Dissertao de Mestrado - KAREN REBECCA CAMURA DO NASCIMENTO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIEDADE E FRONTEIRAS

KAREN REBECCA CAMURÇA DO NASCIMENTO

POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO: A MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO


ESPAÇO ESCOLAR E URBANO DO MUNICÍPIO DE PACARAIMA - RORAIMA

BOA VISTA, RR
2020
KAREN REBECCA CAMURÇA DO NASCIMENTO

POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO: A MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO


ESPAÇO ESCOLAR E URBANO DO MUNICÍPIO DE PACARAIMA - RORAIMA

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Sociedade e
Fronteiras do Centro de Ciências
Humanas e Fronteiras da Universidade
Federal de Roraima (UFRR) como parte
do requisito para obtenção do título de
Mestre em Sociedade e Fronteiras. Área
de Concentração Sociedade e Política, na
Linha de Pesquisa em Políticas Públicas.

Orientadora: Prof. Dra. Ana Lúcia de


Sousa

BOA VISTA, RR
2020
BOA VISTA, RR
2020
Dedico esta dissertação a minha
família, pelo apoio e dedicação, pelo incentivo
em buscar maiores conhecimentos e me tornar
a pessoa que sou hoje. Obrigada por me
incentivarem a sair da minha zona de conforto.
AGRADECIMENTOS

Esta dissertação de mestrado é fruto não apenas do esforço pessoal, mas


também do apoio de diversas pessoas que me incentivaram direta ou indiretamente,
nessa fase da minha vida desafiadora e também gratificante.

Dessa forma, agradeço a Universidade Federal de Roraima por


proporcionar a oportunidade de estudar no Programa de Pós-graduação Sociedade
e Fronteiras, e que no mestrado pude relacionar as minhas duas graduações para a
construção e finalização da minha dissertação.

Quero agradecer a minha professora orientadora Ana Lúcia de Sousa, por


tudo que me ensinou nessa jornada, por toda paciência que teve comigo, pelas
correções minuciosas e por toda compreensão que teve quando tive que me mudar
de cidade devido ao meu trabalho.

Aos professores do mestrado que contribuíram para o meu


amadurecimento acadêmico.

Agradecer a minha turma de mestrado, que nós ajudamos e seguimos


fortes nessa caminhada de pouco mais de dois anos. Em especial a Amanda Araújo
e Daiane Almeida, que mesmo na minha ausência, sempre me mantinham
atualizada e me dando forças para que continuasse a jornada.

Agradecer a todos os funcionários e alunos da Escola Municipal Casimiro


de Abreu que me receberam tão bem, em especial ao gestor Francimar Melo e ao
vice gestor Cícero Sousa, obrigada pela paciência e carinho que tiveram comigo.

Com carinho a meus pais, Cláudia e Airton, ao meu irmão André, e ao


meu noivo Daniel, que durante muitos momentos souberam compreender a minha
inevitável ausência. A todo apoio e palavras de incentivo que só me motivaram, mais
ainda para que eu pudesse seguir em frente, apesar de todas as dificuldades que
surgiram durante a jornada.

Dedico este trabalho a todos que possuem o desejo de melhorar a


educação em seus diversos contextos, principalmente em região de fronteira que
deixa o processo ainda mais desafiador.
“A tarefa não é tanto ver aquilo que
ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda
pensou sobre aquilo que todo mundo vê”.
Arthur Schopenhauer
RESUMO

A presente pesquisa aborda a temática das políticas públicas na


educação refletindo sobre os impactos da migração venezuelana no
espaço escolar e urbano do município de Pacaraima – Roraima, fronteira
(Brasil – Venezuela), tendo como objetivo geral analisar as políticas
públicas na área de educação na fronteira Brasil-Venezuela, averiguando
os efeitos do contexto migratório desse serviço público a brasileiros e
venezuelanos. A metodologia da pesquisa se caracteriza como descritiva,
bibliográfica, e qualitativa, sob uma abordagem metodológica sistêmica,
de caráter exploratório e participativo. Analisando assim, os conceitos de
políticas públicas e a sua utilização na sociedade, identificando e
verificando dessa forma, as políticas públicas oferecidas na área da
educação, que atendem os brasileiros e venezuelanos atingidos pelos
impactos da migração no município de Pacaraima.

Palavras-chave: Educação. Fronteira. Migração. Políticas Públicas.


ABSTRACT

This research addresses the theme of public policies on education


reflecting on the impacts of Venezuelan migration on the school and urban
space of the municipality of Pacaraima - Roraima border (Brazil -
Venezuela), with the general objective of analyzing public policies in the
area of education on the Brazil-Venezuela border, investigating the effects
of the migratory context of this public service on Brazilians and
Venezuelans. The research methodology is characterized as descriptive,
bibliographic, and qualitative, under a systemic methodological approach,
exploratory and participatory. Thus, analyzing the concepts of public
policies and their use in society, identifying and verifying in this way, the
public policies offered in the area of education, which serve Brazilians and
Venezuelans affected by the impacts of migration in the municipality of
Pacaraima.

Keywords: Border. Education. Migration. Public Policies


LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Localização geográfica da Venezuela......................................... 20


Figura 02 - Quantitativo de fluxos migratórios na fronteira Brasil –
25
Venezuela (Pacaraima – RR 2017/2019)....................................
Figura 03 - Ciclo das Políticas Públicas em Sete Passos.............................. 46
Figura 04 - Localização Geográfica do município de Pacaraima-RR............ 49
Figura 05 - Fluxo migratório de venezuelanos no Brasil-Pacaraima-RR
2017/2019.................................................................................... 53
Figura 06 - Fluxo de imigrantes no espaço urbano em Pacaraima/RR......... 57
Figura 07- Fluxo de imigrantes na área de comércio em Pacaraima/RR..... 58
Figura 08 - Aspectos socioambientais da migração venezuelana................. 59
Figura 09 - Localização geográfica da Escola Municipal Casimiro de Abreu
61
no município de Pacaraima/RR..................................................
Figura 10 - Escola Municipal Casimiro de Abreu – Pacaraima/RR............... 62
Figura 11 - Espaço Escolar: sala de informática, alunos na quadra e em
sala de aula na Escola Municipal Casimiro de Abreu em
Pacaraima/RR............................................................................. 71
LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Descrição do quantitativo e funcionários da Escola Municipal


Casimiro de Abreu (2020)............................................................. 61
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

% Porcentagem
BR Rodovia Federal
BV-8 Marco 8, na fronteira Brasil e Venezuela
KM Quilômetros
LISTA DE SIGLAS

ACNUR Alto Comissionado das Nações Unidas para os Refugiados


AVSI Associação Voluntários para o Serviço Internacional
CADH Convenção Americana de Direitos Humanos
CDIF Comissão permanente para o Desenvolvimento e a Integração da
Faixa de Fronteira
CIDH Comissão Interamericana de Direitos Humanos
CONARE Comitê Nacional para os Refugiados
CPF Cadastro de Pessoa Física
DOF Departamento de Operações de Fronteiras
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira
EJA Educação de Jovens e Adultos
ENAFRON Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras
END Estratégia Nacional de Defesa
EUA Estados Unidos da América
GEFRON Grupo Especial de Segurança de Fronteiras
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MJ Ministério da Justiça
OEA Organização dos Estados Americanos
OIM Organização Internacional para as Migrações
ONG Organização Não Governamental
ONU Organizações das Nações Unidas
OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo
PCN Programa Calha Norte
PPDFF Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de Fronteira
PDN Política de Defesa Nacional
PEIF Programa Escolas Interculturais de Fronteiras
PEF Plano Estratégico de Fronteiras
PEFRON Policiamento Especializado de Fronteira
PITRIG Posto de Interiorização e Triagem
PMEMP Plano Municipal de Educação do Município de Pacaraima
PNE Plano Nacional de Educação
PNLD Programa Nacional do Livro e do Material Didático
PPGSOF Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras
PRI Posto de Recepção e Identificação
RNE Registro Nacional de Estrangeiros
SISFRON Sistema Integrado de Monitoramento das Fronteiras
UERR Universidade Estadual de Roraima
UFRR Universidade Federal de Roraima
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................. 15
CAPÍTULO I – RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL: FRONTEIRA INTERNACIONAL COM
A REPÚBLICA BOLIVARIANA DA VENEZUELA........................... 19
1.1 FRONTEIRA BRASIL-VENEZUELA: Pacaraima e Santa Elena de
Uairén................................................................................................ 21
1.2 FRONTEIRA: APORTES CONCEITUAIS......................................... 26
1.3 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E AS DIRETRIZES EM
FRONTEIRAS INTERNACIONAIS.................................................... 29
1.4 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS EM REGIÕES
DE FRONTEIRAS.............................................................................. 32
CAPÍTULO II – POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO: A
MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO ESPAÇO ESCOLAR E
URBANO DO MUNICÍPIO DE PACARAIMA - RORAIMA
........................................................................................................... 39
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICA EDUCACIONAL..................... 39
2.2 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA, CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E
HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE PACARAIMA – RR....................... 49
2.2.1 A MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO ESPAÇO URBANO EM
PACARAIMA-RR.............................................................................. 52
CAPÍTULO III – A ESCOLA MUNICIPAL CASIMIRO DE
ABREU.... 60
3.1 A MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO ESPAÇO ESCOLAR EM
PACARAIMA –
RR............................................................................. 63
CONCLUSÃO.................................................................................... 78

REFERÊNCIAS................................................................................. 82
15

INTRODUÇÃO

Por meio da pesquisa “Políticas públicas na área da educação na fronteira


Brasil-Venezuela e a migração venezuelana”, analisamos os fatos que vêm
ocorrendo, nos últimos anos, nessa região de fronteira, isto é, a intensificação da
migração de venezuelanos para o Estado de Roraima. Para entender como esse
processo migratório vem impactando a oferta de serviços básicos da educação e de
que maneira o governo brasileiro vem lidando com essa nova situação que traz
desafios, entre outros espaços, no âmbito das políticas públicas sociais.
O Estado de Roraima, localizado na região Norte do Brasil, possui limite com
dois países: República Bolivariana da Venezuela e República Cooperativista da
Guiana; em ambas acontecem a entrada de pessoas que vêm ao Brasil para utilizar
os serviços básicos e públicos, como a educação. Essa pesquisa foi realizada na
fronteira Brasil-Venezuela, e as políticas públicas ofertadas na área da educação no
lado brasileiro da fronteira, na cidade de Pacaraima, tendo em vista a intensificação
da imigração venezuelana para o Brasil, em particular para a nossa região.
Pacaraima é a primeira cidade brasileira, após cruzar a fronteira vindo da
Venezuela, sendo um polo de atração. Com o aumento da população de migrantes
venezuelanos entrando em busca dos serviços básicos surge o questionamento
sobre as políticas públicas ofertadas na região. Tais questionamentos dizem respeito
ao conhecimento da população urbana de Pacaraima sobre essas políticas; quem
são os sujeitos e quem são os agentes públicos que a efetivam.
Todos os dias há notícias, por meio da mídia e das relações cotidianas, de
venezuelanos entrando no país, sendo Pacaraima, cidade do Estado de Roraima
que faz fronteira com a Venezuela, a principal porta de entrada, e mesmo que de
forma temporária, utilizam os serviços públicos brasileiros. Este retrato demonstrou a
necessidade de uma pesquisa científica que nos levasse a compreensão dessa
realidade.
Com a pretensão de contribuir e ampliar os conhecimentos sobre a questão,
a pesquisa reflete sobre a região de fronteira, e seus processos particulares, visando
compreender os impactos da migração de venezuelanos nas políticas públicas na
área de educação na fronteira Brasil-Venezuela.
Nesse sentido, buscamos identificar as principais políticas públicas na
educação na fronteira Brasil-Venezuela e analisar o atendimento a brasileiros e
16

venezuelanos no setor educacional, assim como refletir sobre os acordos


internacionais na área da educação e sua aplicabilidade no contexto fronteiriço
estudado.
A pesquisa se caracteriza como descritiva, bibliográfica, e qualitativa, sob
uma abordagem metodológica sistêmica, de caráter exploratório e participativo, pois
busca analisar as causas e efeitos dos fenômenos que contribuem para análise dos
conceitos de políticas públicas e a sua utilização na sociedade, explicando o
conceito de políticas públicas, quem são os agentes públicos, os tipos e suas
abordagens teóricas, já identificando e verificando as políticas públicas oferecidas na
área da educação, a avaliação das políticas públicas educacionais existentes,
analisando o processo e os possíveis impactos da migração nesse contexto as
formas de atendimento de brasileiros e venezuelanos.
A revisão bibliográfica foi desenvolvida com o intuito de analisar os principais
conceitos e abordagens sobre o contexto da fronteira Brasil e Venezuela,
apresentando as cidades de Pacaraima e Santa Elena de Uairén, sobre os acordos
internacionais abordando os acordos internacionais entre o Brasil e a Venezuela,
principalmente os que incluem a fronteira nas cidades de Pacaraima e Santa Elena
na área da educação, bem como eleger os autores que norteiam a pesquisa.
Para melhor entendimento do leitor a pesquisa está dividida em seções. Na
seção desta pesquisa intitulada “capítulo I”, discute sobre o contexto da fronteira
Brasil e Venezuela, apresentando as cidades de Pacaraima e Santa Elena de
Uairén, utilizou-se os dados disponíveis pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), com seu panorama das cidades que possui os dados atualizados
sobre a cidade de Pacaraima, local da pesquisa.
No item que trata, sobre os acordos internacionais, foram abordados os
acordos internacionais entre o Brasil e a Venezuela, principalmente os que incluem a
fronteira nas cidades de Pacaraima e Santa Elena na área da educação. Mas
primeiramente são expostos o Protocolo de San Salvador 1 que versa sobre os
Direitos Humanos dos migrantes e dos membros de sua família, o que inclui o direito
a educação, independentemente de que país é originário e as suas causas para
buscar outros países.

1
Protocolo de San Salvador, realizada em novembro de 1988, em El Salvador. Com o objetivo
de discutir sobre os direitos humanos em matéria de direitos econômicos, sociais e culturais, entre os
países partes da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos.
17

A Presidência do Brasil, em 2017, instituiu a Lei de Migração, o que foi


considerado pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos como um grande
avanço feito pelo Brasil e principalmente a total rejeição da discriminação e da
xenofobia, com a definição dos direitos e deveres do imigrante no país.
Na seção intitulada “capítulo II”, foram abordadas teorias que relacionam os
conceitos de políticas públicas e a sua utilização na sociedade, explicando o
conceito de políticas públicas, quem são os agentes públicos, os tipos e suas
abordagens teóricas, já identificando e verificando as políticas públicas oferecidas na
área da educação, a avaliação das políticas públicas educacionais existentes,
analisando o processo e os possíveis impactos da migração nesse contexto as
formas de atendimento de brasileiros e venezuelanos.
Usando principalmente os autores Souza (2013), com “Políticas Públicas:
uma revisão da literatura”, que discute desde o início da construção do conceito e
seus autores. O livro “Políticas Públicas: conceitos, esquemas e análise”, casos
práticos do Secchi (2006), mostra os conceitos das políticas públicas, quais são os
critérios de um problema para ser colocado na agenda, a elaboração e avaliação
das políticas.
Para embasar a temática que trata sobre a educação, a dissertação da Paz
(2016), “Escolas bilíngues na fronteira: inclusão de discentes venezuelanos nas
escolas municipais da área urbana de Pacaraima”, mostra o acordo que existia entre
as escolas de Pacaraima e Santa Elena de Uairén e como essa troca contribuía na
aprendizagem dos alunos e professores. Göttems (2012), com a sua obra “Direito
Fundamental à educação”, descreve a importância da educação para a vida em
sociedade e a professora Alves (2010), na sua obra “Infância e Imigração no
contexto escolar português”, debate sobre a questão da migração e a escola, sendo
seu ponto principal a inserção do aluno estrangeiro na escola, a relação do aluno
com o professor e com os seus colegas de sala de aula.
Nesta mesma seção, no item que trata, sobre a fronteira e migração,
buscou-se enfatizar a fronteira, com enfoque sociopolítico e de identidades,
procurando discutir diversos significados expostos por estudiosos sobre a temática.
Num primeiro momento procurou-se apresentar os diferentes conceitos de fronteira.
Para tanto foram usados Becker (2009), em seu livro “Amazônia: geopolítica na
virada do III milênio” é usada para definir o conceito de fronteiras, ponto muito
importante para uma total compreensão. Na questão da Migração, Castro (2005), na
18

sua obra “Estranhamentos e Identidades”, traz a discussão do estrangeiro e o nativo.


A questão das diferenças culturais é discutida por Laraia (2009), em seu livro
“Cultura: um conceito antropológico”.
Na seção “capítulo III”, tem-se uma análise in loco na Escola Municipal
Casimiro de Abreu, verificando como docentes e discentes interagem em sala de
aula, como os gestores de escolas e os agentes públicos da secretaria de educação
estão lidando com essa nova temática.
Assim, esperamos ter atingido o objetivo principal proposto, que é a análise
das políticas públicas na área de educação na fronteira Brasil-Venezuela,
averiguando os efeitos do contexto migratório desse serviço público a brasileiros e
venezuelanos.
Foi adotado como procedimento metodológico, a pesquisa documental e
bibliográfica sobre a temática, em arquivos públicos e de fontes estatísticas sobre a
migração de venezuelanos para o Brasil no período de 2014 a 2019. Quanto a
abordagem, o método usado nesta pesquisa foi a entrevista não diretiva ou aberta, o
que permite a observação e descrição numa visão mais particular.
A pesquisa de campo foi realizada na Escola Municipal Casimiro de Abreu e
na Secretaria Municipal de Educação de Pacaraima. Para se obter uma percepção
real das dificuldades encontradas pelos docentes e discentes e na Secretaria de
Educação o questionamento sobre como estão sendo analisadas e colocadas em
prática as políticas públicas educacionais e os acordos internacionais que ocorrem
em Pacaraima e Santa Elena de Uairén.
19

CAPÍTULO I – RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS DA REPÚBLICA FEDERATIVA


DO BRASIL: FRONTEIRA INTERNACIONAL COM A REPÚBLICA BOLIVARIANA
DA VENEZUELA

Os processos migratórios são complexos, e mais ainda as migrações


transnacionais, por envolverem aspectos de fronteira nacional, soberania e
processos de transculturação (RODRIGUES, 2006).
Roraima é o estado mais ao norte do Brasil mantendo-se isolado do resto do
país por várias décadas. Porém é uma região estrategicamente limitada com a
Venezuela ao norte e a leste com a República Cooperativa da Guiana, está de certa
forma com as portas aberta para o comércio exterior. Roraima é um dos estados
mais novos e um dos menos desenvolvido do Brasil, fato esse que está relacionado
por um estado recente e até então isolado do restante do país.
É significativo acentuar que a migração é um fator determinante no
crescimento demográfico nas regiões de fronteira como Pacaraima, cidade que
compõem a região de fronteira, sendo a referência nos serviços públicos e na
relação comercial que envolvem os sujeitos sociais que fazem o trânsito migratório.
Portanto, a alteração em seu quadro demográfico representa dados significativos de
análise para a conjuntura socioeconômica e cultural da região fronteiriça.
O país conhecido como Venezuela ou República Bolivariana da Venezuela,
é um Estado independente localizado no norte da América do Sul. Limita-se ao norte
com o mar do Caribe; ao sul com o Brasil; a leste com a República Cooperativa da
Guiana; e a oeste com a Colômbia sendo considerada uma região de fronteira
(Figura 01).
A capital do país é a cidade de Caracas. Venezuela abrange uma área de
912 050 km2 que corresponde ao seu território nacional. (Figura 01). Sua população
é de aproximadamente 28,5 milhões de habitantes sua composição étnica é oriunda
da miscigenação ameríndia com brancos de origem espanhola distribuídos
principalmente em seus centros urbanos com destaque para a capital Caracas e a
cidade de Maracaibo (FREITAS, 2000).
20

Figura 01 – Localização Geográfica da Venezuela

Fonte: SOUSA, online..

Seu clima e formação vegetal sofrem influência do relevo principalmente dos


Andes, e variação do clima quente e úmido característico do bioma amazônico
apresentando duas estações bem definidas (seca e chuvosa).
Devido sua formação geológica a Venezuela apresenta solo e subsolo com
presença de uma enorme jazida de petróleo fazendo parte da OPEP (Organização
dos Países Exportadores de Petróleo). Esse recurso natural faz do país um dos
grandes produtores de combustíveis fósseis do mundo. Percebe-se dessa forma,
que o país sobrevive da econômica petrolífera sofrendo constantemente oscilações
e instabilidade na sua economia local por conta das altas e baixas do preço do
combustível no mercado mundial (FREITAS, 2000).
21

1.1 FRONTEIRA BRASIL-VENEZUELA: PACARAIMA E SANTA ELENA DE


UAIRÉN

As fronteiras físicas entre países, existem devido a acordos feitos entre os


Estados nacionais que definem qual o limite de cada um. O tema dessa pesquisa é a
fronteira terrestre entre o Brasil e a Venezuela. Este é um espaço em que há muito
intercâmbio de pessoas e que possui seu próprio movimento de entradas e saídas
na fronteira.
Por muitos anos Pacaraima e Santa Elena de Uairén, foram cidades que
possuíam uma convivência tranquila, com relação a ida e vinda de pessoas, com
compra de mercadorias, uso dos serviços básicos no Brasil, inclusive a área da
educação em que muitos venezuelanos estudavam em Pacaraima para aprender o
português e brasileiros que estudavam na Venezuela para aprender o espanhol,
ocorrendo a pluralidade cultural o que, por si, já justificaria uma política de inclusão
social dos alunos venezuelanos nas escolas do município brasileiro (PAZ, 2016).
Estas cidades apresentam características de ser uma região de muita troca
e que, em teoria deveriam ter regulamentações específicas na educação, saúde,
segurança, meio ambiente, lazer e comércio. Afinal, todos estes elementos são
compartilhados com pessoas de outros países que estabelecem relações de
amizades e que acabam perdendo a noção do limite internacional, ocorrendo
integrações em nível local que estão além dos Estados nacionais (FERNANDES,
2014).
A cidade de Pacaraima, também conhecida como vila de BV-8, está
localizada na fronteira do Brasil com a Venezuela, e tem uma população de 17.401
pessoas, de acordo com a última estimativa de população do IBGE em 2019, com o
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)2 de 0,650 muito próximo da média
nacional de 0,761 (IBGE, 2010). Apesar de estar acima da média, a cidade não
possuía estrutura adequada para receber muitas pessoas em pouco tempo, antes
mesmo da chegada dos venezuelanos.
Distante da capital de Roraima, Boa Vista, cerca de 215 km pela rodovia BR-
174, único acesso rodoviário à cidade. O trajeto de Boa Vista à Pacaraima pode ser

2
A medição do IDH é de 0 a 1, quanto mais próximo do 1 mais desenvolvido é o país. No ano
de 2019 o Brasil ficou em 79º no ranking mundial, com 0,761 (BRASIL, 2010).
22

feito, em média, em duas a três horas de viagem, podendo sair da capital em um


transporte particular, por táxi intermunicipal disponível no terminal de transporte
intermunicipal, localizado no bairro Caimbé ou por ônibus que sai da rodoviária
Internacional de Boa Vista, com horário fixo.
Já Santa Elena de Uairén, município ao sul do Estado Bolívar 3, é a primeira
cidade do outro lado da fronteira, longe de Pacaraima cerca de 18 km. Localidade de
clima fresco, fato que atrai inúmeras pessoas que moram na capital Boa Vista, que
queriam escapar do clima quente, além do comércio local que se mostrava atrativo
para os brasileiros até a intensificação da crise.
Antes da atual crise venezuelana, os mercados daquele país eram sempre
cheios de produtos alimentícios, higiênicos e utensílios para a casa. Muitos
brasileiros faziam as suas compras do mês no país vizinho, uma vez que
compensava economicamente, com o câmbio baixo 4, que colocava a moeda
brasileira com muito valor, a gasolina barata e produtos de qualidade, de acordo
com o critério da população. Com a crise econômica e política, o comércio da região
ficou afetado, com falta de mercadorias. Dessa forma, deixou de ser uma opção
para os brasileiros.
Nesse contexto, que já se intensificava em 2014, a população venezuelana
começa a migrar para outros países sendo o Brasil o quinto país mais procurado 5 e,
em particular, o Estado de Roraima, um dos destinos buscados por eles. É nesse
cenário que se amplia a procura por atendimento nos serviços básicos do Brasil,
notoriamente no município fronteiriço de Pacaraima, principalmente por educação e
saúde. Nessa pesquisa, o tema central são as políticas voltadas para a educação e
os impactos desse processo de migração nessa região fronteiriça.

3
“Bolívar é o maior Estado venezuelano, possuindo 233.498km², ou seja, 26% da área total do
país e sua capital denomina-se Ciudad Bolívar. Este Estado está inserido em uma região conhecida
como Guayana, localizado ao nordeste da América do Sul, compreendida entre o Oceano Atlântico e
os rios Orinoco, Casiquare, Negro e Amazonas” (QUEIROZ; VIANA; LIMA, 2010, p.2).
4
1 Bolívar equivale ao Real brasileiro cerca de R$ 0,4399 centavos conforme a taxa de câmbio
oficial (DÓLAR HOJE, 2019, online). Acesso 08 de marco 2020.
5
Conforme o ACNUR Brasil, a Agência da ONU para refugiados, a Colômbia é o que mais
recebe migrantes e refugiados da Venezuela, com mais de 1,1 milhão, o Brasil fica na quinta posição
com 96 mil (UNHCR, 2019).
23

Para melhor análise dessa nova dinâmica da fronteira Brasil-Venezuela, faz-


se necessário entender e conhecer os acordos internacionais a que estão sujeitos os
dois Estados nacionais, com intuito de analisar sua pertinência e exequibilidade
nessa região fronteiriça.
O estado de Roraima situa-se no extremo norte do país em região de
fronteira o que favorece a entrada e saída de pessoas oriundas de países vizinhos
como Guiana e Venezuela. Atualmente o estado vem apresentando um cenário
socioespacial com grande contingente de pessoas vindas da Venezuela em busca
de melhores condições de vida. Todavia, vale lembrar que essas pessoas não
escolhem o estado especificamente por ter um futuro promissor, ou porque buscam
os melhores postos de trabalhos. Tendo em vista a baixa capacidade do estado de
gerar emprego para os recém-chegados (GALDINO, 2018).
A chegada desses imigrantes tem causado um enfrentamento de resistência
por parte da população local, que teme ameaça de um colapso tanto na saúde,
quanto na educação, bem como na segurança pública por se tratarem de
necessidades básicas já precárias para os que aqui habitam.
Outro fator social está relacionado à questão da divergência cultural, como a
questão da língua. Além disso, essas pessoas que adentram o estado praticamente
se sentem ameaçados com a perda dos seus direitos em decorrência da crise
econômica e política em seu país de origem (BOAS; BORGES, 2018).
A situação política na Venezuela começou a se agravar após a morte do
Presidente Hugo Chávez em 2013, quando Nicolas Maduro assumiu a presidência
da Venezuela. A conjuntura começou a mudar com a crise econômica, que
intensificou a crise política, deixando a situação mais precária para a população
venezuelana, com dificuldades de sobrevivência, devido a altíssima taxa de inflação,
que tornou impraticável a vida de amplos setores populacionais, levando-os a buscar
em outros países as condições adequadas para viver.
O Brasil passou a ser, então, um dos destinos desses migrantes, sendo o
Estado de Roraima a porta de entrada. A cidade de Pacaraima, por ser a região de
fronteira com aquele país, tem recebido cotidianamente uma média de 500 a 600
venezuelanos que atravessam a fronteira (FERREIRA, 2020), esses por não terem
condições de alugarem um lugar acabam dormindo na rua e ficam assim até que
consigam ajuda pelas ONG’s, pelo governo ou quando conseguem emprego.
24

A porta de entrada para o Brasil e para a legalização de documentos, se faz


por meio da Operação Acolhida, que foi criada no início de 2018, pelo Governo
Federal, que conta com o apoio das Agências da Organização das Nações Unidas
(ONU) e organizações da sociedade civil. Trata-se de uma assistência emergencial
no acolhimento dos venezuelanos em situação de vulnerabilidade. Todos os
envolvidos na Operação buscam viabilizar a questão humanitária no Brasil, que é
baseada em três eixos: ordenamento da fronteira, abrigamento e interiorização
(R4V, 2019).
Ao entrarem no Brasil, as pessoas passam pelo Posto de Recepção e
Identificação (PRI) e pelo Posto de Interiorização e Triagem (PiTrig) de Pacaraima, a
maioria das pessoas não ficam no Alojamento BV8, lugar onde as pessoas que
estão em processo de documentação (tomando as vacinas necessárias, emitindo os
protocolos de refúgio ou residência e CPF), podem ficar alojadas enquanto
concluem a documentação. Essa situação evita, que muitos durmam na rua e não
finalizem o processo.
Apesar do número de pessoas que passam diariamente pela Operação, ser
considerado alto, muitos conseguem terminar o processo de documentação em até
dois dias e seguem caminho para Boa Vista e/ou para outras regiões do país (por
terem familiares ou pessoas conhecidas em outros lugares). Aos que ficam
temporariamente no alojamento BV-86, estes esperam abrigamento7 ou
interiorização8, e que corresponde a um número inferior ao número de entrada diária
pelos postos da Operação Acolhida.
No início de dezembro de 2018, foi realizada a 8ª Reunião do Comitê
Federal de Assistência Emergencial, criado com a finalidade de dar atenção a
questão migratória dos venezuelanos. O governo federal em parceria com o
Ministério da Defesa coordena o operacional das três frentes, que são o
ordenamento da fronteira, o acolhimento e a interiorização. No decorrer da reunião a

6
Por estar trabalhando na Operação Acolhida, como Oficial de Registro e Dados da
Associação de Voluntários para o Serviço Internacional – Brasil (AVSI – Brasil) em parceria com o
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), há o conhecimento do
quantitativo que passa todos os dias pelos postos de triagem instalados em Pacaraima, em especial
do número de pessoas que pernoitam e de pessoas alojadas esperando viagem por abrigamento ou
interiorização.
7
Modalidade que corresponde a transferência do beneficiário, de um abrigo a um outro abrigo,
no caso sai de Pacaraima e vai para algum abrigo de Boa Vista, sendo o ACNUR responsável por
esse deslocamento.
8
Modalidade que corresponde ao deslocamento voluntário do beneficiário a outras partes do
Brasil, a OIM e o Exército Brasileiro são os responsáveis.
25

Polícia Federal atualizou os dados migratórios com relação aos venezuelanos a


nível nacional, e na figura abaixo a nível de Roraima (AGUIAR, 2018).

Figura 02 – Quantitativo de Fluxos Migratórios na fronteira Brasil – Venezuela


(Pacaraima – RR 2017/2019)

Fonte: BRASIL, 2020.

Dessa forma, o cenário atual que Roraima tem apresentado, em virtude do


processo migratório de venezuelanos no estado, em especial na região de
Pacaraima, no qual o intenso tráfego de pessoas tem provocado instabilidade na
população, que se sente ameaçada com relação a oferta dos serviços essenciais,
como a educação. Tal situação requer medidas nas políticas públicas educacionais
para atender a rede de ensino que necessita se adequar em relação à migração
venezuelana no estado de Roraima e seu impacto social na sociedade roraimense.
26

1.2 FRONTEIRA: APORTES CONCEITUAIS

A presente pesquisa foi realizada no espaço fronteiriço entre o Brasil e a


Venezuela. Becker (2009, p. 20), afirma que fronteira pode ser compreendida da
seguinte forma “[...] como um espaço não plenamente estruturado, e por isso
mesmo, potencialmente gerador de realidades novas”. As fronteiras geopolíticas
existem devido a acordos firmados entre os países limítrofes, sendo alvos de política
internacional e, portanto, atentos as relações diplomáticas entre os Estados
nacionais.
A fronteira por si só tem a sua natureza, traçadas em termos de soberania
nacional, definida por meio de acordos, e é nesta área que se analisam as zonas de
possíveis conflitos. As fronteiras podem ser delimitadas por obstáculos terrestres,
construído ou não pelo homem como é o caso de serras ou montanhas, além das
fluviais e das marítimas. É comum que as fronteiras sejam vigiadas para evitar a
entrada ilegal de pessoas, de produtos proibidos ou ilícitos (DIAS, 2013).
As definições de fronteiras podem ser caracterizadas como Faixas de
Fronteira, Linhas de Fronteira, Zonas de Fronteira, Fronteira Natural e Fronteira
Artificial. De acordo com a Constituição Federal de 1988, a Faixa de Fronteira tem a
definição de até 150 km de largura, ao longo da linha de fronteira, como está bem
explicado no Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de Fronteira
(PPDFF):

[...] uma faixa de até 150 km de largura ao longo de 15.719 km da fronteira


terrestre brasileira, que abrange 588 municípios de 11 Unidades da
Federação [...] essa área corresponde a 27% do território brasileiro e reúne
uma população estimada em dez milhões de habitantes. O Brasil faz
fronteira com dez países da América do Sul e busca a ocupação e a
utilização da Faixa de Fronteira de forma compatível com sua importância
territorial estratégica (BRASIL, 2009, p.13).

Desenvolver essa faixa é de interesse nacional e até mesmo internacional, já


que é um lugar estratégico não só para a integração entre as cidades limítrofes, mas
também para a prevenção de possíveis ameaças. As regiões da faixa de fronteira
em sua maioria são regiões complexas nas relações com os seus vizinhos, já que
vão além das interações econômicas e culturais (BRASIL, 2009).
27

Linha de Fronteira, segundo Borba (2013) é constituída pela linha


imaginária, que pode ser natural ou artificial, segue o traçado estabelecido por meio
de tratados internacionais. A linha tem a ideia de organizar simbolicamente a vida
dos habitantes das cidades fronteiriças, funcionando com critérios de confiança,
oportunidades, qualidades, comportamentos e outros.
Os termos Fronteira Natural e Fronteira Artificial, dizem respeito às
delimitações de cada região ou território. Segundo Azambuja (2008), a diferença
entre os dois é de que os naturais são formados por rios, serras e outros acidentes
geográficos, enquanto que as artificiais, não havendo naturalmente os pontos de
referência geográfica, são delimitadas por linhas geométricas, assinaladas por
marcos divisórios feitos pelo homem.
Mais uma definição a ser utilizado é o de Zona de Fronteira. No ano de
2005, foi estudada e escrita a Proposta de Reestruturação do Programa de
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira e está define “[...] é composta pelas ‘faixas’
territoriais de cada lado do limite internacional, caracterizadas por interações que,
embora internacionais, criam um meio geográfico próprio de fronteira, só perceptível
na escala local/regional das interações transfronteiriças” (BRASIL, p. 152).
Azambuja (2008) compreende que a Zona seja o conceito mais importante
tanto na área política, quanto na econômica, militar e moral entre os países
fronteiriços, pois está não serve apenas para a separação entre eles, mas sim para
uma integração entre as culturas, os interesses de cada um e os objetivos diferentes
que cada um deseja alcançar, assim como a compreensão do fenômeno migratório
internacional.
Afinal, a Zona de Fronteira tem a caracterização de ter, em algumas
fronteiras, a interação entre as cidades gêmeas, e para que uma cidade seja
definida como tal, não precisa que ocorra o processo de conurbação 9 com o país
vizinho, o que favorece o processo de integração entre os países, percebido, às
vezes, apenas em escala regional/local. Campos (2014) comenta que definir as
cidades gêmeas é importante devido à necessidade que esses municípios têm por
políticas públicas, por estarem em área de fronteira sendo um fator importante na
integração sul-americana.

9
“[...] ocorre quando uma cidade passa a absorver núcleos urbanos localizados a sua volta,
pertençam eles ou não a outros municípios. Uma cidade absorve outra quando passa a desenvolver
com ela uma ‘intensa vinculação socioeconômica’” (VILLAÇA, 1997, p. 06).
28

Segundo a classificação do Ministério da Integração Nacional, publicado no


Diário Oficial da União do dia 24 de maio de 2014, por meio da Portaria nº 125, as
cidades de Pacaraima no Brasil e Santa Elena de Uairén na Venezuela, são
consideradas cidades gêmeas, devido à proximidade, o que faz com que as
interações sociais e econômicas aconteçam como se fosse numa só cidade.
Estas cidades têm a característica de ser uma área de muito intercâmbio e
que, em teoria, deveriam ter regulamentações específicas na educação, saúde,
segurança, meio ambiente, lazer e no comércio. Afinal todos estes elementos são
compartilhados com pessoas de outros países que estabelecem relações de
amizades e que acabam perdendo a noção do limite internacional, ocorrendo
integrações em nível local nas quais o Estado não intervém (FERNANDES, 2014).
Por serem qualificadas como cidades-gêmeas, estas deveriam ser ponto
prioritário na elaboração das políticas públicas, devido as relações que se
estabelecem nessas regiões, e que acabam compartilhando serviços públicos um do
outro. Em consequência dessa situação a fronteira se torna um desafio para a
soberania do Estado, por ter que fiscalizar e controlar.

A elaboração e a implementação de políticas públicas voltadas ao


desenvolvimento da área de fronteira são dificultadas por barreiras legais,
diplomáticas, falta de articulação do território com o centro político-decisório
do país, e, em sua maioria, dos próprios estados a que pertencem,
consequente falta de informações sobre a região e o elevado grau de
informalidade de diversas ações executadas na linha de fronteira (BRASIL,
2010, p. 28).

A fronteira, em especial na parte da educação, é um tema pouco discutido e


as políticas públicas dessa região acabam não sendo especificas para cada
necessidade fronteiriça, a causa disso talvez seja pela “[...] tradição institucional
nacional brasileira em relação as suas fronteiras, sejam elas simbólicas, políticas ou,
como em alguns casos, fruto do entrecruzamento das duas vertentes” (PEREIRA,
2009, p. 53).
A fronteira é um local onde se compartilha de quase tudo, então é difícil
demarcar quem pode usar tal serviço e quem não, ainda mais quando a vida
humana e suas perspectivas estão em risco (ASSIS, 2016). Mas há a necessidade
de se pensar em políticas de médio e longo prazo para a integração com a
população local, garantindo acesso à educação, saúde e também a um emprego.
29

Além de que o Brasil, com sua dimensão continental, que se limita com
vários países da América do Sul, ainda tem presente, um sentimento de hostilidade,
na sociedade, com teor xenofóbico e racista com alguns grupos de imigrantes. Em
Roraima, muitos passaram a culpar os venezuelanos pela insuficiência de recursos
na educação, saúde e segurança, como será visto no próximo ponto sobre
migração.

1.3 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E AS DIRETRIZES EM FRONTEIRAS


INTERNACIONAIS

Para início de reflexão sobre os aspectos constitucionais da República


Federativa do Brasil é fundamental explanar sobre os princípios constitucionais
fundamentais, elucidando primeiramente o princípio republicano, que foi introduzido
no Brasil por meio da Constituição de 1891, a partir do declínio do modelo imperial
outorgado e vigente desde 1824.
Nessa perspectiva, a constituição de 1988, prevê no Art. 3º que constituem
os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária; a garantia do desenvolvimento nacional; a
erradicação da pobreza e a marginalização e reduzindo as desigualdades sociais e
regionais; a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação10.
No que tange suas relações internacionais o Art. 4º da Constituição da
República Federativa do Brasil rege suas relações internacionais pelos seguintes
princípios: independência nacional; prevalência dos direitos humanos;
autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade entre os estados; defesa
da paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo;
cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; concessão de asilo
político.

10
Art. 3°: I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento
nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
30

Dessa forma, o país dentro da legalidade constituinte busca de forma


diplomática mediante o parágrafo único do Art. 4º que rege suas relações
internacionais, a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações11.
A interpretação desse presente artigo permite os primeiros laços de
integração migratória do Brasil com seus países vizinhos, como se pode perceber no
Art. 21 que versa sobre as competências da União no que tange as matérias de
interesse nacional abrangendo, entre outras, as relações internacionais, defesa do
território, a paz interna, as contratações nacionais de alta complexidade e a política
econômica.
Esse artigo prevê que o Brasil deve manter relações com Estados
estrangeiros e participar de organizações internacionais; permitir, nos casos
previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneça temporariamente. O complemento dessas
competências está previsto ainda no Art. 22, inciso XV que prevê os casos de
“emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros”.
Todos esses tramites devem ocorrer sem ferir os direitos e deveres
individuais e coletivos dos não nacionais e dos brasileiros como previsto no Art.
5º que rege que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes12 no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição; ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Com relação às diretrizes em fronteiras internacionais, Scherma (2016)
menciona que após o processo de redemocratização do país, o Brasil passou a
desenvolver políticas de defesa e segurança por meio de projetos e programas com
objetivo de alavancar o desenvolvimento socioeconômico do país, criando uma
11
Art. 4°: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III -
autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da
paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação
entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político.
12
Em conformidade com o Art. 5º Constituição Federal, o estrangeiro residente no Brasil goza
de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das leis e sempre que
lhe for exigido por qualquer autoridade ou seu agente, o estrangeiro deverá exibir documento
comprobatório de sua estada legal no território nacional.
31

cooperação com os vizinhos, no sentido de diminuir os problemas sociais e políticos


que possam vir a colocar em xeque a soberania e a segurança do país.
Dentre os programas e projetos que visam às políticas de fronteiras
internacionais pode-se citar o Tratado de Cooperação Amazônica (1978), o
Programa Calha Norte (PCN) (1985), as políticas de cooperação com os vizinhos,
desenvolvida pelo governo Fernando Henrique Cardoso (1999-2002) que visava a
promoção econômica e social da faixa de fronteira, as políticas de fomento ao
desenvolvimento, do governo Lula (2003-2010), e o Sistema Integrado de
Monitoramento das Fronteiras (SISFRON), no governo Dilma (2011-2014)
(SCHERMA, 2016).
Nesse tocante é fundamental citar o Programa de Promoção do
Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (PPDFF) que prevê:

O fortalecimento das regiões de fronteira e de seus subespaços,


envolvendo a Amazônia, a região central e o Mercosul, configura-se como
uma oportunidade de adquirir a competitividade necessária para o
desenvolvimento sustentável integrado com os países da América do Sul
(BRASIL, 2009, p. 10).

Essas diretrizes das fronteiras internacionais brasileiras conforme, Costa


(2017) foram revisadas na última versão da Política de Defesa Nacional (PDN), no
governo Lula, ressaltando o seguinte texto com ênfase para a defesa, segurança,
soberania do Brasil:

I – segurança é a condição que permite ao país a preservação da soberania


e da integridade territorial, a realização dos seus interesses nacionais, livre
de pressões e ameaças de qualquer natureza, e a garantia aos cidadãos do
exercício dos direitos e deveres constitucionais; II – defesa nacional é o
conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase na expressão militar,
para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra
ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas (BRASIL,
2005, p. 9).

Sendo assim, a Política de Defesa Nacional (PDN) reconhece ainda a


necessidade da cooperação e do desenvolvimento como fatores fundamentais para
a garantia da defesa ressaltam que:

Entre os processos que contribuem para reduzir a possibilidade de conflitos


no entorno estratégico, destacam-se: o fortalecimento do processo de
integração, a partir do Mercosul, da Comunidade Andina de Nações e da
32

Comunidade Sul-Americana de Nações; o estreito relacionamento entre os


países amazônicos, no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica (BRASIL, 2005, p. 13).

Diante desse contexto, Scherma (2016, p. 70) destaca as três diretrizes


estratégicas e fundamentais da segunda PDN, que envolvem diretamente as
relações de fronteiras internacionais do Brasil que consiste em aprimorar,
implementar e atuar na manutenção da defesa das fronteiras, aprimorando a
vigilância, o controle e a defesa das fronteiras, das águas jurisdicionais e do espaço
aéreo nacional. Essas medidas servem para implementar ações para desenvolver e
integrar a região amazônica, com apoio da sociedade, visando, em especial, ao
desenvolvimento e à vivificação da faixa de fronteira. E atua diretamente para a
manutenção de clima de paz e cooperação nas áreas de fronteira.
É importante mencionar que essas políticas internacionais servem para
fortalecer e intensificar o intercâmbio com as Forças Armadas das nações amigas da
América do Sul contribuindo ativamente para o fortalecimento, a expansão e a
consolidação da integração regional com ênfase no desenvolvimento de base
industrial que servem de alicerce para o crescimento e desenvolvimento econômico
do Brasil (COSTA, 2017).

1.4 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS EM REGIÕES DE


FRONTEIRAS

As políticas que regem os tratados e convenções internacionais em regiões


de fronteiras do Brasil estão voltadas para as medidas estratégicas e geopolíticas,
que permeiam o processo de entrada e saída de bens e pessoas a partir do ponto
de vista da defesa e da segurança sem ferir a política internacional dos direitos
humanos.
Deste modo, a maior parte das políticas para as fronteiras tem cunho
político, militar e econômico como o plano de Estratégia Nacional de Defesa (END),
Programas Calha Norte e de Plano de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de
Fronteira (PDFF), Plano Estratégico de Fronteiras (PEF), a Estratégia Nacional de
Segurança Pública nas Fronteiras (ENAFRON) e o SISFRON, e a I Convenção e
Corte Internacional de Direitos Humanos.
33

No que tange as políticas de cunho militar/econômico o Decreto, n° 6.703,


de 18 de dezembro de 2008, cita a Estratégia Nacional de Defesa (END) como um
mecanismo de defesa das fronteiras brasileiras mencionando que:

END também compartilha do pressuposto de que defesa e desenvolvimento


estão profundamente atrelados. Estratégia nacional de defesa é inseparável
de estratégia nacional de desenvolvimento. Esta motiva aquela. Aquela
fornece escudo para esta. Cada uma reforça as razões da outra. Em
ambas, se desperta para a nacionalidade e constrói-se a nação. Defendido,
o Brasil terá como dizer não, quando tiver que dizer não. Terá capacidade
para construir seu próprio modelo de desenvolvimento (BRASIL, 2008, p.
12).

Com relação aos Programas Calha Norte e do Plano de Promoção de


Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (PPDFF), Scherma (2016) frisa que esses
programas têm o objetivo de compatibilizar os esforços de desenvolvimento
fomentados pelo governo às políticas de defesa.

O Ministério da Defesa e o Ministério da Integração Nacional desenvolverão


estudos conjuntos com vistas à compatibilização dos Programas Calha
Norte e de Promoção do Desenvolvimento da Faixa de Fronteira (PDFF) e
ao levantamento da viabilidade de estruturação de Arranjos Produtivos
Locais (APL),com ações de infraestrutura econômica e social, para
atendimento a eventuais necessidades de vivificação e desenvolvimento da
fronteira, identificadas nos planejamentos estratégicos decorrentes das
hipóteses de emprego (BRASIL, 2008).

Nessa perspectiva, Cornetet (2014) evidencia que os últimos governos do


Partido dos Trabalhadores, elucidaram bastante para o desenvolvimento das
políticas de fronteiras, objetivando afirmar o Brasil como grande líder da América
Latina.

Consideramos que o [atual] governo segue com os mesmos objetivos na


esfera internacional mantidos pelo anterior – incluindo a obtenção de
desenvolvimento por meio da diversificação de parceiros comerciais e a
afirmação do Brasil como líder regional –, mas a diplomacia de Dilma busca
esses objetivos com menos ativismo e com mais limitações externas. Dessa
forma, a mudança principal consistiria em uma contenção dos esforços da
diplomacia brasileira. A hipótese secundária, sobre a causa dessa
mudança, consiste na de que a contenção realizada pelo governo atual foi
causada, principalmente, pelo perfil administrativo da nova presidente e pela
conjuntura internacional, marcada por uma crise econômica persistente e
por instabilidade política em algumas regiões, o que constrange a ação do
Brasil (CORNETET, 2014, p. 111-112).
34

Nesse contexto, Scherma (2016, p.73) cita que além das políticas do Plano
Estratégico de Fronteiras (PEF), a Estratégia Nacional de Segurança Pública nas
Fronteiras (ENAFRON) e o SISFRON, outras iniciativas, foram implementadas como
o Policiamento Especializado de Fronteiras (PEFRON), o Grupo Especial de
Segurança de Fronteiras (GEFRON), o Departamento de Operações de Fronteira
(DOF) da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da
Justiça (MJ), e também a partir da realização de seminários que contaram com a
participação de acadêmicos, civis e militares, foram base para o lançamento do PEF,
em 2011.
A Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (ENAFRON) é
um:

Conjunto de políticas e projetos do governo federal, que tem por finalidade


melhorar a percepção de segurança pública junto à sociedade e garantir a
presença permanente das instituições policiais e de fiscalização na região
de fronteira do Brasil, otimizando a prevenção e a repressão aos crimes
transfronteiriços, por meio de ações integradas de diversos órgãos federais,
estaduais e municipais. Tendo como objetivos: promover a articulação dos
atores governamentais, das três esferas de governo, no sentido de
incentivar e fomentar políticas públicas de segurança, uniformizar
entendimentos e ações e otimizar o investimento de recursos públicos nas
regiões de fronteira; e enfrentar os ilícitos penais típicos das regiões de
fronteira e promover um bloqueio e a desarticulação das atividades de
financiamento, planejamento, distribuição e logística do crime organizado e
dos crimes transnacionais, cujos efeitos atingem os grandes centros
urbanos e a sociedade brasileira com um todo (BRASIL, 2011a).

Com relação às políticas do Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) instituído


pelo Decreto no 7.496, de 8 de junho de 2011, é possível estabelecer que o PEF
visa “o fortalecimento da prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos
transfronteiriços e dos delitos praticados na faixa de fronteira brasileira” (BRASIL,
2011a).
Entretanto, os tratados e convenções internacionais em regiões de fronteiras
do Brasil respeitam ainda as leis e políticas internacionais como a observada na I
Convenção e Corte Internacional de Direitos Humanos que, conforme Veras (2010)
consiste em um tratado internacional conhecido também como Pacto de São José
da Costa Rica, que foi pactuado entre os Estados-Membros da Organização dos
Estados da América (OEA).
Esse tratado dispõe sobre as políticas de fronteiras considerando em suma a
política da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que rege a
35

proteção e promoção dos direitos humanos nas Américas assegurando os direitos


dos povos que se encontram em trânsito em função dos diversos fatores que
motivam as migrações. Dessa forma, a CADH em seu artigo 22, que se refere sobre
o Direito de Migração mencionando o direito de circulação e de residência, rege que:

Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de


seu próprio país. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual
for nacional e nem ser privado do direito de nele entrar. O estrangeiro que
se encontre legalmente no território de um Estado-parte na presente
Convenção só poderá dele ser expulso em decorrência de decisão adotada
em conformidade com a lei. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros
(CADH, artigo 22).

Sem embargo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)


menciona que:

O direito internacional dispõe que os países têm tanto o direito como a


obrigação de criar mecanismos para controlar a entrada de estrangeiros em
seu território bem como sua saída desse mesmo território. Dispõe também
que as ações nesse sentido devem ser realizadas com o devido respeito
aos direitos das pessoas afetadas e que a observância de princípios
fundamentais como a não discriminação e o direito a integridade pessoal
não pode subordinar-se à implementação dos objetivos das políticas
públicas (CIDH Resolução 3/08).

Sendo assim, fica evidente que os direitos atribuídos a pessoa humana são
superiores ao poder do Estado, no que tange a garantia legal desses direitos. Assim,
é dever do Brasil, juntamente com os demais Estados Nacionais pensarem e
repensarem a criação ou atualização de mecanismos que possam efetivar as
políticas migratórias que permeiam as relações de fronteiras entre o Brasil e seus
países vizinhos.
Dessa forma, a seguridade desses direitos é conferida mediante aos
Acordos e Relações Internacionais estabelecidos entre as partes. Logo, a presente
pesquisa parte dos estudos das Relações Internacionais, com destaque para a
indicação dos acordos internacionais a nível mundial e local no caso da região
fronteiriça Brasil (Pacaraima) e Venezuela (Santa Elena Uairén). Marinho (2008)
define as Relações Internacionais como uma interação externa entre os diversos
atores, as relações políticas, econômicas e sociais dos diferentes Estados que vão
36

além da fronteira entre eles. É um campo interdisciplinar que envolve poder,


diplomacia, Estados, regimes e ordens internacionais.
O Protocolo13 de San Salvador é uma parte adicional à Convenção
Interamericana sobre os Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos,
sociais e culturais. Os países-membros são os mesmos que participaram do Pacto
de San José14, que foi a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, este
serve de reafirmação sobre os direitos essenciais do homem (CIDH, s/d).
O artigo 13, do Protocolo de San Salvador, diz respeito ao Direito à
Educação. Onde toda pessoa tem o direito à educação, em especial os Estados-
membros que possuem o dever de oferecer educação digna, de qualidade, plural e
com liberdade. Tornando-se uma educação acessível, obrigatória, de qualidade e
gratuita proporcionando um ensino que incentiva as pessoas a participarem da
sociedade de forma efetiva, respeitando a pluralidade (CIDH, s/d).
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)15, esclarece quais
são os objetivos centrais do Protocolo de San Salvador “[…] os direitos essenciais
do homem não derivam do fato de ser ele nacional de determinado Estado, mas sim
do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que
justificam uma proteção internacional [...]” (CIDH, s/d).
Busca-se com este Protocolo, esclarecer que o objetivo central não seja
desrespeitado e que jamais ocorra a violação dos direitos. Considerando que há
uma estreita relação não somente com os direitos humanos e sim com todos os
direitos válidos relacionados à cultura, saúde, educação, ao social, o econômico e
aos civis e políticos de cada ser humano livre (CIDH, s/d).
O protocolo de San Salvador, reafirma a necessidade que há em garantir os
direitos básicos, mesmo que este já tenha sido discutido várias vezes, mas somente
o debate e a reafirmação sobre o assunto é que chegarão à perfeição e proteção
desses direitos. Sobre a educação o Protocolo de San Salvador, define no artigo 13,
“1. Toda pessoa tem direito à educação” (CIDH, s/d).

13
Guimarães (2009) em seu livro define Protocolo, como um termo usado de forma indistinta,
seja ele um Tratado bilateral ou multilateral, consistindo em uma etapa complementar de um Tratado
Internacional. Ou seja, trata-se de um Tratado secundário que está ligado a um Tratado principal.
14
Foi sediada em São José da Costa Rica e que fica garantida a vigência da Convenção de
1969, que possui como proposito o respeito a pessoa humana, independentemente de ser um
nacional ou não.
15
“Órgão principal e autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), encarregado
da promoção e proteção dos Direitos Humanos no continente americano” (OEA, s/d).
37

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), afirma


que o Brasil tem um papel pioneiro e de liderança na proteção internacional de
refugiados, tendo formulado uma das legislações mais modernas sobre o tema no
mundo. O Estatuto dos Refugiados, criado em 1951 é um instrumento amplo que
assegura os direitos humanos e as liberdades fundamentais dos seres humanos em
situação de refúgio (GAZZOLA, 2018).
O Brasil implementou o Estatuto dos Refugiados por meio da Lei 9.474/97, e
em seu item III do Art. 1º define que será reconhecido como refugiado todo indivíduo
que “devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a
deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país”. Desta maneira,
qualquer ser humano que se encaixe nesse requisito pode solicitar refúgio no Brasil,
assim que estiver em território brasileiro (GAZZOLA, 2018).
Foi criado o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), em parceria
com o Ministério da Justiça em conformidade com a Convenção sobre o Estatuto
dos Refugiados de 1951 e o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967
com a implementação das demais fontes do Direito Internacional. Ele é o
responsável em analisar, conceder e até mesmo determinar a perda do status de
refugiado (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1997)
Há duas maneiras pelas quais o fluxo migratório que vem da Venezuela,
país membro-pleno do Mercosul desde 2012, pode entrar no território brasileiro, pelo
pedido imediato de refúgio ou de residência temporária, por dois anos,
convencionada pelo acordo Mercosul e que ao fim deste prazo pode solicitar
permanência no país. Ambos garantem a igualdade de direitos e as liberdades civis,
socioeconômicas e culturais dos nacionais brasileiros (GAZZOLA, 2018).
No dia 24 de maio de 2017, a Presidência do Brasil instituiu a Lei 13.445,
ficando conhecida como a Lei de Migração, esta substitui o Estatuto do Estrangeiro
(Lei nº 6.815/80), estabelecendo novos princípios e garantias ao migrante. Segundo
Novo (2018) o Estatuto do Estrangeiro deixa claro que “a lei é bastante inovadora e
está em consonância com obrigações assumidas pelo Brasil. A antiga lei adotava
uma postura de segurança nacional e de criminalização do estrangeiro”.
A nova lei migratória repudia expressamente a discriminação e a xenofobia,
sendo criada em concordância com princípios e direitos fundamentais estabelecidos
na Constituição Federal de 1988. A desburocratização deveria facilitar a inclusão do
migrante e o processo para que obtenham seus documentos, regularizando assim
38

sua situação no país, combatendo a segregação social a que muitos estão sujeitos
(NOVO, 2018).
No artigo primeiro, a Lei define para quem e para que essa lei foi criada, com
os deveres e direitos do migrante ou visitante no país, tendo em vista as diretrizes e
políticas públicas para o emigrante. O artigo 3° define, no inciso X a inclusão social
do migrante por meio de políticas públicas; o XI define que os migrantes devem
possuir acesso livre e igualitário nos serviços e benefícios sociais, assim como o
inciso XVI define que deve ocorrer integração e desenvolvimento na fronteira por
meio de políticas públicas. No artigo 4°, inciso X, são garantidos aos migrantes
acessos aos serviços públicos de saúde e educação (BRASIL, 2017).
Os migrantes precisam ser acolhidos, para que possam integrar na
sociedade brasileira, e, com a nova lei, está previsto abrir caminho com políticas
públicas específicas para essa população, com um acesso igualitário e livre aos
serviços públicos, benefícios, participação na formulação, execução e avaliação das
políticas migratórias, fato que a CIDH comemora, a aprovação e a sanção da nova
lei, sendo a primeira reforma migratória integral realizada no Brasil (NOVO, 2018).
Com essa nova Lei, o termo “estrangeiro” foi retirado, observando-se que o
direito de migrar se faz presente no Direito Internacional. Deixando o imigrante de
ser visto como uma ameaça à segurança nacional, mostrando que é uma pessoa de
direitos, com deveres e direitos nessa nação que é respaldada pelo seu espírito de
Estado democrático de direito (LESSA; OBREGON, 2018). Observando também que
o contato com outras culturas ajuda a quebrar preconceitos e a enriquecer a
diversidade cultural.
O Decreto 9.199 de 20 de novembro de 2017 regulamenta a Lei 13.445, que
institui a Lei de Migração, este insere alguns pontos como a definição de Refugiado,
como pessoa que recebe proteção do Estado brasileiro, deixando mais claro ao
imigrante seus deveres e direitos dentro do Brasil. Reconhecendo o migrante
independentemente da sua nacionalidade, comprometendo-se com as obrigações
assumidas por meio de Tratados assinados com relação aos Direitos Humanos.
39

CAPÍTULO II – POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO: A MIGRAÇÃO


VENEZUELANA NO ESPAÇO ESCOLAR E URBANO DO MUNICÍPIO DE
PACARAIMA - RORAIMA

O capítulo analisa o contexto das políticas públicas na educação e a questão


da migração venezuelana no espaço urbano em Pacaraima – RR. As políticas
públicas educacionais fazem parte das políticas sociais do país, mas formulá-las não
é uma tarefa fácil, já que é preciso abranger todo o público que nele está inserido e
será afetado pela política. A proposta é fazer uma educação de qualidade e que
possui apoio na legislação.
Na construção do capítulo abordamos as características gerais da área de
estudo, apresentando a localização geográfica e caracterização física e histórica,
assim como uma contextualização da questão migratória no município de Pacaraima
– Roraima.

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICA EDUCACIONAL

Pensar a função do Estado e sua relação com a sociedade não é um


assunto novo, ao longo dos anos as ações governamentais e políticas públicas
foram estudadas e analisadas por diferentes perspectivas. Em cada época o Estado
agiu em conformidade com o momento político, social, econômico e analisar as
políticas públicas implica conhecer o processo histórico no qual elas estão inseridas.
Os estudos sobre políticas públicas, se deram inicialmente na Europa,
abordando mais o Estado e suas instituições, e nos Estados Unidos, onde surge no
meio acadêmico. De acordo com Souza (2006, p.22), “na área de governo
propriamente dito, a introdução da política pública como ferramenta das decisões do
governo é produto da Guerra Fria e da valorização da tecnocracia como forma de
enfrentar suas consequências”.
A palavra política, de origem grega, faz referência ao Estado e a
coletividade, mas foi adquirindo significados diferentes historicamente. Um elemento
central, no entendimento do termo, é que este está sempre relacionado as diferentes
relações de poder no âmbito das relações sociais. Para Cavalcanti (2007, p.26) [...]
“pode significar uma política desenvolvida no âmbito público. Por exemplo, quando
40

se fala das políticas de educação”. Assim como resolver questões de grupos que
possuem interesses divergentes.
Em inglês há mais facilidade em diferenciar o termo política, com as palavras
politics e policy. A primeira está relacionada a uma pessoa fazendo a atividade,
buscando os recursos necessários para o exercício do poder e a segunda palavra é
mais decisão e ação. De uma forma geral, “políticas públicas tratam do conteúdo
conceito e do conteúdo simbólico de decisões políticas, do processo de construção e
atuação dessas decisões” (SECCHI, 2013, p.1).
Ramos (2013, p.16) define as Políticas Públicas como “[...] uma daquelas
expressões cujo uso foi apropriado por diversos atores sociais em diferentes
contextos de atuação, seja em instâncias estatais, da sociedade civil, da iniciativa
privada, da cooperação internacional, ou na mídia”. A sua eficácia e efetividade são
temas recorrentes sobre os problemas que afetam a população.
Alguns pesquisadores se dedicaram a explicar a história e a formação do
conceito de políticas públicas, podendo ser definida como “[…] o conjunto das
decisões e ações propostas geralmente por um ente estatal, em uma determinada
área […], de maneira discricionária ou pela combinação de esforços com
determinada comunidade ou setores da sociedade civil” (TUDE; FERRO; SANTANA,
2015, p. 11). A título de exemplo pode-se considerar a oferta de educação na cidade
de Pacaraima, fronteira com a Venezuela, como resultante de políticas públicas
direcionadas ao atendimento educacional da população.
Souza (2006) aponta que a política pública não possui uma única e melhor
definição, mas enfatiza que a mais conhecida é a de Harold Lasswell 16. Este buscou
organizar e sistematizar as decisões e análises para responderem as seguintes
questões: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz. Para Lasswell, o estudo
das políticas públicas carrega consigo uma forte preocupação em definir a si próprio,
sendo tudo que o governo faz.

Críticos argumentam que são ignorados as ideias e os interesses “[…] por


concentrarem o foco no papel dos governos, essas definições deixam de lado o seu
16
Sociólogo e Cientista Político norte americano, considerado o pai da Ciência Política
moderna, e que até hoje possui influência nos estudos da área de sociologia e ciência política.
Estudioso da década de 40, foi o primeiro a definir a ciência política e o governo por meio das
políticas públicas. A principal obra sobre o assunto é a Politics: whogetswhat, when, how (1936).
Infelizmente não foi possível ter acesso a obra original de Harold Lasswell, mas devido a relevância
entre autores que se dedicaram a escrever sobre políticas públicas, Lasswell é citado na dissertação.
41

aspecto conflituoso e os limites que cercam as decisões dos governos. Deixam


também de fora possibilidades de cooperação que podem ocorrer entre os governos
e outras instituições e grupos sociais” (SOUZA, 2006, p.25).
A base teórica de Lasswell era produzir conhecimentos “de política” e “para
a política”, conciliando o acadêmico e o científico com o interesse do governo, de
políticas, oferecendo respostas as demandas específicas da sociedade. Desta forma
era possível prever os impactos das políticas públicas e conscientizar as pessoas
sobre as políticas, tornando-as mais eficientes, fazendo uma construção social dos
problemas e das questões de políticas públicas (TUDE, 2010).
As políticas públicas são resultados das ações de diversos agentes17:
poderes públicos, instituições (públicas e privadas), entidades profissionais, além
dos próprios atingidos pela política. Normalmente ela é colocada na agenda por
meio do governo, já que este é o responsável por decidir se é importante, fazendo
opções e adotando decisões que afetarão o público destinatário. Dessa forma, o
governo deve ter prudência em como será formulada, implementada e avaliada a
política pública (CAVALCANTI, 2007).
De acordo com Cavalcanti (2007), as principais fases da política pública são:
a formulação, implementação e avaliação. A formulação tem seu início quando os
agentes e instituições definem o que irá para a agenda, formulando soluções para o
problema. Momento em que as perguntas, “como”, “quando” e “porquê” são feitas
para poder dar alternativas e poder prever um possível resultado. Uma vez a
questão colocada na agenda está passa a ser política.
Cavalcanti (2007, p.202), acredita que “a pressão causada pelos cidadãos
pode ser, portanto, um fator decisivo para levar um assunto a agenda de governo”,
ocorrendo discussões entre políticos, sociedade e instituições na busca de soluções
e oportunidades para a entrada do problema na agenda. A tomada de decisão é a
busca de alternativas para solucionar o problema e que qualquer escolha que o
governo tome é uma decisão.
A implementação é o momento em que a política é efetivada, transformando
as intenções políticas em ações, “[...] pode afirmar que a implementação é o
momento em que são realizadas as ações planejadas, através de instituições e

17
Podem ser agentes estatais, que estão diretamente ligados a função pública no Estado. E
agentes privados, que não estão ligados com a estrutura administrativa do Estado, mas trazem
demandas para ele (SECCHI, 2013).
42

grupos ou indivíduos de natureza pública ou privada com objetivo de cumprir as


decisões já tomadas” (CAVALCANTI, 2007, p.229). A implementação possui um
caráter dinâmico e complexo, já que é nessa fase que as decisões se materializam.
Avaliação é a verificação dos resultados e impactos, momento de propor
modificações e até mesmo a interrupção da política. Sendo indispensável a
avaliação, pois com ela é possível julgar as decisões dos governos e o quanto foi
gasto para que pudessem realizar as políticas públicas. “[...] a avaliação evoca a
produção de informação sobre algum tipo de comparação entre os resultados
obtidos pela política e o conjunto de valores que levou à sua formulação”
(CAVALCANTI, 2007, p.246).
As políticas públicas, durante e depois de serem elaboradas, devem ter uma
avaliação de sua aplicabilidade, levando em consideração no mínimo os critérios de
sua eficiência, da sua equidade, da sua produtividade e do seu resultado. É
importante que ocorram as avaliações para saber se está funcionando, se deve ser
alterada ou até mesmo extinta, só que nesse último caso é um desperdício do
recurso público.
A política pública pode ser um poderoso instrumento de comunicação entre
o governo e a sociedade, que pode dar um sentido para as pessoas que estão sob
as leis do Estado. Sendo assim, Torres (2004) expõe a sua definição da função das
políticas públicas:

En su función estratégica, las políticas públicas definen los parámetros y las


modalidades de interacción entre lo público y lo privado; concretan las
condiciones para traducir los principios de flexibilidad y autonomía en ejes
de una acción pública selectiva, eficaz y eficiente, definen cuáles son los
asuntos que alcanzan el rango de interés público, para ser incluidos en la
agenda de gobierno; y describen los niveles de homogeneidad y armonía
que rigen la gestión integradora de los mercados y las economías
nacionales (TORRES, 2004, p. 17).

As políticas deveriam ser produzidas pelo governo em conjunto com a


sociedade que usufruirá, ocorrendo de maneira aberta e transparente para que os
interesses, tensões e conflitos sejam amplamente e incansavelmente discutidos,
para assim chegar a uma formulação que seja capaz de atingir seu objetivo
principal, promovendo a divulgação da agenda.
As políticas públicas conseguiram ter maior visibilidade pela sociedade,
devido a três fatores. O primeiro foi a adoção do corte de gasto aplicado
43

principalmente pelos países em desenvolvimento, segundo o equilíbrio nas receitas


e despesas, restringindo a intervenção do Estado nas políticas sociais e na
economia e por último os países em desenvolvimento que ainda buscam maneiras
eficientes de construir suas políticas (SOUZA, 2006).
Esses fatores estão diretamente relacionados as mudanças ocorridas no
mundo capitalista, a partir, principalmente, da década de 1980, tanto no plano
econômico, com a introdução de novas tecnologias e alterações significativas nos
padrões de produção, nas relações de trabalho e no consumo social; como no plano
político, com a introdução das ideias e práticas que ficaram conhecidas como
neoliberais, cujas consequências se evidenciam fortemente na defesa de um Estado
mínimo, e na mudança da relação deste com a sociedade, o que afeta fortemente o
modo de ser das políticas públicas.
Nesse contexto, as políticas públicas de cunho social têm sido afetadas, seja
com corte de recursos, seja com diminuição de projetos nesse campo. Diferentes
autores discutiram sobre o tema de políticas públicas, contudo Teixeira (2015),
explica o conceito de forma sucinta, como sendo a aplicação do dinheiro público em
ações que, a princípio beneficiariam a população, com o desenvolvimento de
políticas definidas anteriormente entre a sociedade e o Estado. Nesse sentido, é
possível refletir sobre como o governo brasileiro consegue atender a área da
educação na fronteira pesquisada.
A área urbana de Pacaraima, que era de uma população pequena, viu o
número de seus habitantes aumentar em razão da intensa migração de
venezuelanos nos últimos cinco anos. Aumentando, na mesma proporção, a
necessidade de políticas públicas que sejam adequadas a essa nova situação, e as
escolas foram as que mais sentiram a imigração e seus impactos.
Esses impactos podem ser percebidos por meios das políticas públicas
desenvolvidas na região. A política pública é uma tentativa de enfrentar um
problema que foi detectado, “[…] o problema público é a diferença entre a situação
atual e uma situação ideal possível para a realidade pública” (SECCHI, 2013, p.10).
Sempre tendo como base principal, de que um mesmo tamanho não servirá para
todos, tudo deve ser estudado antes de ser implementado.
Não importa a esfera (municipal, estadual ou federal), as políticas públicas
devem existir, pois é fundamental, e seu planejamento deveria ser claro e específico
em prol da população afetada. Dentro das políticas existem os chamados agentes
44

públicos que podem ser classificados em agentes estatais, que são da


administração pública e os agentes privados que não são da administração pública,
mas procuram estar sempre presentes nas decisões do Estado (TUDE; FERRO;
SANTANA, 2015).
O funcionamento da Administração Pública é feito por meio de pessoas e
são essas que manifestam a vontade do governo. Marçal (2016, p.89) define agente
público como toda pessoa física que atua como órgão estatal, produzindo ou
manifestando a vontade do Estado, exercendo a vontade com o objetivo de obter um
resultado útil que satisfaça as necessidades coletivas.
O processo de elaboração e implementação das políticas públicas envolve
um complexo de órgãos estatais, além de inúmeras pessoas que recebem
influências também de organizações, dentro e fora do Estado. Os principais agentes
envolvidos são: pessoas do universo da política, do subsistema da política pública e
os tomadores de decisões do governo. As políticas públicas são definidas no Poder
Legislativo, por parlamentares, e colocadas em prática pelo Poder Executivo, mas
que primeiramente surgem por meio de demandas e propostas da sociedade
(HOWLETT, 2013).
Os governos possuem o poder discricionário, ou seja, eles decidem se vão
fazer ou não algo em relação ao problema. “No campo da administração pública
desenvolveram-se estudos mais centrados em preocupações operacionais e
propositivas, tendo por objetivo sugerir caminhos para melhorar o funcionamento
das políticas e do Estado” (MARQUES; FARIA, 2013, p.24), definindo os objetivos e
os meios para alcançá-lo.
Devido à necessidade da transparência é importante conhecer o perfil
daqueles que irão se beneficiar da política, levando em consideração a demografia
do lugar para a elaboração das políticas públicas “[…] essa importância torna-se
ainda mais óbvia na medida em que a demografia cabe, entre outras questões,
compreender e analisar o tamanho, composição, distribuição territorial, evolução e
tendências do grande beneficiário e finalidade precípua dessas propostas, a
população” (MARQUES; FARIA, 2013, p.201).
É preciso saber como serão as demandas, para poder avaliar se é viável ou
não a política, se será universal ou focalizada. O que é indispensável para a
formulação de políticas públicas na área da educação em região de fronteira que
45

recebe alunos e profissionais de outros países. Deve haver um bom estudo sobre o
caso específico, para que quando seja implementada não seja ineficaz.
Dessa maneira, a formulação e finalização das políticas devem seguir alguns
métodos para que a sua formação consiga alcançar os resultados esperados,
começando pela tipologia “as tipologias de políticas públicas são formas de
classificar os conteúdos, os atores, os estilos, as instituições, dentro de um processo
de política pública” (SECCHI, 2013, p.24), sendo este o esquema para a
interpretação e análises que farão parte do esquema analítico.
Diante disso, podemos classificar a política para a educação, como política
majoritária, onde os seus custos e benefícios são distribuídas pela coletividade, isto
é, todos pagam, e todos podem utilizar. “A formulação da política, portanto, envolve
a identificação e a determinação das possíveis soluções para os problemas políticos
ou, para dizê-lo de outra maneira, a exploração das várias opções ou cursos
alternativos de ação disponíveis para enfrentá-los” (HOWLETT, 2013, p.123).
Por vezes, alguns problemas passam despercebidos pelos governos,
momento em que a comunicação de massa, se torna importante “o papel dos meios
de comunicação no processo político decorre de sua função de relatar problemas, o
que muitas vezes leva à análise do que está errado e as vezes se estende à defesa
de determinadas soluções” (HOWLETT, 2013, p.83), deixando visível a todos.
Assim, o governo analisa e considera que precisa fazer algo para solucionar
o problema, passando assim a fazer parte da agenda pelo fato de o governo ter
concordado que o assunto precisa de atenção, em outras palavras a agenda pública
é voltada a discussão, enquanto que a institucional a ação.
A escolha racional e eficiente dos meios para atingir os objetivos, é
necessária para evitar gastos desnecessários, normalmente as pessoas envolvidas
na formulação devem ter estudos na área, caso não, ficará fadado ao erro. “A
implementação política, muitas vezes, depende de servidores públicos e de
funcionários administrativos para estabelecer e gerenciar as ações necessárias”
(HOWLETT, 2013, p.179).
A administração se limita a fazer uma avaliação dos serviços
governamentais pelo meio do gasto, o que não é suficiente para verificar se a
política foi satisfatória ou não, de abordagem mais racional, “[…] pretende-se
garantir que as políticas estejam atingindo suas metas esperadas com o menor
46

custo e ao menor sacrifício possível para os cidadãos individualmente” (HOWLETT,


2013, p.207).
Após, todo o processo de percepção do problema, o governo verifica se
cabe propor uma solução, além de outros pontos importantes para a elaboração da
política pública. O autor Secchi (2013), após anos de estudo definiu de forma
simples o ciclo das políticas públicas, em sete passos, como é possível ver na figura
03.

Figura 03 – Ciclo das Políticas Públicas em Sete Passos

1ª 2º 3º
IDENTIFICAÇÃO FORMAÇÃO DA FORMULAÇÃO DE
DO PROBLEMA AGENDA ALTERNATIVAS


4º 5º
AVALIAÇÃO DA
TOMADA DE IMPLEMENTAÇÃO DA
POLÍTICA
DECISÃO POLÍTICA PÚBLICA
PÚBLICA


EXTINÇÃO DA
POLÍTICA
PÚBLICA

Fonte: elaborado a partir de (SECCHI, 2013).

Cada etapa deve ser feita e discutida, Secchi (2013) explica o passo a passo
da política, sendo a 1ª identificação do problema: uma situação pública se torna
insatisfatória para um grupo e os governantes analisam se é válido entrar para a
agenda; 2º formação da agenda: para a montagem da agenda é preciso que algum
assunto se torne relevante para ter atenção do governo; 3º formulação de
alternativas: estabelecimento dos objetivos e estratégias para chegar a uma solução.
Com o problema identificado e com prováveis opções temos o 4º passo, a
tomada de decisão: momento em que os atores avaliam qual serão o objeto e
método de enfrentamento; 5º implementação da política pública: as intenções se
tornam ação; 6º avaliação das políticas públicas: momento de avaliar se teve
47

sucesso ou falha; 7º quando percebe que o problema foi resolvido ou a política foi
ineficaz e perdeu a importância.
O governo deve observar as necessidades e prioridades do cidadão, para
assim fazer políticas públicas que sejam um conjunto de programas, ações e
decisões dos gestores políticos, que conta com a participação direta ou indireta da
população, principalmente daquela que irá usufruir. Para Pereira (2009), o Estado é
deficiente em políticas públicas, este assegura os direitos e o acesso aos serviços
básicos, mas não consegue atender satisfatoriamente.
E mesmo as políticas implementadas, podem alcançar resultados diferentes
do planejado, devido a falhas no momento da formulação em que são produzidos os
resultados esperados, assim como pelo fato de não ter profissionais adequados, da
verba não ser o suficiente ou até mesmo da política aplicada não ser adequada para
os habitantes.
As políticas sociais proporcionam benefícios para todos aqueles que vivem
em sociedade, mas esta, no ato da sua elaboração, deve demonstrar ser benéfica e
de custo adequado. Os direitos sociais, para serem efetivados, são necessários que
sejam discutidos e protegidos, para que possam ter uma máxima aplicação.
Evitando agentes públicos que venham prejudicar a eficácia das políticas no
atendimento das demandas sociais.
As políticas públicas voltadas para a área da educação, são investimentos
altos e que devem ser elaboradas por gestores que possuam conhecimento do
tema, de como funciona, para quem servirão as políticas, assim como uma boa
assessoria na sua elaboração, o que melhora a proposta e sai do campo do
achismo.
O processo participativo, dos gestores das políticas, seus assessores e
daqueles que irão utilizá-las, dão uma maior legitimidade para as políticas públicas
em uma área específica. E consequentemente, quando há a participação de todos,
ela fica mais fácil de ser aceita e ser cumprida. Desta maneira é levada em
consideração a cultura, a economia e até mesmo se é legalmente aceita no local.
É para a sociedade que o elaborador deve perguntar, interagir com eles para
conhecer suas necessidades, afinal é ela a maior interessada em ver as políticas
públicas funcionando. A fronteira com a Venezuela vem sofrendo transformações e
crescendo a necessidade para que sejam feitas políticas que contribuam para uma
48

ação generalizada e contribua na vida coletiva, o que envolve os planos de


educação.
E com relação a educação, o Estado está inserido com uma série de
obrigações irrenunciáveis, que constam na Constituição Federal Brasileira de 1988,
e que caso não sejam cumpridas estão sujeitas a punições no âmbito jurídico.
Possuem apoio jurídico das Declarações dos Direitos Humanos, com relação ao
direito da pessoa em migrar, independentemente de qual país que decida ir, possa
continuar com os direitos básicos, que entre eles está o da educação (CARNEIRO,
2012).
De fato, “admitindo que a educação seja função essencialmente social, não
pode o Estado desinteressar-se dele. Ao contrário tudo o que seja educação, deve
estar até certo ponto submetido à sua influência” (DURKHIM, 1973, p.48). Mas isso,
não quer dizer que o Estado será o único tomador de decisões na área da
educação, por isso é preciso que envolva a todos os interessados.
O Estado tem como obrigação fornecer aos professores e alunos as
condições básicas para o desenvolvimento das atividades didáticas, para garantir a
abrangência de todos os alunos inseridos na escola. Ter e manter uma infraestrutura
adequada nas escolas e possuir tecnologias que agreguem ao conhecimento. As
políticas educacionais devem estar em consonância com a legislação vigente: a
Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996.
Diversos estudos comprovam que a educação nunca assumiu de fato uma
situação de prioridade na agenda política. Sempre ficava em segundo plano,
ocorrendo as descontinuidades das políticas públicas quando terminava e começava
um mandato. Além de que o dinheiro destinado a educação está sempre abaixo do
necessário, levando, inclusive, alguns políticos a pensarem na criação de impostos
que pudessem arcar com o valor da educação (SAVIANI, 2008).
Em Roraima a situação não é muito diferente, e a situação foi sendo
agravada com o aumento das demandas por educação ocasionado pelo crescimento
do número de pessoas migrantes no estado e, em particular, na cidade de
Pacaraima, foco desse estudo.
Com isso, Roraima um Estado de tríplice fronteira (Brasil – República
Cooperativa da Guiana – República Bolivariana da Venezuela), que recebe pessoas
de ambos os países, ademais de estrangeiros de outros países, tem visto crescer a
demanda por vagas e por mudanças na educação, tendo em vista esse processo
49

migratório. Dessa forma, é crucial a existência de políticas públicas destinadas a


recepção do migrante e o atendimento das necessidades da população como um
todo. Sendo assim, o Estado deve elaborar políticas que atendam os sistemas e
seus usuários de forma satisfatória.

2.2 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA, CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E HISTÓRICA DO


MUNICÍPIO DE PACARAIMA – RR

A cidade de Pacaraima/RR tangencia a fronteira entre o Brasil e a República


Bolivariana da Venezuela por aproximadamente 4 km, tendo, atualmente, uma área
de ocupação urbana aproximada de 8.028,483 Km². Espacialmente tem sua
localização nas coordenadas planas 705.328,26 E – 497.023,333 N.

Figura 04 - Localização Geográfica do município de Pacaraima-RR

Fonte: WANDERLEY, 2020.

Localiza-se no extremo norte do Estado de Roraima, situando-se


geomorfologicamente na zona conhecida como planalto Parima apresentando as
50

maiores altitudes do estado e de toda a Região Norte do Brasil, com seus 920 m de
altitude.
A área territorial é de 8.028,428 km², com a estimativa da população em
17.401 (IBGE, 2020) possuindo uma densidade demográfica de 2,17 hab./Km²,
tendo limites com os municípios de Boa Vista, Amajarí, Normandia e Uiramutã, além
de manter limites com a República Bolivariana da Venezuela, país que mantém uma
fronteira viva, ligada através de uma rodovia que estabelece um intenso movimento
entre a cidade de Pacaraima e Santa Helena de Uairén (Venezuela).
O município de Pacaraima criado em 17 de novembro de 1995, pela Lei
Estadual 96, que criou em conjunto os municípios de Uiramutã e Normandia.
Conforme Silveira (2009), o município foi criado por meio de uma manobra
estratégica dos parlamentares roraimenses contra o processo de demarcação de
terras indígenas.
No ato a Assembleia Legislativa aprovou e o Governador do Estado de
Roraima sancionou a Lei nº 096, de 17/10/1995, que criou o Município de
Pacaraima, situado na região de fronteira do Brasil com a República Bolivariana da
Venezuela, no marco BV8. No qual a sede do Município passou a ser a Vila de
Pacaraima, e a sua instalação ocorreu no dia 01/01/97, com a efetiva posse do
Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores eleitos anteriormente, no dia 03/10/1996
(SANTOS, 1998).
Dessa forma, a criação do município de Pacaraima constitui-se num jogo de
interesse de atores como o Estado, instituições públicas privadas e/ou organizações
não governamentais que disputam pelo domínio de determinadas áreas do território
na defesa de seus interesses (SILVEIRA, 2009).
Por encontrar-se, localizada no interior da Terra Indígena (TI) São Marcos, a
sede do município precisou ser desmembrada da mesma, com definição territorial
datada de 2009 (IBGE, 2017). Quanto a sua organização espacial, o município, além
da sede urbana, possui 55 comunidades indígenas organizadas em duas regiões,
entre elas: Surumu e São Marcos. A maior comunidade indígena é a do Contão
(SESAI/DSEI-LESTE, 2019).
Porém a existência do núcleo urbano remonta a demarcação das fronteiras
entre Brasil e Venezuela no decorrer da década de 1920 e da instalação do terceiro
pelotão especial de fronteira por volta dos anos de 1995. O garimpo consistiu no
51

principal atrativo econômico para a formação do aglomerado urbano de Pacaraima


no decorrer do século XX.
As características fisiográficas da região que compreende a cidade de
Pacaraima são marcadas pela presença de serras, savanas, florestas e áreas
planas, que formam o imponente conjunto das serras de Pacaraima, fruto dos
processos geológicos que realçam geomorfologicamente a paisagem local com os
morros, montanhas e colinas que intercalam entre as planícies (NASCIMENTO;
TAVARES JÚNIOR; BESERRA NETA, 2011).
A bacia hidrográfica do município é composta pelos rios Cotingo, Parimé e
Surumu que consistem em tributários da principal bacia do Estado a composta pelo
Rio Branco, porém a sede municipal não possui relação direta com estes rios, tendo
em vista que se localiza em cima da serra Parima, estando todos eles encravados
dentro da terra indígena (VERAS; SENHORAS, 2012).
O clima que compreende a região da cidade de Pacaraima é caracterizado
por ser quente e úmido, com uma estação seca bem definida, mas as chuvas são
mais frequentes e melhor distribuídas ao longo do ano (VERAS; SENHORAS, 2012).
Pacaraima tem como sua principal fonte de renda o setor terciário. O
comércio e o setor público consistem nas principais formas de geração de emprego
e renda. O turismo que se apresenta como uma provável fonte de geração de renda
não conseguiu desenvolver-se ainda em virtude dos entraves burocráticos
estabelecidos pela legislação indígena, e também pela falta de interesse da gestão
pública em agilizar a questão do turismo em Pacaraima.
A renda per capita é de R$ 9.777,84, tendo um PIB de R$ 88.186,37. Esses
dados apresentados pelo censo econômico do IBGE, em 2017, sofreram impactos
significativos com a transferência da área de livre comércio de Pacaraima para Boa
Vista, no ano de 2010.
O IDHM do município é de 0,650. Apesar da renda per capita, ser um valor
alto, não representa a realidade da população de Pacaraima, mostrando a
concentração de renda nas mãos de poucos. Esses números se refletem em
diversos fatores sociais do município que são considerados critérios para o
desenvolvimento humano de uma região, como a educação.

2.3 A MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO ESPAÇO URBANO EM PACARAIMA – RR


52

A migração é um fenômeno que sempre existiu. Considerando que as


pessoas se deslocam por diversos motivos, seja ele o de mudar de vida, conhecer
novas culturas e até mesmo fugir da fome, das condições econômicas, políticas e
sociais nos seus países de origem. E nesse último ponto, as questões sociais, que
se enquadra a situação atual dos venezuelanos que atravessam a fronteira com o
Brasil.
Muitos venezuelanos se deslocam para a fronteira e ficam no Estado de
Roraima, eles vêm em busca de alimentos, remédios ou ajuda com a saúde e/ou
educação, na tentativa de conseguir um emprego para assim mandarem dinheiro e
suprimentos, para os que ficaram na Venezuela.
O aumento da migração advinda da Venezuela tem relação direta com a
grave crise econômica, política e social que o país enfrenta desde a transição do
governo do Nicolas Maduro, em 2013, que hoje sofre com a alta inflação e o
desabastecimento de praticamente tudo.

A maioria dos imigrantes que vem para o Brasil se encontra em Roraima,


que concentra o maior fluxo, apesar de que com relação ao restante do Brasil, é
irrisória a população que entra no país e consegue ir para outros estados. Para
Roraima, no entretanto, o fluxo de pessoas é grande, como podemos ver na figura
07 (GAZZOLA, 2018).

Abaixo há um gráfico elaborado pela Polícia Federal, que mostra o


movimento migratório de venezuelanos, as entradas e saídas, pela fronteira do
Brasil na cidade de Pacaraima nos anos de 2017 a 2019, com o quantitativo mês a
mês, mostrando que com o passar dos meses e consequentemente dos anos, os
deslocamentos dos migrantes foi aumentando naquela região de fronteira
53

Figura 05 - Fluxo migratório de venezuelanos na fronteira Brasil – Pacaraima – RR


2017/2019

Fonte: POLÍCIA FEDERAL, 2019.

Os venezuelanos que chegam ao Brasil, em busca de alimentos, remédios,


emprego entre outras coisas, devido a grave crise econômica, política e social que
se estende por todo o país, se enquadram, em geral, no contexto de migração
forçada, uma vez que são viajantes que se sentem obrigados a saírem de suas
casas em direção ao desconhecido, buscando melhoras em suas vidas. Entre os
motivos que fazem com que muitos fiquem em Roraima, em vez de buscar outras
regiões do país, está no fato de sentirem que aqui estão mais perto de casa, que a
locomoção até sua cidade de origem é mais fácil do que se tivessem em outros
estados ou outro país.
54

Antes de desenvolver completamente este ponto, vale ressaltar, de acordo


com a Organização das Nações Unidas (ONU, 2016), a diferença entre o migrante e
o refugiado. A migração pode ser entendida como um processo espontâneo, onde a
pessoa sai do seu país em busca de melhores condições de vida. O refugiado, por
sua vez, sai do seu país, mas não pode retornar devido à falta de segurança, pois se
encontram em situação de extremo perigo e que consequentemente, têm direito a
proteção do direito internacional.
Por vontade própria ou forçada, as pessoas saem de seu país e vão para
outro por diversos motivos. Nos últimos anos, o Brasil foi um dos países escolhidos
pelos venezuelanos que estão em busca de melhores condições de vida, fugindo da
fome, da crise política e econômica. A migração é caracterizada pelo processo de
rompimento do seu local de origem com o novo, é necessária uma nova percepção
que envolva o novo país e seu entorno, além de buscar novas relações e condições.
Roraima é o Estado do Brasil mais afetado pela crise no país vizinho, por
não ter as condições necessárias para receber um fluxo grande e abrigar os
imigrantes de forma adequada. Rodrigues argumentava em 2006, que a economia
não atrativa de Roraima e a língua ser o português são fatores restritivos para a
imigração na fronteira dos dois países. Entretanto, a crise econômica e política
iniciada em 2013, colocou o estado de Roraima na rota da migração venezuelana.
Bastos e Obregón (2018) alegam que três aspectos desencadearam a crise
venezuelana, em 2013 ocorre a morte do Hugo Chávez e Maduro assumiu o
governo sem a carisma e o mesmo preparo político e com práticas autoritárias. Em
2014, houve a queda do preço do barril de petróleo e a exportação diminuiu, além do
controle da inflação por meio da regularização do câmbio. Na eleição de 2015, os
chavistas enfrentam uma crise dentro do próprio sistema, perdendo o apoio do
Legislativo.
A questão econômica é a que primeiramente é sentida pelos venezuelanos,
“[...] a inflação só aumentou e o PIB per capita diminuiu, devido as medidas por ele
adotadas de limitação de lucros, o que fez com que os outros setores – que não
petroleiros - sabotassem a economia do país, através da alta inflação e da escassez
de produtos básicos de consumo, aumentando ainda mais a dependência no
petróleo” (BASTOS; OBREGÓN, 2018, p.13).
A crise política na Venezuela é dividida entre chavistas e oposição. Os
chavistas possuem a ideologia de uma maior atuação do Estado e a defesa de
55

medidas para a participação social na política, de pensamento anti-imperialista que


consiste na integração dos países sul-americanos no combate a influência dos EUA.
A oposição conta com apoio dos EUA, e reivindica eleições e o afastamento dos
bolivarianos do poder” (GUGLIANO, 2017).
O fato é que os muitos problemas sociais gerados no país, como
desemprego, inflação e escassez de mercadorias, deram uma forte onda migratória
por parte da população Venezuela, que saíram para outros países em sua maioria
vizinhos da terra natal.
Aos que decidiram sair do país em direção ao Brasil, uma pequena fração
acaba ficando em Pacaraima, primeira cidade ao atravessar a fronteira, até
conseguirem juntar dinheiro e irem para a capital Boa Vista, o que torna a cidade
fronteiriça um lugar de passagem para muitos. Os serviços públicos sofreram
impacto repentino, ao receber um grande número de pessoas em tão pouco tempo e
sem nenhum tipo de política pública que pudesse auxiliar, e a educação está inclusa
nesse processo.
De acordo com Comissão permanente para o Desenvolvimento e a
Integração da Faixa de Fronteira (CDIF), com a intensa migração venezuelana para
o Brasil, os relatos de violência por parte de brasileiros e venezuelanos, tem
preocupado as autoridades, com relação à segurança nessa fronteira. “A
preocupação com a segurança nacional e a soberania territorial, de onde emana a
criação de um território especial ao longo do limite internacional terrestre do país,
embora legítima, não tem sido acompanhada de uma política sistemática que atenda
às suas características” (CDIF, s/d).
Quando o governo não toma providências, a população acaba agindo pela
raiva do momento, hostilizando aqueles que já estão humilhados e em um lugar que
não queriam estar. Castro (2005, p.5) explica essa visão do “[...] estranho, como um
possível terrorista, um estrangeiro, um migrante que está em situação ‘irregular’ –
termo que demarca fronteiras”.
É necessário conhecer para entender o outro, independentemente de onde
ele venha, as sociedades são feitas de diferentes, mas “o costume de discriminar os
que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo
dentro de uma sociedade” (LARAIA, 2009, p.74), o que não é muito favorável para
as pessoas que entram em outro país em busca de melhores condições de vida,
porque os que são do país se sentem ameaçados.
56

Contudo os cuidados não ficam só para os nacionais, mas também aos


imigrantes que chegam a outro país, é preciso que eles também integrem mesmo
que minimamente, ao contrato social instituído naquele lugar. Que não é somente o
nacional que deve aceitar o outro, mas este que chega precisa reconhecer a
pluralidade e aceitar uma vida comum dos diferentes, dos seus costumes, das suas
tradições. Ainda mais para aqueles que irão se inserir diretamente com os nativos,
como na educação.
Hartog (2004), também expõe a mistura entre os povos como uma referência
a experiência de situações que não podem se repetir, e que deveria ser mais
estudado e tornar-se um dos pontos nas elaborações das políticas públicas,
principalmente nas cidades de fronteiras, que estão em contato com identidades e
culturas diferentes todos os dias e em diversas ocasiões, devido ao livre trânsito que
a fronteira seca entre Brasil e Venezuela proporciona.
Com isso o preconceito com o diferente que vem de fora aumenta, nos
jornais é possível ver reportagens de brasileiros, exigindo seus direitos por se
sentirem ameaçados com o outro. “O migrante é um estranho que joga o nativo a se
confrontar com seu estranhamento, o migrante é útil aos Estados, que ao legislarem
sobre como controlar esse outro, intruso, culpam-no de exclusões, ocultando
poderes e interesses na defesa do movimento [...]” (CASTRO, 2005, p.26).
A questão que se coloca é, independente da intensificação das migrações
nessa região, a simples característica de ser uma região de fronteira, já deveria ser
suficiente para a existência de políticas públicas voltadas para a integração entre as
populações de ambos os países, cuja inexistência tem gerado toda sorte de
problemas para as populações dessas regiões.
A realidade da cidade de Pacaraima é emblemática com relação a isso,
gerando violências de diferentes tipos, tornando a vida de brasileiros e venezuelanos
ainda mais difícil. Na próxima seção, faremos uma breve caracterização das cidades
de Pacaraima e de Santa Elena de Uairén.
O cenário em Roraima, em virtude do processo migratório, em especial na
região de Pacaraima, onde há intenso tráfego de pessoas, é de grande instabilidade
na população, causando os mais variados problemas sociais. Um desses problemas
está relacionado com o processo de xenofobia, que resulta na problemática da
segurança pública em relação à migração venezuelana no estado de Roraima e seu
impacto social na sociedade de Pacaraima (RODRIGUES, 2006).
57

Considerando que processo migratório dos venezuelanos em decorrência da


crise política e econômica estabelecida no país vizinho tem acarretado ao Estado de
Roraima um aumento significativo na prestação dos serviços públicos, em especial a
saúde, educação e segurança pública. Percebe-se nesse sentido um acelerado
crescimento da população do estado em especial ao município de Pacaraima, que
desde 2016 tem apresentado fortes indícios de crescimento demográfico também
para os anos subsequentes ocasionados pela vinda desordenada de imigrantes do
país vizinho, Venezuela.
Na figura 06, é possível ver a entrada da cidade de Pacaraima, de quem
vem pela Venezuela, local em que também estão instalados os postos de triagem da
Operação Acolhida que recepciona todos os imigrantes vindos do país vizinho.

Figura 06 – Fluxo de imigrantes no espaço urbano em Pacaraima/RR

Fonte: fotografias de arquivo pessoal (2020).


58

Desde 2015, tem sido crescente o fluxo de pessoas venezuelanas


procurando abrigo no estado e ocupando os mais variados espaços territoriais,
resultando na ocupação dos prédios públicos abandonados e na ocupação das
áreas de invasões no município de Pacaraima intensificado pelo processo
migratório.
Cabe ressaltar que o processo migratório é um fenômeno dinâmico e suas
causas por serem diversas se aprimoram e geram novos problemas de cunho social
e ambiental impulsionado por pessoas que buscam suas melhoras saindo de seu
local de origem em busca de sobrevivência, visando novas alternativas de vida
(XAVIER, 2012).
Abaixo (Figura 07) podemos ver a rua principal de Pacaraima, conhecida
como a rua do comércio, repleta de produtos, em sua maioria do gênero alimentício,
que tanto comerciantes brasileiros, quanto venezuelanos, negociam e vendem.

Figura 07 – Fluxo de imigrantes na área de comércio de Pacaraima/RR

Fonte: Agência Brasil ANSA (2020).

Quanto aos aspectos ambientais Monteiro e Santos (2015) mencionam que,


na medida que cresce o quantitativo demográfico e a oferta de serviços não
comporta a demanda, se agrava consequentemente a degradação ambiental
criando-se condições favoráveis às doenças virais e desastrosas para a dispersão
de vetores e consequentemente a proliferação de doenças parasitárias,
59

provenientes de constantes impactos ambientais que ocorrem tanto nas áreas


periféricas dos centros urbanos, quanto na zona rural da cidade que recebe grande
quantitativo de imigrantes.
Conforme verificamos na Figura 08, é possível perceber ao menos um
pouco, como está a situação da cidade de Pacaraima, na rua principal, também
conhecida como a rua do comércio.

Figura 08 – Aspectos socioambientais da migração venezuelana

Fonte: fotografias de arquivo pessoal (2020).

Conforme mostra a figura 08 as questões socioambientais se agravaram


significativamente em Pacaraima com acumulo de lixo e entulhos nas ruas do
município atraindo roedores e vetores que contribuem para intensificar as doenças
virais e bem como o aumento demográfico ocasionado, pela migração, que vem
60

superlotando a rede de serviços essenciais agravando gradualmente a degradação


ambiental criando condições favoráveis para o aumento da violência.

CAPÍTULO III – A MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO ESPAÇO ESCOLAR EM


PACARAIMA: A ESCOLA MUNICIPAL CASIMIRO DE ABREU

A Escola Municipal Casimiro de Abreu localiza-se em área urbana no


município de Pacaraima no bairro Vila Nova (ver Figura 05) possui em sua totalidade
79 (setenta e nove) funcionários, com 12 (doze) salas funcionando nas modalidades
ensino regular e EJA, são 24 (vinte e quatro) turmas onde 5 (cinco) são de 3ª ano, 7
(sete) são de 4ª ano, 6 (seis) são de 5ª ano, 6 (seis) são de 6ª ano, totalizando 446
(quatrocentos e quarenta e seis) alunos, dentre os quais 182 (cento e oitenta e dois)
venezuelanos.
A Escola Municipal Casimiro de Abreu foi fundada em 28 de janeiro de 1974
(ver Figura 06), por meio do decreto n° 009/74, sendo administrada pelo Estado até
novembro de 2005, ver na Figura 10. Durante este período várias ações foram
realizadas envolvendo a comunidade escolar, através do plano de Desenvolvimento
da escola com o objetivo de assegurar um ensino de qualidade e permanência dos
alunos na escola. Em 16 de novembro de 2005, por intermédio do Decreto n° 076/05
a escola foi municipalizada, no Quadro 01 é possível ver o quantitativo de
funcionários da escola.

Quadro 01 – Descrição do quantitativo e funcionários da Escola Municipal Casimiro


de Abreu (2020)
a) Gestor 01
b) Vice Gestor 01
c) Coordenação pedagógica 02
d) Orientadora Educacional 01
e) Secretária Escolar 01
61

f) Professores 45
g) Assistente de alunos 7
h) Funcionários 21
TOTAL 79
Fonte: elaborado a partir da base de dados da Escola Municipal Casimiro de Abreu (2020).

Na próxima página, é possível ver a localização da escola Casimiro de Abreu,


no espaço urbano de Pacaraima.

Figura 09 - Localização Geográfica da Escola Municipal Casimiro de Abreu no


município de Pacaraima-RR
62

Fonte: WANDERLEY, 2020.


63

A figura (10) a seguir, mostra a entrada principal da escola, por onde entram
os alunos, professores e funcionários. Ao entrar, há sempre um porteiro para
recepcionar:

Figura 10 - Escola Municipal Casimiro de Abreu – Pacaraima/RR

Fonte: fotografia de arquivo pessoal (2020).

Conforme a observação in loco, a demanda dos imigrantes venezuelanos


por novas matrículas escolares é grande e a burocracia acabou diminuindo bastante
devido à falta de documentação, principalmente o histórico escolar das crianças e
adolescentes. Segundo relato oral a direção da escola estava orientada a direcionar
os venezuelanos a pelo menos conseguirem uma foto do histórico da criança, para
constar como documentação para o censo escolar.
Há duas formas de ingresso do aluno na escola, inclusive com amparo na
Lei de Diretrizes da Educação Nacional- LDB.18, uma é a tradução do histórico
escolar do aluno, comprovando a série em que o aluno estava; a outra opção é a
aplicação de uma prova, em português, que irá indicar o ano que o aluno pode ser
matriculado de acordo com os seus conhecimentos. Dessa forma, a escola
disponibiliza em seu mural informativo as matérias e assuntos sobre os quais as
crianças imigrantes, que deverão fazer a prova para o nivelamento estudarem e
iniciar o ano letivo, no mês de fevereiro.

18
Na LDB, no artigo 24, inciso II, alínea c: “independentemente de escolarização anterior,
mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do
candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do
respectivo sistema de ensino.”
64

Muitos pais optam pela prova de conhecimentos pelo fato de não ser paga,
diferente da tradução dos documentos, que é cara e às vezes demora em
receberem a tradução. Mas a prova por ser em português pode fazer com que o
estudante entre em uma série que já tenha cursado no seu país e o idioma pode ser
um dos motivos, isso mostra como a burocracia pode influenciar na escolha dos
pais.
Cabe ressaltar que essa demanda, do discente imigrante entrar na escola,
deveria ser atendida com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF). Em parceria com a Secretaria de Educação de Pacaraima e a prefeitura,
para tentar atender a todos os alunos da rede municipal, propôs a construção de
“casinhas”, padrão ONU, que serviriam como salas de aulas improvisadas para
atender aos alunos que estavam na lista de espera nas escolas municipais. O
município entraria com os professores e o lanche, enquanto que o Unicef com a
estrutura. Apesar das várias reuniões, até o ano de 2019, o projeto ainda não tinha
sido retirado do papel19.

3.1 A MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO ESPAÇO ESCOLAR EM


PACARAIMA – RR

Para compreendermos os impactos do processo de migração venezuelana


no ambiente escolar em Pacaraima torna-se necessário entender o conceito de
educação. Para entender o processo educativo na região de fronteira é essencial, ter
uma concepção de educação que balize a pesquisa. Assim, a temática assumirá
centralidade discorreremos sobre as Leis e os Planos Educacionais tanto nacional
quanto municipal.
Todavia, esse entendimento é uma tarefa instigadora e não muito fácil.
Dessa forma, conceituar educação, de uma maneira generalizada poderia ser dito
que é um processo de crescimento do ser humano por meio dos conhecimentos de
conteúdos e ética que são exigidas pela sociedade em que está inserida.
A educação é um instrumento importante no desenvolvimento de qualquer
nação, por possibilitar o aperfeiçoamento intelectual, moral, ético, profissional e
social das pessoas. Quando dispõe de políticas públicas adequadas, mais fácil é

19
Informações coletadas informalmente, conversando com pessoas do Unicef e professores.
65

para efetivar as metas educacionais elaboradas. “Sociedade educada é aquela


composta de cidadãos críticos, capazes de indicar o rumo histórico, coletivamente
pretendido, sobretudo desenvolver, maximamente, a oportunidade histórica
disponível” (DEMO, 1994, p.47).
A educação deve ser entendida como prática que pode acontecer por muitos
meios, seja de forma estruturada, por meio dos livros didáticos escolares, seja no
ambiente familiar ou por outros meios, na vida social. Ela vai se transformando por
meio das experiências vividas por cada pessoa ao longo da sua vida e que vai
sendo transferida de geração em geração de acordo com a sociedade na qual está
inserida.
Meneses (2004, p.16), acredita que “primeiramente, ela significa a atividade
desempenhada pelos adultos para assegurar a vida e o desenvolvimento da geração
mais nova, das crianças, dos adolescentes e jovens, para despertar e fazer crescer
as suas habilidades e poderes físicos e espirituais”. E mesmo que o indivíduo tome
consciência da sua autoeducação, ele ainda precisará do educador ao menos um
pouco ao longo da vida.
Políticas Educacionais são políticas públicas destinadas a organização da
oferta de educação a sociedade. No caso das regiões de fronteiras, tais políticas
devem buscar a inclusão social tanto do aluno brasileiro, quanto do aluno migrante.
O que faz com que ocorram trocas culturais dentro da escola, que são
enriquecedoras para a educação, construídas no cotidiano da fronteira. “Toda a
cultura, enquanto dinâmica social é um processo permanente de construção,
desconstrução e reconstrução [...]” (PAZ, 2016, p.11).
O entendimento das dinâmicas sociais próprias de regiões de fronteira, em
particular as relações entre indivíduos de nacionalidades diferentes, e sua presença
no ambiente escolar, constitui um desafio e uma oportunidade ímpar para o
enriquecimento do processo educativo. Figueiredo (2013, p. 13), esclarece que “a
fronteira se caracteriza por ser uma região de complementaridade e
interculturalidade, que dá origem a uma característica peculiar à região,
estabelecendo, por vezes, uma diversidade cultural específica”.
A pluralidade deve ser trabalhada na escola, começando com a construção
de currículos pedagógicos que buscam construir o saber, usando as diferenças.
“Assim, quando se encontram aliadas políticas públicas educativas inovadoras e
uma escola desafiadora, ter-se-á uma sociedade em que a visão com relação a
66

diversidade social e cultural se tratará de uma retórica: para o ‘outro’ o diferente sou
eu” (PAZ, 2016, p.35). A escola que é por definição homogeneizada, tem dificuldade
em entender as diferenças.
Todos os envolvidos na área da educação precisam estar atentos às
diferenças e saber aproveitá-las de forma interdisciplinar, no sentido de garantir “o
papel da escola e o poder do docente, enquanto agente de transformação na
educação e no comportamento dos indivíduos [...]” (PAZ, 2016, p.12). O professor
que aproveita os diferentes em sala de aula acaba expandindo o leque de
conhecimento dos seus alunos.
A pluralidade é algo comum, ou deveria ser em escolas de fronteiras ou em
países que recebem muitos estrangeiros. Com isso, “A valorização da diversidade,
na pluralidade cultural é uma tendência na educação, usada pelo Estado, como
tópico fundamental nos conteúdos escolares [...]” (PAZ, 2016, p.13). Desde a
década de 1990, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) propõe que a educação
brasileira, desenvolva os currículos de forma que aproveite os diferentes que aqui
vivem.
Com esse objetivo, o Conselho Nacional de Educação20 estabeleceu na
década de 1990, com base na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) matérias que seriam
obrigatórias para todas as modalidades, tentando diminuir as diferenças e
proporcionando uma formação básica para todos. Mas essa integração só será
possível se forem observadas as especificidades da realidade regional do estudante,
ainda mais em um país como o Brasil que possui grande dimensão territorial.
O conteúdo impresso no livro deve ser sensível as especificidades regionais
e locais nos quais o aluno está inserido, sendo necessária sim, uma base de
conteúdos teóricos, mas que os subsistemas e as escolas possam ter autonomia
para adequá-los a realidade da sociedade local, principalmente quando se trata de
escolas em áreas de fronteiras. Para Pereira (2009, p.53) “É notório que aspectos
educativos da área de fronteira, até recentemente, tenham sido tratados nas
políticas educacionais, regionais e locais de forma unilateral e homogênea, isto é,
sem se considerar a singularidade fronteiriça que pressupõe, no mínimo, relações
bilaterais”.

20
Conselho que busca no âmbito de sua competência, a participação da sociedade no
desenvolvimento de uma educação de qualidade. Cabe ao Conselho formular e avaliar a política
nacional de educação, proporcionando uma relação do ensino com os segmentos sociais e
comprometidos com o Plano Nacional de Educação - PNE (BRASIL, online).
67

A escola da fronteira Brasil-Venezuela tem recebido alunos de outras


nacionalidades, em grande ou pequena quantidade desde muito tempo, mas as
políticas educativas não têm dado relevância a este aluno, que é cultura viva e que
poderia enriquecer as aulas com a troca de conhecimentos. É na escola que se
observa com mais clareza a diversidade que os movimentos migratórios
proporcionam, evidenciando os valores e crenças que cada aluno possui no seu
âmbito familiar.
É na escola que ocorrerá a integração e adaptação dos filhos dos migrantes,
com a população local, o que em algumas situações pode ser uma zona de conflitos,
na medida em que os filhos/estudantes conhecem novas culturas, o que pode em
alguns aspectos se distanciar das expectativas dos pais em relação ao novo país,
por sentirem que seus filhos estão absorvendo com rapidez o que veem do mundo e
os seus novos hábitos (SANTOS; BAHIA; GOMES, 2016).
O aluno migrante carrega consigo as suas marcas e costumes, por isso não
é inteligente ignorar os conhecimentos que o aluno possui, já é época de ter uma
educação mais interdisciplinar e aprender com o migrante e não somente impor a
cultura local. A educação é uma troca de conhecimentos e é com essa essência que
as políticas devem ser elaboradas, colocadas em prática e consequentemente
avaliadas após a sua aplicação.
As rupturas com o passado nunca são totais, tudo o que ele já vivenciou até
chegar na nova condição, continuam com o migrante para onde ele vá. “Contudo,
mudanças e muitas vezes mudanças fundamentais, ocorrem (pois os recém-
chegados têm que aprender uma nova língua, conviver num novo mundo e com
pessoas que pensam de forma diferente), mas a transformação nunca é absoluta e
total” (SANTOS; BAHIA; GOMES, 2016, p.7).
Sendo assim, “é inegável que com a presença dos imigrantes ocorre uma
reconfiguração do contexto escolar que afeta, de forma significativa, não apenas os
espaços e tempos educativos, mas também as dinâmicas sociais, culturais e
estruturais da própria instituição escolar [...]” (ALVES, 2010, p.68). O que durante a
observação, na escola Casimiro de Abreu, foi perceptível a mistura dos idiomas
dentro da sala de aula, além da variedade de comidas na hora do intervalo, como a
“arepa”, comida típica venezuelana.
Tornando-se um grande desafio para os educadores, gestores escolares e
principalmente para os diretamente afetados pelo processo educativo lidar com a
68

situação, pois a responsabilidade do docente é grande para com aquela criança,


adolescente e jovem:

A educação [...] exige a participação de, no mínimo, dois interlocutores, que


visa a transmissão de conhecimento técnico aliado a valores éticos
construídos pela sociedade em que o educando está inserido,
proporcionando-lhe o crescimento intelectual e social, com a finalidade de
formar o cidadão para ser membro participante ativo da sociedade,
assegurando-lhe a interação de forma paritária e, por conseguinte, a sua
inclusão social (GÖTTEMS, 2012, p.45).

O ser humano depende de suas experiências anteriores para criar a sua


personalidade, o seu caráter e é na instituição de ensino que a pessoa passa mais
tempo, o que inevitavelmente é o lugar que criará vínculos, relações, experiências e
que definirão a sua própria visão sobre si e sobre as demais pessoas, já
possibilitando o desenvolvimento da capacidade critica desse aluno (ZABALA,
1998).
A característica da educação é de ser intencional, afinal ela possui o
propósito de orientar o aluno durante o seu desenvolvimento pessoal e social,
mostrando a eles as ideias de sociedade, de cultura e o processo de humanização e
socialização, tentando ao máximo levar o aluno a entender o seu passado
analisando em conjunto com o presente. Para Thums, (2003, p.428), “a educação é
uma ajuda que a sociedade e a cultura humana propiciam ao indivíduo a fim de que
ele se socialize, se humanize e adquira cultura adequadamente”.
A educação é um processo que proporciona o acesso e a troca de
conhecimentos, que acontecem na escola e na família, o que estimula a autonomia
da pessoa. Meneses (2004, p.16), afirma que “a educação é um processo que dura
a vida inteira”, possibilitando sempre uma construção própria de conhecimento.
Uma parte do processo de conhecimento, crescimento pessoal,
amadurecimento e/ou desenvolvimento intelectual ocorre no momento em que o
estudante toma consciência de si e de que vive em sociedade, que compartilha
espaços com diversas pessoas e assim desenvolve suas aptidões, estabelecendo
metas pessoais e sociais para atingir um ideal de vida, que são conquistadas com
seu esforço, e da educação que recebeu na escola, pois foi ela que também
influenciou na sua percepção de mundo e sociedade (MENESES, 2004).
69

O Brasil, por meio da Constituição Federal de 1988, no artigo 205,


estabelece que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2018, p.96). Ao Estado cabe assegurar que
as crianças e jovens tenham condições de estarem na escola com ensino público
dos 4 aos 17 anos de idade.
E à escola cabe o recebimento desse aluno, mas para isso acontecer é
necessário o processo burocrático estabelecido na legislação brasileira. Na pesquisa
foi possível perceber que, nem todo o processo burocrático é feito, já que é aceita a
documentação estrangeira dos estudantes sem estar com a tradução juramentada,
além de outras possibilidades de acesso como visto anteriormente. O acesso à
escola é feito mesmo sem a documentação brasileira completa, o que dá vez para o
acesso a esses estudantes.
É observável, não só na educação, mas no uso do serviço público brasileiro,
o atendimento do imigrante sem documentação brasileira21, ainda mais em cidade
fronteiriça. Vasconcelos (2013, p.53), em sua pesquisa aponta que “por outro lado, a
ampliação do acesso a políticas sociais no Brasil dos estudantes estrangeiros na
condição de ‘sem documento’, também é restrita à medida que o acesso ao
benefício ultrapassa os limites do Estado de Roraima”.
O governo, em alguns casos, prefere a quantidade do que qualidade e
acaba aceitando o migrante na condição de ‘indocumentado’, para assim conseguir
mais recursos financeiros do sistema educacional, definido pelo orçamento público,
devido ao critério número de alunos em sala de aula, esquecendo-se das
especificidades de cada local e do direito à educação como uma das bases
fundamentais dos direitos humanos (VASCONCELOS, 2013).E assim, não se
preocupa em garantir as condições adequadas para o processo educativo.
Dessa forma, Belloni et al., (2003) acreditam que avaliar as políticas públicas
educacionais, é uma maneira de estimar como está a aprendizagem do indivíduo ou
dos grupos submetidos aos processos ou situações, visando um novo
conhecimento, habilidade ou atitude.

21
Nesse caso, especificamente a Certidão de nascimento ou o Registro Geral, para
atendimento nos serviços básicos como educação e saúde brasileira.
70

O Plano Nacional de Educação (PNE) brasileiro, foi elaborado como um


projeto para que tivesse duração e vigência independentes dos governos no poder,
garantindo a continuidade das políticas públicas para a educação (LIBÂNEO et al.,
2012). Foi aprovado, pela Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014, com a duração de
10 anos (2014-2024) e em atendimento ao disposto no artigo 214 da Constituição
Federal de 1988. Nessa Lei três artigos são importantes para o tema da dissertação.

O primeiro é o Art. 5º, §1º, parágrafo II que propõe: “Analisar e propor


políticas públicas para assegurar a implementação das estratégias e o cumprimento
das metas”, o segundo é o Art. 7º, §4º afirma que haverá colaboração especifica
para a implementação das modalidades escolares: “[...] que necessitem considerar
territórios étnico-educacionais e a utilização de estratégias que levem em conta as
identidades e especificidades socioculturais e linguísticas de cada comunidade
envolvida, assegurada a consulta prévia e informada a essa comunidade” e por
último o Art. 8º, §1º, I “Assegurem a articulação das políticas educacionais com as
demais políticas sociais, particularmente as culturais” (BRASIL, 2014).
No que tange ao município de Pacaraima, pode-se mencionar o Plano
Municipal de Educação do Município de Pacaraima (PMEMP) estabelecido em 2015
através da – Lei nº 230. Este Plano possui a vigência de 10 anos, cumprindo o
disposto no artigo 214 da Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 13.005/2014.
O Art. 10 do PNE estabelece que o sistema de acompanhamento e
avaliação “[...] constituirá fonte de informação para a avaliação da qualidade da
educação básica do município e para a orientação das políticas públicas desse nível
de ensino” base para acompanhar e avaliar o Plano Municipal de Educação criado
pela Secretaria Municipal (PREFEITURA MUNICIPAL DE PACARAIMA, 2015).
Partindo da contextualização do Plano Municipal de Educação, se pode
iniciar uma análise a questão da migração no âmbito educacional no município de
Pacaraima, evidenciando conforme relatos e observação in loco, que muitos dos
problemas têm relação com a falta de políticas públicas educacionais, prejudicando
a educação, afetando os professores e principalmente aos alunos. Os professores
que trabalham em área de fronteira precisam ter uma capacitação voltada para a
pluralidade que a divisa entre dois países de idiomas diferentes oferece, o que não
existe.
71

Para muitos alunos que estudam em Pacaraima, que são venezuelanos ou


brasileiros morando em Santa Elena, não sentem diferença e acham normal
atravessar a fronteira todos os dias para estudar.
A Operação Acolhida22 está no município, e a escola possui alunos que
estudam, mas que sabem que a qualquer momento podem ser transferidos de
escola para outra cidade por meio de abrigo ou interiorização. Colocar o filho na
escola em Pacaraima é um processo que foi facilitado devido ao grande fluxo de
crianças e adolescentes vindos da Venezuela em idade escolar.
Entre os municípios de Pacaraima e Santa Elena de Uairén, já tiveram
acordos informais sobre o transporte público, para trazer e levar os estudantes que
moravam na Venezuela para estudarem no Brasil. Mas esse acordo foi desfeito 23 e
hoje os pais dos alunos que moram no outro lado da fronteira, pagam transportes
particulares para buscar e levar os seus filhos para a escola. No município de
Pacaraima, tem o transporte escolar ofertado pela prefeitura, mas só abrange os
estudantes que moram na sede do município (VASCONCELOS, 2013).
A observação na escola Casimiro de Abreu teve início no dia 20 de outubro
de 2019 e terminou no dia 26 de novembro de 2019. Sendo realizada apenas no
turno da manhã, devido à disponibilidade de horário da pesquisadora, com as
turmas do 3° e 4° ano. Foi possível observar em turmas diferentes, com professores
diferentes e o quantitativo de alunos brasileiros e venezuelanos diferente em cada
turma.
O número de alunos dentro da sala é, em média de 25 alunos. Foram
pesquisadas cinco turmas, durante a observação, e apenas uma tinha o número de
alunos venezuelanos menor do que o de alunos brasileiros. Que de acordo com a
professora da turma, foi um pedido que ela fez para que pudesse ter domínio sobre
a turma e poder repassar os conteúdos durante o ano letivo.

22
A Operação Acolhida é uma Força Tarefa Logística e Humanitária, que por meio das Forças
Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) prestam apoio com infraestrutura, segurança, saúde,
administração e transporte. Recepcionando, identificando e acolhendo aos venezuelanos que
atravessam a fronteira com o Estado de Roraima (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2020).
23
Foi por meio de conversas informais, com professores e com pais de alunos que fiquei
sabendo que o acordo, que foi feito entre os prefeitos de Pacaraima e o de Santa Elena, tinha sido
desfeito, mas sem nenhuma justificativa. Em conversa com uma mãe de uma aluna, ambas
venezuelanas, ela comentou que antes o ônibus escolar brasileiro, ia buscar a filha dela em Santa
Elena, todos os dias. Mas deixaram de fazer o transporte e agora ela paga uma van particular, para
levar e trazer sua filha da Venezuela para o Brasil, para estudar.
72

Esse número varia bastante, pois a evasão é frequente por conta das
condições em que vivem esses migrantes, podendo, como dito acima, serem
transferidos a qualquer tempo, permanecendo os que conseguiram se estabelecer
na cidade.
As salas não possuem aparelhos de ar condicionado, a iluminação é
precária, há cadeiras para todos os alunos, mas não segue um padrão, sendo
carteiras e mesas. O quadro é o branco, mas no fundo das salas têm os quadros de
giz, que em algumas salas as professoras aproveitaram para fazer um mural
informativo. Sempre tem pessoas de apoio nos corredores para auxiliar os alunos e
os professores, e o fardamento não é padrão.

Figura 11 – Espaço Escolar: sala de informática, alunos na quadra e em sala de


aula na Escola Municipal Casimiro de Abreu em Pacaraima/RR24

Fonte: arquivo pessoal (2020).

24
A qualidade das imagens foi alterada, para preservar a identidade dos estudantes.
73

Outro aspecto evidenciado pelo relato e observação in loco diz respeito aos
informativos que estão distribuídos pela escola. Todos são em português,
desconsiderando o grande número de alunos que falam o espanhol. Dessa forma,
quadros informativos bilíngues seriam bons para o crescimento pessoal dos alunos e
também dos professores e funcionários. De acordo com Paz (2016) a troca de
experiências nas escolas de fronteiras tem uma dinâmica social responsável pelo
processo permanente de construção, desconstrução e reconstrução do
conhecimento, logo a facilitação desse processo é fundamental para o
desenvolvimento educativo.
Cabe ressaltar que na hora do intervalo a escola oferece o lanche que
corresponde as refeições salgadas e doces (paçoca regional, macarronada à
bolonhesa, feijão tropeiro, filé de peixe, Maria Isabel (arroz com charque), guisado
de carne, biscoito com iogurte, arroz doce e achocolatado, entre outros); há uma
cantina onde os alunos podem comprar a comida, como sanduiches naturais, sucos,
bolos, chocolates, sorvete, mas alguns alunos trazem de casa o seu lanche. A
maioria dos alunos que levam o lanche de casa, eram os que comiam comidas que
não são típicas do Brasil, como a “arepa” (comida regional da Venezuela).
Foi possível perceber, também, o fato de que toda a alimentação servida na
escola se volta para os hábitos alimentares brasileiros, sem uma preocupação com a
população venezuelana presente no ambiente escolar. De forma que alguns
estudantes levavam o lanche (arepa) para a escola. Paz (2016) chama atenção para
a importância das trocas culturais presentes nos hábitos alimentares, que deveriam
estar dentro da dinâmica social das escolas de fronteira.
Conforme os relatos e observação, ficou evidente que os alunos na sala de
aula, por mais que em muitas salas os professores busquem facilitar a integração,
estes ficavam em grupinhos de acordo com o idioma. A língua pode ser um dos
motivos para a incompreensão de alguns alunos que não são brasileiros, na hora da
explicação do professor. Neste sentido, os professores deparavam-se com os dois
lados (brasileiros x venezuelanos) limitados com relação ao entendimento do
conteúdo.
Segundo Paz (2016) é fundamental que as escolas de fronteiras trabalhem a
pluralidade para isso é necessária a construção de currículos pedagógicos (incluindo
74

nesse currículo os livros didáticos)25 que buscam construir o saber, usando as


diferenças presentes no âmbito escolar, bem como a capacitação docente que atua
nas escolas de fronteiras.
Ressalta-se que a presença da pesquisadora na escola ocasionou diversas
demonstrações nos alunos não nacionais, desde os que ficaram desconfiados por
saberem que qualquer coisa que falassem poderia ser entendido e compreendido,
pelo fato da pesquisadora falar o espanhol fluente, ao passo em que outros alunos
acharam curioso e também interessante o fato de ter uma pessoa que pudesse
explicar algum assunto que não ficasse claro.
Esse aspecto foi ao encontro das perspectivas de Santos; Bahia e Gomes
(2016) quando afirmam que o que pode em alguns aspectos se distanciar das
expectativas dos imigrantes em relação ao novo país, pode por outro lado ser a
oportunidade para o outro absorver com rapidez o novo mundo e os seus novos
hábitos.
Com relação à abordagem junto aos professores, a pesquisa evidencia certa
perceptividade dos professores e ao mesmo tempo certa frustração deles com os
alunos. Pelo fato de saberem que para alguns o assunto não é entendido
completamente como deveria. Ficam na angustia de aceleram o conteúdo por ter a
minoria dos alunos entendido ou vão indo devagar porque a maioria dos alunos não
entenderam facilmente o assunto.
Dessa forma, observa-se que o contexto escolar e educacional das escolas
de fronteiras necessita de políticas públicas que contemplem as duas nações
fronteiriças. Pois, o aluno migrante carrega consigo as suas marcas e costumes,
assim, como o brasileiro absorve uma grande gama dessa demanda cultural. Logo,
se deve considerar que esse processo educacional é uma troca de conhecimentos e
é com essa essência que as políticas devem ser elaboradas, colocadas em prática e
consequentemente avaliadas após a sua aplicação (SANTOS; BAHIA; GOMES,
2016).
Sendo assim, é importante mencionar que projetos para a educação foram
pensados e colocados em prática com o PMEMP, mas nenhuma política que seja

25
Os livros didáticos que contemplam as escolas municipais e estaduais são ofertados pelo
Ministério da Educação por meio do PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático) sendo
necessário que a escola pública participe do Censo Escolar do INEP (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Esses livros são todos em português.
75

unilateral, por mais bem-intencionada que seja terá êxito ou durará por muito tempo,
caso não haja diálogo entre os países envolvidos.
Nesse sentido, há metas a serem atingidas, mas apesar de ser um município
localizado em fronteira, não há menção na formulação dessas metas, sobre alunos
de outros países e que estudam no Brasil. Destaca-se que em 2015, ano da
aprovação do PMEMP, a crise na Venezuela já estava perceptível e a entrada de
venezuelanos para o lado brasileiro estava crescente. E ainda assim, não se faz,
referencia, no plano, a questão da fronteira e intercambio entre os dois países.
Sabe-se que as políticas educacionais dependem da relação dinâmica da
sociedade na qual estão inseridas, é dela que virão as necessidades e demandas
para a instituição social, chamada escola.
Os professores que ministram aulas em escolas de fronteira, ao fazerem
parte da construção dos objetivos da política pública, tem a tarefa e a oportunidade
de agir, conforme Piaget (2005, p.76) escreve em seu livro, “[…] diante de um
problema internacional, é, pois, a de procurar adaptar o aluno a semelhante
situação, sem nada lhe omitir a respeito da sua complexidade”, aumentando assim,
as chances das políticas públicas alcançarem resultados positivos.
Ademais, os profissionais da área da educação precisam ter conhecimento
do que são políticas públicas, terem consciência de que a participação deles em
conjunto com os atores estatais na elaboração da agenda é de suma importância, já
que são eles que vivem a realidade da sala de aula heterogênea.
O compartilhamento dos conhecimentos na sala de aula ensinaria a
tolerância ao desconhecido, o respeito a cultura do outro, ampliaria o vocabulário
dos alunos, que aprenderiam mais um idioma, da mesma forma que conheceriam
um pouco mais da cultura do outro, empenhando-se dessa maneira para diminuir os
conflitos relacionados à grande procura por vagas nas escolas, as salas com lotação
máxima, o conteúdo didático a ser ministrado e como o governo está se
posicionando diante dessas questões.
A falta de comunicação e entendimento dos direitos dos alunos e do idioma
pode ser considerada como uma barreira inicial, para o início da vida escolar do
aluno migrante. É preciso fazer um mapeamento dos alunos que estão matriculados
e frequentando as escolas na área urbana de Pacaraima, já que o registro deles nas
escolas ocorre precariamente devido à falta de documentação.
76

No ato da matrícula, o aluno deve apresentar pelo menos um documento de


identidade, seja ele o Registro Nacional de Estrangeiro (RNE) ou o passaporte,
juntamente com o histórico escolar. Mas há casos, em que não existem mais esses
documentos ou não foram feitos. Sem essa documentação mínima, o processo de
matrícula em uma escola fica mais difícil, sendo necessária a realização de
avaliações para considerar a série compatível com a sua idade.
A questão é que, esses estudantes, na sua maioria não sabem o português
e os exames são realizados no idioma oficial do Brasil, o que de certo modo dificulta
saber em que séries pertencem, por não entenderem o que está escrito no papel.
Dessa forma, “os alunos estrangeiros acabam sofrendo um processo de
invisibilidade social e administrativa, no sentido de não figurarem nos registros
escolares de forma estruturada e acessível” (PETRUS; SANTOS; ARAGÃO, 2016,
p.56).
A língua é um dos grandes desafios desses estudantes, apesar de que a
fronteira é um local em que a população tem uma vivência diferenciada devido a
língua, aos costumes que cada lado da fronteira possui, o que afeta a realidade
vivida dentro da escola nessas regiões de fronteiras internacionais. “As dificuldades
para dominar a língua da sociedade receptora são um dos principais desafios para
todo e qualquer sujeito que resolve imigrar. Compreender e ser compreendido pelo
outro é fundamental em um processo comunicativo” (PETRUS; SANTOS; ARAGÃO,
2016, p.56).
Porém, quando esta comunicação não acontece, ou demora muito a
acontecer, as relações se veem prejudicadas, “Na maioria das vezes, a escola é
compreendida como um espaço de troca, diálogo, descoberta e convivência.
Entretanto, ela deve ser vista também como lugar de desafio para o tratamento da
diversidade de povos na área de fronteira” (ASSIS, 2016, p.6).
As escolas localizadas em fronteiras carregam inúmeras tarefas de
responsabilidade social, que vão desde a identidade cultural dos estudantes a
preocupação em criar condições de valorização e respeito entre todos, que atenda a
diversidade e ocorra a integração entre os nativos e os migrantes.

Ao se orientar por essa via, num primeiro momento, focalizamos a


educação como um direito universal e complementamos com a perspectiva
de que na fronteira a educação é um direito humano para além dos seus
limites físicos. Ao superarmos a noção de fronteira como limite físico ou
77

geográfico e a compreendermos como zona de contato, a educação é


dimensionada como direito humano, de dignidade das pessoas residentes
nas fronteiras internacionais (ASSIS, 2016, p.2).

Conhecer quem são os alunos que estão nas salas de aulas das escolas de
Pacaraima, com a sua cultura, seu idioma, seus aspectos culturais, facilitaria na
identificação de possíveis dificuldades no dia a dia na escola, o que auxiliaria na
construção de uma política pedagógica que melhor atendesse a esses alunos.
Assis (2016, p.6) afirma que “A escola fronteiriça fecha-se no formalismo
burocrático emanado das legislações e não se abre à riqueza que lhe apresenta a
presença de alunos de outras nacionalidades em seu interior e, consequentemente,
reforça limites, dentre estes: da língua; da cultura, do preconceito e até da
xenofobia”. Por isso, programas entre as cidades de fronteiras, devem ser
estimulados para que o contato com o outro seja natural e principalmente com
respeito.
Em Pacaraima, foi implementado o projeto Programa Escolas Interculturais
de Fronteiras (PEIF), com apoio da Universidade Estadual de Roraima (UERR) e da
Secretaria de Educação do Estado. O PEIF foi iniciado no ano de 2005, na região da
fronteira sul do país, por meio de um acordo bilateral entre Brasil e Argentina. Em
junho de 2006, com o apoio pedagógico da Universidade Federal da Fronteira Sul no
Brasil e o Instituto Misiones na Argentina, o projeto se torna multilateral e é pautado
no setor educacional do Mercosul. Em 2009 outros membros do bloco, em especial
a Venezuela, começam a desenvolver as atividades em escolas de fronteira de
Pacaraima e Santa Elena de Uairén (QUEIROZ; VIANA; LIMA, 2010).
O objetivo principal do projeto é a troca de professores ou como também
ficou conhecido, o intercâmbio docente. Trabalho baseado na interculturalidade e o
intuito de aproximar dois países por meio da educação, já que as cidades são
próximas, mas o conhecimento da realidade que cada uma vive é muito distante
(QUEIROZ; VIANA; LIMA, 2010). Com isso, na fronteira Brasil-Venezuela, esse
projeto foi pensado para ser implementado nas cidades de Santa Helena do Uairén
e Pacaraima e, Venezuela e Brasil, respectivamente.
O projeto foi viabilizado nessa fronteira com a implantação, em 2008, do polo
da Universidade Estadual de Roraima na cidade de Pacaraima. Com o Projeto, os
alunos universitários podiam se deslocar diariamente na fronteira, entre as cidades
78

de Pacaraima e Santa Elena, para realizar a graduação ou cursos de extensão de


língua portuguesa. (VASCONCELOS, 2013, p.51).
Mas infelizmente, devido a questões financeiras, foi difícil manter esse
projeto de estudantes e professores, que atravessavam a fronteira Brasil e
Venezuela, para entenderem a dinâmica escolar do país vizinho, inclusive hoje,
2019, o polo da UERR não está mais funcionando no município de Pacaraima.
Nessa perspectiva, surgiram alguns questionamentos: como era feito o
planejamento das atividades? Os professores recebiam capacitação para entender a
cultura do outro? Ao analisar o projeto de intercâmbio docente se percebe que as
atividades são planejadas, de acordo com o Plano Municipal de Educação
estabelecido pela Lei Municipal nº 230/2015, e os professores da rede municipal de
Pacaraima não recebem capacitação. Outro fato pertinente diz respeito a sala de
aula, onde se observa que a dinâmica de uma escola na área de fronteira é diferente
das escolas na área urbana do município brasileiro. Nota-se que não há uma
atenção ao professor e a todos que estão dentro da escola, em entender e explicar o
outro.
79

CONCLUSÃO

Visando responder ao objetivo geral de analisar as políticas públicas na área


de educação na fronteira Brasil-Venezuela, averiguando os efeitos do contexto
migratório desse serviço público a brasileiros e venezuelanos. A pesquisa evidencia
que as políticas adotadas nas regiões de fronteiras Brasil Venezuela são políticas
que buscam a inclusão tanto do aluno brasileiro, quanto do aluno migrante, ou seja,
podemos afirmar que, em função de um parecer de justiça, as escolas não podem
se negar a matricular as crianças.
No entanto, o processo de inclusão social vai além desse passo, e ao
proceder a observação do processo educativo na escola ficou claro que está longe
de isso acontecer. Não por falta de interesse dos profissionais da educação na
escola, esses até se esforçam. Mas faltavam condições adequadas para isso, como
uma identificação mais precisa de políticas de acolhimento dessa população.
Se é verdade que os normativos da educação no país trazem questões
importantes para o atendimento da população imigrante, em especial no sentido de
barrar o preconceito, é verdade também que não estão claros os mecanismos para
esse acolhimento. Não existe uma qualificação dos profissionais que estão à frente
desse processo, como professores e demais funcionários da escola, além da
preocupação com a barreira linguística, que muitas vezes deixam as crianças
separadas, para não falar das dificuldades que enfrentam com relação aos
conteúdos escolares.
Falta ainda uma preocupação com os elementos da cultura desses alunos,
como alimentação, brincadeiras e etc. Da mesma forma, não existe uma
preocupação com as crianças brasileiras, que muitas vezes ficam sem entender o
contexto diversificado em que vivem. É possível afirmar, mesmo que em grande
parte, a interação se dá por busca das próprias crianças, que de forma espontânea
procuram meios de convivência.
Quanto ao objetivo de averiguar a questão migratória no desenvolvimento
dessas políticas, a pesquisa menciona que os aspectos educativos da área de
fronteira têm sido tratados nas políticas educacionais nos âmbitos regionais e locais.
Todavia, os alunos venezuelanos acabam por não serem contemplados de forma
totalitária pelos direitos a uma educação estabelecida pela Constituição que vise a
80

valorização da diversidade, na pluralidade cultural como tópico fundamental nos


conteúdos escolares.
Logo, devido ao fato de muitos alunos venezuelanos entrarem no país como
refugiados, e não possuírem a documentação necessária para a matrícula na
escola, a política aplicada ocorre em conformidade com o parecer da defensoria
pública e da Secretaria de Educação, que facilita o modo de ingresso do aluno na
rede pública de ensino.
Quando se refere ao objetivo de analisar as formas de atendimento a
brasileiros e venezuelanos no setor educacional, ficou claro que na instituição não
há nenhum tipo de acolhimento diferenciado para com o aluno não nacional que
chega na sala de aula.
A escola não só recebe alunos venezuelanos, mas também de outras
nacionalidades, como é o caso de um aluno chinês, que mora em Santa Elena,
estuda em Pacaraima e que se sente um brasileiro. A escola de fronteira, deve estar
preparada para recepcionar todos os alunos independentemente da sua
nacionalidade.
Deste modo os professores deveriam se capacitar para que pudessem estar
preparados para o contexto de migração de fronteira em massa. Assim como a
secretaria da escola, que é recomendável que saiba lidar com as peculiaridades da
fronteira, como ter mais o controle sobre dos dados dos alunos como os
quantitativos de alunos venezuelanos e brasileiros.
Dessa forma, ao refletir sobre os acordos internacionais na área da
educação e sua aplicabilidade no contexto fronteiriço estudado, a pesquisa
menciona que não há nenhuma política, embora o Ministério Público Federal esteja
empenhado na busca por políticas para melhorar o relacionamento entre alunos,
professores e funcionários da escola.
Por não haver uma política pública educacional, para ser analisada os
impactos desta, seria interessante ser feito um diagnóstico nas escolas em conjunto
com a secretaria de educação do município de Pacaraima, para proporem juntos
maneiras de recepcionar os alunos não nacional e além de aproveitar as diferenças
na sala de aula.
Com relação ao nivelamento desse aluno, quando não se tem o histórico (os
documentos), os pais têm a opção de entrar com a prova de classificação ou a
tradução. Todavia, os pais preferem que os filhos façam a prova de classificação por
81

não ser paga, mas esquecem que o filho possui apenas um mês para estudar um
assunto em outro idioma, e que essa prova que irá definir em qual série o aluno
ficará de acordo com a sua capacidade e classificação.
Logo, a tradução por ser cara, é um meio pouco escolhido pelos pais,
mesmo sabendo que os filhos podem regredir na série. Outro fator importante de ser
mencionado se refere à evasão que ocorre impulsionada pelas interiorizações que
ocorreram ao longo do ano, que dificultou para as escolas o acesso as
documentações dos alunos imigrantes que ficaram sem concluir cadastro. Pois
quando essas famílias foram interiorizadas muitos dos pais infelizmente não
informam a saída dos alunos da escola levando a instituição a adotar medidas como
o recebimento de arquivos via celular para realizarem as matriculas dos alunos ou
emitir transferência, mas poucos pais repassam essas informações.
Quanto às estruturas para receber esses alunos, a escola possui o seu
material didático, todo em português, que fica guardado no armário dentro de cada
sala de aula, que quando preciso o professor, retira distribui e depois recolhe. Além
de escrever no quadro e levar fotocopias de atividades para a sala de aula.
O professor ministra aula quatro vezes na semana com a turma, possuindo
um dia na semana para o seu planejamento, nesse dia em que o professor não vai à
sala de aula, os alunos recebem aulas de outros professores e de outras matérias.
São quatro tempos de aulas, divididos em arte, educação física, informática e
espanhol.
Além disso, apenas dois professores são formados em Letras-espanhol, e
mesmo formados não possuem o domínio do idioma, e acabam ministrando as aulas
apenas em português, alguns alunos tinham dúvidas com relação a tradução de
algumas palavras, para poder entender o conteúdo, mas a professora não sabia
dizer o significado da palavra em espanhol.
Sendo assim, ao identificar às principais políticas públicas da Educação na
fronteira Brasil-Venezuela, a pesquisa mostra segundo relato do diretor da escola,
que acompanha todo o processo da migração venezuelana em Pacaraima, não
haver, políticas específicas para o aluno estrangeiro que chega a escola, o que
existe é uma ação conjunta que envolve diversos órgãos internacionais, como a
UNICEF, que se manifesta a favor, apoiando a causa, com a disponibilidade de
espaço para as crianças que ficam na lista de espera como o objetivo das crianças e
82

adolescente não perdessem o ano letivo. Em contrapartida o município entra com os


professores e a merenda. O projeto, entretanto, não foi operacionalizado.
Nesse sentido, a pesquisa ressalta que o início do ano letivo começa com
uma grande demanda de alunos estrangeiros ocasionando a criação de uma lista de
espera para colocar o nome dos estudantes que possuem interesse e condições
para estudarem, independentemente da sua nacionalidade.
Há em torno de 115 alunos na fila de espera para o ano letivo de 2020 que
estão sendo alocados na escola de acordo com as desistências, pois até o presente
momento da aplicação da pesquisa a parceria com a UNICEF estava apenas
formalizada no papel, adiando assim o início do ano letivo para os alunos que são
contemplados pelo projeto.
83

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