Test Bank For Organic Chemistry, 5th Edition Maitland Jones Jr. Steven A. Fleming All Chapter Instant Download

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Test Bank for Organic Chemistry, 5th Edition


Maitland Jones Jr. Steven A. Fleming

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Table of Contents

1. Atoms and Molecules; Orbitals and Bonding

2. Alkanes

3. Alkenes and Alkynes

4. Stereochemistry

5. Rings

6. Substituted Alkanes: Alkyl Halides, Alcohols, Amines, Ethers, Thiols,

and Thioethers

7. Substitution Reactions: The SN2 and SN1 Reactions

8. Elimination Reactions: The E1 and E2 Reactions

9. Analytical Chemistry: Spectroscopy

10. Electrophilic Additions to Alkenes

11. More Additions to p Bonds

12. Radical Reactions


13. Dienes and the Allyl System: 2p Orbitals in Conjugation

14. Aromaticity

15. Substitution Reactions of Aromatic Compounds

16. Carbonyl Chemistry 1: Addition Reactions

17. Carboxylic Acids

18. Derivatives of Carboxylic Acids: Acyl Compounds

19. Carbonyl Chemistry 2: Reactions at the a Position

20. Carbohydrates

21. Special Topic: Bioorganic Chemistry

22. Special Topic: Amino Acids and Polyamino Acids (Peptides and

Proteins)

23. Special Topic: Reactions Controlled by Orbital Symmetry

24. Special Topic: Intramolecular Reactions and Neighboring Group

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Mandavam-se proprios, e dispunham-se postas quando assim era
preciso. Nos caminhos de maior transito, em intervallos de 3 a 4
leguas, as estalagens tinham cavallos para muda, que alugavam.
Em 1520 el-rei D. Manuel criou o officio de correio-mór; foi Luiz
Homem, ao que dizem, o primeiro a exercer o cargo.
Em tempo de D. João III appareceu a primeira lei ou regimento
postal.
O segundo correio-mór chamava-se Luiz Affonso; seu genro
Francisco Coelho, foi o terceiro.
O cargo conservou-se na familia até 1606 em que falleceu Manuel
Gouvêa, o quarto no cargo.
Então Filippe II mandou vender o officio; que foi comprado por
70:000 cruzados, por Luiz Gomes da Matta, em 19 de julho de 1606.
O correio-mór tinha a seu serviço estafetes, mestres e creados de
posta, e varios assistentes. O serviço do correio foi sempre
augmentando, sem alteração fundamental do regime até 1852,
embora este ramo pertencesse ao Estado desde 1797. Neste anno,
em alvará de 16 de março, D. Rodrigo de Sousa Coutinho foi
encarregado de tratar com o Correio-Mór a cedencia do officio.
Manuel José da Maternidade Matta de Sousa Coutinho, o ultimo
correio-mór, recebeu em indemnisação pela cedencia do officio o
titulo de conde em tres vidas, a renda annual de 40:000 cruzados,
pensões vitalicias a diversas pessoas, cuja somma andava por
400:000 cruzados, e um ou dois postos no exercito.
Foi este o primeiro conde de Penafiel.
O segundo conde e primeiro marquez de Penafiel foi Antonio José
da Serra Gomes pelo seu casamento, em 1861, com a segunda
condessa desse titulo.
Pelas quantias indicadas se vê o augmento de importancia do
correio entre 1606 e 1797, ainda que nessa época pequeno
progresso tivera a viação publica.
Estuques
O uso do estuque é muito antigo; ha exemplos no velho Egypto,
na remota Assyria; os romanos o empregaram vulgarmente; em
Pompeia ha tectos, frisos, cornijas de gesso. Bysantinos e arabes
usaram do estuque, principalmente os arabes de Hespanha; os
estuques pintados da Alhambra são admirados no engenho da
decoração geometrica, no effeito da combinação de tons. Durante
largo tempo esqueceu o estuque, para reviver no meiado do seculo
XVI. Mas então renasceu e logo se desenvolveu em processo e
applicação; fizeram-se frescos sobre estuque de gesso,
modificaram-se as pastas, formaram-se grandes composições em
alto relevo.
Em Portugal ha noticia de estuques no seculo XVII, de pouca
importancia.
Poucos annos antes do grande terremoto de 1755 appareceu em
Lisboa um artista italiano de grandes aptidões, João Grossi, que
iniciou grandes trabalhos neste genero. Outro estucador,
primeiramente simples ajudante de Grossi, Gommassa, se tornou
notavel.
O marquez de Pombal empregou-os nas suas propriedades. O
terremoto tornou necessarios trabalhos rapidos e os estucadores
prosperaram; e vieram mais estucadores italianos, Chantoforo,
Agostinho de Quadri, que introduziram novos processos. Nas
Janellas Verdes, no palacio pombalino da rua Formosa, na egreja
dos Paulistas, etc., ha trabalhos d’estes italianos.
O marquez de Pombal chegou mesmo a fundar uma escola de
estucadores, de que foi mestre o Grossi (1766).
Trabalhou-se immenso em estuque, bem e mal, com arte ou sem
ella; João Paulo da Silva trabalhou no palacio na quinta das
Laranjeiras (por 1798), assim como Felix Salla, outro italiano
discipulo do celebre milanez Albertoli, que fez reviver a grande
ornamentação dos gregos e do imperador Augusto.
É certo que por este tempo estucadores portuguezes foram
trabalhar a Hespanha, tanto se tinha aqui progredido neste ramo.
Por 1805 entrou em Lisboa um estucador suisso de grande
habilidade, Vicente Tacquet que trabalhou com Francisco Espaventa
e outros.
Vieram os desastres da guerra, e alguns dos melhores artistas
refugiaram-se no norte do paiz, no Porto, e em Vianna do Castello,
Caminha, Affife que nos tempos modernos, nos ultimos 40 annos,
tem produzido bons artistas estucadores.
De Rodrigues Pitta são os tectos do palacio do marquez de
Vianna (1846) ao Rato, hoje propriedade do sr. Marquez da Praia.
Em 1855 e 1856 ornamentou o salão de baile do palacio da
Junqueira (actual palacio Burnay) e dois salões do palacio Costa
Lobo, no campo de Sant’Anna.
Deixou trabalhos de grande folego nos palacios de José Maria
Eugenio d’Almeida, a S. Sebastião da Pedreira, Gandarinha que tem
magnificas escaiolas na galeria, e no do Marquez de Penafiel.
A esplendida sala do conselho de Ministros, no Ministerio do
Reino, tem o tecto muito trabalhado, não de grande effeito.
Cinatti introduziu em Lisboa um artista, seu parente, Joanni,
notavel imitador de marmores, e bom artista em estuque lucido.
Nos ultimos vinte annos a mania pelo estuque, especialmente
pelas imitações de marmores, tem sido, a meu vêr, exaggerada.
E, o que é grave, na maioria esses trabalhos são mal dirigidos e
executados. Tem sido um desastre.
Ha estuques carregados de relevos que em tres ou quatro annos
estão fendidos e estragados.
Imitações de marmores, quasi tão caras como os modelos,
estaladas em poucos mezes. Mas a mania pelos estuques não é só
na capital; ao norte do paiz ainda foi, e é, mais intensa.
No Porto ha estuques antigos, dos melhores, no palacio dos
Carrancas, e modernos na Bolsa.
No Minho citam-se como notaveis os do palacio da Brejoeira, obra
dos Alves, de Fafe, por 1850.
Em Evora temos os mais recentes no theatro Garcia de Resende,
fino trabalho do Meira.
Será rara a egreja da Provincia, onde tenha havido reparos nos
ultimos annos, que não possua amostras de estuque moderno, de
facil execução e de mau effeito passado o lustro dos primeiros
mezes.
Nas salas do Correio-Mór ha tectos estucados a baixo relevo
muito distinctos e paredes ornamentadas a esgrafito de algum
effeito.
Volkmar Machado deixou-nos algumas noticias sobre
estucadores, que Liberato Telles utilisou no seu trabalho publicado
no Boletim da Associação dos Conductores de Obras Publicas. Vol.
IV. 1900.

Egreja de S. Lourenço de Carnide


O logar de Carnide, que faz parte agora da capital, é muito antigo;
existia já povoado e cultivado no meiado do seculo XIII.
O mosteiro de S. Vicente possuia aqui uma vinha e uma herdade,
como se lê nas inquirições do reinado de D. Affonso III. Por esse
documento, importante para a historia de Lisboa e seus termos, se
vê que em tão remota época já nestes logares de Carnide,
Charneca, Queluz, Falagueira, Odivellas, Palma e Telheiras havia
culturas, vinhas e povoados que contribuiam para o rei, para as
ordens militares, e para os grandes mosteiros.
Em 1342, o bispo de Lisboa, D. João, mandou edificar a egreja á
honra de S. Lourenço, por Pedro Sanches, chantre da sua sé, e a
deu a seu capellão João Dor. Era já egreja parochial no seculo XIV.
Em meio de amplo terreiro, murado, orlado de oliveiras, com larga
vista de campos e collinas ergue-se a egreja com o seu campanario,
em linhas de singela construcção. A orientação e disposição da
egreja é antiga, todavia pouco se vê do seu estado primitivo.
Está bem reparada, de ha poucos annos.
É um templo alegre, com as suas obras de talha dourada, as
paredes forradas com azulejos, de azul sobre branco, em grandes
quadros, allusivos á vida de S. Lourenço.
Tem cinco altares, o maior, o da Senhora do Rosario, do
Crucificado, de S. Miguel, e o de Jesus-Maria-José.
No altar-mór ha um quadro bom, o lavapedes, mal restaurado,
infelizmente; algumas campas com lettreiros no chão da capella-
mór; duas pias d’agua benta que são dois capiteis do seculo XIV,
escavados; na sacristia um arcaz de boa madeira, com metaes bem
cinzelados.
O terreiro ao redor da egreja era d’antes o cemiterio; campas e
ossadas foram removidas para o cemiterio dos Arneiros (Bemfica).
Ficou apenas uma grande pedra, com inscripção latina, que era o
tumulo de José João de Pinna de Soveral e Barbuda, fallecido em
1710.
Para o novo cemiterio de Bemfica foi removida a campa de D.
Anna Maria Guido, marqueza de Ravara, fallecida em 1752.
No alto de um cunhal, do lado do sul, está uma pedra com lettreiro
em caracteres gothicos (seculo XV, talvez) que diz:—Esta sepultura
he de Luis d’Abreu e de todos seus herdeiros.
Na capella-mór ha bastantes campas.
—Esta sepultura é de Joam da Costa de Mendonça e de quem
nela se quizer enterrar.
—Sepultura de Francisco Jorze e de sua molher e de seus
herdeiros... de 1569.
—Sepultura de George Pires e de sua molher e herdeiros. 1616.
—Sepultura de Jozeph da Costa e de sua mulher Catharina da
Costa a coal faleceo a 28 doutubro de 1712 e pera todos os seus
herdeiros.
—Sepultura de Guilherme Street Arriaga Brum da Silveira e
Cunha e familia. 28 de outubro de 1826. P. N. A. M.
—Esta sepultura mandou fazer João Correa pera se enterrar nella
e seus herdeiros.
—Sepultura de Antonio de Almeida e seus herdeiros faleceu a 14
de mayo de 1601 anos.
—Sepultura de Luiz Ramalho Pre... e de sua mulher Francisca de
Almada Tiba e de seus herdeiros faleceu a X d. de junho de 1637.
—Sepultura de Bastião criado de S. M. e de seu herdeiro. Faleceo
a 5 doutubro de 1796.
—Sepultura do P.ᵉ H.ᵐᵒ Machado cura que foi nesta igreja muitos
annos e de seu herdeiro.
—Sepultura perpetua de Simão Moreira e sua molher Domingas
Francisca e de seus herdeiros a qual lhe mandou pôr seu filho o P.ᵒ
Luiz Moreira. 1678.
—Sepultura de Lianor Jorze molher que foi de Luiz Glz d’Oliveira
provedor dos contos do reino faleceo a 21 doutubro de 1567, e de
seus herdeiros.
Transcrevi estes lettreiros porque são ineditos.
Na frontaria da egreja está uma inscripção referente á fundação; e
uma pedra com escudo d’armas que não sei explicar; não me
parece portuguez, nem hespanhol esse curioso brazão em que se
vê uma perna com bota, por baixo de uma estrella.
É bem interessante a modesta egreja, agora parochia da capital.

Luz
Da egreja de Nossa Senhora da Luz resta-nos o cruzeiro, e a
capella-mór; o corpo da egreja abateu por occasião do terremoto de
1755. É da fundação da infanta D. Maria, senhora opulenta e de alta
cultura d’espirito. Nesta egreja ha obras d’arte notaveis em
esculptura de madeira e pedra, em architectura, e em pintura. A
capella-mór tem 12 x 8 metros; o cruzeiro 21 x 10.
A capella-mór é ampla, alta, coberta de abobada revestida, assim
como as paredes, de marmores diversos formando quadrellas; é o
conhecido estylo classico dominante no findar do seculo XVI. Nichos
com estatuas animam as grandes paredes. Na parede que olha ao
sul estão rasgadas janellas que dão bastante claridade.
O altar-mór está elevado, sobre o pavimento da capella; quatro
degraus se sobem para lá chegar.
Além do altar-mór abre-se um grande arco que abriga o sacrario,
soberba obra d’arte muito elegante, em madeira entalhada e
dourada; atraz fica o vasto côro, agora sacristia, no mesmo nivel da
egreja. Proximo do grande altar, no chão, ha uma abertura circular
que diz para a fonte de agua milagrosa.
A meio da capella-mór o singelo tumulo da fundadora.
Na capella-mór ha duas capellas lateraes; outras duas no
cruzeiro.
Empregaram na construcção marmores branco e vermelho,
servindo-se da pedra d’Arrabida na ornamentação; nos frisos e
molduras sobresahem quadrados, losangos, ellipses feitos n’essa
pedra, bem trabalhada e polida. A pedra vermelha fórma o fundo, a
branca a parte saliente e ornamental.
Nos grandes nichos da capella-mór estão dezesete estatuas em
marmore: Nossa Senhora com o Menino de Jesus, S. Thomé, S.
André, S. João, S. Lucas, S. Matheus, S. Marcos, S. Simão, S.
Mathias; estas á direita, olhando para o altar-mór; á esquerda, S.
Filippe, S. Thiago Maior, S. Pedro, S. Judas Thadeu, S. Thiago
Menor e S. Bartholomeu. As estatuas da Virgem e dos Evangelistas
são maiores.
Estas estatuas são em marmore branco d’Estremoz, lindo
marmore; o trabalho é muito pegado, os artistas não se atreveram a
desligar, a destacar braços ou mãos.
No exterior do edificio, lado sul, ha outra estatua de Nossa
Senhora com o Menino e, ainda uma terceira na frontaria do
Collegio Militar; todas da mesma época e do mesmo estylo
acanhado. São todavia de bom trabalho, e representam
excellentemente o estado da estatuaria em Portugal naquelle tempo.
No altar-mór admiramos alguns baixos relevos em fino jaspe, em
seis pequenas pilastras; são figuras symbolicas da Fé, Justiça,
Fortaleza, etc.
Sobre a figura da Fortaleza ha um medalhão com Hercules, o leão
e o centauro finamente executado.
Uma das figuras é a Astronomia, outra a Medicina. Nas pilastras
que formam as esquinas do altar, as faces lateraes mostram fructas
e flores, escudos e peças d’armadura. Estes bellos baixos relevos
são de pura renascença, d’um estylo muito anterior ao frio
classicismo da capella-mór.
Alguns dos symbolos destoam da ideia christã, parecem
deslocados na ornamentação d’um altar-mór. É possivel que sejam
peças destinadas a outra obra d’arte, que foram aqui aproveitadas.
Nas duas capellas lateraes do cruzeiro de Santa Maria de Belem
(Jeronymos) ha uns lindos baixos relevos nos altares, pouco vistos,
que passam mesmo despercebidos porque teem luz escassa, que,
me parece, se relacionam com estes da Luz na qualidade da pedra,
e no estylo do trabalho. E no portico do poente, nos Jeronymos,
superiormente, ha duas pilastras que dizem com estas da Luz[1].

[1] Devemos lembrar que Jeronymo de Ruão, architecto da


Luz, tambem o foi da capella-mór dos Jeronymos
Na alta parede da frente da capella-mór ha oito quadros em
disposição symetrica; o maior occupa o centro, é Nossa Senhora da
Luz com o Menino, que apparecem ao pobre Pedro Martins; o
milagre que deu origem á fundação da ermida primitiva.
Este quadro está assignado: Franciscus Venegas, Regius pictor
faciebat.
Sobre este quadro está outro painel de moldura circular, que
representa a Coroação da Virgem; está tambem assignado: F.
Venegas. f. Como estes dois quadros estão bastante altos as
assignaturas não se descobrem á primeira vista, mas é facil a leitura
com um binoculo regular.
Á esquerda da Coroação está a Adoração dos Reis, á direita a
Apresentação no Templo, em molduras ellipticas; não lhes descubro
assignatura. Aos lados do grande quadro do milagre de Pedro
Martins, está a Visitação á esquerda, e á direita a Adoração dos
pastores; não lhes vejo assignatura; por baixo á esquerda Nossa
Senhora e S. Joaquim, á direita a Annunciação, este assignado: F.
Venegas f.
Os paineis não assignados podem ser do mesmo artista Venegas;
são pinturas em madeira, bem desenhadas e pintadas, em boa
conservação. Á primeira vista estas pinturas destoam, divergem
entre si; a meu vêr porque o pintor, que era excellente executante,
não tratou de inventar, contentando-se em copiar, ou quasi, os bons
quadros que conhecia.
Assim este quadro recorda Raphael, outro o Sarto, aquelle o
Parmesão; na Coroação da Virgem, singelo grupo em fundo
dourado, parece vêr-se a reproducção de quadro muito antigo de
um primitivo; na grande composição central lembra logo a
Transfiguração de Raphael; na Annunciação, que tem grande vigor
de colorido, e luz intensa de grande effeito, recorda o Mazuoli. Isto
é, este Venegas, excellente pintor, está completamente dominado
pela escola italiana.
Na capella da esquerda está o quadro da Circumcisão. O fundo é
formado por apparatoso edificio do renascimento. A figura da
Virgem é admiravel; á esquerda, a Caridade, mulher com duas
creanças, de bom effeito; á direita, no fundo escuro, a Humildade.
No primeiro plano vê-se um tapete persa e um cãosinho felpudo, de
luxo, pintado com muito cuidado.
Na capella á direita a Sacra Familia, Anjos coroando: fundos
claros, edificio do renascimento em ruina. Detalhes minuciosos.
O trabalho d’esculptura em madeira dourada que reveste a
grande parede da capella-mór faz bom effeito; é desegual, talvez em
parte material aproveitado para encher o vão. Mas o sacrario é uma
peça de grande elegancia; renascença classica de cuidadosa
execução.
Na capella esquerda do cruzeiro está um quadro notabilissimo. S.
Bento dá a regra aos seus monges. No primeiro plano á esquerda
el-rei D. Manuel, á direita a infanta D. Maria. Um fidalgo e diversos
monges formam grupo atraz da figura do rei, uma dama e muitas
freiras estão depois da infanta. Todas as figuras estendem o braço
direito, a palma da mão para cima como signal de acceitação da
regra. O pintor para evitar monotonia variou muito as posições dos
dedos; foi um verdadeiro esforço, um trabalho habilidoso e paciente
o desenho de tantas mãos; a mão fina e lisa das damas novas, a
nodosa e enrugada das velhas, a robusta e a gorducha dos fortes
monges. D. Manuel tem o collar de Christo. A infanta veste com
fausto; vestido de tissu lavrado, apertado na frente com laços de
fitas com agulhetas; joias com pedras preciosas, gorgeira de fina
renda, gola muito alta, collar com fita pendente de ouro e pedras. O
lindo rosto juvenil da dama de côrte, vestida mais modestamente,
pintado n’um tom menos brilhante, succede muito bem á magestosa
grande dama, e prepara para o aspecto ascetico do grupo de freiras.
Tanto estas como os frades teem phisionomias estudadas; são
retratos. Por isto este painel tem o duplo valor de obra d’arte, e de
documento historico, dando-nos ainda preciosos elementos de
indumentaria. Ha outros retratos da infanta; e o busto de prata que
se conserva em Santa Engracia (antiga egreja dos Barbadinhos)
harmonisa com este em aspecto e vestuario.
As grades da capella-mór e das outras capellas são em pau santo
com torcidos.
No cruzeiro á direita fica outro altar. É a capella do Senhor dos
Afflictos; é a imagem de Jesus Crucificado, esculptura em madeira
de boa execução, corpo robusto com anatomia estudada. Sob a
imagem, n’um friso, ha duas taboas pintadas que merecem
attenção. Em uma Santo Antonio e S. João Baptista; na outra as
santas Agueda e Luzia, com os seus emblemas. São pinturas talvez
do começo do seculo XVI alli applicadas.
No cruzeiro, á direita, uma porta singela dá para uma pequenina
capella, agora sem culto; construcção do começo do seculo XVII.
Tem rodapé de azulejos, altar e chão de boa pedra. Está aqui um
tumulo com escudo de armas sem lettreiro; outro com brazão e a
seguinte legenda:
—Aqui está sepultado o religiosiss.ᵒ varão da ordem de Chr.ᵒ D. F.
Martinho de Ulhoa bispo que foi de S. Thomé, Congo e Angola
juntamente que mandou fazer esta capella em a qual se lhe diz
missa quotidiana falleceo a 8 d’agosto de 1606.—
Guarda-se na sacristia (antigo côro) um grande retabulo que
servia de tapar o vão do arco da capella-mór. Representa o milagre
de Nossa Senhora a Pedro Martins. É fraca pintura. Está assignado
e datado: Anno de 1714. Henrique Ferreira fez.
Sobre o altar da sacristia está a imagem de Nossa Senhora dos
Remedios.
É esculpida em madeira, e por nesta ter dado o caruncho a
vestiram de seda para occultar as lesões. Merece toda a attenção. É
pintada e dourada; luxuoso vestido rodado de mangas perdidas, fita
de joias em relevo com imitação de pedras finas. No vestido o artista
imitou rico tissu floreado.
O vestuario d’esta imagem recorda o do retrato da infanta. Deve
ser esculptura do fim do seculo XVI.
Da mesma época deve ser um grande frontal com o brazão da
infanta bordado no centro e aos lados; tem fachas de velludo
vermelho com bordado alto a ouro e prata, sendo os vãos ou
entrefachas de seda branca.

Junto do altar-mór a abertura do poço ou fonte da agua milagrosa,


um simples bocal raso com tampa de madeira.
A fonte é bem curiosa. A entrada deita para um quintal contiguo.
Descemos a escada e na parede vemos alguns azulejos antigos,
mouriscos, de fino esmalte e relevos. Um portico em estylo
manuelino dá para o espaço onde nasce a agua; uma abobada
forrada de azulejos brancos com estrellas azues; outros revestem os
rodapés e paredes, em pequenos quadros formados de quatro
azulejos, de diversos typos, alguns raros. O portico tem columnas
torcidas e no intercolumnio uma facha com romans.

Os pintores da Luz
Filippe I (II de Hespanha) n’uma carta de 14 de março de 1583
chama a Francisco Venegas, meu pintor.
(Sousa Viterbo, Noticia de alguns pintores, Lisboa, 1903,
pag. 153).
D. Sebastião, em alvará de 6 de maio de 1577, diz: Diogo Teixeira
hum dos melhores pintores de imaginarya dolio que ha nestes
reynos.
(Ibidem, pag. 142).
Na collecção de desenhos expostos no Museu das Janellas
Verdes, os n.ᵒˢ 307 e 308 parecem-me representar as duas figuras
que estão em baixo relevo no altar-mór da Luz.
O desenho n.ᵒ 346 (Museu das Janellas Verdes) é de Venegas;
uma rubrica indica que é o projecto de um quadro para S. Vicente
de Fóra, e que se executou uma réplica, menor, para S. Domingos
de Setubal.
A collecção de desenhos do Museu das Janellas Verdes é muito
importante, e vista com attenção dá elementos unicos para a historia
da arte em Portugal. Ha mais collecções de desenhos em Portugal
em estabelecimentos publicos, e na posse de particulares, que insta
tornar conhecidas.
Creio que o n.ᵒ 268 é o esquisso do quadro da capella lateral, a
Circumcisão; architectura á romana; o sacerdote no faldistorio, etc.,
nem falta o cãosinho felpudo.

Jeronymo de Ruão foi architecto da infanta D. Maria; entre outras


obras fez a capella da Luz e a capella-mór dos Jeronymos.
Nos dois capitulos O lindo sitio de Carnide e Noticias de Carnide
dei outras noticias e publiquei lettreiros d’esta egreja da Luz, que
julgo escusado repetir agora.
Para a historia da inclita infanta D. Maria é fundamental a—Vida
de la serenissima infanta dona Maria, por fr. Miguel Pacheco
(Lisboa, 1675).—Modernamente appareceu á luz um trabalho a
respeito da infanta e de suas damas pela Sr.ᵃ D. Carolina Michaëlis
de Vasconcellos. Escusado dizer, é bem conhecida a alta
intelligencia e a intensa investigação da auctora, que é escripto fóra
da bitola vulgar. Nelle se dá noticia dos differentes retratos da
infanta D. Maria.
Transcrevo a curta biographia que vem nos Elogios de varões e
donas por ser menos conhecida agora, pois esta obra tornou-se
pouco vulgar.

Biographia da infanta D. Maria


A Infanta D. Maria tão illustre pelo dote da formosura, como pelo
engenho, erudição, graça, e todo o genero de heroicas virtudes, que
a constituiram uma das mais recommendaveis princezas do seu
seculo, foi filha d’El-Rei D. Manoel, e da Rainha D. Leonor de
Austria sua 3.ᵃ mulher. Seu nascimento foi na cidade de Lisboa, em
sabbado 8 de junho de 1521 nos paços da Ribeira; e a 17 do
mesmo mez foi baptizada pelo Arcebispo de Lisboa, D. Martinho Vaz
da Costa, escolhendo El-Rei seu pai para padrinho em nome de
Carlos III, Duque de Saboia, o Barão de S. Germano, Senhor de
Balaison, enviado então por Embaixador a este Reino para solicitar
o cazamento da Infanta D. Brites com o dito Duque; e madrinhas a
mesma Infanta D. Brites e D. Isabel suas meias irmãs. Com a morte
d’El-Rei seu pai no mesmo anno de 1521, e por se auzentar para
Castella a Rainha sua mãi deixando-a ainda no berço, foi entregue
para ser educada em idade competente á direcção da Rainha D.
Catharina sua tia, tanto que chegou a este Reino, de cuja escola
saiu eminente. Como era dotada de estranha viveza, memoria, e
grande juizo aprendeu com facilidade as linguas especialmente a
Grega, e a Latina que soube com perfeição, e escreveu com tanta
propriedade como se lhe fôra natural e materna. Teve por mestres a
insigne Dama Toledana Luiza Segéa exquizitamente douta em
muitas linguas, e raro prodigio de sciencia, que mereceu ser
celebrada dos maiores letrados d’aquella idade; e a Fr. João Soares
de Urró da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, depois Bispo
de Coimbra, que tambem o foi dos Principes D. Filippe, e D. João
seus sobrinhos.
Ao contar dezaseis annos El-Rei D. João III seu irmão lhe deu
caza propria, e separada do paço Real, composta das principaes
pessoas do Reino: a qual com riquissimo dote, que seu pai lhe
deixou, foi de tão grande renda e estado, que para ser igual á das
maiores Rainhas da Europa não lhe faltou mais, que haver o nome
de uma d’ellas. Foi Senhora de Vizeu, e de Torres Vedras de juro, e
teve por El-Rei D. João III seu irmão muitas mercês, e privilegios, e
consta por alguns Documentos que se guardam no Real Archivo,
como são: uma carta em data de 26 de janeiro de 1545, em que se
lhe concedem de padrão de juro e herdade cinco contos de réis, em
virtude do contracto feito com o mesmo Rei D. João III que se acha
inserto; e duas cartas expedidas á mesma Senhora Infante de
privilegios, e jurisdição de suas terras, e sobre as fintas, e
provimentos dos officios d’ellas em data de 2 de novembro do
mesmo anno: o primeiro no Livro da Chancellaria do dito Rei a fol.
25, e os segundos no Livro 43 fol. 9, vers. e 14 verso. Creou n’este
paço particular uma verdadeira Universidade de mulheres illustres
em todo o genero de Sciencias e Artes, de que foi especial
protectora; pois não só se encontrava quem se désse á lição dos
Livros, e tocasse déstramente differentes instrumentos, mas quem
com o pincel, e com a agulha procurasse nos primores da Pintura, e
lavôr virtuosa emulação e seguisse os outros louvaveis exercicios:
aos quaes ajuntava com tal reverencia, e edificação a pratica dos
actos de piedade em todo o genero de virtudes, pela direcção de Fr.
Francisco Foreiro, lustre da Ordem Dominicana, que parecia menos
Paço Real, que Mosteiro reformado, que podia ser a Religiosas
espelho, e doutrina de bem viver. Pela fama de tão Reaes
qualidades foi pretendida para Espoza dos maiores Principes da
Europa, como foram: o Delfim de França, filho de Francisco i; o
Duque de Orleans, irmão do mesmo Delfim, a quem o Imperador
Carlos v promettera a investidura do Ducado de Milão, ou do
Condado de Flandres; e não se effeituando nenhum d’estes
cazamentos, por morrerem ante tempo ambos estes Principes, El-
Rei D. Fernando de Ungria, Rei dos Romanos, e depois Imperador
enviou Embaixador a Portugal pedindo-a por mulher de Maximiliano
seu filho; e ultimamente Filippe ii de Hespanha, logo que enviuvou
da Rainha D. Maria de Inglaterra. Permaneceu todavia até á morte
no estado de Donzella, que havia consagrado a Deos com generoza
rezolução, preferindo mais o amor da quietação de seu espirito, que
a cobiça de reinar. No anno de 1558, sendo ja fallecido El-Rei D.
João III, por comprazer aos dezejos da Rainha D. Leonor sua mãi
que procurava anciozamente vê-la, se foi por Elvas a Badajoz com
luzido acompanhamento; e demorando-se ahi com ella por espaço
de vinte dias, e com a Rainha D. Maria de Ungria e Bohemia sua tia,
que a receberam com muitas festas de prazer, se tornou para o
Reino. Determinada a não sair de Portugal, e a não admittir
propostas de despozorios continuou em religiozos exercicios
praticando obras de muito louvor, como foram: a edificação do
Convento magnifico de N. Senhora da Luz da Ordem de Christo,
que dotou riquissimamente, com a grande obra do Hospital que lhe
ficava fronteiro; o Mosteiro de Santa Helena do Calvario em Evora; o
Convento de N. Senhora dos Anjos (mais conhecido hoje pelo
convento do Barro), de Capuchos Arrabidos, junto da Villa de Torres
Vedras, na qual teve ella seu palacio; e o Mosteiro de S. Bento na
Villa de Santarem; e deixou em seu Testamento, com que se
edificasse Mosteiro para as Commendadeiras de S. Bento de Aviz,
que se fez em Lisboa com a invocação, como ella ordenára, de N.
Senhora da Encarnação. Fundou mais a Igreja Parochial de Santa
Engracia de Lisboa, alem de outras muitas obras de piedade em
outras Igrejas, como no Convento da Graça da Ordem de Santo
Agostinho, em que assistia muitas vezes com sua prezença e
esmollas, quando vivia no Palacio do Castello, a Imagem da
Senhora, cujo corpo mandou cobrir de prata primorosamente
lavrada, e lhe mandou fazer Capella; e no Real Mosteiro de S.
Bento, que então se fabricava, mandou fazer a Imagem grande
deste Santo, que se vê no altar mór, e adornar sua Capella, e a de
outros altares; e por via do Embaixador de Portugal na Côrte de
Roma obteve uma Reliquia do mesmo Santo, que he uma parte da
que estava no Mosteiro de S. Paulo daquella Cidade, para
enobrecer este Mosteiro, e o de Santarem. Foi a Senhora D. Maria,
como universal herdeira da Rainha D. Leonor sua mãi, Senhora
Soberana de juro do Senescallado de Agenois em Gascunha, e dos
opulentos Dominios de Verdum, e Rieux na Provincia de Languedoc;
e alem de muitas baixellas de ouro, prata, joias de grande valor, de
cem mil escudos que lhe pagavam os Reis de França, e Castella.
Sua morte foi no anno de 1577 a 10 de outubro em idade de 56
annos, nos seus paços da Cidade de Lisboa extramuros junto do
Mosteiro de Santos, deixando de si unico exemplo a todas as altas
Princezas de virtude e honestidade. Tinha disposto de sua ultima
vontade, como se podia esperar de sua muita sciencia, e
Christandade, por Testamento de 17 de Julho do mesmo anno de
1577, e Condicillo de 31 de Agosto que fez approvar a 8 de
Setembro, o que mais convinha a sua consciencia, determinando
muitas obras de piedade por todo o Reino com grandes soccorros
para pobres, viuvas, donzellas, orfãos, enfermos, e cativos com
tamanha profusão que não houve quazi genero de pessoa, que não
experimentasse a caridade, e mizericordia desta Princeza, sem
faltar em nada á familia de seus criados, e a todos a quem por
qualquer via era devedora de serviços passados, que a todos
satisfez larguissimamente: e emquanto a seu enterro foi a primeira
clauzula, que se acabasse sua vida, primeiro que estivesse
concluida a Capella de N. Senhora da Luz no Convento dos Padres
de Christo, que ella havia destinado, e mandára edificar para seu
jazigo, a depozitassem, emquanto se acabava, no Mosteiro da
Madre de Deos de Lisboa. Seu corpo foi depozitado no Capitulo do
dito Mosteiro da Madre de Deos, junto da Rainha D. Leonor, mulher
do Senhor Rei D. João II, e celebraram-se-lhe exequias com grande
pompa, como convinha á grandeza de sua pessoa, com assistencia
d’El-Rei D. Sebastião oito mezes antes de partir para Africa, do
Cardial D. Henrique, e de todos os grandes do Reino. Sendo
passados quazi vinte annos, por determinação de Filippe I foi
trasladada para a sobredita Capella de N. Senhora da Luz a 30 de
Junho de 1597. Jaz em o pavimento da Capella mór, em sepultura
pouco levantada no meio della, e sem nenhuma letra, ou diviza,
symbolizando-se por este signal de humildade a muita que esta
Princeza guardou em seu coração por toda a vida. No meio do
Cruzeiro ao lado do Evangelho se lê em pouca altura na parede
uma Inscripção, gravada de letras pretas romanas em uma pedra de
marmore branco de tres palmos de alto, e cinco de largo, a qual diz
assim:

—A Capella moor deste Mosteiro de N. Senhora da Luz e este


Cruzeiro são da sepultura da Serenissima Infanta Dona Maria que
Deos tem filha d’El-Rei Dom Manoel, e da Rainha Dona Lianor sua
mulher na qual Capella e Cruzeiro se não dará sepultura a pessoa
alguma de qualquer calidade que seja nem em tempo algum se fara
nhum Deposito nem nhum litereiro por assi estar asentado por Sua
Magestade e por contrato solene e celebrado que se fez co o Padre
Prior e Padres desta Casa confirmado pelo Padre Dom Prior e mais
Padres do seu Convento de Tomar cujo trelado esta na Torre do
Tombo e nesta Caza de Nossa Senhora. Faleceo a dez Doutubro de
1577.—
Esta biographia vem na obra—Retratos e elogios dos varões e
donas, que illustraram a nação portugueza. (Lisboa, 1817).

S. Sebastião do Paço do Lumiar


A ermida de S. Sebastião está isolada em alegre terreiro,
moldurado de bons predios, alguns antigos, no logar do Paço do
Lumiar.
Este logar é continuação do Lumiar propriamente dito, para o lado
da Luz e Bemfica.
Partindo do amplo largo da Luz segue-se uma estrada entre boas
quintas á Horta Nova; já proximo do Paço ha boas construcções
modernas á beira do caminho.
A ermida é muito simples; chama principalmente a attenção a
porta em estilo manuelino, elegante e bem conservada.
O exterior da pequenina egreja mostra que a primitiva obra do
começo do seculo XVI, soffreu grandes concertos depois. Na cruz
de azulejos que está no lado norte lê-se Anno 1628; a mesma data
se mostra no azulejo que fórra o interior; houve pois grande obra alli
n’esse tempo. As volutas d’alvenaria e os pinaculos lateraes do
frontispicio levam-nos a crer que mais tarde, no meado do seculo
XVIII, talvez depois do terremoto de 1755, houve novo e importante
concerto.
Temos aqui azulejos datados d’uma época interessante, do
periodo philippino, 1628. São de desenho geometrico na maioria,
emquadrando porém bons trabalhos em figura.
O corpo do templo é dividido da capella por um arco e na face
d’este arco estão as imagens em azulejo de S. Francisco, S. Pedro,
S. Antonio e S. Paulo; sobre a porta lateral está um famoso S.
Christovão empunhando respeitavel bordão, com o Menino sobre o
hombro. O artista empregava varias tintas, amarello, roxo, além dos
tons vulgares. Nas paredes da capella ha pequenos quadros
tambem em azulejo, azul sobre branco, representando phases da
vida de S. Sebastião, muito mais modernos que os do corpo do
templo.
É nos azulejos do arco divisorio, infra, que está em grandes
algarismos a data 1628, quasi encoberta pelos estrados de madeira.
No alizar d’este arco, ha flores pintadas com mimo; assim como
no pequeno côro se vêem caixotões com pinturas.
O ladrilho é antigo e bom; com azulejos brancos entre os tijolos
vermelhos. As portas são de excellente madeira, em almofadas de
boa execução.
O tecto da ermida soffreu alguma ruina, talvez pelo terremoto,
mas conserva ainda boas pinturas antigas, entre estuques mais
modernos.
Tem alguns lettreiros em sepulturas, uns bem legiveis, outros
gastos pela passagem dos devotos, o que mostra que em tempos
foi esta ermida frequentada; agora poucas vezes ha alli missas.
Transcreverei algumas inscripções.
—Aqui jaz sepultado o padre Joaquim Jorge faleceo a 9 de
novembro de 1783.
—S.ᵃ do P.ᵉ Antonio Pinheiro capelão que foi d’esta hirmida o qual
faleceu na era de 1705.
—S.ᵃ do capitão Estevão Soares de Alvergaria cavaleiro da ordem
de Christo faleceu a 11 de dezembro de 1644 e de sua molher Anna
de Masedo da Maia e de sua mãi Madalena da Maia....
Tem seu escudo gravado; a cruz fioreteada, com orla de escudos,
elmo e paquifes.
Outra campa é do—P.ᵉ Antonio Mamede bemfeitor desta irmida,
que morreu em 1 de abril de 1791.
Em outra muito gasta pareceu-me vêr o nome Rodrigo Diniz
Moreira.
Sobre a torre dos sinos ergue-se no eirado um campanario onde
está o sino das horas; porque tem seu relogio a pequena ermida,
com mostrador voltado para norte.
Ha na frontaria quatro argolas de ferro que serviam para segurar
um grande toldo na occasião das festas.
Quando fiz o esboceto do frontispicio estive a conversar com um
velhote que antigamente tratava do relogio, e armava o toldo, que
era quasi sempre uma vela de navio emprestada pelo arsenal de
marinha.
Embora humilde e acanhado tem o pequeno templo uma certa
importancia por ser anterior ao grande terremoto de 1755, e por nos
conservar além do gracioso portal manuelino, pinturas e azulejos do
seculo XVII, em bom estado de conservação.

Lumiar. Quinta do Sr. Duque de Palmella


Esta egreja de S. João Baptista do Lumiar é freguezia muito
antiga.
A disposição do templo mostra a sua remota fundação, grandiosa,
em tres naves; mas as reconstrucções e concertos deram-lhe um
aspecto moderno.
Consta que foi esta egreja fundada em 1267. Eram padroeiras as
freiras de Odivellas, por doação de D. Thereza Martins, viuva de D.
Affonso Sanches, filho bastardo d’el-rei D. Diniz.
Não pára aqui a historia. D. Affonso iii possuia aqui uma casa de
campo com sua quinta; esta propriedade pertenceu depois a D.
Diniz.
Em terreno da quinta foi edificada a egreja. A posse passou ao
bastardo de D. Diniz, o infante D. Affonso Sanches, e então se
chamou á casa de campo o Paço de Affonso Sanches.
Este entrou nas luctas d’aquella época atormentada, os bens
foram-lhe confiscados, e D. Affonso iv, o irmão, chamou-lhe o Paço
do Lumiar. Mais tarde a propriedade deixou de pertencer á corôa,
mas conservou sempre o nome de Paço do Lumiar; por alli se
ergueram casas, fez-se povoação, e ao fim d’ella uma ermida
dedicada a S. Sebastião.
O marquez de Angeja, D. Francisco de Noronha, em fins do
seculo XVIII edificou o actual palacio, hoje pertencente á Casa
Palmella.
O duque de Palmella, D. Pedro, homem de espirito cultissimo e
fino gosto, gostava immenso da sua quinta, augmentou-a com a que
pertencera á casa dos marquezes de Olhão, depois ao conde da

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