Autonomia Do Direito Informático
Autonomia Do Direito Informático
Autonomia Do Direito Informático
1) INTRODUÇÃO
Como fruto do avanço constante das novas tecnologias, e dada a necessidade de tratamento
jurídico para as diversas questões advindas desta crescente evolução, surge um novo ramo do
Direito, qual seja, o Direito Informático ou Direito de Informática.
O Direito Informático é, pois, resultado da relação entre a ciência do Direito e a ciência das
novas tecnologias (informática e telemática). Não há como negar que o Direito, como ciência,
funciona melhor com o uso da informática e da telemática. Estas, por sua vez, necessitam de
normas e regras as quais possibilitem sua correta e adequada utilização, é dizer, cabe ao
Direito regular as relações sócio-jurídicas surgidas da influência da informática e da telemática
na vida dos indivíduos de uma forma geral.
Sobre a influência ou reflexo do Direito Informático nos demais ramos do Direito, trazemos à
colação a doutrina de Carlos Barriuso Ruiz. Segundo este autor, o Direito Informático:
" (...) afecta en mayor o menor medida a todas las demás ramas del derecho entre las que
destacamos: la filosofia del derecho, como responsable de fundamentar este nuevo hecho y
coordinar las distintas partes implicadas; la socio-laboral, en cuanto que la implantación de las
nuevas tecnologías modifica las actuales condiciones de trabajo y emplo, permitiendo
relaciones de trabajo nuevas, como el teletrabajo; la mercantil, con las nuevas formas de
mercado y contratación; la procesal, definiendo y valorando las pruebas efectuadas por medios
electrónicos – informáticos y estableciendo procesos adecuados a la realidad informática; la
penal, con el cometido de tipificar y sancionar las nuevas acciones y conductas delictivas que
surgen; la administrativa, estableciendo procedimientos más ágiles, etc(4) ".
Dado ao caráter interdisciplinário do Direito Informático, houve por parte de alguns a intenção
de não aceitar-lo como disciplina autônoma. Para esta corrente o Direito Informático seria um
conjunto de normas dispersas pertencentes aos vários ramos do Direito. Não estamos de
acordo com esta posição. Passamos a explicar porque em nosso entendimento o Direito
Informático possui todas as características para ser considerado uma disciplina autônoma do
Direito.
O Direito Informático possui um objeto delimitado, qual seja a própria tecnologia (informática e
telemática). Podemos dividir este objeto em duas partes, a saber: objeto mediato e objeto
imediato.
" La sociedad de la información conduce a lo que algunos llaman sociedad del conocimiento,
que podemos definir como aquella en que los ciudadanos disponen de un acceso
prácticamente ilimitado e inmediato a la información, y en la que ésta, su procesamiento y
transmisión actúan como factores decisivos en toda la actividad de los individuos, desde sus
relaciones económicas hasta el ocio y la vida pública(7) ".
Por sua vez, o objeto imediato do Direito Informático é a tecnologia (entenda-se informática e
telemática). Esta influi, de forma direta ou indireta, nos vários seguimentos sociais, tais como
economia, política, cultura, etc. Dada esta significativa influência, não pode o Direito deixar de
regular as relações jurídico-sociais advindas de esta intervenção. Assim, cabe à Ciência
Jurídica dar solução à problemática derivada do uso das novas tecnologias (informática e
telemática).
3) A INFORMÁTICA JURÍDICA
Em princípio pode parecer impossível a existência de alguma relação entre as disciplinas mais
tradicionais do Direito e a Informática Jurídica. Neste sentido a opinião de Gianfranco Caridi,
para o qual:
" Indagare i rapporti fra l’informatica giuridica o, in senso più ampio, l’automazione nella ricerca
giuridica, e le tradizionali discipline ‘ teoriche’ del diritto, come la filosofia del diritto, la teoria
generale del diritto e la sociologia giuridica, presenta, ad un primo approccio, consitenti
difficoltà(10) ".
Para um melhor entendimento da matéria é necessário, seguindo uma linha desenvolvida pela
maioria dos doutrinadores desta área, dividirmos a Informática Jurídica em três partes, a saber:
Informática Jurídica Documental, Informática Jurídica de Gestão e, por fim, Informática Jurídica
de decisão.
" (...) se basa en el principio de que el ordenador facilite la información adecuada al jurista para
ayudarle a adoptar una determinada decisión. Supone el tratamiento y recuperación de
información jurídica por medio de los ordenadores, y en los tres tradicionales campos de
legislación, jurisprudencia y bibliografia(11) ".
Comumente podemos encontrar estes sistemas em forma de CD-ROM (Compact disc – read
only memory) e alguns na forma denominada on line, é dizer, em linha. Funcionam, geralmente,
com a busca realizada através de palavras chaves.
Assim, a escolha caberá ao operador do Direito que fará a opção segundo sua disponibilidade
financeira e afinidade com a informática.
Como o próprio nome está a indicar, trata-se da aplicação da informática (inclui-se também a
telemática) na atividade de gestão, no caso concreto que agora analisamos, da gestão de
escritórios de advogados, de gabinetes de juízes, de promotores de justiça, etc., enfim, da
aplicação das novas tecnologias às funções desempenhadas diariamente nestes ambientes
laborais.
Neste sentido a doutrina de Andre Flory – Herve Croze que, ao discorrer sobre a utilidade da
InformáticaJurídica de Gestão para o Direito, entendeu que : " Cette partie de l’informatique
juridique a pour objet l’étude des applications de l’informatique à la gestión des jurisdictions
ainsi que des cabinets ou études des professions juridique et judiciaires(13) ".
Contudo, esta categoria vai mais além da Informática Jurídica Documental, pois compreende
desde a aquisição de computadores, de programas (Softwares) de edição de textos, de agenda
de compromissos, contabilidade, dentre outros, os quais facilitariam a gestão, deixando que os
profissionais de determinado escritório ou gabinete jurídico possam centrar suas atividades em
tarefas que demandem esforço intelectual. Seguramente o trabalho de advogados, juizes,
promotores de justiça, etc. seria de melhor qualidade.
3.3) Informática Jurídica de Decisão
Em nossa opinião esta categoria apresenta o aspecto mais polêmico referente à aplicação da
informáticaao Direito.
Ao passo que a Informática Jurídica Documental fornece, mediante bases ou bancos de dados,
informações e documentos jurídicos, a Informática Jurídica de Decisão coloca à disposição
daqueles que trabalham com o Direito sistemas especializados(14) que utilizam a inteligência
artificial(15) para a solução de problemas jurídicos os quais, anteriormente, somente eram
elucidados com o esforço intelectual humano.
Em síntese, o que visa a Informática Jurídica de Decisão, através dos "sistemas de expertos", é
facilitar aos membros da magistratura, bem como a seus auxiliares, as tarefas de rotina, as
quais, não raras vezes, se tornam repetitivas.
Por fim, enfatizamos novamente que a aplicação dos chamados sistemas especializados
somente poderá dar-se em alguns casos, pois sempre existirão aqueles que não permitirão a
utilização de tais sistemas, necessitando da experiência e bom senso dos magistrados.
4) CONCLUSÃO
Pelos argumentos apresentados neste trabalho, podemos concluir que o Direito Informático é
uma disciplina jurídica autônoma. Sua existência, e por não dizer necessidade, se justifica na
medida em que as relações e conflitos jurídicos fruto do uso das novas tecnologias demandam
tratamento jurídico. O Direito não pode negar-se a admitir a existência desta nova etapa na
evolução humana, a chamada era da informação, da qual resultam inúmeros problemas que
carecem de solução jurídica.
Também não se pode deixar de admitir que o uso das novas tecnologias beneficia e muito ao
Direito, mediante a aplicação da informática e da telemática nas atividades jurídicas
desenvolvidas por todos aqueles que se dedicam a este ramo.
NOTAS
2.Por sua vez, telemática é o termo genericamente utilizado para se referir a todo o relacionado
com as técnicas e serviços que resultam do uso conjunto da informática e das
telecomunicações. Em um sentido mais específico, consiste no meio pelo qual a informação
(entenda-se dados informáticos) circula. Podemos dizer que a telemática possibilita o uso da
informação.
4.Barriuso Ruiz, Carlos: Interacción del Derecho y la Informática, 1ª ed., Dykinson, Madrid, 1996,
p. 64.
5.Podemos dizer que a informação é algo essencial para a vida das pessoas de uma forma
geral. Ultimamente se costuma defini-la como um "poder", ou seja, o "poder de informação".
Não devemos, todavia, confundir informação com comunicação. Comunicação é a
movimentação e transmissão da informação.
6.Entende-se por Internet o conjunto de sistemas de redes de computação ligadas entre si, com
alcance mundial, que facilita serviços de comunicação de dados como transferência de
arquivos, correio eletrônico, grupos de notícias, etc. Internet é uma forma de conectar as redes
de computação existentes que ampliam em grande medida o alcance de cada sistema
participante.
11.López – Muñiz Goñi, Miguel: Informática Jurídica Documental, 1ª ed., Diaz de Santos, Madrid,
1984, p. 11.
12.Este problema se está solucionando com a atualização on line, via Internet, dos sistemas de
informação e documentação jurídica em forma de CD-ROM. Todavia, como a maioria dos
sistemas em forma de CD-ROM não possibilitam acrescentar informações ao disco compacto,
não se apresenta tão eficaz este modo de atualização.
13.Flory – Herve Croze, Andre: Informatique Juridique, 1ª ed., Economica, Paris, 1984, p. 9.
14.Encontramos hoje à disposição dos operadores do Direito programas que realizam cálculos
de indenização por acidente de trabalho, liquidações tributárias, etc.
Bibliografia
Barriuso Ruiz, Carlos: Interacción del Derecho y la Informática, 1ª ed., Dykinson, Madrid, 1996.
Caridi, Gianfranco: Informática Giuridica e Procedimenti Amministrativi, 1ª ed., Franco Angeli
Editore, Milano, 1983.
Flory – Herve Croze, Andre: Informatique Juridique, 1ª ed., Economica, Paris, 1984.
Lesmes Serrano, Carlos: " Las nuevas tecnologías y la Administración de Justicia. La Ley
1/2000, de 7 de enero, de Enjuiciamiento Civil", obra coletiva Derecho de Internet: Contratación
Electrónica y Firma Digital, Aranzadi, Navarra, 2001.
López – Muñiz Goñi, Miguel: Informática Jurídica Documental, 1ª ed., Diaz de Santos, Madrid,
1984.
1995 leituras