Direito Das Sociedades

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Direito das sociedades

Aula 11/09
Introdução

Introdução ao Direito das Sociedades:


As sociedades comerciais têm uma dupla dimensão: contratual e institucional.
 Na dimensão contratual, vamos falar:
 dos estatutos (dimensão institutivo e institucional);
 de tipos de sociedades;
 e vamos distinguir sociedades civis de sociedades comerciais.
 Na dimensão institucional, vamos falar:
 da dimensão da pessoa coletiva;
 dos órgãos da pessoa coletiva;
 e da autonomia patrimonial e limitação da responsabilidade dos
sócios.
Enquanto entidade, a sociedade é uma organização de pessoas e bens que se dedica a
prosseguir uma atividade económica. Estas duas ideias são centrais para caracterizar esta
sociedade comercial e que nos permite distingui-la de outras instituições.
Sociedade enquanto contrato é um contrato que se caracteriza pela obrigação de contribuir
com bens e serviços para a prossecução de uma atividade económica – é esta a obrigação
característica essencial do contrato de sociedade.
A sociedade entidade tem geralmente por base uma sociedade contrato, mas nem sempre –
há sociedades que são constituídas por negócio jurídico unilateral, como é o caso das
sociedades que têm apenas um sócio. Também há sociedades que são criados por atos
legislativos formais - exemplo das privatizações. Há, igualmente, sociedades criadas por ato
jurisdicional – o juiz num determinado processo em que se dissolve uma sociedade, cria uma
outra, um novo invólucro jurídico, para que possa existir uma reestruturação.
 Exemplo do BES: temos um banco que tinha muito mais passivos do que
ativos. O BES emprestava dinheiro sem colaterais: isto tanto à elite angolana
como a uma empresa do Luxemburgo, que era acionista do BES, e que não tinha
as suas contas públicas. O Estado angolano não concedeu a garantia de 6 Biliões;
e a empresa do Luxemburgo estava completamente falida, e não podia pagar os
empréstimos. Assim, o BES foi dividido em duas empresas: uma com todos os
passivos, e outra com todos os ativos, e onde os credores do BES não podiam ir
satisfazer os seus direitos de crédito. O que aconteceu, do ponto de vista jurídico:
foi criada, por ato administrativo, uma nova sociedade comercial, onde foram
colados todos os ativos, enquanto todos os passivos foram deixados numa outra
sociedade comercial já existentes.
O conceito de sociedade contrato precedeu o conceito de sociedade entidade. O primeiro
vem da Roma Antiga – Societas -, e ainda está vertido no CC. A ideia de personificação dos
entes coletivos surge na Idade Moderna, e é uma teorização que surge em torno: do
Vaticano; dos Estados; das Guildas; e as Companhias Privilegiadas, como a Companhia das
Índias Ocidentais (1602). O pensamento de que as sociedades estão separadas dos seus
membros é posterior à fundação da Companhia das Índias holandesa. Exemplo: quem é que
vende as especiarias, é o diretor da companhia ou é a companhia em si?
O nosso CC esquece a dimensão institucional das sociedades, apenas se foca no aspeto
contratual.

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Estatutos:
Para além da dimensão contratual e institucional, a SC também tem uma dupla dimensão dentro da
dimensão contratual: o pacto institutivo e os estatutos ou pacto social, que regula o funcionamento
da sociedade-entidade ao longo do tempo. Há estipulações negociais que não se esgotam no
momento da constituição, mas que cujos efeitos se prolongam ao longo do tempo (regras sobre
deliberação, por exemplo). Os estatutos, ao contrário do contrato fundador (pacta sunt servanda),
podem ser modificados ao longo do tempo, por maioria, de modo a adequar a empresa às mudanças.
A regra é a maioria.

Tipos de Sociedades:
Temos: sociedades civis; sociedades em nome coletivo; sociedades por quotas; sociedades
anónimas; e sociedades em comandita simples e por ações.
As duas primeiras e as em comandita não têm muita relevância sociológica. As sociedades por
quotas e anónimas sim.
Temos SA abertas e fechadas. O primeiro subtido são aquelas que têm as suas ações distribuídas
pelo públicas, podendo até estar cotadas em bolsa de valores. O segundo subtipo é aquele que não
tem as ações na disponibilidade do público. No primeiro subtipo, temos mais normas injuntivas,
para proteger o público; no segundo subtipo, não temos tantas normas injuntivas. As regras de
proteção do público estão no CSC e no CVM.
O paradigma das SA é serem abertas: a companhia das índias tinha as suas quotas abertas ao
público. O regime comum foi feito a pensar neste paradigma, pelo que é mais injuntivo do que
deveria para as SA fechadas.

Ainda há SA com subtipos especiais em função do objeto – SA desportivas, SA gestoras de fundos


de investimento, etc.

Sociedade Civil Vs. Sociedade Comercial:


Os critérios de distinção são os mesmos da distinção entre o direito civil e o direito comercial. O
direito civil é o direito privado comum – quando não é possível aplicar um ramo especial do direito
privado, aplicamos o direito civil. Assim, temos de ter critérios de aplicação dos direitos especiais.
Quais são os requisitos para a aplicação do direito comercial?
Critérios subjetivos e objetivos. Os primeiros enfocam no conceito jurídico de comerciante; os
segundos enfocam no conceito jurídico de ato de comércio.
 Em Portugal, temos um critério objetivo (art. 2.º do C. Comercial), mas também
temos um elemento de subjetividade (há uma norma do C. Comercial que diz que se
aplica este código quando num contrato uma das partes é um comerciante).

 Conceito de Ato de Comércio Objetivo: consta do art. 2.º do C. Comercial. Diz que atos
de comércio são os que estão regulados no C. Comercial – contrato de compra para
revenda, contrato de seguros, entre outros. No diploma preambular de 1886 que aprovou
o código, dizia o art. 4.º que se fosse revogado o regime daquele código, não deixavam de
ser atos de comércio aqueles que fossem regulados em legislação avulsa, mas constassem
originalmente daquele código.

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 A ideia de atos comerciais e de comerciante surgem com o desenvolvimento do
comércio, e com a distinção dessa atividade de outras. Assim, inicialmente, era ato
comercial tudo o que não fosse agricultura e pecuária. Com o século XIX e a revolução
industrial, começou a haver uma confusão prática entre o papel do comerciante e do
industrial, atualmente, do empresário. Assim, numa perspetiva moderna, o que faz
sentido é falar em empresários e em empresas, e abandonar a terminologia comércio e
comerciante, de forma a abarcar as modernas empresas agrícolas e pecuárias que, no
passado, se distinguiam dos comerciantes.

Quais são os critérios materiais para a definição de ato de comércio?


 i) Finalidade Lucrativa: as empresas estão no mercado das trocas, não por
filantropia, mas para poder ganhar dinheiro com aquela atividade.
 ii) Interposição das Trocas: as empresas estão ali para comprar e vender. As
empresas produzem os bens, os produtos, especificamente para vender esse bens a
terceiros e ganharem dinheiro com isso. Há empresas que têm um papel intermédio, de
revenda.
 iii) Organização/Profissionalismo: para fazer as coisas já descritas, as empresas
precisam de uma organização que permita ter uma cadeia de produção e de venda
consistente e profissional.

(Algumas considerações históricas sobre as origens do direito comercial. A saber: na


Idade Média, não se aplicava o direito legislado, mas antes o que se conhecia do direito
romano. Este direito era arcaico, e por isso os comerciantes das cidades-estado italianas
e da Flandres sentiram necessidade de criar regras próprias, separadas do Direito
Romano, que lhes permitissem ter mais dinamismo comercial. Eram regras mais
flexíveis).
 Foram aqueles três critérios essenciais que estiveram na base do pensamento do
legislador português de 1886.
 Quais são os artigos ainda em vigor do C. Comercial? Temos uma regra que diz que,
quando temos mais de um devedor, existe solidariedade entre eles. Temos também uma
regra sobre benefício da escução prévia (não apanhei a 100%).

 Art. 1.º, n.º 2, do CSC tem dois critérios cumulativos: critério da prática dos atos de
comércio; e critério formal de adoção de um formato de sociedade comercial num dos
seus diferentes tipos. Assim, e do ponto de vista teórico, se tivermos uma sociedade que
se dedica apenas à atividade agropecuária, não aplicamos o CSC. Na prática, ver o art.
1.º, n.º 3, do CSC.
Definição de Contrato de Sociedade:
Pertence à categoria de contratos de cooperação (Prof. Ferreira de Almeida).
Os contratos de cooperação são caracterizados pela existência de um fim comum. Nos contratos de
troca temos interesses contrapostos; aqui temos interesses comuns, ou melhor, temos um fim
comum. Haver esta ideia de fim comum fez com que existissem teorias de que, na realidade, não
existiam contratos de cooperação, mas atos coletivos. Essas teorias foram ultrapassadas, na medida
em que se adota o critério de saber se temos ou não pluralidade de partes (diferença entre negócio
jurídico unilateral e contrato).
O contrato de sociedade civil está no art. 980.º do CC. Não vale para todos os tipos de sociedades,
pelo que temos sempre de olhar para o CSC.

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Aula 16/09

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