Humanismo e Gil Vicente

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 58

HUMANISMO

O homem na busca de si.

Profª Míriam Zelmikaitis


HUMANISMO
Crise no Sistema Feudal

• Peste Negra: 1/3 da população foi eliminada.

• Guerra dos Cem Anos: Inglaterra e França (1346-1450).

• Igreja: Crises: 2 papas (um em Roma e outro em


Avignon).

• Novo tipo de riqueza: a terra deixa de ser a medida de


riqueza; expansão do comércio.
HUMANISMO
Fatos Histórico

• 1305/78 - Transferência do papado de


Roma para Avignon.
• 1321 – Morte de Dante Alighieri;
• 1337 – Morte do artista italiano Giotto;
• 1337-1453 – Guerra dos 100 anos;
• 1347-1350 – Peste Negra;
• 1350 – Boccaccio escreve Decamerão,
livro de contos, ponto alto da prosa
europeia;
• 1431 – Joana D’Arc foi queimada;
• 1450 – Gutenberg inventa a imprensa.
Adoração dos magos, de Giotto
Entrada em Jerusalém, de Giotto
O efeitos de um bom governo, de Ambrogio Lorenzetti
O efeitos de um mau governo, de Ambrogio Lorenzetti
Alegoria do mau governo, de Ambrogio Lorenzetti
HUMANISMO
Marcos Históricos
em Portugal

1418 1527
Fernão Lopes Sá de Miranda
É nomeado guarda-mor Volta da Itália,
da Torro do Tombo trazendo novas formas
literárias
HUMANISMO

O HUMANISMO foi o segundo


momento da literatura mundial

Podemos destacar sobre o


humanismo que a visão
teocêntrica (Deus no centro do
pensamento humano) começa a ficar
antropocêntrica (o homem no centro
do pensamento humano)
HUMANISMO

Basicamente, o humanismo é uma


visão de mundo que se concentra
nas ações humanas e seus valores
morais, colocando assim o homem
como o senhor de suas próprias
ações.
HUMANISMO

• O que é?
Período de transição da
Idade Média para o
Renascimento

• Principal Característica
Antropocentrismo

• Outras designações
Pré-renascimento,
quatrocentismo
HUMANISMO
Ideias Humanistas

• Mudanças na cultura e nas sociedades


Europeias.
• Novo interesse pelos textos da
Antiguidade Clássica.
• O Humanismo influenciou tanto a arte
como a mentalidade, maneira de ver o
Mundo.
• Introduziu uma dinâmica
completamente diferente ao ser
Humano.
• Grande passo para a evolução da
mente.
HUMANISMO
Ideias Humanistas

ANTROPOCENTRISMO TEOLOGISMO

• Homem continua a ser criação de


Deus;
• Tem livre arbítrio, poder sobre o seu
destino;
• Homem tem valor como indivíduo;
• Submissão sensorial ao racional.
• De uma postura religiosa e mística
passa gradativamente a uma posição
racionalista.
HUMANISMO
Transição de Mudança da Visão de Mundo

TEOCENTRISMO MEDIEVAL ANTROPOCENTRISMO


RENASCENTISTA
Deus é o centro e a medida de O homem é a medida de todas
todas as coisas as coisas
Geocentrismo Heliocentrismo
Conhecimento restrito à Igreja Produção e difusão do
conhecimento
Valorização dos santos e Caráter clássico
mártires
Consciência da transitoriedade Volta aos padrões culturais
da vida greco-romanas
Busca da salvação da alma Celebração do prazer de viver:
Carpe Diem
A Divina Comédia - Dante Alighieri
(1265 – 1321)
• Poema épico escrito entre 1307 e 1321;
• Narra a viagem de Dante aos três destinos reservados à alma
humana segundo o imaginário católico: inferno, purgatório e
paraíso;
• Em sua jornada pelo inferno e pelo purgatório, Dante é guiado por
Virgílio (70 a.C. – 19 a.C.), poeta romano, autor da Eneida, poema
épico que narra a formação da nação italiana. É considerado um
dos maiores poetas latinos;
• No paraíso – onde Virgílio não podia entrar, já que não havia sido
batizado – Dante é recebido por sua amada Beatriz;
• Segundo alguns estudiosos, Beatriz representa, na obra, a fé,
enquanto Virgílio representa a razão;
• São justamente a fé e a razão os dois polos em que se debate,
filosoficamente, o homem do humanismo.
HUMANISMO
Manifestações culturais em Portugal

POESIA PROSA TEATRO

Poesia Palaciana Crônica Histórica Autos e Farsas


ERA MEDIEVAL
1ª época - SÉC.XII a XIV 2ª época - SÉC.XV a XVI
TROVADORISMO – 1198- 1418 HUMANISMO – 1418-1527
Poesia Lírica cantiga de amigo Poesia Palaciana
cantigas de amor O Cancioneiro Geral, de
Garcia Rezende
Satírica cantiga de escárnio
cantiga de maldizer

Poesia música e dança = cantiga Poesia Lida ou Declamada

Prosa Novelas de Cavalaria Crônicas de Fernão Lopes


Hagiografias
Nobiliários
Teatro Mistérios e Milagres / Gil Vicente
Moralidades
Peças simples de cunho religioso
e satírico.
HUMANISMO - Prosa - Crônica Histórica
FERNÃO LOPES
(1378? – 1459)
HUMANISMO - Crônica Histórica
• Conhecido como o “Pai da historiografia FERNÃO LOPES
portuguesa”, foi nomeado guarda-mor
da Torre do Tombo em 1418, lugar onde
se achavam os principais documentos de
Portugal.
• Incubido de escrever relatos sobre os
acontecimentos de diversos períodos
históricos (crônicas), foi o pioneiro a
consultar várias versões do mesmo fato.
• Não se limitava a tecer elogios a reis, fez
descrições detalhadas não só da corte,
mas também das aldeias, festas
populares, e o papel do povo nas
guerras e rebeliões.
HUMANISMO - Crônica Histórica

• É reconhecido como historiador de FERNÃO LOPES


inegável méritos e verdadeiro
narrador-artista, preocupado não
apenas com a verdade do conteúdo de
suas narrativas, mas também com a
beleza da forma.
• É reconhecido também pela sua
capacidade de observar e analisar
personagens históricas.
• Ordena os fatos cronologicamente,
buscando uma hierarquia explicativa
dos acontecimentos;
• Analisou com objetividade e justiça os
documentos históricos: foi cauteloso
em determinar a verdade histórica.
HUMANISMO - Crônica Histórica
FERNÃO LOPES
• Assumia uma posição de
distanciamento e isenção, visando
controlar o subjetivismo dos discursos
e assim chegar à” verdade nua”;
• Com estilo de expressão oral, foi um
legítimo representante do saber
popular, embora já no seu tempo
começava a surgir um novo saber:
erudito-acadêmico, clássico.
• Atribuiu ao povo um papel
importante, sendo até então essa
importância atribuída à nobreza
HUMANISMO - Prosa
Crônica de El-Rei D. Pedro
(fragmento)
HUMANISMO
Poesia Palaciana
HUMANISMO
Poesia Palaciana

• Predominava com o intuito de


entreter a nobreza ;
• Composições coletivas feitas para
serem apresentadas no Paço real;
• O Amor - tema recorrente, mas
menos idealizado: tratado de
forma mais sensual, sendo mais
intensa a idealização da mulher;
• Redondilhas: caráter popular
• Superiores à poesia trovadoresca;
HUMANISMO
Poesia Palaciana

• Diferente das cantigas do


Trovadorismo, as poesias
palacianas foram desligadas da
música = passou a serem feitas
para leitura/declamação;
• Limitação de tema, conteúdo e
visao de mundo - autores fidalgos,
realidade apenas palaciana:
festas, montarias, trajes,
banalidades, comportamentos
palacianos.
• Ocorre também a sátira.
HUMANISMO
Cancioneiro Geral
• Garcia Resende, poeta
frequentador da corte Portuguesa,
compilou o Cancioneiro Geral, a
fonte mais importante da poesia
portuguesa produzida no séc.XV.
• Publicado em 1516;
• Resende diz o Cancioneiro tinha a
pretensão de estimular e apurar o
gosto literário, para quem sabe,
mais tarde surgisse um poeta
maior. Esse poeta surgiu: Luis Vaz
de Camões!
HUMANISMO
Teatro
HUMANISMO
Teatro

• Inicialmente, na idade média, o


teatro estava fortemente
vinculado às cerimônias religiosas
católicas e as peças eram
realizadas no interior das igrejas.
• Representavam mistérios e
milagres e as moralidades;
• Com o tempo começou a tratar de
temas não religiosos ou profanos -
latim, pro (antes) fanum (templo)
= fora do templo.
• Formou-se a “classe teatral” – grupos ambulantes.
• Não havia local especiamente construído para os espetaculos teatrais. Só
no séc. XV começaram a surgir edíficios que hoje chamamos de teatro.
HUMANISMO
Teatro
• Peças representadas no Paço Real;
• Crítica aos comportamentos
condenáveis e enaltecimento das
virtudes;
• Alvo é o comportamento humano e
não as instituições;
• Uso de alegorias (personagens
representam
comportamento/instituição);
• Autos pastoris, autos de
moralidades e farsas (autos =temas
religiosos / farsa = temas profanos);
• Uso das redondilhas
HUMANISMO
Teatro

• O teatro foi a manifestação


literária onde se evidenciaram
mais fortemente as características
Humanistas;
• Destacou-se por ser popular para
todas as pessoas;
• Gil Vicente foi o nome que mais se
destacou; antes dele o teatro
praticamente não era conhecido
em Portugal.
HUMANISMO
Teatro – Gil Vicente

• Por falta de documentos sua vida


é um mistério, provavelmente
nasceu em 1465.
• No nascimento do filho de
D.Manuel e D. Maria de Castela
(1502) diante da corte declamou
um monólogo que tinha escrito =
entusiasmou a corte;
• Assim começou sua carreira de 30
anos.
• Última peça em 1536.
HUMANISMO
Teatro – Gil Vicente

• Visão extremamente crítica da


sociedade: critica a corrupção e vê na
religião católica o único caminho da
salvação.
• Vive numa época de crise dos valores
medievais.
• As ideias do Renascimento já
começam chegar a Portugal;
• Deslocado nesse novo ambiente,
preocupação com a edificação moral
do homem.
HUMANISMO
Teatro – Gil Vicente
CARACTERÍSTICAS
• LINGUAGEM COLOQUIAL
(adaptada à classe social de cada
personagem) – português arcaico;
• TEMÁTICA:
- Moralidade religiosa (AUTOS)
- Sátira dos costumes (FARSAS)
Apresenta um teor de crítica social,
que funciona como agente
moralizante, e um fundo religioso
(cristão, mas não dogmático) bem
característico do humanismo.
HUMANISMO
Teatro – Gil Vicente

CARACTERÍSTICAS
• PERSONAGENS: Típicas ou
Alegóricas - são tipos comuns
dentro das instituições que faziam
parte da sociedade portuguesa da
época;
• FORMA: Texto em versos
(redondilhos) - Escritos em verso,
com esquema de rimas (geralmente
redondilhas menores – 5 sílabas, ou
maiores – 7 sílabas poéticas) =
MESMO PADRÃO DAS CANTIGAS.
HUMANISMO
Teatro – Gil Vicente
CARACTERÍSTICAS
• ESTRUTURA:
Peças de ação fragmentária
descontínua, sem seguir as
unidades de teatro clássico (ação,
tempo e espaço)
• TEATRO CRÍTICO MORALIZANTE:
Critica e denuncia os vícios e erros
de todas as camadas sociais de sua
época, defendendo as regras e
comportamentos maniqueístas da
religiosidade medieval.
HUMANISMO
Teatro – Gil Vicente

Assim:
• Censura a hipocrisia dos religiosos,
• Denuncia os exploradores do povo
(juízes, sapateiros...)
• Aponta imoralidades das
alcoviteiras;
• Satiriza os velhos sensuais
• Ridiculariza os supersticiosos e
charlatões.
Gil Vicente na corte de D. Manuel
Auto da Barca do Inferno
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
CARACTERÍSTICAS
• Peça mais importante de Gil
Vicente, pertencente à trilogia das
Barcas (da Glória, do Purgatório e
do Inferno).
• Demonstra o maniqueísmo cristão,
dividindo o mundo entre o Bem e o
Mal, com consequentes Céu e
Inferno.
• É um auto de moralidade.
• Alegoria simples e simbólica.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
CARACTERÍSTICAS
• A história é simples: os
personagens que chegam vão
sendo conduzidos pelos barqueiros
(diabo e anjo) para as respectivas
barcas, que levam,
respectivamente, ao Inferno e ao
Céu.
• As falas são marcadas por muita
ironia, principalmente pelo diabo,
que é o personagem que mais se
destaca no auto.
• É uma peça de religiosidade
alegórica
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
CARACTERÍSTICAS
• Crítica social marcada pela sátira
impiedosa;
• O Barqueiro condutor das almas
remonta à mitologia grega:
Caronte – leva as almas ao mundo
subterrâneo.
• Introduzido a Barca do Paraíso =
oposição céu/inferno.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Diabo:
tem um ajudante, é liberal, recebe
todos com humor e simpatia (ainda
que falsa), argumenta muito, ouve,
pondera o que as pessoas têm a
dizer antes de condená-las. É um
ótimo anfitrião.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Anjo:
argumenta pouco, é calado, frio,
discreto e autoritário.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados:
O fidalgo arrogante – aristocratas
• Um empregado traz a cadeira, para o conforto do patrão.
• Caracterizado pela presunção, pela tirania, pelo abuso de poder.
• Reconhece o erro e aceita a condenação.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados
Onzeneiro - empresta dinheiro a juros;
• (agiota) = traz bolsa vazia (não conseguiu levar
nada),
• Caracterizado pela usura (ganância).
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados
Sapateiro- comerciantes que roubam;
• traz as fôrmas (com as quais roubava os
clientes).
• Caracteriza-se pelo apego aos bens materiais.
• Ia à Igreja e, por isso, pretende salvar-se
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados
Frade, com a amante -parte do clero corrupta;
• traz a namorada (Florença), o escudo, a espada
e o capacete (símbolos da vida de prazeres).
• Não seria condenado se não fosse padre (crítica
à vocação desencontrada).
• Expressa a dicotomia entre os prazeres e a
penitência.
• Argumenta, para tentar salvar-se, que é padre e
que ninguém o avisou de que não podia ter
namorada.
• Demonstra o rigor moral do autor.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados
Judeu - acusado de ter matado Jesus
• traz, nas costas, um bode (símbolo
do judaísmo) que não larga, apesar
do anjo colocar, como condição para
o embarque, que o bode fique.
• Não podendo embarcar para o céu,
tenta embarcar na barca do inferno,
mas o Diabo não permite.
• É um tipo social.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados
Alcoviteira - mulher que prostituia moças;
• Traz 600 virgos (virgindades defloradas),
o Diabo a deseja, pela sua repugnância,
chama-a de Senhora (como nas
Cantigas).
• É acusada de feitiçaria e tenta salvar-se
dizendo que ajudou a Igreja.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados
• Corregedor e Procurador - Corrupção da Justiça;
Corregedor (juiz) = traz autos, fala em latim, representa a corrupção.
Procurador (advogado) = traz livros, participa dos “esquemas” do corregedor.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Condenados
Enforcado - se julgava salvo pela forma de
sua morte
• traz, ainda no pescoço, a corda com que
foi enforcado.
• Ladrão tolo, que rouba sem vantagens,
iludido pelo tesoureiro da casa da
moeda.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Salvos
Os 4 Cavaleiros – lutaram em defesa da fé
cristã
• cantam hinos, não trazem armas.
• São mártires cristãos. Ignoram o Diabo
e são acolhidos pelo Anjo.
HUMANISMO
Auto da Barca do Inferno
Os Salvos
O Parvo (bobo) – camponês idiota e
explorado, salvo por sua falta de
malícia;
• Veste a roupa típica de sua classe.
• Caracteriza-se pela inocência.
• Seu erro não foi consciente.
• Fica perto do anjo, como
observador, e passa a ajudá-lo nos
julgamentos

Você também pode gostar