Sermao 0002 - em Memoria de Cristo C.H. Spurgeon

Conselho editorial: Pr.
Fernando Angelim
Pr. Jorge Rodríguez
Pr. Josué Meninel
Pr. Marcus Paixão
Editor: Pr. William Teixeira
O Estandarte de Cristo
Editora
Os Sermões de C.H. Spurgeon

Sermão Nº2: Em Memória de Cristo
■
Copyright © 2022 Editora O Estandarte de Cristo | Francisco Morato, SP, Brasil
1ª Edição em português: 2022.
■
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de Cristo.
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
■
Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão
Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
■
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão de Tradução: William Teixeira
Revisão Ortográfica: Stephanie Bicalho
Capista: Kaiky Reis e William Teixeira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Spurgeon, C. H. (Charles Haddon), 1834-1892.

S772e A Em memória de Cristo [livro eletrônico]: sermão 2 / C. H. Spurgeon; tradução Camila
Rebeca. – Francisco Morato, SP, 2023. (Sermões de C. H. Spurgeon; v. 2).
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Título original: The Remembrance of Christ
ISBN 978-65-01-07840-3
1. Spurgeon, C. H. (Charles Haddon), 1834-1892 – Sermões. 2. Homilética. I. Título.
CDD 251
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

Seja um Apoiador da Editora O Estandarte de Cristo
S
omos uma editora de fé cristã batista reformada e confessional. Esta-
mos firmemente comprometidos com as verdades bíblicas fielmente
expostas na Confissão de Fé Batista de 1689.
A editora O Estandarte de Cristo nasceu em 2013 como um ministério

online de traduções cujo objetivo é glorificar a Deus através da publicação de
autores bíblicos fiéis. Em 2018, a editora foi formalizada e passamos a publicar
também livros físicos. De lá para cá, já publicamos centenas de eBooks e dezenas
de livros em formato físico.
Embora sejamos indescritivelmente gratos a nosso Deus por tudo que ele
nos concedeu fazer até aqui, temos convicção de que há muitíssimo mais a ser
feito, mas precisamos da sua ajuda para irmos mais longe e aumentar a produ-
tividade, atuação e alcance de nosso trabalho.
Portanto, decidimos criar uma campanha de financiamento coletivo para

que as pessoas que já conhecem o nosso trabalho, se identificam com a nossa fé
& causa, e querem nos apoiar nessa missão, possam fazer isso através de doações
mensais. Em troca, reconheceremos nossos apoiadores como forma de gratidão,
bem como disponibilizaremos recompensas que sejam abençoadoras e edifican-
tes. Acesse nossa campanha e confira: https://apoia.se/oestandartedecristo. Con-
tamos com o seu apoio.
Esta publicação foi realizada com o apoio das seguintes pessoas:
• Acyr Godoy Doueidar • Josué Meninel
• Amanda Maria Vieira Ramalho • Julio Cesar Correa
• Anderson José Pereira • Madson Gonçalves da Silva
• Arli Eler Junior • Mateus da Silva Santos
• Bruno Ferreira Ribas • Marina Tanamura
• Douglas Hiago da Costa Menezes • Nathalia Alves de Moraes
• Elivando Carvalho de Mesquita • Paulo Júnior
• Fabiano Prado Lima • Paulo Lima de Moraes
• Fábio de Araújo Oliveira • Sérgio Nogueira Fiuza
• Idalina Assis Lopes • Tiago Rodrigues Gonçalves
• Jean Carlo Lima de Matos • Valeria Lopes Sena Silva
• Jean Lenon de Souza • Vaneide Pereira da Silva Braga
• João Carlos Ferreira Felix • Victor Hugo de S.V.S.R. Pereira
• João Marcos Salgado de Moraes • Vlademir Fernandes de Oliveira Júnior
• Joilson Martins Santana • Wandrypollian Aguiar Lima
E das seguintes instituições:
Igreja Batista Reformada de Igreja Batista Shekinah

Francisco Morato-SP Manaus-AM
Adquira os sermões de C.H. Spurgeon na versão impressa:
Encontra os sermões de C.H. Spurgeon que já publicamos

na versão eBook, na Amazon:
Sermão 01 • A Imutabilidade de Deus
Sermão 02 • Em Memória de Cristo

Sermão 03 • O Pecado da Incredulidade
Sermão 04 • A Personalidade do Espírito Santo

Sermão 05 • O Consolador
Sermão 06 • Doce Consolo para Santos Fracos

Sermões 07-8 • Cristo Crucificado
Sermão 09 • Liberdade Espiritual
Sermão 10 • O Sacerdócio Real dos Santos

Sermão 11 • O Cristo do Povo
Sermão 12 • O Sono Especial do Amado
Sermão 13 • Consolação Proporcional ao Sofrimento Espiritual
Sermão 14 • A Vitória da Fé
Sermão 15 • A Bíblia
Sermão 16 • Primeira Oração de Paulo

Sermão 17 • José é Atacado Pelos Arqueiros
Sermão 18 • O Túmulo de Jesus

Sermão 19 • A Canção da Morte de Davi
Sermão 20 • A Mente Carnal é Inimizade Contra Deus

Sumário
Sermão Nº 2 | Em Memória de Cristo
I. O glorioso e precioso objeto da memória ........................................ 7
II. Os benefícios de uma lembrança amorosa sobre Cristo ............... 14
III. Uma doce ajuda à memória ........................................................ 19
IV. Uma ordem amável .................................................................... 21
Os Sermões de Charles Haddon Spurgeon ......................................... 25

Os Sermões de C.H. Spurgeon
Em Memória de Cristo
(Sermão Nº 2)
Sermão pregado na noite do dia do Senhor, 7 de janeiro de 1855.

Por C.H. Spurgeon, na New Park Street Chapel, em Southward.
“Fazei isto em memória de mim.”

(1 Coríntios 11:24)
P
arece, então, que os cristãos podem esquecer de Cristo. O texto
implica a possibilidade de esquecimento daquele a quem a grati-
dão e a afeição deveriam constrangê-los a lembrar. Não haveria
necessidade dessa exortação amorosa, se não houvesse uma suposição rece-
osa de que nossas lembranças poderiam se revelar traiçoeiras e nossa me-
mória superficial em seu caráter ou inconstante em sua natureza. Essa não
é uma suposição vã, antes, infelizmente, ela é muito bem confirmada em
Instagram | Facebook | WhatsApp | Telegram
nossa experiência, e não como uma possibilidade, mas como um fato lamen-
tável. À primeira vista, isso parece ser um crime grosseiro demais para ser
imputado a homens convertidos. Parece quase impossível que aqueles que
foram redimidos pelo sangue do Cordeiro venham a se esquecer do seu Re-
dentor, que aqueles que foram amados com um amor infinito pelo eterno
Filho de Deus venham a esquecê-lo. Embora isso seja surpreendente aos ou-
vidos, infelizmente é muito óbvio aos olhos para que possamos nos permitir
negar esse fato. Esquecer aquele que não nos esqueceu! Esquecer aquele que
derramou o seu sangue por nossos pecados! Esquecer aquele que nos amou
até a morte! Isso é possível? Sim, não somente é possível, mas nossa cons-
ciência confessa que essa é uma culpa muito triste que pesa sobre todos nós,
a saber, que podemos nos lembrar de tudo, exceto de Cristo. Aquele que
deveria ser o rei dos nossos corações é justamente aquele a quem somos
mais inclinados a esquecer.
Naquele lugar onde imaginaríamos que a memória se estabeleceria e
que a desatenção seria um intruso desconhecido, esse é o local profanado
pelos pés do esquecimento e pela rara presença da memória. Apelo para a
consciência de todos os cristãos aqui quando digo: Você pode negar a ver-
dade do que eu afirmo? Você já não percebeu a si mesmo esquecido de Je-
sus? Alguma criatura rouba o seu coração e você fica indiferente em relação
àquele em quem sua afeição deveria estar depositada. Alguns negócios ter-
renos absorvem a sua atenção quando você deveria estar olhando fixamente
para a cruz. É a mesmice incessante do mundo e o barulho constante da
terra que distraem a alma de Cristo. Ah, meus amigos, infelizmente não é
verdade que podemos nos lembrar de tudo exceto de Cristo e que nos es-
quecemos mais facilmente de quem devemos nos lembrar? Embora a me-
mória seja capaz de preservar uma erva daninha envenenada, ela permite
que a Rosa de Sarom venha a murchar.
OEstandarteDeCristo.com
5
Baixe eBooks gratuitamente | Conheça nossos livros | Visite nossa loja da Amazon
A causa disso é muito clara e reside em um ou dois fatos. Esquecemos

de Cristo porque a corrupção e a morte permanecem até mesmo em pessoas
regeneradas, como realmente somos. Nós o esquecemos porque carregamos
conosco o velho Adão do pecado e da morte. Se fôssemos somente novas
criaturas, jamais esqueceríamos o nome daquele que amamos. Se fôssemos
seres plenamente regenerados, nos assentaríamos e meditaríamos sobre
tudo o que nosso Salvador fez e sofreu, em tudo o que ele é bem como em
tudo o que ele prometeu realizar de modo tão glorioso e então jamais as
nossas afeições vagueantes se desviariam, mas estariam centradas, prega-
das e fixadas eternamente em um só objeto; nós contemplaríamos continu-
amente a morte e os sofrimentos do nosso Senhor.
Porém, infelizmente, temos um verme e uma peste em nosso coração,
ele é como uma fornalha de luxúrias, imaginações vis e paixões intensas e
malignas, o qual, como uma fonte de água venenosa, faz brotar continua-
mente fluxos de impurezas. Eu tenho um coração, conhecido por Deus, que
eu gostaria de poder arrancar do corpo e atirar a uma distância infinita; uma
alma que é uma gaiola de aves impuras, um antro de criaturas odiosas, onde
os dragões assombram e as corujas se reúnem, onde toda besta maligna ha-
bita; um coração vil demais para comparar com algo semelhante: “Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Je-
remias 17:9, NAA). Essa é a razão pela qual eu me esqueço de Cristo.
Entretanto, essa não é a única causa, suspeito que também haja outro
motivo. Esquecemos de Cristo porque há muitas outras coisas ao nosso re-
dor que atraem a nossa atenção. Você diz: “Mas tais coisas não deveriam
fazer isso, pois embora estejam ao nosso redor, são como nada em compa-
ração com Jesus Cristo. Embora estejam muito próximas de nossos cora-
ções, o que elas são quando comparadas com Cristo?”. Contudo, vocês sa-
bem, caros amigos, que a proximidade de um objeto pode exercer um poder
de atração muito grande? O sol é muito maior do que a lua, mas a lua tem
6
uma influência maior sobre as marés do oceano do que o sol, simplesmente

porque está mais próxima da Terra e possui um poder de atração maior.
Assim também, percebo que um pequeno verme da terra exerce mais efeito
sobre a minha alma do que o glorioso Cristo no céu; um punhado de terra
dourada, um sopro de notoriedade, o barulho de um aplauso, um negócio
próspero, a minha casa e o meu lar chegam a me afetar mais do que todas
as glórias do mundo superior, e até mesmo mais do que a própria visão be-
atífica, simplesmente porque a terra está perto e o céu está longe.
Como será feliz o dia em que serei carregado nas asas dos anjos para
morar eternamente perto do meu Senhor, quando me deleitarei sob o sol
do seu sorriso e me perderei no brilho inefável da sua face encantadora. Vi-
mos a causa do esquecimento, então nos envergonhemos por isso; nos en-
tristeçamos por negligenciarmos tanto o nosso Senhor e agora obedeçamos
à sua palavra: “Fazei isto em memória de mim”, na esperança de que os seus
sons solenes possam afastar o demônio da ingratidão vil.
Em primeiro lugar, falaremos sobre o objeto bendito da memória; em
segundo lugar, sobre os benefícios a serem derivados da lembrança dessa
pessoa; em terceiro lugar, sobre a graciosa ajuda à nossa memória: “Fazei
isto em memória de mim”; e, em quarto lugar, sobre a ordem amável: “Fazei
isto em memória de mim”. Que o Espírito Santo abra os meus lábios e os
seus corações para que possamos receber bênçãos.
I. Primeiro, falaremos sobre o glorioso e precioso ob-

jeto da memória: “Fazei isto em memória de mim”.
Os cristãos têm muitos tesouros para guardar na memória. Eles devem
se lembrar de sua eleição: “Escolhidos por Deus antes da fundação do
mundo” (Efésios 1:4). Eles devem atentar para sua origem, que eles foram
tirados do lamaçal e removidos do abismo terrível. Eles devem se lembrar
7
do seu chamado eficaz, pois foram chamados por Deus e resgatados pelo
poder do Espírito Santo. Eles deveriam se lembrar dos seus livramentos es-
peciais e de tudo o que foi feito por eles de e todas as misericórdias que já
foram concedidas a eles. Mas há alguém que eles devem guardar em suas
almas com os seus perfumes mais preciosos, alguém que, acima de todos os
outros dons de Deus, merece ser lembrado perpetuamente. Digo alguém,
pois não me refiro a um ato, mas a uma pessoa cujo retrato eu gostaria de
emoldurar em ouro e pendurar na sala de estar da alma. Eu gostaria que
vocês fossem estudantes sinceros de todas as obras do Messias vencedor.
Eu gostaria que vocês conhecessem a vida do nosso Amado. Mas não esque-
çam de sua pessoa, pois o texto diz: “Fazei isto em memória de mim”. A
pessoa gloriosa de Cristo deve ser o objeto da nossa lembrança. É a sua ima-
gem que deve ser entesourada em cada templo do Espírito Santo.
Mas alguns dirão:
Como podemos nos lembrar da pessoa de Cristo, se nunca o vimos?

Não podemos dizer qual era a forma específica do seu rosto. Cremos
que o seu rosto seja mais belo do que o de qualquer outro homem —
apesar da dor e do sofrimento mais intenso — mas como não o vimos,
não podemos nos lembrar dele. Nunca vimos os seus pés enquanto eles
percorriam as peregrinações da sua misericórdia; nunca vimos as suas
mãos enquanto ele as estendia cheias de bondade; não podemos nos
lembrar da maravilhosa entonação da sua voz enquanto, em uma elo-
quência maior do que a dos serafins, ele impressionava a multidão e
cativava os seus ouvidos; não podemos imaginar o sorriso doce que
sempre esteve em seus lábios e nem aquele terrível franzir de sua testa
enquanto ele pronunciava os anátemas contra os fariseus; não conse-
guimos lembrar dele em seus sofrimentos e agonias, pois nunca o vi-
mos.
8
Bem, amados, suponho que é verdade que não se lembram da aparên-

cia visível, pois vocês não eram nascidos, mas vocês não sabem que o pró-
prio apóstolo disse que embora tivesse conhecido Cristo segundo a carne, já
não o conhecia desse modo? 1 A aparência natural, a raça, a descendência, a
pobreza, a roupa humilde, não eram nada na estima do apóstolo em relação
ao seu Senhor glorificado. Portanto, embora vocês não o conheçam segundo
a carne, podem conhecê-lo segundo o espírito e, assim, podem se lembrar
de Jesus tanto quanto Pedro, Paulo, João, Tiago ou qualquer um daqueles
que foram favorecidos por terem podido seguir os seus passos, caminhar ao
lado dele ou reclinarem as suas cabeças sobre o seu peito. A memória ani-
quila a distância, ultrapassa o tempo e então consegue contemplar o Se-
nhor, ainda que ele esteja exaltado na glória.
Dediquemos cinco minutos para lembrar de Jesus. Lembremo-nos
dele em seu batismo, quando desceu às águas da Jordânia e uma voz foi
ouvida: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:17).
Vejam-no saindo do rio! Certamente, a água deve ter ruborizado ao perce-
ber que seu Deus havia entrado nela. Ele passou um momento debaixo das
águas, a fim de consagrar o túmulo batismal, no qual aqueles que estão mor-
tos com Cristo são sepultados com ele. Lembremo-nos dele no deserto, para
onde ele foi diretamente após a sua imersão.
Tenho pensado muitas vezes naquela cena no deserto, quando Cristo
cansado e desgastado se assentou, talvez sobre as grandes raízes de alguma
árvore antiga. Ele jejuou por quarenta dias, então teve fome e quando, na
extremidade de sua fraqueza, foi tentado pelo Diabo. Talvez o maligno ti-
vesse disfarçado a sua aparência demoníaca na forma de algum peregrino
idoso e ao pegar uma pedra, disse:
1
Nota de tradução: 2 Coríntios 5:16: “Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos
segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo 9
agora já não o conhecemos deste modo”.
— Peregrino, se você é o Filho de Deus ordena que esta pedra se trans-

forme em pão.
Parece que consigo ver o seu sorriso astuto e olhar malicioso enquanto
segurava a pedra e dizia:
— Se — que blasfemo “se”! — Se tu és o Filho de Deus, ordena que
esta pedra se transforme em uma refeição para nós, pois ambos temos fome
e este será um ato de misericórdia. Você pode fazer isso facilmente e esta
pedra será como o pão do céu, então nos alimentaremos dela e seremos ami-
gos para sempre.
Mas Jesus respondeu, e quão docemente ele falou:
— Nem só de pão viverá o homem.
Como Cristo lutou maravilhosamente contra o tentador! Nunca houve
uma batalha como essa. Foi um duelo acirrado, quando o leão do abismo e
o poderoso leão da tribo de Judá se enfrentaram. Que visão espantosa! Os
anjos ficaram de pé para contemplar o espetáculo, assim como os homens
de antigamente se sentavam para ver os combates de guerreiros famosos.
Ali Satanás reuniu as suas forças; Apoliom concentrou todo o seu poder sa-
tânico para que, naquele embate gigantesca, ele pudesse derrotar o descen-
dente da mulher. Mas Jesus era um adversário grande demais para ele. Em
meio ao combate, Cristo desferiu um golpe mortal e saiu mais do que ven-
cedor.
Cordeiro de Deus, eu me lembrarei das suas lutas no deserto, quando eu
combater contra Satanás. Quando eu enfrentar o Diabo, que é como um leão a
rugir, olharei para aquele que o venceu de uma vez por todas e feriu a cabeça do
dragão com seus golpes poderosos.
Além disso, peço que se lembrem dele em todas as suas tentações diá-
rias e provações constantes. Lembrem-se que ele lutou durante toda a sua
10
vida. Que grande tragédia foi a morte de Cristo! E como foi a sua vida? Co-
meçou com um cântico e terminou com um brado: “Está consumado” (João
19:30). Começou numa manjedoura e terminou numa cruz; mas quão triste
foi o intervalo entre elas! Ele sofreu uma perseguição terrível, quando então
os seus amigos o abandonaram e os seus inimigos desdenharam dele en-
quanto; quando ele passava pelas ruas e era caluniado e atacado devido à
inveja; quando blasfemaram dele dizendo que ele tinha demônio e estava
louco, que ele era um beberrão; e quando a sua alma justa era afligida pelas
condutas ímpias dos pecadores.
Filho de Deus, devo me lembrar do senhor; não posso deixar de lembrar-me
da sua pessoa quando penso naqueles anos de labor e aflições que viveu por minha
causa.
Mas vocês conhecem o meu tema preferido, o lugar onde sempre con-
sigo me lembrar mais de Cristo. É um jardim escuro e cheio de oliveiras. Eu
gostaria de ser eloquente o suficiente para levá-los até lá. Ah, se o Espírito
Santo apenas nos conduzisse e nos fizesse descer pelas montanhas de Jeru-
salém, para que pudéssemos ver as correntes do ribeiro de Cedrom, pelo
qual o próprio rei passou; ali vocês veriam as oliveiras. Possivelmente, aos
pés de uma das árvores, estariam dormindo os três discípulos e mais adi-
ante vejo gotas de sangue. Espere, minha alma; você vê aquelas gotas de
sangue? Observe-as; não são o sangue de feridas, são o sangue de um ho-
mem cujo corpo ainda não foi machucado. Minha alma pode imaginar
quando ele se ajoelhou em agonia e suor — suor porque ele lutou com Deus
— suor porque ele agonizou diante do seu Pai. “Meu Pai, se for possível,
afasta de mim este cálice” (Mateus 26:3). Ó Getsêmani, as suas sombras são
profundamente solenes para a minha alma. E aquelas gotas de sangue cer-
tamente são o clímax da miséria e o último dos atos poderosos daquele sa-
crifício maravilhoso. O amor pode ir mais fundo do que isso? Será que ele
11
pode se rebaixar a maiores atos de misericórdia. Ah, se eu fosse eloquente,

eu daria uma língua a cada gota de sangue que caiu ali, a fim de que os seus
corações se levantassem em motim contra a sua apatia e frieza e então fa-
lassem com lembrança sincera e ardente de Jesus.
Mas eu os levarei para outro lugar, onde vocês ainda verão o “Homem
de Dores”. Eu os levarei a Pilatos e deixarei que vocês o vejam a suportar as
zombarias dos soldados cruéis e os golpes dos punhos cerrados; a vergonha;
as cuspidas, o arrancar dos cabelos e as bofetadas cruéis. Ah!, você não con-
segue imaginar o Rei dos Mártires, despido de suas vestes e exposto ao olhar
de homens semelhantes ao maligno? Você não vê a coroa sobre sua fronte,
cada espinho agindo como uma pequena lança e ferindo a sua cabeça? Você
não percebe os ombros lacerados e os ossos brancos aparecendo através da
carne sangrando? Filho do homem, eu o vejo flagelado e ferido com varas e
chicotes, como posso deixar de me lembrar de você daqui em diante? Minha
memória seria mais traiçoeira do que Pilatos se eu não exclamasse “ecce
homo”, eis o homem.
Agora, termine a cena angustiante com uma visão do Calvário. Pense
nas mãos perfuradas e no lado ensanguentado; pense no sol escaldante e
depois em toda a escuridão; lembre-se do calor ardente e da sede pavorosa;
pense no grito de morte: “Está consumado” e nos gemidos que foram o seu
prelúdio. É disso que devemos nos lembrar. Nunca nos esqueçamos de
Cristo. Rogo a vocês, por amor de Jesus, dê a ele o principal lugar em suas
lembranças. Não deixem a pérola de grande valor cair de suas mãos descui-
dadas no oceano sombrio do esquecimento.
No entanto, não posso deixar de dizer uma coisa antes de deixar esse
ponto: Há alguns de vocês que podem aceitar muito bem o que eu disse,
porque já o leram com frequência e já o ouviram antes. Contudo, não con-
12
seguem se lembrar espiritualmente de nada sobre Cristo, pois ele nunca se

manifestou a vocês e não podemos nos lembrar daquilo que jamais conhe-
cemos. Graças a Deus, não me refiro a todos vocês, pois neste lugar há um
bom remanescente de acordo com a eleição da graça e eu me dirijo a eles.
Talvez eu pudesse falar a eles sobre algum velho celeiro, sebe ou casa de
campo; ou se vocês vivem em Londres, sobre algum sótão ou alguma rua ou
beco escuro, onde se encontraram com Cristo pela primeira vez; ou sobre
alguma capela na qual entraram e então puderam dizer: “Graças a Deus,
posso me lembrar do lugar onde Jesus encontrou comigo pela primeira vez,
falou em sussurros de amor à minha alma e me disse que ele havia me com-
prado”.
“Você ainda lembra do lugar

Onde Jesus o encontrou”?
Sim, eu lembro. E gostaria de erguer algum monumento no lugar onde

Jesus falou pela primeira vez à minha alma e se manifestou para mim. Mas
ele já se revelou a você mais de uma vez, não é verdade? E pode se lembrar
de dezenas de lugares onde o Senhor apareceu a você, dizendo: “Com amor
eterno o amei”. Se nem todos vocês podem se lembrar de coisas semelhan-
tes a essas, há alguns de vocês que podem. E estou certo de que esses me
entenderão quando eu digo: “Venham e façam isso em memória de Cristo”,
em memória de todas as suas visitas amorosas, de suas palavras doces e afe-
tuosas, de seus sorrisos conquistadores e de tudo o que ele disse e comuni-
cou às suas almas. Se possível, lembrem-se de todas essas coisas que a me-
mória pode reunir como o poderoso conjunto da graça. “Bendize, ó minha
alma, ao Senhor”. “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de
nenhum de seus benefícios” (Salmos 103:2).
13
II. Após ter falado sobre o objeto bendito da nossa

memória, falaremos agora sobre os benefícios de
uma amorosa lembrança de Cristo.
O amor nunca diz: “Cui bono?”, que benefício há? O amor nunca per-
gunta que benefício ele terá a partir dele mesmo. O amor, por sua própria
natureza, é desinteressado. Ele ama pelo bem da criatura; ele ama e não
pede nada em troca. O cristão não precisa de argumentos para fazê-lo amar
a Cristo, assim como uma mãe não precisa de argumentos para fazê-la amar
o seu filho. Ela o ama porque faz parte da sua natureza amá-lo. Aquele que
nasceu de novo precisa amar a Cristo, ela não pode deixar de fazê-lo. Quem
pode resistir aos encantos incomparáveis de Jesus Cristo? Ele é o mais belo
entre dez mil, o mais adorável de dez mil amores. Quem pode se recusar a
adorar o príncipe da perfeição, o reflexo da beleza, o majestoso Filho de
Deus? Entretanto, ainda pode ser útil que meditemos sobre os benefícios
de lembrar de Cristo, pois eles não são poucos nem pequenos.
Em primeiro lugar, a lembrança de Jesus tenderá a lhe dar esperança
quando você sentir o fardo dos seus pecados. Observe algumas pessoas
aqui. Lá vem uma pobre criatura. Olhe para ele! Ele negligenciou a si
mesmo, e neste último mês parece que mal comeu o seu pão de cada dia.
Qual é o seu problema? Ele diz:
Ah! Tenho estado sob um sentimento de culpa; tenho lamentado repe-

tidamente, pois temo que jamais possa ser perdoado. Uma vez pensei
que eu fosse uma pessoa boa, mas tenho lido a Bíblia e então percebi
que o meu coração é “mais enganoso do que todas as coisas e desespe-
radamente corrupto” (Cf. Jeremias 17:9). Tenho tentado reforma a
mim mesmo, mas quanto mais tento, mais me afundo no lamaçal, cer-
tamente não há esperança para mim. Sinto que não mereço misericór-
dia; sinto que Deus me destruirá, pois ele declarou: “A alma que pecar,
14
essa morrerá” (Ezequiel 18:4), eu deverei morrer, maldito seja eu, pois
sei que quebrei a lei de Deus.
Como você consolará um homem assim? Que palavras amigáveis você

poderá dizer para lhe dar paz? Eu sei! Eu direi a ele que existe alguém que
fez uma expiação completa; se crer nele, você será salvo para sempre. Lem-
bre-se dele, pobre criatura prestes a perecer e sem esperança e então você
cantará de alegria e felicidade. Veja, o homem crê e em exultação exclama:
“Vinde, e ouvi, todos os que temeis a Deus, e eu contarei o que ele tem feito
à minha alma” (Salmos 66:16).
“Proclamem aos pecadores,

Que fui liberto do inferno de dores.”
Aleluia! Deus apagou os meus pecados como uma nuvem espessa! Esse
é um benefício de nos lembrarmos de Cristo. Isso nos dá esperança quando
estamos sob um senso do pecado, pois essa lembrança nos diz que ainda há
misericórdia.
Falarei sobre outro tipo de pessoa. E o que ele diz?
Não aguento mais. Tenho sido perseguido e maltratado, porque amo

Cristo. Tenho sido ridicularizado, zombado e desprezado. Tento su-
portar, mas realmente não consigo mais. Até mesmo um verme se vol-
tará contra você, se pisar nele. A minha paciência está findando; estou
numa situação tão difícil que não adianta me aconselhar a ser paciente,
pois já não consigo. Os meus inimigos estão me difamando e eu não
sei o que fazer.
O que devemos dizer a esse pobre homem? Como podemos encorajá-

lo a ser paciente? O que devemos pregar para ele? Você já ouviu o que ele
tem a dizer sobre si mesmo. Como devemos consolá-lo enquanto ele en-
frenta essa grande provação? Se viermos a sofrer essa mesma provação, o
15
que desejaremos que algum amigo nos diga? Devemos dizer a ele que outras
pessoas já suportaram algo semelhante? Ele dirá: “Todos vocês são consola-
dores que só aumentam o meu sofrimento” (Jó 16:2, NAA). Não, eu lhe di-
rei:
Irmão, você tem sido perseguido; mas lembre-se das palavras de Jesus
Cristo, ele nos disse: “Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso
galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram
antes de vós” (Mateus 5:12). Meu irmão! Pense naquele que enquanto
morria, orava por seus assassinos, e dizia: “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Tudo o que você tem que su-
portar é como nada comparado com os seus sofrimentos intensos. Te-
nha coragem, combata como um homem e nunca desfaleça. Não se per-
mita perder a paciência, tome a sua cruz diariamente e siga a Cristo,
que esse seja o seu lema e que isso fique sempre diante de seus olhos.
Agora, diante dessas palavras, ouça o que o homem dirá. Ele lhe dirá
imediatamente: “Bem-vinda, perseguição. Bem-vinda, vergonha”. A vergo-
nha por causa de Jesus será a minha honra, e o desprezo por causa dele será
a minha maior glória.
“Eu carrego seu nome por amor,

Considero perda, o que seria favor
Toda minha vergonha desprezarei,
Minha glória em sua cruz pregarei.”
Ainda há um outro efeito de lembrar de Cristo. Tal memória tende a

nos dar paciência em momento de perseguição. Esse é um cinturão para cin-
girmos os lombos, a fim de que a nossa fé persevere até o fim.
Caros amigos, eu ocuparia demais o seu tempo se eu falasse sobre os
diversos benefícios. Assim, apenas falarei brevemente sobre mais uma ou
16
duas bênçãos. Isso nos fortalecerá quando formos tentados. Acredito que
todo homem terá o momento de enfrentar uma tentação terrível. Nunca
houve um navio que navegasse sempre sobre as profundezas do mar pode-
roso e que não teve que lutar contra uma tempestade. Ali está o pobre bar-
quinho, balançado para cima e para baixo sobre as ondas agitadas. Veja
como ele é atirado de uma onda para a outra, para cima e para baixo. Os
ventos riem e o desprezam. O velho oceano sacode o navio de um lado para
o outro. Como os marinheiros gritam de medo! Você sabe como acalmar o
mar? Sim. Uma palavra poderosa pode aquietá-lo. Venha Jesus! Que o po-
bre coração se lembre de Jesus, então o navio navegará com estabilidade,
pois Cristo tem o controle do leme. Os ventos não soprarão mais, pois
Cristo lhes mandará calar suas bocas poderosas para que não perturbem
mais o seu filho.
Não há nada que lhe possa dar força em momentos de tentação e
ajudá-lo a resistir à tempestade, como o nome de Jesus Cristo, o Filho en-
carnado de Deus. Que conforto o nome de Cristo lhe dará em um leito de
enfermidade! Isso lhe ajudará a ser paciente diante dos que lhe rodeiam e a
suportar os sofrimentos que precisa suportar. Assim será e você terá mais
esperança na doença do que na saúde e encontrará uma doçura abençoada
na amargura do fel. Por meio de suas aflições, em vez de sentir o vinagre em
sua boca, você encontrará mel e doçura no meio de toda a provação e difi-
culdade que Deus colocar sobre você, pois Jesus “dá salmos durante a
noite”.
Para concluir o que tenho dito sobre os benefícios de lembrar de Cristo,
você sabe onde obterá o benefício supremo? Você sabe o lugar sobre o qual
você mais se alegrará em pensar? Eu mostrarei. Silêncio! Silêncio! Você está
subindo as escadas para um quarto solitário. As cortinas estão fechadas. Al-
guém está chorando ali. As crianças estão ao redor da cama, e amigos estão
17
presentes. Você aquele homem deitado? É você mesmo. Olhe para ele, os
olhos dele são os seus olhos, as mãos dele são as suas mãos. É você! Em
breve você estará ali. Você é aquele homem. Você o vê? É um retrato seu.
São os seus olhos que logo serão fechados pela morte e as suas mãos ficarão
rígidas e sem movimento; os seus lábios ficarão secos e só poderão provar
gotas de água. Aquelas são as suas palavras que lentamente sairão de seus
lábios moribundos.
Será que você será capaz de se lembrar de Cristo ali? Se você não sabe
dizer, eu o imaginarei. Continuei contemplando aquele homem em sua
cama; veja os seus olhos. Seus amigos estão todos alarmados; eles pergun-
tam o que ele vê. Ele reprime a emoção e diz que não está conseguindo ver
nada. Eles sabem que há algo diante dos seus olhos. Ele começa de novo.
“Bom Deus! O que é isso que eu vejo, o que é isso?”. Ele suspira. A alma se
vai. O corpo está lá. O que ele viu? Ele viu um trono flamejante de julga-
mento; viu Deus sobre ele, com o seu cetro viu livros abertos; viu o trono de
Deus e viu um mensageiro com uma espada desembainhada, pronto a gol-
peá-lo e abatê-lo. Homem! Esse será você em breve! Esse é o seu próprio
retrato. Olhe para ele! Você estará ali em alguns anos ou dias.
Mas se você puder se lembrar de Cristo, sabe o que acontecerá? Você
sorrirá em meio às suas aflições. Permita-me imaginar um homem assim.
Colocam travesseiros em suas costas; ele se senta na cama, pega a mão da
sua esposa amada e diz: “Adeus! Não chore por mim; o bom Deus enxugará
todas as lágrimas de todos os olhos”. Ele se dirige aos que o rodeiam: “Pre-
parem-se para encontrar o seu Deus e sigam-me para a terra da felicidade”.
Ele já pôs a sua casa em ordem. Tudo está feito. Contemplem-no, como o
bom e velho Jacó apoiado em seu cajado, prestes a partir. Vejam como os
seus olhos brilham; ele está satisfeito. Alguns se reúnem para ouvir o que
ele tem a dizer; ele sussurra: “Vitória!”. E com um pouco mais de força, ele
18
grita: “Vitória!”. E finalmente, em seu último suspiro: “Vitória por meio da-
quele que nos amou!”. Esse é um dos grandes benefícios de se lembrar de
Cristo: Ser capaz de se encontrar com a morte com uma postura abençoada.
III. Chegamos agora à terceira porção da nossa me-

ditação: Uma doce ajuda à memória.
Nas escolas, costumamos usar certos livros que contém “exercícios de
memorização”. Com certeza eles me deixaram mais confuso do que me aju-
daram. A sua utilidade era equivalente à de um feixe de bastões que deveria
ser levado por um viajante: é verdade que ele poderia usá-los em algum mo-
mento, mas a maioria jamais seria usada. Porém, o nosso Salvador é mais
sábio do que todos os nossos professores e as nossas memórias a respeito
dele são ajudas verdadeiras e reais para a memória. As suas lembranças de
amor possuem uma linguagem inconfundível que ternamente ganham a
nossa atenção.
Contemple todo o mistério da sagrada eucaristia. O pão e o vinho que
são emblemas vivos do corpo e do sangue de Jesus. O poder de exercitar a
memória consiste no apelo feito aos sentidos. Aqui o olho, a mão e a boca
cooperam em um trabalho alegre. O pão é saboreado, e isso exercita o sen-
tido do paladar, que é um dos mais poderosos. O vinho é saboreado, o ato é
palpável. Sabemos que estamos bebendo e, assim, os sentidos, que normal-
mente são obstáculos à alma, tornam-se asas para elevar a mente em con-
templação.
Além disso, grande parte da influência dessa ordenança é encontrada
em sua simplicidade. Como a cerimônia é lindamente simples: o pão é par-
tido e o vinho, derramado. Não há como chamar aquela coisa de cálice, outra
coisa de patena e aquela outra de hóstia. Aqui não há nada que sobrecarre-
gue a memória, aqui está o simples pão e vinho. Não deve ter memória ne-
nhuma aquele que não se lembra de que comeu pão e bebeu vinho.
19
Observe também a poderosa solenidade desses sinais e como eles são

ricos de significado. O pão é partido, assim o seu Salvador foi partido. O pão
deve ser comido, assim como sua carne que é verdadeiro alimento. O vinho
derramado é o suco da uva que foi pisada, assim o seu Salvador foi esmagado
sob o pé da justiça divina e o sangue dele é o vinho mais doce. O vinho alegra
o coração, e o sangue de Jesus faz o mesmo. O vinho fortalece e revigora, e
o mesmo é feito pelo sangue do sacrifício poderoso.
Ah, façam desse pão e desse vinho uma ajuda doce e abençoada, para
que as suas almas lembrem daquele querido Homem que uma vez morreu
no Calvário. Como uma ovelhinha, agora vocês devem comer o pão do seu
Mestre e beber do seu cálice. Lembrem da mão que lhes alimenta.
Mas antes que possam se lembrar de Cristo, você deve pedir a ajuda do
Espírito Santo. Eu creio que deve haver uma preparação antes da ceia do
Senhor. Não acredito na preparação da Sra. Muito Boa, que passou uma se-
mana se preparando e depois de descobrir que não era o domingo da ceia,
disse que tinha perdido toda a semana. Não acredito nesse tipo de prepara-
ção, mas acredito em uma preparação santa para a ceia do Senhor. Quando
em um sábado é possível passarmos uma hora em meditação silenciosa so-
bre Cristo e sua paixão e quando, especialmente na tarde do domingo, po-
demos nos assentar em devoção e contemplá-lo, então essas coisas se tor-
nam realidades, e não zombarias, como são para alguns.
Temo muito que alguns de vocês bebam o vinho sem, contudo, pensa-
rem no sangue de Cristo. Que hipócritas vis são quando agem assim. Pres-
tem atenção: “Aquele que come e bebe indignamente”, come e bebe o quê?
“Condenação”. Essa é uma linguagem clara, pense no que você está fazendo!
Não aja de forma descuidada. De todas as coisas santas da terra, esta é a
mais solene.
Ouvimos falar de alguns homens que vivem em bandos, tiram sangue
dos seus braços e o bebem; isso é muito horrível, mas ao mesmo tempo
20
muito solene. Aqui bebemos o sangue das veias de Cristo e bebemos a partir
do fluxo que jorrou do seu próprio coração amoroso. Isso não é algo solene?
Alguém deveria brincar com isso? Ir à igreja e considerar isso como uma
ninharia? Vir aqui e se unir a nós para conseguir benefícios de caridade?
Fora com isso! Essa é uma blasfêmia terrível contra o Deus Todo-Poderoso
e entre os condenados no inferno. Aqueles que ousaram escarnecer assim
dessa santa ordenança de Deus estarão entre os mais amaldiçoados. Essa é
a memória de Cristo. “Fazei isto em memória de mim”. Se vocês não podem
fazê-lo em memória de Cristo, eu lhes suplico, se amam as suas almas, não
o façam de modo algum. Ah!, homens e mulheres regenerados, não entre
no pátio dos sacerdotes, para que o Deus de Israel não se ressinta dessa in-
trusão.
IV. Para concluir, uma ordem amável: “Fazei isso em

memória de mim”.
A quem se aplica esta ordem: “Fazei isto”? É importante responder à
pergunta: A quem isso se destina? “A vocês que depositam a sua confiança
em mim, fazei isto em memória de mim”. Bem, agora vocês devem supor
que Cristo está falando com vocês neste momento, ele diz:
— Fazei isto em memória de mim.
Cristo vigia à porta. Alguns de vocês vão para casa, e Cristo diz:
— Eu disse: “Fazei isto em memória de mim”.
Alguns de vocês agem como espectadores. Cristo senta-se com vocês e
lhes diz:
— Eu pensei ter dito: “Fazei isto em memória de mim”.
— Senhor, eu sei o que disse.
— Você me ama então?
21
— Sim, eu amo; o Senhor sabe que eu o amo.

— Mas, eu digo, venha, coma desse pão, beba desse vinho.
— Eu não quero fazer isso, Senhor. Se eu me unisse àquela igreja, teria
que ser batizado e tenho medo de pegar um resfriado, além disso tenho ver-
gonha de ser observado pelas outras pessoas quando eu tiver que ir adiante
da igreja, pois acho que elas fariam algumas perguntas que eu não consegui-
ria responder.
— O quê? — Cristo diz — é assim que você me ama? Essa é toda afei-
ção que você tem pelo seu Senhor? Quanta frieza para comigo, seu Salvador.
Se eu o não tivesse amado mais do que isso, você estaria no inferno. Se essa
fosse toda a minha afeição, eu não teria morrido por você. Um grande amor
suporta grandes agonias. Essa é toda a sua gratidão para comigo?
Alguns de vocês não ficam envergonhados? Não dizem em seus cora-
ções: “Realmente isso é errado”? Cristo diz: “Fazei isto em memória de
mim”, e vocês não se envergonham de ficarem tão aquém disso? Eu faço um
convite a todos os que amam Jesus: venham a esta mesa. Eu suplico, não
privem a si mesmos desse privilégio, não recusem se unirem à igreja. Se vo-
cês ainda vivem em uma negligência pecaminosa dessa ordenança, permi-
tam-me lembrar-lhes que Cristo disse: “Porque, qualquer que de mim e das
minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem,
quando vier na sua glória, e na do Pai” (Lucas 9:26). Soldado da cruz, não
ajam como covardes!
E para não os conduzir a nenhum erro, preciso apenas acrescentar uma
coisa e então concluirei. Quando eu falo sobre vocês tomarem a ordenança
da ceia do Senhor, não imaginem que eu suponho, por um momento, que
haja algo salvífico nela. Alguns dizem que a ordenança do batismo não é
essencial, assim como a ordenança da ceia do Senhor não é, no que diz res-
peito à salvação. Ser salvo comendo um pedaço de pão? Que absurdo! Ser
22
salvo bebendo um pouco de vinho? Ora, é ilógico demais para o bom senso
admitir qualquer discussão sobre isso. Você sabe que é o sangue de Jesus
Cristo, o mérito das suas agonias, somente o que ele obteve através de seus
sofrimentos é que pode nos salvar. Confie nele, lance a si mesmo sobre ele
totalmente e você será salvo.
Pobre pecador quebrantado, você ouviu sobre o caminho da salvação?
Se eu o encontrar no mundo vindouro, talvez me diga: “Passei uma noite
ouvindo-o, senhor, e você nunca me falou sobre o caminho para o céu”.
Bem, você deve ouvir sobre isso. Creia no Senhor Jesus Cristo, confie na
justiça dele e você será salvo da vingança da lei ou do poder do inferno. Mas
confie em suas próprias obras e você estará perdido tão certamente quanto
está vivo agora.
Agora, ó sempre glorioso Filho de Deus, nos aproximamos da sua mesa
para nos banquetearmos da sua graça. Faça com que cada um de nós, confi-
ando em teu Espírito, exclame com as palavras de um dos seus próprios po-
etas:
“De suas dores, seu sofrer,

De seu amor por mim;
Enquanto aqui viver
Eu me lembrarei, sim.
Quando emudecer o lábio meu,

A mente e a memória chegarem ao fim,
Jesus, quando vier o reino seu,
Lembra-te de mim.” 2
2
Nota de tradução: Trecho do hino, “According to Thy Gracious Word”, de James Mon-
tgomery (1771-1854). Tradução livre. 23
Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!
24
Os Sermões de
Charles Haddon Spurgeon
S
purgeon foi o maior pregador do cristianismo de todos os tempos.
Seus sermões nos revelam que ele tinha a boca de ouro, como Cri-
sóstomo, e a pena de ouro, como Agostinho; bem como a firmeza
bíblica e coragem dos reformadores e a piedade e zelo dos puritanos, dos
quais é o mais célebre herdeiro.
Charles Haddon Spurgeon nasceu em Essex, Inglaterra, em 19 de ju-
nho de 1834, como o primogênito de 16 irmãos, filho de John Spurgeon e
sua esposa, Eliza Jarvis. Foi salvo de seus pecados por Jesus Cristo em al-
gum momento entre 1850 e 1851. Em janeiro de 1852, tornou-se pastor da
Igreja Batista de Waterbeach, ao norte de Cambridge. Então, sua fama como
pregador espalhou-se rapidamente.
Em dezembro de 1853, foi convidado a pregar na Capela de New Park
Street, a maior igreja batista localizada ao sul de Londres e que viria a ser o
Tabernáculo Metropolitano. Em abril de 1854, foi eleito pastor dessa igreja,
ofício que ocupou até o final de sua vida terrena, quando partiu para estar
com o Senhor, em 31 de janeiro de 1892, aos 57 anos.
Além de seu exemplo de vida santa e de suas realizações, umas impres-
sionantes, outras incomparáveis (1 Coríntios 15:10); um dos maiores lega-
dos do Príncipe dos Pregadores são os seus sermões. Nos sermões de Spur-
geon, encontramos uma feliz união de verdade e piedade, beleza e bondade,
luz e calor e, sobretudo, encontramos Jesus Cristo!
Outro fato notável é que Charles Spurgeon foi um daqueles pouquíssi-

mos, como João Calvino, cuja obra pode ser justamente chamada de grande
tanto em quantidade quanto em qualidade. Apenas para se ter uma noção,
ele escreveu cerca de 150 livros e mais de 3.500 sermões!
Entretanto, uma produção literária tão inestimavelmente preciosa
permanece desconhecida em sua maior parte. Diante disso, pela graça de
Deus, desejamos remediar aos poucos essa triste situação. Conhecemos
Spurgeon em 2012, logo depois nos dedicamos à tradução de algumas deze-
nas de seus sermões, os quais foram publicados pela internet, como textos
e eBooks.
Agora, finalmente, começamos a realizar um de nossos sonhos mais
antigos: a publicação sequencial dos sermões de nosso pregador favorito. Já
temos muitos sermões sequenciais traduzidos, Sermão 1, Sermão 2 etc. Se
Deus quiser, as publicações dos sermões acontecerão regularmente. Após
serem publicados separadamente, os sermões serão reunidos e publicados
em volumes de 10 sermões sequenciais.
Como Jonathan Edwards, estamos resolutos, pela graça de Deus, a
prosseguir com essa grande obra, para a glória de Deus e o benefício de seu
amado povo pactual, a igreja.
William Teixeira
3 de outubro de 2022
26
A editora O Estandarte de Cristo nasceu em 2013
com o propósito de publicar traduções de autores
bíblicos fiéis, para a glória de Deus. Fizemos as pri-
meiras publicações no dia 2 de dezembro de 2013
(publicação de 4 eBooks). De lá para cá já são mais
de 10 anos e centenas de traduções de autores bí-
blicos fiéis, sobre diversos temas da fé cristã.
Somos uma editora de fé cristã batista reformada e

confessional. Estamos firmemente comprometidos
com as verdades bíblicas fielmente expostas na
Confissão de Fé Batista de 1689.

Sermao 0002 - em Memoria de Cristo C.H. Spurgeon

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Sermao 0002 - em Memoria de Cristo C.H. Spurgeon

Enviado por

Dados do documento

Título original

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Sermao 0002 - em Memoria de Cristo C.H. Spurgeon

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Conselho editorial: Pr.

Os Sermões de C.H. Spurgeon

1ª Edição em português: 2022.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Spurgeon, C. H. (Charles Haddon), 1834-1892.

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

A editora O Estandarte de Cristo nasceu em 2013 como um ministério

Portanto, decidimos criar uma campanha de financiamento coletivo para

• Acyr Godoy Doueidar • Josué Meninel

• Amanda Maria Vieira Ramalho • Julio Cesar Correa

• Anderson José Pereira • Madson Gonçalves da Silva

• Arli Eler Junior • Mateus da Silva Santos

• Bruno Ferreira Ribas • Marina Tanamura

• Douglas Hiago da Costa Menezes • Nathalia Alves de Moraes

• Elivando Carvalho de Mesquita • Paulo Júnior

• Fabiano Prado Lima • Paulo Lima de Moraes

• Fábio de Araújo Oliveira • Sérgio Nogueira Fiuza

• Idalina Assis Lopes • Tiago Rodrigues Gonçalves

• Jean Carlo Lima de Matos • Valeria Lopes Sena Silva

• Jean Lenon de Souza • Vaneide Pereira da Silva Braga

• João Carlos Ferreira Felix • Victor Hugo de S.V.S.R. Pereira

• João Marcos Salgado de Moraes • Vlademir Fernandes de Oliveira Júnior

• Joilson Martins Santana • Wandrypollian Aguiar Lima

E das seguintes instituições:

Igreja Batista Reformada de Igreja Batista Shekinah

Encontra os sermões de C.H. Spurgeon que já publicamos

Sermão 02 • Em Memória de Cristo

Sermão 04 • A Personalidade do Espírito Santo

Sermão 06 • Doce Consolo para Santos Fracos

Sermão 09 • Liberdade Espiritual

Sermão 10 • O Sacerdócio Real dos Santos

Sermão 13 • Consolação Proporcional ao Sofrimento Espiritual

Sermão 16 • Primeira Oração de Paulo

Sermão 18 • O Túmulo de Jesus

Sermão 20 • A Mente Carnal é Inimizade Contra Deus

I. O glorioso e precioso objeto da memória ........................................ 7

II. Os benefícios de uma lembrança amorosa sobre Cristo ............... 14

III. Uma doce ajuda à memória ........................................................ 19

IV. Uma ordem amável .................................................................... 21

Os Sermões de Charles Haddon Spurgeon ......................................... 25

Sermão pregado na noite do dia do Senhor, 7 de janeiro de 1855.

“Fazei isto em memória de mim.”

A causa disso é muito clara e reside em um ou dois fatos. Esquecemos

uma influência maior sobre as marés do oceano do que o sol, simplesmente

I. Primeiro, falaremos sobre o glorioso e precioso ob-

Como podemos nos lembrar da pessoa de Cristo, se nunca o vimos?

Bem, amados, suponho que é verdade que não se lembram da aparên-

— Peregrino, se você é o Filho de Deus ordena que esta pedra se trans-

pode se rebaixar a maiores atos de misericórdia. Ah, se eu fosse eloquente,

seguem se lembrar espiritualmente de nada sobre Cristo, pois ele nunca se

“Você ainda lembra do lugar

Sim, eu lembro. E gostaria de erguer algum monumento no lugar onde

II. Após ter falado sobre o objeto bendito da nossa

Ah! Tenho estado sob um sentimento de culpa; tenho lamentado repe-

Como você consolará um homem assim? Que palavras amigáveis você

“Proclamem aos pecadores,

Não aguento mais. Tenho sido perseguido e maltratado, porque amo

O que devemos dizer a esse pobre homem? Como podemos encorajá-

“Eu carrego seu nome por amor,