Flávio Josefo – Wikipédia, a enciclopédia livre (2)

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Flávio Josefo

Um historiador
Flávio Josefo

Busto romano tido como de Flávio Josefo


Nome completo Yosef ben Mattityahu
(‫)יוסף בן מתתיהו‬
Nascimento 37 (ou 38 d.C.)
Morte 100 (63 anos) d.C.

Flávio Josefo, ou apenas Josefo (em


latim: Flavius Josephus; 37 ou 38[1] — ca.
100[2]), também conhecido pelo seu
nome hebraico Yosef ben Mattityahu
(‫יוסף בן מתתיהו‬, "José, filho de Matias
[Matias é variante de Mateus]") e, após
se tornar um cidadão romano, como Tito
Flávio Josefo (latim: Titus Flavius
Josephus),[3] foi um historiador e
apologista judaico-romano, descendente
de uma linhagem de importantes
sacerdotes e reis, que registrou in loco a
destruição de Jerusalém, em 70 d.C.,
pelas tropas do imperador romano
Vespasiano, comandadas por seu filho
Tito, futuro imperador. As obras de
Josefo fornecem um importante
panorama do judaísmo no século I.

Suas duas obras mais importantes são A


Guerra dos Judeus (c. 75) e Antiguidades
Judaicas (c. 94).[4] O primeiro é fonte
primária para o estudo da revolta judaica
contra Roma (66-70[5]), enquanto o
segundo conta a história do mundo sob
uma perspectiva judaica. Estas obras
fornecem informações valiosas sobre a
sociedade judaica da época, bem como
sobre o período que viu a separação
definitiva do cristianismo do judaísmo e
as origens da dinastia flaviana, que
reinou de 69 a 96.[4]

Biografia
As informações de que dispomos sobre
a sua vida provêm principalmente de sua
autobiografia (Vida de Flávio Josefo).
Josefo, que se apresentou em grego
como Iósepos (Ιώσηπος), filho de Matias,
sacerdote judaico[6], teria nascido em
Jerusalém numa família de cohanim
(sacerdotes), onde teria recebido uma
educação sólida na Torá. Sua mãe
descendia da família real dos Asmoneus.
Aos treze anos de idade, iniciou seu
aprendizado sobre três das quatro seitas
judaicas: saduceus, fariseus e essênios
optando aos dezenove anos de idade por
aderir ao farisaísmo. Em sua obra,
Josefo atribui aos zelotas, a quarta seita,
a responsabilidade por ter incitado a
revolta contra os romanos, que conduziu
à destruição de Jerusalém e do Templo.
Em 64, contando com vinte e seis anos
de idade, seguiu numa embaixada a
Roma onde obteve, por intermédio de
Popeia Sabina, esposa do imperador
Nero, a libertação de alguns sacerdotes
hebreus condenados pelo governador da
Judeia, Marco Antônio Félix. Ao
regressar à Judeia, Jerusalém
encontrava-se à beira da revolta. Josefo
procurou dissuadir os líderes mas seus
esforços foram inúteis, tendo os
revoltosos tomado a Fortaleza Antônia
(66). Josefo, com receio de ser acusado
de partidário dos romanos, refugiou-se
no Templo. Entretanto, após a morte de
Manaém e dos principais líderes da
revolta, uniu-se aos sacerdotes do
Sinédrio (Sanhedrin) que, naquele
momento, aguardavam a chegada das
tropas de Cássio para sufocar a revolta,
o que não se concretizou pela derrota
destas.

O Sinédrio o enviou à Galileia. À sua


chegada, relatou a Jerusalém que os
galileus estavam prestes a marchar
sobre Séforis, cidade leal a Roma. O
Sinédrio então o designou governador
militar da província, que fez fortificar.
Defrontou-se com a oposição dos
extremistas liderados por João de
Giscala, que o acusavam de tender à
contemporização.
Galileia, governada brevemente por Josefo.

Enfrentou as forças de Plácido, enviadas


por Géstio Galo para a região. Em 67, as
tropas de Vespasiano tomaram Jotapata,
e Josefo, com quarenta homens,
escondeu-se em uma cisterna. Com a
descoberta do esconderijo, foi-lhes
proposto que se rendessem em troca
das próprias vidas. Josefo teria sugerido
então um método de suicídio coletivo:
tirariam a sorte e matar-se-iam uns aos
outros, de três em três pessoas;
restaram apenas Josefo e mais um
homem. Há quem veja o ocorrido como
um problema matemático, por vezes
designado como problema de Josefo ou
Roleta Romana[7]). Josefo convenceu
este seu soldado a se entregar às forças
romanas que invadiram a Galileia, em
julho de 67, tornando-se prisioneiro de
guerra. As tropas romanas do imperador
romano, (Flávio) Vespasiano, eram
comandadas por seu filho, Tito, ele
próprio futuro imperador. Em 69, Josefo
foi libertado[8] e, de acordo com seu
próprio relato, teria tido um papel de
relevo como negociador com as tropas
de resistência durante o cerco de
Jerusalém, em 70 após a queda de
Jerusalém, foi bem aceito, assumindo o
nome romano de seu protetor Flávio
Vespasiano, e recebido a cidadania
romana. Passou também a receber uma
generosa pensão. Além disso, tratou de
aumentar suas rendas, obtendo
permissão de Vespasiano para, através
de seus agentes, adquirir, a preço vil,
terras na Judeia, confiscadas dos
envolvidos na revolta[9]. As honrarias
prosseguiram sob o reinado de Tito e de
Domiciano.
Em 71, Josefo chegou a Roma com a
comitiva de Tito; cidadão romano,
passou a ser um cliente da dinastia
dominante, os flavianos. Durante sua
estada em Roma, e sob patronagem
flaviana, escreveu todas as suas obras
conhecidas. Embora Josefo só se refira a
si próprio por este nome, parece ter
adotado o prenome Tito (Titus) e o nome
Flávio (Flavius) de seus patrões[10]. Esta
prática era costumeira para todos os
'novos' cidadãos romanos.

A primeira esposa de Josefo morreu,


juntamente com seus pais, durante o
cerco de Jerusalém. Vespasiano
arranjou-lhe um casamento com uma
mulher judaica que também fôra
capturada. Esta mulher o abandonou e,
por volta de 70, casou-se com uma judia
de Alexandria, com quem teve três filhos.
Apenas um, Flávio Hircano (Flavius
Hyrcanus), sobreviveu além da infância.
Josefo se divorciou posteriormente
desta sua terceira esposa e, no ano 75,
se casou pela quarta vez, com uma judia
de uma família distinta de Creta. Este
último casamento produziu dois filhos,
Flávio Justo (Flavius Justus) e Flávio
Simônides Agripa (Flavius Simonides
Agrippa).
Imagem romantizada de Flávio Josefo, na tradução
de suas obras por William Whiston.

A vida de Josefo é recheada de


ambiguidades; para seus críticos, ele
nunca explicou satisfatoriamente seus
atos durante a Guerra Judaica — como
por que ele não teria cometido suicídio
na Galileia, com seus companheiros, e
por que, depois de sua captura, aceitou a
patronagem dos romanos[11]. Seus
críticos, no entanto, ignoram o fato de
que Simão bar Giora e João de Giscala,
ambos zelotas extremistas e grandes
oponentes de Josefo que permaneceram
em Jerusalém e lideraram os combates
contra os romanos em sua última etapa,
preferiram — num momento de
honestidade — a vida ao suicídio, e
humildememente se renderam aos
romanos. Aqueles que viram Josefo
como um traidor e informante também
questionaram sua credibilidade como
historiador — desprezando suas obras
como propaganda romana ou uma
apologética pessoal, destinada a
reabilitar sua reputação histórica. Mais
recentemente, críticos vêm reavaliando
as visões pré-concebidas de Josefo. Um
argumento importante é a comparação
entre os danos causados por seus atos e
aqueles dos idealistas que reprovaram
seu comportamento; enquanto Josefo
teria sido responsável pelo suicídio de
alguns soldados, pela humilhação
temporária de um exército enfraquecido
e pelo transtorno de uma esposa, os
bons, leais, idealistas e corajosos,
devotos e patrióticos líderes de
Jerusalém tinham sacrificados dezenas
de milhares de vidas à causa da
liberdade; Tito e Vespasiano sacrificaram
dezenas de milhares mais à causa da
ordem civil, e até mesmo Agripa II, o rei
da Judéia, cliente romano, que fez tudo o
que podia para evitar a guerra, acabou
supervisionando a destruição de meia
dúzia de cidades e a venda de seus
habitantes como escravos[12].

Josefo foi sem dúvida alguma um


importante apologista, no mundo
romano, para a cultura e o povo judaico,
particularmente numa época de conflito
e tensão. Sempre permaneceu, pelo
menos em seus próprios olhos, um judeu
leal e cumpridor das leis. Fez tudo o que
podia para indicar o judaísmo aos gentis
letrados, e para insistir sobre sua
compatibilidade com o pensamento
aculturado greco-romano.
Constantemente se manifestou a
respeito da antiguidade da cultura
judaica, apresentando seu povo como
civilizado, devoto e filosófico. Eusébio
relata que uma estátua de Josefo teria
sido erguida em Roma.[13]

Obra
Escreveu um relato da Grande Revolta
Judaica, dirigida à comunidade judaica
da Mesopotâmia, em língua aramaica.
Escreveu, depois, em grego, outra obra
de cariz histórico que abarcava o período
que vai dos Macabeus até à queda de
Jerusalém. Este livro, A Guerra dos
Judeus, foi publicado em 79. A maior
parte do livro é diretamente inspirada na
sua própria vida e experiência militar e
administrativa.
As Antiguidades Judaicas (escritas
cerca de 94 em grego) é a história dos
Judeus desde a criação do Génesis até à
irrupção da guerra da década de 60.
Acrescentou, no final, um apêndice
autobiográfico onde defendeu a sua
posição colaboracionista em relação aos
invasores romanos. O seu relato, ainda
que com um paralelismo evidente em
relação ao Antigo Testamento, não é
idêntico ao das escrituras sagradas. Há
quem defenda que estas diferenças se
devam à possibilidade de Josefo ter tido
acesso a documentos antigos (que
remontariam até à época de Neemias)
que teriam sobrevivido à destruição do
templo. A maior parte dos académicos
não dá crédito a tal suposição. Neste
livro encontra-se o famoso Testimonium
Flavianum, uma das referências mais
antigas a Jesus, mas considerada por
alguns estudiosos uma interpolação
fraudulenta posterior[14][15].

Contra Apião é outra obra importante


deste autor, onde o judaísmo é defendido
como religião e filosofia realmente
clássica, em contraponto às tradições
mais recentes dos gregos. O livro serve
para expor e refutar algumas alegações
antissemíticas de Apião, bem como
mitos antigos, como os de Manetão.

Sua última obra, foi uma autobiografia


(Vida de Flávio Josefo), que nos revela o
nome do adversário (Justo de
Tiberíades, filho de Pistos), ao qual essa
obra vem responder e as censuras que
lhe faz Josefo. Essa obra é cheia de
lacunas, confusa e hipertrofiada. E ela
traz sobre a vida de Josefo informações
preciosas, que não encontramos em
nenhum outro historiador da antiguidade.

Segundo Alberto Manguel [16], por volta


de 1830, a obra de Flavio Josefo foi uma
das mais usadas para leitura em voz alta
nas famílias escocesas. Algumas
décadas mais tarde, Guerra Judaica é
indicada como uma das obras mais lidas
na Inglaterra.[17] [18]
Referências
1. Nas suas 2. Feldman,
próprias Louis H. e
palavras: "… Mason, Steve
eu tenho o (1999).
meu Flavius
nascimento Josephus.
no primeiro [S.l.]: Brill
ano do Academic
reinado do Publishers
imperador 3. Josefo se
Caio César." referia a si
(Josefo, mesmo nas
Flávio. suas obras
Autobiografia em grego
) como
Jōsēpos nestes
Matthiou idiomas.
pais ("José, 4. Harris,
filho de Stephen L.,
Matias"). Understandin
Embora ele g the Bible,
também (Palo Alto:
falasse Mayfield,
aramaico e 1985).
provavelment
5. Algumas
e o hebraico,
fortificações
não existem
dos rebeldes
fontes da
zelotas
época que
resistiram
registraram
mais algum
seu nome
tempo, como
Macheron, consultado
Heródio e, em 8 de
por último, novembro de
Massada 2008, cópia
(73) (Josefo, arquivada em
Flávio. |arquivou
Guerra dos rl= requer
Judeus.) |arquivod
6. Guerra dos ata=
Judeus I.3 (ajuda) 🔗 .
7. Roman 8. Guerra dos
Roulette Judeus IV.
[Roleta 622-629
romana] (em 9. Hadas-Lebel,
inglês), ES: Mirelli. Flávio
UVA, Josefo, o
judeu de Josefo,
Roma. Rio de tradução
Janeiro. para o inglês
Editora de G.A.
Imago, 1992 Williamson,
10. Orígenes, Nova York,
teólogo Penguin,
cristão do 1981, p. 24
século III 12. O'Rourke
(Comm. 104.
Matt. 10.17). 13. História
11. Smallwood, Eclesiástica
E. Mary. (Eusébio)
Introdução à 3.9.2
Guerra 14. Kautsky,
Judaica, de KARL A
origem do S.Paulo: Cia
cristianismo, das Letras,
1908, p. 42 1997, p.142-
15. Schürer, EMIL 143.
Geschichte 17. Louis
des Finkelstein.
Jüdischen The Jews:
Volkes im Their History,
Zeitalter Culture and
Jesu Christi, Religion. N.
vol.I, 3ª ed., Yorque:
1901, p544 Harper &
16. Alberto Brothers
Manguel. Publishers,
Uma história 1949, p. 754.
da leitura,
18. Cf ROCHA, Flávio
Ivan E. A vida Josefo. São
quotidiana na Paulo:
Palestina do Annablume,
século I na 2014, p. 36.
visão de

Ligações externas
Projeto Gutenberg - Catálogo de Flávio
Josefo (em inglês)
Wikisource Contra Ápio
Obras de Flávio Josefo (em inglês) na
Christian Classics Ethereal Library
Flávio Josefo: Traidor ou Traído? (em
português) Revista Morashá
ben Mattathias, Yosef (1737). As obras
de Flávio Josefo (em inglês).
traduzido por William Whiston (1667-
1752). [S.l.: s.n.]
Josephus, Flavius (1828). The genuine
works of Flavius Josephus / translated
by William Whiston (em inglês). Smith,
William D., b. ca. 1800; Prud'homme,
John Francis Eugene, 1800-1892;
Susan B. Anthony Collection (Library of
Congress) DLC. [S.l.]: Bridgeport,
[Conn.] : M. Sherman.
LCCN 03013527 . OCLC 3249523 .
OL 6928086M
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