Apostila de Geo-História

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Matéria: GEO-HISTÓRIA DO ESTADO DE GOIÁS

Professor: Carlos D´Boa

1.0- FORMAÇÃO ECONÔMICA DE GOIÁS:


A MINERAÇÃO NO SÉCULO XVIII, A AGROPECUÁRIA NOS SÉCULOS XIX E XX, A
ESTRADA DE FERRO E A MODERNIZAÇÃO DA ECONOMIA GOIANA, AS
TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS COM A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA E
BRASÍLIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA E PLANEJAMENTO.

A ECONOMIA DO OURO NO BRASIL


O elemento que legitimava as ações de controle político e econômico da metrópole
sobre a colônia era o Pacto Colonial, este tornava a segunda uma extensão da primeira e por
isso nela vigoravam todos os mandos e desmandos do soberano, inclusive havia grande
esforço da metrópole no sentido de reprimir a dedicação a outras atividades que não fossem a
extração aurífera, tais como agricultura e pecuária, que inicialmente existiam estritamente para
a subsistência. A explicação para tal intransigência era simples: aumentar a arrecadação pela
elevação da extração. A metrópole Portuguesa em contrapartida cabia apenas o bônus de
receber os tributos respaldados pelo pacto colonial e direcionar uma parte para manutenção dos
luxos da coroa e do clero e outra, uma boa parte desse numerário, era canalizada para a
Inglaterra com quem a metrópole mantinha alguns tratados comerciais que serviam apenas
para canalizar o ouro para o sistema financeiro inglês. Um dos fatores que contribuiu para o
sucesso da empresa mineradora foi sem nenhuma sombra de dúvidas o trabalho compulsório
dos escravos indígenas e africanos, expostos a condições de degradação, tais como: grande
período de exposição ao sol, manutenção do corpo por longas horas mergulhado parcialmente
em água e em posições inadequadas. Além disso, ainda eram submetidos a violências diversas,
que os mutilavam fisicamente e psicologicamente de forma irremediável. Sob essas condições
em média os escravos tinham uma sobrevida de oito anos. A partir do ano de 1725 o território
goiano inicia sua produção aurífera. Os primeiros anos são repletos de achados. Vários arraiais
vão se formando onde ocorrem as novas descobertas, o ouro extraído das datas era fundido na
Capitania de São Paulo. Os primeiros arraiais vão se formando aos arredores do rio vermelho,
Anta, Barra, Ferreiro, Ouro Fino e Santa Rita que contribuíram para a atração da população.
À medida que vão surgindo novos descobertos os arraiais vão se multiplicando por todo o
território. Toda essa expansão demográfica serviu para disseminar focos de população em
várias partes do território e, dessa forma, estruturar economicamente e administrativamente
várias localidades, mesmo que sobre o domínio da metrópole Portuguesa, onde toda produção
que não sofria o descaminho era taxada.
Apesar de todo o empenho que era direcionado para a contenção do contrabando, como
a implantação de casas de fundição, isolamento de minas, proibição de utilização de caminhos
não oficiais, revistas rigorosas, e aplicação de castigos penosos aos que fossem pegos
praticando; o contrabando se fazia presente, primeiro devido à insatisfação do povo em relação
a grande parte do seu trabalho, que era destinada ao governo, e, em segundo, em razão da
incapacidade de controle efetivo de uma região enorme.

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A DECADÊNCIA DA MINERAÇÃO
A diminuição da produtividade das minas é a característica marcante do início da
decadência do sistema, esse fenômeno passa a ocorrer já nos primeiros anos após a
descoberta. Com a exaustão das minas superficiais e o fim dos novos descobertos, fatores
dinâmicos da manutenção do processo expansionista da mineração aurífera, a economia entra
em estagnação, o declínio da população ocasionado pelo fim da imigração reflete
claramente a desaceleração de vários setores como o comércio responsável pela manutenção
da oferta de gêneros oriundos das importações.
A agropecuária que, embora sempre orientada para a subsistência, fornecia alguns
elementos e o próprio setor público sofria com a queda da arrecadação. Após verificar o
inevitável esgotamento do sistema econômico baseado na extração do ouro a partir do segundo
quartel do século XVIII, o governo Português implanta algumas medidas visando reerguer a
economia no território, dentre elas o incentivo à agricultura e à manufatura, e a navegação dos
rios Araguaia, Tocantins, e Paranaíba, que se fizeram indiferentes ao desenvolvimento do
sistema. Ocorre então a falência do sistema e o estabelecimento de uma economia de
subsistência, com ruralização da população e o consequente empobrecimento cultural.

AGROPECUÁRIA NOS SÉCULOS XIX E XX


A característica básica do século XIX foi a transição da economia extrativa mineral para
a agropecuária, os esforços continuados do império em estabelecer tal economia acabaram se
esbarrando, nas restrições legais que foram impostas inicialmente, como forma de coibir tais
atividades, a exemplo da taxação que recaía sobre os agricultores, e também em outros fatores
de ordem econômica, como a inexistência de um sistema de escoamento adequado, o
que inviabilizava as exportações pelo alto custo gerado, e cultural, onde predominava o
preconceito contra as atividades agropastoris, já que a profissão de minerador gerava
status social na época.
Desse modo a agricultura permaneceu orientada basicamente para a subsistência em
conjunto com as trocas intra regionais, já a pecuária se potencializou devido à capacidade do
gado em se mover até o destino e a existência de grandes pastagens naturais em certas
localidades, favorecendo a pecuária extensiva. Nesse sentido, os pecuaristas passam a atuar
de forma efetiva na exportação de gado fornecendo para a Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
e Pará. Goiás chegou ao século XX como um território de representatividade econômica. Nesse
século iria se concretizar a agropecuária no Estado, como consequência do processo de
expansão da fronteira agrícola para a região central do país. Nas primeiras décadas do século
em questão, o Estado permaneceu com baixíssima densidade demográfica, onde a maioria da
população se encontrava espalhada por áreas remotas do território, modificando-se apenas na
segunda metade do mesmo século. O deslocamento da fronteira agrícola para as regiões
centrais do país foi resultado da própria dinâmica do desenvolvimento de regiões como São
Paulo, Minas Gerais e o Sul do País, que ao adaptarem sua economia com os princípios
capitalistas realizaram uma inversão de papéis, onde regiões que eram consumidoras de
produtos de primeira necessidade passaram a produzir tais produtos e as regiões centrais,
antes produtoras desses produtos passaram a produzir os produtos industrializados que antes
eram importados.
O crescimento e a especialização da agropecuária em Goiás ocorreram a partir das
primeiras décadas do século XX graças ao avanço da fronteira agrícola do Sudeste. Outros
fatores que deram sustentação para tal expansão foi à implantação de uma infraestrutura de
transporte, as mudanças político institucionais após 1930 e a construção de duas
capitais (Goiânia e Brasília).

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2.0- ASPECTOS DA HISTÓRIA POLÍTICA DE GOIÁS: A INDEPENDÊNCIA EM GOIÁS,
O CORONELISMO NA REPÚBLICA VELHA, AS OLIGARQUIAS, A REVOLUÇÃO DE
1930, A ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA DE 1930 ATÉ OS DIAS ATUAIS.

Após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, durante os séculos XVI e XVII, o


território goiano começou a receber diversas expedições exploratórias. Vindas de São Paulo, as
Bandeiras tinham como objetivo a captura de índios para o uso como mão de obra escrava na
agricultura e minas. Outras expedições saíam do Pará, nas chamadas Descidas com vistas à
catequese e ao aldeamento dos índios da região. Ambas passavam pelo território, mas não
criavam vilas permanentes, nem mantinham uma população em número estável na região. A
ocupação, propriamente dita, só se tornou mais efetiva com a descoberta de ouro nessas
regiões. Na época, havia sido achado ouro em Minas Gerais, próximo a atual cidade de Ouro
Preto (1698), e em Mato Grosso, próximo a Cuiabá (1718). Como havia uma crença, vinda do
período renascentista, que o ouro era mais abundante quanto mais próximo ao Equador e no
sentido leste-oeste, a busca de ouro no “território dos Goyazes”, passou a ser foco de
expedições pela região. O ouro goiano era principalmente de aluvião (retirado na superfície
dos rios, pela peneiragem do cascalho), e se tornou escasso depois de 1770. Com o
enfraquecimento da extração, a região passou a viver principalmente da pequena agricultura de
subsistência e de alguma pecuária. Durante o período colonial, as divisas entre províncias
eram difíceis de serem definidas com exatidão, muitas vezes sendo definidas de forma a serem
coincidentes com os limites das paróquias ou através de deliberações políticas vindas do poder
central. No entanto, no decorrer do processo de consolidação do Estado de Goiás, o território
sofreu diversas divisões, com três perdas significativas no período colonial.
O território que hoje é o Estado de Goiás foi administrado pela Capitania de São Paulo.
Seu poder não era tão extenso, ficando distante das populações e, também, dos rendimentos. A
medida que se achava ouro pelas terras do sertão brasileiro, o governo português buscava
aproximar-se da região produtora. Isso aconteceu em Goiás depois da descoberta de ouro no
século XVIII. Como uma forma de controlar melhor a produção de ouro, evitando o contrabando,
responder mais rapidamente aos ataques de índios da região e controlar revoltas entre os
mineradores, foi criado através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São
Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1749, pela chegada do primeiro governador a Vila
Boa de Goyaz, Dom Marcos de Noronha.
A partir de 1780, com o esgotamento das jazidas auríferas, a Capitania de Goiás iniciou
um processo de ruralização e regressão a uma economia de subsistência, gerando graves
problemas financeiros, pela ausência de um produto básico rentável. Para tentar reverter esta
situação, o governo português passou a incentivar e promover a agricultura em Goiás, sem
grandes resultados, já que havia temor dos agricultores ao pagamento de dízimos; desprezo
dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco rentável; a ausência de um mercado consumidor; e
dificuldade de exportação, pela ausência de um sistema viário.
Com a Independência do Brasil, em 1822, a Capitania de Goiás foi elevada à categoria
de província. Porém, essa mudança não alterou a realidade socioeconômica de Goiás, que
continuava vivendo um quadro de pobreza e isolamento. As pequenas mudanças que
ocorreram foram apenas de ordem política e administrativa. Nas últimas décadas do século XIX,
os grupos locais insatisfeitos fundaram partidos políticos: O Liberal, em 1878, e o Conservador,
em 1882. Também fundaram jornais para divulgarem suas ideias: Tribuna Livre, Publicador
Goiano, Jornal do Comércio e Folha de Goyaz. Com isso, representantes próprios foram
enviados à Câmara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases para as
futuras oligarquias.
A proclamação da República (15/11/1889) não alterou os problemas socioeconômicos
enfrentados pela população goiana, em especial pelo isolamento proveniente da carência dos
meios de comunicação, com a ausência de centros urbanos e de um mercado interno e com
uma economia de subsistência. As elites dominantes continuaram as mesmas. As mudanças

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advindas foram apenas administrativas e políticas.
A primeira fase da República em Goiás, até 1930, foi marcada pela disputa das elites
oligárquicas goianas pelo poder político: Os Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado. Até o
ano de 1912, prevaleceu na política goiana a elite oligárquica dos Bulhões, liderada por José
Leopoldo de Bulhões, e a partir desta data até 1930, a elite oligárquica dominante passa a ser
dos Jardim Caiado, liderada por Antônio Ramos Caiado.
A partir de 1891, o Estado começou a vivenciar certo desenvolvimento com a instalação
do telégrafo em Goiás para a transmissão de notícias. Com a chegada da estrada de ferro em
território goiano, no início do século XX, a urbanização na região sudeste começou a ser
incrementada o que facilitou, também, a produção de arroz para exportação. Contudo, por falta
de recursos financeiros, a estrada de ferro não se prolongou até a capital e o norte goiano,
que permanecia praticamente incomunicável. O setor mais dinâmico da economia era a
pecuária e predominava no estado o latifúndio.
A Revolução de 1930 e a administração política de 1930 até os dias atuais. Com a
revolução de 30, que colocou Getúlio Vargas na Presidência da República do Brasil, foram
registradas mudanças no campo político. Destituídos os governantes, Getúlio Vargas colocou
em cada estado um governo provisório composto por três membros. Em Goiás, um deles
foi o Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que, dias depois, foi nomeado interventor. O governo adotou
como meta trazer o desenvolvimento para o estado, resolver os problemas do transporte, da
educação, da saúde e da exportação. Além disso, a revolução de 30 em Goiás deu início à
construção de Goiânia.

A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA
A construção de Goiânia A mudança da capital de Goiás já havia sido pensada em
governos anteriores, mas foi viabilizada somente a partir da revolução de 30 e seus ideais de
“progresso” e “desenvolvimento”. A região de Campinas foi escolhida para ser o local onde se
edificaria a nova capital por apresentar melhores condições hidrográficas, topográficas,
climáticas, e pela proximidade da estrada de ferro.
No dia 24 de outubro de 1933 foi lançada a pedra fundamental. Dois anos depois, em 07
de novembro de 1935 foi iniciada a mudança provisória da nova capital. O nome “Goiânia”,
sugerido pelo professor Alfredo de Castro, foi escolhido em um concurso promovido pelo
semanário “O Social”. A transferência definitiva da nova capital, da Cidade de Goiás para
Goiânia, se deu no dia 23 de março de 1937, por meio do decreto 1.816. Em 05 de julho de
1942, quando foi realizado o “batismo cultural”, Goiânia já contava com mais de 15 mil
habitantes.
A partir de 1940, Goiás passa a crescer em ritmo acelerado também em virtude do
desbravamento do Mato Grosso Goiano, da campanha nacional de “Marcha para o Oeste” e da
construção de Brasília. A população do Estado se multiplicou, estimulada pela forte imigração,
oriunda principalmente dos Estados do Maranhão, Bahia e Minas Gerais. A urbanização foi
provocada essencialmente pelo êxodo rural. Contudo, a urbanização neste período não foi
acompanhada de industrialização. A economia continuava predominantemente baseada no
setor primário (agricultura e pecuária) e continuava vigente o sistema latifundiário .

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DÉCADAS DE 1970 E 1980
Durante o período do regime militar, as modificações na organização territorial dos
estados ficaram a cargo do Governo Central, e acabaram regidas por orientações políticas.
Exemplos fortes disso foram a fusão do Estado da Guanabara, pelo Rio de Janeiro (1975), e o
desmembramento do Sul do Mato Grosso (1977). Nesse contexto, o deputado federal Siqueira
Campos iniciou uma campanha na Câmara onde pedia a redivisão territorial da Amazônia
Legal (com ênfase no norte goiano), uma vez que mesmo com investimentos de projetos como
o Polocentro e Polamazônia, o norte do estado ainda tinha fraco desempenho econômico.
A campanha também foi apoiada por intelectuais, por meio do surgimento da Comissão
de Estudos do Norte Goiano (Conorte), em 1981, que promoveu debates públicos sobre o
assunto em Goiânia. A discussão pela divisão foi levada do nível estadual para o nível federal,
onde a proposta foi rejeitada duas vezes pelo presidente José Sarney (1985), sob a alegação
do Estado ser inviável economicamente.
A mobilização popular e política da região norte fizeram com que o governador eleito de
Goiás, em 1986, Henrique Santillo, apoiasse a proposta de divisão, passando a ser grande
articulador da questão. A efetivação dessas articulações deu-se durante a Assembleia
Constituinte, que elaborou a nova Constituição Nacional, promulgada em 1988, e que
contemplou a criação do Estado do Tocantins, efetivamente, a partir do dia 1º de janeiro de
1989. Movimento Separatista do Norte de Goiás e a criação do Tocantins.
A ocupação da porção norte da província de Goiás era feita a medida em que se
descobria ouro. Para estimular o desenvolvimento dessa parte da província e melhorar a ação
do governo e da justiça, foi proposta a criação de uma nova comarca, a “Comarca do Norte”
ou “Comarca de São João das Duas Barras”, por Teotônio Segurado, ouvidor-geral de
Goiás, em 1809.
A proposta foi aceita por D. João VI e, em 1915, Teotônio Segurado se tornou ouvidor na
Vila da Palma, criada para ser a sede dessa nova Comarca. Com o retorno da Família Real
para Portugal, as movimentações pela independência do Brasil e a Revolução do Porto (em
Portugal), Teotônio Segurado, junto com outras lideranças declaram a separação da Comarca
do Norte em relação ao sul da província, criando-se a “Província do Norte”. Em 1823, é
pedido o reconhecimento da divisão junto à corte no Rio de Janeiro, mas esse reconhecimento
foi negado, e houve a determinação para que houvesse a “reunificação” do governo da
província.
O padre Luiz Gonzaga Camargo Fleury ficou encarregado de desmobilizar com os
grupos autonomistas, que já estavam enfraquecidos por conflitos internos desde o afastamento
de Teotônio Segurado, ainda em 1821, como representante goiano junto as cortes em Portugal.
Durante o período imperial, outras propostas de divisão que contemplavam de alguma forma o
norte de Goiás ainda foram discutidas, como a do Visconde de Rio Branco e Adolfo Varnhagen.
Em 1988, foi aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte o projeto de divisão
territorial que criou o Estado do Tocantins. A divisão partia do desmembramento da porção norte
do Estado de Goiás, desde aproximadamente o paralelo -13°, até a região do Bico do
Papagaio, na divisa do Estado com o Pará e o Maranhão.

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3.0- ASPECTOS DA HISTÓRIA SOCIAL DE GOIÁS:
O POVOAMENTO BRANCO, OS GRUPOS INDÍGENAS, A ESCRAVIDÃO E CULTURA
NEGRA, OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO E A CULTURA POPULAR.

GRUPOS INDÍGENAS
A ocupação do território de Goiás teve início há milhares de anos com registros arqueológicos
mais antigos datados de 11 mil anos atrás. A região de Serranópolis, Caiapônia e Bacia do
Paranã reúne a maior parte dos sítios arqueológicos distribuídos no Estado, abrigados em
rochosos de arenito e quatzito e em grutas de maciços calcários. Também há indícios da
ocupação pré-histórica nos municípios de Uruaçu, em um abrigo de micaxisto, e Niquelândia,
cujo grande sítio superficial descoberto por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás
(UFG) guarda abundante material lítico do homem Paranaíba. O homem Paranaíba, por sinal, é
o primeiro representante humano conhecido na área, cujo grupo caçador-coletor possuía
presença constante de artefatos plano-convexos, denominados “lesmas”, com poucas
quantidades de pontas de projéteis líticas. Outro grupo caçador-coletor é o da Fase
Serranópolis que influenciado por mudanças climáticas passou a se alimentar de moluscos
terrestres e dulcícolas e uma quantidade maior de frutos, além da caça e da pesca.
Quando os bandeirantes chegaram a Goiás, este território, que atualmente forma os
Estados de Goiás e Tocantins, já era habitado por diversos grupos indígenas. Naquela época,
ao verem suas terras invadidas, muitos foram os que entraram em conflito com os bandeirantes
e colonos, em lutas que resultaram no massacre de milhares de indígenas, aldeamentos oficiais
ou migração para outras regiões. A maioria dos grupos que viviam em Goiás pertencia ao tronco
linguístico Macro-Jê, família Jê (grupos Akuen, Kayapó, Timbira e Karajá). Outros três grupos
pertenciam ao tronco linguístico Tupi, família Tupi-Guarani (Avá-Canoeiro, Tapirapé e
Guajajara). A ausência de documentação confiável, no entanto, dificulta precisar com exatidão a
classificação linguística dos povos Goyá, Araé, krixá e Araxá.

GRUPOS AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS


Ligados diretamente à história da ocupação do território brasileiro, os quilombos
surgiram a partir do início do ciclo da mineração no Brasil, quando a mão de obra escrava negra
passou a ser utilizada nas minas, especialmente de ouro, espalhadas pelo interior do Brasil. Em
Goiás, esse processo teve início com a chegada de Bartolomeu Bueno da Silva, em 1722, nas
minas dos Goyazes. Segundo relatos dos antigos quilombolas, o trabalho na mineração era
difícil e a condição de escravidão na qual viviam tornavam a vida ainda mais dura. As fugas
eram constantes e àqueles recapturados restavam castigos muito severos, o que impelia-os a
procurar refúgios em lugares cada vez mais isolados, dando origem aos quilombos.
Os Kalungas são os maiores representantes desses grupos em Goiás. Na língua banto,
a palavra kalunga significa lugar sagrado, de proteção, e foi nesse refúgio, localizado no norte
da Chapada dos Veadeiros, que os descendentes desses escravos se refugiaram passando a
viver em relativo isolamento. Com identidade e cultura próprias, os quilombolas construíram sua
tradição em uma mistura de elementos africanos, europeus e forte presença do catolicismo
tradicional do meio rural.
A área ocupada pela comunidade Kalunga foi reconhecida pelo Governo do Estado de
Goiás, desde 1991, como sítio histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga. Com mais de
230 mil hectares de Cerrado protegido, abriga cerca de quatro mil pessoas em um território que
estende pelos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. Seu patrimônio
cultural celebra festas santas repletas de rituais cerimoniosos, como a Festa do Império e o
Levantamento do mastro, que atraem turistas todos os anos para a região.

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POVOAMENTO BRANCO E OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO
A composição inicial da população de Goiás se deu por meio da convivência nem tão
pacífica entre os índios que aqui residiam e as levas de paulistas e portugueses que vinham em
busca das riquezas minerais. Estes por sua vez, trouxeram negros africanos à tira colo para o
trabalho escravista, moldando a costumeira tríade da miscigenação brasileira entre índios,
negros e brancos, e todas as suas derivações. Entretanto, a formação do caráter goiano vai
além dessa visão simplista e adquiriu características especiais à medida que o espaço físico do
Estado passou a ser ocupado.
Até o início do século XIX, a maioria da população em Goiás era composta por negros. Os
índios que habitavam o Estado ou foram dizimados pelo ímpeto colonizador ou migraram para
aldeamentos oficiais. Segundo o recenseamento de 1804, o primeiro oficial, 85,9% dos goianos
eram “pardos e pretos” e este perfil continuou constante até a introdução das atividades
agropecuárias na agenda econômica do Estado.
Havia no imaginário popular da época a ideia de ser tão presente na constituição física
do Estado. O termo, no entanto, remeteria a duas possibilidades distintas de significação: assim
como na África, representava o vazio, isolado e atrasado, mas que por outro lado se
apresentava como desafio a ser conquistado pela ocupação territorial.
Essa ocupação viria acompanhada predominantemente pela domesticação do sertão
segundo um modelo de trabalho familiar, cujo personagem principal, o sertanejo, assumiu para
si a responsabilidade da construção do país, da ocupação das fronteiras e, por seguinte, da
Marcha para o Oeste impulsionadora do desenvolvimento brasileiro. Registros da época dão
conta de processos migratórios ao longo do século XIX e metade do século XX, com correntes
migratórias de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Pará, resultando em uma ampla mestiçagem
na caracterização do personagem sertanejo.
O sertanejo, aí, habitante do vazio e isolado sertão, tinha uma vida social singela e pobre
de acontecimentos. O calendário litúrgico e a chegada de tropas e boiadas traziam as únicas
novidades pelas bocas de cristãos e mascates. Nessa época, a significação da vida estava
diretamente ligada ao campo e dele resultaram, segundo as atividades registradas nos arraias,
o militar, o jagunço, o funcionário público, o comerciante e o garimpeiro.
Ao longo do século XX, novas levas migratórias, dessa vez do sul e de estrangeiros
começam a ser registradas no território goiano, de modo que no Censo do ano 2000, os cinco
milhões de habitantes se declararam como 50,7% de brancos, 43,4% de pardos, 4,5% de
negros e 0,24% de outras etnias.

A CULTURA POPULAR
O desenrolar da história de Goiás propiciou o aparecimento de diversas atividades
culturais no Estado, das quais originaram legítimas manifestações do folclore goiano. Apesar de
boa parte delas estar relacionada ao legado religioso introduzido pelos portugueses, o
movimento cultural que floresceu no Estado agregou tradições indígenas, africanas e europeias
de maneira a abrigar um sincretismo não apenas religioso, mas de tradições, ritmos e
manifestações que tornaram a cultura goiana um mix de sensações que vão da batida do
tambor da Congada e dos mantras entoados nas orações ao Divino, até a cadência da viola
sertaneja ou o samba e o rock que por aqui também fizeram morada.
As Cavalhadas talvez sejam uma das manifestações populares mais dinâmicas e
expressivas do Estado de Goiás. A encenação épica da luta entre mouros e cristãos na
Península Ibérica é apresentada tradicionalmente por diversas cidades goianas, tendo seu
ápice no município de Pirenópolis, quinze dias após a realização da Festa do Divino. Toda a
cidade se prepara para a apresentação, travestida no esforço popular em carregar o estandarte
que representa sua milícia. O azul cristão trava a batalha contra o rubro mouro, ornados ambos
de luxuosos mantos, plumas, pedras incrustadas e elmos metálicos, desenhando, por
conseguinte, símbolos da cristandade como o peixe ou a pomba branca – símbolo do Divino – e
do lado muçulmano o dragão e a lua crescente. Paralelamente, os mascarados quebram a
solenidade junto ao público, introduzindo o sarcástico e profano, em meio a um dos maiores

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espetáculos do Centro-Oeste.
As Congadas dão outro show à parte. Realizadas tradicionalmente no município de
Catalão, reúnem milhares de pessoas no desenrolar do desfile dos ternos de Congo que
homenageiam o escravo Chico Rei e sua luta pela libertação de seus companheiros, com o
bônus da devoção à Nossa Senhora do Rosário. Ao toque de três apitos, os generais dão início
às batidas de percussão dos mais de 20 ternos que se revezam entre Catupés-Cacunda, Vilão,
Moçambiques, Penacho e Congos, cada qual com suas cores em cerca de dez dias de muita
festa.
Nem só de manifestações religiosas vive a tradicional cultura goiana. Uma dança
bastante antiga e muito representativa do Estado também faz as vezes em apresentar Goiás
aos olhos dos visitantes. A Catira que tem seus primeiros registros desde o tempo colonial não
tem origem certeira. Há relatos de caráter europeu, africano e até mesmo indígena, com
resquícios do processo catequizador como forma de introduzir cantos cristãos na possível
dança indígena. No entanto, seu modo de reprodução compassado entre batidas de mãos e
pés, permeados por cantigas de violeiros perfaz a beleza cadenciada pela dança. A viola, aliás,
está presente em boa parte do cancioneiro popular goiano, especialmente nos gêneros caipira e
sertanejo, que em conjunto com sanfonas e gaitas têm sido bastante divulgados, geralmente
por duplas de cantores. Diferenças, no entanto, podem ser notadas quanto à temática, uma vez
que o sertanejo tem se apresentado majoritariamente enquanto produto da indústria cultural e a
música de raiz ou caipira se inspirado nas belezas do campo e do cotidiano do sertanejo.

MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E URBANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO GOIANO.


A partir de 1970, o estado de Goiás passou por um amplo processo de modernização
produtiva e econômica. As áreas de Cerrados, principalmente na região Centro-Oeste, sofreram
alterações importantes em sua estrutura produtiva. As principais causas destas mudanças
foram a modernização das técnicas produtivas da agricultura e pecuária e a incorporação da
lógica produtiva das indústrias no campo (MELO; SOARES, 2006). Os produtos da agricultura e
pecuária passaram a ser processados pela indústria e foi ampliada a utilização de mercadorias
industrializadas no manejo produtivo. Isto é, a modernização da agricultura foi marcada pela
grande utilização de máquinas e técnicas modernas nos cultivos, criações e abatimentos de
animais. O uso de insumos agrícolas foi intensificado, a ciência e a tecnologia passaram a
contribuir de forma significativa, principalmente na alteração genética das sementes para a
produção de grãos, como é o caso da soja. As sementes transgênicas aumentaram a
produtividade e “melhoraram” a qualidade do produto, estimulando as exportações de produtos
agrícolas para o mercado externo (MELO; SOARES, 2006). Para tornar possível a
industrialização da agricultura, além de subordinar a produção da agricultura à lógica industrial,
foi necessário investir pesadamente na construção de infraestruturas: estradas (aumentar a
mobilidade da produção e comercialização); usinas geradoras de energia elétrica (aumentar a
oferta de energia elétrica no espaço rural, sustentar a ampla utilização de máquinas); fomentar
ações político-administrativas, oferecer linhas de crédito, entre outras condições que
necessitaram de altos investimentos econômicos do Estado Federal e Estadual. Com isso, as
mudanças produtivas no espaço rural foram acompanhadas de transformações importantes nos
espaços urbanos das regiões afetadas pela modernização agrícola no Centro-Oeste.
De acordo com o Instituto Mauro Borges (2016), a partir de 1940, a construção de
Goiânia acelerou o crescimento de Goiás, bem como o “desbravamento do mato grosso
goiano”, incentivado pela campanha nacional Marcha para o Oeste. Em 1950, iniciou-se a
construção de Brasília, contribuindo também para a construção de infraestruturas e aceleração
do progresso de Goiás. A partir de 1960, Goiás torna a sua economia mais dinâmica. Segundo o
IMB (2016, p. 05 e 06): “O processo de modernização agrícola na década de 1970 e o posterior
desenvolvimento do setor agroindustrial na década de 1980 representaram uma nova página
para o desenvolvimento do estado de Goiás. A expansão desses setores ampliou as
exportações e os elos da cadeia industrial goiana”. Além disso, é importante levar em
consideração que, “[...] o papel interventor do setor público, tanto federal, como estadual, foi

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vital para o processo de modernização da agricultura e desenvolvimento do setor agroindustrial”
[em Goiás].
A relação entre campo e cidade em Goiás também foram profundamente alteradas em
decorrência da especialização, modernização e industrialização da produção agropecuária. O
campo deixou de ser o lugar de moradia permanente dos trabalhadores rurais, uma vez que o
espaço rural passa a ser destinado a execução das grandes produções agrícolas e
agroindustriais. De acordo com Melo e Soares (2006) é possível observar alterações
importantes no que se refere ao processo de urbanização em Goiás:
1) A partir da ampliação da industrialização no campo e da utilização de maquinários, menor
quantidade de trabalhadores passou a ser necessária na produção. Embora tenha-se expandido
as áreas produtivas, diminuiu-se proporcionalmente a quantidade de trabalhadores rurais
empregados na produção agropecuária.
2) Houve a alteração do tipo de mão de obra empregada em função da complexificações
técnicas produtivas. A produção agrícola passou a demandar trabalhadores com qualificações
específicas: operadores de máquinas, engenheiros agrônomos, veterinários e técnicos agrícolas
(mão de obra qualificada).
3) Elevação da concentração fundiária: pequenos e médios produtores rurais venderam ou
arrendam as suas propriedades para as grandes agroindústrias, inclusive com o aumento de
operação das multinacionais.
4) Aumento significativo dos fluxos migratórios: a princípio com grande êxodo rural, a população
migrou do campo para a cidade. Em um segundo momento, houve a migração entre os espaços
urbanos, ou seja, a migração urbano-urbano.
5) Grande elevação das taxas de urbanização de Goiás: 1950 (21, 78% residentes urbanos);
1980 (62, 20% residentes urbanos) e 1991 (80,81% de pessoas vivendo em espaços urbanos).
O processo de urbanização que se originou a partir da ampliação das fronteiras agrícolas
em Goiás alterou além das relações de trabalho e os movimentos migratórios, sobretudo a
estrutura interna dos centros urbanos goianos. Ocorreram grandes ampliações e investimentos
na estrutura de transporte e comunicação, aumento de serviços bancários, comércios
e serviços destinados à produção agrícola e agroindustrial. Por exemplo, instalação de lojas de
maquinários e veículos, comércios voltados a abastecer a produção localizada no espaço rural:
insumos e equipamentos específicos. Além disso, em razão do grande fluxo de pessoas que
passaram a residir em espaços urbanos foi necessário ampliar a oferta de equipamentos
urbanos: saúde, educação, lazer e moradias (acarretando numa grande movimentação
imobiliária). Além da intensificação do processo de urbanização (êxodo rural), ocorreu o
crescimento das cidades pequenas e médias, bem como a densificação populacional da região
metropolitana de Goiânia.

Professor: Carlos D´Boa


4.0- A POPULAÇÃO GOIANA: POVOAMENTO, MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS E
DENSIDADE DEMOGRÁFICA.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), a densidade


demográfica do estado de Goiás é de 17, 65 habitantes por quilômetro quadrado. A densidade
demográfica da capital Goiânia é de 1. 776, 75 habitantes por quilômetro quadrado. De acordo
com o Instituto Mauro Borges (2017), em 2017, a Região Metropolitana de Goiânia e o entorno
do Distrito Federal concentraram cerca de 55% da população do estado de Goiás. Sendo a
Região Metropolitana de Goiânia a região mais densamente povoada do estado e a região
Nordeste Goiano a que apresenta menor densidade demográfica. Ainda segundo o IMB (2017),
no período que compreender os anos de 2010 a 2017, o estado de Goiás obteve crescimento
populacional acima da média nacional. Neste período, a taxa de crescimento da população
brasileira foi de 1, 22% e a população de Goiás cresceu em média 1,75%. É importante
observar que o crescimento populacional não ocorreu de forma igualitária nas dez regiões de
planejamento goianas. As regiões que mais cresceram foram: a Região Metropolitana de
Goiânia, o entorno do Distrito Federal e o Sudoeste Goiano. As regiões com menores taxas de
crescimento foram o Norte Goiano, Oeste Goiano e o Noroeste Goiano (IMB, 2017).
A partir de 1960, órgãos estatais buscaram promover o desenvolvimento regional e
ampliar os investimentos locais do estado. Em 1967, foi criada a Superintendência de
Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (SUDECO). O estado de Goiás promoveu políticas
públicas e forneceu importantes recursos com objetivo de alavancar o crescimento econômico e
expandir as atividades produtivas de Goiás. Algumas ações da SUDECO direcionadas à
economia goiana foram:
PLADESCO – Plano de Desenvolvimento Econômico e Social do Centro-Oeste.
POLOCENTRO – Programa de Desenvolvimento do Cerrado.
FCO – Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste.
A partir desses programas, com o objetivo de criar estratégias para atrair as indústrias
para Goiás, criou-se o FEICOM (Fundo de Expansão da Indústria e Comércio), que se
investiu na atração das indústrias oferecendo isenção de impostos. Uma nova iniciativa que
objetivava aumentar a quantidade de indústrias e promover dinamização do setor produtivo e
industrial foi criada em 1984, a FOMENTAR (Fundo de Participação e Fomento à
Industrialização Estado de Goiás). De acordo com Queiroz e Santos (2015): “Segundo
Pedroso e Silva (2011), o FOMENTAR era baseado, novamente, na concessão de benefícios
fiscais na forma de isenção do ICMS”. O objetivo destas ações do estado de Goiás eram
alavancar o desenvolvimento local por meio da diversificação industrial.
No que se refere aos movimentos migratórios interestaduais, um importante fluxo de
pessoas que se originaram do Distrito Federal, Maranhão, Bahia e Minas Gerais partiram rumo
ao estado de Goiás. Esta situação se deve, sobretudo, pela ampliação da fronteira agrícola de
Goiás, com crescente importância industrial e produtiva. De acordo com o IMB (2017), com
base nas estimativas de migração do PNAD, as pessoas residentes em Goiás, que são naturais
de outro estado, somam 1,9 milhões de habitantes, ou seja, 28,7% da população de Goiás. No
caso dos emigrantes do Distrito Federal, um dos principais fatores que contribuem para a
migração dos habitantes este estado é o elevado custo de vida em Brasília.

Professor: Carlos D´Boa


ESCRAVOS URBANOS: ESCRAVOS DE GANHO

Nos ambientes urbanos da mineração, tanto em Goiás, Mato Grosso quanto


em Minas Gerais surgiu uma modalidade de escravidão urbana, que chamamos de
“escravos de ganho”. Eram escravos comerciantes que combinavam a alforria em
troca de um pequeno salário que, quando acumulado, poderia comprar sua alforria.
A coroa portuguesa, para fiscalizar a mineração e cobrar impostos, criou a
superintendência das minas –órgão administrativo - e as casas de fundição. O ouro
em pó deveria ser levado para lá e seria derretido e transformado em barras. Os
principais impostos eram:
✓ Quinto (20%).
✓ Capitação (17g por escravo).
Em Goiás, foi fundada uma casa de fundição (fazia as barras e cobrava o
quinto) em Vila Boa – município de Goiás. A tentativa de controle do contrabando era
uma das principais medidas tomadas pela coroa, entre elas a instalação de postos
fiscais nas estradas e a proibição da navegação nos rios Araguaia, Tocantins e São
Francisco. No final do século XVIII, o Brasil deixou de mandar os carregamentos de
ouro. Então, Portugal decretou a cobrança forçada, a Derrama. Para a região das
minas de Goiás, o primeiro superintendente nomeado foi Bartolomeu Bueno da
Silva Filho, o segundo Anhanguera, como recompensa por ter descoberto o ouro e
todos os cargos foram distribuídos a seus familiares. Ficou pouco tempo no cargo,
em torno de cinco anos e, em 1773, foi substituído pelo superintendente Gregório
Dias da Silva. Sabemos que as tentativas de controle eram severas e, por exemplo,
interditaram a navegação e o acesso pelas trilhas nordestinas da Bahia e Piauí,
proibiram novas estradas e estabeleceram postos fiscais nos principais
entroncamentos de estradas e passagens de rios. Os portugueses achavam que a
pecuária fomentava o contrabando, sobretudo nos caminhos para os currais baianos
às margens do rio São Francisco e do rio Tocantins.

Professor: Carlos D´Boa


A ESCRAVIDÃO E O COMÉRCIO ATLÂNTICO

A escravidão africana foi adotada desde o início da colonização, foi uma boa opção
devido a um mercado extremamente lucrativo que era o comércio de africanos, pois
a demanda de braços era tão grande quanto à demanda por açúcar. Movimentava
um mercado (o mercado atlântico de escravos), que era grande como a demanda
europeia pelo sabor doce. Por que não escravizar o índio? Lembre-se de que a
Igreja Católica se posicionou, por meio de Bulas Papais e na expansão e
colonização da América, contra a escravidão do gentio (nativo, indígena). E também
pelo motivo de que não movimentava um mercado tão lucrativo e estruturado quanto
o comércio de africanos. Quanto ao negro, a escravidão era denunciada por alguns
religiosos, mas, como um todo, era tolerada e aceita, e em todo o período colonial e
no império brasileiro era o sustentáculo da economia e elemento fundamental na
organização da sociedade, pois todo o trabalho braçal, inclusive o de vestir seus
senhores, era realizado por um cativo. A demanda por braços para o trabalho era
muito grande, ao ponto de Portugal não conseguir atender a demanda. Isso gerou o
comércio atlântico que fugia ao controle de Portugal: O tráfico negreiro. Os africanos
escravizados eram transportados nos navios negreiros, cuja mortalidade era tão alta
que foram apelidados de navios tumbeiros. Eram descarregados no litoral nos
mercados de escravos, onde eram vendidos, e dali seguiam para as fazendas. Para
evitar a comunicação e rebeliões, separavam as famílias e as tribos. Durante todo o
tempo em que ocorreu a escravidão (1530-1888), ocorreu também a
resistência africana por meio de suicídios, abortos, levante contra seus senhores,
fugas e com formação de Quilombos. Durante as invasões holandesas e durante a
resistência dos colonos na primeira invasão na Bahia, o surgimento de quilombos foi
muito estimulado. Goiás, por ser uma região planáltica, com rios com cachoeiras, era
um local onde normalmente surgiam quilombos, e havia vários no estado. No
contexto do século XVII e XVIII, Goiás era do ponto de vista colonizador,
o sertão mais distante, (sertão no sentido de interior profundo do país) e chegou a
ser visitado pelo pintor naturalista Sant Hilary, que fez importantes registros da
época. O território de Goiás foi visitado por vários pintores naturalistas no século XIX
para registrar a região.
A escravidão permaneceu em Goiás até a sua abolição, no dia 13 de maio de
1888, o Governo Imperial assinou a Lei Áurea, acabando oficialmente com a
escravidão no Brasil. O processo de abolição da escravidão foi lento e gradual, teve
início em 1850 com a Lei Eusébio de Queiroz; depois em 1871, com a Lei do Ventre
Livre; 1888 a Lei dos Sexagenários e, finalmente, a lei Áurea. Perceba
que o processo de abolição da escravidão foi lento e gradual, guiado pelos
interesses das elites cafeeiras do Sudeste que passaram a trazer imigrantes
europeus, e o apoio dos políticos nordestinos, onde a escravidão enfraqueceu e foi
abolida primeiro. Ocorreu redução progressiva do número de escravos, num
processo que atendeu aos interesses dos proprietários, que queriam ser indenizados
pela abolição, mas não foram. Quando a escravidão foi abolida, existia em Goiás
uma grande quantidade de mestiços e negros forros (que conseguiram a alforria).
Em Goiás, o fim da escravidão negra gerou novos regimes de trabalho no campo,
mas que mantiveram a violência e a desproporcionalidade de direitos entre
o empregado e o patrão.

Professor: Carlos D´Boa


De acordo com a secretaria cidadã do estado, Goiás é o “maior quilombo em
extensão territorial do Brasil”, com cerca de quatro mil pessoas abrigadas em 253
mil hectares de cerrado. O estado possui 33 comunidades e sete em processo de
certificação pela Fundação Palmares; sendo os Kalungas os maiores
representantes, localizados ao norte da Chapada dos Veadeiros.

A abolição da escravidão: O fim da escravidão teve um caráter gradual. Ocorreu a


participação dos escravos com sua resistência ao cativeiro através de fugas,
formação de quilombos, abortos, suicídios e várias revoltas. Surgiu depois da lei
Eusébio de Queiroz o movimento abolicionista que fazia forte militância artística,
jurídica e política pelo fim da escravidão. Também devemos lembrar a pressão
inglesa. Várias leis foram decret adas: ✓
1850: Lei Eusébio de Queiroz (proibição do tráfico).
1871: Lei do Ventre Livre (estavam livres os recém-nascidos).
1885: Lei dos Sexagenários (liberdade aos maiores de 60 anos).
1888: Lei Áurea (a abolição definitiva).

Já em 1881, com apenas 25 anos, Leopoldo Bulhões tornou-se o principal redator da Tribuna
Livre de Goiás e foi eleito deputado geral para a legislatura 1882-1884, transferindo-se com
isso para o Rio de Janeiro, então capital do Império. Com uma atuação ligada à defesa do
federalismo e do fim do cativeiro, em 1883 apresentou um projeto de abolição imediata da
escravidão, que seria seguida de um curto período de serviço gratuito prestado pelos
libertos. Reeleito deputado geral em 1885 e 1886, fundou nesse último ano, ao lado do
irmão Félix Bulhões, o jornal Goiás, através do qual divulgava as ideias de liberdade de culto,
de secularização dos cemitérios, de registro e casamento civil, acabando por entrar em
conflito com os bispos ultramontanos locais. Nesse sentido, pode-se dizer que o predomínio
político de sua família esteve ligado a uma ação modernizadora em franca oposição à Igreja
católica.

OS PADRES JESUÍTAS E O CATOLICISMO COLONIAL

Os Padres da Cia. De Jesus eram também conhecidos como soldados de batina. O apelido é
porque a ordem jesuítica possuía uma organização e preparo militar, e também porque seu fundador
Inácio de Loyola foi oficial militar. Fundavam no Brasil (e em todo o mundo colonial português) as
Missões jesuíticas, incumbidas de catequizar os nativos e protegê-los nas Missões, reduções,
aldeamentos ou colégios jesuíticos (sinônimos). Não foram raras as situações em que expedições de
bandeirantismo atacavam as missões querendo escravizar seus indígenas, que já eram cristianizados
e ensinados ao trabalho. As missões jesuíticas ocuparam além do litoral, o sul do Brasil na fronteira
com Argentina, e principalmente na região amazônica. As missões jesuíticas tiveram um importante
papel na ocupação do nosso território, muitas vezes servindo a Portugal como ponto de demarcação
de fronteiras. Ao longo do rio Amazonas, por meio dele, foi penetrando no interior. Essas missões
amazônicas treinavam e usavam os indígenas como mão de obra (não escrava), para coletarem as
drogas do sertão. Drogas do sertão eram ervas medicinais, coletadas na floresta e vendidas para a
Europa. Eram valiosas como as especiarias asiáticas. Os aldeamentos eram um importante
instrumento de colonização.

Professor: Carlos D´Boa


Os Aldeamentos eram cuidados principalmente pela ordem religiosa dos Jesuítas, mas
inclusive existia a participação de leigos (pessoas da comunidade religiosa sem formação em
seminários), desde que brancos. Negros e indígenas não podiam participar do clero. O povoamento
branco e urbano de Goiás, no século XVIII, foi caracterizado como muito pródigo na construção de
igrejas. Só em Vila Boa (cidade de Goiás), capital da capitania, foram construídas, no espaço de 50
anos, oito igrejas. Esse grande número de igrejas, no início do povoamento branco de Goiás,
explica-se pelo fato de os templos servirem de locais de culto e de sepultamento de membros da
população que estivessem integrados nas inúmeras irmandades existentes na época, sendo que os
escravos não cristianizados eram sepultados num cemitério rudimentar. Na sociedade colonial, a
elite mineradora era enterrada no interior das Igrejas. Esta prática só foi encerrada após a
proclamação da república e proibida por questões sanitárias. Existiam diversas irmandades
religiosas, desde a dos ricos até a dos escravos. As irmandades eram importantes espaços sociais de
convivência e de expressão religiosa; a dos pobres cumpria um papel
caritativo, colaborando com auxílios para os mais necessitados e realizando os sepultamentos nos
ritos religiosos. O catolicismo que se desenvolveu em Goiás é o típico catolicismo colonial,
caracterizado pelo sincretismo cultural (mistura de elementos africanos e europeus), e práticas da
religiosidade marcada por um calendário religioso de festas e romarias, que eram uma das
principais manifestações religiosas do período, típicas do catolicismo popular.

Professor: Carlos D´Boa

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