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CIRCUITO DAS FRUTAS PAULISTA:

caracterização socioeconômica1
2
Malimiria Norico Otani
3
Adriana Renata Verdi
4
Carlos Eduardo Fredo
5
Rejane Cecília Ramos

12 3 4 5
1 - INTRODUÇÃO de vida e usos do solo urbanos, como os grandes
condomínios residenciais e de lazer, o comércio
O Estado de São Paulo é reconhecido de grandes redes etc.
principalmente pela sua expressiva produção Nesse processo de transformação, es-
agrícola em grandes extensões de terras. No tes espaços passam a ser denominados como
entanto, o território paulista é constituído também periurbanos e são passíveis de conflitos decor-
por parcela importante de produção agrícola em rentes dos diversos usos do solo. O poder eco-
pequenas áreas, que assumem importância não nômico dos empreendimentos imobiliários possi-
só econômica, mas também social, principalmen- bilita o seu avanço sobre as áreas das pequenas
te na esfera dos espaços municipais. Este é o propriedades agrícolas, com alguma complacên-
caso da fruticultura das áreas próximas às re- cia dos poderes municipais que têm o papel de
giões Metropolitanas de Campinas e São Paulo. ordenar a ocupação do solo (FLEURY, 2005,
Dada a peculiaridade de localização, esta ARRAES; VIEGAS, 2008).
região sofre com maior intensidade a pressão da Além da concorrência pelo espaço, a
expansão urbana e industrial, pois detém uma das expansão dos novos usos do solo também gera
mais avançadas infraestrutura logística do país. O disputa pela mão de obra. Os produtores agrícolas
circuito está localizado em uma região com rede de sofrem com a carência de trabalhadores especiali-
transporte privilegiada, servida pelas principais ro- zados, devido ao crescimento de novas atividades
dovias do Estado de São Paulo e do país, dentre emergentes, de outros setores da economia.
elas, a SP348-Rodovia dos Bandeirantes, SP330 Acresce-se, ainda, o contexto de crise
Rodovia Anhanguera e SP065 Rodovia Dom Pedro na rentabilidade dos produtos agrícolas com a
I. O circuito também está na área de influência do queda dos preços, de forma geral, que resulta na
Aeroporto Internacional de Viracopos, com grande redução da produtividade devido à falta de inves-
vocação cargueira, que está localizado a 14 quilô- timentos. Assim, a venda da terra torna-se a op-
metros de Campinas e a 99 quilômetros de São ção cada vez mais viável, principalmente com o
Paulo, tendo acesso pelas rodovias Santos Du- aumento crescente do preço da terra.
mont, Bandeirantes e Anhanguera, as quais tam- As melhores oportunidades e a redução
bém servem os municípios do circuito (Figura 1). de rentabilidade do produto agrícola levaram à
Nesse contexto, os espaços de produ- inserção de parte das gerações mais jovens de
ção agrícola, mantenedores de tradições culturais agricultores familiares ao mercado de trabalho
e de paisagens rurais, são compartilhados, de urbano. Eles participam das atividades na proprie-
forma cada vez mais intensa, com outros modos dade familiar somente nas horas vagas para auxi-
liar os mais velhos que persistem na lida agrícola
1
Registrado no CCTC, IE-24/2012. cotidiana. Nessas regiões, muitos deles procuram
2
Socióloga, Mestre, Pesquisadora Científica do Instituto de alternativas para agregar valor ao produto gerado
Economia Agrícola (e-mail: [email protected]). na propriedade, para garantir a reprodução social
3
Geógrafa, Doutora, Pesquisadora Científica do Instituto do grupo familiar (OTANI, 2010).
de Economia Agrícola (e-mail: [email protected]). Ao continuar na atividade agrícola,
4
Engenheiro de Computação, Mestre, Pesquisador Cientí- estes produtores ainda prestam outro serviço,
fico do Instituto de Economia Agrícola (e-mail: cfredo@ muito valorizado em países europeus, apesar de
iea.sp.gov.br).
no Brasil ser muito comentado, pouco se valoriza
5
Engenheira Agrônoma, Pesquisadora Científica do Institu-
to de Economia Agrícola (e-mail: [email protected]).

Informações Econômicas, SP, v. 42, n. 3, maio/jun. 2012.


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Circuito das Frutas Paulista


Figura 1 - Localização Geográfica do Circuito das Frutas, Estado de São Paulo.
Fonte: SEBRAE (2011).

efetivamente, que é a preservação do meio am- definido pelo Projeto Circuito das Frutas instituído
biente e da paisagem agrícola/rural, ou seja, a pelo Decreto Estadual n. 47.180, de 2 de outubro
preservação de qualidade de vida, principalmente de 2002, e atualmente é composto por dez muni-
dos municípios. cípios: Atibaia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu,
Apesar desse panorama desfavorável, Jundiaí, Louveira, Morungaba, Valinhos e Vinhe-
este espaço em ebulição também traz algumas do. A definição dos municípios componentes do
mudanças que podem, por outro lado, servir de circuito seguiu os critérios do Decreto e da Reso-
alento para os produtores agrícolas melhorarem lução Conjunta de 2004, estabelecidos entre as
a rentabilidade da sua atividade. Utilizar as facili- Secretaria de Estado da Agricultura e Abasteci-
dades de infraestrutura instalada na região, para mento e a da Ciência, Tecnologia, Desenvolvi-
potencializar novos negócios, e agora não só mento Econômico e Turismo. De acordo com a
para a exploração agrícola, mas também para o Resolução, a adesão deve respeitar os seguintes
turismo rural, com área de lazer, de preservação parâmetros: existência de plantio de frutas no
das tradições locais, do usufruto da paisagem município com comprovada relevância na produ-
rural e contribuir para consolidar a multifunciona- ção da agropecuária municipal; existência de
lidade e o desenvolvimento do espaço rural plantio de frutas com comprovada relevância no
(GALVÃO; VARETA, 2010). valor da produção estadual de frutas; e o municí-
Para melhor reconhecer este espaço, a pio deve ser limítrofe com os constantes do Pro-
proposta deste trabalho é realizar uma caracteri- jeto Circuito das Frutas.
zação socioeconômica dos municípios que com- A caracterização socioeconômica focará
põem o Circuito das Frutas, principalmente, é os seguintes aspectos e suas respectivas fontes
claro, no que se refere à fruticultura regional. de informação: Fundação Sistema Estadual de
Análise de Dados (SEADE, 2011), Fundo de Ex-
pansão do Agronegócio Paulista - O Banco do
2 - METODOLOGIA Agronegócio Familiar (FEAP/BANAGRO, 2005/06-
2011), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE,
O aglomerado frutícola em questão foi 2011a, 2011b), Levantamento Censitário de Uni-

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Otani, M. N. et al.

dades de Produção Agropecuária - Projeto LUPA de São Paulo. Segundo o relatório, a produção
(TORRES et al., 2009), informações estatísticas de uva já se desenvolvia em pequenas proprie-
do Instituto de Economia Agrícola (IEA, 2011) e dades agrícolas dedicadas exclusivamente à
valor da produção agrícola paulista (TSUNECHI- viticultura.
RO et al., 2011). Quanto às outras frutas, os colonos
Além dos dados secundários, este italianos iniciaram a produção do morango na
trabalho contou com informações de entrevistas década de 1930, enquanto o cultivo do pêssego
realizadas com representantes institucionais inse- começou em 1952 e a cultura da ameixeira em
ridos na Região do Circuito das Frutas. 1955. Assim, ao final da década de 1960, Jundiaí
já registrava 20.000 pés de pêssego de mesa,
6.000 pés de pêssego para indústria, 4.000 pés
3 - ORIGEM E ESTRUTURAÇÃO DO CIRCUI- de caqui, 18.000 pés de maçã, 5.000 pés de
TO DAS FRUTAS ameixa, 8.000.000 pés de uva de mesa e
600.000 pés de uva para vinho (INGLEZ DE
As crises econômicas do café do início SOUSA, 1970).
do século XX desmantelaram a estrutura fundiá- O desenvolvimento da fruticultura na
ria da região de Jundiaí, calcada na grande pro- Região de Jundiaí mereceu a instituição do Proje-
priedade monocultora. Inicia-se a fase de frag- to “Circuito das Frutas” pelo Decreto n. 47.180
mentação da propriedade e diversificação da (SÃO PAULO, 2002). Além disso, a mobilização
7
agricultura regional. dos prefeitos de oito municípios da região, Indai-
Aos poucos, as economias dos colonos atuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira,
de café proporcionam a expansão da fruticultura Valinhos e Vinhedo, possibilitou a criação do
em pequenas propriedades. A fruticultura ganha Consórcio Intermunicipal do Polo Turístico Circui-
expressão paralelamente à emergência das chá- to das Frutas em 12 de dezembro de 2003. O
caras e sítios. Tais eventos transformam a fisio- objetivo principal desta articulação política entre
nomia da paisagem rural da região de Jundiaí os municípios é proporcionar a representação
(INGLEZ DE SOUSA, 1970, p. 35): jurídica comum e gerar ações coletivas voltadas
Socializa-se a posse da terra e uma nova riqueza para o desenvolvimento da fruticultura regional
rural, mais disseminada e coletiva, transmuda a mediante associação das atividades agroindus-
fisionomia de nossa estrutura agrária, na multipli- triais com o turismo.
cação da pequena casa de sítio, clara e limpa, Com a crescente mobilização do grupo,
aparecendo às centenas pelos vales e encostas, outros municípios pleiteiam a inclusão no Circuito
com seu pedaço de vinha, suas plantações de fi- e no Consórcio. A mais polêmica foi a demanda
go, pêra, maçã e outras frutas, suas criações pe- de Campinas que teve a solicitação negada pelos
quenas e seus diminutos rebanhos, sorrindo na membros do Consórcio, com a justificativa de que
paisagem campesina. o município já tem fortes características urbanas
As primeiras notícias sobre a fruticultu- e industriais, enquanto o objetivo do Consórcio é
ra em Jundiaí foram expressas no relatório da preservar a peculiaridade rural e agrícola (SOA-
Comissão Central de Estatística de 31 de de- RES, 2011).
zembro de 1887 (apud INGLEZ DE SOUSA, Apesar dos conflitos de interesses que
1970), encaminhado ao Presidente da Província afloram nessa organização, coordenada de forma
escalonada, via mandato, pelos prefeitos dos mu-
6
Levantamento Censitário de Unidades de Produção nicípios membros, houve inclusão de Morungaba
Agropecuária (Projeto LUPA) para o ano agrícola 2007/08, em 2004 e de Atibaia em 2007. Atualmente, o
realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento
(SAA), por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica
Circuito das Frutas é constituído por 10 municípios.
Integral (CATI) e do Instituto de Economia Agrícola (IEA) O projeto assume importância estratégi-
(TORRES et al., 2009). A unidade básica de levantamento é ca como política para o desenvolvimento da fruti-
a Unidade de Produção Agropecuária (UPA) que coincide,
na maioria das vezes, com o imóvel rural, entendido como cultura ligada às atividades de turismo rural na
o conjunto de propriedades contíguas e pertencentes ao
mesmo proprietário localizadas inteiramente dentro de um
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mesmo município, com área total igual ou superiora 0,1 Originalmente, o Projeto Circuito das Frutas era formado
ha, não destinada exclusivamente para o lazer. por oito municípios.

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Circuito das Frutas Paulista


região. Essas ações podem fazer a diferença na De um modo geral, o mais homogêneo
sustentabilidade social dos agricultores familiares é predominantemente formado por municípios
que ainda desenvolvem atividades agrícolas. que fizeram parte, como bairro, da constituição
Apesar de os Governos Federal e Es- inicial do município de Jundiaí, como Jarinu, Lou-
tadual terem em seus organogramas organiza- veira, Vinhedo e Itupeva.
ções responsáveis pelo Turismo, nenhuma ação As condições de vida, segundo parâ-
planejada de desenvolvimento foi realizada. O metros do Índice Paulista de Responsabilidade
mais comum são ações pontuais de capacitação. Social (IPRS) (SEADE, 2011), são boas para seis
Nessa perspectiva, entrevistas realiza- municípios do Circuito: Vinhedo, Valinhos, Jun-
das junto aos produtores evidenciam que há diaí, Atibaia, Indaiatuba e Itatiba.
conflitos também para participar da relação de Esses municípios, classificados como
propriedades que recebem turistas rurais. Grupo 1, são também os mais populosos e po-
Em geral, esses produtores demandam voados do Circuito das Frutas, sendo cinco com
da parte das autoridades municipais ações bási- mais de 100.000 habitantes e quatro com densi-
cas de infraestrutura como sinalizações e estra- dade demográfica superior a 600 habitantes por
2
das bem conservadas para a segurança dos km (Tabela 1).
turistas. Dentre as demandas está a cessão de No Grupo 2, encontram-se os Municí-
áreas para a instalação de pontos de venda dos pios de Louveira e Itupeva, com população de
produtos locais. 38,7 mil e 47,1 mil habitantes, respectivamente.
No âmbito dos produtores prevalece o Já o Município de Jarinu está classificado no
sentimento de desamparo político, a percepção Grupo 3 e o de Morungaba recebeu a pior classi-
de que não são considerados por nenhuma das ficação do Circuito das Frutas segundo os parâ-
instâncias governamentais. metros do Índice Paulista de Responsabilidade
A fim de fortalecer o ambiente institu- Social, situando-se no Grupo 5. Estes municípios
cional e a representatividade política dos fruticul- de menor classificação também são os menos
tores e agroindustriais da região, as principais populosos e povoados dentre os municípios do
organizações se articularam e fundaram a Fede- Circuito das Frutas. Jarinu detém população de
ração das Associações de Produtores Rurais do 24.593 habitantes e densidade demográfica de
2
Circuito das Frutas, a UNIFRUTAS, em 2010. 118,42 hab./km , enquanto Morungaba detém
Atualmente a Federação é composta por nove população de 11.955 habitantes e densidade
2
organizações: Associação Agrícola de Jundiaí; demográfica de apenas 81,6 hab./km .
Associação Agrícola de Valinhos e Região Quanto ao grau de urbanização, o
(AAVR); Associação de Bairro e Amigos Multi- Município de Jarinu apresenta a menor taxa do
Assistenciais de Itatiba (ABAMA); Associação de Circuito com 77,31%, enquanto os Municípios de
Turismo Rural do Circuito das Frutas; Associação Indaiatuba (99%), Vinhedo (96,86%), Louveira
dos Vitivinicultores de Valinhos (AVIVA); Asso- (96,21%) e Jundiaí (95,69%) apresentam as
ciação dos Vitivinicultores de Vinhedo (AVIVI); maiores taxas.
Associação dos Produtores de Morango Hortifru- Acompanhando a forte tendência em
tigranjeiros de Atibaia, Jarinu e Região; Associa- curso no Estado de São Paulo, os municípios que
ção dos Produtores Rurais de Louveira (APR) e compõem o Circuito das Frutas têm a economia
Associação Hortifrutiflores de Jarinu e Região baseada principalmente nos setores industrial e
(HORTIFRUTIFLORES). de serviços.
Tal fato é comprovado pela análise da
participação dos grandes setores da economia no
4 - PERFIS DOS MUNICÍPIOS MEMBROS: valor adicionado municipal, regional e estadual.
especialidade para frutas? Quando observado o Circuito das Frutas como
um todo, nota-se que a participação do valor
Apesar de a população do Circuito adicionado da agropecuária regional cresceu de
apresentar semelhanças de origem histórica e R$94,51 milhões em 2000 para R$176,27 mi-
cultural, constitui grupos de distintos perfis socio- lhões em 2008, ou seja, 86,5%. Apesar do cres-
econômicos. cimento, a participação do valor adicionado

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Otani, M. N. et al.

TABELA 1 - Aspectos Demográficos no Circuito das Frutas, Estado de São Paulo, 2006
População Densidade demográfica Grau de urbanização
Município
(hab.) (hab./km²) (%)
Atibaia 128.089 267,9 91,0
Indaiatuba 207.959 669,6 99,0
Itatiba 103.577 321,2 84,4
Itupeva 47.117 235,0 86,9
Jarinu 24.593 118,4 77,3
Jundiaí 374.962 868,0 95,7
Louveira 38.726 699,7 96,2
Morungaba 11.955 81,6 85,4
Valinhos 109.533 737,5 95,2
Vinhedo 65.485 801,1 96,9
Fonte: SEADE (2011).

agropecuário regional corresponde a apenas participação de 60,5% do valor adicionado regio-


1,47% do valor adicionado agropecuário do Esta- nal (Tabela 5). Ao analisar a composição dos
do de São Paulo em 2008. Além disso, essa municípios, observa-se que Jundiaí representa
participação é decrescente quando observado o 41,2% do valor adicionado pelos serviços na
período 2000-2008 (Tabela 2). economia regional (Tabela 4).
Já as participações do valor adicionado Assim, observa-se uma situação de
da indústria e dos serviços regionais crescem para contrastes, pois assim como ocasiona maior
o mesmo período analisado. De uma participação concorrência pelo uso do solo e pela mão de
de 3,7% em 2000, a participação do valor adicio- obra, a expansão urbana e industrial cria também
nado da indústria regional passa para 5,3% do novos consumidores e fomenta perspectivas de
total estadual, sendo que o setor de serviços pas- agregação de valor à fruticultura, seja pela melho-
sa de 2,4% para 3,5% (Tabelas 3 e 4). ria da renda, seja pela consequente demanda por
Em termos absolutos, o valor adiciona- bens mais trabalhados e qualificados, como a
do da indústria regional cresceu de R$4.186,02 maior demanda pelo turismo rural.
milhões em 2000 para R$12.915,59 milhões em
2008, enquanto a participação dos serviços da
região cresceu de R$5.830,76 milhões para 4.1 - Emprego no Circuito das Frutas
R$20.021,68 milhões.
Assim, conclui-se que a agropecuária Apesar do potencial para a geração de
ocupa posição marginal nas economias dos mu- empregos na região que compõe o Circuito das
nicípios componentes do Circuito das Frutas, Frutas, informações da Relação Anual de Infor-
principalmente em Jundiaí que corresponde a mações Sociais (RAIS) e Cadastro Geral de Em-
somente 0,2% do valor adicionado municipal. pregados e Desempregados (CAGED) demons-
As maiores participações da agrope- tram que os números são relativamente baixos
cuária no valor adicionado dos municípios ocor- para o emprego com carteira assinada.
rem em Morungaba com 4,5%, Jarinu com 3,5% O setor agropecuário do Estado de São
e Atibaia com 2,6% (Tabela 5). Quando analisa- Paulo em 2010 foi responsável por 329.399 pos-
das as participações das agropecuárias munici- tos de trabalho formais. O conjunto de municípios
pais no total da agropecuária regional, observa- analisados responde por 5.382 postos de traba-
se que Atibaia responde por mais de 28,6% do lho o que significa apenas 1,63% do total do setor
valor adicionado agropecuário do Circuito das agropecuário paulista (MTE, 2011a).
Frutas em 2008 e Jundiaí fica em segundo posto, Ao se observar o número de postos de
com 12,1% (Tabela 2). trabalho em três atividades econômicas espe-
O setor de serviços detém maior peso cíficas (cultivo de uva, de laranja e de outras fru-
na economia do Circuito das Frutas, com uma tas ou seja, atividades econômicas de interesse

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Circuito das Frutas Paulista


TABELA 2 - Valor Adicionado da Agropecuária no Circuito das Frutas, 2000 a 2008
(em R$ milhão)
Circuito das frutas 2000 2002 2004 2006 2008
Atibaia 28,0 61,1 64,1 49,6 50,4
Indaiatuba 6,9 14,9 13,6 15,9 17,0
Itatiba 8,4 19,9 19,1 18,4 17,8
Itupeva 8,7 16,3 14,5 14,9 13,0
Jarinu 5,6 11,2 10,7 10,6 10,4
Jundiaí 16,4 33,0 20,8 26,7 21,4
Louveira 6,1 16,3 9,2 16,2 13,3
Morungaba 1,8 4,6 7,4 6,5 7,8
Valinhos 9,3 17,7 14,1 23,2 18,5
Vinhedo 3,3 7,3 5,4 7,9 6,8
Total 94,5 202,3 178,9 189,7 176,3
Estado de São Paulo 4.905,4 11.413,1 11.705,6 14.561,1 11.973,0
Part. % 1,9 1,8 1,5 1,3 1,5
Fonte: SEADE (2011).

TABELA 3 - Valor Adicionado da Indústria no Circuito das Frutas, 2000 a 2008


(em R$ milhão)
Circuito das frutas 2000 2002 2004 2006 2008
Atibaia 135,1 221,9 333,7 459,0 631,1
Indaiatuba 510,8 540,6 1.349,3 1.331,7 1.760,5
Itatiba 368,3 462, 5 771,1 887,7 1.090,5
Itupeva 180,1 265,4 344,0 457,9 597,7
Jarinu 13,4 18,8 32,3 51,3 67,8
Jundiaí 1.616,5 2.108,2 2.877,2 3.341,7 4.340,9
Louveira 308,5 375, 7 624,2 1.346,6 1.787,4
Morungaba 27,0 33,9 59,2 61,0 70,6
Valinhos 508,0 549,1 866,0 1.003,7 1.122,0
Vinhedo 518,3 567,0 865,8 1.151,4 1.446,1
Total 4.186,0 5.146,1 8.122,7 10.091,9 12.915,6
Estado de São Paulo 113.036,2 129.656,2 181.998,0 203.306,3 244.023,2
Part. % 3,7 4,0 4,5 5,0 5,3
Fonte: SEADE (2011).

TABELA 4 - Valor Adicionado de Serviços no Circuito das Frutas, 2000 a 2008


(em R$ milhão)
Circuito das frutas 2000 2002 2004 2006 2008
Atibaia 488,1 598,2 747,7 960,0 1.227,2
Indaiatuba 745,6 817,5 1.132, 7 1.491,5 2.009,4
Itatiba 586,9 666,9 765,4 914,3 1.071,8
Itupeva 127,9 173, 7 221,3 321, 6 440,7
Jarinu 62,2 74, 9 100,8 145,1 214,9
Jundiaí 2.633,3 3.384,4 5.099,0 6.222,8 8.397,7
Louveira 224,1 1.051, 7 1.319,0 2.143,0 2.868,3
Morungaba 37,2 47,0 64,0 76,3 95,8
Valinhos 524,4 581,7 745,0 1.069,8 1.473,0
Vinhedo 401,1 499,0 659,8 982,7 2.222,8
Total 5.830,8 7.894,9 10.854,5 14.327,0 20.021,7
Estado de São Paulo 240.585,4 288.070,6 344.226,0 456.765,8 570.584,0
Part. % 2,4 2,7 3,2 3,1 3,5
Fonte: SEADE (2011).

Informações Econômicas, SP, v. 42, n. 3, maio/jun. 2012.


56
Otani, M. N. eta l.

TABELA 5 - Participação Percentual dos Setores Econômicos sobre o Valor Adicionado, Circuito das
Frutas, 2008
Município Agropecuária Indústria Serviços
Atibaia 2,6 33,1 64,3
Indaiatuba 0,4 46,5 53,1
Itatiba 0,8 50,0 49,2
Itupeva 1,2 56,8 41,9
Jarinu 3,5 23,1 73,3
Jundiaí 0,2 34,0 65,8
Louveira 0,3 38,3 61,4
Morungaba 4,5 40,5 55,0
Valinhos 0,7 42,9 56,4
Vinhedo 0,2 39,3 60,5
Total 0,5 39,0 60,5
Estado de São Paulo 1,4 29,5 69,0
Fonte: SEADE (2011).

maior para o Circuito, os números são ainda O que pode se perceber, portanto, é a
menores. No Circuito são totalizados 548 postos necessidade de uma complementação para o
de trabalho com carteira assinada, sendo a uva e entendimento do mercado de trabalho, pois nú-
um mix de frutas (não captáveis na base de da- meros baixos informados pela RAIS significam
dos) as responsáveis pela geração de empregos principalmente a existência de trabalho informal
(Tabela 6). ou outras relações de trabalho não captadas
Esse tipo de análise permite identificar pelas estatísticas oficiais.
também que, por exemplo, Atibaia integrante do Estudos indicam que na região, as
circuito, é o município com a maior geração de propriedades agrícolas produtoras de frutas são
empregos, porém, em uma atividade não ligada em sua maioria conduzidas pelo trabalho predo-
ao circuito que é o cultivo de flores e plantas or- minante da própria família, devido à escassez de
namentais (1.582 postos de trabalho com carteira mão de obra qualificada e de trabalhadores dis-
assinada). postos a assumir a relação contratual de parceria
Para complementar essa caracteriza- ou arrendamento (VERDI, 2010; OTANI, 2010).
ção do emprego formal no Circuito observou-se Devido ao tamanho das áreas onde a
também a movimentação dos trabalhadores ao uva é cultivada, muitas propriedades são familia-
longo de um período por meio da base de infor- res, conduzidas única e exclusivamente pelo
mações CAGED. Essa movimentação de admis- proprietário e seus familiares, mas a utilização de
sões e demissões no setor permite, por exemplo, meeiros está presente em parte delas. Os meei-
identificar a sazonalidade do emprego. ros constituem elementos representativos da tra-
Ao que tudo indica, não há padrão dição da vitivinicultura regional. Na década de
visível de sazonalidade, onde o fluxo de admis- 1950, Inglêz de Sousa já reconhecia a meação
sões ocorre simultaneamente com o de demis- como o contrato de trabalho predominante na
sões, porém há uma intensificação de contrata- viticultura regional, característica que resistiu ao
ções entre março e setembro, com poucas de- tempo, sendo mantida até os dias atuais. Segun-
missões no mês de novembro, o que causa es- do o autor, tanto a formação como o custeio de
tranheza por ser o período que se inicia a colheita um vinhedo podem ser diretamente geridos pela
da uva em municípios como Jundiaí, Itupeva, administração do proprietário, como podem ser
Louveira, etc. (Figura 2). entregues a terceiros, quer por empreitada, quer
A faixa no número de admissões indica por contrato de meação ou parceria.
para o período que ocorra entre 100 e 250, mas A participação dos proprietários em
novamente, movimentação principalmente feita Jarinu é de 48,6% na ocupação de mão de obra
no município de Atibaia por conta das flores. pela viticultura e de 30,13% em Jundiaí. A parce-

Informações Econômicas, SP, v. 42, n. 3, maio/jun. 2012.


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Circuito das Frutas Paulista


TABELA 6 - Número de Postos de Trabalho com Carteira Assinada nos Municípios que Integram o Cir-
cuito das Frutas, Estado de São Paulo, 2010
Cultivo de Cultivo de Demais Outras
Município Total
laranja uva frutas atividades
Itatiba 10 38 16 544 608
Itupeva 5 2 1 372 380
Jarinu 34 15 35 254 338
Jundiaí 0 72 4 459 535
Atibaia 1 5 37 2138 2181
Louveira 0 45 13 165 223
Indaiatuba 0 15 12 403 430
Valinhos 0 14 136 176 326
Vinhedo 0 13 14 61 88
Morungaba 0 0 11 262 273
Total 50 219 279 4834 5382
Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da RAIS (MTE, 2011a).

300

250

200
número

150

100

50

Admitidos Desligados

Figura 2 - Movimentação dos Postos de Trabalho, Circuito das Frutas, Estado de São Paulo, Janeiro de 2007 a Novembro de 2011.
Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados do CAGED (MTE, 2011b).

ria é a segunda categoria de ocupação na viticul- 5 - FRUTAS DO CIRCUITO


tura, no Município de Jundiaí são 429 pessoas e
em Jarinu, 139 pessoas. E a participação dos A produção de frutas de mesa no Esta-
assalariados no total de ocupados na viticultura é do de São Paulo tem importância tanto econômi-
pequena, pois o Município de Jundiaí apresentou ca quanto social, por ser cultivada, em geral, em
146 pessoas assalariadas e Jarinu apenas 12 pequenas áreas com predomínio da agricultura
pessoas (VERDI, 2010). familiar. Nos municípios do Circuito das Frutas,
Por último, segundo (SOARES, 2011), esta é uma realidade importante. As seis frutas
o Circuito das Frutas oferece uma potencialidade de mesa com maior valor de produção no Escritó-
8
para a geração de empregos em que no intuito de rio de Desenvolvimento Rural de Campinas são:
atrair turistas, cresce e vai consolidando outras ati- uva, figo, goiaba, caqui, pêssego e morango, que
vidades econômicas - não agrícolas, como restau- também constituem importante parcela (34,49%)
rantes, pesque-pagues, pousadas, chalés etc. e da geração dessa riqueza no âmbito do Estado
outros tipo de ocupações como jardineiros, pedrei- (Tabela 7). As culturas da goiaba, uva comum e
ros, motoristas e ocupações ligadas à prestação
de serviços possibilitando a contratação de traba- 8
O Estado de São Paulo está organizado em 40 Escritórios
lhadores residentes no próprio meio rural. de Desenvolvimento Rural.

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Otani, M. N. eta l.

TABELA 7 - Valor da Produção das Principais Frutas no EDR de Campinas, Estado de São Paulo, 2009
EDR Campinas Estado de São Paulo EDR/Estado
Fruta Unidade
(R$ milhão) (R$ milhão) (%)
Uva comum cx. 6kg 131,2 381,3 34,5
Figo engr. 1,6kg 40,6 42,7 95,1
Goiaba cx. 3,5kg 30,7 73,7 41,6
Caqui cx. 26kg 27,1 157,0 17,3
Pêssego cx. 3,5kg 16,7 49,1 33,8
Morango cx. 4kg 15,2 75,7 20,1
Total 261,7 779,5 34,5
Fonte: Elaborada pelos autores com base em Tsunechiro et al. (2011).

pêssego têm significativo peso no valor da produ- ção.


ção do Estado, sendo o figo, em particular, origi- Esses fatos históricos impulsionaram a
nado quase na totalidade neste EDR. expansão do cultivo da uva Niagara em Jundiaí
Para situar a importância da produção que permitiu a reprodução social dos agricultores
das frutas selecionadas considerou-se a produ- familiares de origem europeia. Posteriormente,
ção dos municípios do EDR de Campinas que novas alternativas surgiram em função da redu-
9
constituem o Circuito das Frutas Paulista e veri- ção dos rendimentos com a uva, e as intensas
ficou-se que, em 2010, estas localidades produzi- transformações na região, como o desmembra-
ram mais da metade das frutas deste EDR, des- mento dos municípios, expansão da infraestrutu-
tacando-se entre elas, a goiaba branca (100%), a ra viária e de comunicação, especulação imobiliá-
uva comum (89,43%), pêssego (88,85%) e o ria, etc.
caqui (87,12%) (Tabela 8). Segundo dados do Levantamento das
A produção de frutas de mesa é uma Unidades de Produção Agropecuária (UPAs)
das atividades agrícolas mais importantes do 2007/2008, no Circuito das Frutas cultiva-se
EDR de Campinas. Os municípios se destacam 6.603,8 ha e pelo menos 1.350 unidades produti-
nas atividades relacionadas à fruticultura, me- vas estão envolvidas com a produção das princi-
diante a combinação de vários fatores, como pais frutíferas. A denominada uva Niagara é a
culturais, de mercado, de organização, estratégia que apresenta maior extensão, abrangendo
de localização, etc. 64,6% da área regional total e envolve a maior
O cultivo da uva comum, principalmen- proporção de produtores, pois está presente em
te a cultivar Niagara, faz parte da tradição dos 53,8% das unidades produtivas (Tabela 9).
produtores de origem europeia, culturalmente No Circuito das Frutas, o município de
ligados à vitivinicultura. As condições naturais da Jundiaí se destaca pela maior extensão de área
região, a cultura italiana e os resultados das pes- destinada à fruticultura, perfazendo 33,2% do total
quisas desenvolvidas pelo Instituto Agronômico regional, além da maior proporção de unidades
de Campinas contribuíram para a formação da produtivas com as frutas, com 32,1% das proprie-
aglomeração vitivinícola de Jundiaí e região. O dades frutícolas do circuito (Tabelas 10 e 11).
trabalho desenvolvido propiciou uma qualidade De forma geral, os municípios se des-
ao produto que adicionou maior valor à uva da tacam pela concentração em área e unidades
região. Também contaram com um fato inédito, a produtivas de frutas específicas. Pode-se dizer
mutação somática da “Niagara Branca” para que existe certa especialização dos municípios
“Niágara Rosada” em uma das propriedades da em determinadas frutas, à exceção de Jundiaí
região, com plena aceitação no mercado paulista que detém a maior diversificação frutícola do
e brasileiro, o que alavancou ainda mais a produ- Circuito.
Assim, Jundiaí se destaca pelo expres-
9
Nove dos dez municípios componentes do Circuito das sivo cultivo de várias frutas. A principal, em ter-
Frutas pertencem ao EDR de Campinas: Indaiatuba, mos de área cultivada e unidades produtivas, é a
Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Morungaba,
Valinhos e Vinhedo. A exceção é o Município de Atibaia tradicional uva Niágara Rosada (uva rústica), com
que pertence ao EDR de Bragança Paulista.

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Circuito das Frutas Paulista


TABELA 8 - Produção Frutícola dos Municípios do Circuito das Frutas , Estado de São Paulo, 2010
Circuito das frutas1 EDR Campinas A/B
Fruta Unidade
(A) (B) (%)
Uva Comum cx. 6kg 8.644.148,0 9.665.448,0 89,5
Uva Fina cx. 7kg 242.800,0 402.800,0 60,3
Figo engr. 1,6kg 3.016.200,0 5.849.348,0 51,6
Goiaba cx. 3,5kg 1.811.891,0 3.055.416,0 59,3
Goiaba Branca cx. 3,5kg 3.149.520,0 3.149.520,0 100,0
Caqui cx. 26kg 658.675,0 756.016,8 87,1
Pêssego cx. 3,5kg 2.294.775,0 2.582.734,0 88,9
Morango cx. 4kg 530.500,0 709.700,0 74,8
1
Exceto o município de Atibaia.
Fonte: IEA (2011).

TABELA 9 - Área e Total de Unidades de Produção Agropecuária (UPA) no Circuito das Frutas, 2007/08
UPA Área
Fruta
n. % ha %
Caqui 337 13,4 576 8,7
Figo da europa 111 4,4 346,7 5,3
Goiaba 260 10,4 463,4 7,0
Morango 168 6,7 392,7 5,9
Pessego 253 10,1 477,7 7,2
Uva fina 32 1,3 80,3 1,2
Uva rústica 1350 53,8 4.267,0 64,6
Total 2511 100,0 6.603,8 100,0
Fonte: Torres et al. (2009).

TABELA 10 - Área de Frutas, por Município, 2007/08


(em ha)
Município Caqui Figo Europa Goiaba Morango Pêssego Uva fina Uva rústica Total
Atibaia 37,4 - 33,8 230,1 167,5 42,9 160,6 672,3
Indaiatuba 24,3 - 20,3 - 1,3 3,5 829,2 878,6
Itatiba 161,9 32,5 5,2 22,0 45,3 - 182,7 449,6
Itupeva 14,2 12,0 1,0 4,4 46,3 17,3 518,3 613,5
Jarinu 49,8 1,5 0,7 92,2 72,2 2,1 276,9 495,4
Jundiaí 172,7 0,2 1,5 22,7 69,7 12,7 1.843,4 2.122,9
Louveira 70,2 40,5 3,2 3,7 4,4 0,8 326,2 449,0
Morungaba - - 1,2 - - - - 1,2
Valinhos 30,6 237,1 392,2 12,6 65,4 1,0 65,2 804,1
Vinhedo 14,9 22,9 4,3 5,0 5,6 - 64,5 117,2
Total 576,0 346,7 463,4 392,7 477,7 80,3 4.267,0 6.603,8
Fonte: Torres et al. (2009).

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Otani, M. N. eta l.

TABELA 11 - Número de UPAs por Fruta, por Município, 2007/08


Município Caqui Figo Europa Goiaba Morango Pêssego Uva fina Uva rústica Total
Atibaia 17 0 16 69 52 11 37 202
Indaiatuba 11 11 0 2 1 221 246
Itatiba 76 4 2 4 29 74 189
Itupeva 5 1 2 7 14 6 130 165
Jarinu 18 1 2 40 33 2 100 196
Jundiaí 91 1 4 35 56 9 551 747
Louveira 79 3 5 4 9 2 165 267
Morungaba 0 0 1 0 0 0 0 1
Valinhos 27 91 214 8 53 1 31 425
Vinhedo 13 10 3 1 5 0 41 73
Total 337 111 260 168 253 32 1.350 2.511
Fonte: Torres et al. (2009).

43,2% da área e 40,8% das propriedades do do seguro rural ciclo agrícola 2003/04, foram
Circuito das Frutas. O município também se des- concedidas quatro subvenções, das quais três
taca em número de UPAs com cultivo do caqui para produtores de uva para mesa do município
(27%), do pêssego (22,1%) e do morango de Jundiaí (RAMOS, 2007).
(20,8%) (TORRES et al., 2009). No ciclo agrícola 2005/06, do total das
Valinhos, por sua vez, monopoliza o apólices emitidas no EDR de Campinas, 88,2%
cultivo da goiaba e do figo Europa. De acordo foram de produtores dos municípios estudados,
com dados do LUPA 2007/08 (TORRES et al., destacando-se a uva de mesa com 276 apólices
2009), a goiaba do município está presente em e novamente destacaram-se os municípios de
82,23% das unidades produtivas e 88,6% da Jundiaí e de Indaiatuba, com 32,2% e 28,6%
área do Circuito das Frutas, enquanto o cultivo respectivamente (Tabela 12). No ciclo agrícola
do figo detém 68,4% da área e 82,0% das uni- 2006/07, 93,4% das apólices deste EDR foram
dades produtivas da região. para estes municípios, também com destaque
para a uva de mesa, com 580 apólices, ficando
29,8% com o município de Jundiaí, 24,8% para
6 - POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PRODU- Indaiatuba e 18,4% para Louveira.
ÇÃO: seguro rural no circuito das frutas Já no ciclo agrícola 2007/08, 90,1% do
total das apólices emitidas no EDR de Campinas
O governo de São Paulo, tendo como foram para os municípios estudados e das 787
uma de suas prioridades para a agricultura o apólices para uva de mesa, 28,3% foram para
seguro rural, que é um dos mais importantes Indaiatuba, 27,4% para Jundiaí, 17,3% para Lou-
instrumentos de política agrícola, instituiu o Proje- veira e 12,3% para Itupeva.
to Estadual de Subvenção ao Prêmio do Seguro Em 2008, o FEAP/BANAGRO passou
Rural, por meio do Fundo de Expansão do Agro- a controlar as concessões não mais pelo ano
negócio Paulista - O Banco do Agronegócio Fa- agrícola, mas pelo ano civil, para acompanhar a
miliar (FEAP/BANAGRO), vinculado à Secretaria forma do governo federal, aprimorando assim o
de Agricultura e Abastecimento do Estado de São controle das concessões, pois o produtor paulista
Paulo. Seu objetivo é garantir ao produtor segu- se beneficia tanto da subvenção federal como da
rado cobertura das perdas das culturas ocasio- estadual ao prêmio do seguro rural.
nadas por fenômenos naturais adversos; propor- Como pode se observar à medida que
cionar aos produtores e suas famílias maior esta- o produtor se beneficia das vantagens de ter o
bilidade de renda e universalizar o seguro agríco- seguro rural, como instrumento de proteção à sua
la. produção, há uma maior adesão, pois a frequên-
Dessa forma, já no primeiro ano de cia de granizo nesta região tem sido relevante.
implantação do projeto de subvenção ao prêmio Neste semestre foram emitidas 7.710 apólices

Informações Econômicas, SP, v. 42, n. 3, maio/jun. 2012.


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Circuito das Frutas Paulista


TABELA 12 - Número de Apólices de Uva, por Município, Circuito das Frutas, 2005/06 a 2011
Ciclo agrícola Cultura Atibaia Indaiatuba Itatiba Itupeva Jarinu Jundiaí
2005/06 Uva de mesa 5 79 27 24 16 89
Outras culturas 1 14 1 11
Total 5 80 41 24 17 100
2006/07 Uva de mesa 13 144 33 67 27 173
Outras culturas 2 21 7 13 31
Total 13 146 54 74 40 204
2007/08 Uva de mesa 13 223 36 97 43 216
Outras culturas 2 4 23 12 17 42
Total 15 227 59 109 60 258
2ºsemestre 2008 Uva comum de mesa 12 255 45 95 60 237
Outras culturas 14 11 43 22 39 77
Total 26 266 88 117 99 314
Ano 2009 Uva comum de mesa 7 228 23 104 51 273
Outras culturas 21 12 38 34 50 101
Total 28 240 61 138 101 374
Ano 2010 Uva comum de mesa 13 374 45 124 59 277
Outras culturas 16 7 68 24 56 78
Total 29 381 113 148 115 355
Ano 2011 Uva comum de mesa 16 278 41 114 58 239
Outras culturas 30 9 68 26 59 75
Total 46 287 109 140 117 314
EDR de
Ciclo agrícola Cultura Louveira Morungaba Valinhos Vinhedo Total
Campinas
2005/06 Uva de mesa 31 1 4 276
Outras culturas 9 1 37
Total 40 2 4 313 345
2006/07 Uva de mesa 107 7 9 580
Outras culturas 16 5 1 96
Total 123 12 10 676 724
2007/08 Uva de mesa 136 11 12 787
Outras culturas 22 11 4 137
Total 158 22 16 924 1025
2ºsemestre 2008 Uva comum de mesa 139 14 17 874
Outras culturas 43 3 53 5 310
Total 182 3 67 22 1184 1322
Ano 2009 Uva comum de mesa 83 7 15 784
Outras culturas 35 4 69 4 368
Total 118 4 76 19 1159 1300
Ano 2010 Uva comum de mesa 131 8 21 1052
Outras culturas 28 4 33 3 317
Total 159 4 41 24 1369 1568
Ano 2011 Uva comum de mesa 116 16 21 899
Outras culturas 27 9 54 3 7
Total 143 9 70 24 1259 1400
Fonte: Elaborada pelos autores segundo FEAP/BANAGRO (2005/06-2011).

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Otani, M. N. eta l.

sendo 1.184 para os municípios do Circuito das do verão (Figura 3).


Frutas. A uva de mesa novamente se sobressaiu:
874 apólices, com a participação dos municípios
de Indaiatuba (29,2%), Jundiaí (27,1%), Louveira 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
(15,9%) e Itupeva (10,9%).
Em 2009, a participação dos municí-
pios do Circuito dentro do EDR de Campinas foi Os dados consolidados demonstram que
de 89,2% com a emissão de 1.300 apólices, das os municípios que compõem o Circuito das Fru-
quais 784 foram para uva de mesa, com desta- tas não apresentam características socioeco-
que para os municípios de Jundiaí com 34,8%, nômicas e produtivas uniformes. E que apesar da
Indaiatuba com 29,1%, Itupeva com 13,3% e relevância dos setores industrial e de serviços na
Louveira com 10,6%. economia da região, o setor agrícola e, em parti-
A participação dos municípios do EDR cular, a fruticultura, assume forte importância
de Campinas, em 2010, foi de 87,3%, com a social e paisagística nos municípios.
emissão de 1.369 apólices, das quais 1.052 fo- As frutas mais cultivadas são a uva rústi-
ram para uva de mesa, sendo 36,5% para Indaia- ca, seguida do caqui, pêssego e goiaba. Jundiaí,
tuba, 26,3% para Jundiaí, 12,4% para Louveira e Valinhos e Indaiatuba são os municípios com
11,8% para Itupeva. maior número de unidades produtivas. Em con-
Já em 2011 foram concedidas subven- trapartida, Morungaba e Vinhedo são os que
ções para 1.259 produtores, com destaque para apresentam as menores participações.
a uva de mesa nos municípios de Indaiatuba com A fruticultura é importante fonte de renda
31,9% e Jundiaí com 26,6%. para parcela de agricultores familiares que se
Com relação ao Estado de São Paulo, fixou na região, ainda na época do apogeu do
nota-se que a participação dos municípios do cultivo do café. A partir das contínuas transforma-
Circuito da Frutas no projeto de subvenção ao ções econômicas e tecnológicas, das demandas
prêmio de seguro rural foi crescente acompa- por maior produtividade e qualidade dos produ-
nhando a evolução das apólices das frutas do tos, os agricultores que vêm resistindo na ativida-
Estado, demonstrando que os produtores destes de agrícola são os que têm buscado se adequar
municípios utilizam esta ferramenta de proteção às novas realidades. A procura crescente pelo
para sua produção de frutas, contra as intempé- seguro rural, para proteger a produção e garantir
ries naturais que têm prejudicado com mais fre- a permanência na terra, é um sinal de mudança
quência esta região, principalmente, no período no comportamento tradicional.

3.000

2.500

2.000
número

1.500

1.000

500

0
2005/2006
2005/06 2006/2007
2006/07 2007/08
2007/2008 2ºsem. 2008 2009 2010 2011

Circuito das frutas Estado São Paulo EDR/Campinas


EDR de Campinas

Figura 3 - Evolução do Número de Apólices de Seguro Rural no Circuito das Frutas, Estado de São Paulo, 2005/06 a 2011.
Fonte: Elaborada pelos autores segundo FEAP/BANAGRO (2005/06-2011).

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Circuito das Frutas Paulista


Por estarem localizados em áreas de fá- Circuito das Frutas está situado em território ade-
cil escoamento da produção e locomoção torna- quado para desenvolver o turismo rural, com
se propício elevar a renda, combinando a ativida- grande potencial de evolução, dada a significativa
de agrícola e a consequente preservação da produção de frutas, além de o ambiente institucio-
paisagem e o modo de vida rural, que podem ser nal ser propício dado o fortalecimento da organi-
fortes atrativos para o turista das grandes metró- zação dos produtores em várias associações,
poles vizinhas. cooperativas e sindicatos, dispostos a contribuir
Observa-se, assim, que a significativa com o projeto. No entanto, apesar das condições
base industrial e de serviços impõe importantes favoráveis, averigua-se que o projeto esbarra na
desafios à fruticultura regional, uma vez que as necessidade de ações de longo prazo, principal-
atividades desses setores promovem maior con- mente de infraestrutura e, para isso, necessita de
corrência pelo uso do solo e pela mão de obra maior coordenação das lideranças governamen-
agrícolas. tais para alavancar esta importante política pública
Portanto, pode-se colocar que o projeto de desenvolvimento local e regional.

LITERATURA CITADA

ARRAES, N. A. M.; VIEGAS, H. A. Dispersão urbana sobre áreas rurais no município de Campinas, 2008, 16 p.
Mimeografado.

FLEURY, A. L’agriculture dans la planification de l’Ile-de-France: du vide urbain à la multifonctionnalité territoriale. Les
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CIRCUITO DAS FRUTAS PAULISTA:


caracterização socioeconomica

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo realizar uma caracterização socioeconômica dos
municípios que compõem o Circuito das Frutas, para pesquisar a importância da fruticultura para o setor
agrícola municipal e regional. Para obter este perfil, organizaram-se os dados secundários disponíveis e
dispersos em várias fontes de informação. Estes dados possibilitaram mostrar a relevância das frutas na
produção agrícola dos municípios e, portanto, o forte potencial desta política pública, Circuito das Frutas,
para o desenvolvimento do setor .

Palavras-chave: circuito das frutas, fruticultura, indicadores socioeconômicos, turismo rural.

THE PAULISTA FRUIT CIRCUIT:


a socioeconomic characterization

ABSTRACT: This paper aims to conduct a socio-economic characterization of the municipaliti-


es that make up the “Circuit of the Fruits”, in order to analyze the importance of fruit growing to the local
and regional agricultural economies. To that end, we gathered and organized secondary data from vari-
ous sources, which allow us to prove the relevance of the fruit in these municipalities’ agricultural produc-
tion, and therefore the potential of the public policy “Fruit Circuit” to develop this sector.

Key-words: fruit circuit, fruit, socio-economic indicators, rural tourism.

Recebido em 28/03/2012. Liberado para publicação em 27/04/2012.

Informações Econômicas, SP, v. 42, n. 3, maio/jun. 2012.

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