mestre.

Quando Idhron recuou a mão, as pontas dos dedos roçaram o queixo


de Eridan, e Eridan estremeceu quando sua presença telepática avançou,
tentando atrair seu Mestre, o vínculo entre eles pulsando com a necessidade.

Os lábios de Idhron afinaram um pouco. — Você trabalhará em seus


escudos enquanto eu estiver fora —, disse ele antes de sair da casa.

Eridan não sabia quanto tempo ele ficou lá, de joelhos, olhando
inexpressivamente para o local onde seu Mestre acabara de sair.

Escudos. Certo.
CAPÍTULO 4
Testes

O servo do mestre Idhron era um jovem chamado Javier. Ele era


apenas cinco anos mais velho que Eridan e era um tipo de pessoa agradável
e sem sentido.

— Há quanto tempo você o serve? — Eridan perguntou


curiosamente enquanto ele e Javier pediam roupas novas online.

— Apenas alguns meses —, disse Javier, escovando os cabelos para


trás.

Ele é um cara bonito, pensou Eridan. Eles eram um pouco


parecidos, na verdade. O cabelo de Javier era mais escuro e seu rosto era
um pouco mais redondo, mas seus traços e feições eram semelhantes o
suficiente para serem confundidos como parentes.

— Como é? — Eridan disse, curioso apesar de tudo. Todos sempre


diziam o quão terrível não era ser reivindicado por um Mestre e se tornar
um membro do departamento de serviço da Ordem, mas Eridan nunca havia
realmente falado com um servo. Não havia servos no distrito externo. Tudo
o que sabia sobre os criados era que eles podiam se especializar em uma
vasta variedade de campos, alguns mais importantes que outros.

Javier deu de ombros. — Tudo bem. Mestre Idhron é um


empregador decente o suficiente. Ele é exigente, mas eu já tive piores.

— O que você quer dizer?

Javier fez uma careta. — Minha contratadora anterior queria que eu


prestasse serviços nos quais não sou especializado, serviços que eu não
queria realizar e tive que registrar uma reclamação.
Eridan se encolheu. — Você quer dizer que ela queria que você a
servisse sexualmente?

Javier riu. — Não era esse o problema — eu sou um servo do prazer


antes de tudo. O problema era que ela queria que eu fizesse atos com os
quais eu não concordei no meu contrato com ela.

Eridan abriu a boca e fechou.

— Você é um servo do prazer? — ele sussurrou finalmente, de olhos


arregalados. Se Javier era um servo de prazer, isso significava... — Você faz
sexo com o Mestre Idhron?!

Javier riu de sua expressão. — Deuses, você é uma criança. Claro


que eu faço. Esse é o meu trabalho.

Eridan só podia olhar para ele.

Ele não sabia por que se sentia tão chocado. Todo iniciante sabia
que os Mestres da Ordem não eram realmente monges, como o resto do
planeta pensava. Afinal, os criados de prazer existiam em Hronthar por um
motivo. Mas Eridan ainda não conseguia entender que o Mestre Idhron
fazia algo tão indigno e emocional como fazer sexo. Parecia... errado.

— Por que você quer ser um servo do prazer? — Eridan disse e


depois corou. — Sem ofensa.

Javier deu de ombros. — Relaxa. Mas por que eu não gostaria de ser
um? É um bom trabalho, e principalmente agradável. — Ele revirou os
olhos cinza prateado. — A menos que você seja estúpido o suficiente para
se apaixonar por seu empregador. Obviamente, é péssimo quando eles
deixam de lado por um novo brinquedo brilhante, o que sempre acontece
eventualmente.

Eridan ouviu-o falar sobre sexo e amor com um sentimento muito


surreal. Ele não era tão inocente quanto Javier pensava — todos no salão dos
iniciantes tinham pelo menos alguma ideia sobre sexo — mas ainda não
conseguia se imaginar oferecendo seu corpo para sobreviver. Mesmo que a
coisa de aprendiz não desse certo e ele fosse transferido para o
departamento de serviços da Ordem, Eridan nunca teria escolhido ser um
servo de prazer como sua profissão. Ele poderia trabalhar no departamento
de segurança, como especialista em limpeza de memória — ele era decente o
suficiente para apagar memórias. Ou talvez no departamento
administrativo. Sempre havia mestres precisando de mordomos para
administrar suas propriedades mundo a fora.

Mas um servo de prazer? Algo estremeceu o estômago de Eridan, o


mesmo que sempre o deixava orgulhoso demais, o mesmo que dizia que ele
era melhor que isso.

Imediatamente, ele teve vergonha de seus pensamentos. Javier


parecia um cara legal. Eridan não era melhor que ele.

Ele ainda não conseguia imaginar o Mestre Idhron fazendo algo tão
emocional quanto fazer sexo.

— Então, como ele é? — Ele disse antes que pudesse se conter.

Javier lançou-lhe um olhar divertido. — Você pode imaginar que há


uma cláusula de não divulgação no meu contrato, certo?

Eridan riu. — Por favor. Existem maneiras de contornar isso. Você


ainda pode falar em termos vagos.

O outro cara revirou os olhos, mas ele estava sorrindo. — Receio


não ter nada para compartilhar. Ele nem me chama com frequência
suficiente. — Ele parecia vagamente ofendido. — Acho que ele considera o
sexo uma perda de tempo, apenas uma função física com a qual ele tem que
lidar. Ele sempre parece ter um milhão de coisas passando pela a sua mente,
mais importante do que tudo o que estou fazendo.

Sim, isso soa mais como Castien Idhron, Eridan pensou


ironicamente, embora ele estivesse corando, imaginando seu Mestre
sentado com um olhar entediado e altivo no rosto enquanto Javier o
chupava—
Ugh. Por que ele estava pensando nisso?

Ele realmente precisava trabalhar em seus escudos mentais agora.

***

Eridan se olhou no espelho, olhando-se criticamente. As roupas


estavam bem ajustadas. Elas foram feitas no estilo tradicional para
aprendizes; exceto que estavam nas cores branca e marrom, em vez dos tons
de azul que os aprendizes usavam.

Eridan olhou para os cabelos na altura dos ombros e torceu o nariz.


Ele nunca gostou da ondulação de seus cabelos, mas os iniciantes não
tinham permissão para amarrá-los. Quando — se — ele se tornasse um
aprendiz de Idhron oficialmente, seu Mestre trançaria um thaal nos seus
cabelos, o que o marcaria como um aprendiz reivindicado.

Mas, por enquanto, Eridan não podia fazer nada com o seu cabelo.

Porra, ele detestava esse penteado. Fazia-o parecer afeminado. Não


que houvesse algo errado em parecer afeminado, mas sempre tornava sua
vida mais difícil no Salão dos Iniciantes. Ser um retrocesso, um homem que
produzia lubrificação natural quando estava excitado, sempre o tornara um
alvo fácil de piadas grosseiras sobre sua “boceta de menino”, sério, se
Eridan não precisasse ouvir essa palavra por mais um século, seria ótimo —
mas ser bonito apenas elevara o número de insultos dirigidos a ele.

Pelo menos suas aulas com outros iniciantes seriam limitadas agora,
o que era a única coisa boa sobre a situação.

Eridan ficou parado quando algo no fundo de sua mente piscou.


Oh.

Idhron finalmente voltou.

Molhando os lábios nervosamente, Eridan desceu as escadas.

Nos últimos quatro dias desde que ele se mudara para a mansão de
Idhron, ele se acostumara e conseguira andar com facilidade, apesar do
tamanho. Verdade seja dita, ele já se sentia mais em casa nesta mansão do
que jamais se sentira em seu dormitório, apesar de viver ali a maior parte de
sua vida. Algo sobre viver em uma casa tão grande parecia... certo.

Afastando o pensamento estranho, Eridan saiu de casa e parou na


varanda, escolhendo-o como o meio termo entre esperar por seu mestre
dentro de casa ou nos portões. Esperar dentro de casa seria considerado
desrespeitoso, mas ele se encolheu ao pensar em esperar Idhron nos portões
como um animal domesticado para seu dono. Então a varanda era ótima.
Eridan esperava que Idhron não ficasse muito ofendido. Idhron não parecia
um defensor de tradições estúpidas, mas quem sabe em que tipo de humor
ele estava depois da viagem.

Mas não havia recompensa sem risco. Esses primeiros dias de seu
estágio probatório ditariam todo o tom de seu relacionamento com seu
mestre. Ele não tinha nenhuma intenção de ser uma tarefa fácil. Ele poderia
deixar Idhron desagradado, mas Eridan queria testar os limites, testar até
que ponto ele poderia realmente ir.

Ele manteve o olhar baixo, mas não precisava ver Idhron para senti-
lo se aproximar. Era o sentimento muito estranho. O vínculo que os unia
parecia apertar e vibrar quanto mais perto seu Mestre chegava. Eridan
pegou o lábio inferior entre os dentes, respirando uniformemente, entrando
e saindo. De dentro para fora.

Quando as botas pretas brilhantes de Idhron apareceram, Eridan caiu


de joelhos fluidamente e disse: — Mestre. Sua viagem foi proveitosa?

Uma mão pegou seu queixo e o levantou.


Olhos azuis varreram suas roupas novas antes de focar novamente
em seu rosto. — Sim —, disse ele. — Vejo que você trabalhou em seus
escudos na minha ausência.

Eridan assentiu e baixou o olhar, as pontas das orelhas ardendo. O


desejo de esconder sua conversa com Javier de Idhron havia sido um bom
incentivo.

— Vamos testá-los, então? — Idhron disse suavemente, seu polegar


se movendo ao longo da mandíbula de Eridan até que ele era pressionara
contra o ponto telepático de Eridan.

Eridan estremeceu, o vínculo entre eles pulsando com a necessidade.

— Não é bom o suficiente —, afirmou Idhron.

Era imaginação dele ou Idhron realmente parecia um pouco sem


fôlego?

— Sinto muito, mestre —, disse Eridan, olhando para o piso de


madeira da varanda. — Eu tentarei mais.

Idhron soltou o queixo. — Você vai. —, disse ele. Ele entrou na


casa, claramente esperando que Eridan o seguisse. Ele fez, é claro.

Idhron levou-o para o escritório. Ao longo do caminho, Eridan


silenciosamente instruiu a IA da casa a trazer da cozinha, as refeições
favoritas de Idhron o mais rápido possível. Pessoalmente, Eridan sempre se
sentia de bom humor se seu estômago estivesse cheio, e esperava que isso
também fosse verdade para seu mestre.

Idhron sentou-se na cadeira diante da sua mesa e fez um gesto para


Eridan sentar-se à direita.

Eridan fez como lhe foi dito e cruzou as mãos no colo, a imagem de
um aprendiz perfeito.

A julgar pelos olhos estreitos de Idhron, ele só conseguiu fazê-lo


desconfiar.
— Você já fez a sua tarefa? — Idhron disse.

Eridan fez beicinho, pensando na mensagem que havia recebido de


Idhron alguns dias atrás. — Sobre isso. Eu nunca ouvi falar de Mestres que
atribuíam lições de casa a seus aprendizes. Eu ainda tenho aulas de
iniciantes que tenho que assistir, você sabe.

Idhron não parecia ter pena dele. — Você já fez? — ele disse, seu
tom mais frio.

Eridan suspirou. Portanto, lamentar-se de ter que fazer o dever de


casa não era um caminho que Idhron permitiria que ele traçasse. Uma pena,
mas é bom saber.

— Eu fiz sim, mestre —, disse ele, sorrindo inocentemente quando


Idhron lançou-lhe um olhar duro e avaliador. — Por falar nisso, agradeço.
Eu me diverti muito fazendo essas tarefas.

Ele esperava que Idhron estivesse com raiva — ou com sua versão
sem emoção, de qualquer maneira — por tentar interpretá-lo, mas o olhar
do homem mais velho parecia quase... apreciativo?

— Faça agora —, disse Idhron sem muita inflexão.

Eridan assentiu, tentando reprimir o desejo de impressioná-lo. O que


havia de errado com ele? Não era para impressionar Idhron. Ou melhor,
não era para impressionar Idhron por que quer impressioná-lo. Ele queria
ser promovido a um verdadeiro aprendiz. Esse era o objetivo. Nada mais.

— Eu não tinha certeza do que fazer no início —, admitiu Eridan.


— Você acabou de me dizer para aprender os segredos de outras cinco
pessoas sem ser pego, e eu não tinha certeza de qual método você queria
que eu usasse. E eu nunca fui bom em ler a mente das pessoas, então fiquei
um pouco frustrado. — Isso era o mínimo. Ele estava furioso porque
Idhron o arruinara. Não era como se Idhron não tivesse acesso aos seus
registros acadêmicos e não pudesse ver suas notas ruins na parte de leitura
da mente. Mas quando ele se acalmou, percebeu que Idhron queria ver
como ele lidaria com essa tarefa. Foi outro teste. Um teste que Eridan
esperava ter passado.

— Então eu usei sua reputação —, disse Eridan, observando a


reação de seu mestre com cuidado. — Todos os iniciantes têm medo de
você. Tudo o que eu precisava fazer era sugerir que queria entrar na mente
deles sob suas ordens e que, se resistissem, você não ficaria satisfeito. —
Ele quase riu, lembrando os rostos dos outros iniciantes diante dessa
ameaça. Eridan havia escolhido os iniciantes mais horríveis que conheceu,
que sempre intimidavam retrocessos e crianças mais novas. Ele não podia
negar que tinha tido prazer em assustar aqueles idiotas. — Eles me
deixaram entrar em suas mentes, obviamente, e depois que eu descobri o
segredo mais embaraçoso deles, apaguei as lembranças sobre a nossa
conversa — no qual sou bastante bom. Focando nisso, ele enviou as
memórias dessas conversas para o seu Mestre através do vínculo de
treinamento.

A expressão de Idhron permaneceu impassível. Nada


impressionado.

O coração de Eridan afundou. Ele pensou que Idhron não se


importaria com sua solução...

— Não é sua solução que é o problema, Eridan —, disse Idhron, sua


voz suave. — Usar todos os recursos disponíveis para você foi uma coisa
inteligente a se fazer. O problema é que você escolhera cinco garotos
desagradáveis os quais você não gosta. Você deixou suas emoções
governarem suas ações.

Eridan apertou a mandíbula. — Bem, esse sou eu. Eu já disse para


você não esperar que eu me transformasse em um robô sem emoção. Se
você realmente espera, você deve parar de desperdiçar nosso tempo e me
abandonar agora.

— Eu dificilmente espero que você se transforme em um “robô sem


emoção”, Eridan —, disse Idhron, dando-lhe um olhar firme. — Mas espero
que você não seja tão melindroso. Quando você se tornar um adepto da
mente em High Hronthar, fará parte do seu trabalho aprender os segredos
mais sujos de outras pessoas, e você não terá o luxo de escolher apenas as
pessoas de quem não gosta.

Eridan engoliu seu aborrecimento, odiando que o argumento de


Idhron fosse válido e odiando a si mesmo por estar satisfeito com seu
discurso. Idhron havia dito “quando você se tornar um adepto da mente”,
não se. Isso o agradou mais do que deveria.

— Então eu falhei no seu teste. —, afirmou, desanimado.

— Sim e não. —, disse seu mestre. — Darei a você a oportunidade


de refazer sua tarefa, só que desta vez você escolherá cinco pessoas de
quem você gosta. Seus amigos mais próximos.

Uma risada saiu da boca de Eridan. — Então você está sem sorte,
mestre. Eu não tenho amigos exatamente. — Ele disse isso em sua voz
mais casual, mas provavelmente não deveria ter se esforçado, considerando
que Idhron tinha acesso direto a suas emoções.

— Por que não? — Castien disse, parecendo levemente intrigado.


— Você é bastante extrovertido e fisicamente atraente. Garotos como você
geralmente são populares entre seus pares.

O rosto de Eridan se aqueceu. — Sou um retrocesso. —, disse ele,


segurando o olhar de Idhron sem vacilar. Ele se recusou a ficar
envergonhado com isso. — Você sabe disso, não sabe?

Quando o outro homem apenas assentiu, ele relaxou um pouco e


continuou. — Sempre foi algo que outros garotos usavam para me provocar,
e eu meio que desenvolvi uma língua afiada em resposta a todas as
provocações. — Assédio moral. — E também não ajudou que todos
soubessem sobre sua pré-reivindicação sobre mim. — Ele sorriu sem
humor. — Não me ajudou exatamente a ter amigos.

Idhron assentiu, sua expressão difícil de ler.

Curiosamente, Eridan espiou a mente de seu mestre.


Ele não havia tentado fazer isso antes, então não tinha certeza do
que esperar.

Ele encontrou... imensos escudos mentais. Eles não eram muros, a


defesa mental que a maioria dos telepatas, inclusive Eridan, tendia a
gravitar. Os escudos de Idhron eram como um nevoeiro, denso e ilusório,
sempre em mudança e confuso. Quando Eridan tentou entrar no nevoeiro,
percebeu que não tinha ideia de onde ir, onde ficava a saída ou a entrada.
Esses tipos de defesas mentais foram projetados para deixar o intruso
irremediavelmente perdido.

Ele também estaria irremediavelmente perdido, se não conseguisse


sentir uma brecha nessas defesas, um caminho fraco na mente de Idhron.
Era o vínculo deles, Eridan percebeu com alguma surpresa. Ele não sabia
por que estava surpreso. Embora o Mestre tivesse mais controle sobre o
vínculo de treinamento, o aprendiz ainda poderia usá-lo. Mas “poderia” não
era igual a “permitido”. Os mestres geralmente não gostavam de dar a seus
aprendizes livre acesso a suas mentes, e ele duvidava que Castien Idhron
fosse uma exceção. Eridan ainda estava curioso. Então ele se concentrou e
seguiu o vínculo até que finalmente passou pelas defesas mentais de Idhron.

Atrás disso, as coisas estavam organizadas. Pode ser uma maneira


estranha de descrever a mente de alguém, mas a mente de Idhron era
realmente incrivelmente ordenada. Nada estava fora do lugar. Todas as suas
memórias estavam trancadas atrás de inúmeras portas mentais. Nenhuma
emoção vazava.

De repente, ele foi empurrado para fora da mente de Idhron, com


uma dor de cabeça dividindo seu crânio.

— A curiosidade não é uma característica ruim —, disse Idhron


enquanto Eridan massageava seus templos. — Mas algo poderia ter matado
você se você fosse outra pessoa.

Eridan não conseguiu nem olhar. Seus olhos ainda estavam fechados
enquanto ele lutava contra as náuseas devido à dor de cabeça latejante.
Ele ouviu Idhron suspirar e dar a volta na mesa. — Que isso seja um
pequeno aviso, Eridan —, disse ele, colocando a mão no lado da cabeça de
Eridan e empurrando o polegar contra seu ponto telepático. Ele empurrou e
Eridan gemeu de alívio quando a presença mental fria de seu mestre
acalmou a dor latejante em sua cabeça. — Se você tentar invadir minha
mente novamente, não serei tão misericordioso.

Eridan assentiu atordoado, perdido demais no prazer para discutir


com o seu Mestre sobre a injustiça disso tudo.

Ele choramingou quando Idhron começou a se retirar. — Não —,


ele disse sem fôlego. — Só um pouco mais.

Ele sentiu que Idhron estava menos do que divertido.

— Por favor, Mestre —, disse Eridan através do vínculo, puxando-o


mais fundo em sua mente. Ele precisava — ele precisava—

Idhron puxou abruptamente, retirando a mão. — Já é o suficiente.

Ainda atordoado, Eridan forçou os olhos a abrir. — Mas Mestre —,


ele disse com um bico, agarrando a mão de Idhron sem pensar.

Ele congelou ao ver o olhar gelado com o qual Idhron o estava


encarando.

— Você precisa criar tolerância ao nosso contato mental —, disse


Idhron. — Isso foi inaceitável. Não posso ter um aprendiz que se perde no
nosso vínculo de treinamento.

Eridan corou. — Não é minha culpa que seja bom!

— Seu garoto tolo —, disse Idhron. — Você tem alguma ideia de


quão vulnerável você se torna quando me convida para entrar como fez
agora?

Eridan franziu a testa, um pouco confuso. — Você é um telepata da


classe 7 que tem acesso direto à minha mente por meio de nosso vínculo.
Não pode ser mais vulnerável que isso, Mestre. — Sem mencionar que eu
não acredito que você realmente se importe comigo se eu me tornar
vulnerável em relação a você.

Ele não havia expressado o último pensamento em voz alta, mas


tinha certeza de que Idhron entendeu através da conexão deles, já que ele
não estava se protegendo.

Idhron disse: — Eu posso ser da classe 7, mas você é da classe 5,


forte o suficiente para proteger sua mente de invasões profundas, se você
realmente se concentrar. Ao me convidar, você me dá poder ilimitado para
fazer o que eu quiser em sua mente. Ele inclinou a cabeça levemente, o
canto da boca se curvando. — Você está certo que eu realmente não ligo se
você está se tornando vulnerável a mim. Mas essa... sensibilidade é uma
fraqueza que pode ser — e será — explorada por outros telepatas com os
quais você pode ser mentalmente compatível. Eu nunca poderei confiar a
você informações confidenciais se você for reduzido a uma bagunça
excessivamente estimulada e cheia de prazer toda vez que alguém
compatível tocar sua mente.

Eridan lançou-lhe um olhar cético. A compatibilidade mental já era


bastante rara. Em todos os seus anos em Hronthar, nunca havia conhecido
ninguém com quem reagisse dessa maneira. — Você realmente acha que eu
posso conhecer alguém com quem eu seja compatível?

Idhron beliscou a ponta do nariz. — Nossa compatibilidade é forte,


mas não é perfeita. Um dia você poderá encontrar um telepata que poderá
reduzi-lo a esse estado simplesmente olhando-o nos olhos. A
compatibilidade perfeita é rara, mas pode acontecer, e não posso te
responsabilizar se isso acontecer. Então você precisará parar de ser tão
patético e criar tolerância ao prazer mental.

— E como eu devo fazer isso? — Eridan disse, cruzando os braços


sobre o peito.

Os lábios de Idhron se afinaram em desgosto. — Exposição


controlada. Vou ter que gastar uma quantidade limitada de tempo dentro da
sua mente todos os dias até que pare de ser tão intenso para você.
Eridan piscou algumas vezes, sem saber como se sentia a respeito.
— E minha opinião não importa, eu suponho?

Idhron olhou para ele com firmeza. — Você tem uma opinião sobre.
Mas, a menos que você aprenda a controlar esse problema, não poderá se
tornar meu verdadeiro aprendiz. Nunca poderei confiar em você, assim
como nunca poderei confiar em nenhum viciado em substâncias.

Eridan se irritou. Ele não era um viciado. — Como você não é


afetado por essa compatibilidade?

Ele não conseguia ler a expressão no rosto de Idhron. — Porque,


diferentemente de você, eu não deixo minhas emoções me controlarem.
Como eu já te disse, minha capacidade de sentir emoção é muito limitada.

Eridan estreitou os olhos, desconfiado, sem ter certeza de que estava


acreditando. Centros de prazer não estavam localizados perto de centros
emocionais nos cérebros dos calluvianos. Se fosse esse o caso, Idhron já
não iria gostar fazer sexo, o que claramente não era o caso, segundo Javier.

Eridan empurrou o pensamento para o fundo de sua mente, com o


rosto quente. Ele esperava que Idhron não tivesse visto.

— Tudo bem, Mestre —, disse Eridan, baixando o olhar para tornar


mais difícil para Idhron ler seus pensamentos. Não que a falta de contato
visual parasse um telepata da Classe 7 se Idhron realmente quisesse saber
os seus pensamentos.

— Você está dispensado, então —, disse Idhron.

Eridan levantou-se e virou-se para a porta, mas depois parou. Como


eles não estavam se afastando por muito tempo, não era esperado dele beijar
um item da roupa de seu Mestre. A maioria dos Mestres pareciam gostar do
curvamento como cumprimento. Ele provavelmente deveria fazer isso se
quisesse cultivar um bom relacionamento de trabalho com Idhron, o que ele
queria, independentemente de sua aversão pessoal. A verdade é que ele iria
conseguir Castien Idhron como seu mestre. Ser agradável com ele era a
coisa mais inteligente a se fazer.
Pena que Eridan nunca foi bom em fazer a coisa inteligente. Algo
em Castien Idhron fazia Eridan querer agitar suas penas, perturbá-lo o
suficiente para quebrar seu exterior perfeito.

— Boa noite, Mestre —, disse Eridan, avançando para roçar os


lábios na bochecha de Idhron.

Quando ele se afastou, quase riu da expressão de Idhron.

Fazendo a expressão mais inocente, Eridan se curvou levemente e


saiu correndo do cômodo.

Ele se permitiu rir apenas na privacidade de seu próprio quarto.


CAPÍTULO 5
Nameday

Se Eridan pensava que a escolha preliminar pelo Mestre Idhron o


isolara, não era nada comparado ao quão isolado ele se sentia como um
aprendiz em estágio probatório. Ele agora não se encaixava em lugar
algum: nem com os iniciantes nem com os aprendizes. As poucas classes
que Eridan ainda compartilhava com os iniciantes haviam se tornado
insuportáveis, o ciúme tóxico de outros iniciantes dificultava até a sua
respiração.

Quanto aos aprendizes, eles tendiam a menosprezá-lo, pois ele ainda


não era bom o suficiente para se juntar a eles. Mas, ao mesmo tempo, eram
cautelosos com ele, porque ele era aprendiz do grande e terrível Castien
Idhron. Essa era a questão de ser um aprendiz: você sempre era julgado não
apenas por seus próprios méritos, mas por quem era seu mestre. Um
aprendiz pode ser altamente inteligente e poderoso, mas, se o Mestre não
era, logo não era tão respeitado quanto poderia ser e vice-versa.

Tudo era bastante exaustivo — e exaustivamente confuso. Eridan


rapidamente passara a não gostar da bagunça complicada que era a
hierarquia social entre os aprendizes.

Verdade seja dita, ele preferia passar mais tempo com seu mestre.

Se sete meses atrás alguém lhe dissesse que ele preferiria a


companhia de Castien Idhron à de seus colegas, Eridan teria rido de forma
incrédula.

Mas ele gostava de passar um tempo ao lado do seu mestre, mesmo


não tendo certeza de que gostava dele.
Castien não era um bom homem. Eridan tinha razão em suspeitar
que ele era um bastardo manipulador de coração frio. Porque ele era isso e
muito mais. Quanto mais Eridan o conhece, mais ele atesta a crueldade de
Castien. Castien era uma espécie de sociopata. Sua total desconsideração
pelos sentimentos de outras pessoas era surpreendente. Ele não parecia
sentir nenhuma culpa ou remorso por maltratar os outros. Para ser
totalmente justo com seu mestre, Eridan tinha certeza de que Castien nem
percebia que suas ações ou palavras cortantes poderiam prejudicar os
outros. Castien Idhron achava as pessoas interessantes apenas quando ele as
utilizava para alcançar seus objetivos. Se o Mestre possuir algum
sentimento e emoção, eles estavam tão profundamente escondidos que
poderiam muito bem não existir.

Eridan sabia que deveria desprezar Castien — ele era facilmente a


pessoa mais horrível que ele já conhecera — e ele o desprezava, mas,
verdade seja dita, neste momento, ele estava meio que dessensibilizado com
a horribilidade de seu mestre. Eridan culpava a ligação deles. Nos últimos
sete meses, tornou-se tão forte que ele frequentemente podia sentir
vagamente seu Mestre do outro lado do vínculo, algo que deveria ter
parecido invasivo e assustador, mas não era o caso. Eridan achava o vínculo
estranhamente reconfortante, especialmente porque sabia o quanto seu o
Mestre não gostava.

Castien Idhron não gostava de nada que ele não podia controlar,
qualquer coisa que não era algo que ele havia manipulado para existir, e
isso só fazia Eridan gostar mais ainda do vínculo deles. E era tudo culpa de
Castien, de qualquer maneira. A “exposição controlada” ao seu toque
mental apenas fortaleceu o vínculo entre eles, e o problema de vício
“desagradável” de Eridan não ia a lugar algum, para desgosto do seu mestre
e diversão de Eridan.

Embora, Eridan se preocupasse um pouco, que ele não estivesse


fazendo nenhum progresso em relação a isso. Ele poderia desprezar seu
Mestre, mas odiava desapontá-lo ainda mais. A decepção de Castien era a
pior. Não era como o desapontamento das pessoas normais: era uma das
duas emoções negativas que seu Mestre se permitia exibir. Diferentemente
do descontentamento de Castien, que era o equivalente à raiva, que não
também era nem um pouco divertido. A decepção de seu mestre fazia com
Eridan se sentisse pequeno. Inadequado. Indigno.

Ele sabia que não deveria se sentir assim — não deveria se esforçar
para obter a aprovação de uma pessoa tão horrível — mas não conseguia se
conter. Os elogios raros de Castien sempre deixava Eridan de bom humor e
sua decepção sempre arruinava o seu dia. Ele se odiava por se sentir assim,
mas era o que era.

Naquele momento, ele sentiu um empurrão no vínculo deles. —


Venha aqui —, a voz de seu mestre disse em sua cabeça.

Eridan franziu a testa e desceu as escadas, permitindo que o vínculo


o levasse até Castien.

Parecia que ele estava em seu escritório.

Eridan não bateu, desde que foi convocado. Ele entrou na sala, um
pouco ansioso. Ele não conseguia se lembrar de uma única vez de seu
Mestre ativamente usando o vínculo deles dessa maneira. Castien
geralmente gostava de fingir que seu vínculo não existia quando ele não o
estava usando para fins de treinamento. O vínculo facilitara o aprendizado
das artes mentais: ajudara Eridan a se concentrar mais, e ele conseguia
meditar melhor ao utilizar vínculo como sua âncora.

— Deseja alguma coisa, Mestre? — Eridan disse, tentando ler o


rosto inescrutável de Castien enquanto se aproximava.

— Sente-se.

Eridan sentou-se na cadeira de sempre e olhou com curiosidade para


o mestre. — Eu pensei que você tivesse uma reunião com a Organização
hoje.

— Terminou cedo —, disse Castien, olhando-o com uma expressão


estranha. — Hoje é o seu Nameday (dia do nome).

Eridan piscou. Era mesmo? Ele havia esquecido completamente.


Era costume para os membros da Ordem celebrar o Nameday em
vez do aniversário: o dia em que receberam seu nome novo e único e
começaram uma nova vida. Eridan, como a maioria dos iniciantes, não
sabia quando era seu aniversário. Ele só sabia que fora registrado aos três
anos de idade no dia em que foi nomeado. Era seu décimo sexto dia
nomeado, o que biologicamente era dezenove anos, embora ele
provavelmente já tivesse dezenove anos a algum tempo.

Provavelmente era um pouco patético que ele nem percebesse que


esse era o seu Nameday: isso tornava óbvio que ele não tinha amigos para
parabenizá-lo, razão pela qual Eridan não gostava de namedays. Ele sempre
se sentia ainda mais sozinho do que o normal.

— Oh —, disse ele, desviando o olhar.

— Convoquei você para discutir sobre o seu progresso —, disse


Castien.

O estômago de Eridan caiu. Foi estúpido pensar, por um momento,


que seu Mestre realmente se importava o suficiente para parabenizá-lo.
Castien Idhron era a última pessoa que se importaria com coisas
sentimentais como namedays.

— Seu progresso na maioria dos assuntos tem sido satisfatório —,


disse Castien.

Os lábios de Eridan se contraíram. Satisfatório significava “bom” na


língua de Castien.

— Com algumas exceções notáveis —, acrescentou seu mestre.

Eridan fez beicinho, o que lhe valeu uma olhada cética.

— Sua capacidade de ler mentes não é como eu gostaria que fosse


—, disse Castien. — E você ainda é péssimo em meditar sem mim.

— Mas mestre —, disse Eridan. — Não é minha culpa que não


consigo me concentrar sem você me guiar. É uma condição; não é algo que
eu inventei!

Castien deu-lhe um olhar semicerrado. — Você vai usar isso para


tudo que puder, não é?

Eridan sorriu. — Claro. O médico Zchen confirmou que eu tenho


leve de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

— Tenho certeza de que o "leve” foi a parte principal do seu


diagnóstico —, disse Castien secamente. — De qualquer forma, não posso
perder tanto tempo meditando com você. Portanto, eu decidi que a partir de
agora você meditará com o Mestre Tker...

— Não!

Os olhos de Castien se estreitaram perigosamente. — Como é?

Eridan engoliu em seco. Ele sabia muito bem que o Mestre tinha o
poder supremo sobre a educação do aprendiz. Tecnicamente, ele não tinha o
direito de se opor a qualquer decisão que o mestre Castien tomasse em
relação a seus estudos.

Mas…

— Mestre —, disse ele, ajoelhando-se na frente da cadeira de


Castien. Ele pegou a mão de seu mestre e beijou seu anel preto, olhando-o
nos olhos. — Eu não quero mais ninguém em minha mente. Só você. Por
favor, Mestre.

O rosto de Castien estava completamente imóvel, seu olhar ilegível


enquanto ele o encarava.

— Isso não vai funcionar, Eridan —, disse ele finalmente. — Você


pode parar de pestanejar e fazer essa cara. Não vou mudar de ideia.

— Não estou “pestanejando” —, disse Eridan, indignado. — E essa


é a minha cara.

Os lábios de Castien se contraíram. — De fato é.


— Mestre, por favor —, disse Eridan suavemente, baixando o olhar
antes de olhar novamente nos olhos azuis de Castien. — Eu realmente odeio
a ideia de algum estranho tocando minha mente. Me deixa doente.

Os lábios de Castien afinaram. — É exatamente por isso que você


precisa de alguém para guiá-lo. Você está muito acostumado comigo.
Mestre Tker poderá ensiná-lo melhor — Eridan zombou. — Certo. Você é o
melhor adepto da Ordem.

— Isso até pode ser verdade, mas, diferentemente de mim, o mestre


Tker é especialista em meditação. Ele será capaz de ajudá-lo.

— Eu não quero que ele me ajude —, resmungou Eridan.

— Eridan —, disse seu mestre friamente. — Pare de ser infantil.


Essa é a minha decisão final. Você tem um compromisso com o mestre Tker
amanhã à noite às vinte horas.

Eridan fez uma careta e saiu da sala, deixando a etiqueta de lado. Se


o Mestre dele se incomodasse, foda-se. Por que ele deveria se importar com
a opinião de alguém que não se importava com ele? Alguém que estava
super ansioso para passá-lo para outro Mestre e deixar outro homem mexer
com a mente de Eridan?

Seus olhos ardiam, e Eridan disse a si mesmo que eram lágrimas de


raiva, e não de decepção.

***

O encontro com o mestre Tker foi tão desastroso quanto Eridan


esperava.
— Abaixe seus escudos e me deixe entrar —, disse Mestre Tker,
olhando-o impassível.

Eridan tentou, ele realmente tentou, mas assim que sentiu Tker tocar
sua mente, ele levantou os escudos.

— Iniciante Eridan! — Mestre Tker disse.

Eridan rangeu os dentes, olhando para o homem. Ele odiava quando


as pessoas se dirigiam a ele assim, em vez de Aprendiz Eridan. Embora
ambas as formas de tratamento fossem válidas enquanto ele era um
aprendiz de estágio probatório, a maioria das pessoas o chamava de
aprendiz. Tker claramente queria colocá-lo em seu lugar.

— Estou tentando, mestre —, ele exclamou.

Sua mente só parece errada.

Eridan não disse isso; ele não cometeria esse erro. Um aprendiz
nunca deveria se apegar a uma presença telepática, especialmente a de seu
próprio mestre. Vínculos de treinamento eram apenas vínculos de
treinamento; eles não eram nada parecidos com os fortes laços matrimoniais
formados artificialmente entre casais calluvianos. Um bom adepto da mente
deveria saber navegar por qualquer mente, sem sentir aversão ao contato
telepático com estranhos. Admitir que ele não queria ter contato com outra
mente, além da mente do seu mestre, seria motivo de expulsão e
transferência imediata para o departamento de manutenção.

Então ele apertou a mandíbula e tentou novamente, tentando relaxar


o suficiente para deixar seus escudos abaixados.

Ele pensou que funcionara por um momento — ele podia sentir Tker
entrar nas camadas externas de sua mente — mas quando o homem
deslizou mais fundo, Eridan o empurrou para fora, náusea subindo pela
garganta. Errado, errado, errado. Ele abriu os olhos e olhou para Mestre
Tker cautelosamente, seus músculos tensos e os escudos de volta no lugar.
Ele não conseguira.
— Eu não consigo fazer isso —, disse ele com voz rouca. — Não
me toque.

Mestre Tker balançou a cabeça, parecendo perturbado. — Estou


surpreso que o Mestre Idhron tenha tolerado um aluno tão desobediente por
tanto tempo. Vou relatar isso a ele, é claro.

— Faça o que quiser —, disse Eridan e quase saiu correndo da sala.


Ele se sentira... Ele se sentira vagamente sujo. Violado, apesar de Tker mal
ter tocado em sua mente. Ele queria…

Ele queria seu mestre.

Eridan fez uma careta ao pensar nisso. O que havia de errado com
ele? Seu Mestre era a razão pela qual ele se sentia assim. Se Castien se
importasse com ele ao menos um pouco, ele não teria feito isso. Isso é tudo
culpa de Castien.

Ele ainda queria seu mestre. Queria que a presença de seu Mestre
afugentasse o sentimento errado e enjoado de sua mente.

Eridan suspirou, exasperado consigo mesmo. Ele olhou em volta e


percebeu que seus pés o levaram ao castelo. Ele podia sentir que Castien
estava em algum lugar próximo. Certo. A Organização tinha uma reunião
naquele dia.

Ele deveria ir embora.

Mas ele queria seu mestre.

Ele deveria ir, caramba.

Eridan mordeu o lábio, dividido entre a raiva e o terrível desejo em


sua mente. Castien era um bastardo sem coração que não dava a mínima
para ele. Ele não deveria precisar dele. Sem mencionar que Castien não
levantaria um dedo para fazê-lo se sentir melhor depois que descobrisse a
conduta pouco apropriada de Eridan com o Mestre Tker. De fato, Eridan
não ficaria surpreso se essa fosse a última gota d'água que finalmente faria
Castien enviá-lo para o departamento de manutenção.

Porque Castien ainda não era seu mestre. Era apenas um teste. Um
teste, que ele estava claramente falhando.

Eridan caminhou até o terraço e sentou-se em um antigo banco de


pedra. Puxando os joelhos no peito, ele os abraçou e olhou para o céu
escuro. As luas gêmeas estavam ascendendo.

Durante todos esses anos, desde os sete anos para ser mais exato, ele
tentara tanto melhorar, provar a Castien Idhron que ele era bom o suficiente,
mas era claramente inútil. Ele sempre teria qualidades indesejáveis para um
aprendiz: ele era muito emocional, muito temperamental, muito orgulhoso,
muito sensível. Ele nunca se tornaria um bom mestre, se fosse tão sensível
com uma simples meditação conjunta — se um contato superficial com um
telepata desconhecido o fizesse querer vomitar e correr para o Mestre como
um grande bebê.

— Eridan?

Ele se encolheu e virou a cabeça, arregalando os olhos quando viu


Castien caminhando em sua direção rapidamente. — O que aconteceu? —
O homem mais velho disse, seu olhar inescrutável varrendo-o.

— O que você quer dizer?

Seu mestre lançou-lhe um olhar impaciente. — Você estava


projetando miséria com tanta força que provavelmente era óbvio para todos
na área, até mesmo para mim. Qual é o problema?

Eridan deu de ombros e baixou o olhar. — Mestre Tker


provavelmente irá reclamar com você logo, logo. Não faz sentido fazer
você ouvir isso duas vezes. Você deveria voltar para a reunião da
Organização, Mestre.

Ele podia sentir o olhar de Castien na lateral do seu rosto.


— Acho que sua meditação com o mestre Tker não foi muito bem?

Eridan bufou sem humor, colocando o queixo sobre os joelhos. —


Você poderia dizer isso. Ele provavelmente vai pedir para você me
descartar. — Ele sorriu torto. — E ele provavelmente está certo.

Silêncio.

Por fim, ele sentiu seu Mestre sentado ao seu lado no banco. —
Olhe pra mim enquanto eu estiver falando com você.

Relutantemente, Eridan fez.

Eles apenas se olharam por um tempo. A expressão de Castien


estava tão ilegível como sempre, mas Eridan podia sentir... ele podia sentir
algo como descontentamento através do vínculo, só que mais forte.

— Ele te machucou? — Castien disse rigidamente. — Você se


sente... estranho.

— Ele não me machucou —, disse Eridan. — Eu simplesmente


odiei. Eu me sinto sujo por dentro.

Os lábios de Castien estavam pressionados em uma linha fina. Ele


desviou o olhar por um momento antes de suspirar e olhar para Eridan. Ele
colocou a mão na nuca de Eridan com cuidado, o polegar pressionando o
centro telepático.

Eridan estremeceu, ansioso.

Finalmente, Castien entrou. Um pequeno suspiro de alívio saiu da


boca de Eridan quando a presença familiar e fria de seu Mestre tomou conta
dele, afugentando o sentimento persistente, pegajoso e errado.

Ele fez um barulho de protesto quando Castien saiu. — Mestre—

— Eu tenho que voltar para a reunião —, disse Castien. — Vá para


casa e espere por mim. Nós precisamos conversar.
Eridan olhou para ele confuso. Ele nunca o entendia. Sempre que ele
achava que estava começando a entender Castien Idhron, seu Mestre o
surpreendia completamente. Embora Castien não fosse um homem gentil,
às vezes ele podia ser... quase gentil. Eridan tentou pensar em qualquer
motivo oculto que Castien pudesse ter por trás dessa gentileza, mas não
conseguia pensar em como isso o beneficiaria. Embora Eridan não tivesse
certeza de que Castien não estava apenas adiando suas repreensões até que
estivessem na privacidade de sua mansão.

— Tudo bem, Mestre —, disse ele, dando a Castien um pequeno


sorriso hesitante.

Um músculo se contraiu na mandíbula de Castien. Ele se levantou e


se afastou, sua túnica escura ondulando atrás dele.

Eridan foi para casa.

Lar. Era estranho que ele já tivesse começado a pensar na mansão do


mestre Castien como um lar.

Provavelmente era desaconselhável, mas Eridan não conseguia se


conter. Era o seu lugar seguro. Lá ninguém zombava dele, ou odiava, ou
olhava torto para ele. Lá ele estava por conta própria e, por um acordo
tácito, ele ficava no comando da casa quando seu Mestre não estava.

Eridan foi ao escritório de seu mestre e se aconchegou na cadeira


perto da lareira. O calor era reconfortante. Embora Calluvia não tivesse
invernos como a maioria dos outros planetas — o clima era artificialmente
regulado — sempre era um pouco frio nas montanhas, e sentar-se à lareira
no escritório de Castien se tornara o passatempo favorito de Eridan. Seu
Mestre não parecia se importar, desde que ele ficasse quieto.

Ele não tinha certeza de quando cochilara, mas deve ter acontecido,
porque a próxima coisa que percebeu foi que seu Mestre o estava
sacudindo.

— Eridan.
Ele abriu os olhos turvos, com a mente ainda nebulosa pelo sono. —
Mestre —, ele murmurou, estendendo a mão para passar os dedos sobre o
queixo firme de Castien. A barba por fazer do homem mais velho formigou
sua pele. — Você está bravo comigo? Você parece estar com raiva.

Castien se endireitou e recuou. — Eu nunca estou com “raiva”,


Eridan.

Eridan bocejou e endireitou-se, suprimindo o desejo de revirar os


olhos. — Então você está “descontente” comigo.

— Isso seria mais correto. Mestre Tker falou comigo.

Eridan fez uma careta. — Não vou deixá-lo entrar em minha mente
novamente. — Ele encontrou os olhos de Castien. — Se você insistir nisso,
pode me mandar embora agora para o departamento de manutenção,
Mestre. Eu não vou fazer isso de novo. Entendeu?

Castien deu-lhe um olhar duro. — Seu pirralho insolente —, disse


ele, sua voz enganosamente suave. — Parece que eu fui leniente com você
ou você não ousaria falar comigo nesse tom. Você sabe o que vai acontecer
com você se você acabar no departamento de manutenção?

Eridan franziu a testa e cruzou os braços sobre o peito. — Existem


profissões que eu não me importaria de exercer. Ser um servo não é tão
ruim como todo mundo faz parecer.

Os lábios de Castien torceram. — Você está se iludindo se acha que


terá uma escolha. Com seu rosto, você passará todo o seu tempo de joelhos
ou de costas, prestando serviços de manutenção a Mestres após Mestres.

Eridan corou. Havia algo incrivelmente errado em seu Mestre


falando com ele sobre sexo. Parecia obsceno. Castien nunca deu nenhuma
indicação de que havia notado que Eridan era uma pessoa que não se
relacionava sexualmente.

— Javier me disse que os servos têm uma escolha —, disse Eridan,


erguendo o queixo.
— Javier — Castien repetiu, as sobrancelhas se unindo. — E quem
é esse?

Eridan piscou confuso. — Seu servo?

— Esse é o nome dele?

Eridan ficou boquiaberto. — Você nem sabe o nome dele? Você —


você o usa por prazer, mas você nem sabe o nome dele? Ele era seu servo
muito antes de eu ser seu aprendiz!

Seu mestre lançou-lhe um olhar cético. — Ele é um servo, Eridan.


Não preciso saber o nome dele para utilizar seus serviços. Enquanto ele
tiver um desempenho adequado, não precisarei do nome dele para registrar
uma queixa.

Eridan olhou para ele, incrédulo. — Como você o escolheu se não


sabe o nome dele?

— Não tenho certeza de como isso é relevante para o assunto em


questão, mas se você quiser saber, eu escolhi quando vi a foto dele. O que
na verdade só prova meu argumento: você não quer ser um servo, Eridan.
Você quer ser tratado como um?

— Javier me disse que escolheu sua especialização. Não pode ser


verdade que eu não teria escolha.

Um sorriso sem humor tocou os lábios de Castien. — A maioria


dos iniciantes não reclamados tem uma escolha. Mas no seu caso, o
coordenador nem perguntará o que você quer fazer. Seu rosto ridículo teria
um preço alto demais para permitir que você fizesse um trabalho menos
lucrativo. Você é muito ingênuo se pensa de outra maneira.

Eridan fez uma careta, embora não pudesse negar que uma parte
dele gostasse que seu Mestre o considerasse especial, mesmo que fosse por
causa de algo que Eridan não pudesse ter muito crédito: sua aparência
física.
— Isso não muda nada, mestre —, disse ele, olhando para as mãos.
— Não deixarei o Mestre Tker entrar na minha mente novamente. Se você
não pode considerar isso, deve me deixar de lado agora. — Seus lábios se
curvaram em um sorriso amargo. — Eu não sou seu verdadeiro aprendiz de
qualquer maneira. Tker deixou isso bem claro hoje.

Silêncio.

Ele se esticou e se estendeu até Eridan não aguentar mais e olhar


para cima.

Ele encontrou seu mestre olhando-o com uma expressão estranha.


Ele podia sentir uma mistura complicada de emoções através do vínculo.
Era tão raro ele sentir as emoções de Castien que Eridan não estava
acostumado a isso e nem conseguia decifrar o que eram. O simples fato de
poder senti-las era desconcertante.

Então Castien caminhou até sua mesa e abriu uma das gavetas. —
Venha aqui —, disse ele, de costas para Eridan.

Eridan franziu a testa, mas fez como lhe foi dito.

Quando Castien se virou, ele estava segurando algo em suas mãos.

A respiração de Eridan ficou presa na garganta quando viu o que


era.

O thaal era bastante simples, mas bonito em sua simplicidade. A fita


azul continha um único dethrenyte roxo na forma de uma lágrima. A joia
preciosa brilhava vagamente à luz do fogo, mas não foi a beleza que
chamou a atenção de Eridan. Ele podia sentir a energia telepática que a
pedra preciosa emanava — a energia tão familiar para Eridan quanto a sua
depois de meses de compartilhamento com seu dono.

Engolindo em seco, ele levantou os olhos para os de Castien. Ele


não conseguia falar.
O homem mais velho manteve o olhar firme antes de dizer: — Vire-
se e ajoelhe-se.

Eridan fez.

Ele olhou para a lareira enquanto as mãos de Castien passavam a


fita pelos cabelos com cuidado antes de deixar o dethrenyte descansar no
pescoço de Eridan. O peso era leve, mas não insignificante. A energia da
pedra pulsava fracamente, aquecendo Eridan mais do que a lareira.

Ele tinha visto outros aprendizes vestindo suas roupas com orgulho,
as marcas de seus Mestres, mas ele nunca havia percebido o quanto seria
realmente aterrador. A marca telepática de Castien na pedra indicaria Eridan
como seu aprendiz para qualquer outro membro da Ordem que se
aproximasse dele. Era ainda mais precioso, porque Castien Idhron sabia
como mascarar sua marca telepática e raramente a deixava em qualquer
lugar que ele não quisesse. Mas ele havia dado a ele, a Eridan, de bom
grado — assim como ele estava dando o nome dele. Ele fazia parte da
linhagem de Castien agora. Ele agora seria chamado Aprendiz Idhron, não
apenas Aprendiz Eridan.

Eridan engoliu o repentino aperto na garganta.

— Olhe para mim —, disse Castien.

Eridan se virou, ainda ajoelhado. Ele ergueu o olhar para o de


Castien, cujo rosto estava ilegível.

— Combina com você —, disse o Mestre, tocando a pedra no


pescoço de Eridan, os dedos roçando sua pele.

Eridan estremeceu e pegou a mão de Castien com a sua. Olhando


nos olhos de seu Mestre, ele levou a mão à boca e beijou o dethrenyte preto
no anel de Castien, a pedra preciosa que já fora o próprio thaal de Castien.
Não foi a primeira vez que ele fez isso — longe disso —, mas agora o ato
possuía um significado maior.
— Eu não vou decepcioná-lo —, disse ele suavemente. — Eu
prometo a você: você não irá se arrepender, Mestre.

Algo cintilou nos olhos de Castien.

Ele olhou para Eridan e assentiu. — O thaal possui o benefício


adicional de ajudar você a se concentrar. Isso deve ajudá-lo a combater a
náusea que você sente ao entrar em contato com a mente de outro telepata.
Apenas se concentre na minha marca e ela irá centralizá-lo. O que
aconteceu com o Mestre Tker hoje não acontecerá novamente. Não parecerá
tão intrusivo, porque o thaal o protegerá do pior.

Eridan mordeu o lábio inferior e assentiu, sentindo-se atordoado. Foi


a primeira vez que ele presenciara Castien permitindo que alguém desviasse
das suas regras. Apesar de Eridan falhar completamente em seguir suas
ordens, seu Mestre não o deixou de lado, mas, em vez disso, basicamente
não se importou muito com o argumento, dando-lhe uma solução fácil para
seu problema com Tker. Era tão diferente das suas ações usuais.

— Obrigado, Mestre —, disse Eridan, sua voz mais grossa do que


ele gostaria. Olhando Castien nos olhos, ele virou a mão de Castien e
pressionou os lábios na palma da mão. Estava quente e seca. — Não vou
envergonhar o seu nome.

Os olhos azuis fitaram ele por momento antes de afastar as suas


maões e andar até a janela. — Ainda espero que você pare de confiar em
mim no futuro. Agora vá para a sua cama. Está tarde.

Eridan concordou e foi até a porta.

— Eridan.

Ele olhou para trás. — Sim, Mestre?

— Chame o meu servo e fale para ele vir até aqui.


Eridan apertou os lábios, e encarou as costas de Castien. No meio da
noite — Javier já deve estar dormindo — mas ele sabia que Castien não
ligava em incomodar um mero servente.

Sendo carrancudo, ele rosnou, — Sim, Mestre.

Ele ainda estava fumegando quando ele chamou Javier e ele


continuou fumegando quando ele foi para a sua cama.

Com seu rosto, você passará todo o seu tempo de joelhos ou de


costas, prestando serviços de manutenção a Mestres após Mestres.

Como Javier passa seu tempo com o Mestre? Ajoelhado ou de


costas?

Eridan esfregou os olhos e praticou técnicas de meditação para se


acalmar.

Pare de pensar nisso, caramba.

A parte mais importante era que, ele era verdadeiro aprendiz agora.
Também o fato de que os servos nunca serão iguais a ele. Ele era um
aprendiz. O primeiro aprendiz do Mestre Idhron.

Suas mãos se fecharam em torno do seu thaal que estava em


descansando em seu pescoço. A pedra estava quente ao toque, emanando a
marca telepática do seu mestre.

Pobre Javier que nunca saberá o que é isso.

Eridan só podia sentir pena dele.


CAPÍTULO 6
Uma Mesclagem

Um ano depois

— Por que você está de mau humor, Eridan?

Eridan se encolheu e olhou para Gaina, e depois para os outros


aprendizes a seu lado. Entre todos os seus colegas aprendizes, ele gostava
mais de Gaina, mas não estava com vontade de conversar com ela, muito
menos de falar sobre o que realmente o estava incomodando. Ela não
entenderia, de qualquer maneira. Nenhum deles entenderia. Eles
provavelmente ririam dele — se realmente se abrissem um pouco e se
permitissem rir.

Eridan apertou os lábios, sentindo-se muito sozinho. Ele pensara —


esperava — que, quando se tornasse um deles, ele iria se sentir mais
incluído, mas ainda não se encaixava, mesmo depois de mais de um ano
como aprendiz oficial. Na maioria das vezes, Eridan não se importava —
ele não passava muito tempo com os outros aprendizes para se importar —,
mas o abismo entre ele e eles se tornava óbvio quando seu Mestre ficava
ausente e Eridan era forçado a passar seu tempo com eles.

Salah olhou para ele com desdém mal contido. — Tenho certeza que
ele está deprimido, porque sente falta do Mestre Idhron. Todos sabemos que
Eridan é um bebezinho.

Eridan deu um sorriso agradável. — Não há necessidade de ser tão


ciumento, Salah. Não é minha culpa que seu Mestre não se importe com
você.
Um rubor zangado apareceu no rosto de Salah. Honestamente, era
meio hilário que todos esses hipócritas agissem como se fossem muito
melhores que ele, apenas porque podiam fingir humildade, controlar suas
emoções e ser obediente de uma forma melhor que ele.

— Você é um iludido se acha que o mestre Idhron se importa com


você —, disse Salah. — O Mestre Idhron não se importa com ninguém,
muito menos com um perdedor desobediente e emocionalmente excessivo
com o qual ele estava envolvido.

Eridan contou até dez. Calma. Ele poderia ficar calmo.

— Meu mestre me escolheu —, disse ele calmamente.

Salah bufou. — Vamos lá, todos nós sabemos o que você fez para
ele escolher você. — Ele riu, olhando para os lábios de Eridan. — Você
deve ser excepcionalmente talentoso em chupar pau para fazê-lo esquecer o
quanto você era um iniciante fracassado.

Algo quente explodiu no peito de Eridan. Antes que ele soubesse o


que estava fazendo, Salah estava se contorcendo no chão, as mãos
agarrando a garganta freneticamente quando um aperto invisível contraiu
seus pulmões, apertando.

Houve gritos e, em seguida, — Aprendiz Idhron! Pare com isso


agora!

***

Eridan olhou sombriamente para a mesa do escritório do Alto


Adepto.
— Esta é sua quarta transgressão, aprendiz Idhron —, disse o Alto
Adepto Tethru gravemente, fechando o arquivo de Eridan.

Eridan resistiu ao desejo de revirar os olhos. Ele odiava a atuação de


vovô fraternal de Tethru. Não combinava com ele. Não havia nada disso em
Tethru. Em particular, Eridan pensava que Tethru apenas tentara agir como
o Alto Adepto Kato, que na verdade era antigo e velho, como um vovô.
Eridan meio que sentia falta do velho: ele às vezes sorria.

— Sim, Alto Adepto —, disse Eridan em sua voz mais mansa.


Tethru não tolerava desrespeito. Ele também gostava quando as pessoas o
chamavam pelo seu título e agiam da maneira mais submissa possível ao
seu redor. Eridan desprezava o homem, mas sabia que não devia
demonstrar. Seu mestre o havia ensinado sobre isso.

— Vejo que, anteriormente, o Alto Adepto Kato deixou a critério do


mestre Idhron lidar com sua punição, mas não serei tão brando...

— Quando o Mestre voltará? —, Eridan disse antes que ele pudesse


se conter.

Alto Adepto Tethru lançou-lhe um olhar ameaçador.

Eridan rapidamente desviou o olhar. — Eu não queria interrompê-


lo, Vossa Graça —, ele murmurou em sua voz mais respeitosa. — Você
sabe o quanto eu respeito você. — Por um momento, ele teve medo de
deixá-lo um pouco irritado, mas ele podia sentir a satisfação de Tethru com
suas palavras. Mal resistindo à vontade de revirar os olhos, Eridan disse: —
Estou apenas... um pouco preocupado, Alto Adepto. O Mestre disse que
voltaria em um mês, mas ainda não voltou. Ele também não entrou em
contato comigo.

— Hmm —, disse Tethru, olhando para ele com seus olhos astutos.
— Entendo agora o que Mestre Deira quis dizer quando disse que você é
muito apegado a seu mestre, Eridan. Talvez… Talvez designá-lo a um
Mestre diferente seja a chave para corrigir seu comportamento.
O pânico explodiu dentro dele. Engolindo seu instintivo Não, Eridan
forçou sua voz a soar calma ao dizer: — Nenhum Mestre desejaria um
aprendiz que tenha um vínculo de treinamento com outro Mestre.

Tethru sorriu genialmente. — Os vínculos de treinamento são


quebráveis, Eridan. Estou certo de que existem mestres que estariam
dispostos a ignorar o fato de que sua mente foi tocada por outro mestre. —
Seus olhos percorreram Eridan. — Talvez eu mesmo posso encontrar
tempo para você.

Eridan se sentiu sujo só pelo olhar. — Com todo o respeito, Alto


Adepto, eu sou velho demais para mudar facilmente para um mestre
diferente.

— Hmm. Quantos anos você tem mesmo?

— Vinte, Vossa Graça —, disse Eridan. Muito velho para você, seu
pervertido.

Tethru ergueu as sobrancelhas. — Não parece.

Eridan suprimiu o desejo de fazer uma careta. Ele estava


perfeitamente ciente de que parecia mais jovem, possuía traços muito
bonitos e refinados para serem considerados masculinos. Era a maldição da
maioria dos retrocessos. Eridan sabia que ele parecia ter dezesseis anos em
vez da sua idade real, o que era menos do que o ideal, considerando que ele
estava lidando com Tethru, que havia rumores de uma predileção por
meninos e meninas. Eridan não sabia o quão verdadeiros eram esses
rumores — ninguém jamais havia sido capaz de provar nada —, mas esses
boatos existem há séculos, e não existe fumaça sem fogo.

— Eu tenho realmente vinte anos, Alto Adepto —, Eridan repetiu,


colocando sua expressão mais severa na esperança de que isso o fizesse
parecer mais velho. Seu coração estava batendo forte, seus nervos tão
desgastados que ele mal se deteve de tocar o thaal em volta do pescoço,
para sentir a presença de seu Mestre. Ele segurou seu manto azul nas mãos,
para se distrair de tocar a pedra preciosa. Tethru odiava seu mestre. Chamar
sua atenção para o talento de Castien só pioraria a situação; Tethru poderia
afastá-lo de Castien por despeito. Embora Eridan nunca tivesse ouvido falar
de um aprendiz que mudasse de mestre, o Alto Adepto da Ordem tinha
poder quase absoluto. Tudo era possível, considerando o quanto Tethru
invejava e odiava Castien.

— Se você já tem vinte anos, sua transgressão é ainda mais grave,


Eridan —, disse Tethru, com uma atitude sacana, a aparência de vovô
fraternal parecia ainda assustadora. — Você deveria saber melhor. Talvez
eu deva mesmo lidar com o seu castigo...

— Isso não será necessário —, disse uma voz familiar da porta.

A cabeça de Eridan virou. Ele abriu um sorriso largo e indefeso. Ele


suspirou ao ver a forma alta e orgulhosa de seu Mestre, nem se importando
com o olhar frio e de aviso que recebeu de Castien. — Mestre —, ele
soltou.

Castien se aproximou e colocou a mão nas costas da cadeira de


Eridan. Eridan recostou-se, tentando sutilmente colocar a mão de seu
mestre no ombro, em vez daquela cadeira estúpida. Seu mestre, no entanto,
não cedeu. Eridan tentou não fazer beicinho.

— Seu aprendiz quase matou outro aprendiz hoje, Idhron — disse


Tethru amargamente, o ar ao seu redor cheio de aversão, não importava o
quanto Tethru estivesse se protegendo. Tethru nunca conseguiu esconder
completamente o ciúme do respeito que Idhron conseguira na Ordem, como
também o poder e influência crescente de Castien.

Francamente, Eridan ainda não entendia por que seu mestre permitiu
que Tethru se tornasse o Alto Adepto após a morte do Alto Adepto Kato.
Todos sabiam que Castien era o mais poderoso dos adeptos da Ordem, tanto
telepaticamente quanto politicamente. E, no entanto, seu mestre não se
apresentara como candidato quando o Alto Adepto Kato morreu. Ainda
confundia Eridan um pouco.

O rosto de Castien permaneceu impassível, seus olhos azuis fixos


em Tethru. — Sim —, disse ele categoricamente. — Vou me certificar de
puni-lo corretamente, Alto Adepto.
Tethru bufou. — Não tenho certeza se confio no seu julgamento,
Idhron. Não parece que o garoto aprendeu a lição referentes aos erros
anteriores. O Alto Adepto Kato permitira que você o punisse. Talvez eu
deva resolver o assunto com minhas próprias mãos...

— Isso é muito gentil da sua parte —, disse Castien, e o estômago


de Eridan caiu por um momento antes de Castien continuar. — No entanto,
você tem muitas responsabilidades, Vossa Graça. Não posso pedir isso para
você. Mas obrigado pela oferta gentil. Enviei meu relatório para seu
datapad para você fazer a leitura. Venha, Eridan.

Sem esperar pela resposta de Tethru, Castien saiu da sala. Eridan


correu atrás dele.

— Mestre, eu—

— Agora não —, seu Mestre falou, sem olhar para ele.

Eridan calou a boca.

Eles caminharam em silêncio pelos corredores do antigo mosteiro.

Eridan olhou em volta, curioso. Ele não esteve aqui frequentemente,


apenas algumas vezes quando acompanhou seu Mestre a uma reunião com
alguns estrangeiros de alto escalão.

O mosteiro era a parte mais antiga do Alto Hronthar, o local de


origem da Ordem. Milhares de anos atrás, costumava ser a casa da Ordem,
sua sede, mas hoje em dia era pouco mais que uma porta de entrada. No que
diz respeito ao resto do planeta, o mosteiro é o Alto Hronthar, e é por isso
que todas as reuniões com os visitantes são realizadas por aqui.

Eridan sorriu um pouco com o pensamento. Sempre o espantava


como as pessoas de fora eram completamente ignorantes. O Conselho dos
Doze Grandes Clãs pensava que estavam governando Calluvia, mas não
podia estar mais longe da verdade. A Organização do Alto Hronthar detinha
o poder real no planeta, uma vez que controlavam a realeza e os políticos
que governavam o planeta. Na opinião dos forasteiros, o Alto Hronthar era
apenas um bando de monges que se dedicavam à cura mental e a uma vida
pacífica e não ambiciosa. Era meio hilário o quão completamente errados
eles estavam.

Apesar da hora tardia, Eridan e seu mestre ainda encontravam


muitas pessoas nos corredores do mosteiro, mestres e aprendizes. Onde
quer que fossem, atraíam olhares, por diferentes razões. Eridan sorriu torto
para si mesmo. Ele era bastante famoso por seu comportamento “ultrajante”
como um iniciante, enquanto seu Mestre era facilmente a mente mais
respeitada e adepta da Ordem: admirada e temida em igual medida. Eridan
sabia que seus companheiros de idade o invejavam. Seu mestre era o mestre
mais jovem da história da Ordem, o mestre mais jovem a ter um assento na
Organização. Embora a maioria dos membros da Ordem não soubesse que
Castien era um telepata da Classe 7, todos sabiam que ele era um dos mais
poderosos. Castien era incrivelmente poderoso, inteligente e influente. Todo
iniciante queria estudar com o mestre Idhron.

Mas ele era apenas dele, de Eridan.

Corando, Eridan reforçou seus escudos mentais, na esperança de


esconder seus pensamentos possessivos de seu Mestre. Ele havia desistido
de tentar se livrar deles.

Eles finalmente chegaram à câmara-t mais próxima e entraram nela.


Castien colocou a mão no painel de controle e disse: — Hangar bay 14.

A sala de transporte começou a se mover, pulando pelos canais de


teletransporte.

Eridan tentou novamente. — Mestre, eu—

— Agora não.

Franzindo os lábios, Eridan abaixou a cabeça.

Finalmente, eles chegaram e saíram da câmara em direção ao


hangar. Ele seguiu seu mestre até sua aeronave e subiu no assento ao lado
dele. Castien digitou seus códigos de acesso e a escotilha se abriu,
revelando o céu escuro.

Castien levantou a aeronave na clareira da floresta.

Eridan respirou fundo no ar limpo e úmido, as montanhas pairando


sobre eles ameaçadoramente. Ele fez alguns cálculos rapidamente e
calculou que a viagem desse hangar para Hronthar levaria pelo menos meia
hora. O campo magnético ao redor de Hronthar pode ser incrivelmente útil
para mascarar sua localização, mas também era um pé no saco, forçando-os
a usar aeronaves para viajar até lá.

Eridan estremeceu um pouco. A longa viagem seria terrivelmente


desconfortável se o Mestre continuasse a ignorá-lo.

— Foi realmente necessário? — Castien disse, traçando o caminho


para a cidade.

Eridan respirou. Pelo menos ele estava falando com ele. — Bem,
você me conhece, mestre —, disse ele em um tom leve. — Eu não consigo
me controlar quando as pessoas falam merdas estúpidas.

Castien continuou olhando para frente, mesmo que não fosse


realmente necessário agora que o piloto automático estava ligado. Sua
expressão era um pouco tensa. — Tethru está certo. Eu sou muito brando
com você.

— Esse idiota mereceu. Você não me ensinou que um insulto nunca


deve ficar impune ou as pessoas podem começar a pensar que eu sou fraco?

— Força bruta não é a resposta, Eridan. Tudo o que você conseguiu


provar foi que suas emoções ainda o dominam.

— Podemos não fazer isso? — Eridan disse com um suspiro. —


Você se foi por trinta e nove dias. — Ele acrescentou suavemente: — Senti
sua falta, Mestre.
A mandíbula de Castien se contraiu. Ele ainda não olhava para
Eridan.

Eridan cruzou as mãos no colo e olhou para elas. Ele não se


arrependera exatamente de dizer isso — ele não tinha vergonha de suas
emoções — mas a estranha reação de seu mestre a suas palavras sempre o
confundira. Castien não tolerava demonstrações de afeto e nunca se
envolvia. Embora ele tenha expressado sua desaprovação várias vezes, na
verdade nunca havia proibido Eridan de expressar sua afeição. Ele poderia,
mas não fez. Era um tanto desconcertante esse estranho meio termo.

— Como foi sua viagem? — Eridan disse quando o silêncio se


estendeu.

Uma carranca quase imperceptível apareceu no rosto de seu mestre.


— Normal —, ele respondeu. — Os relatórios estavam corretos.

Eridan olhou para ele surpreso. — Você quer dizer que Tai'Lehr
realmente tem a intenção de ser oficial no Conselho?

Castien deu um aceno cortante. — É preocupante.

Isso foi um eufemismo. Se os Tai'Lehrianos se apresentassem como


os renegados que haviam fugido de seus grandes clãs depois de se
recusarem a obedecer à Lei de Vinculação, e o Conselho dos Doze Grandes
Clãs os perdoasse por suas transgressões, provavelmente atrairia um
escrutínio indesejado para a Ordem. No que diz respeito ao resto dos
calluvianos, a Lei de Vinculação foi introduzida para protegê-los. Mas os
renegados sabiam a verdade: que a Lei de Vinculação foi introduzida para
dar ao Alto Hronthar o poder supremo sobre o planeta, uma vez que seus
membros eram os únicos telepatas do planeta que não estavam vinculados.
Se o Conselho descobrisse que a Ordem não era realmente uma organização
não-política de curandeiros…

Eridan franziu a testa. — O que você está planejando fazer?

— Haverá uma reunião da organização pela manhã —, respondeu


Castien. — A Organização decidirá como lidar com a questão, não eu.
Eridan bufou. — Por favor, Mestre. Não vamos fingir que a
organização não segue o que você sugere.

— Eu não sou o Alto Adepto. Tethru é.

Os olhos de Eridan se estreitaram. — Espere. Você já conhecia os


Tai'Lehrians? É por isso que você não queria ser o Alto Adepto quando
Kato morreu? Para que Tethru fique com o pior, se o pior acontecer?

O rosto de Castien era inescrutável. Mas ele não negou, então


Eridan tomou como uma confirmação. Ele balançou a cabeça para si
mesmo, maravilhado com a forma como seu mestre estava sempre dois
passos à frente de todos. Era uma qualidade que sempre irritava um pouco
Eridan. Ele sempre se sentiu terrivelmente transparente, enquanto o seu
Mestre era incrivelmente difícil ler.

— Mas como você soube disso antes de todo mundo? — Eridan


disse. — Ainda não recebíamos esses relatórios sobre Tai'Lehr quando o
Alto Adepto Kato morreu.

Embora o rosto de Castien permanecesse ilegível, alguma emoção


surgiu em seu vínculo, rápido demais para Eridan reconhecê-lo. — Eu
tenho minhas próprias fontes.

Eridan lançou-lhe um olhar exasperado. — Você não confia em


mim, mestre?

A postura de Castien era muito reta, os olhos fixos nas montanhas.


— Confio da mesma forma que confio em qualquer pessoa —, disse ele.

Eridan fez beicinho.

— Pare de fazer essa cara —, disse Castien.

— Você nem está olhando para mim, mestre. Como você sabe a cara
eu estou fazendo?

Castien não se dignou a responder.


Eridan fez uma careta, seus dedos brincando com o thaal
distraidamente. Ele havia aprendido a navegar na mente de outros telepatas
sem a ajuda básica de seu thaal há algum tempo; a pedra preciosa era mais
uma coisa reconfortante neste momento. Às vezes, quando Castien estava
particularmente distante e seu vínculo estava muito quieto, Eridan precisava
de um lembrete de que seu Mestre o havia escolhido, o escolheu dentre
centenas de iniciantes.

Mas isso realmente significa alguma coisa?

***

O humor de Eridan mudou um pouco quando eles chegaram à


mansão de seu mestre. Ele seguiu Castien até a casa, imediatamente à
vontade no ambiente familiar.

Essa era a sua casa. Ou pelo menos a coisa mais próxima de uma
casa que Eridan já teve. Bem, era provável que ele tivesse um lar de
verdade antes de ser entregue à Ordem, mas as memórias de sua infância
eram quase inexistentes. Eridan tem uma impressão de que se lembra de
uma linda mulher de cabelos dourados, que lhe deu um beijo de boa noite e
o chamou de “meu anjinho”. Ele também se lembrava de um garoto mais
velho, um irmão, mas as lembranças sobre ele eram ainda mais confusas.

Enfim, isso não importava. Essas pessoas haviam desistido dele. A


Ordem era o único lar que ele já teve.

A Ordem não, sua voz interior o corrigiu maliciosamente. Seu


mestre.

Afastando o pensamento desconfortável, Eridan olhou ao redor da


sala. Ele não esteve aqui há mais de um mês. Ultimamente, Castien insistira
que, quando estivesse ausente, Eridan deveria ficar na casa que Castien
havia comprado para ele no distrito dos aprendizes, mas Eridan ainda não
conseguia pensar naquela casa como um lar. Bem, provavelmente não
ajudara que ele mal passasse um tempo lá, preferindo a mansão de seu
Mestre. Para sua surpresa, Castien não pareceu se opor à sua presença,
apenas ordenando que Eridan fosse para sua casa quando ele estivesse
ausente.

Eridan caminhou para o terraço. Ele tentou não olhar para baixo. Ele
não se dava bem com alturas, e o penhasco em que a casa fora construída
era quase um tarsecs de parede de rocha maciça. A vista era inspiradora, o
sol poente coloria as nuvens e deixava o mar dourado e rosa. Eridan sabia
que a casa do seu Mestre tinha a melhor vista em Hronthar, a única além do
castelo que oferecia essa vista. De repente, ele se perguntou quanto custara
a Castien a compra dessa mansão. Vendo desse ponto de vista, Eridan
duvidava que a bela vista fosse a razão pela qual seu Mestre a adquirira:
possuir a melhor casa do Distrito Quatro provavelmente era uma espécie de
jogo de poder.

Eridan sorriu suavemente, pensando em como o resto do mundo via


os adeptos da Ordem. Todos pensavam que os “monges” viviam em
condições austeras e não se importavam com coisas materiais ou poder.
Bem, esse modo de pensar era cuidadosamente cultivado pela Ordem, mas
ainda assim, era divertido imaginar o quão sem noção o resto do planeta
era. Só Castien possuía numerosas propriedades e empresas dentro e fora de
Calluvia, e ele sabe que outros mestres também possuem.

— Diga-me por que você perdeu o controle sobre si mesmo —,


disse Castien, ficando ao lado dele. Ele não olhou para o sol desaparecendo
no horizonte, mas para a água bem abaixo deles. Seu Mestre não tinha
medo de altura — ele não tinha medo de nada, até onde Eridan sabia. Ele
era tão perfeito. Perfeitamente controlado. Às vezes, fazia Eridan querer
gritar e fazer algo ridículo, só para ver aquela compostura gelada
desaparecer.

Eridan apertou os lábios, odiando que Castien ainda não o olhasse.


Eles estavam separados há mais de um mês. Certamente ele merecia um
olhar.
— Não há nada para explicar —, disse ele, sombrio. — Salah
estava sendo babaca.

— Olha a língua.

Revirando os olhos, Eridan se aproximou de seu mestre. — Eu não


quero falar sobre Salah logo quando você está de volta. — Ele encostou o
ombro no seu Mestre, apreciando o quão sólido era e respirando seu
perfume familiar. Senti sua falta. Ele não se atreveu a dizer isso em voz alta
novamente.

Eridan olhou para o céu, subitamente se sentindo um pouco patético.


E se Salah estivesse certo e ele realmente estivesse se iludindo? E se o seu
Mestre não se importava com ele?

Ele se afastou e encostou-se à grade, olhando para o horizonte. —


O Alto Adepto disse que ele pode me transferir para outro mestre.

Ele sentiu Castien endurecer. — O que? — Ele disse bruscamente.

Eridan o estudou, um pouco surpreso com uma reação tão visível.


Normalmente, seu mestre era muito difícil de ler, mesmo para ele — e eles
tinham um vínculo telepático há anos.

Eridan deu de ombros, observando cuidadosamente o perfil de


Castien, a esperança se agitando em seu coração. Seu Mestre se importava
afinal?

— Ele disse que eu poderia ser um aprendiz dele.

O rosto de Castien era como pedra quando ele falou: — Não gastei
anos ensinando você para depois entregá-lo a outra pessoa.

Oh

Eridan murchou. Ele desviou o olhar, lutando contra o repentino


aperto na garganta. Ele não sabia por que se sentia assim. Castien nunca
mentiu para ele sobre isso. Ele nunca fingiu cuidar dele. Ele sempre fora
claro que era incapaz de sentir emoções profundas.
— Fiquei fora por menos de dois meses, mas é claro que você
conseguiu arranjar alguma encrenca —, disse Castien, um toque de irritação
em suas palavras. — Eu não disse para você ficar longe de Tethru?

— Mas eu tenho vinte anos —, disse Eridan. — Certamente eu sou


velho demais.

— Você será velho demais para ele quando começar a parecer velho
o suficiente. Tethru não se importa com a sua idade biológica. — Castien
suspirou. — Eu tenho mantido você longe dele por uma razão, Eridan.
Uma vez que ele mira em alguém, ele se torna obsessivo. Ele fica obcecado.
O fato de você ser meu, meu aprendiz, só o tornará mais desejável para ele.
Você seria um troféu premiado por ele.

— Mas o que ele pode fazer? — Eridan disse, franzindo a testa. —


Ele pode realmente me tirar de você?

Castien estava quieto.

Seu olhar na água abaixo, ele disse: — Eu não sei.

Eridan ficou olhando. Ele nunca tinha ouvido seu Mestre admitir
que não sabia nada sobre algo. Nunca.

— Existem regulamentos para reatribuir aprendizes que ele pode


utilizar. Isso acontece muito raramente, mas há precedentes.

— Mas ele realmente se incomodaria em passar por todo esse


aborrecimento? — Eridan disse, ainda cético. — Quero dizer, existem
muitos jovens iniciantes não reclamados em que ele consegue colocar suas
mãos assustadoras com muito mais facilidade. — Ele se encolheu — ele
não pretendia fazer parecer dessa forma — mas era a verdade, no entanto.
Eridan estava muito mais protegido do que as centenas de iniciantes não
reclamados, e não se lisonjeava ao pensar que era tão especial assim.

Um sorriso frio tocou os lábios de Castien. — Claro que existem.


Mas ele vai querer o meu. É uma jogada de poder, Eridan. O poder de
Tethru não é tão absoluto quanto ele gostaria. Ele não tem uma fração do
respeito que o Alto Adepto Kato tinha. Se ele puder pegar o meu aprendiz
para si, isso certamente faria a Organização respeitar mais sua autoridade.

Eridan fez uma careta. Claro. Sempre foi um jogo de poder. Nos
anos em que aprendiz de Castien, ele aprendera que a Organização era
praticamente um poço de cobras venenosas, todas determinadas a tomar
mais poder e apunhalar-se entre eles. Embora, talvez ele estivesse sendo
injusto. Havia alguns mestres decentes entre os membros da Organização,
talvez até mais do que alguns. O problema era que era difícil dizer se havia
pessoas decentes por trás daquelas fachadas frias e formidáveis.

— Eu ainda acho que você está sendo paranoico, Mestre —, disse


Eridan quando o sol finalmente desapareceu no horizonte. As luas gêmeas
já eram visíveis contra o céu escuro. — Tenho certeza de que Tethru tem
coisas mais importantes a fazer, graças à situação em Tai'Lehr.

Castien cantarolava pensativo. — Possivelmente. E talvez isso faça


com que ele fique mais fixado na ideia. Há pouco que podemos fazer em
sobre Tai'Lehr além de plantar sementes de desconfiança relação aos
rebeldes, mas essas coisas provavelmente seriam delegadas a mestres
menores. Tethru vai querer uma distração, e você pode ser uma.

Eridan fez um som cético, não convencido.

Ele sentiu o olhar de Castien nele, finalmente.

Virando a cabeça, Eridan encontrou seu mestre o observando com


uma expressão estranha e intensa.

Castien levantou a mão e passou o polegar sobre a bochecha de


Eridan.

Eridan estremeceu e se manteve muito quieto, atordoado. Era tão


raro que seu Mestre o tocasse voluntariamente, em vez de simplesmente
tolerar seus afetos.

Eridan lambeu os lábios secos. Sentia a pele formigando, muito


tensa. — Mestre?
— Você deveria deixar a barba crescer —, disse Castien, com uma
leve irritação na voz.

— Uma barba? — Ele repetiu inexpressivamente, olhando nos


olhos de Castien. O azul deles parecia tão escuro no momento que parecia
quase preto.

— Sim. — Castien roçou a mandíbula de Eridan com o polegar,


uma torção descontente nos lábios. — Você nem tem uma barba por fazer.
Seu rosto ainda é repugnantemente bonito e infantil. Não é de se admirar
que Tethru o queira.

Eridan zombou, tentando não se inclinar no toque como um animal


faminto pelo toque. — Bem, desculpe-me, Mestre, por ter a audácia de
nascer com a minha cara.

— Não seja atrevido, Eridan —, disse Castien, seus olhos brilhando.

Eridan baixou o olhar. Embora seu Mestre não se irritasse


facilmente e fosse surpreendentemente tolerante com sua atitude, às vezes
sua paciência se esgotava e seu descontentamento podia ser muito
desagradável.

— Você sabe que estou certo, mestre —, disse ele em um tom de


voz mais neutro. — Eu não posso evitar. Sou um retrocesso, lembra? —,
Ele não estava exagerando: os retrocessos eram fisiologicamente diferentes
dos demais calluvianos. A maioria dos retrocessos tinha características mais
suaves e refinadas, e geralmente eram incapazes de produzir pelos faciais.
Não era culpa dele que ele não aparentava ter a idade que tinha.

— Sim, um retrocesso —, disse Castien, como se estivesse


provando algo sujo. — O que sem dúvida alimenta ainda mais o fascínio de
Tethru. Ele gosta deles.

Eridan olhou para ele. — Não sei o que é pior: pessoas que nos
feticham ou pessoas que nos acham nojento.
Um sorriso irônico tocou os lábios de Castien. — Não estou com
nojo de você, Eridan. Eu sinto muitas coisas sobre você, a maioria não é
legal, mas nojo não é uma delas.

Eridan piscou, sem saber como interpretá-lo.

Como sempre, quando se sentia confuso, sentia necessidade de


tranquilizar-se.

Diga-me que você se importa. Preciso que você me diga que se


importa. Eu preciso que você se importe. Eu preciso de você.

Ele se inclinou para a mão de seu mestre, esfregando a bochecha


contra ela.

Castien permitiu, olhando para ele com um olhar fixo e ilegível nos
olhos.

— Senti sua falta, mestre — murmurou Eridan, suas pálpebras


ficando pesadas devido ao fluxo de endorfinas.

— Você deveria fazer amigos da sua idade —, disse Castien em uma


voz cortada. — Você é faminto por contato.

— Você também não tem amigos —, disse Eridan.

— Eu não preciso deles. Mas você não sou eu. — O dedo de


Castien roçou seu ponto telepático e um gemido saiu da boca de Eridan, seu
núcleo telepático pulsando com a necessidade.

Foda-se, já fazia muito tempo.

— Por favor —, ele sussurrou, encontrando o olhar de seu mestre.


— Apenas um pouquinho?

Um músculo se contraiu na mandíbula de Castien. — Você sempre


diz isso, mas nunca é só “pouquinho”. Você é viciado, Eridan.
Ele balançou a cabeça com um leve sorriso. — Eu não sou. Se eu
fosse viciado na fusão, eu estaria em ruínas depois de um mês e meio longe
de você. Mas eu fiquei bem, mestre. — Isso era uma mentira — ele estava
muito longe de ficar bem —, mas ele também não estava arruinado. Eridan
tinha certeza de que estava ficando um pouco melhor em se controlar
quando se tratava de ter a mente de seu Mestre dentro da dele.

Ou pelo menos, ele não estava piorando. Ter Castien dentro dele era
apenas sua coisa mais favorita no mundo. Ele nunca se sentia mais
conectado ao seu Mestre do que quando Castien estava tocando seu núcleo
telepático. Era a única coisa que o fazia sentir que Castien realmente se
importava com ele. E embora Eridan soubesse que Castien ainda se detinha,
mantendo alguns de seus escudos, ainda era a coisa mais próxima da
honestidade e de carinho que Castien permitia.

— Não é uma fusão —, Castien ralou, lançando lhe um olhar


irritado. — O que fazemos... é simplesmente um contato telepático mais
profundo do que a investigação mental. Isso é tudo.

Eridan revirou os olhos com um sorriso. — O que você disser,


mestre. — Desde que ele tenha seu Mestre dentro dele, ele não se importa
como Castien nomeia a situação.

— Pirralho insolente —, disse Castien, mas seu polegar já estava


pressionando contra o ponto telepático de Eridan.

Empurando, e seu Mestre finalmente estava dentro dele, deslizando


nele com uma prática facilidade. Eridan gemeu, sua mão segurando a túnica
escura de seu mestre para se manter de pé. Foi incrível depois de tanto
tempo separados, o toque mental de Castien acalmando cada dor dentro
dele, a solidão que o comia por dentro. Os escudos de Castien não eram tão
impenetráveis como costumavam ser, e Eridan podia sentir lampejos de
suas emoções: alívio misturado com ganância, algo sombrio e possessivo.
Uma sensação de finalmente, a sensação de que seu Mestre estava tão
sedento por isso quanto ele, e Eridan sentiu uma onda de euforia com o
pensamento, seu corpo estremecendo de prazer. Seus joelhos estavam fracos
demais para segurá-lo e ele cedeu contra seu Mestre, enfiando o rosto na
cavidade da garganta enquanto Castien deslizava cada vez mais fundo
dentro dele. Eridan choramingou quando Castien acariciou seu núcleo
pulsante e faminto de novo e de novo. A tensão nele estava aumentando,
seus nervos se enrolando a cada golpe medido.

— Mestre —, ele gritou quando o prazer finalmente atingiu seu


pico, enviando ondas de êxtase por sua mente e seu corpo.

Aturdido, ele pulou e tentou não gemer de decepção quando Castien


saiu, deixando-o vazio.

Seu Mestre o afastou, não de maneira grosseira, mas com firmeza.

Quando Eridan conseguiu focar o olhar no rosto de Castien, era


quase ilegível.

— Isso foi satisfatório? — Castien disse ironicamente.

Corando, Eridan deu a ele um sorriso radiante e correu para frente


para roçar os lábios na bochecha de Castien. — Obrigado. Você é o melhor
mestre de todos os tempos.

Castien tinha uma expressão bastante tensa no rosto quando se


afastou. — Boa noite, Eridan —, disse ele, antes de se afastar e desaparecer
dentro de casa.

Eridan ficou parado no terraço por um longo tempo, respirando o ar


noturno e tentando acalmar o coração acelerado.

Castien nunca esteve tão fundo dentro dele.

Eridan amou isso.

Mas ele queria mais.


CAPÍTULO 7
A Organização

As sessões da Organização eram geralmente assuntos privados,


mesmo para os aprendizes dos mestres. Eridan podia contar o número de
vezes que comparecera a uma reunião nos dedos de uma mão.

Foi por isso que ele ficou tão surpreso quando, na manhã seguinte,
seu Mestre disse que ele deveria acompanhá-lo à reunião de emergência da
Organização.

No início, Eridan se sentiu um pouco estranho ao redor de seu


mestre depois da noite passada, mas quando Castien não o tratou de
maneira diferente durante o café da manhã, projetando um desapego calmo
enquanto lia as notícias em seu dispositivo múltiplo, Eridan se sentiu
relaxado. A calma de seu mestre tendia a acalmar seus nervos, e desta vez
não foi exceção. Nada aconteceu. Claramente, ele imaginara o quão íntimo
foi aquilo tudo. Não adiantava se fixar nisso.

— Você tem certeza de que me quer lá, Mestre? — Eridan disse


quando eles saíram da câmara em direção ao vasto corredor de High
Hronthar.

Castien assentiu e caminhou em direção à sala de reuniões, com


Eridan andando meio passo atrás dele.

Eridan suspirou. — Você sabe que eu odeio as reuniões da


Organização. Elas são chatas e duram uma eternidade.

— É por isso que você precisa se acostumar com elas se quiser se


tornar um mestre sênior um dia.

— Por que eu iria querer isso? — Eridan disse, torcendo o nariz.


O olhar que Castien lançou a ele foi pesado com desaprovação. —
Sua falta de ambição é inaceitável. Independentemente disso, você deve
aprender mais sobre como a Organização opera.

Eridan riu. — Admita: é minha punição por sufocar Salah.

— Não é um castigo. É um privilégio.

— Privilégio, minha bunda — Eridan murmurou baixinho. — Eu


preferiria lavar os banheiros no Salão dos Iniciantes do que ouvir as coisas
entorpecedoras que todos eles discutem.

Uma hora depois, Eridan teve que admitir que estava errado sobre
essa reunião da Organização ser entediante. Era tudo menos isso.

As notícias que Castien trouxera de Tai'Lehr causaram alvoroço


entre a Organização e provocaram um debate bastante acalorado sobre o
que deveria ser feito para proteger High Hronthar se os Tai'Lehrians
realmente se apresentassem como os renegados que haviam deixado seus
grandes clãs.

Eridan teve que admitir que era divertido ver os Mestres Seniores
perderem suas fachadas frias e aparentemente imperturbáveis. Ele podia
sentir que alguns Mestres estavam muito inquietos, quase assustados, e
suspeitava que aqueles seriam os primeiros a fugir para uma de suas
numerosas propriedades fora do mundo se o Conselho Calluviano
descobrisse o que realmente era o Alto Hronthar. Ele tomou nota desses
mestres, sabendo que Castien mais tarde o interrogaria sobre o que ele havia
aprendido durante a reunião.

Uma mão em seus cabelos fez Eridan ficar parado. Olhando para o
seu Mestre, ele encontrou Castien assistindo a discussão com cuidado,
passando os dedos pelos cabelos de Eridan de maneira distraída.

Eridan baixou o olhar para os joelhos dobrados, tentando não se


inclinar muito ao toque. Ele esperava que ninguém notasse onde estava a
mão de seu mestre. Uma rápida olhada ao redor garantiu que todos estavam
preocupados demais para se importar. Ele relaxou e deixou-se apreciar a
extremamente rara demonstração pública de carinho de Castien.

Embora não fosse necessariamente uma demonstração de carinho.


Talvez seu Mestre simplesmente não estivesse ciente do que estava fazendo.
Às vezes, Eridan achava que seu mestre o considerava um animal de
estimação divertido — seu animal de estimação. Considerando que Eridan
estava sentado no chão aos pés de seu mestre, a comparação provavelmente
não era tão absurda. Eridan sabia que provavelmente deveria se importar
mais. Se ele fosse forçado a sentar-se aos pés de outra pessoa, isso o teria
atrapalhado. Seu orgulho não permitiria. Mas ajoelhar-se por Castien era
algo que ele se acostumara ao longo dos anos. Verdade seja dita, ele
encontrou... um estranho conforto nela. Quando ele estava ajoelhado, ele
era do seu Mestre. Ele não tinha outro chefe, não precisava fazer nada que
Castien não lhe falasse. Parecia estranhamente bom.

A mão em seus cabelos parou de se mover, e Eridan quase fez um


som decepcionado. Franzindo a testa, ele se concentrou no que chamou a
atenção de seu mestre.

O debate parecia ter se resolvido. Alto Adepto Tethru estava


falando. —... Nós precisamos de algo que lembre o resto de Calluvia de que
os rebeldes são criminosos. Um crime de alto nível que os prenderia
imediatamente se os Tai'Lehrianos se aproximassem do Conselho. Um
assassinato.”

Uma onda de murmúrios começou diante da sua declaração.

Ao lado dele, Castien estava quieto.

— Quem você sugere? — Mestre Amara disse, seus olhos afiados


se estreitaram em Tethru.

— Tai'Lehr ainda é tecnicamente a colônia do Terceiro Grande Clã.


Acho que descartar o príncipe herdeiro Jamil’ngh’veighli e culpar os
rebeldes seria a solução perfeita —, disse Tethru. — Isso seria um grande
golpe para a Terceira Casa Real, já que o príncipe Jamil ainda não tem
herdeiro. Também tem o benefício adicional de alienar a rainha Janesh: ela
nunca apoiaria pessoas que estão por trás da morte de seu filho.

— Eu gosto da ideia —, disse Mestre Zaid, seus olhos cinzentos


brilhando com malícia. Eridan estremeceu e se inclinou para mais perto de
seu mestre. Ele sempre achou o mestre Zaid mais do que um pouco
perturbador.

Eridan olhou em volta e, para sua inquietação, descobriu que a


maioria dos Mestres também estava de acordo com Tethru. Isso o fez se
sentir um pouco doente. Como eles poderiam simplesmente decidir tirar a
vida de alguém a sangue frio? Ele nunca gostara muito da Organização, mas
agora sabia que nunca iria querer fazer parte disso, por mais prestigiado que
fosse.

— Mestre, você tem que fazer alguma coisa —, ele murmurou,


apenas para os ouvidos de Castien.

Castien suspirou. — Você precisa superar seu melodrama, Eridan.


Seu bom coração será sua queda um dia.

Eridan encontrou seus olhos. — Por favor, mestre —, disse ele,


pegando a mão de Castien e pressionando a boca contra ela.

Os lábios de Castien afinaram. Ele apenas olhou para Eridan por um


longo momento.

Por fim, ele disse calmamente: — Se você puder me dizer uma boa
razão racional pela qual eu deveria impedi-los, eu posso levantar em conta.

Eridan lançou-lhe um olhar exasperado. Tudo sempre era um teste


com seu mestre. Felizmente, depois de anos de aprendizado sob Castien, ele
estava acostumado.

Ele franziu o cenho, com a mente acelerada. — Matar o herdeiro do


trono é desnecessário —, disse ele. — E desnecessariamente arriscado. Por
que não simplesmente fazer parecer que ele foi morto? Desintegrar seu
veículo também funcionaria. Pode haver outras oportunidades para as quais
ele poderia ser usado se for mantido vivo.

— Como o quê? — Castien disse, seu rosto inescrutável.

Eridan cantarolou em pensamento, aconchegando-se a mão de seu


Mestre distraidamente. — Sua autorização de segurança, por um lado. Seu
vínculo familiar com a rainha também lhe daria uma chave na mente da
rainha Janesh, tornando-a mais facilmente influenciável.

— Aceitável —, disse Castien. Quando Eridan sorriu para ele, seu


Mestre murmurou: — Mas você trabalhará para não permitir que suas
emoções afetem seu julgamento, Eridan.

— Claro, Mestre —, disse Eridan inocentemente.

Lançando lhe um olhar um tanto exasperado, Castien retirou a mão


e voltou sua atenção para os colegas da Organização.

— Não sejamos apressados —, disse ele.

Ele levantou a voz um pouco, mas pareceu o suficiente para todas as


conversas cessarem e a atenção de todos se voltarem para ele.

Eridan baixou o olhar, tentando parecer um aprendiz quieto e


obediente. Ele podia sentir alguém olhando para ele, e ele o alcançou um
pouco com os sentidos. Ele suprimiu uma careta ao perceber que era o Alto
Adepto Tethru.

— Como assim, Mestre Idhron? —, alguém perguntou. Eridan não


reconheceu sua voz.

Castien disse: — O mestre Asai me informou hoje de manhã que o


marido do príncipe Jamil, príncipe consorte Mehmer, veio até ela,
reclamando sobre seus sentidos e telepatia ficarem anormalmente elevados
quando ele está longe de seu marido. Ele estava preocupado que houvesse
algo errado com seu vínculo matrimonial.

Um murmúrio percorreu os Mestres.


— Por que o mestre Asai relatou isso para você e não para mim? —
Tethru disse bruscamente.

Encontrando seu olhar, Castien deu de ombros. — Eu me perguntei


a mesma coisa, Alto Adepto. —, ele disse suavemente.

O rosto de Tethru ficou vermelho.

Eridan mordeu o lábio com força para não sorrir.

Mestre Amara se inclinou para frente. — Eu não acho relevante o


motivo do Mestre Asai tenha se reportado a Castien —, disse ela, franzindo
a testa. — Você está dizendo que o vínculo matrimonial do príncipe
consorte Mehmer está se tornando defeituoso, Castien? Se sim, como isso é
relevante para o assunto? Por que ela simplesmente não resolveu o
problema em vez de denunciá-lo a você?

— Ela resolveu —, disse Castien. — Ou melhor, ela tentou. Mas o


problema piorou. Seu vínculo está enfraquecendo e rapidamente. Não
poderia ser consertado, não importava o que ela fizesse, e ele está
suspeitando dela e do Alto Hronthar em geral.

Dessa vez, os murmúrios ficaram mais altos. Eridan podia sentir


profundamente a inquietação dos Mestres e teve que apertar seus escudos.

— O príncipe-consorte Mehmer é um retrocesso, se bem me lembro


—, disse o mestre Zaid, zombando levemente. — Não é incomum que eles
apresentem algum defeito.

As mãos de Eridan se fecharam em punhos, e ele teve que escondê-


las nas dobras de sua túnica.

Pelo menos Mestre Amara também não pareceu impressionada com


o comentário de Zaid. Ela lançou-lhe um olhar fulminante, as sobrancelhas
cinzas franzidas. — É verdade que os retrocessos têm a maior taxa de falha
de vínculos, mas não tem nada a ver com eles estarem com defeito —, disse
ela. — E sim, com eles estarem naturalmente predispostos a ter um
companheiro de sua própria escolha. Os laços artificiais não são naturais
para eles.

— De fato —, disse Castien. — De qualquer forma, a causa é


irrelevante. O príncipe-consorte precisa ser tratado, e em breve.

— Muito bem —, disse Tethru, erguendo a voz, claramente


querendo lembrar a todos que era o Alto Adepto.

Eridan quase revirou os olhos. Quão frágil era o ego de Tethru?

Tethru nem se preocupou em esconder sua aversão enquanto olhava


para Castien. — Podemos trocar o marido pelo o príncipe-consorte de
acordo com o meu plano. Isso não faz muita diferença.

— Embora sua solução seja engenhosa —, disse Castien


categoricamente, — ela exige algumas alterações. Seu plano geral é bom —
não há melhor maneira de colocar o Conselho Calluviano contra os rebeldes
do que o aparente assassinato de uma das realezas pelos rebeldes — mas
não é infalível, Mestre.

Um músculo se contraiu na mandíbula de Tethru, a raiva saindo


dele. — Por favor, me esclareça o porquê, Castien —, ele disse.

Castien olhou para ele de maneira neutra, sua calma como uma
zombaria da falta de compostura de Tethru. Eridan teve que admitir que
adorava ver seu Mestre reduzir aquele imbecil a um palhaço. Talvez ele
devesse participar de mais sessões da Organização, se todas fossem assim,
divertidas.

— Todo plano tem uma chance de fracassar —, disse Castien, com a


voz baixa. — Seu plano pressupõe que os Tai'Lehrianos decidiriam não se
revelar ao Conselho Calluviano ou seriam incapazes de provar que não
tinham nada a ver com o assassinato da realeza. Mas e se eles fizerem? E se
eles convencerem alguém de alto escalão no Conselho a ouvi-los? E se eles
receberem um julgamento justo? O Ministério de Assuntos Intergalácticos
emprega Dalvars, uma espécie que pode detectar se alguém está mentindo.
E se eles forem usados para questionar os Tai'Lehrians? Todo o seu plano
desmoronará se os Tai'Lehrians testemunharem que não tiveram nada a ver
com a morte do príncipe-consorte Mehmer, o que acabaria por levar o
Conselho a suspeitar de nós

A câmara estava completamente silenciosa, o alarme dos Mestres


aparente. Eridan nem precisou esticar os sentidos para sentir.

— O que você está sugerindo, Idhron? — Tethru mordeu a isca.

— Um plano de contingência. Há uma pessoa cujo testemunho teria


precedência sobre os Tai'Lehrians se eles fossem interrogados pelos
Dalvars: a suposta vítima. — Castien esperou até os murmúrios se
acalmarem antes de falar novamente. — Se o príncipe consorte Mehmer
testemunhar que os Tai'Lehrians o sequestraram e torturaram por
informações, e que ele mal escapou com vida, ninguém ouviria uma palavra
que os Tai'Lehrians dizem.

— Mas exigiria uma limpeza completa da personalidade para


enganar os Dalvars —, disse Mestre Amara, franzindo a testa. — Não há
mais limpadores na ordem. Bem, há um iniciante que tem esse talento, mas
ela é jovem demais e destreinada para ser de grande ajuda agora. No
momento, o talento dela é muito irregular.

Eridan estremeceu. Ele tinha ouvido falar dela. Todos na Ordem


ouviram falar dela. Telepatas com o talento de limpar eram incrivelmente
raros, então é claro que a garota era uma curiosidade agora.

— Castien não pode forçar brutalmente uma limpeza? — Mestre


Zaid disse preguiçosamente, como se estivesse falando sobre o clima, em
vez de discutir o que era o equivalente ao estupro mental mais brutal que
alguém poderia imaginar. — Ele é um sete, afinal.

Eridan olhou para ele, seu aborrecimento aumentando.

— Castien pode ser um telepata da classe 7, mas ele não é um


limpador —, retrucou Tethru. — Teoricamente, ele pode fazer isso, mas
levaria muito tempo e seu trabalho provavelmente não seria tão perfeito
quanto o de um limpador. Os Dalvars não são facilmente enganados.
Pela primeira vez, Eridan aprovou a intervenção de Tethru. O que o
mestre Zaid estava sugerindo era nojento, mesmo para os padrões
duvidosos da Ordem. Era verdade que os telepatas de alto nível que podiam
fazer força bruta podiam fazer praticamente qualquer coisa que os telepatas
com talentos específicos podiam fazer, mas seria um trabalho rude,
desajeitado e extremamente doloroso.

— Eu concordo, Alto Adepto —, disse Castien. — Embora eu


pudesse fazer isso se estivesse tão desesperado, tenho pouco tempo para
isso. De qualquer forma, isso não é necessário. Existe um limpador cujos
serviços podemos usar.

O silêncio caiu sobre a sala.

— Se você se refere ao Mestre Sylas, ele não faz mais parte da


Ordem —, disse Tethru, seu desconforto óbvio. — Ele saiu.

Castien levantou as sobrancelhas. — Você sabe tão bem quanto eu


que ele não saiu da Ordem.

Ninguém falou; um desconforto estranho encheu a sala.

Eridan estremeceu, não se perguntando mais se seu mestre havia


notado os pensamentos traiçoeiros que alguns mestres estavam entretendo.
Claro que Castien tinha notado. Ele raramente perdia alguma coisa.

Tethru pigarreou. — No entanto, meu argumento permanece: o


Mestre Sylas pode fazer parte da Ordem tecnicamente, mas ele parou de vir
aqui e cortou todas as comunicações conosco. Ele deixou claro que não
quer mais fazer parte desta organização.

— Sylas me deve um favor —, disse Castien. — Ele vai fazer isso.

Eridan ficou pensando enquanto os Mestres discutiam os detalhes


técnicos do plano. Ele nunca conheceu o mestre Sylas. Ele havia deixado a
Organização — e a Ordem — antes de Eridan se tornar aprendiz de Castien.
Ele já ouvira falar dele, e cada boato era mais selvagem que o outro. Ele se
perguntou que tipo de favor Sylas devia a Castien. Deve ter sido algo
enorme, porque o Mestre Sylas havia se mudado para outro planeta e
efetivamente cortado todos os seus laços com a Ordem — ou era assim que
todos pensavam.

Quando a reunião finalmente terminou, Eridan seguiu Castien para


fora da sala, profundamente pensativo. Em momentos como esse, ficava
dolorosamente óbvio o quão pouco ele realmente sabia sobre o passado de
seu mestre.

— Você não está satisfeito? — Castien disse quando eles voltaram


para casa.

Eridan zombou. — Por que eu deveria estar satisfeito? Fazer


lavagem cerebral em alguém não é melhor do que matar.

— A lavagem cerebral pode ser consertada. A morte não. Portanto,


pare de ser mal humorado, Eridan. Você conseguiu o que queria.

Eridan riu. — Por favor, Mestre. Você mal interveio por minha
causa.

Os olhos de Castien sorriram. — Estou orgulhoso de você não ser


mais tão ingênuo como costumava ser.

Eridan sorriu para ele. — Bem, você foi obrigado a me passar em


algum momento, Mestre.

— Fico feliz em ouvir isso —, disse Castien, olhando para o outro


lado.

Eridan simplesmente olhou para seu perfil sério e bonito por um


momento antes de murmurar: — Por que você me levou com você para a
reunião da Organização? Você quase nunca faz isso. E, por favor, não me
fale essa merda, sobre ser uma experiência de aprendizado, Mestre.

— Foi ideia do mestre Amara, na verdade —, disse Castien. — Ela


me ligou esta manhã e me disse que certas pessoas estavam preocupadas
sobre sua conduta, questionando minha aptidão como mestre em relação a
você.

Eridan franziu a testa, confuso. — Minha conduta não é muito pior


do que a da maioria dos aprendizes.

Castien deu um suspiro, uma ruga se formando entre as


sobrancelhas. — Isso deve ser algo do Tethru. O problema é que outros
Mestres só veem você quando se comporta mal, Eridan, então eles formam
uma opinião bastante tendenciosa. Mestre Amara me aconselhou a parar de
mimar você e levá-lo comigo para mais reuniões.

— Você não me mima —, disse Eridan com um bufo.

— De um certo ponto de vista, pode parecer que sim —, disse


Castien, sentando-se na poltrona perto da lareira, seu olhar pensativo fixo
nas chamas.

Ele parecia preocupado. Cansado.

Foi um pensamento estranho. Eridan sempre pensara em seu mestre


como alguém tão poderoso que parecia indestrutível; era fácil acreditar que
Castien era tanto fisicamente quanto telepaticamente poderoso.

Mas naquele momento, ele parecia exatamente como qualquer outra


pessoa.

Eridan observou-o em silêncio. Os ombros largos de Castien


pareciam tão tensos sob o manto preto. Algo estava incomodando seu
mestre. Eridan podia sentir isso apesar dos escudos de Castien.

Silenciosamente, ele caminhou em direção a Castien e afundou no


tapete felpudo a seus pés. — Meu thaal está começando a se soltar, Mestre
— ele murmurou, pressionando a bochecha contra o joelho de Castien. —
Pode arrumar para mim?

Castien simplesmente olhou para ele por um longo momento antes


de acenar com a cabeça e gesticular para Eridan se virar.
Eridan o fez, recostando-se na poltrona e fechando os olhos
enquanto sentia as mãos fortes de seu mestre trabalharem cuidadosamente
para remover o thaal do cabelo antes de começar a trançá-lo novamente.

Essa atividade era uma das suas coisas favoritas no mundo. Ele
sempre acalmava Eridan, o preenchia e fazia seus laços se encherem de
conforto e prazer silencioso. Ele não sabia que efeito isso teria em Castien,
se é que havia, mas pelo menos ele não parecia se importar.

Exceto que depois da noite passada, sua mente ainda estava


extremamente sintonizada com a de seu mestre, e o vínculo deles tornou-se
hipersensível, deixando Eridan desesperado por uma conexão mais
profunda, desejando isso. Ele estendeu a mão para o vínculo—

— Não, Eridan —, disse Castien severamente.

— Só uma vez, mestre —, disse ele, dolorosamente consciente de


que estava praticamente choramingando. Era embaraçoso, mas ele queria
tanto isso. — Você disse que não era uma fusão, então não conta, certo?
Não precisamos nos aprofundar se você não quiser.

Castien terminou de trançar o thaal nos cabelos e deixou a pedra cair


no pescoço de Eridan. — Eu disse que não —, ele disse friamente. — Vá
para o seu quarto para meditar.

Lançando lhe um olhar meio chateado, meio confuso, Eridan saiu da


sala. Ele marchou para o quarto e porta bateu com força. O barulho da porta
sacudiu as janelas, mas não lhe deu nenhuma satisfação, todo o seu ser
ainda cheio de necessidade.

Ele caiu em sua cama com um gemido de frustração. — Eu te odeio


—, ele rosnou em seu colchão antes de virar de costas e empurrar as calças
para baixo. Ele já estava duro e dolorido. Ele se acariciou com força e
rapidez, tentando satisfazer uma necessidade do outro tipo, mordendo os
lábios e tentando não fazer barulho.

Ele não pensou em nada. Ele definitivamente não estava pensando


em Castien. Seu Mestre era um imbecil cruel e manipulador que se recusava
a dar a Eridan o que ele precisava. Eridan o odiava, e odiava seus estúpidos
olhos azuis, ombros largos e peito musculoso.

Ele gemeu, sentindo-se mais escorregadio, tanto seu pênis quanto


seu buraco. Ele enfiou dois dedos em seu buraco e gemeu. Ele quase
esperava que seu Mestre entrasse na sala e o encontrasse assim, fodendo
com os dedos e tentando saciar a fome dentro dele. Castien provavelmente
apenas daria a ele um olhar impressionado e ergueria uma sobrancelha
altiva. Você é patético, dizia o Mestre, observando Eridan, impassível. Eu
pensei que tinha treinado você melhor do que isso, mas como todos os
retrocessos, você não passa de um vagabundo com um pau molhado.

Os olhos de Eridan reviraram e ele gozou, apertando seus dedos e


estremecendo através dos soluços sufocados enquanto seu pênis jorrava
gozo.

Quando os tremores de prazer pararam, ele olhou para o teto, com o


rosto quente. Ele acabara de se masturbar, imaginando seu Mestre o
criticando e humilhando?

O que havia de errado com ele?


CAPÍTULO 8
O Servo e o Aprendiz

Os meses seguintes se passaram em um borrão. Hronthar estava


agitado com a notícia da morte do príncipe-consorte Mehmer. Embora
apenas as pessoas próximas a Organização soubessem a verdade, havia todo
o tipo de rumores à tona.

Castien continuava frustrantemente difícil de ler, às vezes quase


carinhoso com ele e às vezes frio e severo. Eridan alternava entre ficar
chateado com ele e sentir coisas que nenhum aprendiz deveria sentir por seu
Mestre.

Ele também havia desenvolvido uma animosidade irracional e


embaraçosa em relação a Javier, algo que ele tentara esconder, mas
aparentemente não conseguiu, porque um dia Javier o confrontou sobre
isso.

— Olha, qual é o seu problema? — Javier disse, franzindo a testa


para ele do seu assento no sofá.

Eridan cruzou os braços sobre o peito. — Não tem problema


nenhum —, ele disse com um sorriso que provavelmente era tão falso
quanto sua voz alegre. — O mestre simplesmente não está em casa.

— Ele me disse para esperar por ele —, disse Javier, observando-o


com curiosidade.

— Você está esperando há uma hora. Você não tem nada melhor a
ver com o seu tempo do que esperar que seu empregador te foda?
Javier inclinou a cabeça para o lado, relaxando os ombros. Ah. Eu
vejo agora.

— O que isto quer dizer?

Javier deu de ombros. — Você não é o primeiro aprendiz que se


tornou um pouco possessivo e inseguro com o próprio mestre. Acontece.

Eridan fez uma careta. — Eu não sou possessivo. E por que eu


ficaria inseguro? Eu conheço o meu lugar. Sou o primeiro e único aprendiz
do meu mestre. Você dificilmente é o primeiro servo que ele já teve.

O olhar que Javier deu a ele foi de pena.

Eridan corou, profundamente desconfortável. Não diga isso, ele


implorou mentalmente. Se eles não falassem sobre isso, então não era real.

— Você tem sorte de eu gostar de você, Eridan —, disse Javier


depois de um momento. — Você devia ser mais cuidadoso. Outros não
seriam tão compreensivos.

— Não sei do que você está falando —, disse Eridan.

Javier sacudiu a cabeça com um sorriso triste. — Eu já falei sobre


Kyran?

— Não —, disse Eridan, confuso e aliviado pela mudança de


assunto.

— Ele foi transferido para o departamento de manutenção apenas


alguns meses antes de você iniciar seu aprendizado com o seu mestre —,
disse Javier. — Ele era um aprendiz antes.

— O que?

— O escândalo foi abafado, então não estou surpreso que você não
tenha ouvido falar. — Javier estremeceu. — Kyran foi descoberto em uma
situação íntima com seu mestre. A situação não foi bonita. Embora Kyran
tenha dito que foi consensual, o mestre Blaine foi rebaixado para o mestre
Acólito e proibido de ter qualquer contato com ele.

Eridan torceu a testa. Ele obviamente sabia que qualquer


confraternização entre um Mestre e seu aprendiz era muito desaprovada,
mas ele não havia percebido que as consequências seriam tão ruins. — Isso
parece um pouco severo se for consensual. Só por causa da diferença de
idade? Por que é tão importante quando os calluvianos podem viver até
duzentos anos?

— A diferença de idade em si não é o problema —, disse Javier. —


Mestre Blaine praticamente criou Kyran, então ele basicamente preparou
uma criança. Essa é a parte nojenta, não importa o que Kyran diga.

— Tudo bem, isso é um pouco nojento —, disse Eridan, fazendo


uma careta. Ele olhou para Javier quando percebeu o porquê ele estava
contando essa história. — Mas o que isso tem a ver com alguma coisa? Meu
mestre com certeza não me criou. Só o conheci quando tinha dezoito anos.

— Eu sei —, disse Javier com um gesto apaziguador. — Mas o caso


do mestre Idhron é único. Ele é o mestre mais jovem da história e, mesmo
que não fosse, a maioria dos mestres não reclama um aprendiz logo após se
formar. A maioria dos mestres são muito mais velhos que seus aprendizes.
A diferença de idade entre Kyran e Mestre Blaine é realmente muito menor
do que poderia ter sido — acho que houve algumas razões médicas que
permitiram que Mestre Blaine contratasse um aprendiz quando ele ainda era
um Mestre Acólito. A maioria dos mestres tem cinquenta ou sessenta anos a
mais do que seus aprendizes, e a maioria dos mestres geralmente os educa.
Só o desequilíbrio de poder torna qualquer relacionamento íntimo bastante
prejudicial…

Eridan riu. — Sinto muito, mas isso é rico, vindo de...

Javier corou. — O que, um servo? Eu posso estar vendendo meu


corpo, mas a minha mente é só minha. Eu não pertenço a nenhum Mestre
como um aprendiz. Não preciso dar nada além do meu corpo e, se meu
empregador quiser fazer algo que me incomoda, posso dizer a eles para se
foderem. Um aprendiz não tem poder sobre o Mestre; é por isso que é
proibida qualquer confraternização entre eles.

Eridan zombou. — Por favor. Não seja ingênuo. Você está falando
como alguém que não tem ideia de como a Organização opera. Você deve
saber que a maioria dos mestres da Organização não se importa com regras
arbitrárias. O Alto Adepto Tethru seria o primeiro a atestar isso. Quer
apostar quanto que o mestre Blaine acabou irritando algum membro da
Organização e eles usaram o relacionamento dele com Kyran como uma
desculpa para rebaixá-lo?

Javier franziu o cenho. — Eu não acredito em você.

Eridan suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Gostaria de ter


tanta fé na Organização quanto você, mas confie em mim, eles não se
importam com a coisa certa a se fazer. E, a propósito, você está errado sobre
os aprendizes não terem nenhum poder sobre seus mestres.

Javier lançou-lhe um olhar cético.

— Eu vou provar para você —, disse Eridan com um sorriso. —


Você vai ver.

— E como você vai fazer isso? — Javier disse, ainda exalando


ceticismo.

— Observe. — Eridan se sentou no sofá ao lado de Javier e olhou


com expectativa para a porta. — O Mestre está voltando para casa.

Eles não precisaram esperar muito.

Castien parecia tenso quando entrou na casa. Ele parou


abruptamente ao vê-los. Seu olhar cintilou entre eles antes de se fixar em
Eridan. — Eu disse para você não me esperar, Eridan.

Eridan quase fez uma careta. Sim, porque aparentemente você


queria usar os serviços de Javier.
Suprimindo seu aborrecimento, ele sorriu para o Mestre. — Eu
queria meditar com você.

Castien olhou para ele. — Meditar? Você?

Eridan assentiu solenemente, dando-lhe o seu melhor olhar inocente.

Castien estreitou os olhos, desconfiado. — E você tem que meditar


agora, suponho.

Eridan assentiu, baixando o olhar por um momento. — Eu me senti


estranho o dia todo. Fora do ar. Minha mente está confusa, meus
pensamentos estranhamente desorganizados.

Castien se aproximou. Tomando o queixo de Eridan, ele fez Eridan


olhar nos olhos dele. — Você viu um curandeiro?

Eridan zombou. — Por que eu preciso de um quando tenho você?

Castien não disse nada por um longo momento.

— Você não deve ser tão descuidado —, disse ele, finalmente,


pressionando o polegar contra o ponto telepático de Eridan. — Você sabe
que esses são os sintomas de uma invasão externa em sua mente.

Eridan se inclinou para o toque, seu núcleo telepático pulsando com


desejo. — Mestre —, ele sussurrou, lambendo os lábios.

Castien olhou para ele.

— Vá embora —, ele disse secamente.

Eridan piscou para ele, inseguro. — Mestre?

— Saia — repetiu Castien, olhando de lado — para Javier.

Certo. Eridan tinha esquecido dele, esquecido do ponto que ele


estava tentando provar.
Javier lançou-lhe um olhar estranho quando se curvou para Castien
e saiu.

Assim que ficaram sozinhos, Castien retirou a mão e o encarou


friamente. — O que é que foi isso?

— O que foi o quê? — Eridan disse, fingindo inocência.

Um músculo se contraiu na mandíbula de Castien. — Você sabe tão


bem quanto eu que você mentiu para mim. Não há nada errado com sua
mente, Eridan.

Eridan lançou-lhe um olhar sombrio. — Talvez tenha. Como você


poderia saber se não checar?

— Eu não preciso entrar em você para saber que sua mente não foi
adulterada.

Eridan olhou para ele confuso. — O que?

Castien apertou os lábios. — Você pensou que eu permitiria uma


potencial violação de segurança? Sua mente é uma fortaleza virtual, Eridan.
Ninguém pode entrar nela sem o seu incentivo explícito. Está protegido por
dezenas de armadilhas mentais.

Eridan franziu a testa. — Isso não pode ser verdade. Tenho


meditações conjuntas com o mestre Tker e ele nunca as encontrou.

Por alguma razão, Castien parecia irritado com o assunto. — Suas


meditações com ele são superficiais. Eu o avisei para não se aprofundar
demais e apenas lhe ensinar paciência e tranquilidade. Ele sabe que não
deve tocar sua mente de maneira significativa.

Eridan considerou isso, sem saber como se sentia por sua mente
estar cheia de armadilhas. Por um lado, ele apreciava: armadilhas mentais
eram incrivelmente difíceis de montar e eram consideradas a melhor forma
de proteção mental por aí. Por outro lado, ele gostaria de ter sido avisado.

— Você deveria ter me dito —, disse ele.


Castien parecia imperturbável. — Não preciso lhe contar nada. Você
é meu aprendiz. Você sabe muito. Proteger sua mente é uma necessidade,
não uma opção. Eles não fazem mal a você, então por que você se oporia a
uma camada adicional de proteção?

Bem. Quando colocado dessa maneira, seu Mestre estava certo.

— Ainda assim —, Eridan resmungou.

— Você está infeliz porque sua mentira foi descoberta —, disse


Castien. Os olhos dele estavam frios. — Não gosto de ser enganado e
manipulado, Eridan.

— Então por que continuou atuando? — Eridan disse, confuso.

— Eu vi pouco sentido discutir nossos assuntos particulares na


frente de um servo.

Eridan não pôde deixar de sorrir, sentindo-se cruelmente satisfeito.


Nossos assuntos particulares. Essa era a prova de que ele era muito mais
importante para seu mestre do que um servo. Javier poderia chupar o pau de
seu mestre, mas isso não mudava nada. Castien era de Eridan, em todos os
aspectos que importavam.

Ele ainda odiava absolutamente o pensamento de Javier tocando seu


Mestre e tendo um pouco da sua atenção. Deveria ser apenas dele, de
Eridan, sempre.

— Então, me esclareça sobre o que era isso —, disse Castien.

Eridan baixou o olhar antes de levantá-lo novamente.

— Eu quero que você o despeça —, disse ele.

Castien olhou para ele. Seu rosto ficou vazio, o vínculo entre eles
ficou completamente quieto quando Castien ergueu seus escudos.

O silêncio espesso e sufocante.


Eridan sentiu-se corar, sua pele formigando durante o tempo que o
silêncio se estendeu.

— Você não quer que eu o demita —, disse Castien, finalmente,


olhando-o nos olhos. — Confie em mim, isso seria uma péssima ideia.

Eridan engoliu em seco. — Por que? — Ele murmurou, seu coração


batendo forte nos ouvidos. Eles realmente estavam finalmente falando sobre
a coisa não dita que existia entre eles há séculos? Ou ele estava imaginando
isso? — Não me diga que você está com medo de violar as regras, Mestre.
Eu não acredito em você. Você faz essas regras.

Os dedos de Castien roçaram o thaal de Eridan. — Algumas regras


existem por um bom motivo.

Eridan agarrou a mão de seu mestre e a apertou contra a sua, o toque


provocando arrepios agradáveis através de seu corpo. — Besteira —, disse
ele com voz rouca, segurando o olhar de Castien. — Você não precisa dele.
Eu posso te dar tudo o que ele faz e muito mais.

A garganta de Castien se moveu. — Você não sabe do que está


falando, Eridan. — Sua voz era fria e intransigente. — Essa conversa
acabou.

Eridan disse: — Não.

Ele sentiu o próprio ar entre eles ficar carregado com a raiva de seu
Mestre.

Eridan moveu a mão de Castien pelo seu pescoço, até a sua boca.
Ele esfregou os lábios na palma da mão do Mestre antes de deslizar o
polegar até sua boca. Ele chupou, olhando Castien nos olhos, de forma
desafiadora. O interior de sua boca era tão sensível, e Eridan quase gemeu
de tão bom que era. Ele sentiu o sangue correr até sua virilha, a excitação se
acumulando entre as pernas, quente e pesada. Ele chupou com mais força o
polegar de seu Mestre, saboreando a sensação, o sabor da pele de seu
Mestre, a sensação de uma parte do corpo de seu Mestre dentro dele.
— Pare com isso imediatamente —, Castien disse, seu olhar fixo na
boca de Eridan, o azul de seus olhos tão escuros que seus olhos pareciam
pretos.

— Por que? — Eridan disse através do vínculo, chupando o polegar


de Castien. — Por que de repente você adquiriu uma consciência, Mestre?

— Não se trata de consciência, seu pirralho insolente —, disse


Castien, puxando o dedo da boca de Eridan com um estalo obsceno. Ele
pressionou o polegar molhado contra o lábio inferior de Eridan, seu olhar
uma mistura de fascínio e desagrado — Se fosse uma questão de
consciência, ou a falta dela, eu teria preenchido você com o meu pau há
muito tempo atrás.

Eridan estremeceu, apertando as coxas. Havia algo obsceno em seu


mestre, o alto e poderoso mestre Idhron, que raramente usava contrações,
dizendo uma palavra tão vulgar como “pau”.

— Então, qual é o problema? — Eridan disse sem fôlego, passando


a língua para lamber o polegar de Castien.

— O problema é que isso seria extremamente idiota a longo prazo.


— Apesar de suas palavras duras, o olhar de Castien permaneceu fixo na
boca de Eridan. — Agora pare com essa atitude ridícula. Esta é a última vez
que falamos sobre isso.

Eridan olhou furioso para ele. — Como fazer sexo comigo é


“extremamente idiota”, mas foder Javier não é?

Um músculo se contraiu na mandíbula de Castien. — Não teste


minha paciência, Eridan. Toma cuidado com o seu tom e xingamentos.

Eridan deu a ele um olhar de falsa inocência, furioso por dentro. —


Mestre, estou simplesmente confuso. Eu sou mais bonito, mais poderoso e
mais compatível com você do que ele.

— E mais modesto — disse Castien secamente.


— Pffft. A humildade é superestimada. — Eridan olhou nos olhos
dele. — Você já ama foder meu cérebro, não negue. O que está te
impedindo de me foder com seu pau?

As narinas de Castien alargaram-se. — Toma cuidado com a sua


boca. Não sei onde você aprendeu essa linguagem vulgar, mas...

— Ora, com o seu precioso brinquedo, Mestre...

Castien puxou-o de pé, com os olhos escuros. — Eu já tive o


suficiente da sua petulância, Eridan.

Respirando com dificuldade, Eridan se inclinou para o espaço


pessoal de Castien. — E o que você vai fazer comigo? — Ele disse com um
sorriso de escárnio, sabendo que sua insolência deixaria seu Mestre
zangado. Ele queria isso. Ele queria que Castien estivesse com raiva. A
raiva era boa. A raiva era melhor que a fria distância. — O que você vai
fazer? Me bater? — Ele sorriu, suas respirações irregulares se misturando.
— Por que você não me cala com seu pau? Você sabe que quer, Mestre.
Você quer isso há anos, admita. — Ele inclinou a cabeça para o lado e
sorriu. — Javier se parece um pouco comigo. É por isso que ele ficou por
aqui? Aposto que você me imagina no lugar dele toda vez que coloca seu
pau nele.

— Você está se iludindo —, disse Castien. — É iludido e tolo. —


Ele olhou para Eridan, a tensão saindo dele em ondas. — Se eu quisesse
transar com você, eu já teria feito. É simples assim. Ninguém teria me
parado, porque você é meu. Você tem tantos direitos porque eu lhe dou. —
Algo frio e maldoso cintilou em seus olhos. — Sim, eu quero você,
fisicamente. Você é verdadeiramente um iludido se acha que isso significa
alguma coisa. Eu sou um homem saudável e você é repugnantemente
bonito; isso é tudo. Você, Javier, alguma outra pessoa — isso não importa
para mim. Não serei escravo dos meus desejos mais básicos. Se eu optei por
não tocar em você, é por uma razão, e os desejos do meu corpo não me
farão mudar de ideia.

— Esclareça-me, então —, disse Eridan. — Se não há diferença


entre mim, Javier e outro prostituto, o que está impedindo você de me usar
como você os usa?

Algo cintilou nos olhos de Castien. — Isso não é da sua conta. Eu


não lhe devo satisfações. Essa conversa acabou.

— Tudo bem —, Eridan disse, e sorriu brilhantemente. — Acho que


vou encontrar outra pessoa para me divertir. Meu rosto “repugnantemente
bonito” é bom para alguma coisa.

O rosto de Castien era como pedra. — Tenho certeza que sim —,


disse ele sem rodeios. — Exceto você e eu sabemos que você não pode
desejar uma relação sem sentido com um estranho. Você é um retrocesso.

Eridan olhou furioso para ele, batendo-o telepaticamente. — Foda-


se você. Eu sou mais do que apenas minha biologia. Você acha que não
posso transar só porque sou um retrocesso? Eu posso. Eu vou! — Ele saiu
de casa furioso, magoado e rejeitado, com o peito apertado.

Dane-se ele.

Deuses, ele o odiava.


CAPÍTULO 9
Príncipe de Gelo

Eridan mal se lembrava de chegar ao distrito dos aprendizes. Sua


casa estava fria, escura e inabitada. Eridan marchou direto para seu quarto
que era raramente usado e procurou as roupas mais chamativas que pôde
encontrar em seu armário.

Aqueles eram um par apertado de calças escuras que acentuavam


sua bunda e uma camisa preta meio transparente. Ele comprou essas roupas
no ano passado, mas não ele não tinha ocasiões para usá-las. Ele não tinha
amigos, então nunca havia ido a nenhuma boate nos distritos dos aprendizes
e iniciantes. Mas ele tinha ouvido falar delas, é claro. Todo mundo tinha.
Eridan tinha certeza de que todos os Mestres estavam cientes daquelas
boates — eles também haviam sido aprendizes — e apenas fingiam
ignorância. A Organização não era estúpida: tantos adolescentes e jovens
adultos enlouqueciam em uma cidade isolada como essa e poderiam fazer
algo estúpido se não pudessem relaxar. Eridan suspeitava que existissem
estabelecimentos nos distritos de Mestres também, mas ele não sabia onde
eles ficavam.

Ele não precisava saber, de qualquer maneira. O do distrito dos


aprendizes tinha o mesmo objetivo.

Fazendo um coque no cabelo, Eridan olhou para a pedra roxa


repousando contra seu pescoço com sentimentos confusos. Ele
provavelmente deveria removê-la. A marca telepática de Castien tornaria
óbvio quem era seu mestre e provavelmente assustaria a maioria dos
homens. Mas, por outro lado, ele queria dormir com alguém que teria medo
de seu mestre?
O simples pensamento de dormir com algum estranho fez seu
estômago revirar, mas Eridan afastou esse desconforto. Ele era mais do que
sua biologia. Ele poderia fazer sexo se decidisse. Do acordo com a pesquisa
da Ordem, 85% dos retrocessos precisam de intimidade emocional para o
sexo. E se talvez ele estivesse entre os quinze por cento sortudos que
podiam foder com quem quisessem? Ironicamente, esses quinze por cento
dos retrocessos foram os que deram a todos os retrocessos uma reputação
tão ruim. Vagabunda molhada, boazona, prostitutas: esses termos
degradantes existiam inteiramente graças à fração de retrocessos que
biologicamente tinham um desejo sexual extremamente alto e não
precisavam de nenhuma intimidade emocional para o sexo. Não importa
que esses termos estejam errados para a maioria dos retrocessos.

Desde que Eridan se lembrava, ele odiava, odiava ser um retrocesso.


As crianças podiam ser cruéis, e os apelidos humilhantes o incomodavam
mais com o passar dos anos, principalmente porque eram tão injustos e
imprecisos. Às vezes, ele quase desejava ser tão promíscuo quanto a
reputação dos retrocessos: pelo menos ele não se sentiria mal por coisas que
não fazia. Enquanto os outros adolescentes estavam se beijando e fazendo
sexo, ele não tinha desejo sexual. Ele começou a ter muito tardiamente: só
começou a sentir desejo depois de ter se tornado aprendiz.

Eridan tentou não pensar no que isso poderia significar. Era natural
que seu corpo confundisse seu profundo vínculo de treinamento com
intimidade emocional. Isso não significava nada. Seu Mestre era um
bastardo sem emoção que não reconheceria a intimidade emocional mesmo
se ela batesse na sua cara.

Pare de pensar nele, caramba, ele disse a si mesmo, irritado. Ele


poderia fazer sexo com um estranho se decidisse. Ele provaria que Castien
estava errado e depois esfregaria na cara dele, voltando para casa cheirando
a sexo e com o cheiro de alguém estranho.

Ignorando a agitação desconfortável em seu estômago, Eridan saiu.

O clube se chamava IcePrince, em homenagem ao príncipe herdeiro


do Terceiro Grande Clã, um dos homens mais lindos de Calluvia. Eridan
nunca havia conhecido o príncipe, mas ele o vira no noticiário. O príncipe
Jamil era realmente lindo de morrer, mas hilariamente, ele não poderia ser
mais diferente do estabelecimento que recebeu seu nome. Eridan se
perguntou o que aquele príncipe decente e adequado pensaria se descobrisse
que havia um estabelecimento ilegal de sexo, dança e bebida dentro da
Ordem nomeada em homenagem a ele. O pensamento era engraçado.

Eridan estremeceu ao entrar no clube. Ele nunca se sentira à vontade


em grandes multidões, sua empatia se tornando uma enorme desvantagem.
As emoções de outras pessoas o empurravam por todos os lados, fazendo-o
sentir-se um pouco claustrofóbico. Ele reforçou seus escudos mentais, sua
mão instintivamente subindo para o thaal. Porra. Pare de ser tão patético,
caramba. Ele não deveria precisar do conforto da marca telepática de seu
mestre assim que estivesse fora de sua zona de conforto, especialmente
porque ele veio aqui para provar ao seu mestre que não precisava dele.

Forçando-se a largar o thaal, Eridan avançou em direção ao bar.


Pedindo uma bebida aleatória, ele olhou em volta, tentando se distrair do
ataque das emoções de outras pessoas. Havia um número
surpreendentemente grande de adultos no clube, apesar de atender a
aprendizes e iniciantes. Ele se perguntou se aqueles adultos eram mestres ou
membros do departamento de manutenção. Como todo mundo estava
vestindo roupas casuais, era difícil dizer. De qualquer forma, ninguém
parecia se importar com a classificação, o que era muito libertador e
estranho, considerando o quanto a classificação era importante na escala
social da Ordem.

— Você parece novo aqui —, disse o cara ao lado dele, fazendo


Eridan se encolher.

Ele virou a cabeça e olhou para o cara. Ele parecia um pouco


familiar — Eridan deve tê-lo visto pela cidade — mas tinha certeza de que
nunca haviam se falado. Ele parecia ter a idade de Eridan, talvez um pouco
mais velho. Cabelo castanho escuro encaracolado, olhos âmbar afiados,
uma mandíbula forte. Ele era alto e de ombros largos, com alguns músculos
agradáveis. Ele era muito bonito e não parecia assustador, mas na verdade
não era do tipo de Eridan. Não que ele tivesse um tipo, mas teoricamente,
ele queria dormir com alguém... mais velho. Mais desenvolvido. Além
disso, ele não gostava de cabelos castanhos.
— Não estou interessado —, disse Eridan, voltando-se para a
multidão.

O cara bufou. — Alguém lhe disse que você precisa trabalhar em


suas habilidades sociais? Nem todo mundo que fala com você quer desossá-
lo, amigo.

Eridan fez um barulho cético. — As pessoas vêm aqui para transar.

— Eles vêm para isso? Você não parece querer isso. Sua linguagem
corporal está toda errada. Parece que você veio aqui para fazer algo
desagradável.

— Um não exclui necessariamente o outro —, disse Eridan,


lançando seu olhar para o homem alto a alguma distância que estava
olhando para ele. Aqueles peitorais eram bons. Mas o rosto dele... hmm...
muito suave e amigável. Foi desanimador.

— É muito triste se você realmente pensa nisso. Você deve conectar-


se apenas se realmente quiser. Mas, novamente, querer aparentemente não é
suficiente também. — Uma onda de amargura rolou do cara.

Eridan lançou-lhe um olhar curioso. Havia uma história ali. — Qual


é o seu nome?

— Kyran —, disse o cara. — E o seu?

— Eridan —, disse Eridan, tentando esconder sua surpresa. Não


poderia ser outro cara chamado Kyran, porque todas as crianças trazidas
para a Ordem tinham um novo nome único. Era uma coincidência bem
esquisita que ele se deparou com esse cara logo depois que Javier lhe falou
sobre ele. Mas, novamente, Hronthar era uma cidade bem pequena.

Kyran olhou para ele e bufou. — Então você já ouviu falar de mim,
eu entendo.

Eridan apenas assentiu, sem saber o que dizer.


Por um tempo, eles ficaram no bar sem conversar, tomando suas
bebidas. Finalmente, a curiosidade de Eridan tomou conta dele. — Seu
mestre realmente tirou vantagem de você?

A mandíbula de Kyran funcionou. — Não, ele não fez. Isso é


besteira. Você conheceu, o meu mestre? Ele é o homem mais gentil e
amável desse lugar fodido. Ele não seria capaz de tirar vantagem de mim,
mesmo que quisesse: ele tem metade do meu peso. E não, ele também não
me criou. Se aconteceu alguma coisa, então fui eu quem se aproveitou dele.

Eridan olhou para ele com interesse. — O que você quer dizer?

Kyran deu um suspiro. — Eu literalmente subi nu na cama dele e


coloquei o pau dele na minha boca enquanto ele estava dormindo. Se houve
coação, foi feito por mim. Mas a Organização não dá a mínima para a
verdade quando eles têm seus próprios interesses. Meu Mestre irritou
muitos desses idiotas com suas reformas. Havia carinho em sua voz e
aborrecimento também, quando Kyran começou a falar do seu ridículo
idealista Mestre, mas Eridan mal conseguia ouvir do que estava falando.

Eu literalmente subi nu na cama dele e coloquei o pau dele na


minha boca enquanto ele estava dormindo.

A mera ideia... era ultrajante. Ultrajante e errado. Escandaloso,


errado e excitante.

Se ele ousasse fazer isso com Castien, seu Mestre poderia


literalmente matá-lo.

— É mais do que apenas curiosidade, não é? — Kyran disse,


provavelmente percebendo o olhar especulativo em seus olhos.

Eridan hesitou. Mas Kyran foi provavelmente seria a última pessoa


a denunciá-lo a Organização, considerando tudo. — Também quero dormir
com o meu mestre. Mas ele está sendo um cuzão.

Kyran não pareceu surpreso. — Quem é seu mestre? — Ele disse,


bebendo sua bebida.
— Castien Idhron.

Kyran engasgou com a bebida e começou a tossir. — Sério mesmo?


— Ele disse finalmente, ainda parecendo engasgado.

Eridan achou um pouco divertido essa reação. — Você o conhece?

— Eu o conheço —, Kyran corrigiu. — Quem não né?

Eridan teve que concordar.

— Nem pense em tentar fazer o que fiz com o mestre Idhron —,


disse Kyran, fazendo uma careta. — Você é louco? Meu Mestre me perdoou
porque ele é um homem legal, um homem muito gentil, muito gentil para o
seu próprio bem. Mestre Idhron — definitivamente não é.

Eridan quase riu. Ele definitivamente não chamaria seu Mestre de


homem gentil. Eridan não tinha certeza de que Castien já tivesse entendido
algum dia o conceito de bondade.

— Você está certo —, ele murmurou, mas a ideia ficou rodando em


sua cabeça, recusando-se a ir embora.

Ele ainda estava pensando nisso quando saiu do clube horas depois,
com a virgindade intacta, para seu aborrecimento. Não foi por falta de
ofertas. Ele havia flertado com cinco caras diferentes, mas nenhum deles
despertou seu interesse — ou sua libido.

Os poucos homens mais velhos que ele considerava fisicamente


atraentes deram uma olhada no seu thaal e rapidamente se distanciaram
dele, reconhecendo claramente a marca telepática de Castien. Foi
extremamente irritante.

Então, depois de trocar os números dos comunicadores com Kyran,


Eridan saiu, decidindo dar um passeio.

Ele vagou pelas ruas da cidade, sua mente acelerada. Por mais que
tentasse, ele não conseguiu deixar de lado a ideia que Kyran colocou em
sua cabeça.
Ele estava tão ocupado discutindo consigo mesmo por que não
deveria fazê-lo que demorou um pouco para perceber que estava sendo
seguido.

Eridan ficou tenso, mas antes que ele pudesse decidir o que fazer,
uma voz rouca disse: — Pare.

Ele parou e lentamente se virou.

O estômago de Eridan afundou quando viu o rosto de um guarda


com capacete. Os guardas da Ordem eram um cruzamento entre segurança e
aplicação da lei. Mais importante, eles eram servos do Alto Adepto.

— A Vossa Graça está convocando você —, disse o guarda.

Olhando para trás, Eridan viu outro guarda.

— Agora? — ele disse, parando. — Estamos no meio da noite. Eu


irei até ele de manhã...

— Agora —, o guarda o interrompeu, agarrando seu braço.

Eridan lançou a mão em seu braço um olhar fulminante. — Me solte


—, ele disse friamente. — Eu posso andar sozinho.

Depois de um momento, o guarda soltou, mas o empurrou em


direção à câmara-t mais próxima. O outro guarda apontou. Relutantemente,
Eridan o seguiu, o medo se acumulando na boca do estômago.

O que Tethru poderia querer dele no meio da noite? Eridan tinha


algumas ideias, e nenhuma delas era particularmente reconfortante.

Quando chegaram ao castelo, ele estava com os nervos à flor da


pele, as mãos suando e o coração batendo de forma acelerada.

— Mestre —, ele gritou mentalmente, mas o vínculo permaneceu


quieto. Ele provavelmente estava muito longe da mansão de Castien para
que o vínculo funcionasse como um meio de comunicação.
Ele marchou através da ala pessoal do Alto Adepto do castelo.
Finalmente, os guardas o empurraram para uma sala em que Eridan nunca
havia entrado.

Ele esperava ser levado ao escritório pessoal de Tethru. Mas era um


quarto.

O estômago de Eridan despencou.

— Deixe-nos —, disse Tethru, olhando para Eridan.

Os guardas saíram e fecharam a porta.

Eridan deu um passo para trás, com o coração batendo forte no


peito. — Vossa Graça —, disse ele, curvando-se. Talvez se ele fingisse que
não havia nada errado quanto a isso, Tethru também se comportaria
decentemente.

Mas essa esperança foi esmagada quando viu o olhar de Tethru em


seu corpo. Porra. Ele agora se arrependia de ter se vestido tão
provocativamente.

— O seu mestre sabe que menino travesso ele tem para um


aprendiz? — Tethru disse.

— Meu mestre estará aqui em breve —, Eridan mentiu sem


pestanejar.

Isso pareceu surpreender Tethru por um momento. Mas então ele


balançou a cabeça. — Se Idhron soubesse disso, ele não deixaria você vir
aqui sozinho. Ele sempre tentou afastar você de mim.

Eridan franziu a testa e não disse nada.

— Verdade seja dita, se ele não estivesse tão determinado a


esconder você de mim — de todos — eu não estaria tão interessado em
você. Eu me pergunto há anos o que ele poderia estar escondendo. —
Tethru se aproximou, olhando o rosto de Eridan de uma maneira que fez sua
pele arrepiar. — Alguns de meus associados acham que Idhron está apenas
protegendo você das minhas... atenções, mas acho que não. Castien é
muitas coisas, mas ele não é um tolo sentimental. Ele não se importaria com
essas coisas. Não, ele está escondendo algo, e acho que tem algo a ver com
o seu passado.

A testa de Eridan enrugou. O que ele estava falando?

Tethru andou em volta dele, como um predador circulando sua


presa. — Você é surpreendentemente bonito —, disse ele com uma voz
quase distraída, acariciando sua barba. — Mesmo para um retrocesso, sua
aparência física é notável. Isso me faz pensar que você é o produto de uma
engenharia genética muito cara.

O que?

— Essa engenharia genética avançada geralmente está disponível


apenas para membros de famílias reais —, disse Tethru.

Eridan riu. — Isso é uma grande coisa, Vossa Graça.

Tethru sorriu apenas com os lábios. — Possivelmente. Mas acho


curioso que houvesse uma criança da realeza que tinha a mesma idade que a
sua desaparecida na época em que Idhron o trouxe para o Alto Hronthar.

Eridan olhou para ele. — Meu mestre me trouxe para a Ordem?

Tethru riu. — Você não estava ciente disso? Pobre criança.

Eridan olhou para ele. — Eu não sou uma criança. E se meu mestre
não me falou, tenho certeza de que ele tinha motivos válidos. Não é o meu
lugar para interrogá-lo. — É claro que ele ia questionar Castien, mas isso
era assunto deles, não desse horripilante.

— Essa lealdade é admirável —, disse Tethru, aproximando-se e


pegando o queixo de Eridan. — E tola. — Seu aperto aumentou, tornando-
se doloroso. — Você vai me dizer o que ele está planejando, garoto.

— Eu não entendo —, disse Eridan.


Tethru olhou para ele, sua máscara genial deixando-o
completamente. — Não se faça de idiota. Idhron nem sequer lutou pela
posição de Alto Adepto. Por quê?

— É apenas uma palavra —, disse Eridan. — Para que ele precisa


do título, quando todo mundo já o trata como o Grande Mestre?

Um soco no estômago não foi inesperado. Eridan grunhiu de dor,


subitamente feliz por Tethru estar perto demais para dar um soco mais forte.

— Seu pirralho impertinente —, Tethru assobiou em seu rosto. —


Talvez eu deva te ensinar uma lição.

Antes que Eridan pudesse se perguntar o que isso poderia significar,


Tethru bateu a boca na de Eridan, enfiando a língua dentro dela.

Nauseado, Eridan mordeu com força sua língua, fazendo Tethru


uivar e remover sua boca nojenta. — Seu merdinha —, Tethru sussurrou,
agarrando seu cabelo e puxando a cabeça de Eridan para o lado. Ele agarrou
o pescoço de Eridan, mordendo com tanta força que Eridan gritou de dor.
Tethru riu, empurrando-o contra a parede. — Chore. Gosto quando
garotinhos choram. — Ele empurrou sua ereção contra o estômago de
Eridan. — Mal posso esperar para colocá-lo em sua boceta.

— MESTRE! — Eridan gritou através do vínculo. — MESTRE!

Tethru riu. — Ele não vai vir. Ele não vai te ouvir. Quando eu
terminar com você, você estará desleixado com o meu sêmen, e ele te
jogará fora.

Pânico, raiva e nojo encheram seu corpo, sua visão ficou vermelha,
e antes que Eridan soubesse o que estava fazendo, Tethru estava fazendo
barulhos estrangulados.

Quando ele voltou a si, Tethru estava como um peso morto em cima
dele.
Com os olhos arregalados, Eridan o empurrou e encarou o corpo
imóvel de Tethru.

Ela estava…?

Ele estava…?

Ele estava morto? Ele acabara de estrangular o Alto Adepto da


Ordem até a morte?

Eridan engoliu sua náusea. Ele não conseguiu tocar em Tethru para
verificar seu pulso.

Ele estava morto? Ele não conseguia mais sentir a marca telepática
de Tethru. Isso significava que ele estava morto?

O som da porta se abrindo o fez congelar.

— Eridan? — disse a voz de Castien.

Eridan exalou, alívio como uma balde de água fria. Tudo ficaria
bem. Tudo ficaria bem. Seu mestre estava aqui. Seu Mestre cuidaria de
tudo.

Suas pernas não o sustentavam mais, então Eridan afundou no chão.


Ele estava tremendo, ele percebeu à distância. Talvez ele estivesse em
choque.

Fechando os olhos, ele abraçou os joelhos e balançou-se para frente


e para trás, as palavras de uma canção de ninar meio esquecida soando em
seus ouvidos. Ele não queria pensar. Ele não queria olhar... para o corpo.
Ele estava morto? Ou apenas inconsciente?

A pior parte foi que ele não tinha certeza de qual opção ele
preferiria. Ele queria Tethru morto. Por um breve momento, ele odiou
aquele homem nojento. Mas ser ameaçado de estupro justifica tirar a vida
de alguém? Ele não sabia.

Seu estômago estava revirando. Ele se sentia sujo. Ele estava sujo.
Escutou o som de passos, e então seu mestre se agachou diante dele.
— Levante-se —, disse ele, colocando as mãos nos ombros de Eridan. —
Você precisa sair. Agora.

Eridan mordeu o lábio com força, sabendo o que aquilo significava.

Tethru estava morto.

Ele o matou. Ele matou uma pessoa.

— Eridan, mexa-se.

Eridan não se mexeu. — Foi legítima defesa —, ele sussurrou com


voz rouca, fechando os olhos. — Foi legítima defesa, Mestre.

Ele sentiu mais do que ouviu Castien suspirar. — Eu sei —, ele


disse. — Olhe para mim.

Eridan abriu os olhos. Ele encontrou o olhar de Castien em seu


pescoço. Certo. Provavelmente havia contusões nele.

— Não importa para a Organização que foi legítima defesa —, disse


Castien, finalmente arrancando os olhos dos chupões. — Você ainda matou
o Alto Adepto. Você precisa sair agora.

— Mas e quanto... E os guardas? Eles sabem que eu estava aqui


com ele. E provavelmente existem câmeras de segurança que...

— Eu vou cuidar disso —, disse Castien secamente, puxando-o de


pé. — Vai para casa. Tome um banho quente. Use um regenerador dérmico
no pescoço. E durma um pouco.

Eridan assentiu mecanicamente, uma parte dele aliviada por ter


instruções simples que ele poderia seguir. Ele poderia fazer o que seu
Mestre disse. Ele poderia. Tudo ficaria bem. Tudo ficaria bem.

— Eridan —, disse Castien, sua voz mais dura. — Saia dessa.

Ele apenas olhou para seu mestre, sentindo-se perdido.


Alguma emoção passou pelo rosto de Castien. Ele suspirou e puxou
Eridan contra o peito.

Eridan congelou por um momento antes de enfiar a cabeça sob o


queixo de Castien e derreter nele. Ele fechou os olhos e respirou fundo,
permitindo que o perfume familiar de seu Mestre preenchesse seus sentidos,
sentindo-se muito seguro em seus braços. Ele não queria deixá-lo nunca
mais.

Mas de forma precoce, Castien o empurrou. — Vá para casa —,


disse ele, virando-se para o... corpo. — Agora, Eridan.

Eridan foi.
CAPÍTULO 10
Lugar Seguro

Eridan acordou com um suspiro, seu coração ainda batendo forte,


pânico, raiva e nojo, apertando o seu peito.

Ele pressionou os dedos trêmulos nos olhos e respirou, inspirando e


expirando. Tudo estava bem. Ele estava bem. Tethru não fez nada de muito
ruim. Nada de ruim aconteceu.

Exceto que ele havia matado uma pessoa.

Uma pessoa vil e pervertida, Eridan lembrou a si mesmo. Não


ajudou muito. Ele ainda podia ouvir Tethru ofegando, irradiando medo e
depois entrando em pânico — até que não houvesse nada. Uma vida se foi.
Desse jeito.

Ele era um assassino.

Eridan correu para o banheiro lateral e vomitou assim que chegou ao


banheiro. Suspirando, ele lavou a boca com água.

Ele levantou a cabeça e encarou seu reflexo. Seus olhos arregalados


e violetas eram a única cor em seu rosto pálido. Até as feias marcas em seu
pescoço haviam desaparecido, como se nada tivesse acontecido.

— Ele era um estuprador —, disse Eridan. — E um pedófilo. Ele


mereceu.

Ele se sentiu um pouco melhor depois de dizer isso, mas a sensação


de mal estar no estômago ainda estava lá. Ele queria ser informado de que
não havia feito nada errado. Ele queria ficar ciente que tudo ficaria bem.
Ele queria seu mestre.

Suspirando, Eridan se concentrou no vínculo. Castien estava de


volta: ele podia senti-lo em casa, mas sua mente parecia distante, como
normalmente ficava quando ele estava dormindo.

Claro que ele estava dormindo. A julgar pelo céu brilhante, já estava
quase amanhecendo, e Castien devia estar cansado depois de passar a noite
toda limpando o que aconteceu.

Eridan ainda o queria. Queria ele por perto.

Odiando-se um pouco por ser um bebê, Eridan saiu do quarto, seus


passos silenciosos enquanto se movia pela grande casa. Ele seguiu o
vínculo até que o levou ao quarto de seu mestre.

Eridan olhou para a porta por um tempo antes de abri-la.

Ele abriu silenciosamente.

Seu mestre estava dormindo de costas. Seu rosto estava um pouco


mais suave durante o sono, mas não muito, uma carranca permanentemente
gravada entre as sobrancelhas. Castien estava vestindo suas roupas de
dormir, mas sua camisa escura não estava abotoada, revelando ao olhar de
Eridan seu peito largo e musculoso e barriga trincada.

Eridan molhou os lábios secos, sua necessidade infantil de conforto


mudando para um tipo diferente de necessidade, básica e devassa.

“Eu literalmente subi nu na cama dele e coloquei o pau dele na


minha boca enquanto ele estava dormindo.” As palavras de Kyran soaram
em seus ouvidos novamente, terrivelmente tentadoras.

Não, era insano. Totalmente insano.

Ele nem deveria considerar a ideia.

Questões de consentimento à parte, seu Mestre quase certamente


ficaria furioso se Eridan fizesse isso depois que Castien explicitamente lhe
disse que qualquer coisa entre eles seria “estúpido”.

Mas foda-se, só de pensar nisso... De puxar o pênis de seu Mestre


para fora... lambê-lo e levá-lo à boca enquanto Castien não era o mais
sábio... sugando-o até que seu Mestre estivesse duro e vazando... Só de
pensar nisso, o corpo de Eridan doía. Desejando, seu pau endureceu e seu
buraco fica mais escorregadio.

Ele apalpou seu pau, olhando avidamente para seu mestre.

Em sua imaginação, depois de fazer com que Castien ficasse duro,


ele montaria em seus quadris e depois afundaria nele, saciando essa fome,
esse vazio dentro dele. Seria tão bom finalmente ter seu Mestre, levá-lo
para dentro de seu corpo e saciar esse desejo dentro dele. É claro que
Castien finalmente acordaria, mas seria tarde demais: ele estaria longe
demais para parar. Ele encararia Eridan e diria algo assustador, mas não o
deteria. Ele subiria em cima dele e estocaria nele, de novo e de novo e de
novo, transando com ele tão forte que Eridan só imploraria por mais. Seu
mestre o chamaria de nomes. Ele o envergonharia, diria que ele merecia
mais do que um aprendiz que era louco pelo pau de seu Mestre. Mas então
ele diria a Eridan que o amava...

Eridan acordou da sua fantasia, engolindo de volta sua risada


amarga. Ele deveria ser apegar a fantasias mais realistas. Seu Mestre
chamando-o de vagabunda não era muito provável, mas ainda era
infinitamente mais provável do que ele dizendo a Eridan que o amava.

Porra, isso era tão patético. Quem diabos fantasiava em receber uma
declaração de amor?

Sem mencionar que ele não queria o amor de Castien. Ele sabia que
era melhor não ansiar por algo que seu Mestre não poderia lhe dar. Castien
Idhron literalmente não era capaz de emoções profundas e significativas.
Ele havia dito isso a Eridan, anos atrás.

Por que diabos ele estava aqui? Ele não conseguiria o conforto que
queria de Castien. Ele deveria sair.
— Eridan?

Ele corou e puxou a camisola para esconder a protuberância do


pijama.

— Sinto muito, mestre —, disse ele, sem olhar para Castien. Ele
reforçou seus escudos mentais. — Eu não queria atrapalhar seu sono. Eu
vou embora.

— Venha aqui.

Relutantemente, Eridan fez como lhe foi dito, seu olhar abatido.

— Por que você não está dormindo?

Eu me senti mal e queria que você me fizesse bem iria soar patético
demais, então Eridan disse: — Fiquei me perguntando se estava tudo bem.
As pessoas já descobriram sobre...? — Porra, ele nem conseguia falar sobre
isso.

— A morte de Tethru? — Castien disse. — Sim. Houve uma reunião


de emergência da Organização.

O olhar de Eridan disparou para ele.

Ele encontrou Castien sentado na cama, observando-o. Seu rosto


estava meio nas sombras, por isso era ainda mais difícil de ler do que o
normal. Eridan tentou não olhar para baixo, para a camisa desabotoada do
Mestre, apesar de tudo o que ele queria naquele momento era enterrar o
rosto naquele peito largo e respirar.

Ele engoliu em seco. — Eles suspeitam de mim?

— Não há nada para suspeitar —, disse Castien. — Eu disse a eles


que Tethru morreu de ataque cardíaco.

Eridan olhou para ele confuso. — Mas... mas eles não vão fazer uma
autópsia?
Castien suspirou. — Somente o Alto Adepto pode pedir, e não tenho
intenção de fazê-lo.

— O que? Você quer dizer…

— Eu me apresentei como candidato ao cargo —, disse Castien. —


Fui escolhido pela maioria dos votos.

Mordendo os lábios, Eridan tentou envolver-se com esse assunto. —


Mas você não queria ser o Alto Adepto ainda —, afirmou, confuso. Seu
Mestre tinha feito isso apenas para... protegê-lo?

O rosto de Castien estava ilegível. — Não era o curso de ação que


eu teria escolhido neste momento, mas fui forçado. Depois de encobrir a
morte de Tethru, sou efetivamente cúmplice do assassinato. Eu não tive
escolha.

— Certo —, disse Eridan, abraçando-se. Era uma noite


estranhamente fria. Ele sorriu torto. — Eu acho que parabéns então? Vossa
Graça. Sinto muito por atrapalhar seu sono...

— Se recomponha, Eridan — seu Mestre disse, uma careta cruzando


seu rosto. Ele emanava irritação. — Sua culpa é ilógica. Tethru era um lixo.
Ele teria estuprado você, tanto sua mente tanto o seu corpo. Você fez o que
precisava ser feito.

A tensão dentro dele diminuiu.

Eridan respirou pela primeira vez em horas. O que seu Mestre havia
dito não era nada que ele não sabia, mas ele precisava ouvir.

— Eu sei —, disse Eridan suavemente. Obrigado. — Boa noite. —


Ele riu, olhando para o céu brilhante através da janela que ia do chão ao
teto. — Ou melhor, bom dia. — Ele se virou para ir embora, mas a voz de
Castien o deteve.

— Você pode dormir aqui.

Com os olhos arregalados, Eridan olhou para ele. — Mestre?


Castien deitou-se e fechou os olhos. — Só desta vez —, disse ele.
— Suba na cama e durma, Eridan. Será um longo dia.

Sorrindo um pouco, Eridan subiu na cama de seu mestre. Embora a


cama fosse muito grande, ele não deixaria passar a oportunidade de abraçar
sorrateiramente. — Obrigado, Mestre —, disse ele, roçando a boca na
bochecha de Castien. Você é meu porto seguro.

Castien ficou rígido. — Durma —, disse ele laconicamente, sem


abrir os olhos.

Eridan relutantemente se afastou — mas não muito. Ele se enrolou


ao lado de seu Mestre, colocando a cabeça sob o braço de Castien e
respirando seu familiar perfume.

Depois de um momento, a presença telepática de Castien o


envolveu, calma e suave, afugentando qualquer sensação persistente de erro
e curando suavemente as rachaduras na paisagem mental de Eridan. Eridan
sorriu de forma sonolenta, já sentindo os efeitos da avançada cura mental.
Ele fechou os olhos, confiando em seu mestre para cuidar dele.

Ele estava seguro. Ele estava em casa. Tudo ficaria bem.

Ele adormeceu quase imediatamente.


CAPÍTULO 11
O Alto Adepto

Era estranho como as pessoas olhavam para ele agora que ele era o
aprendiz do Alto Adepto.

Ficara aliviado quando finalmente deixou a ala pública de High


Hronthar e entrou na parte mais calma do castelo. Parte dele esperava ser
agredida com as lembranças da noite passada, mas não havia nada. Ele
estava calmo. Eridan sorriu um pouco, muito aliviado. Ele nunca havia
recebido o tratamento avançado da mente e foi bom saber o quão eficaz era.
Seu Mestre deve ter ficado acordado até de manhã, curando as rachaduras
em sua psique. Isso fez Eridan se sentir quente por dentro.

Ele não bateu na porta ao chegar no grande escritório ao qual o


vínculo o levou.

Castien estava parado junto à janela, seu olhar fixado nas


montanhas.

Ele estava vestindo uma túnica branca pesada. A túnica do Alto


Adepto.

— O branco não é a sua cor, Mestre —, disse Eridan.

Castien virou-se para ele.

Tudo bem, talvez ele tenha mentido um pouco: Castien parecia bem.
Ele sempre parecia bem, mas a túnica branca combinada com seu cabelo
branco prateado tornava o azul dos olhos e as sobrancelhas mais escuras
ainda mais intensos. Ele tinha o cabelo caído em vez de puxado para trás,
mas isso não suavizava suas feições, seus olhos eram afiados, sua
mandíbula firme e com barba espalhada pelo o seu rosto.

— Como você está se sentindo? — Castien disse, estudando-o com


uma expressão ilegível.

Eridan deu de ombros. — Eu estou bem —, ele disse honestamente.


— Por que você me chamou? Eu pensei que você estaria muito ocupado
hoje.

— Estou ocupado. De fato, estou saindo para o mosteiro. O serviço


será realizado lá, é claro.

O serviço. Certo. A morte do Alto Adepto foi um grande negócio.


Os membros do Conselho Calluviano provavelmente estariam presentes.

— Você quer que eu vá com você? — Eridan disse em sua voz mais
neutra, esperando que não fosse para isso que Castien o tivesse convocado.
Participar do funeral do homem que ele acidentalmente matou não era
exatamente sua ideia de diversão.

— Não há necessidade.

Eridan tentou não parecer muito aliviado, mas a julgar pelo longo
olhar que Castien deu a ele, ele não estava enganando ninguém.

Felizmente, naquele momento, o comunicador de Castien tocou.

Ele respondeu, ainda olhando para Eridan.

—... chegarei em breve, Irrene. Transmita minhas desculpas à


Primeira Rainha se ela chegar antes de mim. Ocorreu alguns imprevistos os
quais tive que lidar.

— Quem é Irrene? — Eridan disse.

Castien desligou o fone de ouvido. — Uma serva —, disse ele. —


Minha secretária, para ser mais preciso.
— Você tem uma secretária agora?

— É claro —, disse Castien. — Uma das desvantagens de ser o Alto


Adepto é que terei que passar muito tempo no mosteiro, encontrando vários
membros do Conselho Calluviano. É necessária uma secretária para
acompanhar meus compromissos e apresentar explicações para a minha
ausência quando não estiver disponível para ir até lá.

— Hmm —, disse Eridan, caminhando para a janela e olhando a


paisagem deslumbrante abaixo. — Se você não queria que eu o
acompanhasse, por que me chamou?

Ele sentiu o olhar de Castien em seu rosto. — Não tivemos tempo


para conversar ontem. O que Tethru queria com você?

Ele riu. — Não é óbvio, mestre?

— Tethru não ousaria tocar no meu aprendiz por causa de algo tão
sem sentido quanto a luxúria —, disse Castien, aproximando-se. Ele
colocou um dedo embaixo do queixo de Eridan e o levantou. — Ele te disse
o que queria?

Eridan inclinou a cabeça para o lado, um pouco confuso. A rigor,


Castien não precisava perguntar. Ele poderia facilmente obter as
informações que queria da mente de Eridan. O vínculo entre eles lhe dava
fácil acesso à sua mente. Os mestres podiam ler a mente de seus aprendizes;
não era considerado uma violação pelas regras da Ordem. Mas Castien
evitava mergulhar em sua mente desde a última não-fusão. Era intrigante.

— Ele me perguntou o que você estava planejando, por que você


não se candidatou ao cargo de Alto Adepto. — Eridan sorriu torto. — Ele
não me contou muito. Ele estava muito ocupado babando por todo o meu
pescoço.

As narinas de Castien alargaram-se.

Seu olhar caiu no pescoço de Eridan.


Não havia nada lá, é claro. Eridan usara um regenerador dérmico —
três vezes — para garantir que os chupões sumissem.

A mandíbula de Castien cerrou. — Se você tivesse ficado em casa


em vez de ter ido vagar em algum lugar à noite, tentando provar um ponto,
nada disso teria acontecido.

Eridan apertou os lábios, lembrando-se da briga feia antes de sair da


mansão de Castien na noite passada. Realmente aconteceu ontem?

A julgar pela expressão dura dos olhos de Castien, ele não havia
esquecido exatamente o argumento deles.

O silêncio se estendeu, pesado e tenso.

Eridan suspirou. — Eu não quero brigar, Mestre —, disse ele


calmamente. Ele odiava o quão pequena sua voz soava. Talvez ele não
estivesse mais traumatizado, mas mesmo a melhor cura mental não poderia
magicamente curar seus nervos desgastados. Ele realmente não queria
brigar.

Os lábios de Castien afinaram. — Tudo bem —, disse ele, para


surpresa de Eridan. Não era algo de Castien deixar de lado alguma coisa.

Surpreendendo-o ainda mais, Castien tocou o thaal de Eridan,


reorganizando-o levemente, seus dedos roçando seu pescoço. — Você ainda
parece cansado. Durma um pouco até eu voltar. Meditaremos juntos e
trabalharemos para extinguir qualquer remota culpa que tenha ficado pela
morte de Tethru.

Eridan deu um pequeno sorriso. — Obrigado, Mestre —, disse ele,


inclinando-se e pressionando os lábios contra a bochecha de Castien. Ele
inalou profundamente, deixando o cheiro familiar e reconfortante de seu
Mestre acalmá-lo de uma maneira que poucas coisas faziam.

Tudo ficaria bem.

Ele finalmente acreditava.


***

Algo mudou no relacionamento deles após a morte de Tethru.

Eridan percebeu que seu mestre estava... um pouco mais suava com
ele. Um pouco mais gentil. Mais tolerante com Eridan invadindo seu espaço
pessoal e inclinando-se para ele.

Talvez ele achasse que Eridan ainda estivesse traumatizado com o


que aconteceu no quarto de Tethru. Ele não estava, pelo menos não mais.
Graças à cura da mente e às meditações conjuntas com seu Mestre, o ataque
e a morte de Tethru agora pareciam muito distantes, como se tivesse
acontecido com outra pessoa a muito tempo atrás.

De qualquer forma, Eridan certamente não estava reclamando da


atitude mais indulgente de seu mestre em relação a ele. Ele absorvia,
ganancioso por toda a atenção e carinho de seu Mestre. Ele sabia que havia
coisas sobre as quais eles deveriam falar, mas estava com muito medo de
quebrar o status atual e arruinar o calor incomum que preenchia seu
vínculo.

Não era como se Castien fosse carinhoso, exatamente. Pelos


padrões da maioria das pessoas, ele provavelmente ainda era frio e distante,
mas Eridan o conhecia. Pelos padrões de Castien, ele estava positivamente
sensível hoje em dia. Uma mão no ombro ou na parte inferior das costas de
Eridan, do jeito que a marca telepática de Castien permaneceu nele muito
tempo depois que eles se separaram, do jeito que ele mantinha Eridan perto
dele, levando-o com ele para suas reuniões... Se Eridan não soubesse
melhor, se Castien não fosse Castien, ele pensaria... ele pensaria que seu
mestre estava sendo um pouco pegajoso. Um pouco possessivo. Ou alguma
coisa assim.
Eles não conversaram sobre isso. Assim como eles não voltaram a
falar sobre a briga feia antes da morte de Tethru. Assim como eles não
falavam sobre o fato de que se queriam no sentido mais básico da palavra.

Eridan disse a si mesmo que isso não importava. Nada ia acontecer.


Castien supostamente tinha suas razões pelas quais ele não faria sexo com
ele, e Eridan não tinha a menor vontade de se humilhar novamente,
trazendo o assunto à tona.

Mas, embora eles não tenham falado sobre isso, Eridan podia sentir
a tensão não resolvida em todas as suas interações, e ele não achava que era
unilateral. Ás vezes ele pensava que tinha visto o seu Mestre olhando para
ele, seu olhar paralisado e faminto.

Assim como ele estava olhando para ele agora.

— Eu percebi que você gostou do seu quarto. — disse Castien,


olhando para Eridan, que estava esparramado em sua cama em seu novo
quarto, com um datapad na mão.

Eridan sorriu para ele, gostando da maneira como os olhos de seu


mestre se voltaram para sua boca. — Eu gostei. Esta é a cama mais macia
que eu já tive. Embora eu sinta falta da mansão.

Castien encolheu os ombros levemente, seus olhos azuis passando


rapidamente pelo corpo de Eridan. — A mansão ainda é minha propriedade,
mas como Alto Adepto, devo morar no castelo. Você sabe disso. Eu até
demorei para mudar para cá.

Eridan assentiu, olhando-o com os olhos pesado, o peito subindo e


descendo de forma instável. Eles estavam no quarto dele. Ele estava na
cama dele. Seu Mestre estava olhando para ele como se quisesse comê-lo.
O momento se estendeu—

Castien pigarreou e olhou para o relógio. — Eu preciso ir. Eu tenho


um compromisso. — E ele saiu do quarto de Eridan, a porta se fechando
atrás dele.
Eridan olhou para o teto por um momento antes de empurrar as
calças para baixo e envolver a mão em torno de seu pênis duro. Ele gemeu
de alívio. Ele nem se importava se seu Mestre pudesse ouvi-lo. Deixa-o
ouvir. Algo sobre esse pensamento excitou muito Eridan, seu pau latejando
e seu buraco doendo para ser tocado, para ser preenchido. Ele já estava
ligado desde o momento em que seu mestre entrou em seu quarto. Ele
enfiou dois dedos dentro de si, acariciando seu pau com a outra mão. Ele
imaginou os olhos azuis de Castien o observando, imaginou o pênis de seu
mestre ficando duro. Ele imaginou seu Mestre ordenando que ele se
ajoelhasse e chupasse seu pau.

Ele gemeu, tirando a mão do pênis e empurrando três dedos na boca.


Ele as chupou com prazer, imaginando como seria seu Mestre, dentro de
sua boca, quente e pulsante, penetrando profundamente dentro dele,
enchendo-o com sua semente. Ele aceitaria, aceitaria tudo, qualquer coisa
que seu Mestre lhe desse...

Eridan veio com um gemido abafado, chupando os próprios dedos.

Ele nem se sentia mais culpado.

Ele se sentiu maravilhoso.


CAPÍTULO 12
A Rainha

Certamente, era improvável que essa incerta situação durasse, mas


chegou ao fim de uma maneira que Eridan nunca esperava.

Uma manhã, Castien disse que ele deveria acompanhá-lo a um


compromisso.

Por si só, não era nada fora do comum: como aprendiz sênior,
Eridan deveria aprender a curar a mente observando o trabalho de seu
mestre.

Mas quando ele perguntou a Castien para onde estavam indo, a


resposta o surpreendeu.

— Eu tenho um compromisso com o príncipe Jamil'veighli —, disse


Castien. — Fui eu quem tratou o vínculo de seu casamento.

Eridan estremeceu. Castien o havia ensinado a estabelecer e romper


laços matrimoniais que uniam todos os calluvianos, e ele sabia que um
vínculo rompido era doloroso. Esses laços não eram nada parecidos com o
vínculo entre ele e seu mestre; eles eram como uma teia de aranha,
entrelaçados na mente e bloqueando vias neurais inteiras. Ter esse vínculo
quebrado — o que geralmente acontecia quando o companheiro de vínculo
morria — era muito doloroso. É claro que o príncipe-consorte Mehmer não
estava realmente morto, como o príncipe Jamil acreditava, mas não mudou
nada. O fato era que o vínculo que o príncipe Jamil mantinha desde a
infância estava quebrado agora, causando danos à sua mente, o que exigia
tratamento profissional.
E além de tudo, sem o conhecimento do príncipe Jamil, o homem
que o estava tratando tinha rompido seu vínculo de casamento.

— Você nunca viu um vínculo matrimonial quebrado —, disse o


Mestre. — Simulações não são as mesma coisas. — Castien o guiou em
direção à câmara t, a mão na parte inferior das costas de Eridan. — É claro
que você não poderá entrar na sala enquanto eu examinar o príncipe, mas se
você ficar por perto, permitirei que você veja o que vejo em sua mente.

— E quanto ao príncipe-consorte Mehmer? — Ele murmurou


baixinho, consciente da mão de seu mestre nas costas.

— Ele é o problema do Mestre Sylas agora —, disse Castien. Ele


soltou a mão apenas quando eles entraram na câmara-t. — Terceiro Palácio
Real, a ala do príncipe herdeiro.

Eles tiveram que esperar alguns momentos para que sua consulta
com o príncipe Jamil fosse verificada antes do transporte começar a se
mover.

Antes que Eridan pudesse pedir mais detalhes, eles chegaram e ele
sabia que não devia falar sobre esse assunto no Terceiro Palácio Real.

Eridan seguiu seu Mestre pelos vastos e luxuosos salões do palácio,


olhando em volta com curiosidade.

Não era como se Eridan fosse estranho a esses lugares. Muitas das
propriedades de Castien no exterior eram grandiosas e luxuosas, e High
Hronthar — o castelo, não a Ordem — era tão opulento quanto este palácio.
Mas algo naquele palácio parecia diferente. Eridan podia sentir o orgulho
dessa linhagem, sentir centenas de gerações dessa família real que haviam
deixado suas marcas telepáticas nessas paredes. Este palácio parecia velho
de uma maneira que nem o mosteiro nem o Alto Hronthar eram, apesar de
não ser mais antigo do que eles.

— É por causa do sangue —, explicou o Mestre, provavelmente


sentindo sua confusão. — Telepatas estreitamente relacionados têm marcas
telepáticas semelhantes. Essa é a origem dos laços familiares: irmãos e pais
os compartilham porque suas presenças telepáticas são semelhantes o
suficiente para que eles se conectem. E marcas telepáticas semelhantes
deixam impressões mais fortes com o passar do tempo.

— Vossa Alteza Real se juntará a você a qualquer momento, Vossa


Graça —, interrompeu o palácio AI. — Por favor, espere por ele em seu
escritório.

Os lábios de Castien se apertaram e Eridan fez uma careta, não


invejando nem um pouco o príncipe Jamil. Seu Mestre odiava atrasos.

— Espere por mim ali —, disse Castien, gesticulando para o terraço


antes de desaparecer no escritório do príncipe.

Suspirando, Eridan fez como lhe foi dito.

Ele não sabia quanto tempo ficou lá, olhando os jardins abaixo,
antes de sentir Castien abrir o vínculo entre eles. — Observe —, Castien
disse a ele antes de entrelaçar suas presenças telepáticas para que ele
pudesse ver o que Castien estava vendo na mente do príncipe Jamil.

Era um sentimento estranho. Era muito desorientador, então Eridan


fechou os olhos, mas a estranheza da experiência não desapareceu
completamente. Essa técnica raramente era usada por um motivo: só era
possível entre mentes altamente compatíveis.

Ele observou seu mestre examinar a mente do príncipe Jamil,


estudando os restos murchos do vínculo matrimonial do príncipe. Ele podia
sentir uma faísca de interesse de seu mestre, como se Castien tivesse
encontrado algo que não esperava. Castien se aprofundou, procurando.
Eridan também podia sentir o crescente desconforto do príncipe Jamil.
Parecia que ele não queria que Castien visse algo em sua mente.

Eridan sentiu uma pontada de simpatia pelo príncipe. O pobre


homem havia perdido recentemente o marido; sua mente e seu vínculo
matrimonial estavam todos confusos. Certamente ele merecia alguma
privacidade?
Franzindo a testa, Eridan saiu da conexão e suspirou. Seu Mestre
ficaria zangado com ele por ser “suave” demais, mas isso não seria
novidade.

Ele saiu do terraço, abriu a porta do escritório e enfiou a cabeça. —


Mestre, você já terminou? Já podemos ir?

O olhar de Castien se voltou para ele. Os lábios dele se contraíram


levemente, os olhos brilhando de irritação. — Eu lhe disse para esperar por
mim lá fora, Eridan.

Eridan fez um beicinho exagerado.

Um músculo pulsou na mandíbula de Castien. — Peço desculpas


pelo o meu aprendiz, Vossa Alteza —, disse ele. — Onde estão suas
maneiras, Eridan?

— Oh! — Eridan deu ao príncipe Jamil um sorriso tímido, corando.


Ele se curvou. — Saúde e tranquilidade, Vossa Alteza.

— Você é aprendiz do Mestre Idhron? — O príncipe Jamil disse,


lançando lhe um olhar surpreso.

Eridan lhe lançou um sorriso torto. — Eu sou e sou a ruína de sua


existência. Você é ainda mais impressionante pessoalmente, Alteza.

O príncipe realmente era impressionante, com seus cabelos


castanhos brilhantes, lindos olhos verdes e o tipo de estrutura óssea com a
qual a maioria das pessoas só podia sonhar.

— Eridan —, Castien estalou. — Espere por mim lá fora.

Eridan revirou os olhos. — Sim, Mestre —, disse ele. — Mas se


apresse, sim? Estou entediado. Você sabe que eu e o tédio nunca somos uma
boa combinação.

Ele fechou a porta novamente e sorriu para si mesmo. Missão


cumprida. Embora ele estivesse em uma enrascada por isso.
Tentando adiar o inevitável, Eridan se afastou.

Ele caminhou por um tempo, olhando em volta, curioso.

Uma voz feminina o deteve. — Você está perdido, meu querido?

Eridan se virou e se curvou apressadamente. — Vossa Majestade. —


Ele vira a rainha Janesh apenas no noticiário, mas seria impossível não a
reconhecer. Ela ainda tinha uma beleza deslumbrante, apesar de ter filhos.

Ele ergueu o olhar e, para sua surpresa, encontrou a rainha


carrancuda, com o rosto pálido.

Eridan inclinou a cabeça, confuso. — Vossa Majestade? Algo


errado?

A rainha Janesh sacudiu a cabeça, ainda franzindo a testa. — Não.


Por um momento, pensei ter visto um amigo meu que morreu há muito
tempo. — Ela sorriu tristemente. — A semelhança é bastante estranha. Qual
é o seu nome, criança? — Ela olhou para as vestes dele e ergueu as
sobrancelhas. — Você é um adepto da mente?

Antes que Eridan pudesse dizer alguma coisa, Castien o alcançou.

— Vossa Majestade —, disse ele com um pequeno cumprimento.

A rainha o cumprimentou de volta. — Vossa Graça. Saúde e


tranquilidade. Você teve uma consulta com meu filho?

Castien apenas assentiu, colocando a mão no ombro de Eridan.


Havia uma estranha cautela nele. Eridan olhou para ele bruscamente.

— Como ele está? — A rainha disse. — Melhor?

— O vínculo dele mal o machuca mais —, disse Castien. — Mas


você entende que não posso dizer mais que isso, Majestade.
Confidencialidade do paciente-curador.
A rainha assentiu. — Claro. — Ela olhou para Eridan, curiosa. —
Este jovem é seu aprendiz?

Castien deu um aceno cortante, sua mão apertando o ombro de


Eridan. — Se você nos der licença, temos que ir, Majestade. — Ele se
curvou e levou Eridan para longe.

— O que é que foi isso? — Eridan assobiou. — Você foi tão rude,
Mestre!

Castien não respondeu, seu rosto incrustado.

Ele pareceu relaxar apenas quando voltaram ao mosteiro. — Vá para


High Hronthar —, disse ele, sem olhar para Eridan. — Eu ainda tenho
alguns trabalhos por aqui.

Eridan assentiu, olhando para as costas de seu Mestre, muito


perplexo.

Castien nem o repreendeu por interromper a sua sessão com o


príncipe Jamil.

Ele acabara de esquecer?


CAPÍTULO 13
A Verdade

Eridan voltou para o castelo, ainda se sentindo abalado e confuso.


Algo estava incomodando no fundo de sua mente e ele não conseguiu
identificá-lo.

Então ele foi para o quarto, sentou-se no tapete de meditação e


fechou os olhos.

Alcançar o estado de meditação levou um tempo quando ele estava


tão ansioso, mas finalmente conseguiu.

Ele afundou mais fundo em sua mente, procurando a fonte desse


sentimento incômodo.

Mas acho curioso que houvesse uma criança da realeza que tinha a
mesma idade que a sua desaparecida na época em que Idhron o trouxe para
o Alto Hronthar.

Por um momento, pensei ter visto um amigo meu que morreu há


muito tempo.

Eridan ficou quieto. Ele havia descartado as especulações de Tethru


porque achara ridículas na época, mas se a rainha Janesh costumava ter um
amigo tão parecido com ele que ela realmente o confundia com uma pessoa
morta... Juntando com a cautela e a tensão incomum de Castien...

Respirando fundo, Eridan disse a si mesmo que isso não provava


nada. Ele precisava de algo mais concreto.
Ele fechou os olhos e voltou a meditar. Ele se aprofundou cada vez
mais, procurando aquelas lembranças elusivas e esquecidas de sua infância.

Uma sala alta e espaçosa, cheia de brinquedos. — Ele tem idade


suficiente para ser ligado... Talvez depois da viagem...

Um garoto magro, com olhos azuis cheios de lágrimas. — Eles


estão mortos, Eri. Eles não vão voltar.

Um Castien muito mais jovem, olhando-o de maneira avaliadora. —


Qual é o seu nome, criança?

Os olhos de Eridan se abriram. Ele olhou para frente sem realmente


prestar atenção, com o coração batendo forte. Castien realmente o trouxera
para a Ordem. Tethru tinha sido honesto, pelo menos nessa parte. Tethru
poderia estar certo sobre todo o resto?

Ele esforçou sua memória, tentando lembrar de mais alguma coisa,


mas era difícil. Ele não ficou surpreso. No dia em que uma criança de High
Hronthar era nomeada, seus laços familiares e de noivado existentes, se
houvesse algum, eram rompidos, para ajudar a criança a deixar de lado os
apegos passados e se adaptar à nova vida. Isso geralmente tornava as
lembranças passadas mais vagas. Ele era jovem demais para lembrar de
qualquer coisa.

Mas acho curioso que houvesse uma criança da realeza que tinha a
mesma idade que a sua desaparecida na época em que Idhron o trouxe para
o Alto Hronthar.

Mordendo os lábios, Eridan pegou seu dispositivo múltiplo. Ele


poderia olhar se alguma criança real de três anos tinha desaparecido na
época em que ele foi levado para a Ordem. Embora a mera ideia ainda
parecesse ridícula, ele duvidava que Tethru inventasse algo assim sem
motivo.

Uma hora depois, Eridan pousou o dispositivo múltiplo e o olhou


sem expressão. Era foto do garoto. O príncipe herdeiro Warrehn, do Quinto
Grande Clã, desapareceu dezessete anos atrás — assim como seu irmão de
três anos, o príncipe Eruadarhd.

Não havia fotos antigas do príncipe mais jovem, uma vez que era
proibido fotografar crianças pequenas de figuras de destaque, a menos que
fosse para algum propósito oficial. A única imagem que Eridan pôde
encontrar era do dia do nascimento do príncipe Eruadarhd, quando o casal
real divulgou uma declaração à imprensa que incluía a Rainha Consorte
segurando o recém-nascido.

Eridan olhou para a rainha, seus cabelos dourados e olhos violeta.


Assim como os dele.

Eu pensei ter visto um amigo meu que morreu há muito tempo.

Então ele olhou para o príncipe Warrehn, com dez anos de idade.
Olhar para a foto dele fez algo apertar em seu peito. Ele tinha quase certeza
de que se lembrava dele, mas poderia ser apenas um viés de confirmação.

Poderia realmente ser sua família?

Eridan traçou o rosto adorável da Rainha-Consorte com o dedo.

— Isso importa? — Ele sussurrou.

Se eles eram sua família, todos estavam mortos de qualquer


maneira. O Rei e a Rainha-Consorte haviam morrido pouco antes do
desaparecimento de seus filhos. O príncipe herdeiro Warrehn foi
supostamente morto, supostamente morto pelos rebeldes.

Eridan estava cético sobre a última parte — que ele foi morto pelos
rebeldes. Os rebeldes eram realmente inofensivos. Mas, de qualquer forma,
era altamente improvável que o príncipe Warrehn estivesse vivo. Fazia mais
de dezessete anos. O príncipe mais velho teria aparecido em algum lugar se
estivesse vivo.

Seu irmão estava morto, assim como seus pais.

A visão de Eridan ficou subitamente um pouco embaçada.


Era tão estúpido chorar por estranhos, sua família de sangue que ele
quase não se lembrava.

Ele não era o príncipe Eruadarhd. Ele era apenas Eridan, um


aprendiz do Alto Hronthar.

O aprendiz do Alto Adepto.

Eridan franziu a testa. Independentemente do que ele pensasse sobre


essa descoberta, o fato era que seu Mestre estava mentindo para ele, ou pelo
menos omitindo. Castien nunca disse a ele que foi ele quem o trouxera à
Ordem.

Onde ele o encontrou? Esses relatórios antigos diziam que os dois


príncipes haviam sido atacados pelos rebeldes na floresta, no sopé das
Grandes Montanhas, o que... fazia sentido. Não ficava longe de uma das
baías escondidas da Ordem. Era possível que Castien estivesse viajando do
mosteiro para Hronthar em uma aeronave e... e o quê? Encontrou uma
criança perdida e decidiu roubá-lo para a Ordem? Essa parte não fazia
sentido. Eridan sabia que seu mestre achava crianças pequenas irritantes.
Por mais que tentasse, ele não conseguia imaginar Castien se esforçando
para ajudar uma criança perdida.

Isso significava que Castien sabia exatamente quem era Eridan. Ele
sabia exatamente quem era Eridan quando o reivindicou preliminarmente
como seu aprendiz.

Ele sabia o tempo todo.

A mente de Eridan agitou-se com as implicações disso.

Ele nunca teve ilusões sobre seu mestre. Ele sabia que Castien
nunca fazia nada por capricho, todos os seus movimentos eram
cuidadosamente planejados. Eridan sempre achou estranho que seu Mestre
o reivindicasse tão cedo e ainda não demonstrasse interesse nele quando
criança. Agora tudo estava começando a fazer mais sentido.
Castien não demonstrou interesse porque não tinha intenção de
mantê-lo como seu aprendiz.

Eridan engoliu o nó repentino na garganta.

— Não seja apressado —, ele sussurrou para si mesmo. — Pode


haver outras razões.

Mas, no fundo, ele sabia que era a verdade. Castien sempre soube
que um dia ele usaria Eridan como outra peça em seu jogo, então não havia
sentido em se apegar.

Uma risada amarga e severa saiu da boca de Eridan. Ele pressionou


as mãos nos olhos, odiando-se por quanto doía. Isso era estúpido. Ele estava
sendo idiota. Ele sempre soube que tipo de homem seu Mestre era. Castien
nunca mentiu para ele, nunca fingiu cuidar dele ou amá-lo.

No grande esquema das coisas, isso não era nada. O plano de


Castien não era mau: se seus pais e irmão mais velho estivessem mortos,
Eridan se tornaria o legítimo rei do Quinto Grande Clã quando completasse
vinte e cinco anos. Ter o seu próprio ex-aprendiz como rei de um dos
maiores clãs de Calluvian seria obviamente um grande benefício. Esse
plano não era nefasto. Apenas cínico e de coração frio.

E ainda doía.

E certamente o livrou de qualquer ilusão que ele já tivera antes. Ele


estupidamente pensou que o fato de seu Mestre o proteger da atenção de
outros Mestres significava que ele estava sendo protetor dele. Castien
claramente não queria que eles descobrissem prematuramente quem era
Eridan. Até a rejeição de Castien a ele estava começando a fazer muito
sentido. Por que Castien iria querer iniciar um relacionamento físico
desnecessário que tinha o potencial de atrapalhar seus planos? Afinal, ele
gostaria que seu aprendiz fosse leal a ele, mas não muito pegajoso se ele
quisesse usá-lo como rei fantoche.

Eridan riu, com os olhos ardendo com lágrimas não derramadas ao


se lembrar arrogantemente de dizer a Javier que sabia o seu lugar na vida de
seu mestre. Ele não sabia de nada. Ele era apenas um peão descartável, nada
mais. Castien provavelmente mal podia esperar para finalmente se livrar
dele e conseguir um aprendiz que ele realmente queria ensinar.

Idiota. Ele tinha sido tão idiota por desejar o amor de um homem
que era incapaz de sentir isso.

A questão era: o que ele ia fazer agora?


CAPÍTULO 14
Confronto

Eridan sentiu-se mais ou menos calmo quando Castien chegou em


casa.

Embora “calma” parecesse uma palavra grosseiramente imprecisa


quando seu mundo foi completamente virado de cabeça para baixo. Ele
nunca se sentiu tão impotente em sua vida. Desancorado. A Ordem era tudo
que ele já conhecera, e o pensamento de ser expulso dela e se tornar um
membro da realeza era, francamente, mais do que um pouco assustador.
Descobrir que seu Mestre o havia escolhido não porque ele o queria como
aprendiz, mas porque ele queria usá-lo como peça em um jogo político, fez
algo nele queimar de mágoa e raiva.

Então, talvez ele não estivesse calmo.

Mas ele poderia fingir estar calmo. Ele podia sorrir quando queria
gritar e se enfurecer. Ele não conseguiria nada gritando e furioso; ele
aprendera muito com seu mestre.

Castien levantou o olhar da refeição quando Eridan entrou na


pequena sala de jantar. — Você comeu? — Ele disse, olhando para o robô
que servia.

— Não estou com fome, Mestre —, disse ele. Era verdade o


suficiente. Ele provavelmente vomitaria se comesse.

As sobrancelhas de Castien franziram. — Por que você está com os


escudos levantados?
Eridan sorriu torto. — Você não está sempre me dizendo que minhas
emoções altas e desagradáveis o distraem?

Castien olhou para ele por um longo momento antes de dizer


calmamente: — O que há de errado, Eridan?

A garganta de Eridan se fechou. Uma parte dele queria dar um soco


no seu Mestre e sair andando. Uma parte dele, que não estava fervendo de
raiva, mágoa e traição, queria se esconder nos braços de seu Mestre e ser
confortado. Uma parte dele queria fingir que não havia descoberto que sua
vida era uma mentira, que o homem que havia sido seu mundo o
considerava apenas um peão descartável.

— Eu já sei de tudo, Mestre —, disse ele calmamente.

Castien ficou muito quieto. — Perdão? — Ele disse, sua voz


cuidadosa e seus olhos protegidos.

— Eu sei quem eu sou —, disse Eridan com voz rouca. — Eu sei


por que você me contratou como aprendiz.

Ele pensara que Castien teria pelo menos a decência de parecer


culpado, mas ele não podia sentir nenhuma culpa — apenas resignação e a
mesma tensão estranha que ele pode sentir no palácio.

Castien olhou-o calmamente por um momento e gesticulou para o


assento à sua frente. — Sente-se.

— Eu não quero —, disse Eridan, cruzando os braços sobre o peito.

Castien suspirou. — Suponho que você esteja com raiva —, disse


ele, olhando para a salada.

Eridan riu severamente. — Você poderia dizer isso. Me sinto como


um idiota. Como o maior idiota do mundo. Acho que a culpa é minha —
por pensar que eu poderia confiar em você. E você não dá a mínima para
mim.
A expressão de Castien ficou levemente comprimida. — Eu nunca
menti para você, Eridan —, disse ele, os olhos ainda na refeição. — Não é
minha culpa que você me atribuiu qualidades das quais não sou capaz.

— Você está certo —, disse Eridan com um sorriso frágil. — Estou


bravo, mas principalmente comigo mesmo, por ser tão estúpido. Não se
preocupe, eu não vou mais incomodá-lo com minhas emoções nojentas e
ilógicas.

Os ombros de Castien ficaram tensos. Ele levantou o olhar, seus


olhos azuis cautelosos. — O que você quer dizer? Você está indo embora?

Eridan bufou. — Para onde eu iria? — Ele disse amargamente. —


Para minha família morta?

Algo cintilou nos olhos de Castien. Ele não disse nada.

— Acho que poderia ir ao Quinto Palácio Real, tentar reivindicar


minha herança. Mas, embora eu não seja maior de idade para governar, isso
seria inútil, pois eu ficaria à mercê do regente, que eu aposto que tinha uma
mão na morte de meus pais e irmãos. — Eridan fez uma pausa, respirando
fundo. Ele agarrou as costas da cadeira que estava na frente dele. — Ficarei
aqui até a minha maioridade e ficarei fora do seu caminho. Assim como
você planejou o tempo todo.

O rosto de Castien era ilegível, mas sua presença telepática estava


tensa e agitada. — Eu poderia apagar suas memórias sobre isso —, disse ele
em tom de conversa.

— Você poderia —, disse Eridan, odiando-se por nem sequer


considerar isso como uma opção, odiando-se por ainda confiar neste
homem para não o machucar. — Mas por que você faria isso? Seguirei seu
plano à risca, afinal. Você não perdeu nada, Mestre. Nada além de meus
afetos estúpidos.

Castien cerrou a mandíbula. — Eridan—


— Não se preocupe, Mestre —, disse ele. — Eu não vou
desrespeitá-lo em público. Você ainda é meu Mestre. A partir de agora,
prometo respeitar seus limites e tentar imitar o comportamento de outros
aprendizes. Ficarei tão quieto que você nem me notará mais. — Ele sorriu
fracamente. — Você finalmente terá o aprendiz respeitoso e sem emoção
que sempre desejou.

Ele sentiu um prazer estranho e distorcido ao ver a mudança na


expressão de Castien.

Ótimo.

Essa era a única arma que ele tinha.

Eridan não tinha certeza de que Castien se importaria se ele


colocasse distância entre eles — na verdade, era muito provável que
Castien ficaria satisfeito — mas isso era algo que ele poderia fazer. Talvez
seu afeto e sua confiança não importassem para Castien, mas importavam
para Eridan, e arrancá-los preservaria pelo menos um pouco de seu orgulho
e respeito próprio quando seu Mestre inevitavelmente o jogar fora como
uma coisa usada.

E talvez, apenas talvez, a distância o ajudasse a erradicar esse anseio


terrível e irracional dentro de seu coração.

Por favor, ele pensou, implorando para qualquer divindade que


pudesse ouvir. Por favor.
INTERLÚDIO

Irrene estava ficando desesperada.

Seu chefe estava extremamente de mau humor.

Algumas pessoas podem zombar da mera ideia de Castien Idhron ter


humores, mas Irrene sabia que sim. Ao longo do ano, desde que se tornara a
nova secretária do Alto Adepto, ela havia visto o mestre Castien com vários
humores diferentes. Cerca de setenta por cento do tempo, ele estava
absolutamente calmo e imperturbável. Vinte e cinco por cento do tempo, ele
estava levemente irritado. E cinco por cento do tempo, Irrene ficava com
medo de se aproximar de seu chefe por medo de ele morder sua cabeça.

Mestre Castien raramente mostrava a sua raiva em suas expressões


faciais, mas quando ele estava de mau humor, sua presença telepática se
tornava tão escura e opressiva que era difícil respirar estando no mesmo
cômodo que ele.

Irrene havia aprendido a evitar o chefe quando estava com raiva,


mas, infelizmente, nos últimos meses, a proporção de dias ruins para dias
bons se tornou decididamente anormal. Ela sentira a agitação crescente de
seu chefe por meses: ela se construía, construía e construía, e ela temia o
que iria acontecer quando tanta tensão finalmente explodisse.

Ela não entendia o que estava acontecendo. Mestre Castien não era
assim nos primeiros meses depois de assumir o papel de Alto Adepto. Ele
tinha sido um homem notavelmente calmo — um homem estranhamente
calmo, mesmo para os padrões da Ordem —, mas algo deve ter acontecido,
porque sua presença telepática ficava mais tensa a cada mês que se passava.
Com o passar dos meses, ela notou as pistas visíveis também: a crescente
tensão em torno de seus olhos e boca, a maneira como ele rastreava seu
aprendiz com seus olhos, algo escuro à espreita em sua presença telepática.
Falando em seu aprendiz, o garoto também havia mudado de
comportamento, e ainda mais drasticamente do que o mestre Castien.
Eridan costumava ir ao mosteiro o tempo todo incomodar seu mestre
enquanto ele trabalhava, mas agora Irrene mal o via. Quando ela o via, ele
ficava quieto e retraído. Nas poucas vezes em que conseguiu fazê-lo falar,
Eridan sorriu sem sinceridade e disse que estava tudo bem quando ela
perguntou se havia algo errado.

A parte mais perturbadora foi quando viu Eridan interagir com seu
mestre. Eridan mal ergueu o olhar, falando muito pouco e murmurando
apenas “Sim, Mestre” ou “Não, Mestre” quando Castien perguntou algo a
ele diretamente. Era um contraste marcante com o garoto que
constantemente se irritava e falava sobre seu mestre no começo do ano.
Confundiu Irrene imensamente, e ela podia sentir que esse comportamento
só servia para irritar o mestre Castien.

Na verdade, ela estava certa de que o mau humor de Castien estava


diretamente ligado ao seu aprendiz.

Irrene não sabia o que pensar. Havia todo tipo de boato sobre o
Mestre Castien e seu aprendiz, e alguns deles não eram adequados para a
política da organização, mas ela nunca acreditou que o mestre Castien e seu
aprendiz estivessem em um relacionamento inadequado. Não porque ela
achava que o Mestre Castien não era capaz disso — ela não tinha ilusões
sobre ele: homens assim pegavam o que queriam e dane-se a moral — mas
porque ela podia sentir tanta tensão tóxica e não resolvida entre eles que a
fazia ficar desconfortável apenas por estar na mesma sala com os dois.

À medida que os dias se transformavam em meses, e meses se


estendiam em um ano, ela podia sentir que as coisas estavam vindo à tona.
Ela não tinha ideia do que aconteceria, mas sabia que quando aquela tensão
horrível e escura sob a pele de Mestre Castien finalmente explodisse, não
seria nada bonito.

Ela só esperava que não estivesse lá quando isso acontecesse.

Infelizmente ela estava, e isso aconteceu de uma maneira que ela


não esperava exatamente: Eridan foi sequestrado nos jardins do mosteiro.
Isso, por si só, não foi suficiente para fazer o Mestre Castien se
irritar.

Mas quando as câmeras de segurança capturaram a imagem do


sequestrador, Irrene estremeceu, tentando se proteger da fúria cortante e
gelada que encheu a sala.

— Bloqueie a área ao redor da Baía do Hangar 4 —, ordenou


Castien aos seguranças, com os olhos gelados ainda fixos na imagem do
homem alto carregando seu aprendiz inconsciente para longe.
CAPÍTULO 15
Algo Perdido

Eridan não se lembrava de ter sido nocauteado.

Ele apenas se lembrava que estava desfrutando de um passeio fora


do mosteiro, e então... nada.

A próxima coisa que ele soube foi que ele estava acordando dentro
de um quarto minúsculo, amarrado a uma cadeira e amordaçado, com dois
estranhos — um homem e uma mulher — discutindo sobre ele.

— A mordaça é realmente necessária? — O homem disse


rispidamente. — Estamos no meio do nada. — Ele era um homem alto, de
ombros largos, com penetrantes olhos azuis e cabelos castanhos com
mechas douradas. Era difícil determinar sua idade: ele poderia ter entre
vinte e cinco e quarenta e cinco anos. Ele teria sido um homem bonito se a
carranca em seu rosto não fizesse seu rosto parecer tão desagradável.

A mulher era uma coisinha linda, loira e provavelmente da mesma


idade do homem. — Ele poderia ter acordado enquanto o transportávamos
—, disse ela, dando de ombros. — O garoto dificilmente ficaria em silêncio
se tivéssemos pedido gentilmente.

Eridan disse: — Solte-me! — mas saiu como um resmungo


ininteligível graças à mordaça.

Seus sequestradores se viraram para ele e o olharam com


curiosidade.

Eridan olhou para eles.


Foi a mulher que se aproximou e removeu a mordaça.

— Que porra você pensa que está fazendo? — Eridan cuspiu.

— Que linguagem horrível para um monge — disse a mulher,


estalando a língua.

Eridan abriu a boca e a fechou ao perceber que essas pessoas eram


estranhas. Não era uma brincadeira estúpida de Xhen e seus companheiros.
Essas pessoas pensavam que ele era um monge — eram assim que os
estrangeiros chamavam os membros da Ordem.

E eles tinham um sotaque estranho, Eridan notou com crescente


perplexidade. Ele nunca ouviu um sotaque assim. Os sotaques eram tão
raros hoje em dia, considerando o quão difundida a Internet Global era. Ele
se perguntou se eles estavam usando chips de tradução — esse poderia ser o
motivo dos sotaques — exceto que também não parecia certo. A tradução
de chips dava uma cadência reconhecível à voz de alguém que parecia um
pouco antinatural. Essas pessoas não tinham isso. Eles falavam como
calluvianos nativos, exceto por seus sotaques estranhos.

— Quantos anos você tem? — O homem disse, carrancudo. — Nós


pensávamos que você seria mais velho.

Seu sotaque era fraco, nem de longe tão óbvio quanto o da mulher.
Eridan não sabia ao certo o que fazer.

— Não é da sua conta —, disse Eridan. — Qual é o objetivo disso?


Solte-me de uma vez.

A mulher riu. — Adorável. Ele não é muito fofo, Warrehn?

Eridan se encolheu, assustado com o nome familiar, antes de


perceber o quão ridículo ele estava sendo. Esse nome não era tão raro.
Provavelmente havia milhares de pessoas lá fora, chamadas Warrehn.
Pessoas de fora não usavam nomes únicos como na Ordem.
O homem — Warrehn — apertou os lábios e cruzou os braços sobre
o peito. — Cale a boca, Sirri. Não é divertido. O que devemos fazer com
ele?

Sirri suspirou exageradamente. — Você não é engraçado. — Ela


mudou o olhar para Eridan. — Acho que não há mal em dizer a você. Você
é o aprendiz do Alto Adepto. Você está aqui porque queremos conversar
com seu mestre.

— Então você deveria ter marcado uma consulta, como todas as


pessoas normais —, disse Eridan maliciosamente.

Sirri sorriu. — Você vai ser um pé no saco, não é? — Ela parecia


quase satisfeita. — Pelo menos isso promete ser divertido. Eu teria me
matado de tédio se tivesse que ficar presa nesta pequena casa com aquele
ranzinza. — Ela apontou para Warrehn.

O “ranzinza” apenas a encarou antes de repetir: — O que vamos


fazer com ele? Nós podemos ficar presos aqui por séculos. Não podemos
mantê-lo amarrado na cadeira.

— Por que não? — Sirri disse. — Não me diga que ficou com dó
dele.

Warrehn fez uma careta. — Ele é apenas uma criança. Ele não pode
ter mais de dezesseis ou dezessete anos. O informante deve ter mentido
sobre a idade dele.

Sirri encolheu os ombros. — Um pequeno desconforto não vai


matar ele. Você pega o primeiro turno. Eu vou dormir. Me acorde em seis
horas.

Warrehn olhou para ela com raiva. — Você não está no comando
aqui.

Sirri sorriu, todos os dentes. — Alguém tem que estar.


Um músculo pulsou na mandíbula de Warrehn, a raiva dele
emandando em ondas.

Eridan ficou tenso e olhou para o homem bruscamente.

Inclinando a cabeça para o lado, ele o alcançou com os sentidos.

O que ele encontrou o fez endurecer.

A telepatia dessas pessoas não era tão limitada quanto a de outros


calluvianos. Ambos eram poderosos telepatas, o homem mais do que a
mulher, mas, mais importante, suas habilidades eram refinadas e
rigidamente controladas. Eles foram bem treinados.

Não havia calluvianos fora da Ordem que recebessem treinamento


telepático formal — e definitivamente nenhum que fosse tão poderoso.

O que significava... O que significava que eles deveriam ser os


rebeldes. Eles devem ser Tai'Lehrians. As mesmas pessoas que poderiam
causar muitos problemas para a Ordem.

— O que você quer com o meu Mestre? — Eridan disse, suprimindo


sua inquietação.

— Isso não é da sua conta, garoto — disse Sirri com um sorriso


condescendente.

— Eu não sou uma criança —, Eridan resmungou. — E você fez


disso da minha conta quando me sequestrou.

— Sabemos das maquinações da sua ordem —, disse Warrehn. —


Queremos que o Alto Hronthar pare de manipular a opinião pública contra
nós.

— Nós, hein? — Sirri disse, parecendo encantada por algum motivo.

O olhar ameaçador que Warrehn lançou a ela era tão assassino que
deixou Eridan curioso.
Isso significava que Warrehn não era realmente um dos rebeldes?

Guardando esse pensamento para examiná-lo mais tarde, Eridan


soltou uma risada. — Eu não tenho ideia do que você está falando —, disse
ele, dando-lhes o seu melhor olhar confuso. — Esta é a coisa mais ridícula
que eu já ouvi.

— Certo —, Sirri disse com um bufo antes de caminhar em direção


à porta. — Me acorde em seis horas, War. E fique de olho no comunicador.
Rohan pode entrar em contato conosco. Se tivermos sorte, o bloqueio será
suspenso em breve e poderemos sair.

— O bloqueio? — Eridan disse quando a porta se fechou atrás dela.

Warrehn resmungou alguma coisa, sentando-se na cadeira ao lado da


janela e olhando para fora com uma expressão feroz no rosto. De sua
posição, Eridan não conseguia ver o que havia fora de casa, mas certamente
não poderia ser tão ruim assim.

— Que bloqueio? — ele tentou novamente, adotando sua voz mais


suave e inocente. Esse homem parecia ter aversão a crianças magoadas,
então agir como uma criança confusa poderia ser benéfico. Warrehn parecia
ser um pouco mais gentil que a mulher.

Warrehn exclamou: — O bloqueio que sua preciosa Ordem colocou


em torno do Cego.

O Cego?

O termo parecia vagamente familiar... Eridan esforçou sua memória,


tentando se lembrar.

Certo, um dos relatórios sobre o Tai'Lehr havia mencionado que eles


usavam uma faixa estreita de terra perto da Baía do Hangar 4 para se
teletransportar entre Calluvia e Tai'Lehr. Era um dos poucos lugares ao
redor das Grandes Montanhas que permitia que os teletransportadores
transgalácticos funcionassem sem serem detectados pelas autoridades
calluvianas, mas parecia que os Tai'Lehrians pensavam que esse era o único
lugar. Eridan se lembrava de perguntar a Castien anos atrás por que a
Ordem simplesmente não bloqueara o acesso dos rebeldes a Calluvia.

Ele ainda conseguia se lembrar da resposta de Castien. A falsa


sensação de segurança torna alguém descuidado e vulnerável.

Era uma coisa tão Castien dizer que Eridan zombou na época. Mas
agora ele entendia o que seu mestre queria dizer. Os rebeldes não tinham
ideia de que a Ordem estava ciente de como eles viajavam entre Calluvia e
Tai'Lehr. Ter seus únicos meios de fuga cortados com tanta eficiência deve
tê-los pego de surpresa.

— Você é um rebelde? — Eridan disse, imaginando que saber mais


sobre seus sequestradores não poderia machucar.

Warrehn não disse nada, embora Eridan pudesse sentir uma forte
emoção negativa saindo dele.

Eridan inclinou a cabeça para o lado. — Você não é, não é?

— Pare de falar ou eu vou colocar a mordaça de volta.

Eridan bufou. — Por favor. Você não pode pensar seriamente que eu
vou acreditar nisso quando você nem consegue me olhar sem se sentir
culpado.

Warrehn virou a cabeça e olhou furioso. — Estou olhando para


você. E não me sinto culpado. Você é membro de um culto psicopata do mal
que faz uma lavagem cerebral em bilhões de pessoas.

Eridan torceu o nariz. — Um culto psicopata do mal? Não seja


ridículo.

— Então você não está negando a parte da lavagem cerebral?

Eridan lançou-lhe um olhar inocente. — Não estou nem


confirmando nem negando.

Warrehn zombou e desviou o olhar novamente.


Eridan mordeu o lábio, tentando não mostrar que as palavras do cara
haviam chegado perto demais de casa.

Ele sempre teve... pensamentos duvidosos sobre a fonte do poder da


Ordem em Calluvia. Por um lado, era correto ter um controle tão enorme
sobre um planeta, controle que era alcançado por meios ocultos?

Por outro lado, a Organização de High Hronthar não era


completamente horrível ou algo assim. O que aconteceu com o príncipe-
consorte Mehmer eram mais uma exceção do que a regra. Essencialmente, a
Organização era apenas um monte de figuras políticas muito ambiciosas e
sedentas de poder. Sim, muitos dos Mestres eram corruptos e egoístas, mas
não era assim para a maioria dos políticos? Eridan tinha visto o suficiente
dos membros do Conselho Calluviano para saber que eles não eram muito
diferentes dos Mestres da Organização: eles eram gananciosos e todos
tinham seus próprios objetivos e ambições. Mesmo se o Alto Hronthar
desaparecesse, o Conselho Calluviano de repente não se tornaria menos
corrupto. Sem a supervisão do Alto Hronthar, eles podem se tornar mais
corruptos. O mal era relativo, afinal.

— O que é o mal? — Eridan disse, olhando para as próprias mãos.


— Quais são os critérios?

Ele sentiu Warrehn se voltar para ele. — A lavagem cerebral de


bilhões de pessoas definitivamente é considerada má —, disse ele. — Não
importa como você tente manejar isso.

Eridan zombou. — Antes de tudo, mesmo que você estivesse certo


sobre a Ordem — e não estou dizendo que você está — você realmente
acha que a Ordem faz uma lavagem cerebral em bilhões de pessoas? Isso é
impossível, considerando a proporção entre o número de adeptos da mente
e a população em geral.

As sobrancelhas de Warrehn franziram. — Vocês ainda forçam


vínculos a todos os calluvianos —, disse ele.

— Isso não é lavagem cerebral —, disse Eridan. — Vincular a força


telepática da população não é uma lavagem cerebral. Ele ainda tem uma
mente própria. Alguém poderia argumentar que, se houvesse muitos
telepatas poderosos circulando, haveria muito mais lavagem cerebral,
porque não seria controlado.

— É claro que você pensaria isso —, disse Warrehn com um sorriso


de escárnio. — Eles fizeram uma lavagem cerebral em você também.

Eridan revirou os olhos. — Sim, os Mestres da Ordem não têm nada


melhor para fazer, então fazem lavagem cerebral em crianças. Vamos lá,
eles podem ser totalmente idiotas, mas não sejamos ridículos. Posso pensar
por mim mesmo, muito obrigado.

O cara deu a ele um olhar que alternava entre desconfiado e curioso.


— Você não fala como um aprendiz do Alto Adepto.

Eridan riu. — E como você saberia como um aprendiz do “Alto


Adepto” deveria falar? — Ele sempre achou um pouco estranho a forma
que os estrangeiros chamavam o Grande-Mestre da Ordem. — Quantos
membros da Ordem você realmente conheceu? Não fazemos cânticos
horríveis e planejamos a dominação do mundo o tempo todo. Somos apenas
pessoas.

— Certo.

Eridan deu um suspiro. — Eu não entendo por que você tem essa
ideia de que a Ordem é algum tipo de epítome do mal. Claro, existem
algumas pessoas “más” na Ordem, mas existem pessoas boas também. Há
mal por toda parte, Warrehn. Seu vizinho ou amigo pode até ser um
assassino em massa, e seu namorado pode estar planejando sua morte.

Warrehn desviou o olhar. — Ainda não mostra que a sua preciosa


Ordem faz o bem.

Eridan deu de ombros. — Mas o que a Ordem faz? Dar a uma


pessoa um parceiro amoroso para toda a vida? Isso é ruim?

— Não tente tornar isso bonito. Você está tirando a escolha das
pessoas.
Os lábios de Eridan torceram. — Escolha? Você quer dizer que a
escolha de trair o parceiro e tratá-lo como uma merda? O vínculo
matrimonial enfraquece a telepatia, não nego isso, mas também dá às
pessoas um sentimento de pertencimento, um companheiro de vínculo que
sempre os amará, que nunca vai te trair ou magoar. Isso é tão ruim? — Ele
desviou o olhar, odiando o quão melancólica sua voz soou. Ele limpou a
garganta. — Calluvia tem a menor taxa de homicídios na União dos
Planetas por um motivo. Calluvia tinha a maior taxa de homicídios antes da
introdução da Lei de Obrigações. Milhões de pessoas teriam morrido de
coisas como ciúmes e adultério se não fosse pela Lei de Obrigações. Isso é
um fato.

Warrehn abriu a boca e a fechou, uma profunda ruga aparecendo


entre as sobrancelhas. — Cale a boca —, ele resmungou finalmente,
parecendo irritado — claramente irritado por não conseguir encontrar uma
falha nessa lógica.

Eridan sorriu, divertido apesar de tudo.

— Qual é o seu nome mesmo? — Warrehn disse, quebrando o


silêncio.

— Eridan —, respondeu ele, imaginando que não faria mal a


ninguém.

Warrehn voltou-se para a janela, os ombros rígidos.

Eridan olhou para ele, curioso sobre sua reação e imaginando se


deveria tentar ler sua mente.

Ele nunca gostou de mergulhar na mente de outras pessoas. Embora


seu desgosto por isso tenha diminuído ao longo dos anos sob a exigente
tutela de seu mestre, Eridan ainda achava desagradável que cutucar a mente
de outras pessoas, a única mente que ele gostava de tocar era mente
ordenada do Mestre Castien.

Castien.
O estômago de Eridan se torceu em um nó apertado. Sinceramente,
ele não tinha ideia de como seu Mestre reagira ao sequestro. Parte dele
duvidava que ele se importasse, mas se a Ordem já bloqueou a área do
Hangar Bay 4, isso implicava que Castien ao menos não queria que os
rebeldes o tirassem do planeta, o que fazia sentido. Ele não gostaria de
perder seu patrimônio, afinal.

O pensamento fez os lábios de Eridan se curvarem em um sorriso


amargo.

Ele e seu mestre... O relacionamento deles se tornara terrivelmente


tenso nesse último ano. Ele fez isso, é claro: a distância que ele colocara
entre eles havia mudado completamente o relacionamento deles. Não havia
mais beijos na bochecha, nem abraços sorrateiros. Eles eram apenas um
Mestre e um aprendiz, nada mais.

A distância entre eles deveria ajudar. Era para ajudar Eridan a


superar sua idiota... fixação em seu mestre. Em vez disso, parecia um
castigo para ele. Em vez de ajudá-lo a superar sua coisa estúpida por seu
Mestre, a distância o fez ansiar pelo que eles já tiveram — pela companhia
e conforto fáceis — e se odiar por isso. Como ele poderia sentir falta de
algo que nunca existiu? Isso tinha sido uma mentira? Uma ilusão?

Mas como ele não poderia? Ele sentia falta da sensação de


segurança e certeza em relação ao seu lugar no mundo. Ele sentia falta de se
sentir importante para seu Mestre. Ele sentia falta de sentir orgulho de ser
chamado de Aprendiz Idhron — significava que o Mestre o havia
escolhido, visto seu valor e gostado do que vira. Agora que essas ilusões
haviam sido tiradas dele, ele se sentia terrivelmente vulnerável, como uma
fraude.

A pior parte era que Castien nem sequer apreciou o esforço que
tinha feito para se distanciar e interpretar o papel de um aprendiz perfeito.
Parecia que não havia como agradá-lo, não importa o que Eridan fizesse.
Parte dele queria pensar que Castien apenas sentia falta de sua afeição, mas
Eridan trancou esses pensamentos tolos. Ele está cansado de se iludir.
Pare de pensar nele, caramba, Eridan retrucou consigo mesmo.
Como você deve superá-lo quando tudo o que você faz é pensar nele? Em
vez de ficar obcecado com Castien, você deve ficar obcecado com a
maneira de sair dessa situação.

Certo. OK.

Eridan se forçou a concentrar sua atenção em Warrehn.

Cuidadosamente, ele esticou os sentidos e cutucou os escudos


mentais do cara. Ele podia sentir raiva, misturada com tristeza e
arrependimento. Ele sondou mais fundo, preparando-se para a náusea
habitual que sentiu ao toque de outra mente.

Que nunca veio.

Eridan parou, confuso. Talvez a mente de Warrehn fosse apenas


compatível com a dele. Certamente era possível: os telepatas não tinham
apenas uma pessoa compatível com eles. Mas ele não sentiu nem uma
pitada do prazer que costumava sentir quando Castien tocava sua mente.
Claramente, havia algo acontecendo aqui.

Delicadamente, Eridan se retirou. Ele não queria que Warrehn


sentisse que estava sendo espionado.

Franzindo a testa, ele olhou para o perfil de Warrehn. Havia algo...


quase familiar nele.

Apertando os lábios, Eridan finalmente se forçou a examinar o


pensamento errante que ele havia deixado de pensar quando ouviu o nome
de Warrehn.

Não, Warrehn não era um nome tão raro.

Mas todas as pequenas informações que ele escutou sobre Warrehn


até agora... Tudo se encaixava.

Foi amplamente presumido que o príncipe Warrehn havia sido


sequestrado e morto pelos rebeldes. Sirri sugeriu que Warrehn não era
realmente um rebelde, mesmo que estivesse com eles.

O homem também emanou tristeza e perda ao ouvir o nome de


Eridan, que era um pouco semelhante ao do irmão mais novo do príncipe
Warrehn.

Os cabelos e os olhos de Warrehn eram da cor certa. O rosto dele...


era difícil comparar o rosto de um homem adulto com a foto de um garoto
de dez anos, mas teoricamente o príncipe Warrehn poderia ter crescido
parecido com esse homem.

Mas tudo isso era evidência circunstancial, na melhor das hipóteses.


Não provava nada. E Eridan não sentia nenhum vínculo familiar com esse
homem.

Então, novamente, ele não poderia sentir. Todos os laços familiares


eram rompidos quando uma criança levada à Ordem era nomeada.

Exceto... exceto que não importava exatamente, não é? Os laços


familiares eram naturais. Como seu Mestre havia dito uma vez, eles eram o
resultado de marcas telepáticas semelhantes.

Os irmãos deveriam ter marcas telepáticas semelhantes.

Com o coração batendo de forma acelerada, Eridan fechou os olhos


e começou a respirar uniformemente, tentando afundar em uma profunda
meditação. A meditação ainda estava longe de seu passatempo favorito,
mas agora ele era proficiente. Ele nem precisava mais se concentrar em seu
thaal. Com um professor tão exigente como Castien, ele foi forçado a
aprender. Suas meditações com o mestre Tker também ajudaram.

Uma vez que ele alcançou o estado de profunda meditação, Eridan


expandiu seus sentidos. Eles confirmaram que havia apenas duas outras
pessoas na pequena casa além dele. Fora da casa, ele podia sentir outras
mentes, mais primitivas e silenciosas. Animais. A casa deve ter sido
localizada em algum lugar isolado, em um lugar com muitos animais
selvagens, talvez uma floresta.
Esticou ainda mais os sentidos, procurando uma presença telepática
que reconhecesse em qualquer lugar. Ele encontrou, mas parecia
incrivelmente distante. Esta casa devia estar a uma distância significativa de
onde Castien estava.

Desistindo de se conectar ao seu Mestre, Eridan concentrou seus


sentidos na presença telepática mais próxima dele.

Warrehn.

Cuidadosamente, ele dissecou a marca telepática de Warrehn,


retirando todas as emoções perturbadoras que Warrehn estava sentindo e
comparando-a à sua. Foi um trabalho longo e tedioso, mais complicado pelo
fato de a marca telepática de Eridan estar irremediavelmente entrelaçada
com a de Castien. Títulos fortes tendiam a fazer isso. Com o passar dos
anos, Eridan notou o quanto sua marca havia sido afetada pela de seu
mestre. Para sua surpresa, ele também encontrou vestígios na presença
telepática de seu mestre, embora fosse mais difícil contar com Castien, já
que Castien poderia mascarar completamente sua marca, se quisesse. Até a
distância entre eles ultimamente não parecia ofuscar sua conexão, e Eridan
teve problemas para separar suas marcas telepáticas.

Finalmente, depois do que pareceram horas de trabalho, ele


conseguiu criar uma réplica mental de sua própria marca — como seria sem
a de Castien — e depois a comparou com a de Warrehn.

O resultado o fez inalar bruscamente.

Era inconfundível o quão semelhantes eram suas marcas telepáticas.


Que familiar. Uma semelhança tão estranha só poderia existir entre parentes
próximos.

Eridan saiu de sua meditação e olhou para o homem que ainda


estava olhando de mau humor pela janela.

Para o irmão dele.

Irmão.
Parecia impensável.

Inacreditável.

Tal coincidência parecia ridícula. Quais eram as probabilidades?

Mas a marca telepática não mentia. Eridan sabia que não havia
cometido um erro; seu Mestre o havia ensinado melhor que isso. Uma
análise de marca telepática era quase tão infalível quanto uma análise de
DNA.

Este homem era seu irmão.

Eridan mordeu o lábio, tentando entender como ele se sentia sobre


isso. Seus sentimentos estavam por toda parte, uma horrível mistura de
emoções contraditórias que iam da raiva à alegria irracional.

Parte dele queria brigar com Warrehn. Onde você esteve esse tempo
todo? Por que você me abandonou? Por que você não voltou para mim?

Eridan esmagou esse desejo, tentando apagar a dor no peito. Sangue


não era nada. Isso não importava. Este homem era um estranho. Um
estranho que o abandonara com três anos de idade há mais de dezoito anos
atrás. Eles não eram nada um para o outro.

Nada.

— Você tem uma família? — Eridan ouviu-se dizer. Ele estremeceu,


irritado consigo mesmo, mas já era tarde demais.

Warrehn voltou-se para ele, franzindo a testa. — O que é isto para


você?

Eridan deu de ombros. — Apenas me perguntando. Sabemos muito


pouco sobre vocês rebeldes.

— Não sou um rebelde —, Warrehn exclamou, voltando-se para a


janela.
Eridan olhou para seu perfil, algo sobre isso vagamente familiar. Ele
disse a si mesmo que era apenas um viés de confirmação. Ele disse a si
mesmo que estava apenas imaginando que se lembrava do rosto de seu
irmão. Ele disse a si mesmo muitas coisas, mas a parte dele que sempre
desejou pertencer não pôde deixar de sentir algo quando olhou para este
homem de rosto sombrio.

O que Eridan lembrava sobre o seu irmão não era o rosto dele, mas
sua risada contagiante e brilhante e a maneira como ele permitiu que ele
cavalgasse sobre seus ombros. Este homem com olhos endurecidos e que
não sorria não era nada disso.

— Então quem é você? — Eridan disse.

Warrehn ficou em silêncio por tanto tempo que ele pensou que não
iria responder.

Mas ele respondeu.

— Eu não sei —, disse Warrehn, e havia algo dolorosamente


familiar em seus olhos agora.

O estômago de Eridan se contorceu ao reconhecer aquele olhar.

Ele já viu isso muitas vezes no espelho.


CAPÍTULO 16
Cativeiro

Dias se passaram.

Eridan sentiu a tensão na casa ficar cada vez mais desconfortável a


cada dia que passava. Warrehn e Sirri tinham discussões desagradáveis
várias vezes ao dia, suas palavras ficando mais feias e mais duras durante o
tempo em que eles ficaram presos. Eles pareciam ter uma história. A
princípio, Eridan se perguntou se eles eram amantes, mas logo percebeu que
o relacionamento deles era mais parecido com de irmãos depois de uma
briga feia. Eridan não tinha certeza do que se tratava, mas quando eles
abaixaram a guarda perto dele, ficaram descuidados e ele conseguiu captar
algumas coisas.

Parece que Warrehn tinha vivido em Tai'Lehr durante todos esses


anos e praticamente cresceu com o primo distante de Sirri, Rohan. Eles se
conheciam há anos. O problema de Sirri em relação a ele parecia ser a
recusa de Warrehn em se chamar de Tai'Lehrian, apesar de viver a maior
parte de sua vida por lá. Sirri o chamou de ingrato. Warrehn disse a ela para
ela cuidar vida dela. Foi tudo bastante interessante — ou teria sido, se
Eridan não se sentisse um pouco nauseado toda vez que ouvia falar da
infância e da adolescência, toda vez que ouvia falar daquele tal Rohan, que
aparentemente era “como um irmão” de Warrehn.

Não deveria doer.

Não deveria.

Mas doía. Ele não queria mais ouvir isso.

Ele queria ir para casa.


Ele queria seu Mestre.

Eridan se odiava por ter esses pensamentos, odiava se sentir assim,


mas não podia evitar. Não importava o quão tenso o relacionamento deles
se tornara ultimamente, ele ainda associava a palavra “lar” ao seu Mestre.
Mesmo que eles estejam brigados, ainda havia um certo conforto em estar
perto de Castien, a sensação de retidão sob sua pele.

Eridan disse a si mesmo que era apenas um hábito, mas no fundo ele
sabia que estava mentindo para si mesmo. Até pensar em Castien fez algo
dentro de Eridan se contrair com um desejo terrível e dolorido — o desejo
reprimido que ele estava tentando e não conseguia extinguir durante esse
ano. Ele sentia falta do seu Mestre. Ele estava sentindo falta dele há muito
tempo, mas a distância física real fez com que isso fosse a primeira coisa
em seus pensamentos. Era impossível ignorar mais.

Ele sentia falta dele.

Ele nem queria nada de especial. Ele só queria se aconchegar ao


lado de Castien enquanto seu Mestre trabalhava em seu datapad. Ele queria
dormir embalado pela presença telepática de Castien em volta dele e iludir-
se a pensar que era amado.

Ele não queria ficar preso nesta pequena sala, amarrado à cadeira ou
acorrentado a um sofá como algum tipo de animal. Ele não queria ouvir
Warrehn e Sirri discutindo entre si ou se preocupando com aquele tal de
Rohan. Ele queria esquecer que tinha esquecido o seu irmão, esse estranho
que se preocupava com seu pseudo-irmão, em vez de procurar o irmão
verdadeiro.

Ele queria ir para casa.

Eridan tentou escapar algumas vezes, mas depois que tentou


enganar Warrehn para deixá-lo sozinho enquanto tomava banho, até
Warrehn se tornou bastante rigoroso com ele, enquanto Sirri se tornou
completamente paranoica.
Eles não deveriam ter se incomodado. Eridan se sentiu uma merda
após sua última tentativa de fuga para tentar novamente. Ele estava irritado
consigo por ter falhado. Se ele tivesse conseguido sentir raiva suficiente de
Warrehn para usar seu dom e estrangulá-lo até ele perder a consciência —
que era o plano — ele não teria que ter recorrido a enganação e teria
escapado.

Seu bom coração será sua queda um dia, Eridan.

Seu mestre estava certo. Como sempre.

—... por que você está de mau humor, pirralho?

Eridan se encolheu e olhou para Sirri. — Eu não estou de mau


humor. Estou cansado de ouvir vocês dois reclamando um do outro. O que
você queria?

Sirri olhou para Warrehn, que estava parado em silêncio junto à


porta, franzindo a testa para Eridan com um olhar estranho no rosto.

— Cansamos de esperar. Parece que seu pessoal não vai desistir tão
cedo e acabar com o bloqueio. Nós temos que agir. Warrehn e eu vamos nos
matar se ficarmos presos aqui por mais um mês.

Um mês? Realmente tinha se passo um mês?

Pareceu mais longo e mais curto que isso.

Eridan apertou os lábios em confusão. — O que você quer dizer? O


que vocês vão fazer?

— Entraremos em contato com o Alto Adepto — ou melhor, você


entrará em contato. — Sirri tirou o comunicador de Eridan do bolso e ligou-
o. — Desbloqueie e ligue para ele. Nós faremos o resto.

Eridan olhou avidamente para seu comunicador. Ele sabia que


provavelmente deveria se recusar a cumprir o plano dos rebeldes, mas o
pensamento de realmente ver seu Mestre e ouvir sua voz fez algo dentro
dele remoer de desejo.
Ele se viu concordando.

— Huh, eu pensei que você seria um pé no saco por causa disso —,


disse Sirri. — Embora se você espera que seu pessoal rastreie sua
localização por meio do seu comunicador, não tenha muitas esperanças:
existe algo que bloqueia nessa casa segura.

Eridan balançou a cabeça. — Vamos acabar logo com isso —, disse


ele. — Solte-me.

Sirri soltou, e Eridan suspirou, esfregando os pulsos antes de aceitar


o comunicador e desbloqueá-lo Imediatamente, apareceram as notificações
de chamadas e mensagens perdidas.

Ignorando-os, Eridan digitou o número do comunicador pessoal de


Castien e esperou ansiosamente pela ligação. Talvez não se conectasse se
Castien estivesse em High Hronthar e não no mosteiro. A cobertura do
comunicador era irregular nas montanhas.

— Você não vai falar com ele —, disse Sirri, arrancando o


comunicador dele, amarrando as mãos e empurrando uma mordaça na boca
de Eridan.

Eridan olhou para ela, mas a mulher enfurecida o ignorou,


colocando o comunicador sobre a mesa para que ele estivesse de frente para
ele antes de sair do enquadramento da câmera.

— Ele pode vê-lo, mas você não pode falar com ele —, disse Sirri.

Eridan olhou com raiva para ela, mas naquele momento a ligação foi
conectada.

Seu coração traidor saltou quando o rosto de Castien apareceu na


tela de seu comunicador.

Ele parece cansado, foi o primeiro pensamento de Eridan enquanto


olhava avidamente para seu mestre.
Castien também parecia zangado, embora provavelmente não fosse
perceptível para quem não o conhecia. Para Sirri, o Alto Adepto Idhron
provavelmente parecia o mais sem emoção possível, mas Eridan o
conhecia, sabia todas as mínimas mudanças em sua expressão normalmente
vazia.

Castien olhou para o rosto amordaçado de Eridan por um longo


momento antes de dizer sem rodeios: — O que você quer?

Ficando fora da vista da câmera, Sirri sorriu. — Eu gosto de um


homem que vai direto ao ponto. — Ela colocou uma arma na cabeça de
Eridan.

Estava gelado.

Eridan estava muito quieto, apenas olhando nos olhos de Castien.

Enquanto isso, Sirri continuou alegremente: — Nossas demandas


são as seguintes: Você vai tirar seus subordinados da floresta. Você nos
encontrará lá amanhã, sozinho e desarmado. Você ligará o sinal do seu chip
de identificação no momento em que chegar na floresta e nos esperará no
Cego. Se você tentar nos enganar, seu aprendiz vai morrer. — A voz dela
endureceu. — Eu não estou brincando, Vossa Graça. Francamente, ele tem
sido um pé no saco, e não seria difícil para mim matá-lo. Se você quiser ver
o lindo rostinho dele de novo, faça o que eu digo.

Nenhum músculo se moveu no rosto de Castien. Ele disse: — Muito


bem.

Eridan piscou, um pouco surpreso. Não era como Castien ceder às


demandas de alguém. Seu Mestre provavelmente pretendia cruzar os
rebeldes de alguma forma; essa era a única explicação que ele conseguia
pensar.

Sirri mudou um pouco, emanando confusão também. Ela claramente


não esperava que fosse tão fácil. Ela limpou a garganta e desligou o
comunicador.
— É uma armadilha —, disse Warrehn, rispidamente.

— Cale-se. Foi uma ideia sua principalmente, não minha — disse


Sirri, mas Eridan podia sentir seu desconforto. — Aquele homem é
assustador pra caralho. Todos os adeptos da mente são assim tão sem
emoção?

Warrehn encolheu os ombros distraidamente. — Alguns deles são


mais emocionais que outros. O adepto da mente que lidava com a nossa
família era mais normal... — Ele se interrompeu, fazendo uma careta, antes
de sair da sala.

Sirri suspirou. — É claro que ele iria começar a ficar mal humorado
e eu vou ter que dar as notícias a Rohan —, disse ela, parecendo irritada. —
Warrehn! — Ela o seguiu para fora da sala, deixando Eridan ainda
amarrado e amordaçado.

Mas desta vez ele mal podia sentir o desconforto.

Amanhã.

Ele iria vê-lo amanhã.


CAPÍTULO 17
Reunião

O tal de Rohan, o pseudo-irmão de Warrehn, que Eridan já passara a


odiar, não era como ele imaginara.

Ele era um homem alto e impressionante, com pele morena e olhos


escuros penetrantes.

— Eu estava começando a esquecer seu rosto —, disse Sirri no


momento em que o viu.

Ignorando-a, Rohan olhou para Warrehn e depois para Eridan.

Ele o olhou duas vezes, franzindo a testa.

— Quantos anos ele tem? — Rohan disse.

Warrehn encolheu os ombros. — Ele se recusa a dizer.

— Velho o suficiente para ser um pé no saco —, disse Sirri com


uma careta.

Eridan olhou para ela.

As sobrancelhas de Rohan se ergueram. — Vocês têm certeza de que


ele é o aprendiz do Alto Adepto? Eu não acho que eles encorajaram ter
emoções.

Eridan lançou-lhe um olhar fulminante.

Sirri bufou. — Ele é sensível sobre isso. — Ela olhou para o seu
dispositivo múltiplo. — Nós devemos nos mexer.
— Tudo limpo? — Rohan perguntou a Warrehn.

Sirri respondeu por ele. — Nós checamos. O pessoal deles


realmente foi embora. Todo mundo, exceto o Alto Adepto.

Warrehn ficou olhando em volta com cautela. — Não significa que


não estamos sendo rastreados de alguma forma. Vamos nos mexer. — Ele
colocou a mão nas costas de Eridan e o empurrou para frente.

Eridan obedeceu.

Ele respirou o ar úmido da floresta, já ficando melhor. Ficar preso


dentro de um quarto minúsculo por um mês deu a ele uma nova apreciação
por estar ao ar livre.

Seu humor melhorava a cada passo que o aproximava de seu


Mestre. Eridan já podia senti-lo, fracamente, mas cada vez mais forte, o
vínculo pulsando com uma tensão terrível.

— Você pode senti-lo, Warrehn? — Rohan disse depois de um


tempo. Obviamente, eles não podiam mais rastrear o sinal do chip de
identificação de Castien. Eles já haviam entrado na área do Hangar Bay 4.
Somente dispositivos eletrônicos poderosos como o TNIT poderiam
funcionar nessas áreas.

Puxando uma arma, Warrehn resmungou afirmativamente e mudou


a direção em que estavam indo um pouco.

Eridan se perguntou sobre isso. Parecia que Warrehn era o telepata


mais forte do trio, embora ele pudesse sentir que Rohan e Sirri eram pelo
menos da classe 4, talvez mais altos. Era difícil identificar isso com
telepatas treinados por causa de seus escudos mentais.

Eridan perdeu essa linha de pensamento no momento em que


entraram na pequena clareira.

— Mestre! — Ele disse com um sorriso largo e feliz, antes que


pudesse se conter e lembrar que estava bravo com Castien.
O rosto inexpressivo de Castien não mudou, embora sua marca
telepática chegasse a Eridan e o pressionasse, quase o sufocando com sua
força. Seus olhos azuis ilegíveis passaram por ele da cabeça aos pés antes
de passar para o homem segurando o braço de Eridan. Algo mudou nos
olhos de Castien quando seu olhar se fixou em Warrehn.

Eridan se perguntou sobre isso. Castien o reconheceu? Ele sabia que


Warrehn era seu irmão?

Eles se conheceram?

O pensamento foi surpreendente. Ele já havia assumido que


Warrehn devia tê-lo abandonado na floresta e Castien simplesmente o havia
encontrado, mas e se não fosse verdade? Mas então, Warrehn não
reconheceria Castien também?

Eridan olhou para Warrehn com curiosidade. Ele estava franzindo o


cenho e encarando Castien, mas como Warrehn parecia mal-humorado a
maior parte do tempo, era difícil dizer se havia uma razão específica para
esse olhar mal-humorado.

Castien olhou de Warrehn para Sirri antes que seu olhar finalmente
se fixasse em Rohan. — Bem? — Ele disse. — O que você quer?

Eridan franziu a testa, sem saber por que Castien estava se dirigindo
a Rohan quando ele mal havia se envolvido no sequestro de Eridan. Ele
sentiu como se estivesse perdendo alguma coisa.

— Você sabe quem eu sou —, disse Rohan. — Tenho certeza que


você pode somar dois mais dois.

— Sim —, admitiu Castien, com o rosto ainda ilegível. — Mas não


estou aqui para falar sobre minhas suspeitas. Estou aqui para recuperar o
que você roubou. Eridan, venha aqui.

Warrehn soltou uma risada dura, apertando Eridan. — Você acha


mesmo que vou deixar o garoto ir, desse jeito?
Castien não desviou o olhar de Rohan. — Diga a ele para libertar o
meu aprendiz.

— Olhe —, disse Rohan, suspirando. — Nós não queríamos


envolver o garoto, mas era a única maneira de fazer com que você falasse
conosco nos nossos termos.

— E o que faz você pensar que sequestrar um simples aprendiz me


tornaria mais cooperativo? — Castien disse. — Ele é apenas um garoto, um
dos centenas de iniciantes ansiosos para aprender comigo. Eu poderia tê-lo
substituído a qualquer momento. — Eridan baixou o olhar e olhou para as
botas.

O que seu Mestre havia dito era uma simples um fato declarado,
nada mais. Não deveria doer. Ele sabia que tipo de homem Castien Idhron
era. Não deveria doer.

— Então o que você está fazendo aqui? — Rohan disse. — Se ele é


tão inútil para você?

Eridan levantou o olhar.

Castien não olhou para ele, seus olhos ainda em Rohan. — Eu não
disse que ele não tinha valor. Seria uma pena desperdiçar anos do meu
tempo com ele, se eu aceitasse outro aprendiz. Ele tem algum valor para
mim, mas você está se iludindo se acha que não vou sacrificá-lo se tentar
usá-lo contra mim.

Tem algum valor.

Ele tinha algum valor para o seu mestre.

Racionalmente, Eridan sabia que Castien deveria subestimar sua


importância para não se deixar chantagear. Mas Eridan também sabia que
não deveria se iludir pensando que era tudo, menos a verdade.

Sirri riu.
— Ele está mentindo —, disse ela. Ela estava olhando Castien com
um leve sorriso. — Oh, você é bom. Eu teria acreditado totalmente em
você. Exceto que tenho a sensação de que o que você acabou de dizer é um
monte de besteira e, se acreditarmos em você, vamos estar cometendo um
grande erro.

— Ela tem um dom de premonição —, Rohan esclareceu, olhando


friamente para Castien. — Então, vamos tentar de novo?

Os lábios de Castien afinaram. Ele ficou em silêncio por um tempo,


olhando de Rohan para Sirri antes de dizer: — O que você quer?

Eridan olhou para ele, atordoado.

Castien ainda não olhava para ele.

— Pare de distorcer a opinião pública contra nós. Essa é a nossa


primeira demanda.

— Primeira? Presumo que haja uma segunda?

— Você limpará nossos nomes sobre o assassinato do Príncipe-


Consorte Mehmer —, disse Rohan. — Enquanto formos responsabilizados
pelo assassinato de um membro da realeza, o Conselho não vai nos ouvir.
Seremos presos no local.

Castien apenas olhou para Rohan por um longo momento.

Eridan inclinou a cabeça para o lado, sentindo a mudança na


presença telepática de Castien. Estava mudando, ficando como... como o de
Rohan.

Ele estava transformando sua presença telepática para imitar a de


Rohan, Eridan percebeu com um fascínio mórbido. Deveria ter sido
impossível. Ele não tinha ideia de que seu Mestre tinha esse dom telepático
— diabos, ele não havia percebido que esse dom existia. Era tão assustador
quanto fascinante.
As implicações disso... eram, francamente, aterrorizantes, porque a
marca de um telepata era a medida protetiva final que protegia a mente do
telepata. Ao imitar a marca telepática de Rohan, Castien poderia,
teoricamente, ignorar os escudos mentais de Rohan como se eles não
existissem: eles não iriam lutar contra ele, porque não o reconheceriam
como um intruso.

A expressão de Rohan ficou um pouco confusa, como se ele sentisse


que algo estava errado, mas não conseguia descobrir o que.

Finalmente, a presença de Castien voltou ao normal. Eridan podia


sentir algo que parecia muito divertido através do vínculo deles. Castien se
divertiu com alguma coisa.

Francamente, Eridan sentiu um pouco de pena de Rohan. Quando


seu Mestre se divertia, geralmente era às custas de outra pessoa. Castien
tinha senso de humor, mas era bastante distorcido.

— Muito bem —, disse Castien com um sorriso que não tocou seus
olhos. — Agora deixe meu aprendiz ir embora.

— Não tão rápido — Warrehn resmungou quando Eridan tentou se


libertar. — Você não vai tê-lo de volta até que você cumpra sua parte do
acordo.

A expressão de Castien se tornou perigosa. — Eu não vou embora


sem meu aprendiz.

O coração tolo de Eridan pulou com essas palavras, embora,


racionalmente, ele soubesse que Castien provavelmente não estava disposto
a manter o fim do acordo.

— Desculpe, querido, mas você entende que não podemos confiar


em você —, disse Sirri.

— Eu também não posso confiar em você —, disse Castien. —


Como eu vou saber se você vai libertar o meu aprendiz mesmo que eu faça
o que vocês pediram?
— Você não sabe —, Rohan concordou. — Mas a diferença é que
você não pode fazer nada conosco. Não é do seu interesse dizer ao
Conselho onde fica a base dos rebeldes. Você não quer que sejamos
encontrados. Isso destruiria a ordem social que o Alto Hronthar gastou
milênios estabelecendo. Se outros calluvianos perceberem o quanto somos
mais fortes, eles ficarão com medo. Provavelmente haverá guerra, e os
Calluvianos não irão mais querer serem contidos por seus vínculos de
infância, enquanto os odiosos “rebeldes” são muito mais fortes. Vocês
perderão o poder ilimitado do qual vocês desfrutam agora.

Os olhos de Castien ficaram mais gelados. — Então por que eu


deveria fazer alguma coisa por você, se tudo termina da mesma forma, de
qualquer maneira?

Rohan pareceu hesitar, sua expressão um tanto fechada.

— Nós poderíamos ajudar uns aos outros —, disse ele.

Eridan franziu a testa. Ele não esperava nada disso.

A julgar pelos olhares confusos de Warrehn e Sirri, eles também


não.

Rohan ignorou todos eles, olhando apenas para Castien. — A


diferença é que, se você nos ajudar a restaurar nossa reputação, não
lembraremos ao Conselho a razão original pela qual nossos ancestrais se
rebelaram. Não vamos relembrá-los do ex-membro do Alto Hronthar que
ficou enojado com a sede de poder de sua Ordem, as enganosas teias que a
Ordem teceu para o Conselho, usando seus medos contra eles. Se o
Conselho realmente aceitar os Tai'Lehrianos, não haverá guerra, e se não
houver guerra contra poderosos telepatas, os Calluvianos terão poucos
motivos para quererem quebrarem seus vínculos. Vamos deixar a Ordem em
paz e você poderá manter a maior parte de seu poder se jogar bem suas
cartas.

Sirri fez um barulho de protesto e Warrehn olhou para Rohan, mas


Rohan os ignorou novamente.
Eridan estava confuso. Quem era Rohan? Por que ele estava
negociando em nome de Tai'Lehr?

Seu Mestre parecia saber com quem ele estava lidando e estava
ignorando os outros dois da mesma forma. Eridan podia sentir que Castien
estava realmente considerando seriamente a oferta de Rohan.

— Como uma demonstração de boa vontade, deixaremos seu


aprendiz ir —, disse Rohan, ignorando o barulho de protesto de Warrehn
dessa vez. — Pense na minha oferta. Trabalhar em conjunto seria benéfico
para nós dois. É a única maneira de não haver grandes perdas para os dois
lados.

Lentamente, Castien assentiu. — Eu vou pensar sobre isso —, disse


ele antes de finalmente olhar para Eridan. — Eridan. — Venha aqui, ele
disse mais suavemente através do vínculo, mais suave do que havia falado
com ele em meses.

Eridan não pôde deixar de sorrir para ele.

Seus pés avançaram inconscientemente. Ele agarrou o pulso de seu


mestre, o simples contato fazendo-o tremer.

Castien ativou seu transponder e os dois se teletransportaram para


longe.
CAPÍTULO 18
Estalou

Eridan não tinha certeza do que esperava quando eles reaparecessem


no mosteiro, mas Castien não esperava que lhe disse friamente: — Vá para
Hronthar. Eu tenho alguns trabalhos por aqui.

E então, com um movimento de suas vestes marrons, ele foi embora.

Eridan olhou para as costas dele, com o coração no chão.

Tudo certo. Era muito esperar um abraço ou um simples “bem-vindo


de volta”.

Ele se sentiu estupidamente cego e ele só poderia culpar a si


mesmo. Quantas vezes seu Mestre deixou claro que ele não se importava
com ele? Quantas vezes ele teria que tratado como merda antes que seu
mundo finalmente parasse de girar em torno daquele homem frio e sem
coração?

A raiva encheu seus sentidos, e Eridan deixou ela fluir. A raiva era
melhor do que essa sensação patética e dolorida no peito.

Dane-se ele.

Ele o odiava. Ele o odiava, odiava, odiava.

***
Eridan se enfureceu tanto que, quando Castien voltou ao castelo,
estava ansioso por um confronto. Inicialmente, ele queria dar um gelo a
Castien, exceto que não era satisfatório o suficiente. Ele estava lhe dando
um gelo por meses, e não surtiu efeito. Não, isso não era suficiente. Ele
estava ardendo por uma briga, por um...

— O que você quer, Eridan? — Castien disse enquanto entrava em


seu próprio quarto. Ele colocou a mala que estava carregando no chão, sem
olhar para Eridan.

Eridan olhou para ele, seu coração batendo com raiva. — Que você
se dane, Mestre —, disse ele com prazer e apreciou a maneira como os
olhos frios de Castien se estreitaram um pouco.

— Vejo que você está não está de bom humor —, disse ele.

— Não consigo imaginar o porquê —, disse Eridan. — É tão difícil


dizer: estou feliz que você voltou, Eridan. Eu estava preocupado. Como eles
te trataram? Você está machucado? — Ele riu severamente. — Mas não,
isso exigiria que você realmente desse a mínima.

— Não teste minha paciência, Eridan.

Eridan se aproximou e olhou para ele. Embora ele não fosse baixo,
ele ainda era meia cabeça mais baixo que Castien. Ele nunca se importou
antes, mas agora ele odiava. Seus dedos estavam apertados, e ele
queria machucá-lo, arrancar a aquela máscara sem emoção daquele rosto
com as unhas. — Eu te odeio —, disse ele, olhando-o nos olhos. — Não
acredito que estava realmente ansioso para vê-lo. Eu sou tão idiota. Ele o
odiava, ele realmente odiava, e ele odiava que ele ainda se sentisse mais
vivo na proximidade de Castien do que ele se sentiu em um mês, seu corpo
queimando com uma horrível mistura de hormônios, a ligação deles como
uma corda bamba, tentando puxar eles mais perto, famintos por intimidade,
por qualquer coisa.
Uma grande mão apareceu e agarrou seu queixo com força.

Eridan estremeceu com o contato e olhou para Castien


desafiadoramente.

— Eu sei que eles não abusaram de você —, disse Castien, olhando


para ele com uma expressão fixa e estranha. — Eu verifiquei a mente da
mulher. Eu sei exatamente como eles te trataram. Então, por que eu faria
perguntas redundantes?

— Para me fazer sentir melhor? — Eridan disse, embora sua raiva e


mágoa diminuíssem um pouco com o conhecimento de que Castien
realmente se importou o suficiente para checar. Mas ele ainda estava bravo.
Cuida só um pouco não era o suficiente. Ele queria mais. Ele queria tudo.
Ele queria ser o mundo para o seu Mestre da mesma maneira terrível e
injusta que seu Mestre era o seu mundo para ele.

A mandíbula de Castien se apertou. — Seu pirralho mimado —,


disse ele, sua voz enganosamente suave. — Não é suficiente que você me
coloque em desvantagem por ser sequestrado? Que eu tive que permitir que
essas pessoas me chantageassem? Se os Tai'Lehrianos não precisassem
tanto da minha ajuda quanto precisam, poderiam ter pedidos sacrifícios
maiores — e eu teria sido forçado a obedecer por sua causa. Tivemos sorte
de estarem desesperados.

Eridan olhou para ele. — Você realmente tem a coragem de me


culpar por ter sido sequestrado? Não foi minha culpa!

Os lábios de Castien torceram. — Claro que sim. Se você não


fosse... você, se você fosse um aprendiz comum, ninguém teria notado você
e ninguém se daria ao trabalho de sequestrá-lo.

Eridan apertou os punhos, sua respiração ficando irregular quando


uma nova onda de raiva tomou conta dele. Sempre era culpa dele, ele nem
sempre era bom o suficiente, não era adequado o suficiente, não era perfeito
o suficiente.
Ele disse: — Eu não tenho sido nada além de um aprendiz comum e
respeitoso há mais de um ano — não que você aprecie isso. Então que se
foda.

— Olha a língua, Eridan — disse Castien, sua voz fria como gelo,
sua presença telepática escurecendo.

— Ou o quê? — Eridan murmurou, inclinando-se e falando quase


contra a boca de Castien. Seu coração estava batendo tão rápido que ele
sentia falta de ar. — O que você vai fazer comigo? — Ele podia sentir o
gosto da raiva de Castien. Era emocionante. — O que aconteceu com
aquela merda de “não consigo sentir emoção”, Mestre? Você está
cometendo um relapso?

Castien juntou as suas bocas.

Eridan gemeu e mordeu o lábio de seu Mestre. Não foi um


beijo. Parecia que estava tocando em raio, era como uma luta, suas bocas
irritadas e famintas, anos de desejo reprimido e ressentimento
desencadeados, dentes por toda parte, o corpo firme de Castien o puxando
com força para ele enquanto a língua dele fodia a boca de Eridan como um
animal faminto.

Eridan só conseguiu aguentar, com a mente girando, o corpo


formigando por toda parte, a boca super sensível. Cada golpe da língua de
seu Mestre enviava fortes choques de desejo entre suas pernas, seu pênis
duro e seu buraco formigando de necessidade, doendo para ser preenchido.

— Mestre —, ele respirou.

A boca de Castien se moveu para o pescoço, chupando e mordendo,


as mãos segurando Eridan com força.

Eridan gemeu, tremendo e pressionando mais perto, precisando de


mais. Isso parecia certo, ele era de seu Mestre, de mais ninguém, ele
precisava disso, precisava de suas marcas, sua boca e seu corpo.
— Mestre —, ele ofegou, sendo uma bagunça entre
ele. Ele gemeu, um fio de lubrificação escorrendo pela parte interna da coxa
enquanto apalpava o pau grosso de Castien através de suas calças. — Quero
você.

Castien ficou rígido contra ele, seu corpo poderoso vibrando com
tensão. Eridan podia senti-lo tentando controlar seu corpo e se afastar. Não.
Ele não deixaria, não desta vez.

Eridan levou a boca ao ouvido de Castien e sussurrou: — Me foda.

O corpo de Castien estremeceu.

— Vamos lá —, disse Eridan. — Eu preciso de você, Mestre.

Ele foi virado e jogado na cama. Em um instante, Castien estava em


cima dele. Mãos fortes levantaram o roupão, depois puxaram as suas calças
e a cueca para baixo, deixando-o nu da cintura para baixo.

Ao som de um zíper sendo desfeito, outro jorro de lubrificação


escorreu pelo buraco. Porra, ele não podia acreditar que finalmente estava
acontecendo. Seu civilizado e composto Mestre ia simplesmente enfiar o
pau dele nele, desse jeito. O pensamento era incrivelmente excitante.

Eridan pressionou a bochecha corada contra as cobertas da cama e


levantou a bunda para facilitar o acesso.

Algo brusco e grosso empurrou contra sua abertura lisa. O pau de


seu Mestre. Eridan ofegou e se empurrou para trás.

— Sempre tão impaciente —, disse Castien antes de empurrá-lo


lentamente.

Eridan gemeu, aliviado quando o vazio dentro dele foi finalmente


preenchido. — Achei mesmo que você me criticaria mesmo estando
completamente dentro de mim, Mestre —, ele conseguiu dizer, tentando
soar normal e nem um pouco como se estivesse perdendo a cabeça de tão
bom que era. O pênis de Castien parecia incrivelmente grosso, esticando-o
até o limite. Ele não sabia por que estava surpreso — era tão grande quanto
o resto do corpo de Castien.

— Eu não coloquei tudo ainda —, disse Castien.

Oh merda. Isso deveria tê-lo intimidado, considerando que ele já


sentia que podia sentir o pênis de seu mestre em seu estômago, mas, em vez
disso, causou outro jorro de lubrificação. Ele queria isso. Ele queria tudo o
que seu Mestre pudesse lhe dar.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, seu Mestre


estocou, o tecido de sua calça pressionando o bumbum de Eridan. Eridan
gemeu de felicidade, seus olhos rolando. Era tão bom.

Castien saiu e entrou de novo.

Eridan gritou.

O resto foi uma espécie de borrão. Eridan estava vagamente


consciente do quão alto ele estava sendo — muito alto e muito ansioso —
mas ele não parecia ser capaz de se controlar, empurrando-se contra o pênis
de seu Mestre e choramingando quando atingiu algo dentro dele.

Logo, havia apenas os sons obscenos e escorregadios de um pênis se


movendo em seu buraco enquanto seus corpos se moviam juntos, rápido e
forte, o mundo de Eridan se fechou apenas para pênis dentro dele e o para
homem pesado e musculoso que estava nas suas costas transando com ele
de uma forma tão boa, o vínculo deles pulsando com a sensação
de finalmente.

Ele se perdeu com a sensação, seus gemidos aumentando, enquanto


as investidas de Castien se tornavam mais duras, mais rápidas, seu pênis
roçando contra esse ponto dentro dele várias vezes. Ele não podia — ele
não podia—

A mão de seu mestre envolveu seu pênis e acariciou.


A força de seu orgasmo o pegou desprevenido, fazendo-o gritar
quando o prazer o inundou. Eridan jogou a cabeça para trás, os dedos se
curvando, o corpo estremecendo e apertando-se em torno do corpo grosso
enquanto o prazer intenso se espalhava de seu buraco e seu pênis para o
resto do seu corpo, dominando seus sentidos.

O aperto de Castien em seu quadril aumentou, seu pênis estocando


cada vez mais rápido, batendo em seu corpo flexível até Castien ficar tenso,
seu prazer escorrendo em Eridan e fazendo-o gemer fracamente
novamente. Deuses, era tão bom. Ele nunca se sentiu tão bem em toda a sua
vida.

Eridan não tinha ideia de quanto tempo tinha se passado quando ele
finalmente abriu os olhos.

O corpo pesado contra suas costas tinha ido embora. Algo pegajoso
e molhado escorria por sua perna. Eridan corou, percebendo o que era. Era
o sêmen de seu Mestre estava vazando dele. Seu Mestre o havia fodido, por
mais surreal que fosse agora.

Pareceu mais surreal ainda quando Eridan se virou e encontrou


Castien parecendo impecável, completamente vestido, sem um cabelo fora
do lugar. Ele ficou de pé junto à janela, olhando o céu escuro. — Você
deveria ir para o seu quarto, Eridan. — Sua voz não era fria, mas soava
estranha. Ele não olhou para Eridan.

Se Eridan não se sentisse agradavelmente dolorido, ele nunca


acreditaria que eles tinham acabado de fazer sexo.

— Certo —, disse Eridan sem jeito, puxando as calças para cima e


tentando ignorar os fluidos corporais em suas coxas. Ele poderia se lavar
depois.

Sentindo-se decididamente fora do lugar, Eridan foi para o quarto.

Quando ele chegou lá, ele se encostou na porta, piscando atordoado,


seu corpo ainda formigando.
O que eles tinham feito?

E agora?
CAPÍTULO 19
Desaconselhável

— Vossa Graça está ocupado, Eridan. Você não pode entrar lá!

Eridan parou e olhou para Irrene. — Sou o aprendiz dele. Suas


ordens não se aplicam a mim.

A mulher olhou entre ele e a porta fechada, claramente estressada,


então Eridan teve pena dela. — Vou dizer a ele que você não teve culpa.

A ansiedade no rosto de Irrene diminuiu. Ela assentiu, olhando-o


com curiosidade. — Estou tão feliz que você esteja bem, Eridan. Seu mestre
estava muito preocupado.

Eridan lançou-lhe um olhar cético e marchou em direção à porta,


projetando confiança que ele realmente não sentia.

Fazia quatro dias desde a última vez que vira seu Mestre.

Nos primeiros dias, Eridan tentou racionalizar a ausência de


Castien. Ele havia dito a si mesmo que Castien provavelmente estava
ocupado trabalhando em como manter o acordo final com os rebeldes — ou
como não. Ele disse a si mesmo que se Castien era necessário no mosteiro,
seria simplesmente impraticável viajar de um lado para o outro entre o
mosteiro e High Hronthar.

Mas era inútil continuar negando: seu Mestre estava claramente o


evitando, e não era preciso ser um gênio para adivinhar o porquê. Eridan
gostaria de dizer que simplesmente o exasperava ou o irritava, mas havia
uma sensação de aperto no peito que não podia ser tão facilmente explicada.
Ele entrou no escritório, determinado a se comportar o mais normal
possível. Ele estaria condenado se mostrasse que a fuga de Castien o
incomodava.

O cômodo era grande, mas muito simples. Eridan não veio aqui
frequentemente desde que começara a se distanciar de seu Mestre, e notou
distraidamente que ainda não possuía pertences pessoais de Castien, apesar
de ter se passado mais de um ano desde que ele se tornara o Grande-Mestre.

Seu Mestre estava sentado atrás da mesa enorme que parecia ser
realmente tão antiga quanto o mosteiro, seu olhar no holograma à sua
frente. Eridan só conseguiu vislumbrar um planeta desconhecido antes de
Castien desligar o holograma.

Castien levantou o olhar e o encarou com calma, sua expressão


difícil de ler. — Vejo que sua atuação como aprendiz exemplar acabou —,
disse ele. Estranhamente, ele não parecia irritado.

Eridan inclinou a cabeça para o lado, considerando seu curso de


ação. Havia várias maneiras de ele abordar isso, mas... ele estava cansado
deste jogo. Cansado de fingir. Cansado de fazer a coisa mais inteligente.

Então ele rodeou a mesa, montou no colo de Castien e disse: —


Vamos foder, Mestre.

Ele viu a mandíbula de Castien se apertar e seus olhos


escurecerem. — Eridan... eu pensei que você tivesse entendido que o que
aconteceu foi algo desaconselhável.

— Claro, eu entendo, Mestre —, disse Eridan, enterrando os dedos


nos cabelos de seu Mestre. Ele riu um pouco. — Eu sei exatamente como
isso é desaconselhável. — Ele roçou os lábios ao longo da dura mandíbula
de Castien, tremendo pelo contraste entre os lábios macios e a barba por
fazer do Mestre. Ele não sabia por que isso o excitava tanto, mas ele já
estava dolorido e escorregadio, seu pau esticando suas calças. Ele mordeu a
mandíbula de Castien, sentiu os músculos poderosos de seu Mestre tensos
sob ele, contra ele. Porra, ele cheirava tão bem. — Vamos fazer mesmo
assim. — Ele murmurou no ouvido de Castien: — Vamos, Mestre. Você
sabe que você quer. Você quer isso há anos. Já fizemos isso uma vez. Uma
vez, duas vezes — que diferença isso faz? Eu estou tão pronto para
você. Tão molhado por você.

As mãos de Castien agarraram seus quadris com força, seus olhos


encarando Eridan, enquanto sua presença telepática se aproximava,
emocionantemente opressiva e gananciosa. — Eridan, pare...

Eridan passou as pontas dos dedos sobre a protuberância crescente


sob a calça de Castien. Sorriu quando a respiração de Castien parou. — Não
finja ser um bom homem, Mestre. Você não é. Você é egoísta e pega o que
você quiser. E você me quer. — Ele olhou Castien nos olhos. — Eu
sou seu aprendiz, não sou? Você pode fazer o que quiser comigo. —
Quando as pupilas de Castien se dilataram, Eridan sorriu, inclinou-se e
murmurou contra os lábios de Castien: — Então me use.

Castien levantou-o e empurrou-o sobre sua mesa.

Foi uma questão de segundos para tirar as calças de Eridan e abrir a


braguilha de Castien.

Eridan gemeu, olhando atordoado para o teto enquanto seu Mestre o


estocava nele com um forte impulso. Ele estava tão molhado que já estava
pingando, seu corpo se ajustando avidamente até à considerável grossura de
seu Mestre. Porra, ele nunca se cansaria disso: sentindo uma parte do corpo
de seu Mestre dentro do seu, espessa e pulsante, tendo provas de que seu
Mestre o queria. Era intoxicante.

Suas mãos segurando os quadris de Eridan, Castien saiu, deixando


apenas a cabeça para dentro, e estocou de volta. Eridan choramingou,
apertando as pernas em torno das costas do seu Mestre.

Parte dele, uma parte distante, imaginou se Irrene poderia ouvi-


los. Ele nem tinha certeza se ele se importava; não neste momento. Tudo o
que ele podia sentir era necessidade: necessidade desse homem horrível e
sem coração, a necessidade que ele não deveria sentir, mas sentia.
Ele agarrou a borda da mesa e segurou-se enquanto o homem mais
velho em cima dele lhe fodia brutalmente, bem primitivo, como um instinto
animal e as marcas telepáticas brilhando famintas. Era
insuportável. Insuportavelmente bom. Eridan nunca pensou que era possível
se sentir tão bem, o prazer se espalhando de sua virilha para o resto do
corpo, espiralando sua ânsia e ficando cada vez mais maior até que tudo o
que ele queria era mais, mais duro, mais profundo.

Ele poderia ter dito isso, mas não tinha certeza. Ele estava muito
ocupado gemendo e emitindo sons ininteligíveis, o pau dentro dele
afastando todos os pensamentos racionais. Naquele momento, todos os
insultos humilhantes que as pessoas diziam sobre retrocessos se tornaram
verdade: ele se sentia um prostituto, como se fosse morrer se não tivesse
aquele pau nele, sem que o seu Mestre estivesse dentro dele.

Era estranho o quanto o pensamento o excitava. Havia algo


incrivelmente satisfatório pensar que os fluidos corporais de seu mestre
estava dentro dele. De repente, ele precisava, desejava, desejava com o
acumulo de três anos de desejo desesperado, seu buraco jorrou lubrificante,
seu pau vazou profusamente quando o pau grosso dentro dele o empurrou
contra a mesa.

— Você está pingando por toda a mesa —, Castien resmungou. —


Você sabe quantos anos tem?

— Muito? — Eridan adivinhou, gemendo quando Castien atingiu


exatamente o seu ponto. — Ah! Aí!

Seu Mestre olhou para ele, apertando as coxas de Eridan com mais
força, seus olhos febris quando seu pênis estocou contra ele em um ritmo
punitivo, atingindo o local com precisão cruel. Eridan se perdeu
completamente, gemidos e gemidos escapando de sua boca com a cada
impulso daquele pau, seu vínculo ardendo cheio de prazer e necessidade.

— Vem para mim, vem para mim, vem para mim —, ele se ouviu
murmurando delirantemente. — Goze em mim, Mestre.
Aquelas palavras pareciam ter estalado algo em Castien, um rosnado
baixo deixando sua garganta, sua mandíbula apertando quando ele estocou
seu pênis dentro dele, uma vez, duas vezes — e veio, derramando-se
profundamente dentro dele. Eridan gemeu, o prazer de seu
Mestre provocando o seu, seu buraco se apertando em torno do eixo de
Castien e sugando cada gota do seu sêmen enquanto seu próprio pau jorrava
entre seus corpos, sujando as roupas impecáveis do seu Mestre.

Eridan caiu contra a mesa, seu corpo e sua mente formigando de


prazer. Porra, inferno. Ele nunca se sentiu tão satisfeito em toda sua
vida. Tão realizado.

Depois de um tempo, ele sentiu Castien se endireitar.

Então ele ouviu o som de um zíper.

Ele ainda não tinha aberto os olhos. Não poderia. Ele se sentia muito
bem. Ele não queria estragar tudo.

— Eridan.

— Mmm?

— Eridan, levante-se e arrume suas roupas.

Eridan não se mexeu.

Um suspiro.

Então ele sentiu tecidos molhados entre as pernas, limpando os


fluidos corporais. Mãos surpreendentemente gentis puxaram as suas calças
para cima e arrumaram a braguilha.

— Levante-se. Você não pode ficar deitado na minha mesa o dia


todo.

Relutantemente, Eridan forçou-se a abrir os olhos.

O olhar frio de seu Mestre foi a primeira coisa que ele viu.
— É inútil fingir que isso nunca mais vai acontecer —, disse
Castien, sua expressão levemente fechada. — Provavelmente sim. Mas
quero deixar claro que isso não muda nada. Você é meu aprendiz. Eu sou
seu Mestre. Isso é tudo.

Eridan assentiu.

— Espero que você se comporte como um bom aprendiz. Não


presuma que nossas... atividades extracurriculares me tornarão
indulgentes. Eles não vão.

Eridan assentiu novamente.

Os olhos de Castien se estreitaram. — Você está me ouvindo?

— Sim, Mestre —, disse Eridan. — Isso não significa nada. Nada


vai mudar. Entendi.

Castien lançou-lhe um olhar cheio de suspeita. — Agora volte para


High Hronthar. Eu tenho um compromisso daqui a pouco.

Eridan pulou da mesa, mas teve que se equilibrar enquanto suas


pernas pareciam inesperadamente trêmulas e ele sentindo dores em lugares
interessantes.

Ele olhou para o Mestre e reprimiu o desejo de lhe dar um beijo de


despedida: isso definitivamente iria contradizer a política de “nada vai
mudar” que Castien acabara de descrever.

— Você vai voltar para casa hoje à noite? — Eridan disse enquanto
colocava a mão na maçaneta da porta.

Depois de um momento, Castien disse: — Sim.

Eridan sorriu e saiu.

Ele se despediu de Irrene, que o tratou normalmente e nem um


pouco como se ela tivesse acabado de ouvi-lo gritando quando ele se
desfazia no pênis de seu Mestre, então tudo estava bem.
Quando ele entrou na câmara, Eridan se surpreendeu com seu humor
surpreendentemente bom. Mas por que ele não estaria? Ele foi bem fodido e
provavelmente seria bem fodido daqui a algum tempo. Querer mais alguma
coisa seria tolice quando sabia que não iria ficar na Ordem para sempre.

Ele não queria mais nada. Ele e seu Mestre apenas transariam por
um tempo e tirariam isso de seus sistemas. Eridan não era masoquista o
suficiente para querer algo a mais de um homem que literalmente não era
capaz disso.

Castien Idhron era apenas uma... uma doença à qual ele precisava de
exposição suficiente para desenvolver imunidade.

Quando Castien o expulsasse, Eridan estaria pronto para deixá-lo


para trás.

Ele estaria.

Certamente algumas fodas seriam suficientes.


CAPÍTULO 20
Revelações

Castien chegou em casa naquela noite, como prometido.

Eles nem chegaram à cama, o vasto salão de High Hronthar ecoava


os gemidos enquanto se beijavam e tocavam.

Era pura loucura, mas agora que eles já haviam feito, parecia
impossível combater essa necessidade, os anos de frustração sexual
reprimida exigia um escape.

Eridan chupou o pau de seu mestre ali mesmo, nas grandes escadas
do antigo castelo. A pedra dura machucava seus joelhos, mas ele não
conseguia parar, precisando, precisando provar seu Mestre e agradá-lo,
saboreando a sensação da mão de seu Mestre agarrando seu thaal. Ele abriu
mais a boca, permitindo a Castien fodesse a sua boca. Ele não podia negar
que agradar seu Mestre, servi-lo, o excitava. Era tão bom. Parecia certo.

Ele se abaixou e enfiou a mão nas calças. Ele acariciou seu pênis
dolorido desesperadamente enquanto Castien fodia a sua boca. Não trouxe
muito alívio, apenas servindo para deixá-lo mais desesperado, mas ele não
conseguia parar.

— Mestre —, ele implorou através do vínculo, abrindo as pernas e


empurrando dois dedos dentro de si. Não era o suficiente. Não era o que ele
queria. Ele queria que o pênis de seu Mestre saciasse essa fome terrível
nele. Ele precisava do pau de seu Mestre. Ele precisava dele. — Mestre, por
favor.
Castien olhou faminto para ele, olhos vidrados, seu pau quente e
duro dentro de sua boca. Eridan não sabia o que estava escrito em seu
próprio rosto, mas algo mudou na expressão de Castien.

Ele levantou Eridan e deu-lhe um beijo duro e ganancioso. Eridan


respondeu ansiosamente, embora um pouco atordoado. Ele deixou Castien
levantá-lo e carregá-lo para o quarto de Castien, tirando que restara no
caminho.

Deitando-o em sua cama, seu Mestre se esticou em cima dele, seu


peso o deixando sem fôlego. Eridan gemeu quando a cabeça do pênis
pressionou contra sua entrada novamente. Ele tentou se afastar, mas Castien
o segurou no lugar com um aperto firme no quadril.

Eridan cedeu e relaxou, gemendo quando o pau grosso finalmente


estocou dentro dele novamente. Era para isso que ele foi feito, surgiu um
pensamento distante e nebuloso. Ele nem tinha certeza a quem
pertencia; isso não importava.

Seu mundo inteiro se fecheou até aquele pau, que saia de dentro dele
e depois estocava com um som obsceno por causa da lubrificação. Seu
vínculo estava vibrando com uma urgência terrível, suas mentes tentando se
fundir, apesar dos escudos de Castien estarem levantados.

— Mestre — Eridan ofegou, enfiando os calcanhares na parte


inferior das costas de Castien. — Vamos lá, apenas uma vez.

A mandíbula de Castien se contraiu, seus músculos magníficos se


contraíram enquanto ele continuava transando com ele em um ritmo
implacável. — Não.

Eridan olhou para ele atordoado, mas se sentiu muito bem para
protestar ou argumentar melhor a favor de uma fusão. Seu cérebro parecia
mingau. Ele não conseguia pensar. Ele não conseguia pensar. Tudo o que
ele queria era aquele pau dentro dele, cada duro impulso o satisfazendo de
uma maneira que ele não podia explicar. Ele ficaria feliz em ficar deitado
sob seu Mestre para sempre, sendo fodido pelo o seu pênis, sua barriga
cheia de esperma do seu Mestre, cheirando a sexo e coberto pelos fluidos
corporais de seu Mestre.

Não demorou muito para ele gozar, apertando o pênis de Castien


quando atingiu ao orgasmo, seu prazer preenchendo seu vínculo.

Castien fez um som baixo e animal, seus quadris trabalhando com


força, o corpo relaxado de Eridan como uma boneca de pano em suas mãos,
e então ele estava vindo também, enchendo Eridan com seu esperma.

Eridan fez um barulho satisfeito, seus braços envolvendo as costas


largas de Castien quando o homem mais velho caiu em cima dele, pesado e
perfeito.

— Mestre —, ele sussurrou, aconchegando contra à bochecha de


Castien, sua respiração irregular saindo lentamente.

Castien suspirou, virando a cabeça e beijando um canto da boca de


Eridan, depois o outro.

Os olhos de Eridan se arregalaram com a casta afeição. Seu choque


deve ter ecoado através do vínculo, porque Castien endureceu e rolou de
cima dele, deitando-se de costas. Ele fechou os olhos.

Eridan olhou para ele, observando o subir e descer do peito largo, o


modo como o queixo de Castien se apertou e as sobrancelhas se
franziram. O que quer que ele estivesse pensando, não parecia agradável.

Ele parecia estressado em geral, Eridan percebeu, franzindo a


testa. Ele não tinha notado isso antes, muito distraído com o fato de estar
vendo seu Mestre de novo, mas agora que estava concentrado, ele podia
sentir rachaduras nos escudos normalmente impenetráveis de Castien, como
se tivessem sido levantados às pressas depois de terem sido destruídos.

— Mestre? — Ele disse incerto. — Aconteceu alguma coisa


enquanto eu estava fora? Seus escudos parecem desligados.

Castien abriu os olhos e apenas olhou para ele por um momento.


— O príncipe Ksar'ngh'chaali é um telepata da classe 7 —, disse ele.

Os olhos de Eridan se arregalaram. — O que? Você quer dizer que


ele era da classe 7 quando você quebrou o vínculo com o noivo? — Ele
ouvira Warrehn e Sirri conversando sobre o assunto: sobre a aprovação de
uma emenda à Lei de Vinculação, uma emenda que permitia que casais que
ainda não eram casados rompessem os laços de infância, apesar de que
apenas algumas petições tivessem sido aprovadas até agora. Aparentemente,
o príncipe Ksar foi um dos poucos telepatas que obtiveram permissão do
Conselho para romper seu vínculo.

— Não —, disse Castien. — Ele já era da classe 7. Ele deve ter


escondido sua força telepática durante todo esse tempo. — Ele franziu a
testa, parecendo pensativo. — É possível que o segundo vínculo de sua
infância simplesmente não tenha sido vinculado.

— Eu ainda não entendo. O que aconteceu?

Castien suspirou. — Ele me pegou de surpresa enquanto eu estava


ocupado examinando a mente do noivo dele. Ele quebrou os meus escudos
enquanto eu estava distraído.

O coração de Eridan pulou uma batida. Um ataque brutal de um


telepata da Classe 7 a uma mente distraída era o equivalente a uma faca nas
costas. Se Castien fosse um telepata mais fraco, provavelmente estaria em
estado vegetativo.

— Mas por quê? — Ele disse, completamente perdido.

— Ele claramente queria que eu esquecesse que não havia nenhum


vínculo para romper na mente do príncipe Seyn —, disse Castien, um olhar
especulativo em seus olhos. — O príncipe Ksar deve ter quebrado seu
vínculo, e a emenda à Lei de Obrigações foi apenas uma formalidade para
torná-los legalmente livres para se casar com outras pessoas.

Eridan franziu a testa. — Mas o que aconteceu depois que ele te


atacou? Você o afastou?
— Não —, disse Castien, sua voz cética. — Ele me dominou. A
única razão pela qual ainda me lembro de tudo é porque meu treinamento é
muito superior ao dele, e eu tinha salvaguardas se alguém tentasse apagar
minhas memórias.

Eridan piscou. — Te dominar? Mas você é você. Você também é da


classe 7!

A mandíbula de Castien se apertou. — Sou telepata da classe 6 há


mais de dois anos, Eridan. Estou surpreso que você não tenha notado isso,
principalmente porque a culpa é sua.

Eridan olhou para ele, sentindo-se completamente cego sobre.


Ele tinha notado Castien sendo mais emocional e expressivo ao longo dos
últimos anos, mas... Espere. Seu Mestre quis dizer... que ele se importava
com Eridan, e era por isso que sua força telepática havia diminuído?

— É o nosso vínculo de treinamento —, disse Castien, sem olhar


para ele, antes que Eridan pudesse dizer qualquer coisa. — Você tem tantas
emoções que elas inevitavelmente escapam para mim através do
vínculo. Essa segunda via de emoções deterioraram meu controle sobre
minha telepatia.

Oh

Certo.

Eridan sentou-se na cama, olhando para os dedos. As palavras de


Castien explicavam muito. Isso explicava por que ele se recusava a tocar a
mente de Eridan mais do que o necessário — e por que ele não permitiu a
intimidade de uma fusão telepática. Castien valorizava o poder mais do que
qualquer coisa. Ser uma classe 6 não seria suficiente para ele.

— Sinto muito por ter comprometido você —, disse ele, sem


emoção. Eu acho que você vai ficar muito aliviado quando finalmente você
se livrar de mim. Ele levantou seus escudos, não querendo que Castien
sentisse sua dor. — Tentarei não projetar nenhuma emoção através do
vínculo, se elas são tão prejudiciais à sua telepatia. — Eridan franziu a testa
quando algo de repente lhe ocorreu. — Mas mal usamos nosso vínculo de
treinamento no ano passado —, disse ele lentamente. — Quase não tenho
me emocionado muito com você ultimamente. Não deveria ter ajudado você
a apagar minha influência em sua telepatia?

Uma onda de irritação saiu de Castien. — Aparentemente não —,


disse ele, seus olhos azuis fixos em Eridan com uma expressão ilegível. —
Manter nossas marcas telepáticas completamente separadas seria mais
prudente.

Eridan acariciou os lábios, pensando, sentindo-se confuso, inseguro


— e mais do que um pouco decepcionado. Ter seu Mestre dentro do seu
corpo e mente sempre fora algo que ele queria, mas aparentemente sempre
seria algo inatingível.

Erguendo o olhar, ele pegou Castien encarando seus lábios de uma


maneira paralisada.

Um olhar para a virilha de Castien confirmou que ele já estava meio


duro. Eridan ergueu as sobrancelhas, sorrindo um pouco apesar de tudo. —
Ansioso, Mestre? — ele brincou.

Os olhos de Castien se estreitaram.

A próxima coisa que ele soube foi estava sendo puxado e beijado, a
boca de Castien gananciosa e possessiva. Vou mostrar quem é o ansioso,
meu aprendiz.

Passando os braços em volta do pescoço do seu Mestre, Eridan


beijou de volta, perdendo-se de prazer, esquecendo suas mágoas e
dúvidas. Por enquanto. Ele sentia caloroso. Ele se sentia lindo. Ele se
sentia desejado, não importava o que Castien dissesse.

Parte dele sabia que isso não poderia durar, que o que eles estavam
fazendo acabaria explodindo espetacularmente na sua cara, mas ele não
conseguia parar.

Ele queria esse homem.


Queria ele mais do que qualquer coisa no mundo.

Talvez fosse uma tolice, mas ele não se importava.


CAPÍTULO 21
Irmão

Fofoca da Sociedade Calluviana

PRÍNCIPE-CONSORTE MEHMER ESTÁ VIVO

O CASAL DE OURO ESTÃO JUNTOS NOVAMENTE

O Príncipe-Consorte Mehmer, que se pensava ter sido assassinado


pelos rebeldes há mais de um ano, está vivo! Parece que o príncipe-
consorte viveu todo esse tempo com um homem de 202 anos, Dien Regbes,
que o encontrou nas montanhas Kavalchi, inconsciente e sangrando por
causa de um ferimento na cabeça. Tendo vivido longe da civilização por
décadas, o homem idoso não o reconheceu. O Príncipe-Consorte sofreu de
amnésia há mais de um ano antes até que as suas memórias retornaram a
ele.

Ele se juntou ao seu marido, o príncipe Jamil, e a filha deles, a


princesa Tmynne, que ele nem conheceu!

Nós, da Fofoca da Sociedade Calluviana, estamos encantados com


o casal real e desejamos tudo de bom.

***

O HERDEIRO DO QUINTO GRANDE CLÃ ESTÁ VIVO!


O Príncipe Herdeiro Warrehn'ngh’zaver, que há muito tempo foi
considerado sequestrado e morto pelos rebeldes, está vivo! De acordo com
nossas fontes no Conselho, o Príncipe há muito tempo perdido esteve no
Planeta Tai'Lehr todo esse tempo. Como nossos leitores podem ou não
saber, Tai'Lehr é uma distante colônia industrial do Terceiro Grande Clã. O
Príncipe Warrehn afirma que os rebeldes realmente o salvaram do
assassinato por seus próprios guarda-costas. Nossas fontes não foram
capazes de determinar como o Príncipe Warrehn acabou em Tai'Lehr
depois de ser salvo pelos rebeldes, mas é óbvio por que ele não pôde
retornar até agora: Tai'Lehr está isolado de Calluvia pela zona de guerra
Shibal-Kuvasi e comunicadores de longo alcance não funcionam por causa
dos enormes depósitos de korviu no planeta.

Muitos ficaram curiosos sobre a delegação que chegou de Tai'Lehr


há alguns dias, mas quem teria pensado que incluiria o herdeiro há muito
perdido do Quinto Grande Clã?

Rohan'ngh'lavere, Lorde de Tai'Lehr e o governador da colônia,


acompanharam pessoalmente o Príncipe Warrehn.

— Meu pai não estava disposto a arriscar a vida do príncipe,


fazendo-o viajar através da zona de guerra, mas depois de discutir com o
príncipe, decidimos correr o risco —, Lorde Tai'Lehr nos disse. Ele é um
homem alto e bonito, com traços bastante exóticos, com um sotaque fraco e
fascinante que poderíamos ouvir para sempre.

Quando perguntado por que agora, o Lorde Tai'Lehr foi


refrescantemente direto. — Ouvimos dizer que a coroação do Príncipe
Samir estava se aproximando e Warrehn achou que devia ao seu povo não
permitir que a pessoa errada ascendesse ao trono, mesmo que ele
precisasse arriscar sua vida para chegar aqui. Preservar a verdadeira
linha de sucessão é fundamental para todos os clãs, já que não podemos
permitir que a guerra civil destrua nossos grandes clãs internos.

Este Autor não pôde concordar mais com o Lorde Tai'Lehr, mas traz
um ponto interessante:
O que vai acontecer com o Príncipe Samir, que foi criado para ser o
Rei nos últimos dezenove anos?

Imaginamos que a atmosfera será um pouco estranha no Quinto


Palácio Real...

***

QUEBRA! OS REBELDES TOMAM A FRENTE E IMPULSAM


A LEGALIZAÇÃO DE SEUS DIREITOS. OS TEMPOS ESTÃO
MUDANDO?

***

Eridan estava meditando nos jardins do mosteiro quando sentiu uma


forte perturbação através do vínculo.

Ele abriu os olhos, franzindo a testa.

Desde a conversa deles meses atrás, o vínculo entre ele e Castien


estava firmemente bloqueado pelos dois lados. Hoje em dia, Eridan mal
podia sentir seu Mestre quando eles estavam na mesma sala, muito menos
quando estavam do outro lado do mosteiro.

Algo deve ter acontecido para os escudos de Castien começarem


a vazarem emoções. Ele podia sentir desconforto, uma fria raiva e algo que
parecia muito com ansiedade.

Eridan se levantou e permitiu que o vínculo o puxasse em direção a


Castien.
Ele não podia negar que sentia falta disso, sentia falta de sentir seu
Mestre através do vínculo deles. Nos últimos meses, a distância mental
entre eles o havia comido de dentro para fora, mesmo que fosse a coisa
mais inteligente a se fazer. Eles ainda faziam sexo, muitas vezes — isso era
uma coisa que Eridan não podia negar a si mesmo, e Castien também não
parecia inclinado a interromper o relacionamento físico —, mas agora
ambos guardavam seus pensamentos e mentes, cuidadosos em manter suas
marcas telepáticas separadas.

E parecia um inferno. O sexo afastou a coceira apenas


temporariamente, deixando outra coisa insatisfeita. Eridan não tinha ideia se
a distância mental entre eles estava funcionando e se Castien se tornara da
classe 7 novamente ou não. Ele não tinha perguntado. Verdade seja dita,
eles não conversavam muito atualmente, passando a maior parte do tempo
sozinhos nus ou seminus. Nas raras ocasiões em que eles conseguiam
manter as roupas, ele pegava seu Mestre olhando para ele com uma
expressão estranha. Eridan não tinha certeza do que pensar sobre isso. Ele
não tinha certeza de nada atualmente.

O vínculo o levou até ao escritório de Castien.

— Eridan, Vossa Graça não está sozinha. —, disse Irrene.

Eridan parou do lado de fora da porta, ouvindo seus sentidos. Ele


podia sentir a outra pessoa no escritório de Castien, sua presença telepática
estranhamente familiar.

Levou um momento para identificá-la.

Warrehn.

Warrehn estava no escritório de Castien.

Eridan franziu a testa, confuso. O que aquele rebelde, o novo rei do


Quinto Grande Clã, estava fazendo aqui?

Ignorando Irrene, ele empurrou a pesada porta e entrou na sala.


Castien estava sentado atrás de sua mesa, sua expressão
inescrutável. Se Eridan não pudesse sentir suas emoções, ele nunca teria
adivinhado que as tinha.

Warrehn estava andando pela sala, irradiando raiva e algo mais.

Ele virou a cabeça na direção de Eridan, e ele parou abruptamente,


apenas olhando para ele, seus olhos azuis estranhamente brilhantes.

Warrehn abriu a boca e a fechou, a garganta latejando. — Eri?


— Ele finalmente resmungou.

Eridan piscou e olhou para ele, perplexo. Ele olhou para Castien,
sentindo-se perdido.

Seu Mestre apenas olhou de volta, algo muito estranho em seu olhar.

— Eu sei que é você —, disse Warrehn com voz rouca. — Eu senti


— comecei a sentir algo como um fraco vínculo familiar quando você foi
embora, mas pensei que estava apenas imaginando isso.

Eridan desviou o olhar de Castien e olhou para Warrehn. — Eu não


tenho ideia do que você está falando, Warrehn.

Warrehn deu um passo em sua direção.

Eridan sentiu Castien ficar tenso, mas ele permaneceu sentado.

— Rohan acabou de me dizer que você é meu irmão —, disse


Warrehn, olhando Eridan atentamente. — Eu me sinto um idiota por não ter
percebido isso sozinho. Você se parece muito com a nossa mãe.

Eridan riu um pouco. — O que? Eu não sou seu irmão.

Warrehn franziu a testa. — Rohan disse que você sabia. Ele disse
que você já sabia que era um príncipe do Quinto Grande Clã.

Eridan balançou a cabeça, sentindo uma dor de cabeça


maçante. Algo incomodou no fundo de sua mente, uma sensação de algo
errado. — Do que você está falando? — Ele sussurrou, seu coração batendo
rápido. — O que Rohan'ngh'lavere tem a ver com isso?

Warrehn fez uma careta, lançando um olhar para Castien. — Ele


não te disse que ele chantageou Rohan a permanecer em silêncio sobre as
reais motivações e poder do Alto Hronthar?

Eridan olhou para Castien. — Mestre?

Castien olhou para baixo antes de esclarecer: — Lorde Tai'Lehr está


em um relacionamento clandestino com o príncipe Jamil. Ao revelar que o
marido do príncipe Jamil não estava realmente morto, assegurei-me de que
o senhor Tai'Lehr precisasse de mim para apoiar a Lei do Divórcio que ele
gostaria de apresentar, para libertar seu amante do casamento indesejado.

Eridan franziu a testa. Agora fazia sentido por que Castien havia
deixado o Príncipe-Consorte Mehmer ir para casa, mas ele ainda não tinha
certeza do que isso tinha a ver com Rohan alegando que Eridan era
um príncipe — e o irmão de Warrehn.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Warrehn disse: — O


príncipe Ksar contou a Rohan sobre você — Ksar soube sobre sua
identidade nas memórias de Idhron, e Ksar disse que você estava ciente
disso. — Ele franziu a testa. — Mas você não sabia? Eu não entendo. Como
Ksar pode estar errado sobre isso? Ele é um Sete.

Eridan olhou para ele. Algo estava errado. Ele podia sentir que
Warrehn estava sendo completamente sério e honesto — de alguma forma
sabia que estava dizendo a verdade, mas... Mas ele não tinha lembranças
sobre isso.

Seu estômago afundou, ele olhou para Castien.

Castien olhou de volta, algo desconfortável em sua presença


telepática.

— Você... — Eridan sussurrou. — Você apagou minhas lembranças,


não foi?
O silêncio de Castien disse tudo.

Algo dentro de Eridan — parecia muita esperança — murchou e


morreu. Sua garganta se fechou. — Quando? — Ele demandou. — Quanto
você apagou?

— Seu desgraçado—

Eridan levantou a mão, parando Warrehn. — Não. Eu quero ouvi-


lo. Ele me deve explicações, não você. — Ele olhou para Castien. — Estou
esperando.

Castien recostou-se na cadeira, seu olhar pesando com algo que


Eridan não conseguiu identificar. — Mais ou menos um mês atrás. Tudo o
que fiz foi apagar de sua mente o que você sabia sobre o seu nome de
nascimento. Foi só isso, Eridan.

Eridan olhou furioso para ele. — Por que?

Castien desviou o olhar por um momento, um músculo em sua


mandíbula contraindo. — Não havia sentido. Com o retorno e a ascensão de
seu irmão ao trono, a Ordem tinha pouco a ganhar ao devolvê-lo à Quinta
Casa Real. Não passei quatro anos treinando você só para desistir de você
depois.

— Você está fodidamente louco, — Warrehn rosnou. — Meu irmão


nunca foi seu para desistir dele. Eridan, vamos antes que eu bata nesse
idiota.

Castien nem olhou para ele, seus olhos voltados para Eridan. —
Eridan—

— Cale a boca — Eridan sussurrou com força. Seus olhos estavam


ardendo. — Eu confiei em você. Apesar de tudo, apesar de tudo que eu
sabia sobre você, eu ainda confiei em você para não mexer com a
minha mente. — Ele riu amargamente. — Eu era um idiota por pensar que
era especial. Porque eu seria? Quem sabe de que outra forma você me
manipulou.
Os ombros de Castien ficaram tensos. — Eu prometo que não te
manipulei de forma alguma.

Eridan riu. — Acho que deveria aceitar sua promessa,


Mestre. Quero dizer, não é como se você não pudesse apagar as minhas
memórias, certo?

Castien fechou os olhos por um momento. Eridan sentiu-o alcançar


através de seu vínculo em sua mente e remover algum tipo de bloqueio — e
sentiu suas esquecidas memórias voltando ao lugar

Eridan respirou fundo, um pouco desorientado enquanto tentava


assimilar todas as memórias. Rainha Janesh. A pesquisa que ele fez. Seu
confronto com Castien. A análise da marca telepática de
Warrehn. Irmão. Warrehn realmente era seu irmão.

— Não importa agora —, interrompeu Warrehn, dando outro passo


para Eridan. Ele colocou uma mão hesitante em seu ombro. — Eri, vamos
lá — você está voltando para casa comigo.

Eridan olhou para ele antes de olhar para Castien.

— Não olhe para ele —, disse Warrehn severamente. — Aquele


homem não tem palavra. Você é um príncipe do Quinto Grande Clã. Ele não
tinha o direito de privar você do seu direito de nascimento.

— Eu não o privei de nada —, disse Castien friamente. — A menos


que por direito de nascimento você queira dizer o medo de voltar para a
própria casa. Você sabia disso, não sabia?

Warrehn olhou para ele, seu rosto corando. — Cale-se. Sabemos que
você teve minha tia sob seu controle por anos. Você facilmente poderia ter
levado Eridan para casa há anos, sem arriscar a vida dele. Isso é o que eu
não entendo. Por que você não o levou? Ou você me queria morto
primeiro? Ou talvez você tenha feito uma lavagem cerebral nele?

Castien ficou de pé, com os olhos gelados enquanto olhava para


Warrehn, sua presença telepática escurecendo e enchendo a sala. O ar
estava tão denso que Eridan mal conseguia respirar.

Castien disse calmamente: — Você não deve insultar alguém em sua


própria casa.

Os punhos de Warrehn se cerraram. — Não tenho medo de você,


Idhron. Ou você também fará uma lavagem cerebral em mim, como fez
uma lavagem cerebral no meu irmão?

— Chega — Eridan retrucou. — Estou bem aqui. E Castien pode ser


um cuzão, e eu o desprezo pelo que ele fez, mas não sofri uma lavagem
cerebral, muito obrigado.

Warrehn lançou-lhe um olhar de desdém. — Você não saberia se


tivesse sofrido uma lavagem cerebral, Eri.

Eridan olhou para ele. — Meu nome é Eridan. Não sou mais a
criança que você abandonou há duas décadas atrás e agradeceria se você
parasse de me tratar como uma.

Warrehn parecia ter recebido um soco. — Eu não queria te deixar,


Eridan. Eu não tive escolha. — Ele olhou para Castien. — Você não contou
a ele como o pegou? Foi você, não foi? Eu não tinha certeza no começo —
tudo aconteceu tão rapidamente, e você era muito mais novo naquela época
— mas agora tenho certeza de que era você.

O rosto de Castien estava vazio, seus olhos frios e ilegíveis.

Eridan olhou para ele, sua voz vacilante quando disse: — Isso é
verdade?

Warrehn resmungou: — Por que você ainda acredita na palavra dele


ao invés da minha?

Eridan o ignorou, olhando para Castien, implorando que lhe dissesse


a verdade, pelo menos um vez.

Castien olhou para ele por um longo momento, sua presença


telepática enrolada de tensão.
Finalmente, ele deu um aceno cortante.

— Viu? — Warrehn disse. — Estamos indo. Você tem alguma coisa


que queira levar com você?

Eridan piscou para ele, sentindo-se perdido, e se viu olhando para


Castien. Ele se odiava por ainda olhar para Castien Idhron quando se sentia
perdido.

Um músculo se contraiu na mandíbula de Castien, seu rosto


inescrutável quando ele olhou para Eridan. — Ele está certo quanto a foto
de que não tenho autoridade para mantê-lo aqui. Seu irmão é seu tutor legal
até você completar vinte e cinco anos.

— Exatamente —, disse Warrehn rispidamente. — Você sabe que


não tem fundamentação legal, principalmente porque posso acusá-lo de
roubo de linha de sucessão — Eridan é meu herdeiro. — Warrehn
zombou. — E a reputação impecável da sua Ordem é muito mais
importante para você, não é?

Castien nem olhou para Warrehn, ainda olhando para Eridan com
aquele olhar estranho e intenso em seu rosto vazio. — Eu me certifiquei de
que você aprendesse costumes reais. Você não deve se atrapalhar muito.

Certo.

Esse sempre fora o plano de Castien, que está acontecendo a alguns


anos antes — e com um irmão superprotetor que não deveria estar em cena
quando Castien planejara o plano.

Eridan apertou os lábios para impedi-los de tremer.

— Que gentil da sua parte — disse Warrehn, franzindo o cenho para


Castien. — A única razão pela qual não estou explanando toda a sua
Organização como um bando de psicopatas sedentos de poder é porque eu
não dou a mínima para política e você salvou a vida do meu irmão e o
manteve seguro — e ele foi criado aqui, se é que podemos chamar assim,
neste lugar assustador. Deixe-o em paz a partir de agora, e não terei
problemas com você. Eridan, vamos lá. Eridan?

Eridan olhou para o rosto sem emoção de Castien, esperando... ele


não sabia o quê. Um adeus apropriado? Esperando que Castien proíba-o de
sair? Ou... peça para ele ficar?

Uma risada borbulhou em seu peito, dura e sem humor.

Porra, ele realmente era um idiota.

Virando-se rapidamente, Eridan exclamou: — Vamos —, e marchou


para fora da sala.

Ele não olhou para trás.


CAPÍTULO 22
Um Novo Lar

O Quinto Palácio Real era lindo. Bonito, imensamente luxuoso e


completamente desconhecido.

Não trouxe nenhuma lembrança.

— Costumava ser diferente —, disse Warrehn, bruscamente,


quebrando o silêncio constrangedor que caiu sobre eles desde que deixaram
o mosteiro.

Eridan fez um barulho despreocupado, sentindo-se decididamente


desconfortável. Ele não tinha certeza de como agir em torno de
Warrehn. Não era como se ele não pensasse nele como seu irmão: durante
seu mês de cativeiro, ele passou a aceitar isso como um fato, e agora que
suas memórias estavam de volta, ele se lembrava. Ele nem sabia não gostar
dessa cara. Warrehn estava certo de que eles já tinham o início de um
vínculo familiar, que sem dúvida se tornaria mais forte com mais exposição
e tempo. Não, o problema era que ele não sabia o que Warrehn esperava que
ele fosse. Ele tinha a sensação de que Warrehn havia transformado seu
irmãozinho desaparecido em algum tipo de anjo, algo que Eridan
definitivamente não era.

E em seu atual estado de espírito, Eridan não tinha certeza de que se


conseguiria fingir ser alguém que não era.

— Costumava ter estátuas antigas neste salão —, ofereceu Warrehn,


algo dolorido piscando em seu rosto sombrio. — Nossa mãe os amava.
Eridan desviou o olhar, sentindo-se irracionalmente culpado por não
se lembrar. — Tudo o que me lembro dela são os cabelos e a voz —, disse
ele. — Ela tinha uma voz muito bonita, não tinha? Eu acho que me lembro
disso.

— Sim —, disse Warrehn, irradiando alívio. — Tipo como a sua,


mas mais alta. Você se parece muito com ela.

Eridan apertou os lábios, olhando ao redor do vasto salão. — Você


poderia me mostrar meu quarto? — Estou meio cansado. E oprimido. E
enlouquecido. E muito perdido.

Tudo parecia tão surreal, mas era real e estava acontecendo. Ele não
podia acreditar que a partir de agora iria realmente morar com
seu irmão. Com o irmão que realmente o queria.

A mera noção disso parecia estranha. Everia faze-lo ficar feliz —


Eridan quis pertencer a algo a vida toda — mas apenas o fez se
sentir estranho, como se fosse um sonho absurdo do qual ele acordaria a
qualquer momento, para seu Mestre o criticar por ser um dorminhoco e por
ter pulado sua meditação matinal.

Eridan apertou os lábios.

Procurando desesperadamente algo para se concentrar, ele disse: —


Onde está o regente e o filho dela? Você já os expulsou?

Uma sombra cruzou o rosto de Warrehn. — Não. É impossível por


enquanto. Eles ainda estão morando aqui.

Eridan piscou confuso. — O que? Por quê?

Warrehn fez uma careta. — É uma longa história.

Ele parecia relutante em falar sobre isso, então Eridan deixou para
lá, imaginando que descobriria em breve. Verdade seja dita, ele não estava
tão interessado no funcionamento interno da Quinta Casa Real. Sem dúvida,
seu Mestre desaprovaria sua falta de ambição. Se Castien estivesse aqui, ele
iria...

Eridan estremeceu e respirou fundo. Respirar.

Foco, caramba.

— Não há provas de qualquer maneira —, disse Warrehn com uma


profunda carranca no rosto. — Ela teve todos os seus passos apagados. A
evidência contra ela é circunstancial, na melhor das hipóteses. Seria minha
palavra contra a dela, e minhas memórias serão facilmente consideradas
como ilusões de uma criança traumatizada que apenas ouviu algo. Ela tem
muitos amigos no Conselho. Meu próprio povo ama ela e o seu filho.

Eridan franziu a testa, sentindo uma pontada de simpatia por ele. —


É por isso que eles ainda moram aqui? Porque você não quer que eles
consigam mais simpatia do público?

— Sim. Rohan me aconselhou. Eu odeio política, então confio no


julgamento dele.

Eridan cantarolava pensativo. — Ele não está errado. Se ela jogar


bem as cartas, pode causar uma guerra civil.

Suspirando, Warrehn passou a mão pelos cabelos. — Eu odeio


isso. Por que é tão simples?

Os lábios de Eridan se torceram em um sorriso sem humor. Sim. —


Eu vou lidar com ela, se você quiser.

Warrehn olhou para ele com uma careta. De alguma forma, ele
parecia preocupado e satisfeito. — Você tem certeza? Ela é bem cínica.

Eridan deu uma risada. — Então eu me sentirei em casa. Depois do


que passei no Alto Hronthar, ela não é nada.

Warrehn não parecia exatamente tranquilo, suas sobrancelhas


preocupadas se juntando. — Foi tão ruim assim? O Alto Hronthar?
Eridan deu de ombros. — Não é fácil crescer por lá, mas eu tive
mais facilidade do que muitos. A reivindicação preliminar do Mestre me
isolou, mas também me protegeu. Ninguém se atrevia a me intimidar. —
Não fisicamente. O abuso verbal e emocional era outra questão, mas Eridan
sabia que para ele tinha sido mais fácil em comparação com alguns outros
retrocessos. — Tenho sorte de não ter acabado no departamento de
manutenção.

— Departamento de manutenção? — Warrehn disse. — É isso que


eu estou imaginando?

Eridan hesitou. — Eu realmente não deveria falar com alguém de


fora sobre—

— Eridan — disse Warrehn, fitando-o com os seus olhos azuis. —


Você percebe que também é “alguém de fora” agora, certo?

Eridan olhou para ele inexpressivamente antes de desviar o olhar.

Certo.

Felizmente, o clique dos calcanhares no chão polido o impediu de


responder.

Eridan virou a cabeça e se viu olhando para a regente. Ou melhor, a


ex-regente.

Ele já tinha visto as fotos dela antes, é claro, mas ela parecia ainda
mais impressionante pessoalmente. Cabelos violeta-escuro, olhos azul-
escuros e pele leitosa a faziam parecer mais jovem. Ela devia estar com
sessenta anos, de meia-idade, para os padrões calluvianos, mas não parecia
ter mais de quarenta anos.

Ela sorriu ao encontrar o olhar de Eridan e curvou-se graciosamente,


irradiando calor. — Você deve ser Eruadarhd! Ou você prefere Eridan? Que
sorte que o Warrehn o encontrou tão rapidamente depois que ele voltou para
casa! Agora todos podemos ser uma família feliz de novo.
Eridan piscou.

Ele olhou para Warrehn, confuso. Depois das palavras de Warrehn,


ele esperava uma mulher fria e calculista, não... não isso.

Franzindo a testa, Warrehn balançou a cabeça levemente. — Como


você sabia que eu tinha encontrado o meu irmão?

Dalatteya sorriu, seu olhar quente ainda em Eridan. Acabei de falar


com o Alto Adepto. Ele teve a gentileza de me avisar sobre a sua chegada,
Eridan.

Oh

As suspeitas de Eridan foram confirmadas quando o olhar de


Dalatteya mudou para Warrehn. Sua expressão esfriou consideravelmente,
um brilho duro aparecendo em seus olhos, embora ela ainda estivesse
sorrindo. — Estou muito feliz por você, sobrinho.

O sorriso de resposta de Warrehn era mais uma careta feroz,


mostrando todo os dentes e sem calor. — Tenho certeza que sim, tia
Dalatteya. Se você nos der licença. Meu irmão está cansado.

— É claro —, disse Dalatteya, olhando Eridan calorosamente. —


Mas com certeza você deve descer para jantar, Eridan. Meu Samir ficará
encantado em vê-lo, tenho certeza.

Eridan sorriu de volta. — Obrigado, estou ansioso por isso.

Ele e Warrehn se afastaram da mulher.

Quando eles não estavam mais perto dela, Warrehn disse: — Que
porra é essa? Idhron fez uma lavagem cerebral nela para fazê-la ser legal
com você?

Eridan disse a si mesmo que deveria estar horrorizado. Ele disse a si


mesmo que a lavagem cerebral era a coisa mais terrível que poderia
acontecer a uma pessoa, não importa quão ruim ela fosse. Mas ele não
conseguia erradicar o vergonhoso calor que ondulava em seu
estômago. Talvez o seu Mestre se importava com ele, à sua maneira horrível
e confusa. Depois ele sentiu raiva de si mesmo por entreter tais
pensamentos. Pare. Simplesmente pare.

Olhando para longe, Eridan disse, — Você acusou o meu Mestre de


ter feito uma lavagem cerebral em mim, mas é assim que é uma lavagem
cerebral, Warrehn. Não parece natural. As pessoas que fazem lavagem
cerebral não conseguem sequer pensar criticamente no assunto da lavagem
cerebral; eles perdem toda a sua autonomia. Se meu Mestre tinha feito uma
lavagem cerebral em mim, eu nem seria capaz de discutir com ele.

Quando Warrehn não disse nada, Eridan olhou para ele.

Warrehn tinha uma expressão estranha no rosto.

— O que?

Warrehn apertou os lábios brevemente. — Pare de chamá-lo


de Mestre, garoto. Ele é o Alto Adepto do Alto Hronthar; isso é tudo. Se
fomos azarados, vamos vê-lo algumas vezes durante o ano em alguns
compromissos oficiais. Ele não é mais seu Mestre. Ele não é ninguém para
você.

Eridan desviou o olhar. — Eu sei disso —, disse ele laconicamente.

Warrehn suspirou. — Você sabe? — ele murmurou antes de parar na


frente de uma porta. — Este é o seu quarto. Se você não gostar, pode
escolher outro, obviamente. Meu quarto fica a duas portas depois do
corredor.

Eridan deu um aceno cortante. — Obrigado. — Ele entrou na sala e


fechou a porta atrás de si.

Ele olhou ao redor.

O quarto era grande e bonito, decorado em cores neutras. Havia um


enorme closet cheio de diferentes tipos de roupas, todas próximas ao
tamanho dele. Todas pareciam novinhas em folha. Devem ter ordenado que
fossem feitas para ele.

Eridan teria ficado emocionado com sua consideração se não


houvesse uma sensação fria e oca em seu peito, piorando agora que ele
estava sozinho com seus pensamentos.

Ele respirou fundo pelo nariz e o segurou nos pulmões enquanto


afundava no chão do seu enorme closet. Ele puxou os joelhos contra o peito
e os abraçou com força.

Ele não tinha motivos para se sentir assim.

Ele deveria estar feliz.

Ele estava feliz.

Ele não é mais seu Mestre. Ele não é ninguém para você.

Hoje era começo de uma vida nova. A real vida dele. Ele finalmente
tinha uma família. Um irmão que o queria. Que se importava com ele. Ele
deveria estar em êxtase.

Se fomos azarados, vamos vê-lo algumas vezes durante o ano em


alguns compromissos oficiais.

Os olhos de Eridan arderam. Ele os apertou.

Tudo bem.

Ele estava bem.


CAPÍTULO 23
Máscaras

Warrehn passeava pelo terraço ao lado do salão de baile, onde uma


festa estava acontecendo.

Andar era um velho hábito que ele tinha desde que menino, um
menino zangado confinado à Mansão Lehr. Quanto mais irritado ou mais
preocupado ele ficava, mais forte era o desejo de fazer algo, de agir, e o
ritmo funcionava como uma espécie de meditação em movimento. Isso o
ajudava a pensar.

Ele estava preocupado com seu irmão.

Seu irmão.

Parte dele ainda não conseguia acreditar que o encontrara, depois de


quase duas décadas.

Eridan não era exatamente o que Warrehn esperava que seu irmão
mais novo fosse. A pequeno Eri tinha sido uma criança adorável, gentil e
sorridente, Não que Eridan não fosse gentil, por si só. Warrehn tinha certeza
de que ele era, sob todos os espinhos. Mas o brilho de seus olhos... era
completamente ausente.

A princípio, Warrehn havia dito a si mesmo que era natural. Todos


os meninos cresciam e acabavam se tornando homens, e era natural que
uma criança perdesse sua personalidade feliz com a idade.

Mas com os dias se transformando em meses, Warrehn não tinha


mais certeza de que era um estado de espírito natural para Eridan. Não era
como se seu irmão estivesse distante ou desapegado; não, era outra
coisa. Eridan demonstrou interesse em conhecê-lo e resolver a situação
política instável de Warrehn. Ele até se ofereceu para assumir os deveres
reais que Warrehn odiava: coisas como ir a bailes e fazer amizade com
outros membros do Conselho. Apesar de ter crescido em um mosteiro,
Eridan ainda era muito melhor em socializar do que Warrehn poderia
esperar ser, e nos últimos meses, rapidamente se tornou um queridinho da
mídia.

— Eu não entendo por que você está preocupado, War —, disse


Rohan, tirando-o de seus pensamentos. Ele estava olhando para o salão de
baile de uma cadeira no terraço, bebendo sua bebida à toa. — Ele é bom em
ser um príncipe. Ele certamente parece mais confortável que você.

Warrehn fez uma careta. — Eu não tenho certeza do quão real é isso
—, disse ele, olhando para o irmão. Eridan estava sorrindo enquanto
dançava com algum político estrangeiro, mas havia algo errado naquele
sorriso. Fazia soar um alarme na cabeça de Warrehn. — Nosso vínculo
familiar tornou-se mais forte e sinto algo de errado. Suas emoções não
combinam com seus sorrisos.

— Você acha que ele está fingindo? — Rohan disse, seus olhos
escuros focados em Eridan em contemplação.

Warrehn passou a mão pelos cabelos em frustração. — Eu não


sei. Não o conheço o suficiente para saber qual é o estado normal dele.

— Você passou um mês com ele em uma pequena casa segura —,


disse Rohan.

— Essa não era exatamente uma situação normal —, disse Warrehn,


enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta escura. — Como posso saber que
algo está errado se não sei como é “certo”?

Rohan cantarolou. — Suponho que a única pessoa que saberia é


Idhron.
Warrehn zombou. — Não posso perguntar exatamente a ele quando
meus amigos estão em guerra com ele.

Rohan riu, seus dentes brancos piscando contra sua pele marrom. —
Isso é um exagero. Ksar e eu temos algo... um desacordo com Idhron, mas
tenho certeza de que será resolvido no devido tempo. É uma questão de
negócios. Nós chegaremos a um acordo eventualmente.

Warrehn balançou a cabeça em desgosto. — Eu odeio política.

— Não é realmente uma questão de política —, disse Rohan, seu


olhar suavizando quando olhou para outra coisa no salão de baile.

Warrehn seguiu seu olhar e não ficou surpreso ao ver o príncipe


Jamil falando com seu irmão mais novo.

— É uma questão de proteger o que é meu —, disse Rohan, com os


olhos cheios de carinho e calor enquanto olhava para o noivo. — Idhron
quer controlar tudo, e tudo que eu quero é fazê-lo deixar minha família,
nosso grande clã e eu em paz.

Warrehn lançou-lhe um olhar cético. — Não acho que os motivos de


Ksar sejam tão altruístas —, disse ele secamente.

Rohan riu. — Eles não são, mas você conhece Ksar. Ele não quer a
ilusão de poder. Ele não gosta do controle estendido do Alto Hronthar sobre
o Conselho.

— Você quer dizer que ele quer uma fatia da torta.

— Ele quer —, Rohan concordou, seu olhar ainda no rosto


sorridente de Jamil. — Mas você pode culpá-lo quando a torta é
tão gigante? Você não tem ideia de quanto poder Idhron realmente tem. É
maior que Calluvia. É uma rede enorme que abrange mais de uma dúzia de
planetas do Núcleo Interno. Corporações multibilionárias interplanetárias,
organizações políticas, colônias industriais: a Ordem está em todos os
lugares. Se Idhron quiser, ele pode facilmente influenciar o Conselho
Galáctico e a Câmara dos Lordes.
A testa de Warrehn se enrugou. — Não faz sentido.

Rohan olhou para ele. — O que não faz sentido?

— Eu tinha pensando que Idhron não tinha lutado comigo pelo o


Eridan, porque ele sabia que não tinha poder para mantê-lo na Ordem. Mas
você está dizendo que o poder dele é quase ilimitado.

Rohan deu de ombros. — Idhron provavelmente imaginou que era


um problema que não valia a pena. Quem sabe como a mente desse homem
funciona? Duvido que ele tenha se importado com o garoto o suficiente
para lutar para que ele ficasse.

Warrehn franziu a testa, sem ter certeza se concordava. Mas Rohan


deve estar certo. Que outra explicação havia? — De qualquer forma, eu não
o quero perto do meu irmão. Ainda não estou convencido de que Idhron não
fez uma lavagem cerebral nele de alguma maneira.

Rohan suspirou. — Você sabe que verifiquei a mente de Eridan,


War. Ele tem controle sobre a própria mente. Na verdade, está cheio de
armadilhas mentais que atacariam qualquer um que tentasse fazer uma
lavagem cerebral nele. — Ele franziu o cenho levemente. — Demorou anos
para Idhron criar esse tipo de proteção para seu aprendiz. Estou surpreso
que ele tenha se dado ao trabalho, porque esse tipo de defesa limitava
severamente sua própria capacidade de adulterar a mente de Eridan.

Warrehn apertou os lábios, não totalmente convencido. — Se ele


criou essas armadilhas mentais, talvez elas não funcionem contra ele.

Rohan balançou a cabeça. — Armadilhas mentais não funcionam


assim. Eles atacariam qualquer coisa que considerassem uma interferência
prejudicial.

— E as armadilhas da mente na mente de Dalatteya? Provavelmente


foi ele que criou, mas claramente ele não teve problema algum em fazer
uma lavagem cerebral nela.
Rohan balançou a cabeça novamente. — Existem diferentes tipos de
armadilhas mentais. Os pensamentos dela são rudimentares em comparação
com os de Eridan. Eles estão protegendo as informações que a Ordem não
quer que ninguém saiba, mas ela não. As armadilhas mentais na mente do
seu irmão são diferentes. Eles foram projetados especificamente
para proteger a mente de Eridan de invasões e manipulações profundas. —
Rohan tomou um gole de sua bebida. — É realmente muito intrigante. Ou
Idhron é muito mais cego do que eu pensava, ou ele não esperava que fosse
necessário alterar as memórias de seu aprendiz. Ele apenas tornou as coisas
mais difíceis para si: Idhron não conseguiu apagar completamente as
memórias de Eridan sobre seu nome de nascimento; ele só poderia bloqueá-
las. Portanto, Idhron ter feito uma lavagem cerebral no seu irmão... é
extremamente improvável, para dizer o mínimo.

Warrehn fez uma careta, sem saber se se sentiu aliviado ou


decepcionado. — Ele não fez lavagem cerebral no ex-marido de Jamil?

— Não foi o Idhron, e não foi realmente uma lavagem


cerebral. Mehmer teve as memórias bloqueadas e retiraram o bloqueio
recentemente. — Os lábios de Rohan se curvaram em um sorriso
irônico. — Considerando que Mehmer vai ser casar com o homem que fez
isso com ele, ele não parece traumatizado.

— Isso é uma bagunça.

— Talvez —, Rohan disse com uma risada. — Mas não posso dizer
que estou descontente com isso. Não me interpretem mal: Mehmer parece
ser um homem decente, mas estou feliz que ele vai viver em outro
planeta. Eu não o quero perto de Jamil e nossa filha. Já é ruim o suficiente
que minha filha tenha o nome dele.

— Não importa, ela saberá a verdade.

O olhar de Rohan se suavizou. — Ela saberá. Ela sabe. Nosso


vínculo familiar já é muito forte. — Ele sorriu fracamente, seus olhos
escuros afeiçoados. — O rosto dela se ilumina quando ela me vê. É... é a
sensação mais incrível do mundo, War.
Warrehn desviou os olhos. Ele estava feliz por seu melhor
amigo. Ele era. Rohan era quase seu irmão de sangue. Mas ele não podia
negar que se sentia... sozinho quando via o quão feliz e apaixonado Rohan
estava. Rohan agora tinha sua própria família para se preocupar além de ser
o governador de Tai'Lehr. Estar noivo do príncipe herdeiro do Terceiro
Grande Clã demandava tempo no que dizia respeito às obrigações sociais,
então Rohan raramente estava por perto.

Warrehn nunca pensou que se sentiria um estranho em seu próprio


planeta natal, em seu próprio grande clã — que se sentiria como um
usurpador em seu próprio lar. Ele era o rei, mas muitas vezes sentia que era
uma fraude.

Ter seu irmãozinho de volta ajudou, é claro, mas ele e Eridan ainda
não estavam exatamente próximos. Duas décadas de diferença não podiam
ser apagadas magicamente, por mais que tentassem. Havia coisas sobre seu
irmão que ele nunca entenderia e vice-versa.

Porra, por que as coisas nunca poderiam ser tão simples?

O som da porta se abrindo o arrancou de seus pensamentos.

— Warrehn?

Era Eridan, olhando curiosamente entre ele e Rohan. Uma expressão


estranha apareceu em seu rosto, mas depois sumiu, seus olhos violeta longe
de qualquer emoção.

Isso apertava o peito de Warrehn toda vez, aqueles olhos. Eram


iguais aos olhos da mãe deles. Eridan parecia muito com ela em geral,
herdou Vossa Graça e características refinadas. Olhando para trás, Warrehn
sabia agora porque ele se comportou de forma incomum com o garoto no
esconderijo: ele o lembrava de sua mãe. Ele não tinha conectado isso ao seu
irmão na época: ele tinha aceitado que seu irmão estava morto e, em sua
mente, o pequeno Eri sempre se pareceria com um garoto com bochechas
gordinhas.
Bem, ele não era mais aquele garoto com bochechas gordinhas, mas
um jovem extraordinariamente bonito — quando calluvianos e estrangeiros
que não eram ligados quase babavam olhando para o irmão, Warrehn se
lembrava disso.

— Eri? — Warrehn disse. — Você queria alguma coisa?

— Sim —, disse Eridan. — Quero que você pare de se esconder


aqui e se misture com as pessoas. Se você continuar evitando se socializar,
as pessoas nunca se acostumarão com você.

Warrehn fez uma careta. — Eu odeio socializar.

Eridan revirou os olhos com um pequeno sorriso torto. — Você


odeia muitas coisas. Mas você terá que fingir e fazer. Vamos lá, não vai te
matar. Lorde Tai'Lehr, por favor, diga a ele que estou certo.

— Você está certo —, Rohan disse com um olhar divertido.

— Traidor —, Warrehn murmurou.

— Não seja tão rabugento —, disse Eridan. — Se eu não soubesse


que você ainda não tem trinta anos, nunca acreditaria. Você é como um
velho rabugento.

Warrehn suspirou, passando a mão no rosto. — Eridan—

— Cale a boca e venha comigo. Se eu tenho que sofrer com isso,


você também tem.

Franzindo o cenho, Warrehn o seguiu de volta ao salão de baile. —


Você realmente não gosta disso? — Embora ele suspeitasse, ele não estava
exatamente feliz por ter suas suspeitas confirmadas.

Eridan bufou suavemente. — Eu não tinha um único amigo na


Ordem, Warrehn. A maioria dos meus colegas tinha ressentimentos por
mim. Então não, socializar não é fácil para mim. Eu só sou muito melhor
fingindo do que você.
Isso não era nada tranquilizador.

— Você não precisa fazer isso se não quiser —, disse Warrehn.

— Alguém precisa fazer —, disse Eridan com um sorriso brilhante


que fez algo no peito de Warrehn se torcer. — Dalatteya e seu filho têm a
simpatia de todos e estão mais do que dispostos a fazer politicagem, mesmo
que você não queira. O Mestre sempre diz... — Ele se interrompeu e
pigarreou um pouco. — De qualquer forma, se não tomarmos cuidado,
seremos expulsos de nosso próprio palácio.

Os lábios de Warrehn se estreitaram. Fazia meses, mas Eridan ainda


chamava Castien Idhron de Mestre. Essa palavrar irritava os nervos de
Warrehn. Ele não pôde deixar de associar à escravidão e à servidão. Ele
entendia que não era o caso, mas ainda o irritava.

Sem mencionar que a maneira como Eridan disse a palavra o deixou


desconfortável. Ele não sabia o que pensar, mas não gostou.

Pelo menos as coisas não estavam tão ruins quanto meses atrás,
quando tudo o que Eridan sabia dizer era Mestre isso e Mestre
aquilo. Agora a palavra aparecia com menos frequência, mas Warrehn não
pôde deixar de notar que seu irmão foi ficando mais fechado enquanto a
palavra gradualmente saiu do seu vocabulário.

— Eles não vão te expulsar —, disse Warrehn. — Nossa querida tia


te adora.

Eridan balançou a cabeça um pouco. — Ela provavelmente sabe que


o carinho que sente por mim é artificial. Mesmo que ela não tenha
percebido isso, seu filho provavelmente já contou a ela. Ninguém gostaria
de ter a mente controlada. Uma pessoa com a mente forte pode lutar contra
isso, até certo ponto. Tenho certeza que ela está procurando uma maneira de
se livrar disso. De qualquer forma, isso não vem ao caso: não posso deixar
essas cobras tomarem o trono que é seu por direito.

Sentindo uma onda de afeto, Warrehn pigarreou um pouco e olhou


ao redor do salão ocupado, procurando uma mudança de assunto. Ele nunca
foi bom em falar sobre emoções — ou senti-las.

— Com quem você queria que eu socializasse? — Ele disse.

— Por que você não começa com a rainha Tamirs?

Warrehn fez uma careta, mas assentiu com relutância. Era injusto
que Eridan estivesse se forçando a fazer todas essas coisas por ele. Ele
precisava começar a ter peso também.

Eridan sorriu, seu sorriso não estava tão brilhante quanto antes, e
muito menos genuíno. — Ótimo —, ele disse. — Eu também vou me
misturar. Se você precisar de resgate, me dê uma cutucada telepática.

Warrehn observou-o partir, sentindo-se o irmão mais terrível do


mundo. Eridan não deveria cuidar dele ou resgatá-lo de políticos e
socialites. Ele era apenas um garoto de vinte e poucos anos e que nem
sequer teve uma infância normal. Ele deveria poder relaxar e fazer o que o
faz feliz.

O problema era, Warrehn não tinha ideia do que faria Eridan feliz.

Ele viu o irmão sorrir e rir com alguém, e isso fez o estômago de
Warrehn revirar, porque agora ele sabia que não estava realmente se
divertindo. De vez em quando, a mão de Eridan voava para tocar a estranha
pedra roxa no pescoço, mas, além disso, ele mal parava, passando de um
grupo de pessoas para outro e sorrindo com um sorriso brilhante que
Warrehn estava começando odiar.

Eridan sorriu e sorriu, e Warrehn sentiu vontade de dar um soco em


algo.

Infelizmente, ele não podia.

Então ele se virou para a rainha Tamirs e deu um sorriso que


provavelmente parecia uma careta de dor, já imaginando em quanto tempo
eles poderiam ir embora.
CAPÍTULO 24
Quebrado

Quando criança, Eridan sempre fora fascinado com as histórias


sobre os forasteiros, histórias sobre a vida além de Hronthar.

Essas histórias pareciam algo parecido com um conto de fadas: a


hierarquia complicada dos doze grandes clãs, reis e rainhas, príncipes e
princesas, bailes e festas. Aquele mundo exterior parecia colorido e rico em
comparação com a vida mundana no Salão dos Iniciados.

A grama do vizinho era sempre mais verde.

Reconheço que o jogo era era um pouco divertido. Eridan descobriu


que gostava de descobrir como era o clima político entre os variados
grandes clãs apenas observando suas interações. Mas até o jogo se tornara
um pouco tedioso após se passar o primeiro mês.

Parte dele se encolheu com seus próprios pensamentos. Ele sabia


muito bem que sua vida era muito privilegiada e queixar-se disso soaria
como uma birra de um pirralho mimado e riquinho.

Não, ele não estava reclamando. Ele estava apenas... Ele às vezes
não tinha certeza do que estava fazendo entre esses membros da realeza e
políticos bem vestidos. Ele sentiu como se estivesse participando de uma
peça que havia se arrastado por muito tempo, e ele mal podia esperar que
terminasse para finalmente voltar para casa.

Casa. Ele se viu desejando a quietude de High Hronthar, as velhas


pedras sob os pés e o ar fresco da montanha em seus pulmões.
Ele ansiava por outras coisas também, mas essas coisas o deixavam
com raiva, então ele esmagava implacavelmente aqueles anseios idiotas.

Ele era o príncipe Eruadarhd, do Quinto Grande Clã. Ele não


precisava daquele idiota que tinha mexido com suas memórias e depois o
deixou de lado na primeira oportunidade.

Eridan evitou quaisquer eventos sociais em que pudesse encontrar


Castien. Não foi difícil: ele sabia que tipo de funções sociais Castien
participava como o Alto Adepto.

Mas três meses depois de deixar o Alto Hronthar, houve uma


reunião social que Eridan não podia perder: o casamento do príncipe Ksar e
príncipe Seyn.

Um casamento real entre os filhos de tais grandes clãs era muito


importante, e era duplamente importante porque Ksar era o Lorde
Chanceler do planeta. Não comparecer ao casamento faria as pessoas — e
os blogs de fofocas — fofocarem, e essa era a última coisa que ele e
Warrehn precisavam.

Além disso, Eridan ainda esperava que outro adepto da.mente


pudesse oficiar o casamento deles, não necessariamente o Alto Adepto,
especialmente desde a última vez que ele soube, Castien e Ksar estavam em
desacordo. Sem mencionar que o príncipe Ksar e o príncipe Seyn não
precisariam do vínculo matrimonial tradicional que normalmente era
estabelecido durante uma cerimônia de casamento; portanto, um
especialista em mentes não era realmente necessário.

Mas é claro que isso era provavelmente algo demais para se


esperar. A tradição era tudo em Calluvia, e era tradição que apenas o Alto
Adepto oficiasse um casamento de alto nível.

Quando Eridan entrou no grande salão de baile do Segundo Palácio


Real, a primeira coisa que atraiu o seu olhar foi o homem alto junto ao fogo
cerimonial, vestindo as vestes ricamente adornadas do Alto Adepto, o capuz
cobrindo os cabelos.
Os olhos azuis encontraram os seus do outro lado da sala.

Eridan lambeu os lábios secos, desviou rapidamente o olhar e se


forçou a continuar andando.

Castien não era nada para ele. Nada. Apenas alguém que pertencia
ao seu bagunçado passado.

Ele tinha uma nova vida agora, uma vida muito mais rica e
saudável, com um irmão que se importava com ele e até algumas amizades
provisórias. Ele não precisava daquele homem manipulador e insensível
que não reconheceria emoção e honestidade mesmo se elas os atingirem na
cara.

Ele estava bem sem ele.

Bem.

— Você está bem? — Warrehn disse baixinho, colocando a mão em


seu ombro.

Eridan sorriu. — Por que eu não estaria?

As sobrancelhas de Warrehn se aproximaram. Ele olhou para


Castien. — Você quer ir embora?

Eridan riu. Soou forçado até aos seus próprios ouvidos. — Por que?
A cerimônia começará em breve, de qualquer jeito. Vamos achar nossos
lugares.

Warrehn lançou-lhe um olhar cético e abriu a boca, mas naquele


momento outra voz interrompeu o que ele ia dizer.

— Eridan!

Aliviado, Eridan se virou e sorriu, desta vez mais genuinamente. Era


impossível não gostar do príncipe Harht ou Harry, como ele havia pedido
para ser chamado. Harry era a pessoa mais gentil e doce que já
conhecera. A rápida amizade entre eles parecia real, apesar de Harry morar
em outro planeta e visitar Calluvia apenas esporadicamente.

— Estou tão feliz em vê-lo! — Harry disse, dando-lhe um rápido


abraço telepático, seu sorriso largo e satisfeito. Seus olhos violeta tinham o
mesmo tom que os de Eridan, mas não era tão surpreendente: eles eram
parentes distantes, como muitas famílias reais calluvianas.

— E eu senti falta de você —, disse Eridan, sorrindo para o


entusiasmo de Harry. Às vezes, ele se perguntava se teria sido como Harry
se tivesse sido criado por seus próprios pais. Ele e Harry eram os príncipes
mais jovens de seus respectivos grandes clãs, ambos tinham irmãos mais
velhos superprotetores. Tinham quase a mesma idade e se pareciam um
pouco, exceto pelos cabelos mais claros de Eridan. Eridan muitas vezes
sentia que Harry era a pessoa que ele poderia ser, mas nunca seria. Harry
gostava de pessoas de verdade. Harry era extrovertido, gentil e
feliz; Eridan... tentou ser essas coisas.

Atrasado, Harry curvou-se para Warrehn. — Sua Majestade —,


disse ele com um sorriso tímido. — Peço desculpas, esqueci de minhas
maneiras desde que comecei a viver em outro planeta.

— Eu não me importo —, disse Warrehn, sua perpétua carranca


suavizando um pouco quando ele olhou para Harry.

Eridan teria agido totalmente como um casamenteiro se não


soubesse que Harry estava absolutamente apaixonado por seu
terráqueo. Warrehn precisava de alguém como Harry em sua vida, alguém
que suavizasse suas arestas e o fizesse sorrir mais. Alguém legal e
descomplicado.

— A cerimônia começará em breve —, disse Warrehn. — Vamos


encontrar nossos assentos.

Eles seguiram a figura alta de Warrehn, com Harry conversando


animadamente sobre o casamento. Eridan tentou escutar, ele realmente
ouviu, mas quanto mais perto eles chegavam dos seus assentos, mais perto
do fogo cerimonial eles estavam. Por tradição, as famílias reais sentavam-se
na frente.

A pele de Eridan formigou com uma consciência terrível, seu pulso


acelerando. Desesperado, ele procurou algo para dizer, para se
distrair. Quando eles se sentaram, ele fixou o olhar no príncipe Ksar que
esperava junto ao fogo com sua mãe, a Rainha.

— Eu não entendo por que os dois noivos não podem simplesmente


estar lá —, disse Eridan. — Por que um deles precisa ser levado? Não é um
casamento de iguais? Ele realmente estava um pouco confuso com a
tradição. Enquanto ele havia aprendido os costumes da realeza, alguns deles
não faziam sentido para ele.

— Na verdade não —, respondeu Warrehn. — Ambos podem ser


príncipes, mas Ksar tem uma classificação social mais alta. Ele é o futuro
rei do Segundo Grande Clã. O príncipe Seyn é o príncipe mais jovem do
Terceiro Grande Clã, e ele assumirá a posição de príncipe consorte quando
se casar com Ksar. É por isso que ele é quem está sendo levado — ele está
literalmente sendo dado a uma família mais influente. Se o príncipe Seyn
estivesse se casando com você, ele seria a pessoa que estaria à espera no
fogo e eu a acompanharia pelo corredor e o anunciaria.

Foi a coisa mais longa que Eridan já ouviu Warrehn falar, e ele teria
ficado satisfeito se sua mente não tivesse se fixado na ideia de se casar com
alguém.

Como membro da Ordem, nunca havia sido uma opção para ele,
mas agora... Absolutamente poderia, não era? Eridan não conseguia
entender. A mera ideia parecia... estranha. Absurda.

O som de uma orquestra arrancou-o de suas reflexões. Atrasado,


Eridan seguiu a liderança de Warrehn e Harry e se levantou também. Ele
esticou o pescoço, tentando ver melhor, mas havia muita gente, e a largura
de Warrehn limitou sua visão.

Só conseguiu ver o outro noivo quando o príncipe Seyn e seu irmão


mais velho passaram por eles.
— Oh —, ele respirou em admiração. Então era verdade o que as
pessoas diziam do príncipe Seyn e Príncipe Jamil: Eridan concordou que
eles realmente eram uns dos homens mais lindos em Calluvia. Vestidos com
as cores azul e branca da Terceira Casa Real, se pareciam muito, exceto
pelos cabelos escuros e a forma mais alta do príncipe Jamil, e ambos eram
difíceis de desviar o olhar. Os dois estavam sorrindo, um sorriso reservado,
mas caloroso, no rosto do príncipe Jamil e um sorriso mais aberto no rosto
do príncipe Seyn.

O último parecia radiante, a felicidade rolando dele em ondas


palpáveis quando ele pegou a mão do príncipe Ksar.

— Eu nunca vi meu irmão tão feliz —, Harry murmurou, radiante.

Olhando para o rosto estoico de Ksar, Eridan lançou-lhe um olhar


cético.

Harry riu. — Ele está, confie em mim. Você simplesmente não o


conhece bem. — Ele acrescentou algo como: — Eu posso sentir que ele
está feliz, e isso é raro.

Eridan olhou mais de perto para Ksar. Ele não estava sorrindo, mas
seus olhos prateados fitavam apenas seu futuro esposo.

— Serei eu no próximo ano —, disse Harry, em um tom bastante


sonhador. — Embora meu casamento não vá ser nem de longe tão chique
quanto este. Liam não quer um grande casamento.

Eridan fez um som descompromissado, distraído, seu estômago


revirando quando Castien começou a falar.

Eridan conhecia os ritos tradicionais de casamento de cor, então não


ouviu o que Castien estava dizendo. Tudo o que ele podia ouvir era sua
voz. A única voz que ele conhecia toda inflexão. Ele passou anos tentando
determinar as emoções de Castien através de mudanças quase
imperceptíveis em sua voz. Quatro longos anos em que a voz — aquele
homem — havia sido seu mundo. Ouvindo aquela voz novamente depois de
tantos meses...era..
Saia dessa, ele disse a si mesmo com raiva. Castien não era mais
nada para ele. Eles habitavam dois mundos diferentes agora. Eridan o veria
algumas vezes por ano em um casamento de alto nível como esse, e eles
ainda eram separados por uma barreira social invisível. Ele era um
príncipe. Castien era o Alto Adepto do Alto Hronthar. Para a maioria das
pessoas, Castien era apenas uma figura espiritual de alto nível de uma
antiga Ordem de monges. Eles não tinham ideia de que, sob aquelas roupas
impecáveis do Alto Adepto, havia um homem. Um homem frio e cruel que
exercia um poder enorme sobre este planeta, mas um homem, no entanto.

Todas essas pessoas... elas realmente não faziam ideia. Eles estavam
totalmente alheios. Eridan era o único que sabia. Até o irmão dele não
sabia. Warrehn ficaria furioso se descobrisse o quão intimamente Eridan
conhecia seu mestre. Ninguém sabia. E ninguém jamais saberia.

Daqui a alguns anos, Castien provavelmente nem se lembraria


dele. Ele teria outros aprendizes, os aprendizes que ele escolheria,
verdadeiros aprendizes que se formariam e se tornariam mestres. Castien
não se lembraria daquele garoto que era uma bagunça emocional que ele
havia ensinado e fodido uma vez. Talvez ele se lembrasse dele no
casamento de Eridan, quando estivesse amarrando uma fita de casamento
no pulso de Eridan, amarrando-o ao seu marido. Seus olhos se encontrariam
por um momento, e haveria um lampejo de reconhecimento — e
depois mais nada. Eridan andaria pelo corredor, de mãos dadas com o seu
marido, o pulso formigando onde a mão de Castien roçara contra a dele, e
sentiria seu coração doer. Anseiando por algo que ele nunca teve.

Seu marido seria alguém gentil, bom e emocional. Ele sempre diria
a Eridan que o amava, faria amor com ele e daria a ele filhos lindos. Seria...
seria uma vida maravilhosa.

— Eridan, o que há de errado?

Eridan ergueu o olhar para o irmão e abriu a boca para dizer que
estava bem, mas não saiu nada. Havia um nó na garganta que ele não
conseguia engolir. Seu peito doía por falta de ar, seus ouvidos zumbiam. Ele
não conseguia respirar. Ele não conseguia respirar.
O cenho confuso de Warrehn se transformou em alarme. — Você
precisa de um pouco de ar fresco? Venha, levante-se. A cerimônia acabou
de qualquer maneira.

Já acabou? Ele deve ter voado para longe.

Atordoado, Eridan se levantou com a ajuda de seu irmão. Harry não


estava em lugar nenhum; ele deve ter ido parabenizar seu irmão.

— Eu estou bem —, Eridan conseguiu dizer. Mentira.

Ele não estava bem.

Sua visão nublou sua mente doía, seu peito estava apertado. Seus
pulmões não queriam trabalhar. O coração dele também não. Era como se
alguém os tivesse agarrado e os estivesse torcendo, espremendo cada gota
de sangue. Eridan deu alguns passos, mas tropeçou e teria caído se Warrehn
não o tivesse pego.

— Que besteira —, disse Warrehn, irradiando preocupação,


proteção e medo. — Você mal está respirando. Você tem algum tipo de
doença que não me contou? Uma alergia?

Eridan balançou a cabeça, confuso, tentando limpar a névoa em sua


mente. Ele agarrou seu thaal e concentrou-se em sua sensação calmante e
tranquilizadora e, por um momento, funcionou. Exceto que o dethrenyte
começou a esquentar e ele teve que se soltar — bem a tempo de quebrar e
estilhaçar. Não!

O desânimo de Eridan foi engolido pela dor debilitante que passou


por sua mente. Ele tropeçou novamente.

— Consiga um curador — berrou Warrehn, para sua total


mortificação.

— Não —, Eridan tentou, mas já era tarde demais. Eles estavam


atraindo atenção, as pessoas estavam parando, aglomerando-se ao redor
deles, irradiando confusão, curiosidade, fazendo uma alarme tão grande que
fez sua cabeça doer ainda mais. Eridan ofegou como se tivesse corrido uma
maratona, sua visão escurecendo. Ele fechou os olhos com força enquanto
tentava reforçar seus escudos contra o ataque mental e a dor de cabeça,
tentando permanecer consciente. Isso não poderia estar acontecendo, isso
não acontecia com ele desde criança—

E então houve um toque calmante de outra mente, a mente tão


familiar para ele quanto a sua. A mente de Castien envolveu-o com força,
protegendo-o dos outros, e Eridan quase chorou de como era bom depois de
tanto tempo. — Mestre —, ele sussurrou com os lábios ressecados, caindo
contra um peito largo e agarando-se.
CAPÍTULO 25
Indulgente

Warrehn odiava se sentir iimpotente Isso trouxe de volta todos os


sentimentos com os quais ele lutou desde os dez anos de idade.

Então, ele decidiu andar pela biblioteca do Segundo Palácio Real,


tentando entender aquela situação bizarra. O fato de ele poder ouvir os sons
da recepção do casamento o estava deixando mais agitado. Porra, eles
tinham dado a esses abutres algo para conversar. Ele só podia imaginar o
que eles estavam dizendo sobre Eridan depois que seu irmão se agarrou a
Idhron e o chamou de Mestre.

Warrehn cerrou os dentes e olhou para o irmão, esperando que ele


finalmente recuperasse suas faculdades mentais, mas, a julgar pelo fato de
Eridan ainda estar enrolado no colo de Castien Idhron, esse não era o
caso.

— É um vício telepático de fusão? — Rohan disse, quebrando o


silêncio tenso. Ele observava o par com curiosidade, um sulco entre as
sobrancelhas escuras.

— Não —, disse Idhron. — Eu nunca seria tão descuidado.

Rohan levantou as sobrancelhas. — Então o que é isso? E não me


diga que você não sabe. Você não parece surpreso.

Idhron olhou para Eridan.

Warrehn suprimiu um arrepio de inquietação. Havia algo na maneira


como Idhron olhava para Eridan que fazia seus nervos se
exaltarem. Inferno, a mão que Idhron tinha na parte inferior das costas de
Eridan também fez seus nervos se exaltarem. Havia algo íntimo na
linguagem corporal de Idhron. Ele não parecia desconfortável ou estranho
sentado naquela poltrona, com Eridan enrolado no seu colo e agarrado a ele,
a cabeça de Eridan enfiada abaixo do seu queixo.

A parte mais desconcertante era a marca telepática de Idhron: estava


enrolada firmemente em torno de Eridan, acariciando sua mente com uma
intimidade tão casual que revirou o estômago de Warrehn. Quão perto seu
irmão esteve deste homem?

— Não estou surpreso —, confirmou Idhron, ainda olhando de


forma estranha para Eridan. — Esta era uma possibilidade, por mais remota
que seja.

— Quer nos esclarecer? — Warrehn rosnou.

Idhron voltou os olhos frios para ele. — Você não está ciente sobre a
biologia de seu próprio irmão?

Warrehn franziu a testa, desequilibrado. — O que?

— Ele é um retrocesso —, disse Idhron. — Retrocessos são


biologicamente diferentes de você e eu. O cérebro deles é diferente.

Warrehn olhou para ele. — Você está falando sobre o mito de que
retrocessos só conseguem ter um companheiro de verdade durante a sua
vida toda?

A expressão de Idhron ficou um pouco tensa. — Esse mito não é


totalmente infundado, embora eu não o diria dessa forma. Nossa pesquisa
particular constatou que a maioria dos retrocessos realmente se fixa em uma
pessoa, embora não tenha nada a ver com encontrar um “companheiro de
verdade”, mas está relacionado com os hormônios que afetam seu cérebro e
seu corpo quando se fixam em alguém.

— Você está dizendo que você e Eridan... eu vou te matar, você—


Rohan agarrou seu ombro. — Warrehn, acalme-se —, disse ele,
projetando calma nele.

Warrehn respirou fundo, tremendo de raiva. Ele olhou para Idhron,


que olhou para ele com firmeza.

— Isso não é da sua conta —, disse Idhron friamente. — Meu


argumento é que isso era uma possibilidade, mas eu pensei que era algo
muito remoto. Isso deveria tê-lo protegido. Idhron tocou o pequeno pedaço
de pedra roxa que ainda estava presa à fita entrelaçada nos cabelos de
Eridan. — Não deveria ter quebrado.

— O que é essa coisa? — Warrehn disse, tentando se distrair do


desejo de socar a cara de Idhron. — Eridan se recusou a me dizer. — Ele
suspeitava que fosse algo a mais do que apenas uma bela peça de joalheria,
mas seu irmão não tinha muito sincero sobre isso.

— É o thaal de um aprendiz —, respondeu Idhron. — A pedra


preciosa é infundida com a marca telepática do Mestre, portanto é
normalmente usada para indicar a quem o aprendiz pertence. No caso de
Eridan, também foi usado para ajudá-lo a se concentrar. Como você sabe,
ele não é muito bom em se concentrar sem receber ajuda.

Não, ele não sabia disso. Warrehn odiava que esse homem
conhecesse seu irmão muito melhor do que ele.

— Eu pensei que, mesmo que a parte retrocessa do cérebro de


Eridan se fixasse em mim, o thaal seria suficiente para enganar seus
hormônios e pensar que eu estava por perto. — Idhron parecia pensativo,
sua mão acariciando as costas de Eridan de uma maneira que parecia
distraída. Warrehn se perguntou se o homem estava ciente do que estava
fazendo. Idhron murmurou: — Ainda há muito coisas que não sabemos
sobre retrocessos, e não ajuda o fato de que todo retrocesso seja um pouco
diferente dos outros.

Rohan pigarreou. — Mesmo que o rombencéfalo de Eridan tenha...


fixado em você, você não pode consertar isso? Você não deveria ser o maior
adepto da mente do planeta?
A expressão de Idhron era ilegível. Ele baixou o olhar e ficou quieto
por um tempo.

Warrehn quase rosnou com impaciência.

— Teoricamente, não é impossível —, disse Idhron finalmente. —


Vai ser difícil, mas acredito que posso bloquear a parte do cérebro que é
única apenas para retrocessos.

— Então faça isso —, Warrehn retrucou.

Idhron lançou-lhe um olhar cético. — Você está sugerindo


seriamente que eu modifique o cérebro do seu irmão sem o consentimento
dele?

Warrehn zombou. — Por favor. Como se você não tivesse feito


coisas piores.

Embora Idhron ainda o estivesse olhando com firmeza, sua presença


telepática aumentou ao redor da de Eridan, para aborrecimento de
Warrehn. — Eu fiz —, disse ele. — Mas não com o meu próprio aprendiz.

Warrehn não gostou da possessividade dessa afirmação.

— Você já mexeu com a mente dele antes —, ele resmungou.

Os lábios de Idhron se estreitaram. — Bloquear algumas memórias


não é o mesmo que modificar o cérebro. Com a sua ignorância, você está
comparando o incomparável. Além disso, isso é indiscutível. Devido às
extensas medidas protetivas na mente de Eridan, essas modificações
invasivas só podem ser feitas apenas com sua explícita permissão.

Ele olhou com raiva para Idhron, mas antes que ele pudesse dizer
qualquer coisa, Eridan finalmente se moveu.

Esfregando o rosto na garganta de Idhron, ele murmurou: —


Mestre.
O estômago de Warrehn se torceu. Porra, ele estava começando a
odiar essa palavra. Não era apenas a palavra; era a forma como Eridan
disse.

A atenção de Idhron voltou-se totalmente para Eridan. — Sua


cabeça está doendo?

As sobrancelhas de Warrehn se franziram. Embora ele não chamasse


exatamente o tom de voz de macio, era mais quente do que ele já tinha
ouvido.

— Um pouco — disse Eridan, parecendo sonolento e atordoado. —


Está melhor.

Os dedos de Idhron enterraram-se nos cabelos de Eridan e


massagearam seu couro cabeludo. — Aqui?

Eridan fez um ruído afirmativo, ainda soando completamente fora


do normal dele. — Senti sua falta, Mestre.

A linha da boca de Idhron se afinou. Ele não disse nada, algo quase
como frustração piscando em seus olhos.

Warrehn trocou um olhar com Rohan antes de limpar a garganta. —


Como você está, Eri? — Ele disse, chegando mais perto e parando atrás de
Idhron para que seu irmão pudesse vê-lo.

Eridan abriu os olhos turvamente e o encarou, com um olhar um


pouco confuso. Suas pupilas ainda estavam desfocadas, seu olhar não muito
concentrado.

— Às vezes eu desejo que você nunca tivesse me encontrado —,


Eridan murmurou.

Warrehn se encolheu, sentindo como se tivesse sido esfaqueado no


estômago.

— Ou que nunca tivesse me dado a ele em primeiro lugar —, disse


Eridan, com os olhos vidrados. Ele colocou a cabeça no ombro de Idhron e
suspirou, parecendo absolutamente infeliz. — Meu thaal quebrou. — Ele
fez beicinho. — Você fará outro para mim? Eu quero outro, Mestre.

— Suponho que sim.

— Você vai me dar outro roxo? Sei que são raros, mas quero um
roxo.

Um suspiro. — Eu vou.

Warrehn não podia acreditar no que estava vendo. Ele nunca pensou
que Castien Idhron, o Grande-Mestre daquela Ordem assustadora, pudesse
ser tão... indulgente, porque ele não conseguia pensar em uma palavra
diferente para descrever isso.

Ele sabia de uma maneira abstrata que Idhron devia gostar um


pouco do irmão por ele ter ido sozinho resgatar Eridan de seus
sequestradores, arriscando sua própria segurança, mas Warrehn nunca os
vira interagir em circunstâncias normais. É verdade que as faculdades
mentais de Eridan estavam definitivamente prejudicadas no momento, mas
as de Idhron definitivamente não estavam. E, no entanto, ele estava sentado
lá, com Eridan no colo, aguentando a tagarelice embriagada de Eridan e
satisfazendo suas mimadas exigências.

Achando que estava ficando louco, Warrehn olhou para Rohan, mas
ele podia ver a mesma perplexidade no rosto de Rohan.

Rohan deu de ombros.

— Por favor, Mestre.

Warrehn franziu a testa e voltou o olhar para Eridan.

Ele encontrou Eridan e Idhron apenas se olhando. Eles pareciam


estar tendo uma conversa silenciosa entre si, o que só serviu para irritar
Warrehn ainda mais.

— Não —, disse Idhron finalmente.


— Mas Mestre —, Eridan falou, todos os enormes olhos violeta e
lábios amuados.

Warrehn ficou sinceramente surpreso por Idhron continuar a tolerar


isso. Ele nunca pensara que o homem tivesse alguma paciência com o
lamento de alguém.

Em vez de gritar com ele como Warrehn esperava, Idhron pegou o


queixo de Eridan, pressionando os dedos contra seu ponto telepático.

Eridan tremeu, seus olhos se fecharam e seus lábios se


separaram. — Mestre…

Warrehn não conseguia ver o rosto de Idhron desse ângulo, mas ele
podia ver uma contração muscular em sua mandíbula quando ela se apertou.

— Olhe para mim, Eridan —, disse Idhron, sua voz baixa, mas
imponente.

Quando Eridan ergueu os cílios, Idhron disse: — Vou abrir nosso


vínculo lentamente. Vou abri-lo apenas o suficiente para fazer seus
hormônios se estabilizarem. Você não será ganancioso. Você vai aceitar o
que eu vou lhe dar e não vai me pedir mais. Estamos entendido?

As sobrancelhas de Eridan se franziram. Ele assentiu ansiosamente.

Warrehn desejou poder desviar o olhar — isso parecia


desconfortavelmente íntimo — mas ele não podia. Ele era responsável por
seu irmão e não confiava em Idhron, especialmente quando Eridan estava
em um estado tão vulnerável.

Ele esticou os sentidos, tentando monitorar o que Idhron estava


fazendo, mas ele mal conseguia sentir algo além do fato de que a marca
telepática de Idhron ficara mais entrelaçada com a de Eridan, envolvendo-o
com mais força, como uma cobra gigante em torno de sua vítima.

Exceto que Eridan não parecia estar sofrendo. Ele ofegou, seus
olhos vidrados, suas bochechas corando. Ele parecia absolutamente
satisfeito.

Warrehn desviou o olhar, desconfortável demais para assistir por


mais tempo. Ele olhou para Rohan e o encontrou encarando o par
estranhamente.

— O que? — Warrehn disse, aproximando-se do amigo. — Você


consegue sentir alguma coisa?

Rohan não desviou o olhar de Idhron e Eridan enquanto


murmurava: — Seu irmão está apaixonado por ele, War.

Warrehn olhou para ele, odiando-o um pouco por dizer o que ele
estava se esforçando muito para não pensar. — Isso é apenas... alguma
paixão infantil, só isso. Isso desaparecerá quando Idhron bloquear a parte
retrocessa de seu cérebro.

Rohan cantarolava, seus olhos escuros cheios de ceticismo.

Antes que Warrehn pudesse dizer alguma coisa, sentiu a mudança


em Eridan, sentiu a mente de seu irmão se afastando daquele estado
inebriado e estranho.

— Mestre? — Ele disse, desta vez parecendo um pouco cauteloso


— e algo mais.

Warrehn voltou para ele. — Como você está?

O olhar de Eridan passou de Idhron para ele, e Warrehn ficou


aliviado ao ver que seus olhos estavam mais claros e mais cautelosos.

— Estou bem —, disse Eridan. — O que aconteceu? — Ele voltou o


olhar para Idhron e corou, como se só agora percebesse que estava no colo
dele. Ele se afastou, evitando os olhos de Idhron.

— Você não se lembra de nada? — Warrehn disse.

— Eu me lembro, mas é tudo um pouco nebuloso, para ser honesto.


— Eridan lambeu os lábios e fez uma careta. — Eu realmente tive um
ataque de pânico em público?

— Eu não chamaria isso de ataque de pânico —, disse Warrehn. —


Você parecia estar a momentos de uma parada cardíaca.

Eridan deu de ombros, baixando o olhar. — Você está exagerando,


War. Foi apenas um ataque de pânico. Sou propenso a eles desde
criança. Deveríamos voltar para a recepção ou serei o assunto dos
fofoqueiros.

Warrehn bufou. — Você já é garoto. Com o jeito que você se


agarrou a ele, é inevitável.

— Isso não foi um problema —, Rohan interrompeu, sua voz


pensativa. — Simplesmente dissemos a todos que você foi criada no
mosteiro. Até agora, as pessoas não tinham ideia de que você era próximo
ao Grande-Mestre.

Eridan não parecia disposto a olhar nos olhos de ninguém. — Não


tão perto —, disse ele com um leve sorriso. — Não importa. Devemos
voltar para a recepção. Eu posso lidar com fofocas.

Ele se virou para sair quando Idhron disse: — Eridan.

Warrehn não gostou de como aquela única palavra afetou seu


irmão. Eridan endureceu, seu rosto ficando anormalmente branco. Ele
respirou fundo antes de finalmente voltar. — Sim?

Warrehn franziu a testa, sentindo algo no padrão de fala de


Eridan. Levou um momento para perceber que parecia que deveria haver
uma palavra depois do Sim de Eridan, mas Eridan se interrompeu no último
momento.

Certo. O maldito Mestre estava faltando; foi por isso que o padrão
de fala de Eridan pareceu tão estranho. Warrehn se perguntou se Idhron
percebeu.
Algo mudou na expressão de Idhron, mas por outro lado seu rosto
permaneceu ilegível quando ele e Eridan se entreolharam.

— Você não pode simplesmente fingir que o problema não existe


—, disse Idhron. — Você pode se sentir melhor agora, mas terá outro
episódio se o problema não for tratado.

Eridan cruzou os braços sobre o peito. — O problema? Eu não sei


do que você está falando, M...— Ele se interrompeu novamente. Warrehn
não sabia por que se dava ao trabalho quando era tão óbvio.

— Pare de fingir ignorância. — Havia uma irritação perceptível na


presença telepática de Idhron agora. — Você é mais esperto que isso. Eu te
ensinei melhor que isso, Eridan.

— Vossa Alteza. Não sou mais seu aprendiz, Vossa Graça.

Um músculo se contraiu na mandíbula de Idhron.

Warrehn nunca tinha visto aquele homem ser tão expressivo com
suas emoções.

— Pare de se comportar como um pirralho, Eridan —, disse


Idhron. — E sua tentativa de mudar de assunto é muito transparente. Isso é
uma questão de saúde.

Eridan levantou o queixo, franzindo os lábios carnudos. — Minha


saúde não é mais uma preocupação sua. Meu irmão e eu vamos resolver o
problema. Bom dia para você, Vossa Graça. — Ele voltou-se para a porta,
mas a voz de Idhron o deteve novamente.

— Não é nada para se envergonhar, seu garoto tolo —, disse Idhron,


sua voz tingida de irritação. — Você acha que é o primeiro retrocesso que
fixou-se em seu Mestre?

Dois pontos rosa apareceram nas bochechas de Eridan. — Eu não


estou envergonhado —, disse ele, olhando para Idhron. — Não é minha
culpa que você era a única pessoa com quem passava algum tempo. Quando
a escolha é tão limitada, não se pode culpar o mau gosto.

O rosto de Idhron permaneceu vazio, mas de uma maneira que


tornara óbvia que ele se esforçara para torná-lo tão inexpressivo. Havia um
aperto em sua boca que não parecia natural. — Seja como for, você precisa
de tratamento —, disse ele. — Agora que você me chamou publicamente de
Mestre, se algo acontecer com você, isso refletirá mal em mim — e na
Ordem.

Eridan fez uma careta para ele. — Tudo bem —, ele rosnou. — Que
tipo de tratamento?

— A parte do seu cérebro que é única para retrocessos pode ser


bloqueada —, disse Idhron, sem desviar o olhar de Eridan. — Essa é a
prática normal da Ordem em tais situações. Depois de bloqueá-la, você não
será diferente dos calluvianos que não possuem o gene dos retrocessos.

Eridan franziu a testa. — Eu nunca ouvi falar disso —, disse ele,


cético. — Você pode fazer isso agora?

A expressão de Idhron estava bastante apertada. — Não é um


procedimento simples, pois o bloquio precisa ser permanente para ser
eficaz. Fazê-lo na casa de outra pessoa é desaconselhável. Você pode não se
sentir bem depois.

— Tudo bem —, disse Eridan depois de um momento. — Eu irei ao


mosteiro amanhã.

— Não — interrompeu Warrehn. — Que Idhron venha ao nosso


palácio. Eu quero monitorar o que ele vai fazer com você.

— Muito bem —, disse Idhron antes de se levantar e passar por eles


em direção à porta.

Assim que a porta se fechou atrás dele, algo mudou em Eridan. Ele
parecia desanimado, a luta nele, o fogo em seus olhos — desapareceu. Isso
fez Warrehn querer dar um soco em alguém, de preferência no rosto altivo e
sem emoção de Idhron.

Colocou a mão no ombro de Eridan e disse, rispidamente: — Tudo


vai dar certo, Eri. Ele vai consertar e depois isso vai acabar. Você nunca
mais precisará vê-lo.

— Sim —, disse Eridan com um sorriso torto que fez o estômago de


Warrehn se contorcer. — Vamos voltar para a recepção do casamento e ver
o quão ruim é a fofoca.

Warrehn trocou um olhar com Rohan, que balançou a cabeça, e


Warrehn conteve as perguntas que queria fazer.

— Tudo bem —, disse ele. — Vamos lá.

Eridan sorriu mais largo, sua mão subindo para a garganta — para o
thaal quebrado — antes de parar e se ficar ao seu lado. — Certo
—, disse Eridan. — Vamos lá.
CAPÍTULO 26
O Informante

Fofocas da Sociedade Calluviana

ALTO HRONTHAR DESMISTIFICADO: QUE SEGREDOS A


ORDEM ESCONDE?

Poucos casamentos reais nos últimos séculos foram tão pródigos ou


escandalosos quanto o casamento entre o príncipe Ksar e o príncipe
Seyn. Deixando à parte as circunstâncias escandalosas do noivado, a
recepção do casamento também foi uma mina de ouro para as fofocas mais
deliciosas.

Quando os noivos terminaram de dizer seus votos de casamento,


houve uma comoção entre os convidados: o rei Warrehn, do Quinto Grande
Clã, estava se preocupado com seu irmão, o príncipe Eridan, que parecia
terrivelmente pálido e parecia tonto. Por um golpe de sorte, este autor
estava perto o suficiente deles para ouvir tudo o que estava sendo dito.

Parece que o príncipe Eridan estava com muita dor e estava tendo
problemas para respirar, experimentando algo semelhante a um ataque de
pânico. Seus escudos mentais pareciam ter falhado, e ele estava emanando
angústia para todos os que estavam por perto. Isso por si só não seria
digno de nota se não fosse pelo que aconteceu depois.

Para dizer a verdade, este autor não sabia ao certo o que estava
acontecendo: em um momento o príncipe Eridan estava exalando angústia
e, no outro, não estava mais.
Talvez tivesse permanecido um mistério se o Alto Adepto não tivesse
se aproximado do príncipe e o príncipe praticamente não tivesse caído em
seus braços. Foi deliciosamente escandaloso, mas talvez isso também
permanecesse um mistério se o príncipe Eridan não considerasse o Alto
Adepto como “Mestre”.

Agora, meus queridos leitores, vocês devem estar se perguntando o


que isso poderia significar, mas não temam, a Fofoca da Sociedade
Calluviana investigou isso para você!

Uma fonte se apresentou e respondeu às nossas perguntas. Ele


queria permanecer anônimo e, é claro, respeitaremos seus desejos.

Aqui está a transcrição da nossa entrevista:

I: O que significa “Mestre”?

S: Esse é o título para os adeptos da mente que alcançam o posto de


Mestre ou Mestre Acólito, embora, no caso de Eridan, ele provavelmente
esteja se dirigindo ao Mestre Idhron dessa maneira porque o Mestre Idhron
era literalmente seu Mestre, seu professor.

E: Você está dizendo que o príncipe Eridan era aluno do Alto


Adepto?

S: Aprendiz. O aprendiz não é um simples aluno. Muitos mestres


ensinam outros iniciantes no salão dos iniciados, mas reivindicar um
aprendiz é muito mais significativo. O relacionamento entre um mestre e
seu aprendiz é... íntimo, suponho.

I: Íntimo?

S: Sim. Tudo o que ouvi indica que o relacionamento está próximo a


isso, às vezes de maneira inadequada.

E: Você está insinuando o que eu acho que está insinuando?

S: [parece hesitar] O Alto Hronthar tem suas próprias regras, e


nossas regras proíbem um relacionamento sexual entre um Mestre e seu
aprendiz.

E: Não estou ouvindo um não.

S: Olha, eu só posso especular. Havia todo tipo de boatos sobre o


Grande-Mestre e seu aprendiz, mas às vezes as fofocas podem ser
maliciosas e enganosas...

E: Mas o que você acha? Dê-nos a sua opinião. Entendemos que é


apenas especulação.

S: Eu não quero ter problemas. Mas... Sim, se eu tivesse que


adivinhar, eu apostaria em Eridan usou o seu [censurado] para fazer o
Mestre Idhron escolhê-lo para ser seu aprendiz. Eridan não passava de
uma pessoa problemática quando era um iniciado. Eu nunca acreditaria
que um grande mestre como o mestre Idhron escolheria Eridan por
qualquer outro motivo.

Agora, queridos leitores, você deve ter em mente que nossa fonte
pode estar errada ou estar sendo desonesta. Não foi possível verificar suas
alegações, pois ninguém da Ordem se apresentou até agora.

De fato, este autor está certo de que nossa fonte deve estar
enganada, e a opinião da fonte de maneira alguma reflete a de fofocas da
Sociedade Calluviana. Temos apenas o maior respeito pelo Alto Adepto e
pelo príncipe Eridan, mas achamos que era nosso dever sagrado como
jornalistas manter o público informado e contar a história completa, sob
todas as perspectivas.

***

A mestre Amara Ghyn Idhron fazia parte da Organização havia


tanto tempo que gostava de pensar que nada mais a surpreendia. Em seus
cento e cinquenta e dois anos de vida, ela sobreviveu a quatro Grandes
Mestres e teve que admitir que havia se distanciado um pouco da política
mesquinha da Organização. Ela ainda interferia quando necessário, mas
principalmente se mantinha longe disso.

Felizmente, Castien tinha pouca tolerância a fofocas e favoritismo, e


a Organização sob sua liderança era muito mais suportável do que
costumava ser antigamente. Castien sempre fora um garoto esperto, pensou
Amara. Bem, ele não era mais um garoto, supunha ela, mas com a idade
avançada, qualquer pessoa com menos de sessenta anos parecia um
menino. E em sua defesa, era difícil vê-lo como qualquer outra coisa,
exceto um menino, porque ele havia sido aprendiz do próprio aprendiz de
Amara. Algo como um neto. Um neto que a exasperava e a enfurecia às
vezes.

Castien sempre fora ambicioso demais para o gosto dela,


manipulador demais e absolutamente cruel quando achava que era
necessário. O precioso garoto dele, Eridan, suavizou um pouco as suas
arestas de uma maneira que ninguém jamais foi capaz de fazer, que era o
que Amara esperava quando ela forçou Castien a finalmente reivindicar o
garoto a anos atrás. Ficou satisfeita ao notar que seus instintos estavam
corretos e que aquele menino formado por uma bagunça emocional
complementava muito bem o seu Mestre. Foi por isso que Amara ficou tão
triste ao saber que o garoto havia deixado a Ordem. Era uma pena.

Ela estava sutilmente pressionando Castien a contratar outro


aprendiz, mas até agora seus esforços foram em vão.

E ela estava finalmente começando a entender o porquê.

Amara olhou ao redor da Câmara da Organização, notando as


expressões de desconforto, confusão e desaprovação nos rostos de outros
Mestres, antes de voltar o olhar para Castien. Seu rosto estava tão calmo e
estoico como sempre, como se ele não tivesse acabado de lançar uma
bomba no meio deles.

Mestre Zaid pigarreou, finalmente quebrando o silêncio. — Deixe-


me ver se entendi —, disse ele, sua voz pingando com sarcasmo preguiçoso.
— Você fodeu aquele garoto que estava fixado em você, e ontem ele fez um
espetáculo em público, e agora todos em Calluvia estão curiosos sobre o seu
relacionamento com ele e com a Ordem em geral. Maravilhoso.

Amara respirou fundo. Ela também gostava muito de Zaid — ele


também era seu bisneto, o aprendiz de seu segundo aprendiz —, mas esse
garoto podia ser absolutamente impossível, tão irritante quanto Castien,
embora de uma maneira diferente. O fato de ele se atrever a falar com o
Grande Mestre da Ordem em um tom desse tipo nem nasceu de sua
familiaridade com Castien como um colega que compartilhava a mesma
linhagem que ele; Zaid tinha sido assim com todo Grande-Mestre, não
apenas com Castien. Aquele garoto era tão indisciplinado.

A julgar pelo ligeiro estreitamento dos olhos de Castien, ele também


não apreciava a insolência de Zaid.

— O que fiz com meu aprendiz não é da sua conta. — disse Castien
friamente. — Estou apenas informando a todos, para que vocês não fiquem
surpresos com a crescente curiosidade das pessoas sobre o assunto.

— Com todo o respeito, mas você fez disso da nossa conta também,
Mestre —, disse Kuli, com a voz baixa, mas firme. — Embora eu não
concorde com o jeito que Zaid falou, o assunto é preocupante e pode atingir
toda a Ordem.

— Exatamente —, disse Zaid, seus olhos cinzentos focando em


Castien. — Eu não me importo se você fodeu aquele lindo garoto — eu
ficaria mais surpreso se você não tivesse feito — mas eu não entendo por
que você não apagou a memória dele e qualquer informação sensível que
ele possuía antes de deixá-lo ir. Essa era o caminho mais fácil que você
poderia ter feito para evitar essa bagunça.

Amara apertou os lábios, sem surpresa pela falta de ética de


Zaid. Mas não importava o quão desagradável fosse essa solução, ela tinha
que admitir que era uma solução, por mais moralmente errada que seja. Ela
ficou bastante surpresa que Castien não tivesse tomado esse caminho.

Castien abaixou o seu olhar para fitar Zaid. — Isso teria sido um
desperdício de nossos recursos e tempo —, disse ele. — Eridan pode ter
voltado para sua família, mas ele ainda foi criado e ensinado por nós. Não
passamos duas décadas treinando-o para depois apagar a sua memória e
acabar com ela.

Zaid ergueu as sobrancelhas escuras. — Tenho certeza que é por


isso que você não apagou a memória dele.

Os olhos de Castien se estreitaram, sua raiva queimando, fria e


cortante. — Se você tem algo a dizer, diga.

Antes que seus dois grandes aprendizes pudessem começar a brigar,


Amara interrompeu: — Não é hora de brigarmos. Com o crescente
escrutínio da Ordem, não podemos permitir isso. Nós devemos apresentar
uma frente unida.

A tensão em torno de Castien se dissipou quando ele se virou para


ela. — Eu concordo, Mestre Amara —, disse ele, dispensando Zaid com um
olhar irônico.

A mandíbula de Zaid se apertou.

Amara desviou o olhar sobre ele, fazendo uma anotação mental para
monitorar a situação. Castien e Zaid sempre brigaram quando eram
meninos, como dois irmãos que eram muito diferentes entre si e que não se
davam bem, e isso não mudou muito quando eles cresceram.

— Temos um traidor entre nós —, disse Castien, olhando todos os


mestres nos olhos, um por um. — Provavelmente um iniciante não
reclamado ou um membro do departamento de assistência técnica que se
ressente de não ter sido escolhido por um Mestre. No entanto, também pode
ser uma maneira de desviar a atenção de sua identidade. Essa “fonte” do
artigo, quem quer que seja, precisa ser identificada o mais rápido
possível. Se eles estavam dispostos a fofocar Eridan e eu em busca de
lucros, não há como impedi-los de explanar todos os segredos da Ordem em
outro momento.

Inquietação encheu a sala.


— Procure pessoas que não estavam em Hronthar após a recepção
do casamento —, disse Castien. — Elimine aqueles que tinham um motivo
válido para sair e têm poucos motivos para ter ressentimentos sobre
Eridan. Traga-me os nomes. Eu cuidarei do resto.

Amara estremeceu. Ela tinha pouca dúvida de como Castien iria


lidar com isso. Castien sempre foi pouco misericordioso com aqueles que
considerava traidores.

— Como você pode ter certeza de que Eridan era o alvo, e não
você? — Amara disse.

O olhar de Castien percorreu os membros da Organização, afiado e


penetrante. — Meus inimigos não são estúpidos o suficiente para pensar
que um artigo como esse faria qualquer coisa comigo. O artigo tinha como
objetivo prejudicar Eridan e a sua posição social. Ao procurar os suspeitos,
preste mais atenção nos iniciantes que tiveram conflitos com Eridan em
algum momento. — Ele olhou para o relógio e se levantou. — Vocês estão
dispensados. Estou quase atrasado para a minha consulta.

E ele saiu da câmara enquanto os Mestres se curvavam.

Amara franziu a testa, perturbada.

Havia algo de errado com Castien.


CAPÍTULO 27
Um Ato de Bondade

— Ele está atrasado —, Warrehn resmungou, andando pela sala.

Eridan olhou para as mãos. — Ele provavelmente teve que lidar


com as consequências desse artigo.

Suas palavras apenas fizeram Warrehn fazer uma careta. — Eu os


processarei por difamação.

— Não —, disse Eridan. — Isso não daria em nada, porque esse


blog de fofocas sempre publica coisas como se não fosse a opinião deles e
eles fossem apenas os mensageiros. Além disso, processá-los só daria mais
publicidade. Devemos ignorá-los.

— Mas temos que divulgar que o que eles escreveram sobre você é
uma babaquice.

Eridan sentiu uma onda de carinho por seu irmão. Warrehn nem se
quer duvidou que o artigo estivesse mentindo.

— As pessoas vão fofocar de qualquer maneira. Deixa eles pra lá.

Warrehn franziu o cenho para ele. — Como você está tão calmo
sobre isso?

Eridan deu de ombros com um sorriso torto. — Anos na Ordem me


deu mais experiência com isso. Quando você é aprendiz do Grande-Mestre,
sempre é alvo de fofocas. Não é a primeira vez que ouvi alguém insinuar
que meu Mestre me escolheu só porque eu chupei seu pau.
Warrehn corou, parecendo profundamente desconfortável. —
Eridan... — ele disse, parecendo estranhamente hesitante com ele. — Ele
não... Ele não forçou você a—

— Não. Chupar seu pau não era um requisito para me tornar seu
aprendiz, War — disse Eridan calmamente, baixando o olhar. — Ele me
reivindicou preliminarmente quando eu ainda era criança.

Olhe pra ele, mentindo sem necessariamente mentir.

Eridan suprimiu uma pontada de culpa, dizendo a si mesmo que era


uma pequena omissão, que não importava muito. O que quer que ele e
Castien tenham sido um para o outro, aconteceu anos mais tarde. E acabou,
de qualquer maneira. Tinha terminado.

— O Alto Adepto está aqui, Majestade —, anunciaram a IA deles.

Eridan tentou não ficar tenso, ciente de que Warrehn o observava


atentamente.

Ele respirou fundo. — Você poderia nos deixar à sós, War?

— Por quê?

— Há coisas que ele não vai falar se você estiver presente. Assuntos
de High Hronthar.

Warrehn apertou os lábios. — Eu não confio nele sozinho com você.

Eridan riu. — Warrehn, estou sozinho com ele há anos. Eu posso


lidar com ele. Eu posso lidar com ele muito melhor do que você.

Warrehn fez uma careta, mas acenou com a cabeça e saiu da


sala. Eridan pode ouvi-lo trocar algumas palavras concisas com Castien no
corredor. Eridan engoliu em seco, seu estômago se contorcendo.

Calma. Ele poderia ficar calmo. Ele poderia se acalmar e se


recompor. Ele era um príncipe. Ele era-
Castien entrou na sala.

Suas pesadas vestes e botas pretas foram a primeira coisa que Eridan
reparou. Ele não pôde deixar de sentir uma onda de carinho. Parecia que
Castien ainda não gostava de usar as vestes brancas do Grande-Mestre.

Lentamente, ele levantou o olhar, reforçando seus escudos mentais


enquanto sua onda telepática avançava avidamente.

Seus olhares se encontraram e Eridan lambeu os lábios que estavam


secos. Parecia que sua mente estava em branco, e ele não conseguia pensar
em nada além de quero você-preciso de você-por que você está tão longe?

Castien olhou para Eridan, quase sombriamente, antes de finalmente


avançar.

Eridan ficou de pé, as pernas tremendamente trêmulas. Ele


sentiu um peso entre as pernas, escorregando pelas coxas quanto mais perto
seu Mestre se aproximava. Ele odiava seu corpo.

— Vossa Graça —, ele se ouviu dizer.

Castien olhou para ele friamente. — Pare de me chamar assim. Não


há ninguém aqui além de nós. Se você espera que eu o chame de Alteza,
pode esperar sentado.

Eridan levantou o queixo e cruzou os braços sobre o peito. — Mas é


assim que você deve me chamar —, disse ele, odiando o quanto queria se
aproximar de seu Mestre e enterrar o rosto no seu peito largo, sentir os
braços dele ao seu redor e sentir a mente dele dentro da sua.

— Não estou interessado em conversar com o príncipe Eruadarhd


—, disse Castien, aproximando-se até ficarem cara a cara.

Ele podia sentir o seu cheiro, o cheiro do ar fresco da montanha,


pinheiros e algo mais, o perfume que ele associava somente a Castien.

Eridan engoliu em seco, molhando os lábios com a língua enquanto


tentava não encarar a boca firme de Castien. Ele nunca quis ser tão beijado
em sua vida. Fazia tanto tempo.

Um músculo se contraiu na mandíbula de Castien. — Você cria


muitos problemas, mesmo quando não faz mais parte da Ordem —, ele
disse laconicamente. — Vire-se.

Eridan se virou.

Somente depois de fazer isso, ele percebeu o quanto a ação simples


havia revelado. Ele nem pensou em questionar a ordem.

Ele sentiu as mãos de Castien em seus cabelos, afastando-os e


revelando o seu pescoço.

Eridan prendeu o lábio inferior entre os dentes, o estômago


revirando quando sentiu a respiração de Castien em sua nuca. Ele estava
tremendo, levemente, com a pele sensível demais, a parte inferior do corpo
doendo de desejo.

— Você não é mais um membro da Ordem —, disse Castien, sua


voz baixa. — Você não pode usá-lo como um thaal.

Eridan piscou, sentindo-se confuso até sentir um peso em volta do


pescoço. Olhando para baixo, ele olhou fixamente o dethrenyte roxo em
uma delicada corrente de ouro. Ele podia sentir o calor da marca telepática
de Castien dentro da pedra roxa enquanto ela descansava contra seu peito. A
corrente era mais longa que as fitas tradicionais de um thaal: não era para
ser exibida com orgulho, mas para ser escondida de todos os outros.

De repente, a garganta de Eridan se fechou. Isso era algo que apenas


os dois saberiam. Ele amou e odiou a ideia.

Ele amou que Castien estivesse quebrando as regras por ele, dando a
ele algo que um Mestre dava apenas a um aprendiz. Ele odiava que, embora
essa pedra preciosa fosse perfeitamente funcional com o objetivo de
centralizá-lo, não era um thaal. Ele nunca mais poderia usar um thaal que
marcaria Castien como seu mestre para todos que se importassem em olhar.
Porra, quão bagunçado era isso? Ele finalmente tinha uma
família. Por que diabos ele ainda se sentia assim? É tão idiota, esse desejo
de pertencer a esse homem frio e insensível que nunca lhe prometeu nada
disso. Eridan nunca se odiou tanto. Seus olhos ardiam e ele teve que piscar
para afastar as lágrimas de raiva. Ele estava feliz por estar de costas para
Castien, e seu antigo Mestre não veria o quão patético ele estava sendo.

Mordendo o interior de sua bochecha, Eridan disse laconicamente:


— Obrigado. Embora eu suponho que não precisarei disso depois que você
bloquear a parte retrocessa do meu cérebro.

Ele sentiu a tensão no corpo de Castien atrás dele, quase tão


intensamente como se fosse dele.

— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Castien disse. —


Isso pode afetar sua telepatia. Sem mencionar que isso também afetará seu
corpo, de maneira bastante drástica, já que os hormônios responsáveis por
algumas de suas funções corporais não serão mais produzidos.

Os lábios de Eridan torceram. — Você quer dizer que eu vou parar


de vazar como uma cadela no cio quando estiver excitado? Já vai tarde.

Colocando a mão no ombro, Castien virou Eridan. Seu rosto estava


sombrio, seus olhos azuis atentos quando seus olhares se encontraram. —
Isso não é brincadeira, Eridan. Obviamente, não tenho experiência pessoal
com isso, mas estou familiarizado com os relatos de retrocessos que
passaram por esse procedimento. Todos relataram uma significativa
desorientação e, para alguns, a experiência foi muito traumatizante. Eles
disseram que parecia que eles estavam em outro corpo.

Eridan sorriu sem humor. — Não me diga que você está preocupado
comigo.

O rosto de Castien ficou em branco. — Eu não disse isso. Você não


é mais meu aprendiz. Preocupar-se com você não é mais meu trabalho.

— Exatamente. Vamos acabar logo com isso. Mas antes de


começarmos, tenho um pedido. — Ele olhou Castien nos olhos e forçou as
palavras a sair. — Eu quero que você apague todas as minhas memórias
sobre você.

As narinas de Castien alargaram-se. — Você não pode estar falando


sério.

— Estou falando muito sério, Mestre —, disse Eridan suavemente.

Castien olhou para ele.

O silêncio se estendeu, tenso e denso.

— Você perderia uma quantidade significativa de conhecimento,


tudo o que eu te ensinei.

Eridan assentiu. — Eu sei. Está tudo bem. Contanto que eu não me


lembre de você. Ele não disse isso em voz alta, mas sabia que Castien sabia
o que ele queria dizer. Ele podia sentir isso pela maneira como a presença
telepática de Castien ficou tensa e pulsava ao seu redor, de forma inquieta.

— Isso é ridículo, Eridan —, ele disse. — Só porque você está


envergonhado com a seus sentimentos—

— Eu não estou envergonhado —, disse Eridan calmamente e


finalmente admitiu algo que estava negando, mesmo na privacidade de seus
pensamentos. — Isso dói, Mestre.

Castien ficou muito quieto.

Eridan deu uma risadinha sem humor. — Você pode não ter esses
sentimentos traquinas, mas eu tenho. Você me conhece, você sabe que
minhas emoções me dominam. Eu não posso... — Ele engoliu. — Não
tenho certeza de que bloquear meus instintos de retrocesso afetará qualquer
coisa. Não é apenas meu rombencéfalo. Está—

— Não —, disse Castien, sua expressão levemente apertada.

— Não, eu preciso dizer isso. — Eridan sorriu brilhantemente, como


se seus olhos não estivessem ardendo e sua garganta não estivesse
desconfortavelmente apertada. — Vou ter que incomodá-lo com minhas
emoções nojentas apenas mais uma vez. Eu... — Ele olhou em volta do
quarto luxuoso. — Finalmente tenho uma família. Um irmão que me
ama. Eu quero ser feliz. Quero ser genuinamente feliz em vez de precisar de
um homem que não dá a mínima para mim. Não quero precisar de você. —
Ele olhou Castien nos olhos. — Eu não quero te amar.

A mandíbula de Castien se apertou.

Eridan riu. — Não finja que não sabia, mestre. Você sabe de
tudo. Você usa as emoções de outras pessoas para manipulá-las, então eu
nunca acreditaria que de alguma forma você não tenha sentido que o seu
próprio aprendiz esteja estupidamente apaixonado por você.

Quando Castien não disse nada, Eridan tomou isso como uma
confirmação.

Ele assentiu para si mesmo, seu peito doendo. Ou talvez fosse seu
tolo coração.

— Faça isso —, disse ele através do nó na garganta. — Não se


preocupe, eu gravei uma mensagem para meu irmão, para que ele soubesse
que você fez somente o que eu pedi. Ele não irá culpar você.

Castien desviou o olhar, sua mandíbula travando. Apesar dos


escudos estarem levantados nas duas extremidades do vínculo, Eridan podia
sentir uma emoção sombria e desagradável, algo feio e venenoso. Não,
disse aquele sentimento, mas Castien permaneceu em silêncio.

— Por favor —, disse Eridan, olhando para seu perfil. — Se você já


se importou comigo pelo menos uma vez. Conceda-me essa gentileza. Eu
quero seguir em frente com a minha vida.

A escuridão no vínculo se foi. Em seu lugar, havia outra emoção,


pesada e sombria.

Castien fechou os olhos por um momento antes de dizer: — Muito


bem.
A visão de Eridan turvou-se quando ele finalmente perdeu a batalha
contra as lágrimas. Havia uma parte dele, uma parte irracional e tola que
esperava que Castien lhe dissesse que o amava de volta. Estúpido. Tão
estúpido. Pelo menos em breve ele não se lembraria mais de como era
estúpido.

O pensamento não lhe trouxesse conforto.

Ele olhou avidamente para o rosto de seu Mestre através de sua


visão embaçada, como se estivesse tentando gravá-lo em sua memória. Não
importava o que seu lado racional dissesse, havia uma parte dele que não
queria deixá-lo ir. Essa parte dele queria se apegar ao seu Mestre, beijá-lo
até que não houvesse ar em seus pulmões e implorar para que o levasse para
casa.

Não. Isso era o melhor. Esse amor tóxico e não correspondido


apenas o impediria, lhe impedia de aproveitar sua vida ao máximo. Ele
queria aprender como era amar e ser correspondido. Ele queria ter filhos
com a pessoa que amava. Ele queria sentir como se fosse o mundo de
alguém, não implorar por migalhas de afeto. Ele queria amar um homem e
envelhecer com ele, sentindo-se amado e querido.

Se as memórias que tinha do seu Mestre fossem apagadas, o


pensamento daquele homem ser alguém que não fosse deixaria de deixá-lo
nauseado. Ele simplesmente esqueceria. Ele simplesmente não saberia. Ele
simplesmente não saberia como era desejar este homem dentro de si de
todas as maneiras possíveis, como era viver por sua aprovação e atenção.

E quando Castien finalmente oficializasse seu casamento com outro


homem, o coração de Eridan não doeria — ele nem saberia que o Grande-
Mestre do Alto Hronthar havia sido seu primeiro amor não correspondido.

Tudo ficaria bem.

Tudo ficaria bem, mesmo que agora ele sentisse vontade de vomitar.

Esta era a decisão certa.


Era sim.

— Será melhor se você estiver inconsciente para o procedimento —,


disse Castien, sua voz levemente cortada. — Vou ter que desativar as
armadilhas mentais primeiro.

Eridan assentiu.

Castien apontou para o sofá, e Eridan se aproximou dele e se deitou.

Seu Mestre se ajoelhou ao lado dele, e então sentiu um toque em seu


ponto telepático, fazendo-o tremer incontrolavelmente de necessidade.

— Deixe sua mente aberta para mim —, disse Castien. — Abaixe


seus escudos completamente.

Eridan fez como lhe foi dito. Ele não estava com medo. Mesmo
depois de tudo, ele confiava nele. A realização foi agridoce quando eles se
entreolharam, apenas um Mestre e um aprendiz, pela última vez.

Durma.

Ele sentiu um peso repentino nos olhos e lentamente, muito


lentamente, fechou os olhos.

A última coisa que ele viu antes de dormir e tentou gravar foram os
olhos azuis de Castien.

Eles estavam brilhando?

E então tudo estava preto.

***

Ele acordou lentamente, sentindo-se lento e desorientado.


Ele também sentiu uma forte dor de cabeça.

Eridan abriu os olhos e sentou-se lentamente, gemendo


miseravelmente quando a dor de cabeça piorou. Porra. O que havia de
errado com ele?

— Você está bem?

Ele se virou para a voz baixa sobressalente.

Havia um homem alto parado junto à janela, vestindo as vestes


negras que o denotavam como um Mestre do Alto Hronthar. Seu rosto era...
vagamente familiar, de uma maneira que alguém se lembraria como um
sonho. Eridan não o reconheceu.

Ele franziu a testa, confuso e ficou de pé. — Quem é você?

Embora o rosto do homem permanecesse ilegível, algo em sua


presença telepática mudou. Era... algo turvo.

O homem apenas o encarou por um longo momento, seus olhos


muito azuis vagando pelo rosto de Eridan com uma expressão estranha e
intensa, antes de dizer em voz baixa: — Ninguém. — Ele caminhou em
direção à porta.

Totalmente confuso, Eridan bloqueou seu caminho. — Espere —,


ele disse desconfiado, colocando a mão no peito do homem. — Você fez
alguma coisa comigo? Por que eu estava dormindo se você estava no
quarto?

Tentativamente o homem pôs uma mão no pulso de Eridan, como se


estivesse segurando uma cobra venenosa, e retirou a mão de Eridan do
peito.

Seus olhares se encontraram, e algo mudou nos olhos do outro


homem. Eles pareciam que tinham suavizados, só um pouco.

O adepto da mente se inclinou e roçou os lábios secos na testa de


Eridan.
Os olhos de Eridan se arregalaram.

— Espero que você tenha uma vida feliz. —, disse o homem, com a
voz baixa. — Adeus, príncipe Eruadarhd.

E ele saiu da sala, deixando Eridan olhando para ele, perplexo.


CAPÍTULO 28
Descongelamento

Amara estava irritada.

Ela não era mais uma jovem garota que corria de um lugar para
outro em busca de seu aprendiz bisneto. Sua mente podia estar afiada, mas
seus ossos não eram mais tão fortes como antigamente. Castien deveria ter
dito a ela que ele não estava no mosteiro quando ela o ligara, informando-o
de seu desejo de conversar com ele. Ela teve que viajar do mosteiro para
High Hronthar, mas Castien também não estava no castelo, e o comunicador
estava desligado.

Após extensas investigações, ela conseguiu descobrir que ele estava


em sua mansão pessoal no Distrito Quatro. Isso a intrigou profundamente.
Em geral, os Grandes Mestres se mudavam de forma definitiva para o
castelo após a promoção de seu cargo. Amara não conseguia entender o que
ele poderia estar fazendo em sua antiga casa.

A resposta acabou sendo bastante banal: ele estava trabalhando.

Castien estava em seu escritório, focado inteiramente no texto


holográfico pairando no ar à sua frente. Desse ângulo, Amara não podia ver
bem o texto, mas parecia ser um relatório sobre o crescimento da influência
da Ordem no planeta Vergx.

Amara pigarreou e ele murmurou, sem desviar o olhar dos


holodados: — Me dê um momento, Mestre Amara.

Ela assentiu e, por falta de algo melhor para fazer, olhou a sala ao
seu redor. Ela não esteve aqui muitas vezes. Em todos os anos em que
Castien morou nesta mansão, ela podia contar o número de vezes que esteve
nesta sala nos dedos de sua mão. Castien tinha outro escritório nesta casa
que ele usava para reuniões.

Este quarto era... aconchegante. Provavelmente era ainda mais


aconchegante quando a lareira estava acesa. Parecia ter vida. Ela podia
sentir muitas impressões telepáticas. Telepatas poderosos tendiam a deixá-
los se passassem muito tempo em um só lugar. Elas não eram apenas de
Castien. Ela também podia sentir a impressão telepática do ex-aprendiz de
Castien. A marca telepática do garoto estava por toda a sala, mas estava
especialmente focada no sofá e na poltrona de aparência confortável à
direita de Castien. De fato, a presença telepática de Eridan era tão forte ali.
Amara se perguntou como Castien não achava isso perturbador; ela acharia
se tivesse que trabalhar com todo aquele barulho de fundo nesta sala.

Franzindo o cenho, Amara foi até a poltrona e sentou-se — ou


tentou.

A voz tensa de Castien a fez parar. — Sente-se na outra cadeira.


Essa está suja.

Amara lançou à poltrona em questão um olhar cético — parecia


perfeitamente limpa para ela — mas ela não discutiu e fez o que foi
solicitado.

Ela olhou para o homem do outro lado da mesa e percebeu que ele
parecia cansado. Foi um pensamento estranho. Castien sempre foi
implacável. Ele era uma daquelas pessoas que nunca pareciam nada menos
do que preparadas para qualquer coisa que a vida pudesse lhes lançar. Mas
ele parecia cansado agora. Ou talvez estressado.

— Está tudo bem? — Ela disse, quebrando o silêncio.

— É claro —, Ele disse, seu olhar ainda nos holodados à sua


frente. — Embora nosso controle sobre a Vergx ainda deixe muito a
desejar. Suas repúblicas são muito diferentes e cada uma exige uma
abordagem diferente.
Amara cantarolou sem compromisso. — Eu não estou aqui para
falar com você sobre a Vergx, meu querido.

Isso o fez realmente olhar para ela. Ele sabia que, se ela estava se
dirigindo a ele de maneira tão informal, ela chegara aqui na qualidade de
líder vivo de sua linhagem, e não um membro subordinado da Organização.

— Estou ouvindo —, disse ele, desligando o relatório.

— É sobre Zaid —, disse ela.

Castien fez um som desdenhoso. — Não tenho tempo nem paciência


para as travessuras dele, Mestre Amara.

— Desta vez, ele ultrapassou os limites —, disse ela com um


suspiro. — Ele está realizando uma competição não oficial entre os
iniciados pela honra de ser escolhido como seu aprendiz.

— E? — Castien rosnou, sua impaciência clara. — Isso não é


proibido pelas regras, desde que os iniciados não sejam reclamados.

Amara apertou os lábios. — Ouvi rumores de que alguns dos


iniciados o atendem sexualmente para obter sua aprovação. — O simples
pensamento a fez fazer uma careta. Seu único consolo era que, apesar de
todos os defeitos de Zaid, ele não era Tethru e nunca fora atraído por
crianças. Pelo menos esses iniciados devem ter idade suficiente. Era um
pequeno conforto. Tal comportamento estranho não era apropriado para
uma linhagem Idhron.

Castien beliscou a ponta do nariz. — Você sabe tão bem quanto eu


que se eu proibir Zaid de disputar essa competição, ele fará algo ainda mais
escandaloso só para me irritar.

Ela suspirou. — Provavelmente sim. Ele sempre foi como sua


sombra, sempre foi comparado a você, e sempre se ressentiu disso.

Castien não disse nada.


— E quanto a você? — Amara disse finalmente, quebrando o
silêncio. — Você vai ter outro aprendiz? Tenho alguns candidatos
maravilhosos, se você quiser dar uma olhada.

— Não, obrigado —, disse ele, olhando para a lareira apagada. —


Acho que gosto do silêncio.

Ela olhou para ele com ceticismo. Ele não parecia um homem que
gostava de alguma coisa, mas ela não discutiu.

— Muito bem —, disse ela, levantando-se. — Confio que você


encontrará uma solução sutil para o problema da Zaid. Você sempre faz, não
importa o que diga, Castien.

Ele permaneceu em silêncio, ainda olhando para a lareira.

Pela primeira vez, Amara sentiu um lampejo de dúvida. Ela


normalmente teria certeza de que ele lidaria com Zaid e acabaria com suas
travessuras, mas desta vez ela pôde sentir que a atenção de Castien não
estava tão presente. Sua mente parecia estar em outro lugar.

Talvez ele estivesse mesmo cansado.

— Você precisa descansar, Castien —, disse ela. — Vá dormir um


pouco. A Ordem não desmoronará se você fizer isso.

Ele assentiu e voltou-se para os relatórios novamente.

Balançando a cabeça em consternação, Amara saiu.

De certa forma, Castien era tão ruim quanto Zaid.

Eles certamente compartilhavam sua falta de respeito pelos mais


velhos.

Bem, ela sabia o que ajudaria. Ela podia ser velha, mas sabia uma
coisa ou duas sobre homens.
***

Javier respirou fundo antes de bater na porta do escritório do Mestre


Idhron.

Ele estava nervoso.

Ele era um servo com experiência e raramente ficava nervoso antes


de um trabalho, mas desta vez as circunstâncias eram um pouco
incomuns. Normalmente, seus serviços eram contratados por um Mestre
que o desejava, não por terceiros.

Ele não tinha ideia de como o Mestre Idhron reagiria, embora na


experiência de Javier os homens não recusassem a oportunidade de ter sexo
com ele.

Ele disse a si mesmo que não tinha com o que se preocupar. Tudo
bem, ele tinha algo com que se preocupar. Afinal, ele não tinha atendido
Mestre Idhron há quase dois anos, e o gosto do homem poderia ter
mudado.

— Entre —, disse Mestre Idhron.

Javier entrou. Ele caiu de joelhos, baixou o olhar e murmurou: —


Mestre.

Ele sentiu o Mestre Idhron ficar tenso. O ar na sala parecia denso


como algo terrível. Não era desejo ou luxúria, mas algo mais, algo que fez a
pele de Javier formigar de desconforto.

— O que você está vestindo? — O Grande Mestre se assustou.

O estômago de Javier caiu. Mestre Amara tinha tanta certeza de que


ele deveria usar o manto azul de um aprendiz.

— Minhas roupas não lhe agradam, Mestre? — ele disse trêmulo. —


Eu posso tirá-las.
Houve um longo e tenso silêncio.

Finalmente, Idhron suspirou. — Aquela velha intrometida —, ele


murmurou baixinho antes de dizer mais alto: — Levante-se.

Javier levantou-se, os olhos ainda baixos, de forma respeitosa.

Idhron fez um barulho irritante. — Olhe para mim.

Ele levantou o olhar, sem saber o que diabos estava acontecendo.

Javier não era estúpido. Ele podia ser apenas um servo, mas ele
pode somar um mais um. Mestre Amara tinha pensado claramente que
Mestre Idhron apreciaria se Javier se parecesse com seu ex-aprendiz. A
semelhança física entre eles era bastante óbvia, mas nas roupas de um
aprendiz e com o cabelo penteado de forma parecida, ele parecia ainda mais
com Eridan. Javier sabia disso.

Se os rumores sobre o mestre Idhron e Eridan fossem verdadeiros,


Idhron deveria ter gostado de seu traje.

E, no entanto, não havia luxúria nos olhos frios de Idhron. Em vez


disso, havia algo quase odioso neles.

Javier lambeu os lábios. — Você quer que eu vá embora, Mestre?

Outro longo e terrível silêncio.

Finalmente, Idhron disse: — Não. — Ele apontou para a poltrona ao


lado de sua mesa. — Sente-se ali.

Confuso, Javier fez como lhe foi dito.

Ele olhou com expectativa para o Grande-Mestre, esperando por


mais orientações, mas ele não disse nada. O homem voltou ao trabalho
aparentemente, sem prestar atenção.

Não, isso não estava certo: ele podia sentir que parte da atenção de
Idhron estava sempre nele, a presença telepática de Idhron agitada e
tensa. Ele fez arrepios percorrerem na espinha de Javier, e não era do tipo
agradável. Ele se sentia como se estivesse em uma sala com uma fera
perigosa que poderia atacá-lo a qualquer momento.

A tensão aumentou, aumentou, e aumentou até Javier quase sentir


mal do estômago.

Seu medo parecia irritar ainda mais o homem, sua presença


telepática se tornando mais sombria. Mais assustadora.

— Saia —, Idhron rosnou.

Javier se encolheu tanto que quase caiu da cadeira. — Mestre?


— Ele disse incerto.

— Saia —, Idhron retrucou, seus olhos brilhando quando sua


presença telepática atacou.

Parecia que ele tinha sido atingido por uma enorme onda de água
gelada. Javier cambaleou para fora da sala, ofegando por ar e com tanto
medo que quase se molhou.

Ele bateu a porta e literalmente saiu correndo de casa.

Ele correu e correu até poder respirar normalmente novamente, e a


sensação nauseante dentro dele finalmente desapareceu.

Que diabos foi aquilo?


CAPÍTULO 29
Reescrito

Ele está andando pelo Salão dos Iniciantes. Onde quer que vá,
outros iniciados lhe dão olhares hostis, exalando ciúmes, amargura e
ressentimento.

Eridan sabe que deve haver uma razão para isso, mas por mais que
tente, ele não consegue se lembrar. Tudo o que ele entende é que ninguém
quer ser seu amigo. Alguns falam sobre ele pelas costas, falam em tom
irônico e amargo, e ficam em silêncio quando ele se aproxima.

Ele só quer um amigo. Um amigo. Isso é pedir muito?

Ele só quer ter alguém que o queira por perto, que cuide dele.

Alguém que vá gostar dele.

Alguém apenas dele.

Mas não há ninguém. Não aparece ninguém por anos e anos e anos
até que seu irmão volte para busca-lo,

***

Uma boca bate contra a dele, uma língua forçando a entrada em


sua boca.
Nauseado, Eridan mordeu com força sua língua, fazendo Tethru
uivar e remover sua boca nojenta. — Seu merdinha —, Tethru sussurrou,
agarrando seu cabelo e puxando a cabeça de Eridan para o lado. Ele
agarrou o pescoço de Eridan, mordendo com tanta força que Eridan gritou
de dor. Tethru riu, empurrando-o contra a parede. — Chore. Gosto quando
garotinhos choram. — Ele empurrou sua ereção contra o estômago de
Eridan. — Mal posso esperar para colocá-lo em sua boceta. — Socorro!

Tethru ri. — Ninguém vai vir. Ninguém vai te ouvir. Quando eu


terminar com você, você estará desleixado com meu sêmen e ninguém
nunca irá querer você.

Pânico, raiva e nojo enchem seus sentidos, sua visão fica vermelha
e, antes que Eridan perceba o que está fazendo, Tethru está fazendo
barulhos estrangulados.

E então ele está morto.

Eridan empurra o corpo para longe, tremendo tanto que ele sente
vontade de arrancar a sua pele. Ele se sente sujo. Ele está imundo.

Ele era um assassino. Ele o matou. Ele matou uma pessoa.

Eridan afundou no chão quando seus joelhos cederam. Ele abraça


os joelhos e se balança para frente e para trás, olhando horrorizado para o
cadáver, as lágrimas borrando sua visão.

Ele será preso e enjaulado por isso. Ele matou o Grande-Mestre.


Ele está imundo. Imundo, imundo, imundo.

A porta se abre.

E ninguém entra.

Não há ninguém lá.

Ninguém o ajudará.

Ninguém o segurará ou o confortará.


Ele está sozinho. Existe apenas ele e o corpo.

Eridan acordou com um soluço, respirando com dificuldade e


tremendo incontrolavelmente.

Apenas um sonho, ele disse a si mesmo. Apenas mais um pesadelo


sobre algo que aconteceu séculos atrás.

Ele abraçou o travesseiro contra o peito, tentando respirar através do


pânico e apenas conseguindo pequenas lufadas.

Estava tudo bem. Ele estava bem.

Ele estava bem.

***

Warrehn parou de andar quando Ksar entrou na sala. — Obrigado


por vir em tão pouco tempo —, disse ele. — Eu sei que você está ocupado.

Ksar apenas assentiu, seus olhos prateados piscando em direção à


porta fechada do quarto de Eridan. — Não sei se posso ajudá-lo. O que
você descreveu parece ser um caso grave de depressão. Isso não é
exatamente algo que eu possa reverter.

Frustrado, Warrehn passou a mão pelo rosto. — Eu sei. Mas você


pode pelo menos tentar ver o que há de errado com ele? Ele se recusa a
falar sobre o que o está incomodando e não quer que eu veja o que está
acontecendo na sua mente. Quero saber se Idhron o machucou de alguma
forma quando apagou suas memórias.

Ksar lançou-lhe um olhar firme. — Seu irmão realmente concordou


com isso?
Warrehn deu um suspiro. — Concordou. Eu o enganei, permitindo
que você desse uma olhada em sua mente. Ele ainda não está exatamente
feliz com isso, mas... — Ele deu de ombros. — Ele não está feliz com nada
atualmente e achei isso que não poderia piorar a situação. Ele está
esperando por você. — Warrehn apontou para a porta.

Ksar desapareceu lá dentro e a espera começou.

O tempo parecia passar terrivelmente devagar.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, Ksar emergiu,


uma carranca no rosto.

— E aí? — Warrehn disse impaciente. — Idhron o detonou?

Ksar balançou a cabeça. — Pelo que pude perceber, Idhron fez


exatamente o que seu irmão pediu. Não consegui encontrar uma única
memória sobre ele. E esse é o problema, Warrehn. — Ele fez uma careta. —
A mente do seu irmão... fisicamente, é completamente saudável, mas o
problema é que Idhron foi uma parte tão significativa da vida de Eridan
durante anos que tirá-lo das memórias de Eridan parece ser muito
traumatizante. O cérebro é um órgão complexo que tenta consertar as
lacunas nas memórias criando algo que realmente não aconteceu, algo que
geralmente se baseia nos medos subconscientes de alguém. É por isso que
seu irmão está sofrendo de uma depressão grave.

Warrehn esfregou a testa. — Você não pode ajudá-lo?

Ksar deu-lhe um olhar cético. — Claro que não posso. Sou um


telepata da classe 7, não um terapeuta. Ele precisa de um curador da mente.

Warrehn se irritou. — Você não pode estar sugerindo—

— Olha, Warrehn —, disse Ksar, sua expressão um pouco tensa. —


Eu não amo o High Hronthar, mas eu tenho que admitir que há coisas que
os adeptos da mente fazem que são legitimamente boas, e isso cura traumas
mentais. — Ele olhou Warrehn nos olhos. — Você sabe que seu irmão foi
alvo de uma tentativa de abuso sexual e que ele matou o agressor?
O que?

— Não preciso lhe dizer o quão traumatizante isso normalmente


seria —, disse Ksar. — Felizmente para Eridan, na época, ele estava ligado
ao melhor especialista em mentes da Ordem. Apesar de todos os defeitos de
Idhron, ele fez bem ao garoto e curou esse trauma. Até agora. Com todas as
lembranças de Idhron apagadas, tudo que era remotamente relacionado a ele
foi apagado da mente de Eridan, incluindo todo o tratamento de cura e
trauma nesse caso. É por isso que ele está desmoronando agora. Ele precisa
de ajuda. O mais rápido possível.

— Você é um Sete. —, Warrehn resmungou em frustração. — Você


realmente não pode ajudá-lo?

Os lábios de Ksar afinaram. — Poder bruto não é tudo. Eu não sou


um curador da mente. Não tenho experiência com algo assim. Se fosse tão
simples quanto você pensa, eu teria curado meu próprio irmão quando ele
estava sofrendo de uma doença mental que estava lentamente destruindo
sua mente. Posso ser mais poderoso que Idhron, mas não tenho o mínimo
do seu conhecimento e experiência.

Warrehn suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Desculpe. Eu


sei que você está certo.

Ksar virou-se para a porta. — Ligue para o Idhron. Duvido que ele
se recuse a ajudar seu ex-aprendiz.

Warrehn franziu a testa. — Mas Eridan deve ter tido alguma razão
para querer apagar as memórias que ele tinha sobre Idhron. — Ele
suspeitava de algo, embora tentasse não pensar muito nisso.

— Quaisquer que sejam essas razões, elas não podem ser mais
importantes que a saúde mental dele —, disse Ksar com desdém. — Se
Idhron restaurar pelo menos algumas memórias relevantes relacionadas ao
ataque, isso por si só deve ajudar significativamente. — Ksar olhou para o
relógio. — Sinto muito, mas estou atrasado. Devo partir logo para o planeta
Eila e ajudá-los a resolver a guerra civil.
Warrehn assentiu distraidamente. — Obrigado por vir —, disse ele,
já pensando em como deveria convencer Eridan a ver um curandeiro.

Não seria fácil.

Droga.
CAPÍTULO 30
Um Ato de Egoísmo

Warrehn era um idiota arrogante.

Um idiota bem-intencionado, mas irritante, no entanto. Não importa


quantas vezes Eridan lhe dissesse que ele estava bem, Warrehn não o
deixava em paz, estando perto dele como uma mãe superprotetora.

Eridan se recusou a ver um curandeiro. Ele estava cansado de


alguém mexendo constantemente em seu cérebro e corpo. Já era ruim o
suficiente que ele sentisse que estava de alguma forma errado, o que,
segundo Warrehn, foi a consequência de bloquear uma parte do
cérebro. Isso trouxe outra questão: por que ele faria isso? Por que ele
consentiria em modificar parte do seu cérebro e essencialmente seu
corpo? Claro, ele nunca gostou de ser um retrocesso, mas fazia parte
dele. Ele não entendia por que ele faria isso, especialmente considerando o
quão miserável ele se sentia, tanto fisicamente quanto mentalmente. Seu
corpo parecia estranho, e sua mente estava cheia de lembranças tristes e
deprimentes que não faziam muito sentido. Os pesadelos não ajudavam, e a
maneira como ele se sentia trêmulo e pequeno depois que ele acordava
também não era exatamente divertido, mas não era a pior parte.

Ele sentia como se estivesse perdendo alguma coisa, como se quem


tivesse mexido com sua mente tivesse esquecido de colocar de volta algo
essencial quando o refizesse.

Parecia tão dramático, mas realmente era desse jeito. Parecia que
havia um vazio dentro dele que ele não conseguia explicar. Um vazio que
nada poderia preencher.
Uma dor por algo que ele não podia nomear, mas queria mesmo
assim.

***

Eridan olhou para a pedra roxa em sua mão, franzindo a testa


profundamente. Havia algo sobre isso que parecia quase familiar,
provocando uma memória que ele não conseguia entender. Ele não tinha
ideia de onde havia conseguido a pedra preciosa. Era imensamente
frustrante. Ele também não tinha ideia do por que se sentia tão apegado a
isso. Não fazia sentido. Estava longe de ser a joia mais bonita que ele
possuía, mas havia algo sobre isso... Algo reconfortante. Ele se sentia um
pouco melhor quando a usava, seu humor inexplicavelmente ficava melhor
e o desconforto diminuía. Era apenas mais uma coisa que ele não entendia
sobre sua própria mente. O seu próprio passado. Ele queria dar um soco na
pessoa que mexeu com suas memórias, exceto aparentemente que essa
pessoa tinha sido ele. Tinha sido ideia dele, segundo Warrehn.

— Vossa Alteza, você tem um visitante —, anunciou a IA do


palácio.

Eridan colocou a pedra preciosa de volta embaixo da camisa,


deixando-a descansar no peito. — Não estou aceitando visitas, Rasul —,
disse ele.

— Foi o que eu disse a ele, mas ele foi bastante insistente, Vossa
Alteza.

Suspirando, Eridan disse: — Quem é essa pessoa?

— O Alto Adepto, Alteza.


Eridan franziu a testa. Ele procurou em suas memórias, mas ele nem
parecia saber quem era o novo Grande-Mestre depois que Tethru... morreu.

Afastando esse pensamento de sua mente — não importava,


aconteceu anos atrás, ele estava bem — Eridan se forçou a se concentrar no
presente. Quem quer que fosse o novo Grande-Mestre, era improvável que
lhe fizesse uma ligação ou visita. E se... e se a Organização soubesse?

Engolindo, Eridan respirou profundamente, inspirando e expirando.

Tudo ficaria bem.

Eles não poderiam saber, depois de todo esse tempo.

— Eu vou vê-lo, Rasul —, ele forçou a sair. Se eles sabiam sobre ele
ter matado Tethru ou não, dispensar o novo Grande-Mestre apenas o
irritaria.

Eridan limpou nas calças as palmas das mãos que estavam suadas.

O som da porta se abrindo o fez erguer os olhos.

Havia um homem na porta olhando para ele.

Para surpresa de Eridan, ele era familiar. Era o mesmo homem que o
beijou na testa e lhe desejou felicidades. Aquele de olhos azuis. Eridan tinha
pensado nele algumas vezes no último mês, imaginando quem era ele, mas
Warrehn não quis revelar nada sobre sua identidade.

Então este era o novo Grande-Mestre.

Lentamente, Eridan se levantou, inseguro.

Ele conhecia os costumes. Como príncipe, ele deveria dar uma


reverência superficial ao Alto Adepto do Alto Hronthar, mas, por alguma
razão, parecia errado.

Ele ficou preso no lugar quando o homem finalmente se aproximou


dele.
— Vossa Graça —, ele conseguiu dizer. O título parecia estranho em
sua boca. Ele também se sentia estranho, sua pele tensa e sua telepatia
estranhamente inquieta.

Algo cintilou naqueles olhos azuis. — Vossa Alteza —, disse o


Grande-Mestre.

Soou tão inadequado quanto Vossa Graça.

Eridan apertou os lábios, sentindo-se terrivelmente desequilibrado,


mas também inexplicavelmente confortável ao mesmo
tempo. Ele conhecia esse homem.

— Eu conheço você —, disse ele. Era uma afirmação, mesmo que


parecesse uma pergunta.

As narinas do Grande-Mestre queimaram, olhando fixamente para o


rosto de Eridan. — Você lembra de mim? — ele disse, sua presença
telepática alcançando e roçando a de Eridan de uma maneira incrivelmente
íntima e gananciosa.

Eridan deu um passo para trás, um pouco desconcertado pela


conduta chocante desse homem e pelo fato de ele não
se sentir desconcertado.

— Não, não tenho memórias sobre você —, disse Eridan. — Exceto


pelo tempo que você... — Ele parou, seus olhos se estreitando. — Você é o
adepto que mexeu com a minha mente.

— Fiz isso a seu pedido —, disse o outro homem. — Meu nome é


Castien Idhron. Eu sou... era seu mestre.

Eridan franziu a testa. O que ele estava falando? — Eu nunca tive


um mestre. Eu nunca fui escolhido. — Ele tentou não parecer amargo. Ele
não tinha certeza se conseguiu esconder.

A expressão de Idhron ficou um pouco tensa. — Você foi escolhido,


Eridan. Você foi meu aprendiz por quase quatro anos.
Eridan apertou os lábios, olhando-o incerto. Esse homem não
parecia alguém que brincaria com essas coisas, que brincaria com qualquer
coisa. Mas…

— Então por que eu não me lembro?

— Você me fez remover todas as memórias que você tinha sobre


mim.

— Por quê? — Eridan rosnou de frustração, seu coração


acelerando. Warrehn alegou que não sabia por que ele tinha pedido isso,
mas Eridan podia ver nos olhos de seu irmão que ele tinha uma teoria que
simplesmente se recusava a compartilhar com ele. Esta era a sua chance de
finalmente resolver esse mistério. — Conte-me. Por favor.

Idhron lançou-lhe um olhar longo e atento.

Eridan tentou não demostrar o quão perturbador era aquele olhar


para ele. Havia algo quase... ganancioso nesse olhar. Algo quase
indecente. Não se deveria olhar assim para um príncipe, especialmente
quando era o Alto Adepto do Alto Hronthar.

Deveria tê-lo repreendido.

Deveria.

— Você e eu estávamos... envolvidos —, disse Idhron finalmente.

Eridan olhou para ele.

Ele não sabia por que estava tão surpreso. Castien Idhron era um
homem atraente, de uma maneira fria e intensa. Havia claramente um corpo
forte e musculoso por baixo daquelas vestes negras, e seu rosto era
definitivamente bonito, sua barba por fazer e sobrancelhas escuras fazia
um contraste impressionante com seus cabelos claros. Sua boca era
finamente modelada...

Lambendo os lábios, Eridan interrompeu essa linha de pensamento


antes que perdesse o controle. Não importava o quão atraente era esse
homem.

— E? — ele disse friamente. — Por que isso justifica mexer com


minha mente?

A expressão de Idhron ficou um pouco tensa. — Foi uma ideia sua,


não minha —, disse ele laconicamente. — Você queria me esquecer e
“começar uma nova vida”. — Ele disse isso como se estivesse
provando algo ruim.

Eridan olhou para ele. Ele disse devagar: — Você quer dizer que eu
estava apaixonado por você, mas você partiu o meu coração.

Os lábios de Idhron afinaram, mas ele não negou.

Eridan sentou-se no sofá e pegou seu multi-dispositivo. Ele olhou


para a tela que estava desligada. — Obrigado por me esclarecer isso. Agora
tudo faz sentido. Você já pode ir, Vossa Graça.

Idhron não se mexeu.

— Eu não vim aqui para isso.

Com a mandíbula apertada, Eridan ergueu o olhar para ele. —


Então, a que devo o prazer, Vossa Graça? Seus atos foram bem-sucedidos.
Não me lembro de você e definitivamente não te amo.

Um músculo pulsou na bochecha de Idhron, sua marca telepática


alcançando Eridan com avidez novamente.

Eridan olhou para ele, mais perturbado do que gostaria. — E aí? —


ele disse arrogantemente.

Idhron se aproximou.

Eridan tentou não ficar tenso, mesmo que seus batimentos


estivessem acelerados, sua pele formigando conscientemente.
— Você me pediu para lhe conceder esse favor: faça-me me
esquecer de você. — disse Idhron, afastando a mecha de cabelo dos olhos
de Eridan com um toque gentil, seu olhar era tão intenso que poderia ser
tanto assustador quanto emocionante. — Eu tentei ser gentil. Para fazer a
coisa “certa”. Mas a gentileza não vem naturalmente para mim. Eu sou um
homem egoísta.

Eridan se manteve muito quieto. Havia uma parte dele


que ansiava se apoiar no toque desse homem.

— O que você quer dizer? — Ele conseguiu dizer, olhando


naqueles olhos azuis.

— Deixe-me restaurar suas memórias —, disse Idhron. — E volte


para casa comigo.

Casa.

Algo que era terrivelmente tentador.

Eridan se forçou a balançar a cabeça. — Eu estou em casa —, disse


ele, sua voz vacilante. — Eu odeio o High Hronthar. Eu só tenho más
lembranças daquele lugar.

Idhron franziu a testa. — É provavelmente apenas a falsa impressão


que você tem depois que alterei suas memórias. Você se sentirá diferente se
me permitir restaurar suas memórias. Seu irmão me chamou a atenção que a
perda dessas lembranças o afetou negativamente, tornando alguns eventos
do seu passado mais traumatizantes.

Embora Eridan tivesse se irritado e negado toda vez que Warrehn


aludisse ao seu “trauma”, falar sobre isso com esse homem não parecia tão
invasivo. Parecia surpreendentemente confortável, mesmo que ele não
conhecesse esse homem.

Exceto que ele conhecia, não é? Essa era a questão.


— Talvez —, disse Eridan, olhando para as próprias mãos
pálidas. — Como não sei quais lembranças eu perdi, é difícil julgar o
quanto a perda dessas lembranças está me afetando. — Eridan ergueu o
olhar de volta para Idhron e o encontrou observando-o com um olhar fixo,
como se Eridan fosse a coisa mais fascinante que já vira. Isso fez algo
quente se enrolar no estômago de Eridan. Ele... gostava de ter a atenção
desse homem nele. Gostava até demais.

— Seu irmão disse que você se recusou a ver um curador da mente


—, disse Idhron. — Por quê?

Eridan zombou. — Perdoe-me, Mestre, se eu não me sentir muito


confiante depois de ter minhas memórias... — Ele se interrompeu quando
notou a expressão muito estranha no rosto de Idhron. — O quê?

O olhar de Idhron estava sombrio e perscrutador. — Você me


chamou de Mestre. Você está começando a se lembrar?

— Não —, Eridan disse, um pouco confuso. Talvez fosse o seu


subconsciente.

— Então permita que eu restaure —, disse Idhron. — Vou restaurar


suas memórias, e tudo será como deveria ser. Vou levá-lo de volta para
High Hronthar, que é onde você pertence. Você está infeliz aqui. Eu posso
ver, Eridan. Até seu irmão percebeu.

Eridan apertou os lábios. — Você percebe que não me deu nenhum


incentivo para considerar sua oferta, certo?

As sobrancelhas de Idhron se franziram. Ele parecia genuinamente


intrigado. — De que incentivo você precisa? Suponho que poderia adiantar
sua promoção para ser um Mestre Acólito. Ou talvez eu possa lhe dar a
propriedade de Vergx, você gosta muito...

Eridan riu. — Pare. Simplesmente pare. — Ele balançou sua


cabeça. — Não acredito que me apaixonei por um homem tão
emocionalmente desligado. Se você tiver apagado minhas memórias por
causa de um amor não correspondido, um presente chique não consertaria
nada. Ou essa era a sua ideia sobre confissão de amor?

O rosto de Idhron ficou em branco. Ele desviou o olhar. — O amor


não é algo que eu sou capaz de sentir —, disse ele. — Se você tivesse suas
memórias, saberia disso.

Eridan estreitou os olhos. — Sério? — ele disse agradavelmente. —


Então por que você quer restaurar tanto as memórias de seu aprendiz? Se
tudo que você sente é uma luxúria superficial?

A mandíbula de Idhron se apertou. Ele não disse nada.

Eridan esperou.

Por fim, Idhron disse rigidamente: — Acho que não gosto de viver
em um mundo em que você não se lembre de mim. — Algo triste e
depreciativo apareceu em sua presença telepática. — Aparentemente, eu
sou egoísta assim. Eu preciso que você precise de mim. Portanto, falar
que… seu amor não correspondido não tem valor está totalmente errado.
Tem muito valor para mim.

Eridan se viu amolecendo um pouco. Embora não fosse exatamente


uma confissão de amor, ele podia sentir que era o mais aberto que esse
homem poderia ser com ele. Afinal, ele não era o aprendiz de Castien
Idhron no momento. Ele era apenas alguém usando seu rosto. Talvez
quando ele recuperasse suas memórias, ele seria capaz de fazê-lo falar mais
abertamente, mas...

E foi assim que Eridan percebeu que já havia tomado a decisão, para
o bem ou para o mal.

— Tudo bem —, disse ele. — Você pode restaurar minhas


memórias. — A alegria que desenrolou de Idhron o fez se sentir um pouco
menos apreensivo. O que quer que este homem sentisse por ele,
demonstrava que Eridan claramente era importante para ele. Isso era
alguma coisa. Eridan esperava que não se arrependesse dessa decisão assim
que recuperasse suas memórias. Não sabia se iria querer voltar para a
Ordem, mas ainda assim, gostaria de ter todas as suas memórias de
volta. Nenhum amor não correspondido poderia ser pior do que esse
sentimento oco dentro dele.

Idhron sentou-se no sofá ao lado dele. Ele apenas olhou para Eridan
por um longo momento antes de levantar a mão e colocá-la abaixo da orelha
de Eridan. Seu polegar roçou seu ponto telepático e Eridan inalou o ar
bruscamente, um arrepio percorrendo-o.

Com um puxão, Idhron estavam em sua mente.

Eridan achou que seria invasivo.

Ele estava errado: não foi nada invasivo. No momento em que a


mente de Idhron entrou na dele, parecia que havia despertado alguma coisa
faminta dentro dele que o alcançou ansiosamente e o arrastou para
dentro. Alguém gemeu, mas Eridan não tinha certeza de quem. Não
importava; era tão bom, era ótimo, a maneira como esse homem se
encaixava dentro dele, a maneira como sua presença telepática preenchia
todos os cantos da mente de Eridan. E, no entanto, de alguma forma, não
era suficiente.

— Mais. — Eridan implorou, tentando puxá-lo mais para dentro


dele, precisando senti-lo mais profundamente, dentro de seu núcleo
dolorido e faminto.

— Eridan, não —, disse Idhron, mas sua mente estava pulsando


tensamente, como se estivesse parando a si mesmo por pura força de
vontade.

— Por favor. Mestre.

Havia um rugido dentro de sua mente, uma tempestade de emoções


e desejos que não eram seus quando Idhron afrouxou o controle,
empurrando mais profundamente dentro dele, como um predador se
aproximando de sua presa.
Eridan só podia relaxar e se abrir, um prazer sem igual preenchendo
todo o seu ser, enquanto a mente de Idhron percorria seus centros de prazer,
enquanto ele deslizava cada vez mais fundo dentro dele, tocando-o,
acariciando-o, acalmando-o. No momento em que Idhron tocou seu núcleo
dolorido e necessitado, Eridan gritou, enterrando o rosto na garganta de
Idhron. Ele sentiu os braços em volta dele, fortes e tão familiares,
segurando-o com força enquanto seu corpo tremia com um prazer difícil de
descrever. Ele se sentiu super estimulado e satisfeito enquanto embalava
esse homem profundamente dentro de seu núcleo.

Ele flutuou na nuvem de prazer pelo que pareceu uma eternidade e


que não parecia ser o suficiente.

Por fim, ele sentiu Idhron suspirar. — Isso foi totalmente


inadequado.

— Não ligo — Eridan murmurou com um pequeno sorriso,


aninhando-se contra a garganta. Uma parte dele, a parte que ainda podia
pensar com bom senso, ficou meio horrorizada por ele estar praticamente
no colo do Alto Adepto.

Ele achou difícil se importar com o seu bom senso.

— Fomos descuidados —, disse Idhron, colocando um dedo sob o


queixo de Eridan e inclinando o rosto para cima. Seus olhos azuis estavam
significativamente mais suaves agora. — Vou restaurar suas memórias
agora. Você vai ser um bom garoto e não vai me distrair
novamente. Entendido?

Eridan assentiu. Ele poderia ser bom garoto. Ele gostou da ideia de
ser bom garoto.

Quando Idhron pressionou os dedos contra seu ponto telepático e


deslizou dentro dele novamente, não foi tão avassalador. O prazer e a
necessidade ainda estavam lá, mas não eram tão debilitantes, porque ele já
se sentia satisfeito.
Eridan fechou os olhos e apenas relaxou, desfrutando
silenciosamente da presença de Idhron em sua mente. Era fascinante: a
confiança e a familiaridade com as quais esse homem navegava em sua
paisagem mental. Tinha cuidado, ele notou maravilhado. Idhron era muito
cuidadoso, seu toque mental era suave e não o machucava enquanto
passeava pelas memórias de Eridan.

— Você se lembra da teoria por trás da restauração de memórias?


— Idhron disse calmamente enquanto trabalhava.

Eridan deu de ombros. — Apenas o básico do que foi ensinado


quando era um iniciado. Não me lembro de nada que você possa ter me
ensinado pessoalmente.

Idhron cantarolava pensativo, examinando uma área escura em sua


mente. — Restaurar memórias pode ser complicado. É um trabalho
delicado, e a margem de erro é muito pequena. Às vezes não é
possível. Felizmente, conheço sua mente muito bem.

Eridan fez um barulho distraído. Havia algo de confortável e


familiar nisso, nesse tom de orientação. Parecia certo. Tudo sobre ter esse
homem tocando-o tão intimamente parecia inexplicavelmente certo.

Ele colocou a cabeça no ombro largo de Idhron e apenas ouviu sua


voz enquanto Idhron explicava a teoria por trás da restauração da memória.

Ele se sentiu... Ele se sentiu melhor do que nunca. Apenas sentado


no colo deste homem, ouvindo-o falar.

— Estou pronto —, disse Idhron, finalmente, sua presença ainda na


mente de Eridan. — Eu vou fazer isso agora. Provavelmente parecerá um
pouco desorientador.

— Tudo bem.

— Prepare-se —, disse Idhron.


Ele se sentiu desorientado por um momento, Eridan não se lembrava
de nada, e em um momento depois, ele se lembrava.

Ele se lembrava,

Era estranho como tudo se encaixava no lugar. O ciúme e a


amargura de seus colegas agora não pareciam totalmente cruéis, mas na
verdade faziam sentido. Ele foi escolhido enquanto eles ainda não tinha
sido. O bullying, a crueldade — no final, tudo valia a pena, porque ele não
estava sozinho. Ele tinha um mestre. Ele tinha o melhor mestre da ordem.

E seu Mestre cuidava dele, de maneira reservada, não importava o


que ele realmente dissesse. Caramba, mesmo quando Eridan matou o
Grande-Mestre da Ordem, Castien havia dado cobertura. Seu Mestre veio
ajudá-lo. Ele cuidara de tudo e depois cuidara de Eridan quando ele arrastou
para a cama de Castien tarde da noite: envolvendo-o em sua presença
telepática e curando-o lentamente durante o sono através do vínculo,
curando-o tão bem que na manhã seguinte Eridan mal pensou na tentativa
de abuso sexual ou na morte de Tethru.

Seu mestre sempre cuidara dele.

Eridan suspirou. Ele sentiu a nova sensação de calma e conforto sob


seu corpo, mas também se lembrava das partes ruins. A distância de
Castien, sua recusa em permitir uma fusão telepática completa entre eles. A
insistência de Castien de que o relacionamento sexual entre eles não
alterava nada. Castien bloqueando as memórias sobre verdadeiro nome de
Eridan e sua falta de remorso por isso. A falta de reação de Castien quando
Eridan disse que o amava.

A questão era: as coisas ruins superavam as coisas boas?

Eridan abriu os olhos e encontrou os olhos de seu Mestre.


CAPÍTULO 31
Mestre

O olhar de Castien era curioso, quase cauteloso.

Eridan olhou para ele, esperando... Ele não sabia exatamente o quê.
Sentir algo diferente? Infelizmente, assim como ele temia, ter seus
hormônios de retrocesso bloqueados não mudou nada em seus sentimentos.

Ele ainda amava esse homem: desesperadamente,


irremediavelmente, estupidamente, não importa o quê.

— Eridan? — Castien disse, olhando para ele. — Você se lembra de


mim?

A mão de Eridan se fechou em punho. — Você é um cuzão egoísta


—, disse ele. Pareceu mais afetuoso do que o planejado. Ele riu, odiando-se
por sua incapacidade de estar com raiva. — Todos pensariam que você seria
feliz sem mim e minhas emoções desagradáveis que o comprometiam
constantemente, mas não, parece que não. Qual é o problema, Mestre? Você
se apegou?

Castien não parecia nem um pouco perturbado. Ele continuou


olhando para Eridan com o mesmo olhar intenso e ganancioso. Então ele
levantou as mãos e embalou o rosto de Eridan. — Você lembra de mim.

Eridan olhou para ele.

— Você ainda me ama —, declarou Castien com o mesmo olhar


irritantemente ganancioso. — Está tudo bem, Eridan.
Tudo bem. Eridan estava definitivamente bravo agora. — Que você
se foda, Mestre —, ele rosnou. — Ser graciosamente permitido te amar não
é suficiente para mim. Saia daqui. Não vou com você para Hronthar. Como
meus hormônios relacionados aos retrocessos estão bloqueados, posso
superar você. Eu vou te esquecer. Saia. Sinto muito por desperdiçar seu
precioso tempo e pedir que você apague minhas memórias. Como sempre,
você estava certo: foi uma má ideia. É melhor se nos evitarmos de agora em
diante...

Castien o beijou.

Eridan queria afastá-lo; ele realmente queria. Mas parecia que ele
estava morrendo de sede e acabara de receber um copo de água. Um
pequeno gemido escapou de sua boca, e ele avançou, beijando-se
avidamente, incapaz de saciar a sede dentro dele. A ligação deles foi aberta,
pulsando com saudades de você, preciso de você, saudades de você, preciso
de você.

Quando eles finalmente se separaram por que precisavam de ar,


ambos estavam corados e respirando com dificuldade.

— Você fala demais — disse Castien perto da sua bochecha, as


mãos ainda segurando o rosto de Eridan. — Você fala demais e é
excelentíssimo em me irritar. Eu devo ser louco por gostar disso.

Eridan piscou, inseguro de que se estava entendendo isso


corretamente. — Você estava com saudades de mim? — Ele disse, sua voz
mais baixa do que ele gostaria.

Castien se afastou, sua expressão um pouco tensa. Ele permaneceu


calado.

Eridan zombou, virando-se. — Eu preciso de palavras,


Castien. Aquela merda de “eu não sinto emoções” não vai mais funcionar.
Fale algo ou me deixe em paz. — Sua voz vacilou e ele esperava que
Castien não percebesse isso. Ele tinha que ser firme.

— Eu não sei como falar sobre tais coisas.


Contraturas. Castien só usava esse artificio apenas quando estava
com raiva — ou inquieto ou muito incomodado com alguma coisa.

Eridan inclinou a cabeça para o lado e o olhou por um


momento. Talvez não fosse porque Castien não tinha sentimentos
profundos; talvez o problema fosse sua incapacidade de falar sobre eles
após erradicar quais emoções fortes que pudesse se apresentar durante todos
esses anos. Talvez ele só precisasse relaxar primeiro. Perder esse controle
de ferro.

— Tudo bem —, disse ele, sua voz mais suave. — Vamos ter uma
conversa honesta sobre. Vou começar, para facilitar as coisas para
você. Você sabia que eu tinha dezoito anos quando comecei a me tocar
pensando em você?

As narinas de Castien alargaram-se. Ele olhou para Eridan com


pupilas dilatadas.

Eridan reprimiu um sorriso. — Eu não conseguia suportar você


naquela época, mas algo sobre sua horribilidade e sua atitude fria e
arrogante me deixavam tão frustrado e excitado que eu me tocava o tempo
todo, enfiando meus dedos dentro de mim e imaginando que era seu pau.

Um leve rubor apareceu nas maçãs do rosto de Castien. Ele engoliu


em seco e abriu a boca, mas não disse nada.

Eridan se inclinou e pressionou o nariz contra a bochecha de


Castien. Respirou. Sentiu Castien enrijecer, seu corpo praticamente
vibrando de forma tensa.

— Era realmente algo fodido —, disse ele. — Eu nem gostava de


você naquela época, mas você era a única coisa em que pensava quando me
masturbava. — Ele sussurrou no ouvido de Castien: — Você me deixava
tão molhado, mestre.

Castien fez um som baixo, suas mãos agarrando a bunda de Eridan e


puxando-a contra sua virilha vestida. Eridan ofegou ao sentir a
protuberância dura da excitação de Castien pressionada insistentemente
entre as pernas. Seu corpo estava estranho. Ele queria, mas se sentiu seco,
porém sensível. Parecia errado. Parecia que seu corpo estava fora do
lugar. Era imensamente frustrante e desorientador. Ele se sentiu tão
excitado, mas apenas seu pênis estava reagindo como esperado, ficando
duro e escorregadio com lubrificante, mas seu buraco permaneceu seco.

— Oh —, ele sussurrou sem fôlego. — Me sinto estranho.

— Eu te avisei sobre isso —, disse Castien, sua voz tensa quando


ele apimentou o pescoço de Eridan com beijos famintos e chupões. —
Bloquear a parte retrocessa do seu cérebro também afetaria sua fisiologia.

Eridan balançou a cabeça, lutando contra o sentimento


desorientado. — Conserte isso. Me conserte. Retire esse bloqueio. Quero
ter você dentro de mim.

Os músculos de Castien ficaram rígidos. Ele estava respirando


instável, suas mãos ainda estavam segurando Eridan contra a protuberância
dura de seu pênis.

— Não —, ele disse em uma voz entrecortada. — Não estou em


condições de fazer isso agora. Eu preciso estar com a cabeça fria e
limpa. Eu posso te machucar.

— Eu confio em você, mestre.

Ele fez um barulho assustado quando suas costas atingiram o sofá.

Castien subiu em cima dele, apoiando a cabeça nos antebraços, o


olhar sombrio e vítreo. — Você é terrível para o meu controle —, ele
murmurou. E então ele se inclinou e o beijou, se isso poderia ser chamado
de beijo. Parecia que Castien estava tentando consumi-lo, devorá-lo, entrar
nele pela boca, o beijo tão faminto e intenso que rapidamente dominou
Eridan. Ele só podia ficar lá, chupando alegremente a língua do Mestre e
gemendo de felicidade absoluta.

Ele passou a mão entre eles e abriu a braguilha de Castien. Quando


sua mão se fechou ao redor do pênis grosso e vazado de Castien, ele gemeu,
seu buraco formigando. Ainda não havia lubrificação, mas nesse momento
Eridan não se importava. Ele o queria lá dentro. O pênis de Castien estava
coberto de lubrificação, que demonstrou o quanto ele estava excitado. Seria
o suficiente. Seria mais que suficiente.

— Foda-se —, ele sussurrou contra a boca de Castien. — Quero


você dentro de mim.

Castien estremeceu em cima dele, sua ereção se tornando ainda mais


grossa na mão de Eridan.

O que aconteceu depois o surpreendeu. Eridan esperava que Castien


simplesmente tirasse as calças e a enfiasse, mas Castien o despiu
completamente e então apenas encarou seu corpo nu com olhos vidrados.

Isso fez Eridan se sentir bonito e desejado, sua pele formigando e


seu pau doendo. Ele abriu as pernas e disse: — Mestre.

Aparentemente, isso foi suficiente para fazer Castien se mexer. Ele


arrastou beijos pelo pescoço de Eridan, sugando chupões em sua pele e
depois lambendo seus mamilos. Ele chupou por um tempo, fazendo Eridan
choramingar sem fôlego. Seus mamilos sempre foram muito sensíveis, e
quando ele se masturbou, sempre imaginou seu mestre sugando-os. A
realidade era melhor do que qualquer fantasia. Cada chupada suave parecia
diretamente conectada ao seu pênis e seu buraco. Logo, Eridan estava se
contorcendo sob Castien, agarrando suas costas e segurando a boca de
Castien contra seus mamilos.

Finalmente, seu mestre se moveu para baixo, seus lábios traçando


seus músculos abdominais e depois para baixo. Eridan gritou quando
Castien tomou seu pau duro em sua boca e chupou.

Fique quieto ou alguém pode nos ouvir, Castien disse


telepaticamente, balançando a cabeça para cima e para baixo, a boca
implacável e molhada.

Eridan não podia ficar quieto. Ele teve que morder a própria mão
para abafar os sons que estava fazendo, a outra mão enterrando os cabelos
do Mestre e empurrando-o para baixo em seu pau. Foi tão bom.

Mas logo, não era suficiente. Ele precisava de mais. Ele precisava
de outra coisa.

Como se estivesse ouvindo seus pensamentos, Castien puxou seu


pênis e abaixou a boca, beijando e beliscando o interior de suas coxas. Sua
barba por fazer arranhou a pele sensível de lá, fazendo Eridan gemer com
um leve desconforto e um forte prazer. Ele gemeu quando a língua de
Castien finalmente pressionou contra seu buraco. Ele sempre foi
extremamente sensível lá também. Era estranho não se sentir escorregadio,
mas o prazer não era menor. Ele adorava ser comido e, com que frequência
seu Mestre fazia isso com ele, ele sabia que Castien também gostava fazer
isso com ele. Era inacreditavelmente bom, seu buraco tremendo a cada
toque daquela língua molhada e gloriosa. Enterrando a mão no cabelo de
Castien, Eridan tentou puxá-lo mais profundamente, tentou preencher-se,
mas não deu muito certo. Ele soluçou, querendo ser preenchido, precisando
tanto disso que mal conseguia se concentrar em qualquer outra coisa,
exceto em seu mestre.

— Tenha paciência —, a voz de Castien disse em sua


mente. Deslizando os dedos cobertos com a lubrificação do pênis de Eridan,
ele empurrou dois dedos, fazendo Eridan gemer de alívio. Era bom, mas
não era o suficiente.

— Estou pronto —, ele retrucou. — Basta colocar, mestre!

Castien não ouviu.

Parecia que ele o torturara por horas, esticando-o com dois e depois
três dedos, sua boca alternando entre chupar o pau de Eridan e beijar suas
coxas sensíveis.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, Castien


penetrou seu pau nele.

Eridan gemeu de alívio, seu buraco o apertando avidamente. Ele


cravou as unhas nas costas de seu mestre enquanto Castien chegava ao
fundo. — Beije-me —, disse ele.

Castien se inclinou, dobrando-o ao meio e o beijou


avidamente. Eridan suspirou de felicidade e beijou de volta, sentindo-se
embaraçosamente carente. Seu Mestre começou a se mover nele, de forma
tão satisfatória que cada impulso lento fazia Eridan gemer contra a boca de
Castien. Ele podia sentir que Castien estava tentando ser gentil, mas seu
corpo estava ficando mais tenso a cada momento.

— Vamos lá, eu posso aguentar —, Eridan murmurou, mordiscando


o lábio inferior de Castien. — Eu posso aguentar tudo o que você me der,
Mestre.

Castien estremeceu, seu corpo pesado dirigindo com mais força para
ele, seu pau praticamente o empurrando no sofá.

Eridan estava aéreo e nem percebia os lamentos saindo de sua boca,


sem vergonha e sacanagem, seu corpo estava pegando fogo. Era tão bom: o
cheiro de seu Mestre, sua boca, seu corpo duro em cima dele, o pau grosso
dentro dele. Mas algo ainda estava faltando.

— Mestre —, ele sussurrou, estendendo a mão mentalmente. — Por


favor.

Ele sentiu a marca telepática de Castien vibrar com a tensão antes de


avançar e empurrá-lo também. O barulho que saiu da boca de Eridan era
embaraçosamente alto. Ele acolheu seu Mestre em sua mente, o prazer deles
dobrando quando uma fusão completa se formou. Ele podia se ver através
dos olhos de Castien: seu rosto corado, seus belos lábios inchados, seu
corpo nu, contorcendo-se debaixo dele, em seu pênis — tão apertado, tão
bonito, seu Eridan, seu, apenas seu—

Eridan ficou muito quieto, apenas se permitindo ser beijado,


sentindo-se atordoado. Ele absorveu o desespero faminto e
a afeição avassaladora que vinha de Castien. Mas afeto não era a palavra
certa. Parecia algo maior, imparável e ilimitado. Parecia algo necessário.
Ele era necessário.
Seu Mestre precisava dele.

O mestre dele. Precisa. Ele.

O pensamento foi suficiente para fazê-lo gozar com um gemido


embaraçoso, a visão de Eridan embaçada pelas lágrimas. Castien
estremeceu e ficou parado em cima dele, gozando profundamente dentro
dele.

Mestre.

Eridan.

Ele sentiu os lábios de Castien em seu rosto, beijando-o suavemente,


com reverência.

Era quase demais. Seu peito parecia que estava prestes a explodir de
carinho, amor e necessidade. Ele sentiu como se estivesse sufocando no
meio desses sentimentos.

Eu o amo, Eridan pensou de repente. Eu sempre o amarei. Eu nunca


vou amar outra pessoa tanto quanto eu o amo.

Em qualquer outra ocasião, o pensamento teria sido desanimador,


mas não neste momento. Não quando ele podia sentir o quanto ele
importava para Castien. Suas mentes ainda estavam unidas em uma
profunda fusão telepática, e era impossível mentir estando em uma
fusão. Ele podia sentir tudo o que Castien estava sentindo. Ele se
sentiu precioso. Ele era precioso. A coisa mais importante do mundo.

Eridan piscou os olhos, tendo dificuldade para acreditar no que


estava sentindo. Foi por isso que Castien negou a ele uma fusão completa
por anos? Porque ele não queria que ele sentisse isso? Ou isso é algo
recente? Ele não sabia dizer.

— Às vezes eu penso sobre isso —, disse Castien calmamente,


quebrando o silêncio. Sua voz estava um pouco abafada pela bochecha de
Eridan. — Penso no que teria acontecido se eu tivesse seguido uma rota
diferente para Hronthar naquele dia, há dezenove anos atrás. Ou se eu
tivesse ignorado o garoto com uma criança nos braços tentando chamar
minha atenção. E se eu te tivesse te entregado à Quinta Casa Real, em vez
de ter lhe levado à Ordem. — Ele mordeu a mandíbula de Eridan, sem
dúvida deixando um chupão. — Se você tivesse vivido até ter se tornado
um adulto, seria apenas mais um príncipe para mim, um dos muitos para
manipular e controlar. Eu não pensaria duas vezes. Eu casaria você
com outra pessoa e não daria a mínima. — Outro chupão. — Que conceito
legal. Uma bela fantasia.

Eridan olhou para o teto alto, seu coração batendo tão rápido que
quase se sentiu tonto. — Mestre? — ele sussurrou trêmulo, incapaz de
acreditar no que estava ouvindo. O que Castien estava sugerindo.

— Você é meu. —, disse Castien, chupando um chupão em seu


pescoço. — Você sempre será apenas meu. Eu matarei quem tocar em
você.

Eridan estremeceu. Vindo de qualquer outro homem, isso soaria


como exagero melodramático. Vindo de Castien, era apenas um fato
declarado.

— Se você não tivesse matado Tethru, eu teria feito mesmo assim.


— Castien aninhou-se contra a clavícula, mordendo a sua pele. — Portanto,
você se culpar pela morte dele não é apenas tolice, mas é equivocada e
irracional. Ele já estava declaradamente morto desde o momento em que
tocou em você.

— Isso também dificilmente é uma confissão de amor — disse


Eridan secamente, sem saber se ria ou se horrorizava. Seu coração parecia
que estava prestes a explodir.

Castien levantou a cabeça e olhou para ele. — Eu... estou tentando,


Eridan —, disse ele, com a voz baixa. — Francamente, não tenho certeza do
que é o amor. Mas você é a única coisa — a única pessoa — com quem me
preocupo profundamente. A única pessoa mais importante para mim do que
minha ordem. Ele sorriu tristemente. — O que é algo que eu jamais pensei
que diria. O Castien Idhron de cinco anos atrás teria pensado que teria feito
uma lavagem cerebral e colocado essa tolice. — Ele acariciou a bochecha
de Eridan com o polegar. — Talvez você tenha, e eu simplesmente não
percebi. Sou bastante irracional e cego quando se trata de você. — Ele fez
uma careta. — O fato de eu ter bloqueado suas memórias sobre seu
verdadeiro nome foi uma prova suficiente

Eridan engoliu o repentino aperto na garganta. — Então você não


fez isso por causa da Ordem?

Castien soltou uma risada sem humor. — A Ordem foi a última


coisa que pensei quando fiz aquilo. Eu estava... — Ele encontrou os olhos
de Eridan. — Durante anos, sem você saber, eu estava preparando você para
reivindicar o seu direito de nascimento. Mas eu não estava preparado para
deixar você ir quando chegasse a hora. — Um músculo contraiu-se em sua
mandíbula. — Eu sei que não deveria ter feito isso, mas não sou perfeito,
Eridan. E o medo era a única emoção que eu nunca havia experimentado até
perceber que você deixaria de ser meu aprendiz — que você deixaria de ser
meu. Eu fui irracional. Imprudente.

Eridan piscou algumas vezes, sentindo-se atordoado. Ele jamais


pensaria que Castien pudesse sentir medo, muito menos medo de perdê-lo
— e que um dia iria admitir isso.

— Tudo bem —, disse Eridan, pigarreando. — Você está perdoado


por isso. Mas se você mexer com minhas memórias novamente, eu... — Ele
fez uma pausa, tentando pensar em uma ameaça adequada. — Eu nunca vou
te perdoar novamente —, ele terminou fracamente.

Para sua surpresa, Castien pareceu levar a ameaça a sério. Ele


simplesmente assentiu.

Eridan olhou para ele, calor enchendo seu interior, uma vez que
ocorreu novamente que Castien realmente tinha sentimentos por ele. Que
Castien precisava dele, cuidava dele profundamente, e o queria por perto,
sempre.

Eridan sorriu impotente. — Admita: você checou totalmente sua


mente inteira por qualquer influência externa quando notou pela primeira
vez essas emoções nojentas.

Castien desviou o olhar.

— Você checou! — Eridan riu, passando os braços em volta do


pescoço e pressionando a boca contra a de Castien. — Você é tão ridículo,
mestre. Só você pensaria que ter sentimentos não é normal.

Castien beijou de volta por um momento antes de se afastar para


olhar Eridan nos olhos. — Então você vai voltar para casa comigo?

Eridan olhou para ele. — Você estava falando sério sobre isso?

— Claro. — A expressão de Castien estava um pouco


desconfortável. — O castelo está muito quieto sem você. Eu não... Eu
suponho que me acostumei com a sua tagarelice ao longo dos anos.

Eridan inclinou a cabeça para o lado e sorriu provocativamente. —


Você está dizendo que sentiu tanto assim a minha falta, mestre?

A expressão de Castien ficou um pouco tensa. Mas ele não negou,


ao contrário do que Eridan achou que ele faria.

— Sim —, disse Castien laconicamente. — Senti sua falta


terrivelmente. Você está feliz agora, seu pirralho insolente?

O sorriso de Eridan se suavizou em um sorriso. Então, talvez


Castien pudesse aprender a falar seus sentimentos.

Inclinando-se, ele deu-lhe um beijo casto como recompensa, que


Castien imediatamente transformou-o em um beijo duro e ganancioso, com
toda a língua e vontade.

Suspirando de prazer, Eridan retribuiu o beijo alegremente por um


tempo.

Quando eles finalmente se separaram, ele empurrou Castien de


costas e se esticou em cima dele, saboreando a maneira como seus corpos
se encaixavam, suas mentes tão entrelaçadas quanto seus
membros. Colocando a cabeça no peito de Castien, ele respirou seu perfume
familiar, sentindo-se dolorido, feliz como se estivesse nas pontas dos pés.

Ele murmurou: — Posso ser um membro da Ordem novamente


mesmo sendo uma figura tão pública?

Castien fez um som pensativo, passando os dedos pelos cabelos de


Eridan. — Não há precedentes relacionados a um membro de uma família
real ser membro da Ordem, mas não há regras contra isso: nem regras da
Ordem nem leis calluvianas. Provavelmente, isso causará um escândalo,
mas sua reputação não é exatamente boa agora.

Eridan torceu o nariz e riu. — Sim, vamos piorar uma situação que
já está ruim. Eu não tenho nada a perder, eu acho.

— Não —, disse Castien. — Seu retorno à Ordem pode ser


positivo. Temos muitos meios de comunicação sob nosso controle. Trazer a
narrativa que queremos não será difícil. Você ficará protegido do desprezo
público.

Eridan zombou das maneiras descaradamente corruptas de Castien,


mas não conseguiu afastar a sensação quente que se emaranhava em sua
barriga. Ele sentira falta disso: esse sentimento de absoluta segurança e
confiança. Ele confiava que seu Mestre o protegeria, sempre, por todos os
meios necessários. Não importava o quanto ele e Warrehn tenham se
aproximado, ele não sentia uma fração dessa confiança e segurança há
meses.

Warrehn.

— Não posso abandonar meu irmão —, disse Eridan, levantando a


cabeça.

Castien deu um suspiro. — Você não o abandonaria, Eridan. Você


pode ir de Hronthar para este palácio em menos de uma hora.

— Eu suponho que sim —, disse Eridan, franzindo a testa. — Ainda


não parece certo. Ele não tem ninguém além de mim, e este palácio ainda
não se tornou o lar dele. Dalatteya e seu filho o odeiam. — Ele estreitou os
olhos para Castien. — Falando nisso, você pode mudar a atitude dela em
relação ao Warrehn também? Como você fez com ela em relação a mim?

Castien cantarolou, acariciando suas costas distraidamente. — Não é


assim tão fácil. Manipulei cuidadosamente sua mente por anos, em
preparação para sua eventual ascensão ao trono. Eu queria torná-la
inofensiva quando se tratava de você. Mas seu irmão... eu nem sabia que ele
ainda estava vivo até alguns anos atrás. E mesmo que eu soubesse que ele
estava vivo, eu obviamente não teria me incomodado em fazer Dalatteya
predispor-se a gostar dele. A morte do seu irmão teria sido conveniente para
mim.

Eridan desejou poder estar com raiva, e parte dele estava, mas
principalmente ele apenas se sentiu exasperado. Ele não tinha ilusões sobre
como era seu mestre. Ele sabia que tipo de homem ele era quando se
apaixonou por ele. Pelo menos Castien estava sendo honesto. Isso era
alguma coisa, ele supôs.

— Você é uma pessoa terrível —, disse Eridan com um suspiro,


beijando a cavidade da garganta de Castien. — Eu acho que sou uma pessoa
terrível também, por amar você de qualquer jeito.

Os braços de Castien se apertaram ao redor dele.

— Você vai voltar para casa comigo? — Ele disse, sua voz não
muito firme.

Eridan sorriu e falou contra seu pescoço.

— Sim, Mestre.
CAPÍTULO 32
Paz

Por um momento, Warrehn achou que tinha ouvido


errado. Certamente seu irmão não poderia estar dizendo o que pensava estar
dizendo.

— O que? — ele disse.

Eridan estava corando, irradiando culpa. — Estou voltando para


High Hronthar —, disse ele. — Eu serei aprendiz novamente.

Warrehn estreitou os olhos. — Aprendiz —, ele disse cético.

Eridan corou mais forte, olhando para Idhron. — Bem... Sim,


aprendiz.

Idhron deu um passo à frente, colocando a mão no ombro de Eridan.

Warrehn não pôde deixar de notar como esse gesto era


possessivo. Ele se irritou, mas Eridan parecia se inclinar ao toque, sua
presença telepática se tornando mais quente e mais leve.

Warrehn olhou para ele e percebeu que nunca havia visto seu
irmão feliz. Verdadeiramente, genuinamente feliz.

O pensamento era angustiante, mas Warrehn não podia se abalar


com tanta felicidade. Ele respirou fundo e soltou o ar. Calma. Ele poderia
ficar calmo. A felicidade de seu irmão era mais importante que sua própria
decepção.
Ele olhou Idhron nos olhos e disse: — Você cuidará dele. Se você o
machucar...

— Eu não vou —, disse Idhron simplesmente. — Não permitirei que


nada machuque o meu aprendiz.

Aprendiz. Certo.

— E quando ele não for mais seu aprendiz? — Warrehn disse.

Em sua visão periférica, ele viu Eridan olhando para Idhron


também, esperando sua resposta.

— Ele sempre será meu —, disse Idhron, apertando a mão no ombro


de Eridan. — Mesmo tendo vinte, cinquenta ou cem anos. — Os olhos de
Idhron estavam muito sérios. Warrehn sondou-o mentalmente e, por mais
que tentasse, não conseguiu sentir nada além de sinceridade.

Warrehn suspirou, passando a mão pelo rosto e pelos cabelos. —


Eridan, você poderia nos deixar à sós por um momento? Apenas por um
momento.

Eridan hesitou, olhando entre eles, depois assentiu e saiu.

Uma vez que estavam sozinhos, Warrehn olhou para Idhron


sombriamente. — Como eu vou ficar bem com meu irmão, um príncipe e
meu único herdeiro, sendo seu brinquedo sexual?

A mandíbula de Idhron se contraiu, algo escuro e perigoso


aparecendo em sua presença telepática. — Eu tive muitos brinquedos
sexuais. Eridan não é um deles.

— Então o que ele é para você? — Warrehn rosnou. — Você está


dizendo que lhe dará uma família? Que você vai dar filhos a ele? Os
adeptos da mente da Ordem têm permissão para ter filhos?

Algo cintilou nos olhos de Idhron. Warrehn teve a estranha sensação


de que essa era a primeira vez que a ideia lhe ocorrera.
Idhron ficou em silêncio por um momento, um olhar contemplativo
em seu rosto.

— Você não sabe de nada sobre a Ordem —, disse ele


finalmente. — Temos linhagens que funcionam da mesma maneira que as
famílias tradicionais funcionam para vocês. Podemos não ser parentes de
sangue, mas cuidamos uns dos outros. — Ele encolheu os ombros. — No
entanto, existem mestres que têm famílias e crianças de forma
tradicional. Não gosto muito de crianças, mas se Eridan quiser ter
algumas... — Algo melancólico apareceu em sua expressão. — Eu não sou
totalmente contra. De qualquer forma, isso é algo que existe entre Eridan e
eu. — Ele olhou Warrehn nos olhos. — Eu entendo que você é irmão dele e
que se preocupa com ele. Mas você não tem nada com que se
preocupar. Ele não é mais aquela criança que você me confiou dezenove
anos atrás. Ele é capaz de pensar por si mesmo e sabe que tipo de homem
eu sou. Francamente, sua preocupação é ridícula. Eridan tem muito poder
sobre mim, porque eu faria qualquer coisa para mantê-lo seguro e
satisfeito. Ele é... ele é minha maior fraqueza. — A expressão de Idhron
ficou tensa, como se a palavra fosse fisicamente dolorosa para ele dizer.

Warrehn suspirou. Ele podia sentir a sinceridade nas palavras de


Idhron. Pela primeira vez ele não estava mentindo.

Ele olhou para Idhron, e Idhron olhou para trás, seu olhar firme e
calmo.

Warrehn não gostava muito desse homem. Mas se ele pudesse fazer
seu irmão parecer tão feliz, Warrehn teria que aprender a gostar dele.

— Tudo bem —, disse ele, e após um momento de hesitação,


encostou sua presença telepática na de Idhron. Paz?

O toque de resposta da presença telepática de Idhron foi bastante


cauteloso, mas não totalmente hostil.

Warrehn assentiu, virando-se. — Então, como vamos lidar com a


imprensa?
CAPÍTULO 33
Casa

Fofocas da Sociedade Calluviana

PRÍNCIPE ERIDAN: SINTO SAUDADES DE CASAS

Em uma reviravolta inesperada, o príncipe Eridan, do Quinto


Grande Clã, não deseja ser um príncipe. Criado pelos adeptos da mente do
Alto Hronthar, o príncipe supostamente se sente mais à vontade no austero
mosteiro do que no luxuoso palácio de seu irmão.

— Eu amo muito o Warrehn, e sou muito grato por termos nos


encontrado novamente —, disse o príncipe Eridan. — Mas a Ordem é
minha casa desde os três anos de idade, e sou muito grato ao meu irmão
por me permitir voltar à vida a que estou acostumado. Minha maior
ambição é tornar-me um adepto da mente certificado da Ordem, mas isso
não significa que deixarei de ser irmão de Warrehn. Eu o apoio
absolutamente.

Quando perguntado sobre os rumores maliciosos que foram


divulgados recentemente sobre o Alto Adepto e ele, o príncipe Eridan
riu. — Acho que conheço a fonte desses rumores. Provavelmente é um
daqueles iniciados que queriam ser aprendizes do Mestre Idhron e ficaram
muito decepcionados quando ele me escolheu. Eu não os culpo. Eu também
ficaria com inveja e amargura.

Quando perguntado se ele deixará de participar de eventos sociais,


a expressão do príncipe Eridan ficou pensativa. — Suponho que dependerá
se estarei ocupado com meus estudos como aprendiz. Se eu estiver livre,
não vejo razão para não participar de alguns eventos sociais. Eu sou um
príncipe, afinal.

Ele é mesmo!

Na Fofoca da Sociedade Calluviana, desejamos ao príncipe Eridan


todo o sucesso no caminho escolhido!

***

O ar da manhã estava fresco e levemente frio, cheirando a floresta


antiga, montanhas e lar.

Eridan respirou fundo e exalou, seus ombros relaxando enquanto


olhava para Hronthar situado no vale da montanha. A cidade parecia mágica
à distância, suas luzes amarelas iluminando-a alegremente.

Ele sorriu melancolicamente, imaginando jovens iniciados correndo


para as aulas da manhã, ainda sonolentos e mal-humorados. Ele tinha sido
um também afinal. Parecia que tinha sido em sua vida passada.

Uma mão forte apertou seu ombro. — Está frio, Eridan. Deveríamos
ter pousado mais perto da cidade. E você deveria pelo menos ter usado uma
capa.

Eridan balançou a cabeça com um sorriso. — Por que eu preciso de


uma capa quando eu tenho você?

Castien suspirou, um suspiro sofrido que não convenceu


Eridan. Castien não se sentia realmente irritado; ele sentiria isso através do
vínculo se ele estivesse.
Castien puxou Eridan contra o peito e colocou sua própria capa
pesada em volta dos dois.

Eridan sorriu, recostando-se nele, respirando o perfume familiar de


seu Mestre e sentindo-se muito quente e feliz enquanto olhava para High
Hronthar à distância. O vínculo deles pulsava com o contentamento-
certeza-meu-meu-meu, os braços de Castien ao redor dele sólidos e muito
seguros. Ele poderia ficar aqui para sempre, nos braços deste homem.

— Eu amo você, Mestre —, disse Eridan suavemente. Ele não


esperava ouvir de volta. Ele apenas se sentia tão feliz que precisava dizer
isso.

Os braços de Castien ao redor dele se apertaram a ponto de quase


doer.

Ele sentiu seu Mestre enterrar o rosto nos cabelos e respirar


fundo. — Acho que não seria impreciso dizer que o sentimento é reciproco.

— Minha cabeça dói devido aos duplos negativos —, disse Eridan,


sua visão ficando embaçada. Ele sorriu, olhando para Castien. — Um dia eu
vou fazer você dizer essas palavras nojentas, Mestre.

Os olhos azuis de Castien sorriram para ele. — Vamos ver —, disse


ele, e o beijou.

O ângulo era estranho, os lábios de Castien estavam frios e o ar


estava muito frio, mas o beijo aqueceu Eridan até os dedos dos pés.

Quando eles finalmente conseguiram quebrar o beijo, ele estava


formigando por todo o corpo, um calor familiar se formando na parte
inferior do estômago.

Castien olhou para ele por um momento, seu olhar paralisado. Então
ele pegou sua mão e o puxou em direção ao castelo. — Ficamos aqui por
tempo suficiente. Vamos, Eridan.
Sorrindo, Eridan entrelaçou os dedos e deixou seu mestre puxá-lo
em direção a sua casa.

O sol estava nascendo.


EPÍLOGO

Castien Idhron não gostava de crianças. Elas eram escandalosas,


desagradáveis e choronas: adjetivos pelas quais ele não tinha
paciência. Estranhamente, quando se tratava de sua própria filha, essas
qualidades eram de alguma forma cativante em vez de agravantes.

— Sinead —, disse ele em sua voz mais severa.

Sua filha de três anos olhou para ele com seus grandes olhos azuis e
piscou inocentemente. — Você quer brincar comigo e com Lola, papai?

Castien olhou para “Lola” — o pequeno robô de limpeza que estava


vestindo o vestido de Sinead — e contou mentalmente até dez. — Não, eu
não quero brincar. Isso não é uma boneca, minha querida. É um dróide para
limpar a poeira do seu quarto. Deixe-lhe fazer o seu trabalho.

O lábio inferior de Sinead tremeu. — Eu sei que não é uma


boneca! É minha amiga! Não seja mau com ela, papai!

Castien beliscou a ponta do nariz e reprimiu um suspiro. — Eu não


me importaria de você brincar com um dróide, exceto que esse é o terceiro
robô de limpeza que você transformou em uma boneca. Seu quarto está
imundo.

Sinead fez beicinho e voltou-se para o robô, claramente decidindo


ignorá-lo.

Uma risada fez Castien erguer os olhos.

Eridan estava encostado na porta, sorrindo amplamente e irradiando


diversão. — Se ao menos a Organização pudesse ver o grande e terrível
Grande-Mestre Idhron discutindo com uma criança de três anos — e
perdendo a discussão.

Castien lançou-lhe um olhar inexpressivo. — Isso


é tudo culpa sua —, disse ele. — Ela herdou seus traços mais encantadores:
sua falta de respeito pela autoridade e sua propensão a fazer beicinho e
fazer birra se não conseguir o que quer.

— Talvez —, disse Eridan, ainda sorrindo. — Mas ela também


herdou seus traços mais encantadores: sua tendência a pensar que você
sempre está certo e, é claro, sua manipulação.

— Ela é uma criança, Eridan. Ela nem conhece a palavra


manipulação ainda.

Eridan bufou e se aproximou, tirando o roupão cinza. — Não seja


ingênuo. Ela absolutamente sabe. Ela sabe que pode envolvê-lo em torno de
seu dedo mindinho se ela apenas arregalar os olhos e fizer os lábios
tremerem. — Ele deu um beijo na testa de Sinead. — Não é mesmo,
Princesa?

Sinead piscou para ele, parecendo todo confusa. — Não sei do que
você está falando, papai.

Eridan riu. — Eu não sou seu pai, mocinha. Isso não vai funcionar
comigo. Agora ligue os robôs antes que o monstro do pó chegue aqui.

Sinead franziu o cenho. — O monstro do pó?

Eridan assentiu solenemente. — Eu não contei a história de uma


garotinha que não permitiu que seus robôs de limpeza limpassem seu quarto
e toda a poeira do cômodo se transformou em um monstro gigante da
poeira?

Sinead balançou a cabeça, os olhos arregalados.

— Vamos, ligue os robôs enquanto eu conto a história —, disse


Eridan com um sorriso, e Sinead rapidamente obedeceu.
Castien se acomodou na poltrona e fechou os olhos, recolhendo-se
em uma meditação superficial. Parte de sua atenção estava em Eridan
contando à filha uma história bizarra e fictícia. Parte dele simplesmente se
deleitava com os sentimentos de calor, conforto e afeição que rodavam na
sala, através dos seus laços com Eridan e a filha deles.

Se uma década atrás alguém lhe dissesse que essa seria a sua vida,
ele teria zombado e pensado que essa pessoa era louca.

Se vinte e sete anos atrás alguém dissesse ao seu eu de dezessete


anos que o pequeno príncipe que ele trouxera se tornaria o centro de seu
mundo, ele também nunca teria acreditado nele.

A vida era estranha assim.

— Sobre o que você está pensando? — Eridan murmurou, subindo


em seu colo e beijando-o suavemente nos lábios.

Castien abriu os olhos e olhou nos lindos olhos de Eridan.

Você, ele pensou, passando os braços em volta de Eridan e puxando-


o para mais perto. Mais apertado. Ele nunca poderia segurá-lo com força
suficiente.

Ele pressionou suas testas juntas. — Eu estava pensando... que eu te


amo, aprendiz meu. — As palavras que antes eram tão difíceis de dizer
rolaram da sua língua com facilidade. Ele tinha anos de prática.

Eridan sorriu. — Eu sou um Mestre Acólito, Castien.

Ele bufou. — Você sempre será meu aprendiz.

O sorriso de Eridan ficou mais suave. Ele fechou a boca e beijou


Castien, sua afeição, necessidade e felicidade preenchendo seu vínculo e
deixando Castien tonto com o desejo de possuí-lo. Seu. Era dele.

— Sim, Mestre. Sempre.


Fim
Table of Contents
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
INTERLÚDIO
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
EPÍLOGO

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