STF, Fake News e Liberdade de Expressão - Entre o Ativismo Judicial e A Defesa Da Democracia
STF, Fake News e Liberdade de Expressão - Entre o Ativismo Judicial e A Defesa Da Democracia
STF, Fake News e Liberdade de Expressão - Entre o Ativismo Judicial e A Defesa Da Democracia
Democracia
RESUMO
O presente artigo trata das razões que levaram o judiciário a agir de ofício sobre
justificativa de salvaguardar a Democracia que passaria por deterioração do ciberespaço
formado pelas redes sociais. Tem-se como objetivo refletir se essas ações foram assertivas, se
há legitimidade em agir de ofício e se essas ações não laceram os princípios legais das
relações democráticas. Há, também, o esforço para compreensão em como notícias falsas
geram efeitos sobre a democracia brasileira e a liberdade de expressão. A abordagem
metodológica consiste na utilização de instrumentos de análise baseados na coleta de
documentos oficiais e de debates públicos, notas realizadas por meio de mídias virtuais e
entrevistas a veículos de comunicação. Ademais, houve a revisão da bibliografia acerca dos
assuntos ligados a conceitos como liberdade de expressão, discurso de ódio e ativismo
judicial e legislação visando o aprofundamento teórico sobre a temática. Como resultado,
temos o entendimento que, apesar de polêmicas, as movimentações que visam a seguridade
do sistema democrático seguem uma resposta necessária, e que se manter inerte diante de
ataques e ameaças às instituições seria um problema ainda mais profundo. Ademais, muitos
são os esforços para se chegar em medidas assertivas em relação ao novo ambiente
democrático e que, de fato, ainda haverão muitas mudanças em relação ao exercício da
ciberdemocracia.
ABSTRACT
This article deals with the reasons that led the judiciary to act ex officio on the
grounds of safeguarding Democracy that would involve freedom from cyberspace formed by
social networks. The objective is to reflect whether these actions were assertive, whether
there is legitimacy in acting ex officio and these actions do not undermine the legal principles
of democratic relations. There is also an effort to understand how fake news generates effects
on Brazilian democracy and freedom of expression. The methodological approach consists of
using analytical instruments based on the collection of official documents and public debates,
notes made through virtual media and interviews with media outlets. In addition, there was a
review of the bibliography on subjects linked to concepts such as freedom of expression, hate
speech and judicial activism and legislation and theoretical depth on the subject. As a result,
we understand that, despite being controversial, movements aimed at the security of the
democratic system follow a necessary response, and that remaining inert in the face of attacks
and threats to institutions would be an even deeper problem. Furthermore, there are many
efforts to arrive at assertive measures in relation to the new democratic environment and
which, in fact, will still have many changes in relation to the exercise of cyberdemocracy.
[...] É possível concluir que as decisões conflitantes tomadas por esses ministros
implicam um alargamento de poder. Contudo, quando liberdades individuais,
direitos sociais e a própria democracia estão em jogo, o debate sobre o “ativismo
judicial” – tomado como categoria acusatória - não é suficiente para explicar as
dinâmicas decisórias no âmbito do STF, uma vez que, nas tomadas de posição,
principalmente em temas sensíveis, os autos e decisões são cruzados por relações de
poder e moralidades (CÔRREA, 1983).
“[...] O STF não pode ir além, mas não pode ser impedido a ficar aquém [...]”.
(BRASIL, ADPF 572, p. 32). Diante dessa afirmativa foi dado o primeiro passo com a
proposição do PL2630/2020, projeto de lei que visa combater a disseminação de informações
falsas e a manipulação do debate público nas plataformas digitais, estabelecendo mecanismos
para a responsabilização de plataformas digitais e usuários que compartilham conteúdo falso
ou prejudicial. Entre as medidas propostas estão a criação de regras para identificação de
perfis e contas automatizadas, a promoção da transparência nas redes sociais, a garantia do
direito de resposta e a cooperação internacional para combater a desinformação.
[...] Tais redes sociais online são meios de comunicação em que não só brasileiros,
inclusive esses têm contato com qualquer pessoa. Transmitem e recebem
informações instantaneamente, a todo tempo; há uma inserção nesse meio com
bastante frequência e intensidade. Entretanto, o que constatamos muitas vezes, é o
desvio da finalidade dessas redes, porque os usuários passaram a escrever
informações que com certa frequência violam a direitos e garantias fundamentais,
praticados por pessoas muitas vezes escondidas por trás de apelidos, pseudônimos,
cometendo crimes ocultos pelo anonimato, e ainda, muitas vezes, espalhando sua
palavra de ódio (Leite, F. P. A, 2016).
[...] “Nossas sociedades estão cada vez mais estruturadas em uma oposição
bipolar entre a Rede e o Ser” (Castells, Manuel. 1999). Dentro desse contexto, a sociedade
contemporânea vem adotando as Tecnologias de Informação e Comunicação (TCIs), em
especial a internet, na vida social, econômica e pública, como um local aberto e propício ao
fomento de debates relativos a temas que em outros tempos eram discutidos apenas de forma
presencial. A ágora atual constitui-se em um espaço em que o discurso da pessoa, e
consequentemente sua visão de mundo, não só é exposto como construído dentro da própria
internet. Esse aspecto sucinta preocupação, posto que a forma como a internet, mais
especificamente as redes sociais, entregam conteúdo está atrelada diretamente a uma estrutura
atualmente muito mais manipulável:
[...] Nos dias de hoje, seria ingenuidade descrever a Internet e as mídias sociais
apenas como um espaço de comunicação autônoma. É certo que, em grande medida,
tais características continuam presentes. Porém, é preciso considerar que, ao lado da
descentralização dos meios de expressão e da diminuição da dependência em face
de antigos intermediários, operou-se uma paradoxal concentração do controle das
principais plataformas digitais e uma correlata ampliação do poder de grandes
corporações. Por consequência, estas assumiram a condição de novos e influentes
intermediários – para os mais críticos, exercendo, inclusive, o papel de monopolista
– sobre boa parte da comunicação efetuada por meio da Internet e das redes sociais.
(De Carvalho, L. B., 2020)
Desse modo, os algoritmos não percebem os usuários isoladamente. Isto quer dizer
que um usuário deve ser entendido como a soma da fragmentação de vários usuários
interligados, tal qual um modelo de comportamento animal coletivo (CESARINO,
2022). Essa matemática algorítmica explica a dinâmica da entrega de conteúdo
pelas plataformas. Explica, a priori, como os algoritmos foram pensados para
funcionar. Para além disso, existe a possibilidade do direcionamento de conteúdo.
Este direcionamento acontece porque o modelo de negócio das plataformas
disponibiliza ferramentas, mediante pagamento, que permitem “ignorar” o
algoritmo. Desse modo, a publicidade paga consegue alcançar exatamente o público
que não receberia determinado conteúdo. (Monteiro, Pereira, 2023)
Segundo Adriana Vieira e Roberto Efrem Filho (2020), a atuação dos ministros,
ao “adentrar” a esfera das decisões em temas políticos, é de regra interpretada como
“intervencionismo” e “excesso”. Toda essa discussão diz respeito à legitimidade dessas
decisões, principalmente quando elas possibilitam a expansão dos poderes e das
interferências na experiência democrática. No caso do Inquérito 4.781, temos uma sensível
discussão sobre limites, competências e legitimidade, uma vez que todo o questionamento da
ADPF 572 se dá acerca da possibilidade de os ministros concentrarem funções processuais
distintas, sendo acusados de infringir princípios constitucionais, como os da imparcialidade,
do juiz natural e do sistema acusatório processual.
O mal uso das redes de interação social por parte dos usuários, que imbuídos de
um espírito participativo - principalmente em questões políticas - associado a um
comprometimento de desenvolvimento crítico diante do disparo de notícias inverídicas, mas
que alimentavam vieses de confirmação, foram corroendo as relações com a mínima
observância a preceitos fundamentais e normas constitucionais. Por finalizar com o ataque às
próprias instituições garantidores do ordenamento jurídico e conseguinte da Democracia.
As plataformas de conteúdos, por outro lado, lucrando muito com esse ativismo,
não deram a devida atenção aos descumprimentos de regras básicas de convivência nas redes,
estabelecidas pelo ordenamento jurídico e por seus próprios termos de uso, abriram margem,
justificada, à necessária ação de ofício do Supremo Tribunal Federal em resposta a ataques
feitos às Instituições, seus membros e familiares.
BEZERRA, E. V. Redes sociais e democracia. 1a edição ed. [s.l.] Editora CRV, 2024.
MONTEIRO PEREIRA, Gisele. "Entre liberdade de expressão e discurso de ódio: STF, crise
democrática e o inquérito das fake news." Revista Santa Rita, Santa Rita, Paraíba, 2023.
<https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/27599?locale=pt_BR> Acesso em 20 de
abril de 2024.