Variação Linguística e Preconceito Linguístico

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Escola Estadual Manoel Leandro de Lira

Componente Curricular: Língua Portuguesa

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E PRECONCEITO


LINGUÍSTICO
O texto que segue é de autoria de um
cantor conhecido, leiam-no e tentem
lembrar de quem se trata.
Música: Asa Branca
Com base na música respondam:
1- Como o cenário do sertão é descrito na música?
2- Qual o tema tratado na música?
3- Poderíamos afirmar que o conteúdo expresso pelo compositor em décadas passadas
se faz “novo” nos dias atuais? Justifique.
4- Na sua opinião, qual o grau de escolaridade do eu-lírico? Explique.
5- Qual sua possível profissão?
6-Retire da canção expressões típicas da linguagem popular.
Com base na música respondam:
7- Você compreendeu o que quis dizer a canção, isto é, houve comunicação, ou nela há
expressões “erradas” que dificultam o entendimento?
8- Suponha que você seja oftalmologista e no consultório lhe chegasse um paciente cujas
palavras fossem: “Dotô, meus óio tão ardeno”, como você agiria diante de tal afirmação?
Corrigia-o ou procedia o exame dos olhos do paciente?
AS VARIANTES LINGUÍSTICAS
O que devemos levar em conta no nosso estudo?
➢ Cada um de nós, quando nasce, começa a aprender a língua em casa, com
os familiares. Ao ouvir as pessoas falando, nós também vamos, aos poucos,
apropriando-nos do vocabulário e das leis combinatórias da língua.

➢ Também treinamos nossa boca e nossas cordas vocais para produzirem sons,
que se transformam em palavras, em frases e em textos inteiros.
O que devemos levar em conta no nosso estudo?
➢ Quando passamos a ter contato com outras pessoas na rua, na escola, na
cidade e nos sítios, percebemos que nem todos falam como nós e nossos
parentes mais diretos, mas nem por isso deixamos de compreendê-las.

➢ Existem pessoas que falam diferente por serem de outras famílias, de outras
cidades ou de outras regiões do país, ou até mesmo por serem mais idosas /
jovens que nós.
Regional
➢ Conforme a região do falante, o uso da língua varia, pois este tem vocabulário
e pronúncia próprios de sua região. O que não significa dizer que região X fala
“melhor” ou mais “bonito” do que região Y. Quem assim pensa comete
preconceito linguístico.

Exemplo: Um falante nordestino, ao chegar numa feira livre no Rio de Janeiro,


diz ao vendedor:
-Quero um quilo de macaxeira. E o vendedor responde:
-Caramba, não tenho. Tenho mandioca, serve?
O falante nordestino examina o produto e diz: - Vou levar, é a mesma coisa!
Época
➢ É comum as pessoas de diferentes épocas utilizarem um vocabulário
diferente, e, na maioria das vezes, também escreverem de modo diferenciado
devido às variações da língua no tempo, as quais atingem a faixa etária dos
falantes. Um exemplo vivo para nós é a reforma ortográfica, a qual muda o
jeito de escrever algumas palavras.
Exemplo: Num consultório entram o avô (65 anos) e o neto (10 anos). O avô olha para o
médico e fala:
- Doutor, quero que o senhor me receite um remédio para meu neto que está com difruço.
O médico, meio que aturdido, porém compreende a fala do senhor e começa a prescrever a
medicação. Eis que o neto interrompe:
-Vovô, eu não tenho essa doença aí não, tenho apenas um leve resfriado.
Classe social
➢ Pessoas que têm maior acesso a leituras variadas, escolas, filmes, internet
etc. apresentam uma variedade da língua, digamos, mais próxima do falar
exigido pela sociedade letrada. Não se trata de mais pobres ou menos pobres,
trata-se apenas das oportunidades de leitura desses falantes.
Classe social
➢ Exemplo: Conversa entre três jovens de diferentes classes sociais
➢ Jovem da classe alta: - Li ontem vários artigos sobre variação linguística na biblioteca
virtual e tive aulas com meu pai.
➢ Jovem da classe média: -Foi mesmo, cara? Eu tenho internet, livros, Tv a cabo, mas não
li nada. Convidei um antigo colega para ir lá em casa, ele também utilizou minhas mídias e
fez essa leitura que você aí fala.
➢ Jovem da classe baixa: - O convidado fui eu! Não tenho esses recursos, apenas as xérox
das aulas, por isso aproveitei a oportunidade dada pelo colega, a fim de também me sentir
incluído e li tudo que pude. Resultado: Hoje entendo as variações e sei me defender diante
do preconceito linguístico!
Nível de instrução
➢ O nível de instrução do falante também faz com que a língua sofra variações.
Isso quer dizer que falantes com maior escolarização tendem a usar a língua
de modo mais formal que os falantes de menor escolaridade. Fato que, em
muitos casos, provoca o surgimento do preconceito linguístico.
Nível de instrução
➢ Exemplo: Conversa entre um agricultor (analfabeto) e um metereologista:
Agricultor:- Sinhô, hoje chove de todo jeito!
Meteorologista: -Não, as previsões só anunciam chuvas para o final do mês.
Agricultor: -Num concordo, não sinhô e até pruque o mei miô, o mei findô e hoje já é 15.
Assim, tá no miado e vai chuver.
Meteorologista: - Mas e as previsões? O senhor não entende de nada, nem falar sabe...
Agricultor: - Me disculpe, falá bunito como o sinhô eu possa num sabê, mas se o sinhô tem
istudo num parece pruque num sabe nem arrespeitar or mai véi. E se eu num sei falá como
dixe, como é que eu tenho 65 ano e nunca deixei de falá com o povo daqui e nunca errei um
paipite de chuva?!
Situação de Comunicação (registros)
➢ Conforme a situação comunicativa em que se encontra o falante, ele faz a
língua variar. Isso quer dizer que, em ambientes mais formais, a opção pelo
uso formal da língua é mais conveniente. Já com os familiares e colegas, o uso
da informalidade é mais usual. O interessante é saber fazer essas trocas.
Situação de Comunicação (registros)
➢ Exemplo: A mãe com o filho, em casa, e na escola, na qualidade de sua educadora.
Maria (mãe): -Filho, vá estudar variação linguística. A avaliação é hoje, te dou uma bola se
tirar 80. Não vai me envergonhar, hein?
José (filho): - Mamãe, eu já sei que a língua varia conforme a região, o tempo, o grau de
instrução e um bocado de coisas mais. Me dê, mamãe, a bola.
Maria (na escola): - José, estude variação linguística que a avaliação será hoje e eu darei à
turma um livro a quem tirar 80.
José (na escola)- Professora, sei de todas as variações, inclusive como banir o preconceito
linguístico existente na nossa sociedade. E agora, mereço o 80 e o livro?!
Linguagens
➢ Língua oral e língua escrita: A língua oral, (falada) também é diferente da língua escrita.
Assim, quando escrevemos, temos condições de escrever bem as palavras, de corrigir o
texto e melhorá-lo até transmitir exatamente o que desejamos. Na fala isso não é
possível, ela normalmente apresenta repetições, quebras de sequência lógica, problemas
de concordância e várias expressões de apoio, como né?, tá?, entendem?, etc. Em
outras palavras, poderíamos resumir que a escrita é planejada, enquanto a fala não, é
espontânea. Aquilo que escrevemos podemos rever, revisar, ao passo que aquilo que
falamos, não temos mais como voltar atrás. Nesse caso, sendo uma ofensa ao outro,
somente um pedido de desculpa poderá “sanar” o dito. Aproveitem essa aula e, a partir de
agora, não menosprezem seus colegas se estes falarem arrastado, com gírias, ou mesmo
se usarem palavras desconhecidas para vocês. Saibam que todo falante nativo conhece
muito bem a sua língua materna.
Língua
➢ Formal: também chamada de culta ou padrão. Ao falarmos em público ou ao
conversarmos com pessoas mais instruídas do que nós, ou ainda com pessoas que
ocupam cargo ou posição elevada, passamos a empregar a língua formal, isto é, falamos
de modo mais cuidadoso. Evitamos tanto as gírias e expressões grosseiras quanto
aquelas que demonstrem muita intimidade (caramba, fofinha, bicho etc). A língua culta ou
padrão é veiculada nos dicionários, nas gramáticas, nos textos literários, técnico-científicos
e jornalísticos e nas redações oficiais do país.

➢ Informal: ao contrário, se a conversa for com pessoas conhecidas, com as quais temos
intimidade ou mesmo familiaridade, podemos falar de modo informal, mais popular e
menos policiado, pois nosso interlocutor não se chocará com a nossa linguagem.
Gírias, jargões e calão
➢ Gíria e jargão: são os códigos linguísticos próprios de um grupo sociocultural com
vocabulário especial, incompreensível para quem dele não fizer parte. Os médicos usam
uma linguagem típica da medicina, por exemplo, para explicar um procedimento cirúrgico
(jargão); já os surfistas empregam gírias entre eles.

➢ Calão (ou baixo calão): é uma realização linguística caracterizada pelo uso de termos
baixos, grosseiros ou obscenos, que, dependendo do contexto, muitas vezes chocam pela
falta de decoro e desvalorizam socialmente aqueles que os empregam. Vale ressaltar que,
no ato comunicativo, o falante deverá primar por ser bem compreendido linguisticamente,
suas escolhas deverão estar adequadas à situação comunicativa vivenciada por ele, bem
como a seu interlocutor imediato.
A gíria, como a moda, passa.

Vocês lembram de gírias antigas?


Deem alguns exemplos de gírias usadas na
nossa região.
Atividade
A língua portuguesa tem muitas expressões interessantes. Muitas delas se constituem como
gírias, as quais são usadas pelos falantes de várias idades, inclusive por vocês. Expliquem,
pois, o que significam e em que situações cotidianas são usadas as expressões seguintes:
a) Está com a pulga atrás da orelha.
b) Comer o pão que o diabo amassou.
c) Procurar sarna para se coçar.
d) Prometer mundos e fundos.
e) Lutar com unhas e dentes.
f) Ser mão de vaca.
g) Pisar em ovos.
i) Aquele homem é pirangueiro pra chuchu.
Usos da Língua
Ninguém deve menosprezar os usos da língua escolhidos pelo falante. Este, por sua vez,
deve fazer uso adequado dela, para evitar situações de incompreensões e para participar
ativamente da sociedade da qual faz parte, por exemplo:
➢ É ADEQUADO: usar a linguagem formal em ambientes e eventos públicos como numa
formatura, numa palestra, na igreja etc.

➢ É INADEQUADO: usar uma linguagem extremamente formal, muito trabalhada, pomposa


em casa com os familiares ou com pessoas da intimidade.
Nossa próxima atividade será uma produção escrita, na qual
vocês me ditarão o texto. O enfoque será dado às variações da língua
e ao preconceito existente na sociedade quanto às diferenças no seu
uso . Vocês, a partir dessa criação, serão os multiplicadores dos
conhecimentos aqui construídos. Para isso, observem uma simples
definição do que seja essa barreira que tanto afastou e ainda afasta
os falantes da língua devido aos mitos que lhes foram impostos ao

longo dos tempos .


Preconceito linguístico
➢ Quando se afirma que alguém não sabe falar corretamente porque não utiliza a variedade
de maior prestígio social, ou seja, a culta, ou mesmo quando não se aceita uma diferença
na pronúncia e no léxico de uma pessoa, comete-se o preconceito linguístico. Ele também
se mascara em afirmações como: “o certo é falar assim, porque se escreve assim”;
“brasileiro não sabe português”; “nordestino fala tudo errado“ ;“pessoas sem instrução
falam tudo errado” etc.

➢ Sejamos criativos em ambas as produções, não nos esqueçamos de sempre atribuirmos


valores aos diversos usos da língua, desmistificando assim esse preconceito que tanto
tem afastado os falantes do convívio social. Podemos começar?!
1º comando
➢ Suponha que você, sendo nordestino, 18 anos, com Ensino Médio incompleto, morador da
zona rural, pleiteia uma vaga numa empresa de cosméticos em São Paulo. Como se
expressaria diante do entrevistador, por sinal, muito exigente com o uso formal da língua.
Elabore um diálogo entre ambos. Aproveite para deixar claras as noções de variação e do
preconceito linguístico.
2º comando
➢ Como se expressaria um paciente idoso, analfabeto com dores nas costas diante de um
médico ortopedista? Elabore a consulta num grau de aceitação por parte do médico tendo
em vista as expressões usadas pelo seu paciente.

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