Estudo Dirigido 3
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Quando se estuda sobre o Brasil em sua época imperial é mais comum focar
no aspecto político da época. Porém, os aspectos regionais da sociedade e da
economia dão uma visão de conjunto sobre o que se passava nas províncias. Os
temas econômicos e sociais das províncias apresentam a dimensão, a diversidade e a
complexidade do império. A escravidão como relação de trabalho, por exemplo, era
algo ainda presente em todo império, com mais ou menos intensidade dependendo de
sua localidade. Na época, dividia-se o país entre “Provinciais do Norte” e “Províncias
do Sul”.
O Brasil Imperial era o principal produtor e exportador de café do mundo, sendo
o Vale do Rio Paraíba a principal região produtora. Esse avanço na economia foi
impulsionado principalmente pela vinda da família real ao Brasil, em 1808, a partir
desse momento o destino do Império foi associado ao café e ele se tornou a principal
fonte de renda do Estado Colonial. O Vale do Paraíba, região entre Rio de Janeiro e
São Paulo, dominou sobre o mercado cafeeiro mundial quando a demanda aumentou
principalmente por sua enorme disponibilidade de terras férteis e seu clima favorável
ao desenvolvimento da cafeicultura.
A única região que conseguia competir com a América Portuguesa na
produção de café era Java, uma ilha da Indonésia. A cafeicultura escravista brasileira
combinou as duas modalidades de organização do trabalho escravo, sob comando
unificado e sistema de tarefas individualizado (MARQUESE, TOMICH, 2009, p. 371)
defendendo o escravismo até o final e se tornando uma das grandes áreas escravistas
do século XVIII, junto com os Estados Unidos. Após o fim do tráfico transatlântico, o
Brasil continuou com sua mão de obra escrava por meio do tráfico interno. A
cafeicultura brasileira presente durante a época, foi uma das grandes responsáveis
pela destruição da mata atlântica e degradação da natureza de forma geral.
Durante a época era comum o fluxo de províncias que trocavam escravos entre
si. A província de Minas Gerais foi outra que manteve forte sua demanda por mão de
obra cativa e apego a escravidão como forma de trabalho, sendo considerada a
província que mais importou escravos. A população mineira crescia em um ritmo
relativamente alto, e diferente de outras regiões, Minas tinha uma diversidade em suas
atividades econômicas, mas a mineração era sua principal fonte de renda.
As capitanias mineiras promoveram uma migração para a região por conta da
mineração de ouro e ela se tornou o principal produtor para o mercado interno.
Durante o século XIX, houve uma reordenação na produção mundial por ouro por
conta do esgotamento de recursos minerais acessíveis e começou a surgir o interesse
pela exploração de outros minerais. Novas técnicas foram trazidas, em busca de
modernizar a mineração, porém o investimento trouxe apenas prejuízos. O ciclo do
ouro chegou ao seu fim, o que resultou em uma grave crise econômica para o país,
que só foi interrompida com a intensa atividade de exportação do café.
O lento avanço da economia de Minas, como o de toda colônia, foi acelerado
com o advento da produção e exportação de café. A introdução da cafeicultura em
Minas Gerais ocorreu no início do século XIX e logo se transformou na principal
atividade da província e no agente indutor do povoamento e desenvolvimento da infra-
estrutura de transportes. Minas Gerais seguiu a trajetória da cafeicultura, diferente de
Mato Grosso e Goiás, que também tiveram seus recursos de mineração esgotados. As
duas províncias ocuparam uma posição vista como marginal do Império.
A mineração no estado do Goiás e no Mato Grosso continuou sendo feita em
pequena escala explorada majoritariamente por proprietários individuais. Diferente das
outras regiões, o trabalho livre começou a assumir uma grande importância na nova
atividade econômica, a produção agrícola. A mão de obra escrava ainda era presente,
porém poucos a usavam. A cidade de Meiaponte, conhecida hoje como Pirenópolis,
era o principal centro urbano da província de Goiás, servindo como um espaço de
troca de produtos agrícolas e criando conexão com centros exportadores. Essa
ruralização que se iniciou na época pode ser notada até hoje nos dois estados.
As províncias de Pernambuco, Maranhão, Sergipe e Rio Grande do Sul tinham
uma posição fundamental no comércio de exportação de escravos do século XIX. As
economias gaúchas e pernambucanas se tornaram grandes aliadas e
complementares, criando um mercado nacional de cativos entre si e se tornando as
capitanias mais importantes da América Portuguesa e principais centros produtores de
açúcar. A mão de obra forçada era feita em várias atividades econômicas, não só na
grande lavoura e os pequenos donos de escravizados era a grande maioria tendo uma
grande importância nas províncias (NOGUEROL, VERSIANI, 2016, p. 159).
Durante o século XVIII, a Amazônia era considera a região da província do
Grão-Pará e da Amazônia. O extrativismo era sua principal fonte de renda e ela
dependia do trabalho forçado de povos indígenas. Um grande marco do processo de
colonização da Amazônia foi o despovoamento. Povos indígenas que fugiam de suas
áreas de origem como forma de resistir. A incorporação do trabalho, por esse motivo,
não foi fácil. Com isso, o Império tentou incorporar a Amazônia no sistema colonial
impulsionando a economia regional. Durante a década de 40 e 50 houve a expansão
do látex, e a borracha se tornou o impulso para a exportação da região.
Progressivamente foi se transformando novas áreas em adequadas para a
produção, e houve uma grande demanda externa pela borracha. Ela era fruto de
trabalho livre e abriu as portas da Amazônia para a navegação internacional. A
borracha teve um grande êxito para o Império, e na década de 70 já tinha passado a
demanda do cacau se tornando a maior fonte de renda da província da Amazônia.
Referências Teóricas
COSTA, Kelerson Semerene. Meiaponte: história e meio ambiente em Goiás. Brasília:
Paralelo 15, 2013. (capítulos 1 e 3)
MARQUESE, Rafael; TOMICH, Dale. "O vale do Paraíba escravista e a formação do
mercado mundial do café no século XIX". In: GRINBERG, K; SALLES, R. (org.). O
Brasil imperial, Volume II (1831-1870). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p.
339-383.
MARQUESE, Rafael; SALLES, Ricardo. “A escravidão no Brasil oitocentista: história e
historiografia”. In: MARQUESE, Rafael; SALLES, Ricardo (org.). Escravidão e
capitalismo histórico no século XIX: Cuba, Brasil, Estados Unidos. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2016, p. 99-161.
MARTINS, Roberto Borges. “Minas e o tráfico de escravos no século XIX, outra vez”,
in: SZMRECSÁNYI, T.; LAPA, J. R. do Amaral (orgs.). História econômica da
independência e do império. 2 ed. São Paulo: Edusp/Hucitec, 2002, p. 99-130.
SANTOS, Roberto. História econômica da Amazônia. São Paulo: T.A. Queiroz Editora,
1980. (capítulos 2 e 3).
VERSIANI, Flávio Rabelo; NOGUERÓL, Luiz Paulo Ferreira. Muitos escravos, muitos
senhores: escravidão nordestina e gaúcha no século XIX. São Cristóvão: Editora UFS;
Brasília: Editora UnB, 2016. (capítulos 3, 6 e 7)