Memórias de Um Cabo de Vassoura

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Orígenes Lessa

Prêmio Mário de Andrade,


1975

Memórias de
um Cabo de
Vassoura
Ilustrações Lee

38a Edição

EDIOURO

Vocabulário

As explicações contidas nas notas de rodapé


visam um maior entrosamento do leitor com
o texto.
Muitas vees! durante o decorrer da leitura!
palavras ou "ormas de expressão são apenas
Orígenes Lessa
Prêmio Mário de Andrade,
1975

Memórias de
um Cabo de
Vassoura
Ilustrações Lee

38a Edição

EDIOURO

Vocabulário

As explicações contidas nas notas de rodapé


visam um maior entrosamento do leitor com
o texto.
Muitas vees! durante o decorrer da leitura!
palavras ou "ormas de expressão são apenas
par
pa r cialm
cia lment
entee inter
int erpr
pret
etada
adass ou nem me mesmsmo o
isso acontece. #ssim! o $ue se veri%ca é um
mau aproveitamento do tra&al'o liter(rio e!
o $ue é pior! um poss)vel desinteresse pela
leitura.
O&*etivamos! então! dentro de cada texto e
d e a c o r d o c o m o c o n t e x t o ! a & r i r n o va va s
"ronteiras
"ronteiras para o pe$ueno leitor! o"ere o"ere cendo+
l'e m a i o re s e s c l a rec i m e n t o s !
prop
propor orci
ciona
onand
ndo+lo+l'e
'e um enrien ri$u
$uec ecim imen
entoto de
voca &ul(rio e! ao mesmo tempo! um
aprimoramento de sua "orma de expressão. expressão.
,empre existirão outras "ormas $ue não as
usadas para "aer uma criança compreender
o $ue leu.
Em se tratando de interpretação! o tra&al'o
e s t a r ( s e m p r e e m a & e r t o p a r a $ u a i s$us$ u e r
modi%cações.
Esperamos!
Esperamos! assim! atin-ir nossos propsitos.
# E$uipe

Agradecimeno

# Editora a-radece / e$uipe de pro"essores!


escol'idos criteriosamente em um colé-io
$ u e ' ( m u i t o s anos v e m u t i l i  a n d o !
sist
si ste
e m atic
aticamamee nte
nte ! os l i vros
vros d a E d io
iour
uroo.
Esta e$uipe "oi convidada pela Direção da
Empresa para a di")cil tare"a de examinar o
voca&ul(rio de cada livro! procurar explicar
o s i - n i % ca
ca do do s t e rm o s a o n ) v e l d e
compreensão
compreensão dos alunos e "aer uma classi +
%cação dos diversos livros de acordo com a
idade dos presum)veis leitores.
,a&)amos $ue muitas diver-0ncias po +
deriam sur-ir e ainda sur-irão no "uturo!
especialmente $uanto ao modo de interpre+
tar os voc(&ulos.
1or isso os pro"essores insistiram na idéia
de a Editora rever! no "uturo! parte do
tra&al'o ora e"etuado.
#ssim a Editora espera $ue outros pro +
"essores! no manuseio di(rio destes livros!
nos enviem su-estões e críticas para que
possamos! com o passar do tempo! aper"ei+
çoar o $ue *( "oi "eito.
Dese*amos expressar nossos a-radeci +
mentos pela tão valiosa cola&oração da
e$uipe c'e% ada por 2ett 4immerman.

Orígenes Lessa

1aulista de 5ençis. Or)-enes 5essa nasceu


em 67 de *ul'o de 693 e viveu a sua
primeira in":ncia em ,ão 5u)s do Maran'ão!
onde seu pai! 'istoriador! *ornalista e
pastor protestante! esteve / "rente de uma
i-re*a local. ; %l'o de <icente ='emudo
5essa e >enri$ueta 1in'eiro 5essa.
#ps sua estada no Maran'ão! voltou para
,ão 1aulo! em 667. Depois de tentar
v(rias carreiras! entre-ou+se de%nitiva+
mente ao ?ornalismo! / 1u&licidade e ( 5ite +
ratura! a partir de 678.
#o tomar parte na Revolução
@onstitucionalista de 637! "oi preso e
removido para o Rio de ?aneiro. Ao pres)dio
de Il'a Brande! escreveu a reporta-em Aão
>( de ,er Aada...! tra&al'o $ue o pro*etou
nos meios liter(rios. Desde 6C9! passou a
dedicar+se a literatura in"anto +*uvenil!
escrevendo v(rios livros! como Memrias de
um @a&o de <assoura Aapoleão em 1arada de
5ucas @on%ssões de um <ira+5ata Memrias de
um Fusca Os >omens de @avan'a$ue de Fo-o #
Escada de Auvens # Floresta #ul # @a&eça de
Medusa ?uca ?a&uti! Dona 5eGncia e a ,uper
onça 1rocura+se um Rei #s Hrvores #itas e #
Multiplicação Mila-rosa @'ore não! =au&até... O
Mundo ; #ssim! =au&até #s 5etras Falantes
1odem me @'amar de 2acana ?asão e os @en+
tauros Invis)veis e outros.
Ao entanto! Or)-enes 5essa se iniciou na
5iteratura como contista e seu primeiro
livro "oi O Escritor Proibido, pu&licado em
67. Entre os livros desse -0nero! citam+
se Omelete em Bombaim; Passa Três; A
Desintegraço da !orte; Balbino, "omem do !ar
e # !ul$eres% ,eus contos t0m sido
traduidos para diversas l)n-uas e %-uram
em inJmeras antolo-ias nacionais e
estran-eiras.
Destacam+se entre suas novelas e roman+
ces O &ei'o e o (on$o K1r0mio #ntGnio de
#lc:ntara Mac'adoL! com mil'ares de
exemplares vendidos )ua do (ol K1r0mio
@armem Dolores 2ar&osaL A *oite sem
"omem K1r0mio Fernando @'ina-liaL O
E+angel$o de L-aro K1r0mio 5u)a @l(udia de
,oua! do 1en @lu& do 2rasilL e Beco da
&ome%
#lém de *o " de (er *ada%%%, escreveu
ainda .l$a /rande, so&re a Revolução
@onstitucionalista. 1u&licou tam&ém um
estudo so&re /et0lio 1argas na Literatura de
2ordel%

 Maria Eduarda
O. 5.

Eu *( "ui ca&o de vassoura! con"esso. Um ca&o de


vassoura como tantos outros. ,eria lon-o contar
tudo o $ue ten'o passado nesta lon-a vida!
desde $ue me arrancaram da (rvore em $ue "ui
tronco e me levaram a uma o%cina! onde "ui
cortado! torneado e mil coisas so"ri! até con'ecer
a nova "unção $ue me reservava o destino.
Meus irmãos de oresta! muitos corta dos comi-o
na mesma ocasião! depois $ue deixaram de ser
-al'o ou tronco de (rvore para ser madeira! $ue
é como nos c'amam depois do serrote ou do
mac'ado! estão espal'ados por esse mundo de
Deus. Muitos! 'o*e! são caixas e caixotes. Braças
a isso! t0m aca&ado con'ecendo até pa)ses
estran-eiros! levando laran*as ou latas de conser+
va. Outros aca&aram mesas! cadeiras! arm(rios!
mveis de toda sorte. =en'o primos $ue são
portas! *anelas e se contentam ol'ando o
movimento da rua. #l-uns! tão or-ul'osos no
tempo das "ol'as! $uando o vento passava e
asso&iava no arvoredo! são 'o*e! apenas! soal'o.
Fraco destino! para $uem vivia na altura e
son'ava! na pior das 'ipteses! ser! pelo menos!
teto ou armação de tel'ado! coisa $ue! para ser
vista! o&ri-a o &ic'o 'omem a levantar a ca&eça.
,er pisado e repisado o dia inteiro! t(&ua 'umilde
de assoal'o! por pés descon'ecidos! de sapato
su*o! é triste para $uem *( "oi (rvore e en"rentou
raios e ventanias.
=en'o visto e ouvido muita $ueixa pela vida a
"ora. Mas o triste! mesmo! a suprema 'umil'ação
para $uem "oi (rvore! é aca&ar caixão de de"unto.
Esse era o -rande terror de meus irmãos de
madeira! $uando a-uard(vamos! c'eios de
in$uietação! no depsito! o nosso aproveitamento
industrial como costumava dier! em nossas
conversas noturnas! o pesado portão de pero&a!
*( industrialiado e veterano.
5em&ro+me muitas vees do portão a nos -oar
N <oc0s "alam muito! mas vão aca&ar! em&aixo
da terra! a-entando cad(ver...
Eu! $ue ainda era tronco! madeira sem muita
cate-oria! pelo $ue notava na conversa dos
'omens! %cava -elado. ,e pudesse! pelo menos!
ser poste de iluminação! seria um consolo. Mas
poste de madeira! com o tal pro-resso dos
'omens! vem perdendo o carta '( muito
tempo...
Destino de $uem "oi (rvore ou -al'o é durea...
Os 'omens $ue nos utiliam e nos utiliaram!
desde o começo dos tempos! cortando! serrando!
aplainando! en%ando pre-os! são de uma
insensi&ilidade impressionante. 1ensam $ue
madeira não tem alma. @lassi%cam+nos entre as
coisas Pinanima+ dasP. Os seres animados são
eles. Eles e os &ic'os. E $uando "alo &ic'os! di-o
desde o leão! $ue é no&re e valente! o ti-re! $ue
é li-eiro e "ero! a (-uia! $ue domina os céus! até
/ co&ra traiçoeira! covarde e venenosa! $ue se
arrasta no c'ão! e mesmo a miseriain'as
insi-ni%cantes como a pul-a! su-adora de san-ue
'umano em casa onde não '( limpea e DD=! e
ao cupim! $ue destri a madeira! principalmente
a de naturea mais "r(-il! como é o meu caso!
$ue não sou carval'o nem *acarand(! sou apenas
pin'o.
1ara o nosso -rande inimi-o Ko 'omem! não o
cupimL! ns não passamos de PcoisaP. Que pode
ser aproveitada de mil modos! sempre para
satis"aer exclusivamente ao seu e-o)smo e aos
seus interesses imediatos! com uma indi"erença
total pelo $ue possamos sentir.
Aunca passou pela ca&eça desses monstros o $ue
pode passar pela ca&eça de uma (rvore! ou pelo
coração! $uando um 'omem se aproxima de
mac'ado em pun'o.
E nin-uém pode ter idéia do $ue é! para $ual$uer
de ns! depois de corta a$ui e corta ali e desce o
mac'ado ou passa a plaina! a visão de um
simples pre-o. @omo não temos o dom de %car
arrepiados! o so"rimento é puramente espiritual.
O pre-o é traido por mão impiedosa! é posto
contra ns! em posição vertical! o martelo se
er-ue! desce a pancada "atal. 1an 1an O pre-o
entrando... # madeira ras-ada... E a ironia de
sa&er $ue o ca&o do martelo ou do mac'ado é de
madeira tam&ém...
<in-ança da -ente é $uando o su*eito erra o
-olpe e acerta! não no pre-o! mas no dedo... ;
cada palavrão $ue a -ente escuta...
1ior! porém! do $ue mac'ado! serrote e pre-o!
destino tr(-ico e sem conserto! é a madeira $ue
o &ic'o 'omem utilia apenas como len'a.
Destino de len'a é "o-o
Es$uecido esse ne-cio de pre-o e maus+tratos
$ue so"remos ao lon-o da vida! claro $ue '(
muita coisa &onita no destino da -ente.
,er &arco! desliando / or das (-uas...
,er mastro de navio...
,er pau de &andeira! o pessoal &atendo
contin0ncia...
,er portal de pal(cio! ser porta de i-re*a! ser altar
&em tra&al'ado Ka preparação é dura! mas o
resultado compensaL! ser mvel de luxo! ser
&erço de criança! aca&ar escultura! são coisas
$ue nos consolam de $ual$uer so"rimento
serrote! serra mec:nica! ental'e de pancadas
cruéis...
Eu tive um cole-a Kcole-a em madeira! não na
pro%ssãoL $ue via*ou muito. Esteve em
@on-on'as do @ampo. @on'eceu um santo! não
de pedra sa&ão nem de m(rmore! de madeira.
<oc0s precisavam ver o or-ul'o com $ue ele
diia
N Eu "ui esculpido pelo #lei*adin'o... <em -ente
me con'ecer de todos os cantos da terra...
@laro $ue essa conversa s ns entendemos.
Aossos temores e ale-rias escapam aos 'omens!
insens)veis! por naturea! /s nossas mais )ntimas
reações. Que são como as dos 'omens! as mais
diversas. @omo entre os 'omens! '( madeira
para tudo. >( madeira cu*o son'o é ser cadeira!
por exemplo. # mim! a coisa sempre repu-nou+
me. Aão -ostaria de ver -ente sentada com
a$uela parte em cima de mim... E a verdade é
$ue '( madeira $ue -osta de ser pisada! se
ale-ra em ser c'ão... >( pau para toda o&ra. >(
-osto para tudo. Mas '( madeira $ue pre"eria até
ser len'a a ser cano de espin-arda! por exemplo.
Em compensação '( pau $ue -osta de a&rir
ca&eça de 'omem! mano&rado por outros
'omens! nessa 'orr)vel rivalidade $ue separa os
seres 'umanos.
Uma coisa eu di-o ten'o visto de tudo. =en'o
visto 'omem &ri-ando com 'omem! oprimindo o
'omem! perse-uindo o 'omem. Mas nunca vi
madeira &ri-ando com madeira! pau &atendo em
pau! a não ser $uando mane*ado por 'omens.
Que estes! sim! raramente são or $ue se
c'eire...
Aão vou contar tudo o $ue vi e so"ri no depsito.
Aem na marcenaria para a $ual "ui trans"erido!
depois $ue dois ou tr0s su*eitos &i-odudos
estiveram discutindo preço e condições ao nosso
lado. Fomos vendidos N /s toneladas N como
escravos! um carre-amento -i-antesco de pin'o.
Aosso aproveitamento industrial estava traçado e
ainda não sa&)amos o $ue seria de ns.
—_Eu $uero ser caixote N diia um cole-a meu!
um tronco ro&usto $ue ia ser t(&ua! mas não
sa&ia de $u0. N @omo caixote a -ente tem
c'ance de correr o mundo.
—_Eu $ueria ser trans"ormado em piano... <irar
mJsica...
—_1iano de pin'oS N per-untava com ironia um
tronco de *acarand(. N E ainda mais pin'o
nacionalS <ai esperando...
Desco&ri lo-o $ue os da nossa espécie tin'am
cotação muito &aixa no mercado. Mvel &arato.
@asa 'umilde. Utiliação in"erior. Eu me encol'i
mentalmente.
—_Aão $uero nem pensar...
>o*e eu não $uero nem lem&rar o $ue "oram
a$ueles dias de espera. Aem vou contar o $ue
passei $uando vi a$ueles tornos mec:nicos! as
serras elétricas! todo a$uele instrumental $ue
nos iria estraçal'ar. E $uanto so"ri $uando um
cara! $ue examinava lote por lote e tronco por
tronco! separou o meu e disse... Aão. Aão conto
mesmo. ; mel'or passar por cima. Meu vel'o
tronco "oi trans"ormado em tron$uin'os! em
varin'as %nas e redondas! $ue eu não podia
atinar para o $ue podiam servir. ,ei $ue "ui
vendido! num -rande lote de tron$uin'os i-uais!
a um "a&ricante $ual$uer. Aum camin'ão nos
meteram.
—_<amos ver um pouco do mundo N disse um
compan'eiro ao ser transportado para o -i-ante
de rodas.
Aão vimos. O camin'ão era "ec'ado. O camin'ão
saiu! rodou! parou! rodou de novo! rodou e parou
um in%nito de vees. #o %m de muito rodar!
parada de%nitiva. #&riu+se a porta. <eio um
oper(rio e nos carre-ou para a "(&rica. ;ramos
*o-ados no c'ão com a maior crueldade. Da) a
pouco! torno outra ve. Fieram+me! numa das
pontas! uma espécie de pescoço. <eio al-uém de
lixa na mão e nos deu um va-o polimento. E
$uando dei por mim! tin'a na outra ponta uma
&ar&a espetadiça! presa a mim por um troço de
latão N e tome pre-o N $ue eu custei / sa&er o
$ue si-ni%cava. Fi$uei muito tempo sem
entender. Fui amarrado! via*ei de novo! aca&ei
num armaém.
—_ O sen'or tem vassouraS N per-untou uma
"re-uesa entrando no armaém...
O vendedor apontou para o nosso lado.
# mul'er veio! examinou uma! examinou outra.
—_ Eu levo esta.
Eu descon%ava! eu intimamente sa&ia! mas não
$ueria acreditar. #-ora não tin'a mais dJvidas...
Aão passava de ca&o de vassoura! um m)sero
ca&o de vassoura...

, $uem "oi ca&o de vassoura pode avaliar o $ue


eu passei. # mul'er me pe-ou muito sem *eito!
v(rias compras numa sacola meio ras-ada! e saiu
para a rua. Eu $ueria apreciar o movimento! mas
ia de ca&eça pra &aixo. O &i-ode de piaçava
estava l( no alto Keu teria de a-entar a$uele
cara muito tempo a-arrado a mimL e -oava a
min'a 'umil'ação. Ele via e contava.
—_1ena voc0! a) em&aixo! não poder apreciar...
<em ali uma morena da$uelas! de parar o
tr:nsito... D( pra verS
Aão respondi.
—_Ol'a s $ue casa &onita... #lta pra c'uc'u...
Estamos numa rua importante...
Eu s via o c'ão e em posição muito incGmoda.
1apéis ras-ados! muito pé de -ente! indo e vindo!
su*eiras de toda $ualidade cas$uin'as de
sorvete! caixin'as de c'iclete! latas en"erru*adas!
pedaços de vidro! cascas de "rutas. #l-uém! um
pouco adiante! escorre-ou numa casca de
&anana e "oi ao c'ão. Eu vi de perto o dono do
escorre-ão! todo mac'ucado.
—_<iu a cara deleS N per-untou rindo a &ar&a de
piaçava na outra ponta.
—_<i. E da)S
—_O $ue é $ue ele disseS
Em primeiro lu-ar! eu não repito essas coisas. Em
se-undo lu-ar! eu estava com pena! o in"eli se
mac'ucou muito. E a nossa dona traduiu o $ue
eu pensava
—_; incr)vel como '( pessoas inconscientes neste
mundo Knaturalmente se re"eria ao mundo dos
'omens...L. Então isto é coisa $ue se "açaS Deixar
casca de &anana na calçadaS
Mas o 'omem *( estava de pé e o resto! ou o
rosto! eu não podia ver. ,ei $ue ele saiu
resmun-ando e a parte propriamente vassoura
do meu novo estado ria com uma inconsci0ncia e
uma crueldade $ue tin'a $ual$uer coisa de
desumano. Ou mel'or 'uman)ssima...
Divertida ela estava l( em cima.
—_Ol'a $ue vitrina mais linda
Aão dava pra ver. Mas %$uei sa&endo $ue a
vassoura estava de &om 'umor e contava tudo!
s para me mac'ucar.
—_; pena voc0 ser a parte de &aixo! meu $uerido.
O mundo é uma &elea O &ic'o 'omem sa&e
"aer coisas O 'omem é maravil'oso. #s
mul'eres! ainda mais...
Ela estava diva-ando. Eu $ueria era sa&er o $ue
estava na vitrina. Mas não ia dar a con%ança de
per-untar. Felimente ela estava na &ase do
massacre e "alou tudo.
—_Que vitrina estupenda , &rin$uedos de luxo
@oisas %nas @oisas "a&ulosas 2onecas #viões
#utomveis @avalos KEra a primeira ve $ue eu
ouvia a palavra.L Fo-uetes astron(uticos
Eu ouvia tudo a$uilo sem entender muito Kainda
não estava 'a&ituado com o mundo dos 'omensL
e! no "undo! em&ora 'umil'ado! admirava a
capacidade r(pida de con'ecer as coisas
'umanas $ue a min'a parte propriamente
vassoura vin'a demonstrando. Aão contive a
min'a admiração
—_@omo é $ue voc0 sa&e tudo issoS
#) é $ue ela me 'umil'ou de uma ve
—_@r:nio! meu %l'o! cr:nio Eu sou a parte de
cima. Eu sou a ca&eça
E -ar-al'ava com o maior despreo.
Felimente a min'a 'umil'ação não durou muito.
Eu! ali(s! tin'a a intuição de $ue assim ia ser.
Aossa dona entrou numa casa enorme. KEu!
naturalmente! ao contar estas coisas e ao dier+
l'es o nome! não $uero dar a entender $ue *( as
con'ecia! "ui aprendendo com o tempo...L. ,u&iu
dois de-raus de m(rmore Ko nome eu sou&e
depoisL e parou diante de uma espécie de
-a&inete! de onde descia um &arul'o crescente e
sa)a um ventin'o $ue me consolava do calor da
rua. Era um elevador $ue &aixava.
—_Eta vassourin'a ordin(ria
Aão -ostei da "rase. <in'a da porta do elevador.
Aão "oi ouvida pela nossa dona Kos 'umanos são
incapaes de penetrar a alma da madeiraL. Ela
estava é se $ueixando do calor da rua e do preço
das coisas.
—_Est( tudo pela 'ora da morte @ar)ssimo
@ar)ssimo O din'eiro não compra mais nada
>avia uma outra dona no elevador. # nossa
continuava a "alar.
—_Fei*ão é um a&surdo ,a&ão é o preço do
presunto! anti-amente E voc0 sa&e $uanto eu
pa-uei por esta dro-a de vassoura $ue voc0 est(
vendoS
Meu complemento vassoura estremeceu! no mais
)ntimo dos seus espetin'os de piaçava! $uando a
outra dona o ol'ou! com o maior pouco caso
—_Eu sei... Eu comprei uma i-ual. E o pior é $ue
não vale nada...
Fi$uei / espera de uma reação. Aão veio. Min'a
parte vassoura! $ue era o o&*eto de taman'o
despreo! %n-iu não ouvir.
# mul'er continuava.
—_<oc0 passa essa porcaria no c'ão! em ve de
limpar! su*a mais...
Eu estava começando a entender. # -orduc'a
insistia
—_...Es%apa+se toda... # -ente tem $ue varrer a
prpria vassoura $ue se des"a... Uma ver-on'a
Uma ver-on'a...
—_O $ue é $ue a nossa amiade est( diendoS N
per-untei com mal)cia... N #$ui em&aixo eu não
ouço nada direito...
Mas a &ar&a pretensiosa! l( em cima! não $uis
responder.
=in'a perdido completamente o re&olado...
Mas o &om N ou o pior... N viria depois. # dona
sa)a do elevador! tocava uma campain'a! uma
porta Kessa era pre-uiçosa e resi-nadaL se a&riu.
Entre-ou+nos / coin'eira! depois de colocar
so&re uma mesa de "rmica Kten'o um no*o de
pl(sticos...L a sacola de compras.
Eu aca&ava de travar relações com meu primeiro
inimi-o a coin'eira. , me reconciliei com ela!
tempos depois! $uando a vi $ueixar+se / copeira
das dureas de sua vida! um %l'in'o doente! o
marido desempre-ado. ,er -ente nem sempre é
um céu a&erto. , não precisarmos comer! vestir!
%n-ir import:ncia! como acontece com os
'umanos! *( é uma -rande coisa. Muita madeira
$ue se $ueixa da vida! se pensasse no $ue
acontece com os nossos exploradores! -randes e
pe$uenos! ou $ue se enc'e de inve*a $uando os
v0 re"estelados numa poltrona a tomar u)s$ue ou
&ater papo! %caria muito "eli dentro da sua
passiva condição de utilidade doméstica! tantas
vees 'umil'ante. Fome! pelo menos! não
con'ecemos. Aem dor de &arri-a! $ue é uma das
coisas mais "eias $ue eu ten'o visto nos
'umanos. Mas é preciso voltar / min'a
coin'eira. Ela me pe-ou pelo meio! ol'ou+me de
ca&o a ra&o! ou mel'or! de ca&o / vassoura! e
per-untou
—_Aão encontrou coisa mel'or! Dona ,araS
# dona tin'a! mesmo! *eito de ,ara. 1ra rimar
com ta$uara. =a$uara rac'ada. Era uma vo
desa%nada e desa-rad(vel. E "oi com essa vo
$ue ela "alou
—_Eram todas i-uais. =udo muito ordin(rio...
=ratava+se do meu inimi-o n o 7. Mas o meu
inimi-o no 6! a coin'eira! $ue eu aca&ei
perdoando mais tarde! como disse! por$ue muito
in"eli! atirou+me a um canto! *unto / pia
—_Aunca vi coisa mais no*enta
#o lado 'avia uma lata de lixo! repleta de cascas
de &atatas! sementes de tomate! restos de
comida! leo a escorrer de uma lata de sardin'a!
com a l)n-ua pra cima! com ar de "ome ou de
sede! um saco vaio de açJcar! &orra de ca"é!
&ar&ante! poeira! papel amarrotado! *ornal
amassado! um par de sapatos vel'os! de &oca
a&erta e &uraco na sola.
Dier $ue eu N ou $ue ns... N éramos mais
no*entos $ue a$uilo! era muita vontade de
o"ender.
,e era isso o $ue ela pretendia! conse-uiu em
c'eio. ,orte dela "oi $ue a patroa não entendeu o
$ue eu pedia! do "undo das min'as entran'as de
ca&o de vassoura
—_Me acerta nela! patroa Ao meio da testa... Me
&ota pra $ue&rar...
Quando o destino é de ca&eça &aixa! o mel'or é
pensar noutra coisa. Ain-uém me tin'a dito nada.
Eu sa&ia $ue era vassoura. Ou ca&o de... Mastro
de navio! não era. 1au de &andeira tam&ém não.
Aem era &andeira... Aão era espada. Aão era
automvel. Aão era avião. Aão morava em
Aiteri. Aão tin'a sido tal'ado pelo #lei*adin'o ou
por $ual$uer artista importante! para vir -ente do
mundo inteiro me con'ecer. Aão era colar em
pescoço de madame. Aão era aparel'o de
televisão. Aão era taça de c'ampan'a. Aão era
*ia. Era a$uela coisa comprida e ma-rela.
#penas. =in'a a$uela &ar&a po&re l( em&aixo...
#' ,im #-ora a &ar&a de piaçava estava l(
em&aixo e eu nem notara Eu! de ca&o! na $uina
da parede! ela de "ocin'o no c'ão! ns dois
emendados para o resto da vida! a um canto da
coin'a! c'eirando a al'o e ce&ola! s podia ser
a$uilo... O c'ão de aule*o &arato estava c'eio de
restos de tudo. >avia até (-ua e ca"é derramado.
Fec'ei os ol'os da alma e procurei mudar meu
pensamento. <oei para a oresta onde crescera
livre e me %era (rvore. Recordei com saudade as
car)cias do vento. 5em&rei os &an'os de c'uva!
$ue eram "re$entes no verão. =in'a a impressão
de estar vendo todas as (rvores a-itando os
-al'os a pedir o socorro do céu! $uando trove*ava
e os rel:mpa-os estalavam e se ouvia de lon-e
uma cole-a atin-ida por um raio in"eli. #té isso
eu lem&rava com saudade. #té essa a-onia...
Depois pensava em passarin'o cantando e
cole-as oridas! uma $uaresmeira muito nossa
ami-a! um vel'o mulun-u do norte! $ue era todo
or no meio do ano! um operoso *oão+de+&arro
$ue "e casa $uase ao meu lado! num -al'o
ro&usto.
#s palavras da coin'eira! $ue provocava a
copeira! não me devolveram / terr)vel realidade.
<oltei para a oresta. Revi a$uele cara do
mac'ado! $ue nos derru&ou. 1ensei no vel'o
portão de pero&a! do depsito onde morei muito
tempo. <oltei ao vel'o mulun-u meu viin'o! tão
or-ul'oso de parecer toda uma or -i-antesca!
vis)vel e admirada a -rande dist:ncia pelos $ue
passavam na estrada.
Aisso! a patroa entrou de novo na coin'a.
—_1or "avor! Maria Isso tam&ém é demais! é
muita su*eira
E cortando uma explicação $ual$uer $ue a
mul'er $ueria dar! com as muitas ocupações do
momento
—_Eu $uero $ue voc0 me di-a pra $ue "oi $ue eu
comprei vassouraS @omprei para en"eiteS Me
di-a Quero tudo isso muito limpo! t( &emS E *(
,em palavra! a Maria me a-arrou pelo meio e
começou a es"re-ar! com "Jria! min'a &ar&a no
c'ão. Aas cascas! no ca"é derramado! no lixo.
Eu era apenas o ca&o. Foi um al)vio. # min'a
parte propriamente vassoura é $ue passava o lixo
na cara...

Devo con"essar! muito enver-on'ado! $ue!


$uando senti a &ar&ic'a da piaçava misturada no
lixo! es"re-ada com raiva nas su*eiras do c'ão N
imundo N eu me lem&rei do $ue ela %era
comi-o! na vinda do armaém! e tive um sorriso
de vin-ança.
# in"eli me -oara na rua! *( contei. ?ul-ava+se
mais importante. Estava! no momento! por cima!
e se -loriava disso. Aão "oi compan'eira. Falava!
or-ul'osa! no $ue estava encontrando! nas
-arotas e vitrinas $ue via! como se ela "osse um
ser privile-iado e eu apenas uma coisa por &aixo.
N ; pena voc0 ser a parte de &aixo! meu $uerido
O mundo é uma &elea
E ria! não propriamente na min'a cara! mas na
min'a ponta.
Ela! a-ora! estava con'ecendo a &elea do
mundo... O "ocin'o no aule*o su*o... # poeira a
su&ir+l'e pela &ar&a. Ela amassada contra o c'ão.
En%a a$ui. En%a ali. #rrasta imund)cie. ,ente o
c'eiro dessa meia lama...
@on'eceu! papudaS
Mas acontece $ue! onde ela ia! eu ia tam&ém. Do
lado de cima! mas ia. Era levada contra a su*eira!
mas eu ia atr(s. Maria a introduia em&aixo do
"o-ão! $ue a patroa comandava a operação+
limpea! eu tin'a $ue acompan'ar sua triste
visita.
E eu lo-o perce&i $ue a sua 'umil'ação era
min'a tam&ém. =alve pior. 1ara todo mundo! ela
era PaP vassoura! eu apenas o ca&o. ,em ela eu
seria apenas um pedaço de pau e eu ainda me
lem&ro! no meu tempo de (rvore! do destino $ue
tin'am os pedaços de pau "o-ão de caipira!
len'a para o "o-o...
,e ela estava errada antes! $uando se ima-inava
por cima! eu erraria a-ora! tendo a mesma
atitude. Aa realidade e no "undo! ns não éramos
santo de i-re*a! nem trono de rei! nem cadeira de
&alanço. Aa sala pe-ada 'avia uma. De pal'in'a
e madeira! naturalmente. Braciosa! leve! meio
dançando! meio cantando. Quem a-entava o
pior dos 'umanos era a pal'in'a do assento. #
parte de madeira &alançava! ia e vin'a! e a -ente
$ue nela repousava tin'a um ar de &em+
aventurança de "aer inve*a. Em cadeira de
&alanço os 'omens %cam &ons! como em nen'um
outro lu-ar. ; pa no rosto! é coração a&erto! é
mão tran$ila. E a cadeira vai e a cadeira vem!
macia e calma. Que di"erença! meu Deus O "ato
é $ue eu não nasci c'eio de curvas acol'edoras!
mas reto e ri*o. 1ra cadeira de &alanço não servia.
=in'a o destino traçado! no tal aproveitamento
industrial de $ue "alava o portão. Fu-ir da vas+
soura eu não podia. Est(vamos intimamente
li-ados. Fu-ir /$uele empre-o! tam&ém não. Eu
não podia %ntar a coin'eira! $uando ela me
pe-asse. Era "aer o $ue ela $uisesse a cara no
lixo E s no lixo da coin'a! $ue nos outros
cGmodos da casa a "am)lia usava aspirador de p!
um aparel'o de vo -rossa e metido a &acana.
Esse nem se$uer nos dava con%ança. Estava
-uardado num arm(rio em&utido na coin'a e!
$uando sa)a para o tra&al'o! nos outros cGmodos
da casa! tin'a pra mim N ou pra ns N um ar de
pro"undo despreo. #té 'o*e não entendi por $u0.
As! pelo menos! não precis(vamos en-olir a
su*eira...
#ca&ada a$uela primeira operação+ limpea! $ue
tanto me atormentou! mas na $ual me
identi%$uei com a min'a parte vassoura e passei
a sentir por ela uma pro"unda simpatia! tive uma
-rande surpresa.
# operação "ora dura.
Dona ,ara de vo de ta$uara Krac'adaL tin'a sido
impiedosa.
—_Ol'a a$uele canto como est(! Maria. ; s p...
1assa a vassoura...
Maria o&edeceu.
—_<e*a em&aixo da pia. Est( 'orr)vel
Ela viu e varreu. Ou mel'or! ns varremos.
—_Esta coin'a est( uma ver-on'a <oc0 é muito
relaxada! Maria Ol'a s a$uilo...
Maria ol'ou na direção do ol'ar de Dona ,ara! o
teto.
—_=em até teia de aran'a
Maria suspirou.
—_<oc0 vai limpar ou não vaiS
—_<ou ver se d( *eito.
O *eito $ue ela deu "oi nos virar de ca&eça pra
&aixo. Quer dier! a parte vassoura pra cima! a
parte eu no rumo do c'ão! como no passeio pela
rua. Er-ueu+nos na ponta do &raço! er-ueu+se na
ponta dos pés! com es"orço Kela se $ueixava de
dores nas costasL e tocou a piaçava nas teias de
aran'a.
—_Ol'a a PmamãeP su&indo N disse ale-remente
a min'a parte vassoura! no primeiro momento. N
#-ora eu vou...
Me deu a$uela raiva... Mas lo-o tive pena. #
coitada não terminou a "rase. Estava toda
enrodil'ada na$uela teia escura! $ue l'e entrava
pelos %os! um tra&al'o danado! depois! para a
Maria tirar... E lo-o em se-uida eu estava na
min'a posição natural e impulsionava! so& o
comando da coin'eira! o triste varrer das mil
su*eiras! até $ue Dona ,ara! de vo de ta$uara!
se deu por satis"eita.
—_Est( &em! Maria! est( &em. <0 se conserva
a-ora a casa limpa...
E *( saindo
—_1õe mais (-ua no arro! criatura. ,e não! ele
aca&a $ueimando. <oc0 nunca aprende.
#' =a$uara rac'ada ,empre se $ueixando...
,empre reclamando...
Quando ela nos "avoreceu com a sua aus0ncia!
Maria nos deixou outra ve no mesmo canto onde
'av)amos começado nossa triste missão.
Foi então $ue eu entendi &em min'a parte
vassoura e me identi%$uei com ela. Est(vamos
no tal canto da coin'a! eu por cima! ela por
&aixo! toda ruim... Mol'ada + Empapada de
poeira! teia e outras tristeas da vida moderna.
—_<oc0 viu $ue tra&al'o &onito a -ente "eS <iu
$ue limpea per"eitaS Eu sou a maior
Ela cultivava o otimismo! por sistema. 1rocurava
ver o lado mel'or de todas as coisas.
—_#-ora é $ue voc0 vai ver! meu %l'o... <amos
&otar esta coin'a nos eixos #ca&ar com essa
pouca+ver-on'a

,orte é $ue a nossa inimi-a n o 6 não entendia


l)n-ua de madeira. #li(s! não devia ser muito
"orte em lin-ua-em 'umana! por$ue a todo
momento eu ouvia a patroa -ritar+l'e
N ,er( $ue voc0 não entende! criaturaS =udo o
$ue eu mando! voc0 "a ao contr(rio...
Mas "oi in*ustiça min'a c'am(+la de inimi-a n o 6.
Foi a primeira pessoa cu*a inimiade eu senti! é
di"erente. @omeçou lo-o xin-ando! mal eu entrei
na coin'a. Mas não era m(. Era uma so"redora.
#cordava cedin'o! antes de todo mundo na casa.
<irava+se o dia inteiro. @omeçava a tra&al'ar
antes dos outros tomarem o ca"é e ainda estava
arrumando e a*eitando coisas depois $ue todo
mundo estava dormindo! ou vendo novela na
televisão. 5ava! es"re-a! corta! descasca! &ota no
"o-o! tira do "o-o! "erve a (-ua! passa o ca"é! pica
a ce&ola! mi a carne! limpa o camarão! vi-ia a
panela! passa o &om&ril na "ri-ideira! &ate a
omeleta! esconde o prato $ue&rado! $ue a patroa
est( c'e-ando...
Quem a via resmun-ar o dia inteiro tin'a até
medo. 1arecia uma "era.
# col'er ca)a no c'ão.
—_1este de col'er
# "aca estava sem corte.
—_Faca mais ordin(ria
# patroa c'amava.
—_,e $uiser! c'ame outra ve! $ue eu não estou
ouvindo N diia &aixin'o para a panela mais
prxima.
Mas tudo a$uilo era apar0ncia. @om o tempo "ui
vendo! "ui me convencendo. E mesmo $uando ela
es"re-ava a min'a cara no c'ão! isto é! a min'a
cara+vassoura! é por$ue não 'avia outro *eito. ;
$ue a patroa exi-ia. E s $uando a patroa
reclamava...
Eu ac'ava timo. Ficava na molea! no meu
canto! ol'ando a vida! ouvindo r(dio. Aesse
ponto! eu não tin'a nada em comum com o meu
complemento de piaçava estava muito pouco
interessado em &otar a coin'a nos eixos.
Aão custava nada usarem o aspirador de p na
coin'a tam&ém...

Mas a "am)lia não era somente a Maria! Dona


,ara e a arrumadeira! $ue não tra&al'ava na
coin'a. =in'a ,eu @onrado! "re-u0s 'a&itual da
cadeira de &alanço. =in'a o Renato. =in'a o
Marioin'o. Quando eles estavam em casa! de
volta da escola! sempre 'avia mais -ente. Bente
em começo. @riança. @riança é começo de
mul'er ou de 'omem. ; como (rvore crescendo.
, $ue (rvore! mesmo $uando pe$uena! não
c'ora! não "a &arul'eira! não precisa estudar!
não escorre-a! não -rita! não xin-a! não corre!
não &rinca! não pula! não deso&edece.
@riança! principalmente! deso&edece... 2asta
dierem PnãoP! ela "a. E /s vees se d( muito
mal...
—_Aão &rin$ue com "o-o.
Ela &rinca e se $ueima.
—_Aão atravesse a rua! sem ol'ar antes os
automveis...
1or não o&edecer! um ami-o do Marioin'o %cou
tr0s meses no 'ospital. N Aão %$ue na c'uva
Renato teve uma semana de cama! com uma tal
de pneumonia! $ue é uma doença cacete.
#li(s! não -osto desse costume dos 'omens de
nos usarem como termo de comparação para as
coisas desa-rad(veis. Foi sem $uerer $ue eu "alei
Pdoença caceteP. @acete é pau! é madeira! é da
nossa "am)lia. #prendi com os 'umanos a usar a
palavra! mas não ac'o direito. Quando $uerem
dier $ue al-uém! da con"raria deles! não tem as+
sunto! ou "ala demais! ou repete sempre a
mesma coisa! diem $ue é um su*eito PcaceteP.
Quando se ameaçam entre si! nas suas disputas!
"alam em P&aixar o pauP , para nos envolver
numa idéia desa-rad(vel! num sentimento
desumano! mesmo por$ue 'o*e! nas suas pele*as!
eles usam coisas &em mais complicadas. O $ue
mais me irrita! porém! é $ue! $uando $uerem
c'amar al-uém de c)nico! de mentiroso! diem
$ue o in"eli é Pcara+de+pauP @ara+de+pau por
$u0S #l-uém *( viu pau mentirS #l-uém *( viu
madeira "aer malS ,e o pau desce na ca&eça de
al-uém! "oi 'omem $ue o moveu. 1or conta
prpria! por maldade prpria! nunca. ,e al-uma
ve -al'o de (rvore desa&ou matando -ente! "oi
raio! "oi vento! "oi vel'ice! "oi imprud0ncia de
$uem %cou em&aixo...
; verdade $ue! vivendo no meio dos 'omens! /s
vees a -ente se deixa contaminar por certos
maus sentimentos. Eu mesmo ainda '( pouco! ao
contar as min'as impressões na coin'a de Dona
,ara! $uando me vi insultado pela Maria! pedi em
pensamento / dona da casa PMe acerta Me
acerta no meio da testaP
Felimente ela não me entendeu nem estava
disposta a perder a empre-ada. 1or$ue eu iria
%car enver-on'ado para o resto da vida...
# -ente nunca deve se-uir os maus exemplos
$ue essa raça nos d(. Devemos assistir a tudo o
$ue eles "aem de errado N $uando erram! é
claro N com a maior cara de pau. Mas no &om
sentido...
Mas eu estava "alando nos meninos. De casa!
eram dois. Aa casa! $uando eles estavam! 'avia
sempre muito mais. O Iv:in'o. O Ricardin'o. O
Fernando. # @l(udia. O Bil <icente. @ada um mais
levado $ue o outro.
—_I'! l( v0m os demonin'os
Era sempre a exclamação da Maria $uando os via
c'e-ar. Mas a$uilo! depois %$uei sa&endo! era da
&oca pra "ora. Ela adorava criança. 1or$ue
ale-rava a casa. 1or$ue era uma &oa desculpa!
$uando al-uma coisa sa)a errada. E por$ue
atrapal'ava completamente a vida da Marlene Ka
arrumadeira! não a cantora de r(dioL. Esta %cava
$uase doida com a desordem $ue eles "aiam
pela casa toda.
—_1elo amor de Deus! seu Ivãin'o Eu aca&ei de
encerar Ol'a $ue eu conto / Dona ,ara...
Maria! $ue /s vees %cava de ol'os c'eios dT(-ua
Kdevia estar pensando no %l'in'o doenteL!
intervin'a
N Deixa. @riança é isso mesmo. 1recisa &rincar...
Eu! do meu canto! mais ouvia $ue via. # &a-unça
era nos outros cGmodos da casa. @riança não
vem &rincar em coin'a. O tra&al'o do&rado não
ia ser meu. Era da Marlene Kson'ava aca&ar
cantando no r(dioL! era do aspirador de p! era
da cole-a dele! a enceradeira. Muito espevitada!
muito pra "rente! tam&ém metida a &acana. Mas
s o &ril'o $ue ela deixava nos meus cole-as do
assoal'o *( me comovia.
#té 'o*e eu não entendi por $ue é $ue não se
encera ca&o de vassoura. # -ente ia tra&al'ar!
pelo menos! com um pouco mais de satis"ação.
@ertoS

Eu estou a&rindo o coração. @omecei a "alar! vou


"alando. Oxal( não me ac'em PcaceteP... ,ou 'o*e
um cavalo de pau. O&servo as coisas! procuro
entender. Muitas vees não entendo! é claro. Mas
é $ue o mundo dos 'omens é mesmo con"uso. ;
di")cil de aceitar. ; um mundo terr)vel. <ive da
exploração dos outros mundos. O animal! o
ve-etal! o mineral! o csmico. s vees o 'omem
tem coisas simp(ticas. 1e-a uma or e c'eira...
@ol'e a or e a leva / namorada! num -esto
-entil. Isso eu ac'o &onito. Mas pe-ar uma
-oia&a inocente! uma laran*a ino"ensiva! uma
po&re &anana! $ue não "a mal a nin-uém! $ue
estava sosse-adin'a no seu cac'o! tomando sol...
descascar a in"eli e... e comer a coitada... isso
eu não posso aceitar De maneira nen'uma
E eu nem $uero pensar de $ue *eito elas vão
aca&ar... Mas o 'omem come tudo. ; o mais
devorador dos animais. @ome animados!
inanimados e desanimados. Aa min'a vida de
ca&o de vassoura eu via tudo. 1arece $ue a
naturea toda é dominada pelo 'omem. Madeira
$ue o di-a... Felimente madeira ele não come.
Mas é raro o "ruto de (rvore $ue l'e escapa.
s vees ele derru&a uma (rvore s para comer o
$ue ela tem dentro de si! como acontece com o
palmito. Mete a mão em&aixo da terra e arranca!
do "undo do c'ão! &atata! in'ame! aipim. s
vees! come a coisa crua. Ao -eral! coin'a! "rita!
assa! põe no "o-o Ka Maria $ue o di-aL. Fol'as!
-rãos! "rutos. E até &ic'os. =riste! $uem nasceu
-alin'a In"eli! $uem nasceu &oi ou vaca
Des-raçado! $uem cair na rede @aiu na rede é
peixe! o 'omem come
#té o leite dos &eerrin'os ele toma
?( "ui (rvore. ?( "ui ca&o de vassoura. >o*e sou
cavalo de pau. =en'o visto muita coisa. =en'o
entendido muito pouco. Ou ser( $ue eu sou &urro
e não cavaloS

E a tal 'istria... Eu começo a contar uma coisa e


me distraio! vou na molea do papo e me distraio!
es$ueço o principal.
Eu estava "alando no Marioin'o! no Renatin'o!
no Ivã! no Bil <icente. Aos -arotos de casa e nos
-arotos de "ora. Eram todos mais ou menos
i-uais. @riança é como &eerrin'o! é tudo muito
parecido. ?( &otam nome neles é exatamente pra
isso o Jnico meio de di"erençar.
N =eu nome é Marioin'o! t(S O teu é Ivã! t(
&emS Quando eu c'amar pelo nome voc0s *(
sa&em $uem é.
# explicação é simples. =em criança no mundo
pra c'uc'u. K@'uc'u eles comem tam&ém! vi a
Maria descascar e pGr na panela.L Depois serviu
com camarão! um &ic'in'o meio avermel'ado
$ue eles pe-am no mar. Aem o mar escapa
K=iram até o sal da (-ua do marL Mas! como ia
diendo! tem um dilJvio de criança no mundo. ,
"ormi-a tem mais... Mas cada "am)lia tem duas!
tr0s! no m(ximo. E como é tudo mais ou menos
parecido! pra evitar con"usão e pra não ter $ue
dar comida para as crianças dos outros K-ente s
pensa em comer...L eles &otam os nomes pra
"aer di"erença. @om&inam tudo. PO meu é
Fernando! o teu é Bil <icente! t(SP Mas é tudo
muito complicado. s vees tem mais de uma
criança com o mesmo nome. KEu ac'o $ue eles
não t0m muita ima-inação.L Aão sei como é $ue
os pais se arran*am pra sa&er $ual é o seu ?oão
K"oi o $ue eu mais con'eciL no meio de uma
*oãoin'ada $ue não tem %m. E o ne-cio deve
ser tão di")cil $ue eles inventaram tam&ém um tal
de so&renome. =em ?oãoin'o ,imões. =em
?oãoin'o 1ereira. =udo por$ue é tudo muito
parecido. , com a pr(tica eu comecei a
distin-uir.

@laro... Ao começo é "o-o. Ol'o... =odos t0m dois.


@a&eça. =odos t0m uma. O Renato tem dois
&raçosS O Ivãin'o tam&ém. # Mar)lia tem duas
mãosS # @laudin'a tam&ém. Eles e elas! salvo
pe$uenas di"erenças! $ue nem d( para notar!
parecem todos sa)dos da mesma o%cina. Dedos!
todos t0m cinco em cada mão. 1ernas! cada um
tem duas... @on'eci um de uma perna s! mas "oi
desastre de automvel. #li(s! deso&edi0ncia.
Dona ,ara sempre diia
N @uidado $uando atravessarem a rua.
5em&rem+se do $ue aconteceu com 4e$uin'a...
; verdade $ue /s vees '( uns mais claros!
outros menos claros. Mas a di"erença é s na cor.
O resto é tudo i-ual. Mesmo nJmero de ca&eça!
mesmo nJmero de &raços! mesmo nJmero de
pés! mesma capacidade de inteli-0ncia! mesma
capacidade de comer... E o mesmo direito! é
claro. E pra mim! $ue não ten'o preconceito de
cor N sou um cavalo de pau inteli-ente! superior
a muita -ente &oa... N a semel'ança continua a
mesma.
Ao meu tempo de (rvore! a -ente %cava
o&servando saJva passar. Eu dava um -al'o!
dava todas as "ol'as! pra $uem sou&esse me
dier $uem era esta! $uem era a$uela. 1assava
uma! passava outra! passava mais outra. Uma
delas voltava. Era uma! era a outra! era a$uela
outra ou era uma nova saJvaS Imposs)vel sa&er.
#ssim com as &aratas #ssim com os san'aços.
#ssim com os &em+te+vis. #ssim! principalmente!
com os uru&us! $ue voavam muito alto!
procurando &ic'o morto pra comer Kdevem ter
aprendido com os 'omensL. #ssim com as co&ras.
#ssim com os la-artos. =in'a $ue ser assim com
as crianças...
Mas! como eu ia diendo e mais uma ve me
perdi! com a pr(tica comecei a distin-uir. E vou
"alar no Marioin'o! $ue "oi o meu -rande ami-o
no mundo da deso&edi0ncia e da travessura.
,ou 'o*e um vel'o cavalo de pau. <ou contar
coisas do tempo em $ue ainda não era. Aem
vel'o! nem cavalo de pau. #inda ca&o de
vassoura. Dessa "ase *( contei muita coisa. Mas
ainda não tin'a "alado do meu primeiro encontro
com o Marioin'o.
?( "aia muitos dias! isto é! muitas varreduras!
muito pito de Dona ,ara na Maria! muito lava!
muito descasca! muito coin'a! muito serve
mesa! muito anoitece e muito aman'ece! muita
implic:ncia do aspirador en-ole+poeira! muita
&adalação da enceradeira Keu uma ve pedi para
ela me encerar! ela con"essou $ue tudo dependia
da arrumadeira ou da MariaL. As! os inanimados!
manuais ou elétricos! nunca tra&al'amos
soin'os. #penas pensamos...
Mas! antes de me perder em recordar o $ue
pensava! ac'o mel'or contar o $ue acontecia. Eu
e a &ar&ic'a de piaçava *( est(vamos resi-nados
/ nossa missão. E o $ue é curioso até
estran'(vamos $uando Maria passava muito
tempo sem nos es"re-ar no c'ão Keu me sentia
es"re-ado tam&ém...L. Dava a$uela vontade de
-ritar como Dona ,ara
—_Ol'a $ue ver-on'a esse c'ão! criatura
s vees! ela parecia entender. E c'ape! c'ape!
c'ape! varria. De m( vontade! mas varria.
—_Ol'a a$uela casca de laran*a! Maria.
Estava em&aixo da mesin'a.
Ela não entendia Kespecialidade dela era não
entender...L e muitas vees ns volt(vamos para
o canto ou para o arm(rio em&utido Ka porta era
de madeira e me contava o $ue acontecia l( "oraL
com o des-osto do serviço mal"eito. 1or$ue! com
o tempo! eu me convenci de uma coisa o $ue a
-ente "a tem de ser &em "eito. Um coin'a!
outro lava! um arruma! outro varre! um canta!
outro estuda! mas o $ue "a deve ser "eito da
mel'or maneira poss)vel. E se eu continuava a
me c'atear com a$uele ne-cio de meter a cara
no lixo! mais c'ateado %cava $uando a varreção
era mal"eita. 1arecia incompet0ncia nossa.
—_Aem para varrer eles servem
Mas sempre son'ava em ser coisa mel'or! em
"aer coisa mel'or! em não viver para ser
misturado com o lixo. Esse é o son'o de toda
vassoura! pelo menos de todo ca&o de vassoura.
; por isso $ue! para variar! al-uns ca&os de
vassoura de mau car(ter -ostam de ser usados
na ca&eça dos outros...
Foi num dia desses! de pensamento insatis"eito!
$ue entrou! pela primeira ve! na coin'a! o
Marioin'o.
@laro $ue eu sa&ia tudo da vida dele. Ouvia as
re"er0ncias de Maria! da arrumadeira! de Dona
,ara! ouvia as -ritarias e travessuras $ue eles
"aiam na casa e principalmente o $ue as portas!
*anelas e outros meus irmãos de madeira me
contavam.
Mais de uma ve ele esteve para entrar no
cGmodo onde viv)amos! mas! ou al-uém o
c'amava! ou al-uém -ritava alto
—_@oin'a não é lu-ar de criança
Aesse dia ele entrou. Maria *( ia tocar o -aroto!
mas "oi desarmada com uma per-unta
—_ ,eu %l'in'o mel'orou! D. MariaS
Ela se amoleceu toda e contou uma porção de
coisas so&re o %l'o! o Marcos.
Eu espiava o -aroto rosado! a camisa saindo da
calça! o ol'ar travesso.
—_ Quando ele %car &om! a sen'ora tra ele pra
&rincar com a -enteS
—_ E vão deixar! meu %l'oS N disse Maria com o
ol'ar enternecido.
—_ Ué Eu deixo
Mas a conversa não continuou. Ele aca&ava de
me desco&rir. <eio c'e-ando! me pe-ou pelo
meio! como os outros costumavam "aer. Eu
estava deslum&rado e constran-ido. @om ele! eu
tin'a ver-on'a de voltar ao lixo. #'! se eu
pudesse virar -ente! como o %l'o da empre-ada!
e ser convidado pelo Marioin'o pra &rincar!
aumentar a su*eira da casa e não ter $ue varrer
—_ I'! l( vou eu de "ocin'o no c'ão
Ao começo! eu não entendi &em. De "ato! a
min'a parte vassoura estava pra &aixo.
Marioin'o passava uma perna por cima de mim!
se-urava+me / altura do pescoço $ue me 'aviam
tal'ado na o%cina.
E! de repente! comi-o entre as pernas! saiu
-alopando pela casa.
Pi Ele tem um sistema es$uisito de varrer...P
pensei eu! com a min'a parte vassoura a se
arrastar /s ce-as por tapetes e coisas
inteiramente novas para a nossa experi0ncia.
De $ual$uer maneira! eu estava "ascinado.
@on'ecia o resto da casa! muito superior a tudo o
$ue 'avia até então no meu pe$ueno mundo. <i
pessoalmente a "amosa cadeira de &alanço! os
outros mveis! a televisão! o r(dio! os espel'os
Kvi+me no espel'o e me ac'ei o maior! -alopando
sem sa&er por $u0L! e começava a ter! pela pri+
meira ve! uma sensação de or-ul'o! ao derru&ar
com a vassoura coisas encontradas no camin'o!
animado por uma espécie de -rito de -uerra
—_Oa Oa
1arecia $ue ele tentava me comunicar al-uma
coisa! dando+me uma pancadin'a ami-a no
anco! "alando comi-o. #$uele oa oa era
"rancamente comi-o. 1ela primeira ve al-uém
me diri-ia a palavra! em&ora curta.
Foi maravil'oso. 1assamos pela televisão v(rias
vees. Estava li-ada. <arri! varremos! mas num
sentido de ale-ria e desordem! mil coisas
encontradas! principalmente &rin$uedos. #l-uns!
uma &elea
—_Oa Oa
O material era mais leve! &rin$uedos de pl(stico
Knunca "ui com a cara dos pl(sticosL. <arr)amos
tudo Kno &om sentido! no novo...L
Eu estava na maior "elicidade! $uando ouvi uma
outra espécie de -rito de -uerra. 1ensei $ue
vin'a da televisão. Era da arrumadeira.
—_Menino imposs)vel Que dia&o de menino
#rrancaram+me de Marioin'o com "Jria!
reclamando contra a desordem *( "eita! levaram+
me de ca&eça pra &aixo rumo / coin'a.
—_@omo é $ue voc0 permite uma coisa dessas!
MariaS
E *o-ou+me contra o vel'o canto.
—_Que "oiS N per-untou Maria! assustada.
—_=ravessuras do Marioin'o =rans"ormou a
vassoura em cavalo de pau! "e uma &a-unça na
casa
—_Deixa o menino &rincar N disse Maria! a-ora a
min'a ami-a particular n o 6.
—_1ois se ele %er isso outra ve! vai ter Eu conto
tudo a Dona ,ara
E saiu resmun-ando.
, então avaliei &em o $ue se passara. Era a
min'a primeira experi0ncia cavalar. >)pica! se
pre"erem. E tin'a -ostado.
Mas como so"ri depois! devolvido / min'a anti-a
condição de ca&o de vassoura #ps 'aver
con'ecido o esplendor de caval-ar! imponente e
"o-oso N Oa Oa Oa N a$uele re-resso ao
mundin'o do lixo! um mundo imundo! "oi um
lon-o inverno amar-urado.
Marioin'o não "oi mais visto na coin'a. #li(s!
andou até de casti-o.
Min'a ami-a porta! no seu eterno ir e vir!
prisioneira dos -onos! me contou.
# arrumadeira tin'a dado parte. Dona ,ara
voltava das compras! ouviu tudo de cara
amarrada! pintou o sete com meu novo ami-o.
Que não se "aia uma coisa da$uelas... Que não
se desarrumava a casa da$uele *eito... Que ele
estava estra-ando a vassoura... Que ela não
tin'a din'eiro para comprar outra... Kser( $ue eu
sou caroSL

Que ele *( tin'a &rin$uedo demais e não


precisava inutiliar uma coisa tão Jtil Ka-ora ela
recon'ecia...L. E $ue ele estava proi&ido! a$uele
dia! de ver a televisão K-aranto $ue não perdeu
-rande coisa...L.
@on%nado na coin'a de novo Ks $uem tin'a o
privilé-io de rever todos os dias o resto da casa
era o papa+lixo do aspirador metido a -ran"aL eu
me consolava com a idéia de $ue um dia
Marioin'o me 'avia pre"erido a todos os
&rin$uedos caros Kpass(ramos por cima de
muitos! com a maior altive...L e me passeara
pelo apartamento todo! num -alope -enial... N
Oa Oa Oa
Mas a-ora eu era apenas ca&o de vassoura e
recordava com saudade a$uela experi0ncia
-loriosa.
#'! se ele aparecesse a$ui outra ve Que &elea
sair pela casa num -alope le-al! vendo! pisando!
revirando as coisas
Mas não aparecia. Eu %cava todo murc'o no meu
canto! conversando com a parte de &aixo Kera
outro material! piaçava! era outra vida! em&ora
identi%cada comi-oL. E a min'a parte vassoura
participava da mesma sensação. Ela tam&ém
tivera o -osto! não de varrer! mas apenas de
revolver o lixo encontrado! &a-unçando tudo!
deixando mais tra&al'o para o vaidoso en-ole+
poeira e para a enceradeira! cu*o tra&al'o
tam&ém era de "ocin'o no c'ão. K#'! se al-uém
me encerasseL
Marioin'o estava ri-orosamente proi&ido de
aparecer em nossos dom)nios. =)n'amos not)cia
dele pela conversa das pessoas de carne e osso e
dos meus con"rades de madeira. ,a&)amos de
seus &rin$uedos! correrias e travessuras.
,a&)amos de seus estudos! passeios e casti-os.
=omara $ue ele %$ue lo-o doutor como o pai
s vees diiam $ue ele ia ser médico. Outras
contavam $ue ele $ueria ser c'o"er de praça!
depois mudava de pro*eto! $ueria ser aviador.
=eve uma ocasião em $ue c'e-ou a not)cia de
$ue ele $ueria crescer e virar astronauta. Uma
ve N $uem me contou "oi a porta! onde um dia
me encostaram N Marioin'o mudara de idéia
$ueria tra&al'ar com carrin'o de vender sorvete!
pra tomar sorvete sem pa-ar. E um dia eu %$uei
todo derretido de ternura. ,ou&e $ue ele não
$ueria mais ser nem médico! nem motorista! nem
astronauta! nem sorveteiro. Queria! $uando
crescesse! virar soldado de cavalaria...
#'! é $ue ele -ostou de montar no papai
E a$uilo me consolou do muito varrer e nos levou
N a mim e / parte de &aixo N a ter outra ve o
-osto anti-o de capric'ar na limpea. 1or$ue a
o&ri-ação de cada um deve ser sempre cumprida
da mel'or maneira >avia um cartãoin'o na
parede! posto por Dona ,ara! e eu vi a patroa ler
uma ve em vo alta o $ue ele diia
P,0 per"eito em tudo o $ue %eres...P
Era uma direta para a Maria e uma indireta para
ns...
E pensando no Marioin'o e sa&endo $ue a nossa
coin'a era a coin'a da casa dele! s $uer)amos
$ue a Maria tra&al'asse &em.
P<arre a$uela casca de &anana! Maria...P
O tempo ia passando e Marioin'o nada... , de
lon-e. , de -ritaria no outro lado. , de
arrumadeira se $ueixando da muita &a-unça e
dos muitos Renatin'os! Bil <icentes! Ivãin'os!
Marcos e ?oões $ue ele traia para aumentar a
desordem...
En$uanto isso! )amos envel'ecendo. Quer dier!
eu não... Eu me sentia cada ve mais ri*o. Mas a
parte de &aixo estava se es%apando! cada
varredura de c'ão era des-aste nas pontas! era
%o $ue escapava e se trans"ormava em mais
su*eira! levada para a lixeira do prédio.
—_Esta vassoura *( não vale nada
—_Esta porcaria tem de ser trocada...
—_Dona ,ara é muito mu$uirana! *( devia ter
comprado outra vassoura...
Min'a parte de &aixo! na sua inconsci0ncia Ka
piaçava nunca &ril'ou pela inteli-0nciaL! %cava
contente ouvindo a$uilo.
—_Que &om #ssim eu me aposento! não tra&al'o
mais
; $ue a in"eli não sa&ia $ue o prédio tin'a
incinerador de lixo. ,e ela não sa&ia! não era eu
$uem iria contar. 1ara $ue atormentar a coitada
com a$uela 'orr)vel perspectivaS Fo-o "oi sempre
o -rande espantal'o da nossa raça.
—_Destino de madeira é "o-o N diia um pau de
len'a meu ami-o! ainda nos tempos da oresta.
Eu continuava curtindo a min'a an-Jstia e a
saudade da$uela tarde ines$uec)vel. Em sil0ncio.
Em sil0ncio e com medo. Que inve*a da porta com
sua via-enin'a curta! de ir e vir! sempre no
mesmo lu-ar! no seu eterno a&rir e "ec'ar Mas!
pelo menos! vendo as coisas! vendo a vida com
tran$ilidade. 1ara ser devorada pelo "o-o! teria
$ue ser com o prédio inteiro. E isso era di")cil...
Que inve*a da mesa ,empre parada. ,empre
a-entando peso de pratos! panelas e compras.
Mas -arantidona... Mesa não se *o-a "ora! não se
põe no "o-o. ,e %ca vel'a! vende+se ou d(+se...
# mesa continua sempre. E o assoal'oS 1ata
'umana! casco de visitante no lom&o o dia
inteiro... Bente indo e vindo! pisando! pisando.
Mas o assoal'o %rme! não varrendo! mas
varrido... Mais ainda de aspirador su-ando+l'e os
su*os. E o $ue é maravil'oso sempre de cara
luidia! com a enceradeira renovando tudo...
—_Est(s %cando um cacareco! 'em! meu vel'oS
Era a mesin'a $ue "alava. #$uilo me doeu.
—_Eu! não. # vassoura.
—_E da)S @a&o de vassoura! vassoura é...
Fi como o aspirador de p. En-oli o insulto. E l(
comi-o
P;... O ne-cio vai mal... ,e eu ten'o de morrer
na or dos anos! se Marioin'o deso&edece em
tanta coisa! por $ue é $ue ele não arran*a uma
deso&edi0ncia comi-oSP
,im! eu não $ueria morrer antes de um -alope
%nal! ouvindo o Marioin'o no seu -rito de
-uerra
—_Oa! oa! oa! meu cavalo de pau

O dia tão temido c'e-ou. Maria passou+nos pelo


c'ão! a su*eira %cou. 1assou outra ve. @om
"orça. Aada...
N >o*e eu "alo com Dona ,ara. Ou ela me d(
vassoura nova! ou não "aço mais a limpea. Esta
não vale nada <ou *o-ar esta porcaria na lixeira
E a&riu a porta $ue dava para o corredor de
serviço.
P#deus! min'a -enteP! pensei eu. Mas "oi tal a
tristea de tudo o $ue era madeira na casa! tão
-rande o protesto mudo de todos Kmudo para os
'umanos! ou mel'or! para os desumanosL! $ue
provocou uma espécie de "orça no ar! $ue
conteve Maria.
Ela parou! *( no corredor! pensou um pouco e
voltou! deixando+nos outra ve no arm(rio
em&utido.
—_ ; mel'or mostrar primeiro / Dona ,ara. ,e não!
ela pensa $ue eu *o-uei "ora uma vassoura de
luxo! toda de %os de ouro... Ela $ue resolva.
—_ 1atroa é patroa N disse eu / piaçava! $ue não
tin'a idéia do $ue poderia ter acontecido! mas
concordou plenamente.
Est(vamos no arm(rio "ec'ado! a-uardando a
tra-édia. # porta me ol'ava com uma pena
in%nita.
—_ Que c'ato! 'emS
—_ ; da vida N murmurei N de alma na Jltima
lona.
#té o aspirador de p me ol'ava com simpatia.
#%nal! a vassoura varria o pior lixo da casa. Ele
não con"essava! mas ac'ava sua missão muito
triste. Ficava /s vees de &arri-a estu"ada e era
preciso uma operação+limpea! $ue
enver-on'ava $ual$uer um. E se não
comprassem outra vassouraS E se resolvessem
$ue ele! soin'o! devia cuidar da coin'a
tam&émS
#%nal! ouvi conversa "ora.
Dona ,ara voltava de visitar uma parenta.
# prosa s podia ser a nosso respeito. Era. # vo
de ta$uara rac'ada reclamava contra a su*eira.
—_# culpa não é min'a N disse Maria.
—_<oc0 não tem tempo! não éS N disse a patroa!
com ar de $uem a c'amava de pre-uiçosa.
—_=empo eu ten'o. Aão ten'o vassoura...
—_O $u0S
—_# vassoura aca&ou.
—_<oc0 *o-ou "oraS
—_Ia *o-ar. Mas ac'ei mel'or a sen'ora ver
primeiro...
E a&riu a porta do arm(rio.
Eu me sentia tão pe$uenino! tão pe$uenino! $ue
pensei $ue ela não me visse. Mas $ual Foi lo-o
me pe-ando N ou nos pe-ando N e "alou /
patroa
—_Ol'a s o *eito dela... Est( no %m...
1assamos para a mão de Dona ,ara.
Realmente $uem passava era eu. ,o&rava apenas
eu. # parte propriamente de vassoura estava
completamente li$uidada.
Dona ,ara me ol'ou! muito séria! e voltou+se
para Maria
—_=am&ém voc0 escan-al'a com tudo Aunca vi
uma coisa i-ual <oc0 me $ue&ra até prato de
matéria pl(stica Min'a Aossa ,en'ora Aunca vi
,e voc0 tomasse um pouco mais de cuidado! a
vassoura não aca&ava desse *eito...
1ela primeira ve eu dava inteira raão a Dona
,ara. Mas s podia esperar a$uela sentença
—_Est( &em. 1ode *o-ar "ora. Eu compro outra.
Aão sei o $ue vai ser de mim com tanta
despesa... <assoura est( custando os ol'os da
cara. =udo est( custando os ol'os da cara... Aão
sei onde vamos parar...
Eu! eu sei onde ia... Ao incinerador...
—_<ou morrer sem meu -alope %nal... <ou morrer
sem ver Marioin'o...
Dona ,ara voltou para a sala da cadeira de
&alanço. Maria me a-arrou outra ve. O r(dio
cantava

Quando eu morrer
Aão $uero c'oro nem vela!
Quero uma %ta amarela
Bravada com o nome dela...
@om o nome dela eu não $ueria. Aem de Dona
,ara. Mas do Marioin'o aceitava. ?uro $ue
aceitava e morria "eli...

Felimente não morri. Marioin'o não podia


"al'ar. #ca&ava de entrar.
—_Maria
As *( )amos saindo! $uando a$uela vo iluminou
a terra... 1arecia um cantor...
Maria voltou+se
—_Que é $ue '(! meu %l'oS
Os ol'os de Marioin'o estavam em mim.
—_<oc0 vai *o-ar "ora essa vassouraS
—_,ua mãe $ue mandou! *( não vale mais nada.
—_Escuta! Maria! eu "alei com mamãe. Ela deixou.
<oc0 pode me dar a vassoura.
Maria mostrou o maior espanto
—_O $u0S 1ra $u0S 1ra $ue é $ue voc0 $uer uma
porcaria destasS
@oitada... Aão "alava por mal. I-nor:ncia... Eu
estava tão "eli $ue me sentia capa de perdoar
$ual$uer coisa...
—_Deixa comi-o N disse Marioin'o.
Mas evidentemente Maria pensou $ue o -aroto
estava sacando. E não l'e deu muita import:ncia.
#&riu a porta do corredor.
—_<oc0 tem cada idéia! menino... Deixa de
&o&a-em... #umentar a &a-unça da casa... <ai
estudar! meu %l'o. ,enão! voc0 nunca c'e-a a
doutor. <oc0 pensa $ue seu pai não estudouS
Eu continuava na mão dela e de ca&eça para
&aixo! os %apos l( no alto! con%rmando tudo o
$ue ela 'avia dito uma porcaria de vassoura.
Ela se encamin'ou para a lixeira. Min'a an-Jstia
"oi ao au-e. Britar não podia. Bente não entende.
Fu-ir não poderia. Aão era vassoura autom(tica.
—_5( vou eu pro "o-o @iao! Marioin'o! ciao
O&ri-ado pelo pensamento... Deus "aça de voc0
um &om médico... ou um &om soldado de
cavalaria. <oc0 tem muito *eito...
E "ec'ei os ol'os da alma! pra não ver o resto...
Mas nin-uém morre na véspera. En$uanto não
c'e-a a 'ora da -ente! todos os santos a*udam.
Maria não conse-uiu a&rir a porta da lixeira.
Estava emperrada. 1uxou! puxou! nada.
—_Que dro-a de porta ?( en-uiçou outra ve
Estou cansada de reclamar com o elador. ; todo
dia a mesma coisa...
=ornou a puxar. =ornou a "aer "orça. # porta
%rme. Resmun-ou. Reclamou. 1rotestou. De
repente! viu a *anela e teve uma idéia. Er-ueu+me
no ar e *( ia me atirar pela *anela! $uando Dona
,ara! com uma vo divina! -ritou
—_Aão "aça isso! Maria. 1ode cair na ca&eça de
al-uém
Eu até não sei como é $ue Maria teve uma idéia
da$uelas. ?( pensouS Me atirar pela *anela E se
eu "osse cair na ca&eça de um coitado $ue não
"e mal a nin-uém! uma criança $ue não tin'a
deso&edecido ã mãe! um elador de edi")cio
dando duro para sustentar a "am)liaS #inda &em
$ue Dona ,ara! com a$uela vo maravil'osa!
pensava em tudo isso.
—_<oc0 est( malucaS
Malu$uice não! i-nor:ncia... @oitada da Maria!
com o %l'in'o doente... E se eu tivesse ca)do na
ca&eça do %l'in'o delaS Ele não estava ali! mas
podia estar. @omo podia estar $ual$uer outra
criança. =oda criança é &oa. Estava ali! por
exemplo! a criança mais "a&ulosa do mundo! o
Marioin'o...
Ele é $ue tin'a ido c'amar Dona ,ara! para
con%rmar $ue ela dera licença. E Dona ,ara! com
sua vo tão rara! tão clara K'( muita rima linda
pra ,ara! eu a-ora via...L! con%rmava
—_Eu dei licença! Maria. 1ode dar a vassoura para
o Marioin'o. Ele pediu...
E entre-ando+me ao meu novo sen'or! "uturo
capitão de cavalaria! ou marec'al
—_Mas nada de montar a$ui dentro. Aão me "aça
desordem na casa. <( &rincar no *ardim ou na
calçada! entendidoS
Dona ,ara! de vo rara! de vo clara! me
salvara...
Foi um ololG! um eiel0! um alal(
—_Oa! oa! oa
;ramos donos do mundo
@aval-(vamos! "e&ris! pela calçada.
—_Oa! Aapoleão
Me c'amava de Aapoleão Aapoleão tin'a sido
um -rande imperador! eu ouvira essa conversa
uma ve. E eu me sentia o prprio imperador dos
cavalos de pau.
1le$ue! ple$ue! ple$ue...
1la$ue! pla$ue! pla$ue...
1lo$ue! plo$ue! plo$ue...
Que corrida maravil'osa @omo a vida era &ela
@omo era &om -alopar
@omo passavam! &uinando! meus cole-as de
rodas
>omens passavam a pé. Deus l'es desse um dia
um &om cavalo de pau ou pelo menos um
automvel...
Estava um -uarda na es$uina. @oitado...
In"antaria...
Uma criança ol'ava! triste! da *anela... Aão devia
perder a esperança. ,e não deso&edecesse mais!
não %caria de casti-o...
1assou uma carrocin'a de sorvete! Marioin'o
nem li-ou. Ele e Aapoleão -alopavam "elies...
1assou! muito carre-ada de em&rul'os! uma
empre-ada do prédio! $ue / noite ia &ater papo
com a Maria! terminado o tra&al'o. Frutas!
&atatas! ovos! &acal'au... E apertada com o
&raço! contra o corpo! uma vassoura nova. =ive a
impressão de $ue a recon'ecia! dos meus tempos
de armaém. Mal deu tempo de "alar! eu
-alopava.
—_<oc0 por a$uiS 1ara onde vaiS
—_,ei l(
Fomos até a es$uina. <oltamos. # empre-ada ia
entrar na porta de serviço. Min'a cole-a me
ol'ava c'eia de an-Jstia. Marioin'o me "reou
para convidar um ami-uin'o. @inema no
domin-o... Ol'ei mel'or a cole-a.
—_<oc0 não é a 7C da$uele loteS
—_Exato! meu %l'o.
—_Ol'a! vai ser "o-o
—_Eu sei...
—_Mas não desanime! t( &emS ,e na casa onde
vai tra&al'ar 'ouver criança! voc0 ainda pode
aca&ar Aapoleão...
—_O $ue é issoS
—_Outra ve eu te explico.
?( não dava mais tempo. Balop(vamos de novo.

Aão '( &em $ue sempre dure. =odo -alope tem


%m. Aão atropelamos nin-uém! nin-uém
reclamava contra ns Ka 'umanidade não "a
outra coisa senão reclamar! tudo é pretexto...L!
mas no mel'or da "esta apareceu Renatin'o. Era
o irmão de meu ami-o e sen'or.
—_Mamãe est( c'amando. >ora de lanc'e...
—_Di $ue depois a -ente so&e.
—_Ela disse pra voc0 su&ir soin'o.
—_O $u0S
—_1ra deixar o ca&o de vassoura.
—_@a&o de vassouraS N per-untou Marioin'o
muito espantado. N Que ca&o de vassouraS
—_Ué Esse a)
, então perce&emos $ue era de mim $ue ele
"alava.
—_#'! isso não 1re%ro %car sem lanc'e.
@omo é $ue eu não 'avia de -ostar de
Marioin'oS 1re"eria morrer de "ome a me perder
@oisa $ue s se encontra na oresta... #miade
de (rvore vel'a! de madeira de lei
—_Ela disse $ue est( passando da 'ora. Que voc0
tem de su&ir...
—_,oin'o eu não su&o. , com o Aapoleão...
E indi"erente aos consel'os de Renati+ n'o! num
trote mais modesto! entrou no pla-round do
edi")cio! "oi até a entrada de serviço e c'amou o
elevador.
—_Eta cavalin'o &acana
—_Buarde o &ic'o na -ara-em N su-eriu
Renatin'o. N #ssim mamãe não &ron$ueia.
Eu começava a ac'ar Renatin'o mais inteli-ente.
—_; peri-oso. #l-uém pode rou&ar.
Renatin'o riu.
—_Rou&ar essa &esteiraS
Renatin'o me pareceu o mais per"eito &o&o+
ale-re do mundo.
—_2esteira por $u0S
Marioin'o era o maior
—_Eu estou &rincando com voc0. Ele até $ue é um
cavalo le-al.
Renatin'o parecia &urro! mas não era. Estava na
cara. ,a&ia dar valor a $uem o tin'a.
—_Eu su&o com ele! de $ual$uer *eito N disse
Marioin'o.
Ele estava disposto a arriscar a vida por min'a
causa. #$uilo me comoveu.
—_#c'o &om não "aer isso! Marioin'o. Mamãe
"alou &em claro. Deixar a$ui em&aixo. # casa est(
c'eia de cacareco...
Eu não podia entender como a$uela vo tão linda
de Dona ,ara podia ter dito palavras tão duras
contra o no&re imperador dos cavalos de pau...
Marioin'o continuava em dJvida. Aão podia
deso&edecer. ,e deso&edecesse! seria pior. Foi
até / -ara-em escol'er um lu-ar mais se-uro. Eu
estava de coração mais pe$uenino $ue uma
pul-a.
Aisso! Marioin'o teve uma idéia. 1er-untou ao
mano
—_,eu lanc'e voc0 *( tomouS
—_?(. =omei um copo de vitaminas de todas as
letras #! 2! @! D! E! F! B...
—_<oc0 é capa de me "aer um "avorS
—_QualS
—_<oc0 ol'a o Aapoleão a$ui em&aixo até eu
descer do lanc'eS ; um minutin'o s...
Depois de uma r(pida 'esitação! Renatin'o
per-untou
—_1osso dar uma voltin'a com eleS
—_1ode. Mas sem sair da calçada! t(S Aão v( cair
—_Eu! 'emS
Os dois entraram de acordo! Marioin'o su&iu!
Renatin'o me acariciou com simpatia! montou!
deu+me um tapa no lom&o
—_<amos! Aapoleão
,a)mos de novo! *ardim adentro! calçada a "ora!
-alopando.
Mas não era a mesma coisa...

Eu -ostava de Marioin'o não s por ser &om


cavaleiro. Era pela inteli-0ncia. Ele levava todo o
mundo na conversa. Quando desceu! minutos
depois! *( voltava com permissão para me
-uardar no arm(rio dos &rin$uedos.
N Mamãe disse $ue eu s não podia montar
dentro do apartamento. , pode ser na calçada...
Eu até ac'ei -raça... Que interesse tin'a eu em
-alopar num apartamento! $ue era mais
apertamento $ue outra coisa! como diia a
arrumadeiraS Eu $ueria era espaço! $ueria a rua
Quem nasceu na oresta! $uem dominou as
(rvores! como pin'eiro! precisa de amplidão E o
-ostoso era estar ali "ora! vendo os cole-as de
$uatro rodas se perse-uindo na rua! vendo os
pedestres correrem! assistindo ao -rande
espet(culo do mundo
Marioin'o participava da mesma opinião e %cou
até "eli. =in'a pretexto para descer mais vees!
por$ue precisava passear a cavalo para "aer
exerc)cio...
Foi assim $ue eu passei a viver o mel'or tempo
da min'a vida. Fora promovido a cavalo. De pau!
mas cavalo. De &rin$uedo! mas cavalo. =in'a!
a%nal! um nome! como todas as crianças! como
-ente 'umana. E um nome de enc'er a &oca.
=odo mundo con'ecia. Eu vi isso! $uando os mais
vel'os e os mais novos! da raça de Marioin'o!
%cavam sa&endo $ue eu tin'a sido &atiado de
Aapoleão. Eles davam risadas! mas ac'avam o
nome &onito. E "alavam! com respeito! do
primeiro Aapoleão. =in'a sido imperador de um
pa)s c'amado França. Deu surra numa porção de
pa)ses. Ban'ou da #leman'a! da Hustria! da
It(lia! pa)ses $ue eu não con'ecia Keu sou cavalo
de pau! não ten'o o&ri-ação de sa&er Beo-ra%aL.
Ban'ou da Espan'a! -an'ou de 1ortu-al. Deu de
-oleada na In-laterra. Faia todas as -uerras
montado num cavalo &ranco! meu cole-a. ,e era
&ranco! não tin'a sido encerado! a coisa $ue eu
mais dese*ei a vida toda... Quando ia atacar um
pa)s! mandava &uscar o cavalo no pasto!
montava e sa)a correndo na "rente das tropas
N #vante! pessoal
Ain-uém a-entava a parada. Fu-ia todo mundo.
Os reis ca)am do cavalo! pedindo perdão! ele
&otava outros reis no lu-ar deles. #rran*ou
empre-o de rei para toda a "am)lia. Os irmãos! os
primos! os cun'ados. KEu ainda vou arran*ar um
lu-ar de cavalo para o ca&o da$uela vassoura
$ue encontrei! a 7C do meu anti-o lote no
armaém...L Aem 1elé "oi tão importante. KEra
outro rei $ue o pessoal citava muito na casa de
Marioin'o.L De modo $ue eu tin'a raão de
-ostar da$uele nome e de me sentir um cavalo
de pau realiado e "eli.
, de uma coisa eu não -ostava. ,empre $ue o
pessoal "alava em Aapoleão! al-uém lem&rava
$ue ele tin'a aca&ado muito mal. Ao %m da vida!
%eram uma su*eira com ele. Ele estava com um
exército pe$ueno e cansado. <eio um exército
maior e descansado e estra-ou tudo. O coitado
morreu prisioneiro numa il'a c'amada ,anta
>elena.
1or sinal $ue >elena! além de nome de uma
santa e de uma il'a! era tam&ém o de uma tia de
Marioin'o. s vees aparecia na casa e nunca
me ol'ava com &ons ol'os...
=odo Aapoleão tem seu dia de ,anta >elena. Eu
tive muitos. Estava no arm(rio! de volta do meu
"o-oso -alopar na calçada! e pensava lo-o no
meu -rande cole-a! derru&ador e "aedor de
reis...
Depois de con'ecer as ale-rias do -alope ou do
trote! das "readas &ruscas! para não atropelar
uma criança ou uma vel'a sen'ora! $ue *( não
podia montar! ser "ec'ado num arm(rio sem lu
Ktin'a l:mpada! mas estava $ueimadaL era um
casti-o cruel.
Diem $ue os meus cole-as de $uatro patas Knão
me re%ro a Aapoleão $ue s tin'a duas! di-o! dois
pés! como em -eral todo -0nero 'umanoL! diem
$ue! depois do -alope! esses cole-as são
recol'idos em casas especiais "eitas para o seu
*usto descanso. @oc'eiras! cavalariças!
estre&arias! sei l(... @om -ente para lavar+l'es o
corpo! enxu-ar+l'es o suor! traer comida. Eu não
$ueria tanto. Felimente não preciso comer. De
empre-ados tam&ém não preciso. #li(s! dispenso
com muito praer. Min'a vida! $uando tin'a
contato com a Maria e particularmente a Marlene!
era c'eia de altos e &aixos! mais &aixos $ue altos!
di-a+se a verdade... Mas a escuridão da$uele
$uartin'o apertado era de morte...
1ior $ue a escuridão! a con"usão...
>avia de tudo. 2rin$uedos vel'os! sempre
ameaçados pela arrumadeira de serem *o-ados
no lixo. Os coitados so"riam...
—_,er( 'o*e o meu diaS
Ouvia sempre essa conversa l( dentro.
—_1odiam! pelo menos! dar a -ente para al-uma
criança mais po&re N 'avia sempre al-uém
diendo.
Era um automovin'o arre&entado! um ursin'o de
&arri-a ras-ada! uma &ola "urada! uma
locomotiva sem rodas! um avião $ue não
"uncionava! um revlver $ue&rado! uns cacarecos
de matéria pl(stica. =odos eles tremiam de medo
$uando a Marlene a&ria a porta do arm(rio e
envenenava a ale-ria da lu $ue traia com a
eterna $ueixa
—_Eu não sei $ue mania t0m estes meninos de
-uardar tanto &rin$uedo vel'o... , para dar
tra&al'o...
Os po&rein'os %cavam -elados.
Mas 'avia tam&ém &rin$uedos novos! em&ora
não muito importantes. ,eu @onrado! ali(s! Dr.
=oledo! como as empre-adas diiam! era um mão
a&erta. Dava sempre din'eiro pra &rin$uedo
novo! $ue "acilmente envel'ecia.
—_ <oc0 estra-a essas crianças N diia Dona ,ara.
N Aão devia comprar tanta coisa. Eles não t0m
cuidado... Escan-al'am com tudo...
2em $ue ela tin'a raão...
—_ O Renatin'o pisou em cima de mim no dia em
$ue eu c'e-uei N diia o automovin'o
arre&entado.
—_ E era preciso a&rir a min'a &arri-a com uma
"aca pra sa&er se eu tin'a comido al-uma
criançaS N per-untava o ursin'o de pelJcia
amarela! temeroso da lata do lixo! ol'ando com
inve*a um astronauta ainda inteiro! vindo do
?apão.
Esse era o convencimento em pessoa. , por$ue
tin'a mola. Quando al-uém dava corda! ele
%cava todo prosa! mexia a ca&eça! para cima!
para &aixo! para a es$uerda! para a direita! dava
uns passos rid)culos! a-itando os &racin'os! com
a$uela roupa &o&a de astronauta. =omava um ar
importante! como se a tal de astron(utica "osse o
mel'or &rin$uedo inventado no mundo...
Ain-uém -ostava dele de tão pedante e
convencido. Mas a raiva maior era $uando ele
começava a "alar umas coisas $ue nin-uém
entendia. 1ra mim! era *apon0s...
Min'a vida em ,anta >elena era de amar-ar.
Ain-uém $ueria me recon'ecer como &rin$uedo.
Aem como cavalo. Muito menos como Aapoleão.
1ara a$ueles cacarecos vel'os eu não passava de
um simples ca&o de vassoura! indi-no da menor
atenção.
s vees li-ava+se o r(dio l( "ora e uma vo meio
triste c'e-ava até ns. 1arecia traduir o $ue eu
sentia na$uele amar-o isolamento

Ain-uém me ama!
Ain-uém me $uer!
Ain-uém me c'ama
De meu amor...

Ain-uém ali dentro! é claro. E é claro $ue por


puro despeito. Inve*a. Aunca nen'um deles era
levado / calçada. Aunca nen'um tomava o
elevador com Marioin'o. Aem com Renato. , o
papai... , eu... , eu tin'a nome. ?( contei $ual
era. E! s $uando me via! o rosto de Marioin'o
se iluminava de satis"ação. Eles %cavam tinindo
de raiva. Fin-iam não me ver e %cavam contando
vanta-em. #té o urso de &arri-a ras-ada
—_,ou de pelJcia importada N diia ele ao
trenin'o sem rodas. N Material %n)ssimo... E
voc0S
—_2em! eu sou todo de "a&ricação nacional... Mas
a indJstria &rasileira não %ca devendo nada a
$ual$uer indJstria estran-eira N respondia o
trenin'o! aproveitando a ocasião para ol'ar com
despreo o astronauta. N Meu aar "oi $ue! outro
dia! o Bil <icente escorre-ou e caiu sentado em
cima de mim! me aca&ou com as rodas...
—_Dona ,ara é $ue tem raão. Eles precisavam
ser mais cuidadosos N diia o automovin'o
arre&entado.
—_Mas sempre é mel'or ter nascido &rin$uedo N
diia o avião de asa partida. N ; outra coisa...
# indireta era comi-o.
—_; claro N diia o ursin'o de pelJcia. N =em
urso de verdade e tem urso de pelJcia. =em avião
de verdade e tem avião de "a de conta... Ol'a
tem até cavalin'o de &rin$uedo... <oc0 *( viu
al-umS
—_; evidente... N con%rmava o avião todo
ca$ueirado. N Eu con'eci muitos na lo*a... @oisa
muito &acana... Material de primeira. @om cara!
com pescoço! com crina! com corpo i-ualin'o
aos dos cavalos de verdade. Imitação per"eita... E
com ra&o e $uatro patas! sacuméS 1or$ue eu não
sei se voc0 sa&e $ue cavalo não é $ual$uer pe+
daço de pau encontrado no lixo. ; um &ic'o
completo... =em tudo. @a&eça! corpo! patas. E não
uma! não duas $uatro
—_Isso não é nada... N disse um tam&or "urado!
em $ue nin-uém pun'a reparo. N Aa lo*a em $ue
eu morei 'avia um cavalo de verdade N $uer
dier! de &rin$uedo mesmo... N $ue! $uando
davam corda! até &u"ava e relinc'ava
—_Aão di-a
—_1alavra 5e-al pra c'uc'u Dava -osto ver Era
patr)cio desse cara a)... Feito no ?apão...
O astronauta não "alava! mas! pelo *eito! entendia
portu-u0s. Ficou todo emproado. Os outros
perce&eram e não -ostaram. Mas! s para me
mac'ucar! o tam&or continuou
—_Eu ac'o $ue tudo o $ue é &rin$uedo de
verdade! mesmo não sendo &rasileiro! merece
respeito. <oc0s não ac'amS 2rin$uedo é uma
coisa séria... @riança é $ue sa&e...
—_@laro...
—_; evidente... Um outro concluiu
—_O importante é ser &rin$uedo mesmo...
Eu! no meu canto! ouvia tudo a$uilo no maior
constran-imento. Estava %cando complexado.
1rincipalmente ao ol'ar a pose do astronauta!
$ue não era s &rin$uedo mesmo N e do $ue
'avia de mais moderno N mas o Jnico realmente
per"eito no meio de tanto "erro vel'o...
Aisso! ouviram+se passos "ora e todo o mundo se
calou. O pavor de serem *o-ados no lixo era
comum e s o astronauta se sentia / vontade. #
porta se a&riu. # claridade entrou. Marioin'o
c'e-ava. Foi um al)vio -eral. Marioin'o era
ami-o.
Ele começou a a"astar os &rin$uedos vel'os
acariciou o ursin'o de &arri-a ras-ada! $ue se
ras-ou todo de "elicidade! pe-ou no astronauta!
$ue s "altava "alar em portu-u0s! de tão
or-ul'oso! deu+l'e corda! %cou a o&servar+l'e os
movimentos. Eu via tudo a$uilo! 'umil'ado! *(
não mais Aapoleão! apenas um vel'o ca&o de
vassoura. O astronauta er-uido no ar! todo
espevitado! mexia os &racin'os! a corda roncava!
cumprimentava para todos os lados. Mas "oi s.
#ca&ada a corda! Marioin'o o colocou entre os
outros &rin$uedos. E com surpresa de todos N e
até min'a N me pe-ou l( no meu canto! me
puxou para "ora e montou! ali mesmo na sala...
Min'a vin-ança era completa Eu não resisti /
tentação... E voltando+me para o astronauta!
antes de começar o -alope! -ritei+l'e
N @on'eceu! Aa-as($uiS =( me estran'ando!
ari-atGS
Era tudo o $ue eu sa&ia de *apon0s. Mas ele!
mesmo com a corda aca&ada! virou o rosto com
despreo.
#c'o $ue a min'a pronJncia estava errada.

Mas eu sempre voltava para o arm(rio em&utido


como o primeiro de meu nome para ,anta
>elena. @om uma di"erença a "avor. O outro! $ue
nascera tam&ém numa il'a! a @rse-a! "oi para
,anta >elena e %cou l( até morrer. Estava muito
&em -uardado por soldados in-leses. @om
soldado in-l0s não se &rinca. Aão é soldadin'o de
c'um&o Ko arm(rio estava c'eio delesL! muito
menos de matéria pl(stica. ; osso duro de roer.
Aaturalmente ele son'ou "u-ir a vida inteira. Mas
nunca 'ouve um cara de "ora $ue o a*udasse.
@omi-o não. >avia o Marioin'o. >avendo
Marioin'o! a calçada era min'a! o pla-round do
prédio! a aventura pelo mundo...
,anta >elena! para mim! era um compasso de
espera! mais nada. s vees! um! dois! tr0s dias.
Mas eu sa&ia $ue! mais cedo ou mais tarde!
Marioin'o voltava. @om o tempo ad$uiri esta
certea. Aão me preocupava com o despeito! as
indiretas! as "o"ocas. =oda a$uela cacarecada
podia resmun-ar / vontade! ale-ar $ue tin'a sido
"eita em "(&rica de &rin$uedos e não de
vassoura! dier $ue tin'a con'ecido trenin'os
elétricos! com tril'os! tJneis! estações e
sinaleiras autom(ticas! lem&rar $ue 'avia
con'ecido &one$uin'as louras! $ue seriam
verdadeiras estrelas de cinema. Aão s de a&rir e
"ec'ar os ol'os! como a $ue @laudin'a traia
al-umas vees! ou de c'orar "an'oso como a da
linda #lexandra! prima dela. 2onecas de andar!
de sentar! de er-uer os &raços! até de "alar e
cantar.
Eu a-ora não dava a menor con%ança.
—_ Deixa pra l(
E como eles sentiam o meu pouco caso e
recon'eciam o meu carta *unto a Marioin'o e
Renato Kde ve em $uando ele vin'a pedir uma
caronaL aos poucos o pessoal "oi mudando.
Uma tarde em $ue voltava! muito excitado! das
aventuras da rua! o da &arri-a "urada! o tal
ursin'o de pelJcia importada! me "alou
—_ =ava &oa a rua! cavalin'oS
@on"esso $ue a per-unta me surpreendeu. PElesP
não me li-avam... Estavam $uerendo se c'e-ar. E
eu ac'ei &om. Mas respondi com a maior
superioridade
—_ Eu ten'o nome.
Ele não %cou an-ado por isso.
—_ =in'a muito movimento! AapoleãoS Muita
-enteS
—_ , AapoleãoS Do&re a l)n-ua. Aão "omos
criados na mesma lo*a de &rin$uedos. Mais
respeito.
—_ 1ois não! ,eu Aapoleão...
O &ic'in'o estava mesmo procurando assunto e
$ueria a-radar. @'e-ara a min'a ve de "aer o
durão.
—_<oc0 "ala "ranc0sS
—_In"elimente não. ,ou nacional. , a parte de
pelJcia é $ue "oi importada. Mas da It(lia...
—_1ois é &om ir aprendendo. Meu avG! na França!
era tratado de mon empereur... Mas pode+me
tratar de Pmeu imperadorP! $ue d( na mesma...
—_=( &em N concordou ele. N De outra ve eu
di-o...
Fi um ar de -enerosidade imperial e concedi em
per-untar
—_O $ue é $ue voc0 $uer sa&erS
—_,e a rua estava ale-re...
—_,e a rua estava clara N acrescentou o
trenin'o...
—_,e tin'a muito movimento N per-untou!
ansioso! o automovin'o arre&entado.
—_Fale um de cada ve...
—_,e a rua estava ale-re... N disse o ursin'o.
—_1arecia um carnaval! meu %l'o
—_,e a rua estava clara... N disse o trenin'o sem
rodas.
—_1arecia a vo de Dona ,ara... K-ratidão eu
ten'oL.
—_,e tin'a muito movimento... N disse o
automovin'o.
—_Aunca vi tanto automvel na min'a vida
—_1alavraS
—_E de verdade! t( &emS
—_De verdade eu não -osto. ,ão muito &rutos...
#té $ue ele tin'a raão. Mas a culpa não é dos
automveis! é de $uem diri-e. #utomvel &em
-uiado não "a mal a nin-uém.
—_# culpa é dos motoristas N disse eu! usando as
min'as o&servações da calçada. N Ao dia em
$ue o &ic'o 'omem compreender $ue automvel
é meio de transporte e não de morte! tudo vai
mudar...
#$uele pensamento causou pro"unda impressão.
—_O pensamento é seuS N per-untou! com a
maior admiração! o tam&orin'o "urado.
—_; nosso...
Eu tin'a ouvido a$uilo numa conversa do Dr.
=oledo.

Meu carta "oi aumentando. # tal ponto! $ue eu *(


nem sentia muito a min'a prisão no arm(rio
em&utido. ?( não estava mais na Il'a de ,anta
>elena. 1arecia mais uma Il'a de 1a$uet(! $ue é
toda ores! a mais linda da 2a)a da Buana&ara.
K1restar atenção na conversa dos outros ensina
muita coisa...L E como eu traia sempre a
experi0ncia do mundo exterior K/s vees o
Marioin'o me es$uecia na sala e s me
-uardava $uando a vo tão doce de Dona ,ara
l'e diia Pol'a! voc0 se es$ueceu de recol'er o
Aapoleão...PL! como sempre eu traia as
novidades! "ui aca&ando! mesmo! uma espécie de
imperador do arm(rio em&utido.
—_@onta as coisas N diiam N mal eu vin'a
c'e-ando.
—_<oc0 viu 'o*e a @laudin'aS
—_O Bil <icente apareceuS
—_Renatin'o ainda est( namorando a #lexandraS
—_Aão. Ele a-ora est( apaixonado pela Maria ?oão.
—_Maria ?oãoS
—_Ué =em Maria ?osé por $ue não '( de ter Maria
?oãoS
=odos ac'aram -raça! as per-untas continuavam.
—_# Marlene ainda não "oi despedidaS
—_De *eito nen'um Dona ,ara tem um coração
de ouro! não é capa de "aer mal a nin-uém.
Eu não podia es$uecer $ue! -raças a Dona ,ara!
de vo rara! de vo clara! do incinerador eu
escapara...
E o mais en-raçado é $ue o pessoal começava a
me pedir proteção! pedir "avores.
—_,er( $ue voc0 me arran*a um passeio na
calçadaS
Eu não sou or-ul'oso! deixava a-ora eles me
c'amarem de Pvoc0P. #%nal! eu era imperador
apenas de &rincadeirin'a.
—_1ede para o Marioin'o me tocar de ve em
$uando N suplicava o tam&orin'o "urado. N De
um lado eu ainda "unciono...
—_Eu não "aço $uestão $ue eles &rin$uem comi-o
N diia o ursin'o da &arri-a ras-ada. N Meu
tempo *( passou. Eu s $ueria! uma ve ou outra!
dar uma ol'ada l( "ora... <0 se conse-ue! t(S
Eu não $ueria desiludir os in"elies. Eu sei o $ue
so"re &rin$uedo despreado.
—_,e der *eito! eu "alo com ele...
—_,erve mesmo o Renatin'o N diia o tam&or.
Renatin'o não tin'a o mesmo carta do mano
mais vel'o. Mas servia...
O pro&lema deles era sair do arm(rio! viver...
O urso! coitado! com toda a$uela pelJcia
importada Ke ras-adaL! topava $ual$uer ne-cio.
—_Fala com os meninos! Aapoleão. Di pra eles
me darem pro Bil <icente. Outro dia ele me
pediu! eles ne-aram. O Bil <icente disse $ue tem
uma tia capa de me consertar a &arri-a... ; uma
operação simples! simples...
—_=( &em! t( &em... <ou ver se d( *eito...
Quando eu voltava das correrias imperiais todo
mundo ca)a em cima de mim.
—_<oc0 pediuS
—_Falou com Marioin'oS
—_<oc0 resolveu o caso da min'a operação na
&arri-aS
Eu tin'a $ue me explicar.
—_>o*e não deu *eito. Estive ocupado o tempo
todo. Foi um tal de -alopar...
—_Mas voc0s não pararam nem uma veS Aão é
poss)vel
—_# -ente parava! sim. Mas $uando Marioin'o
encontrava al-um cole-a.
—_E entãoS
—_;! mas! em primeiro lu-ar! eu não vou me
meter na conversa dos outros. Educação é
educação... E! depois! não posso comprometer o
-aroto...
Eles pensavam $ue era m( vontade! mas não era.
Aão %cava &em contar! diante dos ami-os! $ue! a
não ser eu! todos os &rin$uedos dele estavam na
Jltima lona...
=odos! não. >avia o astronauta. 2rin$uedo caro.
,a)a sempre o retrato dos cole-as dele no *ornal.
=in'a até al-uns $ue tra&al'avam na televisão.
Uma ve me es$ueceram na sala da =<! parecia
todo mundo interessado nuns troços $ue estavam
acontecendo no mundo da 5ua.
N >o*e o 'omem desce na 5ua N diia ,eu
@onrado! ali(s! Doutor =oledo.
# "am)lia estava tão a-itada $ue nin-uém
pensava em mim. Fi$uei assistindo / pal'açada.
Uma conversa muito con"usa com o pessoal do
apartamento viin'o! com as prprias crianças!
"alando em "o-uete! em mdulo! uma porção de
coisas complicadas. Aão moro muito em matéria
de ci0ncia. Aão é especialidade min'a. Aão passo
de um cavalo de pau. Decente. <ivido. Estimado.
Respeitado pelos meus cole-as de &rin$uedo.
Mas um simples cavalo de pau.
# televisão estava li-ada e 'avia na tela uns
su*eitos "alando por todas as *untas! mostrando
mapas! dando nJmeros e palpites! $ue
provocavam a maior irritação entre os presentes.
Doutor =oledo tin'a /s vees verdadeiros acessos
de "Jria.
—_Aum dia como este! em $ue o 'omem realia a
maior "açan'a de todos os tempos! a maior
con$uista da ci0ncia! %cam esses idiotas a dier
os maiores disparates
Os outros concordavam com ele.
—_Quando a ci0ncia 'umana leva o 'omem / 5ua!
através do espaço! depois de uma via-em de
teretet0 mil'ares de $uilGmetros... Ko nJmero eu
não -uardei e a conversa não se entendia direito!
por$ue os 'omens da =< não paravam de "alarL!
numa 'ora destas...
Eu con"esso $ue estava meio atordoado com tudo
a$uilo. Mas dava para perce&er $ue uns tais de
americanos tin'am sa)do da =erra! e! na$uele
momento! deviam estar desem&arcando na 5ua.
5ua! pelo *eito! era um ne-cio $ue 'avia nos
con%ns do céu. Um ne-cio $ue /s vees enc'ia!
/s vees esvaiava. ?( tin'a ouvido "alar na$uela
'istria. Aunca o 'omem tin'a estado l(. Mas
estava c'e-ando...
—_Ol'em... Ol'em... ; a-ora
Eu estava pensando $ue era a coisa mais
importante do mundo. Mas depois eu vi $ue era
um pro-rama de televisão...
—_@'e-aram...
—_Estão descendo...
=odo mundo ol'ou. Eu ol'ei tam&ém. Aão era
nada da$uilo. Em ve de 'omens! eram uns
astronautas! andando muito deva-ar! como $uem
nunca tin'a tra&al'ado antes na =<! meio com
medo de cair! os &rações er-uidos.
Eu estava $uerendo sa&er o $ue 'avia de tão
importante na$uele tra&al'o! $uando al-uém
tropeçou em mim e me atirou no c'ão.
—_Es$ueceram Aapoleão a$ui na sala outra ve N
disse Dona ,ara.
#pan'ou+me no c'ão! sem an-a e atirou+me no
arm(rio em&utido. Fui &ater no astronauta $ue
dormia. Ele acordou assustado. >avia tempo $ue
ele andava me ol'ando com vontade de puxar
prosa. Eu tam&ém estava. #proveitei a ocasião.
—_Estive assistindo a uns cole-as seus na =<. Aão
-ostei. #c'o voc0 muito mais... muito mel'or de
movimento... &em mais desem&araçado. <oc0
tra&al'a muito mel'or! t( me entendendoS
—_1ouco! nãoS Eu não portu-u0s muito...
—_<oc0 não man*a portu-u0s! meu c'apaS
—_@omeçando! nãoS
#)! ns resolvemos trocar aulas. Eu ensinava
portu-u0s K$ue ele c'amava de P&asileloPL ele me
ensinava *apon0s. Um pouco eu *( sa&ia.
Aa-as($ui era nome de uma cidade. #ri-atG era
o&ri-ado. Eu ensinei Rio de ?aneiro! ele me
ensinou =$uio. Eu % $ue ele dissesse saudade.
O astronauta ac'ou lindo! repetiu muitas vees! e
me ensinou saionara.
N ,aionara é o mesmo que saudadeS
—_,audade! não. @omeço... @omeço de saudade...
—_@omo assimS
—_,aionara é... é antes da saudade... um
pou$uin'o! nãoS
—_=e explica! meu c'apa. Ele -a-ue*ou um pouco
—_,aionara é... saionara 3%%% a%%% adeus4
—_A$, ' sei4 ,aionara é ciao
,im! por$ue eu tanto "alo *apon0s como italiano.
#l-um tempo depois as coisas pioraram mesmo...
Muito... 1ra todos... O Aatal estava c'e-ando.
Aatal é ale-ria de criança! é tristea de &rin$uedo
vel'o. <ai tudo pro lixo...
O tam&orin'o "urado! veterano do arm(rio!
$uando eu l'e contei! pensando ser muito &om!
$ue os meninos estavam esperando o Aatal! se
encol'eu todo.
—_#' Meu caro! estamos perdidos
—_1or $u0S N per-untaram os outros.
O tam&orin'o explicou. Ele tin'a c'e-ado no
Aatal anterior. Uma "esta maravil'osa na casa.
5ues! &olas! doces! crianças dos outros
apartamentos! primos! tios! tias Kcom certea
a$uela tia >elena! $ue nunca me viu com &ons
ol'osL! e uma (rvore linda no meio da sala! com
&olin'as coloridas e velas acesas e em&rul'os de
presentes em&aixo! amarrados com %tas de cor.
Do "undo de seus em&rul'os os &rin$uedos
sa&iam tudo o $ue se passava na sala. # prpria
(rvore contava.
—_Este é o dia mais -lorioso do ano O dia do
amor universal. =odo mundo %ca &om... =odo
mundo d( presente. <oc0s são presentes... E vão
ver a ale-ria com $ue vão ser rece&idos... ; uma
coisa estupenda ,e os 'omens "ossem mesmo
inteli-entes! eles "aiam Aatal o ano todo...
Devia ser mesmo... =odos riam! todos &atiam
palmas! as muitas crianças pulavam! cantavam!
dançavam.
Depois! c'e-ou a 'ora. ,eu @onrado saiu da sala!
se vestiu de 1apai Aoel! um 1apai Aoel muito
alin'ado! não como a$uele $ue tra&al'ava na
porta da lo*a onde eu morei! e veio c'e-ando
muito solene! meio com passo de astronauta.
P<iva 1apai AoelP P<ivGGGGP Foi uma cena "a+
&ulosa Ele pe-ava os em&rul'os! lia o nome do
-an'ador de cada um! entre-ava o presente! o
pacote se a&ria e a -ente era rece&ida com -ritos
e palmas. Eu me lem&ro da ale-ria de Marioin'o
$uando me rece&eu. Deu+me um &ei*o! pe-ou os
pauin'os e começou a me tocar N pan! pan!
rataplan! pan! pan! rataplan N com tanto entu+
siasmo e com tanto &arul'o! $ue o pessoal %cou
meio surdo. P1arece um tam&orin'o do exército
de AapoleãoP! disse o pai do Bil <icente. Foi a
primeira ve $ue eu ouvi o seu nome...
—_Meu nome é muito con'ecido N disse eu. N O
pai de Bil <icente deve ser cra$ue em >istria
Universal...
O tam&orin'o continuava contando. Descrevia a
"esta como um deslum&ramento
—_Mas então vale a pena esperar! meu $uerido N
disse o ursin'o de &arri-a ras-ada. N As vamos
ver uma &elea. Ou! pelo menos! ouvir...
O tam&orin'o %cou sério.
—_; o $ue voc0s pensam...
>ouve uma pe$uena pausa. E depois! com vo
meio rouca
—_Ao dia se-uinte ns todos N era uma multidão
de &rin$uedos novos! todos lindos N sou&emos
$ue a nossa casa seria este arm(rio em&utido. #
-ente sa)a para &rincar com os meninos. #ca&ada
a &rincadeira! arm(rio...
—_#té a) est( certo N disse eu. N @asa precisa de
ordem. @riança tam&ém. >ora de comer! comer.
>ora de estudar! estudar. >ora de &rincar!
&rincar. >ora de arm(rio! arm(rio...
—_Eu sei N disse o vel'o tam&or. N Eu sei... Mas!
na primeira ve $ue viemos para o arm(rio! o
arm(rio estava como a-ora c'eio de &rin$uedo
vel'o...
—_E da)S N per-untou! tr0mulo! um pe$uenino
can'ão de matéria pl(stica.
—_Da)S 1ara nos arran*ar a moradia! a arrumadeira
Kainda não era a MarleneL desocupou o arm(rio...
—_@omo assimS
—_?o-ou toda a$uela ca$ueirada na lixeira.
Um sil0ncio pesado &aixou so&re ns. O Aatal se
aproximava! com uma nova -eração de
&rin$uedos...
O ursin'o enxu-ou uma l(-rima de "a+de+conta.
O astronauta suspirou pro"undamente. O
tam&orin'o o tran$iliou
—_<oc0 é o Jnico $ue pode estar sosse-ado... Est(
em plena "orma... <oc0 tem "uturo... =em mais
al-uma coisa me di $ue o "uturo é voc0...
—_#té Aapoleão! $ue é o "avorito! é capa de ser
varrido na limpea -eral...
—_=ia >elena vem sempre /s "estas de AatalS N
per-untei.
—_1elo menos no ano passado ela estava.
Aão sou de sentir "rio na espin'a. Dessa ve eu
senti.

# aproximação do Aatal mo&iliara a casa inteira.


Aão se "alava noutro assunto. Mandavam+se
cartões de 2oas+Festas. Rece&iam+se cartões de
2oas+Festas. Faiam+se pro*etos. Os -arotos
levantavam os ol'os son'adores
—_Que ser( $ue eu vou -an'arS
—_,er( $ue 1apai Aoel me arran*a um automvel
de verdadeS
—_Que &o&a-em! Renato... Quem precisa de
automvel de verdade é papai. O "usca dele t(
pedindo Parre-loP. ?( não d( mais nada...
—_Eu di-o de verdade! mas de &rin$uedo. De a
-ente poder entrar e rodar! a -ente empurrando
o pedal! o pedal tocando as $uatro rodas...
—_#' Isso sim... Fala com 1apai Aoel...
—_#$uele da lo*aS
—_Aão. 1apai Aoel &om é o pai da -ente. ; ele $ue
compra. O outro é s pra ver se os pais da -ente
entram na lo*a... Aesse ne-cio de 1apai Aoel eu
moro...
—_Quer dier $ue...
—_1apai Aoel é "a+de+conta...
—_Então como é $ue voc0 pediu pra papai "alar
com 1apai Aoel encomendando a &icicletaS
Quando ele "alou em &icicleta Keu estava em&aixo
da mesaL con"esso $ue senti outra ve a$uele "rio
na espin'a... Mas continuei acompan'ando a
conversa. Marioin'o explicava
—_1edir a 1apai Aoel é um *eito do pai da -ente
não poder recusar. ,e a -ente pede direto! ele
pode dier $ue a situação est( di")cil e tal e coisa
e tira o corpo... As sa&emos muito &em $ue o
din'eiro anda pouco... E a -ente tem de
concordar. Mas se o pro&lema é de 1apai Aoel N
t(s me entendendoS N a coisa muda de %-ura. O
Pvel'oP $ue se vire...
Mas não somente os meninos. O Doutor =oledo
conversava com Dona ,ara! as ami-as "alavam
com ela. Era um tal de "aer pro*etos! de "alar nas
compras! de se $ueixar contra os preços! como
eu nunca vi.
Quando eu ouvia Dona ,ara se $ueixar dos
preços! eu ainda %cava um pouco animado. 1odia
não 'aver din'eiro &astante para os &rin$uedos
novos. Mas o tam&orin'o! nessas coisas! tin'a
mais experi0ncia.
—_ 1ra Aatal eles arran*am... Faem $ual$uer
sacri")cio. E depois! 'o*e compra+ se tudo a
prestações.
—_ #té &icicletaS
—_ 1rincipalmente &icicleta! meu $uerido...
—_ 2icicleta na calçada é uma coisa tão peri-osa...
N disse eu! pensativo.
—_ Mas não para um cavaleiro como Marioin'o...
—_ 2om... l( isso é... Meu compadre é o maior...
O "ato é $ue a$uele Aatal parecia o %m do
mundo. Quando eu "alo nos &rin$uedos do
arm(rio em&utido! posso dar a impressão de $ue
eles tin'am vivido sempre a&andonados. Aão era
&em assim. Uma ve ou outra eles "uncionavam.
#penas eu tin'a um pouco mais de sorte. Mas
a-ora a crise era total. Era a&andono mesmo. #
-ente passava dias no escuro! s escutando as
conversas na sala. Raramente Marioin'o dava as
caras. E numa dessas Jltimas vees! antes não
tivesse dado... 1or$ue ele veio! me pe-ou! *(
entrou no elevador montado no papai Keu tão
emocionado...L! mas! $uando c'e-amos /
calçada! o Ivãin'o estava l(! numa &icicleta
nova! todo "eli. Marioin'o %cou deslum&rado e
pediu para dar uma voltin'a. O -aroto deixou.
Marioin'o me deixou no c'ão! deitado *unto ao
murin'o do *ardim! su&iu na &icicleta e saiu
pedalando.
Aunca passei 'umil'ação maior... Aem $uando
varri pela primeira ve! vendo a min'a parte
vassoura es"re-ada no lixo...
Mar
Mario
ioin'o
in'o ia! vol
olta
tava
va!! peda
pedala
land
ndoo co
com
m -os
osto
to..
Depois! o Ivãin'o pediu a &icicleta! ele devolveu!
a-radecendo muito! %cou ol'ando o ami-o
&icicletar com uma inve*a in%nita e depois
resolveu su&ir para o apartamento.
apar tamento.
<oc0s pensam $ue ele se lem&rou de mimS Aem
por som&
om&ras. Eu %$ueiuei lar-ado na calçada! a
morte na alma...
,alvou+me Dona ,ara. Ela voltava das compras!
traendo uma vassoura nov nova Kera a terceira!
desde $ue eu passara a cavalo de pauL! me viu
no c'ão! -ritou pelo %l'o.
—_Marioin'oS
Ele *( ia pe-ar o elevador! ouvi uviu o c'ama
'amado!
voltou.
—_<oc0 *o-ou "ora o AapoleãoS
—_Es$uecimento! mamãe @oitado do Aapoleão
Desculpe...
<oltamos os tr0s para o elevador.
Dona ,ara Dona ,ara Eu ainda 'ei de ac'ar
uma rima $ue tradua toda a min'a -ratidão pelo
muito $ue l'e devo...

Faltavam s dois dias. Est( claro $ue nin-uém se


lem&rou! na$ueles dias! de a&rir o arm(rio
em&u
em &uti
tido
do.. @'e-
@'e-av
avam
am em
em&r
&rul
ul'o
'oss e ca
caix
ixas
as.. Era
Era
a-itação pela casa.
—_Que ser(S
—_Que não ser(S
As! encostados / porta! acompan'(vamos tudo.
O prprio astronauta! um pouco assustado! $ueria
sa&er o $ue se passava e nos contava o $ue
ouvia.
?( estava "alando &em o P&asilelo...P
P&asilelo...P Ko pro"essor!
pro"essor!
modéstia / parte! era &om...L E "oi ele $ue
transmitiu a not)cia $ue "e a ale-r e-ria dos
&rin$uedos vel'os. =in'a ouvido a Maria a "alar
com Dona ,ara. O %l'o dela! $ue morava em
1arada de 5ucas! *( %cara &om e devia
comparecer
comparecer tam&ém / "esta de Aatal.
—_O $ue é $ue vão "aer com os &rin$uedos
vel'osS N per-untou Maria.
—_#c'o $ue! salvo o astronauta! o resto *( não
vale nada...
—_<ão *o-ar "oraS
—_Que é $ue a -ente pode "aerS
#) é $ue veio o pedido.
—_1or $ue é $ue a sen'ora não d( para o MarcosS
Ele pode
pode aproveitar
aproveit ar...
...
—_<oc0 ac'aS
—_#' Eu -aranto! Dona ,ara.
—_Est( &em. 1ode %car
%ca r...
#o ouvir a not)cia! os outros sentiram alma nova.
Estavam salvos. Eles! não eu. Eu não era de
verdade. Era um simples cavalo de pau. Era o
menor cavalo de pau deste mundo de Deus. Mas
não ac'ei muito *usto...
—_,em $uerer o"ender os cole-as N disse eu N
isso não é direito... Então o Mar$uin'os vai levar
s &rin$uedo vel'oS
—_Aão N explicou o astronauta! no seu mel'or
P&asileloP. N =em presente novo para ele
tam&ém... #té v(rios. =em dois ou tr0s comprados
pela Maria. =em o da Marlene... =em o de Dona
,ara... =em até um $ue "oi encomendado pelo
Marioin'o...
—_#'! &em...
—_<oc0s vão com ele...
—_Quer dier $ue vamos todos pra 1ara arad da de
5ucasS
—_1elo *eito...
—_#nte
#ntess as
assi
sim.
m...
.. Dos
Dos mamale
less o me
meno
norr...
... 1icara
icaramm
todos mais consolados! de pensamento no "uturo.
—_@asa de 1arada de 5ucas tem incineradorS N
per-untou um cavalin'o de matéria pl(stica.
# per-unta %cou no ar! doendo no coração de
muitos.
—_Quem toma conta de Mar$uin'os em 1arada de
5ucas é uma tia! não éS N per-untou o ursin'o
de pelJcia importada. O astronauta con%rmou.
N Deus permita $ue ela se*a costure ureira! com
pr(tica de medicina... =ou precisando
ur-entemente
ur-entemente de uma operação na &arri-a...
<eio a "esta! eu não $uero nem lem&rar. =anta
-ent
-entee al
ale-
e-rre l( "ora
"ora!! tant
tantoo &rin$
&rin$ue
uedo
do so"r
so"rendo
endo
a$ui dentro. Os outros ainda tin'am um consolo
iam pra 1arada de 5ucas. Mas euS #-ora é $ue eu
compreendia a vanta-em de nascer &rin$uedo.
#-ora eu dava raão aos cacarecos $uando se
-a&avam de ter vindo da lo*a! não de um triste
armaém onde se vende vassoura...
Durant
ante 'or
'oras! so"ri! ouvindo as mJsica Jsicass! as
palmas! os vivas.
Depo
Depoisis a "est
"esta
a acaca&
a&ou
ou!! apa-
apa-araram
am+s
+se
e as lue lues!
s!
$ue vin'am até ns! num p(lido clar arãão! por
de&aixo da porta. Fe+se sil0ncio na casa. =in'am
ido dormir. De man'ã! viria a Marlene! a&riria a
porta! entre-aria os cacarecos ao Mar$uin'os e...
e... Os outros dormiam. #s crianças! os
&rin$uedos! o mundo. Eu não conse-uia. <in'a /
min'a memria uma "rase $ue tantas vees
ouvira no tempo do mato e da o%cina.
—_Destino de madeira é "o-o
Mas os ru)dos voltavam. O pessoal acordava. #s
crianças cantavam. Eu distin-uia as voes de
Marioin'o! de Renato! do %l'in'o de Dona Maria.
E %$uei de coração parado $uando ouvi Dona
,ara dier
—_Dentro de casa nin-uém &rinca com a &icicleta!
est( entendido! Marioin'oS
1apai Aoel atendera o pedido...
Aisso! distin-o outra vo. # de Marlene
—_; mel'or esvaiar *( o arm(rio dos
&rin$uedos... limpar a$uilo...
Meus cole-as se encol'eram de medo.
Marlene continuava
—_?o-o tudo "ora ou o Mar$uin'os aproveitaS
—_@laro $ue aproveita N disse Maria. N Deixa $ue
eu tiro...
#&riu a porta. <i Maria! Marlene! os meninos! a
&icicleta. Maria "oi retirando os &rin$uedos! um
por um! o %l'o numa ale-ria in%nita.
—_O astronauta vai ou %caS N per-untou Maria.
—_Esse pode %car N disse Marlene.
Marioin'o estava preocupado com a &icicleta.
Aem ouviu a per-unta...
Rest(vamos apenas eu e o astronauta! meu aluno
de P&asileloP! ainda em plena "orma! &em mais
despac'ado de movimentos $ue os seus cole-as
da televisão.
—_E istoS N disse Marlene! pe-ando+me pelo
meio. N ?o-o no lixoS
Ia passando Dona ,ara! $ue *( tantas vees me
salvara.
—_<e*a se o Marioin'o ainda $uer! Marlene.
—_<oc0 ainda $uer este ca&o de vassouraS N
per-untou Marlene.
1reocupado com a &icicleta! Marioin'o não
respondeu.
#) "alou Dona ,ara
—_<oc0 não $uer mais o Aapoleão! meu %l'oS
Ele veio até mim! muito carin'oso! me pe-ou
com muita simpatia! me acariciou.
—_Foi um &om cavalo Foi um &om cavalo... Mas
a-ora...
E ol'ou para a &icicleta.
—_E voc0! MarcosS Aão $uer levar o Aapoleão
tam&émS
Eu *uro $ue não esperava uma "elicidade tão
-rande. Os ol'os de Mar$uin'os se iluminaram.
—_1ossoS
E tratou de me a-arrar! antes $ue acontecesse
al-uma des-raça.
#' Dona ,ara! Dona ,ara! Deus prote*a a
Psen'araP...
Eu sei $ue é sen'ora $ue se di! mas eu
precisava rimar...
1ois é! meu povo 5( vou eu! l( vamos ns pra
1arada de 5ucas...
#deus! casa! onde tanto so"ri e onde tive tantas
'oras de "elicidade #deus! Renato #deus!
criançada da viin'ança! Ricardo! Bil <icente!
voc0s todos #deus! Maria #deus! Marlene
#deus! ,eu @onrado #deus! ,eu Doutor #deus!

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